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ano: 2011 . nr 16 . mês: maio . director: António Serzedelo . preço: 0,01 € 05 . 11 NR 16 O DIA EM QUE A DEMOCRACIA É POSTA NA GAVETA FOI CONVOCADA UMA MANIFESTAÇÃO PARA O PRETÉRITO 1.º DE MAIO, EM SETÚBAL, POR UM COLECTIVO INTITULADO “TER- RA LIVRE”. APESAR DE NÃO TER SIDO PARTICIPADA AO GOVER- NO CIVIL, OS CARTAZES ESTAVAM ESPALHADOS POR TODA A CIDADE E NOUTRAS, INCLUSIVE LISBOA (5000 PANFLETOS E 1000 CARTAZES, O QUE DÁ NAS VISTAS). A MANIFESTAÇÃO PODE E DEVE SER VISTA, BEM COMO O MAIS DIVULGADA POSSÍVEL EM HTTP://WWW.YOUTUBE.COM/ WATCH?V=NGMYJZVOG4U. AO LONGO DO PERCURSO NÃO HOUVE DESACATOS, HOUVE UMA BOA INTERACÇÃO EN- TRE OS MANIFESTANTES E OS TRANSEUNTES. A PSP ACOMPA- NHOU-A DESDE A SUA CHEGADA À CAUDA DA MANIFESTAÇÃO DA CGTP. AS PALAVRAS DE ORDEM FORAM “NEM ESTADO, NEM PATRÃO, AUTO-GESTÃO”, OU, “NÃO NEGOCIAMOS A NOS- SA ESCRAVIDÃO, A VIDA É NOSSA, NÃO É DO PATRÃO”. A CON- VOCATÓRIA É CLARA, NO SENTIDO EM QUE NOS PERMITE VER A SUA INTENÇÃO: “DESDE O GRUPO DE PESSOAS QUE COMPÕEM O RECÉM-FORMADO COLECTIVO ANARQUISTA “TERRA LIVRE” DE SETÚBAL QUEREMOS CONVOCAR UMA MANIFESTAÇÃO DE INDIVÍDUOS, GRUPOS, COLECTIVOS, ESPAÇOS OU SINDICATOS APARTIDÁRIOS, ANTI-AUTORITÁRIOS, ANTI-POLÍTICOS OU AUTÓ- NOMOS PARA O DOMINGO 1º DE MAIO DE 2011. DESEJAMOS FAZER DESTA DATA UM MARCO DE MOBILIZAÇÃO NÃO CONTROLADA POR NENHUMA FORÇA PARTIDÁRIA, POR NENHUMA CENTRAL SINDICAL, OU QUALQUER FORÇA DE REPRESSÃO E CONTROLO DO ESTA- DO. DESEJAMOS RECUPERAR O SEU CARÁC- TER DE MOBILIZAÇÃO GERAL DE TRABALHA- DORES, DESEMPREGADOS, ESTUDANTES E DE TODOS QUANTOS ANSEIAM POR UMA SOCIE- DADE NOVA, LIVRE DE VIOLÊNCIA CAPITALISTA, JOGOS PARTIDÁRIOS E REPRESSÃO ESTATAL.” OS MANIFESTANTES, CERCA DE ALGUMAS DEZENAS DE JOVENS, CHEGADOS À FONTE NOVA, BAIXAM OS ESTANDARTES E BAN- DEIRAS E PREPARAM-SE PARA CONSUMIR UMA SOPA COMUNITÁRIA. A PSP CERCA-OS, TANTO A NAS- CENTE COMO A POENTE. VÊM-SE AGENTES A SAÍREM DOS CARROS POLICIAIS COM SHOTGUNS. LOGO A SEGUIR VÊ-SE A CHEGADA DE UMA CARRINHA DA BRIGADA DE INTERVENÇÃO RÁPIDA E, MAL ESTACIONA, DÁ INÍCIO UM ACTO DE BRUTALI- DADE QUE A TODOS NOS ENVERGONHA. JOVENS A SEREM BRUTALMENTE ESPANCADOS, COMO UMA MENINA, QUE ESCORREGA AO FUGIR A QUEM DESFEREM UMA BASTONADA NA CABEÇA, OU UM MENINO BALEADO POR DUAS VEZES NO PESCOÇO, OUTRO COM CINCO TIROS NUM JOELHO. NINGUÉM SABE COMO NAQUELA TARDE NÃO MORREU NINGUÉM. AS IMAGENS FICAM NA RETINA, PRINCI- PALMENTE A DE UMA JOVEM, BRAÇOS ABERTOS, DESESPERADA, SÓ, COM OS AGENTES A BRAMIREM OS BASTÕES EM SEU REDOR, INDEFESA, VULNERÁVEL. NÃO FAÇAMOS DE CONTA QUE CONCOR- DAMOS, OU QUE DISCORDAMOS, COM A IDEOLOGIA PUBLICITADA NA MANIFES- TAÇÃO. ISSO É IRRELEVANTE. A PRIMEI- RA QUESTÃO IMPORTANTE É TENTAR PERCEBER SE PODEMOS ACEITAR QUE OS NOSSOS FILHOS SEJAM ESPANCA- DOS PELA POLÍCIA POR TEREM IDEIAS PRÓPRIAS E LEGÍTIMAS. A SEGUNDA QUESTÃO RELEVANTE É QUE SE AGENTES PROCURAM CONTROLAR UMA MANIFESTA- ÇÃO EM DESMOBILIZAÇÃO COM SHOTGUNS, HÁ UMA INTEN- ÇÃO INEGÁVEL E UMA PREMEDITAÇÃO DA VIOLÊNCIA INTOLE- RÁVEL. A TERCEIRA QUESTÃO É QUE O COMUNICADO DA PSP COMPROVADAMENTE MENTE, E AS INSTITUIÇÕES DO ESTADO NÃO PODEM MENTIR. A ÚLTIMA RAZÃO É, SE ACEITARMOS O QUE SE PASSOU EM SILÊNCIO, ENTERRAMOS A DEMOCRACIA, O DIREITO À OPINIÃO E À SUA EXPRESSÃO. POR TUDO ISTO, ACUSAMOS! JOSÉ LUÍS NETO O VERGONHOSO 1º DE MAIO

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O dia em que a demOcracia é pOsta na gaveta NR 16 josé luís neto ano: 2011 . nr 16 . mês: maio . director: António Serzedelo . preço: 0,01 € distrito, felizmente, não é comparável à década de 80. Leonardo da Silva e José Luís Neto [email protected] S – Apesar da actual legisla- ção, o panorama da violência de género na intimidade continua a apresentar números desolado- MAI 2011 SE m m A iS

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ano: 2011 . nr 16 . mês: maio . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €

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O dia em que a demOcraciaé pOsta na gaveta

Foi convocada uma maniFestação para o pretérito 1.º de maio, em setúbal, por um colectivo intitulado “ter-ra livre”. apesar de não ter sido participada ao Gover-no civil, os cartazes estavam espalhados por toda a cidade e noutras, inclusive lisboa (5000 panFletos e 1000 cartazes, o que dá nas vistas).a maniFestação pode e de ve ser vista, bem como o mais divulGada possível em http://www.youtube.com/watch?v=ngmyjZvog4u. ao lon Go do percurso não houve desacatos, houve uma boa interacção en-tre os maniFestantes e os transeuntes. a psp acompa-nhou-a desde a sua cheGada à cauda da maniFestação da cGtp. as palavras de ordem Foram “nem estado, nem patrão, auto-Gestão”, ou, “não neGociamos a nos-sa escravidão, a vida é nossa, não é do patrão”. a con-vocatória é clara, no sentido em que nos permite ver a sua intenção: “desde o Grupo de pessoas que compõem o recém-Formado colectivo anarquista “terra livre” de setúbal queremos convocar uma maniFestação de indivíduos, Grupos, colectivos, espaços ou sindicatos apartidários, anti-autoritários, anti-políticos ou autó-nomos para o dominGo 1º de maio de 2011.desejamos Fazer desta data um marco de mobilização não controlada por nenhuma Força partidária, por

nenhuma central sindical, ou qualquer Força de repressão e controlo do esta-do. desejamos recuperar o seu carác-ter de mobilização Geral de trabalha-dores, desempreGados, estudantes e de todos quantos anseiam por uma socie-dade nova, livre de violência capitalista, joGos partidários e repressão estatal.”os maniFestantes, cerca de alGumas dezenas de jovens, cheGados à Fonte nova, baixam os estandartes e ban-deiras e preparam-se para consumir uma sopa comunitária. a psp cerca-os, tanto a nas-cente como a poente. vêm-se aGentes a saírem dos carros policiais com shotGuns. loGo a seGuir vê-se a cheGada de uma carrinha da briGada de intervenção rápida e, mal estaciona, dá início um acto de brutali-dade que a todos nos enverGonha.jovens a serem brutalmente espancados, como uma menina, que escorreGa ao FuGir a quem desFerem uma bastonada na cabeça, ou um menino baleado por duas vezes no pescoço, outro com cinco tiros num joelho. ninGuém sabe como naquela tarde não morreu ninGuém. as imaGens Ficam na retina, princi-

palmente a de uma jovem, braços abertos, desesperada, só, com os aGentes a bramirem os bastões em seu redor, indeFesa, vulnerável.não Façamos de conta que concor-damos, ou que discordamos, com a ideoloGia publicitada na maniFes-tação. isso é irrelevante. a primei-ra questão importante é tentar perceber se podemos aceitar que os nossos Filhos sejam espanca-dos pela polícia por terem ideias

próprias e leGítimas. a seGunda questão relevante é que se aGentes procuram controlar uma maniFesta-ção em desmobilização com shotGuns, há uma inten-ção ineGável e uma premeditação da violência intole-rável. a terceira questão é que o comunicado da psp comprovadamente mente, e as instituições do estado não podem mentir. a última razão é, se aceitarmos o que se passou em silêncio, enterramos a democracia, o direito à opinião e à sua expressão. por tudo isto, acusamos!

josé luís neto

O vergOnhOsO1º de maiO

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"Não devemos tentar manter um sistema que, se falir, não dará direitos a ninguém", diz Catarina Marcelino a O SUL

O SUL A meio da sua primeira legislatura o Governo demitiu-se. Que balanço faz dos seus dois primeiros anos na Assembleia da República?Catarina Marcelino - Foi uma experiência interessante e enri-quecedora, que me permitiu de-fender causas em que acredito, contribuir para o debate de ideias e poder, de forma efectiva, alterar legislação como a do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Tenho muito orgulho em ter vo-tado essa lei.

S – A actual legislação conta com oposição, tanto à direita, que não a quer, como à esquerda, que a acha curta, pois a adopção fi-cou adiada. Que futuro para este equilíbrio?

CM – Espero que em breve possa ser aprova-do na AR a questão da adopção, porque é uma questão de igualdade, direitos, liberdades e garan-tias de tod@s face aos valores de Abril. O PS assumiu, no anterior programa eleitoral, a legalização do casamento sem a questão da adopção. Assim o fez. Agora o que é importante discutir é o estatuto das crianças nas famílias homos-sexuais, que existem, mas que não têm qualquer enquadramento na lei. É como se não existissem. Esta lei é altamente punitiva para estas crianças. Por exemplo, em casos de separação, por puro preconceito social, estas crianças podem ficar apartadas da sua família afectiva. O que realmente importa é que a criança tenha uma família, não se é um pai e um pai, uma mãe e uma mãe ou um pai e uma mãe.

S – Apesar da actual legisla-ção, o panorama da violência de género na intimidade continua a apresentar números desolado-

res, sendo que Setúbal é um dos distritos cuja marca é das mais pesadas. O que tem falhado nas políticas de igualdade?

CM – Nas políticas de igualda-de há duas questões a desenvolver. A primeira tem a ver com a Justiça. Tem de haver menos impunida-de em relação aos agressores. As falhas estão relacionadas com o dilatar dos tempos num proces-so, falha porque é difícil provar a agressão, falha, por vezes, pela falta de formação dos juízes para lidar com esta realidade. O Centro de Estudos Judiciários devia con-templar formação mais específica nesta área. A nova lei da violência doméstica é uma boa lei. Precisa é de melhor aplicação. A segunda questão é que, estou convicta, que a violência doméstica só diminui-rá em Portugal quando as pes-

soas forem educadas com comportamentos pessoais e sociais no âmbito da cidadania, da igualdade e da tolerância. Para isso é preciso que nos currículos escolares exista uma disciplina

específica transversal a todos os graus de ensino, com um programa estruturado e com professor@s/formador@s com conhecimentos singulares para leccionarem estes programas.

S – Dentro das discriminações existentes no distrito, uma das mais gritantes e preocupantes é o racismo. O que foi feito nessa matéria?

CM – Apesar de ser uma re-alidade europeia, sendo que em momentos de crise haverá uma tendência de aumento, Portugal é um dos países mais tolerantes. Temos boas políticas de imigração e uma boa lei de nacionalidade, razão que levou a que fossemos premiados pela ONU. Temos uma história de acolhimento rica, que

também tem a ver com a nossa história da emigração. Tudo isto dá-nos uma perspectiva diferen-te, contudo o distrito tem grandes pólos de imigrantes lusófonos, que, por políticas de habitação datadas dos anos 70 e 80 sobretudo, cria-ram situações de exclusão social que precisam de ser reequaciona-das, através de projectos de multi-culturalidade e de trabalho com os jovens de 2.ª e 3.ª geração. Também é preciso reinventar o modelo ur-banístico, que precisa de ser de maior integração. As margens do Sado têm uma história de fixação e de integração exemplares, que remontam ao Século XV. Esta pode ser recuperada como um bom exemplo para a actual realidade dos imigrantes lusófonos e é com agrado que vejo a possibilidade do surgimento de um museu do negro num concelho ribeirinho do Sado, eventualmente no concelho de Alcácer do Sal.

S – Neste distrito todos os dias empresas fecham, o desemprego tem números assustadores, o Banco Alimentar já anunciou que esgotou os stocks e não estamos ainda a meio do ano. Como gerar e redis-tribuir a riqueza para todos?

CM – Estamos a viver um mo-mento de crise internacional como há muito não acontecia no mundo. Estamos a viver com dificuldades acrescidas pelos nossos défices estruturais, nomeada-mente na área da qua-lificação profissional e na capacidade do nosso tecido empresarial se adaptar a uma nova realidade competitiva, fruto da globalização. Houve um esforço, nos últimos anos, para aumentar a qualificação dos portugueses, au-mentar a qualidade da escola pú-blica e um investimento ímpar na ciência e na inovação, bem como na desburocratização dos serviços

prestados pelo Estado. Este esforço foi apanhado por esta crise, não tendo havido tempo para que o país se musculasse o suficiente para ter capacidade plena de fazer face aos problemas daí recorren-tes. Quanto ao combate à pobreza proveniente deste momento difícil, só há um caminho, que terá efei-tos positivos e que passa por uma

economia mais forte, mais competitiva e capaz de gerar maior riqueza. Um Estado que responda às necessidades destas pessoas e necessário e precisa de conti-nuar a apoiar quem

menos tem, mas não pode ser, nem será, a solução deste problema. No que respeita às relações laborais, o que eu acho é que devemos ga-rantir os direitos de quem trabalha, mas também devemos ter alguma

flexibilidade atendendo à crise e à globalização. Não devemos tentar manter um sistema que, se falir, não dará direitos a ninguém. Te-mos de garantir os direitos dos trabalhadores e também temos de garantir que há condições para haver postos de trabalho.

S – Em 1983, aquando da últi-ma intervenção do FMI, o distrito ficou destroçado, a fome e o de-semprego assolaram-no. E agora?

CM – A situação do distrito, felizmente, não é comparável à década de 80. Temos uma estru-tura económica e social mais con-solidada. Também temos uma rede de respostas sociais que, à época, não existia e temos empresas es-truturantes, como a Auto-Europa e a Portucel.

Leonardo da Silva e José Luís Neto

[email protected]

“ (...) é importante discutir é o estatuto das crianças nas famílias homossexuais.

Catarina MarCelino, deputada do partido SoCialiSta, liCenCiada eM antropologia, afirMa-Se CoMo de eSquerda, SoCialiSta e feMiniSta”. de faCto, a aCtual preSidente daS MulhereS SoCialiStaS teM uM vaSto CurríCulo noS MoviMentoS feMiniStaS e aSSu-Miu papel preponderante na CaMpanha pela deSpenalização do aborto. JoveM, CoM ideiaS ClaraS e obJeCtivaS, é novaMente apoSta do pS para nova legiSlatura. Catarina MarCelino é da banda de Cá, é MontiJenSe, ConheCedora CoMproMetida CoM aS reivin-diCaçõeS da MargeM eSquerda. não é, ConSequenteMente, de eSpantar que tenha eS-tado na CoMiSSão do trabalho, Segurança SoCial e adMiniStração públiCa beM CoMo na Sub-CoMiSSão da igualdade, na aSSeMbleia da repúbliCa.

“ A situação do distrito, felizmente, não é comparável à década de 80.

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O sol afinal nasce no Poente, e tudo faz sentido

Há alguns anos um novo mo-vimento de renovação do associa-tivismo e cooperativismo vai-se dando em Portugal. Trata-se de uma renovação subterrânea do colectivismo cultural, inspirado mais ou menos assumidamente na ideia da alter-globalização à esca-la local (o “glocal”). Ambientalista, protectora do património, inclusi-va e descomplexada, corresponde a uma autêntica revolução mental, em iniciativa livre da influência e normalização dos poderes ins-tituídos. Vamos assistindo a um número vasto de erupções es-pontâneas que se transformam num processo ímpar de defesa dos direitos civis fundamentais? Prima Folia (Setúbal), Velha-a-Branca (Braga), Bacolheiro e Crew hassan, RDA 69, Casa da Achada e Grupo de Acção e Intervenção Ambientalista - GAIA (Lisboa), Cooperativa Árvore (Porto), Mer-cado Negro (Aveiro), entre outras, será que têm algo em comum? Pensamos que sim.

Esta visão ideológica, penho-rando convicções em prol do movimento, de colocar crenças em acção, motivou um convite da Associação Cultural Padre José Idalmiro, sedeada na Ilha do Pico, à Prima Folia, para aí leccionar um workshop de formação de dirigen-tes associativos das ONG’s cultu-rais do grupo central do arquipéla-go dos Açores. Esta acção decorreu entre 2 a 6 de Maio na Biblioteca de São Roque. A intenção era explo-rar metodologias e estratégias de aferição de necessidades, formas de envolvimento da comunidade, opções de financiamento e obten-ção de apoio, técnicas de cultura e contra-cultura, entre outras questões para o desenvolvimento sustentável de organizações com acção comunitária.

A belíssima paisagem que nos enquadrou, que foi classificada como património da humanidade pela Unesco, terra de basaltos e de extremos, lá nos foi permitindo passar pelo centro interpretativo da paisagem da vinha, obra pre-

miada da dupla setubalense SAMI – arquitectos. Por aqui são invisí-veis, mas em Portugal e no mundo vão somando prémios, prestígio e reconhecimento. Há injustiças de tal modo flagrantes que das duas uma, ou se transformam em ane-dotas, ou em fenómenos. Numa altura em que são finalistas da 53ª edição dos Prémios FAD (Foment de les Arts i del Disseny), tanto na categoria de arquitec-tura com o referido projecto, como na de Intervenções Efémeras com uma exposição de J. A. Tenente, que teve lugar no MUDE-Museu do Design e da Moda, a eles destinamos o nos-so pensamento e energia positiva.

Na Escola Profissional do Pico, assistimos e participámos numa acção de divulgação contra a vio-lência no namoro, promovida pela UMAR (União de Mulheres Alter-nativa e Resposta) - Açores, asso-ciação para a Igualdade e Direitos das Mulheres de cariz feminista. Existente desde 1992, desenvolve

trabalho através dos seus três nú-cleos (São Miguel, Terceira e Faial). O panorama traçado pelas suas voluntárias não é, de todo, anima-dor, mas o activismo convicto vai dando seus frutos. E o que dizer da Agenda Cultural Faialense, com o seu FAZENDO, jornal comunitá-rio, não lucrativo e independen-

te, “boletim do que por cá se faz”, irmão gémeo separado de O SUL (ver http://fazendofazendo.blogspot.com). Tal-qualmente como a Prima Folia com a ACPAES (Associação de Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado) promovem

anualmente – tanto quanto é pos-sível - os encontros de Desenvol-vimento Sustentável, vemos a ACF com o encontro Potenciar das In-dústrias Culturais e Criativas. E porque não salientar o já intenso trabalho da ACPJI (Associação Cultural Padre José Idalmiro), que já antes da sua oficialização se encontrava no terreno, fazen-

do tertúlias, workshops e debates. Note-se que independentemente do ecletismo das crenças pessoais de cada membro, souberam ter arte e engenho de se congregar em torno de uma figura que, sendo eclesiástica, foi simultaneamente um vulto cultural de maior relevo. Num lugar em que a terra pode ser sacudida a qualquer momento e que tem actividade sísmica per-manente, ganha-se atitude, isso é inolvidável… sobrevive-se com a força mental dos baleeiros ou, em alternativa, da grande Natália Correia. Neste enquadramento, nada se tem que ensinar, antes sim para partilhar. As periferias são-no cada vez menos, afirmam-se sim como espaços de fronteira, de ensaio de soluções culturais novas e autónomas, profunda-mente comprometidas com as comunidades onde se integram. À frente deste novo projecto está Susana Moura, setubalense de ascendência cabo-verdiana, que estudou em Coimbra, licenciou-se em Estudos Teatrais em Évora, estagiou no Chapitô em Lisboa, percorreu trabalhando em todas

as ilhas atlânticas e, no Pico, dina-miza a construção deste novo pólo emissor de cultura e vanguarda. As peças que em perpétuo mo-vimento se deslocam no espaço, por vezes, assumem sentidos in-tencionais que escapam aos mais distraídos dos mortais.

O activismo cultural consti-tui-se como último garante da democracia (e, no actual estado das coisas, talvez mesmo o único), mostra-se adaptado e moderni-zado, estabeleceu-se em rede, contrapondo-se eficazmente às dificuldades de adaptação das organizações governamentais. Num país onde tudo se esboroa um pouco mais todos os dias, terá que saber e querer assumir a sua visão, pois a sua legitimidade e energia será fundamental para dar horizonte onde se já não cantam amanhãs, bem como terá de for-necer coordenadas a quem já go-verna sem destino. Estou convicto que cada vez mais é sua missão assumir-se publicamente.

José Luís [email protected]

Espirituosas, licorosas, destiladas e encevadas

TRAVESSA DOS GALEÕES, L. 5 C

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“ O activismo cultural constitui-se como último garante da democracia (e, no actual estado das coisas, talvez mesmo o único)

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O Património das MisericórdiasA União das Misericórdias

Portuguesas (UMP) iniciou no ano 2000, um projecto para a inven-tariação do património móvel e integrado de todas as Misericór-dias Nacionais.

Primeiramente através de um protocolo com o Ministério da Cultura, rapidamente se lhe se-guiu, em 2006, uma candidatura ao Programa Operacional de Cul-tura, a partir do qual, o projecto de inventariação teve maior im-pulso e dimensão. Desta forma, se inventariaram 47 Mi-sericórdias, na região de Lisboa e Alentejo, neste momento, o projecto avança na região Norte do País através do Progra-ma Regional “Novo Norte” onde se in-ventariaram mais 21 santas casas.

Setúbal aderiu ao projecto e concluiu o seu inventário em 2007. No seu patri-mónio móvel e inte-grado conta com 583 peças na sua maior parte em regular estado de conservação.

Este projecto, na sua globali-dade e máxima, pretende a divul-gação deste património perante o público em geral, mas também perante a comunidade científica.

Pretende ainda, que sirva de exemplo a outras Misericórdias, para que estas hajam no sentido de preservar, valorizar e dina-mizar o seu património, e que ainda não o fizeram pelas mais diversas razões.

Instituições centenárias, as Misericórdias são detentoras de um património que interessa em muito não só à História da Arte, mas também a uma História Social e Cultural Portuguesas. Citando um investigador da área, Dr. Pedro Raimundo: as miseri-córdias portuguesas funcionam como repositórios do património nacional nas suas mais diver-sas expressões. Afirmação esta que condensa seguramente e em pleno, a dimensão da sua impor-

tância patrimonial e cultural.

As formas sob as quais este património chega a estas institui-ções são variadas e muitas vezes fruto de conjunturas nacionais, contudo as mais fre-quentes foram através de legados, doações, testamentos, benfei-torias e anexações de outras instituições na Idade Moderna. Con-tudo, a forma de como

este património foi entendido pelas gerências destas instituições seguiu na generalidade três linhas: o seu uso ininterrupto, a sua alienação como fonte de receita ou o arma-zenamento puro e simples desses objectos. Só muito recentemente, esses objectos começam a ser en-tendidos como Património.

Um facto importante que se verificou com a elaboração deste projecto de inventariação é o de se identificarem 2 grandes temá-ticas: a religiosa obviamente, mas também a laica de âmbito civil.

Aqui, estão incluídos os retratos dos benfeitores reflectindo valores e atitudes próprias do seu tempo

no âmbito político e social; estão incluídos também objectos que recheavam os hospitais e asilos a cargo das Misericórdias desde finais do século XV, bem como instrumentos cirúrgicos associa-dos a uma História da Medicina. O Património móvel das Miseri-córdias, contém um leque infin-dável de temáticas inerentes aos objectos, que nos podem contar várias histórias desde a social à política, da económica à cultural, da religiosa à artística.

No âmbito da Arte, encon-tramos um estilo misericordiano inerente a alguns objectos, comum e transversal a todas as Misericór-dias Portuguesas. Consiste numa iconografia distinta e específica e falo obviamente da Virgem da Misericórdia ou Virgem do Manto, no seu papel de intercessora pelos mais desfavorecidos e que abri-ga e os protege sob o seu imenso manto azul.

São estas as imagens que estão presentes nas suas Bandeiras, e são estas as imagens que honram as finalidades destas instituições, substanciadas simbolicamente nas 14 Obras de Misericórdia.

Também as procissões, autên-ticos espectáculos públicos de de-monstração de magnificência destas instituições em séculos passados, são possíveis de serem caracteri-zadas e recriadas hoje, através dos objectos que subsistiram e que as acompanhavam, também muito específicos das Santas Casas. Por exemplo, as varas dos mesários, as lanternas, o pálio, o esquife onde se transportava o Senhor Morto, as matracas, e as bandeiras volantes

com as temáticas da Visitação e da Paixão de Cristo.

O indivíduo é central em todas as actividades das Misericórdias, sejam elas ao nível espiritual, como era o caso das procissões e dos enterros, seja ao nível assisten-cial. Todo este Monumento que hoje iniciamos a compreender, foi movido a força humana. Homens ilustres ou do povo, mulheres e damas das diversas comunida-des, assumiram um papel vital no sucesso da obra que as Misericór-dias se propunham a realizar, e por isso foram celebrados, marcados na sua História, homenageados para todo o sempre, num gesto de reconhecimento pelas suas doações e auxílios. Os retratos dos benfeitores, representam no geral, pelos inventários até agora publicados on-line pela UMP, uma importante fatia do património das Misericórdias Portuguesas, pinta-dos ou fotografados, deixam-nos um testemunho de uma história de beneficência, altruísmo e so-lidariedade.

Para concluir, saliento e rei-tero a afirmação que citei inicial-mente do Dr. Pedro Raimundo: as Misericórdias são repositórios do património nacional nas suas mais diversas expressões e adi-ciono a necessidade de dar a co-nhecer a todos, aos mais diversos níveis, este universo centenário e único à escala Mundial, que são as Misericórdias Portuguesas, também elas parte fundamental e indiscutível da construção da nossa identidade nacional.

Daniela Silva

Fernando Tordo em SetúbalFernando Tordo apresenta um

espectáculo no Auditorio Nª Sª da Anunciada- Rua Alves da Silva, 42, dia 18 de Junho pelas 22.00h.

Fernando Tordo é hoje um dos mais reconhecidos cantores da música ligeira portuguesa. Neste espectáculo, da cariz muito in-timista, interpreta alguns novos temas do futuro álbum a lançar

no final do ano, que se chamará “Por este andar”, cantando também clássicos como “Adeus Tristeza”, “Cavalo à solta”, “Tourada”, “Se digo meu amor”, ”Balada para os nossos filhos”, “Estrela da Tarde”, “Cinema Paraíso”, “Chegam pa-lavras” entre outras canções que fazem parte da história musical do nosso país.

É um encontro marcado pela relação de proximidade que o can-tor estabelece com o seu público através do prazer que revela em cima do palco, fruto de 47 anos ininterruptos de total dedicação ao seu trabalho.

No seu historial, conta com 28 álbuns gravados, todos eles de grande qualidade.

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“ (...) a elaboração deste projecto de inventariação é o de se identificarem 2 grandes temáticas: a religiosa obviamente, mas também a laica de âmbito civil.

96 24 000 17

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Setembro (data a confirmar)Auditório Nª Sª da Anunciada

Voz Fernando Tordo Piano Pedro Duarte

Marcações para o número: 96 505 13 47 ou para o [email protected]

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Polir o RacismoVoltaram a ser falados en-

tre nós os casos de Huckleberry Finn, Tintin no Congo e do ensi-no do Holocausto em Inglaterra. Aparentemente há problema em abordar assuntos históricos e parece que se pretende suavizar períodos terríveis do nosso pas-sado, atormentados que ficamos com a perseguição dos crimes que cometemos. Um grupo de pessoas sentiu-se sensibilizado com o racismo presente nas obras, próprias do seu tempo. Importa dizer que as obras foram escritas nas décadas inicais do século XX. Será aceitável a alteração desses textos? Parece-me censura, da mesma maneira que seria censura se não se publicassem os desenhos de Maomé. O que a minha cons-ciência e bom senso me dizem é que é mais significativo preservar essa Históra, para que episódios desses não se repitam. É por isso que é importante exercitar a me-mória, ter museus, registos his-tóricos, enciclopédias. Talvez seja

melhor começarmos a censurar os nossos comportamentos actuais, em vez de nos arrependermos ou nos sentirmos incomodados quase um século depois.

Nobre, PSD e Passos Coelho: Categoricamente não!

Fernando Nobre, candidato da cidadania nas últimas eleições presidenciais, deu o dito pelo não dito. Não é isto que o torna pior que os outros. Isto apenas o torna igual aos demais po-líticos que criticamos. Não percebo porque é atacado tão feroz-mente. De incoerên-cias ou contradições está cheia a boca de Sócrates, Cavaco, Passos Coelho ou outros “notáveis”. O que parece é que Fernando Nobre não tem o calibre necessário para ser político mas isso também pode fazer parte da sua natural inocência, de quem nunca militou ou parasitou em ju-

ventudes partidárias. Este caso pa-rece dizer sobre os partidos: “quanto mais me bates, mais eu gosto de ti.”. Manuel Alegre falou mal da política e foi apoiado por dois(!) partidos com ideologias totalmente diver-gentes; Fernando Nobre seguiu-lhe o rumo e é convidado pelo PSD. Esta tentativa de conquista imediata de votos por parte de Passos Coelho não deverá resultar e o pobre Pedro já não tem sítios onde dar tiros. O pé, coitado, já está completamente dizi-mado. Outra visão da questão: será

que os políticos insta-lados estão com medo de que outros indepen-dentes se juntem para ir roubar “ao pote”? Terão receio de concorrência? Possivelmente não de-

sejam que os cidadãos se tornem realmente activos. E de que ma-neira se “expulsa” a concorrência? Humilhando-a, ridicularizando-a, fazendo-a passar por inferior. Será que as críticas de outros políticos são, no fundo, receito de mudança?

Se os pobres somos nós...Portugal sempre foi um dos pa-

íses europeus com mais problemas económicos (neste momento, o 4º na Zona Euro com maior défice) e talvez devamos pensar um pou-co em nós. Com isto quero dizer que é im-portante dar atenção à produção nacional. Há alguns exemplos óbvios pelos quais podemos optar sem pestanejar: legumes, fruta, azeite, leite e derivados. Outros produtos poderão ser mais caros mas talvez possamos pen-sar nos seguintes aspectos: maior proximidade é equivalente a me-nos poluição; com menos dinheiro gasto em importações, melhora a nossa balança comercial. O leitor poderá fazer soar o alarme do proteccionismo mas não é o que pretendo com esta ideia. Apenas uma solução para uma equação básica: se as estatísticas nos in-dicam como um dos países mais

pobres da Europa, temos de pensar na nossa produção, sob pena de ficarmos totalmente dependentes do exterior, à medida que os nossos produtos deixam de poder competir com o exterior. Numa notícia re-

lacionada, a ideia de que podemos poupar uns milhões de euros “extinguindo” o Minis-tério da Agricultura pode ser um erro tre-mendo. Não produzin-do, temos de importar.

Como exemplo, a farinha que se usa para fazer pão. Noventa por cento é importada e implica um custo de 9 mil milhões de euros. Que não se caiam em erros popularistas que possam condicionar ainda mais a nossa economia. E que esta ideia sirva de reflexão sobre o nível de dependência externa que preten-demos porque, obviamente, isso condiciona a nossa soberania.

Luís Azevedo Silvawww.epilepsiasocial.net

Touradas S. A.No ano passado regressou à ci-

dade de Setúbal um triste espectá-culo que alguns teimam em chamar de cultura. Foi anunciado que, por alturas da Feira de Santiago, have-ria uma tourada. Esta foi feita com dinheiros públicos, 15.000 € ofer-tava a Câmara Municipal de Setúbal com o apoio incompreensível do Vereador dos Verdes André Martins para um retrocesso civilizacional. Com a tradicional desculpa da tra-dição, tentava desta forma o exe-cutivo impor este esquecido tipo de eventos que muito pouco diz às gentes da cidade do Sado.

O resultado na altura ficou à vista de todos, uma casa meio vazia para ver o sanguinário aconteci-mento, e, uma resposta na socie-dade civil contra este esbanjar de dinheiro de todos cidadãos, mes-mo daqueles que se confessam adeptos da brava festa. Com um Festival Internacional de Teatro e outro de Cinema, além inúmeras instituições culturais e grupos de

teatro a passar por dificuldades financeiras foi totalmente imper-ceptível e inadmissível gastar esse valor num só evento, é que toda a gente sabe existem companhias de teatro que trabalham um ano inteiro com muito menos.

Águas passadas não movem moinhos poderão dizer alguns, mas enganam-se os mais incau-tos, tudo isto não passou do pre-lúdio para uma nova vergonha de trágica dimensão.

O Executivo presidido por Ma-ria das Dores Meira visa reabilitar a Praça Carlos Relvas em sistema de Parceria Público Privada, sendo que em 216 000 € investidos pelo pri-vado (Empresa Aplaudir) para gerir o espaço durante 12 anos, 120 000 € vêm do erário público municipal, pago em prestações “suaves” que comprometem os próximos 6 anos, ou seja, este e o próximo executivo. As tentativas de disfarçar com as Marchas, com o até com o Corso, vão para além do ridículo, não con-

seguindo esconder o essencial, que isto mais não é que uma PPP, e para quê? Para pagar a sede de sangue de alguns, a ganância de outros, que duvidosamente poderemos considerar legítimas.

Em ano de crise, no qual se pe-diu compreensão às instituições culturais pelos cortes nos apoios, em que o Festróia perdeu 15 000€, o TAS 10 000€, o Teatro do Elefante 1 500€ e o TEF 2 000€, questionamo-nos so-bre as políticas cultu-rais autárquicas. As instituições culturais devem compreender o quê? Sem dúvida alguma, todas elas já retiraram proveitosas lições da anunciada PPP.

Mas se as reais intenções e pro-pósitos destas políticas nos fazem questionar o que para a edil da cidade à beira Sado significa Cul-tura, que pensar quando se sabe

que esta verba permitiria atenuar com alguns dos duríssimos proble-mas por que passa, por exemplo, a Associação de Apoio aos Defi-cientes e Amigos de Setúbal? Esta ainda aguarda resposta para os mais simples auxílios. Uma cadeira de rodas eléctrica custa 2600€,

parece-nos que a exigência de apoio para adquirir pelo menos cinco, feita à Presidente, para fun-cionarem em sistema de partilha, para que estas nossas gentes possam ir às compras, ao hospital, ou pelo menos sair de casa e

apanhar sol é legítima e justa. A to-talidade do investimento para tou-radas poderia ajudar os 50 casos mais graves e dar condições dignas a estes nossos concidadãos.

Este valor permitiria alimen-tar em muitas IPSS, permitiria dar condições aos que menos ou

nada têm. Vivemos tempos em que a solidariedade pode e tem de ser praticada. Sejamos pró ou contra as touradas, neste momento, os valores implicados nesta espécie de PPP são pornográficos e social-mente criminosos. Não podem usar o dinheiro de todos setubalenses, para manchar o chão da cidade com bárbaras torturas sobre os animais, nem o podem usar sem critérios sabendo das grandes necessidades desta nossa gente. A Câmara não deve e não tem de pagar mais de metade do investimento privado.

Pelos Animais e pelas Pes-soas, não são tempos para usar dinheiros públicos em touradas. Haja decência!

Existe uma petição pública pelo direitos dos animais e por uma cidade mais humana em: http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N9450

Leonardo da [email protected]

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“ Maria das Dores Meira visa reabilitar a Praça Carlos Relvas em sistema de Parceria Público Privada

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“ parece que se pretende suavizar períodos terríveis do nosso passado

“ Possivel-mente não desejam que os cidadãos se tornem realmente activos.

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Na mesa-de-cabeceiraLIVROS. Joel Neto é, talvez, o

mais bem escondido e subestimado cronista (ou «escritor de jornais», como ele se prefere caracterizar) da imprensa portuguesa. Afinal, ele está aí, disponível, próximo, todas as semanas, numa banca de jornal, mas apesar de tudo parece que nos esquecemos que ele existe. (Ou se-rei só eu?) É estranho. E é difícil de compreender. Mas se existiam ra-zões, agora não existem desculpas. “Banda Sonora para um Regresso a Casa”, obra que reúne alguma da sua melhor prosa, já se encontra nos escaparates. Mas eu disse que Joel Neto era um cronista? Disse. E disse bem. Não com certeza pe-los critérios pátrios, os quais não distinguem o trigo do joio, nem o cronista do comentador. Esclareço: Joel Neto não comenta; Joel Neto discorre. E a diferença é fundamen-

tal. Porque este não se foca sobre as minudências da politiquice (aliás, cada dia mais enfadonha) caseira ou estrangeira, mas procura colo-car em evidência, como qualquer verdadeiro escritor, as tendências e contradições da nossa sociedade humana. Que é como quem diz as tendências e contradições das nos-sas mundanas vidas. Da minha. Da sua. Da do Joel. E tudo isto numa prosa do que de melhor por aí se faz. Sem desculpas, Joel. [Joel Neto, “Banda Sonora para um Regresso a Casa”. Porto Editora, 2011.]

FILMES. “It’s Kind of a Funny Story”, passou despercebido por Portugal – se é que passou por Portugal. De que se trata? Será su-ficiente afirmar que se trata de um filme despretensioso e, por isso, in-teligentíssimo, acerca de um rapaz

de 16 anos, Craig (Keir Gilchrist), que sucumbe à pressão das expectativas familiares e sociais desenvolvendo pensamentos suicidas. A coisa, dita assim, parece séria. E é, mas apenas q.b. O filme cedo se desenvolve num drama cómico quando este vem a procurar os serviços psiquiátricos do hospital em busca de um cura-tivo imediato para a sua situação – afinal, e como ele não se cansa de esclarecer, no dia seguinte tem aulas –, mas se vê confrontado com o facto de que aí terá de ficar inter-nado para observação durante pelo menos 5 dias. Lá, na ala psiquiátrica, este encontrará em Bobby (Zach Galifianakis), um amigo, e na jovem Noelle (Emma Roberts), uma paixão, que o ajudaram a compreender que, muitas vezes, somos nós, com as nossas próprias inseguranças e dra-matizações, o nosso maior inimigo.

Um filme que procura evidenciar o facto de que a vida, afinal, não é feita senão de momentos, e de que vivê-la é a única verdadeira solução. [“It’s Kind of a Funny Story”. Directores: Anna Boden e Ryan Fleck. 2010.]

MÚSICA. As compilações ser-vem vários propósitos. Mas duvido que um deles seja o de assassinar por completo um autor. De quem falo? De Israel Kamakawiwo‘ole. Como disse? Calma. Eu repito: Israel Ka-maka-wiwo-‘ole. Esse mesmo. Autor de quem saiu, este ano, (mais) um álbum póstumo (morreu em 1997) que recolhe as suas melhores obras. Israel, tratemo-lo assim, foi um influente músico havaiano que teve um “one hit wonder”. A músi-ca que o lançou para as bocas do mundo? Uma combinação de “So-mewhere over the Rainbow” e “What

a Wonderful World”, embaladas pela sua voz e suavemente acompanhada por ukulele, que surgiu original-mente no álbum “Facing Future”, de 1993. Infelizmente, a compilação presente, intitulada simplesmente “Somewhere over the Rainbow. The Best of Israel Kamakawiwo‘ole”, para além de ser constituída em metade por músicas do álbum “Fa-cing Future”, apresenta a sua icóni-ca música mutilada. Que dizer? Que a colectânea é uma trampa? Que é uma vigarice? Que pessoalmente voltei ao “Facing Future”, de onde aliás nunca deveria ter saído? [Is-rael Kamakawiwo‘ole, “Somewhe-re over the Rainbow. The Best of Israel Kamakawiwo‘ole”, 2011. / Israel Kamakawiwo‘ole, “Facing Future”, 1993.]

Tiago Apolinário Baltazar

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COMENTÁRIOS DE CONTEMPORÂNEOS ILUSTRES SOBRE MAHATMA GANDHI “Com

ele tinha vindo ao mundo, não só uma

nova personalidade religiosa do mais alto nível, conduzindo os corações dos homens e das mulheres para inacreditáveis

sacrifícios, mas também uma nova verdade

religiosa.”

“A resistência

passiva, ou não violenta, tem certamente um importante

campo de influência; deste modo, na Índia, Gandhi conduziu ao triunfo contra os Britânicos. Mas depende da existência de determinadas virtudes naqueles contra

os quais é praticada. Quando os Indianos se deitaram nas linhas férreas e desafiaram

as autoridades a esmagá-los debaixo dos comboios, os Britânicos con-

sideraram que tal seria duma crueldade intolerável.”

“O poder e o

sofrimento criativos são decerto evidentes para qualquer

pessoa da minha idade; para as ge-rações nas quais me incluo. Não houve apenas a geração de Hitler no Ocidente

e a de Stalin na Rússia; houve também a Índia de Gandhi; e pode já prever-se com

alguma segurança que a influência de Gandhi na História da Humanida-

de será maior e mais duradoura do que a de Hitler ou de

Stalin.”

“A simplicidade

da sua vida é como a de uma criança, a sua

adesão à verdade é inaba-lável, o seu amor pela Huma-

nidade é positivo e enérgico. Ele possui o que é conhe-

cido como espírito de Cristo.”

“O grande

Goethe e o Indiano humanista e santo Gan-

dhi tiveram o mais profundo impacto na minha vida e

filosofia. Ambos atingiram a plenitude interior através

da ordem e do princípio do amor.”

Selecção de Anil Samarth

Bertrand Russel (Earl, 1872-1972),

britânico, foi matemático, filósofo e

activista pela paz. Prémio Nobel da

Literatura em 1950.

Albert Schweitzer (1875-1965). Nascido

alemão, na Alsácia, hoje região admi-

nistrativa de França, desde 1919, tomou

a nacionalidade francesa. Médico, teó-

logo, músico, foi missionário em África.

Prémio Nobel da Paz em 1952.

Reverendo C.F. Andrews, missionário.

Intimamente ligado a Mahatma Gandhi

e a Rabindranath Tagore.

Rabindranath Tagore (1861-1941), ícone cultural da Índia. Poeta, filósofo, ensa-ísta, dramaturgo, músico, pintor. Amigo próximo de Gandhi. O primeiro asiático homenageado com o Prémio Nobel da Literatura, em 1913.

Albert Joseph Toynbee

(1889-1972), britânico, foi

um reputado historiador e

filósofo da História.

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priMa folia on (low cost) tour onCe againComemoram-se frequente-

mente efemérides que têm tanto de graciosas como de inúteis, mas tal não nos interessa de todo.

O património, cimento da iden-tidade e do conhecimento sobre nós mesmos, deve ser praticado. Por isso, a Prima Folia desenvolve, ao longo dos próximos meses, várias visitas numa verdadeira revolução face às políticas e práticas museoló-

gicas tíbias que têm sido apanágio. Acreditamos que o turismo cultural não deve ser um entretenimento pobre apenas destinado às crian-ças e à terceira idade, mas pode e deve ser um exercício de aventura, fascínio e descoberta extensível a tod@s, filiado ao enriquecimento pessoal através da discussão e ter-túlia, do risco e da fronteira, marcos genéticos desta cooperativa.

A assistência em Setúbal é muito antiga. Os hospitais medievais pu-lulavam nas ruas estreitas de um burgo em crescimento. Mais tarde, vieram as confrarias, tanto na figu-ra hegemónica da Santa Casa, bem como noutras que arreigadamente se mantiveram zelosas da sua inde-pendência. Assim fomos, passando no tempo, para já no século XIX assistirmos à construção de asilos,

de orfanatos, de enfermarias. Que lugares existiram, quando e como funcionavam, e, já agora, a favor de quem, são as questões que procura-remos desvelar com Daniela Santos Silva, mestra em História pelo ISCTE, acerca de uma subterrânea história transecular da solidariedade, útil em pleno tempo de crise económica e social. Vamos refazer percursos, recriar quotidianos e simbologias

e solidificar conceitos que se foram estruturando século após século. O passeio faz-se a dia 9 de Junho, às 19h, tendo como ponto de encontro a Sé Catedral de Setúbal, a Igreja de Santa Maria da Graça. Note-se que é preciso marcação prévia, pois temos de saber anteriormente o número de comensais. Inscrevam-se.

[email protected] 388 31 43

O município de Setúbal decidiu dar à estampa, no passado dia 6 de Maio, um livro intitulado “A cidadela das mulheres pobres – O recolhi-mento da Soledade de Setúbal”. Em boa hora o fez, pois a sua intenção não podia ser mais clara, quando nos diz: “Quando analisamos a his-tória, rapidamente percepcionamos que um dos seus universos mais esquivos é o do mundo feminino. A maioria das mulheres viveu e morreu à margem das autorias dos grandes tratados e não participou nas grandes controvérsias acadé-micas. Tendo como modelo com-portamental não optativo Maria, mãe de Jesus, assistiram passivas ao trabalhar da “maquina mundi”, que as relegou sistematicamente para o ambiente intra-muros das habitações, enquanto a vida decorria nas ruas. Esse afastamento é tanto mais forte quanto a maioria esma-gadora das mulheres era analfabeta e a memória se perpetuava através da escrita. Se as mulheres em geral sofreram com a discriminação, as mulheres pobres sofreram duplo anátema, mercê da condição femi-nina e de pobreza. Sobre elas há um quase total desinteresse, é como se nunca tivessem existido, pois quem se preocupará com história de gen-te pouco importante? Este texto contraria esses preconceitos, pois versa sobre o universo feminino das pobres e miseráveis no Século XVIII, na cidade de Setúbal, ressus-citando do esquecimento uma das mais importantes instituições das cidades ibéricas - os recolhimentos. Inevitavelmente, pelo pioneirismo,

não esgota o tema, mas abre portas a um novo género de estudos his-tóricos que parece estar destinado a humanizar o nosso olhar sobre o passado. Assim, constitui-se si-multaneamente como homenagem às duras vidas das mulheres setu-balenses, tanto as de ontem, como as de hoje.”

Devemos aqui uma palavra de elogio e incentivo à Câmara Municipal por várias razões. Em primeiro lugar, creio tratar-se da primeira edição municipal sem um preâmbulo assinado por um dos seus presidentes, o que revela um significativo amadurecimento

face à instrumentalização do co-nhecimento. Outro aspecto signi-ficativo é o preço, que é de 6,5€, o que o torna acessível a todas as bolsas. Desde a saída do best-seller “Quando a Tróia era do Povo”, editado pela Escola Secundária D. João II, que não existia nada que, com quali-dade, fosse amigo do consumidor. É também devido um elogio à qualidade da edição, de extrema simplicidade e notável bom gosto. Porém, o que de mais significativo existe é que

este livro, sendo de história, permite ao leitor aprofundar o seu conhe-cimento sobre um dos mais frac-

turantes paradigmas da nossa sociedade actual, lamentavel-mente subsistente. – o machismo. Essa categoria cultural é cabalmente revelada ao longo das páginas, deixando-nos a cla-ra ideia, como Ana de

Castro Osório dizia: “A ignorân-cia não é mais que uma forma de opressão”.

Os autores, José Luís Neto e

Nathalie Antunes-Ferreira, são dois académicos das áreas de ar-queologia e antropologia física com créditos firmados. Com uma linguagem acessível, oferecem-nos uma exaustiva viagem através de muros, fragmentos de cerâmicas, vidros e ossos, papéis e pinturas, para remontar pacientemente um gigantesco puzzle, que é o esquivo mundo das mulheres há séculos atrás. As análises cuidadas oferecem conclusões arrebatadoras. Aconse-lhamos vivamente a sua leitura.

Leonardo da [email protected]

“ (...) home-nagem às duras vidas das mulheres setubalenses, tanto as de ontem, como as de hoje.”

FiCHA TÉCNiCA:Propriedade e Editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CrL . morada: rua Fran Paxeco nr 178, 2900 Setúbal . Telefone: 96 388 31 43 . NiF: 508254418 . Director: António Serzedelo . Subdirector: José Luís Neto Consultores Especiais: Fernando Dacosta e raul Tavares . Conselho Editorial: Catarina marcelino, Daniela Silva, Hugo Silva, Leonardo da Silva, maria madalena Fialho, Paulo Cardoso . Directora de Arte: rita oliveira martins . Consultor Artístico: João raminhos . morada da redacção: rua Fran Pacheco n.º 176 1.º andar 2900-374 Setúbal . E-mail: [email protected] . registo ErC: 125830 . Depósito Legal: 305788/10 . Periodicidade: mensal . Tiragem: 45.000 exemplares . impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA – rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 – moralena 2715-029 – Pêro Pinheiro

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“Férias de Verão na extinta Biar-ritz portuguesa”, bem que poderia ser o título do último livro saído da pena de Inês Gato de Pinho. A autora, arquitecta com sólida formação em reabilitação urbana,

mas que apresenta capacidade e fôlego para ambicionar a outros voos, apresenta-nos um fascinan-te estudo acerca das escolhas feitas pelas elites sadinas há cerca de 100 anos atrás. Dessa Setúbal cosmo-

polita e elegante, vocacionada para o turismo balnear, para o usufruto da natureza e para o consumo da criação cultural, quase nada sobre-viveu após o surto industrializador massivo das conservas. Assim, as

vastas praias, a avenida, os jardins, os teatros e a elegante etiqueta vito-riana foram substituídas por outras realidades. O passeio, guiado pela própria, sai no dia 22 de Junho, às 19h, em frente à Biblioteca Pública

Municipal de Setúbal. Note-se que é preciso marcação prévia, pois temos de saber anteriormente o número de comensais. Inscrevam-se.

[email protected] 388 31 43

A Cidadela das Mulheres Pobres

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as políticas públicas de promoção de empreGo têm-se pautado por um constan-te esvaziamento de Funções e de serviços. os centros de empreGo deveriam e pode-riam ser interFaces Fundamentais entre as pessoas sem empreGo e as entidades empreGadoras. deveriam ser um serviço público de qualidade, eliminando os inter-mediários aGiotas que são as empresas de trabalho temporário, e permitindo real aconselhamento proFissional e Formati-vo, para um correcto encaminhamento para o empreGo. os centros vêm sendo sucessivamente enFraquecidos, os seus técnicos e conselheiros de orientação proFissional colocados em Funções de Fiscalização e monitorização de inscritos, o que em tudo se aFasta das Funções de um centro de empreGo.

actualmente, num centro de empreGo não se encontra empreGo. encontram-se Fiscalizações sucessivas, propostas Formativas muitas vezes desajustadas, encontra-se trabalho quase Gratuito através dos contratos de empreGo-in-serção, encontram-se ameaças cons-tantes de cortes nos subsídios. mas não se encontra empreGo.

somos pessoas livres e não aceita-mos viver com o termo de identidade e residência que nos é imposto pelas apresentações quinzenais.

denunciamos a mentira que constitui a procura activa de empreGo, porque, apesar de o procurarmos, sabemos que ele nos é recusado ou porque somos novos demais ou velhos demais, com qualiFicações a menos ou a mais, porque somos mulheres ou temos Filhos.

rejeitamos a coacção de comprovar a procura activa de empreGo com ca-rimbos, que temos que mendiGar junto de empresas que sabemos que não nos vão contratar, e que muitas vezes exiGem dinheiro em troca.

não aceitamos o escândalo silencio-so dos contratos de empreGo inserção (cei) e dos contratos de empreGo inser-ção+ (cei+), que obriGam a trabalhar

quase Gratuitamente quer para institui-ções públicas quer para instituições privadas (ipss). a propaGação dos cei e cei+ tem vindo a destruir o valor do trabalho e diversas carreiras proFis-sionais, como é o caso, por exemplo, da dos auxiliares de acção educativa.

consideramos que a educação e qua-liFicação proFissionais são um direito e não alGo que se possa impor indiscrimi-nadamente a todas as pessoas com habi-litações inFeriores ao 12º ano de escola-ridade inscritas no centro de empreGo, obriGando-as a Frequentar Formações ou processos de reconhecimento, validação e certiFicação de competências, muitas vezes desajustados das necessidades, possibilidades ou competências.

denunciamos, rejeitamos e exiGimos alternativas a esta Farsa em que se tor-naram as políticas públicas de empreGo em portuGal.

exiGimos diGnidade. exiGimos que os centros de empreGo sejam aquilo que o seu nome anuncia: locais que centralizam as oFertas de trabalho, onde os processos de selecção são eFectuados por conselhei-ros de orientação proFissional, públicos e qualiFicados, onde o cumprimento da leGislação laboral impera, onde podemos encontrar apoio para a construção de um projecto de empreGo e Formação.

não aceitamos que sejam locais onde somos ameaçados, viGiados e Fiscaliza-dos como se não ter empreGo Fosse um crime que nos devesse ser imputado.

neste país há 700 mil trabalhadores sem trabalho e que querem trabalhar. conFundir a excepção com a reGra é, deliberadamente, querer imputar a res-ponsabilidade de não ter trabalho a quem o perdeu ou a quem o procura. não acei-tamos a mentira e exiGimos respeito.

NÃO NOS FALEM DE AUSTERIDADE, FALEM-NOS DE DIGNIDADE.

movimento social clandestino

eopovopa.wordpress.com

e o povo pa Nao queremos subsidios queremos emprego

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