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Entrevistas da pesquisadora do LEV Jânia Perla no período de março de 2013 a março de 2014. As entrevistas versam sobre temas diversos relacionados à violência e foram vinculadas nos jornais de maior circulação local: Diário do Nordeste e Opovo.
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Violência nas celas é reflexo social1 14.03.2014
Fragilidade na ressocialização dos presos revela situação quase sem controle na
reincidência
Roupas, livros e muita sujeira podem ser vistos no que sobrou dos presos. Foto:
José Leomar
Mainha, o mais conhecido pistoleiro nordestino ficou preso no IPPS.
1 Fonte: Jornal Diário do Nordeste
2
Um dos túneis cavados pelos detentos, em 2007. Este chegou a sete metros do
muro.
O cenário é de caos. Mesmo desativado desde o ano passado, o Instituto Penal
Paulo Sarasate (IPPS) ainda provoca medo. Suas paredes estão impregnadas de
energia negativa, pertences de presos espalhados pelos corredores, celas vazias,
mas que ainda guardam lembranças - a maioria marca a tragédia humana
vivenciada em 43 anos de existência. Rastros de sangue, violência, dor e sonhos
daqueles que, em muitas fugas, tentaram a liberdade a todo custo.
O mais antigo presídio do Ceará, quando inaugurado em 1970, era modelo para o
sistema penitenciário brasileiro. Foi desativado também como referência no País
como retrato da superlotação, desrespeito aos direitos humanos e condições
aviltantes para encarcerados, suas famílias e agentes prisionais. "A prisão no
Brasil é geradora de violência. Sendo que a violência ali instalada e a enfrentada
fora dela são elos da mesma sociedade, e nós não podemos jamais esquecer disso",
alerta o sociólogo José Pedro Oliveira Júnior.
Análise é compartilhada pela também socióloga e pesquisadora do Laboratório do
Estudo da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jânia Perla
Diógenes. Ela ainda destaca a fragilidade das políticas de ressocialização dos
presos, tornando os presídios e cadeias públicas superlotadas como verdadeiras
"escolas do crime". "Todos misturados, os que cometeram delitos leves dos
3
homicidas, sequestradores, assaltantes de bancos. Não existe quase a palavra
recuperação", frisa.
Não é à toa, argumenta, que um dos grandes desafios do sistema penitenciário é
impedir o uso de celulares dentro das prisões. "De lá, muitos continuam a
comandar crimes". Por isso, ressalta, é necessário manter a memória para aprender
com nossos erros. "Não podemos apenas exigir punição aos que cometem crimes,
colocando-os e esquecendo-os dentro das prisões, por mais que elas contem com
tecnologias das mais modernas", aponta a pesquisadora.
Acervo
Em setembro de 2000, os presos do IPPS se rebelaram após um acerto de contas
entre as facções, destruíram parcialmente o presídio, com o resultado de um morto
e 11 feridos. Todo acervo de documentos, fotos e registros dos detentos foi
perdido. Fatos daquela época somente na memória dos ali cumpriram penas ou de
quem trabalharam no velho presídio.
Caso do ex-agente penitenciário, Antônio Tabosa, de 68 anos, 42 dos quais dentro
do IPPS. Ele percorreu, junto com a equipe de reportagem do Diário do Nordeste,
as dependências da penitenciária. Para todos, a mesma sensação de claustrofobia,
arrepio e o questionamento de como tantos seres humanos conseguiram
sobreviver a um cenário de guerra física e psicológica, inclusive, reincidindo nos
crimes.
"Quando cheguei, em 1972, tudo era diferente, a sociedade era diferente. Os
presos eram mais respeitosos, cumprindo penas por crimes violentos sim, no
entanto, sem tanta crueldade como vimos agora. Nesse tempo que passei aqui,
tudo mudou para pior. O medo e a tensão eram constantes para todos", lembra
Antônio.
4
Outro que também comenta os últimos anos do IPPS é o agente de manutenção
Roberto Diniz. Em muitos pontos foi ele, a marretadas, que quebrou cadeados
para a passagem da equipe. Um desses locais foi a chamada Selva de Pedra, que
tem esse nome devido à construção do espaço todo em pedras. Ele lembra que,
para entrar nas celas, era preciso "autorização" dos próprios presos, no caso, os
"chefões". "Eu pedia ajuda de uma escolta para ir próximo e gritar: 'vocês me
chamaram para desentupir o vaso'", conta.
Antônio Tabosa também relembra que o primeiro preso do IPPS, o Paraíba,
conseguiu regime semiaberto, poucos anos após ser transferido para lá, vindo da
antiga Cadeia Pública. No entanto, diz, ele acabou sendo atropelado na rodovia
bem em frente à penitenciária. "Enquanto o último a sair daqui, o Militão,
continua botando boneco no presídio em Pacatuba. Um criminoso perigosíssimo
e que a gente tinha receio enquanto ele ficou aqui no IPPS", avalia, defendendo
um olhar mais justo para os agentes prisionais. "Se antes era difícil, perigoso,
agora, se tornou um verdadeiro desafio atuar na profissão", comenta.
Marcas
Ao caminhar pelos corredores, lotados de roupas, livros e muita sujeira, é possível
notar as marcas de balas nas portas de ferros e nas paredes. Muitas vezes, recorda,
na tentativa de fuga, eles subiam nos ombros uns dos outros para alcançar o topo
do muro do pátio da Selva de Pedra. "Uns chegaram a arrancar a cerca de arame.
Teve um que morreu tentando escalar o muro, sem falar dos inúmeros túneis que
escavaram nesse tempo".
Pelo IPPS passaram os bandidos mais perigosos do Estado, além de presos
políticos, na década de 70, e onde aconteceram as rebeliões históricas no Ceará.
A mais lembrada foi o motim que fez de refém o cardeal Dom Aloísio Lorscheider
e outras dez pessoas em 1994. Dentro suas muralhas, mais de 100 presos
morreram, vítimas de brigas entre as diversas gangues que disputavam o poder
5
entre as grades, de rebeliões, fugas, tentativas de fugas e motins, levando também
consigo inúmeros assassinatos praticados por eles enquanto estavam fora do
cárcere.
Nomes como do pistoleiro Mainha, de assassinos como o português Luís Militão,
de orquestrador do sequestro de Dom Aloísio, Carioca e daquele que comandou
o furto do Banco Central, Alemão, colocaram o nome do Estado do Ceará na mídia
internacional.
Na visão da pesquisadora e coordenadora do Laboratório de Antropologia e
Imagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), Peregrina Campelo, esses
bandidos são figuras emblemáticas do mundo do crime.
Para ela, o grupo conseguiu alçar Fortaleza como destaque mundial de forma
estigmatizadora. "O maior problema da violência do Ceará está ligada a
microfísica cotidiana igual ao do povo brasileiro formada pela secular
desigualdade social".
Lêda Gonçalves
Repórter
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Para não ficar no esquecimento
O Instituto Prisional Paulo Sarasate (IPPS) está prestes a ser implodido.
Desativado desde 2013, foi inaugurado em 1970. Já abrigou notórios infratores da
lei: o famigerado pistoleiro "Mainha" (espécie de figura emblemática dessa
funesta atividade), que chegou até mesmo a estampar capas de revistas; o
sequestrador conhecido como "Carioca", cabeça da ação de sequestro que
envolveu dom Aloísio Lorscheider; o inventivo "Alemão", que arquitetou o já
lendário assalto ao Banco Central de Fortaleza e, por fim, o frio Luís Militão,
perverso lusitano que premeditou o assassinato de seis conterrâneos. Além desses
6
criminosos típicos, a prisão também abrigou outros detentos que ali estiveram por
circunstâncias distintas: os presos políticos do contexto da Ditadura Militar. Desse
modo, percebe-se que por esse espaço carregado de significados negativos,
transitaram figuras que remetem a determinados contextos e épocas. Lugar
carregado de simbolismos, o espaço prisional evoluiu ao longo do tempo, sempre
carregando a função de purgatório social, onde os infratores da norma pagam por
seus delitos. Passar por essa experiência também acaba por imprimir marcas de
significação e identidade. Se criminoso comum: pária. Se preso político: herói
idealista. Enfim, nada nem ninguém escapa ao fato de tocar a realidade prisional.
Qual destino seria o ideal para essa antiga instituição? Numa cidade sem memória,
que não hesita nem um pouco em apagar o pouco que nos resta de um passado
remoto, não seria interessante pensar sobre essas questões? Afinal, o Campo de
Extermínio de Auschwitz não está de pé por trazer lembranças ternas da Segunda
Guerra Mundial: está lá para que todos lembrem dos horrores que a nossa espécie
é capaz de perpetrar. Talvez o melhor destino do antigo IPPS fosse o de ser
transformado em Museu Prisional. Um lugar onde os registros daqueles que por
lá passaram pudesse ficar preservado, bem como os fatos relevantes
protagonizados por eles. Revisar essas biografias é também repassar a nossa
História.
Fazê-lo não significa glorificar aqueles que estiveram à margem da sociedade,
mas estabelecer parâmetros e preservar fontes para o entendimento de nós
mesmos. Ou talvez devesse ser metamorfoseado numa Escola Profissionalizante,
onde os descendentes desses infratores pudessem ter oportunidades de
crescimento pessoal e laboral. O que não podemos é continuar sem entender e
encarar nosso passado. Assim nunca iremos amadurecer.
Eustáquio Alvarenga Júnior
Professor e historiador
7
Ataques têm algum nível de organização, diz
especialista2 22.02.2014
Para quem estuda as políticas de segurança e a violência urbana, os incêndios a
ônibus em Fortaleza precisam ser avaliados com cautela. Isso porque, segundo os
pesquisadores, ainda não existem elementos suficientes para afirmar a ligação dos
casos daqui com os de outras localidades.
O coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC), César
Barreira, alerta para a dificuldade de classificar os nove incêndios daqui como
“isolados” ou fruto do “crime desorganizado”, conforme cita o delegado das
investigações. “É, de certa forma, organizada. Acontece nas periferias da cidade,
quando os trabalhadores estão voltando do trabalho e em horários de pico. A tática
é evacuarem o ônibus e tocarem fogo. Está sempre preservada a questão da vida.
Isso tem todo um simbolismo. Porque eles atacam a propriedade. E não é a
propriedade das pessoas que estavam usando o ônibus.”
Também pesquisadora do LEV/UFC, Jânia Perla diz que, aparentemente, os
ataques daqui são uma tentativa de “copiar” casos do Rio e São Paulo. “Mas só
aparentemente. Seria preciso um estudo mais detido e uma investigação policial
para afirmar isso”, pondera. A estudiosa alerta para os grandes riscos de
ferimentos e morte aos quais os usuários do transporte público ficam expostos
nesses ataques.
(Bruno de Castro)
2 Fonte: Jornal Opovo
8
Ataques assustam usuários de ônibus3 19.02.2014
Desde ontem, as polícias militar e civil reforçam a segurança nos transportes
coletivos da Grande Fortaleza / A. Gonçalves Além do contratempo para
ajustar os horários à frota reduzida, o fortalezense enfrenta o medo de uma
nova modalidade de violência na cidade/ Ontem, foi registrada uma tentativa de
incêndio a um veículo que circulava no bairro Edson Queiroz, no entanto as
chamas foram controladas/ Assim como os passageiros, os motoristas lamentam
a situação, que se une às outras dificuldades enfrentadas diariamente na
profissão. Foto: Kléber Gonçalves
Conforme a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza, os motoristas das 26
linhas de Corujão estavam com medo de sofrer atentados. Foto: Naval
Sarmento
3 Fonte: Jornal Diário do Nordeste
9
Desde domingo, pelo menos sete coletivos de diferentes linhas foram incendiados
na Grande Capital.
Até ontem, sete coletivos sofreram ataques com incêndios na Grande Fortaleza.
Uma das ocorrências foi registrada na madrugada de segunda para terça-feira. A
ação atingiu um veículo que fazia a linha 631, e ocorreu na altura do Km 11 da
BR-116, em Messejana.
Por volta das 14h de ontem, dois homens foram flagrados ateando fogo em um
ônibus no bairro Edson Queiroz. Populares contiveram o incêndio e acionaram a
Polícia. O fogo atingiu dois bancos do veículo.
Muito além do contratempo para ajustar os horários à frota reduzida, o
fortalezense teve de enfrentar ainda outra situação: o medo de uma nova
modalidade de violência que começa a se instalar na cidade. Conforme a
doméstica Paula dos Santos, 30, os incidentes com os coletivos representam uma
preocupação a mais. "Se durante o dia já perigoso andar de ônibus por causa dos
assaltos, imagina de noite, com o risco de incêndio", relata.
Para o vendedor Nilton Filho, 26, o risco de depender dos coletivos se agrava. "A
gente tenta pegar outro ônibus, mas tem que ir trabalhar e acaba se arriscando",
constata.
Para os motoristas e cobradores, a nova situação se une às outras dificuldades
enfrentadas diariamente. "Sofremos com insegurança, ofensas de passageiros,
pressão das empresas, estresse do trânsito, e agora, com mais essa onda dos
ataques aos ônibus, fica muito difícil", diz o motorista Nildo Barroso, 36, na
profissão há cinco anos.
Conforme o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário no
Estado do Ceará (Sintro), Tobias Brandão, a sequência de ataques demonstra
10
como os usuários e trabalhadores em transporte público estão expostos às ações
criminosas. "Os assaltos cresceram mais de 400%", afirma. Ainda de acordo com
o diretor, o Sintro já solicitou reforço na segurança do transporte público, como
blitze surpresas em rotas de ônibus, inclusão de servidoras para fazer a revista em
passageiras e a presença de policiais descaracterizados nos coletivos.
Efeitos
Os episódios envolvendo incêndios em coletivos são cenas noticiadas com certa
frequência em outros Estados e, geralmente, estão ligados a grupos de tráfico. A
população teme ter de enfrentar cenas até então inexistentes no cotidiano da
capital cearense.
"É mais uma experiência traumatizante para as pessoas, que são constantemente
vítimas de ações criminais, e agora estão sujeitas a presenciar esses eventos
violentos", analisa a antropóloga e pesquisa do Laboratório de Estudos da
Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, Jânia Perla Diógenes.
Para ela, essas ações contribuem para a imagem de cidade perigosa associada à
Fortaleza e aumenta a sensação de insegurança. "Seja qual for a motivação desses
ataques, os efeitos são muito negativos, principalmente para o transporte público,
que já é rudimentar e ineficaz, e fica com a frota reduzida", avalia.
Corujões têm atividades paralisadas
Na madrugada de ontem, motoristas de todos ônibus das linhas Corujão, que
funcionam durante a madrugada, paralisaram suas atividades nos terminais de
Fortaleza por medo dos ataques. Os coletivos só voltaram a funcionar novamente
na manhã desta terça-feira.
Conforme justificou a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), os
motoristas das 26 linhas Corujão estavam com medo de sofrer novos atentados e,
11
após decisão dos diretores das empresas, paralisaram as atividades nos terminais
de ônibus da cidade.
Ainda de acordo com a Etufor, não existe nenhuma movimentação para qualquer
paralisação durante a madrugada desta quarta-feira, mas, devido ao receio dos
profissionais, caso exista alguma nova ocorrência do tipo, é possível que os
motoristas eles parem novamente nos terminais.
Sem feridos
Até a noite de ontem, pelo menos oito coletivos haviam sido queimados na Grande
Fortaleza. Dois deles foram incendiados na noite da última segunda-feira (17), um
na cidade de Caucaia e outro no bairro de Messejana. Apesar da proporção dos
casos, ninguém ficou ferido nas ações.
Quatro outras ações desse tipo ocorreram durante o fim de semana. Somente na
noite do último domingo, dia 16 de fevereiro, quatro ônibus foram incendiados.
As ações aconteceram nos bairros Conjunto Ceará, Jardim América e Siqueira. A
sede da Secretaria de Justiça (Sejus), também foi alvo de incidentes, sendo atacada
a tiros por volta das 22h30 de domingo.
Ontem, mais dois ônibus sofreram ataque. Um deles ocorreu no bairro Messejana.
Já o segundo incêndio a ônibus aconteceu no bairro Edson Queiroz, porém as
chamas foram controladas a tempo e não houve perda total do veículo.
A Polícia Civil abriu inquéritos para apurar os fatos e não descartou a hipótese de
que os atentados seriam uma retaliação de criminosos após o assassinato de dois
detentos no Sistema Penal, ocorridos também no último domingo.
Sete assaltos por dia nos coletivos
Durante todo o ano passado, o Sindicato das Empresas de Transporte de
Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) registrou 2.517 assaltos na Capital.
Portanto, aconteceram sete ocorrências por dia nos coletivos no ano de 2013.
12
Dessas 2.517 ocorrências; 181 foram em janeiro, 186 em fevereiro, 220 em março,
174 em abril, 182 em maio, 201 em junho, 254 em julho, 207 em agosto, 258 em
setembro, 270 em outubro, 197 em novembro e 187 em dezembro.
Já em 2012, foram registrados 615 roubos dentro dos veículos que fazem o
transporte público em Fortaleza. Dessa forma, de 2012 para o ano passado, houve
um aumento de 309%, ou seja, o número mais do que quadruplicou. Se for feita
comparação com 2011, quando houveram 279 ocorrências, o crescimento foi de
802%.
Para o assessor jurídico do Sindiônibus, Cleto Gomes, que participou de reunião
com o governo do Estado; o sindicato, antes do encontro com a Secretaria de
Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), estava muito preocupado devido ao
sério problema de insegurança. "As medidas adotadas pela SSPDS, juntamente
com toda a cúpula da segurança, deixam os empresários relativamente tranquilos
para que possam transportar os usuários de forma regular", comentou o assessor
jurídico
Solução
Agora, o órgão espera que os problemas sejam resolvidos com a investigação que
está sendo feita pela Polícia. "Os policiais vão acompanhar de forma mais efetiva
os coletivos no sentido de identificar eventuais problemas como os que
aconteceram. Eles vão estar mais próximos principalmente dos corujões para
evitar que novos fatos dessa natureza venham a ocorrer. Foi esse o prometido",
afirmou.
SAIBA MAIS
Domingo (16/02)
Ônibus é incendiado no bairro Jardim América por volta das 22h40
13
Segunda-feira (17/02)
Ônibus é incendiado no Siqueira, nos primeiros minutos do dia. À 1h, dois
coletivos foram queimados no Conjunto Ceará. À noite, outro
Ônibus foi incendiado em Caucaia
Terça-feira (18/02)
Ônibus é incendiado em Messejana durante a madrugada. À tarde, mais um ataque
foi registrado no bairro Edson Queiroz. Dois assentos
De um coletivo foram queimados
14
Ações são imitação grosseira do que acontece em SP,
diz Cid4 18.02.2014
Ao comentar sobre a série de ataques a ônibus na Grande Fortaleza, o governador
Cid Gomes disse que não vai "aceitar abusos". Prejuízo provocado pelos atentados
ainda não foi estipulado
O governador Cid Gomes criticou duramente os atentados que têm ocorrido na
Grande Fortaleza, desde a última sexta-feira. Na manhã de ontem, Cid disse ter
determinado que todas as ações sejam rigorosamente apuradas pela Secretaria da
Segurança Publica e Defesa Social (SSPDS).
“Minha determinação é que apure. Já havia acontecido um caso anteontem (sexta).
É fundamental que a gente não permita que movimentos de violência sejam rotina
na nossa Capital. Isso será aprofundado”, afirmou. As declarações ocorreram
durante um seminário no Centro de Eventos. “Não vamos aceitar abusos. Muitas
vezes são coisas orquestradas, uma imitação grosseira do que está acontecendo
em São Paulo”, disse o governador.
Responsável pela investigação, o titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF),
delegado Raphael Villarinho, informou que a Polícia trabalha com duas
possibilidades de motivação para os atentados. A primeira, e mais contundente,
sugere que a ordem para os ataques tenha partido de um presídio, por conta da
morte do traficante. Já a segunda hipótese considera que as ações ainda sejam uma
retaliação ao suposto assassinato de um morador da Maraponga, na semana
passada, que teria sido morto por policiais.
“Estamos com duas linhas de investigação. Realmente, é provável que as ordens
tenham saído do presídio. Mas não descartamos nenhuma possibilidade. Não
4 Fonte: Jornal Opovo
15
descansaremos enquanto não desvendarmos o caso e prendermos todos os
envolvidos. As investigações estão adiantadas”, afirmou Villarinho.
Em nota oficial, o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros
(Sindiônibus) repudiou as ações, que foram classificadas como “criminosas”. O
prejuízo provocado pelos atentados não foi estipulado. “Não podemos admitir
ações dessa natureza, que ameaçam a integridade e a vida das pessoas, agridem o
patrimônio público e que acabam por prejudicar a população fortalezense, em
especial a parcela que tem no transporte coletivo o seu principal ou único meio de
deslocamento”, diz o documento.
Especialista
Para a antropóloga Jânia Perla, do Laboratório de Estudos da Violência da
Universidade Federal do Ceará (UFC), os atentados têm um simbolismo muito
forte, na atual conjuntura do País, em que há diversos casos semelhantes
registrados em outros estados. “É possível que estejam se espelhando nesses
acontecimentos. O momento que se vive é de intolerância e de ânimos acirrados
e a violência emerge nas mais diferentes formas”, analisa. (Thiago Paiva/
colaboraram Camila Holanda e Sara Oliveira)
Saiba mais
A principal linha de investigação da Polícia é de que os atentados tenham ligação
com a morte do traficante Henrique de Sousa Monteiro, o “Henrique do Barroso”.
Ele foi encontrado com sinais de espancamento em um banheiro coletivo da
Unidade Penal Agente Luciano Andrade Lima (Upalal) - antiga CPPL I -, em
Itaitinga. Conforme O POVO publicou ontem, Henrique era considerado um dos
maiores traficantes de Fortaleza e havia chegado à unidade na última sexta-feira.
16
A Sejus informou que aguardava a autorização do Ministério da Justiça para
transferir Henrique da Delegacia de Narcóticos (Denarc), onde estava, direto para
uma unidade federal. A Sejus alega, porém, que o advogado de Henrique obteve
da Justiça cearense a ordem para que ele fosse recolhido na CPPL I.
Após a morte do traficante, um detento foi morto a tiro na antiga CPPL de
Caucaia. José Uedson de Sousa Vieira, 23, foi atingido por “tiro acidental”,
disparado por um policial militar que tentava conter uma briga. A vítima, que
respondia por roubo, foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. Outro conflito
foi registrado na CPPL III, em Itatinga, mas não houve mortes.
A outra linha de investigação para os atentados contra ônibus considera o
assassinato de Francisco Ricardo Sousa, na última quinta-feira, na Maraponga.
Testemunhas afirmam que ele foi espancado até a morte por três PMs. Em
retaliação, no dia seguinte ao crime, um ônibus foi queimado no bairro Jardim
Cearense. Os militares tiveram prisão temporária decretada.
17
Aumento do policiamento faz casos de roubo caírem
quase pela metade5 14.02.2014
Na contramão do aumento de homicídios, os roubos registrados no Estado caíram
44,2% no mês passado. Foram 2.789 Crimes Violentos Contra o Patrimônio em
janeiro. No mesmo período de 2013, foram 5.005. Para a pesquisadora do
Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC),
Jânia Perla, a diferença entre os resultados alcançados pela Secretaria da
Segurança decorre dos investimentos feitos apenas em ações de policiamento
ostensivo, com aumento no efetivo nos últimos meses.
“Essa é uma variável a ser considerada. O aumento do policiamento ostensivo,
principalmente em áreas com alta frequência de turistas, pode ter uma relação
direta. O roubo é um tipo de crime que pode ser inibido com a presença dos
policiais nas ruas. Mas pode ter havido um aumento da subnotificação”, ponderou
a professora, se referindo à possibilidade de que a frequência com que as pessoas
registram Boletins de Ocorrência por roubo tenha diminuído.
Para Jânia Perla, as motivações que envolvem os homicídios são diferentes das
circunstâncias que permitem as ocorrências de roubo. “Os homicídios têm outras
variáveis. Brigas de gangue, tráfico de drogas. Mas, em todo caso, não se diminui
homicídios com ações pontuais. Essa diminuição vai depender de ações
articuladas, de longo prazo”.
Já numa comparação direta com o último mês de dezembro (2.736 casos), as
ocorrências de roubo tiveram um pequeno aumento de 1,9%. A variação também
encerrou uma sequência de três quedas consecutivas nos crimes dessa
modalidade, acumuladas desde outubro. Para reduzir ainda mais os índices de
5 Fonte: Jornal Opovo
18
roubos, várias operações foram realizadas pelos comandantes das áreas com maior
índice de ocorrências. Na semana passada, durante uma operação integrada, 50
tabletes de maconha, 17 tabletes de cocaína e 50 pedras de crack foram
apreendidos. Outras três prisões em flagrante por tráfico de drogas, furto e
homicídio foram realizadas.
19
Redes sociais crescem e ampliam força de boatos6 02.02.2014
Usuários precisam ter visão crítica sobre os conteúdos que recebem e
compartilham. Pela velocidade com que os dados circulam na internet, acaba
sendo difícil encontrar pessoas que verifiquem os fatos envolvidos. Fotos: KID
JÚNIOR
O aplicativo de troca de mensagens WhatsApp é de grande ajuda para quem
quer se comunicar, mas é bastante eficiente também para passar boatos adiante
A comunicação instantânea entre pontos muito distantes e o acesso à informação
são algumas das características mais louváveis do mundo conectado. Com o
acesso à Internet, muitas pessoas acreditam que ficaram mais integradas ao
6 Fonte: Jornal Diário do Nordeste
20
restante da sociedade devido à atividade constante de criação e reprodução de
textos, fotos, vídeos e mensagens. Toda essa conectividade, entretanto, reserva
uma face perigosa, como a divulgação de boatos e até informações erradas por
meio, principalmente, das redes sociais.
Há duas semanas, uma mensagem compartilhada no WhatsApp, aplicativo de
troca de mensagens para celulares, levantou a discussão sobre a repercussão de
informações erradas ou inverídicas na rede. O texto informava sobre uma fuga de
presos do Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (IPPOO II), em Itaitinga. O
conteúdo teria vindo de uma promotora que supostamente atuava no presídio, e
que teria divulgado a informação para prevenir as pessoas sobre roubos em série
que poderiam ocorrer. Alguns dias depois, a Secretaria de Segurança Pública e
Defesa Social (SSPDS) lançou uma nota desmentindo as informações contidas no
texto.
Mesmo com o mal entendido desfeito, permaneceu o medo em algumas pessoas
que tinham sido avisadas sobre a falsa fuga, como a comerciante Ricardina de
Freitas Mendonça, 62, que soube da mensagem por meio do filho. "Fiquei
apavorada e, no dia seguinte, não deixei ninguém sair de casa. Também avisei
para algumas pessoas do trabalho, a gente não brinca em uma situação como essa",
revela. Segundo a comerciante, mesmo após o esclarecimento, ainda ficou "uma
pontinha de medo".
Relatos que envolvem o problema da insegurança não são os únicos nessa lista de
mensagens. Alertas de tsunamis, morte de artistas, avisos de supostas regras em
redes sociais, dentre outros temas, também ganham versões falsas. Para a
antropóloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da
Universidade Federal do Ceará, Jânia Perla de Aquino, a difusão de um boato
através das redes sociais é uma espécie de atualização de atitudes que já existiam
21
há décadas, como os trotes. "A diferença é que isso tem desdobramentos muito
maiores por causa do alcance", explica.
Informações
A variedade de conteúdos, inclusive jornalísticos, reunidos em redes sociais,
acaba levando as pessoas, segundo a pesquisadora, a permanecerem cada vez mais
tempo diante dos computadores, usando aquele universo como fonte de
informação. Apesar de os textos veiculados em blogs e portais de notícias terem
valor consolidado, os relatos divulgados em perfis pessoais nas redes acabam
ganhando mais importância, para o internauta, na hora de selecionar o conteúdo.
"Nas narrativas cotidianas, na interação face a face, quando nos dão detalhes de
uma história, nossa primeira reação tende a ser a crença. Do mesmo jeito é nas
redes sociais, porque quem conta um fato, mesmo que seja inverídico, está
mostrando a foto do seu rosto e deixando exposta a opinião, isso credibiliza aquela
informação para quem lê", compara Jânia.
Visão crítica
Por outro lado, é necessário que os usuários tenham uma visão crítica sobre os
conteúdos que recebem e compartilham. "Os assuntos polêmicos costumam
ganhar proporções virais quando são compartilhados", explica o professor e
consultor em tecnologias digitais da Universidade de Fortaleza (Unifor), W.
Gabriel de Oliveira. Pela velocidade com que os dados circulam na internet,
segundo Gabriel, é difícil encontrar pessoas que verifiquem os fatos envolvidos.
Para o consultor, a sociedade ainda não têm a noção completa dos riscos da
internet, e confundem estar bem informado com "estar sabendo das coisas". "A
ideia de parecer informado é motivo de destaque para algumas pessoas, por isso
elas acabam divulgando informações sem se preocupar em checar se aquilo é
verídico".
22
SAIBA MAIS
Cuidados básicos antes de reproduzir conteúdos na internet
- Verifique se a fonte que está transmitindo a informação tem credibilidade para
falar sobre o assunto
- Antes de repassar o conteúdo, faça uma pesquisa, na própria Internet, para
verificar se outras pessoas estão comentado o assunto ou se ele já foi desmentido
- Antes de compartilhar uma informação, analise se ela será realmente útil e
construtiva para as pessoas que irão recebê-la.
Segurança é a área mais atingida pela desinformação
Os boatos relacionados à Segurança Pública, que constituem a maioria das
informações errôneas que circulam na rede, são reflexo de um comportamento
natural da sociedade.
"Incitar o medo ou a violência é recorrente em muitas civilizações de diferentes
períodos históricos. No caso do Ceará, essa problemática da violência está
presente nas cidade há pelo menos duas décadas, portanto, o que está relacionado
a essa dimensão tende a assumir a conotação de utilidade pública", analisa a
antropóloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da
Universidade Federal do Ceará, Jânia Perla de Aquino.
Entre os riscos de dar crédito a todos os relatos que circulam pela Internet, através
das redes sociais, a antropóloga destaca o crescimento do medo daquilo que é
desconhecido, levando as pessoas a terem cada vez mais receio de sair de casa.
Vida social
Já a visão da professora de Psicologia da Unifor, Patrícia Passos, é mais otimista.
A velocidade com que os conteúdos chegam até as pessoas, e a maneira como são
23
reproduzidos podem, na análise da professora, interferir no comportamento dos
grupos sociais, mas os vínculos físicos são mais fortes.
"O ser humano necessita de vida social, e esses boatos não podem impedir que as
pessoas ocupem os espaços públicos", argumenta a especialista.
24
O bom exemplo de Pernambuco7
21.01.2014
Em ano de Copa do Mundo e eleições, especialistas ouvidos pelo O POVO
mostraram-se preocupados com a possibilidade de que os investimentos em
medidas repressivas de combate à violência sejam priorizados, em detrimento das
ações sociais que devem acompanhar as políticas públicas de segurança.
Conforme os especialistas, caso isso venha a ocorrer no Ceará, existe a
possibilidade de que consigamos alcançar bons resultados num curto intervalo de
tempo. Entretanto, com o passar dos meses, nossa situação poderia voltar a se
agravar.
Antropóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da
UFC, Jânia Perla Aquino alerta para os riscos de que uma possível busca por
resultados imediatos, a “qualquer custo”, ocasione no aumento da segregação
social. “Infelizmente, no Brasil, as políticas públicas são muito influenciadas por
demandas eleitoreiras, através de ações paliativas. Prendem algumas pessoas,
desorganizam redes criminosas. Depois, em pouco tempo, o crime volta a se
organizar. E isso volta a refletir nas estatísticas. Mas, quando você casa prevenção
com repressão, a expectativa é que os resultados sejam duradouros. Precisamos
de ações articuladas e planejadas, que não venham somente a maquiar problemas
sociais”, ponderou.
Em entrevista coletiva ocorrida no último dia 10, o secretário da Segurança
Pública do Ceará, Servilho Paiva, disse ter consciência da necessidade de
integração entre os diversos poderes na execução da política pública. Entretanto,
7 Fonte: Jornal Opovo
25
ponderou que a integração deverá ocorrer gradativamente, conforme as ações
forem executadas.
“Temos que dar um passo de cada vez, o mais rápido possível. É nosso desejo e
necessidade. Mas essa conversa já existe. Já tenho excelente relacionamento com
presidente do Tribunal de Justiça do Estado, com o Ministério Público, com a
Assembleia Legislativa e coma a Prefeitura. Estamos firmando convênios com
secretarias, enfim. Essas coisas vão andando. Agora, o encaixe dentro do
programa vai acontecer na medida em que estivermos qualificados”, antecipou.
26
É importante investir na prevenção8
21.01.2014
Em ano de Copa do Mundo e eleições, especialistas ouvidos pelo O POVO
mostraram-se preocupados com a possibilidade de que os investimentos em
medidas repressivas de combate à violência sejam priorizados, em detrimento das
ações sociais que devem acompanhar as políticas públicas de segurança.
Conforme os especialistas, caso isso venha a ocorrer no Ceará, existe a
possibilidade de que consigamos alcançar bons resultados num curto intervalo de
tempo. Entretanto, com o passar dos meses, nossa situação poderia voltar a se
agravar.
Antropóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da
UFC, Jânia Perla Aquino alerta para os riscos de que uma possível busca por
resultados imediatos, a “qualquer custo”, ocasione no aumento da segregação
social. “Infelizmente, no Brasil, as políticas públicas são muito influenciadas por
demandas eleitoreiras, através de ações paliativas. Prendem algumas pessoas,
desorganizam redes criminosas. Depois, em pouco tempo, o crime volta a se
organizar. E isso volta a refletir nas estatísticas. Mas, quando você casa prevenção
com repressão, a expectativa é que os resultados sejam duradouros. Precisamos
de ações articuladas e planejadas, que não venham somente a maquiar problemas
sociais”, ponderou.
Em entrevista coletiva ocorrida no último dia 10, o secretário da Segurança
Pública do Ceará, Servilho Paiva, disse ter consciência da necessidade de
integração entre os diversos poderes na execução da política pública. Entretanto,
8 Fonte: Jornal Opovo
27
ponderou que a integração deverá ocorrer gradativamente, conforme as ações
forem executadas.
“Temos que dar um passo de cada vez, o mais rápido possível. É nosso desejo e
necessidade. Mas essa conversa já existe. Já tenho excelente relacionamento com
presidente do Tribunal de Justiça do Estado, com o Ministério Público, com a
Assembleia Legislativa e coma a Prefeitura. Estamos firmando convênios com
secretarias, enfim. Essas coisas vão andando. Agora, o encaixe dentro do
programa vai acontecer na medida em que estivermos qualificados”, antecipou.
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Armas de grosso calibre são raras nessas ações9
16.01.2014
O uso de armas pesadas em assaltos a motoristas em engarrafamentos “foge à
dinâmica recorrente” deste tipo de abordagem. A avaliação é da antropóloga Jânia
Perla Aquino, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade
Federal do Ceará (UFC), e integrante do Conselho Consultivo de Leitores do O
POVO.
“Uma arma dessa (escopeta) é cara. Geralmente é usada em assaltos ou outras
atividades ilegais que rendem quantidades maiores que um assalto a pessoa”,
avalia a antropóloga, acrescentando que em ocorrências como a da avenida Padre
Antônio Tomás os criminosos agem com armas pequenas ou mesmo armas
brancas.
Jânia vê a necessidade de medidas para diminuir a circulação de armas em
Fortaleza. “Parece que está sendo muito fácil adquirir armas. A menos que tenha
relação com o tráfico de drogas, é difícil entender como alguém saiba usar este
tipo de arma em assalto que não costuma render tanto assim”, considera.
(Lusiana Freire)
9 Fonte: Jornal Opovo
29
Pelo menos 100 agências na Capital descumprem
Estatuto10 09.01.2014
Instituições bancárias foram autuadas com base no Estatuto da Segurança
Bancária, aprovado em 2012
Procon fiscalizou agências bancárias em 2012 e 2013. Todas as instituições
visitadas descumpriram Estatuto da Segurança. Foto: Mauri Melo
Todas as agências bancárias fiscalizadas em Fortaleza, entre 2012 e 2013, foram
autuadas por apresentarem alguma irregularidade. Nenhuma foi multada. No total,
100 instituições financeiras visitadas pelo Programa de Proteção e Defesa do
Consumidor (Procon) descumpriram normas previstas pelo Estatuto Municipal da
Segurança Bancária, sancionado em 25 de junho de 2012 pela Prefeitura. A lei
passou a vigorar em outubro do mesmo ano.
Coordenador-geral do Procon em Fortaleza, George Valentin diz que as
irregularidades mais recorrentes são a falta de porta giratória, do monitoramento
eletrônico e da fachada blindada. Pelo estatuto (lei nº 9.910/2012), a primeira
10 Fonte: Jornal Opovo
30
notificação fixa prazo de 10 dias para que o banco regularize a situação. Na
segunda autuação, a instituição deverá pagar multa no valor de 100 mil Unidades
Fiscais do Município (UFM). Em caso de reincidência, após 30 dias, o valor
cobrado será de 200 mil UFM. Se a agência permanecer em desacordo com a lei,
o local será interditado.
No entanto, mesmo depois de quase um ano e meio desde que o estatuto passou a
vigorar, nenhuma agência foi multada em Fortaleza. Segundo Valentin, muitas
empresas recorreram da decisão. “Em fevereiro, vamos retornar com a
fiscalização. Quem não tiver se adequado, vai ser multado”, disse o coordenador-
geral do Procon.
Fiscalização é falha
Para Jânia Perla Aquino, antropóloga do Laboratório de Estudos da Violência
(LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Conselho de
Leitores do O POVO, o sistema de fiscalização na Capital é “frouxo”. Entretanto,
Jânia pondera: “A responsabilidade dos órgãos públicos é da porta (dos bancos)
para fora”. Para ela, as instituições financeiras têm de tomar medidas preventivas
para garantir minimamente a integridade de clientes, funcionários e até de
vizinhos. “Existe uma negligência dos bancos”, critica.
Para a antropóloga, a sociedade civil também deve pressionar as instituições
financeiras e os órgãos públicos para que exista uma fiscalização mais rigorosa e
que os bancos se adaptem às normas previstas no Estatuto da Segurança Pública.
Saiba mais
Elaborado pelo Sindicato dos Bancários do Ceará em parceria com a Câmara
Municipal, a lei obriga as agências a cumprir uma série de medidas para garantir
a segurança de clientes.
31
O estatuto exige das agências bancárias instalação de portas eletrônicas, sistema
de monitoramento em tempo real e divisórias entre a fila de espera e os caixas.
Além disso, proíbe o uso de capacetes, chapéus, óculos escuros e celulares no
interior de estabelecimentos bancários.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) criticou o estatuto por apresentar
exigências “inexequíveis”. Dentre elas, instalação de blindagem na fachada das
agências e uso de vidros laminados nas portas giratórias.
32
Policiais civis e militares cujas áreas de atuação
registrarem queda na criminalidade serão premiados
pelo Governo do Estado. Você acredita que essa
premiação vai contribuir para reduzir o número de
crimes?11 03.01.2014
SEGURANÇA PÚBLICA
SIM - A Segurança Pública no Ceará experimenta uma crise. Estatísticas de
diferentes fontes demonstram elevação nas taxas de crimes contra a vida e o
patrimônio. A sensação de insegurança é generalizada entre a população. Além
de demandar providências, este cenário se apresenta enigmático. Houve
investimentos em infraestrutura, capacitação e contratação de efetivo, mas os
resultados destes esforços são tímidos. Momentos de crises tendem a ser propícios
para que estratégias inovadoras sejam colocadas em práticas. Este parece ser o
caso das gratificações aos profissionais da segurança pública condicionadas à
redução das taxas dos chamados “crimes violentos letais intencionais”.
Obviamente, será necessário intensificar a fiscalização em relação à produção das
estatísticas, evitando subnotificações propositais ou que crimes letais ocorridos
em uma região sejam registrados em outra. De todo modo, a medida é positiva. A
exemplo da estratégia norte-americana ante as disputas armadas entre gangs,
“deixar matar” tem sido uma postura recorrente entre as Polícias brasileiras diante
do mesmo fenômeno. Em meados do século XX, nos Estados Unidos, as forças
policiais saíram parcialmente de cena nas periferias de grandes cidades. Eximiam-
se de efetuar prisões de integrantes de gangs, deixando que estes coletivos de
jovens se matassem entre si. Ante uma medida que vincula gratificação no salário
à redução de crimes letais, a omissão deixa de ser conveniente às Polícias
11 Fonte: Jornal Opovo
33
cearenses no que diz respeito às recorrentes “guerras entre gangues rivais” que
têm manchado com sangue de crianças e adolescentes as periferias de Fortaleza.
Esperamos que as gratificações anunciadas para vastos segmentos das Polícias no
Ceará, além de valorizar e incentivar a categoria, venham ampliar seus canais de
comunicação com a sociedade e combater a circulação de armas de fogo entre
jovens e adolescentes. Isto traria ganhos à Segurança Pública no Estado, cuja
qualidade tem sido questionada pela população.
"A omissão deixa de ser conveniente às Polícias quanto às “guerras entre
gangues rivais"
Jânia Perla Diógenes
Socióloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da
Universidade Federal do Ceará (UFC)
NÃO - Como eu gostaria de acreditar que a premiação pecuniária aos policiais
possa vir a ser um fator determinante no esforço para reduzir as ocorrências dos
graves delitos no Estado.
Somos uma sociedade amedrontada. Mudamos hábitos, comportamentos e
percursos, pelos riscos de sermos vítimas da violência. Temos a nítida percepção
de que as pessoas agredidas, violentadas, assassinadas nesta cotidiana brutalidade
não são apenas as “outras pessoas”. Tomamos consciência de que estamos todos
vulneráveis. Também temos clareza de que as ações para modificar este quadro
de violência não se restringem tão somente ao poder de intervenção das forças
policiais.
Por serem complexos os fatores geradores de violência, envolvendo aspectos
sociais, econômicos, culturais e institucionais, é impossível acreditar que só ações
policiais modifiquem substancialmente esta realidade. Fortaleza é a quarta capital
34
brasileira em desigualdade social. Precisamos de fortes políticas sociais e
educacionais para viabilizar novas expectativas para nossas crianças, adolescentes
e juventude. É conhecido o jargão de que justiça que falta tarda. Apenas 1% dos
que cometem crimes contra a vida são levados a julgamento e cumprem
efetivamente as penas. Estabelecer metas para redução da violência com foco
centrado na premiação em dinheiro aos policiais não aponta para uma perspectiva
animadora. Poderemos ter anúncios de melhorias de curto prazo, mas sem
sustentabilidade. Preocupam-me as distorções passíveis de acontecer neste
projeto, como já ocorreu em similares na Colômbia, Rio de Janeiro e São Paulo.
Os recursos anunciados poderiam ser usados para garantir aos servidores salários
condignos com suas atividades, sustentados num plano de cargos carreiras com
ascensão meritória por desempenho e compromisso com a corporação e com a
sociedade. Mesmo com estas reflexões, quero acreditar que outras políticas
venham a se somar em busca da redução da violência no Ceará.
"As ações para modificar o quadro de violência não se restringem só ao poder de
intervenção da Polícia"
Mario Mamede
Militante dos direitos humanos e médico
35
Fortaleza lidera ranking de mortes violentas em
201212 21.12.2013
Segundo o IBGE, em 2012 Fortaleza foi a capital nordestina com o maior número
de mortes violentas: 2.342. Salvador fica em segundo no ranking (2.308), seguido
de Maceió (796) e Recife (771).
Os homens foram as maiores vítimas da violência em Fortaleza durante 2012,
representando 88,68% dos óbitos. As mulheres%u018Drepresentam 8,75% do
total. Para a socióloga Jânia Perla, pesquisadora do Laboratório de Estudos da
Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), o dado é a comprovação do
que se observa diariamente. "Faz sentido, porque, em Fortaleza, os homens estão
envolvidos de forma mais frequente em uma série de eventos violentos, como
brigas de gangue e acidentes de trânsito", lembra. Para Jânia, os dados sustentam
a tese de que a cidade "se tornou um local inseguro". "Isto também é um indício
elucidativo da crise de segurança que Fortaleza vive".
Ontem, o Ipea divulgou pesquisa que também traz um retrato da violência no País.
O estudo, chamado "A singular dinâmica territorial dos homicídios no Brasil nos
anos 2000", traz dados que mostram um aumento de 92,4% na taxa de homicídios
no Ceará, comparando 2000 e 2010.
12 Fonte: Jornal Opovo
36
Especialistas alertam para risco de manipulação13 18.12.2013
O novo sistema de metas e premiações adotado pela Secretaria da Segurança
Pública e Defesa Social (SSPDS) foi avaliado como positivo pelos especialistas
ouvidos por O POVO. Segundo eles, no entanto, é necessário que haja uma
fiscalização para que a nova política de segurança pública não resulte em excessos
ou “falsos dados”.
“A princípio, qualquer meta que incentive os profissionais, ou qualquer
possibilidade de gratificação, é interessante porque incentiva. Mas, ao mesmo
tempo, pode gerar essa competição entre determinadas áreas”, aponta a
pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do
Ceará (LEV), Jânia Perla Aquino. A professora citou como exemplo casos no Rio
de Janeiro em que policiais despejaram corpos em diferentes bairros a fim de
“camuflar” as estatísticas de assassinatos.
Para o coordenador do LEV, César Barreira,a nova medida deverá ser
acompanhada para que não ocorram abusos por parte da polícia. “Se a polícia
trabalhar corretamente, pode ser uma questão motivadora”, comenta.
(Liana Costa)
13 Fonte: Jornal Opovo
37
88,3% dos entrevistados confiam pouco na Polícia14 06.12.2013
Na pesquisa, 88,3% dos entrevistados em Fortaleza revelaram que confiam pouco
na Polícia Militar. Para a socióloga do Laboratório de Estudos da Violência (LEV)
da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jânia Perla, esse dado não surpreende.
A pesquisadora diz que isso é sintomático. “A polícia que aparece para a classe
média é diferente da que aparece para a classe A e para a de baixa renda”, acredita.
De acordo com Jânia, a sensação de vulnerabilidade e as narrativas sobre
episódios de violência são fatores comuns no discurso das pessoas que frequentam
os diferentes lugares de Fortaleza. “A percepção que há uma insegurança
generaliza é muito evidente”, diz.
Um fator que divide opiniões é o exercício de ocupar os espaços públicos da
cidade, como ruas e outros diversos locais ao ar livre. Para a socióloga, isso é uma
evidência do receio que se tem de ser vítima da violência. Todavia, Jânia alerta
que esvaziar as ruas não vai solucionar o problema, mas acentuar. “Ocupar a
cidade é saudável. Ao deixar de frequentar espaços públicos, (as pessoas) dão
espaço para que as ruas se tornem cenário de violência”, pondera.
A especialista considera ainda que a pesquisa dá evidências de que “Fortaleza
vive uma crise na segurança pública”.
(Camila Holanda)
14 Fonte: Jornal Opovo
38
Jovem é espancado após quebrar vidro de ônibus15 30.10.2013
Jovem atirou pedra em janela do ônibus, que teve a vidraça quebrada. Ele foi
imobilizado pelo motorista do coletivo e espancado por várias pessoas. Uma
viatura compareceu ao local e o jovem foi liberado
Na Praça da Professora, várias pessoas agrediram o jovem com tapas e chutes.
Foto: Tatiana Fortes
Um jovem não identificado foi espancado na tarde de ontem na Praça da
Professora, na avenida Aguanambi, logo após depredar um ônibus. Segundo o
cobrador do coletivo, o rapaz subiu uma parada antes e tentou passar pela catraca
sem pagar passagem.
O ônibus pertence à empresa Vega e fazia a linha 650
(Messejana/Centro/Expresso). Diante da negativa do cobrador, que se identificou
como Flávio, o rapaz desceu e arremessou uma pedra na janela do coletivo, ao
lado de uma passageira. Segundo testemunhas, ela chegou a ser atingida, mas não
se feriu com gravidade. O motorista do coletivo desceu do ônibus e imobilizou o
15 Fonte: Jornal Opovo
39
rapaz. Na praça, várias pessoas agrediram o jovem, com tapas e chutes. O POVO
presenciou as agressões.
Algumas testemunhas apoiavam a conduta dos agressores. “Tem que apanhar
mesmo”, disse um homem. Outros, no entanto, tentaram convencer o motorista
Tarcísio José Lima a liberar o jovem. A vítima chegou a ficar apenas de cueca.
“Mas ele é um vagabundo”, disse o motorista, que, além de segurar o rapaz,
também chegou a agredi-lo com tapas.
Após apelos, o motorista levou o jovem até o ônibus depredado, na intenção de
protegê-lo dos agressores. Porém, um deles entrou no coletivo e ainda desferiu
alguns golpes, enquanto outro homem tentava bater no jovem também pela janela.
O rapaz agredido disse que vive em situação de rua e evitou se identificar. Disse
apenas ser maior de idade. “Quero só que a Polícia chegue. Eu tava indo pro
Centro, porque lá é mais fácil arrumar merenda. Sei que eu errei em jogar a pedra”,
disse.
Uma viatura da 5ª Companhia do 5º Batalhão da PM chegou ao local e retirou o
jovem do ônibus. “Temos que conviver com essa falta de segurança e ficar perto
desse monte de vagabundos”, falou o motorista. Ele não quis ir prestar queixa na
delegacia.
Para a professora Jânia Perla Aquino, do Laboratório de Estudos da Violência
(LEV) da UFC, os agressores não podem ser enxergados como pessoas más, e sim
assustadas por conta do atual contexto da violência urbana. “As pessoas estão
amedrontadas. Há um medo generalizado, sobretudo em locais de convivência”,
analisa.
40
Ainda segundo Jânia, ao tomar tal atitude, agressores querem trazer solução para
o problema da insegurança. “Há nessa mentalidade intenção de exterminar o
incômodo. As pessoas fazem isso na esperança de que estão encontrando solução
para um problema que, na verdade, é muito maior”, opina Jânia.
Jovem liberado
O cabo Roberto Castro, da 5ª Companhia, informou que o jovem não foi
conduzido à delegacia porque nem vítimas nem testemunhas quiseram fazer
procedimento.
Saiba mais
Segundo o cabo Castro, o jovem agredido se identificou como Bruno e disse
morar no Bom Jardim. A viatura soltou o jovem nas imediações do Bairro de
Fátima.
Com o rapaz, foi apreendido um cachimbo artesanal, usado por usuários de crack.
O POVO tentou contato, com a empresa Vega no fim da tarde de ontem. Um
funcionário informou que apenas o chefe de tráfego poderia comentar o assunto,
mas ele não se encontrava mais na empresa.
41
Dados precisos ajudariam a direcionar recursos16 06.08.2013
Para a pesquisadora Jânia Perla, membro do Laboratório de Estudos da Violência
da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC), a falta de catalogação precisa nos
dados sobre violência não é um problema exclusivo do Brasil, mas uma situação
crônica que atinge vários países. “Imagina a quantidade de dinheiro investida
quando se parte de dados que não são confiáveis (...) Nós temos um gasto indevido
dos recursos públicos”, aponta. Ainda segundo Jânia, esse não é o primeiro caso
de subnotificação de informações no País. “Já se verificou isso em outras
situações e em várias instâncias”, diz.
“Não é do interesse das autoridades produzir um dado contra si mesmas. (...) É
um dilema para nós pesquisadores, que trabalhamos com números”. Jânia,
entretanto, lembra que a falta de precisão no número de homicídios - e também
em outras situações violentas - não é apenas um prejuízo para as análises da
academia, mas para a sociedade como um todo. Ela diz não ter recebido as
informações do Mapa dos Homicídios Ocultos do Brasil com surpresa, pois não é
de interesse do poder público evidenciar a incapacidade de atuar em determinadas
áreas. “Em uma delegacia, por exemplo, um latrocínio pode se transformar em
um simples roubo”, salienta.
16 Fonte: Jornal Opovo
42
Subnotificação dificulta mapeamento dos crimes, diz
especialista17 04.07.2013
O primeiro assalto ocorreu num sábado à tarde, em fevereiro último. Na esquina
de casa, no bairro Jangurussu, a estudante de 15 anos teve o celular roubado
quando voltava da escola. Nervosa, ela pediu que a mãe chamasse a Polícia. Mas
a viatura não veio. Na segunda-feira seguinte, novo roubo. Dessa vez, sem ter o
que entregar aos criminosos, a jovem teve o corpo completamente revistado pela
dupla. Apavorada, outra vez recorreu à Polícia. Novamente, ninguém apareceu.
O caso da jovem é mais um de tantos outros em que vítimas de roubo ou furto não
conseguem atendimento pela PM nem registram Boletins de Ocorrência na Polícia
Civil. Com isso, as estatísticas acabam ficando subnotificadas,com índices abaixo
da realidade.
Para a antropóloga do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Jânia Perla de Aquino, a subnotificação é
um dos grandes desafios da segurança pública. O problema ocorre, em grande
parte, por descrença na Polícia.
“Quando as ocorrências não envolvem roubo ou furto de documentos, as pessoas
dificilmente registram B.O. Isso gera um falso panorama do contexto de
ocorrências criminais e prejudica a produção do mapeamento criminal. Isso ocorre
porque não há confiança na instituição. É preciso que exista uma aproximação
entre a Polícia e a população, para que o cenário mude e ocorra um estimulo à
denúncia”, avaliou a pesquisadora.
(Thiago Paiva)
17 Fonte: Jornal Opovo
43
Brasil é apontado como 18º país mais violento do
mundo em pesquisa18 04.05.2013
A pesquisa foi feita pelo Instituto Avante Brasil e cruzou dados do IDH de 2012
e dados de homicídios de cada País. Honduras, El Salvador e Costa do Marfim
são considerados os mais violentos
O Brasil é 18º noranking de países mais violentos do mundo. O levantamento
divulgado na última semana pelo Instituto Avante Brasil (IAB) é inédito por
cruzar os dados de países listados noÍndice de Desenvolvimento Humano (IDH)
de 2012, da Organização das Nações Unidas (ONU), e as taxas de homicídios de
18 Fonte: Jornal Opovo
44
cada país, apresentado pelo Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes
(UNODC). Pelos índices, verificou-se que quanto melhor a posição do país no
ranking da ONU, menor sua taxa de homicídios.
Estatísticas brasileiras de 2010 revelam uma taxa de 27,4 mortes para cada grupo
de 100 mil pessoas. A 18ª posição no ranking do Instituto foi obtida a partir da
85º classificação que o país exibiu no IDH de 2012. Os paises considerados mais
violentos pela pesquisa foram Honduras e El Salvador, na América Central, e o
africano Costa do Marfim. O país insular da Micronésia, no Oceano Pacífico,
chamado Palau, foi considerado o menos violento do planeta, com nenhum
homicídio registrado em 2008.
A antropóloga Jânia Perla de Aquino interpreta os dados brasileiros sem se
precipitar a uma correlação direta entre pobreza e crime, mas estabelece uma
intrínseca ligação entre baixos investimentos em políticas sociais e estratégias
equivocadas no setor de segurança pública. "As pessoas das periferias urbanas
estão de fato mais vulneráveis porque vivem em áreas onde as políticas sociais
para infância e juventude falham. Falta mais cobertura policial e os pais têm mais
dificuldades de evitar o consumo e o comércio de drogas, além da exposição fácil
ao uso ilegal de armas", destaca a pesquisadora do Laboratório de Estudos da
Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Jânia qualifica Fortaleza, dentro de um contexto estadual, como um "caso grave",
em relação à violência. Ela diz que a Capital possui enormes disparidades sociais,
com concentrações de renda muito intensas. "Penso que o Estado está devendo à
população mais investimentos sociais, e a política de segurança pública, embora
receba atenção, não tem se mostrado eficiente. Em termos operacionais, a
população está insatisfeita. Também em relação à saúde, à educação. É preciso
45
criar mais oportunidades para jovens de baixa renda. Isso os afasta da
criminalidade", defende a pesquisadora.
SERVIÇO
O levantamento completo da pesquisa está disponível no link:
http://atualidadesdodireito.com.br/iab/files/IDHxHomicídios.pdf
46
"O projeto esta fracassando", diz especialista19
17.04.2013
Na opinião do sociólogo Marcos Silva, pesquisador do Laboratório de Estudos da
Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a situação revela um
problema grave na execução do projeto de polícia comunitária e só agrava a
sensação de insegurança. “Se a proposta é de uma política de proximidade, de
contato direto, através da tecnologia do celular, o projeto está fracassando. A
tecnologia utilizada deveria funcionar minimamente. Caso contrário, isso pode
refletir na criação de uma imagem de ineficiência nas ações policiais, no combate
ao crime. É preciso se reconfigurar e reestruturar esse modelo”, avaliou.
“O policiamento comunitário é aquele em que há conversa entre os moradores e
a Polícia. É quando os policiais sabem dos problemas da comunidade. Quando há
essa quebra no relacionamento, gera um afastamento entre as partes e repercute
negativamente na imagem da Polícia”, diz a também pesquisadora do LEV, Jânia
Perla de Aquino. A antropóloga destaca ainda que, na medida em que a Polícia
não atende a ocorrência, o crime não é registrado, o Boletim de Ocorrência (B.O)
não é gerado, e a produção das estatísticas de mapeamento criminal fica
prejudicada.
19 Fonte: Jornal Opovo