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Processo Civil III _____________________________________________________________ 2015 Processo Civil III AULA 01 – A resposta do réu Roteiro conforme CPC/2015. Primeira parte: exposição do conteúdo (em sala de aula) I. Resposta do réu: 1. A defesa do réu: - Contraditório e resposta (o processo é dialético, em respeito ao contraditório. Após a citação, então, dá-se ao réu oportunidade de responder ao pedido feito pelo autor. Didier ressalta que, em sentido amplo, exceção é o nome processual que se dá à defesa do réu); - Ônus da defesa (note-se, todavia, que a resposta do réu não é obrigatória, mas consiste em ônus da defesa. Caso não se defenda sofrerá os efeitos da revelia – artigos 344 a 346, CPC. Tanto a resposta não é obrigatória que o réu pode concordar com o pedido do autor, situação em que o processo será extinto com julgamento do mérito. - Direitos indisponíveis e revelia (em se tratando de direitos indisponíveis, todavia, não haverá revelia. Nesse caso, o MP será intimado para atuar como fiscal da lei e o autor, mesmo diante do silêncio do réu, não se desobriga de provar os fatos não contestados - artigo 345, II, CPC); - Atitudes do réu (o réu pode, portanto, adotar 3 atitudes diferentes depois da citação, quais sejam: inércia, resposta ou reconhecimento da procedência do pedido). 2. A resposta do réu: - Prazo (15 dias que se seguirem à citação, prazo que deve ser cumprido em cartório – artigo 335, CPC. O prazo é contado em dobro no caso dos litisconsortes terem advogados diferentes, de escritórios distintos – artigo 229, CPC. É, ainda, contado em dobro em favor do MP e da Fazenda Pública. Também os beneficiários da assistência judiciária têm prazo de resposta em dobro, por força do artigo 5º, § 5º da Lei nº 1.060/50. Havendo litisconsórcio passivo, o termo inicial começa a fluir para cada um dos réus da data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência (art. 335, §1º, CPC). Sobre a contagem do prazo, em geral, observe-se o artigo 335, CPC, já estudado. Os demais efeitos da citação, constantes do artigo “Façamos o bem a todos e o mal a ninguém” (São João Bosco) Professores Luiza Helena L. A. de Sá Sodero Toledo, Frederico Sodero Toledo e Fernanda de C. Lage.

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Processo Civil IIIAULA 01 – A resposta do réu

Roteiro conforme CPC/2015.Primeira parte: exposição do conteúdo (em sala de aula)I. Resposta do réu:1. A defesa do réu:- Contraditório e resposta (o processo é dialético, em respeito ao contraditório. Após a citação, então, dá-se ao réu oportunidade de responder ao pedido feito pelo autor. Didier ressalta que, em sentido amplo, exceção é o nome processual que se dá à defesa do réu);- Ônus da defesa (note-se, todavia, que a resposta do réu não é obrigatória, mas consiste em ônus da defesa. Caso não se defenda sofrerá os efeitos da revelia – artigos 344 a 346, CPC. Tanto a resposta não é obrigatória que o réu pode concordar com o pedido do autor, situação em que o processo será extinto com julgamento do mérito.

- Direitos indisponíveis e revelia (em se tratando de direitos indisponíveis, todavia, não haverá revelia. Nesse caso, o MP será intimado para atuar como fiscal da lei e o autor, mesmo diante do silêncio do réu, não se desobriga de provar os fatos não contestados - artigo 345, II, CPC);- Atitudes do réu (o réu pode, portanto, adotar 3 atitudes diferentes depois da citação, quais sejam: inércia, resposta ou reconhecimento da procedência do pedido).

2. A resposta do réu:- Prazo (15 dias que se seguirem à citação, prazo que deve ser cumprido em cartório – artigo 335, CPC. O prazo é contado em dobro no caso dos litisconsortes terem advogados diferentes, de escritórios distintos – artigo 229, CPC. É, ainda, contado em dobro em favor do MP e da Fazenda Pública. Também os beneficiários da assistência judiciária têm prazo de resposta em dobro, por força do artigo 5º, § 5º da Lei nº 1.060/50. Havendo litisconsórcio passivo, o termo inicial começa a fluir para cada um dos réus da data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência (art. 335, §1º, CPC).Sobre a contagem do prazo, em geral, observe-se o artigo 335, CPC, já estudado. Os demais efeitos da citação, constantes do artigo 240, CPC, iniciam-se com a realização do ato, não estando condicionados à juntada de comprovante nos autos;- Formas (de resposta do réu: contestação e reconvenção. Ainda, observância do artigo 337, CPC. Além disso, ressalta-se que a reconvenção é proposta na própria contestação – art. 343, CPC).

3. Espécies de defesa:- (São duas as relações que se estabelecem no processo):a) relação processual (de ordem pública. Nasce da propositura da ação e se aperfeiçoa com a citação do demandado - autor, juiz e réu);b) relação de direito material (estabelecida entre autor e réu. Configura o mérito da causa e tem natureza privada. Identifica-se pelo pedido e causa de pedir);- Tipos de defesa (a defesa do réu pode ser, assim, processual - preliminares, como material - questão de mérito. Respectivamente, temos: defesa processual e defesa de mérito).

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4. Defesa processual:- Conceito (defesa processual ou de rito. Tem conteúdo apenas formal. Visa à inutilização do processo, sem apreciação do mérito da causa. É defesa indireta, portanto. Ex: a defesa que invoca inexistência de pressuposto processual e condição da ação - artigo 335, CPC);- Classificação (nem todas as defesas indiretas visam à inutilização do processo, razão pela qual podem ser classificadas em peremptórias - as que, uma vez acolhidas, levam à extinção do processo – ex: inépcia da inicial, ilegitimidade de parte, litispendência, coisa julgada, perempção, etc. – vício profundo que inutiliza o processo todo - e dilatórias - não causam a extinção do processo, mas sua ampliação ou dilatação do curso do procedimento – superado o impasse o processo retoma sua marcha rumo ao final. Pode a defesa dilatória se tornar peremptória quando o juiz determina o saneamento e o autor não cumpre a determinação no prazo, caso em que o magistrado decretará a extinção do processo - artigo 485, IV, CPC);- Decisão (a solução da defesa processual pode ser decisão interlocutória - ex: o juiz rejeita/aceita a exceção dilatória, ou sentença - ex: o juiz extingue o processo);- Contestação (as defesas processuais serão alegadas em caráter preliminar na contestação, e estão previstas no art. 337).

5. Defesa material ou de mérito:- Conceito (quando o réu ataca a causa de pedir, tem-se defesa de mérito);- Defesa direta (a defesa direta pode consistir em ataque pelo réu aos fatos ou aos fundamentos jurídicos, casos em que será chamada defesa direta. Nessa situação, o réu, ao se defender, não aporta ao processo nenhum fato novo, salienta Didier);- Defesa indireta (mas a defesa de mérito também pode ser indireta, quando o réu invoca outro fato novo que seja impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor - artigo 350, CPC. Ex: prescrição, compensação, transação, novação, etc.. Note-se que a prescrição e a decadência devem ser apreciadas antes das demais alegações de defesa, visto que o seu acolhimento implica a imediata extinção do processo. Assim, há doutrinadores que se referem a elas como “preliminares de mérito”);- Peremptória ou dilatória (também a defesa de mérito pode ser peremptória - visa à exclusão do direito do autor - ou dilatória - visa à procrastinação do exercício do direito do autor – ex: direito de retenção – artigo 1219, CC e exceção do contrato não cumprido – artigo 476, CC).

6. Reconvenção- Conceito; (Entre as respostas de mérito, arrola-se, também, a reconvenção, que, todavia, não é meio de defesa, mas verdadeiro contra-ataque do réu ao autor, propondo dentro do mesmo processo uma ação diferente e em sentido contrário àquela deduzida em juízo inicialmente).-Terminologia; (Na reconvenção o réu passa a chamar-se reconvinte e visa a elidir a pretensão do autor, dito reconvindo, formulando contra este uma pretensão de direito material, conexa ao direito pleiteado na inicial).

II. Contestação:1. Conceito:- Conceito (Didier afirma que a contestação está para o réu como a petição inicial está para o autor. É por meio da contestação que o réu exerce seu direito de ação, contraposto ao direito de ação do autor, exercido na petição inicial. Como qualquer direito de ação, independe da existência de direito material. A contestação é, então, o instrumento

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processual utilizado pelo réu para se opor, formal ou materialmente, ao pedido feito pelo autor na inicial. Apesar de se dizer que o autor pede e o réu impede, Didier salienta caso em que o réu faz pedido, em sua defesa: extinção do processo sem exame do mérito; remessa dos autos ao juízo competente ou ao juízo prevento; devolução do prazo de defesa, improcedência do pedido do autor, condenação do autor às verbas de sucumbência; condenação do autor por litigância de má-fé, etc.);- Contestação ≠ ação (difere do direito de ação do autor, pois o réu não formula pedido, mas resistência ao pedido formulado pelo autor);- Defesa processual ou de mérito (o réu busca tão-somente a sua libertação do processo. E faz isso por meio de defesa processual ou de mérito.- Aditamento e indeferimento da contestação (em regra, ensina Didier, não se admite o aditamento da contestação, somente sendo ela permitida nas exceções à regra da eventualidade, a ser adiante mencionada. Pode a contestação ser indeferida se for intempestiva ou se o réu não tiver capacidade processual. Se o réu se apresenta sem advogado, o juiz não deve indeferir a contestação, mas nomear a ele um advogado dativo, que pode ser um defensor público, para ratificar a peça de defesa. A respeito da contestação intempestiva, cumpre ressaltar: se contiver matérias que não se submetem à preclusão, não poderá ser desentranhada; se estiver acompanhada de documentos, se for o caso, os documentos permanecem nos autos, embora a peça de defesa seja desentranhada. Essa a orientação do STF).

2. Conteúdo e forma da contestação:- Forma (petição escrita, endereçada ao juiz da causa - artigo 335, CPC);- Alegações (artigo 336, CPC. O réu deve, na contestação, especificar as provas que pretende produzir, e apresentar, já, os documentos hábeis à comprovação do alegado. A jurisprudência, no entanto, tem aceito o protesto genérico de provas na contestação, bem como a apresentação de documentos em momentos futuros, quando ela se fizer necessária. Segundo Didier, são duas as regras que a elaboração da contestação deve obedecer: a) a concentração da defesa ou regra da eventualidade; b) o ônus da impugnação especificada);- Conteúdo e preclusão (opera-se a preclusão – princípio ou regra da eventualidade - em relação à possibilidade de alegação de matéria de defesa – o momento oportuno é a contestação. Toda a matéria de defesa - processual e de mérito - deverá ser arguida na contestação, sob pena de preclusão. As únicas exceções quanto à possibilidade de arguição de defesa depois da contestação estão previstas no artigo 342 do CPC: I – Relativas a direito ou fato superveniente - ex: o réu adquire a propriedade da coisa litigiosa, no curso do processo, por herança; II Quando a matéria arguida for daquelas que o Juiz pode conhecer de ofício – ex: condições da ação/pressupostos processuais; III – Quando, por expressa autorização legal, a matéria puder ser formulada a qualquer tempo e juízo – ex: prescrição.

3. Ônus da defesa especificada:- Impugnação específica (o réu, além de se defender, tem o ônus de impugnar tudo quanto foi alegado pelo autor, sob pena de se presumirem verdadeiros os fatos não impugnados - artigo 341, CPC. É ineficaz a contestação por negativa geral);- Julgamento antecipado (os fatos não impugnados serão tidos como verídicos, sendo dispensada prova a seu respeito. Se forem decisivos para o deslinde da causa, o juiz julgará antecipadamente o mérito - artigo 355, I CPC);- Exceções (casos em que não ocorre a presunção de veracidade quanto aos fatos não impugnados, todavia: artigo 341, CPC: I – quando não for admissível, a respeito dos fatos,

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a confissão; II – quando a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância do ato; III – quando os fatos não impugnados estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. Outros casos em que a presunção de veracidade cai por terra: contestação formulada por advogado dativo, curador especial ou ao defensor público - artigo 341, § Único, CPC. A simples negativa geral, nesse caso, torna controvertidos todos os fatos alegados na inicial).

4. Preliminares da contestação:- Conceito (defesa de natureza processual que visa invalidar o processo ou prejudicar o julgamento do mérito. Tais alegações têm caráter prejudicial, o que significa dizer que sua apreciação deverá ser anterior à apreciação do mérito);- (As preliminares que podem ser levantadas constam do artigo 337, CPC):- I - Inexistência ou nulidade da citação. (defesa dilatória);- II – Incompetência absoluta e relativa. (defesa dilatória. Remessa ao juízo competente. Incompetência absoluta: em razão da matéria/hierarquia (art. 62). A incompetência relativa, por sua vez, envolve a competência em razão do valor da causa e do território (art. 63). O novo CPC inovou ao determinar que a incompetência tanto absoluta como relativa, seja alegada em preliminar de contestação – art. 64 e art. 337, II. Se a incompetência relativa não for suscitada em preliminar de contestação, haverá a prorrogação da competência do Juiz que tomou conhecimento da inicial (art. 65, caput). A absoluta, todavia, poderá ser alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição, e é improrrogável (art. 64, §1º));- III – Incorreção do valor da causa (O novo CPC determina que a impugnação ao valor da causa constará de preliminar de contestação, sob pena de preclusão – art. 293);- IV – Inépcia da Inicial (defesa peremptória. Previsão no art. 330, §1º);- V – Perempção (defesa peremptória. Ocorre a perempção quando o autor dá ensejo a três extinções do processo, sobre a mesma lide, por abandono da causa. Artigo 486, §3º);- VI – Litispendência (defesa peremptória. Art. 337, §§1º a 3º.);- VII – Coisa julgada (defesa peremptória);- VIII – Conexão (Defesa dilatória. Conexão – art. 55,§1º. Continência – art. 56);- IX – Incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização (defesa inicialmente dilatória, mas vira peremptória se o vício não for sanado. Falta de pressupostos processuais); - X – Convenção de arbitragem (defesa peremptória. Existência de cláusula compromissória - Lei nº 9.307/96. Essa matéria, todavia, não pode ser conhecida de ofício pelo Juiz – art. 337, §5º e, se não alegada pela parte, implica aceitação da jurisdição estatal e a consequente renúncia ao juízo arbitral – art. 337, §6º);- XI – Carência de ação (São condições da ação: legitimidade das partes e o interesse processual do autor – art. 17).- XII – Falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar;- XIII – Indevida concessão do benefício da gratuidade de justiça;

Atenção: A arguição de suspeição ou impedimento do juiz não estão incluídas nas preliminares de contestação. Tais questões são objeto de incidente próprio.

5. Conhecimento de ofício das preliminares:- Cláusula compromissória (não pode o juiz conhecer de ofício da preliminar elencada no artigo 337, X, CPC, vez que a falta de alegação do réu leva à renúncia da cláusula compromissória);

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- Incompetência relativa (da mesma forma não pode o juiz conhecer de ofício da preliminar de incompetência relativa, elencada no artigo 337, II, CPC, vez que a competência, neste caso, pode ser prorrogada se não houver alegação tempestiva pela parte – art. 65);- Demais preliminares (todas as demais preliminares deverão ser analisadas de ofício pelo juiz, independentemente de alegação pelo réu - artigo 337, §5º, CPC. Isso porque existe interesse público nas preliminares, já que todas elas afetam os requisitos de constituição ou desenvolvimento válido do processo).

6. Réplica ou impugnação do autor:- Oportunidade (se houver defesa indireta de mérito - alegação de fato modificativo, extintivo ou impeditivo do direito do autor - será dada ao autor oportunidade de se manifestar acerca da resposta no prazo de 15 dias - artigo 350, CPC. Também haverá oportunidade de réplica quando o réu apresentar preliminar do artigo 337, CPC. Além da impugnação, poderá o autor produzir prova documental – art. 350 e art. 351).

III. Reconvenção:1. Conceito:- Contra-ataque (a reconvenção é a ação do réu contra o autor, proposta no mesmo feito em que está sendo demandado. Enquanto a contestação é simples resistência à pretensão do autor, a reconvenção é um contra-ataque dirigido pelo reconvinte ao reconvindo);- Acúmulo de lides (da reconvenção resulta um acúmulo de lides, o que faz com que ambas as partes passem a atuar reciprocamente como autoras e rés);- Fundamento (o fundamento do instituto é a economia processual, vez que com a reconvenção se quer evitar a inútil abertura de múltiplos processos entre as mesmas partes, versando sobre questões conexas, já que podem ser perfeitamente decididas a um só tempo);- Faculdade (a reconvenção é mera faculdade, e não ônus do réu, vez que se houver omissão de sua parte quanto à apresentação do contra-ataque, ainda que esgotado o prazo para a reconvenção, pode ele ajuizar ação paralela em face do autor, perante o mesmo juiz, para tratar de pedido que poderia ter sido feito em sede de reconvenção).- Contestação reconvencional – novidade do CPC/2015. A grande novidade do CPC de 2015 consistiu em permitir que a contestação e a reconvenção fossem formuladas em uma única peça processual. Nada obstante, continua obrigatória a formulação da demanda reconvencional, ainda que inserida no corpo da contestação. Além disso, é possível também que a reconvenção seja proposta isoladamente, quando o réu se desinteresse pela contestação (art. 343, §6º).

2. Pressupostos:- Verdadeira ação (como a reconvenção é verdadeira ação, exigíveis são as condições da ação e os pressupostos processuais, a fim de que seja possível proceder à apreciação do mérito);- Requisitos específicos (a par desses requisitos gerais, exigem-se outros, específicos, a saber, conforme o artigo 343 do CPC: a) Legitimidade de parte – Ao polo ativo ou passivo da reconvenção podem ser incluídos terceiros como legitimados em litisconsórcio com a parte originária – art. 343, §§ 3º e 4º; b) Conexão – só é admitida a reconvenção se houver conexão entre ela e a ação principal ou entre ela e a contestação. A conexão entre as duas causas pode se dar por identidade de objeto ou de causa petendi. O objeto é o mesmo quando as duas partes visam ao mesmo fim. Ex: o marido propunha, até julho de

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2010, quando era permitida a separação no Brasil, ação de separação por adultério em face da esposa e essa reconvinha, pedindo a separação por injúria grave cometida pelo esposo. Há identidade de causa de pedir quando a ação e a reconvenção se baseiam no mesmo ato jurídico, ou seja, têm como fundamento o mesmo título. Ex: um contraente pede a condenação do réu a cumprir o contrato, mediante a entrega do objeto vendido, caso em que o réu reconvém, pedindo a condenação do autor a pagar o saldo do preço fixado no mesmo contrato. A conexão pode ainda ocorrer entre a defesa do réu e a reconvenção quando o fato jurídico invocado na contestação para resistir à pretensão do autor sirva também para fundamentar um pedido próprio do réu contra ele. Ex: a contestação alega ineficácia do contrato por ter sido fruto de coação e a reconvenção pede a sua anulação e a condenação do autor em perdas e danos, pela mesma razão jurídica; c) Competência – o juiz da causa principal é também o competente absolutamente para a reconvenção. Assim, só pode ocorrer reconvenção quando não ocorrer incompetência do juiz da causa principal para a reconvenção; d) Rito – o procedimento da ação principal deve ser o mesmo da reconvenção, entendimento não expresso, mas que se depreende da exegese do artigo 327, § 1º, III, CPC, por se tratar de cumulação de pedidos. Não cabe reconvenção na ação de alimentos. Também a execução e os embargos do devedor não comportam procedimento reconvencional; dos procedimentos de jurisdição voluntária e dos Juizados Especiais Cíveis. É, no entanto, possível em ação rescisória. Outras ações dúplices, como o são as possessórias e as de prestação de contas, não admitem, por razões evidentes, a reconvenção. Por fim, acrescente-se que as custas da reconvenção devem ser definidas por lei estadual. Na Justiça Federal não são cobradas).

3. Reconvenção e compensação:- Reconvenção ≠ compensação (já houve confusão, nas origens do instituto da reconvenção, entre a compensação, figura típica do direito material das obrigações, e a reconvenção, instrumento de direito processual que permite ao réu demandar o autor no mesmo processo. Inclusive, a compensação será alegada pelo réu em sede de contestação, desde que presentes seus requisitos – artigos 368 e 369, CC -, vez que se trata de defesa indireta de mérito, não devendo ser arguida em reconvenção. Assim, se forem as obrigações líquidas, certas e fungíveis serão alegadas em contestação; se forem, no entanto, ilíquidas ou incertas não se compensam, senão depois do acertamento por sentença, razão pela qual deverão ser pleiteadas pela via reconvencional).

4. Procedimento:- Petição na própria contestação (artigo 343, caput, CPC. É parte integrante da contestação. O prazo para sua apresentação é o prazo de resposta, qual seja, 15 dias a contar da citação. Se o réu contesta sem reconvir, opera-se a preclusão consumativa em relação à reconvenção, mesmo que ainda reste prazo);- Intimação do reconvindo – art. 343, §1º (recebida a reconvenção, o reconvindo não é citado, mas intimado, na pessoa de seu advogado, a contestá-la no prazo de 15 dias. Tal intimação produz, porém, todos os efeitos da citação);- Resposta (a resposta do reconvindo deve observar todas as regras pertinentes à contestação, segundo os artigos 335 a 342, CPC. Caso o reconvindo não responda, não serão tidos como verdadeiros todos os fatos alegados pelo reconvinte, por tudo o que o autor já trouxe em sede de petição inicial);- Julgamento (depois da contestação a reconvenção integra a marcha normal do processo e, afinal, será julgada de forma explícita, juntamente com o pedido da ação, numa só

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sentença, obrigatoriamente. A inobservância dessa norma conduz à nulidade da sentença);- Indeferimento (o pedido reconvencional pode ser indeferida liminarmente nos mesmos casos previstos para a rejeição da petição inicial – artigo 330, CPC. Também será indeferida pela inobservância dos requisitos específicos para admissibilidade da reconvenção, conforme já visto. Do despacho que não admite a reconvenção cabe recurso de agravo, por se tratar de decisão interlocutória, e não sentença);- Sucumbência (a sucumbência na reconvenção equivale à que ocorre na ação. Como a reconvenção é autônoma, pode o réu ser sucumbente na ação principal e sair vitorioso na reconvenção).

5. Independência da reconvenção:- Reconvenção sem contestação – art. 343, §6º (mesmo havendo previsão para que a reconvenção seja produzida no prazo da contestação, não está subordinada à apresentação conjunta dessa. Pode o réu simplesmente apresentar reconvenção, se houver matéria para reconvir, e se abster da contestação, caso em que será revel na ação principal e nela sucumbirá. Ex: o réu que não tem como negar a falta de pagamento de uma prestação a seu cargo pode, no entanto, ter direito de cobrar multa contratual por descumprimento por parte do autor de outra prestação relacionada ao mesmo contrato, que este realizou fora do prazo convencionado);- Extinção do processo principal (já que a reconvenção é uma outra ação, a extinção do processo sem julgamento de mérito, no que se relaciona ao pedido do autor, em nada afeta a relação processual decorrente do pedido reconvencional. O mesmo se diga em relação à desistência da ação – artigo 343, §2º, CPC);

IV. Revelia:- Conceito (a revelia, também chamada contumácia, ocorre quando o réu, citado, deixa de oferecer resposta, no prazo legal. O réu tem o ônus de contestar, e não o dever, já se viu. De sua inércia decorre um particular estado processual, caso em que ele passa a ser considerado ausente do processo. Isso significa que todos os atos que se seguirem ocorrerão sem intimação ou ciência do réu, numa verdadeira abolição do princípio do contraditório – artigos 344 a 346, CPC. Assim, todos os prazos correrão contra o réu, independentemente de intimação, mesmo o trânsito em julgado da sentença, que será simplesmente publicada. A revelia acontece quando o réu não comparece, ou, mesmo comparecendo, não apresenta contestação. O fato de não ter contestado, porém, não impede o réu de, a qualquer momento, fazer-se representar nos autos por advogado, caso em que receberá o processo no estado em que esse se encontra. Daí em diante se restabelece o contraditório, passando o réu a ser intimado de todos os atos. Se o réu tem advogado constituído nos autos, mas não apresentou contestação, a revelia se consubstancia apenas na presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial, devendo, no entanto ser feitas todas as intimações, já que presente o patrono. Ainda, Didier nos lembra que se o réu apresenta a contestação intempestiva, o máximo que pode acontecer é a aplicação da confissão ficta, devendo ser feitas todas as intimações);- Efeitos da revelia (artigo 344, CPC: se o réu não contestar, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados pelo autor. De modo a alertar o réu disso, o mandado de citação deve conter a advertência do artigo 248, II, CPC, como já se viu. Diante da revelia, desnecessária a prova dos fatos em que o autor baseou o pedido, de modo que se dispensa a audiência de instrução e julgamento, e o juiz profere julgamento antecipado da lide – artigo 355, II, CPC. Isso, no entanto, não significa dizer que sempre haverá julgamento antecipado em caso de revelia, pois pode acontecer de haver algum defeito de

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forma o qual pode ser conhecido de ofício pelo magistrado e que impede o julgamento do mérito, a exemplo da falta dos pressupostos processuais e das condições da ação. Ainda, mesmo se operando a revelia, pode ser que o juiz entenda improcedente o pedido do autor. Há, inclusive, hipóteses em que o próprio legislador afastou os efeitos da revelia: artigo 345, CPC. Lembre-se que ao réu citado com hora certa ou por edital – casos de citação ficta ou presumida – será dado curador à lide – artigo 72, II, CPC – em caso de não comparecimento, o que acaba por afastar a revelia, pela presença do defensor. Todavia, em se tratando do caso em que o réu é citado de modo ficto, comparece aos autos, mas não apresenta contestação, serão considerados os efeitos da revelia. Recorde-se, ainda, que o curador especial pode contestar por negativa geral, o que produz a impugnação específica de tudo quanto foi dito pelo autor, caso em que remanesce, para o pólo ativo, a necessidade de provar suas afirmações em audiência);- Alteração do pedido (uma vez citado o réu, considera-se estabilizada a relação processual. Assim, não é possível, ao autor, alterar o pedido consignado na inicial sem a devida ciência ao réu, mesmo diante da revelia. Portanto, se o autor pretender alterar o pedido ou a causa de pedir, ou demandar em declaração incidente, terá de promover nova citação do réu, a quem será assegurado novo prazo de 15 dias para responder);- Reconhecimento da procedência do pedido (além da resposta e da revelia, pode o réu reconhecer a procedência do pedido do autor, situação em que o processo será extinto com resolução do mérito – artigo 487, III, a CPC. Não se confunde o reconhecimento do pedido com a confissão, que é apenas meio de prova e não se refere a todos os fatos arrolados pela parte contrária. Ainda que haja reconhecimento do pedido, deve o juiz proferir sentença).

Segunda parte: fazer a consolidação (verificação de aprendizagem), a fixação e a avaliação (em casa)

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