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Direito Administrativo Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 22.ª para 23.ª edição NOTA À 23ª EDIÇÃO Nesta edição, novidades legislativas muito importantes foram incorporadas à obra, ensejando, em mais de um caso, a criação de tópicos próprios sobre as matérias respectivas. Grande destaque foi dado à publicação da Lei 13.019/2014, chamada de “marco regulatório das organizações da sociedade civil”. No intuito de apresentar adequadamente os principais pontos do conteúdo dessa lei, acrescentamos ao Capítulo 4 o item 3.6, desdobrado em diversos subitens, ao longo de mais de vinte páginas. A Lei 13.019/2014 introduziu, ademais, modificações pontuais, porém importantes, na Lei 9.790/1999 – que estabelece a disciplina das organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) –, as quais foram devidamente incluídas nos itens correspondentes do Capítulo 4. A Lei 13.019/2014 deverá entrar em vigor em agosto de 2015, por força do disposto no art. 1º da Medida Provisória 658/2014 (não convertida em lei até o fechamento desta edição). Merece uma nota especial, também, a Lei 12.990/2014, que estabeleceu, na esfera federal, a reserva de vagas para candidatos negros em concursos públicos. Para comentá-la, julgamos oportuno criar um tópico específico, dentro do item 5 do Capítulo 7. Teve relevante reflexo na obra, ainda, a Emenda Constitucional 81/2014, que alterou a redação do art. 243 da Constituição Federal para incluir no direito brasileiro uma segunda hipótese de desapropriação sem indenização (“desapropriação confiscatória”): a expropriação de imóveis rurais e urbanos onde for identificada a exploração de trabalho escravo, na forma da lei. A matéria é tratada no Capítulo 16, onde foram feitos as alterações e os comentários oportunos. Registramos, ainda, a edição da Lei Complementar 147/2014, que, além de introduzir novos dispositivos na Lei 8.666/1993, alterou significativamente as regras de preferência aplicáveis a microempresas e empresas de pequeno porte em procedimentos licitatórios. Todas essas modificações foram apresentadas e analisadas no Capítulo 10, nos tópicos pertinentes. Diversas outras leis e decretos publicados em 2014 e no início de 2015 repercutiram em pontos específicos da obra. Citamos, de forma não exaustiva, os seguintes: a) a Lei 12.980/2014, resultante da conversão da Medida Provisória 630/2013, que alterou algumas disposições da Lei 12.462/2011 (Regime Diferenciado de Contratações Públicas - RDC); b) a Lei 12.983/2014, resultante da conversão da Medida Provisória 631/2013, que incluiu nova hipótese entre as que autorizam a utilização do RDC;

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Direito Administrativo Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino

22.ª para 23.ª edição

NOTA À 23ª EDIÇÃO

Nesta edição, novidades legislativas muito importantes foram incorporadas à obra, ensejando, em mais de um caso, a criação de tópicos próprios sobre as matérias respectivas.

Grande destaque foi dado à publicação da Lei 13.019/2014, chamada de “marco regulatório das organizações da sociedade civil”. No intuito de apresentar adequadamente os principais pontos do conteúdo dessa lei, acrescentamos ao Capítulo 4 o item 3.6, desdobrado em diversos subitens, ao longo de mais de vinte páginas. A Lei 13.019/2014 introduziu, ademais, modificações pontuais, porém importantes, na Lei 9.790/1999 – que estabelece a disciplina das organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) –, as quais foram devidamente incluídas nos itens correspondentes do Capítulo 4. A Lei 13.019/2014 deverá entrar em vigor em agosto de 2015, por força do disposto no art. 1º da Medida Provisória 658/2014 (não convertida em lei até o fechamento desta edição).

Merece uma nota especial, também, a Lei 12.990/2014, que estabeleceu, na esfera federal, a reserva de vagas para candidatos negros em concursos públicos. Para comentá-la, julgamos oportuno criar um tópico específico, dentro do item 5 do Capítulo 7.

Teve relevante reflexo na obra, ainda, a Emenda Constitucional 81/2014, que alterou a redação do art. 243 da Constituição Federal para incluir no direito brasileiro uma segunda hipótese de desapropriação sem indenização (“desapropriação confiscatória”): a expropriação de imóveis rurais e urbanos onde for identificada a exploração de trabalho escravo, na forma da lei. A matéria é tratada no Capítulo 16, onde foram feitos as alterações e os comentários oportunos.

Registramos, ainda, a edição da Lei Complementar 147/2014, que, além de introduzir novos dispositivos na Lei 8.666/1993, alterou significativamente as regras de preferência aplicáveis a microempresas e empresas de pequeno porte em procedimentos licitatórios. Todas essas modificações foram apresentadas e analisadas no Capítulo 10, nos tópicos pertinentes.

Diversas outras leis e decretos publicados em 2014 e no início de 2015 repercutiram em pontos específicos da obra. Citamos, de forma não exaustiva, os seguintes:

a) a Lei 12.980/2014, resultante da conversão da Medida Provisória 630/2013, que alterou algumas disposições da Lei 12.462/2011 (Regime Diferenciado de Contratações Públicas - RDC);

b) a Lei 12.983/2014, resultante da conversão da Medida Provisória 631/2013, que incluiu nova hipótese entre as que autorizam a utilização do RDC;

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c) a Lei 12.998/2014, resultante da conversão da Medida Provisória 632/2013, que modificou dispositivos da Lei 8.112/1990;

d) as Leis 12.996/2014 e 13.004/2014, que alteraram a Lei 7.347/19845, para acrescentar hipóteses expressas em que cabível o ajuizamento de ação civil pública;

e) a Lei 13.081/2015, que modificou um dispositivo da Lei 9.074/1995;

f) a Lei 13.097/2015, que alterou disposições das Leis 8.987/1995, 9.074/1995 e 11.079/2004;

g) o Decreto 8.244/2014, que alterou o Decreto 6.170/2007 (transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse); e

h) o Decreto 8.250/2014, que alterou o Decreto 7.892/2013 (Sistema de Registro de Preços - SRP).

Alertamos que eventuais menções feitas, na obra, a dispositivos do Código de Processo Civil referem-se ao CPC/1973, atualmente em vigor.

No que respeita à jurisprudência, anotamos e comentamos, nos capítulos correspondentes, os julgados de 2014 do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça que tiveram reflexo no âmbito do direito administrativo. Registramos, também, a edição das Súmulas Vinculantes 33 e 37.

Procuramos dar especial destaque às decisões do Supremo Tribunal Federal nas quais se reconheceu a repercussão geral da questão constitucional debatida, dentre as quais citamos, apenas como exemplos, as proferidas nestes processos: (a) RE 609.381/GO, que estabeleceu que o teto de remuneração do serviço público previsto no inciso XI do art. 37 da Constituição, com a redação dada pela Emenda Constitucional 41/2003, tem eficácia imediata e se aplica, inclusive, a verbas de natureza remuneratória adquiridas de acordo com regime legal anterior; (b) RE 608.482/RN, no qual restou consolidado o entendimento de que não é cabível aplicar a “teoria do fato consumado” para manter em cargo público o candidato que, sem ter sido devidamente aprovado no concurso público correspondente, tenha tomado posse por força de decisão judicial de caráter provisório que posteriormente venha a ser superada ou, de qualquer forma, perca a sua eficácia; (c) o RE 627.709/DF, em que ficou definido que a regra prevista no § 2º do art. 109 da Constituição – “As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.” – também se aplica às ações movidas em face de autarquias federais; e (d) o RE 658.026/MG, no qual se firmou a orientação de que funções de natureza permanente podem admitir contratação temporária com base no inciso IX do art. 37 da Constituição, desde que justificada por situação fática excepcional, detalhadamente descrita em lei anterior à contratação.

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22.ª para 23.ª edição

Por fim, atualizamos o “Caderno de Questões”, acrescentando questões de provas de concursos públicos aplicadas em 2014 e suprimindo aquelas que consideramos ultrapassadas.

Os Autores.

PONTOS DO LIVRO “DIREITO ADMINISTRATIVO DESCOMPLICADO” QUE FORAM MODIFICADOS OU ACRESCENTADOS NA 23ª EDIÇÃO DA OBRA, ESPECIALMENTE EM VIRTUDE DE ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS OU JURISPRUDENCIAIS OCORRIDAS DESDE A 22ª EDIÇÃO.

OS TEXTOS EM VERMELHO REPRESENTAM SUPRESSÕES E OS TEXTOS EM AZUL CORRESPONDEM A INCLUSÕES. OS TEXTOS EM FONTE PRETA NÃO SOFRERAM ALTERAÇÃO E SERVEM APENAS PARA FACILITAR A LOCALIZAÇÃO DOS TRECHOS MODIFICADOS, ACRESCENTADOS OU SUPRIMIDOS. A NUMERAÇÃO DOS ITENS AQUI APRESENTADOS CORRESPONDE À DA 22ª EDIÇÃO.

CAPÍTULO 1

1) No item 5, foi feita, ao final, a substituição abaixo indicada:

5. SISTEMA ADMINISTRATIVO BRASILEIRO

.............

Em síntese, embora no Brasil sejam comuns processos, procedimentos, e mesmo litígios, instaurados e solucionados em âmbito administrativo, sempre que o administrado entender que houve lesão a direito seu, poderá recorrer ao Poder Judiciário, antes ou depois de esgotada a via administrativa.1 O Poder Judiciário, uma vez provocado, poderá

1 É oportuno anotar a existência de pelo menos três hipóteses em nosso ordenamento jurídico nas quais se exige o

exaurimento, ou a utilização inicial da via administrativa, como condição para acesso ao Poder Judiciário, a saber: a) só são admitidas pelo Poder Judiciário ações relativas à disciplina e às competições desportivas depois de esgotadas

as instâncias da “justiça desportiva” (CF, art. 217, § 1.º); apesar do nome “justiça desportiva”, trata-se de órgãos de natureza administrativa;

b) o ato administrativo, ou a omissão da administração pública, que contrarie súmula vinculante só pode ser alvo de

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confirmar o entendimento esposado pela administração ou modificá-lo. De qualquer forma, somente após esgotada a via judicial pelo particular a questão suscitada estará definitivamente solucionada.

Cumpre, por fim, abrir um parêntese para registrar que, embora seja certo que todos os atos administrativos podem ser submetidos a controle de legalidade pelo Poder Judiciário, existem outros atos ou decisões – não enquadrados como atos administrativos em sentido próprio – que não se sujeitam a apreciação judicial. São exemplos os denominados atos políticos, tais como a sanção ou veto a um projeto de lei pelo Chefe do Poder Executivo e o estabelecimento das denominadas políticas públicas (fixação das diretrizes gerais de atuação governamental). Também é ilustrativa a previsão constitucional de julgamento do processo de impeachment do Presidente da República, o qual compete ao Senado Federal (CF, art. 52, I), sem possibilidade de revisão judicial do mérito da decisão por este proferida.

Em síntese, embora no Brasil sejam comuns processos, procedimentos, e mesmo litígios, instaurados e solucionados em âmbito administrativo, sempre que o administrado entender que houve lesão a direito seu, poderá recorrer ao Poder Judiciário, antes ou depois de esgotada a via administrativa. O Poder Judiciário, uma vez provocado, poderá confirmar o entendimento esposado pela administração, ou modificá-lo.

A rigor, muito embora tenhamos dito que o administrado “sempre” pode recorrer ao Poder Judiciário “antes ou depois de esgotada a via administrativa”, convém anotar a existência, em nosso direito, de pelo menos quatro hipóteses nas quais se exige o exaurimento, ou a utilização inicial da via administrativa, como condição para acesso ao Poder Judiciário, a saber:

a) só são admitidas pelo Poder Judiciário ações relativas à disciplina e às competições desportivas depois de esgotadas as instâncias da “justiça desportiva” (CF, art. 217, § 1.º); apesar do nome “justiça desportiva”, trata-se de órgãos de natureza administrativa;

b) o ato administrativo, ou a omissão da administração pública, que contrarie súmula vinculante só pode ser alvo de reclamação ao Supremo Tribunal Federal depois de esgotadas as vias administrativas (Lei 11.417/2006, art. 7.º, § 1.º);

c) segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, “a prova do anterior indeferimento do pedido de informação de dados pessoais, ou da omissão em atendê-lo, constitui requisito indispensável para que se concretize o interesse de agir no habeas data. Sem que se configure situação prévia de pretensão resistida, há carência da ação constitucional do habeas data.”;2 observe-se que, aqui, basta a existência de um requerimento administrativo prévio, sem necessidade de esgotamento das instâncias administrativas;

d) o Supremo Tribunal Federal firmou também a orientação de que, em regra, para restar caracterizado o interesse de agir em ações judiciais contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) relativas a concessão de benefícios previdenciários, é necessário o prévio requerimento administrativo do benefício, deixando assente que tal exigência “é compatível com o art. 5º, XXXV, da Constituição” e “não se confunde com o exaurimento

reclamação ao Supremo Tribunal Federal depois de esgotadas as vias administrativas (Lei 11.417/2006, art. 7.º, § 1.º);

c) é indispensável para caracterizar o interesse de agir no habeas data “a prova do anterior indeferimento do pedido de informação de dados pessoais, ou da omissão em atendê-lo; sem que se configure situação prévia de pretensão, há carência da ação constitucional do habeas data” (STF, HD 22/DF, rel. Min. Celso de Mello, 19.09.1991).

2 RHD 22/DF, red. p/ o acórdão Min. Celso de Mello, 19.09.1991.

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das vias administrativas”.3

Em qualquer caso, havendo o ingresso do particular na via judicial, somente quando ela restar exaurida é que a questão controvertida estará definitivamente solucionada.

Cumpre, por fim, pontuar que, embora seja certo que todos os atos administrativos podem ser submetidos a controle de legalidade pelo Poder Judiciário, existem outros atos ou decisões – não enquadrados como atos administrativos em sentido próprio – que não se sujeitam a apreciação judicial. São exemplos os denominados atos políticos, tais como a sanção ou o veto a um projeto de lei pelo Chefe do Poder Executivo e o delineamento das denominadas políticas públicas (fixação das diretrizes gerais de atuação governamental com vistas à concretização dos comandos vazados em normas constitucionais de natureza programática). Também é ilustrativa a previsão constitucional de julgamento do processo de impeachment do Presidente da República, o qual compete ao Senado Federal (CF, art. 52, I), sem possibilidade de revisão judicial do mérito da decisão por este proferida.

CAPÍTULO 2

1) O item 4.7.1.9 passou a ter a seguinte redação (reprodução integral do item):

4.7.1.9. Nomeação e exoneração de dirigentes A forma de investidura dos dirigentes das autarquias será aquela prevista na lei

instituidora respectiva. A competência para a nomeação, na esfera federal, é privativa do Presidente da República, conforme o art. 84, XXV, da Constituição de 1988 (simetricamente, será do Governador, nos estados e no Distrito Federal, e do Prefeito, nos municípios).

Para a nomeação, poderá ser exigida prévia aprovação pelo Senado Federal do nome escolhido pelo Presidente da República (CF, art. 84, XIV). Em alguns casos, essa aprovação prévia é condição imposta diretamente pela Constituição Federal (por exemplo, para os cargos de presidente e diretores do Banco Central e de Procurador-Geral da República – CF, art. 52, III, “d” e “e”). Em outros, a exigência de aprovação prévia pelo Senado Federal está prevista somente em lei, editada com fundamento no art. 52, III, “f”, da Carta Política (é exemplo a nomeação dos dirigentes das agências reguladoras federais).

No âmbito dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, pode a lei local condicionar a nomeação de dirigentes de autarquias e fundações públicas à prévia aprovação do respectivo Poder Legislativo, sem que isso configure afronta à separação dos Poderes. É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto a essa 3 RE 631.240/MG (repercussão geral), rel. Min. Roberto Barroso, 03.09.2014 (vide Informativos 756 e 757 do STF).

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possibilidade, baseada no princípio da simetria, tendo em vista o disposto no art. 52, III, “f”, da Constituição Federal.4

Diferentemente, não pode a lei estabelecer hipóteses de exigência de aprovação legislativa prévia para a exoneração de dirigentes de entidades da administração indireta pelo Chefe do Poder Executivo (não pode, tampouco, a lei prever que a exoneração seja efetuada diretamente pelo Poder Legislativo). É uniforme no Supremo Tribunal Federal o entendimento de que normas legais com esse conteúdo – sejam federais, estaduais, distritais ou municipais – extrapolam o sistema de freios e contrapesos estabelecido na Carta Política, sendo, dessa forma, inconstitucionais, por ofensa ao princípio da separação dos Poderes.5

2) O item 4.7.1.15 passou a ter a seguinte redação (reprodução integral do item):

4.7.1.15. Juízo competente As autarquias federais, nos litígios comuns, sendo autoras, rés, assistentes ou

opoentes, têm suas causas processadas e julgadas na Justiça Federal (CF, art. 109, I). Os mandados de segurança contra atos coatores praticados por agentes autárquicos federais também são processados e julgados na Justiça Federal (CF, art. 109, VIII).

O Supremo Tribunal Federal consolidou em sua jurisprudência o entendimento de que se aplica às autarquias federais a regra de competência vazada no § 2º do art. 109 da Carta de 1988, nos termos do qual “as causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal”.6

No caso de autarquias estaduais e municipais, não há regra específica. Portanto, as causas de que participem são processadas e julgadas na Justiça Estadual, assim como o são os mandados de segurança impetrados contra atos coatores de seus agentes públicos.

No que concerne às lides envolvendo pessoal, caso se trate de servidores públicos estatutários federais, os litígios funcionais entre os servidores e a autarquia federal serão processados e julgados pela Justiça Federal; se forem servidores públicos estatutários de autarquia estadual ou municipal, as lides funcionais serão processadas e julgadas na Justiça Estadual. Em qualquer hipótese, se os envolvidos forem empregados públicos (submetidos a regime trabalhista), os litígios entre o trabalhador e a autarquia (federal, estadual ou municipal) serão processados e julgados pela Justiça do Trabalho (CF, art. 114).

4 ADI 1.642/MG, rel. Min. Eros Grau, 03.04.2008; ADI 2.225/SC, rel. Min. Dias Toffoli, 21.08.2014. 5 ADI 1.949/RS, rel. Min. Dias Toffoli, 17.09.2014. 6 RE 627.709/DF (repercussão geral), rel. Min. Ricardo Lewandowski, 20.08.2014 (vide Informativo 755 do STF).

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22.ª para 23.ª edição

3) O item 4.7.3.5.6 passou a ter a seguinte redação (reprodução integral do item):

4.7.3.5.6. Imunidade tributária Especialmente digno de nota é o entendimento, a nosso ver já consagrado no âmbito

do Supremo Tribunal Federal, acerca da aplicabilidade da denominada “imunidade tributária recíproca” a empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos.

A referida limitação à competência tributária, vazada no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal, veda que os entes federados instituam impostos sobre “patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros”. No § 2.º do mesmo artigo, essa imunidade tributária é estendida, literalmente, “às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes”.

Em que pese a literalidade das normas constitucionais supracitadas (art. 150, VI, “a”, e § 2º), o Supremo Tribunal Federal, em diversos julgados, decidiu que as empresas públicas e sociedades de economia mista que tenham por objeto serviços públicos de prestação obrigatória pelo Estado fazem jus à “imunidade tributária recíproca”.

O reconhecimento do direito à imunidade ocorreu pela primeira vez em um julgado envolvendo a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), empresa pública federal. O voto condutor deixou patente que o STF estava equiparando essa entidade – ao menos para efeito tributário – às autarquias, desprezando o fato de sua forma jurídica ser a de empresa pública e atribuindo relevância apenas à natureza de seu objeto: prestação de serviço público. Em razão da importância desse julgado, transcrevem-se trechos do voto mencionado (grifamos):7

Examinemos o recurso no que diz respeito à imunidade tributária do art. 150, VI, “a”, da C.F. No que concerne à distinção que deve ser feita, relativamente às empresas públicas que exercem atividade empresarial das empresas públicas prestadoras de serviço, reporto-me ao voto que proferi por ocasião do julgamento do RE 230.072/RS: “(...) Srs. Ministros, o meu entendimento, que vem de longe, mencionado, aliás, pelo eminente Ministro Sepúlveda Pertence, é no sentido de distinguir empresa pública que presta serviço público de empresa pública que exerce atividade econômica, atividade empresarial, concorrendo com empresas privadas. A primeira, sempre sustentei, tem natureza jurídica de autarquia.” (...) Visualizada a questão do modo acima – fazendo-se a distinção entre empresa pública como instrumento da participação do Estado na economia e empresa pública prestadora de serviço público – não tenho dúvida em afirmar que a ECT está abrangida pela imunidade tributária recíproca (CF, art. 150, VI, “a”), ainda mais se considerarmos que presta ela serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado, que é o serviço postal, CF, art. 21, X.

Posteriormente, o STF prolatou diversos arestos com a mesma orientação, sempre conferindo relevância ao fato de a entidade ser prestadora de serviços públicos. Muitas decisões envolveram novamente a ECT, mas foram também alcançadas por decisões na mesma linha, ressalvada alguma omissão de nossa parte: a Companhia de Águas e

7 RE 407.099/RS, rel. Min. Carlos Velloso, 22.06.2004.

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22.ª para 23.ª edição

Esgotos de Rondônia (CAERD), sociedade de economia mista estadual, e duas empresas públicas federais, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO) e a Casa da Moeda do Brasil (CMB).8

Cumpre notar que, na maior parte dos julgados, o STF referiu-se ao objeto das entidades como “serviços públicos de prestação obrigatória pelo Estado”, expressão que, embora não seja bem definida, poderia ser interpretada como “serviços públicos não passíveis de delegação a particulares”. Ao tratar da situação da INFRAERO e da CMB, mencionou-se, como reforço, o fato de elas atuarem em regime de monopólio. Em que pesem essas constatações, nossa opinião é que os precedentes acima citados vêm sendo invocados de forma tão genérica pelo STF que o único ponto realmente relevante, sempre presente, tem sido o fato de o objeto da entidade ser a prestação de um serviço público.

Assim, pensamos poder concluir que, atualmente, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, a imunidade tributária recíproca, de que tratam o art. 150, VI, “a”, e seu § 2.º, da Constituição Federal, alcança as empresas públicas e as sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos, enquadradas no art. 175 da Carta Política.

Impende enfatizar, de outra banda, que em nenhuma hipótese essa orientação é aplicável às empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividades econômicas em sentido estrito, de que trata o art. 173 do Texto Magno.

4) O item 4.7.3.5.11 passou a ter a seguinte redação (reprodução integral do item):

4.7.3.5.11. Dirigentes Os dirigentes das empresas públicas e das sociedades de economia mista são

investidos em seus cargos na forma que a lei ou seus estatutos estabelecerem. Quando se trata de entidade vinculada ao Poder Executivo – situação verificada, se não sempre, na esmagadora maioria dos casos –, a nomeação do dirigente compete ao Chefe desse Poder. Na hipótese – ao menos teórica – de ser uma entidade vinculada ao Legislativo ou ao Judiciário, deverá estar designada na lei ou nos estatutos da entidade a autoridade competente para a nomeação de seus dirigentes.

Os dirigentes das empresas públicas e das sociedades de economia mista estão sujeitos à ação popular, à ação de improbidade administrativa, a ações penais por crimes praticados contra a administração pública e, quando estiverem exercendo atribuições do Poder Público (excluídos atos de gestão comercial), ao mandado de segurança.

É relevante registrar que, segundo a jurisprudência uniforme do Supremo Tribunal Federal, a exigência de prévia aprovação do Poder Legislativo para a nomeação, pelo

8 AC 1.550/RO, rel. Min. Gilmar Mendes, 06.02.2007; RE-AgR 363.412/BA, rel. Min. Celso de Mello, 07.08.2007; ARE 638.315/BA (repercussão geral), rel. Min. Cezar Peluso, 09.06.2011; RE 601.392/PR (repercussão geral), red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 28.02.2013; RE-AgR 610.517/RJ, rel. Min. Celso de Mello, 03.06.2014; RE 773.992/BA (repercussão geral), rel. Min. Dias Toffoli, 15.10.2014; ACO 879/PB, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 26.11.2014.

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22.ª para 23.ª edição

Chefe do Poder Executivo, de dirigente de empresa pública ou sociedade de economia mista, afronta o princípio da harmonia e independência entre os Poderes (diferentemente do que ocorre quando se trata de autarquias ou fundações públicas, para as quais a imposição de tal condição é plenamente constitucional).

Vale frisar: é inconstitucional, por incompatibilidade com o princípio da separação dos Poderes, norma estabelecida em lei, federal, estadual, distrital ou municipal – ou mesmo em Constituição de estado-membro ou em Lei Orgânica de município ou do Distrito Federal –, que condicione à prévia aprovação do Poder Legislativo a nomeação, pelo Chefe do Poder Executivo, de dirigentes de empresas públicas e sociedades de economia mista, tanto as exploradoras de atividades econômicas em sentido estrito, quanto as prestadoras de serviços públicos.9

Por fim, não é demasiado lembrar que, para a exoneração de dirigentes pelo Chefe do Poder Executivo, é inconstitucional a exigência de aprovação legislativa prévia, seja qual for a espécie de entidade da administração indireta de que se trate – autarquias, fundações públicas, empresas públicas ou sociedades de economia mista.10

CAPÍTULO 4

1) No item 3, foi feito, ao final, o acréscimo abaixo transcrito:

3. TERCEIRO SETOR: AS ENTIDADES PARAESTATAIS

...................

No conceito de entidades paraestatais que adotamos estão enquadrados:

a) os serviços sociais autônomos;

b) as organizações sociais;

c) as organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP);

d) as instituições comunitárias de educação superior (ICES);

e) as “entidades de apoio”.

Estudaremos, a seguir, separadamente, as características dessas espécies de entidades, nos termos da legislação específica – quando houver – aplicável a cada qual. Depois disso,

9 ADI 1.642/MG, rel. Min. Eros Grau, 03.04.2008 (vide Informativo 500 do STF); ADI 2.225/SC, rel. Min. Dias Toffoli, 21.08.2014. 10 ADI 1.949/RS, rel. Min. Dias Toffoli, 17.09.2014.

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analisaremos detidamente as disposições da Lei 13.019/2014, conhecida como “marco regulatório das organizações da sociedade civil”.

A Lei 13.019/2014 teve o grande mérito de uniformizar o tratamento legal e o regime jurídico a que passaram a sujeitar-se parcerias celebradas entre o poder público e entidades privadas que a lei denominou “organizações da sociedade civil” (OSC). Tais entidades, antes da referida regulação legal, costumavam ser incluídas em uma categoria genérica, sem contornos precisos ou abrangência determinada: a das “organizações não governamentais” (ONG) – nomenclatura que, segundo pensamos, deveria sofrer irremediável banimento do nosso vocabulário.

Seja como for, certo é que, a partir da Lei 13.019/2014, “organizações da sociedade civil” (OSC) tornou-se uma expressão legalmente definida e bem delimitada, que não pode, de maneira nenhuma, ser empregada como sinônimo de “organizações não governamentais” (ONG)!

2) No item 3.1, foi feita a substituição abaixo indicada:

3.1. Serviços sociais autônomos

...................

São mantidos por recursos oriundos de contribuições sociais de natureza tributária, recolhidas compulsoriamente pelos contribuintes definidos em lei, bem como mediante dotações orçamentárias do poder público.

Pelo fato de receberem e utilizarem recursos públicos, estão sujeitos ao controle do Tribunal de Contas da União – TCU.

Pelo fato de receberem e utilizarem recursos públicos para a consecução de suas finalidades, estão sujeitos ao controle do Tribunal de Contas da União (TCU). No entanto, por não integrarem a administração pública formal, não são obrigados a contratar o seu pessoal por meio de concurso público de provas ou de provas e títulos – significa dizer, a eles não se aplica o inciso II do art. 37 da Carta de 1988, muito embora devam “manter um padrão de objetividade e eficiência na contratação e nos gastos com seu pessoal”, conforme já deixou assente o Supremo Tribunal Federal.11

São exemplos de serviços sociais autônomos: (...)

..................

3) No item 3.3, foi feita a substituição abaixo indicada:

3.3. Organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) A Lei 9.790/1999, regulamentada pelo Decreto 3.100/1999 (alterado pelo Decreto

7.568/2011), instituiu uma qualificação específica a ser concedida a entidades privadas,

11 RE 789.874/DF (repercussão geral), rel. Min. Teori Zavascki, 17.09.2014 (vide Informativo 759 do STF).

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sem fins lucrativos, que pretendam atuar em parceria com o poder público, dele recebendo fomento: a qualificação como organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP).

O regime estabelecido pela Lei 9.790/1999 para a qualificação de pessoas privadas como organizações da sociedade civil de interesse público é parecido com aquele das organizações sociais, instituído pela Lei 9.637/1998. Em ambos os casos, temos pessoas privadas, sem fins lucrativos, que exercem atividades de interesse social ou de utilidade pública e recebem uma qualificação do poder público, observadas as exigências legais.

A Lei 9.790/1999, regulamentada pelo Decreto 3.100/1999, instituiu uma qualificação específica a ser concedida a entidades privadas, sem fins lucrativos, que pretendam atuar em parceria com o poder público, dele recebendo fomento: a qualificação como organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP). Veja-se o que estatui o art. 1º da Lei 9.790/1999, com a redação dada pela Lei 13.019/2014 (grifamos):12

Art. 1º Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos por esta Lei.

O regime estabelecido pela Lei 9.790/1999 para a qualificação de pessoas privadas como OSCIP é parecido com aquele das organizações sociais, instituído pela Lei 9.637/1998. Em ambos os casos, pessoas privadas, sem fins lucrativos, dedicadas a atividades de interesse social ou de utilidade pública recebem uma qualificação legalmente prevista, que lhes possibilita atuar em colaboração com o poder público, dele recebendo fomento, observadas as exigências estipuladas na legislação pertinente.

As OSCIP, entretanto, não foram idealizadas para substituir a administração pública, mediante “absorção” das atividades exercidas por órgãos e entidades administrativos a serem extintos. Essa substituição foi planejada apenas para as organizações sociais.

......................

4) No item 3.3.5, foi feita a supressão abaixo indicada:

3.3.5. Formalização da parceria

12 A Lei 13.019/2014 foi publicada em 1º de agosto de 2014. Originalmente, o art. 88 dessa lei determinava que ela entraria em vigor “após decorridos 90 (noventa) dias de sua publicação oficial”. Entretanto, a Medida Provisória 658/2014, publicada em 30 de outubro de 2014 – e não convertida em lei até o fechamento desta edição –, alterou o citado artigo, que passou a prever o início da vigência da Lei 13.019/2014 “após decorridos 360 (trezentos e sessenta) dias de sua publicação oficial”. Antes da alteração introduzida pela Lei 13.019/2014, não existia, na Lei 9.790/1999, a exigência de que as OSCIP tivessem sido constituídas e estivessem em funcionamento regular há, no mínimo, três anos.

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..............

Ademais, em situações excepcionais, expressamente enumeradas no decreto, o titular do órgão estatal responsável pelo termo de parceria poderá, mediante decisão fundamentada, dispensar a realização de processo de seleção por concurso (art. 23, § 2.º).

O órgão responsável pela celebração do termo de parceria deve verificar previamente (Decreto 3.100/1999, art. 9.º):

I – a validade da certidão de regularidade expedida pelo Ministério da Justiça, na forma do regulamento;

II – o regular funcionamento da organização da sociedade civil de interesse público; e

III – o exercício pela organização da sociedade civil de interesse público de atividades referentes à matéria objeto do termo de parceria nos últimos três anos.

A exigência prevista no inciso III não se aplica aos termos de parceria firmados pelo Ministério da Saúde voltados ao fomento e à realização de serviços de saúde integrantes do SUS (Decreto 3.100/1999, art. 31-B).

O termo de parceria deverá ser assinado pelo titular do órgão estatal responsável por sua celebração, vedada a delegação de competência para este fim (Decreto 3.100/1999, art. 31-A).

................

5) O item 3.3.6 teve o seu título alterado e, nele, foi feito o acréscimo abaixo indicado:

3.3.6. Controle e prestação de contas Consoante o art. 11 da Lei 9.790/1999, a execução do objeto do termo de parceria

será acompanhada e fiscalizada por órgão do poder público da área de atuação correspondente à atividade fomentada, e pelos Conselhos de Políticas Públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, em cada nível de governo.

A prestação de contas relativa à execução do termo de parceria perante o órgão da entidade estatal parceira refere-se à correta aplicação dos recursos

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públicos recebidos e ao adimplemento do objeto do termo de parceria, mediante a apresentação dos seguintes documentos (art. 15-B):13

I – relatório anual de execução de atividades, contendo especificamente relatório sobre a execução do objeto do termo de parceria, bem como comparativo entre as metas propostas e os resultados alcançados;

II – demonstrativo integral da receita e despesa realizadas na execução;

III – extrato da execução física e financeira;

IV – demonstração de resultados do exercício;

V – balanço patrimonial;

VI – demonstração das origens e das aplicações de recursos;

VII – demonstração das mutações do patrimônio social;

VIII – notas explicativas das demonstrações contábeis, caso necessário;

IX – parecer e relatório de auditoria, se for o caso.

Os resultados atingidos com a execução do termo de parceria devem ser analisados por uma comissão de avaliação, composta de comum acordo entre o órgão parceiro e a organização da sociedade civil de interesse público. A comissão deve apresentar à autoridade competente relatório conclusivo sobre a avaliação procedida (art. 11, §§ 1.º e 2.º).

....................

6) No item 3.3.8, foi feita a substituição abaixo indicada:

3.3.8. Distinções entre organização social e organização da sociedade civil de interesse público

..................

a) participação de agentes do Poder Público na estrutura da entidade: a participação de agentes do Poder Público no conselho de administração é obrigatória nas organizações sociais; não há essa exigência nas organizações da sociedade civil de interesse público (na realidade, nem mesmo é exigida pela Lei 9.790/1999 a existência de um conselho de administração nas OSCIP, mas apenas a de um conselho fiscal);

b) instrumento da formalização da parceria: nas organizações sociais o vínculo entre a entidade privada e o Poder Público é formalizado mediante a celebração de contrato de

13 O art. 15-B da Lei 9.790/1999 foi acrescentado pela Lei 13.019/2014, publicada em 1º de agosto de 2014, com início de vigência, estabelecido pela Medida Provisória 658/2014 – não convertida em lei até o fechamento desta edição – “após decorridos 360 (trezentos e sessenta) dias de sua publicação oficial”.

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gestão; nas organizações da sociedade civil de interesse público, mediante termo de parceria;

c) exigências de ordem contábil/fiscal: para a entidade privada qualificar-se como organização da sociedade civil de interesse público são exigidos, entre outros documentos, o balanço patrimonial e o demonstrativo de resultados do exercício, bem como a declaração de isenção do imposto de renda; para a qualificação como organização social não há tais exigências.

c) necessidade de existência prévia: a Lei 9.790/1999 exige que a entidade privada, para qualificar-se como OSCIP, tenha sido constituída e se encontre em funcionamento regular há, no mínimo, três anos; não há previsão legal de prazo a ser observado entre a constituição da entidade privada e a sua qualificação como organização social;

d) exigências de ordem contábil e fiscal: para a entidade privada qualificar-se como OSCIP são exigidos, entre outros documentos, o balanço patrimonial e o demonstrativo de resultados do exercício, bem como a declaração de isenção do imposto de renda; para a qualificação como organização social não há tais exigências.

Além dessas distinções, a Prof.ª Maria Sylvia Di Pietro ensina que “nas organizações sociais, o intuito evidente é o de que elas assumam determinadas atividades hoje desempenhadas, como serviços públicos, por entidades da administração pública, resultando na extinção destas últimas. Nas organizações da sociedade civil de interesse público, essa intenção não resulta, implícita ou explicitamente, da lei, pois a qualificação da entidade como tal não afeta em nada a existência ou as atribuições de entidades ou órgãos integrantes da Administração Pública”.

.......................

7) Foi acrescentado ao Capítulo 4 o item 3.6, abaixo integralmente reproduzido, com todos os seus subitens:

3.6. MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (LEI 13.019/2014)

3.6.1. Noções gerais

Atenção: a Lei 13.019/2014 foi publicada em 1º de agosto de 2014. Originalmente, o art. 88 dessa lei determinava que ela entraria em vigor “após decorridos 90 (noventa) dias de sua publicação oficial”. Entretanto, a Medida Provisória 658/2014, publicada em 30 de outubro de 2014 – e não convertida em lei até o fechamento desta edição –, alterou o citado artigo, que passou a prever o

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início da vigência da Lei 13.019/2014 “após decorridos 360 (trezentos e sessenta) dias de sua publicação oficial”.

Chamada de “marco regulatório das organizações da sociedade civil”, a Lei 13.019/2014 introduziu, em nosso ordenamento jurídico, normas gerais – obrigam União, estados-membros, Distrito Federal, municípios e respectivas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviço público, e suas subsidiárias – sobre parcerias voluntárias estabelecidas entre a administração pública e pessoas jurídicas privadas genericamente denominadas “organizações da sociedade civil” (OSC). Os instrumentos de formalização dessas parcerias, instituídos pela mesma Lei 13.019/2014, são o “termo de colaboração” e o “termo de fomento” (estudados no próximo tópico). A lei estabelece, também, diretrizes para a política de fomento e de colaboração com as OSC.

As parcerias regidas pela Lei 13.019/2014 podem envolver, ou não, transferências voluntárias de recursos financeiros – e devem ter por objeto ações de interesse recíproco da administração pública e da OSC, a serem desenvolvidas em regime de mútua cooperação, visando sempre à consecução de finalidades de interesse público.

É muito importante esclarecer que a Lei 13.019/2014 não se aplica às organizações sociais, que permanecem integralmente regidas pela Lei 9.637/1998 (art. 3º, III).

A situação das organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) é um pouco diferente: as disposições da Lei 13.019/2014 aplicam-se às OSCIP, no que couber (art. 4º). Significa dizer, as OSCIP continuam regidas pela Lei 9.790/1999, mas as normas da Lei 13.019/2014 poderão ter aplicação subsidiária, desde que isso não se mostre incompatível com as características e com o regime jurídico próprio das OSCIP.

Aliás, a Lei 13.019/2014, no seu art. 41, veda a criação de outras modalidades de parceria ou a combinação das parcerias nela previstas, sem prejuízo dos contratos de gestão e dos termos de parceria regidos, respectivamente, pela Lei 9.637/1998 (organizações sociais) e pela Lei 9.790/1999 (OSCIP).

As entidades privadas que podem celebrar parcerias disciplinadas pela Lei 13.019/2014 são por ela chamadas, de forma genérica, “organizações da sociedade civil” (OSC), assim definidas: “pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos que não distribui, entre os seus sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo patrimonial ou fundo de reserva” (art. 2º, I).

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As parcerias regidas pela Lei 13.019/2014 são celebradas entre organizações da sociedade civil e a administração pública. Na definição da Lei 13.019/2014, a expressão “administração pública” abrange a União, os estados, o Distrito Federal, os municípios e respectivas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviço público, e suas subsidiárias (art. 2º, II).

É assaz interessante apontar que, para os efeitos da lei ora em estudo, empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica em sentido estrito não são consideradas administração pública – e não podem, portanto, celebrar com entidades privadas parcerias previstas na Lei 13.019/2014.

Preceitua o art. 5º da lei em foco que o regime jurídico por ela estabelecido tem como fundamentos, entre outros, “a gestão pública democrática, a participação social, o fortalecimento da sociedade civil e a transparência na aplicação dos recursos públicos, devendo obedecer aos princípios da legalidade, da legitimidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da economicidade, da eficiência e da eficácia”.

No art. 6º, são enumeradas “diretrizes fundamentais do regime jurídico de fomento ou de colaboração”, dentre as quais vale destacar:

a) a promoção, o fortalecimento institucional, a capacitação e o incentivo à organização da sociedade civil para a cooperação com o poder público;

b) a priorização do controle de resultados;

c) o fortalecimento das ações de cooperação institucional entre os entes federados nas relações com as organizações da sociedade civil;

d) a ação integrada, complementar e descentralizada, de recursos e ações, entre os entes da Federação, evitando sobreposição de iniciativas e fragmentação de recursos;

e) o estabelecimento de mecanismos que ampliem a gestão de informação, transparência e publicidade;

f) a adoção de práticas de gestão administrativa necessárias e suficientes para coibir a obtenção, individual ou coletiva, de benefícios ou vantagens indevidas, em decorrência da participação no respectivo processo decisório ou ocupação de posições estratégicas.

Poderá ser criado, no âmbito do Poder Executivo federal, o “Conselho Nacional de Fomento e Colaboração”, de composição paritária entre representantes governamentais e organizações da sociedade civil, com a finalidade de divulgar boas práticas e de propor e apoiar políticas e ações voltadas ao fortalecimento das relações de fomento e de colaboração tratadas na Lei 13.019/2014 (art. 15).

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Alguns mecanismos interessantes são previstos, nos arts. 9º a 12 da lei, com o fim de assegurar ou reforçar a observância da diretriz de ampliação da transparência.

É exemplo a exigência de que a administração pública mantenha, em seu sítio oficial na internet, a relação das parcerias celebradas, em ordem alfabética, pelo nome da OSC, por prazo não inferior a cinco anos, contado da apreciação da prestação de contas final da parceria (art. 10).

De sua parte, a OSC deverá divulgar, em seu sítio na internet, caso mantenha, e em locais visíveis de suas sedes sociais e dos estabelecimentos em que exerça suas ações, todas as parcerias celebradas com o poder público, com a descrição do respectivo objeto, a indicação do valor total da parceria e dos valores já liberados, a situação da prestação de contas de cada parceria, entre outras informações (art. 11).

Cabe pontuar, todavia, que, no seu art. 87, a Lei 13.019/2014 contém norma bastante específica, nos termos da qual, “as exigências de transparência e publicidade previstas em todas as etapas que envolvem o termo de fomento ou de colaboração, desde a fase preparatória até o fim da prestação de contas, naquilo em que for necessário, serão excepcionadas quando se tratar de programa de proteção a pessoas ameaçadas ou em situação que possa comprometer a sua segurança, na forma do regulamento”.

A administração pública deverá divulgar pela internet os meios para apresentação de denúncia sobre a aplicação irregular dos recursos transferidos (art. 12).

Ao decidir sobre a celebração das parcerias aqui em foco, o administrador público considerará, obrigatoriamente, a capacidade operacional do órgão ou entidade da administração pública para instituir processos seletivos, avaliará as propostas de parceria com o rigor técnico necessário, fiscalizará a execução em tempo hábil e de modo eficaz e apreciará as prestações de contas na forma e nos prazos determinados na Lei 13.019/2014 e na legislação específica (art. 8º).

É vedada a celebração de parcerias previstas na Lei 13.019/2014 que tenham por objeto, envolvam ou incluam, direta ou indiretamente (art. 40):

I – delegação das funções de regulação, de fiscalização, do exercício do poder de polícia ou de outras atividades exclusivas do Estado;

II – prestação de serviços ou de atividades cujo destinatário seja o aparelho administrativo do Estado.

A Lei 13.019/2014 proíbe, também, que sejam objeto de parcerias nela previstas (art. 40, parágrafo único):

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I – a contratação de serviços de consultoria, com ou sem produto determinado;

II – o apoio administrativo, com ou sem disponibilização de pessoal, fornecimento de materiais consumíveis ou outros bens.

3.6.2. Termo de colaboração e termo de fomento

Fizemos alusão, no tópico precedente, a dois instrumentos criados pela Lei 13.019/2014, destinados à formalização das parcerias por ela regidas: o “termo de colaboração” (art. 16) e o “termo de fomento” (art. 17).

O termo de colaboração é o instrumento que a administração pública deverá adotar em caso de transferências voluntárias de recursos para consecução de planos de trabalho propostos pela administração pública, em regime de mútua cooperação com organizações da sociedade civil, selecionadas por meio de chamamento público – ressalvadas as hipóteses, previstas na própria Lei 13.019/2014, em que o chamamento público poderá ser dispensado ou será considerado inexigível.

Os conselhos de políticas públicas – órgãos criados pelo poder público para atuar como instância consultiva, na respectiva área de atuação, na formulação, implementação, acompanhamento, monitoramento e avaliação de políticas públicas (art. 2º, IX) – poderão apresentar propostas à administração pública para celebração de termo de colaboração com organizações da sociedade civil (art. 16, parágrafo único).

A definição de termo de fomento é em tudo idêntica à de termo de colaboração, exceto quanto à iniciativa da proposta do plano de trabalho. De fato, vimos que se usa o termo de colaboração nos casos em que o plano de trabalho seja proposto pela administração pública. Pois bem, quando for da OSC a proposta do plano de trabalho, o instrumento utilizado deverá ser o termo de fomento (art. 17).

Para a celebração e a formalização do termo de colaboração e do termo de fomento, a Lei 13.019/2014 exige que a administração pública adote uma série de providências, arroladas em seu art. 35. Em razão da importância desse dispositivo, faz-se oportuno transcrevê-lo na íntegra:

Art. 35. A celebração e a formalização do termo de colaboração e do termo de fomento dependerão da adoção das seguintes providências pela administração pública:

I – realização de chamamento público, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei;

II – indicação expressa da existência de prévia dotação orçamentária para execução da parceria;

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III – demonstração de que os objetivos e finalidades institucionais e a capacidade técnica e operacional da organização da sociedade civil foram avaliados e são compatíveis com o objeto;

IV – aprovação do plano de trabalho, a ser apresentado nos termos desta Lei;

V – emissão de parecer de órgão técnico da administração pública, que deverá pronunciar-se, de forma expressa, a respeito:

a) do mérito da proposta, em conformidade com a modalidade de parceria adotada;

b) da identidade e da reciprocidade de interesse das partes na realização, em mútua cooperação, da parceria prevista nesta Lei;

c) da viabilidade de sua execução, inclusive no que se refere aos valores estimados, que deverão ser compatíveis com os preços praticados no mercado;

d) da verificação do cronograma de desembolso previsto no plano de trabalho, e se esse é adequado e permite a sua efetiva fiscalização;

e) da descrição de quais serão os meios disponíveis a serem utilizados para a fiscalização da execução da parceria, assim como dos procedimentos que deverão ser adotados para avaliação da execução física e financeira, no cumprimento das metas e objetivos; f) da descrição de elementos mínimos de convicção e de meios de prova que serão aceitos pela administração pública na prestação de contas;

g) da designação do gestor da parceria;

h) da designação da comissão de monitoramento e avaliação da parceria;

i) da aprovação do regulamento de compras e contratações apresentado pela organização da sociedade civil, demonstrando a compatibilidade entre a alternativa escolhida e a natureza e o valor do objeto da parceria, a natureza e o valor dos serviços, e as compras passíveis de contratação, conforme aprovado no plano de trabalho;

VI – emissão de parecer jurídico do órgão de assessoria ou consultoria jurídica da administração pública acerca da possibilidade de celebração da parceria, com observância das normas desta Lei e da legislação específica.

§ 1º Não será exigida contrapartida financeira como requisito para celebração de parceria, facultada a exigência de contrapartida em bens e serviços economicamente mensuráveis.

§ 2º Caso o parecer técnico ou o parecer jurídico de que tratam, respectivamente, os incisos V e VI do caput deste artigo conclua pela possibilidade de celebração da parceria com ressalvas, deverá o administrador público cumprir o que houver sido ressalvado ou, mediante ato formal, justificar as razões pelas quais deixou de fazê-lo.

§ 3º Na hipótese de o gestor da parceria deixar de ser agente público ou ser lotado em outro órgão ou entidade, o administrador público deverá designar novo gestor, assumindo, enquanto isso não ocorrer, todas as obrigações do gestor, com as respectivas responsabilidades.

§ 4º Deverá constar, expressamente, do próprio instrumento de parceria ou de seu anexo que a organização da sociedade civil cumpre as exigências constantes do

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inciso VII do § 1º do art. 24 desta Lei.14

§ 5º Caso a organização da sociedade civil adquira equipamentos e materiais permanentes com recursos provenientes da celebração da parceria, o bem será gravado com cláusula de inalienabilidade, e ela deverá formalizar promessa de transferência da propriedade à administração pública, na hipótese de sua extinção.

§ 6º Será impedida de participar como gestor da parceria ou como membro da comissão de monitoramento e avaliação pessoa que, nos últimos 5 (cinco) anos, tenha mantido relação jurídica com, ao menos, 1 (uma) das organizações da sociedade civil partícipes.

§ 7º Configurado o impedimento do § 6º, deverá ser designado gestor ou membro substituto que possua qualificação técnica equivalente à do substituído.

É obrigatória a estipulação do destino a ser dado aos bens remanescentes da parceria (art. 36). A lei define “bens remanescentes” como “equipamentos e materiais permanentes adquiridos com recursos da parceria, necessários à consecução do objeto, mas que a ele não se incorporam” (art. 2º, XIII). Os bens remanescentes adquiridos com recursos transferidos poderão, a critério do administrador público, ser doados, quando, após a consecução do objeto, não forem necessários para assegurar a continuidade do objeto pactuado, observado o disposto no respectivo termo e na legislação vigente (art. 36, parágrafo único).

A OSC indicará ao menos um dirigente que se responsabilizará, de forma solidária, pela execução das atividades e cumprimento das metas pactuadas na parceria, devendo essa indicação constar do instrumento da parceria (art. 37).

O termo de fomento e o termo de colaboração somente produzirão efeitos jurídicos após a publicação dos respectivos extratos no meio oficial de publicidade da administração pública (art. 38).

3.6.3. Plano de trabalho

O plano de trabalho é tratado no art. 22 da Lei 13.019/2014. Independentemente da modalidade de parceria adotada, deverão constar do plano de trabalho os seguintes elementos (grifamos):

I – diagnóstico da realidade que será objeto das atividades da parceria, devendo ser demonstrado o nexo entre essa realidade e as atividades ou metas a serem atingidas;

II – descrição pormenorizada de metas quantitativas e mensuráveis a serem

14 A OSC cumpre as referidas exigências caso possua: a) no mínimo, 3 (três) anos de existência, com cadastro ativo, comprovados por meio de documentação emitida pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, com base no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ; b) experiência prévia na realização, com efetividade, do objeto da parceria ou de natureza semelhante; c) capacidade técnica e operacional para o desenvolvimento das atividades previstas e o cumprimento das metas estabelecidas.

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atingidas e de atividades a serem executadas, devendo estar claro, preciso e detalhado o que se pretende realizar ou obter, bem como quais serão os meios utilizados para tanto;

III – prazo para a execução das atividades e o cumprimento das metas;

IV – definição dos indicadores, qualitativos e quantitativos, a serem utilizados para a aferição do cumprimento das metas;

V – elementos que demonstrem a compatibilidade dos custos com os preços praticados no mercado ou com outras parcerias da mesma natureza, devendo existir elementos indicativos da mensuração desses custos, tais como: cotações, tabelas de preços de associações profissionais, publicações especializadas ou quaisquer outras fontes de informação disponíveis ao público;

VI – plano de aplicação dos recursos a serem desembolsados pela administração pública;

VII – estimativa de valores a serem recolhidos para pagamento de encargos previdenciários e trabalhistas das pessoas envolvidas diretamente na consecução do objeto, durante o período de vigência proposto;

VIII – valores a serem repassados, mediante cronograma de desembolso compatível com os gastos das etapas vinculadas às metas do cronograma físico;

IX – modo e periodicidade das prestações de contas, compatíveis com o período de realização das etapas vinculadas às metas e com o período de vigência da parceria, não se admitindo periodicidade superior a 1 (um) ano ou que dificulte a verificação física do cumprimento do objeto;

X – prazos de análise da prestação de contas pela administração pública responsável pela parceria.

Cada ente federado estabelecerá, de acordo com a sua realidade, o valor máximo que poderá ser repassado em parcela única para a execução da parceria, o que deverá ser justificado pelo administrador público no plano de trabalho (art. 22, parágrafo único).

A vigência da parceria poderá ser alterada mediante solicitação da OSC à administração pública, devidamente formalizada e justificada, que deverá ser apresentada, no mínimo, trinta dias antes do seu término (art. 55).

A administração pública deverá prorrogar de ofício a vigência do instrumento, antes do seu término, quando ela tiver atrasado a liberação dos recursos, limitada a prorrogação ao exato período do atraso verificado (art. 55, parágrafo único).

É vedada a modificação do objeto da parceria, exceto no caso de ampliação de metas, desde que seja previamente aprovada a adequação do plano de trabalho pela administração pública (art. 45, III).

3.6.4. Normas referentes à organização da sociedade civil parceira

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Vimos anteriormente que as organizações da sociedade civil que podem celebrar as parcerias reguladas pela Lei 13.019/2014 devem ser pessoas privadas (isto é, não integrantes da administração pública formal) sem fins lucrativos, que não distribuam quaisquer resultados operacionais ou parcelas do seu patrimônio, e que os apliquem integralmente na consecução dos seus objetivos sociais (art. 2º, I).

Além disso, para poder celebrar as parcerias previstas na Lei 13.019/2014, as organizações da sociedade civil deverão ser regidas por estatutos que contenham, expressamente, disposições sobre (art. 33):

a) objetivos voltados à promoção de atividades e finalidades de relevância pública e social;

b) a constituição de conselho fiscal ou órgão equivalente, dotado de atribuição para opinar sobre os relatórios de desempenho financeiro e contábil e sobre as operações patrimoniais realizadas;

c) a previsão de que, em caso de dissolução da entidade, o respectivo patrimônio líquido seja transferido a outra pessoa jurídica de igual natureza que preencha os requisitos da Lei 13.019/2014 e cujo objeto social seja, preferencialmente, o mesmo da entidade extinta (essa exigência não se aplica a serviços sociais autônomos destinatários de contribuições dos empregadores incidentes sobre a folha de salários);

d) normas de prestação de contas sociais a serem observadas pela entidade.

Para celebração da parceria, a OSC deverá apresentar, dentre outros documentos, certidões de regularidade fiscal, previdenciária, tributária, de contribuições e de dívida ativa, de acordo com a legislação aplicável de cada ente federado (art. 34, II).

É exigida, também, a apresentação de regulamento de compras e contratações, próprio ou de terceiro, aprovado pela administração pública celebrante, em que se estabeleça, no mínimo, a observância dos princípios da legalidade, da moralidade, da boa-fé, da probidade, da impessoalidade, da economicidade, da eficiência, da isonomia, da publicidade, da razoabilidade e do julgamento objetivo e a busca permanente de qualidade e durabilidade (arts. 34, VIII, e 43).

Vale enfatizar: nas contratações de bens e serviços que efetuem com o uso de recursos transferidos pela administração pública, as OSC não estão sujeitas à exigência de realizar licitação pública formal regida pelas leis de normas gerais de licitações e contratos administrativos. Mas elas não são livres para efetuar aquelas contratações. Deverão fazê-lo em conformidade com um regulamento de compras e contratações, elaborado pela própria OSC ou por outra entidade – e aprovado pela administração pública que vá celebrar a parceria –, o qual deverá conter normas que assegurem imparcialidade, transparência e

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objetividade na escolha do contratado – entre outros princípios que usualmente norteiam certames licitatórios propriamente ditos.

Ainda sobre esse tema, vem a propósito comentar que a Lei 13.019/2014, no seu art. 84, estatui que, “salvo nos casos expressamente previstos”, não se aplica às relações de fomento e de colaboração por ela regidas “o disposto na Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e na legislação referente a convênios, que ficarão restritos a parcerias firmadas entre os entes federados”.

Impõe também restrições à liberdade de contratação da OSC o art. 47, § 3º, da Lei 13.019/2014. Deveras, nos literais termos desse dispositivo, “a seleção e a contratação pela organização da sociedade civil de equipe envolvida na execução do termo de fomento e/ou de colaboração deverão observar os princípios da administração pública previstos no caput do art. 37 da Constituição Federal”.

Atenção: claro está que a OSC não é obrigada a realizar concurso público para selecionar e contratar o pessoal que executará o objeto da parceria. Não é isso! A lei apenas exige que a contratação desses trabalhadores seja feita com impessoalidade, segundo critérios objetivos que possibilitem bem atender a postulados tais como isonomia, moralidade, publicidade e eficiência. De todo modo, a exigência do supracitado art. 47, § 3º, configura mais uma limitação à autonomia da OSC – óbvia consequência do fato de ela receber, administrar e aplicar recursos de origem pública.

Os encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais relativos ao cumprimento do termo de colaboração ou de fomento e ao funcionamento da OSC são de responsabilidade exclusiva dela própria. A eventual inadimplência da OSC não implicará responsabilidade solidária ou subsidiária da administração pública pelos respectivos pagamentos, nem resultará em qualquer oneração do objeto da parceria ou em restrição à sua execução (arts. 44, § 2º, 46, § 2º, e 47, § 7º).

A lei preocupou-se, ademais, em estabelecer expressamente que o pagamento de remuneração de equipe de trabalho contratada pela OSC com recursos transferidos pela administração pública não gera vínculo trabalhista com o poder público (arts. 46, § 1º, e 47, § 6º).

Ficará impedida de celebrar qualquer modalidade de parceria prevista na Lei 13.019/2014 a OSC que (art. 39):

I – não esteja regularmente constituída ou, se estrangeira, não esteja autorizada a funcionar no território nacional;

II – esteja omissa no dever de prestar contas de parceria anteriormente celebrada;

III – tenha como dirigente agente político de Poder ou do Ministério Público, dirigente de órgão ou entidade da administração pública de qualquer esfera governamental, ou respectivo cônjuge ou companheiro, bem como parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o segundo grau;

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IV – tenha tido as contas rejeitadas pela administração pública nos últimos 5 (cinco) anos, enquanto não for sanada a irregularidade que motivou a rejeição e não forem quitados os débitos que lhe foram eventualmente imputados, ou for reconsiderada ou revista a decisão pela rejeição;

V – tenha sido punida com uma das seguintes sanções, pelo período que durar a penalidade:

a) suspensão de participação em licitação e impedimento de contratar com a administração;

b) declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a administração pública;

c) a prevista no inciso II do art. 73 desta Lei;15

d) a prevista no inciso III do art. 73 desta Lei;16

VI – tenha tido contas de parceria julgadas irregulares ou rejeitadas por Tribunal ou Conselho de Contas de qualquer esfera da Federação, em decisão irrecorrível, nos últimos 8 (oito) anos;

VII – tenha entre seus dirigentes pessoa:

a) cujas contas relativas a parcerias tenham sido julgadas irregulares ou rejeitadas por Tribunal ou Conselho de Contas de qualquer esfera da Federação, em decisão irrecorrível, nos últimos 8 (oito) anos;

b) julgada responsável por falta grave e inabilitada para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança, enquanto durar a inabilitação;

c) considerada responsável por ato de improbidade, enquanto durarem os prazos estabelecidos nos incisos I, II e III do art. 12 da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992.

Ocorrendo qualquer dessas hipóteses, ficará também vedada a transferência de novos recursos no âmbito de parcerias em execução. Excetuam-se apenas os casos de serviços essenciais que não possam ser adiados sem causar prejuízo ao erário ou à população – e a transferência de recursos efetuada nessas circunstâncias deverá ser precedida de expressa e fundamentada autorização do dirigente máximo do órgão ou entidade da administração pública, sob pena de responsabilidade solidária (art. 39, § 1º).

O impedimento para celebrar parceria persiste enquanto não houver o ressarcimento do dano ao erário, pelo qual seja responsável a OSC ou seu dirigente (art. 39, § 2º).

15 “II – suspensão temporária da participação em chamamento público e impedimento de celebrar termos de fomento, termos de colaboração e contratos com órgãos e entidades da esfera de governo da administração pública sancionadora, por prazo não superior a 2 (dois) anos;” 16 “III – declaração de inidoneidade para participar em chamamento público ou celebrar termos de fomento, termos de colaboração e contratos com órgãos e entidades de todas as esferas de governo, enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que a organização da sociedade civil ressarcir a administração pelos prejuízos resultantes, e após decorrido o prazo da sanção aplicada com base no inciso II deste artigo.”

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A vedação prevista no inciso III, acima transcrito, no que tange a ter como dirigente agente político de Poder, não se aplica aos serviços sociais autônomos destinatários de contribuições dos empregadores incidentes sobre a folha de salários (art. 39, § 3º). Aliás, convém aproveitar essa regra para comentar que, embora indiretamente, a Lei 13.019/2014 deixa claro que serviços sociais autônomos podem ser considerados OSC, para efeito de celebração das parcerias de que ela trata.

3.6.4.1. Atuação em rede

A Lei 13.019/2014 admite que um plano de trabalho seja executado pela OSC celebrante do termo de fomento ou de colaboração com auxílio de outras organizações da sociedade civil (essas outras OSC são as “organizações da sociedade civil executantes e não celebrantes do termo de fomento ou de colaboração”). A lei chama essa execução conjunta do objeto da parceria de “atuação em rede” e estatui que ela será permitida “para a execução de iniciativas agregadoras de pequenos projetos”. A atuação em rede não afasta a integral responsabilidade da OSC celebrante do termo de fomento ou de colaboração.

São estabelecidas inúmeras condições para que se possibilite a atuação em rede, a exemplo da necessidade de sua autorização no edital do chamamento público, com a previsão, no plano de trabalho, da forma como ocorrerá essa atuação, da exigência de que a OSC celebrante do termo de fomento ou de colaboração possua mais de cinco anos de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e comprove mais de três anos de experiência de atuação em rede, da obrigatoriedade de que seja fornecida, à administração pública, no ato de celebração da parceria, a relação de todas as OSC que atuarão como executantes e não celebrantes, entre outras.

Todas as regras atinentes à atuação em rede encontram-se no art. 25 da Lei 13.019/2014, cuja reprodução encerra este subitem (grifamos):

Art. 25. É permitida a atuação em rede para a execução de iniciativas agregadoras de pequenos projetos, por 2 (duas) ou mais organizações da sociedade civil, mantida a integral responsabilidade da organização celebrante do termo de fomento ou de colaboração, desde que:

I – essa possibilidade seja autorizada no edital do chamamento público e a forma de atuação esteja prevista no plano de trabalho;

II – a organização da sociedade civil responsável pelo termo de fomento e/ou de colaboração possua:

a) mais de 5 (cinco) anos de inscrição no CNPJ;

b) mais de 3 (três) anos de experiência de atuação em rede, comprovada na forma prevista no edital; e

c) capacidade técnica e operacional para supervisionar e orientar diretamente a

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atuação da organização que com ela estiver atuando em rede;

III – seja observado o limite de atuação mínima previsto em edital referente à execução do plano de trabalho que cabe à organização da sociedade civil celebrante do termo de fomento e colaboração;

IV – a organização da sociedade civil executante e não celebrante do termo de fomento ou de colaboração comprove regularidade jurídica e fiscal, nos termos do regulamento;

V – seja comunicada à administração pública, no ato da celebração do termo de fomento ou de colaboração, a relação das organizações da sociedade civil executantes e não celebrantes do termo de fomento ou de colaboração.

Parágrafo único. A relação das organizações da sociedade civil executantes e não celebrantes do termo de fomento ou de colaboração de que trata o inciso V do caput não poderá ser alterada sem prévio consentimento da administração pública, não podendo as eventuais alterações descumprir os requisitos previstos neste artigo.

3.6.5. Procedimento de manifestação de interesse social

A Lei 13.019/2014 criou uma figura intitulada “Procedimento de Manifestação de Interesse Social”, assim conceituada: “instrumento por meio do qual as organizações da sociedade civil, movimentos sociais e cidadãos poderão apresentar propostas ao poder público para que este avalie a possibilidade de realização de um chamamento público objetivando a celebração de parceria” (art. 18).

A proposta a ser encaminhada à administração pública deverá identificar o seu subscritor, apontar o interesse público envolvido, apresentar um diagnóstico da realidade que se quer modificar, aprimorar ou desenvolver e, quando possível, indicar a viabilidade, os custos, os benefícios e os prazos de execução da ação pretendida (art. 19).

Se a proposta preencher os requisitos enumerados no parágrafo anterior, a administração pública deverá torná-la pública em seu sítio eletrônico e, caso entenda conveniente e oportuna a realização do Procedimento de Manifestação de Interesse Social, procederá à sua instauração, para oitiva da sociedade sobre o tema (art. 20).

A realização do Procedimento de Manifestação de Interesse Social não implicará necessariamente a execução do chamamento público, que acontecerá de acordo com os interesses da administração (art. 21). Ademais, a realização do Procedimento de Manifestação de Interesse Social não dispensa a convocação por meio de chamamento público para a celebração de parceria (art. 21, § 1º).

A proposição ou a participação no Procedimento de Manifestação de Interesse Social não impede a OSC de participar no eventual chamamento público subsequente (art. 21, § 2º).

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3.6.6. Chamamento público

A Lei 13.019/2014 define “chamamento público” como “procedimento destinado a selecionar organização da sociedade civil para firmar parceria por meio de termo de colaboração ou de fomento, no qual se garanta a observância dos princípios da isonomia, da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos” (art. 2º, XII).

Como regra, a administração pública, para poder celebrar as parcerias previstas na Lei 13.019/2014, está obrigada a realizar o chamamento público, com o fim de selecionar organizações da sociedade civil que presumidamente tenham condições de executar o objeto da parceria de forma mais eficaz (art. 24).

É enfático o art. 29 da Lei 13.019/2014, ao asseverar que, exceto nas hipóteses expressamente nela previstas, “a celebração de qualquer modalidade de parceria será precedida de chamamento público”. As hipóteses a que se refere a ressalva correspondem às situações excepcionais em que o chamamento público poderá ser dispensado ou será considerado inexigível (estudadas adiante, em subitem específico).

O edital do chamamento público especificará, no mínimo (art. 24, § 1º):

I – a programação orçamentária que autoriza e fundamenta a celebração da parceria;

II – o tipo de parceria a ser celebrada;

III – o objeto da parceria;

IV – as datas, os prazos, as condições, o local e a forma de apresentação das propostas;

V – as datas e os critérios objetivos de seleção e julgamento das propostas, inclusive no que se refere à metodologia de pontuação e ao peso atribuído a cada um dos critérios estabelecidos, se for o caso;

VI – o valor previsto para a realização do objeto;

VII – a exigência de que a organização da sociedade civil possua:

a) no mínimo, 3 (três) anos de existência, com cadastro ativo, comprovados por meio de documentação emitida pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, com base no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ;

b) experiência prévia na realização, com efetividade, do objeto da parceria ou de natureza semelhante;

c) capacidade técnica e operacional para o desenvolvimento das atividades previstas e o cumprimento das metas estabelecidas.

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A verificação dos documentos que comprovem o atendimento dos requisitos previstos no inciso VII, acima transcrito, somente será feita depois de encerrada a etapa competitiva e ordenadas as propostas, e apenas serão examinados os documentos da OSC selecionada (art. 28). Caso a OSC selecionada não atenda aos requisitos, aquela imediatamente mais bem classificada será convidada a aceitar a celebração de parceria nos mesmos termos ofertados pela concorrente desqualificada. Se aceitar, serão então verificados os documentos dela. Esse procedimento será seguido sucessivamente, até que se conclua a seleção prevista no edital (art. 28, §§ 1º a 3º).

São vedadas, no edital de convocação, quaisquer cláusulas ou condições que prejudiquem o caráter competitivo do chamamento público, ou que estabeleçam preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou do domicílio dos concorrentes ou de qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto da parceria (art. 24, § 2º).

O edital deverá ser amplamente divulgado em página do sítio oficial do órgão ou entidade na internet (art. 26).

É critério obrigatório de julgamento o grau de adequação da proposta aos objetivos específicos do programa ou ação em que se insere o tipo de parceria e ao valor de referência constante do chamamento público (art. 27).

As propostas serão julgadas por uma comissão de seleção previamente designada por ato publicado em meio oficial de comunicação, sendo, pelo menos, dois terços de seus membros servidores ocupantes de cargos permanentes do quadro de pessoal da administração pública realizadora do chamamento público (arts. 2º, X, e 27, § 1º). Será impedida de participar da comissão de seleção pessoa que, nos últimos cinco anos, tenha mantido relação jurídica com, ao menos, uma das entidades em disputa, devendo, nesse caso, ser designado membro substituto que possua qualificação equivalente à do substituído (art. 27, §§ 2º e 3º)

A administração pública homologará e divulgará o resultado do julgamento em página do sítio oficial da administração pública na internet ou sítio eletrônico oficial equivalente (art. 27, § 4º).

3.6.6.1. Dispensa e inexigibilidade do chamamento público

O chamamento público poderá ser dispensado pela administração pública (art. 30):

I – no caso de urgência decorrente de paralisação ou iminência de paralisação de atividades de relevante interesse público realizadas no âmbito de parceria já celebrada, limitada a vigência da nova parceria ao prazo do termo original, desde que atendida a ordem de classificação do chamamento público, mantidas e aceitas as mesmas condições oferecidas pela organização da sociedade civil vencedora

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do certame;

II – nos casos de guerra ou grave perturbação da ordem pública, para firmar parceria com organizações da sociedade civil que desenvolvam atividades de natureza continuada nas áreas de assistência social, saúde ou educação, que prestem atendimento direto ao público e que tenham certificação de entidade beneficente de assistência social, nos termos da Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009;

III – quando se tratar da realização de programa de proteção a pessoas ameaçadas ou em situação que possa comprometer a sua segurança.

Destaque-se este ponto: a administração poderá decidir, discricionariamente, se dispensará, ou não, o processo seletivo, contanto que esteja caracterizada alguma das situações acima enumeradas.

O chamamento público será considerado inexigível na hipótese de inviabilidade de competição entre as organizações da sociedade civil, em razão da natureza singular do objeto do plano de trabalho ou quando as metas somente puderem ser atingidas por uma entidade específica (art. 31).

A ausência de realização de chamamento público necessita ser detalhadamente justificada pelo administrador público. O extrato da justificativa deverá ser publicado, pelo menos, cinco dias antes da celebração da parceria, sob pena de nulidade do respectivo ato de formalização. A publicação será feita em página do sítio oficial da administração pública na internet e, eventualmente, a critério do administrador público, também no meio oficial de publicidade da administração pública, a fim de garantir ampla e efetiva transparência (art. 32, § 1º).

A justificativa da ausência de realização de chamamento público poderá ser impugnada, desde que a impugnação, cujo teor deve ser analisado pelo administrador público responsável, seja apresentada antes da celebração da parceria. Havendo fundamento na impugnação, será revogado o ato que declarou a dispensa ou considerou inexigível o chamamento público, e será imediatamente iniciado o procedimento para a realização do chamamento público, conforme o caso (art. 32, §§ 2º e 3º).

É pertinente observar que, embora a lei, ao referir-se ao desfazimento, motivado pelo acolhimento da impugnação, do ato que declarou a dispensa ou considerou inexigível o chamamento público, afirme, literalmente, que esse ato será “revogado”, a hipótese, tecnicamente, é de anulação. Ora, se um ato administrativo que exprime a decisão de deixar de realizar chamamento público – o que só pode ser feito nas restritas hipóteses expressamente na lei previstas – é contestado, e as alegações são consideradas procedentes, claro está que o desfazimento será obrigatório, não comportará discricionariedade alguma, não estará sujeito a juízo de conveniência ou oportunidade! Não se trata, portanto, de revogação, e sim de anulação. Além disso, o desfazimento do ato retroagirá, tanto assim que será necessário realizar, efetivamente, um chamamento público.

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3.6.7. Normas relativas à liberação e à aplicação dos recursos transferidos

A Lei 13.019/2014 contém uma grande quantidade de regras sobre a aplicação dos recursos transferidos à OSC parceira – como seria de esperar, boa parte consiste em proibições acerca da realização de despesas com tais recursos. Citamos algumas delas, arroladas no art. 45:

a) é vedado utilizar, ainda que em caráter emergencial, recursos para finalidade diversa da estabelecida no plano de trabalho;

b) é proibido realizar despesas a título de taxa de administração, de gerência ou similar;

c) não podem ser realizadas despesas em data anterior à vigência da parceria;

d) não podem ser efetuados pagamentos em data posterior à vigência da parceria, salvo se houver autorização expressa da autoridade competente da administração pública;

e) não é permitida a realização de despesas com publicidade, salvo as previstas no plano de trabalho e diretamente vinculadas ao objeto da parceria, de caráter educativo, informativo ou de orientação social, das quais não constem nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal;

f) não podem ser efetuadas despesas com obras que caracterizem a ampliação de área construída ou a instalação de novas estruturas físicas.

A OSC deverá dar ampla transparência aos valores pagos a título de remuneração de sua equipe de trabalho vinculada à execução do termo de fomento ou de colaboração (art. 47, § 4º).

As parcelas dos recursos transferidos no âmbito da parceria serão liberadas em estrita conformidade com o cronograma de desembolso aprovado, exceto nos casos a seguir, nos quais ficarão retidas até o saneamento das impropriedades (art. 48):

a) quando houver fundados indícios de não ter ocorrido boa e regular aplicação da parcela anteriormente recebida;

b) quando verificado desvio de finalidade na aplicação dos recursos, atrasos não justificados no cumprimento das etapas ou fases programadas, práticas atentatórias aos princípios fundamentais da administração pública nas contratações e demais atos praticados na execução da parceria ou o inadimplemento da OSC com relação a outras cláusulas básicas;

c) quando a OSC deixar de adotar as medidas saneadoras apontadas pela administração pública ou pelos órgãos de controle interno ou externo.

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Se houver mais de uma parcela de repasse de recursos prevista no plano de trabalho e no cronograma de desembolso, a OSC deverá, para recebimento de cada parcela, estar em situação regular com a execução do plano de trabalho e apresentar a prestação de contas da parcela anterior (art. 49).

A administração pública deverá viabilizar o acompanhamento pela internet dos processos de liberação de recursos referentes às parcerias celebradas com base na Lei 13.019/2014 (art. 50).

Os recursos recebidos em decorrência da parceria serão depositados e geridos em conta bancária específica, em instituição financeira pública indicada pela administração pública, e, enquanto não empregados na sua finalidade, serão obrigatoriamente aplicados em cadernetas de poupança, se a previsão de seu uso for igual ou superior a um mês, ou em fundo de aplicação financeira de curto prazo ou operação de mercado aberto lastreada em títulos da dívida pública, quando o prazo previsto para sua utilização for igual ou inferior a um mês (art. 51).

Havendo relevância para o interesse público, e mediante aprovação pela administração pública de alteração no plano de trabalho, os rendimentos das aplicações financeiras e eventuais saldos remanescentes poderão ser aplicados pela OSC na ampliação de metas do objeto da parceria, desde que ela ainda esteja vigente. Nesse caso, não será necessária a aprovação de novo plano de trabalho, mas é exigida a análise jurídica prévia da minuta do termo aditivo da parceria e a publicação do extrato do termo aditivo em meios oficiais de divulgação (art. 57). É importante frisar que em nenhuma hipótese poderá um termo aditivo implicar alteração do objeto da parceria (art. 2º, XV).

Por ocasião da conclusão, denúncia, rescisão ou extinção da parceria, os saldos financeiros remanescentes, inclusive os provenientes das receitas obtidas das aplicações financeiras realizadas, serão devolvidos à entidade ou órgão repassador dos recursos, no prazo improrrogável de trinta dias do evento, sob pena de imediata instauração de tomada de contas especial do responsável, providenciada pela autoridade competente do órgão ou entidade titular dos recursos (art. 52).

3.6.8. Monitoramento da parceria e prestação de contas

A administração pública está incumbida de realizar procedimentos de fiscalização das parcerias celebradas antes do término da sua vigência, inclusive por meio de visitas in loco, para fins de monitoramento e avaliação do cumprimento do objeto, na forma do regulamento (art. 58). Para executar essa incumbência, o órgão poderá valer-se do apoio técnico de terceiros, delegar competência ou firmar parcerias com órgãos ou entidades que se situem próximos ao local de aplicação dos recursos.

A administração pública emitirá relatório técnico de monitoramento e avaliação da parceria e o submeterá à comissão de monitoramento e avaliação designada, que

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o homologará, independentemente da obrigatoriedade de apresentação da prestação de contas devida pela organização da sociedade civil (art. 59). Conforme a definição vazada no inciso XI do art. 2º da Lei 13.019/2014, a comissão de monitoramento e avaliação é um “órgão colegiado da administração pública destinado a monitorar e avaliar as parcerias” nessa lei disciplinadas, “composto por agentes públicos, designados por ato publicado em meio oficial de comunicação, sendo, pelo menos, 2/3 (dois terços) de seus membros servidores ocupantes de cargos permanentes do quadro de pessoal da administração pública realizadora do chamamento público”.

Sem prejuízo da fiscalização pela administração pública e pelos órgãos de controle, a execução da parceria poderá ser acompanhada e fiscalizada pelos conselhos de políticas públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, em cada esfera de governo (art. 60).

Na hipótese de não execução ou má execução de parceria em vigor ou de parceria não renovada, exclusivamente para assegurar o atendimento de serviços essenciais à população, a administração pública poderá, por ato próprio e independentemente de autorização judicial, a fim de realizar ou manter a execução das metas ou atividades pactuadas (art. 62):

I – retomar os bens públicos em poder da organização da sociedade civil parceira, qualquer que tenha sido a modalidade ou título que concedeu direitos de uso de tais bens;

II – assumir a responsabilidade pela execução do restante do objeto previsto no plano de trabalho, no caso de paralisação ou da ocorrência de fato relevante, de modo a evitar sua descontinuidade, devendo ser considerado na prestação de contas o que foi executado pela organização da sociedade civil até o momento em que a administração assumiu essas responsabilidades.

A Lei 13.019/2014 define “prestação de contas” como “procedimento em que se analisa e se avalia a execução da parceria quanto aos aspectos de legalidade, legitimidade, economicidade, eficiência e eficácia, pelo qual seja possível verificar o cumprimento do objeto da parceria e o alcance das metas e dos resultados previstos” (art. 2º, XIV). A prestação de contas compreende duas fases, a saber: (a) apresentação das contas, de responsabilidade da organização da sociedade civil; e (b) análise e manifestação conclusiva das contas, de responsabilidade da administração pública, sem prejuízo da atuação dos órgãos de controle.

A lei autoriza o regulamento a estabelecer procedimentos diferenciados para prestação de contas, com base na complexidade do objeto, desde que o valor da parceria seja inferior a seiscentos mil reais (art. 63, § 3º).

A prestação de contas apresentada pela OSC deverá conter elementos que permitam ao gestor da parceria avaliar o andamento ou concluir que o seu objeto

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foi executado conforme pactuado, com a descrição pormenorizada das atividades realizadas e a comprovação do alcance das metas e dos resultados esperados, até o período de que trata a prestação de contas (art. 64).

A prestação de contas relativa à execução do termo de colaboração ou de fomento será feita na forma e periodicidade previstas no plano de trabalho, que deverão ser compatíveis com o período de realização das etapas vinculadas às metas e com o período de vigência da parceria, não se admitindo periodicidade superior a um ano ou que dificulte a verificação física do cumprimento. Na prestação de contas, serão analisados os documentos previstos no plano de trabalho, além dos seguintes relatórios (art. 66):

I – Relatório de Execução do Objeto, elaborado pela organização da sociedade civil, assinado pelo seu representante legal, contendo as atividades desenvolvidas para o cumprimento do objeto e o comparativo de metas propostas com os resultados alcançados, a partir do cronograma acordado, anexando-se documentos de comprovação da realização das ações, tais como listas de presença, fotos e vídeos, se for o caso;

II – Relatório de Execução Financeira, assinado pelo seu representante legal e o contador responsável, com a descrição das despesas e receitas efetivamente realizadas.

O órgão público signatário do termo de colaboração ou do termo de fomento deverá considerar ainda em sua análise os seguintes relatórios elaborados internamente (art. 66, parágrafo único):

a) relatório da visita técnica in loco realizada para fins de monitoramento e avaliação do cumprimento do objeto durante a execução da parceria;

b) relatório técnico de monitoramento e avaliação, homologado pela comissão de monitoramento e avaliação designada, sobre a conformidade do cumprimento do objeto e os resultados alcançados durante a execução do termo de colaboração ou de fomento.

O gestor emitirá parecer técnico de análise de prestação de contas da parceria celebrada. No caso de parcela única, o gestor emitirá parecer técnico conclusivo para fins de avaliação do cumprimento do objeto. Se prevista mais de uma parcela, a OSC deverá apresentar prestação de contas parcial, para fins de monitoramento do cumprimento das metas do objeto vinculadas à parcela liberada. Essa prestação de contas parcial deverá ser analisada no prazo definido no plano de trabalho aprovado (art. 67).

Os pareceres técnicos citados no parágrafo anterior deverão, obrigatoriamente, mencionar: (a) os resultados já alcançados e seus benefícios; (b) os impactos

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econômicos ou sociais; (c) o grau de satisfação do público-alvo; (d) a possibilidade de sustentabilidade das ações após a conclusão do objeto pactuado.

Constatada irregularidade ou omissão na prestação de contas, será concedido prazo para a OSC sanar a irregularidade ou cumprir a obrigação. Esse prazo é limitado a quarenta e cinco dias por notificação, prorrogável, no máximo, por igual período, dentro do prazo que a administração pública possui para analisar e decidir sobre a prestação de contas e comprovação de resultados. Transcorrido o prazo para saneamento da irregularidade ou da omissão, não havendo o saneamento, a autoridade administrativa competente, sob pena de responsabilidade solidária, deve adotar as providências para apuração dos fatos, identificação dos responsáveis, quantificação do dano e obtenção do ressarcimento, nos termos da legislação vigente (art. 70).

As prestações de contas serão avaliadas (art. 72):

I – regulares, quando expressarem, de forma clara e objetiva, a exatidão dos demonstrativos contábeis, a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos de gestão do responsável;

II – regulares com ressalva, quando evidenciarem impropriedade ou qualquer outra falta de natureza formal de que não resulte em dano ao erário;

III – irregulares, quando comprovada qualquer das seguintes ocorrências:

a) omissão no dever de prestar contas;

b) prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo ou antieconômico, ou de infração a norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial;

c) dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico;

d) desfalque ou desvio de dinheiro, bens ou valores públicos.

A autoridade competente para assinar o termo de fomento ou de colaboração é a responsável pela decisão sobre a aprovação da prestação de contas, tendo como base os pareceres técnico e financeiro, sendo permitida delegação a autoridades diretamente subordinadas, vedada a subdelegação (art. 72, parágrafo único).

A OSC está obrigada a prestar as contas finais da boa e regular aplicação dos recursos recebidos no prazo de até noventa dias a partir do término da vigência da parceria, conforme estabelecido no respectivo instrumento. Esse prazo poderá ser prorrogado por até trinta dias, desde que devidamente justificado (art. 69, § 4º).

Durante o prazo de dez anos, contado do dia útil subsequente ao da prestação de contas, a OSC deve manter em seu arquivo os documentos originais que compõem a prestação de contas (art. 68, parágrafo único).

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3.6.9. Sanções administrativas e responsabilidades

Pela execução da parceria em desacordo com o plano de trabalho e com as normas da Lei 13.019/2014 e da legislação específica, a administração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar à OSC parceira as seguintes sanções (art. 73):

I – advertência;

II – suspensão temporária da participação em chamamento público e impedimento de celebrar termos de fomento, termos de colaboração e contratos com órgãos e entidades da esfera de governo da administração pública sancionadora, por prazo não superior a 2 (dois) anos;

III – declaração de inidoneidade para participar em chamamento público ou celebrar termos de fomento, termos de colaboração e contratos com órgãos e entidades de todas as esferas de governo, enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que a organização da sociedade civil ressarcir a administração pelos prejuízos resultantes, e após decorrido o prazo da sanção aplicada com base no inciso II deste artigo.

A declaração de inidoneidade acima referida é de competência exclusiva do Ministro de Estado ou do Secretário estadual ou municipal, conforme o caso, facultada a defesa do interessado no respectivo processo, no prazo de dez dias da abertura de vista, podendo a reabilitação ser requerida após dois anos de sua aplicação (art. 73, parágrafo único).

O responsável por parecer técnico que conclua indevidamente que a OSC tem capacidade operacional e técnica para executar determinada parceria responderá administrativa, penal e civilmente, caso tenha agido com dolo ou culpa, pela restituição aos cofres públicos dos valores repassados, sem prejuízo da responsabilidade do administrador público, do gestor, da OSC e de seus dirigentes (art. 75).

A pessoa que atestar ou o responsável por parecer técnico que concluir que foram realizadas determinadas atividades ou cumpridas metas estabelecidas responderá administrativa, penal e civilmente pela restituição aos cofres públicos dos valores repassados, caso se verifique que as atividades não foram realizadas tal como afirmado ou que as metas não foram integralmente cumpridas (art. 76).

Por fim, a Lei 13.019/2014 alterou a Lei 8.429/1992 – que disciplina e sanciona os atos de improbidade administrativa – para incluir, nas listas de atos de improbidade administrativa que causam lesão ao erário (art. 10) e que atentam contra os princípios da administração pública (art. 11), diversas condutas

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ilícitas relacionadas à celebração de parcerias da administração pública com entidades privadas (não restritas especificamente às parcerias regidas pela Lei 13.019/2014).

CAPÍTULO 5

1) No item 7.1, foi feita a substituição abaixo indicada:

7.1. Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011)

.................

O Decreto 7.724/2012 explicitamente determina que sejam divulgadas, em seção específica dos sítios na internet dos órgãos e entidades do Poder Executivo federal, informações, entre outras, sobre “remuneração e subsídio recebidos por ocupante de cargo, posto, graduação, função e emprego público, incluindo auxílios, ajudas de custo, jetons e quaisquer outras vantagens pecuniárias, bem como proventos de aposentadoria e pensões daqueles que estiverem na ativa, de maneira individualizada, conforme ato do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão” (art. 7.º, § 3.º, VI). O próprio decreto, contudo, exclui dessa regra as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas pela União que atuem no domínio econômico em regime de concorrência, sujeitas ao art. 173 da Constituição. A divulgação de informações concernentes a essas entidades submete-se às normas da Comissão de Valores Mobiliários, a fim de assegurar sua competitividade, governança corporativa e, quando houver, os interesses de acionistas minoritários (art. 5.º, § 1.º, e art. 7.º, § 5.º).

Vem a propósito mencionar que, de forma ampla, a questão referente à constitucionalidade da divulgação da remuneração, individualmente identificada, de agentes públicos – e à possibilidade de responsabilização do Estado por eventuais danos que em razão dela algum agente público venha a sofrer concretamente – ainda não recebeu uma decisão jurisdicional definitiva do Supremo Tribunal Federal. A matéria teve a repercussão geral reconhecida no âmbito do ARE-RG 652.777/SP, rel. Min. Teori Zavascki, mas, até o fechamento desta edição, o seu mérito ainda não fora julgado. Não obstante, é pertinente registrar que o STF já decidiu favoravelmente à divulgação em diversas oportunidades (mas nenhuma delas com efeitos gerais).17

Aliás, como decorrência da entrada em vigor da Lei 12.527/2011, nossa Corte

17 São exemplos, dentre outros: SS-AgR 3.902/SP, rel. Min. Ayres Britto, 09.06.2011 (decisão do Plenário – vide

Informativo 630 do STF); ACO 1.993/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 14.08.2012; SL 689/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 15.04.2013; MS-MC 32.020/DF, rel. Min. Rosa Weber, 15.05.2013; AO 1.823/MG, rel. Min. Luiz Fux, 14.10.2013.

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Suprema, em decisão administrativa de 22.05.2012, deliberou, por unanimidade, “divulgar, de forma ativa e irrestrita, os subsídios dos ministros e a remuneração dos servidores do quadro de pessoal do Supremo Tribunal Federal, assim como os proventos dos ministros aposentados, dos servidores inativos e dos pensionistas”. Ao que tudo indica, a divulgação ora em análise, quando for definitivamente julgada pelo STF, será considerada perfeitamente compatível com a Carta da República de 1988.

O Decreto 7.724/2012 explicitamente determina que sejam divulgadas, em seção específica dos sítios na internet dos órgãos e entidades do Poder Executivo federal, informações, entre outras, sobre “remuneração e subsídio recebidos por ocupante de cargo, posto, graduação, função e emprego público, incluindo auxílios, ajudas de custo, jetons e quaisquer outras vantagens pecuniárias, bem como proventos de aposentadoria e pensões daqueles que estiverem na ativa, de maneira individualizada” (art. 7.º, § 3.º, VI). Exclui dessa regra, porém, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas pela União que atuem no domínio econômico em regime de concorrência, sujeitas ao art. 173 da Constituição. A divulgação de informações concernentes a essas entidades submete-se às normas da Comissão de Valores Mobiliários, a fim de assegurar sua competitividade, governança corporativa e, quando houver, os interesses de acionistas minoritários (art. 5.º, § 1.º, e art. 7.º, § 5.º).

No âmbito do Poder Judiciário, a Resolução 151/2012 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – que não alcança o Supremo Tribunal Federal – determina que sejam publicadas nos sítios oficiais na internet dos respectivos órgãos “as remunerações, diárias, indenizações e quaisquer outras verbas pagas aos membros da magistratura e aos servidores a qualquer título, colaboradores e colaboradores eventuais ou deles descontadas, com identificação nominal do beneficiário e da unidade na qual efetivamente presta os seus serviços”. Essa disposição foi impugnada e o Ministro Luiz Fux, em decisão monocrática, invocando precedente do Plenário do STF, declarou que ela “reveste-se de legalidade”.18 Aliás, um pouco antes da referida resolução do CNJ, o próprio Supremo Tribunal Federal, em decisão administrativa de 22.05.2012, havia deliberado, por unanimidade, “divulgar, de forma ativa e irrestrita, os subsídios dos ministros e a remuneração dos servidores do quadro de pessoal do Supremo Tribunal Federal, assim como os proventos dos ministros aposentados, dos servidores inativos e dos pensionistas”.

Não obstante todos esses atos administrativos de caráter normativo, e a existência de inúmeras decisões judiciais na mesma direção, ainda não podemos, rigorosamente, afirmar que, de forma ampla, a questão concernente à constitucionalidade da divulgação da remuneração, individualmente identificada, de agentes públicos – e à possibilidade de responsabilização do Estado por eventuais danos que em razão dela algum agente público venha a sofrer concretamente – já tenha sido objeto de uma decisão jurisdicional definitiva do Supremo Tribunal Federal. A matéria teve a repercussão geral reconhecida no âmbito do ARE-RG 652.777/SP, rel. Min. Teori Zavascki, mas, até o fechamento desta edição, o seu mérito ainda não fora julgado. Ao que tudo indica, a divulgação ora em análise, quando for definitivamente julgada pelo

18 MS 31.580/DF, rel. Min. Luiz Fux, 01.10.2014. Precedente do Plenário do STF citado: SS-AgR 3.902/SP, rel. Min. Ayres Britto, 09.06.2011 (vide Informativo 630 do STF).

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STF, será considerada perfeitamente compatível com a Carta da República de 1988.19

Outra importante diretriz aduzida no art. 3.º da LAI é a de que a observância da publicidade é a regra geral e o sigilo é exceção. Nos termos dessa lei, informação sigilosa é “aquela submetida temporariamente à restrição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado”. Frise-se este ponto: nenhuma informação que o poder público detenha pode ser mantida em segredo eterno sob alegação de se tratar de informação cujo sigilo seria “imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.

.........................

CAPÍTULO 7

1) No item 1.1.2, foi feita a substituição abaixo indicada:

1.1.2. Requisitos para o acesso a cargos e empregos públicos

....................

A rigor, para mais da necessidade de que o limite de idade (mínimo ou máximo) seja estabelecido em lei, há que se observar o disposto na Súmula 683 do STF: “O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7.º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”.

Dessa forma, nem mesmo a lei é livre para criar requisitos legais como condição para a participação em concursos ou o ingresso em cargos e empregos públicos, uma vez que sempre deverão ser respeitados princípios constitucionais tais como os da isonomia, da razoabilidade e da impessoalidade. Ou seja, os requisitos legais a que se refere o inciso I do art. 37 da Constituição devem, obrigatoriamente, mostrar-se imprescindíveis ao adequado desempenho da função pública correspondente, sendo vedado à própria lei o estabelecimento de exigências desnecessárias, desarrazoadas, desproporcionalmente restritivas ou puramente discriminatórias.

A rigor, para mais da necessidade de que o limite de idade (mínimo ou máximo) seja estabelecido em lei, há que se observar o disposto na Súmula 683 do STF: “O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7.º, XXX, da

19 Há muitas decisões do STF favoráveis à divulgação individualizada das remunerações de agentes públicos, conquanto,

até agora, nenhuma com eficácia geral ou efeitos vinculantes. Além da decisão do Plenário já mencionada (SS-AgR 3.902/SP, rel. Min. Ayres Britto, 09.06.2011), citamos, como exemplos, as decisões monocráticas proferidas nas seguintes ações: ACO 1.993/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 14.08.2012; SL 689/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 15.04.2013; MS-MC 32.020/DF, rel. Min. Rosa Weber, 15.05.2013; AO 1.823/MG, rel. Min. Luiz Fux, 14.10.2013.

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Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”. Cabe observar que a leitura do enunciado da Súmula 683 do STF permite inferir que o momento a ser levado em consideração para que se verifique o cumprimento, ou não, do requisito de idade é a data da inscrição no concurso. E o Supremo Tribunal Federal, apreciando casos de imposição de limite máximo de idade (muito comum em certames para ingresso nas diversas polícias), explicitou, mais de uma vez, que, realmente, “a comprovação do requisito etário estabelecido na lei deve ocorrer no momento da inscrição no certame”.20

Enfim, nem mesmo a lei é livre para criar requisitos legais como condição para a participação em concursos ou o ingresso em cargos e empregos públicos, uma vez que sempre deverão ser respeitados princípios constitucionais tais como os da isonomia, da razoabilidade e da impessoalidade. Ou seja, os requisitos legais a que se refere o inciso I do art. 37 da Constituição devem, obrigatoriamente, mostrar-se imprescindíveis ao adequado desempenho da função pública correspondente, sendo vedado à própria lei o estabelecimento de exigências desnecessárias, desarrazoadas, desproporcionalmente restritivas ou puramente discriminatórias.

Nessa linha, já asseverou o Supremo Tribunal Federal (...)

....................

2) No item 1.1.3, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

1.1.3. Exigência de concurso público

....................

A exigência de títulos em concursos públicos somente se justifica para cargos ou empregos cujas atribuições dependam de especial conhecimento técnico ou científico, por exemplo, certos cargos privativos de médico ou de engenheiro, cargo de perito criminal em determinada área de especialização, cargos da carreira diplomática etc. Nada justifica a exigência de títulos em cargos de atribuições genéricas cujo desempenho não se relacione a qualquer área específica de formação, nem demande maiores habilidades ou aprofundamentos técnicos, científicos ou acadêmicos. Cumpre observar que, dependendo do caso, a exigência pura e simples de um dado título pode configurar um mero requisito de habilitação para exercício do cargo ou emprego, cabível em qualquer concurso (desde que previsto em lei), mesmo que só de provas. Rigorosamente, só há um concurso de provas e títulos quando existe uma fase de atribuição de pontos a cada título apresentado pelo candidato que se enquadre entre os previstos em uma lista, sempre conforme prévia e detalhada especificação do edital – por exemplo, 15 pontos para mestrado, 25 para doutorado, 12 para certificado de proficiência em certa língua estrangeira etc.

O Supremo Tribunal Federal já deixou assente que, além da necessidade de que

20 ARE-AgR 685.870/MG, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.12.2013. No mesmo sentido: ARE-AgR 730.959/BA, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.03.2013.

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exista uma relação lógica entre os títulos exigidos ou aceitos como fator de pontuação dos candidatos e a natureza das atribuições do cargo ou emprego público, é imperioso que essa pontuação seja razoável, que os pontos máximos que possam ser atingidos com os títulos não representem uma parcela excessiva do total de pontos do concurso. Tanto a exigência de títulos arbitrários, prescindíveis para o exercício do cargo, quanto a atribuição de pontuação desmesurada aos títulos ferem o princípio da isonomia, além de afrontarem os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.21

Ademais, o Supremo Tribunal Federal já deixou assente que “as provas de títulos em concursos públicos para provimento de cargos efetivos no seio da administração pública brasileira, qualquer que seja o Poder de que se trate ou o nível federativo de que se cuide, não podem ostentar natureza eliminatória, prestando-se apenas para classificar os candidatos, sem jamais justificar sua eliminação do certame”.22 Impende repetir: as provas de títulos em concursos públicos devem ter caráter exclusivamente classificatório, nunca eliminatório.

Sem embargo dessa orientação, cumpre anotar que a Constituição Federal, desde logo, exige ingresso nas respectivas carreiras mediante concurso público de provas e títulos para: os membros da magistratura (art. 93, I); os membros do Ministério Público (art. 129, § 3.º); os integrantes da Advocacia Pública (art. 131, § 2.º, e art. 132); os integrantes das Defensorias Públicas (art. 134, § 1.º); os profissionais da educação escolar das redes públicas (art. 206, V).

....................

Nosso Pretório Supremo também considera compatível com o Texto Magno a

previsão, em edital de concurso público, da assim chamada “cláusula de barreira”.23 Tem-se um concurso com “cláusula de barreira” quando ele possui mais de uma etapa e o edital estipula que só poderá fazer as provas da fase seguinte um número certo e restrito de candidatos, observada a ordem de classificação na etapa anterior, sendo os demais candidatos eliminados do certame. Diz-se que esses candidatos que não poderão fazer a etapa seguinte ficaram abaixo da “nota de corte”, a qual corresponde à pontuação obtida pelo último colocado dentre aqueles candidatos que prosseguirão no certame e farão as provas das próximas etapas. Observe-se que a “nota de corte” só se torna conhecida depois que a prova é realizada, diferentemente da pontuação mínima de habilitação, a qual já vem fixada de forma incondicional no edital – às vezes para cada disciplina ou conjunto de disciplinas de uma prova – e implica a eliminação do candidato que não consiga atingi-la em qualquer caso (independentemente das notas dos demais).

Merece ser transcrito este preciso trecho da ementa de acórdão do STF sobre o tema

21 ADI 3.522/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 24.11.2005. 22 MS 31.176/DF, rel. Min. Luiz Fux, 02.09.2014 (vide Informativo 757 do STF). No mesmo sentido: AI-AgR 194.188/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 30.03.1998; MS 32.074/DF, rel. Min. Luiz Fux, 02.09.2014. 23 RMS 23.586/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 25.10.2011.

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em pauta:24

Não viola a Constituição Federal a limitação, pelo edital do concurso, do número de candidatos que participarão das fases subsequentes do certame, ainda que importe na eliminação de participantes que, não obstante tenham atingido as notas mínimas necessárias à habilitação, tenham se classificado além do número de vagas previsto no instrumento convocatório.

A jurisprudência do STF também considera compatível com a Constituição da República a previsão, em editais de concursos públicos, das assim chamadas “cláusulas de barreira”.25 Em decisão proferida em recurso extraordinário julgado na sistemática de repercussão geral, consignou nossa Corte Suprema que os editais de concursos públicos podem, validamente, sem que isso represente ofensa ao princípio da isonomia, estabelecer regras restritivas, as quais, didaticamente, subdividem-se em “eliminatórias” e “cláusulas de barreira”. As eliminatórias acarretam a eliminação do candidato do concurso por insuficiência em algum aspecto de seu desempenho, independentemente do desempenho dos demais candidatos. A conjunção de regra eliminatória com cláusula de barreira implica restringir o número de candidatos que passará para a fase seguinte do certame, determinando que, dentro do universo de pessoas não excluídas pela regra eliminatória, participará da etapa subsequente apenas um número predeterminado de concorrentes, de modo a contemplar somente os mais bem classificados. A cláusula de barreira não produz eliminação de candidato por não atingir um desempenho mínimo predeterminado, mas estipula um corte deliberado no número de concorrentes que poderão participar de fase posterior do certame.

Em suma, tem-se um concurso com “cláusula de barreira” quando ele é constituído de mais de uma etapa e o edital estipula que, dentre os candidatos não eliminados por insuficiência de desempenho, só um número certo e restrito, observada a ordem de classificação, poderá fazer as provas da fase seguinte, sendo os demais candidatos impedidos de prosseguir no certame (muito embora estes não tenham sido eliminados por não atingirem requisitos mínimos predeterminados e aplicáveis a todos). Diz-se que esses candidatos que não poderão fazer a etapa seguinte ficaram abaixo da “nota de corte”, a qual corresponde à pontuação obtida pelo último colocado dentre aqueles candidatos que prosseguirão no certame e farão as provas das próximas etapas. Observe-se que a “nota de corte” só se torna conhecida depois que a prova é realizada, diferentemente da pontuação mínima estipulada para a não eliminação, a qual já vem fixada de forma incondicional no edital – às vezes para cada disciplina ou conjunto de disciplinas de uma prova – e implica a eliminação do candidato que não consiga atingi-la em qualquer caso (independentemente das notas dos demais).

Ainda, o STF definiu que a “cláusula de barreira”, quando houver, é aplicável a todos os candidatos, inclusive àqueles que estejam concorrendo a vagas reservadas, na

24 AI-AgR 735.389/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 11.09.2012. 25 RMS 23.586/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 25.10.2011; AI-AgR 735.389/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 11.09.2012; ARE-AgR

656.360/BA, rel. Min. Dias Toffoli, 17.12.2013; RE 635.739/AL (repercussão geral), rel. Min. Gilmar Mendes, 19.02.2014 (vide Informativo 736 do STF).

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qualidade de pessoa com deficiência (...)

..............

3) No item 1.1.3.1, foi feita a substituição abaixo indicada:

1.1.3.1. Testes psicotécnicos

..............

Em suma, para que exames psicotécnicos possam ser exigidos em concursos públicos é necessário o cumprimento dos seguintes requisitos, cumulativamente:

a) previsão em lei (não basta a exigência no edital do concurso);

b) estabelecimento de critérios objetivos de reconhecido caráter científico para a avaliação dos candidatos;

c) possibilidade de recurso.

Em suma, para que exames psicotécnicos possam ser exigidos em concursos públicos é necessário o cumprimento dos seguintes requisitos, cumulativamente:26

a) previsão em lei e também no edital do concurso;

b) estabelecimento de critérios objetivos de reconhecido caráter científico para a avaliação dos candidatos;

c) possibilidade de recurso.

..............

4) No item 1.1.3.4, foram feitos o acréscimo e a substituição abaixo indicados:

1.1.3.4. Desrespeito à exigência de concurso público e desvio de função

..............

Dessa forma, sob a Constituição de 1988, não é possível a convalidação de ato de nomeação ou contratação para cargo ou emprego efetivo que não tenha sido precedido de aprovação em concurso público, em hipótese nenhuma. Nem mesmo a estabilização

26 RE-AgR 782.997/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 18.02.2014.

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da relação jurídica por decurso de tempo é possível, uma vez que o Supremo Tribunal Federal entende que não ocorre jamais a decadência quando se trata de anulação de ato que contrarie frontalmente exigência expressa na Constituição Federal.27

Nesse mesmo diapasão, não admite nosso Pretório Supremo a aplicação da assim chamada “teoria do fato consumado” para que se mantenha no cargo a pessoa que, sem ter sido devidamente aprovada no concurso público correspondente – por ter sido reprovada em alguma de suas fases, ou não ter concluído todas as etapas previstas no edital –, tenha tomado posse por força de decisão judicial de caráter provisório, posteriormente revogada, cassada ou, de algum modo, desconstituída ou tornada ineficaz. Nessa hipótese, aquela pessoa será desligada do cargo, mesmo que já esteja no seu exercício há vários anos e, em todo esse período, tenha demonstrado possuir indiscutível aptidão para o desempenho das respectivas atribuições. Transcrevemos trecho de ementa de acórdão ilustrativo dessa posição jurisprudencial:28

1. Não é compatível com o regime constitucional de acesso aos cargos públicos a manutenção no cargo, sob fundamento de fato consumado, de candidato não aprovado que nele tomou posse em decorrência de execução provisória de medida liminar ou outro provimento judicial de natureza precária, supervenientemente revogado ou modificado.

2. Igualmente incabível, em casos tais, invocar o princípio da segurança jurídica ou o da proteção da confiança legítima. É que, por imposição do sistema normativo, a execução provisória das decisões judiciais, fundadas que são em títulos de natureza precária e revogável, se dá, invariavelmente, sob a inteira responsabilidade de quem a requer, sendo certo que a sua revogação acarreta efeito ex tunc, circunstâncias que evidenciam sua inaptidão para conferir segurança ou estabilidade à situação jurídica a que se refere.

Vale observar que a pessoa nomeada ou contratada sem concurso público, quando ele fosse exigido, será obrigatoriamente desligada do serviço público, mas a remuneração que tiver recebido pelo trabalho efetivamente prestado não será devolvida, para não proporcionar ao Estado enriquecimento sem causa.

Ademais, já declarou a Suprema Corte, com repercussão geral, que é compatível com a Carta da República o art. 19-A da Lei 8.036/1990, que assegura o direito ao FGTS, desde que reconhecido o direito ao salário, à pessoa que tenha indevidamente ingressado no serviço público sem concurso. Consoante a ementa do acórdão relativo a essa decisão, “mesmo quando reconhecida a nulidade da contratação do empregado público, nos termos do art. 37, § 2.º, da Constituição Federal, subsiste o direito do trabalhador ao depósito do FGTS quando reconhecido ser devido o salário pelos serviços prestados”.29

No caso de empregados públicos (regime trabalhista) contratados sem concurso, além do direito à percepção dos salários referentes ao período trabalhado, é devido pelo empregador o depósito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) na respectiva

27 MS 28.279/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 16.12.2010. 28 RE 608.482/RN (repercussão geral), rel. Min. Teori Zavascki, 07.08.2014 (vide Informativo 753 do STF). 29 RE 596.478/RR, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 13.06.2012 (vide Informativo 670 do STF).

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conta vinculada. De fato, o art. 19-A da Lei 8.036/1990, que assegura o direito ao FGTS, desde que reconhecido o direito ao salário, à pessoa que tenha indevidamente ingressado no serviço público sem concurso, foi declarado compatível com a Carta da República pelo Supremo Tribunal Federal, nestes termos (grifamos):30

Mesmo quando reconhecida a nulidade da contratação do empregado público, nos termos do art. 37, § 2º, da Constituição Federal, subsiste o direito do trabalhador ao depósito do FGTS quando reconhecido ser devido o salário pelos serviços prestados.

Nossa Corte Suprema, porém, deixou assente que, excetuadas essas duas consequências – direito aos salários e ao FGTS –, nenhum outro efeito jurídico válido pode advir das contratações viciadas pela nulidade prevista no § 2º do art. 37 ora em foco. Assim, ressalvado o direito aos salários pelos serviços efetivamente prestados e aos correspondentes depósitos do FGTS, o empregado público que tenha a sua contratação declarada nula por haver ingressado no serviço público sem a obrigatória aprovação prévia em concurso público não fará jus a nenhuma das verbas ordinariamente devidas aos empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como decorrência da rescisão dos seus contratos de trabalho, tais quais aviso prévio indenizado, gratificação natalina, férias e respectivo adicional de um terço do salário normal, indenização referente ao seguro-desemprego, entre outras.31

Relacionada a esse tema, é importante fazer uma observação acerca das situações em que a administração pública perpetra o denominado “desvio de função” (...)

.......................

5) No item 1.1.5, foi feita a substituição abaixo indicada:

1.1.5. Direito à nomeação

........................

Não podemos deixar de comentar que, a nosso ver, há um risco de que o direito subjetivo à nomeação assegurado de forma tão alvissareira, e veemente, pelo Tribunal Maior venha a ser artificiosamente contornado. A burla consistiria na adoção, por parte de órgãos e entidades administrativos, em alguns entes federados, do expediente espúrio de sistematicamente elaborar editais, para os concursos públicos que promovam, nos quais não seja estabelecido número certo de vagas nem previsão de nomeação de candidato algum. Esse modelo de edital, aliás, é bastante usual – e a verdade é que ele não surgiu com o objetivo de frustrar a nova orientação jurisprudencial do STF, haja vista ser bem mais antigo do que ela. Geralmente é utilizado quando o órgão ou a entidade administrativa 30 RE 596.478/RR (repercussão geral), red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 13.06.2012 (vide Informativo 670 do STF). 31 RE 705.140/RS (repercussão geral), rel. Min. Teori Zavascki, 28.08.2014 (vide Informativo 756 do STF).

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deseja apenas formar os denominados “cadastros de reserva” para futuras e eventuais nomeações, caso venham a ser necessárias.

Não podemos deixar de comentar que, a nosso ver, há um risco de que o direito subjetivo à nomeação assegurado de forma tão alvissareira, e veemente, pelo Tribunal Maior venha a ser artificiosamente contornado. A burla consistiria na adoção, por parte de órgãos e entidades administrativos, em alguns entes federados, do expediente espúrio de sistematicamente elaborar editais, para os concursos públicos que promovam, nos quais não seja estabelecido número certo de vagas nem previsão de nomeação de candidato algum. Esse modelo de edital, aliás, é bastante usual – e a verdade é que ele não surgiu com o objetivo de frustrar a nova orientação jurisprudencial do STF, haja vista ser bem mais antigo do que ela. Geralmente é utilizado quando o órgão ou a entidade administrativa deseja apenas formar os denominados “cadastros de reserva” para futuras e eventuais nomeações, caso venham a ser necessárias. E nossa jurisprudência é pacífica quanto ao entendimento de que o “candidato aprovado em certame para formação de reserva não tem direito subjetivo à nomeação, mas mera expectativa”.32

......................

6) No item 1.1.7, foi feita a substituição abaixo indicada:

1.1.7. Reserva de percentual de cargos e empregos para candidatos com deficiência

..................

Outro problema comum para a administração é conseguir determinar se a deficiência apresentada pelo candidato aprovado em um concurso é compatível com o cargo para o qual ele concorreu, ou se ela impossibilita o exercício das atribuições desse cargo.

Por outro lado, há decisões, do STF e do STJ, que não admitem a surdez unilateral como condição suficiente para ensejar o direito de o candidato participar em concurso público na qualidade de deficiente auditivo. O fundamento é a redação dada pelo Decreto 5.296/2004 ao inciso II do art. 4º do Decreto 3.298/1999, que passou a definir como deficiência auditiva apenas a surdez bilateral.33

Embora devesse ser considerado um tanto óbvio, o Supremo Tribunal Federal já precisou esclarecer que não se pode estabelecer, como critério para permitir que a pessoa concorra às vagas reservadas, a exigência de que a deficiência por ela apresentada dificulte o desempenho das funções inerentes ao cargo. Em outras palavras, para poder postular as vagas reservadas no certame, basta que o candidato realmente

32 MS-AgR 31.790/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 20.04.2014. No mesmo sentido: MS-ED 31.732/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 03.12.2013. 33 Do STF: MS-AgR 29.910/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 21.06.2011. Do STJ: MS 18.966/DF, red. para o acórdão Min. Humberto Martins, 02.10.2013 (vide Informativo 535 do STJ).

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apresente alguma deficiência, ainda que esta não represente absolutamente nenhum embaraço para o desempenho das atribuições do cargo para o qual ele esteja concorrendo.34

Maiores dificuldades podem surgir para a administração determinar se a deficiência apresentada pelo candidato aprovado no concurso é compatível com o cargo respectivo, ou se ela implica limitações de tal monta que chegam a inviabilizar o exercício das atribuições desse cargo.

O Decreto 3.298/1999, no caput de seu art. 37, assegura ao portador de deficiência o direito de se inscrever em concurso público “para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que é portador”. Em seguida, no inciso II de seu art. 38, estatui que essa regra não se aplica “nos casos de provimento de cargo ou emprego público integrante de carreira que exija aptidão plena do candidato”.

.................

7) No item 1.1.9, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

1.1.9. Contratação por tempo determinado

.......................

É relevante registrar que o Supremo Tribunal Federal, em inúmeros julgados, envolvendo diversos entes federados, firmou a orientação de que as lides entre o Poder Público contratante e os agentes públicos temporários contratados com base no inciso IX do art. 37 da Constituição da República não são da competência da Justiça do Trabalho, e sim da Justiça Comum, federal ou estadual (ou do Distrito Federal), conforme o caso.35 Por outras palavras, os agentes públicos temporários federais, quanto às causas relacionadas à sua relação funcional com a administração pública federal, têm foro na Justiça Federal; os agentes públicos temporários estaduais, municipais ou distritais, quanto às lides atinentes à sua relação funcional com a administração pública do respectivo ente federado, têm foro na Justiça Estadual (ou do Distrito Federal).

Por não estarem os agentes públicos temporários contratados com base no inciso IX do art. 37 da Constituição sujeitos a regime trabalhista, o Supremo Tribunal Federal já pacificou o entendimento de que as lides entre eles e o poder público contratante não são da competência da Justiça do Trabalho, e sim da Justiça Comum, federal ou estadual, conforme o caso.36 Por outras palavras, os agentes públicos temporários federais, quanto

34 RMS-AgR 32.732/DF, rel. Min. Celso de Mello, 03.06.2014. 35 Vejam-se, entre muitos outros: RE 573.202/AM, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 21.08.2008 (decisão de mérito com

repercussão geral); CC 7.201/AM, rel. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, 29.10.2008; Rcl 4.464/GO, rel. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, 20.05.2009; Rcl 10.506/TO, rel. Min. Cármen Lúcia, 10.09.2010; Rcl 4.772/SE, rel. Min. Joaquim Barbosa, 02.12.2010.

36 Vejam-se, entre muitos outros: RE 573.202/AM, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 21.08.2008 (decisão de mérito com

repercussão geral); Rcl 4.464/GO, rel. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, 20.05.2009; Rcl 4.772/SE, rel. Min. Joaquim Barbosa, 02.12.2010.

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às causas relacionadas à sua relação funcional com a administração pública federal, têm foro na Justiça Federal; os agentes públicos temporários estaduais e municipais, quanto às demandas atinentes à sua relação funcional com a administração pública do respectivo ente federado, têm foro na Justiça Estadual.

Não obstante o fato de não serem os agentes públicos contratados por tempo determinado regidos pela CLT, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se pela aplicabilidade, a eles, dos direitos sociais constitucionais previstos no art. 7º da Carta de 1988. Veja-se, como exemplo, este excerto da ementa de acórdão da Corte Suprema:37

Servidor temporário. Contrato prorrogado sucessivamente. Gratificação natalina e férias. Percepção. Possibilidade. Precedentes.

1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que é devida a extensão dos diretos sociais previstos no art. 7º da Constituição Federal a servidor contratado temporariamente, nos moldes do art. 37, inciso IX, da referida Carta da República, notadamente quando o contrato é sucessivamente renovado.

Na esfera federal, a contratação por prazo determinado encontra-se disciplinada na Lei 8.745/1993, bastante alterada por diversas leis posteriores. O âmbito de aplicação dessa lei restringe-se aos órgãos da administração direta federal, às autarquias e às fundações públicas federais.

...........................

O Supremo Tribunal Federal reiteradamente tem asseverado que o inciso IX do art. 37 da Constituição deve ser interpretado restritivamente, porque configura exceção à regra geral – corolário do princípio republicano – de que o concurso público é o meio idôneo de ingresso no serviço público.38 Conforme deixou assente em diversas oportunidades, a observância cumulativa de quatro requisitos é necessária para que se considere legítima a contratação temporária prevista no citado dispositivo constitucional, em todos os níveis da Federação, a saber:

a) os casos excepcionais devem estar previstos em lei;

b) o prazo de contratação deve ser predeterminado;

c) a necessidade deve ser temporária; e

d) o interesse público deve ser excepcional.

37 ARE-AgR 642.822/PE, rel. Min. Dias Toffoli, 21.08.2012. No mesmo sentido: ARE-AgR 649.393/MG, rel. Min. Cármen Lúcia, 22.11.2011; ARE-AgR 663.104/PE, rel. Min. Ayres Britto, 20.02.2012; AI-AgR 767.024/PE, rel. Min. Dias Toffoli, 13.03.2012. 38 ADI 1.500/ES, rel. Min. Carlos Velloso, 19.06.2002; ADI 890/DF, rel. Min. Maurício Corrêa, 11.09.2003; ADI 2.229/ES,

rel. Min. Carlos Velloso, 09.06.2004; ADI 3.210/PR, rel. Min. Carlos Velloso, 11.11.2004; ADI 3.430/ES, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.08.2009 (vide Informativo 555 do STF).

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Pacífico é o entendimento de nossa Corte Suprema segundo o qual não é válida a utilização da contratação temporária de que trata o inciso IX do art. 37 para funções meramente burocráticas, por não se caracterizar, nesse caso, o “excepcional interesse público” exigido pelo texto constitucional.39

Quanto à previsão legal de contratação temporária de agentes para atividades que, embora não sejam meramente burocráticas, configurem funções permanentes e ordinárias do órgão ou entidade contratante, existe controvérsia.

Em alguns julgados, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a própria função a ser desempenhada teria que ser temporária, não bastando que a necessidade – somente ela – fosse passageira. Nessas decisões foram consideradas inconstitucionais normas legais que, invocando o inciso IX do art. 37 da Carta de 1988, estabeleciam hipóteses de contratação por prazo determinado para o desempenho de funções permanentes e ordinárias do órgão ou entidade contratante.40

Há, contudo, pelo menos dois julgados relevantes que seguem uma linha diferente. Em ambos, o Tribunal Maior entendeu que basta que a necessidade seja temporária, desde que a hipótese de contratação por prazo determinado prevista na lei possa ser caracterizada como de excepcional interesse público. Atendidas essas condições, a norma legal autorizadora da contratação será válida, ainda que concernente a atividades permanentes e ordinárias do órgão ou entidade.41

Essa questão – possibilidade de a lei estabelecer como hipóteses enquadradas no inciso IX do art. 37 contratações de pessoal por prazo determinado para exercício de funções próprias, ordinárias, de natureza permanente do órgão ou entidade, bastando que a necessidade seja temporária e de excepcional interesse público – deverá ser pacificada em nossa jurisprudência quando o Supremo Tribunal Federal decidir o RE 658.026/MG, rel. Min. Dias Toffoli. Nesse recurso, em 01.11.2012, a matéria constitucional ora em discussão teve reconhecida a sua repercussão geral, mas, até o fechamento desta edição, o julgamento do mérito ainda não havia ocorrido.

O Supremo Tribunal Federal reiteradamente tem asseverado que o inciso IX do art. 37 da Constituição deve ser interpretado restritivamente, porque configura exceção à regra geral – corolário do princípio republicano – de que o concurso público é o meio idôneo de ingresso no serviço público.42

Pacífico é o entendimento de nossa Corte Suprema segundo o qual não é válida a utilização da contratação temporária de que trata o inciso IX do art. 37 para funções meramente burocráticas, por não se caracterizar, nesse caso, o “excepcional interesse

39 ADI 2.987/SC, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 19.02.2004; ADI 3.430/ES, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.08.2009. 40 Vejam-se, entre outros: ADI 890/DF, rel. Min. Maurício Corrêa, 11.09.2003; ADI 2.229/ES, rel. Min. Carlos Velloso,

09.06.2004; ADI 3.700/RN, rel. Min. Carlos Britto, 15.10.2008; ADI 3.430/ES, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.08.2009.

41 ADI 3.068/DF, red. p/ o acórdão Min. Eros Grau, 25.08.2004; ADI 3.386/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 14.04.2011 (vide

Informativo 623 do STF). 42 ADI 1.500/ES, rel. Min. Carlos Velloso, 19.06.2002; ADI 2.229/ES, rel. Min. Carlos Velloso, 09.06.2004; ADI 3.210/PR,

rel. Min. Carlos Velloso, 11.11.2004; ADI 3.430/ES, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.08.2009; ADI 3.649/RJ, rel. Min. Luiz Fux, 28.05.2014.

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público” exigido pelo texto constitucional.43

Controvérsia de monta houve quanto à possibilidade de a lei autorizar a contratação temporária de agentes para atividades que, embora não sejam meramente burocráticas, configurem funções permanentes e ordinárias do órgão ou entidade contratante.

Depois proferir decisões nos dois sentidos – (a) exigindo que a própria função a ser desempenhada tivesse que ser temporária, não bastando que a necessidade fosse passageira; e (b) admitindo a contratação temporária para atividades permanentes e ordinárias do órgão ou entidade, desde que a necessidade seja temporária e excepcional, conforme prévia especificação legal – o Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que a natureza da função, por si só, não determina a constitucionalidade, ou não, da lei que preveja a contratação temporária. Até mesmo funções de natureza permanente podem admitir contratação com base no inciso IX do art. 37 da Constituição de 1988, desde que justificada por situação fática excepcional, detalhadamente descrita em lei anterior à contratação (nunca se admite contratação temporária com fundamento em leis que contenham hipóteses genéricas, vagas, indefinidas).

Vale repetir: a regra é a impossibilidade de contratação temporária para o exercício de atividades ordinárias e permanentes do órgão ou entidade, mas essa vedação não é absoluta, ela poderá ceder, em casos realmente excepcionais e transitórios (emergências, epidemias, calamidades), desde que previamente especificados em lei.

Transcrevemos excerto da ementa do acórdão em que nossa Corte Suprema assentou essa orientação (grifamos):44

2. Prevalência da regra da obrigatoriedade do concurso público (art. 37, inciso II, CF). As regras que restringem o cumprimento desse dispositivo estão previstas na Constituição Federal e devem ser interpretadas restritivamente. 3. O conteúdo jurídico do art. 37, inciso IX, da Constituição Federal pode ser resumido, ratificando-se, dessa forma, o entendimento da Corte Suprema de que, para que se considere válida a contratação temporária, é preciso que: a) os casos excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja predeterminado; c) a necessidade seja temporária; d) o interesse público seja excepcional; e) a necessidade de contratação seja indispensável, sendo vedada a contratação para os serviços ordinários permanentes do Estado, e que devam estar sob o espectro das contingências normais da Administração.

A leitura do inteiro teor do acórdão permite constatar que não foi estabelecida uma vedação absoluta à contratação temporária “para os serviços ordinários permanentes do Estado”, mas foi enfatizado que não se pode admitir que a administração pública, por má gestão, deixe serviços permanentes ou essenciais ficarem à míngua de recursos materiais e humanos durante anos para, então, alegar premente interesse público e, assim, com base em uma lei genérica, contratar pessoal para atividades ordinárias e

43 ADI 2.987/SC, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 19.02.2004; ADI 3.430/ES, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.08.2009. 44 RE 658.026/MG (repercussão geral), rel. Min. Dias Toffoli, 09.04.2014 (vide Informativo 742 do STF). No mesmo sentido, porém afirmando de forma mais explícita que a natureza permanente da atividade pública não afasta, por si só, a possibilidade de a lei autorizar a contratação temporária prevista no inciso IX do art. 37 da Carta Política: ADI 3.247/MA, rel. Min. Cármen Lúcia, 26.03.2014 (vide Informativo 740 do STF).

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regulares sob o pretexto de “necessidade excepcional”. Para ser legítima, a necessidade deve decorrer de situações fáticas, previamente descritas na lei, realmente excepcionais e transitórias, e não ocasionadas por incúria administrativa.

8) No item 1.4.4, foi feita a substituição abaixo indicada:

1.4.4. Vedação à vinculação e à equiparação de remunerações

.....................

Em outra oportunidade, o STF declarou inconstitucional, também por violar o inciso XIII do art. 37, lei estadual que, literalmente, vinculava a “política salarial” dos respectivos servidores públicos à “política dos funcionários públicos proposta pela União”.45

De outra feita, declarou inconstitucional, também por violar o inciso XIII do art. 37, lei estadual que, literalmente, vinculava a “política salarial” dos respectivos servidores públicos à “política dos funcionários públicos proposta pela União”.46

Em oportunidade ulterior, rechaçou norma de Constituição estadual que estabelecia vinculação entre os vencimentos dos respectivos servidores públicos integrantes de categorias com habilitação profissional específica e o correspondente piso salarial profissional. Vale reproduzir, da ementa do acórdão, esta enfática passagem:47

Enquanto a Lei Maior, no inciso XIII do art. 37, veda a vinculação de “quaisquer espécie remuneratórias para efeitos de remuneração de pessoal do serviço público”, a Constituição do Estado de Alagoas, diversamente, assegura aos servidores públicos estaduais “piso salarial profissional para as categorias com habilitação profissional específica”, o que resulta em vinculação dos vencimentos de determinadas categorias de servidores públicos às variações do piso salarial profissional, importando em sistemática de aumento automático daqueles vencimentos, sem qualquer interferência do chefe do Poder Executivo do Estado, ferindo-se, ainda, o próprio princípio federativo e a autonomia dos estados para fixar os vencimentos de seus servidores (arts. 2º e 25 da Constituição Federal).

Ainda como exemplo, mencionamos decisão do Pretório Excelso que fulminou, novamente por afronta ao art. 37, XIII, do Texto Magno, lei de determinado estado-membro que estabelecia reajuste periódico automático (...)

45 ADI 64/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 21.11.2007. Na mesma decisão, o STF asseverou que a citada lei estadual

desrespeitava também, entre outros, o inciso X do art. 37 da Carta Política, que estabelece que a remuneração dos servidores públicos somente pode ser fixada ou alterada por lei específica.

46 ADI 64/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 21.11.2007. Na mesma decisão, o STF asseverou que a citada lei estadual

desrespeitava também, entre outros, o inciso X do art. 37 da Carta Política, que estabelece que a remuneração dos servidores públicos somente pode ser fixada ou alterada por lei específica.

47 ADI 668/AL, rel. Min. Dias Toffoli, 19.02.2014. No mesmo sentido: ADI 290/SC, rel. Min. Dias Toffoli, 19.02.2014 (vide Informativo 736 do STF).

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.......................

9) No item 1.4.6, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

1.4.6. Irredutibilidade dos vencimentos e subsídios

...................

A rigor, no caso particular de extinção (ou redução) de adicionais, gratificações e outros acréscimos que integrem a remuneração de um cargo, os servidores que já houvessem adquirido direito à percepção da vantagem que esteja sendo suprimida permanecerão recebendo exatamente o valor nominal correspondente – a quantia em reais que lhes estava sendo paga a esse título. Receberão agora esse valor, porém, sob a rubrica de vantagem pessoal nominalmente identificada (VPNI). O fundamento principal a impor o pagamento da VPNI a esses servidores em tal hipótese seria, entretanto, a proteção ao direito adquirido, e não obrigatoriamente a irredutibilidade de vencimentos. Repita-se que a extinção (ou minoração) pode ser feita, por lei, sem problema algum, pois não existe direito adquirido a regime jurídico. Poderá haver direito adquirido à percepção da quantia em reais, correspondente à parcela extinta, para quem a estava já recebendo, mas em nenhuma hipótese haverá direito adquirido à não extinção da vantagem pela lei.

Também é digna de menção – por conjugar o entendimento de que não há direito adquirido a regime jurídico e a norma de irredutibilidade de vencimentos – a posição jurisprudencial, consolidada no âmbito do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual pode a legislação de um ente federado, validamente, aumentar o número de horas da jornada de trabalho de determinada categoria de servidores públicos, mas deverá, nessa hipótese, elevar proporcionalmente a respectiva remuneração. Se a legislação pretender aumentar a carga horária de servidores sem o aumento proporcional da remuneração, será inconstitucional, por violação à garantia da irredutibilidade de vencimentos e subsídios averbada no inciso XV do art. 37 da Constituição da República.48

Vem a propósito registrar, ainda, que o Plenário de nosso Tribunal Maior considerou incompatível com os princípios constitucionais da presunção de inocência (art. 5.º, LVII) e da irredutibilidade de vencimentos e subsídios (art. 37, XV) norma constante de lei estadual que previa desconto na remuneração de servidores públicos afastados de suas funções por responderem a processo penal relativo a suposto cometimento de crime funcional – não eliminando esses vícios o fato de estar prevista na lei a devolução das diferenças, no caso de absolvição.49 Esse precedente, ademais, foi invocado em decisão na qual a Primeira Turma do STF considerou inválidos descontos efetuados na remuneração de servidor motivados por ausências ao serviço em razão de encontrar-se ele preso preventivamente. Deixou-se então consignado que o “referido desconto também se afigura ilegal em vista das referidas faltas ao serviço decorrentes da prisão

48 ARE 660.010/PR (repercussão geral), rel. Min. Dias Toffoli, 30.10.2014 (vide Informativo 765 do STF). 49 RE 482.006/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 07.11.2007 (vide Informativo 487 do STF).

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cautelar, pois atenta contra o princípio da irredutibilidade dos vencimentos do servidor público”.50

De outra banda, é incontroverso que a garantia da irredutibilidade insculpida no inciso XV do art. 37 não impede a criação ou a majoração de tributos incidentes sobre os vencimentos ou os subsídios, ou sobre os correspondentes proventos de aposentadoria ou de pensão.51

É interessante pontuar que o dispositivo constitucional ora em estudo expressamente autoriza a redução de vencimentos se esta decorrer da aplicação do disposto no inciso XIV do art. 37, o qual, conforme estudado anteriormente, proíbe a incidência cumulativa (“repique” ou incidência “em cascata”) de acréscimos pecuniários, tais como gratificações e adicionais, tenham ou não o mesmo nome ou fundamento.

O Supremo Tribunal Federal, entretanto, já deixou assente que o postulado da irredutibilidade dos vencimentos deve ser observado mesmo quando a alteração na forma de cálculo da remuneração de servidor público decorra de imposição introduzida por meio de emenda constitucional.52

Ora, o inciso XIV do art. 37 foi substancialmente modificado pela EC 19/1998, tornando-se mais restritivo. E essa alteração teve aplicabilidade imediata. Assim, o servidor que estivesse recebendo validamente, antes da EC 19/1998, adicionais cumulados uns sobre outros precisou ter a forma de calcular a sua remuneração refeita, para adequar-se à nova regra constitucional. Entretanto, essa mudança na maneira de calcular a remuneração não pode implicar decréscimo no valor total a receber, fazendo jus o servidor a uma complementação (VPNI) suficiente para impedir o decesso remuneratório.

Ainda examinando a literalidade do inciso XV do art. 37, constata-se que nele está dito que a irredutibilidade de vencimentos é ressalvada pela regra do teto constitucional de remuneração, vazada no inciso XI do art. 37 (cuja redação atual é dada pela EC 41/2003).

Deve-se alertar, todavia, que não existe posição jurisprudencial firme no âmbito do Supremo Tribunal Federal acerca da possibilidade, ou não, para efeito de adequação ao teto de remuneração, de serem excluídas vantagens pessoais incorporadas antes da EC 41/2003, com a consequente redução do valor da remuneração efetivamente recebida pelo servidor. A questão será definida, com repercussão geral, no julgamento do mérito do RE 606.358/SP, rel. Min. Rosa Weber (não ocorrido até o fechamento desta edição).

Incontroverso, diferentemente, é o entendimento de que a irredutibilidade não impede a criação ou a majoração de tributos incidentes sobre os vencimentos ou os subsídios, ou sobre os correspondentes proventos de aposentadoria ou de pensão.53

Vem a propósito, também, registrar que o Plenário de nosso Tribunal Maior declarou

50 ARE-AgR 705.174/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 27.08.2013. 51 ADI 3.105/DF e ADI 3.128/DF, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, 18.08.2004. 52 RE 563.708/MS (repercussão geral), rel. Min. Cármen Lúcia, 06.02.2013 (vide Informativo 694 do STF). 53 ADI 3.105/DF e ADI 3.128/DF, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, 18.08.2004.

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incompatível com os princípios constitucionais da presunção de inocência (art. 5.º, LVII) e da irredutibilidade de vencimentos e subsídios (art. 37, XV) norma constante de lei estadual que previa desconto na remuneração de servidores públicos afastados de suas funções por responderem a processo penal relativo a suposto cometimento de crime funcional – não eliminando esses vícios o fato de estar prevista na lei a devolução das diferenças, no caso de absolvição.54 Esse precedente, ademais, foi invocado em decisão na qual a Primeira Turma do STF considerou inválidos descontos efetuados na remuneração de servidor motivados por ausências ao serviço em razão de encontrar-se ele preso preventivamente. Deixou-se então consignado que o “referido desconto também se afigura ilegal em vista das referidas faltas ao serviço decorrentes da prisão cautelar, pois atenta contra o princípio da irredutibilidade dos vencimentos do servidor público”.55

O Supremo Tribunal Federal, não obstante, já deixou assente que o postulado da irredutibilidade dos vencimentos deve ser observado mesmo quando a alteração na forma de cálculo da remuneração de servidor público decorra de imposição introduzida por meio de emenda constitucional.56

Ora, o inciso XIV do art. 37 foi substancialmente modificado pela EC 19/1998, tornando-se mais restritivo. E essa alteração teve aplicabilidade imediata. Assim, o servidor que estivesse recebendo validamente, antes da EC 19/1998, adicionais cumulados uns sobre outros precisou ter a forma de calcular a sua remuneração refeita, para adequar-se à nova regra constitucional. Entretanto, em razão da regra de irredutibilidade de vencimentos, essa mudança na maneira de calcular a remuneração não pôde implicar decréscimo no valor total a receber, fazendo jus o servidor a uma complementação – vantagem pessoal nominalmente identificada (VPNI) – suficiente para impedir o decesso remuneratório.

Ainda examinando a literalidade do inciso XV do art. 37, constata-se que nele está dito que a irredutibilidade de vencimentos e subsídios é ressalvada pela regra do teto constitucional de remuneração, contida no inciso XI do art. 37 (cuja redação atual é dada pela EC 41/2003).

Pois bem, especificamente acerca teto de remuneração dos servidores públicos definido pela EC 41/2003, o Supremo Tribunal Federal firmou sua jurisprudência nestes termos: “o teto de retribuição estabelecido pela EC 41/2003 é de eficácia imediata, e submete às referências de valor máximo nele discriminadas todas as verbas de natureza remuneratória percebidas pelos servidores públicos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, ainda que adquiridas de acordo com regime legal anterior”.57

Para nossa Corte Constitucional, a exigência de imediata adequação de todas as verbas de natureza remuneratória ao teto constitucional estabelecido pela EC 41/2003 não representa violação à norma de irredutibilidade de vencimentos e subsídios prevista no inciso XV do art. 37 da Carta Política, porquanto é possível extrair de nosso sistema

54 RE 482.006/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 07.11.2007 (vide Informativo 487 do STF). 55 ARE-AgR 705.174/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 27.08.2013. 56 RE 563.708/MS (repercussão geral), rel. Min. Cármen Lúcia, 06.02.2013 (vide Informativo 694 do STF). 57 RE 609.381/GO (repercussão geral), rel. Min. Teori Zavascki, 02.10.2014 (vide Informativo 761 do STF).

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constitucional, globalmente considerado, que a garantia da irredutibilidade não ampara a percepção de verbas remuneratórias que desbordem do teto de retribuição.

É importante alertar que, apesar de ter definido essa questão específica, o STF não enfrentou a controvérsia, até hoje pendente de pacificação, acerca da possibilidade de uma emenda à Constituição prejudicar direito adquirido. Cumpre repetir: o entendimento de que o teto de remuneração fixado pela EC 41/2003 deve-se aplicar imediatamente a todas as verbas de natureza remuneratória dele extravasantes, inclusive às percebidas licitamente por força de leis anteriores a essa emenda, não significa, de forma nenhuma, que o STF tenha decidido que emendas à Constituição prevalecem sobre a garantia do direito adquirido.

Por último, cumpre frisar que a jurisprudência de nossa Alta Corte considera que a irredutibilidade refere-se ao valor nominal (...)

...............

10) No item 3.3, foi feita, ao final, a substituição abaixo indicada:

3.3. Planos de carreira e sistema remuneratório dos servidores públicos

................

Merece um comentário, por fim, o fato de a EC 19/1998 haver suprimido a regra anteriormente constante do § 1.º do art. 39, que estipulava fosse assegurado, pela lei, aos servidores da administração direta, isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhados do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho. Embora não exista mais essa regra expressa impondo a isonomia de vencimentos desses servidores, devemos lembrar que o princípio genérico da isonomia é garantia constitucional fundamental de nosso ordenamento, corolário natural do princípio republicano, insculpido em diversos preceitos da Constituição, especialmente em seu art. 5.º. Além disso, ao determinar, no vigente § 1.º do art. 39, que a fixação da remuneração dos servidores públicos obedeça à natureza e à complexidade dos cargos por eles ocupados, a EC 19/1998 de certo modo reafirmou o princípio da isonomia (utilizando fórmula bastante mais vaga, é bem verdade).

De todo modo, consideramos inconstitucional o estabelecimento discriminatório ou arbitrário de remunerações diferenciadas entre servidores públicos, bem como o desrespeito à necessária correlação entre o valor da remuneração e o grau de complexidade e de responsabilidade do cargo do servidor. Da mesma forma, entendemos atentatória ao princípio da isonomia a existência de servidores de uma mesma esfera da Federação percebendo remunerações discrepantes pelo exercício de funções similares umas às outras.

Em resumo, embora retirada do art. 39 a regra expressa relativa à isonomia de

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vencimentos dos servidores públicos, esta permanece, a nosso ver, como uma garantia constitucional inafastável, em razão do disposto no próprio art. 39, com sua nova redação, e de muitos outros preceitos espalhados pelo texto constitucional.

Merece um comentário, por fim, o fato de a EC 19/1998 haver suprimido a regra originariamente contida no § 1.º do art. 39, que prescrevia: “a lei assegurará, aos servidores da administração direta, isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhados do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho”.

Não temos dúvida de que, mesmo deixando de existir, no texto constitucional, uma regra expressa assecuratória de isonomia de vencimentos para servidores públicos que exerçam funções iguais ou semelhantes em um mesmo ente federado, deve o legislador nortear-se por esse princípio para a fixação de remunerações de agentes públicos. Não só porque o princípio da igualdade é um postulado geral a todos aplicável (art. 5º, caput e inciso I), mas também em razão de uma gama de normas constitucionais, endereçadas aos servidores públicos, concernentes a direitos, obrigações, responsabilidades, atribuições, requisitos para ingresso no serviço público, entre outros temas a estes conexos. O próprio conteúdo do atual § 1.º do art. 39, conferido pela EC 19/1998, ao determinar que a fixação da remuneração dos servidores públicos obedeça à natureza, ao grau de responsabilidade e à complexidade dos cargos por eles ocupados, tem lastro evidente no princípio da isonomia.

De todo modo, muito importante é ressaltar que as considerações aqui traçadas a respeito da relação entre o princípio da isonomia e a remuneração de servidores públicos, assim como as próprias regras constitucionais citadas, têm por destinatário o legislador. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, há décadas, pacificou-se quanto à impossibilidade de o Poder Judiciário, a título de isonomia, pretender aumentar remunerações de servidores públicos. Tal orientação foi inicialmente explicitada na Súmula 339 do STF (de 1963) e, em 2014, passou a constar da Súmula Vinculante 37, com este enunciado:

37 – Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia.

11) No item 3.4, foi feita a substituição abaixo indicada:

3.4. Extensão aos servidores públicos de direitos constitucionalmente assegurados aos trabalhadores da iniciativa privada

................

O direito a férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que a remuneração normal (letra “i”) também merece um comentário relativo à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. É entendimento consolidado no âmbito da Corte Maior – reafirmado em 2013 com repercussão geral – o de que “é devida a conversão de férias não gozadas bem como de outros direitos de natureza remuneratória em indenização

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pecuniária por aqueles que não mais podem delas usufruir, seja por conta do rompimento do vínculo com a administração, seja pela inatividade, em virtude da vedação ao enriquecimento sem causa da administração”.58

Enfatizamos que esse direito do servidor de converter em dinheiro as férias que ele não pôde gozar não precisa estar previsto em lei e independe de perquirição sobre a existência de culpa pela não fruição das férias na época em que elas poderiam ou deveriam ter sido gozadas (em diversos julgados, o Pretório Máximo aponta como fundamento da sua posição, ao lado da vedação ao enriquecimento sem causa, a responsabilidade objetiva da administração pública). Ademais, nossa Corte Suprema já deixou assente que a indenização pelas férias não usufruídas deve contemplar, obrigatoriamente, o acréscimo de pelo menos um terço sobre a remuneração normal, direito que não pode ser restringido pelo legislador dos diversos entes federados, porquanto decorre diretamente da Constituição da República.59

Merece também um comentário o direito a férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que a remuneração normal (letra “i”). Conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o servidor que fique impossibilitado de gozar suas férias, seja em razão do rompimento do vínculo com a administração, seja porque passou para a inatividade, tem direito à conversão das férias não gozadas em indenização pecuniária, com fundamento na vedação ao enriquecimento sem causa da administração.60 Observe-se que essa orientação não se aplica ao servidor que permaneça em atividade, no exercício de seu cargo, pois ele ainda tem a possibilidade de gozar as férias – direito constitucionalmente assegurado –, estando a administração obrigada à sua concessão, não se lhe facultando substituí-las, a seu arbítrio, por uma indenização em pecúnia.61

Enfatizamos que o direito do servidor de converter em dinheiro as férias que ele não tem mais possibilidade de gozar não precisa estar previsto em lei e independe de perquirição sobre a existência de culpa pela não fruição das férias na época em que elas poderiam ou deveriam ter sido gozadas (em diversos julgados, o STF aponta como fundamento da sua posição, ao lado da vedação ao enriquecimento sem causa, a responsabilidade objetiva da administração pública). Ademais, nossa Corte Suprema já deixou assente que a indenização pelas férias não usufruídas deve contemplar, obrigatoriamente, o acréscimo de pelo menos um terço sobre a remuneração normal, direito que não pode ser restringido pelo legislador dos diversos entes federados, uma vez que diretamente decorre da Constituição da República.62

Vem a propósito referir – ainda sobre o direito às férias – que o STF já declarou inconstitucional lei estadual que pretendera estender aos inativos o direito ao adicional de férias (de, pelo menos, um terço a mais do que a remuneração normal) a

58 ARE 721.001/RJ (repercussão geral), rel. Min. Gilmar Mendes, 28.02.2013. No mesmo sentido: ARE-AgR 726.294/RJ,

rel. Min. Gilmar Mendes, 05.02.2013; ARE-AgR 731.803/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 14.05.2013. 59 RE 570.908/RN (repercussão geral), rel. Min. Cármen Lúcia, 16.09.2009 (vide Informativo 559 do STF). 60 ARE 721.001/RJ (repercussão geral), rel. Min. Gilmar Mendes, 28.02.2013. No mesmo sentido: ARE-AgR 731.803/RJ,

rel. Min. Ricardo Lewandowski, 14.05.2013; AI-AgR 836.957/MA, rel. Min. Dias Toffoli, 11.03.2014. 61 ARE-ED 721.001/RJ (repercussão geral), rel. Min. Gilmar Mendes, 28.08.2014. 62 RE 570.908/RN (repercussão geral), rel. Min. Cármen Lúcia, 16.09.2009 (vide Informativo 559 do STF).

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que fazem jus os servidores em atividade. Entendeu o Plenário da Corte Maior que o adicional de férias é compatível exclusivamente com o regime jurídico dos servidores ativos, configurando ofensa ao Texto Magno a pretensão de instituir um benefício remuneratório desatrelado de qualquer fundamento lógico – caso da extensão, a quem não pode gozar férias, de uma vantagem pecuniária cujo fundamento é, exatamente, a fruição de férias!

Literalmente, averbou-se, na ementa do acórdão respectivo, que “não há margem interpretativa no texto constitucional para que se conceba a extensão de benefício remuneratório desatrelado de qualquer fundamento. O trabalhador aposentado, ou, no caso, o servidor público em inatividade, não pode gozar férias, porquanto já deixou de exercer cargo ou função pública. Nesse passo, afigura-se inviável o deferimento de benefício sem a correspondente causa geradora”.63

Em suma, segundo a jurisprudência do STF, não há fundamento constitucional idôneo para a extensão a servidores inativos (e respectivos pensionistas) do pagamento do adicional de férias a que têm direito os servidores em atividade – e, portanto, a lei que pretenda fazê-lo é inconstitucional, isto é, conflita com nossa Carta Política.

Por último, impende anotar que, além dos direitos listados acima (...)

.............

12) No item 4, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

4. REGIME DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES PÚBLICOS

.............

As leis complementares previstas no § 4.º do art. 40 do Texto Magno não foram editadas até hoje. Em face da omissão do legislador – isto é, do descumprimento de seu dever de regulamentar esse dispositivo constitucional –, muitos servidores públicos vêm impetrando mandados de injunção, pleiteando ordens judiciais que lhes assegurem o concreto exercício do direito constitucionalmente assegurado.

No que diz respeito à assim chamada aposentadoria especial – aquela concedida em razão de trabalho exercido sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física do indivíduo –, o Supremo Tribunal Federal vem julgando procedentes os mandados de injunção, para o fim de determinar que a autoridade administrativa competente, utilizando por analogia o art. 57 da Lei 8.213/1991, verifique se o servidor público (federal, estadual, distrital ou municipal) preenche os requisitos nesse artigo estipulados e, sendo o caso, conceda-lhe a aposentadoria especial referida no inciso III do § 4.º do art. 40 da Constituição.64

63 ADI 1.158/AM, rel. Min. Dias Toffoli, 20.08.2014 (vide Informativo 755 do STF). 64 MI 721/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 30.08.2007 (vide Informativo 477 do STF). No mesmo sentido, dentre muitos outros:

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É da União a competência para editar as leis complementares requeridas pelo § 4º do art. 40 da Constituição, consoante já definiu o STF, sob o argumento de que “a matéria deve ser regulamentada uniformemente, em norma de caráter nacional, de iniciativa do Presidente da República”. Por essa mesma razão – competência legislativa da União –, somente o STF tem competência para julgar mandados de injunção referentes a omissões quanto à edição das referidas leis complementares.65

A Lei Complementar 51/1985, com a redação dada pela Lei Complementar 144/2014, “dispõe sobre a aposentadoria do servidor público policial, nos termos do § 4º do art. 40 da Constituição Federal”. Outras leis complementares que tratem das hipóteses referidas no § 4.º do art. 40 do Texto Magno não foram editadas até hoje. Em face da omissão do legislador – isto é, do descumprimento de seu dever de regulamentar esse dispositivo constitucional –, muitos servidores públicos vêm impetrando mandados de injunção, pleiteando ordens judiciais que lhes assegurem o concreto exercício do direito constitucionalmente previsto.

No que diz respeito à assim chamada aposentadoria especial – aquela concedida em razão de trabalho exercido sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física do indivíduo –, o Supremo Tribunal Federal defere os mandados de injunção, para o fim de determinar que a autoridade administrativa competente, utilizando por analogia o art. 57 da Lei 8.213/1991, verifique se o servidor público (federal, estadual, distrital ou municipal) preenche os requisitos nesse artigo estipulados e, sendo o caso, conceda-lhe a aposentadoria especial referida no inciso III do § 4.º do art. 40 da Constituição.66

Essas decisões deram origem à Súmula Vinculante 33, com o seguinte enunciado:

33 – Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal, até a edição de lei complementar específica.

Enfatizamos que o Supremo Tribunal Federal em nenhuma hipótese defere, ele mesmo, a aposentadoria (...)

....................

A regra descrita nesse § 3.º do art. 40 foi uma das mais importantes alterações trazidas pela EC 41/2003. Ela representa o fim da aposentadoria com proventos integrais. Os proventos não corresponderão, como antes era possível, ao valor da última remuneração do servidor. Seu valor será uma média calculada, nos termos da lei, com base nas remunerações sobre as quais o servidor contribuiu ao longo de sua vida

MI 998/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 15.04.2009; MI 1.660/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 02.08.2010; MI-AgR 4.842/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 06.03.2013; ARE-AgR 727.541/MS, rel. Min. Marco Aurélio, 09.04.2013.

65 RE 797.905/SE (repercussão geral), rel. Min. Gilmar Mendes, 15.05.2014. 66 MI 721/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 30.08.2007 (vide Informativo 477 do STF). No mesmo sentido, dentre muitos outros:

MI 998/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 15.04.2009; MI 1.660/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 02.08.2010; MI-AgR 4.842/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 06.03.2013; ARE-AgR 727.541/MS, rel. Min. Marco Aurélio, 09.04.2013.

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22.ª para 23.ª edição

profissional.67

Complementando essa importante disposição, o § 17 do artigo constitucional em comento estabelece que todos os valores de remuneração considerados para o cálculo dos proventos serão devidamente atualizados, na forma da lei.68 É evidente que, sem essa atualização, a média das remunerações poderia assumir valores extremamente baixos, especialmente se fossem levados em conta anos de inflação elevada, o que redundaria em aviltamento dos valores dos proventos. Trata-se, entretanto, de mais uma regra dependente de regulamentação legal.

A regra descrita nesse § 3.º do art. 40 foi uma das mais importantes alterações trazidas pela EC 41/2003. Ela representa o fim da aposentadoria com proventos integrais. Os proventos não corresponderão, como antes era possível, ao valor da última remuneração do servidor. Seu valor será uma média calculada, nos termos da lei, com base nas remunerações sobre as quais o servidor contribuiu ao longo de sua vida profissional. Regulamenta essa norma constitucional a Lei 10.887/2004.

Deve ficar bem entendido o que chamamos de “fim da aposentadoria com proventos integrais”. O que deixou de existir foi a possibilidade – que havia antes da EC 41/2003 – de o servidor aposentar-se, uma vez atendidos os requisitos constitucionalmente estipulados, com proventos correspondentes ao valor da sua última remuneração, independentemente de sua vida laboral pregressa. Note-se que o valor desses “proventos integrais” não resultava, propriamente, de um cálculo matemático: verificado o atendimento das condições determinadas no texto constitucional, simplesmente se concedia ao servidor a aposentadoria com proventos de valor igual ao da última remuneração do servidor.

A rigor, conquanto afirmemos que a EC 41/2003 extinguiu a aposentadoria com proventos integrais, a verdade é que ainda existem, hoje, hipóteses restritas e específicas em que servidores públicos podem se aposentar com os “proventos integrais” a que nos referimos no parágrafo precedente: (a) no caso de aposentadoria por invalidez decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei (estudada mais à frente neste tópico); e (b) no caso de servidores públicos que tenham ingressado no serviço público antes da EC 41/2003 e estejam enquadrados em regras de transição previstas expressamente na própria EC 41/2003 e em outras emendas constitucionais, que não têm interesse para a presente exposição.

Além da possibilidade de aposentar-se com “proventos integrais”, os servidores submetidos ao modelo anterior contavam com uma garantia de grande importância, conhecida como “regra da paridade”, que assegurava a manutenção futura, e “eterna”, da equivalência entre o montante de seus proventos e o valor da remuneração dos servidores ativos titulares daquele mesmo cargo, ou do cargo resultante de sua transformação.

Os servidores sujeitos ao modelo atual têm os seus proventos efetivamente determinados por meio de um cálculo matemático: o valor dos proventos corresponderá

67 O cálculo dos proventos de aposentadoria previsto no § 3.º do art. 40 da Constituição, com a redação dada pela EC

41/2003, está disciplinado na Lei 10.887/2004. 68 Regulamenta essa disposição a Lei 10.887/2004.

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a uma média obtida a partir das remunerações utilizadas como base para as contribuições previdenciárias que o servidor pagou ao longo de sua vida profissional, ou de parte dela, conforme disposto em lei.

Esse valor inicial dos proventos pode até coincidir com a remuneração que o servidor estava recebendo imediatamente antes de se aposentar – dependerá da média das remunerações consideradas no cálculo e dos índices de atualização incidentes, nos termos do § 17 do art. 40, tratado a seguir. Porém, mesmo que aconteça de o valor inicial dos proventos coincidir com o da última remuneração que o servidor recebeu, os proventos, a partir de então, serão reajustados com base em índices definidos em lei, a fim de que mantenham “em caráter permanente, o valor real” (art. 40, § 8º). Absolutamente nenhuma relação haverá entre esses reajustes e a evolução do valor das remunerações dos servidores ativos titulares daquele mesmo cargo em que o servidor se aposentou.

O § 17 do art. 40 complementa a regra de cálculo dos proventos de aposentadoria contida no § 3º, que estudamos nos parágrafos antecedentes. Estabelece o citado § 17 que todos os valores de remuneração considerados para o cálculo do valor inicial dos proventos serão devidamente atualizados, na forma da lei. A Lei 10.887/2004 regulamenta essa norma constitucional.

É oportuno observar que, não obstante o fim da aposentadoria com proventos integrais para os servidores que ingressaram no serviço público depois da EC 41/2003, foi mantida no texto constitucional a vedação inscrita no § 2.º do art. 40, segundo a qual “os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião de sua concessão, não poderão exceder a remuneração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a concessão da pensão”.

Embora pareça ter perdido o sentido, essa proibição poderá ser aplicável, por exemplo, na hipótese de servidores públicos de um determinado ente federado ficarem muito tempo recebendo reajustes irrisórios em suas remunerações. Nesse caso, se as remunerações forem atualizadas por índices oficiais de inflação para efeito de cálculo da média a que corresponderão os proventos, poderá ocorrer de se chegar a um valor superior ao da última remuneração do servidor. Se isso ocorrer, incidirá a vedação do § 2.º do art. 40, vale dizer, os proventos calculados terão que ser reduzidos para não ultrapassarem o valor da última remuneração do servidor.

Além de extinguir a aposentadoria com proventos integrais – e como consequência lógica dessa medida –, a EC 41/2003 suprimiu a norma que constava do § 8.º do art. 40, a qual garantia aos proventos de aposentadoria e pensão paridade com a remuneração recebida pelos servidores ativos do mesmo cargo.

Nos termos da regra anterior, era assegurada a revisão dos proventos, pelos mesmos índices e na mesma data, sempre que se modificasse a remuneração dos servidores em atividade, sendo também estendidos aos aposentados e aos pensionistas quaisquer benefícios ou vantagens posteriormente concedidos aos servidores em atividade.

Além de extinguir a aposentadoria com proventos integrais – e como consequência lógica dessa medida –, a EC 41/2003 suprimiu a regra de paridade entre remuneração e proventos, que antes se encontrava no § 8º do art. 40.

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Essa regra – à qual aludimos de passagem ao explicarmos em que consistiam os “proventos integrais” eliminados pela EC 41/2003 – assegurava a revisão dos proventos, pelos mesmos índices e na mesma data, sempre que se modificasse a remuneração daquele cargo em que se deu a aposentadoria, ou do resultante de sua transformação, estendendo também aos aposentados e aos pensionistas quaisquer benefícios ou vantagens ulteriormente concedidos aos servidores em atividade.

Convém anotar que, não obstante a clareza dessa regra de paridade – ainda aplicável a boa parte dos servidores e aposentados que ingressaram no serviço público antes da publicação da EC 41/2003 –, o Supremo Tribunal Federal possui diversas decisões em que foi bastante atenuada a proteção que a referida norma parecia oferecer aos proventos e às pensões por ela alcançados.

..............

Porém, cabe frisar, se a gratificação começar a ser paga pela administração indistintamente a todos os servidores, sem qualquer critério de aferição efetiva de desempenho, o STF considera que ela passa a ser uma gratificação de “natureza geral” (não importa o nome que a lei lhe dê) e, nesse caso, impõe a sua extensão a todos os aposentados que façam jus à regra de paridade que existia no § 8.º do art. 40.

Porém, cabe frisar, se a gratificação começar a ser paga pela administração indistintamente a todos os servidores, sem qualquer critério de aferição efetiva de desempenho ou de qualidade no exercício do cargo, o STF considera que ela passa a ser uma “vantagem remuneratória de caráter geral” (não importa o nome que a lei lhe dê) e, nesse caso, impõe a sua extensão a todos os aposentados e pensionistas que façam jus à regra de paridade que existia no § 8.º do art. 40.69

Também pertinente a essa matéria, convém registrar o disposto na Súmula 680 do STF:

............

1) por invalidez permanente;

Com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, em todos os casos, exceto quando a invalidez decorrer de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei.

Observa-se que o constituinte derivado deixou ao legislador ordinário a tarefa de determinar como serão calculados os proventos de aposentadoria quando a invalidez permanente decorrer de “acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável”. Sabemos, tão somente, que não poderão os proventos, nesses casos, ser simplesmente proporcionais ao tempo de contribuição, como ocorre nas hipóteses de invalidez permanente que decorra de qualquer outra causa.

Vimos anteriormente que, a partir da EC 41/2003, deixou de existir menção expressa,

69 RE 596.962/MT (repercussão geral), rel. Min. Dias Toffoli, 21.08.2014 (vide Informativo 755 do STF).

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no corpo permanente da Constituição, à figura da “aposentadoria com proventos integrais”. Comentamos, também, que ainda fazem jus a ela: (a) servidores que ingressaram no serviço público antes da referida emenda constitucional e que se enquadrem em regras de transição previstas expressamente na própria EC 41/2003 e em outras emendas constitucionais, que não vêm a propósito para a presente exposição; e (b) servidores que se aposentem por invalidez decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei.

Essa última hipótese demanda uma explicação adicional, uma vez que a simples leitura do § 1º do art. 40 da Carta Política, acima transcrito, levaria a concluir que os proventos da aposentadoria por invalidez decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável prevista em lei também deveriam ser calculados com base em uma média das remunerações sobre as quais o servidor pagou contribuição previdenciária, atualizadas monetariamente, na forma da lei. Isso porque, expressamente, o art. 40, § 1º, manda calcular os proventos a partir do disposto em seus §§ 3º e 17.

Acontece, entretanto, que os §§ 3º e 17 do art. 40 do Texto Magno estão regulamentados pela Lei 10.887/2004. E o Supremo Tribunal Federal já pacificou o entendimento de que a regulamentação estabelecida por essa lei só se aplica aos casos gerais de aposentadoria, mas não tem aplicação à hipótese específica e excepcional de aposentadoria por invalidez decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável prevista em lei.

Dessa forma, como o inciso I do § 1º do art. 40, com a redação introduzida pela EC 41/2003, é uma norma constitucional de eficácia limitada, a falta de regulamentação legal impede que ela produza seus integrais efeitos, permanecendo aplicável a disciplina anterior, que, incontroversamente, dava direito a aposentadoria com proventos integrais nos casos de invalidez decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável prevista em lei.70

Em suma, devemos considerar que, do inciso I do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, com a redação dada pela EC 41/2003, resulta que:

a) a aposentadoria por invalidez permanente será, em regra, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição;

b) quando a invalidez for decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei, há uma exceção constitucional específica, a qual, por impedir a aplicação da regulamentação genérica dos §§ 3º e 17 do art. 40, contida na Lei 10.887/2004, implica reconhecer a esses servidores o direito a aposentadoria com proventos integrais, conforme a disciplina existente antes da EC 41/2003.

É importante registrar, ainda, que, de acordo com a jurisprudência consolidada no âmbito de nossa Corte Suprema, compete à lei ordinária especificar as enfermidades graves, contagiosas ou incuráveis que ensejam a aposentadoria por invalidez permanente com direito a proventos integrais – e a enumeração legal de tais doenças tem natureza

70 AI 845.803/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.05.2011; ARE-AgR 683.686/GO, rel. Min. Cármen Lúcia, 18.09.2012; RE-AgR 678.148/MS, rel. Min. Celso de Mello, 27.11.2012; RE 656.860/MT (repercussão geral), rel. Min. Teori Zavascki, 21.08.2014 (vide Informativo 755 do STF).

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taxativa.

Todos esses aspectos aqui expendidos encontram-se didaticamente sintetizados em acórdão do Supremo Tribunal Federal prolatado em recurso extraordinário julgado na sistemática da repercussão geral, de cuja ementa vale reproduzir o trecho seguinte (grifamos):71

1. O art. 40, § 1º, I, da Constituição Federal assegura aos servidores públicos abrangidos pelo regime de previdência nele estabelecido o direito a aposentadoria por invalidez com proventos proporcionais ao tempo de contribuição. O benefício será devido com proventos integrais quando a invalidez for decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, “na forma da lei”.

2. Pertence, portanto, ao domínio normativo ordinário a definição das doenças e moléstias que ensejam aposentadoria por invalidez com proventos integrais, cujo rol, segundo a jurisprudência assentada pelo STF, tem natureza taxativa.

................

Assim, o professor pode aposentar-se aos 55 anos de idade e 30 de contribuição e a professora aos 50 anos de idade e 25 de contribuição, com proventos calculados, na forma da lei, a partir das remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor aos regimes de previdência peculiar e geral, devidamente atualizadas, consoante estabelecido nos §§ 3.º e 17 do art. 40 da Carta Política.

Por último, cabe mencionar que a EC 41/2003 estabeleceu diferentes regras de transição para quem já se encontrava no serviço público, variando a regra conforme a data de ingresso ou a situação jurídica do servidor. A EC 47/2005 também tratou de regras de transição aplicáveis aos servidores que ingressaram no serviço público antes da publicação da EC 41/2003, essencialmente, atenuando algumas das perdas de direitos que haviam sido impostas pela EC 41/2003.

Segundo a pacífica jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, esse tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio vale, unicamente, para a concessão ao servidor da aposentadoria especial de professor (“a aposentadoria especial de professor pressupõe o efetivo exercício dessa função, com exclusividade, pelo tempo mínimo fixado na Constituição da República”). Significa dizer: ou o servidor comprova o tempo total exigido (30 anos para o homem e 25 anos para a mulher), caso em que fará jus à aposentadoria especial de professor, ou, se não tiver exercido na função de magistério todo o tempo necessário para a aposentadoria especial de professor, terá que submeter-se, integralmente, às regras da aposentadoria comum, sem possibilidade de contar de forma diferenciada o tempo em que exerceu o magistério.

Por outras palavras: o STF não admite que, na análise de pedido de aposentadoria comum, o tempo de magistério seja considerado “tempo de atividade sob condições especiais”, para o fim de conversão em tempo comum (mediante a aplicação de um multiplicador ou “fator de conversão”), pois não é permitido “fundir normas que regem a contagem do tempo de serviço para as aposentadorias normal e especial, contando proporcionalmente o tempo de serviço exercido em funções diversas”, haja vista que “a aposentadoria especial é a exceção, e, como tal, sua interpretação só pode ser

71 RE 656.860/MT (repercussão geral), rel. Min. Teori Zavascki, 21.08.2014 (vide Informativo 755 do STF).

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restritiva”.72

Finalizando este tópico, convém repisar que a EC 41/2003 estabeleceu diferentes regras de transição para quem já se encontrava no serviço público, variando a regra conforme a data de ingresso ou a situação jurídica do servidor. A EC 47/2005 e a EC 70/2012 também introduziram regras de transição aplicáveis aos servidores que ingressaram no serviço público antes da publicação da EC 41/2003, tendo ambas proporcionado alguma atenuação a perdas de direitos que haviam sido impostas pela EC 41/2003. Em razão de sua especificidade, tais regras não serão detalhadas nesta obra.

13) Foi acrescentado o item 5.3.2, com o subitem 5.3.2.1, renumerando-se os itens subsequentes. Abaixo, a reprodução integral do novo item e do respectivo subitem:

5.3.2. Concurso público Vimos no tópico precedente que a única forma legítima de provimento originário

hoje existente é a nomeação. E que a nomeação para um cargo público de provimento efetivo depende sempre de prévia aprovação em concurso público.

As disposições constitucionais e a farta jurisprudência do Supremo Tribunal Federal a respeito dos concursos públicos foram estudadas detalhadamente em pontos anteriores deste capítulo, especialmente quando examinamos os incisos II a IV do art. 37 da Carta da República. Por essa razão – e porque a Lei 8.112/1990 praticamente nada acrescenta à matéria –, limitar-nos-emos, neste passo, a expor os dispositivos pertinentes do estatuto federal.

Conforme o art. 11 da Lei 8.112/1990, o certame será de provas ou de provas e títulos (notem que não existe concurso público sem provas), podendo ser realizado em duas etapas, conforme dispuserem a lei e o regulamento do respectivo plano de carreira.

Para inscrever-se, deverá o candidato pagar um valor, fixado no edital. Segundo a lei, a cobrança desse valor só será admitida quando indispensável ao custeio do certame. E, mesmo nesses casos, deve haver hipóteses de isenção expressamente previstas no edital. No âmbito do Poder Executivo federal, a referida isenção está regulamentada pelo Decreto 6.593/2008.

O concurso público terá validade de até dois anos, podendo ser prorrogado uma única vez, por igual período (art. 12). O prazo de validade do concurso e as condições de sua realização serão fixados em edital, que será publicado no Diário Oficial da União e em jornal diário de grande circulação.

72 ADI 178/RS, rel. Min. Maurício Corrêa, 22.02.1996; RE-AgR 288.640/PR, rel. Min. Joaquim Barbosa, 06.12.2011. Cabe registrar, também, o ARE 703.550/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, 02.10.2014, que, embora originado de um caso concreto concernente a aposentadoria pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS), foi decidido no mérito para reafirmar, com repercussão geral, a jurisprudência do STF quanto à impossibilidade de considerar-se o tempo de magistério como tempo de serviço prestado sob condições especiais para o fim de conversão em tempo de serviço comum (e consequente redução do tempo total necessário para a obtenção da aposentadoria comum).

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Uma regra importante está averbada no § 2º do art. 12: “Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato aprovado em concurso anterior com prazo de validade não expirado.”

Trata-se de preceito mais restritivo do aquele que deflui da obscura redação do inciso IV do art. 37 da Constituição, já estudado, segundo o qual “durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira”.

A nosso ver, a limitação introduzida pelo sobrecitado § 2º do art. 12 da Lei 8.112/1990 é perfeitamente legítima, porquanto amplia as garantias dos administrados, em perfeita consonância com princípios constitucionais administrativos tais quais os da moralidade e da eficiência.

Por fim, é oportuno lembrar que o inciso VIII do art. 37 de nossa Carta Política determina que lei ordinária de cada ente federado reserve percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas com deficiência e defina os critérios de admissão delas. Atendendo ao comando constitucional, a Lei 8.112/1990 reserva a candidatos com deficiência até vinte por cento das vagas oferecidas nos concursos públicos para os cargos por ela regidos, desde que as respectivas atribuições sejam compatíveis com a deficiência do postulante à vaga, ou seja, o candidato só não pode apresentar uma limitação em suas capacidades ou habilidades de magnitude tal que chegue a impossibilitar o exercício do cargo (art. 5º, § 2º).

5.3.2.1 Reserva de vagas para candidatos negros em concursos públicos (Lei 12.990/2014)

Em junho de 2014, foi publicada a Lei 12.990/2014, que, conforme sua ementa, “reserva aos negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União”.

O art. 1º da lei estabelece, praticamente repetindo a ementa, que “ficam reservadas aos negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União, na forma desta Lei”.

A reserva de vagas prevista na Lei 12.990/2014 será aplicada sempre que o número de vagas oferecidas no concurso público for igual ou superior três (art. 1º, § 1º).

Diz o § 2º do art. 1º que, na hipótese de quantitativo fracionado para o número de vagas reservadas a candidatos negros, ele será aumentado para o primeiro número inteiro subsequente, em caso de fração igual ou maior que 0,5 (cinco décimos), ou diminuído para número inteiro imediatamente inferior, em caso de fração menor que 0,5 (cinco décimos).

Essa regra de arredondamento é perfeitamente compatível com o disposto no § 1º: no caso

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do concurso com três vagas, a aplicação do percentual de vinte por cento resultará em seis décimos – fração maior do que cinco décimos – e, portanto, haverá o arredondamento para cima. Das três vagas, então, uma será reservada a candidato negro.

O critério para o candidato concorrer a uma vaga reservada é o da autodeclaração. Com efeito, o art. 2º da lei estatui que “poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público, conforme o quesito cor ou raça utilizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE”.

Uma curiosidade é que a lei utiliza o vocábulo “negros” para designar os grupos que o IBGE classifica como “pretos e pardos”. Os grupos de defesa dos direitos dos negros, de um modo geral, preferem, realmente, a designação “negros”, em vez de “pretos” ou “pardos” (o Estatuto da Igualdade Racial – Lei 12.288/2010 – chama esse grupo de “população negra”).

O parágrafo único do art. 2º preceitua que, “na hipótese de constatação de declaração falsa, o candidato será eliminado do concurso e, se houver sido nomeado, ficará sujeito à anulação da sua admissão ao serviço ou emprego público, após procedimento administrativo em que lhe sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, sem prejuízo de outras sanções cabíveis”.

Antevemos dificuldades de monta na aplicação desse último dispositivo, pela singela razão de que, a nosso ver, não se pode reconhecer a órgão nenhum o poder de determinar se uma pessoa prestou “declaração falsa” quanto a ser “negra”. Afinal, a própria lei explicita – e jamais se poderia cogitar algo diferente disso – que o único critério para o enquadramento da pessoa como “negra” é o da autodeclaração!

O art. 3º da Lei 12.990/2014 contém regras, a seguir expostas, que, além de serem bastante lógicas, são autoexplicativas.

Os candidatos negros concorrerão concomitantemente às vagas reservadas e às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no concurso (art. 3º). Os candidatos negros aprovados dentro do número de vagas oferecido para ampla concorrência não serão computados para efeito do preenchimento das vagas reservadas (art. 3º, § 1º). Em caso de desistência de candidato negro aprovado em vaga reservada, a vaga será preenchida pelo candidato negro posteriormente classificado (art. 3º, § 2º). Na hipótese de não haver número de candidatos negros aprovados suficiente para ocupar as vagas reservadas, as vagas remanescentes serão revertidas para a ampla concorrência e serão preenchidas pelos demais candidatos aprovados, observada a ordem de classificação (art. 3º, § 3º).

A nomeação dos candidatos aprovados respeitará os critérios de alternância e proporcionalidade, que consideram a relação entre o número de vagas total e o número de vagas reservadas a candidatos com deficiência e a candidatos negros (art. 4º).

Essa regra do art. 4º funciona da seguinte forma: houve um concurso hipotético para um cargo público federal com cem vagas, sendo vinte reservadas para negros (percentual obrigatório) e dez para candidatos com deficiência. Foram aprovados cem candidatos (não sobrou vaga). A administração deseja, em um primeiro momento, nomear trinta candidatos. Deverá, então, nomear vinte e um aprovados nas vagas de ampla concorrência, seis aprovados nas vagas reservadas para negros e três aprovados nas vagas reservadas para

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candidatos com deficiência.

A Lei 12.990/2014 entrou em vigor na data de sua publicação (10 de junho de 2014) e terá vigência pelo prazo de dez anos. Não é demasiado repisar que ela só tem aplicação no âmbito “da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União”.

14) No item 5.5, foi feita a substituição abaixo indicada:

5.5. Exercício

............

Como o nomeado passa a ser servidor a partir da posse, na hipótese de ele não entrar em exercício dentro do prazo legal, ocorrerá sua exoneração, ou seja, será desfeito o vínculo jurídico formado entre ele e a administração por ocasião da posse (art. 15, § 2.º).

Aliás, é oportuno abrir um parêntese para comentar que se firmou em nossa jurisprudência a orientação de que a pessoa que venha a ser nomeada e empossada em cargo público por força de decisão judicial não tem direito a indenização – muito menos a remuneração! – relativa ao tempo durante o qual teve que aguardar pela sua nomeação. Para o Supremo Tribunal Federal, “é indevida indenização pelo tempo em que se aguardou solução judicial definitiva sobre aprovação em concurso público”.73 Considera-se que, tendo a nomeação decorrido de sentença judicial, o retardamento não configura ato ilegítimo da administração pública, o que torna descabido cogitar uma contrapartida indenizatória.

Fechado o parêntese, estabelece o § 2º do art. 15 da Lei 8.112/1990 que o servidor será exonerado do cargo se não entrar em exercício dentro do prazo legal. Note-se que ele já tomara posse no cargo – e, desde a posse, tornou-se, juridicamente, um servidor público. Por isso, não entrando em exercício no prazo legal, é necessário que se desfaça o vínculo jurídico formado entre ele e a administração por ocasião da posse, o que deve ser feito mediante exoneração (se se tratasse de falta grave apurada em processo disciplinar, o rompimento do vínculo ocorreria por demissão, mas não é essa a hipótese descrita no dispositivo legal ora em foco).

O servidor que deva ter exercício em um município diferente daquele em que estava lotado, porque foi removido, redistribuído, requisitado, cedido ou posto em exercício provisório (...)

...............

73 RE-AgR 593.373/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 05.04.2011. No mesmo sentido: RE-AgR 248.803/RS, rel. Min. Nelson Jobim, 06.02.2001.

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15) No item 5.8, foi feito o acréscimo abaixo indicado:

5.8. Remoção

...................

Deve-se enfatizar que remoção não é sinônimo de transferência. A transferência era forma de provimento (a remoção não é forma de provimento) prevista originalmente no art. 8.º, IV, da Lei 8.112/1990, consistente na passagem do servidor estável de cargo efetivo para outro de igual denominação, pertencente a quadro de pessoal diverso, de órgão ou instituição do mesmo Poder. A forma de provimento transferência foi declarada inconstitucional pelo STF (ADI 231 e ADI 837) e, posteriormente, foi expressamente revogada pela Lei 9.527/1997.

Vale observar que, em diversas oportunidades, o Supremo Tribunal Federal rechaçou a invocação do art. 226 da Constituição de 1988 (“A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.”) como fundamento para que acolhesse a pretensão de servidores públicos que pleiteavam a concessão de remoção para acompanhar cônjuge ou companheiro quando este, em virtude de aprovação em concurso público, fora nomeado para iniciar o exercício de seu cargo em localidade diversa daquela em que residia a família.

Em outras palavras: nossa Corte Suprema não admite que o art. 226 da Carta Política, por si só, justifique impor à administração pública a obrigação de remover – a título de “remoção para acompanhar cônjuge ou companheiro” – um servidor público cujo cônjuge ou companheiro, aprovado em concurso público e nomeado para o cargo respectivo, tenha lotação inicial em localidade diversa daquela em que ambos, até então, residiam.74

Por fim, é oportuno registrar que a Lei 11.340/2006, cujo escopo é a criação de mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher (...)

......................

16) No item 5.11.2.1 foi feita a substituição abaixo indicada:

5.11.2.1. Indenizações

.................

a) ajuda de custo (arts. 53 a 57);

.................

Não será concedida ajuda de custo em nenhuma das hipóteses de remoção a pedido – seja na remoção a pedido, a critério da administração, seja na remoção a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da administração

74 RE-AgR 587.260/RN, rel. Min. Eros Grau, 29.09.2009; RE-ED 593.338/PE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 31.05.2011; RE-AgR 602.605/CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 28.02.2012.

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(respectivamente, incisos II e III do parágrafo único do art. 36).75

Não será concedida ajuda de custo em nenhuma das modalidades de remoção a pedido previstas na Lei 8.112/1990 – seja na remoção a pedido concedida a critério da administração, seja na remoção a pedido, para outra localidade, assegurada ao servidor independentemente do interesse da administração (respectivamente, incisos II e III do parágrafo único do art. 36).

b) diárias (arts. 58 e 59);

................

d) auxílio-moradia (arts. 60-A a 60-E).

...............

O art. 60-C da Lei 8.112/1990 estabelecia um limite temporal para a concessão do auxílio-moradia: oito anos dentro de cada período de doze anos. Esse artigo, entretanto, foi revogado pela MP 632/2013 – não convertida em lei até o fechamento desta edição –, de sorte que, atualmente, não há prazo máximo de duração do pagamento do auxílio-moradia.

O art. 60-C da Lei 8.112/1990 estabelecia um limite temporal para a concessão do auxílio-moradia: oito anos dentro de cada período de doze anos. Esse artigo, entretanto, foi revogado pela Lei 12.998/2014, de sorte que, atualmente, não há prazo máximo de duração do pagamento do auxílio-moradia.

...............

17) O item 5.11.3 passou a ter a redação abaixo (reprodução integral do item):

5.11.3. Férias

A Constituição de 1988 assegura a todos os servidores ocupantes de cargo público gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que a remuneração normal (art. 7.º, XVII, combinado com o art. 39, § 3.º).

A Lei 8.112/1990 estatui que as férias anuais serão de trinta dias e “podem ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no caso de necessidade do serviço, ressalvadas as hipóteses em que haja legislação específica” (art. 77).

O acréscimo remuneratório de que trata o texto constitucional foi fixado pela Lei 8.112/1990 – que o intitulou “adicional de férias” – em um terço da remuneração do período das férias, devendo ser pago, por ocasião das férias, independentemente de solicitação do servidor (art. 76). Caso o servidor exerça função de direção, chefia ou

75 Art. 53, § 3.º, incluído pela MP 632/2013, não convertida em lei até o fechamento desta edição.

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assessoramento, ou tenha cargo em comissão, a respectiva vantagem será considerada no cálculo do adicional de férias. O pagamento da remuneração das férias será efetuado até dois dias antes do início do respectivo período (art. 78).

Para o primeiro período aquisitivo de férias serão exigidos doze meses de exercício (art. 77, § 1.º). A lei proíbe que se leve à conta de férias qualquer falta ao serviço, ou seja, o servidor não pode, com o intuito de evitar as consequências deletérias que a lei atribui às ausências injustificadas, pretender compensar os dias que sem justificativa tenha faltado ao serviço subtraindo de suas férias igual quantidade de dias (art. 77, § 2º).

As férias poderão ser parceladas em até três etapas, desde que o servidor assim requeira (art. 77, § 3.º). O parcelamento é ato discricionário da administração, que poderá deferir a solicitação, ou não, conforme avaliação de oportunidade e conveniência para o serviço. Em caso de parcelamento, o servidor receberá o valor do adicional de férias por ocasião da fruição do primeiro período (art. 78, § 5.º).

As férias somente poderão ser interrompidas por motivo de calamidade pública, comoção interna, convocação para júri, serviço militar ou eleitoral, ou por necessidade do serviço declarada pela autoridade máxima do órgão ou entidade (art. 80). O restante do período interrompido será gozado de uma só vez.

Não está prevista na lei consequência para a hipótese de ocorrer, concretamente, acumulação de mais de dois períodos de férias anuais por um servidor. Segundo o entendimento prevalente no âmbito da administração pública federal, ele simplesmente perderá o direito às férias que ultrapassarem dois períodos. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), entretanto, diante de situação em que um servidor federal regido pela Lei 8.112/1990 acumulara mais de dois períodos de férias, decidiu que não se pode admitir que o servidor perca o seu direito. Significa dizer, o servidor, se ainda for ativo, poderá, sim, gozar os seus períodos acumulados de férias, não importa quantos sejam (na hipótese de o servidor cessar definitivamente o exercício do cargo, os períodos ainda não gozados deverão ser convertidos em dinheiro). Vale transcrever o seguinte trecho da ementa da decisão do STJ em que essa posição foi sustentada:76

A melhor exegese do art. 77 da Lei n.º 8.112/90 é no sentido de que o acúmulo de mais de dois períodos de férias não gozadas pelo servidor não implica a perda do direito, notadamente se se levar em conta que esse dispositivo tem por objetivo resguardar a saúde do servidor.

Aproveitando a menção à jurisprudência do STJ, vem a propósito anotar que essa Corte Superior entende que as hipóteses de afastamento do servidor do exercício do seu cargo consideradas pela lei como de efetivo exercício não prejudicam o seu direito às férias, com as consequentes vantagens pecuniárias. Veja-se a respeito, pela extrema clareza, a seguinte ementa de acórdão do STJ:77

76 MS 13.391/DF, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 27.04.2011. 77 REsp-AgR 1.377.925/AL, rel. Min. Humberto Martins, 20.06.2013. No mesmo sentido: REsp 1.370.581/AL, rel. Min.

Herman Benjamin, 11.04.2013; REsp 1.399.952/AL, rel. Min. Eliana Calmon, 15.10.2013.

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1. Trata-se, na origem, de mandado de segurança em que se objetiva assegurar o direito à percepção das férias com as consequentes vantagens pecuniárias, enquanto permanecer afastado para participação em curso de pós-graduação stricto sensu no país, na modalidade doutorado.

2. O STJ, em tema idêntico, decidiu que faz jus o servidor às férias nos períodos correspondentes ao afastamento para participação em programa de pós-graduação stricto sensu no país ou de licença para capacitação, até porque tais períodos são considerados como de efetivo exercício, nos termos do art. 102, IV e VIII, “e”, da Lei n. 8.112/90.

3. Não cabe ao regulamento, ou a qualquer norma infralegal, criar restrições ao gozo dos direitos sociais, mediante interpretação que afronte a razoabilidade e resulte na redução da intelecção conferida ao termo “efetivo exercício”.

A Lei 8.112/1990 preceitua que o servidor exonerado do cargo efetivo ou em comissão perceberá indenização relativa ao período das férias a que tiver direito e ao incompleto, na proporção de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou fração superior a quatorze dias, sendo a indenização calculada com base na remuneração do mês em que for publicado o ato exoneratório (art. 78, §§ 3º e 4º).

Para além dessa previsão de indenização contida nos §§ 3º e 4º do art. 78 da Lei 8.112/1990, é pacífico, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, o entendimento de que o servidor que fique impossibilitado de gozar suas férias, seja em razão do rompimento do vínculo com a administração, seja porque passou para a inatividade, tem direito à conversão das férias não gozadas em indenização pecuniária, independentemente de lei que expressamente reconheça a ele tal direito.78 O fundamento dessa orientação é a vedação ao enriquecimento sem causa da administração.

Aliás, abre-se um parêntese para pontuar que, em face de tal fundamentação – vedação ao enriquecimento sem causa –, assoma acertado inferir que, também para nossa Corte Suprema, não se mostra compatível com o ordenamento jurídico pátrio a tese, defendida pela administração pública federal, segundo a qual o servidor regido pela Lei 8.112/1990 que acumule férias simplesmente perderia o direito às que ultrapassem o limite de dois períodos. Esse servidor poderá, sim, gozar todos os períodos de férias anuais que acumulou, não importa quantos forem. E não se admite que, tendo o servidor a possibilidade de fruir as férias – porque ainda está em atividade, não houve cessação definitiva do exercício de seu cargo –, a administração, que está constitucionalmente obrigada a concedê-las, deixe de fazê-lo e pretenda, a seu talante, substituí-las por uma indenização pecuniária.79

Anote-se, por derradeiro, que, em qualquer hipótese de pagamento de indenização por férias não usufruídas, o adicional de férias de um terço sobre a remuneração normal será obrigatoriamente incluído.80

78 ARE 721.001/RJ (repercussão geral), rel. Min. Gilmar Mendes, 28.02.2013. No mesmo sentido: ARE-AgR 731.803/RJ,

rel. Min. Ricardo Lewandowski, 14.05.2013; AI-AgR 836.957/MA, rel. Min. Dias Toffoli, 11.03.2014. 79 ARE-ED 721.001/RJ (repercussão geral), rel. Min. Gilmar Mendes, 28.08.2014. 80 RE 570.908/RN (repercussão geral), rel. Min. Cármen Lúcia, 16.09.2009 (vide Informativo 559 do STF).

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18) No item 5.11.4, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

5.11.4. Licenças .....................

b) licença por motivo de afastamento do cônjuge;

.....................

A Lei 8.112/1990 prevê a possibilidade de exercício provisório em órgão ou entidade da administração federal direta, autárquica ou fundacional, para o cônjuge ou companheiro que também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, desde que para o exercício de atividade compatível com o seu cargo.

Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a concessão da licença ora em questão é um ato vinculado – apesar de a lei afirmar que ela “poderá ser concedida”. Ademais, para a sua concessão, não é exigido que o cônjuge do servidor que pleiteia a licença seja também servidor público, tampouco que o deslocamento do cônjuge tenha sido atual. Assim, imagine-se um casal, marido e mulher, em que o primeiro seja servidor público e ela empregada de uma empresa privada. Se a empresa deslocá-la para outro ponto do território nacional, ou para o exterior, terá o servidor direito a essa licença. E terá direito a sua concessão mesmo que só venha a requerê-la algum tempo depois de sua esposa ter sido deslocada.81

O § 2º do art. 84 da Lei 8.112/1990 prevê a possibilidade de exercício provisório em órgão ou entidade da administração federal direta, autárquica ou fundacional, no caso de deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companheiro também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, desde que para o exercício de atividade compatível com o seu cargo.

Conforme orientação do Supremo Tribunal Federal, esse § 2º do art. 84 da Lei 8.112/1990 não se aplica ao caso em que o cônjuge ou companheiro seja nomeado e empossado em cargo público e a localidade inicial do respectivo exercício não seja a mesma em que o casal reside. Dito de outra forma, a licença por motivo de afastamento do cônjuge visando ao exercício provisório de que trata o art. 84 da Lei 8.112/1990 não se aplica quando, em razão de provimento originário de cargo público, seja determinada a lotação inicial do cônjuge ou companheiro em localidade diferente daquela em que, até então, a família residia.82

c) licença para o serviço militar;

.....................

81 Resp-AgR 1.243.276/PR, rel. Min. Benedito Gonçalves, 05.02.2013 (vide Informativo 515 do STJ). 82 MS 28.620/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 23.09.2014 (vide Informativo 760 do STF).

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h) licença para tratamento de saúde;

....................

O servidor será submetido a exames médicos periódicos, nos termos e condições definidos em regulamento (art. 206-A). Para dar cumprimento a essa determinação legal, a União e suas autarquias e fundações poderão:83

O servidor será submetido a exames médicos periódicos, nos termos e condições definidos em regulamento (art. 206-A). Para dar cumprimento a essa determinação legal, a União e suas autarquias e fundações poderão:

...............

19) No item 5.12.2, foi feito o acréscimo abaixo indicado:

5.12.2. Penalidades

................

Expostos esses pontos, cumpre transcrever o art. 132 da Lei 8.112/1990:

Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos:

..............

XIII – transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117.

É interessante comentar que a Lei 8.112/1990 estabelece como causa de demissão a prática de “improbidade administrativa”, sem que o legislador tenha se preocupado em estabelecer qualquer definição ou exemplificação de condutas, comissivas e omissivas, que devam ser assim consideradas. E a Lei 8.112/1990 é anterior à Lei 8.429/1992 – lei de caráter nacional que, regulamentando o § 4º do art. 37 da Constituição, tipifica e sanciona os “atos de improbidade administrativa”.

Conforme a jurisprudência do STF e do STJ, a penalidade disciplinar de demissão por improbidade administrativa, fundada no inciso IV do art. 132 da Lei 8.112/1990, pode ser aplicada pela administração pública, como resultado de um processo administrativo disciplinar (PAD) em que tenha sido assegurada a ampla defesa ao servidor, independentemente da eventual existência de uma ação civil de improbidade administrativa ajuizada com base na Lei 8.429/1992, ainda que motivada pelos mesmos fatos apurados no PAD.84 Aliás, a Lei 8.429/1992 é explícita quanto ao fato

83 Parágrafo único do art. 206-A, incluído pela MP 632/2013, não convertida em lei até o fechamento desta edição. 84 Do STJ: MS 12.262/DF, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 27.06.2007; MS 15.054/DF, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 25.05.2011; MS 14.140/DF, rel. Min. Laurita Vaz, 26.09.2012. Do STF: RMS 24.194/DF, rel. Min. Luiz Fux, 13.09.2011; RE-AgR 736.351/SC, rel. Min. Roberto Barroso, 12.11.2013.

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de que as sanções nela cominadas são aplicadas independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica (art. 12).

Frise-se que a administração pública não aplica nenhuma das sanções previstas na Lei 8.429/1992. A imposição de tais sanções – entre as quais se inclui a perda da função pública – é competência exclusiva do Poder Judiciário. Mas a administração pública, para caracterizar, no âmbito de um PAD, a ocorrência de infração administrativa que configure improbidade administrativa, pode valer-se das enumerações exemplificativas de atos de improbidade administrativa vazadas nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei 8.429/1992. Pode, também, afirmar a ocorrência de improbidade administrativa, no âmbito de um PAD, sem fazer qualquer referência às listas de atos de improbidade constantes da Lei 8.429/1992. E, em qualquer caso, se a administração federal impuser a um servidor a penalidade de demissão por improbidade administrativa – o que só poderá ocorrer como resultado de um PAD –, estará aplicando a Lei 8.112/1990, jamais a Lei 8.429/1992.

Configuradas as hipóteses dos incisos IV, VIII, X e XI, a demissão (bem como a destituição de cargo em comissão) implicará a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação penal cabível (art. 136).

................

20) No item 5.12.3, foi feito, ao final, o acréscimo abaixo indicado:

5.12.3. Prescrição

...............

A nosso ver, esse entendimento destoa do texto da Lei 8.112/1990, especialmente dos seus arts. 151 e 152. Contudo, vale repetir, é esta a orientação existente no âmbito do nosso Pretório Excelso: instaurado o PAD federal, interrompe-se a prescrição, que recomeça a fluir por inteiro ao término do prazo de 140 dias, contados da referida instauração, caso, evidentemente, não tenha sido proferida a decisão final dentro desse prazo.

Por fim, demanda um comentário o art. 170 da Lei 8.112/1990, dispositivo que, literalmente, preceitua: “Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade julgadora determinará o registro do fato nos assentamentos individuais do servidor.”

De pronto se constata que a redação é ambígua: será registrada nos assentamentos individuais do servidor tão somente a ocorrência de prescrição concernente a determinado processo relativo a fatos que não serão descritos? Ou serão descritos nos assentamentos individuais do servidor fatos apurados que configuram infração administrativa que a ele foi imputada e que só não chegou a acarretar aplicação de penalidade porque a prescrição impediu?

O Supremo Tribunal Federal, fazendo uma interpretação sistemática da Lei 8.112/1990 – e mesmo uma interpretação histórica do dispositivo legal em questão –,

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concluiu que o art. 170 da Lei 8.112/1990 determina que sejam registrados nos assentamentos individuais do servidor os fatos que foram apurados e constituem a infração (ou as infrações) administrativa a ele imputada, como se o servidor efetivamente a houvesse cometido – e tivesse escapado da punição apenas por causa da prescrição.

A partir da premissa de que esse é, deveras, o comando contido na norma, o Plenário da Corte Suprema (incidentalmente) declarou inconstitucional o art. 170 da Lei 8.112/1990, sob o fundamento principal de afronta ao princípio da presunção da inocência (CF, art. 5º, LVII).85

21) No item 5.12.4, foi feita a substituição abaixo indicada:

5.12.4. Responsabilidades

...............

A doutrina e a jurisprudência utilizam a expressão “falta residual” para aludir ao fato que não chega a acarretar condenação na órbita penal, mas configura ilícito administrativo ou cível, ensejando a responsabilização do agente nessas esferas. É pertinente ao tema a Súmula 18 do STF, abaixo transcrita:

18 – Pela falta residual, não compreendida na absolvição pelo juízo criminal, é admissível a punição administrativa do servidor público.

Em suma, nosso ordenamento jurídico admite as responsabilidades civil e administrativa com base em menos elementos do que os necessários para acarretar a responsabilidade penal. Logo, é perfeitamente possível, pelo mesmo fato, um agente público ser condenado administrativamente (por exemplo, sofrendo demissão), ser condenado na esfera cível e ser absolvido na esfera penal (por exemplo, por insuficiência de provas). Em uma situação como essa, mesmo com a absolvição penal, as condenações nas outras esferas serão integralmente mantidas, sem sofrerem qualquer interferência da esfera penal. A absolvição penal só interfere nas esferas administrativa e cível, relativamente a um determinado fato imputado ao agente público, quando a sentença penal absolutória afirma que tal fato não existiu ou que não foi do agente público a autoria.

Sem prejuízo dos pontos que acabamos de expor, convém esclarecer que, em decorrência da independência entre as esferas de responsabilização, a administração pública não depende da instauração de qualquer ação judicial para estar apta, ela própria, a instaurar o processo administrativo disciplinar (PAD) destinado a apurar os fatos imputados a determinado servidor seu. Além disso, o mero ajuizamento de ação cível ou penal, por si só, não influencia o andamento do PAD. Conforme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não deve ser paralisado o curso de processo 85 MS 23.262/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 23.04.2014.

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administrativo disciplinar apenas em função de ajuizamento de ação penal destinada a apurar criminalmente os mesmos fatos investigados administrativamente.86

Por fim, cumpre anotar que a Lei 12.527/2011 acrescentou ao capítulo da Lei 8.112/1990 acerca das responsabilidades dos servidores por ela regidos o art. 126-A, com a seguinte redação:

.................

22) No item 5.13.3.3, foi feita a supressão abaixo indicada:

5.13.3.3. Julgamento

..................

Se o relatório da comissão tiver concluído pela inocência do servidor, a própria autoridade instauradora do processo determinará o seu arquivamento, exceto quando a conclusão for flagrantemente contrária à prova dos autos (art. 167, § 4.º).

Na hipótese de ocorrer a extinção da punibilidade pela prescrição, a autoridade julgadora determinará o registro do fato nos assentamentos individuais do servidor (art. 170).

Caso a infração esteja capitulada como crime, o processo disciplinar será remetido ao Ministério Público para instauração da ação penal, ficando trasladado na repartição (art. 171).

................

CAPÍTULO 9

1) No item 11.1, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

11.1. Transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse (Decreto 6.170/2007)

...............

86 MS 18.090/DF, rel. Min. Humberto Martins, 08.05.2013 (vide Informativo 523 do STJ).

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22.ª para 23.ª edição

Os convênios e os contratos de repasse celebrados com entidades privadas sem fins lucrativos deverão ser assinados pelo Ministro de Estado ou pelo dirigente máximo da entidade da administração pública federal concedente, vedada a delegação dessa competência (art. 6.º-A).

Todo convênio ou contrato de repasse celebrado pela União e suas entidades deve conter, como cláusulas necessárias: (a) a indicação da forma pela qual a execução do objeto será acompanhada pelo concedente, devendo a forma de acompanhamento ser suficiente para garantir a plena execução física do objeto; e (b) a vedação para o convenente de estabelecer contrato ou convênio com entidades impedidas de receber recursos federais (art. 6º).

Na definição do decreto, “concedente” é o “órgão da administração pública federal direta ou indireta, responsável pela transferência dos recursos financeiros ou pela descentralização dos créditos orçamentários destinados à execução do objeto do convênio”.

Todo convênio deve ter, como cláusula necessária, dispositivo que indique a forma pela qual o concedente acompanhará a execução do respectivo objeto, de modo a garantir a plena execução física do objeto (art. 6.º).

Os convênios e os contratos de repasse celebrados com entidades privadas sem fins lucrativos deverão ser assinados pelo Ministro de Estado ou pelo dirigente máximo da entidade da administração pública federal concedente, vedada a delegação dessa competência. Nesses convênios e contratos de repasse, o Ministro de Estado e o dirigente máximo da entidade concedente são responsáveis por decidir sobre a aprovação da prestação de contas e por suspender ou cancelar o registro de inadimplência nos sistemas da administração pública federal, sendo admitida a delegação dessas duas competências para autoridades diretamente a eles subordinadas, vedada a subdelegação (art. 6.º-A).

Para que o convenente possa receber os recursos federais, é exigida uma contrapartida, a qual corresponde à parcela de participação econômica que ele terá que assumir na consecução do objeto do convênio. Essa participação deve ser mensurável economicamente. A regra é a contrapartida financeira (em dinheiro), mas pode ser admitida a contrapartida em bens ou serviços, desde que fundamentada sua aceitação pelo órgão repassador. Quando financeira, a contrapartida deverá ser depositada na conta bancária específica do convênio; quando atendida por meio de bens e serviços, constará do convênio cláusula que indique a forma de aferição da contrapartida (art. 7.º).

O convenente ficará obrigado a prestar contas dos recursos recebidos, na forma da legislação aplicável, e o concedente terá prazo de noventa dias para apreciar a prestação de contas apresentada, contados da data de seu recebimento (art. 10, §§ 6.º e 7.º).

As transferências financeiras para órgãos públicos e entidades públicas e privadas, decorrentes da celebração de convênios e contratos de repasse, serão feitas exclusivamente por intermédio de instituição financeira controlada pela União, que poderá atuar como mandatária desta para execução e fiscalização (art. 10).

As transferências financeiras para órgãos públicos e entidades públicas e privadas,

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22.ª para 23.ª edição

decorrentes da celebração de convênios e contratos de repasse, serão feitas exclusivamente por intermédio de instituição financeira oficial, federal ou estadual, que poderá atuar como mandatária da União para execução e fiscalização (art. 10).

A prestação de contas no âmbito dos convênios e contratos de repasse observará regras específicas de acordo com o montante de recursos públicos envolvidos, nos termos das disposições e procedimentos estabelecidos em ato conjunto editado pelos Ministros de Estado da Fazenda e do Planejamento, Orçamento e Gestão e Ministro de Estado Chefe da Controladoria-Geral da União.

A prestação de contas inicia-se concomitantemente com a liberação da primeira parcela dos recursos financeiros, que deverá ser registrada pelo concedente no Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (SICONV).

O prazo para análise da prestação de contas e a manifestação conclusiva pelo concedente será de um ano, prorrogável no máximo por igual período, desde que devidamente justificado. A contagem desse prazo inicia-se no dia da apresentação da prestação de contas.

Constatada irregularidade ou inadimplência na apresentação da prestação de contas e comprovação de resultados, a administração pública poderá, a seu critério, conceder prazo de até 45 dias para a organização da sociedade civil sanar a irregularidade ou cumprir a obrigação.

A análise da prestação de contas pelo concedente poderá resultar em: (a) aprovação; (b) aprovação com ressalvas, quando evidenciada impropriedade ou outra falta de natureza formal de que não resulte dano ao erário; ou (c) rejeição com a determinação da imediata instauração de tomada de contas especial.

Nos convênios e contratos de repasse firmados com entidade privada sem fins lucrativos, a inadimplência desta em relação aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à administração pública a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do convênio ou contrato de repasse (art. 11-B, § 5º).

O Decreto 6.170/2007 reproduz quase literalmente as disposições constantes dos §§ 4.º a 6.º do art. 116 da Lei 8.666/1993. (...)

...................

As entidades privadas sem fins lucrativos que pretendam celebrar convênio ou contrato de repasse com órgãos e entidades da administração pública federal deverão realizar cadastro prévio no Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (SICONV), conforme normas do órgão central do sistema (art. 3.º).

Entre outras exigências impostas para a realização do referido cadastramento estão a prova de regularidade com as fazendas federal, estadual, distrital e municipal, bem como com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), e a apresentação de comprovante do exercício nos últimos três anos, pela entidade privada sem fins lucrativos, de atividades referentes à matéria objeto do convênio ou contrato de repasse que pretenda celebrar com órgãos e entidades da administração pública federal. Essa última exigência não se aplica às transferências do Ministério da Saúde destinadas a

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serviços de saúde integrantes do SUS (art. 16-A).

Entre outras exigências impostas para a realização do referido cadastramento estão a prova de regularidade com as fazendas federal, estadual, distrital e municipal, bem como com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a declaração de que a entidade não consta de cadastros impeditivos de receber recursos públicos, a declaração de que a entidade não se enquadra como clube recreativo, associação de servidores ou congênere e a apresentação de comprovante do exercício nos últimos três anos, pela entidade privada sem fins lucrativos, de atividades referentes à matéria objeto do convênio ou contrato de repasse que pretenda celebrar com órgãos e entidades da administração pública federal. Essa última exigência não se aplica às transferências do Ministério da Saúde destinadas a serviços de saúde integrantes do SUS (art. 16-A).

A celebração, a liberação de recursos, o acompanhamento da execução e a prestação de contas de convênios, contratos de repasse e termos de parceria serão também registrados no SICONV, que será aberto ao público, acessível pela internet, em página específica denominada Portal dos Convênios (art. 13).

..................

CAPÍTULO 10

1) No item 3.3.1, foi feito o acréscimo abaixo indicado:

3.3.1. Favorecimento a produtos e serviços nacionais: critérios de desempate, “margens de preferência”, licitações com participação restrita

.............

Deve ser divulgada na internet, a cada exercício financeiro, a relação de empresas favorecidas pela aplicação das regras de tratamento diferenciado inseridas pela Lei 12.349/2010 no art. 3.º da Lei 8.666/1993, examinadas no presente tópico, com indicação do volume de recursos destinado a cada uma dessas empresas (art. 3.º, § 13).

As preferências definidas no art. 3º da Lei 8.666/1993 e nas demais normas de licitações e contratos devem privilegiar o tratamento diferenciado e favorecido às microempresas e empresas de pequeno porte na forma da lei (art. 3º, § 14, incluído pela Lei Complementar 147/2014). É oportuno observar, aliás, que o art. 5º-A da Lei 8.666/1993, também acrescentado pela LC 147/2014, preceitua, de forma abrangente, que “as normas de licitações e contratos devem privilegiar o tratamento diferenciado e favorecido às microempresas e empresas de pequeno porte na forma da lei”. Como a Lei 8.666/1993 é uma lei de normas gerais, de caráter nacional, conclui-se que essa disposição do art. 5-A é endereçada aos legisladores ordinários dos diversos entes

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federados, que deverão observá-la na elaboração das suas leis próprias sobre licitações e contratos administrativos.

As preferências previstas no art. 3º da Lei 8.666/1993 prevalecem sobre as demais preferências previstas na legislação quando estas forem aplicadas sobre produtos ou serviços estrangeiros (art. 3º, § 15, inserido pela LC 147/2014).

Vale repetir, uma vez mais, que as normas constantes da Lei 12.349/2010 aplicam-se à modalidade pregão de licitação.

...............

2) No item 4.6, foi feita a substituição abaixo indicada:

4.6. Habilitação dos licitantes

...............

O art. 43 da LC 123/2006 determina que as ME e EPP que participem da licitação apresentem toda a documentação exigida para efeito de comprovação de regularidade fiscal, mesmo que esta contenha alguma restrição. Se a ME ou a EPP que apresentou documentos com restrições (por exemplo, uma certidão de que constem débitos exigíveis de tributos federais) vencer a licitação, aí sim, terá ela o prazo de dois dias úteis, contados a partir do momento em que a ME ou a EPP seja declarada vencedora do certame, prorrogáveis por mais dois dias úteis, a critério da administração, para a regularização da documentação, pagamento ou parcelamento do débito, e emissão de eventuais certidões negativas ou positivas com efeitos de certidão negativa (art. 43, § 1.º).

O art. 43 da LC 123/2006 determina que as ME e EPP que participem da licitação apresentem toda a documentação exigida para efeito de comprovação de regularidade fiscal, mesmo que esta contenha alguma restrição. Se a ME ou a EPP que apresentou documentos com restrições (por exemplo, uma certidão de que constem débitos exigíveis de tributos federais) vencer a licitação, aí sim, terá ela o prazo de cinco dias úteis, contados a partir do momento em que a ME ou a EPP seja declarada vencedora do certame, prorrogáveis por mais cinco dias úteis, a critério da administração, para a regularização da documentação, pagamento ou parcelamento do débito, e emissão de eventuais certidões negativas ou positivas com efeitos de certidão negativa (art. 43, § 1.º).

..............

3) O item 5 passou a ter a seguinte redação (reprodução integral do item):

5. LICITAÇÕES DIFERENCIADAS PARA MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE

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A Lei Complementar 123/2006, denominada “Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte”, estabelece, em seu art. 47, com a redação dada pela Lei Complementar 147/2014, que todos os órgãos e entidades da administração pública brasileira – “administração direta e indireta, autárquica e fundacional, federal, estadual e municipal” – deverão, em suas contratações públicas, conceder “tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte objetivando a promoção do desenvolvimento econômico e social no âmbito municipal e regional, a ampliação da eficiência das políticas públicas e o incentivo à inovação tecnológica”. No que diz respeito, especificamente, às compras públicas, determina o parágrafo único do mesmo artigo que, enquanto não sobrevier legislação estadual, municipal ou regulamento específico de cada órgão mais favorável à microempresa e empresa de pequeno porte, aplica-se a legislação federal.

O art. 48 da LC 123/2006, desde logo, especifica medidas que configuram “tratamento diferenciado e simplificado” e que deverão ser observadas, pela administração pública de todos os entes federados, nas licitações e contratações que efetuem. Nos termos desse artigo, a administração pública:

I – deverá realizar processo licitatório destinado exclusivamente à participação de microempresas e empresas de pequeno porte nos itens de contratação cujo valor seja de até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);

II – poderá, em relação aos processos licitatórios destinados à aquisição de obras e serviços, exigir dos licitantes a subcontratação de microempresa ou empresa de pequeno porte;

III – deverá estabelecer, em certames para aquisição de bens de natureza divisível, cota de até 25% (vinte e cinco por cento) do objeto para a contratação de microempresas e empresas de pequeno porte.

Vale notar que apenas o inciso II contém uma norma de adoção facultativa. Os outros dois incisos são de observância obrigatória.

Caso seja prevista no edital da licitação a exigência de subcontratação de que trata o inciso II, os empenhos e pagamentos do órgão ou entidade da administração pública poderão ser destinados diretamente às microempresas e empresas de pequeno porte subcontratadas (art. 48, § 2.º).

A LC 147/2014 acrescentou ao art. 48 da LC 123/2006, ora em estudo, o § 3º, com o seguinte teor: “Os benefícios referidos no caput deste artigo poderão, justificadamente, estabelecer a prioridade de contratação para as microempresas e empresas de pequeno porte sediadas local ou regionalmente, até o limite de 10% (dez por cento) do melhor preço válido.”

A redação é bastante obscura, mas, aparentemente, esse dispositivo criou a possibilidade (a medida é facultativa) de a administração pública, motivadamente, prever no edital de uma licitação à qual estejam sendo aplicados os preceitos do art. 48 da LC 123/2006 uma vantagem, semelhante àquela que a Lei 8.666/1993 chama de “margem de preferência”, em favor das ME e EPP que tenham sede no mesmo local ou na mesma

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região onde ocorrerá a contratação ou a execução do contrato. Ou seja, o edital pode estipular que a contratação dessas ME e EPP locais ou regionais, decorrente da licitação por ele regulada, seja feita por um valor até 10% superior ao do melhor preço obtido na disputa. Esperamos que regulamentação ulterior dessa regra venha a esclarecer o seu efetivo conteúdo e a forma de sua aplicação – e, ainda, o que deva ser considerado âmbito “local” e “regional”.

Em qualquer caso, o art. 49 da LC 123/2006 determina que não se aplica o “tratamento diferenciado e simplificado” previsto nos seus arts. 47 e 48 quando:

a) não houver um mínimo de três fornecedores competitivos enquadrados como microempresas ou empresas de pequeno porte sediados local ou regionalmente e capazes de cumprir as exigências estabelecidas no instrumento convocatório;

b) o tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte não for vantajoso para a administração pública ou representar prejuízo ao conjunto ou complexo do objeto a ser contratado;

c) a licitação for dispensável ou inexigível, nos termos dos arts. 24 e 25 da Lei 8.666/1993.

A regra vazada na letra “c”, acima, corresponde ao inciso IV do art. 49 da LC 123/2006, que, a partir de alteração trazida pela LC 147/2014, passou a conter a seguinte ressalva: “excetuando-se as dispensas tratadas pelos incisos I e II do art. 24 da mesma Lei, nas quais a compra deverá ser feita preferencialmente de microempresas e empresas de pequeno porte, aplicando-se o disposto no inciso I do art. 48”.

Portanto, nessas hipóteses de licitação dispensável – contratações de obras e serviços de engenharia, compras e outros serviços cujo valor não exceda 10% do limite previsto para utilização da modalidade convite de licitação – a que se reporta a exceção supratranscrita aplica-se o “tratamento diferenciado e simplificado” previsto nos arts. 47 e 48 da LC 123/2006. Até aqui, não temos maiores dificuldades de interpretação.

O problema é que, como vimos na transcrição acima, a exceção introduzida pela LC 147/2014 continua destarte: “nas quais a compra deverá ser feita preferencialmente de microempresas e empresas de pequeno porte, aplicando-se o disposto no inciso I do art. 48”.

Primeira dúvida: os incisos I e II do art. 24 da Lei 8.666/1993, expressamente referidos no dispositivo, não tratam só de compras, mas também de obras e serviços de engenharia e outros serviços.

Em segundo lugar, o inciso I do art. 48 da LC 123/2006, também referido de forma expressa no mesmo dispositivo, prevê a realização de licitação destinada exclusivamente a ME e EPP nos itens de contratação cujo valor seja de até R$ 80.000,00. Como se aplicaria esse inciso, se a exceção que estamos analisando concerne a situações em que poderá ser dispensada a licitação, além de afirmar que “a compra deverá ser feita preferencialmente de microempresas e empresas de pequeno porte”?

Em suma, está claro que as hipóteses de licitação dispensável dos incisos I e II do art. 24 da Lei 8.666/1993 não afastam o “tratamento diferenciado e simplificado” previsto nos arts. 47 e 48 da LC 123/2006. Mas não conseguimos entender o que o inciso IV do

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art. 49 da LC 123/2006, com a redação que lhe deu a LC 147/2014, quer dizer quando determina que, nessas hipóteses, “a compra deverá ser feita preferencialmente de microempresas e empresas de pequeno porte, aplicando-se o disposto no inciso I do art. 48”.

4) No item 8, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

8. SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇOS ................

Os “órgãos participantes” são os órgãos ou entidades que fizeram parte dos procedimentos iniciais do sistema de registro de preços e integram a ata de registro de preços. O órgão participante é responsável pela manifestação de interesse em participar do registro de preços, providenciando o encaminhamento ao órgão gerenciador de sua estimativa de consumo.

Pode haver, ainda, a figura do “órgão não participante” (informalmente chamado de “carona”), descrito como o “órgão ou entidade da administração pública que, não tendo participado dos procedimentos iniciais da licitação, atendidos os requisitos desta norma, faz adesão à ata de registro de preços”.

É importante anotar que a ata obriga os fornecedores, mas não obriga a administração. Com efeito, o art. 16 do Decreto 7.892/2013, cuja base legal é o § 4.º do art. 15 da Lei 8.666/1993, literalmente assevera que a existência de preços registrados não obriga a administração a contratar, facultando-se a realização de licitação específica para a aquisição pretendida, assegurada preferência ao fornecedor registrado em igualdade de condições.

Assim, imaginando que o órgão “X” integre a ata, mas pretenda comprar o bem mediante licitação específica, poderá realizá-la. Porém, se o licitante vencedor nesse certame específico ofereceu o bem a ser comprado por, digamos, duzentos reais, e o primeiro fornecedor constante da ata que o órgão “X” integra também tem aquele bem registrado por duzentos reais, nas mesmas condições do vencedor da licitação específica, então o órgão “X” será obrigado a comprar do fornecedor integrante da ata, em razão da preferência que a este é assegurada.

Os “órgãos participantes” são os órgãos ou entidades da administração pública que participam dos procedimentos iniciais do sistema de registro de preços e integram a ata de registro de preços. O órgão participante é responsável pela manifestação de interesse em participar do registro de preços, providenciando o encaminhamento ao órgão gerenciador de sua estimativa de consumo, local de entrega e, quando couber, cronograma de contratação e respectivas especificações ou termo de referência ou projeto básico, adequado ao registro de preços do qual pretende fazer parte.

Existem, ainda, no Decreto 7.892/2013, duas figuras que merecem nota: (a) o “órgão não participante” (vulgarmente chamado de “carona”), descrito como o “órgão ou entidade da administração pública que, não tendo participado dos procedimentos iniciais da licitação, atendidos os requisitos desta norma, faz adesão à ata de registro de preços”; e (b)

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o “órgão participante de compra nacional”, definido como “órgão ou entidade da administração pública que, em razão de participação em programa ou projeto federal, é contemplado no registro de preços independente de manifestação formal”.

Uma “compra nacional”, nos termos do decreto, consiste na “compra ou contratação de bens e serviços, em que o órgão gerenciador conduz os procedimentos para registro de preços destinado à execução descentralizada de programa ou projeto federal, mediante prévia indicação da demanda pelos entes federados beneficiados”.

No caso de compra nacional, o órgão gerenciador promoverá a divulgação da ação, a pesquisa de mercado e a consolidação da demanda dos órgãos e entidades da administração direta e indireta da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Nessa hipótese, comprovada a vantajosidade, fica facultado aos órgãos ou entidades participantes de compra nacional a execução da ata de registro de preços vinculada ao programa ou projeto federal (vale lembrar que o órgão participante de compra nacional é contemplado no registro de preços independentemente de manifestação formal sua).

É importante ressaltar que a ata obriga os fornecedores, mas não a administração. Com efeito, o art. 16 do Decreto 7.892/2013, cuja base legal é o § 4.º do art. 15 da Lei 8.666/1993, textualmente assevera que a existência de preços registrados não obriga a administração a contratar, facultando-se a realização de licitação específica para a aquisição pretendida, assegurada preferência ao fornecedor registrado em igualdade de condições.

Assim, imaginando que o órgão “X” integre a ata, mas pretenda comprar o bem mediante licitação específica, poderá realizá-la. Porém, se o licitante vencedor nesse certame específico ofereceu o bem a ser comprado por, digamos, duzentos reais, e esse mesmo bem está registrado na ata em que o órgão “X” é participante por duzentos reais, nas mesmas condições propostas pelo vencedor da licitação específica, então o órgão “X” necessariamente terá que comprar do fornecedor mais bem classificado naquela ata de registro de preços, em razão da preferência que a este é assegurada.

Segundo o Decreto 7.892/2013, o sistema de registro de preços poderá ser adotado nas seguintes hipóteses:

....................

Portanto, se o licitante que apresentou a proposta vencedora ofereceu o bem por mil reais, os outros licitantes podem reajustar suas propostas para também mil reais, mas o primeiro colocado continuará sendo aquele que originalmente fez a melhor proposta.

Essa eventual redução que os outros licitantes podem fazer tem importância para eles porque somente será incluído na ata o registro dos licitantes que aceitarem cotar os bens ou serviços com preços iguais ao do licitante vencedor. Esses licitantes serão incluídos na ordem original da classificação do certame, que é a que será observada nas contratações decorrentes daquela ata (art. 11).

O preço registrado com indicação dos fornecedores será divulgado no Portal de Compras do Governo federal e ficará disponibilizado durante a vigência da ata de registro de preços.

O registro na ata dos licitantes que aceitaram cotar os bens ou serviços com preços iguais ao do licitante vencedor tem por objetivo a formação de cadastro de reserva, no

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caso de exclusão do primeiro colocado da ata. Se tal exclusão ocorrer, as contratações serão feitas com aqueles licitantes, segundo a classificação final que eles obtiveram na fase competitiva (art. 11, §§ 1.º e 3.º).

Essa eventual redução que os outros licitantes podem fazer tem grande importância para eles porque somente será incluído na ata, na forma de anexo, o registro dos licitantes que aceitarem cotar os bens ou serviços com preços iguais ao do licitante vencedor (excluído o percentual referente à margem de preferência, quando houver, nos casos em que o objeto não atenda aos requisitos previstos no art. 3º da Lei 8.666/1993). Esses licitantes serão incluídos na ordem original de sua classificação no certame, que é a que será observada nas contratações decorrentes daquela ata (art. 11).

O anexo referido no parágrafo precedente consiste na ata de realização da sessão pública do pregão ou da concorrência, que conterá a informação dos licitantes que aceitarem cotar os bens ou serviços com preços iguais ao do licitante vencedor do certame.

O preço registrado com indicação dos fornecedores será divulgado no Portal de Compras do Governo Federal e ficará disponibilizado durante a vigência da ata de registro de preços.

O registro, no anexo da ata, dos licitantes que aceitaram cotar os bens ou serviços com preços iguais ao do licitante vencedor tem por objetivo a formação de cadastro de reserva, no caso de impossibilidade de atendimento pelo primeiro colocado da ata, quando o registro dele for cancelado, de ofício ou a pedido. Se tal impossibilidade ocorrer, as contratações serão feitas com os licitantes remanescentes, registrados no anexo da ata, obedecida a ordem final de classificação que eles obtiveram na fase competitiva (estabelecida com base na última proposta que cada um apresentou nessa fase).

Homologado o resultado da licitação, o fornecedor mais bem classificado será convocado para assinar a ata de registro de preços, no prazo e nas condições estabelecidos no instrumento convocatório, podendo o prazo ser prorrogado uma vez, por igual período, quando solicitado pelo fornecedor e desde que ocorra motivo justificado aceito pela administração (art. 13).

É facultado à administração, quando o convocado não assinar a ata de registro de preços no prazo e condições estabelecidos, convocar os licitantes remanescentes, na ordem de classificação, para fazê-lo em igual prazo e nas mesmas condições propostas pelo primeiro classificado (art. 13, parágrafo único).

O prazo de validade da ata de registro de preços não será superior a doze meses, incluídas eventuais prorrogações. (...)

..........................

5) No item 13, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

13. REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS –

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RDC (LEI 12.462/2011)

.....................

g) de obras e serviços de engenharia no âmbito dos sistemas públicos de ensino;

h) das obras e serviços de engenharia para construção, ampliação e reforma de estabelecimentos penais e unidades de atendimento socioeducativo.87

h) das obras e serviços de engenharia para construção, ampliação e reforma de estabelecimentos penais e unidades de atendimento socioeducativo.

Cabe anotar, também, que a Lei 12.833/2013 (...)

............

Outra hipótese de utilização do RDC está prevista na MP 631/2013 – não convertida em lei até o fechamento desta edição –, que acrescentou à Lei 12.340/2010 o art. 15-A, com esta redação: “Aplica-se o disposto na Lei n.º 12.462, de 4 de agosto de 2011, às licitações e aos contratos destinados à execução de ações de prevenção em áreas de risco de desastres, de resposta e de recuperação em áreas atingidas por desastres”.

Outra hipótese de utilização do RDC está prevista no art. 15-A da Lei 12.340/2010, acrescentado pela Lei 12.983/2014, segundo o qual as disposições da Lei 12.462/2011 aplicam-se “às licitações e aos contratos destinados à execução de ações de prevenção em áreas de risco de desastres e de resposta e de recuperação em áreas atingidas por desastres”.

..............

A Lei 12.462/2011 estatui que a contratação integrada poderá ser utilizada, nas licitações de obras e serviços de engenharia, desde que técnica e economicamente justificada e cujo objeto envolva, pelo menos, uma das seguintes condições:88

A Lei 12.462/2011 estatui que a contratação integrada poderá ser utilizada, nas licitações de obras e serviços de engenharia, desde que técnica e economicamente justificada e cujo objeto envolva, pelo menos, uma das seguintes condições:

..............

O inciso III do § 2.º do art. 9.º da Lei 12.462/2011 determinava que, para a contratação integrada, fosse adotado na licitação obrigatoriamente o critério de julgamento técnica e preço. Esse inciso, entretanto, foi revogado pela MP 630/2013 – não convertida em lei até o fechamento desta edição –, de tal modo que, hoje, não existe previsão legal de algum critério de julgamento específico que deva ser adotado nas licitações para obras e serviços de engenharia a serem executados sob o

87 Hipótese incluída pela MP 630/2013, não convertida em lei até o fechamento desta edição. 88 Art. 9.º, caput e incisos I a III, com a redação dada pela MP 630/2013, não convertida em lei até o fechamento desta

edição.

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regime de contratação integrada.

O inciso III do § 2.º do art. 9.º da Lei 12.462/2011 determinava que, para a contratação integrada, fosse adotado na licitação obrigatoriamente o critério de julgamento técnica e preço. Esse inciso, entretanto, foi revogado pela MP 630/2013 –convertida, sem alteração de mérito, na Lei 12.980/2014 –, de tal modo que, hoje, não existe previsão legal de algum critério de julgamento específico que deva ser adotado nas licitações para obras e serviços de engenharia a serem executados sob o regime de contratação integrada.

...............

CAPÍTULO 11

1) No item 7.1, foi feita a substituição abaixo indicada:

7.1. Definições legais e aspectos gerais ..............

b) exploração de obras ou serviços federais de barragens, contenções, eclusas, diques e irrigações, precedidas ou não da execução de obras públicas;

b) exploração de obras ou serviços federais de barragens, contenções, eclusas ou outros dispositivos de transposição hidroviária de níveis, diques, irrigações, precedidas ou não da execução de obras públicas;

..............

2) No item 7.5, foi feita a substituição abaixo indicada:

7.5. Contratação com terceiros, subconcessão, transferência da concessão e transferência de controle societário

..............

Ao lado da hipótese de subconcessão, regrada no art. 26 da Lei 8.987/1995, são mencionadas, no art. 27, duas outras figuras em alguma medida assemelhadas: a “transferência de concessão” (realizada pela própria

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concessionária) e a “transferência do controle societário da concessionária”.

Segundo o texto legal, a transferência da concessão ou a transferência do controle societário da concessionária, sem prévia anuência do poder concedente, implicará a caducidade da concessão (caducidade é a extinção unilateral da concessão pelo poder concedente, em razão de falta imputável à concessionária, portanto, com caráter punitivo). A lei não exige, entretanto, a realização de licitação.

É consensual na doutrina a inconstitucionalidade dessa previsão legal de ser autorizada pelo poder concedente a “transferência de concessão” sem a realização de uma licitação prévia. Parece-nos irrefutável a orientação doutrinária: a possibilidade de o poder concedente simplesmente autorizar a concessionária a transferir a outrem a concessão configura grosseira fraude à exigência constitucional de que seja sempre realizada licitação previamente à celebração de contratos de concessão e de permissão de serviços públicos! Note-se que, no caso da subconcessão – em que há transferência apenas parcial do objeto da concessão –, a lei, corretamente, exige a realização de concorrência prévia (art. 26, § 1.º).

Acerca dessa possibilidade de “transferência de concessão” prevista no art. 27 da Lei 8.987/1995, o Prof. Celso Antônio Bandeira de Mello aduz a severa reprovação abaixo transcrita (destaques no original):

Está-se admitindo a comercialização do direito de prestar o serviço e ensejando que seja repassado a um sujeito que não venceu ou sequer disputou o certame licitatório. Isto é, está-se permitindo que, por vias transversas, alguém adquira a condição de concessionário sem licitação, o que é expressamente vedado – repita-se – pelo art. 175 da Lei Magna.

Não há decisão do Supremo Tribunal Federal proferida no controle abstrato de normas, ou qualquer outro provimento judicial com eficácia geral ou efeito vinculante, que declare inconstitucional essa regra legal sobre a “transferência de concessão” constante do art. 27 da Lei 8.987/1995. Acreditamos que, de tão disparatada, dificilmente o poder público pretenderá aplicá-la a algum caso concreto. Na eventualidade de algo assim ocorrer, não temos dúvida de que o Poder Judiciário, se provocado, rechaçará veementemente tamanho menoscabo à Constituição da República.

Diferente é a situação da “transferência do controle societário da concessionária”, também tratada no art. 27, porque, nesse caso, não haverá modificação das partes integrantes do contrato de concessão (a empresa concessionária permanece sendo a mesma empresa concessionária, haja vista que as personalidades dos sócios e da pessoa jurídica não se confundem).

Sendo assim, é possível o poder concedente legitimamente autorizar a

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transferência do controle societário da concessionária, sem que isso implique extinção da concessão, desde que, além da obtenção da anuência prévia, o pretendente satisfaça as seguintes condições (art. 27, § 1.º):

a) atenda às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e

b) comprometa-se a cumprir todas as cláusulas do contrato de concessão em vigor.

A Lei 11.196/2005 acrescentou os §§ 2.º, 3.º e 4.º ao art. 27 da Lei 8.987/1995, tratando da hipótese de a concessionária passar por dificuldades e necessitar que o seu controle seja assumido pelos seus financiadores, para promover a sua reestruturação financeira. Em tal situação, o poder concedente autorizará a assunção do controle da concessionária pelos seus financiadores, nas condições estabelecidas no contrato de concessão, desde que os financiadores comprometam-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor e atendam às exigências de regularidade jurídica e fiscal (mas não obrigatoriamente às de capacidade técnica e de idoneidade financeira). Ocorrendo a assunção do controle, as obrigações da concessionária e de seus controladores perante o poder concedente permanecem inalteradas.

Segue reproduzida a íntegra do art. 27 da Lei 8.987/1995, com a redação dada pela Lei 11.196/2005:

Art. 27. A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária sem prévia anuência do poder concedente implicará a caducidade da concessão.

§ 1.º Para fins de obtenção da anuência de que trata o caput deste artigo, o pretendente deverá:

I – atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e

II – comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.

§ 2.º Nas condições estabelecidas no contrato de concessão, o poder concedente autorizará a assunção do controle da concessionária por seus financiadores para promover sua reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação dos serviços.

§ 3.º Na hipótese prevista no § 2.º deste artigo, o poder concedente exigirá dos financiadores que atendam às exigências de regularidade jurídica e fiscal, podendo alterar ou dispensar os demais requisitos previstos no § 1.º, inciso I deste artigo.

§ 4.º A assunção do controle autorizada na forma do § 2.º deste artigo não alterará as obrigações da concessionária e de seus controladores ante ao poder concedente.

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22.ª para 23.ª edição

Segundo o texto legal, a transferência da concessão ou a transferência do controle societário da concessionária, sem prévia anuência do poder concedente, implicará a caducidade da concessão (extinção unilateral motivada por falta imputável à concessionária).

É muito importante destacar que a lei não exige a realização de licitação para a transferência da concessão ou a transferência do controle societário da concessionária! Estipula, tão somente, que, para obter a anuência do poder concedente, aquele que pretenda receber a transferência da concessão ou assumir o controle societário da concessionária deverá (art. 27, § 1º):

I – atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e

II – comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.

A Lei 13.097/2015 acrescentou à Lei 8.987/1995 o art. 27-A, que estabelece a possibilidade de o poder concedente autorizar, nas condições fixadas no contrato de concessão, a assunção do controle ou da administração temporária da concessionária por seus financiadores e garantidores com quem não mantenha vínculo societário direto, para promover sua reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação dos serviços. Nessa hipótese, o poder concedente exigirá que os financiadores e os garantidores cumpram as exigências de regularidade jurídica e fiscal, podendo alterar ou dispensar a necessidade de atendimento às exigências de capacidade técnica e de idoneidade financeira previstas no inciso I do § 1º do art. 27, transcrito acima.

A assunção do controle ou da administração temporária referida no parágrafo anterior não alterará as obrigações da concessionária e de seus controladores para com terceiros, poder concedente e usuários dos serviços públicos. Além disso, a administração temporária não acarretará responsabilidade aos financiadores e garantidores em relação à tributação, encargos, ônus, sanções, obrigações ou compromissos com terceiros, inclusive com o poder concedente ou empregados (art. 27-A, §§ 2º e 5º).

O art. 28 da Lei 8.987/1995 faculta às concessionárias, nos financiamentos que obtenham, oferecer em garantia os direitos emergentes da concessão, até o limite que não comprometa a operacionalização e a continuidade da prestação do serviço.

...............

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22.ª para 23.ª edição

3) No item 8.3, foi feita a substituição abaixo indicada:

8.3. Cláusulas contratuais, contraprestação da administração pública e garantias

...............

a) os requisitos e condições em que o parceiro público autorizará a transferência do controle da sociedade de propósito específico para os financiadores desta, com o objetivo de promover a sua reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação dos serviços; nessa específica hipótese de transferência de controle societário, a obtenção da autorização do poder público, pelos financiadores que adquirirão o controle, não é condicionada ao atendimento das exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal;

a) os requisitos e condições em que o parceiro público autorizará a transferência do controle ou a administração temporária da sociedade de propósito específico aos seus financiadores e garantidores com quem não mantenha vínculo societário direto, com o objetivo de promover a sua reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação dos serviços, não se aplicando para este efeito as exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal previstas no art. 27 da Lei 8.987/1995;

...............

4) No item 8.4, foi feita a substituição abaixo indicada:

8.4. Sociedade de propósito específico

...............

Vale lembrar que, na específica hipótese de o contrato de parceria público-privada conter cláusula prevendo – nas condições que ela estipule – a possibilidade de o parceiro público autorizar a transferência do controle da sociedade de propósito específico para os financiadores desta, com o objetivo de promover a sua reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação dos serviços, a obtenção da autorização do poder público, pelos financiadores que adquirirão o controle, não é condicionada ao atendimento das

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22.ª para 23.ª edição

exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal (art. 5.º, § 2.º, I).

Vale lembrar que, na hipótese de o contrato de parceria público-privada conter cláusula prevendo – nas condições que ela estipule – a possibilidade de o parceiro público autorizar a transferência do controle ou a administração temporária da sociedade de propósito específico aos seus financiadores e garantidores com quem não mantenha vínculo societário direto, com o objetivo de promover a sua reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação dos serviços, a obtenção da autorização do poder público não é condicionada ao atendimento, pelos financiadores e garantidores, das exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal (art. 5.º, § 2.º, I).

...............

5) No item 9, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

9. AUTORIZAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

...............

Os serviços públicos autorizados estão sujeitos, em regra, a modificação ou revogação discricionária do ato de delegação – denominado termo de autorização – pela administração pública delegante, dada a sua precariedade característica. Ordinariamente, a autorização é outorgada sem prazo determinado. Também é regra geral a inexistência de direito a indenização para o particular que tenha a sua autorização revogada. Todavia, especialmente nos casos em que a autorização tenha sido outorgada por prazo certo, pode ocorrer de a sua revogação, antes do termo final estipulado, ensejar direito a indenização do particular pelos prejuízos que comprovadamente tenha sofrido em decorrência da revogação (danos emergentes).

Exemplos de autorizações enquadradas na letra “b”, acima enunciada – situações de emergência e situações transitórias ou especiais –, temos no Decreto 2.521/1998, que “dispõe sobre a exploração, mediante permissão e autorização, de serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros”. O inciso I do art. 3.º desse decreto define as autorizações nele disciplinadas como a “delegação ocasional, por prazo limitado ou viagem certa, para prestação de serviços de transporte em caráter emergencial ou especial”. Ademais, no seu art. 35, o Decreto 2.521/1998 classifica como “serviços especiais”, entre outros, o “transporte interestadual e internacional sob regime de fretamento contínuo” e o “transporte interestadual e internacional sob regime de fretamento eventual ou turístico”, estipulando, no seu art. 36 (redação dada pelo Decreto 8.083/2013), que esses dois serviços especiais “têm caráter ocasional, só podendo ser prestados em circuito fechado, sem implicar o estabelecimento de serviços regulares ou permanentes e dependem de autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres, independentemente de licitação”.

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22.ª para 23.ª edição

O Prof. Celso Antônio Bandeira de Mello cita como exemplo de situação enquadrada na letra “a”, acima descrita – serviço prestado a um grupo restrito de usuários, sendo o seu beneficiário exclusivo ou principal o próprio particular autorizado –, a atividade de telecomunicação exercida pelos praticantes de radioamadorismo.

É interessante anotar que, para o eminente autor, essas hipóteses reportadas na letra “a” não dizem respeito propriamente a uma delegação de serviço público, haja vista que, por definição, uma dada atividade, para ser considerada serviço público, deve ser disponibilizada à população em geral, e não a um círculo fechado de usuários.

Não há licitação para a outorga de autorização de serviço público. Os serviços públicos autorizados estão sujeitos a modificação ou revogação discricionária do ato de delegação – denominado termo de autorização – pela administração pública delegante, dada a sua precariedade característica. Ordinariamente, a autorização é outorgada sem prazo determinado. Também é regra geral a inexistência de direito a indenização para o particular que tenha a sua autorização revogada. Todavia, especialmente nos casos em que a autorização tenha sido outorgada por prazo certo, pode ocorrer de a sua revogação, antes do termo final estipulado, ensejar direito a indenização do particular pelos prejuízos que comprovadamente tenha sofrido em decorrência da revogação (danos emergentes).

O Prof. Celso Antônio Bandeira de Mello cita como exemplo de serviço prestado a um grupo restrito de usuários, sendo o seu beneficiário exclusivo ou principal o próprio particular autorizado, a atividade de telecomunicação exercida pelos praticantes de radioamadorismo.

É interessante anotar que, para o eminente autor, hipóteses como essa não dizem respeito propriamente a uma delegação de serviço público, haja vista que, por definição, uma dada atividade, para ser considerada serviço público, deve ser disponibilizada à população em geral, e não a um círculo fechado de usuários.

................

Deveras, não é um serviço privado porque não é aberto à livre iniciativa, sua titularidade é exclusiva do poder público, sua prestação por particulares só é possível mediante delegação. De outra banda, porém, não resta caracterizado perfeitamente um serviço público, porquanto prestado por um particular em âmbito restrito, em vez de ser disponibilizado à população em geral (falta a essa atividade o requisito da generalidade).

Feita essa breve digressão, julgamos oportuno trazer à luz, ainda, um outro exemplo, expressamente previsto em lei, de situação enquadrada na letra “a”, ora em análise. Trata-se do disposto no art. 7.º da Lei 9.074/1995, abaixo transcrito (grifo nosso):

Feita essa breve digressão, julgamos oportuno trazer à luz, ainda, um outro exemplo, expressamente previsto em lei, de situação que podemos enquadrar como de serviço prestado a um grupo restrito de usuários, sendo o seu beneficiário exclusivo ou principal o próprio particular autorizado. Trata-se do disposto no art. 7.º da Lei 9.074/1995, abaixo transcrito (grifo nosso):

Art. 7.º São objeto de autorização:

I – a implantação de usinas termelétricas, de potência superior a 5.000 kW, destinada a uso exclusivo do autoprodutor;

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22.ª para 23.ª edição

II – o aproveitamento de potenciais hidráulicos, de potência superior a 1.000 kW e igual ou inferior a 10.000 kW, destinados a uso exclusivo do autoprodutor.

II – o aproveitamento de potenciais hidráulicos, de potência superior a 3.000 kW (três mil quilowatts) e igual ou inferior a 10.000 kW (dez mil quilowatts), destinados a uso exclusivo do autoprodutor.

É mister registrar que a Lei 9.472/1997 (Lei Geral de Telecomunicações – LGT), ao tratar de situações que tais – serviços prestados a usuários restritos, sendo o seu beneficiário exclusivo ou principal o próprio particular prestador –, fala em “exploração de serviço de telecomunicações no regime privado”. (...)

................

Outra hipótese legalmente prevista de exploração, mediante autorização, de atividade de titularidade exclusiva do poder público temos na Lei 12.815/2013, que “dispõe sobre a exploração direta e indireta pela União de portos e instalações portuárias e sobre as atividades desempenhadas pelos operadores portuários”. Ora, nos expressos termos do art. 21, XII, “f”, da Constituição de 1988, é da competência exclusiva da União explorar, “diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão”, “os portos marítimos, fluviais e lacustres”. Pois bem, a Lei 12.815/2013 (regulamentada pelo Decreto 8.033/2013), em seu art. 8.º, estatui que “serão exploradas mediante autorização, precedida de chamada ou anúncio públicos e, quando for o caso, processo seletivo público, as instalações portuárias localizadas fora da área do porto organizado”. E mais: essa autorização será formalizada por meio de contrato de adesão, com prazo de até 25 anos, prorrogável por períodos sucessivos!

Retornando ao tema das hipóteses que comportam o uso da autorização de serviço público, julgamos oportuno alertar que, não raro, esse instrumento é empregado, na prática, em situações que desbordam daquelas advogadas pela doutrina como adequadas a tal modalidade de prestação indireta. Confirma essa assertiva o caso do serviço de táxi, que em muitos municípios é objeto de autorização, apesar de se tratar de um serviço disponibilizado à população em geral e não revestir, de forma alguma, caráter excepcional, emergencial ou transitório.

Segundo pensamos, não é possível estabelecer uma regra rígida, apta a determinar aprioristicamente todas as situações em que o uso da autorização de serviço público seja considerado legítimo. Pode-se afirmar, em traços amplos, que é cabível o emprego da autorização para a delegação de serviços públicos cuja prestação não exija elevado grau de especialização técnica, nem vultosos investimentos por parte do delegatário. Além disso, entendemos necessária a existência de lei que expressamente preveja a possibilidade de delegação do serviço mediante autorização e estabeleça os termos e condições que deverão ser observados pelo poder público delegante e pelo particular delegatário. Ademais, somente será lídima a utilização da autorização como forma de delegação se estiverem presentes elementos que justifiquem a escolha dessa modalidade de prestação indireta, isto é, se o serviço delegado revestir características que possibilitem demonstrar que está em harmonia com o interesse público o emprego de um instrumento de delegação discricionário, de natureza precária e, sobretudo, não sujeito à exigência de licitação prévia.

Hipótese fortemente incongruente – para não dizer flagrantemente inconstitucional –

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22.ª para 23.ª edição

surgiu com a publicação da Lei 12.996/2014, que alterou a Lei 10.233/2001, de tal sorte que esta passou a estabelecer que será feita mediante autorização a outorga da “prestação regular de serviços de transporte terrestre coletivo interestadual e internacional de passageiros desvinculados da exploração da infraestrutura”. Vale repetir: prestação regular de tais serviços!

A verdade é que a autorização de serviço público é frequentemente empregada em situações que desbordam daquelas advogadas pela doutrina como adequadas a tal modalidade de prestação indireta. Citamos, como derradeiro exemplo, o caso do serviço de táxi, que em muitos municípios é objeto de autorização, apesar de se tratar de um serviço disponibilizado à população em geral e não revestir, de forma alguma, caráter excepcional, emergencial ou transitório.89

Segundo pensamos, não é possível estipular uma rígida regra teórica, apta a determinar aprioristicamente todas as situações em que o uso da autorização de serviço público possa ser considerado legítimo. Pode-se afirmar, em traços amplos, que é cabível o emprego da autorização para a delegação de serviços públicos cuja prestação não exija elevado grau de especialização técnica, nem vultosos investimentos por parte do delegatário. Além disso, entendemos necessária a existência de lei que expressamente preveja a possibilidade de delegação do serviço mediante autorização e estabeleça os termos e condições que deverão ser observados pelo poder público delegante e pelo particular delegatário. Mesmo o legislador somente deveria facultar a utilização da autorização como forma de delegação quando estiverem presentes elementos que justifiquem a opção por essa modalidade de prestação indireta, isto é, quando as características do serviço a ser delegado possibilitem harmonizar com o interesse público o emprego de um instrumento de delegação discricionário, de natureza precária e, sobretudo, não sujeito à exigência de licitação prévia.

Qualquer outorga de autorização que não atenda às condições enunciadas no parágrafo precedente será contrária ao interesse público e aos princípios norteadores da atividade administrativa, configurando ainda verdadeira burla à inflexível exigência constitucional de licitação para a prestação indireta de serviços públicos mediante concessão ou permissão.

...................

89 A Lei 12.587/2012, que instituiu as diretrizes da “Política Nacional de Mobilidade Urbana”, tratava o serviço de táxi, na redação original de seu art. 12, como serviço público (espécie da categoria “serviços públicos de transporte individual de passageiros”) e determinava que ele fosse prestado sob o regime de permissão. Contudo, a Lei 12.865/2013 alterou esse dispositivo, suprimindo a exigência de que o serviço de táxi seja prestado sob permissão – e passando a designar a categoria em que ele se inclui como “serviços de utilidade pública de transporte individual de passageiros”. Atualmente, portanto, não há especificação, em lei de caráter nacional, do regime que deve ser observado para a prestação do serviço de táxi.

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22.ª para 23.ª edição

CAPÍTULO 12

1) No item 4, foi feito o acréscimo abaixo indicado:

4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA NA MODALIDADE RISCO ADMINISTRATIVO: ART. 37, § 6.º, DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

........................

Por exemplo, em um acidente de trânsito entre um automóvel particular e um ônibus de permissionária de serviço público, a responsabilidade civil será objetiva, regida pelo art. 37, § 6.º, da Constituição, vale dizer, a permissionária responderá mesmo que nenhuma culpa de seu agente seja provada, somente podendo se eximir da obrigação de indenizar se ela, permissionária, conseguir provar a presença de alguma excludente, a exemplo da culpa exclusiva da vítima ou da força maior.

O STF também já teve oportunidade, por diversas vezes, de explicitar que os “terceiros” aludidos no preceito constitucional ora em apreço podem ser, ou não, servidores públicos. Isto é, se determinada atuação estatal causar prejuízo a um agente público, seja dos quadros do próprio órgão ou entidade públicos, seja de outros quaisquer, terá esse agente que sofreu o dano direito à indenização nas mesmas bases a que faria jus um “terceiro” particular que não possuísse relação funcional alguma com o poder público.90

Continuando a análise do texto do § 6.º do art. 37, verifica-se que, em sua parte final, é feita referência à responsabilidade do agente causador do dano, que, se for o caso, terá que ressarcir a pessoa jurídica que foi condenada a indenizar a pessoa que o sofreu. (...)

..................

CAPÍTULO 13

1) No item 4.3, foi feita a substituição abaixo indicada:

4.3. Prescrição administrativa

..............

90 AI-AgR 473.381/AP, rel. Min. Carlos Velloso, 20.09.2005; RE-AgR 435.444/RS, rel. Min. Roberto Barroso, 18.03.2014.

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22.ª para 23.ª edição

A outra corrente propugna a adoção, em tais hipóteses, do prazo genérico de prescrição das ações judiciais constante do Código Civil, que é de dez anos (art. 205). Essa construção conta com o aval de autores do quilate do Prof. Celso Antônio Bandeira de Mello, e tem o mérito de evitar situações de “imprescritibilidade” (que são contrárias à noção mais elementar de segurança jurídica). Entretanto, embora não exista uma posição do Supremo Tribunal Federal especificamente acerca desse ponto, temos a impressão de que a tendência, no âmbito da Corte Maior, é seguir o entendimento segundo o qual, nos casos de má-fé e de ato desfavorável ao administrado, a anulação pode se dar a qualquer tempo.91

Aliás, vale lembrar que o STF entende – embora o fundamento aqui seja outro – que a decadência do direito de a administração anular atos administrativos não ocorre nunca, quando se trate de situação de flagrante desrespeito à Constituição Federal. Nessa hipótese, não importa perquirir se o ato era favorável, ou não, ao administrado, nem se houve, ou não, má-fé. Absolutamente inaplicável é o art. 54 da Lei 9.784/1999, porque a situação flagrantemente contrária à Constituição da República não pode se estabilizar jamais, sob pena de completa subversão da ordem jurídica.92

A outra corrente propugna a adoção, em tais hipóteses, do prazo genérico de prescrição das ações judiciais constante do Código Civil, que é de dez anos (art. 205). Essa construção conta com o aval de autores do quilate do Prof. Celso Antônio Bandeira de Mello, e tem o mérito de evitar situações de “imprescritibilidade” (que são contrárias à noção mais elementar de segurança jurídica). Entretanto, embora não exista uma posição do Supremo Tribunal Federal especificamente acerca desse ponto, temos a impressão de que a tendência, no âmbito da Corte Maior, é seguir o entendimento segundo o qual, nos casos de má-fé e de ato desfavorável ao administrado, a anulação pode se dar a qualquer tempo.

Aliás, vale lembrar que o STF firmou em sua jurisprudência a orientação de que, diante de situações de flagrante desrespeito à Constituição Federal, a decadência do direito de a administração anular os seus próprios atos não ocorre nunca. Nessas hipóteses, o art. 54 da Lei 9.784/1999 é absolutamente inaplicável porque o ato que viole frontalmente a Constituição da República não pode se estabilizar jamais, sob pena de completa subversão da ordem jurídica.93

..................

2) No item 5.3.1, foram feitas as substituições abaixo indicadas:

5.3.1. Atribuições dos tribunais de contas

91 Veja-se, por exemplo, a notícia veiculada no Informativo 659 do STF acerca das discussões que estão sendo travadas

no julgamento do MS 26.860/DF, rel. Min. Luiz Fux, ainda não finalizado até o fechamento desta edição. 92 MS 28.279/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 16.12.2010 (vide Informativos 613 e 624 do STF). 93 MS 28.279/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 16.12.2010 (vide Informativos 613 e 624 do STF); MS 26.860/DF, rel. Min. Luiz

Fux, 02.04.2014 (vide Informativo 741 do STF); MS 29.219/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 04.11.2014.

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22.ª para 23.ª edição

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Cabe registrar, aliás, que o Supremo Tribunal Federal já teve oportunidade de declarar inconstitucional até mesmo a previsão, em determinada Constituição estadual, de que os julgamentos de contas realizados pelo tribunal de contas daquele estado estariam sujeitos a recurso para o plenário da respectiva assembleia legislativa. Invocando o art. 71, II, da Constituição Federal, asseverou a Corte Suprema, de forma ampla, que “o exercício da competência de julgamento pelo Tribunal de Contas não fica subordinado ao crivo posterior do Poder Legislativo”.94

Cabe registrar, aliás, que o Supremo Tribunal Federal já teve oportunidade de declarar inconstitucional até mesmo a previsão, em determinada Constituição estadual, de que os julgamentos de contas realizados pelo tribunal de contas daquele estado estariam sujeitos a recurso para o plenário da respectiva assembleia legislativa. Invocando o art. 71, inciso II, da Constituição Federal, asseverou a Corte Suprema, de forma ampla, que “o exercício da competência de julgamento pelo Tribunal de Contas não fica subordinado ao crivo posterior do Poder Legislativo”.95

.................

Aliás, por ser pertinente ao tema, convém abrir um parêntese para registrar que na Lei Orgânica do TCU (Lei 8.443/1992) é outorgada a essa Corte de Contas, quando for “verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação”, competência para declarar “a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na Administração Pública Federal” (art. 46).

O quarto ponto relevante refere-se à natureza das decisões do Tribunal de Contas da União das quais resulte imputação de débito ou multa. A Constituição atribuiu a essas decisões eficácia de título executivo (CF, art. 71, § 3.º). Isso significa que a multa aplicada, ou o débito imputado, pode ser levada diretamente ao Poder Judiciário para cobrança, em ação de execução, sem necessidade de discussão prévia, em uma ação judicial de conhecimento, acerca da legitimidade dessa multa ou desse débito.

O quarto ponto relevante refere-se à natureza das decisões do Tribunal de Contas da União das quais resulte imputação de débito ou multa. A Constituição atribuiu a essas decisões eficácia de título executivo (CF, art. 71, § 3.º). Isso significa que a multa aplicada, ou o débito imputado, pode ser levada diretamente ao Poder Judiciário para cobrança, em ação de execução, sem necessidade de discussão prévia, em uma ação judicial de conhecimento, acerca da legitimidade dessa multa ou desse débito. Segundo a jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal, somente o ente público beneficiário da condenação patrimonial imposta pelos tribunais de contas possui legitimidade processual para ajuizar a ação de execução. Não pode o Ministério Público – atuante ou não junto às cortes de contas, seja federal, seja estadual –, sob o argumento de que estaria promovendo a proteção do patrimônio público (CF, art. 129, III), propor essa ação de execução das multas ou débitos imputados pelos tribunais de contas.96

94 ADIMC 3.715, rel. Min. Gilmar Mendes, 24.05.2006. 95 ADI 3.715/TO, rel. Min. Gilmar Mendes, 21.08.2014 (vide Informativo 755 do STF). 96 ARE 823.347/MA (repercussão geral), rel. Min. Gilmar Mendes, 02.10.2014.

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O quinto ponto a ser frisado concerne ao alcance do inciso II do art. 71 da Constituição, especialmente no que tange à assim chamada “tomada de contas especial”.

...............

3) No item 6.2.1.5, foi feita a substituição abaixo indicada:

6.2.1.5. Sujeitos

............

No caso de impetração de mandado de segurança que vise a impugnar um ato complexo, todos os agentes cuja manifestação de vontade integrou a formação do ato devem ser apontados como autoridades coatoras, em litisconsórcio passivo. Quando se trata de impetração contra decisão adotada por um órgão colegiado, deve ser indicado como autoridade coatora o seu presidente.

Considera-se federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado tiverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada (art. 2.º). Nesses casos, a competência para o julgamento é da Justiça Federal.

Considera-se federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado tiverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada (art. 2.º). Consoante a jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal, o dirigente de sociedade de economia mista federal (e de outras pessoas jurídicas de direito privado controladas pela União) enquadra-se como autoridade federal, para efeito de impetração de mandado de segurança, quanto aos atos por ele praticados que digam respeito a atribuições do poder público federal.97 Sempre que a autoridade coatora for considerada federal, a competência para o julgamento do mandado de segurança será da Justiça Federal (CF, art. 109, VIII).

O mandado de segurança é impetrado contra a autoridade coatora, pessoa física, e não contra a pessoa jurídica a que aquela se vincula. Embora o legitimado passivo – o impetrado – no mandado de segurança seja a autoridade coatora, quem suporta o ônus da decisão final é a pessoa jurídica a que o impetrado está vinculado.

.......................

4) No item 6.2.3.2, foi feita a substituição abaixo indicada:

6.2.3.2. Bens jurídicos tutelados

97 RE 726.035/SE (repercussão geral), rel. Min. Luiz Fux, 24.04.2014.

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A disciplina legal da ação civil pública está vazada na Lei 7.347/1985. O art. 1.º da lei dispõe acerca da abrangência da ação civil pública, quanto aos bens jurídicos tutelados, nestes termos:

Art. 1.º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

I – ao meio ambiente;

II – ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;

V – por infração da ordem econômica;

VI – à ordem urbanística.

Art. 1.º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

I – ao meio ambiente;

II – ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;

V – por infração da ordem econômica;

VI – à ordem urbanística;

VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos;

VIII – ao patrimônio público e social.

É importante observar que a lista acima reproduzida é meramente exemplificativa. (...)

.................

5) No item 6.2.3.4, foi feita a substituição abaixo indicada:

6.2.3.4. Sujeitos

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Os legitimados ativos na ação civil pública estão enumerados no seu art. 5.º, abaixo reproduzido:

Art. 5.º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

I – o Ministério Público;

II – a Defensoria Pública;

III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;

V – a associação que, concomitantemente:

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, estipulando cominações (multa diária, por exemplo) para o caso de descumprimento. (...)

...................

CAPÍTULO 16

1) No item 2.6.2, foi feita, ao final, a substituição abaixo indicada:

2.6.2. Autorização constitucional

...............

A terceira espécie de desapropriação está prevista no art. 243 da Constituição Federal, denominada “desapropriação confiscatória”, porque não assegura ao proprietário nenhum direito à indenização, sempre devido nas demais hipóteses de desapropriação. Essa desapropriação incide sobre glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas, que serão, após a transferência de propriedade, destinadas ao assentamento de colonos, para cultivo de produtos alimentícios e

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medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

As regras constitucionais sobre desapropriação são completadas por meio de algumas leis específicas, a saber: Decreto-Lei 3.365/1941 (lei geral da desapropriação, que cuida especificamente da desapropriação por utilidade pública); Lei 4.132/1962 (desapropriação por interesse social); Lei 8.629/1993 (desapropriação rural); LC 76/1993 (desapropriação rural para fins de reforma agrária).

A terceira previsão constitucional específica é conhecida como “desapropriação confiscatória”, assim chamada porque não assegura ao proprietário direito a indenização alguma – sempre devida nas demais hipóteses de expropriação. A “desapropriação confiscatória” é tratada no art. 243 do Texto Magno (alterado pela Emenda Constitucional 81/2014), nos termos do qual “as propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”.

As regras constitucionais sobre desapropriação são regulamentadas e complementadas por meio de leis específicas, dentre as quais citamos: Decreto-Lei 3.365/1941 (lei geral da desapropriação, que cuida especificamente da desapropriação por utilidade pública); Lei 4.132/1962 (desapropriação por interesse social); Lei 8.257/1991 (desapropriação de imóveis onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas); Lei 8.629/1993 (desapropriação rural); LC 76/1993 (desapropriação rural para fins de reforma agrária).

2) No item 2.6.5, foi feita, ao final, a substituição abaixo indicada:

2.6.5. Destinação dos bens

......................

São exemplos de integração provisória: a desapropriação para fins de reforma agrária, pois os bens só ficam em poder do Estado enquanto não são repassados para os futuros beneficiários da reforma agrária; a desapropriação para abastecimento da população, em que os bens são distribuídos à população; a desapropriação confiscatória (CF, art. 243), pois as glebas rurais serão destinadas ao assentamento de colonos, para cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos etc.

São exemplos de integração provisória a desapropriação para fins de reforma agrária, pois o imóvel rural só fica em poder do Estado enquanto não são repassados os lotes respectivos aos futuros beneficiários do projeto de assentamento, e a desapropriação para abastecimento da população, em que os bens expropriados são integrados ao acervo do Poder Público tão somente com a finalidade de serem por ele posteriormente distribuídos.

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3) O item 2.6.14 passou a ter a seguinte redação (reprodução integral do item):

2.6.14. Desapropriação confiscatória

A “desapropriação confiscatória”, prevista no art. 243 da Constituição Federal, tem por fim a expropriação, sem indenização, de propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo. É importante transcrever o citado dispositivo constitucional (grifamos):

“Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º.

Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.”

A redação atual do art. 243, acima reproduzida, foi estabelecida pela Emenda Constitucional 81/2014. No texto originário da Carta de 1988, só era prevista a desapropriação confiscatória para a hipótese de culturas ilegais de plantas psicotrópicas. E não havia exigência expressa de regulamentação pelo legislador ordinário, como hoje há – “na forma da lei”.

Pensamos que, muito embora a redação do dispositivo dada pela EC 81/2014 esteja ambígua, a exigência de regulamentação legal – “na forma da lei” – aplica-se tanto ao caso das culturas ilícitas de plantas psicoativas quanto ao da exploração de trabalho escravo. Significa dizer que o preceito constitucional, atualmente, enquadra-se na categoria das normas constitucionais de eficácia limitada.

De todo modo, esse fato não tem relevância prática para a hipótese de expropriação decorrente de culturas ilegais de plantas entorpecentes, porquanto, há muito, ela está regulamentada pela Lei 8.257/1991 (a qual, por sua vez, é regulamentada pelo Decreto 577/1992).

Diferentemente, não existe regulamentação legal para a hipótese de desapropriação confiscatória motivada por exploração de trabalho escravo. Enquanto não for editada a lei que estabeleça tal regulamentação, expressamente exigida pelo texto constitucional, não poderão ocorrer, efetivamente, expropriações sob esse específico fundamento.

Em razão do exposto no parágrafo precedente, trataremos, a seguir, exclusivamente da desapropriação confiscatória aplicável a imóveis onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas – hipótese regulamentada, não é demais repetir, pela Lei 8.257/1991.

Nessa modalidade de desapropriação, não há que se falar em decreto de declaração

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de interesse social ou de utilidade pública, devido à ilicitude da atividade do proprietário.

O procedimento judicial obedecerá a rito sumário, que apresenta, em síntese, os seguintes atos:

a) a petição inicial não especificará oferta de preço, como se exige nas demais modalidades de desapropriação, uma vez que, nesta, não cabe indenização;

b) o juiz, ao ordenar a citação, já nomeará o perito, que terá o prazo de oito dias para apresentar o laudo sobre o imóvel;

c) o prazo para contestação e indicação de assistentes é de quinze dias, a contar da juntada do mandado;

d) o juiz designará audiência de instrução e julgamento dentro de quinze dias, contados da data da contestação;

e) se o juiz conceder ao expropriante a imissão provisória na posse do imóvel, deverá proceder à realização de audiência de justificação, na qual será exercido o contraditório;

f) encerrada a instrução, a sentença será proferida em cinco dias, e contra ela cabe recurso de apelação;

g) transitada em julgado a sentença, o imóvel será incorporado ao patrimônio da União.

Nenhum direito de terceiro pode ser oposto ao expropriante. Deveras, nos expressos termos do art. 17 da Lei 8.257/1991, a expropriação “prevalecerá sobre direitos reais de garantia, não se admitindo embargos de terceiro, fundados em dívida hipotecária, anticrética ou pignoratícia”.

Conquanto não esteja expresso na Lei 8.257/1991, tem sido considerada obrigatória a atuação do Ministério Público no feito.

Por fim, é oportuno registrar que o Supremo Tribunal Federal já decidiu que a desapropriação confiscatória (motivada pelo cultivo ilícito de espécies entorpecentes) deve recair sobre a totalidade da área do imóvel, seja qual for a sua dimensão, mesmo que a cultura ilegal ocupe apenas uma pequena fração da superfície dele.98 Em poucas palavras: a expropriação decorrente do cultivo ilícito de plantas psicoativas a que se refere o art. 243 da Constituição deve abranger toda a propriedade, e não apenas a área efetivamente cultivada.

Cabe observar que, por se tratar de determinação expressa do constituinte originário (a expropriação motivada pelo cultivo ilícito de espécies psicotrópicas), asseverou o Supremo Tribunal Federal não ser cabível falar em desproporcionalidade, como se o elaborador soberano de nossa Carta Política tivesse se “equivocado”.

Assim, mesmo que seja encontrada, por exemplo, uma plantação de maconha em poucos metros quadrados de uma grande propriedade rural, a totalidade da área do imóvel deve ser objeto da desapropriação confiscatória, sem que se possa, nesse caso, alegar ofensa ao princípio da proporcionalidade – vale repisar: assim é porque se trata de disposição originária da Constituição de 1988. Alertamos que, a nosso ver, esse entendimento da Corte Suprema não pode, de modo algum, ser estendido 98 RE 543.974/MG, rel. Min. Eros Grau, 26.03.2009 (vide Informativo 540 do STF).

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automaticamente à hipótese de desapropriação confiscatória decorrente de exploração de trabalho escravo, haja vista ter sido ela introduzida no texto constitucional por meio de emenda (EC 81/2014).

FIM