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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto Ano 8 | Número 69 | Junho de 2008 | Belo Horizonte/MG DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PT e PSDB juntos: como assim?! Os famosos bolachões, que já embalaram mui- tas gerações nas pistas de dança, voltam a se tornar mania entre os aficcionados pelo som que ressalta a naturalidade e qualidade das gravações. Algum dia você imaginou que PT e PSDB poderiam se unir? Articulada pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, uma possível aliança entre esses históricos adversá- rios da política brasileira está gerando muita polêmica e discus- são entre eleitores da capital mineira e também entre as lideranças partidárias locais e nacionais. A chapa, que envolve ainda o PSB, foi aprovada pelos diretórios municipal e estadual do PT, mas encontrou um bloqueio no comitê nacional do partido, que ve- tou a coligação com os tucanos. No entanto, o presi- dente Luís Inácio Lula da Silva disse ser a favor da aliança, o que, posteriormente, pode mudar a opinião do Partido dos Trabalhadores. De olho na Presidência da República, Aécio Neves defende a coligação ao lado de Fernando Pimentel, que visa o Palácio da Liberdade. Especialistas analisam a unificação entre PT e PSDB e avaliam se o debate político em Minas Gerais pode ser esvaziado. Estudante vira gari por um dia Vinil volta às lojas e resiste à era digital Libras: linguagem contra a exclusão 1968 e a herança esquecida Educadores enfrentam a árdua tarefa de inclu- são dos deficientes auditivos numa sociedade cheia de preconceitos e limitações para defen- der dignamente os direitos dos portadores. Ensaio: (...) Rio de Janeiro, 28 de março de 1968, morria com um tiro no co- ração o estudante secundarista Edson Luís de Lima durante uma repressão policial a um protesto em frente ao restaurante “Calabouço”. Cinquenta mil pessoas, entre trabalhadores, estudantes, intelectuais e artistas, foram acom- panhar o enterro do jovem. Desde o início da ditadura militar, os conflitos entre estudantes e as forças policiais eram diárias nas ruas das principais cidades do país. (...) Um mundo embalado ao som contestador do beatle, John Lennon. Um mundo com cheiro de pólvora e sangue fresco (...) Fotos: Samuel Aguiar 6ºG Repórter encara a difícil jornada dos garis. Mesmo com todas as adversi- dades, os profissionais estão sempre de bom humor, o que torna mais leve o dia-a-dia da profissão. A reportagem também aborda a im- portância deste trabalho e questões como a invisibilidade pública, a dis- criminação de parte da sociedade e o baixo salário que os garis recebem. Preparo físico Invisibilidade Bom humor Com uma carga tributária de país escandinavo e serviços públicos de nação subdesenvolvida, o povo brasileiro aceita de maneira passiva ca- da aumento de imposto estabelecido pelo país. Há 200 anos insurgiu a Inconfidência Mineira, liderada por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, motivada pelas altas tarifas cobra- das na época, que eram muito mais leves e com reajustes relativamente menores que os de ho- je. Apesar da inflação estável, o povo brasilei- ro ainda sofre com inúmeras e pesadas tarifas cobradas pelo governo. Brasileiro sofre com carga de impostos Avalie O Ponto Envie seus comentários para: [email protected] Estudantes da Fumec contam suas histórias e revelam seus talentos nas artes, esporte, personalidade e expectativas profissionais [Página 16] [Página 06] [Páginas 08 e 09] [Página 05] [Página 07] [Página 10] [Páginas 12 e 13] A necessidade de um excelente pre- paro físico foi uma das dificuldades enfrentadas pelo repórter, que sen- tiu na pele o esforço dos profissio- nais da limpeza urbana. POSSÍVEL ALIANÇA ENTRE HISTÓRICOS ADVERSÁRIOS PROVOCA POLÊMICA E DIVERGÊNCIA [Pá Mayra Decicino 5ºG

Jornal O Ponto - junho de 2008

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - junho de 2008

JORNAL LABORATÓRIODO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o pontoA n o 8 | N ú m e r o 6 9 | J u n h o d e 2 0 0 8 | B e l o H o r i z o n t e / M G DISTR IBU IÇÃO GRATUITA

PT e PSDB juntos: como assim?!

Os famosos bolachões, que já embalaram mui-tas gerações nas pistas de dança, voltam a se tornar mania entre os aficcionados pelo som que ressalta a naturalidade e qualidade das gravações.

Algum dia você imaginou que PT e PSDB poderiam se unir? Articulada pelo governador de Minas Gerais,

Aécio Neves, e pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, uma possível aliança entre esses históricos adversá-

rios da política brasileira está gerando muita polêmica e discus-são entre eleitores da capital mineira e também entre as lideranças

partidárias locais e nacionais. A chapa, que envolve ainda o PSB, foi aprovada pelos diretórios municipal e estadual do PT, mas encontrou

um bloqueio no comitê nacional do partido, que ve-tou a coligação com os tucanos. No entanto, o presi-dente Luís Inácio Lula da Silva disse ser a favor da aliança, o que, posteriormente, pode mudar a opinião do Partido dos Trabalhadores. De olho na Presidência da República, Aécio Neves defende a coligação ao lado de Fernando Pimentel, que visa o Palácio da Liberdade. Especialistas analisam a unificação entre PT e PSDB e avaliam se o debate político em Minas Gerais pode ser esvaziado.

Estudante vira gari por um diaVinil volta às lojas e resiste à era digital

Libras: linguagem contra a exclusão

1968 e a herança esquecida

Educadores enfrentam a árdua tarefa de inclu-são dos deficientes auditivos numa sociedade cheia de preconceitos e limitações para defen-der dignamente os direitos dos portadores.

Ensaio: (...) Rio de Janeiro, 28 de março de 1968, morria com um tiro no co-ração o estudante secundarista Edson Luís de Lima durante uma repressão policial a um protesto em frente ao restaurante “Calabouço”. Cinquenta mil pessoas, entre trabalhadores, estudantes, intelectuais e artistas, foram acom-panhar o enterro do jovem. Desde o início da ditadura militar, os conflitos entre estudantes e as forças policiais eram diárias nas ruas das principais cidades do país. (...) Um mundo embalado ao som contestador do beatle, John Lennon. Um mundo com cheiro de pólvora e sangue fresco (...)

Fotos: Samuel Aguiar 6ºG

Repórter encara a difícil jornada dos garis. Mesmo com todas as adversi-dades, os profissionais estão sempre de bom humor, o que torna mais leve o dia-a-dia da profissão.

A reportagem também aborda a im-portância deste trabalho e questões como a invisibilidade pública, a dis-criminação de parte da sociedade e o baixo salário que os garis recebem.

Preparo físico

Invisibilidade

Bom humor

Com uma carga tributária de país escandinavo e serviços públicos de nação subdesenvolvida, o povo brasileiro aceita de maneira passiva ca-da aumento de imposto estabelecido pelo país. Há 200 anos insurgiu a Inconfidência Mineira, liderada por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, motivada pelas altas tarifas cobra-das na época, que eram muito mais leves e com reajustes relativamente menores que os de ho-je. Apesar da inflação estável, o povo brasilei-ro ainda sofre com inúmeras e pesadas tarifas cobradas pelo governo.

Brasileiro sofre com carga de impostos

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Estudantes da Fumec contam suas histórias e revelam seus talentos nas artes, esporte, personalidade e expectativas profissionais

[Página 16]

[Página 06]

[Páginas 08 e 09]

[Página 05]

[Página 07]

[Página 10]

[Páginas 12 e 13]

A necessidade de um excelente pre-paro físico foi uma das dificuldades enfrentadas pelo repórter, que sen-tiu na pele o esforço dos profissio-nais da limpeza urbana.

POSSÍVEL ALIANÇA ENTRE HISTÓRICOS ADVERSÁRIOS PROVOCA POLÊMICA E DIVERGÊNCIA

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Mayra D

ecicino 5ºG

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Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Coordenação EditorialProf. Aurélio José (Jornalismo Impresso)

Conselho EditorialProfª. Dunya Azevedo (Produção Gráfica)Profª. Maria Fiúza (Fotografia)Profª. Ana Paola Valente (Edição)

Monitores de Jornalismo ImpressoCarlos Eduardo, Cristina Barroca e Poliane Bôsco

Monitores da Redação ModeloBárbara Rodrigues e Letícia Bethônico

Monitores da Produção GráficaDiogo Mattoso e João Paulo Borges

Monitores do Laboratório de Publicidade e PropagandaIsabela Myrrha e Marcelo Antinarelli

Tiragem desta edição5000 exemplares

Colaboradores voluntáriosAdriana Gabriel e Pedro Henrique Vieira

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 – Cruzeiro Belo Horizonte – Minas Gerais

Professor Emerson Tardieu de AguiarPresidente do Conselho Curador

Profª. Antônio Tomé LouresReitor da Universidade Fumec

Profª. Thaís EstevanatoDiretora Geral

Prof. João Batista de Mendonça FilhoDiretor de Ensino

Prof. Antônio Marcos NohmiDiretor Administrativo e Financeiro

Profª. Cláudia FonsecaCoordenadora do Curso de Comunicação Social

o ponto Jornal Laboratório do curso de Comunicação Socialda Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Tel: 3228-3127 – e-mail: [email protected]

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Editora e diagramadora da página: Adriana Gabriel - 4º período

o pontoBelo Ho ri zon te – junho/2008O P I N I Ã O

Fim da "prosperidade"

A arte da loucuraBÁRBARA RODRIGUES

5º PERÍODO

Fui ao fechamento da Mostra de Arte Insensata, que ocorreu de 28 a 31 de maio, e apenas um dia foi suficiente para confirmar a minha sus-peita de que uma pitada de loucura traz mais Arte para a vida. Reunindo usuários e artistas do serviço de saúde mental para apresentar seus trabalhos e promover a inte-gração social dos mesmos, o evento comemorou o dia da Luta Antimanicomial (18 de maio) com palestras, oficinas e exposições, fechando com chave de ouro com shows do Trem Tan Tan e Tom Zé. A crise institucional da Divisão de Saúde Mental dos anos 60 fez com que os ma-nicômios fossem substituidos por centros de convivência, deslocando o doente mental de um ambiente angustiante para um espaço de criações artísticas, de trabalho. Com isso, os pacientes puderam dar vasão a seus conflitos, re-cuperando a auto-estima, de-senvolvendo o auto-conheci-mento e, aos poucos, recon-quistando uma identidade, um lugar no convívio social. Foi o primeiro ano de um evento que representou uma conquis-ta para todos os funcionários, psicólogos e, principalmente, para os portadores de sofri-mento mental, que, ao longo dos anos, vêm lutando para vencer o preconceito que os impede de serem aceitos tanto

no âmbito da cultura quanto na sociedade. Para muita gente, "louco" ainda é uma figura medonha, que deve viver isolado num quarto escuro. Mas as pesso-as que têm essa opinião ain-da não pararam para pensar que a linha entre a loucura e a sanidade é absurdamente tê-nue. Prova disto é que muitos usuários diagnosticados com esquizofrenia acreditam so-frer apenas de uma “depres-são profunda” que, na verda-de, foi a causa do desenvol-vimento da doença. Por sua vez, sabemos que frustrações e perdas, por exemplo, levam à depressão, e aí é que está: eu e você estamos sujeitos a tais causas a todo tempo, ou seja, vivemos à beira da loucura. É preciso perceber que o que nos separa de um esqui-zofrênico é apenas a capacida-de, que nós ainda possuímos, de sair de determinadas situa-ções e que eles a perderam. E no momento de desespero se apoiaram em pessoas ou subs-tâncias não confiáveis. A arte na vida destas pessoas é a tá-bua de salvação que eles pre-cisaram naquele momento em que o barco furou, e que ain-da precisam, para reconstruir uma nova embarcação e rema-rem por contra própria. E con-fesso: para mim a arte repre-senta a mesma coisa, quando não quero me afogar em má-goas e me sinto sufocada pe-los meus próprios fantasmas e pela hipocrisia que assola este nosso mundo “louco”.

LUCAS DE MENDONÇA 6º PERÍODO

Em 1914, Lênin teorizou, sob as bases do marxismo, um estudo intitulado “Im-perialismo: fase superior do capitalismo”, que abordava a emergência de um novo processo no capitalismo, quando se cons-titui o capital monopolista, isto é, a ditadu-ra mundial das multinacionais, dos trustes e bancos aliados aos Estados. O liberalismo clássico, de competição entre empresas de um mesmo setor pro-dutivo, deu lugar a um novo processo de acumulação, que é o capital monopolis-ta ou, o imperialismo. Esta nova ideolo-gia da economia política utiliza os Esta-dos na repressão de “inimigos externos”, como o Irã, Cuba, Venezuela, e “inimigos internos” como partidos revolucionários, líderes sindicais, organizações dos direitos humanos e ecológicos. Tais repressões acontecem nos EUA, Colômbia, México, Afeganistão, entre ou-tros. Tais países contam com a Segurança Nacional, oferecidas pelos EUA e as insti-tuições “democráticas”. A elite organizada detém os grandes meios de produção do mundo e conta com 17 prisões secretas¹.

A elite do Império Romano avaliava um domínio tão seguro, que se alienou frente à realidade que estava porvir, levando à der-rocada. Tal situação pode se repetir. Tra-balhadores dos EUA vivem uma piora das condições de vida. A classe média se encon-tra endividada e enfrenta a inflação, queda do dólar e o desemprego. Tal situação colo-ca em xeque o controle “democrático” das elites nos centros do capitalismo. Cuba e Venezuela representam a certeza de que há várias alternativas não (neo)liberais. Após a expansão econômica que dura desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a economia se afoga em crises. O mercado financeiro, a partir da crise da bolha de es-peculação imobiliária nos EUA, está levan-do a economia real à falência. O petróleo atinge 140 US$ o barril. A vida humana está em risco. Mudanças na raiz destes problemas serão tomadas pe-los trabalhadores ou o será pela elite orga-nizada, com golpes de Estado e a volta dos regimes fascistas. As lutas históricas devem ser resgatadas pela ruptura com o capitalis-mo e pela construção do poder realmente democrático dos trabalhadores, campone-ses, estudantes, intelectuais e todos os alia-dos da luta pela emancipação humana.¹ http://resistir.info/eua/prisoes_secretas.html

Retorno da censura ou da inquisição?

JOÃO PAULO BORGES

5º PERÍODO

Alguns títulos de RPG fo-ram recolhidos das lojas, mas pelo site da Devir, editora na-cional dos livros da White-Wolf, descobri que as novas publicações continuam che-gando ao país com censura para menores de 16 anos. O motivo alegado é que livros como “Vampiro: o Réquiem”, levam à prática de assassina-to, agressão física, consumo de drogas ilícitas e exposição de cadáver. Esse tipo de jus-tificativa remete ao Index Li-brorum Prohibitorum, medida da Igreja banindo livros teolo-gicamente imorais no século XVI, levando à destruição de obras importantes e ao atra-so mental geral da população por anos. O ser humano possui li-vre arbítrio. Pode-se proibir o RPG, mas a opção por co-meter infrações sempre existi-rá. Nos anos 80, por exemplo, havia o modismo entre jovens americanos, fascinados pela morte, de invadir necrotérios. Com exceção do assassinato, que é mais comum em rituais religiosos que em sessões de RPG, nada daquela lista é ile-gal e nem faz sentido, pois li-vros não coagem, informam. O princípio de toda a con-fusão foi o caso da famosa menina de Ouro Preto. Aque-la que, supostamente, foi as-sassinada em uma sessão de RPG, durante um ritual satâ-nico, por seus amigos. O fa-to gerou sucessivas matérias praguejando contra o jogo e até uma risível interpretação de Arnaldo Jabor, no Jornal da Globo, utilizando de toda sua parcialidade para dizer em rede nacional: “RPG é coisa do diabo”. O que a maioria da população não faz nem idéia, é que a menina em questão es-tava envolvida com o tráfico e não com o jogo, mas pesso-as superticiosas soltaram essa versão fantasiosa. Muito tem-po depois, os jornais publi-caram erratas sobre o acon-tecimento, mas tão pequenas que ninguém deve ter repara-do. Agora, graças à mídia, as pessoas acreditam num tal de “jogo que mata pessoas”. Nesse rítmo, nosso país não proibirá apenas os jogos de RPG, mas também Nietzs-che, Marx e qualquer outra coisa que lhes pareça ofen-siva. Já existem até proces-sos para banir os mangás. A proibição da literatura só vai resultar num país mais igno-rante, mas o que estou falan-do? Afinal é isso mesmo que os políticos pretendiam desde a velha República... Se volta-rão com a ditadura ou o In-dex, façam de vez e parem de comer pelas beiradas.

FERNANDO KELYSSON 3º PERÍODO

Estive no Mineirão assis-tindo ao jogo ansiosamente esperado pelos mineiros (Bra-sil e Argentina). Na noite de 18 de junho, não ocorreu ape-nas um jogo, mas um grande evento, aliás, muito mais este último. A festa estava incre-mentada de luzes, shows mu-sicais e diversas melhorias que foram realizadas no es-tádio. Isso pelo fato de Minas estar pleiteando ser uma das sedes da Copa de 2014. O Mineirão florescia de autoridades e celebridades, até o Pelé apareceu e recebeu uma homenagem do gover-nador de Minas como o mi-neiro que conquistou o título de Atleta do Século. Tudo que ocorreu no estádio foi orques-trado de modo a promover a campanha para Belo Horizon-te sediar a copa e, claro, forta-lecer ainda mais a imagem de Aécio Neves como candidato à presidência da República em 2010. Apenas uma coisa saiu errado: o futebol brasileiro. Inversamente proporcio-nal à grandiosidade do even-to, o jogo se mostrou medío-cre, com Brasil e Argentina retrancados e tímidos. Pouco

se criou, pouco se ousou em campo e, fatidicamente, o re-sultado não pôde ser outro: zero a zero. Esse jogo me remeteu à frase de Nelson Rodrigues: “só quando a seleção foi cam-peã mundial em 1958 que o Brasil se livrou da alma dos vi-ra-latas”. Ontem vi esta alma reencarnar. Nossa seleção não ladrava e, muito menos, ata-cava como um pitbull como é do seu feitio, mas balbuciava timidamente como um vira-lata qualquer. Inevitavelmen-te, a torcida vaiou, protestou e pediu a cabeça de Dunga. Es-te, no ápice de sua teimosia, montou um time defensivo, sem criatividade no meio de campo e sem arremate no ata-que. Não deu a chance a Pato, a mais nova esperança do fu-tebol brasileiro e, no final, ti-rou Adriano, o velho carrasco da Argentina, colocando Da-niel Alves, um jogador que não oferece o mesmo perigo. E por final, Dunga, insen-sato, foi mais uma vez áspero com a imprensa crítica. Ago-ra, sem o apoio da torcida, com a antipatia da imprensa e sem bons resultados, não há espetáculo que o ajude a per-manecer no cargo, senão, a vi-tória em campo.

ADRIANA GABRIEL

4º PEREIODO

Pelo fim das caras-de-pau e pela forma-ção de uma sociedade mais justa, que lu-te pelos seus interesses, foi criada a ONG Pró Cidadania, coordenada pelo professor de Marketing Marcílio Augusto Moreira. Depois de assistir pelos meios midiáticos aos absurdos sobre o parlamentar Renan Calheiros, viu que não poderia continuar de braços cruzados. Já que seu filho de 11 anos, o futuro da nação, precisaria ter uma base social para poder conviver em uma so-ciedade justa e humana. O objetivo de sua ONG é instituir a éti-ca e tentar reduzir drasticamente os índices de corrupção no cenário político nacional, tentando formar parlamentares dispostos a lutar pelos objetivos da sociedade e não somente deles. Difícil, não? Para se fazer uma reforma política no ce-nário em que o Brasil se encontra, é preciso o apoio de pessoas que estejam realmente a fim de lutar por justiça e não fiquem sen-

tadas esperando que alguém faça algo por elas. Precisamos lutar por uma sociedade digna, honesta e valorizar os nossos votos nas eleições. Mas como? Investir nas refor-mas Tributária e da Previdência, dando ao cidadão oportunidade de participar dos in-teresses nacionais, que, afinal, também lhe dizem respeito. Adianta eleger um político e não cobrar dele as promessas de campa-nha? É o que acontece no país. A popula-ção brasileira precisa perceber que possui em suas mãos uma ferramenta que ninguém pode furtar. A força do voto efetiva a parti-cipação política de cada cidadão brasileiro que deve ter, antes de tudo, a responsabili-dade da escolha. A mudança tem que partir da própria sociedade. Escolher bem e acompanhar os passos dos políticos seria uma das formas de se acabar com esse Brasil corrupto e de desigualdades socio-econômicas. Que os cidadãos saiam da inércia e lutem pelo inte-resse do país, não permitindo que ninguém lhes passe a perna. Como afirma Marcílio Moreira, "Reforma Política Já".

Quando iremos começar a refletir?

O retorno da alma dos vira-latas

Alexandre Lacerda 5ºG

ErramosNa edição número 68, abril/maio de 2008, a página 03 de política não foi editada pelos alunos Luiza de Sá e Tiago Ha-ddad e, sim, pelos monitores de O Ponto.

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Page 3: Jornal O Ponto - junho de 2008

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Editor e diagramador da página: Carlos Eduardo Marchetti - 6º período

o pontoBelo Ho ri zon te – junho/2008 03M Í D I A

Blogs versus grandes meiosENTRE CASOS E FATOS JORNALÍSTICOS CONHECIDOS DO GRANDE PÚBLICO, UMA CONVERSA COM O JORNALISTA LUIS NASSIF EM BELO HORIZONTE MOSTRA A EXPERIÊNCIA DE QUEM VIVEU DENTRO DA GRANDE IMPRENSA MOMENTOS SUFICIENTES PARA JULGÁ-LA DIANTE DOS AVANÇOS TECNOLÓGICOS QUE A DESAFIAM

RAFAELA GAMA

5º PERÍODO

O PONTO - Você considera que a internet e, num termo usado por você a "blogosfe-ra", mesmo no Brasil, onde os blogs ainda não cumprem o papel destinado a eles, seria alternativa para que a mídia se torne maisw isenta na cobertu-ra política?

NASSIF - Hoje é a alternati-va. Mas ainda é uma primei-ra geração. A internet tende a criar uma diversidade que a mídia tradicional não oferece e o blog é uma primeira tenta-tiva. Mas vai ter outras formas mais aprimoradas, incluindo o blog e outros recursos.

OP - Em 2003, você escreveu o livro "O jornalismo dos anos 90" no qual analisava a cober-tura da imprensa em diversos casos, como Impeachment de Collor e Escola Base. Cami-nhando um pouco, como você avalia a cobertura do Caso Isa-bella, tendo em vista que você já trabalhou em vários veículos como a própria Veja, Folha de S. Paulo, TV Gazeta?

N - No caso Isabella houve uma precipitação inicial. Fo-ram atrás de conversa de dele-gado e da promotora. Depois disso vários jornalistas come-çaram a insurgir contra esse tipo de cobertura. Uma parte deles apren-deu com a Es-cola Base que não se pode acreditar ce-gamente em promotor e delegado. Eu tenho uma filha peque-na que entra no Google pra ver ou-tros casos de crianças de-saparecidas. Nos jornais, d e p o i s d o exagero inicial, eles estão co-meçando a criticar o relatório e daí passa-se a ter uma co-bertura um pouco mais seria. Mas esse show de horrores não tem jeito, isso continua.

OP- Depois de 14 anos da im-plantação do Plano Real, cria-do para por fim à escalada in-flacionária, o Brasil subiu um degrau na escala de investi-mentos, recebendo a classifi-cação de risco BBB- (menos), atribuida pela agência Stan-dard & Poor's. Estamos, real-mente, num bom momento? A tendência da economia é se estabilizar em todos os paí-ses emergentes, como é o ca-so dos concorrentes do Brasil, Rússia, China e Índia, ou a con-dição atual é passageira?

N - Não, o Brasil não tem vi-são estratégica. Esse grau de investimento é horroroso, pois vai trazer mais capital especu-lativo pra cá e o câmbio vai mais pra baixo. E o governo Lula, com exceção das polí-ticas sociais, não tem visão estratégica nenhuma. Como não teve o governo Fernando Henrique Cardoso, que não ti-nha nem políticas sociais. Essa classificação é boa para o espe-culador, que sabe que pode vir, porque tem segurança e sabe que vai ganhar fácil, sem risco com o dólar caindo ainda mais. É um oba-oba injustificável o

que ocorreu com esse grau de investimento. Ainda mais de uma agência que se desmora-lizou nos EUA por não prever a crise por lá, e que dá uma classificação dessas no meio de uma turbulência internacional. Isso, aí, não é sério.

OP - Em relação à despedida de Paulo Henrique Amorim do por-tal IG, qual a sua postura? A mí-dia alternativa é uma saída para grandes nomes como você, Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, dentre outros?

N - É uma saída. O PHA te-ve problemas pessoais com o Caio. São dois grandes jorna-listas que têm temperamento forte. Mas é a alternativa. Ele continua com o blog, mas com menos visibilidade porque ele estava no IG. Mas o caminho é por aí. Se não fosse a blogos-fera, o PHA estaria só na Re-cord. E ele é um grande jorna-lista e está conseguindo fazer jornalismo na internet. A internet quebra com a hierarquia emissor-mensa-gem-receptor mas, por outro lado, ela classifica, no sentido amplo da palavra, o público; porque só tem acesso quem tem computador, só sabe usar quem tem discernimento. Co-mo podemos lidar, no blog, com este novo modo de pro-dução jornalística? A internet é realmente uma inovação, ou apenas um rearranjo das mí-

dias tradicio-nais? A internet é uma revolu-ção. Isso por-que acabou aquele poder absoluto que o jornalista ou o jornal ti-nham sobre a informação. Então, quan-do vem o lei-tor e questio-na a informa-ção, agrega, ou discute,

faz mudar de opinião. Isso é um outro jogo, uma outra ge-ração. A mídia convencional é como se fosse uma furreca com um avião à jato.

OP - Você afirmou no Portal Vermelho que o Alkimin não seria um bom presidente para o Brasil. Você considera que Aécio Neves seria um bom presidente?

N - Ele (Aécio Neves) tem amadurecer mais, mas ele tem muito mais jogo de cintu-ra do que o Alkimin. Ele não tem, ainda, uma visão de... ele tem uma visão de gestão im-portante que trouxe para Mi-nas Gerais, mas não vi, ainda, uma visão de país. Uma coisa é governar um Estado, porque a visão de futuro é simples: vo-cê tem que ter uma boa gestão e tem que criar um ambiente adequado pra investimentos. Quando seu projeto vai para um país, você tem que ter um pensamento muito mais am-plo, sofisticado e diversifica-do, que eu não vi, ainda, nele (Aécio). Mas é um cara que sa-be escolher bem os seus asses-sores. Ele sabe fazer política, ou seja, a arte de criar maio-rias. Então, nesse sentido, se ele tiver bons ideólogos, diga-mos, para um projeto de país ele pode ser um bom presi-dente. Mas ele ainda não tem. Não tem.

No mês de maio, Luis Nassif participou do evento 1ª Terça, um Fórum de Debates realizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais. Na ocasião, o jornalista concedeu entrevista ao jornal O Ponto. Também participou do debate o repórter do Portal Uai/Estado de Minas, Ivan Satuf.

“O BLOG NOS OBRIGA A TER UM DISCERNIMENTO

JORNALÍSTICO MUITO MAIS APURADO. O QUE

É RELEVANTE, O QUE É VEROSSÍMIL. ACABOU O

JORNALISMO CONVENCIONAL.”

Apuração jornalística

“OS PRINCÍPIOS JORNALÍSTICOS PERMANECEM,

MAS AS FERRAMENTAS SÃO DIFERENTES.”

Novas ferramentas

“QUANDO VOCÊ ESTABELECE UM CÓDIGO DE

CONDUTA, O LEITOR VAI SE ADEQUAR AQUELAS

REGRAS. QUANDO COMEÇAMOS A PRIVILEGIAR

AS INFORMAÇÕES DO LEITOR ELE SE SENTE MAIS

ESTIMULADO A DAR MAIS INFORMAÇÕES.”

O leitor como fonte

“O JORNALISTA TEM QUE APRENDER A SER UM

PROVOCADOR. EU SOU UM PROVOCADOR. O QUE

EU FAÇO NO MEU BLOG: AS VEZES JOGO UMA

OPINIÃO INACABADA E POLÊMICA PARA QUE

O PESSOAL ME AJUDE A TER UMA CONCLUSÃO

MELHOR SOBRE O TEMA.”

O jornalista como provocador

"NÓS ESTAMOS NUM MOMENTO DE CAOS

QUE PRECEDE UMA NOVA ORGANIZAÇÃO E

QUE NÃO VAI SER RÍGIDA COMO A IMPRENSA

CONVENCIONAL. MAS VAI TER QUE TER ALGUMA

HIERARQUIZAÇÃO E UMA ORDEM. O PAPEL DOS

BLOGS FOI FUNDAMENTAL, DE TRÊS ANOS PRA CÁ,

COMO FATOR DE CONTENÇÃO DOS ABUSOS QUE

FORAM COMETIDOS PELA MÍDIA NESSE PERÍODO.

VIMOS UMA QUEDA DE PADRÃO JORNALÍSTICO

COMO NUNCA HAVIA VISTO. A MÍDIA TINHA

ESSES FATORES DE CONTENÇÃO. QUANDO HOUVE

ESSE GRANDE PACTO EM QUE NINGUÉM MAIS

CRITICAVA NINGUÉM, A MÍDIA PASSOU A SE

REVESTIR DE UM APARENTE PODER ABSOLUTO."

Novos fatores de contenção

“O SETOR DE MENOR COMPETIÇÃO NO BRASIL

É A CHAMADA GRANDE MÍDIA. ELA JÁ ESTÁ

ESTABILIZADA. NENHUM JORNAL VAI ENTRAR EM

SÃO PAULO PARA COMPETIR COM A FOLHA OU

COM O ESTADÃO . É O ÚLTIMO SETOR FECHADO

DA ECONOMIA.”

Sobre a grande mídia

PerfilMineiro de Poços de Caldas, Nassif começou cedo no jor-nalismo. Desde os treze anos de idade já editava um jornal de sua cidade natal. Trabalhou profissionalmente na Veja e em 1974 se tornou repórter de economia da revista. Anos depois transferiu-se para o Jornal da Tarde como pauteiro e chefe de reportagem de economia. Em 1983, foi trabalhar na Folha de São Paulo, onde criou o projeto da Datafolha e a seção "Dinheiro Vivo". Atualmente Nassif é comentaris-ta de economia do jornal da TV Cultura e mantém um blog na internet. Nassif é formado pela Escola de Comunicação e Artes de SP.

Os blogs e o futuro do jornalismo

”O BLOG É ABERTO E OS GRANDES MEIOS TÊM DIFICULDADES DE ENTENDER ESSA NOVA ROUPAGEM, POIS TÊM QUE ABRIR MÃO DO PODER. O LEITOR É UMA FONTE PRECIOSA DE INFORMAÇÕES".

Fotos: Pedro Henrique Vieira 5ºG

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Page 4: Jornal O Ponto - junho de 2008

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Editor e diagramador da página: Lucas de Mendonça Morais - 6º período

o pontoBelo Ho ri zon te – junho/200804 S A Ú D E

ANA CLÁUDIA

BRUNO DÁVILA

6º PERIODO

Só neste ano, no período de janeiro a março, o Ministério da Saúde registrou cerca de 121.000 casos de dengue no Brasil, dentre eles, 48 óbitos. Só em Minas Gerais foram 46.500 casos, sendo 12.091 de-les na capital. Não é de hoje que esta epidemia preocupa toda a população e o governo brasileiro, que vem tomando medidas mais intensas de combate e prevenção da doença. Rio de Janei-ro, Paraná e Mato Grosso do Sul, estão entre os Estados mais infectados. Mesmo com tantas medidas preventivas a Dengue insiste em aparecer. Não se sabe se é a falta de cuidado da população ou se é algum condicionamento físico da natureza que nos castiga pelo aquecimento global. Informação para não contrair a doença não falta, mas alguns descuidos de comunidades não permitem seu bloqueio. A doença começa quando de 10 a 14 dias depois de picar alguém infectado, o mosquito pode adquirir o vírus da dengue, espalhando-o pela população através de suas picadas. Nem sempre os mosquitos estão infectados, mas quando estão, carregam o vírus até o fim da vida, no qual costumam viver em média 45 dias, deixando para trás uma procriação já feita em grande velocidade. De acordo com a gerente do centro de saúde Santa Rita de Cássia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, Sirlene Vilela Amaral, o número de pacientes com suspeita de Dengue aumen-tou nos meses de março e abril, chegando de 5 a 6 suspeitas por dia. “A maioria dos pacientes estavam no Rio de Janeiro antes de apresentarem os sintomas da doença, o que nos preocupou bastante.” Ainda segundo ela, estes números foram baixos em relação a outras regiões do país e da capital. “A região centro-sul é a região com menos foco da Dengue, chegando a um índice de apenas 0,54% dos casos apresentados”. Mara dos Santos, enfermeira do centro de saúde, revelou que neste mês os índices abaixaram ainda mais: não passaram de 1 a 2 casos de suspeita de Dengue por dia. “O mais recomen-dado é que em casos de dor de cabeça, nos olhos e no corpo, febre alta, manchas vermelhas pelo corpo, desânimo, sangra-mentos de boca e nariz, procure o posto de saúde mais próximo de sua região”, aconselhou Dr. Fernando Diniz, clínico geral e pediatra do posto Santa Rita de Cássia. “Devemos ter muito cuidado com as crianças para não confundirmos os sintomas com um simples resfriado”, ressaltou. A maior preocupação da Prefeitura da capital está nas re-giões Norte e Nordeste, onde houve um surto da doença. Os postos de saúde da região ficaram lotados e muitos casos foram confirmados, sendo 2 casos de morte suspeitos pela complica-ção da doença. Segundo Odilon Ferreira, agente de prevenção de pragas urbanas da zoonoses de Belo Horizonte, o que diferencia a intensidade dos casos de uma região para a outra é a falta de informação e conscientização de cada comunidade. “As pessoas pensam que é só fazer a prevenção uma vez na vida, que a Dengue irá acabar, e não é assim. O ovo do mosquito pode ficar até 400 horas armazenado em um local, mesmo sem água parada. No frio a tendência é diminuir os fo-cos, mas se cada um não ficar esperto, no verão a Dengue volta a atacar.” Segundo Juliana Prado, consultora do Programa de combate à Dengue da Secretaria de Estado de Saúde, o verão é o clima preferido dos mosquitos. “O clima quente favorece a reprodu-ção mais rápida dos mosquitos, pois há maior índice de chuvas e umidade, acumulando águas paradas e bem quentinhas.” Em relação á concentração de casos nas regiões Norte e Nordeste

da capital, Juliana revelou que tudo isto se deve à estas regiões serem mais quentes, pois se situam na parte mais baixa da capital, além dos bairros loca-

lizados ali, que são cheios de lotes vagos, lages e alojamentos de ferro-velho, focos prediletos da reprodução do inseto. Além disto, Juliana explica que a Dengue é uma doença antiga, “No Brasil os primeiros casos foram registrados em 1986 no Rio de Janeiro, e em 1998 em Belo Horizonte, no qual o vírus ob-teve um surto em 2001 e 2002, devido à entrada do sorotipo da Dengue 1 e 2. Hoje já temos a entrada do sorotipo da Dengue 3, que já é um estágio mais avançado. ”Ainda segundo ela, a tendência é a doença aumentar cada vez mais devido ao aquecimento global provocado pelo homem, deixando o cli-ma cada vez mais quente. A área tropical do planeta é a mais atingida devido ao seu clima quente úmido. Um dos exemplos

disto no Brasil é a cidade do Rio de Janeiro, que se caracteriza por este clima. “No Rio a situação é ainda pior do que

no Brasil inteiro, pois os agentes de saúde têm medo de subir nos morros e nas favelas que apresentam grande violência ur-bana. Além disto, o SUS da cidade não está capacitado para o atendimento de tantas pessoas infectadas, provocando o proli-feramento do vírus pela cidade”, completou. O Ministério da Saúde vem fazendo inúmeras campanhas de combate aos focos da doença. As prefeituras de suas respecti-vas cidades realizam mutirões para eliminar os possíveis focos. Em Belo Horizonte, agentes da zoonoses são distribuídos pe-riodicamente nas regiões da capital para controlar a situação. Donos de lotes vagos descuidados estão sendo notificados e

multados se não tomarem as providências necessárias, os ferros-velhos estão sendo limpos, e de casa em casa a po-pulação está sendo informada sobre os possíveis focos. O

resultado tem sido satisfatório. A Dengue não escolhe classe social ou raça, pode escolher ficar na piscina de luxo de uma mansão ou na lage de uma fa-vela. A prevenção não é momentânea, pois não existe uma pre-visão de extermínio da doença. Se nos descuidarmos, ela volta. É preciso um esforço conjunto das comunidades para que os focos não aumentem cada vez mais.

Vacina contra a Dengue pode ser criada A Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-tado de São Paulo) noticiou na última semana que a vacina con-tra a Dengue será produzida e testada no Brasil.Um acordo de transferência de tecnologia entre o Instituto Butantan, em São Paulo, e os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos vai permitir a produção em fase de teste da vacina. Primeiramente, o imunizante será produzido apenas para testes clínicos, e só depois o Instituto poderá fabricar a vacina para comercialização. O instituto paulista irá receber do BNDES um total de R$ 32 milhões para de-senvolver as vacinas de dengue, rotavírus e leishmaniose cani-na, que farão parte do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. Com a chegada da vacina, os índices de pessoas contamina-das pela doença tendem a diminuir, mas é preciso deixar bem claro que é fundamental fazer a limpeza dos focos periodica-

mente, pois de nada adiantará a vacina se os focos da Den-gue não forem eliminados. A previsão é de que a vacina seja testada no ano que vem e, se aprovada, começará a ser co-

mercializada em 2010. Ela não será a cura da doença, mas sim, a prevenção dela, juntamente com o extermínio dos focos da Dengue e a redução do aquecimento global. É com certeza uma medida preventiva muito interessante, já que está ficando cada vez mais alarmante o problema gera-do pela doença não só em Minas,mas em todos os Estados do Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, o surto se espalhou ra-pidamente com vários casos graves na capital, gerando uma preocupação muito grande da prefeitura, da sociedade e, so-bretudo, do Ministério da Saúde. De acordo com pesquisadores do Laboratório de Imunopa-tologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a vacina tem que ter uma eficácia total no organismo para não ser pior do que não ter a proteção, surtindo um efeito contrário, aumentando a possibilidade de a pessoa imunizada contrair Dengue Hemor-rágica. Outro grupo de pesquisadores da Fiocruz trabalha para con-seguir um medicamento que evite a dengue hemorrágica, que pode matar. Estão sendo feitos testes em plantas como a unha-

de-gato, que seriam capazes de interromper a proliferação no organismo de substâncias que causam as hemorragias. A dengue hemorrágica ocorre quando uma pessoa que já

obteve a doença é infectada por um outro tipo do vírus.

Dengue se espalha pelo país

O que é a Dengue?A dengue é uma doença fe-bril causada por um vírus, que é transmitido pela pica-da do mosquito Aedes ae-gypti. Principalmente com a chegada do verão e com o início das chuvas, a den-gue volta a ser uma ameaça à saúde pública no Brasil, poeque as altas temperatu-ras favorecem a reprodução mais rápida e, consequente-mente, o aumento da quan-tidade de mosquitos.

Aparência do mosquitoO Aedes aegypti mede me-nos de um centímetro, é es-curo com listras brancas e costuma picar nas primei-ras horas da manhã e nas últimas da tarde (dentro ou fora de casa). Sua picada não dói e nem coça.

TransmissãoO mosquito transmissor da dengue adaptou-se às áreas urbanas e vive, preferencial-mente, dentro das casas ou perto delas. A fêmea depo-sita seus ovos em recipien-tes com água parada, dando origem às larvas que, após uma semana, transformam-se em mosquitos adultos. De 10 a 14 dias depois de picar alguém infectado, o mos-quito pode adquirir o vírus da dengue, que carregará durante o resto da vida. O Aedes aegypti procria em grande velocidade e vive, em média 45 dias.

SintomasOs sintomas surgem de uma hora para outra, geralmente de 3 a 5 dias depois da pica-da, e variam de acordo com o tipo da dengue:- Dengue clássica: febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, perda do paladar e do apetite, manchas e erupções na pele, náuseas, vômitos, tonturas, cansaço, moleza e dores no corpo, nos ossos e nas articulações.- Dengue hemorrágica: além dos sintomas da dengue co-mum, há outros que agra-vam o quadro: dores abdo-minais fortes e contínuas, vômitos persistentes, pele pálida, fria e úmida, sede excessiva, sonolência, agi-tação, confusão mental, difi-culdade para respirar, perda de consciência e manchas vermelhas na pele. Pode ha-ver hemorragias pelo nariz, boca e gengivas, mas nem

sempre ocorre san-gramento.

TratamentoO tratamento consiste em reposição dos líquidos per-didos, repouso e alívio da fe-bre com dipirona ou parace-tamol. Não use medicamen-tos que contenham ácido acetilsalicílico. A fase mais perigosa da doença ocorre de 3 a 5 dias depois do seu início. Por isso, é fundamen-tal voltar à Unidade de Saú-de nesse período.

Como combater a Dengue na sua casa e no seu bairro- Retire a água das embala-gens, latas, copos plásticos e tampinhas;- deixe os pneus em local seco e protegido da chuva ou jogue-os fora em lugar apropriado;- jogue fora as garrafas PET e as de vidro vazias ou vi-re-as de cabeça para baixo, para que a água não fique armazenada;- não deixe acumular água em vasos de plantas e jarros de flores.Coloque areia no prato do vaso;- tampe as caixas d'água, tambores, latões e cisternas para impedir a entrada do mosquito;- feche bem os sacos plás-ticos e mantenha a lixeira tampada e seca;- trate a água da piscina com cloro e limpe-a uma vez por semana;- guarde vasos e baldes va-zios de boca para baixo;- lave bem o suporte de gar-rafões de água mineral;- esfregue, por inteiro, com escova e sabão, em água corrente, os potes em que os animias de estimação bebem água, mesmo as bordas, pois os ovos do mosquito podem sobreviver sem água por pe-ríodos de 1 ano ou mais;- deixe as tampas dos vasos sanitários sempre fechadas. Em banheiros pouco usados, deve-se dar descarga uma vez por semana;- nos cemitérios, coloque terra ou areia nas florei-ras e jardineiras, evitando o acúmulo de água e a fo-ramação de craidouros de mosquitos;- mantenha as calhas do te-lhado desobstruídas.- não acumule água parada em nenhum recipiente vazio para evitar a reprodução do mosquito.

Dados da Secretaria de Estado da Saúde de MG

Saiba como se previnir

" O CLIMA QUENTE FAVORECE A REPRODUCAO MAIS RÁPIDA DOS MOSQUITOS,POIS HÁ MAIOR ÍNDICE DE CHUVAS E UMIDADE ACUMULANDO ÁGUAS PARADAS."

Juliana Prado, consultora do Programa de Combate à Dengue

A PRINCIPAL EPIDEMIA DOS ÚLTIMOS ANOS RETORNA NA REGIÃO METROPOLITANA DE BH

Focos do acúmulo de lixos que geram a transmissão da dengue

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Avalie esta edição: [email protected] pontoBelo Ho ri zon te – junho/2008 05C I D A D E

O USO DAS LIBRAS - LINGUAGEM BRASILEIRA DE SINAIS, FAZEM DOS SURDOS PESSOAS NORMAIS, QUE CONSEGUEM VENCER OS PRECONCEITOS E SE DESTACAR.

Editoras e diagramadoras da página: Eloisa Ribeiro e Ludmilla Rangel - 6º período

BRUNA VALLE E CAROLINA PERSICHINI

6º PERÍODO

A vontade de incluir os surdos na sociedade sem existir ne-nhum tipo de discriminação vem desde o ano de 1872, quando o escocês Alexander Graham Bell, filho de uma mulher surda, abriu uma escola para surdos e se casou com uma jovem que havia perdido sua audição. Atualmente, os educadores pos-suem duas propostas de inclusão social para os deficientes au-ditivos: incluir os surdos nas escolas dos ouvintes e construir escolas especiais para os surdos, o que vem gerando muitos debates e diferentes opiniões. Força de vontade e coragem de superar as dificuldades fa-zem com que um surdo ou qualquer outro tipo de portador de deficiência não seja considerado um anormal. Pode-se destacar ao longo da história vários personagens que, mesmo possuin-do limitações, obtiveram sucesso em suas carreiras. Ludwig van Beethoven ficou completamente surdo no ano de 1807 e mesmo assim continuou regendo orquestras, tocando piano e compondo. Suas obras mais famosas foram feitas quando o músico estava parcialmente surdo, como por exemplo, a Nona Sinfonia “Coral”. O pianista e compositor Beethoven teve sua glória alcançada ao compor sinfonias longas e complexas que duravam mais que o dobro das músicas de Mozart ou Haydn. Para o artista plástico e lutador de vale-tudo Ricardo Tannus, a surdez não foi uma adversária tão difícil. Ricardo teve 90% de sua audição comprometida e aprendeu a enfrentar o mundo em silêncio. O atleta nunca encarou a surdez como deficiência sendo campeão nos tatames e nas pinturas. Em Alabama, nos Estados Unidos outro exemplo de superação mudou a vida de muitas pessoas. Após ter uma febre alta aos 18 anos, Hellen Keller (1880-1968) ficou cega, surda e muda. Tendo apenas o tato como sentido, Hellen, se alfabetizou através do Braille, e se comunicava por imitações e vibrações da garganta. O esfor-ço que Keller tinha em se comunicar aflorou uma inteligência excepcional, o que foi considerada a maior vitória da história educacional. Tornou-se educadora, advogada e escritora e per-correu 35 países promovendo campanhas com a finalidade de melhorar a situação dos cegos e surdos. No Brasil, o coral “So-mos todos iguais” participa de diversas apresentações. É um coral composto apenas por surdos e mostra que não há limites para a superação. No ano de 2002, a Língua Brasileira de Sinais, mais conheci-da como Libras foi aprovada e reconhecida pela lei Nº. 10.436, tendo o objetivo de atender os surdos. A solicitação de intér-pretes e o uso da língua para comunicações variadas são exem-plos de que atualmente as Libras têm sido socialmente aceitas. Para os deficientes auditivos, as Libras destacam-se como a primeira língua universal. O processo de alfabetização é com-plexo, sendo necessária a utilização de recursos diferentes, pelo fato dos surdos serem alfabetizados pela segunda língua deles, o português. De acordo com Janete Rocha Leite, o surdo assim como qualquer outro deficiente é discriminado socialmente, sendo que a maior parte desse isolamento ocorre devido as dificulda-des encontradas durante a comunicação. “Acredito que dentro das associações e instituições a convivência entre eles é grande, por isso o preconceito não interfere. Fora, poucas pessoas pos-suem algum tipo de conhecimento sobre Libras”, alega. Outro ponto fundamental é a forma com que todas as pessoas se di-rigem a um surdo: “A palavra que a sociedade deve esquecer é surdo-mudo, pois nem todo surdo é mudo. Eles possuem a ca-

pacidade de emitir sons, só que de forma diferente, da maneira deles”, completa a psicopedagoga. Segundo a fonoaudióloga Carla Lemos o mudo é aquele que não emite som algum, o que não acontece com o surdo. “Existem aqueles que possam ter sofrido algum tipo de trauma, ter tido um câncer e isso provo-cou a mudez, mas o surdo não pode ser considerado mudo”, salienta Carla. Antônio Abreu é surdo, contador da Usiminas e volun-tário na Feneis (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos), que tem o objetivo de apoiar a comunidade surda, ajudar a pessoa a desenvolver sua identidade, ensinar a lingua-gem das Libras, oferecer cursos às famílias e inserir o surdo no mercado de trabalho. Quanto a este último, Antônio explica que a sociedade pensa que os surdos não podem trabalhar, que não são capazes. “Eles são capazes sim, apesar da barreira da comu-nicação, várias empresas fazem contato conosco e empregam os surdos como digitadores, contadores, entre outras funções que podem fluir normalmente”, afirma. Ele ainda completa que a sociedade está mais aberta e a barreira entre os ouvintes e os surdos está cada vez menor com a presença de intérpretes, legendas e cursos. Antônio pede que haja mais dedicação da sociedade e que os profissionais do jornalismo nunca tratem a comunidade surda com os termos: “que pena”, “eles não con-seguem”, “eles não fazem”, menosprezando-os assim. O Senador Eduardo Azeredo é um dos grandes militantes na inclusão dos surdos através da criação e implementação da legislação que os defende, e declara. “A legislação brasileira de proteção à pessoa surda é uma das mais avançadas do mundo. No entanto, um dos desafios é tirar a lei do papel e garantir me-lhor qualidade de vida e inclusão social a essas 24,6 milhões de pessoas. A atuação insuficiente do estado, quanto a aplicação e a efetivação da legislação que versa sobre o tema, torna ne-cessária a continuação da atuação contundente e eficaz desta casa legislativa através de uma subcomissão permanente, que dará continuidade aos trabalhos já iniciados, trazendo soluções reais para as questões pertinentes a essa parcela tão importante e significativa de cidadãos brasileiros”. Em 2007, o tema da Campanha da Fraternidade se voltou para os portadores de necessidades especiais, tendo como lema a frase: “Levanta-se e vem para o meio”. A campanha teve como maior finalidade a inclusão dos deficientes na sociedade. A psicopedagoga e professora Janete Rocha Leite afirma que no estado de Minas Gerais estão sendo criados Centros de Capacitação que oferecem cursos de Libras, além de outros tipos de cursos. Até 2007, os centros voltavam somente para a profissionalização, mas no começo do ano de 2008 após uma resolução na secretaria, especificamente, o curso de Libras foi ampliado para os profissionais da saúde e para os militares. A professora indica associações de surdos, instituições como igrejas e a FENEIS (Federação Nacional de Educação e Inte-gração dos surdos) para os maiores interessados em aprender a língua. O mercado de trabalho tende a ampliar cada vez mais. Em-bora com o passar do tempo, as pessoas estão se esclarecen-do e se informando melhor sobre o assunto (o que resulta em adquirir mais conhecimentos sobre a capacidade do surdo), na maioria das vezes, são oferecidos para os surdos subempregos. Esse tipo de “cargo” facilita principalmente o contratante, que terá gasto apenas com o salário da pessoa que foi contratada e não com o acréscimo de intérpretes ou cursos que devem ser obrigatoriamente promovidos para que alguém da empresa consiga se comunicar com o surdo

Alfabeto em Libras O Alfabeto de Libras (Língua Brasileira de Sinais) teve sua origem ainda no Império. Em 1856, o conde francês Ernest Huet desembarcou no Rio de Janeiro com o alfabeto manu-al francês e alguns sinais. O material trazido pelo conde, que era surdo, foi adaptado e deu origem à Libras. Este sis-tema foi amplamente difundi-do e assimilado no Brasil. A Libras quase mudou de nome e só voltou a vigorar em 1991, no Estado de Minas Gerais, com uma lei estadual. Só em agosto de 2001, com o Programa Nacional de Apoio à Educação do Surdo, os pri-meiros 80 professores foram preparados para lecionar a língua brasileira de sinais. A regulamentação da Libras em âmbito federal só se deu em 24 de abril de 2002, com a lei n° 10.436.

Conhecida em todo o Brasil não só por sua beleza, mas também determinação, Vanessa Vidal é surda e Miss Cea-rá 2007, um grande exemplo de superação. “minha história sempre foi de muita luta e determinação. Sofri preconcei-tos e descrimição, mas sempre tive apoio da minha família, principalmente da minha mãe, que tudo fez e faz para o meu crescimento, consegui mostrar para todos que é possível, consegui mostrar para todos que é possível, consegui reali-zar todos os sonhos, pois barreiras sempre vão existir, por isso o mais importante é acreditar.”

O PONTO - Você teve alguma dificuldade em se relacionar com as pessoas? Sejam amigos, namorados, etc.?Vanessa Vidal - Não, gosto muito de fazer amizades. Apesar da minha surdez, sempre tive muita facilidade de me apro-ximar das pessoas. Quanto a relacionamentos, já namorei rapazes surdos e ouvintes. Sou oralizada e tenho uma boa leitura labial, consigo compreender e ser compreendida.

O.P. - Como funcionou o seu processo de alfabetização? V.V. – Estudei em escola especial e fui alfabetizada, não pude aprender a língua de sinais na primeira idade (infância), pois na época era proibido, precisava primeiro “aprender a falar”. Somente aos 13 anos pude aprender minha língua oficial, as Libras. A partir daí, fui estudar em uma escola normal e fi-quei até entrar para a faculdade.

O. P. - E na carreira? A sua deficiência atrapalhou em algum instante? V.V. - Sofri alguns preconceitos, mas como sempre fui muito guerreira, mostrei que é possível sim, enfrentar barreiras e chegar à superação.

Surdo, mas não sem expressão

Miss Ceará venceu suas limitacoes

Arquivo Pessoal

Federaçao Nacional de Educaçao e Integraçao dos Surdos (Feneis)Rua Albita, 144 Bairro Cruzeiro(031) 3225- 0088 www.feneis.org.br

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Editor e diagramador da página: Paula Póvoa Tavares e Pedro Henrique Vieira - 6º e 5º períodos

o pontoBelo Ho ri zon te – junho/200806 E N T R E V I S T A

ENTRE FATOS E CONVERSASDOIS ALUNOS DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE FUMEC FALAM SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS,IDEAIS E EXPECTATIVAS. COM VISÕES DISTINTAS, E OPINIÕES CHEIAS DE PERSONALIDADE ELES TRAÇAM O PERFIL DO NOVO COMUNICADOR

Ele tem sempre uma opinião para dar. Seu sadismo não combina com a figura simpática que entra na sala de mochila nas costas. Em pouco tempo você percebe o espí-rito competitivo e mordaz que ele carrega.É extremamen-te educado, principalmente com pessoas desconhecidas.Apesar de sua insegura tentativa de não parecer, aparece até demais. Uma das figuras mais caricatas e divertidas desses corredores já fez de tudo, de campeão mineiro de kart a curso de tiro instintivo. Com apenas 27 anos, Ale-xandre Cabral da Costa, parece ter muito a dizer.

Por Paula Tavares 6º G O Ponto - A mudança do curso de Direito para Comunicação Social, alterou sua forma de ver o mundo?Alexandre Cabral - Sim, e muito. Fui do con-servadorismo de um vovô para o radicalismo de um anarquista inglês do século 19. Parei de acreditar em muitas coisas, nas pessoas e até mesmo na Faculdade em si. Perdi a paciência pela vida alheia e parei de me importar com coisas que no fundo são importantes. Na épo-ca do direito, caso perdesse meus professores seria mais combativo.

Quais são seus teóricos preferidos?Miguel Reale, Sérgio Buarque de Holanda e Paulo Freire. Cito apenas brasileiros para não entrar no pedantismo do "vamos socializar o mundo".

Você tem crises de sadismo durante as au-las. Qual razão pra tanta hostilidade?Veja bem, minha hostilidade nunca é direta a alguém. Sempre debato idéias, e às vezes fico acalorado. Mas não sou lá muito paciente com a ingenuidade alheia. Ignorância eu até supor-to, mas a ingenuidade em certas idéias e ideais chega a me provocar urticária. Vai ver é por isso da minha mordacidade. Ser mordaz é ser legal hoje em dia.(risos)

Em qual área do Jornalismo pretende atu-ar quando formar ?Minha paixão sempre foi o jornalismo impres-so, eu gosto tanto que não há preferência. Fico feliz cobrindo de cidades a economia.

Certa vez você disse que não entende ape-nas sobre três assuntos. Flores, peixes e ár-vores. Obviamente foi mais uma de suas iro-nias. Você se considera uma pessoa sábia?De jeito algum. Ainda não atravessei a ponte. Se bobear nem na metade estou. Brinco com as pessoas falando isso, como uma provocação. Parece que elas não reconhecem e não buscam o conhecimento.

Apesar do seu humor ácido, seus colegas parecem gostar de você. Alguma vez já teve problemas sérios por ser tão crítico?Isso indica que as assopradas que dou após as machucadas são sempre melhores! (risos). Brincadeira a parte, acho que voltamos ao as-sunto do criticar uma postura, mas respeitan-do a pessoa. Sempre trato todos a minha volta com uma educação inglesa. E ali na sala de aula não há quem não goste. Sou usuário do "esco-lha seus inimigos e deixe que seus amigos o escolham". E também tenho certeza que muita gente já nem liga para o que eu falo.

Qual foi o último livro que você leu? Foram 2 no mesmo dia, semana passada. Isso que dá ler vários livros ao mesmo tempo, cus-ta acabar a leitura, mas quado acaba pelo me-nos conseguimos aumentar a prestação. Um deles foi uma história juvenil escrita por um tio-avô meu. Ganhou Jabuti na mesma catego-ria. Chama-se "As Aventuras de João Longo". O outro livro são memórias de um honorável advogado fluminense, filho de Joaquim Nabu-co, José Thomaz Nabuco chamado "Arresto do Windhuk".

Como você vê o movimento estudantil no ce-nário atual?

Há duas correntes de movimentos estudantis. Os fantoches e os vislumbrados. E isso sempre ocorreu. Sei do que falo pois meu avô foi fun-dador da Ubes (União Brasileira dos Estudan-tes Secundaristas), e quase ganhou a eleição da Une. E isso com 18 anos de idade. Hoje em dia vemos "estudantes" beirando os 30 se ga-bando pela luta estudantil do presente. E digo mais, nada é mais alienante que o movimento estudantil. Eles aprendem Karl Marx em bote-quins, praticam a democracia do "eu mesmo", e não aceitam o que não lhes interessa. A culpa do abestamento da política nacional está real-mente na base, pois já há todo um nivelamento por baixo nos movimentos estudantis.

Em botequins? Como vão ficar os professo-res de sociologia ao lerem isso?(risos)

Para eles não fará diferença, pois alunos que participam de movimentos estudantis não vão à aula.

Você pretende terminar o curso de Direito algum dia?Além de ser minha vontade, é preciso que aca-be o curso de direito. É muito feio não termi-nar o que começou e ainda bem no seu final. Pretendo concluí-lo em 2009.

Como você se enxerga daqui dez anos?Não conseguiria me imaginar como um ho-mem médio. Seria ou na bancarrota absoluta ou na efervescência do poder com duas coisas necessárias, dinheiro e sexo. Quando o homem não tem dinheiro e sexo, não consegue pensar em outra coisa.

A estudante do sétimo período de jornalismo da uni-versidade Fumec, Tereza Lobato, começou a andar de skate aos 14 anos de idade, e com 17 fez suas pri-meiras manobras em um esporte que ainda era novi-dade na capital mineira, o wakeboard. Hoje, aos 21 anos, Tereza desponta como uma das mais promisso-ras atletas de wake do país e ocupa o primeiro lugar na classificação feminina do campeonato nacional de Wakeboard.

Por Ana Paula Amaral 6º G

O Ponto - Como surgiu seu interesse pelo wakeboard?Tereza Lobato -Meu interesse por esportes de prancha praticados na água surgiu alguns

anos depois que comecei a andar de skate. Certo dia meu irmão e um amigo me convi-daram para andar de wake. Gostei tanto que resolvi pesquisar sobre os praticantes do es-porte daqui de BH para ir até eles e continuar a praticar o esporte.

Diferente do skate, o wake é um espor-te caro, que depende de muitos acessó-rios para a sua prática além de um barco e combustível. No início, como você fazia para custear os gastos com o esporte?Isso sempre foi um problema. No começo, quando me apaixonei pelo wake,ia para o clu-be (localizado na Lagoa dos Ingleses), sentava aonde param os barcos e esperava uma alma bondosa me chamar pra andar. Com o tem-

po comecei a arriscar algumas manobras pa-ra ser convidada mais vezes pelo pessoal dos barcos, nesta época não possuía sequer a mi-nha prancha. Passei a me “jogar”, a competir e fazer de tudo para ganhar campeonatos e obter certo respeito entre os praticantes.

Quando decidiu seguir carreira no wake-board?Desde a primeira vez que andei (muito mal por sinal) já sabia que era isso que queria fa-zer. Quando acertei uma manobra mais difícil pensei: “é isso!”.

Além do skate e do wake, costuma praticar outras atividades?Escrevo uma coluna para uma revista espe-

cializada em wake, a Wakebrasil e pa-ra um pequeno jor-nal de uma escola de idiomas. Pratico e dou aula de capo-eira, faço yoga uma vez por semana, tra-balho como terapeu-ta corporal, mais es-pecificamente com massagem ayurvé-dica e quando sobra tempo gosto de pin-tar minhas telinhas. Sou completamente hiperativa!

Você tem algum ídolo no esporte?No wake mundial a Dallas Friday, no Brasil tem uma ami-ga minha, Mariana Martins queadoro, e é um exemplo de superação. Ela an-dou cinco anos sem

ligamento, sentindo dores e ganhando cam-peonatos.

Por ser uma esportista, você também cuida da alimentação?Não como carne vermelha, nem gosto de fri-tura. Tirando isso, como de tudo. Poderia vi-ver de granola, fruta, chocolate, pão integral e macarrão.

Você costuma sair à noite, ir a festas?Apenas em raras excepções, para ouvir uma boa música, em lugares que não fiquem lota-dos e que tenha lugares para sentar. Mas, se o Led (Zeppelin) se juntar de novo e resolver tocar na sala da minha casa...(risos) A ver-dade é que costumo ficar bastante cansada por causa dos treinos e campeonatos, por is-so não costumo sair com frequência na noite de Belo Horizonte.

Como uma estudante de jornalismo, faz da leitura um hábito?Infelizmente não tenho tempo de ler tudo o que eu quero, possuo listas intermináveis. No momento estou lendo o Bhagavad Gita pela segunda vez (Livro sagrado hindú que revela a consciência e os ensinamentos de krishna). Costuma assistir televisão?Não, apenas filmes de surfe, de wake ou de skate. Sempre que tento assistir a televisão aberta não acho nada, perco a paciência e desligo o aparelho.

Seria viável dedicar sua vida ao wakebo-ard no Brasil? Fazer dele sua profissão?No Brasil para uma parte muito restrita de atletas do surfe isso já acontece.Infelizmen-te, no wake, ainda existe pouco apoio. Eu ti-ve sorte, corri atrás de patrocínios e hoje já consigo percorrer o circuito (etapas do cam-peonato nacional) e pagar meus treinos, mas viver disso ainda não dá. Ainda falta incenti-vo, de empresas privadas, do governo...

Alexandre Cabral: um persongagem polêmico e divertido

Tereza Lobato: Wakeboard, yoga e jornalismo

Bárbara Rodrigues 5ºG

"HÁ DUAS CORRENTES DE MOVIMENTOS ESTUDANTIS. OS FANTOCHES E OS VISLUMBRADOS."

''Quando acertei a manobra mais difícil, pensei: é isso!"

Juliana Pizzaro 5ºG

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Page 7: Jornal O Ponto - junho de 2008

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Editores e diagramadores da página: Ana Paula Amaral, Bruno Chiari e Rodrigo Espeschit - 6º período

o pontoBelo Ho ri zon te – junho/2008 07E C O N O M I A

A FORÇA DO FI CO ENFORCA

BRUNO CHIARI E RODRIGO ESPESCHIT

6º PERÍODO

- Achei, achei!! Achei ouro! O crioulo gritou e logo se calou ao achar aquela pepita. As pedrinhas ainda não eram difíceis de se achar naqueles 1792, o difícil mesmo era ficar com o que encontrava nos cascalhos dos rios. Era preciso ser discreto. A coroa intensificara o controle fiscal no final do século XVIII e D. João V sorria os louros do ‘quinto’. Tudo o que era explorado em ter-ras tupiniquins tinha que passar pelas ‘Casas de Intendência’ e aqueles que tentavam bur-lar o forte esquema de fiscalização, ou acaba-vam os seus dias em uma masmorra ou eram degradados para a África. O escravo fugido não queria nem uma coi-sa nem outra. E a Metrópole, não satisfeita com a quinta parte a que era reservada, criou um imposto suplementar ao quinto, a ‘Der-rama’. Foi o estopim, ele ouvira falar de um grupo de intelectuais e poetas, militares, so-bretudo descontentes com o controle outor-gado pela coroa que começavam a se reunir ensaiando uma conspiração. Queriam elimi-nar o controle exercido por Portugal. Era pe-

rigoso, sabia-se. Alguns membros do grupo estavam desaparecidos há algumas semanas. O mineiro escravo tentou pelas ruas de Vila Rica achar alguma informação a respeito. A pepita estava a salvo, mas era tarde. No começo de 1792 os conspiradores eram denunciados pelo Coronel Joaquim Silvério dos Reis ao Visconde de Barbacena, traindo os seus companheiros e seus ideais. A maio-ria foi condenada à pena de morte, com as penas muitas vezes comutadas. Todos, menos Tiradentes. Joaquim José da Silva Xavier não negou a conspiração e foi enforcado, seu cor-po esquartejado e exibido em praça pública em 21 de abril de 1792. Naqueles tempos, não tinha televisão, tinha a escravidão, mulheres não podiam votar e a bandeira de Minas Ge-rais ainda não tinha o símbolo idealizado pela inconfidência. Em tempo: na primeira noite que a cabeça de Tiradentes foi exposta, roubaram-na. O seu paradeiro é desconhecido até hoje.

NOS ANOS 2000... Já vimos Che Guevara ganhar a América e Lampião ascender no sertão, Zumbi levan-tar palmares e Antônio Conselheiro erguer

Canudos, e hoje nos sentimos desassistidos. Nos encontramos atados aos ideais de consu-mo capitalista e à banalização do ridículo que deixamos passar despercebidos o abuso ou-torgado pelo sistema que nos molda: não bas-tasse os nossos políticos beberem nas águas da corrupção, eles próprios se asseguram em manter o nosso país com a maior carga tribu-tária da América Latina e uma das maiores do mundo. Em 2008, o brasileiro nasce condenado a trabalhar quase metade da sua vida para pa-gar impostos. É o que aponta estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tri-butário (IBPT). Segundo a pesquisa, a carga tributária sobre renda, consumo e patrimônio já consome 148 dias de trabalho do cidadão. Em 2000, consumia cerca de 120. Só para se ter uma idéia, enquanto nós trabalhamos 2/5 do ano só para quitarmos impostos, na Ar-gentina trabalham-se em média 97 dias, en-quanto no México, 91. No nosso vizinho Chile 92 dias e no império estadunidense, 102. Isso faz com que o Brasil tenha uma das maiores cargas tributárias do mun-do, perdendo apenas para alguns países ricos, como Suécia, Dinamarca e No-ruega. Ou seja, o Brasil tem imposto de primeiro mun-do e condição social de pa-ís subdesenvolvido e siste-mas de saúde e educação precários. Na mesma me-dida, o país é conhecido mundialmente como um dos mais corruptos do planeta, aí fica mais fácil entender. Parece claro, é necessária uma reforma tributária para otimizar os gastos públicos, mas mais do que isso, torna-se urgente uma reforma fiscal e política para coibir e evitar a corrupção. Vale lembrar que o governo não é dono do dinheiro arrecadado com os impos-tos, e sim o responsável por administrá-lo de forma a beneficiar a população. Para tais reformas acontecerem, é im-portante a mobilização de toda a sociedade e agentes produtores de informação qualifi-cada, de estudantes e políticos – até eles! De modo geral, deve haver uma cobrança, contí-nua e intensa, do bom andamento da máquina pública, da boa gestão do dinheiro público e, principalmente, assegurar que o cidadão – hoje carente – possa desfrutar de boa educa-ção, sistema público de saúde eficiente, infra-estrutura básica e segurança plena.

DIA DA LIBERDADE FISCAL No dia 27 de maio, simbolicamente, é o dia que o trabalhador brasileiro começa a traba-lhar em benefício próprio. Nesta data foi re-alizado em Belo Horizonte um ato buscando a conscientização da população sobre a enor-me carga de impostos que incide, direta e in-

diretamente, sobre sua renda. A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) e o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro) proporcionaram naquela terça-feira a venda de gasolina com desconto de tributos. Calculou-se que o preço médio da gasoli-na era de R$ 2,395, com a dedução de impos-tos (PIS/Confins, ICMS) que totalizaram R$ 0,984. Assim, a gasolina foi vendida ao valor de R$ 1,411. Desde 2004, a Associação da Classe Média ( ACLAME ) promove a venda de produtos como gasolina, gás em botijão e outros sem impostos. A programação inclui outras ações, como caminhadas com estudantes e professo-res da rede municipal de ensino, palestras e afins. É o segunto ano consecutivo que estes protestos ocorrem em postos de gasolina na capital mineira. Em 2007, assim como neste ano, foram distribuidos 5.000 litros isentos de impostos em cada um dos dois postos parti-cipantes.

A grande aposta de uma ação como esta é jus-tamente trazer o assunto para que o consumidor questione nossa absurda carga tributária. Não ape-nas no momento em que, através da iniciativa pri-vada, possa comprar pro-dutos por até a metade do preço, e sim que seja uma discussão constante e sé-ria, servindo de impulso inicial para um movimento em massa que cobre ações de nossos governantes e os responsabilizem por

tornar-nos escravos de um sistema que não nos protege. Em entrevista com o proprietário de um dos postos participantes da ação, Osvaldo Coutinho, fica perceptível sua insatisfação com a alta taxa tributária imposta pelo Esta-do. "Para se ter uma idéia, 47% do preço da gasolina, hoje, é imposto. Paga-se, em mé-dia, R$ 31.500 em 15.000 litros de gasolina, dos quais R$ 14.805 são de impostos dire-tos", infoma o proprietário. Na opinião do empresário, o Estado não retorna de manei-ra eficiente os impostos pagos em benefícios à população e este tipo de ação leva as pes-soas a cobrarem mais de seus governantes. "Tiradentes insurgiu por 1/5. Hoje, o gover-no cobra quase metade em impostos. O povo tem que reclamar o que é direito", indigna-se Coutinho. Cabe à sociedade se organizar e pressio-nar o governo no intuito de promover as tão distantes e necessárias reformas tributária, política e fiscal. E é responsabilidade das mí-dias pautar e cristalizar este tema na agenda na tentativa de esclarecer e conscientizar o público desavisado.

PASSADOS MAIS DE 200 ANOS DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA, POPULAÇÃO BRASILEIRA SOFRE AINDA MAIS COM ALTA CARGA TRIBUTÁRIA INCIDIDA SOBRE A RENDA DO TRABALHADOR

Lula enforca Tiradentes, de forma simbólica, em manifestaçao ocorrida no dia 27 de maio contra a abusiva carga tributária nacional: brasileiro trabalha 148 dias, ao ano, para pagar impostos.

"TIRADENTES INSURGIU POR 1/5. HOJE, O GOVERNO COBRA QUASE METADE EM IMPOSTOS. O POVO TEM QUE RECLAMAR O QUE É DIREITO."

Osvaldo Coutinho - Proprietário de um dos

postos participantes da campanha

Rodrigo Espeschit 6ºG

Bruno Chiari 6ºG

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Belo Ho ri zon te – ju08 P O L Í T I C A

Editores e diagramadores da página: Flávio Campos, Mariam

PEDRO HENRIQUE VIEIRA

5º PERÍODO

Os caminhos da política no Brasil são às ve-zes surpreendentes. Ainda mais num estado co-mo Minas Gerais, marcado por tradições histó-ricas. Difícil imaginar que um dia partidos com ideologias distintas poderiam se unir em torno de um objetivo comum. O bom entendimento entre o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito de Belo Ho-rizonte, Fernando Pimentel (PT), fez com que uma possível aliança para as eleições munici-pais fosse articulada. A aliança entre os antigos adversários políticos ganha força na coligação que envolve também o PSB. Na chapa, o candi-dato a prefeito da coligação na capital mineira é Márcio Lacerda (PSB), ex-secretário de Desen-volvimento Econômico do governo Aécio Ne-

ves e ex-integrante do Ministério de Integração Nacional no governo Lula. O candidato a vice-prefeito é o petista Roberto Carvalho. Em setembro de 2007 começaram as conver-sas nos bastidores sobre essa possível aliança. Em meados de abril, a Executiva Nacional do PT vetou por 13 votos a dois a aliança com o PSDB, alegando que a eleição para a Prefeitu-ra de Belo Horizonte interferiria na campanha presidencial em 2010, pois uma eventual candi-datura de Aécio Neves seria contra um nome apoiado pelo presidente Lula. Na segunda-feira, dia 26 de maio, a Executi-va Nacional do PT manteve o veto na capital mi-neira pelo mesmo resultado e aprovou alianças com PSDB, PPS e DEM, que fazem oposição ao governo Lula, nos municípios de Palmas (TO), Montes Claros, Linhares (ES), Nova Friburgo (RJ), Criciúma (SC), Itajaí (SC), Guarujá (SP),

Canoas (RS), São Vicente (SP) e Cárceres (MT). Além de Belo Horizonte, o partido da estrela vermelha rejeitou aliança com os tucanos em Açailândia (MA), Cláudia (MT), Cabo Frio (RJ) e Xanxerê (SC). Numa recente visita a Belo Horizonte, o pre-sidente Lula afirmou ser a favor da aliança com o PSDB na capital mineira. Dias depois, o dire-tório nacional do PT manteve o veto, mas ace-nou para um possível apoio informal do PSDB. O dia 5 de julho é o prazo final para que os partidos registrem suas candidaturas na Justiça Eleitoral às eleições municipais, realizadas em outubro. O juiz aposentado Cássio Gonçalves, que atuou na política entre os anos de 1978 a 1986 como deputado estadual e federal, tem uma po-sição crítica em relação à atuação partidária e ressalta que, embora essa aliança possa preva-

lecer e ser boa do ponto de vista administrati-vo para a capital mineira, não é uma união dos partidos. “Há uma aliança entre Aécio Neves e Pimentel, ambos com interesses em suas res-pectivas carreiras. O que o Pimentel quer é ser governador do estado com apoio do Aécio. E o que Aécio, possível candidato a presidente em 2010, quer é manter um prefeito com quem ele tenha vínculos visando à união de Minas Gerais, que é feita muito mais em torno de carreiras po-líticas do que de partidos”, acredita Cássio. O deputado federal e presidente do diretório municipal do PMDB, Leonardo Quintão, can-didato à Prefeitura de Belo Horizonte, criticou a aliança entre PSDB e PT. “Esta união se deve ao bom entendimento entre o prefeito e o go-vernador, que também faz uma política de boa convivência com o presidente. O bom relaciona-mento entre eles é louvável, mas não é nenhuma vantagem”. Opinião diferente tem o presidente do dire-tório municipal do PT em Belo Horizonte, Alu-ísio Marques. Segundo ele, a aliança é estrita-mente municipal para as eleições deste ano, que visa manter um bom entendimento entre a prefeitura, o governo do estado e o governo federal. “O PT terá candidato a presidente da República. Nós vamos disputar com a ministra Dilma ou com o ministro Patrus, ou com qual-quer outro, assim como o PSDB”, explica.

Debate Político Essa proposta de aliança em Minas abre uma outra discussão. Pelo fato de os dois partidos te-rem sido históricos adversários na política tanto em nível municipal e estadual quanto nacional, fica a dúvida sobre o que será do debate político em Belo Horizonte. Para a deputada federal e candidata à Prefei-tura de Belo Horizonte pelo PCdoB, Jô Mora-es, a população da capital estranha muito esta aliança por acreditar que não se mudam pro-postas políticas de uma hora para outra. “Nos últimos 15 anos houve uma permanente dispu-ta entre PT e PSDB em relação à prefeitura. Ti-nham propostas e metas administrativas dife-rentes. Portanto, durante esses anos, a popu-lação fez sua escolha, e agora vai querer saber quem abriu mão dos projetos”. Nos Estados Unidos, por exemplo, sempre houve disputa entre os partidos Democrata e

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Aliança entre oposiçPARTIDOS POLÍTICOS DEIXAM DISPUTAS HISTÓRICAS DE LADO PARA SE UNIREM RUMO ÀS ELEIÇÕFERNANDO PIMENTEL PRETENDEM APOIAR O MESMO CANDIDATO. O CASO JÁ CHEGOU AO PRES

Somente a partir do dia 6 de julho os candidatos podem co-meçar a fazer propaganda eleitoral. Porém, o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) já autuou 121 candidatos por propaganda extemporânea até maio deste ano. Só em Belo Horizonte, foram oito. Nas últimas eleições municipais de 2004, o TRE julgou, em to-do o estado, 102 recursos por propaganda extemporânea. Destes, 61 pagaram multa. Os outros 41 recursos acabaram não concluin-do em penalização. O Tribunal conta com a Comissão de Fiscalização da Propa-ganda Eleitoral, composta por três juízes, cerca de 18 promotores e um grupo de oito servidores da Justiça Eleitoral que colaboram na fiscalização e nos procedimentos internos. As denúncias de propagandas irregulares são feitas pelo Ministério Público, por outros candidatos ou por qualquer cidadão através do sistema “Denúncia on line”, que está no site da Justiça Eleitoral mineira.

Quando a denúncia chega ao TRE, a Comissão verifica se ela é procedente e, se for, o juiz notifica o infrator para que ele retire a propaganda. Caso não seja retirada, abre-se uma representa-ção que pode gerar a multa. No que diz respeito à propaganda fora de época, a lei estabelece que a taxa mínima seja de R$ 21 mil, mas pode variar. No último dia 3 de março, a Comissão condenou o vereador Wellington Magalhães ao pagamento da multa de R$ 53 mil por propaganda extemporânea. Isso porque no dia 17 de fevereiro, Magalhães fez um showmício com direito à participação de um evento sertanejo que fechou parte da Avenida Américo Vespúcio, região Noroeste de Belo Horizonte. Neste caso, o político come-teu duas infrações: a propaganda fora de época e a prática do showmício (contratação de artistas e animadores de comício). As mudanças na lei estabelecem que vários tipos de propagan-da eleitoral sejam irregulares. Está proibido, desde 2006, gastos

com showmício, distribuição de camisas, canetas, bonés, chavei-ros, cestas básicas, ou quaisquer bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor; veiculação de qualquer pro-paganda em bens públicos e nos de uso comum, inclusive nos postes de iluminação, viadutos, postes, passarelas, árvores etc; outdoor; propaganda na imprensa escrita, entre outras.

Fiscalização Para o coordenador de Comunicação Social do TRE, essas mudanças na lei resultaram na diminuição das irregularidades. “Temos um trabalho maior na área de prestação de contas. Como a legislação endureceu nessa área, isso pode até gerar a perda de mandato. Foi o caso do deputado federal Juvenil Alves (PRTB), que foi cassado em abril, por unanimidade, pela Corte do TRE-MG. Ele é acusado de formação de caixa dois em campanha elei-toral. A fiscalização está sendo mais rigorosa”, finaliza.

IRREGULARIDADES ANTES MESMO DAS PROPAGANDAS ELEITORAIS COMEÇAREM

PTPT

PTPT

PTPT

Natália Fernandes 5ºG

1980Fundação do Partido dos Trabalhado-res com seg-mento esquer-dista.

1989Lula se candi-data à Presi-dência da Re-pública. Vai para o segun-do turno, mas é derrotado por Fernando Collor (PRN).

1994Lula se candi-data mais uma vez e perde pa-ra Fernando Henrique Car-doso (PSDB).

2002Lula é eleito Presidênte da República.

1998Lula é derro-tado pelo mes-mo adversário da eleição an-terior.

2006Lula é reelei-to com nova vi-tória sobre o PSDB.

Historicamente opostos, PT ano após anos, se dirigirem

Charge: Mariamma Fonseca 6ºG 200

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on te – junho/2008 09 P O L Í T I C A

Mariamma Fonseca, Natasha Muzzi, Sarah Curty - 6º período

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Republicano. A oposição de um partido a ou-tro é bem delimitada e necessária para que ha-ja debates e esclarecimento à população que, a partir de oposições definidas, podem formar suas opiniões sem dúvidas. No Brasil, onde há o sistema de pluripartidarismo, um exemplo que a população tinha de briga política, de disputa e de extrema esquerda era o Partido dos Tra-balhadores. A aliança com o PSDB, se conso-lidada, dará um “nó” na cabeça do eleitor, que perderá a referência do que é oposição em um governo. A partir do momento que um partido de oposição se desvincula de suas ideologias para alcançar um objetivo, essas referências se perdem. Leonardo Lamounier, cientista político e pro-fessor da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro e da PUC-MG, se preocupa com o fato de que, com essas grandes coligações, o debate político se esvazie por não ter um contra-ponto, ou seja, as diferenças não se evidenciam. “Se por um lado você vivencia essa capacidade ad-ministrativa, por outro lado, politicamente, aos olhos do eleitor, os partidos ficam todos iguais. Para a construção do sistema partidário brasi-leiro, seria bom se os partidos dissessem com mais clareza a quê vieram. Eles precisam ter ca-ra, se apresentar aos eleitores com uma postura mais transparente. É isso que vai criar identi-ficação ou não do eleitorado brasileiro com os partidos”. Cássio Gonçalves, que foi do MDB e um dos fundadores do PSDB, critica as atitudes dos partidos no Brasil: “Os partidos não se fazem respeitar. Não há nenhum compromisso com qualquer tema que interesse o país. É preciso que o povo saiba que o partido que ganhar es-tará comprometido com alguns temas, alguns projetos, para depois a sociedade cobrar. Os partidos não têm compromissos claros com a população, nem em campanha”. O advogado e eleitor Ricardo Leal de Melo, 46, tem uma posição muito crítica a essa tendên-cia da esquerda que usa do processo eleitoral para fazer um governo único. Para ele, PT e PS-DB não têm ideologias distintas, são clientelis-tas, não têm idéias claras de gestão. “O governo Lula apenas deu continuidade ao que fazia Fer-nando Henrique”, critica. Melo destaca ainda que esta aliança faz parte dos planos de Aécio e Pimentel de buscar o poder, mas evidencia

que o debate político esvazia muito a partir do momento que fica sem uma clara oposição. Com sua candidatura à prefeitura da capi-tal mineira definida há mais de seis meses, Jô Moraes não acredita que o debate político irá esvaziar com esta união entre PT e PSDB, mas crê que o assunto é corrente na cidade pelo fato de ter provocado tanta estranheza e incômodo na população.

O nome de Márcio Lacerda No atual momento da política belo-horizon-tina, não há um grande nome do PT e do PS-DB para disputar as eleições para prefeito. Os petistas teriam Patrus Ananias, que não quer se candidatar porque tem um projeto político que visa o governo de Minas Gerais ou, ainda, a presidência da República. Patrus, que é da ala contrária à aliança com o PSDB, tem o mes-mo interesse de Pimentel, que está construindo sua candidatura a governador. O PSDB teria o senador Eduardo Azeredo, mas ele esteve en-volvido no suposto caso do mensalão mineiro

– esquema de arrecadação ilegal de recursos na sua campanha às eleições para o governo de Minas Gerais em 1998. Logo, como não há um nome natural de nenhuma destas duas grandes lideranças no estado, é mais fácil provocar esse entendimento apostando no nome de Márcio Lacerda (PSB). O professor Lamounier ainda destaca que, mesmo que Márcio Lacerda não tenha uma tra-dição na política, sendo pouco conhecido, ele será o candidato do prefeito de Belo Horizonte e do governador de Minas Gerais, ambos mui-to bem avaliados. “Ele parte com uma estrutu-ra muito forte. Tem muito recurso em todos os sentidos: financiadores, grande espaço na mí-dia e na propaganda eleitoral, porque são vá-rios partidos que vão lhe dar sustentação. É um candidato muito competitivo e creio que ao lon-go do tempo se tornará favorito”. Há quem critique a candidatura de Lacerda. Leonardo Quintão, um dos candidatos à pre-feitura da capital, por exemplo, acredita que os eleitores cobrarão do prefeito e do governador

explicações sobre a escolha do candidato. En-quanto isso, Jô Moraes sabe que é cedo para di-zer que a vitória é certa, especialmente, porque a história política de Márcio Lacerda não tem vínculos com a cidade de Belo Horizonte. Em contrapartida, o presidente do diretório muni-cipal do PT, Aluísio Marques, defende Lacerda como um homem sério que sempre apóia os candidatos de esquerda e que dará continuida-de aos projetos da prefeitura de BH. Na política brasileira, nada mais assusta. As contradições e as infidelidades partidárias aliadas à corrupção, a busca inescrupulosa pelo poder, projetos sem clareza, alianças quase ini-magináveis, ideologias não definidas, são ingre-dientes que contribuem para que a população não se entusiasme com a atual fase política que o Brasil vive. A sociedade precisa estar atenta aos movimentos da política, escolher seriamen-te seu candidato, votar com convicção, pois co-mo dizia Bertolt Brecht, “o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”.

ção confunde eleitorEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2008. EM BELO HORIZONTE, O GOVERNADOR AÉCIO NEVES E O PREFEITO RESIDENTE LULA, QUE NÃO SE OPÔS À ALIANÇA, REPROVADA PELO DIRETÓRIO NACIONAL

co esvazima clara oposição.

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"Apesar dessa divergência histórica, o que se viu nas últimas campanha do PT foi um achata-mento de um programa político caminhando cada vez mais para a direita. Essa aliança que vem agora não me espanta."

Luiza de SáEstudante de Jornalismo

"Essa unificação parcial, apenas no município, é muito tendenciosa. Teria que ser uma união nacional. A tendência deles é ir para onde está a maioria. A curto prazo isso vai trazer um retrocesso no cenário político."

Davi ToledoEstudante

"Essa aliança é um amadureci-mento político da democracia brasi-leira na sua forma municipal. Enca-ro isso como uma questão positiva. Não vejo isso como um retrocesso, sim como uma união em torno da go-vernabilidade."

Fernando AugustoMestrando

"Essa aliança se forma pela falta de candidatos for-tes para a prefeitura de BH. Eles estão se unindo para fazer algo que não seja tão bom. Eu não estaria disposto a votar no candidato deles."

Pedro Henrrique RochaEstudante de Jornalismo

"Essa aliança é de políticos 'espertos'. Eles têm que formar alianças para conseguir apoio político. Hoje em dia o cenário é bem mais diversificado, o po-der fragmentado, por isso é in-teressante formar alianças."

Fabiana CristinaEstudante de Publicidade

Natália Fernandes 5ºG

Fotos: Natália Fernandes 5ºG

1988PSDB foi fun-dado com li-nha centro-es-querda.

1989Nas eleições presidenciais, Mário Covas (PSDB) fica em 4º lugar.

1994Fernando Hen-rique Cardoso é eleito Presi-dente da Repú-blica.

1998Fernando Hen-rique Cardoso é reeleito com nova vitória sobre Lula.

2002José Serra perde para Lu-la no segundo turno.

2006Geraldo Alck-min é derrotado por Lula no se-gundo turno.

, PT e PSDB vêem seus ideais, girem para o mesmo ponto.

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Editor e diagramador da página: Pedro Henrique Vieira - 5º período

o pontoBelo Ho ri zon te – junho/200810 C I D A D E

Gari por um diaPEDRO HENRIQUE VIEIRA

5º PERÍODO

Na manhã da quarta-feira, 28 de maio, vivi na pele a árdua rotina dos garis que trabalham no caminhão de coleta de lixo da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). O tempo má-ximo que consegui acompanhar estes valentes trabalhadores foi de aproxi-madamente 40 minutos, pois percebi, logo no início da jornada, que esta é uma profissão que exige preparo físico de atleta, além de agilidade, esperteza e muita coragem. Na companhia dos garis Eugênio Gomes, Lúcio Emiliano, José Carlos, Arestino Estevão e Helbert José, fui conduzido pelo motorista Daniel So-ares e colaborei no recolhimento dos lixos nos bairros Sion e Anchieta, re-gião sul de Belo Horizonte. No come-ço senti um pouco de insegurança, com medo de cair do caminhão. Mas com o incentivo e as dicas dos “meus colegas de trabalho”, aprendi algu-mas técnicas e me empolguei. Já nos primeiros saltos com o caminhão em movimento, nas corridas para alcan-çá-lo e na agilidade necessária para realizar aquele tipo de trabalho, senti a adrenalina que estes profissionais vivem diariamente. Foi uma grande aventura, uma experiência única e um aprendizado inesquecível. Naquele sobe e desce do caminhão, pegando todo tipo de lixo (muitos se-quer consegui carregar de tão pesa-dos) e tendo que suportar o cons-tante mau cheiro que exala dos re-síduos, os garis estão sempre bem humorados, fa-zendo graça com tudo e todos, tor-nando mais leve o dia-a-dia da pro-fissão. Na rua, brincam com os mo-radores dos prédios, com as crianças e com as pessoas que passam. Antes mesmo de começar os trabalhos, o ga-ri Helbert José me falou que quando passar por uma obra, tem que gritar: “Ô ‘oreia’ seca”. E os peões de obra devolvem: “ô cheiroso”. Crianças e bebês são apelidados carinhosamente pelos garis de “batatinhas”.

Dificuldades Mesmo buscando sempre uma for-ma extrovertida de encarar um traba-lho tão difícil, eles sentem que nem to-das as pessoas os respeitam. Segundo o gari Eugênio Gomes, ainda há muita discriminação. “Tem algumas pessoas que nos cumprimentam, brincam com a gente. Mas, infelizmente, algumas nos olham de forma estranha. Sinto que merecemos mais respeito.” Há pessoas que sequer os perce-bem. Segundo o psicólogo Fernando Braga da Costa, autor da pesquisa de mestrado Garis – um estudo de psico-logia sobre invisibilidade pública, a di-visão social do trabalho faz com que a sociedade olhe para o gari como uma função, não como pessoa. Ele defen-de que a invisibilidade pública opera em dois planos: consciente e incons-ciente. Quanto mais próximo se está desse sujeito 'invisível', mais consci-ência dela se tem. Braga destaca que o resultado é que pessoas passam a ser entendidas como coisas, chegan-do a ser imperceptíveis. Durante o curso na faculdade, o psicólogo tra-balhou cinco anos como gari de um a três dias por semana no Campus da Cidade Universitária da USP. É inquestionável a necessidade desse profissional para a manutenção do saneamento público, mas, por ou-tro lado, parece não haver uma valori-zação salarial desse trabalho de funda-mental importância. Os concursados da SLU, autarquia da Prefeitura de Belo Horizonte que é responsável por

manter a limpeza da capital, recebem pouco mais de R$ 500,00, mais 40% de insalubridade, além do vale alimenta-ção (R$ 7,00) e do vale transporte. Mui-tos dos profissionais são casados, che-fes de família e se queixam dos baixos salários para um serviço tão essencial à saúde de cada cidadão e à higiene da cidade. O gari Lúcio Emiliano, um dos responsáveis pela limpeza em Belo Horizonte, por exemplo, mora no cen-tro de Nova Lima e tem sete filhos. Se o salário é considerado baixo, o volume de trabalho é crescente. Pa-ra se ter uma idéia, cada gari recolhe 1.185 toneladas de lixo por ano, peso equivalente a 237 elefantes. Por dia, o profissional retira das portas das ca-sas cerca de 3,8 toneladas. Durante as oito horas que trabalham diariamen-te, cada gari percorre um trecho de aproximadamente 20 km, na base de muita corrida e sobe-desce do cami-nhão. Daí a necessidade da prepara-ção física atlética. Questionados se já encontraram algo de valor no lixo, o gari Eugênio Gomes disse que já achou uma jóia. Mas a maior preocupação do grupo é com o respeito profissional e a colabo-ração dos cidadãos. Em tom educati-vo, fizeram questão de ressaltar que os lixos têm que ser embalados em sa-colas resistentes, bem fechadas, para evitar que se abram e se espalhem pe-las ruas, o que pode dificultar muito o trabalho. Objetos cortantes como vi-dros, estiletes, pregos, lâmpadas, pre-

cisam ser emba-lados com segu-rança para evitar ferimentos. Além disso, os motoris-tas precisam ter paciência quando estão atrás do ca-minhão de coleta. Com uma veloci-dade média de 5 a

7 km/h, às vezes ele tem que parar pa-ra que o lixo seja esmagado e enviado para a parte central do caminhão. Atualmente, a SLU possui 3.200 ga-ris, sendo 800 servidores da prefeitu-ra e 2.400 profissionais terceirizados pelas empresas RNV Engenharia, Ar-clan e Fossil, que são contratadas por meio de licitação. A empresa Alsco é a responsável pela limpeza e higiene dos uniformes dos garis. Segundo o assessor de imprensa da SLU, Delano Laine, a instituição governamental desenvolve projetos com o objetivo de valorizar e quali-ficar o profissional de limpeza urba-na. No Projeto de Alfabetização de Adultos (PAA), criado em 1995, estão matriculados 56 alunos; no Telecurso 2000, 55; e no Grupo de Estudos Pre-paratórios para o Vestibular (Geve), 10 alunos estão inscritos. De acordo com Laine, 114 servidores foram alfa-betizados pelo PAA, 17 concluíram o 1° grau, nove terminaram o 2° e seis garis foram aprovados no vestibular do ano passado. Também para valorizar o profis-sional, o dia 16 de maio foi instituí-do como Dia do Gari. E de onde vem o nome gari? É uma homenagem ao francês Pedro Aleixo Gary, que foi a primeira pessoa a assinar um contra-to de limpeza pública com o Minis-tério Imperial, organizado em 11 de outubro de 1876, com o objetivo de recolher o lixo das casas e praias do Rio de Janeiro. Após a passagem dos cavalos, os cariocas, acostumados com a limpeza das ruas, mandavam chamar a turma do Gary. Aos poucos o nome se popularizou e hoje é assim que são chamados os profissionais da limpeza urbana. Apesar do trabalho árduo, a gran-de lição deixada por esse grupo de profissionais é a realização, com ale-gria, das tarefas que poucos gostariam de fazer, mas que todos necessitam e devem valorizar mais.

JÁ NOS PRIMEIROS SALTOS, COM O CAMINHÃO EM MOVIMENTO, SENTI A ADRENALINA QUE ESTES PROFISSIONAIS VIVEM DIARIAMENTE.

REPÓRTER DO JORNAL O PONTO ENCARA A DURA JORNADA DOS PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM NO CAMINHÃO DA COLETA DE LIXO NAS RUAS DE BELO HORIZONTE

Já uniformizado, repórter conversa com os garis e ensaia o começo dos trabalhos...

... após 40 minutos de muito esforço físico, repórter desiste. Confira o vídeo da reportagem no site: www.pontoeletronico.fumec.br

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Fotos: Samuel Aguiar 6ºG

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Avalie esta edição: [email protected] 11o pontoBelo Ho ri zon te – junho/2008 S A Ú D E

Editores e diagramadores da página: Ana Paula Amaral e Carlos Lamana - 6º período

FERNANDO KELYSSON

3º PERÍODO

Miriam, 45 anos, era secre-tária em uma rede de hiper-mercados em Belo Horizonte, sofria de Fibromialgia, o que a levou a se aposentar. Seu ir-mão mais novo foi assassina-do, em conseqüência ela tor-nou-se consumidora de drogas e desenvolveu assim transtor-no bipolar e esquizofrenia. A dona de casa tentou o suicídio ao ingerir 40 comprimidos de um forte medicamento. Miriam hoje toma medica-ção controlada para depres-são e ansiedade. Edson escre-ve poemas. Atualmente ambos recebem tratamento pelo Cen-tro de Referência de Saúde Mental (CERSAM) e buscam a recuperação. Do início da década de oi-tenta para cá, conforme estu-

dos de epidemiologia, cerca de 20% da população mun-dial, apresentou transtornos mentais que exigiu tratamen-to médico, 3% destas pes-soas foram diagnosticadas com patologias graves. Estes transtornos possuem duração prolongada, que ultrapassa o período de dois anos, prejudi-cam o convívio social e o auto cuidado do indivíduo. Psico-se, Esquizofrenia e transtorno bipolar enquadram-se nesta categoria. Os transtornos de gravidade mediana se mani-festam em crises efêmeras e são marcados pela depressão e neuroses. Não é de hoje que doenças mentais assolam indivíduos, eles sempre existiram, porém não eram diagnosticadas e tratadas com a eficácia atual. É certo que o ritmo de traba-lho do mundo globalizado,

as novas regras sociais e as lacunas deixadas pela detur-pação e ausência da função familiar interferem muito na mente do indivíduo moderno. Porém, para alguns especia-listas, os tipos de transtorno que vemos hoje não consti-tuem novidade para a ciên-cia. Segundo o Psiquiatra Dr. Políbio José de Campus, vá-rios são os fatores que desen-cadeiam doenças psíquicas: uso de substâncias químicas, traumatismo cerebral, derra-mes, febres altíssimas, porém os conflitos sociais, ainda é grande vilão. A forma que o indivíduo encara o mundo externo é de-terminante nos processos de patologias da mente. O psi-quiatra ressalta que qualquer um pode ter um surto psicó-tico e que diversas pessoas consideradas “normais” pelo

senso comum, já apresenta-ram transtornos passageiros. Para os familiares e a so-ciedade, isolar o doente em clínicias de saúde mental, ex-traindo-o do convívio social ainda é cômodo. Atualmente, de acordo com a assessoria de imprensa da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, o estado pos-sui 22 hospitais psiquiátricos vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS), cinco deles estão em processo de descre-denciamento. Juntas estas instituições mantêm quase três mil lei-tos, destes, 1.400 são ocu-pados por pacientes com males crônicos que residem nos hospitais, ou seja, pes-soas que costumam ficar mais de dois anos interna-das nestas casas de saúde. Entretanto a falta de assis-

tência aos doentes internos dificulta a sua recuperação. Em 1993, a prefeitura de Belo Horizonte, inaugurou o primeiro CERSAM (Centro de referência de saúde mental) no bairro São Paulo com o ob-jetivo de substituição do mo-delo hospitalocêntrico (mani-cômio) por uma rede de servi-ços articulados e mutuamen-te dependentes onde os usu-ários poderão ser assistidos por equipes de saúde mental e física, serviços residenciais e terapêuticos. O projeto visa um tratamento mais humano e eficiente aos portadores de sofrimento mental, além de mantê-los integrados ao con-vívio social. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 3% da po-pulação - mais de 5,2 milhões de pessoas - sofra de transtor-nos mentais.

OS DEGRAUS DA LOUCURADIFICULDADES EM LIDAR COM PROBLEMAS COTIDIANOS LEVAM ALGUMAS PESSOAS AO ISOLAMENTO E CAUSAM DISTÚRBIOS MENTAIS

por Milton de Andrade*

Estou aqui como um defunto se-mi-morto e resolvi relembrar de todo os amores de minha vida. Mas não recomendo que acredi-te nessa estória, pois ela é con-tada por um melancólico senhor na beira da morte. Já passei por muita coisa nessa vida e por mais incrível que pareça sou um se-nhor de 23 anos que vai morrer em breve. No momento em que escrevo essas memórias estou in-ternado numa clínica. (...)

Certo dia tive uma experiência interessante. Fui chamado de louco. Acharam que eu tinha tido um surto psicótico. Que eu sou depressivo você já sabe a es-sa altura. (...).

A loucura é tentadora. Se o que eu passei e ainda estou passan-do for realmente loucura, gosta-ria de viver toda a minha vida louco. Pois quando estamos as-sim as pessoas fazem o que nós queremos. Você se transforma no super-homem nietszchiano. (...)

Mas não queria que os outros parassem de se preocupar comi-go. Amo todos eles, pelo apoio. Do porteiro ao médico, passando pelo carteiro, pelo mendigo, pelo ladrão, todos estão do meu la-do. Vocês, que infelizmente têm o desprazer da minha convivên-cia, são o lado negro da força. (...)

Cada um diz o que pensa. Faz merda. Eu fiz até uma hoje. Li-teralmente. Mas a vida é mesmo dura. Resta-nos a escolha. Viver ou sofrer. Eu prefiro viver sendo feliz. Quando posso. Quando quero. (...)

E você o que faz para mudar seu mundo? Cria sereias e bichos imaginários ou simplesmente não faz nada? Se você consegue ser um desses, eu simplesmente o admiro. Pois que mortal gosta-ria de trabalhar arduamente de segunda a segunda e ainda ter que escrever essas tristes páginas para desabafar um problema tão comum na vida dos outros. Mas enfim caboclo. Isso faz parte da vida. (...)

Reencontrar-se. Essa é a chave para os loucos tornarem-se sãos. E salvos.

*O nome do autor foi modi-ficado para preservar a sua identidade.

Estranho no ninho

Desabafo de um jovem que já passou por várias internações em clínicas de saúde mental de Belo Horizonte

Marina Rigueira e Ana Lúcia 5º G

*Dados da Organização Mundial de Saúde

Scott Adams

Manifestantes durante passeata realizada dia 16 de maio na praça Sete de Setembro, na região central de Belo Horizonte

* CERCA DE 120 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO ENCONTRAM-SE, NESTE MOMENTO, DEPRIMIDAS.

No início da década de 60, surgiu na Itália um movimento li-derado pelo psiquiatra Franco Basaglia, com a intenção de abo-lir os hospitais psiquiátricos do país. Em outros lugares deste país, começaram a surgir movimentos sociais com esse mesmo objetivo. Ligado ao partido comunista, o movimento, a princípio era político, engajado em causas sociais e de defesa dos direi-tos humanos. No Brasil, a luta anti-manicomial surge no ano de 1987 na cidade de Bauru, no estado de São Paulo. A semana compreendida do dia 12 a 16 de maio foi marcada por atividades que celebram e difundem a luta anti-manicomial no Brasil. Dia 16 de maio, na Praça Sete de Setembro, centro de Belo Horizonte, uma manifestação em prol da causa foi or-

ganizada. Na ocasião, compareceram profissionais da área de saúde mental envolvidos no projeto e usuários em recuperação. Os manifestantes se uniram através do bloco musical Liberdade ainda que Tan Tan, que abordou a causa através de seis alas. Esse ano o tema foi "Minas faz da luta pela liberdade sua di-ferença". Às três horas da tarde o bloco desfilou pela avenida Afonso Pena, apoiado por dois trios elétricos. No Centro cultu-ral Casa do Conde aconteceu uma mostra da arte dos usuários do programa e também o lançamento do CD do grupo Trem Tan Tan. Aqueles que desejarem maiores informações sobre este projeto poderão entrar em contato com sua coordenação pelo telefone (31) 3277- 7793.

Luta Anti-manicomial mobiliza a capital mineira

*A DOENÇA É A QUARTA CAUSA DE INCAPACITAÇÃO DO PLANETA.

*ESTIMA-SE QUE EM 2020, ELA SERÁ A SEGUNDA, PERDENDO APENAS PARA AS DOENÇAS CARDÍACAS.

* 10 A 15 % DOS DEPRIMIDOS TENTAM SUICÍDIO.

* DE UM TOTAL DE UM MILHÃO DE PESSOAS QUE SE SUICIDAM ANUALMENTE, 600 MIL SOFREM DE DEPRESSÃO OU ESQUIZOFRENIA.

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Editora e diagramadora da página: Marina Jordá - 6º período

E N S A I O12

LUCAS DE MENDONÇA MORAIS

6ºPERÍODO

Vinte e três anos após a derrota do nazi-fascismo pelas for-ças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, os países europeus conseguiram se reestruturar graças à realização de políticas econômicas de bem-estar social, conhecidas como Welfare Sta-te, diante da destruição provocada pelo conflito inter-imperia-lista global. Tais concessões às classes populares por parte dos Estados nacionais, foram necessárias para o restabelecimento da ordem capitalista, que se estenderam pelas sociedades eu-ropéias ocidentais no período do pós-guerra. Na Espanha franquista, o movimento estudantil se orga-nizou em torno de mobilizações contra o autoritário governo monarquista. Na Polônia, é montada uma forte estratégia re-pressora e violenta pela ditadura soviética para afastar o movi-mento estudantil da classe trabalhadora. Na Itália, as revoltas estudantis se iniciaram em 1966. Métodos pedagógicos e tra-dições eram contestados nas universidades, várias ocupações e manifestações se deram com o “maggio rampante” italiano, que iria terminar somente no outono de 1969. No Oriente, a tentativa da renovação do marxismo de inspiração soviética durante a Revolução Cultural da China, iniciada em 1966, persistiu sem sucesso, enquanto a União Soviética continuava sob a orientação do stalinismo de de-senvolver o socialismo em um só país, reforçando o plane-jamento centralizado da economia e o controle político total da sociedade pelos representantes da burocracia estatal-mo-nopartidária, contrariando radicalmente a proposta marxista original da necessidade da internacionalização da revolução socialista através da organização democrática dos próprios trabalhadores. No Leste europeu, onde ocorriam imposições de políticas econômicas da Rússia via Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua), Alexander Dubcek fora eleito como Primeiro Secretário do Comitê Central do Par-tido Comunista da antiga Tchecoslováquia, questionando a “cortina de ferro” russa e propondo reformas para a cons-trução de “um socialismo com rosto humano”, na tentativa de reformar o Estado e as estruturas internas do Partido, no sentido de democratizá-los, em oposição ao autoritarismo e ao despotismo vigente. Os EUA continuavam com a política econômica keynesiana, com forte presença e intervenção do Estado na economia, em plena Guerra Fria com a URSS e com a discriminação racial

fortemente presente na vida dos americanos, o que culminou com o assassinato do líder do movimento de emancipação dos negros, Martin Luther King, no dia 4 de abril de 1968, no Ten-nessee, quando este defendia a “Campanha dos Pobres”, que tinha como objetivo a ajuda e assistência econômica às comu-nidades pobres dos EUA. Nas Olimpíadas do México, no evento que ficou conhecido como “Massacre de Tlatelolco”, cerca de 500 jovens estudantes que lutavam por liberdades democráticas foram massacrados pelas forças do governo. Os atletas olímpicos estadunidenses Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze, respectivamente, nos 200 metros rasos, usavam luvas pretas nas mãos, levanta-ram para cima os punhos, cabisbaixos e realizaram o cumpri-mento Black Power, dos Panteras Negras, durante a premiação, o que os levou a serem afastados do Comitê Olímpico Norte Americano.

Enquanto isso, a brutalidade da política do governo estaduni-dense exterminava a população do Vietnã. Esta sociedade, que resistia armada na guerrilha comunista liderada por Ho Chi Minh pela libertação nacional da ocupação japonesa e a inde-pendência de sua metrópole, a França. As imagens da sangrenta guerra imperialista contra o po-bre país oriental correram o mundo, gerando mobilizações de grandes proporções e um sentimento antiguerra nos EUA e em todos os povos do mundo.

Os países periféricos do capitalismo imperialista das super-potências - conhecidos então como “Países do Terceiro Mundo” continuavam subordinados às grandes economias de países do norte (Primeiro Mundo), principalmente na África, Oriente e Extremo Oriente. A América Latina não fugia à regra. Os paí-ses latino-americanos seguiam, em sua maioria, subordinados ao imperialismo norte-americano com as sangrentas ditaduras militares que sufocavam todas as tentativas de transformação revolucionária antiautoritária, democráticas ou socialistas. En-quanto isso, no Brasil, o AI-5 - Ato Institucional Número Cinco - que fechava o Congresso Nacional por prazo indeterminado (no total, foi quase um ano) inaugurava um período em que o cerceamento e a supressão de liberdades democráticas passava a estar previsto em lei, bem como o terrorismo de Estado, que intensificou as torturas, os assassinatos, as prisões e os “desa-parecimentos” de militantes. Em meio à intensificação das políticas autoritárias na Amé-rica Latina, a famosa e polêmica ilha caribenha, Cuba, con-tinuava remando contra a maré capitalista ocidental em seu processo revolucionário de libertação nacional dos EUA e de tentativa de construção do socialismo, mesmo sob inten-sos ataques à sociedade cubana via utilização de ofensivas militares, políticas, ideológicas e o bloqueio econômico que permanece até hoje. Esta revolução inspirou gran-de parte dos movimentos libertários de todo o mundo, que propagou fotos em cartazes do falecido intelectu-al e guerrilheiro comunista internacionalista, Ernesto ‘Che’ Guevara, assassinado covardemente em 9 de outubro de 1967 por forças militares boli-vianas orientadas pela CIA que o haviam capturado na selva. Um mundo embalado ao som co ntestador do beatle, John Lennon. Um mundo com cheiro de pólvora e sangue fresco. Um mundo conec-tado pelo globalizante siste-ma de televisão, com olhos voltados para as guerras e opiniões divididas pela frie-za de dois impérios. Em 1968, o céu estava ver-melho.

A culta cidade de Praga, terra natal do escritor Franz Ka-fka, é tomada pelo descontentamento da intelectualidade com as políticas autoritárias do stalinismo praticado pelo Partido Comunista da Tchecoslováquia no governo do país, que retira-vam todas as liberdades políticas, econômicas e artísticas que fossem contra a imponente ordem russa. No Partido Comunista Tchecoslovaco, um grupo de inte-lectuais formulam propostas para promover a desestalinização do país, retirando os vestígios de autoritarismo e despotismo, considerados por Alexander Dubcek, então secretário-geral do PCT, como aberrações no socialismo. Este líder político acre-ditava na possibilidade de uma economia coletivizada e uma política democrática aos moldes ocidentais. Sendo assim, a Constituição foi revista e seria garantida a liberdade de orga-nização (fim do monopólio partidário), liberdade de imprensa, independência do poder judiciário e a retomada da tolerância à religião. A população apoiou as reformas e se organizou pela objetivação das medidas que promoveriam as liberdades civis e o processo de abertura política. Em reação à luta popular, que contava com o apoio da classe operária tchecoslovaca e ficara conhecida como a “Primavera de Praga”, a burocracia da URSS, temendo perder o controle

político-econômico sobre um país socialista independente e po-tencialmente influente, utilizou do Pacto de Varsóvia (firmado pelos principais países da URSS) para invadir a cidade de Pra-ga com milhares de tanques, com fins de suprimir a situação revolucionária. Dubcek foi enviado à Moscou e, em segui-da, isolado do cenário político sendo forçado à renún-cia. O massacre ali produzido fora assim como o de 1956, quando houve a invasão de tanques soviéticos na Hungria e na Polônia, na Comuna de Gdansk, onde classe operária e o movimento estudantil unidos luta-vam pelo verdadeiro socialismo, com o poder democrá-tico vindo dos conselhos operários e uma economia socializada e gerida pelos próprios trabalhadores. A ditadura de um partido só, voltou a vigorar e, conseqüentemente, todas as reformas foram can-celadas. Um jovem chamado Jan Palach ateou fogo sobre si mesmo em manifesto contra a perda das liberdades. Milan Kundera, escritor reconhecido in-ternacionalmente, retrata no livro “A insustentável leveza do ser”, o romance de dois casais tchecoslova-cos no contexto histórico deste ano em que os povos lutaram pela verdadeira liberdade.

UM MUNDO EMBALADO AO SOM CONTESTADOR DO BEATLE, JOHN LENNON. UM MUNDO COM CHEIRO DE PÓLVORA E SANGUE FRESCO. UM MUNDO CONECTADO PELO GLOBALIZANTE SISTEMA DE TELEVISÃO, COM OLHOS VOLTADOS PARA AS GUERRAS E OPINIÕES DIVIDIDAS PELA FRIEZA DE DOIS IMPÉRIOS. EM 1968, O CÉU ESTAVA VERMELHO.

- O ano que não acabou - Zuenir Ventura (Livro)- Os Sonhadores (Filme de Bernardo Bertolucci - 2003)- Amantes Constantes (Filme de Philippe Garrel - 2004)- Os dias de maio (Filme de William Klein - 1978)- Greve ocupação (Filme de Marin Karmitz)- Morrer aos 30 anos ( Filme de Remain Goupil)- A Chinesa (Filme de Jean-Luc Godard)

- Documentário (em francês) sobre o movimento de maio de 1968: http://www.youtube.com/watch?v=BcDCsCGdOm4&feature=related- Algumas cenas da greve geral que abalou a França: http://www.youtube.com/watch?v=rWkcVt5GYI&feature=related

Alguns filmes e livros importantes para se compreender melhor o ano de 1968:

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Editora e diagramadora da página: Marina Jordá - 6º período

Rio de Janeiro, 28 de março de 1968, morria com um tiro no coração o estudante secundarista Edson Luís de Lima durante uma repressão policial a um protesto em frente ao restaurante “Calabou-ço”. Cinquenta mil pessoas, entre trabalhadores, es-tudantes, intelectuais e artistas, foram acompanhar o enterro do jovem. Desde o início da ditadura mili-tar, os conflitos entre estudantes e as forças policiais eram diárias nas ruas das principais cidades do país. No início desta guerra ao regime, a juventude confi-gurava a mais forte oposição aos militares, dado que os políticos progressistas haviam sido cassados. Em 26 de junho, na zona conhecida como Ci-nelândia, na capital carioca, foi realizada a Passeata dos Cem Mil, que contou com a adesão de parte dos setores religiosos, que exigiu o fim da censura, a rede-mocratização e o fim da repressão militar. A reação veio com o Comando de Caça aos Comunistas, o CCC, grupo

paramilitar de extrema-direita que, apoiado pelo regime da ditadura militar caçava, atacava, torturava e assassi-

nava qualquer sujeito considerado subversivo, entre eles, jornalistas, atores, músicos, líderes estudantis, intelectuais,

professores.Mesmo com a proibição de greves durante o período de di-

tadura militar, a classe operária mostrava sua força perante o regime, com as grandes greves dos metalúrgicos em Osasco/SP - que só terminaram com a invasão de tanques do exército - e a paralisação e ocupação de fábricas realizadas por 16 mil operários, em Contagem/MG. Os estudantes tentavam se rearticular. Em outubro, no 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) 1.200 estudantes foram presos em um sítio em Ibiúna, no interior de São Paulo, gerando mobilizações em todo o país. O coroamento do poder militar veio em 13 de dezembro com o Ato Institucional Número 5, o AI-5, que decretou o fe-chamento do Congresso Nacional e tornou legal a legislação

por decreto-lei. Pode-se dizer que o ano de 1968 começou no Brasil em 28 de março e terminou em 13 de dezembro, quando todas as liberdades foram de uma só vez aniquiladas pelo po-der autoritário dos militares. Toda essa operação foi planejada em conjunto com instituições governamentais dos EUA, que utilizava do Brasil como laboratório de experimentação para a implementação das ditaduras nos demais países do Cone Sul. A próxima movimentação de massas no Brasil viria a ocor-rer em 1970, com o início do ciclo de lutas operárias no ABC paulista (região industrial do estado de São Paulo) e com o mo-vimento “Diretas Já”, em 1984. Estas lutas culminaram com as concessões dos militares para o processo de redemocratização do Brasil, com a Constituinte, e as eleições diretas de 1985, dan-do início aos anos 90, que foram marcados pelo triunfo da po-lítica neoliberal. A retomada neoliberal marcou uma profunda apatia política, que dura até hoje nos diversos setores da socie-dade brasileira, inclusive nos tradicionais setores da esquerda, que foram incorporados à máquina burocrática do Governo e das centrais Sindicais.

Colaborou Leonardo Fernandes (ex-aluno do curso de Co-municação Social da Universidade Fumec)

ABANDONANDO O TOM SAUDOSISTA APLICADO PELA GRANDE MÍDIA MUNDIAL, O JORNAL O PONTO RESGATA O HISTÓRICO DO ANO DE 1968 E OS EXEMPLOS DE SUAS LUTAS.

As transformações culturais e demográficas provocas pelo período do pós-guerra na França marcaram a década de 60. Com uma população incrivelmente rejuvenescida após o que ficou conhecido como “baby boom”. A juventude adquiria uma força inédita nas relações sociais da França de 1968. Sufocada por um país ainda marcado por valores tradicionais e pela rígida moral france-sa, a geração do “baby boom” aspirava autonomia, liberdade e emancipação. Em 22 de março, após a prisão de um militante da Juventude Revolucio-nária Comunista durante uma manifes-tação contra a Guerra do Vietnã, um grupo de estudantes invadiu a reitoria da Universidade de Nanterre. O grupo ficaria conhecido como Movimento 22 de março, e teria como um dos seus lí-deres, o jovem franco-alemão Daniel Cohn-Bendit (conhecido como “le Rouge”, ou, “o Vermelho”), que hoje é membro do Partido Verde com mandato no Parla-

mento Europeu. A resposta do poder viria em 27 de abril com a prisão

de Bendit e o fechamento da Universidade de Nanterre em principio de maio. A partir daí, o movimento tomou as ruas e as universidades de Paris, chegando ao seu ápice

no dia 10 de maio, a famosa “noite das barrica-das”, com forte enfrentamento dos jovens com a

polícia francesa. O conflito estava explícito nas ruas de Paris, com bombas de gás la-

crimogêneo vindo das forças re-acionárias e paralelepípedos al-çando vôos vindo das forças li-

bertárias.

Estudantes foram para a porta das fábricas conclamar os trabalhadores à luta. Os operários tomaram partido pela luta dos estudantes e centenas de fábricas foram ocupadas. No dia 13 de maio os trabalhadores convocam a greve geral, que levou cerca de 10 milhões de trabalhadores à paralisação.

Diversos setores da sociedade fran-cesa estavam de alguma forma ligados ao movimento que contestou o poder, as tradições e a cultura vigente, com vá-rias intervenções com cartazes, boletins, jornais, grafites, frases de efeito e pixa-ções, feitas por distintas organizações como os situacionistas e os anarquistas, agrupamentos trotskistas e maoístas e o enfrentamento direto com as forças do governo. O general veterano, Charles de Gaul-le, então presidente, chegou a abando-

nar o país por um curto espaço de tempo, enquanto os estudan-tes declaravam a anarquia. O regime tremeu; porém, na volta do general De Gaulle, apoiado pelo exército, tudo iria mudar. O Partido Comunista Francês (PCF) e os sindicatos conclamavam os trabalhadores a voltar ao trabalho enquanto novas eleições foram convocadas. A vitória dos conservadores representou um fracasso pela falta de um projeto político revolucionário das organizações da esquerda francesa, que se encontrava sob hegemonia do PCF, de orientação stalinista. Os conselhos operários, ocupações de fábricas e universidades, assembléias populares, comitês revo-lucionários não conseguiram se articular sem um partido revo-lucionário conseqüente e logo o movimento desapareceu tão rápido quanto surgiu, deixando a herança das lutas para as pró-ximas gerações, que continuaram de diversas formas as lutas.

Durante o Maio de 1968 francês, houve a participação de vários intelectuais libertários, como por exemplo, a Interna-cional Situacionista, orientados por Guy Debord, autor d’A Sociedade do Espetáculo. Entre outros, também houve parti-cipações e influências de Simone De Beauvoir, Paul Lefebvre e Jean-Paul Sartre. Herbert Marcuse, filósofo alemão pertencente à Escola de Frankfurt (juntamente com Max Adorno, Theodor Horkhei-mer, Erich Fromm, Walter Benjamin, entre outros), inaugura-va uma abordagem teórica que ficou conhecida como freudo-marxismo, em que aborda a formação psíquica do indivíduo na sociedade capitalista moderna. Debord, em sua crítica radical à totalidade da vida huma-na, iniciava uma teorização e um combate prático ao que ele conceituou como “espetáculo", quando a alienação humana e as mercadorias atingem o mais alto grau de fetichização (tor-na-se algo com “vida própria”) e o indivíduo torna-se um es-pectador da sucessão de imagens em suas diversas formas e meios e deixa de ser um sujeito transformador de sua própria história, cedendo lugar à história das mercadorias. Segundo Debord, o espetáculo é dotado de um poder difuso e unilateral (como, por exemplo, no caso da TV), e sendo assim, o sujeito transformado em espectador deixa de intervir na sociedade e passa a somente consumir a mercadoria, que agora reconhece a si mesma e vende sua visão de mundo aos espectadores. O cotidiano não foge à crítica de Debord, que vê neste, o termômetro das autoproclamadas revoluções e também co-mo o espaço de tempo que deve ser revolucionado, em todas as esferas das relações sociais. Em vida declarou sua recusa à tomar partido nessa alienação humana espetacularizada e dedicou sua vida, seu pensamento e sua prática a combater e negar, intervindo de forma artística na contestação do que se tornou a totalidade da vivência humana.

O CONFLITO ESTAVA EXPLÍCITO NAS RUAS DE PARIS, COM BOMBAS DE GÁS LACRIMOGÊNEO VINDO DAS FORÇAS REACIONÁRIAS E PARALELEPÍPEDOS ALÇANDO VÔOS VINDO DAS FORÇAS LIBERTÁRIAS

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Avalie esta edição: [email protected] C U L T U R A o pontoBelo Ho ri zon te – junho/2008

Editor e diagramador da página: Alexandre Cabral e Flora Libânio - 6º período

Educação e Cultura em uma apresentação no Museu da República (Palácio do Catete no Rio de Janeiro). Chegou a vencer concursos como o Con-curso Nacional de Piano Art-Livre, em São Paulo, o Concurso Nacional Villa-Lobos, em Vitória no Espírito Santo e o Furnas Geração Musical, que não era um concurso específico de piano, mas sim de vários instrumentos, com o objetivo de premiação no custeio dos estudos de três promessas da música erudita no Bra-sil, com idade de até 25 anos, com o professor de sua escolha em todo o território nacional. A bolsa de estudos acabou no final de 2006, quando Pedro optou por encerrar em defini-

tivo seus estudos musicais. Hoje, mesmo com todo o premiado talento para música, se dedica exclusivamente ao co-

légio e prestará vestibular para Medicina. “Havia sim pensado em fazer música, mas não tive estímulo nem coragem suficiente, mesmo tendo a música como grande parte da minha vida”.

Em um País onde a cultura musical está abandonada, a perda de um intérprete de Mo-zart e Chopin no piano não fará diferença.

JOVENS E MÚSICA ERUDITAMARIANA CYRNE E MARIANA SILVEIRA

6º PERÍODO

Há quem diga que as composições de gê-nios como Bach, Mozart, Beethoven, Liszt e muitos outros requer uma sensibilidade apu-rada para que a sofisticada sonoridade possa tocar as almas contemporâneas. Historicamen-te, a origem da música clássica é ligada aos monarcas e à aristocracia das antigas cortes do Velho Mundo. O que poucos sabem é que o estilo guarda passagens de intensa popula-ridade. A ópera na Itália nos séculos XVIII e XIX, por exemplo, era tão popular quanto o futebol é hoje no Brasil. Neste inicio de século XXI, em que estamos acostumados com uma atmosfera solene e silenciosa nos concertos, chega a ser inacreditável pensar em recitais em meio ao caos, com pessoas conversando, se provocando e até mesmo jantando durante as apresentações. É fato que a capacidade que algumas dessas composições têm de sensibili-zar o público, faz com que muitas peças, além de imortais, permaneçam atuais e facilmente reconhecíveis. Mesmo quando não acostuma-dos às salas imensas de grandes teatros, ou a pequenos espaços culturais, a música eru-dita permeia comerciais de sabonetes e filmes hollywoodianos, como “Amadeus” (1984), indi-cado a 11 Oscars, dos quais levou oito estatue-tas, inclusive a de melhor filme. Ainda que o otimismo em relação a uma retomada da antiga popularidade da música clássica não vislumbre estádios lotados para a execução de um dos seis concertos de Bran-denburgo, de Bach, movimentos sólidos de re-aproximação entre o grande público e a música clássica apresentam sinais de reaproximação.

No Brasil, a dificuldade de aumentar o nú-mero de adoradores da música erudita está diretamente ligada à dificuldade de levar às camadas mais baixas esse estilo musical. Esse abismo entre produtores da música e seus de-sejados novos consumidores se deve à falta de incentivo financeiro. No entanto, esse cenário começa a mudar. Através de iniciativas governamentais (leis de incentivo à cultura) e de instituições priva-das, a música erudita é promovida gratuita-mente ou a preços populares. Não é preciso ir muito longe para reconhecer que música clás-sica está disponível a todos. Quem for ao Par-que Municipal num concerto de domingo, por exemplo, perceberá que um público completa-mente diversificado comparece ali para assistir à Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. E o que se vê é algo de encher os olhos: platéias lotadas

de jovens, em sua maioria. Já se chegou a re-gistrar um público de 4 mil pessoas, incluindo tanto as que possuem intimidade com música erudita e aqueles que nunca ouviram uma or-questra. O repertório é sempre do mais alto nível, com a responsabilidade de ampliar o co-nhecimento das pessoas. Na opinião de Roberto Tibiriçá (54), Diretor Artístico e Maestro Titular da Sinfônica Heli-ópolis (SP), há sim uma grande procura pelo público para a música clássica, principalmente pelos jovens. “Penso que muito se deve às faci-lidades de informação pela internet e também por causa da inclusão de instrumentos de or-questra em shows de MPB com grandes intér-pretes (shows ‘acústicos’)”. A aproximação do erudito com o popular também liga os jovens à música clássica. No imaginário coletivo, o coral é reconhecido co-mo algo extremamente conservador e até reli-gioso. No entanto, essa imagem está em trans-formação. O estudante de regência da UFMG Daniel Souza (21) é a prova disso. Ele conta com o seu interesse pela música começou, aos 11 anos, no coral do colégio Santo Antônio: “Cantávamos no coral Bach, Mozart e outros tantos compositores do chamado meio erudito. Fazíamos também arranjos de músicas de Tom Jobim, folclores nacionais e internacionais. Foi meu primeiro contato com compositores

de música escrita antes de nossos tempos. O repertório era bem eclético, cantados em até quatro vozes, o que despertou minha percep-ção auditiva desde muito jovem”.

Uma questão de Educação Certa vez, o maestro Eleazar de Carvalho declarou: "Amigos, mais escolas, mais escolas. Para mais orquestras, mais orquestras!". Por sua vez, o maestro Tibiriçá, explica que o Ins-tituto Baccarelli (www.institutobaccarelli.com.br), do qual faz parte, atua justamente nessa questão. “O Instituto tem por objetivo principal

dar oportunidade aos jovens e proporcioná-los uma melhora de vida através da música. Nós ensinamos e depois os colocamos no merca-do de trabalho. Cuidamos também da forma-ção do caráter deles pela disciplina nos ensaios de orquestra e música de câmara. A educação começa na base e se propaga pela adolescên-cia. Isso é muito importante e estamos fazendo nossa parte”. Nesse sentido, está em tramitação no Con-gresso Nacional uma lei que propõe a educa-ção musical no ensino fundamental tanto na rede pública como na rede privada. Isso pode-ria ajudar nessa libertação da massa quanto à escolha do gosto musical. Um projeto como esse, de educação musical obrigatória, pode fazer com que as crianças gostem e façam mú-sica de qualidade, independente de ser popular ou erudita, e assim, no futuro elas nem preci-sarão escolher se gostam de um ou de outro, mas saberão como funcionam e poderão en-sinar os seus filhos a também curtirem uma boa música. “Educação é tudo em um povo civilizado! Acredito que pela educação podemos dar uma vida muito melhor tanto para os jovens como para nós mesmos, pois estamos educando e colocando para a vida novas esperanças, com pessoas mais preparadas para viverem em so-ciedade.”, conclui Tibiriçá.

Jovens como o regente venezuelano Gusta-vo Dudamel (27) e os chineses Peng Peng (12) e Chun Wang (16), fazem parte da no-va geração de músicos no cenário interna-cional. Por outro lado, raramente ouve-se falar de prodígios brasileiros. “Infelizmente vivemos em um país totalmente abandonado em matéria de Cultura. Nossos Governantes só se lembram disso quando vem algum vi-sitante importante. Um dos motivos também é a própria imprensa que não se interessa pelo assunto. Não vende! Haja visto que nem críticos mais têm espaço nos jornais e revistas. Por isso nossos talentos não são comentados e divulgados, porém existem sim. E muitos!”, ressalva Tibiriçá. Um exemplo da dificuldade de sobreviver no Brasil apenas contando com a carreira na música erudita é o estudante Pedro Ernesto Teles (17), que desde os nove anos de idade iniciou seus estudos musicais voltados para o piano e já se apresentou em recitais no Palá-cio das Artes, na Fundação de Educação Ar-tística, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais e também foi convidado para a gra-vação de um CD pela rádio do Ministério da

“CANTÁVAMOS NO CORAL BACH, MOZART E OUTROS TANTOS COMPOSITORES DO CHAMADO MEIO ERUDITO. FAZÍAMOS TAMBÉM ARRANJOS DE MÚSICAS DE TOM JOBIM, FOLCLORES NACIONAIS E INTERNACIONAIS"

Daniel Souza, estudante de regência

“O INSTITUTO (BACCARELLI) TEM POR OBJETIVO PRINCIPAL DAR OPORTUNIDADE AOS JOVENS E PROPORCIONÁ-LOS UMA MELHORA DE VIDA ATRAVÉS DA MÚSICA. NÓS ENSINAMOS E DEPOIS OS COLOCAMOS NO MERCADO DE TRABALHO"

Roberto Tibiriçá, Maestro

CADA VEZ MAIS DISTANTE DO ESTIGMA DE COMPLEXA E INACESSÍVEL A OUVIDOS LEIGOS, A MÚSICA CLÁSSICA INVADE OS ESPAÇOS CULTURAIS E AVANÇA NA CONQUISTA DE JOVENS

Falta de incentivo financeiro atrapalha na formação de prodígios

O regente Roberto Tibiriçá (ao centro) com os músicos da Orquestra Sinfônica de Heliópolis na escadaria do Teatro Municipal do Rio de Janeiro

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“Infelizmente vivemos em um país totalmente abandonado em matéria de Cultura", ressalta Tibiriçá

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Avalie esta edição: [email protected] 15M Í D I Ao pontoBelo Ho ri zon te – junho/2008

Editores e diagramadores da página: Carlos Eduardo Marchetti, Flávia Guerra e Letícia Bethonico - 6º período

MARINA BANDEIRA

6º PERÍODO

A “era digital” está longe de ser apenas uma fase; ela é irreversível ao inaugurar um novo paradigma de proporções globais, que desvela transformações e tendências alteran-do, em definitivo, a nossa forma de encarar a realidade. A comunicação, como era de se esperar, acompanha o processo e revela no-vas mídias e possibilidades de interação. Nes-se contexto, a revolução da tecnologia da in-formação foi o elemento básico para a “de-mocratização” da produção e circulação de conteúdos na internet. Os métodos tradicionais de gravação e trans-missão de dados foram gradativamente substi-tuídos pelas novas tecnologias, que possibilita-ram que novos paradigmas do fazer artístico se estabelecessem. Com a música isso não foi diferente. K7, CD, DVD. Siglas bastante conhe-cidas, abriram espaço para novas tendências. Segundo João de Castro, jornalista e profes-sor de jornalismo digital da FUMEC, a evolução não é restrita a poucas áreas e em se tratando de música era esperado que isso acontecesse. “Se no início a gente tinha os LP’s e os CD’s, é natural que em breve chegaria uma tecnologia que mudaria isso tudo. A música sai do lugar comum - do aparelho de som - e muda pro com-putador”, explica João. A nova onda da música na “era digital” tes-temunhou a criação de poderosos instrumentos de veiculação de músicas e de troca de arquivos pela internet (via arquivos digitais). A facilida-de, a mobilidade e a praticidade desse tipo de arquivo fazem com que a revolução tecnológica na música venha pra ficar. Maior qualidade de som, melhores arranjos, agilidade no processo de gravação, mixagem e de armazenamento. Os músicos, que antes dependiam de gra-vadoras e rádios para divulgarem suas obras, agora têm um canal direto com o público e essa nova realidade apresenta uma inversão de pa-péis: os consumidores de música e os artistas passaram de meros receptores para emissores de informações.

Meios de divulgação Cada vez mais surgem sistemas diferencia-dos e mais evoluídos para troca de informa-ções. Dentre os mais utilizados estão o Kazaa, o Emule, o Soul Seek entre outros. Se analisar-mos o início dessa mania de troca de música pela internet temos o Napster, o grande pre-cursor. Ele passou por um processo de direi-tos autorais, foi encerrado e acabou reabrindo; porém passou a cobrar taxas pela disponibili-zação de seus arquivos. Outro tipo de instrumento que auxilia nes-sa troca de informações musicais são os sites pessoais, como blogs onde os artistas e usuá-rios buscam informações sobre música. Nessa onda, é impossível deixar de mencionar o Mys-pace, site onde os artistas publicam seu traba-lho e os usuários têm a oportunidade de fazer pesquisas. Sobre o assunto, Marcela Machado, jornalista da Oi FM enfatiza: “Eu acho que as novas ferramentas, como o Myspace por exem-plo, ajudam muito na divulgação de novas ban-das. Um músico de Minas Gerais pode postar uma faixa na página e na mesma hora, ela pode ser ouvida em qualquer lugar do planeta!” Outra ferramenta é o compressor de arqui-vos MP3. Além de não afetar a qualidade musi-

cal tem a vantagem de ocupar um espaço cinco vezes menor que o CD. As mudanças no palco da música focam os holofotes em atores que já faziam arte, po-rém enfrentavam maiores dificulda-des para entrar em cena: os artistas independentes. Es-palhados por um Brasil de proporções continentais, estes artistas agitavam suas cenas locais, mas não tinham maiores projeções nacional-mente. A internet possibilitou que seus trabalhos tivessem vi-sibilidade e que seu som ecoasse além de fronteiras geográficas. Pode-se dizer que tu-do aconteceu rápido para a banda Monno. Formada no final de 2005, já coleciona elo-gio de artistas consagra-dos e mídia especializada (como o progrma Alto Fa-lante) e desponta na cena musical independente. O primeiror EP rendeu shows por todo o país e participações em vários fes-tivais de peso. Bons exemplos são os convites para tocar na abertura do lançamento do CD Carrossel da banda Skank numa renomada casa de espetáculosde São Paulo, além de festivais como Calango, Bananada, Labpop, Gig Rock, Garimpo, Grito Rock. O grupo também marcou presença na MTV e TV Cultu-ra, além de revistas especia-lizadas como Bizz e Rolling Stone. Perguntado sobre os novos desafios da cena inde-pendente, Guilherme Cabral (Coelho), músico e guitarris-ta da Monno pondera que a internet é o principal gatilho desse processo de mudanças no mundo da música, inclusi-ve ao influenciar o papel das gravadoras, da produção e distribuição. “Esse é um fator importante pros artistas inde-pendentes, porque já não de-pendemos mais de terceiros. Podemos fazer a música com a nossa cara e criar uma co-nexão direta com nosso público, o que é muito positivo” comenta. Coelho cita boas referências da música in-dependente brasileira, como os colegas minei-ros do “Dead Lover’s Twisted Heart”, “Trans-missor”, “Moldest” e “Fusile”. “The Frames” e “Grandaddy” são bandas gringas que caíram no seu gosto. Os festivais de música independente são indícios de como a cena vem se fortalecendo no país e reconfigurando o monopólio musical comercial restrito ao eixo Rio - São Paulo. Dos cantos mais longínquos surgem referências de música e eventos de qualidade, como demons-tra Rodrigo James, jornalista e produtor cul-tural. “Recife e Goiânia são os dois principais pólos. Mas nos últimos anos a polarização au-mentou e atingiu lugares inimagináveis ante-riormente, como Rio Branco e Cuiabá. Outros pólos importantes são: Natal, Brasília e Porto

Alegre. Descentralização está na ordem do dia. E isso é ótimo”, afirma. Para o proprietário d`A Obra e produ-tor de festivais independentes, Cláudio Pilha (Claudão), esse novo panaroma da música vem crescendo. “Isso facilita o contato entre as pessoas e potencializa ações colaborativas que geram o crescimento da cena musical”, acrescenta.

“Música boa e música ruim sempre vão existir, mas com essa popularização tem-se acesso a uma gama de artis-tas que se fossem depender de gravadoras talvez não iriam aparecer”. É assim que Coelho define a relação da cena inde-pendente e a internet. Para ele, não é preciso aceitar imposi-ções alheias. Os papéis se in-verteram – antigamente eram as gravadoras, os empresários e a mídia ditando todas as ten-dências. “O mainstream (cena tradi-cional) está meio decadente, mas ainda existe, e resiste; ainda há grandes bandas que

trabalham com gravadoras e tem uma expo-sição relativamente grande na mídia. Mas a tendência é acabar o esquema tradicional, já que os meios de divulgação via internet são mais rápidos e baratos e passam à frente da venda de CD`s, que sempre foram caros. Um bom exemplo é a grande quantidade de ban-das que estava no mainstream e agora são in-dependentes. No entanto, poucas vão para a cena tradicional, devido a essa decadência”, critica Coelho.

O novo papel das gravadoras Essa nova conjuntura faz com que as gra-vadoras revejam suas estratégias de negócios: criem novas divisões internas nas empresas pa-ra potencializar outros aspectos da carreira do artista, como a realização de shows e o mer-chandising; lucram com o crescente sucesso das lojas virtuais. Gigantes como Universal e EMI já

disponibilizam faixas de seus catálogos pa-

ra dowload na internet.

U m b o m exemplo é a ban-

da inglesa Radiohe-ad, que desde o início

da sua trajetória em 1989 estava “antenada” com os novos tempos. O grupo revolucionou a indústria

musical ao disponibilizar as musicas do seu novo CD

na internet ao preço sugeri-do pelos próprios usuários. O

curioso é que eles arrecadaram mais dinhei-ro do que se tivessem colocado um preço úni-co pelo CD. Em terras tupiniquins, Marcelo D2 tam-bém inova ao propor o lançamento de seu próximo disco com faixas patrocinadas, em que cada faixa baixada vai ter o patrocínio de uma grande empresa. Enquanto os ouvintes baixarem as músicas gratuitamente, o artista e a gravadora não terão prejuízo. Gravadoras e artistas tem maneiras dife-rentes de lidar com a pirataria. No caso do Marcelo D2, o simples fato de lançar faixas patrocinadas é um meio de reprimir a falsi-ficação, já que não há sentido em piratear um produto que é de graça. Em outros casos os artistas tentam coibir a pirataria de modo mais direto como é o caso da cantora Marisa Monte, que disponibiliza seus CD`s com uma espécie de programa que bloqueia a repro-dução e a transferência de musicas para os arquivos de MP3. “Isso pode ser uma faca de dois gumes, pois já existe quem burle esses esquemas, de-codificando esses arquivos protegidos; além do que, a repressão da cópia pode prejudicar a divulgação em massa do seu trabalho. Há muitos casos de artistas que não possuem CD ou clipes, mas que conseguem ter uma proje-ção considerável no mundo digital e ficaram famosos exclusivamente com a troca de infor-mações e arquivos via net”, acrescenta João de Castro. Essa divulgação bem sucedida levou esses artistas a postos mais altos, fazendo com que as próprias rádios se interessassem em divul-gar suas músicas. É o caso da cantora inglesa Lily Allen, que rompeu o isolamento das suas quatro paredes para ficar conhecida planeta afora. Da mesma Inglaterra surgiu a banda Arctic Monkeys, que fez da internet seu princi-pal meio de divulgação, através do Myspace. A pirataria não chega a afetar os inde-pendentes porque eles não tem a venda de CD`s ou DVD`s como suas fontes principais de renda. Ganham dinheiro com shows, pa-trocínios, licenciamentos e coisas do tipo. A era da remuneração pelo CD acabou. Um dos caminhos interessantes é a remuneração via ringtones e truetones, além das lojas virtuais, mas ao mesmo tempo acho que quando isso “pegar” aqui no Brasil, como lá fora, este mo-delo estará velho”. A Internet trouxe muito mais do que varie-dade. Trouxe alternativas e, essencialmente, li-berdade de escolha. Se é difícil mensurar seu poder, fácil é sentir seu efeito: o prazer de ter o universo da música ao alcance de um “click”.

Música na era digitalDIVULGAÇÃO DA CENA MUSICAL INDEPENDENTE GANHA DESTAQUE COM AS NOVAS TECNOLOGIAS E GARANTE FORTALECIMENTO DOS FESTIVAIS ALTERNATIVOS

A banda Monno cria conexão direta com o público a partir da divulgação das músicas na rede Produtor de festivais independentes vê com satisfação o novo panorama da música

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"A CADA DIA VÃO SURGINDO NOVAS TECNOLOGIAS E NOVOS ESPAÇOS ONDE AS PESSOAS PODEM TANTO POSTAR ARQUIVOS DE MÚSICAS, RELEASES QUANTO INFORMAÇÕES".

Jõao de Castro - prof. de jornalismo

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Ela completou sua 3ª edição e se consolida como a festa do vinil

no calendário cultural de BH. Coordenada por Edu Pam-

pani e realizada na Disco-teca Pública, numa char-mosa casa no bairro Flo-resta, a Feira do Vinil e dos CD’s Independentes reúne, bimestralmente, colecionadores, exposi-

tores, artistas e produto-res para celebrar a paixão

pela boa música. Para Alexandre Veloso,

36 anos, a paixão pelos bola-chões é antiga. Tudo começou com o interesse por livros usa-

dos, que se transformou em bus-ca por vinis. Alguns anos depois,

o sonho se transformou em realida-de, e hoje em dia ele é proprie-

tário da loja “Usados com Arte”, onde se pode en-

contrar LP´s raros, CD´s de todos os gêneros e um grande acervo de livros. Ao todo, já se vão 13 anos na ativa. Para ele, a oportunida-

de de se conhecer pes-

soas e reunir colecionadores e clientes para troca de informações e produtos é a maior vantagem do evento. “Mais do que um ambiente de troca de produtos, a Feira do Vinil oferece a possibilidade de se compartilhar o gosto pela música”. Alexandre ainda observa que há uma tendência crescente da geração mais jovem em adquirir toca-discos e discos de vinil; e já prevê um crescimento no comércio desses produtos. Para difundir ainda mais sua paixão pelo vinil, ele planeja criar um programa de rádio na internet, que pro-mete uma interação entre as pessoas sobre o universo do vinil. Seja um curioso ou um aficionado de plantão, mais de 200 pessoas prestigiam o evento, aproveitando para curtir uma ex-periência diferente/única. O perfil do pú-blico é bem variado, tanto na idade, quan-to no gosto musical. Márcio Pereira (33 anos, designer) atribui sua admiração pelos discos de vi-nil à sua geração: não há como falar da década de 70 sem mencionar os bola-chões. Apesar de no seu dia a dia fazer mais uso dos CD´s, e fazer parte do grupo que não baixa músicas no formato MP3, tem alguns vinis e curte escutar MPB, ja-zz, etc. Márcio ressalta a importância de um evento como a Feira do Vinil no res-

gate do conteúdo do bolachão: “O vinil traz mais informações do que o CD; na era do vinil, as bandas tinham uma preo-cupação maior em rechear seus trabalhos com informações das Artes Plásticas, Ci-nema, Literatura, Teatro, coisas que hoje em dia foram deixadas de lado ou não ca-bem mais nos formatos digitais.

A turma do vinil Outra presença marcante na Feira foi a Turma do Vinil, que reúne cerca de 20 adeptos do bolachão, todos quarentões e ex-DJs que, nas décadas de 70, 80 e 90, comandavam as picapes de casas notur-nas da cidade. A convite de Edu Pampani, eles mostraram para o público boa parte de suas relíquias, o que agradou em cheio os ouvintes mais rigorosos. O DJ Eugênio Braga, que faz parte da trupe, sempre esteve inserido no universo musical. Desde os primeiros compactos na infância, até o conhecimento pleno das vi-radas e mixagens de um set como um bom DJ, o vinil esteve presente na sua trajetó-ria. Ele aponta a crescente facilidade trazi-da pela internet para a difusão dos traba-lhos dos DJs e a conseqüente banalização do ofício: “Há DJ’s e DJ’s. O importante é manter a qualidade do trabalho e o respei-to com o ouvinte”.

MARINA BANDEIRA

6º PERÍODO

Na contramão da era digi-tal, que já superou o surgimen-to do CD com as novas mídias digitais e a efervescente utili-zação de computadores, o vi-nil resiste e parece querer res-surgir, desta vez, não apenas para aficionados e DJs, que o utilizam como matéria-prima em suas pick-ups, mas para os ouvidos curiosos e ávidos por um som de qualidade. Você não conhece um vi-nil? Eles são pretos, nasceram em 1948, desbancaram os an-tigos discos de goma-laca de 78 rotações por minuto, eram fabricados em cera e poste-riormente em vinil, e decodi-ficados por uma agulha... Os famosos e ancestrais “bola-chões”, que representaram a fonte de música de várias ge-rações durante anos a fio, co-mo a Fênix, voltam a se con-solidar em ritmo crescente no mercado, só que agora, como objetos de desejo. As lojas de discos ressur-gem com força total; o mer-cado de usados se estabelece em âmbito global através da Internet, que permite que se faça compras vendas e buscas de raridades com muito mais facilidade. Basta navegar na mesma net para constatar a qualidade de sites existen-tes sobre o assunto e desco-brir que um bolachao e muito mais recheado do que se pos-sa imaginar. Atualmente, a América La-tina está sem fábrica de vinil. A Polysom, que ficava na Bai-xada Fluminense e reinou so-zinha por um bom tempo até meados de 1996, fechou as portas no começo desse ano por problemas financeiros. Para driblar o contratempo, gravadoras e selos indepen-dentes (como a Monstro Dis-cos), vem lançando compac-tos em vinil, provando que

o velho e bom bolachão não morreu. E o melhor de tudo, em excelente qualidade. Prova disso é que artistas da novíssima geração como Autoramas, Daniel Belleza & Os Corações em Fúria, Mó-veis Coloniais de Acaju entre outros já aderiram ao velho-novo formato, provando que o bolachão é uma tendência.

A resitência Ainda em terras tupini-quins, o bolachão encontra de-fensores fiéis, como Ed Motta e Maria Rita. Já na gringa, ele é amado por ninguém menos do que Madonna, Bob Dylan, o grupo Radiohead, que dis-ponibilizou seu último álbum “In Rainbows” com uma tira-gem exclusiva em vinil; a ban-da britânica punk Sex Pistols, que em comemoração dos 30 anos de seu antológico disco "Never Mind The Bollocks. Here's The Sex Pistols" (1977), remasterizou quatro de suas canções e pretende vender o disco em vinil; entre outros. Outro bom exemplo da

crescente presença do vinil na atualidade foi noticiado pe-lo jornal inglês The Guardian. Segundo um levantamento feito pelo grupo britânico BPI (Indústria Fonográfica Britâ-nica), na contramão da ten-dência digital do mercado fo-nográfico, a venda dos vinis cresceu 13%, sendo que os principais responsáveis foram

os singles gravados no forma-to de sete polegadas. Não precisamos ir muito longe para descobrir que a paixão pelo vinil é genuína e contagiante. Aqui mesmo, em BH, temos o exemplo de Edu Pampani, produtor e grande conhecedor do universo mu-sical que teve uma iniciativa ousada e inédita, pelo menos em solo mineiro. Com uma coleção particular de milha-res de LP’s (Long Play´s), de-cidiu compartilhar sua paixão pelos bolachões com o públi-co ao inaugurar, em 2005, a Discoteca Pública, um espa-ço cultural diferenciado que permite consultas, pesquisas e incursões a esses símbolos da memória cultural. O dife-rencial é que não há espaço para vendas, o que impera é a troca. Uma visita ao seu acervo é como fazer uma viagem pelo tempo, que logo se transfor-ma numa retrospectiva so-nora e visual. São nada me-nos do que 7 mil exempla-res catalogados em um total de aproximadamente 12 mil LPs, devidamente armazena-dos e bem cuidados. A gran-de maioria deles é de musica brasileira, o que pauta o inte-resse do colecionador. As ca-pas são um espetáculo à par-te: contendo diversas infor-mações, que perpassam pela ficha técnica aos nomes das canções, além de artes gráfi-cas memoráveis (puro deleite de designers e curiosos), re-presentam não apenas uma viagem no tempo, mas um re-trato do espírito de uma épo-ca. Algumas capas foram tão marcantes que figuram em definitivo em livros exclusi-vamente dedicados a elas. Ainda nesse movimento de consolidação do vinil na cena musical, Pampani criou a Feira do Vinil e Cd’s inde-pendentes, que já vai para sua quarta edição. Reunindo um público de faixas etárias variadas, promove em seu próprio espaço cultural um encontro entre os diversos comerciantes de vinis e CD’s independentes de Belo Hori-zonte para troca e venda de exemplares.

Editora e diagramadora da página: Yany Mabel - 6º período

o pontoBelo Ho ri zon te – junho/2008 16C U L T U R A

O fascínio pelo vinilAVESSO A PREVISÕES NEGATIVAS, O VINIL RESISTE COMO UMA OPÇÃO DE MUSICA BOA

"EU LUTO PELA PRESERVAÇÃO DO LP, QUERO QUE TODAS AS PESSOAS VOLTEM A ESCUTAR E CUIDAR BEM DELES".

Edu Pampani - colecionador

Feira do Vinil une amantes da boa música

Certos entusiastas defendem a superiori-dade do vinil em rela-ção às mídias digitais em geral (CDs, DVDs e outros). O principal argumento utilizado é o de que as grava-ções em meio digi-tal cortam as freqü-ências sonoras mais altas e baixas, elimi-nando harmônicos, ecos e batidas gra-ves; o que prejudica-ria a "naturalidade" e a “espacialidade” do som. Sobre a quali-dade do disco de vi-nil, Pampani nos con-ta um pouco mais de suas características: “Se você tem um bom equipamento em ca-sa, realmente o som é bem mais puro. O antigo bolachão não tem prazo de valida-de; tenho discos de 50 anos atrás em perfei-to estado de conser-vação. Isso para não falar das capas, do encarte, do jeito que era gravado, tudo era mais trabalhoso feito com amor pela arte. Uma desvantagem é que de tão bom, o disco de vinil foi sen-do levado para outros países, e a cada dia fica mais difícil de ser encontrado; disco que sai do país não vol-ta nunca mais. Outro, porém diz respeito à falta de cuidado de muitas pessoas, que podem deixar os LPs inutilizados”.

A Novidade Em relação às transformações ocorridas no cenário musical que acarretaram a busca frenética pelas novas tecnologias, Pampani tem uma visão aberta. “Vejo que estamos vi-vendo no século XXI e que hoje em dia ficou muito mais fácil se gravar uma música, um disco, um álbum, um CD e por aí vai. Co-nheço bandas que gravam seus discos em casa, bandas de uma pessoa só, bandas de dois componentes que, através de um sim-ples computador podem chegar a bons re-sultados investindo pouco dinheiro. A volta triunfal do vinil é apenas modo de falar. Pampani alega que os bolachões nunca

foram deixados de lado, foram apenas ofus-cados pela sedução digital que cresce a ca-da dia. Nesse sentido, ele afirma que o vinil nunca morreu e nunca morrerá; quem gosta toma conta, cuida e tem amor. Na Europa e nos Estados Unidos até hoje se grava e se vende bem. No Japão mais ainda, podemos encontrar os maiores consumidores de mú-sica brasileira e novos lançamentos. Seja onde for, para os mais novos, é tem-po de experimenttar com a curiosidade pró-pria de quem cresceu na era dos disquinhos prateados. Os mais velhos, que aposenta-ram os velhos LP's, têm agora oportnidade de resgatá-los. Para quem entende do assunto, apreciar um bom vinil envolve todo um ritual – con-templa-se sua capa, sua textura. A prepara-ção da vitrola é um evento único: alinha-se a agulha e já se pode curtir uma velha expe-riência nova. Sem nostalgia.

Edu Pampani, mineiro colecionador e apreciador de vinis.

Soltando o verbo

O disco de vinil não precisa de um aparelho de som propriamente para ser "tocado". Experimen-te colocar o disco rodando na vitrola, sem áudio, com as caixas de som desliga-das. Você conseguirá ou-vir o disco, pois seu prin-cípio de funcionamento se baseia na vibração da agulha no sulco (espirala-do, como um velodromo, tendendo ao infinito como uma linha reta) dentro das ranhuras, que nada mais são do que a representa-ção freqüencial do áudio em questão.

Carlos Eduardo Doné 5º G

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