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 Controle social das contas público avançado | universidade aberta do nordeste 1 UNIDADE 1 GESTÃO ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO 1  Objetivos da Unidade 1 Os objetivos desta unidade do Curso Controle Social das Contas Públicas são:  Conhecer as definições básicas de Ética, Valor e Norma.  Compreender as normas que regem o serviço público e as exigências necessárias a quem exerce cargo público.  Ampliar seus conhecimentos acerca do conceito de governo eletrônico. Ética: Definições O que queremos dizer quando nos referimos à “ética do servidor público”? Sem querer buscar definições artificiais, podemos tentar descobrir no próprio uso comum do termo ética algumas indicações que esclareçam seu sentido. Um primeiro sentido identificável no uso comum da palavra ética tem a ver com a adoção dessa palavra em expressões como “ética médica”, “ética jornalística”, “ética do servidor público”, etc. Nesse sentido, Ética significa um padrão ao qual um determinado conjunto de pessoas (geralmente definido em termos profissionais) está submetido na medida em que atua como médico, jornalista, servidor público, etc. Esse padrão muitas vezes manifesta-se na forma de códigos de ética, que, ao serem fixados, devem respeitar dois limites. O primeiro, imposto pela lei, e o segundo, pela norma mais geral da sociedade a que pertence esse grupo. Muitas vezes usamos ética com um sentido valorativo. Quando dizemos que uma pessoa é ética estamos, em geral, aprovando-a, isto é, estamos dizendo que essa pessoa age de forma correta, boa, aceitável, etc. Como é fácil de ver, os dois sentidos de ética aproximam-se e combinam-se, formando o sentido geral do que queremos dizer quando falamos comumente de ética. Quando aprovamos a 1  O conteúdo desta Unidade baseia-se originalmente nos fascículos 9 “Mecanismos de Controle Social da Ética Civil” (escrito  por Francisco Auto Filh o) e 11 “Ética no Serviço P úblico: Alguns Pontos Fundam entais” (autoria de Cláudio R eis), ambos do Curso Administração Pública e Gestão Ética, da Fundação Demócrito Rocha (FDR).

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    UNIDADE 1

    GESTO TICA NO SERVIO PBLICO1

    Objetivos da Unidade 1

    Os objetivos desta unidade do Curso Controle Social das Contas Pblicas so: Conhecer as definies bsicas de tica, Valor e Norma. Compreender as normas que regem o servio pblico e as exigncias necessrias a quem exerce

    cargo pblico. Ampliar seus conhecimentos acerca do conceito de governo eletrnico. tica: Definies O que queremos dizer quando nos referimos tica do servidor pblico? Sem querer buscar definies artificiais, podemos tentar descobrir no prprio uso comum do termo tica algumas indicaes que esclaream seu sentido. Um primeiro sentido identificvel no uso comum da palavra tica tem a ver com a adoo dessa palavra em expresses como tica mdica, tica jornalstica, tica do servidor pblico, etc. Nesse sentido, tica significa um padro ao qual um determinado conjunto de pessoas (geralmente definido em termos profissionais) est submetido na medida em que atua como mdico, jornalista, servidor pblico, etc. Esse padro muitas vezes manifesta-se na forma de cdigos de tica, que, ao serem fixados, devem respeitar dois limites. O primeiro, imposto pela lei, e o segundo, pela norma mais geral da sociedade a que pertence esse grupo. Muitas vezes usamos tica com um sentido valorativo. Quando dizemos que uma pessoa tica estamos, em geral, aprovando-a, isto , estamos dizendo que essa pessoa age de forma correta, boa, aceitvel, etc. Como fcil de ver, os dois sentidos de tica aproximam-se e combinam-se, formando o sentido geral do que queremos dizer quando falamos comumente de tica. Quando aprovamos a

    1 O contedo desta Unidade baseia-se originalmente nos fascculos 9 Mecanismos de Controle Social da tica Civil (escrito por Francisco Auto Filho) e 11 tica no Servio Pblico: Alguns Pontos Fundamentais (autoria de Cludio Reis), ambos do Curso Administrao Pblica e Gesto tica, da Fundao Demcrito Rocha (FDR).

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    atuao, por exemplo, de um mdico ou de um jornalista dizendo que ele tico, queremos dizer que segue o padro que define sua atuao como mdico ou jornalista. Quando se exige tica no servio pblico ou na vida pblica em geral o que se est pedindo que se fixe um padro a partir do qual podemos, em seguida, julgar a atuao dos servidores pblicos ou das pessoas envolvidas na vida pblica. Mas, sobretudo, o que se exige que a atuao dos servidores seja tica, no sentido valorativo apontado acima. Ou seja: No basta que exista o padro, necessrio e esse o sentido mais srio da exigncia que o padro seja efetivamente seguido e que isso transparea de fato na atuao do servio pblico. Nesse sentido, promover a tica significa promover o conhecimento e a observncia desse padro2. Na medida em que a preocupao com a promoo da tica institucionaliza-se em um programa de gesto, gerir a tica significa criar as condies institucionais adequadas (atravs da emisso de normas, procedimentos, treinamento, etc.) para a efetiva implementao dessa norma. O que so Valores? Um padro tico compreende, fundamentalmente, dois elementos: valores e normas. Fixar o padro tico significa explicitar os valores que afirmamos e definir as normas que, ao serem seguidas, ajudam-nos a realizar esses valores. Um valor , genericamente, tudo aquilo que afirmamos merecer ser desejado. sempre um aspecto que, quando possudo por algo, d-lhe um carter positivo e pode ter formas variadas. Afirmamos, em primeiro lugar, que determinados fins devem ser desejados ou buscados. Dizemos, por exemplo, que ter sade, felicidade e uma boa educao so coisas que merecem ser buscadas ou desejadas. Elas tm valor ou so, para ns, valores. Tambm afirmamos que determinadas caractersticas das pessoas ou de suas aes merecem ser aprovadas. Dizemos, por exemplo, que uma pessoa honesta ou veraz, uma ao corajosa ou uma pessoa temperante tm mrito. Honestidade, veracidade, coragem e temperana so, para ns, tambm valores, o que significa que devem ser cultivados e promovidos (em ns e nos outros). Os valores funcionam em geral como orientadores de nossas escolhas e decises. Ao determinar quais so as coisas que merecem ser desejadas, podemos mais facilmente estabelecer nossas preferncias e, em funo disso, escolher e decidir. Da a importncia de se ter claro quais so nossos valores. O que so normas? Outro elemento fundamental do padro tico so as normas. Normas so regras cujo objetivo realizar um valor. Se valorizamos a honestidade, por exemplo, natural que aceitemos uma norma ou uma regra que proba a mentira ou outra que diga que devemos sempre manter nossas promessas. As normas ou regras podem ter graus variados de generalidade. H regras muito gerais, de ampla aplicao, como, por exemplo, uma regra que dissesse: Faa sempre aquilo que resultar no maior benefcio para o maior nmero. Essas regras muito gerais so frequentemente chamadas, especialmente no contexto da tica filosfica, de princpios. Um princpio, como o prprio nome j indica, um comeo: algo que posto no incio, como base ou fundamento.

    2 Padro tico: no sentido em que nos interessa aqui, tica (ou diz respeito a) um padro aplicvel a um grupo bem definido, o qual nos permite avaliar agentes e suas aes como bons ou maus, certos ou errados, justos ou injustos, etc. Portanto, padro tico serve tanto para avaliar a atuao de um grupo no sentido apontado quanto para orientar sua conduta. GLOSSRIO

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    H princpios de vrios tipos, em vrios domnios: matemticos, lgicos e tambm morais. H muitos princpios morais, alguns de origem religiosa, outros de origem filosfica3. Os princpios, entendidos como regras muito gerais, servem para guiar nossas escolhas, do mesmo modo que nossos valores. Assim, fixar nossos princpios, tal como fixar nossos valores, importante para orientar nossas decises e escolhas, bem como para pr s claras as bases ticas de nossa convivncia. Valores e normas compem, ento, essencialmente nosso padro tico. O Padro tico do Servio Pblico Posto isso, qual deve ser agora o padro tico do servio pblico em geral? No nos cabe aqui ditar qual seja esse padro (s o conjunto dos servidores pblicos deve poder fixar seu padro tico), mas podemos apresentar algumas reflexes preliminares sobre aspectos desse padro, em especial sobre os valores includos nele. O ponto fundamental e que deve ser bem compreendido que o padro tico do servio pblico decorre de sua prpria natureza. Os valores fundamentais do servio pblico decorrem primariamente do seu carter pblico e de sua relao com o pblico. De um ponto de vista normativo, ou seja, do ponto de vista do dever ser, podemos imaginar que o Estado (e a estrutura administrativa que o torna funcional) foi institudo com o propsito de realizar determinados fins daqueles que o instituram. Podemos imaginar que existe uma espcie de pacto entre aqueles que governam e administram o Estado e aqueles que, em certo sentido, concederam-lhes a autoridade suficiente para agir de modo a garantir a realizao daqueles fins. Deveramos pensar que essa autoridade concedida como que em depsito: Os governantes e administradores da coisa pblica recebem, como um depsito feito em confiana, a autoridade de que dispem. Nesta maneira de ver, essa confiana que autoriza os governantes. Sem ela, a autoridade desfaz-se ou torna-se arbitrria. Apenas como ilustrao, notemos que essa ideia sumarizada nos Padres de Conduta tica para Funcionrios do Poder Executivo4, principal documento norte-americano relativo tica no servio pblico. Segundo esse documento, o princpio fundamental, do qual decorre a obrigao bsica do servio pblico, que esse servio uma misso pblica (public trust), isto , envolve uma espcie de depsito de confiana por parte do pblico. O padro tico do servio pblico, assim, deve refletir, em seus valores e em suas regras, a necessidade primria de honrar essa confiana. Da mesma forma, a necessidade do respeito a essa confiana depositada pelo pblico est implcita nos Princpios da Administrao Pblica afirmados pela Constituio Federal5 que so:

    Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficincia. Pare a leitura, um pouquinho, agora. O que quer dizer cada um desses princpios? Por que eles so importantes?

    3 Na tradio filosfica, dois princpios so particularmente importantes. O princpio da maior felicidade, proposto pelos filsofos utilitaristas, diz que devemos agir de tal maneira a promover a maior felicidade (entendida por eles, em geral, em termos de bem-estar) do maior nmero possvel dos afetados por nossa ao. J o imperativo categrico, de Kant, diz que devemos agir de tal modo que possamos querer que a regra escolhida para nossa ao possa ser uma lei universal e que nunca devemos tratar as outras pessoas apenas como meios, mas sempre como fins. 4 http://www.oecd.org/dataoecd/26/42/2494979.pdf 5http://www.sefaz.ce.gov.br/Content/aplicacao/internet/programas_campanhas/principiosbasicosadministracaopublica.pdf

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    O servio pblico um dever O servio ou a funo pblica um ofcio. Se lembrarmos que a palavra latina officium, de onde deriva a palavra portuguesa, denota a ideia de dever, j temos uma indicao interessante. Assumir um ofcio significa, ento, contrair ou assumir determinados deveres. Mas se algum deve fazer algo, isso significa que tambm pode faz-lo. No haveria sentido dizer que algum tem o dever de fazer algo que no tem o poder de fazer. Assim, a um dever corresponde um determinado poder uma determinada autoridade. Para compreender em que consiste exatamente o servio pblico entendido como um ofcio, devemos esclarecer quais so os deveres prprios desse ofcio e qual sua autoridade peculiar. Tanto os deveres quanto a autoridade peculiares do servio pblico vm exatamente de sua relao com o pblico. Os cinco Princpios bsicos associados, pela Constituio, ao servio pblico, definem uma srie de deveres que decorrem diretamente deles. Alm disso, o servio pblico tem uma funo bsica: promover ou realizar determinados fins. dever do servio pblico tambm fazer ou realizar determinadas coisas, de tal maneira que, se no as fizer, estar deixando de fazer o que deve. Esses fins so de certa forma, os fins do prprio pblico a que se serve. Nesse sentido, o servio pblico tem um carter instrumental: sua razo de ser est, justamente, em servir s finalidades do pblico. Isso d algumas indicaes importantes sobre a autoridade peculiar do servio pblico: sua necessria autoridade (o poder que corresponde ao dever) deve ser apenas suficiente para cumprir suas finalidades. O abuso da autoridade um perigo constante para o servio pblico e, em boa parte, implica justamente um esquecimento desse seu carter eminentemente instrumental. O poder fazer ou a autoridade prpria do servio pblico deve ser diretamente proporcional a seu dever. Da mesma forma, quando esse poder fazer torna-se um fim em si mesmo ou pe-se a servio de outras finalidades que no aquelas definidas pelos deveres do servio pblico, temos uma situao de desvio. o germe, por exemplo, do fenmeno que genericamente chamamos corrupo. Conceito de responsabilidade Passemos agora ao conceito de responsabilidade. Responsvel , literalmente, aquele que responde por algo ou algum, aquele que est obrigado a dar uma resposta em determinada situao. Se sou responsvel por algo ou algum, devo estar pronto a responder porque fiz ou deixei de fazer alguma coisa. Essas duas perguntas, por que voc fez isso? e por que voc no fez isso?, na verdade, apontam para facetas distintas da responsabilidade. A primeira uma pergunta genrica e corresponde a uma obrigao geral de justificar-se ou de apresentar razes. Sou, em geral, responsvel por meus atos, o que significa que devo ser capaz de apresentar razes que os justifiquem. Esse aspecto ressaltado pela pergunta por que voc fez isso? pertence essencialmente nossa compreenso do que significa ser tico. Segundo uma determinada maneira de ver nossa experincia moral, devemos reservar, nessa experincia, um lugar privilegiado ideia de justificao. Juzos normativos, nessa concepo, exprimem demandas ou exigncias que se caracterizam por serem mtuas, incondicionais (em algum sentido) e limitantes (elas limitam as alternativas que temos para agir). Isso faz com que a justificao aparea quase como parte da obrigao moral: por um lado, sempre legtimo que se pergunte por que uma determinada exigncia est sendo posta; por outro,

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    sempre esperado que aquele que faz a exigncia seja capaz de torn-la compreensvel e, no limite, seja capaz de apresentar razes que a sustentem, que a justifiquem. A segunda questo introduz uma nuance especfica: se sou obrigado a responder a essa questo porque, de certa forma, devo ter um dever especial de fazer isso que est sendo cobrado - caso contrrio, poderia evitar responder devolvendo com uma outra pergunta: e por que deveria?. Essa segunda questo, assim, especialmente importante para definir a responsabilidade prpria de quem detm um ofcio ou seja, algum, como os servidores pblicos, cuja atuao est circunscrita por deveres determinados e por uma autoridade que lhes corresponde. Aqueles que detm um ofcio esto obrigados no apenas a apresentarem as razes que justificam suas escolhas, como, tambm, responder por que deixaram de fazer determinadas coisas. O servio pblico tem o dever de fazer coisas bem determinadas, o que significa que tem o dever de responder adequadamente toda vez que no realiza o que se esperaria que realizasse. Essa a ideia por trs da noo de responsabilizao6. Responsabilidades perante o pblico Um aspecto relevante da ideia de responsabilidade a de que no apenas sou responsvel por algo ou algum, mas, tambm, sou responsvel perante algum. Ou seja, h, em geral, algum a quem devo responder, algum que est legitimamente autorizado a demandar de mim uma resposta. A noo de que sou responsvel por meus atos inclui a ideia de que qualquer um a quem meus atos atinjam ou a quem ergo determinadas exigncias morais pode legitimamente pedir de mim uma justificao. Tenho, assim, uma responsabilidade geral por meus atos perante todos os demais. Mas posso tambm ter determinadas responsabilidades especiais, em funo, por exemplo, dos deveres associados a meu ofcio. Nesse caso, sou geralmente responsvel por meus atos perante algum ou alguma instncia particular. Somos responsveis perante nossos filhos pelos deveres que impe nosso ofcio de pais. Um mdico responsvel perante seus pacientes pelos deveres impostos por seu ofcio de mdico. Servidores pblicos tambm so responsveis perante algum: eles so responsveis, em ltima instncia, perante o pblico a que servem (frequentemente no de forma direta, mas por meio de instituies que fazem a intermediao entre o pblico e o servio). Esse pblico composto pelos cidados: a ideia de cidadania pode agora ser esclarecida tambm a partir dessa relao entre o servio pblico e o pblico que por ele servido. O conceito de cidadania muito rico e, como todos os conceitos desse tipo, possui diversos significados. No raro invocarmos o termo como invocamos uma palavra de ordem, carregada de sentido normativo. O mesmo frequentemente acontece com outras palavras, como tica e democracia, por exemplo. A seguir, vamos tentar jogar alguma luz sobre o conceito de cidadania, de modo a termos mais clareza quanto ao que significa essencialmente. Demanda por tica no servio pblico O uso do poder pblico ou da autoridade pblica tem de estar baseado em razes que a qualquer momento possam ser apresentadas e tornadas aceitveis para todos. Do mesmo modo, esse dever estende-se para as relaes entre os cidados e aqueles autorizados por eles a agir em seu nome.

    6 O servidor pblico no apenas responsvel por aquilo que faz, mas, tambm, pode ser responsabilizado quando deixa de fazer algo que deveria fazer.

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    dever do servidor pblico estar pronto a apresentar as razes que o levaram a agir de um modo ou de outro. Essas razes devem respeitar tanto a igualdade fundamental dos cidados quanto a autoridade peculiar que lhes pertence essencialmente. Posta no contexto das relaes apontadas entre as trs ideias que foram objeto de nossa anlise, a demanda por tica no servio pblico uma exigncia de respeito pelo status peculiar da cidadania. Exigir que o servio pblico seja tico exigir que cumpra bem os deveres que constituem seu ofcio dentro da autoridade que lhe foi confiada, em ltima instncia, pelos cidados. Exigir tica no servio pblico exigir que seja finalmente honrada a confiana que lhe foi depositada confiana de que os deveres sero cumpridos em benefcio pblico e os limites da autoridade sero respeitados, sem que seja ferido o status dos cidados livres e iguais. A exigncia de que o servio pblico seja tico pode ser compreendida tambm como uma extenso da noo de que o servio pblico, entendido como um ofcio com seus deveres e sua autoridade prprios, responsvel. Como foi dito, est obrigado a responder por suas aes, decises e escolhas diante de uma instncia determinada, que a prpria cidadania. O controle social O modelo de gesto da tica pblica tradicionalmente adotado envolve a fiscalizao interna e externa. No plano interno, os instrumentos usuais so os rgos de auditoria, controladoria7 e curadoria e, excepcionalmente, as comisses de fiscalizao. No plano externo, os parlamentos, nos trs nveis da federao, so responsveis diretos pela fiscalizao dos atos do poder executivo, apoiados pelos Tribunais de Contas. O Ministrio Pblico cumpre tambm o papel de fiscal, zelando pela constitucionalidade e, por extenso, pela legalidade das aes da administrao pblica. Como ltima instncia, o poder judicirio tem a prerrogativa de julgar a licitude dos atos praticados pelos agentes pblicos. Os reiterados escndalos de corrupo, malversao das verbas pblicas, trfico de influncia, nepotismo e patrimonialismo, bem como a crise da democracia representativa, aliados aos traos estruturais do capitalismo tardio, deixaram claro que o modelo tradicional de gesto da tica pblica se tornou insuficiente para assegurar o eficaz cumprimento dos princpios contidos no artigo 37 da Constituio Federal. Da porque a prpria Constituio e sua legislao complementar estabeleceram outros mecanismos de controle, dando nfase ao que se denomina na literatura especializada de controle social. A diretriz bsica dessa nova orientao recomenda a aplicao de novos e mais eficientes instrumentos de transparncia nas aes pblicas. Recomenda ainda a instituio de formas permanentes e ativas de participao popular na elaborao, execuo e fiscalizao tanto das polticas pblicas quanto dos atos de legislar, governar e julgar. ESTUDO DE CASO 1 Programa "Olho Vivo no Dinheiro Pblico" capacita prefeitos e vereadores em 12 estados A Controladoria-Geral da Unio (CGU) comeou a realizar as edies do programa "Olho Vivo no Dinheiro Pblico". Durante as atividades, prefeitos, vereadores, secretrios municipais, gestores, servidores pblicos, conselheiros municipais, contabilistas, estudantes, empresrios, educadores e cidados em geral recebem informaes sobre os programas federais em suas respectivas reas de atuao. Alm disso, costumeiramente, 7 Conhea o programa Olho Vivo no Dinheiro Pblico, da Controladoria-Geral da Unio no seguinte link: http://www.cgu.gov.br/olhovivo/

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    membros da comisso de licitao e contadores tm capacitao especfica relativa a contrataes e formalizao de convnios com o governo federal. O programa "Olho Vivo no Dinheiro Pblico" foi criado em 2003 para incentivar o controle social. O objetivo fazer com que o cidado, no municpio, atue para a melhor aplicao dos recursos pblicos. Com a iniciativa, a CGU busca sensibilizar e orientar conselheiros municipais, lideranas locais, agentes pblicos municipais, professores e alunos sobre a importncia da transparncia na administrao pblica, da responsabilizao e do cumprimento dos dispositivos legais. O programa prev cinco aes: educao presencial, que pode ser oferecida em eventos bsicos e complementares, educao distncia, elaborao e distribuio de material didtico, incentivo formao de acervos tcnicos e parcerias e cooperao institucional. Analistas e tcnicos da CGU so os responsveis pela coordenao das aes. Desde 2004, j foram realizados mais de 98 eventos de educao presencial em cerca de 800 municpios. Alm disso, at o ano passado, foram mobilizados e capacitados nos eventos bsicos de educao presencial 4,3 mil conselheiros municipais, 4,2 mil agentes pblicos municipais, 4,8 mil lideranas locais, 978 professores e 5,6 mil estudantes. Em So Paulo, por exemplo, a 5 edio das atividades do programa Olho Vivo teve como sede o municpio de Registro. Participaram do evento mais de 80 agentes pblicos, 40 lideranas locais e 70 conselheiros dos municpios convidados. Fonte: Site Contas Abertas Ouvidores e papel do Judicirio Outro organismo cuja atuao no mbito do poder executivo vem se alargando dia-a-dia, com resultados prticos considerados em geral animadores, a Ouvidoria. Esse o nome dado em nosso Pas figura do ombudsman (ouvidor), de origem nrdica. Ele integra o esforo de fazer transparente e menos arbitrrio o servio pblico e colabora na misso de introduzir procedimentos ticos proativos nas relaes das agncias estatais com o pblico. Mesmo na rbita do Poder Judicirio, que tem sido resistente ao controle pblico ou mesmo a qualquer forma de fiscalizao pela cidadania, algumas inovaes foram introduzidas. A Constituio trouxe alteraes substanciais no contedo e nas formas de efetivao dos direitos, tais como os direitos difusos8 e coletivos9, a ao popular10 e a ao civil pblica11, o habeas data12, o mandado de segurana coletivo13 e o mandado de injuno14, s para citar os mais conhecidos. A criao de novos rgos por leis especficas, como o Juizado de Pequenas Causas15 e os Tribunais Arbitrais16, inscrevem-se nessa tendncia inovadora, embora no caso da Lei de Arbitragem, como

    8 Direitos difusos - So aqueles que no podem ser individualizados, ou seja, dizem respeito a um conjunto indeterminado de pessoas. Por exemplo, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito tipicamente difuso, porque afeta um nmero incalculvel de pessoas. GLOSSRIO 9 Direitos coletivos - So os que pertencem a determinado grupo, categoria ou classe de pessoas. Por exemplo, os direitos dos professores pertencem a todos os professores devidamente registrados, mas no pertencem aos que no so professores. GLOSSRIO 10 Ao Popular - uma forma de controle do cidado sobre atos que firam os interesses protegidos pela Constituio. uma ao civil que pode ser movida por qualquer cidado, para pedir a invalidao de atos pblicos que sejam prejudiciais ao patrimnio pblico, histrico e cultural, ao meio ambiente e moralidade administrativa. GLOSSRIO 11 Ao civil pblica - um instrumento processual destinado a garantir interesses ou direitos. pressuposto da ao civil pblica que tudo aquilo que causar dano a algum interesse poder ser proposto. Em alguns casos, o alvo da ao o prprio Poder Pblico, quando ele for o responsvel pelo dano. GLOSSRIO 12 Habeas Data - Ao para garantir o acesso de uma pessoa a informaes sobre ela que faam parte de arquivos ou bancos de dados de entidades governamentais ou pblicas. Tambm pode pedir a correo de dados incorretos. GLOSSRIO 13 Mandado de segurana - Processo para garantir direito lquido e certo, individual ou coletivo, que esteja sendo violado ou ameaado por ato de uma autoridade, em ato ilegal ou inconstitucional. GLOSSRIO 14 Mandado de injuno - Processo que pede a regulamentao de uma norma da Constituio, quando os Poderes competentes no o fizeram. O pedido feito para garantir o direito de algum prejudicado pela omisso. GLOSSRIO

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    mostrou o jurista Jos de Albuquerque Rocha, contenha certos riscos em decorrncia de sua filiao ideolgica aos princpios do mercado. O denominado controle externo do Poder Judicirio, matria que divide as opinies na comunidade jurdica nacional, includo no projeto de reforma do Judicirio em discusso no Congresso Nacional, pode se constituir num poderoso instrumento para ajudar a corrigir alguns dos problemas da administrao judiciria com clara incidncia na atuao tica da magistratura brasileira. Criado em 2004, o Conselho Nacional de Justia (CNJ)17 um rgo voltado reformulao de quadros e meios no Judicirio, sobretudo no que diz respeito ao controle e transparncia administrativa e processual. Segundo sua prpria definio, o CNJ atua em todo o Pas por meio de aes de planejamento, coordenao e controle administrativo, visando aperfeioar o servio pblico de prestao da Justia. Em agosto de 2010 foi noticiado na imprensa que o CNJ decidiu pelas aposentadorias compulsrias de um Ministro do Superior Tribunal de Justia (STJ) e de um Desembargador do Tribunal Regional Federal da 2 Regio, devido a acusaes de venda de sentenas. O Ministrio Pblico18, pelas suas prerrogativas constitucionais e, principalmente, pela sua atuao desabusada no combate corrupo, cumpre papel estratgico num modelo de gesto da tica pblica, cuja nfase seja o controle social. Governo eletrnico: instrumento de cidadania E como funciona um governo eletrnico19? O governo, em qualquer um de seus trs nveis (federal, estadual e municipal), organiza suas atividades em rede. A expresso pblica (ou interface, para usar uma palavra do setor de tecnologia da informao) desta forma de prestao de contas com seus constituintes feita por um portal na internet. Atravs deste portal, os cidados podem encontrar servios e informaes. As empresas, por sua vez, podem se relacionar com a administrao pblica, pagar tributos e negociar mercadorias. O governo eletrnico, pelo menos em tese, aumenta a transparncia da ao pblica e torna mais gil o atendimento dos usurios (leia-se contribuintes), evitando, assim, filas e deslocamentos. O combate a todas as formas de monoplio das instituies produtoras de sentido, como os meios de comunicao de massa e a indstria cultural, ofereceria inegavelmente uma grande contribuio para superar o ceticismo dos trabalhadores em relao aos polticos, o seu abstencionismo a respeito da atividade poltica, a apatia e a falta de mobilizao. Reduziria, sem dvida, a cultura do narcisismo, como disse Christopher Lasch20, e criaria uma contratendncia ao declnio do homem pblico, de acordo com Richard Sennet21. Como voc avalia os sites governamentais em todas suas esferas: federal, estadual e municipal?

    Eles so acessveis e de fcil consulta? Voc encontra as informaes que necessita neles?

    15 Juizados de pequenas causas - Os Juizados Especiais ou, como so conhecidos, de Pequenas Causas, foram criados para atender s causas cveis de menor complexidade, como problemas de relao de consumo ou pedido de despejo de um inquilino para uso prprio do imvel. GLOSSRIO 16 Tribunal Arbitral - No Tribunal Arbitral as partes em conflito tm o controle de todo o andamento do caso, inclusive a escolha do rbitro. Seu papel encontrar uma soluo que beneficie os dois lados. A deciso tem fora de uma sentena judicial, ou seja, seu cumprimento obrigatrio. GLOSSRIO 17 http://www.cnj.jus.br/ 18 http://www.pgr.mpf.gov.br/ 19 Conhea a experincia do Governo Federal com o governo eletrnico em: http://www.governoeletronico.gov.br/ 20 http://jfreirecosta.sites.uol.com.br/artigos/artigos_html/silencio.html 21 http://vsites.unb.br/ics/sol/urbanidades/resenhasousa.htm

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    Quais servios oferecem? Que tal consult-los durante o curso, dessa vez com um olhar mais crtico e apurado?

    ESTUDO DE CASO 2 Pases definem 'governo digital' como meta Bruna Buzzo, da PrimaPagina Investir em sistemas de comunicao abertos para garantir uma maior interao on-line entre as esferas governamentais e a sociedade civil, facilitando servios e informaes oficiais populao por meio da internet. Esse foi um dos desafios assumidos por representantes de 26 pases na declarao final do Encontro Global de Interoperabilidade entre Governos 2010, no Rio de Janeiro. O evento, realizado em maio, destacou a importncia da interoperabilidade (integrao entre sistemas operacionais) na ajuda a governos para que atinjam suas metas de desenvolvimento nacional, a cinco anos do cumprimento previsto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milnio (ODM) fixados pela ONU e em cenrio de ps-crise econmica. No Brasil, a Secretaria de Logstica e Tecnologia da Informao, rgo do Ministrio do Planejamento que atua em parceria com o Grupo de Governana Democrtica do PNUD, aposta na garantia de uma maior interao entre as esferas governamentais e a sociedade civil. Entre os recursos on-line oferecidos populao est o portal Governo Eletrnico. Segundo a diretora do Departamento de Integrao de Sistemas de Informao do Ministrio do Planejamento, Nazar Lopes Bretas, governo eletrnico pode ser traduzido como "o funcionamento do poder pblico em meios eletrnicos". "O governo eletrnico uma poltica contnua, existe uma discusso permanente para melhorar os servios, a integrao entre bancos de dados e a troca de dados pblicos entre instituies", acrescenta Nazar, responsvel por um dos departamentos integrados na implantao e melhoria dos servios de governo eletrnico. Como parte dos trabalhos, foi lanado o site brasil.gov.br, que ajuda o cidado a localizar os diversos servios oficiais on-line. "Antes, era difcil saber onde cada servio poderia ser acessado. O principal objetivo do portal identificar onde est cada coisa", completa a diretora do Departamento de Integrao de Sistemas de Informao do governo federal. Nazar explica, por exemplo, que quando algum se inscreve no ProUni (Programa Universidade para Todos) pela internet ou faz uma solicitao on-line para o Bolsa Famlia, est fazendo uma transao "de governo eletrnico". As aes para implementao dos servios de governo eletrnico existem no pas desde 2000, quando foi criado um grupo de trabalho interministerial para desenvolver estratgias, propor polticas e diretrizes relacionadas s formas digitais de interao entre governo e cidados. Fonte: Pnud Brasil. Implementao de aes informativas, educativas e mobilizatrias preciso esclarecer que uma iniciativa to ambiciosa, pois se trata no caso de uma verdadeira revoluo cultural, no produto de uma evoluo natural das coisas. Na verdade, s pode se tornar possvel como um projeto de engenharia social a ser amplamente compartilhado desde a sua elaborao. Um primeiro momento desse processo tem carter informativo. H que se socializar com o maior nmero possvel de atores sociais e por todos os meios possveis, em particular a mdia eletrnica e impressa, atravs das formas mais variadas, as informaes de carter conceitual, histrico e jurdico. Discutir as teorias e expor criticamente as experincias histricas no podem ser tarefas exclusivas dos intelectuais, mas direito e dever de todos os cidados e cidads, pois afinal a vida presente e futura de cada um de ns que est em jogo em tais atividades.

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    Do mesmo modo, existe um enorme aparato legal vigente, que em sua maior parte conhecimento exclusivo dos especialistas e por eles manipulado profissionalmente. A ampla difuso, portanto, por meios didticos adequados, dos direitos de cidadania e das obrigaes ticas e profissionais dos servidores pblicos dos trs poderes condio de possibilidade do pleno exerccio da democracia e do usufruto dos direitos por toda a comunidade cidad e por cada indivduo em particular. ESTUDO DE CASO 3 O Tribunal de Contas dos Municpios (TCM-CE) enfatiza a transparncia para fortalecer o controle social O TCM-CE lanou seu Portal da Transparncia em 2009, visando incentivar o controle social das contas pblicas, atravs da divulgao simplificada e intuitiva de informaes das prestaes de contas dos municpios cearenses, e, do prprio Tribunal. O Portal da Transparncia contempla informaes dos 184 municpios cearenses (prefeituras e cmaras) e, inclusive do TCM-CE, a partir do ano de 2007. Dentre as informaes disponibilizadas destacam-se: receitas, despesas, fornecedores, agentes pblicos e licitaes. Para conferir acesse: http://www.tcm.ce.gov.br/transparencia/. Em 2010 o TCM-CE continuou inovando, e, por acreditar que a criatividade coletiva capaz de analisar dados e criar aplicativos melhores que o rgo que os disponibiliza, o TCM-CE lanou a API de DADOS ABERTOS. Esse servio possibilita que a sociedade crie novas anlises a partir dos dados de prestaes de contas dos municpios cearenses e as divulgue da maneira que melhor lhe convier. mais um mecanismo de promoo de controle social posto disposio da coletividade. Para saber mais acesse: http://api.tcm.ce.gov.br/. Botando a boca no trombone! Se um fato auspicioso que se torna crescente o nmero de organizaes no-governamentais (ONGs) que cuidam exclusivamente dessa tarefa informativa relacionada ao controle social, nunca demais proclamar a necessidade de que novas entidades, empresas e pessoas tomem para si a responsabilidade de contribuir para ampliar tal empreitada. As instituies escolares, os sindicatos, os partidos polticos, os governos, os parlamentos, o Poder Judicirio, o Ministrio Pblico poderiam pr na sua agenda de prioridades essa funo informativa. A publicao de cartilhas para distribuio massiva, a criao de boletins eletrnicos, a realizao de campanhas informativas pela mdia, a promoo de palestras e debates pblicos sistemticos nos mais diversos locais so formas de ao que produzem sempre bons resultados. O trabalho educativo, a ser promovido prioritariamente pelas instituies escolares de todos os nveis, mais do que uma ao complementar informao. Deve destacar a dimenso formativa das pessoas que se disponham a dedicar suas energias ao voluntria voltada criao da esfera pblica democrtica necessria ao pleno desenvolvimento de uma sociedade civil independente do Estado e autnoma em relao aos partidos polticos e confisses religiosas. Um bom exemplo desse trabalho de conscientizao popular a cartilha da Amarribo sobre corrupo. Ela est disponvel para ser baixada gratuitamente no link Biblioteca. Em busca de mais transparncia

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    De igual importncia promover a capacitao dos contribuintes e usurios dos servios pblicos e dos prprios servidores para que se possa interferir na vida cotidiana dos rgos do aparelho de Estado, com o propsito de torn-los mais pblico e mais transparente, mais tico, mais eficiente e eficaz no cumprimento de sua misso constitucional de servir ao povo. Um programa educativo capaz de enfrentar os desafios postos para assegurar a gesto social da tica na administrao pblica no novo contexto institucional, desenhado a partir do princpio constitucional que assegura soberania popular governar o pas com base nos mecanismos da democracia participativa, precisar contemplar duas linhas de capacitao distintas: 1. Atender s necessidades de formar quadros para a esfera pblica, cuja tnica ideolgica a

    autonomia e independncia da sociedade civil organizada. 2. Atender as exigncias de formao de quadros para os diversos conselhos de co-gesto das

    polticas e dos servios pblicos. Pela complexidade de sua natureza, a funo mobilizatria, etapa posterior aos momentos informativo e educativo, atributo mais direto dos atores constitudos social e politicamente. ONGs, sindicatos que j superaram o estreito esprito corporativo e partidos polticos dotados de esprito republicano so agentes privilegiados do processo de mobilizao. Os cidados e as cidads informados e capacitados e com disposio para realizar trabalho voluntrio podem, com seu engajamento nessa funo mobilizatria, prestar um servio de grande valor no apenas simblico, mas concreto. A realizao de assembleias nos bairros e as marchas pela cidade, em torno de questes concretas; os eventos de celebrao cvica em praas e parques; os congressos e conferncias para troca de experincias e para deliberao sobre questes de interesse comum entre os participantes so algumas das expresses mais usuais nos pases possuidores de uma esfera pblica estvel e de uma sociedade civil organizada. Que experincias de mobilizao voc conhece? O que pode ser feito em sua comunidade, nesse sentido? Por falar nisso, uma excelente forma de manifestar sua cidadania participando do site Da Sua Conta. J fez sua inscrio? ESTUDO DE CASO 4 Uma comunidade unida contra a corrupo Durante o curso, vamos acompanhar a trajetria da ONG Amigos Associados de Ribeiro Bonito (Amarribo). Vejamos uma breve descrio de sua histria: A organizao no governamental Amigos Associados de Ribeiro Bonito Amarribo foi criada para promover o desenvolvimento social e humano da cidade de Ribeiro Bonito, no interior do Estado de So Paulo. Ao procurar colocar seus planos em prtica, deparou-se com a necessidade de combater uma administrao municipal corrupta, que minava o progresso das iniciativas voltadas para o desenvolvimento da cidade. Tal atuao demandou meses de muito trabalho e gerou alto grau de tenso. Numerosas reunies se realizaram para discutir caminhos, orientaes jurdicas e investigaes. Milhares de e-mails e telefonemas foram trocados. Alm de todo esse trabalho, os membros da entidade tiveram de conviver com ameaas, cartas annimas, acusaes falsas e todo tipo de golpe baixo que se pode esperar de quem desvia recursos da alimentao de crianas. As denncias foram sendo comprovadas: As empresas de aluguel de mquinas no existiam, o combustvel no dava entrada na prefeitura os cheques de pagamento eram depositados na conta de um vereador envolvido na fraude. Alm disso, servios eram superfaturados, conforme confirmou um dos envolvidos no esquema.

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    No comeo do processo, onze dos treze vereadores da Cmara Municipal apoiavam o prefeito incondicionalmente, mas a presso popular deu nova configurao poltica local. Um pedido de instaurao de uma Comisso Especial de Investigao protocolado pela AMARRIBO foi aprovado por unanimidade. E depois de comprovados os fatos, o pedido de instaurao do processo de cassao tambm foi aprovado - novamente por unanimidade. No dia da votao, compareceram porta da Cmara Municipal cerca de 1,2 mil cidados. O prefeito renunciou em 28 de abril de 2002, e foi preso em 6 de agosto em Rondnia. Aps passar dez meses preso preventivamente, foi libertado e agora responde a diversos processos criminais e por improbidade administrativa. A cartilha de combate corrupo da Amarribo est disponvel na biblioteca do curso. Voc pode ler a histria completa da associao l, bem como conhecer dicas sobre como identificar desvios de recursos pblicos e encaminhar denncias aos rgos competentes. At o prximo mdulo! O clipe abaixo mostra, por meio de imagens e frases bem interessantes, como agir de maneira tica em nosso cotidiano:22 Expediente Presidente da Fundao Demcrito Rocha Luciana Dummar Coordenao da Universidade Aberta do Nordeste Srgio Falco Coordenadora geral do curso Elosa Vidal Coordenador editorial Ricardo Moura Coordenadora acadmica-administrativa Ana Paula Costa Salmin

    22 http://www.youtube.com/watch?v=03UNOQDl0PE