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INSTITUTO EDUCAR Literatura Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo. A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO. 1 Aluno(a)................................................. Série: 5ª/6º ano - Turno: ............................ A magia de ler Giovana Mendhes O título já não importa... Viajando nas palavras, Vivendo uma história... Ficção e realidade misturadas... A cada linha uma nova descoberta... Uma viajem na máquina do tempo, Séculos, décadas passadas, Reviver o passado... Futuro desvendado, Descobertas... Sentimentos, despertam a todo momento... Ira, amor, paixão... Ódio, egoísmo, lágrimas de emoção... Levados pela retina, Através de cada capítulo, À lugares e momentos tão reais, Que quase se pode tocar... A música pode ser ouvida, Os aromas sentidos, E até ficam no ar... Prazer imenso, Instantes intensos... Olhos ávidos, Pensamentos absorvidos... Entregando-se ao fascínio, Rompendo limites, Vivendo a magia de ler um livro...

Literatura apostila Iª 5ª

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INSTITUTO EDUCAR Literatura

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo. A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.

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Aluno(a)................................................. Série: 5ª/6º ano - Turno: ............................

A magia de ler Giovana Mendhes

O título já não importa... Viajando nas palavras, Vivendo uma história... Ficção e realidade misturadas... A cada linha uma nova descoberta... Uma viajem na máquina do tempo, Séculos, décadas passadas, Reviver o passado... Futuro desvendado, Descobertas... Sentimentos, despertam a todo momento... Ira, amor, paixão... Ódio, egoísmo, lágrimas de emoção... Levados pela retina, Através de cada capítulo, À lugares e momentos tão reais, Que quase se pode tocar... A música pode ser ouvida, Os aromas sentidos, E até ficam no ar... Prazer imenso, Instantes intensos... Olhos ávidos, Pensamentos absorvidos... Entregando-se ao fascínio, Rompendo limites, Vivendo a magia de ler um livro...

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Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo. A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.

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INTRODUÇÃO À LITERATURA

Origem

A literatura está ligada a escrita, portanto sua origem se perde no tempo. Não há um único marco histórico do surgimento da escrita, pois ela aconteceu de forma gradual inicialmente através de símbolos, mas acredita-se que surgiu em 3.000 a.C. no Oriente. Desde que apareceu o ser humano, ele teve vontade de deixar resquícios de sua passagem pelo mundo. O homem sempre quis deixar sua marca para as futuras gerações, mostrando como ele fazia para caçar, mostrar seus feitos, seu heroísmo, sua força, dinamismo, coragem. Também quis mostrar como eram o seu povo, os animais, o meio ambiente da época.

O que é Literatura?

A palavra Literatura vem do latim "litteris" que significa "Letras", e possivelmente uma tradução do grego "grammatikee". Em latim, literatura significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem. Assim como a música, a pintura e a dança, a Literatura é considerada uma arte. Através dela temos contato com um conjunto de experiências vividas pelo homem sem que seja preciso vivê-las. A Literatura é um instrumento de comunicação, pois transmite os conhecimentos e a cultura de uma comunidade. O texto literário nos permite identificar as marcas do momento em que foi escrito. As obras literárias nos ajudam a compreender nós mesmos, as mudanças do comportamento do homem ao longo dos séculos, e a partir dos exemplos, refletir sobre nós mesmos. A literatura procura mostrar o valor de um povo, seu sofrimento, seus anseios, alegrias, a descrição do país, suas lendas, crendices, tradições, etc. O que pensariam as pessoas do ano 3 mil sobre o mundo de hoje? Como é que eles imaginariam nossa existência? Comíamos o quê? Falávamos como? Andávamos nus? Havia assassinato, roubos? Éramos amáveis com nossos irmãos? A literatura que fizermos hoje mostrará a eles a nossa realidade. Todos os países possuem e possuíram uma literatura. Assim temos a literatura grega, a latina, a italiana, a brasileira. Quem, por exemplo, já não ouviu falar em Romeu e Julieta, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Rei Édipo, Os Três Mosqueteiros? Não teríamos nada disso se não fosse a literatura.

Por que estudar Literatura? A literatura é a continuação da língua. É a língua aperfeiçoada, instrumento de beleza. Quando vamos ao cinema, vamos nos divertir, relaxar, passar momentos de lazer e adquirir um mínimo de conhecimentos também. O mesmo acontece com a literatura, mas ela é bem mais do que isto. O que seria da história sem a literatura? E o seu filme preferido? E a sua novela? E o seu teatro? Estes trabalhos precisam primeiramente ser escritos e só depois transformados em outro tipo de arte. Se não fosse a literatura, hoje seríamos todos ateus. Graças a Bíblia, que é um conjunto de obras literárias, hoje temos uma religião. Se não fosse a literatura desconhecíamos a existência de cidades como a Babilônia,Tróia e outras. Vários textos literários falam de um continente chamado Atlântida. Um dia a Arqueologia pode redescobri-la. A Bíblia nos fala de duas cidades: Sodoma e Gomorra que ainda não foram encontradas. Como é que sabemos dos usos e costumes dos povos antigos? Só através da literatura.

Evolução do livro Não resta dúvida que os livros mais antigos são as paredes das cavernas. Era o único lugar disponível em que o homem deixaria registrada a sua passagem pelo mundo. Os textos mais antigos que existem são os que compõem "O livro dos Mortos". Eram escritos em papiro (uma planta) e guardados em potes de barros ou estojos de madeira. O segundo material usado foi a argila na Mesopotâmia. Escrevia-se em placas de barro, de um lado e outro. Estas placas eram queimadas nos fornos. Estava pronto o livro. Escreviam-se textos políticos, comerciais, religiosos numa escrita cuneiforme. A reunião destas placas formou bibliotecas. Foram encontradas bibliotecas com mais de 500 mil obras. Através destas placas ficamos sabendo da existência real da cidade de Nínive e do rei Assurbanipal no ano 650 a.C..Também descobrimos que houve um florescimento da literatura nessa cidade. Na China a produção escrita aconteceu bem mais tarde. Eles usavam tábuas de madeira, escritas da esquerda para a direita e de cima para baixo. Mais tarde passaram a escrever em seda e no princípio do século II da era cristã, os chineses inventaram o papel. Outro modelo antigo era o uso de pergaminhos. Trata-se da retirada do couro do carneiro e depois de trabalhado, ele ficava como se fosse um magnífico papel. Este tipo de material ainda é usado hoje em diplomas do curso superior. O livro evoluiu muito na idade média. Tudo era transmitido através dos livros. Gutenberg inventou uma prensa na idade média, imprimiu a primeira bíblia e o processo de formação do livro atual estava pronto.

Você sabia? O brasileiro lê, em média 4 livros por ano contra 10 nos EUA ou na França. A Unesco ( Organizações das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) recomenda que haja uma livraria para cada 10 mil pessoas .No Brasil ,com 190 mil habitantes,temos 2.700 livrarias uma para cada 70 mil habitantes. Fonte : Jornal do senado

Leitura boa...

Abençoado Seja Leda Maria

Livro na sala de aula Livro no pátio, na varanda Livro na mão Livro na alma Livro no coração. Livro tem cheiro, tem gosto, Ruído, melodia, Ritmo, canção, Verdade, fantasia, brincadeiras, Suspense, intriga, ação. Livro de reza, de estudo, De amor, de tragédia, Livro de receitas de cozinha, Livro p'ra ler a vida, Livro p'ra curar a dor. Livro me acalma Me pega no colo Me leva p'ro espaço infinito

P'ros cantos da minha alma Onde ninguém nunca vai. Livros De história... De estudo... Livro de poesia... De tudo! Abençoado seja, Livro meu, De cada dia!

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Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo. A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.

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Só por curiosidade... A prensa de Gutenberg

Em meados de 1455, o ourives alemão Johannes Gutenberg realizou seu grande sonho. Após anos de pesquisas e trabalho duro, pegou nas mãos seu trunfo em forma de livro, impresso com uma técnica inédita e infalível: a prensa de tipos móveis. A técnica de impressão com moldes não era novidade – já tinha sido

iniciada havia 14 séculos na China por meio da impressão de gravuras. Mas, agora, com a criação de Gutenberg, que moldara os tipos em um material bem mais resistente e durável que os usados pelos chineses, ela ficava muito mais eficaz e rápida. A impressão em massa, possibilitada a partir daí, transformaria a cultura ocidental para sempre. Antes dela, cada cópia de livro exigia um escriba – que escrevia tudo a mão, página por página. Em 1424, por exemplo, a Universidade de Cambridge, no Reino Unido, possuía apenas 122 livros – e o preço de cada um era equivalente ao de uma fazenda ou vinícola. A partir do feito, a informação escrita deixou de ser exclusividade dos nobres e do clero. Até 1489, já havia prensas como a dele na Itália, França, Espanha, Holanda, Inglaterra e Dinamarca. Em 1500, cerca de 15 milhões de livros já haviam sido impressos.

Retrô Literário Da pedra à impressora laser

- Em 1799, foi descoberta uma pedra com letras muito estranhas, na cidade de Roseta, Egito. Era a escrita hieroglífica, usada no Egito durante 3 mil anos e que por muito tempo permaneceu como um mistério sem tradução. Graças à Pedra de Roseta, o francês Champollion conseguiu decifrar em 1822 a linguagem dos hieróglifos egípcios. Porque na pedra estava gravado o mesmo texto – uma lei – também em grego antigo. Com isso, Champollion pode comparar as duas línguas e decifrar o mistério que intrigou tanta gente durante tanto tempo.

- O papel foi inventado pelos chineses por volta do ano 100 d.C. Dali, espalhou-se pelo Oriente. Até o século 13, a Europa importava o papel que precisava para escrever. (Ele ainda não era usado para fins higiênicos).

- De onde vem o papel? Da madeira! Mais precisamente, da fibra de celulose, material que constitui as plantas. A parte mais usada é a casca das árvores.

- Talvez você já tenha ouvido falar do papiro, em algum filme de época ou na aula de História. Inventado no Egito Antigo, era um tipo de papel feito da planta Cyperus Papyrus, que cresce perto do rio Nilo.

- Até o século 11, todo mundo só escrevia a mão. Como não existia caneta (não dava para comprar uma Bic ali na esquina), usavam-se penas de animais molhadas em tintas vegetais.

- Os chineses (de novo eles!) inventaram um jeito de imprimir letras no papel. Dizem que no século 8 chegaram a fazer 1 milhão de cópias de textos religiosos. No século 11, os chineses começaram a usar blocos de madeira para reproduzir os textos.

- Já em 1430 (século 15), o alemão Gutenberg inventou uma máquina para fazer livros. Cada letra ou sinal de pontuação era uma peça de metal, molhada com tinta.

- A impressão offset é desenvolvida a partir dos anos 20 do século XX. Ela usa técnicas da fotografia e hoje é o modo mais comum de imprimir livros, folhetos, revistas...

- As impressoras para computadores domésticos começam a se popularizar nos anos 80. Ficou muito mais fácil e acessível imprimir documentos, gráficos, desenhos... Já pensou como Gutenberg ficaria admirado com tudo isso?

A importância da leitura A melhor forma de obter conhecimento é cercar-se de bons livros. As tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas deixassem a leitura de livros de lado, isso resultou em jovens cada vez mais desinteressados pelos livros, possuindo vocabulários cada vez mais pobres. A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é através dela que podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação. Muitas pessoas dizem não ter paciência para ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito, pois se a leitura fosse um hábito rotineiro as pessoas saberiam apreciar uma boa obra literária, por exemplo. Muitas coisas que aprendemos na escola são esquecidas com o tempo, pois não as praticamos, através da leitura rotineira tais conhecimentos se fixariam de forma a não serem esquecidos posteriormente. Dúvidas que temos ao escrever poderiam ser sanadas pelo hábito de ler, talvez nem as tivéssemos, pois a leitura torna nosso conhecimento mais amplo e diversificado. Durante a leitura descobrimos um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas. O hábito de ler deve ser estimulado na infância, para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é algo importante e prazeroso, assim com certeza ele será um adulto culto, dinâmico e perspicaz. Saber ler e compreender o que os outros dizem nos difere dos animais irracionais, pois comer, beber e dormir até eles sabem, é a leitura que proporciona a capacidade de interpretação.

Ler para quê? Ler propicia o aumento da capacidade de argumentação, de persuasão, de desenvolvimento da linguagem, da criatividade, de rapidez de raciocínio, de poder de síntese, de clareza na exposição de idéias, e, é claro, da compreensão da realidade à nossa volta e do mundo em que vivemos, a leitura é um dos mecanismos mais eficientes para a aquisição de informações e conhecimentos.

" Um país se faz com homens e livros." ( Monteiro Lobato) "O maior acontecimento da minha vida, foi, sem dúvida, a biblioteca de meu pai" (Jorge Luís Borges)

"Oh, Bendito o que semeia Livros... livros à mão cheia...

E manda o povo pensar! O livro caindo n´alma

É gérmen - que faz a palma É chuva - que faz o mar."

(Castro Alves - O Livro e a América)

Atividade de Fixação 1. Quando a Literatura teve inicio? 2. O que é Literatura? 3. Qual a importância da Literatura? 4. Por que a Literatura é um instrumento de comunicação? 5. Por que o filme, a novela e o teatro, por exemplo, precisam ser transformados primeiramente em literatura? 6. O que quer dizer a frase ―Não resta dúvida que os livros mais antigos são as paredes das cavernas.‖? 7. Qual o texto mais antigo?

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Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo. A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.

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EXTRA!!

Faça, em seu caderno, uma Pesquisa sobre o Livro dos Mortos. 8. Quais os materiais usados para a confecção dos livros? 9. O que é Pergaminho? 10. Qual a importância da prensa de Gutenberg para a literatura? 11. Qual a importância da leitura para o aprendizado?

A Linguagem literária e Não literária A linguagem literária é bem diferente da linguagem não-literária. A linguagem literária é bela, emotiva, sentimental, Apresenta traços que precisa ser descoberto através de uma leitura atenta. A linguagem não-literária é própria para a transmissão do conhecimento, da informação, na área das necessidades da comunicação social. É a língua empregada pela ciência, pela técnica, pelo jornalismo, pela conversação entre os falantes. Podemos estabelecer o seguinte confronto entre as duas formas: L. LITERÁRIA L. NÃO-LITERÁRIA Possui vários significados É clara, exata Conotação denotação Sugestiva precisa Transformação da realidade realidade Subjetiva objetiva

Atividade de Fixação 1. Responda: a) Em que se assemelham um pintor, um músico e um escritor? b) Um texto literário pode ser produzido com palavras simples do dia-a-dia? Por quê? c) Por que a literatura é importante? Comente. 2. Leia os trechos abaixo e diga que linguagem foi empregada. Justifique-a: a. Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI. A região que durante séculos foi a grande produtora de cana-de-açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina. Atualmente, o maior produtor nacional de cana-de-açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açúcar, que em parte é exportado e em parte abastece o mercado interno, a cana serve também para a produção de álcool, importante nos dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imensa expansão dos canaviais no Brasil, especialmente em São Paulo, está ligada ao uso do álcool como combustível. b. Um incêndio, possivelmente provocado por um curto-circuito, destruiu no início da madrugada de ontem um prédio de quatro andares na Rua Teófilo Otoni, 38, no Centro. O fogo começou no primeiro andar, onde funcionava uma empresa especializada na venda e fabricação de componentes eletrônicos, a Mec Central. O prédio era de construção antiga e estava em obras; como havia grande quantidade de madeira estocada, a propagação do fogo foi rápida. A ação dos bombeiros evitou que prédios vizinhos fossem atingidos pelas chamas. Não houve feridos. c. "Gabriela ia andando, aquela canção ela cantara em menina. Parou a escutar, a ver a roda rodar. Antes da morte do pai e da mãe, antes de ir para a casa dos tios. Que beleza os pés pequeninos no chão a dançar! Seus pés reclamavam, queriam dançar. Resistir não podia, brinquedo de roda adorava brincar. Arrancou os sapatos, largou na calçada,

correu pros meninos. De um lado Tuísca, de outro lado Rosinha. Rodando na praça, a cantar e a dançar." (Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado) d. No rio caudaloso que a solidão retalha, na funda correnteza na límpida toalha, deslizam mansamente as garças alvejantes; nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes embalam-se avezinhas de penas multicores pejando a mata virgem de cânticos de amores; mais presa de uma dor tantálica e secreta de dia em dia murcha o louro do poeta! ... (Fagundes Varela)

Texto Literário e Não literário Para considerar se um texto é ou não literário, é preciso analisar sua função predominante, isto é, qual é seu objetivo principal. Se for informar de modo objetivo, de acordo com os conhecimentos que se tem da realidade exterior, ou se tiver um compromisso com a verdade científica, o texto não é literário. Já o texto literário não tem essa função nem esse compromisso com a realidade exterior: é expressão da realidade interior e subjetiva de seu autor. São textos escritos para emocionar, que utilizam a linguagem poética. São esses os critérios que devemos considerar ao analisar e classificar um texto em literário e não-literário. Exemplos de textos não-literários são: notícias e reportagens jornalísticas, textos de livros didáticos de História, Geografia, Ciências, textos científicos em geral, receitas culinárias, bulas de remédio. Exemplos de textos literários são: poemas, romances literários, contos, novelas.

Atividade de Fixação 1. Pesquise pelo menos um texto literário e outro não literário. 2. Quais os critérios que devemos analisar para saber se um texto é ou não literário? 3. Diga se os textos abaixo são literários ou não literários: a) "Sentia um medo horrível e ao mesmo tempo desejava que um grito me anunciasse qualquer acontecimento extraordinário. Aquele silêncio, aqueles rumores comuns, espantavam-me. Seria tudo ilusão? Findei a tarefa, ergui-me, desci os degraus e fui espalhar no quintal os fios da gravata. Seria tudo ilusão?... Estava doente, ia piorar, e isto me alegrava. Deitar-me, dormir, o pensamento embaralhar-se longe daquelas porcarias. Senti uma sede horrível... Quis ver-me no espelho. Tive preguiça, fiquei pregado à janela, olhando as pernas dos transeuntes." (Graciliano Ramos) b) "Amigo Americano é um filme que conta a história de um casal que vive feliz com o seu filho até o dia em que o marido suspeita estar sofrendo de câncer." c) "Se um dia você for embora Ria se teu coração pedir Chore se teu coração mandar." (Danilo Caymmi & Ana Terra) e) "Olá, como vai? Eu vou indo e você, tudo bem? Tudo bem, eu vou indo em pegar um lugar no futuro e você? Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranqüilo..." (Paulinho da Viola)

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Prosa e Poema Os textos literários dividem-se em duas partes: prosa e poesia. Qual a diferença? O que nasceu primeiro? O poema tem linguagem subjetiva, é o mundo interior do poeta. É um texto curto onde sobressai a beleza, a harmonia e o ritmo. A poesia é a mais velha composição do mundo. Com o surgimento do livro em placas de argila, começaram também as primeiras aulas. Tudo teria que ser decorado, pois não havia material onde escrever tudo e a toda hora. Nas casas-escolas, os alunos decoravam os poemas com os conhecimentos, números, gramática, etc. Com os livros de argila e o uso de poemas, poderiam transmitir muita coisa com pouco material. Estes livros ficavam nas bibliotecas, já que não se poderia carregar um livro de dez quilos pra lá e pra cá. Prosa é a linguagem objetiva, usual. A prosa pode ser escrita de diversas formas como: romances, crítica, novela, conto, etc.Vejamos as diferenças entre um texto em forma de poesia e outro em forma de prosa: POEMA: Sobre a soleira da porta

da casa pegada à minha vejo sentada, a vizinha moça e bonita, que importa? (Vicente de Carvalho)

PROSA:

Pero Vaz de Caminha tornou-se figura importante no descobrimento do Brasil por haver escrito uma carta ao rei D. Manuel relatando os acontecimentos ocorridos com a expedição desde a partida da Europa até o dia 1º de maio de l500. Temos muitas diferenças entre estes dois textos: No primeiro temos: 1.Frases curtas; 2.Destaque para a beleza dos versos; 3.Uso de rimas: Porta/importa, minha/vizinha; 4.Texto escrito em forma de versos. No segundo temos: 1.Frases longas, num só período; 2.Não há beleza no texto, somente a informação; 3.Texto objetivo: transmitir uma mensagem; 4.Texto escrito em forma de parágrafos.

Atividade de Fixação 1. O que é Prosa? 2. O que é Poesia? 3. Qual a mais velha composição do mundo? 4. Em quais tipos de texto a prosa é usada?

Complementando... Elementos do poema

Assim como toda a obra literária, a poesia tem os seus que devem ser observados. Verso É cada linha do poema. Estrofe Parte de um poema consistindo de uma série de linhas ou versos. Rima É a repetição de um som vocálico ao final de um verso para dar ritmo ao poema.

Poema e poesia tem diferença?? Apesar de serem tratadas por muitos como sinônimos, há diferença entre elas: Poesia: Linguagem que emociona, toca a sensibilidade Poema: obra em verso em que há poesia. Ou seja: O poema é a obra e a poesia é a linguagem!

Leitura Boa... O que você acha que é preciso para ser um poeta?

Leia e descubra o que é ser um poeta.

O milagre da poesia - Sergio Vaz Sou poeta, E como poeta posso ser engenheiro E como engenheiro Posso construir pontes com versos Para que pessoas possam passar sobre rios, Ou apenas servir de abrigo aos indigentes. Sou poeta, E como poeta posso ser médico E como médico Posso fazer transplantes de coração Para que pessoas amem novamente, Ou simplesmente receitar poemas Para tristezas com alergias E alegrias sem satisfação. Sou poeta, E como poeta posso ser operário E como operário Posso acordar antes do sol e dar corda no dia, E quando a noite chegar, serena e calma, Descansar a ferramenta do corpo No consolo da família, autopeças de minha alma. Sou poeta, E como poeta posso ser um assassino E como assassino posso esfaquear os tiranos Com o aço das minhas palavras E disparar versos de grosso calibre na cabeça da multidão Sem me preocupar com padre, juiz ou prisão. Sou poeta, E como poeta posso ser Jesus E como Jesus Posso descrucificar-me, E sem os pregos nas mãos e os fanáticos nos pés Andar livremente sobre terra e mar Recitando poesia em vez de sermão. Onde não tiver milagres Ensinar o pão Onde faltar a palavra Repartir a ação.

Sobre o autor... Sergio Vaz é um poeta paulista que deu origem ao Cooperifa, um projeto de sarau no bar do Zé Batidão, na Piraporinha, Zona Sul de São Paulo. Lançou um Livro pela editora Global de tótulo ―Colecionador de Pedras‖.

Ser poeta - Florbela Espanca Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

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É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente!

Sobre a autora... Florbela d'Alma da Conceição Espanca, natural de Portugal, tem hoje seus versos admirados em todos os cantos do mundo, diferentemente do que aconteceu quando ainda viva, época em que foi praticamente ignorada pelos apreciadores da poesia e pelos críticos de então. Os dois livros que publicou, por sua conta, em vida, foram "O Livro das Mágoas" (1919) e "Livro de "Sóror Saudade" (1923). Às vésperas da publicação de seu livro "Charneca em Flor", em dezembro de 1930, Florbela pôs fim à sua vida. Tal ato de desespero fez com que o público se interessasse pelo livro e passasse a conhecer melhor a sua obra. Dizem os críticos que a polêmica e o encantamento de seus versos é devida à carga romântica e juvenil de seus poemas, que têm como interlocutor principal o universo masculino. Texto extraído do livro "Sonetos", Bertrand Brasil - Rio de Janeiro, 2002, pág. 118.

Como o poeta escreve? Ao escrever, o poeta observa o mundo, suas características e acontecimentos em seu tempo e cria uma opinião. Em seguida, a partir do que sente e pensa, ele escreve sua obra. O que é o mundo exterior? O espaço em que

vivemos. O que é o mundo interior? Os sentimentos do poeta.

Mania de escrever Que tal sermos poetas? Agora que você já descobriu o que é ser um poeta , que tal colocarmos isso é prática? Vamos criar um folheto de poesias. Siga os passos e boa escrita!! 1º passo: Planeje sobre o que vai escrever...Pode ser sobre seus sentimentos, sobre um acontecimento.. 2º passo: Lembre do conceito de linguagem literária e dos elementos do poema. 3º passo: ESCREVA!! Coloque sua criatividade no papel. 4º passo: Ilustre sua poesia. Procure fazer desenhos que tenham a ver com seu poema.

PRESTE ATENÇÃO NA ESCRITA!!

Conto e Crônica, fábula e lenda Todos esses tipos de textos são narrativos, ou seja, conta um fato, seja ele fictício ou real. A Crônica é feita sobre um fato real, fala sobre coisas acontecidas ou exprime ideias e opiniões do autor sobre esses fatos, já o Conto é imaginário, fantasioso. A fábula é um texto fantasioso onde os personagens, geralmente animais e objetos, ganham características humanas. No final nos é apresentada uma moral a fim de nos ensinar alguma coisa, enquanto as lendas são textos fantasiosos transmitidos pela tradição oral através dos tempos. De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas combinam fatos reais e históricos com fatos irreais que são meramente produto da imaginação humana.

Elementos do texto Ao falarmos em narração, logo nos remete à ideia do ato de contar histórias, sejam estas verídicas ou fictícias. E para que essa história seja dotada de sentido, ela precisa atender a critérios específicos no que se refere aos seus elementos constitutivos. Dentre eles destacam-se: Espaço - É o local onde acontecem os fatos, onde as personagens se movimentam. Tempo - Caracteriza o desencadear dos fatos. É constituído pelo cronológico, que, como o próprio nome diz, é ligado a horas, meses, anos, ou seja, marcado pelos ponteiros do relógio e pelo calendário. O outro é o psicológico, ligado às lembranças, aos sentimentos interiores vividos pelos personagens e intrinsecamente relacionados com a característica pessoal de cada um. Personagens - São as peças fundamentais, pois sem elas não haveria o próprio enredo. Os personagens que se destacam pelos atos heróicos, são chamados de personagens principais ou primários, outras que são opostos ao personagens principal são os antagonistas, e os secundários, que não se destacam tanto quanto os primários, funcionando apenas como suporte da trama em si. Foco narrativo: É a visão do autor na história e pode ser de 3 tipos: Narrador - Aquele que somente conta a história Narrador-personagem - Ele conta e participa dos fatos ao mesmo tempo. Neste caso a narrativa é contada em 1ª pessoa. Narrador-observador - Apenas limita-se em descrever os fatos sem se envolver com os mesmos. Aí predomina-se o uso da 3ª pessoa. Narrador Onisciente - Esse sabe tudo sobre o enredo e os personagens, revelando os sentimentos e pensamentos mais íntimos, de uma maneira que vai além da própria imaginação. Muitas vezes sua voz se confunde com a dos personagens. Todos estes elementos correlacionam entre si, formando o que denominamos de enredo, que é o desencadear dos fatos, a essência da história, a qual se constituirá para um desfecho imprevisível que talvez não corresponderá às expectativas do leitor. Este, portanto, poderá ser triste, alegre, cômico ou trágico, dependo do ponto de vista do narrador.

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Textos e Poemas para análise e estudo Iª unidade

Prosa Texto 01

Acontece para quem acredita Edy Lima

Era um jovem pescador muito pobre, que vivia sozinho numa praia distante. Tinha um pequeno barco em que saía à noite para pescar e, no dia seguinte, vendia os peixes no povoado mais próximo. Certa vez uma onda enorme tragou o barquinho, mas, na manhã seguinte, acordou em sua cabana miserável e viu que tudo era como sempre tinha sido. Veio à sua lembrança uma bela moça que o socorrera em meio às águas e o carregara para seu palácio no fundo do mar. Nesse momento, riu de si mesmo e disse alto: – Você sonhou com a Mãe D’Água. Foi só. Levantou-se para ir tomar água, sua garganta queimava de sede. Quando ergueu a caneca para beber viu um anel brilhando em seu dedo. – Que é isso? De repente se lembrou de uma cerimônia em que ele recebera aquele anel, no palácio no fundo do mar. Uma coisa dessas não podia ter acontecido. Mas o anel continuava um mistério. Em seguida sentiu uma dúvida terrível: e se estivesse morto? O jeito era se olhar no espelho, pois ouvira contar que fantasmas não refletem imagem. Claro que era tão pobre que nem tinha espelho em casa. E se quando fosse vender o peixe no povoado, se olhasse no espelho da barbearia? Será que tinha pescado alguma coisa? Só se lembrava daquela onda gigante que engolira seu barco. Correu até a praia e não viu o barco. Quem estava lá era a linda moça que o salvara na hora do naufrágio. Ela sorriu e disse: – Você não quis ficar na minha casa, vim morar na sua, afinal agora somos casados. Disse isso e estendeu a mão para ele. Ele viu então que ela usava um anel igual ao que brilhava em seu dedo. Respondeu: – Venha. Caminharam abraçados e, ao chegarem ao lugar onde ficava a cabana, ela não existia mais. Lá, agora, erguia-se um palácio e havia gente entrando e saindo. A moça disse: – É o meu povo das águas. De repente, ele notou que estava vestido com roupas luxuosas em vez dos trapos de antes. Sem dúvida a Mãe D’Água o escolhera para marido e não havia força humana que pudesse mudar isso. Viveram felizes por algum tempo. Mas, se ele não tinha gostado de morar no palácio no fundo do mar, ela começou a se cansar de viver em terra firme. Ficava horas diante do mar rodeada por seu povo das águas. O palácio permanecia abandonado. Ninguém cuidava de nada, tudo era deixado na maior desordem. Um dia ele pronunciou as palavras fatais que ela o proibira de dizer em qualquer circunstância. – Arrenego o povo do mar! Era o que todos esperavam para voltar às profundezas do oceano. Suas palavras valeram como sinal para a debandada. A moça e todos os serviçais foram cantando para dentro do mar e sumiram nas águas. O pescador olhou para si mesmo e viu que suas roupas de luxo também tinham sumido. Estava outra vez vestido de trapos. Quando voltou para casa, só encontrou o casebre de antes, não havia nem rastro de algum palácio.

Ao entardecer, sentiu saudades da Mãe D’Água e foi até a beira da praia. Lá estava seu velho barquinho, antes desaparecido. O pescador entrou nele e tomou o rumo do quebra-mar. De repente uma grande onda o envolveu e seu pensamento foi: – Será que tudo vai acontecer de novo?

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto? 2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. O que começou errado no casamento dos personagens? 5. Que palavras foram ditas pelo pescador e que a Mãe D’Água o proibiu de dizer? 6. O que resolveram fazer para ficarem felizes? 7 Você modificaria a história? Justifique Texto 02

A Professora de Desenho Marcelo Coelho Falando a verdade, escola é uma chatice. Pelo menos a minha era uma chatice. Essa história de aprender tabuada, fazer prova, lição de casa... eu não gostava. Ficava feliz quando aparecia uma gripe. Existe coisa melhor? Eu juntava todos os brinquedos em cima da cama. Traziam revistinhas. Chocolates. Televisão no quarto. Era ótimo. Disse que a escola era muito chata, mas esqueci de uma coisa: as aulas de desenho. Essas eram legais. Toda sexta-feira, depois do recreio, a dona Marisa (naquele tempo a gente não chamava a professora de ―tia‖, nem usava

só o nome dela, sem nada, assim: ―Marisa‖; tinha de ser ―dona Marisa‖) – enfim, a dona Marisa saía da sala, e entrava a professora de desenho. A dona Andréia. A dona Marisa era meio gorducha, usava coque no cabelo e se pintava feito louca. Batom. Sombra azul nos olhos. Meio perua. Eu não gostava da dona Marisa. Mas aí entrava a professora de desenho. A dona Andréia era mocinha. Tinha cabelos castanhos. Lisos e compridos. A aula de desenho era uma farra. A gente abria os cadernos, que não tinham linhas, só folhas de papel em branco, para a gente fazer o que quisesse. Podia. Dona Andréia deixava. Ela era linda. Um dia, ela se atrasou. O tempo ia passando, e ela não chegava. Todo mundo estava louco para ter aula de desenho. Por que será que ela estava atrasada? Nessa idade, a gente sabe muito pouco da vida dos adultos. Talvez a dona Andréia tivesse brigado com o namorado. Pode ser que o diretor da escola tivesse dado uma bronca nela. Vai ver que tinha alguém doente na família. Mas a gente não queria saber de nada. Só queria ter aula de desenho. Foi quando a dona Andréia apareceu. Todos nós ficamos contentes. Não foi só contente. Foi uma espécie de alegria total, de gritaria, de explosão. Ela entrou na classe. Alguém gritou: - É a Andréia!

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Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo. A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.

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Não era o jeito certo de falar. Tinha de dizer ―dona Andréia‖. Mas àquela altura ninguém estava ligando. Todo mundo começou a gritar: - É a Andréia! É a Andréia! O berreiro foi ganhando ritmo. Como se fosse torcida de futebol. - AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA! Parecia um jogador entrando em campo. Ou um cantor de rock. - AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA! Ela começou ficando alegre com a zoeira. Deu um sorriso. O sorriso dela era lindo. - AN-DRÉ-IA! Depois, ela ficou um pouco assustada. Não estava entendendo a bagunça. - AN-DRÉ-IA! Foi então que eu vi. Ela começou a chorar. E saiu da sala. Na hora, não entendi. Fiquei pensando. Quem sabe ela se assustou muito. Talvez não imaginasse que a gente gostava tanto dela. E, às vezes, muito amor assusta as pessoas. Pode ser que ela tivesse ficado brava. Tínhamos de dizer ―dona Andréia‖, e não dissemos. Era meio chocante só dizer ―Andréia‖, como se ela fosse irmã da gente, ou apresentadora de televisão, ou empregada. Ela também pode ter chorado por outro motivo qualquer. Estava triste com o namorado, ou com alguma doença da família, e toda aquela alegria da gente atrapalhando os sentimentos dela. A Andréia nunca mais voltou. As aulas de desenho acabaram. Comecei a perceber uma coisa. É que às vezes, quando a gente gosta demais de uma pessoa, não dá certo. Dá uma bobeira na gente. A gente começa a gritar: - Andréia! Andréia! E a Andréia fica sem jeito. Não sabe o que fazer. Se assusta. Se enche. Ouça este conselho. Se você gosta muito de alguém, tome cuidado antes de fazer escândalo. Não fique gritando ―Andréia! Andréia!‖. Finja que você só está achando a pessoa legal, nada mais. Senão a Andréia sai correndo. Quando a gente gosta de alguém, tem de fazer como sorvete. Dá uma mordidinha. Mas não enfia o nariz e a boca na massa de morango. Senão, vão achar que a gente é idiota. As pessoas da minha classe gostavam tanto da Andréia, que ela foi embora. Se a gente fosse mais esperto fingia que não gostava tanto.

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto? 2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. Identifique o título e o autor. 5. Por que o personagem achava a escola uma ―chatice‖? 6. Que aula ele mais gostava e qual o motivo? 7. Qual o nome da professora de Desenho e qual dia da semana eram suas aulas? 8. Descreva Dona Marisa e Dona Andréia. 9. Certa vez Dona Andréia se atrasou. Quais foram os motivos levantados? 10. Dona Andréia chorou quando todos começaram a gritar seu nome. Em sua opinião, por que ela teve essa atitude? 11. O que você acha do conselho do personagem?

Texto 03

A dança do arco-íris Recontada por João Anzanello Carrascoza

Há muito e muito tempo, vivia sobre uma planície de nuvens uma tribo muito feliz. Como não havia solo para plantar, só um emaranhado de fios branquinhos e fofos como algodão-doce, as pessoas se alimentavam da carne de aves abatidas com flechas, que faziam amarrando em feixe uma porção dos fios que formavam o chão. De vez em quando, o chão dava umas sacudidelas, a planície inteira corcoveava e diminuía de tamanho, como se alguém abocanhasse parte dela. Certa vez, tentando alvejar uma ave, um caçador errou a pontaria e a flecha se cravou no chão. Ao arrancá-la, ele viu que se abrira uma fenda, através da qual pôde ver que lá embaixo havia outro mundo. Espantado, o caçador tampou o buraco e foi embora. Não contou sua descoberta a ninguém. Na manhã seguinte, voltou ao local da passagem, trançou uma longa corda com os fios do chão e desceu até o outro mundo. Foi parar no meio de uma aldeia onde uma linda índia lhe deu as boas-vindas, tão surpresa em vê-lo descer do céu quanto ele de encontrar criatura tão bela e amável. Conversaram longo tempo e o caçador soube que a

região onde ele vivia era conhecida por ela e seu povo como “o

mundo das nuvens”, formado pelas águas que evaporavam dos rios, lagos e oceanos da terra. As águas caíam de volta como uma cortina

líquida, que eles chamavam de chuva. “Vai ver, é por isso que o chão lá de cima treme e encolhe, ele pensou. Ao fim da tarde, o caçador despediu-se da moça, agarrou-se à corda e subiu de volta para casa. Dali em diante, todos os dias ele escapava para encontrar-se com a jovem. Ela descreveu para ele os animais ferozes que havia lá embaixo. Ele disse a ela que lá no alto as coisas materiais não tinham valor nenhum. Um dia, a jovem deu ao caçador um cristal que havia achado perto de uma cachoeira. E pediu para visitar o mundo dele. O rapaz a ajudou a subir pela corda. Mal tinham chegado lá nas alturas, descobriram que haviam sido seguidos pelos parentes dela, curiosos para ver como se vivia tão perto do céu. Foram todos recebidos com uma grande festa, que selou a amizade entre as duas nações. A partir de então, começou um grande sobe-e-desce entre céu e terra. A corda não resistiu a tanto trânsito e se partiu. Uma larga escada foi então construída e o movimento se tornou ainda mais intenso. O povo lá de baixo, indo a toda a hora divertir-se nas nuvens, deixou de lavrar a terra e de cuidar do gado. Os habitantes lá de cima pararam de caçar pássaros e começaram a se apegar às coisas que as pessoas de baixo lhes levavam de presente ou que eles mesmos desciam para buscar. Vendo a desarmonia instalar-se entre sua gente, o caçador destruiu a escada e fechou a passagem entre os dois mundos. Aos poucos, as coisas foram voltando ao normal, tanto na terra como nas nuvens. Mas a jovem índia, que ficara lá em cima com seu amado, tinha saudade de sua família e de seu mundo Sem poder vê-los, começou a ficar cada vez mais triste. Aborrecido, o caçador fazia tudo para alegrá-la. Só não concordava em reabrir a comunicação entre os dois mundos: o sobe-e-desce recomeçaria e a sobrevivência de todos estaria ameaçada. Certa tarde, o caçador brincava com o cristal que ganhara da mulher. As nuvens começaram a sacudir sob seus pés, sinal de que lá embaixo estava chovendo. De repente, um raio de sol passou pelo cristal e se abriu num maravilhoso arco-íris que ligava o céu e a terra. Trocando o cristal de uma mão para outra, o rapaz viu que o arco-íris mudava de lugar. Iuupii! Gritou ele. Descobri a solução para meus problemas! Daquele dia em diante, quando aparecia o sol depois da chuva, sua jovem mulher escorregava pelo arco-íris abaixo e ia matar a saudade

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de sua gente. Se alguém lá de baixo se metia a querer visitar o mundo das nuvens, o caçador mudava a posição do cristal e o arco-íris saltava para outro lado. Até hoje, ele só permite a subida de sua amada. Que sempre volta, feliz, para seus braços.

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto? 2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. Identifique o título e o autor. 5. Como vivia a tribo? 6. O que foi encontrado pelo caçador? Qual era o nome do local e como ele é? 7. A harmonia entre as tribos foi selada, mas algo errado aconteceu. Diga o que foi e como aconteceu. 8. Qual a solução para acabar com a desarmonia? Texto 04

A luva Tatiana Belinky

Foi nos tempos distantes do amor cortês. No reino medieval do rei Franz era dia de festa, e o ponto alto das festividades era a exibição de feras selvagens, trazidas de terras distantes, na arena do grande castelo. Em volta da arena erguiam-se as arquibancadas, encimadas por altos balcões onde brilhavam os nobres da corte, ao lado das belas damas faiscantes de jóias. Entre elas se destacava a donzela Cunegundes, tão rica e formosa quanto orgulhosa, e de pé ao seu lado estava o seu apaixonado adorador, o jovem cavaleiro Delorges, cujo amor ela desdenhava, distante e fria. Chegou a hora do início da função. A um sinal do rei, abriu-se a porta da primeira jaula, da qual saiu, majestoso, um feroz leão africano e, sacudindo a juba dourada, deitou-se na areia, preguiçoso. Abriu-se a segunda jaula, liberando um terrível tigre de Bengala, que encarou o leão com olhos ameaçadores e deitou-se também, tenso, como quem prepara um bote mortal. Em seguida, abriu-se a terceira jaula, da qual saltaram, quais enormes gatos negros, duas panteras de dentes arreganhados, deitando-se agachados e aumentando a tensão do ambiente. Fez-se um silêncio no público: todos aguardavam ansiosos um pavoroso embate mortal entre os quatro monstros felinos... E neste momento, como que sem querer, a donzela Cunegundes deixou cair, do alto do balcão, sua branca luva, bem no centro da arena, entre as quatro feras assustadoras. E dirigindo-se com um sorriso irônico ao seu cavaleiro adorador, falou afetada: "Cavaleiro Delorges, se de fato me amais como viveis repetindo, provai-o, indo buscar e me devolver a minha luva." O cavaleiro Delorges não respondeu nada e sem titubear, desceu rápido do balcão e com passos decididos pisou na arena, entre as fauces hiantes e as presas arreganhadas das quatro feras. Calmo e firme ele apanhou a luva, e sem olhar para trás e sem apressar o passo, voltou para o balcão, sob os sussurros de espanto e admiração de todo o público presente. A donzela Cunegundes estendeu a mão num gesto faceiro para receber a luva e com um sorriso cheio de promessas, falou: "Ganhaste a minha gratidão, cavaleiro Delorges." Mas em vez de entregar-lhe a luva, o cavaleiro Delorges atirou-a no belo rosto da dama cruel e orgulhosa: "Dispenso a vossa gratidão, senhora!", ele disse. E voltando-lhe as costas, o cavaleiro Delorges foi embora para sempre.

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto?

2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. Identifique o título e o autor. 5. Que tipo de festa estava acontecendo? 6. Quais os animais que apareceram? Descreva-os na ordem em que aparecem. 7. Qual foi a surpresa da história? Texto 05

Crônica para dona Nicota Tatiana Belinky

Foi nos anos finais da década de 40. (Há tanto tempo!) Meu primogênito Ricardo completara 6 anos de idade, e resolvemos matriculá-lo no primeiro ano primário da Escola Americana, do já então tradicional Mackenzie College, que ficava a três quadras da nossa casa. E Ricardinho, que era uma criança tímida e um tanto ensimesmada, não gostou nem um pouco da experiência de ficar "abandonado" num lugar estranho, no meio de gente desconhecida — uma coisa para ele muito assustadora. E não houve jeito de fazê- lo aceitar tão insólita situação. Ele se recusava até mesmo a entrar na sala: ficava na porta, "fincava o pé", sem chorar mas também sem ceder... Eu já estava a ponto de desistir da empreitada, quando a professora da classe, dona Nicota, se levantou e veio falar conosco. E todo o jeito dela, a maneira como ela olhou para o Ricardinho, o timbre e o tom da sua voz, a expressão do seu rosto e até a sua figurinha baixinha, meio rechonchuda, não jovem demais, muito simples e despojada, causaram imediatamente uma sensível impressão no menino. A tensão sumiu do seu rostinho, seu corpo relaxou, e - ora vejam! - ele respondeu com um sorriso ao sorriso da dona Nicota! - Vem ficar aqui comigo - ela disse. - Você vai gostar. - E acrescentou, para minha surpresa, – Eu mesma vou levar você para a sua casa. E amanhã cedo, eu mesma vou buscar você, para vir à escola comigo. Eu não sabia como agradecer. E nem foi preciso — o que dona Nicota disse, ela cumpriu. E durante vários dias, até semanas, ela passou pela nossa casa, pouco antes do início das aulas, e levou o Ricardinho pela mão, a pé, até a escola e a sua sala. E o trouxe de volta, da mesma maneira. E até quando, certo dia, o menino estava adoentado e não pôde ir à escola, ela voltou para lhe dar uma ―aula particular‖, em casa — para ele não se atrasar no programa. Tudo isso na maior simplicidade, como se fosse a coisa mais natural do mundo... O Ricardinho adorava a dona Nicota - e não era para menos. Dona Nicota era a mais perfeita e linda encarnação da "professora primária" ideal - a mais nobre e fundamental das profissões: a de ser a primeira a preparar uma criança pequena nas suas primeiras incursões na vida real - com competência, dedicação, compreensão, paciência e carinho. E a consciência plena de estar dando à criança uma verdadeira base para o futuro cidadão. Por que estou contando tudo isso a vocês, hoje? Porque, no Dia do Professor, eu senti que não poderia prestar maior homenagem a todos os "mestres-escolas" do Brasil do que incluí-los nesta "crônica-tributo" a dona Nicota, exemplo e paradigma de uma modesta e maravilhosa professora ―montessoriana‖ e um grande ser humano. Ricardo saiu de sob a asa de dona Nicota lendo e escrevendo. E hoje, jornalista, tradutor e escritor, esse avô de três netos continua se lembrando de dona Nicota, com carinho e gratidão. Essa dona Nicota que a estas horas deve estar dando aulas montessorianas aos anjinhos do céu.

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto?

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2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. Identifique o título e o autor. 5. O que Dona Nicota fez para que o menino freqüentasse as aulas? 6. Por que Dona Nicota marcou tanto a vida do garoto, hoje avô? Texto 06

A lenda do preguiçoso Recontada por Giba Pedroza

Diz que era uma vez um homem que era o mais preguiçoso que já se viu debaixo do céu e acima da terra. Ao nascer nem chorou, e se pudesse falar teria dito: ―Choro não. Depois eu choro‖. Também a culpa não era do pobre. Foi o pai que fez pouco caso quando a parteira ralhou com ele: ―Não cruze as pernas, moço. Não presta! Atrasa o menino pra nascer e ele pode crescer na preguiça, manhoso‖. E a sina se cumpriu. Cresceu o menino na maior preguiça e fastio. Nada de roça, nada de lida, tanto que um dia o moço se viu sozinho no pequeno sítio da família onde já não se plantava nada. O mato foi crescendo em volta da casa e ele já não tinha o que comer. Vai então que ele chama o vizinho, que era também seu compadre, e pede pra ser enterrado ainda vivo. O outro, no começo, não queria atender ao estranho pedido, mas quando se lembrou de que negar favor e desejo de compadre dá sete anos de azar... E lá se foi o cortejo. Ia carregado por alguns poucos, nos braços de Josefina, sua rede de estimação. Quando passou diante da casa do fazendeiro mais rico da cidade, este tirou o chapéu, em sinal de respeito, e perguntou: ―Quem é que vai aí? Que Deus o tenha!‖ ―Deus não tem ainda, não, moço. Tá vivo.‖ E quando o fazendeiro soube que era porque não tinha mais o que comer, ofereceu dez sacas de arroz. O preguiçoso levantou a aba do chapéu e ainda da rede cochichou no ouvido do homem: ―Moço, esse seu arroz tá escolhidinho, limpinho e fritinho?‖ ―Tá não.‖ ―Então toque o enterro, pessoal.‖ E é por isso que se diz que é preciso prestar atenção nas crendices e superstições da ciência popular.

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto? 2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. Identifique o título e o autor. 5. O que o autor que dizer com a expressão ―um homem que era o mais preguiçoso que já se viu debaixo do céu e acima da terra.‖? 6. Qual foi a justificativa do menino ter nascido preguiçoso? 7. Que pedido foi feito ao visinho do preguiçoso? Ele atendeu? Por quê? 8. Por que ele não aceitou a oferta do homem rico? 9. O autor termina numa frase: ―E é por isso que se diz que é preciso prestar atenção nas crendices e superstições da ciência popular.‖ O que ele quis dizer com isso?

Texto 07

Amplexo Marcelo Alencar

Mãe, me dá um amplexo? A pergunta pega Cinira desprevenida. Antes que possa retrucar, ela nota o dicionário na mão do filho, que completa o pedido: - E um ósculo também. Ainda surpresa, a mulher procura no livro a definição das duas estranhas palavras. E encontra. Mateus quer apenas um abraço e um beijo. Conversa vai, conversa vem, Cinira finalmente se dá conta de que o garoto, recém-apresentado às classes gramaticais nas aulas de Português, brinca com os sinônimos. "O que vai ser de mim quando esse tiquinho de gente cismar com parônimos, homônimos, heterônimos e pseudônimos?", pensa ela, misturando as estações. "Valha-me, Santo Antônimo!" E emenda: - Pára com essa bobagem, menino! - Ah, mãe, o que é que tem? Você nunca chamou cachorro de cão? E casa de residência? E carro de automóvel? - É verdade, mas... Mas a verdade é que Cinira não tem uma boa resposta. - E meu nome é Mateus - continua o rapaz. - Só que você me chama de Matusquela. - Ei, isso não vale. Matusquela é apelido carinhoso. - Sei, sei. Tudo bem se eu usar nosocômio e cogitabundo em vez de hospital e pensativo? E criptobrânquio no lugar de mutabílio? - Mutabílio? O que é que é isso? - O mesmo que derotremado, ora. Tá aqui no Aurélio. Está mesmo. É um bichinho. Mas pouco importa. A mãe questiona a opção do menino por vocábulos incomuns. Mateus sai-se com esta: - A professora disse que aprender palavras é como ganhar roupas e guardar numa gaveta. Quando a gente precisa delas, tira de lá e usa. Cada uma serve para uma ocasião, por mais esquisita que pareça. Igual à querê-querê roxa que você me deu no último aniversário. Lembra? Como esquecer? Cinira nem se dá ao trabalho de consultar o dicionário. Sabe que a explicação para essa última provocação está no verbete camiseta.

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto? 2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. Identifique o título e o autor. 5. Por que a mãe ficou preocupada? 6. Por que o menino estava com essa mania? 7. O que a professora disse sobre essa mania? 8. O que você acaha da utilização de palavras difíceis? Texto 08

Escorrendo Antônio Prata

Aos 5 anos de idade o mundo é esmagadoramente mais forte do que a gente. (Aos 30 também, mas aprendemos umas manhas que, se não anulam a desproporção, ao menos disfarçam nossa pequenez.) A ignorância não é uma bênção, é uma condenação: compreender a origem dos nossos incômodos faz uma grande diferença. Mas como, com tão poucas palavras ao nosso dispor? Palavras são ferramentas que usamos para desmontar o mundo e remontá-lo dentro da nossa cabeça. Sem as ferramentas precisas, ficamos a espanar parafusos com pontas de facas, a destruir porcas com alicates. Com 2 anos, meu nariz

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escorria sem parar na sala de aula. Eu não sabia assoar, nem sequer sabia que existia isso: assoar. Apenas enxugava o que descia na manga do uniforme, conformado, até ficar com o nariz assado. Lembro-me bem da sensação da meia sendo comida pela galocha enquanto eu andava. A cada passo, ela ia se engruvinhando mais e mais na frente do pé, faltando no calcanhar, e eu aceitava o infortúnio como se fosse uma praga rogada pelos deuses, uma sina. Não passava pela minha cabeça trocar de meia, desistir da galocha, pedir ajuda aos adultos: a vida era assim, não havia o que fazer. Numas férias, meu pai apareceu antes do combinado para pegar minha irmã e eu na casa dos meus avós. Durante 400 quilômetros, falou que existiam pessoas boas e pessoas más, que aconteciam coisas que a gente não conseguia entender, que mesmo as pessoas más podiam fazer coisas boas e as pessoas boas, coisas más. Já quase chegando a São Paulo, contou que nosso vizinho, de 6 anos, tinha levado um tiro. Naquela noite, enquanto as crianças da rua brincavam - mais quietas do que o habitual, sob um véu inominável –, um dos garotos disse: ―Bem-feito! Ele é muito chato‖. Hoje, penso que pode ter sido sua maneira de lidar com uma realidade esmagadoramente mais forte do que ele. Meu vizinho, felizmente, sobreviveu. Nossa ingenuidade é que não: ficou ali, estirada entre amendoeiras e paralelepípedos, sendo iluminada pela lâmpada intermitente de mercúrio, depois que todas as crianças voltaram para suas casas.

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto? 2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. Identifique o título e o autor. 5. Qual o significado da palavra ―manhas‖? 6. O que o autor diz com a expressão ―Palavras são ferramentas que usamos para desmontar o mundo e remontá-lo dentro da nossa cabeça.‖? 7. Como o pai preparou as crianças para contar a notícia? 8. O que o autor achou do menino ter dito sobre o que levou um tiro ―Bem-feito! Ele é muito chato‖? Texto 09

A Origem das Revespécies Maria Amália Camargo

Você já deve ter quebrado muito a cabeça pra responder aquela velha pergunta sobre o ovo e a galinha... Ora, convenhamos, desde que os cientistas anunciaram o parentesco entre a dita cuja e os dinossauros, não é preciso ser nenhum Charles Darwin pra matar essa charada... Por um capricho da natureza, ficou decidido que os dinossauros pulariam de grandalhões para a categoria peso-pena, passariam a acordar com as galinhas e seriam bichos muito bons de bico. Daí, foi só uma tiranossauro botar um ovo com um pintinho dentro, para dar início à era das galináceas no planeta. Pronto, o ovo veio primeiro! E já que estamos falando sobre as transformações no reino animal, é bom lembrar que a evolução não é privilégio apenas das cocoriquentas. Tempos depois de um cavalo amarelo-malhado ter tomado chá de trepadeira e ficado com as folhas entaladas na garganta, transformou-se numa girafa. Quando um camundongo gigante cansou de levar seus filhos a tiracolo e amarrou uma bolsa na barriga, virou um canguru. Já a gelatina, que teve a sorte de ser resgatada do mar Morto por um salva-vidas, ah, virou uma água-viva! E os reveses nas espécies não param por aí. Tem exemplo de revespécie pra dar e vender. Veja só:

Quem já era devagar quase parando virou preguiça. Quem tinha samba no pé, uma cuíca. Virou solitária quem vivia jogada às traças. Um tremendo furão, quem nunca dava o ar da graça. Quem era bicho-papão ficou barrigudo. Quem era cheio de pneuzinhos, borrachudo. Quem não conseguiu pegar jacaré virou mergulhão. Quem era nervosinho pacas, um zangão! Quem gostava de madeira virou bicho-carpinteiro. Quem dirigia mal pra burro, barbeiro! Quem não comprava no atacado, virou varejeira. Quem lavava roupa suja em casa, lavadeira. Virou quero-quero quem era pidão. E serelepe, um mexilhão. Virou maria-fedida quem vivia cheia de craca. Quem não entrava em barca furada, uma fragata. O calombo na cachola virou galo. E quem vivia enrabichado, namorado. Virou beija-flor quem namorou a rosa no quintal. Quem pisou na concha acústica, um coral. Virou truta aquele camarada, grande amigo. Quem soltava fogo pelas ventas, maçarico. Virou centopeia o cheio de dedos. Mas quem vivia pregado continuou percevejo!

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto? 2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. Identifique o título e o autor. 5. Que pergunta sobre o ovo e a galinha a autora se refere no inicio do texto? 6. Qual a resposta do personagem para a pergunta? Justifique. 7. O que ele quer dizer com a palavra ―revespécies‖ Texto 10

O dia em que a caça consolou o caçador no

Pacaembu Juca Kfouri

Dois alvinegros, Santos e Botafogo, faziam os grandes jogos dos anos 60. Pelé x Garrincha, fora outros gigantes dos dois timaços. Num desses jogos, em São Paulo, os cariocas fizeram uma exibição inesquecível e, estranhamente, pouco badalada nos embates entre os dois melhores times do país naquela época. Aliás, sempre que se

fazem referências aos jogos entre Botafogo e Santos daqueles tempos, só são lembradas as vitórias santistas, as goleadas de Pelé & Cia. Pois o Pacaembu estava lotado para ver mais uma. Pelé e Mané estavam em campo, mas o diabo estava era no corpo que vestia a camisa sete, não a dez. O lateral-esquerdo Dalmo, do Santos, viveu uma tarde de terror. Garrincha pegava a bola e, andando, levava Dalmo até dentro da grande área, onde o zagueiro não podia fazer falta. O Pacaembu não acreditava no que via: um ponta andar desde a intermediária até a área sem que o lateral tentasse tirar a bola, temeroso do drible desmoralizante. Até que Dalmo percebeu que tinha virado motivo de chacota dos torcedores, muitos dos quais nem santistas eram, mas que iam ao campo na certeza do espetáculo.

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Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo. A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.

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E Dalmo resolveu bater antes de chegar à grande área. Bateu uma vez, Garrincha caiu, o árbitro marcou a falta e repreendeu o paulista. Bateu outra vez, Garrincha voltou ao chão, o árbitro marcou a falta e ameaçou Dalmo de expulsão, porque naquele tempo o cartão amarelo não existia. A terceira falta de Dalmo foi a mais violenta, como se ele estivesse pensando: "Arrebento essa peste, sou expulso, mas ele não joga mais". Pensado e feito. Enquanto o gênio das pernas tortas estava estirado no bico direito da área dos portões principais do Pacaembu, o árbitro determinava a expulsão de Dalmo, cercado por botafoguenses justamente irados com seu gesto. Eis que, como um acrobata, Garrincha levanta-se, afasta seus companheiros, bota o braço esquerdo no ombro de Dalmo e o acompanha até a descida da escada para o vestiário, que, então, ficava daquele lado. Saíram conversando, como se Garrincha justificasse a atitude, entendesse que, para pará-lo, não havia mesmo outro jeito. O Botafogo ganhou de 3 a 0 e saiu aplaudido do estádio. Tinha visto uma autêntica exibição do Carlitos do futebol, digna mesmo de Charles Chaplin, divertida, anárquica, humana, sensível, solidária.

Compreendendo o texto... 1. Qual o tipo de texto? 2. Identifique seus elementos. 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no dicionário. 4. Identifique o título e o autor. 5. O que são ―alvinegros‖? 6. O que ele diz na expressão ―Pelé e Mané estavam em campo, mas o diabo estava era no corpo que vestia a camisa sete, não a dez.‖? 7. Quando Garrincha caiu pela primeira vez, por que o juiz marcou falta? 8. O texto justifica o título? Explique. Texto 11

No tempo em que os bichos falavam Fábula de Esopo recontada por Georgina Martins

Houve um tempo em que os bichos falavam, e eles falavam tanto que Esopo resolveu recolher e contar as histórias deles para todo mundo. Esopo era escravo de um rei da Grécia e divertia-se inventando uma moral para as histórias que ouvia dos animais. Na verdade, nem todos os moradores do país eram capazes de entender a linguagem dos animais, mas Esopo era. Sobretudo dos pequeninos, que falavam muito baixinho, como por exemplo os ratinhos que moravam num buraco da parede da cozinha do palácio. Um dia, quando limpava o chão da cozinha, Esopo ouviu uns ruídos que vinham de dentro do buraquinho. Os ratinhos estavam muito agitados e preocupados, pois o rei havia colocado um gato grande e forte para tomar conta dos petiscos reais e o tal gato não era de brincar em serviço, já tinha devorado vários ratos. Esopo apurou os ouvidos e pôde ouvir tudo o que os ratinhos diziam. Um deles, muito espevitado, parecia ser o líder e, de cima de uma caixa de fósforos, discursava: – Meus amigos, assim não é mais possível, não temos mais paz e tudo porque o rei resolveu trazer aquela fera para cá. Precisamos fazer alguma coisa, e logo, porque senão esse gato vai acabar com a nossa raça! Era uma assembléia de ratos e todos estavam muito empenhados em solucionar o problema que os afligia: um gato, grande e forte, que o rei havia mandado colocar na cozinha.

Já tinham perdido vários amigos nos dentes afiados da fera: o Provolone, o Roquefort, o Camembert e o pobre Tatá, o mais amado de todos. Planejaram, planejaram e não conseguiram chegar a nenhuma conclusão que agradasse a todos. Precisavam de estratégias eficazes e seguras. Uns achavam que deveriam matar o tal gato; outros diziam que era impossível: ―Como matar uma fera daquelas?‖ Horácio estava quase convencido de que a sina de seu povo era morrer entre os dentes do gato. Com lágrimas nos olhos, já ia descendo da caixa de fósforos quando Frederico, um ratinho muito tímido que nunca falava, resolveu dar sua opinião: – Como vocês sabem, eu não gosto muito de falar, por isso serei rápido, mas antes vocês vão responder a uma pergunta: Por que esse gato é tão perigoso para nós, se somos tão ágeis e espertos? E Horácio respondeu: – Ora, Frederico, esse gato é silencioso, não faz nenhum barulho. Como é que vamos saber quando ele se aproxima? – Exatamente como eu pensei. Me perdoem a modéstia, mas acho que a idéia que tive é a melhor de todas as que ouvi aqui. Vejam só, é simples: Vamos arrumar um guizo, pode ser até aquele que pegamos da roupa do bobo da corte. Lembram? Aquele que achamos bonitinho e que faz um barulho enorme. Os ratos não estavam entendendo nada, para que serviria um guizo? Frederico tratou de explicar: – A gente pega o guizo e coloca no pescoço do gato. Quando ele se aproximar, vamos ouvir o barulho e fugir. Não é simples? Todos adoraram a idéia. Era só colocar o guizo que todos ouviriam o gato se aproximar. Todos os ratos foram abraçar Frederico e estavam na maior euforia quando, de repente, um ratinho, que não parava de roer um apetitoso pedaço de queijo, resolveu perguntar: – Mas quem é que vai colocar o guizo no pescoço do gato? Todos saíram cabisbaixos. Como não haviam pensado naquilo antes? Era o fim da euforia dos ratinhos. Para Esopo, a moral da história era a seguinte: ―Não adianta ter boas idéias se não temos quem as coloque em prática‖. Ou ainda: ―Inventar é uma coisa, colocar em prática é outra‖. Texto 12

Apenas uma ponte João Anzanello Carrascoza

Chegara, enfim, o último dia de aula. Havia sido uma longa trajetória até ali. Mas, agora, o professor observava com ternura os alunos à sua frente, cada um voltado para seu caderno, fazendo a lição que

colocaria ponto final no ano letivo. Então, agarrado à calmaria daquela hora, ele se recordou do primeiro encontro com o grupo. Todos o miravam com curiosidade, ansiosos por apanhar, como uma fruta, o conhecimento que imaginavam lhe pertencia. Nem tinham idéia de que aprenderiam por si mesmos, e que ele, mestre, não era a árvore da sabedoria, mas apenas uma ponte que os levaria à sua copa frondosa. Naquele dia, experimentara outra vez a emoção de se deparar com uma nova turma, e o que o motivava a ensinar, com tanta generosidade, era justamente o desafio de enfrentar esse mistério. Sim, uma ponte. Uma ponte por onde transitassem os sonhos daquelas crianças, o movimento incessante de seus desejos, o ir e vir de suas dúvidas, o vaivém do aprendizado em constante algaravia.

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Lembrou-se da dificuldade da Julinha nas operações de multiplicar. O resultado correto era um território que ela nem sempre conseguia atingir. Mas, agora, a garota estava lá, segura da direção que deveria tomar. Ele fizera a ponte. O que dizer da distância entre o José e o Augusto no início do ano, ambos se temendo em silêncio, deixando de desfrutar da aventura de uma grande amizade? Com paciência, ele os unira. Desde então, não se desgrudavam. Podia vê-los dali, de sua mesa, um ao lado do outro, concentrados em fazer a tarefa. Já a Maria Sílvia, dona de uma letra redondinha, ainda há pouco lhe dera um sorriso. Antes, contudo, vivia irritada, a letra sem apuro, só garranchos. Fizera a ponte para ela. Mateus, à sua frente, detestava Ciências e fugia das aulas no laboratório. Talvez porque só via dificuldade na travessia e não as maravilhas que o esperavam no outro extremo. O professor estendera-lhe a mão e o conduzira, até que, subitamente, ele se tornara o melhor aluno naquela matéria. Tinha também a Alessandra, tão silenciosa e tímida. Ia bem nos primeiros meses e, depois, o rendimento caíra. Ele descobrira que os pais dela viviam em conflito. Alertara-os para que dessem mais afeto à filha, e eis que ela florescera, voltando a ser uma boa aluna. E lá estava, nas últimas fileiras, o Luís Fábio. Notara suas limitações e construíra uma ponte especial para ele, mas o menino não conseguira atravessá-la. Era assim: para alguns, bastavam uns passos; para outros, o percurso se encompridava. O professor suspirou. Fizera o seu melhor. Lembrou-se das palavras de Guimarães Rosa: "Ensinar é, de repente, aprender". Sim, aprendera muito com seus alunos. Inclusive aprendera sobre si mesmo. Aquelas crianças haviam, igualmente, ligado pontos em sua vida. Agora, seguiriam novos rumos. Haveriam de encontrar outras pontes para superar os abismos do caminho. Ele permaneceria ali, pronto para levar uma nova classe até a outra margem. E o tempo, como um viaduto, haveria de conduzi-lo à emoção desse novo mistério. Texto 13

O céu ameaça a Terra Betty Mindlin

Meninos e meninas do povo ikolen-gavião, de Rondônia, sentam-se à noite ao redor da fogueira e olham o céu estrelado. Estão maravilhados, mas têm medo: um velho pajé acaba de contar como,

antigamente, o céu quase esmagou a Terra. Era muito antes dos avós dos avós dos meninos, era no começo dos tempos. A humanidade esteve por um fio: podia ser o fim do mundo. Nessa época, o céu ficava muito longe da Terra, mal dava para ver seu azul. Um dia, ouviu-se trovejar, com estrondo ensurdecedor. O céu começou a tremer e, bem devagarinho, foi caindo, caindo. Homens, mulheres e crianças mal conseguiam ficar em pé e fugiam apavorados para debaixo das árvores ou para dentro de tocas. Só coqueiros e mamoeiros seguravam o céu, servindo de esteios, impedindo-o de colar-se à Terra. Talvez as pessoas, apesar do medo, estivessem experimentando tocar o céu com as mãos...

Nisso, um menino de 5 anos pegou algumas penas de nambu, "mawir" na língua tupi-mondé dos índios ikolens, e fez flechas. Crianças dos ikolens não podem comer essa espécie de nambu, senão ficam aleijadas. Era um nambu redondinho, como a abóbada celeste. O céu era duríssimo, mas o menino esperto atirou suas flechas adornadas com plumas de mawir. Espanto e alívio! A cada flechada do garotinho, o céu subia um bom pedaço. Foram três, até o céu ficar como é hoje. Em muitos outros povos indígenas, do Brasil e do mundo, há narrativas parecidas ou diferentes sobre o mesmo assunto. Fazem-nos pensar por que céu e Terra estão separados agora... O povo tupari, de Rondônia, por exemplo, conta que era a árvore do amendoim que segurava o céu. (Bem antigamente, dizem, o amendoim crescia em árvore, em vez de ser planta rasteira.) Antes de o céu subir para bem longe, os ikolens podiam deixar a Terra e ir morar no alto. Iam sempre que ficavam aborrecidos com alguém, ou brigavam entre si, e subiam por uma escada de cipó. Gorá, o criador da humanidade, cansou de ver tanta gente indo embora e cortou o cipó, para a Terra não se esvaziar demais. Texto 14

Aprendizagem Flávio carneiro

– Mãe, cabelo demora quanto tempo pra crescer? – Hã? – Se eu cortar meu cabelo hoje, quando é que ele vai crescer de novo? – Cabelo está sempre crescendo, Beatriz. É que nem unha. A comparação deixa a menina meio confusa. Ela não está preocupada com unhas. – Todo dia, mãe?

– É, só que a gente não repara. – Por quê? – Porque as pessoas têm mais o que fazer, não acha? A menina não sabe se essa é uma pergunta do tipo que precisa ser respondida ou é daquelas que a gente ouve e pronto. Prefere não responder. – Você é muito ocupada, não é, mãe? – Hã? – Nada, não. A mãe termina de passar a roupa e vai guardando tudo no armário. Enquanto isso, Beatriz corre até o quartinho de costura, pega a fita métrica e mede novamente o cabelo da boneca. Ela tinha cortado aquele cabelo com todo o cuidado do mundo, pra ficar parecido com o da mãe, mas a verdade é que ficou meio torto. "Nada, não cresceu nada", ela conclui, guardando a fita. E já tem uma semana! Depois volta para onde está a mãe, que agora lustra os móveis. – Mãe, existe alguma doença que faz o cabelo da gente não crescer? – Mas de novo essa conversa de cabelo! Não tem outra coisa pra pensar não, criatura? Sobre essa pergunta não há dúvida: é do tipo que você não deve responder. A mãe continua trabalhando. Precisa se apressar. Dali a pouco a patroa chega da rua e o almoço nem está pronto ainda. – Mãe! – O que foi? – É que eu estava aqui pensando. – Pensando o quê?

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Beatriz não responde. Espera um pouco, tentando achar as palavras certas. – Vai, fala logo. – Quando a gente faz uma coisa, sabe, e não dá mais para voltar atrás, entendeu? – Não, não entendi. Ela abaixa a cabeça, dá um tempinho e resolve arriscar: – Então, se você não entendeu, posso continuar perguntando sobre cabelo? – Ai, meu Deus! Beatriz deixa a mãe trabalhando e vai procurar de novo sua boneca. Pega a boneca no colo e diz no ouvido dela: – Não liga, não. Cabelo de boneca é assim mesmo, cresce devagar, viu? E com um carinho: – Foi minha mãe que me ensinou. Texto 15

Pechada Luis Fernando Veríssimo

O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de ―Gaúcho‖. Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado. — Aí, Gaúcho! — Fala, Gaúcho! Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações? — Mas o Gaúcho fala ―tu‖! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato. — E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer ―tu‖ e pode-se dizer ―você‖. Os dois estão certos. Os dois são português. O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara. Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera. — O pai atravessou a sinaleira e pechou. — O que? — O pai. Atravessou a sinaleira e pechou. A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo. — O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge. — Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou. — E o que é isso? — Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.

— Nós vinha... — Nós vínhamos. — Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto. A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito. ―Sinaleira‖, obviamente, era sinal, semáforo. ―Auto‖ era automóvel, carro. Mas ―pechar‖ o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que ―pechar‖ vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada. — Aí, Pechada! — Fala, Pechada! Texto 16

O nascimento do mundo Maria de la Luz

No início só havia Kore, a energia, vagando na escuridão do espaço infinito. Então, veio a luz e surgiram Ranginui, o Pai Céu, e Papatuanuku, a Mãe Terra. Rangi e Papa tiveram muitos filhos: Tangaroa, deus das águas; Tane, deus das florestas; Tawhirmatea, deus dos ventos; Tumatauenga, deus da guerra, que deu origem aos seres humanos; e Uru, que não era deus de nada. Rangi e Papa viviam num perpétuo abraço de amantes. Acontece que esse enlace apaixonado não deixava a luz penetrar entre seus corpos, onde ficavam os filhos. Obrigados a viver apertados e sempre no escuro, os jovens resolveram dar um basta na situação. - Vamos matar Rangi e Papa e ficar livres deles! - disse Tumatauenga. - Não! - disse Tane. - Vamos apenas separálos, empurrando um para cima e deixando o outro embaixo. Assim sobrará espaço para nós e a luz vai poder entrar. Todos acharam a idéia excelente. Tane, que era o mais forte de todos, firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com toda a força. Os pais se separaram, mas – oh, decepção! – só um pouco de luz chegou ao mundo dos filhos. Além disso, Rangi e Papa estavam nus e, longe um do outro, sentiam muito frio. Comovido com a situação, Tane abrigou o pai com o negro manto da noite. Para a mãe fez um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas. Em torno dela fez ondular as águas azuis dos mares e rios de Tangaroa. Os ventos de Tawhirmatea sopravam suavemente seus cabelos. Os filhos de Tumatauenga já começavam a povoar o mundo recém-criado. Olhando lá de cima os lindos trajes da mulher e sua participação no novo mundo, Ranginui ficou doente de inveja. Sua dor cobriu o mundo com uma névoa úmida e cinzenta. Refugiado em uma dobra do manto paterno, Uru chorava e chorava por não ter sido útil em nada aos pais e aos irmãos. Para que ninguém percebesse suas lágrimas, escondia-as em cestas e mais cestas. Mas Tane tudo percebera: -Uru, meu irmão, preciso de sua ajuda! - Nada tenho para dar, você bem sabe!

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- Ora, Uru, você tem tantas cestas... Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru abaixou a cabeça: - Não tem nada dentro delas, irmão. Tane avançou e destampou uma das cestas. Dela voaram luzes faiscantes e risonhas para todos os lados. As lágrimas de Uru haviam se transformado em crianças-luz (para nós, estrelas)! - Uru, será que você podia me ceder duas de suas cestas? Seus filhos poderiam enfeitar e iluminar a morada de nosso pai... Uru concordou. As duas cestas foram passadas para Te Waka o Tamareriti, uma canoa muito especial. Tane conduziu a canoa até o céu, espalhando sobre o manto de Rangi milhares de estrelinhas que riam e piscavam umas para as outras o tempo todo. Quando Tane ia pegar a segunda cesta, esta tombou e se abriu, deixando as estrelas se espalharem numa grande faixa chamada Ikaroa, que cruzou o céu de lado a lado (para nós, a Via Láctea). Tane deixou Ikaroa e Waka o Tamareriti (que é a "cauda" da nossa constelação do Escorpião) no espaço celeste, onde se tornaram os guardiões das estrelas. Texto 17

Casa de Avô Todo avô toma remédio, usa dentadura e tira soneca depois do almoço. O meu, não. Não toma pílula nem xarope. E, à tarde, fica acordado, brincando comigo. Dentadura? Isso ele usa. Mas, de resto, é diferente. Minha avó também não é igual as outras. Enquanto toda avó borda e faz bolo de chocolate, ela só costura para fazer remendos nas roupas e só cozinha no fim de semana. E quase nunca está em casa. De calça comprida (enquanto todas as avós do mundo usam saia), sai cedinho para trabalhar e nos deixa sozinhos. Daí, o guarda-roupa dela vira elevador. Basta eu entrar e me sentar nas caixas de sapatos para vovô encostar as portas e, como ascensorista, anunciar: - Primeiro andar! Roupas e bonecas. Segundo andar! Balas de goma, móveis e crianças perdidas... A parede da sala é transformada em galeria de arte com pinturas emolduradas em fita crepe e, o tapete, em tablado de exposição de botões raros, que jamais combinariam com qualquer roupa normal. Ao cair da tarde, na garagem vazia, enquanto o papagaio e os cachorros conversam misturando latidos, uivos e risadas, ele espalha alguns pedacinhos de papel pelo chão. É a brincadeira do Pisei. - Hã? Como assim?, pergunto. Essa é nova. Vovô explica sua invenção: - Memorize onde estão os papéis. Feche os olhos e comece a caminhar. Tente pisar em cima deles. Pode ir perguntando "Pisei?" para facilitar. Ganha o jogo quem pisar em mais pedaços. Eu começo. - Pisei?, pergunto, dando o primeiro passo, apertando os olhos. - Não! - Pisei?, insisto mais uma vez, depois de caminhar um tiquinho. - Não! Ouço um barulho de chaves. Vovó chega, cansada, do trabalho. Diz "Oi". Sei que é para mim, mas não posso abrir os olhos para responder. É quebra de regra. - Tudo bem, vó? Quer brincar de Pisei?, convido. - Agora, não, minha riqueza. Vovó vai descansar. Vovô continua a me guiar, já sentado na cadeira de praia, lendo o jornal. Não vi, mas escutei o barulho dela sendo armada e das folhas nas mãos dele. Sigo. - Pisei? - Pisei?

- Pisei? E nada. Sinto meus pés tropeçarem em algo. Abro os olhos. Vovô, a minha frente, de braços abertos, pronto para um abraço de vitória. - Mas eu não pisei em nenhum papelzinho, vô, digo, meio desanimada, mas já engalfinhada e feliz, nos braços dele. - O vento foi levando tudo para o cantinho do portão, ele explica, sorrindo. - E por que o senhor não me avisou? A gente poderia ter colado os pedacinhos no chão e recomeçado... - Porque eu queria que a brincadeira terminasse com você perto de mim.

Texto 18

Dona Licinha Fanny Abramovich

A senhora não me conhece. Faz tanto tempo e me lembro de detalhes do seu jeito, sua voz, seu penteado e roupas... A senhora ensinava na 3a série B e eu era aluna da 3ª série C no Grupo Escolar do Tatuapé... Passava no corredor fazendo figa para mudar de classe, pra minha professora viajar e nunca mais voltar, pra diretora implicar e me mandar pra 3a B... Nunca tive tanta inveja na minha vida como tive das crianças da série B... Lembro que na sua sala se ouviam risadas quase o tempo todo. Maior gostosura! De vez em quando, um enorme silêncio quebrado por uma voz suave...era hora de contar histórias. Suspirando, eu grudava na janela e escutava o que podia... Também muitos piques e hurras, brincadeiras correndo solto. Esconde-esconde, telefone sem fio, campeonato de Geografia. Tanto fazia a aprontação inventada. Importava era sentir a redonda contenteza dos alunos. A sua sala era colorida com desenhos das crianças, um painel com recortes de revistas e jornais, figurinhas bailando em fios pendurados, mapas e fotos... Uma lindeza rodopiante mudada toda semana! Vi pela janela seus alunos fantasiados, pintados, emperucados, representando cenas da História do Brasil! Maior maravilhamento! Demorei, entendi. Quem nunca entendeu foi a minha professora... Seu segredo era ensinar brincando. Na descoberta! Na contenteza! Nunca ouvi berros, um "Cala boca", "Aqui quem manda sou eu" e outras mansidões que a minha professora dizia sem cansar. Não escutei ameaças de provas de sopetão, castigos, dobro da lição de casa, chamar a diretora, com que a minha professora me aterrorizava o tempo todo... Dona Licinha, eu quis tanto ser sua aluna quando fiz a 3a série. Não fui... Hoje, tanto tempo depois, sou professora. Também duma 3a série. Agora sou sua colega... Só não esqueço que queria estar na sua classe, seguir suas aulas risonhas, sem cobranças, sem chateações, sem forçar barras, sem fazer engolir o desinteressante. Numa sala colorida, iluminada, bailante. Também quero ser uma professora assim. Do seu jeito abraçante. Hoje, vi uma garotinha me espiando pela janela. Arrepiei. Senti que estava chegando num jeito legal de estar numa sala de aula... Por isso resolvi escrever para a senhora. Vontadona engolida por décadas. Tinha que dizer que continuo querendo muito ser aluna da Dona Licinha. Agora, aluna de como ser professora. Fazendo meus alunos viverem surpresas inventivas. Um abraço apertado, cheinho de gostosuras, da Ciça Texto 19

O sucesso da Mala Cybele Meyer

Respiro ofegante. Trago nas mãos uma pequena mala e uma agenda tinindo de nova. É meu primeiro dia de aula. Venho substituir uma

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professora que teve que se ausentar "por motivo de força maior". Entro timidamente na sala dos professores e sou encarada por todos. Uma das colegas, tentando me deixar mais à vontade, pergunta: - É você que veio substituir a Edith? - Sim - respondo num fio de voz. - Fala forte, querida, caso contrário vai ser tragada pelos alunos - e morre de rir. - Ela nem imagina o que a espera, não é mesmo? - e a equipe toda se diverte com a minha cara. Convidada a me sentar, aceito para não parecer antipática. Eles continuam a conversar como se eu não estivesse ali. Até que, finalmente, toca o sinal. É hora de começar a aula. Pego meu material e percebo que me olham curiosos para saber o que tenho dentro da mala. Antes que me perguntem, acelero o passo e sigo para a sala de aula. Entro e vejo um montão de olhinhos curiosos a me analisar que, em seguida, se voltam para a maleta. Eu a coloco em cima da mesa e a abro sem deixar que vejam o que há lá dentro. - O que tem aí, professora? - Em breve vocês saberão. No fim do dia, fecho a mala, junto minhas coisas e saio. No dia seguinte, me comporto da mesma maneira, e no outro e no noutro... As aulas correm bem e sinto que conquistei a classe, que participa com muito interesse. Os professores já não me encaram. A mala, porém, continua sendo alvo de olhares curiosos. Chego à escola no meu último dia de aula. A titular da turma voltará na semana seguinte. Na sala dos professores ouço a pergunta guardada há tantos dias: - Afinal, o que você guarda de tão mágico dentro dessa mala que conseguiu modificar a sala em tão pouco tempo? - Podem olhar - respondo, abrindo o fecho. - Mas não tem nada aí! - comentam. - O essencial é invisível aos olhos. Aqui guardo o meu melhor. Todos ficam me olhando. Parecem estar pensando no que eu disse. Pego meu material, me despeço e saio. Texto 20

Memórias de uma infância química (Trecho do Livro)

Oliver Sacks Muitas das minhas lembranças da infância têm relação com metais: eles parecem ter exercido poder sobre mim desde o início. Destacavam-se em meio à heterogeneidade do mundo por seu brilho e cintilação, pelos tons prateados, pela uniformidade e peso. Eram frios ao toque, retiniam quando golpeados. Eu adorava o amarelo do ouro, seu peso. Minha mãe tirava a aliança do dedo e me deixava pegá-la um pouco, comentando que aquele material se mantinha sempre puro e nunca perdia o brilho. "Está sentindo como é pesado?", ela acrescentava. "Mais pesado até do que o chumbo". Eu sabia o que era chumbo, pois já segurara os canos pesados e maleáveis que o encanador uma vez esquecera lá em casa. O ouro também era maleável, minha mãe explicou, por isso, em geral, o combinavam com outro material para torná-lo mais duro. O mesmo acontecia com o bronze. Bronze! - a palavra em si já me soava como um clarim, pois uma batalha era o choque valente de bronze contra bronze, espadas de bronze em escudos de bronze, o grande escudo de Aquiles. O cobre também podia ser combinado com zinco para produzir latão, acrescentou minha mãe. Todos nós - minha mãe, meus irmãos e eu - tínhamos nosso menorá de bronze para o Hanucá. (O de meu pai era de prata.) Eu conhecia o cobre - a reluzente cor rósea do grande caldeirão em nossa cozinha era cobre; o caldeirão era tirado do armário só uma vez

por ano, quando os marmelos e as maçãs ácidas amadureciam no pomar e minha mãe fazia geléias com eles. Eu conhecia o zinco - o pequeno chafariz fosco e levemente azulado onde os pássaros se banhavam no jardim era feito de zinco; e o estanho - a pesada folha-deflandres em que eram embalados os sanduíches para piquenique. Minha mãe me mostrou que, quando se dobrava estanho ou zinco, eles emitiam um "grito‖ espacial". "Isso é devido à deformação da estrutura cristalina", ela explicou, esquecendo que eu tinha 5 anos e por isso não a compreendia - mas ainda assim suas palavras me fascinavam, faziam-me querer saber mais. Havia um enorme rolo compressor de ferro fundido no jardim - pesava mais de 200 quilos, meu pai contou. Nós, crianças, mal conseguíamos movê-lo, mas meu pai era fortíssimo e conseguia erguê-lo do chão. O rolo estava sempre um pouco enferrujado, e isso me afligia - a ferrugem descascava, deixando pequenas cavidades e escamas -, porque eu temia que o rolo inteiro algum dia se esfarelasse pela corrosão, se reduzisse a uma massa de pó e flocos avermelhados. Eu tinha necessidade de ver os metais como estáveis, como é o ouro - capazes de resistir aos danos e estragos do tempo. Texto 21

Moinho de Sonhos João Anzanello Carrascoza

A mulher e o menino iam montados no cavalo; o homem ia ao lado, a pé. Andavam sem rumo havia semanas, até que deram numa aldeia à beira de um rio, onde as oliveiras vicejavam. Fizeram uma pausa e, como a gente ali era hospitaleira e a oferta de serviço abundante, resolveram ficar. O homem arranjou emprego num moinho próximo à aldeia. A mulher se juntou a outras que colhiam azeitonas em terras ao redor de um castelo. Levou consigo o menino que, no meio do caminho, achou um velho cabo de vassoura e fez dele o seu cavalo. Deu-lhe o nome de Rocinante. Ao chegar aos olivais, o pequeno encontrou o filho de outra colhedeira - um garoto que se exibia com um escudo e uma espada de pau. Os dois se observaram à distância. Cada um se manteve junto à sua mãe, sem saber como se libertar dela. Vigiavam-se. Era preciso coragem para se acercar. Mas meninos são assim: se há abismos, inventam pontes. De súbito, estavam frente a frente. Puseram-se a conversar, embora um e outro continuassem na sua. Logo esse já sabia o nome daquele: o menino recém-chegado se chamava Alonso; o outro, Sancho. Começaram a se misturar: - Deixa eu brincar com seu cavalo?, pediu Sancho. - Só se você me emprestar sua espada, respondeu Alonso. Iam se entendendo, apesar de assustados com a felicidade da nova companhia. Avançaram na entrega: - Tá vendo aquele moinho gigante?, apontou Alonso. Meu pai sozinho é que faz ele girar. - Seu pai deve ter braços enormes, disse Sancho. - Tem! Mas nem precisava, respondeu Alonso. Ele move o moinho com um sopro. Sancho achou graça. Também tinha uma proeza a contar: - Tá vendo o castelo ali?, apontou. Meu pai disse que o dono tem tanta terra que o céu não dá para cobrir ela toda. - E se a gente esticasse o céu como uma lona e cobrisse o que está faltando?, propôs Alonso. - Seria legal, disse Sancho. Mas ia dar um trabalhão. - Temos de crescer primeiro.

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- Bom, enquanto a gente cresce, vamos pensar num jeito de subir até o céu! - disse Alonso. - Vamos!, concordou Sancho. Sentaram-se na relva. O cavalo, a espada e o escudo entre os dois. Um sopro de vento passou por eles. Já eram amigos: moviam juntos o mesmo sonho. Texto 22

Uma lição inesperada João Anzanello Carrascoza

No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal, contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com eles, o coração latejando de alegria. Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos. Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas. Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele. Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.

Textos e Poemas para análise e estudo Iª unidade

Poesia Texto 01 (Prosa poética)

Andarilhos Francisco Marques

Andava pela estrada, sozinho. Um sol de rachar e os dois andando, sem parar. E andando, resolvidos, iam os três desenxabidos. Os quatro não andavam à toa: buscavam uma terra boa. Com os pés doendo de tanto andar, os cinco pararam para descansar. E os seis se deitaram, dormiram, sonharam... No meio da noite, os sete acordaram e se arrepiaram. Dezesseis olhos arregalados, brilhando, viram o rio iluminado, o chão iluminando. Cavando a terra, dezoito mãos traziam, com a respiração ofegante, dezenas de pedrinhas brilhantes. Depois de muito cavar, contar e reunir, os dez começaram a discutir. O centro da discussão era este: onze andarilhos podem suportar tantos brilhos? Uma dúzia de idéias diferentes, uma ou outra interessante, mas nenhuma idéia brilhante. Com as palavras doendo de tanto falar, os treze resolveram si-len-ci-ar. Deitados, silenciosos, os catorze buscavam uma nova rima, quando olharam para cima... Boquiabertos, ao som de quinze admirações, descobriram estrelas candentes, candentes em grandes porções e proporções. E aquelas dezesseis imaginações tropeçaram nas mesmas conclusões... As pedras são farelos de estrelas, dezessete vezes pensaram e dezessete vozes exclamaram. E declararam os dezoito andarilhos, acostumados a vagar de déu em

déu: Essa terra tem parentesco com o céu”. E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé e se estabelecer: De

agora em diante, aqui vamos morar, aqui vamos viver”. Vinte vezes festejaram, quando uma voz desfestejou: Continuarei

caminhando. Adeus. Já vou”. E deste que se foi, ligeirinho!, posso dizer apenas que ele. Andava pela estrada, sozinho.

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Texto 02

A chuva Arnaldo Antunes

A chuva derrubou as pontes. A chuva transbordou os rios.

A chuva molhou os transeuntes. A chuva encharcou as

praças. A chuva enferrujou as máquinas. A chuva enfureceu

as marés. A chuva e seu cheiro de terra. A chuva com sua

cabeleira. A chuva esburacou as pedras. A chuva alagou a

favela. A chuva de canivetes. A chuva enxugou a sede. A

chuva anoiteceu de tarde. A chuva e seu brilho

prateado. A

chuva de retas paralelas sobre a terra curva. A

chuva

destroçou os guarda-chuvas. A chuva durou muitos

dias. A

chuva apagou o incêndio. A chuva caiu. A chuva

derramou-se. A chuva murmurou meu nome. A chuva

ligou o

pára-brisa. A chuva acendeu os faróis. A chuva tocou a

sirene. A chuva com a sua crina. A chuva encheu a piscina.

A chuva com as gotas grossas. A chuva de pingos pretos.

A chuva açoitando as plantas. A chuva senhora da lama. A

chuva sem pena. A chuva apenas. A chuva empenou os

móveis. A chuva amarelou os livros. A chuva corroeu as

cercas. A chuva e seu baque seco. A chuva e seu ruído

de

vidro. A chuva inchou o brejo. A chuva pingou pelo

teto. A

chuva multiplicando insetos. A chuva sobre os

varais. A

chuva derrubando raios. A chuva acabou a luz. A

chuva

molhou os cigarros. A chuva mijou no telhado. A chuva

regou o gramado. A chuva arrepiou os poros. A chuva fez

muitas poças. A chuva secou ao sol.

Texto 03

Ema Manoel de Barros

Elas ficavam flanando, as emas. Nos pátios da fazenda. A gente sabia que as emas comem vidros, latas de sardinha, sabonetes, cobras, pregos. Falavam que elas têm moelas de alicate. Nossa mãe tinha medo que as emas comessem nossas cobertas de dormir e os vidros de

arnica da avó. Eu tinha vontade de botar cabresto na ema e sair pelos campos montado nela. A gente sabia que a ema quase voa no correr. E que quase dobra o vento no correr. Eu tinha vontade de dobrar o vento no correr. Texto 04

A Língua de Nhem Cecilia Meireles

Havia uma velhinha que andava aborrecida pois dava a sua vida para falar com alguém. E estava sempre em casa a boa velhinha resmungando sozinha: nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem... O gato que dormia no canto da cozinha escutando a velhinha, principiou também a miar nessa língua e se ela resmungava, o gatinho a acompanhava: nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem... Depois veio o cachorro da casa da vizinha, pato, cabra e galinha de cá, de lá, de além, e todos aprenderam a falar noite e dia naquela melodia nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem... De modo que a velhinha que muito padecia por não ter companhia nem falar com ninguém, ficou toda contente, pois mal a boca abria tudo lhe respondia: nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem... Texto 05

Uma Palmada Bem Dada Cecília Meireles

É a menina manhosa Que não gosta da rosa, Que não quer A borboleta Porque é amarela e preta, Que não quer maçã nem pêra Porque tem gosto de cera, Porque não toma leite Porque lhe parece azeite, Que mingau não toma Porque é mesmo goma, Que não almoça nem janta porque cansa a garganta, Que tem medo do gato

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E também do rato, E também do cão E também do ladrão, Que não calça meia Porque dentro tem areia Que não toma banho frio Porque sente arrepio, Que não toma banho quente Porque calor sente Que a unha não corta Porque fica sempre torta, Que não escova os dentes Porque ficam dormentes Que não quer dormir cedo Porque sente imenso medo, Que também tarde não dorme Porque sente um medo enorme, Que não quer festa nem beijo, Nem doce nem queijo. Ó menina levada, Quer uma palmada? Uma palmada bem dada Para quem não quer nada! Texto 06

PARÊMIA DE CAVALO Carlos Drummond de Andrade

Cavalo ruano corre todo o ano Cavalo baio mais veloz que o raio Cavalo branco veja lá se é manco Cavalo pedrês compro dois por mês Cavalo rosilho quero com filho Cavalo alazão a minha paixão Cavalo inteiro amanse primeiro Cavalo de sela mas não pra donzela Cavalo preto chave de soneto Cavalo de tiro não rincho, suspiro Cavalo de circo não corre uma vírgula Cavalo de raça rolo de fumaça Cavalo de pobre é vintém de cobre Cavalo baiano eu dou pra fulano Cavalo paulista não abaixa a crista Cavalo mineiro dizem que é matreiro Cavalo do sul chispa até no azul Cavalo inglês fica pra outra vez.

Texto 06

No banco de jardim Carlos Drummond de Andrade

No banco de jardim, o tempo se desfaz e resta entre ruídos a corola de paz. . No banco de jardim, a sombra se adelgaça e entre besouro e concha de segredo, o anjo passa. .

No banco de jardim, o cosmo se resume em serena parábola, impressentido lume. Texto 07

CASO PLUVIOSO Carlos Drummond de Andrade

A chuva me irritava. Até que um dia descobri que Maria é que chovia. A chuva era Maria. E cada pingo de Maria ensopava o meu domingo. E meus ossos molhando, me deixava como terra que a chuva lavra e lava. Eu era todo barro, sem verdura... Maria, chuvosíssima criatura! Ela chovia em mim, em cada gesto, pensamento, desejo, sono, e o resto. Era chuva fininha e chuva grossa, matinal e noturna, ativa...Nossa! Não me chovas, Maria, mais que o justo chuvisco de um momento, apenas susto. Não me inundes de teu líquido plasma, não sejas tão aquático fantasma! Eu lhe dizia em vão - pois que Maria quanto mais eu rogava, mais chovia. E chuveirando atroz em meu caminho, o deixava banhado em triste vinho, que não aquece, pois água de chuva mosto é de cinza, não de boa uva. Chuvadeira Maria, chuvadonha, chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha! Eu lhe gritava: Pára! E ela chovendo, poças d’água gelada ia tecendo. Choveu tanto Maria em minha casa que a correnteza forte criou asa e um rio se formou, ou mar, não sei, sei apenas que nele me afundei. E quanto mais as ondas me levavam, as fontes de Maria mais chuvavam, de sorte que com pouco, e sem recurso, as coisas se lançaram no seu curso, e eis o mundo molhado e sovertido sob aquele sinistro e atro chuvido. Os seres mais estranhos se juntando na mesma aquosa pasta iam clamando contra essa chuva estúpida e mortal catarata (jamais houve outra igual). Anti-petendam cânticos se ouviram. Que nada! As cordas d’água mais deliram, e Maria, torneira desatada, mais se dilata em sua chuvarada. Os navios soçobram. Continentes já submergem com todos os viventes, e Maria chovendo. Eis que a essa altura, delida e fluida a humana enfibratura, e a terra não sofrendo tal chuvência, comoveu-se a Divina Providência, e Deus, piedoso e enérgico, bradou: Não chove mais, Maria! - e ela parou.

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Texto 08

Infância Carlos Drummond de Andrade

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras. lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu...Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro...que fundo! Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé. Texto 09

Uma festa Clarice Pacheco

Uma alegria contagiante no ar As luzes coloridas a brilhar Uma música da moda a tocar Todos animados a dançar Pelo jeito ninguém quer parar Esse momento mágico querem aproveitar Ruim é saber que isso uma hora vai acabar A magia vai cessar A música vai se calar A luz vai desligar O sol vai raiar Um dia normal vai começar! Texto 10

Poesia por acaso Clarice Pacheco

Sem inspiração estou agora. Tento atiçar a imaginação, mas ela demora. Não consigo pensar em algo que faça rimas. É como querer acertar o alvo com a flecha apontada para cima. Não acho um bom assunto que se organize bem em versos. Mesmo sabendo que no mundo há mil assuntos diversos.

Que coisa chata, não consigo imaginar. Isso quase me mata, porque é horrível não poder pensar. Mas espere um momento, mesmo não tendo um tema, se estas frases vou relendo, vejo que é um poema! Texto 11

Você faz a paz Clarice Pacheco

Procure uma posição confortável, acomode-se. Fique em silêncio, feche os olhos, concentre-se. Lentamente, respire fundo. Relaxe, pense no mundo. Atinja o nível mais alto do pensamento. Sinta o que falta aos seres humanos, neste momento. Analise a situação atual da humanidade e em como você pode colaborar mesmo com pouca idade. Imagine um mundo sem ira, sem ódio, sem inveja e sem maldade. Só a honra de cada cada cidadão cumprindo seus direitos e deveres com serenidade. Pense na paz em plenitude e em como alcançá-la com certas atitudes. É tão fácil e seria maravilhoso Qualquer um pode colaborar com um comportamento honroso. Torne isso uma realidade. Então verá que só assim a vida tem sentido de verdade. Cumpra pelo menos você a sua parte e proporcione paz. E verá a felicidade que isso traz. Texto 12

Quando rever é reviver Clarice Pacheco

Preciso reviver, eu bem sei, mesmo que só na lembrança, voltar à minha antiga casa, rever a minha infância e todos os momentos felizes que lá passei. Texto 13

O verdadeiro amigo Clarice Pacheco

Compreenda. Releve. Nunca abandone o verdadeiro amigo. Ele pode nem estar ao seu lado agora. Mas certamente, estará sempre contigo. Texto 13

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Olhares Clarice Pacheco

Quantas coisas cabem em um olhar! É tão expressivo, é como falar. Texto 14

Um lugar Clarice Pacheco

Há um lugar onde as flores crescem em poucas horas, a cantar os pássaros fazem ninhos em árvores de amoras, sem demorar o sol aparece iluminando campo afora, a brilhar as estrelas infestam o céu de aurora, vou lhe contar nesse lugar, acredite, ninguém se entristece nem chora, quem ali chegar não quer mais ir embora, mas tem que lamentar pois esse lugar não existe mais agora.

Anote

GRANDES AUTORES DA LITERATURA BRASILEIRA

PATATIVA DO ASSARÉ Antônio Gonçalves da Silva, dito Patativa do Assaré, nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará. É o segundo filho de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Foi casado com D. Belinha, de cuja união nasceram nove filhos. Publicou

Inspiração Nordestina, em 1956, Cantos de Patativa, em 1966. Em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do Assaré. Tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais. Está sendo estudado na Sorbonne, na cadeira da Literatura Popular Universal, sob a regência do Professor Raymond Cantel. Patativa do Assaré era unanimidade no papel de poeta mais popular do Brasil. Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. 'Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão', declamava. Cresceu ouvindo histórias, os ponteios da viola e folhetos de cordel. Em pouco tempo, a fama de menino violeiro se espalhou. Com oito anos trocou uma ovelha do pai por uma viola. Dez anos depois, viajou para o Pará e enfrentou muita peleja com cantadores. Quando voltou, estava consagrado: era o Patativa do Assaré. Nessa época os poetas populares vicejavam e muitos eram chamados de 'patativas' porque viviam cantando versos. Ele era apenas um deles. Para ser melhor identificado, adotou o nome de sua cidade. Filho de pequenos proprietários rurais, Patativa, nascido Antônio Gonçalves da Silva em Assaré, a 490 quilômetros de Fortaleza, inspirou músicos da velha e da nova geração e rendeu livros, biografias, estudos em universidades estrangeiras e peças de teatro. Também pudera. Ninguém soube tão bem cantar em verso e prosa os contrastes do sertão nordestino e a beleza de sua natureza. Talvez por isso, Patativa ainda influencie a arte feita hoje. O grupo pernambucano da nova geração 'Cordel do Fogo Encantado' bebe na fonte do poeta para compor suas letras. Luiz Gonzaga gravou muitas músicas dele, entre elas a que lançou Patativa comercialmente, 'A triste partida'. Há até quem compare as rimas e maneira de descrever as diferenças sociais do Brasil com as músicas do rapper carioca Gabriel Pensador. No teatro, sua vida foi tema da peça infantil 'Patativa do Assaré - o cearense do século', de Gilmar de Carvalho, e seu poema 'Meu querido jumento', do espetáculo de mesmo nome de Amir Haddad. Sobre sua vida, a obra mais recente é 'Poeta do Povo - Vida e obra de Patativa do Assaré' (Ed. CPC-Umes/2000), assinada pelo jornalista e pesquisador Assis Angelo, que reúne, além de obras inéditas, um ensaio fotográfico e um CD. Como todo bom sertanejo, Patativa começou a trabalhar duro na enxada ainda menino, mesmo tendo perdido um olho aos 4 anos. No livro 'Cante lá que eu canto cá', o poeta dizia que no sertão enfrentava a fome, a dor e a miséria, e que para 'ser poeta de vera é preciso ter sofrimento'. Patativa só passou seis meses na escola. Isso não o impediu de ser Doutor Honoris Causa de pelo menos três universidades. Não teve estudo, mas discutia com maestria a arte de versejar. Desde os 91 anos de idade com a saúde abalada por uma queda e a memória começando a faltar, Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua

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vida, 'já disse tudo que tinha de dizer'. Patativa morreu em 08 de julho de 2002 na cidade que lhe emprestava o nome. Por Eliene Percilia

Patativa do Assaré, o príncipe agreste da poesia (13 de julho de 2002, Caderno 2)

JOSÉ NÊUMANNE A poesia sertaneja brota do chão - esturricado, quando submetido à inclemência dos longos períodos de estiagem, ou virado barro pegajoso depois de chuva. Feito milho, feijão e mandioca, da qual se extrai a farinha, que também nascem no solo do sertão, ela tem lá seus aspectos nutrientes: mata a fome de beleza no meio da paisagem cinzenta e esquálida. É épica, ao narrar proezas de valentes. Lírica, de um lirismo pungente, quando tece loas ao amor ou se debruça sobre a saga de uma raça que sobrevive heroicamente em sua luta contra as intempéries da natureza, luta que quase sempre termina em retirada, na repetição cíclica do êxodo bíblico. É feita para a dor do lamento e o gozo do riso. O poeta sertanejo é familiarizado com ritmos e cadências - há pouca diferença entre poesia e canto, embora seu cantar seja monocórdio, a palo seco, sem muita graça para ouvidos que a ele não estejam habituados. Que não se exija do poeta perícias de esgrimista da linguagem nem habilidades de pesquisador da semântica. Sua poesia serve a sua gente: descreve sua vida, ou seja seu convívio com a paisagem ou com outros viventes. Só quem entender isso plenamente vai ser capaz de também compreender a importância de Patativa do Assaré na poesia brasileira contemporânea. O nome artístico adotado pelo cearense Antônio Gonçalves da Silva é o primeiro passo para tanto. Patativa é uma ave canora e Assaré, o lugar ermo onde nasceu, se criou e viveu a vida inteira. Cantos de Patativa, título de sua obra de estréia, da mesma forma, expressa com clareza o que pretende e a que se apresenta - trata-se de um manifesto curto, que não admite desvios nem tergiversações. O poeta, como o pássaro, canta e tem de cantar bonito, com ritmo e precisão, além de exibir ao ouvinte as ricas cores de sua plumagem. Patativa de Assaré não pertenceu à estirpe dos repentistas, cantadores e violeiros que improvisam em diversos modos (gêneros poéticos) noites a fio para diversão de quem se reúna para ouvi-los. Mas, sim, a um tipo intermediário entre o improvisador de desafios e o poeta erudito, o tal poeta matuto: compõe seus versos escritos nos moldes dos poemas clássicos com padrões de rima e métrica bem definidos, mas usa uma linguagem simples, quase um dialeto, com o qual se comunica diretamente com o homem comum, o roceiro (que ou ficou no campo árido ou fugiu para a periferia dos centros urbanos próximos ou distantes de seu lugar de origem). Sua obra, a meio caminho entre o improviso e a elaboração erudita, é impressa, encadernada e costurada em livros, sendo o mais famoso deles o Cante lá Que Eu Canto cá, editado pela Vozes de Petrópolis em 1978 e já na 11.ª edição. Ele também é um poeta de bancada, ou seja, escreveu folhetos de cordel, gênero ao mesmo tempo escrito e oral de poesia, contendo narrativas de grandes feitos, casos de amor ou simples palhaçadas em folhetos impressos pelos próprios autores que os narram eles mesmos, como muezins que cantam as orações nas mesquitas muçulmanas, em alto-falantes e megafones nas feiras livres do interior nordestino. É de sua autoria uma interessante adaptação do conto das Mil e Uma Noites História de Aladim e da Lâmpada Maravilhosa. E de sua lavra, a saga política do Padre Henrique e o Dragão da Maldade. Poeta de livro e folheto, Patativa também se dedicou à composição, musicando poemas de sua própria lavra, alguns dos quais se tornaram grandes sucessos de público - como foi o caso de Triste Partida, na voz de Luiz Gonzaga, e Vaca Estrela e Boi Fubá, uma de suas toadas

gravadas pelo amigo, conterrâneo e grande divulgador Raimundo Fagner. A composição musical, bem diferente do improviso poético dos violeiros, foi seu jeito de romper os limites do desprezo e do desconhecimento das grandes platéias urbanas em relação à incompreendida poesia matuta, gênero do qual foi tão príncipe (como se dizia antigamente dos melhores poetas) quanto Seu Lua foi Rei do Baião.

Complementando...

Cordel A literatura de cordel é uma espécie de poesia popular que é impressa

e divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura. Ganhou este nome, pois, em Portugal, eram expostos ao povo

amarrados em cordões, estendidos em pequenas lojas de mercados populares ou até mesmo nas ruas.

Cronologia do Patativa do Assaré 1909 - nasce dia 5 de março, na Serra de Santana (Assaré), Antônio Gonçalves da Silva, Patativa do Assaré. É o segundo filho de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva, pequenos proprietários rurais 1913 - Fica cego de um olho em decorrência de uma doença 1917 - Morte do pai, a 28 de março. A pequena propriedade da família, na Serra de Santana é dividida entre os filhos José, Antonio, Joaquim, Pedro, Maria e Mercês 1921 - vai para a escola aos 12 anos, onde passa quatro meses. É alfabetizado por meio do livro de Felisberto de Carvalho. Mantém o trabalho na agricultura 1922 a 1923 - começa a fazer os primeiros versos sobre brincadeiras de noite de São João, queima de Judas, plantio das roças, etc 1925 - vende uma ovelha para comprar a primeira viola. Passa a se apresentar nos sítios e festas da região 1928 - viaja para Belém (Pará), com o primo da mãe, José Alexandre Montoril, que já morava lá. Patativa fica cinco meses em Belém. É lá onde ganha de José Carvalho de Brito, jornalista e advogado do Crato, radicado na capital paraense, o epíteto de Patativa. Apresenta-se nas ``colônias'', núcleos de nordestinos que migraram para o Pará. Faz o percurso, pela da linha férrea, de Belém a Bragança 1929 - de volta ao Ceará, visita a Casa de Juvenal Galeno, onde se apresenta em noite festiva e tem o privilégio de conhecer o poeta das ``Lendas e Canções Populares'' 1931 - citado no livro ``O matuto cearense e o caboclo do Pará'', de José Carvalho, que relembra o episódio do encontro com o jovem poeta 1936 - casa-se, dia 6 de janeiro, com Belarmina Paes Cidrão, a dona Belinha, com quem teve 14 filhos, dos quais sete morreram 1940 - apresenta-se com violeiros, como João Alexandre, nos sítios e festas do Cariri 1955 - conhece José Arraes de Alencar, que toma a iniciativa de transcrever seus poemas por meio de Moacir Mota, filho de Leonardo Mota 1956 - publicação de Inspiração Nordestina, por Borsi Editor, do Rio de Janeiro, reeditado em 1967 1962 - apresenta-se no São João Popular, no sítio Trindade, em Recife, promovido pela administração Miguel Arraes 1964 - Luiz Gonzaga grava A Triste Partida, poema de Patativa 1966 - lançado o livro Cantos de Patativa 1970 - publicação de Patativa do Assaré - Novos Poemas Comentados, de J. de Figueiredo Filho

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Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo. A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.

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1972 - Raimundo Fagner musica e grava Sina, no disco Manera Fru-Fru, poema cuja autoria não lhe foi atribuída 1973 - é atropelado na avenida Duque de Caxias, em Fortaleza, dia 13 de agosto. O acidente deixou seqüelas e ainda hoje Patativa usa perna mecânica 1978 - lançado Cante lá que eu canto cá, pela Editora Vozes 1979 - passa a residir em Assaré, à rua Coronel Onofre, 27, Praça da Matriz - homenageado pela programação cultural do encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Fortaleza - grava o disco Poemas e Canções - participa da campanha pela Anistia aos presos políticos brasileiros - atua em Patativa do Assaré, filme super-8 de Rosemberg Cariry - participa da Massafeira Livre, de 15 a 18 de março, no Theatro José de Alencar, show lançado em disco pela Epic (CBS), no ano seguinte 1980 - Fagner grava Vaca Estrela e Boi Fubá (CBS) 1981 - lança o disco A terra é naturá - apresenta-se no programa Som Brasil, da Rede Globo, dia 31 de outubro 1984 - participa da campanha pelas Diretas - Já e sobe ao palanque, em Fortaleza, para dizer poemas, ao lado de lideranças políticas nacionais - publicação de O metapoema em Patativa do Assaré: uma introdução ao pensamento literário do poeta, de Francisco de Assis Brito, pela Faculdade de Filosofia do Crato - Vídeo Patativa do Assaré, realizado pelo projeto Experimental dos alunos do Curso de Comunicação Social da UFC, com apoio da Tv Educativa - Patativa do Assaré - Um Poeta do Povo, filme de Jefferson Albuquerque Jr. e Rosemberg Cariry, em 16mm, ampliado para 35mm, em cores 1985 - faz a letra de Seca d'Água, criação coletiva para angariar fundos para as vítimas das enchentes, que assolaram o Nordeste naquele ano - lança o disco Patativa do Assaré, um projeto cultural do Banco do Estado do Ceará 1986 - apóia a candidatura de Tasso jereissati ao governo do Estado. 1988 - publica o livro Ispinho e Fulô, pela Imprensa Oficial do Ceará - submetido a cirurgia em clínica oftalmológica de Campinas (SP) 1989 - seminário 80 anos de Patativa do Assaré, promoção da Urca - lança o disco Canto Nordestino - apresentação de Patativa do Assaré e Théo Azevedo, no teatro das Nações (Avenida São João, 1737), em São Paulo - evento Patativa do Assaré - 80 anos de vida e poesia, dia 30 de novembro, no BNB Clube, em Fortaleza - apresentação de Patativa do Assaré com Fagner, no Memorial da América Latina, em São Paulo, de 7 a 9 de dezembro. 1990 - participação no evento Fortaleza das Violas, no BNB Clube, em Fortaleza, dias 26 e 27 de janeiro, como convidado especial, juntamente com Otacílio Batista e Geraldo Amâncio - lançamento do disco Patativa do Assaré - 80 Anos de Luz, com apoio da Prefeitura Municipal de Assaré, Urca, Secretaria da Cultura do Estado e Associação dos Artistas e Amigos da Arte, de Juazeiro do Norte - lançado o disco Canção Nordestina, com poemas musicados por Cleivan Paiva 1991 - lança o livro Balceiro, organizado por ele e por Geraldo Gonçalves, que reúne parte da produção dos poetas de Assaré, publicado pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult)/Ioce 1993 - participa da novela Renascer, da Rede Globo de Televisão - entrevistado pelo programa Jô Onze e Meia, do SBT

- lança a caixa Cordéis do Patativa'', editada pela Secult, com apoio da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, na Casa de Juvenal Galeno, em Fortaleza, dia 20 de novembro 1994 - lança o livro Aqui tem coisa, na I Feira Brasileira do Livro de Fortaleza - documentário O Vôo da Patativa, com roteiro de Oswaldo Barroso e direção de Ronaldo Nunes, produzido pela TV Ceará - grava o disco Patativa 85 Anos de Luz e Poesia - evento Patativa do Assaré - 85 anos de Fidelidade e Amor à Poesia e a sua Gente'', dias 4 e 5 de março, em Assaré - morte de dona Belinha, dia 15 de maio 1995 - lançamento de Patativa e o Universo Fascinante do Sertão, de Plácido Cidade Nuvens 1997 - seminário 88 anos de Patativa do Assaré, promovido pela Urca e Secretaria da Cultura do Estado, no Crato - lançamento do CD Patativa 88 anos de Poesia - inauguração da Rádio Comunitária Patativa do Assaré, em sua cidade natal - defesa da dissertação A linguagem regional popular na obra de Patativa do Assaré, de Maria Silvana Militão de Alencar, no Mestrado em Lingüística e Ensino da Língua Portuguesa da UFC, dia 5 de dezembro de 1997, sob a orientação de Maria do Socorro Silva de Aragão 1998 - álbum de xilogravuras Patativa - Vida Poesia, com 16 matizes em umburana, de autoria de José Lourenço Gonzaga - sessão solene da Assembléia Legislativa do estado de São Paulo, dia 10 de agosto, em homenagem aos noventa anos de Patativa do Assaré. Transcrita no volume 108, número 166, do dia 1 de setembro de 1998, do Diário Oficial do Estado de São Paulo - inauguração, dia 1° de outubro, da exposição De um pingo d'água um oceano de rimas, em homenagem a seus 90 anos na III Feira Brasileira do Livro de Fortaleza - homenageado pela Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará, com a impressão de um calendário referente a 1999, com projeto gráfico de Evandro Abreu e xilogravuras de José Lourenço. Peça escolhida em concurso público 1999 - festa de aniversário, com a inauguração do Memorial Patativa do Assaré, em sua cidade natal Fonte: Banco de Dados do O POVO e Arquivo do professor Gilmar de Carvalho

Poemas de Patativa do Assaré

Antônio Conselheiro Patativa do Assaré

Cada um na vida tem seu direito de julgar. Como tenho o meu também, com razão quero falar Nestes meus verso singelos , mas de sentimentos belos Sobre um grande brasileiro, cearense, meu conterrâneo. Líder sensato, espontâneo, nosso Antônio Conselheiro Este cearense nasceu lá em Quixeramobim. Sei eu sei como ele viveu , sei como foi o seu fim. Quando em Canudos chegou, com amor organizou Um ambiente comum, sem enredos nem engodos, Ali era um por todos e eram todos por um Não pode ser justiceiro e nem verdadeiro é O que diz seu conselheiro , enganava a boa fé O conselheiro queria acabar com a anarquia Do grande contra o pequeno. Pregava no seu sermão Aquela mesma missão que pregava o nazareno.

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Com a sua simpatia, honestidade e brio Ele criou na Bahia um ambiente sadio Onde vivia tranqüilo, ensinando tudo aquilo Que a moral cristã encerra. Defendendo os desgraçado Do julgo dos potentados, dominadores da terra. Seguindo um caminho novo, mostrando a luz da verdade, Incutia entre o seu povo, amor e fraternidade Em favor do bem comum, ajudava a cada um Foi trabalhador e ordeiro, derramando o seu suor. Foi ele o líder maior do nordeste brasileiro. Sem haver contrariedade, explicava muito bem Aquelas mesmas verdades que o santo Evangelho tem. Calado em sua missão contra a feia exploração E assim, evangelizando, com um progresso estupendo Canudos ia crescendo e a notícia se espalhando. O pobrezinho agregado e o explorado parceiro, Cada qual ia apressado recorrer ao Conselheiro E o líder recebia muita gente todo dia. Assim, Fazendo os seus planos, na luta não fracassava Porque sabia que estava com os direitos humanos. Mediante a sua instrução, naquela sociedade Reinava paz e união dentro do grau de igualdade Com a palavra de Deus ele conduzia os seus Era um movimento humano de feição socialista, Pois não era monarquista, nem era republicano Desta forma, na Bahia, crescia a comunidade E ao mesmo tempo crescia uma bonita cidade Já Antônio Conselheiro sonhava com o luzeiro Da aurora da nova vida. Era qual outro Moisés, Conduzindo os seus fiéis para a terra prometida E assim, bem acompanhado, os planos a resolver Foi mais tarde censurado pelos donos do poder O taxaram de fanático, e um caso triste e dramático Se deu naquele local. O poder se revoltou E Canudos terminou numa guerra social. Da catástrofe sem pá o Brasil já tá ciente Não é preciso contar pormenorizadamente tudo quanto aconteceu. O que Canudos sofreu nós guardados na memória Aquela grande chacina, a grande carnificina Que entristece a nossa história E andar pela Bahia, chegando ao dito local Onde aconteceu um dia o drama triste e fatal, Parece ouvir os gemidos entre os roncos e estampidos. E em benefício dos seus , no momento derradeiro O nosso herói brasileiro pedindo justiça a Deus.

Caboclo Roceiro Patativa do Assaré

Caboclo Roceiro, das plaga do Norte Que vive sem sorte, sem terra e sem lar, A tua desdita é tristonho que canto, Se escuto o meu pranto me ponho a chorar Ninguém te oferece um feliz lenitivo És rude e cativo, não tens liberdade. A roça é teu mundo e também tua escola. Teu braço é a mola que move a cidade De noite tu vives na tua palhoça De dia na roça de enxada na mão Julgando que Deus é um pai vingativo, Não vês o motivo da tua opressão

Tu pensas, amigo, que a vida que levas De dores e trevas debaixo da cruz E as crides constantes, quais sinas e espadas São penas mandadas por nosso Jesus Tu és nesta vida o fiel penitente Um pobre inocente no banco do réu. Caboclo não guarda contigo esta crença A tua sentença não parte do céu. O mestre divino que é sábio profundo Não faz neste mundo teu fardo infeliz As tuas desgraças com tua desordem Não nascem das ordens do eterno juiz A lua se apaga sem ter empecilho, O sol do seu brilho jamais te negou Porém os ingratos, com ódio e com guerra, Tomaram-te a terra que Deus te entregou De noite tu vives na tua palhoça De dia na roça , de enxada na mão Caboclo roceiro, sem lar , sem abrigo, Tu és meu amigo, tu és meu irmão.

Cante Lá Que Eu Canto Cá Patativa do Assaré

Poeta, cantô de rua, Que na cidade nasceu, Cante a cidade que é sua, Que eu canto o sertão que é meu. Se aí você teve estudo, Aqui, Deus me ensinou tudo, Sem de livro precisá Por favô, não mêxa aqui, Que eu também não mexo aí, Cante lá, que eu canto cá. Você teve inducação, Aprendeu munta ciença, Mas das coisa do sertão Não tem boa esperiença. Nunca fez uma paioça, Nunca trabaiou na roça, Não pode conhecê bem, Pois nesta penosa vida, Só quem provou da comida Sabe o gosto que ela tem. Pra gente cantá o sertão, Precisa nele morá, Tê armoço de fejão E a janta de mucunzá, Vivê pobre, sem dinhêro, Socado dentro do mato, De apragata currelepe, Pisando inriba do estrepe, Brocando a unha-de-gato. Você é muito ditoso, Sabe lê, sabe escrevê, Pois vá cantando o seu gozo, Que eu canto meu padecê. Inquanto a felicidade

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Você canta na cidade, Cá no sertão eu infrento A fome, a dô e a misera. Pra sê poeta divera, Precisa tê sofrimento. Sua rima, inda que seja Bordada de prata e de ôro, Para a gente sertaneja É perdido este tesôro. Com o seu verso bem feito, Não canta o sertão dereito, Porque você não conhece Nossa vida aperreada. E a dô só é bem cantada, Cantada por quem padece. Só canta o sertão dereito, Com tudo quanto ele tem, Quem sempre correu estreito, Sem proteção de ninguém, Coberto de precisão Suportando a privação Com paciença de Jó, Puxando o cabo da inxada, Na quebrada e na chapada, Moiadinho de suó. Amigo, não tenha quêxa, Veja que eu tenho razão Em lhe dizê que não mêxa Nas coisa do meu sertão. Pois, se não sabe o colega De quá manêra se pega Num ferro pra trabaiá, Por favô, não mêxa aqui, Que eu também não mêxo aí, Cante lá que eu canto cá. Repare que a minha vida É deferente da sua. A sua rima pulida Nasceu no salão da rua. Já eu sou bem deferente, Meu verso é como a simente Que nasce inriba do chão; Não tenho estudo nem arte, A minha rima faz parte Das obra da criação. Mas porém, eu não invejo O grande tesôro seu, Os livro do seu colejo, Onde você aprendeu. Pra gente aqui sê poeta E fazê rima compreta, Não precisa professô; Basta vê no mês de maio, Um poema em cada gaio E um verso em cada fulô. Seu verso é uma mistura,

É um tá sarapaté, Que quem tem pôca leitura Lê, mais não sabe o que é. Tem tanta coisa incantada, Tanta deusa, tanta fada, Tanto mistéro e condão E ôtros negoço impossive. Eu canto as coisa visive Do meu querido sertão. Canto as fulô e os abróio Com todas coisa daqui: Pra toda parte que eu óio Vejo um verso se bulí. Se as vêz andando no vale Atrás de curá meus male Quero repará pra serra Assim que eu óio pra cima, Vejo um divule de rima Caindo inriba da terra. Mas tudo é rima rastêra De fruita de jatobá, De fôia de gamelêra E fulô de trapiá, De canto de passarinho E da poêra do caminho, Quando a ventania vem, Pois você já tá ciente: Nossa vida é deferente E nosso verso também. Repare que deferença Iziste na vida nossa: Inquanto eu tô na sentença, Trabaiando em minha roça, Você lá no seu descanso, Fuma o seu cigarro mando, Bem perfumado e sadio; Já eu, aqui tive a sorte De fumá cigarro forte Feito de paia de mio. Você, vaidoso e facêro, Toda vez que qué fumá, Tira do bôrso um isquêro Do mais bonito metá. Eu que não posso com isso, Puxo por meu artifiço Arranjado por aqui, Feito de chifre de gado, Cheio de argodão queimado, Boa pedra e bom fuzí. Sua vida é divirtida E a minha é grande pená. Só numa parte de vida Nóis dois samo bem iguá: É no dereito sagrado, Por Jesus abençoado Pra consolá nosso pranto, Conheço e não me confundo

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Da coisa mió do mundo Nóis goza do mesmo tanto. Eu não posso lhe invejá Nem você invejá eu, O que Deus lhe deu por lá, Aqui Deus também me deu. Pois minha boa muié, Me estima com munta fé, Me abraça, beja e qué bem E ninguém pode negá Que das coisa naturá Tem ela o que a sua tem. Aqui findo esta verdade Toda cheia de razão: Fique na sua cidade Que eu fico no meu sertão. Já lhe mostrei um ispeio, Já lhe dei grande conseio Que você deve tomá. Por favô, não mexa aqui, Que eu também não mêxo aí, Cante lá que eu canto cá.

O Poeta da Roça Patativa do Assaré

Sou fio das mata, cantô da mão grosa Trabaio na roça, de inverno e de estio A minha chupana é tapada de barro Só fumo cigarro de paia de mio. Sou poeta das brenha, não faço o papé De argum menestrê, ou errante cantô Que veve vagando, com sua viola, Cantando, pachola, à percura de amô. Não tenho sabença, pois nunca estudei, Apenas eu seio o meu nome assiná. Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre, E o fio do pobre não pode estudá. Meu verso rastero, singelo e sem graça, Não entra na praça, no rico salão, Meu verso só entra no campo da roça e dos eito E às vezes, recordando feliz mocidade, Canto uma sodade que mora em meu peito.

Triste Partida Patativa do Assaré

Meu Deus, meu Deus. . . Setembro passou Outubro e Novembro Já tamo em Dezembro Meu Deus, que é de nós, Meu Deus, meu Deus Assim fala o pobre Do seco Nordeste Com medo da peste

Da fome feroz Ai, ai, ai, ai A treze do mês Ele fez experiência Perdeu sua crença Nas pedras de sal, Meu Deus, meu Deus Mas noutra esperança Com gosto se agarra Pensando na barra Do alegre Natal Ai, ai, ai, ai Rompeu-se o Natal Porém barra não veio O sol bem vermeio Nasceu muito além Meu Deus, meu Deus Na copa da mata Buzina a cigarra Ninguém vê a barra Pois a barra não tem Ai, ai, ai, ai Sem chuva na terra Descamba Janeiro, Depois fevereiro E o mesmo verão Meu Deus, meu Deus Entonce o nortista Pensando consigo Diz: "isso é castigo não chove mais não" Ai, ai, ai, ai Apela pra Março Que é o mês preferido Do santo querido Senhor São José Meu Deus, meu Deus Mas nada de chuva Tá tudo sem jeito Lhe foge do peito O resto da fé Ai, ai, ai, ai Agora pensando Ele segue outra tria Chamando a famia Começa a dizer Meu Deus, meu Deus Eu vendo meu burro Meu jegue e o cavalo Nós vamos a São Paulo Viver ou morrer Ai, ai, ai, ai Nós vamos a São Paulo Que a coisa tá feia Por terras alheia Nós vamos vagar

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Meu Deus, meu Deus Se o nosso destino Não for tão mesquinho Cá e pro mesmo cantinho Nós torna a voltar Ai, ai, ai, ai E vende seu burro Jumento e o cavalo Inté mesmo o galo Venderam também Meu Deus, meu Deus Pois logo aparece Feliz fazendeiro Por pouco dinheiro Lhe compra o que tem Ai, ai, ai, ai Em um caminhão Ele joga a famia Chegou o triste dia Já vai viajar Meu Deus, meu Deus A seca terrível Que tudo devora Lhe bota pra fora Da terra natá Ai, ai, ai, ai O carro já corre No topo da serra Oiando pra terra Seu berço, seu lar Meu Deus, meu Deus Aquele nortista Partido de pena De longe acena Adeus meu lugar Ai, ai, ai, ai No dia seguinte Já tudo enfadado E o carro embalado Veloz a correr Meu Deus, meu Deus Tão triste, coitado Falando saudoso Seu filho choroso Exclama a dizer Ai, ai, ai, ai De pena e saudade Papai sei que morro Meu pobre cachorro Quem dá de comer? Meu Deus, meu Deus Já outro pergunta Mãezinha, e meu gato? Com fome, sem trato Mimi vai morrer Ai, ai, ai, ai

E a linda pequena Tremendo de medo "Mamãe, meus brinquedo Meu pé de fulô?" Meu Deus, meu Deus Meu pé de roseira Coitado, ele seca E minha boneca Também lá ficou Ai, ai, ai, ai E assim vão deixando Com choro e gemido Do berço querido Céu lindo azul Meu Deus, meu Deus O pai, pesaroso Nos filho pensando E o carro rodando Na estrada do Sul Ai, ai, ai, ai Chegaram em São Paulo Sem cobre quebrado E o pobre acanhado Procura um patrão Meu Deus, meu Deus Só vê cara estranha De estranha gente Tudo é diferente Do caro torrão Ai, ai, ai, ai Trabaia dois ano, Três ano e mais ano E sempre nos prano De um dia vortar Meu Deus, meu Deus Mas nunca ele pode Só vive devendo E assim vai sofrendo É sofrer sem parar Ai, ai, ai, ai Se arguma notícia Das banda do norte Tem ele por sorte O gosto de ouvir Meu Deus, meu Deus Lhe bate no peito Saudade lhe molho E as água nos óio Começa a cair Ai, ai, ai, ai Do mundo afastado Ali vive preso Sofrendo desprezo Devendo ao patrão Meu Deus, meu Deus O tempo rolando Vai dia e vem dia

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E aquela famia Não vorta mais não Ai, ai, ai, ai Distante da terra Tão seca mas boa Exposto à garoa À lama e o paú Meu Deus, meu Deus Faz pena o nortista Tão forte, tão bravo Viver como escravo No Norte e no Sul Ai, ai, ai, ai

Vaca Estrela e Boi Fubá Patativa do Assaré

Seu doutor me dê licença pra minha história contar. Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar. Eu tinha cavalo bom e gostava de campear. E todo dia aboiava na porteira do curral. Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Eu sou filho do Nordeste , não nego meu naturá Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar, Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá Quando era de tardezinha eu começava a aboiar Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Aquela seca medonha fez tudo se atrapalhar, Não nasceu capim no campo para o gado sustentar O sertão esturricou, fez os açude secar Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Hoje nas terra do sul, longe do torrão natá Quando eu vejo em minha frente uma boiada passar, As água corre dos olho, começo logo a chorá Lembro a minha Vaca Estrela e o meu lindo Boi Fubá Com saudade do Nordeste, dá vontade de aboiar Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá.

Anotações

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