12
1 JORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC - SANTA CRUZ DO SUL VOLUME 18 nº 3/agosto 2012

Jornal Unicom especial Feira do Livro

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jornal laboratório produzido pelos monitores da Agencia Experimental do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Unisc

Citation preview

Page 1: Jornal Unicom especial Feira do Livro

1

JOR

NA

L EX

PER

IMEN

TAL

DO

CU

RSO

DE

CO

MU

NIC

ÃO

SO

CIA

L D

A U

NIS

C -

SA

NTA

CRU

Z D

O S

UL

VO

LUM

E 18

3/ag

osto

201

2

Page 2: Jornal Unicom especial Feira do Livro

2

Feira do livro:passado e presente

Tra nsita r por diversos

gêneros literários e seus públicos nem sem-

pre é tarefa fácil para os escritores. Esse trabalho, segundo Valesca de Assis, exige o estudo da técnica antes de colocá-la em prática. A homenageada da 25ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul é educadora, filósofa, autora premiada e ministrante de oficinas literárias por todo o estado do Rio Grande do Sul. Seu primeiro livro foi a A valsa da medusa, pela editora Mo-vimento, em 1990. Valesca de Assis con-versou por e-mail com o Unicom e disse estar muito feliz em ser homenageada na cidade onde nasceu e em evento que tem Antonio Skármeta como patrono.

Qual é a expectativa para a Feira do Livro em Santa Cruz do Sul e a impor-tância de eventos como este para a nova geração de leitores?

A melhor possível! É na cidade onde nasci, onde viveram meus antepassados, são 25 anos da Feira e o Patrono, ah, o pa-trono será nada menos do que um ídolo: Antonio Skármeta. A importância está muito relacionada ao fato de apresentar os livros, permitir que sejam tocados, que se mostrem atraentes. Porém, o maior sentido das feiras de livro são as leituras prévias de obras dos autores convidados. Aí está a função, a importância e o ganho de 90% da Feira.

Você já escreveu livros nos mais di-versos gêneros literários. Existe dife-rença no processo de criação de acordo com o gênero?

Sim, existiu, para mim, uma evolução técnica importante até chegar à constru-

ção de um livro infantil Um dia de gato. Também, a passagem do livro dito adulto para o juvenil como o Diciodiário. Os di-ferentes tipos de leitores estão em pro-cessos mentais completamente diversos e o escritor tem de estar dentro destas diferentes estruturas. Por isso, escrever para crianças é, a meu ver, o ponto alto de minha literatura. Até agora, claro, pois espero crescer sempre. Já a crônica, onde também me atrevo, tem caracterís-ticas diferentes da narrativa de ficção. E me agrada muito escrever e ler crônicas: acho-as deliciosas e excelentes para ini-ciar um leitor tardio.

Que conselho você daria a quem dese-ja seguir carreira de escritor?

Se eu posso dar um conselho a alguém é ler muitíssimo, observar e anotar a técni-ca de cada escritor e, se possível, frequen-tar uma oficina literária. É como o tra-balho de um jardineiro: se ele não souber quando semear, quando adubar, em que período e quais galhos podar e de quanto sol a planta precisa, entre outros conhe-cimentos técnicos, não poderá construir nem manter um jardim. Não é mesmo?

Você é natural de Santa Cruz do Sul. Qual aspecto referente à cidade merece-ria um livro?

Já escrevi duas novelas que têm inten-sa referência a Santa Cruz: A valsa da me-dusa e A colheita dos dias. Este último vai ter sua terceira edição (quase reescrita!) na Feira de Santa Cruz. No livro de crô-nicas, Todos os meses, também refiro-me bastante a Santa Cruz do Sul. A história da cidade, de seus inícios, é muitíssimo inte-ressante, e está muito presente em A valsa da medusa, recentemente reedidata.

Valesca de Assis volta a Santa Cruz

Momento de comemoração ou de reflexão? É possível dizer que ambos fazem parte dos 25 anos da Feira do Li-vro de Santa Cruz do Sul. Comemoração porque o evento está, de fato, consolidado: possui estrutura, organização e faz parte do espaço cultural da região e não apenas da cidade. Reflexão porque é vital olhar o período da sua existência como o local da intervenção nas coisas da mente e do desenvolvimento da cultura, independente da sua abrangência. Serve, sim, para se pensar no que de fato auxilia na vida das pessoas do ponto de vista do conhecimento.

Diante deste contexto, o Unicom procurou olhar o passado e o presente dos livros e da vida cultural na praça, tendo como centro das atenções o desenvolvi-mento efetivo da Feira neste primeiro quarto de século em Santa Cruz do Sul. Mas, a ideia propriamente vem de 1969, quando foi criada a Feira Intercolegial Estudantil do Livro, que objetivava desenvolver o gosto pela leitu-ra entre as pessoas a partir da comercialização de obras literárias a preços mais acessíveis. Observe-se que a ini-ciativa era de estudantes de nível médio, vindos de esco-las públicas e particulares.

Esforço desta natureza, sem dúvida, precisa ser re-visitado e lembrado ao público. Trata-se de um modo diferente de se olhar para a cultura pela juventude da época, que pretendia manter viva a cultura entre os santa-cruzenses e talvez torná-la mais presente entre os seus diversos setores. Do contrário, jamais esta ini-ciativa teria obtido sucesso. Da mesma forma, nos anos 80, a reorganização (ou retomada) da feira, tendo à fren-te órgãos públicos municipais e estaduais, ao lado da re-presentação da iniciativa privada, teve como norteador a vontade de facilitar o acesso à cultura, levando-a em definitivo para a praça.

Ao mesmo tempo, esta edição do Unicom apresenta o patrono – Antonio Skármeta - e a homenageada da Feira – Valesca de Assis -, nomes conhecidos do público em geral. Em função do padrinho do evento ser chileno, o leitor encontrará a entrevista com ele tanto em espa-nhol quanto em português e a feira ganha mais amplitu-de com a presença deste autor reconhecido em nível in-ternacional. Igualmente, o Unicom traz reportagem que relaciona cinema e literatura, de como a leitura pode despertar o escritor que está dentro de cada um, além de nova forma de contar histórias em pequenos textos classificados como minicontos. A edição apresenta ain-da matéria sobre livros de cabeceira, sem esquecer uma breve reflexão sobre o slogan da Feira 2012: Ler aproxi-ma. Boa leitura a todos e visitem o site da Feira do Livro da Agência A4 (hipermidia.unisc.br/25feiradolivro), que fará a cobertura do evento entre os dias 25 de agosto e 2 de setembro.

UNISC– Universidade de Santa Cruz do SulAv. Independência, 2293 - Bairro UniversitárioSanta Cruz do Sul – RS - CEP 96815-900

Curso de Comunicação Social - JornalismoBloco 15 – Sala 1506 Telefone: 51 3717-7383

Coordenador do curso: Demétrio Soster

Editor-chefe: Hélio Etges

Subeditora: Vanessa Costa

Arte da Capa: Rudinei Kopp

Infográfi co: Renan Silva

Diagramação: Daiana Carpes

Reportagem:Luiza Adorna

Luísa Ziemann Rafaela SchneiderFrederico SilvaAugusto DalpiazIsadora TrilhaEduarda PavanattoMartina Wrasse SchererJuliana Eichwald

Lucas Silva

Este Jornal foi produzido pelos monitores da Agên-cia Experimental A4, sob a supervisão do professor Hélio Etges.

Impressão: Grafocem

Tiragem: 1.000 exemplaresExpedient

eAutora de A valsa da

medusa é a homenageada da 25ª Feira do Livro

LUCAS SILVAENTREVISTA

OPIN

IÃO/

ENTR

EVIS

TA

EDITORIAL

Page 3: Jornal Unicom especial Feira do Livro

3

Imagine a cena: depois de alguns dias devorando um livro que o encan-tou do início ao fim, você descobre que ele ganhou adaptação para o ci-nema. Ansioso, dirige-se à bilheteria no primeiro dia em que o filme está em cartaz e garante o seu lugar. A ses-são está prevista para o dia seguinte e lá está você em frente à entrada uma hora antes do filme ter o seu iní-cio. Já sentado na poltrona, revive no pensamento os melhores momentos da obra. Suas expectativas crescem a cada segundo. No auge dos pensa-mentos, o filme inicia.

Uma hora e meia depois, você não possui forças para se levantar da pol-trona, tamanha é a decepção. A parte da história que mais encantou você não foi produzida. Além disso, as ce-nas não parecem em nada com as que imaginou dias atrás, durante a leitu-ra do livro. Você xinga, esbraveja, diz que o livro é mil vezes melhor e desde o início sabia: a indústria cinemato-gráfica não possui cacife suficiente para produzir obra tão grandiosa quanto aquela. A razão dessa revolta? Leitores e espectadores não conse-guem entender que a linguagem de livro e de cinema é diferente.

“A escrita e a imagem são duas lin-guagens diferentes, com naturezas diferentes. É quase como comparar aquele quadro com aquela música”, sentencia o pesquisador e professor do curso de Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Jair Giacomini, de 40 anos. Aí está a luz da sua lâmpada. A mente do leitor pode ser tão poderosa e tão criativa quanto a dos roteiristas e produtores cinematográficos.

Para o também professor de Co-municação Social da Unisc, Alexandre Borges, de 39 anos, dependendo do perfil do livro, as escolhas para adaptação são comerciais. “Normalmente a escolha por produzir um fil-me baseado em livro se dá pela possibilidade de alta bilheteria. É uma estratégia”, diz. A saga Harry Potter, da escritora J.K. Rowling, é um exemplo dessa estratégia. Os primeiros exem-plares da série tomaram pro-

Das páginas do livro às telas do cinema

De Drácula a Crepúsculo: boa parte das obras

literárias é adaptada para o cinema

JULIANA EICHWALDREPORTAGEM

porções de vendas tão grandes que a produtora americana Warner Bros não hesitou em comprar os direitos de adaptação para o cinema. Assim como as obras literárias, os filmes alcançaram o mesmo, ou maior, pa-tamar em todo o mundo. Para os se-guidores do bruxinho, é inevitável a comparação entre os dois meios, mas, mesmo com as críticas, os filmes tor-naram-se sucesso de bilheteria.

A produção da indústria cinema-tográfica é constante e parte dela são adaptações. “A partir de um livro de sucesso pode sair um filme bom para a crítica ou para o público ou para os dois. Também pode sair um filme ruim para a crítica e para o público. Ou ainda a crítica pode adorar, mas não fazer sucesso com o público, ou vice-versa”, explica Jair. O professor prefere referir-se ao processo livro-filme como recriação. “Adaptação é termo que pressupõe passagem dire-ta, sem considerar que exista um pro-cesso criativo no meio”.

O livro Querido John, de Nicho-las Sparks, caiu de tal forma na graça dos leitores que, assim como Harry Potter, ganhou sua versão para o cinema. E o sucesso foi tão estrondoso que, após o lançamento do filme, houve reedições da capa do livro com a imagem dos atores principais da adaptação. Clássicos de Shakespeare e os surpreenden-tes Frankenstein, de Mary Shelley, e Drácula, de Bram Stoker, da mesma forma, possuem suas recriações. O vampirão da Transilvânia tem em torno de 15 filmes com a sua histó-ria, e demonstra, assim, a força da literatura no meio cinematográfico.

Das páginas do livro

Jair Giacomini e Alexandre Borges

FILMES E LIVROS

Capa da adaptação para o cinema

Capa original do livro

Reedição da capa do livro

Capa do clássico de Bram Stocker

Uma das adaptações para o cinema

Page 4: Jornal Unicom especial Feira do Livro

4

FEIR

A D

O LI

VRO

Uma trajetória marcada pela inovação

Exposição é modernizada para

atrair cada vez mais apaixonados

pela leitura

LUÍSA ZIEMANNREPORTAGEM

Sem tema, sem patrono e sem escri-tor homenageado. Assim estreou a Fei-ra do Livro de Santa Cruz do Sul. Mas nem a falta de apoio ou público, ambos tímidos no começo, diminuíram o de-sejo de popularizar a leitura. Hoje, o evento é considerado um dos mais im-portantes do gênero e também um dos destaques no cenário sociocultural do estado. Organizada pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) há 25 anos, a mostra conquista mais visibilidade e credibili-dade a cada edição.

Porém, o histórico de manifesta-ções literárias na cidade antecede a década de 80. Outras exposições tam-bém deixaram sua marca e serviram de base para a estruturação da Feira. Desde o início as dificuldades foram constantes e, até chegar ao seu forma-to atual, foram feitas inúmeras mo-dificações. No entanto, manteve-se igual a qualidade da sua maior atra-ção: os livros.

Segundo o professor e chefe do Departamento de Letras da Universi-dade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Ele-nor Schneider, o primeiro movimento cultural-literário presente no municí-pio foi a Feira Intercolegial Estudantil do Livro (Fiel), de 1969 a 1974. Voltada ao público jovem e, na época, existente em várias cidades, ela surgiu do esfor-ço de alunos do ensino médio de esco-las públicas e particulares.

Publicações selecionadas com antecedência eram cedidas por edi-toras de Porto Alegre por consig-nação e vendidas a baixo custo. “Os próprios estudantes eram os livrei-ros”, lembra Schneider. O principal objetivo era expor obras de qualida-de com descontos atrativos e, assim,

enriquecer o nível de leitura das pessoas. Em todas as suas edições, a Fiel recebeu centenas de estudantes de diferentes partes do estado.

Com o fim dessa exposição, a cida-de ficou sete anos sem evento destina-do ao público leitor. Em 1982, iniciou o que viria a ser a Feira do Livro de San-ta Cruz do Sul. Realizada pelo setor de Programação da então 6ª Delegacia da Educação - atual 6ª Coordenadoria Re-gional de Educação -, a mostra aconte-ceu, em seu primeiro ano, no segundo andar do Pavilhão Central do Parque da Oktoberfest. Já em 1983, mudou-se para a Praça Getúlio Vargas.

Conforme a coordenadora do Se-tor Cultural da 6ª DE na ocasião, Irene Baumhardt, durante as seis primeiras edições havia oito livreiros, cinco de-les da capital e três livrarias locais. O serviço de sonorização era domésti-co e o relacionamento com o público era feito pelos próprios professores. No primeiro ano, as barracas onde os livros eram expostos foram cedidas pelo extinto 8º Batalhão de Infanta-ria Motorizado (BIMtz). Nos anos se-guintes, os livreiros trouxeram suas próprias tendas. “Não havia recursos suficientes”, declara Irene.

Em 1988, em parceria com a Prefei-tura Municipal, através da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer (SMTEL), foram construídas cinco barracas de madeira, conforme a estrutura das usadas na Feira do Livro de Porto Ale-gre. A sonorização foi substituída. As fitas K7, antes trazidas de casa pelos organizadores, deixaram de fazer par-te da Feira. No mesmo ano, iniciou-se a parceria com o Sesc, principal entidade responsável pela promoção até hoje.

Também passaram a apoiar a Fei-ra do Livro a Prefeitura Municipal e a Associação Pró-cultura de Santa Cruz do Sul. A partir daquele momen-to houve o incremento de atividades paralelas, em especial, dirigidas ao público infantil. Um dos destaques du-rante o período em que a 6ª DE esteve na organização era a condição estabe-lecida para os livreiros participarem: as obras expostas só poderiam ser vendidas com 20% de desconto.

“No início, tudo era muito pre-cário e longe da infraestrutura que existe hoje”, afirma Schneider. Para Irene, a evolução “foi trabalho de formiguinha”. Segundo dados do Sesc, nas três primeiras edições o número de visitantes não chegou a 3 mil por ano. Mas, aos poucos, ele multiplicou-se e, em sua 19ª edição, alcançou o recorde de 70 mil pessoas (infográfico). A comercialização das publicações que no primeiro ano foi de apenas 480, também cresceu e, em 2006, chegou ao pico de 44.500 exemplares vendidos.

Esse resultado deve-se ao com-prometimento de seus realizadores e apoiadores, que variaram duran-te as últimas duas décadas e meia. Além da Pró-cultura, o Serviço So-cial da Indústria (Sesi), a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec), a Associação das Livrarias do Vale do Rio Pardo (Alivarp) e o Gru-po Gazeta de Comunicações também fizeram parte da promoção em algu-mas edições. Em 2005 foi criado um comitê organizador e, desde 2006, o comando está por conta do Sesc, da Prefeitura Municipal e da Universi-dade de Santa Cruz do Sul (Unisc).

Page 5: Jornal Unicom especial Feira do Livro

5

FEIRA DO LIVRO

Durante nove dias os mais variados gêneros literários são expostos ao ar li-vre no coração da cidade. Propagar cul-tura e levar o livro até a mão do leitor eram os principais objetivos da Feira do Livro. “No início, o porquê da sua realiza-ção era desenvolver o interesse pela lei-tura”, conta Irene Baumhardt. “Esta deve ser uma das finalidades até hoje.”

Enquanto a intenção é a mesma, ou-tros aspectos mudaram. Entre eles, a infraestrutura. Os lugares dos expo-sitores foram ajustados para garantir maior comodidade ao público e para to-dos os livreiros serem privilegiados de forma igual. Hoje, 21 bancas cercam o chafariz da Praça Getúlio Vargas, local de origem e sede definitiva desde 2005. “Havia muita oscilação entre os lugares de realização. Agora está definido”, diz o professor e publicitário Rudinei Kopp, envolvido na organização há sete anos.

Outra inovação foi a adoção do uso de um patrono, em 2000, e de um escritor homenageado, em 2009 (infográfico). “A Feira de hoje nos dá a possibilidade de en-contro com vários grandes autores”, afir-ma Elenor Schneider. “O maior salto foi pensar grande nesse sentido”, considera o professor. Além de autores reconhecidos nacional e internacionalmente, talentos locais também ganham espaço através da seleção do escritor homenageado.

De igual modo, eventos paralelos como os projetos Encontros com o Pro-fessor e Encontro com o Patrono surgi-ram para garantir cada vez mais a inte-ração do escritor com o público. “Além de gerar algum impacto literário, é impor-tante o autor comparecer além do dia de abertura”, salienta Roberta Corrêa Pe-reira, gerente do Sesc Santa Cruz do Sul. A intenção é cada vez mais aumentar a participação do patrono no evento, como tem acontecido nos últimos anos.

Outras atrações como A hora do con-to, realizada pela escritora Valquíria

Ayres Garcia, e Jogo de Xadrez, idealizado pelo bibliotecário Jair Teves, também divertem o público. “No início, a Biblioteca Municipal levava parte do seu acervo para a praça”, comenta Teves, “mas de-senvolver atividades lúdicas en-volvidas com a leitura ainda é a melhor saída”, destaca.

Com o intuito de tornar o even-to cada vez mais atraente e diver-sificado, o comitê organizador tra-balha o ano todo na busca por novidades. Para tudo correr conforme o planejado são feitas reuniões quinzenais, onde to-dos os assuntos pertinentes à realização da edição seguinte são discutidos. Para editor da Editora Gazeta, Romar Beling, participante desses encontros desde 2009, “a Feira se tornou um evento repre-sentativo para toda a região”.

Pretextos para seguir com o movi-mento de cultura e lazer não faltam. A motivação é a aceitação do público, fiel à principal atração literária da cidade. Para não decepcionar, este ano também há inovações. Uma delas é o lançamen-to do livro Nem te conto, idealizado por Kopp e Beling. A publicação traz série de contos relacionados a Santa Cruz do Sul, escritos por 30 autores. “O pano de fundo de todas as histórias é a cidade”, adianta Kopp.

Neste ano o posto de patrono será ocupado pelo escritor chileno Antonio Skármeta, autor da obra O carteiro e o poeta, adaptada para o cinema em 1994. Formado em Filosofia e Literatura, Skár-meta trabalhou como professor e se de-dicou ao cinema em paralelo à carreira de escritor. Valesca de Assis, patrona em 2000, será a escritora homenageada des-te ano. A santa-cruzense estreou como escritora com a publicação de A valsa da medusa, em 1990, e hoje ministra ofici-nas com ênfase no desbloqueio para a es-crita criativa.

Mudanças tornam Feira mais organizada e atraente

Page 6: Jornal Unicom especial Feira do Livro

6

AUGUSTO DALPIAZ

FREDERICO SILVA

RAFAELA SCHNEIDER

REPORTAGEM

“É muito estimulante para um escritor ser esco-lhido como patrono da feira do livro. É uma honra que aceito com alegria”. Desta forma pronunciou-se Antonio Skármeta, patrono da 25ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, ao ser procurado pela reportagem para uma entrevista. O chileno de 72 anos estará presente no evento, que ocorre de 25 de agosto a 2 de setembro. Mais de 15 obras literárias, algumas adap-tadas para o cinema e traduzidas para diversas lín-

guas, fazem parte da vida do escritor. Entre elas está O Carteiro e o Poeta.

O Unicom conversou com Skármeta para saber dos seus vínculos com a literatura, o cinema e o seu país de origem. Na entrevista descobriu-se que ele está ansioso para conhecer Santa Cruz do Sul. “Sei de seus belos atra-tivos turísticos e da influência alemã na região”, pronun-ciou-se. Conheça o patrono através da entrevista que você confere em português na página 6 e em espanhol, na 7.

Patrono da 25ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul diz-se honrado

em participar do maior evento literário

da cidade

Quando o senhor começou a es-crever?

Comecei a escrever quando era criança em Buenos Aires, primeiro poemas e canções e, mais tarde, con-tos. Depois parei e somente li muito. Mas aos dezesseis anos eu já tinha certeza de que queria ser escritor e desse momento em diante não parei de escrever até hoje. Por sorte, qua-se todos os meus romances foram publicadas no Brasil. Meu pai foi muito importante no meu desenvol-vimento porque me estimulou criar desde criança.

Em seus livros, há muitas refe-rências ao Chile. Os fatores são au-tobiográficos?

As experiências pessoais costu-mam dar autenticidade e calor aos relatos. Às vezes recorro às emoções que tive para tornar mais expressi-vas as ficções que escrevo.

No livro “La Composición” (“A Redação”, em português) há muitos vínculos com o futebol. Como é seu contato com este esporte?

Gosto muito de futebol. Nunca fui bom jogador, de modo que me casti-gavam nas peladas do bairro me co-locando como goleiro. Segurei a bola tantas vezes com as mãos, que decidi que seria melhor ser jogador de bas-quete. Tenho inclusive um conto que se chama “Basketball”.

Como foi sua relação com Pablo

Neruda? Tem algo a ver com Mario Jiménez e Neruda em Ardiente Pa-ciencia (“O Carteiro e o Poeta”, em português)?

Foi uma conversa muito alegre com ele. Cheio de ironia, de cita-ções de poemas, passeios pela praia e taças de vinho. Uma pessoa calo-rosa e inspiradora.

A adaptação de O Carteiro e o Po-

eta para o filme foi o que o senhor imaginava? Qual é a sensação de ver um filme baseado em uma de suas obras ganhar um Oscar?

O filme de Michael Radford foi um sucesso mundial e fiquei muito feliz quando teve cinco indicações ao Oscar. O diretor conseguiu man-ter muito bem o equilíbrio entre dra-ma, humor, poesia e política existen-te no romance.

Como foi ter que presenciar o

momento mais triste da história do Chile, que foi a ditadura de Pino-chet?

Foi um regime repressivo e ar-bitrário. Houve assassinatos e vio-

lação dos direitos humanos. Mas o povo chileno encontrou o caminho para afastá-lo. Eu conto alguma coi-sa sobre isto no meu último romance “Los días del Arcoíris” (em português, Os dias do Arco-íris).

E hoje, como vê o momento que o

Chile está passando?De democracia estável, de uma

economia razoavelmente sólida e de um processo muito lento de redistri-buição da riqueza. Por sorte, nossos estudantes estão atentos e se rebe-lam contra as injustiças.

Qual é a sua sensação ao ser ho-menageado na Feira do Livro de Santa Cruz do Sul?

É muito estimulante para um es-critor ser escolhido como patrono da feira do livro. É uma honra que aceito com alegria. Além disso, te-nho enorme curiosidade para estar em Santa Cruz do Sul: sei de seus belos atrativos turísticos e da influ-ência alemã na região. Tenho a im-pressão que poderia ser uma exce-lente cidade para que algum diretor brasileiro se entusiasmasse para filmar ali meu romance Um pai de cinema (Ed. Record). O povoado ori-ginal desta obra no Chile é Contul-mo. Quero ver com meus próprios olhos se há semelhanças com Santa Cruz do Sul. Além disso, gosto da ideia de ir a um lugar onde moram alguns poetas jovens muito bons como Mauro Ulrich, Romar Beling e Daniela Damaris. Espero conhecê-los pessoalmente.

Tradução realizada por Hildegard Susana Jung

PATR

ONO

Padrinho chilenoPadrinho chileno

Santa Cruz recebe Antonio Skármeta

Page 7: Jornal Unicom especial Feira do Livro

7

¿Cuando comenzó a escribir? Comencé a escribir cuando

niño en Buenos Aires, primero poemas y canciones, luego cuen-tos. Después paré y sólo leí mucho. Pero a los dieciséis años estaba completamente seguro de que quería ser escritor y desde allí en adelante no dejé de escribir hasta hoy. Por suerte casi todas mis no-velas están publicadas en Brasil. Importante en mi desarrollo fue mi padre que me estimuló a ser un creador desde niño.

¿En sus libros, tiene muchas referencias a Chile. Los factores son autobiográficas?

Las experiencias personales suelen dar autenticidad y calidez a los relatos. A veces acudo a las emociones que he tenido para ha-cer más expresivas las ficciones que escribo.

¿En el libro “La Composicion”

tiene muchos vínculos con el fút-bol. ¿Cómo es su contacto con este deporte?

Me gusta mucho el fútbol. Nunca fui bueno para jugarlo, de modo que me castigaban en las pichangas de barrio poniéndome de arquero. Tomé tantas veces la pelota con las manos, que decidí que mejor sería jugador de basketball. Tengo un cuento incluso

que se llama “Basketball” ¿Cómo fue tu relación con Pa-

blo Neruda? Tiene que ver con Mario Jiménez y Neruda en “Ar-diente paciencia”?

Fue un diálogo muy alegre con él. Lleno de ironía, de citas de poe-mas, paseos por la playa, y copas de vino. Una persona cálida e inspira-dora.

¿La adaptación del “Ardiente paciencia” para la película, fue lo que usted imaginabas? ¿Cuál es la sensación de una película basada en uno de sus obras ganar un Oscar?

El film de Michael Radford fue un éxito mundial y fui muy feliz cuando tuvo cinco nominaciones al Oscar. El director logró mantener muy bien el equilibrio de drama, humor, poesía y política que tiene la novela.

¿Como fue ter de hacer frente a

el momento más triste de la histo-ria de Chile, que fue la dictadura de Pinochet?

Fue un régimen represivo y arbitrario. Se asesinó y se viola-ron los derechos humanos. Pero el pueblo chileno encontró el cami-no para desplazarlo. Algo de esto cuento en mi última novela “Los días del Arcoíris”.

¿Y hoy, cómo ves el momento en que pasa a Chile?

La democracia estable, una eco-nomía razonablemente sólida, un proceso muy lento de redistribuci-ón de la riqueza. Por suerte nues-tros estudiantes están atentos y rebeldes contra las injusticias.

¿Cuál es su sensación de ser honrado en la Feria del Libro de Santa Cruz do Sul?

Es muy estimulante para un es-critor ser elegido patrono de la feria del libro. Es un honor que acepto con alegría. Además tengo enorme curio-sidad por estar en Santa Cruz do Sul: sé de sus bellos atractivos turísti-cos y de la influencia alemana en la zona. Tengo la impresión que podría ser una excelente ciudad para que al-gún director brasilero se entusiasme para filmar allí mi novela “Um pai de cinema” (Ed. Record).El pueblo origi-nal de esta obra en Chile, es Contul-mo. Quiero ver con mis propios ojos si hay semejanzas con Santa Cruz do Sul. Además me gusta ir a un lugar donde viven algunos poetas jóvenes muy buenos como Mauro Ulrich, Ro-mar Beling, y Daniela Damaris. Espe-ro conocerlos personalmente.

Entrevista realizada por Augusto Dalpiaz

Esteban Antonio Skármeta Branicic nasceu no dia 7 de novembro de 1940, em Antofagasta, Chile. Na Universidade do Chile (Universidad De Chile) estudou filosofia e literatura e, em 1973, tornou-se professor de literatura na instituição, além de diretor teatral. Realizou sua graduação na Universidade de Columbia (Columbia University), Estados Unidos.

Devido ao Golpe Militar ocorrido no Chile em 1973, Skármeta precisou sair do país e refugiar-se na Argen-tina durante um ano, onde escreveu o livro de relatos Tiro libre (1973). A Alemanha foi seu refúgio durante 15 anos, entre 1974 e 1989. Nesse país europeu, o au-tor dedicou-se ao cinema e trabalhou como professor na Academia alemã de cinema e televisão. Também,

enquanto estava na Alema-nha, escreveu a história de O Carteiro e o Poeta (resenha), em 1985. Após 16 anos de exílio, voltou ao Chile.

Antonio Skármeta já recebeu di-versos prêmios. Dentre eles destacam-se o Prêmio Casa das Américas, em 1969, pelo livro Desnudo en el Tejado e o Prêmio Municipal de Literatura Infantil e Juvenil, pelo romance El baile de la victoria, 2003. O autor foi nomeado embaixador do Chile na Alemanha em 2000. Skármeta tornou-se um dos ícones do povo chileno pelo modo pe-culiar como escreve críticas sociais em seus livros.

Do Chile para o Brasil

Mario Jimenez é morador de Ilha Negra, litoral do Chile, sem grandes pretensões. Filho de pescador, não quer seguir a carreira de seu pai, deixando-o frustrado. Por ser a única pessoa que sabe ler na ilha, consegue o emprego de carteiro da localidade. Como a cidade é pequena, somente com analfabetos, seu único cliente é Pablo Neruda, que recebe diversas cartas diariamente. Ao entregar suas correspondências e, por insistência do jovem, o carteiro e o poeta tornam-se amigos e confidentes.

Nessa relação, Neruda ajuda Ma-rio a entender metáforas e poesias e o auxilia em suas conquistas amoro-sas. No período em que se conhecem, a história dos dois passa por momen-tos complicados devido à realidade do Chile, com a queda da democracia e a ascensão de Pinochet. O Carteiro e o Poeta é um livro que fala de relações não convencionais, seja entre amigos ou entre homem e mulher.

enquanto estava na Alema-nha, escreveu a história de O Carteiro e o Poeta (resenha), em 1985. Após 16 anos de exílio, voltou ao Chile.

Antonio Skármeta já recebeu di-versos prêmios. Dentre eles destacam-se o Prêmio

em 2000. Skármeta tornou-se um dos

culiar como escreve críticas sociais

Confira + no

site da feira

O Carteiro e o Poeta

PATRONO

Resenha

Santa Cruz recebe Antonio Skármeta

Page 8: Jornal Unicom especial Feira do Livro

8

PAIX

ÃO

Histórias de quem é apaixonado por

livros e tem neles os seus melhores

amigos

Vício da leitura envolve paixão

LUIZA ADORNAREPORTAGEM

Ângela não abandona seus livros nem

mesmo no trabalhomesmo no trabalhomesmo no trabalho

tras obras. Por sugestão de sua mãe, foi na segunda livraria e começou a procurar. “Rata de biblioteca é as-sim.” Foi, então, que observou atrás da coleção Jovem Sherlock Holmes - sua grande paixão – o que tanto de-sejava. “Todos sabem o quanto gosto de tudo que envolva Holmes. Fiquei impressionada ao encontrar o que tanto queria, atrás de algo que tanto amo. Saí de lá feliz e realizada.”

Apaixonada pelas histórias do de-tetive, Andressa tem como livro de cabeceira as coletâneas de Sherlock Holmes. “Eu queria ter escrito esse personagem. Pode parecer raso na primeira leitura, mas é, na verdade, cheio de nuances e detalhes. Ele po-deria tranquilamente ter existido. Sem contar que se eu pudesse en-trevistar o Sir Arthur Conan Doyle, autor da série, passaríamos um bom tempo falando do senhor Holmes, com certeza.”

Ter escolhido jornalismo deve-se, também, ao hábito adquirido. “Sem-pre gostei de escrever, antes mesmo de incorporar a leitura em minha vida. Mas, com a paixão por ela, mi-nha vontade de contar histórias, aprender e descobrir aumentaram. Foi como uma bolinha de neve, uma coisa levou a outra.”

Assim como Andressa, Ângela Cris-tina Bartmann, agente administrati-

mesmo no trabalhomesmo no trabalhomesmo no trabalhomesmo no trabalho

tras obras. Por sugestão de sua mãe, tras obras. Por sugestão de sua mãe, foi na segunda livraria e começou foi na segunda livraria e começou foi na segunda livraria e começou foi na segunda livraria e começou foi na segunda livraria e começou foi na segunda livraria e começou a procurar. “Rata de biblioteca é as-a procurar. “Rata de biblioteca é as-sim.” Foi, então, que observou atrás sim.” Foi, então, que observou atrás

- - sua grande paixão – o que tanto de-sua grande paixão – o que tanto de-sejava. “Todos sabem o quanto gosto sejava. “Todos sabem o quanto gosto de tudo que envolva Holmes. Fiquei de tudo que envolva Holmes. Fiquei impressionada ao encontrar o que impressionada ao encontrar o que tanto queria, atrás de algo que tanto tanto queria, atrás de algo que tanto

Apaixonada pelas histórias do de-Apaixonada pelas histórias do de-tetive, Andressa tem como livro de tetive, Andressa tem como livro de

Sherlock Sherlock . “Eu queria ter escrito esse . “Eu queria ter escrito esse

personagem. Pode parecer raso na personagem. Pode parecer raso na primeira leitura, mas é, na verdade, primeira leitura, mas é, na verdade, cheio de nuances e detalhes. Ele po-cheio de nuances e detalhes. Ele po-deria tranquilamente ter existido. deria tranquilamente ter existido. Sem contar que se eu pudesse en-Sem contar que se eu pudesse en-trevistar o Sir Arthur Conan Doyle, trevistar o Sir Arthur Conan Doyle, autor da série, passaríamos um bom autor da série, passaríamos um bom tempo falando do senhor Holmes, tempo falando do senhor Holmes,

Ter escolhido jornalismo deve-se, Ter escolhido jornalismo deve-se, também, ao hábito adquirido. “Sem-também, ao hábito adquirido. “Sem-pre gostei de escrever, antes mesmo pre gostei de escrever, antes mesmo de incorporar a leitura em minha de incorporar a leitura em minha vida. Mas, com a paixão por ela, mi-vida. Mas, com a paixão por ela, mi-nha vontade de contar histórias, nha vontade de contar histórias, aprender e descobrir aumentaram. aprender e descobrir aumentaram. Foi como uma bolinha de neve, uma Foi como uma bolinha de neve, uma

Assim como Andressa, Ângela Cris-Assim como Andressa, Ângela Cris-tina Bartmann, agente administrati-tina Bartmann, agente administrati-

va da Prefeitura de Paraíso do Sul, lê desde criança. “O primeiro livro que ganhei foi uma Bíblia infantil com gra-vuras. Tinha 7 anos quando recebi o presente de minha prima Lizete.” Além disso, sempre teve acesso a revistas. “Comecei a ler e não parei mais”.

Graduada em Gestão Pública, Ân-gela não tem preferência específica. “Gosto de ler, simplesmente: de Luis Fernando Veríssimo, Gabriel Garcia Márquez até Agatha Christie.” Para a agente administrativa, não existe regra. “Leio também livros de ges-tão pública, elaboração de projetos, sustentabilidade e contabilidade pú-blica.” Como livro de cabeceira, ela elege Heróis de Verdade, de Rober-to Shinyashiki. “Perdi as contas de quantas vezes o li.” De George R.R. Marin, o livro A Guerra dos Tronos é seu companheiro atual.

“A leitura estimula o modo de falar das pessoas. E escrever também faz parte desse processo.” Ângela, apai-xonada, já esteve presente em feiras nas cidades de Porto Alegre, Agudo, Santa Maria assim como em Paraíso do Sul, cidade onde reside.

Martha Medeiros já dizia: “Tem gente que diz que uma casa sem cor-tinas é uma casa nua. Eu penso o mes-mo de uma casa sem livros. É como se fosse habitada por pessoas sem ima-ginação, que não tem histórias pra contar.” E, pelo jeito, esse pensamento

não é apenas da escritora gaúcha.

tras obras. Por sugestão de sua mãe, tras obras. Por sugestão de sua mãe, foi na segunda livraria e começou foi na segunda livraria e começou foi na segunda livraria e começou foi na segunda livraria e começou foi na segunda livraria e começou a procurar. “Rata de biblioteca é as-a procurar. “Rata de biblioteca é as-sim.” Foi, então, que observou atrás sim.” Foi, então, que observou atrás da coleção da coleção sua grande paixão – o que tanto de-sua grande paixão – o que tanto de-sejava. “Todos sabem o quanto gosto sejava. “Todos sabem o quanto gosto de tudo que envolva Holmes. Fiquei de tudo que envolva Holmes. Fiquei impressionada ao encontrar o que impressionada ao encontrar o que tanto queria, atrás de algo que tanto tanto queria, atrás de algo que tanto amo. Saí de lá feliz e realizada.” amo. Saí de lá feliz e realizada.”

tetive, Andressa tem como livro de tetive, Andressa tem como livro de cabeceira as coletâneas de cabeceira as coletâneas de HolmesHolmespersonagem. Pode parecer raso na personagem. Pode parecer raso na primeira leitura, mas é, na verdade, primeira leitura, mas é, na verdade, cheio de nuances e detalhes. Ele po-cheio de nuances e detalhes. Ele po-deria tranquilamente ter existido. deria tranquilamente ter existido. Sem contar que se eu pudesse en-Sem contar que se eu pudesse en-trevistar o Sir Arthur Conan Doyle, trevistar o Sir Arthur Conan Doyle, autor da série, passaríamos um bom autor da série, passaríamos um bom tempo falando do senhor Holmes, tempo falando do senhor Holmes, com certeza.”com certeza.”

também, ao hábito adquirido. “Sem-também, ao hábito adquirido. “Sem-pre gostei de escrever, antes mesmo pre gostei de escrever, antes mesmo de incorporar a leitura em minha de incorporar a leitura em minha vida. Mas, com a paixão por ela, mi-vida. Mas, com a paixão por ela, mi-nha vontade de contar histórias, nha vontade de contar histórias, aprender e descobrir aumentaram. aprender e descobrir aumentaram. Foi como uma bolinha de neve, uma Foi como uma bolinha de neve, uma coisa levou a outra.”coisa levou a outra.”

tina Bartmann, agente administrati-tina Bartmann, agente administrati-

De todos os estilos, de 100 a 800 pá-ginas. Não importa o tamanho e, muito menos, o estilo do livro. Ler é a única exigência do coração daqueles chama-dos viciados em histórias, no sentido de ficarem concentrados ao mundo das letras, linhas, páginas e pontos-finais. Sentir satisfação no fazer isso. Acom-panhar do começo ao fim, algo criado por alguém desconhecido, é ter a opor-tunidade de conhecer mais a vida e os gostos das pessoas. E existem várias delas que pensam assim.

Para leitores compulsivos como Andressa Bandeira, acadêmica do curso de Comunicação Social da Uni-versidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), “ler proporciona uma sensação única e maravilhosa”. Estudante do 4º semes-tre de Jornalismo, ela diz ter começa-do a gostar aos 11 anos, quando sua mãe se tornou sua professora de lite-ratura. “Ela tinha uma biblioteca, na verdade era um armário repleto de li-vros, onde os alunos podiam escolher os que quisessem. E aí, era só alegria!”. Andressa explica: “Quando comecei a ler Harry Potter, não larguei mais a companhia dos livros.”

Entre as diversas histórias pro-porcionadas por seu hábito, a arroio-tigrense lembra uma ocasião na fei-ra de Sobradinho. “Eu estava maluca atrás de uma publicação, desatenta para todo o resto. Mas, como na Fei-ra tinha duas livrarias expondo, fui à maior e, mesmo depois de re-virá-la, não a encontrei”. Desanimada, Andressa ainda saiu de lá com ou-

Andressa ‘viaja’ ao ler Sherlock Holmes

Page 9: Jornal Unicom especial Feira do Livro

9

DESTIN

O

Quando a leitura aproxima destinos

Relaçãoproporcionada

pela literatura é explorada no slogan da 25ª Feira do Livro

ISADORA TRILHAREPORTAGEM

Unir-se a pessoas, ideias e cultu-ras torna-se fácil ao ler um livro. Não é à toa que o slogan escolhido para a 25ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul traz isso à tona. A frase Ler apro-xima simplifica todo o espírito comu-nicativo e aconchegante do evento e de sua principal estrela: o livro. Ro-berta Pereira, gerente do Serviço So-cial do Comércio (Sesc) de Santa Cruz do Sul, declara sua satisfação com a escolha. “Achei bárbaro porque, assim como a leitura, a Feira aproxima pes-soas e culturas”. Ela também reforça o caráter moderno da frase, uma vez que as novas tecnologias difundem a leitura para qualquer lugar com mais rapidez. Downloads de livros podem ser feitos em computadores e tablets, o que facilita esse processo.

Quem também gostou do slogan foi Laura Gomes, estudante de jorna-lismo da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). “Por mais estranho que pareça, ele faz todo o sentido.” Que a leitura configura momento de interação entre leitor e livro, todos sabem. Porém, tornou-se comum con-versar com outras pessoas - inclusive quem não leu a mesma obra - sobre a história em si. Laura concorda e con-

ta já ter iniciado amizades em fun-ção disso. “Ler é uma atividade, na maioria das vezes, solitária. Porém, você sempre vai querer discutir com alguém sobre o que leu. Não importa se a pessoa leu o livro ou não, se você conhece ela ou não. Já fiz muitos ami-gos conversando sobre literatura.”

Se uma conversa sobre histórias e suas personagens pode criar laços, imagine quando o mesmo gosto por livros é dividido entre pessoas que nunca sonhavam em se falar antes. Foi o que aconteceu há seis anos com Letícia Lorensini, de 20 anos, e Renan Dalmoro, de 19, ambos de Encantado. Na época, Letícia cursava a oitava sé-rie na Escola Estadual de Ensino Fun-damental Farrapos. Ela acompanhou cada lançamento da série Harry Pot-ter e admite ser fã até hoje.

Foi nesse período que a estudan-te descobriu existir em sua escola outros fãs da saga. Eles se reuniam para ler e discutir um possível final para a história. Renan, que estudava na sétima série, também integrava o grupo. O assíduo seguidor de cada no-vidade lançada por J.K. Rowling logo começou a amizade com Letícia. “Me identifiquei muito com ela. Além da

paixão pelo Harry, gostávamos das mesmas bandas e filmes”, conta Re-nan. Os dois se encontravam sempre que podiam para desfrutar de seu vício em comum. “Esperávamos an-siosos pelo lançamento dos livros. Chegávamos ao ponto de imprimir versões traduzidas por fãs da inter-net, tamanho era o nosso desespero”, recorda Letícia.

Hoje Letícia é acadêmica do curso de Produção em Mídia Audiovisual da Unisc e Renan faz cursinho pre-paratório para o Enem. Ele sonha cursar Psicologia em uma universi-dade federal. A amizade permeada por bruxaria, feitiços, vilões e moci-nhos continua viva. A internet tor-nou-se o principal meio de comuni-cação entre eles. “Ainda nos pegamos falando dos livros ou relembrando o tempo em que íamos ao cinema jun-tos para assistir os filmes da série”, lembra Letícia.

Sobre o slogan da Feira deste ano, Renan aponta que a leitura só traz benefícios. “Ler é, muitas vezes, um refúgio. Quando encontramos alguém que se refugia nos mesmos livros que nós, nos aproximamos ine-vitavelmente.”

Page 10: Jornal Unicom especial Feira do Livro

10

Leitura estimula jovens à escrita

EDUARDA PAVANATTOREPORTAGEM

Acadêmicos da Unisc revelam suas aptidões

para a escrita e produção de livros

Um bloquinho e uma caneta. Bian-ca Cardoso precisou apenas disso para dar início ao seu livro, escrito quando ainda estava no ensino mé-dio. A paixão da acadêmica de jorna-lismo da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) pela escrita começou quando tinha oito anos, após ganhar de aniversário um diário. “Eu escre-via como forma de desabafar, de co-locar para fora coisas que eu tinha guardadas dentro de mim.”

Na infância, Bianca era fã de gibis como Turma da Mônica e Tio Patinhas. “Conforme eu fui ama-durecendo, o gosto pela leitura também foi”, explica. Com isso, começou a se interessar por livros que abordassem temas sobre re-lacionamentos para, mais tarde, escrever seu próprio romance. “A história do livro era, na verdade, um pouco do que eu queria para mim. Eu queria fugir da minha re-alidade e o único jeito disso acon-tecer era quando eu escrevia”.

Bianca dedicou oito meses para a produção do seu livro, o que lhe cau-sou problemas na escola. “Eu só pen-sava em escrever. Ao invés de pres-tar atenção nas aulas, por exemplo, eu pegava meu bloquinho e uma ca-neta e ficava ali, naquele mundinho onde eu criava as coisas de acordo

com o meu gosto.” Foi esse o principal motivo para que a estudante repetisse de ano.

Compartilha o mesmo gosto pela leitura e escrita, a acadêmica de 19 anos do 1º semestre de jornalismo, tam-bém da Unisc, Angelita Borges.

Aos 17 ganhou o concurso Anto-logia Poética, realizado pelo

Departamento Municipal de Cultura de Santa Cruz do Sul. Este era dividido por gêne-

ros e os participantes podiam inscrever seus contos, poesias e

crônicas. An-gelita par-ticipou dos três e ven-ceu nas ca-tegorias conto e poe-sia. O prêmio? Um livro publicado com os textos dos vencedores.

D e n o m i n a d o Mona Lisa, o conto possui duas páginas e traz como tema o relacionamento de uma jovem modelo e um homem 30 anos mais velho. “Apesar da idade, era a única pessoa que inflava o seu ego. Ele a chamava de Mona Lisa.”

Incentivada pela avó, que a en-sinou a ler antes mesmo de entrar para a escola, a acadêmica já pro-duziu quatro novelas e mais de 30 contos. “Desde criança minha avó já me incentivava a ler. Ela tinha várias revistas e livros em casa. Foi por isso, também, que comecei a es-crever contos e outros textos mais elaborados com 13 anos de idade.” Além da avó, Angelita ressaltou o incentivo da mãe e da professora de português da época. O livro, com os textos dos vencedores, foi lançado na 23ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, em 2010.

Ao contrário das duas alunas, o estudante do 5º semestre de Direito da Unisc, Nathan Ritzel dos Santos, dá outro foco para os seus textos. “Eu sempre tive aptidão maior para es-crever coisas sombrias, mais para o lado Edgar Allan Poe”, diz. Seu livro, Fragmentos Dissonantes, formado por diversos contos, retrata isso.

A proposta surgiu a partir do dese-jo de dar continuidade a alguns pen-samentos. “Escrevi o livro, pois tinha ideias que eu achava interessantes e eu queria construir uma coisa maior com isso.” Nathan começou a ler

aos sete anos. Pri-meiro, gibis e, depois, narrati-

vas mais longas, chegando a autores como Howard Phillips Lovecraft, Douglas Adams e Edgar Allan Poe.

Seu segundo livro, ainda não fi-nalizado, tem como base os pensa-mentos de Nietzsche e Maquiavel, de que o homem, em sua essência, é algo ruim e traiçoeiro. A história foi idea-lizada com a ajuda do acadêmico de Publicidade e Propaganda Guilher-me Serveira dos Santos, da Unisc.

Ritzel foi autor de um blog, hoje desabilitado, mas que lhe rendeu vários leitores e incentivadores, chamado Hipocrisia Contraditó-ria. “O incentivo é o ar do escritor ou, pelo menos, dos escritores nar-cisistas como eu, que precisam ver sua obra apreciada”. Em fevereiro deste ano foi convidado para escre-ver crônicas para o jornal Arauto, de Vera Cruz.

Quando o assunto é a publica-ção desses trabalhos, os estudan-tes divergem. Nathan Ritzel relata que já estuda orçamentos de edi-toras e “as vantagens de uma para a outra”. Angelita Borges espera o momento de eles estarem “bons o suficiente” para publicar. Já Bian-ca Cardoso nem pensa nisso. “Es-sas coisas eu não gosto de mostrar, são minhas. Foi algo que senti na-quela época e não gostaria que al-guém visse”, confessa.

eu pegava meu bloquinho e uma ca-neta e ficava ali, naquele mundinho onde eu criava as coisas de acordo

com o meu gosto.” Foi esse o principal motivo para que a estudante repetisse de ano.

gosto pela leitura e escrita, a acadêmica de 19 anos do 1º semestre de jornalismo, tam-bém da Unisc, Angelita Borges.

Aos 17 ganhou o concurso Anto-logia Poética, realizado pelo

Departamento Municipal de Cultura de Santa Cruz do Sul. Este era dividido por gêne-

ros e os participantes podiam inscrever seus contos, poesias e

crônicas. An-

tegorias conto e poe-sia. O prêmio? Um livro publicado com os textos dos vencedores.

D e n o m i n a d o Mona Lisa, o conto

LEIT

URA

Page 11: Jornal Unicom especial Feira do Livro

11

200 palavras, 150 caracteres ou apenas uma linha. Com este pequeno conjunto de letras, algumas pessoas já conseguiriam escrever uma his-tória com início, meio e fim. São os chamados minicontos, produção que tem sido associada ao minimalismo. Toda essa história iniciou com o gua-temalteco Augusto Monterroso, que escreveu “Quando acordou, o dinos-sauro ainda estava lá”, um miniconto que soma 37 letras. Na verdade, não existem regras rígidas quanto a esse número: alguns o definem como con-tendo menos de 50, enquanto outros consideram 300 caracteres um bom número. O desafio é construir o tex-to com menos letras possível.

Pela definição do professor Ele-nor José Schneider, do Departa-mento de Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), as características de um miniconto são as mesmas de um conto, mas, com tudo mais reduzido. São elas: a concisão, a narratividade, a to-talidade, o subtexto, a ausência de descrição e o retrato de pedaços da vida. “Não cabem muitas persona-gens, grandes cenários. Tudo é pe-queno”, esclarece. Porém, enfatiza que, com tão pouco espaço para es-crever, só alguns conseguem criar boas histórias. Tudo fica muito implícito e, por isso, esse tipo de leitura exige autores maduros e

qualificados e leitores capazes de refletir sobre.

A popularização do miniconto tem muito a ver com as tecnolo-gias de comunicação. Esses espaços abriram oportunidades para todos. “Se antes era muito difícil ter obras aceitas por alguma editora, hoje to-dos podem criar seus espaços, pu-blicar”, explica Schneider. O texto torna-se bastante próximo do ritmo de vida dos jovens, que interagem com várias coisas ao mesmo tempo. Assim como a velocidade da infor-mação, o miniconto é experiência literária instantânea.

Tiago Moralles, redator publici-tário paulista, é a prova disso. Ele conheceu as micronarrativas atra-vés de alguns escritores que lhe mandavam coletivos no Twitter e quando viu “também estava pro-duzindo”. Moralles compara a mi-cronarrativa a uma fotografia, que é pequeno retrato de uma grande cena: o miniconto é apenas frag-mento de história. Ora tem início, ora tem meio, ora tem fim. “É es-tranha essa questão de ter início, meio e fim dentro de uma história que, às vezes, não tem nem tama-nho para começar”. Porém alerta: “no início achamos que tudo são micronarrativas, mas não”. No meio existem frases, versos, aforismos, pensamentos e apenas aos poucos

se percebe que aquilo não é história. “Aí começa a sessão desapego. E um monte de produção vai para o lixo”.

A acadêmica do 7º semestre de Publicidade e Propaganda da Unisc, Taíssi Alessandra Cardoso, também teve seu primeiro contato com a lite-ratura minimalista através do Twit-ter. Em 2011, ao participar de uma oficina chamada Lego de Palavras no Intercom Sul em Londrina/PR, ela deveria escrever, limitada pelos 140 caracteres desta rede social, uma es-pécie de crônica. O que fascina a es-tudante é a capacidade de os autores construírem enredos consistentes em espaços tão curtos. Além disso, ela se interessa pela subjetividade dessas construções: “são narrativas nas quais as entrelinhas dizem mais do que aquilo que foi escrito”.

Os minicontos são resultado de trabalho árduo em que se enxuga a todo instante: cortam-se excessos, vírgulas e pontos. Reduz-se um tex-to que poderia se desenvolver como um belo romance. Mas, o papel prin-cipal cabe aos leitores: sem a inter-pretação destes, a história parece vazia. Diferente de outras constru-ções literárias, a imaginação entra em cena. No entanto, Elenor Schnei-der deixa um recado: “Minicontos são lanches rápidos. Sustentam por um tempo. Comida mais consistente tem que ler o tempo todo”.

Literatura que dá asas à imaginação, aos

poucos os minicontos ganham o gosto dos

leitores

Poucas letras também fazem história

Miniconto é um conto pequeno. Portanto deve ter as característi-cas do conto: narratividade, isto é, narrador, personagens, espaço e tempo. Efeito. Intensidade. Tensão. Isso tudo com número limitado de caracteres. Muitos autores chamam de minicontos aqueles com até 200 caracteres, microcontos com até 150 caracteres e nanocontos com até 50 caracteres. Caractere é qualquer letra ou sinal de pontuação. O título não entra na contagem. Os minicontos são fi cção e têm como objetivo envolver o leitor no enredo. Use um bom título, ele é uma isca para seu leitor.

Pode ter humor, mas não é uma piada. O subtexto é o melhor do miniconto, é o que não está dito, aquilo que cabe ao leitor descobrir, imaginar. Q uanto mais leituras possíveis, melhor o miniconto. Q ualquer assunto pode ser inspiração para um bom miniconto: contos maiores, notícias de jornal, a observação da própria vida. Mas, sobretudo, a leitura e o co-nhecimento. Faça tudo diferente, tente, invente: o mini-conto é também a síntese da criatividade.

Alguns toques para você se aventurar no miniconto

MARTINA SCHERERREPORTAGEM

11

O subtexto é o melhor do miniconto, é o que não está dito, aquilo que

Q uanto mais leituras possíveis, melhor o miniconto. Q ualquer assunto pode ser inspiração para um bom

miniconto: contos maiores, notícias de jornal, a observação da própria vida. Mas, sobretudo, a leitura e o co-

Confira +

no site da

feira

MIN

ICONTOS

Page 12: Jornal Unicom especial Feira do Livro

12