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REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO
Ao se aproximarem de seus objetos de interesse, os seres humanos
relacionam-se com estes das mais diversas formas. Esta proximidade implica
em apropriação cognitiva do objeto e constitui ato de conhecimento que, a
depender dos resultados pretendidos, caracteriza-se como uma forma
específica do saber humano, dentre estas formas destaca-se o saber
científico.
O saber científico ambiciona, no contexto histórico-social em que é
produzido, a concepção da melhor apreensão cognitiva de seu objeto de
interesse, de modo que a produzir a interpretação mais sensata e razoável
possível1.
Para alcançar esta pretensão, a Ciência imbuiu-se de “procedimentos
específicos de investigação e verificação”2, um meio “organizado, repetível e
autocorrigível, que garanta a obtenção de resultados válidos”2. Este modo de
relação estabelecida entre observador e objeto com escopo na produção da
melhor interpretação possível denominou-se Método.
Nesta ordem de ideias, uma área do saber humano que almeja a
qualidade de científico deve pautar-se por um conjunto de procedimentos
metódicos sistematizados e replicáveis e ainda que possibilitem a validação
dos seus resultados.
O Direito é uma forma do saber humano. Trata-se de uma proposição
irrefutável, o que se debate é a natureza deste saber, se científico ou
pertencente a outra qualificação.
O magistério de Friede orienta a questão, vejamos:
1 FRIEDE, Reis. Percepção científica do Direito. História, Franca , v. 28, n. 2, p. 235-266, 2009. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742009000200009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 ago. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-90742009000200009.2 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução da 1a edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bossi; revisão da tradução e tradução dos textos novos Ivone Castilho Benedetti. 5a Ed. São Paulo. Martins Fontes, 2007. Verbete MÉTODO, pags. 668/669.
“Não obstante a tese segundo a qual o Direito se constitui em efetivo ramo científico ter sido negligenciada no passado por expressiva parcela de estudiosos, na atualidade contemporânea é, no mínimo, majoritária a posição doutrinária que entende o Direito como autêntica e genuína Ciência Autônoma.”1
Como visto, inegavelmente, “não há ciência sem o emprego de
métodos científicos”3, logo, estabelecido como saber científico, o Direito
recebe em suas entranhas as caraterísticas desta forma de conhecimento,
em especial, e decorrente da constatação de sua cientificidade, orienta-se
por um Método.
REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO FORMAL
Das diversas formas de proceder metodológico, o presente estudo
adotará a proposta formulada pelo professor J.J. Gomes Canotilho em sua
obra Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Canotilho leciona que
um “bom método de trabalho para quem se aproxima dos problemas de
interpretação das normas constitucionais é fazer um briefing de um caso
concreto (briefing case)”4.
Segundo a doutrina de Canotilho, este briefing case direciona-se pelo
cumprimento dos seguintes “passos metódicos”4: Contexto; O texto da norma
e o significado da norma; Controvérsias constitucionais; Argumentos, mais
argumentos!; A retórica argumentativa do Tribunal Constitucional; e Decisão
do caso.
“O Contexto” objetiva descrever o caso, apresentando seus elementos
constitutivos e factuais. Para tanto a abordagem secciona-se em duas
dimensões: a sociológica e a legislativa. A dimensão sociológica investiga as
3 LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003.4 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7a Edição. Coimbra, Almedina , 2003. Páginas 1117-1126
questões de ordem política, social e humana pertinentes ao caso em estudo,
ou seja, “qual o problema que desencadeou o caso e os fatos que lhe deram
origem”5, ao passo que a dimensão legislativa ou o “contexto legislativo”4
perquire as políticas estatais destinadas à questão em debate.
O passo metódico denominado “O texto da norma e o significado da
norma” volta-se para a análise do dispositivo constitucional e das
possibilidades normativas decorrentes dos “sentidos interpretativamente
atribuídos”6 ao texto normativo analisado. Acerca deste passo, SILVA leciona
que “devem ficar assentadas as normas constitucionais específicas e suas
interpretações em casos análogos”7.
“Controvérsias constitucionais”, o terceiro passo metódico, objetiva a
identificação e o detalhamento das tensões existentes entre a regulação
legislativa do caso em análise e a norma constitucional.
O passo seguinte denomina-se “Argumentos, mais argumentos!” e
dedica-se ao levantamento dos argumentos favoráveis e contrários a cada
uma das tensões identificadas no terceiro passo metódico.
“A retórica argumentativa do Tribunal Constitucional” – quinto passo
metódico – delineia-se pela análise das razões constitucionais dos votos
vencedores e dos votos vencidos, discriminando os argumentos acessórios e
complementares (obiter dicta) e os contornos jurídico-constitucionais (ratio
decidendi) empregados na elaboração das teses expostas no julgamento do
caso.
O sexto e último passo metódico, designado como “Decisão do caso”,
objetiva a identificação da norma decisão do julgamento e dos fundamentos
5 SILVA, Christine Oliveira Peter da. A Pesquisa Científica na Graduação em Direito. Disponível em <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/pesquisagraduacaochristinepeter.pdf>. Acesso em 20 ago. 2015. 6 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7a Edição. Coimbra, Almedina , 2003. Páginas 1117-11267 SILVA, Christine Oliveira Peter da. A Pesquisa Científica na Graduação em Direito. Disponível em <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/pesquisagraduacaochristinepeter.pdf>. Acesso em 20 ago. 2015.
condutores, avaliando-se sua razoabilidade argumentativa e qualidade
material da decisão.
Estes passos metódicos de CANOTILHO correspondem ao método
que é adotado na presente dissertação e, reiterando as palavras do
doutrinador lusitano, são “bom método de trabalho para quem se aproxima
dos problemas de interpretação das normas constitucionais”8.
REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO MATERIAL OU
HERMENÊUTICO
Explicar o anterior e este
O nosso enfoque metodológico hermenêutico orienta-se pela proposta
desenvolvida na obra Metodologia da Ciência do Direito da autoria de Karl
Larenz.
O jurista alemão, ao esclarecer os limites de seu trabalho,
circunscreve o objeto na “ciência ‘dogmática’ do Direito, incluindo a
apreciação judicial de casos”, ou seja, uma ciência jurídica orientada pela
proposição jurídica (Lei).
Neste espaço de reflexão, Larenz reconhece que o raciocínio jurídico
moderno não mais desenvolve-se em observância aos processos clássicos
de pensamento, tal como o da subsunção, mas, em razão das “perdas de
certeza no pensamento jurídico”, opera de forma multimodal e arbitrária e
com capacidade de transformação do sentido da proposição jurídica (Lei).
Há uma intima relação entre a metodologia própria de uma ciência e a
essência ontológica desta ciência, e precisamente nas palavras do
doutrinador germânico:
8 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7a Edição. Coimbra, Almedina , 2003. Páginas 1117-1126
“A metodologia de uma ciência é a sua
reflexão sobre a própria atividade (...) A
necessidade e a justificação de um método
decorre do significado, da especificidade
estrutural do objeto que por meio dele deve
ser elucidado. Não se pode portanto tratar da
ciência do Direto sem simultaneamente tratar
também do próprio Direito.”
Nesta ordem de ideias, insta observar a compreensão de ciência do
Direito desenvolvida no pensamento larenziano.
Sendo o Direito um “objeto por demais complexo”9, uma multiplicidade
de enfoques lhe são pertinentes. A sociologia jurídica, a história do Direito, a
filosofia e teoria do Direito, são algumas das inúmeras possibilidades de se
confrontar com o Direito. Cada uma destas possibilidades almeja encontrar
respostas para indagações específicas e atinentes ao modo de compreender
o Direito, e, para tanto, cada qual desenvolve um método pertinente com as
indagações e compreensões próprias.
A ciência do Direito é a que desenvolve reflexão acerca das soluções
jurídicas encontradas para resolução de casos, soluções jurídicas amparadas
no ordenamento jurídico determinado e historicamente estabelecido.10
Larenz denominado a ciência do Direito de Jurisprudência.
9 Pg. 410 Pg introdução