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Microciclo Padrão Infantis A

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Objetivos de um morfociclo nas etapas de formação

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    Carlos huMBerTo alMeidaLicenciado em Cincias do Desporto meno Educao Fsica e Desporto Escolar (FMH-UTL)Mestre em Treino do Jovem Atleta (FMH-UTL)Treinador de Infantis e Coordenador Tcnico de Futebol 7 no clu-be JD Monchiquense

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    A Relevncia do Microciclo nos Modelos de Periodizao Atuais no FutebolNos jogos desportivos colectivos, onde se inclui o futebol, o tipo de periodizao do treino no idntico ao comummente ob-servado nos desportos individuais. H algumas dcadas atrs, era vulgar projectar e implementar estruturas de planeamen-to fortemente assentes no desenvolvimento das capacidades condicionais (i.e., fora, velocidade, resistncia e flexibilidade) no treino de modalidades colectivas. Tratando-se de desportos com estruturas de rendimento complexas, acabou por se per-ceber que os modelos de periodizao clssicos eram bastante limitados. Por isso, a teoria e a metodologia do treino tm vindo a evoluir no sentido de dar resposta s necessidades, cada vez mais especficas e exigentes, desta tipologia de desportos, de-signadamente no que concerne ao alto rendimento.Particularmente no futebol, a lgica de ajustar a periodizao ao calendrio competitivo enfatizou o microciclo como estrutu-ra fundamental de planeamento ao longo da poca desportiva (Seirul-lo Vargas, 2001). A sua definio surge em funo da distribuio cclica dos jogos (competio), permitindo organi-zar e assegurar a coerncia dos processos/contedos de treino numa determinada sequncia de sesses, embora corresponda normalmente a uma semana de preparao. Nos modelos de periodizao mais recentes, com destaque para a Periodizao Tctica, o desenvolvimento do jogar concretizado mediante o estabelecimento de um microciclo padro. Esta microestrutu-ra padronizada, contudo, os seus contedos no so estan-ques, nem to pouco devem ser repetidos de forma rotineira. Segundo Guilherme Oliveira, citado por Silva (2008), o padro semanal basilar para a organizao do processo, porm, aps

    o jogo, feita uma anlise e elaborado um conjunto de ob-jectivos a atingir na semana seguinte (dinmica aquisitiva do jogar), pelo que os contedos e os meios de treino podem ser muito diversificados. A competio assume um papel determi-nante na configurao do padro semanal, na medida em que se constitui como o meio mais fidedigno de identificar se o que o treinador pretende est ou no a ser conseguido, se as ideias esto ou no a ser transmitidas correctamente.

    Periodizar o Treino de Crianas/Jovens: Algumas Conside-raesNo novidade que o treino de jovens no se pauta pelos mesmos critrios da prtica desportiva adulta. Apesar disso, a realidade mostra-nos um elevado grau de generalizao dos modelos de periodizao nos diferentes nveis de rendimen-to, inclusivamente nas diversas etapas de formao no futebol. Por exemplo, a Periodizao Tctica, que tem vindo a ganhar imensos seguidores na modalidade, tem sido aplicada indis-criminadamente tanto a equipas de elite, como a nvel snior no distrital e, disparatadamente, no treino com crianas/jovens com menos de 13 anos de idade. Vtor Frade, conhecido como o mentor da Periodizao Tctica, admite que este modelo de periodizao deve ser introduzido somente a partir da fase de especializao, ou seja, do escalo de Iniciados (Sub-15) (Fonseca & Garganta, 2006). Esta ideia adquire significado uma vez que este modelo de periodizao apresenta uma orientao conceptual e metodolgica no senti-do do alto rendimento. Portanto, no o processo de formao de jovens na modalidade que est em causa, mas sim a orga-nizao da forma desportiva dos jogadores (o individual) e da equipa (o colectivo), no quadro de aces e comportamentos inerentes ao modelo de jogo pretendido pelo treinador.Treinar com intensidades elevadas desde o perodo prepara-trio da poca no faz muito sentido no treino com crianas/jovens. Nos escales de formao de base, a aprendizagem nas dimenses tcnica e tctica no um processo imedia-to, requerendo mais o volume que a intensidade, no intuito de aperfeioar aces tcnicas, desenvolver a capacidade de ra-ciocnio tctico, evitando, por outro lado, o insucesso que con-duz saturao, desistncia e abandono do processo de treino e competio (Stafford, 2005). Outra questo essencial na for-mao do jovem praticamente a relao estabelecida entre os princpios da multilateralidade e da especificidade. Ambos

    O microciclo padro no escalo de infantis (sub-13): uma proposta metodolgica

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    so importantes, porm, a sua importncia relativa varia ao longo do processo; o treinador deve procurar consagrar cumu-lativamente o papel destes dois princpios no decurso de cada etapa de formao. Adoptando a Periodizao Tctica, toma-se a especificidade como princpio orientador do treino, havendo pouco tempo para o trabalho de carcter geral ou multilateral. O treino em especificidade, que no o sempre em contacto com a bola, como erradamente alguns treinadores referem, pode no ser uma condio exclusiva nos escales de forma-o de base. O jogo deve ser o principal meio para promover a aprendizagem da modalidade, no entanto, o trabalho de cariz multilateral, ainda que reduzido ou moderado, pode ser benfi-co a longo prazo ao pressupor um desenvolvimento equilibrado das capacidades condicionais e coordenativas nas designadas fases sensveis ou intervalos ptimos de treinabilidade (Sta-fford, 2005; Martin et al., 2008). Por sua vez, fulcral adequar os contedos a transmitir s ca-ractersticas das crianas/jovens. A aprendizagem na dimenso tctica especialmente constrangida pelo desenvolvimento cognitivo e perceptivo-motor dos jovens, devendo cingir-se, at ao escalo de Infantis (Sub-13), a pouco mais que aos prin-cpios especficos (ofensivos e defensivos) e noo estrat-gico-tctica de jogar em tringulos, operacionalizados atravs

    de jogos reduzidos e/ou condicio-nados e formas jogadas. Importa dotar os mais jovens de simples regras de aco para solucionar problemas resultantes do contexto situacional do jogo e no propiciar, como na Periodizao Tctica, uma aquisio progressiva de princpios e subprincpios, conducentes a uma dinmica organizada do jogar da equipa, em pleno respeito pelo modelo de jogo. Pretende-se que os jovens aprendam a pensar e a tomar decises de forma autno-ma, libertos de factores extrnsecos que condicionem a manifestao do seu potencial individual, sejam eles o modelo de jogo a cumprir ou

    a obedincia de instrues provenientes do treinador.

    Proposta Metodolgica para o Escalo de infantis (Sub-13)Conforme visto anteriormente, a adopo de um modelo de periodizao nos escales de formao de base deve reger-se por pressupostos distintos dos que norteiam a prtica adulta amadora ou de alto rendimento. Ainda assim, possvel encon-trar ideias susceptveis de serem adaptadas na periodizao do treino com crianas/jovens. A figura 1 exibe uma proposta de microciclo padro, estruturalmente baseado no paradigma da Periodizao Tctica, mas com contedos e respectiva organi-zao adaptados ao escalo de Infantis (12-13 anos).

    Esta proposta engloba trs sesses semanais, cada uma com uma durao total entre os 75 e os 90 minutos. O domingo, a tera e a sexta-feira no constam na figura, sendo considerados dias de recuperao passiva, embora esta configurao possa, naturalmente, ser ajustada. De acordo com Rowland (2005), as crianas e os jovens pr-adolescentes tendem a recuperar mais rapidamente que os adultos, tanto em exerccios de inten-sidade elevada, como noutros de menor intensidade, devido a diferenas observadas nalguns parmetros fisiolgicos, o que leva a supor que os dias de repouso permitem a recuperao

    Figura 1. Proposta de microciclo padro para o escalo de Infantis (Sub-13) com trs treinos semanais.

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    praticamente total para o treino ou competio seguinte. Relativamente s dimenses do treino, a sua importncia rela-tiva (%) procura dar resposta s necessidades bsicas de trei-no multilateral e especfico nestas idades. Ainda que Stafford (2005) proponha uma relao de 40/60, o microciclo proposto privilegia mais o princpio da especificidade, sendo a proporo igual ou superior a 35/65. Este escalo etrio constitui uma eta-pa fundamental para a aprendizagem, pelo que na dimenso tctico-tcnica o treinador deve estimular a autonomia deci-sional dos jovens praticantes, sem grandes restries estrat-gico-tcticas, mediante duas abordagens: a descoberta guiada e a resoluo de problemas contextuais do jogo. Adaptando os procedimentos da Periodizao Tctica, a evoluo semanal nesta dimenso comporta trs nveis:

    Dia 1 (fraco intermdia do aprender a jogar): espao e nmero de jogadores reduzidos; condicionantes/constrangi-mentos ao nvel do nmero de passes, toques sobre a bola ou circulao da mesma por determinados corredores; diversidade de alvos; superioridade/inferioridade numrica (Gr+2v4+Gr); paragens pontuais para instrues/feedbacks sobre conceitos tcticos simples; privilegiar a manuteno da posse de bola; princpios especficos do jogo ofensivo. Dia 2 (grande fraco do aprender a jogar): espao e nmero de jogadores pouco reduzidos; igualdade numrica (Gr+5v5+Gr); condicionantes ligeiras ou inexistentes; poucas paragens; resoluo de problemas de situaes similares competio; enfoque na organizao setorial; referncia aos princpios especficos do jogo defensivo. Dia 3 (pequena fraco do aprender a jogar): jogos mais reduzidos (3v3; Gr+2v2+Gr); condicionantes inexistentes, para libertar a criana/jovem de restries tctico-tcnicas na sesso anterior ao jogo; elevada velocidade de deciso e execuo; situaes muito descontnuas; incidir prioridade na finalizao; proporcionar combinaes tcticas; promover a aprendizagem de situaes de bola parada (pontaps de canto, pontaps li-vres e lanamentos laterais); focalizar um ou outro princpio especfico.

    No que concerne s capacidades condicionais e coordenativas, no Dia 1 a maior importncia relativa atribuda fora (geral e/ou especfica), atravs de jogos ldicos (carrinho de mo,

    traco corda, cavalitas), estafetas (p coxinho, saltos a ps juntos, conduo de bola com traco, etc.) e circuitos (incluir exerccios com o prprio peso corporal, saltar barreiras/ corda) e, posteriormente, flexibilidade (exerccios dinmicos na fase preparatria). No Dia 2 o enfoque dado resistncia e, em menor grau, coordenao motora, promovendo-se o trabalho de habilidades motoras gerais e especficas em situa-es de jogo ldico (apanhada), jogo pr-desportivo ou circui-tos multiactividades. Por ltimo, no Dia 3 privilegia-se o treino das diversas formas de manifestao da velocidade (geral e especfica, cclica e acclica), por estarmos j no que Stafford (2005) menciona como intervalo ptimo de treinabilidade.Muito mais haveria para escrever sobre esta proposta. Outras decerto tero o seu mrito. importante que reflictamos sobre a temtica e que se partilhem experincias. Como avanar no sentido de definir modelos de organizao do treino condu-centes a um desenvolvimento mais equilibrado e efectivo dos jovens e que garantam nveis de rendimento cada vez mais elevados no futuro? E mesmo que poucos atinjam o alto rendi-mento, no admissvel negligenciarmos procedimentos que, a longo prazo, funcionem como elementos estruturantes da for-mao desportiva e cvica daqueles que, futebol parte, cons-tituiro o futuro da nossa sociedade: as crianas e os jovens.

    RefernciasFonseca, H., & Garganta, J. (2006). Futebol de rua: Um beco com sada. Do jogo espontneo prtica deliberada. Lisboa: Viso e Contextos.Martin, D., Carl, K., & Lehnertz, K. (2008). Manual de teoria do treinamento esportivo. So Paulo: Phorte Editora.Rowland, T. W. (2005). Childrens exercise physiology (2nd Edi-tion). Champaign, IL: Human Kinetics.Seirul-lo Vargas, F. (2001). Nuestra entrevista del mes: entrevis-ta de metodologia y planificacin. Revista Training Ftbol, 65, I-XI.Silva, M. (2008). O desenvolvimento do jogar, segundo a Perio-dizao Tctica. Pontevedra: MCSports.Stafford, I. (2005). Coaching for long-term athlete develop-ment: To improve participation and performance in sport. Le-eds: Sports Coach UK.