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Ano 7 | Número 63 | Junho de 2007 | Belo Horizonte/MG DISTRIBUIÇÃO GRATUITA JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto A DS 30 anos e ainda sem cura [ páginas 4 e 5 ] Os preços mais acessíveis são um chamariz para os centros de co- mércio popular de Belo Horizonte e atraem pessoas de todas as clas- ses sociais. O problema está na fal- ta de regulamentação desses esta- belecimentos, o que acaba prejudi- cando o comércio formal. As irregularidades nas vendas dos produtos são inúmeras. A maio- ria deles não emite nota fiscal, não paga impostos e muitos produtos chegam às prateleiras por meio do contrabando. O FeiraShop, comércio popular regulamentado pela prefeitura, é considerado tanto um sintoma quanto a causa do problema eco- nômico. Isso porque ao incentivar esse tipo de comércio são retirados postos de trabalho dos comércios formais, e a maioria não assina a carteira de trabalho dos seus em- pregados, e nem pagam o ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mer- cadoria). [ página 8 ] Em busca de qualificação Mercados sob ameaça Surge um novo cidadão: o jornalista A caminho da Irlanda... Brasileiros buscam melhores condições de vida Comércio popular afeta comércio formal 38,6 milhões de pessoas infectadas no mundo 2/3 dessas pessoas estão na África 443 mil casos da doença no Brasil 63% desses casos estão na região sudeste os gastos com remédios importados são cerca de U$ 960 milhões por ano [ páginas 6 e 7 ] Estabilidade no emprego e salá- rios melhores levam cada dia mais pessoas a buscarem qualificação pro- fissional para conseguirem uma va- ga no mercado de trabalho, porque a concorrência é cada vez maior. A procura por cursos não é ga- rantia de obter um emprego e isso é detectado não só nas classes baixas com pouca escolaridade, mas tam- bém na classe média. Mesmo quem já cursou o ensino superior ou está cursando não tem garantia de con- seguir um bom emprego. Os concursos públicos são a saí- da para muitos que querem e buscam uma estabilidade, porém vagas são poucas para muita concorrência. [ página 9 ] O livro de Honoré de Balzac, “Ilusões Perdidas”, escrito entre 1835 e 1843, é retratado no ensaio “Jornalismo balzaquiano”. O ensaio mostra que essa obra, escrita há mais de 150 anos, mantém uma dis- cussão atual sobre o modo de fazer jornalismo e a forma de organiza- ção da sociedade. A obra de Balzac focaliza a re- lação entre jornalismo, literatura e mercado. O autor critica o cres- cente poder do jornalismo e a in- fluência do mesmo na sociedade. O surgimento da publicidade como uma nova forma de comunicação é também criticado por Balzac: ele a vê como um poder desmoralizador. [ página 12 ] Metrô: melhoria para o trânsito de Belo Horizonte A internet abre espaço para a par- ticipação de não jornalistas na produ- ção de conteúdo. O chamado jornalis- mo colaborativo surge em 1999 para- lelo ao “Encontro do Milênio" da OMC (Organização Mundial do Comércio). A idéia era criar uma página na inter- net que pudesse armazenar vídeos, imagens, sons e textos que poderiam ser publicados ou produzidos por qual- quer pessoa sem fins lucrativos. O CMI (Centro Mundial de Mídia Independente), o "ohmynews", "Par- la", “digg”, "cronicasmoviles", “over- mundo”, e, até mesmo o portal de no- tícias da Rede Globo, o G1, são exem- plos de sites de conteúdo colaborati- vo. Os blogs, flogs e vlogs também são meios de se fazer uma produção ama- dora. Em entrevista ao jornal O PONTO, Ana Brambilla fala sobre o surgimen- to do jornalismo cidadão e explica co- mo se porta o profissional, os colabo- radores e o papel social que este novo tipo de reportagem apresenta. [ página 3 ] O metrô de Belo Horizonte for- mado pela linha 1, Eldorado-Vilarinho, transporta atualmente 107 mil usuá- rios por dia. Possui 28,1 km em via du- pla e 19 estações em operação. A am- pliação da linha pode ser a solução pa- ra melhorar o trânsito da capital. Neste ano devem começar as obras da linha 2, Barreiro-Calafate. Esta obra, que pretende arrastar-se por um período de 20 anos e consumir mais de R$ 500 milhões, deverá ter uma de- manda para as três linhas do metrô de 1.470.000 passageiros por dia, até o ano de 2019. Com a realização dessas obras espera-se que o metrô atenda satisfatoriamente toda região metro- politana de Belo Horizonte. [ página 10 ] “Ilusões Perdidas”: visão pessimista do jornalismo Os mercados distritais do Cruzei- ro e de Santa Tereza estão ameaça- dos por um projeto da prefeitura de Belo Horizonte que tem como pro- posta dar uma nova finalidade para esses espaços. O Mercado Distrital do Cruzeiro vai se tornar um Centro de Gastro- nomia e Lazer. Seu espaço vai con- tar com restaurantes, supermercado, bares, barracas de frutas, legumes e verduras. O mercado de Santa Tereza vai ce- der lugar para a Guarda Municipal. Várias representações de moradores da região são contra o fechamento. Eles reivindicam que se torne um Centro de Convivência, ou Centro Cultural. [ página 11 ] Laura Aguiar 7º Período Ensaio

Jornal O Ponto - junho de 2007

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - junho de 2007

A n o 7 | N ú m e r o 6 3 | J u n h o d e 2 0 0 7 | B e l o H o r i z o n t e / M G D I S T R I B U I Ç Ã O G R AT U I TA

JORNAL LABORATÓRIODO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto

A DS30 anose ainda sem cura

[ páginas 4 e 5 ]

Os preços mais acessíveis sãoum chamariz para os centros de co-mércio popular de Belo Horizontee atraem pessoas de todas as clas-ses sociais. O problema está na fal-ta de regulamentação desses esta-belecimentos, o que acaba prejudi-cando o comércio formal.

As irregularidades nas vendasdos produtos são inúmeras. A maio-ria deles não emite nota fiscal, nãopaga impostos e muitos produtoschegam às prateleiras por meio docontrabando.

O FeiraShop, comércio popularregulamentado pela prefeitura, éconsiderado tanto um sintomaquanto a causa do problema eco-nômico. Isso porque ao incentivaresse tipo de comércio são retiradospostos de trabalho dos comérciosformais, e a maioria não assina acarteira de trabalho dos seus em-pregados, e nem pagam o ICMS(Imposto Sobre Circulação de Mer-cadoria).

[ página 8 ]

Em busca dequalificação

Mercados sobameaça

Surge umnovo cidadão:o jornalista

A caminho da Irlanda...Brasileiros buscam melhorescondições de vida

Comérciopopular afetacomércio formal

38,6 milhões de pessoasinfectadas no mundo

2/3 dessas pessoasestão na África

443 mil casos da doençano Brasil

63% desses casos estãona região sudeste

os gastos com remédiosimportados são cerca deU$ 960 milhões por ano

[ páginas 6 e 7 ]

Estabilidade no emprego e salá-rios melhores levam cada dia maispessoas a buscarem qualificação pro-fissional para conseguirem uma va-ga no mercado de trabalho, porquea concorrência é cada vez maior.

A procura por cursos não é ga-rantia de obter um emprego e isso édetectado não só nas classes baixascom pouca escolaridade, mas tam-bém na classe média. Mesmo quemjá cursou o ensino superior ou estácursando não tem garantia de con-seguir um bom emprego.

Os concursos públicos são a saí-da para muitos que querem e buscamuma estabilidade, porém vagas sãopoucas para muita concorrência.

[ página 9 ]

O livro de Honoré de Balzac,“Ilusões Perdidas”, escrito entre1835 e 1843, é retratado no ensaio“Jornalismo balzaquiano”. O ensaiomostra que essa obra, escrita hámais de 150 anos, mantém uma dis-cussão atual sobre o modo de fazerjornalismo e a forma de organiza-ção da sociedade.

A obra de Balzac focaliza a re-lação entre jornalismo, literatura emercado. O autor critica o cres-cente poder do jornalismo e a in-fluência do mesmo na sociedade. Osurgimento da publicidade comouma nova forma de comunicação étambém criticado por Balzac: ele avê como um poder desmoralizador.

[ página 12 ]

Metrô: melhoriapara o trânsito deBelo Horizonte

A internet abre espaço para a par-ticipação de não jornalistas na produ-ção de conteúdo. O chamado jornalis-mo colaborativo surge em 1999 para-lelo ao “Encontro do Milênio" da OMC(Organização Mundial do Comércio).A idéia era criar uma página na inter-net que pudesse armazenar vídeos,imagens, sons e textos que poderiamser publicados ou produzidos por qual-quer pessoa sem fins lucrativos.

O CMI (Centro Mundial de MídiaIndependente), o "ohmynews", "Par-la", “digg”, "cronicasmoviles", “over-mundo”, e, até mesmo o portal de no-tícias da Rede Globo, o G1, são exem-plos de sites de conteúdo colaborati-vo. Os blogs, flogs e vlogs também sãomeios de se fazer uma produção ama-dora.

Em entrevista ao jornal O PONTO,Ana Brambilla fala sobre o surgimen-to do jornalismo cidadão e explica co-mo se porta o profissional, os colabo-radores e o papel social que este novotipo de reportagem apresenta.

[ página 3 ]

O metrô de Belo Horizonte for-mado pela linha 1, Eldorado-Vilarinho,transporta atualmente 107 mil usuá-rios por dia. Possui 28,1 km em via du-pla e 19 estações em operação. A am-pliação da linha pode ser a solução pa-ra melhorar o trânsito da capital.

Neste ano devem começar as obrasda linha 2, Barreiro-Calafate. Estaobra, que pretende arrastar-se por umperíodo de 20 anos e consumir maisde R$ 500 milhões, deverá ter uma de-manda para as três linhas do metrô de1.470.000 passageiros por dia, até oano de 2019. Com a realização dessasobras espera-se que o metrô atendasatisfatoriamente toda região metro-politana de Belo Horizonte.

[ página 10 ]

“Ilusões Perdidas”:visão pessimistado jornalismo

Os mercados distritais do Cruzei-ro e de Santa Tereza estão ameaça-dos por um projeto da prefeitura deBelo Horizonte que tem como pro-posta dar uma nova finalidade paraesses espaços.

O Mercado Distrital do Cruzeirovai se tornar um Centro de Gastro-nomia e Lazer. Seu espaço vai con-tar com restaurantes, supermercado,bares, barracas de frutas, legumes everduras.

O mercado de Santa Tereza vai ce-der lugar para a Guarda Municipal. Várias representações de moradoresda região são contra o fechamento.Eles reivindicam que se torne umCentro de Convivência, ou CentroCultural.

[ página 11 ]

Laura Aguiar 7º Período

Ensaio

01-capa ponto definida 25.06.07 15:32 Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - junho de 2007

O P I N I Ã O2 o pontoBelo Horizonte – junho/2007

Editora e diagramadora da página: Lígia Ríspoli - 8º período

Coordenação EditorialProfª Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso)

Coordenação da Redação ModeloProf. Fabrício Marques

Conselho EditorialProf. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy(Publicidade), Prof. Rui Cézar (Fotografia),Prof. Mário Geraldo (TREPJ) e Profª. Adriana Xavier (Infografia)

Monitores de Jornalismo ImpressoHenrique Lisboa, Lídia Rabelo e Lígia Ríspoli D’Agostini

Monitores da Redação ModeloDaniel Gomes e Leonardo Fernandes

Monitores de Produção GráficaEduardo Pônzio e Rafael Barbosa

Monitores do Laboratório de Publicidade e PropagandaAlisson Masaharu e Marina Valadas

Projeto GráficoProf. José Augusto da Silveira Filho

Tiragem desta edição5000 exemplares

Consultora em pesquisa iconográficaProfª. Zahira Souki

Colaboradoras voluntáriasCristina Rodrigues e Laura Aguiar

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 – Cruzeiro Belo Horizonte – Minas Gerais

Professor Emerson Tardieu de AguiarPresidente do Conselho Curador

Profª. Romilda Raquel Soares da SilvaReitora da Universidade Fumec

Profª. Thaís EstevanatoGestora Geral

Prof. Rosemiro Pereira LealGestor de Ensino

Prof. Bruno de Morais RibeiroGestor Administrativo e Financeiro

Prof. Rodrigo Fonseca e RodriguesCoordenador do Curso de Comunicação Social

o pontoOs artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Bolo doIntercom

LEONARDO FERNANDES

7º PERÍODO

Há pouco, numa conversaentre amigos, uma discussãome deixou bastante intrigado.Ao comentar que mais cedo eupuxara uma salva de palmas aofechamento da RCTV, principalcanal de televisão privado daVenezuela, uma espécie de“Globo Venezuelana”, que ocor-reu no dia sete de maio, algu-mas pessoas se surpreenderam,e logo me interpelaram: “Vocêé a favor da censura?” Poisbem, vamos analisar os fatos.

Em 2002, após o golpe mili-tar que ocorreu na Venezuelacontra o governo de Hugo Chá-vez, a RCTV exibiu, um dia de-pois do golpe, um programa deentrevista, em que ela mesmaassumia que havia, em conluiocom outros veículos privadosde comunicação do país, arqui-tetado o golpe que foi respon-sável por inúmeras mortes. APDVSA, principal petroleira es-tatal venezuelana, antes domi-nada pela oposição, junto aosmilitares, claramente articula-dos com a CIA, também prota-gonizaram a história suja degolpe contra a vontade do po-vo, que se manteve firme ao la-

do da Revolução Bolivariana deHugo Chávez. A estratégia degolpe assumida pela RCTV in-cluía desde a exibição de ima-gens claramente manipuladas(fato comprovado; vale confe-rir o documentário “A revolu-ção não será televisionada” doCentro de Mídia Independente- CMI) até a incitação de vio-lência entre manifestações pa-cíficas pelas ruas de Caracas.Pois bem, vejo que não é umaquestão de censura, mas de res-ponsabilidade com a sociedadevenezuelana, mediante o riscoque um canal de televisão poderepresentar a ela.

Julgar como censura o atodo governo Chávez, gostem ounão dele, é reproduzir o mesmodiscurso daquele que tambémé um risco à nossa sociedade.A Rede Globo esteve do ladodos militares que governarame desolaram o nosso país pormais de duas décadas, provan-do ao longo de sua podre his-tória que representa um perigoiminente à sociedade brasilei-ra. Enquanto a propriedade dosmeios de comunicação perma-nece nas mãos dos grandes ba-rões da informação, o jeito mes-mo é desligar a televisão e lerum bom livro.

CRISTINA BARROCA

6º PERÍODO

Doces, sopa de palmito, nhoque de man-dioca, bolo de fubá, pão de nozes. Lençóiscom o mais fino algodão do Egito. Xícara per-sonalizada banhada a ouro. Colcha, toalhas,fronha, pratos e objetos únicos confecciona-dos com exclusividade e cuidado. Todos como emblema do Vaticano. Ambulância de su-porte avançado, 24 horas por dia. Reserva deuma suíte da UTI cardiológica. Helicópteroda PM à disposição.Ah! Que isso? Não se es-pante. Ainda tem mais. (Sem contar o que nãofoi divulgado). Mas vamos nessa.

O Palácio dos Bandeirantes, onde Lularecebeu o líder da Igreja Católica por pou-co mais de 1 hora foi assim decorado: comuma mesa redonda no centro, obras deTarsila do Amaral e Portinari, tapete per-sa laranja medindo um pouco mais de 4metros. O Papa sentará em cadeiras de ma-deira maciça pertencente ao acervo cultu-ral paulista com o símbolo da República.(oooooooohhhhhhhh!!!)

Em volta do Santuário Nacional de Nos-sa Senhora Aparecida, três avenidas federaisreceberam novo asfalto. Obra de R$ 2 milhões.Calçadas ampliadas. Nova pista paralela à ViaDutra. Vinte e uma ruas pavimentadas. Ins-talação de postos de saúde. O esquema de se-gurança teve 5 mil pessoas.

“Quando fores convidado às bodas, não tesentes no primeiro lugar, pois pode ser que se-ja convidada outra pessoa de mais considera-ção do que tu, e vindo o que te convidou, tediga: Cede o lugar a este. Terias então a con-fusão de dever ocupar o último lugar. Mas,quando fores convidado, vai tomar o últimolugar, para que, quando vier o que te convi-

dou, te diga: Amigo, passa mais para cima. En-tão serás honrado na presença de todos osconvivas. Porque todo aquele que se exaltarserá humilhado, e todo aquele que se humi-lhar será exaltado.” (Lucas14:8 a 11).Entre valores municipais, estaduais e fede-rais, a cidade de Aparecida deve ter recebidoinvestimentos que ultrapassam os R$ 6 mi-lhões. Não dá para compreender como umsenhor encarregado de pregar a fé cristã e osensinamentos de Cristos pode ser tão con-trário a si. Como aceitar que um país com umadas maiores taxas de miséria do mundo mo-vimente tal quantia para satisfazer caprichosde um homem?

“Dizia igualmente ao que o tinha convida-do: Quando deres alguma ceia, não convidesos teus amigos, nem teus irmãos, nem os pa-rentes, nem os vizinhos ricos. Porque, por suavez, eles te convidarão e assim te retribuirão.Mas, quando deres uma ceia, convida os po-bres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serásfeliz porque eles não têm com que te retribuir,mas ser-te-á retribuído na ressurreição dos jus-tos”.(Lucas 14:12 a 14). Para terminar, a Polí-cia Federal ficou encarregada de afastar daSé e dos locais por onde Bento XVI passou,todos os moradores de rua. Ah gente! Mas épor pouco tempo.“O sal é uma coisa boa, mas se ele perder oseu sabor, com que o recuperará? Não servi-rá nem para a terra nem para adubo, mas lan-çar-se-á fora”.(Lucas 14:34 e 35). Devemos fa-zer com que nossas atitudes e valores tenhamo mesmo efeito que o sal tem para a comida:preservar o sabor. Ou assim, por fatos tal co-mo este descrito. Comeremos muitos pepi-nos sem sal.Artigo também publicado no blog da au-tora: www.piclespicles.blogspot.com

FERNANDO KELISSON

1º PERÍODO

O povo brasileiro tem a carótida tão ma-cia e suculenta que quem prova nunca a querlargar. Os vampiros estão aí... Condes en-gravatados, sempre ávidos pelo sangue des-ta nação cheia de farturas. Nelson Rodrigues,meu professor de óbvio ululante, dizia que noBrasil, o cretino é venerado. Dizia ele, que seum cretino subir sobre uma lata de querose-ne “Jacaré” e começar a contar chanchadasdas mais vis, logo se aglutinariam pessoas so-bre si e lhe ovacionariam em aplausos.

Quando vejo esta putaria que é a políticanacional com todo o seu cinismo; compra deapoio parlamentar, tráfico de influências, su-perfaturamento de obras e lavagem de di-nheiro e depois vejo o povo reelegendo osmesmos canalhas que os roubaram, chego aconclusão de que o eleitorado é como uma“barregã” que apanha todo dia, mas não con-segue se livrar do machão que a sustenta.Queria poder assistir, no camarote celestial éclaro, o dramático advento da crise capitalis-

ta brasileira. A água, o oxigênio, as terras cul-tiváveis, as florestas, a grande fauna, o am-biente, digo não só o ambiente físico, mas oambiente espiritual estão indo pelo ralo. Járepararam o clima de intolerância? No trân-sito, no trabalho, nas instituições, até no lar,sente-se uma sensação de guerra constante.

Confesso que não encontro lugar seguro.O dia em que o capitalismo se exaurir e as in-finitas formas de demanda sufocarem os re-cursos de produção, promovendo assim a es-cassez ,como já previram célebres economis-tas, as ociosas madames pensionistas come-rão a comida de seus poodles. Os magnatasterão de abdicar de suas manias, como o cha-ruto, o schott e as prostitutas. Os playboysperderão o charme da juventude. O dia emque a terrinha para de jorrar leite e mel, irãotodos, sem exceção, para o deserto do des-contentamento, e talvez reflitam com nostal-gia a riqueza que possuíam e perderam, e apobreza que residiam em si próprios. Nessemomento, ficarão nos corpos palavras vagasem mentes cheias e barriga vazia, e a naçãopadecerá de anemia.

Liberdade: cuidadocom essa palavra!

LÍDIA RABELO

8ºPERÍODO

Realização de um sonho,sensação de dever cumprido,alívio... É o que vários alunosuniversitários pensam ao che-gar no final de um curso. Maspor outro lado, angústias, dú-vidas, tensões, insegurançasão a outra parte do sintomaque muitos vivem. É esse omomento de “quebrar a re-doma” e ir em busca de umtrabalho para colocar em prá-tica tudo o que se aprendeuna sala de aula. Talvez seja umpouco tarde, mas muitas ve-zes é nesse momento que sedescobre que o curso não foicondizente com sua expecta-tiva; e também é nesse mes-mo momento que muitos des-cobrem o seu potencial pro-fissional.

São vários anos em umacadeira de faculdade sem po-der prever, ou muitas vezessem querer enxergar, o quenos espera no mercado detrabalho. O “rei-mercado” en-

contra-se extremamente com-petitivo e instável, o que as-susta ainda mais. Especializa-ção somente não basta, omercado está com certezaaberto à um profissional di-nâmico, que dê conta de as-sumir várias funções.

Está lançado o desafio.Nessa hora, surgem os ques-tionamentos: o que aprende-mos foi o suficiente? Não de-veríamos ficar mais um pou-co? Mas é a hora. Se os anospassados na faculdade não fo-ram suficiente, paciência. Ocaso é ir atrás de um empre-go, ou então fazer um outrocurso.

Brincadeiras à parte, a si-tuação de quem sai hoje deuniversidade é complicada, omercado não suporta o nú-mero de pessoas que se for-mam todos os anos. A resolu-ção desse problema social, vaimuito além, não basta criaroportunidades de para que aspessoas tenham acesso à edu-cação superior, é preciso tam-bém criar empregos.

Formatura à vista STOP: o Brasil parouou foi o papamóvel?

Vampiros engravatados

ANA PAULA CONDESSA

7º PERÍODO

Ingredientes: 2 colherescheias de desorganização/ 1 defalta de assesoria/ 20 xícarascheias de paulistas/10 de cario-cas/ 10 de mineiros de Juiz deFora/ 1 de mineiros de BH. Mo-do de preparo: coloque a pri-meira colher de desorganizaçãoantes de tudo. Depois, selecio-ne os melhores: paulistas , ca-riocas, mineiros cariocas (JF) emineiros. Misture tudo e junteem Juiz de Fora. Despeje namassa mais desorganização efalta de assessoria. Pós-prepa-ro (Notas): está pronto o XIICongresso da Comunicação daRegião Sudeste, sediado esteano em Juiz de Fora nos dias 16,17 e 18 de maio. No evento fo-ram apresentados os trabalhosdo Expocom Sudeste e artigosde alunos de universidades dediversos estados da região, comforte presença paulista. A re-ceita pode funcionar nesse “mi-xing" meio pendente, pois for-ma possíveis conexões, conta-tos e discussões entre alunos eos trabalhos desenvolvidos emoutras universidades.

No Expocom foi apresenta-do um Jornal Mural desenvol-vido pelos alunos das universi-dades com comunidades ca-rentes, além da concorrência desites paulistas na apresentaçãodo o ponto eletrônico da Fumec.Os trabalhos de outros locaisme fizeram colocar as coisas emperspectiva e perceber a su-perfície lisa e os furos que en-frentamos na própria Fumec.Um dos pontos fortes do nossocurso é o Projeto Pedagógico,que nos faz retratar a "realida-de" de forma crítica. Só que nãoé um tempo de brisa e ainda en-frentamos dificuldades para to-mar esse caminho.

Outro ponto interessante doCongresso foi discutir questõescomo tecnologias digitais, pen-sar e questionar se o ativismolúdico serve a fins políticos e fa-zer com que os que não estãomobilizados se interessem e semovimentem. Pensar sobre osusos que nós, jornalistas, faze-mos da mídia e como gostaría-mos de fazer crescer nos meiosde comunicação, ou seja, umamaneira de fazer a convergên-cia digital sem que não produ-za um excesso de fermento (va-lorização excessiva da idéia detempo real) e estrague a recei-ta e o caminho da produçãoconjunta que a tecnologia veioa permitir.

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Socialda Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Tel: 3228-3127 – e-mail: [email protected]

Cristina Rodrigues - 8º período

02-Opiniào 25.06.07 15:40 Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - junho de 2007

M Í D I A 03o pontoBelo Horizonte – junho/2007

Editor e diagramador da página: Fabrícia Marcolina e Cristina Barroca - 6º período

Em cada cidadão há um repórterA INTERNET AMPLIA A PARTICIPAÇÃO DIRETA DO SEU PÚBLICO NA PRODUÇÃO DE CONTEÚDO

Cristina Barroca - 6º período

CRISTINA BARROCA

6ºPERÍODO

Se você tem uma câmeraem mãos, um celular, ipod,mp3 player, gravador, ou sim-plesmente é testemunha ocu-lar de algum acontecimentovocê pode ser um repórter. Um“cidadão repórter”.

Em novembro de 1999, emSeattle, ocorria o "Encontro doMilênio" da OMC (Organiza-ção Mundial do Comércio). Pa-

ralelamente e em função des-te acontecimento surgiu a idéiade uma página na internet emque pudessem ser armazena-dos vídeos, imagens, sons etextos que poderiam ser pu-blicados ou produzidos porqualquer pessoa sem fins lu-crativos. Então, à medida queos protestos anti-globalizaçãose expandiam, meios de publi-cações independentes sur-giam. Quando o movimentochegou a São Paulo em forma

de um protesto, no dia 26 desetembro de 2000, devido àreunião do FMI com o BancoMundial em Praga, impulsio-nou a criação do Centro Mun-dial de Mídia Independente(CMI) no Brasil. "Muita genteacessou o site durante o even-to, postaram fotos, vídeos etextos. Eles tinham um gran-de material sobre o que acon-teceu em Seattle. Então, elescriaram essa rede mundial demultimídia no Brasil, que é umsite de publicação aberta on-de qualquer um pode publicaralguma coisa. Mas, claro, quedentro de uma política edito-rial. Não existe a figura do Edi-tor, mas há um moderador queverifica se o conteúdo da pu-blicação não fere essa políti-ca", explica Richardson Pon-tone, moderador voluntário doCMI.

Em 15 de janeiro de 2001,um grupo iniciou um experi-mento na internet de permitirque pessoas ao redor do mun-do construíssem uma enciclo-pédia que ficaria disponível aqualquer outra pessoa. A par-tir daí houve contribuição devoluntários que escreveram ar-tigos e formularam as políticase guias para o projeto. A idéiapor trás do Wikinotícias foi amesma. Procuraram criar umafonte livre de notícias via web,onde toda e qualquer pessoaestá convidado a contribuir

com reportagens sobre, tam-bém, qualquer tipo de eventorelevante, a partir de uma ex-periência pessoal, ou relatadaem algum outro lugar.

O EditorAssim como essas home-

pages de jornalismo cidadão,ou colaborativo, ou ainda cha-mado de participativo, diver-sos outros sítios na internetcriaram esse espaço de pro-dução para quem não é jorna-lista, porém, muitos já admiti-ram a figura do Editor. Os si-tes "ohmynews", "Parla",“digg”, "cronicasmoviles",“overmundo”, são exemplos,e, até mesmo o portal de notí-cias da Rede Globo, o G1, lan-çou neste dia 23 de maio, seuespaço colaborativo. Os blogs,flogs e vlogs também sãomeios de se fazer uma produ-ção amadora, em que o cida-dão conta sua história e ad-quiri o papel e editor de simesmo.

De acordo com Ana MariaBrambilla, jornalista e mestreem comunicação social, que sededica a pesquisar sobre jor-nalismo participativo, "a metacentral do jornalismo colabo-rativo é dar voz a quem nãotem voz. E o meio de se fazerisso é transformar o própriocotidiano em notícias. Quer di-zer, contar ao mundo aquiloque está muito próximo de vo-

cê, cidadão repórter, e que porquestões de espaço ou edito-riais, não recebem espaço nosveículos tradicionais – comomídia impressa e eletrônica."

Alguns jornalistas não con-seguem admitir a idéia de umapessoa não qualificada comoprofissional, assumir um papelde repórter e contador de his-tórias sem nenhuma técnica eresponsabilidades que desen-volveram durante a gradua-ção. “Isso amplia demasiada-mente o mercado e o reflexodisso é a total desregulamen-tação da profissão do jornalis-ta, porque se você tem umamassa de pessoas produzindoum material para os meios decomunicação, não será maisnecessário ter profissionaiscontratados, pagá-los e esta-belecer jornadas de trabalho.Minha preocupação é comoque esse conceito vai provocarmudanças na realidade dosjornalistas na redação”, expli-ca Alexandre Campello, jor-nalista e professor da Univer-sidade Fumec.

Outros já defendem essaprática como uma forma dedemocratização da informa-ção. “Não acho que o jornalis-mo cidadão venha alterar asrelações de mercado que exis-tem hoje. Ele veio para se co-locar como uma nova alterna-tiva de publicação”, contrapõePedro Penido, jornalista for-

mado no segundo semestre de2006 pela Fumec, que teve co-mo tema de sua monografia“A reconfiguração do papel dojornalista na web: de gatekee-per à cartógrafo da informa-ção”.

Ainda que um processoevolucionista, o jornalismoparticipativo na web encontradificuldades de aceitação e decredibilidade. Não é nova es-sa interferência do leitor nosveículos, mas esta participaçãosempre foi limitada pelo espa-ço restrito e filtrado pelas edi-torias. Já com a popularizaçãoda internet e o investimento dainterferência do público naprodução de conteúdo, o jor-nalista define um novo papel.“Para que o profissional de co-municação possa trabalharnum ambiente de um webjor-nalismo participativo é preci-so ter em mente o processo deinterlocução, que faz com queaquela audiência seja partici-pativa da produção e veicula-ção de um conteúdo informa-tivo em um ambiente intera-cional. Ele tem de saber dialo-gar com a audiência e organi-zar todo o conteúdo de ma-neira interativa”, afirma JorgeRocha, jornalista, pesquisadore professor da UniversidadeFumec.

Colaborou: Fabrícia Marco-lina

Jornalismo Colaborativo

participação de todosna difusão de informações

“Manifestar idéias e terinfluência sobre o noticiário”

Ana Maria Brambilla é gradua-da em Jornalismo pela PUC (RS),2003. Em 2006, concluiu mes-trado em Comunicação e Infor-mação na Universidade Federaldo Rio Grande do Sul. Hoje de-dica-se a pesquisas em mídiasdigitais e jornalismo colaborati-vo. Mantém um blog pessoal, oLibellus. Ela é editora assistentede internet da Editora Abril emSão Paulo, e colaboradora donoticiário sul-coreano Ohmy-News International. Em entre-vista ao jornal O PONTO, AnaBrambilla fala sobre o surgi-mento do jornalismo cidadão eexplica como se porta o profis-sional, os colaboradores e o pa-pel social que este novo tipo dereportagem atribui.

O PONTO: Como surgiu aidéia de um jornalismo cola-borativo?

Ana Brambilla: “Cada cidadãoé um repórter” foi o slogan cria-do pelo primeiro noticiário quese auto-definiu como colabora-tivo: o OhmyNews. Ele surgiuem fevereiro de 2000, editadoem hangul, o alfabeto coreano.Em 2004, com a demanda depovos de outros países, foi cria-do o OhmyNews International,que hoje reúne cidadãos repór-teres de mais de 100 países. Háquem diga que essa colabora-ção tenha surgido antes disso

e, em parte, concordo. Algumasemissoras de rádio abriam suasantenas de transmissão paramotoristas presos no trânsitopassarem boletins informativospor celular. Embora isso já sejaum tipo de colaboração, não setrata de um veículo colaborati-vo. É uma emissora qualquerque, num momento bem espe-cífico, abre aquele espaço. Tal-vez seja como a seção “Cartasdo Leitor”, de um jornal con-vencional.

OP: Quem se beneficia com ojornalismo cidadão?

AB: Todas as partes envolvidasse beneficiam. Para quem cola-bora, o benefício é visível: ma-nifestar idéias e ter influênciasobre o noticiário. Para o jor-nalista, o ganho está em contarcom um olhar altamente diver-sificado quanto o de cada cida-dão e, sobretudo, em trocar ex-periências com alguém que sa-be muito mais sobre uma pautaporque ela já faz parte de seu co-tidiano.

OP: Qualquer pessoa pode serum cidadão colaborativo? Co-mo?

AB: Sim, basta ter consciênciado que está fazendo. Ser cida-dão repórter implica em umaresponsabilidade muito grande,que pode culminar com o reco-nhecimento de uma comunida-de inteira quanto aos méritos dosujeito que se esforça para con-tar ao mundo histórias do seucotidiano. Sinto que o jornalis-mo colaborativo funciona mui-to melhor na web, devido às pe-cualiaridades do meio. Isso aca-ba exigindo do cidadão repór-ter um certo preparo para lidarcom ferramentas tecnológicas– ainda que bastante simples –e acesso à rede. De resto, o de-safio é contar histórias verda-deiras. Aliás, essa “contação” dehistórias sempre foi privilégiodo repórter, que é apenas uma

das funções exercidas pelo jor-nalista profissional.

OP: Como o jornalismo parti-cipativo se difunde nos meiosde comunicação?

AB: Alguns veículos tradicio-nais como o Estadão e O Globoadotaram, em suas versões on-line, seções de viés colaborati-vo. No segmento “vida real”, arevista Sou+Eu levou esse mo-delo para o papel. Vejo isso co-mo prósperos sinais de abertu-ra da mídia em geral para o mo-delo de colaboração. Há quemdiga que essas iniciativas deno-tam apenas uma necessidadedesses veículos “entrarem naonda” do jornalismo colabora-tivo. Acho que depois que sen-tem o gostinho, só vão aperfei-çoar suas propostas.

OP: Os blogs hoje em dia sãomais uma forma de diáriosvirtuais, e percebemos que háinúmeros jornalistas que pos-suem. Como que os blogs têmajudado os jornalistas?

AB: Discordo que blogs sejamdiários virtuais. Isso é reduziruma ferramenta de publicação que está por trás de uma ver-dadeira revolução no esquemaclássico de comunicação. Oblog, enquanto uma interfacesimples de publicação de con-teúdo acessível a qualquer pes-soa, quebra com a linearidadedo rádio, da TV, do jornal (emis-sor-meio-mensagem-receptor).Quanto a vários jornalistas te-rem seus próprios blogs, en-tendo como uma necessidadede publicarem informações quenão cabem nos veículos ondetrabalham oficialmente. Por ou-tro lado, esses blogs fazem par-te da blogosfera como um todoe, quando trocam links entre si,acabam criando uma comuni-dade que se auto-referencia,atribui status ao conteúdo dooutro, legitima ou destitui o tra-balho de outro blogueiro.

Arquivo ASSCOM

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C I Ê N C I A04 o pontoBelo Horizonte – Junho/2007

Editores e diagramadores da página: Larissa Carneiro e Rafael Barbosa - 7º Período

AIDS: TRINTA ANOSD

e repente, em 1980 na cidade de San Fran-cisco, vários homossexuais começaram a pro-curar hospitais. Aparentavam os mesmos sin-tomas: manchas espalhadas pelo corpo, per-

da de peso e doenças oportunistas. A coincidênciadespertou a curiosidade dos médicos. Rastreando avida desses pacientes, descobriram que muitos ha-viam tido relações sexuais com um mesmo homemem saunas gays: Gaëtan Dugas, um comissário debordo franco-canadense que fazia o trajeto Europa –Canadá - Estados Unidos. Dugas era belo, jovem e

promíscuo. Mesmo alertado que as tais manchas –Sarcoma de Kaposi – poderiam ser transmitidas se-xualmente, recusou-se a praticar o sexo seguro, em-bora admitisse manter cerca de 250 parceiros por ano.Proclamava que somente na América do Norte haviatido mais de 2500 parceiros. Dugas foi denominadoo “paciente zero” da AIDS por epidemiologistas doCentro de Controle de Doenças dos Estados Unidose responsabilizado por trazer a doença para Califór-nia. E a AIDS adquiriu o estigma do “câncer gay”.En-tretanto, em 1983, o médico dinamarquês especialis-

ta em doenças transmissíveis, Ib Bygbjerg, escreveuum artigo para a revista científica britânica The Lan-cet narrando um outro caso. Esse de uma colega suae grande amiga, que havia trabalhado na atual Re-pública Democrática do Congo (ex-Zaire). A mulherhavia morrido com os mesmos sintomas que não fo-ram, na época, diagnosticados por médicos. Afirmouque a doença não colocava sob risco somente ho-mossexuais e que o foco da pesquisa deveria ser al-terado. E a dramática história de Margreth Rask veio,finalmente, a público.

LARISSA CARNEIRO

7º PERÍODO

Existe uma cidade no no-roeste da Dinamarca que sechama Thisted. Com cerca de15 mil habitantes, tem uma at-mosfera intimista com ruascharmosas, parques, jardinse turistas no verão. Tem igre-jas com arquitetura simplesque foram construídas em sé-culos longínquos. São feitasde pedra com uma única tor-re pintada de branco. Em al-gumas, os sinos ainda tocampela manhã. Está encravadaentre o mar e os fiordes dina-marqueses. Lá, existem doisfaróis. Um deles foi construí-do em 1843 e na época era omais poderoso do mundo. Deseu alto, dá para enxergar ooceano inteiro. É um lugar dehorizontes planos, ar puro enatureza intocada. Se for per-guntado, cada morador irá di-zer que tem um lugar favori-to, mas todos irão concordar:não há nada mais aprazível doque fazer uma longa cami-nhada à beira mar para sentirna pele o vento fresco que vemdo oeste.

Os olhos se perdem nasplanícies verdes onde o gadopasta tranqüilamente às mar-gens das águas geladas doMar do Norte. Em outros sí-tios, paredões imensos de pe-dra chegam até a areia dapraia. No verão, o céu de uminfinito azul não exibe nenhu-ma nuvem e rios de águas lim-pas podem ser apreciados develhas pontes de madeira. Nasruas, as casas são coloridas.Veleiros de velas brancas cru-zam o mar o tempo todo. Opovo é gentil. Não há a menorsombra de dúvida. Thisted éuma bela cidade.

A guerra no ZaireFoi lá que nasceu, em 1930,

Margreth Rask, médica, quemorreria de uma doença des-conhecida que havia contraí-do em um outro lugar, muitodistante e diferente dali,ondea natureza não é tão genero-sa. Um país esfacelado poruma guerra que estava emcurso e que ceifou mais dequatro milhões de vida. Umpovo que nem imaginava queno norte do globo pudesseexistir um lugar como Thisted.

Em 1971, um dos maiorespaíses da África central mu-

dou de nome e de bandeira. ARepública Democrática doCongo, ex-Congo Belga, ago-ra era Zaire e o seu presiden-te, Mobutu Joseph Désiré, umditador, empreendeu uma po-lítica sanguinária no país.

As riquezas naturais abun-dantes nesta terra não trouxe-ram nenhuma prosperidade.Nem todo o cobalto extraído,usado pela maior parte da in-dústria aero-espacial norte-americana, foi suficiente paraevitar a guerra, a miséria, a fo-me e a peste. Ao contrário. Es-timulou os vários grupos étni-cos a disputarem a posse des-sas reservas e o direito de suacomercialização. Os congole-ses não conheciam paz. Já ha-viam sido submetidos a cargasde trabalho desumanas du-rante o regime do rei Leopol-do II da Bélgica. Haviam pas-sado pela extração desorde-nada da borracha, paga comsalários miseráveis e impostosaltíssimos; ao assassinato dolíder Patrice Lumumba; a umgolpe de Estado; rebeliões pa-cificadas à força; à guerra friae à completa deterioração dopaís e da economia.

Ajuda humanitáriaRazões não faltavam para

a presença de ajuda médicahumanitária e em 1972, Mar-greth Rask decidiu viver e tra-balhar no Zaire. Alguns afir-mam que sua ida à África foimotivada pela possibilidade dedirigir sozinha um hospital ouse encarregar pessoalmentepor um departamento médicoqualquer. Difícil acreditar quea ambição profissional levas-se alguém para tais paragens.

Seu primeiro local de tra-balho foi em um hospital loca-lizado em uma área rural per-to da cidade de Abumombazi.No mapa, quase que um pon-to central do continente afri-cano. As condições eram pre-cárias. Agulhas eram reapro-veitadas, não havia recursosmateriais para a esterilizaçãoadequada dos instrumentos detrabalho ou mesmo medica-mentos; as luvas cirúrgicas ti-nham furos e se rasgavam semque houvesse outra para reporem seu lugar.

Faltava todo e qualquerequipamento necessário paraum mínimo de segurança pro-fissional e para o mínimo con-forto do paciente.

Surto de ÉbolaFoi nesta época que ela foi

trabalhar em uma cidade cha-mada Miridi, perto do rio Ébo-la. Ali havia surgido uma dasdoenças mais terríveis que omundo já conheceu, de mortedolorosa e impressionante.Uma peste hemorrágica quematava em poucos dias e quefoi nomeada com o nome dorio que corria ali perto. Ho-mens, mulheres e crianças seesvaíam em sangue. A doençase espalhou, em um primeiromomento, devido ao uso deagulhas contaminadas. Atin-giu 153 pessoas para, final-mente, desaparecer. Em 1976,o vírus Ébola foi finalmenteidentificado.

Nesta região, Rask perma-neceu até 1975, quando entãose transferiu como cirurgiã-chefe para um hospital da CruzVermelha dinamarquesa na ca-pital do país, Kinshasa. Sua de-terminação e capacidade ines-gotável de trabalho a fazia res-peitada por seus colegas. Poisfoi nesta cidade que ela, pelaprimeira vez, manifestou sin-tomas estranhos para umamulher de sua idade: fadiga,nódulos linfáticos inchados,diarréia e perda de peso.

Os sintomasGrethe já vinha sofrendo

de um quadro de diarréia crô-nica resistente aos medica-mentos conhecidos e disponí-veis. Mas a primeira vez quepassou muito mal foi duranteas comemorações do ano no-vo de 1977. Com ela, estava omédico recém-chegado e ami-go, especialista em doençastransmissíveis, Ib Bygbjerg.

A doutora pode ter muitobem imaginado que estavacom uma das febres tropicaisque assolavam o país. Porém,logo ela começou a apresentarum quadro de várias doençasoportunistas. Seus amigos es-tavam preocupados com o frá-gil estado de sua saúde.

No Zaire, ela ainda perma-neceu mais algum tempo,quando então se sentiu muitodoente para continuar. Um dia,confidenciou a Bygbjerg quevoltaria à sua terra natal paramorrer. Não foi fácil a sua via-gem de retorno à Dinamarca.

Já em seu país, foi interna-da no hospital Rigshospitalet,na cidade de Copenhagen, comtodos os recursos modernos.

Sem tratamentoNão demorou para que os

médicos percebessem queRask não respondia a nenhumtipo de tratamento. Exames desangue revelaram um baixo ín-dice de células T-cell, perten-centes ao grupo de “célulasbrancas” e responsável pelosistema imunológico do orga-nismo. Os médicos eram ca-pazes de diagnosticar cadadoença que ela tinha, mas in-capazes de curá-las. Raios-Xrevelaram que seus pulmõesestavam completamente infec-tados. Duas semanas mais tar-de, uma série de placas bran-cas, um amontoado de fungos,invadiram sua boca.

Quando percebeu que na-da mais poderia ser feito, jácansada de tantos novos testese medicamentos, ela manifes-tou o desejo de voltar para ca-sa. Ao lado de uma amiga, per-maneceu sob cuidados por trêsmeses até ser internada nova-mente com o corpo tomadopor toda sorte de infecções vi-róticas, bacterianas e fúngicas.

A morteMargrethe Rask morreu em

dezembro de 1977, aos 47 anos,sufocada por uma espessa ca-mada de microorganismos quehaviam invadido os seus doispulmões.

Se em sua autopsia, os mé-dicos puderam identificar osagentes que a haviam matado,era um mistério o que haviaimpedido que reagisse aos me-dicamentos.

Seis anos mais tarde, seuvelho amigo Ib Bygbjerg afir-maria em um artigo, publica-do no dia 23 de abril de 1983na revista científica The Lan-cet, que Margrethe havia, comtoda certeza, contraído o vírusHIV e morrido de AIDS. Elealertou aos médicos de todo omundo que eles estavam no ca-minho errado. Longe das sau-nas gays, do uso de drogas in-jetáveis, do comportamento se-xual promíscuo que haviam es-tigmatizado a doença, Grethehavia se contaminado no lon-gínquo Zaire, provavelmentedurante o surto de Ébola de1976 que havia conhecido eajudado a combater.

A AIDS não era um câncergay; não escolhia moralmentequem atacava. Era uma amea-ça a todos e urgia que o mun-do fizesse alguma coisa.

DIAGNOSTICADA COMO “CÂNCER GAY” NO INÍCIO DA DÉCADA DE 80, A HISTÓRIA DASÍNDROME DA IMUNO-DEFICIÊNCIA É ANTERIOR E SE CONFUNDE COM A MISÉRIA HUMANA

A triste história de Margrethe RaskEduardo Pônzio - 5º Período

“Razões não faltavam para apresença de ajuda médicahumanitária e em 1972, MargrethRask decidiu viver e trabalhar noZaire.”

“Faltava todo e qualquerequipamento necessário para ummínimo de segurança profissional epara o mínimo conforto dopaciente”.

04/05-Ciência - Larissa 25.06.07 15:30 Page 1

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A epidemia da AIDS está longe de sercontrolada. Somente na cidade de BeloHorizonte, capital de Minas Gerais, 470novos casos surgem todos os anos. Po-rém o número estimado de portadores dovírus é cinco vezes maior do que o de pes-soas que manifestam a doença.

Embora o Brasil seja modelo no con-trole e prevenção da doença, cerca de 40%dos doentes não seguem a terapia anti-retrovital (coquetel anti-AIDS) de manei-ra adequada.

A médica e doutora pela Universida-de Federal de Minas Gerais (UFMG), Pal-mira Bonolo, pesquisou as causas que di-ficultam a adesão a este tratamento, úni-co no controle da doença. Esbarrou emestigmas, solidão, medo, vergonha, e atéo cansaço de viver uma vida pautada porhorários, restrições e, muitas vezes, umgrande mal estar físico.

Bonolo concluiu que a AIDS é um far-do difícil de ser carregado por somenteuma pessoa. Aposta na rede social do in-divíduo, no apoio familiar e de amigos,como forma de fazer o paciente cumprirtodas as regras de um tratamento árduo,mas efetivo.

Sua tese, intitulada “Terapia anti-re-troviral: o desafio da adesão” recebeu daCoordenação de Aperfeiçoamento de Ní-vel Superior (CAPES), menção honrosanacional pela sua relevância em saúde co-letiva. A pesquisadora falou com exclusi-vidade ao jornal O Ponto.

O PONTO: Quem deve fazer o uso daterapia anti-retroviral - o coquetel?Palmira Bonolo: Somente os pacientesque estão ou com o sistema imunológicobaixo que não está combatendo o vírusou aqueles que já estão com alguma in-fecção oportunista, uma perda de pesosignificante.

No primeiro caso, se o exame CD4, queaponta o nível de anticorpos, estiver emum nível baixo, mesmo se o paciente forassintomático, ele deve iniciar a terapia.

O que tem sido demonstrado é quequando se inicia tardiamente a terapia, osistema imunológico não se recuperacompletamente. Existe um ponto que éideal para começar a terapia e que vai ga-rantir qualidade de vida, menos interna-ções e uma sobrevida prolongada.

OP: Como funciona esta terapia no or-ganismo?PB: Temos que fazer com que a carga vi-ral seja indetectável (em exames de san-gue). Ou seja, o vírus deve estar intrace-lular e não ser detectado na corrente san-guínea do paciente.

Por que não existe a cura? Uma das ra-zões é justamente por causa dessa formade agir do vírus. Uma vez que ele está den-tro da célula, a gente não consegue elimi-nar todos eles.

OP: A senhora aponta a necessidade decumplicidade e responsabilidade entremédico e paciente. PB: A relação entre médico e paciente nãodeve ser de obediência, mas de negocia-ção. É importante que o paciente tenhaadesão ao serviço de saúde, que faça exa-mes regularmente. O soropositivo, mes-mo assintomático, não pode abandonaresse serviço e deve ser examinado de seisem seis meses. E aí surge um problemasério. Por não ter os sintomas da doença,às vezes ele fica dois anos sem procuraro serviço. Quando volta, está com perdade peso, uma doença oportunista e temque começar a fazer imediatamente o tra-tamento. O serviço de saúde deve estaratento a este tipo de paciente. Para a nos-sa surpresa, o paciente que faz os examee diagnostica a doença que logo se mani-festa, absorve melhor o choque e tem umrisco menor de não aderência.

OP: Qual foi a proporção de não adesãoao tratamento?PB: Um total de 36,9%. Uma média alta.A maneira como chegávamos a esse da-do,era perguntando ao paciente como eletinha se comportado nos últimos três diasem relação ao tratamento. Cerca de 37%das pessoas não tomavam os medica-mentos corretamente. E isso no início dotratamento, porque sabemos que com odecorrer do tempo, as pessoas tendem apiorar.

OP: Quando a AIDS surgiu, a primeirareação foi de incredulidade. Depois, pâ-nico. E hoje, parece que a AIDS já nãoassusta. Existir um tratamento provo-cou um relaxamento na prevenção dadoença?PB: Já houve ocasiões de ouvirmos os jo-vens e eles acharem que o tratamento e ainternação são tranqüilos. Não é verda-de. Temos dificuldade de internar o pa-ciente e o tratamento é difícil. Um outrofator de não aderência (ao tratamento) sãoos efeitos colaterais. No início, há muitagastrite, náusea, enjôo e diarréia. Um ou-tro fator complicador: o alcoolismo. O pa-ciente quer saber se pode iniciar o trata-mento e beber “um pouco”. Porém, o usodo álcool piora os efeitos colaterais dosremédios. Se a família não sabe, como ex-plicar não beber durante as festas de fi-nal de ano? Não dá para interromper otratamento durante férias, feriados ou fi-nais de semana. Os níveis dos medica-mentos devem ser mantidos no organis-mo. A a prescrição deve ser cumprida àrisca.

OP: Como está, hoje, a AIDS no Brasil?PB: Existem algumas variações regionais,mas em termos gerais, ela tem crescidomais entre casais que têm relações hete-rossexuais. Em alguns locais, em regiões

portuárias e cidades interioranas, nós te-mos a disseminação, principalmente, en-tre usuários de drogas.

Em Belo Horizonte, a principal via detransmissão é sexual e dentro daquilo quese denomina a “feminilização” da epide-mia que nada mais é do que a transmis-são heterossexual. Isso traz para a mulheruma dificuldade em aceitar o tratamento.

Se ela não consegue compartilhar oseu diagnóstico com outras pessoas vaiter dificuldade em prosseguir com a te-rapia. Se ela vive essa situação sozinha,quem vai ser o suporte necessário paraela? Se não constrói redes sociais de apoioe ainda tem que lidar com problemas com-filhos adolescentes, uma situação econô-mica desfavorável, revolta com a doença,ela não consegue aderir ao tratamento. Asituação para as mulheres é ainda maisdelicada.

OP: E as mulheres gestantes que sãoportadoras?PB: A gente observa que a gestante faz aprevenção por causa da criança. Mas nãopodemos falar o mesmo da mulher, poisela não se cuida da mesma forma que cui-da do recém-nascido.

OP: A AIDs pode ser caracterizada se-gundo os seus aspectos sócio-econô-micos? PB: A adesão ao tratamento não está li-gada ao sexo, idade ou renda, já que noBrasil todos os medicamentos de últimalinha são encontrados em serviços de saú-de pública. Eles chegam para todos.O pa-ciente dá um jeito e então a questão darenda não está muito presente.

ºO problema é a questão do desem-prego. O paciente que não se sente comautonomia para conseguir um emprego éafetado negativamente. E às vezes, temosque proporcionar um tratamento que per-mita ao paciente não tomar o medica-mento no horário dotrabalho para não tersua doença revelado e o emprego perdi-do por isso.

OP: Há investimentos em pesquisas vol-tadas às necessidades dos países maispobres do mundo?PB: Uma das pesquisas mais recentes dizrespeito à circuncisão masculina. A cir-cuncisão diminui o risco da infecção e es-tá sendo colocada em prática na África.

Outra medida é o “preservativo pron-to”. Uma das falhas do preservativo é ademora e a dificuldade em colocar. E elese chama “pronto” porque é bem rápido.Quebra-se o invólucro e ele já desenrola.

Vários estudos nos países africanosdemonstram níveis altíssimos de adesãoao tratamento. Lá, a morte está próximadas pessoas. O sofrimento da perda in-centiva a adesão. O problema é o custo al-to dos medicamentos.

C I Ê N C I A 05o pontoBelo Horizonte – Junho/2007

Editores e diagramadores da página: Larissa Carneiro e Rafael Barbosa - 7º Período

Síndrome da Imuno-deficiência no tempo

No mundo todo, cerca de 38,6 milhõesde pessoas estão contaminadas com o ví-rus HIV, causador da AIDS.

Outros 25 milhões já morreram peladoença. Somente no ano de 2004, um au-mento de 4,1 milhões de casos. Dos in-fectados, 2/3 estão em 15 países do con-tinente africano. A AIDS também seguea rota da miséria e da precariedade decondições sócio-econômicas.

No BrasilSomente no Brasil, já foram identifi-

cados 433 mil casos da doença. Este nú-mero refere-se de 1980, quando foi iden-tificado o primeiro caso brasileiro, até ju-nho do ano passado. Hoje, o quadro epi-dêmico já é maior.

A AIDS ainda não tem cura. Somen-te uma forma de tratamento é disponívelao paciente: a terapia anti-retroviral. Ocoquetel, como a terapia é conhcecida,combina cerca de 19 drogas a serem to-madas várias vezes por dia. Algumas de-las podem causar fortes efeitos colaterais.

O tratamentoO tratamento não é fácil. O custo des-

tes medicamentos é alto.

No Brasil, que industrializa nove de-les, os gastos anuais para a aquisição dosremédios importados é de cerca de U$960 milhões. Aqui, o tratamento é públi-co e gratuito.

Estima-se que, na África, somente umem cada cinco portadores, receba o tra-tamento de maneira adequada para ocontrole da doença.

No mundo todo, segundo dados darevista norte-americana Morbidity andMortality Weekly Report, dos Centers ofDisease Control and Prevention (CDC),somente uma em cada dez mulheres grá-vidas, portadoras do HIV, recebe os me-dicamentos que impedem a contamina-ção viral de seus filhos.

Mesmo nos EUA, cerca de 45% infec-tados não se tratam, número menor doque no Brasil, onde 83% dos doentes re-cebem o tratamento pelos serviços pú-blicos municipais e estaduais de saúde.

Modelo para o mundoO programa de prevenção e controle

da AIDs no país é modelo para o mundotodo. O fato surpreendeu os países maisricos que não acreditavam na eficácia dapolítica pública de saúde.

Entretanto, o relatório da Força Tare-fa da Organização das Nações Unidas(ONU), publicado no início de 2005, re-vela que os países mais pobres ainda es-tão longe de alcançar as metas de saúdeprevistas para serem atingidas até o anode 2015.

A AIDS é um dos principais desafiosa serem vencidos, segundo o Relatóriodo Milênio da organização.

O crescimento sem controleSeu crescimento assusta e a doença

não dá mostras de retroceder em um fu-turo próximo.

Estigmatizada em seus primórdios nadécada de 80 como uma doença de ho-mossexuais, usuários de drogas e hemo-fílicos, ela cresce, hoje, entre casais hete-rossexuais.

A Organização Mundial de Saúde(OMS) alerta para o fato de que mulhe-res casadas, ou que mantém um relacio-namento estável com somente um par-ceiro, representam, hoje, a maioria dasinfecções pelo HIV. Metade dos casos deAIDS no mundo já é entre mulheres. AAIDS se “feminilizou” e já pertence a to-dos indiscriminadamente.

Doença cresce mais entre mulheres, afirma PalmiraBonolo, doutora em saúde coletiva pela UFMG

2007 – Ministério da Saúde autoriza a quebra da paten-te do medicamento Efavirenz. Já são cerca de 433 mil oscasos da doença no Brasil; 63% na região sudeste do país.

2006 – No Brasil, cresce o número casos de AIDS entrepessoas com mais de 50 anos.

2005 - Brasil e Argentina concordam quanto à criaçãode uma fábrica conjunta de medicamentos para produziranti-retrovirais.

2004 - A África do Sul finalmente promove tratamentogratuito e apropriado em hospitais do país.

2003 – Primeira vacina contra a AIDS a ser testada, fra-cassa. Calcula-se que no mundo cerca de 40 milhões depessoas convivem com o vírus HIV.

2002 - O Fuzeon, primeiro de uma nova classe de dro-gas chamadas de "inibidores de fusão", faz com que o ví-rus não se reproduza depois de penetrar na célula.

2001 - A empresa indiana Cipla promete desenvolvergenéricos de baixo preço para combater a Aids.

2000 – A região sul do continente africano se torna oepicentro da AIDS. Somente em Botsuana, cerca de umem quatro adultos e 40% das mulheres grávidas têm HIV.

1999 – No Brasil, 155.590 casos de AIDS já haviam sur-gido, a maioria entre jovens.

1998 – Calcula-se que, na América Latina 65 mil indiví-duos entre 15 a 24 anos estejam com AIDS.

1997 – Morre Betinho. Há uma estimativa que, no mun-do, 30 milhões de pessoas são portadoras do vírus.

1996 – Novas drogas são aprovadas e começam a fazerparte do coquetel. O jogador de basquete, Magic Johnson,portador, retoma sua carreira.

1995 – No Brasil, mais de 80 mil casos de AIDS já ha-viam sido notificados.

1994 – Começa a ser testada uma combinação de dro-gas, apelidada de “coquetel”. Há uma diminuição de mor-tes imediatas, melhora o índice de imunidade e de doen-ças oportunistas. Tom Hanks ganha o Oscar por sua atua-ção no filme Philadelphia, onde interpreta um homosse-xual com AIDS.

1993 – Mais de 3,7 milhões de novos casos ocorrem mun-dialmente. Cerca de 350 mil crianças nascem infectadas.Morre o bailarino russo Rudolf Nureyev.

1992 – A Food and Drug Administration (FDA) aprovao uso do DDC em combinação com o AZT.

1991 – Morre Freddy Mercury do grupo de rock inglêsQueen. Nos EUA, já são 133 mil mortes.

1990 – Mais de 307 mil casos de AIDS são reportadosoficialmente pela OMS. Morre o cantor Cazuza.

1988 – Morrem de AIDS os dois irmãos de Betinho: oHenfil e Chico Mário. A Organização Mundial da Saúde(OMS) declara o dia primeiro de dezembro como o Dia In-ternacional da AIDS.

1987 – Nos EUA, 20 mil pessoas já haviam morrido deAIDS. A princesa Diana causa comoção mundial ao cum-primentar, sem luvas, doentes terminais de AIDS.

1986 – É reportada as primeiras experiências com o AZTque tem o seu uso aprovado. No Brasil, o sociólogo Her-bert de Souza, o Betinho, confirma ser portador do HIV.

1985 – Chega ao mercado um teste que pode identificara presença do vírus na corrente sanguínea. O ator norte-americano Rock Hudson admite ser portador do vírus.

1984 - Dois grupos de cientistas, um do Instituto Pas-teur de Paris e o outro dos Estados Unidos, reclamam adescoberta do retrovírus transmissor da AIDS.

1983 – Boato de que utensílios domésticos poderiam trans-mitir a doença leva pânico à população nos Estados Unidos.

1982 – Gaetan Dugas é identificado como “paciente ze-ro” de uma estranha enfermidade. Outros doentes haviammantido relações sexuais com ele.

1981 – É descrita a Síndrome da Imunodeficiência Ad-quirida, sem entretanto nomeá-la cientificamente.

1977 - Morre a médica e pesquisadora dinamarquesaMargrethe P. Rask.

Fonte: site Boa Saúde, Associated France Press, Kaiser Family Founda-tion e Agência Brasil.

SEM CURA

Custo dos remédios dificulta tratamento

04/05-Ciência - Larissa 25.06.07 15:30 Page 2

Page 6: Jornal O Ponto - junho de 2007

I N T E R N A C I O N A L06 o pontoBelo Horizonte – Junho/2007

Editora e diagramadora da página: Cristina Barroca - 6º período

ESTIMA-SE QUE 16 MIL BRASILEIROS OCUPAM OS SOLOS DO PAÍS, QUE JÁ FOI UM DOS MAISPOBRES DO CONTINENTE EUROPEU, PARA TENTAR UMA VIDA ECONOMICAMENTE MELHOR

LAURA AGUIAR

6º PERÍODO

Marcus Vinicius, paulista-no, 24 anos, levanta todos osdias às 6:30 para trabalhar evolta para casa às 16:30. O sa-lário depende do que ele pro-duz, mas gira em torno de 450euros por semana. Já João*(nome fictício) de Coronel Fa-briciano, 26 anos, não tem ro-tina nem salário bem definidos.Ele trabalha em construções ci-vis. A semelhança entre ambosé tentar a vida no mais novopólo de imigração: a Irlanda. Adiferença: a situação regula-mentar em que se encontramno país. Marcus está legaliza-do, enquanto João* vive com oconstante medo de ser depor-tado. Segundo Renzo de Mo-rais, vice-cônsul da EmbaixadaBrasileira no país, ainda não hádados exatos sobre o númerode brasileiros vivendo em so-los irlandeses ou quantos sãodeportados diariamente. Há oregistro de 1.300, que são aque-les que procuraram os serviçosdo Setor Consular, mas o mes-mo estima que este número jáultrapasse os 16 mil. As princi-pais regiões de imigração sãoos condados Roscommon, Do-negal, Limerick, Cork e Dublin.Na cidade de Gort, no conda-do de Galway, um em cadaquatro habitantes é brasileiro,formando, portanto, a maiorcomunidade brasileira no país.

Para entender melhor a ra-zão pela qual os brasileiros es-tão abandonando seu país pa-ra tentar a sorte nos chuvosossolos irlandeses é necessárioentender como que o país, quejá foi um dos mais pobres docontinente europeu, vive ummomento de euforia e cresci-mento. Hoje, a Irlanda lidera oranking de melhor qualidadede vida do mundo, segundo arevista The Economist, ficandoà frente de países como Suíça,Noruega e EUA (o Brasil ocu-pa o 35° lugar), além de exibira quarta taxa mais baixa de de-semprego da União Européia,apenas 4,4%. Sua história émarcada por diversas invasões,conflitos com os ingleses e umaGrande Fome no final do sécu-lo 19, que devastou o país.

Foi a “experiência no corteda carne” que levou o casalpaulista de Andradina, MarcusVinicius e Adriana Coelho, aocondado de Donegal, no norteda Irlanda. Eles foram por in-termédio de um irlandês casa-do com uma brasileira, quetrabalha no ramo frigorífico noBrasil. Com o pai morando hádois anos lá, Marcus não pen-sou duas vezes e após um ano,Adriana se juntou a ele. Mo-rando atualmente em Letter-kenny (principal cidade de Do-negal), ambos estão emprega-dos e já juntaram dinheiro su-ficiente para retornar ao Bra-sil, mas pretendem ficar pormais dois anos. “Aqui temoscondições de trabalhar e ser-mos respeitados como cida-dãos. Mesmo sendo um paíspequeno, consegue distribuiremprego entre sua populaçãonativa e os demais imigrantesque vêm de vários lugares domundo. Já o Brasil, cheio deperspectivas de crescimento,não consegue empregar nemseus próprios cidadãos”, la-menta Marcus, que sonha fa-zer veterinária. Sua esposaAdriana, 26 anos, que antes desair do país trabalhava emuma fábrica de enlatados, ago-ra é garçonete em um restau-rante e se diz muito feliz, massente saudades da família e doclima brasileiro.

Assim como Marcus, o fa-to de ter alguém conhecido ea possibilidade de ganhar di-nheiro levou a mineira de 32anos de Coronel FabricianoCarla* (nome fictício) à Kil-kenny (condado ao sul de Du-blin), onde vive há quase trêsanos e trabalha ilegalmente co-mo doméstica. “Sinto muitafalta da minha família, do cli-ma quente, da comida. O Bra-sil é um país alegre, as pessoassão mais carismáticas, mas in-felizmente a economia precisamelhorar para todos poder-mos ter uma vida digna”, se

queixa. Carla* conta que o di-nheiro que fazia em um mês noBrasil, ela faz em uma semanana Irlanda.

Outros brasileiros ilegaisnão tiveram a sorte de chegarcom um emprego garantido etiveram de batalhar para con-seguir. Mesmo assim, acabamsendo usados como mão-de-obra barata. Como é o caso deJoão*, 26 anos, também de Co-ronel Fabriciano, onde traba-lhava de guia turístico e troca-dor de ônibus. Sem conhecera Irlanda, ele chegou ao país háquase um ano para se juntar àsua namorada e seus irmãos econta que no começo, teve di-ficuldade para arrumar um em-prego, principalmente por nãofalar inglês e estar ilegal. Atual-mente, trabalha em constru-ções civis e freqüenta aulas deinglês. João se diz satisfeitocom a vida que leva, e planejavoltar para a casa em três anos.Mesmo empregados e comboas condições financeiras, osbrasileiros ilegais vivem com oconstante medo de serem de-portados para o Brasil.

Depois de viver quase doisanos na legalidade, o jovemEuller Senra, 20 anos, tambémde Coronel Fabriciano conse-guiu a Work Permit (permissãopara trabalhar), trabalhandocomo montador de cavalos.“Acho que é mais fácil conse-guir a legalização quando setrabalha com cavalos, porqueos irlandeses só querem trei-nar e competir nas corridas enão montar. Como os brasilei-ros só querem ganhar seu di-nheiro, não se importam de´preparar´ os cavalos e ficar defora das corridas”, explica Eul-ler. O jovem ainda não fala in-glês fluente, mas diz que con-segue se comunicar e preten-de retornar ao Brasil em qua-tro anos. Assim como os ou-tros brasileiros, suas maioresdificuldades são o idioma, ofrio e a comida.

Brasileiros naIlha Esmeralda

Era uma vezna Irlanda...

História e CulturaA Barbárie das Invasões

Situada a oeste da Ingla-terra, a Irlanda foi por séculosrecanto da cultura celta que an-tes abrangia a França e a In-glaterra de hoje. Por volta doano 432 a ilha entrou no pro-cesso de cristianização por St.Patrick (São Patrício) – que ho-je é padroeiro do país - e viveunos séculos seguintes um ple-no desenvolvimento nas artes,com os artesãos e a literatura,dentre os mais famosos traba-lhos realizados destaca-se oThe Book of Kells (Livro deKells), escrito por monges ca-tólicos, que impressiona pelabeleza da tipografia e figuras.

Em 1175 a Inglaterra co-

meça a ocupação e conse-quentemente, o martírio dos ir-landeses. A partir daí, a histó-ria da ilha é marcada por di-versos conflitos que durarammais de 800 anos, devido à me-didas como as Leis Penais –que praticamente tornaram ocatolicismo um crime - e a proi-bição de falar e expressar-seem gaélico, ambas já abolidas.

A Grande FomeAlém da resistência aos in-

gleses, os irlandeses tiveramde superar a Grande Fome,que se alastrou pelo país entre1845 a 1849 e reduziu a popu-lação quase pela metade.

Frederico Engels, em A Si-

Laura Aguiar - 6º período

Cruzes Celta em um cemitério no condado de Donegal: símbolo característico da Ilha Esmeralda

tuação da Classe Operária na In-glaterra (1845), analisou a misé-ria pela qual a Irlanda passava emostrou que devia-se a uma es-trutura social perversa. Os pou-cos proprietários, a maioria es-coceses e ingleses que entre osséculos 16 e 17 receberam terras“arrancadas” dos irlandeses, asarrendava aos camponeses po-bres (os próprios nativos) que vi-vam em péssimos barracões eusavam seus lotes para plantar ecolher batatas. Para piorar a si-tuação, um fungo maligno sealastrou nos solos, tornando umdos campos mais férteis da Eu-ropa inúteis para alimentar umapopulação beirando a pobrezaabsoluta. “Pode-se cogitar queas autoridades inglesas, incons-cientemente, cometeram um ge-nocídio contra o povo da Irlan-

da, pois calcula-se que a GrandeFome matou de pauperismo edoenças um milhão de agricul-tores e seus familiares”, afirma ohistoriador Voltaire Schilling, doportal de História do site Terra.O restante foi salvo não pela so-lidariedade da “metrópole”, maspela imigração para países vizi-nhos ou para a América, redu-zindo a população de oito mi-lhões para apenas 4 milhões.

Estado “Livre” Os anos seguintes da Gran-

de Fome foram marcados pordiversos conflitos. Em 1916, umgrupo de militantes do Irman-dade Republicana Irlandesa (pre-cursora do IRA – Exercito Re-publicano Irlandês) realizou oLevante da Páscoa (Easter Ri-sing), no qual os três mil volun-

tários ocuparam diversos pon-tos estratégicos na capital e pro-clamaram a República Irlande-sa Os ingleses enviaram tropase combateram o levante, fuzi-lando os 16 líderes. Mesmo semcontar com o apoio popular, asexecuções tiveram uma reper-cussão negativa, e ingleses per-ceberam que seu domínio sobrea ilha estava ameaçado.

Dentre os voluntários do Le-vante, dois se destacariam maistarde: Michael Collins, futurofundador do IRA e Eamon DeValera, ministro e depois presi-dente da Irlanda, que utilizaramo partido Sinn Féin (em irlandês“Nós Sozinhos”) como instru-mento de luta, ganhando a maio-ria das votações em 1918, acele-rando portanto o processo de in-dependência. Em 1921 foi assi-

nado o Tratado Anglo-Inglês,que declarava a Irlanda inde-pendente desde que algumascondições fossem seguidas. Ailha foi dividida em duas: dos 32condados, seis localizados aonorte ficariam sobre o domínioinglês, formando a Irlanda doNorte, enquanto o restante seriagovernado pelos próprios irlan-deses. Além disso, os membrosdo novo parlamento deveriamjurar fidelidade ao rei britânicoe o país não poderia ser deno-minado “República”, mas “Esta-do Livre” dentre outras restri-ções.

De Protestos à Luta Armada O Tratado divide os membros

do Sinn Féin e dá-se início a umaguerra civil entre os que apoia-ram - liderados por Michael Col-

06/07-Irlanda 25.06.07 15:56 Page 1

Page 7: Jornal O Ponto - junho de 2007

I N T E R N A C I O N A L 07o pontoBelo Horizonte – Junho/2007

Editor e diagramador da página: Cristina Barroca - 6º período

Diversas políticas econômi-cas e os investimentos na edu-cação inverteram a situação daIrlanda, atraiu grandes empre-sas e absorveu a mão-de-obraimigrante, principalmente doleste europeu, da África e ago-ra, do Brasil.

Segundo Cristiano Lopes,criador do site Amigos do Bra-sil, que presta assistência aosbrasileiros que vivem na Irlan-da, esta imigração teve três fa-ses. A primeira foi a da ida deprofissionais especializados naárea de TI (Tecnologia da In-formação). A segunda fase é ados brasileiros de renda maisbaixa, que foram para traba-lhar especificamente nos frigo-ríficos, por terem experiênciano “corte de carne”. A maioriapossue a Work Permit, tem sa-lário médio de 400 a 500 eurospor semana, e trabalha 8 horaspor dia. E a terceira é a dos es-tudantes que vão para praticaro inglês, trabalhar e viajar pe-lo resto do continente.

IntercâmbioQuando o motivo é a práti-

ca da língua inglesa, muitas ve-zes aliado com o trabalho, per-mite que os intercambistas jun-tem dinheiro para conhecer ou-tros países do continente euro-peu ou pagar todo o investi-mento inicial do programa. Se-gundo Vanessa Aroeira, dire-tora da Argos Intercâmbio, embelo Horizonte, a Irlanda tem sedestacado por ser um dos des-tinos mais baratos para o estu-do de inglês na Europa, por sualocalização geográfica, que fa-cilita a locomoção para os de-mais países europeus e pela fá-cil obtenção do visto de estu-dante. Uma lei do governo ir-landês em 2005 deu a permis-são de trabalhar até 20 horassemanais, desde que o inter-cambista curse no mínimo 15horas de aulas e que a estadiatenha a duração de pelo menos25 semanas (definido como umano acadêmico). Mas é comumver brasileiros excedendo as 20horas permitidas. Márcio Oli-veira, estudante de odontologiada UFMA (Universidade Fede-ral do Maranhão), teve de aban-donar o curso de inglês porquearrumou emprego como aju-dante de cozinha em um pub,onde trabalhou 60 horas sema-

nais. “Escolhi a Irlanda porquetinha um amigo meu vivendoaqui, então tudo foi mais fácil.Não tive de pagar casa de fa-mília e ele me ajudou nas coisasque eu eventualmente tive difi-culdade. Até arrumar empregofoi fácil. Tive tudo de mão bei-jada”, explica Márcio, que mo-rou durante sete meses em Du-blin.

Já o radialista Tiago Lamei-ras, do Maranhão, conta que asua prioridade é estudar inglês.Desde setembro de 2006 na ca-pital, Tiago se diz apaixonadopelo país.. “Há uma forte iden-tidade cultural entre brasileirose irlandeses. São povos alegres,comunicativos, gostam de mú-sica e festa. Os irlandeses sãoconsiderados pelos estudantesespanhóis como os latinos donorte da Europa”, explica Va-nessa Aroeira, que já enviou 40brasileiros a Irlanda.

Ilusões PerdidasO que a maioria dos imi-

grantes brasileiros – legais e ile-gais - tem em comum é o des-lumbramento perante a possi-bilidade de adquirir bens queno Brasil estariam mais distan-tes da realidade. João, porexemplo, já comprou compu-tador, televisão e videogame,dentre outras coisas, não con-seguindo, portanto, juntar di-nheiro para retornar para ca-sa. “Com certeza, a condição fi-nanceira é que nos faz vir paracá, além da diferença social,que é bem menor na Irlanda.Podemos comer e morar beme ter muitas coisas que nem so-nhávamos no Brasil”, afirmaJoão.

O sonho de retornar e mon-tar um negócio próprio tam-bém é característico dos brasi-leiros, mas poucos conseguem.Além disso, alguns não apro-veitam a oportunidade paraaprender inglês, uma vez quese fecham em comunidades, as-sistem a canais da TV brasilei-ra (Record ou Globo) e por maisque trabalhem com irlandeses,o contato se restringe ao am-biente de trabalho. Sem a fluên-cia no inglês, alguns brasileirosperdem a chance de se inserirna cultura do país e retornamao Brasil com a mesma falta deconhecimento que tinham an-tes de chegar à Irlanda

Os caminhos quelevam ao Tigre Celta Hoje a Irlanda lidera

o ranking de melhorqualidade de vida do

mundo, ficando àfrente de países

como Suíça,Noruega e EUA (oBrasil ocupa o 35º

lugar) além de exibira quarta taxa mais

baixa dedesemprego daUnião Européia,

apenas 4,4%.

Revista The Economist

Mesmo sendo umpaís pequeno,

consegue distribuiremprego entre suapopulação nativa e

os demais imigrantesque vêm de vários

lugares do mundo.Já o Brasil, cheio de

perspectivas decrescimento, não

consegue empregarnem seus próprios

cidadãos.

Marcus Vinícius, paulista que foi

para a Irlanda trabalhar no ramo

frigorífico

Pichações como esta não são mais frequentes após o cessar fogo propospo pelo IRA em 2005 Thatched Hous: construção típica, que desde o século 17 sobrevive à modernização do país

Laura Aguiar - 6º período Laura Aguiar - 6º período

A Irlanda mudou. Mas a herança culturalficou e está sendo muito bem preservada. Sãopoucos brasileiros que tem a oportunidadede conhecer um pouco mais da cultura destailha de menos de cinco milhões de habitan-tes. Eu, felizmente, sou um deles. Estive qua-tro meses em Donegal, o mais irlandês doscondados. Digo isso porque conheci outrosao sul – que são mais explorados turistica-mente e com igual beleza, como Kerry e Gal-way, mas parece que Donegal foi esquecidono tempo. Ainda existem minúsculos vilare-jos onde o gaélico é falado, as estradas sãomal conservadas e estreitas e nos pubs, os ir-landeses se divertem tomando uma pint deGuinness, cerveja preta nacional, ao som damúsica e dança irlandesa.

Há obras para todos os lados. Seja na re-cuperação de estradas ou na construção decasas, o boom econômico do país é evidenteem qualquer condado. Dublin, a capital, é osímbolo desse crescimento. Com uma popu-lação de cerca de 1,5mi, já é uma cidade cos-mopolita e para todos os lados há ofertas deemprego, ou melhor, subemprego.

Curiosamente, há mendigos na rua, mui-to poucos se comparado ao Brasil. São, emsua maioria, alcoólatras, drogados ou imi-grantes ilegais, uma vez que o Governo ofe-rece seguro desemprego a todos os cidadãos.O assistencialismo do governo é evidente, nãosó por ajudarem os desempregados, mas tam-bém as mães- solteiras ou casadas- que rece-bem um “salário” semanal. Não há, portanto,pobreza no país e com tanta ajuda, os irlan-deses vêm se tornando exigentes quanto aotipo de emprego, principalmente os jovens.

A educação é exemplar: gratuita e de qua-lidade, desde o primário até a universidade.O rugby – pouco conhecido e praticado noBrasil - e o gaelic – uma mistura de futebolcom rugby são os esportes nacionais, embo-ra seja inegável a paixão dos irlandeses como futebol, principalmente com os jogadoresbrasileiros Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Aliás,não há num irlandês que não goste do Brasil,todos abrem um sorriso quando você diz queé brasileiro, mas também assustam quandovocê explica que é um país lindo, porém hágrande desigualdade social e corrupção.

“Estive quatro meses em Donegal,o mais irlandês dos condados”

lins e os que eram contra o tra-tado – encabeçados por De Va-lera , estendendo-se por dez me-ses. O filme Ventos da Liberda-de, ganhador da Palma de Ourono Festival de Cannes de 2006,mostra como o fanatismo políti-co fez com que companheiros lu-tassem em lados opostos. Aquestão da discriminação eopressão dos católicos na Irlan-da do Norte continuou os confli-tos, estes frequentemente noti-ciados pela mídia internacional.Aliados a antigos simpatizantesdo IRA, eles resolveram agir pormeio de protestos, dentre eles oBloody Sunday (Domingo San-grento), episódio imortalizado naletra da banda irlandesa U2, noqual durante uma passeata pací-fica na cidade de Derry em 1972,o exército britânico abriu fogo

contra os manifestantes, resul-tando em centena de feridos e namorte de 13 pessoas.

Para os católicos foi uma de-silusão. A antiga aliança entre oexército inglês e os protestantesda Irlanda do Norte formara-senovamente e neste quadro ad-verso, os católicos pensaram quesomente a guerrilha urbana e oterrorismo poderiam levar van-tagem. Era renascimento doIRA”, explica Voltaire Schilling.A cada ato violento, vinha outroem resposta. Em 2005, o IRAanunciou o fim da "luta armada"e a entrega de armas e em maiodeste ano, em uma reunião his-tórica, os partidos católico SinnFéin e protestante União Demo-crática chegaram a um acordoque deu início a divisão de po-der, que deve colocar de lado as

hostilidades de ambos os movi-mentos e abrir caminho parauma possível paz na ilha.

Tigre Celta Por muitos séculos, a econo-

mia irlandesa era de base agrí-cola familiar, sem característicasindustriais. O domínio inglês, osconstantes conflitos, o grandefluxo emigratório, dentre outrosfatores atrasaram o crescimen-to do país.

Durante os anos 20 e 30, a Ir-landa encontrava-se fechada aomundo exterior, com uma in-dústria auto-suficiente e prote-cionista, que abastecia o merca-do interno. Na década de 60, aeconomia ainda era de baseagrícola e a maioria das expor-tações iam para o Reino Unido.Quando aderiu à Comunidade

Européia (futura União Euro-péia), a Irlanda começou a tri-lhar um caminho com diversasmedidas eficientes, que priori-zavam a educação e a atração deinvestimento estrangeiro. OsEUA foi um dos países que logoinvestiu no país, devido a altaqualidade da força de trabalho,acesso a 300 milhões de consu-midores, juntamente com o in-glês como idioma. Assim indús-trias de tecnologia e informaçãoe farmacêuticas abriram as por-tas na Irlanda e empregaram,durante anos, os brasileiros. Naeducação, o ensino secundáriopassou a ser gratuito e no finalda década de 90, o governo in-vestia 10% no setor. Além disso,o país tinha uma das maiores ta-xas de natalidade e um grandenúmero de jovens que absorvem

a necessidade de mão-de-obra.

Da queda ao topo Com a crise mundial do pe-

tróleo na década de 70 e algu-mas políticas inadequadas, talcomeço promissor foi afetado ea Irlanda se viu mergulhada emum aumento da inflação e de de-semprego, forçando muitos jo-vens com ensino superior a emi-grarem novamente. No final dosanos 80, o país passava por acor-dos salariais e um ajustamentofiscal; as despesas foram redu-zidas, trazendo de volta a con-fiança dos investidores. A déca-da seguinte, a Irlanda passou deum dos países mais pobres docontinente europeu para o novomodelo a ser seguido por paísesemergentes. Isso só foi possívelcom a União Européia, que

transferia grande parte doque arrecadava para os co-fres irlandeses, ajudando adisciplinar e organizar o sis-tema político. Além disso, opaís seguiu uma consistenteestratégia político-econômi-ca por um longo período enão hesitou nem investir naeducação. De país emigrante,a Irlanda passou a receber devolta os compatriotas, e mes-mo assim, eles não foram sufi-cientes para absorver todamão-de-obra necessária, abrin-do as portas para os imigran-tes estrangeiros. Dublin, a ca-pital, é hoje uma cidade cos-mopolita, apesar de ter em tor-no de 1 milhão de habitantes,principalmente asiáticos, afri-canos, europeus do leste e ago-ra, brasileiros.

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Page 8: Jornal O Ponto - junho de 2007

E C O N O M I A08 o pontoBelo Horizonte – junho/2007

Editoras e diagramadoras da página: Juliana Noronha e Laura Aguiar 6º período

O BARATO PODE SAIR CAROCAUSA E SINTOMA DOS PROBLEMAS ECONÔMICOS DO PAÍS, CENTROS DE COMÉRCIOPOPULAR CONVIVEM COM DIVERSAS IRREGULARIDADES E AFETAM O COMÉRCIO FORMAL

Já está funcionando a 15ªAgência Modelo da Universida-de FUMEC. A partir desse se-mestre, ela atenderá a trêsclientes externos, possibilitandoum contato mais constante ereal dos alunos com a realidadedo mercado. A Totem Comuni-cação tem como integrantes:

Izabela Myrrha de Paula eSilva Guimarães, atendimento.Camila Vieira Freitas, presiden-te, planejamento e mídia. Iza-bela de Brito Soares Silveira,produção gráfica. Lorena Mou-rão Mesquita, RTVC. Samir

Duarte Santos, diretor de arte.Priscila Benício Braga, diretorade arte. Gabrielle Corrêa de Al-varenga, redatora. Ana LuizaPeixoto de Campos, redatora.

Os alunos são orientadospelos professores Admir Borgese Paulo Nehmy, com o suporteda monitora Priscila Marcenes.O laboratório Agência Modelo éuma extensão das atividadesacadêmicas e se fundamenta naprodução das atividades de umaagência de Publicidade e Pro-paganda do mercado.

Bruno Augusto 4º período

Banca de revistas é utilizada indevidamente para a venda de produtos não regulamentados.

LAURA AGUIAR

6º PERÍODO

No BH Shopping, localiza-do no bairro de classe alta Bel-vedere, uma blusa da marcaPuma, moda entre os brasilei-ros, não sai por menos deR$100. Já no Shopping Oia-poque, centro de comércio po-pular, a mesma blusa – falsifi-cada ou original - não chega aR$70. Tal diferença de preço sóé possível devido às diversasirregularidades encontradasnos estabelecimentos popula-res. Só em maio deste ano, aOperação Cacique, realizadaem conjunto pelos MinistériosPúblicos Estadual e Federal,Receitas Estadual e Federal epelas Polícias, apreenderamprodutos como cigarros e ele-troeletrônicos em mais de 190lojas do Shopping Oiapoque.A maioria é produto contra-bandeado, sem nota fiscal epagamento de impostos. Compreços mais acessíveis, os cen-tros de comércio popular atin-gem diversas classes sociais,afetando diretamente o co-mércio regularizado.

Bola de Neve“Quando a prefeitura in-

centiva esse tipo de feira, elaesquece que está retirandopostos de trabalho, porque àmedida que o comércio formalnão consegue concorrer, eledemite empregados e está, ca-da vez mais, diminuindo a ren-da circulante”, explica Cláu-dia Volpini, empresária e pre-sidente do conselho de co-mércio da Associação Comer-cial de Minas (ACMinas).

Para Mariana Leão, asses-sora do Tribunal de Justiça ebacharel em Direito, que ela-borou um estudo sobre a si-tuação dos FeiraShop, outrocentro de comércio popular dacapital, tais shoppings são tan-to um sintoma quanto causado problema econômico dopaís. “A maioria dos comer-ciantes dessas feiras não assi-na carteira de trabalho de seusempregados e nem paga oICMS (Imposto Sobre Circu-lação de Mercadoria). Assimeles conseguem vender seusprodutos de forma mais bara-ta e concorrem de forma des-leal com outros estabeleci-mentos que estão cumprin-do com suas obrigações tra-balhistas e jurídicas. O co-mércio regular, por sua vez,não consegue concorrercom eles e reduz o númerode seus funcionários ou fe-cha as portas. Muitos vãopara a informalidade; outros

tornam-se desempregados.É uma bola de neve”, explicaMariana.

A ACMinas constatou quemuitos comerciantes têm dei-xado seus estabelecimentosformais e optaram por manterboxes nos centros de comér-cio popular, principalmente osempresários do setor calça-dista e de vestuário.

Que vença o melhorO FeiraShop, um dos cen-

tros de comércio popular dacapital, já conta com 13 uni-dades, cada uma com cerca de80 boxes, localizadas em bair-ros de grande apelo comercial,como Savassi e Barro Preto.Flávia Carvalho, diretora ge-ral do FeiraShop, explica quea contratação de funcionáriosdos boxes não fica a cargo daadministração da feira, que éresponsável apenas por alugaros boxes e manter luz, água esegurança no local. “Estamosno mercado há 16 anos e nos-sa atividade é regulamentadapela Prefeitura e a concorrên-cia sempre vai existir. Que ven-ça o melhor! O nosso negóciodá certo devido à conveniên-cia, pois temos várias lojas emum só lugar e as abrimos on-de o consumidor já está”, de-fende Flávia em relação às re-clamações dos empresários deestabelecimentos convencio-nais.

ConivênciaMariana Leão constatou

em seu estudo que a adminis-tração dos FeiraSHop está re-gular, uma vez que paga o im-posto ISS (Imposto sobre Ser-viço), porque presta o serviçode alugar os stands. Quem es-tá irregular é a maioria dos co-merciantes, que contrata osfuncionários sem carteira as-sinada, além de não pagar oICMS. “Mesmo pagando oISS, a administradora não es-tá tão regular assim porque éconivente com as irregulari-dades de seus comerciantes enão toma nenhuma providên-cia. Além disso, ela não man-tém a segurança do jeito quedeveria ser feita, uma vez quehá diversas fiações visivel-mente soltas. Incêndio como oque ocorreu na FeiraShop daAugusto de Lima em 2000 po-de acontecer de novo”, expli-ca a assessora.

Mariana conta que quandohá fiscalizações nos estabele-cimentos, a administradora“finge” que não sabia que ha-via irregularidades e culpa oscomerciantes de estarem fa-zendo-as “escondido” da ad-ministração da feira.

Ao passar pelo centro deBelo Horizonte, não é raro en-contrar pessoas aos gritosoferecendo celulares, cortesde cabelo e até mesmo con-sultas odontológicas, além deoutros produtos e serviços.Este mercado, geralmente in-formal, é formado em grandeparte por jovens e garante aeles uma renda mínima supe-rior a um salário mínimo. Se-gundo estimativas dos pró-prios, há cerca de 100 “grita-dores” ou plaqueteros na re-gião, que recebem comissõesque variam de R$0,20 a R$1por cliente e o público alvo éo de baixa-renda.

Atraindo ClientelaEmpresas que estão loca-

lizadas em lugares “escondi-dos”, o que dificulta atrairclientes estão, cada vez mais,usando esse tipo de divulga-ção para literalmente chamara clientela. Com a contrata-ção de gritadores, o comer-ciante evita gastar com fo-lhetos de propaganda e ain-da economiza com o aluguel,que pode ser até 10 vezesmais caro se a loja for de por-ta para a rua.

“Os gritadores são fun-damentais para as vendas daloja. Se eles não chamassemos clientes até aqui, eu teriade gastar com propagandasque possivelmente não da-riam o mesmo resultado pa-go um salário mínimo maiscomissão sobre vendas”. Ogerente de uma loja de celu-lares, localizada no oitavo an-dar de um prédio na rua Riode Janeiro, que não quis seidentificar.

PersonagensWarley Costa, estudante

de 21 anos, trabalha há trêsmeses na captação de clien-tela, ou seja, como “gritador”,fazendo em média 51 horassemanais e afirma que suarenda consegue suprir suasnecessidades.

Outro gritador, Adevaldodos Santos, de 23 anos, tra-balha há um ano nesta pro-fissão e ganha de R$800 aR$1.000 por mês, trabalhan-do em média 13hr por dia,seis dias por semana. Ade-valdo diz que está satisfeitocom o seu trabalho, emboraàs vezes se chateie com tran-seuntes que hostilizam sua

abordagem.“É importanteque esses jovens trabalhem,pelo menos não estão aí rou-bando, qualquer trabalhohonesto traz dignidade aohomem”, defende o tran-seunte Antonio Luiz, de 36anos, que diz não se impor-tar com a gritaria.

É importante ressaltar quemuitos gritadores negaramdar entrevistas ou serem fo-tografados, uma vez que seuspatrões os proíbem de fazê-lo, já que, em sua grandemaioria, não assinam a car-teira de trabalho de seus em-pregados e seria comprome-tedor vincular a imagem daloja a eles.

Segundo a Prefeitura, nãohá uma lei que proíbe tais gri-tos, ainda que sejam dizeresde propaganda. Por outro la-do, a distribuição de folhetose panfletos, a colocação deplacas fora do padrão e asvendas em bancas de camelôpodem receber multas se nãoestiverem de acordo com oCódigo de Posturas.

Colaborou Bruno Augusto,do 4º período e JulianaNoronha, do 6º período.

Propaganda grito a grito no Hipercentro

TRADUZINDOO ECONOMÊS

ICMS

ISS

FORMALXINFORMAL

O economista Humber-to Caetano, graduadona Universidade Vale doRio de Cima, em SãoLeopoldo – RS, esclare-ce alguns termos especí-ficos da economia.

É o Imposto Sobre Cir-culação de Mercadoriase o comerciante é obri-gado por lei a recolhê-loaos cofres do governo. Ocomerciante o inclui nopreço das mercadoriasvendidas, isto é, o queconsta na nota fiscal emi-tida após a compra.Quando ele não a emite,está sonegando o ICMS.

ISS é o Imposto sobreServiços e é cobrado pe-los municípios pela au-torização dada ao exer-cício de atividades defi-nidas em lei, como escri-tórios, clínicas, feiras di-versas, circos, etc.

Comércio formal éaquele que está regis-trado na Junta Comer-cial do Estado e regula-rizado perante aos ór-gãos públicos. Ele deveemitir nota fiscal, reco-lher impostos e registrarseus empregados.Já o comércio Informalsão aqueles que esca-pam dessas obrigações,como camelôs, vende-dores que não possuemestabelecimento abertoetc.

08-economia laura e ju 25.06.07 15:29 Page 1

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E C O N O M I A 09o pontoBelo Horizonte – junho/2007

Editor e diagramador da página: Vívian Cristina de Freitas Avelar

Logo de manhã diversas pessoas fazem filas nas agências de emprego em Belo Horizonte a Agit é uma das mais procuradas pelos desempregados e por pessoas que procuram novos empregos

O retorno às salas de aulaA INSEGURANÇA NO MERCADO DE TRABALHO FAZ PESSOAS BUSCAREM MAIS QUALIFICAÇÃO

ENZO MENEZES,MARINA RIGUEIRA,RAFAELA BOSCO E

RAQUEL VIANNA

5º E 3º PERÍODOS

Arrumar um emprego está-vel, com um salário satisfatório.Por esse motivo as pessoas pro-curam se qualificar, em buscade uma vaga no mercado detrabalho. Mas as dificuldadesaparecem logo: a competitivi-dade acirrada, as cobranças,a falta de segurança na pro-fissão e a ameaça do desem-prego são fantasmas paraquem vê na educação a chan-ce de investir em uma carrei-ra profissional sólida.

As dificuldades não são en-contradas apenas pelas classesmais pobres, com baixa escola-ridade e, consequentemente,com menos oportunidades.

Mesmo para quem cursa o en-sino superior, buscar uma edu-cação de qualidade não é ga-rantia para arrumar um bomemprego. Ter um diploma po-de não se refletir em um profis-sional valorizado e satisfeito. Pa-ra adultos que largaram a es-cola a situação se complica, poisa defasagem é uma barreira pa-ra conseguir uma vaga.. Pro-gramas desenvolvidos por vo-luntários tentam recuperar acondição de trabalhadores de-sempregados, que, por umaquestão de sobrevivência, vêemna requalificação a única saída.

Ordilei Vieira da Silva tem29 anos. Há oito parou de es-tudar. Trabalhava na constru-ção civil, mas desde novembronão consegue um emprego.Por isso voltou para a escola,no começo de 2007. “Queroterminar o segundo grau ago-

ra, para ter melhores chancesde arrumar uma vaga”, afir-ma. Agora, ele não pensa emparar. “Eu sei das dificuldades,mas meu sonho sempre foi serengenheiro. Isso me motiva avoltar a estudar”, conclui.

Ele está matriculado noPrograma de Elevação de Es-colaridade, do SINE-BH. Vo-luntários dão aulas de primei-ro e segundo graus para pes-soas que largaram a escola ehoje não enxergam oportuni-dades no mercado de trabalhopor falta de qualificação. Tere-sinha Guilhermina Pereira, de55 anos, é colega de sala deOrdilei. Ela conta que aban-donou os estudos para se ca-sar, e hoje trabalha em casa.“Quero arrumar um empregona indústria, onde já trabalhei,por isso há um ano voltei a es-tudar”, afirma.

“Sou bombeiro hidráulico,quero terminar o segundo graupara melhorar meu salário”,afirma Welton Golnçalves Pe-reira, aluno do Programa. Eletem 31 anos, trabalha o dia to-do e estuda à noite. Jane Ma-ria de Fátima Coutinho, dire-tora do Atendimento ao Tra-balhador do Sine, analisa ocontexto dos trabalhadores quevoltam às salas de aula. “Aten-der ao trabalhador sem colo-cação no mercado ou em viasde perdê-la por falta de quali-ficação profissional é nosso ob-jetivo”, afirma.

Para a socióloga AstréiaSoares, professora da FCH,programas de requalificaçãosão importantes e necessários,e têm certa eficácia para a rein-serção de trabalhadores nomercado. Isso porque, sem vol-tar a estudar, praticamente não

têm chances de arrumar umemprego. Mas servem apenascomo curativos, pois o desca-so das políticas públicas pelaeducação básica criou umaqualificação mal-feita. “Há umacolonização do mercado sobrea educação. Prova disso é apreocupação com a técnica, enão com a capacidade de abs-tração e reflexão do aluno”, cri-tica. “O trabalhador aprendemeramente a executar umafunção repetitiva, e quandoperde seu emprego, ou suafunção desaparece, não con-segue ser qualificado para ou-tro serviço”, lamenta.

“Não podemos aceitar apostura neoliberal, que põe aeducação como responsávelpela transformação social.Educação não sana os pro-blemas do país. A solução éuma mudança sócio-econô-

mica, de estrutura, que passatambém pela educação”, afir-ma Ricardo José Barbosa Ba-hia, coordenador do curso depedagogia da FCH e membrodo Conselho Curador da FU-MEC.

Ele destaca o caráter de-magógico dos governos, quenão dão atenção para a edu-cação básica e superior, e de-pois buscam vias alternativaspara os trabalhadores. “Sãoatitudes interesseiras dos go-vernos, que visam à manu-tenção da desigualdade por-que não combatem o cernedo problema”, analisa Ricar-do. “Os voluntários e envol-vidos são pessoas dispostas aajudar. Mas não podemosanalisar os programas semconsiderar o descaso das po-líticas públicas e o contextoem que se inserem”, enfatiza.

Sine BH: Cursos de requalificação profissional para inserir pessoas no mercado de trabalho

A busca de estabilidadeAs barreiras encontradas

no mundo do trabalho fazemcom que as pessoas busquemalternativas seguras na hora dearrumar um emprego. Por vo-cação ou necessidade, muitosoptam por tentar uma concor-rida vaga nos concursos públi-cos. Uma vaga no serviço pú-blico atrai estudantes justa-mente por ser um emprego ga-rantido no futuro, segurançaque as empresas privadas nãooferecem mais. Mas para con-quistá-la, é necessário uma ro-tina de estudos desgastante,mais exigente do que a enfren-tada nos vestibulares mais con-corridos. Isso porque o núme-ro de candidatos inscritos sem-pre supera, em muito, a quan-tidade de vagas disponíveis.

No concurso do TJMG, em2005, por exemplo, cerca de180 mil pessoas buscaram umadas 4.400 vagas oferecidas. Lu-cas da Matta, estudante de di-reito da Puc – Minas, conse-guiu ser aprovado. Ele diz queter conciliado a faculdade como cursinho preparatório foiuma tarefa desgastante. “Es-tudava até dez horas duranteo dia, e depois ainda ia para afaculdade. Só descansava nosfinais de semana”, afirma. Pa-ra ele, a estabilidade oferecidano emprego atrai não só pro-fissionais da área do direito,mas também pessoas que seformaram em outros cursos e,

por falta de oportunidades nacarreira, preferiram deixar odiploma na gaveta e tentaruma vaga no serviço público.“Eu tenho muitos colegas quevieram de outras áreas. Prati-camente a metade estuda ou jáse formou em direito, mas osdemais servidores tinham ou-tras profissões, como profes-sores e psicólogos, e não pen-sam em voltar para a outracarreira”, afirma.

Leonardo Bueno é alunode direito da Fumec. Para ele,a exigência pela qualificaçãoé um reflexo da grande con-corrência existente no mer-cado. Por isso, apenas um di-ploma não é suficiente parase conseguir um bom empre-go. “Por causa da grande dis-puta enfrentada, muitas pes-soas não conseguem espaçona área que escolheram, nãopor falta de capacidade, masporque o mercado está satu-rado”, analisa. Ele já fez pro-vas para dois concursos pú-blicos, mas não foi aprovado.“Concursos são atrativosporque garantem uma segu-rança que outros empregosnão oferecem, mas é precisodedicar muito tempo até con-seguir passar”, afirma.

Os melhores salários ofe-recidos para cargos públicossão para nível superior, dis-tante da realidade da maioriados brasileiros. Mas a segu-

rança no emprego é um atra-tivo mesmo para as vagas denível médio. “O que mais atraias pessoas é a estabilidade,muitos não conseguem em-prego em sua área e passam atentar concursos”, afirma Lu-cas da Matta. Para LeonardoBueno, “a segurança financei-ra é um fator importante, por-que advogar hoje é viver de al-tos e baixos, sem garantias”.

“O setor público abre umleque de oportunidades nacarreira para diversas áreas.Além disso, a carga horáriaadequada e a segurança noemprego dão oportunidadesao servidor para se dedicaraos seus projetos pessoais”,aponta Eduardo Campos, di-retor geral do Meritus, cursopreparatório para concursos.“Por isso, a maioria dos inte-ressados tem entre 20 e 35anos, e busca uma carreiracom oportunidades de cres-cimento”, analisa.

Mas apesar da estabilida-de, ele diz que somente o fatode passar em um concurso nãogarante uma carreira satisfa-tória ao servidor. “Quem dese-ja crescer no emprego não po-de parar no tempo, é precisomelhorar sempre sua qualifi-cação”, observa. “As empresasexigem muito dos profissionaisporque, na ‘era da informação’,as mudanças ocorrem rapida-mente”, afirma.

Lorena Assis

Fernanda Viterbo

09-vivian Educação 25.06.07 15:28 Page 1

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C I D A D E10 o pontoBelo Horizonte – Junho/2007

Editor e diagramador da página: Adiana Thebit - 6º período

Segundo a CompanhiaBrasileira de TrensUrbanos, a construçãode trincheiras eviadutos do trechoBarreiro-Calafate, dalinha 2, poderátransportar cerca de200 mil passageirospor dia

BRUNO AUGUSTO

4º PERÍODO

Iniciada a construção nofinal dos anos 70, o metrô deBelo Horizonte buscava umasolução para o transporte decargas e passageiros da re-gião metropolitana. O proje-to inicial visava à duplicaçãoda linha de carga já existente,e a criação de duas novas li-nhas destinadas ao transpor-te de passageiros, com 22 es-tações e 25 trens-unidade-elé-trico, totalizando 60 km deplataformas ferroviárias comprevisão de conclusão dasobras em 1986. O primeirotrecho foi colocado em ope-ração parcial em 1987, ligan-do o Eldorado ao Centro e ti-nha apenas 12,5 km de linhasférreas, sete estações e umafrota de cinco trens.

Devido a crise do petró-leo, a situação econômica dopaís e a falta de apoio políti-co, os cronogramas foramprorrogados. A partir de1991 foi possível retomar asobras de implantação do me-trô e dar prosseguimento àmontagem dos 20 trens res-tantes, modificando-se os ob-jetivos e os projetos origi-nais.

Atualmente o metrô de Be-lo Horizonte é formado pela li-nha 1, Eldorado-Vilarinho etransporta 107 mil usuáriospor dia. Possui 28,1 km em viadupla e 19 estações em opera-ção. Segundo a CompanhiaBrasileira de Trens Urbanos(CBTU), a desapropriação econstrução de trincheiras eviadutos no trecho Barreiro-Calafate, da linha 2 devem co-meçar ainda este ano. Estaobra, que pretende arrastar-sepor um período de 20 anos econsumir mais de R$ 500 mi-lhões, deverá ter uma deman-da para as três linhas do metrôde 1.470.000 passageiros pordia, até o ano de 2019. Com otérmino das obras espera-seque o metrô atenda satisfato-riamente toda região metro-politana de Belo Horizonte.

A CBTU alerta para o rit-mo da liberação das verbas,que, de acordo com o presi-dente da companhia, João Luizda Silva Dias, a obra do trechoCalafate/Barreiro não ficarápronta antes de 2018. Quandoquestionado sobre qual era omodelo de transporte públicoque desejava para o Brasil,Dias disse que este precisa serredefinido quanto a forma definanciamento.

Segundo o Presidente daCBTU, as tarifas devem sercalculadas de acordo com acapacidade de pagamento dosusuários, e não baseadas noscustos de operação. “Algumaspessoas da região metropoli-tana sequer tem condições dearcar com as despesas dotransporte coletivo. levando-se em conta a remuneraçãomédia de R$350 de um traba-lhador, a tarifa dos ônibus co-letivos deveria custar no má-ximo R$0,46, ao invés deR$2,00”, ressaltou Dias.

De acordo com o departa-mento de comunicação daBHTRANS, estima-se que coma conclusão das obras do me-trô, o número de viagens deônibus coletivos deverá dimi-nuir cerca de 8% no hipercen-tro. Além disso, haverá esta-ções de integração com o me-trô, facilitando assim a vidados usuários do transporte co-letivo urbano.

Belo Horizonte é uma dascapitais que mais sofrem como problema de trânsito. A im-plantação da linha 2 do metrôseria não só a solução, masuma alta melhoria nas condi-ções de transporte. Atualmen-te BH usa meios de transpor-te alternativos como os táxis

lotação e vans para atender opúblico que não se enquadraaos usuários de ônibus. A ci-dade precisa de um sistema detransporte altamente capaci-tado, para atender os cidadãose impedir o super congestio-namento de carros.

Partindo de uma pesquisarealizada pelo Governo do Es-tado e depois expandida pelaBHTRANS, foram analisadosos principais corredores detráfego de Belo Horizonte e re-gião metropolitana, visandonovas linhas que atendam nãosó os bairros mais distantescomo Pampulha e Calafate,mas também o hipercentro,Savassi e região hospitalar.

O presidente da BHTRANS,Ricardo Medanha Ladeira dizque o país deve acabar com es-sa idéia de que o transporte pú-blico deve ser pago somentepelos usuários. “Assim como asaúde e a educação, o trans-porte coletivo tem que ser tra-tado como um serviço públi-co”, explicou.

Espera-se que esta novaconfiguração do metrô de Be-lo Horizonte promova umamaior racionalização do trans-porte coletivo, reduzindo oscongestionamentos, acidentese a poluição atmosférica. Congestionamentos virou rotina no trânsito de Belo Horizonte

ADRIANA THEBIT

6º PERIODO

Os vereadores da CâmaraMunicipal de Belo Horizontetemem que as obras do metrôsejam abandonadas definiti-vamente por causa do altocusto das obras, com prejuí-zo para a população e cofrespúblicos.

Segundo o presidente daCâmara, Totó Teixeira (PR), aconclusão das obras do me-trô é promessa de campanhade Lula. “ As obras do metrôda capital vêm se arrastandodesde a década de 80 e , nes-

te ritmo, o metrô somente iráchegar ao Barreiro por voltade 2015. Até agora somente10% da infra-estrutura foramconcluídos na linha 2, Calafa-te/ Barreiro, iniciada em1998”.

O presidente também afir-mou que abandonar umaobra desse porte - para o ini-cio da construçaão das obrasdo metrô foram feito inves-timentos para o pagamentode desapropriações, libera-ção e vedação da faixa de do-mínio, por onde deveria es-tar em circulação o trem me-tropolitano que poderia aten-

der uma população de maisde 500 mil habitantes - é umcontrasenso, é jogar o di-nheiro do contribuinte no li-xo.

O presidente Totó Teixeiraprometeu mobilizar a banca-da de deputados federais deMinas Gerais, no CongressoNacional, para tentar revertera situação. Ele tem esperan-ças de que o presidente Lulatenha sensibilidade para re-ver os valores destinados aometrô de Belo Horizonte e so-nha terminar seu mandato devereador inaugurando o ra-mal Calafate/Barreiro.

Câmara Municipal investiga obras

Bruno - 4º Período

BH precisa de um sistema de transporte altamente capacitado para atender seus cidadãos

COM A TARIFA MAIS BARATA E MAIOR RAPIDEZ, TORNOU-SEA MELHOR OPÇÃO DE TRANSPORTE DA CAPITAL MINEIRA

uma solução para o trânsito

Bruno - 4º Período

Bruno - 4º Período

METRÔ

10-CIDADE- ADRIANA 25.06.07 15:27 Page 1

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C I D A D E 11o pontoBelo Horizonte – junho/2007

Editora e diagramadora da página: Raquel Brasil

O fim dos Mercados DistritaisPROJETO DA PREFEITURA ESTUDA NOVA FINALIDADE PARA ESSES ESPAÇOS

RAQUEL BRASIL

6º PERÍODO

Os Mercados Distritaiseram grandes pontos de en-contro, de compras e lazer nasdécadas de 70 e 80, e tiveramgrande contribuição na histó-ria da cultura de Belo Hori-zonte. O cenário nos dias dehoje é bem diferente em rela-ção aos tempos áureos. NoMercado Distrital do bairroSanta Tereza, na Região Lesteda capital, a situação é de ago-nia para os comerciantes efreqüentadores do local, quese deparam com o descaso ex-plícito nos passeios quebra-dos,no mato que cresce semcapinação regular e nas pi-chações.

No Mercado Distrital doCruzeiro, na Região Sul, a si-tuação é mais confortante pa-ra os comerciantes, que aindacontam com a conservação doambiente onde trabalham.Mas a trajetória dos merca-dos, que marcaram a vida demuitas pessoas,está chegan-do ao fim. Um projeto da Pre-feitura de Belo Horizonte emparceria com a iniciativa pri-vada, vai dar nova finalidadeao mercados do Cruzeiro e deSanta Tereza.

O Mercado Distrital doCruzeiro vai se tornar umCentro de Gastronomia e La-zer. Seu espaço vai contar comrestaurantes, supermercado,bares,barracas de frutas,legu-mes e verduras. O maior des-taque desta obra vai ser umelevador panorâmico, que vailigar o corredor principal dolocal ao Parque ProfessorAmílcar Vianna Martins.

O mercado de Santa Tere-za ai ceder lugar para a Guar-da Municipal. Várias repre-sentações de moradores da re-gião chegaram ao MinistérioPúblico, mas a documentaçãoda Prefeitura relativa ao pro-jeto só chegou para a promo-toria no dia 14 de maio, se-gundo o promotor de Defesado Patrimônio Público da Ca-pital, João Medeiros Silva Ne-to. O promotor está investi-gando quais são as verdadei-ras intenções do prefeito, e seos critérios estão dentro da le-gislação. De acordo com Me-deiros, a Prefeitura alega queo mercado de Santa Terezadeve ser fechado, pois nãoexiste mais demanda.

O secretário municipal deplanejamento, Júlio Pires, de-clarou que as mudanças sãoessenciais, já que os mercados

não têm chance de sobreviverdiante da concorrência dos su-permercados e grandes saco-lões. A Presidente da Asso-ciação dos Permissionários doMercado do Cruzeiro discor-da da afirmação de Pires. Se-gundo ela, a solução é o mer-cado ser revitalizado com apermanência das barracas,sem retirar os comerciantesque tem o trabalho como úni-co meio de sustento. “Com atecnologia e inteligência dosdias de hoje, é fácil revitalizaro mercado sem prejudicarmeus companheiros e a mimtambém.” Neusa tem uma lo-ja de bebidas no mercado há33 anos, e foi eleita presiden-te da associação pelos per-missionários. A Prefeitura deBelo Horizonte apresentou aproposta de remanejar os lo-jistas para a Central de Abas-tecimento Municipal, no bair-ro São Paulo, na Região Nor-deste da cidade.Mas em umareunião com Altivio Almeida,Secretário-adjunto da Secre-taria Municipal de Planeja-mento, a proposta não inte-ressou e foi recusada, de acor-do com Neusa.Os comercian-tes foram surpreendidos coma notícia, nenhuma reuniãoformal aconteceu para infor-mar aos permissionários doprojeto. “Nós fomos informa-dos através da imprensa.” dizNeusa.

Almeida acredita que omercado de Santa Tereza nãopratica mais suas funções, eque o mercado do Cruzeiropassará por uma revitalizaçãoe que os comerciantes nãoatuarão no local durante asobras e que a situação delesserá resolvida de forma legal.

A população admite que aafirmação da Prefeitura sejacoerente, mas não concordamcom a instalação da GuardaMunicipal, eles querem que omercado se torne um Centrode Convivência, ou CentroCultural. Para o projeto seraprovado dentro das normaslegais, deve respeitar as ca-racterísticas de ocupação e dedimensão. Deve também pas-sar pela avaliação do ADE(Área de Diretrizes Especiais)e não comprometer o meioambiente. A ADE criou áreasna região de Belo Horizonteque merecem tratamento di-ferente na lei, dentre elas estáo bairro Santa Tereza. O bair-ro ganhou atenção especialpela sua história, pela sua ocu-pação, crescimento, pelos seusaspectos culturais e turísticos.

O promotor João Medei-ros acredita que, é muito difí-cil a Guarda Municipal ocuparo lugar do mercado de SantaTereza, pela dimensão daconstrução e pela descaracte-rização que o bairro vai sofrer.

Mas se o projeto nãofor aprovado não significa queo mercado não vai fechar, a in-tenção da Prefeitura é claraem relação ao fechamento, elepode apenas não se tornar es-paço da Guarda Municipal,como previsto. “Atuo na ob-servância da legislação, nóssomos fiscal da lei, não faze-mos a lei.” diz o promotor pú-blico.

A situação do Mercado doCruzeiro é diferente, já quenão será fechado e sim revita-lizado. A promotoria do Mi-nistério Público pediu a Pre-feitura que encaminhe o pro-jeto de revitalização, que foicriado em parceria com a Par-ceria Pública Privada (PPP).Medeiros afirma que os co-merciantes do Mercado deSanta Tereza receberam noti-ficação sobre o fechamento, eos comerciantes do Mercadodo Cruzeiro ainda não.

Os documentos serão in-vestigados e o Ministério Pú-blico ainda não tem uma po-sição final.

Distrital Santa TerezaO mercado distrital de

Santa Tereza foi fundado em1974e faz parte da história dobairro. O presidente da Asso-ciação dos Permissionários doSanta Tereza, Giovani Lau-reano Teixeira diz que soubeda notícia através da impren-sa, “Eles náo tiveram nem acompetência de nos comuni-car.” afirma Giovani. Ele queé filho de uma das principaisfundadoras do distrital,InêsMaria Gomes Teixeira, traba-lha na banca de frutas de suamãe desde os 12 anos de ida-de, e hoje com 32 anos cuidada barraca e foi eleito presi-dente da Associação. Traba-lham hoje no mercado 115funcionários, divididos em lo-jas, boxes, bancas e um su-permercado. Giovani afirmaque tem conhecimento de 74cartas de pessoas interessa-das em trabalhar no distrital,mas a Prefeitura não promo-ve licitações para ocupar es-ses espaços. “Sei de muitagente que procura o mercadode Santa Tereza para traba-lhar, mas a má vontade daPrefeitura derruba o merca-do.”diz Laureano.

segundasegundaterterça ça qquaruar tt aaqquintuint a a sesextxt aa

sábado e domingosábado e domingott ambém temambém tem

-feira

-feira...nos Mernos Mercados Distrcados Distr itit aisais

de Belo Horde Belo Hor izonteizonte

“Estamo investigando a documentaçãoda Prefeitura, queremos saber averdadeira intenção do projeto.”

João Medeiros, Promotor de defesa do patrimônio público da capiital

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Clarissa Damas 5º período

11-RAQUEL CIDADE 25.06.07 15:24 Page 1

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E N S A I O 12o pontoBelo Horizonte – junho/2007

Editor e diagramador da página: Daniel Gomes - 8º período

LAURA AGUIAR

6º PERÍODO

“Ilusões Perdidas” de Honoré de Balzac (1799-1850) será objeto desta análise crítica, que mostra-rá como um livro escrito há mais de 150 anos ainda pode ser considerado atual e provoca reflexõesnão somente no modo de fazer jornalismo, mas também em como nossa sociedade está organizada.Considerado romance, mas escrito de forma tão realista, Balzac mergulha o leitor no mundo dos jor-nalistas da metrópole parisiense do século XIX. Ao lermos o livro, percebemos que pouca coisa mu-dou de 150 anos para cá.

“Ilusões Perdidas” poderia ser mais um romance sobre um jovem provinciano que sai de sua ci-dade para tentar a sorte na cidade grande, se não fosse por diversas “inovações” e “previsões” que oautor retratou no livro. Além dos jornalistas serem personagens principais pela primeira vez, o livroretrata também as relações sociais diante do advento da indústria cultural e antevê os efeitos de umanova forma de comunicação até então em formação: a publicidade.

Escrito entre 1835 e 1843, divido em três partes (Os dois poetas, Um grande homem da provínciaem Paris e Os sofrimentos do inventor) e com 85 capítulos, o livro foi inicialmente pu-blicado na forma de folhetins nos jornais de época, sem ordem cronológica.A obra de Balzac inaugurou uma nova fase na literatura francesa e in-troduziu o autor entre os maiores romancistas de todos os tempos.

“Ilusões Perdidas” conta história do jovem provinciano Lu-ciano de Rubempré, que vai a Paris tentar publicar um ro-mance e um livro de poesias e após algumas tentativasfrustradas, vê no jornalismo uma oportunidade para“triunfar”. Logo Luciano se vê mergulhado em ummundo de pessoas interesseiras, chantagistas evingativas, no qual acaba se inserindo rapida-mente. Apesar de ser considerado romance,“Ilusões Perdidas” representa fielmente arealidade da Paris do Século XIX e é con-siderado o mais balzaquiano de todos osromances, pois nos revela muito acer-ca do próprio Balzac.

Balzac construiu personagenscomplexos assim como são as pró-prias relações humanas. Lucianoencarna o tipo universal de talen-to provinciano seduzido pelo bri-lho da capital, personagem ca-racterístico da sociedade e épo-ca na qual a história se passa.Logo que chega, Luciano já tema sua primeira ilusão: a decep-ção de um romance que malcomeçara. Antes de ir a capi-tal, o poeta já cortejava a Srade Bargeton, que era casada.Para ficarem juntos, eles se mu-dam para Paris, mas o provin-cianismo de ambos acaba poratrapalhar o futuro caso e ele sevê abandonado na cidade gran-de. No entanto, Luciano logo fazamizade com outros poetas epassa a freqüentar o Cenáculo, lu-gar onde os romancistas se en-contravam, mas já tem a sua se-gunda ilusão: a tentativa frustradade vender seus livros. “É difícil ter ilu-sões sobre o que quer que seja em Pa-ris. Há impostos aqui sobre tudo. Tudoaqui se vende, tudo aqui se fabrica, atémesmo o Êxito” (BALZAC, 1976, p.213),lamenta o poeta ao perceber que a vida nacapital não seria tão fácil quanto esperava.Desanimado, ele encontrou no jornalismo umaalternativa para mudar de vida.

Os amigos do Cenáculo eram os típicos prole-tários e repudiavam o luxo e o jornalismo, pois o viamcomo um espaço de corrupção, suborno, trapaças polí-ticas e artimanhas jurídicas. Quando Luciano anunciou queestava decidido a tentar a carreira jornalística, por exemplo,seus amigos se mostraram preocupados em “perder” o mais novoamigo. “Seria a sepultura do belo Luciano que amamos e conhecemos.Não resistirás à constante alternativa de prazer e trabalho de que é feito a vi-da dos jornalistas e resistir é o fundamento da virtude. Ficarias tão encantando emexercer o poder, por ter direito de vida e morte sobre as obras de pensamento, que te tornarias jor-nalista em dois meses. Quem tudo pode dizer chega a tudo fazer” (BALZAC, 1976, p.129), afirmou Ar-thez, seu primeiro amigo na capital.

O Cenáculo nada mais é do que a própria visão pessimista de Balzac sobre o jornalismo. Os jor-nalistas, por sua vez, são retratados pelo autor como profissionais dotados de poder e luxo, baseadosem relações hedonistas e imediatistas, nas quais a troca de favores, interesses políticos, chantagenssão inerentes à profissão. Em um diálogo com os amigos do Cenáculo, um deles propõe “publicar umjornal onde jamais a verdade e justiça hão de ser ultrajadas, onde se espalharia as doutrinas úteis àhumanidade” e Luciano maquiavelicamente replica dizendo que tal jornal não teria um só assinantee eles precisariam de capital. O amigo, decepcionado, o corrige dizendo que apenas o devotamentoseria necessário (BALZAC, 1976, p.184). Com este diálogo, Luciano encerrava sua relação com o Ce-náculo e incorporava, de vez, o espírito do jornalista daquela época.

O novo comportamento de Luciano nada mais era do que o reflexo das mudanças que a socieda-de francesa passava. A Paris do século XIX era o principal centro mundial irradiador da cultura, ci-dade que atraia artistas, intelectuais, políticos e cientistas de toda parte. Walter Benjamin fez um en-saio intitulado “Paris”, Capital do Século XIX, no qual analisa o nascimento de valores e da destrui-ção de outros tantos que ocorreram durante tal período, em especial em sua primeira metade. A mer-cantilização acentuada da vida é tratada pelo autor por meio das sutilezas, nuances e dos pequenosacontecimentos, que podemos paralelamente comparar as relações e situações entre jornalistas, li-vreiros e outros membros da burguesia em “Ilusões Perdidas”.

A partir da crise da unidade (histórico, político e cultural) das forças burguesas e populares porvolta de 1848 e, portanto, da ruptura desta unidade, que nasce a arte de vanguarda e grande parte dopensamento contemporâneo. Tal conflito é centro da obra de Balzac, onde o espírito transforma-seem mercadoria e não há mais espaços para as Ilusões do humanismo, que leva à frente das manifes-tações populares e intelectuais no séc. XIX. Tanto o jornalismo quanto a literatura vêem-se envolvi-dos com uma nova dimensão que os transformará: o mercado editorial em grande escala. É neste mo-mento que ambos começam a adquirir o caráter de massa, virando conseqüência da indústria cultu-

ral. Além de criticar o crescente poder do jornalismo e a sua influência na so-

ciedade, Balzac anteviu e desmascarou o poder desmoralizador da pu-blicidade, que nem tinha nome até então, prevendo a que ponto che-

garia a simbiose entre capital e empresa jornalística. O autormostra a importância dos jornais como meio de divulgação

do mercado editorial e para ele tudo estava fadado a de-pender da publicidade. “O anúncio, acessível a todos

mediante pagamento, e que converteu a quarta pá-gina dos jornais num campo tão fértil para o fis-

co como para os especuladores, nasceu sob osrigores do selo, do correio e das cauções. Es-

sas restrições (...) que poderia então havermatado os jornais vulgarizando-os, cria-

ram, pelo contrário, uma espécie tal deprivilégio que tornava a fundação deum periódico coisa quase impossível”(BALZAC, 1976, p.201).

Dentre as novidades já citadasacima, “Ilusões Perdidas”, segun-do José Miguel Wisnik, foi a pri-meira obra que trouxe o jornalis-mo para dentro da literatura,mesmo que esta já fosse assun-to da imprensa há mais tempo.Na verdade, o livro mais do quefala sobre o jornalismo, abor-da sua relação com a literatu-ra. O jornalismo é uma parali-teratura, ou seja, é uma repre-sentação dela mesma, mas quesegue outras regras de repre-sentação da realidade. Ele éuma forma de ficção, um re-corte de uma realidade que de-pende de fatores como baga-gem cultural, instituição ao qualestá subordinado, etc, transpor-

tando de um contexto (o do pró-prio fato) e enquadrando em um

novo (papel, vídeo, etc). Enquantoa literatura multiplica as ilusões (os

recortes), já que é a arte de criticá-las, porém desmascarando-as por sua

auto referência, o jornalismo parte nosentido oposto. Tem como princípio o es-

clarecimento de qualquer farsa e, no en-tanto, sucumbe a uma unidade impossível

por ser efêmera a construção dos recortes.“Ilusões Perdidas” nos faz refletir sobre o po-

der do jornalismo de mediar, fazer e desfazer ilu-sões, já perdidas na época de Luciano. Balzac não

era contra o jornalismo em si, mas contra os rumosque ele estava tomando na época.

ConclusãoO que mais impressiona em “Ilusões Perdidas” é a sua atualidade,

mesmo tendo sido escrito há mais de 150 anos. O provincianismo, a eli-te decadente, o pessimismo com que trata a questão jornalística, as previsões

sobre a publicidade, além da vingança, rixas pessoais, calúnias, amizades conve-nientes, troca de favores; tudo isso ainda é presente na nossa sociedade, independente de sua locali-zação. Ainda há a grande metrópole, na qual chegam, todos os dias, jovens com ilusões debaixo dobraço; as relações interpessoais estão cada vez mais se baseando em trocas de interesses e de apa-rências, tornando-se mais individualistas e egoístas; enquanto o jornalismo, que deveria ser questio-nador, crítico e transformador de uma realidade social, adquiriu de vez o caráter de empresa, na quala informação é apenas um produto a venda.

O jornalismo nada mais é do que o reflexo da sociedade na qual se insere. Ele encerra todas asmazelas e contradições típicas do período e da própria estrutura produtiva que o envolve. As durascríticas que Balzac faz ao jornalismo, além de exprimirem seu pessimismo diante dos rumos que es-ta profissão estava tomando, trazem uma reflexão sobre a forma de fazê-lo. Mais atual do que des-crever e prever o jornalismo e outras questões já citadas, somente a reflexão que o livro nos traz, umavez que percebemos que de 150 anos para cá pouca coisa mudou.BALZAC, Honoré de. Ilusões Perdidas; tradução de Ernesto Pelanda e Mário Quintana. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1978.

JornalismoHonoré de Balzac foi um romancista francês que viveu no sé-

culo XIX. Uma de suas maiores características como escritor e ro-mancista era sua disciplina para o trabalho. Chegava a escrever 15horas por dia, regado apenas a xícaras de café.

Por ser um dos maiores ícones da literatura realista na Françae no mundo, Balzac podia se passar por jornalista. O realismo é umestilo artístico que visa retratar ou representar algo da forma comoele é na vida real, sem floreios ou interpretações.

Embora sua obra misturasse ficção e realidade, o apuro comque tratava as informações que conseguia em suas observações dasociedade francesa da época era tamanho que suas obras são con-

sideradas retratos muito precisos dos costumes da França do im-perador Napoleão Bonaparte. Verdadeiras crônicas da vida realfrancesa. Sua obra é editada no Brasil por várias editoras e podeser encontrada na internet por já ter alcançado domínio público.

Nesta edição, O Ponto publica o texto acadêmico de uma estu-dante de jornalismo da Universidade Fumec, resultado de trabalhofeito para a disciplina 'Técnicas de Reportagem, Entrevista, Pes-quisa Jornalística' (TREPJ II). O trabalho discute uma das mais im-portantes obras de Honoré de Balzac, 'Ilusões Perdidas', escrita en-tre 1835 e 1843. A obra tem como principal foco a relação entre jor-nalismo, literatura e mercado.

Honoré de Balzac emretrato da época

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12-Ensaio - Daniel Gomes 25.06.07 16:07 Page 1