164

ISSN 2236-0468

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ISSN 2236-0468
Page 2: ISSN 2236-0468
Page 3: ISSN 2236-0468

ISSN 2236-0468

Fundação Educacional Guaçuana – FEGPresidente – Marcos Antonio

Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro - FMPFMDiretor Geral – Prof. Dr. Estéfano Vizconde Veraszto

Vice-Diretor – Prof. Dr. Odail PagliardiCoordenador Geral – Prof. Me. Fabiano Correa da Silva

Secretária Geral – Profa. Kátia Elaine da SilvaCoordenador do Curso de Administração – Prof. Dr. José Celso Sobreiro Dias

Coordenador do Curso de Ciências da Computação – Prof. Dr. José Tarcísio Franco de CamargoCoordenador do Curso de Engenharia Ambiental – Prof. Dr. Alexandro Batista Ricci

Coordenador do Curso de Engenharia Química – Prof. Dr. Paulo Roberto Alves PereiraCoordenadora do Curso de Nutrição – Profa. Daniela Soares de Oliveira

Coordenadora do Curso de Psicologia – Profa. Me. Flávia Urbini dos Santos

Editores: Profa. Dra. Maria Suzett Biembegut SantadeProf. Dr. Moacyr Rodrigo Hoedmaker de Almeida

Conselho Editorial

Profa. Dra. Ana Olivia Barufi Franco de MagalhãesProf. Dr. Antonio Medina Rivilla – Universidad Nacional de Educación a Distáncia (España)

Profa. Dra. Daniela Melaré – Universidade Aberta de Lisboa (Portugal)Prof. Dr. Erico Fernando Lopes Pereira-Silva

Prof. Dr. Estéfano Vizconde VerasztoProf. Me. Fabiano Correa da Silva

Prof. Dr. Francisco García García – Universidad Complutense de Madrid (España)Prof. Dr. João Alexandre Bortoloti

Prof. Dr. Jomar Barros Filho Prof. Dr. José Celso Sobreiro Dias

Prof. Dr. José Tarcísio Franco de CamargoProf. Esp. Luiz Carlos Aceti Junior

Profa. Dra. Maria Suzett Biembegut SantadeProf. Dr. Moacyr Rodrigo Hoedmaker de Almeida

Prof. Dr. Norian Marranghello - UNESPProf. Dr. Paulo Roberto Alves Pereira

Pareceristas

Prof. Dr. Ademilde Silveira Sartori - UDESCProf. Dr. Antonio Roberto Saad - UNG

Profa. Dra. Carolina Del Roveri - UNESP / UNICASTELOProf. Dr. Claudio Manoel de C. Correia - PUC / UFAM

Profa. Dra. Darcilia Marindir Pinto Simões - UERJProf. Dr. Denilson Pereira de Matos - UFPBProf. Dr. Eder Pires de Camargo - UNESP

Prof. Dr. Eleone Ferraz de Assis - UFG / UERJProfa. Dra. Eliana Meneses de Melo - UBC / UMC

Profa. Dra. Fernanda Oliveira Simon - FACProf. Dr. Gilberto Costa Justino - INPA

Profa. Dra. Giselle Patrícia Sancinetti - FAEProfa. Dra. Ivani Aparecida Carlos - UFSCar

Profa. Dra. Liliane Santos - Université Charles-de-GaulleProfa. Dra. Lucia Deborah Araujo - UNESA

Prof. Dr. Luiz Antonio Rossi - UNICAMPProfa. Dra. Magda Bahia Schlee - UERJ / UFF

Prof. Dr. Márcio Henrique Zancopé - UFGProf. Dr. Marcolino F. Neto - FAE/PUC-Poços de Caldas

Prof. Dr. Marcos Vinícius Rodrigues - FAE/UNIFALProfa. Dra. Maria Salett Biembengut - FURB/CREMM

Prof. Dr. Mauro Donizeti Berni - UNICAMPProf. Dr. Nelson Hein - FURB

Prof. Dr. Nonato Assis de Miranda - UNESPProfa. Dra. Rozely Ferreira dos Santos - UNICAMP

Prof. Dr. Sandro Xavier de Campos - UELProfa. Dra. Vania Lúcia Rodrigues Dutra - UERJ/UFF

Profa. Dra. Vera Lucia M. dos Santos Nojima - PUC-RJProf. Me. Bruno Brandão Fischer – UCM/Madrid/Espanã

Page 4: ISSN 2236-0468

Diagramação e ArteAntonio Valdomiro Mucciolo Junior

Gilson Anacleto da MotaGuilherme de Oliveira Martins

Marco Antonio Ramos

Editora FMPFM

Impressão e AcabamentoGráfica Azul – Fone: (19) 3549-5010

Tiragem1.000 exemplares, em 28 de Março de 2011.

FICHA CATALOGRÁFICA

Ficha Catalográfica: Adriano Madaleno Miossi – CRB 8 / nº 6981

Os textos publicados na revista são de inteira responsabilidade de seus autores.Permite-se a reprodução desde que citada a fonte e o autor.

Endereço para correspondência e contato:REVISTA INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE

Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFMRua dos Estudantes, s/nº, Cachoeira de Cima, Caixa Postal 293,

CEP: 13843-971 - Mogi Guaçu - SP.Fone: (19) 3861-6255 e 3861-6606

Homepage: www. fmpfm.edu.bre-mail: [email protected]

I49 Interciência e Sociedade. v.1, n.1 (2011). – Mogi

Guaçu : Faculdade Municipal Professor Franco Montoro, 2011.

Semestral

1. Divulgação científica – Periódicos. 2. Ciência. 3. Cultura. 4. Gestão. 5. Sustentabilidade. 6. Educação. 7. Saúde. 8. Tecnologia. 9. Multidisciplinar

CDD-050 ISSN 2236 - 0548

Page 5: ISSN 2236-0468

EDITORIAL

A revista Interciência & Sociedade nasce como concretização de um trabalho de mais de uma década de desenvolvimento e consolida a qua-lidade de ensino alcançada pela Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM) nas diversas áreas de atuação de seus cursos.

Visa incentivar e promover o desenvolvimento de uma cultura cien-tífica na instituição, abordando temas relacionados à Gestão, Planeja-mento, Sustentabilidade, Educação, Saúde, Tecnologia e áreas afins. Com isso, a meta é abranger plenamente um dos principais objetivos da educação superior: a integração entre ensino, pesquisa e extensão. E mais: é importante que este objetivo una-se à responsabilidade social da FMPFM, utilizando o conhecimento científico em apoio às soluções dos problemas e necessidades da sociedade, auxiliando a formação de pro-fissionais qualificados e com cidadania.

A comissão editorial da Revista Interciência & Sociedade agradece a toda comunidade acadêmica e demais pessoas que contribuíram para que esta publicação se tornasse realidade.

Abraços,

Moacyr Rodrigo H. de Almeida

Editor

Page 6: ISSN 2236-0468
Page 7: ISSN 2236-0468

SUMÁRIO

ANÁLISE DAS DIFICULDADES E VIABILIDADES PARA A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL EM AULAS DE TERMOLOGIACAMARGO, Eder Pires

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE FUNCIONÁRIAS DO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL FILANTRÓPICOGONÇALVES, Juliana Fermino; PIMENTEL, Gustavo Duarte; PEREIRA, Elaine Cristina Leite; MOTA, João Felipe

CAPITALISMO E TECNOLOGIAS: implicações para o trabalhadorFERREIRA, Simone; SARTORI, Ademilde Silveira

CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES ACERCA DO MATERIAL DIDÁTICO UTILIZADO NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA MIRANDA, Nonato Assis de; SILVA, Dirceu da

CONCESSÃO DE CRÉDITO E MODELAÇÃO DA TOMADA DE DECISÃOSANTADE, Hélio Oliva do Amaral; BIEMBENGUT SANTADE, Maria Suzett

CONSTRUÇÃO DE UM CONTROLADOR DIGITAL DE PROCESSOS DINÂMICOS: possibilidades para educação tecnológicaCAMARGO, José Tarcísio Franco de; BARROS FILHO, Jomar; BORTOLOTI, João Alexandre; VERASZTO, Estéfano Vizconde; MAIA, Daltamir Justino

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC): conceitos e estruturaCOSTA, Rodrigo Simão da

EVOLUÇÃO DO SETOR ELÉTRICO: uma breve reflexãoPAGLIARDI, Odail; SOBREIRO DIAS, José Celso

09

19

27

35

45

57

67

77

Page 8: ISSN 2236-0468

INTERATIVIDADE E EDUCAÇÃO: reflexões acerca do potencial educativo das TICVERASZTO, Estéfano Vizconde; GARCÍA, Francisco García

LEITURA, ESCRITA E NOVAS MÍDIASSILVA, Fabiano Correa da

PARTICIPAÇÃO PÚBLICA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL: proposta de um modelo para organização do diálogoSCARABELLO FILHO, Sinésio; SANTOS, Rozely F.

PLANO DE NEGÓCIOS: o caminho para o sucesso das micro e pequenas empresasSILVA, Kátia Elaine

RESERVA LEGAL E APP – ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: áreas de relevante importância ao município.ACETI JUNIOR, Luiz Carlos

REUTILIZAÇÃO DE GARRAFAS PET PARA PRODUÇÃO DE MÓVEIS E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTALCORRÊA, Rony Felipe Marcelino

SISTEMA DE REMEDIAÇÃO POR BOMBEAMENTO E TRATAMENTO EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS CONTAMINADASPEREIRA, Paulo Roberto Alves; BARRAZA LARIOS, Mario Roberto; SARTORI, Marcelo Vanzella; ALMEIDA, Moacyr Rodrigo Hoedmaker; TOLEDO, Patrícia Caveanha Tavares; COSTA, Ana Caroline

SUCESSÃO ECOLÓGICA E O USO DE NITROGÊNIO EM FLORESTAS TROPICAISPEREIRA-SILVA, Erico F. L.; HARDT, Elisa; JOLY, Carlos A.; AIDAR, Marcos P. M.

85

97

103

113

119

129

137

149

Page 9: ISSN 2236-0468

9Interciência & Sociedade

ANÁLISE DAS DIFICULDADES E VIABILIDADES PARA A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL EM AULAS DE TERMOLOGIA

RESUMO: O presente artigo encontra-se inserido dentro de um estudo que busca compreender quais são as principais barreiras e alternativas para a inclusão de alunos com deficiência visual no contexto do ensino de física. Apresenta e discute as dificuldades e viabilidades para a inclusão do aluno cego de nascimento em aulas de termologia. Por meio de análise de conteúdo, identifica quatro classes fun-cionais implicadoras de dificuldades e viabilidades. Como conclusão, enfatiza a importância da criação de ambientes comunicacionais adequados, a função inclusiva do elemento interatividade, bem como, a necessidade da destituição de ambientes segregativos no interior da sala de aula. PALAVRAS-CHAVE: ensino de física, inclusão, deficiência visual, termologia.

CAMARGO, Eder Pires Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho (UNESP)”

[email protected]

ABSTRACT: This article is part of a study that seeks to understand what are the main barriers and al-ternatives for inclusion of students with visual impairments in the context of physics education. Presents and discusses the difficulties and feasibility to include the blind for birth student in thermology’ classes. Through content analysis identifies four classes of functioning implies difficulties and feasibility. In con-clusion, emphasizes the importance of creating appropriate communication environments, the inclusive function of element interactivity, as well as the need for dismissal of a segregated environment within the classroom.KEYWORDS: physics education, inclusion, visual impairment, thermology.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo relata o pano-rama das viabilidades e dificuldades para a inclusão de aluno com deficiência visual em aulas de termologia. De acordo com Carvalho e Monte (1995) para incluir os alu-nos com deficiências no ambiente social da sala de aula, as práticas educacionais de-vem ser alteradas no sentido da valorização da heterogeneidade humana, o que implica a aceitação individual de todos os alunos levando-se em conta suas condições pes-soais.

A inclusão posiciona-se de forma contrária aos movimentos de homogenei-zação e normalização (SASSAKI, 1999). Defende o direito à diferença, a heteroge-neidade e a diversidade (RODRIGUES, 2003). Efetiva-se por meio de três princí-pios gerais, a presença do aluno com defi-ciência na escola regular, a adequação da mencionada escola às necessidades de to-

dos os seus participantes, e a adequação, mediante o fornecimento de condições, do aluno com deficiência ao contexto da sala de aula (SASSAKI, op. cit.). Implica numa relação bilateral de adequação entre am-biente educacional e aluno com deficiência, em que o primeiro gera, mobiliza e direcio-na as condições para a participação efetiva do segundo (MITTLER, 2003). Na lógica da inclusão, as diferenças individuais são re-conhecidas e aceitas e constituem a base para a construção de uma inovadora abor-dagem pedagógica. Nessa nova aborda-gem, não há mais lugar para exclusões ou segregações, e todos os alunos, com e sem deficiências participam efetivamente (RO-DRIGUES, op. cit.). A participação efetiva é entendida em razão da constituição de uma dada atividade escolar que dá ao aluno com deficiência, plenas condições de atuação. A participação efetiva, pode, portanto, servir como parâmetro sobre a ocorrência ou não de inclusão, além de explicitar as reais ne-

Page 10: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade10

cessidades educacionais do aluno com de-ficiência.

Concluir que, incluir alunos com deficiências em aulas de física, química, biologia, matemática, história, língua portu-guesa, etc, deve ir além dos princípios ge-rais indicados, é reconhecer a necessidade do investimento em pesquisas que revelem propriedades ativas das variáveis específi-cas.

A partir do exposto, o presente texto identifica, classifica e analisa algu-mas das dificuldades e viabilidades para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de física que enfocaram temas de termologia. Para tanto, tomou-se como parâmetro a participação efetiva desse dis-cente nas atividades. A participação efetiva é avaliada em função da relação: discente com deficiência visual/conteúdos conceitu-ais e procedimentais de termologia (COLL apud ZABALA, 1998). Segundo esse autor, os conteúdos de ensino são compreendi-dos em termos conceituais, procedimentais e atitudinais.

Como explica Zabala (op. cit.), os conteúdos conceituais estão relaciona-dos ao conhecimento de fatos, conceitos e princípios, os procedimentais ligados às regras, técnicas, habilidades, e os atitudi-nais a valores, atitudes, princípios éticos. Em outras palavras, conteúdos conceituais relacionam-se ao saber, os procedimentais ao saber fazer, e os atitudinais ao ser (ZA-BALA, op. cit.).

Em relação aos conteúdos atitudi-nais, várias pesquisas indicam que a pre-sença do aluno com deficiência em uma classe regular contribui positivamente ao desenvolvimento de valores de caráter co-laborativo, de respeito às diferenças, liga-dos à construção de uma sociedade menos excludente e para a identificação de uma natureza humana heterogenia (CARVALHO E MONTE, 1995). Esse é o motivo pelo qual, no presente texto, as atenções sobre o processo de inclusão estão voltadas à participação efetiva do aluno com deficiên-cia visual naquelas atividades próprias ao ensino de conteúdos conceituais e procedi-mentais de termologia. Em outras palavras, serão discutidos os problemas reais oriun-dos da relação docente/discente com defici-

ência visual, discentes com e sem deficiên-cia visual, discente com deficiência visual/conhecimento de termologia, discente com deficiência visual/atividades experimentais, discente com deficiência visual/operações matemáticas, etc.

2. O contexto das atividades

Sob a coordenação de um gru-po de licenciandos, foram aplicadas qua-tro atividades de termologia em ambiente educacional que contou com a presença de alunos com e sem deficiência visual. As atividades ocorreram num Colégio Técnico Industrial (CTI). Elas fizeram parte de um curso denominado “O Outro Lado da Físi-ca” oferecido pela Licenciatura em Física da UNESP de Bauru em 2005. Inicialmente os licenciandos organizaram um período de di-vulgação junto aos alunos do CTI. Estudam nesse colégio alunos da cidade e da região de Bauru com idade média de 15 anos. O número de participantes do CTI foi de 35. Entrou-se também em contato com uma Escola Estadual a fim de convidar alunos com deficiência visual para participarem do curso. A Escola escolhida possuía uma sala de recursos pedagógicos. Dois alunos com deficiência visual interessaram-se em parti-cipar do curso. Ambos eram cegos; um pos-suía 15 anos de idade e cursava a 8ª série do ensino fundamental, e o outro possuía 34 anos e cursava a oitava série do EJA. O aluno de 15 anos era cego de nascimento e o de 34 perdera a visão aos vinte e quatro anos. Por questão de espaço, os resulta-dos apresentados enfatizam as viabilidades e dificuldades do aluno que nasceu cego (identificado como aluno B).

3. Metodologia de análise e técnica para a coleta dos dados

Adotando os procedimentos: ex-ploração do material; tratamento dos resul-tados e interpretação (BARDIN, 1977), fo-ram identificadas dificuldades e viabilidades de inclusão do aluno (B). No processo de exploração, realizou-se a fragmentação do material de análise. Para tal, foram sele-cionados trechos que continham a mesma viabilidade ou dificuldade. Após a fragmen-

CAMARGO, E. P.

Page 11: ISSN 2236-0468

11Interciência & Sociedade

tação, as dificuldades e viabilidades foram agrupadas de acordo com a classe que as caracterizam. Como decorrências foram identificadas quatro classes de dificuldades e viabilidades de inclusão. (a) Dificuldades:

comunicação, segregação, operação mate-mática e experimento. (b) Viabilidades: co-municação, hipótese, experimento e mode-los (ver quadro 1).

O quadro 1 mostra que as classes: comunicação e experimento foram comuns às dificuldades e viabilidades. As classes: segregação e operação matemática repre-sentaram somente dificuldade. As classes: hipótese e modelo representaram apenas viabilidade. O entendimento dos fatores de-terminantes para a condição de dificuldade e/ou viabilidade será feito em função da explicitação do perfil lingüístico utilizado pe-los licenciandos (categoria linguagem), bem como, do contexto em que a veiculação de significados ocorreu (categoria momento).

4. Categorias para a análise dos dados

4.1. Categoria 1: Linguagem

Objetiva compreender se as in-formações veiculadas pelos licenciandos foram acessíveis ao aluno com deficiência visual. A acessibilidade será avaliada em razão das estruturas empírica e semântico--sensorial das linguagens.

Estrutura Empírica: refere-se ao suporte material da linguagem (MARTINO, 2005), isto é, a forma por meio da qual uma determinada informação é materializada, armazenada, veiculada e percebida. Pode--se organizar em termos fundamentais e

mistos. As estruturas fundamentais são constituídas pelos códigos visual, auditivo e tátil articulados de forma autônoma e/ou independente uns dos outros. As estruturas mistas surgem quando os códigos funda-mentais se combinam de forma interdepen-dente, ou seja, estruturas áudio-visual, tátil--visual, etc.

Estrutura Semântico-sensorial: refere-se aos efeitos produzidos pelas per-cepções sensoriais no significado de fe-nômenos (DIMBLERY & BURTON, 1990). Esses efeitos são entendidos por meio de quatro referenciais associativos entre signi-ficado e percepção sensorial: significados indissociáveis são aqueles cuja represen-tação mental é dependente de determina-da percepção sensorial. Nunca poderão ser representados internamente por meio de percepções sensoriais distintas da que os constituem; significados vinculados são aqueles cuja representação mental não é exclusivamente dependente da percepção sensorial utilizada para seu registro. Sem-pre poderão ser representados por meio de percepções sensoriais distintas da inicial; significados sensorialmente não relacioná-veis: não possuem vínculo ou associação com qualquer percepção sensorial. Embora o aprendiz possa construir representações

Quadro 1. Panorama de dificuldades e viabilidades de inclusão para o aluno cego de nascimento.

Fonte: elaborado pelo autor.

Classe/dificuldade/inclusão Quantid. Porcent. Classe/viabilidade/in-

clusão Quantid. Porcent.

Comunicação 73 83,9% Comunicação 368 89,7%

Segregação 10 11,5% Segregação 0 0

Operação matemática 3 3,4% Operação matemática 0 0Experimento 1 1,1% Experimento 12 2,9%

Apresentação de hi-pótese 0 0 Apresentação de hipó-

tese 23 5,6%

Apresentação de mo-delos 0 0 Apresentação de mo-

delos 7 1,7%

Total vertical 87 100% Total vertical 410 100%

Análise das dificuldades e viabilidades para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de termologia

Page 12: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade12

mentais sensoriais acerca de idéias com a presente característica, as mesmas nunca corresponderão de fato aos fenômenos/con-ceitos que se visam comunicar; significados de relacionabilidade sensorial secundária: são aqueles cuja compreensão estabelece com o elemento sensorial uma relação não prioritária. Embora ocorram construções de representações mentais sensoriais por par-te do aprendiz, as mesmas não represen-tam pré-requisito à compreensão do fenô-meno/conceito abordado.

A idéia de representação utilizada nesta categoria de análise é aquela contida em EISENCK & KEANE (1991). Segundo os autores (op. cit. p. 202) representação é “qualquer notação, signo ou conjunto de símbolos capaz de representar, mesmo na ausência do representado, algum aspecto do mundo externo ou de nossa imagina-ção”. De forma mais específica, a presente categoria fundamenta-se no conceito de “re-presentações internas” ou “representações mentais”, que ocorrem no nível subjetivo da cognição, do pensamento. Em outras pa-lavras, tais representações referem-se às formas em que codificamos características, propriedades, imagens, sensações, etc, de um objeto percebido ou imaginado, bem como, de um conceito abstrato (EISENCK & KEANE, 1991, p. 202).

A caracterização das linguagens obedeceu à relação: linguagem = (estrutura empírica) + (estrutura semântico-sensorial). A avaliação de uma viabilidade ou dificul-dade comunicacional levou em conta o fato de uma dada linguagem ter ou não tornado acessível ao aluno cego de nascimento os significados de termologia por ela veicula-dos.

4.2. Categoria 2: Contexto

Refere-se a duas características inerentes à presença do aluno com defi-ciência visual nas atividades: (a) espaço instrucional que contemplou a presença do aluno cego; e (b) nível de interatividade desse espaço.

Espaço instrucional: episódio e episódios particulares

Episódios: referem-se a espaços instrucionais comuns aos alunos com e sem

deficiência visual, isto é, momentos em que todos os discentes envolveram-se nas mes-mas tarefas coordenadas pelos licencian-dos. Uma característica fundamental dos episódios é a não diferenciação de conteú-dos, estratégia metodológica e recurso ins-trucional para aluno com e sem deficiência visual.

Episódios particulares: dizem res-peito aos espaços instrucionais que conta-ram apenas com a participação do aluno cego, ou seja, ocorreram de forma separa-da e simultânea à aula dos alunos videntes. Uma característica central desses episódios é a diferenciação dos recursos instrucionais utilizados, das estratégias metodológicas empregadas e do conteúdo ou de sua abor-dagem.

Nível de interatividade: discurso in-terativo e discurso não-interativo: segundo Mortimer e Scott (2002) a diferenciação en-tre os discursos interativo e não-interativo se dá pela identificação do número de “vo-zes” que participam de uma determinada relação discursiva.

Discurso interativo: ocorre com a participação de mais de uma pessoa.

Discurso não-interativo: ocorre com a participação de única pessoa.

O contexto é definido pela relação: (espaço instrucional) + (nível de interativi-dade).

5. Análise dos dados

5.1. Classes que representam dificuldade e viabilidade à inclusão do aluno com defici-ência visual

Dificuldade de comunicação: foram identificados 73 momentos comuns a todos os alunos em que ocorreram essas dificulda-des. Elas foram agrupadas em função de 8 linguagens: (1) áudio-visual interdependen-te/significado vinculado às representações visuais (80,8%), (2) fundamental auditiva/significado vinculado às representações visuais (6,8%), (3) fundamental auditiva/significado indissociável de representações visuais (4,1%), (4) auditiva e visual indepen-dentes/significado vinculado às represen-tações visuais: (2,7%), (5) tátil-auditiva in-terdependente/significado indissociável de

CAMARGO, E. P.

Page 13: ISSN 2236-0468

13Interciência & Sociedade

representações visuais (1,3%), (6) auditiva e visual independentes/significado indisso-ciável de representações visuais (1,3%), (7) áudio-visual interdependente/significado de relacionabilidade sensorial secundária (1,3%) e (8) áudio-visual interdependente/significado indissociável de representações visuais (1,3%).

Exemplos dos significados gera-dores de dificuldades: (1) vinculados às re-presentações visuais: transformação de es-calas termométricas, dilatação térmica nos líquidos e sólidos, relação matemática entre trabalho, calor e energia interna, etc; (2) in-dissociáveis de representações visuais: luz solar e fumaça, relação entre radiação e luz, relação entre aquecimento e emissão de luz, cor das chamas; (3) de relacionabilida-de sensorial secundária: nomes de escalas termométricas, datas de determinado acon-tecimento histórico, informações gerais.

Características marcantes das lin-guagens: (a) presença majoritária de difi-culdades relacionadas à estrutura empírica áudio-visual interdependente; (b) presença majoritária de dificuldades relacionadas aos significados vinculados às represen-tações visuais; (c) presença majoritária de dificuldades nos episódios não-interativos; (d) foram verificadas, de forma majoritá-ria, dificuldades provenientes da relação: não-interatividade/linguagem de estrutura empírica áudio-visual interdependente; (e) significados indissociáveis de representa-ções visuais e de relacionabilidade senso-rial secundária participaram de forma mi-noritária do conjunto de dificuldades; (f) em episódios particulares não foram verificadas dificuldades; (g) a interatividade mostrou-se fator minoritário de dificuldades; (h) foram verificadas, de forma minoritária, dificulda-des provenientes da relação: interatividade/linguagens de estruturas empíricas funda-mental auditiva e auditiva e visual indepen-dentes.

Viabilidade de comunicação: foram identificados 368 momentos em que ocor-reram viabilidades de comunicação (entre episódios e episódios particulares). Elas foram agrupadas em função de 10 lingua-gens: (1) fundamental auditiva/significado indissociável de representações não-visuais (44,0%), (2) fundamental auditiva/significa-

do vinculado às representações não-visuais (14,9%), (3) auditiva e visual independen-tes/significado indissociável de represen-tações não-visuais (9,2%), (4) auditiva e visual independentes/significado vinculado às representações não-visuais (7,0%), (5) tátil-auditiva interdependente/significado vinculado às representações não-visuais (6,2%), (6) fundamental auditiva/significado de relacionabilidade sensorial secundária (5,4%), (7) fundamental auditiva/significado sem relação sensorial (4,6%), (8) auditiva e visual independentes/significado de rela-cionabilidade sensorial secundária (3,5%), (9) tátil-auditiva interdependente/significado indissociável de representações não-visu-ais (3,2%) e (10) auditiva e visual indepen-dentes/significado sem relação sensorial (1,6%).

Exemplos dos significados gerado-res de viabilidades: (1) indissociáveis de re-presentações não-visuais: idéia de quente, frio, sensação térmica, calor, etc; (2) vincu-lados às representações não-visuais: idéia de temperatura como nível de agitação das moléculas, calor como onda eletromagnéti-ca (referente à geometria da onda), etc; (3) sensorialmente não relacionáveis: idéia de calor como energia em trânsito entre cor-pos de diferente temperatura, relação en-tre temperatura e energia interna, etc; (4) significados de relacionabilidade sensorial secundária. Exemplos de tais significados foram apresentados anteriormente.

Características marcantes das lin-guagens: (a) predominância de viabilidades nos contextos comunicacionais comuns a todos os discentes; (b) predominância de viabilidades nos contextos comunicacionais interativos; (c) predominância de viabilida-des relacionadas ao emprego de linguagens de estrutura empírica fundamental auditiva; (d) linguagens de estruturas empíricas au-ditiva e visual independentes e tátil-auditiva interdependentes foram identificadas de forma minoritária; (e) predominância de via-bilidades relacionadas à veiculação de sig-nificados indissociáveis de representações não-visuais; (f) ocorrência significativa da relação viabilidade/significado vinculado às representações não-visuais; (g) ocorrência minoritária de viabilidades relacionadas à veiculação dos significados de relacionabi-

Análise das dificuldades e viabilidades para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de termologia

Page 14: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade14

lidade sensorial secundária e sem relação sensorial; (h) os episódios comuns a todos os alunos proporcionaram condições para a utilização de linguagens de estrutura em-pírica tátil-auditiva interdependente; (i) não ocorrência da relação: viabilidade/estrutura empírica áudio-visual interdependente.

Dificuldade experimento: foi iden-tificada em uma ocasião. Refere-se à não participação efetiva do aluno cego em ativi-dade experimental. Esse tipo de dificuldade esteve ligada à realização de experimento demonstrativo, em episódios não-interativos e com o emprego de linguagem áudio-vi-sual interdependente/significado vinculado às representações visuais. O experimento realizado enfocou o estudo dos gases (ex-perimento 1). Inicialmente, o licenciando apresentou os equipamentos experimentais à frente da sala, em seguida, realizou ex-perimento demonstrativo sobre a dilatação dos gases. Foram utilizados os seguintes equipamentos experimentais: Erlenmeyer, borrachas de conexão, bacia, gelo, copo e detergente.

Viabilidade experimento: foi identi-ficada em 12 ocasiões. Refere-se à partici-pação efetiva do aluno com deficiência vi-sual em atividades experimentais. Esse tipo de viabilidade esteve ligada à realização de experimentos participativos, em episódios interativos e com o emprego de linguagens de estruturas empíricas tátil-auditiva inter-dependente e fundamental auditiva. Os ex-perimentos realizados foram os seguintes: (2) diferença entre calor e temperatura, (3) relação entre calor, temperatura e massa, (4)equilíbrio térmico, (5) transferência de calor por condução, (6 e 7) transferência de calor por convecção, (8) transferência de calor por radiação, (9) dilatação linear dos sólidos, (10) dilatação térmica dos líqui-dos, (11) dilatação térmica dos gases, (12 e 13) dilatação superficial dos sólidos.

5.2. Classes que representam dificuldade ou viabilidade à inclusão do aluno com defi-ciência visual

Dificuldade segregação: foi identifi-cada em 10 ocasiões: diz respeito à criação, no interior da sala de aula, de ambientes se-gregativos de ensino. Esses ambientes con-

taram com a participação apenas do aluno com deficiência visual e de um licenciando colaborador. Os referidos ambientes foram constituídos devido às dificuldades oriun-das da aula principal. Ocorreram prioritaria-mente durante episódios não-interativos e com o emprego de linguagem áudio-visual interdependente. Nos ambientes segregati-vos, temas discutidos durante a aula princi-pal diferenciaram-se daqueles trabalhados por todos os alunos. Em tais ambientes, os diálogos ocorreram em voz baixa, o que ex-plicita sua característica de “incômodo” à aula principal.

Dificuldade operação matemática: foi identificada em 3 ocasiões. Refere-se à não participação efetiva do aluno com deficiência visual em atividades que envol-veram a efetuação de cálculos. Essas ati-vidades foram realizadas em episódios não--interativos e com o emprego de linguagem áudio-visual interdependente/significado vinculado às representações visuais. Fun-damenta-se na relação triádica caracteriza-dora das operações matemáticas, ou seja, simultaneidade entre raciocínio, registro do cálculo e sua observação. Os cálculos que representaram dificuldades foram os seguintes: equação do trabalho termodinâ-mico, rendimento de máquinas térmicas e relação entre calor e temperatura no ciclo de Carnot.

Viabilidade apresentação de hi-pótese: foi verificada em 23 ocasiões. Sua ocorrência esteve relacionada a episódios interativos e ao emprego de linguagens de estrutura empírica fundamental auditiva. Como nesses ambientes os alunos com e sem deficiência visual alternaram a função de interlocutor, o discente cego teve condi-ções de expressar-se. Essa viabilidade re-fere-se a situações em que o discente apre-sentou relações de causa e efeito para um determinado fenômeno. Essas hipóteses foram as seguintes: (1) explicação para sensação térmica ao sair da piscina, (2) ex-plicação para a variação da temperatura da água, (3, 4) explicação para a variação de temperatura em vasilhas cheia e pela me-tade de água, (5, 6) explicação para a eva-poração da água, (7) explicação para o que ocorrerá com a água aquecida na latinha e na vasilha plástica, (8) explicação para o

CAMARGO, E. P.

Page 15: ISSN 2236-0468

15Interciência & Sociedade

esfriamento da água na latinha e o aqueci-mento da água na vasilha plástica, (9) ex-plicação do derretimento da parafina no fio aquecido, (10) explicação para o movimen-to do cata-vento próximo à chama, (11) ex-plicação para o movimento ascendente da gota de leite aquecida, (12) explicação para a diferença de temperatura nas regiões la-terais e acima da vela, (13, 14 ) explicação para a dilatação do prego aquecido, (15) explicação para a relação dilatação/aqueci-mento, (16) previsão para o que vai ocorrer com um prego após sua temperatura dimi-nuir, (17) (explicação para o que ocorrerá com o prego colocado numa chapa metálica aquecida, (18) explicação para o que ocor-rerá com esfera de metal após ser aqueci-da, (19) explicação para a dilatação do gás dentro de uma bexiga, (20) explicação para a dilatação nos sólidos, (21, 22 ) explicação sobre pressão atmosférica, (23) explicação

para a relação pressão/profundidade. Viabilidade apresentação de mo-

delos: foi identificada em 7 ocasiões. Refe-re-se à apresentação de modelos explicati-vos de fenômenos de termologia. Ocorreu em episódios interativos e com o emprego de linguagens de estrutura empírica funda-mental auditiva. Os modelos apresentados foram os seguintes: (1) modelo para a troca de calor, (2) modelo para a transferência de calor por radiação, (3) modelo de dilatação dos sólidos, (4) modelo de dilatação dos ga-ses, (5, 6, 7) modelo para pressão.

Em síntese, são apresentados os quadros 2 e 3 . Esses quadros explicitam as classes de dificuldades e viabilidades, bem como, suas características intrínsecas marcantes.

Quadro 2. Classes e características intrínsecas das dificuldades de inclusão.

Quadro 3. Classes e características intrínsecas das viabilidades de inclusão.

Fonte: elaborado pelo autor.

Fonte: elaborado pelo autor.

Classe/dificuldade/inclusão

Estrutura empírica predominante

Estrutura semântico-sensorial pre-dominante

Contexto predo-minante

ComunicaçãoÁudio-visual

interdependente Significados vinculados às repre-sentações visuais

Episódios não--interativos

Segregação Áudio-visual interdependente

Significados vinculados às repre-sentações visuais

Episódios não interativos

Experimento Áudio-visual interdependente

Significados vinculados às repre-sentações visuais

Episódios não--interativos

Operação mate-mática

Áudio-visual interdependente

Significados vinculados às repre-sentações visuais

Episódios não--interativos

Natureza/viabili-dade/inclusão

Estrutura empírica predominante

Estrutura semântico-sensorial predominante

Contexto me-todológico pre-

dominante

Comunicação Fundamental audi-tiva.

Significados indissociáveis de representações não-visuais.

Episódios inte-rativos

ExperimentoFundamental audi-tiva e Tátil-auditiva interdependente

Significados indissociáveis de representações não-visuais

Episódios inte-rativos

Apresentação de hipótese

Fundamental audi-tiva

Significado indissociável de representações não visuais

Episódios inte-rativos

Apresentação de modelo

Fundamental audi-tiva

Significado indissociável de representações não-visuais

Episódios inte-rativos

Análise das dificuldades e viabilidades para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de termologia

Page 16: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade16

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com as análises, foram identificadas 4 classes de dificuldades de inclusão. A classe “comunicação” (83,9%) esteve relacionada majoritariamente a epi-sódios não-interativos comuns a todos os alunos. Centrou-se na veiculação, por meio de linguagem de estrutura empírica áudio--visual interdependente, dos significados vinculados às representações visuais. A dificuldade “segregação” (11,5%) esteve di-retamente relacionada à criação, no interior da sala de aula, de episódios particulares que contaram apenas com a participação do discente com deficiência visual. Nesses epi-sódios os temas trabalhados eram distintos dos abordados na aula principal, que não previa atendimentos particularizados. Sobre a dificuldade “operação matemática” (3,4%) cabem os seguintes comentários. Docen-tes de física dificilmente sabem como lidar com esse tipo de situação. O problema en-volve a relação triádica raciocínio/registro/observação dos cálculos. Como o deficiente visual não observa simultaneamente o que escreve, a relação é destituída. É preciso o investimento no desenvolvimento de mate-riais que proporcionem condições para que este discente, de forma simultânea, regis-tre, observe aquilo que registra e raciocine. Já os experimentos que representaram difi-culdade à inclusão de (B) (1,1%) foram os visualmente demonstrativos e observáveis. Durante a realização de tais experimentos, não foram verificadas as interações discen-tes com e sem deficiência visual e discente com deficiência visual/licenciando.

As viabilidades de inclusão também se ligaram a 4 classes funcionais. Comuni-cação (89,7%), apresentação de hipótese (5,6%), experimento (2,9%) e apresenta-ção de modelo (1,7%). Essas viabilidades ocorreram majoritariamente em episódios interativos e com a utilização de linguagem fundamental auditiva/significado indisso-ciável de representações não-visuais. Em outras palavras, as condições favoráveis à inclusão foram verificadas em contextos in-terativos comuns a todos os discentes e ao emprego de linguagem auditiva que veicu-lou significados não-visuais.

A partir dos padrões de viabilida-

des e dificuldades expostos, apresentam-se 4 recomendações para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de termo-logia: (1) destituição da estrutura empírica áudio-visual interdependente caracteriza-dora de boa parte das linguagens emprega-das em sala de aula; (2) criação de material instrucional de interface visual e não-visual (registros visuais e não-visuais sobrepos-tos); (3) interação entre discentes com e sem deficiência visual, utilizando os mate-riais de interfaces visuais e não-visuais; (4) reconhecer e explorar as potencialidades comunicacionais das linguagens fundamen-tal auditiva, auditiva e visual independentes e tátil-auditiva interdependente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

CARVALHO, E. N. S.; MONTE, F. R. F. A educação inclusiva de portadores de deficiências em esco-las públicas do DF. Temas em Educação Especial III, São Paulo, ed. Universidade de São Carlos, 1995.

DIMBLERY, R.; BURTON, G. Mais do que Palavras: Uma Introdução à Teoria da Comunicação, 4ª ed. São Paulo, Cortez editora, 1990.

EISENCK, M.; KEANE, M. Cognitive Psychology: a student’s handbook. London: Erlbaum, 1991.

MARTINO, L. C. De qual comunicação estamos fa-lando? In: Hohlfeldt, A. Martino, L.C. e França, V.V. (org). Teoria da comunicação: conceitos, escolas e tendências. 5ª edição, Petrópolis, Editora vozes, P. 11-25, 2005.

MITTLER, P. Educação inclusiva: contextos sociais. São Paulo, ARTMED, 2003. MORTIMER, E. F.; SCOTT, P. H. Atividade discursiva nas salas de aula de ciências: uma ferramenta socio-cultural para analisar e planejar o ensino. Investiga-ções em Ensino de Ciências, Porto Alegre - RS, v.7, n, 2002. 3

RODRIGUES, A. J. Contextos de Aprendizagem e Integração/Inclusão de Alunos com Necessidades Educativas Especiais. In: Ribeiro, M.L.S. e Baumel, R.C.R. (orgs). Educação Especial - Do querer ao fazer. São Paulo, Avercamp, p. 13-26, 2003. SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma socieda-de para todos. 5ª edição, Rio de Janeiro: WVA edito-ra, 1999.

ZABALA, A. A prática Educativa: como ensinar. Por-to Alegre, Artmed Editora S.A., 1998.

CAMARGO, E. P.

Page 17: ISSN 2236-0468

17Interciência & Sociedade

Éder Pires de Camargo é Físico pela Universidade Estadual Paulista, Campus de Bauru/Sp, Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é Professor Doutor do Depar-tamento de Física e Química da Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus Ilha Solteira – SP-, e Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência (Área de Concen-tração: Ensino de Ciências) da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru/São Paulo/Brasil.

Análise das dificuldades e viabilidades para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de termologia

Page 18: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade18

Page 19: ISSN 2236-0468

19Interciência & Sociedade

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE FUNCIONÁRIAS DO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL FILANTRÓPICO

RESUMO: Os objetivos do presente trabalho foram avaliar o consumo alimentar e o estado nutricional de funcionárias do serviço de nutrição e dietética de um hospital filantrópico de Bragança Paulista/SP. Metodologia: A amostra foi composta por 31 mulheres (42,8 ± 11,2 anos). A composição corporal foi determinada por meio da medida de circunferências, peso e estatura. Os dados nutricionais foram co-letados através de questionário de freqüência alimentar (QFA). Foi aferida a pressão arterial seguindo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Os testes utilizados para determinar diferenças nas variáveis com o estado nutricional foram ANOVA/MANOVA, seguido por Spearman para analisar as associações entre a circunferência da cintura e a QFA. Adotando como significância p<0,05. Resulta-dos: As voluntárias mostraram-se com excesso de peso e com circunferência da cintura e do quadril aumentada. Em relação aos hábitos alimentares, foram observadas baixa ingestão de leite e derivados, cereais integrais e fibras alimentares. Conclusão: Os resultados do presente estudo sugerem a neces-sidade de mudança do estilo de vida neste grupo populacional, visando prevenção de doenças crônicas não transmissíveis e melhora na qualidade de vida.PALAVRAS-CHAVE: Consumo alimentar, Estado Nutricional, Sobrepeso, Hipertensão, Qualidade de vida.

GONÇALVES, Juliana FerminoUniversidade São Francisco (USF)

PIMENTEL, Gustavo DuarteUniversidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

PEREIRA, Elaine Cristina LeiteUniversidade Paulista (UNIP)

[email protected]

MOTA, João FelipeUniversidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Universidade São Francisco (USF)[email protected]

ABSTRACT: The aim of this study were to evaluate the dietary intake and nutritional status of employe-es of nutrition and dietetics service of a philanthropic hospital in Bragança Paulista/SP. Methods: The sample comprised 31 women (42,8 ± 11,2 years old). Body composition was determined through of me-asurement of circumference, weight and height. Dietary data were obtained through dietetic frequency questionnaire (DFQ). Blood pressure measurement was made following the recommendations of Brazi-lian Guidelines on Hypertension. ANOVA/MANOVA was used to determine differences in variables with the nutritional status and Spearman was used to analyse the association between waist circumference and the DFQ. Adopting as significant p<0.05. Results: The volunteers showed up overweight and waist and hip circumference increased. In relation to dietary habits were observed low intake of dairy products, whole grains and dietary fiber. Conclusions: The results of this study suggest the need for a change of lifestyle in this population, aimed at prevention of chronic diseases and improved quality of life.KEYWORDS: Food Consumption, Nutritional Status, Overweight, Hypertension, Quality of Life.

Page 20: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade20

1. INTRODUÇÃO

Em decorrência da transição nutri-cional e tecnológica o número de indivíduos acima do peso não para de aumentar, sen-do que na população adulta brasileira os ín-dices superam 50% (IBGE, 2010), fazendo com que haja maior preocupação com as doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, obesidade e diabetes.

Estimativas da Organização Mun-dial de Saúde (OMS) demonstram que as doenças crônicas não transmissíveis são responsáveis por 58,5% dos óbitos e por 45,9% das morbidades em todo o globo (MONTEIRO, 2005). Outros estudos tam-bém mostram que as doenças crônicas não transmissíveis são caracterizadas por longo período de latência, com evolução da do-ença, que podem levar o indivíduo a inca-pacidades e até ao óbito (MARIATH et al., 2007).

O elevado número de indivíduos obesos constitui problema de relevância para saúde pública por estar associada di-reta ou indiretamente com o aumento da incidência das doenças crônicas não trans-missíveis e redução da expectativa de vida (OLIVEIRA et al., 2006).

Paralelo a isto, sabe-se que os indivíduos obesos apresentam maior rela-ção síntese/oxidação de ácidos graxos in-tramuscular, o que evidencia ainda mais o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis (BERGGREN et al., 2004).

Assim, é importante avaliar as re-servas corporais especificamente, o acú-mulo de gordura na região abdominal, que é considerado fator de risco grave para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, sendo associados também à hipertensão arterial, dislipidemias, diabe-tes melittus tipo 2 e aceleração do processo de aterosclerose (MARTINS & MARINHO, 2003; OLINTO et al., 2006; MARIATH, 2007).

Outro fator envolvido com o de-senvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis e relacionado com o estado nutricional é a ingestão alimentar inadequa-da. Segundo VALERO (2004), o método mais utilizado para avaliação do consumo alimentar é o questionário de freqüência de

consumo alimentar (QFCA).MONTEIRO (2000), afirma que a

“dieta ocidental”, ou seja, rica em gorduras (principalmente de origem animal), açúcar e alimentos refinados, com redução de car-boidratos complexos e fibras alimentares está associada concomitantemente com o aumento da obesidade.

Assim sendo, o objetivo deste tra-balho foi avaliar o consumo alimentar e o estado nutricional de um grupo de funcio-nárias do Serviço de Nutrição e Dietética de um Hospital Filantrópico do Município de Bragança Paulista/SP.

2. Metodologia

O estudo foi do tipo transversal descritivo. Participaram do estudo 31 fun-cionárias do sexo feminino do Serviço de Nutrição e Dietética de um Hospital filantró-pico de Bragança Paulista/SP.

Todas as voluntárias receberam orientações sobre as avaliações a que fo-ram submetidos e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Uni-versidade São Francisco.

2.1. Avaliação antropométrica

Para avaliação do peso corporal e estatura foi realizada utilizando balança an-tropométrica tipo plataforma (Filizola®, Bra-sil, com precisão de 0,1 kg para peso e 0,1 cm para estatura). Para esta avaliação, as voluntárias foram orientadas a usar roupas leves e estar sem sapatos. Na avaliação da estatura os indivíduos foram posicionados descalços sobre a balança (superfície pla-na) em ângulo reto com a haste vertical, os calcanhares deveriam estar juntos, tocando a haste vertical do estadiomêtro, a cabeça deve ficar ereta, com os olhos fixos à frente (HEYWARD & STOLARCZYK, 2000).

Posteriormente, foi calculado o Ín-dice de Massa Corporal (IMC) de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO, 2002),

A circunferência da cintura (CC) foi mensurada com fita milimétrica de metal inextensível e inelástica, com precisão de 0,5 cm. A medida foi realizada no ponto mé-

GONÇALVES, J. F.; PIMENTEL, G. D.; PEREIRA, E. C. L.; MOTA, J. F.

Page 21: ISSN 2236-0468

21Interciência & Sociedade

dio entre o último arco intercostal e a crista ilíaca (HEYWARD e STOLARCZYK, 2000). Como valores de referência para CC, foram utilizados os propostos pelo Internacional Diabetes Federation (IDF) (ALBERT, 2005), sendo considerada elevada a CC maior igual que 80 cm para mulheres. Outro indi-cador antropométrico utilizado para classi-ficação foi à relação cintura-quadril (RCQ). A medida de circunferência de quadril foi realizada na região de maior perímetro do quadril entre a cintura e a coxa (CUPPARI, 2005) e foram considerados como alterados relações acima de 0,85 (OMS, 2002).

2.2. Avaliação do consumo alimentar

O consumo alimentar foi avaliado por meio da aplicação de Questionário de Freqüência Alimentar (QFA). Tal questioná-rio já foi aplicado e validado para população adulta, apresentando similaridades com a população deste estudo (RIBEIRO et al., 2006). Após a aplicação da QFA, alguns ali-mentos foram agrupados em variáveis re-presentativas de uma dieta de boa ou má qualidade. Além disso, este agrupamento facilitou a análise dos dados, já que os 56 itens alimentares contidos no QFA ficaram divididos em 14 grupos a serem analisados: 1) QFA Leite/derivados integrais; 2) QFA/ Leite/derivados desnatados; 3) QFA Ovos; 4) QFA Carnes; 5) QFA Peixes; 6) QFA Em-butidos e enlatados; 7) QFA Óleos vegetais; 8) QFA Gordura animal; 9) QFA Petiscos (pizzas, salgadinhos de pacote, lanches); 10) QFA Cereais integrais (fibras e cereais); 11) QFA Cereais não integrais (pão branco, cereais refinados, tubérculos e raízes); 12) QFA Vegetais e leguminosas; 13) QFA Fru-tas e sucos naturais e 14) QFA Doces em geral (bolos, sorvetes, chocolates), onde QFA refere-se à freqüência do consumo em número de vezes por semana.

2.3. Avaliação da pressão arterial

A pressão arterial foi aferida com esfignomanômetro digital da marca BD® por avaliador treinado, seguindo as normas es-tabelecidas pela IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2002).

As voluntárias foram orientadas a

não ingestão de bebidas alcoólicas e café antes da aferição, sentar-se, ficar em re-pouso por cinco minutos, para então rea-lizar a aferição da pressão arterial. Foram feitas duas medidas, sendo estabelecida como valor final a média entre elas.

Foram consideradas anormais as medidas da pressão arterial acima de 130/85 mmHg, seguindo as normas estabe-lecidas pelo Terceiro Painel de Tratamento do Adulto (National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III, 2001).

2.4. Análise Estatística

Foram empregadas provas estatís-ticas para análise quanto à simetria. As ca-racterísticas gerais dos participantes foram expressas em valores médios e desvios-pa-drão, mediana e P25-P75. Foi realizada es-tatística descritiva básica para o cálculo de prevalências. ANOVA/MANOVA foi usado para diferenciação dos grupos, divididos de acordo com estado nutricional e correlações de Spearman, com o intervalo de confiança de 95%, para verificar as associações entre a CC e freqüência de consumo alimentar. Valores de p<0,05 foram considerados es-tatisticamente diferentes. Todas as análises foram realizadas utilizando o software STA-TISTICA® for Windows (version 5.1, Stat-soft, Tulsa, USA).

3. Resultados

Foram avaliadas 31 funcionárias, com idade média de 43 anos. Quanto ao estado nutricional foi verificado que 75% das participantes apresentavam excesso de peso, ou seja, 23% sobrepesos e 52% obesas.

A prevalência de adiposidade ab-dominal foi observada na maioria das fun-cionárias avaliadas. De acordo com a CC, 77% das funcionárias apresentavam circun-ferência alterada. A prevalência de hiper-tensão arterial na amostra estudada foi de 30%. Das funcionárias que apresentaram hipertensão, 9% foram classificadas como eutróficas, 27% sobrepeso e 63% obesida-de. Quando associada à CC alterada, 90%

Avaliação do estado nutricional de funcionárias do serviço de nutrição de um hospital filantrópico

Page 22: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade22

apresentavam hipertensão. Quando asso-ciada às mulheres sobrepeso ou obesas, 91% apresentaram hipertensão. As carac-terísticas gerais da amostra podem ser ob-

servadas na Tabela 1.

Após a divisão de acordo com o IMC foi verificado que o grupo classificado como obesas tendeu a relatar menor consu-mo de leite e derivados integrais (p=0,06),

ovos (p=0,07) e gordura animal (p=0,02), além de tender a relatar maior consumo de cereais integrais (p=0,06) e vegetais e legu-minosas (p=0,06) (Tabela 2).

Tabela 1. Caracterização geral da amostra (n=31)

*IMC: Índice de Massa Corporal; QFA: Freqüência do consumo em vezes por semana.

Tabela 2. Comparação das variáveis alimentares em relação ao Índice de Massa Corporal, dados apresentados em média e desvio-padrão (mediana com semi-amplitude interquartílica), (n=31)

GONÇALVES, J. F.; PIMENTEL, G. D.; PEREIRA, E. C. L.; MOTA, J. F.

Page 23: ISSN 2236-0468

23Interciência & Sociedade

Tabela 2. Continuação

QFA: Freqüência do consumo em vezes por semana. QFA: Questionário de Freqüência Alimentar (vezes por semana). †ANOVA, p<0,05.

Na Tabela 3 foram apresentadas as correlações entre a CC e a freqüência de consumo alimentar. Houve correlação

negativa entre a CC e QFA gordura animal (r=-0,38, p=0,03) e positiva com QFA vege-tais e leguminosas (r=0,38, p=0,03).

Tabela 3. Correlações entre a circunferência da cintura e a freqüência de consumo alimentar (n=31).

QFA: Questionário de Freqüência Alimentar (vezes por semana); †: correlação linear de Spearman; ns: não significativo.

4. Discussão

Com base nos dados antropomé-tricos obtidos, podemos observar alta pre-valência de sobrepeso e obesidade (75%) no grupo estudado, refletindo o quadro da transição nutricional. Estudos mostram que a prevalência de sobrepeso e obesidade é cada vez mais preocupante. GIGANTE et al. (1997) constataram, em seu estudo que 21% da população estudada apresentaram

obesidade, 40% com sobrepeso e que a prevalência da obesidade mostrou-se mais elevada em mulheres.

Já em relação à CC, 77% das mu-lheres apresentaram esse indicador eleva-do. Segundo OLINTO et al. (2006), o au-mento da obesidade abdominal associado à idade nas mulheres têm sido apontados em vários estudos com a população brasi-leira. Outro indicador antropométrico que apresentou alta prevalência de alteração foi

Avaliação do estado nutricional de funcionárias do serviço de nutrição de um hospital filantrópico

Page 24: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade24

a relação cintura-quadril (58%).A pressão arterial mostrou-se

normal na maioria da população estuda-da (70%). A hipertensão foi observada em 30% da população estudada estando asso-ciada somente aos altos valores de CC e IMC, apresentando índices de 90% e 91%, respectivamente. Em estudo realizado por SARNO & MONTEIRO (2007), com ho-mens e mulheres, foi verificada associação positiva entre pressão arterial, CC e IMC. GUS et al. (1998) verificaram que as medi-das de CC e RCQ estiveram associadas à hipertensão arterial.

A OMS afirma que a associação entre hipertensão e obesidade é bem estu-dada e documentada. Estudos mostram que as pressões sistólica e diastólica aumentam com a elevação do IMC e que os indivíduos obesos apresentam maior risco de desen-volver a hipertensão quando comparado aos indivíduos magros (STAMLER et al., 1980; STAMLER et al., 1978). A duração da obesidade aumenta o risco de desenvolver a hipertensão, especialmente em mulheres, e a conseqüente perda de peso leva a re-dução da pressão sangüínea (OMS/WHO, 2003).

CARNEIRO et al. (2003), em es-tudo com predominância de mulheres (432 mulheres e 67 homens), verificou que a maior prevalência de hipertensão arterial estava entre os indivíduos com elevado IMC. Assim, os autores sugeriram que a obesidade apresentou impacto muito mais evidente sobre a hipertensão arterial quan-do comparado a outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, como dis-lipidemia e intolerância à glicose. Sabe-se que as doenças crônicas também levam a inabilidade física, proporcionando maior ab-senteísmo, prejuízo na qualidade do serviço prestado e maiores gastos para empresa.

Em estudo longitudinal, os pacien-tes identificados como moderadamente hipertensos foram acompanhados por 10 anos, sendo estabelecida mudança dietéti-ca positiva associada à interrupção do taba-gismo e aumento da atividade física. Os re-sultados foram redução do peso corporal e da pressão arterial (STAMLER et al., 1980).

Os resultados obtidos pelo QFA no presente estudo podem ter sido subestima-

dos, devido à população estudada trabalhar em um Serviço de Nutrição e Dietética e ter noções de como deve ser uma alimentação saudável. Segundo SCAGLIUSI & JUNIOR (2003), subestimações podem ocorrer, se os indivíduos apresentarem maior consci-ência sobre alimentação.

Segundo DRUMMOND et al. (1998), muitos estudos que utilizam dife-rentes técnicas de inquéritos apresentaram subestimação nos relatos de consumo, tan-to em homens como em mulheres, porém essa subestimação é encontrada principal-mente em indivíduos obesos e do sexo fe-minino em sua maioria. No presente estudo, a população é somente do sexo feminino e a subestimação dos dados fica bem descri-ta quando analisada as correlações estatís-ticas. Além disso, a CC apresentou correla-ção negativa com o consumo de alimentos ricos em gordura animal e positiva com o consumo de alimentos como vegetais e le-guminosas.

Segundo SCAGLIUSI & JUNIOR (2003), a dificuldade em se mensurar o consumo alimentar de forma acurada é uma das limitações para a detecção de associa-ções entre a ingestão alimentar e o risco de desenvolvimento de doenças. O autor ainda afirma que isso acontece devido aos méto-dos para avaliação da ingestão alimentar dependerem do relato individual.

Vários indicadores para a subes-timação já foram estudados, porém a obe-sidade é o que melhor se relaciona com a subestimação alimentar (Taren et al., 1999). SCAGLIUSI & JUNIOR (2003) afirmam que o gênero com tendência à subestimação é em sua maioria do sexo feminino. Ainda existem poucos estudos nacionais disponí-veis sobre a avaliação do consumo alimen-tar da população brasileira (MARCHIONI et al., 2003), o que dificulta a comparação en-tre os dados deste estudo.

Sabemos que o alto consumo de alimentos ricos em gordura animal, doces em geral e baixo consumo de cereais inte-grais, contribuem para o excesso de peso e de seus indicadores antropométricos como o IMC, a CC e a RCQ. (MONTEIRO, 2000).

Conclui-se que o excesso de peso tem alta prevalência no grupo estudado, superando o número de eutróficas. Fator

GONÇALVES, J. F.; PIMENTEL, G. D.; PEREIRA, E. C. L.; MOTA, J. F.

Page 25: ISSN 2236-0468

25Interciência & Sociedade

preocupante, pois 91% das hipertensas apresentavam IMC acima de 25kg/m2. Ao considerar que estas funcionárias traba-lham em estabelecimento de nutrição e dietética, foi observado que os resultados obtidos com os dados do QFA foram subes-timados, pois não apresentaram valores de significância entre alimentos envolvidos po-tencialmente com o aumento do sobrepeso e obesidade.

Ao contrário, os indivíduos obesos apresentaram maior consumo de vegetais, leguminosas, cereais integrais e, menor consumo de gordura animal. Acredita-se que isso tenha ocorrido devido às funcioná-rias trabalharem em um serviço de nutrição e dietética e terem as mínimas noções de como deve ser uma alimentação saudável.

Assim sendo, incentivos à mudan-ça do estilo de vida devem ser implementa-dos com o intuito de melhora na qualidade de vida, podendo repercutir em melhor de-sempenho no trabalho. Sugerimos que esta área de pesquisa seja explorada para se determinar o perfil de saúde de funcionários e traçar estratégias de promoção à saúde no próprio ambiente de trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERT, K. G. M. M.; ZIMMET, P.; SHAW, J. The metabolic syndrome-a new worldwide definition. Lancet, 366, p. 1059-1062, 2005.

BERGGREN, J. R.; et al. Weight loss and exercise: implications lipid metabolism and insulin action. Med Sci Sports Exerc; 36: 1191-5, 2004

CARNEIRO, G.; et al. Influência da distribuição da gordura corporal sobre a prevalência de hiperten-são arterial e outros fatores de risco cardiovas-cular em indivíduos obesos. Rev Assoc Med Bras, v.49, n.3, p. 306-31, 2003.

CUPPARI, L. Nutrição clínica no adulto. 2. ed. Ver. Amp. Manole, Barueri, 2005.

DRUMMOND, S. E.; et al. Evidence hat eating fre-quency is inversely related to body weight status in male, but not female, non-obese adults repor-ting valid dietary intakes. Int J Obes v.22, p.105-112, 1998.

EXECUTIVE SUMMARY OF THE THIRD REPORT OF THE NATIONAL CHOLESTEROL EDUCATION PROGRAM (NCEP) EXPERT PANEL ON THE DE-TECTION , EVALUATION, AND TREATMENT OF HIGH BLOOD CHOLESTEROL IN ADULTS (Adult

Treatment Panel III). JAMA, v.285, p.2486-97, 2001.

GIGANTE, D. P.; et al. Prevalência de obesidade em adultos e seus fatores de risco. Rev. Saúde Pú-blica, vol 31, n. 3. p. 236-246, 1997.

GUS, M.; et al. Associação entre diferentes indica-dores de obesidade e prevalência de hipertensão arterial. Arq. Bras. Cardiol, v. 70, n. 2,1998.

HEYWARD, V. H.; STOLARCZYK, L. M. Avaliação da composição corporal aplicada. 1.ed. Barueri: São Paulo, 2000.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ES-TATÍSTICA (IBGE). Diretoria de Pesquisas, Coor-denação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adul-tos no Brasil. Rio de Janeiro, 2010.

IV DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. Revista da Sociedade Brasileira de Hi-pertensão, 2002.

MARIATH, A. B.; et al. Obesidade e fatores de risco para desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis entre usuários de unidade de ali-mentação. Cad. Saúde Pública, v. 23, n. 4, p. 897-905, 2007.

MARCHIONI, D. M. L.; SLATER. B.; FISBERG, R. M. O estudo da dieta: considerações metodológicas. Cadernos de debate, Campinas, SP, v.X, p. 62-76, set. 2003.

MARTINS, I. S.; MARINHO, S. P. O potencial diag-nóstico dos indicadores da obesidade centralizada. Rev. Saúde Pública, v. 37, n. 6, p. 760-767, 2003.

MONTEIRO, C. A. Velhos e novos males da saúde no Brasil: a evolução do país e de suas doenças. 2. ed. São Paulo, 2000.

MONTEIRO, C. A.; et al. Monitoramento de fatores de risco para doenças cardiovasculares por en-trevistas telefônicas. Rev. Saúde Pública, v. 39, n. 1, p. 47-57, 2005.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Geneva: WHO/FAO. Expert Consultation on diet, nu-trition and prevention of chronic diseases), 2002.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Techni-cal Report Series 916. Diet, Nutrition and the Pre-vention of Chronic Diseases, Geneva 2003. Report of a joint WHO/FAO expert consultation. World Health Organ Tech Rep Ser.; 916(i-viii): 1-149, 2003.

OLIVEIRA, S. M. O.; et al. Padrões de adiposidade em mulheres atendidas em um centro municipal de saúde de BH, 2000. Rev. Bras. Epidemiol., v.9, n.4, p. 506-513, 2006.

Avaliação do estado nutricional de funcionárias do serviço de nutrição de um hospital filantrópico

Page 26: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade26

OLINTO, M. T. A.; et al. Níveis de intervenção para obesidade abdominal: prevalência e fatores asso-ciados. Cad. Saúde Pública, v. 22, n. 6, p. 1207-1215, 2006.

RIBEIRO, A. C.; et al. Validação de um questionário de freqüência de consumo alimentar para popula-ção adulta. Rev. Nutr,, v. 19, n. 5, p. 553-562, 2006.

SARNO, F.; MONTEIRO, C. A. Importância relativa do índice de massa corporal e da circunferência de cintura na predição da hipertensão arterial. Rev. Saúde Pública, v.41, n.5, p. 788-796, 2007.

SCAGLIUSI, F. B.; JUNIOR, A. H. L. Subnotificação da ingestão energética na avaliação do consumo alimentar. Rev. Nutr, v. 16, n. 4, p. 471-481, 2003.

STAMLER, J.; et al. Prevention and control of hypertension by nuitritional hygienic means. Long-term experience of the Chicago Coronary Pre-vention Evaluation Program.; Journal of the American Medical Association, 1980.

STAMLER, R.; et al. Weight and blood pressure: Findings in hypertension screening of 1 milion Ame-ricans. Journal of the American Medical Association, 1978.

VALERO, M. P.; VIEBIG, R. F. Desenvolvimento de um questionário de freqüência alimentar para o estudo da dieta e doenças não transmissíveis. Rev. Saúde Publica, v. 38, n.4, p. 581-584, 2004.

Juliana Fermino Gonçalves, Nutricionista graduada pela Universidade São Francisco (USF), Bragança Paulista/SP (2007).

Gustavo Duarte Pimentel, Nutricionista pela UNIMEP (2006), especialista em Cuidados Nutricionais do Paciente e do Desportista pela UNESP. Mestrando em Fisiologia da Nutrição da UNIFESP/SP.

Elaine Cristina Leite Pereira, Fisioterapeuta pela UFSCar (1997). Doutora em Anatomia pela UNICAMP (2005). Professor titular da Universidade Paulista-Jundiaí/SP. Coordenadora da Especialização em Fisioterapia Esportiva (CEFAI-IBRAMED)-Amparo/SP, Coordenadora Pedagógica do Instituto de Nutrição e Ciências da Saúde (INECS)--Campinas/SP.

João Felipe Mota, Nutricionista pela PUC-Campinas (2002), Especialista em Bioquímica Nutricional e Dietética (UNESP) e em Cuidados Nutricionais ao Paciente Desportista (UNESP), Mestre em Patologia (UNESP). Doutoran-do em Fisiologia da Nutrição (UNIFESP/EPM). Coordenador do Curso de Nutrição da Universidade São Francisco (USF)-Bragança Paulista, Diretor do Instituto de Nutrição e Ciências da Saúde (INECS)-Campinas/SP.

GONÇALVES, J. F.; PIMENTEL, G. D.; PEREIRA, E. C. L.; MOTA, J. F.

Page 27: ISSN 2236-0468

27Interciência & Sociedade

CAPITALISMO E TECNOLOGIAS:implicações para o trabalhador

RESUMO: O presente trabalho apresenta algumas considerações sobre o capitalismo, as tecnologias e suas implicações para a vida do trabalhador. Discutem-se visões e conceitos sobre o trabalho e sua organização. Além disso, traça-se um panorama sobre as mudanças ocorridas na sociedade e na organização do trabalho quando o capitalismo alia-se às tecnologias. PALAVRAS-CHAVE: Trabalho, Tecnologias, Capitalismo.

FERREIRA, SimoneUniversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

[email protected]

SARTORI, Ademilde SilveiraUniversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

[email protected]

ABSTRACT: This paper presents some considerations about capitalism, technology and its implications for the lives of workers. We discuss visions and concepts about work and your organization. Also, draw a picture about the changes in society and the organization of work when capitalism joins technologies.KEYWORDS: Labor; Technologies, Capitalism.

1. INTRODUÇÃO

A acelerada mudança em todos os níveis da humanidade nos leva a ponde-rar sobre o fato de que as transformações econômicas, políticas e sociais são irrever-síveis e as exigências do mundo moderno trazem conseqüências que nem sempre se pode prever. O trabalho tornou-se central nas nossas vidas, o capitalismo globalizou--se e as tecnologias trouxeram um avanço tecnológico sem igual.

Neste sentido, é importante uma análise (ainda que breve) destas questões, por isso, as páginas que seguem tratam do capitalismo, das tecnologias e de suas im-plicações para a vida do trabalhador na so-ciedade contemporânea, sem a pretensão de dar respostas para todas as questões levantadas.

2. O trabalho e o trabalhador

Nossa vida gira basicamente em torno das nossas relações afetivo-sociais e profissionais. Dentre estas, não é novidade

que o trabalho tem grande representativida-de, pois nos confere uma identidade social na medida em que somos aquilo que faze-mos. Contudo, isto nem sempre foi assim. Benjamin citado por Matos (2008) esclarece que na Grécia antiga o trabalho era repro-vado e proscrito; embora fosse executado essencialmente por mãos escravas, era condenado principalmente por revelar uma aspiração vulgar por bens terrenos (rique-za). Tudo o que era artesanal, ou envolvia o trabalho manual, trazia vergonha e defor-mava ao mesmo tempo o corpo e a alma.

Ainda hoje para muitos trabalha-dores o trabalho é apenas um sacrifício necessário para garantir a sobrevivência e não passa de uma atividade degradante uma vez que ele não é visto somente en-quanto condição ontológica do ser humano, mas também, enquanto condição alienante e degradante o que tem implicações diretas na subjetividade do trabalhador e no seu engajamento com a tarefa que realiza.

Para Dejours (2009) trabalho é aquilo que implica: gestos, saber-fazer, um engajamento do corpo, a mobilização da in-

Page 28: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade28

teligência, a capacidade de refletir, de inter-pretar e de reagir às situações; é o poder de sentir, de pensar e de inventar etc. Para ele o trabalho não é em primeira instância a relação salarial ou o emprego; é o «traba-lhar», isto é, um certo modo de engajamen-to da personalidade para responder a uma tarefa delimitada por pressões (materiais e sociais). Em outros termos, é o objetivo (fazer algo/ação) e o subjetivo (inteligência/pensamento/reflexão) interligados.

O trabalho gera no trabalhador o sentimento de ser útil. Diz Minicucci (1982) que ele dá a sensação de pertencer à so-ciedade, conduz a pessoa a fazer amigos, proporciona o sentimento de ter um propó-sito na vida e, uma das mais fortes necessi-dades de um homem é sentir-se importante e que realiza algo de valor.

Para as autoras Navarro e Padilha (2007) o trabalho é central na vida das pes-soas e dá-se não só na esfera econômica, na medida em que ele é a fonte de renda da maioria da população mundial, como também na esfera psíquica por ser uma im-portante fonte de saúde psíquica e sua au-sência, pelo desemprego ou pela aposenta-doria, é causa de abalos psíquicos.

Abalos como a insegurança que o desemprego gera frente às questões ob-jetivas que envolvem a sobrevivência do trabalhador, suas necessidades básicas (alimentação/moradia). Abalos na sua sub-jetividade (auto-estima e necessidade de pertencimento/reconhecimento), pois ao cessarem as atividades profissionais em função da aposentadoria instala-se, para os indivíduos que não tiveram tempo e nem a oportunidade de readaptarem-se a esta nova fase de suas vidas, a falta de sentido, o isolamento, a tristeza e não raro a depres-são. Daí a importância dos programas de preparação para a aposentadoria que per-mitem uma reflexão sobre as novas possi-bilidades de ocupação e convivência social.

Navarro e Padilha (op. cit.) mencio-nam ainda que é por meio do trabalho que o homem torna-se um ser social, ele é central na vida do ser humano e esta centralidade está apoiada em idéias marxistas. Assim, o trabalho é compreendido como momen-to decisivo na relação do homem com a natureza, pois ele modifica a sua própria

natureza ao atuar sobre a natureza exter-na quando executa o ato de produção e de reprodução. Nesse sentido, o trabalho é um ato que pressupõe a consciência e o conhe-cimento dos meios e dos fins aos quais se pretende chegar. Pode-se afirmar que não há trabalho humano sem consciência (en-quanto finalidade), na medida em que todo trabalho busca a satisfação de uma neces-sidade.

Em outras palavras, seu fazer, sua ação, tem para o trabalhador um significado que lhe é particular, seja ele objetivo como a satisfação de necessidades básicas, seja subjetivo, como o orgulho pelo reconheci-mento de um feito. E quando executa uma atividade sem conferir-lhe um significado (finalidade) corre o risco de viver uma vida profissional sem sentido.

Comparando o trabalho no mundo contemporâneo ao da Idade Média, Milan Kundera, citado por Matos (2008, p. 251- 252) reconhece no presente o tédio, pois ofícios de outrora, em parte, não poderiam ser concebidos sem um apego apaixonado: os camponeses por sua terra; o carpinteiro era o mágico das belas mesas, os sapatei-ros conhecendo de cor os pés de todos os aldeões; os guardas-florestais; os jardinei-ros. O sentido da vida estava em suas ofici-nas e campos, cada oficio criara sua própria maneira de ser.

Esta maneira de ser nada mais era do que a identificação e a identidade que o ofício conferia ao trabalhador, mas hou-ve modificações nesta relação no séc. XIX, pois a Revolução Industrial trouxe como conseqüência a necessidade de transfor-mar os seres humanos em máquinas e isto, aos poucos, fez com que se perdesse a vi-são humana do trabalho. Ele passou a ser visto não somente como uma condição ine-rente ao homem, mas também, como uma condição degradante através de um traba-lho alienado.

Neste sentido, Minicucci (op. cit.) afirma que a subdivisão do trabalho trouxe vantagens e desvantagens para o trabalha-dor como, por exemplo, aborrecimentos, perda do sentimento da importância pes-soal, do orgulho de estar fazendo algo im-portante. Para o autor o trabalho ao longo do tempo passou por importantes transfor-

FERREIRA, S.; SARTORI, A. S.

Page 29: ISSN 2236-0468

29Interciência & Sociedade

mações principalmente com a Revolução Industrial que tornou a vida mais fácil para nós, mas com sacrifício das recompensas (lazer), satisfações (prazer) e relaciona-mento humano no trabalho (convivência).

De Masi (2000) faz uma crítica à sociedade industrial quando refere que ela não só fez com que, para muitos, se tor-nasse inútil o cérebro como fez com que somente algumas partes do corpo fossem utilizadas. Para ele, isto era diferente na sociedade rural na qual o camponês, para usar a enxada ou a pá, assim como o pes-cador para pescar, além de utilizar o corpo inteiro, usava talvez um pouco mais de cé-rebro.

Mas não foi afetado apenas o tra-balhador operário por processos advindos da era industrial e do capitalismo. Afirma--nos Matos (op.cit) que na contemporanei-dade os indivíduos não são mais sequer en-grenagens na máquina de produção, mas compõem um mercado para o consumo, de tal forma que a modelação dos compor-tamentos visando o mercado implica uma destruição programada do savoir-vivre (sa-ber-viver). E, assim como o operário sub-metido à máquina perde seu savoir-faire (saber-fazer), reduzindo-se à condição de proletário, da mesma forma, o consumidor, padronizado em seus comportamentos de consumo pela fabricação artificial de dese-jos, perde seu savoir-vivre.

É ainda esta autora quem nos diz que a produção em excesso de mercado-rias com respeito à necessidade do merca-do e não do consumidor, corresponde a um estado de exasperação das carências reais da sociedade e a uma nova modalidade de exasperação de aturdimento da mente, con-seqüência do capitalismo contemporâneo e da cultura que ele engendra.

Não há duvidas de que o capita-lismo, que por definição “significa mudan-ça constante e desenvolvimento” (WOOD, pág.9), e os seus excessos geram dicoto-mias.

Navarro e Padilha (op. cit.) dizem que o capitalismo traz consigo uma série de contradições. Ao mesmo tempo em que o trabalho é a fonte de humanização e é o fundador do ser social, sob a lógica do capi-tal se torna degradado, alienado, estranha-

do. O trabalho perde a dimensão original e indispensável ao homem de produzir coisas úteis (que visariam satisfazer as necessida-des humanas) para atender as necessida-des do capital.

Cafiero (1985, p. 97 e 98) mencio-na com muita propriedade que:

A lei na sociedade capitalista, segundo a qual uma massa sempre crescente de meios de produção mobiliza progressiva-mente uma quantidade sempre menor de força de trabalho, quer dizer que quanto maior a produtividade do trabalho, tanto maior a pressão dos trabalhadores sobre os seus empregos e, portanto, tanto mais precária sua condição de existência, ou seja, as condições para a venda da pró-pria força para aumentar a riqueza alheia ou a expansão do capital.

Seria então o capitalismo o gran-de responsável por produzir um trabalhador degradado, explorado? O que está posto na sociedade é que o trabalho juntamente com o capitalismo são os grandes algozes do trabalhador, quando, na verdade, sua degradação está muito mais relacionada às condições desumanas do trabalho a que se submeteram e ainda são submetidos mui-tos trabalhadores e ao modo como o traba-lho é organizado.

Sobre a organização do trabalho Dejours (1992), esclarece que ela é conce-bida por um serviço especializado da em-presa, estranho aos trabalhadores, choca--se frontalmente com a vida mental e, mais precisamente, com a esfera das aspira-ções, das motivações e dos desejos. Isso porque, em muitos casos, essa organização do trabalho não é deixada a cargo do tra-balhador, mas é algo que ele tenha que se adaptar por ‘imposição’ da empresa e que acaba confrontando com suas aspirações e desejos.

Para esse autor, o sofrimento co-meça quando a relação homem-organiza-ção do trabalho está bloqueada, quer dizer, quando o trabalhador não consegue fazer modificações neste trabalho. Ele afirma que não são tanto as exigências mentais ou psíquicas do trabalho que fazem surgir o sofrimento, mas sim esse bloqueio na sua organização.

Ou seja, sua impossibilidade de

Capitalismo e tecnologias: implicações para o trabalhador

Page 30: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade30

participar de modo mais ativo e amplo nas decisões que influenciam diretamente sua vida profissional implica na frustração de onde resulta o descontentamento, a des-motivação. Neste sentido, nossa atenção deve voltar-se também para a organização do trabalho e não somente para o trabalho enquanto atividade física/intelectual, pois o contexto e a sistematização das atividades também interferem no modo de funciona-mento (modus operandi) do trabalhador e consequentemente em sua subjetividade.

3. Reflexões sobre as tecnologias Também é preciso refletirmos em

torno da introdução da tecnologia, mais especificamente da eletrificação que mar-ca mudanças significativas na organização do trabalho, Benjamim, citado por Matos (2008, p.255) não hesita em indicar as pa-tologias que surgiram a partir da luz elétrica, considerando o mundo do capital um asilo de cegos e loucos: “Vamos aos fatos. A luz jorrando da eletricidade serviu primeiro para iluminar as galerias subterrâneas das minas; no dia seguinte as praças e as ruas; depois as fábricas, as oficinas, as lojas os espetáculos, os quartéis; e, finalmente as casas de família”.

Pode-se perceber aí a mão-dupla da eletrificação que além de trazer luz e outras facilidades para a sociedade trouxe também a produção desmedida e o com-prometimento do repouso do trabalhador, neste sentido, Matos (op. cit., p. 256) men-ciona:

A economia, em sua forma atual de acu-mulação (cuja infra-estrutura são as na-notecnologias, a microeletrônica e suas inovações), exige a extensão e a intensi-ficação da atividade até os últimos limites físicos e biológicos do indivíduo. Razão pela qual, com a eletrificação, o dia ilumi-nado terá vinte e quatro horas, estabele-cendo-se o estresse como modo de vida, seja para aqueles ligados a um trabalho, seja para a massa crescente de trabalha-dores precários e desempregados.

Aliando estas questões apontadas

com o modo de organização da vida pesso-al do trabalhador percebe-se que raramente sobrava tempo para que ele pudesse pen-sar e refletir sobre o que se estava fazendo. Fato que se repete ainda hoje entre muitos trabalhadores que se deixam absorver por tudo isto, anulando uma parte que é somen-te do próprio homem, sua subjetividade. A subjetividade aqui não é entendida apenas como a maneira com que o sujeito, o tra-balhador, vive e dá sentido às suas experi-ências de trabalho, mas num sentido mais amplo e profundo.

Subjetividade deve ser entendida como o exercício da escolha daquilo que se quer ou não para a sua vida. O autor De Masi (op. cit.) a conceitua como um fenô-meno complexo, relacionando-a com auto-nomia de julgamento, onde o ser humano pode permitir-se uma escolha baseada em suas próprias necessidades e recursos, e não no fato de pertencer a algum grupo.

Resumindo, subjetividade e esco-lha estão intimamente interligadas e sendo o homem um ser auto-determinante1, isto sig-nifica que ele pode escolher, o que contra-ria a tese psicanalítica de que ele é apenas instinto e pulsão. Se ele pode fazer esco-lhas por que alguns escolhem sentirem-se vitimas atacadas em sua subjetividade pelo capitalismo e pelas tecnologias? Isto requer mais estudos, mas uma saída para que os trabalhadores não coloquem em risco sua subjetividade é perceber os instrumentos de manipulação que estão presentes na atual sociedade e buscar conhecimento e criar estratégias para superá-los.

Por falarmos em criar, observamos que a palavra tecnologia possui sua raiz no verbo grego tictein que significa criar, produzir. Há muito o homem cria, produz e inventa, portanto, há uma ligação histórica entre homem e tecnologia.

Conta a lenda grega que Prome-teu, Deus do Fogo, revoltado com Zeus pela onipotência deste, confiou o fogo aos humanos para garantir-lhes o conhecimen-to, o poder sobre a matéria e o saber téc-nico. A simbologia prometêica traz à tona a reflexão sobre a relação dos homens com

1 Autodeterminação baseia-se na concepção do ser humano como organismo ativo, dirigido para o crescimento. Para saber mais acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722004000200002

FERREIRA, S.; SARTORI, A. S.

Page 31: ISSN 2236-0468

31Interciência & Sociedade

a técnica e seus resultados nos modos de produção material e simbólica da socieda-de ao mostrar que desde os primórdios, as possibilidades de uso, reinvenção e cons-trução de sentidos na relação ontológica do homem com o mundo têm se estabelecido pela mediação tecnológica. (ALVES ; MAN-CEBO, 2006).

A história da humanidade é per-meada por invenções constituindo-se em diferentes formas de expressão da ativi-dade humana justamente porque o ser hu-mano sente a necessidade de criar a todo instante. E o século XII d.C foi um período em que começou uma grande explosão de invenções tecnológicas similar à ocorrida na Mesopotâmia quatro mil anos antes. De acordo com De Masi (op. cit), no referido século inventou-se a pólvora, redescobriu--se o moinho d’água, difundiu-se a bússola e os arreios modernos dos cavalos. O cava-lo, com o novo arreio, rendia mil vezes mais do que com o velho tipo de freio. Foram inventados os óculos, que logo duplicam a vida intelectual da humanidade.

Uma invenção tecnológica que me-rece destaque é o relógio e, neste sentido, Postman (1994) afirma que sem o relógio teria sido impossível haver capitalismo. Ele teve sua origem nos mosteiros benedi-tinos dos séculos XII e XIII. Foi inventado por homens que queriam se dedicar mais rigorosamente a Deus, porém, diz o autor, terminou como a tecnologia de maior uso para os homens, que desejavam dedicar-se a acumulação de dinheiro.

Hoje somos escravos desta tec-nologia chamada relógio que, embora seja aparentemente simples, controla tudo e to-dos e personifica o tempo, o grande regu-lador das nossas vidas. E por falarmos em tempo...

Durante muito tempo a tecnologia fez com que deixassem de existir alguns empregos para os seres humanos, mas ao mesmo tempo criou outros e em maior proporção. Para projetar e construir máquinas eram necessários, de fato, outros tipos de tra-balhadores. Além disto, a riqueza produzi-da graças às máquinas era reinvestida na criação de outras fábricas ou usada para o consumo. Em ambos os casos, direta ou indiretamente, contribuíam para au-

mentar a oferta de emprego. Porém, com o advento da eletrônica, sobretudo com a introdução dos microprocessadores, este equilíbrio se rompeu e os empregos que desapareceram com o uso da tecnologia não são mais compensados por novos investimentos e novos tipos de emprego (DE MASI, 2000. pág. 104 - 105).

Será possível afirmar que as tec-nologias criam então um novo tempo, um novo modo de produção, um novo traba-lhador e sociedade? Trazemos o seguinte pensamento para auxiliar na reflexão desta questão:

O velho fordismo usava a linha de mon-tagem para substituir os altos custos do trabalho artesanal especializado e para estreitar o controle sobre o processo do trabalho pelo capital, com o objetivo óbvio de extrair mais valor do trabalho. Hoje, as novas tecnologias são utilizadas para o mesmo fim: tornar os produtos mais fáceis e mais baratos para a montagem (...), con-trolar o processo de trabalho, eliminar ou combinar várias especialidades tanto no setor de serviços como no de manufatura, substituir os altos por baixos salários, pro-mover o “downsizing”(enxugamento) dos trabalhadores de modo geral – sempre tendo em vista a extração de mais valor do trabalho (WOOD, p.10).

Em resumo, Wood diz que as tec-nologias permitem que a lógica da velha economia da produção de massa se diver-sifique e se estenda ao atingir setores in-teiramente novos e trabalhadores que não afetava antes. Uma vez que todos direta ou indiretamente são atingidos por este modo de produção. É o que a autora chama de universalização, ou seja, é a totalização do próprio capitalismo, de suas relações sociais, suas leis de movimento, suas con-tradições – a lógica da mercantilização, da acumulação, da maximização dos lucros penetrando todos os aspectos de nossas vidas.

Certamente, por isso, Wood afirma que as novas tecnologias deram origem a um novo tipo de sistema capitalista, com linhas de montagem globais com uma bur-guesia internacional e um capital de alta e li-vre mobilidade que pode chegar a qualquer parte do mundo onde o trabalho é barato,

Capitalismo e tecnologias: implicações para o trabalhador

Page 32: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade32

cativo e abundante, ultrapassando os esta-dos nacionais e deixando no seu rastro uma classe operária sem poder, pois quanto mais há a internacionalização da produção mais a classe operária torna-se fragmenta-da e mais poder transfere para uma classe capitalista transnacional.

Estas considerações chamam a atenção para o fato de que as tecnologias estariam então a serviço do capitalismo e contribuindo para sua globalização. Isto nos mostra que as tecnologias não são neutras. Novais e Dagnino (2010) também alertam para a tecnologia como o meio para se atin-gir fins, ou seja, ciência aplicada em equipa-mentos para aumentar a eficácia da produ-ção de bens e serviços. Andrew Feenberg, citado por estes dois autores, menciona que a tecnologia que nos é apresentada como politicamente neutra, eterna, a-histórica, su-jeitas valores estritamente técnicos e, por-tanto, permeada pela luta de classe, é uma construção histórico-social.

Contudo, há outro aspecto das tec-nologias que cabe refletirmos, uma vez que elas também podem auxiliar no resgate no humano, do subjetivo. Vejamos:

Nós vivemos construindo para nós mes-mos combinações e arranjos pessoais. Por um motivo objetivo: a tecnologia nos permite isto. E também por motivo subje-tivo: todos nós somos mais viajados, mais lidos, logo temos melhores condições para nos orientarmos sozinhos. Talvez seja um fenômeno oscilante, mas, se o observar-mos num intervalo de vinte e trinta anos, constatamos que certamente está em as-censão. O homem sempre oscilou entre dois desejos: o de se distinguir e o de ho-mogeneizar. Após duzentos anos de ho-mogeneização forçada, industrial, hoje a tecnologia nos permite diferenciar-nos. E é o fazemos ( DE MASI, 2000, p. 116/117).

E podemos acrescentar que per-mitem proximidade também, uma vez que os avanços tecnológicos na área da comu-nicação, por exemplo, criam cada vez mais possibilidades de diálogo entre as pessoas. Nesta perspectiva as tecnologias parecem auxiliar nosso modo de vida, sejam nos conferindo facilidades ao tornar nossa vida mais confortável, sejam permitindo um (re)encontro do ser humano com o outro, com

ele próprio e com sua subjetividade.Seguindo a visão de De Masi (op.

cit.) ele afirma que a tecnologia é uma opor-tunidade, não é uma obrigação. E diz ain-da que quem se perturba diante dela pode limitar-se a não usá-la, mas não tem o di-reito de impedir seu uso pelos outros. Por exemplo, se alguém tem medo de andar de avião, nem por isso pode proibir a aviação.

Mas isto não significa dizer que as tecnologias estão livre das influências polí-ticas, culturais e históricas e justamente por isso, é importante desenvolvermos nossa capacidade de contextualizarmos e de fa-zermos a crítica, em termos de meios e fins, das tecnologias.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao tratarmos do capitalismo, das tecnologias e suas implicações para a vida do trabalhador pode-se notar que a produ-ção desenfreada, ancorada pela tecnologia, visa atender a demanda do consumismo e do mercado. Isto implica num dilema para o trabalhador, pois é vital o atendimento de suas necessidades básicas através do seu trabalho, mas não com o sacrifício do seu lazer, das suas satisfações, convivência so-cial e subjetividade.

Dada a centralidade do trabalho nas nossas vidas, o trabalhador encontra--se, diante de sentimentos ambivalentes, pois, ao mesmo tempo em que o trabalho o transforma num ser social, com sentimen-to de pertença, por outro lado, a lógica do capitalismo lhe trás aborrecimentos e a per-da do sentimento de importância pessoal (autoestima). Porém são as condições de-sumanas de trabalho, a que muitos são (e foram) submetidos, que geram, em alguns, degradação e alienação.

Constatamos que as tecnologias também geraram e geram dicotomias no trabalhador, pois elas não são neutras. As-sim como aproximam, facilitam sua vida, permitem que a lógica da economia e da produção em massa ganhasse força e se globalizasse. A tecnologia da eletrificação, por exemplo, foi um marco significativo para a sociedade, mas comprometeu a qualida-de de vida do trabalhador.

Além disto, a impossibilidade do

FERREIRA, S.; SARTORI, A. S.

Page 33: ISSN 2236-0468

33Interciência & Sociedade

trabalhador de participar da organização do seu próprio trabalho implica no surgimento do sofrimento, da falta de sentido. Isto não atinge a todos, mas aqueles que se sentem parte tão somente de uma engrenagem, que não pensam, reproduzem, e que abri-ram mão dos seus próprios desejos para satisfazer os de outros.

Por tudo isto, o que precisa ser compreendido e repensado é o atual modo de vida da sociedade que é orientada pela sedução e por necessidades nunca satisfei-tas. O ser humano atua no mundo para sa-tisfazer seus desejos e necessidades, desta forma, no capitalismo, os avanços tecnoló-gicos não são algozes cruéis, mas podem ser considerados instrumentos que auxiliam na busca incessantes de preenchimento e sentido.

Deste modo, o desejo humano me-rece atenção e estudo mais aprofundado, pois tudo aquilo que criamos para nós, de que não temos necessidade, pode trans-formar-se em sofrimento. Em desequilíbrio o desejo trará problemas: seu excesso re-sulta em consumismo compensatório e sua falta em baixa autoestima.

Ao trabalhador é necessário o en-tendimento do seu papel na construção de si, a consciência de auto e co-responsabili-dade frente ao trabalho e a sociedade, mas também adaptabilidade e autonomia, pois, diante de novos paradigmas, as pessoas precisam aprender a adaptar-se e a intervir.

Assim sendo, cabe ao trabalhador (que é autodeterminante) fazer a crítica, aceitando, ou não, o que está posto sem vitimizar-se, sem ficar, por vezes, ancora-do na impotência, mas permitir-se quebrar o status quo. A questão a ser resolvida é o

quanto a classe trabalhadora se empenha-rá nisto, sem esquecermos obviamente que a busca da própria liberdade de dominação advém de um longo processo político-his-tórico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, P. P.; MANCEBO, D. Tecnologias e subjeti-vidade na contemporaneidade. Estud. psicol. (Na-tal) vol.11 no.1 Natal Jan./Apr. 2006.

CAFIERO, C. O Capital. São Paulo: Livraria e Editora Polis, 1985.

DEJOURS, C. Subjetividade, trabalho e ação. In Revista Produção. V. 14, n. 3, p. 027-034. Set/dez. 2004. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/prod/v14n3/v14n3a03.pdf. Acesso em 08/08/2010.

DEJOURS, C. A loucura do trabalho: Estudo de psi-copatologia do trabalho. São Paulo: Cortez, 1992.

DE MASI, D. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro: Sex-tante, 2000.

MATOS. O. Mal-estar na temporalidade: o ser sem o tempo. In: NOVAES, Adauto. (Org.) Mutações. São Paulo: SESC-SP/Agir, 2008.

MINICUCCI, A. Relações Humanas: psicologia das relações interpessoais, São Paulo: Atlas, 1982.

NAVARRO, V. L.; PADILHA, V. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo. Psicol. Soc. vol.19 no. spe Porto Alegre 2007.

NOVAIS, H.; DAGNINO, R. O Fetiche da Tecnolo-gia. Disponível em http://www.tau.org.ar/upload/89f0c2b656ca02ff45ef61a4f2e5bf24/O_Fetiche_da_Tec-nologia1.pdf. Acesso em 09/02/2010.

WOOD, E. M. Modernidade, Pós-Modernidade ou Capitalismo. Mimeo, s/d.

POSTMAN, N. Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia. São Paulo: Nobel, 1994.

Simone Ferreira é Psicóloga, mestranda em Educação, pelo programa de Pós-Graduação em Educação da Uni-versidade do Estado de Santa Catarina- UDESC.

Ademilde Silveira Sartori é Licenciada em Física e mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, com pós-doutorado em Educação e Co-municação pela Universidade Complutense de Madri, Espanha. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE/UDESC.

Capitalismo e tecnologias: implicações para o trabalhador

Page 34: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade34

Page 35: ISSN 2236-0468

35Interciência & Sociedade

CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES ACERCA DO MATERIAL DIDÁTICO UTILIZADO NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

RESUMO: Esse texto apresenta os resultados de uma pesquisa de natureza quantitativa realizada com alunos de Pós-Graduação Latu Sensu oferecidos pela Universidade Paulista. Os dados, obtidos por meio de um instrumento tipo escala de likert, foram tratados estatisticamente pela técnica multivariada conhecida como análise de cluster cujo objetivo foi agrupar os participantes segundo suas caracterís-ticas, formando grupos ou conglomerados homogêneos. Para tanto, utilizou-se do método de ward. A partir do dendrograma, pudemos visualizar dois clusters distintos sendo que o primeiro é formado por 89 participantes e o segundo por apenas 10. O cluster 1 (89 participantes) prefere trabalhar com textos impressos e consideram os textos on-line desconfortáveis, principalmente aqueles com mais de três páginas, pois os considerados cansativos. Enquanto isso, o cluster 2 (10 participantes) prefere ler textos on-line. PALAVRAS-CHAVE: Educação à distância; análise de cluster; texto on-line.

MIRANDA, Nonato Assis deUniversidade Paulista (UNIP)

[email protected]

SILVA, Dirceu daUniversidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

[email protected]

ABSTRACT: This text presents the results of a quantitative nature research performed with Post-gra-duate students offered by the Paulista University in a distance way. The data, obtained through a Likert scale, were statistically treated by the technique known as multivariate analysis of cluster whose aim was to group the participants according to their characteristics, forming homogeneous groups or conglo-merates. In this research we use the ward method. From the dendrogram, we see two distinct clusters of which the first is comprised of 89 participants and the second one by just 10. The cluster 1 (89 parti-cipants) prefers working with printed texts and consider the on-line texts very uncomfortable, especially those that have more than three pages because their reading is boring. Meanwhile, the cluster 2 (10 participants) prefers reading on-line texts.KEYWORDS: Distance education; cluster analysis; on-line text.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, tem-se observado, em termos globais, que a ampliação das oportunidades educacionais, com que tan-to se sonha, está ligada à institucionaliza-ção da modalidade da educação à distância (NISKIER, 2000). Contudo, acredita-se que a EAD não pode ser encarada como uma panacéia para todos os males da educação brasileira, posto que nessa perspectiva, a colocaríamos em segundo plano em relação à modalidade presencial e sabemos que isso não é prudente. Muito provavelmente isso aconteça em função dos problemas

que a educação tem enfrentado nos últimos anos em decorrência de um cenário que está em constantes mudanças e em função das dificuldades que a escola de educação básica, em particular a pública e gratuita, tem em se adequar a esse novo contexto.

Por outro lado, tem-se observado que são muitos os esforços realizados por parte de educadores, gestores e pesquisa-dores da educação na tentativa de mostrar que os problemas da educação brasileira não se concentram somente no interior do sistema educacional, posto que, antes de tudo, refletem uma situação de desigualda-de e polaridade social, produto de um siste-

Page 36: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade36

ma econômico e político perverso e dese-quilibrado.

Diante disso,

[...] a educação, nas suas mais diver-sas modalidades, não tem condições de sanear nossos múltiplos problemas nem satisfazer nossas mais variadas necessidades. Ela não salva a socieda-de, porém, ao lado de outras instâncias sociais, ela tem um papel fundamental no processo de distanciamento da incul-tura, da acriticidade e na construção de um processo civilizatório mais digno do que este que vivemos (LUCKESI, 1989, 10).

Portanto, é inegável que a busca de mecanismos que contribuam para que esse quadro possa se minimizado é uma necessidade iminente e muito provavel-mente a EAD poderá fazer parte dessa for-ma tarefa.

Não se pode esquecer que a utili-zação de tecnologias de informação e co-municação nos processos comunicacionais e educativos na configuração de redes im-plica, necessariamente, em uma mudanças de valores e atitudes na sociedade do mun-do do trabalho (RODRIGUES, 2006). Mas quando se analisa que a educação não é alheia ao que acontece na sociedade como um todo, percebe-se que, no setor edu-cativo, essas mudanças são acentuadas pelo comportamento de alguns docentes, discentes e de gestores frente a novas for-mas de ensinar e aprender mediadas pe-las tecnologias. Portanto, entende-se que os docentes necessitam aprender a se ar-ticularem simultaneamente em diferentes níveis de ensino por meio de ferramentas de comunicação antes usadas apenas para o convívio social, além, é claro, a elaborar materiais didáticos com linguagens especí-ficas, construídos em redes de saberes sig-nificativos (MORAN, 2004; RODRIGUES, 2006).

É nesse contexto que o ensino presencial se aproxima do ensino à distân-cia no que concerne às atitudes e valores atribuídos à educação, mas não é só isso, pois a combinação de tecnologias em rede e inovações no ensino presencial está mo-dificando as formas de organização da edu-

cação a distância (MORAN, 2004). Mas como será que os cursos ofe-

recidos na modalidade à distância têm se organizado? Qual tem sido a preocupação com os materiais didáticos?

De acordo com Moran, até pouco tempo atrás, o importante era o conteúdo uma vez que toda a ênfase era dada ao de-sign dos materiais, para que fossem auto--instrucionais, para que o aluno, sozinho, conseguisse acompanhar e se motivar para continuar aprendendo.

Não obstante, tem-se observa-do que esse paradigma, aos poucos, está sendo repensado, pois se verifica, na atu-alidade, que muitos cursos de EAD estão percebendo que o material sozinho não é suficiente para a maior parte dos alunos. Portanto, bons materiais auto-explicativos, mesmo feitos com multimídia, não costu-mam ser suficientes para que os alunos se motivem e aprendam, a longo prazo.

Frente ao exposto, esse texto apresenta os resultados de uma pesquisa realizada com um grupo de alunos de pós--graduação latu sensu da Universidade Paulista (UNIP) acerca da leitura de mate-riais impressos e on-line.

2. Ambiente virtual de aprendizagem

Um ambiente virtual de aprendiza-gem é um sistema que reúne uma série de recursos e ferramentas, permitindo e poten-cializando sua utilização em atividades de aprendizagem através da Internet em um curso a distância (VAVASSORI & RAABE, 2003).

Existem inúmeros AVA no mer-cado, sendo alguns gratuitos tais como o Moodle e o TelEduc, mas há outros que são pagos. No caso específico da institui-ção investigada é utilizado um recurso pago que o Blackboard. Trata-se de um ambiente de autoria com interface amigável, de fácil utilização, desenvolvido para educadores e profissionais interessados em aplicar as novas tecnologias interativas via Internet na educação, contribuindo para a metodologia de ensino presencial e potencializando o processo de ensino e aprendizagem à dis-tância.

A área de trabalho é acessível tanto

MIRANDA, N. A. de; SILVA, D. da

Page 37: ISSN 2236-0468

37Interciência & Sociedade

aos alunos como aos professores e, por ela, os usuários acessam os principais recursos tais como: avisos, calendário de aulas, ta-refas, informações, programa do curso, link de avaliações, perfis, conteúdo das aulas, material complementar, fórum, chat, e- mail, sala de aula virtual e home-pages pessoais.

Os participantes do curso investi-gado frequentam 50% das disciplinas pre-sencialmente e 50% a distância. No caso das disciplinas a distância, essas são orga-nizadas em unidades, sendo que cada uni-dade traz um livro texto que corresponde ao texto on-line elaborado pelo professor res-ponsável pela disciplina e às vezes textos complementares, as vídeo-aula que o aluno pode acessar de qualquer local, desde que tenha acesso à Internet e atividades que deverá resolver e que farão parte da avalia-ção do curso.

3. Percurso metodológico

Essa investigação caracteriza-se por ser pesquisa quantitativa, cuja vanta-gem do método consiste em levantar in-formações com confiabilidade estatística. Sobre esse assunto, Demo (2000) afirma que se trata, na realidade, é do emprego da quantificação da coleta de dados e o trata-mento destes por meio de técnicas estatísti-cas (simples ou complexas).

Neste estudo, os dados foram ob-tidos por meio de levantamento amostral (survey), com escala de atitudes de Likert1 realizado em amostra não probabilística composta por 99 alunos de vários cursos de Pós-Graduação Latu Sensu da Univer-sidade Paulista e tratados pelo Statistical Packet for Social Sciences)2.

Partindo-se do pressuposto que

há uma grande probabilidade de alunos de fazem parte de grupos teoricamente homo-gêneos apresentarem opiniões divergentes acerca de um mesmo assunto, os autores optaram pelo emprego da análise de clus-ter.

Segundo Hair Jr. et al. (2005), a análise de cluster, também conhecida como análise de conglomerados, é um conjun-to de técnicas estatísticas cujo objetivo é agrupar objetos segundo suas caracterís-ticas, formando grupos ou conglomerados homogêneos. Dessa forma, os objetos em cada conglomerado tendem a serem seme-lhantes entre si, porém diferentes dos de-mais objetos dos outros conglomerados. Os conglomerados obtidos devem apresentar tanto uma homogeneidade interna (dentro de cada conglomerado), como uma grande heterogeneidade externa (entre conglome-rados). Portanto, se a aglomeração for bem sucedida, quando representados em um gráfico, os objetos dentro dos conglomera-dos estarão muito próximos, e os conglo-merados distintos estarão afastados.

Para Hair Jr. et al. (2005), a análise de cluster é uma técnica do tipo de interde-pendência, pois não é possível determinar antecipadamente as variáveis dependen-tes e independentes. Ao contrário, examina relações de interdependência entre todo o conjunto de variáveis. Neste ponto, esta técnica é similar à análise fatorial, no entan-to, a diferença é que, enquanto a análise de cluster trata os objetos, a análise fatorial se preocupa com as variáveis.

Segundo Malhotra (2006), as eta-pas para a aplicação da análise de cluster estão descritos na figura 1.

1 Para Mattar (1997), uma escala Likert, proposta por Rensis Likert em 1932, é um instrumento em que os respondentes são solicitados não só a concordarem ou discordarem das afirmações, mas também a informarem qual é o seu grau de concordân-cia ou de discordância acerca do assunto indagado.

2 SPSS - Statistical Packet for Social Sciences. Base 10.0 User’s Guide. Chicago:SPSS, 1999.

Concepções de estudantes acerca do material didático utilizado na educação a distância

Page 38: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade38

Nestes termos, inicialmente, é ne-cessário definir o problema de aglomeração e as variáveis a serem tratadas estatistica-mente. Feito isso, escolhe-se, uma medi-da de distância dos conglomerados. Após, defini-se o processo de aglomeração que dependerá das variáveis em estudo e do problema em foco.

Para Malhotra (2006), neste ponto, a intuição do pesquisador deve ser utilizada para a escolha do melhor processo e defini-ção do número de conglomerados na pró-

xima etapa. Os conglomerados resultantes devem ser interpretados em termos das va-riáveis usadas para constituí-los e de outras variáveis adicionais importantes. Finalmen-te, o pesquisador precisa avaliar a valida-de do processo de aglomeração (ROSES e LEIS, 2002).

Um passo importante na análise de cluster é a escolha de uma medida para avaliar o quão semelhantes ou diferentes são os casos analisados. Assim, escolhe-mos como medida de semelhança à distân-cia euclidiana quadrática, por ser uma das mais utilizadas neste tipo de análise (MA-LHOTRA, 2006, PESTANA e GAGEIRO, 2000).

Nesta análise não existe nenhum critério estatístico interno que possa ser usado para inferir qual o número de clusters que deve ser retido. Desta forma, a defini-ção dos critérios para a tomada de decisão fica a cargo do pesquisador. Assim, procu-ramos clusters que possuam grande homo-geneidade entre si.

Como não possuímos, a priori, um número de cluster que deveria ser re-tido, precisamos explorar os dados e testar vários métodos. Assim, testamos sete mé-todos de aglomeração hierárquicos (apre-sentados com fundo cinza na figura 2 – Pro-cessos de Aglomeração Hierárquicos):

Formular o problema

Escolher uma Medida de distância

Escolher um Processo de Aglomeração

Decidir Quanto ao Número de Conglomerados

Interpretar e Perfilar os Conglomerados

Avaliar a Validade do Processo de Aglomeração

Figura 1. Etapas para aplicação da análise de clusters.Fonte: Malhotra (2006, p. 575).

Processo de Aglomeração

Hierárquicos

Aglomerativos Divisivos

Encadeamento Único Encadeamento Completo Encadeamento Médio

Métodos de Ward

Métodos de Variância

Não Hierárquicos

Particionamento

Otimizador

Métodos de Centróide Método de Encadeamento

Limiar

Paralelo

Limiar

Seqüencial

Figura 2. Classificação dos Procedimentos de Aglomeração (Clusters).Fonte: Malhotra (2006, p. 577)

MIRANDA, N. A. de; SILVA, D. da

Page 39: ISSN 2236-0468

39Interciência & Sociedade

O método que mostrou boa sepa-ração entre os clusters foi o método Ward. Desta forma, a seguir, apresentamos os re-sultados da análise de cluster encontrados através deste método.

A partir do dendrograma, podemos visualizar dois clusters distintos sendo que o primeiro é formado por 89 participantes e o segundo por apenas 10 (Tabela 1).

4. Descrição da amostra

Foram pesquisados 99 sujeitos de Cursos de Pós-Graduação Latu Sensu, sendo 45 do sexo masculino e 58 do sexo feminino. A média de idade foi de 35 anos e a distribuição por curso é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição dos participantes Segundo o Curso

Conforme se observa, mais da me-tade dos sujeitos pesquisados são oriundos do curso de Formação de Professores En-sino Superior, pois é um dos cursos mais procurados na instituição investigada.

5. Tratamento dos dados

Pelo teste de Kolmogorov-Smirnov,

concluímos que nenhuma das assertivas da escala de Likert pode ser considerada nor-mal ao nível de significância de 0,05. Desta forma, utilizamos o teste não paramétrico de Mann-Whitney para verificar quais são as variáveis discriminadoras, isto é, em quais variáveis podemos constatar alguma diferença de opinião entre os clusters. Este teste é apresentado na tabela 2.

Fonte: os autores

Tabela 2. Teste de Mann-Whitney

Curso FreqüênciaGestão Financeira Avançada 11Estratégia Empresarial 8Direito Empresarial 8Controladoria Empresas 17Formação de Professores Ensino Superior 59Total 99

Assertivas Mann-Whitney U Z Significância

1. Palavras destacadas no texto on-line tiram a atenção do alu-no. 197.000 -2.952 .003

2. Quando estudo, prefiro imprimir os textos a lê-los on-line. 121.000 -4.080 .0003. O texto impresso gera mais interatividade que o texto on--line. 121.500 -3.875 .000

4. Todo material impresso leva o aluno a desenvolver capaci-dades autônomas. 48.500 -4.692 .000

5. Prefiro ler textos on-line com diferentes fontes (tamanhos e tipos). 341.500 -1.218 .223

6. O material impresso torna o processo de aprendizagem mais rico e significativo. 131.000 -3.720 .000

7. Quando leio textos on-line, apenas passo os olhos nas pa-lavras-chave. 206.000 -2.868 .004

8. O tamanho da fonte não interfere na leitura do texto on-line. 162.000 -3.366 .001

Concepções de estudantes acerca do material didático utilizado na educação a distância

Page 40: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade40

Pela tabela 2, observamos que as opiniões dos participantes do cluster 1 se diferenciam das do cluster 2 em quase todas assertivas, exceto nas de número 5, 13, 18 e 19. Nestas assertivas, as diferen-ças encontradas não são significantes, ou seja, podem ser consideradas devido ao erro amostral.

Contudo, julgamos prudente tecer alguns comentários sobre esse resultado, pois a literatura traz algumas orientações nesse sentido.

Nestes termos, considerando-se que o instrumento foi composto por uma escala de 1 a 7, nota-se (Tabela 3) que os participantes não gostam de ler textos on--line com diferentes fontes.

Para justificar esse resultado, re-corremos a Vieira (2006) que realizou uma pesquisa que analisa a questão da formata-ção do texto para e-learning e sinaliza que isso acontece porque as fontes têm muitas funções para propiciar formas de letras que podem facilitar a leitura. Portanto, assim como outros elementos visuais, as fontes organizam ou criam uma disposição parti-cular (PARIZOTTO, 1997).

No caso da assertiva 5, por exem-plo, “Prefiro ler textos on-line com diferentes fontes” é prudente que haja um certo con-senso entre os participantes sobre o assun-to, pois as preferências de leituras de textos

dessa natureza variam significativamente entre as pessoas por questões de prefe-rência. Com isso, é importante que os pro-fissionais responsáveis pela produção de textos veiculados on-line estejam atentos, pois, Schriver (1997) apud Parizotto (1997), para fazer as escolhas sobre o tamanho da fonte para documentos on-line, devem ser consideradas as características das fontes propriamente ditas, ou seja, a largura e o espaçamento das letras e o comprimento da linha e entrelinhas com vistas a verificar se o texto está espaçado adequadamente.

Ademais, essas escolhas devem ser feitas de acordo com o tipo de caracte-rísticas de usuário (idade, ponto de vista, ní-vel de motivação ou vontade de ler um texto contínuo). Nestes termos, na dúvida, é me-lhor errar para fontes maiores do que para fontes menores, pois a maior parte dos usu-ários acha os tipos maiores mais legíveis e calmantes para os olhos (SCHRIVER, 1997 apud PARIZOTTO, 1997).

Há muito mais a ser dito sobre o assunto, mas vamos retomar a análise dos dados obtidos na pesquisa quantitativa que é o objeto precípuo desse trabalho.

Diante disso, na tabela 3, apre-sentamos a média e o desvio padrão dos clusters para cada assertiva sendo que as médias acima de 4 indicam concordância e abaixo desse número discordância.

Tabela 2. Continuação

Fonte: SPSS

9. Todo material impresso permite que o aluno exercite sua capacidade crítico-reflexiva. 81.000 -4.291 .000

10. A leitura de textos on-line é desconfortável. 151.500 -3.459 .00111. Material impresso ajudar a desenvolver habilidades. 77.500 -4.334 .00012. O material impresso mediatiza a relação aluno-tutor ou orientador da aprendizagem. 48.000 -4.693 .000

13. Prefiro textos on-line que tragam o conteúdo com mais de-talhes. 408.000 -.436 .663

14. Todo material impresso permite a flexibilidade necessária para que o aluno exercite a sua criatividade. 193.000 -2.976 .003

15. Textos escritos em letra maiúscula são mais fáceis de ler. 106.000 -3.987 .00016. Textos on-line com mais de três páginas tornam-se can-sativos. 104.000 -4.021 .000

17. As cores da fonte e fundo nos textos on-line não interferem na leitura. 200.500 -2.909 .004

18. Todo material instrucional leva o aluno adquirir conheci-mentos relevantes. 443.000 -.024 .981

19. Marcadores de texto quebrando blocos prejudicam a leitura dos textos on-line. 309.500 -1.594 .111

20. O material impresso tem a função de repassar informações. 79.000 -4.331 .000

MIRANDA, N. A. de; SILVA, D. da

Page 41: ISSN 2236-0468

41Interciência & Sociedade

Tabela 3. Diferenças entre os clusters

Fonte: SPSS

Analisando a tabela 3, percebemos que os participantes do cluster 1 tendem a concordar que, quando estudam, preferem imprimir os textos a lê-los on-line, pois o texto impresso gera mais interatividade, leva o aluno a desenvolver habilidades e capacidades autônomas e permite o exercí-cio sua capacidade crítico-reflexiva, tornan-do o processo de aprendizagem mais rico e significativo.

Ademais, a leitura de textos on-line é desconfortável e quando têm mais de três páginas tornam-se cansativos. Já o material impresso mediatiza a relação aluno-tutor, permite a flexibilidade necessária para que o aluno exercite a sua criatividade, mas tem a função de repassar informações. Por ou-tro lado, o cluster 2 tende a discordar destas afirmações.

Além disso, observamos também que os participantes dos dois clusters ten-dem a concordar que quando lêem textos on-line, não passam apenas os olhos nas palavras-chave e que as palavras destaca-

das nesses textos não tiram a atenção do aluno. Afirmam também que as cores da fonte e fundo, assim como o tamanho da fonte de textos on-line interferem na leitu-ra. Por fim, sinalizam que os textos escritos em letra maiúscula não são mais fáceis de ler. No entanto, os participantes do cluster 2 tendem a apresentar um grau de concor-dância mais alto acerca dessas idéias.

Os resultados mostram também que os participantes dos dois clusters pre-ferem textos on-line que tragam o conteúdo com mais detalhes e com a mesma fonte (tamanhos e tipos). Entendem que os mar-cadores de texto quebrando blocos não prejudicam a leitura e todo material instru-cional leva o aluno adquirir conhecimentos relevantes.

Para justificar esses resultados, verificamos que são inúmeros os recursos aos quais os participantes se referem. Se-gundo Parizotto (1997), dentre eles, o uso do negrito, do itálico ou uma mudança na cor ou no brilho é, provavelmente, a melhor

VariáveisCluster 1 Cluster 2M DP M DP

1. Palavras destacadas no texto on-line tiram a atenção do aluno. 3.25 1.836 1.40 .5162. Quando estudo, prefiro imprimir os textos a lê-los on-line. 5.89 1.668 2.90 1.9123. O texto impresso gera mais interatividade que o texto on-line. 5.51 1.618 2.30 2.0584. Todo material impresso leva o aluno a desenvolver capacidades autônomas. 5.09 1.571 1.50 1.0805. Prefiro ler textos on-line com diferentes fontes (tamanhos e tipos). 3.58 1.924 2.90 2.2836. O material impresso torna o processo de aprendizagem mais rico e significativo. 5.29 1.639 2.20 2.0987. Quando leio textos on-line, apenas passo os olhos nas palavras-chave. 3.29 2.101 1.50 1.581

8. O tamanho da fonte não interfere na leitura do texto on-line. 3.62 2.177 1.30 .6759. Todo material impresso permite que o aluno exercite sua capacidade crítico-refle-xiva. 4.75 1.805 1.60 .966

10. A leitura de textos on-line é desconfortável. 4.73 1.993 2.20 1.61911. Material impresso ajudar a desenvolver habilidades. 4.85 1.825 1.60 1.07512. O material impresso mediatiza a relação aluno-tutor ou orientador da aprendiza-gem. 4.61 1.542 1.40 .699

13. Prefiro textos on-line que tragam o conteúdo com mais detalhes. 4.55 1.699 4.10 2.47014. Todo material impresso permite a flexibilidade necessária para que o aluno exer-cite a sua criatividade. 4.76 1.574 2.80 1.989

15. Textos escritos em letra maiúscula são mais fáceis de ler. 3.98 1.977 1.30 .48316. Textos on-line com mais de três páginas tornam-se cansativos. 4.94 1.903 2.00 1.15517. As cores da fonte e fundo nos textos on-line não interferem na leitura. 3.27 2.049 1.40 .69918. Todo material instrucional leva o aluno adquirir conhecimentos relevantes. 4.84 1.637 4.50 2.59319. Marcadores de texto quebrando blocos prejudicam a leitura dos textos on-line. 3.69 1.928 2.70 2.05820. O material impresso tem a função de repassar informações. 5.30 1.503 2.40 1.350

Concepções de estudantes acerca do material didático utilizado na educação a distância

Page 42: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade42

opção para realçar o texto do que o subli-nhado.

Mas não podemos esquecer que opção por um ou por outro recurso é uma questão de estilo ou preferência e com isso, a atenção do usuário pode ser atraída com a utilização do itálico, por exemplo. Segun-do Robertson (1993), este estilo é útil e não causa quebras severas no ritmo de leitura. Outra maneira de atrair a atenção do usu-ário, na concepção desse autor, é usar o sublinhado, pois este estilo atrai a atenção sem causar quebras significativas no ritmo da leitura, mas deve ser usado somente para textos curtos (ROBERTSON, 1993). Entretanto, no caso específico de páginas na Web, o uso do sublinhado deve ser uti-lizado somente para links (PARIZOTTO, 1997).

Em síntese, podemos constatar que o cluster 1 (89 participantes) prefere trabalhar com textos impressos e conside-ram os textos on-line desconfortáveis, prin-cipalmente aqueles com mais de 3 páginas considerados cansativos. Enquanto isso, o cluster 2 (10 participantes) prefere ler textos on-line.

6. CONCLUSÕES

Para apresentarmos algumas con-siderações acerca do texto ora proposto, entendemos que seria prudente resgatar os objetivos que nortearam a pesquisa, ou seja, o de conhecer as concepções que os estudantes de Pós-Graduação Latu Sensu têm acerca dos materiais didáticos, mais precisamente, textos impressos e on-line.

Pois bem. Conforme pudemos observar, os resultados mostraram que a maior parte dos participantes prefere textos impressos em detrimento do texto on-line. Portanto, é partir desse quadro que tecere-mos alguns comentários a guisa de conclu-são.

Diante dessa realidade, acredita-mos que talvez, algumas pessoas possam estranhar essa preferência desse grupo de alunos e até mesmo os taxarem de retrógra-dos ou algo similar. Todavia, não podemos esquecer que o ser humano é resistente às mudanças e o texto on-line ainda é novida-de para nós, pois a educação a distância,

mais precisamente a ministrada através da Internet, ou seja, on-line, ainda engatinha no país.

Outro aspecto a ser destacado é que, quando nos referimos à educação, não podemos esquecer as coisas são lentas, conforme é sinalizado por Pierre Lévy.

Segundo esse pesquisador,

[...] a escola é uma instituição que se ba-seia, desde há cinco mil anos, no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, desde há quatro séculos, no uso moderado da imprensa,

nestes termos,

uma verdadeira integração da informá-tica (e do audiovisual) implica, portanto, o abandono de um habitus antropoló-gico mais do que milenário (sic), algo que não se poder fazer em poucos anos (LÉVY, 1990, p.11)”.

Frente ao exposto, não podería-mos esperar um posicionamento muito di-ferente de nossos participantes que estão iniciando na educação a distância. Mas isso não significa que esse resultado não repre-sente para nós educadores e demais pro-fissionais da educação a distância um indi-cador de que estamos no caminho certo e que o aluno, muito em breve, se adequará a esse novo contexto e bem como aos novos materiais.

Não obstante, enquanto profissio-nais da EAD, concordamos com Parizotto (1997) que alguns cuidados devem ser to-mados por ocasião da elaboração de textos que serão disponibilizados na Internet.

Segundo essa pesquisadora, para evitar a poluição visual de uma página na Web, devemos privar pela simplicidade e clareza do conjunto de elementos que a compõem. Não obstante, para alcançar esse objetivo, é importante que o projetis-ta de páginas na Web não se deixe levar pelos recursos das ferramentas gráficas, utilizando-os em excesso, nem use somen-te tecnologia de ponta, fazendo com que alguns usuários, por problemas técnicos, não tenham acesso a esta informação (PA-RIZOTTO, 1997).

Frente ao exposto, destacamos

MIRANDA, N. A. de; SILVA, D. da

Page 43: ISSN 2236-0468

43Interciência & Sociedade

que “além dos fatores da compreensão da leitura derivados do autor e do leitor, há os derivados do texto que dizem respeito à sua legibilidade, podendo ser materiais, lingüís-ticos ou de conteúdo (ALLIENDE & CONDE-MARÍN, 2002 apud KOCH & ELIAS, 2007, p.28)”. Mas podemos acrescentar a esse conjunto, os fatores técnicos que represen-tam uma forte barreira a muitas pessoas que não dominam o uso de determinadas ferramentas tecnológicas, pois “as novas tecnologias digitais não oferecem aos seus usuários um novo mundo, sem problemas”. Afinal “estamos no início de uma nova e revolucionária era tecnológica e pagamos um preço alto pelo pioneirismo” (KENSKI, 2007, p.53).

Pioneirismo? Será que somos pio-neiros em alguma coisa? De certa forma sim, pois apesar de nosso atraso tecnoló-gico temos os nossos méritos e não somos de um todo analfabetos digitais, afinal des-de que as tecnologias de comunicação e informação começaram a se expandir pela sociedade, aconteceram muitas mudanças nas maneiras de ensinar e aprender e é inegável que há um grande esforço por par-te das pessoas para se adequarem a esse novo contexto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DEMO, P. Metodologia do conhecimento científi-co. São Paulo: Atlas, 2000.

HAIR, J. F.; et al. Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Bookman, 2005.

KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo rit-mo da informação. Campinas-SP: Papirus, 2007.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2007.

LUCKESI, C. C. Democratização da educação: en-sino à distância como alternativa. Tecnologia Edu-cacional n°. 89/90/91, jul/dez. 1989, Rio de Janeiro, ABT.

MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

MORAN, J. M. Avaliação das mudanças que as tec-nologias estão provocando na educação presencial e a distância. Anais do II Seminário Virtual UniEAD “Utilizando Ferramentas e Ambientes para EAD”. São Paulo, 06 a 18 de dezembro de 2004.

NISKIER, A. Educação à distância: a tecnologia da esperança. 2.ed. São Paulo: Loyola, 2000.

NUNES, I. B. Noções de educação a distância. Re-vista Educação a Distância, nºs 4/5, dez.1993, abr./1994. Instituto Nacional de Educação a Distân-cia, p. 7-25.

PARIZOTTO. R. Elaboração de um guia de estilos para serviços de informação em ciência e tecnolo-gia via web. (1997). Dissertação (Mestrado em Enge-nharia) – Departamento de Engenharia e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianó-polis. Disponível em: < http://www.eps.ufsc.br/disser-ta98/rosam/cap2.htm#2.4 >. Acesso em: 19/01/2009.

PESTANA, M. H.; GAGEIRO, J. N. Análise de dados para ciências sociais: a complementariedade do SPSS. 2. ed. Lisboa: Edições Silabo, 2000.

RODRIGUES, C. A. C. Gestão do sistema de edu-cação a distância na Universidade Federal de Goiás: processo de implantação. Anais do XII Anpae, 2007.

VAVASSORI, F. B.; RAABE, A. L. Organização de atividades de aprendizagem utilizando ambientes virtuais: um estudo de caso. In.: SILVA, Marco (Org.). Educação On-line. São Paulo: Loyola, 2003.

VIEIRA, A. R. Formatação de textos para e-lear-ning: uma aplicação da técnica conjoint analysis (2006). Dissertação (Mestrado em Administração de Organizações) Faculdade de Economia, Administra-ção e Contabilidade de Ribeiro Preto da Universidade de São Paulo, Ribeiro Preto-SP.

Nonato Assis de Miranda é Doutor e professor da Universidade Paulista/São Paulo/Brasil.

Dirceu da Silva é Doutor, professor titular do Programa de Pós-Graduação da Universidade Nove de Julho. Pro-fessor e Pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas/São Paulo/Brasil.

Concepções de estudantes acerca do material didático utilizado na educação a distância

Page 44: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade44

Page 45: ISSN 2236-0468

45Interciência & Sociedade

CONCESSÃO DE CRÉDITO E MODELAÇÃODA TOMADA DE DECISÃO

RESUMO: O texto delimita-se na Tomada de Decisão e apresenta a informação como matéria-prima para a decisão de crédito. A obtenção de informações confiáveis e o competente tratamento das mes-mas constituem uma base sólida para uma decisão de crédito segura. O trabalho parte do princípio de que é possível construir modelos matemáticos para avaliação de riscos na concessão de empréstimos para pessoas físicas em cooperativas de crédito, e as questões que surgem nesse sentido são: (i) que informações necessita-se saber para criar um escoreamento de crédito?; (ii) como avaliar quantitati-vamente cada informação coletada?; (iii) qual o nível aceitável de risco para liberação de crédito?; (iv) como classificar os riscos? Assim, diante desses questionamentos, o trabalho objetiva-se em criar, desenvolver, aplicar e avaliar um modelo de credit scoring para a avaliação de crédito a pessoas físicas em cooperativas de crédito. Agregam-se ainda ao objetivo central os seguintes objetivos específicos: desenvolver uma metodologia que leva em consideração particionamentos áureos. PALAVRAS-CHAVE: tomada de decisão; cooperativas de crédito; número ouro.

SANTADE, Hélio Oliva do AmaralFaculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

Instituição de Ensino São Francisco (IESF)Empresa Vita Suco – Mogi Guaçu

[email protected]

BIEMBENGUT SANTADE, Maria Suzett Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

Faculdades Integradas Maria Imaculada (FIMI)Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)Universidade do Minho (UMINHO-Braga-Portugal)

[email protected]

ABSTRACT: This work is on Decision Making and presents “Information” as a raw material for Credit Decision. Getting reliable information and working it adequately constitute a solid basis for a secure credit decision. This work is based on a principle that it is possible to build-up mathematical models for evaluating risks on loans for people in credit cooperatives. The questions that arise in this sense are: (i) what are the information we may need for creating a secure support for credit? (ii) how to evaluate quantitatively each information that is obtained ? (iii) what is the acceptable risk for liberating a credit ? (iv) how to classify the risks ? So, before these questions, this work is for create, develop, apply and evaluate a model of “credit scoring” for evaluating credit for people in credit cooperatives. To this main objective this work aggregates the following specific objectives: to develop a methodology which takes into consideration the aureate partition. KEYWORDS: decision making; credit cooperatives; aureate number.

1. INTRODUÇÃO O trabalho delimita-se na Tomada

de Decisão e apresenta a informação como matéria-prima para a decisão de crédito. A obtenção de informações confiáveis e o competente tratamento das mesmas cons-tituem uma base sólida para uma decisão de crédito segura. Adicionalmente, nesse

tópico de introdução às informações para crédito, cabe descrever sobre a tomada de decisão e seus métodos (SILVA, 1997:145-6).

É relevante assinalar que a Toma-da de Decisão pode ser entendida como a escolha entre alternativas. Todas as pesso-as, em seu cotidiano, tomam decisões op-tando entre as alternativas de que dispõem

Page 46: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade46

e conhecem. A análise do processo decisó-rio é algo complexo, envolvendo experiên-cia anterior, conhecimento sobre o que está sendo decidido, método para tomar decisão e uso de instrumentos e técnicas que auxi-liem o administrador.

Ao se tomar uma decisão, esco-lhendo entre alternativas, haverá um impac-to sobre o objetivo que se pretende atingir. Ao se tratar dos objetivos da administração financeira, a decisão de usar uma matéria--prima de baixa qualidade com o objetivo de maximizar o lucro poderá levar os clientes a reagirem e, em longo prazo, a empresa perder mercado. No entanto, há objetivos concorrentes entre si, pois poderá não ser possível maximizar as vendas e minimizar os incobráveis.

A decisão de conceder crédito numa empresa comercial ou industrial está relacionada ao volume de vendas que se quer atingir em determinado produto e em determinada época. Uma vez tomada a de-cisão de conceder o crédito, o administra-dor não encerrou o processo decisório, sen-do necessário tomar outras decisões, como as relativas à cobrança, por exemplo.

Numa instituição financeira, a deci-são de crédito está diretamente relacionada a diversos fatores, tais como: taxas, prazos e garantias.

A boa capacidade de julgamento foi considerada durante muito tempo ca-racterística de um bom administrador. No mundo atual, entretanto, apenas uma boa capacidade de julgamento não é suficien-te. Isto porque a evolução da ciência e dos métodos científicos que vem sendo trans-mitida de geração para geração com aper-feiçoamento progressivo constitui-se numa ferramenta de grande utilidade na tomada de decisão.

Os métodos quantitativos são con-siderados muito eficientes, pois se baseiam em registros e cálculos. O uso da estatística, especificamente a teoria das probabilida-des, é um valioso instrumento para a toma-da de decisão. Os modelos de previsão de insolvência e outras técnicas de classifica-ção de risco desenvolvidas são resultados do tratamento e proces-samento de grande quantidade de informações, a partir de me-todologia estatística (análise discriminante),

com o objetivo de auxiliar na decisão de crédito. Outros recursos, como o teorema de Bayes, análise fatorial e pesquisa opera-cional, por exemplo, têm sua aplicabilidade nas áreas de crédito.

As simulações constituem-se tam-bém em valiosos métodos de tomada de de-cisão, à medida que permitem ao tomador de decisões simular as situações prováveis e a obtenção de expectativas de resultados. Na área de análise e concessão de crédito, podem-se fazer simulações de diversas al-ternativas em determinada projeção para se fazer uma análise de sensibilidade.

A decisão de crédito envolve di-versos fatores, alguns objetivos e outros subjetivos. Dessa forma, a experiência do analista ou do gestor de crédito constitui--se poderoso instrumento. Para formação de um analista de empresas, leva-se cerca de dois anos para obter um profissional com razoável capacidade de interpretação das complexas e múltiplas facetas da ativida-de empresarial. Há casos, evidentemente, de profissionais com experiência nas áreas contábil e financeira que conseguem de-senvolvimento relativamente rápido, como profissionais de crédito, em face da sua ba-gagem técnica acumulada. A visão de um gestor de crédito deve ser ampla, envolven-do, além da análise econômico-financeira, conhecimento na área de administração de empresas, bem como certo grau de domí-nio acerca dos fatores políticos e macroe-conômicos, inclusive em nível internacional. Mesmo um analista com experiência, ao mudar de uma instituição para outra, pre-cisa passar por um processo de integração e adaptação às características da nova em-presa e de seu conjunto de clientes.

O chamado feeling é algo que só é adquirido com o tempo e tal experiência é o que valoriza o analista. Há uma série de fatores na análise de crédito que não são necessariamente quantificáveis e que por si só podem definir uma decisão de crédi-to. A chamada experiência anterior é o mé-todo mais antigo e mais usado; há apenas dificuldade de ser transferida para outras gerações, em face das diferenças de condi-ções ao longo do tempo, pois a experiência de um gerente de crédito de duas décadas passadas poderá não ser adequada para

SANTADE, H. O. do A.; BIEMBENGUT SANTADE, M. S.

Page 47: ISSN 2236-0468

47Interciência & Sociedade

os nossos dias. Assim, a necessidade do gestor de crédito utilizar também outros mé-todos como simulações e recursos quanti-tativos que, adicionados a uma experiência atualizada.

A tomada de decisão de crédito fundamenta-se em informações e os mé-todos para tomada de decisão referem-se às formas de tratamento e organização das informações.

1.1. Objetivos do Trabalho

Este texto parte do princípio de que é possível construir modelos matemá-ticos para avaliação de riscos para emprés-timos para pessoas físicas em cooperativas de crédito, as questões que surgem nesse sentido são:

(i) que informações necessi-tam-se saber para criar um escoreamento de crédito?

(ii) como quantitativamente ava-liar cada informação coletada?

(iii) qual o nível aceitável de ris-co para liberação de crédito?

(iv) como classificar os riscos?Diante desse questionamento sur-

ge o objetivo principal do texto:

Criar, desenvolver, aplicar e avaliar um modelo de credit scoring1 para a avaliação de crédito para pessoas fí-sicas em cooperativas de crédito.

Agregam-se ainda ao objetivo cen-tral os seguintes objetivos específicos:

- Desenvolver uma metodolo-gia que leva em consideração particiona-mentos áureos2;

- Comparar a metodologia desenvolvida com algum outro modelo nor-

malmente em uso;- Validar a metodologia pro-

posta.

1.2. Importância da Tomada de Decisão

Analisando a tomada de decisão sob um ponto de vista histórico, encontra--se a ideia de Adam Smith (1982), que aponta que cada qual deve decidir sempre em seu próprio favor tomando as decisões de modo que ele próprio seja o maior be-neficiado (SIMONSEN, 1986), sem se im-portar muito com o que o concorrente de-cide. Basicamente a ideia torna-se ainda mais vil quando da teoria dos jogos de Von Neumann e Morgenstern (VON NEUMANN e MORGENSTERN, 1944) em que o con-corrente é basicamente um “inimigo”, talvez isto influenciado pelas guerras mundiais. Com o equilíbrio de Nash3, surge uma nova perspectiva que se concentra na tomada de decisão que atenda o grupo e não ape-nas um ou outro interessado, ideia central das cooperativas de crédito, ou seja, fazer o melhor pelos cooperados, sejam eles in-vestidores sejam eles tomadores de recur-sos. Assim sendo quanto maiores forem os cuidados na concessão de crédito, mais se-guros se sentirão os investidores, por outro lado há que haver uma metodologia e que está esteja alicerçada em pontos que ofere-çam a possibilidade de crédito para que os empréstimos realmente ocorram, mas que também tranquilizem os investidores sobre o modo de como seu dinheiro está sendo aplicado; afinal, os dividendos que o inves-tidor recebe são oriundos dos juros pagos pelos tomadores, e o dinheiro disponibiliza-do para empréstimos pela cooperativa tem como fonte o investidor, neste sentido há que se procurar pelo equilíbrio. Esse estudo toma este cenário como seu principal argu-

1 Credit Risk ou Risco na Concessão de Crédito.

2 Refere-se ao uso de seções áureas, ou seja, aproximadamente 62% de um total de pontos (BIEMBENGUT, 1999).

3 O Equilíbrio de Nash representa uma situação em que, em um jogo envolvendo dois ou mais jogadores, nenhum jogador tem a ganhar mudando sua estratégia unilateralmente. O Equilíbrio de Nash representa uma situação em que, em um jogo envolvendo dois ou mais jogadores, nenhum jogador tem a ganhar mudando sua estratégia unilateralmente. John Forbes Nash Jr. (Blue-field, 13 de junho de 1928) é um matemático norte-americano que trabalhou na Teoria dos Jogos, na Geometria diferencial e na Equação de derivadas parciais, servindo como Matemático Sénior de Investigação na Universidade de Princeton. Compartilhou o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel de 1994 com Reinhard Selten e John Harsanyi.

Concessão de crédito e modelação da tomada de decisão

Page 48: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade48

mento e sobre ele cria a sua metodologia.

1.3. Metodologia do Estudo

O objetivo do credit scoring é clas-sificar solicitantes de crédito de acordo com seu risco (probabilidade) de inadimplência. Sua aplicação mais comum é a concessão ou renovação de crédito a pessoas físicas ou jurídicas. O credit scoring recebe deno-minações de alternativas em função dos objetivos e da estrutura de informações uti-lizadas para determinar o risco de inadim-plência. O termo credit scoring é, em geral, reservado para a classificação das solici-tações de crédito de novos proponentes (SICSÚ, 2003). Nos casos de renovação de crédito, usual em créditos rotativos, a experiência anterior com o cliente pode ser incluída na elaboração do credit scoring. Nesse caso, prefere-se a denominação behavioral scoring, pois as variáveis refle-tem o comportamento do proponente dian-te de crédito em transações passadas. Os ratings de crédito ou risk scores de pesso-as jurídicas são, basicamente, modelos de credit scoring para avaliar o risco-cliente em determinado mercado.

Neste texto, foi utilizado o termo credit scoring (CS) para caracterizar o pro-cesso de cálculo do risco de inadimplência de um proponente ou de uma operação. O termo sistema de credit scoring (SCS) ca-racteriza um sistema composto pela regra para o cálculo do escore (credit score), re-gras de decisão de crédito baseadas nesse escore e nas políticas de crédito da insti-tuição financeira e um sistema de informa-ções gerenciais que permita acompanhar a adequação das decisões de crédito e for-neça informações adicionais para o aprimo-ramento do próprio sistema e para outras áreas envolvidas com a decisão do crédito (marketing, cobrança etc.).

A metodologia básica para o de-senvolvimento do credit scoring não difere entre aplicações para pessoa física ou jurí-dica, quer envolvam apenas o risco cliente ou o risco operação. Por simplicidade, afina--se esse texto ao conceito de credit scoring stricto sensu, ou seja, a avaliação do risco de uma solicitação de crédito com o objetivo de aprová-la ou não. A utilização do credit

scoring para outros fins, como precificação da operação, determinação de garantias ou processo de cobrança, não será aqui dis-cutida.

Inicialmente, a proposta é avaliada por meio de critérios qualitativos. Por exem-plo, a política de crédito da cooperativa irá restringir o crédito a pessoas cuja renda seja inferior a determinado valor, ocupação, propriedades, idoneidade, local e tempo de trabalho, moradia, dependentes, etc. para conceder ou não crédito ao proponente, sem claro ser preconceituoso em algum atributo. Se o cliente passa por esses filtros, seu escore é calculado e comparado com um valor predeterminado, denominado pon-to de corte. Se o escore supera esse valor, a proposta é “aprovada”. Caso contrário, o crédito é “negado”.

Esse fluxo, como se observa, é o mais simples possível. Decisões mais “in-teligentes” não se restringem a esse sis-tema “passa - não passa” (LEWIS, 1992). Utilizam o valor do escore para precificar a operação, definir garantias, requerer uma avaliação mais criteriosa baseada em infor-mações adicionais realizada por analistas de crédito experientes, entre outras. Nesse foco é que se encaminha esse texto.

1.4. Estrutura do Estudo

Trata-se de um apanhado do atual estado da arte em que são tomados diver-sos autores e deles é extraída a essência desta ciência. A fundamentação teórica do credit risk faz a análise de crédito à pessoa física, e, em seguida, são comentados al-guns pontos relevantes sobre cooperativas de crédito, em especial a que serviu de ob-jeto de estudo. Por último, e não menos im-portante, fez-se a discussão dos possíveis avanços desse tema.

2. Sobre a Tomada de Decisão

A expressão ‘tomada de decisão’, no sentido amplo, significa dar uma ruptura em determinado momento em quaisquer si-tuações da vida de uma pessoa ou grupo de pessoa para novas possibilidades de ação. Sabe-se que uma mesma pessoa toma

SANTADE, H. O. do A.; BIEMBENGUT SANTADE, M. S.

Page 49: ISSN 2236-0468

49Interciência & Sociedade

decisões múltiplas no cotidiano. Goffman (2003) afirma que uma pessoa representa várias máscaras durante um dia, depen-dendo da fachada, toma decisões várias em ambiências diferentes. O autor utiliza a metáfora da ação teatral como estrutura de sua exposição, dizendo que todo homem, em qualquer situação social, apresenta-se diante de seus semelhantes, tenta dirigir e dominar as impressões que possam ter dele, empregando certas técnicas para a sustentação de seu desempenho, tal qual um ator que representa um personagem diante do público.

A etimologia do verbo ‘tomar’ pode migrar por diversos significados e sentidos segundo o discurso proposto por qualquer pessoa ou por um gestor administrativo. Verbo ‘tomar’ significa receber (aquilo que nos é dado); pegar em; encontrar; achar; adaptar; segurar; agarrar; comer ou beber; desejar com veemência; considerar; en-cher; ocupar; interpretar; julgar; conquistar; ganhar militarmente; cativar; avaliar; acei-tar; reputar; apanhar; alcançar; aguentar; tolher; extorquir; seguir por; assumir; etc. Já a palavra ‘decisão’ origina-se do Latim decisione(m)> ação ou resultado da ação de decidir; deliberação; resultado; intrepi-dez; sentença do tribunal; resolução do júri.

Dessa feita, “tomada de decisão” vem desde os primórdios da vida hominí-dea. Acredita-se que a partir do momento em que o ser humano deixou de viver de modo nômade, somente na luta pela sua própria sobrevivência, passou a tomar de-cisões. Maturana (2001) relata que quan-do os hominídeos começaram a viver em grupo passaram a praticar coordenações de condutas consensuais. E é relevante assinalar nesse contexto que, no viver em grupo, muitas decisões em acoplamentos consensuais foram acontecendo para que as dimensões humanas, em todas as áreas, com resoluções de problemas e tomadas de decisões contínuas fortaleceram-se no cotidiano (BIEMBENGUT SANTADE, 2008; 2002:69-76).

Lazzati (997:5-6) define ‘decisão’ como “escolha de um curso de ação deter-minado entre vários cursos de ação alterna-tivos. Entende-se que o curso de ação ele-gido pode compreender uma configuração

de vários cursos de ação”. Lazzati objetiva em várias definições básicas o processo de-cisório dizendo que quando surge um pro-blema deve haver uma brecha entre uma situação atual ou projetada e um objetivo. O autor conota essa ‘situação projetada’ como aquela que pode chegar a ocorrer, indepen-dente do objetivo. Assim, quando necessita tomar uma decisão dentro dos problemas existentes, Lazzati distingue quatro tipos, a colocar na seguinte ordem:

• O problema ‘negativo’, quan-do a situação atual não satisfaz o ob-jetivo prefixado;• O problema ‘potencial’, quando a situação projetada pode ser insatisfatória;• O problema ‘de implemen-tação’, quando já se há fixado um objetivo e não necessariamente se observa um problema negativo ou potencial, porém é preciso definir como se vai concretizar o objetivo estabelecido;• O ‘aproveitamento de opor-tunidades’, quando a partir de um objetivo geral (explícito ou implícito), usualmente a raiz de nova informa-ção, se estabelece a possibilidade de desenvolver novos objetivos. Neste caso, de todos modos, se gera uma abertura entre a situação atu-al ou projetada e o objetivo, o qual equivale a um problema.

O mesmo autor estabelece uma sinonímia entre o conceito ‘decisão’ com ‘resolução de problemas’. Define ‘resolução de problemas’ como “curso de ação que corrige a lacuna entre a situação atual ou projetada e o objetivo; aquilo que permite alcançar o objetivo”. Desse modo, Lazzati afirma que os conceitos de ‘resolução de problemas’ (RP) e de ‘tomada de decisões’ (TD) confluem-se, isso porque ambos repre-sentam um mesmo processo. Dizendo de outra forma, a resolução de qualquer pro-blema requer a tomada de decisões; e, toda decisão implica necessariamente a existên-cia prévia de um problema a resolver. Para o autor RP/TD significam o mesmo proces-so. Lazzati afirma que um gerente, dentro

Concessão de crédito e modelação da tomada de decisão

Page 50: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade50

qualquer nível da organização, dedica a maior parte de seu tempo à RP/TD, e que a eficácia e a eficiência gerenciais depen-dem em grande medida de como o gerente leva a cabo esse processo. Para o autor, vale distinguir: a quem, ou seja, as pesso-as que participam no processo; o quê ou conteúdo do processo, que compreende a informação que se incorpora, as ideias que se geram, os conceitos que se produzem e as conclusões que se alcançam; o como ou desenvolvimento do processo em si, que in-clui o clima das relações interpessoais (se as houver) e o método que se aplica para administrar o conteúdo (PADOVEZE, 2003: 25-32).

Segundo Stoner e Freeman (1999:182), a ‘tomada de decisão’ - identifi-cação de um problema específico e escolha de uma linha de ação para se resolvê-lo ou aproveitar uma oportunidade - é uma parte importante do estudo de todo administra-dor. Afirmam os autores que a tomada de decisão dá forma aos planos estratégicos e operacionais de uma empresa e que todo administrador precisa desenvolver a ha-bilidade de tomar decisões e de resolver problemas. Para eles um problema surge quando uma situação existente difere da si-tuação desejada. Ressaltam que em muitos casos um problema pode ser uma oportuni-dade disfarçada. Citam, por exemplo, uma empresa com o problema de empregados demais que isso passa a ser uma grande oportunidade de reestruturar a organização, salvando empregos e aumentando a efici-ência ao mesmo tempo.

Para Chiavenato (2000:416-417), ‘decisão’ é o processo de análise e escolha entre as alternativas disponíveis de cursos de ação que a pessoa deverá seguir. Para esse autor, a decisão envolve seis elemen-tos nesta ordem:

• Tomador de decisão: é a pessoa que faz uma escolha ou opção entre várias alternativas futuras de ação;• Objetivos: são os objetivos que o tomador de decisão pretende alcan-çar com suas ações;• Preferências: são os critérios que o tomador de decisão usa para fazer sua escolha;

• Estratégia: É o curso de ação que o tomador de decisão escolhe para atingir seus objetivos. O curso de ação é o caminho escolhido e depen-de dos recursos de que pode dispor;• Situação: são os aspectos do am-biente que envolve o tomador de decisão, alguns deles fora do seu controle, conhecimento ou compre-ensão e que afetam sua escolha;• Resultado: é a consequência ou re-sultante de uma estratégia.

Ele constata que, o tomador de decisão está inserido em uma situação, pretende alcançar os objetivos, apresenta preferências pessoais e segue estratégias (cursos de ação) a fim de alcançar resulta-dos. Desse modo, a decisão envolve uma opção e o gestor para seguir um curso de ação, deve muitas vezes abandonar outros cursos que surjam como alternativas. Para isso, existe constantemente um processo de seleção, ou melhor, de escolha de alter-nativas. O processo de seleção pode ser uma ação reflexa condicionada (como digi-tar as teclas do computador) ou produto de raciocínio, planejamento ou projeção para o futuro. O autor ressalta que todo curso de ação é orientado para um objetivo a ser alcançado e segue uma racionalidade. Se o tomador de decisão escolhe uma alter-nativa entre outras e se escolhe os meios apropriados para alcançar um determinado objetivo, a sua decisão está embasada na racionalidade, conforme será abordaredo mais à frente.

Os tomadores de decisão ou ges-tores, no exercício de sua função, condu-zem suas áreas de responsabilidade e res-pectivas atividades, de modo formalizado e estruturado por um processo de gestão. Assim, as decisões são demarcadas nas etapas de planejamento (estratégico e operacional), execução e controle. Essas decisões são tomadas para solucionar pro-blemas ou aproveitar oportunidades (AL-MEIDA, In: CATELLI, 2001:308).

Nas colocações de Pereira da Silva (1997:145), a tomada de decisão pode ser entendida como a escolha entre alternati-vas. Para esse estudioso, todas as pessoas, em todos os dias, tomam decisões optando

SANTADE, H. O. do A.; BIEMBENGUT SANTADE, M. S.

Page 51: ISSN 2236-0468

51Interciência & Sociedade

entre as alternativas de que dispõem e co-nhecem. A análise do processo decisório é algo complexo, e sempre envolve experiên-cia anterior, conhecimento sobre o que está sendo decidido, método para tomar decisão e uso de instrumentos e técnicas que auxi-liam o gestor e/ou administrador.

É notório que pessoas a todo o momen-to têm que decidir ante as mais diversas situações e sobre problemas o mais dife-rentes possível, utilizando-se, para isso, de suas experiências passadas, seus valores e crenças, seus conhecimentos técnicos, suas habilidades e filosofias, as quais norteiam a forma pela qual se tomam decisões. Algumas pessoas são mais conservadoras; outras possuem características inovadoras e empreen-dedoras e estão mais dispostas a assu-mir riscos em potencial. Essas diversas maneiras de tomar uma decisão podem representar tanto o sucesso como o fra-casso das pessoas que a tomam e da-queles que dependem desse processo, bem como da organização na qual este-jam insertas, quando são investidas do poder decisório (SOLINO e EL- AOUAR, 2001:16).

Nessa afirmação acima, os autores afirmam que a tomada de decisão faz parte da vida de cada pessoa e que, na evolução da humanidade perante situações várias, o ser humano sempre esteve fazendo esco-lhas na melhoria de seu próprio crescimen-to e do destino da civilização. No caminhar do mundo empresarial, “o papel dos admi-nistradores torna-se relevante e primordial, repousando em suas mãos o futuro da civi-lização moderna, uma vez que tomam deci-sões que afetam a vida das pessoas e mo-delam até mesmo o seu destino” (2001:16).

Portanto, na realidade da vida de um pequeno grupo de pessoas ou na rea-lidade das empresas, o processo de toma-da de decisão é bastante complexo. Isso porque o cotidiano dessas realidades, até usualmente semelhantes, concretiza-se por um emaranhado de decisões entre diferen-tes alternativas dinâmicas e complexas. Chega-se aqui que as definições etimológi-cas revelam a diversidade de conceitos na amostragem das palavras ‘tomada’ e ‘deci-são’, conclamando que a expressão sintag-

mática ‘tomada de decisão’ não se define por um só caminho.

2.1. Decisões programadas e não-progra-madas

Sabe-se que a tomada de decisão não pode acontecer no acaso em uma em-presa. Isso porque os problemas diferentes exigem uma diversidade de tomada de de-cisões. Faz-se necessário destacar, entre-tanto, que há as decisões programadas e as não-programadas.

As decisões programadas são so-luções para problemas rotineiros, que são determinadas por regras, procedimentos ou hábitos. E também, as decisões programa-das são tomadas conforme as bases polí-ticas, procedimentos ou regras, as quais podem ser escritas ou orais. Essas, muitas vezes, simplificam a tomada de decisão em situações repetitivas, limitando ou excluin-do alternativas. As decisões programadas servem para enfrentar situações simples ou complexas. No entanto, elas limitam a liber-dade do administrador, pois há as amarras organizacionais que condensam o tempo no intuito de economizar a sua atenção para outras atividades mais excepcionais e importantes na empresa (STONER e FRE-EMAN, 1999:184).

As decisões não-programadas são soluções específicas criadas por meio de um processo não-estruturado para re-solver problemas não-rotineiros. Essas se destinam a problemas incomuns ou excep-cionais que necessitam de atenção mais acurada do administrador e merecem trata-mento especial porque, na verdade, a maio-ria dos problemas significativos da empresa perpassa pela hierarquia organizacional. Isso significa que quanto mais um adminis-trador ascende na estrutura da empresa, mais suas decisões serão não-programa-das, e ainda, essas passam pelo processo racional. Por isso que o administrador deve estar capacitado para esse tipo de decisão.

Ressalta-se, nesse contexto, que os administradores ao tomarem decisões enfrentam e pesam diferentes alternativas, que envolvem acontecimentos futuros de difícil previsão no processo decisório. Tais procedimentos vão das certezas às incer-

Concessão de crédito e modelação da tomada de decisão

Page 52: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade52

tezas e vice-versa. Por um tempo previsto, as condições de certeza dão-lhes um certo grau de controle. Nesse sentido, o papel do administrador torna-se significativo no como transita entre as situações programadas e não-programadas por situações em turbu-lências. O controle do administrador torna--se grande quando se aproxima e/ou chega à certeza. E o contrário acontece quando da incerteza à turbulência leva-o ao controle bastante pequeno.

Os autores definem (1999:184-5) certeza, risco, probabilidade, incerteza e turbulência da seguinte forma:

• certeza: condição para tomada de decisão em que os administradores têm informações precisas, mensuráveis e confi-áveis sobre os resultados das várias alter-nativas que estão sendo consideradas.

• risco: condição para tomada de decisão em que os administradores conhe-cem a probabilidade de que uma determina-da alternativa leve a um objetivo ou resulta-do desejado.

• probabilidade: medida estatísti-ca da chance de que um determinado even-to ou resultado venha a ocorrer.

• incerteza: condição para tomada de decisão na qual os administradores en-frentam situações externas imprevisíveis ou não têm as informações necessárias para estabelecer a probabilidade de determina-dos eventos.

• turbulência: condição para toma-da de decisão que ocorre quando as metas não são claras ou quando o meio ambiente muda muito depressa.

Vale lembrar que, em face da com-plexidade do mundo moderno e atual, as de-cisões são plausíveis de mudanças porque a instabilidade da economia atinge direta ou indiretamente o cotidiano das pessoas, e dessa maneira, o controle dos administra-dores por meio das decisões programadas permanece-se no intuito de libertar, com discernimento, suas próprias decisões em relação a situações diversas. Nas palavras de Solino e El-Aouar (2001:16), conclama--se “a análise das habilidades gerenciais requeridas pelas empresas globalizadas”, assim:

Insertas em um contexto de incerteza e de rápidas mudanças, as empresas es-tão buscando, cada vez mais, mecanis-mos que possibilitem maior capacidade de adaptação e até mesmo de antecipa-ção a essas mudanças, para tornarem--se mais competitivas e, desse modo, continuarem atuando em um mercado cada vez mais dinâmico.

Os autores acima destacam que extensas mudanças estão ocorrendo nas estruturas organizacionais, processos, sis-temas, participação, delegação, liderança, culturas corporativas e na administração do talento humano, fazendo do adminis-trador um tomador de decisões sólidas e dominantes, mostrando sua capacidade de saber lidar com as novas exigências, que são feitas às organizações pelos mercados mais competitivos que buscam maior res-ponsabilidade das pessoas na organização empresarial.

Para Chiavenato (2000), essa or-ganização é um complexo de sistema de decisões em que não só o administrador quem toma as decisões, mas todas as pes-soas, nesse contexto, em todas as áreas de atividades e níveis hierárquicos e em to-das as situações estão de modo contínuo tomando decisão relacionadas ou não com o trabalho. Segundo esse mesmo autor, o comportamento humano nas organizações é visualizado de modo diferente por meio das diversas teorias de Administração. Para ele, ressaltam-se três teorias, a saber:

• Teoria Clássica de Administra-ção: Considera os indivíduos participantes da organização instrumentos passivos cuja produtividade varia e pode ser elevada me-diante incentivos financeiros (remuneração de acordo com a produção) e condições fí-sicas ambientais de trabalho favoráveis. É uma posição simplista e mecanicista.

• Teoria das Relações Humanas: Considera os indivíduos participantes da organização possuidores de necessidades, atitudes, valores e objetivos pessoais que precisam ser identificados, estimulados e compreendidos para obter sua participação na organização, condição básica para sua eficiência. É uma posição limitada.

SANTADE, H. O. do A.; BIEMBENGUT SANTADE, M. S.

Page 53: ISSN 2236-0468

53Interciência & Sociedade

• Teoria Comportamental: Os in-divíduos participantes da organização per-cebem, raciocinam, agem racionalmente e decidem a sua participação ou a não-parti-cipação como tomadores de opinião e deci-são e solucionadores de problemas. (CHIA-VENATO, 2000:416)

Dentro de uma organização, cada pessoa participa consciente e racional-mente, traçando sua função nas escolhas e decisões entre diferentes alternativas de acordo com sua personalidade, motivações e atitudes. Cada pessoa influencia e rece-be também influências em rede de informa-ções e interpretações porque cada pessoa em congruência com a outra, no conjunto sistêmico, são tomadoras de decisões, pro-cessadores de informação e criadores de opinião em constantes mutações estruturais e organizacionais (CHIAVENATO, Op. cit.).

2.2. Modelo racional de tomada de decisão

O modelo racional torna-se uma opção mais acertada e útil para as decisões não-programadas e para auxiliar os admi-nistradores a ultrapassarem um raciocínio a priori, que este mesmo passa a ser uma so-lução lógica e/ou correta aos procedimen-tos decisórios.

Nenhuma abordagem do processo deci-sório pode garantir que o administrador tome sempre a decisão certa, mas os administradores que usam uma abor-dagem racional, inteligente e sistemáti-ca têm mais probabilidade de chegar a soluções de alta qualidade. (STONER e FREEMAN, 1999:185)

Para efetuar o modelo racional de tomada de decisão, faz-se necessário pas-sar pelo processo de quatro etapas ou está-gios que colaboram aos administradores a pesar alternativas e selecionar aquela que houver chance de sucesso. Desse modo, o processo genérico de tomada de decisão racional envolve o diagnóstico, a definição e a determinação das origens do problema, a coleta e a análise dos fatos significativos ao problema, o desenvolvimento e a avaliação de soluções alternativas, a seleção da alter-nativa mais satisfatória e a conversão des-

sa alternativa em ação, conforme afirmam Stoner e Freeman (Op. cit.).

Para eles, o processo racional é composto de quatro estágios:

• Examinar a situação• Criar alternativas• Avaliar as alternativas e selecio-

nar a melhor• Implementar e monitorar a deci-

são

Ao examinar a situação, a investi-gação subjacente perpassa por três aspec-tos: primeiramente, a definição do problema - quando o administrador deve discernir os acontecimentos ou questões que descre-vem sintomas de dificuldade espraiados pela organização. Em seguida, a identifi-cação dos objetivos da decisão - quando o administrador deve decidir o que poderia ser considerado como uma solução efetiva e deve determinar que partes do problema ele tem de resolver e quais deveriam resol-ver. No terceiro aspecto, deve se fazer um diagnóstico das causas - o administrador deve determinar as ações necessárias para realizar a solução satisfatória. No entanto, deve antes obter uma compreensão firme de todas as origens do problema a fim de formular hipóteses sobre as causas. Essas causas muitas vezes estão camufladas no sistema organizacional e, assim, passa a exigir do administrador a intuição para iden-tificá-las.

Ao criar alternativas, o adminis-trador deve saber discernir as alternativas relevantes daquelas não viáveis para o pro-blema delimitado. Quando se faz a escolha pelas alternativas mais viáveis e criadas, o administrador corre menos risco de cair em tentação de solucionar problemas, propon-do alternativas espontâneas sem o aparato racional e sem a preocupação com a reali-dade ou a tradição.

Ao avaliar as alternativas e sele-cionar a melhor, o administrador, depois de ter criado um conjunto de alternativas, e para cada uma delas, deve perpassar por três perguntas fundamentais: 1. Esta alter-nativa é exequível? 2. Esta alternativa é uma solução satisfatória? 3. Quais são as consequências possíveis para o resto da or-

Concessão de crédito e modelação da tomada de decisão

Page 54: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade54

ganização? Para cada uma dessas pergun-tas, surgem outras questões conectadas, dando caminhos mais claros para se chegar à seleção da melhor alternativa que apre-sentará a tomada de decisão racional para a solução e/ou avaliação mais acertada. A partir do momento em que uma alternativa for considerada melhor, ela mesma gera outra dicotomia “sim” ou “não” na busca de outra alternativa positiva e assim por diante até se chegar uma alternativa bem selecio-nada nesse estágio do modelo racional.

Ao implementar e monitorar a decisão, o administrador já estará, neste estágio, com a melhor alternativa para en-frentar as exigências e os problemas que podem ser suscitados em sua implemen-tação. Isso significa que a implementação de uma decisão um conjunto de fatores e recursos que devem ser apontados de acordo com a necessidade do administra-dor monitorar a decisão. Nesse contexto, o administrador estabelece orçamentos e cronogramas para a operacionalização da decisão. E esse processo decisório deve ser medido em termos específicos pelas tarefas atribuídas com responsabilidade para haver, em seguida, os procedimentos na feitura de relatórios sobre o processo e para, na sequência dele, fazer as correções caso surjam novos problemas. Conclui-se que “orçamentos, cronogramas e relatórios de processo são essenciais para o desem-penho das funções dos administradores” (STONER e FREEMAN, 1999).

Durante todo o processo decisório nas quatro etapas, identificaram-se os ris-cos e as incertezas, que jamais podem ser esquecidas ou descartadas no momento de avaliação. Muitas vezes, acredita-se que o que emerge na decisão deve ser lembrado. No entanto, as incertezas possíveis e os riscos potenciais dão caminhos para ree-xaminar sua decisão para, assim, elaborar planos mais afinados e detalhados a fim de lidar melhor com riscos e incertezas que po-dem advir no sistema organizacional. Vale salientar, nesse momento, que uma deci-são pode ser tomada como a melhor pelo administrador, mas os subordinados, no or-ganograma empresarial, não estarem pre-parados para realizá-la de maneira eficaz. Assim, toda a decisão deve ser monitorada

em processo contínuo pelo(s) gestor(es).

Ao tomar decisões que precisem da aceitação por parte dos outros, os ad-ministradores eficazes compartilham as responsabilidades da tomada de decisão com os subordinados quando as prová-veis melhoras da qualidade e do moral do pessoal ultrapassem os prováveis custos em tempo e dinheiro, sabendo que os administradores continuam com a responsabilidade final pela tomada e pela aplicação das decisões. (STONER e FREEMAN, 1999:195)

2.3. Caminhos intuitivos na empresa

No âmbito empresarial, as deci-sões constituem o núcleo de grande res-ponsabilidade administrativa porque cabe ao tomador de decisão a ação de decidir no momento em que surgem os problemas. Isso implica a ele saber selecionar entre uma multiplicidade de alternativas aquela que melhor pareça adequada para o mo-mento. E, muitas vezes, mesmo com um modelo racional de tomada de decisão, não se sanam os problemas de modo estabili-zante. Embora, no poder decisório, o fra-casso ou o sucesso não esteja explícito, há a necessidade de tirar o endurecimento das decisões racionais e prontas.

Apesar do modelo racional de to-mada de decisão dar suporte para a iden-tificação de problemas, para o estabeleci-mento de objetivos e metas específicas e de medida de resultados, para desenvolvi-mento de alternativas, para escolha de uma alternativa, para implantação da decisão e para o controle e avaliação, há constante-mente ‘buracos negros’ no processo deci-sório.

Na verdade, o processo raciocinar nasce do emocionar, segundo Maturana (2001). Na travessia entre o emocionar e o racionar, surge a intuição em qualquer ati-vidade da vida comum ou da organização empresarial. A intuição é a percepção ime-diata das coisas e ela é um saber que ante-cede ao raciocínio lógico.

De nada serve guardar arquivos com co-nhecimentos que não vão ser compar-

SANTADE, H. O. do A.; BIEMBENGUT SANTADE, M. S.

Page 55: ISSN 2236-0468

55Interciência & Sociedade

tilhados com nossos congêneres. Não há razão para manter informação que não vai enriquecer a vida cotidiana da existência singular. Nenhum sentido tem acumular verdades que não se transfor-mam em padrões de vida e critérios cer-tos para relacionar-nos com as outras espécies viventes. Não é possível conti-nuarmos pensando o técnico como sede do saber, porque o conhecimento não está aqui nem ali, nem no sujeito nem no objeto, mas num lugar intermediário, lugar da interação e da construção con-junta. Um modelo de conhecimento que não exclua a ternura ingressa necessa-riamente pela racionalidade ecológica, considerando fundamental a dependên-cia, a descentralização e a singularida-de, aberto à interação e sem fechar-se em nenhum momento com a arrogância de um gesto imperial. (RESTREPO, 1998:85)

Conforme esse autor, o texto con-templa as formas perceptivas e emocionais, contrapondo com o profissional que só toma suas decisões racionais num relacionamen-to frio e objetivo. Isso porque “a vivência da rotina é, antes de tudo, um problema per-ceptual” (1998:98).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O texto que aqui foi exposto possui vários pontos que devem ainda serem ex-plorados, a saber: (i) o modelo não é estáti-co, ou seja, a pontuação deve ser ajustada no tempo e no espaço, ou seja, ele deve ser dimensionado com a região em que se apli-ca e também ser revisto de tempos em tem-pos, pois é certo que pequenas flutuações irão ocorrer. Além disso, há como mudar o nível de risco que neste trabalho foi as-sumido em 50%, ou seja, conforme algum “termômetro econômico” ou grupo de espe-cialistas, este nível pode variar para mais ou para menos, conforme os interesses no instante; (ii) haveria que se fazer uma aná-lise estatística das componentes principais para determinar vetores que adimplentes e inadimplentes possuem em comum; (iii) há como fazer um tratamento difuso das infor-mações e daí criar medidas de “possibilida-de”, diferentes das criadas neste estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, L. B. Sistema de informação de gestão econômica. In: CATELLI, Armando (coord.). Contro-ladoria: uma abordagem da gestão econômica – GECON. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2001. pp. 308-322.

BIEMBENGUT, M. S. Número de ouro e secção áu-rea. FURB: Blumenau, 1996.

BIEMBENGUT SANTADE, M. S. A organização da vida nas dimensões do ser humano. In: Apreciações semânticas de relatos de aprendizagem. Tese de Doutorado em Educação. Universidade Metodista de Piracicaba-UNIMEP, 2002. pp. 69-76.

BIEMBENGUT SANTADE, M. S. Semântica e Ex-periência Humana: o encontro de linguagem na educação básica. Tmais Oito: Rio de Janeiro, 2008.

CATELLI, A. (coord.). Controladoria: uma aborda-gem da gestão econômica – GECON. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2001.

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da admi-nistração. 6.ed. Rio de Janeiro,RJ: Campus, 2000.

GOFFMAN, E. A representação do eu na vida co-tidiana. 11.ed. Trad. Maria Célia Santos Raposo. Petrópolis,RJ: Vozes, 2003.

LAZZATI, S. RP/TD el proceso decisório: enfoque, método y participación. Buenos Aires: Macchi Gru-po Editor S. A., 1997.

LEWIS, E. M. An introduction to credit scoring. San Rafael: Athena Press, 1992.

MATURANA, H.; VARELA, F. A árvore do conheci-mento. São Paulo: Palas Athena, 2001.

PADOVEZE, C. L. O modelo de gestão e o processo de gestão. In: Controladoria estratégia e operacio-nal: conceitos, estrutura, aplicação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. pp. 25-32.

RESTREPO, L. C. O direito à ternura. Trad. Lúcia M. Endlich Orth. Petrópolis,RJ: Vozes, 1998.

SICSÚ, A. L. Desenvolvimento de um sistema de credit scoring. In: Gestão de riscos no Brasil. São Paulo: FCE, 2003.

SILVA, J. P. Análise e decisão de crédito. São Pau-lo: Atlas, 1988.

SILVA, J. P. Gestão e análise de risco de crédito. São Paulo: Atlas, 1997.

SIMONSEN, M. H. Análise do “modelo” brasilei-ro. v. 92. 8.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986. SMITH, A. A Riqueza das Nações. Vol. 1, Livro 2º,

Concessão de crédito e modelação da tomada de decisão

Page 56: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade56

São Paulo: Abril Cultural, 1982.

SOLINO, A. S.; EL-AOUAR, W. A. O processo de to-mada de decisões estratégicas: entre a intuição e a racionalidade. Caderno de Pesquisas em Adminis-tração. São Paulo, v. 08, nº 3, julho/setembro 2001.

STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. 5.ed. Trad. Alves Calado. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 1999.

VON NEUMANN, J.; MORGENSTERN, O. The The-ory of Games and Economic Behavior. Princeton University Press, Princeton, NJ., 1944.

Hélio Oliva do Amaral Santade é Mestre em Administração pela Universidade Metodista de Piracicaba-UNIMEP. Especialista em Controladoria pelo Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa - IPEP, Mantenedora da Faculda-de de Ciências Empresariais – FACEMC. Graduado em Economia pela Universidade de Marília-UNIMAR-SP. Atualmente é professor de Contabilidade e Administração Financeira do Curso de Administração da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro-FMPFM e do Curso de Administração da Instituição de Ensino São Francisco--IESF em Mogi Guaçu-SP. Consultor de Empresa e Gerente Administrativo da GS Informática e Gerente Geral da Empresa Vita Suco de Mogi Guaçu-SP-Brasil. Possui larga experiência na área de Administração, com ênfase em Administração Empresarial como Gerente de Custos e Vendas, atuando principalmente nos seguintes temas: produção; qualidade; custos; crm; relacionamento; marketing.

Maria Suzett Biembengut Santade é Pós-Doutora em Letras na Linha de Pesquisa: Ensino da Língua Portugue-sa: história, políticas, sentido social, metodologias e pesquisa, no Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ-Brasil. Pós-Doutora em Educação na área de Metodologia do Ensino do Português, no Instituto de Educação da Universidade do Minho-UMINHO, Braga-Portugal. Doutora em Educação pela UNIMEP. Mestre em Educação pela PUC-Campinas. Graduada em Letras Vernáculas - Francês e Inglês em Línguas e Lite-raturas pela FFCL-UNESP. Graduada em Pedagogia com Habilitação em Administração e Supervisão. Atualmente é professora colaboradora da UERJ e Pesquisadora do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil / CNPq / Gru-pos de Pesquisa: Semiótica, leitura e produção de textos e Crítica Textual e Edição de Textos (UERJ-CNPq). Co-ordenadora e Professora Titular do Curso de Letras na Graduação & Pós-Graduação Lato Sensu das Faculdades Integradas Maria Imaculada-FIMI e Professora Titular da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro-FMPFM de Mogi Guaçu-SP-Brasil.

SANTADE, H. O. do A.; BIEMBENGUT SANTADE, M. S.

Page 57: ISSN 2236-0468

57Interciência & Sociedade

CONSTRUÇÃO DE UM CONTROLADOR DIGITAL DE PROCESSOS DINÂMICOS: possibilidades para educação tecnológica

RESUMO: Este projeto apresenta um controlador programável flexível, eficiente e de baixo custo, construído com o propósito de fornecer um instrumento alternativo para o controle digital de processos dinâmicos. Dentro deste escopo, apresentamos a sua concepção eletrônica, sua proposta para pro-gramação, alguns módulos de interfaceamento e possíveis aplicações para o mesmo. Particularmente, esta proposta se direciona ao desenvolvimento de trabalhos de iniciação científica com características interdiciplinares, envolvendo o curso de Ciência da Computação, permitindo que os alunos de gradua-ção revejam e implementem boa parte dos conceitos teóricos já estudados, ao mesmo tempo em que proporciona aos alunos uma visão mais ampla das implicações sociais do uso da tecnologia na qual estão envolvidos.PALAVRAS-CHAVE: controle, automação, informática, eletrônica.

CAMARGO, José Tarcísio Franco de Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (CREUPI)Centro Guaçuano de Educação Profissional “Gov. Mário Covas”

[email protected]

BARROS FILHO, JomarFaculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

[email protected]

BORTOLOTI, João AlexandreFaculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

[email protected]

VERASZTO, Estéfano VizcondeFaculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)Instituição de Ensino São Francisco (IESF)

[email protected]

MAIA, Daltamir JustinoFaculdade Comunitária de Campinas (FAC)

[email protected]

ABSTRACT: This project presents a flexible programmable controller, efficient and with low cost, built to provide an alternative instrument to digitally control a dynamical process. Within this scope, we present the electronic conception, its programming paradigm, some interface modules and possible applications for the device. In particular, this proposal is driven to the development of scientific works with interdis-ciplinary characteristics, involving the Course of Computer Science, allowing the under graduation stu-dents to review and implement a large range of theoretical concepts already studied, at the same time it offers to the students a wider view of the social impacts of the use of the technology they are involved.KEYWORDS: control, automation, informatics, electronics.

Page 58: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade58

1. INTRODUÇÃO

O custo relativamente alto de um controlador lógico programável (CLP) mui-tas vezes torna o seu uso proibitivo para determinadas aplicações, tornando-o ba-sicamente um elemento presente apenas em empresas de médio ou grande porte que necessitam do controle automático de seus processos. Assim, uma grande classe de potenciais usuários torna-se excluída do uso desta tecnologia, se levados em consi-deração os seus custos.

Além disso, os CLPs oferecem aos alunos dos cursos das áreas ligadas à Ci-ência da Computação a oportunidade de desenvolvimento de diversos trabalhos com características mais interdisicplinares, atra-vés de tecnologias capazes de trabalhar na interface de várias disciplinas dos cursos de graduação promovendo assim uma primei-ra oportunidade de integração.

Ressalta-se que os custos não se encontram, necessariamente, no hardware do dispositivo, mas inclusive no software que gerencia o mesmo, o qual muitas vezes apresenta um custo bastante superior ao do hardware.

Neste sentido, torna-se bastante atraente a ideia de se desenvolver um con-trolador que seja, simultaneamente, aces-sível em termos de seus custos e flexível em termos de suas aplicações. Para se al-cançar este objetivo, é interessante adotar como modelo uma estrutura modular, onde a um bloco fundamental (o controlador em si) são adicionados módulos com funções específicas conforme a necessidade do processo a ser controlado. Por exemplo, para o controle de um servomotor poderá ser utilizado um módulo diferente daquele que seria utilizado para o controle de um aquecedor. Assim, a necessidade de um determinado módulo não implica na aquisi-ção compulsória de outros.

A possibilidade de o sistema cole-

tar dados e, baseando-se nestas informa-ções, tomar decisões de controle gera um processo automatizado muito mais sofis-ticado que um mero sistema mecanizado cujo objetivo é realizar uma série de ações por repetidas vezes.

Sob o ponto de vista do software, pode-se adotar postura semelhante, consi-derando-se que rotinas específicas podem ser desenvolvidas para aplicações específi-cas. Esta postura certamente contribui para a redução do custo do software, pois:

• atende apenas às particulari-dades de uma determinada necessi-dade de controle;• reduz a probabilidade de ocorrência de bugs no software de-senvolvido;• reduz o tempo de criação do software e• contribui para a facilitar o aprendizado do uso do sistema de controle.

As seções seguintes apresentam de-talhes sobre a proposta deste artigo.

2. Definição do modelo para o controla-dor

Conforme indicado pela Figura 1, este controlador atua sobre um processo em regime de malha fechada. De acordo com esta Figura, o controlador pode atuar em modo “autônomo”, quando todo o pro-cesso de controle é realizado pelo mesmo, ou em modo “supervisionado”, quando o controle do processo é dividido entre o con-trolador e um computador. Como pode ser observado através da Figura 1, o controlador é capaz de co-letar informações (dados) provenientes das “variáveis de estado” do processo sob con-trole e atuar sobre este processo mediante a análise das instâncias destas variáveis.

CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA, D. J.

Page 59: ISSN 2236-0468

59Interciência & Sociedade

Nesta arquitetura, os módulos auxi-liares são os elementos que efetivamente coletam informações e atuam sobre o sis-tema. O módulo de controle, por sua vez, é capaz de receber informações dos módulos auxiliares de entrada, processá-las interna-mente e acionar os devidos módulos auxi-liares de saída, atuando diretamente sobre o controle do processo, caso este se encon-tre em modo “autônomo”. Caso o controla-dor encontre-se em modo “supervisionado”, este deverá repassar informações sobre o estado do processo para um computador externo, aguardando comandos deste com-putador para o acionamento dos módulos auxiliares adequados. A correta seleção entre os modos de operação “autônomo” ou “supervisionado” para o controle do processo é importante pois, considerando-se a relativa simplicida-de do controlador, em determinados casos o módulo de controle será incapaz de pro-cessar em tempo hábil um certo volume de informações de entrada. Neste caso, torna--se imprescindível a utilização de um com-putador externo de forma a não ser com-prometido o desempenho do processo a ser controlado.

3. Implementação do hardware do con-trolador

Seguindo a linha da flexibilidade de-sejada para o controlador, pode-se propor ao menos duas soluções simples, eficientes e de baixo custo para o Módulo de Contro-le. Caso o processo a ser controlado admita apenas variáveis digitais, ou caso a atuação sobre este necessite apenas de um controle por PWM (Pulse Width Modulation), um mi-crocontrolador apenas com entradas e saí-das digitais pode ser suficiente. A Figura 3 apresenta esta versão mais simples para o Módulo de Controle.

Tendo por base a proposta de utili-zação de uma estrutura modular, a arquite-tura do controlador pode ser esboçada de acordo com a Figura 2.

Figura 1. Representação do modo de atuação do controlador (elaborado pelos autores).

Figura 2. Estrutura modular proposta para o controlador (elaborado pelos autores).

Construção de um controlador digital de processos dinâmicos: possibilidades para educação tecnológica

Page 60: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade60

Figura 3. Módulo de controle exclusivamente digital (elaborado pelos autores).

Este circuito tem como elemento principal um microcontrolador PIC 16F628A (MICROCHIP TECHNOLOGY, 2009) com duas portas, sendo que a “Porta A”, de 5 bits, é utilizada como canal de comunicação entre este microcontrolador e um computa-dor, e a “Porta B”, de 8 bits, é utilizada como canal (digital) de comunicação entre o mi-crocontrolador e os módulos auxiliares. A “Porta A” não se comunica diretamente com um computador externo. Esta comuni-cação é realizada através de um circuito in-tegrado MAX232 (TEXAS INSTRUMENTS, 2002), o qual se conecta a uma porta serial padrão RS-232 do computador, tal que a comunicação microcontrolador / micropro-cessador possa ser efetivamente realizada.

Por sua vez, a “Porta B” do micro-controlador pode ser diretamente conectada a linhas digitais convencionais, importando ou exportando dados para os módulos au-xiliares. Na implementação apresentada, a “Porta B” encontra-se preparada para tam-bém atuar como geradora de sinais PWM para o acionamento de servomotores ade-quados. Conforme mencionado previamente, esta implementação não prevê o controle de sinais analógicos, o que a torna significa-tivamente limitada. De forma a compensar esta limitação, a Figura 4 apresenta uma implementação que prevê a utilização de sinais analógicos e digitais.

CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA, D. J.

Page 61: ISSN 2236-0468

61Interciência & Sociedade

Figura 4. Módulo de controle com capacidade analógica (elaborado pelos autores).

Esta implementação se fundamenta na utilização de um microcontrolador PIC 16F877A (MICROCHIP TECHNOLOGY, 2002), dotado de cinco portas, com capa-cidade de tratamento de sinais digitais e analógicos. Nesta arquitetura, além do mi-crocontrolador em si, há basicamente um circuito integrado MAX232, responsável pela comunicação do controlador com um computador externo, além de dois circuitos integrados reguladores de tensão. A “Porta A” do microcontrolador pode ser utilizada como via de entrada e saída digital, além de entrada analógica de dados. A “Porta B” foi concebida para forne-cer sinais PWM para servo-motores even-tualmente conectados ao controlador. Esta configuração pode ser revertida para o uso de sinais digitais ordinários sem necessi-dade de alteração no hardware da placa. A “Porta C” concentra o canal de comunica-ção do controlador com o computador ex-terno, através da interface RS-232. A “Por-ta D” foi concebida para operar em modo

puramente digital, podendo ser acionada de forma “bit-a-bit” ou como uma porta parale-la de oito bits. Finalmente a “Porta E” pode operar como entrada/saída digital, entrada de controle digital ou entrada analógica.

3.1. Módulos auxiliares

Conforme mencionado anteriormen-te, os módulos auxiliares são constituídos pelos elementos eletrônicos adicionais ne-cessários para que o módulo de contro-le possa interagir adequadamente com o processo sob controle do mesmo. Dada a proposta de arquitetura flexível, não há um número fixo e previsível de módulos para este projeto. Assim, os módulos devem ser criados em função das necessidades de controle de cada processo. A Figura 5 ilustra um possível módu-lo auxiliar de entrada, que pode ser utiliza-do como parte do mecanismo de monitora-mento da temperatura de um processo, por exemplo.

Construção de um controlador digital de processos dinâmicos: possibilidades para educação tecnológica

Page 62: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade62

Figura 5. Módulo auxiliar de entrada para verificação de temperatura (elaborado pelos autores).

Trata-se de um módulo bastante simples, baseado em um sensor de tempe-ratura LM35 (NATIONAL SEMICONDUC-TOR, 2000), acoplado a um amplificador operacional que promove um ganho no si-nal proveniente deste sensor e o entrega a uma das entradas analógicas do microcon-trolador. Como exemplo de um módulo au-xiliar de saída, podemos ter um driver de motor de passo, conforme apresentado na

Figura 6. Este módulo é composto exclusiva-mente por um circuito integrado ULN2003 (ST MICROELECTRONICS, 2007) que funciona como um driver para o motor de passo. O sinal digital proveniente do micro-controlador é amplificado pelo driver, sendo posteriormente entregue ao motor de pas-so. O controle da sequência de acionamen-to do motor (full step / half step) é gerado previamente pelo microcontrolador. Alguns dispositivos não necessitam de interfaces ou módulos auxiliares para se-rem acionados pelo controlador. É o caso, por exemplo, de pequenos servomotores, acionados por PWM, que podem ser conec-tados diretamente no módulo de controle. Neste caso, o acionamento de um ou mais servo motores exigirá que o microcontrola-dor seja devidamente programado e, tam-bém, que o módulo de controle opere em “modo supervisionado”. Em várias engenharias como de pro-dução e química estes processos são larga-mente empregados. O interfaceamento está presente no controle de reatores, linhas de alimentação, monitoramento, controladores de pressão, amostradores e linhas de des-carte. Algumas outras implementações interessantes para este tipo de controlador podem ser observadas em (IOVINE, 2004). A seção seguinte descreve como os ele-mentos de software se encaixam no contex-to deste controlador.

4. O software do controlador

O software do controlador pode ser dividido em duas partes:

1. um firmware, interno ao micro-controlador, que efetivamente receberá e enviará comandos aos módulos auxiliares, além de efetuar o controle do fluxo de in-formações entre o próprio con-trolador e um microcomputador e

2. uma “interface com o usuário”, caso o controlador venha a atuar em modo “supervisionado”, atra-vés da qual um “operador” des-ta interface poderá efetivamen-

Figura 6. Módulo auxiliar de saída para aciona-mento de um motor de passo (elaborado pelos autores).

CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA, D. J.

Page 63: ISSN 2236-0468

63Interciência & Sociedade

te atuar sobre o processo a ser controlado.

As subseções seguintes apresen-tam mais detalhes sobre o firmware e sobre a interface com o usuário.

4.1. O firmware do microcontrolador

O firmware que ficará embutido no microcontrolador deverá ser implementado de acordo com o modo de operação em que se pretende utilizar o controlador. Caso este deva funcionar em modo “autônomo”, todas as rotinas de tratamento do proces-so sob controle deverão ser previstas neste firmware, tornando o controlador indepen-dente de um computador externo. Ao con-trário, caso o controlador venha a atuar em modo “supervisionado”, o firmware deverá ser implementado de forma a encaminhar ao computador externo as devidas instân-cias das variáveis de controle do processo, recebendo deste os comandos exatos para a atuação sobre o processo, acionando os módulos auxiliares adequados. Como exemplo ilustrativo, conside-re o controlador apresentado na Figura 3, operando em modo supervisionado, sendo utilizado para controlar simultaneamente a posição de oito servomotores. Neste caso, o firmware deverá ser desenvolvido de forma a receber “coman-dos” provenientes da interface com o usu-ário, os quais indicarão as ações a serem executadas pelos servomotores acoplados ao controlador. Para tanto, o microcontrola-dor da interface de controle foi configurado tal que sua “Porta A” seja utilizada para a comunicação serial entre este e um micro-computador e sua “Porta B” seja utilizada para o acionamento dos servos. As instruções de comando deverão ser descritas sob a forma de um ou dois bytes, dependendo da ação a ser realiza-da. Normalmente, em uma instrução de dois bytes o primeiro indicará a ação a ser executada (“byte de comando”) e o segun-do será o parâmetro deste comando (por exemplo, o ângulo de rotação do servomo-tor). Um “byte de comando” é dividido em dois nibbles, sendo que os quatro bits mais significativos indicam o comando propria-mente dito e os quatro bits menos signifi-

cativos indicam o “canal” (servomotor) a ser acionado. O firmware reconhece os seguin-tes tipos de instrução:

• Reinicialização do dispositivo: todas as saídas são desligadas e os ser-vos são desabilitados (um byte).• Habilitação de servomotor: tor-na um determinado servomotor apto a receber comandos de posicionamento. O microcontrolador começa a gerar pul-sos para um dado servomotor (um byte).• Desabilitação de servomotor: torna um determinado servomotor inca-paz de receber comandos de posiciona-mento. O microcontrolador pára de gerar pulsos para um dado servomotos (um byte).• Ajuste de centro (offset) de ser-vomotor: determina a posição central de um determinado servomotor. A partir desta posição o servomotor poderá se deslocar de 45o para a direita ou para a esquerda (dois bytes).• Ajuste de posição de servomo-tor: determina a orientação do eixo do servomotor a partir do “ponto de offset” previamente ajustado (dois bytes).

O fluxograma seguinte indica o funcionamento básico do firmware do con-trolador nesta situação.

1. Desabilita todas as interrupções do microcontro-lador.2. Configura “Porta A” do microcontrolador como porta de I/O serial.3. Configura a “Porta B” do microcontrolador como porta de saída para os servomotores.4. Desabilita a recepção de dados mantendo a via CTS em nível alto.5. Transmite mensagem de “power on” para a inter-face com o usuário.6. Inicializa os servomotores.7. Habilita a interrupção de “Timer 0” do microcon-trolador.8. Inicializa o “timer” de 20ms (ciclo dos servomo-tores).9. Habilita a recepção de dados mantendo a via CTS em nível baixo.10. Captura um comando através da porta serial.11. Desabilita a recepção de dados e mantendo a via CTS em nível alto.12. Processa o comando recebido e atualiza o esta-do dos servomotores se necesário.13. Aguarda a conclusão do ciclo de 20ms e retorna a (8.).

Construção de um controlador digital de processos dinâmicos: possibilidades para educação tecnológica

Page 64: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade64

Pode ser notado que, além dos pa-râmetros de configuração do sistema, o fir-mware consiste em uma rotina que, a cada 20 ms (período de trabalho dos servomoto-res), faz uma leitura da porta serial em bus-ca de um comando e, com este, efetua, se necessário, a atualização dos servomotores conectados ao controlador. A programação e a verificação do fir-mware do microcontrolador poderá ser rea-lizada através de um sotware fornecido pelo próprio fabricante (MICROCHIP TECHNO-LOGY, 2009).

4.2. A interface com o usuário

Conforme mencionado, a interface com o usuário só tem sentido se o controla-dor atuar em modo “supervisionado”. Neste caso, de acordo com o exemplo inicialmen-te apresentado na seção anterior, a interfa-ce com o usuário tem por finalidade obter do “usuário” parâmetros para o devido posi-cionamento de cada um dos servomotores conectados ao controlador. Através da inter-

face o usuário pode:• Configurar a porta de comunica-

ção serial onde está conectado o controlador.

• Habilitar ou desabilitar cada um dos servomotores conectados aos controlador.

• Ajustar a posição central (offset) de cada servomotor.

• Ajustar a posição de cada servo-motor.

• Memorizar as posições do con-junto de servomotores (em arqui-vo).

• Executar “roteiros” que descre-vem um conjunto de “posições--alvo” para cada um dos servos.

• Ajustar a velocidade de transição de posições dos servomotores durante a execução de um rotei-ro.

A Figura 7 apresenta o aspecto da interface com o usuário.

Figura 7. Aspecto da interface com o usuário (elaborado pelos autores).

CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA, D. J.

Page 65: ISSN 2236-0468

65Interciência & Sociedade

Após carregar a interface o usuário deve, inicialmente, estabelecer a conexão da mesma com a placa de controle. Para tanto, ele deve ajustar os devidos parâme-tros da porta serial de conexão: número da porta, velocidade de transmissão / recep-ção, paridade, número de bits de dados e número de bits de parada. Após o ajuste desta configuração, pode-se iniciar a comu-nicação entre a interface e o controlador. O indicador “Connected” mostra que a cone-xão foi estabelecida com sucesso. Tendo sido estabelecida a conexão com a placa de controle, a partir deste ponto o usuário poderá ajustar e gravar a posição de cada um dos servomotores, criar um “roteiro” de movimento dos servos ou mesmo executar (“play” ou “soft play”) um roteiro previamen-te armazenado. Como pode ser observado, o ajuste dos servomotores pode ser realiza-do individualmente. Previamente à execu-ção de um roteiro de posicionamento dos servos, o parâmetro “Resolution” deve ser ajustado para que o movimento dos servos ocorra da forma desejada.

5. O controlador e suas possibilidades educativas

No âmbito de um curso de gra-duação em Ciência da Computação, este controlador permite o desenvolvimento de trabalhos de iniciação científica com ca-racterísticas interdiciplinares. Por exemplo, a partir dos circuitos apresentados, pode--se projetar uma estação meteorológica de baixo custo que permita realizar o monito-ramento de variáveis ambientais tais como temperatura, pressão atmosférica, humi-dade relativa do ar, etc. Ou ainda medidas de parâmetros indicativos da qualidade da água em rios como o pH e intensidade da radiação ultravioleta solar. Tais dados po-dem ser tomados diariamente ao longo de um semestre inteiro gerando um banco de dados que, por exemplo, pode ser usado nas aulas de estatística do curso de enge-nharia ambiental e mesmo, disponibilizados para as escolas que estão na mesma região geográfica da faculdade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este texto apresentou uma propos-ta para implementação de um controlador programável, flexível e de baixo custo, que pode ser facilmente adaptado para o contro-le de diversos tipos de processos. O protó-tipo mostrado na Figura 8 consiste em uma implementação de baixíssimo custo (inferior a U$30.00) do circuito apresentado na Figu-ra 3, sendo capaz de controlar de forma efi-ciente oito servomotores simultaneamente.

Figura 8: Foto de uma placa de controle (ela-borado pelos autores).

A arquitetura modular permite que sejam implementados apenas os módulos realmente necessários para o controle de determinados sistemas, o que pode vir a reduzir significativamente os custos e o pró-prio tempo de desenvolvimento do controla-dor, tanto no nível do hardware, quanto do software. Da mesma forma, a possibilidade de operação nos modos “autônomo” ou “su-pervisionado” contribui para a simplificação e flexibilização do seu uso. Um ponto a ser atacado futuramen-te, na sequência deste projeto, consiste na necessidade de tornar este controlador operável de forma remota, por exemplo, através de uma conexão por rádio-frequên-cia ou mesmo através do acionamento via internet.

Construção de um controlador digital de processos dinâmicos: possibilidades para educação tecnológica

Page 66: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade66

Tomando como norte estas diretri-zes e pensando na utilização deste contro-lador em atividades práticas de ensino, o desenvolvimento de um projeto deste tipo, além de permitir que os alunos de gradua-ção revejam e implementem uma boa parte dos conceitos teóricos de algumas disci-plinas específicas do curso de Ciência da Computação, também permite que estes estudantes formem uma visão mais ampla das implicações sociais a respeito do uso da tecnologia na qual estão envolvidos. Vale também notar que com o do-mínio da tecnologia e sua aplicação natu-ralmente cria-se a expectativa do aperfei-çoamento dos modelos empregados e a geração de novas linhas de pesquisa. Esta conseqüência é importante, pois permite que empresas da região automatizem seus processos e que novos canais com o meio acadêmico sejam gerados para o desenvol-vimento de novas tecnologias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

IOVINE, J. PIC Robotics: A Beginner’s Guide to Ro-botics Projects Using the PICmicro. Mc-Graw-Hill, 2004. ISBN: 0-07-139455-9.

MICROCHIP TECHNOLOGY INC.; PIC 16F87XA Data Sheet; 2002.

MICROCHIP TECHNOLOGY INC.; MPLAB IDE Qui-ck Start Guide; 2007.

MICROCHIP TECHNOLOGY INC.; PIC 16F627A/628A/648A Data Sheet; 2009.

NATIONAL SEMICONDUCTOR INC.; Precision Cen-tigrade Temperature Sensors; 2000.

ST MICROELECTRONICS GROUP; Seven Darling-ton Array; 2007.

TEXAS INSTRUMENTS INC.; Dual EIA-232 Drivers/Receivers; 2002.

José Tarcísio Franco de Camargo é graduado em Engenharia Elétrica (UNICAMP – 1989), possui mestrado em Engenharia Elétrica na área de Eletrônica e Telecomunicações (UNICAMP – 1992) e doutorado em Engenharia Elétrica na área de Computação e Automação (UNICAMP – 1995). Atua como professor universitário desde 1990, sendo atualmente professor e coordenador de cursos na Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (Mogi Guaçu – SP) e no Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (Espírito Santo do Pinhal – SP). Seus interesses de pesquisa abrangem as áreas de controle e automação e computação gráfica, aplicados ao ensino de engenharia.

Jomar Barros Filho é graduado em Física (Unicamp – 1997), mestre em Educação na área de Metodologia de Ensino (Unicamp – 1999) e doutor em Educação na área de Educação, Ciência e Tecnologia (Unicamp - 2002). Professor universitário desde 2001, ministra disciplinas das áeras de física e matemática em cursos de engenha-ria. Como pesquisador publica nas áreas de ensino de engenharia e de tecnologia, avaliação da aprendizagem e formação de professores.

João Alexandre Bortoloti é graduado em Química (Unicamp – 1998), Mestre em Físico-Química (Unicamp – 2001) e Doutorado em Ciências (Unicamp – 2006). Atua como professor universitário desde 2002 em disciplinas da área de Química, Estatística e Matemática em cursos de engenharia. Como pesquisador publica nas áreas de Química Analítica, Quimiometria, ensino de Engenharia e Tecnologia.

Estéfano Vizconde Veraszto possui graduação em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e é Mestre e Doutor em Educação, Ciência e Tecnologia pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui estágio doutoral no exterior na Facultada de Ciencias de la Información da Univer-sidad Complutense de Madrid (UCM). Atualmente é diretor e professor da Faculdade Municipal “Prof. Franco Mon-toro”, pesquisador do Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, pesquisador colaborador da Universidad Nacional de Educación a Distáncia (UNED/España), pesquisador colaborador da Facultad de Ciencias de la Información da Universidad Complutense de Madrid e docente da Instituição de Ensino São Francisco (IESF).

Daltamir Justino Maia é graduado em Química (Unicamp – 1991), Mestre em Química Inorgânica (Unicamp – 1993) e Doutorado em Ciências (Unicamp – 1999). Atua como professor Titular na Faculdade Comunitária de Campinas (FAC III), lecionando as disciplinas Química Geral e de Materiais metálicos para Engenharia. Além dis-so, é autor de livros didáticos na área de Química: Livro texto aprovado no PNLEM 2008 – Universo da Química.

CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA, D. J.

Page 67: ISSN 2236-0468

67Interciência & Sociedade

CONCESSÃO DE CRÉDITO E MODELAÇÃODA TOMADA DE DECISÃO

RESUMO: A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) se tornou obrigatória no Brasil com a criação da Lei 11.638/2007 e, desde então, todos os profissionais que fazem parte do ambiente empresarial precisaram conhecer essa demonstração e saber interpretar os seus resultados. Com o presente estu-do, procurou-se através de uma pesquisa bibliográfica abordar os conceitos e a estrutura da DFC e, ao final, apresentar a resolução passo-a-passo de um exemplo prático para demonstrar as suas técnicas de elaboração.PALAVRAS-CHAVE: Fluxo de Caixa, Contabilidade, Finanças, Demonstração.

COSTA, Rodrigo Simão daCentro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB)

[email protected]

ABSTRACT: The Statement of Cash Flows (CFD) became mandatory in Brazil with the creation of Law 11638/2007, and since then, all professionals who are part of the business environment needed to go through this demonstration and to interpret their results. In fact, the control box has always been practi-ced by companies, but the CFD brought a standardization to that tool. As the present study, we sought through a literature search addressing the concepts and structure of the CFD and at the final table the resolution step by step in a practical example to demonstrate their techniques of manufacture.KEYWORDS: Cash Flow, Accounting, Finance, Demo.

1. INTRODUÇÃO

No atual mundo competitivo e glo-balizado, cada vez mais se torna necessária a utilização de ferramentas que garantam a sobrevivência das empresas no mercado.

Com a criação da Lei 11.638, em 28 de Dezembro de 2007, a Contabilidade bra-sileira passou a ser convertida nos moldes do padrão internacional, isto é, das IFRS – International Financial Reporting Standards e, somada ao intenso processo de informa-tização do sistema de fiscalização, tornou a Contabilidade, mais do que nunca, peça chave para a sobrevivência das empresas.

Uma das novidades apresentada por essa lei foi a obrigatoriedade da De-monstração dos Fluxos de Caixa (DFC), em substituição à antiga DOAR – Demonstra-ção das Origens e Aplicações de Recursos.

Mesmo antes da aprovação da lei, o IBRACON (Instituto dos Auditores Inde-pendentes do Brasil), pela NPC 20, de abril de 1999, e a CVM (Comissão de Valores

Mobiliários), já recomendavam a apresenta-ção da DFC como informação complemen-tar. (FIPECAFI, 2010, p.565).

Salotti e Yamamoto (2008, p.48) elaboraram uma pesquisa onde constata-ram que as companhias abertas que nego-ciam suas ações na BOVESPA, divulgavam a DFC de forma voluntária antes da adoção da Lei 11.638/2007 porque já a divulgavam em período anterior e também porque dão mais importância às percepções dos seus outsiders (usuários externos).

Nem todas as empresas estão obrigadas a apresentar a DFC, por exem-plo, ficam dispensadas as sociedades anô-nimas de capital fechado com patrimônio líquido reduzido (inferior a R$ 2.000.000,00 na data do balanço) e as sociedades limi-tadas de pequeno e médio porte (as que possuem ativo total igual ou inferior a R$ 240.000.000,00 ou receita bruta anual igual ou inferior a R$ 300.000.000,00).

A utilização da DFC pode propor-cionar todo um gerenciamento do caixa,

Page 68: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade68

onde as empresas podem identificar os pe-ríodos de sobra e escassez de recursos. Sobre esse aspecto, Marion (2009, p.446) diz que “por meio do planejamento finan-ceiro o gerente saberá o montante certo em que contrairá empréstimos para cobrir a falta (insuficiência) de fundos, bem como quando aplicar no mercado financeiro o ex-cesso de dinheiro, evitando, assim, a cor-rosão inflacionária e proporcionando maior rendimento à empresa”.

O objetivo desse artigo é apresen-tar os conceitos de caixa e a estrutura da DFC, elaborando-se um exemplo prático no final. Pretende-se demonstrar uma linha de raciocínio para acompanhar o passo-a-pas-so da elaboração de uma DFC.

Como metodologia, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para se identifi-car os conceitos utilizados na DFC nos mais recentes materiais publicados sobre o as-sunto e através de sua conclusão, espera--se contribuir para um melhor entendimento sobre essa tão importante demonstração contábil, e que o material sirva para poste-riores estudos.

2. A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

O objetivo da DFC é evidenciar as variações ocorridas no disponível das em-presas entre um determinado período de tempo. Observe que apesar do nome “flu-xos de caixa”, farão parte dessa demonstra-ção todas as contas do grupo do disponível, isto é, caixa, bancos e aplicações de liqui-dez imediata (como a caderneta de poupan-ça, por exemplo).

Segundo a FIPECAFI (2010, p.565) “o objetivo primário da Demonstra-ção dos Fluxos de Caixa (DFC) é prover in-formações relevantes sobre os pagamentos e recebimentos, em dinheiro, de uma em-presa, ocorridos durante um determinado período”.

O conceito trabalhado na DFC é o regime de caixa onde se evidencia o que realmente entrou e o que realmente saiu de recursos no disponível das empresas.

As informações históricas do flu-xo de caixa são extremamente importantes para o planejamento futuro de qualquer em-

presa, onde através de projeções, é possí-vel construir cenários e se antecipar na exe-cução das ações.

Os resultados da DFC também são importantes para auditar as informações contábeis na busca por erros e possíveis fraudes contábeis, conforme comentado por Lamas e Gregório (2009, p.101) e Ma-rion (2009, p.446).

Serão alvos da DFC todos os re-cebimentos, ou entradas, e pagamentos, ou saídas, de caixa (ou disponível). Quando uma operação representar uma entrada de caixa, deverá ser somada na demonstração e, quando representar uma saída, deverá ser subtraída na demonstração.

No próximo capítulo, serão aborda-das a estrutura e as formas de apresenta-ção da DFC.

3. Estrutura e Formas de Apresentação da DFC

A elaboração de um fluxo de cai-xa pode ser feita de várias maneiras, pois cada pessoa ou empresa poderia realizar o controle dos recebimentos e pagamentos de caixa conforme seus próprios entendi-mentos.

Porém, segundo Lamas e Gregó-rio (2009), ao se elaborar uma DFC estru-turada em normas, é possível comparar o desempenho operacional entre diferentes empresas, uma vez que elimina os efeitos desiguais dos possíveis tratamentos contá-beis.

Em razão dessa necessidade de uniformização das demonstrações contá-beis, torna-se necessário que algumas re-gras sejam respeitadas na elaboração da DFC.

A norma contábil responsável por esta normatização no Brasil é o Pronuncia-mento Técnico CPC 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa. Esse pronunciamento determina a estruturação da DFC em três atividades: operacionais, de investimentos e de financiamentos.

As atividades operacionais se refe-rem ao montante dos recursos que a em-presa gerou através de sua atividade-fim. Farão parte dessas atividades os elemen-tos relacionados com a DRE (Demonstra-

COSTA, R. S. da

Page 69: ISSN 2236-0468

69Interciência & Sociedade

ção do Resultado do Exercício). As contas pertencentes ao Balanço Patrimonial, mas que foram originadas de transações ligadas às receitas, custos e despesas, também deverão ser consideradas, por exemplo: as contas a receber (relacionadas com as vendas a prazo), os estoques (relacionados com os custos), os fornecedores (relaciona-dos com as compras a prazo) e as contas a pagar (relacionadas com as despesas).

Segundo a FIPECAFI (2010, p.567), as atividades operacionais “envol-vem todas as atividades relacionadas com a produção e entrega de bens e serviços e os eventos que não sejam definidos como atividades de investimento e financiamen-to”.

Como exemplos de atividades ope-racionais, poderão ser classificadas como entradas as vendas à vista, o recebimento de clientes e o recebimento de juros, e como saídas, o pagamento de fornecedores, o pagamento de impostos e o pagamento de despesas diversas.

As atividades de investimento se referem às transações onde a empresa uti-lizou as sobras de caixa e aplicou, investiu recursos visando um benefício futuro.

Dessa forma, quando há recur-so disponível que possa ser investido pela empresa, ela pode emprestá-lo para tercei-ros ou investi-lo na compra de ativos fixos classificados como investimentos, imobili-zado ou intangíveis no Balanço Patrimonial. Quando a empresa adquiri um determinado ativo fixo, isso representará uma saída de caixa e, quando vende algum desses ati-vos, representará uma entrada de caixa.

Na IAS 7, a importância da divulga-ção separada de fluxos de caixa de ativida-des de investimentos é destacada, onde diz ser “importante porque os fluxos de caixa representam a extensão dos gastos efetua-dos com recursos destinados a gerar recei-ta e fluxos de caixa futuros” (IASCF, 2008, p.862).

Farão parte das atividades de in-vestimentos todas as transações relaciona-das com o ativo não circulante do Balanço Patrimonial. Como exemplos de entradas têm-se as vendas de investimentos, as vendas de imobilizado e o recebimento de empréstimos, e como exemplos de saídas,

têm-se as aquisições de investimentos, de imobilizado e de ativos intangíveis.

Já as atividades de financiamento, ao contrário das atividades de investimento, referem-se às transações onde a empresa toma recursos emprestados, geralmente, quando há uma escassez de caixa.

Os recursos podem ser captados tanto de terceiros, quanto dos próprios pro-prietários ou sócios das empresas.

Farão parte das atividades de financiamento todos os elementos rela-cionados com o exigível a longo prazo, o patrimônio líquido e os financiamentos e empréstimos de curto prazo, localizados no passivo circulante, todos localizados no Ba-lanço Patrimonial.

Para as atividades de financia-mento, podem-se citar como exemplos de entradas de recursos, os aumentos de capital, as emissões de novas ações e os empréstimos e financiamentos tomados, e como exemplos de saídas, os pagamentos de dividendos, as recompras de ações da empresa e os pagamentos de empréstimos e financiamentos.

Algumas transações podem não ser percebidas somente pelas informações do Balanço Patrimonial e da DRE, necessi-tando da utilização de uma outra demons-tração contábil, como a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido.

O resultado final da DFC será a soma algébrica dos resultados líquidos de cada uma das atividades, que deverá ser conciliada com a diferença entre os saldos respectivos das disponibilidades, isto é, en-tre o início e o fim do período considerado (FIPECAFI, 2010, p.573).

Lustosa e Santos (2004) dizem que essa classificação em três atividades é muito útil em termos informativos, mas também existem alguns aspectos polêmi-cos que devem ser melhor estudados para algumas transações financeiras, por exem-plo, as reservas de capital.

Algumas situações podem apre-sentar transações onde os fluxos de caixa serão classificados em mais de uma ativi-dade, por exemplo, quando há um desem-bolso de caixa para pagamento de emprés-timo, onde os juros podem ser classificados como atividade operacional e o valor do

Concessão de crédito e modelação da tomada de decisão

Page 70: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade70

principal deve ser classificado como ativida-de de financiamento (BRASIL2, 2008).

Existem ainda algumas operações que não deverão fazer parte da DFC, pelo fato de não afetarem o caixa, por exemplo, as depreciações, as provisões, os ganhos e perdas de equivalência patrimonial, entre outros.

Também podem acontecer transa-ções de investimento e financiamento sem efeito no caixa, como por exemplo, as dí-vidas convertidas em aumento de capital, mas essas, devem ser evidenciadas em notas explicativas (FIPECAFI, 2010, p.569).

A DFC pode ser elaborada se-

gundo dois métodos, o direito e o indireto. A diferença entre eles está nas atividades operacionais.

No método direto as atividades operacionais são elaboradas utilizando os reais recebimentos de clientes, pagamen-tos de fornecedores e pagamentos de des-pesas.

Segundo a FIPECAFI (2010, p.573), “o método direto explicita as entra-das e saídas brutas de dinheiro dos princi-pais componentes das atividades operacio-nais, como os recebimentos pelas vendas de produtos e serviços e os pagamentos a fornecedores e empregados”.

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO FINDO EM 31/12/X2 (em R$)

BALANÇO PATRIMONIAL – EMPRESA ALFA

ATIVO (em R$) PASSIVO (em R$)

Circulante Disponível Dupl. a receber Estoques

Total Circulante

Não Circulante Investimentos Part.outras cias

Imobilizado Móveis e utensílios (-) Depr. acum. Terrenos

Total Não-Circul.

31/12/X1 31/12/X2

Circulante Fornecedores Empr. bancários I.R. a recolher

Total Circulante

Patrimônio LíquidoCapital socialLucros retidosTotal do P.L.

31/12/X1 31/12/X2

1.500500

1.000

3.000

500500

1.200(200)2.0003.000

3.500

2.3001.0001.500

4.800

2.6402.640

1.500(320)3.0004.180

6.820

1.0001.000

-

2.000

4.500-

4.500

2.0001.4701.050

4.520

6.0001.1007.100

Total 6.500 11.620 Total 6.500 11.620

COSTA, R. S. da

Page 71: ISSN 2236-0468

71Interciência & Sociedade

O primeiro método a ser elabora-do será o método direto. Para se iniciar a DFC, primeiramente é preciso conhecer a variação do disponível. O valor encontrado é de R$ 800,00, obtido pela diferença do disponível entre os dois períodos, ou seja, R$ 2.300,00 menos R$ 1.500,00.

Uma vez encontrada a variação do disponível, o próximo passo é elaborar as atividades operacionais, as quais possuem, basicamente, três elementos: recebimento de clientes, pagamento de fornecedores e pagamento de despesas.

Para se encontrar o valor que foi realmente recebido dos clientes é preciso realizar um pensamento lógico, consideran-do todas as vendas como sendo a prazo. Isso porque não é possível identificar de forma direta qual seriam os valores à vis-ta e a prazo, pelo fato da Contabilidade ser elaborada por regime de competência, ou seja, os fatos contábeis são contabilizados independentemente do seu recebimento ou pagamento.

No ano de X1, a empresa tinha para receber R$ 500,00 (duplicatas a re-

ceber – ativo) e vendeu em X2 mais R$ 10.000,00 (receitas brutas – DRE), tendo para receber, portanto, um montante de R$ 10.500,00. Como o valor a receber no ano de X2 é de R$ 1.000,00 (duplicatas a rece-ber – ativo), significa dizer que a empresa recebeu a diferença, isto é, R$ 9.500.00 de seus clientes.

Depois de encontrado o valor do recebimento dos clientes, é preciso calcu-lar o valor do pagamento das compras. O raciocínio é bem semelhante ao utilizado no recebimento dos clientes, com a única dife-rença, que para se encontrar o valor dos pa-gamentos dos fornecedores, primeiramente é preciso encontrar o valor das compras, o qual está embutido no valor do CMV na DRE.

O procedimento é utilizar a fórmula do CMV e substituir os valores que podem ser encontrados nas demonstrações contá-beis. A fórmula está descrita abaixo, já com os valores rastreados do Balanço Patrimo-nial e da DRE:

DEMONSTR. DAS MUTAÇÕES DO PATRIM. LÍQUIDO FINDO EM 31/12/X2 (em R$)

Receita Bruta 10.000

(-) CMV (5.500)Lucro Bruto 4.500(-)Despesa Operacional Desp.Vendas (500) Desp. Administração (380) Desp.c/Depreciação (120) Outras Despesas (500) 1.500Lucro Antes Impostos 3.000(-) Provisão p/ I.R. (1.050)Lucro Líquido 1.950

Movimentações Capital Social L. Retidos TotalSaldo Inicial em 31/12/X1 4.500 - 4.500Aumento de capital 1.500 1.500Lucro Líquido 1.950 1.950Distribuição Dividendos (850) (850)Saldo final em 31/12/X2 6.000 1.100 7.100

Concessão de crédito e modelação da tomada de decisão

Page 72: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade72

Encontrado o valor das compras, deve-se também considerá-lo como sen-do todo a prazo. O raciocínio é o seguinte: Se a empresa devia ao seu fornecedor R$ 1.000,00 (passivo circulante) em X1, e com-prou a prazo em X2 mais R$ 6.000,00, teria que pagar um montante de R$ 7.000,00 a ele, mas como aparece no saldo da conta de fornecedores em X2 apenas R$ 2.000,00, significa dizer que a empresa realmente pa-gou aos seus fornecedores a diferença, ou seja, R$ 5.000,00.

Em relação ao pagamento das despesas, é preciso relacionar as despesas da DRE com as contas do passivo. Caso uma determinada despesa conste na DRE e também conste, no mesmo valor, no pas-sivo, significa que a mesma ainda não foi paga, não havendo a necessidade de evi-denciá-la na DFC e, caso ocorra o contrário, deverá ser evidenciada.

As despesas constantes na DRE são as de vendas, administração, com de-preciação, outras despesas e provisão p/ I.R.

É possível verificar que além das despesas operacionais, também foi incluí-da a provisão para imposto de renda, pois também se trata de uma despesa, porém classificada de uma outra forma.

Dentre as despesas elencadas na DRE, a única conta que não deverá fazer parte da DRE é a com depreciação, pelo fato de não afetar o caixa (não representar um desembolso).

Fazendo a relação com as contas de passivo, não é possível verificar nenhu-ma conta intitulada “contas a pagar” ou al-guma coisa parecida, o que demonstra que todas essas contas foram realmente pagas pela empresa, com exceção da provisão para imposto de renda, pois aparece a conta de “I.R. a recolher”, cujo valor é exatamente o demonstrado na DRE, o que significa que tal imposto ainda não foi pago.

Dessa forma, somente serão con-

sideradas pagas as despesas com vendas, administração e outras despesas, cujo mon-tante soma R$ 1.380,00.

Utilizando os valores dos recebi-mentos dos clientes, pagamento dos for-necedores e pagamento das despesas, as atividades operacionais totalizam, portanto, R$ 3.120,00.

Encerradas as atividades opera-cionais, o próximo passo é elaborar as ativi-dades de investimentos, onde serão utiliza-dos os grupos do ativo não circulante, com exceção do ativo realizável a longo prazo, onde será utilizado apenas quando tiver va-lores relacionados com as vendas de mer-cadorias a longo prazo.

Na empresa ALFA, todas as contas do ativo não-circulante tiveram uma varia-ção positiva (aumento), devendo ser con-sideradas como aquisições da empresa e saídas de caixa na DFC. A única conta que não será utilizada é a da depreciação acu-mulada, pois não afeta o caixa. Aliás, pode--se verificar que a diferença entre os saldos dessa conta é de R$ 120,00, exatamente o mesmo valor evidenciado na DRE na conta de despesas com depreciação.

Considerando as variações das contas do ativo não-circulante, com exce-ção da depreciação acumulada, as ativida-des de investimento totalizam um montante de R$ 3.440,00 que deve ser subtraído na DFC por representar uma saída de caixa.

As últimas atividades a serem en-contradas são as de financiamento, as quais se referem aos grupos do exigível a longo prazo, patrimônio líquido e os empréstimos e financiamentos do passivo circulante.

Observando o grupo do passivo circulante, percebe-se que existe uma con-ta de empréstimos bancários, a qual apre-senta uma variação positiva de R$ 470,00. Isso quer dizer que a empresa necessitou captar recursos e pegou mais essa quantia dos bancos, representando assim, uma en-trada de caixa na DFC.

CMV = ESTOQUE INICIAL + COMPRAS – ESTOQUE FINALR$ 5.500,00 = R$ 1.000,00 + COMPRAS – R$ 1.500,00

COMPRAS = R$ 6.000,00

COSTA, R. S. da

Page 73: ISSN 2236-0468

73Interciência & Sociedade

Já no patrimônio líquido, a conta capital social também sofreu uma variação positiva de R$ 1.500,00, representando as-sim, um aumento de capital realizado pelos sócios e uma entrada de caixa na DFC.

A outra conta é a de lucros reti-dos que em X1 não possuía saldo e em X2 passou a ficar com R$ 1.100,00. Como não tinha nada e agora tem um saldo, suben-tende-se tratar do lucro líquido do exercício que foi transportado para essa conta, po-rém, o valor do lucro líquido demonstrado na DRE é de R$ 1.950,00. A diferença é de R$ 850,00 e se justifica pela retirada desse valor da conta lucros retidos para a consti-tuição de dividendos (localizada no passivo circulante), que está discriminada na De-monstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Como os dividendos não apare-cem no passivo circulante, entende-se que os mesmos foram pagos pela empresa e, portanto, devem ser evidenciados na DFC

como uma saída de caixa. As variações na conta de lucros

retidos não devem ser utilizadas na DFC, pois, na verdade, as transações que afeta-ram o seu resultado já foram contempladas pelas atividades quando foram utilizados os valores relacionados com a DRE.

Considerando as variações dos empréstimos de curto prazo, do capital so-cial e o valor dos dividendos, as atividades de financiamento totalizaram R$ 1.120,00, uma vez que os valores das aquisições de empréstimos de curto prazo e aumento de capital foram somados e o pagamento de dividendos foi subtraído.

Para se elaborar a DFC, basta so-mar as três atividades e verificar se o resul-tado é o mesmo identificado pela variação do disponível, no caso, R$ 800,00. A DFC pelo método direto fica estruturada da se-guinte forma:

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXADA EMPRESA ALFA

MÉTODO DIRETO

ATIVIDADES OPERACIONAISRecebimento de clientes 9.500,00R$ Pagamento de fornecedor (5.000,00)R$ Pagamento de despesas (1.380,00)R$ Caixa líquido atividades operacionais 3.120,00R$

ATIVIDADES DE INVESTIMENTOAquisição de Ações (Part.Outras Cias) (2.140,00)R$ Aquisição de Móveis e Utensílios (300,00)R$ Aquisição de Terrenos (1.000,00)R$ Caixa líquido atividades de investimento (3.440,00)R$

ATIVIDADES DE FINANCIAMENTOAquisição empréstimos curto prazo 470,00R$ Aumento de capital 1.500,00R$ Pagamento de dividendos (850,00)R$ Caixa líquido atividades de financiamento 1.120,00R$

Variação de Caixa e Equivalentes 800,00R$ Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes 1.500,00R$ Saldo Final de Caixa e Equivalentes 2.300,00R$

Concessão de crédito e modelação da tomada de decisão

Page 74: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade74

Para se elaborar a DFC pelo méto-do indireto, a diferença está nas atividades operacionais. Ao invés de apresentarem os reais recebimentos de clientes e paga-mentos de fornecedores e despesas, serão elaboradas ajustando-se o lucro líquido e considerando as variações das contas pa-trimoniais relacionadas com a DRE. As ati-vidades de investimento e de financiamento serão idênticas às do método direto.

A primeira coisa a se fazer no mé-todo indireto é verificar o valor do lucro líqui-do na DRE, no caso, R$ 1.950,00. Nesse valor, é necessário fazer alguns ajustes re-ferentes às contas que não afetam o caixa. Na DRE da empresa ALFA, a única conta que não afeta o caixa é a despesa com de-preciação, no valor de R$ 120,00.

Para eliminar o seu efeito sobre o lucro líquido, é preciso inverter o seu sinal na DFC, isto é, se na DRE a despesa com depreciação foi subtraída, na DFC ela será somada. Caso existam outras contas que também não afetem o caixa, é preciso que se faça o mesmo procedimento na DFC.

Feitos os ajustes no lucro líquido, é preciso verificar as variações nas contas patrimoniais relacionadas com a DRE. Es-sas variações serão favoráveis (aumento) ou desfavoráveis (diminuição) para o caixa, utilizando-se conta por conta do Balanço Patrimonial.

No ativo, a primeira conta é a do disponível e já foi utilizada para verificar a variação de quanto tem que dar a DFC.

A próxima conta é duplicatas a re-ceber e ela tem relacionamento com a DRE, pois se origina das vendas a prazo. A va-riação de X1 para X2 é um aumento de R$ 500,00, e é desfavorável para o caixa, ao passo que a empresa abriu mão de parte de suas vendas à vista para recebê-las em um momento futuro, e representará uma saída de caixa.

Logo após, tem-se a conta dos estoques que também está relacionada com a DRE, pois se origina das compras

de mercadorias. A variação foi positiva em R$ 500,00, e também é desfavorável para o caixa, uma vez que a empresa, para au-mentar seus estoques, precisou tirar dinhei-ro do caixa.

As outras contas do ativo não pos-suem relação direta com a DRE e não farão parte das atividades operacionais, pois já foram utilizadas na atividade de investimen-to.

No passivo, a primeira conta é fornecedores que está relacionada com a DRE, pois é originada pela compras a pra-zo de mercadorias. Ela traz um aumento de X1 para X2 no valor de R$ 1.000,00, sendo favorável para o caixa e representará uma entrada na DFC, ao passo que a empresa está, de certa forma, postergando um pa-gamento.

A próxima conta é a de emprésti-mos bancários, e essa não tem relação di-reta com a DRE, pois pertence às ativida-des de financiamento.

Já a conta de imposto de renda a recolher possui relacionamento direto com a DRE, pois recebe os valores da provi-são de imposto de renda. A variação de X1 para X2 dessa conta foi um aumento de R$ 1.050,00 e também significa uma entrada na DFC, pois é favorável para o caixa, isto é, uma postergação de pagamento do seu imposto de renda.

As outras duas contas do passivo não se referem às atividades operacionais, pois a conta capital social pertence às ativi-dades de financiamento e a conta de lucros retidos já foi computada, pois é composta pelo lucro da DRE que já foi considerado na DFC.

O resultado encontrado deve ser o mesmo do método direto, ou seja, R$ 3.120,00, pois se trata do mesmo caixa, da mesma empresa, só que elaborado de uma outra forma.

Portanto, a DFC elaborada pelo método indireto fica representada dessa forma:

COSTA, R. S. da

Page 75: ISSN 2236-0468

75Interciência & Sociedade

O método indireto é o mais utiliza-do pelas empresas, pois sua elaboração é mais simples, mas, é o método direto o pre-ferido para a tomada de decisão, uma vez que para os usuários seria muito mais in-teressante conhecer os reais recebimentos de clientes e os pagamentos de fornecedo-res e de despesas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O controle do fluxo de caixa sem-pre foi e ainda é amplamente utilizado por

qualquer tipo de pessoa ou negócio, pois o gerenciamento das entradas e saídas de caixa é a base para todo planejamento e posterior tomada de decisão.

Para que seja possível a compa-ração entre a posição financeira dos re-cursos de caixa das empresas, foi criada a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), que no Brasil, passou a ser exigida como demonstração contábil obrigatória com a criação da Lei 11.638/2007, embora já fos-se evidenciada como informação comple-mentar pelas instruções do IBRACON.

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXADA EMPRESA ALFA

MÉTODO INDIRETO

ATIVIDADES OPERACIONAISLucro Líquido 1.950,00R$ (+/-) AjustesDepreciação 120,00R$ Variações nos Ativos e Passivos Variação em duplicatas a receber (500,00)R$ Variação em estoques (500,00)R$ Variação em fornecedores 1.000,00R$ Variação em imposto de renda a recolher 1.050,00R$ Caixa líquido atividades operacionais 3.120,00R$

ATIVIDADES DE INVESTIMENTOAquisição de Ações (Part.Outras Cias) (2.140,00)R$ Aquisição de Móveis e Utensílios (300,00)R$ Aquisição de Terrenos (1.000,00)R$ Caixa líquido atividades de investimento (3.440,00)R$

ATIVIDADES DE FINANCIAMENTOAquisição empréstimos curto prazo 470,00R$ Aumento de capital 1.500,00R$ Pagamento de dividendos (850,00)R$ Caixa líquido atividades de financiamento 1.120,00R$

Variação de Caixa e Equivalentes 800,00R$ Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes 1.500,00R$ Saldo Final de Caixa e Equivalentes 2.300,00R$

Concessão de crédito e modelação da tomada de decisão

Page 76: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade76

A segregação da DFC em ativi-dades operacionais, de investimento e de financiamento torna possível uma melhor análise da composição da variação de cai-xa.

Para se elaborar a DFC é preciso seguir algumas técnicas que utilizam as in-formações de outras demonstrações con-tábeis, como o Balanço Patrimonial, a De-monstração do Resultado do Exercício e a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido.

Com a realização dessa pesquisa, procurou-se elaborar uma DFC explicando cada passo e relacionando cada conta com sua origem nas demonstrações contábeis.

Esse tipo de estudo torna-se impor-tante não só para os profissionais relacio-nados com a Contabilidade das empresas, mas para todas as pessoas que estejam re-lacionadas com o ambiente de negócios no qual a empresa esteja inserida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei n. 11.638, de 27 de dezembro de 2007. Altera os arts. 176 a 179, 181 a 184, 187, 188, 197, 199, 226 e 248 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 dez.2007.

BRASIL2. Pronunciamento Técnico CPC 03. De-monstração dos Fluxos de Caixa. Ata CPC, Brasília, DF, 13 jun.2008.

FIPECAFI. Manual de Contabilidade Societária. São Paulo: Atlas, 2010.

IASCF INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDAR-DS COMMITTEE FOUNDATION. Normas Interna-cionais de Relatório Financeiro (IFRSs). Incluindo Normas Internacionais de Contabilidade (IASs) e Interpretações , aprovadas em 1º de Janeiro de 2008. Volume 1. IASCF – International Accounting Standards Committee Foundation e IBRACON – Ins-tituto dos Auditores Independentes do Brasil, 2008

LAMAS, F. R.; GREGÓRIO, A. A. Demonstração dos Fluxos de Caixa e Contabilidade Criativa. Revista Universo Contábil, Blumenau, v5, n.3, p.99-115, jul./set. 2009.

LUSTOSA, P. R. B.; SANTOS, A. Como Classificar as Reservas de Capital na Demonstração dos Flu-xos de Caixa? In: XXVIII EnANPAD. Curitiba-PR, 2004.

MARION, J. C. Contabilidade Empresarial. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

SALOTTI, B. M.; YAMAMOTO, M. M. Divulgação Vo-luntária da Demonstração dos Fluxos de Caixa no Mercado de Capitais Brasileiro. Revista de Conta-bilidade e Finanças USP., São Paulo, v.19, n.48, p.37-49, set./dez.2008.

Rodrigo Simão da Costa possui graduação em Ciências Contábeis pelo UNIFEOB - Centro Universitário da Fun-dação de Ensino Octávio Bastos (2001), e também Pós Graduação em Gestão Empresarial (2003). Concluiu seu Mestrado em Ciências Contábeis e Atuariais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2006). Atualmen-te é professor titular do UNIFEOB onde atua como coordenador dos cursos de Ciências Contábeis e Administração e é Gestor da Escola de Negócios. Tem experiência na área Contábil, com ênfase em Contabilidade Ambiental. É autor de vários artigos científicos e palestrante em diversos assuntos relacionados à Contabilidade, Administração e Finanças.

COSTA, R. S. da

Page 77: ISSN 2236-0468

77Interciência & Sociedade

EVOLUÇÃO DO SETOR ELÉTRICO: uma breve reflexão

RESUMO: O setor elétrico brasileiro passou por uma reformulação de sua estrutura na década de 1990, marcando a transição para um ambiente mais competitivo nos serviços de eletricidade com par-ticipação ativa das empresas privadas. O racionamento de eletricidade em 2001/02 interrompeu esse processo, originando a segunda reforma do setor, coordenado pelo Estado que concentrou o comércio de eletricidade em um pool de distribuidores em um sistema de leilões públicos. Este artigo analisa a evolução do setor e as duas reformas, mostrando que as soluções apresentadas foram frutos de crises institucionais.PALAVRAS-CHAVE: Setor elétrico, sistemas de leilões públicos, reformas, estatização.

PAGLIARDI, OdailFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

[email protected]

SOBREIRO DIAS, José CelsoFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

[email protected]

ABSTRACT: The Brazilian electric sector went through an overhaul of its structure in the 1990s, ma-rking the transition to a more competitive in the electricity services with active participation of private companies. The rationing of electricity in 2001/02 interrupted this process, resulting in the second sector reform, coordinated by the State that concentrated trade in electricity in a pool of distributors in a public auctions system. This paper examines the development of the sector and the two reforms, showing that the solutions presented were the result of institutional crises.KEYWORDS: Power sector systems, public auctions systems, reform, nationalization.

1. INTRODUÇÃO

As instituições governamentais têm resistido às mudanças, devido aos cus-tos políticos e também econômicos que as envolvem. A história das reformas do setor elétrico no Brasil ilustra bem esse fato, mos-trando que as mudanças institucionais só ocorreram em face da crise, que exigia uma profunda reforma setorial. A crise do final da década de 90 envolveu além da privatiza-ção das empresas, uma reforma estrutural e regulatória. As soluções para a crise no setor foram de caráter ad hoc, sempre moti-vado por uma resposta “imediatista” ao pro-blema enfrentado. Uma reflexão desta evo-lução é o motivo deste trabalho, analisando os antecedentes do processo de reforma na indústria de eletricidade brasileira, até che-gar à adequação da nova política energéti-ca implementada para restaurar o nível de

investimento, em particular o investimento privado.

No Brasil, em face de seus enor-mes recursos hídricos, a hidroeletricidade tem ocupado um papel de destaque na ge-ração de energia. No seu desenvolvimento, este setor passou por duas fases, uma com a participação ativa do Estado e outra, após a reforma que promoveria mudanças insti-tucionais em decorrência da reestruturação e privatização do setor elétrico.

Enquanto a demanda de eletricida-de no Brasil crescia, cada vez mais aumen-tavam as preocupações sobre a qualidade da oferta, com o governo controlando o se-tor da eletricidade. Até início dos anos 1990, grande parte do setor elétrico estatal foi con-trolado com limitado investimento privado. As empresas estatais assumiram a função de empresas de distribuição, na maioria dos estados, enquanto a Eletrobrás, gerenciava

Page 78: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade78

a transmissão, além de assumir também a maior parte do setor de geração.

Contudo, nesta segunda fase, podem-se citar duas grandes reformas. A primeira ocorreu entre 1995 e 2003, com introdução do modelo clássico de reforma no mercado atacadista de eletricidade de curto prazo, tendo como exemplo de países que o aplicaram, Chile, Inglaterra e País de Gales, e os países nórdicos. O modelo consiste, basicamente, na fragmentação da infraestrutura, na privatização dos serviços estatais, para favorecer a concorrência, na criação de entidades reguladoras e, gradu-almente, na criação de mercados para ser-viços de geração e varejo.

A segunda reforma do setor elétri-co brasileiro começou durante os anos de 2004 e 2005 com a introdução do merca-do de longo prazo, substituindo o mercado atacadista de curto prazo introduzido na primeira reforma. Na evolução histórica, o trabalho lança luz, principalmente, nos pe-ríodos em que o setor de eletricidade no Brasil passou de um modelo clássico para um modelo de contratos de longo prazo de reforma.

2. Os primeiros passos da eletrificação

Pouco tempo após ter sido con-cedido, por Dom Pedro II, a Thomaz Alva Edson o privilégio de inserir processos des-tinados à utilização da luz elétrica no Bra-sil, entra em operação, no ano de 1883, a primeira usina hidrelétrica do país, localiza-da no Ribeirão do Inferno, afluente do Rio Jequitinhonha, na cidade de Diamantina, Estado de Minas Gerais (ELETROBRÁS, 2010). Contudo, somente a partir de 1897, deu-se início aos empreendimentos mar-cantes no desenvolvimento da energia elé-trica no país, consolidados pelas conces-sões em São Paulo e Rio de Janeiro, com a criação das empresas: São Paulo Railway, Light and Power (1899) EmpresaCliente Ltd - SP RAILWAY e Tramway, Light and Power EmpresaCliente - RJ TRAMWAY (1904), como mostram CEMIG (2010) e Eletrobrás (2010), realizando projetos de grande porte para a época.

O que caracteriza institucional-mente a primeira fase da indústria elétrica

brasileira é a ausência de uma legislação específica, sendo que em 1903 foi aprova-do pelo Congresso Nacional o primeiro texto de lei disciplinando o uso da energia elétrica no país (ELETROBRÁS, 2010). Nesta pri-meira fase, o modelo pode ser considerado privado sendo que o poder concedente era o Estado e os concessionários os investi-dores estrangeiros. Não havendo legislação específica, as relações entre os concessio-nários e os usuários dos serviços limitavam--se ao poder público, em qualquer uma das suas três esferas: Federal, Estadual ou Municipal, atraindo o capital externo e cele-brando atos de concessão através de con-tratos com tarifas corrigidas pela “cláusula ouro”, a qual preservava os investimentos em divisas estrangeiras com o objetivo de compensar os efeitos da desvalorização da moeda nacional (FARIA, 2003). O marco do período foi o Decreto 5.407 de dezem-bro de 1904 que estabelecia regras para os contratos de concessão sem exclusividade, cujo prazo máximo da concessão seria de 90 anos, sendo revertido para a União sem indenização do patrimônio constituído pelo concessionário. A revisão das tarifas ocorria a cada cinco anos.

O crescimento da capacidade de geração foi notável: em 1883, a capaci-dade instalada era de 52 kW e, em 1920, ultrapassou 367.000 kW. Surgiram às pe-quenas usinas geradoras decorrente da necessidade de fornecimento de energia para serviços públicos de iluminação e para atividades econômicas como mineração, beneficiamento de produtos agrícolas, fábri-cas de tecido e serrarias. A grande maioria das unidades era de pequena potência com cerca de 10 usinas geradoras e ampliou-se com a construção das primeiras usinas hi-drelétricas no país: Marmelos-Zero, Fontes Velha e Delmiro Gouveia (FARIA, 2003).

A Grande Depressão de 1929 veio impactar fortemente a economia brasileira provocando uma profunda recessão e des-pertando a insatisfação da classe média com relação ao governo vigente, culminan-do na instalação de um governo revolucio-nário com um extremo sentimento naciona-lista. Neste contexto, ocorre um crescente protecionismo do setor industrial brasileiro, com os nacionalistas defendendo o papel

PAGLIARDI, O.; SOBREIRO DIAS, J. C.

Page 79: ISSN 2236-0468

79Interciência & Sociedade

estratégico da indústria de energia elétrica e, portanto, não poderia estar sob controle estrangeiro.

3. Estatização do setor

A Lei da Água, em 1934, atribuindo ao Governo Federal a propriedade e direitos sobre os recursos hídricos e a autoridade de regular os serviços relacionados à ener-gia elétrica, além de introduzir o regime ta-rifário pelo custo do serviço. Houve muitos conflitos na interpretação dessa lei. O novo regime tarifário utilizado foi um fator que de-sestimulou os investidores estrangeiros en-quanto a demanda por energia continuava a aumentar em função do desenvolvimento industrial, exigindo racionamento em várias cidades do país.

A energia sempre teve lugar de destaque nos programas econômicos de desenvolvimento do Brasil, que colocava a produção de energia elétrica como insumo prioritário nas metas governamentais, dian-te da impossibilidade do setor empresarial nacional promover projetos de grande por-te. Neste sentido, o Plano SALTE destinava 11% do PIB de 1947, para a área de ener-gia (SILVA, 2010). Além dos recursos exter-nos, o governo cria o Imposto Único sobre a Energia Elétrica – IUEE e o Fundo Federal de Eletrificação, destinado a prover e finan-ciar instalações de produção, transmissão e distribuição de energia elétrica, assim como o desenvolvimento de materiais elétricos. Mesmo com o Plano de Metas destinando 9,3% do PIB de 1956, para o setor elétrico, advindos do IUEE, não se atingiu totalmente a meta prevista, contudo houve um esforço considerável para se romper definitivamen-te seus estrangulamentos quase quadrupli-cando a capacidade instalada entre 1945 e 1961 (PAGLIARDI, 1990).

A evolução do padrão de financia-mento do setor elétrico os anos 80, apresen-tou-se em duas fases: um fiscal, até 1967, na qual os recursos provinham de fundos públicos e pós-67, a fase “empresarial”, em que a empresa capacitava-se para gerir recursos próprios. A política traçada para o setor de energia elétrica para atender a demanda no pós-64, que até 1967 pode ser considerada como uma fase de transi-

ção para o setor possibilita sua consolida-ção graças ao esquema de financiamento oferecido, tanto em nível fiscal (empréstimo compulsório, IUEE ad valorem) quanto em nível de capacidade de autofinanciamento de empresas (realidade tarifária, correção monetária do ativo fixo para efeito de tari-fa), além da redução de imposto de renda e isenção do imposto de importação de equi-pamentos.

A Eletrobrás, criada em 1962, assu-miu a coordenação do desenvolvimento da indústria de energia elétrica, e criou taxas e buscou recursos nos fundos multilaterais de investimento para financiar a expansão da capacidade de geração. O monopólio, sob controle, federal, e a integração vertical do setor promoveram a economia de escala, aumentando a produtividade das empre-sas e consequentemente reduzindo custos. Além disso, o governo também criou a Con-ta de Resultados a Compensar a fim de re-duzir os riscos do financiamento de novos projetos e manter os investimentos na ex-pansão do setor.

O novo regime tarifário para todo o país a partir de 1977 faz com que as em-presas, presentes em áreas de concessão, econômica e industrialmente desenvolvi-das, contando com densidades de carga elevadas e custos de operação mais baixos, fossem obrigadas a transferir parte de seus resultados para as empresas deficitárias. Esta medida incentivou ao descontrole dos custos dessas empresas e como resultado as tarifas aumentaram.

A expansão do setor de infraestru-tura no Brasil se dava à custa de endivida-mento externo e por forte participação do Estado na solidificação de suas indústrias. Mesmo com os dois Choques do Petróleo, a grande oferta de recursos financeiros no mercado internacional possibilitava que o país mantivesse elevadas taxas de cresci-mento através de endividamento externo e política fiscal expansionista.

Contudo, a crise dos países em desenvolvimento no início dos anos 80, fez com que ocorresse uma forte recessão mundial e a inflação crescesse. Internamen-te, o governo reajustava as tarifas abaixo da inflação com o objetivo de frear o processo inflacionário. Ademais, o desempenho das

Evolução do setor elétrico: uma breve reflexão

Page 80: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade80

empresas do setor elétrico deteriorou com os anos em “decorrência do gigantismo, da falta de flexibilidade e da excessiva interfe-rência política na gestão de seus negócios” (OLIVEIRA, 2006).

Como consequência, as empre-sas decidiram suspender os pagamentos aos geradores elétricos federais sob a ale-gação de não conseguirem mais suportar a retenção do repasse de seus custos. A partir disso, em 1987, o governo identificou o problema crítico de que as tarifas eram reajustadas para atender às políticas eco-nômicas e sociais e não atendiam a neces-sidade crucial da viabilidade financeira das empresas.

Diante desse quadro, e tendo em vista a transformação do setor elétrico em âmbito mundial, os organismos financeiros internacionais passaram a recomendar a reformulação do setor, ou seja, além da pri-vatização das empresas, fazer uma reforma estrutural e regulatória.

4. Processo de Reforma do Setor A reforma do setor elétrico teve

início em 1993 com recuperação tarifária e criação do Sistema Nacional de Trans-missão com o objetivo de assegurar o livre acesso às linhas do sistema nacional de transmissão. Essa medida refletia os princí-pios básicos do livre acesso às redes, de se-paração das supridoras das distribuidoras, favorecendo uma competição na geração de energia elétrica. Foi dada a permissão para a entrada de investidores autoprodu-tores de energia permitindo que as empre-sas pudessem se consorciar na geração de energia para consumo próprio, e caso houvesse excedente, poderiam vendê-lo às concessionárias. Ainda, em 1993, iniciava o processo de abertura do setor permitindo o livre acesso ao sistema de transmissão na esperança de atrair investimento privado na expansão. Neste contexto, as tarifas de geração quase dobraram. As medidas não foram suficientes para alterar profundamen-te a estrutura da indústria de energia elétri-ca e, em 1995, o governo aprova emendas para facilitar a liberalização do mercado e privatização das empresas de energia.

A política macroeconômica do Pla-no Real implementa as privatizações, cru-ciais para atrair capital externo, fechar o ba-lanço de pagamentos, sustentar a taxa de câmbio, manter baixa a inflação e, inclusive, diminuir as interferências políticas nas em-presas. No setor elétrico, a estratégia inicial foi privatizar as empresas distribuidoras, se-guidas das empresas geradoras e finalmen-te as transmissoras. Contudo o BNDES, não possuía uma estratégia para a reforma do setor como um todo, sendo necessário um regime tarifário que representasse baixo risco regulatório a fim de atrair investidores privados.

Assim, era necessário criar incen-tivos para estimular a inserção da iniciativa privada na indústria principalmente na ex-pansão da oferta, para possibilitar a criação de um mercado atacadista de energia, que ocorreriam com duas reformas do setor.

4.1. Mercado atacadista de curto prazo com base em um modelo clássico

Para que se obtivesse êxito num mercado atacadista competitivo de ener-gia, algumas mudanças estruturais deve-riam ser implementadas, sendo necessário promover a desverticalização da geração, com criação empresas de geração ou sub-sidiárias. Existem duas motivações princi-pais para a primeira reforma implantada em 1995 a 2003. A primeira foi à tentativa de atrair o capital privado para investir na infra-estrutura e, com isso, recuperar financeira-mente as empresas debilitadas financeira-mente. A outra, era a tendência mundial de implementação do modelo clássico de re-forma como ocorrido na Inglaterra e Gales (OLIVEIRA, 2006). O arrocho financeiro das companhias estaduais fez da privatização, um instrumento importante para aumentar o capital financeiro. Assim, “a privatização e a reestruturação foram realizadas indepen-dentes umas das outras a qual era sintomá-tico para a natureza ad hoc das reformas naqueles dias iniciais. O governo estava tão necessitado de recursos e de se apresen-tar como um governo reformante, que co-meçou a alienação antes de uma entidade reguladora de eletricidade ter sido instituí-da. Antes mesmo de um regulador ser cria-

PAGLIARDI, O.; SOBREIRO DIAS, J. C.

Page 81: ISSN 2236-0468

81Interciência & Sociedade

do, cerca de dez empresas de distribuição foram alienadas” (ALMEIDA e PINTO JÚ-NIOR, 2005; ARAÚJO et al., 2008).

Em 1997, medidas legais permi-tiram que as concessionárias, que antes podiam importar energia somente para consumo próprio, agora poderiam fazê-lo para negociar com os consumidores livres. Outra novidade advinda desta medida era a possibilidade do autoprodutor vender seu excedente de energia também aos consu-midores livres. Portanto, as principais mu-danças já introduzidas na indústria seguiam as tendências mundiais de reestruturação: livre acesso às linhas de transmissão, a introdução de produtores independentes e consumidores livres. Também, foi adotado o regime de price cap para melhorar o de-sempenho do setor, a exemplo do ocorrido na Inglaterra.

Embora fosse assegurada uma justa taxa de retorno ao setor, persistia a falta de confiança dos investidores quanto à regulação. A fim de solucionar o impas-se, e promover as mudanças institucionais em decorrência da reestruturação e priva-tização do setor elétrico, novas responsa-bilidades institucionais seriam atribuídas ao governo com a criação, em 1996, da Agên-cia Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. Seu principal papel seria o de regulamentar e fiscalizar a indústria, cabendo proteger o interesse dos consumidores cativos em re-lação ao preço, dar continuidade ao forne-cimento e qualidade do serviço; assegurar a viabilidade financeira de longo prazo dos concessionários. Ainda, promover competi-ção onde possível e prover incentivos para a eficiência econômica; assegurar o cumpri-mento de leis e regulamentações; lidar com as reclamações dos consumidores; garantir transparência nas transações entre as com-panhias reguladas; e incentivar a conser-vação de energia, através de mecanismos regulatórios criados com essa finalidade.

Em 1998, era criado um Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, com a atribuição de coordenar e controlar a ope-ração das instalações de geração e trans-missão de energia elétrica no sistema inter-ligado, instituição de papel crucial no novo modelo.

Um operador de mercado “a gra-

nel” foi implantado como um organismo de auto regulação dos agentes de mercado seguindo o modelo da Califórnia. Além dis-so, todos os contratos de longo prazo, da produção à distribuição, foram cancelados (ARAÚJO, 2006). Esta primeira onda de re-formas teve a maioria dos ingredientes de um modelo clássico: um regulador, um ope-rador independente, um operador de mer-cado a granel e separação funcional entre geração, transmissão, distribuição e comer-cialização. Portanto, a criação do Mercado Atacadista de Energia – MAE se constituiu na principal novidade desse novo modelo, em que deveriam ser realizadas todas as transações de compra e venda de energia de cada sistema interligado entre produto-res, empresas varejistas e grandes consu-midores.

Também eram aplicados o concei-to de Energia Assegurada e o Mecanismo de Realocação de Energia – MRE, com o intuito de diluir o risco comercial dos inves-tidores em todas as hidrelétricas. Sob o as-pecto comercial, foi estabelecido um perío-do de transição através da assinatura dos Contratos Iniciais - CIs, que permitiu transa-ções bilaterais livremente negociadas entre distribuidores, geradores e consumidores li-vres e essas operações liquidadas no MAE, permitindo inclusive a comercialização de curto prazo no mercado spot. Quando ins-tituídos, os CIs atendiam plenamente às necessidades das distribuidoras e esta re-gra de transição foi considerada necessá-ria devido ao preço da energia das usinas existentes serem aproximadamente a me-tade do custo estimado das novas fontes de suprimento de energia naquele momento. Desse modo, era preocupante o risco de um aumento intolerável das tarifas e pres-são inflacionária caso fosse imediatamente introduzida a livre negociação de energia. Neste contexto, o processo de reestrutura-ção ocorreu rapidamente com a privatiza-ção de 16 distribuidoras e quatro geradoras, as linhas de transmissão passaram a serem licitadas pela ANEEL e vários investidores privados solicitavam licença para construir novas centrais elétricas (OLIVEIRA, 2006).

Para enfrentar a crise de energia elétrica de 2001-02, devido às severas se-cas, foram implementadas medidas de na-

Evolução do setor elétrico: uma breve reflexão

Page 82: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade82

tureza emergencial para compatibilizar a demanda e a oferta de energia elétrica. Às concessionárias, dentre as principais medi-das, cabiam suspender o atendimento: às novas cargas; casas de diversões; realiza-ção de eventos esportivos noturnos e para fins ornamentais; além da redução, em pelo menos 35% da iluminação pública.

O racionamento havia mudado o comportamento dos consumidores, altera-do os processos industriais e incentivado a substituição de equipamentos mais eficien-tes, e, portanto, provocando uma queda significativa no consumo de energia, cuja consequência era forte impacto no equilí-brio financeiro das empresas distribuidoras.

4.2. Mercado de Leilões e Contratos de Longo Prazo.

A produção de energia hidroelétri-ca diminuiu drasticamente na seca de 2001, impactando a gestão de energia elétrica no Brasil, com os operadores sendo obrigados a racionar a sua oferta por quase um ano. Apesar do programa de incentivos para as usinas térmicas, havia poucas iniciati-vas por parte dos investidores. Isso levou o novo governo a proceder a uma segunda reforma durante os anos de 2004 e 2005, com controle centralizado no setor elétrico, introduzindo os leilões regulados e os con-tratos de longo prazo. Os resultados des-ta reforma são a criação de um pool para aquisição por parte dos distribuidores, a criação de dois ambientes de contratação de longo prazo (regulado e livre) e a criação das instituições necessárias para apoiar as tarefas de coordenação e de planejamento (ALMEIDA e PINTO JÚNIOR, 2005).

As empresas de distribuição, com seus consumidores cativos, necessitavam contratar toda a demanda de geradores existentes feitos por leilões no ambiente de contrato regulado. No mercado de curto pra-zo previa-se um sistema de compensação para as diferenças entre a energia contrata-da e a energia consumida. Neste contexto, o governo implementou um complicado pro-cesso de leilões regulados de três a cinco anos para a compra futura de energia nova e um ano de antecedência para o leilão de energia existente. Os resultados deste novo

modelo de mercado estão ainda a ser vis-to. Embora bem projetado possa levar à revelação de preços e custos dos ativos e há temores de que a falta de informação adequada entre os licitantes pode levar à perda potencial de eficiência (DUTRA e MENEZES, 2005). No entanto, o mecanis-mo de leilão parece ser um passo positivo na resolução dos problemas de adequação, mas existem outras questões que precisam ser abordadas, como o licenciamento am-biental de novos projetos, a necessidade de equacionar o setor do gás e da operação de aumento na contratação livre. Além dis-so, somente com o amadurecimento e cres-cimento do mercado de capitais do país, pode vir à alavancagem necessária para os ajustes exigidos na atual estrutura de co-mercialização do mercado da eletricidade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história do Brasil mostra que mu-danças institucionais são realizadas apenas quando há um senso de urgência devido a algum tipo de crise no país ou gerada pela pressão externa por parte de instituições fi-nanceiras internacionais. A primeira reforma foi motivada pela crise econômica da déca-da de 1990 e quebra de receitas das empre-sas estatais, levando ao desinvestimento de seus bens. A reforma da indústria de ener-gia elétrica estava pautada no processo de privatização caracterizando a saída do Es-tado do papel de produtor para a entrada do capital privado. Contudo, a agressividade da reforma atribuía ao Estado o papel de regulador, demandando ações no sentido de criar incentivos e na sinalização correta para estimular a inserção da iniciativa priva-da na indústria principalmente na expansão da oferta.

A recente introdução do mercado atacadista competitivo foi uma grande mu-dança institucional na estrutura monopolis-ta verticalmente integrada. Esta mudança aumenta os custos e exige a fragmentação, privatização e regulação do setor. A transfe-rência do preço de mercado para os consu-midores finais também implica em riscos po-líticos consideráveis. Apesar destes riscos, avança-se com esta concepção de merca-do, sendo importante destacar a urgência

PAGLIARDI, O.; SOBREIRO DIAS, J. C.

Page 83: ISSN 2236-0468

83Interciência & Sociedade

de sua implantação já que a privatização das empresas estaduais começou mesmo antes da introdução de um órgão regulador, motivada pela crise financeira dos serviços públicos estatais por volta de 1990.

Outra grande mudança institucio-nal aconteceu com a introdução de um mer-cado de leilões de longo prazo em substitui-ção ao pré-existente mercado spot de curto prazo. “Esta mudança na concepção do mercado atacadista consiste de custos de transação mais elevados e um aumento da carga regulamentar, devido à sua complexa natureza administrativa. Apesar destes cus-tos e desafios, à decisão de avançar com o novo modelo de mercado mostra novamen-te um sentido de urgência. Neste momento a necessidade de mudança foi desencade-ada pela crise de eletricidade provocada pe-las secas e pelo baixo investimento em ou-tras tecnologias” (KARMACHARYA, 2008).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, E. L. F.; PINTO JUNIOR, H. Q. Reform in Brazilian Electricity Industry: The search for a new model. International Journal of Global Energy Is-sues, Geneve, v. 23, n. 2-3, p.169–87, 2005.

ARAUJO , J. L. R. H. Reform of reforms in Brazil: Problems and Solutions. In: SIOSHANSI, F. P.; PFA-FFENBERGER, W. Ed(s). Electricity Market Re-form: An International Perspective . Amsterdam: El-sevier, 2006, p. 565–94.

ARAUJO , J. L. R. H. The case of Brazil: Reform by Trial and Error? In: SIOSHANSI, F. P.; PFAFFENBER-GER, W. Ed(s). Electricity Market Reform: An Inter-national Perspective . Amsterdam: Elsevier, 2006, p. 565–94.

ARAUJO , J. L. R. H.; et al. Reform of reforms in Brazil: Problems and Solutions’, in F. P. Sioshansi, Ed. Competitive Electricity Markets: Design, Imple-mentation, Performance. Oxford: Elsevier, 2008, p. 543–72.

CEMIG. Centrais Elétricas de Minas Gerais. Energia no Brasil. Disponível em: <http://www.cemig.com.br/pesquisa_escolar/energia_brasil/index.asp>. Acesso em: (27/07/2010).

DUTRA, J.; MENEZES, F. Lessons from the electricity auctions in Brazil. The Electricity Journal, Washing-ton, v. 18 n. 10 p.11–21, 2005.

ELETROBRÁS. História do setor de energia elétrica no Brasil. Disponível em: <http://www.memoria.eletro-bras.com.br/historia.asp> . Acesso em: (27/Jul/2010).

FARIA, V. C. S. O papel do Project Finance no fi-nanciamento de projetos de energia elétrica: caso da UHE Cana Brava. Rio de Janeiro (RJ). Universida-de Federal do Rio de Janeiro (Dissertação de Mestra-do). 169 p, 2003.

KARMACHARYA, S. B. The evolution of Brazil’s elec-tricity market from textbook to regulated long term contracts. Network Industries Quarterly, Lausanne, v.10, n. 2 p. 9-11, 2008.

OLIVEIRA, A. Political economy of the Brazilian po-wer industry reform. In D. G. Victor, D. G.; HELLER, T. C. Ed(s). The Political Economy of Power Sector Reform: The Experiences of Five Major Developing Countries. Cambridge: Cambridge University Press, 2006, p. 31–75.

PAGLIARDI, O. Uma discussão sobre o futuro das cooperativas de eletrificação rural do Estado de São Paulo. 1990. 212f. Dissertação (Mestrado). Uni-versidade Estadual de Campinas: Faculdade de En-genharia Mecânica. Campinas, 1990. Impressa.

SILVA, T. F. Plano Salte. Disponivel em: <http://www.historiabrasileira.com/brasil-republica/plano-salte/>. Acesso em: <4 set 2010>.

Evolução do setor elétrico: uma breve reflexão

José Celso Sobreiro Dias possui graduação em Administração pela Faculdade de Ciências Administrativas e Contábeis Santa Lúcia, especialização em Administração Rural pela UFLA, mestrado e doutorado em Engenharia de Produção pela UNIMEP. Atualmente é professor titular da UNIFEOB e da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM). É professor de pós-graduação em Latu Sensu e MBA da UNIFEOB e da Sedução - Sistemas de Educação Continuada, atuando em diversos cursos. Exerce atualmente as funções de Coordenador do Curso de Administração da FMPFM. É diretor geral da Benedeti & Benedeti Ltda.

Odail Pagliardi é bacharel em Economia e também em Matemática, ambas as graduações realizadas na Univer-sidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e é Mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Faculdade de Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui doutorado pela Faculdade Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com enfoque em mercados futuros de commodities agrícolas. Atualmente é vice diretor e professor da Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” e atua como pesquisador do Núcleo de Energia da Universidade Estadual de Campinas.

Page 84: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade84

Page 85: ISSN 2236-0468

85Interciência & Sociedade

1. INTRODUÇÃO

O século passado trouxe ao mun-do profundas modificações resultantes de um avanço científico e tecnológico sem pre-cedentes na história da humanidade. Uma verdadeira revolução tecnológica, presente em todos os setores da sociedade, se fez sentir de forma intensa em todo o sistema de comunicação e de troca de informações, rompendo barreiras espaciais e temporais e conectando o mundo inteiro. No conforto do lar, ao mesmo tempo em que se pode ver familiares que moram em continentes dis-tantes, também é possível fazer movimen-tações bancárias e agendar consultas mé-dicas, quase sem precisar deixar de ler as notícias da última hora. Hoje se está muito

mais informado e se pode adquirir conheci-mento de maneira bastante mais prática do que nossos pais conseguiam (MIRANDA et al., 2007; VERASZTO; 2004, 2009).

Esta breve introdução aponta que o conhecimento tecnológico é primordial. Não apenas para interagir com os novos aparatos que a cada dia ganham as estan-tes do comércio, como principalmente para ser capaz de emitir juízos de valor acerca de algo que cada vez mais é parte intrín-seca do nosso cotidiano. Este é o principal motivo para apontar que um sistema educa-cional não pode apenas priorizar conteúdos transmitidos de forma tradicional, mas que deve desenvolver novas metodologias que utilizem em seu proveito as ferramentas que os alunos e a sociedade já utilizam há

INTERATIVIDADE E EDUCAÇÃO: reflexões acerca do potencial educativo das TIC

RESUMO: Este trabalho apresenta uma abordagem geral das contribuições que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) podem trazer para o contexto educacional ao aliar conteúdo, con-texto real e aplicativos interativos de uma forma atrativa e pedagógica. Para atingir essa finalidade, o artigo apresenta fundamentos históricos e embasamentos teóricos para mostrar a evolução das TIC, bem como apresentar uma visão própria de interatividade a partir da análise de conteúdo de estudos desenvolvidos na área. Somente assim, poderá concluir apresentando noções de como os aplicativos interativos podem ser úteis para a esfera educacional, como também mostrar discussões sobre como uma Educação Tecnológica efetiva pode ser pensada. PALAVRAS-CHAVE: interatividade, aplicativos interativos, educação, tecnologia, TIC.

VERASZTO, Estéfano VizcondeFaculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)Instituição de Ensino São Francisco (IESF)

[email protected]

GARCÍA, Francisco GarcíaUniversidad Complutense de Madrid/España (UCM)

[email protected]

ABSTRACT: This paper presents a general approach of the contributions that the information and com-munication Technologies (ICT) can bring to the educational context to combine content, real context and interactive applications in an attractive and pedagogic way. To do this, the article presents historical and theoretical basis to show the ICT development as well to provide an own vision of interactivity from the content analysis of studies developed in the area. Only thus it could finish presenting notions of how the interactive applications may be useful in the educational sphere and also to show discussions about how an effective technological education can be thought. KEYWORDS: interactivity, interactive applications, education, technology, ICT.

Page 86: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade86

algum tempo (CARDOSO, 2001). É levando este ponto em conside-

ração que este trabalho se propõe a fazer uma breve reflexão das contribuições que as Tecnologias da Informação e Comuni-cação (TIC) podem trazer para o contexto educacional. Serão dados indícios teóricos concretos de como se pode aliar conteúdo curricular e recursos tecnológicos de forma atrativa, em um processo de ensino-apren-dizagem capaz de valorizar a interatividade e os diferentes recursos textuais e audiovi-suais, sem deixar de lado todo o conheci-mento conquistado pela humanidade.

2. TIC e Educação: possibilidades de re-novação curricular

Com a revolução da microeletrôni-ca na segunda metade da década de 1970, o desenvolvimento e o aprimoramento das TIC fez com que a linearidade das tecno-logias de informações anteriores fosse substituída. Algumas tecnologias híbridas, como computadores, celulares, e os atuais televisores digitais, trouxeram para o coti-diano uma aproximação com um termo que passou a se tornar moda: a interatividade. Isso fez com que uma série de trabalhos e estudos fosse desenvolvido com o intuito de mostrar a importância de tecnologias inte-rativas para a sociedade (WALKER, 2009).

Desde o final do século passado, e ainda crescendo de forma vertiginosa, as tecnologias interativas ganham cada vez mais espaço e conquistam o público pelo fato principal de permitir ver, falar e ouvir pessoas distantes ou por proporcionar uma forma de conhecimento e entretenimento diferenciada, ao aliar, em um só dispositi-vo, a capacidade de assistir filmes, ouvir música, bater papo, escolher programas, fazer pesquisas escolares ou até mesmo jo-gar sozinho ou em rede (VERASZTO et al. 2008a, 2009b).

E por proporcionarem uma ruptura no modo de conceber e transmitir informa-ções que as TIC ganham espaço e simpatia cada vez maior de toda a sociedade, princi-palmente das novas gerações.

Assim, torna essencial destacar que essas transformações parecem apenas não ecoar em parte considerável do sistema

educacional, que ainda não compreendeu os sinais vindos do lado de fora dos muros da escola.

2.1. O que precisa ser revisto

Há algum tempo a constante perda de interesse dos alunos pela escola, e pela forma de ensino tradicional, vem sendo ob-jeto de preocupação e estudo por parte de muitos educadores em diferentes países. Estudos que apontam que uma reestrutura-ção curricular e metodológica se faz impres-cindível (CALDERARO, 2000).

A falta de habilidade para conse-guir perceber a utilidade dos conteúdos que a escola tenta ensinar é o maior problema que os estudantes enfrentam hoje em dia. Em uma sociedade de consumo, os alunos precisam conseguir ver ou serem conven-cidos de que os conhecimentos que a es-cola pretende ensinar são importantes. Não que o consumo seja mais importante que a escola, muito pelo contrário, mas sim que as avançadas técnicas de pesquisas mer-cadológicas conseguem ser mais eficientes que o passivo sistema educacional, que em muitos casos é incapaz de mostrar a utili-dade dos conhecimentos que tenta ensinar (VERASZTO, 2004).

Grande parte do êxito, ou da frus-tração, dos estudantes está relacionado com o ambiente produzido em sala de aula. A preocupação excessiva dos professores em cumprir o conteúdo curricular e transmi-tir aos alunos fórmulas e conceitos, regras e datas, acaba minando a curiosidade intrín-seca dos alunos. Isso faz com que a esco-la, e todo aquilo que ela representa, passe a não ter nenhum significado para aqueles que deveria ensinar (SIMON et al. 2004).

Assim, se a escola começar a pres-tar mais atenção naquilo que a sociedade e seus alunos estão valorizando, poderá perceber que as TIC, e todo seu potencial educativo, podem trazer novos rumos para o processo educativo.

2.2. As TIC e os desafios para a Educação

Com o advento tecnológico e as expansões dos multimeios e da internet, novas formas de se tomar contato com o

VERASZTO, E. V.; GARCÍA, F. G.

Page 87: ISSN 2236-0468

87Interciência & Sociedade

saber foram colocadas à disposição de toda sociedade. Informações das mais diferentes áreas são disponibilizadas sob formas dinâ-micas, interativas, carregadas de imagens e sons. Com um vasto campo de pesquisa para a obtenção de conhecimentos, paula-tinamente a escola perde o monopólio da transmissão do saber. Saber este que hoje é valorizado como bem máximo da huma-nidade.

Em nossos dias, as crianças aca-bam chegando à escola com um capital de conhecimentos de uma forma nunca antes possível.

Frente a esta situação, as institui-ções educacionais enfrentam o desafio de incorporar essas tecnologias não só como parte do conteúdo, mas principalmente como ferramentas de apoio na construção do saber. Ferramentas que podem contri-buir para elaborar, desenvolver e avaliar práticas educativas, capazes de promover o desenvolvimento intelectual a formação do indivíduo como cidadão consciente e parti-cipante.

É preciso romper com a postura tradicional vigente há décadas, pois hoje não mais nos servem os pacotes de saber institucionalizados, fragmentados e aposti-lados. A estática das metodologias tradicio-nais deve abrir espaço para o dinamismo de um ensino diferenciado.

Contudo, em momento algum a intenção é aqui deixar transparecer que o saber acumulado pela humanidade ao lon-go da história não seja importante de se en-sinar e se aprender, mas sim, que a rigidez de um sistema escolar que prioriza avalia-ções objetivas deve ser substituída por uma metodologia que prioriza idéias e que pro-porcionem ao aluno relações com o mundo real.

Porém, é sabido que somente o discurso não gera mudanças. É preciso ação. Mas para que estas sejam planejadas de forma eficiente, também é preciso ter um norte. E é um caminho para este norte o que este artigo se propõe a fazer, apontado a seguir o potencial educativo das tecnolo-gias interativas. Contudo, antes se faz ne-cessário fazer uma rápida apresentação da evolução histórica do conceito de interativi-dade para somente então, apontar indícios

de como tecnologias com esta característi-ca podem ser incorporadas e aplicadas na educação.

3. Classificando a interatividade: aspec-tos metodológicos

Interação e interatividade. Termos que muitas vezes são empregados como sinônimos. Utilizados nas mais diferentes áreas do saber, foi somente na década de 1960 que a interatividade, relacionada a tecnologias digitais foi empregada.

Segundo Primo & Cassol (2008) o termo interação é um conceito bem mais antigo que interatividade e vem sendo usa-do utilizado nos mais diversos ramos do conhecimento científico como as relações e influências mútuas entre dois ou mais fato-res ou entes, etc. Assim, pode-se dizer que cada fator altera o outro, a si próprio e tam-bém a relação entre ambos.

A transformação da palavra intera-ção para interatividade se deu no momento que a informática reelaborou um termo cuja gênese vem da Física, que ganhou conota-ções diferenciadas ao passar pela Sociolo-gia e posteriormente pela Psicologia Social (FEITOSA, ALVES & NUNES NETO, 2008).

Segundo Bonilla (2002), o termo surgiu no contexto das críticas aos meios e tecnologias de comunicação unidirecionais, que teve início da década de 1970. Todavia, Fragoso (2001) aponta que o tema surgiu na década de 1960 quando estudiosos da Informática procuravam novo significado para a comunicação entre computador e o homem, tendo como princípio a agilidade, a facilidade e maiores possibilidades de co-municação.

A palavra interatividade, derivada do ne-ologismo inglês interactivity, foi cunhada para denominar uma qualidade especí-fica da chamada computação interativa. [...] diz-se que a computação interativa tornou possível estabelecer uma primei-ra forma de diálogo entre o homem e a Unidade Central de Processamento [...] (FRAGOSO, 2001, p. 2).

A então chamada computação in-terativa não era suficiente para deixar claro como as relações entre usuário-computador

Interatividade e educação: reflexões acerca do potencial educativo das TIC

Page 88: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade88

iria se modificar pela incorporação de peri-féricos e pelas trocas de dados em tempo real. A computação sempre fora interativa, pois mesmo com cartões perfurados siste-ma e usuários já interagiam. Não fazia sen-tido simplesmente empregar o termo pelo fato do computador ter passado a um con-junto pequeno de CPU-teclado-monitor.

Contudo, ainda é muito comum ver ambos os termos serem empregados com o mesmo sentido. Assim, através da análise de diferentes estudos realizados e de pes-quisas sobre o significado dos termos inte-

ração, interativo e interatividade, foi elabo-rado o Quadro 1 baseado em pressupostos qualitativos de Análise de Conteúdo para organização de dados segundo aspectos da formulação teórica de Bardin (1991), or-ganizando e categorizando os dados, após a transformação e a diferenciação de infor-mações brutas. Esta estratégia foi adotada no intuído de, por condensação, obter re-presentações simplificadas dos dados bru-tos para facilitar a análise.

Quadro 1. Interatividade, interação e interativos: definições e utilizações existentes.

Área de saber Definição ou utilização dos termos: Interação e inte-ratividade Referência

Física

Interação entre a matéria através da atuação de quatro tipos de forças básicas: gravidade, eletromagnetismo, a força nuclear forte e a força nuclear fraca. Interação das ondas eletromagnéticas com a matéria.

PRIMO & CASSOL, 2008Filosofia

O pragmatismo, tomado como um exemplo considera o homem não como mero espectador separado da natu-reza, mas como um constante e criativo interagente.

Sociologia

Interações entre os homens e sociedade, proporcionan-do surgimento de relações sociais e culturais. A relação entre duas ou mais pessoas que, em determi-nada situação, adaptam seus comportamentos e ações uns aos outros

JENSEN, 1998

Geografia

A meteorologia se ocupa, por exemplo, das intera-ções entre componentes dos oceanos e a atmosfera terrestre.

Interação das placas tectônicas na formação das mon-tanhas.

Interação de ventos e ondas provocando pequenos abalos sísmicos.

PRIMO & CAS-SOL, 2008

Biologia

Interações entre genótipo e ambiente provocando varia-ções fenotípicas. Os conhecimentos não partem, com efeito, nem do su-jeito (conhecimento somático ou introspecção) nem do objeto (porque a própria percepção contém uma parte considerável de organização), mas das interações entre sujeito e objeto, e de interações inicialmente provoca-das pelas atividades espontâneas do organismo tanto quanto pelos estímulos externos.

PIAGET, 1996

VERASZTO, E. V.; GARCÍA, F. G.

Page 89: ISSN 2236-0468

89Interciência & Sociedade

Química Interações intramoleculares.

PRIMO & CAS-SOL, 2008

Zoologia Interações hormonais.Farmacologia Interações medicamentosas.Antropologia Interações inter culturais entre civilizações.

Cibercultura

Interatividade é uma nova forma de interação técnica, de característica eletrônico-digital, e que se diferencia da interação analógica que caracteriza a mídia tradicio-nal.Interatividade se define como a extensão em que os usuários podem participar modificando a forma e o conteúdo do ambiente mediado em tempo real. Inte-ratividade é uma variável direcionada pelo estímulo e determinada pela estrutura tecnológica do meio.Interatividade pode ser definida como uma atividade mútua e simultânea da parte dos dois participantes, normalmente trabalhando em direção de um mesmo objetivo.Discute a problemática da interatividade na Web: Para um site ser verdadeiramente interativo – uma necessi-dade para que a potencialidade do meio seja aproveita-da – deve facilitar a comunicação entre os seres huma-nos. Como a Internet é um meio claramente de dupla via, os sites plenamente interativos são aqueles que unem as pessoas, que facilitam a comunicação entre usuários e entre os usuários e a equipe de produção do site.A implementação da interatividade é uma arte pois ela exige a compreensão da amplitudes de níveis e deman-das, incluindo a o entendimento do aluno, uma apre-ciação das capacidades de engenharia de software, a importância da produção rigorosa de contextos instru-cionais e a aplicação de interfaces gráficas adequadas. Isto é, interatividade deveria ser mais do que "apontar e clicar"

SIMS, 1995

Interatividade deve ser descrita como uma atividade entre dois organismos, e com um aplicativo informático, envolvendo o aluno em um diálogo verdadeiro. Nesse caso emerge uma interação de qualidade, desde que as respostas do computador sejam adequadas com as necessidades informativas do usuário.Quanto mais dialógicas forem as interfaces, melhores serão os níveis de interação em courseware.

Para que uma interface seja plenamente interativa, ela necessita trabalhar na virtualidade, possibilitando a ocorrência da problemática e viabilizando atualizações

Interatividade pode ser tida como comunicação bidire-cional e imprevisível em seu processo.

GABOCORP/FA-COM/UFBA, 2008Interatividade é como um diálogo homem-máquina, que

torna possível a produção de objetos textuais novos, não completamente previsíveis a priori.

Interatividade e educação: reflexões acerca do potencial educativo das TIC

Page 90: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade90

Interatividade não é somente uma troca de comunica-ção, mas também geração de conteúdo. Como proprie-dade, interatividade pode ser abordada como sendo um atributo da tecnologia. “conseqüentemente, o foco do resultado é no design (de interface) e na técnica (usa-bilidade).

RICHARDS, 2006; SUNDAR, 2004

Interatividade é o grau com o qual uma tecnologia de comunicação pode criar um ambiente mediado no qual usuários podem se comunicar sincronizada ou assin-cronamente e participar em trocas de mensagens recí-procas. Interatividade também se refere à habilidade do usuário de perceber a experiência como uma simulação da comunicação interpessoal.

KIOUSIS, 2002Operacionalmente, conclui-se que interatividade é estabelecida por três fatores: estrutura tecnológica do meio usado (velocidade, alcance, flexibilidade do sin-cronismo e complexidade sensorial); característica do ajuste da comunicação; e percepção dos indivíduos (proximidade, velocidade percebida, ativação sensorial e tele-presença).A interatividade é promovida através de um meio que permite a interação entre as pessoas.

FEITOSA; ALVES & NUNES NETO, 2008

A interatividade seria um tipo de comunicação possível graças às potencialidades específicas de umas particu-lares configurações tecnológicas, cujo objetivo é imitar, ou simular, a interação entre as pessoas. A interatividade está na disposição ou predisposição para mais interação, para uma hiper-interação, para bidirecionalidade (fusão emissão-recepção), para parti-cipação e intervenção, tendo em vista que um indivíduo pode se predispor a uma relação hipertextual com outro indivíduo. Interatividade mediática geral ultrapassa a situação concreta de espaço e tempo em que alguém produz; ou alguém "lê" (usa) um produto; ou alguém reage a um produto; ou alguém age de tal forma a fazer chegar às instâncias produtoras suas reações, etc. Deve-se per-ceber a interatividade social em uma sociedade de co-municação como um conjunto de todas estas (e outras) ações de tal forma que uma parte significativa das inte-rações em sociedade se desenvolve em conseqüência e em torno de "mensagens" (proposições, produtos, textos, discursos, etc.) diferidas no tempo e no espaço.

FRAGOSO, 2001, p. 4

A interatividade é a extensão de quanto um usuário pode participar, influenciar ou modificar a forma e o conteúdo de um ambiente computacional, sendo vista como uma variável direcionada pelo estímulo e determi-nada pela estrutura tecnológica do meio.

WAISMAN, 2006, 2008

A interatividade é uma atividade mútua e simultânea da parte de dois participantes normalmente trabalhando em direção de um mesmo objetivo.

VERASZTO, E. V.; GARCÍA, F. G.

Page 91: ISSN 2236-0468

91Interciência & Sociedade

Comunicação e Semiótica

A interação é uma série complexa de mensagens tro-cadas entre as pessoas. Porém, o entendimento de comunicação vai além das trocas verbais, sendo assim, todo comportamento uma comunicação. PRIMO & CAS-

SOL, 2008Para ficar mais claro, poderíamos substituir a palavra ‘interação’ pela palavra ‘relação’. O conhecimento é, portanto fruto de uma relação. E relação nunca tem um sentido só.

Interatividade é um conceito que quase sempre está associado às novas mídias de comunicação.

DEFLEUR & BALL-ROKEACH, 1989

Interatividade pode ser definida como uma medida do potencial de habilidade de uma mídia permitir que o usuário exerça influência sobre o conteúdo ou a forma da comunicação mediada.

JENSEN, 1998

Interatividade é a disponibilização consciente de um mais comunicacional de modo expressivamente com-plexo, ao mesmo tempo atentando para as interações existentes e promovendo mais e melhores interações – seja entre usuário e tecnologias digitais ou analógicas, seja nas relações “presenciais” ou “virtuais” entre seres humanos.

BONILLA, 2002

Interatividade é uma expressão da extensão que, em uma determinada série de trocas comunicativas, qual-quer terceira (ou posterior) transmissão (ou mensagem) é relacionada ao grau com o qual trocas anteriores se referem mesmo a uma transmissão mais antiga.

RAFAELI, 1988.

A interatividade, ou seja, o exercício de interação ocor-re entre emissor e receptor que devem estar numa mesma sintonia no processo de comunicação.

WAISMAN, 2006.

A interatividade é uma peculiaridade de alguns siste-mas informáticos que permitem ações recíprocas de modo dialógico com outros usuários ou em tempo real com artefatos. A interatividade pode ser entendida como a quantidade de controle que a audiência tem sobre as ferramentas (serviços) e o conteúdo; ou a quantidade de opções que este controle oferece e a habilidade de usar uma ferramenta ou um conteúdo de forma que seja produti-vo ou criativo. Interatividade é o fenômeno da comunicação que ocor-re entre pessoas. Máquinas simulam a interatividade e precisam ser ensinadas ou munidas de informações para que possam desempenhar este papel.

Interatividade e educação: reflexões acerca do potencial educativo das TIC

Page 92: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade92

Fonte: elaborado pelos autores.

Analisando os conceitos apresen-tados para diferentes áreas de concentra-ção, é possível observar que dentre uma série de citações, a grande maioria perten-ce à Cibercultura, reforçando os estudos entre homens e máquinas que têm, nestas, as coadjuvantes para as relações sociais.

Todavia, o conceito de interativida-de pode ir muito além da mera e simples comunicação entre homem e computador.

4. Afinal, o que é interatividade?

Fazendo uma releitura de todas as citações postadas anteriormente, e inferin-

do segundo uma visão particular, apoiada pela formulação teórica, este trabalho en-tende a interatividade como o nível com o qual uma tecnologia permite criar um am-biente mediado, no qual diferentes entes, de diferentes naturezas, podem se comuni-car de forma sincronizada ou não, trocan-do mensagens recíprocas (MURRAY, 1999; KIOUSIS, 2002).

Complementando, vale ressaltar que uma tecnologia interativa deve permi-tir trocas entre máquina, softwares e usu-ários, através de periféricos ou de menus e links audiovisuais ou hipertextuais, com a capacidade de proporcionar aprendizagem,

Definições de interação

Interativo: 1. Aquilo que procede por interesse; 2. In-formática. Diz-se dos programas que permitem uma interação a modo de diálogo, entre o computador e o usuário.

TIMÓN, 1998

Interação é ação que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas ou pessoas; ação recíproca.

GABOCORP/FA-COM/UFBA, 2008

Interação é ação; influência recíproca entre dois ele-mentos.

Interação é ação exercida reciprocamente entre dois objetos, pessoas etc.

Interação é influência recíproca; fenômeno que permi-te a um certo número de indivíduos constituir-se em grupo e que consiste no fato de que o comportamento de cada indivíduo se torna estímulo para outro.

Interativo é atividade desenvolvida mútua ou recipro-camente. 2. Relação entre dois sistemas comunicativos (como um telefone, uma TV a cabo ou um computador) que envolve usuários de outras ordens (seja para troca de informações, seja para propaganda) ou responsabili-dades (como uma enquete)

Interatividade: 1. Uma atividade que envolve interação; 2. Propriedade de ser interativo.

RICHARDS, 2006.

Educação

A interatividade é o elemento-chave para a construção do conhecimento, pois nenhum conhecimento, mesmo que através da percepção, é cópia do real. O conheci-mento não se encontra totalmente determinado pela mente do indivíduo, mas é produto de uma interação. Logo o conhecimento é construído interativamente entre o sujeito e o objeto.

PIAGET, 1996

VERASZTO, E. V.; GARCÍA, F. G.

Page 93: ISSN 2236-0468

93Interciência & Sociedade

entretenimento, aquisição de informações e comunicação em tempo real ou remota. As-sim, pode-se dizer que uma tecnologia inte-rativa interatividade precisa que o sistema virtual seja dinâmico, forneça possibilida-des variadas de escolha e feedbacks, com auxílio de animações, filmes, músicas, hi-pertextos, jogos, simulações, holografias e verossimilhança com o meio real, permitin-do ainda que usuário tenha capacidade de imersão no meio virtual de forma passiva ou ativa, individual ou coletiva, com opções de transformar o ambiente de forma livre, em consonância com sua vontade, suas prefe-rências, crenças e valores (VERASZTO et al. 2009a, 2009b).

Mesmo sabendo que todos estes pontos ainda não coexistem em uma única tecnologia, existem estudos para sua efe-

tivação, dando indícios de todo o seu po-tencial, que aqui deve-se lembrar, pode ser empregado no contexto educacional (AMA-RAL, 2004; BASSO & AMARAL, 2006; BAT-TAIOLA & ELIAS, 2002; CAMPOS, 2008; CLUA & BITTENCOURT, 2008; COSTA & FRANCO, 2005; MISKULIN, 2008; MIT, 2008; MUGNAINI; 2007; PASSERINO, 2010; UFMT, 2008; VERASZTO et al 2009a, 2009b, 2009c).

5. Aplicativos interativos e suas contri-buições educacionais

Conforme apontado anteriormente, é sabido que tecnologias interativas podem ser desenvolvidas para apoiar intervenções educacionais. Algumas das possibilidades podem ser vistas no resumo do Quadro 2.

Quadro 2. Possibilidades educativas das tecnologias interativas As tecnologias interativas desenvolvidas para o contexto educativo, um aluno é capaz de

• se beneficiar de simulações para compreender melhor processos reais;

• tomar decisões;

• fazer escolhas, a partir de distintas possibilidades, que reflitam suas idéias, código de ética e valores;

• selecionar procedimentos e verificar suas funcionalidades;

• compreender o sentido de mensagens escritas e audiovisuais atribuindo-lhes significado ou re-significando seus conteúdos;

• utilizar códigos e símbolos para interagir com a realidade virtual;

• interagir virtualmente através de diferentes processos interativos;

• explorar e resolver situações-problema virtuais que envolvam contagens, medidas e códi-gos numéricos, construindo, a partir deles, os significados das operações fundamentais;

• identificar relações de posição entre objetos no ambiente virtual;

• perceber semelhanças e diferenças entre objetos e identificar formas superficiais ou es-paciais, em situações que envolvam simulações, construções e representações virtuais e audiovisuais;

• confiar na própria capacidade de elaborar estratégias e obter soluções para situações-pro-blema virtuais e audiovisuais, estabelecendo comparações com a realidade e o meio no qual está inserido;

• estimar resultados e expressá-los por meio de representações não necessariamente con-vencionais;

• valorizar a troca de experiências entre máquinas, sistemas e homens como forma de apren-dizagem e aquisição de conhecimentos;

• comparar as formas geométricas encontradas na natureza, nas artes, nas edificações e fazer associações com as representações dos ambientes virtuais e audiovisuais;

Interatividade e educação: reflexões acerca do potencial educativo das TIC

Page 94: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade94

Fonte: elaborado pelos autores.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O vínculo entre tecnologia e edu-cação pode ser estabelecido historicamente desde o surgimento do primeiro dos nossos antepassados. O surgimento e o desenvol-vimento de atividades próprias do ser hu-mano como a memória, a cognição, o pen-samento, a linguagem, a escrita, bem como o posterior surgimento da impressão e da informática, são eventos que dão indício da paralela evolução tecnológica e intelectual da humanidade.

Dentro do contexto apresentado ao longo de todo o trabalho, a educação pre-cisa buscar a compreensão e interpretação da realidade para então situar o educando na compreensão do mundo que o abriga. E por termos hoje um mundo plural, e em constante mudanças, graças ao advento tecnológicos, a utilização das TIC tem muito a contribuir. Tecnologias interativas, que se valem de recursos audiovisuais e textuais diversificados, podem vir a convergir em aplicativos, jogos ou softwares com carac-

terísticas multidisciplinares assim como o nosso entorno é constituído.

Assim, o objetivo deste trabalho se cumpre ao apresentar uma série de contri-buições que as tecnologias interativas po-dem trazer à educação. Contudo, não é o bastante. As bases da reflexão aqui estão lançadas e estas, devem deixar como de-safio futuro a utilização desta teoria para o desenvolvimento de atividades educativas concretas.

Desta forma, é possível ultrapas-sar a barreira dos discursos bem intencio-nados colocando em prática aquilo que a teoria apregoa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, S. F.; et al. Serviço de apoio a distância ao professor em sala de aula pela TV Digital interativa. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Campinas, v. 1, n. 2, p. 53-70 , jan../jun. 2004 – ISSN: 1678-765X.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Trad.: RETO, L.

• valorizar medidas e estimativas para resolver problemas virtuais e interativos;

• conhecer, interpretar e produzir mensagens, que utilizam formas gráficas e audiovisuais para apresentar informações;

• organizar e elaborar estratégias para solucionar problemas lógicos;

• utilizar informações obtidas no ambiente virtual para justificar suas idéias ou adquirir conhe-cimentos novos;

• interpretar as informações estabelecendo regularidades e relações de causa e efeito, seme-lhanças, diferenças e seqüências de fatos;

• reconhecer, no espaço virtual e no ambiente real, referenciais espaciais de localização e orientação de modo a estabelecer representações espaciais;

• situar acontecimentos históricos e localizá-los no tempo;

• assumir posições segundo seu próprio juízo de valor, considerando diferentes pontos de vista e aspectos de cada situação simulada;

• construir objetos virtuais, ou seja, construir imagens, plantas de casas, cidades hipotéticas, etc.;

• modelar fenômenos, planejando e realizando experiências químicas e físicas, por meio da simulação de situações, que se modificam em função de diferentes variáveis;

• interagir com uma grande quantidade de informações, que se apresentam de maneira atra-tiva, por suas diferentes notações simbólicas (gráficas, lingüísticas, sonoras etc.);

• desenvolver processos metacognitivos, na medida em que o instrumento permite pensar sobre os conteúdos representados e as suas formas de representação, levando o usuário a “pensar sobre o pensar”;

• formar parcerias de trabalho (duplas ou trios), que servirão também para promover a troca de informações.

VERASZTO, E. V.; GARCÍA, F. G.

Page 95: ISSN 2236-0468

95Interciência & Sociedade

A.; PINHEIRO, A. Primeira Edição. Edições 70, Lis-boa, Portugal. 1991.

BASSO, I.; AMARAL, S. F. Competências e Habilida-des no uso da linguagem audiovisual interativa sob enfoque. Educação Temática Digital. Campinas, v.8, 1, p. 51-72, dez. 2006.

BATTAIOLA, A. L.; ELIAS, N. C.; DOMINGUES, R. G.; et al. Desenvolvimento de um Software Educacional com Base em Conceitos de Jogos de Computador. In: XIII Simpósio Brasileiro de Informática na Educa-ção. São Leopoldo: SBC, 2002, p. 282-290.

BONILLA, M. H. S. Escola aprendente: desafios e possibilidades postos no contexto da sociedade do conhecimento. 2002. Tese, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador - BA. (p. 188-193).

CALDERARO, A. Enfoque vocacional del lineamiento C/T/S: su aplicación en la secuenciación de conteni-dos y como fundamento metodológico en un curso secundario de ciencias naturales. Biblioteca Digital da OEI. 2000. Disponível em < http://www.campus--oei.org/salactsi/enfoquects.htm >. Acesso em 17 Jul 2010.

CAMPOS, G. H. B. Aspectos relevantes para aná-lise de software educativo. Disponível em < http://www.ufmt.br/ufmtvirtual/textos/se_qualidade.htm >. Acesso em 26 Mai 2010.

CARDOSO, T. F. L. Sociedade e Desenvolvimento Tecnológico: Uma Abordagem Histórica. In: Grinspun, M.P.S.Z. (org.). Educação Tecnológica: Desafios e Pespectivas. São Paulo. Cortez. 2001. p. 183-225.

CLUA, E. W. G.; BITTENCOURT. J. R. Uma Nova Concepção para a Criação de Jogos Educativos. Disponível em < http://sbie2004.ufam.edu.br/anais_cd/anaisvol2/Minicursos/Minicurso_03/minicurso_03.pdf > Acesso em 5 Mar 2010.

COSTA, L. A. C.; FRANCO, S. R. K. Ambientes virtu-ais de aprendizagem e suas possibilidades construti-vistas. Novas Tecnologias na Educação. CINTED--UFRGS. V. 3 No 1, Maio, 2005.

FEITOSA, D. F.; ALVES, K. C.; NUNES NETO, P. Conceitos de interatividade e suas funcionalidades na TV digital. In Site Universitário: Ensaios & Mono-grafias: Produção científica docente e monografias de TCC. 2008.

FRAGOSO, S. De interações e interatividade. Anais X Compós – Encontro Anual da Associação Nacional

dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Brasília. 2001.

GABOCORP/FACOM/UFBA. Definições de Intera-tividade. Gabocorp. Disponível em < http://www.fa-com.ufba.br/artcult/gabocorp/web5b.html >. Acesso em 5 Nov 2008.

JENSEN, J. F. Interactivity: Tracing a new concept in media and communication studies. vol. 19. Nordicom Review. 1998. pp. 185–204.

KIOUSIS, S. Interactivity: a concept explication. New Media & Society. vol. 4. SAGE Publications. 2002. pp. 355-383.

LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência. O Futuro do Pensamento na Era da Informática. (Trad. COSTA, C. I.). Editora 34. São Paulo. 1999. p. 7-19.

LITWIN, E. (org.) Tecnologia Educacional: política, histórias e propostas. (Trad.: ROSA, E.). Artes Médi-cas, Porto Alegre, 1997.

MIRANDA, N. A.; et al. New Tchnologies of the Infor-mation and Communication in Education: A pre-test analysis In: Anais do 4th CONTECSI: International Conference on Information Systems and Technolo-gy Management, 2007, São Paulo/SP. 2007 (a). v.1. p.1590 – 1602.

MISKULIN, R. G. S. Softwares Educacionais: am-bientes computacionais utilizados no ensino. Disponí-vel em < http://www.ufmt.br/ufmtvirtual/textos/se.htm >. Acesso em 26 Mai 2008.

MIT. Games to Teach Project. Disponível em: < http://cms.mit.edu/games/education/ > Acesso em: 18 Mar 2008.

MUGNAINI, A. B. O design de interfaces para TV interativa. Dissertação de Mestrado. USP. São Pau-lo. 2007.

MURRAY, J. H. Hamlet en la holocubierta: el futuro de la narrativa en el ciberespacio. Ed. Paidós Ibérica, S.A. Barcelona. 1999. p. 330.

PASSERINO, L, M. Avaliação de jogos educativos computadorizados. Disponível em <http://www.ufmt.br/ufmtvirtual/textos/se_avaliacao_jogos.htm >. Aces-so em 26 Mai 2010.

PIAGET, J. Biologia e Conhecimento. 2. Ed. São Paulo, SP: Vozes. 1996.

PRIMO, A. F. T. ; CASSOL, M. B. Explorando o con-

Interatividade e educação: reflexões acerca do potencial educativo das TIC

Page 96: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade96

ceito de interatividade: definições e taxonomias Disponível em < http://usr.psico.ufrgs.br/~aprimo/pb/pgie.htm > Acesso em 5 Nov 2009.

RAFAELI, S. Interactivity: From New Media to Com-munication. Advancing Communication Science: Merging Mass and Interpersonal Processes. Londres. Sage. 1988. pp. 110–34.

RICHARDS, R. Users, interactivety and generation. New Media & Society. vol. 8. SAGE Publications. 2006. pp. 531-550.

SIMON, F. O.; et al. Uma Proposta de Alfabetização Tecnológica no Ensino Fundamental Usando Situa-ções Práticas e Contextualizadas. Resúmenes: VI Congresso de Historia de las Ciencias y la Tecnolo-gía: 20 Años de Historiagrafia de la Ciencia y la Tec-nología en América Latina, Sociedad Latinoamerica-na de Historia de las Ciencias e la Tecnología.. 2004, Buenos Aires.

SIMS, R. Interactivity: a forgotten art?, 1995, Dispo-nível em < http://itech1.coe.uga.edu/itforum/paper10/paper10.html > Acesso em 5 Nov 2008.

SUNDAR, S. S. Theorizing interactivity’s effects. The Information Society. vol. 5. n° 20. 2004. pp. 385–389.

TIMÓN, V. P. Comunicación Audiovisual y Nue-vas Tecnologías. Universidad de Málaga/Manuales. 1998. P. 534.

UFMT. Aspectos relevantes para análise de sof-tware educativo. Disponível em < http://www.ufmt.br/ufmtvirtual/textos/se_analise.htm >. Acesso em 26 Mai 2008.

VERASZTO, E. V. Projeto Teckids: Educação Tec-nológica no Ensino Fundamental. Dissertação de Mestrado. Campinas. Faculdade de Educação. UNI-CAMP. 2004.

VERASZTO, E. V. Tecnologia e Sociedade: rela-

ções de causalidade entre concepções e atitudes de graduandos do Estado de São Paulo. Tese de Douto-rado. UNICAMP. Campinas. 2009.

VERASZTO, E. V. et. al. Technology: looking for a definition for the concept In: Anais do 5th CONTEC-SI: International Conference on Information Systems and Technology Management., 2008, São Paulo/SP: 2008a. v.1. p.1567-1592

VERASZTO, E. V.; et al. Tecnologia: buscando uma definição para o conceito. Prisma.com. Revista de Ciências da Informação e da Comunicação do CE-TAC. 6 Ed. V. 1. p.60-85. Julho 2008b.

VERASZTO, E. V.; et al. El lenguaje audiviosual in-teractivo en el contexto educativo. In: Medina, A. R.. (Org.). Investigación e Innovación de la docencia universitaria en el EEES. 1 ed. Madrid: Ramón Are-ces, 2009a, v. 1, p. 209-218.

VERASZTO, E. V.; et al. La Educación y la Interacti-vidad: posibilidades innovadoras. Icono 14 - Revista de Comunicación, Educación y TIC, 2009b. v. 1, p. 655-665, 2009.

VERASZTO, E. V.; et al (2009c). Desarrollo de un mo-delo de consumo de televisión digital interactiva en el contexto intercultural Brasil-España. Icono 14 - Re-vista de Comunicación, Educación y TIC, v. 1, p. 519-534, 2009c.

WAISMAN, T. TV digital interativa na educação: afinal, interatividade para quê? Escola do Futuro da USP. São Paulo. 2008.WAISMAN, T. Usabilidade em serviços educacio-nais em ambiente de TV Digital. Tese de doutorado. Escola de Comunicação e Artes da USP. São Paulo. 2006.

WALKER, J. Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre interatividade e interfaces digitais. Dis-ponível em < http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/interativo.pdf>. Acesso 14 Jan 2010).

VERASZTO, E. V.; GARCÍA, F. G.

Estéfano Vizconde Veraszto possui graduação em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e é Mestre e Doutor em Educação, Ciência e Tecnologia pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui estágio doutoral no exterior na Facultada de Ciencias de la Información da Univer-sidad Complutense de Madrid (UCM). Atualmente é diretor e professor da Faculdade Municipal “Prof. Franco Mon-toro”, pesquisador do Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, pesquisador colaborador da Universidad Nacional de Educación a Distáncia (UNED/España), pesquisador colaborador da Facultad de Ciencias de la Información da Universidad Complutense de Madrid e docente da Instituição de Ensino São Francisco (IESF).

Francisco García García é Profesor Doutor, Catedrático de Comunicación Audiovisual y Publicidad de la Facultad de Ciencias de la Información de la Universidad Complutense de Madrid-España.

Page 97: ISSN 2236-0468

97Interciência & Sociedade

A escrita metódica me distrai da presen-te condição dos homens. A certeza de que tudo está escrito nos anula ou faz de nós fantasmas (BORGES, 2007).

Questões como a escrita e a leitura muitas vezes estiveram em pauta nas dis-cussões a respeito das manifestações artís-ticas e culturais do homem, pois são formas primordiais de comunicação e inter-relação entre os seres humanos. Dessa forma, tor-na-se importante pensarmos a respeito de como a atual “revolução” das novas mídias, como diz FURTADO (2002), tem modificado as maneiras de produzir (escrever) e consu-mir (ler) textos.

Desde o surgimento da escrita, há aproximadamente seis mil anos, com os pri-meiros hieróglifos até o presente das cha-madas escritas eletrônicas, o que o homem busca são maneiras de se comunicar, se expressar e se fazer presente numa socie-dade em mudança.

A escrita tornou-se o aparato pri-

mordial e mais importante de expressão da humanidade, visto que dá a impressão de eterno em contrário ao sentimento de efe-meridade do oral. Um exemplo marcante disso foi, segundo diz Horcades (2007), o apoio que os reis e a Igreja deram à impren-sa quando do seu surgimento, visto que os interesses em manter viva as suas doutri-nas e poderio sobre a sociedade medieval. Por esse motivo, as sociedades letradas passaram a escrever as suas histórias, como aconteceu com a Bíblia Sagrada ju-daico-cristã, ou mesmo o alcorão mulçuma-no. Todas as histórias ali presentes e car-regadas de imagens abstratas e figuras de linguagem, antes de serem escritas, foram narradas de geração para geração durante muitos séculos. Um exemplo concreto disso é a celebração da Páscoa judaica, à qual foi cristianizada pelos seguidores de cristo, de acordo com a sua nova doutrina.

A perpetuação da escrita como forma principal de manifestação da huma-nidade fez surgir o que é chamado de so-ciedades letradas, havendo uma super va-

LEITURA, ESCRITA E NOVAS MÍDIAS

RESUMO: O presente artigo faz parte de uma pesquisa maior que procurou compreender como acon-tecem as relações entre leitura e escrita, leitores e escritores com o advento das novas tecnologias da informação e da comunicação – NTICs. A redefinição destes novos lugares com a valorização da inte-ratividade por meio destes inovadores recursos tecnológicos faz do leitor não mais um simples receptor de conteúdos, mas também um participante com capacidade de interferir nos rumos da própria escrita do texto, o chamado escrileitor.PALAVRAS-CHAVE: Leitura, Escrita, Novas Mídias, Interatividade.

SILVA, Fabiano Correa daFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

Instituição de Ensino São Francisco (IESF)[email protected]

ABSTRACT: This article is part of a larger research project that sought to understand how the rela-tionship between reading and writing, readers and writers with the advent of new information technolo-gies and communication – NICTs. The redefinition of these new places with the enhancement of inte-ractivity through these innovative technological features makes the reader no longer a mere recipient of content, but also a participant with the capacity to interfere in the course of the actual writing of the text, called escrileitor.KEYWORDS: Reading, Writing, New Media, Interactivity.

Page 98: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade98

lorização da escrita, em detrimento do oral. A palavra dita e acordada já não é mais válida, sendo necessária a escrita de um documento legal que legitime tal acordo, o que demonstra uma mudança social impor-tante, pois a escrita torna-se algo supremo, só perdendo este status com o surgimento das mídias eletrônicas já no final do século XX, relata Mourão em suas análises sobre o hipertexto.

Com o surgimento da imprensa de Gutenberg no final da idade média a escrita inicia o seu apogeu e domínio, pois a facili-dade de acesso aos textos impressos vai se tornando, com o passar do tempo, cada vez mais fácil. Os romances do século XIX são exemplos de como a sociedade tem, no su-porte escrito, o maior aliado na propagação de idéias, culturas e conhecimentos.

A supremacia da escrita, portanto, faz surgir os leitores, consumidores des-te tipo de comunicação que, para fazerem parte desta sociedade, precisam dominar a decodificação destes sinais gráficos, as le-tras. Assim, o domínio da leitura e da escrita torna-se algo de fundamental importância, pois aqueles que não tiverem o conheci-mento letrado são impedidos de ter aces-so as mais diversas áreas do saber e da cultura. Desde então, saber ler e escrever tornam-se requisitos básicos e primordiais para pertencer à sociedade e ter acesso a gama de conhecimentos desenvolvidos por quem a elas pertencem. Dentre tantos exemplos dessa supremacia da escrita, os tratados filosóficos, representações escri-tas do que antes era oralmente expresso nas praças públicas, são marcas de como o acesso ao conhecimento é feito por meio do código impresso.

O ensino da escrita e o incentivo à leitura como forma de aquisição de saberes torna-se algo essencial em muitas culturas, com o ensino regular de língua e leitura na maioria das escolas em muitos países. Ser um bom escritor e um bom leitor são pre-missas importantes para que a pessoa faça parte da sociedade e possa gozar de todos os privilégios.

Vejamos o caso do romance, gêne-ro literário dominante na sociedade burgue-sa emergente do século XVIII, em contraste com a poesia, gênero lírico representante

da nobreza decadente, que se tornou o es-tilo literário mais lido, estudado e conheci-do a partir de então. Assim, prova-se que o domínio da escrita e da leitura está vincu-lado com a aquisição de conhecimento e, consequentemente, com o acesso aos bens político-culturais e ao poder.

Nas artes plásticas, na pintura mais especificamente, muitas obras representa-vam nas telas essa supremacia da escrita e da leitura. No teatro, a imagem de pesso-as lendo e ou escrevendo simbolizam, por meio de personagens-tipo, a valorização e o culto à palavra escrita. Mesmo nas dife-rentes religiões, por meio da teatralização das celebrações, existe a “adoração” à Palavra de Deus, simbolizada pela Bíblia Sagrada impressa, disponível de manejar apenas aos sacerdotes, mostrando assim a sacralização deste objeto. Importante lem-brar que, apesar de todas as mudanças cul-turais, religiosas, políticas e sociais, ainda hoje existe essa sacralização do livro sagra-do impresso.

Fazendo uma pesquisa mais apu-rada a respeito da valorização da leitura e da escrita, podemos verificar que em muitas manifestações artísticas, tais como a pintu-ra, a escultura, a música, e muito marcada-mente a literatura (pois é a arte da escrita), encontramos o culto à escrita e à leitura. To-das essas obras são capazes de demons-trar a valorização de toda uma sociedade ao culto da palavra escrita, impressa e tam-bém da decodificação da mesma.

O pintor flamengo pré-renascentis-ta Robert Campin, um dos grandes pintores da sua época, demonstra em várias de suas telas essa admiração, culto e valorização da escrita e da leitura, por meio de imagens de pessoas com livros, ou mesmo naquelas obras em que o livro aparece como objeto que pertence à cena retratada. Em “A Vir-gem e o Menino diante de um guarda fogo” o artista leva ao ápice a valorização da cultura letrada por meio da imagem de um livro sobre um móvel, o qual, possivelmen-te, Maria, a mãe de Jesus, estaria lendo quando antes de amamentar seu filho. Im-pressionante é ver que uma santidade leia, a sacralização da leitura. Já em outra obra de Robert Campin, intitulada “Retábulo de Mérode”, no qual retrata a cena da anuncia-

SILVA, F. C. da

Page 99: ISSN 2236-0468

99Interciência & Sociedade

ção do anjo à Maria, esta, agora sim, está lendo um livro bem posto em suas mãos, e ainda em cima da mesa existe outro tam-bém aberto, como se a Virgem estivesse a desfrutar da leitura de ambos. Isso presente numa cena clássica das histórias evangéli-cas, visto que este episódio é uma marcan-te data no calendário católico.

Também em outras tantas obras de arte, de outros autores e em diferentes épocas representam a valorização da escri-ta, tais como as pinturas de Henri Fantin--Latour (1836-1904), “A Leitura”, 1870, Óleo sobre tela, 95 x 123 cm, já no final do sécu-lo XIX; ou mesmo a música “Língua” (1972) do cantor brasileiro Caetano Veloso, a qual faz diferentes alusões a respeito dos usos da língua por meio da escrita, referindo-se a autores brasileiros e portugueses, como Guimarães Rosa, Camões, Fernando Pes-soa, dentre outros.

Na literatura, mais do que em qual-quer manifestação artística, a palavra escri-ta/impressa é super valorizada. Exemplos de obras que fazem um trabalho de meta-linguagem ao homenagear a própria língua e também a enaltecer o ofício do criar não faltam na literatura universal. Camões, em os Lusíadas, por exemplo, pede inspira-ção às ninfas do Tejo para que a pena em suas mãos corra pelo papel em branco e seu canto possa alcançar o objetivo que é a exaltação aos feitos portugueses.

Isso tudo demonstra, mais uma vez, que desde que surgiu, a escrita im-pressa é algo que ganhou muito status e, por esse motivo, hoje na chamada revolu-ção digital (Santaella) a escrita eletrônica pode encontrar barreiras por parte de mui-tas pessoas que acreditam no fim da escrita impressa/linear, o que não é uma verdade que venha a ocorrer.

O surgimento das novas mídias, porém, vem desestabilizar a “cultura livres-ca” (Furtado), na qual a escrita tradicional impressa é a guardiã da memória, da ordem e da lei que mantém as relações hierárqui-cas e de poder. Por esse motivo é que é chamado, por muito teóricos da comunica-ção e das artes, de “Revolução” este mo-mento em que surgem a escrita eletrônica e seus dispositivos de leitura:

Estamos, sem dúvida, entrando numa revolução da informação e da comuni-cação sem precedentes que vem sendo chamada de revolução digital. O aspecto mais espetacular da era digital está no poder dos dígitos para tratar toda in-formação, som, imagem, vídeo, texto, programas informáticos, com a mesma linguagem universal, uma espécie de esperanto das máquinas. Graças à digi-talização e compressão dos dados, todo e qualquer tipo de signo pode ser rece-bido, estocado tratado e difundido, via computador. Aliada à telecomunicação, a informática permite que esses dados cruzem oceanos, continentes, hemisfé-rios, conectando potencialmente qual-quer ser humano no globo numa mesma rede gigantesca de transmissão e aces-so que vem sendo chamada de ciberes-paço (SANTAELLA, 2004: 71).

Esse momento de mudança esta-belece temas cruciais, segundo Furtado, da transição do texto impresso para o suporte eletrônico, sendo questões que o autor dis-cute em seus estudos procurando entender como é a natureza do livro no mundo digital como forma de comunicação; como ocorre o controle dos livros, da autoria, dos consu-midores e mesmo como gerir a herança cul-tural; e como reestruturar as economias de autoria e edição. Esses questionamentos fazem parte de um momento em que são precisas respostas que justifiquem o apare-cimento do eletrônico numa sociedade his-toricamente marcada pela escrita impressa/linear.

A palavra Interatividade é um con-ceito importante quando falamos em Leitura e Escrita nas Novas Mídias, pois a relação entre escritores e produtores de informação com seus leitores e receptores é baseada na interação entre ambos. Dessa forma, Interatividade não é algo novo ou que sur-giu com o advento das novas mídias, pois pode haver interação entre um escritor de obras impressas e seus leitores. O que, no entanto, é importante saber é em que sen-tido usamos o termo em questão, como diz SANTAELLA, 2004 p. 153: diante dessa proliferação ilimitada de sentidos, é preciso recuperar uma noção mais estreita, porém mais significativa do termo ‘interatividade’.

Toda palavra quando muito usada

Leitura, escrita e novas mídias

Page 100: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade100

por uma grande parcela de pessoas, sen-do que a usam de diferentes maneiras pos-síveis, gera um desconforto e até mesmo uma grande confusão. A palavra Interati-vidade está sendo correntemente usada neste momento que vivemos da chamada Revolução Digital (SANTAELLA, 2004). Di-versas definições foram dadas ao termo, o que fez com que muitos estudiosos crias-sem resistência ao seu uso em obras de pesquisa de caráter científico. Numa pes-quisa rápida pelos livros e pela Internet po-demos confirmar esta infinidade de usos da palavra Interatividade:

Como pudemos perceber, é neces-sário que saibamos em que sentido e para qual objetivo usamos a palavra em questão. O que é marcante saber, é que esta pes-quisa dos significados da palavra interativi-dade já demonstra por si só o que é viver em uma sociedade que tem nos dias atuais a interação como palavra chave, ou seja, a relação entre pessoas, entre pessoas e máquinas são exemplos da necessidade de compreendermos o uso deste termo que se tornou fundamental para o entendimento da sociedade atual. Apesar de sabermos que faz parte da própria condição humana não viver isoladamente, o que afirmamos aqui é que este conceito Interatividade está ain-da mais presente nos dias atuais devido ao avanço tecnológico e suas possibilidades de interação.

É fácil perceber que ao fazer uma pesquisa rápida sobre um termo em livros ou mesmo e mais rapidamente na Internet, estamos interagindo com um número in-finito de pessoas que também, por algum motivo, tenha procurado saber o significado desta palavra. Assim sendo, percebemos que o que parece ser uma simples pesqui-sa na qual isoladamente eu procuro saber o sentido de um termo, torna-se, graças às novas tecnologias, a internet no caso, uma grande teia de interatividade.

Da mesma forma é importante no-tar que interagimos constantemente com os demais seres humanos e máquinas que fazem parte da sociedade. A interatividade na sociedade já é algo inerente na vida das pessoas que o fazem muitas vezes sem nem sequer notarem que o estão fazendo.

A revolução digital a qual se refere

SANTAELLA (2004) é algo que já presen-ciamos até de forma tranqüila e natural, visto que nossas crianças já nascem com a mão no mouse e os olhos nas telas da TV e do computador, ouvindo nossas músicas e sonhando com nossas histórias. Dessa forma, apesar do substantivo revolução, es-sas mudanças ocorrem de forma um tanto quanto aparentemente natural, no entanto, ainda existem realidades bastante distantes desta revolução e que estão à margem das novas tecnologias.

A vivência na sociedade em rede nos proporciona uma reflexão a respeito das mudanças de paradigmas que enfren-tamos neste momento, chamado por muito teóricos da atualidade, da terceira revolu-ção, afirma CASTELLS (2001) que o que é caracterizado na atual revolução tecnoló-gica não é a centralidade de conhecimen-tos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de conhecimentos e de disposi-tivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso.

Portanto, a Interatividade no seu sentido mais amplo é a interação entre hu-mano-humano por meio do diálogo com uso ou não de inovações tecnológicas e tam-bém a interação entre homem-máquina:

...uma definição mais básica de intera-tividade nos diz que se trata aí de um processo pelo qual duas ou mais coisas produzem um efeito uma sobre a outra ao trabalharem juntas. Uma definição menos genérica e mais simplificada diz que interação é a atividade de conversar com outras pessoas e entendê-las. Nes-ta última definição está explícita a inser-ção da interatividade em um processo comunicativo, que, na conversação, no diálogo, encontra sua forma privilegiada de manifestação (SANTAELLA, 2004: 154).

Dessa forma, a interatividade pode ocorrer por meio de diferentes tecnologias, desde as mais simples e conhecidas como o texto impresso de leitura linear no qual o autor propõe um diálogo com seu leitor, quanto àquelas com suporte hipermidiático, nas quais a máquina oferece muitas ferra-

SILVA, F. C. da

Page 101: ISSN 2236-0468

101Interciência & Sociedade

mentas que colaboram no dialogismo entre os envolvidos na interação.

A palavra “Mídia” tem sua origem no Latim e significa “meios” em português. O acesso a esse conceito ocorreu via lín-gua inglesa (media que pronuncia-se mídia) e que foi apropriado no português do Bra-sil todas as vezes que se quer referir aos meios de comunicação em geral, tais como os recursos tecnológicos que dispomos em nossos processos comunicacionais: rádio, TV, entre outros. O uso destas ferramentas, isoladamente, corresponde a uma determi-nada mídia, por exemplo: a TV.

Atualmente muito se fala em novas mídias, mas o que seria isso? Em seu artigo intitulado “Novas mídias como tecnologia e idéia: dez definições”, MANOVICH (2009) busca compreender o que seriam estas novas mídias, afirmando que esta pergun-ta ainda não é fácil de ser respondida, mas que o autor o tentará fazer elaborando dez respostas possíveis, desde a diferenciação entre novas mídias e cibercultura – sendo a primeira mais uma questão cultural e de máquina computacional e a segunda mais redes sociais – passando por questões de novas mídias atreladas a organização de dados por softwares até chegar a discus-são sobre a relação das novas mídias com a arte, ao afirmar que os novos criadores de softwares é quem são os novos artistas.

Outro fator importante na reflexão de Manovich em seu artigo é o que ele cha-ma de “etapas da nova mídia”, o que pode ser encontrado em diferentes manifesta-ções de usos destes novos recursos. O que autor afirma é que existem, como é sabido, ideologias a permearem os usos destes novos recursos midiáticos (como o compu-tador, por exemplo), e que todo recurso já foi um dia uma nova mídia. Por exemplo, o cinema, o rádio, a televisão já foram as-sim intitulados e hoje estão em um outro momento, deixaram de ser uma novidade, mas já tiveram o seu título de nova mídia. Sendo assim, o uso do termo Novas Mídias é, muitas vezes, utilizado como estratégia para que uma obra, um texto ou mesmo um recurso tecnológico seja difundido como algo inovador e ganhe repercussão. Portan-to, utilizar este título pode ser algo mais ide-ológico, com intenções de propagação do

recurso/obra, do que propriamente uma ino-vação no sentido mais restrito da palavra.

As novas mídias, assim chamadas, apesar das dificuldades ainda hoje de res-ponder o que sejam, encontram em Mano-vich uma definição interessante: “as novas mídias são objetos culturais que usam a tecnologia computacional digital para distri-buição e exposição”. Aqui o autor faz uma distinção importante entre mídia e novas mídias: não é o uso ou não dos recursos computacionais que definem as novas mí-dias, mas sim a distribuição e exposição. Sendo assim, os objetos culturais que usam a computação apenas para produzir e ar-mazenar dados não são classificadas como novas mídias.

No percurso evolutivo das mídias às novas mídias (uma constante evolução como vimos em Manovich), torna-se inte-ressante verificar as diferenças entre a Mul-tímidia e a Hipermídia.

O uso de diferentes mídias para um mesmo propósito, seja em uma aula, numa apresentação da empresa, numa apresen-tação teatral, dentre tantas outras, chama--se de multimídia. Como exemplo, imagi-nemos uma peça teatral na qual o diretor faz uso das seguintes mídias: o aparelho de rádio que executa CD (Compact Disc) para reproduzir músicas românticas de acordo com o enredo da obra; um projetor para re-produzir imagens de lugares paradisíacos e bucólicos, com o intuito de sensibilizar a platéia; entre outros recursos disponíveis, demonstram que há nesta dramatização o uso de um aparato multimidiático.

O próprio aparelho de televisão é considerado uma multimídia, pois agrupa som e imagem num mesmo aparato. Por-tanto, multimídia corresponde à integração de diferentes modalidades de mídias sendo, como afirma FERREIRA (1999) uma combi-nação de diversos formatos de apresenta-ção de informações, como textos, imagens, sons, vídeos, animações, etc., em um único sistema.

Com o surgimento do computador houve um salto na evolução das mídias, causando a chamada convergência das mí-dias – as hipermídias:

Leitura, escrita e novas mídias

Page 102: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade102

A aliança entre computadores e redes fez surgir o primeiro sistema ampla-mente disseminado que dá ao usuário a oportunidade de criar, distribuir, rece-ber e consumir conteúdo audiovisual em um só equipamento. Uma máquina de calcular que foi forçada a virar máquina de escrever há poucas décadas, agora combina as funções de criação, de distri-buição e de recepção de uma vasta va-riedade de outras mídias dentro de uma mesma caixa (SANTAELLA, 2004:20).

A diferença entre a multimídia e a hipermídia é que a segunda pode ter di-ferentes mídias sendo utilizadas de uma única vez no mesmo espaço, ou seja, o computador. Essa miscelânea de aparatos midiáticos presentes num único aparelho revolucionou toda a Tecnologia da Infor-mação e da Comunicação, estabelecendo uma postura ainda mais inovadora em seus usuários, já que, em tese, qualquer pessoa que conheça um pouco de cada uma das mídias, pode usá-las conjuntamente tendo como suporte o computador.

Todas estas inovações requerem de nós, leitores/consumidores e escritores/produtores uma postura diferenciada em re-lação às definições de leitura e escrita nas

novas mídias. Afinal, diferentes suportes re-querem diferentes leitores, sendo que com as novas mídias os papéis de ambos (escri-tor e leitor) são redesenhados e redefinidos, fazendo surgir os chamados escrileitores (leitor/escritor), mais ativos na construção e definição da própria noção de texto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORGES, J. L. O Livro de Areia. São Paulo: Compa-nhia das Letras, 2007.

CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

FERREIRA, A. (org.) Relatos de Experiência de En-sino e Aprendizagem de Línguas na Internet. Cam-pinas, SP: Mercado de Letras, 2004.

FURTADO, J. A.. Livro e Leitura no Novo Ambiente Digital. Porto: Porto Editora, 2002.

HORCADES, C. M. A Evolução da Escrita. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2 ed., 2007.

MANOVICH, L. Novas Mídias como Tecnologia e Ideia: dez definições. In: LEÃO, Lucia (org.) O Chip e o Caleidoscópio: Reflexões sobre as novas mídias. São Paulo: Senac São Paulo, 2005.

SANTAELLA, L. Navegar no Ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.

Fabiano Correa da Silva é graduado em Letras pela PUC-Campinas. Mestre em Educação Superior pela PUC--Campinas e Doutorando em Ciência da Informação pela UFP - Porto/Portugal. Professor de Ensino Superior há 9 anos . Professor da Instituição de Ensino São Francisco (IESF). Coordenador Geral da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM). Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Educação, Ciência e Tecnologia do CNPq. Pesquisador do Projeto PO-EX - UFP, financiado pela FCT - Fundação de Ciência e Tecnologia de Portugal.

SILVA, F. C. da

Page 103: ISSN 2236-0468

103Interciência & Sociedade

1. INTRODUÇÃO

A participação pública na gestão local tem sido preconizada e defendida por pesquisadores, planejadores e administra-dores, ora como um direito, desejável ou conveniente, ora como um dever e, muitas vezes, como uma necessidade. A partici-pação pública não se restringe ao simples exercício de uma dessas faces, mas diante desse conjunto, em busca de um processo

de mútuo aprendizado e muita solidarieda-de. A participação pública tem como finalida-de última a busca do consenso, quanto ao que se deseja e quanto à forma de obtê-lo. Nessa busca muitas vezes ocorrem confli-tos e confrontos, que não devem ser temi-dos, pois em muitas situações é a partir de-les que surgem as condições propícias para o estabelecimento do diálogo (Connolly & Richardson 2004). Contudo, reconhecem--se as dificuldades que os planejadores en-

PARTICIPAÇÃO PÚBLICA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL: proposta de um modelo para organização do diálogo

RESUMO: As vantagens e a conveniência da participação pública nas atividades de planejamento têm sido intensamente discutidas. Administradores, empresas e órgãos públicos que fomentam este debate apontam a participação pública como algo vantajoso, conveniente e necessário. No entanto, as dificuldades para se incorporar a participação pública nos processos de tomada de decisão são muitas e igualmente reconhecidas, o que tem mantido o assunto sob discussão. Este trabalho parte do pres-suposto de que a participação pública é, de fato, necessária. Tem por objetivos identificar os requisitos para que ela ocorra de forma positiva e efetiva e, principalmente, investigar a possibilidade de manu-tenção de uma aliança estável entre os atores sociais. Porém, para obter sucesso é necessário que o processo de participação tenha uma clara linha metodológica condutora e avaliadora das tomadas de decisão. Nessa direção, este estudo apresenta a proposta de um instrumento de auxílio ao processo participativo, designado MOD - Modelo de Organização do Diálogo, que procura reunir os requisitos considerados indispensáveis para assegurar a participação autêntica dos atores sociais. O modelo foi construído a partir de considerações e conclusões extraídas da bibliografia e de sua aplicação em um estudo de caso, desenvolvido na Serra do Japi, em Jundiaí (SP, Brasil).PALAVRAS-CHAVE: participação, comunidade, oficina

SCARABELLO FILHO, SinésioPrefeitura do Município de Jundiaí

[email protected]

SANTOS, Rozely F.Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

[email protected]

ABSTRACT: The advantages and suitability of citizen participation in the management of protected are-as have been discussed intensely. Managers, companies and public agencies that foment this debate point the citizen participation as something advantageous, convenient and even necessary. However, the difficulties to incorporate the public participation in the process of making decisions are many and equally recognized, what has been keeping the subject on intense discussion. This study takes for gran-ted that public participation is, in fact, necessary. But, it tries to identify the requirements so that it ha-ppens in positive and efficient way and, mainly, to investigate the possibility of maintenance of a stable alliance among the citizen participants. For that, this study proposes a model designated MOD – Model of Organization of the Dialogue, conceived from considerations and conclusions derived of the biblio-graphy and applied in a study case, with the community of Serra do Japi, at Jundiaí (São Paulo, Brazil). KEYWORDS: participation, community, workshop.

Page 104: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade104

frentam em encontros públicos diante da expectativa de obter solidariedade e con-senso. Conforme citam Margerum & Whitall (2004) “a colaboração tem se tornado rapi-damente o paradigma dominante no geren-ciamento de recursos naturais, mas existem muitos dilemas sobre como ela é efetiva-mente aplicada”. Por um lado trabalham-se os interesses de cada ator ou grupo social que comumente não combinam e, por ou-tro, tem-se as agências estatais que plane-jam sob condições de alta complexidade e incerteza, mas necessitando conduzir o processo com transparência, flexibilização de procedimentos e credibilidade (Pequeno & Marques 2004). Em síntese, ter entre os grupos sociais a pré-disposição para dia-logar e pactuar um consenso inicial não é uma tarefa simples.

Para melhor conduzir o proces-so de participação é necessário estabele-cer um forte diálogo entre os participantes que deve ser cuidadosamente preparado. Não bastam a simples comunicação entre os participantes e a explicitação dos seus interesses. A instalação do diálogo entre eles pressupõe que eles compartilham de conhecimentos comuns e, sobretudo, que eles se compreendem. A compreensão não “cai do céu”, nem se estabelece com a sim-ples troca de informações (Morin 2000). A compreensão precisa ser construída, ensi-nada e aprendida, em um processo lento, interativo e iterativo. Trata-se de um pro-cesso de educação e de aprendizado, no qual as informações não passam de maté-ria prima e, desta maneira, não podem ser confundidos com o resultado. A compreen-são está alicerçada no senso comum, nos preconceitos e no cotidiano dos indivíduos. Crespo (1998), Reigota (1994), Santos et al. (2001) e Santos (2004), concordam que é comum verificar propostas de “consenso” cujos conceitos que norteiam o seu enten-dimento e fundamentam-se em diferentes interpretações sobre o mesmo fato. Desta forma, o consenso mínimo inicial, em re-lação aos objetivos do planejamento e as condições de conservação ambiental defi-nidas no diagnóstico ainda correspondem à fase de compreensão dentro do processo de participação.

Estudos sugerem que o senso de

comunidade e o senso de poder são fato-res capazes de estimular uma população (Julian et al. 1997), conduzindo a um con-senso. O senso de comunidade pode ser descrito como o senso de pertencer e de ser parte de uma grande coletividade. Zim-merman & Rappaport (1988) descrevem o senso de poder, ou de conseguir influenciar, como a conexão entre o senso de capacida-de pessoal e a disposição para atuar. Julian et al. (op.cit.), concluem que as instituições responsáveis por planejamento e preocupa-das coma a participação devem considerar, efetivamente, o grau de capacitação dos partícipes para tomar. Para Scarabello Fi-lho (2005) o senso de poder instala-se entre os participantes se o processo contar com credibilidade, se de fato existir uma pré-dis-posição determinada pelo senso de comu-nidade e, de se fato existir um certo grau de distribuição do poder.

Além dessas condições, os partíci-pes devem ter uma visão clara da variedade de alternativas e dos efeitos prováveis das escolhas disponíveis (Taylor 1998). Deve--se considerar que julgamentos de interes-ses são julgamentos de valores. É impor-tante que as pessoas reconheçam que seus interesses são problemas de valor, e que as decisões interferem no coletivo. Assim, uma vital condição para que os indivíduos se tornem juizes competentes dos seus inte-resses é o estabelecimento do diálogo com outros, o que implica em um processo de deliberação interpessoal e não individual.

A idéia de que se obtém uma refle-xão coletiva mantida pelo diálogo e traduzi-da em deliberações de consenso a partir de reuniões ordinárias ou questionários semi--estruturados é altamente suspeita. Quan-do se trata de identificar interesses sobre questões complexas que envolvem a qua-lidade de vida o diálogo direto com as pes-soas é demorado e muitas vezes repetido, para que represente, com riqueza e preci-são, os reais interesses da população. Em outras palavras, é necessário atender a um conjunto de requisitos fortemente estabele-cidos ao longo do processo de participação, para que ela efetivamente aconteça, com a manifestação da espontaneidade e dos in-teresses de todos os envolvidos. Por todas essas razões, o objetivo deste estudo foi

SCARABELLO FILHO, S.; SANTOS, R. F.

Page 105: ISSN 2236-0468

105Interciência & Sociedade

construir um modelo metodológico que pu-desse nortear a participação pública a partir de seus princípios teóricos primários. Para averiguar a efetividade dessa proposta, o modelo foi aplicado e revisado ao longo de oficinas públicas que tinham como meta construir um cenário de expectativa para a preservação das áreas da Serra do Japi, no Município de Jundiaí. A hipótese é que, se o modelo for consistente, ele permite a par-ticipação de forma positiva e efetiva e, prin-cipalmente, conduz a uma aliança estável entre os grupos sociais.

2. Material e Métodos

Para a construção de um modelo metodológico de participação pública foi realizado um levantamento bibliográfico dentro de um processo de “garimpagem” (PIMENTEL, 2001). Foram consultados banco de dados digital de diversas univer-sidades e periódicos eletrônicos. As refe-rências foram organizadas e interpretadas de acordo com os objetivos da investigação proposta. Foram também levantados dados digitais sobre a área foco junto a Prefeitura de Jundiaí (SP). Foi feito um levantamento de termos-chave que foram utilizados para instrumentalizar a análise dos fatos e con-ceitos fundamentais apresentados nesses documentos. O resultado foi a obtenção de um esboço de um modelo para participação pública, cuja efetividade foi ajustada a partir de um estudo de caso.

O modelo foi aplicado e ajustado por meio de quatro ciclos de oficinas de-senvolvidos durante dois anos com a co-munidade da Serra do Japi, envolvendo em torno de 20 participantes. O objetivo dos encontros foi construir, a partir do modelo, o cenário de expectativas da comunidade sobre os usos adequados para as áreas da Serra do Japi, em Jundiaí. Foram convida-dos representantes das vertentes institucio-nal, técnico-científica e comunitária do mu-nicípio de Jundiaí e áreas vizinhas.

3. Resultados

Os estudos pesquisados permi-tiram concluir que a participação pública deve ocorrer estruturada em ciclos de re-

alimentação e que, em cada ciclo comple-to, devem ser satisfeitos, no mínimo, cinco princípios básicos para organizar o diálogo:

Pré-compreensão: cada participante do processo deve, a partir do seu ponto de vista, assimilar e compreender a natureza da atividade de planejamento, suas carac-terísticas e os seus objetivos, de longo e de curto prazos, considerando que o processo desenvolve-se sempre orientado para a to-mada de decisão.

Consenso Mínimo: deve ser obtido a par-tir da discussão dos conceitos importantes para o debate e dos seus significados para os participantes, o que implica no levanta-mento e interpretação das representações sociais. O consenso mínimo garante a par-ticipação contributiva, tanto na formulação das propostas como na prática que as su-cede.

Senso de poder: corresponde ao senso de capacidade acrescido da motivação, ou da disposição para participar. O senso de po-der instala-se entre os participantes se o processo contar com credibilidade; se de fato existir uma pré-disposição determina-da pelo senso de comunidade e se, de fato, existir certo grau de distribuição de poder.

Deliberação e escolhas racionais: ocorrem quando todos os participantes têm conheci-mento do conjunto de alternativas possíveis e do conteúdo e dos efeitos de cada alter-nativa. Além disso, a partir da consciência da falibilidade individual, cada participan-te deve estimular a própria capacitação e abrir-se para o diálogo.

Reflexão coletiva útil: entendida como a reflexão que produz resultados, isto é, que identifica e especificam alternativas e solu-ções. A reflexão coletiva útil instala-se en-tre participantes aptos, comprometidos com os resultados do processo, a partir de um diálogo permanente desenvolvido sob con-dições racionais de apresentação de argu-mentos, de identificação e aprimoramento de alternativas e de deliberação.

Tais condições ou princípios cor

Participação pública e planejamento ambiental: proposta de um modelo para organização do diálogo

Page 106: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade106

respondem aos elementos ligados por vín-culos causais, em um arranjo circular de realimentação, conforme representado na Figura 1. O arranjo circular permite que os resultados obtidos em cada ciclo de debate e discussões sejam imediatamente incor-porados pelos participantes como novos conteúdos que ampliam os níveis de conhe-cimento, compreensão e consciência dos partícipes do processo naquele momento. Desta forma, ao se concluir um determi-nado ciclo, pode ocorrer que os resultados

obtidos permitam avançar na direção de questões mais complexas ou, simplesmen-te, realimentem um novo ciclo de debate so-bre as mesmas questões tratadas no ciclo que se encerrou. Neste caso, trata-se de reavaliar deliberações anteriores a partir de um novo nível de consciência, mais amplo e mais profundo. Assim o arranjo circular de realimentação assegura condições para um avanço contínuo, regulado pelo próprio pro-cesso, na direção de maior complexidade e maior consciência.

6 Resultado

ss

2 Consenso

Mínimo

3 Senso de

Poder

5 Reflexão Coletiva

útil

4 Condições

Racionais de Deliberação e

Escolha

1 Pré-

compreensão 1b

1a

1c

2a

2b

3b

3c

4b

3a

4a

1 Pré-compreensão 1a Conhecimento da natureza do problema 1b Conhecimento das características do problema 1c Conhecimento dos objetivos 2 Consenso mínimo 2a Identificação e discussão de conceitos específicos 2b Identificação das representações sociais 3 Senso de poder (capacidade e disposição) 3a Credibilidade do processo 3b Senso de comunidade 3c Distribuição do poder

4 Condições racionais de deliberação e escolha

4a Conhecimento das alternativas 4b Consciência da falibilidade individual 5 Reflexão coletiva útil Diálogo orientado para a tomada de decisão 6 Resultado Expressão do nível de consciência alcançado no final do ciclo, permitindo a tomada a decisão ou a realização de diálogo.

MOD

Figura 1. Modelo de Organização do Diálogo.

SCARABELLO FILHO, S.; SANTOS, R. F.

Page 107: ISSN 2236-0468

107Interciência & Sociedade

O primeiro e mais importante requi-sito para o desenvolvimento de um processo de participação é a compreensão. De fato, a necessidade da compreensão impõe-se em todo o processo de participação e é dela que derivam os demais requisitos. No pro-cesso de planejamento, preliminarmente, a pré-compreensão envolve o conhecimento e o entendimento dos conceitos associa-dos à atividade, suas características, obje-tivos e possibilidades. Trata-se de entender o que se pretende fazer e alcançar, isto é, quais são os resultados esperados com o desenvolvimento do processo de planeja-mento, com os respectivos riscos e condi-ções. O conhecimento de que os processos de planejamento desenvolvem-se sempre orientados para a tomada de decisão deve ser transmitido e enfatizado, assegurando o entendimento de que a deliberação e a escolha constituem a meta final do proces-so. Além disso, a pré-compreensão deve incluir o entendimento sobre a situação da área objeto do processo de planejamento e sobre a importância dos resultados pre-tendidos. A compreensão, portanto, precisa ser construída, ensinada e aprendida, em um processo lento, interativo e iterativo. Enfatiza-se que a pré-compreensão é para o indivíduo o alicerce de todo o processo de compreensão, tendo por sua vez a influ-ência das suas representações sociais ou senso comum que se tem sobre um deter-minado tema, onde se incluem também os preconceitos e características específicas das atividades cotidianas, sociais e profis-sionais dos indivíduos (Reigota 2001). As-sim, o consenso mínimo inicial, em relação aos objetivos, diagnóstico, e conceitos as-sociados às questões em discussão, ainda corresponde a essa primeira fase do mode-lo, ou seja, da compreensão.

Desde a década de 1990, estudos sugerem que o senso de comunidade e o senso de poder são fatores capazes de esti-mular a população a considerar-se parte de uma grande coletividade e de conseguir in-fluenciar uns aos outros (Julian et al. 1997, Zimmerman & Rappaport 1988). O senso de poder instala-se entre os participantes se o processo contar com credibilidade, se de fato existir uma pré-disposição determi-nada pelo senso de comunidade e se, de

fato, existir certo grau de distribuição do po-der.

Os três requisitos antes descritos, isto é, a pré-compreensão, o consenso mí-nimo e o senso de poder parecem a princí-pio ser suficiente para o estabelecimento da discussão, ou de um processo completo de participação pública. Contudo, mesmo sob tais condições, o processo pode enfrentar sérias dificuldades e conduzir a equívocos no momento da deliberação, resultando em decisões que contrariam os interesses dos próprios participantes. Segundo Taylor (1998), as pessoas estão mais preparadas para fazer julgamentos competentes sob condições de deliberação e escolha racio-nais, isto é, sob condições de autonomia pessoal relativa. Assim, concluída a etapa de identificação de alternativas e de formu-lação de propostas, o processo assume um caráter predominantemente estratégico e se desenvolve orientado para a implemen-tação das ações correspondentes às esco-lhas feitas.

A aplicação do MOD com seus seis ciclos para o estudo de caso obteve excelentes resultados, com deliberações fortemente consensuadas, retratadas em um cenário desejado, além da construção de uma aliança estável entre os grupos so-ciais. Porém, deve-se considerar algumas outras questões que foram limitantes para sua aplicação. Assim, o modelo proposto exige que as pessoas envolvidas dispo-nham de tempo, dedicação e capacitação. Essa condição limita o processo que dificil-mente pode ser desenvolvido no contexto de uma grande participação popular, com a mobilização de um grande número de pes-soas. Por outro lado, a seleção prévia dos participantes se configura em uma tarefa complexa, que exige decisões que também não devem ser tomadas por um ou outro grupo social. Assim, a identificação dos gru-pos sociais que são participantes potenciais constitui-se em um problema que não admi-te uma resposta única, ou uma fórmula que pode ser seguramente empregada em qual-quer caso. Por essa razão, no encaminha-mento do processo aplicado em Jundiaí, os atores inicialmente convidados participaram na identificação de outros que, inclusive, ti-nham eventualmente sido

Participação pública e planejamento ambiental: proposta de um modelo para organização do diálogo

Page 108: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade108

excluídos na pré-seleção. Em síntese, cou-be aos próprios participantes identificar os representantes mais aptos e interessados, constituindo uma equipe que participaria de todas as atividades do processo em um ci-clo reiniciado pelos integrantes. Em suma defende-se que a escolha dos participan-tes, sua seleção ou exclusão, deve ser re-alizada dentro do próprio processo, que se mantém sempre aberto à participação, mas que se auto-regula pela comunidade dire-tamente envolvida. Este estudo evidenciou também que, diante da impossibilidade de responder às exigências do processo, al-guns partícipes que se consideraram preju-dicados desistiram ou promoveram discus-sões no sentido da alteração de critérios e

métodos. No entanto, o princípio adotado durante os encontros foi que, em qualquer hipótese, as decisões sempre deveriam ser determinadas e legitimadas pelos partici-pantes. Nessa linha, a formação da equipe consolidou-se no decorrer do processo e em conseqüência das dificuldades enfren-tadas, ou como já observava Senge (1998) ... “A equipe que se tornou excelente não começou excelente, ela aprendeu a produ-zir resultados extraordinários”.

A aplicação do modelo MOD na Serra do Japi necessitou dois anos para exercitar todo seu conteúdo e foi aplicado em quatro ciclos de rotação de oficinas, com a inserção de vários métodos voltados à participação, conforme resume a Figura 2.

Identificação Preliminar dos Atores Sociais ↓

Desencadeamento do Processo de Participação

Reuniões Preliminares : ONGs, Associações, Conselhos Comunitários e interessados em geral

↓ 1.º Ciclo de Identificação e Qualificação dos Atores Sociais Participação ↓ Pública

C I Identificação dos Representantes dos Grupos

Sociais e Constituição da Equipe da

C Comunidade L ↓ O Estabelecimento da Reflexão Coletiva ← ↓ →

C O N T

E Q

Preparação do Questionário Estruturado

Preparação do 1.° Relatório

Í U → ← N I ↓ U O P

E Reuniões de Apresentação e Distribuição do Questionário e do 1. ° Relatório

2.º Ciclo de ↓ Participação

D E Assessoramento aos Grupos Sociais e

Recebimento dos Questionários Respondidos Pública

D ↓ P A R

A

Preparação do 2.° Relatório :Consolidação dos Resultados em Matrizes de Acertos e Conflitos

T ↓ I C I

C O M

Reuniões de Apresentação, Distribuição E Discussão do 2.° Relatório

P U ↓ A Ç N

I Estabelecimento do Processo de Seleção dos Objetivos ou Usos Consensuados

à D ← ↓ → 3.º Ciclo de O A Participação

P Ú

D E

Discussão dos Resultados do 2.° Relatório

Discussão dos

Conceitos / Causas dos Conflitos

Pública

B → ← L ↓ I Deliberação sob Condições Racionais C ↓

A Cenário das Expectativas da Comunidade e Elaboração do 3.° Relatório

Reuniões de Apresentação do Cenário das Expectativas da Comunidade e do 3.° Relatório 4.º Ciclo de

Participação e de Divulgação das Propostas Pública

Figura 2. Etapas para a Construção do Cenário das Expectativas da Comunidade.

SCARABELLO FILHO, S.; SANTOS, R. F.

Page 109: ISSN 2236-0468

109Interciência & Sociedade

É importante ressaltar que o tempo de duração do envolvimento dos participan-tes representa o principal fator para o suces-so do processo. Assim, por exemplo, a fase de “reflexão coletiva útil”, isto é, da reflexão que avança produzindo resultados, exige que as todas as condições articuladas no arranjo circular que constitui o MOD sejam, efetivamente atendidas - o que pressupõe muito tempo para sua efetivação. No início do processo a pré-compreensão, o consen-so mínimo e o senso de poder podem ser estabelecidos, em níveis satisfatórios, para o conjunto de questões envolvidas, ou seja, em relação ao objetivo final de todo o de-bate. Porém, em relação às questões sobre as quais há, efetivamente, conflitos entre

os grupos sociais, tais requisitos somente serão atendidos após uma determinada du-ração do diálogo direto entre os partícipes envolvidos. Em conseqüência, é preciso insistir que os representantes dos grupos sociais constituam um grupo estável, com a participação e assiduidade dos mesmos in-divíduos. Havendo esta estabilidade e des-de que o processo tenha duração suficien-te, surge a coesão entre os participantes e o grupo torna-se efetivamente uma equipe.

Durante os dois anos de aplica-ção do MOD procurou-se verificar como se dava a evolução dos elementos envolvidos na transformação de um grupo em uma equipe. As conclusões obtidas estão grafi-camente representadas na Figura 3.

Foi constatado que nas questões sobre as quais não havia entendimento su-ficiente entre os participantes, os conflitos aumentavam no início do processo de dis-cussão até um valor máximo, associados a uma determinada duração dos debates, que pode ser chamada de “duração crítica”. Neste momento foi importante considerar que o consenso não é possível e se o pro-cesso for encerrado restará a impressão de que os resultados que podem ser obti-dos com a participação pública são extre-

mamente limitados. Se houver persistência e o processo de discussão for conduzido além da duração crítica, os participantes passam a se empenhar na busca de alter-nativas conciliadoras, ocorrendo a redução das intransigências tanto quanto o aumen-to da abertura para o diálogo e, finalmente os conflitos são superados. Sem dúvida, o instante que determina a duração crítica certamente varia de uma questão para ou-tra ou entre diferentes locais, não podendo ser pré-determinado. No entanto, no caso

Figura 3. Evolução do Processo Participativo. Dm= duração mínima do processo Dc=duração crítica.

Participação pública e planejamento ambiental: proposta de um modelo para organização do diálogo

Page 110: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade110

Jundiaí ele foi facilmente percebido pelos participantes. Além disso, a apresentação de alternativas de input aos participantes contribuiu para o surgimento de propostas conciliadoras, reiterando as conclusões de Taylor (1998) sobre as condições racionais de deliberação e escolha.

4. CONCLUSÕES

O MOD – Modelo de Organização do Diálogo procurou estabelecer um pro-cesso que reúne as condições considera-das importantes para o desenvolvimento do diálogo, com minimização dos erros no momento das deliberações. Ele propiciou o exercício da dialética, ou da arte de ra-ciocinar com método entre os membros de uma equipe que pode compartilhar conheci-mentos e adquirir habilidade para fazer uso adequado das ferramentas e dos instru-mentos disponíveis. Trata-se, assim, de um instrumento de auxílio para a organização da participação pública em processos de planejamento ambiental e para orientar os processos de tomada de decisão em grupo, objetivando o consenso entre os participan-tes. Ele contribui na obtenção do consenso na medida em que propõe o diálogo repeti-tivo diante de cada novo conceito ou alter-nativa apresentada.

O estudo de caso demonstrou que foram necessários quatro ciclos de encon-tros para perfazer as seis fases que com-põem um ciclo completo de participação. Este é, sem dúvida, o principal fator de-terminante do sucesso do processo e sua maior limitação, uma vez que exige um lon-go tempo de duração para o efetivo envolvi-mento dos partícipes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONNOLLY, S. E.; RICHARDSON, T. Exclusion: The necessary difference between ideal and practical con-sensus. Journal of Environmental Planning and Ma-nagement, v. 47, n. 1, p 3-17 (15), 2004. CRESPO, S. (org.) O quanto o brasileiro pensa do

meio ambiente, do desenvolvimento e da susten-tabilidade. Rio de Janeiro: ISER, 1998.

JULIAN, D. A.; et al. Citizen Participation: lessons from a local united way planning process. Journal of the American Planning Association, v. 63, n. 3, p. 345-355, 1997. DOI: 10.1080/01944369708975927

MARGERUM, R.D.; WHITALL, D. The Challenges and Implications of Collaborative Management on a River Basin Scale. Journal of Environmental Plan-ning and Management, v. 47, n. 3, 2004.http://jour-nalsonline.tandf.co.uk/app/home/contribution.asp?.wasp=f9207fb795c74b2ca.

MORIN, E. Os Sete Saberes Necessários à Edu-cação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2ª Ed, Brasília, DF: UNESCO, 2000.

PEQUENO, R.; MARQUES, O. Instrumentos e Me-todologia de Participação Popular no Plano Di-retor: Plano Diretor Participativo – Guia para a ela-boração pelos municípios e cidadãos. Ministério das Cidades, Brasília-DF: 2004.

PIMENTEL, A. O método da análise documental: seu uso numa pesquisa historiográfica. Cadernos de Pesquisa, n. 114, p. 179-195, 2001.

SANTOS, R.F.; et al. Educação e Planejamento Ambiental: uma relação conceitual - A Contribuição da Educação Ambiental à Esperança de Pandora. In: Santos J.E. & Sato M. São Paulo: Rima Editora, 2001.

SANTOS, R.F. Planejamento Ambiental, teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.

SCARABELLO, F.S. O Artífice e a Ferramenta. (Tese de Doutorado). São Paulo: Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2005.

SENGE, P.M. A Quinta Disciplina. São Paulo: Edito-ra Best Seller – Círculo do Livro, 1998.

TAYLOR, N. 1.998. Mistaken Interests and the Dis-course Model of Planning. Journal of the American Planning Association, v. 64, n.1, p. 64-75, 1998.

REIGOTA, M. O que é educação ambiental. Cole-ção primeiros passos. São Paulo: Editora Brasiliense, 2001.

ZIMMERMAN, M.A.; RAPPAPORT, J. Citizen par-ticipation, perceived control, and psychologi-cal empowerment. American Journal of Commu-nity Psychology, v. 16, n.5, p.725-750, 1988. DOI: 10.1007/BF00930023.

SCARABELLO FILHO, S.; SANTOS, R. F.

Page 111: ISSN 2236-0468

111Interciência & Sociedade

Sinésio Scarabello Fiho. Possui graduação em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP (1978), Mes-trado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP (2003) e Doutorado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP (2005). Atualmente é professor e coordenador do curso de gestão ambiental na Instituição Educacional Professor Luiz Rosa e Secretário de Obras da Prefeitura do Município de Jundiaí. Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Planejamento Urbano e Ambiental.

Rozely Ferreira dos Santos. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1975), mestrado em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade de São Paulo (1981) e doutorado em Ciências Biológicas (Ecologia Vegetal) pela Universidade de São Paulo (1988). Atualmente é professora associada da Uni-versidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Planejamento Ambiental e Ecologia da Paisagem.

Participação pública e planejamento ambiental: proposta de um modelo para organização do diálogo

Page 112: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade112

Page 113: ISSN 2236-0468

113Interciência & Sociedade

1. INTRODUÇÃO

Os mais recentes levantamentos feitos pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (MPE), apon-taram que 22% (vinte e dois porcento), das pequenas empresas brasileiras encerram suas atividades todo ano. Busca-se o fator principal para esse problema crônico brasi-leiro, já que essas mesmas MPE são reco-nhecidamente responsáveis pela maior par-cela de empregos gerados no país. Diversas pesquisas e reportagens que veiculam na mídia focam vários aspectos considerados como sendo os grandes causadores desses números (SEBRAE, 1998a).

Pode-se citar a falta de incentivos e subsídios do governo, altas taxas de ju-ros, acesso restrito ao crédito, exigência de contrapartidas elevadas ao se pleitear financiamentos junto a bancos, a crescente concorrência estrangeira, entre outros que são diariamente discutidos em vários pon-tos do país. É constante a preocupação em se buscar culpados para os próprios erros e a exagerada preocupação com fatores intangíveis para o empreendedor (DORNE-

LAS, 2010). Todos esses exemplos citados são

verídicos, importantes e preocupantes, po-rém são fatores de ordem macro e de difícil influência por parte do empreendedor iso-ladamente. As entidades representativas de sua classe estão aí para defender seus in-teresses e buscar melhores condições que viabilizem um cenário propício à criação e crescimento de novos empreendimentos.

Não há fórmula mágica para con-sertar uma empresa que está indo à falên-cia, mas é possível prevenir que ela fracas-se prestando atenção em alguns detalhes durante a abertura. E a pergunta é: Qual a responsabilidade do empreendedor, o que ele deve fazer? E a resposta é: planejar, planejar e planejar.

Entretanto segundo Dornelas (2010), é visível a falta de cultura e de pla-nejamento do brasileiro, que por outro lado é sempre admirado por sua criatividade e persistência.

Quantas vezes você já deve ter falado ou pensado uma dessas frases: Eu não tenho tempo para planejar. Eu não ne-cessito de um de um plano de negócio, pois

PLANO DE NEGÓCIOS: o caminho para o sucesso das micro e pequenas empresas

RESUMO: O presente trabalho apresenta algumas considerações que se devem tomar quando o em-preendedor deseja abrir seu negócio. O contexto leva em consideração a importância do plano de negócio para o sucesso das micro e pequenas empresas (MPE). Também é proposto uma pequena estrutura de plano de negócio como modelo para os iniciantes. A partir da formulação teórica, este tra-balho propõem utilizar o plano de negócios para oferecer diretrizes para os micro empresários criarem metas e disponibilizar aos seus colaboradores o seu objetivo para com estes estabelecimentos.PALAVRAS-CHAVE: Plano de negócio; Empreendedorismo; Oportunidade; Pequenos Negócios.

SILVA, Kátia ElaineUniversidad de la Empresa de Montevideo (UDE)

[email protected]

ABSTRACT: This paper presents some considerations should be taken when the entrepreneur wants to open her business. The context takes into account the importance of the business plan for the success of micro and small enterprises. Also proposed is a small structure of the business plan as a model for beginners. From the theoretical formulation, this paper proposes to use the business plan to provide guidelines for the micro and small enterprises create goals and provide its employees with his goal for these establishmentsKEYWORDS: Business plan; Entrepreneurship; Opportunity, Small business.

Page 114: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade114

eu tenho um em minha cabeça. Eu não sei como começar. Eu não sou bom com os nú-meros, etc.

Agora chegou a hora de colocar essas convicções em dúvida: Será que o planejamento não é importante?

Transformar uma idéia em um negócio pode parecer assustador em um primeiro instante, mas depois você terá a certeza que tudo faz parte de uma aventu-ra, com muitas passagens de suspense e agonia, mas também de conquistas, a cada passo do planejamento novos obstáculos irão aparecer e tentar fazer com que você volte de onde veio, mas a cada obstáculo vencido, será um passo a mais para o su-cesso. (DORNELLAS, 2010).

Tudo pode ser menos tenebro-so, basta para isto você ter conhecimento suficiente para reduzir constantemente os riscos, os fatos devem ser encarados de maneira objetiva, as principais razões para o falecimento das empresas é a falta de pla-nejamento. (BERGMANN, 2010).

Agora surge a seguinte questão problematizadora: O Plano de Negócio é realmente uma ferramenta que pode de-terminar o sucesso ou o fracasso de uma empresa?

Levando essa pergunta em con-sideração, esse artigo vai discutir e propor estruturas de planos de negócios e ainda focar a importância da revisão periódica do plano de negócio, para que essa ferramenta deixe de ser um empecilho e auxilie o em-preendedor alcançar o tão sonhado suces-so.

E o primeiro passo é identificar condições para melhores oportunidades de negócio.

2. Identificando a oportunidade de negó-cio

Para ser bem-sucedido, o empre-endedor precisa planejar o seu negócio improvisar jamais. Saltar no escuro não é exatamente uma boa pedida.

Segundo Chiavenato (2008), os empreendeores tendem a negligenciar o estágio de planejamento seja pela ansieda-de de iniciar o novo negócio, seja por falta

de confiança no instrumento ou mesmo pela falta de informação sobre como elaborar um plano de negócio.

O empreendedor deve começar seu planejamento identificando a oportuni-dade de negócio, que pode ser encontradas em todos os lugares sob as mais diversas formas, exigindo predisposição e criativida-de.

Segundo Degen (2005), a predis-posição para identificar a oportunidades é de fundamental importância para os que desejam ser empreendedores. Todas as pessoas estão diariamente expostas a cen-tenas de empreendimentos, mas a grande maioria vê somente os anúncios e as facha-das. O empreendedor de sucesso é aquele que não se cansa de observar negócios, na constante procura por novas oportunida-des, analisa cada detalhe, seja no caminho de casa, nas compras, lendo jornais ou de férias com a família. Sempre está atento e curioso.

Degen (2005) ainda coloca que é pela predisposição que o futuro empreen-dedor aprende a observar e avaliar o ne-gócio. Mas é através da criatividade que ele começa a associar as observações dos mais diversos tipos e formas de empreendi-mentos.

O mundo empresarial precisa cada vez mais de empreendedores e trabalha-dores de mente aberta e independente, ca-pazes de responder imaginativamente aos novos desafios.

Mais do que nunca, necessitamos fa-zer uso de nosso potencial para criar. Esse potencial ilimitado, que permanece muitas vezes adormecido ou em estado latente, é o recurso mais precioso que indivíduos e organizações dispõem para lidar com os desafios que acompanham nossa época, em que a incerteza, o pro-gresso e a mudança são uma constante (JOSÉ PREDEBON, 1998, p.202).

3. Elaborando o plano de negócio

O plano de negócio não é mais do que uma descrição detalhada do plane-jamento de uma empresa. As seções que compõem um plano de negócios geralmen-

SILVA, K. E.

Page 115: ISSN 2236-0468

115Interciência & Sociedade

te são padronizadas para facilitar o entendi-mento. Cada uma das seções do plano tem um propósito específico.

Segundo Soler (apud BERG-MANN, 2010), existem cinco armadilhas co-muns do plano de negócios:

1. Menos é mais. O plano de negó-cios não deve exceder 30 páginas, pois in-formação demais pode criar um documento muito grande que ninguém lê.

2. Simplifique suas projeções fi-nanceiras para duas páginas. Focalize em números-chave para o investidor compre-ender o negocio: fluxo de caixa projetado para 5 anos, a TIR Taxa Interna de Retor-no, ponto de equilíbrio e período de recu-peração. Os investidores olham os números “grandes” não os detalhes.

3. Incluir os pressupostos além das previsões. São muito mais importantes e mais informativos do que as previsões em se mesmas.

4. Demonstre que conhece as cha-ves da indústria e por que os clientes irão comprar o seu produto ou serviço.

5. O plano não é imutável: A pior coisa que um empresário pode fazer é es-crever um plano e, em seguida, seguir à ris-ca só porque é o “plano”. Muitas organiza-ções de sucesso têm mudado seu plano de negócios durante o lançamento. Uma das características mais importantes que deve ter um plano de negócios é a flexibilidade.

Já Dornelas (1999b), entende que um plano de negócio para pequena empre-sa pode ser menor que o de uma grande or-ganização, não ultrapassando talvez 10-15 (dez a quinze) páginas. Muitas seções po-dem ser mais curtas que outras e até menor que uma única página de papel. Ele ainda afirmar que para que seja um bom plano de negócio, antes de chegar ao formato final deve ser feitas muitas versões e revisões até que esteja adequado ao público-alvo, não existindo uma estrutura rígida e especí-fica, porém qualquer plano de negócio deve possuir entendimento completo do negócio.

Segue abaixo um roteiro conside-rado como essencial para a confecção de um plano de negócio, segundo o manual do empreendedor (IPL, 2010).

3.1. Introdução/Sumário Executivo

O sumário executivo é a parte mais importante do plano de negócios, visto que é a primeira coisa a ser lida pelos potenciais investidores. Desta forma, se não for claro, poderá desencorajar os analistas a rever o plano completo.

Não obstante a sua importância, este não deverá conter mais de 500 pa-lavras, sensivelmente 1 a 2 páginas, pelo que deverá ser uma radiografia do negócio. Esta radiografia apenas é possível de fazer, após a elaboração do plano, pois só nesta fase a informação se encontra totalmente organizada e compilada.

3.2. Apresentação da Empresa

• Identificação da Empresa • Nome/denominação social • Logótipo • Direção da Empresa • Contactos e página web (se existir) • CAE – código de atividade econô-

mica • Forma jurídica • Participações sociais e repartição

pelos sócios (montante e percenta-gem)

• Identificação dos Promotores • Dados pessoais (Nome, naturalida-

de, residência, etc.) • Formação acadêmica • Formação complementar • Atividade profissional atual• Experiência profissional • Tudo o que seja pertinente para em

termos pessoais se demonstrar ca-pacidades empreendedoras.

3.3. Análise do Meio Envolvente

Esta análise permite conhecer o mercado da empresa, com a finalidade de identificar os elementos que afetam a gene-ralidade das empresas e a empresa em ob-jeto de estudo. Baseia-se assim no conhe-cimento dos fatores gerais (conhecimento dos elementos que afetam todas as empre-sas, tais como: dimensão, características e evolução futura do mercado nacional e dos mercados externos) e específicos (conheci-

Plano de negócios: o caminho para o sucesso das micro e pequenas empresas

Page 116: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade116

mento dos elementos que afetam o funcio-namento da empresa).

3.4. Análise do Mercado

Esta análise consiste na identifica-ção do mercado alvo e tipo de segmentação de clientes.

Em primeiro lugar, deve-se identifi-car e caracterizar os concorrentes atuais e potenciais, os consumidores atuais e poten-ciais, e uma análise da indústria em geral, em seguida deve-se explicar em que me-dida é que o produto ou serviço tem con-dições de sucesso naquele mercado, apre-sentando as necessidades de mercado que satisfaz e como se diferencia da concorrên-cia (qualidade, preço ou outras variáveis relevantes). Esta análise pressupõe assim uma análise da procura e uma análise da oferta.

3.5. Estratégia da Empresa

Na estratégia da empresa deverá constar a visão, missão, os objetivos da em-presa, a diferenciação do negócio, a análise SWOT e a estratégia adaptada.

3.6. Plano de Marketing

Neste ponto define-se como se vende o produto e ou serviço que a empre-sa produz ou comercializa, não é mais do que definir o modelo de negócios. Trata-se de definir a estratégia global de marketing e as diversas políticas do Marketing – Mix (Produto, Preço, Distribuição e Comunica-ção)

3.7. Plano de Organização e de Recursos Humanos

Apresentação da estrutura organi-zativa e planificação dos recursos humanos passa por apresentação da equipa de tra-balho, número de trabalhadores, funções e estrutura, organograma, capacidades ne-cessárias e perfil desejado, política de re-cursos humanos (como recrutar, selecionar e contratar pessoal) e programa de forma-

ção de pessoal.

3.8. Plano de Produção ou de Operações

Descrever como se realiza a fa-bricação dos produtos ou a prestação de serviços, isto é, como realiza o lay-out de produção e explicar cada uma das fases do processo de produção/prestação de servi-ços.

3.9. Plano Econômico – Financeiro

Este plano visa avaliar a viabili-dade do negócio e a sua probabilidade de sucesso. Desta forma deve incluir todas as demonstrações financeiras (balanço, de-monstração de resultados, mapas de aplica-ções e origem de fundos) quer para análise histórica, quer para a projeção da evolução do negócio nos próximos anos (em regra, três a cinco anos).

Deverá incluir também um orça-mento de tesouraria (previsão de recebi-mentos e pagamentos a realizar num deter-minado período) pelo menos para o primeiro ano de atividade e, eventualmente, uma análise do ponto crítico das vendas (volume de vendas em valor e em quantidade para o qual a empresa obtém “lucro zero”).

O plano econômico-financeiro en-globa o plano de investimentos e o plano de financiamento.

3.10. Calendário de Execução

Por último deve-se planejar no tempo o desenvolvimento das principais atividades necessárias para a atividade da empresa.

Dornelas (1999b), complementa que cada seção deve ser elaborada sem-pre visando a objetividade, sem perder sua essência e os aspectos mais relevantes a ela relacionados. Ainda cita que a capa ape-sar de não parecer é uma das partes mais importantes do plano de negócios, pois é a primeira parte que é vista por quem lê o projeto, devendo portanto ser feita de ma-neira limpa e com informações necessárias e pertinentes.

SILVA, K. E.

Page 117: ISSN 2236-0468

117Interciência & Sociedade

4. A importância do plano de negócio

Muitas empresas ainda não enten-dem a necessidade de um planejamento e, por isso, acabam fechando suas portas.

Segundo Sahlman (apud DORNE-LAS, 2010), poucas áreas têm atraído tanta atenção dos homens de negócios nos Esta-dos Unidos como o plano de negócio.

Essa ferramenta de gestão pode e deve ser usada por todo e qualquer empre-endedor que queira transformar seu sonho em realidade, seguindo o caminho lógico e racional que se espera de um bom admi-nistrador. É evidente que apenas razão e raciocínio lógico não são suficientes para determinar o sucesso do negócio.

O cuidado que se deve tomar é o de se escrever um plano de negócios com todo conteúdo que se aplica a um plano de negócio e que não contenha recheados de entusiasmo ou fora da realidade. Nesse caso pior do que não planejar é fazê-lo er-roneamente. (Dornelas, 2010).

A arte estará no como o empre-endedor traduzirá esses passos realizados racionalmente em um documento que sinte-tize e explore as potencialidades de seu ne-gócio, bem como os riscos inerentes a esse mesmo negócio.

O plano de negócios é uma ferra-menta que se aplica tanto no lançamento de novos empreendimentos quanto no planeja-mento de empresas já existentes.

Outro paradigma que precisa ser quebrado é o fato de achar-se que o plano de negócios depois de feito pode ser esque-cido. Este é um erro imperdoável e as con-seqüências serão mostradas pelo mercado que está em constante mutação. A concor-rência muda, o mercado muda, as pessoas mudam. E o plano de negócios, sendo uma ferramenta de planejamento que trata es-sencialmente de pessoas, oportunidades, do contexto e mercado, riscos e retornos também muda. Sahlman,1997 (apud CA-VASSOTO, 1999).

O plano de negócios é uma fer-ramenta dinâmica, um guia que deve ser atualizado constantemente, pois o ato de planejar é dinâmico e corresponde a um processo cíclico.

5. Acompanhe o plano de negócio

Depois de finalizar o plano de ne-gócio o empreendedor precisa usá-lo como um instrumento eficaz de gerenciamento.

Para isso é importante que as in-formações nele existente sejam divulgadas para todos os colaboradores da empresa e isso de uma forma satisfatória. Boas infor-mações trancadas em uma gaveta não são propriamente utilizadas e acabam fatalmen-te por cair no esquecimento.

O empreendedor deve divulgar es-sas informações de forma simples e bastan-te eficiente, podendo fazer isso com a cria-ção de painéis de metas, disponibilizando por toda a empresa. Um sistema visível e de fácil entendimento para guiar no proces-so de melhoria.

Deve também existir um monitora-mento periódico da situação, para acompa-nhar o desenvolvimento da empresa, guian-do e validando os esforços de melhoria, nunca esquecendo que o plano de negócio é uma ferramenta flexível e pode ser adap-tada de acordo com a situação.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na maioria das vezes sem nenhum preparado as pessoas têm se aventurado em montar seu próprio negócio, seja pela falta de emprego, com o sonho de indepen-dência financeira, de liberdade ou de ficar rico. Mas esses aventureiros, também cha-mados de empreendedores, encontra de-cepção e acaba conhecendo uma realidade cruel quão vil é o mercado com aqueles que não estão preparado.

Fica claro que utilizar somente o plano de negócio não é garantia de sucesso imediato e de uma empresa sólida e lucrati-va, contudo, a possibilidade de se cometer erros é reduzida drasticamente e a chance de se aproveitar as oportunidades é otimi-zada. O Plano de Negócios quando bem elaborado consegue caracterizar a concor-rência e o cliente, o produto e a produção, as estratégias e os investimentos, levando a uma tomada de decisão mais segura e racional, com riscos calculados. A palavra central que resume o Plano de Negócios é PLANEJAR!

Plano de negócios: o caminho para o sucesso das micro e pequenas empresas

Page 118: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade118

O caminho pode se tornar menos árduo quando se tem um plano de negócio, mas não significa que irá dispensar muito preparo, sabedoria, percepção e acima de tudo determinação. Um bom negócio é re-flexo da competência dos responsáveis por ele.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGMANN, C. Como montar um plano de ne-gócio. Disponível em <http://opinionsur.org.ar/joven/Como-montar-um-plano-de-negocios,1316> Acesso 03 Set 2010.

CAVASSOTO, C. Qual a importância do plano de negócio. Disponível em < http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3948.dwt&section=Blogs&post=233387&blog=793&coldir=1&topo=3994.dwt > Acesso 07 Set. 2010.

CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espirito empreendedor. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

DEGEN, R. J. O empreendedor: fundamentos da ini-ciativa empresarial. São Paulo: Makron Books, 2005.

DORNELAS, J. C. A. Plano de negócios: Estrutura e Elaboração. Apostila. São Carlos – SP. Maio. 1999b.

DORNELAS, J. C. A. Plano de negócios: O segre-do do sucesso do empreendedor. mito ou realidade?. Disponível em < http://www.planodenegocios.com.br/dinamica_artigo.asp?tipo_tabela=artigo&id=20 > Acesso em 01 Set. 2010.

IPL, Instituto Politécnico de Leira. Manual do Empre-endedor. Disponível em < http://www.eo-net.org/pt/eon_info/documentos/VI_o%20plano%20de%20ne-gocios.pdf> Acesso 01 Set. 2010.

PREDEBON, J. Criatividade: abrindo o lado inova-dor da mente. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1998

SEBRAE. Indicadores da Mortalidade das MPEs Pau-listas. Região Metropolitana de São Paulo. Pesqui-sas Econômicas, São Paulo-SP, dez. 1998ª. (Rela-tório Preliminar).

Kátia Elaine da Silva é bacharel em Administração pela Instituição de Ensino São Francisco e mestranda em Administração pela Universidad de la Empresa de Montevideo (UDE). Cursa ainda especialização Lato Sensu em Planejamento Educacional e Docência do Ensino Superior pela Escola Superior Aberta do Brasil.

SILVA, K. E.

Page 119: ISSN 2236-0468

119Interciência & Sociedade

Nos termos do Código Florestal em vigor, Lei 4.771/1965, a RESERVA LE-GAL é: “Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversida-de e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas”.

Em princípio, é a área de reserva legal uma limitação administrativa, onde o proprietário / possuidor somente poderá uti-lizá-la sob manejo florestal sustentado, em tese, mediante projeto próprio confecciona-do e prévia autorização de órgão ambiental competente.

A Lei 4.771/65, com a nova reda-ção dada pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001, no artigo 16 prevê:

“Art. 16. As florestas e outras formas de ve-getação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de re-serva legal, no mínimo: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001).

I - oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal; (Incluído pela Medida Pro-visória nº 2.166-67, de 2001).II - trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma mi-crobacia, e seja averbada nos termos do § 7o deste artigo; (Incluído pela Medida Pro-visória nº 2.166-67, de 2001)III - vinte por cento, na propriedade rural si-tuada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País; e (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)IV - vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qual-quer região do País. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)§ 1o O percentual de reserva legal na pro-priedade situada em área de floresta e cer-rado será definido considerando separada-mente os índices contidos nos incisos I e II deste artigo. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)§ 2o A vegetação da reserva legal não pode ser suprimida, podendo apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentável,

RESERVA LEGAL E APP – ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE:

áreas de relevante importância ao município.

RESUMO: Este trabalho apresenta uma abordagem geral da importância das áreas verdes para as cidades. Para atingir essa finalidade, o artigo apresenta fundamentos históricos e embasamentos teó-ricos para mostrar a evolução e a importância dessas áreas. PALAVRAS-CHAVE: áreas verdes, áreas de preservação permanente, reserva legal.

ACETI JUNIOR, Luiz CarlosFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

[email protected]

ABSTRACT: This paper presents a general approach to the importance of green areas to the cities. To this end, the article presents the historical and theoretical grounds to show to show the evolution and evolution and importance of these areas.KEYWORDS: green areas, areas of permanent preservation and legal reserve.

Page 120: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade120

de acordo com princípios e critérios técnicos e científicos estabelecidos no regulamento, ressalvadas as hipóteses previstas no § 3o deste artigo, sem prejuízo das demais le-gislações específicas. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)§ 3o Para cumprimento da manutenção ou compensação da área de reserva legal em pequena propriedade ou posse rural familiar, podem ser computados os plan-tios de árvores frutíferas ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóti-cas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)§ 4o A localização da reserva legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental estadu-al competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal ou outra institui-ção devidamente habilitada, devendo ser considerados, no processo de aprovação, a função social da propriedade, e os seguin-tes critérios e instrumentos, quando houver: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)I - o plano de bacia hidrográfica; (Incluí-do pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)II - o plano diretor municipal; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)III - o zoneamento ecológico-econômico; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)IV - outras categorias de zoneamento am-biental; e (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001) § 8o A área de reserva legal deve ser aver-bada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis compe-tente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembramento ou de retificação da área, com as exceções pre-vistas neste Código. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001) § 9o A averbação da reserva legal da pe-quena propriedade ou posse rural familiar é gratuita, devendo o Poder Público prestar apoio técnico e jurídico, quando necessário. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)§ 10. Na posse, a reserva legal é assegu-

rada por Termo de Ajustamento de Con-duta, firmado pelo possuidor com o órgão ambiental estadual ou federal competente, com força de título executivo e contendo, no mínimo, a localização da reserva legal, as suas características ecológicas básicas e a proibição de supressão de sua vegetação, aplicando-se, no que couber, as mesmas disposições previstas neste Código para a propriedade rural. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)§ 11. Poderá ser instituída reserva legal em regime de condomínio entre mais de uma propriedade, respeitado o percentual legal em relação a cada imóvel, mediante a apro-vação do órgão ambiental estadual compe-tente e as devidas averbações referentes a todos os imóveis envolvidos. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)”

Importante frisar que os leigos po-dem entender que a previsão legal – RE-SERVA LEGAL - como uma restrição admi-nistrativa recente; o que não é verdade.

O tema ambiental já era motivo de preocupação para vários povos da antigui-dade! Desde o Código de HAMURABI, a Bí-blia e em vários outros ordenamentos jurídi-cos, inclusive nas Ordenações Filipinas que previam no Livro Quinto, Título LXXV, pena gravíssima ao agente que cortasse árvore ou fruto, sujeitando-o ao açoite e ao degre-do para a África por quatro anos, se o dano fosse mínimo, caso contrário o degredo se-ria para África em definitivo.

Frise ainda que anterior às Orde-nações Filipinas, houve a Ordenações Afon-sinas, que tanto uma quanto à outra, estava em vigor em Portugal na época do descobri-mento do Brasil. A Ordenação Afonsina con-tinha determinações proibitivas de que não se podia atirar aos rios e lagos material que pudesse matar os peixes ou perturbar seu desenvolvimento. Sabe-se, também, que o termo madeira de lei popularizou-se por-que uma carta do rei português (carta regia) considerava determinadas árvores nobres como de propriedade da corte e proibia o corte delas.

Além desses ordenamentos supra, existiram vários outros documentos que construíram a história do direito ambiental, como o Código de Hamurabi, o Livro dos

ACETI JUNIOR, L. C.

Page 121: ISSN 2236-0468

121Interciência & Sociedade

mortos do Antigo Egito, o hino persa de Za-ratustra, e a Lei Mosaica que determinava que em caso de guerra que fosse poupado o arvoredo; ou seja, desde as civilizações mais antigas existe um respeito imacula-do à natureza, porque a água e as florestas eram vitais para as atividades econômicas e bélicas daquelas épocas.

As primeiras leis escritas existen-tes no mundo, foram verdadeiros códigos que regulavam o uso da água, há 4000 a. C sobre a regência de Hamurabi; em 1700 a. C., a Mesopotâmia produziu o primeiro código de leis abrangentes da história que compreende sem ordenamento rígido, 282 parágrafos para regulamentar a vida social. No parágrafo 53 diz: “se alguém se exime de manter seu dique em boas condições, se este dique se romper e todas as lavouras forem alagados, então o responsável pelo dique rompido será vendido como escravo, e a renda em dinheiro deve repor os cereais cuja destruição causou”.

Destaque-se ainda a Carta Magna outorgada por João Sem – Terra em 1215 havia dispositivos que consagravam a pro-teção em relação as matas e florestas. Tal documento posteriormente à sua outorga foi dividido em duas partes, isso é, a Car-ta das Florestas e a Carta das Liberdades, que hoje é reverenciada em todos os orde-namentos jurídicos. Na Carta das Flores-tas era determinada que todas as florestas pertenciam ao rei, vedando aos súditos de praticar a caça e a exploração de madeiras nas mesmas.

Note-se que em toda a história da humanidade, sempre existe relatos com a preocupação com o ambiente equilibrado, para que não existissem riscos de falta de alimentos, secas, pragas, doenças, etc.

No Brasil a preocupação não di-verge. Em 1934 foi editado o primeiro Có-digo Florestal, que criou o limite do direito de uso da propriedade, a chamada “quar-ta parte”, ou seja, a reserva obrigatória de vinte e cinco por cento de vegetação nativa

de cada propriedade rural. Em 1938 houve a edição do Código de Águas. Em 1965 o Código Florestal, que no texto original (art. 16), dizia “nas regiões Leste Meridional, Sul e Centro Oeste, esta na parte sul, as derru-badas de florestas nativas, primitivas ou re-generadas, só serão permitidas, desde que seja, em qualquer caso, respeitado o limite mínimo de 20% da área de cada proprieda-de com cobertura arbórea localizada, a cri-tério da autoridade competente”. Em 1967 o Código de Pesca e também o Código de Mineração, e em 1980 o Código Brasileiro do Ar.

Em 1981 surge a Política Nacional do Meio Ambiente, sendo a primeira com exclusiva preocupação ambiental.

Logo depois, em 24 de Julho de 1985 surge a Lei que disciplina a ação ci-vil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, trazendo ins-trumentos processuais para coibir e reparar danos à natureza.

Em 05 de outubro de 1988, com a promulgação da Constituição Federal Bra-sileira, surge um capitulo exclusive sobre meio ambiente, tendo o artigo 225 a previ-são que todos têm direito ao meio ambien-te ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia quali-dade de vida, impondo-se ao Poder Públi-co e á coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Importante lembrar as palavras do Doutor Celso Antonio Pacheco Fiorillo1, também presente nesse II Congresso Bra-sileiro da Advocacia Ambiental, ocorrido em São Luis – MA no ano de 2008, onde con-sidera que:

Assim, temos que o art. 225 estabelece quatro concepções fundamentais no âm-bito do direito ambiental: a) de que todos têm direito ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado; b) de que o direito ao meio ambiente ecologicamente equi-

1 Agropecuária Sustentável em Face do Direito Ambiental Brasileiro, páginas 99 / 114, in ACETI JR., Luiz Carlos; BRAGA FILHO, Edson de Oliveira; AHMED, Flávio; GRAU NETO, Werner; MURAD, Samir Jorge (Organizadores); diversos autores. Advocacia Ambiental: Segurança Jurídica para Empreender. 01ª Edição. 2009. Rio de Janeiro. Editora Lumen Júris.

Reserva legal e app – áreas de preservação permanente: áreas de relevante importância ao município.

Page 122: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade122

librado diz respeito à existência de um bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, criando em nosso ordenamento o bem ambiental; c) de que a Carta Maior determina tanto ao Poder Público como à coletividade o dever de defender o bem ambiental assim como o dever de preservá-lo; d) de que a defesa e a preservação do bem ambiental estão vinculadas não só às presentes como também às futuras gerações.

Neste estudo o enfoque é apontar na questão ambiental, a restrição adminis-trativa sobre o direito de propriedade deno-minada como RESERVA LEGAL.

A Lei 7.803, de 18 de julho de 1989, que alterou o art. 16, entre outros, do Código Florestal de 1965 é que criou o ter-mo reserva legal, conforme já citado acima.

Em 1991, a Lei Agrícola, de 17 de janeiro de 1991, assinada por Fernando Collor de Melo, previa:

Art. 99. A partir do ano seguinte ao de promulgação desta lei, obriga-se o pro-prietário rural, quando for o caso, a re-compor em sua propriedade a Reserva Florestal Legal, prevista na Lei n° 4.771, de 1965, com a nova redação dada pela Lei n° 7.803, de 1989, mediante o plantio, em cada ano, de pelo menos um trinta avos da área total para complementar a referida Reserva Florestal Legal (RFL).

Conclui-se pelo obvio, que o intuito do legislador era atingir aquelas proprieda-des que não tivessem observado a restrição de 20% prevista no Código Florestal, e não a toda e a qualquer propriedade, senão o legislador não teria colocado as expressões “recompor” e “quando for o caso”.

Posteriormente foi editada a Medi-da Provisória 2.166-67, de 24.08.2001, que novamente alterou o Código Florestal e de-finiu Reserva Legal de forma mais abran-gente:

III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação per-manente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e

reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abri-go e proteção de fauna e flora nativas;

Agora, não se está mais a falar de áreas de florestas que devam ser recupe-radas ou preservadas; se está, pela nova redação legal, prevendo que uma parte da propriedade, ou posse rural, deve, neces-sariamente ser preservada, mantendo-se ou recuperando-se as matas originarias ali existentes. E esta Medida Provisória deter-mina, pela nova redação, conforme acima já citado, que haverá percentuais diferentes nos diferentes biomas, sendo no mínimo 20%, descontado as áreas de APPs (áreas de preservação permanentes).

Assim, todos os proprietários estão obrigados a demarcar uma área mínima, de acordo com o bioma onde sua proprie-dade ou posse rural estiver inserida, para instituição da Reserva Legal que deverá ser averbada na matrícula do respectivo imóvel rural.

Para constituir a Reserva Legal dentro da propriedade ou posse rural deve--se observar o que determina a citada Me-dida Provisória:

§ 4o A localização da reserva legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental esta-dual competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal ou outra instituição devidamente habilitada, de-vendo ser considerados, no processo de aprovação, a função social da proprieda-de, e os seguintes critérios e instrumen-tos, quando houver:I - o plano de bacia hidrográfica;II - o plano diretor municipal;III - o zoneamento ecológico-econômico;IV - outras categorias de zoneamento ambiental; eV - a proximidade com outra Reserva Le-gal, Área de Preservação Permanente, unidade de conservação ou outra área legalmente protegida.

Já quanto as APPs – Áreas de Pre-servação Permanente, possui previsão legal nos arts. 2º e 3º da Lei Federal nº 4.771/65 (alterados pela Lei Federal nº 7.803/89), co-berta ou não por vegetação nativa, com a

ACETI JUNIOR, L. C.

Page 123: ISSN 2236-0468

123Interciência & Sociedade

função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geo-lógica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas.

Assim, destacam-se para efeito desse estudo as intervenções humanas e a conseguinte obrigação de recomposição das áreas de preservação permanente.

Desta forma a intervenção em APP, ocorre quando o homem, sem autori-zação prévia do agente ambiental compe-tente modifica no todo ou em parte as áre-as definidas como APP (arts. 2º e 3º da Lei Federal 4771/65 (alterados pela Lei Federal nº 7.803/89), sendo tal intervenção crime ambiental, conforme dispõe a Lei Federal nº 9.605/98, passível de pena de detenção de 01 (um) a 03 (três) anos e multa admi-nistrativa que em média conforme vemos no dia a dia, pode chegar até R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) por hectare danificado.

A intervenção em APP mais co-mum é a supressão da vegetação nativa, e o que vem a ser exatamente isso? Qual-quer atividade que envolva a supressão de vegetação nativa depende de autorização, seja qual for o tipo da vegetação (mata atlântica, floresta estacional, cerrado, flo-resta mista de araucária, campos naturais, vegetação de restinga, manguezais, e ou-tras) em qualquer estágio de desenvolvi-mento (inicial, médio, avançado ou clímax). Mesmo um simples bosqueamento (retira-da da vegetação do sub-bosque da flores-ta) ou a exploração florestal sob regime de manejo sustentável, para retirada seletiva de exemplares comerciais (palmito, cipós, xaxim, espécies ornamentais, espécies me-dicinais, toras de madeira, etc) não podem ser realizados sem o amparo da licença do órgão ambiental competente. A pena pelo crime varia de 3 (três) meses a 1 (um) ano de detenção; e, multa administrativa, que na pratica é aplicada de R$1.500,00 (mil e quinhentos reais) por hectare (existem nos últimos meses autuações em valores muito superiores a esse, sendo essa uma tendên-cia).

Os documentos exigidos para o licenciamento ambiental para intervenção em APPs em geral são os seguintes: Re-querimento; Certidão da Matrícula ou Trans-

crição do Imóvel; Roteiro de acesso; Planta de localização; Planta do imóvel; Fotografia aérea ou imagem de satélite do local do em-preendimento; Laudo de caracterização da vegetação; Laudo de fauna; Projeto de re-cuperação ambiental; Projeto executivo da obra; Licença expedida pelos órgãos com-petentes; Certidão de Diretrizes Municipais; Comprovante de regularização de infração florestal; Plano de Manejo Florestal; Espe-cificamente em São Paulo, pagamento do preço da análise, exceto para os casos pre-vistos no Dec. Est. (SP) nº 48.919/04.

Frise-se que a relação de docu-mentos poderá variar de acordo com a com-plexidade ou extensão do projeto.

Deve-se observar atentamente as leis e normas ambientais incidentes para que o procedimento administrativo para a intervenção em APPs seja o mais rápido possível, passamos a citar as mais comuns: Ajustamento de Conduta; Áreas de Pre-servação Permanente; Áreas de Proteção Ambiental – APAs; Árvores Isoladas; Auto de Infração Ambiental; Atividade Agrícola; Cerrado; Cobrança de Análise - Cobran-ça Judicial; Código Florestal; Espécies da Flora Protegida; ET’s e Divisões Regionais; Fauna Silvestre; Licenciamento Ambiental; Rodovias; Saneamento; Unidades de Con-servação; Mananciais – Várzea; Manejo Florestal; Marinas – Pesca; Mata Atlântica; Microbacias; Mineração; Parcelamento do Solo / Loteamentos / Condomínios; Políti-cas de Meio Ambiente; Procedimentos in-ternos dos agentes ambientais; Recursos Hídricos; Reflorestamento; Reposição Flo-restal; Reserva Legal; Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN; Transporte / Escoamento de Produtos Florestais; Uso do Fogo; entre muitas outras.

Frise-se que a Resolução CONA-MA 237, de 19 de dezembro de 1997, re-gulamentou a atuação dos órgãos compe-tentes do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), no exercício do licencia-mento previsto no art. 10 da Lei nº 6.938/81. E essa mesma Resolução, em seu Artigo 2º, §1º, prevê: “Estão sujeitos ao licencia-mento ambiental os empreendimentos e as atividades relacionadas no Anexo 1, parte integrante desta Resolução.”

Estando descrita assim, nesse

Reserva legal e app – áreas de preservação permanente: áreas de relevante importância ao município.

Page 124: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade124

anexo 1 supra, que a “recuperação de áre-as contaminadas ou degradadas;”, necessi-tam de licenciamento ambiental!

Sendo assim, tanto a implantação de reserva legal, quanto a recuperação de áreas degradadas, dentro ou fora de APPs, necessitam de licenciamento prévio do ór-gão ambiental competente.

Esse licenciamento tem toda uma sistemática, devendo conter o todo previs-to na legislação competente, e ainda, con-forme o caso, deverá conter um programa de recuperação de área degradada, muito próximo ao formato instituído pelo Decreto Federal nº 97.632, de 10 de abril de 1989 e suas atualizações; bem como as previsões da Lei Federal nº 9.985/00, e da Resolução CONAMA nº 371/2006, dentre outras não menos importantes.

Digno de destaque é o teor da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, que dispõe sobre a regulamentação dos dispo-sitivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal.

No artigo 10 dessa Lei supra, estão previstas o que são áreas não aproveitáveis á agricultura e pecuária, dizendo: “/.../ Art. 10. Para efeito do que dispõe esta lei, con-sideram-se não aproveitáveis: /.../ IV - as áreas de efetiva preservação permanente e demais áreas protegidas por legislação re-lativa à conservação dos recursos naturais e à preservação do meio ambiente. /.../”.

Todas essas áreas descritas como não aproveitáveis, podem ficar isentas de ITR – Imposto Territorial Rural, mediante o preenchimento anual da ADA – Ato De-claratório Ambiental perante o IBAMA e ao depois protocolado o respectivo documento junto ao INCRA.

A Instrução Normativa IBAMA Nº. 96 de 30/03/2006, faz a seguinte previsão em seu artigo 9º: “As pessoas físicas e ju-rídicas que desenvolvem atividades clas-sificadas como agrícolas ou pecuárias, in-cluídas na Categoria de Uso de Recursos Naturais constantes no Anexo II, deverão apresentar anualmente o Ato Declaratório Ambiental.”

Muito importante destacar que para ser realizado todo o procedimento ad-ministrativo da ADA junto ao IBAMA para o

produtor rural, posteriormente poder ficar isento do ITR nas respectivas áreas não aproveitáveis, o produtor rural fará uso de consultorias especializadas, sendo neces-sário que o respectivo profissional tenha o cadastro no CTF / IBAMA – Cadastro Técni-co Federal do IBAMA.

Porém, importante lembrar que o Código Florestal (Lei n.º 4.771, de 15.09.1965) dispõe, no inciso II do §2º do art. 1º como sendo área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisa-gem, a estabilidade geológica, a biodiversi-dade, o fluxo gênico de fauna e flora, pro-teger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (incluído pela Medida Provisória n.º 12.166-67 – de 2001).

O art. 2º prescreveu: “Consideram--se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais for-mas de vegetação natural situadas:

a) – ao longo dos rios ou de qual-quer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será (Lei 7.803/89):

1. de 30ms. para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura;

2. de 50ms. para os cursos d’água que tenham 50 a 200ms. de largura (Lei 7.803/89);

3. de 100ms. para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros (Lei 7.803/89);

4. de 500ms. para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros (Lei 7.803/89);

b) – ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios naturais ou artificiais;

c) – nas nascentes, ainda que in-termitentes e nos chamados “olhos d’água”, qualquer que seja a sua situação topográ-fica, num raio mínimo de 50 metros de lar-gura.

d) – no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) – nas encostas ou partes des-tas, com declividade superior a 45%, equi-valente a 100% na linha de maior declive;

f) – nas restingas, como fixadoras

ACETI JUNIOR, L. C.

Page 125: ISSN 2236-0468

125Interciência & Sociedade

de dunas ou estabilizadoras de mangues;g) – nas bodas dos tabuleiros ou

chapadas, a partir da linha de ruptura do re-levo, em faixa nunca inferior a 100ms. em projeções horizontais;

h) – em altitude superior a 1.800ms., qualquer que seja a vegetação.

Parágrafo único – No caso de áre-as urbanas, assim entendidas as compreen-didas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o territó-rio abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo (Lei 7.803/89).

Art. 3º - Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as flo-restas e demais formas de vegetação natu-ral, destinadas:

a) a atenuar a erosão das terras;b) a fixar as dunas;c) a formar faixas de proteção ao

longo de rodovias e ferrovias;d) a auxiliar a defesa do território

nacional a critério das autoridades militares;e) a proteger um sítio excepcional

beleza ou de valor científico ou histórico;f) a asilar exemplares da fauna ou

flora ameaçadas de extinção;g) a manter o ambiente necessário

à vida das populações silvícolas;h) a assegurar condições de bem-

-estar público.

O §1º dispõe: A supressão total ou parcial de florestas de preservação perma-nente só será admitida com prévia autori-zação do Poder Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social.

O art. 4º, com a redação dada pela M.P. n.º 2.166-67, de 2001, praticamente re-pete o §1º acima.

Diz o art. 4º - A supressão de vege-tação em área de preservação permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, de-vidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quan-

do inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto (M.P. 2.166-67 de 2001).

§1º - A supressão de que trata o caput deste artigo dependerá de autoriza-ção do órgão estadual ambiental competen-te, com anuência prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal de meio ambien-te, ressalvado o disposto no §2º deste artigo (incluído pela M.P. 2.166-67).

O §2º aí citado dispõe: A supres-são de vegetação em área de preservação permanente, dependerá do órgão ambiental competente, desde que o Município possua conselho de meio ambiente com caráter deliberativo e plano diretor, mediante anu-ência prévia do órgão ambiental estadual competente fundamentada em parecer téc-nico (M.P. 2.166-67 – 2001).

O §3º dispõe que o órgão ambien-tal competente poderá autorizar a supres-são eventual e de baixo impacto ambiental, assim definido em regulamento, da vegeta-ção em área de preservação permanente (incl. M.P. 2.166-67/2001).

O §4º: O órgão municipal compe-tente indicará, previamente à emissão de autorização para a supressão de vegetação em área de preservação permanente, as medidas mitigadoras e compensatórias que deverão ser adotadas pelo empreendedor (M.P. 2.166-67/2001).

O § 5º - A supressão da vegetação nativa protetora de nascentes ou de dunas e mangues, de que tratam, respectivamente, as alíneas “c” e “f” do art. 2º deste Código, somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública (M.P. 2.166-67 de 2001).

O §6º - Na implantação de reser-vatório artificial, é obrigatória a desapropria-ção ou aquisição, pelo empreendedor, das áreas de preservação permanente criadas no seu entorno, cujos parâmetros e regime de uso serão definidos por resolução do CONAMA.

O §7º - É permitido o acesso de pessoas e animais às áreas de preservação permanente, para obtenção de água, desde que não exija a supressão e não compro-meta a regeneração e a manutenção a lon-go prazo da vegetação nativa (M.P. 2.166-67 de 2001).

Sobre o assunto, o CONAMA ex-

Reserva legal e app – áreas de preservação permanente: áreas de relevante importância ao município.

Page 126: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade126

pediu a Resolução n.º 369, de 28 de março de 2006 que “Dispõe sobre os casos excep-cionais, de utilidade pública, interesse so-cial ou baixo impacto ambiental”.

O Eminente Professor Dr. Toshio Mukai2, também presente no Congresso Brasileiro da Advocacia Ambiental, realiza-do em São Luis – MA em 2009, assevera acertadamente sobre o tema, dizendo: “/.../ várias disposições foi dado ao órgão ambiental estadual (outra vez, incons-titucionalmente), o poder de autorizar supressões de vegetação permanente). Quando se tratar de área urbana, o Muni-cípio é que dará a autorização, desde que observado o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo (Lei n.º 7.803/89). O CONAMA, regulamentando essas dispo-sições do Código Florestal, em primeiro lugar, baixou a Resolução n.º 303, de 20 de março de 2002, que “Dispõe sobre pa-râmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente /.../ Todas as ações, obras, projetos, planos e inter-venções em APP, de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto am-biental, dependem de autorização do ór-gão ambiental competente, devidamente caracterizada e motivada mediante pro-cedimento administrativo autônomo e prévio, e atendidos os requisitos previs-tos na Resolução nº 369/2006 e noutras normas federais, estaduais e municipais aplicáveis, como o Plano Diretor, Zonea-mento econômico-ecológico e Plano de Manejo das Unidades de Conservação, se existentes. /.../ Importante salientar que para a autorização de intervenção ou supressão de vegetação em APP situ-ada em área urbana possa ser concedida pelo órgão ambiental municipal a Reso-lução nº 369/2006 exige que o Município possua Conselho de Meio Ambiente, com caráter deliberativo, e Plano Dire-tor ou Lei de Diretrizes Urbanas, no caso de municípios com menos de vinte mil habitantes, mediante anuência prévia do

órgão ambiental estadual competente, fundamentada em parecer técnico. /.../ Os conteúdos ambientais desta Resolu-ção nº 369/2006 devem ser considerados na elaboração do Código Municipal de Meio Ambiente, considerando especial-mente sua aplicação em face das pecu-liaridades e singularidades locais, pois em matéria de defesa do meio ambiente os entes federativos devem atuar como parceiros nos termos estabelecidos pela Constituição Federal. /.../ Suas princi-pais disposições podem integrar o novo Código Ambiental como normas legais municipais a serem aplicadas pelo Mu-nicípio no exercício do poder de polícia ambiental. De qualquer modo, deve-se proceder uma avaliação dos conteúdos ambientais desta Resolução em face das normas do Plano Diretor Municipal a fim de, no que couber, ser efetuada a compatibilização recíproca de ambos os conjuntos de normas. /.../” (negrito e grifo nosso).

Assim, fica fácil observar que as áreas de Reserva Legal e APP – áreas de preservação permanente possuem relevan-te importância não apenas para as zonas rurais, mas também para as zonas urbanas, devendo não apenas a União e os Estados e o Distrito Federal legislarem quanto ao tema, mas também os municípios para que possam exercem o direito constitucional de legislarem quanto a temas existentes no in-terior de seus domínios.

Para tanto basta observar o teor do artigo 02º da Lei 10.257/2001, que prevê diretrizes para a política urbana municipal, senão vejamos:

Art. 2º /.../VI – Ordenação e controle de uso do solo, de forma a evitar:a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; /.../

2 A Proteção Ambiental do Meio Ambiente Urbano, página 265 / 271, In ACETI JR., Luiz Carlos; BRAGA FILHO, Edson de Oliveira; AHMED, Flávio; GRAU NETO, Werner; MURAD, Samir Jorge (Organizadores); diversos autores. Mecanismos Legais para o Desenvolvimento Sustentável. 01ª Edição. 2010. Belo Horizonte – MG. Editora Fórum.

ACETI JUNIOR, L. C.

Page 127: ISSN 2236-0468

127Interciência & Sociedade

f) a deterioração das áreas urbanizadas;g) a poluição e a degradação ambiental;/.../XII – proteção, preservação e recupera-ção do meio ambiente natural e constru-ído, do patrimônio cultural, histórico, ar-tístico, paisagístico e arqueológico;XIII – audiência do Poder Publico Mu-nicipal e da população interessada nos processos de implantação de empre-endimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o con-forto ou a segurança da população; /.../” (negrito e grifo nosso).

Assim, é de uma clareza hialina que a previsão contida no “Estatuto de Ci-dade”, prevê que essas e as demais dire-trizes são obrigatórias não apenas na ela-boração do Plano Diretor Municipal (artigo 39 do Estatuto da Cidade), mas também deverá o município criar leis ambientais e até um código municipal ambiental, válido para todo o território municipal, que detalhe as normas de proteção ambiental.

Desta forma, fica fácil observar que os munícipes, bem como os poderes exe-cutivo e legislativo municipais, têm papel de relevante importância na sustentabilidade do município, criando normas de conduta e proporcionando educação ambiental, fa-zendo com que as áreas verdes localizadas nas zonas rurais e nas zonas urbanas se-jam locais de proteção e preservação dos recursos naturais existentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACETI JR., L. C.; et al. (org.); diversos autores. Meca-nismos Legais para o Desenvolvimento Sustentá-vel. 01ª Edição. 2010. Belo Horizonte – MG. Editora Fórum.

ACETI JR., L. C.; et al (org.); diversos autores. Advo-cacia Ambiental: Segurança Jurídica para Empreen-der. 01ª Edição. 2009. Rio de Janeiro. Editora Lumen Júris.

ACETI JR., L. C.; et al (org.); diversos autores. I Con-

gresso de Advocacia Ambiental – São Luis-MA. 01ª Edição, São Paulo-SP, 2008, Ed. Fiuza.

ACETI JR., L. C.; et al; diversos autores. Crimes Am-bientais. A Responsabilidade da Pessoa Jurídica. 01ª Edição, Leme-SP, 2007, Ed. Imperium.ACETI JR., L. C. (Coordenador); diversos autores. Teoria e Prática em Direito Ambiental. 02ª Edição, São Paulo-SP, 2006, Ed. IBC International Business Communications.

ACETI JR., L. C. Direito Ambiental e Direito Empre-sarial. 01ª edição. 2002. Rio de Janeiro – RJ. Editora América Jurídica.

BENJAMIN, A. H.; et al. Direito ambiental das áre-as protegidas. São Paulo, Ed. Forense Universitária, 2001.

BESSA ANTUNES, P. Direito Ambiental. Ed. Lúmen Júris, 6ª Ed.

BRANDÃO, I. L. Manifesto Verde: O presente é o futuro. 07ª edição. São Paulo. Editora Global e Gaia. 2001.

BRASIL. Coletânea de Legislação de Direito Am-biental e Constituição Federal. Organização Odete Medauar. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

BRASILEIRO BORGES, R. C. Função Ambiental da Propriedade Rural. São Paulo, Ed. Ltr, 1999.

CARVALHO, C. G. Legislação Ambiental Brasilei-ra. Leme, Ed. LED., 2000.

CORDEIRO DE SOUZA, L. Águas e sua Proteção. 2004, 1ª Edição, Editora Juruá.

FIORILLO, C. A. P. Curso de Direito Ambiental Bra-sileiro. 2º ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

GUY CAUBET, C. A Água, A Lei, A Política ... E o Meio Ambiente? Curitiba. 2005, 1ªed., Editora Juruá.

MACHADO, P. A. L. Direito Ambiental Brasileiro. 8º ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000.

MILARÉ, E. Direito do Ambiente. São Paulo: RT. 2000

OLIVEIRA FRANCO, J. G. Direito Ambiental. Matas Cilares. 2005. 1ª ed. Editora Juruá.

ZANETTI, E. Meio Ambiente. Setor Florestal. 02ª Edição – Revista e Atualizada. Curitiba. Ed. Juruá. 2008.

Reserva legal e app – áreas de preservação permanente: áreas de relevante importância ao município.

Page 128: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade128

Luiz Carlos Aceti Junior é Advogado. Pós-graduado em Direito de Empresas. Especializado em Direito Empre-sarial Ambiental. Professor de Legislação Ambiental e Políticas Públicas de Meio Ambiente; de Legislação Social e Tributária; de Ética e Cidadania da Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM). Professor de Direito Am-biental de Cursos de Pós-graduação da METROCAMP de Campinas - SP, ESDC de São Paulo – SP, MEMES de São Paulo - SP, ESUD de Cuiabá - MT, EXCELLENCE de São Luis - MA, UNIFEOB de São João da Boa Vista - SP, FAEP de Araras – SP, UNIFEG de Guaxupé - MG, entre outras. Professor e Co-coordenador da Pós-graduação em Direito Ambiental e Sustentabilidade da EPD - Escola Paulista de Direito de São Paulo. Consultor da Consultoria ACDP - Ambiental, Comunicação e Desenvolvimento Profissional www.acdp.com.br . Titular da Aceti Consultoria Jurídico Ambiental www.aceti.com.br .

ACETI JUNIOR, L. C.

Page 129: ISSN 2236-0468

129Interciência & Sociedade

1. INTRODUÇÃO

Os problemas socioambientais, en-carados como ameaçadores à sobrevivên-cia do homem na terra, são relativamente novos no planeta Terra. Passou a se agra-var a partir do momento em que o homem se distanciou da natureza e tornou a enca-rá-la como uma fonte de recursos disponí-veis e ilimitado (PENTEADO, 1999). O desenvolvimento de um projeto ambien-tal é apenas um caminho, porém importan-tíssimo para todo cidadão, multiplicando o saber e desencadeando ações em conjunto em busca de um ambiente harmonioso a to-dos (PADUA & TABANEZ, 1997). O problema da destinação adequa-da e produção de lixo é um desafio a ser abordado na educação ambiental e ser

compreendido por cada individuo por ser ele parte atuante desse que é um dos mais preocupantes problemas ambientais (PA-DUA & TABANEZ, 1997). Segundo dados da Associação Bra-sileira da Industria do Pet (ABIPET, 2010), em 2008 o Brasil consumiu 462.000 tonela-das de Pet para a produção de garrafas. De acordo com Cempre (2010), em 2008 apro-ximadamente 54,8% das embalagens que foram consumidas tiveram sua reciclagem consumada, o que equivale a quantidade de 253.000 toneladas das 462.000 tonela-das produzidas em 2008. As garrafas são recuperadas principalmente através de ca-tadores. Apesar de existir muitos catadores no Brasil, o grande problema é o baixo re-torno da atividade de recolhimento e comer-

REUTILIZAÇÃO DE GARRAFAS PET PARA PRODUÇÃO DE MÓVEIS E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

RESUMO: O presente trabalho teve como um dos objetivos sensibilizar as pessoas para a preservação ambiental através da reutilização de garrafas Pet dois litros transformando-as em móveis. Outro objeti-vo foi mostrar para as populações menos favorecidas outra forma de obter lucro a partir dos resíduos, com a venda desses móveis. A venda de um resíduo, como a garrafa Pet, transformado em um móvel, pode gerar um lucro até 31 vezes maior que vender a garrafa Pet para empresas de reciclagem. Este trabalho foi implantado nas escolas municipais do programa de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente de Mogi Guaçu-SP (AICA). Apesar da dificuldade inicial em obter número desejado de garrafas, observou-se grande motivação das crianças em participarem do trabalho, colaborando com a arrecadação de Pet no bairro em que residem e com as atividades práticas para a construção dos móveis.PALAVRAS-CHAVE: Material Reciclável, Educação Ambiental, Criança e Adolescente, Sustentabilida-de, Reutilizar.

CORRÊA, Rony Felipe Marcelino Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

[email protected]

ABSTRACT: This work was one of the aims at raising awareness about environmental conservation through the reuse of plastic bottles by transforming them into furniture. Another objective was to show the low-income people another way to earn a profit from waste, with the sale of these piece of furniture. The sale of a waste, such as plastic bottle, transformed into a piece of furniture, can generate an income 31 times greater than to sell the plastic bottle to recycling companies. This work was implemented in municipal schools the program of Integral Care of Children and Adolescents of Mogi-SP (AICA). Despite the initial difficulty in obtaining desired number of plastic bottles, there was great motivation for children to participate in the work, collaborating with the collection of bottles in the neighborhood where they reside and with the practical activities to build the furniture. KEYWORDS: Recyclable Material, Environmental Education, Children and Adolescents, Sustainability, Reuse.

Page 130: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade130

cialização da sucata, fato que leva as co-operativas a tentarem agregar maior valor aos produtos manufaturando-os (SILVA et. al., 2003). Observando os problemas ambien-tais no Brasil e no mundo, a problemática do lixo no Brasil, os aterros sanitários cada vez mais saturados e aumentando do nú-mero de catadores com a remuneração in-justa pelo esforço, o presente trabalho apre-sentará uma forma ambientalmente correta e socialmente justa de recuperar garrafas Pet. Os resultados deste trabalho servirão de exemplo para que cooperativas, comuni-dades carentes, ONGs, empresas, prefeitu-ras e outras escolas encontrem na garrafa Pet descartada, uma oportunidade de cons-cientizar, conservar o meio ambiente e ob-ter lucro com isso.

1.1. Garrafa Pet

O Pet (politereftalato de etileno) é um poliéster, polímero termoplástico, sen-do o melhor e mais resistente plástico para a produção de embalagens, gerando tan-to resistência mecânica e química como formando uma barreira de gases e odores (ABIPET, 2010). Os químicos ingleses Whinfield e Dickson em 1941 foram os que desenvolveram o Pet, porém só começaram a ser fabrica-dos em grande escala a partir de testes de segurança e meio ambiente na década de 70 (CEMPRE, 2010). Chegou ao Brasil em 1988 primeiramente sendo usado na industria têxtil e logo depois, em 1993, no mercado de embalagens para refrigerantes (ABIPET, 2010). Analisando a uso do Pet sobre as-pectos econômicos é muito interessante tanto para quem produz como para quem consome. Porém, em aspectos ambientais é muito preocupante, sendo 10 milhões de garrafas fabricadas por dia, havendo pou-cos dias entre produção, uso e descarte, e séculos para a degradação (SILVA et. al., 2007). O grande problema é sua resistên-cia à biodegradação, sendo resistente à radiação, calor, ar e água, permanecendo no meio ambiente durante dezenas de anos conservando suas propriedades físicas, até

irem se degradando após centenas de anos (NASCIMENTO et. al., 2005).

1.2. Destinação de garrafas Pet utilizadas no Brasil

No Brasil, após seu uso e reciclagem, sua maior utilização é na produção de fibra de poliéster para indústria têxtil, que segundo a Cempre (2010) gera diversos produtos tais como, fios de costura, forrações, tapetes e capacetes, mantas de TNT, entre outras uti-lidades. Entretanto, a manufatura da garra-fa Pet é uma alternativa muito interessan-te, tendo diversas vantagens sobre a reci-clagem, como por exemplo, não necessita gastos com equipamentos caros e aumenta o lucro devido o valor agregado ao produto final (SILVA et. al., 2003). Segundo Silva et. al. (2007) além do aspecto positivo ambiental, o aspecto social é fortemente afetado positivamente, gerando empregos as classes menos favo-recidas que não tem oportunidade de estu-do e encontram dificuldade de colocação profissional. Estima-se que no Brasil 500 mil pessoas vivam da coleta seletiva e ven-da do material reciclado.

1.3. Produção de móveis em garrafa Pet

A produção de móveis a partir de garrafas Pet se tornou realidade graças à criatividade e dedicação do professor de Ci-ências, do Rio de Janeiro, Sebastião Feijó. A produção é possível graças a invenção desse professor da “célula” que é produzida através do corte e encaixe entre garrafas. Segundo Estrada (2003) a invenção foi re-gistrada em 1998, e a tal célula aumenta a firmeza para construir o que quiser a partir dela. De acordo com a mesma fonte o pro-fessor ministra diversos cursos em comuni-dades carentes, contribuindo muito com o meio ambiente e desenvolvimento social de comunidades. Uma pesquisa realizada pelo Ins-tituto Nacional de Tecnologia (INT) do Rio de Janeiro-RJ apóia cooperativas de cata-dores em projetos na construção de móveis feitos em garrafa Pet. De acordo com Sil-va et. al. (2007) um dos projetos tem três

CORRÊA, R. F. M.

Page 131: ISSN 2236-0468

131Interciência & Sociedade

objetivos comuns básicos: gerar trabalho e renda para catadores em comunidades ca-rentes com os novos produtos; aumentar o ciclo de vida da garrafa Pet; melhorar a auto estima dos catadores através de trabalhos criativos, quebrando a rotina de seus traba-lhos de coleta. Outro projeto situado em Vigário Geral, Rio de Janeiro-RJ, recebe financiamento da Fá-brica de Catalisadores Carioca, que abran-ge quatro aspectos básicos dos móveis: o design, a resistência, avaliação e melhoria da ergonomia e divulgação na mídia. O pro-jeto também tem parceria com outras co-operativas que comercializam os produtos (MOVERGS, 2010).

2. Material e métodos

2.1. Local de estudo

O presente trabalho foi realizado no município de Mogi Guaçu-SP, localizado a latitude 22º22’20’’ e a longitude 46º56’32’’, estando a uma altitude de 591 metros, ten-do uma população de aproximadamente 140.000 habitantes em uma área de 885,00 km2 (WIKIPEDIA, 2010). O trabalho foi de-senvolvido no programa de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente (AICA) que é coordenado pela Secretaria de Edu-cação de Mogi Guaçu-SP. A Secretaria de Educação de Mogi Guaçu-SP deu total apoio ao trabalho, apostando e incentivan-do para que o trabalho obtivesse êxito.

2.2. Programa AICA

O programa atualmente conta com 20 núcle-os, 53 turmas e 53 professores, atendendo uma média de 1.200 alunos da rede munici-pal de ensino, em horários extra-escolares. O programa tem como diretriz o fortaleci-

mento das relações pessoais, familiares e sociais; a valorização das necessidades e interesses das crianças e dos adolescentes de acordo com o sexo, faixa etária, condi-ções de vida, grau de desenvolvimento fí-sico e mental, a valorização da escola, evi-tando assim, a evasão escolar, facilitando a inserção social das crianças. Para poder dar atendimento mais eficiente e ter um trabalho com melhores resultados, o trabalho selecionou 9 turmas dentro de 5 núcleos do AICA. Foram envol-vidas 9 professoras e uma média de 140 crianças e adolescentes, com uma faixa etária média de 10 anos. Os bairros sele-cionados foram os seguintes: Jardim Gua-çuano, Jardim Ypê II, Itacolomy II, Itamarati e Planalto.

2.3. Objetos utilizados e forma de trabalho

Os materiais utilizados foram: tesou-ras, fitas adesivas largas e garrafa Pet. As tesouras utilizadas foram as dos próprios alunos e mais algumas adquiridas na Se-cretaria de Educação. Fita adesiva foi o único gasto do trabalho. A fita adesiva larga era necessária para fixar as garrafas Pets cortadas umas nas outras e dar firmeza aos móveis produzidos. As garrafas Pet tinham que ser de dois litros e padronizadas com o mesmo formato para dar o encaixe correto quando eram cortadas. A forma de trabalho utilizou-se da técnica de agrupamento de garrafas desen-volvida pelo professor Sebastião Feijó da Escola Municipal Érico Veríssimo do Rio de Janeiro.

O Trabalho era realizado pelas pró-prias crianças, com auxílio do coordenador e dos professores responsáveis (Figuras 1 e 2).

Figuras 1 e 2. Crianças dos AICAs desenvolvendo os trabalhos em equipe. Fonte: do autor.

Reutilização de garrafas pet para produção de móveis e desenvolvimento socioambiental

Page 132: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade132

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Garrafas utilizadas

O trabalho reutilizou, entre maio e setembro, cerca de 1.200 garrafas Pet dois litros arrecadada pelas 9 turmas dos 5 nú-cleos do AICA. O peso total aproximado é de 68 kg, o que levaria até 400 anos para degradar no meio ambiente.

3.2. Arrecadação de garrafas

A arrecadação de garrafas foi feita através de campanhas com as crianças das escolas do programa AICA, que logo, fize-ram campanhas de arrecadação no bairro onde estudam. O trabalho apresentou difi-culdades em arrecadar número suficiente de garrafas para produção dos móveis por principalmente três motivos: as garrafas para a produção dos móveis tem que ser padronizadas com o mesmo formato (quase sempre do mesmo fabricante); há formatos de garrafas Pet que não dão o encaixe cor-reto para a produção dos móveis, limitando o projeto na região a quase praticamente marca de dois fabricantes; muitas das crian-ças integrantes do programa AICA são de baixa renda, e algumas das famílias delas utilizam-se da comercialização de garrafa

Pet para a complementação da renda fami-liar, o que fazia com que os familiares não as deixassem levar garrafas para o traba-lho. Dos três problemas, o mais interessan-te para o trabalho foi o ultimo, pois, com o resultado deste trabalho, essas famílias po-derão perceber que é mais rentável trans-formar a garrafa Pet em um produto do que vendê-la por um preço não muito atrativo.

3.3. Móveis gerados

A princípio o trabalho iniciou-se ensinando as crianças a construir pufes, que é a base para a construção de diversos outros móveis. A partir do momento que as crianças iriam se aperfeiçoando na técnica e arrecadando mais garrafas, novos móveis iriam se transformando, como por exemplo, cadeiras, mesas, sofás e poltronas (Figuras 3 e 4). De acordo com Silva et. al. (2007) um projeto semelhante implantado em uma Cooperativa de catadores no Rio de Janei-ro, ministrava o curso em quatro aulas com aulas teóricas pela manhã e pela tarde aula prática, sendo que no final do curso o cata-dor teria produzido um pufe.

O trabalho pretende ir inovando e produzindo móveis maiores à medida que as crianças forem arrecadando mais garra-fas.

Figura 3. Sofá, mesa e pufes de garrafa pet revestidos com retalhos. Fonte: do autor.

CORRÊA, R. F. M.

Page 133: ISSN 2236-0468

133Interciência & Sociedade

Os móveis que foram produzidos em garrafa Pet são tão quanto e até mais confortável e resistentes que móveis produ-zidos a partir de outras recursos naturais. Segundo testes realizados no Instituto Na-cional de Tecnologia (INT) apresentou que, um sofá construído da mesma forma ao do trabalho, tem resistência semelhante a um sofá de madeira (SILVA et. al., 2003).

3.4. Retorno e comercialização dos produ-tos

O resultado esperado no início foi alcançado, havendo-se a transformação de um resíduo que uma vez poderia ser des-cartado de forma irregular na natureza ou ser reciclado a um preço que não poderia ser tão atraente aos catadores. O trabalho promoveu a agregação de valor ao produto, proporcionando a multiplicação em várias vezes do valor de venda do produto final. Há um projeto no Rio de Janeiro chamado CoopManga que tem a mesma linha de tra-balho, que, segundo Silva et. al. (2003) a

expectativa do projeto foi a de gerar novos trabalhos na comunidade que o projeto esta localizado e aumentar os lucros dos catado-res com a venda dos produtos.

O presente trabalho teve vários interessados na compra dos produtos, por valores muito atraentes, mas devido a falta de demanda no início do trabalho, achou-se melhor mantê-los, a princípio, para exposi-ção. Para exemplificar o valor agregado ao produto, um pufe produzido pelas turmas do AICA do Jardim Guaçuano (Figuras 5 e 6) teve o valor estimado em R$40,00 depois de devidamente revestido com retalhos de um material usado na produção de tapetes da empresa Rayza da cidade de Inconfi-dentes-MG, que colaborou com o trabalho. Comparando a diferença de valores, com a mesma quantidade de garrafas gastas para construir um pufe, um catador ganharia uma média de R$1,26 levando em consideração o valor de R$0,50/kg de garrafa Pet, conse-quentemente o catador ganharia 31 vezes a mais com o produto pufe.

Figura 4. Sofá em processo de produção. Fonte: do autor.

Reutilização de garrafas pet para produção de móveis e desenvolvimento socioambiental

Page 134: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade134

Figuras 5 e 6. Pufes da Turma do Jardim Guaçuano revestidos com retalhos. Fonte: do autor.

Conforme as crianças forem crian-do mais móveis durante o ano, os mesmos serão vendidos e, com o recurso adquirido, elas poderão comprar materiais necessá-rios para outras atividades, financiar via-gens culturais e educativas, etc, aprenden-do também o valor do trabalho e dinheiro e tendo noção de como administrá-lo para suprir as necessidades.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o trabalho pôde-se apresentar uma solução ambientalmente correta para a destinação final das garrafas Pet usadas e, também uma forma mais rentável para ca-tadores e outras pessoas arrecadarem di-nheiro com a manufatura de garrafas Pet. A transformação das garrafas em móveis não é tão complicada, visto que até crianças de faixa etária baixa conseguiram produzir os móveis trabalhando em equipe.

Levando em consideração que o coordenador do trabalho incentivou as crianças a revestir os móveis com teci-dos que eram descartados da industria, o trabalho ficou ainda mais ecológico. Além de contribuir com a destinação adequada da garrafa Pet, dava um destino adequado aos resíduos industriais também, conse-quentemente agregando mais valor ao pro-duto ainda.

Com a exposição dos mó-veis e comercializações futuras dos mes-mos, mais pessoas serão estimuladas a separar e dar destino certo as garrafas e,

serão conscientizadas sobre a questão do lixo e seus deveres como cidadãos para preservar o meio ambiente.

O trabalho despertou o in-teresse da empresa COARE, que traba-lha com produtos recicláveis no município. A empresa está empenhada em ajudar as crianças com a disponibilização de garrafas Pet necessárias para as atividades e em divulgar os trabalhos desenvolvidos pelas crianças na cidade para fortalecer a cons-cientização ambiental.

Espera-se que ações de cunho socioambiental se multipliquem no município para inserir e dar dignidade as classes menos favoráveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABIPET. O que é Pet? Associação Brasileira da In-dustria do Pet. Disponível em: <http://www.abepet.com.br/oqepet.php> acesso em 31 de agosto de 2010.

CEMPRE. O Mercado para Reciclagem. Disponí-vel em: <http://www.cempre.org.br/fichas_tecnicas.php?lnk=ft_pet.php> acesso em 31 de agosto de 2010

ESTRADA, J. D. A cápsula da mudança. Entrevista ao site EcoPop Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: <http://www.ecopop.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=5&infoid=70 >. Acesso em 01 de setembro de 2010.

MOVERGS. Móveis Recicláveis. Reportagem publi-cada em 18 de maio de 2006. Disponível em: <http://www.movergs.com.br/noticias/noticia_detalhe.php?gCdCategoriaNoticia=16&gCdNoticia=271 > Acesso

CORRÊA, R. F. M.

Page 135: ISSN 2236-0468

135Interciência & Sociedade

em 30 de agosto de 2010

NASCIMENTO, A. M.; et al. Reciclagem do Lixo e Química Verde. Curso de Formação Continuada. Ju-lho a outubro/2005.

PADUA, S. M.; TABANEZ, M. F. Educação Ambien-tal: Caminhos Trilhados no Brasil. Instituto de Pesqui-sas Ecológicas. 283p. Brasília-DF, 1997.

PENTEADO, M. J. A. C. Conceitos pra se fazer Edu-cação Ambiental. Cadernos de educação ambiental. Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo n.3 112p., 1999

SILVA, J. C. A.; GARANVÖLGYI, M. SENNA, B.; AGUIAR, M. P. Reciclagem de Garrafas Pet faz Par-te de Projeto do Instituto Nacional de Tecnologia. Texto de divulgação científica publicado em 21 de no-vembro de 2007

SILVA, J. C. A.; et al. Design para Sustentabilida-de: Móveis com Garrafas Descartáveis Geram Ren-da para Cooperativa de Catadores de Lixo. Texto de divulgação científica publicado em 30 de junho de 2003.

WIKIPEDIA. Mogi Guaçu. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mogi_Guaçu> acesso em 31 de agosto de 2010.

Rony Felipe Marcelino Corrêa é graduado em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Inconfidenets/MG. Graduando em Engenharia Ambiental pela Faculdade Mu-nicipal “Prof. Franco Montoro”, Mogi Guaçu/SP.

Reutilização de garrafas pet para produção de móveis e desenvolvimento socioambiental

Page 136: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade136

Page 137: ISSN 2236-0468

137Interciência & Sociedade

SISTEMA DE REMEDIAÇÃO POR BOMBEAMENTO E TRATAMENTO EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS CONTAMINADAS

RESUMO: O presente trabalho apresenta as etapas que envolveram a determinação das plumas de contaminação e a implementação de um sistema de remediação por bombeamento e tratamento, para um site onde a água subterrânea foi contaminada por metais, provenientes das operações industriais de uma empresa de galvanoplastia localizada na região de Campinas, cujo nome é mantido em sigilo por questões contratuais. As etapas que compreenderam este trabalho foram fundamentadas no histó-rico de estudos ambientais realizados no local como a Avaliação Preliminar, a Avaliação Confirmatória e a Avaliação Detalhada dentre outros estudos, em atendimento aos requisitos legais estabelecidos pelo “Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (CETESB, 1999)”. Conforme preconiza este manual, foram perfurados poços de monitoramento simples e multiníveis em locais estratégicos no empreendimento, para a coleta e a análise química quantitativa dos contaminantes presentes no solo e na água subterrânea, além de poços de extração para o bombeamento da água contaminada. De posse dos resultados analíticos foram determinadas as plumas de contaminação horizontais e verticais da fase dissolvida no lençol freático, para os compostos químicos que apresentaram concentração su-perior aos limites estabelecidos pela legislação vigente. Os resultados obtidos não indicaram a conta-minação do solo, confirmaram a contaminação do lençol freático local e permitiram sugerir a estratégia de bombeamento e tratamento como tecnologia de remediação, em função das condições favoráveis existentes no local, principalmente em termos das condições favoráveis da estrutura fabril que contri-buem para a redução de custos associados ao sistema de remediação.

PALAVRAS-CHAVE: passivo ambiental, remediação por bombeamento e tratamento, plumas de con-taminação, poços de monitoramento simples e multinível.

PEREIRA, Paulo Roberto AlvesFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

[email protected]

BARRAZA LARIOS, Mario RobertoFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

[email protected]

SARTORI, Marcelo VanzellaFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

[email protected]

ALMEIDA, Moacyr Rodrigo HoedmakerFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

[email protected]

TOLEDO, Patrícia Caveanha TavaresFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

[email protected]

COSTA, Ana CarolineFaculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM)

[email protected]

Page 138: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade138

ABSTRACT: The present work is concerned with the determination of contamination plumes and imple-mentation of a remediation system based on pump-and-treat technology for a site where groundwater was contaminated by metals. This contamination was caused by the activities performed by an electro-plating industry located at region of Campinas, which had its name kept in secrecy due to contractual requirements. The steps taken during this work were based on the historic environmental studies de-veloped in the industrial area and surroundings. These studies denominated preliminary assessment, confirmatory evaluation and detailed evaluation, were performed in accordance with legal requirements established by a management manual for contaminated areas (Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas) published by CETESB (São Paulo state environment agency) in 1999. In accordance with this manual, the soil was perforated in strategic points in the contaminated area for the installation of simple and multilevel monitoring wells, in order to collect samples and determinate quantitatively the concentration of contaminants present in soil and groundwater, besides extraction wells for pumping contaminated groundwater. The analytical results showed that there was no contamination in the soil but in the groundwater, ratifying the conclusion of previous studies realized in the area. Based on these results, the horizontal and vertical contamination plumes from dissolved phase in groundwater were determined for the chemical species, which the concentration values were superior to limits established by the current state legislation. The results indicated no contamination of the soil, confirmed the conta-mination of local groundwater and allowed to confirm the strategy of pump-and-treat as a remediation technology, due to the favorable conditions in the property, mainly in terms of suitable conditions of the industrial structure that contribute to the reduction of costs associated with the remediation system.KEYWORDS: environmental liability, pump-and-treat cleanup system, contamination plumes, multilevel and simple monitoring wells.

1. INTRODUÇÃO

Os poluentes ou contaminantes quando entram em contato com o solo, com o ar, com a água superficial ou subterrânea, alteram as características naturais de qua-lidade destas matrizes e na grande maioria das vezes, representam riscos e causam severos impactos sobre os bens a proteger localizados na área atingida e em suas cir-cunvizinhanças. Segundo a Política Nacio-nal do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), são considerados bens a proteger: i) a saúde e o bem-estar da população; ii) a fauna e a flora iii) a qualidade do solo, das águas e do ar; iv) os interesses de proteção à na-tureza e à paisagem; v) a ordenação terri-torial e o planejamento regional e urbano, e; vi) a segurança e a ordem pública. Para assegurar que a lei supracitada seja respei-tada e cumprida, no Estado de São Paulo, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB, 2009), publicou o “Proce-dimento de Gerenciamento de Áreas Con-taminadas”, que estabelece as diretrizes que devem ser rigorosamente seguidas para a investigação, a remediação e o ge-

renciamento de áreas contaminadas. Na realidade, entende-se que este documento representa um imenso avanço na preven-ção da contaminação e no restabelecimento gradativo das condições naturais das áreas contaminadas, possível devido ao grande avanço tecnológico das metodologias de remediação reconhecidas pela comunida-de científica e pelas agências ambientais, como a CETESB no Brasil e a EPA (Envi-ronmental Protection Agency) nos Estados Unidos da América. Deste modo, o presen-te estudo tem como objetivo apresentar as etapas que envolveram a determinação das plumas de contaminação, a instalação de poços multiníveis e de extração, e a insta-lação do sistema de remediação por bom-beamento e tratamento para a água subter-rânea contaminada por metais provenientes das operações industriais de uma empresa de galvanoplastia localizada na região de Campinas. As etapas envolvidas neste es-tudo foram realizadas em conformidade com o procedimento supramencionado e são sucintamente apresentadas ao longo do trabalho.

PEREIRA, P. R. A.; BARRAZA LARIOS, M. R.; SARTORI, M. V.; ALMEIDA, M. R. H.; TOLEDO, P. C. T.; COSTA, A. C.

Page 139: ISSN 2236-0468

139Interciência & Sociedade

2. Gerenciamento de Áreas Contamina-das

O gerenciamento de áreas conta-minadas (ACs) visa minimizar os riscos a que estão sujeitos a população e o meio ambiente por meio de um conjunto de me-didas que assegurem o conhecimento das características dessas áreas e dos impac-tos por elas causados. A finalidade é pro-porcionar os instrumentos necessários à tomada de decisões quanto às formas de intervenção mais adequadas, de forma gra-dativa. As ações do gerenciamento de ACs adotadas neste trabalho estão fundamenta-das nas etapas: 1) definição da região de interesse; 2) identificação de áreas poten-cialmente contaminadas; 3) avaliação pre-liminar; 4) investigação confirmatória; 5) in-vestigação detalhada; 6) análise de risco; 7) investigação para remediação; 8) projeto de remediação; 9) Remediação, e; 11) monito-ramento.

3. Metodologia de Remediação

Esta seção tem por finalidade apre-sentar brevemente a tecnologia de bombe-amento e tratamento, escolhida dentre di-versas tecnologias mundialmente utilizadas para a remediação de águas subterrâneas contaminadas, tendo como foco principal a contaminação por metais.

3.1. Remediação por Bombeamento e Tra-tamento Convencional

O desempenho de sistemas de bombeamento e tratamento depende dire-tamente das condições do site e dos con-taminantes químicos presentes. À medida que aumenta a complexidade dos sites, a probabilidade de que o sistema seja capaz de descontaminá-lo até que a água atinja os padrões estabelecidos diminui. O Quadro 1 mostra a facilidade relativa de descontami-nação ou limpeza das águas subterrâneas como uma função das características quími-cas dos contaminantes e da hidrogeologia subterrânea. Os sites são classificados em 4 diferentes categorias: (1) indica os sites com maior facilidade de limpeza, enquanto (4) representam o maior desafio técnico. A

seguir é apresentada uma breve explicação sobre a facilidade de limpeza para as cate-gorias de (1) a (4):

•Limpeza dos sites da categoria 1: sistemas bem projetados podem ser capazes de restaurar as condições da água do lençol freático para a qualida-de de água conforme os padrões le-gais estabelecidos, no entanto, esse sucesso não é atingido para a maioria dos sites contaminados.•Limpeza dos sites da categoria 2: também é possível promover a limpe-za de sites desta categoria por bom-beamento e tratamento, mas o alcan-ce dos objetivos de remedição estão mais sujeitos a uma grande incerteza do que em sites na categoria 1. É pos-sível que as metas sejam atingidas após um maior tempo de operação do site.•Limpeza dos sites da categoria 3: também é possível promover a limpe-za de sites desta categoria, mas o al-cance dos objetivos de remedição es-tão sujeitos a uma incerteza bastante significante frente aos da categoria 1. A limpeza parcial é um cenário mais realista para os sites desta categoria.•Limpeza dos sites da categoria 4: é improvável promover a limpeza de sites desta categoria de modo que a qualidade de água atinja os padrões legais estabelecidos, mas é possível que a contenção da contaminação seja alcançada.

O Quadro 1 é um instrumento mui-to útil para comparar a eficácia relativa de sistemas de bombeamento e tratamento para a limpeza de sites com diferentes hi-drogeologias subterrâneas e características dos contaminantes químicos. Segundo a National Academy Press (1994), é impor-tante perceber que as categorias do Qua-dro 1 são baseadas na experiência e no desempenho de sistemas de bombeamento e tratamento implementados em sites con-taminados nos Estados Unidos, na revisão de dados experimentais preexistentes, e não em novas análises quantitativas. Ainda mais importante, é perceber que a viabilida-

Sistema de remediação por bombeamento e tratamento em águas subterrâneas contaminadas

Page 140: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade140

de da limpeza pode variar em todo o site. Um simples site pode conter algumas regi-ões onde é difícil a operação de extração e os contaminantes continuam a se dissolver na água subterrânea, enquanto em outras regiões, os contaminantes estão essencial-mente dissolvidos e são fontes insignifican-

tes de contaminação em longo prazo. Deste modo, a parte do site que contém contami-nantes essencialmente dissolvidos poderia ser enquadrada na categoria 1 ou 2 (Qua-dro 1), enquanto a parte do site que contém significantes fontes de contaminação pode-ria ser categorizada como 3 ou 4.

3.2. Poços Multiníveis

A Figura 1 (Einarson, 2006) mostra dois tipos de concepção de um poço multi-nível em comparação com um poço de mo-nitoramento simples. Há um desnível entre os pontos de amostragem de água subter-rânea nos poços multiníveis, que fornecem dados para o delineamento de plumas ver-ticais dos contaminantes. A Figura 2 (Einar-son, 2006) apresenta uma pluma vertical de contaminação típica, obtida através de poços multiníveis para o monitoramento vertical da pluma de contaminação (Einar-son, 2006). As letras na Figura 15 indicam respectivamente: L – poço de monitoramen-to simples com longa zona de amostragem; M – conjunto de três poços construídos em diferentes profundidades com curta zona de amostragem, e; N – tubulação contínua multicanal com zonas de captação em dife-rentes níveis.

O poço de monitoramento simples (L) produz uma amostra que representa uma mistura de altas concentrações de so-luto que adentra na parte superior e de bai-

Fonte: National Academy Press, 1994. a Facilidade relativa de limpeza: (1) mais fácil; (4) mais difícil.LNAPL – Ligther Non-Aqueous Phase Liquids; DNAPL – Dense Non-Aqueous Phase Liquids.

Quadro 1. Facilidade Relativa de Descontaminação de Aquíferos Contaminados em Função da Química dos Contaminantes e da Hidrogeologia Subterrânea.

Figura 1. Tipos de Poços (Einarson, 2006)

Química dos Contaminantes

Tipos de Hidrogeologia SubterrâneaHomogêneo, Simples Ca-

mada

Homogêneo, Múltiplas Ca-

madas

Heterogêneo, Simples Ca-

mada

Heterogêneo, Múltiplas Ca-

madasFraturada

Instável, dissolvido (degrada / vo-latiliza) 1a 1 2 2 3

Instável, dissolvido 1-2 1-2 2 2 3

Fortemente adsorvido, dissolvido (degrada / volatiliza) 2 2 3 3 3

Fortemente adsorvido, dissolvido 2-3 2-3 3 3 3

Fase LNAPL Separada 2-3 2-3 3 3 4

Fase DNAPL Separada 3 3 4 4 4

PEREIRA, P. R. A.; BARRAZA LARIOS, M. R.; SARTORI, M. V.; ALMEIDA, M. R. H.; TOLEDO, P. C. T.; COSTA, A. C.

Page 141: ISSN 2236-0468

141Interciência & Sociedade

xas concentrações que adentram na base da zona de amostragem do poço.

4. Etapas do Estudo

4.1. Caracterização da Empresa

A empresa objeto de estudo atua no setor de galvanoplastia voltada ao de-senvolvimento de peças de plástico ABS (Acrilonitrila Butadieno Estireno). Localizada na região de Campinas, a empresa desen-volve a Cromação em ABS, Estanhagem, Fosfocromatização e Niquelação Química. Faz o tratamento superficial, processo cha-mado de eletrodeposição, que consiste em recobrir objetos ou peças técnicas, em geral plásticos ABS e metálicos, com um ou mais metais. Dentre os tipos de eletrodeposição, nesta indústria prevalece a atividade princi-pal de galvanoplastia, definida como a de-posição eletrolítica de metais sobre a super-fície dos objetos. Trata-se de um tratamento de superfície que consiste em depositar um metal sobre o outro, através da redução química ou eletrolítica, e visa a proteção, a melhoria da condutividade e a captação para a solda, sobre a superfície tratada. É ainda aplicada para melhorar a aparência, a aglutinação de partículas não condutoras à camada eletrodepositada, e a resistência ao atrito e à dureza superficial. Em qualquer tipo de eletrodeposição, a superfície que irá receber o depósito metálico deve ser con-venientemente limpa, removendo-se da su-perfície, impurezas tais como graxas e óxi-dos do próprio metal. Dentre os materiais utilizados neste processo, destacam-se: solução alcalina (NaOH) para a remoção de gorduras orgânicas; solventes hexana e xilol para a remoção de óleos minerais, e; ácidos H2SO4, HCl e HNO3, para a remo-ção de óxidos no processo de decapagem. Após o banho com ácido, as placas são es-fregadas com esponja de aço com água e sabão. Com relação aos banhos, cita-se: a) a cobreação (com sulfato de cobre e ácido sulfúrico); b) a niquelação (com sulfato de níquel, cloreto de níquel e ácido bórico); c) a cromação (com ácido crômico e ácido sul-fúrico), e; d) a zincagem (com sulfato de zin-co, cloreto de amônio e acetato de sódio). Portanto, devido à natureza das atividades em questão, considera-se que todos os se-tores industriais representam um potencial de risco de contaminação do solo e das

O poço de monitoramento simples (L) produz uma amostra que representa uma mistura de altas concentrações de so-luto que adentra na parte superior e de bai-xas concentrações que adentram na base da zona de amostragem do poço.

O conjunto de três poços multiní-veis (M) produz amostras que refletem com maior precisão a real distribuição dos con-taminantes na fase dissolvida do aqüífero do que a amostra de um poço de monitora-mento simples. O poço multinível N fornece amostras que mais se assemelham a dis-tribuição real e efetiva dos contaminantes na fase dissolvida do aqüífero. Por ques-tões comerciais, optou-se neste trabalho por instalar na empresa poços multiníveis do tipo M, compostos por tubos geomecâni-cos conforme ilustrado na Figura 8. A cons-trução dos poços multiníveis e também de extração, contou ainda com a inserção de pré-filtro de areia graduada quartzosa arre-dondada pré-lavada própria para poços tu-bulares, com selo de proteção de bentonita para prevenir o aporte de eventuais conta-minações superficiais, com o preenchimen-to de solo retirado durante a perfuração e o selamento final com cimento. A Figura 2 mostra a simulação da captura hidráulica de uma pluma de contaminação vertical, tipica-mente obtida a partir de amostragens em poços de monitoramento multinível.

Figura 2. Pluma Vertical (Einarson, 2006)

Sistema de remediação por bombeamento e tratamento em águas subterrâneas contaminadas

Page 142: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade142

águas subterrâneas e merecem um moni-toramento contínuo para que não se tornem fontes de contaminação.

4.2. Histórico da Contaminação

Devido ao potencial poluidor das atividades desenvolvidas pela empresa, estudos técnicos recentes foram realizados para a elaboração de um diagnóstico am-biental das condições do solo e lençol fre-ático na área industrial e em seu entorno. Inicialmente foi realizada a Avaliação Pre-liminar por uma empresa especializada, a qual indicou os pontos de interesse poten-cialmente poluidores nas áreas produtivas e operacionais. Com base nos resultados obtidos, procedeu-se com a Investigação Confirmatória, também realizada por em-presas especializadas, em Setembro de 2006. Neste estudo, foram instalados 5 po-ços de monitoramento no local e coletadas 20 amostras de solo e água subterrânea. Os resultados analíticos das amostras de solo indicaram concentrações superiores aos limites de intervenção estabelecidos pela legislação ambiental vigente para o solo e para a água subterrânea. No solo foram encontrados os metais Ba, Cd, Cr total, Fe total, Ni e Zn, enquanto na água subterrânea os metais Al, Ba, Cd, Pb, Co, Cr total, Fe total, Mn, Ni e Zn, além de TPH total. Na etapa seguinte procedeu-se com a Investigação Detalhada realizada em Abril de 2007. Neste estudo, foram perfurados e instalados 5 novos poços de monitoramen-to e executadas 6 sondagens rasas para a coleta de amostras de solo. Os resultados das análises laboratoriais no solo indicaram a presença dos metais Ba, Cd, Cr, Ni e Zn, e na água subterrânea Al, Sb, As, Ba, Cd, Pb, Co, Cu, Cr III, Cr VI, Fe, Mn, Ni, Ag, Zn, cis-1,2-Dicloroeteno e PCE (Tetracloroe-teno), todos em concentrações acima dos valores orientadores para solo industrial. Na Investigação Detalhada, foram elaborados os mapas de isoconcentração com os resul-tados das análises da água subterrânea. As plumas de metais foram identificadas como amplamente distribuídas pela área, muitas vezes delimitadas fora dos limites dela tanto a jusante como a montante. Neste estudo também foram avaliados os riscos à saúde

humana em 5 cenários diferentes. Os resul-tados indicaram risco à saúde humana para os receptores: trabalhador efetivo, trabalha-dor temporário, trabalhador efetivo vizinho e morador residencial criança e adulto, res-pectivamente. Foram também calculadas as metas CMEAs (Concentrações Meta Específicas para a Área) para os cenários críticos, conforme preconiza a legislação vigente. Vários compostos apresentaram concentrações acima desta meta na água subterrânea e se tornaram o foco principal da remediação. Uma vez delimitadas as Plumas de Contaminação dos compostos de interesse na água subterrânea, foram re-alizados ensaios pilotos para a remediação em Fevereiro de 2008, por meio da tecnolo-gia de bombeamento e tratamento associa-da à técnica de eletrocinese, que promove a eletrodeposição dos metais em eletrodos. Esta decisão se baseou na hidrogeologia subterrânea que é heterogênea com múlti-plas camadas e nos contaminantes que são instáveis e completamente dissolvidos na água subterrânea (categoria 2 do Quadro 1). Este sistema de remediação operou por algum tempo com modesta eficiência quan-do comparado aos custos empreendidos para a sua montagem e manutenção con-tínua. Para dar continuidade à investigação na área contaminada, a Consultoria Geoma S/S Ltda foi contratada para realizar uma nova campanha para a atualização das plu-mas de contaminação, implementar o sis-tema de remediação por bombeamento e tratamento e efetuar periodicamente o seu monitoramento. Neste sistema, a água con-taminada é bombeada para a estação de tratamento de efluentes (ETE) existente na empresa e tratada com o efluente industrial, contribuindo para uma redução expressiva dos custos associados à remediação, com efetividade significativa na diminuição da concentração de contaminantes na água subterrânea.

4.3. Remediação e Poço Multinível

A implementação do sistema de re-mediação englobou a instalação de poços de extração de 4 polegadas (Figura 3), que associados aos poços 4 poços existentes, perfazem um total de 8 poços de extração

PEREIRA, P. R. A.; BARRAZA LARIOS, M. R.; SARTORI, M. V.; ALMEIDA, M. R. H.; TOLEDO, P. C. T.; COSTA, A. C.

Page 143: ISSN 2236-0468

143Interciência & Sociedade

definitivos. Nesses poços de extração foram instaladas bombas ANAUGER, adequadas ao bombeamento da água subterrânea até a ETE. Para assegurar uma operação ade-quada das bombas ANAUGER, em alguns trechos, foi necessária a abertura do solo a uma profundidade superior a 50 cm, para a introdução de tubos de PVC de 10 cm ou 5 cm de diâmetro, para a passagem das mangueiras de sucção e fiação elétrica das bombas e dos sensores de nível.

A Figura 5 ilustra a instalação das tubulações e dos sensores no poço de ex-tração PE-06. A Figura 6 demarca todos os 6 poços de extração instalados, além dos 2 poços de extração previamente existentes, atualmente todos em operação de bombea-mento de água subterrânea para a ETE da empresa. Neste trabalho também foram ins-talados 7 dos 10 poços multiníveis previs-tos (Figura 7). Não foi possível a instalação de 3 deles, devido à existência de material impenetrável (rocha) detectada durante a perfuração. Várias referências foram utiliza-das como base para a implementação dos poços multiníveis (Claire Technical Bulletin; Cadwagan et al., 1993; Lewis, 2001; Einar-son &Cherry, 2002; Sterling et al., 2005; Pa-rker et al., 2006; Einarson, 2006).Para promover o rompimento do

asfalto e do solo compactado no local pela passagem de veículos pesados e realizar as aberturas no solo, foi necessária a utili-zação de máquinas escavadeiras e pás car-regadeiras. A Figura 4 mostra na área exter-na à empresa, a rua lateral que dá acesso a sua portaria, com a abertura onde passa a tubulação que vai em direção ao poço de extração PE-07, instalado próximo ao ribei-rão existente no local. Os tubos de PVC ins-talados têm a função de isolar da terra as mangueiras e a fiação, além de assegurar uma proteção mínima a esses componen-tes, por estarem sujeitos a movimentação de veículos pesados na superfície do solo, acima de onde foram instalados.

Figura 3. Poço de Extração (Geoma, 2009)

Figura 4. Tubo PVC–PE–07 (Geoma, 2009)

Figura 5. Instalação PE-06 (Geoma, 2009)

Sistema de remediação por bombeamento e tratamento em águas subterrâneas contaminadas

Page 144: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade144

A etapa de perfuração, inserção de tubulação, inserção de pré-filtro de areia e finalização dos poços multiníveis é ilustrada pela Figura 8.

5. Resultados

Esta seção apresenta as plumas de contaminação obtidas através dos resul-tados analíticos das campanhas de novem-bro de 2009 (antes da instalação do sistema de remediação por bombeamento e trata-mento) e maio de 2010 (seis meses após a instalação do sistema).

5.1. Plumas Horizontais e Verticais

As plumas de contaminação po-dem ser caracterizadas como mapas de isoconcentrações dos compostos objeto de investigação, cujos valores das análises químicas das amostras de água subterrâ-nea e/ou solo foram superiores aos limites de intervenção dos padrões orientadores da CETESB. As plumas representam a distri-buição espacial dos contaminantes na área objeto de estudo e foram geradas a partir do georeferenciamento das coordenadas es-paciais obtidas no levantamento topográfi-co e das concentrações dos contaminantes, ambas tratadas pelo método computacional conhecido como krigagem. Este método realiza a interpolação dos dados e calcula a distribuição das curvas de isoconcentra-ção e delimita as plumas de contaminação. A sobreposição das plumas de contamina-ção geradas para cada uma das 3 profun-didades dos poços multiníveis, representa a delimitação total da pluma (vertical e ho-rizontal) das fases dissolvidas identificadas. Diversas plumas de contaminação horizon-tal e vertical foram elaboradas, no entanto, somente algumas delas são exemplificadas neste artigo. A Figura 9 ilustra a pluma de contaminação horizontal por cobre para os resultados analíticos de novembro de 2009 (antes da instalação do sistema de reme-diação), enquanto a Figura 10 se refere ao mesmo composto para resultados ana-líticos de junho de 2010 (seis meses após a instalação do sistema de remediação). Observa-se uma drástica redução na con-centração de cobre em seis meses de ope-ração de 87000 μg/L (região mais escura da Figura 9) para uma concentração em torno de 7000 μg/L (região clara da Figura 10).

Figura 6. Instalação PE-06 (Geoma, 2009)

Figura 7. Poços Multiníveis (Geoma, 2009)

Figura 8. Pré-filtro Para o PMN-07

PEREIRA, P. R. A.; BARRAZA LARIOS, M. R.; SARTORI, M. V.; ALMEIDA, M. R. H.; TOLEDO, P. C. T.; COSTA, A. C.

Page 145: ISSN 2236-0468

145Interciência & Sociedade

As Figuras 11 a 13 mostram as plu-mas horizontais de concentração do níquel nos poços multiníveis em três diferentes co-tas abaixo da mesa de água (desnível de 1m entre cada profundidade). A maior con-centração em torno de 17000 μg/L está lo-calizada no nível 1 (Figura 11), enquanto a maior concentração do nível 3 está em tor-no de 3800 μg/L (Figura 13).

Figura 9. Cobre Nov/2009 (Geoma, 2009)

Figura 10. Cobre Jun/2010 (Geoma, 2010)

Figura 11. Níquel Nível 1 (Geoma, 2009)

Figura 12. Níquel Nível 2 (Geoma, 2009)

Figura 13. Níquel Nível 3 (Geoma, 2009)

A Figura 14 ilustra a superposi-ção das três plumas horizontais supracita-das, para a composição da pluma vertical de contaminação por níquel (campanha de junho de 2010). A Figura 15 confirma a redução na concentração dos contaminan-tes após a instalação do sistema de reme-diação, neste caso, ilustrando o composto Níquel, cuja concentração no nível 1 caiu aproximadamente de 17000 μg/L (Figura 11), para cerca de 7500 μg/L no mesmo ní-vel 1 (Figura 15).

Sistema de remediação por bombeamento e tratamento em águas subterrâneas contaminadas

Page 146: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade146

Figura 14. Pluma Vertical (Geoma, 2009)

Figura 15. Níquel Nível 1 (Geoma, 2010)

Portanto, é notório que o sistema de remediação ora instalado na empresa mostra-se adequado ao propósito de pro-mover a limpeza ou descontaminação do lençol freático e deverá permanecer em funcionamento até que as metas de reme-diação sejam atingidas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como principal objetivo apresentar as etapas que envolveram a perfuração de poços de ex-tração e multiníveis, a determinação das plumas de contaminação verticais e hori-zontais, e a instalação de um sistema de re-mediação por bombeamento e tratamento, para um site onde a água subterrânea foi contaminada por metais, provenientes das operações industriais oriundas da galvano-

plastia. Para tanto, as etapas e os requisi-tos legais do “Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (CETESB, 1999)” foram adotados como referência para este trabalho, concluído com êxito. A despeito de todas as dificuldades e restrições relatadas na bibliografia especializada sobre o siste-ma de bombeamento e tratamento para a remediação de sites, é evidente que esta tecnologia tem se mostrado neste caso, bastante adequada e eficaz para a descon-taminação de metais do lençol freático da área, objeto deste estudo. Assim, recomen-da-se, portanto, que a empresa mantenha o monitoramento semestral nos moldes das campanhas de novembro de 2009 e dezem-bro de 2010, com a elaboração das plumas de contaminação para os compostos de interesse, como forma de ratificar a verda-deira eficácia do sistema ora instalado no site em atingir as metas de remediação e assegurar que as fontes de descontamina-ção foram realmente estancadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABGE, 1995. Curso de Geologia Aplicada ao Meio Ambiente. IPT Série Meio Ambiente, 247 p.

BADILLO, E. J.; RODRIGUES, A. R. Mecânica de Suelos. Editorial Limusa. México.

CETESB – Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental. Decisão de Diretoria Nº 195-2005 – Esta-belecimento de Valores Orientadores para Solos e Água Subterrânea no Estado de São Paulo. São Paulo, 2005.

CETESB – Companhia de Tecnologia e Saneamen-to Ambiental. Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas. São Paulo, 1999.

IPT– Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de S. Paulo, Divisão de Minas e geologia Aplicada. Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo, v. 1, 1981.

LIBARDI, P. L. Dinâmica da água no solo. 2a edi-ção. Piracicaba, 2000: o autor. 509p.

SILVA, J. X. Geoprocessamento para análise Am-biental. Rio de janeiro. Ed. do autor. 2001. 228p.

U.S. EPA REGION 9. Table Preliminary Reme-dial Goals (PRG’s) User Guide’s/Technical Back-ground Document – U.S. Environmental Protection Agency, 2004.

PEREIRA, P. R. A.; BARRAZA LARIOS, M. R.; SARTORI, M. V.; ALMEIDA, M. R. H.; TOLEDO, P. C. T.; COSTA, A. C.

Page 147: ISSN 2236-0468

147Interciência & Sociedade

COHEN, R. M.; et al. Design Guidelines for Con-ventional Pump-and-Treat Systems. EPA, USA, 1997.

COHEN, R. M.; et al. Methods for Monitoring Pump--and-treat Performance. EPA, USA, 1994.

ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Op-tions for Discharging Treated Water from Pump and Treat Systems. EPA, USA, 2007.

CADWGAN, M. R.; et al. Improving Monitoring Effi-ciency of Deep Wells. GWMR/Winter, 1983.

CLAIRE TECHNICAL BULLETIN. Multilevel Sam-pling. TB1, 2006.

EINARSON, M. D.; CHERRY, J. A. A New Multilevel Ground Water Monitoring System Using Multi-channel Tubing. Ground Water Monitoring & Reme-diation 22, no. 4/ Fall 2002/ pages 52-65.

EINARSON, M. D. Practical Handbook of Environ-mental Site Characterization and Ground-water Monitoring. Taylor & Francis, 2006.

MICHAEL LEWIS, R. G. Installing Continuous Multi-Chamber Tubing Using Sonic Drilling. Water Well Journal, July 2001.

PARKER, B. L.; et al. A Multilevel System for High--Resolution Monitoring in Rotasonic Boreholes. Ground Water Monitoring & Remediation 26, no. 4/ Fall 2006/pages 57–73

STERLING, S. N.; et al. Vertical Cross Contamina-tion of Trichloroethylene in a Borehole in Fractu-red Sandstone. Vol. 43, No. 4 – GROUND WATER – July – August 2005 (pages 557–573).

Paulo Roberto Alves Pereira é Doutor em Engenharia pela Universidade de Campinas – UNICAMP, Mestre em Engenharia Química pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, graduado em Engenharia Química pela Universidade estadual de Maringá – UEM, e Black Belt Seis Sigmas pela Escola de Extensão da Unicamp - Exte-camp. Atualmente é Coordenador do curso de Engenharia Química e professor dos cursos de Engenharia Química e Ambiental da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFM, Professor dos cursos de Engenharia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE, professor dos cursos de MBA em Gestão da Qualidade e Perícia Ambiental do Instituto de Aperfeiçoamento Tecnológico – IAT e Responsável Técnico da Empresa Consultoria Geoma S/S Ltda.

Mario Roberto Barraza Larios é Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo – USP, Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Viçosa – UFV, Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Viçosa – UFV e Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pelo Instituto de Aperfeiçoamento Tecnológico – IAT. Atualmente é Professor do Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFM, Professor dos cursos da Escola de Engenharia de Piracicaba EEP–FUMEP, professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Adventista de São Paulo – UNASP e Res-ponsável Técnico da Empresa Gerenciamento Ambiental Ltda.

Marcelo Vanzella Sartori é Mestre em Direito Ambiental pela Universidade Católica de Santos – UNISANTOS, Especialista em Direito Ambiental pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, Especialista em Gestão e Práticas Ambientais pelas Faculdades Integradas de São Paulo – FISP, Especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP e Graduado em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU. Atualmente é Professor do curso de Direito da Faculdade de Direito de Mogi Mirim/SP, da Associação Educacional e Assistencial Santa Lúcia, professor do curso de Administração da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFM e Diretor Jurídico da Consultoria Geoma S/S Ltda.

Moacyr Rodrigo Hoedmaker de Almeida é Doutor em Ciências (Área de concentração: Química Analítica) pelo Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Mestre em Química (Área de concen-tração: Química Analítica) pelo Departamento de Química da UFSCar. Bacharel em Química pela UFSCar. Atual-mente é professor dos cursos de Engenharia Ambiental, Engenharia Química e Nutrição da Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” - FMPFM. Professor e Coordenador dos Cursos de Ciências-Habilitação Química, Química Industrial e da Comissão Própria de Avaliação (CPA) das Faculdades Integradas Maria Imaculada - FIMI. Avaliador Institucional e de Cursos INEP/MEC.

Patrícia Caveanha Tavares de Toledo é Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pelo Instituto de Aperfeiçoamento Tecnológico – IAT e graduada e Engenharia Ambiental pela Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFM. Atualmente atua como Engenheira Ambiental Autônoma em parceria com a Consultoria Geoma S/S Ltda e Gerenciamento Ambiental Ltda.

Ana Caroline Costa é aluna do 8º semestre de Engenharia Ambiental da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFM. Atualmente é estagiária de Engenharia Ambiental na Consultoria Geoma S/S Ltda.

Sistema de remediação por bombeamento e tratamento em águas subterrâneas contaminadas

Page 148: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade148

Page 149: ISSN 2236-0468

149Interciência & Sociedade

SUCESSÃO ECOLÓGICA E O USO DE NITROGÊNIO EM FLORESTAS TROPICAIS

RESUMO: Uma ferramenta que auxilia no entendimento do processo de sucessão ecológica em am-bientes florestais, sobretudo da Mata Atlântica do Estado de São Paulo, é o conjunto de estratégias de aquisição e do transporte de nitrogênio utilizadas pelas espécies arbóreas. As pesquisas realizadas têm se fundamentado na hipótese de que o metabolismo primário do nitrogênio permite a organização de espécies em grupos funcionais de sucessão ecológica. Os resultados têm mostrado que espé-cies pioneiras apresentam níveis relativamente altos de atividade de redutase de nitrato foliar (ARN), elevada quantidade de nitrato (NO3

-) nas folhas e transportam nitrogênio predominantemente através de NO3- e Asparagina (ASN), enquanto que, em secundárias iniciais, os níveis de atividade enzimáti-ca são menores e predominam transportadores de longa distância como Glutamina (GLN) e Arginina (ARG) e, em secundárias tardias, os níveis de ARN são muito baixos e predominam na seiva amino-ácidos como ASN e ARG e um baixo conteúdo de NO3

-. Esse tipo de abordagem vem sendo feita em diversos ecossistemas e se mostra bastante importante quando se verifica que plantas de ambientes tropicais tendem a depender menos da absorção do nitrato através das raízes. Apesar das evidências supracitadas, são necessárias mais investigações sobre as principais fontes de nitrogênio utilizadas em comunidades florestais tropicais, uma vez que a maioria dos estudos tem sido realizada em ecossiste-mas de clima temperado. São necessários mais estudos sobre a ecofisiologia de uso do nitrogênio de tal forma a se gerar ferramentas que contribuam futuramente para a recuperação de áreas degradadas e que complementem as informações sobre a sucessão ecológica em ambientes tropicais.PALAVRAS-CHAVE: sucessão ecológica, nitrato, amônio, aminoácidos, atividade de redutase do ni-trato, espécies arbóreas tropicais.

PEREIRA-SILVA, Erico F. L.Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

[email protected]

HARDT, ElisaFaculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

[email protected]

JOLY, Carlos A.Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

[email protected]

AIDAR, Marcos P. M.Instituto de Botânica de São Paulo (IBot - SP)

[email protected]

ABSTRACT: The strategies for acquisition and transport of nitrogen used by tree species, especially in the Atlantic Forest of São Paulo, that a one way to understanding the process of ecological succession in forest environments. The researches have been based on the primary metabolism of nitrogen allows the organization of these functional groups of species in ecological sucession. The relationship between the observed strategies and the successional categories revealed that pioneer species promoted the acquisition of nitrate (NO3

-) from the soil and transported nitrogen assimilated in the roots as Aspara-gine (ASN). The early secondary species use Glutamine (GLN) for long distance transport and nitrate as an alternative form of nitrogen transport. The late secondary species use strategies of storage and remobilization of nitrogen in the form of Asparagine and Arginine and assimilate ammonium. The results presented complement the information available relating to ecological succession in tropical forests and in the future could be useful for the recovery of degraded areas.KEYWORDS: ecological succession, nitrate, ammonium, amino compounds, nitrate reductase activity, wood species.

Page 150: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade150

1. INTRODUÇÃO

O conceito de sucessão ecológica foi tratado inicialmente como a seqüência de comunidades de plantas marcadas por mudanças de formas de vida de simples a complexas em uma condição de monoclí-max (Clements 1916 apud Gandolfi 2007). Com o passar do tempo, diversos pontos de vista complementaram esse conceito. Gleason (1926) propôs que o fator mais importante para a composição sucessio-nal de uma comunidade seria a interação entre as espécies, em que a estrutura final seria policlímax. Witthaker (1953) reconhe-ceu que vários fatores ambientais variavam espacialmente, refletindo em gradientes na vegetação. Dentre muitos outros conceitos formulados, reformulados e complementa-dos, um dos mais recentes foi proposto por Begon (1996) que discute sucessão como um padrão de colonização e extinção pro-movido por populações de espécies em uma determinada área. Para Gandolfi (2007), a sucessão em floresta tropical seria um con-junto de transformações que ocorrem na composição e na estrutura de uma vege-tação em escala temporal. Esse panorama histórico deixa evidente que o entendimento da sucessão ecológica e dos sistemas de classificação de grupos sucessionais está cada vez mais cientificamente fundamenta-do, ficando de lado o caráter subjetivo das primeiras classificações, incluindo agora propostas de investigação de evidências que influenciam o caráter sucessional e as estratégias de regeneração das espécies, procurando melhorar o entendimento desse processo em comunidades vegetais.

Os estudos sobre sucessão ecoló-gica requerem tempo pelo fato de ser um processo natural que ocorre de modo inin-terrupto durante um longo período até que a comunidade vegetal atinja uma condição de equilíbrio (Hartshorn 1980), ou seja, são processos dinâmicos que dependem de diversos fatores e que determinam quais espécies da comunidade terão êxito no es-tabelecimento (Bazzaz & Picket 1980, Whit-more 1996). As investigações iniciais sobre a dependência da luz no interior da floresta (Vázquez-Yanes et al. 1990), a adaptação de diferentes espécies aos regimes de luz

(Chazdon & Pearcy 1991), os processos de substituição em escala temporal (Brokaw 1985), as respostas ecofisiológicas às con-dições do meio e diversos outros fatores têm constituído um arcabouço de informa-ções sobre a sucessão ecológica em diver-sos ecossistemas.

Na região neotropical tem sido es-tudada a organização de espécies de plan-tas em tipos funcionais, famílias botânicas e caracteres taxonômicos relacionados ao uso de nitrogênio (Stewart & Schmidt 1998, Aidar et al. 2003). Além disso, o uso de ni-trogênio pelas plantas tem representado uma forma de entendimento do processo de sucessão ecológica. Alguns autores (Aidar et al. 2003, Pereira-Silva 2008 e Campos 2009) têm investigado mais a fundo a ca-racterização dos compostos nitrogenados de baixo peso molecular presentes na seiva do xilema, a atividade de redutase do nitra-to (ARN) foliar in vivo e a determinação do conteúdo de nitrato (NO3

-) na seiva do xile-ma e nas folhas de espécies arbóreas da Mata Atlântica paulista. Até o momento já pôde ser caracterizado o metabolismo pri-mário de nitrogênio de mais de cem espé-cies arbóreas de diferentes fitofisionomias florestais que responderam ao modelo pro-posto por Aidar et al. (2003).

A constatação de estratégias quan-to ao uso de nitrogênio sob a ótica dos es-tágios de sucessão em floresta tropical re-presenta um conjunto de informações que atendem à necessidade de avanços na determinação de categorias sucessionais. Trata-se de investigações que devem ser-vir como critérios complementares à classi-ficação em grupos de sucessão ecológica e oferecer de forma satisfatória subsídio à recuperação de áreas degradadas. Diante do exposto, esse trabalho apresenta uma revisão sobre os estudos a respeito das es-tratégias das espécies arbóreas tropicais e apresenta alguns resultados obtidos para duas fisionomias florestais de Mata Atlânti-ca do Estado de São Paulo.

2. Influência do nitrogênio e as estraté-gias de uso pelas plantas

A diversidade e a disponibilidade de nutrientes no ambiente têm sido apon-

PEREIRA-SILVA, E. F. L.; HARDT, E.; JOLY, C. A.; AIDAR, M. P. M.

Page 151: ISSN 2236-0468

151Interciência & Sociedade

tadas como fatores importantes que influen-ciam a interação, a distribuição, a abundân-cia, a diversidade, a composição local e o desempenho individual das plantas (Bell & Lechowicz 1994), além de serem algumas das causas das variações do estado nu-tricional de espécies vegetais (Glass et al. 2002). Essa heterogeneidade nutricional ocorre em virtude das modificações estrutu-rais do solo em escalas temporal e espacial e da influencia dos fatores bióticos e abióti-cos, de tal forma que a sinergia entre tem-po, espaço e fatores institui aspecto chave para a disponibilidade de nutrientes na so-lução do solo e direciona a ocupação e o sucesso das plantas no ambiente (Pereira--Silva 2008).

Em ecossistemas naturais terres-tres, o nitrogênio é o elemento que mais li-mita o desenvolvimento vegetal e, por essa razão, sua transformação e disponibilidade no solo e sua aquisição e uso pelas plantas têm se tornado o ponto comum de muitas pesquisas. O uso limitado desses recursos com máxima eficiência mostra que as plan-tas possuem uma variedade de estratégias que pode ser resultante das adaptações dos mecanismos metabólicos em milhares de anos de evolução (Stewart & Schmidt 1998), em função das formas nitrogenadas particulares e das quantidades limitadas de nitrogênio nos ecossistemas. Essas adapta-ções permitem a aquisição e o uso eficien-tes e garantem uma estreita economia de nitrogênio durante o ciclo de vida da planta (Cánton et al. 2005).

As relações naturais entre nitrogê-nio e comunidades vegetais têm sido inves-tigadas em diversas regiões e têm susten-tado a idéia de que as espécies vegetais diferem quanto à habilidade de utilizar as fontes orgânicas e inorgânicas desse ele-mento (Stewart et al. 1992, Schmidt et al. 1998, Aidar et al. 2003, Pereira-Silva 2008, Campos 2009). Em ecossistemas áridos e semi-áridos, por exemplo, onde o nitrogênio é disponibilizado no ambiente concomitante aos raros eventos climáticos de precipita-ção, as plantas desenvolveram habilidades competitivas para evitar que a escassez desse recurso afetasse sua sobrevivência (James & Richards 2006). Da mesma for-ma, em ecossistemas temperados, embora

a chuva não seja um evento raro e por isso não influencie diretamente a disponibilida-de de nitrogênio, as espécies de estádios sucessionais inicial e tardio utilizam estra-tégias para competir entre si pelo nitrogênio disponível no solo (Tilman & Wedin 1991). Isso também ocorre nos ecossistemas me-diterrânicos em que as plantas utilizam es-tratégias de uso do nitrogênio na recoloni-zação pós-fogo (Casals et al. 2005, Paula et al. 2009). A baixa disponibilidade de formas de nitrogênio inorgânico influencia na diver-sidade de comunidades vegetais e o uso de nitrogênio pelas espécies permite organizá--las em tipos funcionais (Cruz et al. 2006).

Em ecossistemas neotropicais existem algumas semelhanças no metabo-lismo do nitrogênio das plantas que coin-cidam com o agrupamento de caracteres taxonômicos, o que evidencia que famílias botânicas apresentam padrões quanto à re-dução do nitrato (Stewart & Schmidt 1998, Aidar et al. 2003) e, além disso, nesses ambientes, espécies arbóreas podem ser organizadas em tipos funcionais (Stewart & Schinidt 1998) relacionados ao uso de nitro-gênio. Como exemplo, diversos trabalhos mostram que famílias botânicas como Ama-ranthaceae, Chenopodiaceae, Polygonace-ae e Urticaceae apresentam uma taxa de redução do nitrato bastante elevada quando comparadas com Ericaceae, Epacridaceae (Stewart & Schimidt 1998) e Proteaceae (Aidar et al. 2003, Pereira-Silva et al. 2006). Em uma breve revisão, Pereira-Silva et al. (in prep.) verificou que espécies arbóreas da família Lauraceae, ocorrentes em diver-sos ecossistemas tropicais, podem ser or-ganizadas como um grupo que apresenta o comportamento intrínseco de baixa ativida-de de redução de nitrato nas folhas.

A possibilidade de ordenação de grupos taxonômicos em função da assimi-lação de nitrato foliar deixa evidente que as plantas respondem às variações externas das concentrações das formas de nitrogê-nio orgânico e inorgânico, ou seja, utilizam um eficiente esquema de absorção e trans-porte do nitrogênio que satisfaz a deman-da desse elemento (Raghuram et al. 2006). São estratégias voltadas à obtenção do ni-trogênio do solo, via sistema radicular, nas formas de nitrato (NO3

-), de amônio (NH4+),

Sucessão ecológica e o uso de nitrogênio em florestas tropicais

Page 152: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade152

de uréia e de aminoácidos e de dinitrogê-nio (N2) pela fixação e de amônia (NH3), via cavidade sub-estomática foliar (Stulen et al. 2006). Além das estratégias de uso do ni-trogênio disponibilizado no meio terrestre, outras formas nitrogenadas ocorrentes na atmosfera, como o nitrito (NO2

-) e o óxido nítrico (NO), também podem ser capturados via cavidade sub-estomática e serem trans-portadas, sob a forma de nitrito ou nitrato, via apoplasto e absorvidos e assimilados no citoplasma através de um complexo enzi-mático (Stulen et al. 2006).

A capacidade de assimilação de uma forma particular de nitrogênio varia de espécie para espécie (Crawford & Glass 1998) e existem diversos autores que bus-cam o entendimento dessas estratégias (Smirnoff et al. 1984, Abuzinadah & Read 1986, Stewart et al. 1988, Fredeen & Field 1992, Traw & Ackerly 1995, Aidar et al. 2003, James & Richards 2005, 2006, Stulen et al. 2006, Cruz et al. 2003, Cruz et al. 2006, Pereira-sIlva et al. 2006, Casals et al. 2005 e Paula et al. 2009 ). Dessa forma, são importantes as investigações da existência de preferências por uma ou outra forma de nitrogênio e se isso é decorrente de diferen-ças genéticas ou se as plantas absorvem predominantemente a forma nitrogenada disponível no meio em que melhor se de-senvolvem (Rodrigues & Coutinho 2000).

3. Estratégias de uso de nitrogênio e a sucessão ecológica: estudo de caso em duas florestas tropicais

Para a Mata Atlântica, Aidar et al (2003) aprofundaram as investigações so-bre as estratégias de regeneração e uso de nitrogênio e evidenciaram a existência de estratégias utilizadas por grupos suces-sionais de espécies arbóreas para adquirir, transportar e assimilar o nitrogênio inorgâ-nico disponível no ambiente. Nesse traba-lho apresentaram um modelo de sucessão ecológica de espécies arbóreas que está

embasado em estudos ecofisiológicos e mostra que espécies pioneiras têm prefe-rência ao íon nitrato como fonte de nitrogê-nio e possuem níveis relativamente altos de atividade de redutase do nitrato, enquanto que as espécies secundárias tardias têm preferência ao amônio como fonte primária e apresentam níveis relativamente baixos dessa enzima (Smith & Rice 1983, Smirnoff & Stewart 1985, Stewart et al. 1990, 1992, Aidar et al. 2003, Cruz et al. 2006, Pereira--Silva 2008 e Campos 2009).

Com base nesse modelo, em estu-dos realizados em duas fisionomias flores-tais de Mata Atlântica, Pereira-Silva (2008) verificou sua validade e propôs um esque-ma complementar quanto à complexidade estrutural do nitrogênio metabolizado pelas plantas de acordo com cada grupo suces-sional (Figura 1).

Na Floresta Ombrófila Densa Sub-montana (FODSub) do Sul do Estado de São Paulo (Parque Estadual de Carlos Bo-telho), os resultados indicaram, além da ca-tegorização sucessional das espécies, que os eventos de chuva são essenciais para a disponibilização do nitrogênio no solo e para a aquisição pelas plantas, as quais se mostram adaptadas à condição sazonal dos processos de mineralização e de nitrifica-ção no solo.

Nos resultados para a Floresta Es-tacional Semidecídua (FESem) do interior do Estado (Reserva Municipal de Santa Genebra), as espécies arbóreas também puderam ser organizadas em grupos de sucessão em função do uso do nitrogênio. Além disso, pôde ser observado que as ca-racterísticas do solo e a estacionalidade da precipitação são fatores limitantes do pro-cesso de nitrificação no solo nessa floresta e as estratégias de utilização do nitrogênio pelas espécies estudadas estão condicio-nadas à forma mais apropriada e eficiente de nitrogênio inorgânico disponível no solo.

PEREIRA-SILVA, E. F. L.; HARDT, E.; JOLY, C. A.; AIDAR, M. P. M.

Page 153: ISSN 2236-0468

153Interciência & Sociedade

De acordo com Pereira-Silva (2008), o que foi observado na FESem e na FODSub está fortemente correlacionado com o regime de chuvas que condiciona o caráter intrínseco de limitação de nutrientes comum nas zonas tropicais (Pimentel 1998). A distribuição das chuvas tem grande signi-ficado ecológico para as formações vege-tais e, apesar das diferenças de distribuição entre as áreas estudadas, foi verificada a essencialidade da água para a demanda de nitrogênio das espécies. Em florestas om-brófilas, a precipitação anual aparentemen-te tem maior importância do que o regime sazonal de chuvas, já nas florestas semi-decíduas, que abrigam um sub-conjunto da flora das florestas ombrófilas, a estacionali-dade marcante das chuvas pode ocasionar déficit hídrico e atuar na manutenção de espécies capazes de enfrentar um estado de seca mais prolongado (Oliveira-Filho & Fontes 2000).

As investigações realizadas nas duas fisionomias de Mata Atlântica mostram que as espécies arbóreas estudadas inves-tem na aquisição e assimilação de nitrogê-nio através das raízes, transportando esse elemento predominantemente através de

quatro moléculas, NO3-, ASN, GLN e ARG,

as quais otimizam o uso de nitrogênio que pode ser destinado ao armazenamento e posterior remobilização interna. Pode-se di-zer que nas duas áreas as espécies utilizam mecanismos ecofisiológicos semelhantes para absorver, transportar, assimilar, ar-mazenar e remobilizar esse elemento que puderam ser organizados em grupos de su-cessão ecológica. Além disso, as espécies também utilizam as folhas para efetuar a assimilação do nitrato adquirido do solo.

As espécies pioneiras respondem às variações dos conteúdos de nitrogênio disponível no solo, sobretudo na forma do nitrato. Esse grupo teve níveis relativamen-te altos de atividade de redutase do nitra-to foliar, elevada quantidade de nitrato nas folhas, realiza o transporte de nitrogênio predominantemente através do nitrato e de ASN e tem baixa relação carbono-nitogênio nas folhas (C:N foliar). As secundárias tar-dias demonstraram ser pouco responsivas à disponibilidade sazonal de nitrogênio no solo. Seus níveis de atividade de assimila-ção do nitrato foram muito baixos em rela-ção ao grupo pioneiro, na seiva do xilema predominaram aminoácidos como ASN e

Figura 1. Complexidade estrutural do nitrogênio inorgânico assimilado e metabolizado pelas plantas de acordo com o grupo sucessional. ARN foliar (Atividade de Redutase do Nitrato foliar), NO3- (nitra-to), ASN (Asparagina), ARG (Arginina) e GLN (Glutamina).

Sucessão ecológica e o uso de nitrogênio em florestas tropicais

Page 154: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade154

ARG, baixo conteúdo de nitrato e a relação C:N foliar foi maior em relação às pioneiras. As secundárias iniciais mostraram níveis médios de atividade de redutase do nitra-to foliar, na seiva do xilema predominaram transportadores de longa distância como GLN e ARG. Esse grupo ainda apresentou características intermediárias na sucessão ecológica, ou seja, algumas espécies são próximas às pioneiras e mais responsivas às variações sazonais de nitrogênio no solo enquanto outras são menos responsivas e mais semelhantes às espécies tardias da sucessão.

A análise do conjunto total das es-pécies evidenciou dois mecanismos fisioló-gicos de uso do nitrogênio, a assimilação de nitrato na folha, especialmente aquelas do grupo pioneiro, e o processo transpira-tório para o transporte do nitrato desde a raiz até a parte aérea da planta. Nas duas florestas, as variáveis ecofisiológicas das espécies selecionadas se condicionam ao desempenho de estratégias para a utiliza-ção do nitrogênio inorgânico disponível no solo, podendo ser distribuídas em um con-tinuum de respostas ecofisiológicas de uso do nitrogênio entre pioneiras, secundárias iniciais e tardias (Tabela 1).

A hipótese do continuum de res-postas ecofisiológicas de uso do nitrogênio mostra que nas duas formações florestais, nos períodos úmido e seco, o grupo de pio-neiras tem maior atividade de redutase do nitrato que diminui na medida em que se avança na sucessão até as secundárias tar-dias. Isso pode ser sustentado pelos con-teúdos de nitrato na seiva do xilema que indicaram o grupo de pioneiras como assi-milador preferencial desse íon. O conteúdo de nitrato foliar por grupo de sucessão foi significativamente diferente entre as duas florestas, com maiores concentrações nos grupos FESem em função da maior fertilida-de do solo mesotrófico dessa área. Quanto ao conteúdo de nitrogênio total foliar, ob-serva-se uma diminuição no decorrer dos grupos de sucessão em ambas as áreas, indicando maior investimento no uso desse elemento pelo grupo pioneiro, refletindo em uma menor taxa de C:N (Tabela 1). Para o grupo de secundárias tardias foi verificado um padrão inverso ao grupo pioneiro, com

maior razão C:N por exemplo, o que sugere a reabsorção de nitrogênio e uma maior lon-gevidade foliar (Eckstein et al., 1999).

Durante o período úmido, não foram observadas diferenças significativas entre as duas áreas em relação aos compostos nitrogenados da seiva do xilema caracterís-ticos de cada grupo sucessional (Tabela 1). Contudo, as médias foram diferentes para ASN no grupo de espécies pioneiras, evi-denciando maior taxa desse aminocompos-to na seiva das espécies da FODSub. Foi observada diferença para GLN no grupo de secundárias iniciais, indicando maior taxa para as espécies da FESem, o que sugere o investimento em estratégias relacionadas ao uso de amônio. Para o grupo de secun-dárias tardias, a média de ARG foi signifi-cativamente diferente, indicando que as es-pécies da FODSub possuem maiores taxas desse aminocomposto na seiva. As diferen-ças significativas observadas nas taxas de ARG entre as duas formações deixam cla-ra a estratégia de remobilização no grupo de secundárias tardias do da FODSub nos dois períodos de amostragem, o que pôde ser evidenciado pelas elevadas taxas desse aminoácido na seiva do xilema (Tabela 1).

A organização dos mecanismos ecofisiológicos de aquisição, transporte e assimilação do nitrato permitiu identificar grupos com padrões de uso de nitrogênio distribuídos em um continuum de sucessão ecológica e confirmar a hipótese de que, na FODSub e na FESem, as espécies pio-neiras possuem níveis relativamente altos de atividade de redutase do nitrato foliar, elevada quantidade de nitrato nas folhas e transportam nitrogênio predominantemente através do nitrato e de ASN. Em uma posi-ção intermediária desse continuum, as es-pécies secundárias iniciais possuem níveis médios de atividade de assimilação de ni-trato nas folhas, com o predomínio de trans-portadores de longa distância como GLN e ARG na seiva do xilema. No outro extremo, estão posicionadas as secundárias tardias, com níveis de atividade de assimilação do nitrato muito baixos, com o predomínio de aminoácidos como ASN e ARG e com bai-xo conteúdo de nitrato na seiva do xilema (Figura 2)

PEREIRA-SILVA, E. F. L.; HARDT, E.; JOLY, C. A.; AIDAR, M. P. M.

Page 155: ISSN 2236-0468

155Interciência & Sociedade

Tabe

la 1

. Com

para

ção

de m

édia

s (t-

stud

ent)

das

variá

veis

de

uso

de n

itrog

ênio

do

perío

do ú

mid

o e

seco

par

a a

Flor

esta

Om

brófi

la D

ensa

Sub

mon

tana

(A -

FOD

Sub

) e p

ara

a Fl

ores

ta E

stac

iona

l Sem

idec

ídua

l (B

- FE

Sem

). A

tivid

ade

de re

duta

se d

o ni

trato

(NR

A),

conc

entra

ção

de n

itrat

o fo

liar (

NO

3- ), a

bund

ânci

a na

tura

l de

nitro

gêni

o (δ

15N

), ta

xa d

e ni

trogê

nio

tota

l fol

iar (

Nto

tal),

razã

o ca

rbon

o ni

trogê

nio

(C:N

), co

nteú

do d

e ni

trato

, con

cent

raçã

o de

am

inoá

cido

s e

taxa

de

com

post

os n

itrog

enad

os d

e ba

ixo

peso

mol

ecul

ar p

redo

min

ante

em

cad

a gr

upo

suce

ssio

nal:

AS

N (a

spar

agin

a), G

LN (g

luta

min

a) e

AR

G (a

rgin

ina)

. RS

=

estra

tégi

a de

rege

nera

ção

da e

spéc

ie: P

S =

pio

neira

, ES

S =

sec

undá

ria in

icia

l, LS

S =

sec

undá

ria ta

rdia

. nv

– nã

o ve

rifica

do. L

SD

– d

ifere

nça

mín

ima

sign

ifi-

cativ

a. Perío

doGr

upo

Variá

vel

Área

LSD

p-va

lor

LSD

p-va

lor

LSD

p-va

lor

LSD

p-va

lor

LSD

p-va

lor

LSD

p-va

lor

A64

7,5±

390,

689

,2±

58,2

107,

46,8

525,

201,

415

9,8

±15

7,5

56,7

±24

,1B

462,

89,1

183,

89,1

151,

72,5

561,

68,4

158,

91,2

68,2

±50

,1A

6,5

±1,

47,

2,1

6,0

±1,

98,

6,1

*6.7

±3,

16,

2,0

B8,

0,8

7,9

±3,

08,

2,3

7,3

±0,

4*7

.7±

3,2

9,4

±1,

8A

2,9

±1,

41,

0,8

1,2

±0,

92,

0,6

1,8

±0,

71,

0,9

B2,

1,5

3,1

±1,

52,

0,9

2,3

±1,

32,

1,7

3,0

±1,

2A

3,0

±0,

52,

0,7

2,0

±0,

42,

0,3

2,6

±0,

62,

0,3

B3,

0,2

3,0

±0,

72,

0,5

2,7

±0,

42,

0,6

2,2

±0,

6A

15,4

±2,

718

,2±

5,1

23,4

±6,

121

,2±

3,4

18,9

±4,

724

,3±

5,4

B14

,7±

0,7

17,2

±4,

520

,1±

4,8

16,7

±2,

717

,9±

4,2

23,0

±6,

9A

0,8

±0,

21,

0,8

0,7

±0,

60,

0,9

*1.4

±1,

3*1

.1±

1,0

B0,

0,5

1,2

±1,

01,

1,8

2,0

±0,

6*2

.9±

2,6

*3.2

±2,

7A

4,7

±3,

11,

1,1

0,8

±0,

51,

0,1

1,3

±1,

2*0

.79

±0,

4B

1,8

±2,

50,

0,6

0,9

±0,

51,

3,2

0,8

±0,

9*0

.9±

0,9

A52

,9±

6,9

13,3

±20

,250

,1±

36,3

20,8

±28

,8B

42,0

±18

,630

,0±

30,1

28,5

±23

,215

,4±

28,2

A32

,4±

36,5

18,6

±25

,8B

39,4

±30

,755

,3±

33,6

A12

,7±

19,9

26,7

±26

,116

,7±

21,3

*34.

34,6

B5,

7,9

9,8

±16

,72,

3,8

*7.1

±9,

50,

027

nvb

<0.0

001

0,63

6

nvb

0nv

b0,

51nv

a

a0,

19a

0,16

a0,

67

b0,

047

b0,

05b

0,04

7

b0,

67a

0,66

a0,

603

a0,

01a

0,58

a0,

28

a0,

025

b0,

01b

0,00

1

b0,

024

a0,

15a

0,41

b0,

001

Méd

iaM

édia

a0,

21a

0,99

Seco

Pion

eiro

Secu

ndár

io In

icia

lSe

cund

ário

Tar

dio

Méd

iaM

édia

Méd

iaPi

onei

roM

édia

Secu

ndár

io In

icia

lSe

cund

ário

Tar

dio

bb

0,05

b0,

002

NRA

NO3-

b0,

41

0,00

5a

0,15

3

δ15N

a0,

03bb

0,43

8

0,00

3b

<0.0

001

N tot

ala

0,06

a0,

484

b0,

025

0,12

7

NO3-

seiv

a do

xilem

ab

0,03

4a

0,05

6a

0,47

9

C:N

a

0,06

a

0,54

6a

0,48

7a

0,03

6

ASN

a0,

11a

0,11

9

aa se

iva d

o xil

ema

a

Úmid

o

0,85

5b

GLN

a0,

568

nv nv

nv

aAR

G0,

291

nv

b0,

046

Sucessão ecológica e o uso de nitrogênio em florestas tropicais

Page 156: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade156

Nessas florestas predominam es-pécies secundárias iniciais e tardias que coexistem com espécies pioneiras. A clas-sificação sucessional de espécies flores-tais tem sido um ponto muito polêmico nos estudos de florestas tropicais em virtude da carência de conhecimentos de como as espécies reagem aos fatores bióticos e abi-óticos. Apesar desses obstáculos, esse tra-balho permitiu classificar espécies arbóreas de duas importantes formações florestais do Estado de São Paulo. Pelo comporta-mento ecofisiológico de uso do nitrogênio das espécies arbóreas foi possível separar as espécies em conjuntos e até mesmo pro-por sub-conjuntos na sucessão ecológica que poderiam ser investigados em futuros trabalhos sobre essa temática.

Os grupos de sucessão ecológica utilizam diferentes maneiras para assimilar nitrogênio nas condições de úmido e seco e o que colabora para o desenvolvimento dessas estratégias são os processos de aquisição, de transporte e de assimilação desse elemento, fundamentais para o de-senvolvimento das plantas frente às condi-ções edáficas do ambiente estudado.

A classificação das espécies em grupos de sucessão em função do uso de nitrogênio foi possível a partir da escolha de atributos relevantes e de métodos apro-priados de classificação que consideraram a ecofisiologia das espécies e sua relação com a sazonalidade climática de cada fisio-nomia florestal, resultando na formação de três grupos de sucessão ecológica em fun-ção da utilização do nitrogênio.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elevação na deposição antropo-gênica de nitrogênio pode ser condicionan-te para o aumento de espécies herbáceas invasoras, bem como acelerador da expan-são de florestas (Siemann & Rogers 2003), até mesmo naquelas de clima tropical, alte-rando a composição das comunidades, mu-dando as interações planta-solo e abrindo o ciclo de nitrogênio (Hendricks et al. 2000). Isso tem significante contribuição na acidifi-cação do solo através da deposição do áci-do nítrico, pela oxidação do amônio e pela lixiviação de cátions como o cálcio (Moiser et al. 2001), e seu excesso pode causar o

Figura 2. Modelo progressivo de complexidade metabólica e do continuum de estratégias de uso do nitrogênio dos grupos sucessionais. Pi = pioneira, Si = secundária inicial, St = secundária tardia, Pi-Si = grupo intermediário I (proposta) e Si-St = grupo intermediário II (proposta).

PEREIRA-SILVA, E. F. L.; HARDT, E.; JOLY, C. A.; AIDAR, M. P. M.

Page 157: ISSN 2236-0468

157Interciência & Sociedade

declínio da diversidade de espécies (Vitou-sek et al. 1996).

Diante dessa problemática am-biental, existem desafios importantes que precisam ser enfrentados em função das circunstâncias de um cenário futuro pouco promissor para a atual biodiversidade de es-pécies arbóreas da Mata Atlântica. Buscan-do novas respostas sobre a ecofisiologia e a dinâmica de florestas tropicais, devem ser incentivadas investigações a respeito da deposição de nitrogênio e suas influências qualitativas e quantitativas no comporta-mento ecofisiológico das espécies vegetais e em suas interações com o meio abiótico em formações florestais tropicais.

As estratégias de aquisição, trans-porte e uso de nitrogênio têm sido caracte-rizadas em diversos ecossistemas (Schmidt & Stewart 1998, Aidar et al. 2003, Casals et al. 2005, Pereira-Silva 2008) e os resulta-dos têm mostrado que as plantas utilizam estratégias para obter nitrogênio via deposi-ções seca e úmida (Martinelli et al. 2009) e através do solo nas suas formas inorgânica e orgânica.

A aplicação do modelo de suces-são ecológica em função do uso de nitro-gênio tem se mostrado uma ferramenta importante e fornece informações para o entendimento da dinâmica das formações florestais da Mata Atlântica, além de aten-der às necessidades de avanços na deter-minação de categorias sucessionais. Os estudos mostram que espécies pioneiras têm estratégias adaptadas ao uso do nitra-to e são mais responsivas nutricionalmen-te à esse íon, secundárias tardias desem-penham estratégias para o uso de amônio ou do solo ou resultante de remobilização, sendo menos responsivas ao nitrato e se-cundárias iniciais completam o continuum de respostas ecofisiológicas de uso de ni-trogênio com espécies mais responsivas às variações sazonais do nitrato, enquanto ou-tras são menos responsivas e se asseme-lham mais às secundárias tardias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABUZINADAH, R. A.; READ, D. J. 1986. The role of proteins in the nitrogen nutrition of ectomycor-rhizal plants: utilization of peptides and proteins by ectomycorrhizal fungi. New Phytologist 103:481-493.

AIDAR, M. P .M.; et al. 2003. Nitrogen use strate-gies of neotropical rainforest trees in threatened atlantic forest. Plant, cell and environment 26:389-400.

BAZZAZ, F. A.; PICKETT, S. T. A. 1980. Physiologi-cal ecology of tropical succession: a comparative-review. Annual Review on Ecology and Sistematics 11:287-310.

BEGON, M.; et al. 1996. Ecology: individuals, popu-lations and communities. Blackwell, Oxford, 1068 p.

BELL, G.; LECHOWICZ, M. J. 1994. Spatial hetero-geneity at small scales and how plants respond to it. In: M.M. Caldwell & R.W. Pearcy (eds), Exploitation of environmental heterogeneity by plants: ecophy-siological processes above and below ground p. 391-414. San Diego: Academic Press.

BROKAW, N. V. L. 1985. Gap-phase regeneration in a tropical forest. Ecology 66:682-687.

CAMPOS, M .M. S. 2009. Ecofisiologia do uso de nitrogênio em espécies arbóreas da Floresta Om-brófila Densa das Terras Baixas, Ubatuba, SP. Dissertação de Mestrado. Instituto de Botânica da Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

CANTÓN, F. R.; et al. 2005. Molecular aspects of nitrogen mobilization and recycling in trees. Pho-tosynthesis Research 83:265-278.

CASALS, P.; et al. 2005. Short-Term nitrogen fi-xation by Legume seedlings and rsprouts after fre in mditerranean od-felds. Biogeochemistry 76: 477–501.

CHAZDON R. L.; PEARCY, R. W. 1991 The impor-tance of sunflecks for forest understory plants. BioScience 41: 760-766.

CRAWFORD, N. M.; GLASS, A. D. M. 1998. Molecu-lar and physiological aspects of nitrate uptake in plants. Trends in Plant Science, London, v.3, n.10, p. 389-395.

CRUZ, C.; et al. 2003. Nitrogen availability and plant cover: the importance of nitrogen pools. In: E. Tiezzi, C.A. Brebbia, J.L. (eds.). Advances in ecologi-cal sciences: Ecosystems and sustainable develop-ment IV, p. 123-135.

CRUZ, C.; et al. 2006. Nitrate reductase of species from different functional groups differ in its sen-sitivity to ammonium. Is this important in nitrogen limited ecosystems? In: 7th International Symposiun on inorganic nitrogen assimilation in plants, The Ne-therlands. http://www.plantnitrogen.org/Abstracts.pdf

ECKSTEIN R. L.; et al. 1999. Leaf life span and nu-trient resorption determinants of plant nutrient conservation in temperate-arctic regions. New Phytologist 143:177–189.

Sucessão ecológica e o uso de nitrogênio em florestas tropicais

Page 158: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade158

FREDEEN, A .L.; FIELD, C. B. 1992. Ammonium and nitrate uptake in gap, generalist and understory species of the genus Piper. Oecologia 92:207-214.

GANDOLFI, S. 2007. Sucessão florestal e as flo-restas brasileiras: conceitos e problemas. In: Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, Caxambu, p. 1-2.

GLASS, A. D .M.; et al. 2002. The regulation of ni-trate and ammonium transport systems in plants. Journal of Experimental Botany 53:855-864.

GLEASON, H. A. 1926. The individualistic concept of the plant association. Bulletin of the Torrey Bota-nical Club, 53(1): 7-26.

HARTSHORN, G. S. 1980, Neotropical forest dyna-mics. Biotropica, 12 (supplement 1):23-30.

HENDRICKS, J. J.; et al. 2000. Nitrogen controls on fine root substrate quality in temperate forest ecosystems. Ecosystems 3: 57- 69.

JAMES, J. J.; RICHARDS, J. H. 2005. Plant N captu-re from pulses: effects of pulse size, growth rate, and other soil resources. Oecologia 145:113-123.

JAMES, J. J.; RICHARDS, J. H. 2006. Plant nitro-gen capture in pulse-driven systems: interactions between root responses and soil process. Journal of Ecology 94:765-777.

MOISER A. R. 2001. Exchange of gaseous nitrogen compounds between terrestrial systems and the atmosphere. In: R.F. Follett and J.L. Hatfield (Eds), Nitrogen in the environment: Sources, problems, and management. Elsevier Science B.V., p. 291-309.

OLIVEIRA-FILHO, A. T.; FONTES, M. A .L. 2000. Pat-terns of floristic differentiation among Atlantic Fo-rests in southeastern Brazil and the influence of climate. Biotropica 32(4b):793-810.

PAULA, S.; et al. 2009. Fire-related traits for plant species of the Mediterranean Basin. Ecology 90: 1420.

PEREIRA-SILVA, E. F. L. 2008. Ecofisiologia do uso de nitrogênio em espécies arbóreas das Florestas Ombrófila Densa Submontana e Estacional Semi-descídua, SP. Tese de Doutorado, Universidade Es-tadual da Campinas, São Paulo.

PEREIRA-SILVA, E .F. L.; et al. 2006. Atividade de redutase do nitrato e conteúdo de nitrogênio em folhas de espécies lenhosas de um cerradão na Estação Ecológica de Jataí, Luís Antônio, SP. In: J.E. dos Santos & J.S.R. Pires (coords.), Estudos in-tegrados em ecossistemas. Estação Ecológica de Ja-taí. São Carlos: Editora Rima, v.3, p. 65-79.

PIMENTEL, C. 1998. Metabolismo do carbono na agricultura tropical. Editora UFRRJ, Rio de Janeiro, 159 p.

RAGHURAM, N.; et al. 2006. Signaling and the molecular aspects of N-Use-Efficiency en higher plants. In: R.P. Singh & P.K. Jaiwal, Biothechnologi-cal approaches to improve nitrogen use efficiency in plants. Houston: Studium Press LLC, p. 19-40.

RODRIGUES, M. A.; COUTINHO, J. F. 2000. Eficiên-cia de utilização do azoto pelas plantas. Bragança: Editora do Instituto Politécnico de Bragança.

SCHMIDT, S.; et al. 1998. Nitrogen relations of na-tural and disturbed plant communities in tropical Australia. Oecologia 117:95-104.

SIEMANN, E.; ROGERS, W. E. 2003. Changes in li-ght and nitrogen availability under pioneer trees may indirectly facilitate tree invasions of grass-lands. Journal of Ecology 91:923-931.

SMIRNOFF, N.; STEWART, G. R. 1985. Nitrate assi-milation and translocation by higher plants: Com-parative physiology and ecological consequences. Physiologia Plantarum 64:133-140.

SMIRNOFF, N.; et al. 1984. The occcurrence of ni-trate reduction in the leaves of woody plants. An-nual Botanical 54:363-374.

SMITH, J. L.; RICE, E. L. 1983. Differences in nitrate reductase activity between species of difference stages in old field succession. Oecologia 57:43-48.

STEWART, G. R.; SCHMIDT, S. 1998. Evolutiuon and ecology of plant mineral nutrition. In: M.C. Press; J.D. Scholes & M.G. Barker (Eds.), Physiologi-cal plant ecology. Blackewell science & Britsh ecologi-cal society series, p. 91-114.

STEWART, G. R.; et al. 1990. Nitrate reductase and chlorophyll content in sun leaves of subtropical Australian closed-forest (rainforest) and open-fo-rest communities. Oecologia 82:544-551.

STEWART, G. R.; et al. 1988. Inorganic nitrogen as-similation in plants of Australian rainforest com-munities. Physiology Plant 74:26-33.

STEWART, G. R.; et al. 1992. Partitioning of inorga-nic nitrogen assimilation between the roots and shoots of cerrado and forest trees of contrasting plant communities of South East Brazil. Oecologia 91:511-517.

STULEN, I.; et al. 2006. The role of ammonia in plant physiology. In: 17th Reduced nitrogen in eco-logy and the environment, Austria.

TILMAN, D; WEDIN, D. 1991. Dynamics of nitrogen competition between successional grasses. Eco-logy 72(3):1038-1049.

TRAW, M. B.; ACKERLY, D. D. 1995. Leaf position, light levels, and nitrogen allocation in five species of rain forest pioneer trees. American Journal of Bo-tany 82(9):1137-1143.

PEREIRA-SILVA, E. F. L.; HARDT, E.; JOLY, C. A.; AIDAR, M. P. M.

Page 159: ISSN 2236-0468

159Interciência & Sociedade

VÁZQUEZ-YANES, C.; et al. 1990. Light beneath the litter in a tropical forest: Effect on seed germi-nation. Ecology 71: 1952-195

VITOUSEK, P. M.; et al. 1996. Biological invasions as global environmental change. American Scien-tist 84(5):468-78.

WHITMORE, T. C. 1996. A review of some as-

pects of tropical rain forest seedling ecology with suggestions for further enquiry. In: Swaine, M.D. (ed.). The ecology of tropical forest tree seedlin-gs. UNESCO/Parthenon, Paris/Carnforth. pp. 3-39.

WHITTAKER, R. H. 1953. A consideration of climax theory: the clímax as a population and pattern. Eco-logical Monographs 23(1)1: 41-78.

Erico Fernando Lopes Pereira-Silva. Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos (1999), Mestre em Ecologia e Recursos Naturais pela mesma instituição (2003) e Doutor em Bio-logia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas (2008). Foi coordenador e consultor de projetos ambien-tais de organismos internacionais BID e PNUD. Atualmente é professor do Curso de Graduação em Engenharia Ambiental da Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro”. Publica trabalhos sobre Ecologia Vegetal: florística, estrutura de florestas, Cerrado, Mata Atlântica, efeito de borda, relações do sistema solo-planta, uso de nitrogênio e sucessão ecológica.

Elisa Hardt. Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos (2001), Mestre em Recursos Florestais pela USP/Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (2005) e Doutora em En-genharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (2010). Atualmente é professora da Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro”. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia de Paisagens e Planeja-mento Ambiental.

Carlos Alfredo Joly. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1976), mestrado em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas (1979), PhD em Ecofisiologia Vegetal pela University of Saint Andrews, Escócia/GB (1982), Pós-Doc pela Universität Bern, Suíça (1994). Atua nas áreas de Ecofisiologia Vegetal e Conservação da Biodiversidade. Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências (2008), Professor Titular em Ecologia Vegetal, Chefe do Departamento de Biologia Vegetal do IB/UNICAMP e membro da Coorde-nação do Programa de doutorado em Ambiente e Sociedade (NEPAM/UNICAMP). Em janeiro de 2009 reassumiu a Coordenação do Programa BIOTA/FAPESP, atuando também como Editor Chefe da revista eletrônica BIOTA NEOTROPICA e como Coordenador do Projeto Temático Biota Gradiente Funcional.

Marcos Pereira Marinho Aidar. Concluiu o doutorado em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campi-nas (2000). Atualmente é pesquisador do Instituto de Botânica (PqC V), credenciado no Curso de Pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente do Instituto de Botânica (2004) e no Curso de Pós-graduação em Biologia Vegetal - UNICAMP (2006). Atualmente participa de 5 projetos temáticos de pesquisa. Atua na área de Bo-tânica, com ênfase em Ecofisiologia Vegetal. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualiza-ção da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: ecofisiologia, nitrogênio, Piptadenia gonoacantha, germinação, jatobá, mata ciliar, sucessão florestal, atmosfera enriquecida CO2, seqüestro de carbono, isotopia de nitrogênio e carbono, Centrolobium tomentosum, Cubatão, estratégia de regeneração, fotossíntese, trocas gaso-sas, fluorescência da clorofila a, Anadenenthera falcata, interação biosfera - atmosfera e cerrado.

Sucessão ecológica e o uso de nitrogênio em florestas tropicais

Page 160: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade160

Page 161: ISSN 2236-0468

161Interciência & Sociedade

SUBMISSÃO DE TRABALHOS

Os artigos deverão ser encaminhados para o Conselho Editorial via mensagem eletrônica para: [email protected] (Assunto: Submissão). Os textos deverão ser publicados em português. Além disso, requer-se que os manuscritos submetidos a esta revista não tenham sido publicados anteriormente e não sejam submetidos simultaneamente em outro periódico. O conteúdo dos artigos aqui publicado é de responsabilidade, única e exclusiva, dos respectivos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião ou pensamento do conselho editorial.

NORMAS PARA FORMATAÇÃO

1. Formatação GeralCaracterísticas gerais: Número de páginas: um mínimo de 8 páginas e no máximo 12 páginas, incluindo as dedicadas às referências;

Papel: sulfite no formato A4 (297 x 210 mm);

Editor de texto: Word 2003 ou superior;

Margens: direita e esquerda – 3 cm; superior e inferior – 3 cm;

Fonte: Arial, para todo documento;

Parágrafo: espaçamento entre parágrafos: 0 cm; espaçamento entre linhas: simples; alinhamento justificado; recuo especial da primeira linha: 1,25 cm.

2. Estrutura do TrabalhoSeguem-se as recomendações em relação à estrutura dos trabalhos a serem avaliados e, posteriormente, se for o caso, publicados pelo periódico INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE.2.1. TítuloO título deve estar na primeira página, centralizado, devendo ocupar no máximo duas linhas, com espaçamento entrelinhas 1,5, letras maiúsculas (caixa alta) em negrito, na fonte Arial, tamanho 14.2.2. AutoriaAs autorias constituem-se pelas pessoas físicas responsáveis na criação do conteúdo intelectual de um documento e são indicadas pelos nomes dos autores, IES de origem e pelo e-mail.2.2.1. NomeOs nomes são referenciados pelo último sobrenome, em letras maiúsculas, seguidos dos prenomes e outros sobrenomes, que podem ser abreviados ou não, no formato que se segue: SOBRENOME do 1º autor, letras maiúsculas (caixa alta), na fonte Arial, tamanho 11; seguido do nome do 1º autor, letras maiúsculas e minúsculas (caixa alta e baixa), normal, na fonte Arial, tamanho 11, alinhados à direita, espaçamento entrelinhas simples.2.2.2. IESO nome da Instituição de Ensino Superior deve estar em letras maiúsculas e minúsculas (caixa alta e baixa), normal, na fonte Arial, tamanho 10, alinhados à direita, com a sigla da IES, entre parênteses, em letras maiúsculas (caixa alta) normal, na fonte Arial, tamanho 10, alinhados à direita, espaçamento simples.2.2.2. E-mailO endereço eletrônico deve estar em letras minúsculas (caixa baixa), normal, na fonte Arial, tamanho 10, alinhados à direita, espaçamento simples.2.3. ResumoO texto deve ser escrito em português, com no máximo 10 linhas, cerca de 500 palavras, na fonte Arial, normal, alinhamento justificado e espaçamento simples. A palavra RESUMO, seguida de dois pontos, deve ser escrita em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10, o texto do resumo vem logo a seguir.2.4. Palavras-chaveAs palavras-chave devem ser escritas em português, em número máximo de cinco palavras-chave, na fonte Arial, normal, alinhamento justificado, espaçamento simples. PALAVRAS-CHAVE seguida de dois pontos devem ser escritas em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10. 2.5. AbstractO texto do abstract, que vem a ser a tradução para a língua inglesa do resumo, até 10 linhas, na fonte Arial, itálico, alinhamento justificado e espaçamento simples. A palavra ABSTRACT, seguida de dois pontos, deve ser escrita em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10.2.6. KeywordsSão as palavras-chave traduzidas para o inglês, em número máximo de cinco palavras, na fonte Arial, itálico, alinhamento justificado e espaçamento simples. KEYWORDS seguida de dois pontos devem ser escritas em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10, em itálico, as keywords propriamente ditas vêm logo a seguir.

Page 162: ISSN 2236-0468

Interciência & Sociedade162

3. IntroduçãoO texto da Introdução deve ser escrito em português, na fonte Arial, tamanho 11, normal, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples, sem hifenação, com recuo de 1,25 cm na primeira linha. A palavra Introdução deve ser escrita em letras maiúsculas (caixa alta), na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado, espaçamento 1,5, entre a palavra Introdução e o texto propriamente dito não há espaçamento entrelinhas.

4. Texto4.1. TópicosEm quantidade necessária para o desenvolvimento estruturado do trabalho deve estar na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado, não sendo conveniente ultrapassar-se uma linha e deve obedecer a numeração arábica progressiva crescente. 4.2. Sub-tópicosSe fizerem necessários os sub-tópicos, até no máximo o terceiro nível, devem estar na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples, não sendo conveniente ultrapassar-se uma linha. E, esses sub-tópicos devem obedecer a numeração arábica progressiva crescente. O texto referente ao conteúdo dos sub-tópicos deve(m) estar na fonte Arial, tamanho 11, normal, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples, obedecendo a um recuo de 1,25 cm para a primeira linha de cada parágrafo.4.3. FigurasO título da Figura e as legendas devem vir logo abaixo desta, na fonte Arial, tamanho 10, normal, centralizados, com uma entrelinha 1,5 entre a figura e o título da figura, obedecendo a numeração arábica progressiva crescente, e deve haver uma entrelinha 1,5 para a continuação do texto.4.4. Quadros e TabelasO título dos quadros e as tabelas devem vir logo acima desta, na fonte Arial, tamanho 10, normal, alinhado à esquerda, com uma entrelinha 1,5 entre o texto e o título dos quadros ou tabelas, obedecendo a numeração arábica progressiva crescente. 4.5. Notas de rodapéAs notas de rodapé devem ser inseridas somente se forem extremamente necessárias para a compreensão do texto, em numeração arábica progressiva crescente, na fonte Arial, tamanho 9, normal, alinhamento justificado, com entrelinhas simples.

5. Considerações finaisDeve ser escrito em letras maiúsculas (caixa alta), na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado, espaçamento simples.

6. Referências bibliográficasAs referências citadas no corpo do texto, conforme padrão da ABNT (NBR-6023) deverão ser apresentadas em ordem alfabética no final do texto, na fonte Arial, tamanho 9, normal, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples, sem hifenação. Entre as referências deve ser utilizado um espaçamento antes do parágrafo de 6 pontos. Como nota de fim de texto deve ser inserido um minicurrículo do(s) autore(s), até no máximo 10 linhas, na fonte Arial, tamanho 9, normal, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples e espaçamento simples entre os minicurrículos (caso houver mais autores).

PROCESSO DE AVALIAÇÃO

Os artigos recebidos são submetidos à análise do Conselho Editorial para avaliação da adequação às áreas de interesse da revista e às exigências para submissão. Posteriormente, os artigos são encaminhados para análise por especialistas (pareceristas) nas respectivas áreas temáticas - método conhecido como avaliação por pares, peer review. Os nomes dos pareceristas e dos autores são mantidos em sigilo durante todo o processo. Os autores têm acesso aos pareceres referentes aos seus artigos, porém sem a identificação do parecerista.

DIREITOS AUTORAIS

Ao submeterem artigos à Revista, os autores declaram serem titulares dos direitos autorais, respondendo exclusivamente por quaisquer reclamações relacionadas a tais direitos. Os autores autorizam a Revista, sem ônus, a publicar os referidos textos em qualquer meio, ficando ainda a Revista também autorizada a adequar os textos a seus formatos.

Page 163: ISSN 2236-0468

163Interciência & Sociedade

Page 164: ISSN 2236-0468

EDITORA FMPFM