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neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002 1 EDITORIAL SER DIGITAL Antero Ferreira FALANDO DE DEMOGRAFIA HISTÓRICA... Maria Norberta Amorim FALANDO DE PATRIMÓNIO... Alberto Correia INVESTIGADOR APRESENTA- SE: Inês Martins de Faria Elisabete Pinto APONTAMENTOS DE INVESTIGAÇÃO: As visitas pastorais numa paróquia minhota Inês Martins de Faria NOTÍCIAS: Margarida Durães recebe “Prémio Alberto Sampaio” Novas publicações Bibliografia. Demografia Historica. História das Populaçõae. Portugal , coordenada por Otília Lage A antiga freguesia do Eixo e Oliveirinha, de Francisco Messias Trindade Ferreira Palaçoulo (1656-1910) , de Fábia Maria Raposo Antero Ferreira editorial Boletim Informativo Núcleo de Estudos de População e Sociedade| Instituto de Ciências Sociais| U.M.| Guimarães| 23| Janeiro de 2002 s u m á r i o SER DIGITAL A relação entre os investigadres do NEPS e a informática tem sido uma constante ao longo do nosso percurso. A própria matéria-prima da maior parte dos nossos trabalhos – os registos paroquiais – conduz-nos à criação de gigantescas bases de dados que só podem ser manuseadas com o auxílio de ferra- mentas informáticas, das quais também dependemos para o seu tratamento estatístico. Nos últimos tempos temos dados passos importantes nesta nossa relação com a informática. Dispomos actualmente de um sistema de aquisição de dados demográficos que nos facilita bastante a tarefa de reconstituição de paróquias, bem como o cruzamento informático de vários tipos de fontes com as bases de dados paroquiais. A construção automática de genealogias e a sua divulgação junto da comunidade através da Internet é também já uma realidade. Esta divulgação, aliás, está-se a tornar uma mais valia do nosso grupo junto das comunidades que estudamos. O passo seguinte é o desen- volvimento de um processo de cruza- mento da informação das várias bases de dados paroquiais. Já foi efectuada alguma inves- tigação nesse sen- tido – resu- mida numa comunicação ao Congresso da ADEH em Castelo Branco – mas está na hora de ensaiar este processo com dados reais. Talvez fosse interessante ensaiar estes avanços na cidade de Guimarães... A apresentação destes nossos progressos recorda-me um livro

Margarida Durães recebe Novas publicações · PDF file2neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002 editorial Antero Ferreira SER DIGITAL • de Nicholas Negroponte, o famoso “guru”

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neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002 1

EDITORIAL

SER DIGITAL

Antero Ferreira

FALANDO DE

DEMOGRAFIA HISTÓRICA...Maria Norberta Amorim

FALANDO DE

PATRIMÓNIO...Alberto Correia

INVESTIGADOR APRESENTA- SE:Inês Martins de Faria

Elisabete Pinto

APONTAMENTOS

DE INVESTIGAÇÃO:As visitas pastorais num a

paróquia m inhotaInês Martins de Faria

NOTÍCIAS:• Margarida Durães recebe“Prémio Alberto Sampaio”

• Novas publicaçõesBibliografia . Dem ografiaHistor ica. Histór ia dasPopulaçõae. Portugal,

coordenada por Otília Lage

A ant iga freguesia do Eixoe Oliveir inha,

de Francisco Messias TrindadeFerreira

Palaçoulo ( 1 6 5 6 - 1 9 1 0 ) ,de Fábia Maria Raposo

Antero Ferreiraeditorial

Boletim InformativoNúcleo de Estudos de População e Sociedade| Instituto de Ciências Sociais| U.M.| Guimarães| 23| Janeiro de 2002

s u

m

á

r

i o

SER DIGITAL

A relação entre osinvestigadres do NEPS e ainformática tem sido umaconstante ao longo do nossopercurso. A própria matéria-primada maior parte dos nossostrabalhos – os registos paroquiais– conduz-nos à criação degigantescasbases dedados que sópodem sermanuseadascom o auxíliode ferra-mentasinformáticas,das quaistambémdependemospara o seutratamentoestatístico.

Nos últimostempos temosdados passosimportantesnesta nossarelação com ainformática. Dispomosactualmente de um sistema deaquisição de dados demográficosque nos facilita bastante a tarefade reconstituição de paróquias,bem como o cruzamentoinformático de vários tipos defontes com as bases de dados

paroquiais. A construçãoautomática de genealogias e asua divulgação junto dacomunidade através da Interneté também já uma realidade. Estadivulgação, aliás, está-se a tornaruma mais valia do nosso grupojunto das comunidades que

estudamos.O passo

seguinte é odesen-volvimento deum processode cruza-mento dainformaçãodas váriasbases dedadosparoquiais. Jáfoi efectuadaalguma inves-tigaçãonesse sen-tido – resu-mida numacomunicaçãoao Congresso

da ADEH em Castelo Branco – masestá na hora de ensaiar esteprocesso com dados reais. Talvezfosse interessante ensaiar estesavanços na cidade deGuimarães...

A apresentação destes nossosprogressos recorda-me um livro

2 neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002

editorial Antero Ferreira

SER DIGITAL

de Nicholas Negroponte, o famoso“guru” da sociedade dainformação. Nessa obra, “SerDigital”, ele afirma que ainformação vai progressivamentedeixar de circular em át om os(livros, jornais, revistas) parapassar a circular em bits, que eledescrevia deste modo: “Um bitnão tem cor, tamanho nem pesoe pode viajar à velocidade da luz.É o mais pequeno elementoatómico do ADN da informação”1 .

Por analogia, consideramosque estamos a efectuar, deacordo com a expressão deNegroponte, a nossa passagemdos átomos para os bits. Até hápouco tempo todas as nossasreconstituições de paróquiasassentavam nas fichas decartolina perfuradas, os átomos.Hoje, com mais confiança nasnovas tecnologias, emborarecordando com alguma saudadeaqueles tempos, dispensamos osátomos e confiamos nos bits. De

facto é actualmenteperfeitamente plausível efectuara reconstituição de uma paróquiadirectamente no computador, atéporque o acesso às fontesmicrofilmadas é muito maisacessível.

A nossa proposta de processode d i g i t a l i zação de dadosidentifica-se com o processo dereconstituição de paróquias, namedida em que na introdução dequalquer indivíduo na base dedados é possível associá-loimedia-tamente a uma família.Deste modo mantém-se um fiocondutor entre o que era a práticado investigador e este novosistema informático.

Neste processo dedigitalização – no sentido em quea informação que até aqui estavacontida em átomos, vai passar ater a forma de bits – não fazsentido desperdiçar nenhumainformação contida na fonte. Seanteriormente, por economia de

recursos, não se procedia aolevantamento completo dosregistos, limitando-se oinvestigador às informaçõesnecessárias para os seusestudos, hoje essa limitação nãotem sentido. É fundamental quetoda a informação das fontes,principalmente todas asreferências a indivíduos sejamimediatamente digitalizadas. Nofinal do processo de digitalizaçãoo investigador tem de ter tantaconfiança no registo digital comono tradicional. Só assim elepoderá retirar as vantagens destatransposição de estado – aenorme facilidade de organização,de pesquisa e de transmissão dainformação.

1 NEGROPONTE, Nicholas – Ser Digital,Editorial Caminho, Lisboa, 1996,pág. 21

No passado dia 28 de Janeirotiveram lugar as eleições para oConselho Directivo da Associaçãode Demografia Histórica (ADEH),para o triénio 2002/2005. AOescrutínio dos sócios apresentou-se uma única lista, composta porDavid Reher, Alberto San, LlorengFerrer, Abel Losada, Maria João

Eleito novo Conselho Directivo da ADEHGuardado Moreira, António Amarodas Neves, Julio Perez, SantiagoPiquero e Joaquin Recaqo.

A ADEH é uma associação decarácter científico, integrandoinvestigadores de Espanha ePortugal, destinada a promovero estudo e o conhecimento daspopulações do presente e do

passado a partir de umaperspectiva interdisciplinar.Dentro das suas actividades, aADEH publica, desde 1983, umarevista científica semestralchamada  Boletín ADEH onde têmsurgido diferentes trabalhos deinvestigação sobre a populaçãoem contextos históricos eactuais.

Ao mesmo tempo, encarrega-se de promover o intercâmbio deideias e informação entre os seussócios, colaborando com outrasassociações e organizandoCongressos Internacionais sobrediferentes temas demográficos.Publica também um boletiminformativo com o título Not iciasADEH.

neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002 3

falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

Nos finais do mês de Janeirode 2002 o movimento natural dapopulação da freguesia das Ri-beiras da ilha açoriana do Picoresumia-se nesse mês a um óbi-to de um indivíduo nascido fora.Não casou ninguém. Não nasceuninguém.

Se recuarmos cem anos, a Ja-neiro de 1902, verificamos quese realizaram então na freguesiadois casamentos, que nasceramseis indivíduos e que faleceramtrês. Diferenças que reflectemnão só o abaixamento do nívelpopulacional (de 2263 habitantesem 1900, decresce para 1045 noúltimo recenseamento),mas também a alteraçãode regime demográfico(uma mais elevadaesperança de vida paraos poucos que nascem).

As metodologias daDemografia Históricapermitem-nos a inserçãoem cadeias genealógicasplurisseculares dosindivíduos que faleceramnesse Janeiro de 2002 nafreguesia das Ribeiras eo acompanhamento dosseus breves ou alongadospercursos de vida.

Se uma criança quenasce é uma esperançade futuro, se um casal que seune abre perspectivas derenovação de gerações, a mortefecha ciclos de vida, plenos deexperiências ou tão sóbalbuciantes. A diversidade namorte é a regra. Diversidade noque respeita a sexos, a idades, aorigens geográficas, a condiçõeseconómicas, sociais, ou culturaisou a situações familiares. Daí ogrande interesse que pode reves-tir para o analista social o estu-do de uma amostra de indivíduosque completaram o seu ciclo devida num tempo determinadonuma comunidade determinada.Amostra, de partida, aleatória, se

apoiada em adequado volume dedados.

Aqui, dando conta apenasdessa diversidade da morte, de-bruçar-nos-emos sobre os trêscasos de indivíduos que falece-ram há exactamente um séculona freguesia das Ribeiras do Pico,enquadrando-os nas respectivasgenealogias ascendentes.

O primeiro indivíduo a falecerem Janeiro de 1902, no dia 5, foiuma criança no primeiro mês devida, Maria, nascida em 14 deDezembro de 1901.

Maria era a terceira filha porordem de nascimento de Fran-cisco de Macedo Pereira, ferrei-ro, e de Luísa Amélia Macedo.

Casados em 3 de Setembro de1896, quando Francisco de Ma-cedo Pereira contava 21 anos deidade e Luísa Amélia 18, nasce-ra-lhes um primeiro filho, Manu-el, em 3 de Abril de 1898, faleci-do logo no dia seguinte. Um se-gundo filho, com o mesmo nomede Manuel, nasceu em 9 de De-zembro do mesmo ano de 1898(prematuro, supõe-se) e faleceuno mesmo dia. Embora o interva-lo entre Manuel, segundo denome, e Maria, tenha sido de três

anos (teria havido entretantouma gravidez, ou mais, sem su-cesso?), esta também não so-breviveu.

Uma criança de nome José vi-ria a nascer em 15 de Outubrode 1902, falecendo no dia seguin-te. Luísa, nascida em 18 de Ju-lho de 1903, faleceu com novedias de idade. Dois outros filhos,Maria e Manuel, nascidos respec-tivamente, em 15 de Agosto de1904 e 22 de Outubro de 1907,foram os únicos filhos do casalsobreviventes à infância. Essa fi-lha viria a falecer aos 91 anos nacidade da Horta. O irmão faleceuem S. Roque do Pico antes de

completar os 62 anos, um eoutro tendo acesso aocasamento.

Falecida Luísa Amélia em 25de Julho de 1915, quandocontava 37 anos de idade, oseu viúvo, referido entãocomo proprietário, voltou acasar em 15 de Maio do anoseguinte com ArmindaAlvernaz, de 31 anos, quenão lhe deu filhos. FranciscoPereira de Macedo faleceuviúvo em 25 de Maio de 1953.

Não se pense que as difi-culdades de sobrevivência àinfância fossem correntes noperíodo. Trata-se de um casoparticular que pode dever-se

a problemas de saúde da mãe.Reparemos que Luísa Améliamorreu em período fecundo,antes de completar 40 anos. Defacto, grande número de casaisacompanhava já então, nestafreguesia como nas outrasfreguesias da ilha, o crescimentode todos os seus filhos. NasRibeiras, a mortalidade dosmenores de um ano colocou-sena primeira década do século XXnos 83 óbitos por cada mil crian-ças nascidas, percentagem fa-vorável para a época (as médiasnacionais para o período ronda-vam os 150 por mil).

1.º CASO

4 neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002

falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

Condicionados pelo facto dosregistos paroquiais das Ribeirasserem relativamente tardios (osbaptizados só começam em 1697,os casamentos em 1681 e os óbi-tos em 1738) e de se verificaruma lacuna importante no regis-to de casamentos (entre 1719 e1764) só podemos recuar, por al-guns ramos, a sétimos avós deMaria, com acompanhamento de-ficiente das respectivas datasvitais nas gerações mais antigas.

1ª Geração - SUJEITO

1- Maria (14-12-1901 a 5-1-1902)

2ª Geração - PAIS

(1) - 2- Francisco de Macedo Pereira(10-11-1874 a 25-5-1953)

3- Luísa Amélia de Macedo (29-5-1978a 25-7-1915)

3ª Geração - AVÓS

(2) - 4- José Macedo Pereira ( origemdesconhecida – + 5-6-1905)

5- Umbelina Rosa (9-5-1828 a 6-8-1908)

(3) - 6- José Cardoso Serpa Jr. (nasci-do nas Lajes – +25-1-1926)

7- Maria Luísa Silveira (18-12-1851 a22-5-1896)

4ª Geração - BISAVÓS

(5) - 10 – Manuel Jorge da Silveira (13-2-1784 a 4-10-1866).

11- Vitorina Rosa (26-4-1787 a 30-3-1873)

(7) - 14- José Silveira Jorge (18-10-1824 a 8-5-1913)

15- Maria Luísa do Coração de Jesus(30-1-1820 a 2-3-1903)

5ª Geração - TRISAVÓS

(10) - 20- António Jorge (de fora- +antes de 12-4-1807))

21- Rosa Jacinta (11-7-1764 a 15-1-1841)

(11) - 22- Francisco Xavier de Simas(13-12-1765 a 21-4-1827)

23- Umbelina Rosa (natural de St.Amaro - + 8-3-1834)

(14) - 28- Manuel Silveira Jorge (10-5-1785 a 27-12-1843)

29- Isabel Josefa (3-12-1790 a 19-1-1865)

(15) - 30- Capitão José Joaquim Ma-druga (natural das Lajes - + 28-2-1859)

31- Rosalina Tomásia (19-5-1783 a 3-9-1866)

6ª Geração - TETRAVÓS

(21) - 42- José Nunes Cardoso (+ 15-4-1797)

43- Leonarda de Cristo Micaela (+ 25-12-1796)

(22) - 44- Manuel Silveira CardosoGoulart (+ 20-9-1771)

45- Teresa de Jesus (+ 17-11-1783)(28) - 56- Domingos Homem Jorge

(15-4-1728 a 22-12-1807) 57- Bárbara da Conceição (11-5-1758

- + depois de 22-12-1807)(29) - 58- Manuel Cardoso Machado

(16-6-1756 a 15-4-1834) 59- Maria Josefa (+ depois de 28-7-

1796)(31) - 62- Tomás Pereira da Silveira

(+ 23-11-1821) 63- Catarina Maria Tomásia (natural

das Lajes - + 31-3-1809)

7ª Geração QUINTOS AVÓS

(56) - 112- Sargento Mateus Jorge daSilveira (+ 21-3-1750)

113- Maria das Candeias (+ 23-12-1764)

(57) - 114- Francisco José da Silveira(+ 27-3-1788)

115- Maria Silveira (depois de 27-3-1788)

(58) - 116- Sargento Bartolomeu Car-doso (+ 16-10-1756)

117- Isabel Silveira (+ depois de 16-10-1756)

(59) - 118- Alferes Tomé Silveira Ma-cedo (+ 4-11-1758)

119- Isabel Josefa (+ depois de 4-11-1758)

(62) - 124- Tomás Pereira (+ depoisde 24-12-1773)

125- Rosa Francisca (+ depois de 24-12-1773)

8ª Geração – SEXTOS AVÓS

(112) - 224- Mateus Jorge (+ antes de21-10-1714)

225- Isabel João (+ antes de 21-10-1714)

(113)- 226- Domingos Homem Rama-lho (+ depois de 21-10-1714)

227 – Águeda Silveira (+ depois de21-10-1714)

(124) - 248- Alferes Mateus de Sousa(+ 18-3-1737)

249- Isabel Garcia Vieira (natural dasLajes - + 13-8-1744)

(125) - 250- Tomé Gregório Ramalho(+ 29-4- 1739)

251- Maria Pereira Ferreira (+ 14-9-1739)

9ª Geração – SÉTIMOS AVÓS

(250) - 500- João Vieira Goulart (+ an-tes de 4-2-1713)

501- Luzia Quaresma (+ antes de 4-2-1713)

(251) - 502- Pascoal Dias (+ depoisde 4-2-1713)

503- Maria Ferreira (+ depois de 4-2-1713)

Através da genealogia de Ma-ria verificamos que os casamen-tos com indivíduos de outras fre-guesias da ilha não eraminvulgares na família. Os avós dosexo masculino eram ambos defora, o que reduz a quatro indiví-duos o número de bisavós iden-tificados. Dos oito trisavós co-nhecidos, três eram de fora, oque limita a observação dostetravós a dez indivíduos. Nasgerações mais antigas as dificul-dades de identificaçãoavolumam-se e apenas conhece-mos o nome de quatro sétimosavós.

Se acompanhássemos pelovolume de sufrágios e postos nasmilícias os ascendentes de Ma-ria, verificaríamos que se trata-va de uma família económica esocialmente bem posicionada, si-tuação a que não seriam alheiasligações matrimoniais estratégi-cas.

No dia 9 de Janeiro de 1902faleceu na freguesia das RibeirasJosé Silveira Soares, marítimo, de72 anos de idade, casado, do lu-gar de Santa Cruz. Nascido em 4de Outubro de 1829, era o quar-to dos oito filhos (todos sobrevi-ventes à infância), de AntónioSilveira Soares e Maria Leal, domesmo lugar de Santa Cruz.

Casara em 23 de Outubro de1851, quando contava 22 anos,com Joana Inácia do Espírito San-to, de 23 anos, filha de ManuelRodrigues Soares, também marí-timo, já então falecido, e de suamulher Maria do Espírito Santo.

Do casamento de José Silvei-ra Soares e de Joana Inácia nas-ceram sete filhos, mas a mortelevou quatro em tenra idade. A

2.º CASO

neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002 5

falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

filha mais velha, Maria, nasceuem 12 de Fevereiro de 1853 efaleceu com menos de 15 diasde vida. O segundo filho, Manu-el, nasceu em 26 de Fevereirode 1855 e faleceu com dois me-ses e meio. De José, nascido em9 de Novembro de 1856, não sa-bemos o destino. Maria, nascidaem 5 de Junho de 1861, foi mãesolteira aos 22 anos, falecendoaos 60 anos na freguesia sem terchegado a casar. Manuel, nasci-do em 27 de Fevereiro de 1865,que se chamaria Manuel Homemda Silveira Soares, também ma-rítimo, casou a abeirar os 39 anoscom uma mulher viúva de 28 anos(embora tivessem registado trêsfilhos, dois morreram na infânciae um terceiro, o mais velho, au-sentou-se, sem descendência nafreguesia). Emília, nascida em 28de Setembro de 1867 faleceu com10 meses de idade. António, oúltimo filho a ser registado, nas-ceu em 18 de Setembro de 1869e faleceu antes de atingir os qua-tro anos.

Sem sucesso reprodutivo com-provado na freguesia (não iden-tificamos ao casamento nenhumneto), vejamos a ascendência deJosé Silveira Soares:

1ª Geração- SUJEITO

1- José Silveira Soares (4-10-1829 a9-1-1902)

2ª Geração - PAIS

(1) - 2- António Silveira Soares (22-10-1796 a 7-4-.1876)

3- Maria Isabel (26-12-1801 a 4-2-1889)

3ª Geração - AVÓS

(2) - 4- Manuel Silveira Lourenço, ma-rítimo (23-8-1752;+ depois de1838)

5- Isabel Silveira (13-2-1760 a 12-9-1843)

(3) - 6- Manuel Silveira Soares (+ 14-4-1821)

7- Ana Joaquina (natural da Ilha deS. Jorge - + 19-1-1824)

4ª Geração- BISAVÓS

(4) - 8- Lourenço Silveira, marítimo(+2-3-1790)

9- Ana Vieira (+ depois de 1-5-1756)(5) - 10- Pedro Silveira (+ 16-2-1779) 11- Ana Maria Micaela (+ 20-11-1788)(7) – 14- Mateus Silveira de Sousa (na-

tural de S. Jorge?) 15- Catarina Maria (natural de S. Jor-

ge?)

Verificamos que os ascenden-tes conhecidos de José SilveiraSoares eram marítimos (emboraos registos não nos informem so-bre a profissão do pai admitimosque também o fosse) e residen-tes no lugar de Santa Cruz, o lu-gar da freguesia mais favorávelàs fainas do mar. A avó Ana Joa-quina era natural da Ilha de S.Jorge, ilha tocada frequentemen-te pelos marítimos das Ribeiras.

Tratar-se-ia de uma famíliapobre a avaliar pelo volume desufrágios por óbito dos seusmembros.

No dia 22 de Janeiro de 1902faleceu na freguesia das Ribei-ras, Maria Júlia Soares, de 17anos, casada. Tratava-se de umasituação muito pouco comum.Maria Júlia havia casado aos 15anos, segundo a informação dopároco (não conhecemos o seuregisto de nascimento), quandoa idade média ao primeiro casa-mento na década de 1900 na fre-guesia foi de 24 anos e meio paraas mulheres. A morte surpreendê-la-ia antes de deixar descenden-tes.

1ª Geração - SUJEITO

1- Maria Júlia Soares (1885 a 22-1-1902)

2ª Geração – PAIS

(1) - 2- Manuel Francisco Cabral, ma-rítimo (23-2-1861 a 1893), deSanta Cruz

3- Rosalina Inácia (23-8-1862 a 2-7-1928)

3ª Geração - AVÓS

(2) - 4- José Francisco Cabral, maríti-mo (16-10-1829 e + antes de 6-9-1905), de Santa Cruz

5- Bárbara da Conceição (22-3-1836a 6-9-1905)

(3) - 6- Manuel Joaquim (19-4-1810;+ depois de 23-8.1862), de San-ta Cruz

7- Maria Úrsula de Brum (natural deS. João; + 11-2-1912)

4ª Geração - BISAVÓS

(4) - 8- José Francisco Cabral, maríti-mo (21-6-1800 a 3-2-1850), deSanta Cruz

9- Maria Josefa (1807 a 30-3-1896)(5) - 10- Manuel Silveira Cardoso (11-

8-1796 a 5-10-1889), de SantaCruz

11- Maria das Candeias (14-5-1801 a31-8-1866)

(6) - 12- Manuel Joaquim Silveira (2-7-1785 a 18-2-1856), de SantaCruz

13- Delfina Rosa (4-10-1780 a 11-7-1850)

(7) – 14- Incógnito 15 – Antónia de Brum (natural de S.

João)

5ª Geração - TRISAVÓS

(8) - 16- Matias Francisco Cabral, ma-rítimo (21-2-1776; + depois de22-12-1810), de Santa Cruz

17- Maria Silveira (29-2-1779 a 19-3-1833)

(9) - 18- Manuel Francisco Costa (1-10-1776 a 07-2-1852), de SantaCruz

19- Bárbara Josefa (29-4-1775 a 1-10-1853)

(10) - 20- Manuel Silveira Lourenço (+7-10-1827), de Santa Cruz

21- Isabel Silveira (13-12-1760 a 12-9-1843)

(11) - 22- Manuel Machado Jorge Gon-çalves (15-3-1755 a 20-11-1841), das Pontas Negras, pro-prietário

23- Maria das Candeias (16-6-1782 a1002-1838)

(12) - 24- João Silveira de Sousa, ma-rítimo (21-5-1763 a 25-12-1838),de Santa Cruz

25- Isabel Francisca (6-7-1764 a 31-5-1836)

(13) - 26- Manuel Pereira da Silveira(8-5-1750; + depois de 16-1-1820), de Santa Cruz

27- Maria Jacinta (1750 a 16-1-1820)

6ª Geração - TETRAVÓS

(16) - 32- José Francisco Cabral, ma-rítimo (4-9-1754 a 28-4-1799), deSanta Cruz, muito pobre

3.º CASO

6 neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002

falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

33- Maria Cardosa (17-11-1750 a 16-9-1848)

(17) - 34- Manuel Francisco Vieira (+7-9-1818), de Santa Cruz

35- Isabel Silveira (10-11-1743 a 28-11-1807)

(18) - 36- José Francisco (14-2-1738a 2-2-1805), de Santa Cruz

37- Isabel Francisca (natural das La-jes; + 27-11-1819)

(19) - 38- Domingos Francisco (19-4-1735 a 6-7-1797), de Santa Cruz

39- Josefa Brígida da Conceição (15-3-1747 a 5-3-1818)

(20) - 40- Lourenço Silveira, marítimo(+ 2-3-1790), de Santa Cruz,muito pobre

41- Ana Vieira (+ depois de 1-5-1756)(21) - 42- Pedro Silveira (+ 16-2-1799) 43- Ana Maria Micaela (+ 20-11-1788)(22) - 44- António Machado Gonçal-

ves (+12-11-1780), das PontasNegras

45- Maria Clara (+ 1-3-1812)(23) - 46- Domingos Homem Jorge

(15-4-1728 a 22-12-1807), dasPontas Negras, proprietário

47- Bárbara da Conceição (11-5-1758; + antes de 7-11-1822)

(24) - 48- Sebastião Homem da Sil-veira (+ 24-10-1772), de SantaCruz, muito pobre

49- Domingas Silveira (+ 1-10-1779)(25) - 50- Manuel Silveira Pimentel (+

18-10-1805) 51- Maria Francisca (+ 14-4-1791)(26) - 52- Manuel Pereira da Silva (+

28-4-1783), de Santa Cruz 53- Luzia Silveira (+ 1-7-1768)(27) - 54-Sargento Manuel de Brum

(+ 15-4-1803), das Pontas Ne-gras, proprietário

55- Maria Francisca (+ 17-5-1807)

7ª Geração – QUINTOS AVÓS

(32) - 64- Incógnito 65 – Bárbara de S. José(33) - 66- António Vieira Monteiro (+

18-5-1793), de Santa Cruz 67- Maria Cardosa (+ 14-10-1759)(34) – 68- António Vieira Fernandes

(naturalidade desconhecida; +depois de 16-10-1773)

69- Isabel Pereira (naturalidade des-conhecida; + depois de 16-10-1773)

(35) - 70- Manuel Silveira Soares, ma-rítimo (+ 28-3-1776), de SantaCruz

71- Maria Silveira (+ 30-8-1744)(36) - 72- Manuel Francisco (+ 20-10-

1772), de Santa Cruz 73- Maria Dutra (+ depois de 20-10-

1772)(37) – 74- João Machado (das Lajes;

+ depois de 11-2-1772)

75- Maria do Rosário (das Lajes; +depois de 11-2-1772)

(38) - 76- Francisco Rodrigues Valim(+ 20-9-1764)

77- Bárbara Ferreira (+ 11-8-1737)(39) - 78- Manuel Silveira Carauta (+

22-3-1780), do Caminho de Cima 79- Brígida da Conceição (+ 14-12-

1756)(46) - 92- Sargento Mateus Jorge da

Silveira (+ 21-3-1750), das Pon-tas Negras, proprietário

93- Maria das Candeias (+ 23-12-1764)

(47) - 94- Francisco José da Silveira(+ 27-3-1788), das Pontas Ne-gras

95- Maria Silveira (+ depois de 1838)(52) - 104- Manuel Pereira da Silveira

(+antes de 7-5-1718), de SantaBárbara

105- Maria Vieira (+ 6-4-1763)(54) - 108- Manuel de Brum (+ 1-9-

1736), das Pontas Negras, pro-prietário

109- Clara Silveira (+ 26-12-1761)

8ª Geração – SEXTOS AVÓS

(71) – 142- Manuel Rodrigues (+ de-pois de 17-2-1716)

143 – Bárbara Silveira (+ depois de17-2-1716)

(72) - 144 – Domingos Ferreira (+ de-pois de 17-2-1716)

145- Francisca Alves (+ depois de 17-2-1716)

(92) - 184- Mateus Jorge (+ antes de21-10-1714)

185- Isabel João (+ antes de 21-10-1714)

(93) - 186- Domingos Homem Rama-lho (+ depois de 21-10-1714)

187-Águeda Silveira (+ depois de 21-10-1714)

(104) - 208- Francisco Pereira da Sil-veira (+ antes de 25-8-1698)

209- Águeds (+ depois de 25-8-1698)(105) - 210- Roque Fernandes (+ de-

pois de 25-8-1698) 211- Maria Vieira (+ depois de 25-8-

1698)(108) - 216- Capitão Sebastião Silvei-

ra (+ depois de 29-5-1713) 217- Maria Bettencourt (+ antes de

29-5-1713)(109) - 218- Francisco Goulart (+ an-

tes de 29-5-1713) 219- Clara Silveira (+ depois de 29-

5-1713)

É interessante acompanhar agenealogia de Maria Júlia. Dosseus 90 ascendentes conhecidos,

identificam-se, além dos pais, os4 avós e 7 bisavós ( a avó MariaÚrsula de Brum era filha naturalde uma mulher de fora, com paiincógnito). Na sequência conhe-cemos 12 trisavós e 24 tetravós.Na geração dos quintos avós iden-tificamos 24 indivíduos e 16 ou-tros na geração dos sextos avós.

Verificamos que os ascenden-tes mais próximos de Maria Júliasão todos do lugar de Santa Cruz,sendo a actividade dominanteentre os homens a de marítimo,com denunciada homogamia.Gente pobre, na generalidade. Noentanto, na geração dos trisavósjá encontramos um casal de pro-prietários do lugar das PontasNegras. Na geração dos tetravóso leque abre-se mais e a par decasais muito pobres do lugar deSanta Cruz, encontramos propri-etários abastados do referido lu-gar das Pontas Negras. É o casodo sargento Manuel de Brum (nº54), que teve por sua alma 320missas. Na geração dos quintosavós é também o caso do Sar-gento Mateus Jorge da Silveira(nº92), que foi acompanhado àsepultura por seis religiosos doConvento de S. Francisco da vi-zinha Vila das Lajes, sinal inequí-voco de prestígio social. Suamulher, Maria das Candeias (nº93), além do acompanhamento domesmo número de religiosos, tevepor sua alma 250 missas, númeromuito elevado no contexto dafreguesia. Um sexto avô de Ma-ria Júlia era o capitão das milíci-as Sebastião Silveira, que supo-mos do lugar das Pontas Negras.

Os três casos analisados dosfalecidos no mês de Janeiro de1902 na freguesia das Ribeirasatraem-nos para a riqueza doestudo da reprodução social emtrajecto multissecular, em deba-te com o que poderíamos cha-mar de lotar ia dem ográfica.

neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002 7

Um recente voto da UNESCOclassificava como PatrimónioMundial o mais singular trecho dapaisagem duriense que o traba-lho do Homem, a única ferramen-ta que Javé lhe confiou aoexpulsá-lo do paraíso, modelou aolongo de tantas gerações que segastaram em sangue e suor paratransfigurarem um pedaço de ter-ra, novamente, em Jardim de De-lícias plantado de oliveiras e vi-nhedos.

Mais longe, candidata-se ago-ra a semelhante estatuto outrapaisagem de vinhedos construí-da na Ilha do Pico, jeito de ilha“afortunada” no imaginário destepovo sempre em viagem por to-dos os mares.

Impossível paisagem estaconstruída desde o seu princípio,há quinhentos anos, entre a ser-ra e o mar, a sul e a ocidente daesplendorosa montanha, o Pico,que se levanta, poderoso comoum Deus estranho e antigo, mansopor um tempo em seu altarhumedecido ainda com o vinhodos sacrifícios.

Um manto verde de faias e deincenso cobre-o a meia encosta.Mais alto é o verde das pasta-gens onde branquejam gados deleite. Depois é a terra queimadasubindo a pique, uma indescritívelpaisagem de sombra e de luz, depoéticas mas gigantescas que-bradas

de areias arroxeadas pelo nas-cer do sol, de coroas de nuvens

falando de património Alberto Correia

1 – Uma “Liturgia da recordação”

brancas que brincam, a espaços,sobre os ombros do vulcão queoutras vezes se veste de neveou se esconde em densas nebli-nas.

Cá em baixo é então o terri-tório humanizado. Um territórioque os homens conquistaram apalmo.

Enterraram sementes e esta-cas e esperaram o desabrochardos grãos, o florescer das varas,esperaram o nascimento dosvitelos com a mesma esperançacom que viam crescer o ventredas mulheres e o nascer de umacriança.

Calhou que o jeito dos homense o jeito da terra se combinarame em breve as vinhas cobriam umsolo lavrado quase desde a beirado mar onde as hastes tenras dasvides se enterravam nos bura-cos abertos no lagido.

Multiplicaram-se os homens e

a área dos vinhedos ganhou abase toda da montanha. Os ho-mens tiveram apenas que defen-der dos ventos as cepas e o seuengenho inventou então a tipo-logia dos currais, cercados mi-núsculos de paredes levantadascom a lava quebrada, umreticulado sem fim que, visto docéu, se parece com um fantásti-co labirinto.

Milhões de pedras, milhões degestos, corredores de muros quedariam a volta ao mundo duasvezes como os braços dos ho-mens, das mulheres e das crian-ças das gerações a que perten-cem os homens de hoje, aquelesque agora se dobram sobre umamemória, cumprindo um rito, ce-lebrando uma “liturgia de recor-dação”.

Mais do que a geometria doscurrais onde os vinhedos se man-têm verdes, mais do que a me-lancolia dos mortórios deixadospela filoxera, é a memória do tra-balho que se quer celebrar, sãoos gestos dos homens que sereinventaram, é a festas das vin-dimas que se sente, o cheiro domosto nas adegas de Outono, oscorações dos homensalvoraçados porque o pão e o vi-nho se estendem fartos sobre amesa, e os filhos riem, e a ilhasolitária é, enfim, “ilha afortuna-da”, tal qual os primeiros mari-nheiros sonharam que havia as-sim ilhas dentro do mar. •

8 neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002

investigador apresenta-se Elisabete Pinto

NOME: In ês Martins d e Fa riaIDADE: 45 anos

NATURALIDADE: Es pos end eACTIVIDADE PROFISSIONAL: Profes s ora d o Ens ino S ecund ário, naEs cola E.B. 2 º e 3 º ciclos Ros a Ram alho, d e Barcelinhos

A Investigação enquanto gosto pelo saber

O “gosto por saber coisas” quenão sabia empurrou-a para ainvestigação. Licenciada emHistória e Ciências Sociais -Formação de Professores, InêsFaria teve o seu baptismo nadocênciano ano lectivo de 1981, naPraia da Vitória, na Ilha Terceira.Desde 1992 exerce a suaactividade de professora emBarcelinhos, no concelho deBarcelos. Durante vários anos, avocação de investigadora foisuplantada por uma prioridademaior: acompanhar o crescimentodos filhos e vê-los ganhar algumaindependência. No ano de 1994ingressou no Mestrado sobre asrelações de Portugueses com oBrasil, na Universidade do Minho,que escolheu porque “tinhavontade de saber coisas que nãosabia sobre portugueses ebrasileiros, especialmenteporque na minha família pairavaum grande silêncio, tipo buraconegro, relativamente aos meusavós e alguns tios paternos, o quemuito condicionou o percurso domeu pai e, por consequência, omeu”. Ainda hoje não duvida quetenha feito a escolha certa,“apesar de ter descoberto muitasmais novidades sobre osportugueses do que sobre osbrasileiros”.

Na sua dissertação de mestradotrabalhou a paróquia de Barce-linhos, o espaço de ambienteurbano-rural onde ainda hojeexerce a sua actividade profis-sional. Interessada pelo estudodos percursos de vida dosindivíduos e das colectividades, epartindo da percepção de que ageneralidade dos trabalhos depesquisa desenvolvidos em terrasminhotas se debruçavam sobrepequenas comunidades rurais,“percebi que me seria gratificantecontribuir com o estudo de

Barcelinhos, nem pequenacomunidade, nem estritamenterural”, seguindo os indivíduosdesde que apareciam nos registosparoquiais até à saída de cena, porvia da morte ou da emigração. Asdificuldades não a fizeram hesitarno caminho a seguir, porque nuncater gostado de “vida fácil”.

O que mais a fascina naactividade de investigação é “ocontacto directo com as fontes daverdade da História. A cada novafonte que me chegava às mãos,depois dos pés terem calcorreadomuitas estradas, nascia em mimuma força diferente, renovada,sobretudo porque tive apreocupação de não as tratar demodo unicamente estatístico,tendo deixado na monografiapublicada as leituras que fiz doredactor e da época em que foramredigidas”. Na sua opinião, esteterá sido o “principal contributoinovador”, do trabalho queconcluiu em 1997, ao qualacrescenta as suas contribuiçõesrelacionadas com a mortalidadeinfantil dos séc. XVII e inícios deXVIII, num território onde oshistoriadores portugueses sedeparam sistematicamente comobstáculos intransponíveis, porausência de fontes, uma vez queos registos de óbitos de criançasnão eram obrigatórios. É por essemotivo que, no que se refere aosresultados que obteve, atribui o“primeiro mérito” aos párocosque fizeram os registos neces-sários. Os dados que obtevepermitiram-lhe concluir que, noespaço que estudou, “a morta-lidade infantil rondava os 120 pormil e que era relativamente baixaquando comparada com a conhe-cida para algumas localidades daEuropa do Sul, para a IdadeModerna; e que a esperançamédia de vida, à nascença, era de

40,7 anos para os homens e de43,2 anos, para as mulheres”.

A minúcia com que estudoutodos os documentos quecompulsou, permitiu-lhe estudar aquestão da alfabetização, tanto nomomento do casamento como naemigração, bem assim comoaprofundar a observação defenómenos como a ilegitimidade ea exposição de crianças, que emBarcelinhos atingia valoreselevados por efeito da proximidadeda Roda de Barcelos.

Inês Faria considera que o seupercurso de investigadora constituiuma inegável mais-valia nos seushorizontes profissionais, uma vezque contribui para melhorar a suarelação pedagógica com os alunos,“porque saber como se faz aHistória ajudou-me a ensiná-losa fazerem a História que precisamde saber fazer”.

Não sentindo qualque inclinaçãopara prosseguir com uma carreirade natureza centífica, ainvestigadora confessa, noentanto, que se sente“vocacionada a continuar aformar juízos pessoais sobre agente que fomos e somos”,através da investigação quecontinua a fazer após a dissertaçãode Mestrado.

Presentemente, dedica-se aoestudo da documentação relativaà vida de uma comunidade rural, afreguesia de Curvos, a terra que aviu nascer e crescer, no Concelhode Esposende. Em relação a estenovo projecto, sente que “será umtrabalho feito por amor, comgrande diversidade de fontesconsultadas, que chego a sentir-me desejosa e incapaz de chegarao fim, sobretudo porque mevejo obrigada a parar muitasvezes o trabalho nesta área, porforça do trabalho relativo à Escolae aos alunos”.

neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002 9

apontamentos de investigação Inês Martins de Faria

Pelo estudo do Livro das Visi-tas Pastorais, adquire-se umavasta gama de informações pre-ciosas que muito contribuem para,em cruzamento com as fontesmais comuns da Demografia His-tórica, um maior conhecimento davida das paróquias dos tempospassados.

Sabemos que a generalidadedas normas a cumprir, deixadasnas Visitas Pastorais, eram co-muns a todas as paróquias decada Diocese, sendo tal factonotório nas recomendações deque cada pároco copiasse a or-dem para o livro próprio, numtempo determinado, que podia irde duas horas a alguns dias, con-forme os casos, e enviasse o ori-ginal da mesma à paróquia se-guinte, segundo o roteiro pré-estabelecido.

Tendo explorado ultimamenteo livro existente das Visitas Pas-torais, entre 1761 e 1833, à pa-róquia de Curvos, Concelho deEsposende, Arquidiocese de Bra-ga, com alguns documentos an-teriores, pudemos obter grandesquantidades de informações re-lativamente a vários sectores davida paroquial, a saber: organi-zação do espaço físico, compor-tamentos do povo (tanto na Igre-ja como nos trabalhos quotidia-nos), formação religiosa dos lei-gos, sacerdócio (acesso, perma-nência e formação; indumentária;comportamentos na Igreja e foradela), escândalos públicos, ques-tões funcionais da Igreja (livros,confrarias, bens da Igreja, cele-brações religiosas), questõesdoutrinais sobre as quais se deveinstruir o povo (notando-se al-guma mistura entre assuntos denatureza explicitamente religiosae outros de natureza política),obras na Igreja, adro, residênciae capelas. Além destes, outrosassuntos dispersos se vêem abor-dados, esporadicamente, median-

AS VISITAS PASTORAIS NUMA PARÓQUIA MINHOTAS. Cláudio de Curvos, concelho de Esposende

1761 – 1833te o decurso dos acontecimen-tos.

Dada a grande quantidade ediversidade de assuntos possíveisde apresentar, a nossa opção le-vou-nos a alguns daqueles quepodem ser comuns a várias pa-róquias, deixando para outrasapresentações os mais específi-cos da paróquia estudada. As-sim, foi a vida da paróquia, rela-tivamente a comportamentos dopovo e dos eclesiásticos, que nosmereceu este esforço de sínte-se.

Na Igreja, logo que o sino des-se o sinal para o início da missa,da doutrina ou do catecismo,todo o povo tinha de entrar. Fi-car no adro era o mesmo que su-jeitar-se a penas pecuniárias oua ver-se “evitado” da Igreja. Fi-car às portas era também de evi-tar, pois se impediam de entrarna Igreja as pessoas de “melhorreligião” e as multas começarama pesar, tanto para os prevari-cadores como para quem as de-via cobrar, se o não fazia.

Uma vez dentro da Igreja, ho-mens separados das mulheres, o

povo devia estender-se pelo cor-po da igreja, nunca se encostan-do aos altares. A posição acon-selhada era sentados nos ban-cos, nunca nos supedâneos dosaltares nem com as costas vol-tadas para eles, pois, se assimse instalassem, era para conver-sar ou dormir e não prestar aten-ção. Os homens deviam mantera cabeça descoberta, não poden-do usar coifas ou redes na cabeçae todos deviam estar em silêncio,salvo na altura dos peditórios, emque era permitido algum sussurro.Na altura da comunhão, aindaque fosse domiciliária, ninguémpodia estar descalço ou com“vestidos indecentes”.

Quem ficasse no adro, paraalém das penas a que estava su-jeito, não podia conversar nemfazer corrilhos, nem junto às suasentradas, antes ou depois damissa, de modo a não perturbaras celebrações.

Havendo procissões, ninguémpodia faltar nem tão pouco ficarna Igreja, se se tratasse da pro-cissão dos defuntos. Tambémnelas os homens iam separadosdas mulheres.

Por necessidade de controlara vida nocturna, em 1797 ficoudeterminado que a igreja deveriafechar-se ainda de dia, o maistardar até à hora da Trindade.Esta era uma determinação maisantiga, pelo menos do séc. XV1 ,tendo-se, por vezes, como em1742, deixado, excepcionalmen-te, que as procissões da Sema-na Santa se pudessem fazer denoite.

Como conciliar os trabalhos docampo, a fazer pelas noites den-tro, momentos de ajuda entrefamílias e vizinhos, com as de-terminações da Igreja, que proi-bia ajuntamentos não domésti-cos de homens e mulheres du-rante a noite? Eram as fiadas,

10 neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002

apontamentos de investigação Inês Martins de Faria

espadeladas, desfolhadas e asidas aos moinhos, entre outros.As penas para os infractores eramaplicáveis aos responsáveis pe-los trabalhos e ainda às mulhe-res que neles participassem. Mas,pelo avolumar de determinaçõesa esse respeito, sabemos que ostrabalhos sempre se iam realizan-do com os necessários ajunta-mentos, ainda que muitos se re-alizassem de dia.

Temos por certo que o agri-cultor era também o carpinteiroe pedreiro e demais artes neces-sárias à sua vida. Sabendo queno campo se trabalha mais ao rit-mo das chuvas e dos sóis do quede qualquer calendário, seriacompreensível que em alguns diassantos e feriados fosse muito im-portante trabalhar. Em 1790, vi-mos surgirem proibições nessesentido, bem como as penas a

aplicar: duzentosreis pela primeiravez, quatrocentos,pela segunda, equinhentos e mais,se continuassem atrabalhar. O mesmopara vendeiros e co-merciantes em geral,aplicando-se as mai-ores destas penas,chegando mesmo,em 1797, a acres-centar-se a pena deexcomunhão, casonão se tratasse deprodutos de primei-ra necessidade, asaber: pescado fres-co para comer ouvender, todos osprodutos necessári-os para um funeral,tabaco, drogas in-dispensáveis pararemédio para aqueledia ou seguinte, ve-las, lenha para co-zinhar e material deescrita – papeis,

canetas e tintas. Claro está queestes trabalhos só podiamrealizar-se depois de ouvir missa.

Para que os dias santos o fos-sem inteiramente, em 1808, foiproibido jogar à bola em tais dias,por causa da “ruína espiritual”que daí resultava. Ou seja, na-queles dias, nem trabalho nemdistracção, só oração.

A vida privada era igualmenteregulada pela Igreja. Desde 1792,vimos que era obrigatório denun-ciar os esposados que tivessemcopulado antes do matrimónio,fazendo parte dos pecados pú-blicos que o pároco devia denun-ciar aos ministros próprios. Oscasais separados sem licençasuperior não se podiam admitir aossacramentos, a menos que nãodessem escândalo e se as cau-sas fossem notórias e reconhe-cidamente legítimas. Sendo ca-sais desconhecidos na freguesia,os párocos deveriam obrigá-losa que apresentassem certidõesdo seu matrimónio. Tratando-sede mulheres grávidas, solteiras ouviúvas, de outras freguesias queali vinham ter os filhos, “conser-vando assim a reputação entreos seus” e sabendo que era im-portante manter o sigilo preten-dido para que, numa próxima gra-videz, a mulher não procurasseabortar, os párocos teriam demanter o sigilo, tratando, claroestá, de mulheres “bem reputa-das”. No caso de uma pessoa de“mau proceder” ter vindo de forada freguesia, o pároco deveriaconseguir que ela voltasse à desua naturalidade, em seis dias,sendo posteriormente proibida deassistir aos ofícios divinos e con-denada em quinhentos reis, compossibilidade de se agravar apena até dois mil reis, extensivaa qualquer pessoa que lhe desseasilo ou alugasse casa. Era umadeterminação de 1825. Nos ca-sos públicos de incesto,

concubinato e lenocínio, depoisde admoestadas, multadas oucensuradas, em 1767 determina-ra-se que as pessoas poderiampedir o perdão dessas condena-ções. Nos dois primeiros casos,antes de lhe ser dado o perdão,o pároco deveria tratar de co-nhecer o procedimento dos su-plicantes naquele momento e aemenda que tivessem mostrado,o perigo da reincidência em quese achavam, estudando-se o lu-gar de residência dos envolvidose o verdadeiro estado de suapobreza, se esta fosse alegadapara o perdão das multas. No úl-timo caso, só seria necessárioaveriguar pelos vizinhos ou porquem pudesse informar sobre aemenda que as pessoas teriammostrado e também sobre a suapobreza.

Sabendo da pequenez de al-gumas habitações ou da exigui-dade do seu espaço e tendo emconta o número dos seus ocu-pantes, em 1762 ficara a ordempara que os párocos convences-sem os pais e mães a não deixa-rem dormir os filhos consigo, paraque o leito conjugal não se tor-nasse “escola de lascívia”.

Para além destas recomenda-ções e reprimendas a fazer aopovo, o pároco era obrigado aeducá-lo, desde crianças. Tinhade ministrar a doutrina às crian-ças, desde pequeninas, “acom o-dada à docilidade de cada um”,habilitando-as para a recepçãodos sacramentos. Caso nãoaprendessem, não podiam ser ad-mitidas à Comunhão. Pelo menosdesde 1742 que os párocos eramobrigados, em todos os domin-gos e dias santos, a ler e a expli-car o catecismo a crianças eadultos, pelo menos durantequinze minutos: actos de fé, es-perança e caridade, contrição eatrição, e chamá-los à frequên-cia da Confissão e à devoção

As visitas pastorais numa paróquia minhota

neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002 11

quotidiana a Maria santíssima.Todos os paroquianos eram obri-gados a mandar os seus filhos,criados e escravos para estassessões de catecismo, ao menosuma pessoa de cada casa. Mas,muitos deles, depois do seu re-gisto no rol, saíam da igreja semesperarem a doutrina. Como re-sultado, em 1767, considerava-se que a “ignorância que reinaacerca das verdades da religião”,era também devida ao “poucozelo e muito descuido” de muitospárocos “menos atentos aos in-teresses de Jesus Cristo do queaos seus próprios”. Parece-nosque os párocos eram impotentespara levarem a bom termo as suasobrigações, quer fosse por inabi-lidade pessoal, quer por fuga dosparoquianos. Em 1825 vemos es-crito, de novo: “responsabiliza-se para diante de Deus, e sobpena pecuniária, a cada um dospárocos pelas omissões de nãoensinarem em todas as estaçõesde suas missas conventuais aseus fregueses e meninos, os ar-tigos da doutrina cristã, ao me-nos por espaço de um quarto dehora antes ou depois do cate-cismo”. Notámos que a obrigato-riedade do ensino se manteve,embora o momento da aplicaçãoda doutrina se tivesse alteradoao longo dos tempos: ora de tar-de ora na missa conventual, massempre aos domingos e dias san-tos, com reforço na Quaresma.

Aos confessores, seculares eregulares, era proibido dar a ab-solvição dos pecados se os pe-nitentes não soubessem a dou-trina necessária. Mas podiamdar-lhes um prazo para a apren-dizagem da mesma. No entanto,nada disto se aplicaria se o peni-tente fosse pessoa “notoriamentedouta e bem instruída”.

Devemos também lembrar que,tal como a vida dos leigos, tam-bém a vida dos eclesiásticos era

vigiada e regulamentada comigual força. Deviam ter o cuidadode não provocarem escândaloscom os seus procedimentos, casocontrário, perderiam as suas li-cenças de celebrar, pregar ouconfessar, o que os párocos dafreguesia deviam vigiar e contro-lar. Os eclesiásticos “pública ouescandalosamenteamancebados”, seriam proibidospelos párocos de usarem as suasordens. Esta proibição, surgidaem 1761, incluía, pelo menos, oconfessar e o pregar. Tratando-se de mancebia com alguma dassuas paroquianas, desde que seprovasse legitimamente o “tratoilícito”, o eclesiástico deveria serlogo (a partir de 1792) pronunci-ado para livramento ordinário e,por sentença, condenado a seismeses de exercícios na Casa daCruz.

Para não caírem nestas situa-ções, desde 1742 que se reco-mendava aos eclesiásticos quetodos os anos fizessem os exer-cícios espirituais de Santo Ináciode Loyola, como havia recomen-dado o Papa Bento XIV, na suaBula “Ubi pr im um placuit” de 3de Dezembro de 1740, ou seja,deviam fazer retiro. Além disso,determinava-se que nenhum ecle-siástico tivesse consigo criadasou escravas, nem outra mulhercom menos de cinquenta anos deidade, ainda que fossem filhas oumulheres de alguns criados seus.Os que as tivessem deviamdesfazer-se delas e também pôrfora os filhos ilegítimos. Mas, sena casa houvesse mais famíliafeminina, mãe ou irmãs, estaspoderiam ter criadas de menosde cinquenta anos, desde quefossem de boa fama.

Ainda com o objectivo de aju-dar à diminuição dos escândalosdos eclesiásticos, na mesma datase proibiram de andar de noitetocando viola ou outro instrumen-to, bem como de irem aos se-

rões, sob pena de suspensão ede vinte cruzados de multa.

Entrado o séc. XIX, novos de-safios se colocaram aos intelec-tuais e, de modo geral, a todos.Assim, na Pastoral de 20 de Abrilde 1800, recomendava-se viva-mente que os eclesiásticos nãose atrevessem a defender, apoi-ar ou aplaudir os “sediciosos prin-cípios do Filosofismo” ou mesmoa ler panfletos ou livros com asmesmas ideias ou ainda a fre-quentar botequins ou casas dejogo, devendo os infractores se-rem denunciados. Além de outraspenas, seriam reclusos no semi-nário ou na Casa da Cruz, parafazerem exercícios espirituais pelotempo que lhes fosse determina-do.

Em simultâneo, os párocos de-veriam instruir o seu povo tam-bém “nas vanta-gens do governoque Deus foi ser-vido dar aos nos-sos pais”. Apela-se à fidelidade esujeição com quese deve obedecerao soberano e atodos os magis-trados, respeitan-do as leis políti-cas, enobrecendoa liberdade decada um, “a qualnão consistecomo pensa o li-bertino”.

Também osmodos de vestir ecalçar dos eclesi-ásticos demons-travam ou não asua “pureza inte-rior” – dizia-se naPastoral de 1742.Os clérigos inMinoribus e ostonsurados

apontamentos de investigação Inês Martins de Faria

As visitas pastorais numa paróquia minhota

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deviam usar a capa e batina talarde baeta preta ou crepe, mas nãode seda; nos lugares menospopulosos podiam usar garnachasou roupetas pretas, um tantomais curtas. Como adornos, nãoeram permitidas fitas nas camisasnem pedras falsas nemverdadeiras nas fivelas dossapatos. Continuamente seapelava ao uso de vestuário con-dizente com a situação. Assim,por 1763, recomendava-se quenos actos religiosos, os eclesi-ásticos vestissem sotaina debaeta preta e cabeção no pes-coço; no entanto, depois de1767, se estivessem a confessare não estando mais de nove pes-soas na igreja, podiam não usaro hábito talar. Por 1773, nos ofí-cios de defuntos, o desejável eraque os eclesiásticos se vestis-sem com sobrepelizes limpas ebarretes. Em 1792, o Visitador foimais longe: deixou dito que ohábito desejado para os eclesi-ásticos não podia ser a beca semmangas; isto só “um impruden-te” se atreveria a usar, no de-sempenho das suas funções...Referia, então, que os vestidosdos eclesiásticos deviam, “peladecência da cor e da forma”,manifestar, logo à primeira vista,“a gravidade e pureza dos cos-tumes que devem ornar umagente santa e singularmente es-colhida”. Nunca os eclesiásticospoderiam contribuir para “confun-dir-se com o mundo profano einsensato”, quer nas “feições in-ternas”, quer nas “exteriores evisíveis”. Era um apelo ao aban-dono do luxo e fatuidade de mo-das do século. Negava-se o usodeste “odioso secularismo” noschapéus, fivelas, gravatas, chi-tas e outras cores de vestido quenão seja preto escuro. Concluin-do, só poderiam usar cabeção ehábito talar de cor preta, fecha-do à frente, dentro ou fora daIgreja.

Em 1812, de novo se lembra-va aos eclesiásticos o modo comose deviam vestir para assistir aosofícios divinos. É que alguns, che-gavam “ao escandaloso excessode lançarem as suas superlizessobre capotes ou vestidos secu-lares e de celebrarem o tremen-do sacrifício da missa calçadosde botas e sem hábito talar”. Es-tes reparos foram repetidos em1825, acrescentando-se entãoque, além de capotes ou casa-cas debaixo das sobrepelizes,também usavam “polainas, socosou pantalonas à vista” e até bo-tas e meias brancas. Estipula-vam-se “mais severos castigos”a aplicar, quer aos prevaricado-res quer ao pároco responsávelpela paróquia, caso este não osdenunciasse atempadamente oumesmo se fosse a sua “frouxatolerância” a causa dos abusos.

Quanto ao calçado, foi lem-brado, repetidamente, durante asegunda metade do século de-zoito, que era proibido aos ecle-siásticos usar tamancos nas ce-lebrações e nos ofícios divinos ede defuntos.

Quanto aos cabelos, vimosque, em 1739, se proibiram o usode pentes e de topetes e, em1742, os polvilhos. Em 1767, ta-belava-se o comprimento doscabelos, que nunca poderiam sercompridos, nem as coroas muitodiferentes do que determinava aConstituição.

Desde 1765 que vimos dar-seaos eclesiásticos oportunidade dese formarem, para poderem es-tar preparados para melhor ins-truírem e dirigirem o seu povo.Estabeleceram-se, para isso, asConferências Morais, a que ne-nhum clérigo poderia faltar, se-manalmente, sem ser submetidoa julgamento ou à suspensão dasordens. À medida que os anospassavam, as exigências tambémaumentavam. Em 1825, já não

bastava estar presente, era pre-ciso que a sua frequência dasConferências fosse “festiva” eacrescentava-se que as certi-dões de frequência só deviam serpassadas aos que as mereces-sem.

Para além desta formaçãocontínua, em 1767, ficara tam-bém legislado que os sacerdotesdeviam praticar a Teologia Místi-ca, de modo convincente, sendosubmetidos a exame sobre estamatéria, e, a partir de 1792, tam-bém todos passaram a ser obri-gados a frequentar, dez dias porano, os exercícios na Casa daCruz.

Era também grande a preocu-pação dos Visitadores com oscomportamentos dos eclesiásti-cos durante as celebrações, so-bretudo nas missas e ofícios dedefuntos, e na execução de to-das as tarefas que lhes competi-am.

Para santificar bem os domin-gos e dias santos, segundo umbreve de 1748, o pároco deviacelebrar duas missas, a de ma-nhã e a conventual. No dia dosfiéis defuntos tinham de celebrartrês. No entanto, a qualidadetambém era de defender. Em1792, constatando-se a grandevelocidade com que se celebra-vam as missas, “com tanta fúriae rapidez que mais parece iremfugindo diante do salteador dasestradas”, lembrava-se que to-dos os sacerdotes atendessemum pouco à “terrível e veneranda”função que exercitavam junto dosagrado altar. É que para a missaforam estipulados “nunca menosde vinte minutos” e alguns páro-cos arrumavam a obrigação emmuito menos tempo, às vezes,com interrupções indevidas.

Morrendo alguém, estava ins-talado nas famílias, o hábito dedarem alimento aos seus visitan-

apontamentos de investigação Inês Martins de Faria

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tes, estando o corpo do defuntosobre terra. No intuito de acabarcom o “agasalho do povo”, a quea Igreja chamava de “abuso in-digno entre católicos de comer ebeber com gastos supérfluos emenos meritórios”, foi determina-da, em 1761, a pena de mil reispara os infractores, cujo rendi-mento seria aplicado em missaspelo defunto. Quanto aos eclesi-ásticos, em muitas destas cir-cunstâncias, muitos tentavamdeixar o local das cerimónias,antes do tempo devido, daí quea pastoral de 1762 veio obrigar aque permanecessem até ao finalda missa, sendo mandado que ospagadores dos ofícios só ajustas-sem as contas no fim, quandotodos se recolhessem à sacris-

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apontamentos de investigação autor

O Neps acaba de publicar umnovo volume da sua série de sé-rie de Cadernos, com uma sínte-se bibliográfica de Demografia His-tórica e a História das Popula-ções, em Portugal, organizadapela investigadora Maria OtíliaPereira Lage com a colaboraçãode Odete do Carmo Santos Soa-res, mestre em História das Po-pulações, e Ana Margarida Men-des Dias, bibliotecária. Com estapublicação, que surge na sequên-cia do I Encontro do NEPS, reali-zado em finais de 1999, os in-vestigadores em demografia his-tórica portuguesa passam a terao seu dispor um precioso auxili-ar de pesquisa.

Conforme faz notar a coorde-nadora da obra na sua introdu-ção, “o trabalho é constituído porum catálogo de notícias com 873entradas principais e 1202 refe-rências bibliográficas de um con-junto muito diversificado de do-cumentos e fontes para a Demo-grafia Histórica e a História das

NEPS edita bibliografia de Demografia Históricae História das Populações

Com a coordenação de Otília Lage

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tia. E, em 1763, avisavam-se oseclesiásticos que se não ficas-sem nas alas e lugares destina-dos durante todo o tempo quedurassem os ofícios e missa atéao último responso, que não lhesseria paga a esmola devida. Emais: que estivessem com “todaa gravidade, silêncio e modéstiacom que se deve reverenciar acasa de Deus, evitando práticassupérfluas e conversações alhei-as daquele lugar”. Mais tarde, em1797, acusavam-se muitos delesde recitarem de modo ligeiro ecom falta de devoção os ofíciosnocturnos pelos defuntos, dan-do a ideia a quem os chamava,de que assim agiam movidos peloespírito do lucro, avareza e am-bição. Eram também acusados de

se retirarem intempestivamenteantes de se enterrar o cadáver,faltando fazer a recitação daspreces respectivas. Pedia-se-lhes, então, que se comportas-sem de maneira que não exalas-sem o “mau cheiro de um cora-ção corrompido” e não profanas-sem os sagrados cânticos e ce-rimónias da Igreja.

(Livro de registo das Visitas Pas-torais a S. Cláudio de Curvos,1761-1833)

1 Informação colhida do Livro das Vi-sitações, de um documento doutri-nário, de 2 de Maio de 1765, doArcebispo D. Gaspar, sobre a “ins-tituição da Sagrada Eucaristia a 24de Março”.

Populações em Portugal, cobrin-do um arco temporal muito dila-tado. Predominam naturalmenteas notícias de estudos e textosde autores portugueses sobrequestões de demografia portu-guesa e história nacional na óp-tica ampla das populações. Mai-

oritariamente em língua portu-guesa, as referências selec-cionadas incluem tambémtrabalhos em língua estrangeirae textos de autores estrangeirossobre Portugal, bem como refe-rências a estudos relativos àssuas ex-colónias, com incidênciano período colonial”.

O repertório de referências bi-bliográficas que integram o volu-me é completado por um conjun-to de índices: autor, título, geo-gráfico (por localidade explicita-mente referida nos títulos), te-mático classificado e cronológi-co.

O trabalho agora editado peloNEPS tem como horizonte “a tor-nar-se numa ampla bibliografia omais sistemática e exaustiva pos-sível, através de futurasactualizações anuais”.

Neste número do BolertimInformativo publica-se o 1.ºsuplemento desta obra, com aprodução do NEPS de 1999 a2001.

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No passado dia 1 de Dezem-bro teve lugar, na Sociedade Mar-tins Sarmento, em Guimarães, asessão solene de entrega do“Prémio Alberto Sampaio”, ediçãode 2001, atribuído ao trabalhoHerança e Sucessão (Leis, prát i-cas e cost um es no Ter m o deBraga - séculos XVI I I - XI X) , deMargarida Durães.

Com a Mesa constituída peloPresidente da Sociedade, Dr.Santos Simões, pelo Prof. DoutorNorberto Cunha, membro do Júrie representante do mesmo, epela Eng.ª D. Emília Névoa, emrepresentação da família de Al-berto Sampaio, abriu a Sessão oPresidente da Instituição que dis-se do regozijo em pela primeiravez esta Casa organizar o Pré-mio e proceder à sua entregadepois de o mesmo já ter acon-tecido, nas duas edições anteri-ores, com as Câmaras de V. N.de Famalicão e de Guimarães.Referiu-se à personalidade dohomenageado, um dos mais pro-eminentes fundadores da SMS ehistoriador de prestígio reconhe-cido por todos. Seguidamente,usou da palavra, a Eng.ª EmíliaNóvoa que se referiu à figura dopatrono do prémio, AlbertoSampaio.

Em nome do Júri, o Prof. Nor-berto Cunha, debruçou-se emseguida sobre o trabalho do Júrie dos méritos da obra distinguida

numa alocução que significativa-mente intitulou: O ap e l oirresist ível da Histór ia Local, quea seguir transcrevemos:

“A história local desde há muitoque despertou a atenção dos in-vestigadores. Contudo, até háalgumas décadas atrás, poucoshistoriadores de profissão se lhededicavam, deixando essa tare-fa para os eruditos locais, co-nhecedores da realidade e decertos tipos de fontes.

A história feita por estes,como quase tudo na vida, apre-sentava verso e reverso. Por umlado, revelava alguns eventos e/ou monumentos mais destacados,privilegiando, como aliás a histó-ria geral então em voga, os deíndole política e militar ou tudoaquilo que fosse muito antigo. Poroutro, a história mais recente, asactividades produtivas, a distri-buição de bens e o quotidianoeram, frequentemente, “esque-cidos”.

Mais concretamente, a ofici-na ou a fábrica, a loja ou siste-ma de transportes, os costumes,o vestuário e o calçado não eramfocados ou, na melhor das hipó-teses, ocupavam um lugar secun-dário, face ao pelourinho, à igre-ja ou aos vestígios romanos ouárabes, já “enriquecidos” pelapatine do tempo. A própria me-todologia também enfermava de

limitações, próprias do “curioso”,sem formação específica comohistoriador. Basta folhear muitasdas monografias das nossas ter-ras para comprovar o que se aca-ba de afirmar.

Todavia, regista-se com agra-do que, sensivelmente no últimoquarto de século, passou a apa-recer um outro género de histó-ria, a que podemos chamar novahistória local. Com a multiplica-ção dos centros de ensino e in-vestigação na área da história, oaumento do número de investi-gadores e a necessidade de mui-tos destes terem de apresentar,para efeitos de provas académi-cas, trabalhos inéditos eactualizados, assiste-se a umacerta “explosão” da história locale regional.

A importância desta tem sidorealçada por vários autores e éhoje geralmente reconhecida.Com efeito, ela não só permiteavivar a memória, reforçar a iden-tidade das comunidades e valo-rizar o respectivo património,como constitui um complementoimprescindível da história geral,do pais ou mesmo de áreas maisvastas.

Como se pode ler num conhe-cido guia de história local, publi-cado em França (Guide del’Histoire Locale, dir. d’Alain Croixe Didier Guyvarcch, Paris, ed. duSeuil, 1990, p. 27-28), «Toda a

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Margarida Durães recebe o Prémio Alberto SampaioHerança e Sucessão no Termo de Braga - séculos XVIII-XIX)

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história local é micro-história li-gada aos pequenos factos, aoevento mínimo. Mas, ao mesmotempo, toda a história local é his-tória total. A ambição de umamonografia concelhia é delineara evolução dum território e deum grupo humano, desde as ori-gens até aos nossos dias».

Acontece que, mais recente-mente, com a “onda” da globali-zação, que parece tender a uni-formizar atitudes e compor-tamentos e a apagarespecificidades e diversidades, degrande riqueza história e cultu-ral, a história local aparece-nosreforçada, como uma espécie deâncora a que devemos recorrerpara consolidar as nossas raízeslocais.

Ora um dos bons exemplos detrabalhos, enquadrados no âm-bito da referida “nova história lo-cal”, é precisamente o apresen-tado pela Doutora Margarida Du-rães, intitulado

Herança e sucessão. (leis, prá-ticas e costumes no termo debraga (séculos XVIII-XIX).

Trata-se de um estudo desen-volvido (2 vols., totalizando 623p.), metodologicamente actuali-zado e bem elaborado, para o qualfoi consultado um avultado acer-vo documental e uma extensabibliografia. A ilustração cuidada,através da inclusão de um nú-mero substancial de quadros,cartas geográficas e gráficos,contribui significativamente paravalorizar e facilitar a interpreta-ção e compreensão do respecti-vo texto.

Dada a impossibilidade de, nasactuais circunstâncias, se darconta de toda a riqueza informa-tiva e interpretativa do estudoem causa, apenas se sublinha-rão alguns aspectos que nos pa-recem mais relevantes.

Em primeiro lugar, o ponto departida, o questionário, a partirdo qual a autora define, concre-tamente, os objectivos que pre-tendia alcançar. Fá-lo nas p. 22-23, do 1 vol, após recordar que“a história é uma maneira de pen-

sar todos os problemas das ci-ências sociais”.

Entre outras formula, então,as seguintes questões:

a) “Até que ponto algumas daspráticas hereditárias ainda hojeusuais não são apenas a sobre-vivência do passado?”. Estaquestão está relacionada comoutra mais gera!, que é a da per-sistência do Antigo Regime (emmuitas das respectivas práticase tradições), à qual Amo J. Mayerdedicou um interessante estudo.

b) “Quais as raízes históricasdas práticas de beneficiarão deum herdeiro?”

c) “Qual a influência dos anti-gos sistemas de herança e su-cessão da propriedade vinculadae propriedade foreira nestes pro-cedimentos?”

Tendo adoptado o concelhocomo área de estudo, o períodocronológico focado, por sua vez,abrange aproximadamente umséculo - dos inícios de Oitocen-tos até aos de Novecentos-, de-tectando persistências mas tam-bém inovações, nesse longo des-moronar do antigo Regime e nodealbar do Liberalismo.

Além do tema central da obra-herança e sucessão –, devida-mente esclarecido e desenvolvi-do, a Doutora Margarida Durãesfocou ainda muitos outros aspec-tos pertinentes e do maior inte-resse, para se compreender o dia-a-dia de uma parte das socieda-des rural, no lapso de tempo emanálise. Refiram-se, por exemplo,as interessantes análises que fazdo mobiliário, do vestuário, docalçado e de alguns procedimen-tos relacionados com a morte.

Quanto ao mobiliário, não obs-tante a sua relativa simplicida-de, salienta o número de caixas,de todos os tamanhos e com di-versas aplicações.

Relativamente ao vestuário,com predomínio do de linho, pro-duzido localmente sabe-se, hoje,que a tradição da “indústria” dolinho, no Vale do Ave, constituiuma mais-valia para o desenvol-vimento da têxtil algodoeira, a

partir de meados do século XIX,revela-se particularmente inte-ressante o estudo da respectivapaleta cromática. O predomíniode cores escuras (designadamen-te o preto e o azul, cujo uso re-presentava mais de 50% do to-tal), ainda hoje detestável já en-tão era notório.

Acerca do calçado, este ain-da seria então um bem relativa-mente raro em certos meios ru-rais do termo de Braga, pelo quemuitos só ao domingo o usariam.

No que concerne aos costu-mes funerários, o uso da “morta-lha” – por vezes um simples len-çol ou o hábito de uma ordemreligiosa –, bem como o uso, porcerto ainda não generalizado, docaixão constituem aspectos dig-nos de realce. Estes e outrospormenores revelam que, para-lelamente com a persistência, járeferida, também não se podemdescurar as inovações e as trans-formações que se foram verifi-cando, não só nos meios urba-nos como também nos rurais.

O que, sumariamente, se aca-ba de destacar não é suficientepara se obter uma ideia comple-ta da obra em causa, o que sóuma leitura atenta permitirá. Con-tudo, evidenciou-se algo do quenos pareceu ser mais significati-vo no estudo a que temos vindoa reportar-nos.

As suas características dignasde realce (as mencionadas e ou-tras que não houve possibilidadede referendar) foram mais quesuficientes para que os elemen-tos do júri, do Prémio AlbertoSampaio, optassem por atribuir oprimeiro lugar à obra da DoutoraMargarida Durães, a qual fica aconstituir mais um importantemarco na historiografia do Nortede Portugal, a acrescentar a mui-tos outros que, nos últimos anos,têm ficado ao nosso dispor.”

Falou, por fim, a premiada,Prof.ª Margarida Durães:

“Sinto-me muito honrada pelaatribuição, ao estudo que apre-sentei a concurso, de uma dis-

Prémio Alberto Sampaio

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tinção que homenageia AlbertoSampaio, um dos mais insigneshistoriadores do séc. XIX e aquem a história rural do noroesteportuguês tanto deve.

Aliás, não sei se poderia exis-tir uma outra distinção tão ade-quada para o nosso trabalhoquanto esta, já que ele é o re-sultado da influência que a obradeste historiador exerceu sobrenós desde os tempos de estu-dante.

Sob a influência da obra deA.S. partimos da observação darealidade da estrutura fundiáriaminhota e interessamo-nos pelaanálise da formação da proprie-dade rústica e da exploraçãoagrícola ao mesmo tempo que anossa atenção era atraída paraa análise das práticas adaptadaspelos camponeses na transmis-são do seu património. Pretendí-amos, no nosso estudo, conhe-cer, sobretudo, os sistemas desucessão e herança utilizadospelos camponeses minhotos ten-tando compreender o que é quepredispõe a maioria dos campo-neses a fraccionarem as suasexplorações enquanto que ape-nas uma minoria as mantêm atodo custo indivisíveis.

E, para atingir os nossos ob-jectivos não foi necessário maisdo que percorrer os caminhosabertos por Alberto Sampaio se-guindo as suas pistas e adoptan-do como hipóteses de trabalhoalgumas das suas sugestões.

Como ele, tivemos necessida-de de aceder, em primeiro lugar,ao estudo das condições geográ-ficas do Minho, utilizando paratanto, não só as descriçõesrenascentistas e as corografiasdos sécs. XVII e XVIII como ascontribuições da geografia e ge-ologia através dos estudos deSchiappa e Péry, de Orlando Ri-beiro e Amorim Girão.

Como Alberto Sampaio, bemdepressa compreendemos que arealidade fundiária minhota nãopode ser explicado exclusivamen-te através dos factores naturais

havendo necessidade também doconhecimento dos factores his-tóricos que introduziram formasparticulares de apropriação e ex-ploração da terra e individualiza-ram o noroeste português do todonacional. E neste campo o con-tributo da obra de AlbertoSampaio é incontornável.

Através d’As Vilas do Norte dePortugal acedemos às vicissitu-des da propriedade rural a partirda romanização, às várias eta-pas da sua evolução, à identifi-cação do casal e da quinta comounidades básicas da estruturafundiária, às formas de explora-ção da terra adaptadas pelossenhorios e ao intenso povoa-mento que elas fomentaram.

E foi através desta análise quedetectámos a estreita relaçãoentre o aforamento e a práticautilizada pelas casas de lavourade maior dimensão de nomear umsó sucessor e herdeiro principalque assumisse a direcção da ex-ploração agrícola. Herdeiro que noentanto via o seu privilégio one-rado por um conjunto de condi-ções como o pagamento dos le-gados pios dos progenitores, asatisfação das dívidas contraídascom a exploração, a atribuiçãode dotes aos outros descenden-tes ou o encargo de sustentaros elementos da família que nãoabandonavam a casa.

Estes temas acabaram por nosconduzir ao estudo dos princípi-os que regulam os comportamen-tos e atitudes das sociedadesrurais face à morte mas sobretu-do face à vida e que determina-ram as formas de reprodução so-cial e económica que presidiramà sobrevivência de inúmeras fa-mílias camponesas.

Mas a análise das sociedadesrurais não se esgota no estudo ecompreensão das práticas here-ditárias e sucessórias utilizadaspelos proprietários para a trans-missão das suas explorações agrí-colas.

Se o trabalho que hoje vos foiapresentado representa o trilhardos caminhos abertos por Alber-to Sampaio, com ele novas pers-pectivas se abriram ao estudo dahistória agrária do noroeste por-tuguês já que intimamente en-trelaçados com aquelas práticasexistem um conjunto de questõesque foram afloradas no nosso tra-balho e que urge serem desen-volvidas. Por essa razão as soci-edades rurais continuarão a sero centro dos nossos trabalhos deinvestigação.

1.º - Urge prosseguir o estu-do do património camponês dan-do o devido relevo a outras com-ponentes que não apenas a pro-priedade fundiária.

2.º - E fundamental dar con-tinuidade aos estudos sobreespiritualidade e sobre as atitu-des religiosas da população cam-ponesa já que estes comporta-mentos sempre exerceram umaforte influência na organizaçãofamiliar e social das comunida-des rurais.

3.º - Assim como é necessá-rio proceder a uma abordagem dassociedades rurais como as prin-cipais produtoras de eclesiásti-cos que engrossaram o mundoclerical para quem elas tinham detrabalhar e de quem elas depen-diam.

E não gostaríamos de termi-nar sem antes saudar a Socie-dade Martins Sarmento na pes-soa do seu director e as Câma-ras de Guimarães e Famalicão naspessoas dos seus presidentes porlevarem a cabo e patrocinaremesta iniciativa que prestigia, pro-move e divulga os trabalhos demuitos dos que se dedicam à in-vestigação histórica. Bem hajampor apoiarem o prémio AlbertoSampaio.”

A encerrar a sessão realizouum concerto o pianistaConstantin Sandu preenchido comobras de Beethoven eRachmaninov.

Prémio Alberto Sampaio

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O investigador Francisco Mes-sias Trindade Ferreira editou re-centemente, com a chancela daCâmara Municipal de Aveiro, aobra A ant iga freguesia de Eixo eOliveir inha e a sua população(1666-1900). Estudo Demográfi-co . Este trabalho, que trazinportantes achegas para o co-nhecimento da realidade demo-gráfica da Idade Moderna e doinício da Idade Contemporânea naregião de Aveiro, resulta da dis-sertação de Mestrado em Histó-ria das Populações, apresenta-do, em Outubro de 1999, no Ins-tituto de Ciências Sociais da Uni-versidade do Minho.

A seguir, apresentamos algu-mas passagens do textointrodutório da monografia deFrancisco Messias:

“A técnica de recolha dos da-dos proposta por Norberta Amo-rim, utilizando cadernosalfabetados segundo o nome pró-prio dos indivíduos, tem as suasvirtudes, em especial em paró-quias de pequena dimensão. Con-tudo, no caso daquelas que, pelasua grandeza, assumem propor-ções razoáveis, onde se encon-tre um número de famílias e debaptismos da ordem de algumasdezenas de milhar acaba por semostrar pouco prático omanuseamento de um númerosignificativo de cadernos. No se-guimento deste processo have-ria ainda de se transpor para su-porte informático, com vista aotratamento dos dados recolhidos,toda a informação contida nosreferidos cadernos.

Pensou-se encurtar, de al-guma forma, o processo deexecução técnica da recons-tituição de paróquias, tornan-do-o mais simples em todos osseus passos, evitando a du-plicação de tarefas (papel—suporte informático), melho-

rando o binómio capacidade-ve-locidade de pesquisa, simplifican-do o armazenamento e transpor-te do material já recolhido.

A solução passou por colocarem diálogo, nem sempre fácil, trêsdisciplinas que, embora tendoalgo em comum, manifestam umacerta dificuldade em comunicar:a Informática, a Genealogia e, na-turalmente, a Demografia Histó-rica. A Genealogia forneceu aaplicação informática cujo âmbi-to foi significativamente amplia-do e proporcionou a confirmaçãode graus de parentesco e a iden-tificação de indivíduos; a Infor-mática desenvolveu instrumentosde análise ao nível da estatísticadas populações e também ao ní-vel de adaptações e correcçõesda referida aplicação; natural-mente, a Demografia contribuiucom o método de trabalho ade-quado, às fontes disponíveis e aoobjecto em estudo.

Deste consórcio resultou umprocesso técnico de reconstitui-ção de paróquias de largo alcan-ce e eficácia, que este trabalhoprocura comprovar e que a seutempo se expõe.

Para demonstrar as potencia-lidades deste processo de re-constituição de paróquias, esco-lheu-se uma freguesia com umadimensão apreciável —a antigafreguesia de Eixo-Oliveirinha.

[...]Há toda a conveniência emidentificar os comportamentos tí-picos das várias regiões, de mol-de a traçar um quadro o maiscompleto possível da população

do Antigo Regime português, re-correndo às fontes que, apesarde todas as limitações, lacunase deficiências, são as mais exac-tas de que se dispõe — os regis-tos paroquiais, autêntico registocivil e religioso da população doAntigo Regime.

Determinar as aproximações eafastamentos dos comportamen-tos demográficos, tentar uma ex-plicação para as diferenças oupara a manutenção de traços se-melhantes, procurar e justificaras alterações ou as continuida-des de comportamentos da po-pulação (tomadas de per si oupor contraponto a outras), en-quadrar os fenómenos demográ-ficos num contexto mais vastode natureza histórica, geográfi-ca ou económica, são os objec-tivos primordiais que este traba-lho se propõe alcançar.

[...] Este trabalho debruça-se,fundamentalmente, sobre trêsgrandes variáveis demográficas:a nupcialidade, a fecundidade ea mortalidade. A sua análise in-cide particularmente sobre os as-pectos mais globais da popula-ção, uma vez que outra formade tratamento, como a análisediferencial, exigiria a consulta ea recolha de elementos de ou-tras fontes, e implicaria o alon-gar no tempo de investigação, oque não seria possível.

Não se pretende, naturalmen-te, descobrir um novo “modelo”demográfico. É certo que cadacomunidade tem as suasespecificidades, mas também

possui traços comuns quea identificam no seio de umpovo e a tornam reconhe-cida como parte desse mes-mo povo. Foi na procuradesses caracteres identifi-cadores, comuns eindividualizantes em termosdemográficos que este tra-balho avançou.” •

A antiga freguesia de Eixo e Oliveirinha e a sua populaçãoUm trabalho de Francisco Messias Trindade Ferreira

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Foi lançado, recentemente,mais um volume da série demonografias do Neps, com umvolume que reproduz adissertação de Mestrado emHistória das Populaçõesapresentada ao ICS daUniversidade do Minho por FábiaMaria Raposo, com o título EstudoDem ográfico de um a Paróquiado Planalto Mirandês. Palaçoulo( 1 6 5 6 - 1 9 1 0 ) . Nesta edição doBole t im I nform at ivo transcre-vemos o texto com que a autoraapresenta o seu trabalho:

O desejo de uma maioractualizarão científica após váriosanos de docência e o interesse quesempre tivemos pela investigaçãohistórica foram factores que, de ummodo muito particular, estiveramna base deste trabalho.

Gostaríamos de ter dedicado esteestudo à nossa paróquia de origem,Vilar Seco do concelho deVirnioso.Todavia, a lastimávelpreservação das fontes documentaisno Distrito de Bragança não nospermitiu a concretizarão desseobjectivo. Depois de muitoprocurarmos e após várias tentativas,pois não existem arquivos organizados,localizámos os registos paroquiais, semlacunas assinaláveis e em razoávelestado de conservação para umperíodo de 254 anos, relativos àparóquia de Palaçoulo, vizinha danossa.Situada no coração do PlanaltoMirandês1 é, para nós, sobejamentemotivador dar a conhecer informaçãovital disponível que permita compre-ender neste contexto sócio-econórnicoe cultural a evolução dos comporta-mentos demográficos, ainda poucoconhecidos quando descemos ao nívelda paróquia.

Acreditamos, como JacquesDupâquier, que por esta via «uma novahistória social poderá estar ao alcancedos investigadores»2.O conhecimentoda evolução demográfica permite ummelhor entendimento dos fenómenoseconómcos e sociais que afectam aárea.Como bem afirma Pierre Chaunu«toda a história que não recorre àdemografia, priva-se do melhorinstrumento de análise»3. Foi a ideiade termos um sólido ponto de partidaque nos conduziu à realização deste

trabalho de microanálise demográfica,em longa duração, na paróquia ruralde Palaçoulo, no nordestetransmontano.

Seguimos a metodologia dereconstituição de paróquias, teorizadae desenvolvida por Maria NorbertaAmorim há cerca de trêsdécadas.Usando palavras da autora:«Reconstituir paróquias significa,primeiro, organizar os dados dosregistos de nascimentos, casamentose óbitos em fichas de famílias e, depois,cruzar informações de forma aacompanhar, em encadeamentogenealógico, a história de vida de cadaresidente»4. A «base de dados», assimconstituída, permite a análise doscomportamentos demográficos e ficaaberta ao cruzamento com outrasfontes, numa perspectiva da históriasocial que não nos foi possívelcontemplar dada a morosidade doprocesso e o tempo de que dispusemospara este trabalho académico.Entretanto, está a servir de suporte aoestudo sócio-linguístico da mesmalocalidade, a cargo do investigadorDomingos Raposo e, no futuro, poderáprestar apoio a outros trabalhos.

Destinámos um primeiro capítulo àcontextualização da paróquia noâmbito histórico e geográfico.Nosegundo capítulo, procurámos fazer acrítica das fontes sobre as quaisassenta o nosso estudo. Dedicámos umcapítulo ao estudo de cada variáveldemográfica, conforme a ordemindicada nos livros da especialidade:nupcialidade, fecundidade, mobilidadee mortalidade.Calculámos osindicadores habituais para oconhecimento da cada uma dasvariáveis e procurámos correlacioná-las na medida do possível.Terminámoscom um capítulo dedicado aomovimento geral dos baptismos,casamentos e óbitos. Não pudemosrelacioná-los da forma mais adequadapor não dispormos de registos demortalidade infantil para a maior partedo período em observação.

No tratamento da mobilidade,variável influente nas sociedades doantigo regime5, cingimo-nos a umaabordagem através das «entradas»por ocasião do casamento, à residênciados defuntos por ocasião dos óbitos eàs «saídas» através das «notícias aoóbito». O estudo da mortalidade ficoucomprometido e foi até difícil de

realizar, dada a já referida falta deregisto de mortalidade infantil anteriora 1860. Procurámos estudar amortalidade adulta e depois analisar amortalidade infanto-juvenil, para operíodo de 1860-1910, de acordo comos dados disponíveis.

Assim, o nosso estudo consistiu,basicamente, na análise doscomportamentos demográficos danupcialidade e da fecundidade, bemcomo dos fenómenos da mobilidade emortalidade. Comparámos, também,os indicadores de cada variável comoutros referentes a paróquias da áreageográfica6 e contexto sócio-económico e cultural semelhantes.

1 Constituído territorialmente pelosconcelhos de Miranda do Douro,Mogadouro e Vimioso.

2 Jacques Dupâquier, «DemografiaHistórica e História Social», in MariaLuiza Marcílio (org.), População e

Sociedade, Petrópolis, Vozes, 1984,p.46.

5 Maria N. Amorim, Evolução Dem ográficade Três Paróquias do Sul do Pico,Instituto de Ciências Sociais,Universidade do Minho, p.171.

6 Paróquias reconstituídas por MariaNorberta Amorim, Poiares, Cardanhae Rebordãos (Distrito de Bragança)e Guimarães.Fizemos aindacomparações com a paróquia deCalvão, no Distrito de Vila Real,reconstituída por José Alberto PauloFaustino.

5 Maria N. Amorim, Evolução Dem ográficade Três Paróquias do Sul do Pico,Instituto de Ciências Sociais,Universidade do Minho, p.171.

6 Paróquias reconstituídas por MariaNorberta Amorim, Poiares, Cardanhae Rebordãos (Distrito de Bragança)e Guimarães. Fizemos aindacomparações com a paróquia deCalvão, no Distrito de Vila Real,reconstituída por José Alberto PauloFaustino.

Estudo Demográfico de uma Paróquiado Planalto Mirandês

Um livro de Fábia Raposo

neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002 19

ficha de inscrição neps

IDENTIFICAÇÃO

Nome Data de Nascimento

_____/_____/_________

Endereço

Telefone Fax E-mail

Naturalidade

BI n.º Data / / Arquivo N.º Contribuinte

HABILITAÇÕES ACADÉMICAS

Doutor XX Doutorando XX

Mestre XX Mestrando XX Licenciado

XX Estudante XX Cursos [indicar instituições e anos de conclusão]

ACTIVIDADE PROFISSIONAL

Profissão

Instituição

Endereço

Telefone Fax E-mail

INTERESSES DE INVESTIGAÇÃO

Fontes XX

Análise demográfica XX Reconstituição de Paróquias XX Registos paroquiais ou de estado civil Outra documentação paroquial Documentação fiscal Passaportes Dotes Testamentos Doações Outra documentação notarial Cruzamento de fontes diversas Migrações História da família Genealogias História da criança abandonada Análise social História da alfabetização Outros

Data Assinatura

_____/_____/_______

Depois de preenchida, esta ficha deverá ser remetida ao Neps, com uma cópia do currículo do investigador.

Autor:

Título:

Publicado Policopiado Inédito Artigo Livro Dissertação Trabalho académico

Editor Ano de edição

Local de edição N.º de páginas

Revista N.º/ano Páginas /

Se se tratar de uma comunicação apresentada em encontro científico, indique a identificação completa do evento (título/temática/secção onde o trabalho foi apresentado; entidade organizadora; local e data de realização):

Resumo

Para que o possa divulgar, o Núcleo de Estudos de População e Sociedade necessita de manter actualizada o seu ficheiro bibliogáficocom as produções dos seus membros. Para tanto, agradecemos que esta ficha seja preenchida e remetida para o NEPS sempre queproduza ou publique um novo trabalho, fazendo-a acompanhar, sempre que possível, por uma cópia do mesmo.

ficha de actualização bibliográfica neps

20 neps boletim informativo 23 | Janeiro de 2002

Boletim Informativonº 23

Janeiro de 2002

PUBLICAÇÃO DO:NÚCLEO DE ESTUDOS

DE POPULAÇÃO E SOCIEDADEInstituto de Ciências Sociais

Universidade do MinhoPólo de Azurém

Guimarães

DIRECTORA:Maria Norberta Amorim

EDITOR:António Amaro das Neves

COORDENAÇÃO DA REDACÇÃO:Elisabete Pinto

COLABORADORES DESTE NÚMERO:Inês Martins de Faria, Maria

Norberta Amorim, Alberto Cor-reia, Elisabete Pinto,

António Amaro das NevesSECRETARIADO:

Isabel Salgado, Daniel Freitas,Fátima Dias, Natália Silva, Só-nia Fernandes, Vítor Oliveira

DEPÓSITO LEGAL

n.º 125306/98

Núcleo de Estudosde População e Sociedade

Universidade do Minho,Pólo de Azurém

4800-058 Guimarães

Telefone/Fax:253510187

e-mail:[email protected]

Mailling list:•endereço:

[email protected]•subscrição:

[email protected]

www.eng.uminho.pt/~neps

O Boletim Informativo do NEPS éuma publicação bimestral dedicada àdivulgação das actividades do Núcleode Estudos de População e Sociedadee dos trabalhos relacionados com De-mografia Histórica e História das Po-pulações. Agradece-se toda a colabo-ração que nos seja enviada, a qual serásubmetida à apreciação dos editores.Solicita-se o envio de notícias acercade eventos, publicações e investiga-ções nas áreas de Demografia Históri-ca e afins.

Os textos assinados são da exclu-siva responsabilidade dos respectivosautores.

publicações do neps neps

Aos membros do Neps é concedido um desconto de 20% sobre o preço de capa.Os pedidos (acompanhados de cheque correspondente ao valor dos livros soli-citados) devem ser encaminhados para a Secretaria do Núcleo de Estudos dePopulação e Sociedade (Campus de Azurém da Universidade do Minho).

AMORIM, Maria Norberta e CORREIA, Alberto, Fran-cisca Catarina (1846-1940) . Vida e Raízes em S. João doPico ( Biograf ia, Genealogia e Est udo de Com unidade) ,Neps/ICS – Universidade do Minho, Guimarães, 1999.

[3 800$00 / 18,95 €]

AMORIM, Maria Norberta, Ribeiras doo Pico. ( Finaisdo séc. XVI I a finais do séc. XX) . Microanálise de evolu-ção dem ográf ica, Neps/ICS – Universidade do Minho,Guimarães, 2001.

[1 800$00/ 8,98 €]

BARBOSA, Maria Hermínia Vieira (com a colaboraçãode Anabela de Deus Godinho), Cr ises de m or t alidadeem Portugal, desde m eados do século XVI até ao início doséculo XX, Neps/ICS – Universidade do Minho, Guima-rães, 2001.

[1 250$00/ 6,23 €]

CARVALHO, Elza Maria Gonçalves Rodrigues de, Bas-to (St .ª Tecla) - Um a Leitura Geográfica (do século XVI àcontem poraneidade) , Neps/ICS – Universidade do Minho,Guimarães, 1999.

[3 800$00/ 18,95 €]

FARIA, Inês Martins de, Santo André de Barcelinhos. Odif ícil equilíbr io de um a população – 1606- 1910 , Neps/ICS – Universidade do Minho, Guimarães, 1998.

[3 000$00/ 14,96 €]

GOMES, Maria Palmira Silva, Est udo Dem ográf ico deCortegaça – Ovar (1583-1975) , Neps/ICS – Universidadedo Minho, Guimarães, 1998.

[3 000$00/ 14,96 €]

NEVES, António Amaro das, Filhos das Ervas - A ilegi-t im idade no Norte de Guim arães, séculos XVI -XVI I I , Neps/ICS – Universidade do Minho, Guimarães, 2001.

[3 000$00/ 14,96 €]

MACIEL, Maria de Jesus, I m agens de Mulheres, Câ-mara Municipal de Lajes do Pico/ICS – Universidade doMinho, Guimarães, 1999.

[1 800$00/ 8,98 €]

SANTOS, Carlota Maria Fernandes dos, Sant iago deRom ar igães, com unidade rural do Alto Minho: Sociedadee Dem ografia (1640-1872) , Câmara Municipal de Paredesde Coura - Neps/ICS – Universidade do Minho, Guima-rães, 1999.

[3 000$00/ 14,96 €]

SCOTT, Ana Sílvia Volpi, Fam ílias, Form as de União eReprodução Social no Noroeste Por t uguês ( Séculos XVI Ie XI X) , Neps/ICS – Universidade do Minho, Guimarães,1999.

[3 800$00/ 18,95 €]

SOLÉ, Maria Glória Parra Santos, Meadela, Com uni-dade Rural do Alto Minho: Sociedade e Dem ogr6afia (1593-1850) , Neps/ICS – Universidade do Minho, Guimarães,2001.

[3 800$00/ 18,95 €]

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