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Jornal O Ponto - junho de 2004

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - junho de 2004

J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C

A n o 5 | N ú m e r o 3 9 | J u n h o d e 2 0 0 4 | B e l o H o r i z o n t e / M G

d i s t r i b u i ç ã oG R A T U I T A

Estado não dásubsídio paraeducação infantil

Das 23 milhões de criançasde zero a seis anos existentesno Brasil, apenas seis milhõesestão matriculadas em crechese escolas, segundo dados doInstituto Nacional de Estudos ePesquisas Educacionais, Inep. Afalta de políticas públicas é o quecompromete a educação dessascrianças.Em Belo Horizonte, odéficit é de 60 mil vagas.

página 6

Mulheres estãofumando mais doque os homens

Mesmo o número de fu-mantes tendo diminuído noBrasil, uma pesquisa feita pelaAssociação Brasileira Comunitá-ria Para a Prevenção do Abuso deDrogas, Abraço, constatou que asmulheres estão fumando mais. Opercentual passou de 18% para25%. O número total de fuman-tes no país é de 31 milhões, oitomilhões são mulheres.

página 10

PNUD mostrapreferência aditaduras

Pesquisa feita durante doisanos em 18 países da Améri-ca Latina mostra que os lati-nos estão insatisfeitos com osistema democrático. O rela-tório “A Democracia na Amé-rica Latina - Rumo a uma de-mocracia de cidadãos e cida-dãs” entrevistou 19 mil pes-soas e 54,7% delas responde-ram preferir um regime auto-riário capaz de resolver os pro-blemas econômicos ao demo-crático. Segundo o cientistapolítico Carlos Ranulfo omaior problema dos países la-tinos é a desigualdade socialque as ditaduras não conse-guem resolver.

página 3

Informais nãotêm direitostrabalhistas

Com o desemprego, tra-balhadores vêem na infor-malidade uma forma de ga-nhar o sustento, mas ficamsem direitos previstos naConsolidação das Leis Tra-balhistas (CLT). Os governosestadual e municipal deixamde arrecadar com qualquerforma de comércio que nãopague impostos.

página 5

Caminhoneiros são obrigados a tomar drogas para cumprir prazos de entrega

Cachaça ganhaespaço entrebebidas finas

A terceira bebida destiladamais consumida no mundo,está ganhando espaço entre asmais finas. Isso devido a umaumento na divulgação e nocontrole de qualidade. A Am-paq, Associação Mineira dosProdutores de Cachaça de Qua-lidade, é uma das responsáveispor esse sucesso.Em Minas exis-tem mais de 8.466 alambique.

página 16

Para suportar jornadas detrabalho de até 72 horas con-secutivas em um trajeto de3200 quilômetros, caminho-neiros de todo país estão sedopando para permaneceremacordados durante as via-gens. Eles usam o “rebite”,drogas a base de anfetaminas,inibidoras de sono.

O caminhoneiro MagnoAlves, de 27 anos, diz que senão tomar a droga não conse-gue cumprir os prazos de en-trega. E ainda afirma que o go-verno, empresários e trans-portadoras têm conhecimen-to do uso e do mal causado,mas são indiferentes.

No Brasil existem cerca de1 milhão e 800 mil caminho-neiros, de acordo com dadosda Fetcemg, Federação dasEmpresas de Transporte deCargas de Minas Gerais.

páginas 12 e 13

Preço de ingresso é

alto para torcedores

BH sedia fórum de

Pedagogia em julho

Sistema de escambo

cresce entre brasileiros[ página 4 ][ página 15 ][ página 12 ]

REBITEdo

Há 32 anos, Valdecir Conceição Souza vive dentro da boléia do caminhão e durante 23 usou rebite. Hoje sofre de

taquicardia e tem seu sistema nervoso debilitado por causa da droga. Ele reclama das condições em que vivem os

caminhoneiros no Brasil e da falta de assistência do governo. “O governo tem que olhar para o caminhoneiro”, cobra.

Resistênciaao

Imperialismo

Rafael Werkema

Infoarte: Rafael Werkema

Fidel Castro em seu último discurso em Havanarecebeu mais uma vez o apoio de mais de um milhão

de pessoas na Praça da Revolução para refutar aspressões de presidente norte-americano George W.Bush contra a autodeterminação do povo cubano

páginas 8 e 9

01 - Capa - Patrícia e Rafa 09.06.04 16:54 Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - junho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editora e diagramadora da página: Patricia Giudice

2 OPINIÃO

Coordenação Editorial:Profª.Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso) e

Prof. Leovegildo P. Leal (Redação Modelo)

Monitoras do Jornalismo Impresso:Patrícia Giudice, Sinária Ferreira e

Isadora Troncoso Doehler

Monitor da Redação Modelo:Renato Torres

Monitores da Produção Gráfica:Rafael Werkema e Marcelo Bruzzi

Projeto Gráfico:Prof. José Augusto da Silveira Filho

Tiragem desta edição:5000 exemplares

Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127e-mail: [email protected]

Centro Universitário Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro

BH/MG

Prof. Eugênio Frederico Macedo ParizziPresidente do Conselho Curador

Profª. Divina S. Lara VivasReitora do Centro Universitário Fumec

Prof. Amâncio F. CaixetaDiretor Geral da FCH/Fumec

Profª. Audineta Alves de CarvalhoDiretora de Ensino

Prof. Benjamin Alves Rabello FilhoDiretor Administrativo

Prof. Alexandre FreireCoordenador do Curso de Comunicação Social

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

João Perdigão7º período

A falta de mobilização dosmovimentos reivindicatóriospor uma sociedade mais justaatualiza seu atraso decano a ca-da dia que uma propaganda deum novo celular ou carro in-vade os olhos, ouvidos e men-tes. Mesmo em Belo Horizon-te, uma capital da mídia alter-nativa, com mais de 40 rádioscomunitárias. Todo tipo decampanha que previne a so-ciedade de seus próprios ma-les implica em um projeto ain-da mais eloqüente partindo dosgrandes detentores de conces-sões de mídias.

As próprias faculdades comseus cursos de Comunicação(nada Social) contribuem paraa apatia vigente almejando for-mar seus alunos para serem me-ros biais, datenas e olivettos davida. Obviamente, os estudan-tes que interessam-se por umavertente mais crítica da vidaacadêmica conseguem assimi-lar os conceitos teóricos paraampliar seus horizontes.

Porém, será que assimilarum conceito sensato para umherdeiro de uma tradição coro-nelista não seria nada mais doque acirrar seu cancrado ódioneonazista aos sem-terra? Maisricos ainda ficam os reacioná-rios que aprendem esta frágilestrutura de comunicação com

professores marxistas e depoisvomitam todo seu refugo inte-lectual em peças apelativas, se-xistas e violentas.

Enquanto você está lendoeste texto, nenhuma decisãoestá sendo tomada no país pa-ra promover a queda das con-cessões de rádio e TV feitasdesde a ditadura até a pro-mulgação da constituição de1988. Em sua cadeia de rádiose emissoras de televisão noMaranhão, o ex-presidente darepública José Sarney não pa-ga nem mesmo os direitos au-torais que 30% de outras emis-soras brasileiras estão pagan-do aos artistas. Sarney é oexemplo-mor da desarticula-ção da oposição e da descre-dibilidade política da qual opaís passa, apoiando seu anti-go desafeto, Luís Inácio Lulada Silva.

Críticas ao governo vigentesão sempre corriqueiras, mascom quase metade do manda-to cumprido, Lula não dá pri-vilégio concreto à causa socialque tanto prega. As causas dasminorias vão sendo deixadaspara a próxima vez, sempre. OFMI continua dando palpite nanossa soberania, um governoque era estilingue se transfor-ma em vidraça. E hoje os jovensnascidos depois dos anos dechumbo já puderam ver o tan-to que cansa ver a história serepetindo.

Daniel Gomes2º período

Você confia na polícia? Vo-cê se sente confortável na pre-sença da polícia? Você acha queela age com a violência neces-sária? Se você respondeu não aessas três questões, comece apensar mais profundamente so-bre o assunto e tente rever seusconceitos.

Não é de hoje, a mídia re-trata dia após dia, o compor-tamento violento e corruptodas corporações policiais noBrasil. Todo mês, há um bom-bardeio de reportagens, sejamelas de mídia impressa ou te-levisiva, acusando a polícia deabuso de poder, maus-tratos eviolência excessiva. Compara-ções absolutamente descon-textualizadas são a base dessasreportagens.

Em recente matéria de capade uma revista de circulação na-cional, a base de comparaçãopara demonstrar a ineficácia dapolícia brasileira foi a dos Esta-dos Unidos. Segundo a repor-tagem, a cada morte em açõespoliciais americanas, a políciabrasileira acumula quatro. Ora,como comparar números abso-lutos se eles são relativos?

Segundo o sociólogo e pes-quisador da Fundação João Pi-nheiro, Eduardo Batitucci, coma preparação da polícia dos Es-tados Unidos, um oficial ame-ricano morreria em aproxima-damente três (!) dias no Brasil.

É fácil perceber então co-mo a polícia age da forma co-mo a sociedade anseia. Se apolícia brasileira é violenta, épor causa da demanda da so-ciedade, e o policial faz parteda sociedade. Que jogue a pri-meira pedra quem nunca de-sejou a desgraça dos que sãoagentes da barbárie.

Além desse fator, há outrosagravantes que contribuem pa-ra a ineficácia da polícia: a es-trutura da profissão. Ainda se-gundo Batitucci, o policial ame-ricano ganha uma média de R$10 mil por mês. O policial bra-sileiro, quando muito, ganha R$1.500 ao mês. Com que condi-ção um cidadão que tem comofunção manter a ordem social,inclusive com o uso da violên-cia, pode desempenhar bem seupapel? A profissão de policialguarda um alto grau de pericu-losidade, devido á natureza dasações. O policial mal prepara-do e mal pago vai cometer fa-lhas, agindo aquém do que seespera dele.

Se ao menos o jornalismoque se diz de qualidade pro-curasse mostrar que a própriasociedade é culpada por aqui-lo que ela vê na mídia, talveznão estivéssemos às voltas comuma polícia com a qual su-postamente não podemos con-tar. Com matérias que apenasdegradam a civilidade de nos-so país, depoimentos soltos decasos que são exceções, en-volvendo em sua maioria pes-soas pobres (assim como ospróprios policiais, que são po-bres também), a mídia perpe-tua mais uma doença socialsem nenhum compromissocom a verdade.

Esperança comercializadaPatrícia Giudice

8º período

Ainda não se sabe a formula perfeita para obom jornalismo. Aquele que entretém sem alie-nar, informa sem impor juízo de valor e educasem limitar o conhecimento. Em um Brasil demais de 170 milhões de habitantes a grandemaioria não tem acesso nem ao jornalismo frag-mentado que circula na tv e rádio. Impresso eInternet, nem se cogita o acesso. A comunica-ção popular, assídua na época da ditadura mi-litar, ainda é a forma de jornalismo que mais seaproxima do que é necessário em um país quese encontra assolado na pobreza e à mercê daindústria cultural.

De caráter abrangente, enriquecedor, infor-mativo e de resistência, ela reúne cidadãos, dávoz ao povo, dribla a pauta da grande impren-sa e constrói uma identidade humanística naspessoas que são envolvidas por ela. Por viverem mundo capitalista, em que o valor da notí-cia se tornou caro para a maioria da população,a comunicação popular morreu.

Um estudo feito na região do Barreiro emBelo Horizonte mostrou como a fórmula ain-da vigente não está dando certo. Cultura setransforma em produto, concursos de belezasão atrativos financeiros para um jornal que sedenomina popular, reportagens se decodificamem publicidades explicitamente partidárias. Aesperança de que este tipo de comunicação ain-

da resistisse se desfez e deu lugar a uma me-lancolia e questões do tipo: quando o merca-do, o Estado, vai aceitar cidadãos críticos, quelutam pelos seus direitos sem medo de seremrepreendidos?

Não há espaço hoje para jornais feitos pelacomunidade, que denuncia os governos, o sis-tema, a própria sociedade e as multinacionaisempregadoras destes mesmos cidadãos. As pes-soas marginalizadas estão sem voz, sem o me-canismo antes existente em que ele podia de-sabafar. Estão sem ler a poesia que o outro dobairro vizinho fez, a música que o desconheci-do compôs, a notícia que amanhã poderá fazê-lo sofrer menos ao ir para o trabalho em umônibus lotado ou procurar um posto de saúdeà beira da morte.

O cidadão não é mais cidadão. Transformou-se em consumidor, aquele que toma Coca-cola,usa Benetton, acessa o New York Times pela Glo-bo.com, assina a Veja e a Folha de São Paulo (emMinas Gerais), vai a um restaurante alemão, to-ma cerveja aguardando que a mulher da propa-ganda caia aos seus pés, e o pior, continua achan-do que felicidade é sinônimo de ganhar na lote-ria e se emburrece cada vez mais. Quem desfrutaexcludente vício, não existe, não é mais cidadão.E a forma mais justa encontrada foi dissemina-da por estas mesmas pessoas que não fazem na-da além de consumir. E os “menos favorecidos”continuam à margem de toda a situação socialsem poder, ao menos, falar.

A grande farsa do Dia D Mariana Alves

4º período

Seis de junho, domingo, a mídia mundialvoltou os holofotes para a comemoração doDia D, na França. Esse mesmo dia em 1944teria representado o início da reaçào à Ale-manha Nazista, o que na verdade significauma grande mentira.

O fato é que esse dia não poderia marcara reação ao nazismo, porque isso já vinhaacontecendo, e o protagonista dessa luta eraa União Soviética. A hipocrisia da comemo-ração solene estabelece o “sucesso” de maisuma das manobras norte-americanas paraefetuar, numa visão maniqueísta do mundo,o seu lugar no altar. Na realidade histórica aURSS já estava em combate mortal contra onazismo há muito tempo, mas para o gover-no dos EUA a necessidade de “libertar a Ale-manha e o planeta” ia estrategicamente co-meçar no tal Dia D.

Então será mesmo que o Dia D foi o diamais importante do começo da derrota na-zista? Ou foi a entrada dos Estados Unidos naGuerra que já tinha começado? A resposta es-tá em fatores históricos, como por exemplo,o “Cerco a Stalingrado”, que foi a primeira vi-tória dos sovietes contra os nazistas, antesmesmo dos EUA pensar em expulsá-los doterritório francês. Mas para um país que al-mejava ser o grande império mundial, era ne-

cessária a contribuição do que era a mais for-te divisão entre o bem e mal. A história capi-talista demonstra seu círculo vicioso na ma-nipulação para sustentar seus fracos ideais,que aparecem e desaparecem, conforme o mo-mento histórico. Mas por que a comemora-ção permanece até hoje?

Imagino que pelo mesmo motivo que Cu-ba até hoje sofre com as mentiras que os Es-tados Unidos insistem em manter e renovar.Retomando para as falsidades vinculadas pe-lo representante de Estado norte-americano,o Senhor Bush, que esmaga desde Cuba, Ira-que e Palestina. Sem esquecer de todo o seuquintal na América Latina, em que financiouas Diatduras do Chile, Brasil e Argentina. Eainda, para não deixar no passado, o recentegolpe ao governo popular da Venezuela, Hu-go Chaves.

A tentativa dos Estados Unidos em ser overdadeiro xerife da humanidade, mostra queseu alimento principal é a corrupção dos che-fes de outras nações, e a grande farsa até mes-mo de fatos históricos. Mas se não fosse osEUA quem seria? Ao certo, se tivessemos nes-ta sociedade seria outro, e com os mesmossuportes.

Portanto, é notório que os pilares desse im-pério foi construído em cima de massacre, san-gue, genocídio, alienação, injustiças, hipocri-sias, farsa e, para aumentar ainda mais meudicionário, outro termo:oportunismo.

Se a polícia écorrupta, dequem é a culpa?

Paradigmasonipresentes

Tereza Perazza7º período

Há duas semanas veio à to-na mais um caso de corrupçãono Brasil. A “vampirada” estásugando solta. Um grande car-tel formado por oito empresasprodutoras de hemoderivados.Falsificavam licitação: trocavamenvelopes, fixavam mínimo emáximo, combinavam quem iaganhar e perder... Uma verda-deira suruba. Esse caso até quejá está na mídia há um bomtempo, tendo em vista a gran-de rotatividade de fatos do mes-mo porte “vampirístico”. TeveWaldomiro, teve as contas suí-ças de Maluf, teve a Ong Ágo-ra, do amigo do Lula, MauroDutra. Um caso abafando o ou-tro... Pena que Lula não podeusar a carta de um eminenteataque terrorista toda vez quealgo abala teu governo, comofaz nosso vizinho lá de cima.

Agora, o que faz um sacana?(Ps: uso sacana para não usarmalandro, porque malandro vi-rou senso comum e não gera omesmo impacto; e porque nãose pode usar filho da puta). Al-guém tão mesquinho e ganan-cioso que passa por cima de tu-do e todos? Essa ânsia de podervem de onde? Essas caracterís-ticas vieram com o “capitalismoselvagem”? Não... Elas criaramo “capitalismo selvagem”. Issoé a gente, esses sacanas somos

nós. O homem é o seu própriolobo, como disse, há quase 400anos, Thomas Hobbes.

Está cheio de vampirinhospor aí. A diferença é que nãosão punidos. Só. Porque desviarbilhões ou colar em uma provaé a mesma coisa. A sacanagemnão deve ser medida de formaalguma, porque aí ela recebe li-mites. Aí você pode ser sacanaaté aqui com a mamãe e o pa-pai, até ali com o “amigo” e atéacolá com um cara que vai teprestar um tal serviço. E por es-sa lógica, a máfia do vampironão fez nada de errado. Estavasendo sacana nos limites possí-veis de sacanagem que são acei-táveis a toda uma sociedade, re-presentada pelo poder públicoo qual eles sacanearam.

Esse povo tava contandocom a máxima de que tudo aca-ba em pizza no país. Daqui adois meses a palavra vampirovai voltar ao seu local de praxenos contos da Anne Rice. E sa-be porque? Porque a gente dei-xa. Porque vamos sofrendo egozando, como nos ensina o sa-cana macaco Simão. Mas nãoé assim que deve ser. Devemoster revolta, indignação e ânsiapor um novo. Estamos fazendoa história. E nesse momentonossa história é de apatia e go-zo. E nem eu e nem você esta-mos imunes a tal comporta-mento. E aí? Até quando vocêagüenta sofrer e gozar?

Os vampiros e acatarse humana

Foto montagem: João Perdigão

02 - Opinião - Patrícia 09.06.04 16:43 Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - junho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editor e diagramador da página: Cleyton Ferreira

POLÍTICA 3

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Maio/2004Maio/2000Maio/95Maio/94

nº de precatórios

tempo

Gráfico do número de precatórios pagos após o

Plano o Real

O que são osprecatóriosDívida de Minas é de R$150 milhões

Ludmila Rodrigues, LinaSander e Thatyane Ferreira

6º Período

O Estado de Minas Geraisdeve, atualmente, algo em tor-no de R$150 milhões de reaisem precatórios. A dívida foicontraída pelo não pagamentodos créditos trabalhistas de ex-funcionários e de empresasprestadoras de serviços, os cha-mados precatórios. Para quepossam receber a dívida é ne-cessário abrir um processo, queapós ser analisado por um juizdo Tribunal Regional do Tra-balho, vai passar a ser chama-do de precatório. Porém, so-mente até o ano de 1993, o pa-gamento referente aos débitostrabalhistas por parte do go-verno mineiro era efetuado re-gulamente.

Com a implantação do Pla-no Real em junho de 1994, e ocontrole da inflação, que che-

gava a 1500% ao ano, os pre-catórios emitidos já não sofriamdiminuição de seus valores.Após o reajuste da dívida comjuros e correção, os valores su-biram muito, momento no qualo Estado cessou o pagamentode seus precatórios.

Segundo a juíza de conci-liação, Ângela Castilho de Sou-za Rogedo, desde início de1995 que o estado de MinasGerais simplesmente parou depagar as dívidas. “Todas as me-didas contribuíram para o acú-mulo de precatórios penden-tes de pagamento, gerandoprotestos contínuos por partedos advogados e reclamantes,que começaram a desacredi-tar nas decisões do Judiciário,uma vez que não havia meca-nismos suficientemente fortespara pressionar o governo deMinas Gerais a quitar suas dí-vidas com os credores”, expli-cou a juíza.

Juízo Auxiliar de Conciliação agiliza opagamento de antigas dívidas públicas

Déborah Arduini eGabrielle Costa

4º Período

O Programa das Nações Uni-das para o Desenvolvimento(PNUD) lançou este ano o rela-tório “A Democracia na Améri-ca Latina - Rumo a uma Demo-cracia de cidadãos e cidadãs”,que afirma a insatisfação da po-pulação da América Latina como sistema democrático. A pes-quisa mostra que 54,7% dos la-tino-americanos trocariam a de-mocracia por um regime auto-ritário se ele fosse capaz de re-solver os problemas econômi-cos. A pesquisa foi feita por doisanos, em 18 países, com cercade 19 mil cidadãos latinos.

Para o cientista político Car-los Ranulfo, representante doDepartamento de Ciências Po-líticas da UFMG, a ditadura nãoresolve os problemas de ordemeconômica, nem de desigual-dade social e muito menos apobreza. Segundo ele, um dosgrandes problemas dos paíseslatinos democratas é a desi-gualdade social.

De acordo com Ranulfo, aspessoas que têm poucos recur-sos ou que são marginalizadasnão podem aproveitar da liber-dade de organização que a de-mocracia proporciona para bus-carem os seus interesse, pois al-

gumas vezes nem conseguemse mobilizar. “Se a desigualda-de for menor, que é o caso daEuropa e dos Estado Unidos, aspessoas têm mais possibilida-des de disputarem as coisas nademocracia”, comenta.

GolpesRanulfo acredita que a de-

mocracia latina ainda é muito jo-vem. “A maioria dos países sóagora está começando a ter umademocracia estável. Eles tinhamum período de democracia, de-pois tinham uma ditadura”, diz.

Na análise do sociólogo Dé-cio Valadares, professor de so-ciologia da Fumec, o continen-te latino ainda correria um riscode cair numa ditadura. “A Amé-rica Latina não está vacinadacontra golpes”, comenta. Já Ra-nulfo acha que o problema seriaoutro. “Eu acho que o risco ho-je não é a ditadura, mas sim queas democracias tenham muitosproblemas ou então se tornemmenos democráticas”, diz.

O cientista político dá comoexemplo o Peru, quando Fuji-mori fechou o congresso, con-trolava a imprensa, ameaçavapartidos políticos e depoisquando disputou eleição e ga-nhou apoiado pelo povo. “Apopulação achava que um líderforte resolveria o problema, umgrande engano”, relata. No re-

latório, 58,1% dos latino-ame-ricanos entrevistados concor-daram que o presidente possaignorar as leis. Para 64,7% dosentrevistados, os governantesnão cumprem o que prometemporque mentem para ganhar aseleições.

Apoio democráticoO documento concluiu que

os democratas, embora sejamem maior proporção na Améri-

ca Latina (43%), não são a maio-ria: há 30,5% de ambivalentese 26,5% de não-democratas.

Os democratas são os quemostraram uma atitude per-manentemente positiva em re-lação à democracia nos três as-pectos apurados: apoio às ins-tituições representativas, apoioà democracia como sistema degoverno e apoio a limitaçõesao poder do presidente. Osambivalentes apóiam institui-

ções como o Congresso e ospartidos, mas são favoráveis àcentralização do poder no pre-sidente, que é considerado aci-ma das leis. Os não-democra-tas, por fim, mostram-se con-trários aos preceitos democrá-ticos nos três aspectos pesqui-sados e são os que mais con-cordam com frases como “nãoimporta se um governo é au-toritário, desde que ele resol-va os problemas”.

Latinos querem regime autoritário

O Brasil se encontra em 15ºlugar no nível da adesão de suapopulação aos princípios de-mocráticos, no relatório doPNUD. Porém, se destacou co-mo primeiro lugar na evoluçãodo processo eleitoral e no aces-so pelo voto a cargos públicos.

Para Carlos Ranulfo, cien-tista político e representante doDepartamento de Ciências Po-lítica da UFMG, o resultado éum pouco paradoxal, pois foifeito em 2002, época em que apopulação estava com grandesexpectativas em relação à de-mocracia no Brasil. O país en-contrava-se em ano eleitoral e,segundo ele, a população esta-va com uma grande perspecti-va de vitória do Lula.

De acordo com as informa-ções retiradas do site do PNUD(www.pnud.org.br), MaristelaBaioni, analista de projetos doprograma, afirma que “o docu-mento divulgado serve de aler-ta para a sociedade brasileira”.Segundo ela, é necessário me-lhorar o debate no país com oobjetivo de sair de uma demo-cracia eleitoral e chegar à umademocracia de cidadania.

Ludmila Rodrigues, LinaSander e Thatyane Ferreira

6º Período

Na tentativa de resolver oproblema dos precatórios, oTribunal Regional do Trabalho,após longas negociações com aOrdem dos Advogados do Bra-sil e a Procuradoria do Estadode Minas Gerais, resolveu criarem março de 2000, o Juízo Au-xiliar de Conciliação em Preca-tórios. Este juízo teria comofunção organizar em ordem cro-nológica todas as dívidas pen-dentes e, por meio de uma ne-gociação entre as partes (no ca-so, o Estado e o credor), a pre-catória seria quitada. Para queisso acontecesse, o Estado teriaque concordar em disponibili-zar um certo valor por mês, pa-ra a quitação das dívidas. Apósum acordo com o TRT, o esta-do concordou em disponibili-zar R$2.5 milhões por mês.

Segundo a juíza Ângela Cas-tilho, na época em que foi cria-do o juízo, eram mais de cincomil processos sem solução e al-guns aguardavam há dez anospara receber seus créditos. Pa-ra ela, a criação do Juízo per-mitiu a resolução rápida de an-tigas dívidas à população. “Emmenos de três anos de funcio-namento, o juízo conciliadorsolucionou quase 5 mil pro-cessos e a expectativa agora éde zerar todos ainda penden-tes. A grande preocupação éressarcir os valores aos credo-res”, explica a juiza.

Central de Menor ValorTambém foi criada uma

central conciliadora para pre-catórias de dívidas de baixo va-lor. O juiz e coordenador daCentral, Raimundo MessiasJúnior, diz que é consideradode menor valor os precatóriosque envolvem até 30 salários

mínimos para débitos munici-pais e até 40 salários mínimospara precatórios estaduais.“Desde que foi criada em2003, a central decidiu darprioridade para negociaçõescom dívidas de natureza ali-mentar, como ex-funcioná-rios”, completa o juiz.

Mais de 300 credores já re-ceberam, através da Central deMenor Valor, os débitos de pre-catórios pagos pelo Estado emunicípio. A fila envolve maisde 3,5 mil processos a pagar eum montante de mais de R$12milhões. “Somente após a ini-ciativa do TRT em criar as cen-trais que as dívidas voltaram aser pagas pelo governo. Casonão fossem criadas, os precató-rios estariam acumulados atéhoje”, comenta a técnica judi-ciária e membro da assessoriade precatórios, Patrícia Calábria.O Estado disponibiliza R$500mil à Central de Pequenos Va-

lores, e Belo Horizonte repassaR$100 mil.

PagamentoEm 2001, as análises dos

cálculos da dívida se tornarammais rígidas, e muitos erros fo-ram encontrados. Esses valoreseram corrigidos antes da au-diência de negociação, que ser-ve apenas para o juiz explicaros cálculos usados para chegarno valor do crédito atual. Apósa audiência, o credor pode res-gatar o valor da dívida em 48horas, em qualquer agênciabancária autorizada.

A lei determina que o paga-mento seja previsto em orça-mento público, para que sejafeita a quitação da dívida no anoseguinte à sentença proferidapelo Juízo Auxiliar de Conci-liação. A não quitação dessesdébitos poderá resultar em pe-didos de intervenção nos esta-dos ou nos municípios.

Dados do Brasilsão incoerentes norelatório do PNUD

Lima SanderPrecatório é um documen-

to que representa uma dívida lí-quida e certa, originária de umaação que gerou uma condena-ção da União. Nele, estarão in-formações como: o motivo dareclamação que resultou no cré-dito, a data em que foi analisa-do pelo juiz, a discriminação dovalor total devido e a assinatu-ra do juiz que a expediu.

Após todos esses trâmites,uma audiência entre o juiz con-ciliador e a parte credora é mar-cada para que o valor da dívidaseja recalculado. O novo valorestará adicionado de juros e cor-reção monetária. Assim que asentença contendo o valor atualfor assinada pelo juiz, ela é en-caminhada ao presidente do Tri-bunal de Justiça, que solicitará opagamento ao órgão devedor. Asolicitação deve ser feita até ju-nho para que o ente devedor pos-sa incluir a dívida no orçamen-to do ano seguinte.

Dentre vários processos jul-gados pelo Juízo de Conciliaçãode Precatórios, existem várioscasos em que a maioria dos cre-dores desconhecem do que tra-ta um precatório. Grande par-te dos credores sabe que pos-sue dívidas a receber, mas nãoentende o lado funcional datramitação.

A juíza da Central de Conci-liação, Ângela de Souza CastilhoRogedo, conta que muitos cre-dores chegam à audiência e não

entendem a maioria dos termosutilizados e, quase sempre, des-confiam de que os cálculos fei-tos estão inadequados. “Quan-do isso acontece, sugerimos aocredor a remarcação de sua au-diência por um prazo de no má-ximo uma semana, para que eleretorne acompanhado de um ad-vogado ou um contabilista desua confiança. Assim, os escla-recimentos serão prestados e elenão se sentirá prejudicado nanegociação”, afirma a juiza.

Ângela Castilho fala sobre a desinformação dos credores

Credores desconhecem leisobre pagamentos estaduais

Ludmila Rodrigues

54,7% trocariam a democracia pelo autoritarismo

58,1% acham que o presidente tem poder para quebrar as leis

Pesquisa feita em 18 países da América Latina,com 19 mil pessoas

FONTE: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD-ONU)

Votando a favor da ditadura

Pesquisa da ONU com 19 mil cidadãos da América Latina mostra descrença com a democracia

03 - Política - Cleyton 09.06.04 16:13 Page 1

Page 4: Jornal O Ponto - junho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editor e diagramador da página: Carlos Conti

4 ECONOMIA

Comércio adota escambo na criseSolange Leal6º período

Quinhentos anos depois dodescobrimento do Brasil, a maisantiga das práticas comerciais, oescambo, volta a ganhar força nomercado brasileiro. De acordocom a Associação Internacionalde Reciprocidade Comercial, atroca de produtos e serviços mo-vimenta informalmente no paíscerca de R$ 800 milhões. E pe-las estimativas deste instituto, atendência de expansão do seg-mento de permuta é aindamaior: o potencial na AméricaLatina é de 10% ao ano.

Em Minas Gerais não há es-tatísticas, mas o escambo se ex-pande consideravelmente em to-do Estado. Na região central deBelo Horizonte, mais precisa-mente na Esquina dos Aflitos,como é conhecido o encontro daavenida Olegário Maciel com ruados Caetés, cerca de 20 pessoasoferecem diariamente serviços eprodutos usados, que vão desderoupas a câmeras antigas, apa-relhos telefônicos, peças paracarro, fogões, geladeiras, dentreoutros.

As mercadorias invadem ascalçadas e tudo pode ser nego-ciado. Bernardino Oliveira dosSantos, de Itaúna, interior deMinas, trabalha todos os dias, de6 hs às 19h, mas diz que seu lu-cro é muito pouco. “Isto aqui ésó porque estou desempregado,não dá quase retorno nenhum”,lamenta. Já José Ferreira diz queé uma questão de sorte.“Veio umrapaz aqui com uma bicicleta ve-lha precisando de um som. Nós

trocamos e ninguém gastou na-da”, conta.

Silvana Araújo, economistae consultora técnica da Federa-ção do Comércio de Minas Ge-rais, conceitua escambo comouma forma de economia desti-nada a produzir o bem estar co-letivo e não a acumulação de ri-queza. É um conceito difundi-do mundialmente que se sus-tenta na idéia da solidariedade.Silvana explica ainda que o cres-cimento do escambo é umaquestão de sobrevivência devi-do à falta de alternativas dentrodo mercado formal. “É um mer-cado marginal que vai se fortifi-cando em cima de uma realida-de bastante cruel. As pessoasbuscam um incremento a maispara sua renda, que está total-mente desfacelada por uma si-tuação macroeconômica diver-sa para o trabalhador”.

Alavaisa de Araújo, telefo-nista, faz uso do subsídio da em-presa onde trabalha para reali-zar trocas em sacolão, padariase açougues. Ela diz que utilizaesta forma de comércio porqueé uma opção para adquirir osprodutos que precisa. “Eu sem-pre faço contas de tudo que voucomprar e dos lugares que acei-tam vales-transporte e vales-re-feição. Costumo trocar porquediminui meus gastos”, afirma.

A Argentina foi precursoradesta nova tendência comercial.Mas o primeiro clube de trocasurgiu em 1995, durante a crisefinanceira mexicana. No Brasil,chamado de RGES (Rede Globalde Escambo Solidário), já so-mam 800 grupos. Em Minas Gerais não há estatísticas, mas o escambo se expande em todo em Estado

Centro Culturalcria espaço detrocas em BH

Alguns grupos de troca, co-mo o Casa da África, têm im-portância cada vez maior na so-ciedade. Criado em setembrode 2003, este grupo de troca jápossui 200 integrantes, que temo compromisso de produzir econsumir as trocas, facilitandoo consumo dentro da comuni-dade. A idéia de formar a Casada África partiu de seis amigos,dentre eles o angolano Ibrahi-ma Gaye.“O propósito é ter umgrupo de amigos, que trocamserviços e produtos sem preci-sar do auxilio de dinheiro”, ex-plica Ibrahima.

O Movimento promove en-contros para que as pessoas pos-sam se conhecer e trocar livros,discos, roupas e outros objetosque não são utilizados. O es-cambo é realizado de forma queseus integrantes, através de umalista de contatos, realizem tro-cas também de serviços no de-correr da semana como aula deinglês, terapia, consultas médi-cas, serviços de design gráfico,entre outros. Estas trocas devemse basear numa relação de ho-ras de trabalho de no máximoquatro por um. Ou seja, umahora de serviço deve valer, nomáximo, quatro horas de umoutro, informa o africano.

Para o angolano, os mem-bros do grupo, por definição,não podem somente produzir enão consumir, porque se acu-mulariam papéis que não valemnada em outros espaços de in-tercâmbio. “Tampouco podemsomente consumir e não pro-duzir, porque a pessoa não te-ria como obter esses produtose serviços”, completa.

Ibrahima ressalta tambémque existem clubes de troca nobairro São Paulo e na região deVenda Nova. “È interessante queas pessoas iniciem atividadescomo estas em suas comunida-des. A gente tem muita coisaguardada que pode ser útil pa-ra outras pessoas”.

O Grupo de Troca Casa daÁfrica fica na rua Leopoldina,número 48, bairro Santo Antô-nio, e os encontros são realiza-dos às terças-feiras sempre nohorário de 20h 30 ás 22 horas.

Internet e boletins agilizamsistema de trocas na capital

Ao contrário da feira quepromove as trocas de formapontual, ainda que freqüente-mente, o boletim e o site têm afunção de permitir as trocas deforma ininterrupta, informa Pa-loma Parentoni, presidente doGrupo de Troca em Belo Hori-zonte. Ela explica que ambosconterão os nomes, os contatos,as ofertas de produtos, serviçose outras informações pertinen-tes ao grupo de trocas, funcio-nando mesmo como um catá-logo acessível a qualquer hora.

Para Paloma, a diferença en-tre eles é que o boletim, sendoimpresso, é uma alternativa efi-ciente para aqueles que não têmacesso à internet.

A presidente do grupo res-salta que “em tempo de cresci-mento de grandes shoppings pa-ra a classe alta, a classe baixa temoutras alternativas”. Ela concluiinformando que “o site está emprocesso de criação e acredita-mos que até o fim de abril eleestará no ar, o que possibilitaráo feitio do nosso boletim”.

Serviços adotam o escamboNão só de mercadorias vive

o escambo, há também a trocade serviços. Na região central dacapital existem muito salões debeleza que recebem vales-trans-porte e vales-refeição pelos ser-viços prestados. Lourdes Maria,que trabalha há sete anos em umsalão na avenida dos Tamoios,disse que recebe esporadica-mente este tipo de moeda.“Agente aceita para ajudar as pes-soas, porque com eles não com-pramos os produtos que utiliza-mos aqui”. Engana-se quemacredita que somente na região

central e na periferia é realizadaesta prática.

Na Savassi, bairro conside-rado de pessoas com poder aqui-sitivo alto, também existem tro-cas de serviços. No salão Sirley,na avenida Getulio Vargas, o ge-rente Marcelo Duarte optou pe-la troca de serviços para atrairum número maior de clientes.“O movimento caiu muitos e osclientes não têm dinheiro”, ex-plica. O pagamento pode ser fei-to com vales-refeição e vales-transporte, que tem um des-conto de vinte centavos. Segun-

do o gerente, não há como pre-ver um faturamento mensal, por-que os vales são transferidos pa-ra os funcionários e para com-pras do salão.

Em São Paulo, pais têm seoferecido para prestar serviçosàs escolas particulares em trocada mensalidade do filho. Paranão perder alunos, colégios pas-saram a aceitar a proposta. “Ospais se oferecem para fazer qual-quer coisa: lavam banheiro e atétrabalham na cozinha”, declaraDiane Cley Cundiff, diretora doColégio Santa Maria.

Peças de reposição em faltaLina Sander e

Ludmilla Rodrigues6º período

Quando uma montadoradeixa o país, a rede de conces-sionárias é rapidamente afetada,fechando as portas ou mudan-do de marca. Com isso, o pro-prietário do veículo sofre com adificuldade em fazer a manu-tenção, principalmente pela au-sência de peças de reposição nomercado. A lei obriga as mon-tadoras a manterem um estoque,mas esta exigência não defineum período fixo. A disponibili-dade de peças de reposição é li-mitada porque a fabricação depeças de reposição é considera-da secundária em comparaçãocom os equipamentos originais.Especialmente durante a intro-dução de novos produtos ou nosmomentos em que a demandasupera a capacidade, os fabri-cantes são resistentes a usar acapacidade de que dispõe parafabricar peças de reposição cu-ja demanda é incerta.

Para Modesto Filho, a repo-sição de peças originais para osveículos é um verdadeiro des-

respeito ao bolso do consumi-dor. “Tenho um Santana, ano90, e por não encontrar uma pe-ça para o vidro do farol diantei-ro tive de comprar um farolcompleto”. Segundo Joaquimdos Santos, vendedor de umaauto-peças, o mercado para car-ros novos também está fraco de-vido os altos preços. “Se para osnovos está ruim, imagina paraos com 15 anos de fabricação.

Há uma grande procura por pe-ças de carros antigos, porém pe-ças usadas”, ressalta o vendedor.

A Associação Brasileira deDefesa do Consumidor defen-de que peças de reposição de-vem ser comercializadas porum período mínimo de dezanos após a fabricação. MariaLúcia de Souza, representantefiscal da entidade, diz que to-dos produtos disponíveis no

mercado devem ter suas peçaspara reparos garantidas. “Mes-mo após um produto sair de li-nha, suas peças devem obriga-toriamente ser fabricadas e co-mercializadas”. Maria Lúcia avi-sa ainda que todos consumi-dores que se sentirem lesadospor não encontrar peças que te-nham saído de linha a menosde dez anos, devem procurar oProcon Municipal.

Consumidores não conseguem comprar peças novas porque a fabricação é secundária

Peças importadas seis vezesmais caras que as nacionais

No Brasil, segundo o Detran,morrem mais de 42 mil pessoaspor ano em acidentes automo-bilísticos. Cerca de 25% são pro-vocados por falhas nos automó-veis e defeitos de fabricação. Noscarros importados o preço daspeças em oficinas especializadaschegam a ser seis vezes superiorao de carros nacionais, denunciaos donos de oficinas em BH.

Os principal vilão do alto pre-ço são as peças importadas, mas

existem outros fatores como im-postos altos e a margem da con-cessionária. “O farol do Alfa Ro-meu que custa em torno de R$860, a mesma peça para um Golcusta R$ 124”, afirma CristianoFonseca Monteiro, dono de ofi-cina mecânica. “Além disso, nor-malmente os carros importadosapresentam pouco volume devendas, o que desmotiva o pro-dutor local a fabricar peças”, con-clui Cristiano Fonseca.

Mineiros usam o “jeitinhobrasileiro” nas oficinas

Por causa dos altos preços depeças de carros, muitos moto-ristas optam pelas peças retifica-das, ou seja, o reciclamento daspeças usadas. Elas custam emmédia, a metade do preço deuma peça original. “A peça comdefeito é retirada do automóvele levada à retífica onde é corrigi-do o defeito, mas que pode tra-zer problemas”, diz Tácio Al-meida,mecânico. Ele afirma quea durabilidade da peça retificada

é menor e que ela pode até es-tragar outras peças do carro. Pa-ra Cristiano Monteiro, dono deoficina, a retificação não garantea segurança de uma peça nova.“Geralmente estas peças são usa-das em carros mais velhos”, com-pleta. Segundo o código se De-fesa do Consumidor, o importa-dor deve responder pelas peçasdos carros que vende e disponi-biliza-las de forma correta aosseus consumidores.

Agnus Morais

Alexis Lino

A falta de empregos e a alta da inflação faz crescer o sistema de escambo na economia brasileira

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O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editor e diagramador da página: Felipe Castanheira

ECONOMIA 5Desemprego incentiva informalidadeTrabalhadores são obrigados a entrarem em um tipo de negócio que extingue os direitos trabalhistas

Informalidade movimenta uma boa parte da economia mineira

Rafael Werkema6º Período

O remanejamento de came-lôs e toreros da região centralda Capital, que vem sendo rea-lizado pela PBH, trouxe à tonanovamente a discussão sobre ocomércio informal. O proble-ma é que a falta de informaçõese de dados tem contribuído pa-ra o mal entendimento da po-pulação em relação ao assunto.

Segundo o economista eprofessor-assistente da NewtonPaiva, Hélio Berne, a informali-dade está ligada àquilo que osgovernos municipais e estaduaisdeixam de arrecadar com essetipo de comércio. “O comércioinformal movimenta a econo-mia, mas o Estado não arrecadaem cima dele”, afirma Berne.

A partir daí, é possível per-ceber que o comércio informalnão se resume a camelôs e to-reros: todos aqueles que traba-lham sem contribuir com tri-butos para o Estado (como oINSS) são hoje informais.

É o caso da comerciante IlceDuarte, 53 anos. Desempregadahá seis anos e meio, ela vive davenda das peças de crochê pro-duzidas artesanalmente, mas

conta com a ajuda financeira dosfilhos. Segundo Duarte, o arte-sanato foi o único meio encon-trado por ela para o problemado desemprego, e que é pratica-mente impossível encontrar umtrabalho, devido sua idade. “Omercado prefere os mais novos”,afirma. Ela não contribui comINSS, não tem férias e nem fun-do de garantia. “Trabalho de se-gunda a segunda, mas não vouter direito a aposentadoria portempo de serviço”, conta.

O economista Hélio Berneaponta as legislações trabalhistae tributária como fatores impor-tantes que contribuem para o au-mento do comércio informal nopaís. “Para a empresa contratarum funcionário, ela tem que pa-gar encargos trabalhistas, que sãobem altos”. Ele acredita que ho-je, o custo de uma empresa pa-ra manter um trabalhador ga-nhando um salário mínimo po-de chegar a R$ 600.

Denílson Batista, 28 anos,trabalha há cinco em uma bar-raca no Centro. Ele não é donodo ponto e não recebe os bene-fícios de um trabalhador de car-teira assinada. “Foi a única op-ção que achei quando a empre-sa que trabalhava faliu”, conta.

Imprevisibilidade incomoda “Quem vive do comércio in-

formal vive inseguro”, afirma acomerciante Ilce Duarte. Se-gundo ela, a incerteza se vai ounão ter dinheiro no final do mêsé estressante. “Eu tenho meuscompromissos fixos, como ascontas de água, luz, telefone,mas não sei se terei dinheiro pa-ra pagá-los”, reclama.

Duarte fatura em médiaR$300 por mês, mas esse valorvaria de acordo com a época doano. Ela diz que, se surgisse aoportunidade, voltaria a traba-

lhar com carteira assinada, mes-mo que fosse para ganhar umsalário mínimo, ou seja, R$260.

Mas esta não é a opinião dacamelô Ana Jesus, 52 anos. Fa-turando cerca de R$ 1500 men-sais brutos, ela diz que não vol-taria a trabalhar com carteiraassinada para ganhar um salá-rio. “Sei que no comércio in-formal não tenho direitos tra-balhistas, mas é impossível vi-ver com R$260”, afirma. Se-gundo ela, quando os gastos sãocolocados no papel, o lucro já

não é tão grande. “Tenho quepagar uma pessoa para guardarminhas mercadorias, sem con-tar a minha alimentação, a dosmeus filhos que trabalham co-migo, passagem de ônibus, eoutros custos fixos”, relata.

O caso de Marcelo Martins,20 anos, é um pouco diferente.Ele trabalha desde os 12 anos co-mo funcionário de um camelô eguardador de mercadorias. “Aju-dei minha mãe a comprar sua ca-sa e tudo que tenho hoje é frutodo trabalho informal”, afirma.

Comércio irregular tem doislados, segundo economista

Para o economista e profes-sor-assistente da Newton Pai-va, Hélio Berne, existem pon-tos negativos e positivos quecercam o comércio informal.Segundo ele, a informalidade éprejudicial ao Estado porque amaior parte dos trabalhadoresque estão nesse tipo de comér-cio não contribui para a Previ-dência Social. “Esses trabalha-dores terão direito a receberuma aposentadoria quando ti-verem 65 anos, e isso faz com

que o déficit da Previdência So-cial aumente”, afirma.

Mas Hélio Berne vê o co-mércio informal como um “malnecessário”, já que é uma al-ternativa para o desemprega-do. “Na medida em que o Es-tado não gera emprego comcarteira assinada, o trabalhadorprocura outras alternativas detrabalho. E o trabalhador hojenão escolhe onde ele vai traba-lhar, ele escolhe o que apare-ce”, opina o economista.

Estadoinoperante éresponsável

Comércio informal é sinô-nimo de polêmica. Isso porquemuita gente associa a infor-malidade somente a camelôs etoreros. Mas é possível perce-ber que o comércio informal vaialém disso: ele é muito maior,amplo. O vendedor de bala noônibus sobrevive do comércioinformal; a costureira que tra-balha no quintal de sua casa,também sobrevive do comércioinformal.

O desemprego é, sem dúvi-da, um dos principais motivosque leva o trabalhador a en-trar na informalidade. E elenão quer saber se terá ou nãodireito a férias, a FGTS etc. Elesó quer sobreviver.

E na hora em que esses tra-balhadores começam a faturar,o Estado decide proibir o co-mércio informal no Centro. Eleatende à burguesia, mas nãoatende o trabalhador que pre-cisa sobreviver.

Por que o Estado não in-centiva as empresas a contra-tarem as pessoas com carteiraassinada? Para o economistaHélio Berne, mudar a legisla-ção tributária é uma solução.Mas é preciso uma mudançamais profunda: é preciso pararde privilegiar uma burguesiaque culpa o comércio informalpela crise econômica que todosestão passando. É preciso co-brar das autoridades mais em-prego. Cobrar um salário mí-nimo digno. Quem sobrevivecom R$260?

E, enquanto as mudançasnão ocorrem, as pessoas vãosobrevivendo com a venda decrochês, balas, bugingangas. Jáque não tem emprego, elas seviram de alguma maneira.

Flávio Peixe6º Período

Desde a inauguração do Ex-tra Belvedere, “oferta” virou apalavra do momento em BeloHorizonte. A nova unidade doExtra fica próxima do seu prin-cipal concorrente, o Carrefour- BH Shopping. Na disputa pe-los clientes, os hipermecadosreduziram seus preços e inves-tiram em promoções.

A guerra de preços entre asduas principais redes de varejoda capital se espalhou pelos su-permercados da cidade. “Quan-do duas grandes lojas disputamentre si, os concorrentes sãoobrigados a acompanhar equem ganha com isso é o con-sumidor. Funciona como umefeito dominó”, destacou o su-perintendente da AssociaçãoMineira de Supermercados(Amis), Adilson Rodrigues.

“Comprei mais que nor-malmente e gastei em médiaR$30 a menos”, calcula o ad-ministrador Alexandre Dias quetrocou o Carrefour pelo Extra.Mesmo sem mudar de super-mercado o jornalista Walter Na-varro, continuou a fazer suascompras na rede francesa e no-tou diferença na nota fiscal; “Ascoisas aqui abaixaram. Temmais produto em oferta.”

O Carrefour nega ter altera-do os preços em função do no-vo Extra. Manteve as promo-ções regulares, não só na lojado BH Shopping como em to-das as unidades do estado. Ape-sar de não admitir, o novo

anúncio da rede francesa mos-tra que o Carrefour está dis-posto a manter seus clientes. Apropaganda traz o slogan “Car-refour é assim, não tem con-corrente”, nos outdoors afixa-dos por toda a cidade, inclusi-ve ao lado do seu concorrentena BR 040.

Para acompanhar essa“guerra”, os supermercados es-tão com novidades. O Hiper ViaBrasil, com unidades na Pam-pulha e no Big Shopping, jáanunciou que vai cobrir todasas promoções dos concorren-tes. “O que está acontecendo éuma disputa direta entre o Car-refour e o Extra, mas toda aconcorrência é obrigada a seadaptar”, acrescentou o geren-te de marketing Álvaro Barreto.

O Super Nosso usa a mes-ma estratégia. “Toda inaugura-ção é a mesma coisa. Chama aatenção pela curiosidade, maso Super Nosso já tem tradiçãode cobrir ofertas e vamos cum-prir o compromisso”, informouvia assessoria de marketing.

Para o superintende daAmis, essa “briga” é saudável.“É bom para todo o setor, já quea corrida para melhorar o aten-dimento deixa as lojas mais mo-dernas e joga o nível do varejopara cima”, afirma.

Quase todos os produtosque constam nos encartes dohipermercado Extra estão compreços reduzidos também nosconcorrentes. Esta é uma me-dida estratégica para atrair osclientes, e os preços não se man-teram baixos por muito tempo.

Grandes do varejo se enfrentamA construção do Extra Bel-

vedere foi cheia de entraves.O Pão de Açúcar adquiriu oterreno para a construção doExtra, há cerca de quatro anos,e foi obrigado a adiar o iníciodas obras diversas vezes. Apósuma longa batalha judicial ogrupo brasileiro conseguiuderrotar os franceses, que ten-tavam impedir a efetivação doprojeto. A obra durou poucomais de três meses e envolveutambém a construção de umretorno próximo ao hipermer-cado. O Extra Belvedere,ago-ra em funcionamento tem maisde 9200 metros quadrados, e950 vagas no estacionamentoe além de estimular a concor-rência varejista gera mais de500 empregos diretos e 4000indiretos.

Desde o início do projetoo Grupo Pão de Açucar, pro-prietários da rede Extra dehipermercados procuraramatender aos requisistos solici-tados pelas comissões de meioambiente a prefeitura de BeloHorizonte. No entanto foiinaugurado sem ter recebidoo alvará de liberação para ofuncionamento.

Hoje a situação do hiper-mercado já esta regularizadajunto a prefeitura. Desde queo terreno foi comprado paraa construção do hipermerca-do a comissão de meio am-biente esteve com fiscalizaçãopesada sobre a obra, alegandoque a construção poderia aba-lar a estrutura da BR 040.

“As coisas noCarrefourabaixarambastante. Temmuito maisprodutos emoferta”

Walter Navarro, jornalista

“O Extra veiopara estimular aconcorrência, eo consumidoracaba atraídopor muitaspromoções”

Alexandre Dias, administrador

Rede Extra teveentraves durantea construção

Carrefour reagiu com campanha publicitária

Inauguração do Extra estimulou ofertas na capitalMarcelo Aragão

Marcelo Aragão

Arquivo O Ponto

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O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editora e diagramadora da página: Fabiana Sampaio

6 EDUCAÇÃO

Faltam 60 milvagas na escolainfantil em BH

Sônia Bittencourt6º período

A educação de crianças dezero a seis anos está longe de seruma prioridade nas políticas pú-blicas, apesar dela ser um deverdo Estado, garantido pela Cons-tituição de 1988 e reafirmadopelo Estatuto da Criança e doAdolescente. De acordo com oIBGE (Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística), os bra-sileiros de zero a seis anos so-mam cerca de 23 milhões e ape-nas seis milhões estão matricu-lados em creches e pré-escolas,segundo dados do INEP, Insti-tuto Nacional de Estudos e Pes-quisas Educacionais, de 2002.Em BH, faltam 60 mil vagas e amaior parte do atendimento pú-blico é feito pela rede privada co-munitária e filantrópica atravésde convênios com a prefeitura.

Segundo a técnica da Gerên-cia de Coordenação Política Pe-dagógica da Secretaria Munici-pal de Educação, Beatriz de Fá-

tima Pereira, o governo do Esta-do repassou aos municípios, atra-vés de acordo, a responsabilida-de de prover o ensino infantil. EBH não tem dado conta da de-manda, na maioria dos casos,apenas subsidia e regulamenta aeducação das crianças. Existemapenas 55 creches e pré-escolaspróprias da rede Municipal, e 24na rede Estadual.

Há cerca de 194 instituiçõesnas redes privadas comunitáriase filantrópicas que mantém con-vênio com a Prefeitura e queatendem cerca de 20 mil crian-ças. Elas recebem um valor quevaria de acordo com a idade dacriança, e vai de R$88 a R$46,para o atendimento integral. “Ovalor repassado à rede conve-niada é insuficiente assim comoo numero de instituições”, criti-ca o coordenador do Movimen-to de Luta Pró-Creche, MaurícioPereira, que promove ações como objetivo de melhorar o ensinoinfantil.O conselho tutelar équem faz, na maioria das vezes,

a indicação das crianças para oatendimento nas instituições. Se-gundo Beatriz, o número de ins-tituições deve ser ampliado so-mente em agosto.

Lucimar Pereira, empregadadoméstica, mãe de duas filhas gê-meas de quatro anos, conta quesomente em abril conseguiu va-ga para elas em uma instituição.Elas são atendidas pela CrecheNosso Abrigo, que é mantida pordoações de empresas e morado-res do bairro Cruzeiro, onde selocaliza, e atende 48 crianças emtempo integral, com um customédio de R$120 reais. Ela vemtentando se conveniar a prefei-tura, mas falta verba para fazeras adaptações necessária. A coor-denadora do grupo de EducaçãoInfantil do CAPE (Centro deAperfeiçoamento dos Profissio-nais de Educação), Mayrce Silva,explica que as instituições devempassar por uma vistoria para ava-liar os aspectos físicos dos esta-belecimentos, além de terem umaproposta pedagógica. Creche Nosso Abrigo, mantida por doações, atende apenas 48 crianças de baixa renda

É consensual entre os espe-cialistas que a socialização dacriança com outros colegas, ecom professores tem papel im-portante no processo de educa-ção dos pequenos de zero a seisanos. Para a psicopedagoga doColégio Marista Dom Silvério,Eliane Brandão, isso proporcio-na uma vivência de diferentespapéis, e trabalha o emocionalafetivo. “Trabalhamos com brin-quedos pedagógicos e introdu-zimos o motor, o pular, soltarobstáculos e o letramento paraa escrita e a leitura”, conta.

A pedagoga, Mayrce SilvaFreire ressalta que o ambiente es-colar contribui para o desenvol-vimento integral da criança. “Pordeficiência de formação ou porfalta de tempo, os pais não estãoatentos a essa questão”, afirma.Mayrce também ressalta que épreferível que a criança esteja emum espaço escolar do que deixá-la em casa sujeita à influência da

televisão e com uma pessoa semcapacitação.“Os programas trans-mitidos, são inadequados e alie-nantes”, completa Mayrce.

A psicopedagoga CláudiaMaria Mazzoni também destacaa importância da socializaçãocom crianças, pelo fato do adul-to ter um universo distinto.“Quem socializa uma criança éa outra criança por isso, têm queser oferecidos espaços de convi-vência em grupos, mais espon-tâneos”, afirma Claudia, que écontra o pragmatismo das esco-las infantis. “A criança é muitosimples, ela precisa apenas depessoas que lhe escutem e deambientes que atendam sua ne-cessidade lúdica”, defende. Elatambém compartilha da críticafeita a televisão pois, segundoela, a criança não tem consciên-cia das conseqüências do que es-tá vendo. “Ela vê as cenas daguerra, mas não vê a dor e issoé muito perigoso”, analisa.

A educação de crianças de zero a seis anosnão é realidade para a grande maioria delas;em BH maior parte do atendimento é privado

Estudantes colocam UEMG em xeque

Prédio da Pedagogia: alunos reclamam da infra-estrutura

Daniela SalgadoPaula Emannuella

4º período

Uma das principais reivin-dicações dos estudantes daUemg, (Universidade Estadualde Minas Gerais), a melhoriana infra-estrutura da Universi-dade, só será atendida quandoo novo campus, que está emconstrução no bairro CidadeNova, for concluído, é o queafrma a pró-reitora de Planeja-mento de Gestão e Finanças,Maria Celeste Cardoso Pires. Noentanto, a estudante AmandaTolomelli, presidente do Dire-tório Acadêmico de pedagogia,afirma que o governo não citoua Universidade, mesmo sendoEstadual, como meta no PlanoPlurianual de Ação Governa-mental, que estabelece os gas-

tos durante o período de man-dato. O que deixaria a institui-ção sem o investimento.

Segundo Maria Celeste, aUemg, que é de responsabilida-de da Secretaria de Ciência e Tec-nologia e Ensino Superior, nãose difere de nenhum órgão pú-blico, e o que há, é a insuficiên-cia de renda da atual adminis-tração. Maria Celeste reconhecea precariedade atual e reafirmaque a situação será resolvida coma transferência das aulas para a onovo Campus. Já a vice-reitora,Janete Gomes, defende que a rei-toria tem lutado para que as ins-tituições sejam contempladas naspolíticas públicas e diz que em-bora esteja previsto no artigo 206da Norma Constitucional, a au-tonomia financeira, pedagógicae didática, a Universidade nãotem essa autonomia. “O finan-

ciamento é liberado muito abai-xo do esperado”, afirma.

Os estudantes reivindicamainda, eleição da reitoria por vo-to direto. Segundo Amanda a rei-toria é decidida sem a participa-ção dos estudantes. A vice rei-tora Janete rebate que as eleiçõessão definidas por uma legislaçãofederal, e que antes é feita umaconsulta a comunidade estu-dantil, para que então a lista se-ja votada pelos Conselhos, ca-bendo ao governador escolher onome dos três indicados. Estu-dantes relatam também que ogoverno teria vendido o terrenodo Campus Nova Gameleira aoExpominas e que poderiam fi-car sem local para assistir às au-las. Maria Celeste explica que defato há uma autorização de ven-da, mas que até o momento, elanão se concretizou.

Fabiana Sampaio

Camila Costa Val

Fabiana Sampaio

O deputado Domingos Sá-vio do PSDB, apresentou rela-tório propondo fontes de fi-nanciamento e uma emenda àConstituição para reorganizar aUemg. A proposta prevê que asInstituições do interior terão dese manifestar como integrantesde um sistema de entidades as-sociadas ou se desvincularemda UEMG, garantindo a esta aincorporação dos recursos re-passados pelo governo.

Foi proposto também oaprimoramento dos convênioscom a parceria público priva-da, e o Fundo de Apoio ao Es-tudante, para ajudar a perma-nência de alunos carentes noscursos. Segundo a aluna, Aman-da Tolomelli, essa proposta im-põe também que os estudantesrestituam depois o valor comjuros ou através de prestaçaode serviço para a universidade.

Proposta parareorganização

Criança na sala de aula égarantia de desenvolvimento

CLIC: proposta pedagógica que privilegia o brincar

A psicopedagoga CláudiaMaria Mazzoni, criadora do Clic,(Centro Lúdico de Interação eCultura), defende uma educaçãoinfantil diferente dos modelosaplicados hoje, típicos escolar,com carga horária pré-determi-nada, salas de aula com mesinhase carteiras, uniformes, seqüênciade atividades, concepção de for-mação baseado em ensino-apren-dizagem e na lógica da produ-ção. “Crianças precisam de es-paço para brincar, há uma insti-tucionalização precoce da vidadessas crianças, tenta-se passarconceitos intelectualizados, nãoexperimentalizados”, contesta.

Para Claudia esses ambien-tes informam mais do que for-mam, ou até deformam porquenão atendem as crianças no querealmente precisam. Segundo apsicopedagoga, no Clic, queexiste há oito anos, brincar é oobjetivo central e a pedagogiaestá a serviço do lúdico. “É no

âmbito da brincadeira que acriança constrói todo o seu pen-samento e a partir dela é quesão engendradas todas as regrassociais”, justifica. Cláudia afir-ma que é urgente reconfiguraresse segmento. “Não quer dizerque temos que voltar a fase es-pontaneísta das creches, mastambém esse modelo escolarque aí está não cabe mais”. E ocusto, segundo Claudia, seriamuito menor do que o modeloda escola convencional, já quenão é preciso um espaço superestruturado e sim espaços deconvivência em grupo.

Claudia já propôs um pro-jeto de reformulação da educa-ção infantil à Prefeitura no anopassado, quando foi chamadapara prestar uma consultoria,no entanto, não houve engaja-mento. “Eles querem pessoaspara alfabetizar, você alfabetizauma criança em duas horas, odifícil é letrar”, critica Claudia.

Psicopedagoga defendemudança no ensino infantil

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O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editor e diagramador da página: Flávio Peixe

TECNOLOGIA 7

Alessandra Frenkiel6º Período

Desde de 2003, a novela daTV digital no Brasil se arrastasem definição do caminho a serseguido. Depois de quatro anosde debate sobre qual padrãotecnológico deve ser adotadopelo país, o presidente Lula de-terminou ao ministério dasComunicações estudos sobre aviabilidade de se desenvolveruma tecnologia nacional parano novo sistema de transmis-sões televisivas. “O Brasil temmeios de desenvolver um pa-drão próprio de televisão. Es-tamos numa discussão. Vamosacrescentar um quarto padrãoe ver o que é melhor” disse Mi-ro Teixeira que na época ocu-pava o cargo de ministro dascomunicações.

Depois da solicitação feitapelo presidente Lula, diversasreuniões com executivos dasemissoras de TV do país foramfeitas para discutir a possibili-dade de desenvolvimento dopadrão nacional. No início des-se ano, a Agência Nacional deTelecomunicações (Anatel) in-formou que há estudos de es-tender a possibilidade de cria-ção de um novo padrão emconjunto com os países do mer-

cosul. Enquanto isso, o Brasilcontinua estudando os sistemasdigitais do Japão, dos EstadosUnidos e da Europa. Os lobbiesem torno desses padrões bus-cam arrematar um mercado,que projeta para os próximosdez anos, uma movimentaçãode US$ 100 bilhões no país, nocaso do Mercosul optar pelacraição do novo sistema, essevalor triplica.

Negócio da ChinaA criação do padrão brasi-

leiro surgiu depois que a Chi-na, país mais populoso do mun-do, desistiu da adoção de umpadrão já existente, para criarum padrão exclusivo para opaís. O objetivo chinês é criarum modelo próprio de trans-missão, mais moderno e flexí-vel, para ser usado também emsoluções móveis, como celula-res. O novo padrão permitiráaos chineses usufruir, não ape-nas de televisões com alta defi-nição, mas de serviços perso-nalizados e novos recursos natelefonia móvel. O padrão nãoserá similar e nem baseado nosmodelos existentes. De acordocom a Universidade Tsinghua,em Pequim, responsável pelacriação do novo sistema, os pa-drões atuais apresentam resul-

tados que não satisfazem as ne-cessidades chinesas, em espe-cial o padrão americano. Se-gundo o governo chinês, o no-vo padrão vai atender a de-manda do país nos níveis tec-nológico e social.

O debate sobre o sistema aser adotado, conduzido atual-mente pela Anatel, reúne téc-nicos, pesquisadores e repre-sentantes das emissoras de te-levisão. A tarefa é analisar osaspectos técnicos, econômicose sociais da adoção do padrãodas transmissões no Brasil.Após a definição do governo,ainda serão necessários outros18 meses até a implantação daTV digital por aqui. O mode-lo de negócio da TV digital en-volve a escolha do padrão tec-nológico, a inclusão da popu-lação ao novo meio e, princi-palmente, a consolidação deum pólo de produção de sis-temas, aparelhos e compo-nentes para este mercado. En-tre os requisitos para a criaçãode uma padrão brasileiro estáa possibilidade de que a po-pulação possa continuar utili-zando os televisores atuaisatravés de um sistema de de-codificação.

Indefinições atrasam TV digitalMercado de US$100 bilhões movimenta discussões sobre padrão a ser usado no Brasil

Anatel debate padrões atuaisOs lobbies que disputam o

mercado tem seus defensores,que incluem, interesses de go-vernos e indústrias de equipa-mentos e de conteúdo para TV.

O sistema americano (ASTC)foi o primeiro nas transmissões,foi direcionado para o HDTV, etem qualidade muito maior doque a da transmissão analógica.Porém, o sistema exige apare-lhos caros, na faixa deUS$1.500, contra US$200 deuma TV comum. Na prática, umprograma de HDTV pode servisto em receptores não-HDTV,mas há perda de qualidade deimagem e de som. O padrão,atualmente, não permite apli-cações móveis, como TV no car-ro e vídeo em celulares e palms.

O DVB, padrão europeu per-mite seis modos de transmissão.Utiliza-se o nível de resoluçãoSDTV, em formato de tela muitoparecido com os receptoresatuais. A transmissão somenteem SDTV permite em uma úni-ca freqüência, transmitir até seis

programas. O modelo de negó-cios europeus privilegia a ofertade programas e serviços, comoacesso à Internet e TV por assi-natura. A qualidade é pouco me-lhor que a transmissão analógi-ca, mas permite receber sinal di-gital utilizando TVs comuns li-gadas a decodificadores -cujopreço está em torno de US$150e televisores digitais de menorcusto. O DVB-T comporta a re-cepção por dispositivos móveis,mas não opera satisfatoriamentequando transmite, para TV e sis-temas móveis ao mesmo tempo.

O padrão japonês é o maisnovo. O ISDB-T tem como ba-se a tecnologia européia, e se-gundo seus defensores, é supe-rior ao DVB por não sofre in-terferências, o que melhora astransmissões em conjunto comdispositivos móveis. Os pri-meiros testes de campo com aTV digital no Japão começaramem 99, mas o sistema só entrouem operação comercial no se-gundo semestre de 2003.

Prós e ContrasOs sistemas americano e eu-

ropeu têm a vantagem de já es-tarem em uso há certo tempo,o que garante a estabilidade opadrão e de serem usados emtransmissões para grandes po-pulações. Contra o sistema ja-ponês está o fato de ainda estarem período de teste e de não tersido testado em transmissõesem larga escala.

A criaçào de um padrão bra-sileiro garantiria uma migraçãogradativa para o novo formatode transmissão. Dessa forma osimpactos econômicos e sociaisseriam minimizado, uma vezque o novo padrão se adequariaàs necessidades da população.Na última audiência pública rea-lizada pela Anatel, 12 das 32propostas foram a favor do ISDB.A Abert (Associação Brasileiradas Empresas de Rádio e Televi-são) foi a principal defensora dopadrão japonês, que apresentoumelhor resultado nos quesitosalta definição e mobilidade.

Dimensão dos mercados já definidosPadrão Países Lares com TV (milhões) Nºatual de TVs (milhões)

ATSC Canadá, Coréia do Sul,EUA, Taiwan* e Argentina* 140 285

DVB União Européia, Austrália,Nova Zelândia, Cingapura, Índia 205 270

ISDB Japão 45 100

(*) podem rever seus padrõesFonte: Fundação CPqD (Dados de 2002)

Padrões em disputa

O sistema americano é o pioneiro. Atualmente,está voltado para transmissões em alta definição.Permite a transmissão de vários programas aomesmo tempo em um só canal e serviços online.

AT

SC

O padrão europeu também permite a com-pressão de vários programas no mesmo canalde transmissão simultaneamente e é compatí-vel com serviços de dados e telefonia móvel

DV

B

Sistema mais recente, o japonês é moldado paraintegração com telefonia móvel de alta veloci-dade. Também suporta compressão de canais si-multâneos e serviços de dados.

ISD

B

Apessar de a grande maioria das pessoas não ter idéia do queseja a TV digtal na prática, a nova tecnologia vai revolucionar aforma como o telespectador se relaciona com a televisão. Afinal,a forma de transmissões televisivas é praticamente a mesma des-de o surgimento das primeiras emissoras, na década de 50

A tecnologia digital permite a transmissão simultânea de váriosprogramas em um mesmo canal. Outra mudança é resolução dasimagens, que são muito superiores ao que se tem hoje no mercado.Na TV digital as telas são diferenciadas, com formato retangular,mais próximo às telas de cinema. No modo HDTV (Tv de alta De-finição) a resolução pode chegar até 1.920 por 1.080 pixels, Isso éseis vezes maior do que a resolução dos aparelhos atuais. No sinalSDTV (TV de Definição Padrão), a resolução é pouco superior à daTV comum, mas a qualidade técnica da transmissão é muito maior.

A qualidade do som também dá um salto ao passar para o di-gital, é o mesmo que comparar um disco de vinil a um CD.

A TV digital também permite aplicações baseadas em alta ve-locidade de transmissão de dados, no aumento dos canais dispo-níveis e na possibilidade de interação. A combinação de TV comas tecnologias de dados permite acesso à Internet, a compras on-line (T-Commerce) e a serviços bancários (T-Banking). O proces-so de digitalização aumenta em muito o número de canais paratransmissão, na verdade a disponibilidade é muito maior do queas próprias redes necessitam. Por esse fato, as redes de TV podemusar o sistema para se transformarem em portais de entrada paraserviços e aplicações.

Um exemplo dessa interação seria a possibilidade de comprar,em tempo real, objetos usados na cenografia de um programa, ofigurino usado pela personagem da novela, ou ainda experimen-tar a possibilidade participar de votações em programas de deba-tes ou em um reality show. Hoje isso só é possivel através de ou-tros meios como telefone e internet.

Novo sistema traz qualidade e interação

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Arte: Daniel Washington

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8 ESPECIAL O PONBelo Horizonte –

Editora da página: Sinária Ferreira

A revolução cubde Fidel Cas

A revO

bloqueio do governo dos EstadosUnidos que dura 45 anos é enfren-tado quotidianamente pelo povo cu-bano, e mesmo com essa medidaofensiva contra Cuba, o presidente

Fidel Castro conseguiu alfabetizar 98% da popula-ção e levar 30% ao ensino superior, além de ofere-cer toda assistência médica ao povo cubano. Segundoo maestro cubano Néstor Lombida, que reside noBrasil, o ensino superior só não atingiu um núme-ro maior de toda a população devido à política dogoverno estadunidense contra seu país. “Temos 2%de analfabetismo porque os Estados Unidos obri-gou à Cuba”, diz Lombida se referindo ao bloqueioque reduz de forma ofensiva os recursos econômi-cos que impede o desenvolvimento e a satisfaçãodas necessidades básicas como alimentação, servi-ços médicos e educacionais para a população.

Com todas as investidas do atual governo Bushcontra o regime e o povo cubano, como a ampliaçãode US$ 7 milhões para US$ 36 milhões para a ma-nutenção dos organismos anti-Cuba. O presidenteBush também quer aumentar o acesso de opositorescubanos a transmissões de rádios e TVs norte-ame-ricanas dirigidas à ilha, além de reprimir o fluxo dedólares para Havana destinados a parentes dos cu-bano que residem nos Estados Unidos. Ainda assimo apoio à Fidel pela população é majoritário, segun-do o professor de Relações Internacionais da PUC,Javier. Para o músico cubano Néstor Cordero, a re-volução cubana é uma ameaça à hegemonia estadu-nidense devido a seu caráter socialista. “Meu paísfoi formado no sacrifício, dentro de uma ideologiamuito forte, se não fosse a estrutura do governo depriorizar as conquistas sociais Cuba não teria so-brevivido”, afirma. Fidel Castro liderou a conquistae ainda hoje tem apoio da população de seu país. Emseu último discurso em Havana, Castro reuniu cer-ca de 1 milhão e 200 mil cubanos em frente ao es-critório da Seção de Interesses dos EUA contra a po-lítica anunciada pela administração Bush em relaçãoà Cuba. Em seu discurso Fidel se refere ao governoBush: “Tudo o que se escreve de direitos humanosem seu mundo e no de seus aliados, que comparti-lham o saque do planeta, é uma colossal mentira. Bi-lhões de seres humanos vivem com fome, sem ali-mentos suficientes, medicamentos, roupas, sapatos,moradias, em condições subumanas, sem conheci-mentos mínimos e informações suficiente para com-preender sua tragédia e a do mundo em que vivem”.

Fidel continua firme às ideologias da revoluçãocubana e conta com a participação ativa de seu po-vo. De acordo com o professor de música Néstor Cor-dero a formação da identidade do povo cubano vemdesde a independência da Espanha e depois dos EUA,“com isso foi criando uma força, um desejo cons-tante no povo de não se deixar dominar e foi man-tido ao longo das décadas até o surgimento do mo-vimento revolucionário de Fidel”, relata Cordero.Segundo ele em momento algum houve resistênciapelo povo cubano às idéias castristas. “Chega ummomento que a população não suporta mais as in-justiças, hoje, cada vez mais os Estados Unidos vêmfazendo uso do seu poderio, das injustiças e falamque estão levantando a bandeira da liberdade”, dizCordero. O músico relata que as idéias revolucioná-rias começaram com o criador do Partido Revolu-

cionário Cubano, José Martí. “Ele fundou o partido,e era justamente para denunciar o império. Martí fa-lava da importância de impedir que os Estados Uni-dos estendesse sua força no mundo”, afirma.

Antes da revolução de Castro, o país vivia na mi-séria, “no analfabetismo, na exploração total, na fo-me e o capitalismo favorecendo somente os ricos”,conta Cordero. Segundo ele o então governo cuba-no de Fulgêncio Batista era condizente com a polí-tica dos Estados Unidos. “O exército de Batista foium dos mais sanguinários, assassinavam os jovensestudantes”. A insatisfação com esse governo levouFidel e seus companheiros às lutas, greves, clan-destinidade até obter a vitória com o movimento re-volucionário. Quando Fidel chega ao poder em 1959acontece uma série de atentados, ações provocadaspelos Estados Unidos para desestabilizar o recémformado governo, segundo Néstor Cordero. Hoje,organizações internacionais fazem denúncias de abu-sos em Cuba contra os direitos humanos, segundoo professor Javier. “O governo cubano agiu de ma-neira drástica contra os dissidentes cubanos e foicriticado pelos países europeus e pelo México”, afir-ma Javier. Segundo o professor Javier, a Argentinavotou contra Cuba na época do governo Ménem.“Os Estados Unidos nesses organismos tentam con-vencer os outros países para condenar Cuba”, afir-ma. Fidel durante seu discurso em Havana critica aposição do governo Bush com relação aos direitoshumanos. “O senhor não tem moral ou qualquer di-reito de falar em liberdade, democracia e direitoshumanos, já que detém poder suficiente para des-truir a humanidade e dele se vale para tentar im-plantar uma tirania em nível mundial, ignorando edestruindo a Organização das Nações Unidas, vio-lando os direitos de qualquer país, realizando guer-ras de conquista para se apoderar dos mercados erecursos do mundo, impondo sistemas políticos esociais decadentes e anacrônicos, que levam a es-pécie humana ao abismo”. Para o maestro Lombidaos direitos humanos são desrespeitados quando hápaíses que têm sua cultura própria e são obrigadosa adaptarem ao jeito de pensar dos Estados Unidos.“O que estão fazendo no Iraque é uma grande co-vardia, pessoas que não têm como se defender es-tão sendo massacradas”, diz Lombida. Segundo Ja-vier, apesar da exposição das fotos que mostrammaus tratos a presos iraquianos, o governo Bush pa-ra não manchar sua imagem perante a opinião pú-blica com a aproximação da eleição, conseguiu con-tornar a situação punindo os culpados. “A posiçãodo governo Bush foi de assumir os abusos e conde-nar os culpados”, afirma Javier.

A linha dura contra Cuba começou quando a re-volução de Castro expropriou as empresas norte-americanas que exploravam Cuba, de acordo comJavier. “Depois da guerra fria, os Estados Unidos con-tinuam a pressionar para que Cuba renuncie ao co-munismo e se adapte à hegemonia”, diz. Para Javiero governo dos Estados Unidos não se vê ameaçadopor Cuba, mas a revolução foi um fator complicadopara a potência. “Uma potência não pode ter um paísinimigo a poucas milhas, territorialmente e econo-micamente inferior”, observa. Para Lombida os Es-tados Unidos sentem a “ameaça de um sistema so-cial que demonstrou que não precisam deles para so-breviver, e isso é um exemplo ruim”.

Mariana Alves e Sinária Ferreira4º e 8º períodos

Foi a bordo de uma motocicleta que o cu-bano Ernesto Che Guevara conheceu a Amé-rica Latina. Viajou pelo Chile, Argentina, Co-lômbia e descobriu que no meio continente devários países havia um só povo. De raízes cul-turais fortes, patriota e sofrido. Ele descobriuum povo marcado pelo colonialismo e porcruéis ditaduras, mas que luta diariamentepor igualdade.

Che se tornou um revolucionário e lutou pe-la unificação do povo latino. Unificar não signi-fica implantar blocos econômicos, esta deman-da do capitalismo que visa o livre comércio e, aci-ma de tudo, o lucro. Mas sim, os motivos pelosquais o fizeram também lutar, as peculiaridadesculturais, a história em comum e o semelhantecaminho a percorrer. Ele viu um povo que vivena miséria dos problemas sociais e que convivecom a apatia dos governos ditos democratas epassou a buscar justiça.

Em “Diários de motocicleta” sentimos a for-mação de um processo humanístico de uma pes-soa que lutaria até a morte contra o imperia-lismo, contra o massacre de cidadãos que pre-cisam de nada mais do que romper com suasorigens coloniais. E fazer a sua política, a suacultura, baseadas na realidade em que vivem,e não no que se desfruta do outro lado do ocea-no ou um pouco mais acima. É preciso rompercom os padrões que os estadunidenses e euro-peus teimam em impor, e construir um sentidopara a emancipação e a criação de uma identi-dade genuinamente latina.

Assim o cubano encontrou as suas raízes, edeixou ensinamentos que ultrapassam o soli-tário sentimento de mudar. Mostrou que revo-lucionar é morrer por um ideal que abarca mi-lhares de pessoas que estão prestes a serem ig-noradas por um sistema que as vêem como mí-seros fantoches, fazedores de capital. Ele cobi-çava o socialismo que faria o povo livre, iguale latino. Que suas palavras não se calem, queseu ideal nunca se perca e Viva la revolución!

A identidadelatino-americanaPatrícia Giudice8º período

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O PONTOzonte – Junho/2004

Diagramadores: Rafael Werkema e Sinária Ferreira

ESPECIAL 9

VIVEA soberania cubana incisa nos discursos travados pelas lideranças políti-

cas tem respaldo na maioria dos cubanos. Isso tem influências por causa daformação da identidade cubana. Desde a colonização dos espanhóis e as lutasde libertação, o povo criou um nacionalismo combativo ao bloqueio estadu-nidense. Para José Rodrigues, diretor da Associação José Martí, a identidadecubana teve seu início nas guerras de independência contra a Espanha. “O po-vo cubano sempre foi muito resistente à questão da colonização. E José Mar-tí, um dos lideres políticos da época, já fazia uma crítica ao imperialismo.” Ocubano Néstor Cordeiro acrescenta “a formação da identidade vem desde dasduas independência ( da Espanha e dos EUA), com isso foi criado uma força,um desejo constante no povo de não se deixar dominar”.

Com a independência de Cuba, os Estados Unidos percebe que há um gran-de campo comercial e infiltra no país. “Cuba deixa de ser uma colônia da Es-panha para virar uma neo-colônia dos EUA. Com a instalação do governo nor-te-americano até o surgimento das lutas revolucionárias, os governos cubanosforam instalados sempre respondendo aos interesses dos EUA”, ressalta Cor-deiro. José Rodrigues explica que a lógica de dominação americana estabele-ceu a relação dos produtos cubanos. “O país foi incumbido de produzir parao mercado americano, era produzida a cana-de-açúcar dentro de uma medidarecomendada pelos EUA”, diz. A reação do povo veio com o Partido Revolu-cionário Cubano (PRC), que denunciava o império. José Martí foi um dos fun-dadores, e desempenhou um papel importante na construção da identidade.Martí acreditava que só é possível ser livre se o povo for culto. Para Rodriguespara acontecer uma revolução é preciso ter condições objetivas e subjetivas.“As condições objetivas, o Brasil por exemplo, tem. O desemprego, miséria,pobreza, etc. Agora não tem um fator fundamental e decisivo no processo detransição revolucionaria, que é a consciência da população e dos movimentosorganizados.” O que para ele é a diferença do povo cubano, que conheceram,na construção da identidade, o pensamento Martiano.

A resposta cubana ao imperialismo estadunidense foi a vitória da revolu-ção, liderada por Fidel Castro em 1959. “O valor de Cuba na perspectiva so-cial mudou com a revolução”, afirma o maestro cubano Néstor Lombida. Eleconta que quando o sistema mudou toda a população começou a perceberprincipalmente porque Cuba conseguiu alfabetizar o país. “ O fato de unifi-car a educação do país, a pessoa que mora na zona rural tem amesma educa-ção daquele que mora no centro da cidade”, diz Lombida. O maestro relataque a preocupação social se insere na formação do profissional. “O indivíduocumpre seu serviço social, porque tem de retribuir à sociedade por não pagarpelo estudo”, diz. Lombida conta que o cubano não cursa na universidade pa-ra ganhar dinheiro ou ter um diploma, mas para prestar um serviço ao paísna construção de uma sociedade justa e sólida. “Aprendemos a ser discipli-nados socialmente; é a visão que tem a maioria dos cubanos”, diz Lombida.

A construção de uma identidade calcada nos valores humanísticos e a re-sistência à dominção transformou o povo cubano. Para Lombida o processode cosolidação do sistema foi primordial para obter os resultados. “Foram me-didas e eu sei que são drásticas, mas era para conseguir que a sociedade nãofosse envolvida num mundo que não tivesse uma resposta social” relata. Pa-ra José Rodrigues os ideais cubanos estão na universalização da América La-tina. “A lógica da identidade cubana não está desprendida da latino-america-na, que busca caracterizar a América com uma visão de todos os povos.” diz.

Os ideais revolucionários que transformaram a ilha

A vitória de 1959 do movimento revolucionário marca um novo começo nahistória cubana. “Foi um movimento nacional que obteve a vitória em pri-meiro de janeiro de 1959, data que Batista foge do país”, explica Cordero.A ilha situada na América Central com aproximadamente 11 milhões de ha-bitantes governada há 45 anos por Fidel, após a derrubada do governo de Ful-gêncio Batista marcado pela corrupção e o apoio aos Estados Unidos. Fidelacompanhado de seu irmão Raúl Castro, Ernesto Che Guevara enter outrosrevolucionários viviam em lutas armadas, greves e clandestinidade, duranteo governo de Batista, segundo o músico cubano Néstor Cordero. “Com a for-mação do exército rebelde, liderado por Fidel, eles viviam refugiados nas cor-dilheiras, na região montanhosa de Cuba. Instalam uma estação de rádio e co-meçam as lutas clandestinas, muitos jovens naquela época se juntaram à for-ça revolucionária de Fidel. Criaram o exército com as roupas verdes, usavambarbas como a que Fidel usa ainda hoje, porque não tinham como fazê-las”,diz Cordero. Ele conta que os camponeses ofereciam comida para Fidel e oscompanheiros. E apesar de muitos terem sido mortos, o exército se fortaleciacada vez mais em combate ao governo de Batista.

A partir daí a construção de uma Cuba justa foi uma luta constante, segundoCordero, “na época Fidel não era representante do país, mas o povo queria eleno poder”. Ele explica que foi uma época de extrema tensão da política inter-nacional com a instalação de mísseis em Cuba com a abertura das relações coma União Soviética e o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos. Nopaís que tentava se reerguer depois do governo corrupto de Batista, a misériado povo era a realidade da maioria. “Houve uma migração de cubanos para osEstados Unidos, justamente de pessoas que tinham posses como: médicos, do-nos de cassinos, donos de hotéis, todos instalam seu poderio financeiro so-bretudo em Miami”, conta Cordero. Antes do bloqueio a ilha era o parque dediversão dos estadunidenses, “ao final Cuba era um grande prostíbulo, mula-tas bonitas como no Brasil, tabaco, rum, praias belíssimas”, diz o maestro cu-bano Néstor Lombida. A idéia de que a ilha de Cuba, pérola do Caribe, era umprolongamento do território estadunidense fez com que este entrasse na lutacontra a Espanha na época da colonização de Cuba. A partir de então, de ma-neira constante e sistemática, os Estados Unidos vêm aplicando políticas con-tra Cuba com o objetivo de tornar a ilha mais um Estado de seu território, con-trolando sua economia, suas riquezas, sua política, como na ocasião em queapoiou o governo de Fulgêncio Batista. Então acontece a revolução cubana eFidel levanta a bandeira do nacionalismo e “diz ao governo norte-americano:põe a mão em Cuba e eu destruo vocês”, segundo Lombida.

Cordero conta que três anos após Fidel chegar ao poder, “foi a época dacampanha de alfabetização em 1962 que transformou Cuba no primeiro paísda América Latina livre do analfabetismo”. Ele diz que devido às medidas ex-tremas do governo estadunidense e a desestabilização do modelo socialista,Cuba ficou isolada. “Chegamos a um ponto de extrema necessidade, carên-cias materiais, se fosse um outro país teria entrado em um colapso total, mas,meu país foi formado no sacrifício, dentro de uma ideologia muito forte. Senão fosse a estrutura do governo de priorizar as conquistas sociais, Cuba nãoteria sobrevivido”, afirma Cordero. Maestro Lombida afirma que Cuba aindahoje passa por muita dificuldade, “sobrevive com fome, com pobreza, masnão tem pessoas na rua. Mesmo tendo a pobreza não tem miséria, todo mun-do come a mesma coisa, ainda que de forma reduzida”, explica.

Um país criado no sacrifício ena luta diária do seu povo

ubana há 45 anos se mantém firme sob o comandoastro, que tem o apoio da população contra os EUA

volução

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O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editora e diagramadora da página: Sheilla Matos

10 SAÚDE

As mulheres fumam cada vez mais Atualmente elas são mais vulneráveis às doenças causadas pelo cigarro do que o sexo oposto

Kattiúscia Costa6º período

De acordo com a coordena-dora de comunicação da Abra-ço (Associação Brasileira Co-munitária Para a Prevenção doAbuso de Drogas), Ariane Cam-pos Pinheiro, uma pesquisa rea-lizada em todo o Brasil, mostrouque houve uma diminuição donúmero de fumantes no país.

Essa diminuição ocorreu emtodas as faixas etárias, exceto nosexo feminino. Neste, houveum aumento passando, de cer-ca de 18%, para 25% o percen-tual de mulheres fumantes.

Como o número total de fu-mantes no país gira em torno de31 milhões, verifica-se que qua-se oito milhões são mulheres.

Segundo Ariane existem vá-rias implicações nesse proble-ma que tornam a situação ain-da mais grave. Um deles é que,geralmente, as mulheres ficammais tempo dentro de casa doque os homens, prejudicando,com o chamado “tabagismopassivo”, aqueles que com elasconvivem, principalmente os fi-lhos. Isto sem falar no mauexemplo, pois a mãe que fumaperde muito de sua autoridadediante de seus filhos, princi-palmente para lhe falar sobre osmales provocados pelo uso deoutras drogas.

Além disso, há outros fato-res em relação à mulher fu-mante que devem ser levados

em consideração. Por exemplo,se a mulher fuma durante a gra-videz, há prejuízos para o fetoe o bebê pode ter o tamanho eo peso diminuídos, com refle-xos no seu desenvolvimento fí-sico e mental. Já existem pes-quisas indicando que, quandoa mãe fuma, a possibilidade deter filhos fumantes é maior doque a do pai fumante.

Outro fato sugestivo é a pre-ferência feminina pelos chama-dos cigarros de baixo teor, quetêm menos nicotina e alcatrãoe, por isso, são chamados delight ou cigarros suaves. Em to-da a história do tabagismo nun-ca houve farsa maior do que es-sa dos cigarros de baixo teor.

O fato é que, o tabagista de-pendente, está acostumado comuma certa quantidade de nico-tina circulante no sangue quedeve ser reposta em intervalosregulares. Quando ele passa afumar o light, o teor de nicoti-na diminui e o fumante tende arepô-lo fumando um maiornúmero de cigarros, com maiorregularidade, isto é, aumenta onúmero de cigarros que fuma.

Fumante há 40 anos, MariaImaculada da Cunha Pereira,concorda com essas informa-ções. “Um dia resolvi fazer umteste para ver se conseguia pa-rar de fumar, e troquei o meucigarro por um light. O resul-tado que obtive foi que fumei odobro naquele dia, pois não fi-cava satisfeita”, diz a fumante.

O tabaco é o grande inimigoSílvia Silveira

6º período

O câncer de pulmão é um dosmais letais. Mas não é só com ocâncer de pulmão que as fuman-tes devem se preocupar, o fumotambém dobra a probabilidade decâncer de mama, aumenta emcinco vezes o risco de câncer decolo do útero e triplica a incidên-

cia de ataques cardíacos e derra-mes, é o que diz a assessora de co-municação da Secretaria de Esta-do de Saúde de Minas Gerais, Gi-sele Bicalho Resende.

No que diz respeito às doen-ças, a mulher fumante fica maissujeita à osteoporose e tem do-brado a sua possibilidade de vir asofrer infarto do miocárdio, diz acoordenadora de comunicação da

Abraço Ariane Campos Pinheiro. Segundo o oncologista Wag-

ner Brant, mesmo as mulheresque não fumam, mas que são ex-postas à fumaça do cigarro, têmmaior possibilidade de desenvol-ver um tumor do que homensque nunca fumaram. As mulhe-res são em média duas vezes maissuscetíveis a ter essas doençasdo que os homens.

Mulher corremaior risco decâncer de pulmão

Kattiúscia Costa6º período

Segundo o INCA (Instituto Na-cional do Câncer), mulheres fu-mantes podem ter maior probabi-lidade de desenvolver câncer de pul-mão do que homens que fumamuma quantidade similar.

O grande inimigo e principalcausador do câncer de pulmão é ocigarro, e a principal causa desse au-mento está relacionado ao fato deas mulheres terem começado a fu-mar mais cigarros nos últimos trin-ta anos.

Até a década de 70 era raríssi-mo fazer um diagnóstico dessadoença nas mulheres. Entre estas,preponderava o câncer de mama ede útero; o câncer de pulmão rara-mente era encontrado. Enquantoisto, entre os homens, o câncer depulmão há várias décadas lideravaas estatísticas.

De acordo com o oncologistaWagner Brant, o índice de mortescausadas por essa doença tambémaumentou entre as mulheres, ma-tando mais que os cânceres de ma-ma e útero. “Não se sabem as cau-sas, mas suspeita-se que hormôniossexuais femininos, como o estróge-no, interfiram no metabolismode substâncias químicas do ci-garro”, diz o oncologista.

Cresce o número de tuberculososnos países subdesenvolvidos

Willian Chaves4º período

Segundo a assessora de im-prensa da SMSA-BH (SecretariaMunicipal de Saúde de Belo Ho-rizonte), Maria das Graças Ro-drigues de Oliveira, cerca de umterço da população mundial en-contra-se infectada pelo micror-ganismo da tuberculose, haven-do oito milhões de casos novose três milhões de mortes anuais,sendo mais de 95% nos paísesem desenvolvimento. O Brasil emais 21 países subdesenvolvi-dos detêm 80% dos casos mun-diais (o Brasil ocupa o 14º lu-gar).

As mortes são mais numero-sas nos países pobres do que noseconomicamente desenvolvidos.Nos Estados Unidos, por exem-plo, morrem de tuberculose, porano, apenas seis pessoas em ca-da 100.000 habitantes. No Bra-sil, em 1970, a mortalidade foide 25 pessoas por grupo de100.000 habitantes.

Atualmente, não se sabe aocerto qual a taxa de mortalida-de por tuberculose nos paísessubdesenvolvidos, mas a quan-tidade de tuberculosos nos paí-ses da América Latina é estima-da entre 0,3 de 1,3% da popu-lação total.

No Brasil são 50 milhões depessoas infectadas pela doença,estimados cerca de 130 mil ca-sos novos por ano, mas apenascerca de 90 mil são notificados.

De acordo com a assessorada SMSA-BH, a tuberculose pre-domina na faixa etária produti-va - 70% dos casos ocorrem en-tre 15 e 59 anos de idade. Onúmero de óbitos anuais está emtorno de seis mil, o equivalentea 16 mortes por dia.

No país, cerca de 8% dos ca-sos de tuberculose têm infecçãopelo HIV e 20 % a 40% dos por-tadores de HIV têm tuberculoseassociada. O HIV, mais conheci-do como vírus da AIDS, ajudano desenvolvimento da bactériada tuberculose.

Willian Chaves4º período

Em Minas Gerais, são notifi-cados anualmente cerca de seismil novos casos. Desses casos,foram constatados 77% de cu-ra, cerca de 10% de abandonode tratamento e 9% de óbitos.

De acordo com assessora daSMSA-BH (Secretaria Municipalde Saúde de Belo Horizonte),Maria das Graças, na região Me-tropolitana de Belo Horizonte,são registrados cerca de dois milnovos casos por ano, constata-dos 82% de cura, 8% de aban-dono do tratamento e 5% deóbitos.

Em 2002 a Secretaria, regis-trou 1184 casos entre a popula-ção da capital. “Em abril de2003, não tínhamos informaçãosobre o encerramento do trata-mento de 20,7% dos casos. En-tre o restante verificou-se 72,3%

de cura, 12% de abandono dotratamento e 8,5% de óbitos”,afirma Maria das Graças.

O Ministério da Saúde emparceria com as Secretarias Es-taduais e Municipais de Saúdelança nacionalmente uma pro-posta de ação, visando o controleda tuberculose, com ampla mo-bilização técnica, política e so-cial.

De acordo com Graça, essaestratégia consiste na liberaçãode recursos financeiros, na des-centralização das ações e a reor-ganização dos serviços atravésdo Programa de Saúde da Famí-lia, do governo federal, visandoa garantia do fornecimento damedicação, a implantação do tra-tamento supervisionado, a dis-seminação dos conhecimentostécnicos mais modernos a todosos profissionais de saúde do paíse o estabelecimento de parce-rias com a sociedade civil.

Consumo de cigarros diminui entre os homens mas aumenta entre o sexo feminino

A doença em BH

Ana Maria Caixeta

Arquivo O Ponto

Anualmente, seis mil novos casos são notificados em MG

10 - Saude - Sheilla 09.06.04 16:16 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editor e diagramador da página: Frederico Mesquita

ESPORTE 11Preço de ingresso esvazia estádiosValor de R$ 15 estipulado pela CBF e Clube dos 13 provoca indignação de torcedores de Minas

Felipe Torres e Igor Francis1º Período

O Campeonato Brasileirode futebol deste ano vem se ca-racterizando pela ausência depúblico nos estádios. Estaconstatação tem se confirma-do rodada a rodada neste iní-cio do torneio. A média de tor-cedores nos jogos está baixa e,ao que tudo indica, isso vemacontecendo em decorrênciado aumento no preço dos in-gressos, da violência, da trans-missão de jogos pela TV e damá estrutura dos estádios.

Os clássicos que antiga-mente levavam 40, 50 e até100 mil espectadores, agoranão atraem nem 6 mil. Essa éa nova realidade do futebolbrasileiro. A decadência co-meça atingir o esporte maispopular do país, afinal, quemestá disposto a ir ao estádiocom a família, pagar R$15,00por pessoa, correr o risco desofrer algum tipo de violên-cia e ainda por cima não ternenhum conforto? Até o tor-cedor mais fanático está pen-sando duas vezes. O empre-sário Adilson Torres, 49 anos,diz que não leva seus filhosmais aos estádios de futebol,pois não se sente seguro. “Nãovou mais aos estádios princi-palmente pela falta de segu-rança. A paixão pelo esportetornou-se uma aventura peri-gosa e desgastante. Além dis-so, o ingresso é caro, o esta-cionamento ruim, banheirosprecários e o uso de bebidasalcoólicas e de drogas é cons-tante”, desabafa Adilson.

Com a crise financeira queabala o país e o alto custo dos

ingressos, presenciar o time docoração de perto deixou de sero programa predileto dos do-mingos, pelo menos é o quegarante o analista de públicosda Rádio Itatiaia, Sebastião Pe-reira, mais conhecido comoTião das Rendas: “A cada anoque passa o torcedor tem fre-qüentado menos os estádiosde futebol. Este ano, em espe-cial, o preço de quinze reaisfez o torcedor mineiro sumirdo Mineirão. Só para se teruma idéia, ano passado a mé-dia de público era de 23 miltorcedores por partida, en-quanto que nesse ano nenhumjogo dos clubes mineiros noBrasileirão teve mais de 6 milpagantes. Se não baixarem pa-ra dez reais o preço dos in-gressos, essa situação vai per-manecer durante todo o cam-peonato. Não há mais umaatração para as pessoas quegostam do esporte. Se assimcontinuar, o público do fute-bol brasileiro será o pior de to-da sua história”, ressaltou.

O preço dos ingressos é de-cidido em comum acordo en-tre a entidade máxima do fu-tebol no país, CBF (Confede-ração Brasileira de Futebol), aUnião dos Grandes Clubes doFutebol Brasileiro (Clube dos13) e todos os respectivos clu-bes que disputam o Campeo-nato Brasileiro de futebol. Mui-tos clubes questionam que es-ta quantia de quinze reais es-tá provocando a evasão dos es-tádios de futebol, pois para otorcedor que recebe R$260,00,este valor é inviável, devidoao baixo poder aquisitivo quea maioria dos trabalhadoresbrasileiros possuem.

Amanda Vidigal, Carolina Jardim,Laura Aguiar e Mariana Goulart

1º Período

Enquanto aumenta o nú-mero de pessoas à procura deaventuras e esportes radicais,faltam profissionais para aten-der esta demanda. Segundo oagente de turismo, Bruno Wen-dling está havendo sim, uma ex-pansão de agências especializa-das em ecoturismo e esportescomo o Bungee Jumps. “Masainda faltam profissionais es-pecializados e capacitados pa-ra atuarem nesta área, já que osesportes radicais estão se po-pularizando cada vez mais”,afirma Bruno.

De acordo com o agente deturismo, a procura pelas mo-dalidades varia de pessoas com18 a 50 anos e é feita tanto porgrupos de amigos, como porempresas comerciais. Os estu-dantes selecionavam países co-mo a Austrália e Nova Zelândiapara viajar e fazer intercâmbio,pois encontravam como dife-rencial e atratativo os famososBungee Jumps. Atualmente nãoé necessário ir tão longe. A ro-tina e o estresse da cidade ur-banizada ou até mesmo a sim-ples busca pela adrenalina têmlevado as pessoas a fugirem des-te espaço e aderir a prática dosesportes radicais.

No Brasil, São Paulo e Riode Janeiro são os principais re-dutos, mas brevemente MinasGerais poderá se unir a eles, de-vido ao grande potencial eco-lógico que o Estado apresenta.Grandes cachoeiras e inúmerasmontanhas garantem esse futu-ro promissor, que proporcionaaos atletas a prática de ativida-des como o canyoning, rapel,tiroleza, rafting, escaladas, ar-vorismo, trekking, entre outros.

Rafting: sinônimo de emoçãoPopularizado no final da

década de 80 na Europa, o raf-ting se tornou um dos princi-pais esportes, tanto para adul-tos quanto para crianças, quecurtem emoção e adrenalinaassociados à natureza. A prá-tica desta atividade consiste nadescida de corredeiras utili-zando botes, remos e muitaforça. Os rios são classificadosde acordo com o grau de difi-culdade que eles proporcio-nam aos atletas, de 1 a 6 pon-tos. No Brasil a maioria tementre 2 a 4 graus.

Enquanto na Europa os pri-meiros praticantes utilizavam

botes salva vidas, hoje os adep-tos desta atividade radical fa-zem uso de botes de borracha,constituídos de um tecido cha-mado trefiladol, que por suavez, é muito mais resistente, le-ve e à prova de afundamento.Os botes medem 5,5 metros epesam 100 quilos.

O rafting é uma modalida-de que demanda um grandeesforço físico por parte do atle-ta, não é recomendado paramenores de 14 anos ou paraadultos cuja saúde possa serprejudicada. Cada bote com-porta um mínimo de 8 e máxi-mo de 10 pessoas. Alguns aces-

sórios são indispensáveis pararealizar uma descida segura, co-mo colete salva-vidas, capace-te, remos, corda de resgate ecalçados emborrachados.

As reservas florestais são pre-feridas pelos praticantes, sendorefúgio para as pessoas que vi-vem em meio ao agitado coti-diano dos grandes centros ur-banos. Em Minas Gerais, mui-tas agências de viagem fornecemo serviço para quem deseja pra-ticar esta modalidade. Os pre-ços variam de 40 a 50 reais porpessoa, dependendo do tempodos percursos, que geralmentevariam de 1 a 6 horas.

Aventureirosinvadem Cipó

Situada 90 quilômetros anordeste de Belo Horizonte, naregião sul da Cordilheira do Es-pinhaço, a Serra do Cipó éconsiderada pelos praticantesde esportes radicais como umdos dez melhores lugares noBrasil para exercer estas ativi-dades. Isso porque a regiãoabriga um parque nacional quepossui agrupamentos rochosose inúmeras cachoeiras, ou se-ja, um complexo perfeito paraa prática deste tipo de esporte.No Parque é permitido apenasa entrada a pé, de bicicleta oua cavalo, que podem ser alu-gados na portaria, bicicleta (R$5,00) cavalo (R$ 15,00). A vi-sita ao Parque é permitida das8 da manhã às 17h, com o nú-mero limite de 150 pessoas pordia. O ingresso custa R$ 3,00por pessoa.

A Cachoeira das Congo-nhas, com 20 metros de altu-ra, é um dos lugares mais pro-

curados pelos fãs do rapel. Pa-ra chegar até o local são 5 qui-lômetros de caminhada na ser-ra e o passeio todo leva cercade sete horas. Outra cachoei-ra belíssima é a da Farofa, con-siderada por muitos a ca-choeira mais bonita do Brasil.

Para os praticantes deMountain Bike, modalidadeesportiva que utiliza bicicletaspara percorrer lugares onde hácontato direto com a nature-za, a Serra do Cipó é um lugarimperdível, com trilhas de vá-rios graus de dificuldade e pai-sagens deslumbrantes, perfei-ta para quem curte pedalar porcaminhos que cortam flores-tas, rios e montanhas. Já oMorro da Pedreira, com gran-des paredões e cavernas calcá-rias, se tornou o paraíso dosescaladores, com escaladasmóveis e grampeadas, que po-dem variar de 5 a 8 graus dedificuldade.

Estádio vazio demonstra a insatisfação dos torcedores com o aumento dos ingressos

Ricardo Guimarães

Laura Aguiar

O vôo de parapente é uma das muitas modalidades que integra os esportes radicaisLaura Aguiar

Serra do Cipó é procurada por muitos praticantes do rapel

Reajuste depercentual é 50%

Quinze reais é o preço mí-nimo do ingresso para oCampeonato Brasileiro de2004, o que caracteriza umaumento de 50% no bilheteque custava dez reais nestemesmo período do ano pas-sado. Esse fator está sendo de-cisivo para a diminuição detorcedores nos estádios bra-sileiros, pelo menos é o quepensa o estudante de jorna-lismo Caio Márcio, de 20anos. “O preço do ingressono campeonato brasileiro es-tá muito caro e visa atrair ape-nas a elite”, critica Márcio.

A assessoria do Atléticoinformou que o Clube dos13 vai protocolar um pedi-do para a revisão desse pre-ço. Para atrair seu público devolta aos estádios, o Galo im-plantou o projeto “Sócio Tor-cedor”, onde os adeptos doclube pagam R$ 25,00 pormês e ganham os ingressospara assistir a todos os jogosdo time no Mineirão.

O Cruzeiro acha que de-veria haver uma flexibilidadeao estipular o preço dos in-gressos. “Em algumas ocasiõesos ingressos poderiam sermais baratos, como nos jogosdo final de mês ou quandohouver excesso de partidasnas semanas”, sugeriu ValdirBarbosa, assessor de impren-sa do Cruzeiro Esporte Clu-be. Por outro lado, Valdir achaque R$ 15,00 é justo, pois oclube arca com uma série dedespesas mensais.

Esporte radical se populariza

11 - Esporte - Frederico 09.06.04 16:20 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editores: Rafael Werkema e Sinária Ferreira

12 GERAL

REBITE:Fabiana Sampaio,

Julia Chaves, Juliana Cotti e Rafael Werkema

6º Período

easa, sábado, 8 demaio de 2004. Ocaminhoneiro Ma-gno Alves, 27 a-nos, está desde

sexta-feira com uma carga deabacaxi e aguarda que ela sejadescarregada. Sua previsão nãoé otimista, já que é bem prová-vel que ele passe o fim de se-mana esperando que a empre-sa responsável descarregue oproduto. Magno revela o quetodos têm conhecimento e que,no entanto, continua sendo al-vo de indiferença do governo,de empresários e transporta-doras: “eu tomo rebite para tra-balhar!”. Magno consome umadroga inibidora de sono a basede anfetaminas. Ele dirige do-pado, prejudicando sua saúdee colocando em risco sua vidae a dos motoristas que viajampelas estradas do Brasil. Mas elenão faz isso por opção, e simpor obrigação: “se eu não to-mar, eu não consigo cumprir oprazo de entrega”, conta.

As condições de trabalhodos caminhoneiros são as prin-cipais causas para o uso do re-bite. Para suportar jornadas ab-surdas de trabalho, como cum-prir um trajeto de 3200 quilô-metros de Fortaleza a São Pau-lo em 72 horas, eles precisamda droga para permaneceracordados e, assim, atendem àvoracidade de seus patrões quevisam com o cumprimento doprazo - o lucro. A concorrên-cia com os outros colegas deprofissão é acirrada. Se um senega a transportar uma carga,o outro imediatamente, aceitao trabalho. “A pressão é muitogrande. O transportador che-ga e fala: preciso disso paraamanhã. Se eu não aceitar, co-mo sustento meus filhos?”,questiona Valdecir Conceição

Souza, 54 anos, que viajou pornove cidades de Minas em ape-nas dois dias.

De acordo com dados da Fe-deração das Empresas de Trans-porte de Carga de Minas Gerais(Fetcemg), existem hoje cercade 1 milhão e 800 mil cami-nhoneiros no Brasil. Cerca de800 mil são autônomos e acre-dita-se que a maior parte usa re-bite. “Por serem autônomos,eles fazem o próprio horário”,afirma Jésu Ignácio de Araújo,presidente da Fetcemg.

José Natan, presidente doSindicato da União Brasileira deCaminhoneiros (SUBC), afirmaque o uso da droga vai de acor-do com a consciência de cadacaminhoneiro e da empresa queo contrata. Mas o problema émais amplo e abrange desde osgovernos estadual e federal, quenão exercem uma fiscalizaçãocompetente dessas relações detrabalho e assim acabam “ali-mentando” um sistema de tra-balho que privilegia o lucro aci-ma de qualquer coisa, até o queNatan chama de “ganância dosdonos das transportadoras e dasempresas”.

As relações de trabalho queenvolvem caminhoneiros, trans-portadoras e empresários são per-versas e resultado da impotênciae conivência do Estado, porqueenvolve principalmente questõeseconômicas. “Se tem uma pro-moção de leite no Carrefour deBH na sexta, as transportadorassoltam o carreteiro lá em PortoAlegre na quinta-feira”, explicaNatan. O que significa que o ca-minhoneiro vai ter que rodar anoite inteira para cumprir a pro-messa de lucro da carga.

“É pegar ou largar”: essa é afrase mais ouvida pelos cami-nhoneiros, segundo ValdecirConceição Souza. Ele reclamada pressão diária que enfrenta,e culpa não só as transportado-ras, mas principalmente o go-verno brasileiro que “fechou osolhos” para a profissão.

Rafael Werkema

Para cumprirem prazos de entrega das cargas, caminhoneiros fazem uso do rebite indiscriminadamente nas estradas

• Em 2003 foram registrados pela Polícia Rodoviária Federal 16.618 acidentes. 10.449 pessoas ficaram feridas e 889 morreram.

• Pelo menos 40% dos acidentes tiveram caminhões envolvidos.

• Estimativas do Programa Pare do Ministério dos Transportes revelam que os acidentes de trânsito são o segundo maior problema de saúde pública do País e 62% dos leitos de traumatologia dos hospitais são ocupados por acidentados no trânsito.

• A imprudência dos motoristas e as péssimas condições são os principais responsáveis pelos acidentes.

Números de acidentes

Caminhoneirosviajam dopadospara garantir osustento de suasfamílias e arriscamsuas vidas e a deoutros nas estradas

“Toda vez que pego no vo-lante do caminhão, começo umavida nova”, emociona-se Valde-cir Conceição Souza, capixaba,54 anos. De boléia de caminhão,32. Casado e quatro filhos. Jápassou por vários obstáculos equase morreu baleado em umatentativa de assalto. Hoje, sofreproblemas de saúde pelo uso derebite durante 23 anos, e sua ba-talha diária pela sobrevivência oesgota: “o caminhoneiro não temtempo para comer”, declara in-dignado. “Quem lucra é o em-presário”, reclama. Ele ganha cer-ca de R$600 para viajar daqui aSão Paulo. Desse valor, R$300são usados para o combustível emanutenção, R$80 para o agen-ciador e R$50 para o carregador.Os restante é o que sobra para ocaminhoneiro, usados tambémpara despesas como remédios,alimentação. “O governo tem queolhar para o caminhoneiro”, dizValdecir. “Já fiquei 70 dias semver minha família”, enfatiza.

Hélio Rezende, caminho-neiro há 13 anos, casado e dois

filhos. Não usa rebites, mas sa-be que isso faz com que ele per-ca as poucas cargas que surgem.“Não quero que meus filhos le-vem essa vida. Por isso colo-quei-os em uma escola em Con-selheiro Lafaiete. Sempre falopara estudarem, para que nãopassem o que eu tenho que pas-sar todo dia”. Mas Hélio exaltasua profissão: “é uma profissãodigna e tenho orgulho dela”.

O estado físico do caminho-neiro Geraldo Miguel, 52 anos e22 de estrada, é um exemplo dabatalha diária enfrentada pelamaior parte da categoria. Ele fi-cou parado no Posto Chefão (BR040 – saída para o Rio de Janei-ro) durante dois dias a espera deum reboque. Almoçou e dormiudentro da boléia. Nem tomarbanho ele pôde. “Durmo de duasa três horas por noite e trabalharnesse horário é melhor, pelo va-lor de frete, que é maior”, rela-ta. Geraldo ainda acusa as em-presas de transporte: “Elas nãoconseguem manter o frete como preço do diesel”.

O dia-a-dia nas rodovias

“A vida de caminhoneiro é dura”, lamenta Geraldo Miguel

C

Rafael Werkema

Infoarte: Rafael Werkema e Marcelo Bruzzi

12 e 13 - Rebite - Werkema 09.06.04 16:25 Page 1

Page 13: Jornal O Ponto - junho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Diagramadores: Rafael Werkema e Sinária Ferreira

GERAL 13

Jésu Ignácio de Araújo, pre-sidente da Fetcemg, acha que astransportadoras não têm culpapelo uso de rebites pelos cami-nhoneiros autônomos. “As trans-portadoras têm que cumprir osprazos estabelecidos pelo clien-te. Então, elas acabam contra-tando os caminhoneiros que,com medo de perder o negócio,se sujeitam a fazer o trabalho”,relata. Ele ainda acha que a eco-nomia estagnada do país é a res-ponsável pelas péssimas condi-ções de trabalho do caminho-neiro. “O trabalhador entrega suacarga e pega um outro serviçosem se preocupar se está ou nãoem condições de dirigir, commedo de ficar sem trabalho”,exemplifica Araújo.

Mas as transportadoras po-deriam ajudar a combater o pro-blema, já que, de acordo comdados da Fetcemg, 95% dos ca-minhoneiros do Brasil estão ca-dastrados nas empresas de trans-porte de carga do país. Bastavacadastrá-los em um único siste-ma e passar a monitora-los, pa-ra saber quando foi feita sua úl-tima viagem e se o caminhonei-ro tem condições de transpor-tar uma nova carga. Nem mes-mo as soluções superficiais, co-mo coibir o uso de rebite, têmsido executadas pelo governo.

FiscalizaçãoSegundo Aristides Júnior,

chefe da assessoria de imprensada Polícia Rodoviária Federal(PRF), as polícias estadual e fe-deral não têm meios técnicos pa-ra fiscalizar se o caminhoneirousa rebite ou não. “O policial po-de até encontrar os comprimi-dos dentro do caminhão, mascomo podemos prendê-lo se orebite não é um narcótico, comoa cocaína, por exemplo.”, inda-ga Júnior. Outro problema tam-bém é que a PRF não tem ne-nhum aparelho que comproveque o caminhoneiro esteja “ar-rebitado”, como por exemplo, obafômetro, que revela se o mo-torista está ou não alcoolizado.

Existe ainda uma outraquestão, que é a do tráfico dosmedicamentos que são de usocontrolado, vendidos apenascom retenção de receita médi-ca. No entanto, os motoristasdizem que compram nas pró-prias farmácias sem a apresen-tação de qualquer receita e atémesmo em postos nas rodovias,além de conseguirem com qual-quer companheiro de estrada.Esse problema já foi levado aosórgãos competentes pela re-portagem “Eles estão drogados”,da revista Quatro Rodas, de de-zembro de 1997, mas até hojenão foi resolvido. “Isso é nar-cotráfico”, afirma o ex-cami-nhoneiro Roberto da Mota, quecomprava seu rebite em farmá-cias e postos de gasolina.

Projeto ineficiente Desde dezembro de 1996

tramita na Câmara um Projetode Lei que “dispõe sobre o tem-po de direção dos motoristas decaminhões e ônibus trafegandoem rodovias”. A proposta proí-be que os motoristas dirijamininterruptamente por mais dequatro horas e define a jornadade trabalho diária de oito horas.

Mas Jésu de Araújo, presi-dente da Fetcemg, acredita queesse projeto deve privilegiar so-mente os caminhoneiros funcio-nários de empresas, já que se temum maior controle sobre esse ti-po de trabalhador. Ele afirma quegrande parte das empresas temcontrole do número de horas detrabalho de cada funcionário pormeio de um sistema via satélite,e que a maioria dos caminho-neiros autônomos não têm esseequipamento, por isso, a dificul-dade de fiscalização. Segundo Jo-sé Natan, presidente da SUBC,inúmeras cartas já foram proto-coladas junto à Presidência daRepública e ao Ministério Públi-co Federal, denunciando o ex-cesso de horas trabalhadas e apressão abusiva que condicio-nam os motoristas ao uso indis-criminado dos rebites.

Estradas em condições ruins,policiamento e fiscalização insu-ficientes e ineficazes, inseguran-ça, assaltos e escassez de postosde paradas, também fazem par-te da batalha diária da categoria.Se por sorte, o caminhoneiroconsegue achar uma vaga em umdos postos da rodovia, ele pensaduas vezes se pára ou não, commedo de fechar os olhos e acor-dar com um revólver apontadopara dentro da cabine.

O exemplo acima é comume revela que esses problemas con-tribuem para o uso de rebite. Pa-ra os caminhoneiros, acaba sen-do melhor andar “dopado” doque ficar parado em postos, su-jeitos aos freqüentes assaltos. Ocaminhoneiro sergipano, Walde-mir Dantas, 55 anos, denuncia oabandono das estradas. “Ás vezesvocê vai de Belo Horizonte a Ma-

to Grosso sem ver nenhum poli-cial e quando algum pára, vocêdá cinco reais e eles nem olhama documentação. A polícia rodo-viária é ineficiente”, conclui. Wal-demir diz quenão toma rebite,mas conheceoutras combina-ções, como be-ber café com co-ca-cola e até co-mer goiabadacom sal. “Segu-rança, só da for-ça divina”, afir-mam os cami-nhoneiros HélioRezende, 34 e Sérvulo Pires, 41.Eles reclamam do policiamentoe criticam: “os bandidos têm ar-ma melhor do que o exército”.

“Não tem lugar para parar emesmo que o caminhoneiro

queira dormir, ele não consegue”,denuncia o presidente do SUBC,José Natan. Segundo ele, no tre-cho que vai de Belo Horizonte aBrasília (cerca de 700 Km), é pos-

sível encontrarem média ape-nas 10 guardasrodoviários.

“Precisamosde mais policiaise de pessoas queconscientizem ocaminhoneirosobre os malescausados pelorebite”, apela Jo-sé Natan.

Poucos têm a noção exata daimportância do caminhoneiro.Uma interrupção no sistema detransportes terrestre seria capazde paralisar o país. Produtos di-versos e essenciais entrariam em

escassez. É o que enfatiza o pre-sidente do SUBC José Natan, quehá 11 anos luta pela categoria àfrente do Sindicato.

“O governo tem que investirnas estradas, que já estão aban-donadas há mais de dez anos”,reclama Jésu Ignácio de Araújo,presidente da Fetcemg.

A falta de união da catego-ria é sem dúvida, um agravan-te para os problemas diários en-frentados pelos caminhoneiros.Roberto da Mota, ex-caminho-neiro, diz: “a gente é capaz deparar o país!”. Enquanto em-presa e transportadores lucramcom a degradação das condi-ções de trabalho do caminho-neiro, o governo dá as costaspara um problema que não seresume ao uso do rebite, masque abrange a precariedade dotrabalho da classe.

Prazos a cumprirditam as regras

Quando não perdem a vi-da em acidentes trágicos nasestradas, os caminhoneiros “ar-rebitados” podem ficar inváli-dos e com sérias complicações.É o caso do ex-caminhoneiroRoberto da Mota, 67 anos, apo-sentado há 15 por invalidez.

Roberto teve suas veias docoração dilatadas e sofreu der-rame. Além disso, teve que sesubmeter a uma cirurgia cardio-vascular. “Hoje eu tomo umamédia de 28 medicamentos pordia pra controlar a hipertensão,taquicardia e uma série de con-seqüências“, relata. “Todo mo-torista que você ouve falar quemorreu ao volante, é infarto ful-minante provocado por essasporcarias”, acrescenta. Robertocolocava 20 comprimidos dePreludin em um litro de uísquee ia tomando em doses. “A calo-ria do álcool em contato com oremédio te dá um choque nosangue, um calor no corpo, co-

mo se você tivesse tomando umainjeção pra aquecer”, explica.

“Tomei rebite durante 23anos e hoje sinto na pele asconseqüências”, confessa o ca-minhoneiro Valdecir Concei-ção Souza que sofre de taqui-cardia. Ele diz que, além dis-so, a droga atacou o seu siste-ma nervoso: “A gente fica maisestressado, e só não tomo maisporque meu corpo já nãoagüenta”.

Magno Alves, 27 anos, queusa rebite desde os 20 anos, dizque todos os caminhoneirosque conhece tomam. “No diaseguinte o efeito é de cansaçoe aí você toma novamente pa-ra agüentar e na medida que vaiviciando, tem que aumentar adose”, confessa. Segundo o mé-dico psiquiatra Arnaldo Ma-druga, isso acontece porque atolerância do organismo hu-mano aumenta com o uso con-tínuo da droga.

É o nome vulgar dado aos medicamentos à base de anfetami-nas e anfetaminóides indicados para o tratamento da obesidade.São usados indiscriminadamente pelos caminhoneiros para per-derem o sono. Segundo o médico psiquiatra, Arnaldo Madruga, adroga provoca um falso efeito de resistência. “A pessoa vai en-fraquecendo e tendo uma relação de resistência muito virtual por-que a excitabilidade do sistema nervoso central faz com que elese sinta mais e mais resistente pra continuar dirigindo”, explica.

Os principais danos causados que surgem ao longo do tempo,são a taquicardia, hipertensão, problemas nos rins e fígado e, emalguns casos a droga pode levar ao infarto e derrame. Entre as al-terações psíquicas está a irritabilidade, um dos fatores responsá-veis pelos desastres com os caminhoneiros, chamado de blecau-te. “Ele chegam a uma estafa, a um nível de cansaço tão grandeque acontece o ble-caute. Uma escuri-dão total e eles apa-gam” descreve opsiquiatra. Ele rela-ta também que o re-flexo da pessoa sealtera, o que facilitaa ocorrência de aci-dentes. A combina-ção dos remédioscom bebidas alcoóli-cas potencializaseus efeitos.

Estradas ruins e falta de fiscalização

A desgraça de quem usa ou já usou O que é rebite

Juliana Cotti

Roberto da Mota tomou rebite durante 18 anos

Rafael Werkema

Infoarte: Rafael Werkema

MORTALRafael Werkema

“Segurança, só da força divina”, afirmam Hélio Rezende e Sérvulo Pires, caminhoneiros e amigos de estrada

Rafael Werkema

“Você vai deBelo Horizonte aMato Grossosem ver nenhumpolicial”

Waldemir Dantas, 55 anos,

caminhoneiro

12 e 13 - Rebite - Werkema 09.06.04 16:25 Page 2

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O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editor e diagramador da página: Marcelo de Aragão

14 FUMEC

Arte barroca em pauta na FumecJuliana Morato

3º período

A primeira semana de Es-tudos Mineiros na Fumec foimarcada por um ciclo de pa-lestras, debates e apresentaçõessobre Minas Gerais. A abertu-ra foi em 25 de maio com umconcerto de Música Mineira,realizado pelo Trio Barroco,composto por Alberto Sam-paio, Moacir Laterza Filho eÂngelo Vasconcelos. Depois foirealizada uma mesa redondano teatro Phoenix, na FCH, on-de os palestrantes FernandoCorrea Dias e Luciano Cortezdebateram a visita dos moder-nistas a Minas Gerais e a cons-trução do paradigma para acultura brasileira.

As palestras deram ênfase àcomemoração dos 80 anos davinda dos modernistas de SãoPaulo a Minas Gerais em 1924.Tal expedição foi de grande im-portância para a retomada e/oureleitura da estética da arte bar-roca em todo o país.

O professor e sociólogo Fer-nando Correa Dias fez um bre-ve histórico da situação de Mi-nas desde 1920. Ele ressaltoua importância da Semana daArte Moderna em 1922, quemarcou o início da proliferaçãodas artes e literatura moder-nistas, além de mencionar ogrande poeta Mário de Andra-de, personalidade indispensá-vel na construção da históriacultural de Minas Gerais. Cor-rea Dias afirmou ainda que éinquestionável o fato de se co-

nhecer o Barroco para com-preender a história de nosso Es-tado. “A caravana dos moder-nistas mineiros e paulistas con-tribuíram para a recuperaçãode um de nossos maiores pa-trimônios culturais; o Barroco”.Entre os modernistas mineirosque acompanhavam a carava-na, foram citados Carlos Drum-mond de Andrade, João Afon-so, Ermílio Moura, Martin deAlmeida e Abgar Renaut.

Luciano Cortez falou da ne-cessidade da construção minei-ra para a construção geral, fa-zendo uma gênese de toda acultura brasileira no século XX.

Estudos MineirosA palestra do dia 26 foi co-

mandada pelo professor e mes-tre em Letras, Paulo Sérgio Ma-lheiros, que relacionou Máriode Andrade ao Barroco Minei-ro. Malheiros falou da necessi-dade que se tinha naquela épo-ca de criar uma identidade cul-tural própria para os brasilei-ros, rompendo com as artes tra-dicionais fortemente influen-ciadas pelas correntes européias.

O professor Paulo Sérgio re-tratou a importância de Máriode Andrade para a culturamundial. Formado em piano,crítico de música, escritor, poe-ta, entre outras, Mário sempreprocurou acabar com a mes-mice das artes no Brasil, in-centivou o expressionismo, fezcom que o país ficasse a par dasvanguardas e trabalhou comuma dualidade entre passado efuturo, antigo e moderno (arte

barroca). “A cultura mineirasempre foi muito significativano universo brasileiro, princi-palmente no que diz respeitoàs artes”, afirmou Paulo Sérgio.A palestra foi ilustrada com umvídeo sobre a Semana da ArteModerna de São Paulo, em 1922.

A professora Adalgisa Aran-tes fechou o ciclo das palestrasfazendo um paralelo entre oBarroco e a arquitetura verna-cular: Minas Gerais no séculoXVIII ao primeiro quartel do sé-culo XIX. Ela procurou mostraro ecletismo e a simplicidade emobras de Minas Gerais, São Pau-lo e Rio de Janeiro. “Sensibili-zar a comunidade acadêmicapara certas concepções arqui-tetônicas que estão em via dedesaparecimento; muitas delassendo demolidas e incom-preendidas é o principal obje-tivo da palestra”, afirmou ela.

Satisfeito com a receptivi-dade dos estudantes à primeirasemana de Estudos Mineiros, oprofessor e coordenador do pro-jeto, Décio Valadares, enfatizoua necessidade de se criar umaatividade intelectual mais am-pla e atrativa para os alunos daUniversidade Fumec. “É fun-damental conhecer a formaçãoda sociedade mineira para se teruma visão mais clara, e conse-quentemente entender melhornossa sociedade atual”, acres-centou o professor Décio.

O encerramento da primei-ra semana de Estudos Mineirosficou por conta do grupo deteatro da Fumec, Facamolada,com a peça: “Tupi or not Tupi”.

Anderson Azevedo6º período

Os canais de televisãodo poder legislativo foramtema de estudo da profes-sora de Telejornalismo docurso de Comunicação So-cial, da FCH/Fumec, Letí-cia Renault, que defendeusua tese de mestrado sobreo assunto. O resultado doestudo é o livro Comunica-ção e política nos canais detelevisão no Poder Legisla-tivo. “A idéia da pesquisaera unir a minha experiên-cia em reportagem de tele-visão e fazer uma reflexãosobre a questão política, as-sunto que sempre me des-pertou grande interesse.”,ressalta.

Letícia Renault escolheuestudar a TV Assembléia deMinas Gerais e a TV Sena-do por estes serem os pri-meiros canais deste seg-mento. A preocupação daprofessora era entender osignificado das mensagensdestes canais para o públi-co. “Queria saber quais asvantagens que um cidadãocomum tem com esse tipode canal, e quais são os be-nefícios que eles trazem pa-ra a sociedade”.

Letícia Renault usou co-mo foco de sua pesquisa astransmissões feitas ao vivo.“Quando se vê uma infor-mação ou imagem ao vivo,temos uma maior possibili-dade de perda de poder. Olegislativo perde um poucosobre a cena deles, pois nãotem a interferência da edi-ção”, explica.

O livro da professora Le-tícia Renault será lançado nodia 15 de junho na Assem-bléia Legislativa de MinasGerais.

Concertos, peças teatrais, palestras e debates movimentam a 1ª semana de estudos mineiros

TV Assembléiaé tema de tesede mestrado

Rodrigo Mascarenhas

Ciclo de palestras na Fumec discute a arte barroca e a cultura mineira para o Brasil

Novo DA estimulaprojetos culturaisna FCH-Fumec

Fernanda Cristina e Antônio Lima

3º Período

O Diretório Acadêmico docurso de Comunicação Social,criou um departamento paradesenvolver projetos culturais.Duas das propostas iniciais emdiscussão são o “Dia Cultural”,que acontecerá semanalmenteno pátio da FCH, e o progra-ma radiofônico “A Hora do in-tervalo” que será transmitidonas pausas entre as aulas. Se-gundo a presidente do DA, a es-tudante do 4º período de jor-nalismo, Mariana Alves, essetrabalho tem a intenção de es-timular as manifestações artís-ticas dos estudantes. “O objeti-vo é promover a integração dosalunos, atraindo a atenção pa-ra o departamento cultural e as-

sim possibilitar a criação de no-vos projetos e eventos”, expli-ca.

Para o Presidente do Dire-tório Acadêmico de Engenha-ria da Fumec, Guilherme Bas-tos “A cultura e o centro uni-versitário estão interligados esem ela não há manifestaçãodos pensamentos”.

O professor do curso de Co-municação Social, LeovegildoLeal, sugere a criação de ummural qualificado onde os alu-nos possam exibir suas aptidõesartísticas e intelectuais. “Soucontra a instalação de alto fa-lantes e a exibição de bandas.Acho que devem ser prioriza-dos a reflexão e o contato pri-mário entre as pessoas. Estecontato possui um valor in-substituível que irá se perdercom estas práticas”.

Espaço de divulgação denovas tendências artísticas

Atualmente existem na Fu-mec vários movimentos musi-cais criados pelos alunos. Comestilos variados, integrantes des-sas bandas acreditam que essesprojetos desenvolvidos pelo DAserão um novo campo de di-vulgação.

O estudante de jornalismoOlavo Barbi, que é integranteda banda de reggae Jacanarana,acredita que esses projetos irãoestimular o surgimento de vá-rias manifestações culturais den-tro da universidade “Acho óti-mo esse tipo de iniciativa, poisatitudes como essas estão sen-do esquecidas nos últimos anos.Estudo aqui há um ano e meioe nunca houve nenhuma aber-

tura pra a apresentação da mi-nha banda”, comenta Olavo.

Para o estudante de comu-nicação Social da Fumec e pro-motor da banda de reggaeOgaia, Bruno Favoreto “É mui-to interessante para as bandasque estão na estrada terem es-se espaço. Para os alunos seráum momento de diversão”, pre-vê.

A estudante de psicologiaRaquel Branco, integrante dabanda Forró de Saia acha quea música irá promover a apro-ximação das pessoas, além dis-so, “esse será um bom projetode divulgação pois muita gen-te não conhece nossa banda”ressalta Raquel.

Alunos de PP criam seu diaIsadora T. Doehler

7º período

Os alunos do curso de Pu-blicidade e Propaganda da FCH-Fumec que fazem parte da EixoZ, agência laboratório do cursode Comunicação Social, desen-volveram um projeto sob aorientação do coordenador daAgência Modelo e professor deMarketing I, Admir Borges, quelançou o Dia Nacional do Estu-dante de Publicidade e Propa-ganda. Para o lançamento do dia31 de março como sendo do es-tudante de PP, um debate sobreética e estética foi realizado noespaço Phoênix e contou com aparticipação de Edmundo Bra-vo, premiado publicitário mi-neiro, Sérgio Arreguy, publici-tário e professor de Legislação eÉtica da Fumec e Araceli Mes-quita, diretora de criação daagência 2004 Criações. Essa ini-ciativa teve como objetivo mos-

trar a importância da boa for-mação dos profissionais, que de-vem ter consciência de que o co-nhecimento, a ética e a estéticadevem andar sempre juntos noexercício da profissão.

O aluno Igor Carone, quefaz parte da agência Eixo Z eque ajudou a fundar a data co-memorativa, explicou as inten-ções do evento. “Resolvemoscolocar em pauta a dialética en-tre a ética e a estética para o es-tudante refletir sobre esses con-ceitos, que são muito impor-tantes para o comunicador que,como formador de opinião, temque ter muita responsabilidade.O público alvo do nosso even-to foram os estudantes, e nósconvidamos pessoalmente osalunos de outras faculdades.”

O publicitário palestranteEdmundo Bravo, criticou a fal-ta de ética dentro e fora da pro-fissão: “o grande problema queexiste é que as relações no mun-

do estão deterioradas, as pes-soas nem escandalizam maiscom a falta de ética. Os valoreséticos não têm como ser exclu-sivamente introduzidos pela es-cola, eles começam em casa.”Ele acredita que o mercado de-veria evitar a veiculação de cam-panhas anti-éticas: “eu acho quedeve vir do anunciante a ini-ciativa de não publicar anún-cios anti-éticos. É um mau ne-gócio para o anunciante ser vis-to dessa forma. A princípio eleainda vai receber lucro, mas alongo prazo vai ter sua imagemqueimada no mercado. ”

A criação do dia do estu-dante de Publicidade e Propa-ganda contou com o apoio daAbraep (Associação Mineira deEstudantes de Publicidade ePropaganda), AMP (AssociaçãoMineira de Propaganda), comos Clubes de Criação de MinasGerais e do Rio de Janeiro, en-tre outras instituições do meio.

Os palestrantes Sérgio Arreguy, Araceli Mesquita e Edmundo Bravo

Sérgio Lucarelli

14 - Fumec - Marcelo Aragao 09.06.04 16:18 Page 1

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Alessandra Frenkiele Flávio Peixe

6º período

De 11 a 14 de julho BeloHorizonte, sedia o 1º FórumNacional de Pedagogia no Ma-rista Hall. O fórum é voltadopara educadores de diferentesníveis de ensino e espaços es-colares e não escolares, docen-tes e gestores das agências for-madores de pedagogos, pes-quisadores da área, graduados,em pedagogia e pós-graduan-dos da área de educação.

A idéia de criar um eventovoltado para profissionais daeducação surgiu em 2001, poriniciativa da Universidade doEstado de Minas Gerais(UEMG) com o Fórum deEducação e o tema: Pedagogoque profissional é esse? “Eraum espaço para discutir asquestões atinentes a formaçãodo pedagogo”, explica a pro-fessora do curso de Pedagogiada FCH/Fumec, Maria da Pe-nha Esteves.

O Fórum de educação evo-luiu, e este ano terá abrangên-cia nacional. “Agora de formamais organizada, o encontro sepropõe a definir um espaço que

periodicamente vai discutirquestões da pedagogia”, acres-centa Maria da Penha que tam-bém faz parte da coordenaçãodo evento.

Em sua nova versão, o Fó-rum Nacional de Pedagogia am-plia a discussão de 2001 e in-corpora temas referentes a pers-pectivas de formação e atuaçãodo pedagogo, reflexões sobre abase de formação dos profis-sionais e a legislação vigente.Entre os objetivos do fórum, es-tá o resgate da identidade doprofissional de pedagogia.Participação da Fumec

Segundo Ricardo Bahia,coordenador do curso de pe-dagogia da FCH/Fumec, a par-ticipação da instituição no even-to é importante pelo fato de serum fórum de âmbito nacional.

Além do apoio a universi-dade atua na coordenação. “Dostrês coordenadores gerais, umaé professora da Fumec, na coor-denação científica temos umprofessor e na comissão deapoio mais dois docentes daFCH”, ressalta Ricardo. O cur-so de pedagogia da Fumec foicriado há 32 anos e foi primei-ro da faculdade a ser reconhe-cido pelo MEC.

Durante o evento serão mi-nistrado pequenos cursos quecomplementam o fórum. Oscursos serão são voltados pa-ra educação de jovens e adul-tos e serão ministrados pelasprofessoras Valéria Barbosa deResende e Vera Lúcia Noguei-ra da Fumec. O evento aindaservirá como ambiente paradebater a questão da identida-de do educador no Brasil con-temporâneo. “Enquanto no Ja-pão o professor é o profissio-nal melhor remunerado, noBrasil a pedagogia é vista co-mo uma profissão secundária”,diz Ricardo Bahia. Maria daPenha completa: “A pedagogiacomparada a outras ciência émuito desvalorizada, mas sa-be-se da sua importância naformação de todos os níveisprofissionais.”

Ricardo Bahia afirma que aeducação é um processo quenão está ligado apenas a jovense adultos, e que está presentedesde a pré-escola até os níveisde pós-graduação. Ele afirmaque atualmente os cursos de pe-dagogia estão muito presos àsleis, e voltado exclusivamentepara a formação de professoresde ensino fundamental.

O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editor e diagramador da página: Anderson Azevedo

FUMEC 15Fumec faz revitalização em MarianaEstudantes de arquitetura estão desenvolvendo projetos para recuperação da cidade histórica

Cristiano Farise Marcelo lMassensini

1º Período

A Universidade Fumec assi-nou um convênio para partici-par das atividades de revitali-zação da cidade de Mariana, lo-calizada a 115 quilômetros deBelo Horizonte. O acordo foioficializado em maio deste anodurante as comemorações deum ano da Associação das Ci-dades Históricas de Minas Ge-rais, em Mariana. “A criaçãodessa associação mostra que ascidades históricas chegaram aconclusão que passam por mui-tos problemas comuns e a so-lução de um município podeatender a outros”, diz a coor-denadora do curso de Arquite-tura Urbanismo, Andréia Vile-la Arruda, que esteve presenteno evento. Participam desseprojeto a Prefeitura local, o Ins-tituto Estadual de PatrimônioHistórico e Artístico (IEPHA) eo da Estrada Real, a Associaçãodas Cidades Históricas de Mi-nas Gerais e a Fundação Mi-neira de Educação e Cultura -Fumec, que foi representada pe-la reitora Raquel Soares Silva.

Através deste convênio osalunos de arquitetura vão colo-car em prática toda teoria docurso.”Vamos aliar o nosso en-sino para o mundo real em pa-ralelo com o trabalho da co-munidade”, explica Andréia Vi-lela. O objetivo do convênio é

estabelecer um conjunto de di-retrizes para que possa seremfeitos programas e projetos emáreas de interesses comuns. Deimediato, serão restaurados osmonumentos e patrimônio his-tóricos e culturais da cidade eposteriormente o turismo.

O convênio tem duração de12 meses e começa a entrar emprática a partir das realizaçõesde seminários, que vão aconte-cer ainda nesse mês, para dis-cutir todas as possibilidades detrabalho.

Para a professora Maria Cris-tina Simão, uma das responsá-veis pelo surgimento do convê-nio, essa oportunidade fará comque a Fumec amplie seu uni-verso. “Através dele estaremosaproximando a pratica da teo-ria e colocando os alunos emcontato com uma realidade queeles podem explorar e acha so-luções. Mariana é um grande la-boratório”, explica. Apesar derecente, os alunos de arquite-tura já pensam em desenvolverprojetos explorando as possibi-lidades do convênio. A estu-dante de arquitetura, Marina Vi-digal Amorim, resolveu mudaro foco do projeto final de gra-duação para atender uma dasnecessidades de Mariana. “Es-tava fazendo um um centro derecreação para crianças e ado-lescentes em Belo Horizonte,porém descobrir que em Ma-riana havia uma carência etransferir o estudo para lá”, diz. A praça das igrejas São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo também terá a sua arquiteura restaurada

Divulgação / Márcio Eustáquio

1ºFórum Nacional de Pedagogiaserá realizado em Belo Horizonte

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O PONTOBelo Horizonte – Junho/2004

Editora e diagramadora da página: Bárbara Albuquerque

16 CULTURA

Cachaça: a mais popular das chiquesTerceira bebida mais apreciada no mundo, a aguardente ganha espaço entre os destilados finos

Antônio Lima, Fernanda Cristinae Mariana Celle3º e 1º Períodos

Pinga, aguardente, caninha,marvada, branquinha, cachaça...Mesmo com tantas denomina-ções, a cachaça ganhou espaçono mercado de bebidas finas. Acachaça é hoje, o terceiro desti-lado mais vendido no mundo epassou a ser, oficialmente, a be-bida tipicamente brasileira, se-gundo dados Indi (Instituto deDesenvolvimento Industrial).Assim como o vinho nos paíseseuropeus, a nossa pinga ganhouum aliado na divulgação e nocontrole de qualidade - a Ampaq,Associação Mineira dos Produ-tores de Cachaça de Qualidade.A associação é a responsável pe-la criação do programa de apoioà produção e ao desenvolvimen-to da cachaça, Pró-cachaça, pla-no que tem o objetivo de des-marginalizar a bebida. “O proje-to tem como princípio básicoaprimorar e zelar pela qualidadeda legítima bebida brasileira”,afirma Luiz Peixoto Cury, presi-dente da Ampaq.

Minas Gerais é o maior pro-dutor de cachaça artesanal noBrasil, o estado que mais apre-cia e contabiliza litros de cacha-ça. Possui cerca de 8.466 alam-biques e produz 200 milhões delitros por ano. As regiões Norte,Jequitinhonha e Rio Doce são asmaiores produtoras, responsá-veis por 63% da produção doEstado. Com isso, a cachaça écada vez mais lembrada comoum ícone da cultura mineira.

A bebida teve seus altos ebaixos, de acordo com o mo-mento histórico vivenciado.Atualmente, ganha prestígio e éservida em festas no Brasil emundo. O que se vê são cacha-ças mais caras e valorizadas,comparando-se a vinhos ou uís-ques. A Havana, do produtorAnísio Santiago, ganhou nomee é considerada a melhor cacha-ça do mundo e patrimônio deMinas Gerais. Uma garrafa che-ga a custar R$ 200, e há quem

diga que vale a pena pagar o pre-ço. Segundo Antônio Lacerda,apreciador de cachaças, a quali-dade em pingas como essa é in-discutível. “Quando tomamosuma cachaça de qualidade, nãosentimos nem mesmo o seu teoralcoólico. É a pura cultura mi-neira”, ressalta Antônio.

Responsável pelo incentivoà produção de cachaça, o INDIdesenvolveu projetos a fim deaumentar a qualidade do pro-duto. Isso porque o públicoapreciador da bebida está cadavez mais exigente. Segundo Mar-celo Furtado, técnico de desen-volvimento do INDI , o consu-mo de cachaça em Minas eramaior que sua produção. Perce-bendo o aumento da demanda,foram desenvolvidos 170 proje-tos de incentivo. “A produção dacachaça é feita buscando rea-proveitar os materiais. O vinho-to é utilizado como fertilizante,e o bagaço na produção de com-bustível, usado nos própriosalambiques”, ressalta Marcelo.

Um pouco de históriaA cachaça surgiu no Brasil

nos tempos coloniais. Tornou-se uma moeda corrente na co-mercialização de escravos trazi-dos da África para trabalharemnos engenhos. A bebida era mui-to apreciada, principalmente, emMinas Gerais, devido ao climafrio da serra, a fim de amenizara temperatura. A cachaça con-corria com o vinho de Portugal,o que a tornou um símbolo deresistência à dominação portu-guesa. No início da república, amoda européia vigorava no Bra-sil e a cachaça foi deixada de la-do, sendo considerada bebidaboêmia e pejorativa. Em 1922,com a semana da arte moder-na, a cultura brasileira foi res-gatada com a valorização de al-guns elementos culturais, entreeles, a cachaça. A partir daí foiiniciado uma melhoria na qua-lidade deste produto símbolonacional. Percebeu-se o seu as-pecto artesanal e a arte do cul-tivo desta bebida.

A bebida é umlíquido puro ecristalino quesai hoje dosalambiquesdireto para ostonéis decarvalhoeuropeu

Em 1922, com asemana da artemoderna, aculturabrasileira foiresgatada coma valorizaçãode elementosculturais, entreeles a cachaça

A arte de produzir na fazendaNo interior de Minas Gerais,

em um sítio a 220 quilômetrosde Belo Horizonte, próximo aTiradentes, fabrica-se a verda-deira cachaça mineira desde1971. ‘Seu’ João Ferreira contacom satisfação como é o pro-cesso de fabricação de sua “ca-ninha”, atualmente fabricada so-mente para vendas nas redon-dezas ou por hobby. A fabrica-ção começa em agosto ou se-tembro, pois é quando a pro-dução de cana-de-açúcar é maiselevada e a cachaça rende mais.

A produção da cachaça do‘seu’ João começa quando a ca-na é cortada e levada ao enge-nho. Lá é moída, depois sua ga-rapa (caldo de cana) é coloca-da em um tanque com fubá di-luído em água. O fubá deposi-ta-se no fundo do tanque e,após cinco dias, esta mistura fer-menta, mas somente ao com-pletar vinte dias poderá ser re-tirada. O fubá ajuda muito nes-ta fermentação. “Quando estu-fa uma espuma, está no ponto”,afirma o produtor. Após a fer-mentação, a mistura passa pa-ra o alambique, o qual tem ca-pacidade para 40 litros. Deacordo com ele, o alambiquedeve ser de cobre ou níquel, pa-ra garantir que a cachaça fiqueapurada e com a qualidade es-perada. O alambique é tampa-do com um capelo, uma espé-cie de tampa-funil. Este deve fi-car coberto de água, para darpressão. Este conjunto é aque-

cido à lenha, com o fogo con-trolado. Depois a cachaça cir-cula pela serpentina e desce atéo cano, já resfriada. “A primei-ra que sai com 25ºc é a ‘cacha-ça da cabeça’, a mais forte”, diz‘seu’ João. A cachaça é utiliza-da de 18ºc a 25ºc, mas a idealé de 18ºc a 20ºc.

Como tudo em Minas Ge-rais, a cachaça do seu João tam-bém tem história. O nome dacachaça, “Caninha do Livra-mento”, foi escolhido pela for-ma como as pessoas da regiãochamam a cachaça (caninha).“Livramento”, devido ao sítioonde a cachaça é fabricada es-tar localizado próximo a Igrejade Nossa Senhora do Livra-mento, de 250 anos. A igreja es-tá entre os municípios de Pra-dos e Dores de Campos, no al-to de um morro. Lá, o ‘seu’ Joãoe sua esposa - que são devotos- cuidam para manter o patri-mônio de mais de dois séculos.

O litro de sua cachaça évendido por R$1,50. ‘Seu’ Joãodiz que ajuda um pouco no or-çamento da casa. Próximo aosítio dele também há outrasopções de cachaça. Uma delasé a cachaça Tabarôa, fabricadadesde 1987 em Vitorino Velo-so (conhecido popularmentepor “Bichinho”), município dePrados, a 8km de Tiradentes.O bagaço da cana é usado pa-ra fazer papel reciclado. O li-tro desta pinga custa, em mé-dia, R$ 15,00.

Aclamada em verso e pro-sa, a cachaça mineira é postacom elegância entre as bebi-das mais conhecidas e de-gustadas no mundo todo. En-tre elas estão a Vale Verde e aMinha Deusa, produzidas naFazenda Vale Verde. Os em-presários do ramo lançaramum projeto que busca fazerdela um cartão de visita na-cional. O ex-empresário daCoca-Cola, Luís Otávio Pos-sas Gonsalves, pensou numaalternativa para conseguirmaior lucro e valorização des-ta cachaça, transformando aFazenda Vale Verde em umparque ecológico. Lá é en-contrada uma mistura de al-quimia, ecologia, turismo erelaxamento.

O parque está localizadona região metropolitana deBelo Horizonte e precisou deinvestimentos de cerca deR$1 milhão. Os alambiquese as etapas de produção ficamabertos a visitação do públi-co. Segundo o gerente da fa-zenda, Rafael Gonsalves Hor-ta, a Vale Verde recebe 1,5 milpessoas, de todo o mundo,por mês. O parque possui vi-veiros com grande diversida-de de espécies de pássarosexóticos e coloridos, orqui-dário e lago artificial com pei-xes. De acordo com Rafael, ocarro chefe da fazenda é a ca-

chaça Vale Verde, mas a par-te ambiental também tem ga-nhado destaque.

A bebida é constituída deum líquido puro e cristalinoque sai dos alambiques dire-to para os tonéis de carvalhoeuropeu. Assim a aguarden-te adquire sua cor dourada eo sabor. Com a sofisticaçãoda cachaça, vários produtoscomeçaram a ser produzidos,garantindo a afirmação docritério de qualidade. Assimcomo uma bela taça de vinho,foi desenvolvido um vasilha-me destinado à degustação.Ele permite uma maior con-centração de aromas e per-cepção dos sabores. O pro-duto foi resultado de umaparceria do INDI, Instituto deDesenvolvimento Industrialde Minas Gerais, com a Cris-taleria Strauss. A taça é feitaa mão e foi trazida de Blu-menau. E um produto do ti-po pode ser usado para gran-des degustações.

O parque conta com oMuseu da Cachaça, que pos-suí 1.500 garrafas, algumasdo início do século 20, ondea história da bebida foi res-gatada. A Vale Verde produ-ziu 208 mil litros de cachaçano último ano. A Alemanhaé o maior consumidor inter-nacional da cachaça produzi-da na fazenda.

Do interior de Minas paraos paladares do mundo

Valorizada, a cachaça conquista pessoas e é cada vez mais consumida

Mariana Celle

Agnus Morais

Sr. João, mostrando como produz sua cachaça

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