View
3.206
Download
2
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Este Mapeamente Cultural foi um dos nossos referenciais teóricos para o desenvolvimento deste trabalho.Fonte: SANTOS. Alberto Magno Silva dos. Mapeamento Cultural do Município de Traipu Estado de Alagoas. Traipu. 2006.
Citation preview
MMAAPPEEAAMMEENNTTOO CCUULLTTUURRAALL
DDOO MMUUNNIICCÍÍPPIIOO DDEE
TTRRAAIIPPUU
EESSTTAADDOO DDEE AALLAAGGOOAASS
MAPEAMENTO CULTURAL DO
MUNICÍPIO DE TRAIPU
ESTADO DE ALAGOAS
PRIMEIRA EDIÇÃO
REALIZAÇÃO
TRAIPU/AL, AGOSTO DE 2006
PREFEITURA MUNICIPAL DE TRAIPU PROJETO SELO UNICEF / MUNICÍPIO APROVADO
HOMENAGEM ESPECIAL
MARIA EUL1NA DOS SANTOS (DONA NOZINHA)
Nesta primeira edição do Mapeamento que pretende resgatar a cultura e a história
deste Município, não se poderia deixar de fazer uma singela e justa homenagem a este
exemplo de vida e de solidariedade que marcou, de forma bastante positiva, parte da
história de Traipu, de nome "Maria Eulina dos Santos".
É por "Dona Nozinha", que a
agricultora, comerciante e política Maria
Eulina dos Santos, primeira Vereadora eleita
pela cidade de Traipu/AL, é mais conhecida.
Foi vereadora por cinco vezes consecutivas,
entre as décadas de 50 e 70, sempre dedicando
especial atenção à pobreza. Casada com o
também agricultor Manoel Florêncio Filho, já
falecido, teve sete filhos, sendo que apenas
dois sobreviveram, Maria Ivete dos Santos
Canuto, professora aposentada, e Marcos
Antonio dos Santos, Advogado, Empresário e
Político, além de dez netos e dez bisnetos.
Com cerca de 50 anos participando da
vida pública, Dona Nozinha lembra que um dos períodos mais marcantes de sua vida
aconteceu no ano de 1970, quando uma grande seca castigou o município, levando muita
gente a vender o que possuía e viajar para o Sudeste do País, em busca de trabalho. Foi
nessa época, que a grande maioria da população pobre encontrou no espírito fraterno de
Dona Nozinha o auxílio e força para sobreviver.
"A seca de 1970 foi uma tristeza", recorda-se. Nesse período, ela teve uma
atuação marcante sempre ao lado da maioria pobre do Município. "Nesse ano, eu
comprava caixas de bacalhau, sacos de arroz, feijão e farinha que eram doados à
população carente do município". Era comum sua casa ficar cheia de pessoas vindas de
todos os povoados à procura de auxílio. "Algumas vezes, quando eu vinha de viagem, o
pessoal me informava que minha casa tinha sido invadida por pessoas que não tinham
nada para comer", relembra Dona Nozinha.
Para Dona Nozinha, aquela situação era conseqüência do descaso dos
governantes para com o povo nordestino, que sempre foi discriminado. "Se não
existissem pessoas solidárias que dividissem o pouco que tinham, multidões teriam
morrido de fome, já que a maioria do povo retirava o sustento da "roça", plantações de
milho, feijão e mandioca", diz ela.
Hoje, com 89 anos de idade, sente-se com o dever cumprido, e tem como o maior
fruto de sua carreira política, o seu filho Marcos Antonio dos Santos, que foi Prefeito no
período 2001 a 2004, e seu neto Valter dos Santos Canuto, atual Prefeito do Município.
Em reconhecimento aos serviços prestados por dona Nozinha ao povo traipuense,
a Câmara Municipal homenageou-a, colocando seu nome na Casa Maternal inaugurada
em maio de 2002.
Perseverança e solidariedade são marcas pelas quais Dona Nozinha é, e sempre
será, reverenciada pelos traipuenses.
AGRADECIMENTOS
À Equipe Municipal Pró-Selo Unicef, que contribuiu de forma direta para a
mobilização em busca dos objetivos propostos.
Às Crianças e Adolescentes da Escola Agapito Rodrigues de Medeiros que
colaboraram com a pesquisa de campo, trazendo informações importantes a este
Mapeamento.
À Coordenação Unicef/Recife pela parceria, pelas orientações e por nos possibilitar
a oportunidade de conhecer outras realidades e assim buscar melhorar a nossa.
A todos os traipuenses que ajudam a construir, com o suor do dia-a-dia, cada
momento da História Traipuense.
EQUIPE TÉCNICA
REDAÇÃO E REVISÃO Alberto Magno Silva dos Santos – Coordenador da Equipe Pró-Selo Unicef
APOIO TÉCNICO Tadeu Dias
EQUIPE DE PESQUISA Alberto Magno S. dos Santos, Leyvisson S. Pereira – Agente Jovem e Músico, Alunos da Escola
Municipal Agapito Rodrigues de Medeiros: Rair D. Teixeira – 13 anos/8ª série, José Clebson S. de Farias – 13 anos/7ª, Humberto H. da Silva Farias – 14 anos/8ª, Elbes de F. dos Santos – 14 anos/8ª,
José Madson A. dos Santos – 14 anos/6ª, Danilo F. de Farias – 16 anos/8ª, Cristiane da Silva – 15
anos/7ª, Olívia C. dos Santos – 13 anos/7ª, Álisson S. Nascimento – 15 anos/8ª, José Regivaldo da Silva - 17 anos/6ª, Leonilson T. de Farias – 15 anos/8ª, José Leilson T. de Farias – 17 anos/7ª, Zélia do
Nascimento Santos – 15 anos/5ª, Angélica P. de Farias – 12 anos/6ª, Mayra Fernanda Damasceno – 11
anos/6ª, Aline Kelly dos Santos – 11 anos/5ª, Rhelry D’ávila de A. Ferreira – 10 anos/5ª, Joyce Jennifer Dias – 11 anos/6ª, Eulália Sena Santos – 09 anos/4ª, Danielly Cristhiny Santos Brito – 08
anos/4ª, Alexia Beatriz Melo Sena – 08 anos/4ª.
FOTOGRAFIA José Arnaldo Pinheiro
José Pinheiro de Moura (Beto Pinheiro)
COLABORAÇÃO Gilson dos Santos – Presidente do CMDCA
Maria Aparecida Lira – Assistente Social
Dulcinea Soares – Secretária Municipal de Cultura Jackson Borges – Secretário Municipal de Meio Ambiente
Jacy Machado Reys – Coordenadora do Programa Agente Jovem
Jacira Machado – Coordenadora do PETI
Gilvan do Carmo Santos – Coordenador de Esportes Arlene Torres dos Santos – Coordenadora Pedagógica
Vera Lúcia de Cerqueira – Supervisora da Sec. Mun. de Educação
Maria Ivete dos Santos Canuto – Supervisora da Sec. Mun. de Educação Simone Melo de Sena – Dir. da Esc. Mun. Agapito Rodrigues de Medeiros
Íris Vieira Costa – Assistente Social
Ana Tereza Freire de Oliveira – Assistente Social Valter Matos Palmeira – Presidente da ASPRONT
Manoel Santos da Hora de Novais – Coordenador de Eventos
Erinaldo dos Santos Oliveira – Coordenador de Transportes do Município
Robson Nascimento – Secretário Municipal de Educação Rita de Cássia Melo – Diretora da escola Francisco Mangabeira
Júlio de Freitas Machado – Secretário Municipal de Viação e Obras
Roberto Olindino Matos Junior – Secretário Municipal de Finanças Manuel Farias – Presidente do Conselho Tutelar
APOIO CULTURAL Valter dos Santos Canuto – Prefeito
Marcos Antonio dos Santos – Secretário Geral de Governo Juliana Kümmer Freitas Santos – Secretária Municipal de Assistência Social
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO -------------------------------------------------------------------------------------- 15
HISTÓRICO MUNICÍPIO----------------------------------------------------------------------------- 17
Origem do Nome Traipu---------------------------------------------------------------- 18
D. Pedro II em Traipu------------------------------------------------------------------- 19
Histórico da Igreja de Nossa Senhora do Ó------------------------------------------ 19
Párocos------------------------------------------------------------------------------------ 20
Movimentos Sociais da Igreja---------------------------------------------------------- 21
Cultura Indígena-------------------------------------------------------------------------- 21
Governantes traipuenses---------------------------------------------------------------- 22
SÍMBOLOS DE TRAIPU------------------------------------------------------------------------------- 23
Bandeira----------------------------------------------------------------------------------- 23
Hino de Traipu--------------------------------------------------------------------------- 24
O RIO SÃO FRANCISCO----------------------------------------------------------------------------- 25
Origem do nome São Francisco-------------------------------------------------------- 27
Ponto de vista econômico--------------------------------------------------------------- 28
Formação racial--------------------------------------------------------------------------- 28
Tribos indígenas que habitaram o Baixo São Francisco----------------------------- 28
Museu Ambiental “Casa do Velho Chico”-------------------------------------------- 29
Rio Traipu -------------------------------------------------------------------------------- 32
Serras-------------------------------------------------------------------------------------- 32
Lagoas------------------------------------------------------------------------------------- 33
TERRA DA MÚSICA ----------------------------------------------------------------------------------- 34
Banda Lira Traipuense e Filarmônica de São José---------------------------------- 34
Banda Marcial---------------------------------------------------------------------------- 35
Escola de Música Santo Antonio------------------------------------------------------ 36
Escola de Música Pedro Basílio ------------------------------------------------------- 36
Músicos traipuenses no cenário nacional--------------------------------------------- 37
Coral de Nossa Senhora do Ó---------------------------------------------------------- 38
Banda "Z"--------------------------------------------------------------------------------- 38
FESTAS TRADICIONAIS----------------------------------------------------------------------------- 39
Festa de Nossa Senhora do Ó----------------------------------------------------------- 39
Festa do Bom Jesus dos Navegantes--------------------------------------------------- 41
Carnaval----------------------------------------------------------------------------------- 43
NOSSO FOLCLORE------------------------------------------------------------------------------------ 45
O Coco de Roda-------------------------------------------------------------------------- 45
Grupo Folclórico Saia de Renda------------------------------------------------------- 46
Grupo Artístico de Traipu (GAT)------------------------------------------------------ 46
Quadrilha Quartinha D’água------------------------------------------------------------ 47
Pastoril------------------------------------------------------------------------------------- 48
Dança do Piau----------------------------------------------------------------------------- 48
ARTESANATO------------------------------------------------------------------------------------------- 48
Artesanato com madeira ------------------------------------------------------ 48
Carpinteiros------------------------------------------------------------------------------- 49
Artesanato com barro-------------------------------------------------------------------- 50
Bordado------------------------------------------------------------------------------------ 50
Artesanato com palito-------------------------------------------------------------------- 51
CANOEIROS---------------------------------------------------------------------------------------------- 52
ENERGIA ELÉTRICA --------------------------------------------------------------------------------- 53
TELEFONE------------------------------------------------------------------------------------------------ 53
AGRICULTURA----------------------------------------------------------------------------------------- 53
PESCA------------------------------------------------------------------------------------------------------ 54
EXTRAÇÃO DE PEDRAS ORNAMENTAIS----------------------------------------------------- 54
POVOADOS DO MUNICÍPIO------------------------------------------------------------------------ 55
Vila Santo Antonio---------------------------------------------------------------------- 55
Vila São José----------------------------------------------------------------------------- 57
Povoado Mumbaça---------------------------------------------------------------------- 58
Povoado Lagoinha----------------------------------------------------------------------- 61
Povoado Olho d’Água da Cerca------------------------------------------------------- 63
Povoado Capivara----------------------------------------------------------------------- 65
Povoado Piranhas------------------------------------------------------------------------ 67
Povoado Santa Cruz--------------------------------------------------------------------- 68
Povoado Riacho da Jacobina----------------------------------------------------------- 70
Povoado Bom Caradá------------------------------------------------------------------- 72
Povoado Bom Jardim-------------------------------------------------------------------- 73
Assentamentos do Município de Traipu --------------------------------------------- 74
RELIGIÃO------------------------------------------------------------------------------------------------ 75
Igreja Católica----------------------------------------------------------------------------
Igreja Assembléia de Deus-------------------------------------------------------------
75
75
Igreja Universal do Reino de Deus---------------------------------------------------- 76
Igreja do Evangelho Quadrangular---------------------------------------------------- 76
Igreja Batista ----------------------------------------------------------------------------- 77
Cultura Afro-brasileira------------------------------------------------------------------ 77
Centro Espírita São Jorge Guerreiro--------------------------------------------------- 77
Centro Espírita Palácio de Oxalá------------------------------------------------------ 78
PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARQUITETÔNICO-------------------------------------------- 79
Patrimônio Natural---------------------------------------------------------------------- 80
Espaços Culturais------------------------------------------------------------------------ 80
Escolas------------------------------------------------------------------------------------ 80
Espaços Festivos ------------------------------------------------------------------------ 81
LITERATURA-------------------------------------------------------------------------------------------- 81
Luís de Medeiros Netto----------------------------------------------------------------- 81
Jenner Glauber Melo Torres----------------------------------------------------------- 82
Alvacy Martins--------------------------------------------------------------------------- 82
Jackson Borges--------------------------------------------------------------------------- 82
Provérbios (sabedoria popular)--------------------------------------------------------- 82
PARTEIRAS----------------------------------------------------------------------------------------------- 83
REZAS, CURAS e CRENÇAS ------------------------------------------------------------------------ 84
Medicina Popular------------------------------------------------------------------------- 84
Lendas ------------------------------------------------------------------------------------- 85
BODEGAS-------------------------------------------------------------------------------------------------- 85
GASTRONOMIA----------------------------------------------------------------------------------------- 85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS---------------------------------------------------------------- 87
15
APRESENTAÇÃO
O Município de Traipu, localizado às margens do Rio São Francisco, é um dos
mais antigos do Estado de Alagoas, sendo detentor de uma rica história cultural que
precisa ser registrada, como forma de garantir às próximas gerações o conhecimento
de suas raízes e fortalecimento de sua identidade.
Desta forma, o Mapeamento Cultural de Traipu tem por objetivo maior retratar
toda e qualquer expressão de natureza cultural ou histórica de um povo, partindo do
reconhecimento público da importância de todos aqueles que iniciaram a construção
de nossa história e chegando às crianças e adolescentes de hoje, a quem cabe preservar
este patrimônio e construir o futuro. Além de se apresentar como uma valiosa fonte de
pesquisa para as crianças e jovens traipuenses.
Mapear a Cultura de um povo é, sem dúvida, uma atividade sem fim, já que a
cultura é viva, e por isso, sempre surgirão novos vestígios, novas informações, novos
pontos de vista, novas gerações. Deste modo, o Mapeamento é uma construção que
estará sempre ávida por receber novos fatos que venham enriquecer a história
traipuense. Porém, pretende proporcionar às gerações futuras o registro, responsável e
consciente, de boa parte de nossas riquezas, além de despertar o interesse das crianças
e adolescentes em valorizar, preservar e registrar seu patrimônio histórico e cultural.
Sabemos que é preciso fortalecer o compromisso público com a política da
cultura, ampliando todas as alternativas de preservação do patrimônio histórico e
popular, a fim de possibilitar ao traipuense a tradução de suas potencialidades em
oportunidades e desenvolvimento.
Aqui estão expressas as nossas vocações em forma de história, música,
folclore, pesca, dança, arte, crenças, costumes, tradições e sonhos que tornam único o
sertanejo traipuense.
Este Mapeamento é resultado de um grande mutirão, desde a Prefeitura
Municipal, do projeto Selo Unicef/Município Aprovado, da Equipe Municipal Pró-
Selo Unicef, das crianças e adolescentes que participaram da pesquisa de campo e,
principalmente, daqueles que construíram cada cena dessa linda história, permitindo-
nos, assim, a oportunidade de registrá-la para a posteridade.
Portanto, todas as dificuldades encontradas na realização deste projeto são
compensadas pela consciência do dever cumprido e pela satisfação de sentir nas
pessoas a esperança e o orgulho de manter vivas suas tradições culturais.
Marcos Antonio dos Santos
Articulador Municipal
Alberto Magno S. dos Santos
Coordenador da Equipe Pró-Selo Unicef
16
17
HISTÓRICO DO MUNICÍPIO
Traipu possui a terceira maior área territorial dentre os Municípios de Alagoas,
com 698 quilômetros quadrados (IBGE 2005) ficando atrás apenas de Coruripe e Mata
Grande. Está localizado na microrregião do agreste alagoano, limitando-se ao Norte
com Girau do Ponciano e Campo Grande, ao Sul com o Rio São Francisco, ao Leste
com São Braz e Olho d’Água Grande e ao Oeste com Belo Monte e Batalha. Está a
188 km de Maceió, Capital do Estado e a 53 km de Arapiraca, Centro Econômico do
Agreste. Tem como principal via de acesso a AL-487 (Rodovia Governador José
Tavares). Segundo o Censo 2000, a população era de 23.439 habitantes (11.820
homens e 11.619 mulheres). A população urbana era de 7.131 e a rural de 16.308
habitantes. “Este censo realizado no ano 2000 foi contestado pela Prefeitura
Municipal de Traipu que impetrou ação na Justiça para que houvesse retificação dos
dados populacionais”. A religião predominante é a Católica com 22.628 adeptos,
seguida de 436 evangélicos e 375 que professam outras religiões.
Vista da cidade de Traipu
O clima do
município é tropical quente e
seco, variando de semi-árido
a sub-úmido. As temperaturas
são elevadas durante todo o
ano, com mínimas de 20°C e
máxima de 40°C. O
município assenta-se
predominantemente sobre os
micaxistos e gnaisses da
Unidade Porto da Folha, os
granulitos do Grupo Girau,
que formam o embasamento
cristalino, e os quartzitos da
formação Santa Cruz, que dão lugar à Serra da Priaca e constituem uma importante
reserva de água, principalmente por sua excelente qualidade, além de serem
aproveitados como placas laminadas para revestimento. Ocorrem ainda o ferro, o
amianto e a argila.
A planície fluvial do Rio Traipu apresenta-se larga, com presença de terraços e
várzeas. O núcleo urbano de Traipu desenvolveu-se no entorno da planície fluvial do
Rio Traipu, à margem do São Francisco.
18
ORIGEM DO NOME TRAIPU
A palavra “Traipu” é de origem Tupi-guarani, como mostra o especialista
Teodoro Sampaio em seu abalizado dicionário. É uma corruptela de "ytira ypu", que
quer dizer "fonte do morro" ou "olho d'água do monte". Em seus primórdios, durante o
Século XVII, era um morgado estabelecido na região pelo mestre de campo e grande
proprietário de terras Pedro Gomes. Este deixou para seus descendentes seus bens
vinculados, inclusive o nascente povoado que recebera o nome de Porto da Folha. Só
que estas terras se estendiam pelas margens sergipanas e alagoanas do Rio são
Francisco. Com o tempo aconteceu o desenvolvimento de duas povoações, uma em
Sergipe que continuou com o nome de Porto da Folha e a outra no lado Alagoano que
levou à formação de Traipu.
Está assentada sobre uma pequena colina às margens do São Francisco,
defronte à grande Serra da Tabanga, que é levada em sua base pelo rio e que, para os
nativos, marca o início do Sertão. Foi elevada à categoria de vila com o nome de Porto
da Folha por intermédio da Lei nº 19 de 28 de abril de 1835, recebendo o nome atual,
tanto a freguesia quanto o município, em 30 de abril de 1870.
Há uma controvérsia dos historiadores sobre sua fundação. João Alberto
Ribeiro adota a versão de que Pedro Gomes teria ali estabelecido o seu morgado para
seus herdeiros, dando início ao povoado chamado Porto da Folha. Versão rechaçada
por Wenceslau de Almeida, que afirma ter sido o morgado realmente instituído, porém
não na margem alagoana, mas na sergipana, não sendo admissível que os limites do
mesmo se estendessem para o território de Alagoas.
Arnoldo Jambo, em sua Enciclopédia dos Municípios Alagoanos, analisando
as duas teses, deduz que, diante da influência do poderoso fidalgo e proprietário de
terras que era mestre-de-campo na Bahia em 1680 e Governador do Rio de Janeiro
em 1681, "é possível que esse prestígio contribuísse para que a extensão deste seu
latifúndio se alargasse, sem problemas ao local onde se assenta atualmente a cidade
de Traipu".
Certo é que em 17 de março de 1713, no Porto da Folha, na parte norte, ou
seja, área que fica em Alagoas, o lugar foi conferido em sesmaria a João Dantas, a
Manuel Braz Pedrosa e a Caetano Dantas Passos. Parece ser a concessão desta
sesmaria o documento mais antigo disponível do lugar que passou a ser chamado
Traipu por estar próximo à barra do rio do mesmo nome. E com essa denominação foi
elevado à categoria de cidade pela Lei nº 14, de maio de 1892.
Território indígena, sua ocupação obedeceu aos mesmos métodos empregados
na região: guerra sem quartel, riscando do mapa os chamados gentios, escravismo mal
sucedido com os índios remanescentes e agrupamento dos mesmos em aldeias e
colégios para catequese e criação extensiva de gado solto. Em 1844, o presidente da
Província dizia num opúsculo (um dos primeiros documentos historiográficos
produzidos em Alagoas) que "esta vila tem em semicírculo de si muitas fazendas de
criar gado vacum, cavalar e das espécies menores; que belos requeijões, lingüiças e
carne de sol não fornecem estes lugares às diferentes feiras que se fazem nas margens
deste Rio São Francisco não só do lado desta Província, como do lado de Sergipe!"
Os próprios frades, que exerceram muita influência na formação da cidade,
exploravam a pecuária em suas fazendas, pois "a região dos currais" era a abastecedora
19
da zona do açúcar, produto preferido pelo patriciado dos engenhos, no litoral. O
Seminário de Olinda e Conventos eram mantidos com impostos e taxas provenientes
da comercialização da carne. Sua cozinha era baseada nos peixes dos dois rios e
também em muita carne, farinha e arroz, não faltando leite e queijo. Verduras,
praticamente não produzidas, eram pouco consumidas. Frutas, só as nativas, como o
caju.
D. PEDRO II EM TRAIPU
D. Pedro II chegou a Traipu, às 21 horas do dia 16 de outubro de 1859, a
bordo do “Pirajá”. Hospedou-se na Casa de Câmara e Cadeia, um prédio com dez
portas e nenhuma janela, pretendendo escrever apenas quando chegasse a Pão de
açúcar. No dia 17 de outubro, o Imperador acordou às 05:30h e principiou a conhecer
a cidade, visitando a igreja (que ainda estava em construção), onde fez orações e ao
sair deixou uma ajuda financeira para a conclusão das obras. O Imperador foi
homenageado pela população, tendo à frente o Coronel José Vicente Pereira Netto, em
cuja residência (um sobrado hoje pertencente ao Senhor Berilo Mota) D. Pedro II
participou de uma recepção. Os moradores foram orientados a acenderem os lampiões
em frente às suas casas e a forrarem as ruas com folhas e flores.
Passeou a cavalo pela região das lagoas, onde se plantava arroz, coletando
algumas plantas e amostras de intãs. Foi ao cemitério e visitou a única escola, onde
havia 77 meninos e 40 a 50 meninas matriculadas. Às 09:00h, voltou ao Pirajá,
partindo às 09:10h.
Depois de visitar algumas localidades da Província de Sergipe, seguiu o Pirajá
para além do morro de Aió, onde encalhou e de onde já se avistava a capela de Nossa
Senhora dos Prazeres, no alto do morro do mesmo nome, pertencente ao Município de
Belo Monte, bem em frente à povoação de Barra do Ipanema.
HISTÓRICO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO Ó
A povoação de Porto da Folha solidificou-se com a construção da capela de
Nossa Senhora do Ó, no final do Século XVII, tendo se desenvolvido com a
colaboração de inúmeras famílias, com destaque para o Capitão Caetano Farias,
progenitor do Coronel José Vicente Pereira Netto, avô do escritor e político traipuense
Luís de Medeiros Netto.
A Igreja de Nossa Senhora do Ó começou a ser construída no Século XVIII
pelos habitantes do então Povoado Porto da Folha, sendo terminada na segunda década
do Século XIX.
A história da construção da igreja prende-se a uma lenda até hoje comentada e
discutida. O relato diz que, estando alguns garotos a brincar no alto do morro, notaram
que em cima de uma pedra estava a imagem de uma santa. Como em Porto da Folha
não existia igreja, levaram-na para a capela existente na Fazenda Saco. Porém, no dia
seguinte perceberam que a santa havia desaparecido. Voltando ao local da aparição,
encontraram a santa, levando-a de volta à capela. Este fato repetiu-se duas ou três
vezes, até que resolveram construir no local da aparição um pequeno templo para
abrigar a imagem de Nossa Senhora do Ó.
20
Matriz de Nossa Senhora do Ó
PÁROCOS
Ao longo dos anos, muitos foram os religiosos que se mantiveram à frente da
Paróquia de Nossa Senhora do Ó. Os registros da Igreja relacionam todos eles a partir
de 1896:
- Padre Vicente Ferreira de Meira Lima (1896 a 1907);
- Padre José D. de Medeiros;
- Padre Júlio Ferreira de Albuquerque;
- Padre José Soares de Albuquerque (nov/1907 a mar/1911);
- Padre José Bulhões (maio/1913 a maio/1914);
- Padre Alfredo Silva (1915 a 1949); OBS: Durante este período, outros religiosos
estiveram interinamente à frente da Paróquia:
- Padre Domingos Fonseca de Oliveira (de março a outubro/1920);
- Padre Luiz Cirilo Silva (fev/1942 a jan/1943);
- Padre José Maurício (Cooperador: de fev a nov/1944);
- Frei Cláudio (maio/1949);
- Frei Cornélio Amolk (ago/1949);
- Frei Marcos Pierk (set/1949);
- Padre José Severino de Araújo (jul/1949 a dez/1951);
- Monsenhor Medeiros (Vigário Geral: dez/1951 a fev/1952);
- Padre José Batista de Azevedo (1952 a 1990);
- Padre José Valdenice Costa da Silva (01/mai/1990 a 25/fev/2001);
- Padre José Edson Lira (04/mar/2001 a 05/mar/2006);
- Padre Rosalvo dos Santos (a partir de 05/mar/2006).
21
MOVIMENTOS SOCIAIS DA IGREJA
Atualmente, há vários movimentos sociais na Paróquia:
- Apostolado da Oração: Movimento de senhoras que fazem visitas a doentes;
- Movimento Mãe Rainha: Senhoras responsáveis pela peregrinação da imagem de
Mãe Rainha pelas residências das famílias católicas;
- Confraria do Rosário: Também movimento de senhoras que rezam o terço durante as
celebrações;
- Grupo de Jovens: Responsável por encontros regionais objetivando trazer a
juventude a participar das atividades da igreja;
- Movimento Catequese: Responsável por transmitir ensinamentos religiosos às
crianças que irão receber a 1ª Comunhão;
Coral de Nossa Senhora do Ó: Grupo que acompanha as celebrações com músicas e
cantos;
- Renovação Carismática: Grupo que participa dos louvores aos sábados e de outras
atividades da Igreja;
- Pastoral do Dízimo: Equipe responsável por incentivar as pessoas a serem dizimistas;
- Pastoral da Criança: Responsável por atividades sociais voltadas, sobretudo, ao apoio
às crianças e gestantes;
- Legião de Maria: Também movimento de senhoras;
- Equipe de Liturgia: Responsável pela organização de todo o ritual da missa.
CULTURA INDÍGENA
No Século XVIII, quando Alagoas pertencia à Capitania de Pernambuco, sob o
comando de Jorge de Albuquerque Coelho, filhos de Duarte Coelho, as terras onde
hoje se localiza o município de Traipu, faziam parte da Sesmaria de João Dantas
Aranha, Manoel Braz Pedrosa e Caetano Dantas Passos, desde março de 1713, tendo
sido habitado até o Século XVI pela tribo indígena dos "Carapatós".
Índios da Tribo dos “Aconãs” do povoado Bom Jardim mantêm vivas suas tradições
Descendentes dos carapatós, primeiros habitantes de Traipu, ainda restam
aproximadamente 800 índios, morando no município de São Sebastião, Alagoas.
22
Sede da Reserva Indígena “Aconã”, no
Povoado Bom Jardim. Porém, no Povoado Bom
Jardim, zona rural de Traipu, a
cultura indígena permanece viva
através da Reserva lá existente
há seis anos, quando a Funai
comprou a área de
aproximadamente 310 hectares e
estabeleceu os índios que vieram
de Feira Grande, da Tribo
“Tingui Botó”, recebendo,
através do Cacique Saraiva, o
nome de “Aconãs”, na nova área,
em homenagem a uma antiga
Tribo existente nesta região do Vale do São Francisco.
GOVERNANTES TRAIPUENSES
Antes da Proclamação da República, em 1822, destacaram-se na Política de
Traipu (ainda Porto da Folha) os Coronéis da Guarda Nacional José Vicente Pereira
Netto, chefe do partido Conservador, Pedro Rodrigues de Medeiros e Serapião
Rodrigues de Albuquerque, do Partido Liberal.
Após a Proclamação da República, exerceram o cargo de Prefeito os senhores:
Serapião Rodrigues de Albuquerque – 1890
Pedro Rodrigues de Medeiros – 1891
Serapião Rodrigues de Albuquerque – 1892
Idelfonso Pereira de Melo – 1896
Isaac Pereira Netto – 1898
Luís Gonzaga Torres Melo – 1900
Ulisses Rodrigues de Albuquerque – 1902
Ernesto Rodrigues de Albuquerque – 1904
José Lourenço de Albuquerque – 1907
Ulisses Rodrigues de Albuquerque – 1909
Benvindo Rodrigues de Albuquerque – 1911
Afonso de Freitas Melro – 1915
Isaac Pereira Netto – 1920
Afonso de Freitas Melro – 1922
José Ferreira de Santana – 1925
Gonçalo de Menezes Tavares – 1928
Joaquim Pinheiro Chaves – 1930
Osias Vasco do Nascimento – 1932
Manuel da Silva Dantas – 1932 Francisco Caracíolo de Oliveira Valença – 1934
Antonio de Medeiros Netto – 1935
Afonso de Freitas Melro – 1936
Gonçalo de Menezes Tavares – 1941
Mário de Mendonça Mendes – 1943
Benito de Freitas Melro – 1945
Afonso de Freitas Melro – 1947
Antonio de Medeiros Netto – 1948
Luís Novaes Tavares – 1951
Luís de Albuquerque Mendonça – 1955
Luís Novaes Tavares – 1960
José Carlos Santa Rita – 1965
João José Chaves - 1970
Luís Novaes Tavares – 1973
Artur Olímpio dos Santos – 1977
Edmar Lima Dias – 1983
José Afonso Freitas Melro – 1989
Artur Olímpio dos Santos – 1993
José Afonso Freitas Melro – 1997
Marcos Antonio dos Santos – 2001
Valter dos Santos Canuto – 2005
23
SÍMBOLOS DE TRAIPU
BANDEIRA
A Bandeira de Traipu foi criada a partir da iniciativa de Luis de Medeiros
Netto, ex padre, deputado federal e professor da UFAL. As cores verde e amarela,
seccionadas por um losango branco, representam respectivamente, a importância da
Serra da Tabanga na paisagem da cidade e a importância da história do Município para
seu povo.
Inserido no losango branco, o brasão está dividido em três partes: as serras, os
rios e a paisagem típica da caatinga. A produção agrícola está representada por um pé
de milho e outro de arroz, em substituição ao pé de algodão.
24
HINO DE TRAIPU
Salve Traipu, do passado e do presente,
Jóia incrustada no planalto do sertão;
Salve Traipu, orgulho de tua gente,
Que a venera com amor no coração!
Quanta beleza em teu solo pedregoso,
Onde o velho São Francisco te beijando,
Leva a brisa ao teu povo venturoso,
Que tem fibra e se alegra trabalhando!
Tua Bandeira imponente a tremular,
Simboliza a grandeza e a esperança,
Naqueles que trabalham sem cansar,
Almejando a riqueza e a bonança.
Da euforia do teu povo independente,
Pela riqueza do teu solo cultivado:
A homenagem dos que vivem no presente,
Para todos que viveram no passado.
Não esqueças Traipu os filhos teus,
Que te fizeram bonita e atraente,
Reza e pede por eles ao bom Deus,
Que os faça felizes plenamente.
LETRA: Eronildo Lemos e Medeiros Netto
MÚSICA: Antônio Basílio
25
O RIO SÃO FRANCISCO
Para se falar da história e da cultura do Município de Traipu, é preciso, antes
de tudo, como forma de justiça e reverência, apreciar um pouco a história daquele que
deu origem às povoações ribeirinhas: O majestoso RIO SÃO FRANCISCO.
Também conhecido como "Rio da Unidade Nacional", o São Francisco liga
duas regiões quase opostas em suas condições econômicas, sociais e climáticas. Os
índios o chamavam de Pará ou Parapitinga. Nasce na Casca d'Anta, Serra da Canastra
(Sudeste de MG). É típico de planalto, com altitude média de 400m. Banha Minas
Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas em uma extensão de 3.161km.
Distribui suas águas por lugares onde é tido como a fonte maior de recursos da região.
Por ser de grande extensão, o rio é subdividido em Alto, Médio e Baixo São Francisco,
tendo o relevo como propriedade diferenciadora.
Rio São Francisco passando pela
cidade de Traipu-AL
O Baixo São
Francisco, em Alagoas, é um
trecho com 208 km de ex-
tensão, considerado abaixo da
antiga cachoeira de Paulo
Afonso até sua foz, junto aos
municípios de Piaçabuçu e
Penedo, respectivamente.
Possui baixíssima declividade
(5cm/km) e boas condições de
navegabilidade para
embarcações de pequeno calado em 90% do tempo. Vertem para o seu leito com
características de rios intermitentes 19 bacias hidrográficas. A Zona do Baixo São
Francisco Alagoano é dividida em dois trechos: o do Sertão do São Francisco (que vai
do Rio Moxotó, fronteira com Pernambuco, município de Delmiro Gouveia, até Pão de
Açúcar) e o do Baixo São Francisco (que vai daí até o delta na sua foz, no município
de Piaçabuçu).
A zona do Baixo São Francisco divide-se em duas partes: a continental e a
fluvio-marinha, identificada no delta do rio. A parte continental demonstra a transição
da Mata para o Agreste a se definir depois de Igreja Nova, nos municípios de São Braz
e Olho d'Água Grande. O Baixo São Francisco indica uma área onde a erosão dos rios
afluentes acentua-se dado o regime hídrico de mais longa perenidade. A exemplo do
Rio Boacica e seus afluentes, escavaram amplos vales e os entulharam de sedimentos.
Na zona continental do agreste, há faixa de transição climática caracterizada ora por
semi-aridez, ora por ventos úmidos e no delta é quente e úmido.
26
Importantes rios afluentes da margem esquerda do São Francisco são: o
Riacho Jacobina, com a lagoa de
mesmo nome (divide Belo Monte e
Traipu), o Traipu (passa na cidade de
Traipu), o Riacho Taboca (passa na
cidade de São Braz), o Riacho
Itiúbaa (passa em Porto Real do
Colégio), o Boacica (passa em Igreja
Nova e forma as lagoas do Curral do
Meio e a maior delas, a Lagoa da
Boacica), o Perucaba (em Penedo) e
o Piauí-Marituba (divide os
municípios de Penedo e Piaçabuçu).
Na faixa continental, o relevo
dissecado é marcado pelo vale, alargando a calha do rio com terraços de 3 a 4m,
algumas serras ou morros, às vezes formando ilhas, às vezes com matações de rochas
aflorantes nas margens. Está recoberto por vegetação de caatinga arbustiva degradada,
às vezes composta por capões de mato e capoeiras e plantio irrigado de árvores
frutíferas. Nos tabuleiros ocorrem as associações de espécies que compõem a mata
como: jatobá, peroba, ipê, maçaranduba, sucupira, palmáceas, emaranhados de cipós
(lianas) e epífitas. Misturam-se ainda espécies de campos cerrados bem como de
caatinga. Povoamentos implantados lineares, ao longo da margem do rio, com a
presença de portos de embarcações e a torre da Igreja, geralmente sobressaindo no
conjunto do casario urbano, a exemplo de Traipu. As fazendas são dispersas, mas são
definidoras dos aglomerados rurais, principalmente nos tabuleiros.
Na região do delta, que começa pouco abaixo de Penedo, limitado pelos
tabuleiros costeiros da Formação Barreiras, o Rio São Francisco alarga-se em forma de
leque em direção à praia, no lado alagoano, em formato triangular, situando-se nos
municípios de Piaçabuçu e Feliz Deserto (voltado para o Oceano). Nesta área, resultam
várias feições morfológicas como: terraços marinhos e fluviais, dunas fixas e móveis,
pântanos ou várzeas e praias. A vegetação que recobre estes tabuleiros costeiros é
formada por manchas isoladas de matas com espécies de louros, embiribas, visgueiros,
sambacuins, jacarandá, jatobá e sucupira. Nos terraços marinhos encontram-se o pau-
arco, amarelo, angelim, oiticica, maçaranduba, e algumas espécies introduzidas do
cerrado e da caatinga; a fauna associada é paca, tatu, teiú e diversas cobras. A várzea,
que é formada por uma rede hidrográfica peculiar, principalmente dos rios Perucaba e
Piauí-Marituba do Peixe tem um braço de rio que une as duas bacias fechando um
grande meandro. A vegetação que se instalou neste ambiente é constituída de
jenipaparana, piri-piri, taboa, junco, capim-manimbu e capim-açu. Quando ocorre
interferência das marés instalam-se manguezais, aningas, e avencões. A fauna
associada constitui-se de jacarés, lontras, garças, socós, jaçanãs e outros pássaros. O
plantio de arroz também é incorporado ao processo agrícola, somando-se a outros
cereais, como o feijão e o milho. Esta várzea é a única que não foi fechada para projeto
de irrigação da CODEVASF e continuou aberta aos pescadores e agricultores que,
organizados, motivaram o governo do Estado a criar a Área de Proteção Ambiental da
Marituba do Peixe, em 1988.
Imagem do Porto da Areia em Traipu e dos barcos de
pescadores
27
Os cordões arenosos e as dunas mais internas, com altitude de 8 a 16m, são
fixados por vegetação de restinga de porte florestal e as dunas mais externas e móveis
encontram-se desprovidas de vegetação. A substituição desta restinga arbórea pelo
plantio do coqueiro predominou nesta região formando sítios produtivos. Concorreu
com estas atividades a exploração de petróleo pela Petrobrás. A pecuária é pouco de-
senvolvida e a pesca é intensa.
Nas faixas arenosas de praia costeira, ocorrem espécies como salsa, feijão da
praia, pinheiro da praia e as arbustivas guajirus. Este ambiente apresenta condições
favoráveis às aves por caracterizar área de ocorrência de espécies em suas rotas
migratórias, como se observa com os numerosos bandos de maçaricos nos meses de
abril e maio. Ocorre também a desova de tartar1ugas marinhas. Tais fatos levaram o
governo federal a criar a Área de Proteção Ambiental do Piaçabuçu com a Estação
Ecológica do Peba, em 1983.
ORIGEM DO NOME SÃO FRANCISCO
Em 1501, uma expedição portuguesa, segundo historiadores, pilotada por
Américo Vespúcio, chegou à foz do rio em 4 de outubro, dia consagrado a São
Francisco de Borja. Por esse motivo, o rio recebeu o nome de "São Francisco".
Gabriel EI Soares de Souza, autor do famoso "Tratado Descritivo do Brasil"
registrou, em 1587, que numerosos grupos indígenas que viviam ao longo do rio, na
época da chegada dos primeiros europeus, chamavam o São Francisco de Pará (O
Mar), provavelmente devido ao seu tamanho. Afirmações sobre este fato foram feitas
posteriormente pelo padre Navarro (em 1553), pelo Frei Vicente do Salvador (em
1627) e por Loreto Couto (em 1557).
Por volta de 1522, os franceses contrabandeavam o pau-brasil através do rio.
Em 1545, Duarte Coelho Pereira, donatário da Capitania de Pernambuco, visitou a
região para combater o contrabando do pau-brasil, iniciando assim uma povoação que
viria a se chamar "Vila do Penedo do São Francisco".
Durante o período da invasão holandesa, em 1637, o Rio São Francisco foi
transformado em ponto estratégico para as forças invasoras, que tomaram Penedo
erguendo no alto da rocheira o Forte Maurício de Nassau, principal base de defesa,
destruído pelos portugueses em 1645. Mais tarde com a derrota dos holandeses foi
intensificada a colonização da região, sendo o leito do rio utilizado pelos
colonizadores, que navegavam através dele, povoando e explorando o vale e
adentrando aos sertões através dos seus afluentes.
D. Pedro II, quando em visita à Cachoeira de Paulo Afonso, em 1859, subiu o
Rio São Francisco, pernoitando em várias cidades ribeirinhas, entre elas Penedo,
Traipu e Pão de Açúcar, desembarcando em Piranhas.
Da sua participação em acontecimentos fundamentais na história do Brasil, a
região do Vale do São Francisco em Alagoas herdou um significativo patrimônio
arquitetônico e artístico do período colonial brasileiro. O Rio São Francisco é
considerado o maior rio brasileiro que se lança no Atlântico. Seus 3.161 Km fazem
dele o décimo-oitavo rio do mundo em extensão. De todos os sistemas fluviais do
Brasil, é o terceiro mais extenso.
28
PONTO DE VISTA ECONÔMICO
O valor do Rio São Francisco, no que se refere à economia, é inestimável.
Tem cerca de 238 Km de hidrovia margeada de ambos os lados, formando cidades e
povoados próximos das suas ribeiras, que possuem um conjunto arquitetônico civil e
religioso de grande valor artístico e histórico, possibilitando a exploração do turismo.
O rio supre de águas e peixes as populações ribeirinhas, além de gerar energia elétrica
através das usinas construídas ao longo do seu leito.
FORMAÇÃO RACIAL
Embora sejam encontradas famílias de ascendência européia, ameríndia ou
africana relativamente pura, a atual população do vale é predominantemente de origem
racial mista, em cuja composição entraram as três raças básicas da humanidade, sendo
mais caucasiana em certas comunidades, mais indígena em outras e africana em
algumas. Em determinadas áreas bem acima do rio, efeitos residuais da ocupação
holandesa da costa do Nordeste, durante o período colonial, transparecem nos olhos
azuis e cabelos loiros de atuais habitantes.
TRIBOS INDÍGENAS QUE HABITARAM O BAIXO SÃO FRANCISCO
Habitaram a região do Baixo São Francisco as tribos indígenas Caetés, Cajaú,
Cariri, Maquaru, Moriquito, Ponta e Prakió. São remanescentes indígenas em Alagoas
as tribos Natus, Xocós, Carapatós (habitaram a região onde se localiza a cidade de
Traipu), Xucurus (Cariris, Partios e Naconãs).
29
MUSEU AMBIENTAL “CASA DO VELHO CHICO”
Segundo o ambientalista Jackson Borges, Diretor Fundador, a história do
Museu Ambiental Casa do "Velho Chico" tem o seu início nos anos cinqüenta, quando
o Rio São Francisco, ainda com muita vitalidade, no tempo das enchentes anuais no
Médio e Baixo São Francisco, conseguia rasgar as entranhas dos barrancos que lhe
margeiam, alagando todo o seu vale.
"Os quintais das
casas ficavam totalmente
submersos com a visita anual
das águas barrentas do rio,
onde as crianças aprendiam
a nadar, a pescar e acima de
tudo a reverenciar este Deus
em forma de água, lapidador
do nosso perfil de
ambientalista empírico
apaixonado”, relata Jackson.
Peças das Reservas Indígenas do Vale do
São Francisco Nascia ali uma história
de convivência, respeito,
compromisso e muita luta,
traduzida hoje na existência do
Museu do Velho Chico, fruto da
garimpagem de peças e objetos
pelo seu vale, durante mais de
quarenta anos. Fundado em 04
de outubro de 2001, por ocasião
dos 500 anos do descobrimento
do Rio São Francisco, foi
instalado na cidade ribeirinha de Traipu-AL, cidade detentora de um vasto histórico
cultural e uma forte vocação artística, sobretudo, em se tratando de música.
O Museu enfoca toda a Bacia do São Francisco, inclusive, já identificou todas
as reservas indígenas existentes. Seu acervo é composto de fotografias, livros, revistas,
jornais, peças diversas, móveis antigos, apetrechos de pesca, quadros, réplica de
embarcações, fauna, flora, tradições culturais e painéis que retratam toda a história do
Velho Chico, além de trazer à tona a problemática ambiental que tem contribuído para
a morte do rio: esgoto, assoreamento, queimada, lixo, agrotóxico, garimpo, caça e
pesca predatória.
30
Restos de animais da fauna do Vale do São Francisco
Peças artesanais produzidas por comunidades ribeirinhas
O Museu permanece aberto à visitação pública, o que tem propiciado
principalmente às crianças e adolescentes do Município e aos visitantes conhecerem
melhor a história do Rio São Francisco e as povoações que por meio dele surgiram.
31
Réplicas de embarcações utilizadas no rio São Francisco
Da vasta lista de parceiros imprescindíveis para a fundação deste valioso acervo
histórico, Jackson Borges destaca as pessoas de Marcos Antonio Santos e Marcos
Valença, além de sua esposa Jacira Machado, pela grande contribuição que têm dado
para o fortalecimento e a continuidade da luta em defesa da preservação desse
Patrimônio Histórico, principalmente no campo da educação ambiental no Vale do São
Francisco.
Antonio Jackson realizando pesquisas na nascente do Rio São Francisco, Serra da Canastra - MG
32
RIO TRAIPU
O Rio que deu o nome ao Município, também chamado de “Ribeira” pelas
populações ribeirinhas, deságua no Rio São Francisco bem próximo à Cidade de
Traipu. Tem sua nascente na Serra do Gigante, no Município de Bom
Conselho/Pernambuco, foi o responsável, no Século XIX, pelo nome dado a TRAIPU.
É um rio temporário, cuja água apresenta pequeno nível de salobridade.
Rio Traipu a poucos metros da foz
É uma das maiores
bacias do São Francisco,
cobrindo uma área de 2.404
quilômetros quadrados,
sendo seu percurso dentro
do estado de Alagoas de
112Km. Está localizado
numa região tropical semi-
árida. Suas cheias resultam
em grandes inundações,
enchendo as lagoas
próximas ao seu percurso,
onde antigamente se
plantavam grandes campos
de arroz, fazendo de Traipu um dos maiores produtores do Estado. Infelizmente a
cultura do arroz foi desaparecendo e hoje as várzeas não são mais aproveitadas para
essa atividade.
Este rio, após um curso de 72 Km no território traipuense, deságua no Rio São
Francisco. Em seu curso inicial, marca o limite entre o Agreste e o Sertão de Alagoas,
cruzando os Municípios de Minador do Negrão, Estrela de Alagoas, Cacimbinhas,
Igaci, Palmeira dos Índios, Jaramataia, Batalha e Belo Monte. Suas águas banham as
melhores terras de pecuária.
O Rio Traipu, junto com os Rios Moxotó, Capiá e Ipanema, fazem parte da
vertente do São Francisco, sendo assim, rios temporários.
São afluentes do Rio Traipu, os riachos: Mares; Torta; Minador; Doce; das Galinhas;
do Japão; do Sertão; da Jacobina; Salgado; Campos; Tingui; Macacos e Sal.
SERRAS
Apesar de está localizada na margem sergipana do Rio São Francisco, a Serra
da Tabanga é considerada um cartão postal de Traipu. É a maior serra do Baixo São
Francisco, com aproximadamente seis quilômetros de comprimento e 350 metros de
altura. Em seu ponto mais alto, foi colocado um cruzeiro.
33
A Serra da Tabanga está localizada defronte à cidade de Traipu, um referencial da Cidade.
O relevo do Município de Traipu faz parte do patamar colimoso do São
Francisco, apresentando colinas dissecadas de fraca e média densidade, por conta disso
a grande quantidade de serras, proporcionando a formação de riachos e lagoas. Dentre
as serras de Traipu, destacam-se: Serra da Mumbaça, Serra da Priaca, Serra de Santa
Cruz, Serra Jaciobá, Serra Pau,d’Água, Serra das Mãos, Serra do Alecrim, Serra do
Japão, Serra do Cruzeiro defronte ao Povoado Mumbaça, Serra dos Patos, Serras
Grande (Capivara), Zamesca (Capivara), da Ilha (Capivara), do Cruzeiro ou Alto do
Jacaré (Capivara), Serrote do Vento (Capivara), Serra do Cruzeiro (Olho d’Água da
Cerca).
LAGOAS
Várzea de Traipu, Sacão, Cabaceiro, Pé do Banco, Manteiga, Marcação,
Funda, Grande, Rabelo, Paraná, Saco, Bom Jardim.
34
TERRA DA MÚSICA
O Município de Traipu possui uma cultura que o coloca em destaque no
cenário estadual, nacional e até mundial. Trata-se de uma das mais belas e
extraordinárias das artes: a arte de transmitir os sons e expressar sentimentos,
denominada "música".
Banda Lira, orgulho do
povo traipuense
Este pequeno-
gigante Município do
Estado de Alagoas é
reconhecido como
Terra da Música, pois
aqui se percebe uma
verdadeira vocação
musical que já
produziu talentos
geniais, levando ao
País inteiro a marca
da cultura traipuense.
A tradição da
música em Traipu
iniciou-se por meio
dos incentivadores do movimento musical, os Mestres Vieira e Hermínio, o Padre
Alfredo Silva, a Professora Mariazinha Duarte, Ranufo Carmo e Nelson Palmeira.
BANDA LIRA TRAIPUENSE E FILARMÔNICA DE SÃO JOSÉ
Banda Lira Traipuense
regida pelo Maestro
Antônio Basílio
Segundo o
Maestro Antonio
Basílio, no
passado existiam
duas Bandas, a
Lira Traipuense e
Filarmônica de
São José que
politicamente
atuavam em lados
opostos. A
Filarmônica de
São José fazia parte da política da Rua de Cima, enquanto a Lira era a Banda da Rua
35
de Baixo. Com a dispersão dos músicos para outras localidades, a Filarmônica de São
José entrou em declínio, permanecendo apenas a Banda Lira.
Em 1947, o Maestro Nelson Palmeira assumiu a regência, permanecendo à
frente da Banda Lira por muitos anos.
A partir de 1970, o atual Maestro Antonio Basílio assumiu a regência,
permanecendo até os dias atuais, e transformando-se em um dos mais abnegados
representantes da história da arte musical em Traipu.
Nesse período, Nelson Souza, outro destacado instrutor musical também
chegou a reger a Banda Lira de 1993 a 1997.
BANDA MARCIAL
Banda Marcial participando do desfile das escolas pelas ruas da cidade
A Banda Marcial é uma banda de corneteiros que se apresenta em desfiles
escolares nas datas cívicas. Surgiu na Escola Moreno Brandão com a Diretora
Marinete Matos. No caso de Traipu, pode-se dizer que é uma Banda mista, já que há
outros tipos de instrumentos característicos da Banda Fanfarra (trombone, trompete,
etc.). O primeiro regente da Banda Marcial foi José Palmeira (Zé de Jason), em
seguida Antonio Basílio, José Luís Cerqueira e, atualmente, é regida pelo jovem
instrutor Márcio José dos Santos.
36
ESCOLA DE MÚSICA SANTO ANTONIO
A Escola de Música Santo Antonio está localizada na Rua das Flores, na
residência do Maestro e Instrutor de música Antonio Basílio, hoje com 66 anos de
idade, funcionando de segunda a sexta, das 19:00h às 21:00h, com uma turma de 35
alunos entre crianças e adolescentes. A denominação atual surgiu a partir de 1991, pois
antes era apenas chamada de "Escola de Música", sendo de porte mais rústico, que
formou grande quantidade de músicos, muitos dos quais vieram a exercer funções de
destaque no cenário nacional.
Alunos da Escola de Musica Santo Antônio
fazendo a abertura do Plano Diretor Participativo
Antes de Antonio Basílio e
Nelson Souza, os instrutores de música
de Traipu, encarregados de ensinarem
esta encantadora arte, eram Padre
Alfredo Silva, Mestres Vieira e
Hermínio, Dona Mariazinha Duarte,
Ranufo Carmo e Nelson Palmeira.
Grandes músicos traipuenses que se
destacaram (ou se destacam) em nível
nacional foram alunos de Antonio
Basílio, que foi aluno de Dona
Mariazinha Duarte e Ranufo Carmo.
ESCOLA DE MÚSICA PEDRO BASÍLIO
A Escola Municipal de Música Pedro Basílio foi fundada em maio de 2002,
pelo então Prefeito Marcos Antonio dos Santos que, junto com a Câmara Municipal,
homenageou mais um grande músico traipuense, Pedro Basílio dos Santos.
Prédio onde funciona a Escola Municipal de
Musica Pedro Basílio
Está localizada na Rua
Maria Lima Dias, contando
atualmente com 30 alunos
matriculados, tendo à frente o
Instrutor Nelson Souza que, a
exemplo de Antonio Basílio, vem
mantendo a tradição e a vocação
musical do povo traipuense.
37
Márcio José ensinando música às crianças do Projeto AABB Comunidade.
MÚSICOS TRAIPUENSES NO CENÁRIO NACIONAL
Maestro Florentino Dias – Traipuense, filho do Ex-Regente da Filarmônica de São
José, Sr. Flávio Pereira, iniciou a carreira musical aos sete anos com o Instrutor Nelson
Palmeira; Ainda com a menor idade ingressou na Banda de Fuzileiros Navais do Rio
de Janeiro, tornando-se Oficial-Regente; Logo após, foi diplomado pela Escola de
Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concluindo mestrado como
Regente na Universidade de Washington, Estados Unidos. Fundou no Rio de Janeiro
um Coral e três Orquestras Sinfônicas. Atualmente é Regente da Banda de Música dos
Fuzileiros Navais no Rio de Janeiro; Adiel Folha Mota - Filho do Sr. Artur Mota
(Artur de Laura), foi considerado um dos melhores clarinetistas do mundo, no
encontro de bandas de vários países ocorrido no Estado da Bahia; Nelson Palmeira -
Foi Regente da Banda Lira Traipuense e Instrutor que ajudou formar grandes nomes
da Música traipuense. Também foi Regente da Banda de Música de Arapiraca por
muitos anos; Benone – do Primeiro Batalhão de Guardas do Rio de Janeiro; Aníbal
Palmeira – da Polícia Militar do Distrito federal; Ilvo Pacheco – do Exército
Brasileiro na Bahia; Paulo Cezar Amorim – da Esquadra da Marinha no Rio de
Janeiro; Nilton da Silva Souza - Jovem músico traipuense, filho do Instrutor de
Música Nelson Souza, começa a se destacar no cenário nacional, como professor de
música da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde está concluindo o
Mestrado, e também atua como regente da Sinfônica; Everaldo Albuquerque - Foi
regente da Banda de Música do Exército Brasileiro. Hoje está aposentado e sempre
presente nas festividades da Padroeira; José Jerônimo - Ocupou o cargo de Regente
da Banda da Polícia Militar de Sergipe; Manoel Tavares - Contra-Mestre da Banda da
Polícia Militar de Sergipe; Antonio Josenildo Epifânio - Regeu a Banda do Exército
Brasileiro em Garanhuns/PE; Luís Santana - Integrante da Banda de Música do Corpo
de Bombeiros do Rio de Janeiro; Ademário Mota (Meinha) - Regente da Banda de
Música da Polícia Militar de Alagoas; Valfredo Rodrigues - Integrante da Banda da
Polícia Militar do Espírito Santo; Nelson Souza – Instrutor de música, que se dedicou
a transmitir seus conhecimentos às gerações mais jovens, sendo responsável direto
pela formação de grandes nomes da música traipuense. Foi regente da Banda Lira no
período de 1993 a 1997. Atualmente, trabalha com 30 alunos da Escola Municipal de
Música Pedro Basílio;
Maria José dos
Santos (Dadá) - Há 37
anos conduzindo o
Coral de Nossa
Senhora do Ó; Wilson
Basílio (Basílio Sé) -
Músico e cantor,
sempre incluído entre
os melhores músicos
de Alagoas; Jorje Luís
da Hora (Jorginho) -
Já se destaca em
Alagoas e em outros
38
estados, como um dos melhores músicos. Participa de bandas de Axé music e é um dos
integrantes da Banda Z. Também é Instrutor e ensina a arte da música às crianças
traipuenses; Márcio José dos Santos - Jovem Instrutor e vem trabalhando com as
crianças do Projeto AABB Comunidade, também é um dos integrantes da Banda Z e,
atualmente, é regente da Banda Marcial.
CORAL DE NOSSA SENHORA DO Ó
O Coral de Nossa Senhora do Ó tem seu surgimento através do Padre Alfredo
Silva, falecido. Há 37 anos vem sendo conduzido pela Professora Maria José dos
Santos, conhecida dos traipuenses pelo nome de "Dadá". O grupo se apresenta nas
missas dominicais e festivas, casamentos, formaturas e, principalmente, no novenário
da festa da Padroeira, em dezembro, que ainda hoje é cantado em latim.
Coral de Nossa Senhora do Ó, grupo que abrilhanta as missas dominicais
Ao longo dos anos, o Coral vem dando um brilho especial às atividades
religiosas, tornando-se orgulho de toda a comunidade católica traipuense.
Atualmente participam 36 componentes, entre adolescentes e adultos, e tem na
coordenação das atividades, além de dona Dadá, que continua firme orientando os
mais jovens, Valmir Palmeira de Farias e José Lima de Oliveira.
BANDA "Z"
Banda de Axé Music, que foi criada por um grupo de jovens músicos
traipuenses, no final da década de 90. Vem sempre marcando presença nas festividades
traipuenses, sobretudo no carnaval e na Festa do Bom Jesus e em festas de outras
cidades. Tem como fundadores, os músicos: Cezar Limeira, Flávio Basílio, José Lima,
Marquinho, Deyse, Leandro e “Manezinho”.
39
Apresentação da Banda “Z” no carnaval de Traipu
FESTAS TRADICIONAIS
FESTA DE NOSSA SENHORA DO Ó
A festa de Nossa senhora do Ó é realizada sempre nos mês de dezembro, no
domingo mais próximo ao dia 18, dia da Padroeira. Até 1949, a festa era realizada
exatamente no dia da Padroeira, porém o Padre José Batista mudou a tradição,
passando a partir de então a ser comemorada no domingo mais próximo. Festa
religiosa que atrai, além da população local, pessoas de outras cidades.
Esta festa representa no povo um sentimento de religiosidade tão forte que a
maior parte dos traipuenses que residem em lugares distantes retornam neste período,
muitos para pagarem promessas,
outros por devoção à Santa. É
marcada pelo novenário que são as
nove noites de novena que antecedem
ao dia da procissão, cada noite
recebendo uma denominação: noite
dos casados, dos solteiros, dos
funcionários públicos, dos vereadores,
dos fazendeiros, dos agricultores, dos
pescadores. Em cada noite há o leilão
com as doações da comunidade.
Todas as noites são encerradas
com a apresentação da Banda Lira
Traipuense, orquestra formada pelos nossos grandes músicos, sempre
motivo de orgulho para os traipuenses.
40
Os Zabumbeiros, tradição
que se mantém intocada
nas festividades da
Padroeira
Uma tradição
que segue firme na
Festa de Nossa
Senhora do Ó são
os Zabumbeiros,
uma bandinha com
pífanos e
instrumentos de
percussão, que se
apresentam todas as
noites na calçada da
igreja. Atualmente o zabumba é coordenado pelo Senhor Nicodemos (comhecido por
“Demo”), juntamente com os seus familiares, tendo o apoio da Prefeitura Municipal.
Procissão de Nossa Senhora do Ó, percorrendo as ruas da cidade
A festa é encerrada com uma grande Procissão percorrendo as ruas da cidade
ao som da Banda Lira Traipuense.
41
Pratos típicos no leilão da Festa de Nossa Senhora do Ó
FESTA DO BOM JESUS DOS NEVEGANTES
Festa de Bom Jesus dos Navegantes, acesso às margens do Rio pela Rua Senador Serapião.
A Festa do bom Jesus dos Navegantes também é uma festa religiosa, que é
realizada às margens do Rio São Francisco, geralmente no mês de fevereiro, em data
móvel.
42
As embarcações conduzem
o Santo na Tradicional
Procissão Fluvial.
Há a
celebração de um
tríduo (três missas)
encerrando no
domingo com a
procissão fluvial,
onde várias lanchas e
canoas fazem um
percurso pelo Rio
São Francisco e, logo
após, os fiéis
complementam a
procissão, agora pelas
ruas da cidade.
Antigamente, esta festa era apenas de cunho religioso, porém com passar do
tempo, com a urbanização das margens do São Francisco e expansão da Avenida Beira
Rio, têm-se destacado as bandas de Axé, e por conta disso, o caráter religioso da festa
vem diminuindo.
Corrida de jegues também é tradição durante as festividades do Bom Jesus
O esporte também se faz presente durante as comemorações da Festa do Bom
Jesus, com a tradicional corrida de canoas, torneios esportivos na areia e a corrida de
jegues.
43
Cultura traipuense apresentada com a feira de Artesanato
Outra novidade que vem abrilhantando o evento é a feira de artesanato com
exposições das atividades culturais de cada povoado do município.
CARNAVAL
O carnaval de Traipu nos últimos anos vem chamando a atenção pela grande
quantidade de pessoas que dele participa. Embora também as bandas de axé tenham
ocupado muito espaço, o povo não deixou de lado o charme do tradicional carnaval de
rua. A margem do Rio São
Francisco é invadida pelos
foliões durante o carnaval
Todas as tardes
as orquestras de frevo
arrastam multidões pelas
ruas da cidade,
relembrando os velhos
tempos, com pessoas de
todas as idades. Nos
últimos carnavais, um
acalorado desfile de
blocos vem
abrilhantando o evento,
destacando-se uma certa
rivalidade entre os dois blocos mais importantes: Sai da Frente e Perigosas Peruas.
Uma tradição que não se perdeu com a modernidade foi folclórico Jaraguá que
aterroriza e, ao mesmo tempo, diverte as crianças. Também não se pode falar de
carnaval em Traipu, sem falar do tradicional Jegue Elétrico, que puxa um bloco ao
som de frevo.
44
Folclórico Jaraguá, mantendo a tradição Blocos de Rua, o charme do carnaval traipuense
As Escolas também participam do carnaval traipuense
Crianças e adolescentes participam ativamente do carnaval de rua traipuense
45
Tradicional desfile do Rei Momo e da Rainha do Carnaval pelas ruas da cidade
NOSSO FOLCLORE
Nosso Município também tem suas atividades folclóricas, que vêm mantendo
vivos costumes, crenças e tradições do traipuense.
O COCO DE RODA
Essa dança surgiu no contexto sócio-cultural do Município em 16 de agosto de
1960, tendo como organizador o saudoso Leonísio Bispo de Sena, com apresentações
principalmente no período da colheita de arroz. Apresentação
do tradicional Coco-de-Roda na Rua da
Rocheira
Atualmente, o Coco de
Roda faz parte do calendário das
festas juninas, sendo chamado de
“Coco de Roda Rocheirense”, que
mantém viva essa tradição, através
de um grupo de pessoas tendo à
frente Mazé Sena e Carlos Sena,
filha e neto de Seu Leonísio.
As apresentações do Coco de Roda, na Rua da Rocheira, atraem muitas
pessoas que buscam reviver o passado.
46
GRUPO FOLCLÓRICO SAIA DE RENDA
Antigamente conhecido como “Jovens Rocheirenses Unidos”, fundado na Rua
da Rocheira em 30 de maio de 1980, tendo como idealizador o Senhor Leonísio Bispo
de Sena, responsável pela apresentação dos folguedos populares daquele bairro.
A quadrilha Saia de Renda encanta a platéia
com suas belas apresentações
Hoje, formado por
crianças e adolescentes, denomina-
se “Grupo Folclórico Saia de
Renda", e tem como objetivo
fundamental resgatar e manter
vivas as tradições regionais. Alem
das quadrilhas juninas o grupo faz
apresentações teatrais.
O Grupo Saia de Renda
tem como coordenador o grande
animador das festas juninas
traipuenses, Manoel Novais, que,
com sua grande capacidade de criar histórias e fazer encenações, vem preservando a
história dos folguedos populares. As belas apresentações da Saia de Renda têm
encantado outros municípios, pois, nos últimos anos, vem sendo convidada para várias
cidades vizinhas, sempre levando a marca da cultura traipuense.
Inicio da quadrilha Saia de Renda Grupo atual
GRUPO ARTÍSTICO DE TRAIPU (GAT)
O Grupo de Teatro GAT foi fundado em 15 de outubro de 1988, à época
denominado GRUART (Grupo Artístico Traipuense), sob a coordenação do
pernambucano e geógrafo Gildo de Souza, responsável pelas apresentações teatrais. O
objetivo do grupo é recrutar crianças e adolescentes para participarem de eventos
47
culturais, contracenando e vivendo as fantasias do palco e praças da região, como uma
grande alternativa de inserção social. Atualmente denominado GAT (Grupo Artístico
de Traipu), apresenta-se, principalmente, nas festas juninas, e tem como organizador e
animador Manuel Novais.
Apresentação teatral do Grupo Folclórico Saia de Renda
Os atuais organizadores do Grupo são: Manuel Novais (Diretor Geral);
Clévisson (Diretor de Cena); Genivaldo Melo (Cenógrafo); Yara Basílio (Figurinista);
Ozélia Santos (Estilista); Iracema Major (Manequim).
QUADRILHA QUARTINHA D’ÁGUA
Apresentação da quadrilha
Quartinha D’água na Praça José
Palmeira Lima
A Quadrilha
Quartinha D’água foi
criada em 1991 pela
professora Rita de Cássia
Melo, atualmente
diretora da Escola
Francisco Mangabeira. A
quadrilha é formada por
crianças e adolescentes
que estudam na citada
escola. As apresentações
da Quartinha D’água já
fazem parte do calendário das festas juninas do Município, arrastando grande
quantidade de pessoas.
48
PASTORIL
O Pastoril sempre fez parte das festas natalinas, atualmente vem ocorrendo no
Natal de Reis, que acontece em 06 de janeiro, na Praça do Itamaraty. Apresentação do Pastoril
da Terceira Idade no natal do Itamaraty
Esse folguedo popular vem
sendo resgatado com uma inovação:
o Pastoril da 3a idade, organizado
por Dulcinea Soares e Ginalda
Teixeira (Nidinha). O exemplo
destas senhoras já vem chamando a
atenção dos mais jovens para a
necessidade de não se deixar morrer
uma das mais importantes tradições
folclóricas. Assim, em 2005 e 2006,
as escolas municipais já organizaram
também o Pastoril para as crianças.
DANÇA DO PIAU
Dança tradicional nas casas de farinha, comum em várias localidades da zona
rural, onde as mulheres que trabalham na raspagem da mandioca, entoando
cantos(rimas) para tornar o ambiente descontraído. Em alguns locais, chama-se “Piau”
a maior mandioca encontrada na roça, já em outros, é uma garrafa de bebida quente
(cachaça). Neste caso, a garrafa é enfeitada com papel de seda colorido e pendurada no
centro da casa de farinha. Ao encerrar a tarefa da raspagem da mandioca, as mulheres
levam o “Piau” até a casa do dono da farinhada, onde dançam o coco e tomam a
bebida.
No Sítio Uruçu, Jovelina Rosa dos Santos, uma senhora de 65 anos continua
mantendo esta tradição e, desde maio de 2004, ensina às crianças do PETI, onde
existem vários de seus netos, a conservarem a tradição.
ARTESANATO
ARTESANATO COM MADEIRA
O símbolo do artesanato traipuense, Antonio Camilo foi o grande destaque na
arte de esculpir com a madeira. Começou por si mesmo a trabalhar com esta arte, aos
14 anos, seguindo apenas o dom que possuía, e chegou a realizar verdadeiras obras
primas, sendo considerado um dos maiores escultores do Estado de Alagoas.
As mais diversas obras de seu Camilo, como esculturas de animais, de santos e
outras, estão espalhadas por todos os lugares do País. A maior imagem que já esculpiu
foi a de Jesus Cristo Crucificado que mede 1,80m. Deixou como discípulo o jovem
Robervaldo Silva dos Santos (conhecido por Val), marceneiro que mantém viva a arte
de esculpir deixada pelo Mestre Camilo, além de restaurar móveis antigos. Exerce suas
49
O escultor Antônio Camilo concluindo uma de
suas últimas obras. Robervaldo Silva, 30 anos, discípulo de seu Camilo,
restaurador, escultor e marceneiro.
atividades em um salão situado na Rua Coronel Medeiros.
CARPINTEIROS
Luís Carlos de Brito – Mestre na fabricação de embarcações (lanchas, canoas
e barcos) para pesca, corrida ou carregar passageiros. Há 35 anos executa esta
atividade que aprendeu por si mesmo, sem que ninguém lhe ensinasse. Afirma que a
produção de embarcações caiu de forma desastrosa, mas por haver poucos nesta
atividade, continua fazendo alguns serviços por encomenda. Mestre Elpídio é outro
carpinteiro que trabalha com embarcações. Seu Luiz Carlos diz que antes dele, quem
construía embarcações em Traipu eram José Augusto, José Rodrigues, Luís Cabral,
Jabinha e Zé da Laguna (este ainda está em atividade no Estado de Sergipe). Seu José de Ismael, um dos mais conhecidos
carpinteiros de Traipu em plena atividade José Pereira (Zé de Ismael) –
Aos 63 anos, Seu Zé de Ismael, como é
conhecido, produz carroças, carros de
boi, bancos, grades de trator e outros
equipamentos. Aprendeu a arte por si
mesmo, mas começou a trabalhar com
máquinas na antiga Serraria de Seu
Ismar, onde atualmente está a
Comercial Virgem dos Pobres, na Rua
Erasmo Lima Dias. A oficina funciona
em um salão ao lado de sua residência.
ANTONIO HENRIQUE (Seu Pitonho) – Outro grande destaque traipuense
na arte com madeira, deixando muitas obras espalhadas tanto neste Município quanto
em outras localidades.
50
ARTESANATO COM BARRO
Ronaldo Vieira
A arte de esculpir com o barro vem sendo desenvolvida atualmente pelo
artesão Ronaldo Vieira Melo, traipuense que, desde criança, dedica-se a produzir
réplicas de pessoas, animais, santos e objetos de uso doméstico. Realiza trabalhos por
encomenda, principalmente imagens de esculturas para devotos, mas já participou, em
muitas cidades de Alagoas, de seminários e exposições, onde sempre se destaca por
sua criatividade.
DONA MARIINHA – Foi um grande nome do artesanato com barro,
confeccionando diversos tipos de peças (panelas, potes, jarras, cabaças, quartinhas,
etc) que comercializava em toda a região do Agreste e Baixo São Francisco.
BORDADO
O bordado também é
uma das grandes fontes de
renda do Município. É muito
comum se presenciarem as
mulheres sozinhas ou em
grupos realizando a atividade
da qual muitas retiram o
sustento. Grande parte dos
trabalhos de bordado é feita
por encomenda, outra parte é
vendida nas feiras e
exposições. Os bordados mais
conhecidos e trabalhados em
Traipu são: ponto de cruz, crochê, rechiliê e crivo. Nos últimos anos a Prefeitura
Municipal vem abrindo grande espaço nas festividades locais para exposição do
trabalho das bordadeiras, como forma estimular a geração de renda.
Prefeitura Municipal oferece curso de bordado às mães do
PETI
51
O bordado, uma das grandes fontes de renda do traipuense
ARTESANATO COM PALITO
Alvaci Martins No artesanato traipuense, destaca-se, dentre outros, Alvaci Martins, artesão,
professor e poeta que, aos 62 anos, vem gravando seu nome na história cultural do
Município.
No final da década de 90, Alvaci Martins, já um amante da poesia, começou,
por curiosidade, a utilizar palitos de picolé para fazer objetos. Daí nasceu uma
verdadeira vocação para o artesanato, que resultou na produção várias obras, muitas
delas têm chamado a atenção não somente dos traipuenses, mas também das pessoas
que visitam o Município.
Com grande criatividade na arte com palitos e com a paciência que requer o
trabalho manual, já produziu réplicas de igrejas e casas, porta-retratos, porta-jóias,
abajur, baús, cômodas e outras formas de arte. Atualmente preside a Associação dos
Artesãos e Artistas de Traipu.
52
Alvaci Martins vem ensinando sua arte a várias crianças do município,
segundo ele, com o apoio da Prefeitura Municipal. Já participou de várias exposições
nos eventos festivos locais e de outras cidades, como Maceió, Arapiraca, Pão de
Açúcar, Penedo, Santana do Ipanema, e cidades do Estado de Sergipe.
CANOEIROS
Por muito tempo as Canoas de “Tolda” e “Chatas” foram usadas para fazer o
transporte de passageiros e mercadorias entre as cidades que margeiam o São
Francisco. Estas canoas grandes com vela se tornaram símbolo do Velho Chico, pela
importância que tinham para as populações ribeirinhas. “Tolda” é um tipo de
alojamento existente na canoa, onde o canoeiro descansava ou preparava refeições,
geralmente tinha uma rede de dormir. As “Chatas” diferenciavam-se por não ter este
alojamento, apenas as velas.
Canoa de Tolda, antigamente, responsável pelo transporte de cargas e passageiros no Rio São Francisco
Os canoeiros de Traipu faziam linha principalmente para Própria, Penedo e
Pão de Açúcar. Os mais conhecidos canoeiros traipuenses eram: os irmãos Jason e
Ranufo Palmeira, Seu Chiquinho, Zé de Morena, Zé Dandão e Antonio Pereira (Tonho
Bolachão).
Atualmente, as lanchas fazem o trabalho das canoas de vela, levando
passageiros e mercadorias, sendo que o Senhor Eronildes ainda possui uma “Chata” na
Cidade de Penedo – Alagoas.
53
ENERGIA ELÉTRICA
Em 1939, o Fazendeiro e Empreendedor Júlio de Freitas Machado chegou ao
Município de Traipu e instalou em sua residência, na Fazenda Sacão, a energia eólica.
Em 1943, antes do seu filho Rui Machado partir para a Segunda Guerra Mundial, foi
fundada na mesma fazenda a empresa particular de energia elétrica com gerador
movido a motor diesel, passando, logo depois, a vender a energia para a cidade de
Traipu, com postes de madeira (braúna). Em 1947, o município estatizou(comprou) a
empresa e sua sede passou a se localizar num prédio público, onde funcionou
posteriormente o Mercado Público Municipal, continuando com geradores de maior
potência, funcionando no período de 18:00h às 23:30h. Ao se aproximar o horário do
apagão eram dados três sinais intercalados de alerta.
Em 1968, foi abolido o sistema de energia elétrica movida a motor e
implantada pela então Companhia de Eletricidade de Alagoas a energia elétrica
proveniente da Hidrelétrica de Paulo Afonso, agora com a utilização postes de
concreto. O primeiro Povoado a receber energia elétrica foi a Mumbaça.
Júlio de Freitas também trouxe o primeiro veículo, um Jeep Hand ruger; a
primeira televisão de marca Hooptpont, que sintonizava apenas a TV Jornal do
Comércio em Recife/PE; e o primeiro trator marca Ford 8N, movido a gasolina.
TELEFONE
Em 1972, foi implantada a rede telefônica pela então TELASA, partindo de
Arapiraca até Traipu com postes de concreto e cabos de cobre revestido com PVC.
Inicialmente foi distribuída uma cota de 48 telefones (linhas).
AGRICULTURA
O carro de boi ainda é o transporte mais usado pelos
agricultores traipuenses A maior parte da população
traipuense, sobretudo da zona rural,
sobrevive das lavouras de feijão, milho e
mandioca. As plantações de feijão e o
milho acontecem nos meses de abril a
junho, início das chuvas de inverno, e a
colheita se dá entre julho, agosto e
setembro. Não há um calendário definido
para os agricultores plantarem, por conseqüência das irregularidades das chuvas nesta
região. No município também há considerável produção de frutas, com destaque para a
manga, o caju, o coco e a pinha.
54
Em grande parte do território traipuense ainda se usa
o arado puxado por bois para o preparo da terra
Em Traipu predomina a
agricultura de subsistência, embora em
alguns casos também haja
comercialização e exportação para
outras regiões.
PESCA
Pescadores com seus barcos, imagem muito comum
no Rio São Francisco
A pesca, ainda artesanal, é
muito utilizada principalmente pelas
famílias de baixa renda, como fonte
alimentar. Nos últimos anos, a pesca foi
muito afetada pela construção das
barragens e hidrelétricas ao longo do
São Francisco. Os pescadores utilizam
pequenos barcos chamados “botes”, e às
vezes passam a noite em atividade, descansando nas ilhas existentes ao longo do rio.
Os utensílios usados para a pesca são redes, tarrafas, anzóis, covos (para camarão).
EXTRAÇÃO DE PEDRAS ORNAMENTAIS
Seu Edmilson, há trinta anos trabalhando com
a extração de pedras ornamentais
No Sitio Olho d’Água
Preto, no terreno do Senhor
Edmilson, há uma grande jazida de
pedras muito usadas para
revestimento de paredes e pisos.
Há 30 anos Seu Edmilson trabalha
extraindo as pedras, que costuma
vender para toda a região de Traipu
e outras localidades.
55
POVOADOS DO MUNICÍPIO
VILA SANTO ANTONIO
Seu nome antigo era Priaca, porque, segundo os moradores mais velhos, a
povoação ficava nas proximidades da Serra da Priaca. Dizem ainda que o início da
povoação se deu com a chegada de dois retirantes que se estabeleceram na região.
Quando um deles se casou passou a morar na Priaca de Cima, hoje Mumbaça,
enquanto o outro permaneceu no lugar de origem, chamado Priaca de Baixo.
Segundo o Professor aposentado Antonio Paulino dos Santos, a população
achava o nome Priaca muito feio, sobretudo, por representar um instrumento
pontiagudo muito usado para a caça. Achavam que o nome combinava com objeto de
caça, mas não com nome de lugar.
Antônio Paulino, aos 75 anos, fala sobre a história da Vila Santo Antônio
E assim, Antonio Paulino, juntamente com João Ferreira, tendo o apoio dos
moradores e do Padre José Batista, passaram a batalhar junto às autoridades pela
mudança do nome, alcançando tal objetivo em 1983, por meio de Projeto de Lei
aprovado na Câmara de Vereadores e sancionado pelo Prefeito da época Edmar Lima
Dias, oficializando assim a mudança para Vila Santo Antonio, em homenagem ao
Santo Padroeiro.
A festa de Santo Antonio ocorre em 13 de junho com novenário e leilão, além
do tradicional Zabumba e das barracas de comida típica. Outra festa religiosa é a de
Santa Pureza, festa móvel que acontece sempre no último sábado do mês de outubro.
56
Igreja da Vila Santo Antonio
A agricultura ainda é a principal atividade do lugar, sobressaindo-se as
lavouras de milho, feijão e mandioca. Há duas casas de farinha, onde no período da
colheita, as mulheres se encarregam da raspagem da mandioca, sempre com muita
animação, bebidas quentes e cantigas.
Ao fundo, a Serra da Priaca, responsável pelo antigo nome do povoado.
Segundo seu Antonio Paulino, 75 anos, as parteiras eram consideradas pessoas
de grande sabedoria e sempre foram muito admiradas pelo trabalho que faziam. Nessa
atividade, destacou-se Dona Maria da Conceição Freire, mãe da atual Vice-Prefeita
Terezinha Freire. Com 77 anos de idade, Dona Conceição, como é conhecida, ainda se
57
diz pronta para realizar qualquer trabalho de parto, se for preciso. Antes dela, quem
realizava os trabalhos de parto era Dona Maria Vitô, já falecida.
No artesanato, o Senhor Marculino ainda hoje faz caçuás, balaios, cestos e
vassouras, usando cipó e palha. Como Carpinteiro se destacou Petrúcio Pinheiro de
Melo, fazendo carros de boi, cangas, cancelas e madeiramento de casas.
A Vila Santo Antonio possui duas Escolas de Ensino Fundamental: Artur
Olímpio dos Santos e São José.
Sítios vizinhos: Barracas, Sítio Novo.
VILA SÃO JOSÉ
Segundo os mais velhos, dois senhores de nome “Manuel” se instalaram na
região, dando início à formação de um lugarejo, que passou a se chamar “Manuéis.
Com o desenvolvimento da povoação, os habitantes passaram a reivindicar a mudança
do nome, fato que veio ocorrer em 1983, através da aprovação pela Câmara Municipal
do Projeto de Lei de autoria do então Vereador José Pequeno, que oficializou o nome
de Vila São José, em homenagem ao Santo protetor do povo sertanejo.
Vista da Igreja de Nossa Senhora da Conceição na Vila São José
A Vila São José tem como Padroeira Nossa Senhora da Conceição, cuja festa é
comemorada em 09 de janeiro, com novenário, leilão, zabumbeiros e muita animação,
sempre organizada por representantes da Igreja Católica e Jovens da Comunidade.
Há uma Igreja Evangélica da Assembléia de Deus. Cultos Evangélicos
também são realizados na residência de José Raimundo, Agente Comunitário de
Saúde. A população local tem como principal atividade a agricultura, destacando-se as
plantações de feijão e milho. Há ainda três olarias, onde se produz tijolo batido,
através dos irmãos Abel e Luciano Castro, Manoel Tenório (Neca) e Zé da Rosa.
58
A artesã Dona Irene Lídia
mostra utensílios que ela mesma
produziu
No Artesanato, o
destaque é Dona Irene Lídia,
47 anos, que faz diversos tipos
de enfeites como jarros, cestos,
abajur, porta-retrato, utilizando
papelão, jornal, cola e verniz.
Dona Irene já chegou a vender
seus produtos para outras
cidades, mas hoje em dia vem
diminuindo bastante suas
atividades. Seu sonho é ensinar a arte às crianças e adolescentes da comunidade.
Antes, Edmilson Bispo (Tilimba) produzia vassouras, caçuás, balaios, cestos,
utilizando palha e cipó. Na Carpintaria se destacou Osberto Nogueira (Maduro), já falecido, e
continuam em atividade Paulo Alves e José Barbosa de Farias, fazendo carros de boi,
madeiramento de casa e até caixão de defunto.
A comunidade tem grande admiração pelas parteiras, com grande destaque
para Dona Rosemira Vieira dos Santos, conhecida por Rosa da Zemira, Dona Antonia
do Preto, Dona Arlinda Nogueira e Dona Odete Vieira.
Na Vila São José, fala-se também de um certo caçador de onça chamado
Manuel Lúcio, que contava suas histórias na praça, para as crianças, sempre com
algum exagero. Seu Manegildo era o curador, rezador e também contador de histórias
fantásticas.
Na Vila, há a Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora da Conceição.
Sítios vizinhos: Lagoa da Tabuleiro, Baixio, Mateus, Cabeços, Gama.
POVOADO MUMBAÇA
Igreja do Senhor dos Pobres na Mumbaça
Segundo os moradores deste, que é o
maior Povoado do Município, há três
versões para o nome Mumbaça: A primeira
faz menção a uma árvore com este nome que
existia nas proximidades da Fonte; a
segunda faz referência a dois irmãos,
chamados de “Mumbaça e Priaca”, que
habitaram a região; a outra atribui o nome da
povoação à Serra da Mumbaça que fica
próximo ao Povoado. O nome Mumbaça é
de origem africana, revelando a influência da cultura africana. A Mumbaça está
localizada numa região muito rica em água, com muitas nascentes.
59
Segundo os moradores mais velhos, antes do Senhor dos Pobres, o lugar cultuava
Nossa Senhora da Piedade. O Padre Francisco vinha de Penedo e, junto com os missionários,
celebrava as missas à sombra de um grande pé de juazeiro, que ficava no local onde hoje é o
calçadão da Igreja.
Contam também que o Padre Francisco pedia aos moradores que nunca
cortassem o juazeiro, porque este era um missionário encantado que um dia ia se
revelar. Já envelhecida, a árvore criou um oco em seu tronco, pelo qual entrou uma
cobra. Como as pessoas não conseguiram matá-la, atearam fogo no juazeiro. A
retornar, o Padre Francisco se reuniu com a comunidade e, juntos, construíram uma
igreja e compraram uma imagem de Nossa Senhora da Piedade, surgindo os festejos
religiosos.
Parte interna da Igreja do Senhor dos Pobres
Com o passar do tempo, os moradores resolveram comprar uma imagem do
Senhor dos Pobres, em virtude da grande maioria da população ser muito pobre. E
assim compraram três Santos: Senhor dos Pobres para a Mumbaça, Senhor São Braz
para a comunidade de São Braz e Bom Jesus dos Navegantes para a povoação do
Rabelo. O Santo (Senhor dos Pobres) foi transportado em uma rede, chegando ao
Povoado no dia lº de fevereiro, por este motivo a festa do Senhor dos Pobres acontece
nesta data, todos os anos. A partir de então o Padroeiro da Mumbaça passou a ser o
Senhor dos Pobres.
Para a população local, Senhor dos Pobres opera milagres, por isso atribuem à
fé no santo o desenvolvimento do povoado. A festa acontece do dia 23 de janeiro até lº
de fevereiro, quando multidões de romeiros chegam à Mumbaça, vindos de todas as
partes do Brasil, para pagar promessas. Atualmente, a Festa da Fonte, que é realizada
no mesmo período da Festa do Padroeiro, atrai multidões. Muita gente vem da margem
do Rio São Francisco a pé, para pagar penitência. Outra tradição é tomar banho na
60
A Fonte é uma das atrações turísticas da
Mumbaça
fonte com frutas de oitizeiro.
Outros levam água da fonte em
garrafas para usar como remédio.
A Procissão do Senhor dos Pobres
acontece no domingo, dia 02 de
fevereiro. Na Igreja, existem os
grupos Legião de Maria,
Carismática e Irmandade Coração
de Jesus.
Dizem também os mais velhos que duas irmãs, proprietárias das terras onde se
localiza a “Fonte”, doaram esta área para a Paróquia de Senhor dos Pobres. Muito
tempo depois, o Padre José Batista doou-a para a Prefeitura Municipal, a fim de que
fosse feita a limpeza e a transformasse num lugar mais atrativo.
Serra que deu nome ao povoado
Além da Serra da
Mumbaça, também existe a
Serra do Cruzeiro, também
chamada de Morro Santo,
localizado em frente ao
Povoado. Toda Sexta-feira da
Paixão, um grande número de
fiéis sobe à serra para fazer
penitências.
Na agricultura, predominam as culturas do feijão, milho e mandioca. Há três
casas de farinha, onde se produzem os derivados da mandioca: farinha, beiju e tapioca.
A principal fruta produzida na região é a manga, sobressaindo-se também o caju e o
coco.
No Artesanato, destacou-se o Senhor José Veríssimo, produzindo, com cipó e
palha diversos artefatos que eram vendidos nas feiras: balaio, caçuá, vassouras, cestas,
dentre outros artefatos. Sua arte foi passada para o filho Ariston Veríssimo que
continua em atividade. No artesanato com barro, Dona Gedalva se destacou,
produzindo potes, panelas, cabaças, e outros.
As principais parteiras do povoado foram Dona Maria da Glória, Alvina
Santos Correia, Maria Benedita e Dona Maria Ena, esta era cantora da Igreja e
católica fervorosa, durante as atividades de parto, que sempre fazia com perfeição,
costumava rezar algumas orações, por isso se tornou a mais conhecida da região.
Outras parteiras, como Dona Odete e Dona Débora, ainda residem no povoado.
61
Apresentação da quadrilha Chapéu de Couro durante as festas juninas da Mumbaça
Outro destaque do povoado é a Quadrilha Chapéu de Couro, formada por
adolescentes, que se apresenta nas festas juninas de toda a região. Atualmente é
coordenada pela jovem Márcia Hipólito que, junto com outros jovens da Mumbaça,
preservam as tradições folclóricas. Há duas Escolas de Ensino Fundamental: Getúlio
Vargas e Ilva Ribeiro.
Os Sítios vizinhos são: Brejo redondo, Terra Amarela, Uruçu, Embiriba,
Jenipapo, Sítio do Meio, Cavaco, Saco dos Bois.
POVOADO LAGOINHA
Conforme informações dos moradores mais velhos, esta povoação se iniciou
com a chegada de um senhor chamado “Ciriaco”, que se estabeleceu com a família na
localidade. Como no lugar existe até hoje uma lagoa, a povoação passou a se chamar
“Lagoinha do Ciriaco”.
A Padroeira da Lagoinha é Nossa Senhora da Conceição e a Festa é realizada
no dia 27 de dezembro, com o novenário, leilão, parque de diversão, fogos e
zabumbeiros, além de eventos esportivos. A Festa tem como organizadores o jovem
Márcio dos Santos, o Grupo de Jovens Renascer e a Igreja Católica.
62
Igreja de Nossa Senhora da Conceição no povoado Lagoinha
Dois pequenos riachos passam próximo do povoado: Riacho da Água verde e
Riacho do Bebedor. A agricultura é baseada nas plantações de feijão, milho e
mandioca. Na Lagoinha existiam as olarias onde se produzia muito tijolo batido e
telha, através dos senhores José Lucas, José Vicente e Narciso Vicente, atualmente
esta atividade encontra-se em decadência.
O Sr. Cícero Quirino mostra parte das peças artesanais que produz
Porém, a arte com barro continua viva, pelas mãos dos artesãos Cícero Quirino
e Marluce Bóia dos Santos, que produzem panelas, fogões, potes, jarras, cuscuzeiras,
dentre outros. A produção é vendida nas feiras da região e até em outros Estados.
Cícero Quirino aprendeu a arte com a esposa que desde os 08 anos de idade já fazia
artefatos com o barro. O Senhor Valdomiro também trabalha com barro, fazendo
63
potes, panelas e outros utensílios. O Senhor Geoflásio Quirino é o responsável pelo
artesanato com madeira, fazendo carros de boi, cangas, cancelas e madeiramento de
casas e outras atividades da carpintaria. Há muitas mulheres que ainda trabalham com
bordados para ajudar na renda familiar.
As parteiras mais conhecidas foram Dona Antonia Ulisses e Dona Maria
Vaqueiro. Há muitas rezadeiras, com destaque para Dona Floraci (Lô). Os curadores
de destaque foram Aristides, Ulisses Braz e Euclides Herculano.
Na Lagoinha existe a Escola de Ensino Fundamental Joaquim Gomes.
Sítios Vizinhos: Belo Horizonte, Campo Alegre, Lajeiro, Lagoa do Mato.
POVOADO OLHO D’ÁGUA DA CERCA
O nome do Povoado é explicado pelo grande número de nascentes que
existem. Segundo os moradores, as famílias maiores e mais antigas são: Caetano,
Tomaza, Nascimento, Santos, Ulisses, Fernandes, Sinhá e Farias. O Padroeiro é Santo
Antonio de Pádua e a festa principal é realizada no dia 12 de junho, sendo a Procissão
no dia 13 de junho. Durante as comemorações destacam-se, além do novenário e do
leilão, apresentações de quadrilhas, zabumbeiros, barracas de comidas típicas e fogos
de artifício. Em 08 de dezembro também é comemorada a festa em homenagem à
Imaculada Conceição. Em 03 de maio, já é tradição os fiéis fazerem peregrinações e
realizarem novenas na Serra do Cruzeiro, que fica ao lado do Povoado. Segundo as
ministras da Igreja, Maria de Nazaré e Maria Selma, há os grupos Legião de Maria,
Apostolado da Oração e Grupo de Jovens.
Igreja de Santo Antônio no povoado Olho D’água da Cerca
Na agricultura, predominam as culturas do feijão, milho e, principalmente,
mandioca. Há cinco casas de farinha, onde se produzem os derivados da mandioca:
farinha, beiju e tapioca. O primeiro forno de ferro foi trazido pelo Senhor Manuel
Batista, conhecido por “Maneca”, melhorando a qualidade da farinha, que é uma das
melhores do Estado de Alagoas. A maioria dos plantadores de mandioca trabalha em
terras arrendadas, pagando com parte da farinha produzida. Do mês de setembro ao
mês de dezembro, as mulheres se ocupam da raspagem da mandioca, sempre levando
64
animação às casas de farinha com cantigas, a tradicional Dança do Piau e muito
“quentão”. As principais frutas produzidas na região são a manga, o caju e o coco.
Raspagem da mandioca, atividade predominante em Olho D’água da Cerca
As parteiras mais conhecidas do Olho D’Água foram Dona Maria Francisca,
Dona Maria José (Mazé), Dona Maria Nita (Morenita), Dona Mocinha do Lino, Dona
Iracema Alves (Menininha) e Dona Maria do Vítor. O rezador mais conhecido foi o
Senhor Paulo Barão e o curandeiro era o Senhor Manuel Luís. Ainda hoje essas
crenças populares predominam, sobretudo, na zona rural.
No artesanato, uma das rendeiras mais conhecidas foi Dona Maria Lídia,
produzindo rendas de bilro e até redes de pescar; Dona Diva e seu filho João ainda
hoje produzem cestos, balaios e caçuás, utilizando cipó; com palha, Dona Leda faz
vassouras e outros utensílios; mas o forte do artesanato do Olho D’Água são as
bordadeiras, que tem em seus bordados uma das fontes de renda da localidade. Exposição
do bordado de Olho D’água da Cerca
Segundo a Diretora da
Escola Cônego Ribeiro, Maria
Gorete, em Olho D’Água da
Cerca as mulheres não param
durante o ano: de janeiro a
abril trabalham com o bordado;
de maio a julho, na roça; de
agosto a setembro, na colheita
do feijão e do milho; e de
setembro a dezembro, na
raspagem da mandioca.
Há duas Escolas de Ensino Fundamental: Cônego Ribeiro e José Ulisses.
Sítios vizinhos: Olho d’Água do Campo, Quixaba, Olho d’Água Preto, São
José, Barra das Canoas, Altamira, Macacos.
65
POVOADO CAPIVARA
Segundo relato de alguns moradores, as primeiras pessoas que chegaram à
localidade foi um português chamado Pantaleão e sua esposa Leonora, dando início à
povoação. Descendentes desta família, como Francisco Pedro e Joaquim Pedro,
juntamente com o Senhor Martinliano da Família Caié, Chico Bodega, Pedro Craveiro,
Liseu Tavares, deram início ao desenvolvimento do Povoado. “Sobre o Senhor
Martinliano, tem uma estória entre os mais velhos dando conta de que ele conseguiu
matar um lobisomem, arrancando-lhe depois a orelha, a partir desse dia, desapareceu
do lugar, deixando a esposa com sete filhos.”
Igreja da padroeira Santa Cruz no povoado de Capivara
As famílias maiores são: Pedro, Barbosa, Leite, Ribeiro, André, Vieira e
Menino. Próximo à Capivara existem as Serras Grande, Zamesca, da Ilha, do Cruzeiro
(Alto do Jacaré) e Serrote do Vento, além do Rio Traipu, que passa ao lado do
povoado.
Rio Traipu passando ao lado do povoado Capivara
66
A Padroeira da Capivara é Santa Cruz, cuja festa é realizada em 16 de
setembro, com novenário, os zabumbeiros, barracas e fogos de artifício. Antigamente a
festa era realizada em 03 de maio, porém como era sempre período de inverno, as
pessoas encontravam muita dificuldade para chegar ao povoado, inclusive os padres
que iam de carro de boi (Padre Alfredo) e a cavalo (Padre Severino e Padre Batista).
Desta forma, a comunidade decidiu mudar a data da festa, passando-a para 16 de
setembro. Os primeiros moradores construíram uma capela e escolheram a Padroeira.
Muitos anos depois, a Igreja de Santa Cruz foi construída pela comunidade, tendo à
frente o Seminarista Américo que muito contribuiu para a execução da obra.
As parteiras mais conhecidas do Povoado eram Dona Filirmina (Mãe Mina),
Dona Maria da Glória (Mão Glória), Dona Eudócia, Dona Augusta, Dona Ana
Filirmina e Dona Zumira. A maioria delas também atuavam como rezadeiras, tradição
que se mantém viva com Dona Maria Nazaré, Dona Glorinha e Dona Erisvalda
Tenório. Os Curandeiros mais conhecidos foram Pedro Caié, Zé Pedro, Mané Luís,
Dona Maria do Carmo e Santana Augusto.
Dona Maria de Nazaré e dona Erisvalda relatam fatos importantes da história da Capivara
Na agricultura, predominam as plantações de feijão, milho e mandioca. Tem
uma casa de farinha do Sr. José de Zau, ainda com forno de barro. No artesanato,
destacou-se Narciso Marcelino, Mané Balaio e João Damazo, produzindo caçuás,
balaios, cestos, vassouras, e outros utensílios. Como carpinteiro, destacaram-se José
Pastora e Chico Pastora e, atualmente, José Évio e o filho Erasmo Barbosa, fazendo
carros de boi, cangas, madeiramento de casas. Na Capivara há duas Escolas de Ensino Fundamental: José Carlos Santa Rita e
Marcos Antonio dos Santos.
Sítios vizinhos: Bengo, Boa Vista, Mulungu, Lagoa de Dentro, Oiteiro do
Meio, Batingas.
67
POVOADO PIRANHAS
O Povoado se desenvolveu às margens do Rio Traipu, numa localidade onde
havia um poço com muitas piranhas, que atraía os pescadores. Ao fazerem referência
ao lugar, os pescadores chamavam “Poço das Piranhas”. Com o passar do tempo,
manteve-se o costume do povo, e o povoado recebeu a denominação atual.
Vista do Rio Traipu ao lado do povoado Piranhas
Piranhas localiza-se na divisa Traipu, Batalha, Belo Monte. Segundo os
moradores, as maiores e mais antigas famílias que se estabeleceram na localidade
foram: Japão, Leobino, Cazuza, Oliveira, Barros, Belo, Nunes, Alexandre, Anjos,
Felipe, Joca, Vieira, Nem, Caetano, Rosa.
Vista da igreja do povoado Piranhas
68
O Padroeiro é São Sebastião, sendo a festa comemorada em 19 de janeiro e a
procissão realizada no dia 20. Segundo contam os mais velhos, o Padroeiro foi
escolhido porque no início da povoação houve uma terrível epidemia de gripe. Diante
disso, o povo fez uma promessa a São Sebastião que se a epidemia acabasse, o Santo
seria escolhido como o protetor do lugar. Com a graça alcançada, São Sebastião
passou a ser o Padroeiro.
As festividades são realizadas com novenário, leilão, barracas de pequenos
comerciantes, parques de diversão, fogos e os zabubeiros.
Na agricultura, destacam-se as plantações de milho, feijão e mandioca. As
frutas que predominam na região são caju e pinha. A tradicional feira livre acontece
aos domingos, juntamente com a feira de animais, onde são comercializados gado,
bode, porco, cavalo e outros animais.
Há duas olarias, onde os senhores Luís Fernandes (Luisinho) e Luís Rodrigues
(Luís de Quilo) fabricam tijolos batidos. Na carpintaria, destacam-se Adalberon
Pastora, com madeiramento de casas, e Rangel Pereira com carros de boi.
As parteiras mais conhecidas foram Dona Josefa (Mãe Zefa), Dona
Claudemira, Dona Ana (Mãe Aninha), Dona Maria Viúva (Mãe Viúva, hoje com 95
anos) e atualmente, se for necessário, Dona Francisca ainda está em atividade. Os mais
velhos dizem que, numa romaria a Juazeiro, Padre Cícero teria afirmado que pudessem
acreditar que jamais uma mulher morreria de parto nas mãos de “Mãe Aninha”. Ainda
hoje é tradição os devotos de Padre Cícero viajarem no caminhão do Senhor José
Caetano, uma vez por ano, até Juazeiro, de onde trazem muitas lembranças do Padre.
Os rezadores mais conhecidos eram Pedro Gomes, Luís Rosa e seu filho
Manuel Raginha. As rezadeiras eram Dora de Mané Canela e a sogra Maria Canela,
estando atualmente em atividade Maria das Dores, conhecida por Dores.
No povoado Piranhas há três Escolas de Ensino Fundamental: D. Fernando
Gomes, José Ângelo Sobrinho e Nossa Senhora das Graças.
Sítios vizinhos: Lagoa Grande (Povoado), Sítio Novo de Cima, Barriguda,
Umbuzeiro.
POVOADO SANTA CRUZ
Segundo os moradores mais velhos, as primeiras famílias que se estabeleceram
na localidade foram: Borboleta (descendentes de escravos), Rolim, Moreira e Ferreira.
Imagem interna da igreja do povoado Santa Cruz
“O nome Santa Cruz tem origem
numa história contada pelos moradores
dando conta de que foi fincado um
madeiro em forma de cruz, no local onde
hoje é a igreja. Um carpinteiro que
morava no povoado Fazenda Nova, em
Jaramataia, e havia feito e mandado
fincar a cruz, mandou escravos até o local
com a missão de arrancar e levá-la de
69
volta à Fazenda Nova. Como os negros não conseguiram, o carpinteiro, que também
era dono de escravos, veio ao local com um contingente maior de negros e, mesmo
assim, não conseguiu retirar a cruz. Revoltado, o carpinteiro disse: „Fique aí com
seus negros, que eu vou embora‟. O interessante é que a cruz saía facilmente, quando
era para fazer limpeza.”
A rezadeira Maria de Carvalho
e o Artesão e rezador Moisés
Rolim falam sobre a história do
povoado Santa Cruz. Desta forma,
entendendo a
religiosidade que aquela
cruz representava para
o lugar, os moradores,
juntamente com o Padre
Francisco, deram o
nome de “Santa Cruz”
`a localidade. O
Padroeiro é Bom Jesus dos Aflitos, e a festa é comemorada em 25 de dezembro, com
missa, leilão, zabumbeiros, barracas, parques de diversão e fogos.
As parteiras mais conhecidas foram Dona Josefa, Maria Senhorinha, Maria
Sabina (Mãe Maria), Dona Felisbela (Bebel), Dona Cristina (Tita). As rezadeiras eram
muitas, destacando-se Maria de Carvalho e Dona Ester. Os rezadores e curadores mais
conhecidos foram José Antonio Rolim, José Pinheiro (Sinhô), Antonio João e Moisés
de Carvalho Rolim, sendo este também artesão, que produz esculturas de madeira por
encomenda, geralmente, estatuetas de santos. O contador e criador de estórias mais
conhecido foi o Sr. Soriano.
Serra de Santa Cruz, atração turística do povoado
70
Na agricultura, predominam as plantações de feijão, milho, mandioca e fumo.
No artesanato, destacam-se Dona Joana Salustiano, produzindo chapéu de palha;
Manuel Ferreira (Mudo), fazendo caçuás, balaios, cestos com cipó; Dona Ivonete
Ferreira, fazendo potes, panelas, e outras peças com barro.
A artesã dona Joana Salustiana confeccionando chapéus de palha
As tradições folclóricas são incentivadas nas escolas do povoado: Professor
José Medeiros e José Barbosa dos Santos.
Sítios vizinhos: Areias de Santa Cruz, Olho d’Água do Lima, Pedra d’Água de
Santa Cruz, Jaciobá.
POVOADO RIACHO DA JACOBINA
Riacho da Jacobina dividindo os municípios de Traipu e Belo Monte
Antigamente, este
lugar era conhecido por
“Riacho de Chico Antonio”,
em alusão ao primeiro
morador que foi um Senhor
chamado Francisco Antonio
de Melo que, com sua
família, se instalou na região,
vindo do lugarejo conhecido
por Dionel, localizado no
Município de Batalha. Os
filhos de Francisco Antonio foram construindo casas na localidade, dando início ao
desenvolvimento da povoação.
71
Tempos depois, o lugar passou a se chamar Riacho da Jacobina, em função do
Rio, que divide os Municípios de Traipu e Belo Monte, desembocar na Lagoa da
Jacobina (dentro da Fazenda Jacobina), que fica nas margens do Rio São Francisco.
Igreja de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, Riacho da Jacobina
A Padroeira do Riacho da Jacobina é Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,
sendo a festa realizada no mês de novembro, em data móvel, com novenário, leilão,
zabumbeiros, fogos, parque de diversão e a procissão. Antigamente, a festa era
realizada no dia da Padroeira que é 24 de junho, porém, por conta das enchentes do
Rio Traipu que dificultava o acesso ao povoado, foi escolhida uma nova data para as
comemorações.
A parteira mais conhecida do lugar era Quitéria de Sales, conhecida por Mãe
Creuza, que também era rezadeira, faleceu em outubro de 2004. O Rezador e Curador
de destaque era Seu Ferreira, que faleceu em junho de 2006.
Na agricultura, sobressaem as plantações de feijão, milho e mandioca. Há três
casas de farinha, onde são produzidos os derivados da mandioca: farinha, tapioca,
beiju. O bordado também é uma das fontes de renda do povoado.
Tradições folclóricas, como a quadrilha junina, são mantidas através dos
alunos da Escola Padre Augusto de Melo.
Sítios vizinhos: Areias, Pedra d’Água, Tingui, Pau de Cedro, Dois Riachos,
Mata Verde, Cazuqui, Cabaceiro, Matias e Patos (os últimos três, mais próximos da
Cidade)
72
POVOADO BOM CARADÁ
Segundo os mais velhos, havia nesta localidade uma árvore muito grande e
bonita chamada “jacarandá”, que era referência para todas as pessoas que moravam na
vizinhança. Assim, os primeiros moradores, Senhor Maximiano, Luís Gomes e
Nezinho Gomes denominaram o lugar de “Bom Carandá”, para muitos, o nome
verdadeiro. Com o passar do tempo, oficializou-se o nome atual, sem o “n”.
Vista da igreja do povoado Bom Caradá
A Padroeira é Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a festa é comemorada na
primeira semana de dezembro. Antes a festa era realizada no dia 14 de setembro, mas
foi transferida pelo Padre José Valdenice para dezembro. Foi com o Padre Alfredo que
a antiga capela foi construída e, com o Padre José Batista, a comunidade construiu a
igreja.
A principal fonte de renda está na agricultura com as plantações de feijão,
milho e mandioca. Existem duas casas de farinha. No artesanato, Seu Alfredo se
destacou produzindo balaios, caçuás, cestos, utilizando o cipó. A maioria das
mulheres, além do bordado, também faz utensílios de palha como chapéu e vassoura.
Francisco Gomes e o filho José Gomes foram os mestres da carpintaria, fazendo carros
de boi, madeiramento de casas, mesa, cadeira, bancos grandes e até caixão de defunto.
73
Parteira e rezadeira, dona Maria Cicera fala sobre o povoado Bom Caradá
A parteira mais conhecida é Maria Cícera da Conceição, 64 anos, conhecida
por Dona Maria Cícera, que afirma já ter feito, desde os 22 anos de idade, mais de mil
partos, sem que nenhuma mulher morresse em suas mãos. Antes de Dona Maria
Cícera, as parteiras que atendiam em Bom Caradá eram Dona Mariinha da Lagoa
Grande, Dona Claudemira do Sítio Batingas e Dona Santa do Sítio Zé Inácio. Os
rezadores e curadores do lugar eram Manuel Rodrigues, Dona Umbelina Rodrigues,
Maria Virgínia e Dona Maria Cícera.
É na Escola de Ensino Fundamental Rui Barbosa II que as tradições folclóricas
são preservadas.
POVOADO BOM JARDIM
Igreja Nossa Senhora da Conceição no povoado Bom Jardim
Conforme relato dos moradores mais
velhos, as primeiras e maiores famílias que se
estabeleceram na região, antes chamada de
“Munguengue”, foram: Duarte (com Vicente
Duarte e Antonio Bento), Chaves (Maximino e
Lucindo Chaves), Alves (com Salustiano
Alves), Tomaz (João Tomaz) e a família
Bezerra. Segundo esses relatos, a mudança do
nome do povoado ocorreu em virtude de uma
visita do Governador do Estado, na época, Major Luiz Cavalcante que ficou encantado
com as belezas naturais do lugar, principalmente, com a vegetação. Assim o
74
Governador deu a idéia à comunidade para que esta mudasse o nome para “Bom
Jardim”.
A Padroeira do Bom Jardim é Nossa Senhora da Conceição, e sua festa é
realizada sempre no final do mês de dezembro, em data móvel. Na festa há o
novenário, leilão, roda de fogo, zabumbeiros e parque de diversão.
A maior parte da população sobrevive da agricultura: feijão, milho, arroz. A
manga é a fruta predominante, havendo também o caju, o coco. A pesca ainda é uma
atividade muito praticada, apesar do controle por parte do IBAMA. Outra fonte de
renda deste lugar é o bordado, ofício passado de mãe para filhas. Há também muitas
pessoas que produzem utensílios de pesca como redes, tarrafas, covos, sendo os barcos
pequenos (ou botes) o transporte mais usado durante as pescarias. Quem fazia barcos
de pescar era o Senhor Edísio (falecido). Outros carpinteiros que se destacaram foram
Cícero Tenório e seu filho Nelson dos Santos Lopes. Já as parteiras mais conhecidas
do Bom Jardim foram Dona Leobina da Silva e Dona Elísia e, atualmente, se for
necessário, tem Dona Marilena da Silva. Os rezadores (ou curadores) mais conhecidos
foram o Senhor José Cândido e Dona Nair.
Dona Hermínia Tavares grande conhecedora da
historia do Bom Jardim
Dona Hermínia Tavares
Bezerra, 93 anos, que foi
encarregada e cantora da igreja
durante muitos anos, relembra as
grandes plantações de arroz das
várzeas, quando as mulheres se
juntavam para “o fechamento dos
cercados de arroz”(encerramento do
plantio de arroz em um determinado
terreno), onde as mulheres se
enfeitavam, cantavam e dançavam,
trazendo muita animação às
atividades.
O Povoado conta com duas escolas de Ensino Fundamental: Escola Municipal
Coronel Netto, construída em 1965 e Escola Municipal Guilherme Palmeira.
No Povoado Bom Jardim também há uma Reserva Indígena de
aproximadamente 300 hectares, ali estabelecida no ano de 2001, pela FUNAI. Esses
índios vieram da Tribo “Tingui Botó” do Município de Feira Grande/AL, passando, na
nova área, a se chamar “Aconãs” em homenagem a uma antiga tribo que habitou esta
região do Vale do São Francisco. Até a quarta série, as crianças recebem aulas da
professora da própria tribo, com acompanhamento da Secretaria Estadual de Educação.
Sítios vizinhos: Ouricuri, Tamburi, Rabelo, Coroas.
ASSENTAMENTOS DO MUNICÍPIO DE TRAIPU: Marcação I, II e III,
Chico Mendes (Sítio Novo), Riachão, Padre Cícero (Lioba) e Boiadeiro.
75
RELIGIÃO
IGREJA CATÓLICA (ver páginas:19,20,21,39,40,41 e 79)
IGREJA ASSEMBLÉIA DE DEUS
O Trabalho Evangelístico da Assembléia de Deus
começou oficialmente, em Traipu, em 1953, através do Pastor João Ferreira, Vindo da
Cidade de Porto Real do Colégio/AL, ministrando os primeiros Cultos na Rua do
Itamaraty e Rua do Sol, na casa do Senhor José Ferreira dos Santos, um dos primeiros
membros, seguido pelo Presbítero Juvenal Ferreira e sua esposa Maria Francisca,
Etelvina Barbosa, dentre outros pioneiros da Igreja.
Crianças participam de atividades religiosas
na Assembléia de Deus
A Assembléia de Deus é a
maior Igreja Evangélica do
Município em número de adeptos.
Atualmente, está presente em todo
o território do Município, com
templos, congregações e famílias.
Segundo o jovem Celso Lima, 21
anos, um dos coordenadores das
atividades da Igreja, a Liturgia da
Assembléia é Pentecostal (Doutrina
do Espírito Santo e da santíssima
Trindade), com base nas Escrituras Sagradas (Bíblia). A organização dos Cultos
consiste em Oração, Louvores Gospel, Adoração e Pregação.
“Na Cidade são 120 membros atualmente, sendo 60 adultos, 35 adolescentes e
25 crianças. São desenvolvidos trabalhos de assistência social, acompanhamento
espiritual e psicológico. Desenvolvemos oficinas culturais, como teatro, música e arte,
direcionadas às crianças e adolescentes, orientando-os para o convívio social, familiar
e religioso, diz Celso.”
As Atividades Evangelísticas são promovidas pelo Pastor, Presbíteros,
Diáconos, Obreiros e as mulheres inseridas no Trabalho Ministerial. Os Cultos são
realizados no Templo, nas praças e nos lares, aos domingos, terças, quartas, sextas e
sábados, às 19:00h, com duração de duas a três horas.
A Igreja está localizada na Avenida Vereador João Cavalcante, esquina com a
Rua Isaac Pereira Netto.
76
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS
A Igreja Universal iniciou suas atividades, aqui em Traipu, no dia 07 de
setembro do ano de 2001, na Rua do Itamaraty, com o Pastor Izaías. Os cultos
acontecem todos os dias às 19:00h. Segundo o atual responsável pela igreja, o jovem
Pastor José Benício da Silva, 23
anos, a missão maior é cuidar de
pessoas que estão à margem da
sociedade, objetivando reintegrá-
las ao convívio social. Atualmente
possui 50 membros, e são
realizadas reuniões semanais com
crianças e adolescentes sobre
comportamento social.
Igreja Universal do Reino de Deus em
Traipu
IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR
Culto religioso na Igreja do Evangelho
Quadrangular
Esta Igreja surgiu em 07 de
março de 1999, na Rua da Ponte,
através da Missionária Luzinete Lima.
Segundo o Pastor Antonio Fábio, 22
anos, as atividades têm por objetivo o
acompanhamento espiritual,
desenvolvimento psicológico e o
fortalecimento do caráter. A Igreja
possui grupos missionários de
crianças, adolescentes e mulheres que
atuam junto à comunidade.
Atualmente, os cultos são
realizados na Rua 13 de Maio, às terças, quintas e domingos, às 19:30h.
77
IGREJA BATISTA
Pastor Edson realiza a pregação aos fiéis
Há dez anos, a Igreja Batista
iniciou suas atividades em Traipu, por
iniciativa do atual Pastor Edson Soares.
“As atividades da Igreja são voltadas
para o fortalecimento da base
espiritual, mas também buscando
resgatar crianças e jovens que se
afastam do convívio familiar e social”,
diz Edson Soares. Os cultos acontecem
três dias da semana, na Igreja, que se
localiza defronte à Praça Edmar Lima
Dias.
CULTURA AFRO-BRASILEIRA
Quando os africanos chegaram ao Brasil na condição de povo dominado, ou
escravizado, pelo regime português, encontraram aqui os Jesuítas e foram obrigados a
praticar o catolicismo. Como possuíam culto próprio, o Candomblé, sincretizaram
através das imagens dos santos da Igreja Católica os Orishás do Candomblé. Tal
prática ficou tão intimamente ligada aos costumes do povo descendente da cultura
africana, que não se consegue separar uma da outra, tão grande foi o período desse
sincretismo, ou modo de dar continuidade aos Cultos Áfricos. Assim cada Santo da
Igreja Católica recebe, no Candomblé, um nome africano: Santo Antonio -Ogun; São
Jorge - Oshossi; São Roque - Obaluayiê; São Lázaro – Omolu; São Jerônimo –
Shangô; Nossa Senhora da Conceição (ou Nossa Senhora dos Navegantes) - Oshun ou
Yemanjá; Santa Bárbara Guerreira - Iansã, etc. Para o Candomblé, Cada dia da semana
é dedicado a um Orishá africano, assim como cada parte da natureza é regida por um
deles. Os tambores significam o chamamento dos Orishás e um alerta para o perigo.
CENTRO ESPÍRITA SÃO JORGE GUERREIRO
Este Centro faz parte da Federação Umbandista dos Cultos Áfricos do Estado
de Alagoas, e tem à frente a Médium Maria de Fátima Santana, conhecida por “Maria
de Pedão”, que há 35 anos vem realizando, em sua residência na Rua do Itamaraty,
cultos afro-brasileiros.
78
Centro Espírita São Jorge
durante a realização de um
culto a “Eshu”
A Médium
Maria de Fátima diz
que não aprendeu com
ninguém, é um dom
que começou a sentir
aos 08 anos de idade.
Aos 19 anos começou
a se manifestar, isto é,
receber orishás
(espíritos), iniciando
suas atividades na
mediunidade. Diz
ainda que comemora o
dia de Iemanjá, que representa Nossa Senhora da Conceição, em 08 de dezembro. As
segundas-feiras do mês de agosto as vestes são vermelhas porque o culto é oferecido
ao sacrifício dos escravos, e as vestes brancas representam os orishás, os santos da
Igreja Católica.
CENTRO ESPÍRITA PALÁCIO DE OXALÁ
Culto Espírita do Candomblé sob a
coordenação do Pai de Santo José
Messias
Este Centro Espírita é
coordenado pelo Pai de Santo
José Messias da Silva, 53 anos,
que atribui aos seus
antepassados o dom que
possui. Afirma que são
descendentes da África, de
onde recebeu esta cultura e
pretende preservar. Antes era o
seu avô, o Pajé Francisco da
Tribo indígena dos Cariris, o
responsável pelos cultos áfricos e hoje é ele com os filhos. Os eventos acontecem em
sua residência no Conjunto Habitacional Antonio Medeiros Neto. “Os cultos
acontecem aos sábados e domingos, invocamos os espíritos e estamos prontos para
recebê-los”, trabalhamos com 12 pessoas, mas sempre de portas abertas para os que
necessitem de nossos cultos, diz Seu José Messias, que é associado e fiscal da
Federação Umbandista dos Cultos Áfricos do Estado de Alagoas.
79
Par
te i
nte
rna
da
igre
ja d
e N
oss
a S
enhora
do Ó
Segundo o Senhor José Messias, há outros espaços no município em que se
pratica a cultura africana por meio do sincretismo religioso, no nível chamado “Mesa
Branca” (consiste numa reunião dos adeptos em torno de uma mesa, sem as batidas
dos tambores).
PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARQUITETÔNICO
Igreja de Nossa Senhora do Ó – Construída por volta de 1850, substituindo a
capela que fora construída no século XVII. Com duas torres, paredes revestidas de
azulejo na parte frontal superior e mármore branco na parte inferior; na frente existem
cinco portas com detalhes em alto relevo,
cinco janelas de vidro; nas laterais, seis
portas de madeira, três de cada lado; na torre
esquerda há um grande sino de bronze e
entre as duas torres, uma cruz revestida de
azulejo verde claro; em seu interior existe
uma escada em madeira trabalhada, obra do
escultor Antonio Camilo; o piso em mosaico
branco (mais antigo) e cerâmica (mais
moderno); pia batismal em tijolos, revestida
de cimento; os bancos originais foram
substituídos por outros mais modernos; um
confessionário em estilo colonial e um
púlpito em estilo barroco; altar-mor em
madeira com pintura dourada e branca,
contendo seis imagens, cinco em gesso e
uma em madeira: Nossa Senhora do Ó, São
José, Santo Antonio, Cristo Crucificado e dois anjos.
Por trás das grades está a imagem de Nosso Senhor Glorioso; no corredor
direito, Santa Rita, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora das Graças; no corredor
esquerdo, São Vicente, Santa Luzia e Nossa Senhora de Fátima; por trás do altar, uma
escultura em estilo barroco confeccionada em madeira, de Nosso Senhor Morto, num
caixão que fica sempre velado;
As Imagens em Oratório são: Bom Jesus dos Navegantes, São Luiz e São
Francisco; Nossa Senhora das Dores e Nosso Senhor dos Passos.
Casarão de estilo colonial –
Localizado na esquina da Rua Monsenhor
Medeiros (antiga Rua Grande) com a Rua
da banca do peixe, de frente para o Rio São
Francisco. Foi neste casarão, segundo
historiadores, que D. Pedro II participou de
uma festa e jantou, quando de sua visita a
este Município. Na época pertencia ao
Coronel José Vicente Pereira Netto e
atualmente pertence ao senhor Berilo Soares Mota.
80
Há outras casas, principalmente na Rua da Igreja que mantém a forma e as
características da época em foram construídas.
PATRIMÔNIO NATURAL
Rio São Francisco – Fonte de riqueza e atração turística;
Rio Traipu – Rio que deu nome ao Município;
Porto da Areia – atração turística dos finais de semana e períodos de festa;
Ilhas Fluviais – destino dos passeios de lanchas dos turistas;
Serra da Tabanga – Também um forte referencial turístico, mesmo situando-se na
margem sergipana do Rio;
Fonte da Mumbaça – Ponto turístico bastante visitado, sobretudo, nas festas do
Povoado;
Serra de Santa Cruz – As nascentes desta serra formam uma bica (espécie de piscina
natural) que atrai centenas de visitantes durante todo o ano;
ESPAÇOS CULTURAIS
Casa de Cultura
Luís de Medeiros
Netto – Com grande
acervo histórico e
cultural à disposição
dos jovens traipuenses;
Biblioteca Municipal –
Funcionando na casa de
Cultura Luís de
Medeiros Netto;
Museu do Velho Chico
– Possui muitos
vestígios da história do
Rio São Francisco, é
muito visitado pelos
estudantes.
ESCOLAS
Na Cidade, há três escolas estaduais e três municipais:
Escolas Estaduais: Moreno Brandão, Maria Avelina do Carmo e José Medeiros.
Escolas Municipais: Francisco Mangabeira, Agapito Rodrigues de Medeiros e Padre
José Batista.
A Escola Moreno Brandão é a mais antiga, foi construída em 1940, durante a
gestão do interventor estadual Osman Loreiro, tendo como primeira Diretora Cecília
Ércia Silveira (1940 a 1943); a segunda Diretora a Professora Alice Sales (1943 a
1948); a terceira Marinete Reis Matos (1948 a 1960); a quarta Áurea de Medeiros
81
Melo (Dona Aurinha - 1961 a 1975).
A Escola Moreno Brandão já chegou a servir de unidade modelo, sendo visitada
por educadores de outros municípios de Alagoas e de Sergipe. Recebeu este nome em
homenagem ao historiador, jornalista, político, romancista, poeta, filósofo, geógrafo e
orador Francisco Henrique Moreno Brandão que nasceu na cidade de Pão de Açúcar
em 14 de setembro de 1875, filho do Major e Médico-cirurgião do Exercito Brasileiro
e de Maria Aguiar Moreno Brandão.
ESPAÇOS FESTIVOS
Clube Margareth – Casa de festas criada por José Palmeira Lima, é palco de festas
sociais, cívicas e religiosas, era onde, no passado, realizavam-se os carnavais de salão.
Nos finais de semana, funciona com discoteca ou bailes.
Ginásio de Esportes “O Ribeirão” – Além de ser um grande palco dos mais diversos
eventos esportivos, vem sendo utilizado para apresentações de grupos folclóricos,
encontros escolares, bailes e, nos últimos anos, vem sendo usado para o resgate dos
bailes carnavalescos;
Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) – Local de eventos esportivos, onde
também se realizam festas sociais e cívicas;
Casa Paroquial – Espaço utilizado para eventos religiosos;
Estádio Municipal – Palco de eventos esportivos, mas também apropriado para
eventos festivos de maior proporção;
Praça José Palmeira Lima – Local de grandes eventos festivos, principalmente
festejos natalinos e apresentações de grupos folclóricos;
Praça da Matriz de Nossa Senhora do Ó – espaço utilizado para as festividades da
Padroeira;
Praça Vicente Bispo (Itamaraty) – Onde ocorre o Natal de Reis, todos os anos.
LITERATURA
LUÍS DE MEDEIROS NETTO
Patrono da Casa de Cultura de Traipu-AL, foi:
Padre da Igreja Católica;
Deputado Constituinte – 1946;
Deputado Federal - de 1947 a 1970 (seis mandatos consecutivos);
Suplente de Senador- 1971 à 1978;
Professor de História da Universidade Federal de Alagoas;
Pró-Reitor para Assuntos Estudantis e Comunitário- UFAL;
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Brasília;
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas;
Membro da Comissão Parlamentar que visitou os Estados Unidos em 1960 e em1964;
Publicações:
História do São Francisco - tese para o concurso da Cadeira de História do Brasil -
82
Instituto de Educação- Publicação da Casa Ramalho Editora- 1941;
Centenário da Cidade de Traipu" - livro contando a história de Traipu em celebração
aos 100 anos da elevação desta à Condição de Cidade - Publicação da Sergasa- 1990.
JENNER GLAUBER MELO TORRES
Historiador e escritor, é formado em
Arquitetura pela Universidade Federal de
Alagoas, tem realizado várias pesquisas sobre
Traipu. Escreveu o livro “Vivendo...Traipu”,
que traça um perfil da história cultural do
Município. Foi Secretário Municipal de
Educação em 2002 e 2003.
Foi um dos articuladores para a fundação
da Casa de Cultura Luís de Medeiros Netto.
ALVACY MARTINS
Artesão, professor e poeta, já escreveu várias poesias sempre exaltando sua
terra natal e as riquezas do Rio São Francisco.
JACKSON BORGES
Ambientalista fervoroso sempre defendendo as causas do Velho Chico, já
produziu vários artigos que foram publicados em jornais de grande circulação no
Estado de Alagoas. É um dos maiores pesquisadores da história do Rio São Francisco.
É fundador da Casa do Velho Chico.
PROVÉRBIOS (Sabedoria popular)
Uma característica forte no sertanejo é resumir em poucas palavras ou frases
de efeito, um tema em discussão. É uma forma de sabedoria popular, que geralmente
traz uma mensagem de forma indireta, porém clara. Em nosso Município não é
diferente, qualquer pessoa já ouviu alguém, principalmente os mais velhos, usarem
estes provérbios populares para alertar alguém ou para encerrar uma conversa que está
ficando comprida, como por exemplo:
83
“Macaco não olha pro rabo”; “Formiga, quando quer se perder, cria asa”; “Cabeça que
não pensa, o corpo padece”; “Pobre só come carne quando morde a língua”; “Macaco
velho não põe a mão em cumbuca”; “É rico de pena e bico”; “Chapéu de otário é
marreta”; “Casa de ferreiro, espeto de pau”; “Criança que não chora não mama”;
“Mato a cobra e mostro o pau”; “Quem bem fizer, pra si é”; “O que os olhos não
vêem, o coração não deseja”; “Em boca fechada não entra mosquito”; “Mais sujo do
que pau de galinheiro”; “Apanhou mais do que pandeiro em samba”; “Parente é carne
nos dentes”; “Cavalo dado não se olham os dentes”; “Ta mais por fora do que bunda
de índio”; “Quem comeu a carne, roa o osso”; “Gato escaldado tem medo de água
fria”; “Viola de boca todo mundo toca”; “Pare o andô, que o santo é de barro”; “Quem
gosta de boca de cano é ferrugem”; “O tempero da comida é a fome”; “Quem quebra
galho é macaco gordo”; e outros.
PARTEIRAS
Antes da medicina, por meio dos postos de saúde e das maternidades, alcançar
os rincões do nosso sertão, era por meio das parteiras que as mães ganhavam seus
filhos. Eram essas mulheres corajosas que assumiam a responsabilidade da realização
não somente do delicadíssimo trabalho de parto, mas também das orientações de pré e
pós-natal.
Era por suas mãos que, invariavelmente, a vida passava. Nelas as famílias
mantinham uma grande relação de respeito e admiração, de onde nasciam fortes laços
de amizade, ao ponto de serem elas as primeiras madrinhas dos recém-nascidos.
Em todos os lugares, da zona urbana ou zona rural, existia uma ou mais
parteiras prontas para atender, a qualquer hora do dia ou da noite, qualquer família que
necessitasse, como verdadeiras guardiãs das famílias que residiam na localidade.
A comunidade traipuense se orgulha dessas valorosas mulheres que tão bem
representam a coragem da mulher sertaneja, cumprindo uma missão tão difícil, de
forma que passa, a partir deste mapeamento, a registrá-las na história cultural do nosso
Município.
Dona mocinha e Dona Aliete, parteiras reconhecidas pelos serviços prestados à comunidade traipuense
84
Maria José Henrique das Flores (Dona Mocinha), hoje com 96 anos de idade,
mora na Praça Coronel Netto, e é lembrada pela população traipuense com uma das
que mais atuaram no Município.
Aliete Torres dos Santos (Dona Aliete) é muito conhecida da população, fez
curso de parteira e também trabalhou por três anos na Maternidade de Penedo,
encerrou suas atividades há cinco anos, por conta da abertura da Casa Maternal Maria
Eulina dos Santos. Hoje, aos 66 anos, com sete filhos e seis netos, ela relembra a
felicidade com que realizava os trabalhos de parto, dizendo-se feliz pelo dever
cumprido.
Antes de Dona Mocinha e Dona Aliete, os mais velhos relatam que as parteiras
da cidade eram Maria Vitalina, Dona Margarida do Itamaraty, Dona Maria José da
Rocheira e Dona Pastora.
REZAS, CURAS E CRENÇAS
Era comum haver pessoas, na cidade ou na zona rural de Traipu, geralmente
muitos religiosas, com certas habilidades para cuidar de doentes, que passavam a ser
vistas como referenciais, usufruindo da confiança dos moradores. Praticavam rezas e
curas baseadas na fé e até receitavam medicamentos (chás) que ainda hoje são usados
por muita gente. As mulheres que realizavam essas atividades eram chamadas
“rezadeiras ou benzedeiras” e os homens, rezadores, benzedores ou curadores.
As rezas serviam (servem) para afastar ou curar diversos males: doenças, mau
olhado, dores localizadas, feridas, etc. O tratamento consiste em rezar sobre a cabeça
dos doentes ou sobre a parte afetada com orações usadas na Igreja Católica, falando-se
de santos e objetos religiosos, fazendo gestos e produzindo sons ininteligíveis. É
geralmente usado o sinal da cruz, durante e após a reza. Ramos de plantas, terço e cruz
de madeira também são usados como instrumentos de prece e de cura. O curandeiro
difere dos rezadores: acredita-se que possua poderes não comuns às pessoas normais.
Propaga a cura de envenenamento por mordida de cobra e cachorro doido (raiva) e o
fechamento de corpos contra feitiçaria.
Em Traipu, muitas pessoas ficaram (ou são) bastante conhecidas por essas
práticas populares, como Dona Senhorinha, Dona Lindaura e muitas outras.
MEDICINA POPULAR
Em Traipu, a medicina popular sempre fez parte da cultura do povo, sendo
ainda hoje bastante utilizada. Há muitas pessoas, principalmente os mais velhos, que
não procuram as farmácias, pois acreditam, antes de tudo, na cura com os remédios
naturais. Alguns mais usados no município são: chá de cidreira, chá de pitanga, de
romã, de raspa de cajueiro, de folha de goiabeira, de folha de laranjeira, chá de hortelã,
chá de capim santo, chá de quebra-pedra, mastruz (ou mentruz) com leite, diversos
tipos de lambedores, misturadas e outros.
85
LENDAS
As lendas mais faladas pelos mais velhos, geralmente pescadores, são a “Mãe
d’Água, (sereia da água doce), o Fogo Corredor, o Nêgo d’Água e o Lobisomem.
Sempre aparece alguém afirmando ter se deparado com alguma dessas figuras. Sobre o
lobisomem, há um dado em comum, e bastante curioso, nas histórias contadas em todo
o município: É que o lobisomem atacava apenas os rapazes que se dirigiam para as
casas das namoradas (ou quando retornavam), não havendo relatos sobre algum
lobisomem que atacasse as moças.
BODEGAS
Antigamente, as casas que vendiam cereais, comidas e bebidas eram chamadas
de “bodegas”. Em Traipu, eram muitas as bodegas onde se comercializavam os mais
diversos produtos. Estas casas comerciais tinham uma característica comum: Um
grande balcão de madeira (com bom acabamento) ou de cimento que mantinha
separados vendedor e cliente. Este não tinha acesso a tocar a mercadoria, apenas dizia
o que queria e o vendedor, no outro lado do balcão, providenciava o produto. As
bodegas mais conhecidas eram: de Seu Vicentão, de Zé Pindoba, de Artur de Laura, de
Etelvino Cavalcante, de Seu Bêlo, de Flodoaldo, de Marilita e Lourdes, de Seu Oscar,
de Eduardo Pereira, de Aloísio Cabral, de Joaquim Guimarães, de Paisinho, de Seu
Anísio, de Gonçalo, de Tonho Bolachão, de Murilo e de Seu Zé Pernambucano, que
ainda hoje usa o balcão grande. Com a modernidade, as casas comerciais são
denominadas “mercadinho” (de porte menor) ou “supermercado” (de porte maior).
GASTRONOMIA
Pratos: peixada, feijoada, buchada, galinha de capoeira guisada.
Doces: leite, goiaba, mamão, banana, coco.
Comidas típicas: canjica, beiju, tapioca, pamonha, malcasada, umbuzada, bolos, pé de
moleque.
86
87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Casa de Cultura Luís de Medeiros Netto. Rua Senador Serapião, Traipu/AL.
Biblioteca Pública Municipal Onofre Tavares de Nascimento, Rua Senador
Serapião, Traipu/AL.
Secretaria Municipal de Cultura, Rua Senador Serapião, Traipu/AL.
NETTO, Pe Medeiros. História do São Francisco, Editora Sergasa. 203 p.
Aspecto histórico, civilizador, religioso, político, povoativo, hidrológico,
econômico e social.
Mapeamento Cultural dos Municípios do Vale do São Francisco. Ministério da
Cultura. Ano 2000, 182p.
Municípios de Alagoas, Organização Arnon de Mello, ano 2005.
TORRES, Jenner Glauber Melo, Vivendo ... Traipu 2000. Editora J.J. Santos.
Maceió, 101 p.
NETTO, Luís de Medeiros (1941) “História do São Francisco”, Casa
Ramalho Editora Maceió.
88
89
RIO SÃO FRANCISCO
FONTE DE VIDA
“Ao pé de cada montanha, existe um rio ou um riacho. Esse maravilhoso
fenômeno da natureza é fonte de vida, abastecendo inúmeras cidades. Leva nas águas
um grande tesouro: A vida. Águas puras e cristalinas, águas que, quando batem nas
rochas ou levam cascalhos, cantam e encantam a todos. Abrigando milhares de
espécies, tem no fundo de suas águas a sabedoria do criador e uma beleza que não se
compara a nenhuma outra. O rio, sendo fonte de vida, faz nascer novas cidades.
Foram eles a base de grandes civilizações. Eles, que nos deram as mais lindas
paisagens, estão acabando, o homem não os está preservando. A morte de um rio
significa a morte de uma civilização, pois nenhum ser vive sem água. Mas eu ainda
vejo na beleza de cada olhar a esperança de que um dia brote no coração dos homens
o nobre sentimento de gratidão por este bem que Deus nos deu: O Rio São Francisco,
fonte de vida.”
Texto extraído do Programa de rádio “Viver Melhor” (Educação Ambiental) apresentado pelos
Agentes Jovens: Crislane Melo, 17 anos, Neumann de Farias, 17 anos e Rafael de Souza, 16 anos.
90