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Motivos absolutos de recusa Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 1 DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014 LINHAS DE ORIENTAÇÃO RELATIVAS AO EXAME DE MARCAS COMUNITÁRIAS EFETUADO NO INSTITUTO DE HARMONIZAÇÃO NO MERCADO INTERNO (MARCAS, DESENHOS E MODELOS) PARTE B EXAME SECÇÃO 4 MOTIVOS ABSOLUTOS DE RECUSA As partes da Secção 4 (Motivos absolutos de recusa) que foram revistas em 2013 são os pontos 1 a 2.5 (Princípios gerais aplicáveis ao artigo 7.º, n.º 1, alínea e). Os pontos restantes (2.6 a 2.12 do artigo 7.º, n.º 1, alínea f), referentes às marcas coletivas) estão atualmente a ser revistos e serão publicados em meados de 2014.

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LINHAS DE ORIENTAÇÃO RELATIVAS AO EXAME DE MARCAS COMUNITÁRIAS

EFETUADO NO INSTITUTO DE HARMONIZAÇÃO NO MERCADO INTERNO

(MARCAS, DESENHOS E MODELOS)

PARTE B

EXAME

SECÇÃO 4

MOTIVOS ABSOLUTOS DE RECUSA

As partes da Secção 4 (Motivos absolutos de recusa) que foram revistas em 2013 são os pontos 1 a 2.5 (Princípios gerais aplicáveis ao artigo 7.º, n.º 1, alínea e). Os pontos restantes (2.6 a 2.12 – do artigo 7.º, n.º 1, alínea f), referentes às marcas coletivas) estão atualmente a ser revistos e serão publicados em meados de 2014.

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Índice

2.6 Ordem pública ou bons costumes, artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR.. 4

2.6.1 «Ordem pública» ............................................................................................ 4 2.6.1.1 Conceito e categorias .................................................................................. 4 2.6.1.2 Denominações de variedades vegetais ....................................................... 5

2.6.2 Bons costumes ............................................................................................... 7

2.7 Possibilidade de induzir em erro: artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR . 10

2.7.1 Exame do caráter enganoso ........................................................................ 10

2.7.2 A realidade do mercado e os hábitos e perceções dos consumidores ........ 12

2.7.3 Marcas com conotações geográficas com a localização do requerente ou com o local de origem dos produtos/serviços .............................................. 13

2.7.4 Marcas que fazem referência a uma aprovação, estatuto ou reconhecimento «oficial» .............................................................................. 14

2.7.5 Relação com outras disposições do CTMR ................................................. 15

2.8 Proteção de bandeiras e outros símbolos – artigo 7.º, n.º 1, alíneas h) e i), do CTMR ............................................................................................ 17

2.8.1. Proteção de armas, bandeiras e outros emblemas de Estado, distintivos e sinetes oficiais de fiscalização e de garantia ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea h, do CTMR – artigo 6.ºter, n.º 1, alínea a), e n.º 2, da Convenção de Paris ..................................................................................... 18 2.8.1.1 Exame de marcas que contenham ou consistam numa bandeira de

Estado ....................................................................................................... 21 2.8.1.2. Exame de marcas que contenham ou consistam em armas e outros

emblemas de Estado ................................................................................. 24 2.8.1.3 Exame de marcas que contenham ou consistam em distintivos e

sinetes oficiais de fiscalização e de garantia ............................................. 27

2.8.2. Proteção de armas, bandeiras, outros emblemas, siglas ou denominações de organismos internacionais intergovernamentais ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea h, do CTMR – artigo 6.º ter, n.º 1, alíneas b) e c), da Convenção de Paris ....................................................... 28

2.8.3. Proteção de emblemas, insígnias ou escudos que não os abrangidos pelo artigo 6.º ter da Convenção de Paris ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR ....................................................................................... 35

2.9 Artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR .......................................................... 40

2.9.1 Introdução ..................................................................................................... 41

2.9.2 Aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR ........................................ 43 2.9.2.1 DOP/IGP pertinentes ................................................................................. 43 2.9.2.2 Situações abrangidas pelo artigo 103.º do Regulamento (UE)

n.º 1308/2013 e pelo artigo 16.º do Regulamento (CE) n.º 110/2008 ....... 45 2.9.2.3 Produtos pertinentes ................................................................................. 53

2.9.3 DOP/IGP não protegidas pelos Regulamentos (UE) n.º 1308/2013 e (CE) n.º 110/2008 ................................................................................................. 55 2.9.3.1 DOP/IGP protegidas a nível nacional num Estado-Membro...................... 55 2.9.3.2 DOP/IGP de países terceiros .................................................................... 56

2.10 Artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR ............................................... 57

2.10.1 Introdução ..................................................................................................... 57

2.10.2 Aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR ....................................... 59 2.10.2.1 DOP/IGP pertinentes ................................................................................. 59 2.10.2.2 Situações abrangidas pelo artigo 13.º, n.º 1, do Regulamento (UE)

n.º 1151/2012 ............................................................................................ 60 2.10.2.3 Produtos pertinentes ................................................................................. 69

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2.10.3 DOP/IGP não protegidas pelo Regulamento (UE) n.º 1151/2012 ............... 72 2.10.3.1 DOP/IGP protegidas a nível nacional num Estado-Membro da União

Europeia .................................................................................................... 72 2.10.3.2 DOP/IGP de países terceiros .................................................................... 74

2.11 Marcas comunitárias coletivas ................................................................ 75

2.11.1 Caráter das marcas coletivas ....................................................................... 75

2.11.2 Titularidade ................................................................................................... 77

2.11.3 Particularidades relativas aos motivos absolutos de recusa ........................ 77 2.11.3.1 Sinais descritivos ....................................................................................... 78 2.11.3.2 Caráter enganoso quanto à sua natureza ................................................. 78 2.11.3.3 Regulamentos de utilização contrários à ordem pública e aos bons

costumes ................................................................................................... 79

2.12 Caráter distintivo adquirido ............................................................ 79

2.12.1 Introdução ..................................................................................................... 79

2.12.2 Pedido 80

2.12.3 O período que os elementos de prova devem cobrir ................................... 80 2.12.3.1 Processo de exame ................................................................................... 80 2.12.3.2 Processo de anulação ............................................................................... 80

2.12.4 Consumidor .................................................................................................. 80

2.12.5 Produtos e serviços ...................................................................................... 81

2.12.6 Aspetos territoriais ........................................................................................ 81 2.12.6.1 Disposições especiais relativas à adesão de novos Estados-Membros .... 82 2.12.6.2 Marcas tridimensionais, cores per se e marcas figurativas ....................... 82 2.12.6.3 Zona linguística ......................................................................................... 82 Alemão ...................................................................................................... 82 Grego ........................................................................................................ 83 Inglês ......................................................................................................... 83 Francês ..................................................................................................... 83 Neerlandês ................................................................................................ 83 Sueco ........................................................................................................ 83

2.12.7 O que é necessário demonstrar ................................................................... 84

2.12.8 As provas e a respetiva avaliação ................................................................ 85 2.12.8.1 Tipos de provas que podem ser apresentados ......................................... 85 2.12.8.2 Avaliação de provas no seu conjunto ........................................................ 86 2.12.8.3 Quota de mercado ..................................................................................... 86 2.12.8.4 Inquéritos e sondagens de opinião ............................................................ 86 2.12.8.5 Volume de negócios e publicidade ............................................................ 87 2.12.8.6 Prova indireta de utilização ....................................................................... 88 2.12.8.7 Extrapolação ............................................................................................. 88 2.12.8.8 Modo de utilização .................................................................................... 89 2.12.8.9 Duração da utilização ................................................................................ 89 2.12.8.10 Provas posteriores à data de depósito ...................................................... 89

2.12.9 Consequências do caráter distintivo adquirido ............................................. 89

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2.6 Ordem pública ou bons costumes, artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR

O artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR determina que não sejam registadas marcas contrárias à ordem pública ou aos bons costumes. Esta disposição tem por objetivo impedir o registo de marcas no caso de a concessão de um monopólio constituir uma infração à legislação ou ser apreendido pelo público pertinente como diretamente contrário às normas morais básicas da sociedade. O Instituto considera que «ordem pública» e «bons costumes» são dois conceitos distintos que se sobrepõem com frequência. A questão de saber se os produtos ou serviços para os quais a marca é pedida podem ser legalmente comercializados no mercado de um dado Estado-Membro é irrelevante para determinar se o artigo 7.º, n.º 1, alínea f), é aplicável ao sinal em causa (acórdão do Tribunal Geral de 13/09/2005, T-140/02, «Intertops», n.º 33). Se uma marca é ou não contrária à ordem pública e aos bons costumes deve ser determinado com base nas qualidades intrínsecas da marca pedida e não nas circunstâncias relativas ao comportamento da pessoa do requerente da marca (acórdão do Tribunal Geral de 13/09/2005, T-140/02, «Intertops», n.º 28). No seu acórdão de 20/09/2011, T-232/10, «Soviet Coat of Arms», o Tribunal Geral sustentou que para apreciar os conceitos de «ordem pública» e «bons costumes» há que ter em consideração não apenas as circunstâncias comuns a todos os Estados-Membros da União, mas igualmente «as circunstâncias particulares de cada Estado-Membro, individualmente considerado, suscetíveis de influenciar a perceção do público relevante situado no seu território» (n.º 34). A legislação e a prática administrativa de determinados Estados-Membros podem igualmente ser tidos em conta neste contexto (ou seja, para apreciar valores subjetivos), não devido ao seu valor normativo, mas enquanto provas de factos que permitem avaliar a perceção do público pertinente nesses Estados-Membros (acórdão do Tribunal Geral de 20/09/2011, T-232/10, «Soviet Coat of Arms», n.º 57). Nesse caso, a ilegalidade da marca comunitária objeto de pedido não é o fator determinante para a aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR, tendo antes valor probatório no que respeita à perceção do público pertinente do(s) Estado(s)-Membro(s) em causa. Atento o facto de as circunstâncias específicas dos Estados-Membros individuais poderem não ser conhecidas em todo o território europeu, a carta de objeção deve explicar claramente essas circunstâncias, de modo a garantir que o requerente compreende perfeitamente as razões que motivaram a objeção e está em condições de responder em conformidade.

2.6.1 «Ordem pública» 2.6.1.1 Conceito e categorias Esta objeção resulta de uma avaliação baseada em critérios objetivos. A «ordem pública» remete para o conjunto da legislação da União aplicável num determinado domínio, bem como para a ordem jurídica e o estado do direito, tal como definidos pelos Tratados e pelo direito derivado da União, que refletem um entendimento comum de determinados princípios e valores essenciais, como os direitos humanos.

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Apresenta-se em seguida uma lista não exaustiva de exemplos de casos de sinais a que se aplica esta proibição. 1. Em 27 de dezembro de 2001, o Conselho da União Europeia adotou a Posição

Comum 2001/931/PESC relativa à aplicação de medidas específicas de combate ao terrorismo (JO L 344 de 28.12.2001, p. 93), atualizada pela Posição Comum 2009/64/PESC do Conselho (JO L 23 de 27.01.2009, p. 37, e disponível em linha em http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2009:023:0025: 0029:PT:PDF), que contém uma lista de indivíduos e grupos que tentam praticar, praticam ou facilitam a prática de atos terroristas no território da UE. Qualquer marca comunitária objeto de pedido que possa ser considerada como apoiando ou beneficiando um indivíduo ou um grupo constante dessa lista será rejeitada por ser contrária à ordem pública.

2. A utilização de símbolos e nomes de organizações nazis é proibida na Alemanha

(§ 86a dt. StGB (código penal alemão), BGBl. Nr. I 75/1998) e na Áustria (§ 1 öst. Abzeichengesetz (lei austríaca relativa a insígnias), BGBl. Nr. 84/1960 em conjunção com o § 1 öst. Verbotsgesetz (lei de proibição austríaca), BGBl. Nr. 25/1947). Qualquer marca comunitária objeto de pedido que utilize símbolos ou nomes desse tipo será recusada por ser contrária à ordem pública.

3. Atento o facto de a noção de «ordem pública» abranger igualmente legislação

específica da UE em vigor num determinado domínio, e na medida em que existem tanto um regulamento da UE como uma convenção internacional vinculativa para a União Europeia que impedem a concessão de direitos exclusivos em relação ao nome de uma variedade vegetal registada na União Europeia, é contrária à ordem pública europeia a concessão de direitos exclusivos de marca sobre o nome de uma variedade vegetal registada na União Europeia, que é, por conseguinte, legalmente considerado descritivo.

2.6.1.2 Denominações de variedades vegetais Os nomes das variedades vegetais descrevem variedades cultivadas ou subespécies de plantas vivas ou sementes agrícolas. O Regulamento (CE) n.º 2100/94 do Conselho, relativo ao regime comunitário de proteção das variedades vegetais (RRCPVV), institui um regime comunitário de proteção das variedades vegetais (RCPVV), como forma única e exclusiva de proteção comunitária dos direitos de propriedade industrial relativos às variedades vegetais. A denominação de uma variedade deve garantir a identificação clara e inequívoca da variedade em causa e satisfazer diversos critérios (artigo 63.º do RRCPVV). O requerente de um direito de proteção de uma variedade vegetal deve atribuir-lhe uma denominação que possa ser utilizada por qualquer pessoa que comercialize essa variedade no território de um membro da União Internacional para a Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV), mesmo após a extinção dos direitos do titular (artigo 17.º do RRCPVV).

A União Europeia é, desde 2005, parte na Convenção Internacional para a Proteção das Obtenções Vegetais (Convenção UPOV), que se tornou parte integrante da ordem jurídica da União. Nos termos do artigo 20.º, n.º 1, da Convenção UPOV, a variedade será designada por uma denominação destinada a ser a sua designação genérica. Mesmo após a extinção dos direitos do reprodutor, cada parte contratante deve certificar-se de que os direitos concedidos relativamente a uma designação registada como denominação varietal não impedem a livre utilização dessa

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denominação em relação à variedade.

Em consequência, tanto o RRCPVV como a Convenção UPOV impõem a obrigação da utilização das denominações varietais na comercialização de variedades protegidas ou de variedades cuja proteção tenha terminado.

A utilização de denominações varietais permite que a pessoa interessada conheça a variedade que está a utilizar ou a comprar e, eventualmente, o reprodutor e a origem da variedade. A obrigação de utilizar as denominações da variedade contribui para a regulação do mercado e para a segurança das transações no setor agroalimentar, evitando situações suscetíveis de induzir o público em erro e contrafações. A utilização da denominação varietal adequada em relação a uma variedade é, por conseguinte, uma questão de interesse público e de segurança pública.

Nos termos do artigo 18.º, n.º 2, do RRCPVV, um terceiro apenas pode impedir a livre utilização de uma denominação varietal se o direito relativo a uma designação idêntica à denominação varietal lhe tiver sido concedido antes de a denominação varietal ser designada nos termos do artigo 63.º do RRCPVV. Contrariamente, o artigo 18.º, n.º 2, do RRCPVV indica que não deve ser concedido qualquer direito exclusivo relativamente a uma designação idêntica à denominação varietal depois de essa denominação varietal ter sido designada nos termos do artigo 63.º do RRCPVV.

Nestas circunstâncias, o IHMI entende que o registo de uma marca comunitária que impeça a livre utilização de uma denominação varietal após a concessão do direito de proteção à variedade vegetal em causa é contrário à ordem pública.

Em consequência, os pedidos de marcas comunitárias que contenham ou sejam compostas por sinais e que, se forem registadas, deem origem a uma monopolização indevida de uma denominação varietal que designe uma variedade protegida por um direito de proteção ou uma variedade que deixou de estar protegida por um direito deste tipo, levantarão objeções por serem contrários à ordem pública, nos termos do artigo 7.º, n.º 1.º, alínea f), do CTMR em conjunção com o artigo 18.º, n.º 2, do RRCPVV, que prevê a livre utilização por terceiros da denominação de uma variedade vegetal relativamente a essa variedade (utilização descritiva).

O Instituto Comunitário das Variedades Vegetais (ICVV), sedeado em Angers (França), é a agência da União Europeia responsável pela implementação de um sistema de proteção dos direitos das variedades vegetais. O ICVV mantém um registo das variedades vegetais protegidas. As variedades protegidas e as variedades cujo direito de proteção tenha caducado podem ser procuradas com base na sua denominação varietal e/ou noutros critérios de pesquisa no Variety Finder1 do ICVV, disponível na Intranet do Instituto, que deve ser consultado pelos examinadores como ferramenta de referência sempre que o tipo de produtos e/ou serviços abrangidos pelo pedido de marca comunitária o exija. Em particular, sempre que a especificação de um pedido de marca comunitária fizer referência a plantas vivas, sementes agrícolas, frutas frescas, produtos hortícolas

1 http://www.cpvo.europa.eu/main/en/home/databases/cpvo-variety-finder.

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frescos ou afins, o examinador deve certificar-se de que o termo ou termos que compõem a marca não coincidem com uma denominação varietal registada ou com a denominação de uma variedade cuja proteção tenha sido objeto de renúncia, tenha caducado ou terminado. O examinador deve consultar a base do ICVV para verificar se o termo ou termos que compõem a marca objeto de pedido coincidem com uma denominação varietal já constante do registo do ICVV supramencionado. A pesquisa deve restringir-se às denominações varietais registadas para a União Europeia. Se a verificação revelar que a marca comunitária objeto de pedido contém ou consiste numa reprodução idêntica à denominação varietal (quer se trate de uma marca nominativa ou figurativa), o examinador deve levantar uma objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR em relação aos vegetais, sementes e frutas pertinentes, bem como em relação às frutas secas, em conserva e congeladas, porquanto o registo de uma marca comunitária que corresponde a uma denominação varietal inscrita no registo da UE supramencionado é contrário à ordem pública. Se, por exemplo, uma marca comunitária pedida para «flores» contiver uma denominação varietal para um tipo de rosa, a lista de produtos abrangidos terá de ser limitada de forma a excluir «rosas». Além disso, se uma marca comunitária objeto de pedido contiver mais de uma denominação varietal — por exemplo, uma denominação varietal para «maçãs» e outra para «morangos» —, a lista de produtos terá de ser limitada de modo a excluir os produtos abrangidos pelas denominações varietais em causa, a saber, maçãs e morangos. Por último, no caso de ser utilizada no mercado uma denominação varietal que não tenha sido registada ou publicada no ICVV, ou no caso de denominações varietais nacionais, pode ser aplicável o artigo 7.º, n.º 1, alíneas c) e d) (ver pontos 2.3 e 2.4).

2.6.2 Bons costumes Esta objeção prende-se com valores subjetivos, que, não obstante, o examinador deve aplicar tão objetivamente quanto possível. A disposição proíbe o registo como marca comunitária de palavras ou expressões blasfemas, racistas ou discriminatórias, mas apenas se a marca objeto de pedido transmitir esse significado de forma clara e inequívoca; esta avaliação deve ser feita com base nos critérios de um consumidor razoável, com limiares médios de sensibilidade e tolerância (acórdão do Tribunal Geral de 09/03/2012, T-417/10, «¡Que buenu ye! Hijoputa», n.º 21). Normalmente, é necessário ter em devida conta os produtos e serviços que se pretende proteger com a marca, porquanto o público pertinente pode variar em função dos produtos e serviços em causa e, por conseguinte, pode ter diferentes limiares de tolerância em relação àquilo que é inaceitavelmente ofensivo. Por exemplo, como a Grande Câmara de Recurso sustentou na sua decisão de 06/07/2006, R 0495/2005-G – «SCREW YOU», n.º 29, «é pouco provável que uma pessoa que esteja suficientemente interessada em [brinquedos sexuais] para reparar nas marcas sob as quais são comercializados se sinta ofendida com conotações sexuais rudes» [tradução não oficial]. Contudo, embora tenha sustentado que os produtos e serviços protegidos pela marca objeto de pedido são importantes para identificar o público pertinente cuja perceção deve ser apreciada, o Tribunal Geral salientou igualmente que o público pertinente não é necessariamente apenas aquele que compra os produtos e serviços protegidos pela marca, mas um público mais vasto do que o público-alvo, que, acidentalmente, será confrontado com a marca (acórdão do Tribunal Geral de 05/10/2011, T-526/09, «Paki», n.os 17 e 18, respetivamente). Acresce que o contexto comercial de uma marca, na aceção do público-alvo dos produtos e serviços, nem

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sempre é o fator que determina se uma marca é contrária aos bons costumes (acórdão do Tribunal Geral de 09/03/2012, T-417/10, «¡Que buenu ye! Hijoputa», n.º 24). Ver igualmente decisão de 15/03/2013, R 2073/2012-4, «CURVE», n.os 17-18 (processo T—266/13 pendente). Mas não são apenas os sinais com uma conotação «negativa» que podem ser ofensivos. A banalização do uso de alguns sinais com uma conotação altamente positiva pode igualmente ser ofensiva (por exemplo, termos com significado religioso ou símbolos nacionais com valor espiritual e político, como «ATATURK» para o público europeu de origem turca (decisão de 17/09/2012, R 2613/2011-2 – «ATATURK», n.º 31)). Não é necessário que exista ilegalidade para que esta parte do artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR seja aplicada: há palavras ou sinais que, sem justificarem um processo perante as autoridades administrativas ou judiciais competentes, são suficientemente ofensivos para o grande público para não serem registados como marcas (decisão de 01/09/2011, R 0168/2011-1 – «fucking freezing! by TÜRPITZ», n.º 16). Por outro lado, importa velar por que as crianças e os jovens, mesmo que não sejam os destinatários dos produtos e serviços em causa, não se deparem com palavras ofensivas em lojas acessíveis ao grande público. As definições constantes dos dicionários fornecem, em princípio, uma primeira indicação quanto ao facto de a palavra em questão ter ou não um significado ofensivo na língua em causa (decisão de 01/09/2011, R 0168/2011-1 – «fucking freezing! by TÜRPITZ», n.º 25), mas o fator determinante deve ser a perceção do público pertinente no contexto específico — como e onde — em que se inscreverão os produtos ou serviços. Por outro lado, a Câmara de Recurso considerou que a palavra KURO não transmite ao público húngaro o significado ofensivo da palavra «kúró» («filho da puta» em português), na medida em que as vogais «ó» e «ú» são letras distintas de «o» e «u» e pronunciam-se de maneira diferente (decisão 22/12/2012, R 482/2012-1 – «kuro», n.os 12 e seguintes). Existe um risco evidente de o artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR ser aplicado de forma subjetiva para excluir marcas que não agradem pessoalmente ao examinador. No entanto, para suscitar objeções, a(s) palavra(s) deve(m) ofender de forma inequívoca as pessoas com um grau de sensibilidade normal (acórdão do Tribunal Geral de 09/03/2012, T-417/10, «¡Que buenu ye! Hijoputa», n.º 21). O conceito de bons costumes do artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR nada tem a ver com mau gosto ou com proteção de sentimentos pessoais. Para ser abrangida pelo artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR, uma marca deve ser apreendida pelo público pertinente, ou, pelo menos, por uma parte significativa desse público, como diretamente contrária às normas morais básicas da sociedade.

Não é necessário estabelecer que o requerente pretende chocar ou insultar o público em causa; basta o facto objetivo de a marca comunitária pedida poder ser considerada chocante ou insultuosa (decisão de 23/10/2009, R 1805/2007-1, «Paki», n.º 27, confirmada por acórdão do Tribunal Geral de 05/10/2011, T-526/09, «Paki», n.os 20 e seguintes). Por último, a aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR não é limitada pelo princípio da liberdade de expressão (artigo 10.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem), porquanto a recusa de registo significa que o sinal não beneficia de proteção ao abrigo do direito das marcas, mas não impede a sua utilização, mesmo

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 9

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

comercial (acórdão do Tribunal Geral de 09/03/2012, T-417/10, «¡Que buenu ye! Hijoputa», n.º 26). Exemplos de pedidos de marcas comunitárias recusados (ordem pública e/ou bons costumes)

Sinal Público pertinente Ordem pública / bons costumes Processo n.º

BIN LADIN Grande público

Bons costumes e ordem pública – a marca objeto de pedido seria compreendida pelo grande público como o nome do líder da conhecida organização terrorista Al Qaeda; os crimes terroristas constituem uma violação da ordem pública e dos bons costumes (n.º 17).

R 0176/2004-2

CURVE 300 Grande público Bons costumes – em romeno, a palavra «curve» é ofensiva e grosseira (significa «putas»).

R 0288/2012-2

CURVE Grande público Bons costumes – em romeno, a palavra «curve» é ofensiva e grosseira (significa «putas»).

R 2073/2012-4 (recurso

pendente no Tribunal Geral

sob o n.º T-266/13)

Grande público Bons costumes – em inglês, a palavra

«fucking» é ofensiva e grosseira. R 0168/2011-1

Grande público Bons costumes – em espanhol, a palavra «hijoputa» é ofensiva e grosseira.

T-417/10

Grande público

Ordem pública – o código penal húngaro proíbe certos «símbolos de despotismo», nomeadamente a foice e o martelo e a estrela vermelha de cinco pontas que simbolizavam a antiga URSS. Esta legislação não é aplicável devido ao seu valor normativo, mas antes por refletir a perceção do público pertinente (n.

os 59-63).

T-232/10

PAKI Grande público Bons costumes – em inglês, a palavra «paki» é um insulto racista. T-526/09

SCREW YOU Grande público (exceto para os produtos sexuais)

Bons costumes – uma parte considerável dos cidadãos comuns da Grã-Bretanha e da Irlanda considerariam a expressão «screw you» ofensiva e objetável (n.º 26).

R 0495/2005-G

FICKEN Grande público Bons costumes – em alemão, a palavra «ficken» é ofensiva e grosseira (significa «foder»).

T-52/13

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 10

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Sinal Público pertinente Ordem pública / bons costumes Processo n.º

ATATURK

Consumidor médio do grande público europeu de origem turca

A banalização do uso de sinais com uma conotação altamente positiva pode ser ofensiva ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR. Ataturk é um símbolo nacional com valor espiritual e político para o grande público europeu de origem turca.

R 2613/2011-2

Exemplos de pedidos de marcas comunitárias aceites

Sinal Público pertinente Ordem pública / bons costumes Processo n.º

KURO Grande público

O facto de uma palavra, nome ou abreviatura estrangeira apresentar certas semelhanças com uma palavra ofensiva (como «kúró») não é, por si só, motivo suficiente para justificar a recusa da marca comunitária objeto de pedido. Em húngaro, as vogais «ó» e «ú» são claramente diferentes das vogais «o» e «u» sem acento. Além disso, nesta língua, as palavras nunca terminam em «o» sem acento (n.

os

15-18).

R 482/2012-1

SCREW YOU Grande público (para produtos sexuais)

É pouco provável que uma pessoa que entra numa sex shop se sinta ofendida por uma marca que utilize uma linguagem rude e com forte conotação sexual (n.º 26).

R 495/2005-G

DE PUTA MADRE Grande público

Embora em espanhol «puta» signifique «puta», a expressão «de puta madre» significa «muito bom» num nível de língua coloquial.

CTM 3 798 469 CTM 4 781 662 CTM 5 028 477

2.7 Possibilidade de induzir em erro: artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR

2.7.1 Exame do caráter enganoso O artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR estipula que será recusado o registo de marcas suscetíveis de enganar o público, por exemplo, sobre a natureza, a qualidade ou a proveniência geográfica dos produtos ou serviços. De acordo com a jurisprudência relativa ao artigo 3.º, n.º 1, alínea g), da Primeira Diretiva respeitante às marcas, cuja redação é idêntica à do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR, os casos de recusa de registo referidos no artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR pressupõem que se possa considerar provada a existência de um engano efetivo ou de um risco suficientemente grave de engano do consumidor (ver acórdão do Tribunal de Justiça de 30/05/2006, C-259/04, «Elizabeth Emanuel», n.º 47, e jurisprudência citada). Em conformidade com o que precede, o Instituto, por norma, parte dos dois seguintes pressupostos:

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 11

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

1. Não há motivos para presumir que uma marca é pedida com a intenção

expressa de enganar os consumidores. Não deve ser levantada qualquer objeção devido à possibilidade de a marca induzir em erro se a marca puder ser utilizada de forma não enganosa para os produtos e serviços especificados; por outras palavras, parte-se do princípio de que, se for possível, o sinal será utilizado de forma não enganosa.

2. O consumidor médio é razoavelmente atento e não deve ser considerado

particularmente vulnerável ao engano. Em princípio, só será levantada uma objeção se a marca gerar uma expectativa clara que seja manifestamente contraditória com, por exemplo, a natureza, a qualidade ou a origem geográfica

dos produtos. Deve ser levantada uma objeção sempre que a lista de produtos/serviços esteja redigida de forma que inviabilize qualquer utilização não enganosa da marca. Apresentam-se em seguida dois exemplos de marcas que foram consideradas enganosas em relação à totalidade ou a parte dos produtos reivindicados2.

Marca e produtos Fundamentação Processo

LACTOFREE

para lactose da classe 5

A natureza do sinal levaria imediatamente o consumidor pertinente a acreditar que o produto em causa, a saber, «lactose», não contém lactose. É evidente que se o produto comercializado sob o sinal «LACTOFREE» é, na realidade, lactose, a marca é manifestamente enganosa. NB: a marca é igualmente objetável ao

abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do

CTMR.

R 892/2009-1

TITAN (termo alemão para «titânio»)

para construções transportáveis, construções modulares transportáveis para uso na construção de edifícios prefabricados móveis; edifícios prefabricados móveis construídos com unidades de construção modulares portáteis das classes 6 e 19, não contendo nem sendo feito de titânio qualquer dos produtos supramencionados [tradução não oficial].

Numa tentativa de eliminar uma objeção respeitante à descrição, o requerente disponibilizou-se, durante o processo de recurso, para restringir as especificações de ambas as classes, acrescentando, no final, a indicação: não contendo nem sendo feito de titânio qualquer dos produtos supramencionados. A Câmara de Recurso sustentou que esta restrição, caso fosse aceite, apenas tornaria a marca enganosa para o público germanófono, que iria presumir que os produtos eram feitos de titânio, quando, na realidade, tal não era o caso.

R 789/2001-3

Deve ser levantada uma objeção sempre que a lista exaustiva de produtos/serviços contenha produtos/serviços em relação aos quais seja impossível uma utilização não enganosa da marca.

2

Estes exemplos ilustram apenas a questão de saber se deve ou não ser levantada uma objeção devido à possibilidade de a marca induzir em erro. Este ponto não aborda outras possíveis objeções relacionadas com outros motivos absolutos de recusa. Por conseguinte, não contempla a possibilidade

de uma dada marca se afigurar, à primeira vista, objetável ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea b)

e/ou c), do CTMR (ou de outras disposições sobre a matéria).

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 12

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

No caso (inventado) de sob a marca «KODAK VODKA» se pretender comercializar vodka, rum, gin e whisky, deveria ser levantada uma objeção respeitante aos produtos relativamente aos quais não é possível uma utilização não enganosa da marca, a saber, rum, gin e whisky. Estes casos são substancialmente diferentes daqueles (ver infra) em que são utilizados termos/categorias abrangentes e em que é possível uma utilização não enganosa do sinal. Por exemplo, não seria levantada qualquer objeção se a marca «KODAK VODKA» tivesse sido pedida para bebidas alcoólicas, dado que esta vasta categoria inclui a vodka, relativamente à qual a marca não é enganosa. Não deve ser levantada qualquer objeção quando a lista de produtos/serviços estiver redigida de forma suficientemente abrangente para permitir a utilização não enganosa da marca. Quando se utilizam categorias vastas na lista de produtos/serviços, coloca-se a questão de saber se deve ser levantada uma objeção a respeito de toda uma categoria devido ao facto de a marca ser enganosa em relação a apenas alguns produtos/serviços dessa categoria. A política do Instituto é a de, nestas circunstâncias, não levantar objeções. O examinador deve presumir que a marca será utilizada de forma não enganosa. Por outras palavras, não será levantada qualquer objeção por existir a possibilidade de a marca induzir em erro se for possível identificar (numa categoria) uma utilização não enganosa. Em consequência, o artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR não é, por norma, aplicável se a especificação consistir em categorias vastas que incluam produtos/serviços em relação aos quais a utilização da marca não induza em erro. Por exemplo, no caso de uma marca «ARCADIA» pedida para «vinhos», não seria pertinente uma objeção levantada ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR, uma vez que a vasta categoria dos «vinhos» abrange naturalmente os vinhos originários da Arcádia (e não sendo a «Arcádia» — que é uma região vinícola da Grécia — uma indicação geográfica protegida a nível da União, o requerente não tem qualquer obrigação de limitar a especificação aos vinhos originários da Arcádia).

2.7.2 A realidade do mercado e os hábitos e perceções dos consumidores Quando se avalia se uma dada marca induz ou não em erro, deve ser tida em conta a realidade do mercado e os hábitos e perceções dos consumidores. Para avaliar a possibilidade de uma marca induzir em erro, na aceção do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR, deve ser tida em conta a realidade do mercado (ou seja, a forma como os produtos e serviços são normalmente distribuídos/vendidos, prestados, etc.), bem como os hábitos de consumo e a perceção do público pertinente, que é normalmente composto por pessoas normalmente informadas e razoavelmente atentas e avisadas.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 13

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Por exemplo, na marca (inventada) «ELDORADO CAFÈ LATINO», que abrange café, chocolate, sucedâneos do chocolate; chá, cacau, açúcar, arroz, tapioca, sagu; farinhas e preparações feitas de cereais, pão, pastelaria e confeitaria, gelados comestíveis; mel, xarope de melaço; levedura, fermento em pó; sal, mostarda; vinagre, molhos (condimentos); especiarias; gelo para refrescar da classe 30, o exame deve conduzir às seguintes conclusões:

Justificar-se-ia uma objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR em relação a sucedâneos do café, café artificial, chicória, aromatizantes de chicória, porquanto a utilização da marca para estes produtos seria necessariamente enganosa, na medida em que os consumidores presumiriam estar a comprar café e que tal não seria o caso.

Justificar-se-ia igualmente uma objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR em relação a chocolate, chá e cacau (partindo do pressuposto de que estes produtos não contêm café). Com efeito, atento o facto de estes produtos poderem ser vendidos em embalagens muito similares às utilizadas para café e de serem frequentemente comprados com grande rapidez, é provável que muitos consumidores não se detenham a ler o texto na embalagem e se limitem a retirar estes produtos da prateleira (erradamente) convencidos de que se trata de café.

No entanto, no que respeita ao café, não existe qualquer «manifesta contradição» entre a reivindicação de café e a expressão «CAFÈ LATINO», uma vez que a categoria geral «café» pode incluir igualmente café originário da América Latina. Portanto, não é levantada qualquer objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR em relação à categoria «café». A mesma lógica se aplica em relação aos produtos que podem ser aromatizados com café (como o chocolate, gelados comestíveis, pastelaria e confeitaria). Deve presumir-se que não é feita qualquer utilização enganosa e que não há necessariamente uma contradição entre o texto e os produtos.

Por último, quanto aos restantes produtos em causa, a saber, mel, pão, vinagre, etc., a expressão «CAFÈ LATINO» não cria quaisquer expectativas. Relativamente a esses produtos, esta expressão será considerada claramente não descritiva, pelo que não poderá induzir em erro. No mercado «real», o café não é apresentado nas mesmas prateleiras ou nas mesmas secções dos estabelecimentos que o pão, o mel ou o vinagre. Além disso, os produtos em causa têm aparências e sabores diferentes e são normalmente distribuídos em embalagens diferentes.

2.7.3 Marcas com conotações geográficas com a localização do requerente ou com o local de origem dos produtos/serviços

No que respeita a marcas com certas conotações «geográficas» relacionadas com a localização do requerente ou com o local de origem dos produtos/serviços, importa ter em conta os aspetos a seguir enunciados. Em geral, o Instituto não levanta objeções relacionadas com a possibilidade de a marca induzir em erro devido à localização geográfica do requerente (endereço). Com efeito, tal localização geográfica não tem, em princípio, qualquer relação com a origem geográfica dos produtos e serviços, ou seja, com o local de produção/oferta dos produtos e serviços abrangidos pela marca.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 14

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Por exemplo, não pode ser levantada qualquer objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR a um pedido de marca figurativa para vestuário da classe 25 que contenha as palavras «MADE IN USA» e tenha sido apresentado por uma empresa estabelecida na Suécia. Neste tipo de casos, o Instituto parte do pressuposto de que o titular da marca não a irá utilizar de forma enganosa. Não obstante, a possibilidade de induzir os consumidores em erro colocar-se-ia na eventualidade de uma empresa estabelecida nos Estados Unidos da América pedir o registo de uma marca que contivesse a expressão «MADE IN USA» para uma lista específica de produtos: artigos de vestuário fabricados no Vietname. Naturalmente, na prática, este tipo de situação afigura-se altamente improvável. Em determinados casos, o sinal pode suscitar nos consumidores certas impressões/expectativas quanto à origem geográfica dos produtos ou do seu criador que não correspondam à realidade. Por exemplo, marcas como «ALESSANDRO PERETTI» ou «GIUSEPPE LANARO» (exemplos inventados), que abrangem artigos de vestuário ou produtos de moda em geral, podem sugerir ao público pertinente que estes produtos são criados e produzidos por um estilista italiano, o que pode não ser o caso. No entanto, esta circunstância não é, por si só, suficiente para que as marcas sejam consideradas enganosas. Com efeito, «falsas impressões/expectativas» causadas pela marca não equivalem a considerar esta última enganosa, sobretudo quando o sinal é meramente evocativo. Neste tipo de casos, não existe um contraste evidente entre a impressão/expectativa gerada por um sinal e as características/qualidades dos produtos/serviços que este protege.

2.7.4 Marcas que fazem referência a uma aprovação, estatuto ou reconhecimento «oficial»

Importa notar que, de acordo com a prática do Instituto, são admissíveis marcas que façam referência a uma aprovação, estatuto ou reconhecimento oficial, sem, contudo, darem a clara impressão de que os produtos/serviços em causa provêm ou estão aprovados por um organismo público ou por uma organização reconhecida.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 15

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Apresentam-se em seguida dois exemplos de marcas que, apesar de alusivas ou sugestivas, não foram consideradas enganosas:

Marca e serviços Fundamentação Processo

THE ECOMMERCE AUTHORITY

para serviços comerciais, especificamente fornecimento de classificações (posição no mercado) e de outras informações respeitantes a fornecedores (vendedores), produtos e serviços de comércio eletrónico através da Internet, incluídos na classe 35 e prestação de serviços de investigação e assessoria, bem como fornecimento de informações no domínio do comércio eletrónico, incluídos na

classe 42.

A Câmara de Recurso considerou que a marca não era enganosa, na medida em que não transmitia a clara impressão de que os serviços provinham de uma organização governamental ou reconhecida (em contrapartida, a Câmara confirmou a recusa ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea b), do CTMR, considerando que a marca era desprovida de caráter distintivo, porquanto poderia ser apreendida pelo público anglófono como uma mera declaração de autopromoção, reivindicando algo acerca do nível de competência dos prestadores dos serviços).

R 803/2000-1

para, entre outras coisas, ensino do esqui, incluído na

classe 41.

A Câmara de Recurso sustentou que os consumidores franceses compreenderiam que a marca registada alude ao facto de os serviços serem prestados em França, por um centro de ensino francês, e de o esqui ser ensinado «à francesa». A Câmara acrescentou ainda que o público francês não tem motivo para acreditar, unicamente devido à presença de um logótipo tricolor (que não reproduz a bandeira francesa), que os serviços são prestados por entidades públicas ou que estão sequer autorizados por essas entidades.

R 235/2009-1

confirmado pelo acórdão do Tribunal Geral no

processo T-41/10

2.7.5 Relação com outras disposições do CTMR As explicações supra visam definir o âmbito de aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR. Embora sejam tratadas nas secções correspondentes das Linhas de orientação, as disposições seguintes podem assumir particular importância no contexto do exame dos motivos absolutos de recusa e de possíveis cenários enganosos. Artigo 7.º, n.º 1, alíneas b) e c), do CTMR De acordo com a prática atual do Instituto, se, na sequência de uma objeção relativa ao caráter descritivo e/ou à falta de caráter distintivo, o requerente da marca comunitária, numa tentativa de eliminar a objeção, propuser uma limitação e a limitação proposta cumprir os requisitos aplicáveis (pedido incondicional e convenientemente formulado), a lista de produtos e/ou serviços original será limitada em conformidade. No entanto, se a limitação em causa (apesar de eliminar a objeção inicial) tiver o efeito de tornar a marca objeto de pedido enganosa, o examinador terá de levantar uma objeção com base na possibilidade de a marca induzir em erro, ao

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 16

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR. O exemplo seguinte ilustra esse cenário: A marca «ARCADIA» foi originalmente pedida para vinhos, bebidas espirituosas e licores da classe 33. O examinador levantou uma objeção devido ao facto de a marca ser descritiva da origem geográfica de vinhos, dado que a Arcádia é uma região da Grécia conhecida pela sua produção vinícola (importa, contudo, sublinhar que «Arcadia» não é uma indicação geográfica protegida). O requerente ofereceu-se para excluir da especificação de produtos vinhos produzidos na Grécia ou, se assim o preferissem, para incluir unicamente vinhos produzidos em Itália. O examinador sustentou que a limitação proposta tornaria a marca enganosa, na medida em que a mesma passaria a veicular informações falsas sobre a origem dos produtos. Em recurso, a Câmara confirmou o raciocínio do examinador (ver decisão de 27/03/2000, v, «ARCADIA», n.º 14). Artigo 7.º, n.º 1, alínea h), do CTMR Esta disposição inviabiliza o registo de marcas comunitárias que contenham ou sejam compostas por bandeiras e outros símbolos de Estados, por um lado, e bandeiras e outros símbolos de organismos internacionais intergovernamentais, por outro, que estejam protegidos nos termos do artigo 6.ºter da Convenção de Paris e cuja inclusão na marca não tenha sido expressamente autorizada pelas autoridades competentes. No que respeita a bandeiras e outros símbolos de organismos internacionais intergovernamentais, o problema que se coloca é o de o público poder acreditar, erradamente, que, face aos produtos/serviços em causa, existe uma ligação entre o requerente da marca comunitária e o organismo internacional cuja bandeira ou símbolo a marca ostenta. Artigo 7.º, n.º 1, alíneas j) e k), do CTMR (indicações geográficas protegidas) Estas disposições excluem marcas de vinhos ou bebidas espirituosas, por um lado, e de produtos agrícolas e géneros alimentícios, por outro, que contenham ou consistam em indicações geográficas protegidas (IGP) ou denominações de origem protegidas (DOP), no caso de as respetivas listas de produtos não especificarem que esses produtos têm efetivamente a origem geográfica referida. De acordo com as regras diretamente aplicáveis da regulamentação específica da União subjacente a estas disposições, o Instituto deve levantar objeções aos pedidos de marca comunitária sempre que a indicação geográfica protegida for utilizada de forma abusiva ou transmita qualquer outra indicação falsa ou falaciosa quanto à proveniência, origem, natureza ou qualidades essenciais dos produtos em causa. Artigo 17.º, n.º 4, do CTMR (transmissão) Nos termos desta disposição, se dos documentos que estabelecem a transmissão resultar manifestamente que, devido a essa transmissão, a marca comunitária poderá induzir o público em erro, nomeadamente sobre a natureza, a qualidade ou a proveniência geográfica dos produtos ou serviços para os quais foi registada, o Instituto recusará o registo da transmissão, a menos que o interessado aceite limitar o registo da marca comunitária aos produtos ou serviços em relação aos quais a marca não seja enganosa (ver igualmente Parte E, Secção 3, Capítulo 1, ponto 3.6).

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 17

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Artigo 51.º, n.º 1, alínea c), do CTMR (causas de extinção) Enquanto ao examinar uma marca à luz do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR um examinador deve limitar a avaliação à mensagem transmitida pelo sinal acerca dos produtos/serviços abrangidos (não sendo relevante a forma como o sinal é efetivamente utilizado), quando examina uma marca à luz do artigo 51.º, n.º 1, alínea c), do CTMR, a forma como o sinal é utilizado é decisiva, porquanto, nos termos desta disposição, pode ser declarada a perda dos direitos do titular da marca comunitária se, na sequência da utilização feita pelo titular da marca ou com o seu consentimento, a marca puder induzir o público em erro, nomeadamente acerca da natureza, da qualidade ou da proveniência geográfica dos produtos ou serviços em causa.

2.8 Proteção de bandeiras e outros símbolos – artigo 7.º, n.º 1, alíneas h) e i), do CTMR

O artigo 6.ºter da Convenção de Paris tem por objetivo excluir o registo e a utilização de marcas que sejam idênticas ou de alguma forma similares a emblemas de Estado ou a emblemas, siglas ou denominações de organismos internacionais intergovernamentais. «O motivo desta exclusão reside no facto de tal registo ou utilização constituir uma violação do direito desse Estado de controlar o uso dos símbolos da sua soberania e poder ainda induzir o público em erro quanto à origem dos produtos protegidos pelas marcas em causa.» [Tradução não oficial] (G.H.C. Bodenhausen, Guide to the application of the Paris Convention for the Protection of Industrial Property as revised in Stockholm in 1967 [Guia para a aplicação da Convenção de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial, conforme revista em Estocolmo em 1967], página 96.). Neste contexto, «origem» deve ser entendida como proveniência ou aprovação pela administração pertinente e não como produção no território do Estado em causa ou, no caso da UE, no território da União Europeia. Por conseguinte, o artigo 7.º, n.º 1, alínea h), do CTMR, refere-se aos seguintes símbolos:

Armas, bandeiras e outros emblemas, distintivos e sinetes oficiais que pertençam a Estados e tenham sido comunicados à OMPI, embora no caso das bandeiras essa comunicação não seja obrigatória.

Armas, bandeiras e outros emblemas, siglas ou denominações de organismos internacionais intergovernamentais que tenham sido comunicados à OMPI, com exceção daqueles que já tenham sido objeto de acordos internacionais destinados a assegurar a sua proteção (ver, por exemplo, a Convenção de Genebra para Melhorar a Situação dos Feridos e Doentes das Forças Armadas em Campanha, de 12/08/1949, cujo artigo 44.º protege o emblema da cruz vermelha sobre o fundo branco e as expressões «cruz vermelha» ou «cruz de Genebra» e emblemas análogos).

O Tribunal de Justiça deixou claro que estas disposições se aplicam indistintamente, quer o pedido respeite a uma marca de produtos ou de serviços, e que o âmbito de aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea h), do CTMR e do artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR é análogo. Deve, pois, presumir-se que ambas as disposições concedem um nível de proteção, no mínimo, equivalente, dado que têm o mesmo objetivo, a saber,

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proibir a utilização de emblemas específicos de interesse público sem a autorização das autoridades competentes (ver acórdão do Tribunal de Justiça de 16/07/2009 C-202/08 P e C-208/08 P, «RW feuille d’érable», n.os 78, 79 e 80).

2.8.1. Proteção de armas, bandeiras e outros emblemas de Estado, distintivos e sinetes oficiais de fiscalização e de garantia ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea h, do CTMR – artigo 6.ºter, n.º 1, alínea a), e n.º 2, da Convenção de Paris

Nos termos do artigo 6.ºter, n.º 1, alínea a), da Convenção de Paris, será recusado o registo, sem autorização das autoridades competentes, quer como marcas, quer como elementos dessas marcas, de armas, bandeiras e outros emblemas de Estado dos países da União (ou seja, os países em que a Convenção de Paris é aplicável), de distintivos e sinetes oficiais de fiscalização e de garantia por eles adotados, bem como qualquer imitação do ponto de vista heráldico. Os membros da Organização Mundial de Comércio (OMC) beneficiam da mesma proteção ao abrigo do artigo 2.º, n.º 1, do Acordo TRIPS, nos termos do qual os membros devem observar o disposto nos artigos 1.º a 12.º e no artigo 19.º da Convenção de Paris. Em consequência, para ver o seu registo recusado ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea h), do CTMR, uma marca:

deve consistir unicamente numa reprodução idêntica ou numa «imitação do ponto de vista heráldico» dos símbolos supramencionados;

deve conter uma reprodução idêntica ou uma «imitação do ponto de vista heráldico» dos símbolos supramencionados.

Além disso, a autoridade competente não deve ter dado a sua autorização. As armas consistem num desenho ou imagem representado sobre um escudo. Veja-se o exemplo seguinte:

Armas da Bulgária – base de dados do artigo 6.ºter n.º BG2 As bandeiras de Estado normalmente são constituídas por um desenho distintivo de forma retangular que é utilizado como símbolo de uma nação. Veja-se o seguinte exemplo:

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Bandeira da Croácia A expressão «outros emblemas de Estado» é bastante vaga. Refere-se, normalmente, a emblemas que constituem símbolos da soberania de um Estado, incluindo os escudos das casas reais e os emblemas dos Estados que fazem parte de um Estado federativo que seja parte na Convenção de Paris. Veja-se o seguinte exemplo:

Emblema do Estado dinamarquês – base de dados do artigo 6.ºter n.º DK3 Os distintivos e sinetes oficiais de fiscalização e de garantia destinam-se a certificar que um Estado ou uma organização devidamente designada por um Estado para o efeito verificou que determinados produtos satisfazem normas específicas ou possuem um dado nível de qualidade. Vários Estados possuem distintivos e sinetes oficiais de fiscalização e de garantia para metais preciosos ou para produtos como manteiga, queijo, carne, equipamento elétrico, etc. Os distintivos e sinetes oficiais podem igualmente ser utilizados para serviços, por exemplo, na área da educação, do turismo, etc. Vejam-se os seguintes exemplos:

Distintivo oficial espanhol para a promoção das exportações n.º ES1

Sinete britânico para artigos de platina n.º GB 40 Importa notar que o artigo 6.º ter da Convenção de Paris não protege os símbolos supramencionados contra todas as imitações, mas apenas contra «imitações heráldicas». A noção de «imitação heráldica» deve ser interpretada à luz do seguinte:

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«[a] proibição de imitação de um emblema refere-se, contudo, às suas imitações do ponto de vista heráldico, ou seja, as que reúnem as conotações heráldicas que distinguem o emblema dos outros sinais. Assim, a proteção contra toda e qualquer imitação do ponto de vista heráldico não se refere à imagem enquanto tal, mas à sua expressão heráldica. Para determinar se a marca inclui uma imitação do ponto de vista heráldico, há que considerar a descrição heráldica do emblema em causa» (ver acórdão do Tribunal de Justiça de 16/07/2009, C-202/08 P e C-208/08 P, n.º 48). Em consequência, na comparação do «ponto de vista heráldico», na aceção do artigo 6.ºter da Convenção de Paris, há que ter em conta a descrição heráldica do emblema em causa e não qualquer descrição geométrica deste, que é, por natureza, bem mais pormenorizada. Com efeito, se fosse tida em conta a descrição geométrica do emblema, seria recusada «a proteção do artigo 6.º ter, n.º 1, alínea a), da Convenção de Paris ao emblema perante a mínima discrepância entre as duas descrições. Por outro lado, a hipótese da conformidade gráfica com o emblema utilizado pela marca já está coberta pela primeira parte desta disposição, pelo que a expressão «qualquer imitação do ponto de vista heráldico» deve ser entendida como tendo um alcance adicional» (ver ibidem, n.º 49). Por exemplo, um examinador deveria ter em conta a descrição heráldica do emblema

europeu — «sobre fundo azul-marinho, um círculo definido por doze estrelas douradas de cinco raios, cujas pontas não se tocam» — e não a sua descrição geométrica: «O emblema tem a forma de uma bandeira retangular de cor azul, cujo comprimento é uma vez e meia superior à altura. Doze estrelas douradas, colocadas a intervalos regulares, formam uma circunferência invisível, cujo centro é o ponto de intersecção das diagonais do retângulo. O raio da circunferência é igual a um terço da altura do retângulo. Cada estrela tem cinco pontas, situadas numa circunferência invisível de raio igual a 1/18 da altura do retângulo. Todas as estrelas estão ao alto, ou seja, com uma ponta na vertical e duas pontas numa reta perpendicular à haste. Na circunferência, as estrelas são dispostas na posição das horas no mostrador de um relógio. O seu número é invariável.» Acresce que as armas e outros emblemas heráldicos são desenhados a partir de uma descrição relativamente simples, que comporta indicações quanto à organização e à cor do fundo, bem como a enumeração dos diferentes elementos (como um leão, uma águia, uma flor, etc.) que constituem o emblema, com a menção das respetivas cores e posições no emblema. No entanto, esta descrição heráldica não comporta indicações pormenorizadas quanto ao desenho do emblema e aos elementos particulares que o constituem, sendo possíveis várias interpretações artísticas de um só e mesmo emblema a partir da mesma descrição heráldica. Embora cada uma destas interpretações possa apresentar diferenças de pormenor relativamente às outras, não é menos verdade que serão todas imitações «do ponto de vista heráldico» do emblema em causa (acórdão do Tribunal Geral de 28/02/2008, T-215/06, n.os 71 e 72). Assim, uma marca que não reproduza exatamente um emblema de Estado pode, não obstante, ser visada pelo artigo 6.º ter, n.º 1, alínea a), da Convenção de Paris se for apreendida pelo público em causa, no caso concreto, o consumidor comum, como uma imitação desse emblema. A respeito da expressão «imitação do ponto de vista heráldico» enunciada na referida disposição, há contudo que esclarecer que qualquer diferença entre a marca cujo registo é pedido e o emblema de Estado, detetada por

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um especialista de arte heráldica, não será necessariamente apreendida pelo consumidor médio que, apesar das diferenças ao nível de determinados detalhes heráldicos, pode ver na marca uma imitação do emblema em questão (ver acórdão do Tribunal de Justiça de 16/07/2009, C-202/08 P e C-208/08 P, n.os 50 e 51). Além disso, para que o artigo 6.º ter, n.º 1, alínea a), da Convenção de Paris seja aplicável, não é necessário examinar a impressão de conjunto produzida pela marca tomando igualmente em consideração os seus outros elementos constitutivos (palavras, dispositivos, etc.). Com efeito, o artigo 6.º ter, n.º 1, alínea a), da Convenção de Paris aplica-se não apenas às marcas, mas também a elementos de marcas que retomem ou imitem emblemas de Estado. Consequentemente, basta que um único elemento da marca pedida represente um emblema desse tipo ou uma sua imitação para que o registo da marca como marca comunitária seja recusado (ver igualmente acórdão do Tribunal Geral de 21/04/2004, T-127/02, «ECA», n.os 40 e 41). 2.8.1.1 Exame de marcas que contenham ou consistam numa bandeira de Estado O exame de marcas que contenham ou consistam numa bandeira de Estado comporta três etapas: 1 Encontrar uma reprodução oficial da bandeira protegida. 2 Comparar a bandeira com a marca objeto de pedido. A marca objeto de pedido é

composta exclusivamente pela bandeira (b) ou contém uma reprodução idêntica dessa bandeira? A marca objeto de pedido é composta exclusivamente por uma imitação heráldica da bandeira (b) ou contém uma imitação heráldica dessa bandeira?

3 Verificar se o processo contém algum elemento que comprove que o registo da bandeira foi autorizado pela autoridade competente.

1 Encontrar uma reprodução oficial da bandeira protegida Conforme já se verificou, os Estados não são obrigados a incluir as bandeiras na lista de emblemas a comunicar à OMPI, devido ao facto de, em princípio, as bandeiras serem bem conhecidas. Não obstante, algumas bandeiras foram incluídas na lista, que pode ser acedida através da ferramenta «Article 6ter Structured Search» («Pesquisa estruturada do artigo 6.º ter»), disponibilizada pela OMPI. Se as bandeiras não constarem da lista, os examinadores devem consultar os sítios Web oficiais dos governos em causa, enciclopédias e/ou dicionários para obter uma reprodução rigorosa da bandeira de Estado em apreço. 2 Comparar a bandeira com a marca objeto de pedido a) A marca objeto de pedido é composta exclusivamente por uma bandeira ou

contém uma reprodução idêntica dessa bandeira? Em caso afirmativo, avance para a etapa seguinte.

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b) A marca objeto de pedido é composta exclusivamente por uma imitação heráldica de uma bandeira ou contém uma imitação heráldica dessa bandeira?

No caso de bandeiras, a marca deve ser comparada com a descrição heráldica da bandeira em causa. Por exemplo, no acórdão proferido 05/05/2011, T-41/10 (ESF, Ecole du ski français), o Tribunal Geral descreve a bandeira francesa como uma bandeira retangular ou quadrada, formada por três faixas verticais iguais de cor azul, branca e vermelha. O examinador irá utilizar a descrição heráldica, que fornece indicações quanto à organização e à cor do fundo, bem como a enumeração dos diferentes elementos (como um leão, uma águia, uma flor, etc.) que constituem a bandeira, e especifica as cores, posições e proporções destes elementos para extrair uma conclusão acerca da imitação heráldica. Por norma, a bandeira e a marca (ou a parte da marca em que a bandeira é reproduzida) devem ser bastante semelhantes para se poder concluir pela existência de imitação heráldica. Veja-se o exemplo seguinte, em que se concluiu pela existência de «imitação heráldica»:

Bandeira Pedido de marca comunitária recusado

Bandeira da Suíça Pedido de marca comunitária n.º 8 426 876

A utilização de uma bandeira a preto e branco pode ser considerada imitação heráldica se a bandeira contiver ou for composta por características heráldicas únicas. Por exemplo, a representação a preto e branco da bandeira do Canadá, no exemplo seguinte, é considerada uma imitação heráldica.

Bandeira Pedido de marca comunitária recusado

Bandeira do Canadá Pedido de marca comunitária n.º 2 793 495

Em contrapartida, no caso de bandeiras compostas exclusivamente por faixas de três cores (verticais ou horizontais) uma reprodução a preto e branco não é considerada uma imitação heráldica, devido ao facto de este tipo de bandeira ser bastante comum.

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Conforme já se viu, a presença de outros elementos nas marcas é irrelevante. Se um elemento tiver uma forma diferente da de uma bandeira (por exemplo, se for circular), não é considerado uma imitação heráldica. Os exemplos seguintes apresentam outras formas diferentes que não são imitações heráldicas:

Bandeira Pedido de marca comunitária aceite

Pedido de marca comunitária n.º 5 851 721

Bandeira de Itália Pedido de marca comunitária n.º 5 514 062

Bandeira da Suíça Pedido de marca comunitária n.º 6 015 473

Bandeira da Finlândia Pedido de marca comunitária n.º 7 087 281

Bandeira Pedido de marca comunitária aceite

Bandeira da Suécia Pedido de marca comunitária n.º 8 600 132

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Bandeira da Dinamarca Pedido de marca comunitária n.º 8 600 173

Bandeira de França Pedido de marca comunitária n.º 4 624 987, Processo T-41/10

É importante sublinhar as diferenças entre o pedido de marca comunitária n.º 8 426 876 (que levantou objeções) e o pedido de marca comunitária n.º 6 015 473 (que não levantou objeções). No caso deste último, foi decidido não levantar objeções devido ao elevado número de alterações: alteração do formato (de um quadrado para um círculo), alteração de proporções (as linhas brancas da cruz do pedido de marca comunitária n.º 6 015 473 são mais longas e mais finas do que as da bandeira) e alteração da cor, dado que a cor do pedido de marca comunitária n.º 6 015 473 é sombreada. 3 Verificar se o registo foi autorizado Depois de ter determinado se a marca contém ou consiste numa bandeira ou numa imitação heráldica dessa bandeira, o examinador deve verificar se do processo consta algum elemento que comprove que o registo foi autorizado pela autoridade competente. Se não constar qualquer comprovativo dessa natureza, o examinador levantará uma objeção ao registo da marca objeto de pedido. A objeção reproduzirá a cores a bandeira oficial e indicará a fonte da reprodução. Esta objeção só poderá ser retirada se o requerente produzir uma prova de que a autoridade competente do Estado em causa autorizou o registo da marca. Amplitude da recusa No caso de bandeiras de Estado, as marcas não conformes com o artigo 7.º, n.º 1, alínea h), do CTMR devem ser recusadas em relação a todos os produtos e serviços para que tenham sido pedidas. 2.8.1.2. Exame de marcas que contenham ou consistam em armas e outros

emblemas de Estado No exame de marcas que contenham ou consistam em armas e outros emblemas de Estado são seguidas as mesmas etapas que no exame das bandeiras de Estado.

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Todavia, para poderem ser protegidas, as armas e os outros símbolos de Estado devem constar da «lista de armas e emblemas de Estado», que está acessível através da ferramenta ««Article 6ter Structured Search» («Pesquisa estruturada do artigo 6.º ter»), disponibilizada pela OMPI em http://www.wipo.int/ipdl/en/6ter/. A base de dados do artigo 6.º ter da OMPI fornece pormenores de elementos escritos e contém referências às categorias do código da Classificação de Viena, pelo que a melhor forma de pesquisar é utilizando esse código. Nestes casos, o símbolo protegido, que frequentemente contém ou consiste em elementos como coroas, unicórnios, águias, leões, etc., e a marca (ou a parte da marca que reproduz o símbolo) devem ser muito semelhantes. Para mais informações sobre esta e outras descrições heráldicas, consulte a explicação fornecida no ponto 2.8.1.1, Exame de marcas que contenham ou consistam numa bandeira de Estado. Apresentam-se em seguida dois exemplos em que se concluiu pela existência de «imitação heráldica» de um símbolo de Estado:

Emblema protegido Pedido de marca comunitária recusado

Emblema britânico: número do artigo 6.º ter: GB4 Pedido de marca comunitária n.º 5 627 245;

processo no Tribunal Geral T-397/09

.

Emblema canadiano: número do artigo 6.º ter:

CA2 Pedido de marca comunitária n.º 2 785 368; processo no Tribunal de Justiça C-202/08

O Tribunal Geral sublinhou que os suportes constantes do pedido de marca comunitária n.º 5 627 245 eram quase idênticos aos do emblema protegido sob o sinal GB4. A única diferença residia nas coroas que faziam igualmente parte de ambos os sinais. Nestas circunstâncias, o Tribunal Geral determinou que uma diferença entre a marca objeto de pedido e o emblema de Estado detetada por um perito em heráldica não seria necessariamente apreendida pelo consumidor médio, que, apesar de algumas diferenças em pormenores heráldicos, poderia ver na marca uma imitação do

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emblema em causa. Atento o que precede, o Tribunal concluiu que fora com justeza que a Câmara de Recurso determinara que a marca objeto de pedido continha uma imitação, do ponto de vista heráldico, do emblema GB4, protegido ao abrigo do artigo 6.º ter da Convenção de Paris (acórdão do Tribunal Geral no processo T-397/09, n.os 24-25). Por outro lado, considerou-se que a marca seguinte (marca comunitária n.º 6 832 571)

não continha uma imitação heráldica do emblema britânico supramencionado. Conforme já se referiu, os leões e os unicórnios são frequentemente utilizados neste tipo de símbolos. Importa ainda notar que reproduções a preto e branco de armas e de outros emblemas de Estado podem igualmente ser consideradas imitações heráldicas se o símbolo protegido contiver ou for composto por características heráldicas únicas. Acresce que a presença de outros elementos nas marcas recusadas é irrelevante. Também existe imitação heráldica no caso de o símbolo protegido ser apenas parcialmente reproduzido, se a parte reproduzida incluir o(s) elemento(s) significativo(s) do símbolo protegido e (uma) característica(s) heráldica(s) única(s). Apresenta-se em seguida um exemplo de uma imitação heráldica parcial, devido ao facto de o elemento significativo do símbolo protegido, a águia com as flechas sobre o emblema, ser um elemento heráldico único e as suas características heráldicas serem imitadas no pedido de marca comunitária:

Emblema protegido Pedido de marca comunitária recusado

Emblema do Departamento de Justiça dos EUA; número do

artigo 6.º ter: US40 Pedido de marca comunitária n.º 4 820 213

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No exemplo seguinte, não há qualquer imitação heráldica de um emblema de Estado:

Emblema protegido Pedido de marca comunitária aceite

Número do artigo 6.º ter: AT10 Pedido de marca comunitária n.º 8 298 077

O pedido de marca comunitária n.º 8 298 077 não é uma imitação heráldica do símbolo austríaco na medida em que a sua forma é diferente e as linhas que se encontram no interior do símbolo austríaco não estão presentes no pedido de marca comunitária. Depois de ter determinado que a marca reproduz um símbolo (ou é uma representação heráldica de um símbolo), o examinador deve verificar se do processo consta algum elemento que comprove que o registo foi autorizado pela autoridade competente. Se não constar qualquer comprovativo dessa natureza, o examinador objetará ao registo da marca pedida. A objeção deve reproduzir o símbolo protegido e indicar o número sob o qual está protegido ao abrigo do artigo 6.º ter da Convenção de Paris. Esta objeção só poderá ser retirada se o requerente produzir uma prova de que a autoridade competente do Estado em causa autorizou o registo da marca. Amplitude da recusa: no caso de símbolos de Estado, as marcas não conformes com o artigo 7.º, n.º 1, alínea h), do CTMR devem ser recusadas em relação a todos os produtos e serviços para que foram pedidas. 2.8.1.3 Exame de marcas que contenham ou consistam em distintivos e sinetes

oficiais de fiscalização e de garantia O examinador deve seguir as mesmas etapas que no exame das bandeiras de Estado e de armas e outros emblemas de Estado protegidos supramencionados. No entanto, a amplitude da recusa é limitada. As marcas que contêm ou consistem numa reprodução idêntica / imitação heráldica de distintivos e sinetes oficiais de fiscalização e de garantia apenas serão recusadas caso se destinem a produtos idênticos ou semelhantes àqueles a que os símbolos em causa são aplicáveis (artigo 6.º ter, n.º 2, da Convenção de Paris).

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2.8.2. Proteção de armas, bandeiras, outros emblemas, siglas ou denominações de organismos internacionais intergovernamentais ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea h, do CTMR – artigo 6.º ter, n.º 1, alíneas b) e c), da Convenção de Paris

Nos termos do artigo 6.º ter, n.º 1, alíneas b) e c), da Convenção de Paris, será recusado o registo, sem autorização das autoridades competentes, quer como marcas, quer como elementos de marcas, de armas, bandeiras e outros emblemas, siglas ou denominações de organismos internacionais intergovernamentais (de que sejam membros um ou mais países da União de Paris), bem como qualquer imitação do ponto de vista heráldico. Os membros da Organização Mundial de Comércio (OMC) beneficiam da mesma proteção ao abrigo do artigo 2.º, n.º 1, do Acordo TRIPS, nos termos do qual os membros devem observar o disposto nos artigos 1.º a 12.º e no artigo 19.º da Convenção de Paris. Além disso, a marca deve ser de natureza a sugerir, no espírito do público, um elo entre a organização em causa e as armas, bandeiras, emblemas, siglas ou denominações, ou a induzir o público em erro acerca da existência de uma ligação entre o titular da marca e a organização. Os organismos internacionais intergovernamentais (OIG) incluem entidades como as Nações Unidas, a União Postal Universal, a Organização Mundial do Turismo, a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), etc. Neste contexto, a União Europeia não deve ser considerada nem um organismo internacional, na aceção tradicional, nem uma associação de Estados, mas antes uma «organização supranacional», ou seja, uma entidade autónoma, com direitos soberanos próprios e uma ordem jurídica independente das dos Estados-Membros, à qual tanto os Estados-Membros como os respetivos cidadãos se devem conformar nos domínios que são da competência da União Europeia. Por um lado, os Tratados determinaram a criação de uma União independente à qual os Estados-Membros cederam alguns dos seus poderes soberanos. A missão da União Europeia tem uma natureza muito diferente da missão de qualquer outro organismo internacional. Enquanto estes últimos executam tarefas de caráter técnico claramente definidas, a UE tem domínios de responsabilidade que, no seu conjunto, constituem, sem sombra de dúvida, responsabilidades típicas de um Estado. Por outro lado, às instituições da União apenas foram conferidas competências em determinados domínios, para realizar os objetivos especificados nos Tratados. Ou seja, as instituições não podem escolher livremente os seus objetivos, ao contrário do que acontece com um Estado soberano. Além disso, a UE não tem a plena jurisdição dos Estados soberanos nem tão-pouco competências para definir novos domínios de responsabilidade («competência sobre a jurisdição»). Sem prejuízo da natureza jurídica específica da União Europeia, e exclusivamente para efeitos da aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea h), do CTMR, a União Europeia é equiparada a uma organização internacional. Na prática, será tido em conta o facto de o domínio de atividade da UE ser tão vasto (ver acórdão do Tribunal Geral de 15/01/2013, T-413/11, «EUROPEAN DRIVESHAFT SERVICES», n.º 69) que é muito provável que o examinador consiga estabelecer uma ligação entre os produtos e serviços em causa e as atividades da UE.

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Apresentamos em seguida as mais importantes bandeiras e símbolos da União Europeia, protegidos pelo Conselho da Europa:

Número do artigo 6.º ter: QO188 Número do artigo 6.º ter: QO189

Os símbolos seguintes foram protegidos para a Comissão Europeia:

Número do artigo 6.º ter: QO245

Número do artigo 6.º ter: QO246 Número do artigo 6.º ter: QO247

Os símbolos seguintes foram protegidos para o Banco Central Europeu:

Número do artigo 6.º ter: QO852 Número do artigo 6.º ter: QO867

O exame de marcas que contêm armas, bandeiras ou outros símbolos de um organismo internacional intergovernamental compreende quatro etapas: 1 Encontrar uma reprodução oficial do símbolo protegido (que pode ser uma sigla

ou uma denominação). 2 Comparar o símbolo com a marca objeto de pedido. 3 Verificar se a marca objeto de pedido sugere ao público pertinente a existência

de um elo entre o titular da marca e o organismo internacional em causa ou induz o público em erro sobre a existência desse elo.

4 Verificar se o processo contém algum elemento que comprove que o registo foi

autorizado pela autoridade competente.

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Motivos absolutos de recusa

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1 Encontrar o símbolo protegido (ou sigla ou denominação) Para estarem protegidos, os símbolos de organismos internacionais intergovernamentais devem constar da lista pertinente. Ao contrário do que acontece com as bandeiras de Estado, este requisito é igualmente aplicável às bandeiras das organizações internacionais. A base de dados pertinente é acessível através da ferramenta «Article 6ter Structured Search» («Pesquisa estruturada do artigo 6.º ter»), disponibilizada pela OMPI. Também neste caso, a melhor forma de pesquisar é através dos códigos da Classificação de Viena. 2 Comparar o símbolo com a marca objeto de pedido A marca objeto de pedido é composta exclusivamente ou contém uma reprodução idêntica do símbolo protegido de um organismo internacional intergovernamental OU a marca objeto de pedido contém ou consiste numa imitação heráldica desse símbolo? a) A marca objeto de pedido contém ou é composta exclusivamente por uma

reprodução idêntica do símbolo protegido? Em caso afirmativo, avance para a etapa seguinte.

b) A marca objeto de pedido contém ou é composta exclusivamente por uma

imitação heráldica do símbolo protegido? O teste é o mesmo realizado para as bandeiras e símbolos de Estado, ou seja, o símbolo protegido e a marca (ou a parte da marca em que o símbolo protegido está reproduzido) devem ser muito semelhantes. O mesmo se aplica a siglas e denominações de organismos internacionais intergovernamentais (ver decisão da Câmara de Recurso no processo R 1414/2007-1, «ESA»). As marcas apresentadas em seguida foram recusadas por ter sido considerado que continham «imitações heráldicas» da bandeira da União Europeia, protegida sob o n.º QO188:

Pedido de marca comunitária Pedido de marca comunitária Pedido de marca comunitária

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n.º 2 305 399 n.º 448 266 n.º 6 449 524

Pedido de marca comunitária n.º 7 117 658

Pedido de marca comunitária n.º 1 106 442 (Processo T-127/02)

Pedido de marca comunitária n.º 4 081 014 (1640 C)

Pedido de marca comunitária n.º 2 180 800 (Processo

T-413/11)

No que respeita às imitações heráldicas da bandeira da União Europeia (QO188 supra), considera-se relevante que (a) tenham 12 estrelas de 5 pontas, (b) as estrelas estejam dispostas em círculo e não se toquem e (c) as estrelas contrastem com um fundo mais escuro. Há que ter em conta, nomeadamente, o facto de o «conjunto das doze estrelas dispostas em círculo constituir o elemento mais importante do emblema da União Europeia (o “emblema”), porquanto transmite mensagens inequívocas: a) o círculo de estrelas douradas simboliza a solidariedade e a harmonia entre os povos da Europa e b) o número doze evoca a perfeição, a plenitude e a unidade. O outro elemento do emblema é um fundo numa cor adequada para realçar o conjunto das doze estrelas» [tradução não oficial] (ver decisão da Câmara de Recurso no processo R 1401/2011-1, n.º 21). Resulta do que precede que a representação da bandeira da UE a preto e branco pode ser considerada uma imitação heráldica, no caso de as estrelas contrastarem com um fundo escuro de forma que dê a impressão de se tratar de uma reprodução a preto e branco da bandeira da UE (ver pedido de marca comunitária n.º 1 106 442 supra). Em contrapartida, no exemplo seguinte, a reprodução a preto e branco de um círculo de estrelas não dá a impressão de se tratar de uma reprodução a preto e branco da bandeira da UE:

Pedido de marca comunitária aceite

Pedido de marca comunitária n.º 4 114 062

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Os três casos apresentados em seguida não são considerados imitações heráldicas da bandeira da União Europeia devido ao facto de não reproduzirem doze estrelas num círculo (o que significa que os três pedidos de marca foram aceites):

Pedido de marca comunitária n.º 7 142 731

Pedido de marca comunitária n.º 5 639 984

Pedido de marca comunitária n.º 6 156 624

O símbolo a seguir apresentado também não constitui uma imitação heráldica devido ao facto de, apesar de as estrelas serem amarelas, não exibir um fundo azul (ou de cor escura):

Pedido de marca comunitária aceite

Pedido de marca comunitária n.º 4 926 804

3 Verificar se a marca objeto de pedido sugere ao público pertinente que existe um

elo entre o titular da marca e a organização internacional em causa ou induz o público em erro sobre a existência desse elo.

Um elo não é sugerido unicamente quando o público é levado a acreditar que os produtos ou serviços provêm da organização em causa, mas também quando se permite que o público acredite que os produtos ou serviços foram aprovados ou são garantidos pela organização em causa, ou estão ligados a esta de qualquer outra forma (ver acórdão do Tribunal Geral de 15/01/2013, T-413/11, «EUROPEAN DRIVESHAFT SERVICES», n.º 61). Para avaliar corretamente as circunstâncias, o examinador deve ter em conta o seguinte: - os produtos e/ou serviços abrangidos pelo pedido de marca comunitária; - o público pertinente; - a impressão geral transmitida pela marca.

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No que respeita à bandeira da União Europeia, o examinador deve avaliar se existe alguma sobreposição entre os produtos e/ou serviços a proteger pela marca e as atividades da União Europeia, tendo em conta o facto de que a União Europeia está ativa em numerosos setores e regulamenta produtos e serviços em todos os setores da indústria e do comércio, conforme ressalta claramente da grande diversidade de diretivas por esta adotadas. O examinador deve ainda ter em conta o facto de que mesmo o consumidor médio pode estar ciente dessas atividades, o que significa, na prática, que é provável que na maior parte nos casos o examinador encontre algum tipo de ligação. Por último, contrariamente ao artigo 6.º ter, n.º 1, alínea a), da Convenção de Paris, nos termos da qual basta que o sinal contenha ou consista no emblema ou numa imitação heráldica desse emblema, o artigo 6.º ter, n.º 1, alínea c), da Convenção de Paris exige uma avaliação geral. Daqui resulta que, contrariamente ao que acontece em relação aos emblemas e bandeiras de Estado, o examinador deve igualmente ter em conta os demais elementos que compõem a marca, porquanto não pode excluir-se a possibilidade de todos os outros elementos do sinal permitirem concluir que o público não liga o sinal a um organismo internacional intergovernamental (ver acórdão do Tribunal Geral de 15/01/2013, T-413/11, «EUROPEAN DRIVESHAFT SERVICES», n.º 59). Ainda no que respeita à bandeira da UE, importa notar que, por norma, a ocorrência de elementos nominativos, como «EURO»/«EUROPEU», num pedido de marca comunitária aumenta a probabilidade de ligação no espírito do público, porquanto esses elementos podem ser apreendidos como indicadores da aprovação, do controlo de qualidade ou da garantia dos produtos ou serviços em causa por uma agência oficial da UE. Apresentam-se em seguida dois exemplos em que se concluiu pela existência de ligação com a União Europeia:

P&S: Classe 16: Periódicos e outras publicações Classe 42: Elaboração de relatórios ou estudos relacionados com automóveis, motociclos e bicicletas

Fundamentação

A marca foi recusada para todos os produtos e serviços pelos seguintes motivos: (26) Os consumidores deste mercado sabem que é essencial que as empresas que realizam inquéritos e relatórios sobre produtos caros e potencialmente perigosos, como veículos, sejam credíveis. Os consumidores sabem igualmente que a própria União Europeia está envolvida nestas atividades através da sua associação Euro E.N.C.A.P, que disponibiliza aos consumidores de veículos motorizados avaliações independentes da segurança e do desempenho dos automóveis comercializados no mercado europeu. Atento o que precede e o facto de a marca objeto de pedido conter um elemento heráldico reconhecível do emblema europeu, era elevada a probabilidade de o público partir do pressuposto de que a inclusão das doze estrelas no emblema da UE na marca comunitária indicava uma relação entre o titular da marca e a UE.

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P&S: Classe 9: Hardware, software, suportes de dados gravados. Classe 41: Organização e realização de colóquios, seminários, simpósios, congressos e conferências; ensino, formação; consultadoria em matéria de formação e aperfeiçoamento profissional. Classe 42: Elaboração, atualização e assistência a programas de computador; conceção de programas de computador; consultoria em matéria de computadores; aluguer de hardware e software; aluguer de tempo de acesso a bases de dados.

Fundamentação

A marca foi recusada para todos os produtos e serviços pelos seguintes motivos: A Câmara de Recurso considerou, contrariamente ao que alegava a recorrente, que existiam algumas sobreposições entre os produtos e serviços por esta oferecidos e as atividades do Conselho da Europa e da União Europeia. A Câmara de Recurso referiu, nomeadamente, o Jornal Oficial da União Europeia,

disponível em CD-ROM (isto é, num suporte de dados registado) para seminários, programas de formação e conferências propostos pelo Conselho da Europa e a União Europeia nas áreas mais diversas, bem como um grande número de bases de dados postas à disposição do público por estas instituições, em particular, o EUR-Lex. Importa observar que, dada a grande variedade de serviços e de produtos que o Conselho da Europa e a União Europeia podem oferecer, a natureza dos produtos e serviços para os quais o registo é pedido não exclui a possibilidade de o público interessado acreditar que existe uma ligação entre o requerente e essas instituições. Logo, foi corretamente que a Câmara de Recurso concluiu que o registo da marca pedida era suscetível de suscitar no espírito do público a impressão de que existia uma ligação entre a marca pedida e as instituições em questão.

4 Verificar se o registo foi autorizado Se não for produzido qualquer comprovativo de que o registo da marca objeto de pedido foi autorizado, o examinador objetará ao seu registo. A objeção deve reproduzir o símbolo protegido e indicar o número sob o qual o mesmo está protegido ao abrigo do artigo 6.º ter da Convenção de Paris. O examinador deve ainda enunciar claramente os produtos e serviços recusados e indicar os motivos por que a marca sugere ao público uma ligação com a organização em causa. Esta objeção só poderá ser retirada se o requerente fizer prova de que a autoridade competente autorizou o registo da marca. Amplitude da recusa: no caso de bandeiras e símbolos de organismos internacionais intergovernamentais, a recusa deve indicar os produtos e/ou serviços afetados, ou seja, aqueles que, segundo o examinador, levariam o público a estabelecer uma relação entre a marca e a organização.

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Motivos absolutos de recusa

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2.8.3. Proteção de emblemas, insígnias ou escudos que não os abrangidos pelo artigo 6.º ter da Convenção de Paris ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR

Nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR, as marcas que incluam emblemas, insígnias ou escudos que não os abrangidos pelo artigo 6.º ter da Convenção de Paris e que apresentem um interesse público particular não podem ser registadas, a não ser que as entidades competentes tenham autorizado o respetivo registo. Conforme já se viu, o artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR abrange todos os emblemas, insígnias ou escudos que não tenham sido comunicados nos termos do artigo 6.º ter, n.º 3, alínea a), da Convenção de Paris, independentemente do facto de se tratar de emblemas de Estado ou de organismos internacionais intergovernamentais, na aceção do artigo 6.º ter, n.º 1, alíneas a) ou b), da Convenção de Paris, ou de organismos ou administrações públicas não abrangidos pelo artigo 6.º ter da Convenção de Paris, como províncias ou municípios. Acresce que, de acordo com a jurisprudência, o âmbito de aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea h), e do artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR é similar e ambas as disposições conferem níveis de proteção, no mínimo, equivalentes. Isto significa que o artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR é aplicável não só quando os símbolos supramencionados são reproduzidos de forma idêntica como marca ou parte de uma marca, mas também quando a marca contém ou consiste numa imitação heráldica desses símbolos. Qualquer outra interpretação desta disposição teria como consequência uma menor proteção pelo artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR do que pelo artigo 7.º, n.º 1, alínea h), do mesmo regulamento. Seguindo a mesma linha de raciocínio, o artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR é aplicável no caso de a marca ser suscetível de induzir o público em erro quanto à existência de uma ligação entre o titular da marca e a entidade para que os símbolos supramencionados remetem. Por outras palavras, a proteção conferida pelo artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR está subordinada à existência de um elo entre a marca e o símbolo. Sem esse elo, as marcas a que o artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR é aplicável poderiam beneficiar de uma proteção mais ampla ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea h), do CTMR (ver acórdão do Tribunal Geral de 10/07/2013, T-3/12, «MEMBER OF EURO EXPERTS»). O artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR não define símbolos de «interesse público particular». Todavia, é razoável pressupor que a natureza destes símbolos pode variar e estes podem incluir, por exemplo, símbolos religiosos, símbolos políticos ou símbolos de entidades ou administrações públicas não abrangidas pelo artigo 6.º ter da Convenção de Paris, como províncias ou municípios. De qualquer forma, o seu «interesse público particular» deve refletir-se num documento público, por exemplo, um instrumento jurídico nacional ou internacional, um regulamento ou outro ato normativo. O Tribunal Geral estatuiu que existe «interesse público particular» quando o emblema apresenta uma ligação especial com uma das atividades de um organismo internacional intergovernamental (acórdão de 10/07/2013, T-3/12, «MEMBER OF EURO EXPERTS», n.º 44). Em particular, o Tribunal especificou que o artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR é igualmente aplicável quando o emblema se limita a evocar um dos domínios de ação da União Europeia e mesmo que essa ação apenas diga respeito a alguns Estados-Membros da UE (ibidem, n.os 45 e 46).

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Motivos absolutos de recusa

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DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

O que precede confirma que a proteção conferida pelo artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR é igualmente aplicável a símbolos que tenham interesse público particular apenas num Estado-Membro ou em parte de um Estado-Membro (artigo 7.º, n.º 2, do CTMR). O exame de marcas que contenham emblemas, insígnias ou escudos de interesse público particular comporta quatro etapas: 1 Encontrar o símbolo de interesse público particular. 2 Comparar o símbolo com a marca objeto de pedido. 3 Verificar se a marca objeto de pedido sugere ao público pertinente a existência

de um elo entre o titular da marca e a entidade para a qual o símbolo remete ou induz o público em erro acerca da existência desse elo.

4 Verificar se o processo contém algum elemento que comprove que o registo foi

autorizado pela autoridade competente. 1 Encontrar o símbolo de interesse público particular Presentemente, não existe qualquer lista ou base de dados que permita aos examinadores identificar os símbolos com interesse público particular num Estado-Membro ou em parte de um Estado-Membro. Em consequência, é provável que as observações de terceiros continuem a ser a fonte de muitas objeções a esses símbolos. Um exemplo de um símbolo de interesse público especial é a Cruz Vermelha, que é protegida pela Convenção de Genebra para Melhorar a Situação dos Feridos e Doentes das Forças Armadas em Campanha (http://www.icrc.org/ e

http://www.icrc.org/Web/Eng/siteeng0.nsf/htmlall/genevaconventions).

No âmbito da Convenção de Genebra, estão protegidos os seguintes símbolos:

Para além destes símbolos, estão igualmente protegidas as suas denominações, que são as seguintes (da esquerda para a direita): «Cruz Vermelha», «Crescente Vermelho» e «Cristal Vermelho». Outro símbolo de interesse público particular é o símbolo olímpico, definido no Tratado de Nairóbi sobre a Proteção do Símbolo Olímpico. Segundo a definição constante do Tratado de Nairóbi, «o símbolo olímpico consiste em cinco anéis entrelaçados, nas cores azul, amarela, preta, verde e vermelha, dispostos por essa ordem, da esquerda para a direita. Consiste unicamente nos anéis olímpicos, numa só cor ou em cores diferentes.» [Tradução não oficial]

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DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

O símbolo seguinte não foi considerado de interesse público particular:

RECICLAGEM RESPONSÁVEL DE EMBALAGENS

SEPARE O VIDRO DO PLÁSTICO

Considerou-se que o símbolo da reciclagem (à esquerda) não deveria ser protegido ao abrigo desta disposição por se tratar de um símbolo comercial. 2 Comparar o símbolo com a marca objeto de pedido A marca objeto de pedido contém ou é composta exclusivamente por uma reprodução idêntica do símbolo de interesse público particular? Ou a marca objeto de pedido contém ou consiste numa imitação heráldica desse símbolo? a) A marca objeto de pedido contém ou é composta exclusivamente por uma

reprodução idêntica do símbolo? Em caso afirmativo, avance para a etapa seguinte.

b) A marca objeto de pedido contém ou é composta exclusivamente por uma

imitação heráldica do símbolo? O teste é o mesmo realizado para as bandeiras e símbolos de organismos internacionais intergovernamentais, ou seja, o símbolo e a marca (ou a parte da marca em que o símbolo está reproduzido) devem ser muito semelhantes. Apresentam-se em seguida exemplos de marcas que foram recusadas por conterem o símbolo da Cruz Vermelha ou uma imitação heráldica deste símbolo.

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Pedidos de marca comunitária recusados

Notificação escrita n.º 964 979 Pedido de marca comunitária n.º 2 966 265

Pedido de marca comunitária n.º 5 988 985

Por outro lado, têm sido tradicionalmente utilizadas — e continuam a sê-lo — uma série de cruzes vermelhas bem conhecidas, cuja integração numa marca não seria considerada uma reprodução da «Cruz Vermelha». Eis alguns exemplos dessas famosas cruzes vermelhas:

Cruz dos templários Cruz de S. Jorge Cruz de Malta

A marca seguinte foi aceite por conter duas reproduções da cruz dos templários.

Marca comunitária n.º 5 832 373

Não é possível levantar objeções a uma marca que contém uma cruz a preto e branco (ou em vários tons de cinzentos), do mesmo modo que não é possível levantar objeções ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR a uma cruz que não seja vermelha.

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Motivos absolutos de recusa

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Pedidos de marca comunitária aceites

Pedido de marca comunitária n.º 8 986 069

Pedido de marca comunitária n.º 9 019 647

Pedido de marca comunitária n.º 9 025 768

3 Verificar se a marca objeto de pedido sugere ao público pertinente a existência

de um elo entre o titular da marca e a entidade para a qual o símbolo remete ou induz o público em erro acerca da existência desse elo.

Um elo não é sugerido unicamente quando o público é levado a acreditar que os produtos ou serviços provêm da entidade em causa, mas também quando há o risco de o público pensar que os produtos ou serviços beneficiam da aprovação ou da garantia da entidade em causa, ou a esta estão de qualquer outra forma ligados (ver acórdão do Tribunal Geral de 10/07/2013, T-3/12, «MEMBER OF EURO EXPERTS», n.º 78). Para avaliar corretamente as circunstâncias, o examinador deve ter em conta o seguinte: - os produtos e/ou serviços abrangidos pelo pedido de marca comunitária; - o público pertinente; - a impressão geral transmitida pela marca. O examinador deve avaliar se existe sobreposição entre os produtos e/ou serviços protegidos pela marca objeto de pedido e as atividades da entidade em causa e se o público pertinente se pode aperceber dessa sobreposição. Em particular, no que respeita à União Europeia, o examinador deve ter em conta o facto de esta estar ativa em numerosos setores, como ressalta claramente da grande diversidade de diretivas pela mesma adotadas. O examinador deve igualmente ter em conta os demais elementos que compõem a marca, porquanto não se pode excluir a possibilidade de todos os outros elementos do sinal permitirem concluir que o público não liga o sinal à entidade em causa (ver acórdão do Tribunal Geral de 10/07/2013, T-3/12, «MEMBER OF EURO EXPERTS», n.º 107). Ainda no que respeita à UE, importa notar que, por norma, a ocorrência de elementos nominativos, como «EURO»/«EUROPEU», num pedido de marca comunitária aumenta a probabilidade de ligação no espírito do público, porquanto esses elementos podem ser apreendidos como indicadores da aprovação da UE (ver acórdão do Tribunal Geral de 10/07/2013, T-3/12, «MEMBER OF EURO EXPERTS», n.º 113).

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Motivos absolutos de recusa

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DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Por exemplo, o Tribunal Geral (no processo T-3/12) confirmou que a marca seguinte (pedido de marca comunitária n.º 6 110 423, relativa a produtos das classes 9, 16, 35, 36, 39, 41, 42, 44 e 45),

não era admissível à luz do artigo 7.º, n.º 1, alínea i), do CTMR, na medida em que continha uma imitação (heráldica) do símbolo do «euro».

4 Verificar se o registo foi autorizado Consta do processo algum elemento que comprove que a autoridade competente autorizou o registo? Se não constar qualquer comprovativo dessa natureza, o examinador objetará ao registo da marca pedida. A objeção reproduzirá o símbolo e fornecerá ao requerente todas as informações necessárias, nomeadamente sobre as razões por que o símbolo é de «interesse público particular» (por exemplo, se estiver protegido por um instrumento internacional, deve ser feita referência a esse instrumento; no caso da Cruz Vermelha, o instrumento é a Convenção de Genebra para Melhorar a Situação dos Feridos e Doentes das Forças Armadas em Campanha, assinada em Genebra (http://www.icrc.org/ e http://www.icrc.org/Web/Eng/siteeng0.nsf/htmlall/genevaconventions)). Esta objeção só poderá ser retirada se o requerente produzir uma prova de que a autoridade competente autorizou o registo da marca. Amplitude da recusa: no caso de símbolos de interesse público particular, a recusa deve indicar os produtos e/ou serviços afetados, ou seja, aqueles que, segundo o examinador, levariam o público a estabelecer uma ligação entre a marca e a entidade.

2.9 Artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR

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DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

2.9.1 Introdução O artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR é aplicável a marcas comunitárias que estejam em conflito com indicações geográficas que identifiquem vinhos e bebidas espirituosas. Mais concretamente, prevê que seja recusado o registo de marcas de vinhos que contenham ou consistam em indicações geográficas que identifiquem vinhos ou de marcas de bebidas espirituosas que contenham ou consistam em indicações geográficas que identifiquem bebidas espirituosas para vinhos ou bebidas espirituosas que não tenham essa origem. O artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR não refere explicitamente a legislação específica da UE relativa à proteção de indicações geográficas de vinhos e bebidas espirituosas. Nesta matéria, o Instituto aplica uma abordagem sistemática e interpreta o artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR em conformidade com o artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR. Ou seja, o Instituto aplica o artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR em conjunção com as disposições pertinentes da legislação comunitária em matéria de proteção das indicações geográficas de vinhos e bebidas espirituosas, a saber, o Regulamento (UE) n.º 1308/2013 do Conselho3 e o Regulamento (CE) n.º 110/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho4 respetivamente. Nos termos do artigo 93.º do Regulamento (UE) n.º 1308/2013, entende-se por: a) «Denominação de origem», o nome de uma região, de um local determinado ou,

em casos excecionais, de um país utilizado para designar um vinho que cumpra os seguintes requisitos:

i) a qualidade e as características do vinho são essencial ou exclusivamente devidas a um meio geográfico específico, com os fatores naturais e humanos inerentes ao mesmo;

ii) as uvas a partir das quais o vinho é produzido provêm exclusivamente dessa zona geográfica;

iii) a produção ocorre nessa zona geográfica; e iv) o vinho é obtido a partir de castas pertencentes à espécie Vitis vinifera.

b) «Indicação geográfica», uma indicação relativa a uma região, um local determinado ou, em casos excecionais, um país utilizada para designar um vinho que cumpra os seguintes requisitos:

i) possui determinada qualidade, prestígio ou outras características que podem ser atribuídas a essa origem geográfica;

ii) pelo menos 85 % das uvas utilizadas para a sua produção provêm exclusivamente dessa zona geográfica;

3 Regulamento (UE) n.º 1308/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de dezembro de

2013, que estabelece uma organização comum dos mercados dos produtos agrícolas e que revoga os Regulamentos (CEE) n.º 922/72, (CEE) n.º 234/79, (CE) n.º 103797/2001, (CE) n.º 1234/2007 do Conselho.

4 Regulamento (CE) n.º 110/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de janeiro de 2008, relativo à definição, designação, apresentação, rotulagem e proteção das indicações geográficas das bebidas espirituosas e que revoga o Regulamento (CEE) n.º 1576/89 do Conselho.

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iii) a sua produção ocorre nessa zona geográfica; e iv) é obtido a partir de castas pertencentes à espécie Vitis vinifera ou

provenientes de um cruzamento entre a espécie Vitis vinifera e outra espécie do género Vitis.

Nos termos do artigo 15.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 110/2008, uma «indicação geográfica» é uma indicação que identifica uma bebida espirituosa como sendo originária do território de um país, ou de uma região ou lugar desse território, sempre que determinada qualidade, prestígio ou outra característica sejam essencialmente imputáveis à sua origem geográfica. Por conseguinte, as denominações de origem protegidas (DOP) têm uma estreita ligação com o local de origem. Contudo, esta distinção não afeta o âmbito de proteção, que é o mesmo para as indicações geográficas protegidas (IGP) e as denominações de origem protegidas (DOP). Por outras palavras, o artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR é aplicável do mesmo modo a todas as designações abrangidas pelo Regulamento (UE) n.º 1308/2013, independentemente do facto de estarem registadas como DOP ou como IGP. Por seu turno, o Regulamento (CE) n.º 110/2008 abrange as IGP, mas não as DOP. É concedida proteção às DOP/IGP no intuito, nomeadamente, de proteger os legítimos interesses dos consumidores e dos produtores. Neste contexto, importa igualmente sublinhar que os conceitos de DOP e de IGP não são uma «indicação de proveniência geográfica simples». No que respeita à última, não existe uma conexão direta entre uma qualidade específica, o prestígio ou outra característica do produto e a sua origem geográfica específica, pelo que não se inscreve no âmbito de aplicação do artigo 93.º do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 ou do artigo 15.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 110/2008 (ver, por analogia, o acórdão do Tribunal de Justiça de 07/11/2000, C-312/98, «Warsteiner Brauerei», n.os 43 e 44). Por exemplo, «Rioja» é uma DOP para vinhos que designa vinhos com características específicas que correspondem à definição de uma DOP. Contudo, os vinhos produzidos em «Tabarca» (uma «indicação de proveniência geográfica simples» que designa uma pequena ilha próxima de Alicante) só podem ser protegidos por uma DOP/IGP se satisfizerem certos requisitos específicos.

Nos termos do artigo 102.º, n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1308/2013, o registo de uma marca que contenha ou consista numa denominação de origem protegida ou numa indicação geográfica protegida e que não esteja conforme com o caderno de especificações do produto em causa, ou cuja utilização seja abrangida pelo artigo 103.º, n.º 2, do mesmo regulamento e diga respeito a um produto de uma das categorias enumeradas no Anexo VII, Parte II, é recusado se o pedido de registo da marca for apresentado após a data de apresentação à Comissão do pedido de proteção da denominação de origem ou da indicação geográfica e se a denominação de origem ou a indicação geográfica for subsequentemente protegida.

Além disso, nos termos do artigo 23.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 110/2008, «o registo de uma marca que contenha ou consista numa indicação geográfica registada no anexo III deve ser recusado ou invalidado se a sua utilização conduzir a qualquer das situações referidas no artigo 16.º». O artigo 103.º, n.º 2, do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 e o artigo 16.º do Regulamento (CE) n.º 110/2008 enunciam as situações que infringem os direitos decorrentes de uma DOP/IGP: i) qualquer utilização comercial direta ou indireta da

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 43

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DOP/IGP; ii) qualquer utilização abusiva, imitação ou evocação; iii) qualquer outra prática falsa ou falaciosa. É necessário satisfazer cumulativamente três condições para que o artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR seja aplicável: 1. A DOP/IGP em causa deve estar registada a nível da UE (ver ponto 2.9.2.1

infra). 2. A utilização da marca comunitária que consiste ou contém uma DOP/IGP de

vinhos ou uma IGP de bebidas espirituosas deve constituir uma das situações previstas no artigo 103.º , n.º 2, do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 ou no artigo 16.º do Regulamento (CE) n.º 110/2008 (ver ponto 2.9.2.2. infra).

3. O pedido de marca comunitária deve incluir produtos idênticos ou

«comparáveis» aos produtos abrangidos pela DOP/IGP (ver ponto 2.9.2.3 infra). No que respeita a estas condições, é em seguida feita referência: (i) às DOP/IGP que podem suscitar objeções ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR; (ii) às circunstâncias em que uma marca comunitária que contém ou consiste numa DOP/IGP pode ser abrangida pelo artigo 103.º, n.º 2, do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 ou pelo artigo 16.º do Regulamento (CE) n.º 110/2008; (iii) aos produtos abrangidos pelo pedido de marca comunitária afetados pela proteção conferida pela DOP/IGP. Por último, é igualmente feita referência à forma como os produtos podem ser limitados para que uma objeção seja retirada.

2.9.2 Aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR 2.9.2.1 DOP/IGP pertinentes O artigo 7.º, n.º 1. alínea j), do CTMR é aplicável sempre que DOP/IGP (tanto de Estados-Membros da União Europeia como de países terceiros) tenham sido registados em conformidade com o procedimento previsto nos Regulamentos (UE) n.º 1308/2013 e (CE) n.º 110/2008. Sobre DOP/IGP de países terceiros que beneficiam de proteção na União Europeia graças a acordos concluídos entre a União Europeia e países terceiros, consultar o ponto 2.9.3.2 infra. Da base de dados «E-Bacchus» da Comissão, que pode ser acedida através da Internet, no endereço http://ec.europa.eu/agriculture/markets/wine/e-bacchus/, constam informações importantes sobre DOP/IGP de vinhos. As IGP de bebidas espirituosas estão enumeradas no anexo III do Regulamento (CE) n.º 110/2008 (artigo 15.º, n.º 2, do Regulamento (CE) n.º 110/2008), tal como alterado, acessível no endereço http://eur-lex.europa.eu/Notice.do?val=464638:cs&lang=en&list=531377:cs,500631:cs,500623:cs,500621:cs,464638:cs,&pos=5&page=1&nbl=5&pgs=10&hwords=. A Comissão mantém igualmente uma base de dados sobre bebidas espirituosas — «E-Spirit-Drinks» — acessível no endereço http://ec.europa.eu/agriculture/spirits/. Todavia, esta base não constitui um registo oficial, tendo um caráter meramente informativo.

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Motivos absolutos de recusa

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A proteção é conferida exclusivamente ao nome de uma DOP/IGP e não é extensível ipso iure às denominações de sub-regiões, a subdenominações, a circunscrições administrativas locais ou a localidades situadas na zona abrangida pela DOP/IGP em causa. Neste contexto, importa estabelecer uma distinção entre a doutrina do Tribunal Geral no seu acórdão de 11/05/2010, T-237/08, «Cuvée Palomar» e o atual quadro jurídico. Este acórdão remete para um sistema de competências dos Estados-Membros na designação de indicações geográficas para vinhos que existia nos termos do Regulamento (CE) n.º 1493/1999, que, entretanto, foi revogado. Nos termos do artigo 67.º do Regulamento (CE) n.º 607/2009 da Comissão (ver igualmente artigo 120.º, n.º 1, alínea g), do Regulamento (UE) n.º 1308/2013), a indicação dos nomes dessas unidades geográficas menores nos rótulos é agora facultativa. Por outro lado, dos acordos comerciais concluídos entre a UE e países terceiros consta, por norma, em anexo uma lista das DOP/IGP registadas a nível da UE que são igualmente protegidas nos países terceiros em casa (ver acórdão do Tribunal Geral 11/05/2010, T-237/08, «Cuvée Palomar», n.os 104-108, e decisão de 19/06/2013, R 1546/2011-4 – «FONT DE LA FIGUERA»). Contudo, os examinadores não devem utilizar essas listas como fonte de informação sobre as DOP/IGP da UE, devendo antes recorrer às bases de dados supramencionadas. Em primeiro lugar, as listas das DOP/IGP da UE a proteger por países terceiros podem variar consoante os acordos, em função das especificidades das negociações. Em segundo lugar, os anexos dos acordos são, por regra, alterados e atualizados por «troca de cartas». O artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR é aplicável unicamente a DOP/IGP pedidas antes da marca e já registadas aquando do exame do pedido de marca. As datas pertinentes para o estabelecimento da prioridade de uma marca e de uma DOP/IGP são, respetivamente, a data do pedido de marca (a chamada prioridade da Convenção de Paris, se reivindicada) e a data de apresentação do pedido de proteção de uma DOP/IGP à Comissão. Em consequência, não será levantada qualquer objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR se a DOP/IGP tiver sido pedida depois da data de apresentação (ou data de prioridade, se for caso disso) do pedido de marca comunitária. No caso dos vinhos, se da base «E-Bacchus» não constar qualquer informação relativa à data, tal significa que a DOP/IGP em causa é anterior a 1 de agosto de 2009, data da criação do registo. Relativamente a todas as DOP/IGP de vinhos acrescentadas posteriormente, a «E-Bacchus» faz referência à correspondente publicação no Jornal Oficial, de que constam todas as informações pertinentes. No que respeita às bebidas espirituosas, a publicação inicial do anexo III do Regulamento (CE) n.º 110/2008 incluía todas as IGP para bebidas espirituosas que existiam em 20 de fevereiro de 2008, data de entrada em vigor deste regulamento. Relativamente às IGP de bebidas espirituosas acrescentadas posteriormente, os regulamentos de alteração correspondentes contêm as informações pertinentes. Sem prejuízo do que precede, e atento o facto de a esmagadora maioria dos pedidos de DOP/IGP dar origem a registo, será levantada objeção no caso de a DOP/IGP ter sido pedida antes da data de apresentação do pedido de marca comunitária (ou da data de prioridade, se for caso disso), mas ainda não ter sido registada aquando do exame do pedido de marca comunitária. No entanto, se o requerente da marca comunitária alegar que a DOP/IGP em causa ainda não foi registada, o processo será suspenso até à conclusão do processo de registo da DOP/IGP.

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Motivos absolutos de recusa

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2.9.2.2 Situações abrangidas pelo artigo 103.º do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 e pelo artigo 16.º do Regulamento (CE) n.º 110/2008

O artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR é aplicável (desde que as demais condições se apliquem igualmente) em todas as seguintes situações: 1. a marca comunitária consiste exclusivamente numa DOP/IGP completa

(«utilização direta»); 2. a marca comunitária contém uma DOP/IGP para além de outros elementos

nominativos ou figurativos («utilização direta ou indireta»); 3. a marca comunitária contém ou consiste numa imitação ou evocação de uma

DOP/IGP; 4. outras indicações e práticas falaciosas; 5. o prestígio das DOP/IGP. A marca comunitária consiste exclusivamente numa DOP/IGP completa («utilização direta») Esta situação corresponde à «utilização direta» de uma DOP/IGP como marca comunitária, ou seja, a marca consiste exclusivamente no nome da DOP/IGP. Exemplos

DOP/IGP Marca comunitária

MADEIRA

(PDO-PT-A0038)

MADEIRA

(Marca comunitária coletiva n.º 3 540 911)

MANZANILLA

(PDO-ES-A1482)

MANZANILLA

(Marca comunitária coletiva n.º 1 723 345)

Se a marca consiste exclusivamente na DOP/IGP, a marca comunitária é abrangida pelo artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR, porquanto é considerada descritiva da origem geográfica dos produtos em causa. Isto significa que a objeção do examinador irá suscitar motivos absolutos de recusa ao abrigo tanto do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), como do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR. O artigo 66.º, n.º 2, do CTMR prevê uma exceção a esta regra no caso de a marca comunitária ser uma marca coletiva e de o respetivo regulamento de utilização incluir os elementos previstos no artigo 67.º, n.º 2, do mesmo regulamento (sobre a situação inversa, no caso de a marca ter sido pedida como marca individual, ver decisão de 07/03/2006, R 1073/2005-1, «TEQUILA», n.º 15). Embora a limitação dos produtos abrangidos (de modo a respeitar o caderno de especificações da DOP/IGP) seja um meio normalmente utilizado para retirar as objeções levantadas ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR (ver ponto 2.9.2.3 infra), essa limitação é irrelevante para efeitos do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR. Por exemplo, a um pedido de marca nominativa «Bergerac» para vinhos serão levantadas objeções ao abrigo tanto do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), como do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR: com efeito, a marca consiste exclusivamente na DOP «Bergerac», pelo que é descritiva. Se, subsequentemente, os produtos forem limitados

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a vinhos conformes com o caderno de especificações da DOP «Bergerac», a objeção nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR será retirada, mas a marca permanecerá descritiva e, por conseguinte, suscetível de levantar objeções por força do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR, a menos que tenha sido objeto de um pedido de marca coletiva em conformidade com o artigo 67.º, n.º 2, do CTMR. A marca comunitária contém uma DOP/IGP para além de outros elementos nominativos ou figurativos («utilização direta ou indireta») Esta situação abrange igualmente a «utilização direta» de uma DOP/IGP numa marca comunitária, através da reprodução do nome da DOP/IGP juntamente com outros elementos. Considera-se que, devido ao facto de conterem na íntegra o nome da DOP/IGP, as marcas comunitárias seguintes são abrangidas pelo artigo 7.º, n.º 1. alínea j), do CTMR.

DOP/IGP Marca comunitária

BEAUJOLAIS

(PDO-FR-A0934)

BEAUX JOURS BEAUJOLAIS

(Marca comunitária n.º 1 503 259)

CHAMPAGNE

(PDO-FR-A1359)

CHAMPAGNE VEUVE DEVANLAY

(Marca comunitária n.º 11 593 381)

BEAUJOLAIS

(PDO-FR-A0934)

(Marca comunitária n.º 1 561 646)

Nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR, é irrelevante o facto de os outros elementos nominativos ou figurativos poderem conferir caráter distintivo à marca. O sinal pode ser aceitável como um todo nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alíneas b) e c), do CTMR e mesmo assim levantar objeções nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR, como é o caso nos exemplos apresentados supra. Existe «utilização indireta» de uma DOP/IGP, por exemplo, quando a DOP/IGP ocorre numa marca complexa (como a representação de um rótulo), em carateres mais pequenos, como informação sobre a origem ou tipo do produto ou como parte do endereço do produtor. Nestes casos, a marca levantará objeções, independentemente da posição ou da dimensão da DOP/IGP no conjunto da marca, desde que seja visível.

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DOP/IGP Marca comunitária

PORTO

(PDO-PT-A1540)

Marcas comunitárias n.º 11 907 334 e n.º 2 281 970)

A marca comunitária contém ou consiste numa imitação ou evocação de uma DOP/IGP Nem o CTMR nem os Regulamentos (UE) n.º 1308/2013 e (CE) n.º 110/2008 definem os conceitos de «imitação» e «evocação», que, aliás, estão estreitamente relacionados. Segundo o Tribunal de Justiça, «a noção de evocação (...) abrange a hipótese de um termo utilizado para designar um produto incorporar uma parte de uma denominação protegida, de modo que o consumidor, perante o nome do produto, é levado a ter em mente, como imagem de referência, a mercadoria que beneficia da denominação» (acórdãos do Tribunal de Justiça de 04/03/1999, C-87/97, «Cambozola», n.º 25, e de

26/02/2008, C-132/05, n.º 44). Ora, o que precede significa que pode existir evocação quando a marca comunitária reproduz parte de uma DOP/IGP, como, por exemplo, (um dos seus) elemento(s) nominativo(s) geograficamente significativo(s) (no sentido em que não se trata de um elemento genérico, como «cabernet» e «ron» nas DOP/IGP «Cabernet d’Anjou» ou «Ron de Granada»), ou mesmo parte de um termo, como uma raiz ou terminação característica (ver exemplos infra). Além disso, o artigo 103.º, n.º 2, alínea b), do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 e o artigo 16.º do Regulamento (CE) n.º 110/2008 protegem as DOP/IGP contra qualquer utilização abusiva, imitação ou evocação, «mesmo que a verdadeira origem do produto ou serviço seja indicada ou que o nome protegido seja traduzido, transcrito ou transliterado ou acompanhado de termos tais como “género”, “tipo”, “método”, “estilo”, “imitação”, (...) ou similares», ainda que os consumidores não sejam induzidos em erro. De acordo com o Advogado-Geral (Conclusões de 17/12/1998, C-87/97, «Cambozola», n.º 33), «o termo “evocação” é objetivo, de modo que não é necessário demonstrar que o titular da marca pretendia evocar a denominação protegida». A este propósito, e para efeitos do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR, o Instituto procederá à avaliação, também com a máxima objetividade, das situações descritas infra, sem ter em conta a intenção do requerente da marca comunitária.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 48

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Acresce que o Instituto considera que os termos «imitação» e «evocação» traduzem basicamente o mesmo conceito. A marca «imita» (assemelha-se, reproduz elementos de, etc.) o produto designado pela DOP/IGP, que, dessa forma, é «evocado» (trazido à lembrança). Atento o que precede, o Instituto considera que existe evocação ou imitação de uma DOP sempre que: a) a marca comunitária incorpora a parte geograficamente significativa (no sentido

em que não se trata do elemento genérico) da DOP/IGP; b) a marca comunitária contém um adjetivo/substantivo equivalente que indica a

mesma origem geográfica; c) a DOP/IGP está traduzida; d) a marca comunitária inclui uma expressão de «deslocalização» para além da

DOP/IGP ou da sua evocação. A marca comunitária incorpora parte da DOP/IGP Segundo o Tribunal de Justiça (acórdãos de 04/03/1999, C-87/97, «Cambozola», e de 26/02/2008, C-132/05 supramencionados), a marca comunitária deve trazer ao espírito do consumidor a imagem do produto cuja denominação está protegida. O Tribunal determina ainda que «Pode (...) existir evocação de uma denominação protegida sem que haja qualquer risco de confusão entre os produtos em causa» (acórdão do Tribunal de Justiça de 04/03/1999, C-87/97, «Cambozola», n.º 26). Significativamente, a evocação não é avaliada da mesma forma que o risco de confusão (ver Conclusões do Advogado-Geral de 17/12/1998, C-87/97, «Cambozola», n.º 37). É necessário estabelecer um elo com o produto cuja denominação está protegida. Em consequência, a existência ou não de evocação não será analisada em conformidade com os princípios estabelecidos pelo Tribunal de Justiça no acórdão proferido em 11/11/1997, C-251/95, «Sabèl». Conforme já se referiu, considera-se que existe evocação quando a marca comunitária incorpora (um dos) elemento(s) nominativo(s) geograficamente significativo(s) (por oposição ao(s) elemento(s) genérico(s) de uma DOP/IGP, mas também quando a marca comunitária reproduz outras partes dessa DOP/IGP, como uma raiz ou terminação característica. Embora digam respeito a géneros alimentícios, os exemplos seguintes servem igualmente para demonstrar o que se entende por «imitação» e «evocação» no caso de vinhos e bebidas espirituosas.

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Motivos absolutos de recusa

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DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

DOP/IGP Marca Explicação

CHIANTI CLASSICO

(IT/PDO/0005/0108)

(Marca comunitária n.º 9 567 851)

O termo «chianti» evoca a DOP «Chianti Classico». (Processo R 1474/2011-2, «AZIENDA OLEARIA CHIANTI», n.

os 14-15)

GORGONZOLA

(IT/PDO/0017/0010)

CAMBOZOLA

«(...) há evocação de uma denominação protegida quando o termo utilizado para o designar [o queijo] termina pelas mesmas duas sílabas que esta denominação e comporta o mesmo número de sílabas que esta, de que resulta um parentesco fonético e ótico manifesto entre os dois termos».

(Acórdão do Tribunal de Justiça no processo C-87/97, n.º 27).

Se uma DOP/IGP contiver ou evocar o nome de um produto considerado genérico, a proteção não é extensiva ao elemento genérico. Por exemplo, na IGP «Ron de Málaga», não há qualquer dúvida de que o termo «ron» (rum em espanhol) é um termo genérico, pelo que não deve ser protegido. Por esse motivo, não será levantada qualquer objeção pelo facto de uma marca comunitária conter um termo genérico que faz parte de uma DOP/IGP. Se o caráter genérico de um elemento de uma DOP/IGP puder ser estabelecido através das definições dos dicionários, a perspetiva do público do país de origem da DOP/IGP é determinante. Nos exemplos supramencionados, por exemplo, basta que os consumidores espanhóis considerem o termo «ron» genérico para que seja forçoso concluir que este termo é genérico, independentemente do facto de ser ou não compreendido por outros segmentos do público da União Europeia. Em contrapartida, caso não seja possível encontrar uma definição num dicionário de uso corrente, o caráter genérico do termo em causa deve ser avaliado à luz dos critérios definidos pelo Tribunal (ver acórdão do Tribunal de Justiça de 26/02/2008, C-132/05 e acórdão do Tribunal Geral de 12/09/2007, T-291/03, «Grana Biraghi»), nomeadamente, as legislações nacionais e da União pertinentes, a perceção que o público tem do termo e as circunstâncias da comercialização do produto em causa. Por último, em alguns casos, uma marca comunitária pode constituir utilização direta/indireta ou evocação de mais do que uma DOP/IGP ao mesmo tempo. Existe mesmo uma forte probabilidade de tal acontecer quando a marca comunitária contém um elemento (não genérico) que ocorre em mais do que uma DOP/IGP.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 50

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

DOP/IGP RIOJA (DOP-ES-A0117)

SANTIAGO (IGP chilena)

Marca comunitária RIOJA SANTIAGO

Explicação

A marca objeto de pedido é composta pelos termos «RIOJA» e «SANTIAGO», cada um dos quais coincide com uma denominação de origem protegida de vinhos, correspondendo o termo «RIOJA» a uma denominação de origem protegida na União Europeia e o termo «SANTIAGO» a uma indicação geográfica de um vinho originário do Chile, protegido no âmbito de um acordo bilateral entre a União Europeia e a República do Chile (...).

Não é possível aceitar qualquer limitação que inclua um «vinho» originário do território de uma das duas denominações de origem, posto que tal limitação exclui automaticamente os vinhos originários da outra denominação de origem, o que significa inevitavelmente que a marca objeto de pedido gerará confusão. Pelo mesmo motivo, uma hipotética limitação da lista de produtos ao vinho originário da zona geográfica objeto de uma das denominações de origem (ou seja, «vinhos com a denominação de origem “Rioja” e vinhos com a denominação de origem “Santiago”») da classe 33 seria proibida por força do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR, na medida em que a marca identifica — inevitável e confusamente — vinhos com uma origem geográfica diferente da das respetivas denominações de origem incluídas na marca. Ora, o principal objetivo da disposição supramencionada consiste, justamente, em evitar essa possibilidade. (Processo R 0053/2010-2, «RIOJA SANTIAGO»)

Sempre que a marca comunitária abranja os produtos pertinentes, deve ser levantada uma objeção relativamente a todas as DOP/IGP em causa. No entanto, o examinador deve indicar que a objeção não poderá ser retirada, porquanto a limitação dos produtos àqueles que são abrangidos por uma ou pela totalidade das DOP/IGP daria necessariamente origem a outra objeção por força do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR, uma vez que tal limitação identificaria — inevitável e confusamente — vinhos com uma origem geográfica distinta da DOP/IGP em causa. Adjetivos/substantivos equivalentes A utilização de um adjetivo/substantivo equivalente para indicar a mesma origem constitui uma evocação de uma DOP/IGP.

DOP/IGP Marca comunitária (exemplos inventados) Explicação

IBIZA

(IGP-ES-A0110)

IBICENCO Substantivo na DOP → adjetivo na marca comunitária

AÇORES

(IGP-PT-A1447)

AÇORIANO Substantivo na DOP → adjetivo na marca comunitária

BORDEAUX

(DOP-FR-A0821)

BORDELAIS Substantivo na DOP → adjetivo na marca comunitária

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 51

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

DOP/IGP traduzidas Do mesmo modo, existe evocação ou imitação da DOP/IGP quando a marca comunitária contém ou consiste numa tradução da totalidade ou de parte de uma DOP/IGP para uma das línguas da UE.

DOP/IGP Marca comunitária

Explicação

COGNAC KONJAKKI

(exemplo inventado)

Considera-se que uma marca comunitária que contenha o termo «Konjakki» evoca «Cognac» em finlandês.

BOURGOGNE

Marca comunitária

n.º 2 417 269

«Borgoña» é a tradução espanhola da DOP francesa «Bourgogne»

Os pedidos de marcas que consistam nestes termos podem ser recusados ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), e do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR ou unicamente ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR. Expressões utilizadas como «deslocalizadores» Nos termos do artigo 103.º, n.º 2, alínea b), do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 e do artigo 16.º do Regulamento (CE) n.º 110/2008, as DOP/IGP estão protegidas «mesmo que a verdadeira origem do produto (...) seja indicada ou que o nome protegido seja (...) acompanhado de termos tais como “género”, “tipo”, “método”, “estilo", "imitação", (...) ou similares». Por conseguinte, o facto de a DOP/IGP reproduzida ou evocada na marca comunitária ser acompanhada destas expressões não prejudica a aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR. Por outras palavras, mesmo que as expressões em causa informem o público acerca da verdadeira origem do produto, não deixará de ser levantada uma objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR. Com efeito, a marca é enganosa, na aceção do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR, dado que existe uma contradição entre os produtos (limitados à DOP/IGP específica) e a mensagem transmitida pela marca (de que os produtos não são produtos DOP/IGP «autênticos»), que levantará necessariamente uma nova objeção ao abrigo deste artigo.

DOP/IGP Marca comunitária (exemplo inventado)

Explicação

RIOJA

(DOP-ES-A0117)

RIOJA STYLE RED WINE

Considera-se que uma marca comunitária que contenha uma expressão como «Rioja Style Red Wine» evoca a DOP «Rioja», mesmo quando transmite a ideia de que o produto em causa não é um vinho DOP Rioja «autêntico».

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 52

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

O local em que se encontra a sede social do requerente é irrelevante para avaliar da pertinência da aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR. O artigo 103.º, n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 estipula que as denominações de origem protegidas e as indicações geográficas protegidas podem ser utilizadas por qualquer operador que comercialize um vinho produzido em conformidade com o caderno de especificações correspondente. Assim, desde que os produtos sejam conformes com o caderno de especificações da DOP/IGP em causa (o que se garante com a limitação dos produtos), a localização da sede social do requerente indicada no pedido de marca comunitária é irrelevante. Por exemplo, uma empresa que tenha a sua sede social na Polónia pode possuir vinhas em Espanha que produzam vinhos conformes com o caderno de especificações da DOP «Ribera del Duero». Outras indicações e práticas falaciosas O artigo 103.º, n.º 2. alíneas c) e d), do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 e o artigo 16.º, alíneas c) e d), do Regulamento (CE) n.º 110/2008 protegem as DOP/IGP contra uma série de indicações falsas ou falaciosas quanto à proveniência, origem, natureza ou qualidades essenciais do produto. Embora dependa muito das especificidades de cada caso, devendo cada caso ser avaliado individualmente, pode considerar-se enganosa uma marca comunitária que, por exemplo, contenha elementos figurativos que sejam normalmente associados à zona geográfica em causa (como monumentos históricos sobejamente conhecidos). O que precede deve ser interpretado de forma restritiva: é aplicável unicamente a marcas comunitárias que exibam imagens singulares e bem conhecidas que sejam habitualmente consideradas como símbolos do local de origem dos produtos abrangidos pela DOP/IGP.

DOP/IGP Marca comunitária (exemplo inventado) Explicação

PORTO

(DOP-PT-A1540)

Marca comunitária que exibe a imagem da ponte de D. Luís I na cidade do

Porto

A imagem da ponte de D. Luís I e das margens do rio é um dos ex libris da cidade do Porto. A utilização desta imagem para vinhos não abrangidos pela DOP «Porto» implicaria a aplicação do disposto no

artigo 103.º , n.º 2, alíneas c) e d), do

Regulamento (UE) n.º 1308/2013.

Dada a dificuldade inerente à identificação de elementos figurativos evocativos, sobretudo dos menos óbvios, o Instituto baseia-se, nestes casos, essencialmente, nas objeções levantadas por terceiros. O prestígio das DOP/IGP Nos termos do artigo 103.º, n.º 2, alínea a), do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 e do artigo 16.º, alínea a), do Regulamento (CE) n.º 110/2008, os nomes registados estão protegidos contra utilizações que explorem o prestígio da denominação protegida. Esta proteção é extensiva a diferentes produtos (ver, por analogia, acórdão do Tribunal Geral de 12/06/2007, T-53/04 a T-56/04, T-58/04 e T-59/04, «Budweiser», n.º 176).

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 53

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Não obstante, o âmbito desta proteção deve ser apreciado à luz do mandato constante do artigo 102.º do Regulamento (UE) n.º 1308/2013, que limita a recusa de marca aos produtos das categorias enumeradas no seu anexo VII, parte II. Em consequência, o Instituto considera que, no contexto do exame dos motivos absolutos de recusa, a proteção de uma DOP/IGP se limita a produtos idênticos ou comparáveis. No entanto, o âmbito de proteção alargado de uma DOP/IGP prestigiada pode ser invocado no contexto do artigo 8.º, n.º 4, do CTMR (ver Linhas de orientação, Parte C, Oposição, Secção 4, Direitos ao abrigo do artigo 8.º, n.º 4, do CTMR). 2.9.2.3 Produtos pertinentes Produtos comparáveis Apenas podem ser levantadas objeções com base no artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR em relação a produtos específicos constantes do pedido de marca comunitária, a saber, a produtos idênticos ou «comparáveis» a produtos abrangidos pela DOP/IGP. As diferentes expressões utilizadas no artigo 102.º, n.º 1, e no artigo 103.º, n.º 2, do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 («produto de uma das categorias enumeradas no Anexo VII, Parte II» e «produtos comparáveis», respetivamente) são interpretadas pelo Instituto como sinónimos que remetem para o mesmo conceito. Para facilitar a consulta, as categorias enumeradas no anexo VII, parte II, do regulamento supramencionado podem ser agrupadas em: (i) vinho; (ii) vinho espumante; (iii) mosto de uvas; (iv) vinagres de vinho. A noção de produtos comparáveis deve ser objeto de uma interpretação restritiva e é independente da análise de similaridade entre produtos no direito das marcas. Nestas circunstâncias, não deverão necessariamente ser observados os critérios enunciados pelo Tribunal de Justiça no acórdão proferido em 29/09/1998, C-39/97, «Canon», embora alguns deles se possam revelar úteis. Por exemplo, dado que uma DOP/IGP serve para indicar a origem geográfica e as qualidades específicas de um produto, critérios como a natureza ou a composição desse produto são mais importantes do que, por exemplo, o facto de os produtos serem ou não complementares. Aliás, o Tribunal de Justiça (no acórdão proferido em 14/07/2011, C-4/10 e C-27/10, «BNI Cognac», n.º 54) definiu os seguintes critérios para determinar se os produtos são comparáveis:

apresentam ou não características objetivas comuns (como método de elaboração, aparência física do produto ou utilização das mesmas matérias-primas);

correspondem ou não, do ponto de vista do público em causa, a ocasiões de consumo amplamente idênticas;

são ou não distribuídos pelas mesmas redes e estão sujeitos a regras de comercialização semelhantes.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 54

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Embora não seja possível enumerar nas presentes Linhas de orientação todos os cenários possíveis, apresentam-se em seguida alguns exemplos de produtos comparáveis.

Produtos abrangidos pela DOP/IGP Produtos comparáveis

Vinho Todos os tipos de vinho (incluindo vinho espumante); mosto de uvas; vinagres de vinho; bebidas à base de vinho (por exemplo, «sangria»)

Bebidas espirituosas Todos os tipos de bebidas espirituosas, bebidas à base de bebidas espirituosas

Limitação da lista de produtos Nos termos do artigo 103.º, n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1308/2013, as denominações de origem protegidas e as indicações geográficas protegidas podem ser utilizadas por qualquer operador que comercialize um vinho produzido em conformidade com o caderno de especificações correspondente. As objeções levantadas ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR podem ser retiradas se os produtos pertinentes forem limitados, de modo a que seja respeitado o caderno de especificações da DOP/IGP em causa. A limitação dos produtos pode ser uma tarefa complexa, dependente, em larga medida, de um exame caso a caso.

Os produtos do mesmo tipo que os abrangidos pela DOP/IGP devem ser limitados àqueles que são conformes com o caderno de especificações da DOP/IGP. A redação correta é «[nome do produto] conforme com o caderno de especificações da [DOP/IGP «X»]». Não deve ser proposta nem admitida qualquer outra redação. Não são admissíveis limitações como «[nome do produto] com a [DOP/IGP «X»]» ou «[nome do produto] originário de [nome de um local]».

DOP/IGP na marca comunitária Lista de produtos admissível

Slovácká

(DOP-CZ-A0890)

Vinho conforme com o caderno de especificações da DOP «Slovácká»

A categoria de produtos que inclui os abrangidos pela DOP/IGP deve ser limitada de modo a designar «vinhos» conformes com o caderno de especificações da DOP/IGP. No que respeita às bebidas espirituosas, a limitação deve designar a categoria exata do produto (por exemplo, «whisky», «rum», «aguardente de frutos», em conformidade com o anexo III do Regulamento (CE) n.º 110/2008) conforme com o caderno de especificações da DOP/IGP.

DOP/IGP na marca comunitária

Especificação original (não admissível)

Lista de produtos admissível Explicação

TOKAJI

(DOP-HU-A1254)

Vinhos

Vinho conforme com o caderno de especificações da DOP «Tokaji»

A marca comunitária pode ser registada unicamente para vinhos abrangidos pela DOP

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 55

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Os produtos comparáveis são unicamente aqueles que, dentro da categoria de produtos comparáveis, são abrangidos pela DOP/IGP.

DOP/IGP na marca comunitária

Especificação original (não admissível)

Lista de produtos admissível Explicação

MOSLAVINA

(DOP-HR-A1653)

Bebidas alcoólicas (com exceção das

cervejas)

Vinho conforme com o caderno de especificações da DOP «Moslavina»; outras bebidas alcoólicas

A marca comunitária pode ser registada unicamente para vinhos abrangidos pela DOP e para outras bebidas alcoólicas.

Em certas situações, uma limitação poderá não ser suficiente para que a objeção seja retirada; por exemplo, no caso de os produtos abrangidos pela marca objeto de pedido, embora «comparáveis», não incluírem o produto abrangido pela DOP/IGP (por exemplo, se a IGP abranger «whisky» e os produtos abrangidos pela marca objeto de pedido forem «rum»).

2.9.3 DOP/IGP não protegidas pelos Regulamentos (UE) n.º 1308/2013 e (CE) n.º 110/2008

2.9.3.1 DOP/IGP protegidas a nível nacional num Estado-Membro O Tribunal de Justiça estabeleceu (no acórdão proferido em 08/09/2009, C-478/07, «Bud») que o regime de proteção das DOP/IGP dos produtos agrícolas e dos géneros alimentícios previsto pelo Regulamento (CE) n.º 510/2006 [então em vigor] tinha «caráter exaustivo». O Instituto aplica uma abordagem análoga em relação às DOP/IGP de vinhos e bebidas espirituosas pelas razões que a seguir se enunciam. A anterior proteção a nível nacional de indicações geográficas de vinhos e bebidas espirituosas que passaram a reunir as condições para obter uma DOP/IGP ao abrigo do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 e do Regulamento (CE) n.º 110/2008, respetivamente, foi cancelada quando as indicações geográficas em causa foram registadas a nível da UE (ver artigo 107.º do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 e artigos 15.º, n.º 1, e 20.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 110/2008). As indicações geográficas de vinhos que passaram a reunir as condições para obter uma DOP/IGP ao abrigo do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 e que no passado estavam protegidas pela legislação nacional não se inserem no âmbito de aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR. Assim, não constituem enquanto tal, e apenas por essa razão, um motivo de recusa ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR, a menos que tenham igualmente sido registados a nível da UE. Em consequência, se, por exemplo, um terceiro argumentar que uma marca comunitária contém ou consiste numa indicação geográfica de vinhos que no passado estava registada a nível nacional num Estado-Membro da UE, o examinador irá verificar se essa indicação geográfica está igualmente registada a nível da UE como DOP/IGP. Se não estiver, considerar-se-á que as observações do terceiro não levantam sérias dúvidas no que respeita ao artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 56

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

2.9.3.2 DOP/IGP de países terceiros As situações apresentadas em seguida dizem respeito a DOP/IGP de países terceiros que não estão simultaneamente registadas a nível da UE. A indicação geográfica está protegida unicamente no país de origem, ao abrigo da legislação nacional. O artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR não é aplicável, porquanto a indicação geográfica do país terceiro não é expressamente reconhecida e protegida pela legislação da UE. A este propósito, importa notar que as disposições do Acordo TRIPS não são suscetíveis de criar para os particulares direitos que estes possam invocar diretamente num tribunal por força do direito da UE (acórdão do Tribunal de Justiça de 14/12/2000, C-300/98 e C-392/98, n.º 44). No entanto, quando a marca comunitária contém ou consiste numa indicação geográfica protegida desse tipo, é igualmente necessário avaliar se a marca pode ou não ser considerada descritiva e/ou enganosa, na aceção do artigo 7.º, n.º 1, alíneas c) e g), do CTMR, em conformidade com as regras gerais estabelecidas nas presentes Linhas de orientação. Por exemplo, no caso de um terceiro observar que uma marca comunitária consiste no termo «Murakami» (exemplo inventado), que, nos termos da legislação do país X, é uma IGP para bebidas espirituosas, o artigo 7.º, n.º 1, alínea j), do CTMR não é aplicável pelas razões já apontadas, mas será necessário examinar se a marca comunitária em causa será ou não apreendida como um sinal descritivo e/ou enganoso pelos consumidores pertinentes da UE. A indicação geográfica está protegida ao abrigo de um acordo de que a União Europeia é parte contratante A UE assinou com países terceiros uma série de acordos comerciais que protegem indicações geográficas. Por norma, estes instrumentos incluem uma lista de indicações geográficas, bem como disposições relativas a eventuais conflitos destas indicações com marcas. Todavia, o conteúdo e o grau de precisão podem variar de acordo para acordo. As indicações geográficas de países terceiros ficam protegidas na UE após a entrada em vigor do acordo pertinente. Nesta matéria, é jurisprudência constante que uma disposição de um acordo concluído pela União Europeia com países terceiros deve ser considerada como sendo diretamente aplicável sempre que, atendendo aos seus termos bem como ao objeto e à natureza do acordo, se puder concluir que engloba uma obrigação clara, precisa e incondicional que não esteja subordinada, na sua execução ou nos seus efeitos, à intervenção de qualquer ato posterior (acórdão do Tribunal de Justiça de 14/12/2000, C-300/98 e C-392/98, n.º 42). O âmbito da proteção conferida a estas IGP por países terceiros é definido pelas disposições substantivas do acordo em causa. Enquanto os acordos mais antigos contêm, por norma, apenas disposições de caráter geral, a «última geração» de acordos de comércio livre fazem referência à relação entre marcas e IGP em termos similares aos dos artigos 102.º e 103.º do Regulamento (UE) n.º 1308/2013 (ver, por exemplo, os artigos 210.º e 211.º do «Acordo Comercial entre a União Europeia e os seus Estados-Membros, por um lado, e a Colômbia e o Peru, por outro», JO L 354 de 21/12/2012).

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 57

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Atento o que precede, as marcas comunitárias que contêm ou consistem numa DOP/IGP de um país terceiro que está protegida por um acordo de que a UE é parte contratante (e não está simultaneamente registada ao abrigo do Regulamento (UE) n.º 1308/2013) são examinadas, caso a caso, à luz das disposições substantivas específicas do acordo em causa relativas à recusa de marcas em conflito, tendo em conta a jurisprudência supramencionada. O simples facto de uma DOP/IGP de um país terceiro estar protegida por esses instrumentos não implica automaticamente que uma marca comunitária que contenha ou consista nessa DOP/IGP deva ser recusada: tal dependerá do teor e do âmbito de aplicação das disposições pertinentes do acordo. A indicação geográfica está protegida por um acordo internacional assinado unicamente por Estados-Membros A proteção de indicações geográficas no âmbito de acordos concluídos entre dois Estados-Membros não é permitida nos termos da legislação da UE aplicável em matéria de DOP/IGP (veja-se a doutrina no acórdão do Tribunal de Justiça de 08/09/2009, C-478/07, «Bud», aplicada pelo Instituto, por analogia, para DOP/IGP de vinhos e bebidas espirituosas. Os acordos deste tipo são redundantes e não produzem efeitos jurídicos. Quanto aos acordos internacionais assinados exclusivamente por Estados-Membros com países terceiros (em particular, o Acordo de Lisboa Relativo à Proteção das Denominações de Origem e ao seu Registo Internacional) — e unicamente para efeitos de exame de motivos absolutos de recusa —, a UE não é parte contratante nestes acordos, pelo que os mesmos não lhe impõem qualquer obrigação (ver, por analogia, acórdão do Tribunal de Justiça de 14/10/1980, C-812/79, n.º 9).

2.10 Artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR

2.10.1 Introdução O artigo 7.º, n.º 1, alínea k), é aplicável a marcas comunitárias que estejam em conflito com denominações de origem protegidas/indicações geográficas protegidas (DOP/IGP) de produtos agrícolas e géneros alimentícios registadas a nível da União Europeia. Mais concretamente, prevê a recusa de marcas comunitárias que contenham ou sejam compostas por uma DOP/IGP de produtos agrícolas e/ou de géneros alimentícios que tenha sido registada ao abrigo do Regulamento (UE) n.º 1151/20125, sempre que a situação corresponda a uma das situações previstas nesse regulamento. Nos termos do Regulamento (UE) n.º 1151/2012, as DOP/IGP abrangem produtos ou géneros alimentícios cujas características estejam intrinsecamente relacionadas com a origem geográfica. Mais concretamente, entende-se por:

5 Regulamento (UE) n.º 1151/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de novembro de

2012, relativo aos regimes de qualidade dos produtos agrícolas e dos géneros alimentícios. Este regulamento substituiu e revogou o Regulamento (CE) n.º 510/2006.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 58

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

«Denominação de origem» um nome que identifica um produto: 1. Originário de um local ou região determinados, ou, em casos excecionais, de um

país; 2. Cuja qualidade ou características se devam essencial ou exclusivamente a um

meio geográfico específico, incluindo os seus fatores naturais e humanos; e 3. Cujas fases de produção tenham todas lugar na área geográfica delimitada. «Indicação geográfica» um nome que identifica um produto: 1. Originário de um local ou região determinados, ou de um país; 2. Que possua determinada qualidade, prestígio ou outras características que

possam ser essencialmente atribuídas à sua origem geográfica; e 3. Em relação ao qual pelo menos uma das fases de produção tenha lugar na área

geográfica delimitada. DOP é o termo utilizado para descrever géneros alimentícios produzidos, transformados e preparados numa zona geográfica determinada, com recurso a técnicas reconhecidas. Uma IGP indica um vínculo com a zona em, no mínimo, uma das fases de produção, transformação ou preparação. As DOP têm, por conseguinte, uma maior ligação com a zona geográfica em causa. Contudo, esta distinção não afeta o âmbito de proteção, que é o mesmo para as IGP e as DOP. Por outras palavras, o artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR é aplicável indistintamente a todas as denominações abrangidas pelo Regulamento (UE) n.º 1151/2012, independentemente do facto de estarem registadas como DOP ou como IGP. É conferida proteção às DOP/IGP com o objetivo de assegurar a sua utilização adequada e de impedir práticas suscetíveis de induzir em erro os consumidores (ver considerando 29 do Regulamento (UE) n.º 1151/2012). Neste contexto, importa igualmente sublinhar que os conceitos de DOP e de IGP não são uma «indicação de proveniência geográfica simples». No que respeita ao último, não existe uma conexão direta entre uma qualidade específica, o prestígio ou outra característica do produto e a sua origem geográfica específica, pelo que não se inscreve no âmbito de aplicação do artigo 5.º, n.º 2, do Regulamento (UE) n.º 1151/2012 (acórdão do Tribunal de Justiça de 07/11/2000, C-312/98, «Haus Cramer», n.os 43 e 44). Por exemplo, «Queso Manchego» é uma DOP para queijo que designa um produto com características específicas que correspondem à definição de uma DOP. No entanto, «Queso de Alicante» (uma «indicação geográfica simples») não pode obter uma DOP/IGP, porquanto não reúne essas características nem satisfaz esses requisitos. Nos termos do artigo 14.º, n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1151/2012:

«Sempre que uma denominação de origem ou uma indicação geográfica seja registada ao abrigo do presente regulamento, o registo de uma marca cuja utilização violaria o disposto no artigo 13.º, n.º 1, e que diga respeito a um produto do mesmo tipo é recusado, caso o pedido de registo da marca seja apresentado após a data de apresentação, à Comissão, do pedido de registo respeitante à denominação de origem ou à indicação geográfica.»

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 59

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

O artigo 13.º, n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1151/2012 enuncia as situações que infringem os direitos decorrentes de uma DOP/IGP: i) qualquer utilização comercial direta ou indireta da DOP/IGP; ii) qualquer utilização abusiva, imitação ou evocação; iii) qualquer outra prática falsa ou falaciosa. É necessário reunir cumulativamente três condições para que o artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR seja aplicável:

A DOP/IGP em causa deve ser registada a nível da UE de acordo com o processo previsto no Regulamento (CE) n.º 1151/2012 (ver ponto 2.10.2.1 infra);

A utilização da marca comunitária que contém ou consiste numa DOP/IGP de produtos agrícolas e/ou géneros alimentícios deve corresponder a uma das situações previstas no artigo 13.º , n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1151/2012 (ver ponto 2.10.2.2. infra);

O pedido de marca comunitária deve incluir produtos idênticos ou «comparáveis» com os produtos abrangidos pela DOP/IGP (ver ponto 2.10.2.3 infra).

No que respeita a estas três condições, é em seguida feita referência: (i) às DOP/IGP que podem suscitar objeções ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR; (ii) às circunstâncias em que uma marca comunitária contém ou consiste numa DOP/IGP de modo a que lhe seja aplicável o artigo 13.º, n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1151/2012; iii) aos produtos abrangidos pelo pedido de marca comunitária afetados pela proteção conferida pela DOP/IGP. Por último, é igualmente feita referência à forma como os produtos podem ser limitados para que uma objeção seja retirada.

2.10.2 Aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR 2.10.2.1 DOP/IGP pertinentes O artigo 7.º, n.º 1. alínea k), do CTMR é aplicável sempre que DOP/IGP (tanto de Estados-Membros da União Europeia como de países terceiros) tenham sido registadas em conformidade com o procedimento previsto no Regulamento (UE) n.º 1151/2012. Sobre DOP/IGP de países terceiros que beneficiam de proteção na União Europeia graças a acordos concluídos entre a União Europeia e países terceiros, ver ponto 2.10.3.2 infra. Da base de dados «DOOR» da Comissão, que pode ser acedida através da Internet, no endereço http://ec.europa.eu/agriculture/quality/door/list.html, constam informações importantes sobre DOP/IGP registadas ao abrigo do Regulamento (UE) n.º 1151/2012. A proteção é conferida exclusivamente ao nome de uma DOP/IGP tal como registado (ver artigo 13.º, n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1151/2012) e não é extensiva ipso iure às denominações de sub-regiões, a subdenominações, a circunscrições administrativas locais ou a localidades situadas na zona abrangida pela DOP/IGP em causa. Neste contexto, importa estabelecer uma distinção entre a doutrina do Tribunal Geral no seu acórdão de 11/05/2010, T-237/08, «Cuvée Palomar» e o atual quadro jurídico. Este acórdão remete para um sistema de competências dos Estados-

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Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 60

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Membros na designação de indicações geográficas de vinhos que existia ao abrigo do Regulamento (CE) n.º 1493/1999, que entretanto foi revogado. Por outro lado, dos acordos comerciais concluídos entre a UE e países terceiros consta, por norma, em anexo uma lista das DOP/IGP registadas a nível da UE que são igualmente protegidas nos países terceiros em causa (ver acórdão do Tribunal Geral de 11/05/2010, T-237/08, «Cuvée Palomar», n.os 104-108, e decisão de 19/06/2013, R 1546/2011-4 – «FONT DE LA FIGUERA»). Contudo, os examinadores não devem utilizar essas listas como fonte de informação sobre as DOP/IGP da UE, devendo antes recorrer à base de dados supramencionada. Em primeiro lugar, as listas das DOP/IGP da UE a proteger por países terceiros podem variar consoante os acordos, em função das especificidades das negociações. Em segundo lugar, os anexos dos acordos são, por regra, alterados e atualizados por «troca de cartas». O artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR é aplicável unicamente a DOP/IGP pedidas antes da marca e já registadas aquando do exame do pedido de marca. As datas pertinentes para o estabelecimento da prioridade de uma marca e de uma DOP/IGP são, respetivamente, a data do pedido da marca comunitária (a chamada prioridade da Convenção de Paris, se reivindicada) e a data de apresentação do pedido de proteção de uma DOP/IGP à Comissão. Em consequência, não será levantada qualquer objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR se a DOP/IGP tiver sido pedida depois da data de apresentação (ou data de prioridade, se for caso disso) do pedido de marca comunitária. Da base de dados «DOOR» consta a data do pedido da DOP/IGP. Sem prejuízo do que precede, e atento o facto de a esmagadora maioria dos pedidos de DOP/IGP dar origem a registo, será levantada objeção no caso de a DOP/IGP ter sido pedida antes da data de apresentação do pedido de marca comunitária (ou da data de prioridade, se for caso disso), mas ainda não ter sido registada aquando do exame do pedido de marca comunitária. No entanto, se o requerente da marca comunitária alegar que a DOP/IGP em causa ainda não foi registada, o processo será suspenso até à conclusão do processo de registo da DOP/IGP. 2.10.2.2 Situações abrangidas pelo artigo 13.º, n.º 1, do Regulamento (UE)

n.º 1151/2012 O artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR é aplicável (desde que as demais condições se apliquem igualmente) em todas as seguintes situações: 1. a marca comunitária consiste exclusivamente numa DOP/IGP completa

(«utilização direta»); 2. a marca comunitária contém uma DOP/IGP completa para além de outros

elementos nominativos ou figurativos («utilização direta ou indireta»); 3. a marca comunitária contém ou consiste numa imitação ou evocação de uma

DOP/IGP; 4. outras indicações e práticas falaciosas; 5. o prestígio das DOP/IGP.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 61

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

A marca comunitária consiste exclusivamente numa DOP/IGP completa («utilização direta») Esta situação corresponde à «utilização direta» de uma DOP/IGP como marca comunitária, ou seja, a marca consiste exclusivamente no nome da DOP/IGP. Exemplos

DOP/IGP Marca comunitária

DRESDNER CHRISTSTOLLEN

(DE/IGP/005/0704)

DRESDNER CHRISTSTOLLEN

(Marca comunitária coletiva n.º 262 949)

PROSCIUTTO DI PARMA (IT/DOP/0117/0067)

PROSCIUTTO DI PARMA

(Marca comunitária coletiva n.º 1 116 458)

Se consistir exclusivamente na DOP/IGP, a marca comunitária é abrangida pelo artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR, porquanto é considerada descritiva da origem geográfica dos produtos em causa. Isto significa que a objeção do examinador irá suscitar motivos absolutos de recusa ao abrigo tanto do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), como do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR. O artigo 66.º, n.º 2, do CTMR prevê uma exceção a esta regra no caso de a marca comunitária ser uma marca coletiva e de o respetivo regulamento de utilização incluir os elementos previstos no artigo 67.º, n.º 2, do mesmo regulamento (sobre a situação inversa, no caso de a marca ter sido pedida como marca individual, ver decisão de 07/03/2006, R 1073/2005-1, «TEQUILA», n.º 15). Embora a limitação dos produtos abrangidos (de modo a respeitar o caderno de especificações da DOP/IGP) seja um meio normalmente utilizado para eliminar as objeções levantadas ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR (ver ponto 2.10.2.3 infra), essa limitação é irrelevante para efeitos do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR. Por exemplo, uma marca comunitária composta pela expressão «PROSCIUTTO DI PARMA» para carne levantará objeções ao abrigo tanto do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), como do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR: é composta unicamente pela DOP «Prosciutto di Parma», que garante proteção para produtos de carne, a saber, para um tipo específico de presunto, sendo, portanto, descritiva. Se, subsequentemente, os produtos forem limitados a presunto conforme com o caderno de especificações da DOP «Prosciutto di Parma», a objeção nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR será retirada, mas a marca permanecerá descritiva e, por conseguinte, suscetível de levantar objeções nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR, a menos que tenha sido objeto de um pedido de marca coletiva em conformidade com o artigo 67.º, n.º 2, do CTMR. A marca comunitária contém uma DOP/IGP completa para além de outros elementos nominativos ou figurativos («utilização direta ou indireta») Esta situação abrange igualmente a «utilização direta» de uma DOP/IGP numa marca comunitária, através da reprodução do nome da DOP/IGP juntamente com outros elementos.

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Motivos absolutos de recusa

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Considera-se que, devido ao facto de conterem o nome da DOP/IGP completa, as marcas comunitárias seguintes são abrangidas pelo artigo 7.º, n.º 1. alínea k), do CTMR:

DOP/IGP Marca comunitária

PROSCIUTTO DI PARMA

(IT/DOP/0117/0067)

CONSORZIO DEL PROSCIUTTO DI PARMA

(Marca comunitária n.º 6 380 141)

DRESDNER CHRISTSTOLLEN

(DE/IGP/005/0704)

(Marca comunitária n.º 5 966 668)

PARMIGIANO REGGIANO

(IT/DOP/0117/0016)

(Marca comunitária n.º 6 380 141)

WELSH BEEF

(UK/IGP/0005/0057)

(Marca comunitária n.º 10 513 729) Nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR, é irrelevante o facto de os outros elementos nominativos ou figurativos poderem conferir caráter distintivo à marca. O sinal pode ser admissível como um todo nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alíneas b) e c), do CTMR e mesmo assim levantar objeções nos termos do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do mesmo regulamento, como é o caso nos exemplos apresentados supra. Existe «utilização indireta» de uma DOP/IGP, por exemplo, quando a DOP/IGP ocorre numa marca complexa (como a representação de um rótulo), em carateres mais pequenos, a título de informação sobre a origem ou tipo do produto ou como parte do

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 63

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

endereço do produtor. Nestes casos, a marca levantará objeções, independentemente da posição ou da dimensão da DOP/IGP no conjunto da marca, desde que seja visível.

DOP/IGP Marca comunitária

WELSH LAMB

(UK/IGP/0005/0081)

(Marca comunitária n.º 11 927 472)

QUESO MANCHEGO

(ES/DOP/0117/0087)

(Marca comunitária n.º 5 582 267)

A marca comunitária contém ou consiste numa imitação ou evocação de uma DOP/IGP Nem o CTMR nem o Regulamento (UE) n.º 1151/2012 definem os conceitos de «imitação» e «evocação», que estão, aliás, estreitamente relacionados. Segundo o Tribunal de Justiça, «a noção de evocação (...) abrange a hipótese de um termo utilizado para designar um produto incorporar uma parte de uma denominação protegida, de modo que o consumidor, perante o nome do produto, é levado a ter em mente, como imagem de referência, a mercadoria que beneficia da denominação» (acórdãos do Tribunal de Justiça de 04/03/1999, C-87/97, «Cambozola», n.º 25, e de 26/02/2008, C-132/05, n.º 44). Ora, o que precede significa que pode existir evocação quando a marca comunitária reproduz parte de uma DOP/IGP, como, por exemplo, (um dos seus) elemento(s) nominativo(s) geograficamente significativo(s) (no sentido em que não se trata de um elemento genérico), ou mesmo parte de um termo, como uma raiz ou terminação característica (ver exemplos infra). Além disso, o artigo 13.º, n.º 1, alínea b), do Regulamento (UE) n.º 1151/2012 protege as DOP/IGP contra «Qualquer utilização abusiva, imitação ou evocação, ainda que a verdadeira origem dos produtos ou serviços seja indicada, ou que a denominação protegida seja traduzida ou acompanhada por termos como "género", "tipo", "método", "estilo" ou "imitação", ou similares» (sublinhado nosso), mesmo que os consumidores não sejam induzidos em erro.

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Motivos absolutos de recusa

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DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

De acordo com o Advogado-Geral (Conclusões de 17/12/1998, C-87/97, «Cambozola», n.º 33), «o termo “evocação” é objetivo, de modo que não é necessário demonstrar que o titular da marca pretendia evocar a denominação protegida». Neste contexto, e para efeitos do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR, o Instituto procederá à avaliação, também com a máxima objetividade, das situações descritas infra, sem ter em conta a intenção do requerente da marca comunitária. Acresce que o Instituto considera que os termos «imitação» e «evocação» traduzem basicamente o mesmo conceito. A marca «imita» (assemelha-se, reproduz elementos de, etc.) os produtos designados pela DOP/IGP, que, dessa forma, são «evocados» (trazidos à lembrança). Atento o que precede, existe evocação ou imitação de uma DOP/IGP sempre que: a) a marca comunitária incorpora a parte geograficamente significativa (no sentido

em que não se trata do elemento genérico) da DOP/IGP; b) a marca comunitária contém um adjetivo/substantivo equivalente que indica a

mesma origem geográfica; c) a DOP/IGP está traduzida; d) a marca comunitária inclui uma expressão de «deslocalização» para além da

DOP/IGP ou da sua evocação. A marca comunitária incorpora parte da DOP/IGP Segundo o Tribunal de Justiça (acórdãos de 04/03/1999, C-87/97, «Cambozola», e de 26/02/2008, C-132/05 supramencionados), a marca comunitária deve trazer ao espírito do consumidor a imagem do produto cuja denominação está protegida. O Tribunal determinou ainda que «Pode [...] existir evocação de uma denominação protegida sem que haja qualquer risco de confusão entre os produtos em causa» (acórdão do Tribunal de Justiça de 04/03/1999, C-87/97, «Cambozola», n.º 26). Significativamente, a evocação não é avaliada da mesma forma que o risco de confusão (ver Conclusões do Advogado-Geral de 17/12/1998, C-87/97, «Cambozola», n.º 37). É necessário estabelecer um elo com o produto cuja denominação está protegida. Em consequência, a existência ou não de evocação não será analisada à luz dos princípios estabelecidos pelo Tribunal de Justiça no acórdão proferido em 11/11/1997, C-251/95, «Sabèl». Conforme já se referiu, considera-se que existe evocação quando a marca comunitária incorpora (um dos) elemento(s) nominativo(s) geograficamente significativo(s) (por oposição aos elementos genéricos) de uma DOP/IGP, mas também quando a marca comunitária reproduz outras partes dessa DOP/IGP, como uma raiz ou terminação característica.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 65

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

DOP/IGP Marca Explicação

CHIANTI CLASSICO

(IT/DOP/0005/0108)

(Marca comunitária n.º 9 567 851)

O termo «chianti» evoca a DOP «Chianti Classico»

(Processo R 1474/2011-2, «AZIENDA

OLEARIA CHIANTI», n.os

14-15)

GORGONZOLA

(IT/DOP/0017/0010)

CAMBOZOLA

«(...) há evocação de uma denominação protegida quando o termo utilizado para o designar [o queijo] termina pelas mesmas duas sílabas que esta denominação e comporta o mesmo número de sílabas que esta, de que resulta um parentesco fonético e ótico manifesto entre os dois termos».

(acórdão do Tribunal de Justiça no processo C-87/97, n.º 27)

NÜRNBERGER BRATWÜRSTE/NÜ

RNBERGER ROSTBRATWÜRS

TE

(DE/IGP/000

5/0184)

NUERNBERGA

(Marca comunitária

n.º 9 691 577)

«por se tratar de palavras foneticamente idênticas, «NUERNBERGA» é confundida com a indicação geográfica «Nürnberger»

(Processo R 1331/2011-4, «NUERNBERGA», n.º 12)

Se uma DOP/IGP contiver ou evocar o nome de um produto considerado genérico, a proteção não é extensiva ao elemento genérico (ver artigo 13.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 1151/2012, in fine, e acórdão do Tribunal Geral de 12/09/2007, T-291/03, «Grana Biraghi», n.os 58 e 60). Por exemplo, nas IGP «Maçã de Alcobaça» e «Jambon d'Ardenne» é irrefutável que os termos «maçã» e «jambon» (presunto em francês) são genéricos, pelo que não devem ser protegidos. Nestas circunstâncias, não será levantada qualquer objeção pelo facto de uma marca comunitária conter termos genéricos que fazem parte de uma DOP/IGP. Aliás, importa referir que os termos «camembert» e «brie» são igualmente genéricos (ver acórdão do Tribunal de Justiça de 26/02/2008, C-132/05, n.º 36). Outros exemplos de termos genéricos são «cheddar» ou «gouda» (ver Regulamento (CE) n.º 1107/96, notas de pé-de-página das DOP «West Country farmhouse Cheddar» e «Noord-Hollandse Gouda»). Por conseguinte, não foi levantada qualquer objeção no seguinte caso:

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 66

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

DOP/IGP Marca comunitária

(nenhuma, posto que «camembert» não é uma indicação geográfica, mas um termo genérico)

(Marca comunitária n.º 7 389 158)

Se o caráter genérico de um elemento de uma DOP/IGP puder ser estabelecido através das definições de um dicionário de uso corrente, a perspetiva do público do país de origem da DOP/IGP é determinante. Nos exemplos supramencionados, por exemplo, basta que os consumidores portugueses e franceses, respetivamente, considerem os termos «maçã» e «jambon» genéricos para que se conclua que estes são genéricos, independentemente do facto de serem ou não compreendidos por outros segmentos do público da União Europeia. Em contrapartida, caso não seja possível encontrar uma definição num dicionário de uso corrente, o caráter genérico do termo em causa deve ser determinado à luz dos critérios definidos pelo Tribunal (ver acórdão do Tribunal de Justiça de 26/02/2008, C-132/05 e acórdão do Tribunal Geral de 12/09/2007, T--291/03, «Grana Biraghi»), a saber, as legislações nacionais e da União pertinentes, a perceção que o público tem do termo e as circunstâncias da comercialização do produto em causa. Por último, em alguns casos, uma marca comunitária pode constituir utilização direta/indireta ou evocação de mais do que uma DOP/IGP ao mesmo tempo. Existe uma forte probabilidade de tal acontecer quando a marca comunitária contém um elemento (não genérico) que ocorre em mais do que uma DOP/IGP.

DOP/IGP Marca comunitária Explicação

Amarene Brusche di Modena

(Marca comunitária n.º 11 338 779)

A marca comunitária contém o elemento «MODENA», que evoca todas as DOP/IGP que incluem «MODENA»

Aceto Balsamico di Modena

Aceto balsamico tradizionale di Modena

Cotechino Modena

Zampone Modena

Prosciutto di Modena

Sempre que a marca comunitária abranja os produtos pertinentes, deve ser levantada uma objeção relativamente a todas as DOP/IGP em causa. No entanto, o examinador deve indicar que a objeção não poderá ser retirada, porquanto a limitação dos produtos àqueles que são abrangidos por uma ou pela totalidade das DOP/IGP levantaria necessariamente uma nova objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR, uma vez que tal limitação identificaria — inevitável e confusamente — produtos com uma origem geográfica diversa da DOP/IGP em causa.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 67

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Adjetivos/substantivos equivalentes A utilização de um adjetivo/substantivo equivalente para indicar a mesma origem constitui evocação de uma DOP/IGP.

DOP/IGP Marca comunitária (exemplos inventados) Explicação

JAGNIĘCINA PODHALAŃSKA

(PL/IGP/0005/00837)

JAGNIĘCINA Z PODHALA Adjetivo na IGP → substantivo na marca

comunitária

MEL DO ALENTEJO

(PT/DOP/0017/0252)

MEL ALENTEJANO Substantivo na DOP → adjetivo na marca

comunitária

SCOTTISH WILD SALMON

(GB/IGP/0005/00863)

WILD SALMON FROM SCOTLAND

Adjetivo na IGP → substantivo na marca comunitária

DOP/IGP traduzidas Do mesmo modo, existe evocação ou imitação da DOP/IGP quando a marca comunitária contém ou consiste numa tradução da totalidade ou de parte de uma DOP/IGP para uma das línguas da UE.

DOP/IGP Marca comunitária (exemplo inventado) Explicação

PÂTES D'ALSACE

(FR/PGI/0005/0324)

ALSATIAN PASTA

Considera-se que uma marca comunitária que contenha a expressão «Alsatian Pasta» evoca a IGP «Pâtes d'Alsace».

Os pedidos de marcas que consistam nestes termos devem ser recusados por força do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), e do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR e não unicamente por força do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR. Expressões utilizadas como «deslocalizadores» Nos termos do artigo 13.º, n.º 1, alínea b), do Regulamento (UE) n.º 1151/2012, as DOP/IGP estão protegidas «ainda que a verdadeira origem dos produtos ou serviços seja indicada, ou que a denominação protegida seja [...] acompanhada por termos como "género", "tipo", "método", "estilo" ou "imitação", ou similares». Por conseguinte, o facto de a DOP/IGP reproduzida ou evocada na marca comunitária ser acompanhada destas expressões não prejudica a aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR. Por outras palavras, mesmo que as expressões em causa informem o público acerca da verdadeira origem do produto, não deixará de ser levantada uma objeção ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR. Com efeito, a marca será enganosa na aceção do artigo 7.º, n.º 1, alínea g), do CTMR, dado que existe uma contradição entre os produtos (limitados à DOP/IGP específica) e a mensagem transmitida pela marca (de que os produtos não são produtos DOP/IGP «autênticos»), que levantará necessariamente uma nova objeção por força desta disposição.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 68

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

DOP/IGP Marca comunitária (exemplo inventado) Explicação

FETA

(EL/DOP/0017/0427)

GREEK STYLE PLAIN FETA

ARABIAN FETA

Considera-se que uma marca comunitária que contenha expressões como «Greek Style Plain Feta» ou «Arabian Feta» evoca a DOP «Feta», mesmo quando transmite a ideia de que o produto em causa não é um queijo «autêntico» protegido pela DOP «Feta».

O local em que se encontra a sede social do requerente é irrelevante para avaliar da aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR. O artigo 12.º, n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1151/2012 estipula que as denominações de origem protegidas e as indicações geográficas protegidas podem ser utilizadas por qualquer operador que comercialize um produto obtido em conformidade com o caderno de especificações correspondente. Assim, desde que os produtos sejam conformes com o caderno de especificações da DOP/IGP em causa (o que se garante com a limitação dos produtos), a localização da sede social do requerente indicada no pedido de marca comunitária é irrelevante. Por exemplo, uma empresa que tenha a sua sede social na Lituânia pode possuir uma fábrica em Espanha que prepare produtos conformes com o caderno de especificações da IGP «Chorizo de Cantimpalos». Outras indicações e práticas falaciosas O artigo 13.º, n.º 1, alíneas c) e d), do Regulamento (UE) n.º 1151/2012 protege as DOP/IGP contra uma série de indicações falsas ou falaciosas quanto à origem, natureza ou qualidades essenciais do produto. Embora dependa muito das especificidades de cada caso, devendo cada caso ser avaliado individualmente, pode considerar-se enganosa uma marca comunitária que, por exemplo, contenha elementos figurativos que sejam normalmente associados à zona geográfica em causa (como monumentos históricos sobejamente conhecidos) ou reproduza um formato específico do produto. O que precede deve ser interpretado de forma restritiva: é aplicável unicamente a marcas comunitárias que contenham imagem singulares e bem conhecidas que sejam habitualmente consideradas como símbolos do local de origem dos produtos abrangidos pela DOP/IGP ou a formatos singulares de produtos que estejam descritos no caderno de especificações da DOP/IGP em causa.

DOP/IGP Marca comunitária (exemplos inventados) Explicação

MOULES DE BOUCHOT DE LA BAIE DU MONT-SAINT-

MICHEL

(FR/DOP/0005/0547)

Uma marca comunitária que contém uma imagem da

abadia do Mont-Saint-Michel

A imagem da abadia do Mont-Saint-Michel é um ex libris da cidade e da ilha

do Mont-Saint-Michel, na Normandia. A utilização desta imagem para mariscos não abrangidos pela DOP «Moules de Bouchot de la Baie du Mont-Saint-Michel» desencadearia a aplicação do disposto no artigo 13.º , n.º 1, alíneas c) e d), do Regulamento (UE) n.º 1151/2012

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 69

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DOP/IGP Marca comunitária (exemplos inventados) Explicação

QUESO TETILLA

(ES/DOP/0017/0088)

Uma marca comunitária que protege um queijo de forma

cónica

O formato singular do produto está descrito no caderno de especificações da DOP «Queso Tetilla».

Dada a dificuldade inerente à identificação de elementos figurativos evocativos, sobretudo dos menos óbvios, o Instituto baseia-se, nestes casos, essencialmente, nas objeções levantadas por terceiros. A reputação das DOP/IGP Nos termos do artigo 13.º, n.º 1, alínea a), do Regulamento (UE) n.º 1151/2012, as denominações registadas estão protegidos contra utilizações que explorem o prestígio da denominação protegida. Esta proteção é, em princípio, extensiva a diferentes produtos (ver por analogia, acórdão do Tribunal Geral de 12/06/2007, T-53/04 a T-56/04, T-58/04 e T-59/04, «Budweiser», n.º 176). Não obstante, o âmbito desta proteção deve ser apreciado à luz do mandato constante do artigo 14.º do mesmo regulamento, que limita a recusa do registo de marca a produtos «do mesmo tipo». Em consequência, o Instituto considera que, no contexto do exame dos motivos absolutos de recusa, a proteção de uma DOP/IGP se limita a produtos idênticos ou comparáveis. No entanto, o âmbito de proteção alargado de uma DOP/IGP prestigiada pode ser invocado no contexto do artigo 8.º, n.º 4, do CTMR (ver Linhas de orientação, Parte C, Oposição, Secção 4, Direitos ao abrigo do artigo 8.º, n.º 4, do CTMR). 2.10.2.3 Produtos pertinentes Produtos comparáveis Apenas podem ser levantadas objeções com base no artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR em relação a produtos específicos abrangidos pelo pedido de marca comunitária, ou seja, produtos idênticos ou «comparáveis» a produtos abrangidos pela DOP/IGP. As diferentes expressões utilizadas nos artigos 13.º e 14.º do Regulamento (CE) n.º 1151/2012 («produtos comparáveis» e «produto do mesmo tipo», respetivamente) são interpretadas pelo Instituto como sinónimas e remetendo para o mesmo conceito. A noção de produtos comparáveis deve ser interpretada de forma restritiva e é independente da análise de similaridade entre produtos no direito das marcas. Nestas circunstâncias, não deverão necessariamente ser observados os critérios enunciados pelo Tribunal de Justiça no acórdão proferido em 29/09/1998, C-39/97, «Canon», embora alguns deles se possam revelar úteis. Por exemplo, dado que uma DOP/IGP serve para indicar a origem geográfica e as qualidades específicas de um produto, critérios como a natureza ou a composição desse produto são mais importantes do que, por exemplo, o facto de os produtos serem ou não complementares.

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Motivos absolutos de recusa

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Aliás, o Tribunal de Justiça (no acórdão proferido em 14/07/2011, C-4/10 e C-27/10, «BNI Cognac», n.º 54) definiu os seguintes critérios para determinar se os produtos são comparáveis:

se apresentam ou não características objetivas comuns (como método de elaboração, aparência física do produto ou utilização das mesmas matérias-primas);

se correspondem ou não, do ponto de vista do público em causa, a ocasiões de consumo amplamente idênticas;

se são ou não distribuídos pelas mesmas redes e estão sujeitos a regras de comercialização semelhantes.

Embora não seja possível enumerar nas presentes Linhas de orientação todos os cenários possíveis, apresentam-se em seguida alguns exemplos de produtos comparáveis.

Produtos abrangidos pela DOP/IGP Produtos comparáveis

Produtos de carne específicos e preparações à base de carne específicas

Qualquer carne e qualquer preparação à base de carne (Processo R 659/2012-5, n.

os14-17)

Leite Queijo e outros produtos lácteos

Frutos frescos

Frutos em conserva, congelados, secos e cozidos (geleias, doces e compotas não são «produtos comparáveis», mas os frutos abrangidos pela DOP/IGP podem constituir ingredientes comercialmente importantes; ver infra, sob a rubrica «Produtos utilizados como ingredientes»)

Produtos hortícolas frescos

Produtos hortícolas em conserva, congelados, secos e cozidos (geleias e doces não são «produtos comparáveis», mas os produtos hortícolas abrangidos pela DOP/IGP podem constituir ingredientes comercialmente importantes; ver infra, sob a rubrica «Produtos utilizados como ingredientes»)

Limitação da lista de produtos Nos termos do artigo 12.º, n.º 1, do Regulamento (UE) n.º 1151/2012, as «denominações de origem protegidas e as indicações geográficas protegidas podem ser utilizadas por qualquer operador que comercialize um produto conforme com o caderno de especificações correspondente». As objeções levantadas ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR podem ser retiradas se os produtos pertinentes forem limitados àqueles que se conformam com o caderno de especificações da DOP/IGP em causa. A limitação dos produtos pode ser uma tarefa complexa, que depende, em larga medida, de um exame caso a caso.

Os produtos do mesmo tipo que os abrangidos pela DOP/IGP devem ser limitados àqueles que se conformam com o caderno de especificações da DOP/IGP. A redação correta é «[nome do produto] conforme com o caderno de especificações da [DOP/IGP «X»]». Não deve ser proposta nem admitida

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 71

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qualquer outra redação. Não são admissíveis limitações como «[nome do produto] com a [DOP/IGP «X»]» ou «[nome do produto] originário de [nome de um local]».

DOP/IGP na marca comunitária Lista de produtos admissível

WELSH BEEF

(UK/IGP/0005/0057)

Carne de bovino conforme com o caderno de especificações da IGP «Welsh Beef»

A categoria de produtos que inclui os abrangidos pela DOP/IGP em causa pode ser consultada na base de dados «DOOR». O produto exato que é abrangido consta do documento de pedido anexo à publicação no Jornal Oficial, igualmente acessível através da base de dados «DOOR».

A categoria de produtos que inclui os abrangidos pela DOP/IGP deve ser limitada de modo a designar exatamente os produtos abrangidos pela DOP/IGP que estão conformes com o caderno de especificações correspondente.

DOP/IGP na marca comunitária

Especificação original (não admissível)

Lista de produtos admissível Explicação

WELSH BEEF

(UK/IGP/0005/0057) Carne

Carne de bovino conforme com o

caderno de especificações da IGP «Welsh Beef»

A designação «carne» inclui produtos (por exemplo, carne de suíno) que não podem ser conformes com o caderno de especificações de uma DOP/IGP que protege especificamente «carne de bovino»

POMME DU LIMOUSIN

(FR/DOP/0005/0442)

Frutos

Maçãs conformes com o caderno de especificações da DOP «Pomme du

Limousin»

A categoria «frutos» inclui produtos, como peras ou pêssegos, que não podem ser conformes com o caderno de especificações de uma DOP que abrange exclusivamente maçãs

Os produtos comparáveis são apenas aqueles que, dentro da categoria de produtos comparáveis, são abrangidos pela DOP/IGP:

DOP/IGP na marca comunitária

Especificação original (não admissível)

Lista de produtos admissível Explicação

POMME DU LIMOUSIN

(FR/DOP/0005/0442)

Frutos em conserva, congelados, secos e

cozidos

Maçãs em conserva, congeladas, secas e cozidas, conformes com o caderno de especificações da DOP «Pomme du

Limousin»

A especificação «frutos em conserva, congelados, secos e cozidos» inclui produtos preparados com outros frutos, que não podem ser conformes com o caderno de especificações de uma DOP que abrange exclusivamente maçãs. Importa igualmente notar que a limitação não deve abranger «maçãs».

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 72

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Em certas situações, uma limitação poderá não ser suficiente para que a objeção seja retirada, por exemplo, no caso de os produtos abrangidos pela marca objeto de pedido, embora «comparáveis», não incluírem o produto abrangido pela DOP/IGP (por exemplo, se a DOP abranger «queijo» e os produtos abrangidos pela marca objeto de pedido forem «leite»).

Produtos utilizados como ingredientes: se os produtos abrangidos pela DOP/IGP puderem ser utilizados como um ingrediente comercialmente importante (no sentido em que podem determinar a escolha do produto principal) de qualquer dos produtos abrangidos pela marca objeto de pedido, será requerida uma limitação. Com efeito, o artigo 13.º, n.º 1, alíneas a) e b), do Regulamento (UE) n.º 1151/2012 alarga expressamente o âmbito de proteção de uma DOP/IGP registada para um dado produto, «se os produtos forem utilizados como ingredientes».

DOP/IGP na marca comunitária

Especificação original (não admissível)

Lista de produtos admissível Explicação

POMME DU LIMOUSIN

(FR/DOP/0005/0442)

Doces e compotas

Doces e compotas de maçãs conformes

com o caderno de especificações da DOP «Pomme du

Limousin»

O fruto é o principal ingrediente dos doces e compotas

PROSCIUTTO DI PARMA

(IT/DOP/0117/0067)

Pizzas

Pizzas preparadas

com presunto conforme com o

caderno de especificações da

DOP «Prosciutto di Parma»

Esta cobertura é o principal ingrediente de uma pizza e aquele que determina a escolha do consumidor

Não é necessária qualquer limitação se os produtos abrangidos pela DOP/IGP forem utilizados como ingredientes secundários e não comercialmente significativos dos produtos reivindicados.

DOP/IGP na marca comunitária Especificação original Lista de produtos

admissível Explicação

ACEITE DE LA ALCARRIA

(ES/DOP/0005/0562)

Pastelaria Pastelaria

Os produtos não necessitam de ser limitados pelo simples facto de ser utilizado azeite na sua preparação. O «azeite» é um ingrediente secundário que não é comercialmente significativo

2.10.3 DOP/IGP não protegidas pelo Regulamento (UE) n.º 1151/2012 2.10.3.1 DOP/IGP protegidas a nível nacional num Estado-Membro da União Europeia O Tribunal de Justiça estabeleceu (no acórdão proferido em 08/09/2009, C-478/07, «Bud») que o regime de proteção das DOP/IGP dos produtos agrícolas e dos géneros

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 73

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

alimentícios previsto pelo Regulamento (CE) n.º 510/2006 [então em vigor] tinha «caráter exaustivo». O artigo 9.º do Regulamento (UE) n.º 1151/2012 estipula que:

«Os Estados-Membros podem, ao abrigo do presente regulamento e apenas a título transitório, conferir, a nível nacional, proteção a uma denominação, com efeitos a partir da data de apresentação do pedido à Comissão. A proteção nacional transitória cessa na data em que for tomada uma decisão sobre o registo nos termos do presente regulamento, ou em que o pedido for retirado.» As medidas adotadas pelos Estados-Membros «só produzem efeitos ao nível nacional e não podem afetar as trocas comerciais no interior da União ou internacionais».

Esta disposição está em conformidade com o considerando 24 do mesmo regulamento, em que se afirma que

«Para poderem beneficiar de proteção nos territórios dos Estados-Membros, as denominações de origem e as indicações geográficas deverão ser registadas unicamente a nível da União. Com efeitos a partir da data do pedido de registo ao nível da União, os Estados-Membros deverão poder conceder uma proteção provisória ao nível nacional sem prejudicar o comércio interno da União ou o comércio internacional».

Importa igualmente referir o Regulamento (CEE) nº 2081/92 do Conselho, relativo à proteção das indicações geográficas e denominações de origem dos produtos agrícolas e dos géneros alimentícios. Com efeito, este regulamento (que precedeu e foi revogado pelo Regulamento (CE) n.º 510/2006) estabelecia, no seu artigo 17.º, n.º 1, que os Estados-Membros «comunicarão à Comissão quais são, de entre as suas denominações legalmente protegidas [...], as que desejam registar ao abrigo do presente regulamento». O n.º 3 da mesma disposição acrescentava que os Estados-Membros podiam «manter a proteção nacional das denominações comunicadas em conformidade com o n.º 1 até à data em que for tomada uma decisão sobre o registo» (veja-se, a este propósito, o acórdão do Tribunal de Justiça de 04/03/1999, C-87/97, «Cambozola», n.º 18). Em consequência, a anterior proteção a nível nacional de indicações geográficas de produtos agrícolas e géneros alimentícios foi suspensa quando as indicações geográficas em causa foram registadas a nível da UE. As indicações geográficas destes tipos de produtos que no passado estavam protegidas pela legislação nacional não se inserem no âmbito de aplicação do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR. Em consequência, não constituem enquanto tal, e apenas por essa razão, um motivo de recusa ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR, a menos que tenham igualmente sido registados a nível da UE. Assim, se, por exemplo, um terceiro argumentar que uma marca comunitária contém ou consiste numa indicação geográfica de produtos agrícolas e géneros alimentícios que no passado estava registada a nível nacional num Estado-Membro da UE, o examinador irá verificar se essa indicação geográfica está igualmente registada a nível da UE como DOP/IGP. Se não estiver, considerar-se-á que as observações do terceiro não levantam sérias dúvidas no que respeita ao artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 74

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

2.10.3.2 DOP/IGP de países terceiros As situações apresentadas em seguida dizem respeito a DOP/IGP de países terceiros que não estão simultaneamente registadas a nível da UE. A indicação geográfica está protegida unicamente no país de origem, ao abrigo da legislação nacional O artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR não é aplicável, porquanto a indicação geográfica do país terceiro não é expressamente reconhecida e protegida pela legislação da UE. A este propósito, importa notar que as disposições do Acordo TRIPS não são suscetíveis de criar para os particulares direitos que estes possam invocar diretamente num tribunal por força do direito da UE (acórdão do Tribunal de Justiça de 14/12/2000, C-300/98 e C-392/98, n.º 44). No entanto, quando a marca comunitária contém ou consiste numa indicação geográfica protegida desse tipo, é igualmente necessário avaliar se a marca pode ou não ser considerada descritiva e/ou enganosa, na aceção do artigo 7.º, n.º 1, alíneas c) e g), do CTMR, em conformidade com as regras gerais estabelecidas nas presentes Linhas de orientação. Por exemplo, no caso de um terceiro observar que uma marca comunitária consiste na expressão «Tea Murakami» (exemplo inventado), que é uma IGP nos termos da legislação do país X, o artigo 7.º, n.º 1, alínea k), do CTMR não é aplicável pelas razões já indicadas, mas será necessário examinar se a marca comunitária em causa será ou não apreendida como um sinal descritivo e/ou enganoso pelos consumidores pertinentes da UE. A indicação geográfica está protegida ao abrigo de um acordo de que a União Europeia é parte contratante A UE assinou uma série de acordos comerciais com países terceiros que protegem indicações geográficas. Por norma, estes instrumentos incluem uma lista de indicações geográficas, bem como disposições relativas a eventuais conflitos destas indicações com marcas. Todavia, o conteúdo e o grau de precisão podem variar de acordo para acordo. As indicações geográficas de países terceiros ficam protegidas ao nível da UE após a entrada em vigor do acordo pertinente. Nesta matéria, é jurisprudência constante que uma disposição de um acordo concluído pela União Europeia com países terceiros deve ser considerada como sendo diretamente aplicável sempre que, atendendo aos seus termos bem como ao objeto e à natureza do acordo, se puder concluir que engloba uma obrigação clara, precisa e incondicional que não esteja subordinada, na sua execução ou nos seus efeitos, à intervenção de qualquer ato posterior (acórdão do Tribunal de Justiça de 14/12/2000, C-300/98 e C-392/98, n.º 42). O âmbito da proteção conferida a estas IGP de países terceiros é definido pelas disposições substantivas do acordo em causa. Enquanto os acordos mais antigos (sobretudo no domínio dos vinhos e das bebidas espirituosas) contêm, por norma, apenas disposições de caráter geral, a «última geração» de acordos de comércio livre fazem referência à relação entre marcas e IGP em termos similares aos dos artigos 13.º e 14.º do Regulamento (UE) n.º 1151/2012 (ver, por exemplo, os artigos 210.º e 211.º do «Acordo Comercial entre a União Europeia e os seus Estados-Membros, por um lado, e a Colômbia e o Peru, por outro», JO L 354 de 21.12.2012).

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 75

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Atento o que precede, as marcas comunitárias que contêm ou consistem numa DOP/IGP de um país terceiro que está protegida por um acordo de que a UE é parte contratante (e não está simultaneamente registada ao abrigo do Regulamento (UE) n.º 1151/2012) são examinadas, caso a caso, à luz das disposições substantivas específicas do acordo pertinente em matéria de recusa de marcas em conflito, tendo em conta a jurisprudência supramencionada. O simples facto de uma DOP/IGP de um país terceiro estar protegida por esses instrumentos não implica automaticamente que uma marca comunitária que contenha ou consista nessa DOP/IGP deva ser recusada: tal dependerá do teor e do âmbito de aplicação das disposições pertinentes do acordo. A indicação geográfica está protegida por um acordo internacional assinado unicamente por Estados-Membros

A proteção de indicações geográficas no âmbito de acordos concluídos entre dois Estados-Membros não é permitida nos termos da legislação da UE aplicável em matéria de DOP/IGP de produtos agrícolas e géneros alimentícios (acórdão do Tribunal de Justiça de 08/09/2009, C-478/07, «Bud»). Os acordos deste tipo são redundantes e não produzem efeitos jurídicos.

Quanto aos acordos internacionais assinados exclusivamente por Estados-Membros com países terceiros (em particular, o Acordo de Lisboa Relativo à Proteção das Denominações de Origem e ao seu Registo Internacional) e unicamente para efeitos de exame de motivos absolutos de recusa, a UE não é parte contratante nestes acordos, pelo que estes não lhe impõem qualquer obrigação (ver, por analogia, acórdão do Tribunal de Justiça de 14/10/1980, C-812/79, n.º 9).

2.11 Marcas comunitárias coletivas

2.11.1 Caráter das marcas coletivas Nos termos do artigo 66.º, n.º 1, do CTMR, podem constituir uma marca comunitária coletiva, que é um tipo específico de marca comunitária, as marcas comunitárias «assim designadas aquando do seu depósito e próprias para distinguir os produtos ou os serviços dos membros da associação que delas é titular dos de outras empresas». Uma marca comunitária coletiva visa distinguir os produtos e os serviços dos membros da associação que dela é titular dos de outras empresas que não pertencem à associação. Por conseguinte, a marca comunitária coletiva identifica a origem comercial de determinados produtos e serviços, informando o consumidor de que o fabricante dos produtos ou o prestador dos serviços pertence a uma determinada associação e, por esse motivo, tem o direito de utilizar a marca. Por norma, a marca comunitária coletiva é utilizada por empresas, em conjunto com as suas próprias marcas individuais, para indicar que o seu titular é membro de uma dada associação. Por exemplo, a Associação Espanhola de Fabricantes de Calçado pode querer pedir a marca comunitária coletiva «Asociación Española de Fabricantes de Calzado», que, embora pertença à associação, será utilizada por todos os seus membros. Qualquer membro da associação pode utilizar a marca coletiva a par da sua própria marca individual, por exemplo, «Calzados Luis».

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 76

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As marcas coletivas não certificam necessariamente a qualidade dos produtos, embora tal possa acontecer. Por exemplo, os regulamentos de utilização incluem frequentemente disposições destinadas a certificar a qualidade dos produtos e serviços dos membros da associação, o que é admissível (ver decisão de 10/05/2012, R 1007/2011-2, n.º 13). Incumbe ao requerente decidir se a marca satisfaz os requisitos de uma marca coletiva ou de uma marca individual. Isto significa que, em princípio, o mesmo sinal pode ser utilizado como marca individual ou, se as condições enunciadas no presente capítulo estiverem reunidas, como marca coletiva. As diferenças entre as marcas individuais e as marcas coletivas não dependem dos sinais per se, mas de outras características, como a titularidade ou as condições de utilização da marca. Por exemplo, uma associação pode apresentar um pedido para a marca nominativa «Tamaki» quer como marca individual, quer como marca coletiva, consoante a utilização pretendida para a marca (unicamente pela própria associação ou também pelos seus membros). Se for pedida a marca coletiva, devem ser cumpridas algumas formalidades adicionais, como a apresentação de um regulamento de utilização, etc. Após a apresentação do pedido, apenas são admitidas alterações do tipo de marca pedido (de coletivo para individual ou vice-versa) em determinadas circunstâncias (ver Linhas de orientação, Parte B, Exame, Secção 2, Exame de formalidades, ponto 8.2.5.). O CTMR é aplicável às marcas coletivas, salvo disposição em contrário nos artigos 67.º-74.º do mesmo regulamento. As marcas comunitárias coletivas estão, pois, sujeitas, por um lado, ao regime geral aplicável às marcas comunitárias e, por outro, a algumas exceções e particularidades. Em primeiro lugar, uma marca comunitária coletiva está sujeita essencialmente ao mesmo procedimento e requisitos de exame que uma marca individual. Em geral, a classificação dos produtos e serviços, e o exame das formalidades e dos motivos absolutos de recusa são efetuados segundo os procedimentos utilizados para as marcas individuais. Por exemplo, os examinadores verificam a lista de produtos e serviços ou os requisitos linguísticos exatamente da mesma forma como o fazem em relação às marcas individuais. Será igualmente examinado se a marca comunitária coletiva é abrangida por um dos motivos de recusa previstos no artigo 7.º do CTMR. Em segundo lugar, o exame de uma marca comunitária coletiva terá igualmente em conta as exceções e particularidades deste tipo de marca. Estas exceções e particularidades prendem-se tanto com as disposições formais como com as substantivas. No que respeita às formalidades, o requisito de apresentação de regulamentos de utilização da marca é, por exemplo, uma característica específica de uma marca comunitária coletiva. (Para mais informações sobre a análise das formalidades aplicáveis às marcas comunitárias coletivas, incluindo dos regulamentos de utilização da marca, consultar Linhas de orientação, Parte B, Exame, Secção 2, Exame de formalidades, n.º 8.2, Marcas coletivas. Enunciam-se em seguida as exceções e particularidades substantivas aplicáveis às marcas comunitárias coletivas.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 77

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2.11.2 Titularidade A titularidade de marcas comunitárias coletivas está limitada (i) a associações de fabricantes, de produtores, de prestadores de serviços ou de comerciantes que, nos termos da legislação que lhes seja aplicável, tenham capacidade, em seu próprio nome, para serem titulares de direitos e obrigações de qualquer natureza, para celebrar contratos ou realizar outros atos jurídicos e para comparecer em juízo, e (ii) a pessoas coletivas de direito público. O primeiro tipo de titulares inclui, normalmente, associações privadas com interesses ou objetivos comuns. Devem ter personalidade jurídica própria e capacidade para agir. Em consequência, empresas privadas, como sociedades anónimas, Gesellschaften mit beschränkter Haftung, etc., múltiplos requerentes com personalidades jurídicas independentes ou uniões temporárias de empresas não podem ser titulares de marcas comunitárias coletivas. Conforme estipulado em Linhas de orientação, Parte B, Exame, Secção 2, Exame de formalidades, n.º 8.2.1, «coletivo não significa que a marca pertença a diversas pessoas (correquerentes/cotitulares) nem que a marca designe/abranja mais do que um país». Quanto ao segundo tipo de titulares, o conceito de «pessoas coletivas de direito público» deve ser interpretado em sentido lato. Com efeito, este conceito abrange, por um lado, associações, corporações e outras entidades de direito público, como é o caso, por exemplo, dos «Consejos Reguladores» ou dos «Colegios Profesionales» contemplados no direito espanhol. Por outro lado, inclui outras pessoas coletivas de direito público, por exemplo, a União Europeia, Estados ou municípios, que não possuem necessariamente uma estrutura corporativa ou associativa, mas que podem, não obstante, ser titulares de marcas comunitárias coletivas. Nestes casos, não é aplicável o requisito respeitante às condições de filiação previsto no artigo 67.º, n.º 2, do CTMR (ver decisão de 22/11/2011, R 828/2011-1, n.º 18, e decisão de 10/05/2012, R 1007/2011-2, n.os 17 e 18). Isto significa que, se o requerente de uma marca comunitária coletiva for uma pessoa coletiva de direito público que não possui necessariamente uma estrutura corporativa ou associativa, como a União Europeia, um Estado ou um município, o regulamento de utilização da marca não tem de incluir informações sobre as condições de filiação.

2.11.3 Particularidades relativas aos motivos absolutos de recusa Os motivos absolutos de recusa enumerados no artigo 7.º, n.º 1, do CTMR são aplicáveis às marcas comunitárias coletivas, o que significa que, antes de mais, estas marcas serão examinadas à luz destas disposições para determinar se têm ou não caráter distintivo, se são enganosas ou se se tornaram um sinal usual. Por exemplo, será recusado o registo de marcas desprovidas de caráter distintivo, na aceção do artigo 7.º, n.º 1, alínea b), do CTMR (ver decisão de 18/07/2008, R 229/2006-4, n.º 7). No entanto, no exame dos motivos absolutos de recusa das marcas comunitárias coletivas há igualmente que ter em conta algumas exceções e particularidades. Para além dos motivos de recusa de um pedido de marca comunitária previstos no artigo 7.º, n.º 1, do CTMR, os examinadores avaliam igualmente os seguintes motivos específicos:

sinais descritivos;

caráter enganoso quanto à sua natureza;

regulamento de utilização contrário à ordem pública e aos bons costumes.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 78

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Estes motivos específicos de recusa podem igualmente ser objeto de observações formuladas por terceiros. 2.11.3.1 Sinais descritivos Podem constituir marcas comunitárias coletivas sinais ou indicações que possam servir para designar a proveniência geográfica do produto ou serviço no comércio (ver acórdãos do Tribunal Geral de 15/10/2003, T-295/01, n.º 32, e de 25/10/2005, T-379/03, n.º 35). Em consequência, um sinal que descreva exclusivamente a origem geográfica dos produtos ou serviços (e que deverá ser recusado se for pedido como marca comunitária individual) pode ser aceite se (i) for objeto de um pedido válido de marca comunitária coletiva e (ii) estiver em conformidade com a autorização prevista no artigo 67.º, n.º 2, do CTMR (ver decisão de 05/10/2006, R 280/2006-1, n.os 16 e 17). De acordo com esta disposição, o regulamento de utilização de uma marca comunitária coletiva descritiva deve autorizar qualquer pessoa cujos produtos ou serviços provenham da zona geográfica em causa a tornar-se membro da associação que é titular da marca. Por exemplo, um pedido para a marca comunitária individual nominativa «Alicante» com a especificação de serviços turísticos deve ser recusado por força do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR, porquanto descreve a origem geográfica dos serviços. Contudo, a título excecional, se for apresentado um pedido válido de marca comunitária coletiva (ou seja, se o pedido for apresentado por uma associação ou uma pessoa coletiva de direito público e satisfizer os demais requisitos aplicáveis às marcas comunitárias coletivas) e o regulamento de utilização da marca contiver a autorização prevista no artigo 67.º, n.º 2, do CTMR, esse pedido será aceite ao abrigo do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR. Esta exceção é aplicável exclusivamente aos sinais descritivos da origem geográfica dos produtos e serviços. Se a marca comunitária coletiva for descritiva de outras características dos produtos ou serviços, esta exceção não é aplicável e o pedido será recusado por força do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR. Por exemplo, se a marca nominativa «Faça você mesmo» for pedida como marca comunitária coletiva para ferramentas da classe 7, será considerada descritiva da finalidade dos produtos. Dado que o sinal é descritivo de determinadas características dos produtos e não da sua origem geográfica, o sinal será recusado por força do artigo 7.º, n.º 1, alínea c), do CTMR, apesar de ter sido pedido como marca comunitária coletiva (ver decisão de 08/07/2010, R 934/2010-1, n.º 35). 2.11.3.2 Caráter enganoso quanto à sua natureza O examinador deve recusar o pedido se o público puder ser induzido em erro acerca do caráter ou do significado da marca, em particular, no caso de esta ser suscetível de ser apreendida como algo de natureza diferente de uma marca coletiva. Uma marca coletiva que apenas pode ser utilizada pelos membros da associação titular da marca pode induzir em erro se der a impressão de que pode ser utilizada por qualquer pessoa que satisfaça determinados critérios objetivos.

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Motivos absolutos de recusa

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2.11.3.3 Regulamentos de utilização contrários à ordem pública e aos bons costumes Se o regulamento de utilização da marca for contrário à ordem pública ou aos bons costumes, o pedido de marca comunitária coletiva deve ser recusado. Importa distinguir este motivo de recusa do previsto no artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR, que proíbe o registo de marcas que sejam, por si, contrárias à ordem pública ou aos bons costumes. A recusa prevista no artigo 68.º, n.º 1, do CTMR é aplicável a situações em que, independentemente da marca, o regulamento de utilização da marca contenha disposições contrárias à ordem pública ou aos bons costumes, por exemplo, disposições discriminatórias em razão do sexo, da religião ou da raça. Por exemplo, se o regulamento contiver uma disposição que proíba a utilização da marca pelas mulheres, o pedido de marca comunitária coletiva será recusado, mesmo que a marca não seja abrangida pelo artigo 7.º, n.º 1, alínea f), do CTMR. A objeção levantada pelo examinador poderá ser retirada se o regulamento for alterado e a disposição inadmissível for suprimida. No exemplo anterior, o pedido de marca comunitário coletiva seria aceite logo que a disposição do regulamento que proibia a utilização da marca por mulheres fosse suprimida.

2.12 Caráter distintivo adquirido

2.12.1 Introdução

Nos termos do artigo 7.º, n.º 3, do CTMR, uma marca pode ser registada mesmo que não seja conforme ao artigo 7.º, n.º 1, alíneas b), c) ou d), do CTMR, «se, na sequência da utilização da marca, esta tiver adquirido um caráter distintivo para os produtos ou serviços para os quais foi pedido o registo». O artigo 7.º, n.º 3, do CTMR prevê uma exceção à regra estabelecida no artigo 7.º, n.º 1, alíneas b), c) ou d), do CTMR, segundo a qual será recusado o registo de marcas desprovidas de caráter distintivo, de marcas descritivas e de marcas constituídas exclusivamente por sinais ou indicações que se tenham tornado habituais na linguagem corrente ou nos hábitos leais e constantes do comércio.

O caráter distintivo adquirido pelo uso é o caráter distintivo de uma marca que, apesar de inicialmente ser desprovida de caráter distintivo em relação aos produtos e serviços reivindicados, o público pertinente, graças à utilização que dela foi feita no mercado, acaba por considerar que identifica os produtos e serviços reivindicados no pedido de marca comunitária como originários de uma determinada empresa. Assim, o facto de os produtos e serviços protegidos pelo sinal serem apreendidos como sendo provenientes de uma determinada empresa significa que o sinal adquiriu a capacidade de distinguir os seus produtos e serviços dos de outras empresas. Deste modo, um sinal que, à partida, por força do artigo 7.º, n.º 1, alíneas b), c) ou d), do CTMR, não poderia ser registado, pode adquirir um novo significado e passar a ter uma conotação que, ao deixar de ser puramente descritiva ou não distintiva, lhe permite superar estes três motivos absolutos de recusa de registo como marca, que, noutras condições, impediriam o seu registo.

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Motivos absolutos de recusa

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2.12.2 Pedido

O Instituto apenas examina o caráter distintivo adquirido na sequência de um pedido do requerente da marca comunitária, que pode ser apresentado a qualquer momento, no decurso do processo de exame.

2.12.3 O período que os elementos de prova devem cobrir

Os elementos de prova devem demonstrar que o caráter distintivo foi adquirido pelo uso antes da data de apresentação do pedido de marca comunitária. No caso de um registo internacional, a data pertinente é a data de registo pelo Secretariado Internacional. Se for reivindicada prioridade, a data pertinente é a data de prioridade. Em seguida, todas estas datas passarão a ser referidas por «data de depósito».

2.12.3.1 Processo de exame

Dado que uma marca beneficia de proteção a partir da data de depósito e que a data de depósito do pedido de registo determina a prioridade de uma marca em relação a outra, uma marca deve poder ser registada nessa data. Para o efeito, o requerente deve provar que o caráter distintivo foi adquirido através de uma utilização da marca anterior à data do pedido de registo (acórdãos do Tribunal de Justiça de 11/06/2009, C-542/07-P, «Pure Digital», n.os 49 e 51, e de 07/09/2006, C-108/05, «Europolis», n.º 22). Não obstante, os elementos comprovativos da utilização da marca após esta data não devem ser automaticamente excluídos, na medida em que podem fornecer indicações acerca da situação anterior à data do pedido (acórdão do Tribunal Geral de 28/10/2009, T-137/08, «Green/Yellow», n.º 49).

2.12.3.2 Processo de anulação

Nos processos de anulação, uma marca comunitária que tenha sido registada contrariamente ao disposto no artigo 7.º, n.º 1, alíneas b), c) ou d), do RCM deixa de poder ser declarada nula se, pela utilização que dela tiver sido feita, tiver adquirido, depois do registo, um caráter distintivo para os produtos ou serviços para que foi registada (artigo 52.º, n.º 2, do CTMR).

Esta disposição tem como objetivo, precisamente, manter o registo das marcas que, em virtude do uso que delas foi feito, adquiriram entretanto, isto é, após o seu registo, caráter distintivo para os produtos e serviços para os quais foram registadas, pese embora a circunstância de esse registo, no momento em que ocorreu, ser contrário ao artigo 7.º do CTMR (acórdãos do Tribunal Geral de 114/12/2011, T-237/10, «Louis Vuitton», n.º 86, e de 15/10/2008, T-405/05, «Manpower», n.º 127).

2.12.4 Consumidor

O caráter distintivo de um sinal, incluindo o adquirido pelo uso, deve ser avaliado à luz da perceção que se presume que o consumidor médio da categoria de produtos ou serviços em causa dele tem. Para o efeito, parte-se do pressuposto de que esse consumidor médio está normalmente informado e razoavelmente atento e advertido. A

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definição de público pertinente está ligada ao exame dos destinatários dos produtos ou serviços em causa, dado que é em relação a esses que a marca deve realizar a sua função essencial. Assim, tal definição deve ser efetuada à luz da função essencial das marcas, a saber, garantir ao consumidor ou ao utilizador final a identidade da origem dos produtos ou serviços designados pela marca, permitindo-lhe distinguir, sem confusão possível, estes produtos ou serviços dos que tenham proveniência diversa (acórdão do Tribunal Geral de 29/09/2010, T-378/07, «RED/BLACK/GREY (Surface of a tractor)», n.os 33 e 38).

Em consequência, os consumidores pertinentes incluem não apenas as pessoas que adquiriram efetivamente produtos e serviços, mas também qualquer pessoa potencialmente interessada, no sentido estrito de compradores potenciais (acórdão do Tribunal Geral de 29/09/2010, T-378/07, «RED/BLACK/GREY (Surface of a tractor)», n.os 41 e seguintes).

Os compradores potenciais são definidos pelo produto ou serviço que se pretende registar. Se os produtos ou serviços reivindicados fizerem parte de uma categoria vasta (por exemplo, malas ou relógios), é irrelevante o facto de os produtos oferecidos sob o sinal serem produtos de luxo extremamente caros — o público inclui todos os compradores potenciais dos produtos reivindicados no pedido de marca comunitária, incluindo artigos que não são de luxo e que são mais baratos, mas que, não obstante, pertencem à categoria reivindicada, no caso de esta ser vasta.

2.12.5 Produtos e serviços

Dado que uma das principais funções de uma marca consiste em garantir a origem dos produtos e serviços, o caráter distintivo adquirido deve ser avaliado em relação aos produtos e serviços em causa. Em consequência, os elementos de prova do requerente devem demonstrar a existência de uma ligação entre o sinal e os produtos e serviços para que este foi pedido e estabelecer que a categoria pertinente de pessoas ou, pelo menos, uma fração significativa desta identifica, graças à marca, os produtos como provenientes de uma empresa determinada (acórdão do Tribunal de Justiça de 04/05/1999, C-108/97 e C-109/97, «Chiemsee», n.º 52, e acórdão do Tribunal Geral de 19/05/2009, T-211/06, «Cybercrédit et al.», n.º 51).

2.12.6 Aspetos territoriais

Nos termos do artigo 1.º do CTMR, a marca comunitária tem caráter unitário e produz os mesmos efeitos em toda a União Europeia. O artigo 7.º, n.º 2, do CTMR estipula que será recusado o registo de uma marca comunitária mesmo que os motivos absolutos de recusa apenas existam numa parte da União Europeia.

Como consequência lógica destas disposições, deve ser feita prova de que a marca adquiriu, através da utilização que dela foi feita, caráter distintivo na parte da União Europeia em que não tinha, ab initio, esse caráter (acórdão do Tribunal de Justiça de 22/06/2006, C-25/05-P, «Sweet wrapper», n.os 83 e 86, e acórdão do Tribunal Geral de 29/09/2010, T-378/07, «RED/BLACK/GREY (Surface of a tractor)», n.º 30).

Tal acontece na medida em que resulta do caráter unitário da marca comunitária que, para ser registado, um sinal deve possuir caráter distintivo — intrínseco ou adquirido pelo uso — em toda a União Europeia (acórdão do Tribunal Geral de 17/05/2011,

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T-7/10, «υγεία», n.º 40). Seria paradoxal aceitar que, por um lado, nos termos do artigo 3.º, n.º 1, alínea b), da Diretiva relativa às marcas, um Estado-Membro tivesse de recusar o registo, enquanto marca nacional, de um sinal desprovido de caráter distintivo no seu território e, por outro, o mesmo Estado-Membro tivesse de respeitar uma marca comunitária associada a esse sinal pela simples razão de que este adquiriu caráter distintivo no território de outro Estado-Membro (acórdão do Tribunal Geral de 14/12/2011, T-237/10, «Louis Vuitton», n.º 100).

2.12.6.1 Disposições especiais relativas à adesão de novos Estados-Membros

Em conformidade com as disposições dos Tratados de Adesão à União Europeia, uma marca comunitária que seja pedida antes da data de adesão de um dado Estado-Membro apenas pode ser recusada por motivos que existissem antes da data da adesão desse Estado-Membro. Nestas circunstâncias, nos processos de exame do Instituto, o caráter distintivo adquirido deve ser demonstrado unicamente em relação aos Estados-Membros que já faziam parte da UE à data da apresentação do pedido e não em relação àqueles que aderiram à UE após essa data.

2.12.6.2 Marcas tridimensionais, cores per se e marcas figurativas

Se existir uma objeção em toda a União Europeia, como acontece normalmente com as marcas tridimensionais, com as cores per se e com as marcas figurativas que consistem, exclusivamente, na representação dos produtos em causa, o caráter distintivo adquirido deve ser provado em relação a todo o território da União Europeia. Sobre a possibilidade de extrapolação da prova, consultar o ponto 2.12.8.7, infra.

2.12.6.3 Zona linguística

No caso de a marca comunitária objeto de pedido ser recusada devido ao seu significado numa dada língua, o caráter distintivo adquirido pelo uso deve ser demonstrado pelo menos em relação aos Estados-Membros em que essa língua é uma língua oficial.

Deve ser prestada especial atenção sempre que a língua em causa seja uma língua oficial em mais do que um Estado-Membro. Nesses casos, se se tratar de uma objeção resultante de um motivo absoluto de recusa baseado no significado de uma expressão numa dada língua, o caráter distintivo adquirido pelo uso deve ser provado em relação a cada um dos Estados-Membros de que a língua em causa é uma língua oficial (bem como em relação a quaisquer outros Estados-Membros ou mercados em que essa língua seja compreendida).

(a) Entre as línguas que são línguas oficiais em mais do que um Estado-Membro da UE contam-se as seguintes:

Alemão

O alemão é língua oficial na Alemanha e na Áustria, bem como no Luxemburgo e na Bélgica. Qualquer alegação de que o caráter distintivo adquirido pelo uso permite que o sinal pedido supere uma objeção

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resultante de um motivo absoluto de recusa baseado no significado de uma expressão em língua alemã deve automaticamente ser examinada em relação a estes quatro países.

Grego

O grego é língua oficial tanto na Grécia como em Chipre. Qualquer alegação de que o caráter distintivo adquirido pelo uso permite que o sinal pedido supere uma objeção resultante de um motivo absoluto de recusa baseado no significado de uma expressão em língua grega deve automaticamente ser examinada em relação a estes dois países.

Inglês

O inglês é língua oficial no Reino Unido, na Irlanda e em Malta. Qualquer alegação de que o caráter distintivo adquirido pelo uso permite que o sinal pedido supere uma objeção resultante de um motivo absoluto de recusa baseado no significado de uma expressão em língua inglesa deve automaticamente ser examinada em relação a estes três países.

Francês

O francês é língua oficial tanto em França como na Bélgica e no Luxemburgo. Qualquer alegação de que o caráter distintivo adquirido pelo uso permite que o sinal pedido supere uma objeção resultante de um motivo absoluto de recusa baseado no significado de uma expressão em língua francesa deve automaticamente ser examinada em relação a estes três países.

Neerlandês

O neerlandês é língua oficial tanto nos Países Baixos como na Bélgica. Qualquer alegação de que o caráter distintivo adquirido pelo uso permite que o sinal pedido supere uma objeção resultante de um motivo absoluto de recusa baseado no significado de uma expressão em língua neerlandesa deve automaticamente ser examinada em relação a estes dois países.

Sueco

O sueco é língua oficial tanto na Suécia como na Finlândia. Qualquer alegação de que o caráter distintivo adquirido pelo uso permite que o sinal pedido supere uma objeção resultante de um motivo absoluto de recusa baseado no significado de uma expressão em língua sueca deve automaticamente ser examinada em relação a estes dois países.

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(b) Compreensão da língua de um Estado-Membro em Estados-Membros em que esta não é língua oficial

Para além dos Estados-Membros de que a língua em que um sinal está redigido é uma língua oficial, importa igualmente considerar se uma dada língua oficial da UE é também compreendida em Estados-Membros de que não é língua oficial. Tal pode acontecer devido ao facto de, consoante os produtos e serviços reivindicados no pedido de marca comunitária, o público pertinente desse Estado-Membro ter um conhecimento elementar da língua em causa ou de o público pertinente ser composto por especialistas que compreendem certos termos técnicos em línguas oficiais de outros Estados-Membros. Nesse caso, o caráter distintivo adquirido deve ser igualmente provado em relação ao público pertinente destes outros Estados-Membros e não apenas em relação aos Estados-Membros em que a língua é oficial.

Por exemplo, o Tribunal Geral sustentou que uma elevada percentagem dos consumidores e profissionais europeus possui um conhecimento elementar de inglês (acórdão do Tribunal Geral de 26/09/2012, T-301/09, «Citigate», n.º 41). Do mesmo modo, em função dos consumidores pertinentes dos produtos e serviços em causa e do facto de o sinal consistir ou não numa palavra do inglês elementar, o caráter distintivo adquirido poderá ter de ser avaliado em relação a outros Estados-Membros.

Passando do grande público para um público mais especializado de produtos e serviços, o Tribunal Geral sustentou que determinados termos ingleses do domínio médico (acórdão de 29/03/2012, T-242/11, «3D eXam», n.º 26), de domínios técnicos (acórdão de 09/03/2012, T-172/10, «Base-seal», n.º 54) e de assuntos financeiros (acórdão de 26/09/2012, T-301/09, «Citigate», n.º 41) serão compreendidos pelos profissionais pertinentes de toda a União Europeia, dado que o inglês é a língua profissional de uso corrente nestes domínios.

Por outro lado, dado que a compreensão das línguas não está rigorosamente limitada pelas fronteiras geográficas, pode perfeitamente acontecer que, por razões históricas, culturais ou de mercado transfronteiriço, algum vocabulário (normalmente elementar) de uma dada língua possa disseminar-se e ser compreendido pela população de outros Estados-Membros, sobretudo daqueles com que o Estado-Membro da língua em causa tem fronteiras terrestres. Por exemplo, o alemão e o francês são correntemente utilizados nas regiões italianas de Trentino-Alto Adige e Valle d’Aosta, respetivamente.

2.12.7 O que é necessário demonstrar

O Tribunal de Justiça formulou Linhas de orientação quanto às condições que devem conduzir à conclusão de que uma marca adquiriu caráter distintivo pelo uso: «se a autoridade competente considerar que uma fração significativa dos meios interessados identifica, graças à marca, um produto como proveniente de uma empresa determinada, deve, em todo o caso, daí concluir que a condição imposta para o registo da marca está preenchida.» (acórdão do Tribunal de Justiça de 04/05/1999, C‑108/97

e C‑109/97, «Chiemsee», n.º 52 e seguintes).

Assim, a prova deve igualmente demonstrar que uma fração significativa dos meios interessados para os produtos e serviços reivindicados no território pertinente considera que a marca identifica os produtos e serviços de uma empresa determinada; por outras palavras, que o uso feito da marca estabeleceu uma ligação no espírito do

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público pertinente com os produtos ou serviços de uma empresa específica, independentemente do facto de, sem esse uso, a marca em causa não possuir o caráter distintivo necessário para estabelecer essa ligação.

No que respeita ao grau de penetração no mercado e ao reconhecimento por parte do público pertinente que uma marca deve alcançar para poder reivindicar a aquisição de caráter distintivo pelo uso, na medida em que distingue os produtos e serviços de uma empresa dos das demais aos olhos do público pertinente, a jurisprudência não prevê quaisquer percentagens de reconhecimento de mercado para o público pertinente. Mais do que recorrer a uma percentagem fixa do público pertinente de um dado mercado, a prova deve demonstrar que uma proporção significativa do público considera que a marca identifica produtos ou serviços específicos.

Por último, a prova deve fazer referência a cada um dos produtos e serviços reivindicados no pedido de marca comunitária. Após uma objeção por motivo absoluto de recusa por força do artigo 7.º, n.º 1, alínea b), c) ou d), do CTMR, apenas poderão ser registados os produtos e serviços reivindicados no pedido em relação aos quais tenha sido provada a aquisição de caráter distintivo pelo uso.

2.12.8 As provas e a respetiva avaliação

Para determinar o caráter distintivo adquirido, podem ser tidas em conta provas dos seguintes elementos: a parte de mercado detida pela marca, a intensidade, a área geográfica e a duração do uso da marca, a importância dos investimentos feitos pela empresa para a promover, a proporção dos meios interessados que identificam o produto como proveniente de uma empresa determinada graças à marca e declarações das câmaras de comércio e de indústria ou de outras associações profissionais (acórdão do Tribunal de Justiça 04/05/1999, C-108/97 e C-109/97, «Chiemsee», n.º 51, e acórdão do Tribunal Geral de 29/09/2010, T-378/07, «RED/BLACK/GREY (Surface of a tractor)», n.º 32).

O Instituto só está obrigado a examinar factos suscetíveis de conferir à marca pedida um caráter distintivo adquirido pelo uso, na aceção do artigo 7.º, n.º 3, do CTMR, se o requerente os tiver invocado (acórdão do Tribunal Geral de 12/12/2002, T-247/01, «Ecopy», n.º 47).

2.12.8.1 Tipos de provas que podem ser apresentados

Entre os exemplos de provas que podem servir para indicar alguns ou todos os fatores supramencionados que podem demonstrar o caráter distintivo adquirido contam-se elementos como folhetos de vendas, catálogos, preçários, faturas, relatórios anuais, valores de volumes de negócios, valores e relatórios de investimentos em publicidade, anúncios (recortes de imprensa, cartazes, anúncios de televisão), bem como elementos comprovativos da sua intensidade e alcance, e inquéritos aos consumidores e/ou estudos de mercado.

Os requerentes devem procurar certificar-se de que as provas apresentadas não só demonstram a utilização da marca objeto do pedido como também são suficientes para identificar as datas dessa utilização e o território geográfico específico de utilização na União Europeia. Por norma, provas não datadas são insuficientes para demonstrar que o caráter distintivo foi adquirido pelo uso antes da data do depósito,

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enquanto provas de utilização no exterior da União não demonstram o necessário reconhecimento no mercado por parte do público pertinente da UE. Acresce que, se as provas misturarem material relativo a territórios da UE e a territórios exteriores à UE, não permitindo que o Instituto identifique a extensão da utilização da marca unicamente na UE, as provas serão consideradas isentas de valor probatório relativamente ao público pertinente da UE.

Do artigo 78.º do CTMR consta uma lista não exaustiva de meios de produção ou obtenção de provas a utilizar em processos perante o Instituto, que pode orientar os requerentes.

2.12.8.2 Avaliação de provas no seu conjunto

Dado que o Instituto deve avaliar as provas como um todo (processo R 0159/2005-4, «Metavit/MEXA-VIT C et al», n.º 37), não é necessário que um único elemento de prova demonstre, por si só, a questão em apreço. Com efeito, a prova pode resultar da avaliação global de todos os elementos de prova apresentados (acórdão do Tribunal Geral de 07/06/2005, T-303/03, «Salvita», n.º 42, e de08/03/2006, R 0358/2004-4, «MediQi/MEDICE», n.º 34). Para determinar o valor probatório de um documento, há que atentar na sua credibilidade. É igualmente necessário ter em conta a origem do documento, as circunstâncias da sua elaboração, o seu destinatário e questionar se o documento se afigura razoável e fidedigno (acórdãos do Tribunal Geral de 07/06/2005, T-303/03, «SALVITA», n.º 42, e de 16/12/2008, T-86/07, «DEITECH» [Marca figurativa], n.os 46 e seguintes).

2.12.8.3 Quota de mercado

A quota de mercado detida pela marca pode ser relevante para avaliar se esta última adquiriu caráter distintivo pelo uso, na medida em que sua penetração no mercado possa permitir ao Instituto inferir que o público relevante reconheceria a marca como identificando os produtos ou serviços de uma empresa específica e, assim, distinguir esses produtos e serviços dos de outras empresas.

O volume de publicidade no mercado pertinente dos produtos ou serviços reivindicados (representado pelo investimento em publicidade para promover uma marca) pode igualmente ser importante para avaliar se a marca adquiriu caráter distintivo pelo uso (acórdão do Tribunal de Justiça de 22/06/2006, C-25/05-P, «Sweet wrapper», n.os 76 e seguintes). Todavia, já muitas tentativas de provar o caráter distintivo adquirido pelo uso fracassaram devido ao facto de os elementos de prova apresentados pelo requerente não serem suficientes para demonstrar a existência de uma ligação entre a quota de mercado e a publicidade, por um lado, e a perceção dos consumidores, por outro.

2.12.8.4 Inquéritos e sondagens de opinião

As sondagens de opinião sobre o nível de reconhecimento da marca pelo público pertinente no mercado em causa podem, se realizadas corretamente, constituir um dos tipos de prova mais diretos, na medida em que podem mostrar qual é efetivamente a perceção do público pertinente. Contudo, não é fácil formular e conduzir corretamente uma sondagem de opinião que possa ser considerada

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Motivos absolutos de recusa

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verdadeiramente neutra e representativa. Devem evitar-se perguntas capciosas, amostras não representativas do público e edição indevida das respostas, que podem comprometer o valor probatório das sondagens.

O Tribunal Geral considerou que, em princípio, não é inconcebível que um inquérito realizado algum tempo antes ou depois da data de depósito possa conter indicações úteis, embora seja óbvio que o seu valor probatório pode variar em função do facto de o período abrangido ser mais ou menos próximo da data de depósito ou da data de prioridade do pedido de marca em causa. Além disso, o seu valor probatório depende igualmente do método de inquérito utilizado (acórdão do Tribunal Geral de 12/07/2006, T-277/04, «Vitacoat», n.os 38 e 39).

Também as provas constituídas por sondagens de opinião devem ser cuidadosamente avaliadas. É importante que as perguntas colocadas sejam pertinentes e não sejam capciosas. Os critérios de seleção do público entrevistado devem igualmente ser atentamente ponderados. A amostra deve ser representativa de todo o público pertinente e, para tal, deve ser selecionada aleatoriamente.

Devem igualmente ser tidos em devida conta elementos de prova de associações comerciais independentes, de organizações de consumidores e de concorrentes. Já aos elementos de prova oriundos dos fornecedores ou distribuidores deve, por regra, ser conferido menor valor, na medida em que é menos provável que estes adotem a perspetiva de um terceiro independente. Aliás, o grau de independência do terceiro influencia o valor atribuído ao elemento de prova pelo Instituto (acórdão do Tribunal Geral de 28/10/2009, T-137/08, «Green/Yellow»).

2.12.8.5 Volume de negócios e publicidade

A informação sobre o volume de negócios é uma das formas de prova a que as empresas podem aceder com maior facilidade. O mesmo se verifica com as despesas com publicidade.

Estes valores podem ter um impacto significativo na avaliação das provas, embora, na esmagadora maioria dos casos, não bastem, por si só, para provar o caráter distintivo adquirido pelo uso de uma marca, porque o volume de negócios e as despesas com publicidade, sem dados corroborativos adicionais, são, muitas vezes, demasiado genéricos para permitirem extrair conclusões sobre a utilização de uma marca específica: deve ser possível identificar com precisão o volume de negócios e as despesas com publicidade relacionados com a marca objeto de pedido, bem como com os produtos e serviços em causa.

Os produtos e serviços são frequentemente comercializados sob diversas marcas, o que dificulta a tarefa de determinar qual é a perceção que o consumidor pertinente tem da marca pedida em concreto; por outro lado, o volume de negócios e as despesas com publicidade incluem com frequência saldos ou promoções de outras marcas ou de formas significativamente diferentes da marca em causa (por exemplo, marcas figurativas em vez de marcas nominativas ou elementos nominativos diferentes numa marca figurativa), ou são demasiado genéricos para permitirem identificar os mercados específicos em causa. Resulta do que precede que volumes de negócios ou despesas com publicidade consolidados podem não ser suficientes para provar se o público apreende ou não a marca em causa como uma indicação de origem.

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Motivos absolutos de recusa

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Quando são fornecidos valores respeitantes ao volume de negócios ou às despesas com publicidade, estes devem dizer respeito não apenas à marca cujo registo foi pedido, mas também aos produtos e serviços abrangidos por essa marca. É desejável que os valores relativos ao volume de negócios sejam discriminados por ano e por mercado. O(s) período(s) específico(s) de utilização (incluindo a informação de quando a utilização foi iniciada) devem ser comprovados pelas provas produzidas, de modo a que o Instituto possa certificar-se de que os elementos apresentados provam que a marca adquiriu caráter distintivo antes da data de depósito.

2.12.8.6 Prova indireta de utilização

A prova pode incluir ou consistir em registos dos Estados-Membros obtidos com base no caráter distintivo adquirido.

A data a que as provas apresentadas a nível nacional fazem referência é, em princípio, diferente da data de depósito do pedido de marca comunitária. Estes registos podem ser tidos em conta, ainda que sem caráter vinculativo, quando o examinador puder examinar as provas que foram apresentadas ao instituto de PI nacional.

2.12.8.7 Extrapolação

Outro aspeto importante da avaliação das provas é a questão de saber se o Instituto pode extrapolar de provas seletivas para conclusões mais amplas. Esta questão prende-se com a possibilidade de utilizar as provas que demonstram o caráter distintivo adquirido pelo uso em determinados Estados-Membros para extrair conclusões relativas à situação do mercado em Estados-Membros a que as provas não dizem respeito.

O recurso a este tipo de extrapolação para extrair conclusões mais gerais reveste-se de particular importância numa União Europeia alargada que conta muitos Estados-Membros, na medida em que é altamente improvável que uma parte esteja em condições de apresentar provas respeitantes a toda a União Europeia, sendo mais normal que tenda a concentrar-se em determinadas zonas.

A extrapolação é possível se o mercado for homogéneo e se forem apresentadas pelo menos algumas provas. As condições de mercado e os hábitos de consumo têm de ser comparáveis. Em consequência, é particularmente importante que o requerente apresente dados relativos à dimensão do mercado, à sua quota de mercado e, se possível, à dos seus principais concorrentes, bem como às suas despesas de comercialização. Apenas se todos os dados forem comparáveis, o Instituto pode extrapolar os resultados de um território para outro. Por exemplo, se a marca comunitária for utilizada em todo o território pertinente, mas os elementos de prova apenas disserem respeito a uma parte desse território, a extrapolação é possível se as circunstâncias forem comparáveis. Todavia, se a marca comunitária for utilizada unicamente em parte do território pertinente (e os elementos de prova disserem respeito a essa parte), será, em princípio, difícil extrapolar esses factos para outras partes do território.

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Motivos absolutos de recusa

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DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

2.12.8.8 Modo de utilização

Os elementos de prova devem apresentar exemplos da forma como a marca é utilizada (folhetos, embalagens, amostras dos produtos, etc.). Não deve ser atribuída qualquer importância à utilização de uma marca substancialmente diferente.

Pode acontecer que a utilização mostrada seja de um sinal que, apesar de similar à marca objeto de pedido, é por si só distintivo. Nestes casos, as provas devem ser ignoradas. É necessário demonstrar o caráter distintivo adquirido do sinal objeto de pedido. No entanto, nos termos do artigo 15.º, n.º 1, alínea a), do CTMR, podem ser permitidas alterações menores que não afetem o caráter distintivo do sinal (decisão de 15/01/2010, R 0735/2009-2, «PLAYNOW», e decisão de 09/02/2010, R 1291/2009-2, «EUROFLORIST»).

É possível provar o caráter distintivo adquirido de um sinal que foi utilizado juntamente com outras marcas (acórdão do Tribunal Geral de 28/10/2009, T-137/08, «Green/Yellow», n.º 27), desde que o consumidor pertinente atribua ao sinal em causa a função de identificação (acórdão do Tribunal de Justiça de 07/07/2005, C-353/03, «Have a break», e acórdãos do Tribunal Geral de 30/09/2009, T-75/08, «!» [marca figurativa], n.º 43, e de 28/10/2009, T-137/08, «Green/Yellow», n.º 46).

2.12.8.9 Duração da utilização

As provas devem indicar a data do início da utilização e demonstrar que esta foi contínua ou, caso tenham existido interrupções no período de utilização, indicar os motivos dessas interrupções.

2.12.8.10 Provas posteriores à data de depósito

As provas devem demonstrar que, antes da data de depósito, a marca havia adquirido caráter distintivo pelo uso.

No entanto, não podem ser rejeitadas provas pelo simples facto de terem sido apresentadas após a data de depósito, porquanto podem fornecer indicações sobre a situação prevalecente antes dessa data. Por esse motivo, tais provas devem ser avaliadas e devidamente apreciadas.

Por exemplo, uma marca registada que desfrute de particular reconhecimento no mercado ou de uma quota de mercado bastante significativa alguns meses após a data de depósito pode ter adquirido caráter distintivo após essa data.

2.12.9 Consequências do caráter distintivo adquirido

Uma marca registada ao abrigo do artigo 7.º, n.º 3, do CTMR beneficia da mesma proteção que qualquer outra marca que tenha sido considerada apta a ser registada após exame.

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Motivos absolutos de recusa

Linhas de orientação relativas ao exame efetuado no Instituto, Parte B, Exame Página 90

DRAFT VERSION 1.0 01/08/2014

Se o pedido de marca comunitária for aceite com base no artigo 7.º, n.º 3, do CTMR, esta informação é publicada no Boletim de Marcas Comunitárias, com o código INID 521.