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ESTÁ À VISTA “AUMENTO” DO ORÇAMENTO PÚBLICO PARA A CIÊNCIA Superior FENPROF ENSINO E INVESTIGAÇÃO Qualidade, Equidade e Eficiência Declaração conjunta do TUAC (Trade Union Advisory Committee) e da Internacional de Educação Ministério “faz o mal e a caramunha” Governo aperta garrote financeiro e pretende restringir direitos de carreira Ministério “faz o mal e a caramunha” Governo aperta garrote financeiro e pretende restringir direitos de carreira Subsídio de desemprego: Vitória significativa, mas persistem injustiças....

Janeiro de 2008

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Jornal da FENPROF / Sup - Janeiro de 2008

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ESTÁ À VISTA “AUMENTO” DO ORÇAMENTO PÚBLICO PARA A CIÊNCIA

S u p e r i o rFENPROF ENSINO

E INVESTIGAÇÃO

Qualidade, Equidade e EficiênciaDeclaração conjunta do TUAC (Trade Union Advisory Committee) e da Internacional de Educação

Ministério “faz o mal e a caramunha”Governo aperta garrote financeiro e pretende restringir direitos de carreira

Ministério “faz o mal e a caramunha”Governo aperta garrote financeiro e pretende restringir direitos de carreira

Subsídio de desemprego:

Vitória significativa, mas persistem injustiças....

1.Declarou o Ministro, recentemente,que a hesitação de algumas institui-ções, quanto à sua transformação em‘fundações públicas, com regime dedireito privado’, "significa que ainda

não trabalharam o suficiente elas próprias,que não desenvolveram os estudos que a leiobriga". Mais disse que "as universidadesque têm muitas interrogações não estão natu-ralmente em condições de se autogerir deuma forma tão avançada como é previstaneste estatuto possível" e que as fundações sedestinam a instituições que tenham "umaactividade e uma história de capacidade degestão muito significativas", incluindo a"capacidade de atracção de recursos próprios".

Ora, como as 3 únicas instituições queresolveram aprovar uma proposta de negocia-ção com o Governo para a sua eventual pas-sagem a fundação, o fizeram apresentandomuitas dúvidas e, ao que se sabe, sem osestudos aprofundados exigidos pela lei, seriade esperar que o Ministro, em coerência,recusasse o seu pedido. Alguém acreditan i s s o ?

Em contrapartida, várias das que rejeita-ram o modelo fundacional, fizeram-no certa-mente por se acharem bem esclarecidas sobreo que querem e o que não querem, indepen-dentemente da elevada capacidade de gestãoe de atracção de recursos próprios que algu-mas delas têm demonstrado.

Naturalmente entenderam que não deve-riam comprometer a sua autonomia face aoGoverno, qualquer que ele fosse, nem arris-

car passarem a ser geridas por estreitos crité-rios de rentabilidade económica e de mer-cado, no caso de aceitarem o comando deconselhos de curadores totalmente compostospor pessoas externas, nomeadas peloGoverno, ainda que sob proposta das institui-ções, o que não constitui garantia bastante,atendendo à óbvia diferença de poder nego-cial das partes.

Ao invés do que o Ministro pretende fazerc r e r, não foi uma vitória sua o ter conseguidoque 3 instituições públicas (entre as 29 possí-veis, na ausência de critérios fixados para oefeito) lhe apresentassem propostas, incom-pletamente instruídas e levantando muitasquestões, para a eventualidade de passarem af u n d a ç ã o .

Não foi igualmente uma vitória de Mari-ano Gago a recusa, por parte do IST, de abra-çar a fundação. Se nas 3 instituições atrásreferidas (Universidades de Aveiro e doPorto, e ISCTE) tivesse havido a hombri-dade, como no IST, de realizar uma consultaespecífica sobre o assunto aos eleitores, tal-vez estes tivessem também recusado dar obenefício da dúvida à "solução" da fundação.

Tendo as respectivas assembleias estatutá-rias sido eleitas sem que tivesse havido umdebate aprofundado sobre a questão das fun-dações e não tendo todas as listas concorren-tes sido claras no que defendiam, torna-seagora imperioso, no âmbito da audição a queas assembleias estão obrigadas pela lei, reali-zar tais consultas e garantir que seja respei-tado o seu resultado.

Maioria das instituições voltou costas às fundaçõesMinistério "faz o mal e a caramunha": aplica o garrote financeiro e impõe, como remédio, restrições a direitos de carreira

João Cunha Serra

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EDITORIAL

2008 JANEIRO ■ SUP A O N .º 222 3

2.O Governo apertou, em 2007 e para2008, com mais força do que osanteriores governos, o garrote finan-ceiro às instituições, em contradiçãocom o papel estratégico do sector

para o desenvolvimento do país.Entretanto, às mais asfixiadas financeira-

mente, acena agora o Ministério com contra-tos de recuperação financeira que as convi-dam a acrescentarem à não renovação decontratos, ou à redução (porvezes ilegal) das suas condi-ções e remunerações, bemcomo ao não preenchimentode vagas dos quadros,outras restrições que clara-mente violam os Estatutosde Carreira, designada-mente, o desrespeito pelosdireitos à licença sabática eà dispensa de serviçodocente para doutoramento.Há até um reitor queexpressamente aponta arecusa de nomeações definitivas como maisuma forma de reduzir despesas.

Para além disto, o Ministro anunciou aosreitores que na próxima revisão das carreiraspretende acabar com a contratação automá-tica, como professores auxiliares, dos assis-tentes universitários, logo que se doutorem,sem atender sequer às expectativas legitimasdos que se encontram no sistema.

Os violentos cortes orçamentais impostosàs instituições públicas limitam severamente

a sua autonomia, aquela que o Ministro dizque as fundações aumentariam, escamote-ando que esta "novidade" fornecerá, a ele oua um próximo ministro, deste ou de umfuturo governo, um excelente pretexto parauma maior desresponsabilização financeirado Estado, ainda que transitoriamente pos-sam essas fundações, por razões tácticas, vira receber mais alguns trocos.

Espera-se que o Ministro se comporte de

forma imparcial no apoio que é sua responsa-bilidade dar (de forma reforçada), em nomedo Estado, a todas as instituições, sem excep-ção, com base em critérios objectivos e trans-parentes, afastando as suspeitas de que estãoem vias ser criadas, entre as instituiçõespúblicas, as "Favoritas do Ministro".

A FENPROF ficará atenta e tudo fará paraimpedir a continuidade da política de desres-ponsabilização do Estado pelo Ensino Supe-rior Público.

As 3 únicas instituições que resolveram apro v a ruma proposta de negociação com o Govern opara a sua eventual passagem a fundação, ofizeram apresentando muitas dúvidas e, ao quese sabe, sem os estudos aprofundados exigidospela lei, seria de esperar que o Ministro, emcoerência, recusasse o seu pedido. Alguémacredita nisso?

OMCTES, em nota entregue aoCRUP e ao CCISP, refere: "adotação a distribuir directamente

às instituições de ensino superior públi-cas passa de 970,5 milhões de euros em2007 para 977,1 milhões de euros em2008", o que representa um crescimentode apenas 0,68%.

Por outro lado, segundo dados doINE, em 2007, o PIB cresceu 1,3%, deonde se prova a quebra da promessa deMariano Gago acima transcrita, uma vezque o nível de financiamento ficou pormetade da taxa de crescimento do PIB.

Note-se que mesmo se considerar-mos a dotação orçamental global para oensino superior (incluindo, por exemplo,a Acção Social Escolar) que "passa de1171,3 milhões de euros em 2007 para1183,2 milhões de euros em 2008", sefica por um crescimento de cerca de 1%,ainda significativamente abaixo da taxade crescimento do PIB.

Acresce a isto o facto de o OE para2008 prever uma redução que vai de0,3% a 3% para 5 universidades e 9 insti-tuições politécnicas, apesar de se ter veri-ficado um aumento dos salários da funçãopública em 1,5%, em 2007.

O Ministro anunciou, na mesma cir-cunstância, o futuro crescimento dofinanciamento como resultado doaumento da frequência deste nível deensino. Ora, só na primeira fase do con-curso de acesso para o ano lectivo2007/2008 foi verificado um aumento donúmero de candidatos colocados naordem dos 20% face aos dados homólo-gos do ano lectivo passado. Este númerocorresponde também a um aumento nonúmero de candidatos ao ensino superior

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EM FOCO

OE 2008 confirma grandes cortes no Ensino Superior:

Mariano Gago quebra promessaHá um ano, na intervenção que proferiu no Conselho Nacional de Educação(13/2/07) para apresentação das linhas orientadoras da re f o rma do sistemade ensino superior, o Ministro Mariano Gago afirmou: "Até ao final da legislatura [...] o Governo manterá o nível actual de financiamento do EnsinoSuperior em percentagem do produto." Acrescentou ainda que “a prazo, ofinanciamento do Ensino Superior deverá cre s c e r, a par do aumento da suaf requência e dos resultados alcançados.” Um ano depois, as palavras doM i n i s t ro não passam disso mesmo.

que atingiu os 27%, pelo que se podeconcluir que, embora longe das metasestabelecidas para o Espaço Europeu doEnsino Superior em 2010, tal aumento éjá notório.

Como se pretende atingir objectivotão ambicioso como aumentar em 50% onúmero de diplomados se as instituiçõessão despojadas dos meios financeirosque lhes permitiriam apostar na qualifi-cação do pessoal docente, na aquisiçãode recursos bibliográficos, técnicos elaboratoriais para desenvolver projectosde ensino e de investigação caracteriza-dos pela excelência?

Como é possível competir com siste-mas de ensino superior ao nível da UEque dispõem de dotações orçamentaismuito mais elevadas? Recorde-se, porexemplo, que a média europeia da per-centagem do PIB afecta ao Ensino Supe-rior ronda 1,2% (contra os 0,71% em

Portugal).As universidades e os politécnicos

estão envolvidos no esforço de moderni-zação do sistema de ensino superior,face aos desafios de Bolonha e doEspaço Europeu de Ensino Superior,mas não poderão desempenhar a suaparte no processo se o Governo, esque-cendo as suas próprias promessas, lhesnegar os meios necessários.

A FENPROF está consciente de quenem todos os problemas se resolvemcom mais dinheiro. Mas, no caso con-creto do Ensino Superior e da Investiga-ção, dado o atraso enorme do nosso país,as verbas são um elemento essencialpara o vencer e darmos o salto de desen-volvimento científico, tecnológico ehumano de que o país precisa, comoalertaram recentemente o CRUP e váriosReitores, como o Professor AntónioNóvoa, da UL. ■

Finalmente, após muitos anos deesforços conjuntos e separados daFENPROF e do SNESup, de deci-

sões do Tribunal Constitucional e pres-sões do Provedor de Justiça, bem comode iniciativas legislativas de vários Gru-pos Parlamentares, o Conselho de Minis-tros aprovou a concretização do direitoao subsídio de desemprego para os tra-balhadores do Estado sujeitos a contra-tos administrativos de provimento, o queinclui os docentes do Ensino Superior eos Investigadores que se encontram comcontratos de duração limitada. A Assem-bleia da República aprovou entretanto oregime de protecção no desemprego paraa Administração Pública, que produziráefeitos desde 1 de Janeiro de 2008.

Trata-se de uma vitória muito signifi-cativa dos docentes do ensino superior einvestigadores, em particular dos mais de5000 que, num movimento de opinião deamplitude inédita entre nós, subscreverama petição on line "Por uma Lei quegaranta universalidade e igualdade noacesso ao subsídio de desemprego", lan-çada pela FENPROF e pelo SNESup, eque aproveita à generalidade dos restantestrabalhadores da Administração Pública:

- é abrangido não só o pessoal comcontrato administrativo de provimentomas também o pessoal nomeado;

- durante o ano de 2008 não haveráqualquer aumento de descontos e o sub-sídio será pago, não pela SegurançaSocial, mas pelas entidades empregado-ras públicas, e, no nosso caso, peloMinistério da Ciência, da Tecnologia edo Ensino Superior.

Infelizmente, e apesar da aberturados Deputados, orientações governa-mentais deixaram de fora os colegas quecaíram no desemprego anteriormente a 1de Janeiro de 2008.

Para eles, continuamos a pedir ovosso apoio e solidariedade, sendo que aFENPROF e o SNESup continuarão acontar convosco para pressionar umasolução por via legislativa, que poderápassar pela inclusão da matéria nas dis-posições finais e transitórias do diplomaque venha a operar a revisão dos estatu-tos de carreira.

Trata-se, aliás, neste caso e no dafutura imposição de descontos, de umadesigualdade e de uma injustiça flagran-tes em comparação com o regime aplicá-vel aos professores do ensino básico e

secundário.Fomos ouvidos, mas não nos atende-

ram completamente. Sabendo emboradar o devido valor ao grande sucessoalcançado, este assunto permanecerápara nós em aberto enquanto não houveruniversalidade e igualdade na atribuiçãodo subsídio de desemprego.

Por isso, estamos disponíveis, e agra-decemos desde já a todos os colegas quetenham ficado nessa situação de desem-prego em data anterior a 1 de Janeiro de2008, quer tenham ou não entretantoresolvido a sua situação de qualqueroutro modo (outro emprego, bolsa derequalificação da FCT ou qualquer outrotipo de bolsa, aposentação antecipada)que nos façam chegar ao conhecimento,com a máxima brevidade, a sua situaçãoe uma forma de os contactarmos, demodo a podermos constituir um dossiertão completo quanto possível para apre-sentarmos durante a discussão da revisãodos estatutos de carreira.

A FENPROF congratula-se com esteresultado, que embora tardio, vem maisuma vez demonstrar que a luta pelosnossos direitos vale a pena… mas podeser bem longa. ■

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Subsídio de desemprego finalmente aprovado:

vale a pena lutar

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NACIONAL

FENPROF e SNESup em conferência de imprensa:

"Nunca pedimos situações de privilégio,apenas uniformidade de critérios e justiça""Nos últimos anos, muitos docentes e investigadores ficaram desempre g a d o se sem direito a subsídio de desemprego. Não aceitamos que a sua situaçãonão esteja contemplada nesta Proposta de Lei", que tem efeitos a partir de 1de Janeiro de 2008.

Este foi um dos alertas deixados naconferência de imprensa conjuntada Federação Nacional dos Profes-

sores (FENPROF) e do Sindicato Nacio-nal do Ensino Superior (SNESup) reali-zada na manhã de 17 de Dezembro, em

Lisboa, destinada a apresentar as justifi-cações para as alterações que estas orga-nizações defendem, face à proposta deLei nº 163/X relativa ao subsídio dedesemprego (ver pág. 5).

Neste encontro com os profissionais

Ensino Superior e Investigação

www.fenprof.pt/superior

da comunicação social participaram JoãoCunha Serra e Manuel Pereira dos San-tos, pela FENPROF, e Paulo Peixoto,pelo SNESup.

Milhares de assinaturas recolhidas

Os dirigentes sindicais chamaram aatenção para o abaixo-assinado on linedirigido ao Presidente da Assembleia daRepública, ao Primeiro Ministro e aoProvedor de Justiça, e que recolheu umexpressivo apoio em todo o País.

O prazo de recolha de assinaturasterminou nas vésperas da discussão naComissão Parlamentar do Trabalho eAssuntos Sociais das propostas de alte-ração ao projecto enviado pelo Governoa São Bento.

A FENPROF e o SNESup, que têmvindo a procurar dar expressão públicaao movimento "Por uma lei que garantauniversalidade e igualdade no acesso aosubsídio de desemprego", sublinham queé necessário contemplar todos os docen-tes e investigadores vítimas de desem-prego, independentemente da data emque essa situação se iniciou.

Instabilidade e precariedade

"É necessário uniformizar critérios.Não queremos situações "especiais" oude privilégio, apenas justiça para todos",como referiram Cunha Serra e PauloPeixoto, que alertaram para os casosinjustos de nomeações provisórias quenão são transformadas em nomeaçõesdefinitivas, deixando os docentes numasituação de instabilidade e precariedade.

JPO

Anunciado com "pompa e circuns-tância" no âmbito do Compro-misso com a Ciência e do aumento

de verbas para a Ciência, o concurso paraprojectos de investigação científica edesenvolvimento tecnológico em todas asáreas científicas (PTDC) foi aberto naPrimavera de 2006. De acordo com o res-pectivo edital, os projectos a financiarteriam a duração de 3 anos, um financia-mento total de até 200 mil euros e, ter iní-cio em, atente-se à data, Janeiro de 2007.

O concurso decorreu no Verão de 2006e a adesão da comunidade científica foi detal modo elevada que "entupiu" as máqui-nas da Fundação e levou ao adiamentodo prazo limite de submissão de projec-tos para finais de Setembro de 2006.

Não se pretende aqui fazer umbalanço global do concurso, até porqueos dados disponibilizados pela FCT em( h t t p : / / w w w . f c t . m c t e s . p t / p r o j e c t o s / p u b / 2006/painel_result/) contêm várias omis-sões que o não permitem. Pretendemostão somente chamar a atenção paraalguns factos e números que caracteri-zam a realidade da anunciada política dereforço da investigação científica epõem em evidência a distância entre odiscurso e a prática.

Factos e números:

• Deram entrada na FCT pelo menos4764 projectos, em 69 áreas científicas

• Em Janeiro de 2007, data previstapara o início dos projectos, não era aindaconhecido o resultado de nenhum painelde avaliação

• Em Janeiro de 2008 (dia 14) hááreas onde os painéis ainda não reunirame outras cujos resultados ainda se nãoconhecem.

• Das áreas em que foram conhecidosos resultados da avaliação só no final doprimeiro semestre começaram a ser assi-nados os primeiros contratos, e só duranteo 2º semestre é que começaram, nalguns

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O programa de financiamento de projectos de investigação em todas as áreas científicas (2006)...

...e o “aumento” do orçamentopúblico para a Ciência

A quem serve esta desre g u l a ç ã o ?• O ano de 2007 foi o primeiro ano dos grandes cortes orçamentais para o ensino supe-rior público. No discurso oficial, estes cortes seriam compensados pelo aumento subs-tancial do orçamento para a investigação científica, o que permitia às instituições con-correr a financiamentos numa base competitiva em função da sua qualidade. Os cortesaconteceram, como se sabe, já o aumento do financiamento, como se pode ver por esteexemplo, não aconteceu, ou pelo menos não na base de uma competição transparente.• Os cortes no financiamento introduziram, como se sabe, uma grande instabilidade navida das instituições. Os atrasos na avaliação dos projectos e na transferência das ver-bas acentuaram ainda mais essa instabilidade.• Os números conhecidos apontam para que o financiamento total dos projectos científi-cos por este programa, dirigido a toda a comunidade científica, seja da mesma ordemde grandeza do financiamento associado às parcerias internacionais para o ensino supe-rior e a ciência e tecnologia (MIT, CMU, Austin), programas que se dirigem a umapequena parcela da comunidade e que não foram abertos a concurso.• A baixíssima taxa de execução do PTDC em 2007, suscita legítimas dúvidas sobre atransparência da afectação dos recursos financeiros em ciência. Para onde foi então oanunciado dinheiro? É que na grande maioria das instituições não damos por ele.• Acresce que o processo de avaliação das unidades de investigação, anunciado peloPrimeiro Ministro e pelo MCTES, que deveria ter decorrido durante 2007 está muitoatrasado, privando as instituições e os investigadores de uma noção de quais os orça-mentos de que dispõem para 2008. • Não é aqui o local para discutir a justeza de um modelo de financiamento baseado emorçamentos baixos para o ensino superior e concurso a fontes de financiamento públicopara a investigação. O novo paradigma no dizer de alguns. Mas, no mínimo, tal modeloimpõe regras claras, prazos definidos e regulares e não esta desregulação que poderáservir algumas clientelas mas não a comunidade científica e a ciência em Portugal.

casos, a chegar os primeiros financiamen-tos. Muitos dos projectos aprovados aindanão receberam qualquer financiamento.

• Não há notícia de que tenha havidouma única reavaliação de projectosrequeridas por investigadores responsá-veis por projectos não aprovados parafinanciamento

• O total do financiamento (para 3anos) ultrapassará ligeiramente os 100Milhões de euros (os números disponí-veis na página da FCT apontam para 98milhões de euros, mas estão incomple-tos). Note-se que nunca foi divulgadoqual o bolo total previsto.

*Professor da Universidade de ÉvoraMembro do SPZS/FENPROF

Rui Salgado *

Mariano Gago, Professor deFísica do IST, Instituto Supe-rior Técnico, é uma das per-sonagens que mais tem con-tribuído para conformar o

nosso actual sistema de Ensino Superiore Investigação. Lembremos que come-çou como presidente da JNICT, JuntaNacional de Investigação Científica eTecnológica, entre 1986 e 1989, e aseguir desempenhou as funções deMinistro da Ciência e da Tecnologia,entre 1995 e 2002, coordenando as áreasda política científica e tecnológica e apolítica para a sociedade da informação.Desde 2005 é Ministro da Ciência, Tec-nologia e Ensino Superior do Governode José Sócrates.

São portanto cerca de uma dúzia deanos, dos tempos mais recentes, na con-dução das políticas de Investigação e doEnsino Superior. Torna-se assim impor-tante e interessante analisar as principaisacções neste sector dos últimos governossocialistas para perceber o seu trajecto,avaliar e interpretar a sua situação actuale prever as tendências futuras.

Como Presidente na JNICT, MarianoGago esteve especialmente ligado aolançamento do Programa Mobilizador deCiência e Tecnologia em Portugal. Foiporém nos dois Governos de Guterresque a sua acção começou a ser relevanteno nosso sistema de investigação e queas avaliações globais da sua acção sãomais controversas e divergentes.

Em Agosto de 1996, Mariano Gagoestabeleceu a estrutura do Ministério daCiência e Tecnologia através da sua LeiOrgânica, Decreto-Lei nº 144/96, emque são criados a Fundação para a Ciên-cia e a Tecnologia, o Instituto de Coope-ração Científica e Tecnológica Internaci-onal e o Observatório das Ciências e dasTecnologias.

Com a mesma data são ainda publi-cados dois outros Decretos-Lei sobre a

Reestruturação do Conselho Superior deCiência e da Tecnologia, Decreto-Lei nº145/96, e sobre a Criação dos Colégiosda Especialidade, Decreto-Lei nº 146/96.

Estes porém não passaram do papel.De facto, embora se tenham feito estu-dos sobre os Colégios e a sua organiza-ção, eles nunca foram instituídos e porisso, a reformulação do Conselho Supe-rior de Ciência e da Tecnologia ficouigualmente prejudicada. De facto, semColégios não se definiram áreas científi-cas para enquadrar as actividades deinvestigação, que por isso também nãotêm representantes eleitos que seriam, defacto, os autênticos representantes dacomunidade científica integrando depoiso referido Conselho Superior de Ciênciae da Tecnologia.

A actual Lei Orgânica do Ministério,DL 214/2006, prevê um Conselho Coor-denador de Ciência e Tecnologia e umConselho Coordenador do Ensino Supe-rior, como órgãos consultivos do Minis-tro com composição e modo de funcio-namento definido em diplomas próprios,que pensamos que ainda não forampublicados, e que devem substituir osanteriores Conselhos do ministério. Por-tanto, o ministro não tem "conselho", asactividades de investigação científica edesenvolvimento tecnológico e o ensinosuperior não estão organizadas e não têmrepresentantes. Por isso o ministro temassumido uma orientação centralista, ilu-minada e discricionária.

A primeira parte do consulado de Mariano Gago foi má

Se quisermos caracterizar o desem-penho de Mariano Gago na primeiraparte deste governo socialista de JoséSócrates, o traço mais relevante foi a suacontribuição para a redução do DéficePublico pelos cortes de financiamentono Ensino Superior nos últimos três

anos. De facto, além de promessas nãocumpridas sobre os Estatutos das Car-reira, e o subsídio de desemprego, ape-nas conseguimos relevar a alteração àsprovas de agregação que já era esperadahá muito.

Assim, se em 2007 quatro universi-dades públicas entraram em colapsofinanceiro sem orçamento para as despe-sas até ao final do ano, segundo o presi-dente do CRUP, em 2008 todas as uni-versidades públicas vão chegar ao pontoa que chegaram estas quatro no ano pas-sado. Nos últimos anos somos o únicopaís da Europa que reduziu o investi-mento no ensino superior, remetendo asinstituições para uma lógica de purasobrevivência, num momento em que asuniversidades têm cumprido as suasobrigações, nomeadamente através deum aumento do número de estudantes ede uma melhoria da qualidade da suaformação. De facto, com este ministro, aforma de financiamento das universida-des e demais instituições é um perversoinstrumento de manipulação política ede prestidigitação orçamental. Não obs-tante a lei da autonomia universitária epolitécnica e a sua consagração constitu-cional, as universidades e politécnicosnão podem de facto exercer a autonomiacientífica, pedagógica, administrativa efinanceira.

Não obstante este desinvestimentoenorme no Ensino Superior o ministroanuncia com frequência aumentos deorçamentos do seu ministério. De facto,desde 1999 Mariano Gago tem procuradoorientar e desviar o financiamento dainvestigação e desenvolvimento para os"seus" Laboratórios Associados, suporta-dos nas estruturas básicas e nos docentese investigadores das maiores universida-des, e que vão subtraindo recursos eespaço de intervenção aos Centros deInvestigação e aos Laboratórios doEstado, e às próprias Universidades. Esta

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OPINIÃO

Com este Ministro e este Governo

A Universidade Portuguesa corre perigo

Nuno Rilo *

orientação fundamental do ministro teveum interregno de cinco anos mas foi reto-mada ainda com mais força e determina-ção, assumindo agora directamente parce-rias com instituições estrangeiras, a quedepois as instituições nacionais deverãodar suporte e execução.

Assim o MCTES estabeleceu em2006 compromissos directos com oMIT, a Universidade de Carnegie Mel-lon e a Universidade do Texas em Aus-tin, e prosseguirá em 2007 firmandoacordos com a Universidade de Harvarde a Fraunhofer Gesellshaft alemã, sobretemáticas e com finalidades que eleentende, com as equipas que escolhe, ecom os meios financeiros que decideatribuir. Em 2007 a medida do orça-mento designada por "Parcerias interna-cionais de Ciência e Tecnologia" dotadacom cerca de 50 M foram destinadosquase integralmente a transferênciaspara o estrangeiro, o que se crê estarassociado aos acordos com o MIT e asUniversidades Austin do Texas e Carne-gie – Mellon e motivaram a pertinenteobservação do Reitor da Universidadede Lisboa, segundo o qual "o Governotransfere anualmente para universidadesnorte-americanas, ao abrigo de acordosinteressantes mas com contrapartidasreduzidas, verbas superiores às quetransfere para algumas universidadesportuguesas".

Deste modo, no último orçamento doEstado o Ministério da Ciência, Inova-

ção e Ensino Superior, já executoumenos de metade do seu orçamento nasUniversidades e Politécnicos!

Mas a segunda é mais perigosa!

Pressionado pelas eminências pardasdo Governo no final de 2006 para acele-rar o processo de reformas neoliberaisno Ensino Superior, Mariano Gago e suamaioria absoluta socialista avançou em2007 com o mais violento ataque aoEnsino Superior público através daimposição da nova Lei sobre o RegimeJurídico das Instituições de EnsinoSuperior, vulgo RJIES.

Em resumo, esta Lei impõe uma exa-gerada intervenção do governo diminu-indo a autonomia das instituições, atrofiaa iniciativa, estrangula a diversidade eacentua o afastamento entre ensino einvestigação, o que é contrário à natu-reza da instituição universitária, e pro-cura facilitar a secessão das unidades deinvestigação de melhor qualidade, sepa-rando-as das universidades.

No entanto, a generalidade dosdocentes, nesta fase de elaboração dosestatutos das suas escolas, tem-se empe-nhado em superar as insuficiências da leitendo feito opções pela defesa do seucarácter público. Assim de 29 institui-ções públicas apenas 3 decidiram iniciarnegociações para avaliar a sua possibili-dade de passar a fundações. Por maisque se esforcem por fazer crer o contrá-

rio, foi uma expressiva derrota do minis-tro, particularmente porque todos sabe-mos que a lei foi inicialmente concebidae concretizada para promover a passa-gem a fundação da escola do Ministro edo Secretário de Estado, o IST, e essapretensão foi intensamente debatida ederrotada no seu Conselho Científico.

O conhecido desafecto deste ministropelos seus colegas universitários e o seugosto por funcionar com uma corte acen-tua-se e constitui um retrocesso e umrisco na direcção das políticas do EnsinoSuperior e da Investigação. De facto, areunião de 10 de Janeiro dos Reitores ePresidentes com José Sócrates e oMinistro foi um exemplo disso, comfavoritos e favoritas, mas também noslembramos que o auge do absolutismo edas cortes foi no século XVIII e quetambém foi suplantado pelo iluminismoe a revolução francesa que nos legou oEstado e a Universidade moderna.

A nossa Universidade é uma institui-ção sete vezes centenária que ao longodeste tempo, com grandezas e misérias,conseguiu chegar até aos nossos dias epor isso saberá exigir deste Ministro, ede outros que lhe sucederem, um com-portamento imparcial, com base em cri-térios objectivos e transparentes, comtodas as Universidades e Politécnicos.

*Professor da Universidade de Coimbra

Membro do SPRC/FENPROF

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I – No âmbito do D.L. nº 60/2005,de 29 de Dezembro, os subscritorespodem aposentar-se a n t e c i p a d a m e n t edesde que tenham completado, progres-sivamente, o seguinte tempo de serviçoem anos:

A partir de: 1/Jan./2006 – 36,51/Jan./2007 – 371/Jan./2008 – 37,51/Jan./2009 – 381/Jan./2010 – 38,51/Jan./2011 – 391/Jan./2012 – 39,51/Jan./2013 – 40

(cfr. artigo 37º-A do Estatuto daAposentação conjugado com o artigo 4ºdo D.L. 60/2005).

O valor da pensão é reduzido de4 , 5 % por cada ano de antecipação emrelação à idade legalmente exigida paraa aposentação, a qual é progressiva-mente aumentada, em anos, da seguinteforma:

A partir de: 1/Jan./2006 – 60 + 6meses

1/Jan./2007 – 611/Jan./2008 – 61 + 6 meses1/Jan./2009 –621/Jan./2010 – 62 + 6 meses1/Jan./2011 – 631/Jan./2012 – 63 + 6 meses1/Jan./2013 – 641/Jan./2014 – 64 + 6 meses1/Jan./2015 – 65

II – Com a alteração preconizada oregime passará a ser o seguinte:

A – Nova redacção do artigo 37º-Ado Estatuto da Aposentação

1 - Os subscritores podem aposentar-se antecipadamente desde que:

a) tenham 33 anos de serviço n ocaso de pensões requeridas até 31 de

Dezembro de 2008.b) tenham, pelo menos, 55 anos de

idade e tenham completado, ao perfaze-rem esta idade, 30 anos de serviço, nocaso das pensões requeridas a partir de 1de Janeiro de 2009.

(No entanto, ver o anexo II aditado àLei 60/2005 transcrito infra, em B, queterá sempre de ser conjugado com oslimites de idades previsto no Anexo Ipara o acesso à aposentação. Por exem-plo: a) se um subscritor tiver, em 2010,57 anos de idade e 31 anos de serviço,poderá aceder à aposentação antecipada,desde que aos 55 anos já tenha per-feito 30 anos de contribuições; b) seum subscritor tiver, em 2011, 23 anos deserviço, terá de ter também 63 anos deidade para aceder à aposentação.

Ou seja: há sempre que conjugar os tempos de

serviço constantes do Anexo II com asidades enunciadas no Anexo I e ter,ainda presente a redução do valor dapensão)

2 - Redução do valor da pensão:- até 31 de Dezembro de 2014 –

4,5% por cada ano de antecipação emrelação à idade legalmente exigida paraa aposentação, conforme esquematizadosupra em I.

- a partir de 1 de Janeiro de 2015 –taxa mensal de 0,5% relativamente aotempo de antecipação por referência àidade legal também supra referida.

3 - Redução do número de anos deantecipação a considerar para aplicaçãodaquelas penalizações:

- até 31 de Dezembro de 2014 – 1ano por cada período de 3 ou, em alter-nativa, 6 meses por cada ano que otempo de serviço exceda a carreira com-pleta em vigor no momento da aposenta-ção.

- a partir de 1 de Janeiro de 2015 –1 ano por cada período de 3 que otempo de serviço exceda 30 anos, nomomento em que o subscritor atingiu55 de idade.

B – Alteração dos nºs 2 e 3 doartigo 3º da Lei 60/2005

A Lei 60/2005 estipula, nos nºs 2 e 3do seu artigo 3º que o tempo de serviçomínimo de 36 anos previsto no artigo37º do Estatuto da Aposentação (paraacesso à pensão ordinária) manter-se-áem vigor até 31 de Dezembro de 2014 eque:

A partir de 1 de Janeiro de 2015poderão aposentar-se os subscritorescom 65 anos de idade e o prazo degarantia em vigor no regime geral daSegurança Social.

Com a pretendida alteração dos nºs 2e 3 do artigo 3º da Lei 60/2005:

- O limite mínimo de 36 anos seráprogressivamente reduzido até se atingiro mínimo de 17 anos em 2014, daseguinte forma:

A partir de: 1/Jan./2008 – 33 anos1/Jan./2009 – 30 anos1/Jan./2010 – 25 anos1/Jan./2011 – 23 anos1/Jan./2012 – 21 anos1/Jan./2013 – 19 anos1/Jan./2014 – 17anos

(cfr . o anexo II aditado à Lei60/2005)

Podem aposentar-se, desde já, (istoé, quando o diploma entrar em vigor), osque tenham 65 anos e contem o prazo degarantia vigente no regime geral daSegurança Social.

Em suma:Se conjugarmos os novos limites

mínimos de serviço do novo anexo II daLei 60/2005 com a alínea b) do nº 1 doartigo 37º-A (alterado) do Estatuto daAposentação, parece que a exigência deque o subscritor tenha atingido, emsimultâneo, dois limites mínimos (detempo de serviço e de idade) para poderaceder à aposentação, apenas se verificarelativamente ao ano de 2009 – 55 anos

1 0 SUP AO N .º 222 ■ JANEIRO 2008

LEGISLAÇÃO

Condições para a aposentaçãoI n f o rmação sobre a Proposta de Lei que preconiza alterações ao regime de mobilidade e às condições da aposentação e promove a protecção nod e s e m p rego dos trabalhadores da Administração Pública em regime de contrato administrativo de provimento e de contrato de trabalho.

de idade e que, nessa idade, tenha atin-gido já 30 anos de serviço.

Relativamente aos períodos de ser-viço subsequentes constantes do anexoII, não se verifica a possibilidade de apo-sentação antecipada na medida em queterão sempre de ser conjugados com asdiversas idades previstas no anexo I.

III – Apresentam-se, a seguir,alguns exemplos que poderão ilustrartudo o que foi dito:

1. Professor com 33 anos e 6 mesesde serviço em Junho de 2008, 61 anos e6 meses de idade e uma remuneração de1 0 0 0 , 0 0 , inalterada desde Janeiro de2006. Se se aposentar em 2008, a suapensão terá um valor aproximado de794,00 que após ser multiplicado pelofactor de sustentabil idade será de789,55 .

(O valor indicado resulta da fórmulade cálculo, prevista no artº5º, em que háuma primeira parcela calculada em fun-ção do tempo de serviço prestado até2005 e uma segunda parcela sobre otempo de serviço posterior, que é calcu-lada de acordo com as regras em vigorno regime geral da Segurança Social,

cuja soma é multiplicada pelo factor desustentabilidade).

2. Professor com 33 anos de serviçoem Junho de 2008, 58 anos e 6 meses deidade e uma remuneração de 1000,00 ,inalterada desde Janeiro de 2006, poderáaposentar-se em 2008 com um valorequivalente a 675,19 que, após sermultiplicado pelo factor de sustentabili-dade, será de 672,64 .

(O valor indicado resulta da fórmulade cálculo, prevista no artº5º, em que háuma primeira parcela calculada em fun-ção do tempo de serviço prestado até2005 e uma segunda parcela sobre otempo de serviço posterior, que é calcu-lada de acordo com as regras em vigorno regime geral da Segurança Social,cuja soma é multiplicada pelo número deanos de antecipação vezes 4,5% e pelofactor de sustentabilidade).

3. Professor com 36 anos de serviçoem Junho de 2008, 61 anos e 6 meses deidade e uma remuneração de 1000,00 ,inalterada desde Janeiro de 2006, poderáaposentar-se em 2008 com um valorequivalente a 854,00 que, multiplicadopelo factor de sustentabilidade, dará849,22

(O valor indicado resulta da fórmula

de cálculo, prevista no artº5º, em que háuma primeira parcela calculada em fun-ção do tempo de serviço prestado até2005 e uma segunda parcela sobre otempo de serviço posterior, que é calcu-lada de acordo com as regras em vigorno regime geral da Segurança Social,cuja soma é multiplicada pelo número deanos de antecipação vezes 4,5% e pelofactor de sustentabilidade).

4. Professor com 30 anos de serviçoem 2009, 55 anos de idade e uma remu-neração de 1000 , inalterada desdeJaneiro de 2006, terá direito a aposentar-se antecipadamente auferindo o valor de4 7 7 , 8 8 que, multiplicado pelo factorde sustentabilidade, dará 475,20

(O valor indicado resulta da fórmulade cálculo, prevista no artº5º, em que háuma primeira parcela calculada em fun-ção do tempo de serviço prestado até2005 e uma segunda parcela sobre otempo de serviço posterior, que é calcu-lada de acordo com as regras em vigorno regime geral da Segurança Social,cuja soma é multiplicada pelo número deanos de antecipação vezes 4,5% e pelofactor de sustentabilidade).

Lisboa, 17 de Dezembro de 2007

2008 JANEIRO ■ S UP AO N .º 222 1 1

Universidades e Politécnicos revêem EstatutosO Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior

(RJIES), que entrou em vigor em 10/10/2007, obriga todas asinstituições, públicas e privadas, universitárias e politécnicas,a uma adequação dos respectivos estatutos num prazo deoito meses após aquela data.

Para assegurar o cumprimento desta exigência até 10 deJunho, as universidades e os politécnicos públicos já procede-ram à eleição das respectivas Assembleias Estatutárias, salvoraras excepções, nomeadamente a do Instituto Politécnico deLisboa, onde o processo foi atrasado em virtude do mandato doseu presidente ter terminado em simultâneo com a publicação doRJIES, e a da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.

Os processos eleitorais foram geralmente muito participa-dos, com várias candidaturas a escrutínio.

As assembleias estatutárias já constituídas tiveram o seuprimeiro momento de visibilidade pública ao apreciarem apossibilidade de passagem ao regime fundacional, eventuali-dade admitida apenas nos casos das Universidade do Porto ede Aveiro e do ISCTE.

Nas instituições de ensino superior privado, vinculadas pelalei ao mesmo prazo de oito meses, cabe à entidade instituidoraa elaboração da proposta de revisão dos estatutos para o quedeverá auscultar os órgãos do estabelecimento de ensino.

FENPROF suscita parecer da PGR sobre processos eleitorais

O RJIES estabelece no nº 3 do Artº 81º que as assem-bleias estatutárias devem ser eleitas “pelo conjunto dos pro-fessores e investigadores da instituição […] pelo sistema derepresentação proporcional.” Na prática, esta norma susci-tou diferentes interpretações vertidas nos regulamentos elei-torais das diversas instituições, umas adoptando um colégioúnico que elegia os representantes de entre as listas aescrutínio, outras repartindo os lugares disponíveis pelasunidades que elegiam autonomamente os representantesque lhes cabiam.

A FENPROF, em audiência solicitada para este efeito,expôs a situação e requereu a intervenção da Procuradoria-Geral da República no sentido da clarificação deste disposi-tivo legal, concretamente no que se refere às garantias daproporcionalidade, alertando para as graves distorções verifi-cadas em algumas instituições. Foi ainda denunciada a viola-ção da liberdade de candidatura que resultou da imposição,prevista em alguns regulamentos, de representantes de todasas unidades orgânicas, independentemente do seu peso rela-tivo.

I

O que de essencial muda com o RJIESquanto aos órgãos de governo

e de gestão das instituições públicas de ensino superior?

1. As instituições públicas de ensinosuperior passam a poder optar por umregime fundacional:

i) As instituições públicas (universi-dades, institutos politécnicos, institutosuniversitários e outras instituições deensino superior) podem mudar, desdelogo, a sua natureza jurídica, passando a"fundações públicas com regime dedireito privado", figura indefinida noactual quadro legislativo (artº 129º).

ii) Também uma escola integradanuma universidade ou num institutopolitécnico, pode solicitar ao governo,"nas condições gerais por este fixadas",a sua transformação em fundação, masterá que fazê-lo obrigatoriamente noâmbito de um consórcio com a institui-ção de origem ou com as suas escolas(nº 5 e 6 do artº 129º).

iii) No caso da transformação emfundação ser aceite pelo governo, estaserá administrada por um conselho decuradores constituído por 5 personalida-des, externas à instituição, "de elevadomérito e experiência profissional reco-nhecidas como especialmente relevan-tes", nomeadas pelo governo, sob pro-posta da instituição (artº 131º).

iv) Ao conselho de curadores com-

pete "homologar" (com um poder nãovinculado, portanto l ivre), as maisimportantes decisões dos órgãos de ges-tão da instituição ou da escola, o querepresenta um efectivo poder de aprova-ção que se sobrepõe às deliberações des-ses órgãos (artº 133º).

2. Com ou sem um conselho de cura-dores (sendo, ou não, uma fundação), asuniversidades e os institutos politécnicospúblicos terão como órgãos de topo(interno) os novos conselhos gerais, comos poderes dos actuais assembleias esenados univers itários, e conselhosgerais dos politécnicos. Os conselhosgerais serão compostos por um máximode 35 membros, com um mínimo de30% de representantes externos e maio-ria de representantes dos professores einvestigadores (artº’s 77º a 82º).

3 . Os reitores (das universidades) eos presidentes (dos institutos politécni-cos) serão eleitos pelo conselho geral econcentrarão poderes hoje atribuídos aossenados e aos actuais conselhos geraisdos politécnicos e elaborarão propostas aapresentar aos novos conselhos gerais(artº’s 86º e 92º).

4 . Nas universidades poderão existirsenados, mas apenas como órgãos con-sultivos do reitor. Nos institutos politéc-nicos não está previsto qualquer órgãode semelhante natureza (nº2, artº 77º).

5 . Nas escolas, as actuais assem-bleias de representantes são considera-das dispensáveis, podendo, para alémdos conselhos de natureza científica e

pedagógica, existir somente um órgãounipessoal – o director ou presidente –com poderes reforçados (artº 97º).

6 . É contudo permitida a existênciade um órgão colegial com um máximode 15 membros, com 60% de docentes einvestigadores que pode incluir não-docentes e entidades externas, que elegeo director ou presidente e terá as compe-tências que lhe sejam atribuídas pelosestatutos (artº 97º).

7. Os conselhos científicos (nas uni-versidades) ou técnico-científicos (nosinstitutos politécnicos) ficarão reduzidosa um máximo de 25 membros, incluindo20 a 40% de representantes das unidadesde investigação (artº 102º).

8 . Os conselhos pedagógicos, semlimite de membros, terão paridade entredocentes e estudantes eleitos (artº 104º).

II

Que margem de liberdade permite o RJIES?

O RJIES deixa pouca margem para adecisão de cada instituição quanto aomodelo de gestão a adoptar. Torna-seóbvio que o objectivo do legislador –leia-se, do Governo – foi o de impedirque qualquer instituição ou escola man-tivesse a sua forma actual de gestão,obrigando todas a reconsiderarem o seumodo de governo e a reverem os seusestatutos, mas impondo-lhe um esparti-lho que claramente indica o que o

1 2 SUP AO N. º 222 ■ JANEIRO 2008

NACIONAL

Novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior

Governo e Gestão das Instituições e daA pretexto da necessidade de modernização e deagilização do sistema de governo e de gestão dasinstituições de ensino superior, o Governo apresentou à Assembleia da República uma proposta de lei já aprovada e publicada, queentrou em vigor no passado dia 10 de Outubro,que visa reduzir a participação na gestão democrática e implantar uma gestão privada detipo empresarial nas instituições públicas.

Governo quer e o que não quer.Identificam-se, ainda assim, alguns

graus de liberdade:1. A opção pelo regime fundacional,

na condição de ser aceite pelo governo(artº 129º);

2. A fixação do número de membrosdos conselhos gerais, desde que dentrodos limites estabelecidos, e a sua distri-buição por representantes de professorese investigadores, estudantes e não-docentes e por representantes externos,respeitando as balizas fixadas na lei (artº81º);

3 . A opção, nas universidades, pelaexistência um senado como órgão deconsulta obrigatória do reitor, nas maté-rias definidas nos estatutos (nº 2, artº77º);

4. A opção, nos estatutos de cada ins-tituição, pelo estabelecimento de "for-mas de cooperação e articulação entre osconselhos científicos, ou técnico-cientí-ficos, e entre os pedagógicos em cadainstituição", ou pela criação de órgãos"com competências próprias no âmbitocientífico ou técnico-científico e noâmbito pedagógico" (nº 2, artº 80º);

5 . A criação de órgãos consultivos,nas instituições (nº 3, artº 77º e nº2, artº78º);

6 . A previsão de outras formas decoadjuvação do reitor ou do presidente,para além dos vice-reitores ou vice-pre-sidentes (nº 4, artº 88º);

7 . A definição da estrutura dosórgãos de gestão das escolas e a fixação

das respectivas competências, no res-peito pela lei e pelos estatutos da institu-ição (artº’s 97º e 98º);

8 . Em particular, a opção pela exis-tência, nas escolas, de um órgão colegialque eleja o director ou o presidente (artº97º) e a definição das suas demais com-petências;

9. A fixação do número de membrosdeste órgão colegial, desde que inferiorao máximo estabelecido, e a sua distri-buição, obrigatória, por representantesde docentes e investigadores, e de estu-dantes e, facultativa, por representantesdo pessoal não-docente e por represen-tantes externos, nos limites fixados nalei (artº 97º).

III

Quais os procedimentos e os prazos do processo?

1. Todas as instituições terão que teros seus estatutos revistos no prazo de 8meses a contar da entrada em vigor dodiploma, portanto, a té ao dia 10 deJunho de 2008 (nº 1, artº 172º).

2 . Os novos órgãos terão que estareleitos nos 4 meses seguintes à publica-ção dos novos estatutos (artº 174º).

3. Cada instituição terá que constituiruma assembleia estatutária constituídapelo reitor, ou presidente, que preside;por 12 representantes dos professores einvestigadores de carreira e outrosdocentes e investigadores com o grau de

doutor em regime de tempo integral; 3representantes dos estudantes e 5 perso-nalidades externas, cooptadas pelos res-tantes (nº 2, artº 172º).

4 . A eleição dos representantes éfeita de acordo com um regulamentoaprovado pelo senado (universidades) ouconselho geral (institutos politécnicos)em funções (nº3, artº 172º).

5 . Para a passagem de uma institui-ção a fundação, prevê-se um prazo de 3meses, após a entrada em vigor dodiploma, para que a assembleia estatutá-ria aprove uma proposta nesse sentido aapresentar ao governo (nº1, artº 129º enº1, artº 177º).

6. No caso de uma escola, a propostaterá que ser aprovada no mesmo prazode 3 meses, por uma "assembleia ad-hoc" promovida pelo director ou presi-dente, com a composição prevista para aassembleia estatutária de uma instituiçãoe cujo regulamento de eleição deverá seraprovado pela assembleia de represen-tantes da escola (nº3, artº 177º).

IV

Quais as propostas da FENPROFpara os novos estatutos?

Os objectivos gerais essenciais aatingir nos processos de aprovação dosnovos estatutos das instituições e dassuas unidades orgânicas, em particular,das escolas, são, no entender da FEN-PROF, os seguintes:

2008 JANEIRO ■ S UP AO N .º 222 1 3

das EscolasINFORMAÇÃO E PROPOSTAS DA FENPROF

1. Assegurar que os sistemas degovernação e de gestão das instituições edas escolas que venham a ser aprovadossejam o mais possível democráticos, nosentido da melhor concretização dodireito e do dever de participação dos 3corpos (docentes e investigadores, estu-dantes e pessoal não-docente), com res-peito pelas competências e qualificaçõesdos seus membros e pelos diferentespapéis que desempenham, garantindo,em particular, o pleno exercício da liber-dade académica e da liberdade deexpressão da opinião;

2 . Garantir as melhores condiçõespara que a governação e a gestão se ali-cercem em planos estratégicos, comobjectivos bem definidos de aumento daqualidade, da eficácia e da eficiência dasdiversas actividades, e que sejam orien-tadas pelo primado do interesse públicoe pela rejeição de soluções que promo-vam, ou facilitem, a subordinação aexclusivos critérios de mercado e de ren-tabilidade económica.

Para melhor atingir estes objectivosgerais, a FENPROF recomenda:

1. Que tudo seja feito, em matéria deesclarecimento e de participação, paraevitar a aprovação de propostas de trans-formação de instituições ou de escolasdo sistema público em fundações;

2 . Que as assembleias estatutáriasusem da faculdade (nº4 do artº 172º) denomearem "uma comissão encarregadade elaborar um projecto de estatutos, aser submetido à discussão e aprovaçãoda assembleia", de modo aumentar onúmero de participantes e a assegurar arepresentação de todas as unidades orgâ-nicas, ou departamentos, e de todos oscorpos (os funcionários não-docentesestão fora da assembleia).

3. Que seja fixado para o ConselhoGeral o número máximo permitido demembros: 35;

4. Que seja prevista a participação derepresentantes do pessoal não-docente;

5 . Que a cooptação de membrosexternos recaia, de forma equilibrada,sobre personalidades oriundas das dife-rentes áreas sociais: empresarial, profis-sional, científico, cultural e associativo;

6 . A consagração, em todas as univer-sidades, da existência de um senado queseja de consulta obrigatória pelo reitor emtodas as questões essenciais à sua activi-dade, como sejam propostas de planosestratégicos e de acção, orçamentos, pro-pinas, aprovação e extinção de cursos;

7. A consagração da consulta obriga-tória do senado, em particular, no pro-cesso de eleição do reitor, designada-mente quanto aos candidatos que seapresentem ao cargo;

8. A consagração, nos institutos poli-técnicos, de um órgão idêntico, comsemelhantes atribuições;

9 . A inclusão nos senados de repre-sentações condignas dos 3 corpos;

10. A criação em todas as escolas deum órgão colegial representativo com onúmero máximo de membros que é per-mitido – 15 – e que, para além da repre-sentação obrigatória de representantesdo pessoal docente (incluindo assisten-tes) e investigador, bem como de estu-dantes, abranja representantes do pessoalnão docente e de entidades externas;

11. A atribuição a estes órgãos cole-giais, para além da eleição do director,ou presidente, de competências seme-lhantes às actualmente atribuídas àsassembleias de representantes;

1 2 . Criação de um órgão directivo,ou executivo que responda peranteaquele órgão colegial;

13. Criação de um órgão que permitaa audição obrigatória de representantessindicais ou associativos dos 3 corpos,sobre matérias do interesse dos seusrepresentados;

1 4 . Alargamento da intervenção,ainda que consultiva, de um maiornúmero de membros da comunidadeacadémica na eleição do director, oupresidente, nomeadamente, através depareceres obrigatórios de órgãos comoos conselhos científico e pedagógico;

15. A criação de órgãos científicosde curso ou de departamento que permi-tam a participação mais alargada possí-vel dos professores doutorados, muitos

dos quais são agora afastados de umaparticipação directa no conselho cientí-fico das instituições ou das escolas.

V

Quais as propostas da FENPROFpara a acção?

Para que estes objectivos sejam atin-gíveis será indispensável que os docen-tes e os investigadores se mobilizempara participarem nas eleições para asassembleias estatutárias e que, com assuas candidaturas, forcem a existênciade debates que sejam esclarecedores dosriscos que o RJIES comporta e das for-mas de os reduzir.

Em particular, é importante que, nes-ses processos eleitorais, uma vez queserão essas assembleias que terão opoder de o decidir, se obtenha a rejeiçãoda possibilidade de transformação dasinstituições em fundações de regime pri-vado, pelo enorme risco em que ficariamos dois objectivos essenciais geraisacima descritos.

Nas escolas cujo director, ou presi-dente, deseje usar da faculdade previstana lei, que lhe atribui o poder de promo-ver a constituição de uma assembleia ad-hoc para decidir sobre a passagem aoregime de fundação, será preciso mobili-zar os actuais órgãos de gestão e acomunidade académica em geral paraque esse passo não seja concretizado, e,caso o venha a ser, procurar evitar queuma decisão naquele sentido venha a seraprovada, através de uma activa e escla-recedora participação no processo deeleição dessa assembleia e na escolhacriteriosa dos membros externos a coop-tar, nos termos da lei.

A FENPROF irá, assim, procurarcontribuir o mais possível para que seconcretize, em todas as instituições e emtodas as escolas, um debate esclarecedore o mais participado possível sobre asopções que se encontram em jogo esobre as suas previsíveis consequências,por forma a que, apesar das muitas dis-posições negativas do RJIES, seja possí-vel encontrar as soluções que melhorassegurem uma gestão democrática eparticipativa, eficaz e eficiente, queesteja em correspondência com as exi-gências da natureza estratégica doensino superior, como bem público, parao desenvolvimento do País.

21/09/2007

1 4 SUP AO N. º 222 ■ JANEI RO 2008

I

O que diz a lei?

A. Criação de uma fundação1 . A transformação de uma institui-

ção em fundação deve ser requerida aoGoverno e ser fundamentada nas vanta-gens de adopção desse modelo e numestudo sobre as suas implicações (nº 1, 2e 3 do artº 129º).

2. Durante o regime de transição pre-visto no RJIES a passagem de uma insti-tuição a fundação dependerá da aprova-ção, por uma assembleia estatutária, deuma proposta nesse sentido a apresentarao governo (artº 172º).

3 . Havendo concordância do gover-no, será firmado um acordo abrangendoas matérias relativas ao projecto, pro-grama, estatutos, estrutura, possibilidadede regresso ao regime anterior (nº 4 doartº 129º).

4. Uma escola integrada numa univer-sidade ou num instituto politécnico, podesolicitar ao governo, "nas condições geraispor este fixadas", a sua transformação emfundação, mas terá que fazê-lo obrigatori-amente no âmbito de um consórcio com ainstituição de origem ou com as suasescolas (nº 5 e 6 do artº 129º). Neste caso,a solicitação deve ser acompanhada doestudo atrás referido, bem como do pro-jecto do consórcio (que pode assumir adesignação de universidade ou de institutopolitécnico) e do parecer da instituição (nº7 e 8 do artº 129º).

5. A criação de uma fundação é efec-tuada por decreto-lei, que aprova tambémos seus estatutos (nº 12 do artº 129º).

B. Administração da fundação1 . A fundação será administrada por

um conselho de curadores constituído por5 personalidades externas à instituição,"de elevado mérito e experiência profissi-onal reconhecidas como especialmenterelevantes", nomeadas pelo governo, sobproposta da instituição (artº 131º).

2. As instituições de natureza fundaci-onal "dispõem de autonomia nos mesmostermos das demais instituições" (nº 1 doartº 132º) e "os órgãos dos estabelecimen-tos de ensino superior são escolhidos nostermos e têm a composição e competên-cias previstos para as demais instituições",com as necessárias adaptações e ressalvasque se seguem (nº 1 do artº 133º).

3. Ao conselho de curadores competeaprovar os estatutos dos estabelecimen-tos que administram, sob proposta deuma assembleia estatutária (nº 2 do artº132º), que ficam sujeitos à homologaçãodo governo, tal como acontece com asdemais instituições. Compete-lhe tam-bém nomear e exonerar o conselho degestão sob proposta do reitor ou presi-dente (alínea a) do nº 2 do artº 133º).

4. Ao conselho de curadores cabeainda "homologar" (com um poder nãovinculado, logo, livre) as mais importan-tes decisões dos órgãos de gestão da ins-tituição ou da escola, o que representaum efectivo poder de aprovação que sesobrepõe às deliberações desses órgãos.Assim, terá que homologar as delibera-ções do conselho geral relativas a: desig-nação e destituição do reitor, director oupresidente; planos estratégicos de médioprazo; planos de acção quadrienais domandato do reitor ou presidente; linhasgerais de orientação da instituição nosplanos científico, pedagógico, financeiroe patrimonial; orçamentos e contas anu-ais (alíneas b) e d) do nº 2 do artº 133º).

Decidirá ainda sobre a aquisição ou alie-nação do património imobiliário e sobreas operações de crédito (alínea c) do nº 2do artº 133º).

C. Regime jurídico da fundação1. Na ausência de um diploma geral

enquadrador das "fundações públicascom regime de direito privado", ao con-trário do que sucede por exemplo comos institutos públicos ou com as entida-des públicas empresariais, o RJIES seráo único instrumento jurídico reguladordestas fundações.

2 . O nº 1 do artº 134º do RJIESafirma que "as fundações regem-se pelodireito privado, nomeadamente no querespeita à sua gestão financeira, patrimo-nial e de pessoal". No entanto, nonúmero seguinte ressalva-se que "oregime de direito privado não prejudicaa aplicação dos princípios constitucio-nais respei tantes à AdministraçãoPública, nomeadamente a prossecuçãodo interesse público, bem como os prin-cípios da igualdade, da imparcialidade,da justiça e da proporcionalidade".

3. Já o nº 3 do mesmo artigo 134º dizque a instituição fundacional "pode criarcarreiras próprias para o seu pessoaldocente, investigador e outro, respei-tando genericamente quando apropriadoo paralelismo no elenco de categorias ehabilitações académicas, em relação àsque vigoram para o pessoal docente einvestigador dos demais estabelecimen-tos de ensino superior público", e o nº 4estabelece que isso deverá ser feito "semprejuízo da salvaguarda do regime dafunção pública de que gozem os funcio-nários e agentes da instituição de ensinosuperior antes da sua transformação emfundação".

2008 JANEIRO ■ SUP AO N.º 222 1 5

Novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior

Fundações: um presente envenenado!O Governo pretende, no sentido do cumprimento a uma recomendação inscrita no Relatório da OCDE, que algumas instituições de ensino superior(e até escolas isoladamente) – aquelas que se encontrem em condições deangariar mais receitas próprias – adoptem a natureza jurídica de "fundaçõespúblicas com regime de direito privado" (artº 129º). Importa, assim, analisar as vantagens e os inconvenientes de uma tal solução e tirar as devidas conclusões.

4 . Em relação ao acesso e ingresso,as fundações "seleccionam os estudantesatravés de critérios e procedimentosfixados na lei", o que significa que essamesma lei poderá atribuir-lhes maisautonomia na matéria do que às demaisinstituições não-fundacionais (artº 135º).

5. Quanto ao financiamento, as fun-dações terão "contratos plurianuais deduração não inferior a 3 anos" (nº 1 doartº 136º). Contudo, a estas "aplicam-se,com as devidas adaptações, as regrasfixadas pela lei para o financiamento doEstado às demais instituições de ensinosuperior públicas" (nº 3 do artº 136º). Oregime de propinas e de acção socialescolar é o fixado pela lei para as restan-tes instituições públicas (nº 4 do artº136º e artº 137º).

II

Quais são as supostas vantagens das fundações?

Os defensores das fundações apre-goam, como vantagens deste regime,facilidades às quais, afinal, de umamaneira geral, qualquer instituiçãopública de ensino superior poderá ace-der, de acordo com o próprio RJIES queacompanha a reforma em curso da legis-lação da Administração Pública, quetorna a sua gestão mais flexível.

1. A autonomia patrimonial é idên-tica para todas as instituições públicas(artº 109º). O artº 130º, relativo às fun-dações, nada promete nem acrescenta,pois limita-se a dizer que as fundaçõestêm como património o mesmo que asrestantes instituições que não sejam fun-dações; que o Estado pode contribuirpara esse património e que outras entida-des podem contribuir igualmente paraele, tal como sucede para as restantesinstituições.

2. Quanto à autonomia financeira,todas as instituições, fundacionais ou não,estão sujeitas ao POC-Educação e ao"estabelecido na lei quanto ao equilíbrioorçamental e à disciplina das finançaspúblicas" (nº 2 e 3 da artº 113º). Todastêm, também, que estar sujeitas à jurisdi-ção do Tribunal de Contas (artº 158º),bem como dispor de um fiscal único (artº117º) e de se sujeitar a auditorias externas(artº 118º) e à inspecção (artº 149º), bemcomo sujeitar-se às regras da contrataçãopública, como qualquer instituição finan-ciada pelo Estado.

3. Relativamente à magna questãodos saldos de gerência, o nº 1 do artº114º estabelece que "não são aplicáveisàs instituições de ensino superior públi-cas [fundacionais ou não] as disposiçõeslegais que prescrevem a obrigatoriedadede reposição nos cofres do Estado dossaldos provenientes das dotações trans-feridas do OE. Também se estabelece (nº2 e 3 do artº 114º) que não carece deautorização a utilização dos saldos doOE ou dos orçamentos privativos.

4. Por outro lado, também não é pre-ciso ser-se fundação para se poder rece-ber "subsídios, subvenções, compartici-pações, doações, heranças e legados"(alínea g) do nº1 do artº 115º).

5. Quanto à gestão de pessoal, "onúmero de unidades dos quadros de pes-soal docente, de investigação e outro decada instituição de ensino superiorpública é fixado por despacho" (nº 1 doartº 120º), mas já "a distribuição dasvagas dos quadros pelas diferentes cate-gorias, no caso do pessoal docente e deinvestigação, e pelas diferentes carreirase categorias, no caso do restante pessoal,é feita por cada instituição de ensinosuperior pública, sem prejuízo de oministro da tutela poder fixar, por despa-cho, regras gerais sobre esta matéria"(nº2 do artº 120º).

6. Apenas para as instituições quenão são de ensino universitário público éfixado por despacho do ministro datutela "o número máximo de docentes,investigadores e outro pessoal, qualquerque seja o regime legal aplicável, quecada instituição de ensino superiorpública pode nomear ou contratar" (nº 1do artº 121º).

7. Na realidade, "as instituições deensino universitário públicas [fundacio-nais ou não] gerem livremente os seusrecursos humanos, tendo em considera-ção as suas necessidades e os princípiosde boa gestão e no estrito respeito dassuas disponibilidades orçamentais" (nº1do artº 125º).

8. Igualmente, "não está sujeita aquaisquer limitações (...) a contrataçãode pessoal em regime de contrato indivi-dual de trabalho cujos encargos sejamsatisfeitos exclusivamente através dereceitas próprias, incluindo nestas asreferentes a projectos de investigação edesenvolvimento, qualquer que seja asua proveniência" (nº 2 do artº 121º).

9 . Este contrato individual de traba-lho não coincide com a figura do con-

trato de trabalho em funções públicas,previsto na proposta de lei do Governojá aprovada na generalidade na Assem-bleia da República, pois o primeiro serápago por receitas próprias e o último,presumivelmente, pelo OE. Assim, noque se refere a carreiras, parece encon-trar-se aberta pelo RJIES a possibilidadede uma carreira paralela de contratadosao abrigo do contrato individual de tra-balho (de regime privado e pagos porreceitas próprias), enquanto que às fun-dações se atribui a possibilidade de criarcarreiras próprias, com paralelismo àsdas restantes instituições, salvaguar-dando o regime da função pública deque gozam os funcionários ou agentesantes da transformação em fundação, oque não parece muito diferente.

10. Entretanto, como se viu, "oregime de direito privado não prejudicaa aplicação dos princípios constitucio-nais respei tantes à AdministraçãoPública, nomeadamente a prossecuçãodo interesse público, bem como os prin-cípios da igualdade, da imparcialidade,da justiça e da proporcionalidade", o quesignifica fortes limitações a esse "regimede direito privado", como a exigência deconcursos para aquisição de bens materi-ais e para a contratação de pessoal.

Acresce a isto que a burocracia deque muitas instituições se queixam irácontinuar porque ela lhes é impostapelos organismos financiadores, como aFCT ou a própria UE, no que se refere aprojectos de investigação.

11. Quanto à possibilidade de contra-tar personalidades de grande projecçãocientífica internacional, tal é claramentepermitido para qualquer instituiçãopública, ao abrigo da figura de contratoindividual de trabalho, podendo-se, nestecaso, pagar o que se quiser, apenas noslimites das receitas próprias. Nada dediferente se passará se a instituição foruma fundação.

III

Que conclusões se devem tirar?

1. A ausência de legislação queenquadre as "fundações públicas comregime de direito privado" permite quehaja juristas que afirmem aplicar-se,neste caso, o poder de superintendênciapor parte do governo, o que significa queeste poderá dar ordens directas à admi-nistração da fundação por si nomeada.

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NACIONAL

2. Por outro lado, como atrás se mos-tra, o "regime de direito privado" prome-tido às fundações não traz vantagens sig-nificativas que possam contrabalançar osrespectivos inconvenientes que se carac-terizam por uma grande perda de autono-mia das instituições para definirem a suaprópria estratégia de desenvolvimento e,inclusive, os seus planos de actividade anível científico e pedagógico, uma vezque essas orientações terão que ser apro-vadas ou "homologadas" pelos curadoresnomeados pelo governo. Poderá estar-sea abrir caminho à subordinação dogoverno e gestão das instituições aosinteresses imediatos da economia e aestreitos critérios de mercado ou de ren-tabilidade económica. Poderão estar emrisco as liberdades académicas e os direi-tos de participação, bem como a próprialiberdade de expressão da opinião.

3. A disposição de que os curadores,embora sendo nomeados pelo governo,são propostos pela instituição, não ésuficientemente tranquilizadora. Na rea-lidade, a assimetria entre o poder dogoverno e a influência da vontade dainstituição levanta as mais sérias dúvidasquanto ao real grau de liberdade na pro-posição ao governo de nomes para cura-dores. Bastará a dependência da institui-ção em relação aos financiamentos apro-vados pelo governo para se perceberquão frágil é a posição da instituição.

4. Entretanto, os apoiantes das funda-ções avançam o argumento de que,estando o Governo actual muito interes-sado em aprovar pelo menos a transfor-mação de uma instituição em fundação,aquele estaria disponível para "alargar oscordões à bolsa" e para fazer todas asconcessões que lhe fossem exigidas.Trata-se do velho argumento da oportu-nidade. No entanto, fácil se torna imagi-nar que, perante uma mudança degoverno, tais "benesses" viessem a serretiradas, sob pretexto de ter havido umtratamento de favor.

5. Pior do que isso: atendendo a queuma das condições para passagem a fun-dação será, certamente, como tem sidosugerido, a existência de uma significa-tiva proporção de receitas próprias nosorçamentos das instituições, será expec-tável que num futuro não muito longín-quo um governo, qualquer que ele seja,se tente pela redução das dotações doOE com a argumentação de que as fun-dações terão receitas próprias suficientespara se auto-sustentarem, ainda que à

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custa de aumentos nas propinas possibi-litados por uma "oportuna" alteraçãolegislativa.

6 . A disposição que afirma aplica-rem-se "com as devidas adaptações" asregras fixadas pela lei para o financia-mento do Estado às demais instituiçõesdo ensino superior públicas" não é, aeste respeito, também tranquilizadora,uma vez que, em primeiro lugar, taisregras podem ser construídas para preju-dicar quem gera receitas próprias comalgum significado e, em segundo lugar,porque as "devidas adaptações" podemservir para fazer isso mesmo sem alteraras regras, tanto mais que estas se apli-cam anualmente para as restantes institu-ições, enquanto que para as fundações ofinanciamento é plurianual.

7. Assim, a opção pelas fundações,nas actuais circunstâncias, representa um"tiro no escuro" que comporta elevadosriscos que não compensam alguma flexi-bilidade de gestão que possa vir a permi-tir. As instituições onde haja apoiointerno para uma tal experiência fariammelhor em não se precipitarem e aguar-darem pelos resultados da aplicação dasnovas regras válidas para todas as insti-tuições – as que constam do actualRJIES, as que decorram da próximarevisão das carreiras e as aprovadas nou-tras leis da Administração Pública – paramais tarde, com conhecimento de causa,poderem decidir se sim ou não preten-dem vir a ser uma fundação, pois, deacordo com a lei, es tarão sempre atempo de o requerer ao governo que naaltura esteja em funções. Está-se muitolonge de se estar perante um ultimato do"Agora ou Nunca!".

8 . Uma vez que a competência para aapresentação ao Governo de uma propostade transformação de uma instituição emfundação cabe à assembleia estatutária, énecessário que esta importante questãonão deixe de ser discutida no âmbito dosprocessos eleitorais respectivos.

9. Em particular, será muito impor-

tante que, perante uma tão exígua repre-sentação, na referida assembleia, dacomunidade académica de uma universi-dade, de um instituto politécnico, ou deuma unidade não integrada – elege ape-nas 15 membros (12 professores, ouinvestigadores, ou outros doutorados,todos em regime de tempo integral, e 3estudantes) – será muito importante que,usando da faculdade conferida pelo nº 4do artº 172º, a assembleia estatutáriaeleita nomeie "uma comissão encarre-gada de elaborar um projecto de estatu-tos, a ser submetido à discussão e apro-vação da assembleia". Trata-se de umaoportunidade a não perder para compen-sar o défice de representatividade daassembleia, designadamente garantindoum maior número de participantes e arepresentação de todas as unidades orgâ-nicas e de todos os corpos (os funcioná-rios não-docentes, estando arredados departicipar na assembleia, poderão con-tudo participar nesta comissão). Todasas candidaturas se deveriam pronunciarsobre se acham que uma tal comissãodeve ser constituída e de que forma.

IV

Quais os objectivos da actuação da FENPROF?

A FENPROF tudo fará para contri-buir para que se estabeleça em todas ascomunidades académicas um debatesereno, adequadamente informado, que,sem precipitações, permita obter asmelhores soluções estatutárias para asse-gurar os direitos e os deveres de partici-pação na gestão democrática, conformeestão consagrados na Constituição daRepública, bem como garantir as melho-res condições para um gestão, mais efi-caz e mais eficiente, baseada no interessepúblico, capaz de resistir às crescentespressões para a privatização e para amercadorização do ensino superior.

21/09/2007

Ainiciativa reuniu mais de 250 par-ticipantes em representação demeia centena de organizações de

docentes e investigadores de perto dequatro dezenas de países, de diferentescontinentes.

A FENPROF participou nos traba-lhos com uma delegação constituída porJoão Cunha Serra, coordenador doDepartamento do E. Superior e Investi-gação, membro do Secretariado Nacio-nal; Manuel Pereira dos Santos e Her-nâni Mergulhão (SPGL); Nuno Rilo(SPRC) e Clementina Miranda (SPZS).

Na sessão de abertura, José CamposTrujillo, secretário-geral da Federação deEnsino das Comissiones Obreras (FEC-COO) e membro do Comité Executivoda IE, eleito no Congresso de Berlim(Julho 2007), destacou "o papel do sindi-calismo internacional nos tempos quevivemos", nomeadamente face aos desa-fios que se colocam no plano do ensinosuperior, da investigação e do desenvol-vimento científico e tecnológico dassociedades num Mundo globalizado".

O dirigente sindical realçou, noutrapassagem, a necessidade da defesa evalorização das condições de trabalho nosector, tendo em perspectiva o reforçodo "serviço público de qualidade", temaque já em Berlim mobilizou vincadaspreocupações.

"Fuga de cérebros"

A "incidência negativa da fuga decérebros nos países em desenvolvi-

mento", a precariedade das relaçõeslaborais que ainda continuam a marcar arealidade do ensino superior e da investi-gação em muitos países e o papel daautonomia universitária, foram outrosaspectos em destaque na intervenção deCampos Trujillo, entretanto desenvolvi-dos ao longo dos trabalhos.

A sessão de abertura incluiu aindaintervenções e saudações de representan-tes das entidades oficiais, nomeada-mente do Município de Málaga e do Par-lamento regional; do secretário deEstado do Ensino Superior; e da Reitorada Universidade, Adelaida de la CalleMartin.

Os secretários-gerais da FETE-UGT,Carlos Lopes Cortinas; e da Internacio-nal de Educação, Fred van Leeuwen,também falaram nesta sessão inauguralda Conferência da IE.

Ainda no primeiro dia dos trabalhos,além da Recomendação da UNESCO(acção temática moderada por MoniqueFouilhoux, coordenadora da IE), outros

temas mobilizaram a atenção dos confe-rencistas, nomeadamente a liberdadeacadémica.

No segundo dia (13 Novembro), osdebates foram estruturados ao longo detrês sessões temáticas: sobre a igualdadede género; o combate à mercantilizaçãoe privatização do Ensino Superior; euma perspectiva das iniciat ivas daOCDE, nomeadamente no âmbito daavaliação dos resultados de aprendiza-gem neste sector.

Realizaram-se, também, cincoworkshops. Manuel Pereira dos Santos,da FENPROF, foi o relator do paineldedicado à precariedade no Superior e àdefesa dos direitos do pessoal contratadoe dos jovens investigadores em início decarreira.

Dez anos depois, a Recomendaçãoda UNESCO reforça a sua actualidade edinamiza um debate construtivo que per-mite desenvolver um conjunto de pers-pectivas capazes de responder aos desa-fios que se colocam ao sector - estasurge como uma das grandes linhas deforça desta Conferência da IE, que está adeixar na cidade de Picasso um sérioaviso a todos os Governos: sem a parti-cipação e o envolvimento dos docentes einvestigadores e das suas organizaçõesrepresentativas não há modelos, não háprocessos, não há reformas que se con-cretizem. Não concorda, Professor Mari-ano Gago?

José Paulo OliveiraJornalista

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INTERNACIONAL

VI Conferência da IE

Em foco a Recomendação da UNESCOsobre a situação do pessoal docentedo Ensino Superior A actualidade e as perspectivas da Recomendação da UNESCO sobre a situaçãodo pessoal docente do Ensino Superior, na passagem do 10º aniversário da sua divulgação (1997/2007), foi tema em destaque na abertura da VI Conferência da Internacional de Educação (IE) sobre Ensino Superior e Investigação, que se realizou em Málaga entre 12 e 14 de Novembro.

Acesso e equidade no Ensino Superior

1. Nos termos da Declaração Univer-sal dos Direitos Humanos que afirmaque "todos têm direito à educação" e que"o ensino superior deve ser igualmenteacessível a todos segundo o seu mérito,"os sindicatos apelam aos Ministros daEducação dos países da OCDE para queadoptem medidas imediatas a fim deassegurar uma maior equidade no acessoa um ensino superior de qualidade paratodos os cidadãos devidamente qualifi-cados.

2. Promover o alargamento do acessoao ensino superior deve ser uma priori-dade principal para todos os países daOCDE. O ensino superior fomenta otalento e a criatividade, e é essencial ao

desenvolvimento social, cultural e eco-nómico de todas as nações. As institui-ções de ensino superior, sem restriçõesno acesso e adequadamente financiadas,podem desempenhar um papel vital naaprendizagem ao longo da vida, e na for-mação de cidadãos activos e de mão-de-obra qualificada.

3. Para promover uma participaçãomais equitativa no ensino superior, osgovernos dos Estados membros da OCDEdevem assegurar que todas as barreiras,financeiras e não financeiras, sejam elimi-nadas. O acesso deve ser baseado unica-mente no mérito. Não deve haver nenhumaforma de discriminação no acesso base-ada em critérios de raça, de etnia, degénero, de orientação sexual, de língua,de religião, ou de deficiências físicas.

4. Em muitos países da OCDE, aspropinas aumentaram drasticamente nosúltimos anos. As organizações sindicaisestão preocupadas com o impacto queeste aumento das propinas possa produ-zir no acesso das classes trabalhadores edos seus filhos ao ensino superior. Osgovernos, através dos seus sistemas deimpostos, devem ter a responsabilidadeprimordial pelo financiamento do ensinosuperior. O modelo de financiamentopúblico do ensino superior é o mais efi-ciente e mais equitativo. As propinas,onde quer que existam, devem ser redu-zidas o mais possível e nunca devemconstituir uma barreira ao acesso.

5. As organizações sindicais assina-lam com preocupação que o investi-mento público no ensino superior não

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Ensino Superior:

Qualidade, Equidade e EficiênciaDeclaração conjunta do TUAC (Trade Union Advisory Committee) e da Internacional de Educação para a conferência dos Ministro da Educaçãoda OCDE – Atenas, 2006

tem sido suficiente para fazer face àsexigências do aumento do número dealunos. Os cortes orçamentais têm vindoa comprometer a qualidade e a acessibi-lidade. As propinas têm aumentado, asinstituições estão a optar cada vez maispelo trabalho docente precário, os currí-culos têm vindo a ser reduzidos, asnecessidades em infra-estruturas não sãosatisfeitas, e os requisitos de acesso têmvindo a ser elevados a níveis inaceitá-veis.

6. As políticas para a promoção daqualidade do ensino superior não podemignorar os ensinos básico e secundário.As competências e a qualidade dos estu-dantes que ingressam no ensino superiorestão directamente dependentes da quali-dade dos ensinos básico e secundário.Consequentemente, os governos devemfornecer melhores recursos para as esco-las e aumentar os apoios aos professoresde todos os níveis de ensino.

Promover a qualidade do ensino e da investigação

7. As organizações sindicais enten-dem que a qualidade do ensino superiornão é nem um produto mensurável nemum resultado sujeito a qualquer defini-ção simples, baseada no desempenho. Aqualidade tem a ver com as condições eas actividades de ensino e com a liber-dade de investigação.

8. A qualidade das instituiçõesensino superior é melhor avaliada pelospares através de um sistema rigoroso eregular. O que constitui qualidade noensino e na investigação deve ser deba-tido, estabelecido e reavaliado ao nívelinstitucional por senados académicos ouconselhos que tenham uma representa-ção significativa do pessoal e dos estu-dantes. É, fundamentalmente, da respon-sabilidade das instituições de ensinosuperior assegurar a qualidade dos seuscurricula através destes mecanismoscolegiais.

9. Assegurar a qualidade no ensinosuperior exige que, tanto os governoscomo as instituições, melhorem as con-dições de trabalho e o regime deemprego do pessoal. Sem o talento e oempenhamento do seu pessoal, não épossível um ensino superior de quali-dade.

10. Promover a qualidade do ensinosuperior e da investigação requer agarantia do exercício das liberdades aca-

démicas pelo pessoal docente. Comoestabelece a Recomendação daUNESCO de 1997 sobre a Condição doPessoal Docente do Ensino Superior, aliberdade académica inclui o direito, semqualquer constrangimento doutrinal, àliberdade de ensino e de debate; à liber-dade de investigação e de publicação edivulgação dos resultados; à liberdadeartística e criativa; à liberdade de seenvolver em actividades ao serviço dainstituição ou do meio envolvente; àliberdade de exprimir livremente a suaopinião sobre o estabelecimento, a suagovernação ou o sistema no qual traba-lha; à liberdade de não estar sujeito àcensura institucional; à liberdade paraadquirir, preservar, e disponibilizar oacesso a material documental em todosos formatos; e à liberdade de participa-ção em organizações profissionais ouacadémicas representativas.

11. A liberdade académica é melhorprotegida através de um regime de traba-lho de vínculo permanente ou seu equi-valente funcional. O vínculo permanenteou seu equivalente funcional, concedidoapós avaliação rigorosa pelos pares,assegura o emprego académico continu-ado. É esta a via para a protecção dopessoal docente contra a maledicênciapessoal, a coerção política, e as arbitra-riedades institucionais.

12. As organizações sindicais estãoseriamente preocupadas com o rápidocrescimento do trabalho docente precá-rio – pessoal docente contratado a tempoparcial ou a termo sem vínculo estável.O financiamento do ensino superiordeve ser reforçado para assegurar o pes-soal necessário, vinculado de formaregular e permanente.

A dimensão global do ensino superior

13. O ensino superior tem tido, desdesempre, uma dimensão universal; aolongo dos séculos, estudantes e escolasultrapassaram fronteiras para estudar,ensinar e investigar. No entanto, hoje,com a emergência de um "mercado glo-bal" para o ensino superior, uma sériaameaça potencial se coloca à missãoacadémica das instituições. A comercia-lização internacional e a privatização doensino superior e da investigação amea-çam aumentar a desigualdade, diminuir aqualidade, e enfraquecer a integridade ea independência do ensino e da investi-gação.

14. A globalização económica doensino superior está a ser facilitada poracordos comerciais e de investimentocomo o Acordo Geral sobre Comércio eServiços (GATS). Estes acordos têm oefeito de intensificar as pressões dacomercialização e da privatização. Asorganizações sindicais acreditam firme-mente que os serviços de interessepúblico, como a educação, não devemestar sujeitos às regras dos acordoscomerciais. O ensino transnacional deveser, em primeiro lugar e principalmente,governado por princípios educativos,não por imperativos comerciais.

15. As organizações sindicais apelamaos ministros da OCDE para que os res-pectivos países se comprometam a nãopromover nem a aderir a acordos sobreeducação ou qualquer assunto relacio-nado no decurso das actuais negociaçõesdo GATS. Os ministros são, ainda, inci-tados a avaliar o impacto da coberturapelo GATS da prestação de serviços deensino. O impacto do GATS em aspec-tos com o acesso e a qualidade doensino, os subsídios e o financiamentopúblicos, e a autoridade de cada paíspara regular as entidades prestadoras deeducação no espaço nacional, tem susci-tado questões perturbadoras. Enquantomuitas destas perguntas se mantiveremsem resposta, o risco que se corre é quebasta a concordância de um país quantoà cobertura de serviços de educação paraque as regras do GATS venham forçarmercados livres no ensino e permitir ainstituições e entidades offshore operarlivremente em actividades de ensino. Asautoridades nacionais, incluindo asagências de acreditação e de controlo daqualidade, poderão ter pouco controlo.

16. As organizações sindicais estãoconvencidas da necessidade de agir deci-sivamente para controlar a "fuga decérebros" de pessoal altamente qualifi-cado dos países em desenvolvimentopara os países da OCDE. Apoiamos con-victamente a mobilidade laboral, mas éevidente que a exportação de pessoaldocente, de investigadores e de outrostrabalhadores altamente qualificadosprejudica os países mais pobres. Osministros são incitados a ponderar for-mas de mitigar os efeitos prejudiciais dafuga de cérebros, tais como estabelecercompensações financeiras aos países quedesta forma perdem pessoal qualificado,ajudando os países em desenvolvimentoa construir os seus sistemas de ensino

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superior, desenvolvendo o intercâmbiode estudantes e de pessoal docente eassim promover a transferência deconhecimento nos dois sentidos, e incen-tivando projectos de colaboração e redesde investigação com as nações menosdesenvolvidas.

Investigação patrocinada pela Indústria

17. A ligação estreita entre institui-ções de ensino superior e o sector pri-vado tem sido cada vez mais promovidaem todos os países do OCDE, particular-mente através do patrocínio industrial àinvestigação universitária. Estas parce-rias de investigação podem ajudar amelhorar a produtividade e a elevar osníveis de vida com a descoberta e acomercialização de inovações, maspodem também suscitar riscos significa-tivos para a integridade e a independên-cia da investigação universitária. Muitoscasos de nomeada evidenciam o factodos patrocinadores industriais poderemexercer pressões inadequadas sobre osinvestigadores e atrasarem a publicaçãodos resultados de pesquisas que não sãofavoráveis aos interesses financeiros dasempresas.

18. Frequentemente, podem surgirconflitos entre patrocinadores industriaise investigadores académicos devido àsdiferenças entre culturas, motivações e

objectivos da investigação. Uma pes-quisa comercial eficaz requer a confi-dencialidade para proteger segredosindustriais. Uma investigação académicaeficaz requer a partilha do conheci-mento. As organizações sindicais acredi-tam que toda a pesquisa académica deveser disponibilizada publicamente. Nomínimo, aos patrocinadores industriaisnão deve ser permitido o atraso na publi-cação dos resultados da investigaçãoalém do tempo mínimo requerido paraobter uma patente.

19. Por outro lado, poderão serimpostos condicionalismos mais subtis àinvestigação se as instituições de ensinosuperior ficarem cada vez mais depen-dentes do financiamento privado para osector. Determinadas áreas serão ignora-das. A investigação fundamental será delonge menos apoiada que a aplicada. Aimportante investigação sobre problemasde natureza social como a pobreza, oambiente, os direitos laborais, será depouco interesse para as empresas queestão prioritariamente interessadas naque produz resultados comerciais. Estefacto pode distorcer a investigação aca-démica de tal maneira que deixe de ser-vir o interesse público. Por exemplo, namedicina, as pressões comerciais têmconduzido a pesquisa para pequenosaperfeiçoamentos aos medicamentos etratamentos existentes, em vez de inves-

A participação dos sindicatosna re f o rma do Ensino superiorA Recomendação da UNESCO/OIT sobre a Condição dos Professores foi adoptada por unanimidadepelos Estados Membros das duas organizações incluindo os então membros da OCDE em 1966. Éum importante instrumento normativo reconhecido internacionalmente. A data da sua adopção, 5de Outubro, passou a ser consagrada desde 1993 como o Dia Mundial do Professor. A Recomen-dação inclui este artigo fundamental:

Artigo 9 As organizações de professores devem ser reconhecidas como uma força que pode contribuir sig -nificativamente para o desenvolvimento educativo devendo por isso ser envolvidas na elaboraçãodas políticas educativas.

Em 1997, a Assembleia-geral da UNESCO adoptou a Recomendação sobre a Condição do PessoalDocente do Ensino Superior. Nos seus Princípios Directores, enuncia o mesmo conceito:

Artigo 88. Convém reconhecer que as organizações que representam o pessoal docente do ensino superiorconstituem uma força que pode contribuir grandemente para o progresso da educação e que deve -riam por isso ser associadas, com os outros parceiros e partes interessadas, à elaboração da polí -tica do ensino superior.

São regularmente preparados pelo Comité Conjunto de Peritos, CEART, relatórios sobre a aplicaçãodas duas recomendações a apresentar aos órgãos directivos da OIT e da UNESCO.

tirem na prevenção de doenças. 20. É importante que não seja a

investigação patrocinada pela indústria amarcar a agenda da investigação univer-sitária. Na realidade, seria contraprodu-cente para a própria indústria. O valor dainvestigação fundamental na universi-dade – com seus largos horizontes tem-porais, profundo conhecimento, e inde-pendência – é ser o meio mais fértil quepermite abrir caminho a descobertas queconduzirão às aplicações comerciaismais imprevisíveis. Por estas razões, asorganizações sindicais convidam osministros da OCDE a atribuir maisfinanciamento para a investigação fun-damental independente em todas asáreas.

A participação das organizações sindicais na reforma do ensino superior

21. As instituições de ensino superiore de investigação são cada vez maispressionadas para procederem à transfe-rência de conhecimento e tecnologiapara o sector produtivo a fim de aumen-tar a produtividade, a competitividade eo crescimento. No entanto, competitivi-dade e crescimento são apenas algunsdos meios para atingir o desenvolvi-mento socialmente sustentável. Assim,as instituições de ensino superior devemcontribuir também para a equidade e acoesão social entre e nos países daOCDE. O desafio é colocar o ensinosuperior de forma mais abrangente aoserviço dos cidadãos e da sociedade.Neste caso, devem contribuir para que aformação ao longo da vida seja uma rea-lidade para todos: as instituições deensino superior devem assumir a respon-sabilidade pelo desenvolvimento contí-nuo dos perfis e competências nas nos-sas sociedades.

22. A formação ao longo da vida éuma chave para alcançar objectivoscomo o pleno emprego, a melhoria dascompetências, a elevação das qualifica-ções e a mobilidade, assim como maisjustiça na repartição do rendimento eequilíbrio apropriado entre trabalho evida familiar. Estamos certos de que esteproblema requer uma nova abordagem,com reformas mais profundas dos siste-mas educativo e de formação profissio-nal que visem a satisfação das necessida-des dos indivíduos, da sociedade e daeconomia. Para a política educativatrata-se de abrir as instituições de ensino

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NACIONAL

superior, especialmente as universida-des, à sociedade em geral. É tambémnecessária uma cooperação mais estreitacom a sociedade civil e o mercado detrabalho. As partes interessadas, especi-almente os parceiros sociais e os estu-dantes, devem ser envolvidas no pro-cesso de abertura das instituições deensino superior numa perspectiva deaprendizagem ao longo da vida.

23. Os sindicatos de professoresestão receptivos às reformas na educa-ção. Estão prontos para desempenhar oseu papel na melhoria do sistema. Nãopretendem ficar amarrados ao passadomas, com base nas experiências passa-das, procuram dar o seu contributo pararesponder aos desafios do futuro.

24. Para tornar esta participação maiseficaz, devem ser definidas por todoscom clareza as regras do trabalho con-junto. Os ministros e os sindicatosdevem identificar pontos de vistacomuns sobre os processos de participa-ção dos sindicatos na elaboração daspolíticas educativas. Devem ser defini-dos com clareza os assuntos sujeitos anegociação (visando o acordo entre aspartes), ou a consulta (realizando a audi-ção antes da tomada de decisão), ou aqualquer outra forma de parceria, inclu-indo a representação em comissões epainéis de peritos.

25. Em nenhum outro campo é tãoóbvia a necessidade de uma tal clarifica-ção como no ensino superior, especial-mente num momento de tão grandemudança e de procura do caminho aprosseguir em todos os países da OCDE.O TUAC e a IE deixaram bem claro quepodem ajudar a construir melhores par-cerias entre governos, sindicatos, eoutras partes interessadas. O TUAC e aIE podem ajudar a tornar realidade oconceito de parceria social na educação.A reunião ministerial de Atenas é umaoportunidade para que os governos dêemum sinal evidente da sua disponibilidadepara trabalhar, no contexto da OCDE, naconstrução de parcerias com sindicatosde professores e outras organizações sin-dicais, a fim contribuir mais eficazmentepara o avanço da educação nas nossassociedades.

Tradução livre da responsabilidadedo Departamento do Ensino Superior

e da Investigação.

“Ministro faz o mal e a caramunha”O Ministro está a oficiar as instituições do ensinos u p e r i o r, que apresentam grandes dificuldadesorçamentais, no sentido de que lhe forneçam elementos detalhados sobre como se comport a mfinanceiramente, incluindo a solicitação de i n f o rmação sobre as medidas de gestão que planeiam adoptar, com vista à celebração de umcontrato de recuperação económica e financeiracom o MCTES.

XI Congresso da CGTP-IN

Este procedimento está já a provo-car em algumas delas iniciativasde bloqueamento de licenças sabá-

ticas e, até, de interrupção de dispensasde serviço docente para doutoramento.

Depois dos cortes violentos que apli-cou a todas as instituições, para 2007 e2008, dos quais se destacam as novas eavultadas obrigações de contribuiçãopara a Caixa Geral de Aposentações,sem que antes lhes tenha atribuído anecessária compensação, vem agora oMinistro apresentar-se como inocente,dando sinais às instituições de que a res-ponsabilidade da solução do problema éessencialmente delas.

Em particular, o parágrafo do ofício

referido, onde se exige um “plano derestrição de licenças sabáticas, equipara-ções a bolseiro e outras dispensas de ser-viço docente”, visa reduzir ou, até, eli-minar direitos, revendo na prática osestatutos das carreiras, sem que tenhahavido a negociação exigida por lei.

Este comportamento do Ministério éinaceitável. Os docentes afectados pordecisões que contrariem a lei, o estabele-cido nos estatutos das carreiras, devemde imediato solicitar o apoio jurídiconecessário à defesa dos seus direitos. Ossindicatos da FENPROF estarão comosempre à disposição para o efeito.

JCS

No fecho desta edição do JF/Supestava tudo a postos para a reali-zação do XI Congresso da CGTP-

IN (15 e 16 de Fevereiro, Centro deCongressos de Lisboa, à Junqueira), quereuniu numerosas delegações estrangei-ras e cerca de 1 000 delegados oriundosde todos os sectores de actividade e detodo o País, entre os quais representantesdo SPGL, SPN, SPRC, SPZS, SPRA eSPM, sindicatos da FENPROF.

O XI Congresso tinha à partida comoum dos seus objectivos centrais a defini-

ção das linhas gerais de orientação parao quadriénio 2008-2012, com uma estra-tégia sindical expressa no Programa deAcção sob o lema "Emprego, Justa Dis -tribuição da Riqueza/Mais Força aosSindicatos".

Para além do Programa de Acção,estava também previsto o debate emtorno de uma Carta Reivindicativa, naqual serão apontadas as orientações e osobjectivos reivindicativos a prosseguirpela nova direcção da CGTP-IN. JPO

Ver reportagem e comentários em www.fenprof.pt

2008 JANEI RO ■ S UP AO N .º 222 2 3

CULTURAL

CGTP-IN edita CD

"Marchas, Danças e Canções"de Fernando Lopes Graça

O ano de 2006 assinalou a comemoração docentenário do nascimento de Lopes-Graça. A

CGTP-IN não poderia deixar de se associar aoenorme "coro" de aplauso e de lembrança domúsico e compositor, do homem de letras, doresistente e lutador. Por solidariedade, por devercívico, pela amizade recordada. Por reconheci-

mento de uma obra feita para os homens e mulheres do seupovo. Em seu nome. Em sua memória.

Um ano depois, a CGTP-IN, por iniciativa do seu Departa-mento de Cultura e Tempos Livres, fecha o seu programacomemorativo do 100.º aniversário do nascimento de FernandoLopes-Graça com a reedição, desta feita a terceira, de "Mar-chas, Danças e Canções".

Trata-se de uma iniciativa que contou com o apoio da CMde Almada, traduzida no lançamento da obra com o títuloacima referido e que inclui um CD do coro Lopes-Graça comuma faixa multimédia dedicada à obra e à vida do compositor eonde se insere a edição de um conjunto significativo de pautasdigitalizadas. ■

27 de Fevereiro, Aula Magna da UL

European Social ScienceHistory Conference

O International Institut für Sozialgeschichte (IISG), em asso-ciação com a Faculdade de Letras da Universidade de Lis-

boa e com o apoio dos respectivos Departamento de História eCentro de História, vai organizar na Aula Magna a EuropeanSocial Science History Conference de 2008.

Trata-se de uma Conferência que promove a abordagem daHistória através dos conceitos, metodologias e técnicas dasCiências Sociais, reunindo investigadores, na sua grande maio-ria europeus e americanos. O evento realiza-se de dois em doisanos, durante quatro dias e funciona diariamente em 4 séries de25 sessões simultâneas, congregando um total de 900 a 1200participantes.

Informações e Inscrições Conference Secretariat ESSHC c/o International Institute of Social History Cruquiusweg 31 1019 AT Amsterdam, Netherlands Tel.: + 31 20 66 858 66 Fax: + 31 20 66 541 81 Endereço electrónico: [email protected] Sítio: http://www.iisg.nl/esshc/ ■

De 21 a 23 de Fevereiro

6ª edição do “Portalegre JazzFest”

O Centro de Artes do Espectáculo de Portale-gre apresenta no grande auditório, nos dias

21, 22 e 23 de Fevereiro, a sexta edição do“Portalegre JazzFest”. O livre trânsito que dáacesso a todos os espectáculos, incluindo ocafé-concerto, custa 20 euros. Aqui fica a pro-gramação:

Dia 21 de Fevereiro – Quarteto de Júlio Resende; início21.30h – Preço único 10 euros.

O primeiro disco do seu quarteto, “Da Alma”, saiu no finalde 2007 através da editora Clean Feed.

Júlio Resende - piano; Zé Pedro Coelho - saxofone tenor;João Custódio - contrabaixo; João Rijo - bateria

Dia 22 de Fevereiro – Trio Joachim Kuhn, Daniel Humaire Jean Paul Celea; início 21.30h – Preço único 10 euros.

De referir, que embora estes três artistas e cúmplices musi-cais já por várias vezes tenham tocado juntos, esta actuação emtrio será uma estreia absoluta no nosso país.

Dia 23 de Fevereiro – One night with Melissa Walker andFriends…; início 21.30h – Preço único 10 euros

Melissa Walker – Voz; Vana Gierig – Piano; Sean Conly –Baixo; Clarence Penn – Bateria.

Dia 22 e 23 de Fevereiro – Scott Fields Freetet - Café Con-certo - Jazz; início 23.30h – Preço único 5 euros.

Scott Fields - guitarra eléctrica; Achim Tang - contrabaixo;João Lobo - bateria ■

Faculdade de Belas Artes de Lisboa

Cursos Livres de Animaçãoem Desenho, BD e Ilustração

O Centro de Investigação e de Estudos Arte e Multimédia éuma unidade de investigação da Faculdade de Belas-Artes

da Universidade de Lisboa (FBAUL) que desenvolve a suaactividade no ramo da investigação e de Estudos Arte e Multi-média. O CIEAM realiza durante o ano um conjunto de cursosdirigidos a jovens e adultos, na área da Animação.

Entre Fevereiro e Julho de 2008, o CIEAM irá realizar osCursos Livres de Animação em Desenho, Banda Desenhada eIlustração, dirigidos a profissionais ou a estudantes de ArtesPlásticas ou Design, sob a coordenação de José Pedro Cava-lheiro (Zepe).O Curso de Animação em Desenho, com início a9 de Fevereiro, terá uma duração total de 144 horas, aos sábadosdas 10h às 13h e das 14h30 às 17h30. Os formadores do cursosão Sofia Farmhouse e Joana Bartolomeu. O Curso de BandaDesenhada, com início a 11 de Fevereiro, terá uma duração totalde 144 horas, às segundas e quintas, das 18h às 22h. Os forma-dores do curso são José Pedro Cavalheiro, Diniz Conefrey eLuís Henriques. O Curso de Ilustração, com início a 12 de Feve-reiro, terá uma duração total de 144 horas, às terças e quartas,das 18h às 22h. João Catarino é o formador do Curso.

Para a inscrição nos Cursos deverá ser enviada pelos inte-ressados uma ficha de pré-inscrição para o mail [email protected]. Mais informações no site www.fba.ul.pt., através domail [email protected] ou do telefone 213252135. ■

Após as fundações a falta de fundos

Na sequência do longo período de asfixia financeira que foi imposto aosistema de ensino superior público, o Ministro surgiu agora (qual salvador)empenhado em contribuir para o saneamento financeiro das instituições,obrigando-as a subscrever um draconiano "contrato de saneamento finan-ceiro", pretendendo que a responsabilidade da solução do problema é essen-cialmente das instituições.

As notícias que nos chegam (da UTAD, das Universidades de Évora e doAlgarve, entre outras) são extremamente preocupantes.

O que o ministério está a exigir às instituições é um relatório com o con-junto de medidas a implementar num prazo de 2 a 3 anos tendo em vista arecuperação económica e financeira. E esse relatório deve incluir, designada-mente uma planificação:• para reorganização da oferta de ensino, incluindo a fusão e o encerramento

de cursos;• para redução do corpo docente e não-docente, de contenção de despesa

com o pessoal incluindo a não abertura de qualquer concurso enquantodurar o processo de recuperação económica e financeira e a não substitui-ção de pessoal que se aposente;

• para cessação, não renovação e redução da percentagem de tempo de con-tratos de docentes convidados bem como do pessoal docente re q u i s i t a d oao ensino secundário;

• para restrição à concessão de licenças sabáticas, equiparações a bolseiro eoutras dispensas de serviço docente;

• para fusão e extinção de unidades e subunidades orgânicas, outras estrutu-ras e serviços;

• para alienação de património que já não se revele necessário à actividade daUniversidade;

• para aumento de receitas próprias nomeadamente de propinas de formaçãoinicial e de formação avançada, overheads, prestação de serviços à comuni-dade e outras;

O que o Ministério pretende assim impor a várias instituições do ensinos u p e r i o r, são contratos de saneamento financeiro de cariz exclusivamenteeconomicista que vão implicar o despedimento de muitos docentes, a dimi-nuição da qualidade do ensino e da investigação.

P r i m e i ro foram as sagas da empresarialização das universidades e dasfundações. Agora é a dos contratos de recuperação económica e financeira,ou seja a saga da falta de fundos, com todo o cortejo de malfeitorias asso-ciado.

Isto é o que teremos pela frente no sector público nos tempos próximos,porque o privado não está nas preocupações do Ministro. É esta política quetemos de denunciar.

É contra tudo isto que nos tempos mais próximos nos teremos de bater.

Mário Carvalho