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PRESSÃO HUMANA NA FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA Colaboradora

Miolo RPH Ingles - Imazon · 2018. 11. 27. · Livro publicado originalmente em inglês (Human Pressure on the Brazilian Amazon Forests) com ISBN 1-56973-605-7 O World Resources Institute

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  • PRESSÃO HUMANA NA FLORESTAAMAZÔNICA BRASILEIRA

    Colaboradora

  • PAULO BARRETOCARLOS SOUZA JR.RUTH NOGUERÓNANTHONY ANDERSONRODNEY SALOMÃO

    Colaboradora:JANICE WILES

    PRESSÃO HUMANA NA FLORESTAAMAZÔNICA BRASILEIRA

  • Todos os Relatórios do WRI apresentam assuntosemergentes de interesse público usando uma abordagemacadêmica. O WRI escolhe os tópicos a serem estudados egarante aos seus autores e pesquisadores a liberdade paradesenvolvê-los. Este instituto também solicita e considera

    GREG MOCKEditor

    HYACINTH BILLINGSDiretor de Publicação

    MAGGIE POWELLCapa

    RL|2 COMUNICAÇÃO E DESIGNEditoração eletrônica

    GLAUCIA BARRETO E TATIANA VERÍSSIMOTradução de inglês para português

    opiniões do quadro consultivo e de revisores técnicos. Amenos que o WRI afirme, todas as interpretações eresultados expressos nas publicações do WRI são deresponsabilidade dos autores, não representandonecessariamente as opiniões do instituto.

    Publicado em Belém, Pará pela Gráfica & Editora Alves em papel Reciclado.Fotografias da capa: gado (Ritaumaria Pereira); queimada em floresta (Digital Vision); outras (Paulo Barreto)

    Imagem de satélite como pano de fundo da capa: US Geological Survey. Landsat 7 ETM + Satellite Sensor. 1999

    Pressão humana na floresta amazônica brasileira = Human pressure onthe Brasilian Amazon Forest Biome / Paulo Barreto et al; tradução deGlaucia Barreto e Tatiana Veríssimo. – Belém: WRI; Imazon, 2005.

    84 p.: il.; 21,5 x 28 cm.

    ISBN 1-56973-606-5

    1. Pressão humana – Amazônia Brasileira. 2. Conversão da Biodiversidade– Amazônia Brasileira. 3. Desmatamento – Amazônia Brasileira. 4.Exploração Seletiva de Madeira – Amazônia Brasileira. 5. IncêndiosFlorestais – Amazônia Brasileira. 6. Unidades de Conservação – AmazôniaBrasileira. I. Barreto, Paulo. II. Souza Junior, Carlos. III. Noguerón, Ruth.IV. Anderson, Anthony. V. Salomão, Rodney. VI. INSTITUTO DO HOMEME MEIO AMBIENTE DA AMAZÔNIA. VI. Título.

    CDD: 333.7209811

    P926

    Copyright © 2006 World Resources Institute & Imazon. Todos direitos reservados.

    Livro publicado originalmente em inglês (Human Pressure on the Brazilian Amazon Forests) com ISBN 1-56973-605-7

  • O World Resources Institute (Instituto deRecursos Mundiais - WRI) e o Imazon agradecemo apoio financeiro das seguintes instituições:Governo da República Federal da Alemanhaatravés do Ministério da Cooperação Econômica,Ministério das Relações Exteriores da Holanda,Banco ABN-AMRO, Fundação Ford, FundaçãoWilliam e Flora Hewlett e Fundação Gordon &Betty Moore.

    Os autores agradecem a Paulo Adário e AndrewMurchie do Greenpeace Brasl por seuenvolvimento inicial no projeto; a Christoph Thiesdo Greenpeace Internacional, que auxiliou nodesenvolvimento do projeto; ao Ministério doDesenvolvimento Agrário do Brasil, que forneceuos dados sobre os projetos de reforma agrária, e aAndrew Murchie, que forneceu o mapa dalocalização de planos de manejo florestal usado naanálise.

    Os autores também agradecem aos colegas quecontribuíram com comentários valiosos para otrabalho: Mark Cochrane da UniversidadeEstadual de South Dakota (EUA); José MariaCardoso da Silva da Conservação Internacional

    A G R A D E C I M E N T O S

    (Brasil); Ernesto Alvarado da Universidade doEstado de Washington (EUA); Tom Lovejoy doCentro para Ciência, Economia e Ambiente H.John Heinz III (EUA); e Andrew Murchie e PauloAdário do Greenpeace Brasil.

    Muitos colegas no WRI e Imazon ajudaram comeste estudo. No WRI: Dirk Bryant, Marta Miranda,Janice Wiles e Ralph Ridder que se envolveram nosestágios iniciais do projeto; Susan Minnemeyer,Pierre Methot, Janet Ranganathan, David Jhirad,Lars Laestadius, Ralph Ridder e Lindsey Fransenque contribuíram com comentários e revisõesvaliosos. Agradecimentos especiais a Isabel Munillae Jonathan Lash pelo apoio, orientação e assistênciadurante os vários estágios do projeto. HyacinthBillings e Maggie Powell contribuíram para apublicação deste relatório. Paul Mackie, Phil Angelle Nate Kommers ajudaram na disseminação.Stephen Adam, Gayle Coolidge e Josh Neckesajudaram na revisão e produção. No Imazon,Adalberto Veríssimo fez comentários inestimáveis;Márcio Sales ajudou na análise de correlação entreas estradas e a pressão humana nas áreasprotegidas e Lorenda Raiol ajudou nogerenciamento da impressão em português.

  • PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09SUMÁRIO EXECUTIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    1.INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    2.HISTÓRICO E TENDÊNCIAS DAOCUPAÇÃO HUMANA NA AMAZÔNIABRASILEIRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

    Desmatamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25Zonas de Influência Urbana . . . . . . . . . . . . 29Assentamentos de Reforma Agrária . . . . . . 29Incêndios Florestais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32Mineração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32Exploração Madeireira . . . . . . . . . . . . . . . . . 36Estradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

    3.MAPEANDO A PRESSÃO HUMANA NAAMAZÔNIA BRASILEIRA . . . . . . . . . . . . . . . . 41

    Como a Pressão Humana Foi Mapeada . . . 41Pressão Humana nas Áreas Protegidas . . . . 43Como a Relação entre Estradas e a PressãoHumana Foi Analisada . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

    4.PRESSÃO HUMANA NA AMAZÔNIABRASILEIRA: RESULTADOS EDISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

    Áreas sob Pressão Consolidada . . . . . . . . . . 48Áreas sob Pressão Humana Incipiente . . . . 49

    Í N D I C E

    5.PRESSÃO HUMANA E ÁREASPROTEGIDAS: RESULTADOS EDISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

    Pressão Humana nas Áreas Protegidas . . . . 55Pressão Humana em Áreas Prioritáriaspara Conservação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60Riscos e Oportunidades para a Criação deUnidades de Conservação . . . . . . . . . . . . . . 64

    6.CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES . . . 67

    NOTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

    ANEXO 1: ÁREAS PROTEGIDASNO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

    ANEXO 2: ACESSIBILIDADEECONÔMICA DA EXPLORAÇÃOMADEIREIRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

    REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

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  • Figura 1. Vegetação e Desmatamento naAmazônia Brasileira até 2001. . . . . . . . . . . . . . . 27Figura 2. Rede de Transporte, PólosMadeireiros, Frigoríficos e Laticínios. . . . . . . 28Figura 3. População da Amazônia Legalentre 1950 e 2000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29Figura 4. Sedes Municipais e ZonasUrbanas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30Figura 5. Evolução da Área e do Número deProjetos de Assentamentos de ReformaAgrária na Amazônia Legal entre1995 e 2002. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31Figura 6. Assentamentos de Reforma AgráriaEstabelecidos até 2002. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33Figura 7. Zonas de Influência de Focosde Calor, 1996-2002. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34Figura 8. Área para Mineração (ReservaGarimpeira e Prospecção Mineral) em 1998. . . 35Figura 9. Localização dos Planos de ManejoFlorestal Aprovados até 2000. . . . . . . . . . . . . . . 38Figura 10. Classificação da Cobertura doSolo na Amazônia Oriental. . . . . . . . . . . . . . . . . 39Figura 11. Pressão Humana na AmazôniaBrasileira —Todos os Indicadores. . . . . . . . . . 46Figura 12. Dois Tipos de Pressão Humana. . 47

    Figura 13. Área Cumulativa (em porcentagemde Pressão Humana em Relação à Distânciadas Estradas Oficiais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52Figura 14. Tipos de Acesso às Zonas deInfluência de Focos de Calor no Centro eSul do Pará e Norte do Mato Grosso. . . . . . . . 53Figura 15. Estradas Não-oficiais, PressãoHumana e Terras Indígenas. . . . . . . . . . . . . . . . 54Figura 16. Distribuição da Pressão Humanaem Áreas Protegidas e Não-Protegidas. . . . . . 56Figura 17. Pressão Humana em ÁreasProtegidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57Figura 18. Distribuição de CoberturaVegetal e Pressão Humana em Áreas Não-Protegidas e nas Classes de Áreas Protegidasna Amazônia Brasileira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58Figura 19. Distribuição de CoberturaVegetal e Pressão Humana Desagregada emÁreas Não-protegidas e nas Classes de ÁreasProtegidas na Amazônia Brasileira. . . . . . . . . . 59Figura 20. Pressão Humana em ÁreasPrioritárias para Conservação. . . . . . . . . . . . . . 61Figura 21. Pressão Humana em ÁreasPotenciais para Criação de FlorestasNacionais/Estaduais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

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    Quadro 1. Desmatamento e Perda deBiodiversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19Quadro 2. Áreas Protegidasno Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

    Tabela 1. Pressão Humana na AmazôniaBrasileira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

    Tabela 2. Localização dos Planos de ManejoFlorestal em Relação à Cobertura Vegetal eTipos de Pressão Humana. . . . . . . . . . . . . . . . . 51

    Quadro 3. A Amazônia Brasileira, a BaciaAmazônica e a Amazônia Legal. . . . . . . . . . . . . 23Quadro 4. Mapeamento de EstradasNão-Oficiais na Terra do Meio no Pará . . . . . . 40

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    L I S T A D E A C R Ô N I M O S

    ARPA Programa Áreas Protegidas da AmazôniaDNPM Departamento Nacional de Produção MineralEMBRAPA/CPATU Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaFAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a AlimentaçãoGFW Observatório Mundial de Florestas (Global Forest Watch)IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

    RenováveisIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da AmazôniaINCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma AgráriaINESC Instituto de Estudos Sócio-econômicosINPE Instituto Nacional de Pesquisas EspaciaisISA Instituto Sócio-ambientalMDA Ministério do Desenvolvimento Agrário do BrasilMMA Ministério do Meio Ambiente do BrasilNOAA Administração Atmosférica e Oceânica Nacional (EUA)WRI Instituto de Recursos Mundiais (World Resources Institute)WWF Fundo Mundial para a Natureza (World Wildlife Fund)

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    P R E F Á C I O

    O Brasil possui a maior área de floresta tropicaldo mundo, a qual inclui aproximadamente 40% dacobertura florestal tropical remanescente doplaneta. Essa floresta representa uma fonteextraordinária de recursos para a populaçãobrasileira e um bem incalculável para a populaçãomundial.

    Milhões de brasileiros dependem direta ouindiretamente da floresta amazônica parasobreviver: agricultores comercializam suaprodução dentro e fora do país; o setor florestalbrasileiro representa aproximadamente 8% detoda riqueza anual do Brasil; e a grande baciaamazônica abriga milhões de indígenas quedependem da riqueza da floresta para suprir suasnecessidades básicas.

    O fato de o hemisfério Sul ter sofrido seuprimeiro furacão da história no ano passado tornaainda mais crítico o reconhecimento do valor dosecossistemas como o da bacia amazônica e doserviço essencial que eles oferecem para acomunidade global. Esses ecossistemas tambémservem como reguladores do clima, depositáriosde biodiversidade e provedores de umaextraordinária capacidade natural de purificação.

    À medida que nos tornamos mais conscientesdo papel fundamental que os grandes

    ecossistemas desempenham em nossas vidasatuais e futuras, começamos a entender o quanto éimportante manejá-los com sabedoria em umaperspectiva de longo prazo.

    Este relatório nos oferece um extraordinárioconjunto de ferramentas a ser utilizado nesseesforço. O escopo e os detalhes dos mapas sãovitais se estivermos dispostos a fazer escolhasnecessárias e inevitáveis no futuro para conciliaras necessidades dos brasileiros com asnecessidades legítimas da população mundial, aqual sofre cada vez mais com as mudançasambientais globais.

    Sabemos que a Amazônia está sob pressãohumana significativa e podemos ver onde elaocorre, sua natureza e seus impactos. Entretanto,o que nós também podemos ver é que a pressãohumana consolidada — ou seja, incursõeshumanas na Amazônia — tendem a possuirdinâmica própria. Esse desenvolvimento, uma vezestabelecido, torna-se um estímulo para o queeste relatório denomina ocupação “incipiente”, oupressão emergente na Amazônia que não éplanejada. Os mapas do relatório são inequívocossobre isso.

    Uma das ações das quais mais me orgulhoenquanto Presidente da República foi o

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    estabelecimento do Programa de Áreas Protegidasda Amazônia (ARPA). Juntamente com nossosparceiros, esse programa reconhece o alcanceambiental internacional da Amazônia ao mesmotempo em que atende as ambições legítimas dapopulação menos favorecida do Brasil.

    O que este incomparável conjunto de mapas erelatório mostram, entretanto, é que emboraexista na Amazônia área inexplorada mais do quesuficiente para atender as nossas metas depreservação, devemos ser vigilantes em relação àpressão humana que se espalha para fora das áreasde ocupação consolidada. Igualmente importanteé o impacto de ocupações humanas isoladas queameaçam ecossistemas intactos e ocasionamdanos de maneiras que ainda não entendemos

    completamente. Esses mapas ilustram claramenteuma situação que demanda ações urgentes.

    O Brasil é extremamente consciente da duplaresponsabilidade que a natureza, a geografia, aexploração colonial e a arte de conduzir os assuntosdo Estado têm depositado sobre ele. O país não fogeda sua obrigação singular para com a comunidademundial relativa às circunstâncias especiais daAmazônia. Nem pretende fugir da suaresponsabilidade de oferecer à população brasileiraoportunidades para uma vida mais produtiva e melhor.

    Conciliar essas enormes demandas requerescolhas sábias e as ferramentas e informaçãonecessárias para orientar essas escolhas. Este é oinestimável valor deste relatório.

    Fernando Henrique CardosoPresidente da República Federativa do Brasil entre 1995-2002

    Membro do Conselho Diretor do World Resources Institute

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    • Em 2002, aproximadamente 47% daAmazônia brasileira estava sob algum tipo depressão humana, incluindo desmatamento,zonas de influência urbana, assentamentos dereforma agrária, áreas alocadas para prospecçãomineral e reserva garimpeira, bem como áreassob pressão indicadas pela incidência de focosde calor (queimadas) em florestas.

    • Nossas análises sugerem que, em 2002,ainda havia áreas de floresta sem evidência depressão humana suficientes para o governo atingirsuas metas de expansão do sistema de áreasprotegidas. Isso inclui aproximadamente ummilhão de km2 de terras consideradas prioritáriaspara o estabelecimento de novas áreas protegidas,inclusive florestas públicas de produção. Todavia,a pressão continua a aumentar na região de talmaneira que o governo deve agir rapidamentepara atingir suas metas de conservação da

    A Amazônia brasileira abriga aproximadamenteum terço das florestas tropicais do planeta, umaárea que compreende 4,1 milhões de quilômetrosquadrados. Todavia, as atividades agrícolas eflorestais estão causando a perda da floresta e suadegradação e mudando rapidamente a paisagemregional. Dados da FAO revelam que, de 2000 a2005, o Brasil respondeu por 42% da perdaflorestal líquida global — dos quais, a maior parteocorreu na Amazônia brasileira.

    natureza. Estabelecer novas unidades deconservação em áreas livres de pressão humanaajudará a prevenir conflitos sobre o uso dessasáreas. Áreas sob pressão humana incipiente aindasão valiosas para a conservação devido àintensidade de uso relativamente baixa, mas oscustos políticos para estabelecer unidades deconservação nessas zonas serão maiores dados osinteresses já estabelecidos.

    • Aproximadamente 80% da área desmatadaestá até 30 km das estradas oficiais. Contudo,quase metade das zonas de influência de focosde calor antigas (1996-1999) e dois terços daszonas de influência de focos de calor recentes(2000-2002) estão além de 30 km das estradasoficiais. É necessário que o planejamento, aconstrução e a manutenção da infra-estrutura detransporte considerem mais cuidadosamente aextensão dos seus impactos ambientais.

    Principais resultados

    S U M Á R I O E X E C U T I V O

    Em resposta à demanda pública porconservação florestal, muitos atores estãotentando conciliar desenvolvimento econômico econservação por meio de iniciativas que incluemregulamentação de usos da floresta, fiscalização dalegislação ambiental e criação de áreas protegidas.Em virtude da rápida expansão de atividades comoa pecuária, agricultura e exploração madeireira,essas iniciativas devem ser rapidamenteimplementadas nas áreas prioritárias para que

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    possam ser bem-sucedidas. Para isso, sãonecessárias informações precisas e detalhadassobre as condições atuais das florestas daAmazônia e também, sobre a pressão a que sãosubmetidas. No entanto, é difícil obter taisinformações. Apesar dos avanços como a utilizaçãode imagens de satélite, a dimensão e o estágio dasatividades humanas na Amazônia brasileira sãoapenas parcialmente conhecidos. Desconhece-seaté mesmo a total dimensão do desmatamento.Por exemplo, até 1997, o Instituto Nacional dePesquisas Espaciais (Inpe) mapeava anualmenteas áreas desmatadas maiores que 6,5 hectares.Desde então, o Inpe melhorou suas técnicas demapeamento, mas ainda desconsideradesmatamentos menores do que três hectares.

    A identificação dessas pequenas parcelas dedesmatamento e outros indicadores de atividadeshumanas incipientes nas florestas poderiasinalizar as áreas sob risco de aumento dedesmatamento e degradação florestal. Alocalização precisa dessas áreas sob riscoproporcionaria um guia estratégico paraconservação e desenvolvimento sustentável naregião. Porém, apesar desse potencial, ainda nãoexiste nenhuma análise ampla que integre taisdados espaciais com outras medidas dascondições da floresta e que ajude os responsáveispelo planejamento da conservação e dodesenvolvimento a compreenderem a realdimensão das atividades humanas na região.

    Este relatório busca preencher essa lacuna desíntese de informação. O relatório compila e integrainformação geográfica sobre vários indicadores paraapresentar um quadro da situação da pressãohumana sobre as florestas na Amazônia brasileira

    entre 2001-2002. Pressão humana, aqui, é definidacomo a presença de atividades humanas que levam àperda e à degradação da floresta.

    Este relatório diferencia dois tipos principaisde área sob pressão humana:

    Pressão humana consolidada. Nessas áreas,a presença humana é totalmente estabelecida, osassentamentos são permanentes e o uso do solotende a ser mais intensivo. Os impactosambientais nessas áreas são mais intensos que nasfronteiras de ocupação por causa da maiorfragmentação da floresta e das atividadesindustriais e urbanas. Três indicadores foramanalisados nesta categoria: áreas desmatadas,zonas de influência urbana e assentamentos dereforma agrária.

    Pressão humana incipiente. Nessas áreas, apresença humana pode ser temporária. Porém, emalguns casos, colonizadores poderão ocupá-las nofuturo e influenciar as condições da floresta,fragmentando o ecossistema florestal, por exemplo.A exploração madeireira, a garimpagem, a caça, acoleta de produtos florestais não-madeireiros e aagricultura de corte e queima são algumas dasatividades que ocorrem nessas áreas. Doisindicadores foram analisados nesta categoria: zonasde influência de focos de calor e áreas paramineração (licenças para prospecção mineral e umareserva garimpeira). Para o propósito desta análise,zonas de influência de focos de calor são definidascomo áreas de atividade humana associadas comincidência de focos de queimadas em florestas.

    Na época da análise, não havia informaçãocompleta sobre as estradas não-oficiais e a

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    exploração madeireira na Amazônia brasileira.Portanto, o mapa de pressão humana produzidonão incorpora esses dois indicadores. Todavia, porcausa do papel crucial desses dois fatores nadegradação florestal, a relação entre pressãohumana, estradas e exploração madeireira foiavaliada usando a informação disponível.Finalmente, a relação entre pressão humana eáreas protegidas foi também avaliada.

    RESULTADOS

    Em 2002, aproximadamente 47% da Amazôniabrasileira estava sob algum tipo de pressãohumana; ou pressão humana consolidada (19%),ou pressão humana incipiente (28%).

    As áreas sob pressão consolidada foramencontradas principalmente ao longo das estradasoficiais, no chamado “arco do desmatamento”, quecompreende os extremos leste e sul da região, nosEstados de Rondônia, Mato Grosso e Pará. Outroslocais significativos sob pressão humanaconsolidada se situam ao longo da RodoviaTransamazônica no Estado do Pará, ao longo do RioAmazonas entre Manaus e Belém, ao longo daRodovia Cuiabá-Santarém próximo da cidade deSantarém, e ao redor dos principais núcleosurbanos nos Estados de Roraima e Amapá.

    As áreas sob pressão humana incipiente eramgeralmente agregadas e adjacentes a áreas sobpressão humana consolidada, indicando expansãoda fronteira de ocupação. Isso ocorriaprincipalmente nos Estados do Pará, Mato Grossoe Rondônia. Havia, porém, áreas isoladas depressão humana incipiente ao longo de riosnavegáveis por toda a região. Essas áreas pareciam

    estar associadas principalmente às comunidadescaboclas tradicionais e populações indígenas.

    PRESSÃO HUMANA CONSOLIDADA

    Áreas desmatadas. Em 2001, as áreasdesmatadas compreendiam 11% da Amazôniabrasileira. A pecuária é o uso do solopredominante nessas áreas por toda a região(Schneider et al. 2002). Entre 1990 e 2003, orebanho bovino na Amazônia Legal Brasileiraaumentou de 26,6 milhões para 64 milhões decabeças, o que representa um aumento de 140 %(IBGE 2005).

    Zonas urbanas. A área sob pressão das zonasurbanas compreendia 6% da Amazônia brasileira.As zonas urbanas foram identificadas como as áreaslocalizadas dentro de um raio de 20 km ao redor dasede dos 450 municípios da região em 1997 (osdados mais atualizados disponíveis na época daanálise) (IBGE 1999). A determinação deste raiofoi baseada em observações no campo. Ele permitecapturar as áreas sob pressão das populaçõesurbanas, incluindo desmatamentos em pequenaescala para prática de agricultura nas áreasperiurbanas, assentamentos espontâneos, extraçãointensiva de produtos florestais, depósitos de lixo eemissão de esgoto sem tratamento.

    Assentamentos de reforma agrária. A áreade assentamentos de reforma agrária (terrasdoadas pelo governo federal para famílias semterra) estabelecidos até 2002 (Incra 2002)compreendia cerca de 5% da Amazônia brasileira.Desta área, aproximadamente metade é de áreasflorestadas que não se sobrepõem a nenhum outroindicador de pressão humana.

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    PRESSÃO HUMANA INCIPIENTE

    Zonas de influência de focos de calor.Aproximadamente 28% da Amazônia brasileiraestava sob pressão humana incipiente associadacom queimadas em florestas. Essas zonas sãodefinidas como áreas localizadas em um raio de 10km ao redor de um incêndio florestal, identificadopor satélites entre 1996 e 2002.

    A pressão humana varia dentro das zonas deinfluência de focos de calor. Dois terços dessas zonasestão concentradas próximo de áreas desmatadas ou dezonas urbanas — as florestas nessas áreasprovavelmente estão sendo submetidas a pressõesintensivas como, por exemplo, exploração madeireira.O terço restante está em locais mais isolados indicandoincêndios causados pela agricultura de corte e queimapraticada pelas comunidades caboclas tradicionais oupor populações indígenas. As florestas nessas áreaspodem estar sendo submetidas a pressões menosintensivas como a caça, coleta de produtos florestaisnão-madeireiros e exploração seletiva de madeira.

    Há sobreposições entre as zonas de influênciade focos de calor e outros indicadores de atividadehumana, incluindo:

    • áreas afetadas pela exploração madeireiraseletiva, incluindo metade das áreasautorizadas pelo governo brasileiro (IBAMA)para exploração seletiva de madeira;

    • estradas não-oficiais (identificadas por meiode imagens de satélite) mapeadas no norte doMato Grosso e centro-sul do Pará;

    Entre 2000 e 2002, o número anual deincêndios florestais quase dobrou; passando de

    aproximadamente 22.000/ano para 43.000/ano,demonstrando uma aceleração nas atividadeshumanas incipientes.

    Áreas licenciadas para exploração mineral.Em 1998, a área total alocada legalmente paraprospecção mineral e reserva garimpeiracorrespondia a aproximadamente 2% da Amazôniabrasileira. Desta área, mais da metade sesobrepunha com outros indicadores de pressãohumana. Contudo, se as áreas licenciadas paraexploração mineral se tornarem economicamenteviáveis, a conseqüente melhoria do acesso eserviços poderia levar à rápida imigração e aodesmatamento. A mineração de ouro, por exemplo,tem sido um importante catalisador de colonizaçãona Reserva Garimpeira de Tapajós no oeste do Pará.

    EXPLORAÇÃO MADEIREIRA

    A área total de florestas exploradasseletivamente para madeira na Amazônia édesconhecida. Porém, estimativas indicam que essaatividade pode afetar anualmente entre 10 mil km2

    e 20 mil km2 de florestas na Amazônia brasileira(Nepstad et al. 1999; Matricardi et al. 2001;Cochrane 2000; Asner et al. 2005). Algumas dessasflorestas são convertidas em cultivos agrícolas epastagem logo após a extração de madeira,enquanto outras permanecem como florestasexploradas. Evidências sugerem que a maior partedas florestas exploradas está nas áreas de pressãohumana identificadas neste relatório. Contudo, sãonecessárias análises para mapear precisamentetoda a extensão da exploração madeireira.

    Estima-se que uma parte substancial damadeira extraída na Amazônia brasileira —

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    estimada em 47% em 2001 e 42% em 2004 — sejailegal (Lentini et al. 2005). É provável que essesnúmeros sejam subestimados visto que inúmerosmadeireiros licenciados não executam plenamenteos planos de manejo florestal ou exploramilegalmente em terras públicas. A exploraçãomadeireira praticada convencionalmente causadanos substanciais à floresta, especialmentequando associada a incêndios florestais. Algumasempresas têm adotado melhores práticas e obtidoa certificação florestal. Todavia, não há nenhumaavaliação independente recente das exploraçõesflorestais aprovadas fora das operaçõescertificadas. É necessário combinar estudos decampo com interpretações de imagens de satélitepara monitorar sistematicamente os impactos daexploração madeireira por toda a Amazôniabrasileira.

    ESTRADAS

    Aproximadamente 80% da área total desmatadaestá localizada até 30 km de uma estrada oficial.Todavia, quase metade das áreas de zonas deinfluência de focos de calor mais antigas (1996-1999) e dois terços das áreas de zonas deinfluência de focos de calor mais recentes (2000-2002) estão além de 30 km das estradas.

    A atividade humana em áreas distantes épossibilitada pelo acesso através dos riosnavegáveis e pela crescente rede de estradas não-oficiais abertas por madeireiros, fazendeiros emineradores. No sul do Pará, por exemplo,aproximadamente 17.000 km de estradas foramconstruídas entre 1985 e 2001, 60% delas emterras públicas. As unidades de conservaçãoparecem retardar o avanço das estradas não-

    oficiais, pois a taxa média de crescimento dessasestradas nessas áreas é três vezes menor que asobservadas fora delas (Souza et al. 2004).

    PRESSÃO HUMANA E ÁREAS PROTEGIDAS

    Vinte e oito por cento das áreas protegidas estãosob pressão humana. Essa porcentagem ésignificativamente menor do que a observada nasáreas de floresta sob pressão humana fora das áreasprotegidas, que totaliza 59%. O desmatamento e osfocos de calor em florestas dentro das áreasprotegidas aumentam significativamente à medidaque diminui a distância dessas áreas até asestradas oficiais (< 25 km). A ampliação da infra-estrutura de transporte sem uma capacidadecorrespondente de fiscalização pode resultar noaumento da pressão humana sobre as áreasprotegidas. A melhoria da infra-estrutura podetambém aumentar as demandas para reduzir asáreas protegidas existentes para beneficiar aexpansão do agronegócio, como aconteceu em MatoGrosso, em 2003, onde o governo reduziu a área deum parque estadual.

    Pressão Humana em Áreas Não-protegidasPrioritárias para Conservação

    Quase 48% das áreas não-protegidasidentificadas como prioritárias para conservaçãoda biodiversidade (Capobianco et al. 2001)apresentam evidência de pressão humana. Destas,18% são áreas sob pressão humana consolidada e30% são áreas submetidas à pressão humanaincipiente. A maior parte das áreas sob pressãohumana está nas porções leste e sul da Amazôniabrasileira e ao longo dos rios maiores como obaixo e o médio Rio Amazonas e o alto Rio Negro.

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    Áreas Potenciais para a Criação deFlorestas Nacionais/Estaduais

    Aproximadamente 30% do 1,5 milhão de km2

    identificados em 1999 (Veríssimo et al. 2000)como áreas com potencial para se tornar florestaspúblicas de produção apresentam algum tipo depressão humana. Além disso, a maioria dessasáreas sob pressão humana se sobrepõe com áreasidentificadas como economicamente viáveis paraexploração madeireira (Veríssimo et al. 1999). Aacessibilidade econômica à exploraçãomadeireira seria benéfica para promover o usosustentável de florestas se existissemregulamentos de concessão apropriados, bemcomo capacidade de fiscalização. Entretanto, afalta de regras de uso até recentemente e afiscalização ineficiente estimularam a ocupaçãoilegal e predatória de algumas florestas nacionais.A nova lei de gestão de florestas públicassancionada em março de 2006 poderá ajudar aimplementar o manejo florestal e reduzir apressão predatória nessas áreas.

    Riscos e Oportunidades para a Criaçãode Áreas Protegidas

    De acordo com a nossa análise,aproximadamente 1 milhão de km2 de terrasconsideradas prioritárias para o estabelecimentode novas áreas protegidas e de florestas públicasde produção ainda não apresentam indício depressão humana. Essa extensão de terra ésuficiente para que os governos federal e estadualatinjam suas metas de expansão do sistema deáreas protegidas para 270.000 km2 até 2009, e de500.000 km2 de florestas públicas de produção até2010.

    Mesmo sob pressão humana incipiente, háalgumas áreas que continuam valiosas paraconservação. Todavia, em alguns exemplos, apresença de colonizadores, madeireiros egarimpeiros dificulta o estabelecimento de áreasprotegidas em favor de alternativas mais popularescomo assentamentos de reforma agrária ou atitulação de terras para o setor privado. De fato, oCongresso Nacional Brasileiro recentementeratificou legislação não exigindo licitação paratitulação de propriedades menores que 500 hectaresem terras públicas ocupadas antes de dezembro de2004 na Amazônia brasileira, frustrando qualquerpossibilidade dessas terras serem consideradas parao estabelecimento de áreas protegidas. O Ministériodo Desenvolvimento Agrário espera conceder títulosde mais de 20.000 km2 de terras públicas,supostamente beneficiando 150.000 famílias (MDA2005). A expansão contínua e rápida da pressãohumana requer uma ação rápida do governo nosentido de criar áreas protegidas mesmo antes deocorrer pressão humana incipiente.

    Por causa da demanda nacional por conservaçãoe, encorajados pelas políticas de empréstimo deBancos de Desenvolvimento Multilaterais, algunsgovernos estaduais têm apoiado a criação de florestaspúblicas e reservas de desenvolvimento sustentável.Isso tem ocorrido apesar da oposição local à criaçãode áreas para proteção integral e demarcação deterras indígenas. Portanto, a demanda social e arápida ação do governo podem funcionar para aproteção de áreas prioritárias para conservação.

    IMPLICAÇÕES PARA POLÍTICAS PÚBLICAS

    Como mostra nossa análise, só o mapeamentodo desmatamento é insuficiente para dimensionar

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    a pressão humana total nas florestas da Amazôniabrasileira. É necessária uma análise mais ampladas pressões dos assentamentos humanos,exploração madeireira, estradas, incêndiosflorestais e outras fontes. Os resultadosapresentados aqui têm diversas implicações paraas políticas públicas:

    Grandes áreas nas porções centro e leste daAmazônia brasileira apresentam evidência depressão humana, especialmente na forma deincêndios florestais. Contudo, a área que nãoapresenta essa evidência é grande o suficientepara que o governo federal cumpra sua meta deexpansão e consolidação do sistema de áreasprotegidas até 2010. Porém, as oportunidadesestão diminuindo. As pressões humanas estão seexpandindo rapidamente, como indicam astendências do desmatamento, pecuária,crescimento populacional e outros. É necessárioagir rapidamente para controlar essa expansão.Um decreto federal recente, que permite alimitação provisória do uso do solo em áreas deinteresse para conservação, poderia ser aplicadonas áreas identificadas neste relatório, a fim deestabelecer novas unidades de conservação. Isso jáaconteceu em uma área de 82.000 km2 no oeste doPará, onde foram recentemente criados 68.000km2 de áreas protegidas.

    Há uma correlação entre as estradas e a pressãohumana. Para proteger as áreas prioritárias paraconservação, o planejamento de investimentos eminfra-estrutura de estradas deveria seracompanhado da criação de unidades deconservação nas áreas identificadas comoprioritárias para esse fim. Além disso, sãonecessários esforços para proteger as unidades de

    conservação existentes que estão ao alcance dainfra-estrutura nova ou melhorada. Assim, oesforço do governo brasileiro para criar áreasprotegidas antes da pavimentação da RodoviaSantarém-Cuiabá é louvável. Essa abordagemdeveria ser aplicada em torno de outras rodovias aserem construídas ou pavimentadas.

    O exemplo do Estado de Mato Grosso sugereque quando a pressão humana aumenta emvirtude do surgimento de oportunidadeseconômicas maiores, o governo pode vacilar emseu compromisso de proteção. Isto pode,inclusive, levar à redução do tamanho de áreaprotegidas, como ocorreu naquele Estado. Sãonecessárias análises e debates políticos adicionaispara encorajar o compromisso duradouro dosgovernos em proteger as unidades de conservação.

    A avaliação da pressão humana na Amazôniabrasileira apresentada neste relatório é umesforço inicial que precisará ser ampliado. Alimitação de dados e a falta de informações maisdetalhadas impossibilitam uma análise completae precisa. Por exemplo, não existe um mapacompleto da rede de estradas não-oficias naregião. O Imazon está solucionando essalimitação mapeando, a partir de imagens desatélite, as estradas visíveis na Amazôniabrasileira. Também, não existe um mapa precisoe completo das florestas exploradas bem como deoutras formas de degradação florestal (comoflorestas queimadas). As técnicas desensoriamento remoto existentes,complementadas com verificações de campo empontos estratégicos, possibilitarão o mapeamentodessas áreas. O investimento nesse tipo depesquisa é necessário para compreender mais

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    claramente a dimensão e intensidade daspressões humanas nas florestas da Amazôniabrasileira.

    Apesar dessas limitações, nossa análise mostraum retrato mais completo das dimensões das

    pressões humanas na Amazônia brasileira do queo quadro anteriormente disponível, bem como asformas dessa pressão. Assim, a análise pode ajudara orientar ações estratégicas para melhorar aconservação florestal até que informaçõesmelhores sejam disponibilizadas.

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    A Amazônia brasileira abriga aproximadamenteum terço das florestas tropicais do planeta, uma áreaque compreende 4,1 milhões de quilômetrosquadrados. Todavia, o desmatamento e a extração demadeira estão ocorrendo em escalas sem precedentese de maneira muito complexa. A taxa anual média dedesmatamento entre 2000 e 2005 (22.392 km2 porano) foi 18% maior que a taxa dos cinco anosanteriores (19.018 km2 por ano). Dados da FAOrevelam (FAO 2005) que, de 2000 a 2005, o Brasilrespondeu por 42% da perda florestal líquida global— dos quais, a maior parte ocorreu na Amazôniabrasileira. Como em outras regiões de floresta tropicalúmida do mundo, as conseqüências dessa rápidamudança incluem a perda da diversidade biológica ecultural, mudanças climáticas regionais e,potencialmente, global, e conflitos sociais (ver Quadro1). As projeções indicam que as forças motrizes dodesmatamento e da degradação florestal – como ademanda por madeira e produtos agrícolas —continuarão a crescer na próxima década (Zhu et al.1998; USDA 2005; OECD/FAO 2005). É provável quea perda florestal aumente se as tendências atuaisprevalecerem.

    Em resposta à crescente preocupação pública emrelação ao desmatamento e à degradação florestal naregião, muitos atores estão tentando conciliar odesenvolvimento e conservação por meio de iniciativasque envolvem a fiscalização do cumprimento da

    1INTRODUÇÃO

    Estima-se que 10% a 20% de todas as espéciesconhecidas estejam no Brasil (Capobianco et al.2001; Guimarães Vieira et al. 2005). Odesmatamento possui implicações importantespara a riqueza de biodiversidade, uma vez quemuitas dessas espécies habitam as florestas dabacia amazônica. Não se sabe o número deorganismos afetados pelo desmatamento no Brasil,mas é provável que seja alto, dada a densidade deindivíduos e espécies por hectare da florestaamazônica. Uma estimativa recente sugere quecerca de 50 milhões de pássaros teriam sidoafetados diretamente em 26.000 km2 desmatadosno Brasil entre 2003 e 2004 (Guimarães Vieira et al.2005). O número de primatas afetados nesseperíodo foi estimado em 2 milhões.

    A biodiversidade não é a única vítima dodesmatamento. Outros serviços do ecossistematambém são afetados. Erosão do solo, perda denutrientes, perda das funções reguladoras dabacia hidrográfica e emissão de gases de efeitoestufa são alguns dos mais prejudiciais danos aoecossistema provocados pela exploração edegradação florestal (Fearnside 2005).

    QUADRO 1 DESMATAMENTO E PERDADE BIODIVERSIDADE

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    legislação ambiental e florestal, a criação de unidadesde conservação e a regulamentação da gestão deflorestas públicas. Medidas governamentaisespecíficas neste sentido incluem:

    • Aumento da reserva legal: por lei, osproprietários rurais na Amazônia só podemdesmatar uma parte de suas propriedades; aparte que permanece florestada é chamada deReserva Legal (RL). Em 1996, o governo federalaumentou a RL de 50% para 80% dapropriedade. Isso significa que os proprietáriossó podem desmatar 20% de suas terras. Essamedida foi aprovada pelo Congresso Nacionalem 2001.

    • Penalidades mais severas para crimesambientais: em 1998, o Congresso Nacionalsancionou a lei que aumentou as penalidadespara crimes ambientais (incluindo exploraçãomadeireira ilegal, desmatamento e incêndiosflorestais) de um máximo de US$2.200 para ummáximo de US$ 22 milhões por infração.1 Apenalidade para desmatamento ilegal é deaproximadamente US$700 por hectare (0,01 km2).

    • Criação de unidades de conservação(UCs): as UCs (ver Quadro 2) continuam a serelementos centrais dos esforços para conservar abiodiversidade da região e promover o usosustentável dos recursos naturais. Em maio de2004, 32% da Amazônia brasileira estava situadaem 427 áreas protegidas; um quarto destas eramterras indígenas (Capobianco et al. 2001; Viana eValle 2003; ISA 2004). Em março de 2000, ogoverno federal e parceiros lançaram o programaÁreas Protegidas da Amazônia (ARPA) visando àcriação de novas UCs. As metas do programaincluem a criação de 270.000 km2 de UCs deproteção integral e 90.000 km2 de UCs de

    desenvolvimento sustentável até 2009. O governofederal também lançou, em 2000, o ProgramaNacional de Florestas, que propõe expandir aárea de florestas estaduais e nacionais (florestaspúblicas de produção) de 85.000 km2 para500.000 km2 até 2010 (MMA 2000a). De acordocom a legislação, as florestas públicas deprodução devem ser manejadassustentavelmente para produção de produtos eserviços. De acordo com a lei de gestão deflorestas públicas, aprovada em fevereiro de2006, essas áreas seriam concedidas para usosustentável por meio de licitações públicas.Alguns governos estaduais também têmestabelecido — ou tem se comprometido aestabelecer — novas UCs, como parte deprojetos financiados por Bancos deDesenvolvimento Multilaterais. Esse é o caso doEstado do Pará em um projeto financiado peloBanco Mundial e do Estado do Acre em umprojeto financiado pelo Banco Inter-Americanode Desenvolvimento.

    Em virtude da rápida expansão da agropecuária eda exploração madeireira, essas iniciativas devem serrapidamente implementadas nas áreas prioritáriaspara serem bem-sucedidas. Para isso, sãonecessárias informações precisas e detalhadas sobreas condições atuais das florestas da Amazônia etambém sobre a pressão a que são submetidas. Noentanto, é difícil obter tais informações. Apesar dosavanços como a utilização de imagens de satélite, adimensão e o estágio das atividades humanas naAmazônia brasileira são apenas parcialmenteconhecidos. Desconhece-se até mesmo a totaldimensão do desmatamento. Por exemplo, até 1997,o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)mapeava anualmente as áreas desmatadas maiores

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    O sistema brasileiro de áreas protegidas(Sistema Nacional de Unidades de Conservaçãoda Natureza, ou Snuc) incorpora áreas protegidasmunicipais, estaduais e federais (veja mapa

    QUADRO 2 ÁREAS PROTEGIDAS NO BRASIL

    ÁREAS PROTEGIDAS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA.

    abaixo). O Anexo 1 mostra como as categorias doSnuc estão relacionadas às categorias da IUCN(International Union for the Conservation ofNature and Natural Resources).

    Fonte: Capobianco et al. 2001.

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    que 6,5 hectares. Desde então, o Inpe melhorou suastécnicas de mapeamento usando sistema digital, masainda desconsidera desmatamentos menores do quetrês hectares. Por essa razão, os pequenosdesmatamentos para agricultura de corte e queima ea ocupação incipiente podem ficar ocultos até queatinjam tamanhos maiores.

    A identificação desses pequenos desmatamentose outros indicadores de atividades humanasincipientes nas florestas poderia sinalizar as áreassob risco de aumento de desmatamento edegradação florestal. A localização precisa dessasáreas sob risco proporcionaria um guia estratégicopara conservação e desenvolvimento sustentável naregião. Porém, apesar desse potencial, ainda nãoexiste nenhuma análise ampla que integre taisdados espaciais com outras medidas das condiçõesda floresta e que ajude os planejadores daconservação e desenvolvimento a compreenderem areal dimensão das atividades humanas na região.

    Este relatório busca ajudar a preencher essalacuna de síntese de informação. O relatório compilae integra informação geográfica sobre as principaispressões humanas na Amazônia brasileira (verQuadro 3). Pressão humana, aqui, é definida como apresença de atividades humanas que levam aocompleto desmatamento e à degradação florestal.

    Este relatório diferencia duas classes principaisde áreas sob pressão humana:

    • Pressão humana consolidada. Nessas áreas,a presença humana é totalmente estabelecida,os assentamentos são permanentes e o uso dosolo tende a ser mais intensivo. Os impactosambientais nessas áreas são mais intensos que

    nas fronteiras de ocupação. Esses impactostendem a ser maiores por causa da maiorfragmentação da floresta e das atividadesindustriais e urbanas. Três indicadores foramanalisados nesta categoria: áreas desmatadas,zonas de influência urbana e assentamentos dereforma agrária.

    • Pressão humana incipiente. Esse tipo depressão humana está associada aassentamentos humanos de baixa densidade,nos quais ocorrem extrativismo e agriculturapara subsistência; e à ocupação inicialrelacionada à demanda de mercado. Nessasáreas, a presença humana pode ser temporária.Porém, em alguns casos, colonizadores poderãoocupá-las e influenciar as condições da floresta,fragmentando o ecossistema, por exemplo. Aexploração madeireira, a garimpagem, a caça e acoleta de produtos florestais não-madeireirossão algumas atividades que ocorrem nessasáreas. Dois indicadores foram analisados nestacategoria: zonas de influência de focos de calor(que também são relevantes para as parcelasdesmatadas menores que três hectares) e áreasalocadas para prospecção mineral e umareserva garimpeira.

    Na época da análise, não havia mapas dasestradas não-oficiais e das florestas exploradas emtoda a Amazônia brasileira. Portanto, o mapa dapressão humana produzido não incorpora esses doisindicadores. Todavia, por causa do papel crucialdesses dois fatores na degradação florestal, a relaçãoentre pressão humana, estradas e exploraçãomadeireira foi avaliada usando as informaçõesdisponíveis. Finalmente, a relação entre pressãohumana e unidades de conservação foi avaliada.

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    A Amazônia brasileira se sobrepõe a outrasduas áreas geográficas: A bacia amazônica e aAmazônia Legal. A bacia amazônica se estendepor 6,8 milhões de quilômetros quadrados queabrangem a Venezuela, a Colômbia, o Equador, oPeru, a Bolívia, o Brasil, a Guiana Francesa, aGuiana e o Suriname (Goulding et al. 2003).Sessenta por cento da bacia amazônica está dentrodos limites do Brasil, porção conhecida comoAmazônia brasileira (área sombreada com a linhaescura na figura abaixo). A Amazônia Legal (linhaescura) é uma unidade administrativa que engloba

    QUADRO 3 A AMAZÔNIA BRASILEIRA, A BACIA AMAZÔNICA E A AMAZÔNIA LEGAL

    os Estados do Acre, Amazonas, Roraima, Amapá,Pará, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins eMaranhão, contendo mais de 50% do territóriobrasileiro. Partes dos Estados do Maranhão,Tocantins e Mato Grosso estão fora da baciaamazônica. Oitenta e seis por cento da vegetaçãooriginal da Amazônia brasileira consiste deflorestas densas, enquanto o restante incluiflorestas abertas de transição Amazônia-Cerrado ecampinaranas no alto Rio Negro (Capobianco etal. 2001). Finalmente, a maioria das estatísticasoficiais disponíveis refere-se à Amazônia Legal.

    A AMAZÔNIA BRASILEIRA, A BACIA AMAZÔNICA E A AMAZÔNIA LEGAL

    Fonte do mapa: Dinerstein et al. 1995.

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    Durante séculos, a colonização na Amazôniabrasileira ocorreu ao longo dos principais riosnavegáveis da região. Porém, a partir da década de1960, esse padrão começou a mudar devido a trêsfatores: a construção de infra-estrutura principal(estradas, estabelecimento de assentamentosrurais planejados, aeroportos e barragens dehidroelétricas); a concessão de crédito subsidiadocanalizado principalmente para pecuária de largaescala; e o estabelecimento de uma zona franca nacidade de Manaus. Essas iniciativasproporcionaram um poderoso incentivo paraimigração, abrindo grandes áreas para acolonização, principalmente ao longo do sul daregião e nos principais núcleos urbanos. Iniciadosna metade dos anos 1990, os investimentos eminfra-estrutura pelos governos federal e estadualforam direcionados principalmente àpavimentação das estradas existentes, aodesenvolvimento de portos e à construção de umgasoduto. As demandas do mercado e essesinvestimentos resultaram no aumento dasatividades humanas na Amazônia brasileira.

    Essa nova onda de investimentos tambémprovocou disputas pela posse da terra e adegradação florestal. Em 2003, aproximadamente47% das terras na Amazônia brasileira eram

    2HISTÓRICO E TENDÊNCIAS DA OCUPAÇÃO

    HUMANA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

    públicas, mas com situação fundiária incerta(Lentini et al. 2003). Os conflitos aumentamporque a fiscalização das leis fundiárias éineficiente e o processo de titulação de terra édemorado. Além disso, os órgãos agráriosgovernamentais podem desapropriar propriedadesconsideradas não-produtivas, levando à invasão depropriedades privadas tituladas ou em processo detitulação. Em 2002, 29 líderes sindicais ruraisforam assassinados em conflitos de terra na região(CPT 2003). O desmatamento prematuro ocorreporque as pessoas podem reivindicar apropriedade da terra provando que já moram etrabalham nela há, pelo menos, um ano.

    Essas condições influenciam uma série detendências e dinâmicas que mudam a paisagem daAmazônia brasileira. Para compreender essasdinâmicas, é importante compreender as forças quecondicionam cada indicador analisado neste estudo.

    DESMATAMENTO

    O corte raso da floresta — ou desmatamento —tem aumentado ao longo do tempo (ver áreasdesmatadas na Figura 1). A pecuária é o principaluso do solo nas áreas desmatadas na região (IBGE1995). As áreas desmatadas para pecuária ocupavam

  • PRESSÃO HUMANA NA FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA

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    70% da área total desmatada em 1995, e a área depastagens continua a crescer. Os preços mais baixosda terra e a produtividade um pouco mais altatornam as pastagens de média e larga escalas maislucrativas na Amazônia do que em outras regiões doBrasil (Margulis 2003; Arima et al. 2005).2 Alémdisso, a pecuária de baixa densidade (isto é, menosde uma cabeça por hectare) oferece riscosfinanceiros mais baixos que a produção de soja, arrozou milho (Schneider et al. 2002).

    O rebanho bovino na Amazônia brasileiracresceu de aproximadamente 27 milhões decabeças em 1990 para 64 milhões em 2003; umaumento médio anual de 7%. Em 2003, 35frigoríficos para abate de gado e 16 laticínioslicenciados se concentravam principalmente nosudoeste e nordeste da Amazônia brasileira (verFigura 2). Em 2000, 87% da carne produzida naregião era exportada para outras regiões, e orestante era consumido na própria região (Arimaet al. 2005). A localização dos frigoríficos e adistribuição do desmatamento e do rebanho(Arima et al. 2005) indicam que a pecuária está seexpandindo no leste do Pará, Mato Grosso,Tocantins e em Rondônia. Juntos, esses Estadospossuíam 86% do rebanho da região em 2003(Arima et al. 2005, baseado em dados do IBGE).

    As áreas de cultura anual (como soja, arroz emilho) têm crescido notavelmente. A áreacultivada com culturas anuais aumentou de cercade 5 milhões de hectares em 1990 paraaproximadamente 8 milhões de hectares em 2002(IBGE 2003b). O crescimento tem se concentradoem zonas relativamente planas e menos chuvosasao longo do leste e sul da Amazônia brasileira,usualmente em pastagens plantadas antigas (que

    eram originalmente florestas) ou em áreascobertas originalmente por cerrado nos Estadosde Mato Grosso e Maranhão. Em 2002, esses doisEstados possuíam 83% da área plantada com soja,arroz e milho na Amazônia Legal (IBGE 2003b).

    Os prognósticos para a expansão de culturasanuais nas partes mais úmidas da Amazôniabrasileira são incertos. Quanto maior o índicepluviométrico, maior a incidência de pragas edoenças; e a alta incidência de chuvas dificulta acolheita mecanizada. As terras agrícolas nãoutilizadas — que indicam áreas que foramdesmatadas e abandonadas — refletem essatendência. Em 1995, as terras agrícolas nãoutilizadas representavam 8% da área total cultivadanas zonas menos chuvosas da região e, 28% naszonas mais úmidas (Schneider et al. 2002).

    O plantio de culturas anuais intensivas(agricultura mecanizada) em áreas anteriormenteutilizadas para pastagem está deslocando apecuária das bordas para o centro da região. Umindicador desse deslocamento é o aumento dospreços da terra ao longo da Rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163) no Estado do Pará —entrenovembro de 2001 e abril de 2002, os preços daspastagens e das terras florestadas aumentaram,respectivamente, 29% e 250% (estimativa baseadanos dados do FNP 2002).

    Apesar das restrições legais, o desmatamentocomumente impacta áreas ambientalmentesensíveis. O Código Florestal brasileiro exige queos proprietários de terra protejam as florestasciliares e topos de morro e conservem 80% dacobertura florestal em suas propriedades comoreserva legal. Porém, a fiscalização ainda é um

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    Fonte de dados: IBGE 2003a

    FIGURA 3 POPULAÇÃO DA AMAZÔNIA LEGAL ENTRE 1950 E 2000.

    desafio. Um estudo realizado no leste do Parádocumentou a remoção ilegal de floresta nativa em60% das florestas ciliares nas fazendas avaliadas(Firestone e Souza 2002). Além disso,funcionários do governo de Mato Grossoconstataram, em 2000, que 71% das 1.600propriedades rurais visitadas naquele ano haviamviolado o Código Florestal, incluindo a retirada dematas ciliares e o desmatamento de reservas legais(Souza e Barreto 2001).

    ZONAS DE INFLUÊNCIA URBANA

    Entre 1960 e 2001, a população total daAmazônia Legal aumentou de cerca de 4 milhõespara mais de 20 milhões (IBGE 2002). A populaçãourbana quase triplicou, passando deaproximadamente 5 milhões para 14 milhões entre

    1980 e 2000. Em contraste, a população ruralcomeçou a declinar após 1991 (ver Figura 3). Ocrescimento das áreas urbanas tem levado aodeclínio da qualidade ambiental e das condições devida. A expansão da pecuária altamente extensivaestá associada aos mercados urbano e nacional eparece ser uma condicionante muito mais poderosado desmatamento do que o crescimento dapopulação rural. A Figura 4 apresenta a localizaçãodas sedes dos 450 municípios da Amazôniabrasileira mapeados em 1997.

    ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA

    Desde o final dos anos 1970, famílias sem-terrae pessoas pobres das áreas urbanas têmpressionado o governo por terras. O InstitutoNacional de Colonização e Reforma Agrária

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    Fonte de dados: Incra 2002

    FIGURA 5 EVOLUÇÃO DA ÁREA E DO NÚMERO DEPROJETOS DE ASSENTAMENTOS DE REFORMAAGRÁRIA NA AMAZÔNIA LEGAL ENTRE 1995 E 2002.

    (Incra) concede às famílias sem-terra o direito deuso e título de lotes agrícolas como parte de umprograma de reforma agrária. O crescimento médiodo número de famílias que participam de projetosde reforma agrária na Amazônia Legal foi de 52.500famílias por ano entre 1994 (total de 161.500famílias) e 2002 (total de 528.571 famílias) (vercrescimento do número de projetos e da área deassentamentos na Figura 5). Cada família tem odireito de uso de um lote de 50 a 100 hectares.

    O governo federal também fornece subsídiosaos assentados dos projetos na forma de cestasbásicas de alimentação, dinheiro para construçãode casas e crédito agrícola a taxas de juros baixas.Isto, juntamente com a concessão dos direitoslegais à terra, torna os colonos dos projetos dereforma agrária mais propensos a desmatar do quepequenos agricultores sem subsídios (Wood et al.2003). As vendas de madeira também tornam a

    ocupação inicial desses projetos atrativa para ossem-terra3. Todavia, após o esgotamento dosrecursos madeireiros, as receitas tendem a serrelativamente baixas4. Assim, muitas famíliasabandonam ou vendem ilegalmente os lotes parabuscar novas áreas de colonização ou migrar paraos centros urbanos. Estima-se que entre 50% e60% dos lotes de reforma agrária no sul do Paráforam ilegalmente vendidos (Agência Estado2004). Algumas dessas terras são consolidadas empropriedades maiores, que tendem a sereconomicamente mais eficientes e lucrativas.

    Em 2002, 8% da área total de terra dos projetosde assentamento de reforma agrária no biomaAmazônia estava nas mãos de seringueiros ecoletores de castanha-do-pará, que receberam odireito de uso após o assassinato do líder seringalistaChico Mendes. A maior parte desses projetos (9 de14) — chamados de “Projetos Agro-extrativistas” —

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    foi criada no Estado do Acre onde vivia ChicoMendes. Teoricamente, a população agro-extrativistaseria mais propensa a usar essas áreas para manejoflorestal e agricultura de pequena escala.

    Contudo, o governo federal reconhece que, emgeral, a reforma agrária tem causado “perdassociais e ambientais, desmatamento, abandono esubseqüente concentração fundiária” (Presidênciada República 2004). A Figura 6 apresenta alocalização e a área de assentamentos de reformaagrária estabelecidos até 2002.

    INCÊNDIOS FLORESTAIS

    Apesar de muitas florestas da Amazônia teremuma forte capacidade de resistir a queimadas, osincêndios descontrolados representam umproblema cada vez maior na Amazônia brasileira(Nepstad et al. 2004; Cochrane 1999). As florestasqueimadas são bastante suscetíveis a incêndiosrecorrentes, que, por sua vez, são mais severos emintensidade e impacto (Cochrane 1999). O fogo éo principal instrumento usado para limpar o solologo após o desmatamento para estabeleceragricultura e, em seguida, para a manutenção depastagem. Esse fogo escapa acidentalmente dasterras agrícolas para as áreas de floresta, em suamaioria para florestas exploradas que são maissuscetíveis a queimadas. Metade dos incêndiosflorestais na Amazônia é acidental (Nepstad et al.1999) e podem ocorrer ou nas áreas de ocupaçãohumana consolidada ou nas fronteiras deocupação. Há dados disponíveis sobre a incidênciadiária de incêndios. Entre 2000 e 2002, o númerode incêndios na Amazônia quase dobrou de 22.000por ano para quase 43.000 por ano, indicando aaceleração da ocupação humana (ver Figura 7).

    MINERAÇÃO

    A mineração geralmente não envolve odesmatamento de grandes áreas de floresta.Porém, elas podem servir como catalisadoras dodesmatamento e extração de madeira pelo fato deestarem associadas à construção de estradas,acúmulo de capital e imigração (Bezerra et al.1996). Por essa razão, os mapas de áreas paramineração podem indicar a ocorrência de pressãohumana incipiente e aquelas com potencial para oestabelecimento dessas atividades (ver Figura 8).

    De acordo com a legislação brasileira, amineração tem prioridade sobre os outros usos dosolo ou subsolo. Se áreas alocadas para mineraçãose tornarem economicamente viáveis, a melhoriada infra-estrutura, do transporte e de outrosserviços poderia levar à rápida imigração e aodesmatamento.

    Além da mineração legal, os mineradoresinformais (garimpeiros) também representamuma fonte de pressão humana na Amazôniabrasileira. No início dos anos 1990 havia cerca de 1milhão de garimpeiros em mais de dois milgarimpos na região (Pinto 1993). A garimpagemde ouro causa impactos ambientais diretos emvirtude do desmatamento para a construção damina e do campo de mineração adjacente (Bezerraet al. 1996), e impactos indiretos como a erosão dosolo e a poluição com mercúrio (Mathis e Rehaag1993). A construção de infra-estrutura e oacúmulo de capital propiciam a base para outrasatividades de uso do solo e mais fronteiras deexpansão da ocupação. Esse fenômeno ocorreu noinício dos anos 1990, na bacia do Rio Tapajós nooeste do Pará, onde 245 garimpos empregavam

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    cerca de 30.000 pessoas (Bezerra et al. 1996). O valorbruto do ouro extraído chegava a US$ 110 milhõespor ano, que ajudavam a financiar a conversão dosolo para usos não-florestais como, por exemplo,fazendas de gado. Quando o ouro se esgota, osgarimpeiros mal-sucedidos freqüentemente vão embusca de assentamentos de reforma agrária ou semudam para os centros urbanos.

    EXPLORAÇÃO MADEIREIRA

    A exploração madeireira tem sido uma dasprincipais catalisadoras da colonização naAmazônia brasileira, pois para chegarem àsflorestas nativas, os madeireiros abrem estradas eusam os cursos de água navegáveis. Em 2004,aproximadamente 3.100 empresas deprocessamento de madeira (serrarias, fábricas decompensado e laminado) processavam 24,5milhões de metros cúbicos de toras; 36% damadeira processada era exportada para outrospaíses e o restante era consumido no Brasil(Lentini et al. 2005). Os impactos ambientais eecológicos da exploração madeireira só foramparcialmente avaliados. Eles podem serextremamente variáveis em virtude da diversidadede métodos de exploração empregados e daocorrência de impactos secundários. Além domais, os exploradores de madeira têm abertomilhares de quilômetros de estradas em terraspúblicas e privadas, que se tornaram canais-chavepara mais colonização (Veríssimo et al. 1995;Greenpeace 2001; Brandão e Souza 2006).

    A exploração seletiva de madeira está espalhadaem grandes áreas e pode causar de danos leves aseveros na floresta. A exploração de madeira não-planejada gera maior quantidade de resíduos

    vegetais e abre clareiras maiores no dossel florestaldo que as operações de extração planejadas,tornando as florestas mais suscetíveis a incêndiosoriginados em áreas usadas para agropecuária(Veríssimo et al. 1992; Veríssimo et al. 1995; Uhl etal. 1991; Holdsworth e Uhl 1997; Johns et al. 1996;Gerwing 2002). Os impactos da exploraçãomadeireira autorizada também são negativosquando os exploradores não aplicamadequadamente as técnicas de manejo aprovadas5.Algumas empresas madeireiras e comunidadesadotaram melhores práticas de manejo florestal, oque na Amazônia brasileira, geralmente significa aadoção de “certificação verde”, visto que acredibilidade das operações não-certificadas ébaixa. Contudo, a área total de produção de madeiracertificada com o selo verde na região continuapequena. Em novembro de 2005 havia 12.619 km2

    de áreas certificadas pelo FSC (FSC 2005). Essaárea é equivalente a apenas 3,4 % da área totalestimada necessária para suprir sustentavelmente acolheita anual de madeira na Amazônia brasileira.

    A área total afetada pelos vários métodos deextração madeireira na Amazônia brasileira édesconhecida, e os dados são temporalmente eespacialmente incompletos. As atuais condiçõesdas operações de exploração madeireiraautorizadas, por exemplo, são obscuras, visto queo ultimo relatório emitido pelo Ibama foi baseadoem dados de 2001. Estimativas aproximadas daárea impactada anualmente variam de 10.000 km2 a20.000 km2 com incertezas de 17% a 100%(Nepstad et al. 1999; Matricardi et al. 2001;Cochrane 2000). É de especial interesse a maisrecente análise (Asner et al. 2005) que usaimagens de satélite de 2000 a 2002 para identificaráreas afetadas pela exploração seletiva de madeira.

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    A comparação da informação disponível —como a localização das áreas com autorização deexploração madeireira concedida pelo governo (verFigura 9) — com mapas das florestas exploradaspoderia ser usada como um substituto aproximadopara identificar a distribuição dessa atividade naAmazônia brasileira. A interpretação sistemáticade imagens de satélite, combinada comverificações de campo, representa um instrumentopromissor para avaliar a extensão e o impacto daexploração madeireira na escala regional (verFigura 10).

    ESTRADAS

    Uma série de estudos demonstra que asestradas, mesmo aquelas abertastemporariamente pelos madeireiros e garimpeiros,facilitam a colonização subseqüente. Veja algunsexemplos:

    • Empresas madeireiras em busca de mogno(Swietenia macrophyla) eram as principaisconstrutoras de estradas madeireiras no suldo Pará durante os anos 1980; em 1992, essarede se estendia por quase 3.000 km(Veríssimo et al. 1995) e continua a crescerdesde então (Greenpeace 2001).

    • Durante os anos 1980, garimpeiros eempresas de mineração também abriramestradas informais no sul do Pará (Mertens etal. 2002). Os colonizadores avançaram aolongo das estradas abertas pela exploração demadeira e mineração, onde a agricultura e a

    pecuária se tornaram viáveis (Veríssimo et al.1995; Mertens et al. 2002).

    • As empresas madeireiras, colonizadores egovernos locais também têm construídoestradas vicinais ao longo da RodoviaTransamazônica no Pará, nordeste de MatoGrosso e sul do Amazonas (Rodgers 2003;Greenpeace 2002), o que poderia explicar aalta concentração de incêndios florestaisnessas áreas;

    Uma preocupação especial são as estradas não-oficiais — estradas construídas sem planejamentoe autorização requerida por lei (ver Quadro 4). Emalguns casos, as estradas não-oficiais servemsomente para a extração temporária de recursosde alto valor como mogno e ouro, em áreasisoladas da infra-estrutura oficial. Madeireiros,fazendeiros e mineradores têm aberto uma redevasta e crescente de estradas não-oficiais,possibilitando a ocupação humana temporária oupermanente em extensas áreas na região. A vastaproliferação de estradas não-oficiais sugere umimpacto ainda mais amplo e uma mudança aindamais rápida na Amazônia brasileira.

    A intensificação da pressão humana dependeem grande medida da continuação deinvestimentos em infra-estrutura de transporte.Isso está acontecendo em algumas áreas porque osprimeiros colonizadores que construíram asestradas informais usualmente pressionam ogoverno para manter e melhorar a infra-estruturada área.

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    Centenas de quilômetros de estradas estãosendo construídas na Amazônia brasileira semplanejamento e autorização exigida por lei. Estradasnão-oficiais incluem estradas privadas e estradasilegais ou informais. Até recentemente, ocrescimento e a extensão de estradas não-oficiais naAmazônia brasileira não haviam sido documentados.Com o apoio do WRI e outros financiadores, oImazon identificou, mapeou e quantificou a extensãoe crescimento das estradas não-oficiais na regiãocentro-oeste do Estado do Pará (também conhecidacomo Terra do Meio), uma área que representaaproximadamente metade do Estado. A análise ébaseada na interpretação visual de imagens desatélite. Quase metade da Terra do Meio são terrasdevolutas, enquanto a outra metade são unidades deconservação (IBGE 1997; ISA 1999).

    Três tipos de estradas foram identificadas apartir de imagens de satélite para três períodos(1985-1990; 1991-1995; 1996-2001):

    • Estradas visíveis: características linearescontínuas visíveis para o olho humano emimagens de satélite Landsat.

    • Estradas fragmentadas: característicaslineares não-contínuas visíveis para o olhohumano. Os fragmentos podem ser traçados

    para conectar trechos menos visíveis aquelesque são visíveis na imagem.

    • Estradas parcialmente visíveis:características lineares que não sãoexplícitas nas imagens e podem seridentificadas somente com base em seucontexto e arranjo espacial (por exemplo,áreas desmatadas adjacentes).

    Os estudos do Imazon revelaram que 80% dasestradas (~ 21.000 km) na Terra do Meio são não-oficiais. Além disso, quase 60% desses corredoresestão localizados em terras devolutas adentrandograndes blocos de florestas potencialmente deinteresse para a criação de unidades deconservação. Os resultados dos estudos sugeremque áreas protegidas reduzem o avanço deestradas não-oficiais, uma vez que as taxas médiasde crescimento de estradas não-oficiais dentro deunidades de conservação são três vezes maisbaixas do que aquelas fora destas áreas.

    Com base nessa experiência, o Imazon estáestendendo o mapeamento das estradas não-oficiais para outros Estados da Amazôniabrasileira. Para uma descrição mais detalhada dosmétodos de mapeamento, resultados eimplicações, ver Brandão e Souza (2006).

    QUADRO 4. MAPEAMENTO DE ESTRADAS NÃO-OFICIAIS NA TERRA DO MEIO NO PARÁ

  • PRESSÃO HUMANA NA FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA

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    A análise da pressão humana foi conduzida emduas fases. Na primeira foi criado um mapa depressão humana sobrepondo mapas de váriosindicadores sobre um mapa de vegetação nativa.Na segunda fase, este mapa produzido foi usadopara analisar a relação entre a pressão humana e asáreas protegidas, as estradas e a exploraçãomadeireira. A escala dos mapas de pressãohumana é 1:1.000.000.

    COMO A PRESSÃO HUMANA FOI MAPEADA

    Cinco mapas foram sobrepostos sobre ummapa de vegetação (IBGE 1997) na seguinteordem (Observe que as figuras citadas aqui sãoencontradas na seção anterior):

    • Áreas desflorestadas até 2001, usandodados do Inpe (ver Figura 1).

    • Influência das zonas urbanas em 1997. Paraestimar a área sob influência urbana, foitraçado um raio de 20 km em torno de cadauma das 450 sedes municipais da região (verFigura 3). A escolha desse raio foi baseadaem observações no campo. Na época daanálise, somente a localização das sedesmunicipais era disponível; assim, a pressãode outros centros populacionais comopequenas localidades e vilas não foi

    3MAPEANDO A PRESSÃO HUMANA

    NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

    diretamente incluída. Além disso, diferentessedes municipais possuem diferentestamanhos de população e, por isso, a extensãoe o nível de pressão podem variar de acordocom esse tamanho. O uso de um raiopadronizado de 20 km pode não capturarexatamente a pressão de vários tamanhos depopulação, mas outros indicadores como odesmatamento e incêndios florestais (vejaabaixo) provavelmente capturem as pressõesalém desse raio.

    • Polígonos de assentamentos de reformaagrária em 2002 (ver Figura 5). Tais áreaspodem estar parcialmente florestadas, porém,estão sob forte pressão porque foramalocadas para assentamentos humanos e sãoáreas prioritárias para investimento em infra-estrutura pelo governo.

    • Zonas de influência de focos de calor.Nesta análise, essas zonas se referem à zonaestimada de atividades humanas incipientesassociadas a incêndios florestais. As zonasde influência de focos de calor constituemum raio de 10 km ao redor dos focos de caloridentificados por satélite entre 1996 e 2002(ver Figura 7). Esse raio é um limitearbitrário que não considera característicasecológicas, da paisagem ou físicas; em vez

  • PRESSÃO HUMANA NA FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA

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    disso, é baseado na estimativa da distânciamáxima que um caçador percorreria andandodesde um determinado ponto de acessodentro da floresta para conseguir a caça maislucrativa (Peres e Terborgh 1995). Os focosde calor também indicam outras atividadeshumanas. As zonas de influência de focos decalor contêm pequenas áreas (em sua maioriamenores que 3 hectares) desmatadas equeimadas, mas que não foram incluídas nomapa de desmatamento do Inpe porque sãomenores que o limite mínimo domapeamento. As zonas de influência de focosde calor podem também sinalizar as florestasexploradas atingidas por incêndios queescaparam de áreas desmatadas adjacentes.Em suma, essa zona é um indicadoraproximado de áreas sob pressão incipientede caça, pequenos desmatamentos, incêndiosflorestais e exploração madeireira.

    A validade do uso do limite de 10 km foi testadaao examinarmos a relação entre pressãohumana, estradas e exploração madeireira (Vejaabaixo). Os resultados parecem apoiar o limite:metade das operações de exploração madeireiraautorizadas estava dentro das zonas deinfluência de focos de calor; e, em áreas para asquais havia informação detalhada sobreestradas, 76% da área de influência de focos decalor era acessível por estradas ou riosnavegáveis (ver discussão sobre exploraçãomadeireira na Seção 4).

    Apesar de haver dados sobre incêndiosflorestais disponíveis somente após 1996, e abase de dados ser incompleta para 1996 e1997-98, as zonas de influência de focos de

    calor podem provavelmente capturar umaporção significativa da pressão humanaincipiente6. Nas áreas com sinais maisantigos de ocupação incipiente — porexemplo, onde ocorreram incêndios florestaisantes de 1996 — ou o desmatamentoaumentou e, por essa razão, as áreas foramincluídas no mapa de desmatamento do Inpe;ou a ocupação continuou incipiente — isto é,pequenos agricultores continuam a praticar aagricultura de corte e queima em pequenaescala. Nesse caso, novos incêndios florestaisforam capturados nas adjacências das antigasáreas cultivadas e foram incluídos no raio de10 km ao redor do foco de calor.

    As áreas exclusivamente com incêndiosflorestais mais recentes podem indicar zonasonde a fronteira de ocupação está seexpandindo. Para mostrar tais zonas, algunsdos mapas distinguem as zonasexclusivamente de influência de focos decalor mais recentes (2000-2002) das zonas deinfluência de focos de calor mais antigas(1996-1999). Para separar tais zonas, as zonasde foco de calor com focos antigos e novosforam classificadas como zonas de influênciade focos de calor antigas.

    • Áreas alocadas para prospecção mineral euma reserva garimpeira em 1998(Capobianco et al. 2001). As áreas licenciadaspara prospecção mineral não estãonecessariamente ativas, mas podem se tornarse forem encontrados minerais de interesse(ver Figura 8).

    Essa seqüência indica a hierarquia decrescentedas camadas de dados. Assim, os mapas com

  • PRESSÃO HUMANA NA FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA

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    informações mais precisas e que mostram o graumais alto de transformação na vegetação naturalsão colocados sobre a informação menos precisaou a que indica menos pressão. Por exemplo, asáreas desmatadas que se sobrepuseram às áreasde influência das zonas urbanas ou às áreaslicenciadas para prospecção mineral foramclassificadas como desmatada.

    Pela falta de um mapa de todas as florestasexploradas, um mapa da localização de áreasautorizadas oficialmente para exploraçãomadeireira em 2000 foi sobreposto a um mapa depressão humana para fornecer uma indicaçãoaproximada das regiões pressionadas pela extraçãode madeira (ver Figura 9). As coordenadasgeográficas dos projetos de manejo florestalaprovados pelo Ibama foram compiladas peloGreenpeace Brasil usando dados do Ibama.

    Além disso, foi feita uma comparaçãopreliminar entre o mapa de pressão humana e omapa da exploração madeireira seletiva entre 2000e 2002 (Asner et al. 2005). O estudo de Asner é aanálise mais recente da exploração seletiva demadeira na maior parte da região usando imagensde satélite.

    PRESSÃO HUMANA NAS ÁREASPROTEGIDAS

    O mapa de pressão humana foi sobreposto aosdados existentes sobre áreas protegidas:

    • Áreas protegidas existentes em 2004 (ISA2004; Viana e Valle 2003).

    • Áreas prioritárias para conservação foradas áreas protegidas. Essas áreas foramidentificadas sobrepondo-se o mapa de áreas

    prioritárias para conservação (Capobianco etal. 2001) ao mapa de áreas protegidas.Embora o mapa de áreas prioritárias paraconservação seja a compilação maisatualizada de inventários de grupostaxonômicos disponíveis na região, ele éincompleto devido à amostragem limitada ounão existente em áreas mais remotas. Poressa razão, a avaliação da pressão humanapode subestimar as áreas prioritárias paraconservação.

    • Áreas identificadas com potencial para oestabelecimento de florestas públicas deprodução (Veríssimo et al. 2000).

    A hipótese que a pressão humana sobre as áreasprotegidas seria influenciada pela sua proximidadecom estradas foi testada estimando-se oscoeficientes de correlação não-paramétrica deSpearman entre as proporções de áreas protegidasdentro de intervalos de distância até as estradas (<25 km, 25-50 km e >50 km) e as proporções queestavam: (i) desmatadas e (ii) dentro do raio de 10km ao redor dos focos de calor.

    COMO A RELAÇÃO ENTRE ESTRADAS E APRESSÃO HUMANA FOI ANALISADA

    Foram usadas três abordagens para avaliar arelação entre as estradas e a pressão humana:

    • Medição da distribuição cumulativa (emporcentagem) de cobertura florestal epressão humana dentro de intervalos de 10km de cada lado das estradas oficiaisexistentes em 1999 (IBGE 2003a).

    • Análise da associação entre estradas oficiais enão-oficiais no norte do Mato Grosso (76,000km2) e centro e sul do Pará (546,000 km2).

  • PRESSÃO HUMANA NA FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA

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    Isso foi feito medindo-se a distribuiçãocumulativa (em porcentagem) de estradasnão-oficiais dentro de intervalos de 10 km apartir de cada lado da rede de estradasoficiais.

    • Medição da área sob ocupação humanaincipiente interceptada por pelo menos umarota de transporte (estradas oficiais e não-oficiais ou rios navegáveis) em áreas onde arede completa de estradas era disponível(Souza et al. 2004).

    A análise da pressão humana é parte de umesforço coordenado pelo Programa ObservatórioFlorestal Global (Global Forest Watch - GFW) doWRI para averiguar a extensão e o impacto dasatividades humanas em importantes regiõesflorestadas do mundo. Análises em outros locaisincluem:

    • Mapeamento da integridade florestalidentificando as grandes paisagens florestadas

    menos impactadas pelas atividades humanasvisíveis nas imagens de satélite nas florestasboreais do Canadá, Alaska, Rússia,Fennoscandia e Alaska e florestas temperadasúmidas costeiras do Canadá, Alaska e Chile(Aksenov et al. 2002; Lee et al. 2003; Hájek2000; Strittholt et al. em preparação; Verscheureet al. 2002).

    • Mapeamento de áreas acessíveis à exploraçãode madeira em florestas tropicais da Indonésia(FWI/GFW 2002) e África Central (Minnemeyer2002); medição da expansão de estradas emflorestas para monitorar o desenvolvimento daexploração florestal e identificar potencialexploração ilegal (Van Pol et al. 2005).

    Os métodos de mapeamento usados nessasoutras análises globais, regionais e nacionaistentam estabelecer uma consistência global, aomesmo tempo em que são sensíveis às realidadeslocais, tais como, a disponibilidade de dados e asdiferenças ecológicas.

  • PRESSÃO HUMANA NA FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA

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    Em 2002, aproximadamente 47% da Amazôniabrasileira apresentava algum sinal de pressãohumana (Ver Tabela 1 e Figura 11). As áreas sobpressão consolidada representavam quase 19% daárea estudada, enquanto as áreas sob pressãoincipiente representavam 28% (ver Figura 12). Asáreas sob pressão humana consolidada incluíam11% desflorestadas, aproximadamente 6% d