Linguística e Linguagem:As ideias de Noam Chomsky

Material de cunho meramente didático

Langue e parole; competência e desempenho

Langue-> Representa o sistema linguístico coletivo, inde-pendente de qualquer realização física individual, constituí-da apenas de potencialidades, virtualidades.Parole-> Representa as manifestações individuais da langue

em atos de fala específicos.

Competência – Não é, para Chomsky, um fato social, poisé o conhecimento que o falante tem do sistema linguísticode sua língua.Desempenho- Já se aproxima mais da noção de parole, pois ambas as noções designam o ato linguístico indivi-dual.

A substituição da dicotomia langue/parole pela dicotomia competência/desempenho pode ser vis-ta como uma mudança na perspectiva filosófica da teoria linguística:

• Visão saussuriana- as línguas são, antes de tudo, instituições humanas visando à interação social.

• Visão chomskyana- antes de ter a função comunicativa, as línguas têm a função de ser expressão do pensamento (função cognitiva). ���� Em qualquer de seus usos, a língua mantém sempre presente sua característica de ser SUPORTE DO PENSAMENTO.

COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA -É a capacidade humana que torna fundamentalmente possível que todo ser humano seja capaz de interiorizar um ou vários sistemaslinguísticos, i. é, uma ou várias gramáticas.

As línguas naturais são um dote do ser humano, e apenas dele. Nenhum animal fala como nós falamos. Parece bastante plausível supor que a capacidade de falar uma língua tenha conexão direta c/ o aparato genético da espécie humana e que é isso que a distingue de todas as outras espécies. Postula-se, assim, que o ser humano possui em seu aparato genético alguma coisa como uma FACULDADE DA LINGUAGEM alocada no cérebro, uma hipótese plausível que se presta a marcar a diferença fundamental entre a espécie humana e todos os outros seres do planeta.

Linguagem- Caracteriza-se por ser o que há de comum entre as diferentes línguas.

Duplo objeto de estudo da linguística:- o estudo da linguagem em geral;- o estudo das diferentes línguas, de sua gramática.

Linguagem – é específica ao homem; é universal

FACULDADE DA LINGUAGEM

Um dos órgãos mentais, ou estruturas cognitivas, que integra a mente humana. Estaria, nas línguas reais, em interação com os demais órgãos mentais de funções e propriedades diferentes.

ABORDAGEM MODULAR DA MENTE

Baseando-nos no conhecimento da estrutura do corpo humano, Chomsky postula que a mente/o cérebro também é modular ����composta por “módulos” ou “órgãos” responsáveis por diferentes atividades [...] a parte do cérebro/da mente que lida com a língua tem especificidades frente àquela que lida, digamos, com a música.

Assim ... a FACULDADE DA LINGUAGEM não é parte da inteligência como um todo, mas é específica, c/ uma arquitetura especial p/ lidar c/ os elementos presentes nas línguas naturais e não em outros sistemas quaisquer.

Hipótese do Inatismo:Tese de que há uma estrutura mental inata,

ou estado inicial. Tal estrutura é um rico sistemade princípios gerais que impõe limites na variaçãopossível entre as línguas, sendo, por isso mesmo, chamada de esquematismo restritivo, o qual também é restritivo c/ relação à aprendizagem da lg.

É a essa matriz biológica fornecedora do arcabouço em que o desenvolvimento da língua pode ser feito que se denomina gramática

universal.

-> Linguagem humana: É um tipo de sistema cog-nitivo, caracterizado por certas propriedades genéti-cas, inatas, denominadas “gramática universal”.

Enfim, segundo Chomsky, a faculdade da

linguagem é uma estrutura cognitiva inata, humana e universal, e faz parte da herança genética de cada membro da espécie humana, do mesmo modo que a visão é parte dessa herança.

Chomsky justifica o caráter inato da linguagem (o inatismo) de dois modos:• no processo de aquisição da língua;• na limitação real da variação de língua para língua.

Considerar os universais linguísticos comoinatos tem duplo valor explicativo: - ajudam a explicar a facilidade e rapidez c/ que as crianças aprendem sua própria língua;- eles próprios restringem drasticamente a forma de qualquer língua humana possível, o que explica ser a variação de língua p/ língua limitada.

Propriedades diferenciadoras das línguas naturais:- produtividade ilimitada;- criatividade;- multiplicidade de funções;- arbitrariedade da ligação entre significante e significado, e entre signo e referente;- caráter necessário dessa ligação;- descontinuidade dos elementos em que as mensagenslinguísticas se decompõem, e articulação desses elementos em dois planos – o do conteúdo e oda expressão.

Outras propriedades passíveis de ser apontadas como características das línguas naturais:- seu caráter eminentemente oral;- seu fim social de visar à comunicação entre osmembros de uma dada comunidade;- a intercambiabilidade de papéis entre emissor ereceptor nos atos de enunciação;- a possibilidade de transferência de meio que per-mite a passagem da fala p/ a escrita, e vice-versa;- o seu caráter sistemático e o fato de serem regidas por regras.

AS LÍNGUAS SÃO REGIDAS POR REGRAS

- Criatividade das línguas naturais e a competência dos falantes/ouvintes.Os falantes não aprendem uma a uma as frases de sua língua: depreendem regras de construção de frase que os capacitam a produzir e a compreender outras, inteiramente novas.- Criatividade das línguas naturais e o caráter limitadodas unidades linguísticas.A produção de frases infinitas em extensão e ilimitadas em nº,a partir de um nº limitado de elementos, só é possível mediante o uso de regras.

Caracterização de língua -Uma língua natural é a realização específica da faculdade da linguagem que se dicotomiza num sistema abstrato de regras finitas e na utilização efetiva desse sistema c/ o fim

social precípuo de possibilitar a comunicação entre os seus falantes/ouvintes, e cujo aspecto de ser expressão do pensamento subjaz a qualquer uma de suas funções sociais.

Definição formal de língua -Uma língua natural é um conjunto de sentenças (as frases da lg). Essas frases, por sua vez, são representáveis em termos de uma sequência finita de sons (os elementos básicos de uma língua natural) – p/ a forma falada – ou letras (p/ a forma escrita).

GRAMÁTICA:Como “gramática particular”, é o sistema

abstrato e finito de regras de uma língua, quepermite gerar um conjunto infinito de sequências da língua.

Como “gramática universal”, é o estadomental inicial, que corresponde à estrutura linguística herdada geneticamente pelos membros da espécie humana, cada um deles.

Conceito de gramáticaExemplos: ‘Cê viu a Maria saindo.

Você viu a Maria saindo.*A Maria vai ver ‘cê.

Sentenças gramaticais são aquelas formadas segundo a gramática do português brasileiro, enquanto as que assim não são construídas, são agramaticais.

Gramática internalizada - É um conjunto de regras que rege a distribuição de formas como ‘cê e você.

GRAMÁTICA – Conhecimento que o falante tem de sua língua materna, um conhecimentoinconsciente, independentemente de ter tido aulas de português na escola ou de conhecer a Nomenclatura Gramatical Brasileira. ENTÃO, não há lugar para os conceitos de “certo” e “errado”, baseados exclusivamente em uma norma que, particularmente no caso do português do Brasil, até podemos questionar que seja ainda utilizada por algum falante.

GRAMATICALIDADE E AGRAMATICALIDADE: Ou seja, sentenças que pertencem ou não auma dada língua.

Recapitulando... O modelo teórico gerativista postula:

• o ser humano possua uma Faculdade da Linguagem, inata, isto é, codificada geneticamente e estruturada de forma modular, que independe de mecanismos gerais de inteligência e aprendizagem, sendo, portanto, específica à linguagem; • o funcionamento sintático das línguas naturais pode ser reduzido a Princípios geraise abstratos que se aplicam a toda e qualquer língua e a Parâmetros que, ainda que restritos, dão conta da diversidade entre as línguas.

De posse de tal arsenal, esse modelo teórico descreve as línguas, mas também pretendeexplicar seu funcionamento. E exatamente porque se dispõe a ser explicativo, deve teralgo de relevante a dizer sobre o processo de aquisição da linguagem, porque entendercomo as crianças adquirem suas línguas maternas é essencial não só para a ciência dalinguagem como um todo, mas pode nos ajudar a compreender melhor a própria organização das diferentes línguas.

Bibliografia

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LYONS, J. Lingua(gem) e linguística. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.

MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. E. V. Novo manual de sintaxe. Florianópolis: Insular, 2004.