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Notícias FAPESP - Ed. 40
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PUBLICAÇÃO MENSAL DA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO
, NVENTARIO DA VIDA
Programa Biota-FAPESP propiciará minucioso levantamento da fauna, flora e microorganismos do Estado de São Paulo
Pág.6
A ciência brasileira ingressa no Gen·oma Humano Pág. 12 e encarte especial
Uma contribuição da pesquisa para melhorar a produção de leite Pág. 14
EDITORIAL
Apoio abrangente e multifacetado à pesquisa em São Paulo
A FA PESP desenvo lveu há anos a convicção de que investimentos em ciência, bás ica ou aplicada, e em tecnologia, áreas cujas fronteiras tantas vezes aparecem di fusas, com um campo interpenetrando o outro, são igualmente fundamentais para o desenvo lvimento do país.
Esta Fundação também há alguns anos vem trabalhando com a certeza de que a capacitação de novos pesquisadores em áreas es tratégicas da ci ência e da tecnologia, por meio de seu trabalho direto em avançados projetas de pesqui sa, de alto signi ficado científico, é capaz de produzir retornos de crucial importânci a para a soci edade bras il eira.
Ass im, o que tem norteado os in vestimentos da FA PESP é uma visão complexa e abrangente, mais que isso, dinâmica, do que entendemos como fomento à pesquisa científica e tecnológica. Pois bem, esta edição do Notíc ias FAPESP é um exemplo di sto, na pequena amostra que oferece desse caráter amplo e multifacetado do apoio da Fundação ao desenvolvimento cientí fico e tecnológico no Estado de São Paulo.
Ass im, damos notícia de duas novas iniciativas de peso - o programa Biota-FAPESP e o projeto Genoma Humano do Câncer - ,capazes de efeti vamente impulsionar a pesquisa pauli sta até o patamar dos centros intern ac ionais mais avançados. O segundo, para resumi r, lança o Bras il na corrida in ternacional pelo conhecimento do genoma humano, e o faz apresenta ndo à comunidade científica internac ional nada menos que um novo método de seqüenciamento rápido de genes que rea lmente importam, dentro do genoma, para compreendê- lo. O Biota-FAPESP, enfa ti zando o trabalho de cooperação entre cienti stas, em larga escala, na medida em que deverá envo lver de imediato cerca de 200 de les, va i atuar nu m campo essencial de defesa da vida na Terra: a preservação ambiental. Trata-se de levantar a fa una, a flo ra e os microorganismos que ocorrem no Estado de São Paulo, obter novos conhecimentos a seu respeito e propor mecanismos para sua proteção.
Como exemplo do apo io da Fundação à ciência ap lica-
da, estamos apresentando os resultados de um projeto temático sobre mastite bovi na. Ele va i mui to além do estudo cien tífico da doença, seus agentes e tratamentos, para chegar até um programa de cursos em propriedades ru ra is, destinado a veterinári os e trabalhadores ru ra is, com o objetivo de ajudar no controle da masti te, que tem um impacto negati vo pesado sobre a pecuária nacional.
Enve redamos também nesta edi ção por doi s belos exempl os de projetas de inovação tecnológica apoiados pela Fundação: no primeiro, resultado de parcer ia entre pesqui sadores da Politécnica da US P e da Co mpanhia Bras il eira de Alumínio, chegou-se a uma tecnolog ia nacional de obtenção do gá lio a partir dos res íduos da produção de alum íni o. Ressalte-se que o gá li o tem um va lor de mercado duas mil vezes maior que o do alum íni o. No segundo projeto, denominado Prumo, que também envo lve parceria, nes te caso entre o IPT e o SEBRAE, unidades móve is de tecnologia es tão levando às pequenas empresas novas possibilidades de aperfe içoamento de seus processos e produ tos.
Atestado de versatilidade dos financiamentos da FAPESP, quanto às áreas que cobre, aparece em reportagem sobre um projeto de pesquisa relativo a uma nova técnica de interpretação teatral, baseada na observação direta da rea lidade pelo ator.
E finalmente, fi el às suas ori gens, embora tanto tenha caminhado e aberto o leque das linhas de apo io ga rantidas à pesquisa científica e tecnológ ica, a FA PESP conti nua a fi nanciar a ciência básica, como mostra reportagem sobre uma pesqui sa referente ao controle da distribuição de cá lcio nas cé lulas do músculo cardíaco.
Acreditamos que a parti.r deste materia l cada um pode refl etir profundamente sobre as atuais práticas da FAPESP, que se tornanfm mais abertas, respondendo às ex igênc ias contemporâneas de um financiamento inte ligente da pesqui sa , mas preservando sempre o comprom isso histórico dessa instituição com o efeti vo desenvolvimento científico e tecnológico do Estado de São Paulo.
Prof. Dr. Celso de Barros Gomes Equipe Responsável Coordenador· Prof. Dr. Francisco
RomeuLandi
Notícias FAPESP é uma publicação mensal da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Conselho Superior
Prof. Dr. Carlos Henrique de Brito Cruz (Presidente)
Dr. Mohamed Kheder Zeyn (Vice-Presidente)
Prof. Dr. Adilson Avansi de Abreu Prof. Dr. Alain Florent Stempfer Prof. Dr. Antônio M. dos Santos Silva
Dr. Fernando Vasco Leça do Nascimento Prof. Dr. Flávio Fava de Moraes Prof. Dr. José Jobson de A. Arruda Prof. Dr. Maurício Prates de Campos Filho Prof. Dr. Paulo Eduardo de Abreu Machado Prof. Dr. Ruy Laurenti
Conselho Técnico-Administrativo
Prof. Dr. Francisco Romeu Landi (Diretor Presidente)
Prof. Dr. Joaquim J. de Camargo Engler (Diretor Administrativo)
Prof. Dr. José Fernando Perez (Diretor Científico)
2 'ESP
Editora responsável · Mariluce Moura (MTB-2242)
Editora executiva · Maria da Graça Mascarenhas
Editor assistente: Fernando Cunha Arte · Moisés Dorado Capa: Luís Abreu Colaboradores: Carlos Fioravanti,
Marcos dos Santos, Marcos Pivetta, Margareth Lemos, Mário Leite Fernandes e Rodrigo Arco e Flexa
Encarte especial: Genoma Humano do Câncer Panejamento gráfico: Hélio de Almeida Produção gráfica: Tania Maria dos Santos FAPESP ·Rua Pio XI, n' 1500, CEP: 05468·901· Afta da Lapa São Paulo· SP · Te/: (011} 838-4000 · Fax: (011) 838-4117
Este informativo está disponível na home· page da FAPESP: http://www.fapesp.br - E.maif: [email protected].
OPINIÃO
Técnica, Tecnologia e Ciência (Final) No Brasil a pesquisa tecnológica foi anun
ciada com a criação em 1898, em São Paulo, do Gabinete de Resistência de Materiais, na Escola Politécnica, mas finnou-se em 1926, quando o Gabinete foi transfonnado no Laboratório de Ensaios de Materiais (LEM), especificamente dedicado à pesquisa das propriedades mecânicas e químicas dos materiais componentes do concreto annado. No Rio, em 1922, foi organizada, por Fonseca Costa, a Estação Experimental de Combustíveis e Minéri os (EECM), com a finalidade principal da investigação de materiais que poderiam vira ser a fonte dos combustíveis nacionais. Em 1934, o LEM foi transfonnado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São PauloeaEECM, no Instituto Nacional de Tecnologia do Rio.
A pesquisa científica básica consolidouse com a criação das universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, na década de 30. Antes disso, havia pesquisa científica no país l)las, na maior parte, em ciências aplicadas. E curioso notar que o início da pesquisa científica básica coincide com a organização dos nossos dois primeiros institutos de pesquisa tecnológica.
De fonna geral, a metodologia da pesquisa em ciências básicas ou aplicadas ou em tecnologia não difere entre si . Somente as finalidades são diferentes, embora os limites entre as três sejam imprecisos. Tanto é possível que de um conhecimento básico surja uma aplicação, como de uma solução tecnológica pode surgir uma pesquisa básica.
Em tese, a ciência básica tem como objetivo o puro conhecimento de um detenninado assunto, seja ele qual for. A ciência aplicada surge quando aparece a oportunidade de, com os conhecimentos científicos adquiridos, resolver um problema prático sem cogitar das implicações sócio-econômicas de sua solução. Quando tais implicações são levadas em conta é que surge a tecnologia, como utilização, e não simples aplicação, de conhecimentos científicos na solução de problema técnico.
Entretanto, é de se distinguir a pesquisa tecnológica feita nos institutos e universidades, para resolver problemas de inovação de materiais ou de processos técnicos em geral, da pesquisa tecnológica industrial, visando problemas de melhoria de produção e qualidade de produtos ou obras.
A história recente da ciência e da tecnologia vem mostrando que, em países em desenvolvimento, o incentivo e o financiamento das pesquisas, científicas ou tecnológicas, devem ser assumidos, direta ou indiretamente, pelo governo, mediante planos e programas de desenvolvimento.
Foi do IPT que surgiu uma das primeiras manifestações, para que se incluísse, na
Milton Vargas Constituição do Estado, em 1947, a obrigatoriedade de dedicar-se uma pequena porcentagem da renda do Estado à pesquisa científica e tecnológica. Disso nasceu a idéia de que tal amparo fosse feito por intennédio de uma fundação, tendo a FAPESP surgido em 1960. Desde 1951 , já fora criado, em âmbito federal, o Centro de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior- CAPES, com a finalidade de prover bolsas de estudos para os estudantes brasileiros. Com a organização, a partir de 1963, dos cursos de pós-graduação nas universidades brasileiras, essencialmente baseados em pesquisas para dissertações de mestrado e teses de doutorado, em sua maioria subvencionados pela CAPES, ficou institucionalizada a pesquisa científica e tecnológica universitária, sob auxílio oficial.
Em 1951 foi criado o Conselho Nacional de Pesquisa, transfom1ado em 1974 em Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, com a finalidade de promover, fomentar e realizar a pesquisa científica e tecnológica. Além disso, desde o início dos anos 60, com o auxílio de órgãos governamentais, as atividades tecnológicas no país desenvolveram-se espetacularmente, principalmente nos institutos de pesquisa e universidades, em conexão com a construção das grandes obras de infra-estrutura. Mas, a indústria nacional pennanecia alheia à investigação tecnológica, e a multinacional, presa à tecnologia estrangeira. Só com a criação doM inistério da Ciência e Tecnologia, em 1985, se iniciou uma política de envolvimento da indústria na pesquisa tecoológica, por meio de incentivos fiscais .
No Brasil, já existem os requisitos básicos para que a ciência e a tecnologia desenvolvam-se autonomamente: educação em todos os níveis, inclusive pós-graduação, institutos de pesquisa, bolsas de estudos, órgãos de amparo e financiamento, associações científicas e tecnológicas, publicações científicas e tecnológicas, prêmios e honrarias ao mérito.
Portanto, o problemaatual não é criar um sistema de ciência e tecnologia nacional, mas, sim, tomá-lo cada vez mais eficiente e ampliálo, no sentido de satisfazer necessidades sócio-econômicas nacionais. Essas não envolvem, entretanto, obrigatoriamente ciência avançada nem tecnologia de ponta. São problemas cujas soluções, talvez, não contribuam para o avanço da ciência universal nem façam avançar as tecnologias de ponta, mas são de primordial importância para nós.
No mundo atual , a técnica e a tecnologia são fenômenos peculiares à maneira de estar no mundo ocidental, essencialmente preocupado em fazer uso das coisas como meros utensílios. A própria teoria não é
.f#APESP
mais uma visão contemplativa do real , mas uma previsão de conhecimento daquilo que será utilizado. Decorre disso que os homens devem se preocupar em não se tornar meros usuários ou consumidores, subordinados aos ditames da técnica.
Num mundo assim estruturado, a tecnologia não seria uma aplicação neutra e não comprometida de teorias científicas mas, ao contrário, tanto ela como a ciência seriam conhecimentos comprometidos com as condições políticas e econômicas da sociedade. A tecnologia terá de ser entendida como a utilização de conhecimentos científicos para satisfação das autênticas necessidades materiais de um povo. Faria, portanto, parte de sua culturaenãopoderiaserconsideradacomomera mercadoria que se compra quando não se tem ou vende-se quando se tem. Seria a tecnologia algo que se adquire vivendo, aprendendo, pesquisando, interrogando e discutindo.
Essa consciência é extremamente importante no a tua I mundo globalizado, em qur a tendência natural dos países mais desenvolvidos será "vender" suas tecnologias àqueles que ainda não as têm, sem se preocupar se elas atendem às reais necessidades dos que as "compram".
Será necessário, portanto, em cada país, a elaboração de políticas científicas e tecnológicas, a fim de garantir que os conhecimentos tecnológicos adquiridos sejam os mais adequados às circunstâncias particulares do seu povo. Por outro lado, só se "importaria" uma tecnologia se houvesse prévio conhecimento dos princípios científicos sobre os quais ela se baseia. Há inúmeros exemplos, na história contemporânea da tecnologia, que atestam o fracasso da sua "importação", quando não há, por parte do "importador", conhecimento suficiente de suas bases científicas. Em suma, tecnologia não é mercadoria que se adquire comprando, mas, sim, saber que se aprende.
(continuação da edição 39)
Professor emérito da Escola Politécnica da USP e diretor da Themag Engenharia
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Bibliotecas virtuais Já está funcionando, desde
o dia 15 deste mês, a Biblioteca Virtual Gilberto Freyre (http:// bvgf.fgf.org.br), iniciativa do Prossiga, programa do Conselho Nacional de Desenvolvimento CientíficoeTecnológico(CNPq), em parceria com a Fundação Gilberto Freyre e a Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE). O site traz informações sobre a vida do escritor e pesquisador, seus livros, correspondência recebida de amigos e personalidades, originais de seus trabalhos científicos e fotografias, e foi inaugurada por ocasião da aber-
tura das comemorações docentenário de seu nascimento.
Ainda neste mês, no dia 24, foi inaugurada a Biblioteca Virtual Leite Lopes (http://www. prossiga. br/leitelopes ), por ocasião das comemorações dos 50 anos de criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, do qual José Leite Lopes foi um dos idealizadores. Essa Biblioteca é uma iniciativa do Prossiga e do próprio Centro, e seu site traz informações sobre a vida do fisico Leite Lopes, sua produção científica e correspondência com outros fisicosde renome internacional, além de sua participação nos debates sobre a política cien-
tífica brasileira. As duas bibliotecas
fazem parte do projeto Bibliotecas Virtuais de Pesquisadores Brasilei-
ros, desenvolvido pelo Prossiga, com o apoio das
fundações de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (FA
PERJ) e de Goiás (FUNAPE). Já foi inaugurada a biblioteca
virtual do educador baiano Anísio Teixeira e está
sendo finalizada a do médico e ci
entista Carlos Chagas.
Questão de segurança Pesquisadores e visitantes
da FAPESP estão, desde o início deste mês de março, tendo de se identificar à entrada do prédio da Fundação. Embora possa ser um ritual desagradável-principalmente porque o acesso a quaisquer dependência da FAPESP sempre foi totalmente liberado -, a identificação é absolutamente necessária para a segurança dos usuários e das pessoas que aqui trabalham. Já por três vezes o prédio da FAPESP foi alvo de tentativa de assalto, ficando as
pessoas sob ameaça de armas. A F APESP possui, atualmente, cercade 7.500 bolsistas e 5.000 pesquisadores com auxílio individual à pesquisa, sem falarnaqueles vinculados aos programas especiais. O número de pessoas que diariamente vêm à Fundação é, portanto, muito grande. Com o sistema de identificação, a FAPESP não pretende cercear a circulação de bolsistas e pesquisadores, mas apenas garantir a integridade fisica dos visitantes e de seus funcionários.
4
Nova etapa A F APESP lançará em bre
ve o edital para a realização de uma nova etapa do programa FAP-Livros - a quarta - , destinado a complementar as dotações orçamentárias das instituições de pesquisa do Estado de São Paulo para aquisição de livros técnicos, científicos e outros indispensáveis ao trabalho regular dos pesquisadores paulistas. O Conselho Superior da Fundação aprovou, em sua reunião do dia I O deste mês de março, dotação de R$ 1 O milhões para essa etapa do programa, que deverá ter algumas diferenças em relação às experiências anteriores.
Uma das possíveis mudanças na sistemática do programa é a descentralização das compras.
"A Fundação está procurando racionalizar o processo de aquisição dos livros e, neste momento, estamos analisando as vantagens e desvantagens da descentralização", diz o diretor administrativo, professor Joaquim José de Camargo Engler. Se se concluir pela predominância das vantagens, os livros poderão ser comprados di retamente pelas instituições beneficiadas com os auxílios do programa.
O professor Engler observa que, na etapa ante~;ior, dos R$ 1 O milhões disponibilizados para o FAP-Livros, foram utilizados apenas pouco mais de R$ 5,4
milhões. Em grande parte, isso resultou do fato de muitas obras solicitadas terem se esgotado durante o processo, naturalmente moroso, de licitação e compra no país e, principalmente, no exterior. Em função disso é que a Fundação está buscando meios para racionalizar e agilizar a aquisição.
Uma outra diferença do FAP-Livros 4, em relação à etapa anterior, é que as propostas de solicitação de livros deverão ser encaminhadas à FAPESP por pesquisadores responsáveis pelas bibliotecas das universidades e instituições de pesquisa.
E,alémdisso,quandoauniversidade em questão tiver um órgão central de coordenação de suas bibliotecas, este deverá se manifestar sobre as solicitações que estão sendo feitas.
Os números relativos à fase 3 do programa mostram que 76% das solicitações de livros foram aprovadas.Assim, foram solicitadas 150.766 obras, e a FAPESP aprovou a compra de 114.441 obras. Mas, de fato, foram entregues às instituições, no final do processo, apenas 71.576 obras, das quais, 13.80 I nacionais e 57.765 do exterior. Conseguiu-se uma entrega de cerca de 60% das solicitações aprovadas, o que a Fundação não considera satisfatório. Daí os esforços para o aperfeiçoamento do programa.
Prêmio Jabuti O livro Guia para Identifi
cação de Fungos, Actinomicetos e Algas de Interesse Médico, do professor Carlos da Silva Lacaz, da Faculdade de Medicina da USP, em colaboração com seus assistentes Edward Porto, Elisabeth Maria Heins-Vaccari e Natalina Takahashi de Melo, recebeu o Prêmio Jabuti de 1998, como a melhor publicação na área de Medicina. O livro foi editado pela Sarvier com apoio da FAPESP e se destina principalmente a microbiologistas, biologistas, farmacêuticos e outros especialistas que trabalham com a identificação e sistemática desses seres.
PESP
NOT NOTAS NOTA NO TAS NO fAS N fAS NO T~ NOTAS A ' NO AS NUTAS NOTA~ NC TA NOTAS
Financiamento à Ciência na Índia Mais mulheres na pesquisa britânica Em futuro não muito remo
to, as mulheres, na Grã-Bretanha, deverão ocupar postos acadêmicos na mesma proporção em que hoje estão presentes nos cursos de graduação. Pelo menos é isso que pretende o ProjetoAthena, lançado pelo ministro britânico da Ciência, Lord David Sainsbury, na última semana de fevereiro .
Com esse nome altamente sugestivo e uma dotação inicial de US$160 mil (I 00 mil libras esterlinas), para ser aplicada apenas no primeiro ano de vigência, o projeto deve forçar um recrutamento maior da força de trabalho feminina dentro da comunidade acadêmica. Segundo notícia publicada naNature, de 4 deste mês de março, pretende-se, por meio de uma estratégia bastante diversificada, obterwn crescimento de I 0% nesse recrutamento, num horizonte de quatro anos.
Ao lançar o projeto, Sainsbury disse que o governo britânico está perfeitamente consciente de que não está aproveitando todo o talento disponível das mulheres. Observou ainda que a "reserva de competência" de onde saem os mais brilhantes acadêmicos da Grã-Bretanha poderia ser ampliada com o aproveitamento mais amplo da reserva de mulheres talentosas".
Uma parte importante do projeto Athena será a organização de um cadastro de mulheres atuantes no ensino superior, com dados referentes a formação, qualificação, postos e salários, e concentrado inicialmente nas áreas de ciência, engenharia e tecnologia. O governo acredita que a coleta e a divulgação de estatísticas relacionadas a gênero, em questões como dife-
rença proporcional de emprego nas instituições, poderá funcionar como uma poderosa alavanca para a mudança desejada.
Os responsáveis pelo projeto reconhecem que a boa vontade dos dirigentes universitários, acadêmicos, políticos e industriais que participaram da reunião de fevereiro terá de ser respaldada por mais dinheiro. Segundo Susan Bullivant, diretorajá nomeada do projeto, será preciso obter mais US$160 mil para levá-lo adiante. E se o financiamento inicial do Athena veio do ensino superior e do governo, agora estão no topo da lista de potenciais financiadores a indústria e as sociedades científicas.
Mudar atitudes, culturas e práticas dentro das universidades não será fácil, segundo Bullivant, para quem a questão diz respeito sobretudo a melhores práticas na política de recursos humanos e, portanto, à contratação das melhores pessoas em cada caso, independentemente de serem homens ou mulheres.
Cooperação científica com o Canadá O Departamento de Educa
ção e Cultura da província de Nova Escócia, Canadá, está divulgando os programas internacionais e atividades de doze de seus institutos e universidades interessados em incrementar parcerias comacomunidadeinternacional. As principais áreas de conhecimento são Artes, Ciências Sociais, Informática, Saúde, Mediei-
na, Odontologia,Arquitetura, Engenharia, Direito, Agricultura, Enfermagem e Teologia. Amaioriadas instituições mantém ,rrojetos com países da Europa, As ia, América Central e do Sul, Estados Unidos, África e Oriente Médio. Os contatos com o Departamento podem ser feitos pela caixa postal 578, Halifax, Nova Escócia, B3J 2S9, Canadá.
O financiamento da ciência indiana deverá atingir US$ 2,4 bilhões no próximo ano, equivalentes a 3,6% do orçamento total do governo, atendendo a proposta encaminhada pelo partido do governo ao parlamento, no final de fevereiro. O governo anunciou também três novas iniciativas: um fundo nacional para promover a inovação, uma missão tecnológica sobre vacinas e a criação de um conselho nacional de bio recursos para preservar e administrar os recursos genéticos da Índia.
O orçamento para a ciência não inclui os US$ 399 milhões alocados para projetos de energia nuclear, entre os quais o desenvolvimento de um protótipo de reatorfast-breeder. "Há um aumento no financiamento, embora não substancial, e os cientistas estão contentes", disse Valangiman Ramamurthi, secretário do Departamento de Ciência e Tecnologia.
Segundo notícia da revista Nature de 4 deste mês de março, como no passado, os três departamentos "estratégicos", defesa, energia atômica e espaço, ficam com a parte do leão: 51% dos recursos. O Departamento do Espaço, que está desenvolvendo um grandé propulsor de foguete criogênico, uma segunda plataforma de lançamento e
um satélite de transmissão direta de alta potência, terá um aumento de 16%. Todos os aumentos são calculados sobre os valores do final do período 1998-99, e não sobre as propostas orçamentárias iniciais, muito mais elevadas.
O aumento de 32% no orçamento da energia atômica inclui fundos paradispositivosavançados de plasma e um novo centro para matemática aplicada e radioastrofisica a ser criado. O setor eletrônico será contemplado com um aumento de 33% no financiamento à pesquisa, refletindo a ênfase do governo na tecnologia da informação. A pesquisa de culturas agrícolas terá um aumento de 26%.
Dentre as novas iniciativas anunciadas, a que se refere a inovação prevê a constituição de uma fundação nacional , com financiamento inicial de US$ 5 milhões , para elaborar um cadastro nacional de inovadores e ajudar a converter seu trabalho em oportunidades de negócios.
Quanto à missão tecnológica anunciada, ela deverá se concentrar em novas vacinas. Já o proposto conselho nacional de bio recursos, a ser liderado pelo ministro da ciência, coordenará "políticas, pesquisa, documentação e proteção legal" da riqueza genética do país.
ORÇAMENTO DE CIÊNCIA PROPOSTO PARA 1999·2000 (em US$ milhões)
Selo r 1998-99 (real) 1999-2000
Pesquisa de defesa 550 663
Espaço 359 418
Energia atômica 277 366
Agricultura 229 288
Pesquisa industrial 174 195
Pesquisa médica 143 162
Ciência e tecnologia 132 156
Energia não convencional 72 85
Eletrônica 37 50
Biotecnologia 26 29
Desenvolvimento de oceano 26 26
Total 2.025 2.438
lfi.FAPESP
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
BIOTA-FAPESP
Em foco, a biodiversidade paulista
Mapear e analisar a biodiversidade do Estado de São Paulo. Esse é o objetivo do programa Biota-FAPESP, o Instituto Virtual da Biodiversidade, que foi lançado oficialmente no dia 25 deste mês, na sede da FAPESP. Iniciativa da comunidade científica paulista, o programa tem uma abrangência inédita, não apenas no Brasil, mas internacionalmente. Seu universo de pesquisa compreende toda a fauna e a flora do Estado de São Paulo - quase 250 mil quilômetros quadrados, o que corresponde a um território pouco maior do que a Grã-Bretanha - ,desde os microorganismos até os seres mais evoluídos, tanto no ambiente terrestre quanto no aquático.
Sem sede fixa, o Biota-FAPESP integra, por meio da rede Internet, mais de 200 cientistas das universidades públicas, institutos de pesquisa e secretarias governamentais de São Paulo. O orçamento inicial disponibilizado para o programa é de R$ 1 O milhões. Sua proposta é fonnarum amplo banco de dados virtual, sistematizando infonnações que pennitam a criação de políticas públicas de conservação e uso sustentável da biodiversidade do Estado de São Paulo.
O programa também está organizando todo o conhecimento existente sobre a biodiversidade da região, que se encontra atualmente disperso por inúmeras coleções científicas
, do estado. "O Biota-FAPESP deverá se constituir num paradigma para o estudo na biodiversidade em todo o Brasi l", afmm José Fernando Perez, di retor científico da F APESP.
Auditório lotado O lançamento do Biota-FAPESP lotou
o auditório da Fundação. "Trata-se de um programa que m:te a pesquisa científica com a
política pública voltada para o meio ambiente", declarou o professor Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da FAPESP, durante a abertura do evento. "É uma iniciativa que atende aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil após a ECO 92, como a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Agenda 21 ", acrescentou.
A cerimônia teve a presença de Hernan Chaimovich, pró-reitor de Pesquisa da USP, Ivan Emílio Chambouleyron, pró-reitor de pesquisa da Unicamp, Ricardo Ohtake, secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente e Flávio Fava de Moraes, assessor espeéial do Governo do Estado de São Paulo, além dos diretores do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP: Francisco Romeu Landi, Joaquim José de Camargo Engler e José Fernando Perez.
Ao final do evento, ainda foi realizado o lançamento de dois volumes que compõem a série de sete livros que sintetiza o conhecimento produzido atél997 sobre a biodiversidade de São Paulo: Fungos Macroscópicos & Plantas e Vertebrados. Esses trabalhos são considerados os primeiros frutos do Biota-FAPESP.
Riqueza e destruição Os objetivos anunciados pelo novo pro
grama não são modestos. A biodiversidade de São Paulo é considerada uma das mais ricas do País, tal a variedade que apresenta de ecossistemas. Esse fato é conseqüência de o estado estar situado numa faixa de transição entre a região tropical e a subtropical. "Existem grandes áreas sobre as quais praticamente não temos infonnações", aponta o biólogo Carlos Alfredo Joly, coordenador do programa, acrescentando que, por exemplo, ninguém
6 PESP
conseguiu ainda fazer uma estimativa acurada de quantas espécies de borboletas, abelhas ou fonnigas existem no estado.
Além de faltarem infonnações, existe o problema da destruição do meio ambiente, que muitas vezes extingue espécies antes mesmo que elas sejam conhecidas pelo homem. Esse aspecto ganha ainda mais urgência em pontos considerados críticos, como a Mata Atlântica, o Alto Rio Paraná e o Rio Tietê.
"O Tietê foi transfonnado numa sucessão de barragens. As suas várzeas foram destruídas e com isso as espécies migratórias não têm mais condições para encontrar áreas próprias para a desova e o crescimento", aponta o biólogo Naércio Menezes, membro da coordenação do Biota-FAPESP. "São problemas de grande gravidade, que não podem ser resolvidos apenas com medidas paliativas", assinala ele. "É preciso que o conhecimento gerado pelo programa logo seja aplicado em políticas para a conservação e o uso sustentável do meio ambiente", acrescenta Joly.
O Biota-FAPESP começou a ser esboçado em 1996, quando a FAPESP foi procurada por um grupo de cientistas interessados em desenvolver um projeto voltado para a biodiversidade de São Paulo. A idéia ganhou corpo no ano seguinte, durante um seminário na cidade de Serra Negra. Com a participação de dezenas de especialistas, a proposta evoluiu para a criação de um amplo programa multidisciplinar que integrasse uma série de projetas temáticos.
Em 1998, os pesquisadores envolvidos
Como participar do Biota O Biota-FAPESP está aberto a novas propos
tas de pesquisadores (que tenham o título de doutor), podendo as inscrições serem feitas em fluxo contínuo. Os projetas podem versar sobre aspectos sociais, econômicos ou culturais da biodiversi· dade do Estado de São Paulo. Obrigatoriamente, as propostas devem ser enviadas por e-mail (acesso pelo site do programa: www.biotasp.org.br}. O projeto preliminar deve ter um tamanho máximo de três páginas, contendo: • Título do projeto • Coordenador( es) e seus respectivos e-mails (imprescindível) • Equipe (mesmo que preliminar) • Objetivos e o respectivo enquadramento destes com os objetivos do Biota-FAPESP • Articulação com outros projetosdo Biota-FAPESP • Metodologia- incluindo o compromisso de utiliza· ção do equipamento GPS padrão e a ficha de coleta • Compromisso de permitir a incorporação dos r e· sultados ao Sistema de Informação Ambiental
na discussão apresentaram o primeiro conjunto de pré-projetos temáticos, que foi submetido à análise de uma assessoria internacional. "A avaliação foi muito favorável. Várias sugestões e críticas foram incorporadas aos projetos", conta José Fernando Perez. Esse foi o mesmo encaminhamento dado às propostas apresentadas nos meses seguintes. Até agora, o programa compreende 24 propostas de projetos temáticos. Desse conjunto, nove projetos já estão formalmente aprovados (leia a relação ao final desta reportagem).
Novas abordagens O horizonte do Biota-F APESP, no entan
to, está longe de uma completa definição. "Já criamos o programa. Agora, é preciso agregar novos componentes", afinna Joly, reconhecendo que os projetos ainda estão muito concentrados na área biológica. Essa característica foi uma conseqüência quase que natural da participação maciça dos especialistas da área na fonnulação inicial do programa. "Mas não é possível trabalhar com o uso sustentável da biodiversidade sem levar em conta aspectos sociais, econômicos e culturais", diz o biólogo.
Assim, o programa permite inúmeras outras abordagens temáticas. "É o caso de projetos voltados para as populações que vivem nas proximidades das unidades de preservação ecológica", aponta Joly. "Para essas pessoas, muitas vezes a reserva se transfonna numa espécie de estorvo, pois elas não podem mais explorar os seus recursos. Os projetos poderiam mostrar como seria possível inverter essa relação, fazendo com que a unidade de preservação gerasse empregos para os moradores da região. Um exemplo disso seria a formação de guias ambientais", acrescenta. Outro aspecto com grande potencial a ser trabalho é a legislação sobre meio ambiente. "As leis brasileiras nessa área avançaram muito, mas ainda existem brechas na legislação", diz o coordenador do programa.
Flora e Genoma Embora seja inédito em suas dimensões,
o Biota tem como inspiração outros dois trabalhos desenvolvidos pelaF APESP. O primeiro é o Projeto Temático Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, desenvolvido com o objetivo de levantar toda a flora com flores daregião. Outra iniciativa que serviu como referência para o programa sobre a biodiversidade é o programa genoma-FAPESP. O modelo de instituto virtual do Genoma (que integra mais de 30 laboratórios pormeiodaRedeOnsa)éa base da arquitetura do Biota-FAPESP.
Mas os pontos de conta to entre os dois programas não se resumem ao seu aspecto virtual. "Como a biodiversidade enfoca também a diversidade genética das espécies, há uma complementaridade entre o Genoma e o Biota", destaca Carlos Alfredo Joly. A expectativa é que, no futuro, aconteça um diálogo entre as duas iniciativas. "O aprendizado das
técnicas desenvolvidas pelo Programa Genoma será importante para a conservação da biodiversidade", afirma o biólogo.
Essa possibilidade ganha ainda mais interesse pelo fato de ambas as áreas serem consideradas estratégicas para a ciência contemporânea. E particularmente para oBrasil. Afinal, o País é considerado o detentor da maior diversidade biológica do planeta, abrigando entre 15% a 20% do total de espécies. Isso tudo mostra o potencial de crescimento do Biota-FAPESP. A sua amplitude, contudo, como ressalta o próprio coordenador do programa, vai ser definida pela capacidade de organização da comunidade científica.
Nove projetas Nove projetos temáticos já foram apro
vados formalmente no âmbito do Biota-FAPESP. O primeiro deles, uma espécie de guarda-chuva de todo o programa, cuida da elaboração do seu sistema de informações. Denominado Consolidação do Sistema de Informação do Programa Biota-Fapesp e o Estudo da Viabilidade do Desenvolvimento de wn Sistema Geográfico de Informações para o Programa, ele é coordenado por Carlos Alfredo Joly (Unicamp ).
Já o projeto Diversidade de Peixes de Riachos e Cabeceiras da Bacia do Alto Rio Paraná no Estado de São Paulo tem a coordenação de Ricardo Macedo Corrêa e Castro, da USP de Ribeirão Preto, e Naércio Menezes, do Museu de Zoologia da USP. O terceiro projeto tem como tema Conservação e Uso Sustentável da Diversidade Vegetal do Cerrado e da Mata Atlântica: Diversidade Química e Prospecção de Novas Drogas. A coordenação é de Vanderlan da S. Bolzani, da Unesp deAraraquara, e Maria Cláudia Marx Young, do Instituto de Botânica. Outro projeto focaliza a Diversidade das Interações entre Vertebrados Frugívoros e Plantas da Mata Atlântica. A coordenação é de Wesley R. Silva, da Unicamp. O quinto projeto aprovado trata da Diversidade de Zoo plâncton em Relação à Conservação e Degradação dos Ecossistemas Aquáticos do Estado de São Paulo. A coordenação é da pesquisadora Takako Matsumura Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos.
O projeto Viabilização da Conservação dos Remanescentes do Cerrado Paulista, por sua vez, tem a coordenação da professora Marisa Dantas Bittencourt, do Instituto de Biociências da USP. Já o projeto Conservação e Utilização Sustentável da Biodiversidade Vegetal do Cerrado e Mata Atlântica: os Carboidratos de Reserva e seu Papel no Estabelecimento e Manutenção das Plantas emseuAmbienteNatural é coordenado por Marcos Buckeridge.
O oitavo projeto, Reconhecimento dos A caros de Interesse Agrícola do Estado de São Paulo e de seus Predadores, é coordenado por Gilberto de Moraes, da Esalq-USP. E o nono projetoaprovado- DiversidadedeMamíferos no Estado de São Paulo - tem a coordenação de Mario de Vivo, da USP de Ribeirão Preto.
PROJETO FLORA Iniciado em 1994, o Projeto Flora Fanerogâmí
ca do Estado de São Paulo integra 1 05 pesquisadores de 23 instituições de todo o estado na identificação das plantas com flores da região. De 1 994 a 1 997 eles realizaram 111 expedições científicas e 58 visitas a herbários, coletando cerca de 7.500 espécies.
O projeto criou um banco de dados que contém informações sobre os materiais depositados nos herbários do estado até a categoria de espécie e também a ocorrência de espécies por municípios e herbários. As informações fornecidas pelo banco de dados oferecem uma lista preliminar de famílias e gêneros, com número de espécies por gênero e uma I is-
7 p
tagem das espécies que ocorrem no estado. Estas listas sugerem que o estado de São Paulo tem aproximadamente 1.500 gêneros e 8.000 espécies de fanerógamas. Parte dos resultados da pesquisa pode ser acessado no site do Biota-FAPESP: http:// www.biotasp.org.br.
A iniciativa do projeto Flora Fanerogâmíca foi do professor Hermógenes de Freitas Leitão, que morreu em fevereiro de 1996, quando dirigia uma atividade de campo da pesquisa. "Ele sempre estimulou o trabalho feito com base na cooperação entre os pesquisadores. E esse foi um dos princípios da criação do Biota-FAPESP", afirma Carlos Alfredo Joly.
POlÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
MULTIUSUÁRIOS
Supermicroscópio eletrônico já está funcionando em Campinas
O microscópio eletrônico mais potente da América do Sul já está em funcionamento no novo Laboratório de Microscopia Eletrônica (LME), do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas. Inaugurado no dia 22 de fevereiro, em cerimônia que teve a presença do ministro da Ciência e Tecnologia, Luiz Carlos Bresser Pereira, o LME foi montado com o apoio daF APESP, através da sua linha regular de auxílio à aquisição de equipamentos multiusuários. Seu principal equipamento, o microscópio eletrônico de transmissão, permitirá a pesquisadores que trabalham com semicondutores, cerâmicas, metais, vidros e polímeros uma análise mais ampla desses materiais e uma melhor percepção das interações entre os átomos.
Esse tipo de microscópio emite feixes de elétrons acelerados que penetram nos materiais sólidos e reproduzem detalhes de sua estrutura atômica numa tela de computador ou de televisão. "Os elétrons atravessam as amostras como a luz do projetor atravessa slides, mostrando uma espécie de fotografia da posição e da identidade dos átomos do material analisado", explicou o professor Daniel U garte, coordenador do LME.
O resultado é um poder de ampliação de I ,5 milhão de vezes, o suficiente para transformar uma fonniga de 4 milímetros em um bicho de 6 quilômetros de comprimento. Mais importante, esse monstro é mostrado nos mínimos detalhes. A capacidade de resolução do microscópio eletrônico de Campinas é de O, 17 nanômetros - um nanômetro é um milionésimo de milímetro - um espaço menor do que o existente entre os átomos da maior parte dos mat~riais.
As possibilidades abertas por esse poder de resolução são muitas. O microscópio do LME pode ser utilizado, por exemplo, para analisar os circuitos de silício e as camadas de isolantes e de semicondutores usados em chips de computadores, além de verificar a eficiência das pequenas partículas de catalisadores e descobrir falhas e defeitos em ligas metálicas. Em nível experimental, permite o estudo dos nanotubos de carbono, um novo tipo de formação microscópica com boas perspectivas de aplicação na microeletrônica.
Todas as análises são registradas portéénicas fotográficas ou por duas câmeras digitais de TV instaladas no microscópio e arquivadas diretamente em computadores. Com 2, 70 metros de altura, o microscópio de transmissão de elétrons funciona com tensão de 300 mil volts. O LME também dispõe de dois outros microscópios de varredura, com tensões de 30 mil volts e resoluções de 1,5 e 3,0nanômetros. As imagens produzidas nesses microscópios são resultantes de sinais emitidos pelos feixes de elétrons que varrem a amostra, ponto a ponto. A infra-estrutura do LME inclui, também, os equipamentos necessários para preparar amostras de materiais que serão analisados.
Facilidades Para tomar possível o LME, o auxílio à
aquisição de equipamentos multiusuários, desmembrado do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, liberou o equivalente a US$ I ,9 milhão. "Esse laboratório exemplifica a intenção da F APESP de fmanciar equipamentos multiusuários", comentou o professor Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor do
Instituto de Física da Universidade Estadual deCampinas(Unicamp)epresidentedoConselho Superior da FAPESP. "Escolhemos o LNLS porque lá já existia uma cultura e uma organização para o uso desse tipo de equipamento, que serve a toda a comunidade científica", acrescentou.
Como exemplo da facilidade e do ganho acadêmico trazidos pelo novo microscópio, Brito Cruz lembrou que, no ano passado, foi obrigado a enviar ao México um dos membros do seu grupo de pesquisa sobre quantum dots (uma área de estudo sobre materiais fotônicos) para analisar amostras, pois não havia como fazê-lo no Brasil. "Nesse tipo de pesquisa, é normal que o trabalho de fazer medidas se prolongue por muitas semanas",
disse o professor. "Acredito que o novo laboratório vai melhorar muito o desenvolvimento de materiais no país."
Apesar de estar situado ao lado do LNLS, o microscópio de transmissão funciona de maneira independente. "São duas formas de análise", informou o professor Ugarte. "A luz síncrotron vê a amostra de fonna inteira, como se os átomos e suas estruturas fossem um grupo de pessoas, enquanto o microscópio pesquisa cada pessoa, cada detalhe", completou. Em muitos casos o pesquisador usa as duas técnicas para examinar o mesmo material.
Energia em fótons A luz síncrotron é um feixe luminoso
que, além da luz visível, agrupa de forma condensada outras ondas eletromagnéticas, que normalmente não são detectadas pelo olho humano, como os raios X e as radiações infravermelhas e ultravioletas . Ela é gerada numamáquinacircularcom 27 metros de diâmetro e 93 metros de circunferência. Produzidos por um acelerador de elétrons no interior do círculo, feixes de elétrons se deslocam num tubo de vácuo a velocidades próximas à da luz.
Quando alguns dos elétrons são desviados de rota por campos magnéticos, a energia neles presente se transfonna em fótons, partículas luminosas de intensidade muito alta, que formam a luz síncrotron. A luz sai por diversos pontos situados ao longo do círculo e é desviada para estações de trabalho. O LNLS funciona basicamente com pesquisas multidisciplinares. Além de diversos tipos de materiais sólidos, nele também são analisadas amostras de material biológico, como bactérias e vírus.
O LNLS é uma organização civil, mantida por contrato de gestão assinado com o Ministério da Ciência e da Tecnologia e o Conselho Nacional de Desenvolvimento CientíficoeTecnológico(CNPq).AFAPESPfinanc i ou cinco das oito das estações de trabalho I linhas de luz já disponíveis no LNLS - que são o local onde os pesquisadores fazem experimentos com luz síncrotron. Entre julho de 1997 e dezembro de 1998, o laboratório abrigou 326 projetos de pesquisa. Além de brasileiros, de diversos Estados, atendeu pesquisadores da Argentina, França, Itália, Rússia e Uruguai .
O LME funciona nos mesmos moldes do LNLS. Para usar seus serviços, os pesquisadores apresentam seus projetos. Eles são examinados e, se forem considerados viáveis e relevantes, marca-se uma data para que o pesquisador use o equipamento. Como no laboratório de síncrotron, é o próprio pesquisador quem vai manipular os instrumentos.
"Todos os usuários são treinados para a etapa de preparação da amostra, com salas e materiais adequados, e para a utilização do microscópio eletrônico", infonnou o professor U garte. "Afinal, o microscópio não é um serviço, mas sim um instrumento da própria pesquisa do interessado."
CONFERÊNCIA
Pesquisa e sociedade As pesquisas científicas e tecnológicas fi
nanciadas com recursos públicos têm trazido beneficias efetivos à sociedade? Que metodologia deve ser usada para avaliar seus impactos sociais e econômicos? Essas questões foram a tônica da conferênciaResearchAssessment and Evaluation, proferida na FAPESP, no dia 25, deste mês, pela doutora Susan Cozzens, professora da Escola de Políticas Públicas do Instituto de Tecnologia da Georgia, Estados Unidos.
Segundo ela, os métodos de avaliação do impacto social e econômico dos projetos de pesquisa científica e tecnológica devem ser específicos para cada uma das diferentes linhas a que se destinam os financiamentos, sejam eles direcionados à pesquisa aplicada, à inovação tecnológica de produtos, à fonnação de recursos humanos ou a projetos desenvolvidos em parceria entre a universidade e a indústria para aperfeiçoamento de processos. A metodologia de avaliação deve ser de simples aplicação e ao mesmo tempo bastante sofisticada, para oferecer informações precisas sobre os resultados da pesquisa segundo a relação custo/beneficio dos investimentos realizados.
Outro requisito importante para o conhecimento do impacto da pesquisa sobre a sociedade diz respeito aos próprios pesquisadores. Se eles estiverem interessados em que um novo conhecimento provoque mudanças em detenninados grupos sociais, eles precisamestarenvolvidos com esses grupos, certificando-se da eficácia dos canais de comunicação com eles. Se esses canais existem, há pelo menos um indicador de que a pesquisa tem impacto positivo.
A conferência, promovida pelaFAPESP, foi também uma oportunidade de fomecs:r novos subsídios para o projeto Avaliação do Impacto da FAPESP no Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado de São Paulo, coordenado pelo doutor Alberto Carvalho da Silva, ex-presidente da Fundação e professor honorário do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Segundo o doutor Alberto, a sua pesquisa começou com a identificação de projetos financiados e dos resultados, em termos econômicos, de produtos ou conhecimentos que passaram a ser utilizados na medicina, em políticas públicas e outras áreas. Com base nesse levantamento, o grupo de pesquisadores do projeto definiu parâmetros de avaliação e está discutindo como realizar o estudo do impacto.
Para Suzan Cozzens, que também é consultora do projeto daFAPESP, São Paulo é um ótimo laboratório para se desenvolver novos métodos de avaliação do impacto da pesquisa científica sobre a economia e a sociedade. "O estado tem um nível de economia relativamente fácil de compreender quando comparado a grandes e complexas economias nacionais como a americana, pois tem um número finito de setores da economia para se examinare uma agência financiadora estadual como a FAPESP. Esta situação é muito diferente da que se vê nos Estados Unidos, onde a pesquisa fundamental é financiada principalmente por duas agências nacionais, a National Institutes ofHealth (NIH) e a National Science Foundation (NSF)". A professora, que já foi ligada à NSF, conclui que São Paulo é um dos poucos lugares do mundo com a escala certa para o estudo da conexão entre ati v idades de pesquisa básica e a economia.
Depois de sua segunda visita à Fundação desde 1997, a doutora Susan Cozzens participou de discussões sobre o projeto do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da USP, desenvolvido em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e sobre o projeto Políticas Públicas para Inovação Tecnológica na Agricultura do Estado de São Paulo: Métodos para Avaliação de Impactos e Priorização da Pesquisa, do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, atualmente em análise no âmbito do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas da FAPESP.
PROJETO TEMÁTICO
O estudo do transporte e regulação do íon cálcio no coração é um tema que vem mobilizando, há mais de dez anos, o Laboratório de Pesquisa Cardiovascular(LPCv) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Um novo projeto temático, Transporte de cálcio em miócitos ventriculares de ratos durante o desenvolvimento pós-natal, financiado pelaFAPESP, está ampliando, com resultados animadores, os conhecimentos nessa área. "Importantes conclusões estão previstas para o próximo ano", informa o pesquisador José Wilson Magalhães Bassani, diretor do Centro de Engenharia Biomédica e professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp, coordenador do projeto.
A importância do projeto é maior do que parece à primeira vista. O íon cálcio é responsável pela contração do músculo cardíaco. Há fortes indicações de que muitas doenças que levam a insuficiências nas funções do coração, como hipertensão arterial, isquemia miocárdica, hipertrofia e distúrbio de ritmo, estão ligadas a alterações nos transportadores de cálcio. Para caracterizar definitivamente essas alterações, porém, é preciso pesquisar de maneira mais profunda os mecanismos básicos da célula sadia.
É justamente este o objetivo do projeto, iniciado há três anos. Até o fim de 1999, ele pretende apresentar uma descrição quantitativa precisa e completa da participação relativa dos transportadores de cálcio em animais jovens e recém-nascidos. Os objetivos do pro-
ENGENHARIA BIOMÉDICA
Dentro do coração
jeto ficam dentro da pesquisa pura. Mas não há dúvidas de que suas descobertas poderão levar, posterionnente, a pesquisas sobre tratamentos mais eficazes para os problemas cardíacos, responsáveis, segundo dados da Fundação Interamericana do Coração (IHF), por 34% das mortes que ocorrem no Brasil.
Metodologia O projeto, mesmo no estágio atual,já tem
o que mostrar. Por exemplo, para sua realização, foi desenvolvida uma metodologia totalmente nova. Esse desenvolvimento foi realizado no laboratório do professor Donald Martin Bers, na Universidade Loyola, em Chicago, nos Estados Unidos, com a participação de Bassani e da doutora RosanaAlmada Bassani, também da Unicamp. O desdobramento desse trabalho no Brasil também contou com um financiamento da FAPESP.
Nas primeiras etapas do projeto temático, os pesquisadores se concentraram no desenvolvimento e aprimoramento de métodos e instrumentos destinados a pennitir que fossem medidas as participações relativas dos diversos mecanismos de transporte de cálcio nas células cardíacas, além da parte liberada pelo retículo sarcoplasmático, a principal fonte do cálcio destinado às contrações do músculo existente nessas células.
Além do estoque de cálcio existente no retículo sarcoplasmático, as células contam com vários mecanismos para o transporte do íon, como as bombas de cálcio existentes no
retículo e na membrana das células, a troca sódio-cálcio e o transportador mitrocondrial. Todos esses fatores estão sendo pesquisados como parte do projeto.
Contração O íoncálcio tem diver
sas funções no organismo. Ele regula a transcrição genética e controla a produção deenergianascélulas. Uma de suas funções mais importantes, porém, é controlar o processo de contração do coração, que bombeia o sangue para todo o organismo. "Oíoncálcioatuacomo fator de ligação entre a excitação elétrica e a contração em células musculares cardíacas, além de modular a força desenvolvida pelas células", explica o professor Bassani.
Uma falha no processo pode ter conseqüências fatais. Estudos recentes documentaram uma ligação entre a hipertensão severa, um estado que pode levar ao aumento exagerado e à falência do coração, e alterações no processo de ligação entre excitação e contração, especialmente com relação à quantidade de cálcio liberada pelo retículo sarcoplasmático, onde fica seu estoque principal. "Esse é o conceito que temos defendido como possível explicação alternativa para o controle do inotropismo (função contrátil) cardíaco", afirma o professor.
Em estudos anteriores, o grupo de trabalho da Unicamp detenninou, a partir de pesquisas em coelhos adultos, que, durante uma contração, cerca de 70% do cálcio é transportado pelo retículo sarcoplasmático, 28% pela troca sódio-cálcio e apenas 2% por mecanismos mais lentos, como as bombas de cálcio da membrana e os transportadores mitocondriais.
"Essas participações podem ser muito diferentes em animais jovens ou recém-nascidos", comenta o professor Bassani, "e o impacto de tratamentos que afetem o transporte de cálcio será certamente dependente da importância relativa dos diversos transportadores." Daí a importância do trabalho em curso.
Fluorescência Várias etapas do projeto já foram venci
das. Uma delas foi a detenninação dos sítios de ligação passiva dos íons, os chamados
buffers de cálcio, no interior das células. Outras foram a determinação de parâmetros e o desenvolvimento de métodos de calibração do sinal de fluorescência usado para medir as concentrações intracelulares de cálcio.
A metodologia das pesquisas envolve o isolamento de células cardíacas, ou miócitos, por digestão enzimática; medição de correntes iônicas por patch-clamps (técnica que utiliza microeletrodos para essa medição); medição de encurtamento celular por detecção de borda de sinal de vídeo e de concentração intracelular de cálcio por fluorescência.
De acordo com Bassani, os pesquisadores, a certa altura, depararam com a necessidade de desenvolver uma técnica própria de estimulação elétrica. Essa nova técnica já levou a dois subprodutos: um modelo matemático, com base na teoria eletromagnética, para explicar o processo de excitação elétrica das células de animais recém-nascidos; e um estimulador elétrico de alta potência.
"A partir de agora, não só o nosso laboratório, mas outros, no Brasil e no exterior, poderão beneficiar-se do conhecimento de que miócitos de animais neonatos podem ser estimulados eletricamente, por campo elétrico, desde que se usem estimuladores capazes de fornecer correntes superiores a 500 miliamperes", afinna o professor da Unicamp. Essa corrente, superior a 500 miliamperes, é cerca de dez vezes maior que a necessária para estimular miócitos de animais adultos nas mesmas condições.
Há mais. A equipe desenvolveu um microfotômetro, instrumento completo ( óptico, mecânico e eletrônico) para medir a concentração de cálcio no interior das células, mais compacto e, aparentemente, mais adequado aos ambientes hospitalares do que equipamentos importados. O aparelho, capaz de monitorar a concentração intracelu-
PARTICIPAÇAO DOS TRANSPORTADORES DE CÁLCIO NO VENTRÍCULO DE RATOS
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50
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1.00
Total (100%)
RS(91,3%)
(5,6%) (3,1%)
Nesta espécie, o retículo sarcoplasmático (RS) contribui com 91 ,3% do fluxo total de cálcio transportado durante uma contração. A troca sódio/cálcio (NCX) participa com 5,6%, e o restante do transporte (3, 1 %) é feito pelo trabalho conjunto dos outros mecanismos mais lentos
!arde cálcio numa célula isolada, é uma das melhores opções nesse campo, inclusive em nível internacional.
Considerando-se que o projeto ainda não chegou ao final, são resultados amplos e importantes. Muitos outros, provavelmente, vão aparecer até o projeto chegar à sua conclusão, no fim do ano que vem.
Além do professor Bassani, a equipe multidisciplinar envolvida no projeto temático inclui RosanaAlmada Bassani, biólo-
O íon que faz o coração se contrair
ga, mestre em Ciências Biológicas e doutora em Ciências, da Unicamp, que atua como v ice-coordenadora do projeto; o professor Aníbal Vercesi, médico, doutor em Ciências, da Unicamp; Márcia Fagian, bióloga, doutora em Ciências, da Unicamp; o professor Carlos Marcelo Gurjão de Godoy, engenheiro-eletrônico, da Universidade de Moji das Cruzes; e o professor Paulo Alberto Paes Gomes, fisico, da Universidade de Moji das Cruzes. Nos Estados Unidos, o projeto tem o apoio do professor Donald Martin Bers, da Universidade Loyola, de Chicago.
Participam ainda os alunos de doutoramento Sandro Aparecido Ferraz, tecnólogo em saúde, e Josemar Gurgel da Costa, biólogo; os alunos de mestrado Katherine Almeida Lima, engenheira-eletrônica, e Nivaldo Zafalon Júnior, tecnólogo em saúde; e, em iniciação científica, os estudantes Christianne Basílio e Silva, Gustavo Shingai Sinzato e Ana Carolina Silveira. Fornecem apoio técnico Alexandre Tedeschi, técnico em eletrônica, Gílson Barbosa Maia Júnior, biólogo, e Rubia Franchi, estagiária em Bioquímica.
Quando o coração é ativado eletricamente, o íon cálcio entra nas células cardíacas, por meio dos canais de cálcio, desempenhando dois papéis: ativar diretamente o mecanismo de contração e provocar a liberação maciça de cálcio vindo dosestoques existentes no retículo sarcoplasmático.
A concentração intracelular de cálcio eleva-se, então, do nível de repouso para um pico, de cerca de dez vezes maior. O íon liga-se a proteínas contráteis e o processo de contração é desencadeado. O cálcio é removido do citoplasma por transportadores, a concentração volta ao nível de repouso e o ciclo se repete.
O papel dos transportadores é fundamental para que a concentração de cálcio na célula aumente e volte aos níveis iniciais após a ativação elétrica, constituindo uma variação transitória chamada transiente de cálcio. O tempo em que ocorre o processo e a ampliiude do transiente de cálcio determinam a força desenvolvida e a potência da contração do músculo cardíaco.
Os estudos para a medição de cálcio dentro das células ganharam força a partir de 1985, quando empresas dos Estados Unidos colocaram no mercado indicadores de cálcio mais eficientes e que podiam ser usados mais facilmente. Os indicadores, atualmente, são fluorescentes e emitem luz quando a célula é iluminada com luz ultravioleta. Quanto maior a quantidade de cálcio, mais intensa é a luz emitida.
O controle das contrações do músculo cardíaco não é a única função do íon cálcio no organismo. Ele tem importantes funções como mensageiro intracelular. Sinaliza processos vitais no organismo e pode ser mobilizado de fontes tanto dentro como fora das células.
Entre as atividades reguladas pelo cálcio, estão a divisão das células, a transcrição genética e a produção de energia celular. Mas seu excesso representa um perigo. Uma sobrecarga de cálcio, por períodos prolongados, pode levar à morte da célula.
Perfil: O professor José Wilson Magalhães i tem 45 anos. Bacharelouse em Ciências de Com utação e fez mestrado e doutorado em Engenharia Elétrica e Biomédica na Unicamp. Depois de um pósdoutoramento Universidade da Cal' mia, em Riverside, foi professor-assistente da Un1 idade Loyola, em Chicago, nos Estados Unidos. Atualmente, é prole livre-docente do Departamento de Engenharia Biomédica da Faculdade Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp e dirige o Centro de Engenharia Biomédica.
CIÊNCIA
GENOMA-FAPESP
No time dos grandes
A manhã de 26 de março de 1999, uma sexta-feira,já entrou para a história da ciência brasileira. Nesse dia, no auditório daFAPESP, foi oficialmente finnado o acordo de cooperação entre a Fundação e o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, instituição internacional sediada em Nova York, com filiais em várias cidades do mundo, sendo uma delas em São Paulo. Para assinar o contrato de cooperação, que prevê o investimento de US$ I O milhões, nos próximos dois anos, no projeto Genoma Humano do Câncer - marcando, assim, a entrada do país nas pesquisas internacionais sobre genoma humano-, estiveram presentes o presidente da F APESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, e o presidente do Instituto Ludwig, Edward McDermott, que veio dos Estados Unidos especialmente para selar a parceria.
De acordo com o contrato, metade da verba destinada ao projeto sairá da FAPESP e os outros 50% serão alocados pelei Instituto Ludwig. "Esse acordo é um reconhecimento da qualidade das pesquisas feitas no Brasil, sobretudo no Estado de São Paulo", disse Brito Cruz. "Por isso, foi fácil tomar a decisão de estabelecer essa parceria", afirmou McDennott. Também estiveram presentes à cerimônia de assinatura da parceria o vicegovemador do Estado, Geraldo Alckmin, o secretário estadual da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, José Aníbal, o secretário estadual da Saúde, José da Silva Guedes, o secretário do Desenvolvimento Científico do Ministério da Ciência e Tecnologia, F emando Reinach, os di retores da FAPESP Francisco Romeu Landi, José Fernando Perez e Joaquim José de Camargo Engler,
e o presidente do Instituto Ludwig em São Paulo, Ricardo Brentani.
O Genoma Humano do Câncer, primeira iniciativa brasileira e do Programa Genoma da FAPESPa trabalharcomocódigo genético da espécie humana, tem como objetivo gerar entre 500 e 750 mil seqüências de genes (totalizando 200 milhões de pares de bases) a partir de material retirado dos tumores de maior incidência no Brasil - cabeça e pescoço (que representam um quinto dos casos do Estado de São Paulo), gástricos (cerca de 8% do total de casos do país) e colo do útero (também apr0-ximadamente 8% dos casos do país). Os pesquisadores esperam que, uma vez tenninado esse trabalho dé seqüenciamento de genes, as infonnações obtidas no projeto possam ser de grande valia no futuro para o tratamento, cura e prevenção desses tipos de câncer e que elas representem uma contribuição inédita da ciência nacional na corrida global pelo mapeamento do todos os genes que fonnam o Homo sapiens sapiens. Todos os resultados obtidos no projeto serão repassados para bases de dados públicas, a fim de que qualquer pesquisador possa usá-los em prol da ciência.
O método Orestes O Genoma Câncer dispõe de seis máqui
nas seqüenciadoras de genes, das quais duas já estão em uso e produzindo os primeiros resultados. Esses novos aparelhos têm uma capacidade de geração de seqüências dez vezes maior do que a dos equipamentos usados no projeto GenomaXyllela - aXylella fastidiosa é a bactéria causadora da Clorose Variegada dos Citros (CVC), praga popularmente conhecida como amarelinho, que ataca um
!!IAPESP
terço dos laranjais paulistas - , primeira iniciativa da FAPESP no âmbito do Programa Genoma.
Embora o novo desafio seja grande, os pesquisadores estão otimistas e trabalham com uma ponta de orgulho adicional no Genoma Câncer. Isso porque o trabalho está sendo feito com a ajuda de um novo método de seqüenciamento de genes descoberta no Brasil, batizada de ORESTES, em inglês OpenReading Frames ESTs (Expressed Sequence Tags). Esse método foi desenvolvido por Andrew Simpson, do Instituto Ludwig de São Paulo e coordenador do Genoma Câncer (veja detalhe no encarte). O contrato de cooperação, inclusive, também estabelece que a patente nos Estados Unidos do novo método de seqüenciamento é do Ludwig, mas que os ganhos com royalties referentes ao uso comercial da metodologia ORESTES serão divididos meio a meio entre essa instituição e a FAPESP.
Para Fernando Reinach, o projeto Genoma Humano do Câncer evidencia a maturidade da FAPESP no campo da biologia molecular. Segundo ele, no primeiro projeto de genoma da FAPESP, o daXyllela, havia o medo de que os pesquisadores brasileiros não tivessem capacidade de levar a cabo uma iniciativa desse porte. Por isso, na ocasião, optou-se por seqüenciar um organismo importante para a lavoura paulista, porém pequeno e sobre o qual não houvesse disputa com laboratórios internacionais. "Mostramos que temos competência e, com uma técnica revolucionária e brasileira, entramos no time dos grandes jogadores. Agora, vamos trabalhar sobre o organismo mais estudado e onde há mais competição entre laboratórios públicos e privados no mundo, o ser humano. Acho que temos condições de entrar para fazer um estrago, no bom sentido", afinnou Reinach. "Ninguém nos convidou para essa festa (a da corrida pelo seqüenciamento do genoma humano), mas nós entramos nela. Talvez não sejamos nem bem-vindos, mas vamos em frente" , disse Simpson.
Rede virtual O Genoma Humano do Câncer usará
uma estrutura de funcionamento semelhante à empregada no projeto da Xyllela, lançando mão da rede virtual de laboratórios do Estado de São Paulo, ONSA (Organização para Seqüenciamento de Nucleotídeos). A coordenação geral dos trabalhos ficará a cargo do Instituto Ludwig de São Paulo, sob o comando de Simpson, ao qual estarão ligados via Internet os cinco centros responsáveis pela tarefa de seqüenciar os genes humanos : Instituto de Química da USP, Universidade Federal de São Paulo, Faculdade de Medicina da USP, Universidade Estadual de Campinas e Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto. Cada centro terá quatro laboratórios interligados a ele,
que terão a incumbência de manter as máquinas abastecidas com material a ser analisado geneticamente. Os laboratórios interessados em participar do projeto podem se candidatar preenchendo um fonnulário que pode ser acessado na página daFAPESP na Internet (www.fapesp.br).
"A rede ONSA foi criada para o projeto daXyllela e hoje foi incorporada ao Pro-
grama Genoma. Ela é eficiente e barata, pois não gastamos nenhum dinheiro construindo prédios para abrigar nossos projetos", comentou José Fernando Perez, diretor científico da FAPESP. O vice-governador, Geraldo Alckmin, afirmou que o Genoma Câncer ajudará a descobrir a cura de doenças, aumentanto assim a qualidade de vida das pessoas.
·no Humano do Câncer
Presidente do Ludwig fala da parceria Notícias FAPESP · Por que o Instituto Ludwig
decidiu patrocinar o projeto Genoma Humano do Cân· cer, da FAPESP?
Edward McDermott · Porque ele tem um apelo imediato. Estamos muito preocupados com o fato de que há vários projetos internacionais sobre o Genoma Humano nos quais estão sendo patenteadas seqüên· cias de genes sem que esse novo conhecimento este· ja necessariamente associado a iniciativas em prol da coletividade. Nós achamos que as seqüências de ge· nes são um tipo de conhecimento que deve estar inte· gralmente à disposição da comunidade científica internacional, em bases de dados públicas. Ao apoiar o projeto da FAPESP, estamos possivelmente contribuindo com uma iniciativa que visa reduzir o caminho percorrido até a descoberta dos genes e que pode representar uma contribuição material nesse esforço global em busca do Genoma Humano.
NF- O senhor acha que essa nova técnica de seqüenciamento de genes, chamada de ORESTES, representa uma revolução na busca pelo Genoma Humano?
EM -Isso somente o tempo dirá, mas, com certeza, estamos muito entusiasmados com ela. Achamos que ela dará conta do tipo de trabalho necessário para a realização do projeto Genoma Humano do Câncer. Estamos muito esperançosos e aguardando seus primeiros resultados. Daqui a dois meses, os resultados iniciais devem começar a ser publicados, mais laboratórios entrarão no processo de seqüenciamento de genes e, dentro de um ano e meio, esperamos ter as informações genéticas de que precisamos. ORESTES é uma técnica nova, que está sendo usada apenas no Brasil. Pelo acordo que temos com a FAPESP, o Instituto Ludwig detém a patente dela, mas se compromete a repassar à FAPESP metade dos ganhos referentes aos royalties récebidos pelo uso dessa técnica em projetos comerciais, que não trabalhem com o Genoma Humano.
NF- Andrew Simpson, coordenador do Genoma Câncer, diz que, com este projeto, o Brasil entra, possivelmente sem ser convidado, na festa do Genoma Humano, um campo de pesquisa muito competitivo e basicamente restrito a instituições públicas e privadas dos países do Primeiro Mundo. O senhor concorda com essa visão dele?
EM- É sempre bom entrar sem ser convidado numa festa (diz, rindo). Agora, falando a sério. Nós confiamos no trabalho feito pelos brasileiros, especialmente os envolvidos neste projeto. Foi, portanto, para nós, do Ludwig, uma decisão fácil e natural optar por esta parceira com a FAPESP. Decidimos tocar este projeto no Brasil, mais especificamente em São Paulo, porque foi aqui que a nova técnica foi descoberta. Para nós, parecia apropriado que as pessoas que tinham sido as responsáveis pela descoberta tivessem a chance de exercitar essa técnica. Além disso, o doutor Simpson e seus
colegas do projeto Genoma da Xyllela fastidiosa já tinham demonstrado competência para organizar uma rede virtual de laboratórios e tocar um esforço de seqüenciamento genético, o que tornou a decisão ainda mais fácil. Além disso, fomos, desde o início, muito encorajados pelo suporte dado pela FAPESP. Isso foi muito importante. Em agosto de 98, este projeto foi apresentado à administração do Instituto Ludwig, nos Estados Unidos. Na primeira semana de setembro, num sábado, tivemos um encontro com o professor José Fernando Perez (diretor científico da FAPESP) em Nova York. Havia cientistas do Instituto Ludwig de todo o mundo que havíamos levado para lá a fim de ouvir as explicações do doutor Simpson sobre o novo método e nos dar uma opinião sobre a técnica. Desde então, estamos convencidos dos méritos da nova técnica e entramos numa corrida para viabilizar este projeto e chegarmos ao ponto em que ele se encontra neste momento. Hoje há uma corrida global em busca do Genoma Humano. Cada dia são geradas novas seqüências de genes e todos sabemos que há urgência em tornar públicas as informações sobre o código genético. Temos, portanto, cada vez menos tempo para realizar essa tarefa.
NF- O projeto Genoma Humano do Câncer tem duração prevista de dois anos. Esse tempo é realmente suficiente para essa tarefa? O Instituto estaria disposto a patrocinar o projeto por mais algum tempo?
EM- De acordo com o que lemos na imprensa, os prazos nos projetos de Genoma Humano estão ficando cada vez menores, e não maiores. Por isso, no caso do Genoma Câncer, tudo vai depender de quão eficiente será a metodologia ORESTES e dos progressos obtidos nessa área pelos projetos internacionais que usam outras técnicas. Vamos monitorar os passos de Genoma Câncer com a FAPESP, mas, em princípio, nosso comprometimento é de dois anos com a iniciativa, tempo que
julgamos suficiente para concluir o trabalho. NF- O Instituto Ludwig participa de outros proje
tos de Genoma Humano similares ao da FAPESP em alguma outra parte do mundo?
EM - Estou no instituto há dez anos e nós nunca fizemos algo assim. É uma oportunidade única para nós. Como eu já disse, tomar essa decisão foi muito fácil e estamos muito contentes com a parceria com a FAPESP.
NF- O senhor acha realmente que o ser humano corre o risco de ter seus genes patenteados por empresas privadas nessa corrida pelo Genoma da espécie?
EM -É um tema realmente controverso entre os cientistas. Há governos e empresas privadas fazendo seqüenciamentos de genes. Às vezes, alguém quer patentear uma seqüência, mesmo sem saber para o que ela serve, qual é sua função, apenas com o intuito de tentar garantir algum ganho no futuro. Não acho que seja adequado requerer essas patentes.Aiém disso, vai depender do sistema jurídico de cada país o reconhe- . cimento ou não dessas patentes no futuro.
NF- O senhor tem idéia do como está essa disputa entre as empresas privadas e os institutos de pesquisa pública?
EM-É muito difícil saber como está realmente essa corrida. Na semana passada, os cientistas envolvidos no projeto Genoma dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA anunciaram que eles esperam terminar na primavera no próximo ano (do Hemisfério Norte) o primeiro rascunho das sequências de todos os genes humanos. Antes desse anúncio, o prazo mais otimista para concluir esse trabalho era dezembro de 2001. Ninguém sabe se os cientistas estão exagerando em suas previsões, mas o fato é que os progressos nessa área não param de acontecer. Isso faz com que o Genoma Câncer da FAPESP tenha cada vez menos tempo para dar sua contribuição ao esforço global de mapeamento dos genes humanos.
PROJETO TEMÁTICO
O Brasil tem um problema sério: adesnutrição infantil, que atinge 31% das suas crianças com até cinco anos. E, pelo menos, parte da solução: aumentar a produção e o consumo de leite, um dos alimentos mais completos que existem. Não é tarefa impossível. O Brasil produz cerca de 20 bilhões de litros por ano. Os Estados Unidos, com rebanho leiteiro menor, produzem três vezes e meia mais, 70 bilhões de litros. O consumo médio diário de leite no Brasil é de 200 mililitros, menos de um copo. O recomendado é cinco vezes mais, um litro por dia.
Para aumentar a produtividade e estimular o consumo, um dos caminhos mais eficazes é controlar as doenças mais comuns das vacas leiteiras. Assim, as vacas proçluziriam mais e melhor, com os mesmos investimentos em animais, pessoal e instalações. Já se trabalha muito nesse campo. Em São Paulo, o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Glândula Mamária e Produção Leiteira (NAPGAMA), órgão ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), realiza, desde 1990, um trabalho intensivo para aumentar e melhorar a produção de leite.
VETERINÁRIA
Trabalho de base No fim do ano passado, os pesquisado
res do NAPGAMA completaram o projeto temáticoMastitelnfecciosaBovina, um trabalho de quase cinco anos que contou com um financiamento de R$ 105 mil da FAPESP. O assunto é muito importante. Amasti te infecciosa, a doença que mais atinge os rebanhos leiteiros no mundo todo, é também a que causa os maiores prejuízos à produção leiteira. No Brasil, cerca de 72% das vacas leiteiras têm pelo menos uma das quatro glândulas mamárias do úbere atingidas pela infecção. Mesmo nos Estados Unidos, o índice chega a 40%.
Os resultados do projeto temático estão apenas começando a aparecer. Mas tudo indica que vão superar as expectativas. Além de levar à publicação de mais de 50 artigos, em revistas brasileiras e internacionais, o projeto destruiu mitos importantes com relação à mastite e levou à revisão de vários conceitos, inclusive alguns antes aceitos internacionalmente. A extensa lista dos microorganismos responsáveis pelamastite cresceu. Além disso, os frutos do trabalho já iniciaram uma transformação que vai resultar, certamente,
Elizabeth Oliveira da Costa: a pesquisa destruiu mitos importantes com relação à mastite e deu origem a projetos de educação sanitária
numa maior disponibilidade de leite de melhor qualidade no país.
Conscientização Uma das principais conclusões do pro
jeto é que a solução do problema passa, necessariamente, pela educação. Sendo uma doença infecciosa, a mas ti te é transmitida facilmente de um animal para outro, se as pessoas responsáveis pelas vacas não tomarem muito cuidado, especialmente na fase da ordenha. "O controle da mastite bovina e, conseqüentemente, o incremento na produção e na qualidade do leite, só poderá ser atingido pela conscientização do problema e pela adoção de medidas que visem minimizar a ocorrência dessa afecção em propriedades leiteiras", diz a pesquisadora Elizabeth Oliveira da Costa.
A professora Elizabeth tem condições para falar com segurança. Doutora em Imunologia e Microbiologia, ela é titular de Epidemiologia de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USPecoordenadoradoNAPGAMA.Foiela quem coordenou o projeto temático apoiado pelaF APESP. O volume de dados obtido pelo projeto é impressionante. De 1993 a 1998, seus pesquisadores realizaram cerca de 300 mil exames de diagnóstico da mas ti te, em 280 estabelecimentos leiteiros de 155 municípios em São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
A conscientização, acredita a professora Elizabeth, deverá vir de um esforço conjunto, do qual participariam, além dos produtores, seus órgãos de classe, as cooperativas, as empresas que trabalham com leite, técnicos como veterinários, zootecnistas, agrônomos, universidades, institutos de pesquisa, órgãos públicos e as indústrias farmacêuticas e de equipamentos que atuam no setor. Mesmo depois, o trabalho não estará terminado. "Para atingir-se eficiência real na produção leiteira de um país, é importante monitorar a saúde animal, uma vez que ela influi diretamente no rendimento da produção e na qualidade do leite", afirma a professora.
Por enquanto, como demonstrou a pesquisa, a falta de infonnação entre os produtores é a principal barreira para o controle da mas ti te infecciosa. Essa doença pode ter origem traumática, metabólica ou fisiológica. O pior é que o processo inflamatório da glândula mamária, causado por microorganismos, não se limita a prejudicar os animais e a alterar a própria composição do leite. Pode provocar doenças sérias nas pessoas que consomem o leite contaminado, como meningite, brucelose e septicemias. Nas vacas, além da perda das glândulas mamárias, provoca abortos e mesmo a morte.
De acordo com o NAPGAMA, o índice de cura espontânea da doença é muito baixo, não passando de 25% do total. Quando a doença evolui, causa a perda da glândula mamária do animal, que deixa de produzir leite. Altamente contagiosa, passa para as outras glândulas mamárias do úbere e para outros animais. Nos Estados Unidos, calcula-se que a doença causa um prejuízo médio anual de US$ 180 a US$ 200 por vaca. No Brasil, não há uma estimativa geral. Mas levantamentos regionais realizados pelo NAPGAMA chegaram a índices de cerca deUS$ 330 por vaca/ ano, nas regiões que abrangem o estado de São Paulo e o Sul de Minas Gerais, enquanto o custo com as medidas preventivas seria de apenas US$ 25/vaca/ano (figura I).
Controle Os dados obtidos pelo projeto temático
já estão contribuindo para a colocação em prática de programas de controle da mastite infecciosa e da qualidade do leite. "E vão contribuir muito mais", diz a professora Elizabeth. Além disso, pesquisas desenvolvidas a partir do projeto estão levando a um controle melhor da doença, por meio de medidas preventivas, nas regiões estudadas.
As medidas são várias. Algumas se aplicam aos animais em lactação, outras aos animais em período seco, quando não estão produzindo. Outras envolvem aspectos da nutrição das vacas, higiene na ordenha, ações terapêuticas e mesmo relacionadas com o meio ambiente. As pesquisas dizem respeito a vários campos ligados à produção de leite e às glândulas mamárias dos bovinos, como epidemiologia, manejo, nutrição, microbiologia e tecnologia de alimentos lácteos.
Um dos resultados das pesquisas foi desfazer vários mitos correntes entre os pecuaristas. Por exemplo, acreditava-se que a vaca
MASTITE
ordenhada com o bezerro por perto, e mamando depois da ordenha, não adquiria mastite. Errado. Não há diferença estatisticamente significativa na incidência da mas ti te, esteja o bezerro mamando ao pé da vaca, ou não. O que há é uma incidência elevada de mastite subclínica, isto é, que não apresenta sintomas aparentes, como inchaço da glândula, entre as vacas cujos bezerros mamam depois da ordenha.
Há outros casos. Por exemplo, acreditava-se que novilhas na primeira cria não apanhavam a doença. Os dados - inclusive já publicados em revistas científicas de circulação internacional- mostram, ao contrário, ocorrência alta de infecções intramamárias entre esses animais. Outro mito, de que a ingestão elevada de proteínas prejudicava as glândulas mamárias das vacas, também foi destruído pelos resultados do projeto.
PERDAS
• US$ 329,34/ vaca I ano
• US$21.617,93/propriedade/ano
Higiene na ordenha O que ficou comprovado é que higi
ene é fundamental. Nenhuma variável exerceu maior influência sobre a ocorrência de mastite do que o manejo - o trabalho colheu dados em vários tipos de ordenha, manuais e mecânicas. Daí a importância do traba lho educacional e de conscientização, que já começou, com palestras para técn icos, veterinários, agrônomos, zootecnistas e proprietários das fazendas.
A própria professora Elizabeth coordenou um projeto de educação sanitária para ordenhadores e retireiros, os trabalhadores da li nha de frente da produção leiteira, através de cursos de treinamento sobre higiene e técnicas de ordenha. "Procuramos mostrar aos trabalhadores do campo que o mesmo leite que salva da desnutrição pode provo-
Núcleo paulista serve de base para rede nacional Apenas alguns anos depois de inaugura
do, o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Glândula Mamária e Produção Leiteira (NAPGAMA) já pode ser considerado um centro de excelência no selar leiteiro. Em suas instalações, no campus administrativo da Universidade de São Paulo (USP) em Pirassununga, a 225 quilómetros de São Paulo, são desenvolvidas atividades acadêmicas que já resultaram na elaboração e defesa de diversas teses de mestrado e doutorado.
Agora, o NAPGAMA está partindo para um projeto mais ambicioso, a criação de núcleos similares em outras regiões do Brasil. O objetivo é criar, no futuro, um programa de âmbito nacional, com a participação dos criadores de gado leiteiro.
"O núcleo foi criado em 1990 com o objetivo de desenvolver pesquisas em um setor considerado de prioridade pública, a produção lei-
teira no Estado de São Paulo", lembra a coordenadora do núcleo, professora Elizabeth Oliveira da Costa. A criação do NAPGAMAcoincidiu com a adoção, pela USP, de uma nova filosofia, a de reunir especialistas para a participação em programas multidisciplinares e integrados com a comunidade.
Pouco mais de um ano depois, em 16 de dezembro de 1991 , os laboratórios do novo centro de estudos já estavam instalados em Pirassununga. A Reitoria da USP colaborou com reformas, a prefeitura do campus de Pirassununga forneceu a mão-de-obra e a prefeitura da Cidade Universitária cedeu um automóvel para pesquisas de campo. Bolsas de aperfeiçoamento agilizaram o fluxo na pós-graduação. Algumas teses, por exemplo, foram concluídas em um ano e oito meses.
A partir do projeto temático Mastite Infecciosa Bovina, financiado pela FAPESP, o NAPGAMA
ampliou suas pesquisas, realizadas no campus de Pirassununga e em propriedades particulares. Além disso, montou a infra-estrutura para o desenvolvimento dos estudos experimentais. Tem agora uma sala de ordenha, mini estábulo e piquetes de pasto, onde são mantidos os animais usados nas experiências.
No dia 21 de outubro de 1998, o núcleo lançou a Revista NAPGAMA, durante a Expomilk, o principal encontro ligado à produção leiteira no Brasil. A revista, bimensal, com circulação de 5 mil exemplares, divulga as pesquisas realizadas pelo NAPGAMA e outras instituições ligadas à produção leiteira.
"Nossa revista preenche uma séria lacuna na área de publicações do setor, carente de informações que unam orientação prática à pesquisa científica e da apresentação de soluções para os problemas da pecuária leiteira nacional", ressaltou a professora Elizabeth.
cara morte de uma criança por desidratação, se não forem adotados cuidados com relação à saúde dos animais, à higiene durante a ordenha e à conservação do leite", disse a professora.
Conceitos internacionais Alguns resultados do projeto chegaram
a mudar conceitos internacionais sobre a mas ti te infecciosa. Acreditava-se, por exemplo, que somente espécies de Staphylococcus aurieus eram patogênicos para a glândula mamária e muito resistentes ao tratamento com antibióticos. "Entretanto, comprovou-se cientificamente a importância dos Staphylococcus sp coagulase negativo na etiologia da mas ti te, aspectos demonstrados em teses de mestrado envolvendo as áreas de patologia e microbiologia", ressalvou a professora Elizabeth.
Outra contribuição importante do projeto ocorreu na área da medicina preventiva. Os pesquisadores examinaram diversos anti-sépticos e sua forma de uso na desinfecção das tetas depois da ordenha, comparando sua eficácia na prevenção de
novas infecções, além de aspectos de praticidade e economia. Mais uma vez, ficou clara a importância do fato r assepsia. A incidência da doença cai radicalmente, mesmo com cuidados relativamente simples, desde que adotados de forma adequada e constante.
Número elevado De qualquer maneira, a erradicação da
doença é meta muito distante. "A mastite bovina ocorre em todos os países onde há produção leiteira e o interesse pelo controle é mundial", afirma a professora Elizabeth. Uma das causas dessa situação é a enonne variedade de agentes causadores do problema. Uma revisão internacional, feita em 1988, apontou nada menos do que 137 espécies diferentes de microorganismos como causadores da mastite. Esse número cresceu nos últimos anos. A própria pesquisa do NAPGAMA juntou alguns nomes à lista, além de aumentar a relevância de alguns deles.
Um exemplo está nas algas do gênero Prototheca. Descobriu-se que elas são res-
ponsáveis por verdadeiros surtos de mas ti te em propriedades pecuárias brasileiras.A publicação desse aspecto da pesquisa provocou grande interesse e deu início a intenso intercâmbio entre o NAPGAMA e instituições de outros países, como a tradicional Universidade de Uppsala, da Suécia. Além de várias publicações em revistas internacionais, as algas foram tema de duas teses, uma de mestrado, outra de doutorado.
Isso é só uma parte. Até agora, o projeto resultou em mais de 50 pesquisas, relatadas em revistas nacionais e internacionais, e cerca de 100 trabalhos apresentados em congressos no Brasil e no exterior. Dezenas de cursos foram ministrados, em São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. O projeto levou à criação de uma revista especializada bimestral , a Revista NAPGAMA, com tiragem de 5 mil exemplares.
"Considero, porém, como a contribuição mais importante desse projeto temático a consolidação do N APGAMA, por meio da formação de jovens pesquisadores e da integração com pesquisadores de outras unidades da USP e de outras instituições de pesquisa", diz a professora Elizabeth. Afinal, não foram poucas as entidades envolvidas com o projeto. Além de pesquisadores ligados às indústrias, participaram do projeto o Instituto de Ciências Biomédicas da USP, nos setores de Microbiologia e Micologia, o Instituto Biológico de São Paulo, o Instituto de Zootecnia de Nova Odessa e a Faculdade de Medicina Veterinária da UNESP de Botucatu.
Perfil: A professora Elizabeth Oliveira da Costa, de 51 anos, é veterinária, doutora em Imunologia e Microbiologia e professora titular em Epidemiologia de Doenças Infecciosas na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. Tem mais de 150 pesquisas científicas publicadas na área de doenças Infecciosas, com ênfase em mastite, e é autora de capítulos em livros nacionais e estrangeiros. É orientadora credenciada em CUISOS de pós-graduação de várias faculdades da USP e de universidades federais.
Produção cresce, mas ainda não é suficiente Quando o NAPGAMA foi instalado em Piras
sununga, em 1991, o Brasil produzia apenas 13 bilhões de litros de leite por ano. Hoje, a produção pulou para 20 bilhões de litros por ano, mas não é suficiente para atender ao consumo. Em 1996, as importações de leite foram responsáveis por 10% do déficit na balança comercial brasileira. Que a produção brasileira pode aumentar ainda mais, ninguém duvida. Só que vai ser necessário muito esforço, pesquisa e informação para melhorar a composição genética, a alimentação, o estado sanitário e o manejo do rebanho leiteiro.
"A idéia de montar um centro de pesquisa sobre o leite surgiu da alta relevância social, econô-
mica e de saúde pública representada pela produção leiteira", lembra a professora Elizabeth Oliveira da Costa, coordenadora do NAPGAMA. O leite é o alimento básico da primeira fase da vida humana. Ele preenche a totalidade das necessidades de proteína das crianças com até dois anos, 60% das dos adolescentes e 40% das dos adultos.
O leite tem outras propriedades, de acordo com a pesquisadora. Previne o câncer de cólon, pâncreas e próstata e combate a hipertensão. Mas, para ter esses efeitos, é necessário que a pessoa consuma mais de um litro de leite por dia. No Brasil, vem ocorrendo o contrário, o consumo de leite por pessoa está caindo. De 1986 a 1996, o consumo por pessoa caiu 18%. Como, no mesmo perío-
do, o consumo de cerveja aumentou 47%, o problema parece estar mais na falta de informação do que no baixo poder aquisitivo.
O rebanho leiteiro brasileiro tem cerca de 1 O milhões de cabeças, mas uma boa parte do leite produzido vem de vacas de raças de corte. Os maiores produtores de leite são Minas Gerais e São Paulo, seguidos de Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul, empatados em terceiro lugar. Há um fator preocupante: do leite produzido no Brasil, 41% correspondem ao chamado leite informal, vendido dire· lamente ao consumidor, sem qualquer tipo de fiscalização. Como o que não falta são doenças no rebanho, como a mastite, trata-se de uma porta aberta para a contaminação.
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
ENGENHARIA
Dominando a tecnologia de produção de gálio Em novembro do ano passado, um gru
po de pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) colheu as primeiras gotas densas e prateadas de gálio de alta pureza. Foi um momento importante. Naquele instante, o Brasil passava a dominar a tecnologia de produção em escala laboratorial de um metal estratégico na indústria de infonnática e de telecomunicações e de alto valor comercial. Até então, por falta de conhecimento científico e tecnológico, nunca houve meios de aproveitar o gálio, mesmo que o país seja um grande produtor mundial de alumínio, que é retirado do mesmo mineral , a bauxita.
Esse pesquisa - Construção e Operação de Usina Piloto para Recuperação de Gálio a partir do Licor de Bayer - se desenvolve desde 1996, no âmbito do Programa de Parceria para Inovação Tecnológica, da FAPESP, e é realizado por pesquisadores daPoli/USP em parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Seu valor total é de R$ 627 mil, divididos meio a meio pela FAPESP e CBA. Os resultados representam, de imediato, a viabilidade de obter gálio como subproduto do processamento do alumínio a partir da bauxita. Para isso, é usado o chamado licor de Bayer, um líquido vennelho-escuro fonnado em uma das etapas iniciais da purificação do alumínio.
O impacto desse trabalho poderá ser notado em pouco tempo. Francisco Afonso Albuquerque, engenheiro da CBA que acompanhou a pesquisa com a USP, calcula que uma usina piloto semi-industrial para retirada do gálio do licor de Bayer pode entrar em operação num prazo de um ano e meio,já contando as costumeiras dificuldades técnicas que surgem na ampliação da escala de produção. "A extração de gálio não apresenta custos elevados, não interfere no processo de obtenção de alumínio e fornece um produto de cotação bastante elevada no mercado internacional", dizAlbuquerque. Cotado a um mínimo deUS$ 400 por quilograma, o gálio custa cerca de duas mil vezes mais que o alumínio ou quatro mil mais que o mais puro minério de ferro .
A autonomia na produção desse metal poderá, assim, dentro de alguns anos, gerar um item de alto valor agregado na pauta de exportações brasileiras, além de abastecer o mercado interno. Já a curto prazo, facilita o desenvolvimento de pesquisas de tecnologias avançadas. O gálio é usado na fabricação de chips (ou microprocessadores) para computadores de alto desempenho, telefones ce-
O gálio: metal oom valor comercial duas
mil vezes maior que o do alumínio
lulares, satélites e detectores de foguetes. Além de ter um enonne potencial no mercado de semicondutores, é indispensável em células solares como as da sonda espacial Galileu, que chegou a Júpiter, a 780 milhões de quilômetros da Terra.
Forças contrárias O domínio tecnológico da produção de
gálio exigiu não apenas tempo e apoio financeiro, mas, também, doses renovadas de paciência, humildade e criatividade. "Por diversas vezes, não conseguimos avançar nas linhas de pesquisa mais promissoras", conta o engenheiro metalurgista Arthur Chaves, professor do Departamento de Engenharia de
Minas da Escola Politécnica, que coordena a pesquisa. Por se tratar de uma matéria-prima de aplicações nobres e elevada cotação, as empresas que o produzem, sobretudo na França, na Alemanha e na Austrália, sequer cogitam a possibilidade de passar adiante a tecnologia de fabricação. A colaboração foi nula também dos fabricantes dos reagentes químicos empregados na extração do gálio, que cediam amostras para testes em pequena escala, mas recusaram-se a vender em quantidades maiores, à medida que a pesquisa progredia. "Enfrentamos a resistência de grandes empresas multinacionais que não queriam que nosso trabalho avançasse", diz Arthur Chaves.
O saldo final, porém, é bastante positivo. Os pesquisadores criaram alternativas nacionais à altura para os reagentes importantes, que os fabricantes resistiam em fornecer, e inovaram em diversos pontos do processo de recuperação do gálio. O professor Arthur pode se considerar satisfeito também por outras razões. A partir da equipe fonnada para o Projeto Gálio, tomaram fonna outros trabalhos na mesma linha de reciclagem e reaproveitamento de resíduos, a exemplo da recuperação da areia do Rio Tietê,já viabilizada em escala comercial. Em setembro, os resultados da pesquisa, que já renderam um pedido de patente, em co-autoria da USP com a CBA, serão apresentados em um simpósio sobre reciclagem e tecnologias limpas em San Sebastian, na Espanha.
Resultados tão grandiosos tiveram uma origem convencional. Os pesquisadores da USP partiram do licor de Bayer, o mesmo tipo de material usado no mundo inteiro como fonte de gálio. O licor de Bayer, um dos primeiros resíduos do processo, contém uma elevada concentração de alumínio, além de outros metais, entre eles o gálio, o zinco e o vanádio, em proporções bem menores. Trata-se, de resto, de um caminho clássico e ainda não superado para a purificação do alumínio, criado em 1895 pelo químico austríaco Karl Joseph Bayer (veresquema na página seguinte).
Como o licor de Bayer retoma ao processo industrial, para dele se retirar o máximo possível de alumínio, os pesquisadores ado taram como princípio básico do trabalho que as características químicas desse material não poderiam ser alteradas, sob o risco de tomar o processo antieconômico, quando deixasse a escala laboratorial. O licor de Bayer seria desviado do processo industrial para dele se extrair o gálio, mas voltaria nas mesmas condições, ainda que, obviamente, sem aquele metal.
Criando alternativas Os problemas começaram já na etapa se
guinte, quando o licor de Bayer deveria ser submetido à ação de solventes ou de resinas especiais, que, cada um a seu modo, separam o gálio do restante da solução. Como os fabricantes se recusaram a fornecer essas substâncias em grande quantidade para o laboratório da USP, os pesquisadores verificaram que seria inevitável desenvolver novas matérias-primas e caminhos inovadores. Preferiram desenvolver as chamadas resinas de troca iônica, um dos meios possíveis para a extração de gálio, por duas razões básicas: já havia especialistas nessa área no Brasil e os solventes, que representam o outro caminho habitual, têm um enonne potencial poluente. O tempo mostrou o acerto da escolha. "Acreditamos que com as resinas poderemos obter um produto de maior pureza já nas primeiras etapas do processo", assinala o químico Waldemar Avritscher, um dos pesquisadores do projeto.
Nessa etapa da pesquisa, o laboratório da USP contou com a colaboração do Instituto de Macromoléculas do Rio de Janeiro, que projetou uma resina especial para extrair o gálio do licor de Bayer. À primeira vista, parece areia, embora, claro, seja muito mais refinada. Trata-se de um polímero do grupo dos poliacrilatos, que funciona como um esqueleto ao qual, em pontos determinados, juntam-se ramificações formadas por um grupamento químico específico, o radical amidoxima, que tem grande afinidade pelo gálio.
Há décadas, lembra Waldemar, os livros de química apontam os compostos que reagem com o gálio. "O problema era construir um polímero com um radical que fosse estável, funcionasse bem e tivesse a granulometria adequada", diz ele. De modo mais
simples: a resina não poderia ser muito grossa nem muito fina. Além disso, teria de extrair apenas o gálio, sem retirar o alumínio (os dois metais são parecidos quimicamente), e funcionar nas condições próprias do licor de Bayer, que é extremamente alcalino. Correram anos de testes e ajustes até chegar ao ponto ideal. Depois, uma inovação puxou outra. Para retirar o gálio absorvido pelo polímero, em vez de usar substâncias ácidas, como normalmente é feito, os pesquisadores desenvolveram outro líquido, bem mais simples e seguro, com ótimos resultados. O gálio é, então, filtrado e passa por mais duas resinas, desta vez comuns (uma é usada para purificar suco de laranja, a outra para tratar água) até se tomar um metal! íquido a temperatura ambiente, como o mercúrio.
Ao avançar para a etapa industrial, a pes-
quisa deverá se beneficiar com o alto teor de gálio verificado na bauxita brasileira. Segundo Waldemar, enquanto a média mundial situase entre 30 a 40 partes por milhão (ppm) de gálio, a bauxita retirada das minas de Poços de Caldas (MG), amais usada nos experimentos, apresenta de 80 a 11 O ppm (o teor de alumínio é cerca de 2.000 vezes maior). Além disso, o licor de Bayer, numa etapa intermediária de processamentodabauxita,éummaterialabundante nas refinarias de alumínio. O caminho, enfim, está aberto.
Pertil: O p~ssor Arthur Chaves, de 53 anos, é engenheiro metalurgista graduaao pela Esoola Politécnica da USP, onde fez mestrado e doutorado na área de tratamento de minérios. É professor titular do Departamento de Engenharia de Minas da PoiVUSP e trabalha, desde 1990, em pesquisas de reciClagem e reaproveitamento de subprodutos da mineração.
O passo a passo para obtenção do gálio nacional
1 -A bauxita é moída e
misturada com uma substância
básica, o hidróxido de
sódio, em tanques sob alta pressão (15 a 20
atmosferas) e alta
t temperatura (150 a 200• Celsius).
2 -A filtração separa as impurezas
insolúveis, a chamada lama
vermelha, que é descartada, e o licor de Bayer,
com alto teor de
outros metais solúveis, como
o gálio.
3- Cristais de alumina (ou hidróxido
de alumínio) são acrescentados ao licor de Bayer para acelerar
a separação do alumínio, que vai ao
fundo do tanque.
Alumínio
4 - Parte do licor de Bayer, que 1 ainda contém bastante alumínio, f mesmo depois de lavado e
•................. filtrado, volta para o início do
processo, para ser reciclado.
ts fS
O projeto de recuperação de gálio a partir dos resíduos da bauxita tem um colorido peculiar. De tempos em tempos, os pesquisadores coletam amostras dos líquidos que se formam durante o processo de extração do metal, misturam com uma solução com corante e pingam, gota a gota, em tiras de papel divididas em quadrados devidamente numerados. De acordo com o teor de gálio da solução, formam-se círculos cor-de-rosa, de uma tonalidade mais acentuada, se o teor do metal é elevado, e mais tênue, se a concentração é baixa. Se não houver metal no líquido examinado, o corante não vai reagir e o papel permanecerá branco. É possível, assim, acompanhar instantaneamente o teor de
5 - Uma resina especial retém o gálio do licor de Bayer. Em seguida, um líquido de baixa acidez, que substitui os bastante ácidos usados nos processos convencionais, separa o metal da resina.
Círculos cor-de-rosa gálio durante as etapas de purificação e, quando necessário, ajustar o processo. "Essas tiras são o nosso principal instrumento de trabalho", diz o químico Waldemar Avritscher.
Simples e eficiente, o teste de gálio, como é chamado, é uma das inovações surgidas durante o desenvolvimento da pesquisa. Sua história é interessante. Já se sabia, há décadas, que um corante vermelho-vivo, a rodamina, reage com o gálio. O professor Alcídio Abrão, consultor do projeto, reuniu essa informação com os princípios do chamado spot test, um método criado no Brasil pelo químico austríaco Fritz Feigl, que identifica metais pingando reagentes sobre as amostras organizadas
As tiras coloridas que medem o teor de gálio: se o teor do metal é elevado, a tonalidade rosa é mais acentuada; se a concentração é baixa, a cor é mais tênue
em uma placa de vidro. A partir daí, bastou adaptar o teste para o papel e ajustar a solução com o corante. O componente-chave é o benzeno. É ele que extrai a rodamina com o gálio para formar os diferentes tons de cor-de-rosa. Quando não há gálio, o benzeno não se mistura com o corante, permanece sobrenadando no líquido e se mantém transparente.
Trata-se, evidentemente, de um teste semiqualitativo, puramente visual. Os resultados serão verificados e detalhados em seguida, por meio das análises qualitativas realizadas noespectrofotômetro de absorção atómica, um equipamento totalmente automatizado, de elevada precisão.
6- O gálio, em uma solução ainda amarelada, passa por uma filtragem e a seguir por uma segunda resina, que remove as impurezas. Nesta etapa, o gálio está contido numa solução transparente, semelhante à água.
7 - Uma terceira resina retira as impurezas finais e deixa o gálio, ainda diluído numa solução ácida, pronto para ser purificado.
8- Na etapa final, a eletrólise, por meio de correntes elétricas de elevada amperagem e baixa voltagem, o gálio é separado do oxigênio ao
Gálio purificado
19
qual está ligado e, purificado, torna-se um metal líquido denso e prateado.
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
LABORATÓRIO MÓVEL
Na porta da fábrica Cerca de 3.000 micro e pequenas empre
sas do setor de transformação do plástico, situadas no Estado de São Paulo, começam a ver luz no fim do túnel. Hoje, um dos principais problemas enfrentados por esse contingente, que representa cerca de 80% da indústria do plástico no estado, é a dificuldade de acesso à informação e às novas tecnologias, o que compromete a qualidade de seus produtos e impede a conquista de novos mercados.
A partir deste mês, essas empresas passam a entrar no Prumo da tecnologia. Não se trata apenas de força de expressão. O Prumo - Projeto de Unidades Móveis de Atendimento Tecnológico às Pequenas Empresas do Se to r Plástico é um serviço de apoio tecnológico que vai até a empresa, levando novos conhecimentos aos micro e pequenos empresários. As unidades móveis são veículos adaptados com equipamentos laboratoriais importados e de última geração (de que a grande maioria das empresas ainda não dispõe), para a realização de ensaios físicos e mecânicos em matérias-primas, processos e produtos acabados.
A novidade faz parte de um projeto pioneiro, resultante de uma parceria firmada entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Sebrae- Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo, e o Instituto Nacional do Plástico (INP), com o apoio da FAPESP, no âmbito do Programa Inovação Tecnológica em Parceria. O objetivo é contribuir para a elevação tecnológica das empresas transformadoras de plástico uma das principais matérias-primas do mundo-, preparando-as para ganhar novos mercados, inclusive os de exportação.
Produção e pesquisa "No mundo em que vivemos não há
competitividade sem adensamento tecnológico e a experiência do Prumo representa este necessário entrosamento entre a produção e a pesquisa", salientou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Celso Lafer, durante o lançamento do projeto, no último dia 8 deste mês de março, na abertura da 7" Brasilplast - Feira Internacional da Indústria do Plástico, realizada no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo.
Após a concorrida solenidade, que contou ainda com a presença do vice-govemador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do secretário estadual de Ciência e Tecnologia, José Aníbal , do diretor presidente da FAPESP, Francisco Romeu Landi, di retores do IPT, Sebrae e INP, e outras autoridades, foram apresentadas ao público as duas primei-
ras vans que irão levar informações tecnológicas às empresas. Os veículos estão equipados com 13 tipos diferentes de máquinas e contam com uma equipe formada por um engenheiro e um técnico, em cada uma das vans. As ati v idades de campo começaram no dia 15 deste mês.
O Prumo foi criado por iniciativa do IPT, a partir de uma idéia do engenheiro Vicente Mazzarella, diretor técnico do Instituto, e coordenador do projeto. Há quatro anos, durante um trabalho de consultaria realizado na Colômbia, com 20 empresas da área de fundição, através de convênio com a Organização de Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas, o engenheiro percebeu quanto fazia falta o apoio de equipamentos laboratoriais para demonstração. Assim nasceram os laboratórios móveis, desenvolvidos no Brasil posteriormente.
Atendimento gratuito "Este é um projeto aplicável a qualquer
setor: fundição , tratamentos de superfície, borracha, móveis, calçados, setores que possivelmente vamos começar a atender após o trabalho no setor plástico", adianta Mazzarella. Concebido nos últimos três anos, o programa deverá realizar cerca de 175 atendimentos por ano, com suas duas unidades móveis, que contam com três equipes técnicas, revezando-se a cada 15 dias. As primeiras 350 empresas inscritas serão atendidas gratuitamente (veja como participar do Prumo no quadro abaixo).
Mazzarella informou que o mercado potencial em todo o estado é formado por cerca de 3.000 micro e pequenas empresas
Acima, Vicente Mazzaretta coordenador do projeto, diante de equipamento da unidade móvel. A esquerda, o diretor·presidente da FAPESP, Francisco Romeu Landi, e o diretor do tPT, Alberto Pereira de Castro. Na página ao lado, o ministro do Desenvolvimento, Celso Lafer, e o vice·govemador paulista, Geraldo Alckmin
transformadoras de plástico. Para dar conta desse universo, seriam necessárias cerca de 30 dessas unidades móveis, o que tomaria possível atender cada empresa uma vez por ano. Na fase experimental, os técnicos visitaram20fábricas do setore identificaram uma série de dificuldades que poderão ser facilmente resolvidas com o apoio dos laboratórios.
Cada visita do laboratório móvel deve durar de um a três dias, oportunidade em que a equipe de atendimento pode indicar soluções para problemas relativos aos diferentes componentes que entram na formulação do plástico ou dar sugestões quanto ao processo de industrialização (variáveis de temperatura e pressão, por exemplo). E ainda contribui
para detectar a presença de substâncias contaminantes que podem influir no produto acabado.
Uma das empresas visitadas, por exemplo, usa chapas de acrílico para montagem de painéis promocionais e necessita de um material perfeitamente branco.Amatéria-prima utilizada atualmente pela empresa tem um matiz que tende para o azulado. Com o laboratório móvel, será possível detenninar apresença ou não de aditivos que possam ser corrigidos para o branqueamento desejado.
De que maneira? A pesquisadora Maria do Canno Zorzenon Sim i, gerente do Prumo, explica que os laboratórios contam com equipamentos modernos e muito precisos. Um desses aparelhos, por exemplo, é o espectrofotômetro por infravermelho, usado para identificar diferentes materiais. O reconhecimento do material e a identificação de seus componentes são feitos por radiação infravermelha, ou seja, os raios absorvem energia em detenninados comprimentos de onda e essas absorções criam uma impressão digital dos diferentes materiais.
É o aparelho ideal para empresas que trabalham com matéria-prima importada e necessitam saber sua composição, ou ainda resolver dificuldades como a das placas de acrílico. A resposta pode ser obtida em até cinco minutos, a depender do material em estudo. Mas, por enquanto, nem mesmo as indústrias de porte médio têm acesso a esse equipamento, que custa cerca deUS$ 45 mil.
Outro equipamento de grande utilidade é a máquina universal de ensaios, que realiza testes mecânicos nos materiais, para avaliar suas propriedades de !ração, flexão e compressão. Maria do Canno destaca, ainda, o aparelho para ensaios de resistência ao impacto, que funciona assim: o equipamento quebra o material por um sistema de pêndulo, com peso definido, e verifica quanto este material absorveu de energia por superfície para se quebrar, detennjnando sua resistência ao impacto.
Foi identificada, também, nessa fase experimental, uma outra indústria que faz injeção de peças pequenas para o setor automotivo, utilidades domésticas e embalagens, e tem
problemas de acabamento. Nesse caso, o laboratório móvel tem condições de verificar a fluidez da matériaprima adquirida pela empresa e a adequação da montagem da peça, e, ainda, se há necessidade de ajuste no processo de injeção. Há, também, os casos de empresas que querem comprar equipamentos para seus laboratórios, mas necessitam de apoio na hora de definir o que comprar e como treinar suas equtpes.
O Prumo, segundo o engenheiro Mazzarella, foi
pensado para resolver todas essas situações. "Nosso apoio é importante por dois aspectos: as pequenas e microempresas vão ter mais condições de resistir à invasão dos produtos importados e realizar o que chamamos de substituição de importações. E, se forem capazes de resistir internamente, muitas vão ter condições de exportar", analisa.
Outra conseqüência será a redução de refugos nas empresas, uma vez que as peças produzidas que não atingem o nível desejado vão para a reciclagem. Além disso, com o apoio tecnológico, os produtos acabados terão melhor qualidade e as empresas serão mais seletivas com os materiais de partida (matéria-prima virgem ou material reciclado). Resultado: redução de custos e aumento do faturamento.
Tecnologia aplicada O superintendente do IPT, Plínio Ass
mann, ressaltou, na solerudade de lançamento do projeto, que a parceria do Instituto foi iniciada com as empresas do setor plástico de; vido à grande receptividade demonstrada
pelo Instituto Nacional do Plástico, que congregaas principais entidades representativas da categoria. "O empresário brasileiro precisa não ser avesso a mudanças e estar aberto à evolução, e o INP é um promotor dessa abertura no setor." Continuou: "O Sebrae é um parceiro nato e a FAPESPéa grande motivadora". Para esse projeto, a FAPESPestá liberando recursos da ordem de R$ 530 mil, o Sebrae, R$ 867 mil, e o IPT, R$ 196,6 mil.
Para Assmann, a FAPESP dá um passo muito significativo no campo da tecnologia aplicada, "na medida em que financia projetos de grande impacto social". O Prumo, segundo ele, vai beneficiar mais de 60% das empresas do setorplástico, o que significa um contingente de 120 mil empregos.
Já o presidente do INP, Alexandrino de Alencar, acredita que esse apoio tecnológico vai refletir, no futuro próximo, na melhoria da saúde das empresas, aumentando sua produtividade e competitividade. Entusiasmado, o diretor do Sebrae, Edson Fennann, adiantou que a instituição vai trabalhar, nos próximos dois anos, em projetos de parceria. Disse também que o Projeto de Unidades Móveis está dentro das metas estabelecidas pelo Sebrae, que tem como objetivo trabalhar setorialmente e regionalmente.
O Prumo é um projeto especial do IPT, que conta com a supervisão geral da diretora adjunta para Projetos Especiais, Ma ri Tomi ta Katayama, sob a gerência de Maria do Carmo Zorzenon Si mi. Participam também do projeto os pesquisadoresAnnênio Gomes Pinto e Evelyne Yaidergorin, e o diretor da Divisão Química do IPT, Antonio Bonomi.
Pertil: O pesquisador Vicente Mazzarella, 67 anos, é engenheiro meta urgista, formado pela Escola Politécnica da USP. É pós-graduado em Mel urgia Flsica pela Carnegie Tech, em Pittsburgh, Estados Unidos, e em Administração de Empresas pela_Fundação Getúlio Vargas, São aulo. Alua mente, é diretor técnico do I PT.
ENTRE NO PRUMO DA TECNOLOGIA Veja como solicitar ao IPT uma visita do laboratório móvel:
1. A empresa interessada no programa deve solicitar o atendimento à Central de Operação do Prumo, pelo telefone 0800-557790.
2. Um técnico do IPT vai até a empresa em data previamente agendada para entrevista e diagnóstico preliminar.
3. A Central de Operação avisa qual a data do atendimento tecnológico solicitado. No dia marcado, a unidade móvel visita a empresa.
4. Durante o atendimento, a empresa deverá destacar um responsável da área técnica/produtiva para aluar junto aos técnicos do I PT, permitir a realização das modificações propostas e fornecer insumos, energia elétrica, entre outros itens necessários aos trabalhos.
5. Três meses depois da primeira visita, será feito novo contato para avaliação dos resultados alcançados. A empresa que tiver implementado todas as ações receberá um atestado de participação assinado pelas entidades parceiras.
O I PT compromete-se a manter sigilo sobre todas as informações a que tiver acesso.
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PROJETO TEMÁTICO
TEATRO
A busca de uma nova técnica de interpretação
O ator em primeiro plano. É com essa perspectiva que o Lume (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp) investiga, desde 1985, as múltiplas possibilidades de formação do ato r teatral. Não se trata apenas de preparar jovens artistas para atuar no palco. O objetivo do Lume é pesquisar as técnicas que constituem a chamada arte de ator, desenvolvendo, assim, novos métodos de trabalho para a criação teatral. Aberto às mais diferentes fonnas de linguagem e expressão corporal - desde elementos da cultura popular brasileira até experiências de vanguarda - o grupo vem obtendo crescente reconhecimento internacional. Técnicas e espetáculos criados pelo Lume já foram apresentados em inúmeros países da Europa e da América Latina.
A mais importante pesquisa em desenvolvimento pelo Lume é Mímeses Corpórea e a Poesia do Cotidiano. Seu princípio está na observação e na imitação da gestual idade humana. A pesquisa foi apresentada como um projeto temático à FAPESP e desde janeiro de 1997 conta com o apoio da instituição, no valor de R$ 45,6 mil.
Em sua primeira fase, encerrada no ano passado, o projeto compreendeu o confronto de duas metodologias: as técnicas de expressão do Butô - criado no Japão no inicio da década de 1960, em oposição à rígida tradição cênica do país - desenvolvidas pela coreógrafa e bailarina Anzu Furukawa e o método de Mímeses Corpórea, elaborado pelo próprio Lume.
O convite para Anzu Furukawa realizar um intercâmbio com o grupo da Unicamp não foi ao acaso. "Suas técnicas são diferentes, mas com resultados semelhantes aos que procuramos", diz a professoraSuzi Frank! Sperber, coordenadora do Lume e do projeto temático. Considerada uma das mais importantes representantes do Butô,Anzu Furukawa é autora de dezenas de coreografias apresentadas no circuito internacional de festivais de dança.
Seu trabalho é voltado ao mundo inconsciente, procurando fazer com que o corpo fale por si. Já a Mímeses Corpórea está baseada na observação das pessoas. "Não se trata de uma mera repetição de movimentos", diz Carlos Roberto Simioni, ator e pesquisador do Lume. "A idéia é que o ator coloque o outro dentro do seu próprio corpo. Assim, os gestos codificados são acoplados às técnicas corpóreas de representação", aponta Simioni.
Cem anos de solidão Além da pesquisa sobre o confronto de
técnicas, o intercâmbio teve como objetivo a montagem de um espetácuJo inspirado na obra Cem Anos de Solidão, do escritor colombiano Gabriel Garcia Márques. Batizada como Afastem-se Vacas que a Vida é Curta, a peça foi apresentada no final de 1997, sendo que a sua estréia aconteceu no Teatro Luís Otávio Bumier (que homenageia o fundador do Lume, morto em 1995), em Campinas.
Para encenar o universo mágico descrito pelo livro de Garcia Márques, o Lume empreendeu uma viagem de pesquisa até aAmazônia. "Resolvemos coletar material nessa região, limítrofe da Colômbia, porque ela é a . . que mais se aproxima do mundo de Cem Anos de Solidão, conta Suzi Frank! Sperber. Entre abril e maio de 1997, um grupo de atares-pesquisadores esteve em cerca de 30 cidades, coletando informações sobre hábitos e comportamentos dos moradores daregião. Nessa empreitada, os pesquisadores utilizaram todo o tipo de transporte possível : aviões da Força Aérea Brasileira, barcos a motor ou mesmo canoas a remo conduzidas por índios. Assim, eles tomaram contato com o cotidiano dos rincões do país. "Conhecemos pessoas que tinham uma percepção de vida completamente diferente da nossa", conta Ana Cristina Colla, atriz e pesquisadora do Lume. "Um Brasil completamente novo, cuja riqueza corporal, vocal, textual e humana me encantou profundamente", acrescenta.
Em cada cidade visitada, os pesquisado-
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res dedicavam muitas horas a conversas com os moradores locais, principalmente os idosos, justamente por terem mais experiências para contar. Sem falar no encontro com tribos indígenas, como os lanomani. Sua proposta era não deixar passar despercebido nenhum detalhe das narrativas de vida dos moradores daAmazônia, assim como gestos, hábitos e posturas. Tudo era anotado, gravado e, quando possível, fotografado.
O material pesquisado na Amazônia foi a matriz da montagem de Afastem-se Vacas que a Vida é Curta, apresentada entre setembro e dezembro de 1997 pelo interior do Estado de São Paulo. Encenada com sete a tores, a peça combina figurinos e expressões da cul-
tura brasileira com situações insólitas. A peça, entretanto, não esgotou o material coletado na viagem para aAmazónia. "Temos uma pesquisa rica e vasta que pretendemos utilizar em novos trabalhos", afim1a Carlos Simioni. É o caso de inúmeras canções da região, que fazem parte do mais novo espetáculo do grupo, Café com Queijo, com estréia prevista para o final deste mês de março, no Teatro do Lume, em Campinas. "A pesquisadaMímesesCorpórea tem ainda de subir novos degraus até que estejamos em condições de sintetizar uma nova técnica", diz Simioni.
Antropologia teatral O trabalho desenvolvido atualmente
pelo Lume dá continuidade às idéias que alimentaram a sua criação. O centro foi idealizado pelo diretor Luís Otávio Bumier, após ter passado oito anos em estudo e pesquisa pela Europa - quando teve conta to com importantes nomes da interpretação modema, como Etienne Decroux, Eugenio Barba, JerzyGrotowski, lves Lebreton e Jacques Lecoq, além de mestres do teatro oriental, como No h, Kabuki e Kathakali.
Retomando ao Brasil, Bumier resolveu investir no projeto de criação de um centro de pesquisa teatral cujo foco fosse a arte de ato r. A proposta tornou-se realidade em 1985, quando o Lume foi estabelecido por Bumier, Denise Garcia, Carlos Simioni e Ricardo Puccetti.lnstitucionalmente, o Lume é um núcleo da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário da Unicamp.
"O projeto de Luís Otávio Bumier era a criação de uma antropologia teatral", diz Suzi Frank! Sperber, que assumiu a coordenação do núcleo em 1996. "Sua proposta consistia no aproveitamento das técnicas aprendidas na Europa junto com elementos da cultura brasileira", conta a professora. "Ele investiu na hipótese de que o universo cultural brasileiro, principalmente no que tem de ritualístico, traria elementos para a criação teatral."
Dentro dessa perspectiva, seria necessária a criação de uma nova concepção de ato r. "Era preciso criar um ato r independente, investindo-se, assim, na busca dos elementos que seriam necessários para a formação do corpo desse ator", afirma Suzi Sperber. Essa foi a razão da constituição do Lume como um centro formado por atarespesquisadores, envolvidos num projeto de longo prazo. "O ato r precisa ter o conhecimento das suas potencialidades. Ele precisa saber como expressar as variadas energias que estão no seu próprio corpo", aponta Carlos Simioni. "Nossas pesquisas procuram o desenvolvimento autónomo de cada ator, fazendo com que ele seja o teorizador da sua própria prática", diz Suzi Sperber.
A concepção de teatro do Lume, porém, não extingue a função do diretor, mas exige uma nova postura da sua parte. "O diretor continua existindo. Mas o seu papel passa a ser o de um orientador", diz Suzi Sperber. "Ele não é orientador que impõe o seu projeto, mas aquele que sabe discemir o que é novo e interessante no projeto do seu orientando", aponta a professora. "É como se fosse uma colcha de retalhos. Cada pedaço de tecido é a proposta de um ator. Cabe ao diretor costurar esses retalhos", compara Carlos Simioni.
"Antes da produção artística, nossa preocupação é pesquisar o homem e o seu corpo em situações de representação", diz Suzi Sperber. Assim, os espetáculos montados pelo Lume são uma conseqüência natural da pesquisa sobre o fazer artístico. "Técnica e criação são inseparáveis", aponta a professora.
Técnicas em pesquisa O Lume está sediado num casarão pró
ximo à Unicamp, que já se transformou num laboratório de experimentos teatrais. São comuns os festivais com grupos da região, ou mesmo do exterior. Diariamente, os atoréspesquisadores do Lume enfrentam longas jornadas de treinamento e pesquisa da expres-
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são corporal e teatral. Além da Mímeses Corpórea, o grupo desenvolve outras duas linhas de pesquisa: a Dança Pessoal e o Clown e a Utilização Cómica do Corpo.
A Dança Pessoal visa a elaboração e a codificação de uma técnica pessoal de representação que tenha como base a dilatação e a dinamização das energias potenciais do ato r. "É uma técnicaquepermiteaoatortrazerpara fora sentimentos e emoções de todos os tipos, mesmo que eles sejam monstruosos", diz Carlos Simioni. "Com a Dança Pessoal, temos o ator e as suas emoções dilatados corporalmente. Assim, o atordeve saber controlar essas reações."
Já o Clown e a Utilização Cómica do Corpo tem como base técnicas mais antigas da arte dos palhaços. "O clown é profundamente humano. Ele trabalha com energias sutis, reais e não di latadas. A técnica do clown faz com que o ato r se revele", diz o a tore pesquisador. "Não se trata simplesmente de uma pesquisa para ser palhaço. Mas a busca de uma compreensão do ser humano despojado. O clown é wn ser despido para poder reagir ao mundo", afirma Suzi Sperber.
Embora as técnicas desenvolvidas pelo Lume trabalhem com princípios diferentes, as três linhas convergem para a arte de ator, possibilitando, assim, pesquisas em conjunto. Dado o caráter experimental do trabalho, no entanto, nem sempre é possível visualizar o resultado. "Nós não partimos de certezas; mas de suspeitas", aponta Suzi Sperber. "E verdade que projetos que começam com tudo já delineado são mais confortáveis. Mas eles também não trazem nada de novo."
Dessa maneira, conforme avança em suas experiências teatrais, o Lume também vem-teorizando o seu trabalho. Um esboço das suas propostas pode ser conferido no primeiro número da Revista do Lume, publicada no final do ano passado. O grupo também dispõe de uma página na Internet (www. unicamp.br/lume/). Outro fruto do trabalho do Lume é o CD-ROM Lume - a arte de não interpretar como poesia corpórea do atar, produzido pelo ator e pesquisador Renato Ferracini , como parte da sua dissertação de mestrado sobre a proposta do grupo.
O Lume está programando algumas apresentações do seu novo espetáculo, Café com Queijo, para a cidade de São Paulo, em abril. Também em abril acontece o festival Tem Cena na Vila 2, na sua sede em Campinas, com a participação dos grupos Companhia Sarau, Boa Companhia, Barracão Teatro e Seres de Luz. Para o próximo ano, o grupo pretende publicar em livro a sua metodologia de trabalho.
Periil: A pesquisadora Suzi Frankl Sperber, 60, anos é diplomada em Letras, pela faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com mestrado e doutorado em Teoria Literária, na mesma instituição. É professora do Instituto de Estudos da Linguagem, da Unicamp, e coordenadora do Lume, orientando trabalhos na área de decodificação de linguagem.
LIVRO
Desafios e atualidade dos clássicos Como conciliar democracia com a crise
do Estado do bem-estar social? Qual a importância da vaidade e da ambição na nossa compreensão do mercado e dos agentes econômicos? Existe uma moralidade universal na política? Questões como essas aparecem nas páginas da coletânea Clássicos do Pensamento Político, organizada por Célia Gaivão Quirino, Claudio Vouga e Gildo Marçal Brandão (Edusp e F APESP), revelando, neste tempo de fim das utopias, o quanto alguns textos clássicos ainda podem se assemelhar a projetas inacabados. A coletânea nasceu como fruto do trabalho de wn grupo de especialistas, reunidos no Instituto deEstudosAvançados (USP), desde 1991. São doze capítulos nos quais cada estudioso é chamado a apresentar o essencial de autores como Platão, Sócrates, Maquiavel, Hobbes, Locke, Rosseau, Hume, Adam Smith, Hegel e Tocqueville.
Para captar o essencial nos textos clássicos, cada um dos autores procura,
Hobbes, o quanto a nossa experiência com os horrores da cena contemporânea permite compreender e relativizar a solução hobbesiana de um Estado robusto, obcecado pela paz e pela ordem. Já Modesto Florenzano convida-nos a visitarThomas Paine, o menos romântico e o mais lúcido de todos os rebeldes da sua geração, que teve o privilégio de viver intensamente a independência norteamericana e a queda da Bastilha. "A sociedade é produzida pelas nossas necessidades e o governo pornossa maldade", dizia Paine, este liberal puro, radical - tão radical que as autoridades proibiram que seus restos mortais fossem enterrados em solo inglês. Como entender a relação tensa e a conexão histórica conflituosa entre liberalismo e democracia na modernidade, ou a crise do Estado do bemestar, atacado por todos os lados pelo neoli-
beralismo, senão através de Hegel, Hobbes ou Thomas Paine?
em sintonia fina, manter um olhar atento tanto na
po\J'[ICO !'iSP.I'IIIól'líO ,.
. os ooPE. '!: -"'''"', I .,~, cv..ss\C 1 ~, , I 1
Noutra chave temática-a das relações entre ética e política - Mário leitura cuidadosa dos tex
tos quanto nos desafios e questões atuais que os clássicos podem colocar ouresponder. Nada mais saudável do que esta leitura em sintonia fina com o nosso tempo. Os clássicos da política guardam sempre uma pontinha de atualidade, mas esta atualidade depende muito mais de nossa leitura, dos repertórios de experiências pessoais que trazemos conosco e das perguntas que fazemos aos autores - na hora certa, eles nos darão aquela piscadela, sugerindo que as respostas estão ali, à nossa espera. Assim, quando lemos um clássico, parece que temos de entrar pessoalmente no texto, participar na fabricação dos significados, criando quase que um texto virtual, paralelo, produto de nossas inquietações. Os autores da coletânea estimulamnos, de forma competente, na realização dessa tarefa.
No capítulo mais complexo do livro, Kurt von Mettenheim analisa como a Filosofia da História de Hegel pode ajudar-nos a comparar conjunturas críticas de diferentes momentos das sociedades: a organização da democracia na Grécia antiga; a criação da ordem medieval, a partir da arte de governar de Carlos Magno; ou o traumático momento da Revolução Francesa, que ajudou a definir o padrão do governo representativo popular na Europa do século XIX. Noutro capítulo, João Paulo Monteiro sugere, da leitura de
Miranda Filho analisa, a partir dos textos gregos, as antíteses ·entre a sabedo-
ria e a virtude na construção de uma República, enquanto Rob e r t o Chisholm nos apre
senta o que ele designa como "ética
feroz" de Maquiavel , dentro da qual a política nunca fornece a base para uma moralidade universal, apenas normas para as relações entre os cidadãos e entre governantes e governados. Numa variação salutar,Rolf Kuntz apresenta os impasses entre cidadania e desigualdade, a partir dos textos de Locke. O leitor pode completar essa chave temática com dois outros capítulos: 'estudo de Cícero Araújo sobre o direito natural em Hume e a
lfJAPESP SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
reflexão de Célia Gaivão Quirino sobre a difiei! conciliação entre liberdade e democracia, a partir dos iluminadores textos de Tocqueville.
Qual a importância da vaidade, da ambição, da paixão e de outras atitudes inconfessáveis na nossa comprensão do universo econômico e político? Algumas respostas aparecem no capítulo "Reivindicar Direitos segundo Rousseau", de Milton Meirado Nascimento, uma percuciente releitura dos textos do convincente filósofo da "vontade geral". Outras respostas podem ser encontradas na original interpretação de Eduardo Gianetti da Fonseca, que, partindo de Adam Smith e Hume, investiga as maneiras como fatores sub-racionais, como a vaidade e a ambição, atuam na fonnação das crenças e condutas humanas. Como não é possível eliminar por decreto tais hábitos mentais da psicologia dos agentes econômicos, a conclusão é muito instrutiva: os problemas sociais e econômicos só podem ser genuinamente resolvidos de baixo para ctma.
Em síntese, os clássicos sempre geram novos modos de ver coisas velhas - ou novas coisas que nunca vimos antes: seu dom de antecipação racional (não de previsão adivinhatória!), sua capacidade de superar nosso provincianismo (não de espaço, mas de tempo histórico) e sua tendência a subverter os protocolos e convenções comumente aceitos são as qualidades dos autores clássicos apontadas no capítulo que abre o livro, escrito por Claudio Vouga. A pouca leitura dos textos clássicos e as questões da institucionalização acadêmica da teoria política são examinadas de fonna mais ampla no capítulo que conclui a coletânea, por Gildo Marçal Brandão.
Clássicos do Pensamento Político não é um manual de "como se deve ler um clássico", desses que, em nome da vulgarização, esquematizam as verdades. Fazendo jus à célebre definição de Jorge Luis Borges, cada capítulo é um irrecusável convite para a leitura dos livros originais - estes livros que "as gerações dos homens, urgidos por razões diversas, lêem com prévio fervor e com uma misteriosa lealdade".
Elias Tlwmé Saliba
GOVERNÇ) DO ESTADO DESAOPAULO
Genoma ESPECIAL
GENOMA HUMANO DO CÂNCER
ORESTES: a tecnologia de acesso ao centro do gene humano
A s palavras entusiasmadas que cercaram o lançamento do projeto Genoma Humano do Câncer, no dia 26 de março, na FAPESP, não foram, com
certeza, louvação gratuita ou vazia. Elas refletiam, em vez disso, a aguda consciência de que naquela manhã, enquanto se explicava o projeto, falava-se sobre seu significado no contexto da pesquisa internacional de genoma ou assinava-se o acordo de cooperação cientifica entre a FAPESP e o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, que viabilizou o projeto, estava-se diante de um ato, ou de um fato, de extrema importância para a ciência brasileira.
dores que se sucederam no ato de lançamento do projeto Genoma Humano do Câncer. Eles também dão pistas claras sobre todo o esforço de investimento e de acumulação de competência na pesquisa científica que precedeu longamente o lançamento desse projeto, e era igualmente disso que falavam os oradores na manhã de 26 de março. Não
havia ali ufanismo, mas uma tran-qüila certeza, como bem resumiu o presidente da FAPESP, professor Carlos Henrique de Brito Cruz, de que "a ciência brasileira precisa ser apoiada, não porque está em dificuldades, mas porque é boa".
Por quê? Primeiro, porque o projeto Genoma Humano do Câncer permite ao Brasil entrar efetivamente na corrida internacional para desvendar o genoma
Andrew Simpson desenvolveu
Nas páginas que se seguem está reproduzida a didática palestra do doutor Andrew Simpson sobre o projeto Genoma Humano do Câncer, apresentada na FAPESP no dia 26 de março. O doutor Simpson, bioquímico, pes
em São Paulo a recnologia ORESTES
humano, que é, sem sombra de dúvida, um dos mais importantes empreendimentos científicos em curso nesta virada do milênio, em razão de seu potencial para alterar profundamente as bases da biologia e as tecnologias a ela relacionadas. Em segundo lugar, porque o projeto permite a entrada do país nessa corrida com um trunfo especial nas mãos: uma nova e revolucionária tecnologia de seqüenciamento genético - ORESTES -, desenvolvida aqui, que permite seqüenciar a área central dos genes, justamente a parte a que a tecnologia já existente não dá acesso (limitando-se às suas extremidades), e onde se concentra- eis um dado crucial - a região codificadora dos genes.
Esses dois dados bastam para dar uma idéia da maturidade e da capacidade criativa que a ciência brasileira alcançou, e era isso que assinalavam, conscientemente, os ora-
NOTÍCIAS FAPESP
quisador do Instituto Ludwig no Brasíl e, é o coordenador desse projeto e um dos principais criadores do ORESTES. Nas páginas finais deste encarte especial do Notícias FAPESP estão resumidas as falas de todos os oradores durante o ato de lançamento do projeto Genoma Humano do Câncer. São eles o vice-governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, o secretário do Desenvolvimento Científico do Ministério da Ciência e Tecnologia, Fernando Reinach (representante do ministro Luís Carlos Bresser Pereira), o secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, José Aníbal, o presidente do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, Edward McDermott, o presidente da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, e o diretor científico da FAPESP, José Fernando Perez.
GENOMA ESPE C IAL
Un1 can1inho con1petitivo para a descoberta de novos genes
Andrew Simpson
• Figura I. O gene produz RNA mensageiro, que produz uma proteína. As proteínas determinam tudo em nosso corpo.
• Figura 2. As células conrêm os mesmos genes, mas expressam só alguns. Diferentes tipos de célula expressam diferenres genes.
• Figura 3. A expressão gênica em células tumorais pode estar alterada quantitativamenre ou qualitativamenre.
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V ou falar brevemente para tentar dar uma idéia do projeto Genoma Humano do Câncer. Quero aproveitar a oportunidade para comunicar à comunidade científica
quais são as idéias e oportunidades que existem dentro desse novo projeto.
O conceito central ou o dogma central da biologia é o seguinte: o gene produz RNA mensageiro, que por sua vez produz uma proteína. As proteínas determinam tudo- da estrutura à função do nosso corpo. As informações para elas estão todas nos genes (Figura 1).
Todas as nossas células contêm os mesmos genes. Só que, em determinado lugar, as células expressam uns, e, em outro lugar, expressam outros. Se queremos entender a diferença entre as células do músculo, as células do pé, as células do sistema nervoso, nós temos de entender qual é a diferença de expressão gênica. Determinado isso, podemos entender de maneira muito profunda como funcionam todas essas estruturas (Figura 2).
Da mesma maneira, a diferença entre uma célula normal e uma célula que já adquiriu o fenótipo maligno é também reflexo da expressão gênica. Num tumor maligno alguns genes param de ser expressos, outros começam a ser expressos e outros sofrem mutações. Então, de novo, podemos entender esse processo patológico en~endendo a expressão gênica (Figura 3).
Atualmente estamos indo para uma direção de pesquisa muito quantitativa, na qual podemos comparar expressão gênica dos genes individuais em estados diferentes, que podem ser tecidos diferentes ou, como é nosso interesse, células malignas e células normais.
Genes superexpressos são marcadores de grande importância para diagnóstico e são alvos de terapias novas. Genes que não são mais expressos são alvos de terapia gênica futura (isso porque, se sabemos que para uma determinada célula ser normal determinado gene deve ser nela expresso, poderemos no futuro, quem sabe, reinjetar esse gene na célula e devolvê-la efetivamente à normalidade). Consideramos, então, que a produção desse tipo de impressão digital molecular de uma célula é o futuro próximo imediato da pesquisa em câncer.
Já existe a tecnologia para fazer medição de expressão gênica em larga escala: com o DNA chip, nosso equivalente do computador, já é possível medir simultaneamente a expressão de milhares de genes. No nosso laboratório, já o fizemos com cerca de 20 mil genes simultaneamente. O professor Brentani
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(Ricardo Renzo Brentani, diretor do Hospital do Câncer e também do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer) chama a isso de end ofscience, porque não exige mais pensar, apenas fazer experimentos essencialmente simples. Liga-se o computador e ele vai dizendo tudo. Só tem um porém: para acessar todo o poder dessa tecnologia precisamos colocar em nosso DNA chip os genes de nosso interesse. E se o nosso interesse é o Genoma Humano, precisamos colocar no DNA chip todos os genes humanos (Figura 4).
Ora, como disse Edward McDermott (presidente do Ludwig lnstitute for Cancer Research) e como todo mundo sabe, existe uma corrida internacional para conhecer o genoma humano. Por que isso gera hoje tanta emoção? Porque o genoma humano vai ser a base de toda a pesquisa genética humana nos próximos anos. E há o risco de patenteamento antes da hora dos genes só seqüenciados em nível de ESTs ("expressed sequences tags", ou etiquetas de sequências expressas), sem um grande investimento de trabalho. Isso é um grande desestímulo à pesquisa, porque se alguém já é dono de um gene, por que eu vou trabalhar com esse gene? Para ele ficar rico? Isso não é bom. A corrida que está em curso é da iniciativa privada, de grandes empresas como a Incite e Celera, e da comunidade acadêmica, como os NIH (National lnstitures for Health, dos Estados Unidos) e o Sanger Center, na Inglaterra.
Nós acreditamos que é de importância fundamental que o Genoma Humano permaneça aberto para que todos possam trabalhar nele. Por isso vamos entrar nessa corrida com o propósito de tentar colocar no domínio público o maior número possível de genes humanos, para nos dar a oportunidade de futuramente trabalhar com eles.
Estima-se que existem de 50 a 100 mil genes humanos. Provavelmente a maioria tem alguma seqüência já conhecida, mas só 10% são totalmente seqüenciados. Outros 90% constituem trabalho para os próximos anos. E nós vamos entrar nisso. Ninguém nos convidou. É uma festa, e decidimos entrar. Nem sei se somos bemvindos, mas vamos estar lá.
É objetivo futuro entendermos realmente a diferença entre uma célula maligna e uma célula normal (na imagem mostrada, uma célula maligna de um sarcoma de partes moles está saindo do tumor e migrando para um vaso onde causará a metástase, que produz grandes danos ao paciente). Qual a diferença? Como podemos explorar essas diferenças para diagnósticos de terapias melhores? (Figura 5).
Em nossa opinião, o segredo, a grande ajuda para isso vai ser conhecer o genoma humano inteiro. O genoma humano é muito diferente do genoma da Xylelfa fastidiosa (bactéria causadora da praga do amarelinho, nos laranjais, cujo seqüenciamento, objeto de um projeto da FAPESP, está em fase de conclusão). Não só porque é mil vezes maior, mas porque sua estrutura é diferente. Observando o genoma de uma bactéria, encontra-se um gene, seguido de outro, seguido de outro, e assim sucessivamente (Figura 6). O genoma humano tem mais ou menos 97% de
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GENO MA ESPEC IAL
• Figura 4. Num só DNA chip, mediu-se simultaneamente a expressão de 20 mil genes no Ludwig.
• Figura 5. Células malignas de rumor migram para os vasos, podendo cauxar metástase.
• Figura 6 Apenas 3% do genoma humano codificam genes. Os outros 97% seriam resquícios evolutivos desse genoma.
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GENOMA ESPECIAL
• Figura 7. A recnologia exisrente de seqüenciamenro a partir do cDNA só alcança as extremidades dos genes.
To general e 200Mb ol expressed gene sequence oentered on lhe ORFs
To compile conttgs of pORFs
To cootnbute to lhe tmely pubtic avaiaboltty of human cod•ng reg•ons
To iden~fy key genes •nvolved 1n tumor formahon •n cancer types or local importance
To stimulate vigorous downstream exploitation ofthe sequences discovered and
• Figura 8. O projeto Genoma Humano do Câncer deverá seqüenciar 500 mil ORESTES e gerar 200 milhões de nucleorídeos diferentes centrados na porção codificadora dos genes.
• Figura 9. Em 6 mil seqüências geradas com o ORESTES, conseguiu-se 35% de novas seqüências de genes humanos.
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DNA que não codifica genes e só 3% que codificam genes (a teoria hoje mais aceita é de que esses 97% de nucleotídeos que não formam genes constituem uma espécie de "lixo" da evolução do genoma humano). Então o Human Genes Project e aCelera, de Craig Venter, que pretendem seqüenciar o genoma inteiro, no fundo, vão fazer 97% do trabalho para obter seqüências de menor importância do que os genes, que são realmente o ouro nesta mina. Não só isso, quando se seqüencia tudo, às vezes é difícil reconhecer a posição e a identidade dos genes (na técnica tradicional de seqüenciamento, que toma o DNA como ponto de partida, há essa dificuldade, enquanto que na técnica cujo ponto de partida é o RNA mensageiro verifica-se com mais certeza quando se está diante de um gene, uma vez que só há RNA se na sua origem há um gene).
A alternativa é só seqüenciar os genes. Isso é possível e não é novidade: usar a maquinaria das células para pegar as partes separadas dos genes, colocá-las juntas e essencialmente seqüenciar isso. A tecnologia existente na parte de cDNA permite seqüenciar as extremidades dos genes. Temos hoje, no GenBank, mais de um milhão de seqüências, essencialmente das extremidades dos genes expressos, que marcam 60 mil genes diferentes. Mas falta uma informação que é crucial, porque também dentro do gene você tem a parte que não codifica proteína e a que codifica, e é exatamente essa parte codificadora que muitas vezes ainda está perdida dentro dos genes depositados no GenBank.
Nós conseguimos desenvolver uma metodologia que permite seqüenciar exatamente aquela parte que ainda falta. É isso que vamos fazer agora, em larga escala, nesse projeto. Essa técnica se chama ORESTES - Open Reading Frames EST Sequences. E seu produto, ou seja, as seqüências (templates, em inglês) que ela permite gerar, tem o mesmo nome (Figura 7).
Então, o objetivo do projeto é, a partir do material dos tumores, gerar e seqüenci~r 500 mil ORESTES, que devem gerar em torno de 200 milhões de nucleotídeos, todos centrados nas "open reading frames" dos genes expressos humanos, para montar por computação essas "open reading frames" inteiras, submetê-las ao GenBank, e aí vamos ter em nossas mãos os genes clonados. Vamos garantir a inclusão nesse trabalho de todos os tipos de câncer que têm importância local, por exemplo, câncer de estômago, boca, colo de útero, que não são necessariamente o objetivo de muitas pesquisas no exterior. Isso é que é realmente importante: o projeto vai dar muito trabalho, mas é um meio para impulsionar nosso trabalho com essas novas seqüências e explorá-las para projetos de nosso próprio interesse (Figura 8).
Para conseguir esse alto nível de seqüenciamento, tivemos a sorte de já conseguir importar e instalar no Brasil uma última geração de seqüenciador capilar, que faz 96 seqüências simultaneamente em 90 minutos. Trata-se do MegaBace, cada um com capacidade de seqüenciar mais de 100 mil nucleotídeos por dia, do qual existem mais ou menos 50 em todo o mundo, em instituições públicas. E 10% desses equipamentos estão em nosso projeto, já funcionando. Portanto, estamos competitivos.
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Testamos também a tecnologia em uma escala um pouco mais alta, com resultados animadores. Por exemplo, aqui em 6 mil seqüências geradas, cerca de 10% mais ou menos não representam coisas de qualquer interesse porque são genes abundantemente expressos. Outros 10% representam seqüências que são repetidas no Genoma, e por ser repetido você não pode tirar muita informação dele. Não se sabe se vem de um gene ou não, se vem de um gene novo, etc. E um terço tem homologia normalmente completa com genes já completamente seqüenciados. Mas 15% já caem para genes parcialmente seqüenciados, 5o/o têm uma homologia com o DNA, porque mais ou menos 5o/o de todo o genoma está seqüenciado e há probabilidade disso acontecer, e 2% são novos genes humanos que têm homologia com genes já seqüenciados de outros organismos- aliás, isso é ótimo, porque já se sabe o que esse gene faz sem fazer nada, porque alguém já verificou isso em ratos, camundongos - e 25% da seqüência são genes totalmente novos, sem nenhuma homologia. Então realmente em torno de 35% dos dados que nós estamos produzindo são novas seqüências de genes humanos (Figura 9).
Isso é a base da idéia. Essa é a posição de nossas seqüências dentro de um gene. Então, pegamos todas as seqüências que batem com genes completos para calcular a posição da seqüência dentro do gene. O vermelho é o previsto, e o preto são os dados que calculamos esta semana (21/3 a 26/3 de 1999) a partir dos resultados das primeiras 6 mil seqüências. Me deu muita felicidade ver que o que foi previsto aconteceu (Figura 10).
E tem mais uma grande vantagem nessa tecnologia que é a seguinte: um dos maiores problemas de seqüenciar ESTs, cDNA, é que os genes são expressos em níveis muito diferentes. Se pegamos cDNA libraries, bibliotecas de cDNA, acabamos seqüenciando muitas vezes a mesma coisa, por conta dos genes abundantemente expressos, e quase nunca aqueles raros que realmente queremos. Se pegamos da Internet, por exemplo, uma biblioteca produzida pelo pesquisador Marcelo Bento Soares, colega nosso que trabalha em Iowa, a distribuição da abundância dos genes seqüenciados nessa biblioteca é assim. E a coluna média é de genes que já foram seqüenciados mais de 100 ou 200 vezes anteriormente. Tem uma tecnologia inventada por ele, que permite a normalização, conseguindo diminuir para um fator mais ou menos 2 a abundância média do gene que você está seqüenciando. Pode-se ver na figura que as barras vão um pouco para a esquerda, e se tem mais desses genes raros. Quando aplicamos nossa tecnologia do ORESTES, conseguese mais uma vez dobrar a eficiência do processo, agora com uma porcentagem maior de genes raros, e a média é de 30, 60, em vez de 126 a 355.
Então, temos uma tecnologia que, sim, nos dá a possibilidade de competir, porque resolve os dois problemas principais de EST: sequenciar no meio do gene e normalizar (Figura 11).
Vamos falar da estrutura do projeto. A coordenação deste projeto está sendo feita por uma equipe de grande capacidade, os meus colegas do Instituto Ludwig (Figura 12). E já assinamos
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GENOMA E S PE C IAL
• Figura IO. fu primeiras 6 mil seqüências mostraram que, conforme o esperado, a técnica permite a obtenção de seqüências da porção inrerna dos genes.
• Figura II. Mesmo quando comparada com bibliotecas normalizadas, observa-se que a porcentagem de genes raros nas bibliotecas de cDNA aumenra muito com o uso da nova tecnologia.
• Figura I2. A estrutura do projeto prevê a inregração de rodos os cenrros entre si e com a coordenação central.
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G ENOM A ES P EC IAL
• Figura 13. Produção de RNA, construção de bibliotecas e coordenação de bioinformática reúnem-se no instituro Ludwig.
• Figura 14. Cada centro de seqüenciamenco irá contar com o apoio de quatro laboratórios.
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• Figura 15. Os tumores serão coletados para preparação do RNA, construção das bibliotecas e geração das ORESTES.
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ontem contratos com cinco centros no Estado de São Paulo, liderados pelo professor Sergio Verjovski-Almeida, do Instituto de Química da USP, professor Fernando Ribeiro Costa, da
· Unicamp, professor Marco Antonio Zago, na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, professor Marcelo Briones, na Escola Paulista de Medicina, e doutora Maria Aparecida Nagai, da Faculdade de Medicina da USP. Cada um desses centros já tem um MegaBace funcionando. As setas na figura vão em todas as direções, porque o pano de fundo desse projeto, do mesmo modo como no projeto da Xyllela, é integração, comunicação e trabalho em equipe.
Responsável pela coordenação no Ludwig, encontro-me no meio olhando todo mundo trabalhando em torno. Começando por uma função realmente fundamental, que é a produção de RNA de altíssima qualidade, temos um especialista nessa área, Luís Fernando Lima Reis, depois, a construção das bibliotecas, que está sendo coordenada por Emmanuel Dias Neto, que é realmente a pessoa responsável por essa tecnologia desenvolvida durante o seu doutorado. Na coordenação de bioinformática temos Sandro de Souza, que estava até recentemente no laboratório do professor Walter Gilbert, em Harward, cuja participação nesse projeto foi um dos motivos de ter voltado para o Brasil, em vez de aceitar outros convites que recebeu do mundo inteiro - e estamos muito felizes com isso. Temos muita sorte também de ter um project manager, a Juçara Parra, um gerente de projeto que, aprendemos com os trabalhos da Xylella, é fundamental para tocar o dia-a-adia do projeto, para fazê-lo andar com eficiência (Figura 13).
Nós vamos interagir com cinco centros de sequenciamento, onde existem os coordenadores. Cada centro vai precisar de mais quatro laboratórios, quatro grupos de pesquisa para participar deste projeto (Figlfra 14). Hoje nós estamos pedindo aos grupos que queiram participar do projeto a partir do próximo mês que se inscrevam já. Nós gostaríamos muito que mais ou menos metade desses laboratórios fossem de grupos que já estavam participando conosco do projeto da Xyllela. Se alguém ainda agüentar o esforço, coragem. E eu quero um número mais ou menos igual de laboratórios novos com interesse em participar desse projeto. O endereço para inscrições na Internet é: watson.fapesp.br. Ali estão todos os detalhes do projeto, os orçamentos, as tarefas e, no final, os formulários já abertos.
O que esses grupos vão fazer? A idéia do projeto é coletar tumores em todos os hospitais de São Paulo que tenham interesse em participar disso e vamos preparar RNA para verificar a qualidade do material, no Ludwig. Depois vamos distribuir RNA e os outros reagentes necessários para fazer ORESTES para os grupos que vão construir os templates e seqüenciar os genes, daí mando de volta para a bioinformática e vamos mandar para o GenBank dos National lnstitutes for Health (NIH) , em Washington. Enfim, espero que no próximo ano o nosso trabalho no Instituto virtual tenha todas as emoções que no ano passado já teve (Figura 15).
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Muitos genes de uma só família, chamada humanidade
Geraldo Alckimin Filho Via-governador do Estado de São Paulo
Uma pá de cal no complexo de inferioridade
Fernando Reinach Secretdrio de Desenvolvimento Científico do M CT
Parcerias para ap~ofundar a pesqmsa
José Aníbal Perez de Pontes Secretdrio da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico
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Em síntese o que disseram os oradores
• O homem sempre viveu entre dois infinitos. O infinitamente grande - o universo, com suas estrelas e galáxias - e o infinitamente pequeno - os átomos, as moléculas, as células, os micróbios, os genes.
Talvez por ser mais visível, majestoso e encantador, o infinitamente grande sempre despertou maiores atenções. Os estudos do microcosmo só começaram em meados do século passado, com as pesquisas de Louis Pasteur, que marcaram os primeiros e importantes mergulhos do homem para dentro de si mesmo.
Neste limiar do terceiro milénio, que todos esperam ser a era da paz, o homem come-
• O projeto Genoma Humano do Câncer marca a adolescência ou mesmo a maturidade de uma parte grande da ciência brasileira.
Quando o programa Genoma da FAPESP foi iniciado, com o projeto da X fastidiosa, existia um grande medo e muitas dúvidas na Fundação. Por exemplo: conseguiríamos fazer um genoma? Tínhamos capacidade instalada para fazê-lo? Existiriam cientistas com ânimo suficiente e treinamento para isso?
Agora estamos quase no fim do projeto Xyllela e está demonstrado que foi possível. E é impressionante a velocidade com que mudamos de patamar. De início, pegamos um organismo sobre o qual não havia com-
• Os recursos repassados à FAPESP e a outros órgãos públicos são dinheiro do contribuinte. E não conheço nenhum governante no Brasil que mais freqüentemente faça referência a esse fato do que o governador Mário Covas, principalmente em reuniões públicas e comícios. A responsabilidade do governante é alocar bem esses recursos, e acentuar esse fato nunca é demais. Isso nos remete à seguinte reflexão:
O projeto Genoma Humano do Câncer é uma satisfação para São Paulo. Ele contribui para a nossa auto estima e investe contra a prevalência de uma cultura um tanto amarga da nossa tradição, que leva,
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ça a descobrir dentro de si que existe um universo tão ou mais encantador que aquele outro cheio de constelações, estrelas e planetas.
O projeto Genoma é um dos mais fascinantes estudos que se pode fazer nesta nova era da ciência. Ao desvendar e catalogar o código genético da espécie humana, ele estará descobrindo a cura para graves doenças. Estará prolongando a vida com mais qualidade. E, mais importante, ao mergulhar fundo na essência da vida de cada um de nós, estará mostrando que as variações de genes não diferenciam os homens entre si, pois todos pertencem a uma única família chamada humanidade.
petição, e agora estamos trabalhando em um organismo em que a competição é a mais acirrada no mundo, que é o ser humano; no começo, usamos uma técnica absolutamente standard, e agora vamos entrar na competição internacional com uma técnica revolucionária, nova, desenvolvida aqui.
Isso deveria por a pá de cal final no complexo de inferioridade da ciência brasileira, do sistema de ciência e tecnologia do Brasil e, particularmente, do Estado de São Paulo.
• Temos condições para competir em pé de igualdade. Temos todas as condições de entrar nessa festa para fazer um estrago - no bom sentido.
por exemplo, alguns a nos descreverem como Belíndia.
A competência de São Paulo para fazer uma parceria com o Instituto Ludwig é a competência de suas universidades estaduais, dos institutos de pesquisa, da FAPESP, e isso nos orgulha muito. Mas quero destacar, em paralelo, que não temos ainda, no Brasil, uma tradição de participação de institutos privados e empresas em projetas de pesquisa. E acho que este é um grande desafio. As parcerias devem ser ampliadas para que a pesquisa, a ciência, a tecnologia, estejam acopladas ao desenvolvimento da produção de bens e de serviços.
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Caracterização genética com menor carga de trabalho
Edward McDermott Presidente do Instituto Ludwig
Quatro atores viabilizando um projeto
Carlos Henrique de Brito Cruz Presidente da FAPESP
Uma proposta ousada para entrar na competição
José Fernando Perez Diretor Científico da FAPESP
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Em síntese o que disseram os oradores
• O Instituto Ludwig sente orgulho em juntar-se à FAPESP na promoção e coordenação do projeto Genoma Humano do Câncer.
Muitos esforços de seqüenciamento estão em curso no mundo. Embora uma ajuda extra para o formidável trabalho de decodificar os 3 bilhões de unidades de DNA do genoma humano possa ser bem-vinda, não é por isso que a FAPESP e o Ludwig decidiram lançar-se nesse campo, altamente competitivo. Nós o fazemos porque temos uma abordagem para reduzir o trabalho necessário à total caracterização de todos os genes humanos.
Diferentemente das estratégias hoje utilizadas, o alvo da técnica criada pelo doutor
Quatro atores possibilitaram o projeto Genoma Humano do Câncer: o Instituto Ludwig, a ciência brasileira, a FAPESP e o contribuinte.
Ao primeiro, agradeço a proposta de parceria que trouxe à FAPESP, porque mostra o reconhecimento de uma importante organização internacional à capacidade do nosso sistema de pesquisa.
A ciência brasileira desenvolveu-se muito nos últimos trinta anos, e hoje demonstra vitalidade para superar os mais árduos desafios, cumprindo seu papel ao elevar progressivamente seus próprios referenciais. Nesse processo, cabe destacar o papel do estado: o
O Projeto Genoma Humano do Câncer faz parte do programa Genoma-FAPESP. A imagem de uma onça e a sigla ONSA -Organization for Nucleotide Sequencing and Analysis - usadas para o programa expressam nosso respeito pelo TIGR - The lnstitute for Genoma Research (tigre, em inglês, sem o e) -, instituição referencial na área de pesquisa em genética molecular. Expressam também o humor presente nas reuniões que precederam o lançamento do primeiro projeto do nosso programa, o de seqüenciamento da Xylella fostidiosa, em outubro de 1997, e a ousadia brasileira em entrar numa área tão competitiva da genéti-
Simpson são os 3% do DNA que contêm as regiões codificadoras do genoma e, especificamente, sua porção central. Essa notável tecnologia, ORESTES - apenas uma das significativas contribuições de nossa filial paulista -, deve acelerar a identificação de novos genes humanos.
Os frutos desse projeto serão públicos. Nenhuma das seqüências será patenteada e, quando forem divulgadas, deverão estimular pesquisas sobre estrutura e função dos genes, ampliar nossa compreensão sobre a gênese do câncer e facilitar a identificação de marcadores genéticos para detecção precoce e avaliação de tumores.
projeto Genoma do Câncer seria impossível sem os investimentos federais e estaduais em bolsas, projetos de pesquisa e qualificação.
O terceiro ator, a FAPESP, tem dado seguidas demonstrações de critério e rigor na aplicação dos recursos, e tem cumprido seu papel de definir estratégias e criar desafios por meio de programas, aos quais a comunidade científica tem respondido à altura.
Finalmente, refiro-me aos que pagam a conta. A parte da FAPESP nesse projeto é paga com recursos do contribuinte paulista, repassados pelo governo estadual, o que aumenta a responsabilidade com que devemos encarar o investimento.
ca molecular, em que só existiam projetos do circuito Estados Unidos- Europa-Japão.
O Genoma-FAPESP começou com uma preocupação em relação ao lento desenvolvimento da biotecnologia em nosso país. Era preciso criar competência nessa área, e decidimos usar a Xyllela como instrumento de capacitação. A partir daí andamos rápido.
Hoje, a FAPESP e o Instituto Ludwig estão lançando o Genoma Humano do Câncer. É uma parceria que reconhece a competência que se instalou e o modelo virtual de organização do programa, que não demanda investimento em infra-estrutura física ou administrativa.
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