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J O R N A i d os 1 ív ANG 1 - N 0 1 - RECIFE/JUNHO DE 1978 klk 1 PREGO CRS 2,00 vy Tem festa no Arraial Os Bairros anunciam suas festas na página 8 Poluição mata peixes A Ponsa é uma fábrica de papel que tem em Goiana. Ela está causando um problema sério para os pescadores da região, pois os detritos que joga nos rios estão matando os peixes que con- seguiam sobreviver ao vinhoto das usinas de açúcar. Leia na página 3. Vassoura é o maior A nova sensação do futebol amador do Recife é o time dos motoristas de táxi, que até hoje não perdeu de ne- nhum outro. Conheça os seus jogadores e a sua animada torcida na reportagem da página 7. Cuide da sua saúde A meningite é uma doença do cé- rebro que matou algumas pessoas no Grande Recife. Você sabe o que deve fazer para evitá-la? A melhor alimentação para os recém- nascidos é o leite materno. Não atrás das propagandas de leite em pó. Leia na seção Saúde,na página 5. Os Bairros dão Notícia - páginas 4 e 3

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J O R N A i d os 1 ív ANG 1 - N0 1 - RECIFE/JUNHO DE 1978

klk1

PREGO CRS 2,00 vy

Tem festa no Arraial Os Bairros anunciam suas festas na página 8

Poluição mata peixes A Ponsa é uma fábrica de papel que

tem em Goiana. Ela está causando um problema sério para os pescadores da região, pois os detritos que joga nos rios estão matando os peixes que con- seguiam sobreviver ao vinhoto das usinas de açúcar.

Leia na página 3.

Vassoura é o maior A nova sensação do futebol amador

do Recife é o time dos motoristas de táxi, que até hoje não perdeu de ne- nhum outro.

Conheça os seus jogadores e a sua animada torcida na reportagem da página 7.

Cuide da sua saúde A meningite é uma doença do cé-

rebro que já matou algumas pessoas no Grande Recife. Você sabe o que deve fazer para evitá-la?

A melhor alimentação para os recém- nascidos é o leite materno. Não vá atrás das propagandas de leite em pó.

Leia na seção Saúde,na página 5.

Os Bairros dão Notícia - páginas 4 e 3

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A FESTA

Com a presença de muita gente de quase 30 bairros do Grande Recife, foi lançado o primeiro número do Jornal dos Bairros. Foi uma festa. Todos conheceram a sede do nosso jornal, conver- saram sobre como colaborar para melhorar as noticias e discutiram os problemas e as lutas de seus bairros. Houve discursos rápidos, apresentação do jornal e uma batidínha com salga- dinhos para todos. O ponto alto foi o canto dos versos de Toinha, de Sapucaia de Dentro, contando a história do jornal.

Jornal dos Bairros Ano i - N0 2 - Recife,

junho de 1978

Colaboradores Gilvone Diniz Barreto Antonia Cardozo Maria Alves da Silva José Vitalino Alves Rubinelson José da Silva Maria do Socorro Pires Antônio Ricardo Edson de Lima Jasenaide Duarte Manoel Severino da Silva Maria Georgete Ordonio Maria Eloy. Santos Darci Silva Waldeci Santana José Wilson Edna Teotonia Roberto Arraes Reginaldo Silva Severino Xavier de Freitas Severina Ramos Amadeu Nascimento Edson Noia João Geisen Maria Bernadete Santos Paulo Cunha Maria Georgete Yolande Carvoret Vicente Amado Maria José Lemos Carlúcio Souza Mari Carvalho Sueli Freitas Luiz Alves Lenira Carvalho Jorge luiz Vera Regina Baroni Margarida Serpa Maria Argemiro Augusto Pimental Maria Lilia Alves Manoel Inácio de Lira Antônio Carlos Ma rios Duarte Homero Fonseca Ivan Maurício Eduardo Homem

José Mgria Andrade (Editor Responsável)

Jornal dos Bairros

Jornal dos Bairros é uma publicação da Editora Nossa Ltda. Redação e Administração: Rua dos Coelhos, 317 - Recife - PE Diretores: Amadeu Nascimento, Margarida Serpa, Vera Regina Baroni. Composto e impresso na Editora Mory, Rua do Resende, 65, Rio de Janeiro, RJ.

Todo povo está convidado todos podem ser repórter e vendedor do jornal. Ainda tem muita coisa pra fazer convido vossa mercê pra conosco trabalhar

Chegou! Chegou! Jornal dos Bairros chegou! Pra conseguir o Jornal Muita gente trabalhou

Ruas anônimas

No loteamento São Paulo, em Camaragibe, Aldeia de .Baixo, não existe nome de rua e muito menos números nas casas. Isso tem causado vários problemas para as cerca de três mil pessoas residentes no local.

O correio não chega até lá, as compras feitas em lojas pelo sistema; de crediário são dificultadas porque não há como se localizar os com- pradores, se encontra dificuldade ao se procurar emprego, ou até mesmo quando se precisa fazer uma ficha em hospital.

Há 14 anos esta situação é vivida sem que a prefeitura de São Lourenço

■da Mata tome providências. José Antônio da Silva — Camaragibe - Aldeia de Baixo (Loteamento São Paulo)

• Uma sugestão, seu José: porque o povo não sé reúne e dá o nome que quiser para cada rua, e cada morador, de acordo com uma combinação, marca um número na sua casa? Depois junta tudo e leva pra prefei- tura.

Hospital São José

Estou escrevendo para falar do Hospital São José, que fica ali na BR- 101, na entrada .de Abreu e Lima. Estive internado nesse hospital du- rante 5 dias, agora no mês de maio, para extrair uma hérnia.

Bem, os médicos que me aten- deram fizeram o serviço bem, uma maravilha. Massas enfermeiras não

atendem bem. Antes de eu me operar veio uma me dar uma injeção e deu oito furadas no meu braço para encontrar a veia. Ainda estou de braço duro de tanta furada.

Depois, na questão da alimentação: pra começo de conversa, não tem nem talheres, tem só umas colheres velhas e as enfermeiras ficam mandando a gente comer logo para dar a colher a outro. E aí passa uma água rápida e tudo certo.

E não posso nem lembrar da lim- peza do hospital que sinto nojo. Imaginem que eu passei cinco dias lá e não trocaram minha roupa nem o forro da cama. Isso, fora as pontas de cigarros, os restos de curativos e outras porcarias mais que ficam pelo chão.

Bem, mas ainda estou satisfeito porque me deixaram vivo.

Severino Jerônimo Paulista

• Que coisa incrível, seii Severino! No lugar onde se trata da saúde as pessoas não tomam cuidado com a higiene. Que belo exemplo esse^ hospital dá pára as pessoas que se internam lá, nao é mesmo?

Para ler na fila

Meus amigos deste Jornal bem apreciado:

Boa saúde e coragem para vocês todos. O trabalho de vocês está muito bonzinho mesmo. Teve gente que conversou com a moça aqui na feira e disse que num tinha tempo pra ler. Vocês não acham que era uma boa

coisa, muito ótima mesmo, a gente pegar o jornal pra ler na fila do elé- trico? Até a próxima.

Severino Almeida (Beberibe)

• Pois é, seu Severino, o elétrico demora tanto que dá pra ler o Jornal dos Bairros todinho e ainda comentar com o companheiro do lado.

Proibido fumar

Por que é proibido fumar somente nos ônibus do Recife e isto não é obedecido nos ônibus sob o domínio do DER? Por exemplo: no de Águas Compridas, em que viajo todos os dias.

Se é proibido fumar, por lei, nos coletivos, por que não obedecer em todo o Grande Recife?

Espero ser atendido sobre o assunto com uma página completa. Por enquanto é só.

Aluizio Severino de Lima

• Está certo, seu Aluizio, se é proibido, tinha que ser respeitado em todos os ônibus. Mas, também, já tem tanta coisa proibida, não é seu. Aluizio, que quando o ônibus está vazio nem tem tanta importância assim um ou outro fumar seu cigar- rinho. Agora, quando está cheio, é de morte aquela fumaça. Ai,'o jeito é a gente pedir pra pessoa não fumar. E sempre dá certo.

2 Jornal dos Bairros

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Coque

"Queremos uma decisão, um fim" Os moradores do Coque estão

vivendo uma grande incerteza. A remoção vai continuar ou parou

de vez? Quem decide a questão: o DNOS

ou a Prefeitura? 0 pessoal não sabe responder á

essas dúvidas e não aparece quem dê a informação certa.

D. Maria das Virgens de Souza, que vive no bairro há 10 anos e atualmen- te mora na rua Cabo Eutrópio, 344, conta a situação:

"Depois que o DNOS fez lá o serviço no rio e aterrou aqui junto, as coisas pioraram. Ficou muito lixo e água parada por aqui. Antes, tinha a maré, que naquele movimento de subir e descer levava a sujeira toda. Agora, quase não tem maré, a água só sobe na lua cheia e os monturos ficam aí. Aumentou até a quantidade de muriçoca"

Ela é costureira e está com vontade de ir para o Janga: "A maioria das minhas freguesas foi morar lá, na remoção. Eu não preciso de transpor- te para trabalhar, por isso acho que vai ser bom no Janga para mim. Além disso, me disseram que lá tem escola. Eu tenho cinco filhos e somente uma filha está na escola". ' Moradora de uma casa de madeira,

pela qual paga Cr$115,00 de aluguel, D. Maria das Virgens espera uma definição:

"A gente precisa de uma decisão, de um fim. Precisa saber se vai ficar ou .vai sair. Tenho vontade de com- prar um terreno e fazer uma casinha por aqui. Mas é preciso uma solução, saber se vamos ficar"

Outras inquilinas da vizinhança têm a mesma opinião.

D. Clotilde Maria da Conceição: "Somente porque pararam a re- moção, os donos dos barracos já aumentaram o aluguel. Eu pagava CrS 75,00 e agora o aluguel passou para

ip*

Cr$ 150,00. Ouero ir embora daqui, mas não para o Janga, pois meu marido trabalha na Imbiribeira e não vai poder pagar passagem de dois ônibus para ir ao trabalho"

D. Gessi de Lima: "Eu também quero sair daqui, mas não posso ir para o Janga. Meu marido vive de biscate. Não tem um dinheiro certo todo dia. Então, como vai se arranjar com a passagem dos ônibus?"

O pessoal do Coque conta que

SMHMES

muitas casas ainda estão marcadas pelo DNOS ou pela- Prefeitura, mas ninguém apareceu para dar uma resposta.

Os proprietários das casas onde moram reclamam o valor das inde- nizações pagas para saírem. É o caso de Isabel Marili e Gilvan Rocha, donos de uma casa de ttès vãos:

"Vieram aqui, tomaram o nome da gente e mediram a casa toda. Mas não disseram quanto vão pagar. Não queremos ir para o Janga, jà mora- mos numa casa nossa. Não queremos começar a pagar de novo para ter uma casa. Estamos querendo me- lhorar a casa. Mas não podemos gastar dinheiro com esse negócio de sai, não sai. Já procuramos um advogado para ver a situação. Esse advogado conseguimos por meio do

.Grupo Comunitário do Coque". Outro proprietário, Waldemar

Ferreira da Silva, há 32 anos no Coque, diz o seguinte: "Não faço questão de sair. Já> vieram aqui, numeraram a casa e foram embora. Agora, a indenização já sei que vale uns CrS5 mil. Mas eles só pagam CrS 1.000,00 ou CrS 2.000,00. Isso è uma indenização de cego. Um amigo meu, funcionário do setor de engenharia, disse que valia CrS 5 mil. Então, não vou querer receber CrS 1 mil ou um pouco mais. Minha intenção é ficar aqui, sem precisar pagar passagem'-'

Casa Amarela

Todos lutam nas 'Terras de Ninguém n

A história das terras do bairro de Casa Amarela vem se de- senrolando há mais de um século, e está toda contada num livrinho de cordel, preparado pelo Movimento das Terras de Ninguém em cima dos depoimentos de alguns de seus antigos moradores

Em versos, se conta tudo sobre o problema que atinge a maior parte da população do bairro, desde Guabiraba ao Monteiro, envolvendo Nova Descoberta, Vasco da Gama, Morro da Conceição, Córrego do Euclides, Alto Santa Isabel, etc.

Pessoas residentes no bairro há mais de 60 anos contam que, quando chegaram ali, tudo era mato, cavaram limparam e aplainaram os terrenos onde levantaram suas casas. Aí come- çaram as explorações, cobranças de foro ou aluguel do chão, ameaças, expulsões, agressões vindas por parte daqueles que se dizem os donos das terras, as famílias Marinho e Rosa Borges.

A luta dos moradores é encabeçada pelo Movimento Terras de Ninguém que, no dia 17 de julho, completa três anos de ativi- dades junto à essa população. Os trabalhos são realizados com os moradores, que em reuniões semanais discutem e encami- nham soluções para os seus problemas.

Tiramos alguns versos do folheto que está sendo distribuído na região:

Toda a fartura de terra Um nome novo ganhou: "PROPRIEDADE MARINHO", O velho assim batizou Para que seus descendentes Falassem mostrando os dentes: — Que "coroné" de valor!

Vou contar uma história Por isso peço atenção E imploro a luz de Deus Pra ter mais inspiração E ser rima fiel... Ajudai-me São Miguel E a Virgem da Conceição

O santo Pantaleão No céu estava na glória... Será que necessitava Óu aceitava essa história De dominar terra e gente Como patrão prepotente E exigir promissória?

Pra começo de conversa Vamos ver Dr. Roberto Da família Rosa Borges, Gente rica e quengo alerto; Seu pai entrou nos "Marinho' E arranjou um jeitinho De morar ali por perto

t-undada a IMOBILIÁRIA Logo se fez divisão Leitor, esteja avisado Pra não fazer confusão Pois os Borges e Marinho Fizeram seu cercadinho Com muita organização

Mas todo mundo já sabe Que a EMPRESA não tem A escritura das terras E muita gente já vem Dizendo: — Não vou pagar. Vão pro inferno morar! Tou nas "Terras de Ninguém"

Mais de dois mil assinantes Fincaram pé no batente... E escreveram uma carta Para o senhor Presidente... Todo o pais vai saber Rádio, jornal, vão dizer O sofrer daquela gente

— Agora daqui pra frente "Foro" ninguém vai pagar. Diz um velho morador, E todos vão protestar Contra qualquer cobrador, A polícia, ou o doutor... Quero ver quem vai ganhar

De nariz arrebitado Vamos repetir a história A das "Terras de Ninguém" E guardar bem na memória: Temos mais do que razão E a desapropriação Será a grande vitória

Jornal dos Bairros 3

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Os Bairros dão Notícias Cóirego do Genipapo Santo Amaro Nova Descoberta

• A preocupação dos moradores da Rua Córrego do Fernandinho, dentro do Córrego do Genipapo, era a si- tuação da rua, muito estreita. Resolveram fazer um abaixo-assinado' encaminhando à Prefeitura para que fosse providenciado o alargamento tão necessário para um local de bas- tante movimento no bairro.

Ivanildo, morador da rua há 18 anos, conta como foi que as coisas começaram: "Este ano a gente se juntou mesmo e batalhamos para consertar esta rua que era uma ver- gonha. Fizemos um abaixo-assimdo encaminhando ao prefeito, que enviou uma máquina que fez o serviço

consertar um lado da rua. E o outro lado? Fomos na Prefeitura e o engenheiro, Dr. Carvalho, disse que o único jeito era fazer outro abaixo -as- sinado pedindo a complementação da verba. E assim estamos, os serviços na rua já duram três meses".

"A nossa situação está muito pior", afirma uma moradora. "Antes, na entrada de cada casa tinha uma

■planta,-uma calçada, que não deixava a água da chuva cavar buracos. Agora, depois que a máquina passou e não completou o trabalho, olha só como está. 0 que a gente tinha feito foi destruído pelo projeto de alar- gamento da rua. A gente tinha tam-

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de alargamento e a rua ficou plana; mas logo que veio a primeira chuva o serviço foi-se embora, a força da água foi cavando uma grande valeta nos cantos da rua. Em algumas casas, como na minha, a entrada era um grande buraco. Todo mundo da rua já estava ficando aborrecido porque, em. vez de melhorar, a rua ficou pior. Fizemos outro abaixo-assinado e, depois de muito custo, a Prefeitura começou o trabalho de colocação de galerias ao longo da rua para o va- zamento da água. Mas agora, para nossa tristeza, fomos informados de que a verba da Prefeitura é só para

bém o meio-fio e agora não tem mais. O jeito é voar por cima dos buracos para sair de casa"

Os moradores de Córrego do Fernandinho enfrentam também o problema do lixo, não existe carros coletores, e uma das soluções é pagar os meninos da rua para se livrarem do lixo.

Maria Rosa, moradora há 24 anos — "sou quase fundadora deste

•Córrego" - acha que "a Prefeitura tem mesmo que terminar o trabalho, da rua porque ela serve pra muita gente do Alto da Brasileira".

Cohab Ur-lO-lbura

• Já faz mais de dois anos que os antigos moradores do Coque foram removidos para o conjunto habita- cional da Cohab UR-10, no Ibura. Um dos motivos alegados pelas autori- dades responsáveis pela remoção foi que Coque não oferecia condições de higiene e saúde, pois não havia ali sistema de esgoto nem saneamento.

Só que até agora a medida tomada pelas autoridades, realizando nossa remoção do Coque para onde estamos atualmente, em nada me- lhorou nossa situação, pois aqui sofremos a mesma falta de condições de higiene e saúde que tínhamos lá, e talvez este novo local seja ainda pior que o Coque.

Podemos notar isso, entre muitos outros problemas, no das fossas das casas, que estão todas cheias e espalhando fezes por todas as ruas do local, o que vem ocasionando doen- ças como a filariose.

Muitas de nossas crianças já se

encontram doentes e, certa vez, quando uma equipe que faz coleta de amostra de sangue para exame de filariose esteve aqui no UR-10 Ibura, eles nos disseram que o número de casos de filariose aqui é maior que no Coque. Isto prova que aqui estamos com menos condições de higiene que lá no Coque.

Já foram feitos vários tipos de apelos e pedidos, desde a- formação de comitivas de moradores, ofícios, até apelos pelas estações de rádio, sendo que até agora -nenhuma pro- vidência foi tomada em favor dos moradores daquele conjunto habi- tacional. Estamos sendo alimentados apenas por promessas muito distantes e sem esperanças de serem realiza- das.

Renovamos aqui nossos pedidos e" esperamos que as autoridades e os órgãos competentes cumpram as promessas que nos foram feitas.

(Comissão de moradores;

• No bairro de Santo Amaro existia uma rua chamada 2a Travessa do Oliveira. No seu início existe um largo .onde a meninada e os rapazes jogam pelada; andando-se um pouco mais pra frente encontramos um córrego por onde corre unia água podre. Nessa água as crianças enfiam as mãos para apanhar a bola que caiu, ou algum brinquedo que por algum descuido foi parar lá. Quando chove é um Deus nos acuda, uma parte da rua vira maré, e a água invade muitas casas com toda a sujeira que tem no córrego, de lixo a fezes. A gente fica esperando que a água seque para lavar a lama que fica pegando no chão. Fora isso, às vezes, terminada a lim- peza, chove outra vez, e daí tudo de novo: água podre dentro de casa, lama e novamente limpar.

Devido a tudo isso, a gente esperava que se*houvesse alguma mudança na rua seria por parte da Prefeitura, limpando essa imundície toda, mas sabem o que aconteceu, o que mudou? 0 nome da rua, que agora se chama rua Berlim. A gente se pergunta, por que mudou? Será que era por que já existia a 1.a Travessa do Oliveira? E por que Berlim? Temos alguma coisa em comum com esse nome?

Mudaram o nome da rua, mas os problemas continuam, segundo dona Maria: "A gente paga a coleta do lixo, mas o caminhão só passa lá na frente da rua. Temos que pagar algum menino para levar o lixo até lá". Segundo seu Netinho : "Isto aqui é a maior poluição". Algumas pessoas lembram "que é o caso de se fazer um abaixo-assinado, porque agora é tempo de eleição, talvez os homens venham dar uma olhada na nosa rua e fazer alguma coisa"

Peixinhos

• Em frente da Escola Monsenhor Arruda Câmara, na Avenida Nacional, perto do escritório da Cohab, os buracos crescem cada vez mais e já parecem piscinas de água suja e lama.

Nos dias chuvosos, alunos e professores não têm condições de chegar na escola a não ser atraves- sando os pequenos rios que se for- mam. Ficam todo o expediente escolar, quatro horas, com os pés molhados e enlameados, contraindo germes e bactérias.

As professoras, sabendo da exis- tência do Jornal dos Bairros, querem ter éontato com ele, pois muitas fi- caram entusiasmadas com o apa- recimento do mesmo.

Cabo •Nomunicípio,doCabo,compreenden- do Pontezinha e Ponte dos Carvalhos, o problema de transporte está muito sedo. A Empresa São Judas Tadeu explora a linha, mas o número de •ônibus é pequeno para a grande ^demanda de passageiros, sobretudo pela manhã, às 6 horas, justamente quando um grande número de operários tem de ir ao trabalho e à noitinha, no momento da volta para casa. Os trabalhadores estão se sentindo prejudicados, porque acontece com freqüência terem de chegar atrasados nas fábricas.

• Quem passa em Nova Descoberta vê um lixeiro danado em tudo quanto é lugar e ouve os moradores recla- mando da situação

Para dona Maria, "nós que mo- ramos com a casa virada para a rua principal somos terrivelmente pre- judicados com o lixo no canal, que vive eternamente cheio. Ali chegamos a encontrar ratos, gatos e cachorros apodrecidos, soltando um mau cheiro que chega até a adoecer as crianças".

Os moradores dos altos jogam lixo nas valetas que descem ladeira abaixo, caindo no canal ou formando verdadeiras montanhas de lixo no pé do morro, como é o caso do Alto Maravilha.

Há 20 anos morador do bairro, seu Domingos conta: "já casei quatro filhas e todas as vezes que uma delas ia se casar, tinha que chamar alguns amigos pra gente retirar todo o lixo da ladeira e assim poder receber os convidados"

O chafariz do pé do morro onde o pessoal compra água fica jorrando noite e dia; essa água se junta com o lixo depositado, provocando um cheiro forte e a proliferação de ta- purus.

Acontece que alguns moradores do alto, como dona Lourdes, se pergun- .ta: "onde o povo do alto vai colocar o lixo? As ladeiras são imensas e, além do mais, se as pessoas descerem terão que colocar o lixo no canal, pois raramente o carro passa, muitos nem quintal têm em suas casas, e então o que fazer?"

Saramandaia • O povo de Saramandaia (Campo Grande) sofre bastante com as chuvas, que quase desmancham seus barracos, mas não é essa a maior angústia, e sim aquela de falsos proprietários que surgem tentando jogar fora toda aquela gente.

Apesar dessa aflição, já existe um pequeno grupo que procura unir os vizinhos e cada sexta-feira reúne-se para discutir. Um abaixo-assinado foi enviado à Compensa e o trabalho em relação à água foi iniciado.

4 Jornal dos Bairros

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Os Bairros dão Notícias Cuidado com a meningite...

Jaboatão

• 0 povo dos lotes 92 e 56 do mu- nicípio de Jaboatão protesta na Prefeitura contra o preço dos ônibus que fazem os percursos Cidade-Usina Jaboatão' e Cidade-Colônia dos Padres. O prefeito Geraldo Melo dá boas palavras, mas até agora Zezito, o dono dos ônibus, continua a aumen- tar o preço da passagem sempre que quer,

Quando aumenta no Recife, Zezito aumenta; quando aumenta o interur- bano, Zezito aumenta também. Õ povo pergunta se não existe nenhum órgão competente, e não sabe a quem se dirigir para pedir fiscalização no preço da passagem e no estado dos ônibus que não têm luz, estão

caindo aos pedaços, e não oferecem ■segurança alguma.

Zezito apela para o estado das estradas para justificar sua atitude, mas acontece que o povo reclama, porque diz que não tem nada que vei^ com o estado das estradas. Isso é responsabilidade da Prefeitura e não do povo. Apesar dessa dificuldade, o povo do lote 92, que está protestando e se organizando mais do que o do lote 56, através de comissões e de abaixo-assinados, já conseguiu uma boa vitória. O percurso dos dois lotes é o mesmo. Foi medido, e os percursos são de exatamente quatro quilômetros cada um; enquanto a passagem para o lote 56 é CrS 3,50, o do lote 92 é CrS2,50, um cruzeiro mais barato.

Abreu e Lima

• Tem continuado a luta dos mo- radores do bairro do Timbó e de toda Abreu e Lima contra a poluição do rio Timbó, provocada pela Santista Indústria Têxtil, Já houve uma reu- nião em que se fez uma comissão que vai entregar um abaixo-assinado com centenas de assinaturas reivindicando que a Santista seja obrigada a pro- videnciar um tratamento adequado da

água que usa.

• A Escola do 1° Grau Santo Antônio comemorou nos dias 12 e 13 de junho a festa de seu patrono Santo Antônio, na própria escola, à rua Coronel Urbano de Sena n? 100. Houve feirinha de comidas típicas, quadrilha e ciranda à tarde, forró e quadrilha à noite.

Paratibe

Os moradores da Av. Nossa Senhora da Paz estão fazendo apelo às au- toridades municipais para que pro- videnciem um depósito de lixo para a rua e para a construção de um bueiro, Pois assim, como diz a moradora Maria Severina Ferreira, "não há cristão que agüente". • Na rua Torres Galvão, também em Paratibe, é constante o cano d'água estourar, provocando lamaçal, junto com o lixo que se amontoa.

• Outro problema serio em Paratibe, segundo os moradores, é que a partir das 8 horas da noite as kombis que fazem a linha para Paulista são entregues a menores que não têm habilitações nem respon- sabilidades para conduzi-las, o que tem causado vários acidentes, feliz- mente sem vítimas fatais até o mo- mento. Os moradores pedem pro- vidências, antes que casos mais graves venham a acontecer.

Mimeira

• Os moradores de Mirueira vinham Pagando normalmente as contas Mensais de luz, e eis que agora ti- veram uma surpresa: receberam o comprovante de pagamento com o carimbo HA DÉBITO ANTERIOR. Alguns foram ao escritório da Celpe e receberam a explicação de que tudo veio de uma falha do próprio escri- tório, que passou os primeiros meses deste ano sem mandar fazer a leitura dos contadores e cobrando pela taxa

mínima, o que deu déficit (prejuízo) no escritório: agora, "para pôr em ordem", estão cobrando a diferença dos meses anteriores com base no consumo atual.

Segundo o sr. 'Inaldo Pereira, o povo está revoltado, mas vai pagar "porque é o jeito". A única coisa que conseguiram foi que o escritório adiasse a cobrança para o próximo mês, já que neste ninguém podia pagar.

Salgadinho

• O JUSA - Juventude Unida de Salgadinho - movimentou todo o Pessoal do bairro para a produção da- Peça Justiça e Trabalho para Todos, baseada no tema da Campanha da Maternidade.

Um palco foi improvisado em frente ^a casa de dona Betinha, e por ele desfilaram os problemas que todos

enfrentam no bairro, as grandes construções, como o Centro de Convenções e o Hotel Praia Norte, as condições sorvais em que vivem e inclusive críticas à atuação de cada um no sentido de melhoria das con-

.dições de todos. No mesmo entusias- 'mo, o grupo JUSA vai motivar o pessoal para as festas de São João.

- Como vai, .comadre Zefinha, como vai a Corrinha?

— Está boa, comadre, já tomou até um pouco mais de corpo. Também foi uma luta muito grande com a desi- dratação, mas ela venceu e já está fortezinha. Mas eu estou preocupada porque no rádio está dizendo que tem aparecido muita gente doente de meningite e eu fico com medo da Socorro, que ainda está um pnuco fraca...

- É, comadre, a gente tem de tomar mesmo muito cuidado, porque esta doença pode partir de qualquer lugar do corpo que tenha uma infecção: ouvido, dentes, nariz, garganta, etc.

— Diz que a meningite é uma inflamação numa pele que cobre o cérebro na cabeça da gente, não é mesmo, comadre? Quando essa pele está inflamada é que é a meningite.

- E como será que a gente co- nhece quando alguém está com esta doença?

— A pessoa fica com mal-estar, febre muito alta, e às vezes com vômitos, tremores e até ataques. Aí, depois, aparece uma dor de cabeça violenta que não passa e então os músculos da nuca ficam duros e a pessoa não pode encostar o queixo no peito, porque a dor é grande demais. Às vezes, a dureza do pes- coço vai ao-longo da coluna. Este sinal é o mais importante para se saber se é meningite mesmo.

- É, eu penso assim, que para evitar esta doença tão grande a gente pode fazer alguma coisa. Ouvi um médico dizer que é bom evitar gran- des aglomerações porque a doença se pega de uma pessoa para outra; tem também que procurar comer aqueles alimentos mais ricos em vitamina C, porque essa vitamina combate as infecções. As frutas e verduras verdes e amarelas são muitas ricas em vi- tamina C. E tomar muito cuidado em ferver bem a àqua que se vai beber.

- Está certo, comadre. Também é bom evitar ficar muito tempo debaixo do sol quente e, sobretudo, logo que aparecer qualquer sinal que a gente suspeita tem que procurar o médico. Porque, quanto mais tempo passar com a doença, mais difícil fica.de curar.

- E a gente não pode esquecer de que a higiene pessoal e da nossa casa é o primeiro cuidado para se evitar a meningite e qualquer outra doença. - Pois é, comadre Zefinha, foi

muito boa essa conversa. É conver- sando que a gente vai aprendendo as coisas. É por isso que se diz que "cobra que não anda não engole sapo". Vou ficar bem atenta e logo que aparecer a vacina para meningite vou me vacinar que aí a gente fica com menor perigo de ter a doença.

- Me avisa também, comadre; me avisa que eu vou junto com a Cor- rinha tomar vacina.

... e com o leite em pó! Para quem é rico, a escolha entre o

leite materno e a mamadeira pode ser uma simples questão de conveniência pessoal ou de estilo de vida. Mas, para quem vive do salário, esta de- cisão tem um significado especial. Em geral, o leite materno é capaz de proporcionar à criança todos os elementos nutritivos necessários durante os primeiros quatro ou seis meses de vida, mesmo no caso de a mãe ser subnutrida.

Já o uso da mamadeira, por causa dos preços elevados dos produtos e das deficiências higiênicas, normal- mente proporciona à criança um leite ralo, contaminado e cheio de bac- térias.

Apesar disso, mulheres de todo o mundo preferem a mamadeira. Por que isso acontece?

Existe uma grande propaganda das empresas que dominam o mercado do leite em pó para "convencer" as mães de que o leite materno é fundamental, mas insuficiente. E, com isso, essas empresas conseguem vender o leite em pó. No Brasil, quem bate muito nessa tecla é a Nestlé, que domina praticamente o mercado de todo o pais com as marcas: "Ninho", Perla- gon", "Nanon" e "Nestogeno". Aliás, a Nestlé é úma gigantesca empresa multinacional suíça que

domina os mercados da Europa, América do Sul e Caribe.

A propaganda da Nestlé consiste na distribuição de cartazes, folhetos eaté mamadeiras grátis nas maternidades. Os textos dessas propagandas chegam até a meter medo nas mães que ainda pensam em amamentar seus filhos.

Por exemplo, o livrinho O Começo de uma Vida", distribuído pela Nestlé, informa às mães que a amamentação no peito *tem de" ser substituída pela mamadeira "se você cair doente ou ficar sem leite, ou se tiver de má qualidade, ou, ainda, se os seus mamilos racharem ou infeccionarem"

Como diz o dr. Spock, famoso médico norte-americano, "a melhor maneira para inibir a amamentação materna é propagandear as vantagens da mamadeira, tendo em vista a insegurança da mãe em relação à sua capacidade para alimentar o filho"

Nestas circunstâncias, diante de tanta propaganda, fica omitido, propositadamente, que o próprio leite em pó e a mamadeira acabam trans- mitindo doenças. A criança fica sujeita a repetidas infecções, que de costume tomam a forma de diarréias, durante as quais o organismo da criança se torna incapaz sequer de aproveitar os nutrientes que ingere.

As plantas também curam As receitas que o Jornal dos Bairros

publica nesta edição são uma con- tinuação da reportagem publicada no primeiro número do nosso jornal.

Agrião — Como alimento, serve para anemia. O sumo do agrião serve para doenças da pele', fraqueza pul- monar, tosses rebeldes e para com- bater os maus efeitos do fumo.

Camomila — O chá das flores e' excelente para indigestão, falta de apetite e prisão de ventre.

Eucalipto - 0 chá das folhas serve para baixar a febre.

Erva doce — Q-chá das sementes e folhas verefés é excelente para eólica de crianças, mau hálito e dá sono em quem está com insônia. Evita o vômito e o desmaio durante o parto. Para as vaidosas, mantém a juventude do rosto.

Laranja lima — A fruta ê ótimo alimento e refrigerante em casos de febre; ajuda a elevar a pressão baixa.

Jornal dos Bairros 5

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Transporte

Assembléia deu nova forca A maioria dos bairros do Grande

Recife sofre o problema dos transpor- tes. Isso também acontece em Camaragibe, onde a coisa não está pior porque lá as pessoas brigam muito para resolver o problema. 0 Jornal dos Bairros ouviu os mora- dores de Camaragibe. Eis a sua his- tória.

- Nós, que vivemos qui, sofremos tanto para pegar ônibus que resol- vemos nos mexer e hoje até se diz que o transporte melhorou um pouco em Camaragibe. Mas melhorou porque a luta foi grande.

Durante muito tempo o povo enviou cartas para os programas de rádio e para os jornais. Muitos abaixo- assinados foram entregues às au- toridades competentes; diversas comissões foram conversar direta- mente com os responsáveis pelas li- nhas de ônibus, outras foram ao diretor do Deterpe, ao interventor da Marques da Silva, áo proprietário da Brasília, ao prefeito, a deputados, vereadores. Isso era feito constan- temente, e nada adiantou.

No começo deste ano a coisa se agravou e tornou-se assunto nas filas dos pontos de parada, dentro dos; ônibus, nos bares, nas esquinas, nos clubes, nas reuniões das igrejas. Todo mundo reclamava^ tanto se conver- sou que saiu a idéia de fazer uma Assembléia do povo com a presença das autoridades para que elas sentis- sem de perto os reclamos do povo e

dissessem para todos a solução que iam dar.

A idéia da assembléia foi muito bem aceita e logo se formaram comissões para convidar a população das áreas para angariar dinheiro para as des- pesas, para convidar as autoridades, para os cantos e dramatizações. Muita gente colaborou na preparação e realização da Assembléia e, no dia, havia mais de mil pessoas. Nem todas as autoridades convidadas apare- ceram, mas as que foram sentiram as queixas do povo.

A partir dessa Assembléia, •algumas .linhas de ônibus começaram a melhorar, mas o número de carros

,ainda não é suficiente. As linhas de

mê*. i Chã. de Tabatinga, Cohab, Aldeia de Baixo e Fábrica são as piores, sendo que a última está sem ônibus. Os problemas são a falta de horário

certo, situação que piora depois das 10 horas da noite, quando os tra- balhadores e estudantes precisam voltar para casa. Muitas vezes as pessoas esperam até a meia-noite sem verem passar um só ônibus.

Por isso, as pessoas de Camaragibe estão dispostas a continuar exigindo a solução do problema dos transportes, principalmente depois que sentiram que a Assembléia foi muito importan- te para a melhoria que já houve no bairro.

Poluição

"Até o mangue se acabou" "Antes, a gente tirava cem covas de

peixe por dia. Isso aí dá uns vinte quilos de traíra, curimatã, acará, jundiá, camarão-zanga, pitu, arata- nha, piaba, piau, papeiras, tucunaré, cará-zebu. Hoje, depois de separar os vivos dos mortos, conseguimos no máximo um quilo de peixe, que a gente não sabe se vende ou se co: me", conta Manuel Cassiano, pes- cador há 60 anos no município de Goiana.

Goiana, distante do Recife 66 quilômetros, é banhada pelos rios Tracunheem e Capibaribe-mirim. Possui sete usinas de açúcar insta- ladas na sua região e uma indústria, a PONSA - Papéis Ondulados S.A. - pertencente ao grupo Klabin.

Aproximadamente mil pescadores tiravam dos rios o sustento de suas famílias, mas desde a instalação da PONSA em 1972 a situação vem se agravando, pois a poluição que ela causa limita muito a possibilidade de sobrevivência dessas pessoas.

O velho Bila, como é chamado, conta como as águas são poluídas: "As usinas de melaço produzem o vinhoto e da destilação da cachaça resuíta o vinhaço, resíduos que de seis em seis meses as usinas soltam nos rios. No período da entressafra da cana as usinas param, permitindo a

reprodução dos peixes, quando então a pesca volta a ser farta. Mas desde que a PONSA veio para cá, nem nesse intervalo a gente pode pescar. A PONSA usa soda cáustica para lavar o bagaço da cana que usa- na fabricação do papel — esse bagaço a gente chama de bagacilho e é um pó muito fino. A água dessa lavagem misturada com a soda e o bagacilho é jogada nos rios e mata tudo o que é peixe."

A solução para se acabar com a matança dos peixes seria a instalação pela PONSA de um filtro especial de tamanho suficiente que separaria a soda cáustica do bagacilho, de maneira que a água resultante dessa lavagem ficasse limpa e pudesse ser despejada nos rios sem problemas. Com isso, a soda poderia ser rea- proveitada em outra lavagem; o bagacilho, se queimado, serviria para a fabricação de adubo aplicado à própria cana com resultados exceten- tes, mas nada disso acontece.

Os pescadores têm procurado se defender e, neste ano, um segundo abaixo-assinado foi enviado a todos os departamentos fiscalizadores da poluição e até mesmo ao presidente ida República, mas até agora nenhuma medida foi tomada contra a PONSA.

Neste abaixo-assinad oes-

cadores detalham os prejuízos que sofrem e dizem que "o contato diário com as águas poluídas provoca doenças de pele, fortes dores de cabeça por causa do mau cheiro, intoxicação, vômitos, irritação da vista, que os impossibilita de exercer qualquer outro tipo de trabalho"

Guando da instalação da indústria, alguns pescadores mais jovens procuraram emprego, mas logo se depararam com ,a rotatividade da mão-de-obra, e viram que na fabri- cação do papel o número de má- quinas é grande e utiliza pouco o serviço humano.

"Uns voltaram para a pesca, mas como ela anda ruim a gente tem que ir cortar cana nas usinas, que, saben- do da nossa necessidade, pagam um preço muito baixo pelo corte da cana - CrS 35,00 a tonelada - o que, no final do mês, não chega ao salário- mínimo — diz João, um dos que já trabalharam na PONSA e que vive de cortar cana e pescar.

"Até o mangue se acabou, o guaiamum desapareceu e nas mar- gens dos rios o mato se recusa a nascer, tem uns dois metros só de terra, até o capim a soda cáustica matou", contam alguns pescadores, de Goiana.

COHAB

QUE JARD/M É ESSE? Dois meses depois de estar moran-

do na vila da Cohao chamaoa Jardim Paulista, próxima a Mirueira, osi mutuários continuam enfrentando mil e um problemas. Grande parte das casas continua sem água nas tor- neiras, o que obriga as pessoas a esperarem pelos carros-pipa ou apanharem o líquido em alguns ca- cimbões existentes.

"A gente cansa de carregar água nessas latas, subindo e descendo ladeiras", dizem homens e mulheres. Num desses cacimbões, próximo à rua 36, as pessoas reclamam de "uns irresponsáveis que vêm tomar banho no cacimbão,.deixando cair dentro a água com sabão e sujeira do seu corpo, além de ficarem nus de frente para as casas de família". "Policia- mento não existe, tanto que' aqui anda cheio de arrombadores", afir- mam. A preocupação quanto à se- gurança aumentou depois que ocorreu o assassinato de um morador, tendo o(s) criminoso(s) penetrado facilmente em sua casa enquanto dormia, arrombando o combogó é abrindo a pqrta. "Este material não- vale nada" , diz outro morador.

FALTA TRANSPORTE, ESCOLA, SANEAMENTO. Arlindo Ouaresma, que mora na quadra M, diz que os moradores das quadras 14 a 34 têm que andar quase dois quilômetros para pegar o carro porque mudaram o terminal da rua 16 para a praça: "sendo de dia, até ainda vai, mas já pensou à noite, com tanto buraco e sem iluminação"? Acrescenta que são constantes canos de esgotos furados provocando fedentina insuportável e muriçocas. Em sua rua já existe água nas caças, seu Arlindo?

- Existe, más só chega de noite, quando já está todo mundo dormin- do, e como não tem caixa para encher é mesmo que não ter água. - Ealuz? - A corrente baixa de vez em

quando; é tanto que em minha casa uma geladeira já queimou e o mesmo aconteceu a um televisor de José Lemos, meu vizinho. Queria também fazer um apelo à Cohab — diz ele — para acabar com tanta burocracia. Se a gente quer melhorar qualquer coP sa na casa, temqueirláfazeropedidóe pagar uma taxa. Depois volta e fica esperarvdo não sei quantos dias para receber a autorização. Não reclamo nem da taxa, mas por que não au- torizam logo?

Quase todo mundo está com seus 'filhos sem estudar porque não há escola pública funcionando; posto de atendimento médico não existe; o mais próximo é em Paulista.

Apesar de ter apenas dois meses, a vila Jardim Paulista já dá os pri- meiros passos na luta por melhores condições de vida. Dois abaixo-as- sinados estão passando de casa em casa, de mão em mão. Um, ende- reçado à Compesa,para que regularize logo a situação da água, e outro â empresa Oliveira, para que coloque mais ônibus na linha e que esses carros façam o percurso pela vila e não' fiquem so em um terminal na praça, levando os moradores das quadras mais distantes a se deslo- carem um, dois, até três" quilômetros a pé.

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FUTEBOL

Goleiros: Cara de Sapo, Mão de Bicho, Bucho de Boi e Peninha. Defesa: Espigão,

Espanador da Lua, Johnny Mathis, Pato Belo, Boêmia, Fucinho de Cachorro e Birau Meio-campo: Burguelo, Pinto Novo, João da Velha, Sansão e Dalila e Carne Nova.

Ataque: Formiga da Roça, Cara de Moça, Porca Russa, Vassourão, Roberto Cambalhota e Carne Frouxa. Técnico: Mário Porrete; Auxiliar: Rambão; Massagista: Matuto

ÉHM

GOOOOOLLUU Vassoura, a mais nova sensação do futebol amador do Redfe.

Um time formado por motoristas de táxi, invicto há 33 partidas (quando fazíamos esse número do Jbrnal dos Bairros). Segundo um dos seus milhares de torcedores, "o Vassoura nasceu aos poucos, mas cresce que nem cana"

No início o pessoal jogava descalço, mas apareceram logo uns "padrinhos" e hoje todo mundo xem o uniforme completo, por

Êl$ VASSOURA! sinal muito lindo nas suas cores amarelo e preto.

Todo motaista de táxi que joga um pouquinho de futebol quer entrar no time do Vassoura.

Segundo o meio-campo Burguelo, "a arma do Vassoura é a união e a cçmpreensão entre nós. Fico emocionado quando jogo no Vassoura. É a maior alegria da minha vida. Já joguei em outros times, mas aqui encontrei um ambiente de uniãoe entusiasmo"

SORTEIO

Nesse' Banco' não se paga juros Na casa do Sr. Luis.umas 45 ou 50

pessoas estão falando com alegria e entusiasmo. Umas explicam às outras o significado e as vantagens do sor- teio. É uma organização popular espalhada por todo o Nordeste. Aqui está atingindo mais de cem pessoas.

Luis, pedreiro, é o quarto a falar. "Eu tenho uma história pra contar, aqui é novela e o protagonista é o Sr. Luis. Comprei este terreno. Vendi uma casa de alvenaria com água, luz e banheiro por 600 contos em 68. Comprei este terreno por 750. Queria fazer dois vãos de alvenaria^ mas Mariquinha achou que não prestava, que ia demorar muito. Fiz de taipa e não reboquei. Toda semana era uma briga. A mulher dizia que eu era um

irelaxado, a casa caindo aos pedaços e o meu sonho era fazer de alvenaria.

A mulher dizia: "tu não reboca e vai fazer de alvenaria"? Mas eu não queria perder meu trabalho, meu cimento e meu dinheiro. 10 anos de briga.

Acontece que a gente fez o sorteto e nele eu comprei uma parte de tijolo. Depois outro sorteio. Com o terceiro, a casa está ai praticamente terminada. Eu tenho uma casa e devo ao sor- teio".

O sorteio aqui em Socorro é uma

espécie de caixa comum onde cada ' pessoa vai depositando todo mês ou toda semana, dependendo do tipo de sorteio, CrS 100, 200, 300, 500 ou 1000. Há, pois, sorteios semanais e mensais, sorteios de 100, 200 etc. Cada pessoa vai receber de uma só vez todo o dinheiro depositado por ele mesmo durante dez meses ou durante dez semanas.

Foi o que aconteceu com o com- padre Severino: "eu era pobre e graças a Deus já estou rico com uma casa de tijolo, diz compadre Severino. Trabalhei numa ccnstrução civil e adoeci, estou doente. O que valeu foi o instituto, que me dá 742. Mas isso não dava pára viver tranqüilo. Morava num terreno da minha irmã. A casa era de taipa que só estava as paredes de fora inteiras. As de dentro já ti- nham caído e as de fora já estavam caindo. E quando chegaram os 3.000. cruzeiros do sorteio, a casa tinha três paredes. Bota o dinheiro dentro da gaveta, um móvel e a casa com três paredes, fiquei com medo •do ladrão. Agora, a casa é de tijolo, casa de rico, de grade, basculante, cacimba, ainda sem reboco, com telhado, de telha comum, caibros lavrados, ripa lavrada. Só não tem banheiro, nem cozinha, mas vai ter,

que o sorteio está ainda continuan- do"

Dona Sebastiana, que faz unhas para viver, lançou a idéia no mês de outubro passado e juntamente com Dona Mariquinha está lutando para dar continuidade ao trabalho e para ampliar o sorteio; ela diz: -"Faz mais de 7 anos que faço sorteio, direto"

"Em outubro, eu estava com a casa caída e a mãe doente. Logo na pri- meira semana recebi CrS f.500,00 e assim -começou . Tinha gastado com a morte de minha mãe o que tinha e o que não tinha. Estava de- vendo 25.000 e uns trocadinhos e já paguei quase tudo graças ao sorteio. ao sorteio.

Agora devo somente CrS 8.000,00 que quero pagar no próximo sorteio que vou receber crSIO.000,00"

Agora estão começando a pensar na Feira Comunitária. O sorteio é pois um instrumento, um meio útil para lutar contra a carestia e o aperto do custo de vida. É um* meio de união e organização do povo que,através das reuniões muito freqüentadas, está servindo também para desenvolver entre os participantes a convicção da força da união do povo e a consciên-

cia dos problemas e suas causas: a exploração no trabalho e a exploração no comércio.

A Ciranda do Sorteio Nosso sorteio é um meio qué nos faz solucionar os problemas que a vida hoje traz. Casa de taipa vira casa de tijolo com a ajuda do sorteio que é um banco para o povo

Banco de rico muito grande e confortável possui ar condicionado tem vigia e caixa forte. Banco de pobre é sorteio organizado é caixinha pequenina pois tá sempre bem lascado

Comprar a prazo só dá lucro para a loja prejuízo para o povo pois diminui sua bóia. Nosso sorteio ajuda a comprar a vista fazer casa de tijolo e organizar o povo

Jornal dos Bairros 7

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São João

Aproveita minha gente TOTÓ

• 0 pessoal que trabalha no Posto do Totó está convidando todos os moradores do bairro para uma grande festa junina em benefício do Jornal dos Bairros. A festa será no próximo dia 28, véspera de S. Pedro, e terá, além de um animado forró, barraquinhas com comidas típicas — canjica, pamonha, milho cozido, tapioca e batidas preparadas com todo gosto.

• O Centro da Juventude do Totó estará realizando uma grande Festa Junina no 'dia 24 de junho. O grupo de Jovens do Totó espera o comparecimento de todos, e lembra que a festa é nossa.

CÓRREGO DO GENIPAPO • Um grupo de jovens da Rua Maracanã montou uma peça teatral com o título "Velho Serrado". Do trabalho surgiu, a idéia de formar um conjunto musical, nascendo o Grupo Musical Califórnia,' formado por Zezinho, Zé Madeira, Edinho, Reginaldo e Dada, que orga- nizaram também uma quadrilha. Fize- mos, então, uma junta maior e estamos embalados por São João contando com duas Rainhas do Milho, Eliane e Lenira.

• A Quadrilha Matutina Alegria do ■ Bairro estará se apresentando no dia 23

de junho às 21 horas, no Largo dos Três Morros, Córrego do Genipapo, em frente à casa de seu Sérgio, n.0 70; no dia 24, às 15 horas, será realizada "A Tarde das Crianças", com corridas de sacos, mordida na maçã, quebra de coco e concurso de dança.

PEIXINHOS • Convidamos a comunidade de Pei- xinhos para tomar parte numa das melhores quadrilhas da. Guabiraba, a se realizar no dia 24 de junho na rua Timbaúba (perto da Caixa D'água). A festa começará às 20 horas. Não percam.

GUABIRABA • Ei,pessoal, que tal brincarem conosco? Venham brincar e assistir à Quadrilha do Jovem Ivan, a se realizar na Guabiraba no fim do Córrego da Loura. Haverá apresentações de Ciranda, Teatro e Quadrilhas. Estaremos esperando todos vocês às 18 horas do dia 23. Não percam, a festa é de todos.

MACAXEIRA (1) • Será realizada uma festa popular em frente à Igreja da Macaxeira, com música, quadrilhas, ciranda, violeiros, barracas de jogos, comidas típicas e batidas. Os organizadores da festa — grupos de jovens e adultos de Casa Amarela — esperam o comparecimento de todos no dia 24. Não deixem de comparecer, pois a festa depende da presença de todos.

(2) • São João do Canal é a festa que a Quadrilha do CanaL vai promover à rua do Canal nos dias 23 e 24 de junho, às 20 horas. Os responsáveis afirmam que com o comparecimento de vocês a festa vai animar.

(3) • A quadrilha do Grupo Jovens do Buriti estará se apresentando em Sítio Grande no dia 22 de junho, e no Buriti nos dias 24 e 25. Todas as apresentações serão realizadas às 20 horas.

NOVA DESCOBERTA • A Quadrilha Matuta do grupo de jo- vens da Nova Descoberta estará se apresentando no Centro Esportivo Marcílio Dias, no Alto 13 de Maio s/n?, no dia 23 de junho às 19 horas e no Conselho de Moradores de Nova Descoberta no dia 24 às 19 horas.

JARDIM BRASIL • Haverá quadrilha matuta na Rua Bahia, lá no Jardim Brasil, nos dias 23,. 24, 28 e 29 de junho, alegrando assim toda aquela mocidade. Convidamos todos vocês e queremos ver a nossa festa no Jornal dos Bairros e prome- temos vender o jortial também.

JABOATÃO • Cinco grupos de jovens estão ani- mados preparando as festas juninas de Jaboatão, Cada grupo vai dançar no seu bairro e no dia 29 todos os cinco se encontrarão e dançarão juntos no bairro de Entre Riçs, comemorando o dia de São Pedro, padroeiro do bairro. No fim da festa todos os participantes das quadrilhas vão receber uma medalha de lembrança.

COQUE • O Sport Clube Mocidade do Coque, fundado em 22 de maio de 1964, está programando uma grande festa de São João para a noite do dia 24, com muita música junina e também música jovem. Haverá ainda coco-de-roda, com os íiradores : Pitos Gato. O Mocidade tem agora uma nova di- retoria, presidjda por Edmilson Alves, que tomou posse no dia 27 de maio. Essa nova diretoria tem três planos; primeiro, ampliar a sede; segundo, fazer volta á) funcionar a escola na sede, que fechou desde o começo do ano porque muitos alunos foram embora com a remoção; terceiro, dinamizar os esportes, criando o quadro de futebol juvenis (já existem o titular e o aspirante).

ABREU E LIMA • O Clube União dos Jovens Livres, de Abreu e Lima, realiza o São João do povo, marcado para o dia 23 de junho na quadra da vila da Cohab, a partir das 18 horas. Comida da época e um conjunto de sanfoneiros para animar a festança. A Escola Polivalente de Abreu e Lima promoveu festa junina no dia 15 de junho, com quadrilha, ciranda, coco e outras promoçõs no Pátio da Feira de Abreu e Lima

IGARASSU • O Colégio João Pessoa Guerra, em Igarassu, no Centro Urbano daquela cidade, realizou dia 17 de junho a festa, do São João. Foi uma promoção das professoras.

PAULISTA • A Juventude Franciscana realiza na noite de 23 de junho uma festa junina que pretende movimentar todo o povo de Paulista. Terá quadrilhas, forró, comidas- típicas, etc. Além dessa promoção maior, em vários bairros há festinhas, como no Nobre e na Vila, onde grupos jovens organizam quadrilhas, casamen- tos-matutos e outras brincadeiras do folclore nordestino. No dia 24, terá quadrilha e forrobodó, promoção da Açp-Paulista. Vai ser pra valer, porque os ensaios vêm se dando há mais de um mês no pátio da casa do João Francisco.

'ACORDA POVO' As festas de São João continuam

animadas nos bairros. E um dos seus pontos altos é o Acorda Povo.

O folclorista Evandro Rabelo conta como é o Acorda Povo hoje em dia:

"Na rua da Regeneração, n" 579, no Arruda, todos os anos sai pelas ruas do bairro uma procissão com grande acompanhamento, na véspera e no dia de São João. É tal- vez a derradeira procissão religiosa do Brasil, onde, com a presença do povo, ainda se dança. Em outros bairros também acontece: Água Fria, Sitio Novo, Peixinhos, Santo Amaro, Salgadinho, Areias {uma das mais animadas, com a procissão saindo às 3 horas da madrugada do dia 23, na Vila das Lavadeiras). Em algumas cidades e vilas do interior pernambucano, como Nova Cruz, Pontas de Pedras, Carne de Vaca, Janga, Itapissuma, Vertentes, etc, as pessoas fazem idêntica cerimônia.

Chamam a procissão de Bandeira de São João, Acorda Povo, Bandeira. Também de Procissão do Galo, Procissão de São João, Bandeira do Galo, Banho de São João.

Alguns fazem distinção entre Bandeira de São João e Acorda

Povo. Explicam que Bandeira de São João é o cortejo religioso que, nas primeiras horas da noite, per- corre os bairros ao som de orquestra ou de instrumentos de percussão, levando uma bandeira de pano, estrela e andor. Enquanto o Acorda Povo sai pela madrugada, um tanto desorganizado, com zabumba, caracaxá e sem levar o andor. Outros acham que Bandeira de São João e Acorda Povo são a mesma coisa, mudando apenas os nomes.

A Bandeira da Rua da Rege- neração é do Sr. Artur Alves dos Santos, conhecfdo por Artur dos Búzios, pelo jogo que faz destas coisas com a finalidade de dizer sobre o presente, passado e futuro de pessoas que o procuram. Artur Alves dos Santos, desde o ano de 1949, tem essa Bandeira de São João por promessa e fé nos poderes do primo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com ela sai todos os anos, no dia e na véspera do santo, pelas ruas do bairro ou pelas ruas onde mora a Juíza da Bandeira, que é uma pessoa escolhida entre as de sua amizade e encarregada de or- ganizar a festa e arcar com as des- pesas ou parte dos gastos".

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