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Livro Analise Acidentes

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  • Anlises de acidentes do trabalho fatais no Rio Grande do Sul

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    ANLISES DE ACIDENTES DO TRABALHO FANLISES DE ACIDENTES DO TRABALHO FANLISES DE ACIDENTES DO TRABALHO FANLISES DE ACIDENTES DO TRABALHO FANLISES DE ACIDENTES DO TRABALHO FAAAAATTTTTAISAISAISAISAISNO RIO GRANDE DO SULNO RIO GRANDE DO SULNO RIO GRANDE DO SULNO RIO GRANDE DO SULNO RIO GRANDE DO SUL

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    Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro do Trabalho e EmpregoCarlos Lupi

    Secretria de Inspeo do TrabalhoRuth Beatriz Vasconcelos Vilela

    Diretora do Departamento de Segurana e Sade no TrabalhoJnia Maria Barreto de Almeida

    Superintendente Regional do Trabalho e Emprego do RSHeron dos Santos Oliveira

    Chefe da Seo de Segurana e Sade do TrabalhadorIara A. V. Hudson

    Ministrio do Trabalho e EmpregoTiragem: 2.000 exemplaresDistribuio gratuita

    Comisso organizadora: Iara A. V. Hudson, Lus Carlos Rossi Bernardes, Mrcia Fantinel Spindler,Miguel Coifman Branchtein, Msiris Roberto Giovanini Pereira, Roberto Dias Schellenberger

    permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

    Edio e distribuio:Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do SulSeo de Segurana e Sade do Trabalhador/SEGURAv. Mau, 1013 - Centro90010-110 - Porto Alegre - RSTel: (51) 3226 8730E-mail: [email protected]

    Capa e Projeto grficoAirton Cattani

    RevisoDenise vila da Silva

    Editorao eletrnicaMarcaVisual Editora e Projetos Culturais Ltda.

    Impresso no Brasil/Printed in Brazil

    ISBN 978-85-88356-07-8

    CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogao na Publicao.

    (Ana Lucia Wagner Bibliotecria responsvel CRB10/1396)

    B823 Brasil. Ministrio do Trabalho e Emprego. Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul. Anlises de acidentes do trabalho fatais no Rio Grande do Sul: a experincia da Seode Segurana e Sade do Trabalhador SEGUR. Porto Alegre: SuperintendnciaRegional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul. Seo de Segurana eSade do Trabalhador/SEGUR, 2008. 336 p. : il. ; 16x23cm.

    Apresentao de Ruth Beatriz Vasconcelos Vilela Prefcio de Junia Maria de Almeida Barreto.

    1. Cincias sociais. 2. Segurana do trabalho. 3. Sade pblica. 4. Acidentes dotrabalho Legislao. 5. Acidentes do trabalho Estatstica de mortalidade. 6.Acidentes do trabalho Mortalidade Brasil Rio Grande do Sul. 7. Segurana Sade do trabalhador. 8. bitos Ocupao. I. Brasil. Ministrio do Trabalho eEmprego. Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul.II. Ttulo.

    CDU 331.46: 614.8(816.5)

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    ANLISES DE ACIDENTES DO TRABALHO FATAISNO RIO GRANDE DO SUL

    A EXPERINCIA DA SEO DE SEGURANA E SADE DO TRABALHADOR SEGUR

    MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGOSUPERINTENDNCIA REGIONAL DO TRABALHO E EMPREGO DO RIO GRANDE DO SUL

    2008

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    Quando edificares uma casa nova, fars no terrao um parapeito, para que no tragassangue sobre a tua casa, se algum dali cair.

    Dt 22,8

    Dedicado aos Trabalhadores

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    AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

    Registramos nossa profunda gratido Associao Gacha dos Auditores-Fiscais do Trabalho AGITRA, particularmente ao seu presidente, Auditor-Fiscal do Trabalho, Renato Barbedo Futuro, extensiva a todos os seus asso-ciados, por sua inestimvel colaborao na realizao deste projeto.

    Cumpre tambm agradecer ao Ilustre Superintendente Regional do Trabalhoe Emprego no Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Heron dos Santos Oliveira,pelo seu apoio irrestrito.

    Comisso Organizadora

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    APRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAOAOAOAOAO

    O trabalho humano gera riquezas e conhecimento, mas, infelizmente, pode gerar tambm acidentes, doenas e outros eventos adversos, que cau- sam sofrimento e prejuzos s pessoas e nus incalculveis ao Estado.A anlise dos incidentes e acidentes do trabalho constitui parte essencial na

    gesto de sade e segurana, sendo uma prioridade da Secretaria de Inspeo doTrabalho.

    A anlise das informaes sobre acidentes e doenas relacionados ao trabalhopermite o aperfeioamento das normas de segurana e sade, dos sistemas degesto das empresas, das concepes e dos projetos de mquinas, equipamentose produtos, das condies e ambientes de trabalho.

    Analisar acidentes ampliar a capacidade de preveno. Refletir sobre a expe-rincia acumulada potencializar essa capacidade. Mais do que isso: garantirque o papel central da Inspeo do Trabalho tenha como produto a transforma-o da realidade, ou seja, a efetiva garantia a cada trabalhador de ambiente seguroe saudvel para o exerccio de sua atividade.

    Ruth Beatriz Vasconcelos VilelaSecretria de Inspeo do Trabalho

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    PREFCIOPREFCIOPREFCIOPREFCIOPREFCIO

    Aprendemos quando compartilhamos experincias.

    John Dewey

    Esta publicao, que muito me orgulha prefaciar, uma idia alimentada por muitos anos na Superintendncia do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul. uma construo coletiva, no cerne da qual podem servislumbrados o entusiasmo dos Auditores-Fiscais do Trabalho novos e o suportedos experientes. Esperamos que este trabalho seja embrio de outras publicaes.

    Os objetivos de dar visibilidade ao que se observa na auditoria dos acidentesdo trabalho e ao que se abstrai das relaes trabalho-bito, alm de desmistificara concepo unicausal dos acidentes do trabalho e as antiquadas classificaes deatos e condies inseguras, foram plenamente atingidos.

    Apresentar sociedade as anlises de acidentes fatais, divulgar as atividadesdos Auditores-Fiscais do Trabalho e, sobretudo, buscar o aprimoramento dasanlises de acidentes do trabalho e a preveno desses eventos, to custosos paraa sociedade, so mritos deste estudo.

    As informaes analisadas originam-se de consultas s bases de dados doSistema Federal de Inspeo do Trabalho (SFIT), no perodo de agosto de 2001a dezembro de 2007, e da reviso de grande acervo documental.

    Os dados demonstram que a morte por acidente do trabalho est distribudaem todas as faixas etrias, sendo o setor de maior incidncia o da Indstria daConstruo, seguindo a mesma distribuio do Brasil. O total de acidentes anali-sados foi de 210, cerca de 50% dos ocorridos no perodo, excluindo-se os detrajeto.

    O percentual dos acidentes nas empresas menores demanda esforos de pre-veno, estruturados de forma capilar, e aumenta os desafios. A prevalncia dasquedas e da exposio a foras mecnicas inanimadas como fatores relacionados

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    tarefa, nos indica que ainda so precrias as medidas de proteo para eventossimples e conhecidos e que o gerenciamento das empresas ainda determina aexecuo de tarefas em que a preveno no foi priorizada.

    As necessidades apresentadas de articulao de bases de dados, de construode indicadores, de otimizao do fluxo de informaes e de capacitao continu-ada para a superao de modelos individualizados de anlise, transformam-seagora em desafios do Departamento de Segurana e Sade no Trabalho.

    A elaborao do livro merece parabns em seu todo, mas ressaltamos oineditismo dos relatos de histrias de acidentes do trabalho, de anlises envolven-do o trabalho e a morte, de momentos dramticos vividos pelos trabalhadores,pelas suas famlias, pelas empresas e pelos Auditores-Fiscais do Trabalho. Espe-ramos que tais histrias trgicas, mas reais, tenham o condo de explicitar soci-edade os determinantes de tais eventos, incentivando o que o nosso interesseprimordial: a preveno.

    Junia Maria de Almeida Barreto

    Diretora do Departamento de Segurana e Sade no TrabalhoSecretaria de Inspeo do Trabalho

    Brasilia, novembro de 2008

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    SumrioSumrioSumrioSumrioSumrio

    Lista de abreviaturas ..............................................................................................................15

    CAPTULO ICAPTULO ICAPTULO ICAPTULO ICAPTULO IAcidentes do trabalho ......................................................................................................... 17

    CAPTULO IICAPTULO IICAPTULO IICAPTULO IICAPTULO IIAcidentes fatais .................................................................................................................... 29

    CAPTULO IIICAPTULO IIICAPTULO IIICAPTULO IIICAPTULO IIIFiscalizao e normas regulamentadoras infringidas .................................................... 55

    CAPTULO IVCAPTULO IVCAPTULO IVCAPTULO IVCAPTULO IVAcidentes do trabalho com crianas e adolescentes ...................................................... 61

    CAPTULO VCAPTULO VCAPTULO VCAPTULO VCAPTULO VRelatrios de anlises de acidentes do trabalho fatais ................................................... 671. Acidente do trabalho fatal durante limpeza de tanque reator ................................. 732. Acidente do trabalho fatal durante limpeza em telhado .......................................... 793. Acidente do trabalho fatal durante acesso ao poo de moega ................................ 854. Acidente do trabalho fatal, envolvendo adolescente,durante limpeza de piso .......................................................................................................895. Acidente do trabalho fatal durante limpeza de mesa com solvente ...........................936. Acidente do trabalho fatal durante colocaode tampa de visita em fossa sptica .....................................................................................977. Acidente do trabalho fatal durante atividadede manuteno de vaso secador de corte ......................................................................... 1038. Acidente do trabalho fatal durante manuteno de mquina .................................. 1139. Acidente do trabalho fatal durante reposicionamento de sensorem monitorao de moldagem ........................................................................................ 12510. Acidente do trabalho fatal durante requalificaoe manuteno de botijes de GLP.................................................................................. 13511. Acidente do trabalho fatal durante acionamentode comando eltrico em sala de extrao qumica ....................................................... 14712. Acidente do trabalho durante operaode manuteno e converso de aeronave....................................................................... 15513. Acidente do trabalho fatal durante intervenopara manuteno de rede eltrica area ......................................................................... 16514. Acidente do trabalho fatal durante operao de betoneira .................................. 17515. Acidente do trabalho fatal durante operaesde reboco em fachada frontal de edifcio ...................................................................... 181

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    16. Acidente do trabalho fatal durante concretagemde laje do subsolo de estacionamento ............................................................................. 18917. Acidente do trabalho fatal durante remoode entulho com carrinho de mo e elevador ................................................................... 19518. Acidente do trabalho fatal durante concretagem de fundaes .............................. 20319. Acidente do trabalho fatal durante satisfao de necessidade fisiolgica .............. 20720. Acidente do trabalho fatal durante colocao de assoalho em plataforma ........... 21321. Acidente do trabalho fatal durante recapeamento asfltico .................................... 22122. Acidente do trabalho fatal durante pintura de fachada ........................................... 22723. Acidente do trabalho fatal durante limpeza de caminho ...................................... 23724. Acidente do trabalho fatal durante desobstruo de elevador de moega ............. 24925. Acidente do trabalho fatal durante atividadesno interior de armazm de recebimento de gros ....................................................... 25526. Acidente do trabalho fatal durante limpeza evedao interna de chapas metlicas em silo ................................................................ 26127. Acidente do trabalho fatal durante operaode manuteno de rede area de telefonia ..................................................................... 26728. Acidente do trabalho fatal durante o fechamentode tampa de escotilha em navio mercante ..................................................................... 28129. Acidente do trabalho fatal, envolvendo adolescente,durante servios de lavagem automotiva ....................................................................... 28530. Acidente do trabalho fatal durante limpezade piso com solvente e enceradeira ................................................................................ 28931. Acidente do trabalho fatal durante obra deescavao e implantao de sistema de esgoto sanitrio ............................................ 29732. Acidente do trabalho fatal durante colheita de milho .......................................... 30533. Acidente do trabalho fatal durante retirada de arrozdepositado em telhado ...................................................................................................... 30934. Acidente do trabalho fatal, envolvendo adolescente,durante operao de corte de rvore .............................................................................. 31735. Acidente do trabalho fatal durante intervalo de repouso e alimentao ........... 323

    CAPTULO VICAPTULO VICAPTULO VICAPTULO VICAPTULO VIConsideraes Finais .......................................................................................................... 329

    Relao dos Auditores-Fiscais do Trabalho lotados na SEGUR/RSno perodo de agosto de 2001 a dezembro de 2007 .................................................... 331Relao dos Agentes de Higiene e Segurana do Trabalholotados na SEGUR/RS no perodo de agosto de 2001 a dezembro de 2007 ........ 333

    Referncias ............................................................................................................................ 334

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    LISTLISTLISTLISTLISTA DE ABREVIAA DE ABREVIAA DE ABREVIAA DE ABREVIAA DE ABREVIATURASTURASTURASTURASTURASABNT Associao Brasileira de Normas TcnicasADC rvore de CausasART Anotao de Responsabilidade TcnicaASO Atestado de Sade OcupacionalAT Acidente do TrabalhoCAGED Cadastro Geral de Empregados e DesempregadosCAT Comunicao de Acidente do TrabalhoCID Classificao Internacional de DoenasCIPA Comisso Interna de Preveno de AcidentesCIPATR Comisso Interna de Preveno de Acidentes do Trabalho RuralCLT Consolidao das Leis do TrabalhoCNAE Classificao Nacional de Atividades EconmicasCREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e AgronomiaCTPS Carteira do Trabalho e Previdncia SocialEN Normas EuropiasEPC Equipamento de Proteo ColetivaEPI Equipamento de Proteo IndividualFGTS Fundo de Garantia por Tempo de ServioHP Cavalo-vaporIGP Instituto Geral de PerciasIML Instituto Mdico LegalINSS Instituto Nacional do Seguro SocialIPVS Imediatamente Perigosa Vida e SadeLT Limite de tolernciaMPE Ministrio Pblico EstadualMPF Ministrio Pblico FederalMPT Ministrio Pblico do TrabalhoMTE Ministrio do Trabalho e EmpregoNBR Norma BrasileiraNBRNM Norma MercosulNR Norma RegulamentadoraPCMAT Programa de Condies e Meio Ambiente de Trabalho na Indstria da ConstruoPCMSO Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacionalppm Partes por milhoPPRA Programa de Preveno de Riscos AmbientaisPRT Procuradoria Regional do TrabalhoPVC Policloreto de vinilaRAIS Relao Anual de Informaes SociaisRIT Regulamento da Inspeo do TrabalhoSAMU Servio de Atendimento Mvel de UrgnciaSEGUR Seo de Segurana e Sade do TrabalhadorSESMT Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do TrabalhoSFIT Sistema Federal de Inspeo do TrabalhoSRTE Superintendncia Regional do Trabalho e EmpregoSST Segurana e Sade do TrabalhadorV Volt

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    CAPTULO ICAPTULO ICAPTULO ICAPTULO ICAPTULO I

    ACIDENTES DO TRABALHOACIDENTES DO TRABALHOACIDENTES DO TRABALHOACIDENTES DO TRABALHOACIDENTES DO TRABALHO

    1. Introduo1. Introduo1. Introduo1. Introduo1. Introduo

    A busca por melhorias das condies de segurana e sade, nos locais de trabalho, um marco civilizatrio. poca houve em que o trabalhador no possua direitos, era mero escravo a ser consumido no processo pro-dutivo at o esgotamento, sendo ento eliminado.

    No decorrer da histria, movimentos sociais e lutas sindicais contriburampara gerar legislaes que foram modelando as relaes de trabalho.

    Os conceitos de cidadania e de respeito dignidade do trabalhador so mo-dernos, surgiram a partir do Iluminismo e de um longo processo de construosocial em que todos os seres humanos possuem direitos fundamentais, entre elesa vida e a integridade fsica.

    A Declarao Universal dos Direitos do Homem1, adotada pela Organizaodas Naes Unidas em 1948, explcita:

    Artigo III - Toda pessoa tem direito vida, liberdade e segurana pessoal.Artigo XXIII,1 -Toda pessoa tem direito ao trabalho, livre escolha de em-prego, a condies justas e favorveis de trabalho e proteo contra o de-semprego.

    A Constituio Federal de 19882 reflete esses conceitos:

    Art. 7 So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros quevisem melhoria de sua condio social:... XXII - reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas desade, higiene e segurana;.

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    Os preceitos referidos no pargrafo anterior so representados especialmentepelas Normas Regulamentadoras (NR), da Portaria no 3.214 de 8 de junho de1978, emanadas do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), que regulamen-tam o Captulo V da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT).

    Em que pese o arcabouo jurdico protetor existente, a ocorrncia de aciden-tes do trabalho com mortes extemporneas e incapacidades laborativas revela apermanente necessidade de preveno. Isso nos induz a perguntar e refletir arespeito dos fatores polticos, econmicos e sociais e seus determinismos querepercutem no mundo do trabalho.

    A aplicao das aes prevencionistas contidas nas normas e leis, na realidadedos ambientes de trabalho no Brasil, ainda bastante imperfeita. As mortes emutilaes por acidentes continuam acontecendo, causando grandes prejuzospessoais, sociais e econmicos s famlias, gigantescos custos para o Estado bra-sileiro, tanto de forma direta, pelos custos assistenciais e previdencirios, quantode forma indireta, pela perda de tudo o que aquele cidado poderia contribuircom seu labor e o que foi investido na formao de sua cidadania.

    Para melhor entender o tema acidente do trabalho, os Auditores-Fiscais daSuperintendncia Regional do Trabalho e Emprego do RS (SRTE/RS), lotadosna Seo de Segurana e Sade do Trabalhador (SEGUR), estudaram as estatsti-cas disponveis e investigaram uma frao significativa dessas ocorrncias entreos anos de 2001 e 2007 no RS.

    Os objetivos dessa pesquisa e anlise foram identificar os fatores causais asso-ciados a esses acidentes e dar-lhes visibilidade social, alm de adquirir instrumen-tos mais eficientes para preveni-los.

    A partir de agosto de 2001, o MTE procedeu incluso de relatos de anlisesde acidentes no Sistema Federal de Inspeo do Trabalho (SFIT)*, definindomecanismos de valorizao dessa atividade em mbito institucional.

    As investigaes de acidentes do trabalho so elaboradas a partir de uma es-trutura mnima, a fim de padronizar os relatos e possibilitar uniformidade aobanco de dados desses relatrios, assim facilitando sua utilizao como fonte deconsulta, otimizando o trabalho de Auditores e de outros profissionais. O traba-lho de anlise de acidentes tem sido conduzido a partir das seguintes bases:3,4,5

    a) Compreenso da empresa como sistema scio-tcnico aberto, onde sorealizadas atividades que evoluem no tempo e possuem variabilidade normale incidental;b) nfase em diferenas entre trabalho prescrito e trabalho real, consideran-do-se a importncia dos dois na descrio da atividade;c) Concepo de acidente como evento que resulta de rede de mltiplos fato-

    *SFIT: mdulo informatizado onde so registrados, de forma codificada, entre outras informaes, os resultadosdas aes fiscais. O sistema tem mbito nacional e acesso restrito.

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    res em interao e que desencadeado quando as mudanas ocorridas no siste-ma ultrapassam as capacidades de controle deste. Nesse sentido, os acidentesindicam a existncia de mau funcionamento do sistema;d) Crtica s prticas de atribuio de culpa s vtimas de acidentes.

    Alm do carter preventivo, os relatrios tambm so aproveitados para aesprevidencirias e sociais, sendo usados para aes regressivas (INSS), apuraode responsabilidades (Coordenadoria das Promotorias Criminais), instruo deinquritos (Delegacias de Polcia), eventuais aes cveis (vtimas e familiares, ououtros interessados, como os sindicatos).

    Ao assumirmos a tarefa de contar as histrias que se escondem por trs dasestatsticas, buscamos expor sociedade a nossa experincia, dando testemunhodo que vimos, ouvimos e consolidamos nos relatrios de acidentes fatais. Emalguns casos, verificamos flagrantes descumprimentos das normas, que beiravam negligncia criminosa. Em outros, um amortecimento da percepo dos riscos,refletindo a banalidade com que a vida do trabalhador tratada. De um modogeral, constatamos que os processos de trabalho e suas formas de organizaoso os fatores preponderantes na gnese dos acidentes.

    No cenrio dos acidentes, as primeiras informaes que obtivemos, contadaspelos empregadores ou seus prepostos, quase sempre revelam uma tentativa apres-sada de transferir a responsabilidade para a prpria vtima. Essa verso distorcidapode infiltrar-se na sociedade, onde os acidentados so apresentados como negli-gentes, descuidados ou desatentos. O trabalhador no est mais presente paraque o contraponto seja apresentado, entretanto, dos relatrios da SEGUR/RS seextrai uma realidade diferente: redes de relaes causais, cujas origens repousamprincipalmente em decises ou omisses das organizaes que contriburam paraa gerao desses infortnios.

    2. Definio de Acidente do T2. Definio de Acidente do T2. Definio de Acidente do T2. Definio de Acidente do T2. Definio de Acidente do TrabalhorabalhorabalhorabalhorabalhoAcidente do trabalho, conforme a Organizao Internacional do Trabalho

    (OIT),6 todo o acontecimento inesperado e imprevisto, incluindo os atos deviolncia, derivado do trabalho ou com ele relacionado, do qual resulta uma lesocorporal, uma doena ou a morte, de um ou vrios trabalhadores. Ainda, confor-me a OIT, para fins de medio, uma leso profissional mortal uma leso cor-poral, doena ou morte provocada por acidente do trabalho que produziu a mor-te da vtima at um ano aps o dia em que o mesmo ocorreu.

    No Brasil, acidente do trabalho pode ser definido, segundo o Protocolo deNotificao de Acidentes do Trabalho Fatais, Graves e em Crianas e Adolescen-tes (Ministrio da Sade, Brasil, 2006),7 como o evento ocorrido no exerccio deatividade laboral, independentemente da situao empregatcia e previdenciriado acidentado, e que acarreta dano sade, potencial ou imediato, provocandoleso corporal ou perturbao funcional que causa, direta ou indiretamente, a

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    morte, ou a perda, ou a reduo, permanente ou temporria, da capacidade para otrabalho. Inclui o ocorrido em situao em que o trabalhador esteja representandoos interesses da empresa ou agindo em defesa de seu patrimnio; assim como oocorrido no trajeto da residncia para o trabalho ou vice-versa.

    Esse mesmo documento ainda define o acidente do trabalho fatal e o grave,que so considerados casos de notificao compulsria:

    Acidente do trabalho fatal aquele que leva a bito imediatamente aps sua ocor-rncia ou que venha a ocorrer posteriormente, a qualquer momento, em am-biente hospitalar ou no, desde que a causa bsica, intermediria ou imediatada morte seja decorrente do acidente.

    Acidente do trabalho mutilante (grave) aquele que acarreta mutilao, fsica oufuncional, e o que leva leso cuja natureza implique comprometimentoextremamente srio, preocupante e que pode ter conseqncias nefastasou fatais.

    Para evitar interpretaes subjetivas dspares, esse Protocolo considera aindaa necessidade da existncia de pelo menos um dos seguintes critrios objetivos,para a definio dos casos de acidente do trabalho grave:

    1) necessidade de tratamento em regime de internao hospitalar;2) incapacidade para as ocupaes habituais, por mais de 30 dias;3) incapacidade permanente para o trabalho;4) enfermidade incurvel;5) debilidade permanente de membro, sentido ou funo;6) perda ou inutilizao do membro, sentido ou funo;7) deformidade permanente;8) acelerao de parto;9) aborto;10) fraturas, amputaes de tecido sseo, luxaes ou queimaduras graves;11) desmaio (perda de conscincia) provocado por asfixia, choque eltrico ououtra causa externa;12) qualquer outra leso levando hipotermia; doena induzida pelo calor ouinconscincia requerendo ressuscitao ou requerendo hospitalizao por maisde 24 horas;13) doenas agudas que requeiram tratamento mdico em que exista razopara acreditar que resulte de exposio ao agente biolgico, suas toxinas ou amaterial infectado.

    Tais definies e critrios encontram-se em harmonia com os observados emoutros pases. O Reino Unido, por exemplo, especifica um conjunto de situaes

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    semelhantes suscetveis de serem consideradas como referencial de leso grave eque devem ser comunicadas ao RIDDOR (Reporting of Injuries, Diseases andDangerous Occurrences Regulations, 1995, U.K.).8

    A idia de leso grave tambm pode ser encontrada na esfera penal. O CdigoPenal Brasileiro (Decreto Lei n 2.848 de 07.12.1940 e alteraes),9 embora noseja especfico para acidentes do trabalho, a eles aplicvel, estabelecendo o se-guinte no Captulo II Das Leses Corporais:

    Leso corporal:Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a sade de outrem:Pena - deteno, de trs meses a um ano.Leso corporal de natureza grave: 1 Se resulta:I - Incapacidade para as ocupaes habituais, por mais de trinta dias;II - perigo de vida;III - debilidade permanente de membro, sentido ou funo;IV - acelerao de parto:Pena - recluso, de um a cinco anos. 2 Se resulta:I - Incapacidade permanente para o trabalho;II - enfermidade incurvel;III - perda ou inutilizao do membro, sentido ou funo;IV - deformidade permanente;V - aborto:Pena - recluso, de dois a oito anos.Leso corporal seguida de morte 3 Se resulta morte e as circunstncias evidenciam que o agente no quis oresultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:Pena - recluso, de quatro a doze anos.

    Para a legislao da Previdncia Social,10,11 o conceito de acidente do trabalhoassemelha-se ao do Ministrio da Sade, mas restringe-se ao segurado emprega-do, trabalhador avulso, mdico residente e ao segurado especial, ficando exclu-das a categoria de trabalhadores informais e outras. A legislao previdenciriatambm equipara ao acidente do trabalho, outras classes de agravos sade: asdoenas profissionais que so as desencadeadas pelo exerccio de trabalho es-pecfico de determinada atividade e as doenas do trabalho que so as adqui-ridas ou desencadeadas em funo de condies especiais em que o trabalho realizado e que com ele se relacionem diretamente.

    Em que pese a definio de acidente do trabalho grave estar consubstanciadana ocorrncia de leso fsica ou perturbao funcional, organizaes internacio-nais e instituies no hesitam em estimular a notificao e a investigao de

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    acidentes do trabalho sem vtimas, tambm considerados graves, em decorrncia deseu potencial, indicando ocorrncia perigosa. Como exemplos dessas situaes,elencamos: exploso ou colapso de recipientes sob presso; curto-circuito ou sobre-carga eltrica que cause fogo ou exploso; falha de tiro em pedreiras; projeo dematerial para alm dos limites previstos em detonaes ou demolies; falha deequipamentos que emitam radiaes; colapso de andaime; liberao de lquidos ouvapores sob presso; ato de sabotagem; liberao acidental de agente biolgico quepossa causar doena grave; acidentes envolvendo crianas ou adolescentes, dentreoutros.

    Neste contexto, cabe aos Auditores-Fiscais do Trabalho a misso de fazeranlises de acidentes, em conformidade com o Decreto n 4.552, de 27 de de-zembro de 2002,12 que aprovou o Regulamento da Inspeo do Trabalho RIT:

    Art. 18. Compete aos Auditores-Fiscais do Trabalho, em todo o territrionacional:...XIV - analisar e investigar as causas dos acidentes do trabalho e das doenasocupacionais, bem como as situaes com potencial para gerar tais eventos;

    O objetivo de tais estudos o de buscar informaes sobre os acidentes dotrabalho, tendo em vista a sua preveno. Da mesma forma, a apreciao adequa-da do conjunto dessas anlises pode ser utilizada para diferentes finalidades, taiscomo: identificar ocupaes e atividades econmicas em que ocorrem os aciden-tes, determinar a sua extenso, gravidade e as circunstncias em que se deram,com o objetivo de planejar medidas preventivas e estabelecer ordem de priorida-des; implementar sistema de vigilncia e acompanhar a incidncia de acidentes afim de avaliar o progresso realizado no campo da segurana e sade do trabalho;identificar novos riscos; informar empregadores e os prprios trabalhadores dosriscos ligados atividade e aos locais de trabalho, de maneira que tenham parteativa na segurana; avaliar a eficcia de medidas de preveno; estimar conse-qncias dos acidentes, seus custos financeiros e sociais.

    3. 3. 3. 3. 3. Estatsticas Gerais Sobre Acidentes do TEstatsticas Gerais Sobre Acidentes do TEstatsticas Gerais Sobre Acidentes do TEstatsticas Gerais Sobre Acidentes do TEstatsticas Gerais Sobre Acidentes do TrabalhorabalhorabalhorabalhorabalhoA OIT13 estima que 6.000 trabalhadores morrem a cada dia no mundo devido

    a acidentes e doenas relacionadas com o trabalho. Alm disso, a cada ano ocor-rem 270 milhes de acidentes do trabalho no-fatais, que resultam em um mni-mo de trs dias de falta ao trabalho e 160 milhes de casos novos de doenasprofissionais. O custo total estimado destes acidentes e doenas equivale a 4% doPIB global.

    A Tabela 1 apresenta estatsticas previdencirias do perodo de 2001 a 2007no Brasil. As colunas referentes s taxas de mortalidade (nmero de bitos/populao segurada) e letalidade (nmero de bitos/populao segurada aciden-

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    tada) referem-se a todos os motivos de acidentes (tpicos, doenas, trajeto) e aoconjunto de todas as atividades econmicas.

    Nesse perodo ocorreram 3.263.797 acidentes do trabalho, sendo 19.602mortes. No ano de 2007 foram 653.786 casos, sendo 2.804 com bito, o quesignifica, aproximadamente, uma morte a cada trs horas.

    A Tabela 2 evidencia as estatsticas de acidentes do trabalho no estado do RioGrande do Sul. De 2001 at 2007 ocorreram 300.014 acidentes. Os casos fataiscontabilizaram 997 no perodo e 151 no ltimo ano desse intervalo.

    Tabela 2: Ocorrncias de acidentes do trabalho no estado do Rio Grande do Sul. Fonte: PrevidnciaSocial (2007)14,151 Dados relativos ao ano de 2007 so preliminares, pois tabulaes posteriores podem gerar nmerosdiferentes, uma vez que algumas CATs podero ser registradas aps a data da leitura inicial, conformeAnurio Estatstico de Acidentes do Trabalho da Previdncia Social.2 Dados parciais: trabalhadores com um vnculo em qualquer ms do ano.3 Em 2007 houve 138.955 acidentes do trabalho sem CAT registrada no Brasil e 12.429 sem CATregistrada no RS, conforme dados da Previdncia Social15

    Tabela 1: Ocorrncias de acidentes do trabalho no Brasil. Fonte: Previdncia Social (2007)14,15

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    4. 4. 4. 4. 4. Estatsticas de Acidentes do TEstatsticas de Acidentes do TEstatsticas de Acidentes do TEstatsticas de Acidentes do TEstatsticas de Acidentes do Trabalho Frabalho Frabalho Frabalho Frabalho Fatais e No Fatais e No Fatais e No Fatais e No Fatais e No Fatais Analisados pelaatais Analisados pelaatais Analisados pelaatais Analisados pelaatais Analisados pelaSegur/RSSegur/RSSegur/RSSegur/RSSegur/RS4.1. Amostra e Seleo dos Casos

    A maioria das informaes a respeito de acidentes graves e fatais chegava SEGUR/RS por denncia diretamente recebida pelos Auditores-Fiscais do Tra-balho em seus plantes, na capital ou interior, ou por meios indiretos: notciaveiculada atravs da mdia, denncia de sindicatos e fontes diversas. Outros, ain-da, foram identificados durante fiscalizaes nas empresas. Essa situao resul-tou em uma amostra de convenincia, no aleatria, resultante de demanda socialou fluxo espontneo.

    Na busca de detalhes a respeito dos acidentes do trabalho, observa-se a exis-tncia de vrias bases de dados16, estruturadas com lgicas diferentes para aten-der demandas prprias. Cada fonte, alm de no completamente acessvel aoMTE, no tem abrangncia sobre a totalidade da populao trabalhadora inseridano mercado de trabalho formal e informal.

    A possibilidade de investigar acidentes esbarrava nas dificuldades de obterinformaes sobre a ocorrncia de tais eventos. Embora a SEGUR/RS tenha deofcio a finalidade de prevenir e evitar acidentes e doenas, ela no dispunha demecanismo legal eficiente que garantisse o recebimento imediato dessas informa-es. Somente em 30 de setembro de 2008, ocorreu a celebrao de convnio entreo INSS, o Ministrio da Previdncia e o MTE, estabelecendo que os dados refe-rentes s Comunicaes de Acidentes do Trabalho (CATs) sero fornecidos s SRTEsa cada dois meses, por meio eletrnico.

    Permanece ainda a necessidade dos rgos pblicos desatarem ns crticosque impedem a construo de um sistema de fluxo interligado e contnuo deinformaes utilizando outras bases de dados setoriais. No foram efetivados osconvnios e/ou articulaes com outras instituies, para obter dados de regis-tros de entrada de acidentados do trabalho em hospitais, casas de sade e ambu-latrios, por exemplo.

    A SEGUR/RS no tem acesso aos dados pormenorizados do Sistema deInformaes de Mortalidade (SIM), relacionados ao Sistema nico de Sade (SUS),baseado em declaraes de bitos, nem aos registros do Relatrio Individual deNotificao de Agravos (RINA) e Relatrio Individual de Notificao de Aci-dentes e Violncia (RINAV).

    Como corolrio dessas observaes, urge ressaltar a necessidade de integraodas fontes, h muito tempo constatada, mas sem efetivao at o momento.

    4.2. Caractersticas dos AcidentesPara apresentao dos dados dos acidentes do trabalho analisados, foram con-

    sultados 396 relatrios elaborados pelos Auditores-Fiscais, constantes do bancode dados do SFIT, do MTE, no perodo de agosto de 2001 a dezembro de 2007.

    A Figura 1 apresenta a distribuio dos acidentes do trabalho analisados.

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    Figura 1: Distribuio dos acidentes do trabalho fatais e no fatais analisados pela SEGUR/RS, agostode 2001 a dezembro de 2007. Fonte SFIT

    Os 396 relatrios de acidentes do trabalho referem-se a:

    187 acidentes que causaram 195 bitos, evidenciando que em alguns aci-dentes morreram mais de um trabalhador; 185 acidentes exclusivamente com feridos, gerando 221 trabalhadores aci-dentados, evidenciando que alguns acidentes feriram mais de um trabalhador; 23 acidentes em que ocorrem 28 bitos e 47 trabalhadores acidentadossem bito; 1 acidente sem vtima, que se refere a um grave vazamento de produto infla-mvel, seguido de incndio, ocorrido em planta industrial. Foi includa essa an-lise no SFIT devido ao elevado potencial de morte de trabalhadores e de destrui-o de propriedades, inclusive circunvizinhas ao local do evento.

    A quantidade de acidentes analisados tem oscilado no perodo de agosto de2001 at dezembro de 2007, com um pico em 2004. A Figura 2 mostra a quanti-dade de acidentes fatais e no fatais analisados, distribuda por ano de ocorrncia.

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    Figura 2: Quantidade de acidentes do trabalho fatais e no fatais, por ano de ocorrncia, analisados pelaSEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

    Entre os anos de 2001 e 2007 a Previdncia Social registrou 997 acidentes dotrabalho fatais no RS, incluindo acidentes tpicos, de trajeto e de trnsito e doen-as do trabalho. A disparidade entre o nmero de acidentes do trabalho registradospela Previdncia Social e o de acidentes analisados pela SEGUR/RS pode serexplicada pelo elevado percentual de acidentes tpicos, ocorridos no mbito darua, e os acidentes de trajeto em vias de circulao, geralmente sendo mais gravese com maior nmero de vtimas fatais, exemplificados pelos acidentes com veculosa motor e atropelamentos. Excluindo-se os acidentes de trajeto, possvel estimarque cerca de 50% dos acidentes fatais ocorridos com trabalhadores segurados fo-ram investigados pela SEGUR/RS nesse perodo.

    4.3. Distribuio dos Acidentados Fatais e No-Fatais Segundo as Relaes deTrabalho

    Estudamos as relaes de trabalho existentes quanto a dois aspectos: regulari-dade e tipo.

    A regularidade definida pela existncia ou no de uma relao de trabalhoformalmente estabelecida. Quanto ao tipo, consideramos: celetista, temporrio,estatutrio, autnomo, avulso ou cooperado.

    A Figura 3 identifica as relaes de trabalho dos trabalhadores acidentados.

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    Figura 3: Distribuio das vtimas de acidentes do trabalho, segundo as relaes de trabalho, analisadospela SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

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    CAPTULO IICAPTULO IICAPTULO IICAPTULO IICAPTULO II

    ACIDENTES FACIDENTES FACIDENTES FACIDENTES FACIDENTES FAAAAATTTTTAISAISAISAISAIS

    Considerando que nossa amostra representa muito mais a demanda social que operfil estatstico da populao acidentada, optamos por prosseguir a anliseenfocando os acidentes fatais, que so mais difceis de ocultar pelo violentoimpacto no tecido social causado pelos bitos.

    Essa deciso parte do seguinte entendimento:

    Proporcionalmente analisamos muito mais casos de acidentes fatais doque no-fatais, o que pode significar uma maior representatividade da popula-o atingida no primeiro caso; O bito, certamente, o evento no qual deve ser investido o maior esforopossvel, no sentido de conhecer suas caractersticas e causas, de forma a evit-lo.

    Assim, todos os dados e discusses a seguir se referem aos 210 acidentes comvtimas e que resultaram em 223 bitos, investigados entre agosto de 2001 adezembro de 2007 no estado do Rio Grande do Sul.

    1. Caractersticas dos Acidentados1. Caractersticas dos Acidentados1. Caractersticas dos Acidentados1. Caractersticas dos Acidentados1. Caractersticas dos Acidentados1.1. Distribuio dos Acidentados Segundo as Relaes de Trabalho

    A Tabela 1 apresenta as ocorrncias de acidentes do trabalho fatais e os res-pectivos tipos de relaes de trabalho, regulares ou irregulares. A maioria dosacidentes envolve trabalhadores com vnculo empregatcio regular e celetista.

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    Observamos que essa distribuio muito diferente da distribuio por sexodos trabalhadores na populao empregada, como mostra a Figura 2. Segundo osdados da Relao Anual de Informaes Sociais (RAIS) do ano de 200617, exis-tiam 1.308.807 homens (56,40%) e 1.011.940 mulheres (43,60 %) na populaoregularmente empregada no estado do Rio Grande do Sul.

    Tabela 1: Relaes de trabalho das vtimas de acidentes do trabalho analisados pela SEGUR/RS, agostode 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

    1.2. Distribuio dos Acidentados Segundo o SexoA Figura 1 apresenta a distribuio de acidentados do trabalho fatais, segundo

    o sexo das vtimas. Existe uma notvel preponderncia de vtimas do sexo mas-culino, com 219 casos (98%), o que confirma as estatsticas mundias (OIT).6 Asdo sexo feminino totalizam 4 casos (2%).

    Figura 1: Distribuio dos acidentados do trabalho fatais, segundo o sexo, na amostra analisada pelaSEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

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    Figura 2: Vnculos de empregos no RS, por sexo, em 31 de dezembro de 2006. Fonte: RAIS

    Entre as diversas causas possveis para tentar explicar essa preponderncia debitos no sexo masculino, citamos:

    Elevada incidncia de acidentes do trabalho fatal em atividades econmi-cas em que existe uma alta proporo de homens trabalhando, tal como ocor-rem na indstria da construo, montagem, manuteno e agricultura;

    A ocorrncia de riscos com potencial de acidentes do trabalho de maiorgravidade nas atividades econmicas que mais empregam homens.

    1.3. Distribuio dos Acidentados Segundo a Faixa EtriaA Figura 3 apresenta a distribuio por faixa etria dos acidentados e a da

    populao empregada, evidenciando que praticamente se sobrepem.Ocorre uma elevada incidncia de morte por acidentes do trabalho na faixa de

    idade entre 20 e 29 anos, correspondendo a 31,6% da amostra analisada. Isolada-mente este dado poderia levar concluso de que existe uma tendncia dos jovensmorrerem mais, mas esta concluso deve ser temperada pela anlise comparativadas mortes da nossa amostra com o perfil etrio da populao trabalhadora.

    A amostra de convenincia analisada pela SEGUR/RS representativa da popu-lao empregada com vnculo formal, segundo a base de dados da RAIS, pois adistribuio de acidentados fatais por faixa etria no difere da proporo da popu-lao trabalhadora empregada, conforme o teste estatstico aplicado( = 10,9; p = 0,425).

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    Figura 3: Comparativo entre a distribuio por faixa etria da populao empregada, conforme RAIS2006, e a das vtimas de acidentes do trabalho analisados pela SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembrode 2007. Fonte: SFIT e RAIS

    As taxas de mortalidade especficas* para cada faixa etria so apresentadasna Figura 4. O teste qui-quadrado aplicado demonstrou no haver diferena estatis-ticamente significativa entre as taxas de mortalidade por faixa etria na amostra ana-lisada ( = 5,98; p = 0,425). Ou seja, a morte por acidente do trabalho est distribu-da similarmente em todas as faixas de idade, no respeitando velhos nem jovens.

    Figura 4: Taxa de mortalidade especfica por faixa etria, em acidentes do trabalho analisados pelaSEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT e RAIS

    * Taxa de mortalidade por 10.000.

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    1.4. Distribuio dos Acidentados Segundo o Tipo de OcupaoA distribuio dos bitos por acidente do trabalho fatal de acordo com a

    ocupao registrada, conforme a classificao do Cadastro Brasileiro de Ocupa-es CBO, verso de 199418, a mostrada na Tabela 2.

    Tabela 2: Distribuio dos bitos por acidente do trabalho, segundo grupos da CBO (verso 1994),analisados pela SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFITNota. A verso da CBO (1994) utilizada a disponvel no SFIT, que no foi atualizado em 2002, quandodo lanamento de nova verso

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    As ocupaes relacionadas indstria da Construo Civil (CBO grupo 95*)representam o grupo que mais contribuiu para a morte de trabalhadores na amostraanalisada, com 33,63% dos casos. Isso no reflete exatamente o grau de mortali-dade do setor, que ainda maior, considerando-se que vrias ocupaes direta-mente envolvidas nessa atividade econmica podem encontrar insero em ou-tros grupos da CBO, como o 87, que engloba os montadores de estruturas met-licas, encanadores e soldadores, e o grupo 97, que engloba os operadores demquinas de terraplanagem e de preparao de terrenos e fundaes, bem comotambm um percentual de pintores descritos no grupo 93.

    No grupo 85, relativo a Eletricistas, Eletrnicos e Trabalhadores Assemelha-dos, constata-se a sobreposio dos riscos decorrentes do trabalho na proximida-de das linhas eltricas energizadas com os do trabalho em altura, especialmentenas operaes de instalao e reparao de linhas eltricas e de telecomunicaes.Essas combinaes de situaes de risco auxiliam a explicar a elevada mortalida-de dos trabalhadores desse grupo, decorrente de choque eltrico e queda.

    1.5. Distribuio dos Acidentados Segundo o Tempo de Servio na FunoA Tabela 3 apresenta o tempo de servio das vtimas de acidentes fatais nas

    empresas. Percebe-se que cerca de 31% dos trabalhadores se acidentam nos pri-meiros 60 dias na funo, e que esta percentagem sobe para praticamente 50%at o sexto ms. As mortes ocorridas no segundo semestre na funo (27 casos,aproximadamente 12% da amostra) tm o mesmo percentual das ocorridas nosegundo ano, ocorrendo um decrscimo progressivo dos casos fatais quanto maiorfor o tempo de servio do trabalhador naquela funo.

    * Para uma melhor compreenso, segue a descrio do grupo 95 da CBO (verso 1994): os trabalhadores compre-endidos neste grupo constroem e reparam edifcios e outras obras; assentam tijolos, ladrilhos, azulejos, pedras etelhas; constroem obras de concreto armado; constroem, montam e reparam estruturas de madeira das constru-es, assoalhos, vedaes e revestimentos de madeira, embarcaes e outros produtos de madeira; aplicam reves-timentos e adornos de gesso nas edificaes; instalam materiais isolantes em edifcios, caldeiras, tubulaes e emequipamentos de refrigerao, climatizao e insonorizao de interiores; adaptam e colocam vidros em edificaese veculos; realizam outras tarefas relacionadas com a construo civil.

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    Tabela 3: Distribuio dos bitos por acidente do trabalho segundo o tempo de servio dos trabalha-dores, analisados pela SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

    Com base nesses dados, poder-se-ia imputar a ocorrncia do acidente fatal inexperincia do trabalhador na funo. No entanto, deve ser considerado que otrabalhador deve ser informado sobre os riscos ocupacionais e as medidas depreveno. E, acima de tudo, antes mesmo da contratao do trabalhador paraconviver com os riscos, as empresas devem procurar elimin-los, mediante aimplementao de polticas e sistemas de gesto preventivos.

    Considerando-se que no SFIT no se registra o perfil de tempo na funo datotalidade de trabalhadores em cada um dos estabelecimentos em que o acidenteocorreu, torna-se impraticvel uma comparao; assim, no se pode afastar a possi-bilidade de que o conjunto dos trabalhadores sob o risco de se acidentar nos estabe-lecimentos tambm tenha pouco tempo na funo, e no apenas os acidentados.Como exemplo, citamos o setor econmico da construo civil, cujas obras geral-mente tm curta durao, com alta rotatividade de mo-de-obra e elevada taxa demortalidade por acidente do trabalho.

    Para evitar os bitos em trabalhadores com pouco tempo de servio na fun-o, devem ser traadas estratgias de preveno com nfase na melhoria dosambientes e processos, buscando torn-los intrinsecamente seguros. As armadi-lhas existentes, independentemente do conhecimento prvio dos riscos pelostrabalhadores, deveriam ser eliminadas antes do incio das atividades. Tais medi-das de preveno so particularmente importantes quando envolvem mquinasperigosas, equipamentos defeituosos, processos com substncias txicas, espa-os confinados, risco de queda de altura, choque eltrico, entre outros.

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    Alm disso, o tempo de servio na funo um indicador do grau de experin-cia profissional. O trabalhador recm-contratado para exercer determinada funona empresa inexperiente por vrios motivos: ele no est habituado com o proces-so ou com as variveis pertinentes organizao do trabalho19 nem com o sistemade gesto de riscos; ainda no tem vivncia das tarefas impostas; desconhece oscolegas para partilhar atividades comuns e tambm os meandros dos locais de tra-balho e os planos de contingncia para situaes de emergncia; ignora o sistema demanuteno de mquinas e equipamentos e sua eficcia; ainda no experimentou asmudanas sbitas que podem ocorrer a qualquer momento nos processosoperacionais.

    Ainda que o trabalhador tenha acumulado muita experincia em funes se-melhantes anteriormente desempenhadas, cada novo processo laboral ou cadanovo local de trabalho singular, nico nas suas particularidades. As razes aci-ma explicitam fatores que contribuem para o elevado nmero de bitos atribu-veis inexperincia no decurso dos primeiros tempos aps o ingresso na empre-sa. Imputar a causa do acidente inexperincia do trabalhador uma abordagemreducionista que no privilegia a multiplicidade de fatores causais usualmenteenvolvidos na gnese dos acidentes fatais.

    2. Caractersticas dos Estabelecimentos2. Caractersticas dos Estabelecimentos2. Caractersticas dos Estabelecimentos2. Caractersticas dos Estabelecimentos2. Caractersticas dos Estabelecimentos2.1.Distribuio dos Acidentes do Trabalho Segundo a rea de Atuao

    Em relao distribuio dos 210 acidentes fatais pelos municpios do estadodo Rio Grande do Sul, temos que 192 acidentes (91,4%) ocorreram em reaurbana e 18 em rea rural (8,6%).

    fato relevante que todos os acidentes registrados no SFIT, como sendo emrea rural, foram fatais. Podemos supor vrias explicaes para este achado, masnos parece que o principal fator a caracterstica de formao da amostra anali-sada, que tem origem na demanda de servio oriunda da populao e depen-dente da disponibilidade da administrao pblica de atend-la. A ocorrncia dedenncias motivadoras de fiscalizaes em rea rural dependem do conhecimen-to dos trabalhadores sobre os seus direitos trabalhistas, da proximidade geogrfi-ca da unidade descentralizada do MTE e das possibilidades de deslocamento dodenunciante at o centro urbano, dentre outros fatores.

    2.2. Distribuio dos Acidentes do Trabalho Segundo o Municpio de OcorrnciaA distribuio dos 210 acidentes fatais analisados, segundo os municpios do

    estado do Rio Grande do Sul, est apresentada na Tabela 4.

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    Tabela 4: Distribuio dos acidentes do trabalho fatais, segundo os municpios de ocorrncia, analisadospela SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

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    Observa-se que mais de um quarto dos acidentes fatais investigados ocorre-ram nas cidades de Porto Alegre e Caxias do Sul, e que pouco mais da metadeocorreram em cidades de mdio porte, consideradas plos regionais. Isso podeser atribudo principalmente a quatro fatores:

    Maior concentrao de trabalhadores nesses municpios;

    Maior presena das atividades envolvendo construo civil em centros ur-banos regionais;

    Disponibilidade de unidades descentralizadas do MTE em plos regionais,com lotao de Auditores-Fiscais do Trabalho para fazer o trabalho de investiga-o;

    Ao sindical mais atuante em determinadas localidades.

    2.3. Distribuio dos Acidentes do Trabalho Segundo a Atividade Econmica doEstabelecimento

    A distribuio dos 210 acidentes fatais de acordo com a mais sinttica Classi-ficao Nacional de Atividades Econmicas (CNAE 2.0), chamada SEO, apresentada na Figura 5. Aproximadamente 3/4 ocorrem, em ordem decrescen-te, na Indstria de Transformao (31%), na Construo (29%), no Comrcio eReparao de Veculos Automotores e Motocicletas (14%).

    Figura 5: Distribuio dos acidentes do trabalho fatais, quanto atividade econmica do estabelecimen-to, analisados pela SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

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    Um estudo mais detalhado dos acidentes fatais na Indstria de Transforma-o apresentado na Figura 6, evidenciando que 82% dos casos se distribuementre a metalurgia e afins (39%), fabricao de produtos alimentcios (22%), fa-bricao de produtos qumicos (12%) e fabricao de produtos de minerais nometlicos (9%).

    Figura 6: Distribuio percentual de acidentes do trabalho fatais, na Indstria de Transformao, anali-sados pela SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

    Quanto aos acidentes do trabalho fatais na Indstria da Construo, verifica-se que a construo de edifcios responde por 58% dos acidentes, seguida pelasobras de infra-estrutura com 27% e pelos servios especializados para a constru-o, com 15%, conforme a Figura 7.

    Figura 7: Distribuio percentual dos acidentes do trabalho fatais, na Indstria da Construo, analisa-dos pela SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

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    Quanto aos acidentes do trabalho fatais no Comrcio, Reparao de VeculosAutomotores e Motocicletas, conforme podemos verificar na Figura 8, 52% de-les ocorrem em comrcio varejista, 31% em comrcio por atacado, exceto vecu-los automotores e motocicletas, e 17% no comrcio e reparao de veculosautomotores e motocicletas.

    Figura 8: Distribuio percentual dos acidentes do trabalho fatais no Comrcio, Reparao de VeculosAutomotores e Motocicletas, analisados pela SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte:SFIT

    2.4. Distribuio das Taxas de Mortalidade Segundo a CNAEA Tabela 5 apresenta taxas especficas de mortalidade por 100.000 trabalha-

    dores segundo as atividades econmicas. Observa-se que a Indstria da Constru-o e o setor de Eletricidade e Gs tm as maiores taxas, revelando, portanto, umrisco muito maior de morte por acidente do trabalho na populao trabalhadoradessas atividades. Essas taxas indicam o nmero de bitos ocorridos em traba-lhadores de determinada atividade econmica dividido pela populao trabalha-dora dessa mesma atividade aconmica e que foram analisados pela SEGUR/RS,no ano de 2006. Os dados constantes da RAIS 2006 foram consultados paradeterminar os denominadores.

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    Tabela 5: Taxas especficas de mortalidade por 100.000 trabalhadores/RS, segundo as Sees da CNAE,2006. Fonte: SFIT e RAIS 2006

    A Figura 9 mostra as oito sees da CNAE com maiores taxas de mortalidadepor 100.000 trabalhadores. A atividade econmica de maior risco a Indstria daConstruo. A proporo de trabalhadores que morreram, em relao massa detrabalhadores inseridos nesta atividade, foi 14,61/100.000, segundo a amostraanalisada pela SEGUR/RS, no ano de 2006.

    A Indstria da Contruo contribuiu com 3,25% para o total de trabalhadorescom vnculo formal de emprego no estado do Rio Grande do Sul, segundo basede dados da RAIS 2006.

    A taxa geral de mortalidade por acidentes do trabalho no estado do Rio Gran-de do Sul foi de 5 ocorrncias para cada 100.000 trabalhadores em 2006. Essataxa geral engloba as taxas especficas de mortalidade e retrata uma mdia ponde-rada entre elas. Portanto, vlido considerar que a contribuio da Indstria daConstruo alarmante para a ocorrncia de mortes no trabalho.

    Essa taxa de mortalidade poder estar subestimada, tendo em vista o subregistrode mortes por acidentes do trabalho para trabalhadores ocupados informalmen-te neste setor produtivo.

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    Figura 9: Distribuio das taxas de mortalidade especficas por 100.000 trabalhadores/RS, segundosees da CNAE, em 2006. Fonte: SFIT e RAIS 2006

    2.5. Distribuio dos Acidentes do Trabalho Segundo a Quantidade de Trabalhado-res nos Estabelecimentos

    Na Tabela 6 apresentado o nmero de acidentes do trabalho fatais ocorridossegundo a quantidade de trabalhadores no estabelecimento.

    Tabela 6: Distribuio dos acidentes do trabalho fatais, segundo a quantidade de trabalhadores nosestabelecimentos. SEGUR/RS, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT e RAIS 2006

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    Aplicando-se o teste estatstico qui-quadrado foi constatada diferena esta-tisticamente significativa quanto proporo de acidentes fatais ocorridos, se-gundo o nmero de trabalhadores em cada estrato analisado dos estabeleci-mentos ( = 41,8; p < 0,001), ou seja, estabelecimentos acima de 500 trabalha-dores apresentam proporcionalmente menos acidentes do trabalho fatais doque o esperado e aqueles com 20 a 99 trabalhadores apresentam maior nmerode acidentes fatais do que o previsto.

    possvel explicar a menor ocorrncia de acidentes nos estabelecimentos degrande porte, acima de 500 trabalhadores, pelos programas de gesto de riscoimplementados e pela ao dos servios especializados em engenharia de segu-rana e medicina do trabalho. A possibilidade de execuo das atividades de maiorrisco por empresas de menor porte e a terceirizao dos riscos pelas empresasmaiores, tambm explicam essas ocorrncias.

    3. Caractersticas dos F3. Caractersticas dos F3. Caractersticas dos F3. Caractersticas dos F3. Caractersticas dos Fatores Causais dos Acidentesatores Causais dos Acidentesatores Causais dos Acidentesatores Causais dos Acidentesatores Causais dos Acidentes3.1. Distribuio dos Acidentes Segundo os Fatores Imediatos de Mortalidade

    O fator imediato de mortalidade estabelece um agrupamento de situaesresponsveis diretamente pela leso fatal no trabalhador.

    Os fatores imediatos que aparecem com maior freqncia nos relatrios deacidentes fatais so apresentados na Figura 10. Verifica-se que os acidentes rela-cionados s quedas apresentam o maior ndice de ocorrncia, seguidos de expo-sio a foras mecnicas inanimadas, exposio corrente eltrica e a agentesfsicos e riscos acidentais respirao. No seu conjunto, esses quatro fatoresrespondem por 86,5% dos fatores imediatos de mortalidade.

    Figura 10: Distribuio percentual dos acidentes do trabalho fatais analisados pela SEGUR/RS, segun-do os fatores imediatos de mortalidade, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

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    Dentro do grupo quedas destacam-se os seguintes elementos imediatos:

    Queda durante a realizao de servios em telhado (22,5%);

    Queda em ou de andaime suspenso mecnico ou de andaime simplesmenteapoiado (16,9%);

    Queda de periferia de edificao (7%);

    Queda de equipamento de guindar ou transportar pessoa ou material (5,6%);

    Outras quedas de um nvel a outro (9,9%).

    Apresentamos os seguintes exemplos para quedas de telhados:

    O trabalhador colocava cabos para instalao de cmaras de segurana emtelhado de igreja. Ao movimentar-se sobre as telhas, uma delas quebrou e otrabalhador caiu de cerca de doze metros, com conseqente bito;

    O trabalhador era impressor em grfica. Havia vazamento no telhado efoi-lhe determinado que verificasse o problema. O trabalhador caiu do telha-do e faleceu. No houve testemunhas;

    Ao realizar reparo em telhado de armazm porturio, a telha cedeu aopeso do trabalhador. No havia equipamentos ou medidas que permitissem amovimentao segura do trabalhador. Ele caiu e faleceu;

    Em conserto de telhado de ginsio de esportes, houve quebra de telhassob o peso do trabalhador, o que resultou na queda de oito metros de altura;

    O trabalhador estava trocando as telhas de galpo de haras. Foi encontra-do morto, cado no solo. Necropsia evidenciou traumatismo crnio-enceflico;

    O trabalhador caiu de, aproximadamente, oito metros de altura, devido ruptura de telhas sob seu peso, quando realizava a tarefa de varrer o telhadode depsito de gros;

    O zelador de edifcio estava consertando antena de televiso no telhado decondomnio, quando caiu de altura correspondente a doze andares;

    O trabalhador estava consertando telhado de pavilho industrial. Precisoudescer e desconectou o talabarte ao chegar na beirada do telhado. A telha

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    sobre a qual estava cedeu e houve queda de altura de dez metros. No haviaonde fixar o cinto de segurana durante a descida do telhado;

    As descries de mortes por queda de telhado repetem-se de maneira unifor-me: h um trabalhador exercendo atividades em rea de risco de queda de altura.As telhas quebram, soltam-se, o trabalhador cai e o resultado fatal. constantea ausncia de medidas mnimas de preveno de acidentes, tais como: ordens deservio ou permisses de trabalho; cabo de segurana (ou linha de vida) dimensio-nado por profissional devidamente habilitado; sinalizao de advertncia ou deisolamento da rea; fornecimento de cinto de segurana do tipo pra-quedista;medidas alternativas e/ou complementares que permitam a movimentao segu-ra dos trabalhadores em telhados ou coberturas.

    Avaliao semelhante pode ser feita a respeito de acidentes por queda emandaimes:

    O andaime suspenso mecnico estava sendo utilizado para pintura de fa-chada. Um dos cabos de sustentao do andaime estava fixado em detalheornamental do edifcio, que cedeu sob o peso do equipamento; seus fragmen-tos, constitudos de tijolos e reboco, caram sobre a cabea do trabalhador,que faleceu na hora. Um dos lados do andaime caiu;

    Um dos cabos de sustentao de andaime suspenso mecnico rompeu-secausando queda do equipamento do lado correspondente. O trabalhador des-lizou pelo piso do andaime e caiu de altura de cinco metros;

    Ao sair do andaime, o trabalhador caiu no vo entre o equipamento e aparede do edifcio. No havia cabo independente para fixao do cinto;

    O piso de trabalho de andaime suspenso mecnico quebrou, sob o peso dedois trabalhadores e do material utilizado para reboco em fachada de edifcio.A queda de altura correspondente a trs andares levou um dos trabalhadoresao bito;

    Os sacos de areia que serviam de contrapeso para fixao de andaimesuspenso deslocaram-se, causando a queda do equipamento. As cordas ondeestavam presos os cintos de segurana dos trabalhadores romperam-se naaltura da laje superior do edifcio, ao serem submetidas trao pelo peso dostrabalhadores. Houve queda de altura aproximada de seis metros.

    Tambm so medidas plenamente conhecidas as que poderiam evitar a maioriados demais tipos de quedas verificados pela SEGUR/RS:

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    O trabalhador estava concretando pilares no dcimo pavimento do edifcio,junto periferia da construo. No havia guarda-corpo; concentrado na tarefa,o trabalhador chegou muito perto da borda e caiu. No havia linha de vida nemcinto de segurana;

    Os trabalhadores estavam retirando vigas em obra de demolio. Uma delascaiu sobre a via pblica. A vtima tentou impedir essa ocorrncia, caindo jun-to com a viga. No havia proteo coletiva na periferia. O trabalhador nousava cinto de segurana. No havia onde fix-lo;

    O trabalhador estava acompanhando o iamento de caixa de engrenagenspelo poo do elevador, de forma a impedir que girasse ou batesse nas paredes.Ao se apoiar no guarda-corpo existente na abertura de acesso ao poo, estequebrou e o trabalhador caiu de uma altura de cerca de vinte e seis metros;

    O trabalhador dirigia-se para alojamento improvisado em um dos andaresde obra de construo, no incio da noite. Estava escuro e o vo de acesso aoelevador no estava protegido. O trabalhador caiu pela abertura e faleceu emconseqncia da queda.

    Quanto ao segundo grupo, exposio a foras mecnicas inanimadas, exempli-ficam-se os seguintes fatores imediatos:

    Impactos causados por objeto lanado, projetado ou em queda, na suamaioria, causando morte imediata.

    Apresentamos os seguintes exemplos:

    O trabalhador foi atingido por carga de aproximadamente uma toneladade grnulos de polipropileno. A carga foi derrubada porque houve quebra dopallet onde era armazenada;

    O trabalhador foi atingido por pea que estava sendo iada por grua, quefoi lanada quando uma das partes desse equipamento se rompeu;

    O trabalhador foi atingido por carga que estava sendo iada por grua, aoocorrer ruptura do sustento vertical desse equipamento;

    O trabalhador foi atingido por chapa de ao carbono com cerca de 400kg,que estava armazenada de forma instvel no setor de caldeiraria;

    O trabalhador foi atingido por rvore durante corte de madeira;

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    O trabalhador foi atingido na cabea por chapas metlicas de grandes dimen-ses, que estavam de forma instvel apoiadas em setor de armazenagem;

    O trabalhador foi atingido por pneu que estourou durante a troca. Tratava-se de pneu traseiro de caminho e o acidente aconteceu quando estavam sen-do retiradas as porcas;

    O trabalhador foi atingido por aro de pneu de caminho que foi arremes-sado durante operao de calibragem;

    O trabalhador foi atingido por fragmentos de rebolo de mquina derebarbao de peas que se rompeu durante o processo de trabalho;

    O trabalhador foi atingido por fragmentos de rebolo de esmeril utilizadopara afiar navalhas, que se partiu durante a operao;

    O trabalhador foi atingido por vergalho de ao, durante operao de des-carregamento desse material em obra;

    O trabalhador foi atingido por tubos de ao que caram de pilha, ondeestavam armazenados, para serem iados por ponte rolante;

    O trabalhador foi atingido por carrinho de mo que caiu de elevador demateriais. No havia isolamento da rea do elevador e no havia dispositivosque impedissem a queda de materiais do elevador;

    O trabalhador foi atingido por carga de vrias toneladas que caiu de porta-pallet em setor de armazenagem;

    O trabalhador foi atingido por tonel que caiu durante operao de descar-ga de caminho.

    Em todas essas situaes, medidas de segurana, j consagradas pelo conheci-mento tcnico e presentes na legislao pertinente, poderiam ter evitado a morte dostrabalhadores: seja por isolamento de rea de risco; empilhamento e armazenagem dematerial de forma adequada; avaliao de resistncia de materiais; manuteno pre-ventiva e outras. Merece ser salientada a importncia de anlise prvia das tarefas ereconhecimento de riscos possveis segurana e sade. Por exemplo: de conhecimen-to geral, o risco de borracheiros e outros profissionais da rea quanto projeo e aorompimento dos aros de pneus de caminhes. Existem dispositivos especficos paraevitar leses devidas a tais ocorrncias (gaiolas). O mesmo pode ser dito a respeito daproteo necessria no rebolo de esmeris e na operao de gruas.

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    Tambm fazem parte desse grupo, os acidentes causados por:

    Impacto causado por desabamento ou desmoronamento de edificao oubarreira ou talude;

    Impacto acidental ativo ou passivo causado por outros objetos;

    Exploso em ambientes com inflamveis e poeiras: aplicao de solventesinflamveis;

    Aperto, colhimento, esmagamento ou compreso entre, dentro ou entrepartes de objetos.

    So exemplos dessas ocorrncias:

    O trabalhador teve o crnio esmagado entre os rolos de descarnadeira, aofazer o ajuste peridico da borracha que regula a presso dos mesmos sobreos couros a serem trabalhados. Os rolos foram acionados por dispositivo inade-quado;

    O trabalhador teve a gola da roupa presa entre a polia do motor e o eixo deelevador de gros. No havia dispositivos de isolamento dessas estruturas. Oacidente produziu o estrangulamento do trabalhador;

    O trabalhador foi atingido pela exploso de um tambor com resduos deprodutos qumicos, ao tentar abri-lo. Faleceu em conseqncia de queimadu-ras graves;

    O trabalhador foi atingido por desmoronamento de terra em vala paracolocao de tubulao de esgotos;

    O trabalhador e seu patro foram atingidos por fragmentos de pedras quese desprenderam de rocha submetida detonao em operao de obtenode cascalho;

    O trabalhador foi soterrado por parede que desabou, durante trabalho dedemolio de edificao;

    O trabalhador foi esmagado sob as rodas de caminho de lixo, ao escorre-gar do degrau mais baixo da escada lateral, frente das rodas traseiras, quandotentava subir no veculo.

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    Esse conjunto de descries registra apenas um exemplo de cada um dos vriostipos de acidentes com perfis praticamente superponveis encontrados nas anlisesda SEGUR/RS: prensagens de vtimas na rea de risco de mquinas e equipamen-tos; leses por captura de segmentos corporais em partes mveis; desmoronamen-tos em valas para colocao de tubulaes de esgoto ou outras escavaes da cons-truo civil; desmoronamentos em rea de uso de explosivos e ou em reas dedemolio.

    Com relao ao terceiro grupo, exposio corrente eltrica e a agentes fsi-cos, destacam-se:

    Exposies a linhas de distribuio e consumo de corrente eltrica;

    Exposies a linhas de transmisso de corrente eltrica.

    So exemplos dessas situaes, os acidentes abaixo, todos fatais:

    O trabalhador sofreu choque eltrico ao ocorrer contato entre facealuminizada de manta asfltica que estava colocando em telhado, com redeeltrica localizada a meio metro da edificao;

    O trabalhador sofreu choque eltrico quando podava galhos de rvore queobstruam a passagem de fios telefnicos. Alm do choque, o trabalhadorsofreu queda de escada;

    Ao colocarem poste em via pblica, com ajuda de caminho tipo Munck,houve contato do poste com a rede area de energia, produzindo choqueeltrico e morte de um trabalhador, leso severa em outro, amputao demembro inferior e queimaduras graves em um terceiro;

    Ao realizar tarefa de desmonte de andaime tubular, tipo torre, houve con-tato de partes do equipamento com a rede eltrica; os dois trabalhadores rece-beram choques eltricos e caram do andaime;

    Ao instalar gradil de concreto pr-fabricado, por meio de guindauto, empermetro de subestao de energia eltrica, houve aproximao da lana doguindaste dos fios de alta tenso. O operador do equipamento e seu ajudantereceberam choque eltrico;

    O trabalhador recebeu choque eltrico ao utilizar lavadora de alta presso(lavajato) para lavar compressor;

    O trabalhador sofreu choque eltrico ao encostar uma calha metlica narede eltrica pblica, durante servio de troca de calhas em telhado;

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    Trabalhador recebeu choque eltrico ao acionar a roda da betoneira. Ao cair,desmaiado, a betoneira virou por cima do trabalhador, derramando concretofresco sobre a boca e o nariz da vtima;

    Ao operar equipamento de guindar estruturas de concreto, houve contatodo cabo do guindaste com rede eltrica pblica, produzindo choque eltricono trabalhador;

    O trabalhador limpava betoneira eltrica que no tinha aterramento, aofim de dia de trabalho, quando recebeu choque eltrico;

    O trabalhador era servente de obra de construo em fbrica de calados.Ao buscar mais concreto, recebeu choque eltrico em betoneira no-aterrada;

    Ao operar bomba eltrica, no-aterrada e defeituosa, para esvaziar poo devisita em canteiro de obras, trabalhador recebeu choque eltrico;

    O trabalhador estava movimentando barra de ao que encostou na redeeltrica, produzindo choque;

    O trabalhador instalava ramal residencial de linha de energia eltrica, quan-do recebeu choque eltrico;

    O trabalhador estava consertando cmera de vigilncia quando sofreu cho-que eltrico e queda de escada onde estava trabalhando;

    O trabalhador estava montando rede eltrica em poste, em altura, suspensopor cesto instalado em caminho; recebeu choque ao contato com a rede dealta tenso;

    O trabalhador realizava a substituio de rede eltrica em setor de fbrica,quando recebeu choque de 220V. No usava equipamentos de proteo.

    Como se v acima, novamente os acidentes se repetem devido no-obser-vncia de regras tcnicas: falta de preparao para o trabalho e anlise de riscosda tarefa; falta de isolamento e planejamento; falta ou no utilizao de equipa-mentos coletivos e individuais de proteo adequados etc. notvel a quantidadede acidentes que poderiam ser evitados pela medida simples de providenciar aterra-mento de mquinas e equipamentos, como o caso de betoneiras em construocivil; o mesmo pode ser dito a respeito de medida simples e importantssima para apreveno de acidentes, que consiste em desligar ou desenergizar linhas de transmis-so, mquinas e equipamentos ao realizar servios de conserto e manuteno.

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    No quarto grupo, riscos acidentais respirao, foram registrados:

    Confinamento ou aprisionamento em um ambiente pobre em oxignio:trabalho em silo com engolfamento; asfixia aps descida em poo de elevadorde silo;

    Afogamento e submerso acidentais: afogamento mediante desmorona-mento de gros armazenados em silos; soterramento por gros em silo;

    Riscos no especificados respirao: entradas em dutos;

    Aprisionamento devido queda de terra ou desmoronamento de edificao,barreira ou talude.

    Como exemplos, temos:

    O trabalhador tentava desobstruir o escoadouro de silo, que estava cheiode milho. O sistema passou a funcionar repentinamente e a vtima foi engolfadapela massa de gros;

    O trabalhador desapareceu dentro da massa de gros de cevada, ao entrarem silo cheio, por abertura superior, para realizar trabalho de manuteno(vedao) de chapas internas da edificao. Seu corpo foi encontrado aps seresvaziado o silo;

    Ao realizar limpeza com jato de gua em tanque de caminho que haviatransportado produto qumico, o trabalhador desmaiou e caiu dentro do tan-que. O proprietrio da empresa entrou no tanque para socorrer o trabalhadore desmaiou. Um segundo trabalhador, tentando socorr-los, caiu do cami-nho tanque, de altura aproximada de 2,5m. Todos morreram;

    Os trabalhadores tentavam desobstruir duto onde escorria chorume deaterro sanitrio. Sucessivamente, cada um dos trabalhadores desceu por esca-da improvisada dentro do duto e desmaiou. Dois morreram;

    Dois trabalhadores, ao procurarem colega que auxiliava em atividade debeneficiamento de arroz, viram que ele estava cado no fundo do poo doelevador de gros. Desceram por escada anexa e ao chegar ao fundo sentiram-semal; um deles conseguiu sair. Dois trabalhadores foram retirados mortos do local;

    Os trabalhadores receberam a tarefa de desobstruir rede de esgoto de em-presa que produz leo e beneficia gros. Um trabalhador desceu por poo de

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    visita, na rede de esgoto e desmaiou; outros dois desceram para socorr-lo.Morreram todos;

    O trabalhador foi vtima de afogamento ao subir em monte de soja estoca-da em silo (armazm);

    O trabalhador caiu em abertura de fundao recm-concretada, mergu-lhando de corpo inteiro na mistura de cimento, areia e brita;

    O trabalhador entrou em poo de elevador de armazm de cooperativa, pararetirar gua do fundo. No havia ventilao artificial, vigia e nem trip de resgate;

    O trabalhador tentou desobstruir a sada de moega carregada com soja,sofrendo engolfamento, pelo desmoronamento da superfcie de gros compac-tados;

    Os trabalhadores estavam reinstalando boca de visita em fossa sptica degrandes dimenses. Um dos trabalhadores entrou na fossa por escada impro-visada, em busca de telefone celular que deixara cair e desmaiou. O mestre-de-obras entrou a seguir para resgat-lo. Ambos morreram;

    Trs trabalhadores preparavam formas para concretagem de pilares de edi-fcio em construo, prximo a talude que desmoronou e soterrou-os. Umdos trabalhadores faleceu;

    O trabalhador foi soterrado em desmoronamento de talude em obra paracolocao de tubulao de esgotos em via pblica.

    Tambm nos casos acima, os riscos que produziram os acidentes, e as medi-das de preveno e segurana que deveriam ter sido tomadas, j so h longotempo reconhecidas pela literatura tcnica e pelas NRs. De novo, observa-se aausncia de anlise prvia das tarefas e planejamento do trabalho; desconheci-mento evidente dos perigos e riscos, tanto por parte de trabalhadores como deempregadores; falta de equipamentos apropriados de salvamento e ausncia detreinamento. De forma geral, todos esses acidentes representam o tratamentoprecrio que ainda dado segurana e sade no trabalho.

    3.2. Distribuio dos Acidentes Segundo os Fatores CausaisA identificao dos fatores causais elemento de grande importncia, pois

    contribui para a implantao de medidas de preveno. Segundo o SFIT, os gru-pos de fatores causais de maior ocorrncia nos relatrios de acidentes do traba-lho fatais so apresentados na Figura 11.

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    Cabe destacar que cerca de 2/3 dos fatores causais decorrem de:

    Fatores da tarefa, com 245 ocorrncias (25%). Esto relacionados ao de-senvolvimento da atividade propriamente dita e no aos aspectos normativos.Referem-se, geralmente, maneira como os resultados so obtidos e aos mei-os utilizados. Os principais fatores encontrados foram: falha na antecipaoou deteco de risco ou perigo; modo operatrio inadequado segurana;trabalho habitual em altura sem proteo contra queda; improvisao; usoimprprio ou incorreto de equipamentos, materiais ou ferramentas e trabalhoeventual em altura sem proteo contra quedas;

    Fatores da organizao e gerenciamento das atividades ou da produo,com 184 ocorrncias (18%). Referem-se s decises adotadas pelos diversossetores/escales da empresa. Os principais fatores encontrados foram: faltaou inadequao de anlise de risco da tarefa e falta de planejamento ou depreparao do trabalho; procedimentos de segurana inexistentes; ausnciaou insuficincia de superviso; realizao de horas-extras; aumento de pres-so por produtividade; no concesso de repouso semanal e falha no trans-porte de materiais;

    Fatores do ambiente, com 121 ocorrncias (13%). Esto relacionados como ambiente em que se desenvolve a atividade e participaram do acidente; in-cluem as caractersticas de edificaes, instalaes eltricas, presena de rudo,calor, frio, umidade, condies de ventilao, condies de circulao, estadode organizao e limpeza, espaos de trabalho, entre outros. Os principaisfatores encontrados foram: meio de acesso temporrio inadequado seguran-a; partes eltricas vivas expostas; ausncia ou inadequao de escoramento;

    Figura 11: Distribuio percentual dos acidentes do trabalho fatais analisados pela SEGUR/RS, segun-do grupo de fatores causais, agosto de 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

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    meio de acesso permanentemente inadequado segurana e dificuldade decirculao;

    Fatores do material, com 115 ocorrncias (12%). Referem-se s mquinas,ferramentas, matrias-primas e outros. Os principais fatores encontrados fo-ram: sistema ou dispositivo de proteo ausente ou inadequado por concep-o; sistema, mquina ou equipamento mal construdo ou instalado, sistema,mquina ou equipamento mal concebido, falta de EPI.

    Cabe destacar que os registros de fatores causais so mltiplos. Isto , o siste-ma de registro de anlises SFIT permite que sejam inseridos at dez fatorescausais em cada acidente investigado, dependendo dos dados que foram obtidos.Assim, uma mesma anlise, pode registrar um ou mais fatores da tarefa, combi-nados com um ou mais fatores do material, e/ou do ambiente e/ou da organiza-o e gerenciamento. Por exemplo, no acidente X foram identificadas como causas:falha na deteco de risco ou perigo e uso imprprio de equipamento (ambas fato-res da tarefa), alm de identificar ausncia de dispositivo de proteo em equipa-mento (fator do material).

    Ainda, da forma que foi construdo, o SFIT no apresenta uma hierarquizaonos fatores registrados caso a caso. Ou seja, os registros de fatores causais nosistema no so inseridos ou listados por ordem de influncia ou importncia nagnese do acidente em anlise.

    Estes aspectos so importantes, porque buscam evidenciar a origem natural-mente multicausal dessas ocorrncias. Rompe-se, ento, com tendncias dicot-micas e reducionistas de rotular causas como ato ou condio insegura, o quepouco contribui para a adoo de medidas de preveno. Ao contrrio, buscandotodos os fatores que concorreram para o evento, permite-se a identificao devrios mecanismos possveis de interveno, de forma a tornar mais seguras asatividades de trabalho.

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    CAPTULO IIICAPTULO IIICAPTULO IIICAPTULO IIICAPTULO III

    FISCALIZAO E NORMAS REGULAMENTFISCALIZAO E NORMAS REGULAMENTFISCALIZAO E NORMAS REGULAMENTFISCALIZAO E NORMAS REGULAMENTFISCALIZAO E NORMAS REGULAMENTADORAS INFRINGIDADORAS INFRINGIDADORAS INFRINGIDADORAS INFRINGIDADORAS INFRINGIDASASASASAS

    Um dos instrumentos de que a sociedade brasileira dispe para identificaros fatores causais dos acidentes do trabalho fatais ocorridos, so os Audi-tores-Fiscais do Trabalho do MTE.As fiscalizaes decorrentes de acidentes do trabalho so objeto de especial

    ateno por parte desses agentes pblicos, pela gravidade dos fatos investigadose pelas freqentes conseqncias jurdicas dessas inspees.

    As normas regulamentadoras mais citadas nos autos de infrao e termos denotificaes lavrados durante as fiscalizaes que envolveram os acidentes dotrabalho fatais foram: a NR 18 Condies e meio ambiente de trabalho naindstria da construo; a NR 9 Programa de preveno de riscos ambientais;a NR 7 Programa de controle mdico de sade ocupacional; a NR 1 Dispo-sies gerais; a NR 6 Equipamento de proteo individual e a NR 12 Mqui-nas e equipamentos. A distribuio percentual da quantidade de itens fiscaliza-dos, segundo as NRs mais citadas, apresentada na Figura 1.

    Figura 1: Distribuio percentual de itens constantes dos autos de infrao e notificaes, por normaregulamentadora, durante as anlises de acidentes do trabalho fatais realizadas pela SEGUR/RS, agostode 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

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    Figura 2: Distribuio percentual de itens constantes dos embargos e interdies, por normaregulamentadora, durante as anlises de acidentes do trabalho fatais realizadas pela SEGUR/RS, agostode 2001 a dezembro de 2007. Fonte: SFIT

    Os autos de infrao e os termos de notificaes so lavrados em decorrnciado comando contido nos itens 28.1.3 e 28.1.4 da NR 28, com fundamento legalno RIT e na CLT.

    NR 28 - Fiscalizao e Penalidades

    28.1.3 O agente da inspeo do trabalho dever lavrar o respectivo auto deinfrao vista de descumprimento dos preceitos legais e/ou regulamentarescontidos nas Normas Regulamentadoras Urbanas e Rurais, considerando ocritrio da dupla visita, elencados no Decreto n 55.841, de 15.03.65, substi-tudo pelo Decreto n 4542, de 27.12.2002, no Ttulo VII da CLT e no 3 doart. 6 da Lei n 7.855, de 24.10.89.

    28.1.4 O agente da inspeo do trabalho, com base em critrios tcnicos, po-der notificar os empregadores concedendo prazos para a correo das irre-gularidades encontradas.

    Quanto aos embargos e interdies efetuadas durante as inspees decorren-tes das investigaes de acidentes fatais, foram registrados 225 itens. A Figura 2 apre-senta a distribuio percentual de itens referidos em embargos ou interdies.

    Observa-se que 70% dos itens irregulares esto relacionados com a NR 18,relativa indstria da construo e que 8% refere-se NR 12 mquinas e equipa-mentos.

    Os itens mais citados nos embargos e interdies lavrados durante as investi-gaes de acidentes fatais, em ordem decrescente de freqncia, foram:

    Item 18.13.1 da NR 18: obrigatria a instalao de proteo coletivaonde houver risco de queda de trabalhadores ou de projeo de materiais;

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    Item 18.15.1 da NR 18: O dimensionamento dos andaimes, sua estruturade sustentao e fixao, deve ser realizado por profissional legalmente habilitado;

    Item 18.23.3 da NR 18: O cinto de segurana tipo pra-quedista deve serutilizado em atividades a mais de 2m de altura do piso, nas quais haja risco dequeda do trabalhador;

    Item 12.3.3 da NR 12: As mquinas e os equipamentos que ofeream riscode ruptura de suas partes, projeo de peas ou partes destas, devem ter osseus movimentos, alternados ou rotativos, protegidos;

    Item 12.3.1 da NR 12: As mquinas e os equipamentos devem ter suastransmisses de fora enclausuradas dentro de sua estrutura ou devidamenteisoladas por anteparos adequados.

    Os termos de interdio e de embargo so lavrados em decorrncia dos itens28.2.1 da NR 28 e 3.1 da NR 3, ambos da Portaria 3.214/78 do MTE e com funda-mento legal no artigo 161 da CLT, na portaria GAB/DRT/RS n 13 de 15/3/2004,que delega competncia aos Auditores-Fiscais do Trabalho para determinar a imedi-ata interdio ou embargo, e no artigo 18 do Decreto n 4552, que aprovou o RIT.

    NR 28 - Fiscalizao e Penalidades28.2.1 Quando o agente da inspeo do trabalho constatar situao de grave eiminente risco sade e/ou integridade fsica do trabalhador, com base emcritrios tcnicos, dever propor de imediato autoridade regional competen-te a interdio do estabelecimento, setor de servio, mquina ou equipamen-to, ou o embargo parcial ou total da obra, determinando as medidas que deve-ro ser adotadas para a correo das situaes de risco.

    NR 3 - Embargo ou interdio3.1. O Delegado Regional do Trabalho ou Delegado do Trabalho Martimo,conforme o caso, vista de laudo tcnico do servio competente que de-monstre grave e iminente risco para o trabalhador, poder interditar estabele-cimento, setor de servio, mquina ou equipamento, ou embargar obra, indi-cando na deciso tomada, com a brevidade que a ocorrncia exigir, as provi-dncias que devero ser adotadas para preveno de acidentes do trabalho edoenas profissionais.

    3.1.1 Considera-se grave e iminente risco toda condio ambiental de traba-lho que possa causar acidente do trabalho ou doena profissional com lesograve integridade fsica do trabalhador.

  • Anlises de acidentes do trabalho fatais no Rio Grande do Sul

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    SEGUR

    O Decreto n 4.552, de 27 de dezembro de 2002, que aprovou o Regulamentoda Inspeo do Trabalho, estabelece:

    Art. 18. Compete aos Auditores-Fiscais do Trabalho, em todo o territrio nacional:... XIII - propor a interdio de estabelecimento, setor de servio, mquina ouequipamento, ou o embargo de obra, total ou parcial, quando constatar situa-o de grave e iminente risco sade ou integridade fsica do trabalhador,por meio de emisso de laudo tcnico que indique a situao de risco verificadae especifique as medidas corretivas que devero ser adotadas pelas pessoassujeitas inspeo do trabalho, comunicando o fato de imediato auto