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NESTA EDIÇÃO Rádio, vídeo e CD-Rom Ferramentas bacanas para a comunicação em saúde Nº 44 • Abril de 2006 Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ • 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/radis

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NESTA EDIÇÃO

Rádio, vídeo

e CD-Rom

Ferramentas

bacanas para

a comunicação

em saúde

N º 4 4 • A b r i l d e 2 0 0 6

Av. Brasil, 4.036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ • 21040-361

www.ensp.f iocruz.br/radis

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A saúde no arA saúde no arJúlia Gaspar

*

Grande amigo do brasileiro há 84anos, o rádio é barato, democrá-

tico e interativo. Em muitas regiõesdo interior é o único meio de conta-to entre comunidades — e poucasmídias permitem como ele a divulga-ção de informações, por exemplo, emcidadania e saúde. As rádios comuni-tárias, emissoras de baixa potência detransmissão, com alcance restrito auma rua, um bairro ou uma localida-de, vêm contribuindo ainda mais paraa aproximação dos cidadãos: seus ou-vintes, aproveitando as experiênciasdo lugar em que moram, fortalecemsua identidade coletiva. Para coroaresta abrangência, o rádio chegou àinternet. Nas áreas de fácil acesso àrede, baixar arquivos ou ouvir rádiopelo computador é de grande ajudapara o profissional de saúde.

Algumas instituições se destacampelo uso do rádio na promoção dasaúde. A Pastoral da Criança (Radis 21),talvez o exemplo mais bem-sucedidonesta área, produz o programa Viva aVida, transmitido gratuitamente por2.567 emissoras no país inteiro. São1.249 rádios comerciais, 1.305 comu-nitárias e 13 alto-falantes (rádios derua). Desse total, 295 pertencem àRede Católica de Rádios. O programaé semanal, com 15 minutos, e discutetemas como saúde, nutrição, educa-ção, direitos, organização comunitá-ria, sempre relacionados a ações bá-sicas dirigidas a gestantes e criançasde 0 a 6 anos. Equipes das comunida-des são orientadas sobre como pre-parar roteiros, fazer entrevistas, uti-

lizar recursossonoros,

falar

no rádio, entre outras técnicas.Muitas vezes, são os próprios líde-res comunitários os locutores doViva a Vida.

O Ministério da Saúde tambémacredita na força do rádio. Por issocriou, em parceria com a Câmara dosDeputados, a Rádio Saúde, que ofe-rece arquivos de áudio em formatoMP3 com orientação sobre alimenta-ção saudável e reportagens que tra-tam da saúde nas cidades brasileiras.

A Oboré, empresa de projetosespeciais em comunicação e artescom sede em São Paulo, também pro-duz programas de saúde para rádio.Seu Plantão Saúde é veiculado por557 emissoras, das quais 388 comu-nitárias. Todas integram a Rede deComunicadores pela Saúde, criadapara apontar ações de comunicaçãopopular de fortalecimento do SUS.Criado em 1999, com 8 minutos de du-ração divididos em dois blocos, o Plan-tão Saúde alinha-se às campanhas re-gulares do Ministério da Saúde. Écedido gratuitamente, mas os respon-sáveis têm o cuidado de atender aapenas uma emissora em cada região.

A Agência Ponto Com Saúde éoutra organização que produz progra-mas, que podem ser baixados dainternet, sobre práticas sociais, comênfase na prevenção de DST/Aids. Aagência também oferece cursos, apartir de solicitação de grupos, paracapacitação do pessoal de rádioscomunitárias. Wallace Hermann, res-ponsável pelo projeto, lamenta queo financiamento às rádios comunitá-rias seja assistemático: “É preciso umapoio permanente”. O problema mai-or, porém, é a legalização. A Anatel,agência do governo, privilegia as quei-xas das rádios comerciais e faz a Polí-cia Federal lacrar as comunitárias.

“A Anatel persegue de maneirainconstitucional as rádios comunitári-as”, denuncia Wallace. “Não estamoscometendo crime, nós nos baseamosno direito de falar e de ouvir, na liber-dade de expressão que está garanti-da na Constituição”, desabafa. Paraele, as rádios comunitárias são instru-mentos eficazes no apoio a campanhas

de vacinação, de educação sanitáriae de combate às grandes epidemias.“Mas parece que elas ameaçam o do-mínio das autoridades”. (Ver os pro-blemas legais das rádios comunitáriasno site do RADIS, seção Exclusivo paraa Web: www.ensp.fiocruz.br/radis/44/web-01.html)

Graça Rocha, da Rádio Comuni-tária Novo Ar, de São Gonçalo (naRegião Metropolitana do Rio de Ja-neiro), representante da Federaçãodas Associações de Rádios Comunitá-rias do Estado do Rio, garante que ascomunitárias têm grande interesse naeducação em saúde. A Novo Ar, porexemplo, trabalha na prevenção da hi-pertensão arterial, com a presença detécnicos de enfermagem que dão in-formações básicas e indicam os pos-tos de atendimento mais próximos.

Um exemplo de uso-cidadão dorádio vem da jornalista e radialista MaraRégia Di Perna, que desenvolve proje-tos de capacitação para comunidadesna Amazônia. Em entrevista na pág. 17,Mara Régia conta que num de seusprogramas mais antigos, o NaturezaViva, apresentado na Rádio Nacionalda Amazônia, 70% das cartas recebi-das pedem esclarecimentos de ques-tões ligadas à saúde.

* Estudante de Jornalismo em estágio

supervisionado

Mais informações

PASTORAL DA CRIANÇA

Tel. (41) 2105-0256Site www.pastoraldacrianca.org.brE-mail [email protected]

OBORÉ

Tel. (11) 3214-3766Site www.obore.comE-mail [email protected]

Agência Ponto Com SaúdeTel. (21) 2224-8689Site [email protected]

RÁDIO SAÚDE

Tel. (61) 3448-8040Site http://portal.saude.gov.br/saude

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Presente e futuroem nossas mãos Comunicação e Saúde

• A saúde no ar 2

Editorial

• Presente e futuro em nossas mãos 3

Cartum 3

Cartas 4

Súmula 6

Toques da Redação 7

Conselhos Tutelares e de Direitos

• Em defesa da criança e do adolescente 8

Entrevista: Rachel Niskier

• “O orçamento-criança vem sendodilapidado” 12

Comunicação em saúde

• O vídeo na mão de quem faz o SUS 13

• O audiovisual na medida certa 16

Entrevista: Mara Régia Di Perna

• “Rádio é ferramenta-cidadã” 17

Serviço 18

Pós-Tudo

• Só as nações fortes podem fazerciência? 19

editorial

Nº 44 • Abril de 2006

Capa e Ilustrações Cassiano Pinheiro (C.P.)

Ilustrações Aristides Dutra (A.D.)

Agradecimentos a Carlos FernandoReis, da Coordenação de ComunicaçãoInstitucional/Ensp

Nesta revista, duas formas dife-rentes de lidar com a linguagem

audiovisual em prol da saúde, a impor-tância do rádio — especialmente o co-munitário — para a promoção da saú-de e a relação entre fazer ciência econstituir uma nação forte e com jus-tiça social. Tem leitores usando a re-vista em sala de aula e monografias.Tem leitor querendo mais exemplarespara conscientizar trabalhadores e en-frentar a indústria do amianto.

Na matéria de capa, um breve di-agnóstico de situações de abandono eperda de direitos, a importância doEstatuto da Criança e do Adolescentee o meritório trabalho dos conselhostutelares e de defesa de direitos.

Durante o fechamento destaedição, uma crua e chocante reali-dade veiculada na mídia contrastoucom o quadro de possibilidades decuidado e futuro para as crianças bra-sileiras destacado em nossa matériaprincipal. No jornal, a notícia de mi-lhares de meninas, Brasil afora, fazen-do sexo em troca de centavos dereais, com uma forte presença de po-liciais nos esquemas de proteção aesse crime. Na tevê, o documentárioFalcão, com dezenas de depoimentossurpreendentemente explícitos demeninos a serviço do tráfico de dro-gas em várias capitais.

A revelação pelas vozes infantisde uma realidade presumida não sa-cudiu a nação como seria esperado.Nos dias consecutivos, quase nenhu-ma declaração de autoridades, algunsartigos e cartas de leitores de jornalrevelando mais indignação que espan-to. Mas quem não leu ou não viu sou-be ou conversou a respeito, desvian-do por instantes a atenção saturadapelas denúncias e escândalos — apu-rados ou não — em Brasília. Ou talvezuma boa parte da sociedade não te-nha visto ou se importado. Foramcenas, se não conhecidas, óbvias dese intuir: infância e futuro emextinção.

Melhor mesmo não ouvir discur-sos e declarações de intenção. Nes-ta questão, só muita sensibilidade einteresse diário de cada um e todosna sociedade e vergonha na cara paraos ocupantes dos três níveis de go-verno — União, estados e municípios—, para simplesmente cumprir as leise implantar políticas públicas que as-segurem os mais básicos direitos.Menos conversa e hipocrisia na soci-edade e nos governos e mais açãopara salvar o presente e o futuro denossas crianças.

Rogério Lannes RochaCoordenador do RADIS

Cartum

C.P./A.D.

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RADIS 44 � ABR/2006

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CARTAS

RADIS é uma publicação impressa e onlineda Fundação Oswaldo Cruz, editada peloPrograma RADIS (Reunião, Análise eDifusão de Informação sobre Saúde),da Escola Nacional de Saúde PúblicaSergio Arouca (Ensp).

Periodicidade mensalTiragem 46.500 exemplaresAssinatura grátis

(sujeita à ampliação do cadastro)

Presidente da Fiocruz Paulo BussDiretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho

PROGRAMA RADISCoordenação Rogério Lannes RochaSubcoordenação Justa Helena FrancoEdição Marinilda Carvalho

Reportagem Katia Machado (subeditora),Claudia Rabelo Lopes, WagnerVasconcelos (Brasília/Direb), BrunoCamarinha Dominguez e JúliaGaspar (estágio supervisionado)

Arte Aristides Dutra (subeditor) eCassiano Pinheiro (estágiosupervisionado)

Documentação Jorge Ricardo Pereira,Laïs Tavares e Sandra Suzano

Secretaria e Administração OnésimoGouvêa, Fábio Renato Lucas eCícero Carneiro

Informática Osvaldo José Filho eMario Cesar G. F. Júnior (estágiosupervisionado)

EndereçoAv. Brasil, 4.036, sala 515 — ManguinhosRio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361Tel. (21) 3882-9118Fax (21) 3882-9119

E-Mail [email protected] www.ensp.fiocruz.br/radisImpressãoEdiouro Gráfica e Editora SA

USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

expediente

PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Gostaria de reiterar o pedido dacolega Manuela Bazan, de Três

Lagoas (MS), na Radis nº 41, pág. 5. Elagostaria de ver matéria a respeito daimportância do profissional farmacêu-tico nas unidades de saúde do SUS etambém no PSF, uma vez que se falatanto de equipes multiprofissionais,mas os relatos sempre envolvem aimportância do médico, do enfermei-ro ou de agentes de saúde no aten-dimento básico de saúde. Por quenão se fala do farmacêutico, que tam-bém desponta nesse segmento?• Francisco Juscelino S. Martins, quí-mico, formando em Farmácia, Maceió

Parabéns pelo excelente serviçoprestado à saúde pública do país,

abordando os temas com muita pro-priedade. Tem-me auxiliado muito nasminhas palestras como médico do PSFem São Gonçalo (RJ) e no ambulató-rio da Prefeitura.• G. Brazão, São Gonçalo, RJ

SONHO DE CONSELHEIRO

Sugiro matéria referente aos Con-selhos Municipais de Saúde, mos-

trando as dificuldades no desempenhodesta função de relevância pública,e como superá-las, pois com certe-za a experiência de um servirá paramuitos, ajudando na difusão de mé-todos para o enfrentamento de pro-blemas como cooptação, ameaças,discriminação etc. Quem sabe nãovenha a surgir uma coluna permanen-te no RADIS contando as experiên-cias exitosas do Controle Social, umbanco de dados com problemas e assoluções implementadas (desculpem-me o sonho). Como sou um sonha-dor inveterado e um defensor ardo-roso do Controle Social do SUS,estou enviando em anexo cópia demandado de segurança e de liminar

que constituem experiência em quetivemos êxito.

Um breve relato: entidade debairro enviou nome de representantepara o CMS, gestor se recusou a no-mear; indicado e entidade impetrarammandado de segurança, juíza conce-deu liminar — ou gestor nomeia eempossa o indicado no Conselho Mu-nicipal de Saúde de Valente ou paga-rá multa diária de R$ 5 mil.• Carlos Alberto Alves dos Santos, con-selheiro de Valente, BA

Caro Carlos, o RADIS promete ma-téria sobre o Controle Social do SUSpara 2006. E terá prazer em encami-nhar cópia do mandado e da liminaraos leitores interessados.

QUEIXA DE COORDENADOR DO PSF

Sou enfermeiro de PSF há mais oumenos um ano e o que tenho no-

tado é que o enfermeiro, dito coor-denador da equipe, na prática não temautonomia nenhuma para realmentecoordenar e integrar as várias facetasda equipe. Na prática, o médico e ofarmacêutico pouco ou nada se en-volvem nos trabalhos de prevenção dedoenças e na promoção da saúde.Outro problema crônico é a dita fis-calização das regionais de saúde, quese restringe à superfície e a ver rela-tórios sem nem ao menos verificar asdiscrepâncias mais grosseiras. E, comopapel aceita qualquer coisa, seja ver-dadeiro ou não, parece que a grandemaioria das equipes de PSF realmentefunciona, mas de fato só uma minoriase preocupa em fazer realmente o tra-balho preconizado. Sugiro uma repor-tagem sobre o assunto.• Ernande Valentin do Prado, Rio Ne-gro, MS

FEBRE AMARELA EM MINAS

No exemplar de nº 42, Seção “Sú-mula”, p. 5, nota “Febre Ama-

rela recua”: gostaria de ajudá-losnuma complementação aos dados jáapresentados e que muito contribu-em à questão de saúde pública. Aquina região de Uberlândia, no Triângu-lo Mineiro, em particular os municí-pios de Monte Alegre de Minas e Pra-ta, registraram-se alguns casos defebre amarela — são casos importa-dos, e não autóctones.

A.D.

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RADIS 44 � ABR/2006

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• João Carlos de Oliveira, mestrandodo Laboratório de Geografia Médicae Vigilância Ambiental da Universida-de Federal de Uberlândia

25 ANOS DE HIV-AIDS

Sou psicóloga e orientadora do Programa de Educação Afetivo-Sexual

da Secretaria de Educação de MinasGerais e quero parabenizá-los pelosexcelentes artigos que desde o iní-cio de 2005 venho recebendo naRadis. Agradeço especialmente osartigos “25 anos de Aids” (Radis 40 e41) que, além de enfocar a importân-cia da prevenção, trouxeram indica-dores importantes sobre a epidemia,que contribuirão na ampliação de co-nhecimentos de professores e alunosdas escolas estaduais com as quais tra-balho. Acredito que podemos contri-buir na Promoção da Saúde pela edu-cação e os artigos da Radis sãoessenciais, atuais e enriquecedores.Parabéns à Fiocruz e a toda a equipe.• Helena Maria Campos de Araújo,Curvelo, MG

ÍCONES DO SUS

Após problema no meu computa-dor, perdi todos os meus arqui-

vos, e não consigo mais encontrartiras, marcas e emoticons do SUS(Radis 35). Como assistente social, uso-os freqüentemente em cartazes, car-tões, informativos etc. Solicito indica-ção de onde encontrá-los atualmente.• Nair Moura, Natal

Prezado leitor, anote os links: ABCdo SUS (www.ensp.fiocruz.br/radis/44/espelho/01.htm); emoticons (www.grupogices.hpg.ig.com.br/Emoticons.html); e tiras (www.ensp.fiocruz.br/radis/44/espelho/02.htm).

SORRISO SAUDÁVEL

Queridos amigos da Radis, é comgrande alegria que redijo esta

carta. A cada vez que recebo a publi-cação impressa minha admiração, cu-

riosidade, campo de conhecimento eaté mesmo esperança (relacionada amelhorias na saúde pública) expan-dem-se de maneira inenarrável. Deci-didamente pretendo me formar na áreada saúde, especificamente em Odon-tologia. Gostaria que a revista fizessematéria especial sobre o andamentodo processo de conscientização odon-tológica no Brasil. O brasileiro é felizacima de todos os problemas cotidia-nos, e não há nada melhor do queum sorriso saudável.• Amanda Prates, Nova Viçosa, BA

SAÚDE DO TRABALHADOR

Em virtude de termos em nossa áreade atuação a empresa Braskem, que

utiliza amianto crisotila na produção decloro/soda, e ainda não ter sido assina-do acordo conforme Lei nº 9.055/95, quedisciplina o uso do amianto, solicitamosa liberação de 100 exemplares da ediçãonº 29 (janeiro de 2005) da revista Radispara distribuição e conscientização dosoperadores que manuseiam diretamen-te o amianto crisotila.• Marcondes Torres Machado, secre-tário de Saúde, Segurança e MeioAmbiente do Sindipetro-AL/SE, Maceió

ÊNFASE NA SAÚDE PÚBLICA

Gostaria de ressaltar a matéria “Aestranha doença do carrapato”

(Radis 40). Estranha porque nossas uni-versidades, com raras exceções, dãopouca atenção a essa área da saúde pú-blica. Nossos profissionais se preparampara conhecer profundamente as com-plexas especializações (área terciária),mas sabem muito pouco, ou quase nada,sobre esses tais bichos (atenção primá-ria). Que, por ironia do destino, divi-dem conosco os espaços físicos tão co-nhecidos como meio ambiente.

A grande virada só ocorrerá quan-do nossas instituições de saúde inves-tirem na atenção primária. (...) Em San-ta Catarina nunca tivemos umaFaculdade de Saúde Pública. Há maisde 20 anos não temos um curso deEspecialização em Saúde Pública nosmoldes da parceria Secretaria de Es-tado da Saúde, Universidade Federalde Santa Catarina e Fiocruz, que ocor-reu na década de 80. Somos extrema-mente carentes em epidemiologistas.Poucos são os profissionais que sequertêm o Curso Básico de Vigilância Epide-miológica. O raciocínio epidemiológicopraticamente não existe na cabeça damaioria de nossos profissionais. Somosespecialistas em futebol, que bom. Pre-cisamos nos especializar em SaúdePública. A população agradecerá.

• Rudi Pereira Lopes, farmacêutico-bioquímico, Laboratório Central deSaúde Pública, Florianópolis

Quero agradecer pela iniciativa deoferecerem gratuitamente a as-

sinatura desta revista tão informati-va e imparcial. Parabéns pelo com-prometimento de seus idealizadoresem mostrar a realidade da saúdepública no Brasil e pelo engajamentona luta por uma política de saúdemais digna e eficaz.• Asenath N.Melo, Campina Grande, PB

Sou fisioterapeuta da rede públicae em pouco tempo recebendo a

revista posso dizer que é um traba-lho muito significativo para usuáriose profissionais do setor, nos fazendoentender melhor as políticas de saú-de de um sistema que tende a sedesenvolver ainda mais para garantiro acesso universal e integral. Todosnós, profissionais e usuários desse sis-tema, devemos estar bem-informadossobre essa evolução e a revista Radisnos dá essa oportunidade.• Flávio Gomes de Almeida, fisiotera-peuta, Tatuí, SP

NA ESCOLA

Sou professora no Departamento deServiço Social da Universidade de

Taubaté e, como trabalho com enfoquena área da saúde, a revista me é degrande importância.• Regina Celia P. da Silva, Taubaté, SP

Apublicação tem sido de um valorinestimável em minhas atividades

como sanitarista e professora em cur-sos na área da saúde.• Marize R. Negrini, São Paulo

Estou fazendo minha monografia dapós-graduação sobre a exposição

da mulher em relação ao HIV. As re-vistas 40 e 41 sobre Aids vão ser mui-to úteis. Parabéns pelas matérias.• Maria da Conceição F. da Silva, Vi-tória de Santo Antão, PE

A Radis solicita que a correspondênciados leitores para publicação (carta,e-mail ou fax) contenha identificaçãocompleta do remetente: nome, ende-reço e telefone. Por questões de es-paço, o texto pode ser resumido.

NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA

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RADIS 44 � ABR/2006

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O PAÍS DA COPA TEME A GRIPE AVIÁRIA

OPartido Verde e epidemiologistasda Alemanha estão temerosos de

que a Copa do Mundo estimule umpossível surto de gripe aviária, e jáfalam em cancelamento da competi-ção. O governo alemão se apressou anegar o risco e o Comitê Organizadordo Mundial nem sequer quis comen-tar a possibilidade de cancelamentodo evento. “É um absurdo”, dissePeter Danckert, presidente do Comi-tê de Esportes do parlamento alemão.“Espalhar paranóia especulativa nãoajuda em nada”.

Os tablóides sensacionalistas ale-mães aproveitaram uma declaraçãode Klaus Stöhr, chefe do programa degripe da Organização Mundial de Saú-de, segundo a qual medidas de emer-gência teriam de ser tomadas emeventos de massa. Mas ele se referiaà eventualidade de uma pandemiaconcreta, coisa que não estava ocor-rendo. No caso de a mutação do ví-rus da gripe possibilitar contágio depessoa para pessoa, Klaus disse queseria preciso coragem “não cancelarum evento como a Copa do Mundo”.

Em fins de fevereiro o vírus H5N1matou três aves selvagens na Hungria-— Polônia, Dinamarca, Áustria, Itá-lia, Romênia, Grécia, Eslovênia,Bulgária, Croácia e Chipre já regis-traram a presença do vírus entre

SÚMULA

aves migratórias — mas nenhum casoem criadouros ou humanos. “Pode-mos considerar a população de avesda Europa infectada”, disse à revistaNew Scientist Albert Osterhaus, daUniversidade Erasmus, na Holanda.“Temo que se torne uma doençaendêmica no continente.”

A França, forte produtora defrango, entrou em pânico: o consu-mo de aves caiu 20%, e os comerci-antes criticam a mídia e o governopelo pânico. Franceses assustados jápediam a morte das grandes popula-ções de pombos que vivem no país(somente em Paris são 80 mil), masos especialistas afirmavam que pom-bos não entram em contato com avesmigratórias. Numa reunião em Bru-xelas não houve consenso quanto ànecessidade de vacinação em massadas aves. França, Itália e Holandavotaram a favor, mas o Reino Unidoconsiderou a iniciativa cara e semgarantias, já que não existe vacinaespecífica para o H5N1. “É absoluta-mente sem precedentes” o ritmo dedisseminação do vírus, disse a porta-voz da OMS Maria Cheng.

GENÉRICOS AVANÇAM NO MERCADO

Avenda de medicamentos genéricos subiu 23,9% no ano passado

em relação a 2004: foram 151,4 mi-lhões de unidades, com participaçãode 11,34% no mercado farmacêuticobrasileiro. Em volume financeiro, acomparação com 2004 mostra que oaumento foi de 56,5% — um total deUS$ 692,5 milhões. Os dados são daPró-Genéricos, a associação das in-dústrias produtoras.

DESERTOS MÉDICOS

AFrança não consegue contratarmédicos para o interior, onde vi-

vem 3 milhões de pessoas. Documentárioda TV-5 Monde (canal 27 da opera-dora Net), intitulado “Procurandomédicos desesperadamente”, mostrao excesso de trabalho a que estãosubmetidos clínicos de pequenas ci-dades, repletas de idosos necessi-tando de atendimento. As prefeitu-ras oferecem grandes vantagens, enem assim os médicos aceitam o con-

vite. Um estudante de Medicina de-clara: “Não é mais uma profissão quese escolhe na infância, por vocação:agora, opta-se no segundo grau,como na engenharia”. Outro agre-ga: “Acabou o romantismo”.

O curioso é que nunca houvetantos médicos na França, afirma odocumentário: só de clínicos geraissão mais de 200 mil, para uma popu-lação de 61,6 milhões (dos quais 9,9milhões têm mais de 65 anos). Noschamados “desertos médicos” do in-terior, porém, o déficit chega a 10%.A solução tem sido importar profis-sionais das antigas colônias france-sas. A ironia é chocante: a África,tão carente de serviços públicos desaúde, envia seus médicos à antigametrópole. Apesar das diferençasdrásticas, o Brasil também já “im-porta” médicos, dos países vizinhose de Cuba, para atendimento no in-terior rejeitado pelos profissionaisdas cidades.

FSP/USP TEM NOVO DIRETOR

Oprofessor Chester Luiz GalvãoCésar tomou posse em 23 de

março no cargo de diretor da Facul-dade de Saúde Pública (FSP) da Uni-versidade de São Paulo. Natural deGuaratinguetá, no Vale do Paraíba,é especialista em Medicina Tropi-cal, mestre em Saúde Pública pelaLondon School of Hygiene and Tro-pical Medicine, de Londres, e dou-tor em Epidemiologia pela USP. Éprofessor-titular do Departamentode Epidemiologia da Faculdade deSaúde Pública.

CTNBIO, SEMPRE POLÊMICA

Uma rede de ONGs prometeu impugnar a nomeação para a presi-

dência da CTNBIO do bioquímicoWalter Colli, professor do Instituto deQuímica da USP. Confirmado no car-go em 16 de fevereiro pelo ministroda Ciência e Tecnologia, SérgioRezende, a irregularidade estaria nofato de que o professor foi indicadopelo Ministério da Saúde como repre-sentante da sociedade civil na áreada saúde, mas sem consulta à socie-dade civil. “O ministério não cumpriu

A.D.

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RADIS 44 � ABR/2006

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as normas previstas para a criação danova CTNBio”, afirmou Maria Rita Reis,coordenadora da ONG Terra de Di-reitos, “pois não mandou lista tríplicepara sua indicação e não consultou acomunidade de saúde”.

Sanitaristas e ambientalistas re-provam a nomeação, segundo o jornalValor Econômico de 16/2, porque WalterColli é “afinado com a linha” do agrô-nomo Luiz Antônio Barreto de Castro,atual secretário de Política e Progra-mas de Pesquisa e Desenvolvimentodo MCT. Ex-presidente da CTNBio,sob a gestão de Luiz Antônio foi libe-rada a venda no Brasil da sojaRoundup Ready, da Monsanto. “Como tempo, os ambientalistas gostarãode mim”, disse Colli ao Estado de S.Paulo de 17/2.

A CTNBio tem pela frente a tare-fa de avaliar pedidos de liberação co-mercial de cinco variedades transgênicasde milho, uma de arroz, uma de eucaliptoe uma de cana, além de longa lista deenzimas derivadas de bactérias e ou-tros microrganismos transgênicos, in-forma boletim da Campanha por umBrasil Livre de Transgênicos. “Como oprocesso de indicação de Colli foi irre-gular”, diz o informe, os atos da CTNBio“podem vir a ser declarados nulos peloPoder Judiciário”.

A Lei de Biossegurança estabele-ce que os seis representantes da soci-edade civil devem ser indicados a par-tir de lista tríplice encaminhada aosministérios por entidades da área. Agi-ram assim os ministérios do Meio Ambi-ente, da Justiça, do DesenvolvimentoAgrário, mas o da Saúde indicou Colli esua suplente, ambos ex-integrantes daCTNBio, sem processo de consulta àsentidades. “Que legitimidade eles têm,se seus nomes não partiram de nenhu-ma entidade do setor da saúde?”, per-guntou, falando à Radis, o agrônomoGabriel Fernandes, da Campanha porum Brasil Livre de Transgênicos, que éassessor técnico da Aspta, consultoraem agricultura alternativa.

Há mais irregularidades. A CTNBiofoi instalada entre o Natal e o Ano-Novo, e as entidades civis enviaramnotificação extrajudicial informandoao Ministério da Ciência e Tecnologiaque se estava ferindo a lei em váriosartigos, porque nem todos os integran-tes da comissão haviam sido indicados.Na segunda reunião da comissão, emfevereiro, nova notificação, desta vezao Ministério da Saúde e ao MCT, in-formando que a nomeação de WalterColli poderia ser impugnada do o pro-cesso de escolha irregular. “Não sepode alegar desconhecimento das ir-regularidades”, disse Gabriel.

SÚMULA é produzida a partir do acom-panhamento crítico do que é divulgadona mídia impressa e eletrônica.

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REVISTA DA ABRASCO ONLINE — A As-sociação Brasileira de Pós-Graduação emSaúde Coletiva (Abrasco) está divulgan-do a versão online (www.abrasco.org.br/cienciaesaudecoletiva/) da revista tri-mestral Ciência & Saúde Coletiva, quecompleta 10 anos em 2006. O visitan-te terá acesso às edições anterio-res e a artigos inéditos já aprovadosque aguardam publicação na versãoimpressa. A revista busca refletir astendências do pensamento e das prá-ticas na saúde coletiva, em diálogocom a agenda contemporânea deciência & tecnologia.

“MORO NA FAVELA” — A exposiçãoitinerante Moro na Favela, lançada emfevereiro na Cidade de Deus, percor-rerá até junho as comunidades cari-ocas da Rocinha, da Maré e do Ale-mão e, na Baixada Fluminense, deQueimados. Foram selecionadas 50imagens produzidas pelos fotógrafosdo Viva Favela (www.vivafavela.com.br),a maioria de moradores das comu-nidades. Peter Lucas, professor deMídia e Direitos Humanos da NewYork University, considerou o por-tal, entre concorrentes de váriospaíses, “a melhor mídia comunitáriaem internet do mundo”. O prêmioresultante, da Fundação George So-ros, financiou a exposição.

“PEQUENO” GRANDE FILME — RachelWeisz, que levou todos os prêmiosimportantes de melhor atriz neste anopor seu papel em O jardineiro fiel,dirigido pelo brasileiro FernandoMeirelles, disse em entrevista à BBC,no dia da cerimônia do Oscar (5/3),estar muito orgulhosa “deste peque-no filme britânico”. Pode ser peque-no, mas a denúncia contra labora-tórios farmacêuticos inescrupulososé das grandes (ver resenha na Radisnº 43, página 2).

SOMOS OVÍPAROS? — Na primeira quin-zena de março o vírus da gripe aviáriamatou gatos domésticos e de rua emdois países europeus, e foi curioso vera imprensa noticiar que se tratava dos“primeiros mamíferos” contaminados. Eos humanos mortos (quase 100 vítimas)até agora, não eram mamíferos?

MALÁRIA ENTRE OS IANOMÂMIS

Os casos de malária registrados em2005 na área dos ianomâmis

(Roraima e Amazonas) aumentaram164% em relação a 2004: de 622 para1.645. As principais causas da epi-demia, segundo a ONG Comissão Pró-Ianomâmi, é o atraso no repasse deverbas e a burocracia na comprade remédios e no aluguel de aviõespara a remoção dos doentes, a car-go da Funasa.

IMAGEM TRIDIMENSIONAL DO HIV

Pesquisadores britânicos e alemãespublicaram no jornal Structure em

janeiro a primeira imagem tridimen-sional do vírus HIV. O mapeamentofoi dificultado pelo tamanho e aforma variáveis do vírus, 60 vezesmenor do que os glóbulos verme-lhos. Foi preciso fazer centenas deimagens e depois combiná-las numprograma especial de computador.Segundo os pesquisadores, a ima-gem do vírus ajudará a entendercomo o HIV se multiplica. Com aju-da de muitos auxiliares, foram res-ponsáveis pelo feito John A.G.Briggs, da Universidade de Oxford, KayGrünewald, do Max-Planck-Institut, eBärbel Glass, da Universidade deHeidelberg, da Alemanha.

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Em defesa dacriança e doadolescente

CONSELHOS TUTELARES E DE DIREITOS

AKatia Machado

AConstituição brasileiradetermina: crianças eadolescente são prio-ridades absolutas. Têmdireito à proteção àvida, à saúde, à educa-ção, à cultura, ao es-porte, ao lazer, à ha-

bitação, entre outros. Garantir essaproteção não é tarefa fácil num paísde desigualdades sociais e econô-micas. Mas a lei prevê dois fortes

instrumentos de controle social: osconselhos de direitos da criança(até 12 anos) e do adolescente (de13 a 18 anos) e os conselhos tutela-res, conforme o artigo 88 do Esta-tuto da Criança e do Adolescente,o ECA (Lei 8.069/90), que comple-tou 15 anos em 2005.

Esses conselhos fazem parte dapolítica de atendimento da criança edo adolescente. Com representaçõesnos três níveis de governo — federal,estadual e municipal —, cabe-lhesacompanhar a atuação de órgãos pú-blicos e participar da elaboração do

orçamento do governo federal, paragarantir recursos às entidades do se-tor. Na instância federal foi criado,pela a Lei nº 8.242/91, o Conselho Na-cional dos Direitos da Criança e doAdolescente (Conanda), um ano apóso ECA. Sua função é formular, deli-berar e controlar a política públicade direitos humanos para a criançae o adolescente no país, respeitan-do as linhas de ação e as diretrizesestabelecidas nos artigos 87 e 88 doestatuto. Atualmente, esse órgão estáligado à Secretaria Especial dos Di-reitos Humanos.

Em defesa dacriança e doadolescente

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a caso. Cabe a ele, em casos de viola-ções, tomar as providências para res-tabelecer os direitos da infância e daadolescência. Por exemplo, se qualquerpessoa souber que uma criança ou ado-lescente não está na escola poderá in-formar ao conselho tutelar de sua ci-dade, que deverá apurar a denúncia eencaminhá-la aos órgãos competentespara que esse direito seja restabeleci-do. Como um Procon do Estatuto daCriança e do Adolescente.

Cada um dos 5.600 municípios dopaís deveria ter no mínimo um conse-lho tutelar, composto por cinco pes-soas eleitas para mandato de trêsanos, com a possibilidade de reelei-ção para igual período. Na prática,segundo dados do Conanda, 68% dosmunicípios (cerca de 4 mil) já instala-ram seus conselhos tutelares. Na Re-solução nº 75/2001, o Conanda reco-menda que municípios geográfica oupopulacionalmente maiores tenhammais de um conselho. “O ideal é umconselho tutelar para cada 200 mil ha-bitantes”, indica Rachel.

O não-cumprimento da lei é o mai-or problema: essa determinação não

tem funcionado, critica. Ela cita comoexemplo o Estado do Rio, que tempopulação em torno de 6 mi-lhões e apenas 10 conselhostutelares instalados. “O míni-mo recomendado seria 30”,calcula. Muitos conselhos nãotêm infra-estrutura adequadae alguns conselheiros não estão devi-damente capacitados para a função.“Não é preciso criar mais lei, mas pôrem prática o que o ECA e o Conandadeterminam”, diz a conselheira.

Com dois tipos de conselho, cadaqual com funções correlatas, a relaçãoentre eles é estreita. Fernando, quetambém coordena o Programa de De-mocratização Pública do Centro de Cul-tura Luiz Freire, em Pernambuco, expli-ca que tanto o Conselho de Direitos(Conanda, estaduais, distrital e munici-pais) como o Conselho Tutelar (que sóexiste no município) fazem parte do Sis-tema de Garantia de Direitos, que temem sua composição o Poder Judiciário,o Ministério Público, órgãos do Execu-tivo, o Poder Legislativo, entidades dasociedade civil. “Por ser um sistema, to-dos devem se articular e cumprir com

Choque duplo de desesperança nodomingo 19/3. De manhã, O Globo

trouxe reportagem sobre prostitui-ção infantil. No Paraná, por exemplo,meninas de 11 e 12 anos fazem sexopor R$ 1,99; em Pernambuco, meni-nas de 5 e 6 anos fazem sexo oral porR$ 0,50. O senador Cristovam Buarque(PDT-DF), presidente da Comissão deDireitos Humanos, resumiu: “Não háescândalo maior no país”.

À noite, o Fantástico exibiu odocumentário Falcão: meninos dotráfico, do rapper MV Bill e do pro-dutor Celso Athayde. O filme dá vozao falcão, o adolescente que, ar-mado, vigia os acessos às favelasdominadas por quadrilhas de trafi-cantes. Eram 217 horas de imagens,reduzidas para 58 minutos pela Glo-bo, captadas entre 1998 e 2003 emfavelas de vários estados. Dos 16entrevistados, 15 morreram. O úni-co sobrevivente está preso.

Uma jovem conta que seu filhode 2 anos e 11 meses já reconhececheiro de maconha e sabe o que éum papelote de cocaína. As crian-ças “brincam” de traficante. A mor-te de um X-9 (informante da polí-cia) é simulada na “brincadeira”:“Vamos botar fogo, pega os pneus”,grita um garoto.

“Não há mais infância, não hámais criança”, declarou à Globo,na segunda-feira 20/3, o sociólogoGláucio Soares. “Gostaria que to-das as favelas do Brasil fossem inva-didas pelo Exército”, disse MV Billà TV. “Não o exército das ForçasArmadas, mas um exército que le-vasse educação, oportunidades,saúde, transformação”. O ministroMárcio Thomaz Bastos, da Justiça,disse que esta é uma tarefa de toda asociedade. Na segunda-feira, fora oGlobo e a Globo, a grande imprensanem mencionava as duas matérias.

Sem infância, sem futuroSem infância, sem futuroSem infância, sem futuroSem infância, sem futuroSem infância, sem futuroDepois da criação do Conanda,

começaram a surgir paulatinamenteos conselhos estaduais e municipais.Aos conselhos estaduais de direitocabe garantir a promoção e a defesados direitos da população infanto-ju-venil do estado ao qual está vincula-do. E aos municipais, a garantia dosdireitos desta população no municí-pio. Além disso, todos eles, segundoseus níveis de governo, respondempela gestão e a distribuição do Fun-do para a Infância e a Adolescência.

Existem hoje o conselho nacio-nal, 26 conselhos estaduais mais umdistrital e mais de 4 mil conselhosmunicipais. “Isso não quer dizer quetodos os conselhos municipais este-jam em funcionamento pleno”, ressalvaa médica-pediatra Rachel Niskier, quedurante oito anos ocupou a cadeirade conselheira-titular do Conanda ehoje faz parte do conselho do Estadodo Rio. Segundo o presidente doConanda, o historiador Fernando Sil-va, 77% dos municípios (ou 4.300) for-maram seus conselhos de direitos.

São compostos de forma paritária— 50% de representantes governamen-tais, indicados pelo Executivo, e 50% derepresentantes não-governamentais,eleitos pela própria sociedade civil emprocesso organizado pelos conselhosmunicipais de direitos e fiscalizadopelo Ministério Público.

O PROCON DO ECAO PROCON DO ECAO PROCON DO ECAO PROCON DO ECAO PROCON DO ECAUm pouco mais novatos nesse pro-

cesso, os conselhos tutelares, citadosnos artigos 131 ao 140 do estatuto,começaram a ser criados por volta de1994. Eles cumprem o papel de aten-der meninos e meninas que têm seusdireitos violados ou ameaçados peloEstado, a sociedade ou a família. É umórgão autônomo, de natureza adminis-trativa e executiva, e não judiciária, etem a finalidade de zelar pela aplica-ção da lei. Mas sua autonomia é funci-onal. Quer dizer, quando aplica medi-das na área de sua competência nãoestá sujeito a interferências externas,mas nada impede que esteja subordi-nado administrativamente a outro ór-gão e dependa de verbas externas.

Com representações apenas nosmunicípios, ao qual está diretamentevinculado, esse órgão público atua caso

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1º SNCIIS

O Sipia (http://www.mj.gov.br/sipia/)é um sistema nacional de registro deinformações sobre a garantia e a de-fesa dos direitos fundamentais pre-conizados no Estatuto da Criança edo Adolescente. Foi criado para sub-sidiar as decisões governamentais empolíticas infanto-juvenis. Está dividi-do em quatro módulos: Promoção edefesa dos direitos fundamentais pre-conizados no ECA; Adolescente emconflito com a lei e as decorrentesmedidas socioeducativas a ele apli-cadas; Estabelecimentos onde os ado-lescentes cumprem as medidassocioeducativas; e Colocação famili-ar, na forma de adoção, seja por pre-tendente nacional ou estrangeiro.

sua parte no sistema. Ambos têm gran-de relevância e a ligação entre eles éde grande importância”, afirma.

Para que nenhum direito sejadesrespeitado ou que nenhuma açãopasse despercebida, “os dois conse-lhos estão ligados aos Fóruns de Defe-sa da Criança e do Adolescente (DCAs),que são articulações especificas e es-peciais da sociedade civil para o efe-tivo controle social”, acrescentaFernando. Cada qual com uma funçãoespecífica, ambos devem atuar paraque o Estatuto da Criança e do Ado-lescente seja totalmente respeitado.

Fernando destaca o papel dosConselhos Tutelares na proteção dosdireitos à saúde da criança e do ado-lescente: é possível mapear os princi-pais acusados de violações e os locaisde maior incidência dessas violações.O Conselho Tutelar cumpre o papelde fiscalizar as entidades de atendi-mento infanto-juvenil e fazer o devi-do registro no Sistema de Informaçãopara a Infância e a Adolescência (Sipia)de todas as denúncias recebidas.

PERFIL DOS VIOLADORESPERFIL DOS VIOLADORESPERFIL DOS VIOLADORESPERFIL DOS VIOLADORESPERFIL DOS VIOLADORESAs violações cometidas contra

crianças e adolescentes começamem casa. Os dados do Sipia, entre

janeiro de 1999 (quando o re-gistro foi criado) e janeiro de2006, revelam que as mães sãoas líderes do ranking de de-núncias feitas aos conselhostutelares, com 95.102 (26,2%)

notificações. Em segundo lugar, ospais, com 87.001 (23,9%). As mulhe-res são mais denunciadas por situa-ções ligadas à saúde da criança, prin-cipalmente por omissões, como nãolevar o filho vítima de violência ou

de acidente ao serviço de saúde ounão fazer pré-natal.

Para Rachel, porém, esse é umdado que deve ser cuidadosamenteanalisado. Ela diz que é muito fácilculpar a família e, em especial, asmães. “Assim você deixa de dizer queaquela família não têm condições eco-nômicas para uma sobrevivência dig-na, que o pai tem um subemprego ouestá desempregado e, conseqüente-mente, partiu para o álcool e para aviolência física, que essa mãe acusadasaiu de casa às 4 da manhã para fazerfaxina no bairro nobre, voltando às 9da noite e deixando o filho mais velhocuidando do mais novo”, ressalva.

Com base em sua experiênciacomo médica e conselheira, ela ga-rante que mães e pais agressores são,na maioria, agredidos pela vida. “Nãopodem ter paciência para criar os fi-lhos, não podem ter paz de espírito

para enfrentar uma fila no posto desaúde”. Mesmo assim, diz ela, “essasfamílias estão com os cartões de va-cina em dia, faltam ao trabalho paralevar o filho doente ao posto médi-co, entre outros cuidados”.

Na opinião de Fernando, as mãesacabam sendo as maiores violadorasporque ficam a maior parte do tem-po com os filhos e as filhas. “E cadavez mais elas assumem a chefia dasfamílias e a pressão sobre elas acabasendo mais forte”, afirma. Dado com-provado pelo IBGE: 37% das famíliassão chefiadas por mulheres.

Por todos esses motivos, os conse-lhos tutelares acabam atendendo nãosó a criança e o adolescente, como tam-bém a família. “O órgão exerce tambémuma função educativa”, explica Rachel.

Depois de mães e pais, no tercei-ro lugar entre os 10 maiores violadoresdos direitos infanto-juvenis está a pró-pria criança ou adolescente, com58.497 (16,1%) de denúncias. São oscasos de jovens autores de infrações— mesmo que incitados por adultos —ou que se comportam de maneira anegar seus próprios direitos.

Tios, avós e outros responsáveisforam alvo de 17.420 (4,8%) denúnci-as, ficando em quarto lugar. Em segui-da estão agentes não-identificados,com 13.640 (3,7%), a escola, com 12.736(3,7%), a creche, com 11.264 (3,1%).Depois vem a categoria em que o prin-cipal agente não é identificado. Sãoviolações cometidas por mais de umapessoa conhecida, mas sem identifi-cação do principal responsável —10.724 (2,9%) denúncias; padrasto, com8.292 (2,2%), e pessoa física (por exem-plo, alguém que explora trabalho in-fantil doméstico), com 7.210 (1,9%).

DIREITOS VIOLADOSDIREITOS VIOLADOSDIREITOS VIOLADOSDIREITOS VIOLADOSDIREITOS VIOLADOSSegundo o Sipia, cinco direitos

são os mais violados, somando 360.518casos entre janeiro de 1999 e janeirode 2006. Em primeiro lugar, o desres-peito ao direito à convivência familiare comunitária, ou seja, de ser criadoe educado pela família ou, excep-cionalmente, em família substitutaou adotiva, recebeu no período184.029 denúncias (51%). Em seguida,o direito à liberdade, ao respeito e àdignidade como pessoas em desenvol-vimento e sujeitos de direitos civis,

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Punição para castigo corporalEm vista dos desrespeitos fre-

qüentes aos direitos infanto-juvenis, a Comissão de SeguridadeSocial e Família aprovou o Pro-jeto de Lei 2.654/03, da depu-tada Maria do Rosário (PT-RS),que garante à criança e ao ado-lescente o direito de não se-rem submetidos a qualquer for-ma de punição corporal. Estãoincluídos na proibição castigos“moderados ou imoderados, soba alegação de quaisquer propó-sitos, ainda que pedagógicos”.O projeto altera o Estatuto daCriança e do Adolescente (Lei8.069/90) e o novo Código Civil(Lei 10.406/02).

A relatora da proposta nacomissão, deputada Teté Bezer-ra (PMDB-MT), defendeu a apro-vação da medida. “O projeto trazà luz, de forma inequívoca, queé absolutamente inaceitável apunição corporal de crianças e ado-lescentes”. De acordo com Teté, oprojeto destaca o fato de que ape-nas a mudança legal não será sufici-ente para garantir uma mudança decomportamento traduzido na cultu-ra que permite o uso da força físicapara “educar” as crianças. Assim, otexto prevê a realização de campa-nhas educativas para conscientizaçãoda população sobre o caráter ilícitodos atos de punição corporal.

O projeto propõe mudançasno artigo 2° do novo Código Civil a

fim de assegurar que os pais nãousem a força física, moderada ouimoderada, para exigir que os filhosmenores lhes prestem obediência,respeito e os serviços próprios desua idade e condição. Aprovado em19 de janeiro em caráter conclusi-vo na Comissão de Constituição eJustiça e de Cidadania da Câmara(CCJ), o projeto seguiu para vota-ção no Senado.

Para Teté Bezerra, os avançosjá obtidos pela legislação brasileiraainda não são suficientes para rom-

per com a cultura que admitea violência contra crianças. “E,para além do não-rompimentodessa cultura, encontramos vi-gente um sistema jurídico pátrioque apenas pune a prática decastigos imoderados, deixandoa possibilidade para a prática daviolência moderada, especial-mente com a finalidade peda-gógica”, observa a relatora.

Na época da votação naCCJ, o projeto teve repercus-são nos jornais. A grande im-prensa deu voz a várias pessoasfamosas (mas não a educadorese especialistas) que defende-ram a “palmadinha” como“corretivo” válido. “Enquanto alei tem coibido a violência pra-ticada contra adultos, nas maisdiversas formas, a violência con-tra crianças tem sido admitida,disfarçada de recurso pedagó-

gico”, argumentou a relatora da ma-téria na CCJ, deputada SandraRosado (PSB-RN). Ela lembrouque o Código Penal tipifica comocrime de injúria real o ato deesbofetear alguém. “Com muitomais razão, o castigo físico apli-cado a uma criança deverá ser com-pletamente abolido da legislação,como forma de educação”, disse.“Educar pela violência é, certamen-te, uma abominação, incompatívelcom o atual estágio de evolução dasociedade.”

humanos e sociais, com 86.955 (24,1%)violações; à educação, à cultura, aoesporte e ao lazer, com 61.090 (16,9%)casos; à vida e à saúde, que inclui aefetivação de políticas públicas quepermitam o nascimento e o desenvol-vimento sadio e harmonioso, com 18.629(2,7%); e à profissionalização e à prote-ção ao trabalho, com 9.815 (2,7%) —pelo qual é proibido qualquer trabalhoa menores de 16 anos, salvo na condi-ção de aprendiz, a partir dos 14.

Uma lei, por melhor que seja, nãoé sinônimo de direitos garantidos, e oBrasil é campeão mundial em leis avan-çadas de proteção infanto-juvenil — emmuitas regiões, no entanto, desrespei-tadas. O trabalho precoce, por exem-plo, mazela que aflige grandes contin-gentes de crianças neste Brasil tãodesigual, exige esforços que causamgraves prejuízos físicos e mentais. Porisso a Emenda Constitucional nº 20, de15 de dezembro de 1998, cuidou de es-

tabelecer a idade mínima para ingressono mercado de trabalho, atendendo re-comendação do ECA e da OrganizaçãoInternacional do Trabalho: se antes tí-nhamos 14 anos, agora são 16 anos. Alei, de fato cuida; mas cumprir cabe aopoder público e à sociedade.

A.D.

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ENTREVISTA

Amédica-pediatra Rachel Niskier,do Instituto Fernandes Fi-gueira (IFF/Fiocruz), fala nes-ta entrevista sobre o traba-

lho dos conselhos de Direitos e Tute-lar da Criança e do Adolescente, os di-reitos violados que mais lhe chamam aatenção e a importância do Estatutoda Criança e do Adolescente, criadoem 1990. Sua experiência como gestorade saúde começou em 1978 no Hospi-tal Salles Neto, no Rio. Entre 1989 e1993 coordenou, no Ministério da Saú-de, o Programa Nacional da Saúde deCrianças e Adolescentes. Conselheirados direitos infanto-juvenis e integran-te da Sociedade Brasileira de Pedia-tria, foi do Conanda entre 1996 e 2004.Hoje, integra o Fórum de Direito daCriança e do Adolescente do Rio (DCA-

RJ) e é titular do Conselho Es-tadual de Defesa da Criança edo Adolescente (CDCA-RJ), quecumpre a função de Conselhode Direitos do estado.

Como se dá na prática a relação entreos conselhos?

Não há uma relação hierárquicaformal. O Conanda não manda nos con-selhos estaduais, que não mandam nosmunicipais. Todos eles, em seus três ní-veis de governo, devem estar atentosàs políticas públicas dirigidas a criançase adolescentes. São deliberadores,fiscalizadores e controladores da políti-ca, diz o ECA. Uma das funções doConanda é promover a articulação comos conselhos estaduais. Isso normalmen-te ocorre em assembléias ampliadas,uma vez por ano, e na conferência na-cional, a cada dois anos, quando oConanda se reúne com os presidentesdos conselhos estaduais — o que pare-ce antidemocrático. Mas nunca há re-cursos para todos, por isso vão ape-nas os presidentes.

Aos conselhos estaduais cabe umarelação estreita com os municipais. Issoé muitas vezes complicado diante dadistância entre os municípios e de or-

çamento, que é curto. Por exemplo,Minas, com 800 municípios, ou o Estadodo Rio, com 92: como um conselho es-tadual se articula com todos eles?

Quais são as violações mais graves dosdireitos da criança e do adolescente?

Todas as violações dos direitos sãograves. Em relação ao direito à educa-ção, o não-acesso às creches para quea mãe possa trabalhar é grave violação.E, no Brasil, apenas 13% das criançasentre 0 e 3 anos têm acesso a creche.À pré-escola, para crianças de 4 a 6anos, de 35% a 40% não têm acesso. Aqualidade do Ensino Fundamental estámuito aquém para o bom desenvolvi-mento cognitivo e intelectual das cri-anças. O acesso ao Ensino Médio eSuperior também é muito pequeno.

As violações do direito à saúdecomeçam no não-acesso ao pré-natalou na consulta mal realizada, passampelo nascimento sem dignidade, semcondições de vitalidade para mãe e cri-ança, até dificuldades de atendimento.Apesar de tudo, na saúde esse panora-ma é um pouco melhor, porque muitasdoenças preveníveis com vacinas foramerradicadas, a exemplo da varíola e dapólio, o sarampo praticamente contro-lado. Mas a criança vai crescendo, che-ga à adolescência e morre por causasexternas. Isso é uma violação do direitoà proteção à vida. Se o menino adoles-cente, em geral pobre, negro e da pe-riferia, morre assassinado foi porque fa-lharam todos os setores sociais quedeveriam protegê-lo. O que fica evi-dente é que as classes populares pa-gam preço maior.

O ECA ajuda a mudar esse panorama?Ele veio para dar uma guinada na

proteção dos direitos infanto-juvenis.Pelo menos no que tange à participa-ção da população, isso melhorou bas-tante. Antes, era rara a denúncia, vi-nham à tona na imprensa os casosgraves. A partir do ECA, a informaçãoganhou qualidade. A sociedade come-çou a atuar mais. Era inimaginável, an-

tes do estatuto, falar sobre as mazelasem comunidades carentes ou sobre re-beliões nas unidades de internação.Isso tudo não aparecia porque o códi-go de menores não dava conta. Costu-mo dizer que a única transformaçãopossível é pelo controle social e o ECAveio legalizar esse controle.

Qual sua análise sobre a política vol-tada para a criança e o adolescente?

É preciso que as políticas públicasdeterminadas por lei não se tornem le-tra morta. Está na Constituição: “É de-ver do Estado, da família, da sociedade,em articulação, cuidar para que todacriança e adolescente sejam alvo deprioridade absoluta”. Mas o que é essaprioridade? É como uma bandeira esfar-rapada, porque o orçamento-criançaano a ano vem sendo dilapidado. Preci-samos hoje, como conselheiros, fazerlobby com deputados para que apre-sentem emendas ao orçamento. Isso ficaclaro nos dados do Instituto de EstudosSocioeconômicos (Inesc), mostrandoque hoje o governo gasta menos de umreal por dia por criança no país. Então,por mais que o ECA seja eficaz, por maisque a sociedade se mobilize e atue,por mais que a imprensa esteja pre-sente, a realidade só muda se tambématuarem as políticas públicas e o go-verno cumprir seu papel.

Rachel Niskier

“O orçamento-criançavem sendo dilapidado”

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C.P.

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O vídeo na mãode quem faz o SUS

COMUNICAÇÃO EM SAÚDE

Claudia Rabelo Lopes

Écada vez mais evidente o pa-pel crucial da comunicação naconsolidação do SUS. Entre osprincipais desafios estão os

de descentralizar e democratizar aprodução e a veiculação de infor-mação em saúde, e também o de de-senvolver estratégias para o usoeducativo da mídia nessa área. Comesses objetivos, o Canal Saúde, daFiocruz, vem realizando uma sériede oficinas de vídeo com as asses-sorias de educação e comunicaçãoem saúde de municípios em todo oBrasil. Os participantes descobremcomo utilizar melhor os recursosaudiovisuais disponíveis e têm a

oportunidade de conhecer as dife-rentes etapas do processo de pro-dução de vídeo.

“O canal passou anos aperfei-çoando a própria produção, os pro-gramas. Agora é hora de passarmoso que aprendemos nesse processoaos profissionais de saúde, o nossopúblico, para que venham tambéma ter seu próprio material”, diz ajornalista Márcia Correa e Castro,que é superintendente do CanalSaúde e ministrou oficinas em trêsestados: Rio de Janeiro, Pará e MatoGrosso no ano passado.

O projeto teve início em setem-bro, e surgiu das demandas detec-tadas em dezembro de 2004 no se-minário “Que Canal Saúde você vê?”(Radis nº 29), nos 10 anos do canal.

A maioria dos profissionais das se-cretarias estaduais não conhecia osprogramas produzidos pela Fiocruze, quando conhecia, não sabia o quefazer com eles.

A partir do seminário forampropostos dois tipos de oficinas —uma de metodologia de uso dovídeo na educação para a saúde eoutra de produção de vídeo, coma idéia de que os materiais nelaproduzidos sejam veiculados peloCanal Saúde. A equipe do canal ela-borou, então, um roteiro para oprojeto, que foi testado interna-mente, numa oficina para seus oitocoordenadores de área.

O roteiro básico é enviado àsequipes de educação e saúde dosestados, e cada uma o reescreve de

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Swami Barão na oficina de produção em Goiás: “Eles não deixam nada a desejar em comparação aos profissionais”

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DVD portátil. Goiás ofereceu mais duascâmeras, além do espaço físico e domaterial a ser usado em sala. Era es-perada uma turma de 20 pessoas, queseriam distribuídas em cinco gruposde quatro, com as funções de re-pórter, redator, produtor e câmera.Cada grupo teria a tarefa de realizarum vídeo sobre saúde.

A realidade, porém, foi bem di-versa do esperado e desafiou a ca-pacidade de improvisação da dupla.“A turma tinha 25 pessoas que nãose conheciam, eram de instituiçõesdiferentes, e foi preciso criar umafunção a mais em cada grupo, a deassistente. Além disso, as duascâmeras extras estavam com defei-to”, conta Françoise, que agora écoordenadora de Relações Externasdo Canal Saúde.

Todo o planejamento teve queser refeito de uma hora para a ou-tra, de modo a permitir que nenhumobjetivo deixasse de ser atingido.Ainda no primeiro dia, depois daapresentação do Canal Saúde e deuma conversa sobre as linguagens dediferentes mídias e como utilizá-las,partiu-se para a definição dos gru-pos, explicação das etapas de pro-dução e familiarização com a câmerae os diferentes enquadramentos.

Com base em matérias de jor-nais goianos, cada grupo fez tambémum exercício de roteiro, tendo queavaliar qual o formato mais adequa-do em sua área de atuação em saú-de. “Quatro grupos optaram pelo jor-nalismo, e apenas um por campanha,embora este formato seja bem ade-quado para TVs do interior, ondesobra espaço”, lembra Françoise. Nosegundo dia, os grupos fizeram apré-produção, pesquisando temas emateriais para possíveis reportagensno hospital mais próximo. A partir doque encontraram, elaboraram rotei-ros e começaram as gravações. Noúltimo dia foram feitas mais algu-mas imagens, as gravações dos offs(falas em que repórter ou narradornão aparece), a decupagem (sele-ção de imagens a serem utilizadas)e a edição.

Apesar das dificuldades, prin-cipalmente a de haver apenas umacâmera para todos os grupos, os cin-co vídeos foram finalizados. “E elesnão deixam nada a desejar em com-paração aos profissionais”, observaSwami, com orgulho do trabalho dospupilos. A experiência foi tão bemsucedida que a Secretaria de Saú-de de Goiás está fazendo licitaçãopara a compra de novos equipamen-tos. O canal fez cópias dos vídeos

tes e motivadas das oficinas, pelaoportunidade de reflexão e por teruma instituição como a Fiocruz seinteressado por eles”.

MUDANÇAS NA PROGRAMAÇÃOA equipe do canal também apro-

veita. O contato direto, pessoal,com seu público está revertendo emmudanças na própria produção. Sur-giram demandas por programas deconteúdo mais didático, que os pro-fissionais possam usar com as popu-lações que atendem, e também portemas mais relacionados ao meio ru-ral. Nas localidades onde o sanea-mento básico é deficiente, porexemplo, é importante ter vídeosque mostrem como construir um bompoço, lidar com o esgoto que não étratado ou o que fazer quando nãohá coleta de lixo.

A experiência resultou tambémem novo projeto que o Canal Saúdeestá apresentando ao Ministério daSaúde, para viabilizar as oficinas emtodo o país, com a criação de umfundo para que todos os estados

possam comprar equipamen-to — a ser distribuído aosmunicípios — para recebera programação do canal. Coma iminente chegada da TV di-gital, porém, o tipo de equi-pamento a ser solicitadoestá sendo reavaliado.

No Rio de Janeiro, ondeforam organizadas cinco

oficinas de metodologia (uma emcada região do estado) já estásendo cr iada uma central deredistribuição do sinal do CanalSaúde aos municípios, que farão arecepção com antenas parabóli-cas. Para o segundo semestre de2006 estão previstas mais cincooficinas no estado, desta vez deprodução de vídeo, com três diasde duração.

COM A MÃO NA MASSAAté agora, o único estado que

fez parceria para a oficina de pro-dução de vídeo foi Goiás, ainda em2005. Em uma semana, a dupla for-mada pela então coordenadora dejornalismo do canal, FrançoiseVernot, e pelo editor Swami Barão,ambos voluntários no projeto, esta-va com tudo pronto e planejado paraa viagem. Na bagagem, um kit comequipamento portátil “top de linha”:uma ilha de edição do tamanho deuma marmita, um monitor de tela pla-na, câmera mini DV, tripé, microfonee muitas fitas, que agora serão subs-tituídas por DVDs e um aparelho de

acordo com suas necessidades es-pecíficas. Cabe às secretarias esta-duais coordenar e viabilizar a reali-zação das oficinas, contatando ocanal, convidando as equipes muni-cipais e arcando com a infra-estru-tura de local e equipamento, com ahospedagem e a alimentação dosfacilitadores, se necessário.

Até agora, a maioria das ofici-nas foi de metodologia, com doisdias de duração. Nelas, além de se-rem apresentados à produção doCanal Saúde, os participantes des-cobrem as peculiaridades da lingua-gem audiovisual. “Eles percebem queo vídeo é um veículo pouco útil parao mero repasse de informações, mascom grande potencial mobilizador”,conta Márcia. “Isso o torna uma boaferramenta para ações educativas ousensibilizadoras”.

PLANEJAMENTO EM FOCOOs participantes também rece-

bem treinamento técnico para mon-tar o equipamento, conduzir umaexibição, solucionar problemas téc-nicos, gravar e armazenar fi-tas. Mas a atividade que temdado frutos mais importan-tes é a de planejar a utili-zação de vídeos no traba-lho cotidiano de cada um.O resultado superou o es-perado, porque as oficinasse tornaram ponto de par-tida para o planejamentoestratégico do trabalho de comu-nicação em saúde nos municípios.

Segundo Márcia Correa e Castro,a situação das equipes de educa-ção e comunicação é precária namaioria dos municípios. Por falta deprojetos e recursos, essas asses-sorias costumam ser usadas na pro-moção de eventos, distribuindopanfletos em campanhas, por exem-plo, quando o trabalho delas deve-ria ser o de analisar os principaisproblemas da região e, a partir dis-so, planejar de acordo com as ne-cessidades. “As oficinas ajudaramnisso. Na medida em que os proje-tos surgem, o papel dessas equipestende a se consolidar”.

“Todo mundo diz que educaçãoe saúde é muito importante, maseste é um setor que está órfão”,afirma Márcia. “Não há um departa-mento específico para ele no Minis-tério da Saúde”. Por isso, as equi-pes são, em geral, muito frágeis.“Quando o canal se pôs à disposi-ção, eles ficaram muito felizes, por-que finalmente alguém olhou paraeles”, diz. “As pessoas saem conten-

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para distribuir às equipes de ou-tros estados. Os internautas podemconferir trechos na seção Exclu-sivo para web, na página do RADISna internet (www.ensp.fiocruz.br/radis/web.html).

NA ESTRADANa avaliação que fizeram do pro-

jeto, os grupos mostraram interesseem produzir material para o CanalSaúde e sugeriram oficinas mais lon-gas, ou uma segunda etapa paraaprofundar conhecimentos. Assim, ocanal está oferecendo também ou-tra modalidade de parceria em 2006:para alguns participantes, uma sema-na acompanhando a equipe do pro-

Algumas dicas paraproduzir vídeos

cuja execução precisa ser iniciadaantes mesmo das gravações, paraque fiquem prontos a tempo de en-trar na edição.

• A gravação é o passo seguinte. Umacaptação cuidadosa de imagens edepoimentos facilita muito a edição.“Há quem pense que as falhas nacaptação sempre podem ser resol-vidas na edição, mas não é bem as-sim”, alerta Swami.

• Uma boa idéia é fazer o planeja-mento da edição de acordo com oroteiro, já durante a decupagem,que é a seleção, entre as ima-gens gravadas, do que seráutilizado.

Equipamento básico

• câmera• microfones• tripé• ilha de edição, formada por umaCPU com grande capacidade dearmazenamento (há hoje no merca-do modelos pequenos com preçosacessíveis, aos quais pode seracoplado um HD externo no caso devídeos de longa duração), VT de for-mato compatível ao da câmera,monitor de vídeo, monitor de áudioe no-break.

grama Canal Saúde na Estrada, nacobertura de projetos das secreta-rias de saúde em seu estado.

“Nossa idéia é de que eles fa-çam os três dias de oficina e, logoem seguida, alguns selecionadosparticipem da produção do progra-ma, numa espécie de estágio”, ex-plica Ana Cristina Figueira, assisten-te da superintendência do canal.Mas oficinas independentes daagenda do Canal Saúde na Estradacontinuarão em pauta.

A superintendente Márcia Correae Castro ressalta que tanto as ofici-nas de metodologia quando as de pro-dução têm contribuído com outroaspecto importante da comunicação

no SUS, que é a integração das equi-pes de saúde municipais com as es-taduais. Nesse sentido, surgiu um ou-tro fruto do seminário de 2004: acriação de uma lista de discussãona internet entre as equipes dos es-tados, que se ajudam mutuamente.“Agora, estamos caminhando para aformação de uma verdadeira redenacional de educação e saúde”,acredita Márcia.

Mais informaçõesCanal SaúdeTel. (21) 2560-6818E-mail [email protected] http://157.86.152.4/~canal/index.php

Além de seus programas próprios,o Canal Saúde abre espaço para

exibir vídeos sobre saúde feitos porprodutores independentes ou liga-dos às secretarias de saúde. Paraquem não tem a oportunidade departicipar das oficinas do canal, aívão algumas dicas de produção:

• A primeira coisa a ter em mente éo objetivo do vídeo. Para que eleservirá — treinamento, divulgação?E o público-alvo, aberto ou especí-fico de saúde? É a partir do objetivoque será definido o formato, a lin-guagem a ser utilizada.

• Definidos objetivo e formato, éhora de cuidar da pré-produção,que exige pesquisa sobre o assuntoa ser apresentado e sobre o queserá mostrado – locais, situações, de-poimentos.

• Com as informações fornecidaspela pesquisa elabora-se o roteiro,organizando a ordem de apresenta-ção de todos esses elementos. Neledevem estar indicados offs, gráficos,vinhetas, música e outros materiais

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O audiovisualna medida certa

AVideoSaúde Distribuidora da Fiocruz,cujo acervo constituiu a base para

as transmissões do Canal Saúde nos pri-meiros anos, também promove oficinasde produção de vídeo — no caso, parainstituições que buscam nesse meio umaferramenta de comunicação com um fimdeterminado. Nessas oficinas, àsvezes chega-se à conclusão deque a idéia ou o formato original-mente pensado pelas instituiçõesnão serve para aquilo a que sedestina — descobre-se então ou-tra ferramenta audiovisual maisadequada às necessidades que seapresentam, e é preciso seguirpor um caminho diferente.

Foi o que aconteceu, por exem-plo, com o projeto da Farmácia Populardo Brasil, programa de distribuição demedicamentos a baixo custo, a cargoda Fiocruz. Em 2005, o coordenador doprograma, Hayne Felipe, propôs àVideoSaúde a produção de um vídeo detreinamento de pessoal, um desafiodiante do grande número defuncionários nas novas unida-des da FPB em todo o país.

Foi planejada, então,uma oficina nos moldes dasque a VideoSaúde desenvol-ve há mais de 10 anos, com oobjetivo de definir, em con-junto, o melhor formato, oroteiro e outras caracterís-ticas da produção. Mas, avali-adas as necessidades, chegou-se à con-clusão de que o melhor seria não umvídeo, mas um software em CD-Rom acom-panhado de manual impresso. Teve iní-cio, desse modo, a primeira experiênciada VideoSaúde na área de multimídia.

O CD-Rom explica, de modo intera-tivo, toda a operação e o gerenciamentoda farmácia popular, em tópicos que

podem ser consultados de acordo coma necessidade do funcionário. “Ele podeestar com a tela do caixa aberta e, aomesmo tempo, acessar o CD-Rom paratirar uma dúvida que tenha surgido nahora, o que seria impossível com umvídeo”, diz Umberto Trigueiros, chefedo Departamento de Comunicação e

Saúde (DCS) do Centro de In-formação Científ ica eTecnológica da Fiocruz (Cict),do qual a VideoSaúde faz parte.

Para dar conta do trabalho,foi fechada uma parceria com oDepartamento de Multimeios doCICT, que fez as apresentações doCD-Rom em Flash. A elaboração doroteiro contou com um consul-

tor pedagógico, e edição foi feita na ilhada VideoSaúde em Manguinhos. Em mar-ço, o produto estava em fase de finalização.Umberto calcula que 800 cópias chegarãoem breve às mãos dos usuários.

O passo seguinte será avaliar a efi-cácia do programa, para saber se é possí-

vel replicar a experiência em ou-tros projetos da Fiocruz. Segundoo chefe do DCS, numa oficina ante-rior, com a equipe da Vigilância Sa-nitária — que desejava um progra-ma de treinamento —, percebeu-seque, em vez de passar instruções,seria mais eficaz produzir vídeos comsituações ficcionais que propiciassemdiscussão e reflexão sobre as situa-ções que os profissionais enfrentam

em seu trabalho cotidiano.“Essa experiência de oficinas é

muito bem sucedida, evita que se apre-sente uma proposta que não vai real-mente atender à demanda”, afirmaUmberto. E outras idéias surgem: nassalas de espera das farmácias popula-res monitores exibem os mais de 3.500títulos sobre saúde que compõem oacervo da distribuidora.

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ENTREVISTA

Jornalista e radialista, Mara RégiaDi Perna é produtora e apresentadora dos programas NaturezaViva, da Rádio Nacional da Ama-zônia, e Mulherio, da Rádio MEC,

no Rio de Janeiro, muito premiados. Fe-minista desde criancinha, foi indicadaao Nobel da Paz com mais 51 brasileirasque fizeram parte do projeto internaci-onal “1.000 mulheres para o Nobel 2005”.Organiza projetos de capacitação emrádio para comunidades na Amazônia eleva às populações ribeirinhas e dos se-ringais informações sobre saúde, cida-dania e meio ambiente. “O trabalho éusar o rádio como ferramenta-cidadã,na qual a população fala de seus direi-tos, sua comunidade”, diz.

Quais as vantagens do rádio?Sou uma radioapaixonada. Há 25

anos tenho contato íntimo com esseveículo, para mim inigualável. É o veícu-lo da intimidade. Há muito tempo mededico às questões de gênero e nãopoderia ter encontrado veículo melhor.No rádio o que vale é a voz; e a voztrabalha o sentido mais profundo que éo do ouvido, então dá para ir direto aocoração das pessoas. E também a ques-tão democrática, porque nenhum ou-tro veículo no Brasil é tão democráticoquanto o rádio: dá vez e voz a pessoasque não são alfabetizadas, que têm ape-nas nesse veículo a possibilidade de ex-pressão. Mais vantagem do que essa paraum meio de comunicação a gente nãovai encontrar nem de vela acesa.

Você tem noção de quanta genteatingiu pelo rádio?

O potencial é de 17 milhões de ha-bitantes, a Rádio Nacional da Amazônia éa única que fala aos nove estados daAmazônia Legal. O WWF Brasil pesquisou:87% das lideranças da zona rural da Ama-zônia conhecem o programa e já se vale-ram dele para se comunicar com as co-munidades. O programa se transformouem teses de mestrado, doutorado, jus-tamente porque a gente fala com os se-ringais, com as comunidades ribeirinhas,com as localidades em conflito, fazendonegociações, acordos de pesca. O rádio

tem o dom de aproximar os corações efacilitar os acordos da vida.

Qual o impacto dos programas?O grande indicador é sempre a car-

ta. Uma coisa é receber carta da cida-de, onde o correio está ali, o carteiro,papel e lápis, além de dinheiro para com-prar selo. Outra é falar com comunida-des ribeirinhas, onde só passa barco.Cada carta que recebo da Amazônia re-presenta 200 telefonemas. O esforço queessa pessoa, muitas vezes analfabeta,teve que empreender para achar alguémque se disponha a escrever para ela, de-pois mandar a cartinha num barco, trêsou quatro dias para chegar à cidade, bo-tar no correio e chegar a Brasília... Émuito valorosa essa resposta. E o Natu-reza Viva é um projeto muito premiado.Nós já ganhamos o Prêmio Chico Men-des, o Ayrton Senna de Jornalismo, oEmbrapa de Jornalismo, o Cidadania doBanco Mundial. Fui indicada para o Nobelda Paz. Essas são as melhores respostas.

E a divulgação da saúde?No contexto amazônico o rádio é o

mensageiro, como também o recurso quese tem para resolver problemas de direi-to, de carteira de trabalho, aposenta-doria, falta de documentação, denúnci-as contra grileiros, trabalho escravo etoda a sorte de “devoramento”, comodizem as quebradoras de coco. Saúde épauta constante, tanto que temos o qua-dro Natureza e Saúde. A gente está mui-to atenta à sabedoria dos povos da flo-resta, no trato com plantas e ervasmedicinais, e também às epidemias, den-gue, leptospirose, malária. Fiz projetocom a Fundação MacArthur, Mulher nasOndas do Rádio — Corpo e Alma Rom-pem o Silêncio: as mulheres se escondi-am em pseudônimos para falar de cocei-ra, mau cheiro, insatisfação sexual. Outraspessoas escutam e mandam cartas se so-lidarizando, então se forma uma rede so-lidária em prol da saúde.

No campo do jornalismo social,recebemos denúncias, por exemplo,de abuso sexual de crianças. Recebicarta de uma menina que já tinha sidovendida pelo pai três vezes, indo parauma quarta negociação. Ela estava

desesperada e nós fomos até Aripuanã(MT), conseguimos tirar a tutela dopai no Conselho Tutelar.

Como proceder para fazer rádio?O rádio não demanda tanta coisa,

basta uma experiência para comparti-lhar. Saio por essa Amazônia afora capa-citando mulheres e homens para troca-rem experiências sobre o que eles jáfazem e nem percebem que é notícia.Por exemplo: numa comunidade alguémvira uma bicicleta e faz uma máquina que,pedalando, tritura a mandioca. A genteconta essas experiências e as pessoasse apropriam delas.

O direito de nos comunicarmosestá na Constituição. É preciso saberusar o veículo para dar vez e voz a quemnão tem acesso aos grandes meios decomunicação. Faço parte do movimen-to pela democratização da comunica-ção. O rádio é ferramenta-cidadã, naqual a população fala de seus direitos,sua comunidade. O espaço no rádio temque ser ocupado sem se fazer dele umpalanque a serviço de grupo político, eser o mais plural possível, instrumentode democratização, já que as TVs estãotodas ocupadas pelos barões, assim comoas revistas e os jornais. São oito ou 10famílias que dominam tudo. Vamos ten-tar no rádio, o primo pobre, o que des-de Roquette Pinto foi pensado como suavocação primeira: promover a educação,a formação e o serviço. (J. G.)

Mara Régia Di Perna

“Rádio é ferramenta-cidadã”

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C.P.

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EVENTOS

10º ENCONTRO NACIONAL

DE EDUCADORES PARA A PREVENÇÃO

DE DST/AIDS E DROGAS

Promovido pela Associação de Prevenção e Tratamento da Aids (Apta),

o 10º Educaids fará um balanço das con-quistas nesta primeira década demobilização de professores de todo opaís em torno da Educação Preventiva.O Educaids, criado em 1996 pelo pro-fessor Paulo Freire, então secretário daEducação da Prefeitura de São Paulo, éresponsável pela obrigatoriedade daEducação Sexual nas escolas e pelo pro-grama Saúde e Prevenção nas Escolasdo MEC e do Ministério da Saúde.Local Centro de Convenções Rebouças,São PauloData 7 a 11 de junho de 2006Mais informaçõesTel. (11) 3266-3345E-mail [email protected] www.apta.org.br/educaids/

8º CONGRESSO BRASILEIRO DE

MEDICINA DA FAMÍLIA E COMUNIDADE

ASociedade Brasileira de Medicinade Família & Comunidade, que or-

ganiza o 8º Congresso Brasileiro de Me-dicina da Família e Comunidade, a pardo 2º Encontro Luso-Brasileiro de Medi-cina Geral, Familiar e Comunitária, pre-vê a participação de 2.500 profissionaisligados à Atenção Primária à Saúde, comomédicos de família e comunidade, inte-grantes do Programa Saúde da Família,professores, estudantes e gestores.Data 15 a 18 de junho de 2006Local Anhembi Parque, São PauloMais informaçõesTel. (11) 3361-3056E-mail [email protected] [email protected] www.sbmfc.org.br/congresso2006

22º CONGRESSO DO CONASEMS

“Governabilidade local, saúde e cul-tura de paz nas Américas” é o tema

central do 22º Congresso Nacional doConasems, em junho, que se realizaráparalelamente ao 3º Congresso da Saú-de, Cultura de Paz e Não-Violência e ao5º Congresso da Rede Américas. O en-contro reunirá 2 mil pessoas de diversos

SERVIÇO

países, entre gestores, profissionais desaúde, pesquisadores e professores uni-versitários do setor, que debaterão ques-tões estratégicas da saúde, principal-mente no que diz respeito ao poder locale às especificidades do processo dedescentralização, com o intuito de esta-belecer comparações e fortalecer acooperação e o intercâmbio entre ospaíses americanos. Também serão discu-tidas as políticas de saúde associadas àcultura de paz e não-violência.Data 19 a 22 de junho de 2006Local Centro de Convenções da UFPE,Recife, PEMais informaçõesTel. (61) 3315-2121/2828Fax (61) 3315-2125E-mail [email protected] www.conasems.org.br/xxii

7º CONGRESSO NACIONAL DA REDE UNIDA

Sob o tema “Promover saúde e im-pulsionar mudanças na formação

profissional e no cuidado à saúde: umapolítica de Estado”, a 7ª edição do Con-gresso Nacional da Rede Unida reunirámais seis eventos simultâneos: 3ª Mos-tra Paranaense de Saúde da Família, 3ºFórum Nacional de Redes em Saúde,2º Encontro de Promotores de Políti-cas Públicas Saudáveis, 3º EncontroEstadual da Aneps-PR, 1º EncontroParanaense de Estudantes da Área daSaúde e 1º Encontro Multiprofissionaldos Residentes em Saúde da Família.Data 15 a 18 de julho de 2006Local Curitiba, PRMais informaçõesTel. (41) 3317-3192Fax (41) 3285-6327E-mail [email protected] www.redeunida.org.br/congresso

2º CONGRESSO INTERNACIONAL

DE CUIDADOS PALIATIVOS E DOR

Sob o tema “Arte e ciência no cuidar”,o 2º Congresso Internacional de Cui-

dados Paliativos e Dor é uma realizaçãoconjunta do Instituto Nacional de Cân-

cer, do Hospital Erasto Gaertner (Curitiba)e da Academia Nacional de Cuidados Pa-liativos (ANCP). Inscrições abertas.Data 19 a 21 de outubro de 2006Local Hotel Pestana, CuritibaMais informaçõesTel. (41) 3361-5167E-mail

[email protected] www.erastogaertner.com.br

INTERNET

DIREITOS DOS PACIENTES COM CÂNCER

Acoluna Especiais do site na inter-net do Instituto Nacional do Cân-

cer (www.inca.gov.br/) oferece ummanual completo dos direitos do pa-ciente com câncer, que também podeser salvado em formato .pdf.Mais informaçõesEndereço Praça da Cruz Vermelha, 23,Centro, CEP 20230-130, Rio de Janeiro, RJTel. (21) 2506-6276 e (21) 2506-6399Fax (21) 2242-2420 e (21)2509-2004E-mail [email protected] [email protected]

PUBLICAÇÕES

A SAÚDE DOS PROFISSIONAIS

O sonho do jalecobranco — A saúdemental dos profissi-onais de saúde, livroda médica-psicanalis-ta Déborah Pimentelpublicado em co-edição da Universi-dade Federal deSergipe (UFS), da Sociedade Médica deSergipe e da Fundação Oviêdo Teixeira,é resultado da dissertação de mestradoda autora, em estudo com 670 profissi-onais de saúde de Sergipe, a partir dequestionário com 69 perguntas. O re-sultado: altos índices de transtornospsicopatológicos, depressão, problemasfamiliares, uso abusivo do álcool e dedrogas, automedicação.

Editora-UFS

Tel. (79) (79) 212-6920E-mail [email protected] www.rnufs.ufs.br

ENDEREÇOS

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PÓS-TUDO

Renato Cordeiro*

Meditai se só as nações fortes po-dem fazer ciência ou se é a ci-

ência que as torna fortes.” O provo-cador convite emana de um dos maisbrilhantes cientistas brasileiros,Walter Oswaldo Cruz, do InstitutoOswaldo Cruz. Falecido em 1967, opesquisador possuía exata noção dopeso dos investimentos em ciência etecnologia (C&T) na construção dospoderes econômicos sustentáveis.

Freqüente indicador do processode inovação, o número de patentesmundiais depositadas e/ou concedidasanualmente revela os países com maiorefervescência inovadora. Segundo aOrganização Mundial da Propriedade In-telectual, em 2005 foram depositadas noplaneta cerca de 134 mil patentes atra-vés do Tratado de Cooperação de Pa-tentes. Lideram o processo os EstadosUnidos, com 45.100 patentes. Em segui-da, apresentam-se o Japão (25.100), aAlemanha (15.800), a França (5.500), aInglaterra (5.100), a Coréia (4.700), aHolanda (4.400) e a Suíça (2.700). A Chi-na, um dos grandes destaques na últimareunião de Davos, com crescimento eco-nômico anual de 9,9%, alcança a expres-siva marca de 2.400 patentes, superan-do dois gigantes do G-7 -— Canadá e Itália,ambos com 2.300 patentes, e também aAustrália, com 2 mil patentes.

Embora o Brasil figure com mo-destas 283 patentes, estamos à fren-te de Portugal (57) e dos principaispaíses parceiros do Mercosul e daAmérica Latina: México (136), Colôm-bia (27), Argentina (22), Cuba (14), Chi-le (13), Venezuela (5) e Uruguai (4).Bolívia, Paraguai e Peru não demons-tram depósitos em 2005.

Indicadores de produtividade ci-entífica atestam a qualidade da pes-

quisa brasileira. Em 2005, segundo o ISI(EUA), publicamos 16.950 artigos, querepresentam 1,8% do total mundial.Além disso, destaca-se a formação de10.616 doutores em 2005 — parte deum esforço apoiado pela Capes/MEC.

Vivemos um momento de amadu-recimento e inflexão para a C&T brasi-leira. As estratégicas conferências deC&T e Inovação (também na área da saú-de) e a recém-aprovada Lei da Inovaçãoajudam a criar um ambiente estimulan-te para que as empresas aumentem seusinvestimentos em desenvolvimentotecnológico e inovação com universida-des e institutos de investigação.

É fundamental que o complexo in-dustrial brasileiro, em especial a indústriafarmacêutica (nacional e multinacional),adote os exemplos de empresas de ou-tros países, implementando uma políti-ca agressiva de apoio ao desenvolvimen-to tecnológico e inovação no Brasil.Um exemplo de ousadia a ser seguidoé o da Votorantim Ventures, que admi-nistra um fundo de investimento de ca-pital de risco de US$ 300 milhõesprioritariamente voltado para tecnologiada informação, comunicações e ciênci-as da vida. Outros exemplos exitosos,como os da Embrapa, da Fiocruz, daEmbraer, da Petrobras, da Telebrás e daUnicamp, devem ser estimulados conti-nuamente. Para uma mudança cultural,é mister a absorção de doutores pelasinstituições de pesquisa e universida-des e pelas empresas. Embora as condi-ções de financiamento à pesquisa te-nham melhorado muito no Brasil nos

últimos anos, com o advento dos Fun-dos Setoriais, com um CNPq criativo eeficiente, Fundações de Apoio à Pesqui-sa nos estados (Fapesp, Faperj etc.), osinvestimentos brasileiros em ciência etecnologia, ou seja, 1,37% do PIB em2005, têm de ser ampliados considera-velmente, sem reservas de contingen-ciamento, como ocorre atualmente comos R$ 400 milhões do FNDCT.

Projeções de 2003, da OECD, in-dicam que os Estados Unidos investi-ram US$ 285 bilhões em pesquisa edesenvolvimento, a União Européia,US$ 211 bilhões, o Japão, US$ 114 bi-lhões, e a China, US$ 85 bilhões, dei-xando claro que integrar pesquisa,desenvolvimento tecnológico e ino-vação torna estas nações cada vezmais poderosas. Não há outro cami-nho a ser percorrido pelo Brasil parase tornar uma grande potência.

Para uma trajetória vitoriosa, gran-de parcela de responsabilidade cabeao Congresso Nacional na aprovação doorçamento de C&T de 2006 e na ampli-ação cada vez maior dos recursos des-tinados à C&T. Esperamos dos Srs. de-putados e senadores uma atitude deparceria com a comunidade científica,com os órgãos de fomento do governofederal e as empresas, para que o paíspossa dar um salto exponencial no seudesenvolvimento, ocupando lugar dedestaque na comunidade internacio-nal. Assim construiremos uma naçãoforte através da ciência, com justiçasocial e melhores condições de vidapara a população brasileira.

Só as nações fortespodem fazer ciência?

A.D.

* Chefe do Departamento de Fisiologia

e Farmacodinâmica do Instituto OswaldoCruz, titular da Academia Brasileira deCiências e da CTNBio; artigo publicadono Correio Brasiliense em 7/3/06.

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