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Tribunal Regional Federal da 1ª Região TRF da 1ª Região (2º grau) e Turmas Recursais e Regional dos Juizados O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 1016749-80.2018.4.01.0000 em 15/06/2018 17:25:55 por MATHEUS DANTAS MEIRA Documento assinado por: - MATHEUS DANTAS MEIRA 18061515161349000000002285877 Consulte este documento em: http://pje2g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam usando o código: 18061515161349000000002285877 ID do documento: 2285451

Mandado de Segurança-Processo nº 1012419 … · pág.4 de 46 A demanda originária fora proposta por 10 (dez) autores – todos domiciliados em diferentes estados da federação

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Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoTRF da 1ª Região (2º grau) e Turmas Recursais e Regional dos Juizados Especiais Federais

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 1016749-80.2018.4.01.0000em 15/06/2018 17:25:55 por MATHEUS DANTAS MEIRADocumento assinado por:

- MATHEUS DANTAS MEIRA

18061515161349000000002285877

Consulte este documento em:http://pje2g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seamusando o código: 18061515161349000000002285877ID do documento: 2285451

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO.

“A mais bela função da humanidade é a de ministrar justiça”. Voltaire.

MANOEL LUIZ OLIVEIRA, brasileiro, casado, professor e

desportista, presidente da Confederação Brasileira de Handebol – CBHb, portador da cédula

de identidade nº. 125.690 SSP/SE e do CPF nº. 056.916.725-68, com endereço profissional

na Rua Monsenhor Silveira, nº. 171, Bairro São José, Aracaju/SE, podendo receber

comunicações oficiais através do e-mail [email protected], vem, ante

a honrosa presença de Vossa Excelência, por conduto de seus advogados regularmente

constituídos e ao final firmados, fulcrado no art. 5º, incisos LXIX, LXX, LIII e LIV; art. 108,

inciso I, “c”, da Constituição Federal, nos preceitos contidos na Lei nº 12.016/2009, no

Código de Processo Civil, doutrina e jurisprudência pátrias, impetrar a presente ação

constitucional de

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR

apontando como autoridade coatora o Excelentíssimo Senhor Juiz Federal Substituto da 21ª

Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal - Dr. Rolando Valcir Spanholo,

integrante Tribunal Regional Federal da 1ª Região, órgão da Justiça Federal, nos termos do

art. 106, da CF/88, vinculado ao ente federativo União Federal, pessoa jurídica de direito

público interno, visando garantir direito líquido e certo por meio de pleito liminar

Mandado de Segurança com Pedido Liminar Processo originário nº 1018866-63.2017.4.01.3400. Impetrante: Manoel Luiz Oliveira. Autoridade coatora: Rolando Valcir Spanholo – Juiz Federal Substituto da 21ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal.

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suspensivo dos efeitos de decisão manifestamente ilegal e teratológica, irrecorrível de

imediato, proferida no âmbito do Processo nº 1018866-63.2017.4.01.3400, sem observar os

preceitos constitucionais do juiz natural e do devido processo legal, ofertando as razões

fáticas, jurídicas e probatórias doravante delineadas.

Brasília/DF, 14 de junho de 2018.

EVÂNIO JOSÉ DE MOURA SANTOS MATHEUS DANTAS MEIRA OAB/SE 2.884 – OAB/BA 19.306 OAB/SE 3.910

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EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO;

COLENDA SEÇÃO;

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL RELATOR;

DOUTO PROCURADOR REGIONAL DA REPÚBLICA.

RAZÕES DO MANDADO DE SEGURANÇA

“Legalidade e liberdade são as tábuas da vocação do advogado.

Nelas se encerra, para ele, a síntese de todos os mandamentos.

Não desertar a justiça, nem cortejá-la. Não lhe faltar com a

fidelidade, nem lhe recusar o conselho. Não transfugir da

legalidade para a violência, nem trocar a ordem pela anarquia.

Não antepor os poderosos aos desvalidos, nem recusar

patrocínio a estes contra aqueles. Não servir sem independência

à justiça, nem quebrar da verdade ante o poder. Não colaborar

em perseguições ou atentados, nem pleitear pela iniqüidade ou

imoralidade. Não se subtrair à defesa das causas impopulares,

nem à das perigosas, quando justas. Onde for apurável um grão,

que seja, de verdadeiro direito, não regatear ao atribulado o

consolo do amparo judicial”. (Rui Barbosa, em Oração aos Moços).

Negritos nossos.

I. BREVIÁRIO FÁTICO.

Trata o caso vertente de mandado de segurança impetrado com o

objetivo de impugnar decisão interlocutória irrecorrível, prolatada no bojo da Ação

Declaratória de Má-gestão, Afastamento e Intervenção na Confederação Brasileira de

Handebol cumulada com Pedido de reposição e/ou Restituição e Indenização ao Erário

Federal, demanda atecnicamente convertida pelo magistrado a quo em Ação Popular com

pedido de medida liminar (fls. 761 ut 780 do Processo nº 1018866-63.2017.4.01.3400, anexo

na íntegra).

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A demanda originária fora proposta por 10 (dez) autores – todos

domiciliados em diferentes estados da federação –, no intuito de obter, liminarmente,

afastamento preventivo e imediato do impetrante, Manoel Luiz Oliveira da Presidência da

Confederação Brasileira de Handebol e, por consequência, que fosse nomeado interventor

com amplos poderes para gerir e administrar a CBHb.

Os autores suscitaram, no que tange ao recebimento dos recursos

pela Confederação Brasileira de Handebol, que esses, em sua maioria, se tratavam de

recursos de fontes públicas, razão pela qual mereciam a devida proteção contra atos de má

gestão, gestão patrimonial e financeira irregular e temerária.

Tendo em vista suposta malversação dos aludidos recursos públicos,

e má gestão por parte do impetrante, ajuizaram os autores demanda (Processo nº 1018866-

63.2017.4.01.3400), requerendo, em sede de tutela de urgência, o afastamento preventivo

e imediato do paciente da Presidência da Confederação.

Em despacho de fls. 507/508 do feito originário (cópia integral em

anexo), o magistrado de instância primeira enunciou que “na delimitação dos pedidos

apresentados pelos autores, a única ponte que poderia ensejar a competência da Justiça

Federal diz respeito ao requerimento de informação dos valores repassados pela UNIÃO, por

intermédio de convênios, e a exibição de documentos, constantes das prestações de contas

apresentadas pela Confederação ré, desde o ano de 2010”.

Perante a incompetência absoluta da Justiça Federal, deveria o

julgador, naquele momento processual, ter reconhecido a questão de ordem pública e

remetido o feito para a Justiça Estadual de Sergipe, ao invés de indicar aos demandantes o

que deveria ser feito de modo a avocar a competência para a Seção Judiciária do Distrito

Federal.

Literalmente, o magistrado apontado como autoridade coatora

sugeriu aos autores, em nítido desrespeito ao dever de imparcialidade (pressuposto de

validade do processo), que “sequer foi formulado pedido de indenização ou de reposição

ao erário federal no rol dos objetivos buscados pelos autores. Resta evidente que, em

tese, não há qualquer verdadeiro interesse da União no feito, o que, pela via reflexa,

torna este juízo federal incompetente para enfrentar as questões debatidas nos autos”

(Grifo nosso).

Em virtude dessa indevida sugestão feita pelo julgador, os autores

na demanda originária emendaram a inicial (fls. 511/520), tendo adicionado “pedido de

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reposição e/ou restituição e indenização ao erário federal”, requerendo, no item 03 (fl.

518) “a condenação do réu (Manoel Luiz Oliveira) a restituir aos cofres da União os

valores malversados e/ou utilizados de forma contrária ao previsto no convênio e/ou

utilizados em desacordo com a legislação nos termos descritos nos pareceres

apontados pela controladoria-geral da União”. (Grifo nosso)

O juiz da causa, em decisão de fls. 547/548, determinou a intimação

do Ministério Público Federal e da União, a fim de que, dentre outras medidas, se

manifestassem acerca da liminar pleiteada pelos autores, tendo registrado ao final, que “na

hipótese de restar firmada a competência deste juízo, a pretensão autoral será processada sob

a égide da Lei nº 4.717/65 (Ação Popular).”

O Ministério Público Federal, em sua manifestação (fls. 551/552),

percebeu que “a maior parte das investigações estão sendo realizadas no Estado de

Sergipe, em Aracaju, tanto pela Procuradoria da República como pela

Superintendência da Polícia Federal, tendo em vista que a sede da Confederação

Brasileira de Handebol está sediada naquele Estado.” (Grifo nosso)

Por tal motivo, o Parquet Federal opinou pela necessidade de

“declínio de competência para a Seção Judiciária de Sergipe. Ainda que a ação tenha

sido intentada contra a União, considerando-se a competência concorrente

estabelecida pelo artigo 109, § 2º, da Constituição Federal, a instrução processual e

probatória será mais eficiente naquele estado da federação, já que os fatos tiveram

origem na sede da respectiva Confederação, aplicando-se ao caso o artigo 53, inciso

IV, alínea a, do CPC (o lugar do ato ou fato para a ação de reparação de dano).” (fl.

552) (Grifo nosso)

A União Federal, por seu turno, em manifestação prévia (fls.

553/557), entendeu que “não assiste razão ao Autor, de modo que o pedido de liminar

deve ser indeferido, uma vez que não estão presentes os requisitos que autorizam a

tutela provisória de urgência requerida pelo Autor” (Grifo nosso).

Ou seja, a própria União, em tese vítima dos fatos que foram

narrados na inicial e comprovados, basicamente, por notícias jornalísticas, pugnou pelo

indeferimento do pedido de tutela de urgência.

No mérito, a União salientou não somente a ausência dos

pressupostos para a concessão da pretendida tutela provisória de urgência, como também,

a falta de requisitos para o seu prosseguimento no polo passivo da demanda, o que levaria

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à necessária remessa do processo à Justiça Estadual, consoante se infere da primeira análise

realizada pelo próprio magistrado à fl. 507.

Da análise dos autos, verificou o ente federativo que “o processo

diz respeito a interesses exclusivamente dos autores em face da CBHb e seu atual

presidente. Inexistente qualquer interesse jurídico da União no caso, pois não há

possibilidade de eventual decisão prolatada em seu bojo afetar de maneira negativa

a sua esfera jurídica.” (Grifo nosso)

Assim, considerando que “o cerne do processo diz respeito à

gestão de entidade privada, com personalidade jurídica própria e sobre a qual a União

não possui qualquer ingerência [...] não há motivo que justifique o interesse da União

na lide, razão pela qual sugere-se o pleito de sua exclusão do processo, com respaldo

no art. 485, VI, do CPC (Lei nº 13.105/2015)”. (Grifo nosso)

Ao final da manifestação, ressaltou que “a União não possui sequer

legitimidade passiva para integrar o polo passivo da presente ação, verifica-se que

estão ausentes os requisitos que autorizam a tutela provisória de urgência, nos termos

do art. 300, do CPC, motivo por que a UNIÃO requer o indeferimento do pedido de

tutela provisória de urgência” (Grifo nosso).

Corroborando a sua total falta de interesse jurídico na lide, a União

Federal, em atendimento ao despacho de fls. 547/548, juntou ao feito documento

demonstrando que os 08 (oito) convênios firmados se encontram em fase de análise da

prestação de contas, de tal modo que “enquanto não concluídas as análises financeiras

dos supracitados processos, não há que se determinar ‘valores em aberto a serem

restituídos’.” (fl. 558) – Grifamos.

Quando da análise do feito por parte da autoridade coatora,

inexplicavelmente o ilustre magistrado federal conferiu/trasmudou à ação declaratória de

má gestão tratamento de ação popular, bem como, avocou, erroneamente, a competência

absoluta para processar e julgar a demanda originária, ao arrepio da norma cogente (art.

64, do CPC/2015 e art. 109, inciso I, da CF/88), tendo decido pela concessão parcial da

liminar pleiteada, consoante se infere da decisão interlocutória de fls. 761/780, a seguir

transcrita:

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2.1.2 – DA COMPETÊNCIA DESTE FORO NACIONAL PARA

ENFRENTAR PARCELA DOS PEDIDOS APRESENTADOS PELOS

AUTORES POPULARES. DO RECEBIMENTO PARCIAL DA AÇÃO.

Da mesma forma, diversamente do sustentado pelo MPF (fls.

551/552) e pela UNIÃO (fls. 553/558), deve ser firmada a

competência deste juízo para o exame de parcela da pretensão

deduzida nos autos.

A UMA, porque é incontroversa a natureza federal dos R$ 21

milhões que, supostamente, teriam sido, em parte, aplicados

lesivamente ao interesse público pela CONFEDERAÇÃO

BRASILEIRA DE HANDEBOL (CBHh) durante o ciclo preparatório

dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Logo, sem crédito a afirmação de que a UNIÃO não teria (ainda que

parcial) interesse no deslinde do feito (fls. 553/558).

A DUAS, porque, nos termos do art. 109, §2º, da Carta Política, este

juízo possui competência ampliada de foro nacional.

Sendo, portanto, irrelevante o fato de a CONFEDERAÇÃO

BRASILEIRA DE HANDEBOL (CBHh) ter sua sede administrativa na

cidade de Aracajú (Sergipe) e/ou que os atos tidos por ilícitos terem

sido praticados fora do Distrito Federal.

A TRÊS, porque a mera instauração de Inquéritos Civis (nºs

1.35.000.001946/2016-98, 1.35.000.000240/2017-90 e

1.16.000.002179/2017-71) perante a Procuradoria da República

em Sergipe e um pretenso Inquérito Policial (oriundo do

expediente nº 1.30.001.00085/2017-12) perante a

Superintendência Regional do Rio de Janeiro para apurar o mesmo

suporte fático lançado nestes autos não tem o condão de afastar a

competência ampliada deste foro nacional, segundo defendido

pelo MPF (fls. 551/552).

Inicialmente, porque são meros expedientes administrativos.

Depois, porque, segundo tacitamente admitido às fls. 551/552, até

o presente momento, mesmo já passado tão vasto lapso temporal,

nenhuma medida judicial foi tomada com vistas a apurar os graves

fatos aqui listados pelos autores populares.

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Desta feita, no que diz respeito ao exame da suposta lesividade ao

patrimônio da União, merece ser rejeitada a tese de incompetência

suscitada pelo MPF.

Contudo, de fato, não deve ser recebida a inicial na parte em que

os autores pretendem trazer para este juízo federal o debate

acerca de celeumas envolvendo processo eleitoral interno da

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HANDEBOL (CBHh).

Afinal, trata-se de matéria que não guarda qualquer relação fática

e jurídica com os inúmeros convênios firmados por aquela

entidade com o Ministério dos Esportes (União).

Vai daí, eventuais ilicitudes sobre tal tema estão sujeitas à regra da

competência residual da Justiça Estadual (CF/88, art. 125, §1º).

O que, pela via reflexa, impõe o recebimento apenas parcial da

ação proposta (fls. 6/51 e 511/520).

[...]

ANTE TODO O EXPOSTO, com fundamento nas razões fáticas e

jurídicas sobreditas:

3.1) recebo apenas parcialmente a inicial e determino a

observância das regras elencadas na Lei nº 4.717/65;

3.2) firmo a competência deste foro nacional; e

3.3) concedo em parte a LIMINAR para os fins de determinar o

imediato afastamento, por prazo indeterminado, do Sr. MANOEL

LUIZ OLIVEIRA das funções de Presidente da CONFEDERAÇÃO

BRASILEIRA DE HANDEBOL (CBHb).

Cumpra-se com urgência, via precatória.

Intime-se, via mandado, a União para que se abstenha de firmar

atos e/ou repassar valores à CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE

HANDEBOL (CBHb) até seja cumprida a presente ordem de

afastamento.Citem-se.” (Grifo nosso)

É em face dessa decisão interlocutória, d.m.v., equivocada, que se

maneja o presente mandado de segurança com pedido liminar, notadamente no escopo de

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suspender os efeitos deletérios da decisão teratológica, posto que a autoridade que a

prolatou o fez contrariamente às normas de competência que integram o sistema

processual cível, bem como ofende a Carta Magna (art. 109, inciso I), ao forçar a

inclusão da União na lide, quando o ente federativo manifestou expressamente o seu

desinteresse jurídico na causa.

Assim, perante a irrecorribilidade imediata da decisão interlocutória

supra, da qual não se pode agravar por inexistir previsão legal no rol taxativo do art. 1.015

do CPC, não restou outra alternativa senão buscar a suspensão dos efeitos do teratológico

do decisum através da via excepcional do mandamus, tendo como respaldo normativo o

art. 5º, incisos LXIX, LXX e LIII da CF/88, a doutrina e a jurisprudência firmada pelos Tribunais

Superiores.

II. DO CABIMENTO DO PRESENTE WRIT.

A presente impetração se mostra juridicamente cabível, pois se está

diante de decisão interlocutória irrecorrível imediatamente, haja vista que a matéria relativa

à incompetência absoluta não encontra previsão no rol do art. 1.015 do CPC, e a mera

possibilidade de se aguardar o sentenciamento do feito por um juízo reconhecidamente

incompetente, demonstra de maneira cabal a ameaça ao direito líquido e certo do

impetrante de ter a sua causa processada e julgada pelo juízo competente, devendo-se

respeitar todas as regras processuais de definição de competência (em razão da matéria, do

lugar e da pessoa).

Importa deixar consignado, antes de prosseguir à análise que,

segundo enuncia a doutrina pátria, o prazo de 120 (cento e vinte) dias, previsto no art. 23

da lei nº 12.016/09 possui natureza decadencial e a sua contagem se dá a partir da data em

que o impetrante tomou ciência do ato ilegal – no caso em apreço, o paciente fora

cientificado da decisão interlocutória impugnada em 19.04.2018 (vide carta precatória

anexa), restando patente a tempestividade do mandamus.

Demais disso, quanto à competência originária para julgar o

presente writ of mandamus, a Carta Marga em seu art. 108, inciso I, alínea “c”, estabelece

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que, cabe aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar “os mandados de segurança e

os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal”.

Nesse mesmo toar, o próprio Regimento Interno do Tribunal

Regional Federal da 1ª Região disciplina em seus arts. 229 e 12, inciso I, alínea “d”, o

seguinte:

Art. 229. Os mandados de segurança de competência originária

do Tribunal serão processados e julgados pela Corte Especial ou

pelas seções de acordo com o disposto nos arts. 10 e 12.

Art. 12. Compete às seções:

I – processar e julgar:

[...]

d) os mandados de segurança e os habeas data para impugnação

de ato de juiz federal; (Grifo nosso)

No tocante ao comprovante de pagamento das custas judiciais, o

impetrante o faz devidamente, consoante se infere da guia de recolhimento das referidas

custas processuais anexa.

Antes da criteriosa análise dos fundamentos jurídicos que viabilizam

o presente mandado de segurança manejado para desconstituir decisão interlocutória não

agravável de imediato, importa deixar registrado que a matéria em análise traz em seu bojo,

questão que se encontra fortemente dividida entre os doutrinadores e dentro da própria

Corte Cidadã. No entanto, a existência de tal controvérsia não impede a concessão da

segurança almejada, consoante elencado pela Súmula 625 do Supremo Tribunal Federal1.

De um lado, encontram-se processualistas de renome, tais como

Fredie Didier, Luiz Guilherme Marinoni, Mitidiero, Cândido Dinamarco, Leonardo Carneiro

da Cunha, dentre outros, defendendo a possibilidade de interpretação extensiva do inciso

III, do art. 1.015 do CPC, de modo a enquadrar no referido dispositivo, referente à “rejeição

da alegação de convenção de arbitragem”, a discussão sobre incompetência absoluta e

relativa do juízo.

Corroborando esse posicionamento, a 4ª Turma do STJ, em

fevereiro de 2018, quando do julgamento do Recurso Especial nº 1.712.059/MG, de

1 Súmula nº 625: Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança.

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relatoria do Ministro Luís Felipe Salomão, entendeu que “apesar de não previsto

expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015, a decisão interlocutória relacionada à

definição de competência continua desafiando recurso de agravo de instrumento, por uma

interpretação analógica ou extensiva da norma contida no inciso III do art. 1.015 do

CPC/2015, já que ambas possuem a mesma ratio –, qual seja, afastar o juízo incompetente

para a causa, permitindo que o juízo natural e adequado julgue a demanda.”2 (Grifo nosso)

Em dezembro de 2017, a 2ª Turma do STJ já havia possibilitado a

interpretação extensiva de inciso do art. 1.015, quando do julgamento do Recurso Especial

nº 1694667/PR, de relatoria do Ministro Herman Benjamin, tendo sido firmado

entendimento no sentido de que “deve ser dada interpretação extensiva ao comando contido

no inciso X do art. 1.015 do CPC/2015, para que se reconheça a possibilidade de interposição

de Agravo de Instrumento nos casos de decisão que indefere o pedido de efeito suspensivo aos

Embargos à Execução.”3 (Grifo nosso)

Em face da existência de celeuma quanto ao tema, a Corte Especial

do Superior Tribunal de Justiça, em 28.02.2018, afetou a questão para julgamento na

modalidade repetitiva, tendo delimitado a controvérsia, a fim de “definir a natureza do rol

do art. 1.015 do CPC/15 e verificar possibilidade de sua interpretação extensiva, para se

admitir a interposição de agravo de instrumento contra decisão interlocutória que verse sobre

hipóteses não expressamente versadas nos incisos de referido dispositivo do Novo CPC.”4

(Grifo nosso)

Contudo, observa-se na fundamentação do acórdão acima

transcrito que a Corte Especial, embora tenha afetado o referido tema ao julgamento pelo

rito dos recursos repetitivos, expressamente decidiu pela “não suspensão do

processamento dos recursos de agravo de instrumento que versem sobre idêntica

questão em tramitação no território nacional”, modulando os efeitos do inciso II do art.

1.037 do CPC/2015.

Isto posto, destaca-se que outra parte da doutrina pátria

compreende que o rol do art. 1.015 é taxativo, de tal modo que não há de se falar em

interpretação extensiva ou analógica do referido dispositivo, sendo inviável a interposição

2 Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.679.909; Proc. 2017/0109222-3; RS; Quarta Turma; Rel. Min. Luis Felipe Salomão; Julg. 14/11/2017; DJE 01/02/2018; Pág. 4658. 3 Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1694667/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 05/12/2017, DJe 18/12/2017. 4 Superior Tribunal de Justiça. Proposta de Afetação de Recurso Especial Representativo de Controvérsia 1704520/MT; Corte Especial; Rela. Mina. Nancy Andrighi; j. 20.02.2018; DJe 28.02.2018.

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de agravo de instrumento em face de decisões interlocutórias não elencadas expressamente

na lei federal.

Com base nesse fundamento supra que a Corte Cidadã analisou, em

23.05.2018, o mérito do Recurso Especial nº 1.700.308/PB, também de relatoria do ministro

Herman Benjamin, tendo sido prolatado pela 2ª Turma acórdão no sentido de não ser

possível a interpretação extensiva do inciso III, do art. 1.015, de modo a viabilizar discussão

em torno da competência do juízo.

Entendeu a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça que não

caberia agravo de instrumento como forma de impugnação do provimento interlocutório

que versasse sobre competência do juízo, consoante se infere do aludido precedente, a

seguir destacado:

PROCESSUAL CIVIL. QUESTÃO AFETADA AO RITO DOS RECURSOS

REPETITIVOS TENDO COMO REPRESENTATIVO DA

CONTROVÉRSIA O RESP Nº 1.704.250/MT. AFETAÇÃO, CONTUDO,

DESPROVIDA DE EFEITO SUSPENSIVO, MODULANDO O DISPOSTO

NO INCISO II DO ART. 1.037/CPC. POSSIBILIDADE, ENTÃO, DE

ANÁLISE DO MÉRITO DO RECURSO ESPECIAL PRESENTE. AGRAVO

DE INSTRUMENTO. DESCABIMENTO. ART. 1.015 DO CPC/2015.

ROL TAXATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE INTERPRETAÇÃO

EXTENSIVA. NÃO HÁ SIMILARIDADE ENTRE OS INSTITUTOS.

COMPETÊNCIA DO JUÍZO E REJEIÇÃO DE JUÍZO ARBITRAL PARA A

EXTENSÃO PRETENDIDA. OPÇÃO POLÍTICO-LEGISLATIVA DO

CONGRESSO NACIONAL. 1. Cuida-se de inconformismo contra

acórdão do Tribunal de origem que negou seguimento ao Agravo

Interno, em segundo grau, que rejeitou Agravo de Instrumento,

com base no entendimento de que as matérias concernentes à

competência do Juízo e ao indeferimento de produção de prova

não estão contidas no rol do art. 1.015 do CPC/2015, sendo, por

esse motivo, descabido o manejo do Agravo. 2. A controvérsia

acerca de a decisão interlocutória relacionada à definição de

competência desafiar o recurso de Agravo de Instrumento em

razão da interpretação extensiva ou analógica do inciso III do art.

1.015 do CPC/2015, foi afetada ao rito do art. 1.036 do Novo CPC

(correspondente ao art. 543-C do CPC/73), ou seja, o rito dos

recursos repetitivos. A discussão é objeto do ProAfR no RESP

1.704.520/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, DJe

28/2/2018. Contudo, observa-se no acórdão acima transcrito que

a Corte Especial, embora afete o tema ao julgamento pelo rito

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repetitivo, expressamente decidiu pela NÃO suspensão dos

demais processos, modulando os efeitos do inciso II do art. 1.037

do CPC/2015. Assim, apesar de afetado ao rito dos recursos

repetitivos, o presente julgamento pode continuar. 3. Acerca do

caso, considera-se que a interpretação do art. 1.015 do Novo CPC

deve ser restritiva, para entender que não é possível o

alargamento das hipóteses para contemplar situações não

previstas taxativamente na lista estabelecida para o cabimento

do Agravo de Instrumento. Observa-se que as decisões relativas

à competência, temática discutida nos presentes autos, bem

como discussões em torno da produção probatória, estão fora do

rol taxativo do art. 1.015 do CPC/2015. 4. Por outro lado, não é a

melhor interpretação possível a tentativa de equiparação da

hipótese contida no inciso III (rejeição da alegação de convenção

de arbitragem) à discussão em torno da competência do juízo. 5.

Recurso Especial não provido. (STJ; REsp 1.700.308; Proc.

2017/0244610-6; PB; Segunda Turma; Rel. Min. Herman Benjamin;

Julg. 17/04/2018; DJE 23/05/2018; Pág. 2299) - Grifo nosso.

Em contrapartida a esse acórdão, o Ministro Luis Felipe Salomão, em

29.05.2018, ao julgar monocraticamente o Recurso Especial nº 1.712.059/MG, reiterou o

entendimento adotado pela 4ª Turma, no sentido de ser cabível o agravo de instrumento

em face de decisão interlocutória que versa sobre competência, haja vista a possibilidade

de interpretação extensiva ou analógica do inciso III, do art. 1.015, do CPC. Eis o que se

infere da referida decisão monocrática, a saber:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO

INTERLOCUTÓRIA RELATIVA À COMPETÊNCIA. INTERPRETAÇÃO

DO ROL DO ART. 1.015 DO CPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO.

CABIMENTO. 1. "Apesar de não previsto expressamente no rol do

art. 1.015 do CPC/2015, a decisão interlocutória relacionada à

definição de competência continua desafiando recurso de agravo

de instrumento, por uma interpretação analógica ou extensiva da

norma contida no inciso III do art. 1.015 do CPC/2015, já que

ambas possuem a mesma ratio –, qual seja, afastar o juízo

incompetente para a causa, permitindo que o juízo natural e

adequado julgue a demanda" (RESP 1679909/RS, Rel. Ministro

LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 14/11/2017,

DJe 01/02/2018). 2. Recurso Especial provido. (STJ; REsp

1.712.059; Proc. 2017/0304466-5; MG; Rel. Min. Luis Felipe

pág.14 de 46

Salomão; Julg. 14/05/2018; DJE 29/05/2018; Pág. 6757) - Grifo

nosso.

Com base nesse posicionamento jurídico, inaugurado pela Segunda

Turma (Informativo 617) e corroborado pela Quarta Turma do STJ (Informativo 618), que o

ora impetrante, tão logo fora cientificado da decisão interlocutória em 19.04.2018, interpôs,

em 07.05.2018, agravo de instrumento nº 1012419-40.2018.4.01.0000-1 (feito anexo),

suscitando a matéria de ordem pública relativa à incompetência absoluta do juízo federal

para processar e julgar a demanda.

Quando da análise da tutela recursal, a nobre Desembargadora

Federal – Dra. Daniela Maranhão Costa, não conheceu do recurso quanto à matéria de

ordem pública, tendo fundado o seu posicionamento no fato de que “a questão da

competência suscitada não pode ela ser apreciada, uma vez que o legislador ordinário optou

por estabelecer uma restrição ao uso do agravo de instrumento, com o intuito de se imprimir

maior fluidez e celeridade à fase de conhecimento do processo.” (Grifo nosso)

A relatora salientou que “a ampliação do rol constante no art. 1.015

significaria uma implícita atuação do Estado-juiz como legislador positivo”, tendo arrematado

que “as decisões interlocutórias imunes ao agravo de instrumento não geram preclusão, sendo

apenas diferida a possibilidade de veiculação da respectiva insurgência para momento

processual ulterior” (Grifo nosso).

Em face dessa decisão monocrática caberia, em tese, agravo interno

fundamentando, como já visto, em entendimento de parcela considerável da doutrina e do

próprio Superior Tribunal de Justiça, pela viabilidade da interpretação extensiva ou

analógica do inciso III do art. 1.015, de modo a comportar a discussão sobre competência

do juízo.

Todavia, esse Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em

13.04.2018, ao analisar caso idêntico ao ora apresentado não proveu o agravo interno em

agravo de instrumento que questionava a possibilidade de se enquadrar a discussão da

competência do juízo no inciso III, do art. 1.015, inviabilizando, assim, a análise imediata da

matéria de ordem pública, consoante se infere do precedente a seguir destacado. Senão

vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE

INSTRUMENTO. DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA. MATÉRIA NÃO

CONSTANTE DO ART. 1.015 DO CPC. ROL TAXATIVO. NÃO

pág.15 de 46

CABIMENTO DE INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA DO INCISO III DO

ALUDIDO ARTIGO. INSUFICIÊNCIA DE ARGUMENTOS APTOS PARA

INFIRMAR A CONCLUSÃO DA DECISÃO RECORRIDA. AGRAVO

INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Na atual sistemática processual civil,

as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento foram

taxativamente previstas no rol do art. 1.015 do CPC, sendo certo

que, nesse novo contexto, a decisão judicial que versa sobre

declínio de competência não está incluída no aludido rol. 2. Não

se infere da leitura do disposto no inciso III do artigo 1.015 do

Código de Processo Civil que o legislador tenha dito menos do que

queria dizer, de forma a se admitir eventual interpretação

extensiva do seu conteúdo. 3. Agravo interno não provido. (TRF

1ª R.; AI 0050555-60.2017.4.01.0000; Terceira Turma; Relª Desª

Fed. Mônica Sifuentes; DJF1 13/04/2018) - Grifo nosso.

De toda essa análise, depreende-se que esse Egrégio Tribunal

Regional Federal, especificamente a 3ª Turma, adotou o posicionamento voltado à

impossibilidade de se interpretar extensiva ou analogicamente o inciso III, do art. 1.015, do

CPC, de tal modo que decisões relativas à competência do juízo não são agraváveis,

devendo, portanto, ser discutidas apenas ao final do processo, em preliminar das razões de

apelação.

Assim, perante o entendimento do TRF-1 quanto à matéria em

apreço, nota-se que, apesar de cabível a interposição de agravo interno contra a decisão

monocrática da relatora, o recurso não seria eficaz, mas sim completamente inútil, pois em

nada contribuiria para reverter a sucumbência do recorrente, razão pela qual se alega que

a decisão interlocutória de 1º grau se mostra irrecorrível de imediato, o que implica em

impugnação através do presente mandamus.

Feito esse breve exame, cumpre salientar que, com o advento do

Novo Código de Processo Civil, o agravo de instrumento passou a não ser mais admissível

perante todas as decisões interlocutórias, visto que o regime do CPC de 2015 é o do

casuísmo, em numerus clausus.

Assim sendo, fora das hipóteses expressamente enumeradas pela lei

federal, as decisões interlocutórias não serão impugnáveis de imediato, mas somente

depois da sentença, através de preliminar ou contrarrazões de apelação, nos moldes do art.

1.009, § 1º, do CPC/2015.

pág.16 de 46

O legislador estipulou o rol taxativo do art. 1.015 como as únicas

hipóteses de interlocutórias impugnáveis pela via instrumental em razão das suas

peculiaridades de urgência processual, posto que, em tese, não comportam a espera pela

prolação de uma sentença e a posterior interposição de apelação, sendo, portanto, decisões

inadiáveis que desafiam o cabimento imediato do agravo de instrumento.

Inegável que essa escolha do legislador ordinário, de abordar as

matérias nascidas de decisão interlocutória não recorrível por agravo de instrumento em

preliminar das razões ou contrarrazões de apelação, cria grave insegurança jurídica no

processo civil, haja vista a impossibilidade de ser mantida uma decisão incólume, que tenha

efeitos imediatos, mas que dela não caiba recorribilidade imediata.

O processualista Daniel Amorim Assumpção Neves tece duras

críticas a essa escolha do legislador de estabelecer um limite ao rol de interlocutórias que

podem ser agraváveis. Senão vejamos:

Há decisões interlocutórias de suma importância no

procedimento que não serão recorríveis por agravo de

instrumento: decisão que determina a emenda da petição inicial;

decisão sobre a competência absoluta ou relativa; decisões sobre

prova, salvo na hipótese de exibição de coisa ou documento (art.

1.015, VI, do Novo CPC) e na redistribuição do ônus probatório (art.

1.015, XI, do Novo CPC); decisão que indefere o negócio jurídico

processual proposto pelas partes; decisão que quebra o sigilo

bancário da parte durante a instrução probatória, etc.

Seja como for, aguarda-se a popularização do mandado de

segurança, que passará a ser adotado onde atualmente se utiliza

do agravo quando este tornar-se incabível. Corre-se um sério

risco de se trocar seis por meia dúzia, e, o que é ainda pior,

desvirtuar a nobre função do mandado de segurança. E uma

eventual reação dos tribunais não admitindo mandado de

segurança nesse caso será uma aberrante ofensa ao previsto no

art. 5º, II, da Lei 12.016/2009.

[...]

Lamenta-se que se procure acabar com um problema pontual de

alguns tribunais com a limitação de um relevante recurso, expondo

a parte a ilegalidades e injustiças praticadas pelo juízo de primeiro

grau. A recorribilidade somente no final do processo será um

convite aos tribunais de segundo grau a fazer vista grossa a

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eventuais irregularidades, nulidades e injustiças ocorridas

durante o procedimento. Na realidade, os tribunais serão

colocados diante de um dilema: se acolherem a preliminar de

contestação ou contrarrazões, dão um tiro de morte no princípio

da economia processual; se fizerem vista grossa e deixarem de

acolher a preliminar pensando em preservar tal princípio,

cometerão grave injustiça, porque tornarão, na prática, a decisão

interlocutória irrecorrível.5 (Grifo nosso)

Diante desse panorama, nas hipóteses de decisões não agraváveis,

resta evidente, pois, a inexistência de recurso capaz de atacar, imediatamente, a ilegalidade

ou o abuso de poder praticado em interlocutória, razão pela qual, em virtude da ausência

de medida eficiente contra o ato ilegal se tem como amplamente cabível o mandado de

segurança.

Nesse mesmo toar entende Daniel Amorim Assumpção Neves ao

lecionar que “em razão da opção do Novo Código de Processo de criar um rol

exauriente de cabimento do agravo de instrumento, será inevitável uma utilização

mais frequente do mandado de segurança contra decisão interlocutória não

impugnável imediatamente.”6 (Grifo nosso)

José Miguel Garcia Medina também defende essa possibilidade, ao

elencar que “deve-se admitir o mandado de segurança como sucedâneo do agravo de

instrumento contra decisões interlocutórias proferidas em 1º grau de jurisdição, à luz

do Código de Processo Civil de 2015, sempre que se demonstrar a inutilidade do exame

do ato acoimado de ilegal apenas por ocasião do julgamento da apelação.”7 (Grifo

nosso).

Corroborando esse mesmo posicionamento jurídico, preleciona

Humberto Theodoro Júnior, o seguinte:

Uma vez que a Lei nº 12.016/2009 permite a impetração do

mandado de segurança contra ato judicial em face do qual não

caiba recurso com efeito suspensivo (art. 5º, II), parece

irrecusável o enquadramento das decisões não agraváveis nesse

permissivo da lei especial. De fato, se o recurso manejável (a

5 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 8. Ed., Salvador: JusPodivm, 2017, p. 1660-1661 e 1668. 6 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Ob. cit., Salvador: JusPodivm, 2017, p. 1550. 7 MEDINA, José Miguel de Garcia. Direito processual civil moderno. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 1334.

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apelação) é remoto e problemático, a conclusão é de que o

decisório, na verdade, não se apresenta como passível de

suspensão imediata pela via recursal. Logo, estando demonstrada

a lesão de direito líquido e certo da parte, causada pela decisão

interlocutória não agravável, o remédio com que o lesado pode

contar será mesmo o mandado de segurança, nos termos do art.

5º, II, da Lei nº 12.016/2009.

Não será admissível, dentro do processo justo e efetivo,

garantido pela ordem constitucional, deixar desamparado o

titular de direito líquido e certo ofendido por ato judicial abusivo

ou ilegal. Daí o cabimento do mandamus, nos termos do direito

fundamental assegurado pelo art. 5º, LXIX, da Constituição.8

(Grifo nosso)

Trilhando essa mesma senda doutrinária, leciona Cássio Scarpinella

Bueno que, “a respeito da pergunta sobre o que fazer diante de uma decisão

interlocutória não prevista como agravável de instrumento pelos precitados

dispositivos, a resposta parece ser uma só voz, a de que ela será impugnável por

mandado de segurança”9. (Grifo nosso).

Igualmente, asseveram Antônio Notariano Jr. e Gilberto Gomes

Bruschi, que “sempre que a decisão for suscetível de causar a parte lesão grave e de

difícil reparação e não estiver no rol exaustivo das hipóteses de cabimento do agravo

de instrumento, será cabível o mandado de segurança contra ato judicial”10. (Grifo

nosso).

Leonardo Carneiro da Cunha, acompanhando semelhante linha de

raciocínio, sustenta ser cabível o mandado de segurança contra ato judicial “não apenas

quando a decisão for irrecorrível, mas também quando o recurso cabível revelar-se

insuficiente para evitar a consumação de lesão ou ameaça na esfera jurídica do

recorrente”.11 (Grifo nosso).

No caso vertente se observa que o pronunciamento judicial

impugnado por meio do presente mandado de segurança se trata de decisão interlocutória

8 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. III. 50. ed. rev., atual. e ampl., Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 1283-1284. 9 BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 487. 10 NOTARIANO JR., Antonio; BRUSCHI, Gilberto Gomes. Agravo contra as decisões de primeiro grau. 2. ed. Rio de Janeiro: Método, 2015, p. 125. 11 CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Mandado de segurança contra ato judicial e o prazo para sua impetração. Disponível em: <http://www.leonardocarneirodacunha.com.br/opiniao/opiniao-28-mandado-de-seguranca-contra-ato-judicial-e-o-prazo-para-sua-impetracao/>. Acesso em: 06 Jun. 2018.

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irrecorrível de imediato, podendo apenas ser questionada a matéria de ordem pública, após

o sentenciamento do feito, em sede preliminar nas razões de Apelação.

Ocorre que a matéria elencada e não conhecida em sede de Agravo

de Instrumento nº 1012419-40.2018.4.01.0000-1, por não encontrar previsão expressa no

rol taxativo do art. 1.015, diz respeito à incompetência absoluta da Justiça Federal para

processar e julgar a presente demanda, nos termos do art. 109, inciso I, da CF/88, ou seja,

se trata de matéria urgente, que não pode esperar pelo julgamento do processo perante

juízo incompetente, sob o risco de causar prejuízos incomensuráveis ao direito material do

impetrante, além de severa agressão ao texto constitucional, notadamente à garantia do

juiz natural, esculpida no art. 5º, LIII, da Lex Mater.

Questiona-se:

Frente à gravidade e relevância da questão de ordem pública

suscitada, como esperar até o momento da sentença? Como permitir que a lide se

desenvolva perante juízo reconhecidamente incompetente, em especial se for levado em

consideração que os atos por ele praticados, segundo o Novo CPC, serão tido como válidos

e, portanto, permanecerão no mundo jurídico até que outro pronunciamento decisório seja

proferido pelo juízo competente (art. 64, § 4º)?

O que fazer diante da impossibilidade de se recorrer imediatamente

de uma decisão interlocutória que infringe o direito constitucional do impetrante de ser

processado e sentenciado por juízo competente (requisito de validade do procedimento),

nos termos do art. 5º, inciso LIII, da Carta Magna?

Diante de tal cenário, a única opção plausível que resta seria a

utilização excepcional do mandado de segurança para impugnar o referido ato judicial

interlocutório prolatado pelo juiz de 1º grau, justamente por não haver recurso cabível que

o faça de maneira imediata, a fim de não prejudicar de maneira irreparável o paciente.

Dessa forma, em face da inexistência de recurso apto à impugnação

imediata da decisão interlocutória não agravável pela via do instrumento, estando presente

a violação a direito líquido e certo, com prejuízo e urgência, o mandado de segurança (ação

autônoma de impugnação) se mostra a única medida viável para salvaguardar a pretensão

do ora impetrante.

Nesse diapasão, traz-se à baila relevante lição de Flávio Luiz Yarshell.

Senão vejamos:

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Primeiro, firmada a premissa de que a decisão interlocutória é

mesmo irrecorrível, de que padece ilegalidade e de que é apta a

gerar dano antes que o recurso seja apreciado pelo colegiado

naturalmente competente, não há como negar o cabimento do

mandado de segurança. Isso não é vedado pela lei e, pelo

contrário, ajusta-se a seus escopos e fundamentos.12 (Grifo nosso)

A Corte Cidadã consolidou entendimento nesse mesmo diapasão,

ao firmar, em precedente de 19.05.2018, que, “o mandado de segurança contra ato

judicial é admitido somente em casos excepcionalíssimos, como nas hipóteses de

flagrante ilegalidade, de ato abusivo ou em situações teratológicas, cabendo à parte

demonstrar a plausibilidade do direito e o perigo de demora”.13 (Grifo nosso)

Dessa forma, tem-se que a viabilidade do mandado de segurança

impetrado contra ato judicial, nos termos da jurisprudência pacificada do STJ14, depende da

“demonstração, de plano, da existência de teratologia ou de flagrante ilegalidade na

decisão impugnada ou, ainda, da ocorrência de abuso de poder pelo órgão prolator da

decisão, circunstâncias”.15 (Grifo nosso)

A nobre Corte ainda acrescentou, em julgado de 23.03.2018, que

“o mandado de segurança contra ato judicial é medida excepcional, cabível somente

em situações nas quais pode se verificar, de plano, ato judicial eivado de ilegalidade,

teratologia ou abuso de poder, que importem ao paciente irreparável lesão ao seu

direito líquido e certo”.16 (Grifo nosso)

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal segue esse mesmo

posicionamento jurídico, ao estatuir que “o mandado de segurança somente se revelaria

cabível se o ato judicial se revestisse de teratologia, ilegalidade ou abuso flagrante”.17

(Grifo nosso)

12 YARSHELL, Flávio Luiz. Mandado de segurança contra decisão do relator que nega ou concede feito suspensivo (ou antecipação de

tutela) em agravo de instrumento. 03 Dez. 2013. Disponível em: <http://cartaforense.com.br/conteudo/colunas/mandado-de-seguranca-contra-decisao-do-relator-que-nega-ou-concede-efeito-suspensivo-ou-antecipacao-de-tutela-em-agravo-de-instrumento/12611>. Acesso em: 06 Jun. 2018. 13 Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Mandado de Segurança nº 24.043; Proc. 2018/0018646-2; Corte Especial; Segunda Seção; Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze; Julg. 09/05/2018; DJE 16/05/2018; Pág. 2981. 14 “É inadmissível o procedimento mandamental se o impetrante não comprova que o ato judicial reveste-se de teratologia ou de flagrante ilegalidade nem demonstra a ocorrência de abuso de poder por parte do órgão prolator da decisão impugnada.” (Superior tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 45.283/SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Terceira Turma, julgado em 25/08/2015, DJe 28/08/2015). 15 Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Mandado de Segurança nº 55.139; Proc. 2017/0218836-5; MG; Relª Minª Nancy Andrighi; Julg. 07/05/2018; DJE 09/05/2018; Pág. 3692. 16 Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Mandado de Segurança nº 23.831; Proc. 2017/0271597-5; DF; Corte Especial; Rel. Min. Felix Fischer; Julg. 07/03/2018; DJE 23/03/2018; Pág. 800. 17 Supremo Tribunal Federal. Agravo regimental em Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 28082, Relator(a): Ministro Dias Tofoli, Primeira Turma, julgado em 05/11/2013, Acórdão eletrônico DJe-235 Divulg 28-11-2013 Public 29-11-2013.

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Dos excertos retirados de recentes julgados acima colacionados,

depreende-se que existem, de fato, decisões judiciais que admitem, excepcionalmente, a

sua impugnação pela via do mandado de segurança, desde que:

(a) se trate de decisão teratológica (gerando aberratio iuris);

(b) que o recurso se mostre ineficaz (inútil) ou que seja incabível

para a prestação de uma efetiva tutela jurisdicional18;

(c) a decisão tenha o potencial de causar dano grave de difícil ou

incerta reparação.

O processualista Alexandre Freitas Câmara, ao lecionar sobre o tema

em apreço, entende que só se mostra cabível a utilização excepcionalíssima do mandado

de segurança contra ato judicial se estiverem presentes dois requisitos cumulativos, quais

sejam:

Em casos nos quais se encontrem presentes, cumulativamente,

dois pressupostos: primeiro, que não haja recurso eficiente contra

a decisão, isto é, que o sistema processual não tenha previsto

recurso capaz de permitir que se evite lesão ao direito do

impetrante que o ato judicial que se pretende impugnar será

capaz de perpetrar; segundo, que o ato judicial impugnado seja,

como se convencionou dizer na prática forense, ‘teratológico’.19

(Grifo nosso).

Analisando cada uma dessas hipóteses de admissibilidade da via

excepcional, elencadas pela Corte Cidadã, nota-se que todas se encontram presentes na

situação em apreço, haja vista que a decisão ora impugnada através do mandamus, de fato,

apresenta teratologia, pois afronta as regras de competência estabelecidas tanto na Carta

Magna (art. 109, inciso I), quanto no Novo Código de Processo Civil (art. 64).

Entende-se por teratológica a decisão judicial manifestamente

equivocada, aberrante, nas palavras de Alexandre Freitas Câmara, citando Teresa Wambier,

“em doutrina já se definiu a decisão ‘teratológica’ (rectius, teratogênica) como ‘a decisão

que afronta inegável e seriamente o sistema e que, paralelamente a essa afronta

18 Superior Tribunal de Justiça. Mandado de Segurança nº 16.078/AL, Rel. Ministro Castro Meira, Corte Especial, julgado em 31/08/2011, DJe 26/09/2011. 19 CÂMARA, Alexandre Freitas. Manual do Mandado de Segurança. 2. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2014, p. 336-337.

pág.22 de 46

teórica, é capaz de gerar no campo dos fatos, no mundo empírico, prejuízo de difícil

ou impossível reparabilidade”20. (Grifo nosso)

Trazendo essa definição para o caso vertente, nota-se que a partir

do momento em que o magistrado a quo reconhece a sua incompetência absoluta, mas ao

arrepio do ordenamento jurídico, sugere à parte autora o que deve ser acrescentado na

emenda da inicial, de modo a ser incluído pleito apto a viabilizar o julgamento do processo

no juízo federal, obviamente que se trata de ato contrário ao sistema processual cível, pois

o julgador, de fato, extrapolou os limites estabelecidos pela legislação, além de ter

infringido o querer da Lei Maior.

Consoante se infere de despacho anexo, o juízo federal admitiu a

sua incompetência absoluta ao elencar que “sequer foi formulado pedido de indenização ou

de reposição ao erário federal no rol dos objetivos buscados pelos autores. Resta evidente

que, em tese, não há qualquer verdadeiro interesse da União no feito, o que, pela via

reflexa, torna este juízo federal incompetente para enfrentar as questões debatidas

nos autos.” (Grifo nosso)

Reconhecida a questão de ordem pública, deveria o magistrado de

1º grau ter remetido o feito para a Justiça Estadual de Sergipe, nos termos do art. 64, do

CPC/2015, jamais poderia ter sugerido, de forma atécnica, aos autores a melhor forma de

proceder, a fim de tornar possível julgar o caso perante a 21ª Vara Federal da Seção

Judiciária do Distrito Federal.

Evidente, portanto, o caráter teratológico da decisão interlocutória

ora impugnada, posto que, além de afrontar o Diploma Processual Cível, desrespeita a Carta

Magna e, consequentemente, gera ao direito do impetrante prejuízo incomensuráveis.

No que se refere ao requisito relativo à inexistência no sistema

processual cível de recurso capaz de impedir, de imediato, lesão ao direito do paciente que

o ato judicial ora impugnado certamente irá perpetrar, tem-se que, conforme explanado em

linhas anteriores, a Exma. Desembargadora Federal Relatora do Agravo de Instrumento, não

conheceu da preliminar de incompetência absoluta da Justiça Federal, elencada em

sobredita sublevação, tendo entendido que a matéria deveria ser veiculada em momento

ulterior.

Decisões dessa natureza não se tornam irrecorríveis por serem

impugnáveis tão somente em sede de preliminar de apelação e nas contrarrazões do

20 CÂMARA, Alexandre Freitas. Ob. cit., 2. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2014, p. 337.

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aludido recurso (art. 1.009, § 1º, do CPC), mas sim pelo fato de, nesse caso, a questão

temporal certamente tornar o meio de impugnação inútil, não sendo razoável admitir o

perecimento de um direito porque o meio impugnatório cabível, previsto na lei não tem

aptidão para reverter a sucumbência suportada pela parte de forma concreta.

Conclui-se, portanto, que no presente momento, inexiste recurso

cabível para impugnar, de forma imediata, os efeitos deletérios da decisão interlocutória

prolatada em 1º grau, restando descumprido o direito do paciente a uma tutela jurisdicional

efetiva.

Ademais, considerando que no caso vertente predomina a ideia do

“tempo como inimigo”, a discussão da matéria de ordem pública – incompetência absoluta

do juízo – em preliminar de apelação, seria completamente inútil, pois os atos do juízo

incompetente permaneceriam no mundo jurídico até o pronunciamento decisório proferido

pelo juízo adequado (§ 4º, do art. 64, do CPC).

Enfatizando a gravidade dessa eventual espera, e a premente

necessidade de impugnação imediata das decisões interlocutórias, não agraváveis, que

versem sobre incompetência absoluta, leciona Daniel Amorim Assumpção Neves, o

seguinte:

A decisão interlocutória sobre a competência, por exemplo, deve

ser reexaminada imediatamente, e não somente no momento de

julgamento da apelação, ainda mais porque o art. 64, § 4º, do

Novo CPC, prevê que os atos praticados por juízo incompetente

são válidos. Qual a utilidade de se impugnar a decisão que indefere

o acordo procedimental, previsto no art. 190, do Novo CPC, em

apelação ou contrarrazões desse recurso? E a decisão que

determina a emenda da petição inicial?21 (Grifo nosso).

O risco advindo de eventual espera até o momento da apelação

para examinar a incompetência absoluta em nada favoreceria à salvaguarda da pretensão

do paciente, pois eventual provimento do recurso geraria invalidação, ou substituição da

decisão, que não reduziria a gravidade das consequências negativas decorrentes da

tramitação de uma causa perante juízo absolutamente incompetente, passível, inclusive, de

ação rescisória (art. 966, inciso II, CPC).

21 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 9. Ed., Salvador: JusPodivm, 2017, p. 1552.

pág.24 de 46

Satisfeito, portanto, o segundo pressuposto de cabimento do

mandamus, nos termos estabelecidos pela jurisprudência da Corte Cidadã, qual seja, que o

recurso se mostre ineficaz (inútil) ou que seja incabível para a prestação de uma efetiva

tutela jurisdicional.

Dessa forma, mostra-se totalmente defensável o uso excepcional do

mandado de segurança para impugnar as decisões interlocutórias não agraváveis, diante da

inexistência de recurso imediato, desde que o impetrante demonstre a presença dos

requisitos necessários já sedimentados na doutrina e jurisprudência, quais sejam: a

teratologia da decisão e a violação de direito líquido e certo.22

Reiterando a viabilidade dessa via excepcional, pede-se venia para

transcrever interessante exemplo enunciado por Fredie Didier, ávido defensor da

interpretação extensiva do inciso III, art. 1.015, do CPC, sobre os graves riscos trazidos pela

impossibilidade de se agravar imediatamente a decisão interlocutória que versa sobre a

incompetência do juízo. Senão vejamos:

[...] imagine-se o caso de decisão que declina a competência para

a Justiça do Trabalho. Caso não seja possível impugná-la

imediatamente, pelo agravo de instrumento, a decisão se

tornaria rigorosamente irrecorrível, já que o Tribunal Regional do

Trabalho, ao julgar o recurso ordinário contra a futura sentença

do juiz trabalhista, não poderia rever a decisão proferida no juízo

comum – o TRT somente tem competência derivada para rever

decisões de juízos do trabalho a ele vinculados.23 (Grifo nosso)

Clarividente que a utilização dessa exceção abrirá espaço para se

fazer maior uso da via autônoma de impugnação, porém, diante do risco de grave lesão a

direito líquido e certo em caso de espera até o momento da apelação (tempo como

inimigo), tornar-se-á inútil o recurso, em especial quando a matéria se referir à

incompetência absoluta do juízo.

Quanto ao tema em exame, lecionam Teresa Arruda Alvim Wambier,

Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Maria Lucia Lins Conceição:

22 ARAÚJO, José Henrique Mouta. A recorribilidade das interlocutórias no novo CPC. Revista de processo. São Paulo: RT, v. 251, jan-2016. 23 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 19. ed. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 268.

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Esta opção do legislador de 2015 vai, certamente, abrir

novamente espaço para o uso do mandado de segurança contra

atos do juiz. [...] à luz do novo sistema recursal, haverá hipóteses

não sujeitas a agravo de instrumento, que não podem aguardar

até a solução da apelação. Um bom exemplo é o da decisão que

suspende o andamento do feito no 1º grau por prejudicialidade

externa. Evidentemente, a parte prejudicada não poderia

esperar.24 (Grifo nosso)

Não se pode permitir que o limbo processual criado pelo novo

regramento de 2015 deixe desamparado ou, ainda, ameace de maneira irremediável a

pretensão da parte com a alternativa de aguardar o momento da apelação para impugnar

a interlocutória não agravável, razão pela qual não resta outra alternativa, que não se

intentar o mandamus, de modo a salvaguardar o direito líquido e certo do impetrante de

ser processado e julgado pelo juiz natural da causa.

Destarte, à vista de todo o exposto, perante a impossibilidade de

suspensão imediata dos efeitos deletérios da decisão interlocutória pela via recursal, e

preenchidos os requisitos necessários sedimentados na doutrina e jurisprudência dos

Tribunais Superiores, dúvida não há de que o remédio cabível para se evitar lesão a direito

líquido e certo, será a via excepcional do mandado de segurança, nos termos do art. 5º,

inciso II, da Lei nº 12.016/2009.

III. DO MERITUM CAUSAE. DOS SÓLIDOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS QUE OFERTAM

SUSTENTÁCULO À PRESENTE IMPETRAÇÃO. EXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E

CERTO DO IMPETRANTE. DA VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO JUIZ

NATURAL E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (ART. 5º, LIII E LIV, DA CARTA MAGNA).

Nota-se na situação em análise que o impetrante vem sofrendo

sérios prejuízos de ordem processual, com efeitos que alcançam e põem em risco o seu

direito líquido e certo de ser processado e julgado por autoridade competente, nos termos

do art. 5º, inciso LIII, da Lei Maior.

24 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins. Primeiros Comentários ao Novo

Código de Processo Civil. Artigo por Artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 1453.

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A decisão interlocutória, ora impugnada, que fora prolatada pela

autoridade tida por coatora (magistrado substituto da 21ª Vara Federal da Seção Judiciária

do Distrito Federal), viola a um só tempo, os princípios constitucionais do devido processo

legal, bem como do juiz natural, motivo pelo qual se impetra o presente mandado de

segurança para salvaguardar direito líquido e certo.

Segundo leciona Hely Lopes Meirelles, o direito líquido e certo –

expressão essa duramente criticada pelo renomado autor – amparado pela via excepcional

do mandamus, nos termos do previsto na Lei Maior, diz respeito a:

[...] a atual expressão direito líquido e certo substituiu a

precedente, da legislação criadora do mandado de segurança,

direito certo e incontestável. Nenhuma satisfaz. Ambas são

impróprias e de significação equívoca. [...] O direito, quando

existente, é sempre líquido e certo; os fatos é que podem ser

imprecisos e incertos, exigindo comprovação a esclarecimentos

para propiciar a aplicação do direito invocado pelo postulante.

Então, para o autor, o direito líquido e certo... é o que se

apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua

extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração. Por

outras palavras, o direito invocado, para ser amparável por

mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e

trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao

impetrante: se a sua existência for duvidosa; se a sua extensão

ainda não estiver delimitada; se o seu exercício depender de

situações e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo à

segurança, embora possa ser defendido por outros meios

judiciais.25 (Grifo nosso)

Dito isso, importa ressaltar que, dentre os princípios basilares do

Estado Democrático de Direito, inerentes ao conceito de jurisdição, tem-se o do Juiz Natural,

que objetiva, primordialmente, assegurar a todos os cidadãos o direito a um julgamento

justo e imparcial.

Indiscutivelmente, referido princípio consiste em desdobramento

do devido processo legal (due process of law – art. 5º, inciso LIV, da Constituição Federal) e

apresenta um duplo conteúdo, tendo como destinatários tanto o indivíduo, objeto da

prestação jurisdicional, como o Estado, responsável por organizar e ministrar a jurisdição.

25 MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança... , 13. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, p. 13.

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Nesse sentido, importante realçar que a Carta Política de 1988, em

seu capítulo que versa sobre os direitos e garantias fundamentais do cidadão, estabelece

em seu art. 5º, inciso LIII, ad litteram:

Art. 5º. Omissis.

LIII – Ninguém será processado nem sentenciado senão pela

autoridade competente.

Eis o princípio do Juiz Natural, exigência garantidora e inerente ao

Estado Democrático de Direito, além de desdobramento lógico do substantive due process

of law.

Segundo a mais abalizada doutrina, o princípio reclama

interpretação em sua plenitude, de forma a não só proibir os juízos ex post facto e ad hoc,

como também exigir respeito absoluto às regras objetivas de determinação de

competência, para que não seja afetada a independência e imparcialidade do órgão

julgador.26

Paulo Rangel, ao abordar o tema em apreço, conceituou o preceito

do juiz natural, como:

“[...] o órgão jurisdicional constitucionalmente competente para

processar e julgar uma causa. Portanto, não basta ser juiz, mister

se faz que seja aquele com delimitação de poder previamente

feita pela norma constitucional. Ou seja, trata-se de um

verdadeiro pressuposto processual de validade do processo. A

constituição é clara em afirmar: ninguém será processado nem

sentenciado senão pela autoridade competente, pois, assim

dizendo, exige que todos os atos processuais (postulatórios,

ordinatórios, instrutórios e decisórios) sejam presididos pelo juiz

natural da causa”.27 (Grifo nosso)

Assim, tem-se que o juiz natural é aquele justo e adequado para o

julgamento de uma determinada demanda, não havendo dúvida que tal preceito se

encontra intrinsecamente relacionado às regras de fixação de competência, tendo sempre

26 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 2. tiragem., São Paulo: Atlas, 2002, p. 304. 27 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 13. ed., rev., ampl. e atual., Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007, p. 302.

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como escopo o desenvolvimento de um processo justo, ou seja, que observe as matrizes

do devido processo legal.

Fredie Didier Jr., ao examinar essa garantia do juiz natural, propõe

uma análise sob o aspecto objetivo, formal, e outro sob o aspecto substantivo, material.

Naquele, o juiz natural seria o juiz competente conforme as regras gerais e abstratas

previamente estabelecidas, enquanto que o segundo, a aludida garantia asseguraria a

independência e imparcialidade da justiça, com supedâneo no interesse público geral.28

Ao analisar os desdobramentos desse preceito constitucional,

Nelson Nery Jr. leciona que a garantia do juiz natural é, no sistema moderno, caracterizada

como tridimensional, comportando os seguintes aspectos, in verbis:

Significa que 1) não haverá juízo ou tribunal ‘ad hoc’, isto é, tribunal

de exceção; 2) todos têm o direito de submeter-se a julgamento

(civil ou penal) por juiz competente, pré-constituído na forma da

lei; 3) o juiz competente tem de ser imparcial.29 (Grifo nosso).

A doutrina atualizada mostra-se pacificada ao reconhecer a

natureza tríplice do princípio do juiz natural, derrubando por terra o antigo e superado

entendimento tradicional, que sustentava apenas um duplo significado – proibição aos

tribunais extraordinários e respeito às regras de competência.

Das três nuances do Princípio do Juiz Natural, interessa à hipótese

em apreço, o aspecto formal ou objetivo da aludida garantia, ou seja, o direito líquido e

certo do paciente de ser julgado por autoridade competente, definida pela Constituição ou

pela lei mediante a indicação taxativa das causas que ele tem a atribuição de processar e

julgar.

No intuito de viabilizar essa garantia, Cândido Dinamarco leciona

como imprescindível a existência de uma relação de adequação entre o magistrado e a

causa, relação essa definida e alterada apenas pela Constituição Federal e a lei. Senão

vejamos:

É indispensável, em outras palavras, que entre o juiz e a causa

exista uma relação de adequação legítima (Celso Neves), que só a

Constituição e a lei definem e só elas podem alterar. Não é lícito

28 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2009. v. I. p. 92. 29 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 66.

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impor a alguém um juiz cuja competência não resulte da

Constituição ou da lei em vigor no momento da propositura da

demanda, não sendo permitido sequer aos mais elevados órgãos

do Poder Judiciário alterar as regras de competência estabelecidas

no direito positivo. Tal é o significado do disposto no inciso LIII, do

artigo 5º da Constituição, ao proclamar o direito a julgamento por

juiz competente.

[...]

São legítimas as proibições de delegar funções, contidas em

Constituições estaduais. O juiz não tem liberdade para aceitar o

processo ou dar-se por incompetente, ou para delegar a

competência.30 (Grifo nosso)

Deduz-se, então – considerando que o juiz natural é aquele que está

previamente encarregado como competente para o julgamento de determinadas causas

abstratamente previstas –, que não é lícito ao magistrado avocar determinado processo, em

especial quando, nos termos da Carta Magna e da Lei Processual, for incompetente para

tanto.

Eis o que se observa na hipótese vertente, em que o magistrado da

21ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, descumpriu a garantia

constitucional de que ninguém pode ser subtraído de seu juiz constitucional, ao ignorar o

próprio reconhecimento de sua incompetência absoluta para processar e julgar a demanda.

No que diz respeito ao Princípio Constitucional do Juiz Natural,

preleciona a melhor doutrina, verbis:

A afirmação no art. 5º, III, de que ninguém será processado nem

julgado senão pela autoridade competente, consagra, como diz

Frederico Marques, garantia de que ‘ninguém pode ser subtraído

de seu Juiz Constitucional. Somente se considera juiz natural a

autoridade competente, no direito brasileiro, o órgão judiciário

cujo poder de julgar derive de fontes constitucionais.31 (Grifos

nosso)

Dessa forma, levando em consideração que a garantia do juiz

natural se desdobra no fato de que vigora, entre os magistrados pré-constituídos, uma

30 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. v. 1. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 226 e 327. 31 FERNANDES, Antônio Scarance. Processo Penal Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 117.

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ordem taxativa de competência, não há que se falar em alteração dessas regras ao arbítrio

de quem quer que seja.

Isto posto, partindo-se da premissa que a competência do órgão

jurisdicional é requisito de validade do processo, qualquer desrespeito a essas normas –

mormente as de competência absoluta – e, por conseguinte, ao juiz natural, traduz-se em

circunstância que macula o procedimento, sobretudo os atos decisórios, invalidando, assim,

o processo.

Autoridade competente será, portanto, aquela que a Constituição

Federal houver delimitado como passível de exercer a jurisdição (investidura), consoante

estabelece o professor Fernando da Costa Tourinho Filho, na seguinte lição doutrinária.

Senão vejamos:

O princípio do Juiz Natural, ou Juiz competente, como o chamam

os espanhóis, ou juiz legal, como o denominam os alemães,

constitui a expressão mais alta dos princípios fundamentais da

administração da justiça. Juiz natural é aquele cuja competência

resulta, no momento do fato, das normas legais abstratas. É,

enfim, o órgão previsto explicita ou implicitamente no texto da

Carta Magna e investido do poder de julgar. Não basta, assim, que

o órgão tenha o seu poder de julgar assentado em conte

constitucional para que se alce a juiz natural. É preciso, também,

que ele atue dentro do círculo de atribuições que lhe fixou a lei,

segundo as prescrições constitucionais. E, como diz Figueiredo

Dias, só a lei pode instituir juiz e fixar-lhe a competência.32 (Grifo

nosso)

Perante as definições doutrinárias quanto ao tema, tem-se como

consequência lógica da boa e adequada prestação jurisdicional que, da mesma forma que

aquele a ser julgado não pode escolher quem vai julgá-lo, igualmente, não pode o

magistrado vir a escolher os processos que pretende julgar.

Volvendo ao caso sub examine, inexiste dúvida de que o foro

competente para processar e julgar a presente lide, d.m.v., não é o da 21ª Vara Federal da

Seção Judiciária do Distrito Federal, eis que, consoante será esmiuçado em tópico seguinte,

a União Federal manifestou expressamente a sua falta de interesse jurídico na causa, não

32 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 15. ed. rev., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 284.

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havendo razão para se processar a lide perante a Justiça Federal quando o ente federativo

não possui interesse na demanda.

Manter o curso do processo neste Juízo implica evidente ofensa ao

princípio constitucional do Juiz Natural, restando completamente violentadas as regras

processuais e constitucionais inerentes à delimitação da competência do juízo.

3.1. DA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR E

JULGAR A DEMANDA (ART. 109, I, DA CF/88). MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA QUE

DEVE SER DECLARADA DE OFÍCIO (ART. 64, § 1º, DO CPC). DEVER DE REMESSA DOS

AUTOS AO JUÍZO COMPETENTE (ART. 64, § 3º). MANIFESTAÇÃO EXPRESSA DA UNIÃO

FEDERAL DE AUSÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO NA LIDE E ILEGITIMIDADE PARA

INTEGRAR A RELAÇÃO PROCESSUAL. MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL NO MESMO SENTIDO. NECESSIDADE DE REMESSA DO FEITO À JUSTIÇA

ESTADUAL DE SERGIPE POR SER O JUÍZO COMPETENTE. ENTENDIMENTO DO

EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO.

Feito no tópico anterior breve análise acerca do princípio do juiz

natural, importa demonstrar, no presente momento, a incompetência absoluta da Justiça

Federal para processar e julgar a presente demanda, haja vista a manifestação expressa da

União Federal (fls. 553/557 do feito anexo), no sentido de inexistir qualquer interesse

jurídico na demanda popular nº 1018866-63.2017.4.01.3400, posto que “não há

possibilidade de eventual decisão prolatada em seu bojo afetar de maneira negativa a sua

esfera jurídica.” (fl. 555)

Antes analisar a manifestação da União, impende ressaltar que o

próprio Juízo Federal, em um primeiro momento reconheceu a sua incompetência absoluta,

ao ressaltar no despacho de fls. 507/508, que “sequer foi formulado pedido de indenização

ou de reposição ao erário federal no rol dos objetivos buscados pelos autores. Resta evidente

que, em tese, não há qualquer verdadeiro interesse da União no feito, o que, pela via

reflexa, torna este juízo federal incompetente para enfrentar as questões debatidas

nos autos.” (Grifo nosso)

pág.32 de 46

Incontestável que tal assertiva do julgador a quo se trata de

inequívoca declaração de incompetência absoluta, restando patente que houve discussão

no primeiro grau acerca da matéria elencada no presente mandamus, razão pela qual deve

ser tal questão de ordem pública resolvida pela segunda instância.

Considerando que se trata a matéria em debate de questão de

ordem pública, cognoscível de ofício pelo magistrado, deveria a autoridade coatora,

naquele exato momento processual, depois de declarada a sua incompetência absoluta, ter

remetido o feito para a Justiça Estadual de Sergipe, nos termos do art. 64, do CPC/2015,

verbis:

Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como

questão preliminar de contestação.

§ 1o A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer

tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício.

§ 2o Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá

imediatamente a alegação de incompetência.

§ 3o Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos

serão remetidos ao juízo competente.

§ 4o Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão

os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que

outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. (Grifo

nosso)

Analisando o querer da norma processual transcrita, observa-se que

a utilização do verbo “dever” quando da declaração de ofício da incompetência absoluta

ocorre justamente “por se tratar de matéria de ordem pública não existe outra opção

ao juiz que não a reconhecer de ofício, de preferência o mais cedo possível.”33 (Grifo

nosso)

No entanto, não foi bem isso o que se observou in casu.

Explica-se:

Consoante se infere do despacho de fls. 507/508, o magistrado a

quo, ao invés de remeter o processo para a Justiça Estadual de Sergipe, no primeiro

momento em que reconheceu a sua incompetência absoluta, sugeriu, de forma atécnica,

33 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 8. Ed., Salvador: JusPodivm, 2016.

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aos autores populares a melhor forma de proceder, a fim de tornar possível o julgamento

do caso perante a 21ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal.

Essa conduta reprovável da autoridade coatora gerou a emenda da

inicial (fls. 511/520), tendo os populares inserido “pedido de reposição e/ou restituição e

indenização ao erário federal”, requerendo (fl. 518) “a condenação do réu (Manoel Luiz

Oliveira) a restituir aos cofres da União os valores malversados e/ou utilizados de forma

contrária ao previsto no convênio e/ou utilizados em desacordo com a legislação nos termos

descritos nos pareceres apontados pela controladoria-geral da União”.

Em razão desse novo pleito, o julgador, em decisão de fls. 547/548,

determinou a intimação do Ministério Público Federal e da União, a fim de que, dentre

outras medidas, se manifestassem acerca da liminar pleiteada pelos autores, tendo

registrado, ao final, que “na hipótese de restar firmada a competência deste juízo, a pretensão

autoral será processada sob a égide da Lei nº 4.717/65 (Ação Popular).”

A União Federal, em manifestação prévia de fls. 553/557, entendeu

que “não assiste razão ao Autor, de modo que o pedido de liminar deve ser indeferido,

uma vez que não estão presentes os requisitos que autorizam a tutela provisória de

urgência requerida pelo Autor.” (Grifo nosso)

No mérito, a União elencou não somente a ausência dos

pressupostos para a concessão da pretendida tutela provisória de urgência, como também,

a falta de requisitos para o seu prosseguimento no polo passivo da demanda, o que levaria

à sua correta exclusão da lide e a consequente remessa do processo à Justiça Estadual de

Sergipe.

Da análise dos autos originários, verificou a União que “o processo

diz respeito a interesses exclusivamente dos autores em face da CBHb e seu atual presidente.

Inexistente qualquer interesse jurídico da União no caso, pois não há possibilidade de

eventual decisão prolatada em seu bojo afetar de maneira negativa a sua esfera

jurídica.”(Grifo nosso).

Assim, considerando que “o cerne do processo diz respeito à gestão

de entidade privada, com personalidade jurídica própria e sobre a qual a União não possui

qualquer ingerência [...] não há motivo que justifique o interesse da União na lide, razão

pela qual sugere-se o pleito de sua exclusão do processo, com respaldo no art. 485, VI,

do CPC (Lei nº 13.105/2015)”. – Grifamos.

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Ao final de sua manifestação, ressaltou que “a União não possui

sequer legitimidade passiva para integrar o polo passivo da presente ação, verifica-se

que estão ausentes os requisitos que autorizam a tutela provisória de urgência, nos

termos do art. 300, do CPC, motivo por que a UNIÃO requer o indeferimento do pedido

de tutela provisória de urgência.” – Grifos à parte.

Corroborando a sua total falta de interesse jurídico na lide, a União

Federal juntou ao feito documento demonstrando que os 08 (oito) convênios firmados

ainda se encontram em fase de análise da prestação de contas, de tal modo que “enquanto

não concluídas as análises financeiras dos supracitados processos, não há que se

determinar ‘valores em aberto a serem restituídos’.” (fl. 558 – Grifo nosso).

Evidente que, diante da manifestação de fls. 553/557 do feito

popular anexo, não resta configurado interesse jurídico da União Federal na demanda, fator

esse que somado à falta de prova (despacho de fl. 558 denotando que não há valores a

serem restituídos), corrobora que, até o presente momento, inexiste constatação de

qualquer dano ao erário.

Em virtude dessa ausência de dano ao seu patrimônio, a União

Federal defendeu, além da carência de interesse jurídico na lide, a sua ilegitimidade passiva

e a consequente exclusão do feito, com respaldo no art. 485, inciso VI, do CPC/2015 (fl. 556).

O próprio Tribunal Regional Federal da 1ª Região vem decidindo

nesse mesmo sentido, ao entender que “considerando-se a formal declaração de

desinteresse da União, forçoso afastar a competência da Justiça Federal para

processar e julgar o feito, com fundamento no art. 109, inciso I, da Constituição

Federal. A competência da justiça federal, prevista no art. 109, I, da CF, é absoluta, e,

como tal, pode ser declarada de ofício, com anulação dos atos decisórios e determinação

de remessa dos autos à Justiça Estadual”.34 (Grifo nosso).

Nesse mesmo diapasão, entendeu o Tribunal Regional Federal da 2ª

Região, ao proferir decisão ressaltando que “tendo a União Federal manifestado

expressamente ausência de interesse no feito, não poderá ser obrigada a integrar a

relação processual, competindo, destarte, à Justiça Estadual o julgamento do

processo”.35 (Grifo nosso)

34 Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Agravo de Instrumento nº 0005549-40.2011.4.01.0000; BA; Terceira Turma; Rel. Juiz Fed. Conv. Murilo Fernandes de Almeida; DEJF 28/10/2011; Pág. 674. 35 Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Agravo de Instrumento nº 72732; Processo: 200102010052161; Quinta Turma Especializada; Rel. Des. Fed. Marcus Alberto Nogueira; DEJF 13/09/2004.

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Corroborando esse posicionamento, decidiu o Tribunal Regional

Federal da 4ª Região, em fevereiro de 2018, que “ausente interesse jurídico da União

Federal, é de ser reconhecida sua ilegitimidade passiva e, consequentemente, a

declinação da competência para o processamento e julgamento da ação ao juízo

competente”36.

O tribunal ressaltou no aludido precedente, que nas situações de

reconhecimento da incompetência absoluta, se mostra “indevida a extinção do feito sem

resolução do mérito, pois a Lei Processual prevê, para as hipóteses de incompetência

absoluta, a remessa dos autos ao juízo reconhecido como competente (artigo 64,

caput, e parágrafos 1º e 3º, do NCPC)”. (Grifo nosso).

Ao analisar hipótese dessa natureza, o Tribunal Regional Federal da

3ª Região, em julgado de dezembro de 2017, decidiu pelo provimento de Agravo de

Instrumento interposto, haja vista que “no caso dos autos, a União manifestou

expressamente não ter interesse jurídico na lide. Dessa forma, competente a Justiça

Estadual para processar e julgar o feito.”37 (Grifamos).

Eis, exatamente, o que se observa na hipótese vertente, em que

consta nos autos a manifestação expressa da União (fls. 553/557), no sentido de não possuir

interesse jurídico na lide, nem legitimidade para figurar no polo passivo da demanda, tendo

pleiteado a sua exclusão do feito, reforçando a tese de incompetência absoluta da Justiça

Federal e a consequente necessidade de remessa do processo para a Justiça Estadual de

Sergipe.

Reiterando esse entendimento, decidiu a Sexta Turma do Tribunal

Regional Federal da 1ª Região que “não possuindo a União legitimidade para figurar no

polo passivo da demanda, a competência para julgar o feito é da Justiça Estadual”.38

(Grifo nosso).

Todavia, não foi essa a conduta adotada pelo magistrado da 21ª

Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal (autoridade coatora), que reconheceu a

sua incompetência absoluta num primeiro momento (fl. 507), porém, ao invés de remeter o

processo, de imediato, para a Justiça Estadual, aconselhou a parte adversa de maneira a

36 Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AC 5042637-44.2015.4.04.7100; RS; Terceira Turma; Relª Desª Fed. Vânia Hack de Almeida; Julg. 27/02/2018; DEJF 28/02/2018. 37 Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Agravo de Instrumento nº 0001004-57.2017.4.03.0000; Primeira Turma; Rel. Des. Fed. Valdeci dos Santos; Julg. 28/11/2017; DEJF 07/12/2017. 38 Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Agravo de Instrumento nº 0009385-55.2010.4.01.0000; Sexta Turma; Rel. Des. Fed. Jirair Aram Meguerian; DJF1 20/03/2017.

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adequar o pleito quando da emenda à inicial, a fim de possibilitar a integração forçada da

União à lide, ao apresentar no rol de pedidos a necessidade de restituição ao erário.

Importa ressaltar que as regras de competência absoluta se

encontram fundadas em razões de ordem pública, para as quais a vontade das partes deve

ser desconsiderada, haja vista a prevalência do interesse público sobre o privado, de tal

maneira que, nessas hipóteses, não haverá flexibilização da regra, seja pela vontade dos

interessados, seja pela própria lei, tratando-se de norma de natureza cogente que deverá

ser aplicada sem nenhuma ressalva ou restrição.

A Carta Magna estabelece em seu art. 109, inciso I, que compete à

Justiça Federal, processar e julgar as causas em que figurar a União Federal, suas autarquias

ou empresa pública federal, na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes,

evidenciando que tal regra é determinada em razão da pessoa (ratione personae), motivo

pelo qual se enquadra na categoria de regra de incompetência absoluta.

Ressalta a mais abalizada doutrina que “a incompetência absoluta

viola norma de ordem pública, não se aplicando a ela, portanto, a preclusão temporal. Como

toda nulidade absoluta, pode ser alegada a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição,

além de poder ser reconhecida de ofício pelo juiz.”39

Trata-se, portanto, de regra cogente, que se não observada

importará em vício gravíssimo – passível, inclusive, de desconstituição por meio de ação

rescisória, com base no art. 966, inciso II, do CPC –, razão pela qual, nos termos da parte

final do § 1º, do art. 64, do CPC, deve ser declarada de ofício pelo magistrado.

Eis o entendimento adotado pela jurisprudência desse Egrégio

Tribunal Regional Federal da 1ª Região, no sentido de ser incompetente a Justiça Federal

para processar e julgar causas em que restar manifestamente ausente o interesse jurídico

da União, devendo o feito ser remetido à Justiça Estadual. Senão vejamos:

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE

INSTRUMENTO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE ENTRE

PARTICULARES. UNIÃO E ANTT. AUSÊNCIA DE INTERESSE EM

INTEGRAR A LIDE. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA

FEDERAL. DNIT. INTERVENÇÃO NO FEITO. DECISÃO MANTIDA.

AGRAVO NÃO PROVIDO. [...] 2. Os pedidos encartados na petição

inicial possuem natureza exclusivamente possessória, de sorte que

seu julgamento não afeta a esfera jurídica da União, do DNIT ou da

39 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado. 1. Ed., Salvador: JusPodivm, 2016, p. 90.

pág.37 de 46

ANTT. Dito de outra forma, ainda que a área em questão integre,

em tese, o patrimônio público federal, o resultado do processo não

atingiria a relação de domínio, mas apenas sua posse. 3. A

competência cível geral da Justiça Federal é firmada pela

participação processual da União, suas autarquias, fundações ou

empresas públicas, na condição de autores, rés, assistentes ou

oponentes. Assim, não basta o interesse no resultado da

demanda, mas se exige a intervenção do ente federal em uma

daquelas posições, intervenção esta que somente se justifica

quando houver interesse jurídico no feito. [...] 6. Agravo de

instrumento a que se nega provimento. (TRF 1ª R.; AI 0056484-

16.2013.4.01.0000; Sexta Turma; Rel. Des. Fed. Kassio Nunes

Marques; DJF1 08/02/2018) Original desprovido de grifos!

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. REJEIÇÃO DA PETIÇÃO INICIAL.

INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE DANO AO ERÁRIO.

IRREGULARIDADES QUE NÃO CARACTERIZAM IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. AÇÃO PROPOSTA POR MUNICÍPIO CONTRA EX-

PREFEITO. AUSÊNCIA DE ENTE FEDERAL DA RELAÇÃO

PROCESSUAL. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ANULAÇÃO

DO PROCESSO DE OFÍCIO. REMESSA DOS AUTOS À JUSTIÇA

ESTADUAL. [...] 3. Correta estaria a sentença que rejeitou a inicial

da ação. Inexistência do ato de improbidade, merecendo

confirmação, não fora a ostensiva incompetência da Justiça

Federal: a ação, proposta pelo Município, na Justiça Federal, deu-

se sem que estivesse na relação processual algum dos entes

referidos no art. 109, I da Constituição. 4. O Ministério Público

Federal, embora tenha se manifestado nos autos, não pediu para

ingressar na relação processual como litisconsorte ou assistente do

município. Ademais, ciente da sentença, afirmou que não apelaria.

Também a União não participa do processo, mesmo sendo os

recursos oriundos ao Ministério do Turismo. 5. O fato de cuidar-

se de interesse federal, como elemento de fundo, somente

firmaria a competência federal se houvesse o elemento de forma,

expresso na participação de algum dos entes do art. 109, I da CF

na relação processual, o que não ocorre. 6. Anulação do processo

de ofício, inclusive a sentença, em face da incompetência da

Justiça Federal. Remessa dos autos à Justiça Estadual de Minas

Gerais. Apelação prejudicada. (TRF 1ª R.; AC 0000532-

23.2012.4.01.3804; Quarta Turma; Rel. Des. Fed. Olindo Menezes;

DJF1 07/06/2017) – Grifamos!

pág.38 de 46

PROCESSUAL CIVIL, CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.

COMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA FEDERAL, EM MATÉRIA

CÍVEL, FIXADA RATIONE PERSONAE. ART. 109, I, DA CF/88. AÇÃO

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PROPOSTA APENAS POR

MUNICÍPIO CONTRA O EX-PREFEITO E A EX-SECRETÁRIA

MUNICIPAL DE SAÚDE. IRREGULARIDADE NA EXECUÇÃO DE

CONVÊNIO FIRMADO COM ÓRGÃO DA UNIÃO. MANIFESTAÇÃO

DE DESINTERESSE DA UNIÃO E DA FUNASA EM INTEGRAR A LIDE.

MANIFESTAÇÃO EXPRESSA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL NO

SENTIDO DE QUE ATUARÁ NO FEITO APENAS COMO CUSTOS

LEGIS, E NÃO COMO PARTE. AUSÊNCIA, NO FEITO, DE QUALQUER

ENTE FEDERAL, PREVISTO NO ART. 109, I, DA CF/88, DE MODO A

FIXAR A COMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA FEDERAL, EM

MATÉRIA CÍVEL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

ANULAÇÃO DOS ATOS DECISÓRIOS E REMESSA DOS AUTOS AO

JUÍZO ESTADUAL COMPETENTE. ART. 113 E § 2º, DO CPC. I. A

competência absoluta da justiça federal, em matéria cível,

prevista no aludido art. 109, I, da CF/88, é fixada ratione

personae. De acordo com recentes precedentes do Superior

Tribunal de Justiça e do TRF/1ª região, será competente a justiça

federal se, nas respectivas causas de matéria cível, figurar a união

(incluído o ministério público federal, órgão da união), entidade

autárquica ou empresa pública federal, na condição de autoras,

rés, assistentes ou oponentes. A contrario sensu, se, na respectiva

ação de natureza cível, não figurar uma dessas pessoas jurídicas,

na condição de autora, ré, assistente ou oponente, a competência

não será da justiça federal, em face do art. 109, I, da CF/88.

Residualmente, será da Justiça Estadual. [...] III. In casu, a ação de

improbidade administrativa foi proposta apenas pelo município de

rio real/BA contra o ex-prefeito e a ex-secretária municipal de

saúde. A União e a FUNASA, intimadas para tal, não manifestaram

interesse em integrar a lide, e o Ministério Público Federal deixou

expresso que atua, no feito, não como parte, mas apenas como

custos legis. Assim, a competência é da Justiça Estadual, eis que

se trata de ação de natureza cível, cuja competência absoluta da

justiça federal é fixada ratione personae, inexistindo, no feito,

como parte, qualquer ente federal, a justificar a competência da

justiça federal, à luz do art. 109, I, da CF/88. lV. A competência da

justiça federal, em matéria cível, fixada ratione personae, pelo

art. 109, I, da CF/88, é absoluta, e, como tal, pode e deve ser

declarada de ofício, com anulação dos atos decisórios e

pág.39 de 46

determinação de remessa dos autos à Justiça Estadual, a teor do

art. 113 e § 2º, do CPC. V. Apelação provida, para, em face da

incompetência absoluta da justiça federal para o processo e o

julgamento da lide, anular a sentença e os atos decisórios (art. 113

e § 2º, do CPC) e determinar a remessa do processo ao juízo

estadual competente. (TRF 1ª R.; AC 00059709720064013300; BA;

Terceira Turma; Relª Desª Fed. Assusete Dumont Reis Magalhães;

Julg. 21/05/2012; DJF1 06/07/2012; Pág. 134) - Grifos por nossa

conta.

Analisando os precedentes acima transcritos, observa-se que o caso

em apreço se trata justamente de incompetência absoluta da Justiça Federal, haja vista a

manifestação expressa da União (fls. 553/557) no sentido de não possuir interesse jurídico

na lide, ressaltando, ainda, a sua ilegitimidade para figurar no polo passivo com respaldo

no art. 485, VI, do CPC/2015, razão pela qual pleiteou a sua exclusão da demanda.

Importa deixar consignado que o fato de a autoridade coatora ter

utilizado como fundamento em seu favor da viabilidade de seu julgamento, “supostas

ilegalidades que teriam sido praticadas pela CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HANDEBOL

(CBHh), na aplicação de R$ 21.377.272,00 repassados, via convênios, pela União (Ministério

dos Esportes), durante o ciclo preparatório dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro” (fl. 761),

não implica em competência da Justiça Federal.

Consoante demonstrado no precedente do TRF-1, em análise de

caso similar ao ora discutido “para que a demanda fosse processada e julgada pela Justiça

Federal, necessariamente, deveria figurar na lide como autoras, rés, assistentes ou oponentes,

a União, suas entidades autárquicas ou empresas públicas federais ou o Ministério Público

Federal. Não sendo essa a hipótese dos autos, embora a verba seja resultante de

convênio com a União, falece competência à Justiça Federal para conhecimento e

julgamento da causa”40.(Grifo nosso).

Esse Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região ainda ressalta

o seguinte, em relevante julgado: “falta de prestação de contas do convênio firmado com

órgão descentralizado da União (FNDE), embora tratando-se de verba federal, deve

40 Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Agravo de Instrumento nº 2008.01.00.004444-3/AM, Relatora Juíza Federal Convocada Rosimayre Gonçalves de Carvalho, 4ª Turma, unânime, e-DJF1 de 21/11/2008, p. 816.

pág.40 de 46

ser processada junto à Justiça do Estado, em face da demonstração de desinteresse da

União na causa.”41 (Grifo nosso).

A tese de incompetência absoluta da Justiça Federal ainda se

encontra reforçada pela inexistência, até o presente momento, de dano causado ao erário,

posto que, segundo explanado pela própria União em sua manifestação, “inexistente

qualquer interesse jurídico da União no caso, pois não há possibilidade de eventual

decisão prolatada em seu bojo afetar de maneira negativa a sua esfera jurídica.” (fl. 555) –

Grifamos.

A ausência de dano ao patrimônio da União encontra substrato no

documento juntado à fl. 558, demonstrando que os convênios firmados ainda se encontram

em fase de análise da prestação de contas, razão pela qual “enquanto não concluídas as

análises financeiras dos supracitados processos, não há que se determinar ‘valores em

aberto a serem restituídos’”.

Por derradeiro, no que diz respeito à hipótese específica de falta de

interesse jurídico da União Federal em sede de Ação Popular, entende o Tribunal Regional

Federal da 2ª Região que, em tais situações, também deve ser reconhecida a incompetência

absoluta da Justiça Federal, e determinada a remessa dos autos à Justiça Estadual

competente. Senão vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POPULAR. AUSÊNCIA DE INTERESSE DA

UNIÃO FEDERAL. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA

FEDERAL. 1. Discussão envolvendo eventual descumprimento de

TAC tomado pelo Ministério Público Federal por danos a nascente

de recurso hídrico em gleba do exército brasileiro. 2. União

manifestou ausência de interesse. 3. A regra de competência de

ação popular, mesmo para a ação popular ecológica, é

determinada pela origem do ato ou da omissão, nos termos da

Lei nº 4.717/19665. Remessa à Justiça Estadual. 4. Parcial

provimento da apelação e do reexame necessário para

determinar a remessa dos autos à Justiça Estadual de campinas.

(TRF 3ª R.; Ap-RN 0009883-57.2006.4.03.6105; SP; Sexta Turma;

Rel. Juiz Fed. Conv. Herbert de Bruyn; Julg. 12/09/2013; DEJF

23/09/2013; Pág. 1044) (Grifo nosso)

41 Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Agravo de Instrumento nº 2006.01.00.033687-8/MA, Relator Juiz Federal Convocado Saulo Casali Bahia, 3ª Turma, unânime, DJU de 20/04/2007, p. 25.

pág.41 de 46

À vista de todo o exposto, pugna o impetrante pela concessão da

liminar, fundamentada na probabilidade do direito, consubstanciada na garantia a

que o paciente faz jus de ser processado por juízo adequado (competente para a

causa), tese esta corroborada pela incompetência absoluta da Justiça Federal para

processar e julgar a ação popular nº 1018866-63.2017.4.01.3400.

Consoante delineado, a existência de manifestação expressa da

União Federal (fls. 553/557), no sentido de não possuir interesse jurídico na demanda, além

de carecer de legitimidade passiva para figurar na lide, torna amplamente viável, segundo

entendimento desse Egrégio TRF-1, a concessão da liminar, a fim de fazer cessar os

efeitos deletérios da decisão teratológica, lavrada nos autos do processo tombado sob

o nº 1018866-63.2017.4.01.3400, que afastou o paciente do cargo de Presidente da

Confederação Brasileira de Handebol – CBHb.

Por derradeiro, pugna-se pela ratificação da liminar quando da

concessão da segurança, a fim de anular a decisão interlocutória de conteúdo ilegal e

teratológico, determinando, por conseguinte, que a autoridade coatora promova,

conforme jurisprudência desse colendo TRF-1, a remessa do feito para a Justiça Estadual

de Sergipe, nos termos do § 3º, do art. 64, do CPC/2015, reconhecendo que a decisão

impugnada foi proferida por Juízo absolutamente incompetente.

IV. DO PEDIDO LIMINAR E DA PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA.

Incontestável a possibilidade de concessão de liminar em sede de

Mandado de Segurança.

Esse pertinente entendimento, que encontra amplo respaldo de

cunho doutrinário e jurisprudencial, é, ainda, referendado pelo dispositivo que repousa

normativamente no art. 7º, inciso III, da Lei 12.016/09, que afirma ser possível a liminar

quando relevantes os fundamentos da impetração e do ato impugnado puder resultar a

ineficácia da ordem judicial, caso concedida ao final.

Acena a doutrina mais abalizada nesse sentido, bastando que se

observe a lição do insigne professor Luís Otávio Siqueira de Cerqueira que assim preleciona:

pág.42 de 46

A concessão da medida liminar será de rigor quando o

fundamento do pedido for relevante e estiver presente o risco de

ineficácia do provimento final a ser concedido. O dispositivo

evidencia a natureza preponderantemente cautelar da decisão

liminar, que em regra assegura a eficácia do provimento final,

sendo que em alguns casos pode ganhar feições de antecipação

de tutela, autorizando inclusive a execução provisória.42 (Grifo

nosso).

No caso em perspectiva o impetrante preenche com louvor os

requisitos necessários para a concessão do que se pede, eis que além da indubitável

probabilidade do direito e a solidez de suas afirmações (fumus boni iuris), o periculum in

mora também se mostra patente. Senão vejamos:

i. O fumus boni juris está suficientemente evidenciado pela

demonstração de que a decisão interlocutória ora impugnada encontra-se maculada pela

teratologia (aberratio iuris), nos termos elencados pela doutrina pátria, posto que, de fato,

o decisum viola o sistema processual no que tange às regras cogentes que delimitam a

competência do juízo, em especial o art. 64 do CPC/2015, o art. 109, inciso I da Carta Magna

e, paralelamente a essa afronta teórica, é capaz de gerar prejuízo de difícil ou impossível

reparabilidade.

Conforme demonstrado ao longo desse mandamus, o pleito do

impetrante encontra guarida na doutrina e jurisprudência pátrias, principalmente em

julgados desse Egrégio Tribunal Federal da 1ª Região, que já reconheceu, em entendimento

recente, a incompetência absoluta da Justiça Federal para julgar demandas em que a União

Federal tenha manifestado expressamente o seu desinteresse jurídico na lide, remetendo-

se o feito para trâmite perante a Justiça Estadual.

Eis o que se observa na situação aqui discutida, utilizando-se a via

excepcional do mandamus – perante a irrecorribilidade imediata do teratológico decisum e

os graves prejuízos do trâmite processual em juízo incompetente até o momento da

apelação –, que se pleiteia a suspensão dos efeitos negativos, advindos da decisão

impugnada, a qual, acaso seja mantida incólume no mundo jurídico, continuará a violentar

os princípios constitucionais do juiz natural e do devido processo legal.

42 CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo e et alli. Comentários à nova lei do mandado de segurança: Lei 12.016. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p 87.

pág.43 de 46

ii. O periculum in mora consiste nos seguintes desdobramentos

acaso a decisão interlocutória ora impugnada continue a produzir efeitos do mundo

jurídico. Senão vejamos:

1º) No caso vertente predomina a ideia do tempo como inimigo,

merecendo destaque que o impetrante fora afastado do cargo para o qual fora

regularmente eleito e empossado, por medida liminar exarada por juízo incompetente,

sendo que em havendo demora no restabelecimento da situação implicará em “cassação

branca” de seu mandato.

Por essa razão não pode o impetrante aguardar o julgamento do

mérito do presente mandamus, uma vez que os atos do juízo incompetente permanecerão

incólumes até o pronunciamento decisório proferido pelo juízo adequado.

Assim, acaso não sejam suspensos os efeitos deletérios da decisão

interlocutória impugnada, via liminar, restabelecendo-se o status quo, permitindo que o

impetrante reassuma suas funções na condição de Presidente da Confederação Brasileira

de Handebol, remanescerão referidas consequências jurídicas no mundo jurídico,

prejudicando gravemente o direito do impetrante de ser julgado pelo juiz natural da causa

(art. 5º, LIII, da Constituição Federal), continuando afastado do cargo de Presidente da CBHb.

O afastamento do impetrante já dura 57 (cinquenta e sete dias),

considerando que teve ciência da decisão interlocutória que ora se impugna em

19.04.2018, ocasionando o comprometimento das atividades administrativas da

Confederação Brasileira de Handebol que, certamente, vem passando por graves

dificuldades em razão do irregular afastamento de seu Presidente, prejudicando o

desenvolvimento de atividades administrativas, projetos de âmbito nacional voltados para

a defesa do desporto Handebol, além de interrupção de contatos, contratos e outras

questões inerentes ao adequado funcionamento da CBHb – Confederação Brasileira de

Handebol.

2º) Trata-se de provimento jurisdicional de conteúdo teratológico,

nos termos delimitados pela doutrina, ou seja, decisão judicial que vai de encontro ao

sistema – desrespeitando o Diploma Processual Cível (art. 64) e à Carta Magna (art. 109,

inciso I) e que, paralelamente a essa afronta teórica, é capaz de gerar no campo dos fatos,

prejuízo de difícil ou impossível reparabilidade, razão pela qual deve esse provimento ter os

seus efeitos suspensos o quanto antes.

pág.44 de 46

A teor do exposto nas linhas adrede redigidas, pode-se constatar,

às claras, que a concessão da liminar pleiteada é, por vastos e sólidos fundamentos, medida

que se impõe no presente estágio do feito e que desde logo se requer a suspensão dos

efeitos deletérios da decisão teratológica, lavrada nos autos do processo tombado sob

o nº 1018866-63.2017.4.01.3400, que afastou o impetrante do cargo de Presidente da

Confederação Brasileira de Handebol – CBHb.

No que pertine à prova pré-constituída apta a possibilitar o

deferimento antecipado dos efeitos da tutela de urgência, o impetrante carreia à presente

lide cópias reprográficas, especialmente, dos feitos relativos à Ação Popular (Processo nº

1018866-63.2017.4.01.3400) e Agravo de Instrumento nº 1012419-40.2018.4.01.0000.

Nessa senda, pretende o autor a concessão da medida liminar, com

a máxima brevidade possível, a fim de que possa ser restabelecido o status quo ante, de

modo a retornar ao exercício do cargo de Presidente da Confederação Brasileira de

Handebol – CBHb, até decisão final da querela, sob pena de ser cometida grave injustiça.

V. DOS PEDIDOS:

Ex positis, amparado nos argumentos jurídicos, subsidiado nos

documentos encartados e com escoras nos precedentes judiciais, inclusive deste Egrégio

TRF-1, roga o impetrante:

A) Pelo recebimento do presente mandamus com a documentação

que segue anexa, prova bastante da violação de direito líquido e

certo, agasalhado no seio da Carta Republicana – arts. 5º, incisos

LXIX, LXX, LIII e LIV, bem como, pelo contido no art. 64 do Código

de Processo Civil, desrespeitados pela autoridade coatora

indicada nesta inicial;

B) A concessão de medida liminar, possibilitando, de pronto que

sejam suspensos os efeitos deletérios advindos da decisão

judicial teratológica ora impugnada, devendo o paciente ser

pág.45 de 46

reconduzido ao cargo de Presidente da Confederação

Brasileira de Handebol – CBHb até o julgamento do meritum

causae da presente impetração;

C) A notificação da autoridade apontada como coatora para, no

prazo legal de 10 (dez) dias, prestar as informações necessárias,

nos moldes do art. 7º, inciso I, da Lei 12.016/09;

D) A intimação do digno representante do Ministério Público, com

assento neste Egrégio Tribunal Regional Federal, para opinar

acerca do presente feito, emitindo posicionamento jurídico no

prazo improrrogável de 10 (dez) dias, segundo querer do art. 12,

caput, da Lei 12.016/09;

E) A intimação da União para integrar a presente lide, nos termos

do contido na Lei nº. 12.016/09;

F) Ao final, após regular tramitação, roga o impetrante que venha a

ser concedida a segurança, confirmando-se o teor da liminar

e, consequentemente, concedendo-se a ordem em todos os

seus termos para declarar a nulidade da decisão lavrada nos

autos do processo tombado sob o nº 1018866-

63.2017.4.01.3400, julgando-se a incompetência da Justiça

Federal do Distrito Federal para a demanda, determinando-

se a remessa do feito originário para a Justiça Estadual de

Sergipe, nos termos do § 3º, do art. 64, do CPC/2015,

reconhecendo que a decisão impugnada foi proferida por

Juízo absolutamente incompetente, respeitando-se o juiz

natural (art. 5º, LIII) e o devido processo legal (art. 5º, LIV, CF).

O impetrante no dever de demonstrar a veracidade da

argumentação que fundamenta o presente Mandado de Segurança aduna os processos

pág.46 de 46

eletrônicos que seguem anexos (Ação Popular nº 1018866-63.2017.4.01.3400; Agravo de

Instrumento nº 1012419-40.2018.4.01.0000), todos com autenticidade atestada.

Para fins de recolhimento de custas, conforme a Resolução nº

184/97 do CJF, dá-se à causa, para efeitos meramente fiscais, o valor de R$ 1.000,00 (um mil

reais).

Crédulo no cristalino Direito que aflora do presente petitório,

pedem e aguardam deferimento.

Brasília/DF, 14 de junho de 2018.

EVÂNIO JOSÉ DE MOURA SANTOS MATHEUS DANTAS MEIRA OAB/SE 2.884 – OAB/BA 19.306 OAB/SE 3.910