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AMOR E DEDICAÇÃO MANTÉM VIVA A TRADIÇÃO JUNINA NO CAMINHO DO SÃO JOÃO MUITAS DIFICULDADES SÃO ENCONTRADAS PELAS QUADRILHAS JUNINAS Pág.12 JORNAL CON TEXTO www.issuu.com/contexto-ufs Ano 13 /Maio de 2016 Jornal Laboratório Produdizo por Alunos de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe Departamento de Comunicação Social (DCOS) Ações inclusivas na UFS Pág. 6 Creches no Rosa Elze: restrições na oferta Pág. 8 Turismo em SE: publicidade para driblar crise Pág. 10 lEIA TAMBÉM:

Jornal Contexto - Edição 49 (Maio/2016)

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Produção Laboratorial do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe. Departamento de Comunicação Social.

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Page 1: Jornal Contexto - Edição 49 (Maio/2016)

AMOR E DEDICAÇÃO MANTÉM VIVA A TRADIÇÃO JUNINA

NO CAMINHO DO SÃO JOÃO MUITAS DIFICULDADES SÃO ENCONTRADAS PELAS QUADRILHAS JUNINAS Pág.12

JORN

AL CONTEXTOwww.issuu.com/contexto-ufs

Ano 13 /Maio de 2016Jornal Laboratório Produdizo por Alunos de

Jornalismo da Universidade Federal de SergipeDepartamento de Comunicação Social (DCOS)

Ações inclusivas na UFSPág. 6

Creches no Rosa Elze: restrições na oferta

Pág. 8

Turismo em SE: publicidade para driblar crise

Pág. 10

lEIA TAMBÉM:

Page 2: Jornal Contexto - Edição 49 (Maio/2016)

3Contextando2 Opinião 3

Q uando do alguém aparece e propõe: escreva um texto sobre a cena cultu-ral. - Eu pondero: não tinha coisa mais

simples não? Isso é algo impraticável. É como se proferissem: cruze pelado a Avenida Beira Mar com a boca lambrecada de batom vermelho, salto alto, torando as veias da garganta de tanto berrar: Revolta da Certidão! Os loucos chegaram! Revolta da certidão! Deixem suas casas e pré-dios. Venham testemunhar a merda que fazem!

Não sei se já escutou alguém proclamar, a Revolta da Certidão calhou na profundeza in-teriorana de Sergipe. Até hoje, têm indivíduos que defendem a existência de seguidores espa-lhados pelo Estado. Tive informações através de um jornal de cultura e do governo. O cabeçalho ostentava o território. “Santa Teimosa ataca em praça de guerra: Revolta da Certidão causa ve-xame coletivo no município de São Padrinho”.

Na reportagem de abril de 1923, assinada pelo jornalista de guerra Joel Ligeira, por volta das quatro da manhã de um sábado, residentes da Comunidade de Santa Teimosa deslocaram-se para a sede do município de São Padrinho, lo-calizado a 340 km de Aracaju. A peregrinação perdurou tempo suficiente para os primeiros ca-nhões de luz solar aquecerem e demarcarem a posição dos atores no palco de guerra, havendo como camarote, a frontaria da Prefeitura. A pri-meira fileira de centenas de moradores subiram a ladeira da Rua Central, empunhando tochas de fogo e as bocas meladas de lama vermelha.

Em seguida, a segunda ala, compostas por jo-vens. Todos eles corriam em cima de uma espécie de pernas de pau. O terror era trazido pela che-gada da multidão. Os moradores da sede mor-riam de medo e repugnância, mas não perdiam a oportunidade de difundir o fenótipo cunhado pelo próprio Prefeito. É gente que não tem quem favoreça e proteja, diziam. Gente que não tem título nem designação. Que não tem padrinho.

As mulheres, todas elas, crianças, matriarcas e

Revolta da CertidãoPor: Pedro BomBa, Poeta sergiPano

adolescentes, ascendiam organizadas em forma de V, tocando graúdas percussões feitas de ma-deira de sucupira. Quando, na frente da Prefeitu-ra, a multidão juntou-se em blocos, todos ficaram nus. Ao sinal seco dos batuques, os insurgidos ofereceram as costas para a casa de domínio e canta-ram em versos de lanças:

Prefeito não quero seu nome / Não quero sua ajuda e nem favores / Só quero o som dos tambo-res / Das guerreiras de Santa Teimosa / Quero a vida boa e a tranqüi-la prosa / Pois ninguém mais agüenta tanto so-frimento / Queremos o que é nosso sem lamen-to / Que viver é o direito que temos nessa vida / Se não entregar a rique-za dessa gente sofrida / Vai ter bosta co-brindo toda praça do Apadrinhamento.

Cometeram do manifesto causo legítimo. O prefeito camuflou-se dentro do prédio e dez ca-detes tomaram posição na entrada barrando as portas. O secretário de comunicação, da janela do andar de cima, comunicou, aos 2240 habitan-tes de Santa Teimosa, que o prefeito não poderia atende-los, devido a uma afluência extraordiná-ria com o governador. Não deu outra. Com pas-sadouros ensaiados, toda multidão arrancou das bolsas de combate assentadas no chão, um peda-ço de papel, comprovante de certidão de registro.

Acontece que o prefeito havia pré-feito uma ação de retirada de carteira de identidade na se-mana anterior e todos os moradores de Teimosa, sem exceção, foram registrados com o sobrenome de Emeu. Paulinho Emeu, não apresentara escrú-pulos ao batizar todos sob sua proteção. Maria Emeu. Gilmar Emeu. Judite Emeu. Segundo Joel

Ligeira, cinco miúdas que moravam na barriga das mães foram registradas igualmente com o sobrenome. O fato casou extrema revolta.

Quando o secretário emudeceu, os mora-dores agacharam-se, deitando suas certidões no chão e num berro de artilharia estrondou o coro: “Já!”. Nesse tempo, conforme descreveu Joel – que acompanhou à comunidade por dois meses e participou da revolta como “repórter-morador”- após o brado repercutido, agravou as metralhadoras de peidos e bostas e toda co-munidade, em sincronia, cagou nas certidões. Foram mais de dois mil corpos de munições fa-bricados ali, em praça pública. Depois do espe-táculo da orquestra das maquinarias orgânicas, os embrulhos foram distribuídos em posses e

“Quero a vida boa e a tranqüila prosa / Pois ninguém mais agüenta tanto sofrimento / Queremos o que é nosso sem lamento / Que viver é o direito que temos nessa vida / Se não entregar a riqueza dessa gente sofrida.”

lançados, cer-teiramente, nas vidraças, aces-sos, divisórias e calçadas. No primeiro cadete alcançado, os outros nove sa-íram com per-nas de foguete. Não tinha quem permanecesse.

A população insurgida adentrou na Prefeitura e lambrecou tudo. Depois partiram ao som dos batuques das companheiras de Teimosa. O prefeito, num ata-que do coração, deixou o prédio carregado numa maca. A ocorrência agravou quando, ao subir na ambulância, leu as passagens na frontaria da Prefeitura. Cague nos sobrenomes! Revolta da Certidão! Retornaremos sempre que preciso for!

Adoro as metáforas excessivas. Por assim des-crever, o amplo território da cena cultural de Sergipe pode, nessa história, existir como a Pra-ça do Apadrinhamento. Sem políticas culturais concretas. Somente com boas vontades e bons mocismos, além de meia dúzia de padrinhos dispostos a abraçar os desvalidos e sem qualifi-cações. Os moradores da sede do munícipio são os que, de certa forma, fazem de tudo para rubri-car os legados nominais e viverem nos arredores dos passos do Prefeito, seja ele qual for, o que é pior. O resto são os habitantes de Santa Teimo-sa, que vivem como algumas centenas de artis-tas, músicos, músicas, poetas, jornalistas e ocu-pações culturais alastradas pelo Estado que, de alguma forma, lutam escrevendo a narrativa do agora e invalidando os legados dos sobrenomes . O prefeito é o domínio pré-feito em qualquer cargo. E a merda é a esperança e a transformação.

Se me demandassem para avaliar a cena cultural de Sergipe, calharia um jeito de desviar o tema e fantasiar uma história com tambores dando senti-do a vexames. Geraria uma curta confusão de onde surge a verdade ou a mentira de episódios, só para causar dualidade acerca da cena cultural e dar va-zão ao constrangimento dos padrinhos e apadri-nhados, cagando, enfim, nos seus sobrenomes.

“Se me demandassem para avaliar a cena cultural de Sergipe, calharia um jeito de desviar o tema e fantasiar uma história com tambores dando sentido a vexames.”

A edição 49 do Jornal Contexto está consolidada, de modo que a equipe conseguiu manter a transformação vislumbra-da desde a edição 45 – salvo as edições especiais de lá para cá.

Igualmente consolidada, mediante um processo ainda duvidoso do ponto de vista legal, é o afastamento da presidente Dilma Rousseff/PT. A crise econômica e política – sem dúvida de caráter histórico-mundial, visto que todos os países de economia capitalista estão em recessão – pas-sou a ser a figura real que determinará e condicionará projetos políticos na superestrutura da sociedade – cultura, esporte, saúde, educação e, etc.

Nesse sentido, os cortes nos orçamentos das diferentes pastas (além da redução de Ministérios, determinação do presidente Michel Te-mer/PMDB) constitui na realidade uma necessidade a fim de evitar um colapso social no Brasil e em quaisquer países; ou seja, os planos de austeridades – que significa aplicar certo rigor no controle dos gas-tos (que, em geral, são conhecidos por cortes, principalmente nas áre-as sociais, tais como educação e saúde) – vem a ser atualmente a po-lítica adotada pelos países que foram (e serão) afetados pela crise.

Praticamente todos os debates desenvolvidos nas reportagens nesta edição do JC/DCOS de certo modo diz respeito à conjuntu-ra atual de cortes de gastos, ainda que a equipe não tenha delibe-rado que haveria uma relação estrita entre as reportagens e a crise.

Esta edição traz algumas reportagens que dialogarão diretamente com os dois meses seguintes. Em junho, por todo o estado, teremos os eventos da cul-tura junina; e por se tratar de um período importante para a população sergi-pana, temos duas reportagens as quais desenvolvem algumas manifestações do período. Em julho, a Universidade Federal de Sergipe (UFS) completa 48 anos e dedicamos a atenção para esse evento na forma de uma reportagem que abre a edição - as comemorações começam nesse mês, de 24 a 30 de maio.

Você, caro leitor, poderá conferir também reportagens sobre as quais de-mandam determinada preocupação social, a saber, a inclusão social e as creches. Além de outros trabalhos de reportagens sobre o turismo (em cri-se), esporte (sobre a Associação Desportiva Confiança/ADC) e literatura.

Boa leitura!

EDITORIAL Os habitantes da terra do fogo

Quem mora em comunidades pe-riféricas conhece as dificuldades, em muitos aspectos, que são enfrentados pelos seus respectivos moradores. O bairro Santa Maria, que carrega no colo e nas costas o estereotipo de co-munidade mais violenta de Aracaju e sobre o qual, nos últimos 10 anos, não se falou em projeto político algum, a fim de transformar a realidade so-cial do local, é comumente conheci-da como uma das grandes periferias da capital – rivalizando, no que toca à complexidade social, com a zona norte

O Santa Maria hoje, estruturalmen-te, constitui uma série de conjuntos: Marivan Sul, Paraíso Sul, Padre Pe-dro, 17 de Março e etc. E nos últimos anos vem sendo uma área de algu-mas ocupações que as autoridades – políticos e polícia, principalmen-te – costumam chamar de invasões.

Mas o Santa Maria constitui uma periferia com uma determinada par-ticularidade em sua configuração ge-ográfica; assim como a zona norte, o Santa Maria é uma comunidade muito bem escondida, alheia à uma determi-nada parcela da população – a classe média alta e a burguesia. Escondida principalmente dos turistas. Para além dos estereótipos, pouco se conhece deste bairro. A não ser pela televisão.

Com pouca e péssima urbanização, sistema de ônibus insuficiente, táxi co-munitário operando irregularmente, parte da população abaixo da linha de pobreza, tráfico de drogas e violência, muitos desconhecem a complexidade social do Santa. E para variar temos um Complexo Penitenciário, o que implica uma movimentação constante de mi-litares e vigilantes. Logo, uma atmos-fera de insegurança. É realmente um lugar complexo. Mas tal complexida-de, que é real, decorre da omissão dos nosso representantes políticos cujas promessas de campanha praticamente nenhuma é cumprida completamente.

Percebe-se pouca luz no bairro; e mais ainda no semblante dos mo-radores. Em determinados pontos, aguardar um coletivo é o mesmo que aguardar um pivete disposto a assal-ta-lo. Aqui, como em muitas outras periferias, ou você entrega o que tem enquanto objeto material – seja lá o que for – ou entrega a alma. (Na pri-meira semana de abril, em uma rua paralela a que moro, em uma manhã de sábado, um trabalhador resistiu ao assalto; este decidiu entregar a alma.)

Mas o Santa Maria de modo al-gum, obviamente, não é só relatos de crimes, tragédias e derrotas. Em meio a agitação social diurna, é fa-cilmente possível encontrar crianças brincando, carroceiros e catadores de materiais recicláveis trabalhan-do, operários, moradores reforman-do suas respectivas casas, duplas de evangélicos em pontos estratégicos tentando, com a palavra de Deus (e a deles) trazer luz à vida dos mora-dores, estudantes universitários, e uma série de atividades sem as quais o Santa não seria o que é hoje: um complexo de particularidades sociais, econômicas e materiais.

Uma comunidade esqueci-da e desconhecida – talvez a ver-são moderna de alguns elemen-tos da Antiguidade. – Ou será que um espectro pré-histórico ronda o complexo bairro Santa Maria?

Quando me propus a escrever este texto, de imediato fui tomado por uma sensação de não saber o que precisamente relatar. Exatamente quando tomei por encerrada esta crônica, deliberei que era necessá-rio comemorar, e então liguei para uma hamburgueria localizada na Hermes Fontes, no bairro São José:

- Boa noite. Eu queria um x-ba-con e um suco de mangaba sem leite.

Após alguns segundos – certa-mente o tempo necessário para anotar o meu pedido -, o meu inter-locutor-atendente perguntou, com certa gentileza:

- Para onde, amigo?- Santa Maria – respondi, pausa-

damente. - Não fazemos entrega neste

horário para este bairro. - Valeu, camarada.Desliguei o celular e fui tomado

completamente de um riso irônico por um longo tempo, que se esten-deu desde o encerramento da liga-ção até o início dos preparativos do que veio a ser um jantar incomum. Sem internet (a primeira versão deste texto foi escrito à mão) e sem energia elétrica - sem luz, portanto! – fiz uma pipoca. Uma noite à luz de vela. Ao deitar, algum camarada resolveu me homenagear – pelo fato de ter terminado o texto, suponho - com três tiros em algum local próxi-mo à casa que moro, na Rua da Paz.

EXPEDIENTE

Por: rodirgo de macêdo

Universidade Federal de SergipeCampus Prof. José Aloísio de Campos

Av. Marechal Rondon, s/n, Sao Cristóvão- SE

Reitor: Prof. Dr. Angelo Roberto AntoniolliVice-Reitor: Prof. Dr. André Maurício Conceição de Souza

Diretora do CECH: Prof. Dra. Iara Maria Campelo Lima

Jornal Laboratórial do Curso de JornalismoNúcleo de jornalismo: Prof. Dra. Greice Schneider Fone: 2105-6919/21056921 Email: [email protected]

Coordenação Editorial: Prof. Dra.. Michele da Silva Tavares (DRT- 1195/SE)

EquipE ContExto - Edição 49:

ChEfE dE REdação: Cláudia Santana e Nathália GomesPRoJEto GRáFiCo: Cláudia Santana, Nathália Gomes, Lucivânia Santos, Jamile

Oliveira.ARtE DA CAPA: Nathália Gomes e Cláudia Santana

REvisão: Taís Cristina, Adréia Fontes, Mariana Correia e Marcos PereiraREPoRtAGEm: Antônio Golçalves , Andréia Fotes, Cláudia Santana, Francielle Santos,

Lucivânia Santos, Mariana Correia, Marcos Pereira, Nathália Gomes, Taís Cristina, Josafá Bonifácio.

FotoGRAFiA: Cláudia Santana, Táis Cristina, Mariana Correia, Nathália Gomes

diagRamação: Cláudia Santana, Lucivânia Santos, Nathália Gomes, Jamile Oliveira.

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Page 3: Jornal Contexto - Edição 49 (Maio/2016)

5UFS4 UFS 5

A Universidade Federal de Sergi-pe completa 48 anos no dia 15 de maio. A instituição foi criada em

1968 e é a única universidade pública do estado de Sergipe. Ao longo dos seus 48 anos, contribui para a formação de gran-des profissionais e possui um legado importante para sociedade sergipana. A sua expansão se deu através de inúmeros avanços, entre eles está a construção de campi no interior, nas cidades de Itabaia-na, Lagarto, Laranjeiras e Nossa Senhora da Glória.

É uma universidade jovem comparada a outras existentes, mas com uma grande história. Atualmente possui 30 mil alu-nos, onde oferece 113 cursos de gradua-ção, 47 cursos de mestrado, 13 de dou-torado e 9 cursos de especialização, nas áreas de ciências humanas, letras e artes; de tecnologia, ciências exatas e da natu-reza; de ciências biológicas e ciências da saúde.

Além dos cursos presenciais, também oferece graduação à distância (EaD) com os cursos: administração pública, ciên-cias biológicas, física, geografia, histó-ria, letras, matemática, química e mais um de especialização sobre mídias na educação. Estes cursos contam com 14 polos de apoio nos municípios de São Cristóvão, Arauá, Brejo Grande, Carira, Estância, Japaratuba, Colônia 13- Lagar-to, Laranjeiras, Nossa Senhora da Glória, Poço Verde, Porto da Folha, Propriá e São Domingos.

A UFS caminha a passos largos para atender a todos da comunidade acadêmica de forma justa. Um dos avanços dos últimos anos foi a climatização das didáticas e a construção de mais uma, totalizando sete.

No que diz respeito a infraestrutura, foram construídos, em 2013, mais de 38 mil metros quadrados com uma verba no valor de R$ 32 milhões. Segundo a cartilha “UFS em nú-meros (2013 e 2014), durante estes dois anos, no Campus de São Cristóvão foram utilizados aproximadamente R$ 28 milhões em obras, e o restante nos outros campi. Para a adequação e ampliação do Prédio do Restaurante Uni-versitário – RESUN, foram gastos aproxima-damente R$ 1 milhão e duzentos mil. Para a ampliação e adequação do Laboratório Flavor do Nucta, foi investido RS 555 mil. A constru-ção do Departamento de Medicina Veterinária teve um investimento de R$ 1 milhão e trezen-tos e oitenta mil. Já na construção do prédio do Departamento de Matemática foi gasto R$ 1 milhão e quinhentos mil. A reforma das ins-talações elétricas dos Departamentos do CCET e CCBS e a reforma e adequação das Didáticas

UFS cOmEmORA 48 AnOS Em mEIO A ALTOS E bAIxOS

I, II, III, IV, V e VI, tiveram um montante de aproximadamente R$ 19 milhões. Na reforma e ampliação da Biblioteca central - BICEN foi gasto R$ 4 milhões e na construção do Cam-pus de Lagarto e da biblioteca R$ 8 milhões.

A estudante Ana Carla Xavier, 25, que estuda o 9° período do curso de engenharia de produ-ção, não vê tantas melhorias na universidade. “A única melhoria que me recordo foi a clima-tização das salas de aula”. No entanto, ela iden-tifica avanços no Restaurante universitário. “Se comparado ao antigo Resun, houve uma me-lhoria na estrutura e no funcionamento”.

A aluna Tárcia Rafaella Bezerra, 18, 2° perío-do do curso de Relações Internacionais, criti-ca a infraestrutura da universidade. “Acredito que a universidade necessita melhorar em vá-rios aspectos, principalmente em sua estrutura física, desde os banheiros até a ampliação do restaurante universitário e na segurança dos alunos”. Ela ressalta ainda que a universidade tem avançado em alguns aspectos, mas essas melhoras ainda precisam se estender para ou-tras áreas. “Muitos dos nossos direitos são ne-gligenciados, tanto pelos governantes quanto pela coordenação da universidade; imagino que os nossos direitos deveriam ao menos co-meçar pelo passe livre no transporte, defende”.

Serviços/ ExtensãoO crescimento da UFS é concretizado por

várias coisas, entre elas os avanços do ensi-

vidade física que atende a alunos e a comu-nidade em geral, visando manter a qualidade de vida dos envolvidos. Sua prática é bastante inovadora e seus exercícios são voltados para a atividade funcional.

Problemas/ EntravesUm problema bastante recorrente é o atraso

das bolsas dos alunos, como auxilio moradia, auxílio alimentação, auxílio transporte, auxílio apoio pedagógico e auxílio inclusão. Estas bol-sas são resultado de um programa do Governo Federal e as verbas são repassadas pelo Mi-nistério da Educação – MEC. Devido o atraso, muitos alunos passam até três meses sem o re-ceber, e isso é muito complicado, já que muitos dependem dessa bolsa para se manter, sendo que maioria são do interior e de outros estados.

Com o atraso no pagamento das bolsas e sem dinheiro para pagar o aluguel, alguns estudan-tes são despejados, outros optam por trancar o período por falta de dinheiro para pagar o transporte. No mês de fevereiro, os alunos ocuparam a reitoria e alguns dos assuntos em pauta foram o atraso, o aumento dos auxílios e a isenção do Resun para todos os bolsistas. Durante a ocupação da reitoria, os alunos con-seguiram que todas as bolsas, inclusive as atra-sadas, fossem pagas. Foram mais de três dias de ocupação, que trouxeram muitos benefícios para todos. Sempre que a reitoria é ocupada os alunos conseguem avanços importantes.

Outro problema que vem assustando a co-munidade estudantil é a violência no Cam-pus e nos seus entornos, além disso, come-çou a ocorrer assaltos e arrastões dentro da própria universidade. Os alunos não contam com nenhum tipo de segurança, a seguran-ça que existe no recinto é exclusivamente para o patrimônio. Como continuar a fre-quentar uma universidade que não oferece segurança aos seus alunos e funcionários?no, com a pesquisa e a extensão. Prova disto

foi o salto no Índice de Qualificação Docente (IQD), que saiu de 3,31 em 2006, para 4,29 em 2014 (numa escala de 1 a 5). O conhecimento científico é apoiado por mais de 76 mil títulos, entre livros e periódicos, disponíveis nas bi-bliotecas dos Campi para consulta de todos os integrantes da comunidade acadêmica. Além disso, são disponíveis para que o aluno obte-nha conhecimento e possa cumprir com sua graduação de maneira justa. Apesar de a bi-blioteca estar bastante desatualizada, com li-vros e periódicos muito antigos, a comunidade acadêmica não possui outras opções.

A UFS e a comunidade tem uma grande liga-ção, principalmente através do Hospital Uni-versitário – HU, que se destacou no país por ser referência em combate a microcefalia. O hospital se comprometeu a dar assistência às crianças com diagnóstico de microcefalia. No ano de 2013, o HU realizou 99,5 mil consultas ambulatoriais, 337,6 mil exames, 18,3 mil aten-dimentos odontológicos e manteve internadas mais de 2 mil pessoas. A assistência estudantil, por sua vez, realizou 9,7 mil orientações e 498 atendimentos psicoterápicos, e concedeu 599 bolsas-trabalho e 792 bolsas-residência.

Outro avanço importante para a comuni-dade acadêmica, segundo o portal UFS, foi a assinatura, no dia 23 do mês de março, de qua-tro termos de cooperação, que visam integrar e articular o ensino superior público com os serviços de atenção à saúde. Entre eles está a

atividadEs dE pEsquisa - ufsEspECifiCação QUANtiDADE

total de alunos bolsistas de iniciação cientifíca 1.019

Bolsas de iniciação científica CNPq 227

Bolsas de iniciação científica FAPITEC 52

Bolsas de iniciação científica COPES 270

Bolsas de iniciação científica VOLUNTÁRIOS 470

Total de alunos bolsistas de iniciação ao desenvolvi-mento tecnológico e inovação

112

Bolsas de inovação tecnológica CNPq 37

Bolsas de inovaçãptecnológica FAPITEC 20

Bolsas de inovação tecnológica UFS 40

Bolsas de inovação VOLUNTÁRIA 15

Congresso de Iniciação Científica 735

Docentes envolvidos na iniciação científica 463

Grupo de Pesquisa Científica CNPq 258

Projeto de Iniciação Científica em andamento 617

assistência Estudantil

Atendimento Psiquiátrico 498

Bolsas trabalho 599

Bolsas de Residência 798

Contatos e oriêntações com residêntes 9.737

Entrevistas 1.530

Visitas domiciliares 167

O Diretório Central Estudantil – DCE, re-presentando os estudantes, compareceu ao Ministério Público Federal para protoco-lar um oficio, afim de que sejam tomadas as devidas providências. A situação cada dia que passa se torna mais complicada, pois estão todos a mercê dos marginais; os arras-tões acontecem em qualquer lugar e prin-cipalmente a noite; as medidas necessárias já foram tomadas, mas o medo continua.

O reitor da Universidade Federal de Sergipe, Ângelo Roberto Antoniolli, estando ciente dos fatos ocorridos, já se reuniu com o secretário de Estado da Segurança Pública, delegado João Batista, para discutir a questão. A Secretaria de Segurança Pública de Sergipe – SSP se compro-meteu a tentar viabilizar o reforço da atuação da Polícia Militar nas imediações do campus.

Um novo encontro foi agendado, com a presença de representantes da Polícia Fede-ral e Polícia Militar, a fim de traçar estratégias para a melhoria da segurança nas partes in-terna e externa do campus São Cristóvão.

As providências necessárias já foram to-madas, resta saber e observar como se vai dar o andamento dessas medidas. Se real-mente vão funcionar e como vão funcionar.

A estudante Eliaci Santos Carvalho, 24, do 8º período de Nutrição, enfatiza que é inadmissível que ocorra assaltos dentro da instituição. “Diante do tamanho da univer-sidade, é necessário segurança em toda sua extensão. E já que os responsáveis pela uni-versidade não estão a fim de contratar mais seguranças, que seja colocado um posto po-licial dentro dela. Acho que um sistema de segurança que identifique todos que entra-rem na UFS também é necessário. Não que vai impedir o acesso, já que a universidade é de todos, mas pelo menos um meio de iden-tificação de quem entra e sai do Campus.”

Fontes: CoPes/ados e CoDAe/PRoest(dezembro/2013)

Foto e rePortagem: FrancieLLe [email protected]

A Universidade Federal de Sergipe, ao mesmo tempo em que enfrenta problemas em relação à infraestrutura, é berço de programas e projetos importantes para a comunidade interna e externa

implantação de uma base do Serviço de Aten-dimento Móvel de Urgência - SAMU no cam-pus, para atender a UFS e adjacências, através de uma parceria com a Secretaria de Estado da Saúde - SES. Há também um termo de com-promisso que permitirá que estudantes regu-larmente matriculados na UFS, sejam eles da área da saúde, ou não, realizem estágios curri-culares na SES.

Outro destaque é o lançamento da segunda etapa da campanha de conscientização “Acer-te no lixo.” Segundo o portal UFS, o Núcleo de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Sergipe - NGA/UFS, em parceria com a Agên-cia Officina e o Núcleo de Editoração e Audio-visual - Neav, está promovendo a segunda eta-pa da campanha “Acerte no lixo”. A iniciativa visa conscientizar a comunidade acadêmica quanto à coleta seletiva de lixo, ressaltando a importância do reaproveitamento dos resídu-os sólidos. A primeira etapa da campanha, lan-çada no ano passado, deu ênfase a divisão dos resíduos recicláveis e não recicláveis.

São os lixeiros com a sua devida identifica-ção, “recicláveis e não recicláveis”, que estão em todos os corredores da universidade, visan-do a conscientização de todos que fazem a co-munidade acadêmica. Nesta segunda etapa, o alvo são os poluentes, por isso caixotes duplos de madeira para coleta de cartuchos/tonners e pilhas/baterias, foram colocados por toda universidade para o descarte de material po-luente.

Um projeto de extensão que ganhou grande visibilidade e 1° lugar na categoria “Ciências da Saúde”, e foi considerado o melhor projeto de extensão da UFS no ano de 2015, é o projeto do Departamento de Educação Física, intitu-lado “UFS CROSS TRAINING”, que foi apre-sentado pelo aluno Eduardo Rodrigo Oliveira Rocha, com orientação do professor Marzo Edir da Silva Grigoletto. É um projeto de ati-

Didática 7. Construção da didática 7

ARte: AsCom UFs

Page 4: Jornal Contexto - Edição 49 (Maio/2016)

7UFS6 UFS 7

AÇÕES IncLUSIVAS AUxILIAm bOLSISTAS E ALUnOS cOm DEFIcIÊncIA

Passarelas estreitas, chão esburacado sem rampas e piso tátil, didáticas sem platafor-mas, assim era a Universidade Federal de

Sergipe (UFS), praticamente sem acessibilidade. Alunos deficientes que ingressavam na instituição sofriam com as dificuldades, sem ter auxílio para locomoção, execução das atividades acadêmicas, entre outras tarefas. Elisângela Corcínio, 36 anos, cadeirante, está cursando Letras Português e Es-panhol. Ela conta que entrou na universidade em 2011 e a estrutura era péssima. “A acessibilidade era horrível. Não tínhamos fácil acesso às didáti-cas, havia muitos buracos entre uma e outra.” Esses obstáculos inclusive, foram motivos de desistência de outros alunos. Segundo a estudante, um senhor cadeirante do mesmo curso, cansado de tantas quedas, deixou a instituição e retomou ao curso há pouco tempo.

Para amenizar o cenário de desassistência, re-centemente foi criado o setor de Divisão de Ações Inclusivas – (DAIN), da Coordenação de Assis-tência e Integração do Estudante – (Codae). Este é um dos responsáveis pelo Auxílio Inclusão e Pe-dagógico, principalmente dos assuntos referentes aos alunos que possuem algum tipo de deficiência, já que faz parte do Programa de Ações Inclusivas (Praincluir) da universidade e do Programa Incluir do Ministério da Educação (MEC), que desde 2007, tem por objetivo apoiar as Pessoas com Deficiência (PcD) que chegam as universidades federais.

Afinal, o que é e como é feito este auxílio? Muitos fazem esta pergunta. É através de um edital lança-do pela Pró- Reitoria de Assuntos Estudantis (Pro-est), que os alunos interessados se inscrevem e são selecionados de acordo com a situação financeira de cada um. Com uma remuneração de R$ 400 re-ais, o auxílio chama bastante atenção daqueles que não tem condições de trabalhar fora e estudar. Um exemplo é Thais Karen, que está no 4º período do curso de geografia. Ela revela que não sabia ao certo de que se tratava o auxílio, mas ficou interessada na renda extra. “Como eu era do interior, precisava de dinheiro e tinha umas horas vagas, resolvi fazer minha inscrição na bolsa. Mandei os documentos pelo Sigaa e consegui”. Ela não foi a única, Ana Car-la Xavier, 25, cursa Engenharia de Produção e afir-ma que também se inscreveu sem saber muito bem do que se tratava. “Quando fiquei sabendo gostei.”

Dos 200 universitários com algum tipo de defici-ência, apenas 35 são assistidos: destes, 23 possuem deficiência auditiva e são auxiliados por intérpre-tes; os outros 22, que possuem outro tipo de defi-ciência, também recebem assistência. Nem todos entraram pelo sistema de cotas. De acordo com a coordenadora, houve um que entrou pelo sistema de ampla concorrência. Segundo Ana Priscila dos Santos Alves, Técnica em Assuntos Educacionais, o número de bolsistas que fazem parte do progra-ma são cerca de 65. “Eram 70, mas algumas pesso-as pediram desligamento por terem que optar por projetos de pesquisa ou então mudança de Estado”.

O aluno bolsista do programa Auxílio Inclusão tem como atribuição prestar apoio acadêmico aos alunos com deficiência durante oito horas sema-

nais, auxiliando na leitura do material de estudo (como no caso dos alunos cegos ou de baixa visão), na locomoção daqueles que utilizam cadeiras de rodas, na escrita das atividades em sala de aula, para quem tem deficiência motora, entre outras ações. O programa beneficia não só os alunos que têm necessidades especiais, mas também aqueles que precisam de renda para poder continuar se mantendo na universidade, como é o caso da estu-dante do sexto período de Serviço Social, Francielle Paz, 24. “É graças ao auxílio inclusão que consigo manter minha permanência dentro da faculdade”.

Em contrapartida, o bolsista pode perder o au-xílio caso não exercer suas funções, por exemplo: se não cumprir o horário, se faltar com frequência, se atrasar muito. Caso isso ocorra eles começam a receber advertências verbais e escritas, se mesmo assim continuar a não cumprir os critérios do au-xílio, são encaminhados para o desligamento sem chances de voltar.

A necessidade do conhecimentoAntes de iniciar o acompanhamento à PcD, os

alunos passam por um treinamento. Eles fazem o Curso Básico de Acessibilidade e Orientação Inclu-siva, com duração de uma semana e com professo-res qualificados. Nesse curso, eles aprendem o que é inclusão, com aulas teóricas e práticas, mostran-do quais os tipos de deficiências, para que saibam melhor como se comportar diante de alguns fatos.

Eles também fazem alguns testes para sentirem os estigmas do dia a dia da PcD, Participam de pa-lestras, ouvem os relatos de alguns deficientes em sua vida cotidiana e o depoimento de pais ou pa-rentes sobre acontecimentos e vivências. “Eu nun-ca tinha tido contato com surdos, deficientes visu-ais, ou cadeirantes. Não sabia como me deslocar, conversar, nem o que eles precisavam,” argumenta Thaís.

Segundo Karen, o treinamento que a DAIN ofe-rece para os bolsistas é muito importante, porque a pessoa passa a ter ideia do que vai fazer e do que o aluno assistido necessita. “A principal noção que precisa ter é que o aluno está na sua mão, ele de-pende de você.” De acordo com o professor do curso e intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras), José Ferreira Filho, o curso nasceu com o intuito de redimir algumas dúvidas e impasses entre bolsistas e alunos assistidos, além de fornecer também um pouco de conhecimento e delimitar as funções ou papel de ambas as partes. “Como por exemplo, de-limitar o papel do bolsista, como se portar e intera-gir diante de cada deficiência, pois muito mais que lidar com a deficiência, você está lidando com o ser humano e colega, uma vez que todos são alunos, a diferença está no desempenho de cada um.”

Horários para os acompanhamentosComo não pode haver choque de horário, a coor-

denadora Susana de Oliveira Santana, relata que na primeira etapa é feita uma triagem. Se a aluna bol-sista estuda pela manhã, ela só terá disponibilidade a tarde ou à noite para acompanhar o estudante. “A gente tenta fazer um horário que atenda a necessi-dade do aluno que precisa e que não prejudique o aluno que vai acompanhar.” Desse modo, o aluno assistido tem vários bolsistas para acompanhá-lo durante toda a semana.

A segunda etapa de seleção é feita através do perfil: qual bolsista vai se identificar mais acompa-nhando o aluno cego, ou que tem deficiência psi-comotora, para ver quem vai se adequar mais a si-tuação. Em alguns casos, há alunos que copiam em sala de aula, então é selecionado quem tem a letra mais acessível para o aluno entender.

A escolha é independente do curso de cada um. Desse modo, o bolsista vê assuntos de diver-sas áreas. Karen declara que gostou pelo fato de

ter a oportunidade de aprender outras coisas. “Eu acompanhava uma menina que tinha muita aula de espanhol, então aprendi a falar em espanhol. Acompanhei uma pessoa de jornalismo e entendi um pouco de jornalismo”.

O bolsista que não acompanha aluno em sala de aula fica na sala do Incluir a disposição, para apoiar alguém que precise, substituir o colega que faltou, ou até mesmo fazer digitalização de livros para que os deficientes visuais ou cegos possam estudar através do programa DosVox.

o bolsista na vida acadêmica da PcDA vida de ninguém é fácil, mas, quando há pes-

soas dispostas a ajudar a derrubar as barreiras, fica menos complicado. Neste sentido, os bolsistas são de grande importância para os deficientes. Tatiana dos Santos, 31, com deficiência motora, sentiu falta de apoio no início do curso de Comunicação Social. “Era muito difícil. Por causa da minha dificuldade e por não ter uma pessoa para poder me auxiliar, acabei perdendo duas disciplinas no primeiro pe-ríodo e uma no segundo, porque eu tinha muita dificuldade de acompanhar o professor.”

Em 2013, a universidade foi mudando e a chega-da de mais bolsistas para auxiliar as PcD facilitou a inserção no ambiente universitário. “Melhorou bastante depois que começou o acompanhamento, eu não perdi nenhuma disciplina,” conta Tatiana. Ou seja, se não fosse o auxílio deles, muitos ou de-sistiriam do curso ou precisariam do apoio de al-gum parente para ajudá-lo.

A relação do bolsista e do aluno assistido é tran-quila. A troca de experiência os aproxima bastante. Ana Carla relata que sempre os viu como batalha-dores e acha impressionante como eles vivem de uma maneira que nós nem imaginamos, e quando se imagina acha que não suportaria. “Eles passam para nós que não é bem assim.” Thaís revela que via as PcD como pessoas que precisavam ser ajudadas, mas quando teve a oportunidade de trabalhar com eles, percebeu que na verdade eles não precisam de ajuda. “Eles são bem independentes.” Claro que existem muitas dificuldades visíveis. Para um cego, por exemplo, há muitos empecilhos que o impede de andar tranquilamente em qualquer lugar. Um cadeirante também enfrenta muitas dificuldades, principalmente nos transportes públicos. Mas eles não fazem disso o fim do mundo.

Muitas vezes, aluno e acompanhante acabam criando um elo de amizade, principalmente quan-do o auxílio dura todo o período e, em alguns casos, a assistência continua mesmo com o fim da bolsa. Segundo Karen, mesmo que ela não tenha mais a obrigação de acompanhar aquele aluno, ela se pre-ocupa com ele, devido a amizade que construíram. “Acabo ajudando o aluno, dando uma força, por amizade e não apenas por obrigação.”

Aleanderson Augusto Rodrigues, 37, está no 4º período do curso de Geografia, porém, está soli-citando transferência Comunicação Social – Ha-bilitação em jornalismo. Ele é deficiente visual e declara ter uma boa relação com todos que o acom-panharam, desde o primeiro período até agora não teve problema com nenhum bolsista. “Tem uma bolsista que está comigo há dois anos. Graças a Deus”, conta.

Acessibilidade além da estrutura físicaAté hoje é notável a carência de acessibilidade

em diversas partes do Campus; o piso tátil, por exemplo, ao invés de ajudar ao deficiente visual ou cego a se orientar por onde ir, acaba atrapalhan-do, pelo fato de ser emborrachado e mal aplicado. Essa mal aplicação faz com que o piso solte, crian-do uma espécie de “orelha”, que atrapalha a todos, principalmente aqueles que precisam dele.

Outra reclamação em comum entre as PcD e pessoas da DAIN é a questão do mau comporta-mento de alguns professores. Conforme relatos de Aleanderson, no primeiro período houve um sério problema com uma professora. “Ela levava os grá-ficos e não fazia descrição deles. Eu nunca fui de faltar aula, mas a partir desse dia eu não assisti uma aula dela.”

Ele não foi o único, infelizmente. Outro caso que chamou bastante atenção ocorreu com o intérpre-te de Libras da UFS, Irami Billa Silva, que auxilia um aluno surdo que cursa Engenharia da Compu-tação. Ele foi convocado pelo professor a sair da sala de aula, porque segundo ele, o intérprete es-tava atrapalhando a aula, já que os outros alunos estavam prestando atenção aos sinais que ele fazia e isso estava incomodando-o. Ao explicar o que es-tava acontecendo, o aluno se posicionou dizendo que precisava do intérprete. Nesse caso, quem es-tava sendo auxiliado era o próprio docente, sendo que o interprete era a voz do professor.

Após várias tentativas de adequação para não “atrapalhar”, o mesmo interprete foi novamente interrompido, porque o professor queria que ele fizesse os sinais de modo silencioso, sendo que al-guns fazem pequenos barulhos. “Pacientemente me virei e questionei se ele conhecia a Libras. Ele disse que não, mas que eu sinalizasse de modo diferente. Diante disso, me posicionei enquanto profissional e disse: ‘eu não fico aqui dizendo o que o senhor tem que fazer, também não admito que me diga como tenho que trabalhar. Ou o senhor vai me permitir interpretar ou eu me retiro da sala de aula’,” relata. Neste caso, Irami conta que o pro-fessor sentiu-se encurralado, até porque os outros alunos já estavam saturados de tudo aquilo que es-tava acontecendo.

Após esse fato, o aluno foi ao departamento fazer notificação de tudo que havia ocorrido no primei-ro dia de aula. Depois disso, o professor apresen-tou uma melhora significativa, a ponto de elogiar o aluno que era acompanhado pelo intérprete, por nunca ter faltado. Entretanto, no final do período, o intérprete foi chamado pelo professor, que reve-lou acreditar que o aluno não estava entendendo toda a matéria, uma vez que o conteúdo era difícil e se tratava de matéria filosófica e que ele tinha a cer-teza que a Libras não tinha condições nem material vocálico suficiente para isso. “Eu garanti ao profes-sor que tudo que foi dito foi sinalizado, se houve alguma falta de clareza na sinalização é porque também houve uma falta de clareza na fala dele. A título de exemplo, eu disse que ele fala apressado, de uma forma muito abrupta e aglomerada”. Reco-nhecendo seu erro, o professor pediu desculpas e, no final do período, o aluno tirou nota máxima na elaboração de um projeto de pesquisa.

Aparentemente tudo isso aconteceu inicialmen-te porque ele não acreditava na capacidade do in-térprete e principalmente do aluno. Ao questionar se professores recebiam algum tipo de treinamen-to para saber lidar com os alunos com algum tipo de deficiência, a coordenadora Susana revela que existe um projeto onde a Pró-reitoria de Gradua-ção (Prograd) está tomando a frente desde 2015. “A gente tem apoiado para fornecer as informações necessárias para abraçar esse projeto e já com essa finalidade de capacitar os professores com forma-ção permanente sobre a inclusão no ensino supe-rior e ele tem a finalidade de está atualizando os professores sobre como lidar com aluno com defi-ciência, quais as especificidades, recursos que po-dem ser utilizados.”

De acordo com a coordenadora, o projeto é tam-bém para mostrar como a inclusão pode ser feita de forma satisfatória, para evitar tantas barreiras atitudinais que tem acontecido. “Acho que hoje, o maior problema, em qualquer instituição de ensi-

no, é a barreira atitudinal: o susto, a resistência que muitos professores têm em ensinar alunos com de-ficiência. Então as instituições têm que se preparar, dando esse suporte aos professores, como eles po-dem estar atuando em sala de aula ou fora.”

Porém, é bom lembrar que nem todos profes-sores têm esse jeito grosseiro. Há aqueles que já chegam perguntando o que o aluno precisa. Ale-anderson fala sobre isso. “Ao mesmo tempo em que tive uma professora que agiu dessa forma, tive outra que sinceramente, igual a ela na UFS ainda não encontrei. Foi a professora Ana Maria. Quando ela chegou à sala que me viu, veio conversar comigo por um bom tempo. Ela mesma se colocou a dis-posição de vim buscar material em braile, correu atrás, conseguiu o material e tudo ao decorrer das primeiras semanas de aula”, pondera o aluno.

os avanços na inclusão da UFSApesar de faltar muita coisa para a Universidade

ser a melhor em questão de inclusão e acessibilida-de, a UFS é uma das que vem avançando bastante. Ana Priscila diz que não é a universidade modelo, mas que não deixa a desejar, “Têm muitas universi-dades que estão engatinhando na inclusão.”

No mês de março, a UFS recebeu a visita de uma consultora da UNESCO, que trabalha na Secretaria da Educação Especial (Seesp) do MEC. Segundo Susana, a consultora vem visitando as Instituições de Ensino Superior (IES) do País, ela ficou respon-sável pelas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Já foram visitadas mais de 50% das IES e a UFS foi a que recebeu mais elogios nas questões de estrutu-ra física. Em comparação a outras instituições, está mais avançada como no que diz respeito às rampas de acesso e às plataformas elevatórias. “Teve uni-versidades que ela nem viu piso tátil, instituições que são referências em outras coisas.” Outro elogio da supervisora foi com relação ao número de intér-pretes de Libras, pois há universidades que ainda não tem.

Embora hoje haja equipamentos eletrônicos, como computadores adaptados, impressoras em Braille, softwares, entre outros materiais e equi-pamentos que são importantes para incluir a PcD, ainda faltam bastantes coisas. Ana Priscila revela que apesar de já estarem pagos, alguns equipamen-tos até o momento não chegaram, como, por exem-plo, os gravadores para o uso do aluno cego. Outros equipamentos foram pedidos, mas até então não conseguiram, como no caso da impressora 3D.

Apesar das dificuldades, todos os envolvidos no projeto fazem o trabalho com muita dedicação, para oferecer melhores condições às PcD. A coor-denadora Susana enfatiza que é uma grande satis-fação atuar nesse setor, apesar dos desafios. “Você se sente desafiado a superar aquele obstáculo em favor dos alunos. As vezes, coisas tão pequenas fa-zem uma enorme diferença na acessibilidade.”

Assim como a coordenadora, o aluno assistido pelo auxílio, Aleanderson, conta que o setor é mui-to importante para a PcD e acha que a reitoria de-veria dar um suporte maior a DAIN, porque a uni-versidade é gigantesca para o número de pessoas com deficiência. “Deveria fazer um investimento maior nessas pessoas que apoiam”. Isso é para que outros alunos não venham a desistir de seus sonhos de ingressar numa universidade federal.

Dica de leitura (inclusiva): Conheça as ter-minologias aplicadas às Pessoas com Deficiência (PcD) no Guia Mídia e Direitos Humanos, dispo-

nível no site do Coletivo Intervozes.(www.intervozes.org.br/direitoshumanos)

Programa de Ações Inclusivas atende a dois públicos: os estudantes com alguma deficiência e os bolsistas remunerados pelo serviço que prestam na assistência dos alunos favorecidos pelo programa.

Bolsista. Aleanderson com o bolsista murilo ajudando-o.

Foto e rePortagem: LUciVÂnia dos [email protected]

Page 5: Jornal Contexto - Edição 49 (Maio/2016)

99Comunidade8 Comunidade

RESTRIÇãO nA OFERTA DE cREchES nO ROSA ELzE AFETA mORADORESInsuficiência de opções na rede privada e imbróglios na rede pública para implantação e manutenção das creches restringe assistência a crianças do bairro.

Elas trabalham, pesquisam, estudam. São mães e isso não as condicionam a abrir mão das atribuições pessoais e

profissionais que tinham antes da materni-dade. Muitas vezes, também existe a escolha por estender o período de cuidado integral ao bebê. Bagunça, mil e uma tarefas (muitas vezes mal distribuídas entre os pais), aten-ção constante e redobrada, medos e anseios. Esta é uma rasteira tentativa de definir o que é ser mãe. É carinho, cuidado, amor, claro que sim. Mas, é também ouvir e perceber uma série de julgamentos que a sociedade, abrangente como só ela, faz sem se importar com a escolha da mulher. É preciso dar voz ao que ninguém se interessa em escutar.

Maio é o mês em que se comemora o dia das mães, mas a data é propícia para se ques-tionar: Até quando seremos respeitadas em nossas particularidades?

Ela desce a ladeira segurando seu filho pela mão. Conversando, o menino segue muito tranquilo, habituado com a rotina. Em um trecho da calçada cheia de lama e cercada de água da chuva da noite anterior, sua mãe o pega pelo braço e atravessa a avenida para não correr o risco de escorregarem. Joselaine Carvalho, doutoranda em química pela Uni-versidade Federal de Sergipe (UFS), leva seu filho de três anos ao colégio onde estuda há aproximadamente dois anos.

Logo no início do mestrado em química na UFS, Joselaine engravidou. Todos se pergun-tavam como ela daria conta dos estudos, da gestação e da maternidade. Mas ela seguiu adiante. Morando próximo a universidade, frequentou as aulas até os oito meses e meio

da gestação, finalizando o período letivo. Seu filho chegou e ela, entre os tantos desa-fios que surgiram, viu sua licença maternida-de chegando ao fim enquanto ainda não ha-via uma alternativa. Com quem ela poderia deixar seu filho no horário das aulas?

Essa dúvida teve trégua por um período de oito meses, onde após o fim da licença ela conheceu Suely, uma mulher que cuidava de crianças em sua própria residência. Mas per-to do bebê completar um ano de vida, Suely desistiu do serviço e Joselaine precisou en-contrar outra opção para seu filho. Começou a pesquisar opções pelo bairro, cogitando contratar uma babá, pois não encontrava ho-teizinhos nem mesmo no Eduardo Gomes, conjunto habitacional com maior variedade de estabelecimentos. E, foi procurando por uma babá, que ela descobriu o Hotelzinho e Colégio Magia do ABC, onde seu filho estuda até os dias atuais. Joselaine iniciou os estu-dos referentes ao doutorado no final de mar-ço e a partir de então, estendeu integralmen-te a permanência de seu filho na escola. Ela é apenas um exemplo entre tantas histórias de mães, pais, filhos e peregrinações.

Um local de confiança?Um prédio amarelo de dois andares no fi-

nal da rua. Esse é o Colégio Magia do Abc, que existe há cerca de cinco anos e em seu prédio atual está funcionando há três. Ava-liando o preço dos hoteizinhos referentes ao turno parcial, essa é umas das opções do bairro que mais se encaixa ao valor de R$200 reais oferecido pelo auxílio creche, bolsa de

assistência estudantil da UFS. Erisângela de Jesus, proprietária da instituição, comenta que no início eram apenas cerca de 12 crian-ças. Aos poucos, a demanda foi crescendo e ela percebeu a necessidade de oferecer um ambiente com maior capacidade de alunos. Hoje a escola atende desde o hotelzinho em período integral até o 5º ano.

São muitos os desafios para a manutenção de um serviço que merece muita dedicação e cuidado. Erisângela afirma que além do cari-nho e dedicação com a educação, existem as questões ligadas às exigências da vigilância sanitária por exemplo, que demandam toda atenção voltada até mesmo para a constru-ção do ambiente. “É preciso ter atenção para a cozinha. As refeições não são preparadas aqui, pois o botijão não pode ficar aqui den-tro, ele fica voltado para minha casa pois moro vizinho à escola. Antes de tudo tam-bém sou mãe e não vou oferecer aos filhos dos outros o que não quero para o meu, que também estuda e faz as refeições aqui na es-cola”, explica Erisângela.

Lethícia Correia é estudante do 6º período de Licenciatura em História e recebe o auxílio creche da UFS. Ela trabalha no turno da ma-nhã e deixa seu filho na Escola de educação infantil Adorai, no loteamento Tijuquinha, no bairro Rosa Elze. Durante a noite, o pai assume os cuidados da criança enquanto ela vai para a Universidade. O valor do auxílio garante a mensalidade porque a instituição aceita apenas crianças maiores de dois anos, idade em que geralmente o valor é menor.

Para as famílias que não possuem condi-ção de pagar pelo serviço, a única opção de instituição pública do bairro tem uma rea-lidade muito diferente. A Creche Municipal Maria de Lourdes, fundada em 1992, passou por reformas estruturais decisivas para ofe-recer melhores condições de saúde e higiene para as crianças. Jeane Marquise, gestora da creche desde 2011, disse que foram feitos re-vestimentos com pisos e azulejos, pois antes disso o chão era apenas de cimento. As crian-ças tomavam banho com água fria armaze-nada há dias em caixas d’água e apenas para os bebês menores a água era esquentada.

O espaço da creche possui capacidade para 50 crianças, mas o número de funcionários só consegue dar conta de 30. Por ano, apenas cerca de 10 vagas são liberadas, pois as crian-ças permanecem na creche até os 3 anos e só depois disso são transferidas para escolas de educação infantil. A creche não tinha brin-quedos para oferecer as crianças e sabendo disso, alunos do curso de administração da UFS arrecadaram brinquedos, fraldas e ma-terial escolar para doação à creche.

Existem meses em que alguns funcioná-

rios tiram parte dos salários para ajudar a pagar as des-pesas.“A verba que recebemos para garantir produtos de limpeza e manutenção de material escolar não chega nem ao valor de R$2000 reais recebido apenas uma vez por ano”, afirma Jeane.

Enilene Paixão, diretora pedagógica da Secretaria Mu-nicipal de Educação de São Cristovão, diz que os gastos direcionados para a Creche são relacionados à merenda es-colar e a manutenção dos profissionais que atuam na ins-tituição. Ao ser questionada sobre o baixo número de alu-nos matriculados devido a falta de profissionais, ela afirma que, para os alunos com faixa etária entre 0 e 2 anos, os cuidados não precisam ficar sob a responsabilidade de um professor e sim de uma equipe de funcionários que consiga garantir a tarefa.

“Já foram transferidos alguns executores (pessoal de apoio) para exercer a função de cuidadores e garantir que mais crianças de até 2 anos possam frequentar a creche.” Porém as crianças nessa faixa etária precisam de maior as-sistência e atenção e não é apropriado que um profissional de apoio, responsável e remunerado para garantir a limpe-za da creche, exerça dupla função. Além do que a atenção prioritária aos alunos fica comprometida com a responsa-bilidade no exercício da profissão. Além disso, os executores podem apresentar em seu fardamento resíduos de material de limpeza nocivos à saúde das crianças.

A diretora comenta que é preciso enviar um projeto para a câmara solici-tando permissão para abertura de con-curso público ou processo seletivo para garantir cuidadores e demais funcioná-rios. “Já avaliamos junto ao secretário de educação que para suprir a necessida-de do Rosa Elze seriam necessárias até mesmo mais duas creches, pois o bairro concentra um grande número de habi-tantes”, declara Enilene.

Divisão de tarefasAlém de todas as dificuldades no acesso ao direito da

creche, existem uma série de preconceitos com as mães que estudam e trabalham, diminuindo o profissionalismo da mulher, que algumas vezes passa por restrições. Aline Belém, mãe de um menino de três anos e nove meses, psi-coterapeuta e professora universitária, conseguiu se dedi-car a amamentação prolongada e adiar a necessidade de um hotelzinho para seu filho, pois toda a família e uma babá conseguiram alternar a responsabilidade do cuida-do da criança. Para a grande maioria que não possui essa oportunidade, Aline comenta que o desmame precoce é quase certo em muitos casos.

“Há uma áurea que paira sobre o universo acadêmico no que se refere à mulher que é mãe, como se ela fosse “menos profissional”, afinal, perde aula quando o filho tem febre, babá falta, etc. E esta questão é complexa, pois envolve o papel do pai, que culturalmente não é quem perde traba-lho para cuidar da febre do filho, por exemplo. Então neste caso, deixaríamos de tratar este tema como um proble-ma que se deve exclusivamente à interrupção do contato mãe-bebê. Passado o período de amamentação, a política institucional deveria voltar-se para o contato entre pais e filhos de maneira geral”, ressalta.

Aline acredita que todas as ações que envolvem as atri-buições maternas e paternas precisam de um longo pro-cesso de conscientização institucional e cultural, para que efetivamente as mães possam sair de seus postos de tra-balho e estudo para amamentar, sem serem assediadas ou diminuídas profissionalmente por isto, o que é bastante comum.

A luta é maiorDe acordo com dados fornecidos pelo Serviço Social

da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROEST), atual-mente 44 estudantes são beneficiados pelo auxílio creche, sendo 43 mulheres e um homem. Os profissionais da PRO-EST avaliaram que muitas vagas permaneciam ociosas, de-vido a não comprovação dos documentos exigidos para o processo de seleção. Assim, a equipe de assistentes sociais encaminhou essas questões ao Conselho Superior e conse-guiu aprovar a Resolução 08/2016/CONSU, que passou a garantir o direito dos candidatos em solicitar o auxílio em qualquer tempo, sem precisar esperar a abertura do edital de vagas.

Também é preciso entender a creche como um direito da criança. Matheus Pacheco, estudante de pedagogia, integra o coletivo Pedagogia da Resistência e participou da ocupação de reitoria em março deste ano, organizada por estudantes bolsistas da UFS. Uma das reivindicações para a desocupação da reitoria foi o termo de comprome-timento para a criação de uma creche na UFS. O termo foi assinado pelo reitor e representantes da ocupação e de entidades estudantis e sindicais. Matheus relembra que ao trazer em questão a pauta da creche, as pessoas

logo relacionam o assunto ao movimento de mulheres, pelo fato de que estas são as mais beneficiadas por ainda serem a maioria na responsabilidade do cuidado dos filhos.

“Mas, por exemplo, não é falado nos direitos das crianças ou do uso da auto-nomia universitária para estender políti-cas públicas a quem sempre foi renega-da. Lembro que a creche não foi a única vitória, também conseguimos pautar a ampliação do Colégio de Aplicação ( CO-DAP) para as séries iniciais (1º ao 5º ano), diz.

Fábio dos Santos é assistente social da PROEST e atua no Sindicato dos Traba-lhadores Técnico- Administrativos em

Educação da UFS (SINTUFS) e relata que uma das con-quistas da greve de 2015, que teve duração de 133 dias, foi o aumento do auxilio creche (assistência pré-escolar). O salto foi de R$66,00 para R$321,00, além do aumento de outros benefícios referentes à saúde e alimentação.

Ainda na greve de 2015, o SINTUFS organizou o dia de luta pela Creche, realizado no hall da reitoria e mobilizou estudantes e trabalhadores a trazerem seus filhos para cobrar junto à administração da universidade a constru-ção de uma creche (ou núcleo de educação infantil).

Fábio afirma que a principal atividade seria a atuali-zação do projeto de implantação do Núcleo de educação infantil, (pois há alguns anos atrás o Departamento de Educação apresentou à Pró Reitoria de Extensão a pro-posta de criação deste Núcleo na UFS) para reapresen-tação à gestão administrativa da UFS e, neste sentido, discutir e definir os meios para sua construção e manu-tenção.

“É preciso aprovar a cessão de terreno pela própria UFS para construção, o estabelecimento de parceria junto à prefeitura municipal de São Cristóvão, para acessar os recursos financeiros do Programa Proinfância do Gover-no Federal (para construção de creches nos municípios), a definição quanto à sua gestão financeira e administra-tiva (qual a parte que caberia ao município, aos sindica-tos, à UFS, às Pró-reitorias de assistência estudantil, Re-cursos Humanos e Extensão, e aos departamentos que a utilizariam como espaço de ensino, pesquisa e extensão para formação acadêmica)”, aponta Fábio.

Foto e rePortagem: mariana [email protected]

Oficina. Alunos da rede privada do bairro realizam oficina com crianças da Creche maria de Lourdes

“Não é falado nos di-reitos das crianças ou do uso da autonomia univer-sitária para estender po-líticas públicas a quem sempre foi renegada.”

Page 6: Jornal Contexto - Edição 49 (Maio/2016)

111110 Sergipe Sergipe

SERgIPE APOSTA Em PUbLIcIDADE PARA DRIbLAR cRISE E ATRAIR TURISTAS nO SãO JOãOgovernos estadual e municipal lançam campanhas publicitárias na bahia e Rio/SP com o objetivo de trazer turistas para a cidade durante os festejos juninos.

marcos [email protected]

Depois do verão, o São João é a época do ano em que o estado de Sergipe mais re-cebe turistas. Por um lado,visitantes que

buscam o encanto da festa tipicamente nor-destina, as noites dançantes ao pé da fogueira, bandeirolas coloridas e as comidas e bebidas que alimentam e aquecem as noites frias de ju-nho. Por outro, turistas que procuram tranqui-lidade, belas paisagens e fogem da agitação das grandes metrópoles.

Aracaju se destaca no Nordeste com uma das maiores festas juninas da região. O Forró Caju reúne milhares de pessoas em vários dias de festa na praça dos mercados centrais, com atrações musicais nacionais e locais, quadri-lhas e apresentações de grupos culturais. Além do Forró Caju, outra festa bastante procurada na capital é o Arraial do Povo, que acontece na orla de Atalaia. No principal ponto turístico de Aracaju,o barulho das ondas do mar dá lugar ao tradicional forró pé-de-serra, e o carangue-jo, ao milho e o mungunzá. Na Zona Norte, a Rua de São João abre os festejos juninos da cidade com um tradicional arraial que reúne turistas e moradores.

No interior, destacam-se os festejos das ci-dades de Capela, que tem a festa do mastro e o São Pedro mais tradicional do estado e acon-tece no fim de junho. Em Nossa Senhora do Socorro, o Forró Siri é o principal evento do mês junino. Em Estância, o tradicional barco de fogo alegra e colore as noites da cidade da região sul do estado.

Por outro lado, Sergipe é conhecido como um reduto para os amantes da natureza e da tranquilidade. Com um litoral privilegiado com praias quentes e dunas branquinhas, o estado ainda é cortado por vários rios, como o São Francisco e o Vaza-Barris. Uma das op-ções é o passeio pelo cânion de Xingó, lugar que serviu de cenário para telenovelas. Além de museus e cidades históricas que guardam um pouquinho da história do Brasil. Esses são os destinos mais procurados por baianos, ca-riocas e paulistas.

Com os festejos juninos chegando, a preocu-pação do governo, prefeituras e empresários é com a crise financeira. Com a desaceleração da economia e alta do dólar, as viagens interna-cionais e nacionais sofreram impacto signifi-cativo. Com isso, a divulgação de Sergipe em outros estados é a principal estratégia adotada para driblar a crise.

Segundo o consultor da Secretaria Munici-pal da Indústria, Comércio e Turismo de Ara-caju (Semict), Fábio Andrade, a divulgação dos festejos juninos em âmbito nacional e regional já acontece desde o início do ano. “Nós fizemos

uma divulgação com muita antecedência e buscamos segmentar. Exibimos uma reporta-gem de oito páginas em uma revista de turismo para a terceira idade em São Paulo, já que o pú-blico idoso é forte em Aracaju e é um público que viaja bastante e que tem um poder aquisi-tivo mais elevado, além de a nossa cidade ser bem reconhecida pela acessibilidade”, explica. Além da revista, Aracaju ganhou no mês de março destaque no Jornal Folha de São Paulo e no Programa da Sabrina, na Record. “Aracaju começa a se profissionalizar no turismo e colhe os frutos disso”, diz Fábio.

investimento estadualO secretário de Estado do Turismo e do Es-

porte, Adilson Júnior, pontuou dificuldades previstas para 2016, já que não houve liberação de recursos pelo Ministério do Turismo. Com recursos próprios, o grande investimento da secretaria para atrair turistas ao estado é por meio de divulgação. Entre as ações, está a re-alização do evento “Expedição Sergipe”, per-correndo bares e restaurantes de Salvador e Feira de Santana (BA) e Maceió (AL). A Bahia foi escolhida como ponto de partida por ser o principal emissor de turistas para Sergipe, mo-vimentando em torno de 50% de toda a econo-mia do setor.

Nesses locais são realizadas apresentações de trio de forró pé-de-serra, distribuições de brindes e abordagem dos clientes para entrega de material de divulgação, além da realização

de uma “Noite Sergipana”. Também são feitas divulgações através de outdoors em Salvador, veiculação de spots em rádios da capital baiana e reforço das mídias digitais, sempre com enfo-que no slogan “Sergipe, viva essa experiência!” A divulgação teve início em março e deve se es-tender até o fim do primeiro semestre.

O secretário fez um balanço do ano de 2015 e diz que, apesar das dificuldades, foi um ano de muitos avanços no turismo sergipano. “Só em 2015 foram capacitados cerca de 2.000 repre-sentantes de agências de viagem sobre o desti-no Sergipe e outras 400 pessoas para atender a crescente demanda por profissionais no mer-cado turístico local”.

O secretário ainda destacou a decisão do Go-verno do Estado, através de gestões realizadas pelas Secretarias de Estado do Turismo e do Esporte (Setesp) e da Fazenda (Sefaz), em re-duzir a alíquota sobre o querosene de aviação (QAV) elevou o número de voos de 18 para 24, representando 128 frequências semanais entre Aracaju e os principais polos emissores de tu-ristas do Brasil.

A cidade que respira São JoãoOs turistas que chegarem a Aracaju no início

do mês de junho serão recebidos em ritmo de forró. Um trio pé-de-serra e dançarinos farão a recepção dos turistas no aeroporto da cidade. Outra atração que já é tradicional é a marinete do forró, um ônibus estilo jardineira, colori-do e enfeitado com símbolos da cidade e que

já existe há 16 anos. O ônibus é animado por um trio pé-de-serra e dançarinos que ensinam os passageiros a dançar, além de um guia turís-tico. A marinete, que em seu trajeto percorre os principais pontos turísticos de Aracaju, tem uma parada no mirante do bairro 13 de julho, onde a Fundação Cidade de Aracaju (Funcaju) faz uma exposição sobre a culinária junina.

A Semict, em parceria com a CDL, também a partir de primeiro de junho, colocará forró e quadrilha no calçadão do centro comercial e nos mercados centrais para fomentar o comér-cio. Outra atração apreciada pelos turistas é o Projeto Por do Sol, na orla de mesmo nome, no Mosqueiro, Zona de Expansão da capital, que promove feirinhas de artesanato e atrações musicais e artísticas. Permanente, o projeto completou dois anos de existência em abril e a temática junina é trabalhada o ano inteiro.

“O que fez Aracaju ganhar da Fundação Ge-túlio Vargas, Ministério do Turismo e Sebrae Nacional o título de cidade que mais evoluiu nas questões culturais no país é que aqui se tem as condições de ter uma vivência da nos-sa cultura o ano inteiro”, explica Fábio Andra-de. Além do Projeto Por do Sol aos sábados, os turistas podem fazer as travessias de catamarã ou lancha da orla para as ilhas. Do Natal para o ano novo (2015/16), 6.000 pessoas fizeram a travessia, segundo dados da secretaria.

As atrações turísticas da capital sergipana fazem com que ela se diferencia das suas prin-cipais concorrentes, como explica Fábio An-drade. “O diferencial de Aracaju das concor-rentes é que quem vai para Campina Grande ou Caruaru têm os festejos juninos à noite e pelo dia não tem o que fazer. Já em Aracaju, além de curtir o forró à noite, o turista tem du-rante o dia a opção de visitar a orla, o Museu da Gente Sergipana, o Centro Histórico, o Centro Cultural Aracaju”.

ocupação hoteleiraO setor turístico movimenta 54 seguimen-

tos, desde taxistas a restaurantes e todos eles foram afetados pela crise. O setor de hotéis foi um dos que mais sofreu o impacto. Segundo o consultor de turismo da prefeitura de Araca-ju, Fábio Andrade, a crise afeta principalmente o setor corporativo. Um hotel, que em épocas festivas tinha reservados 25 apartamentos/dia para a Petrobrás, hoje só tem dois. Outra per-da aconteceu com a mudança da diretoria do G Barbosa de Sergipe para a Bahia, pois todas as reuniões com fornecedores acontecia nos ho-téis de Aracaju, assim como a hospedagem dos mesmos.

Devido a essas perdas, os planos do setor ho-teleiro é trabalhar o turismo sol e praia, que é o turismo de lazer.

Ainda segundo o secretário, Aracaju rece-berá mil novos leitos em 2016, entre eles, ban-deiras internacionais como Holiday e o grupo Comfort, o que proporciona uma melhor es-trutura na recepção dos turistas.

Viagens em tempos de criseO empresário Eduardo Santorini é sócio de

uma agência de viagens em Aracaju. Ele conta que a procura por viagens ao exterior caíram em tono de 60% devido à alta do dólar. “Como

estamos em meio a uma crise política e econô-mica, o setor de serviços é um dos primeiros que sofre a queda no faturamento. Pois viajar, muitas vezes, é considerado luxo, principal-mente no mercado brasileiro, onde hospeda-gem e transporte custam caros”, explica.

O público da Santorini Viagens é formado por pessoas de classe média alta, geralmente funcionários públicos. Além de viagens na-cionais e internacionais, a agência também aposta em passeios para o interior do estado. “Vendemos muito para Xingó (hospedagem e passeios). Já Mangue Seco e Brejo Grande, ven-demos os passeios chamados de “bate e volta”, que passa o dia no local, conhece, aproveita as belezas locais, mas volta para dormir em Ara-caju. Passeios para São Cristóvão, Laranjeiras e Parque dos Falcões, os passageiros preferem ir por conta própria”, explica.

Eduardo explica que a crise financeira que afeta o país inteiro também chegou forte a Ser-gipe. “Sentimos que o setor turístico brasilei-ro sofreu uma queda considerável. Passagens aéreas tiveram um aumento em torno de 30%

Cânion de Xngó. Para turistas que desejam um passeio relaxante pelas águas do Velho Chico, o Cânion de Xingó é a atração mais procurada.

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e consequentemente a procura por viagem di-minuiu. Sergipe não está fora deste contexto. Um exemplo é baixa ocupação dos hotéis, que

em muitos períodos a ocupação está em torno dos 45%”.

Outro fator que dificulta o acesso de turistas ao estado é o reduzido número de voos dire-to para Aracaju, tendo em vista que a cidade possui voos apenas partindo de São Paulo, Rio de Janeiro, Maceió, Salvador, Brasília e Recife. Turistas de outros estados precisam fazer co-nexões, o que torna a viagem mais longa e mais cara.

Uma das opções para os turistas é comprar pacotes de viagem. Partindo de São Paulo, um pacote com 7 diárias em um hotel 3 estrelas, incluindo café da manhã, sai a partir de R$ 978,00. Partindo da capital federal, o mesmo serviço não sai por menos de R$ 1.058. À par-tir de primeiro de junho, a cidade ganhará dois voos extras para atender as demandas do pe-ríodo de festejo junino: a Gol abrirá um voo a mais para São Paulo e outro para o Rio de Ja-neiro.

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Cultura. o encontro nordestino de Cultura acontece durante o Arraiá do Povo, na orla de Atalaia

Apresentação. Dança Peneirô Xerém se apresenta no Restaurante Cariri, na Passarela do Carangueijo

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AmOR E DEDIcAÇãO mAnTém VIVA A TRADIÇãO JUnInAbem antes do mês de junho as quadrilhas já estão fazendo o caminho do São João mas a falta de financiamento torna o percurso muito mais árduo.

Fotos e rePortagem: cLáUdia [email protected]

As bandeirinhas que cruzam toda a extenão da praça dançam com o soprar do vento, colorindo o céu num cair de noite de junho.

No chão, o espaço cercado é preenchido por casais com roupas coloridas, cheias de brilho e volume. O forró já começou e ouvimos passos firmes e ritma-dos, expressões em uníssono que se sobressaem ao som da sanfona. Mais do que maquiagens bem fei-tas cada rosto exibe um sorriso. A cada comando do marcador começa uma nova parte da coreografia: cavalheiros à direita damas ao centro, chapeis se mo-vimentam, saias agitam-se com rapidez e graciosida-de. Cada um com seu par, se inicia uma explosão de cores, brilhos, ritmos e alegria que envolve a plateia. A quadrilha está dançando e é oficialmente São João.

Mas, muito antes que as fogueiras estejam quei-mando e que as bandeirinhas enfeitem o céu já é possível ouvir, vindo de um grande salão, a músi-ca começando e lá dentro, em pares, pessoas estão dançando. Ainda não há grande produção e nem plateia, mas a alegria que toma conta do lugar e os passos que vão sendo executados não deixam dúvi-das, a quadrilha já está ensaiando. Algumas iniciam os ensaios cinco, oito ou até nove meses antes do mês de junho. É praticamente uma gestação onde mês a mês vão se desenvolvendo o tema, o cená-rio, as roupas, os passos e escolhidas as músicas.

Além de muito tempo de ensaio também é ne-cessário um grande investimento para que quan-do o cronômetro inicie sua contagem tudo esteja pronto e sincronizado, ou mesmo para dançar na quermesse do bairro ou em apresentações nas esco-

las. Não é só dançar, tem que interpretar também. É criado todo um contexto que vai muito além do casamento caipira e do caminho da roça. Há uma exigência cada vez maior para que as quadrilhas se profissionalizem, sobretudo, para participar e ser classificadas nos concursos. As quadrilhas que fa-zem grandes apresentações, quadrilhas estilizadas, gastam em média de 40 a 65 mil reais juntando to-dos os detalhes, como a confecção de roupas, aces-sórios, sapatos, gastos com transporte, banda. Man-ter uma quadrilha junina requer muita dedicação, força de vontade e o principal, amor pela tradição.

Da quadrille para quadrilha juninaAs quadrilhas juninas são uma das maiores ma-

nifestações culturais da região nordeste e uma das tradições mais antigas nas festas juninas no Bra-sil, mas antes de chegarem ao arraial elas ocupa-vam os salões palacianos da Europa. O historiador da secretaria da cultura de Itabaiana, Wanderlei Menezes, destaca que há uma disputa entre pes-quisadores folclóricos, estudiosos, sociólogos e an-tropólogos sobre em qual lugar da Europa surgiu primeiro a dança, se na Inglaterra ou na França.

No entanto, Wanderlei diz que se aceita que foi na Inglaterra, pois, existiam danças rurais de origem célticas e nórdicas ligadas ao ciclo da colheita em agradecimento à fertilidade. Depois é que essa dança inglesa chega à França e desembarca na elite. “Fran-ça e Inglaterra no século XIII, XIV e um pouquinho do século XV, estiveram em guerras. E na guerra há contato entre povos distintos. Então a nobreza fran-

cesa deu um ressignificado àquela dança e se torna uma dança palaciana, da aristocracia,” explica ele.

A quadrille francesa era composta por quatro ca-sais, com ritmo marcado ao som do piano e roupas dignas de príncipes e princesas. Ela começou a ser encenada dentro do ambiente da nobreza france-sa e como a França, sobretudo naquela época, foi um grande polo irradiador de cultura, a dança se espalha por toda a Europa e chega a Portugal. A corte portuguesa tem grande influência da cultura e hábitos franceses. Quando a família real portu-guesa vem para o Brasil trás todo o refinamento da corte. É a vez do nosso país receber a quadrille que também será, por enquanto, uma dança dos gran-des salões, a principal a abrir os bailes da nobreza.

A grande questão que desafia os pesquisadores, de acordo com o historiador é como essa dança se popu-larizou e se tornou tão forte, principalmente no nor-deste. Até a década de 1970 o Brasil era um país tipica-mente rural, mesmo a elite era ligada as zonas rurais. “Eu acredito que essa população ‘caipira’, de pessoas que moram na zona rural, vão tentar imitar e trazer a imitação dessa dança para o seu contexto social”, afirma Wanderlei entusiasmado em contar a história.

Quando a quadrilha chega ao ambiente ru-ral ela é adaptada e ganha novos aspectos. Ainda é possível notar a presença de termos franceses tais como “anarriê”, “alavantu”, “balancê”, mas agora, ela é dançada por um número maior de casais, ganha uma relação com eventos religiosos e a religiosi-dade. Por exemplo, torna-se presente nas celebra-ções das festas de casamento e é mais presente no

período em que a igreja católica celebra seus san-tos juninos, Santo Antônio, São João e São Pedro.

No nordeste, destaca o historiador, ela ganha ca-racterísticas ainda mais regionais. A presença de personagens como Lampião e Maria Bonita, a rai-nha do milho (representando à época da colheita, e o agradecimento à fertilidade), as roupas são simples e até remendadas. É marcante o uso do triângulo, zabumba, sanfona e a influência de Luiz Gonzaga.

Avançando mais nessa linha do tempo, no cená-rio atual é possível afirmar, de acordo com Wanderlei, que a quadrilha foi um dos grupos culturais que me-lhor se adaptou e resistiu ao passar do tempo. “A qua-drilha passou por uma ressignificação cultural muito grande. Hoje as quadrilhas juninas se profissionaliza-ram, elas se organizam em grupos com uma lideran-ça, um calendário de atividades durante todo ano,” conclui ele enfatizando que não há uma retomada as origens francesas, pois na história “há caminhos sem volta”, mas uma modernização, um olha para frente.

A caminho do São João É setembro de 2015 e, em Aracaju, no bairro Iná-

cio Barbosa começam oficialmente os ensaios da junina Xodó da Vila. Um mês depois, a 58 km dali, em Itabaiana a Balança Mais Não Cai também co-

meça seus ensaios. Junto com esses ensaios para o São João de 2016 já começa também a ser desenvol-vido o tema que será abordado. Etelvan dos Santos, quadrilheiro da Xodó da Vila e presidente da Asso-ciação das Quadrilhas Juninas de Sergipe (Asquaju-se) explica que os ensaios começam cedo não apenas para uma boa apresentação em junho, mas para que uma quadrilha esteja apta para dançar em qualquer época do ano. “Em 2015, a gente dançou até dezem-bro, nem acabamos de dançar e já foi emendando ensaio com apresentação,” conta Elivania Santos, marcadora da quadrilha Balança Mais Não Cai.

Nas primeiras fases do ensaio são escolhidas as músicas e as coreografias, depois vão sendo ensaiados passo a passo. A dança é dividida em duas partes, pela dança da quadrilha em si e a parte da história a ser contada que remete ao tema escolhido. Os primeiros ensaios são realizados com roupas normais e sem a presença da banda, no enorme galpão onde a juni-na Itabaianense repassa sua coreografia uma menina fica sentada ao lado de um aparelho de som e ao fim de cada música a marcadora assinala se pode ir para a próxima. Depois que os passos já estão assimilados pelos componentes chega a hora de ensaiar com as roupas próprias da quadrilha para que os quadrilhei-ros já acostumem com o peso (no caso dos vestidos

das mulheres) e como serão os movimentos com elas. O fundador da quadrilha Balança Mais Não Cai,

Salomão dos Santos relata que no ano passado gastou cinco mil reais só com o sanfoneiro e que a cada ano esse valor aumenta. O que evita que ele gaste mais com músicos é que ele próprio canta e seu neto, fi-lho e cunhado tocam. Seu Salomão tem 73 anos e é casado com Josefa Valdenilde Ferreira Santos, ou apenas Dona Nide como gosta de ser chamada. Há 34 arraiais atrás criaram juntos no município de Itabaiana, uma quadrilha junina para manter viva a tradição. Na época eles juntaram os quatro filhos, ainda garotos, com outras crianças do bairro e as-sim começava os primeiros passos da Balança mais não cai que ano após ano encantava os vizinhos.

Não demorou muito para que os adolescentes e adultos também quisessem dançar e dois anos depois da quadrilha mirim, em 1984, surge a qua-drilha de adultos. Dona Nide lembra que no início “não tinha tanto chamego”, os vestidos eram feitos de tecido de chita, colocava-se remendos nas cal-ças dos meninos, chapéu de palha e nos pés todos usavam sandálias de couro. Nos últimos anos esta simplicidade a que Dona Nide se refere sai de cena e o estilo das quadrilhas se moderniza, vestidos lu-xuosos com várias camadas, feitos de tecidos como cetim, organza, oxford e muitos, muitos aviamen-tos (fitas, lantejoulas, rendas), que na opinião de Elivania, ou apenas Vania como todos a conhecem, é o que dá o brilho e o acabamento da quadrilha.

No ano passado a Balança mais não cai, gastou 40 mil reais e para esse ano a marcadora afirma que o orçamento chega a 60 mil. Para arrecadar esse valor ou pelo menos grande parte dele, os donos das qua-drilhas que são quem arcam com todas as despesas, realizam eventos e contam com patrocínios. A prefei-tura, por exemplo, contribuiu com seis mil reais no ano passado. “Nunca precisei ir duas ou três vezes lá pedir e não tem o problema de partidos porque a qua-drilha é patrimônio da cidade. A quadrilha não é nem de A nem de B é da cidade” assegura a marcadora.

Os quadrilheiros realizam alguns eventos como feijoadas beneficentes, alugam as roupas das últimas apresentações, conta com ajuda financeira de comer-ciantes e as maiores contribuições são feitas pela em-presa Ethos Incorporadora e por Michel, presidente da Associação Itabaianense dos Universitários (AIU). “Tem esse menino que parece que ele ama muito a cultura, ele diz todo ano, mande o roteiro. [O que] vocês vão fazer é pagar só a diária dos motoristas, porque se não fosse isso ai que era pior ainda a gen-te fretar o ônibus,” não hesita em dizer Dona Nide.

A junina Britense Calcinha Preta, quando se apre-

Apresentação. todos em sua posição, começa a apresentação.

Alegria. Juntos eles enchem de brilho e alegria o são João

Detalhes. Para damas e cavalheiros as roupas são repletas de detalhes

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o xodó do bairroFruto de um conjunto de funcionários e da per-

sistência e paixão pela tradição de Etelvan, a qua-drilha junina Xodó da Vila já faz o caminho da roça há 24 anos. “Reunimos um grande número de pessoas entre funcionários, da antiga Vila Ro-mana e moradores do conjunto jardim esperança e dançávamos na Rua de São João, festas da empre-sa. Quando a empresa acabou ninguém quis conti-nuar então eu transferi a quadrilha pra cá”, lembra ele com um misto na voz de nostalgia e animação.

Agora a Xodó da Vila conta com uma média de 60 integrantes na quadrilha de adultos, que são mora-dores do conjunto jardim esperança e também de outros bairros de Aracaju, e nas apresentações des-se ano pode chegar a 80 componentes. Possui sua quadrilha mirim, da qual fazem parte 40 crianças, e uma quadrilha de idosos. O quadrilheiro acredita que as juninas vão além das apresentações do pe-ríodo junino e da tradição cultural. Com admira-ção e um leve sorriso se formando no rosto ele cita seu marcador, Eloy Filho, que costuma dizer que a Xodó da Vila não faz apenas o trabalho de qua-drilha junina, mas que a quadrilha faz o trabalho e tem o poder, de transformar uma comunidade.

Esse ano eles irão falar sobre o artesão Vitalino Pereira dos Santos, mestre Vitalino o Deus do bar-ro. Os figurinos já começaram a sair do papel, o trio já tem composição e própria para o tema. Na apre-sentação a expectativa é de passar para o público quem era mestre Vitalino e a sua atuação por todo o nordeste, sem esquecer de fazer o que a quadrilha faz de melhor que é dançar o xote, xaxado, e baião.

De geração para geraçãoA Balança mais não cai é como uma herança de

família vai passando de pai para filho, nesse caso de pai para filha. Vania é filha de Salomão, que fundou a quadrilha em 1982 e nesse tempo ela, ainda meni-na, já dançava na versão mirim da quadrilha que era marcada pela mãe, Dona Nide. Hoje, quem comanda a quadrilha que também cresceu e coleciona incon-táveis troféus é ela, e é “a única marcadora mulher do Brasil”, orgulha-se em dizer. Praticamente toda a família é quadrilheira, a filha, a sobrinha, o sobri-nho e o marido dançam junto com ela. O filho, ir-mão e cunhado tocam e o pai, atualmente, canta.

São 14 pares de cada lado, num total de 56 pes-soas que dançam e em média 70 pessoas integram

a quadrilha, contando com as que participarão da apresentação. Para fazer parte da Balança Mais Não Cai é preciso apenas dançar, com convicção e en-tusiasmo Vânia afirma que até que não sabe dan-çar aprende. Não há uma idade mínima para dan-çar, tendo porte físico já está habilitado. “Tendo tipo pode começar, minha filha começou a dançar com 12 anos,” afirma ela e apontando para a sobri-nha que passa pelo salão continua: “Ela ia começar, mas tem um tamanho pequeno e ela só tem nove anos”. E nós duas exclamamos: “Ah!”, mesmo assim a menina pediu: “Titia, me bote que eu aguento!”.

O problema atualmente é conseguir gente da ci-dade para dançar, mesmo a maioria dos integran-tes sendo da cidade serrana a quadrilha é composta por pessoas de outros lugares, como dos municípios de Ribeirópolis e Aracaju. Esse ano a junina pro-mete ousar e levar a quadrilha e o público para o país das maravilhas trará como tema “Num mun-do mágico de tramas e ilusões o chapeleiro maluco convida a Alice para o país do São João”. As roupas, cenários e todo o contexto da apresentação ainda são segredo, revelados apenas no dia do concurso.

Nesses 34 anos, a quadrilha coleciona incontáveis troféus. Para Seu Salomão, o que dá mais orgulho é o do primeiro lugar do “Levanta Poeira”, conquista-do em 2006, onde a quadrilha foi representar Ser-gipe a nível regional. Com uma expressão muito fe-liz, Vania fala dessa experiência e das surpresas que teve ao chegar lá. “A gente ganhou um dinheiro da TV Sergipe, mas não deu pra pagar o ônibus. Ai ti-vemos que pedir o ônibus e ganhamos dos políticos da cidade para representar Sergipe. E quando che-gou lá a dificuldade maior não foi nem a financeira, foi de ver a estrutura do concurso, de ver a estrutu-ra das outras quadrilhas. Na época que ganhamos só tinha dez pares de cada lado, vinte meninas e vinte meninos, mas quando você vai com a cara e com a coragem você entra no arraial e chama a atenção de todo mundo, foi o que aconteceu com a gente”.

Lá um dos fatos que mais surpreendeu a todos foi ver uma mulher à frente da quadrilha. “Estava todo mundo se apresentando com carro alegórico com muita coisa, parecia uma escola de samba, eu sei é que a gente se encolheu na parede e pensei: ai meu Deus, o que a gente veio fazer aqui. Num mundo que não era nosso em uma arena que era esse quar-teirão todinho, parecendo time de futebol e o povo todo gritando. Mas ai quando a gente entrou que eu comecei a aquecer a quadrilha, porque a gente fica numa arena separada para aquecer a quadri-lha, ai quando eu comecei a falar no microfone foi que chamou a atenção do locutor, por ser uma mu-lher. Sei que quando a gente entrou só foi aplauso e saímos de lá bem aplaudidos,” relembra ela feliz e satisfeita por saber que todos deram seu melhor.

Algo curioso é o nome da quadrilha, que não trás nenhum aspecto regional ou junino como muitas outras. “Existia no Rio de Janeiro um prédio que ti-nha esse nome ‘balança mais não cai’ e tinha um programa do Jô Soares que era em frente desse pré-dio. Eu como sempre fui ligado a ouvir rádio e essas coisas, ai, achei por bem de fazer uma interpretação, balança mais não cai porque a gente dançando tem que dançar mais não pode cair. Não mudemos mais porque ficou registrado assim,” explica Seu Salomão.

Balançando um pouco aqui e ali por causa dos gas-tos ele já pensou em desistir, mas o coração de pai não deixa. “Todo ano eu digo que não quero mais, mas quando vejo, ela [Vania] já tá arrumando um monte de coisa” diz ele lançando um olhar de ternura para a onde a quadrilha está ensaiando. Pergunto a Vania qual o motivo de enfrentar todas as dificuldades para continuar dançando e, com os olhos marejados e um sorriso no rosto, ela diz que é por amor: “Eu costu-mo dizer que a quadrilha é o ar que eu respiro, é um amor incondicional e sem a quadrilha eu não sou ninguém. É o sangue que corre nas minhas veias”.

Dama no comando. marcadora da Balança mais não Cai

Sincronia. sorrir, cantar, cada elemento, gesto ou expressão tem que estar em sincronia

Família. Uma família junina

“A quadrilha é o ar que eu respiro, é um amor incondicional e sem a quadrilha eu não sou ninguém. É o sangue que corre nas minhas veias.”

sentava também realizava alguns eventos como bai-les e bingos, contava com a colaboração da popula-ção e em alguns anos quando não era arrecadado o necessário os próprios dançarinos tiravam do bolso o dinheiro para pagar o transporte e partes do figurino. Em alguns anos o grupo contou com contribuição da prefeitura e foi patrocinada por ela em 2000 e 2001. Já a Xodó da Vila, acredita que esse ano o orçamento chegará a 90 mil reais só com a quadrilha de adultos. Assim como as outras o grupo promove bingos, rifas e outros eventos e conta com contribuição da prefei-tura, com exceção do ano passado. Eles dividem os custos da seguinte forma, cada quadrilheiro é res-ponsável financeiramente por seu figurino e a qua-drilha fica responsável pelo trio, transporte e cenário.

Dessa forma, as quadrilhas não só mantem viva uma tradição, mas também movimentam o mer-cado. “A quadrilha emprega no mínimo cinco mú-sicos, quatro costureiras e em média são oito mil reais gastos com tecido e 12 mil de aviamentos” de-talha o quadrilheiro Etelvan. Isso sem contar que um bom trio custa em média de 25 a 30 mil reais e as acompanhará, no caso de algumas quadrilhas, em finais de semana, feriado e o período junino.

Além da quermesse As quadrilhas em Sergipe, por algumas discordân-

cias, são divididas em dois grupos distintos. A liga das quadrilhas juninas de Sergipe (Liquajuse) e a Asqua-juse, cada uma possui sua documentação e seus as-sociados. A Asquajuse tem como propósito fomentar as quadrilhas juninas, fazer com que elas sejam como uma empresa, independentes. O presidente da As-quajuse, Etelvan, propõe, por exemplo, que elas pos-sam desenvolver produtos próprios e assim tenham condições de se sustentar. Um total de 31 quadrilhas, tanto do interior quanto da capital fazem parte da as-sociação. São 26 quadrilhas de adultos, quatro mirins, e uma de idosos sendo que apenas as de adultos par-ticipam de concursos. As outras duas participam ape-nas de apresentações e realizam aberturas de eventos.

Os associados possuem uma ficha de filiação, par-ticipam de reuniões e contribuem com uma mensa-lidade. Assim podem participar do concurso estadual de quadrilhas da Asquajuse, realizado em parceria com a TV Sergipe, onde o vencedor irá disputar ou-tros dois concursos, o nordestino e o brasileiro. E tam-bém do Levanta Poeira, concurso realizado pela TV Sergipe, em que a quadrilha campeã representará o estado no concurso regional da Rede Globo Nordeste.

Na fase estadual desse concurso participam 20 quadrilhas juninas e para estar entre essas 20 é ne-cessário disputar um grupo de acesso. Este pro-cesso se assemelha aos das escolas de samba, se uma quadrilha quer participar desse concurso tem

que estar sempre entre as melhores. Outros con-cursos importantes e tradicionais no estado são: o da Rua de São João, o do espaço cultural Gonza-gão, realizado pela Secretaria de Estado da Cultu-ra (Secult) e o concurso de quadrilhas do Jubiabá.

A quadrilha se despede José Carlos Santos, mais conhecido na cida-

de como professor Zé Carlos, além de transmitir aos seus alunos conhecimentos sobre fatos que compõe a história também fez história, manteve sua própria quadrilha por 22 anos. A quadrilha Calcinha Preta que ganhou esse nome apenas em 2011 para homenagear a banda de forró Calcinha Preta, da qual ele tornou-se fã. A vontade de ter sua própria quadrilha surgiu quando ele teve que sair de sua cidade, Campo do Brito, e foi morar na capital aracajuana. “Comecei a frequentar os concursos de quadrilhas, principalmente na Rua de São João e ao assistir quadrilhas como Sécu-lo XX, Chapéu de Couro, Assum Preto e aquela que me fez gostar de dançar quadrilha a Unidos em Asa Branca e o seu marcador o prof. Eloy, o que me motivou a traçar como meta se um dia retornasse a morar em Campo do Brito fundaria uma quadrilha,” recorda ele. E, no décimo tercei-ro dia do segundo mês do ano de 1989, José Car-los funda originalmente a Quadrilha Rala-Rala.

Inicialmente seu desejo era que os jovens dan-çassem para que a tradição junina não morresse. A quadrilha começa a dançar com 32 participan-tes e ao longo dos anos aumentou e variou de 40 para 50 quadrilheiros. O pré-requisito para quem quisesse integrar o grupo era um só: gostar de dançar. Com exceção de alguns concursos, como o Levanta Poeira, que exigem como idade míni-ma dos participantes 16 anos. Fora isso, o mar-cador garante que para dançar não tem idade.

Durante sua existência a quadrilha participava de no mínimo oito concursos por ano, levando o primeiro lugar em muitos deles. Muitas vezes foram convidados para apresentações fora do Es-tado, porém por falta de recursos não chegaram a ir. Além da parte financeira uma das dificuldades que ele ressalta, assim como Vania, é a dificul-dade de encontrar pessoas que queiram dançar.

Por causa da falta de recursos 22 casamen-tos caipiras depois a quadrilha fez suas últimas apresentações em 2011. “Muitas vezes criáva-mos um tema e tínhamos que mudar por não ter a verba” ele explica, quando pergunto se ele pensa em retomar as apresentações com a quadrilha ele responde que se “entrar um polí-tico [na administração municipal] que valori-ze a tradição e os grupos com certeza voltaria”.

Outra quadrilha do município que durou um ano foi a Gaviões do Agreste e, segundo a qua-drilheira, Cláudia Xavier, acabou por falta de recursos. Sandro de Jesus, assessor de comuni-cação de Campo do Brito, diz que a prefeitura poderia apoiar as quadrilhas se fosse proposto um projeto cultural. Ele menciona alguns fatos que enfraqueceram as quadrilhas Britense, como a falta de interesse dos jovens para participar de movimentos culturais. E que as quadrilhas da ci-

dade tomaram uma grande proporção e acaba-ram se voltando muito para grandes concursos e a prefeitura não tem condições de arcar com grandes valores para ajudá-las. “O foco da qua-drilha junina tem que ser a cultura,” opina ele.

É notável que com o passar dos anos o núme-ro de quadrilhas juninas está diminuindo e dois motivos parecem ser cruciais para isso. O primei-ro, em comum entre todos que estão envolvidos com a cultura, é que cada vez um número menor de jovens tem interesse em dançar. O presiden-te da Asquajuse conta que antes em cada comu-nidade existiam duas ou três quadrilhas e hoje muitos bairros não tem se quer uma. Dividindo a capital apenas entre a zona norte e a zona sul, para exemplificar esse fato, temos na primei-ra: Pioneiros da Roça, Século XX, Flor Nordes-tina, Rosa Dourada, Apaga Fogueia e Forró do Maranhão. E na segunda: Xodó da Vila, Assa Branca, Unidos em Asa Branca e Assum Preto.

E o segundo motivo é o custo e a dificuldade que uma quadrilha enfrenta para conseguir pa-trocínio, principalmente as que não são regis-tradas. “Se você for registrado vai lá na prefei-tura e mostra a nota, qual seu CNPJ? Qual sua certidão negativa? Lei de utilidade pública? Ai você entrega tudo ai não tem pra onde correr,” exemplifica Etelvan reforçando que é preci-so que as quadrilhas se profissionalizem. En-tretando, isso caracteriza um problema para as quadrilhas mais antigas que não tem essa consciência da necessidade “oficializar-se”.

Mas muitas ou poucas quadrilhas juninas, pulando fogueiras no arraial ou numa chuva de aplausos em estádios lotados, enquanto o céu es-tiver em festa numa noite de São João e ouvir-se xote, xaxado e baião no salão sempre existirá al-guém que entregará seu coração para esta tradição.

Elegância. Graciosidade e elegância antes, durante e depois da dança

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chEgAnÇA SAnTA cRUz, TRADIÇãO QUE nãO DEVE SER ESQUEcIDAA chegança Santa cruz possui 69 anos e é o grupo cultural mais antigo de Itabaiana. Porém, ultimamente, está enfrentando muitos obstáculos para manter -se viva na história da cidade serrana.

Fotos e rePortagem: taÍs [email protected]

“Vamos depressa, vamos embarcar. Vamos depressa, vamos viajar. O navio está no porto, não po-

demos demorar!” É com essa cantoria que convidamos você leitor a conhecer a Che-gança Santa Cruz, grupo cultural mais antigo de Itabaiana, no agreste de Sergipe, coman-dado pelo Capitão-piloto Zé da Biné, que des-de seus 15 anos dedica sua vida à Chegança e a manter viva a cultura da cidade. “Embar-ca, embarca, embarca logo, embarca depres-sa, que a hora é essa. Tocou o apito já, tocou o apito. Embarca depressa, que a hora é essa.”

“Eu aprendi a gostar da Chegança como se gosta de um filho.” É dessa maneira que o senhor José Serafim de Menezes, o “Zé da Biné”, fun-dador da Chegança Santa Cruz, define com os olhos cheios de alegria, nos seus 84 anos de vida, o que sente pelo grupo folclórico fun-dado por ele, no dia 10 de abril de 1947 e ainda em atuação. Diferente de quando co-meçou com os seus 15 anos de idade, hoje Zé da Biné já não tem a mesma saúde e vitalidade, mas isso não o impede de participar das apresentações do grupo. Sentado em uma ca-deira de rodas, o Capitão-piloto comanda com felicidade e honra a representação das lu-tas com espadas que ocorriam entre mou-ros e cristãos em embarcações da marinha.

O grupo possui atualmente 24 integran-tes, que interpretam os seguintes perso-nagens: capitão-piloto, capitão-patrão, capitão-tenente, contra-mestre, general, ca-lafatinhos, padre, cabo, primeiro-embaixa-dor, segundo-embaixador, rei, rainha, prin-cesa, médico, cozinheiro e pandeiristas.

“Nós já estamos cientes, que vamos partir

para a guerra. Deixando a nossa, querida terra.” Junto a essa cantoria, o som dos pandeiros faz TIM, TUM, TUM, TIM, TUM, TUM, e emo-ciona quem assiste as apresentações. Dá para notar também o amor e o comprometimento dos integrantes pelo grupo, é de arrepiar a emoção que eles transmitem. São pessoas de olhares cansados, que expiram simplicidade. Muitos nunca nem estudaram sobre as lutas marinhas entre mouros e cristãos, mas inter-pretam e cantam fielmente as cantorias como se estivessem realmente lutando em alto mar.

Sobre esses olhares cansados, um deles me chamou a atenção. Jonas, um senhor de 68 anos de idade, aposentado, mostra no olhar que já batalhou muito na vida. Ele é um dos membros mais antigos do grupo (e um dos mais animados também). Começou na Chegança aos 25 anos e hoje interpreta o contra-mestre. Jonas tam-bém é o braço direito do Capitão-piloto Zé da Biné, quando este está adoentado, Jonas assume o comando da Chegança nas apresenta-ções. “A Chegança é um folclore muito antigo, de responsabilidade, muita educação e moral. Ela é muito importante para mim.” Foi isso que Jonas falou, um tanto embaraçado e sem saber direito o que responder, quando perguntei sobre a impor-tância do grupo para ele. Na verdade, a resposta de seu Jonas estava no olhar, no brilho dos seus olhos deu para notar o seu amor pela Chegança.

Uma parte legal dessa história é que ela passa de pai para filho, de geração para ge-ração. Além de filhos e netos de Zé da Biné par-ticiparem, filhos e netos de outros integrantes mais antigos também participam. Um deles é Valter, de 48 anos, filho do contra-mestre Jo-nas, citado acima. Valter cresceu no gru-

po ao lado do seu pai, começou a partici-par aos 12 anos de idade e hoje seu filho de apenas cinco anos também já participa.

- Por que a Chegança é impor-tante para você, Valter?, questiono.

-Porque com ela eu sei que existe folclore e cultura na nossa cidade. É uma coisa que conheci na infância e me lembra bons tempos. Enquanto eu tiver vida eu vou continuar partici-pando e trazendo meus filhos também.” Seu Zé da Biné fala com orgulho e sorriso no rosto sobre as premiações e as apresentações que já fez junto a Chegança. Além de se apresentar no próprio município de Itabaiana e em ou-tros municípios sergipanos, como por exem-plo, no Encontro Cultural de Laranjeiras e no Museu da Gente Sergipana, em Aracaju, a Chegança também já fez apresentações em São Paulo e em Valência, na Espanha, onde ganhou um prêmio no I Congresso Internacional de Em-baixadas e Embaixadores. “Eu amo a Chegança e quero levar ela e a cultura do meu município para outros lugares, com ela eu aprendi muitas coisas. Quando eu não puder mais comandar, meus filhos ficarão no meu lugar”, conta ele com muito orgulho. Zé da Biné já foi homenageado em um evento que ocorreu em Itabaiana no ano passado. Os organizadores da Bienal do livro homenagearam o Capitão-piloto e fun-dador da hegança Santa Cruz, com uma estátua em uma das avenidas principais do município, eternizando seu nome na cultura e na história de Itabaiana. Em março deste ano, a Chegança participou do concurso que elegeu as Sete Maravilhas de Itabaiana. Na disputa estavam 30 candidatas, entre belezas naturais, mani-festações culturais e patrimônios do município.

O grupo de Zé da Biné não foi escolhido como uma das Sete Maravilhas, mas o concurso tornou a Chegança ainda mais conhecida no estado.

No dia 10 de abril a Chegança Santa Cruz co-memorou 69 anos em grande estilo. Uma das filhas de Zé da Biné, atualmente responsá-vel pelo grupo, organizou o evento I Festi-val Cultural Biné, onde além da Chegança, vários outros grupos culturais do município e de outras partes de Sergipe se apresentaram. E sabe quem estava lá no meio da festa? Seu Zé da Biné! Com um sorriso no rosto e os olhos cheios de felicidade, o Capitão-piloto estava no comando da Chegança que ele mesmo fundou.

a Chegança, a cultura e os desafiosUma das filhas de Zé da Biné, a jovem Gi-

selma Menezes, é quem atualmente é respon-sável pela Chegança. É ela também quem encara os problemas e as dificuldades que o grupo en-frenta. Pois é. Apesar de histórias de amor e dedi-cação pelo grupo, este enfrenta muitos desafios. Segundo ela, uma das maiores dificuldades está atrelada a parte financeira. “Nós não recebemos investimentos nem por parte do município nem por parte do Estado. Todos os gastos com figu-rino, instrumentos e apresentações são arcados por nós. Quando quebra algum instrumento, por exemplo, somos nós que temos que pagar.”

Ainda segundo Giselma, o grupo já ten-tou patrocínio com a prefeitura do município de Itabaiana, mas não obteve êxito. A filha do Capitão-piloto conta um acontecimento triste envolvendo a Chegança. “Como não recebemos investimentos, nós ainda não temos sede para guardar os materiais, instru-mentos e ensaiar, fazemos tudo aqui em casa mesmo. No ano passado houve uma chuva forte que molhou o armário onde tudo esta-va guardado, por pouco não perdemos tudo.”

Outro fato triste ocorreu no ano de 2010. A Chegança Santa Cruz foi convidada a fazer uma apresentação internacional na Espanha, no I Congresso Internacional de Embaixadas e Embaixadores, porém só foi conseguido por parte da secretaria de cultura do município um edital para o Ministério da Cultura pagar a viagem de quatro integrantes. Esses quatro in-tegrantes foram, representaram a Chegança e ainda ganharam um prêmio. Apesar de tudo

Mestres. o Capitão-piloto Zé da Biné, ao lado do Contra-mestre Jonas

Navio. Representação do navio da Chegança santa Cruz

Apresentação. Alguns momentos durante a apresentação da Chegança santana Cruz

e mesmo não estando completa, a Chegança fez bonito e voltou para casa com um troféu na bagagem.De acordo com o historiador Wa-nderlei Menezes, da secretaria de cultura de Itabaiana, o município não contribui fi-nanceiramente e de maneira regular com o grupo por dois motivos: o primeiro é que a secretaria de cultura municipal ainda é de-sestruturada, não possui liberdade financei-ra para investir nas manifestações culturais da cidade. O segundo é que a Chegança não é legalizada, ou seja, não é uma entidade, não possui CNPJ, nem sede e isso dificulta a cria-ção de convênios para o repasse financeiro.

Porém o município contribui de manei-ra irregular. “Quando a Chegança faz apre-sentações em Itabaiana os integrantes rece-bem cachê.” Wanderlei também contou que através da secretaria de cultura o grupo já con-seguiu enviar muitos editais para o Ministério da Cultura em busca de benefícios. Para ele, se o grupo se organizar como entidade fica-rá mais fácil conseguir investimentos. “Os grupos culturais de Itabaiana como um todo ainda são um pouco amadores. Se eles se or-ganizarem em entidades e associações facili-tará muito para conseguir recursos financeiros e apoio empresarial”, diz. Sobre isso, Gisel-ma afirmou que ela e o restante do gru-po estão tentando conseguir uma sede para a Chegança, para quando estiver com uma sede fixa tornar-se uma entidade legalizada.

Ainda segundo Wanderlei, Itabaiana tem um certo preconceito com manifestações cul-turais, principalmente os mais jovens. “Mui-tas pessoas criticam quem participa e até chama de doido e isso faz com que para muitos seja vergonhoso participar de um grupo cultu-ral.” No caso da Chegança, por exemplo, 95% dos integrantes são pessoas acima dos 50 anos.

Há quem tenha vergonha, porém há quem goste e se orgulhe de participar da cultura de um povo. Essa foi a história de Zé da Biné, de Jonas, de Valter, de Giselma. Essa foi a história da Che-gança Santa Cruz, grupo cultural mais antigo de Itabaiana, que apesar das dificuldades e de-safios, está “forte-fixe” na luta para manter viva a cultura e a tradição da cidade serrana. “Embarca, embarca, embarca logo, embarca de-pressa, que a hora é essa. Tocou o apito já, tocou o apito. Embarca depressa, que a hora é essa.”

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mOVImEnTO LITERáRIO: A LITERATURA SERgIPAnA ESTá REALmEnTE SE mOVEnDO?Literatura sergipana permanece viva e fluida através de rodas de leitura e eventos literários. Entre-tanto, há falta de investimentos e divulgação midiática.

Fotos e rePortagem: natháLia [email protected]

Em um pequeno auditório de uma bi-blioteca pública, Roseneide Santa-na se reúne toda terceira terça feira

do mês em rodas de leitura, com objetivo de estimular a literatura, principalmente a sergipana. Entre muitas dificuldades e depreciações que surgem sobre o tra-balho, lá está ela, como uma “agente da leitura” que assumiu um compromisso em levar arte para as pessoas como uma missão de vida.

Além dessas rodas de leitura e oficinas que acontecem periodicamente há anos, surgem também em Sergipe novas mo-dalidades de eventos literários, a exem-plo da Bienal do Livro de Itabaiana e da Feira da Leitura e do Livro de Sergipe (Flise). Com grande porte, tais even-tos apresentam a produção literária do estado e fomentam o acesso à leitura. Lá, os participantes podem conversar com escritores, conhecer novas obras e adquirir aquelas que desejam e além disso os escritores podem divulgar seus trabalhos.

Tanto as programações literárias co-tidianas quanto esses eventos passam por obstáculos e muitos deles são cau-sados pela falta de investimento, de políticas públicas de incentivo à leitura eficientes, pouca divulgação da mídia e pelo próprio desinteresse da população na literatura.

A leitura como hábitoAs rodas de leitura acontecem desde

2008. Começaram nas bibliotecas pú-blicas e têm se espalhado por escolas de Aracaju e do interior do Estado. O projeto que começou com os escritores Antônio Carlos Viana, Gizelda Moraes e Maruze Reis, hoje tem Roseneide Santa-na (que faz parte do Conselho Nacional de Políticas Públicas Para a Cultura e foi recém eleita como conselheira no Cole-giado do Livro, Leitura, Literatura e Bi-blioteca) como uma de suas principais representantes. Entre leituras de tex-tos de autores sergipanos e conversas sobre os mesmos, pode surgir em um participante atento a vontade de buscar conhecer mais àquelas obras e talvez se tornar um futuro escritor.

Para Roseneide, o projeto não é só um momento de lazer, mas um local de aprendizagem. “Nós temos hoje no Estado de Sergipe renomados escritores, como é o caso de Jeová Santana, do Ro-naldson, do Josailton Lima e Araripe Coutinho, que faleceu há quase um ano. Todos esses grandes escritores que hoje já receberam vários prêmios por aqui-lo que escreveram, deram depoimentos que passaram por essas oficinas da Ma-ruze Reis, da Iara Vieira, do Antônio

um jornal aqui do Estado, nem para uma televisão. Às vezes a Aperipê vem aqui filmar nossos eventos, um compro-misso social da rádio e da televisão em vir aqui filmar, mas geralmente jornais não se interessam por eventos como esse. Eles só se interessam por eventos que são grandes”, critica.

Existe ainda, por parte dos poderes governamentais, uma falha nas políti-cas públicas de incentivo à leitura. Ro-seneide fala sobre o apoio da Secretaria de Cultura na questão de infraestrutura, ou seja, são fornecidos os espaços e as pessoas para trabalharem, a exemplo da própria biblioteca, porém ainda está muito enraizada a ideia da literatura ser trabalhada como algo eventual e não do cotidiano. “É preciso que haja po-líticas de incentivo à leitura principal-mente do livro que está perto de você. Não há hoje mais o problema da acessi-bilidade, pois o Governo Federal compra muito livro e manda muito livros paras escolas, mas escola não é local de leitura, porque você vai lá só para cumprir sua jornada de aula”, conta Ro-seneide.

Em sua futura gestão como Conselhei-ra no Colegiado do Livro, Leitura, Lite-ratura e Biblioteca, ela diz que tentará contribuir para que políticas públicas de incentivo à leitura se efetivem, como a necessidade de levar textos para as es-colas, levar autores e gincanas de leitu-ra. “São dois dilemas para se resolver: os

meios de comunicação dar mais impor-tância aos projetos de incentivo e, por outro lado, as políticas públicas serem mais efetivas mesmo, não ser uma coisa de evento. A gente quer que leitura seja algo do cotidiano, não algo factual”.

A leitura como eventoUm dos exemplos de eventos literários

de grande porte que tem acontecido a cada dois anos é a Bienal do Livro de Itabaiana, que já conta com três edi-ções realizadas. Geralmente com qua-tro ou cinco dias de evento, a Bienal não conta só com participações de es-critores, estandes e lançamentos de livros, mas também há apresentação de curtas e grupos folclóricos.

Robério Santos, professor de Espa-nhol, jornalista e idealizador da Bienal de Itabaiana, conta os desafios de fazer um evento desta magnitude: “Organizar um evento já não é tarefa fácil, quanto mais um que se enquadre nos despraze-res da sociedade. Ler não é a atividade de entretenimento predileta do brasilei-ro. Os desafios sempre são os mesmos: pouco dinheiro, intrigas políticas, falta de leitores e vários outros fatores. Pre-cisamos nos fortalecer e fazer a literatura sergipana crescer”, avalia Robério.

O professor também cita a pouca parceria entre Governo e esses tipos de eventos, que muitas vezes não são vi-sados pelos poderes governamentais devido ao pouco retorno eleitoral. “Tal-vez a logística entre Leitura X Votos não seja muito favorável, pois político pensa em retorno eleitoral e não em construção de uma sociedade mais in-teligente,” critica.

Ainda assim a Bienal é realizada, através da parceria com empresários e tem gerado frutos à produção literária sergipana. As pessoas se mobilizam para participar da Bienal, tanto aqueles que querem conhecer mais da literatura sergipana e nacional, quanto escritores que querem divulgar suas obras. Desde que tem se envolvido com movimen-tos literários, Robério sempre vê surgi-rem pessoas querendo publicar livros, porém não é fácil devido à inviabilidade financeira de se publicar uma obra. Ele conta que só na história de Itabaiana são 200 obras publicadas e uns 60 escritores, sendo que ele mesmo já lançou 12 livros e editou seis de outros escritores.

Escritores e o movimento literárioLançar uma obra literária não é tarefa

fácil. Entretanto, as dificuldades não pa-ram por aí. Depois de publicado, surge a missão de divulgação do livro para fazer com que o mesmo caia na graça dos leitores. Participar de movimentos li-terários como os já citados, tem sido uma boa oportunidade para que anti-gos e novos escritores possamdivulgar seu trabalho.

É o que conta Taylane Cruz, escritora de seu primeiro livro chamado “Aula de dança e outros contos”. Ao usar como exemplo a sua participação na Bienal do Livro de Itabaiana e outros eventos literários, ela relata a importância des-

Leitura. Roda de leitura no auditório da biblioteca epifânio Dória na presença de escritores e leitores

ses momentos para o cenário literário e para quem exerce o trabalho de escritor, como uma oportunidade para festejar a literatura. “É um espaço fundamental para o autor sergipano, principalmente autores independentes, iniciantes”.

Estes eventos têm se mostrado uma ótima oportunidade para trazer ao gran-de público a cena literária em Sergipe, entretanto é necessário lembrar que, eles por si só, não são os únicos responsáveis por aflorarem a literatura no Estado. É o que ressalta Taylane, ao afirmar que eventos literários, em si, não formam leitores. “Eles servem como ponto de en-contro e como uma vitrine, mas acredito que é na escola que se formam os leito-res” reforça.

Neste grupo de escritores iniciantes, encaixa se o Braian Thomas, 19 anos, autor do livro chamado “Manchado”, uma obra de autoajuda que retrata um acontecimento pessoal. O jovem e es-treante escritor afirma a importância de movimentos literários para autores ser-gipanos. “Eventos desse tipo não ape-nas incentivam a leitura e levam esse conteúdo a um público maior como também encorajam os escritores atuais e os que estão para surgir”, conta.

Francisco Passos Santos, mais conhe-cido como Chiquinho do Além Mar, é cordelista, músico e professor de inglês e tem uma ampla produção no mundo dos cordéis e poesia, além de diversos livros já publicados. O mais recente, “A histó-ria de Sergipe contada em versos”, narra através do estilo de cordel, a história de Sergipe, desde a chegada dos portugue-ses até a 2a Guerra Mundial em 1942.

Chiquinho, já muito experiente no universo literário sergipano, reforça a fala de tantos outros escritores sobre poder participar de eventos literários. “É de fundamental importância para nós escritores, porque nos possibilita um contato direto com o leitor”. Ele vê como positiva sua participação na Bie-nal e em outros eventos, pois além da interação direta com o público, ele pode participar de palestras e recitais.

Carlos Viana. Eles passaram por esse aprendizado”, diz Roseneide.

Os frutos são gratificantes porém o processo, principalmente para quem organiza, é árduo e os resultados vêm a passos lentos. Para Roseneide, um dos principais obstáculos em atrair a so-ciedade para essas rodas é a falta de divulgação da mídia sergipana. “Muita gente da imprensa que reconhece a im-portância da arte e da leitura, na verdade não faz a sua parte em fazer divulga-ção e mostrar pessoas que participa-ram desses movimentos. A divulgação, quando não é negativa, não existe. Há uma total indiferença dos meios de co-municação aqui de Sergipe”, conta.

Roseneide ainda faz uma compa-ração com outras cidades, como por exemplo, em Paraty, cidade do Estado do Rio de Janeiro, onde a literatura é muito valorizada pelos meios de comu-nicação. Há suplementos literários, es-colas que trabalham diretamente com a literatura e fazem divulgações dos textos de alunos e eventos nos jornais. Quando ocorre um evento, os meios de comuni-cação estão em peso para divulgá lo. Isso ajuda a sociedade a entender que leitura é algo importante e a incentiva a buscá la através das formas disponíveis.

Atrelado a este problema, está o in-teresse em divulgar apenas eventos que tenham popularidade e caráter mercan-tilista. “Eu posso lhe dizer que talvez eu nunca tenha dado uma entrevista para

Sergipanos. movimentos literários estimulam a valorização de obras de renoma-dos sergipanos e trazem à tona novos nomes

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AgRIcULTURA FAmILIAR: SERgIPE ATIngE TOPO DA PRODUTIVIDADE DE ARROz DO PAíS

Uma sexta-feira qualquer. Sete da manhã. O ronco do trator se confundiu com o

som da natureza. Quase tropeçando em meio à fuga de marimbondos, Walter se segurou na cerca de madeira e acenou. Por trás do cumpri-mento com a mão calejada, ele revelou ali que a precisão dos dedos foi trocada pela pujança das máquinas. Essa realidade começou a mu-dar há cerca de uma década e alterou a rotina de centenas de famílias na região do Baixo São Francisco.

Walter Pereira Araújo, 48 anos, é um dos 750 agricultores que vivem do cultivo do arroz no perímetro irrigado do Betume, às margens do Velho Chico, no município de Ilha das Flores, no leste de Sergipe. Ele preside atualmente a Associação de Rizicultores do povoado Serrão. A comunidade que resiste ao tempo e ainda mantém os traços de vilarejo tem aproximada-mente dois mil moradores, segundo o Institu-to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Antigamente a gente plantava no dedo e fa-zia a sementeira. Depois a ruma de mulher ia plantando a semente no dedo. Agora um lote de quatro hectares, com cinco homens traba-lhando, a gente planta o arroz todo em um dia. Antes, tinha que ser 50 pessoas por dia duran-te 15 dias para conseguir fazer a plantação. Já chegou uma época de passar até um mês para conseguir plantar. Hoje você prepara o lote em um dia e joga a semente,” afirma o agricultor.

Com a mecanização da produção ao longo dos últimos dez anos, Walter viu a média do custo da plantação diminuir cerca de 70% e a produtividade saltar de cinco para até nove to-neladas por hectare ao fim de cada safra. Essa mudança no uso da tecnologia não apenas as-cendeu o papel da agricultura familiar no cul-tivo do arroz como também colocou Sergipe na rota nacional do cereal.

A analista técnica da Embrapa, Márcia Gon-zaga, explica que a mecanização da agricultura familiar aumentou a velocidade no plantio e o aproveitamento da lavoura. “Além de manter o pequeno produtor na atividade rural, você contribui para preservação das matas e a reuti-lização do solo,” diz a especialista.

Nos últimos cinco anos, a produção de arroz cresceu 47% no Estado e bateu o recorde brasi-leiro de produtividade, segundo a Companhia de Desenvolvimento dos Vale do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Enquanto a média na-cional é de 5,4 toneladas por hectare, Sergipe colheu quase nove toneladas na última safra. Esses dados são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A produção mecanizada valorizou também a comercialização do cereal e abriu caminhos no mercado. Na última safra, por exemplo, o quilo do arroz chegou a ser negociado a 0,70 centavos. Um crescimento de 39% em relação

ao valor de safras anteriores. O destino de 90% da produção, segundo a Codevasf, se concentra em fábricas do Nordeste, como Alagoas, Ceará, Pernambuco.

Na contra mão do progresso na lavoura, o agricultor Carlos Alberto de Freitas, 52 anos, admite que a mão de obra está cada vez mais escassa na região ribeirinha. Isso, segundo ele, por causa do uso das máquinas. “Acontece que os jovens não querem mais trabalhar na lama de arroz. Lá em casa mesmo, meu filho não quer nem botar o pé na lama. Só quer saber do trator. Hoje só trabalha na terra quem planta mesmo, no caso é o dono da terra,” narra o pro-dutor. Ele é um dos 30 sócios da Associação de Rizicultores do Serrão.

o BetumeCom uma área irrigável de 2.860 hectares,

o perímetro do Betume engloba, além de Ilha das Flores, as cidades ribeirinhas de Neópolis e Pacatuba. Sendo que 80% dessa área se des-tina à rizicultura. O projeto é gerenciado pela Codevasf, através do Distrito de Irrigação do Betume, com a proposta de oferecer serviços de manutenção e assistência técnica e exten-são rural aos produtores, sobretudo com as es-tações de irrigação e drenagem no perímetro.

Há mais de duas décadas, a rotina do ope-rador de estação Edson Batista dos Santos, 62

anos, se divide entre a calmaria das águas do Velho Chico e o barulho das seis bombas de irrigação e drenagem no povoado Serrão. “São nove estações dessas no perímetro todo. Esse sistema funciona há mais de 30 anos na região. As bombas puxam a água do rio para planta-ção. E depois que a água acumula no dreno, as bombas puxam de volta para o rio,” explica.

Apesar do investimento de R$ 102 milhões desde 2013 na rizicultura no Baixo São Fran-cisco, através do programa Mais Irrigação do Ministério da Integração, os agricultores apon-tam falhas no serviço que prejudicam o cultivo do cereal. Já no final da última colheita, que se estendeu do início de julho do ano passado ao fim de março desse ano, uma praga e a quebra de bombas comprometeram cerca de 10% da produção no Betume. Isso, de acordo com o rizicultor Carlos Alberto, se agravou com a fal-ta de assistência técnica e extensão rural para orientar os agricultores no uso de técnicas na lavoura.

“Houve um corte na assistência técnica. O técnico agrícola é importante porque ele mos-tra os defensivos que vamos passar no arroz para evitar uma praga, por exemplo. Tivemos só três técnicos no ano passado que foram con-tratados e pagos pelo Distrito de Irrigação do Betume. E outra: também precisamos deles por causa dos laudos técnicos para enviar aos bancos para tentar o financiamento. Estamos

com essa dificuldade na região. É um apelo,” disse.

Hoje, por causa de uma dívida de R$ 527.439,77 da Codevasf junto à empresa que presta o serviço de energia elétrica na área, o fornecimento de energia nos perímetros irri-gados do Estado está funcionando através de uma liminar na Justiça Federal. No último mês de janeiro, o juiz da 3ª Vara em Sergipe, Edmil-son Silva Pimenta, impediu que a Energisa cor-tasse a eletricidade nas áreas do Betume, Pro-priá, Jacaré-Curituba e Pimdoba em virtude do débito.

Na liminar, o magistrado argumentou que a suspensão do serviço prejudicaria a coleti-vidade, uma vez que centenas de famílias de-pendem das estações de irrigação e drenagem como agricultura de subsistência. Além disso, o juiz federal ponderou que a dívida não per-tence aos produtores e o corte na eletricidade dos perímetros afetaria diretamente a econo-mia dos municípios.

Inquieto, o agricultor Carlos Alberto saltou do pranchão de madeira e esbravejou em tom de preocupação sobre o futuro da próxima sa-fra. "Nós irrigantes estamos preocupados com isso, porque a qualquer momento a Energisa pode derrubar essa liminar e derrubar a nossa energia. Sem isso, as bombas não funcionam, nem irriga, nem drena a nossa terra. Depende-mos disso. O que pode prejudicar a safra que vai começar em julho,” afirma.

No meio do caminho..O leilão de terras virou uma pedra para os ri-

zicultores. O drama que persegue Walter Araú-jo e mais 30 agricultores da região se arrasta há mais de cinco anos. Após contrair um emprés-timo individual de sete mil reais no Banco do Nordeste, os produtores levaram um calote da usina que se comprometeu, mas não comprou o arroz. Hoje, a dívida já passa de R$ 30 mil por agricultor. Com o impasse, o banco conseguiu uma liminar para penhorar as terras na Justiça. Porém, uma nova decisão judicial suspendeu o leilão das propriedades rurais.

"Vendemos nossa produção para uma usina, que deu um calote. Ficamos com a dívida no banco e a gente não consegue renegociar mais o valor. A Associação distribuiu todo o nosso arroz na época. Agora não conseguimos pagar por causa dos juros," esclarece o presidente da Associação do Serrão.

Isso só aumentou a inquietude de Carlos Alberto. Abriu os braços. Sentou-se ao chão. Mas logo levantou. Tirou o boné, pediu a pa-lavra por alguns minutos e começou a narrar o porquê daquela angústia. Segundo ele, sem o financiamento dos bancos, o produtor se torna um alvo do “atravessador,” que financia a plan-tação com o compromisso de compra-la por um preço inferior.

“Esse empréstimo é para fazer a manutenção da plantação. Assim a gente se livra dos empre-sários na hora de vender a produção, porque não pegamos dinheiro com os empresários para fazer o plantio. Se não, o agricultor fica na mão dele. Hoje, só o Banco do Brasil libera esse crédito,” completa o rizicultor.

E enquanto não começa o plantio da próxi-ma safra, Walter e Carlos Alberto mais uma vez tentam organizar as famílias do Serrão. Dessa vez, por uma causa religiosa: a tradicional Noi-te dos Motoqueiros na Festa de Santo Antônio.

mecanização da produção impulsiona rizicultura no Estado, mas não emancipa produtores.

Fotos e rePortagem: JosaFá [email protected]

Cultivo. Uso da máquina colheitadeira acelera produção, mas afasta mão de obra da lavoura.

“Já chegou uma época de passar até um mês para conseguir plantar. Hoje você prepara o lote em um dia

e joga a semente.” (Walter Araújo)

Estimativa de produtividade* de arroz em Sergipe:

2015: 10,52014: 9,92013: 7,42012: 8,72011: 8,5

*média de produção por hectare

(Fonte: Codevasf)

Produtividade. Carlos Alberto lamenta ação de atravessadores e burocracia para investimentos.

Estimativa. Walter Araújo pretende colher mais de nove toneladas de arroz na próxima safra.

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EcOnOmIA bRASILEIRA é TEmA DE DEbATE nA UFSProfessor em política de desenvolvimento discute questões gerais sobre economia brasileira

Foto e rePortagem: antônio gonçaLVes [email protected]

Após a entrega das declarações de rendimen-tos dos contribuintes brasileiros, no final de Abril de 2016, muitas questões vêm à tona

com relação à carga tributária do Brasil. Por um lado, os contribuintes insatisfeitos com o pagamento dos impostos, e por outro, os governos em suas diferen-tes instâncias, necessitando suprir suas funções bá-sicas como arrecadar, distribuir e alocar recursos.

Diante da temática apresentada, conversa-mos com Wagner Nóbrega, doutor em políti-ca de desenvolvimento pela Universidade Fede-ral do Paraná (UFPR), professor do departamento de Economia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), desde 1997, com o objetivo de tentar elu-cidar e desmistificar alguns conceitos econômi-cos não conhecidos pela maioria da população.

Jornal Contexto - Os contribuintes brasileiros en-tregaram suas declarações de rendimentos referentes ao ano de 2015, mas alguns de fato não têm pleno en-tendimento do que se trata. Então, o que é o imposto de renda?

Wagner Nóbrega - O imposto de renda é parte necessária de qualquer governo, de qualquer país, para o financiamento das políticas sociais. É basica-mente a contrapartida para aqueles que contribuem e de disseminação de benefícios sociais para aqueles que não podem contribuir. Assim, com ele, o governo faz o seu papel de redistribuição e de política social.

Jornal Contexto - Esse imposto é justo?

WN - A medida de justiça é sempre algo que se deve discutir no conjunto do nível PIB e do nível de atividade de cada economia. Num país como o nos-so existe ainda uma renda que pode crescer muito,

nossa produtividade comparada com outros países é muito baixa. Nessa situação o governo tem um pa-pel fundamental, ele tem estruturas a construir, tem educação, tem justiça para melhorar, tem uma série de coisas que precisam de mais investimentos, então nessa fase é esperado que o governo realmente seja o responsável por impor uma carga tributária maior. Ao contrário do que se fala, um país rico tem uma contra-partida alta porque as pessoas ganham bem e elas têm um atendimento social bom, então a carga tributária deve ser alta, mas nos países como o nosso, chamados em desenvolvimento, o governo tem que atuar mais firme porque é o momento em que ele está estrutu-rando a política social. Infelizmente nessas fases são necessários mais recursos, consequentemente à carga tributária tem outro sentido, mas ela também é alta.

Jornal Contexto - O Governo Federal é o respon-sável pela arrecadação de alguns impostos no Brasil e redistribuir para os estados e municípios. O que você acha desse processo?

WN - O pacto federativo no Brasil sempre foi muito complicado, acredito que quem conhece ou lembra da história recente do país sabe que sem-pre tivemos dificuldades na relação entre governo e município, governo de estado e governo federal. A Constituição de 1988 reformou muito isso e fez com voltássemos a ser um país mais municipalista, ou seja, menos presença do governo central do que era no período do governo militar, mas ainda ficamos com uma indefinição muito grande sobre os recur-sos de quem arrecada, como distribui e quem tem as obrigações. Nesse sentido é que precisamos de uma reforma federativa urgente para que possamos fazer e pensar em uma reforma tributária, porque primeiro você tem que ter as atribuições e respon-sabilidades bem definidas de cada ente federativo.

Jornal Contexto - Muitos governadores e prefeitos do Brasil vêm reclamando que os repasses feitos pelo Governo Federal estão diminuindo. Até onde isso é verdade?

WN - Nós estamos passando por uma crise. Aque-la crise de 2008, finalmente tomou forma agora em 2013, e continua até agora, nesse sentido, o problema não é a economia, o problema não é o poder, mas é de novo a questão federativa. Se tivesse bem claro qual é a atribuição, a responsabilidade de cada ente de governo, como é que ele vai arrecadar e como vai dispor desse dinheiro, poderíamos ter outra situação, não precisava enfrentar o problema da redistribuição partindo do governo federal, dos critérios do governo federal, não precisava depender da situação da eco-nomia como um todo para poder definir a situação fi-nanceira do governo local. Portanto, essas alternativas não foram encontradas, temos que redesenhar esse pacto federativo para que governos dos estados e dos municípios tenham alternativas de financiamento.

Jornal Contexto - Em economia não se pode com-parar os desiguais em hipótese alguma, não há como você comparar um país com outro pelas suas especifi-cidades. É senso comum no Brasil que se cobra muito imposto e que é muito alto. O que o senhor diz a esse respeito em relação a outros países?

WN - “Respirou fundo” – Eu digo que outros países passaram por experiências muito mais demoradas, longas historicamente, não quer dizer que eles sejam melhores, talvez eles tenham sofrido mais para encon-trar o caminho do que nós, ou demoraram mais e têm muito mais história do que nós. A nossa história não é só curta em termos de fundação do país, é também em mudanças democráticas. Nós tivemos regimes to-talitários duas vezes no país e tivemos que reconstruir o caminho da democracia por duas vezes, então isso muda os sentidos dos resultados. É uma avaliação não só econômica, mas é uma avaliação dos percursos que mudam o sistema e mudam o destino da economia.

Jornal Contexto - Podemos copiar? WN - Em relação aos países considerados centrais,

Europa e Estados Unidos, eles funcionam melhor por-que aprenderam funcionar melhor, nós estamos no caminho do aprendizado. Eu sou extremamente oti-mista e sei que nós temos que passar por sofrimentos, infelizmente nós estamos numa crise política e econô-mica e não temos outra saída a não ser sentir as dores dessa crise. Eu espero que essas dores nos ensinem, as-sim como aconteceu nos Estados Unidos e na Europa.

Jornal Contexto - Então, consequentemente, quando nós passarmos por isso a participação do con-tribuinte no recolhimento de impostos será maior?

WN - Pode ser que sim. Se for, espero que a máquina seja melhor desenhada, com resultados sociais mais objetivos, mais claros, que redundem também em mais emprego, aumente a produtividade, o povo mais capacitado, dominando melhor suas ferramentas, seus conhecimentos e também gere uma renda maior.

Jornal Contexto - Os estados pequenos recebem percentualmente transferências líquidas maiores. O problema não está no ICMS?

WN - A questão está na base da arrecadação, para os estados menores o ICMS não é. O estado de Sergi-pe pode arrecadar bem próximo das transferências, atualmente com a crise ele quase se equipara com as transferências, mas o ICMS é um instrumento polí-tico, por isso temos que pensar: É um instrumento técnico? É suficiente? Pode-se avançar na arrecada-ção dele com expansão da base de tributação? Uma fiscalização mais rígida resolve? Então, enquanto instrumento técnico ele pode ser sim uma alterna-tiva viável porque está aí, mas enquanto instrumen-to político, enquanto houver guerra fiscal, mesmo que proibida por lei, tem que se pensar se realmen-te essa coisa é válida dentro da estrutura federativa.

Jornal Contexto - O ICMS não é injusto para os mais pobres?

WN - O ICMS é pago quando a pessoa faz a compra final da mercadoria, porque nos processos anterio-res quem fornece e repassa a mercadoria da fábrica até o consumidor final vai repassando imposto até o último consumidor, todos eles se creditam do ICMS na hora da venda e às vezes antecipadamente, então o intermediário não tem prejuízo nesse negócio, ele repassa para o preço final, quem paga é o consumi-dor final. Então o imposto sobre o consumo, como no caso do ICMS, é neutro em relação à produção e as relações econômicas anteriores a venda final. Por-tanto, quem consome mais vai pagar mais, não quer dizer que seja injusto com os mais pobres, quer di-zer que os mais pobres têm a mesma carga de ICMS paga pelo rico. No produto mais caro, ele vai pagar proporcionalmente a sua riqueza, nesse caso ele não é injusto com os mais pobres. Agora, uma polí-tica social que pode funcionar é a isenção do ICMS para as classes mais pobres, mas tem que ter claro que está incentivando o consumo dos menos favo-recidos, isso não necessariamente melhora a vida deles, porque se o mais pobre está passando neces-sidade e quer comprar um celular é uma opção dele.

Jornal Contexto - O mais pobre paga mais porque consome toda a sua renda, já quem ganha mais não gasta tudo. Percentualmente existe uma grande dis-crepância?

WN - No conjunto dos impostos, por exemplo, o IR numa certa faixa de renda é isento, então os mais pobres não pagam, já os mais ricos pagam. O que se pode ver no conjunto da sociedade é que os mais ricos não são tributados na totalidade de sua renda, porque a riqueza no Brasil praticamente não é tributada. No consumo pode existir de um pobre pagar ICMS tanto quanto o mais rico, ou pagar mais porque consume mais, isso em relação a sua renda. O rico não consome toda a renda, por outro lado o IR que o rico paga não incide para boa faixa dos pobres, então no conjunto do sistema tributário isso de certa forma se compensa.

Jornal Contexto - Não temos o imposto sobre grandes fortunas. Pode-se dizer então que a riqueza no Brasil é beneficiada?

WN - Entramos em outra questão que não é ne-cessariamente o tributo, estamos falando de fluxo, de renda, tudo que é novo é fluxo, aquilo que eu ga-nhei durante o ano, aquilo que ganhei quando eu produzi ou algo que vendi, no caso do proprietário, do empresário que por trás desse fluxo tem uma ri-queza. Você sabe que até hoje pago aluguel? Por quê? Porque eu não tenho uma riqueza anterior, eu não comprei uma casa, quem compra uma casa já tem a economia do aluguel, não é verdade? Embora tenha a despesa da manutenção da casa, porém quem paga

aluguel tem que manter essa despesa durante o tem-po em que ele mora nessa casa e devolvê-la. A riqueza é uma fonte de economia no sentido comum, vulgar, e isso de fato o pobre não tem. É quando nós fala-mos de justiça de fluxo e justiça de estoque que é a riqueza. Existe uma faixa da população que não é tri-butada, porém a alíquota máxima do IR vai até 27,5%.

Jornal Contexto - Esse teto não é alcançado por nenhum contribuinte. Isso não é injusto?

WN - De fato nós temos injustiça quando você define um teto para pagar IR, mas você tem uma in-justiça maior em relação à riqueza. Quando é que você vai desonerar o pobre de novos gastos se ele não tem riqueza, não precisa falar de rico, mas a classe média que tem uma casa, uma poupança, um ne-gócio que pode evitar uma despesa já está desone-rada pelo seu estoque, então o fluxo dele é para ficar com a renda livre para outra coisa, já o pobre não, ele não tem saída, precisa gastar em consumo ou

gastar em necessidades, então a injustiça é mais clara em relação à riqueza e essa não é atacada.

Jornal Contexto - Existem obrigações em nossa Constituição com a saúde e educação determinadas em percentuais da receita corrente líquida. Algumas categorias de trabalhadores tentam vincular seus ven-cimentos à Constituição e existe uma discussão de vin-cular 10% do PIB para a educação. Qual a sua opinião?

WN - Não tem nenhum sentido econômico, nem sentido social você fixar na Constituição o que quer que seja. Primeiro porque a dinâmica do investimen-to de cada setor é proporcional aquilo que se cria de

iR – Imposto de Renda iCmS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

PiB – produto Interno Bruto

Professor Wágner nóbrega

benefício em cada momento, se você melhora a edu-cação em 10%, provavelmente essa educação vai criar condições dela própria se melhorar. Uma vez criada à estrutura porque repetir uma situação que foi dimen-sionada para um momento mais precário, mais depen-dente. Nós temos que avançar no sentido de que em termo lógico se espera que os investimentos feitos em cada período sejam eficientes e que os investimentos sucessivos sejam marginalmente menores, essa logi-ca seria geral e grosseira, mas é claro que isso tem a ver com a realidade, não podemos à priori definir quanto é que cada setor da sociedade, a exemplo da saúde e da educação, vai precisar. A política de saúde se for de emergência, então vamos precisar gastar mais, por-que se investe em tratamentos de traumas e cirurgias, provavelmente não está cuidando do básico, da ali-mentação, da vacinação, etc. Consequentemente os gastos vão ter que aumentar. Portanto, não tem nem como fixar em 10%, e a cada ano vai precisar de mais recursos por falta de parâmetros, isso depende da si-tuação, do desenho da sociedade em cada momento.

Jornal Contexto - A economia é cíclica. O Brasil sai da crise este ano ainda?

WN - Não acredito, não tenho a menor pre-visão na minha limitação de que a economia saia dessa situação ou chegue a taxas positi-vas de crescimento num horizonte de dois anos.

Fonte - Secretaria do Tesouro Nacional (STN)

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252524 Esporte Esporte

PARTIcIPAÇãO Em cAmPEOnATOS nAcIOnAIS gERA VISIbILIDADE E REnDA AO cOnFIAnÇA

O futebol é o carro-chefe dos espor-tes no Brasil. A prática do esporte está concentrada, principalmente,

no eixo Sul - Sudeste, que concentra os principais clubes do país, como também os principais veículos de comunicação que fazem a cobertura dos campeonatos. Por outro lado, num estado com futebol sem grande representatividade nacional, como é o caso de Sergipe, o título esta-dual permite a participação do campeão e vice-campeão em competições de boa ex-pressão, como a Copa do Brasil, a Copa do Nordeste e as séries de acesso às divisões de elite nacionais. Isso significa um gran-de feito para os times, pois a participação nestas competições propicia patrocínios mais rentáveis, melhores públicos e visi-bilidade considerável nos meios midiáti-cos.

Nos últimos dois anos, a Associação Desportiva Confiança (A.D.C) conquistou o título estadual e tornou sua presença re-corrente, fato que corrobora para que, a cada ano, o clube se torne forte candidato a sagrar-se vencedor, tendo em vista que melhores condições econômicas reper-cutem nas contratações e formações de equipes mais competitivas.

Em Sergipe, as competições de futebol começam em fevereiro, estendendo-se até meados de maio. Para os times que par-ticipam dos campeonatos nacionais, o segundo semestre tem o calendário pre-enchido até novembro. Por outro lado, as equipes que disputam apenas o estadual geralmente desfazem o time como opção para não comprometer os cofres do clube. Os meses de novembro e dezembro costu-mam ser aproveitados para contratações e início de pré-temporada. Nesse período, acontecem treinos e a apresentação do elenco que disputa o campeonato sergipa-no no início do ano.

Considerando essa dinâmica, a partici-pação do Confiança nas competições de visibilidade nacional afeta a economia do clube positivamente e gera seu fortaleci-mento. Sem esses campeonatos, o clube funciona apenas até o mês de maio. Com eles, o calendário se estende até o final do ano. A Copa do Brasil e a Copa do Nordes-te têm cota fixa de TV, maior fonte de ar-recadação dos clubes brasileiros, e todas as despesas são pagas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Na Série C, todas as despesas são pagas e a arrecadação fica restrita a patrocínios do clube e borderô (renda) das partidas. “O que move a economia do clube é a cota de

TV, patrocínios, borderôs, programa sócio torcedor e negociação de atletas”, explica o presidente do clube, Luiz Roberto San-tana. Para ele, a ausência nos campeona-tos regionais e nacionais representa uma grande perda econômica para os clubes. “Fora das competições a equipe não teve esse tipo de arrecadação e, além disso, por conta da visibilidade tem dificuldade com patrocínio e com o programa sócio torce-dor”, ressaltou.

O principal produto que ajuda a divulgar o clube é a participação em competições, pois há o fortalecimento da marca e do ca-lendário, tendo a transmissão de TV como o carro-chefe. Atualmente, o clube pos-sui uma média de 2.000 sócio torcedores, programa que possibilita benefícios para

os azulinos, como preferência de compra dos ingressos, descontos nas lojas oficiais, valor do ingresso reduzido, sorteios em participação de partidas e outros. Para agregar novos torcedores, são realizadas visitas às escolas e publicidade, por meio de uma agência contratada, além dos re-sultados nas competições, que contribui para atrair novos torcedores.

Artilheiro em busca de destaquePara o atleta é mais motivante jogar em

um clube que disputa campeonatos com visibilidade maior. Atuações de destaque representam a chance de aparecer na mí-dia e entrar na lista de contratações de outras equipes. “Se chegaram propostas de outros clubes que não disputam essas competições nacionais, o jogador pensa bem se vai ser bom para sua carreira ou não”, declarou Leandro Kível, centroavan-te do Confiança.

A repercussão dessas partidas pode ser decisiva para a carreira do jogador, por isso, estar motivado e com as condições físicas e psicológicas ideais é o principal passo para um melhor desempenho. “A motivação na minha opinião tem que ser em tudo que se faz. Na minha profissão dou meu máximo porque gosto do que faço, independentemente do campeona-to a ser disputado”, ponderou o atleta. Ao chegarem propostas de outros clubes, a disputa desses campeonatos faz com que o jogador pense melhor sobre sua saída ou permanência.

A paixão da torcida azulinaA torcida do Confiança é o maior pa-

trimônio do clube. Desde o surgimento do “time do povo”, seus fiéis adeptos re-presentam a massa azulina. O trabalho monográfico realizado por Emily Lima e Thais Guedes, intitulado “SER X CON: O Grande Derby Sergipano” mostra ricos de-talhes dessa história azulina. A Associação Desportiva Confiança (A.D.C.) foi funda-da em 1936, inicialmente por jovens idea-

listas que viram nas modalidades voleibol e basquete uma oportunidade de inserção na prática esportiva. Um dos seus funda-dores, Joaquim Sabino Ribeiro, que leva o nome do estádio do clube, proprietário da Fábrica Confiança, era detentor de um grande terreno no Bairro Industrial. Eis que no dia do trabalho, em 1º de maio de 1936 surge uma das maiores forças do es-porte sergipano.

Em meio ao país do futebol, faltava algo para que a A.D.C se tornasse gigante. As-sim, em 1949 é criado o departamento de futebol do clube. Então, surge o “Dragão” do bairro Industrial, o time que “já nasceu grande”, formado por operários da fábri-ca que levava seu nome, o clube das cores azul e branca. O primeiro título veio em 1951. No campeonato de 1955, após a Fede-ração Sergipana de Futebol (FSF) instituir que os dois jogos da final contra o Sergipe seriam no Estádio Adolpho Rollemberg, o Dragão resolveu desfiliar-se da entidade e em seguida acabou com o clube.

Mas quando uma instituição ganha co-notação não poderia acabar assim. Um movimento grandioso é formado e as pas-seatas tomam conta da capital sergipa-na, nas quais o fundador Joaquim Ribeiro pronunciou em meio aos manifestantes a seguinte frase: “Como é para o bem de todos e felicidade maior do Confiança, o Confiança fica e a Fábrica sai, porque o Confiança não pertence mais à Fábrica, o Confiança agora é do povo”.

Ao longo de sua história, alguns joga-dores que passaram pelo clube ajudaram a construir equipes memoráveis. O ines-quecível time de 1962, a década de 1970 e o prestígio nacional, apenas demonstra-ram que o gigante operário veio para ficar, assim como a força da torcida proletária, a maior entre as conquistas do gigante da capital.

José Dória, filho de pai torcedor do Ita-baiana, acompanham o Confiança com

andrÉia [email protected]

copa do brasil, Série c e copa do nordeste trazem investimento ao clube sergipano e garantem calendário até o segundo semestre do ano.

frequência há 30 anos, seu único time. Seu José não é sócio torcedor, mas afirma aju-dar o time na medida em que frequenta os jogos. Quando o time azulino manda jogos fora de seus domínios, a principal dificuldade se remete à questão de trans-porte e de mobilidade desses torcedores. “Hoje tá perigoso viajar, então a gente prefere escutar no rádio ou ver na tele-visão quando é transmitido”, pontuou o

torcedor. A necessidade de fazer investi-mentos, contratando jogadores de quali-dade para disputar com mais força contra as outras equipes, foi outra questão colo-cada em pauta pelo azulino.

Samuel Melo, 50, acompanha todos os jogos do clube proletário. Torcedor do Confiança, Flamengo e Santa Cruz, a rela-ção de amor pelo “Dragão” começou aos 13 anos de idade. Levado ao estádio de fute-bol pelo pai, torcedor do arquirrival Ser-gipe, o lado azul foi o que despertou sua paixão. O sócio torcedor é consumidor de produtos oficiais do clube, como meio de ajudar seu time do coração, mas citou a dificuldade de transporte para os jogos do interior como o maior desafio. “O sergi-pano gosta de futebol. A questão agora é só questão de patrocinadores. Patrocina-dores fortes podem nos levar a uma série A”, afirmou.

Gabriela, 25, torcedora do Confiança e Vasco, tem uma relação recente com o time proletário. O jogo entre Confiança e Flamengo foi o primeiro no calendário da jovem sergipana no ano de 2016, fato que se atribui à importância da participação azulina no segundo campeonato nacional mais importante do país. A maior difi-culdade apontada está atrelada à falta de incentivo financeiro para o futebol local. “O clube não motiva o torcedor a ir ao es-tádio. Falta ser divulgado, olharem mais para o futebol sergipano”, ressaltou a tor-cedora azulina.

Símbolo do clube, ao torcedor azulino resta acompanhar o time nas competições que disputa, motivação que cresce à me-dida que esses campeonatos trazem re-presentatividade para o estado. O sucesso nesses jogos prolonga o calendário, patro-cínios, contratações, sócio torcedor, es-pectadores, mas acima de tudo, revigora a alma do torcedor sergipano, que não dife-rentemente do brasileiro, respira futebol.

Jogos. Arena Batistão, palco dos jogos da A.D.C.

Torcedor. À direita, samuel melo, torcedor apaixonado pelo Dragão.Atividade. Jogador Leandro Kível em atividade

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26 notas

Ao Mestre, com carinho...

Ser professor qualquer um pode ser, mas ter o dom de ser professor é para poucos. Mais que passar conteúdos é transmitir experiências, lições de vida. Lecionar é algo

lindo e que com certeza precisa ser mais valorizado.

Quando se é professor universitário mais que transmitir tudo isso, precisa-se passar os valores, um “gostinho” de mercado de trabalho para os futuros profissionais que ali estão. Quan-do se é professor universitário se trabalha com os sonhos dos alunos que estão ali cheios de expectativas para a futura vida profissional.

A Universidade é cheia de obstáculos e aliados a esses estão também os desafios da nossa futura profissão. Para nós, os de-safios da vida jornalística, que sentimos na pela a cada disci-plina laboratorial. Mas, quando nos deparamos em sala com um professor que nos motiva, nos incentiva (até nas broncas) é mais fácil vencer esses obstáculos.

Você que chegou até a última folha deste jornal passou por vá-rias histórias - não apenas as que estão escritas - mas as his-tórias implícitas da construção de cada reportagem, de cada página, de cada elemento. Essa é um pouquinho da nossa his-tória e para que ela pudesse se tornar real nós tivemos a frente um exemplo de profissional. Michele Tavares, que motivou, inspirou, nos fez acreditar no jornalismo, acreditar em dias melhores, acreditar que somos capazes... acreditar nos nossos sonhos.

“-Mas, professora e se não der certo?”

“-Tente, o não você já tem, vá atrás do sim!”

Michele, em nome daqueles que receberam seus ensinamentos, receba o nosso carinho e o nosso muito obrigado!

“Obrigada por ter sido fiel a sua vocação e ter feito

desse amor pelo ensinar jorna-lismo, exemplo pra mim. Que a luz divina te acompanhe e te guie por onde quer que fores e que você possa alcançar todos os teus sonhos!”

Ana Lúcia

“Tenho como meta como futura jornalista, chegar

o mais perto possível de Michele como profissional. É espelho para quem quer refletir com seriedade, profissionalismo e sensibilidade nessa área de grandes histórias e verdades. Obrigada!”

Ellen Cristina

“Mesmo com pouco tempo, apenas um período, Mi-

chele foi a professora que mais me incentivou a escrever sobre temas que gosto. Além disso, tornou-se um grande espelho para mim. Quando crescer, quero ser igual à Michele!”

Taís Cristina

“Só quero que tenha plena certeza da sua importância nas nossas

vidas acadêmicas. Você foi o diferencial que precisávamos para continuar essa caminhada. Obrigada pela paciência, pela amizade, pelas aulas e pela magní-fica orientação. De sua aluna mais lou-ca,

Camilla Araújo“Michelle, em tão pouco tempo você conseguiu tanta coisa,

inclusive, nos despertar novamente o amor pela profissão. Gratidão, e que o Eterno Espírito do Bem guie sua cami-nhada, abrindo seus caminhos para a luz, a paz, o amor e o sucesso!.”

Marcos Pereira

“Eu só tenho a agradecer muito a professora Michele por to-

dos os seus ensinamentos! Seu jeito encantador de ensinar me fez amar ainda mais essa linda e complicada profissão!”

Lucivânia Santos

“Obrigado, Michele, pela do-çura e incentivo em desco-

brir novos horizontes na escrita do jornalismo! O pouco tempo que fui seu aluno vai ficar marcado, pode acreditar!”

Gustavo Monteiro

“Por ter me dado a liberdade de escrever sobre o que eu real-

mente gosto; por me causar um super susto e pausar a aula por minha causa para corrigir um erro ‘perdoável’, pois ainda não é Impresso II; por fazer eu me apaixonar por escrever com um pouco mais de profundidade, obri-gada! Professora qualquer uma pode ser, mas educadora engloba valores que ditam o caráter e forma gente do bem. E poucos têm esse dom.”Andréia Fontes

“Professora, gostaria de dizer que sou muito grato a você,

por ter passado, a mim e à nossa tur-ma, o seu conhecimento de forma branda e eficiente. As discussões em sala e seu método de ensino irão me influenciar nas escolhas profissionais e na minha postura ética como jorna-lista. Muito obrigado! .”Victor Siqueira

“Bons mestres servem como exemplo, nos incentivam a

enxergar além da caixa, a ir mais além e, de certa forma, nos permite descobrirmos um pouco mais sobre nós mesmos. Obrigada Michele por enriquecer a minha vida acadêmica com seus ensinamentos e por servir como um exemplo para mim. Suces-so!”

Yasmin de Freitas

“Não sei por que você se foi, quantas saudades eu senti e de tristezas vou viver e aquele adeus não pude dar...”

Seriam tantas canções, mas o que posso dizer é que “... foi com você que eu aprendi a respeitar os outros. Legal ter você aqui um amigo em que eu posso acreditar” Tão nova, tão humana, tão profissional. Nem ela mesmo acredita em quem se tornou, as palavras do pequeno príncipe caem bem nesse momento “você é responsável por tudo aquilo que cativas”. Uma professora que não doutrina, mas que orienta e tenta ar-rancar de seus alunos o que eles têm de melhor. Sinta-se abraçada por todos que fazem o DCOS.Assim resplandeça a vossa luz diante dos ho-mens, para que vejam as vossas boas obras e glo-rifiquem a vosso Pai, que está nos céus.”(Mateus 5:16)”

Silas Brito

“Por onde quer que eu vá, lem-brarei da professora que me

ensinou a ser mais humana em mi-nha futura profissão. Michele é si-nônimo de profissionalismo aliado ao companherismo - ela anda lado a lado com cada aluno, instruindo, corrigindo e sendo exemplo. Desejo toda sorte de benção sobre sua vida!”

Nathália Gomes

“A caminhada na universidade é des-gastante e pode desestimular já nos primeiros anos. Felizmente, a gente

encontra quem consiga nos ajudar a ressignifi-car nosso trabalho e se somar à luta diária que é enfrentar um sistema de educação problemá-tico. Michele é uma dessas pessoas e poucos docentes que fazem questão de manter o bri-lho nos olhos de cada aluno, mesmo diante de limitações, condições precárias e de uma pro-fissão, na maioria das vezes, ingrata. Ademais, a qualidade que eu mais admiro em Michele é a capacidade que ela tem de compartilhar os próprios sonhos e torná-los os nossos”

Matheus Brito

“Mais que professora, Michele foi amiga da turma. Não só estando

perto quando necessário, mas puxan-do orelha quando preciso, alertando os perigos das decisões quando tomadas, incentivando quando notava em nós o desejo em investir. Tudo isso feito daquele jeito fofinho e particular dela, e assim foi ganhando espaço não só no meu, mas no

coração da turma inteira.”

Yago Andrade