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O CAMPO DE CONHECIMENTO DA GINÁSTICA: possibilidades de trato na
Educação Física escolar
Autor: Rita de Cássia Molonhi1
Orientadora: Vania de Fátima Matias de Souza2
Resumo
A Educação Física Escolar é uma área de conhecimento que possibilita o trato com os saberes historicamente produzidos, a partir de conteúdos diversificados, com foco na formação integral da criança e do adolescente. A Ginástica, enquanto conteúdo estruturante, encontra-se contemplada nas Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná. Tendo esse entendimento, a pesquisa objetivou investigar a ginástica escolar e seus fenômenos, sua aceitação por professores e escolares, bem como sua presença e ausência nesse contexto, a fim de propor intervenções para a prática pedagógica nas aulas de Educação Física. Buscou conhecer as reações dos estudantes com a aplicação desse conteúdo, por meio da implementação de atividades ginásticas teóricas e práticas. Para tanto, foi escolhido o colégio estadual Dom Geraldo Fernandes, do município de Cambé- Pr. Constituíram a pesquisa 27 alunos das sextas séries (7os anos) do respectivo estabelecimento. Como instrumentos, inicialmente, aplicou-se um questionário, composto de questões abertas, no qual os alunos expressaram suas preferências esportivas e conhecimentos acerca do tema Ginástica para, em seguida, ocorrerem as intervenções no campo prático, as quais sustentaram-se em atividades com conteúdos relacionados ao campo gímnico do condicionamento físico, da conscientização corporal, das ginásticas competitivas e demonstrativas. Como resultados, observou-se a participação efetiva nas atividades propostas e um avanço na compreensão desse conteúdo por parte dos estudantes. Conclui-se nesse enfoque que é possível desenvolver os conteúdos gímnicos no universo escolar com sucesso e boa aceitação. Para tanto, há que se ressaltar a necessidade da criatividade e persistência por parte do profissional da área da Educação Física, para superar as formas hegemônicas da cultura corporal incutida nas crianças e consolidar uma práxis significativa a todos os envolvidos.
1 Pós-Graduação em Pedagogia Escolar: Supervisão, Orientação e Administração, Graduada em Educação Física, com atuação profissional no Colégio Dom Geraldo Fernandes, do Munícipio de Cambé-Pr.
2 Doutoranda do Programa de pós-graduação em Educação/UEM; Mestre em Educação Física, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional; Graduada em Pedagogia e Educação Física. Docente do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá.
Abstract
The Physical Education is an area of knowledge that enables dealing with historically produced knowledge from diverse content, with focus on development of children and teenagers. Gymnastics, while structuring content is addressed by the Curriculum Guidelines in the state of Parana. Taking this into account, this research investigated the presence and absence of gymnastics at the school environment and its phenomena, its acceptance by teachers and students, aiming to propose interventions to pedagogical practice in physical education classes. Students’ reaction to the application of such content was investigated through the implementation of theoretical and practical gymnastic activities. To that end, we chose the state school Dom Geraldo Fernandes in the city of Cambé- Pr. 27 sixth grade students (7th year) of the respective establishment participated in the survey. Initially, we applied a questionnaire composed of open questions, in which students expressed their sports preferences and knowledge on the subject to gymnastics, then interventions occurred in the practical field, with activities related to the field of gymnastic fitness, body awareness, and demonstration of competitive gymnastics. As a result, there was effective participation in the proposed activities and a breakthrough in the understanding of content by students. It was possible to reach the conclusion that it is possible to develop content of gymnastics at school with good success and acceptance. We must highlight that the professional of Physical Education must have creativity and persistence to overcome the hegemonic forms of body culture inculcated in the children and consolidate a significant practice to all involved.
Palavras-chave: Ginástica; Educação Física; Conteúdos; Implementação; Criatividade.
Introdução
A Educação Física é um componente curricular que se estrutura a partir de
conteúdos relevantes e significativos para a formação do sujeito de forma integral.
Apropriando-se de diversas manifestações da cultura do movimento (jogos e
brincadeiras, esportes, lutas e danças), o conteúdo da ginástica ocupa um lugar
importante nessa disciplina. Quando trabalhada visando à formação humana do
aluno, a partir de um espaço que potencializa a criatividade e as oportunidades de
troca de experiências pessoais, a ginástica permite a identificação dos limites
humanos, criando e colaborando para um clima de socialização, reconhecimento de
capacidades, alegria e descobertas. Permite o conhecimento do próprio corpo e de
novas possibilidades de movimentos, proporcionando a experimentação de
exercícios variados a mãos livres e em/com aparelhos.
Essa relevância se efetiva por meio da preconização das Diretrizes
Curriculares Educacionais para a escola pública do estado do Paraná, ao afirmar
que a ginástica compreende uma vasta gama de possibilidades, embutidas em suas
diferentes modalidades. O documento acrescenta que o trabalho na escola deve
“oportunizar a participação de todos, por meio da criação espontânea de
movimentos e coreografias, bem como a utilização de espaços para suas práticas,
que podem ocorrer em locais livres como pátios, campos, bosques entre outros”
(PARANÁ, 2008, p. 68).
Contudo, observa-se que a ginástica é negligenciada na escola e dentre as
justificativas apresentadas para não trabalhá-la encontra-se: 1) os alunos não
gostam desse conteúdo; 2) o professor não sabe trabalhar com esse conhecimento;
3) Faltam materiais adequados. Dessa forma, os conteúdos que envolvem os
esportes, os jogos e as brincadeiras, tornam-se os principais conhecimentos das
aulas de educação física na escola.
Partindo desse pressuposto, entende-se que investigar a ginástica na escola
é de suma importância, uma vez que é um conhecimento legítimo da educação
física, devendo ser trabalhado com todos os alunos. Este fato se justifica pois, ao se
compreender as razões da sua presença ou ausência e os motivos que levam
professores a não trabalhar com esse conhecimento no meio escolar, possíveis
caminhos podem ser indicados para o seu desenvolvimento, a partir de experiências
pessoais e de outros professores e de referencial teórico da área, de modo a
garantir esse conteúdo no contexto escolar.
Nesse sentido, serão abordadas questões como: 1) a real importância da
ginástica enquanto componente da educação física escolar, 2) a preferência de
outras formas da cultura corporal por parte de educadores e alunos, em detrimento
às atividades ginásticas e 3) os caminhos que podem ser trilhados rumo à
superação desse quadro, já que esse conteúdo é contemplado pelas Diretrizes
Curriculares Educacionais do Estado do Paraná.
Surgem, dessa forma, algumas questões que nortearão o presente estudo,
dentre elas: Qual a relevância da ginástica a ser tratada na educação física escolar?
Quais os motivos que levam alunos e professores a desenvolverem uma aversão
com relação à ginástica? A ginástica, se tratada de uma forma crítica e superadora,
pode colaborar para a formação integral do ser humano nas aulas de educação
física? A ginástica pode vir a ser aceita no ambiente escolar e ter sua importância
reconhecida pelos sujeitos desse processo? De que forma?
Na perspectiva de sanar essas inquietudes, os objetivos da pesquisa se
sustentaram em compreender a ginástica como conhecimento legítimo da educação
física escolar, a partir do referencial teórico da área; identificar os principais
motivos/dificuldades apresentados por alunos/professores quando da aceitação/trato
com a ginástica em aulas de educação física escolar e, assim, apresentar propostas
de intervenção pedagógica, visando uma real implantação da referida modalidade
nessas aulas, a partir de experiências práticas e de referenciais teóricos da área.
A idealização desse estudo nasce, portanto, como forma de compreensão e
entendimento dos fenômenos inerentes à ginástica no contexto escolar, destinado
àqueles a quem possa interessar, como professores e acadêmicos de educação
física, pedagogos, pais ou outras pessoas preocupadas com os rumos da
educação/educação física.
Procedimentos metodológicos
A implementação desse projeto ocorreu no Colégio Estadual Dom Gerado
Fernandes, ensino fundamental e médio, do município de Cambé/Pr. Delimitou-se
essa escola e os alunos, uma vez que estão diretamente ligados ao lócus de
intervenção da pesquisadora. Sendo assim, ao se diagnosticar diretamente este
espaço social de atuação, buscar-se-á desvendar as problemáticas e dificuldades
com o trato desse conhecimento e propor possibilidades de mediação, contribuindo
para legitimar a ginástica no âmbito da educação física escolar.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de
Maringá, sob o parecer de nº 651/2011.
Inicialmente, foi realizada uma explanação informal com o diretor do colégio,
a fim de fornecer esclarecimentos acerca dos objetivos do trabalho. Seguidamente,
foi encaminhada ao mesmo uma autorização, por escrito, solicitando a realização da
pesquisa dentro da instituição. Na sequência, os pais dos alunos das sextas séries
(7os anos) do colégio foram convidados para uma reunião, que explicou todo o
processo da pesquisa e também como seria a participação de seus filhos nas
atividades. O próximo passo foi encaminhar aos pais e/ou responsáveis um termo de
consentimento livre e esclarecido, solicitando a autorização para a participação do
aluno no projeto.
A partir do retorno das autorizações, devidamente assinadas, obteve-se um
total de 27 alunos, na faixa etária de 11 a 13 anos, dos quais 14 pertenciam ao sexo
masculino e 13 ao sexo feminino. Esses alunos responderam a um questionário, que
abordou temas relativos às aulas de Educação Física, aos conteúdos nelas
trabalhados, bem como sobre conteúdos ginásticos. O instrumento de coleta
(questionário), composto por questões abertas e fechadas, elaboradas pela
pesquisadora, foi submetido à apreciação e validação de dois professores doutores
do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá. Os
dados obtidos foram tratados e analisados estatisticamente e se configurou
efetivamente por meio do envolvimento dos próprios alunos do projeto, orientados
pelo professor de matemática das turmas, possibilitando assim a
interdisciplinaridade.
Sendo assim, essa pesquisa caracteriza-se como do tipo descritiva,
assumindo a forma de levantamento, fundamentada nas orientações metodológicas
de Silva (2004), o qual afirma que, quanto aos procedimentos técnicos, há um
levantamento quando a pesquisa envolve a interrogação direta de pessoas cujo
comportamento se deseja conhecer.
Segundo Gil (1991, p. 33), o levantamento é o conhecimento direto da
realidade, pois consiste na “medida em que as próprias pessoas informam acerca de
seu comportamento, crenças e opiniões, a investigação torna-se mais livre de
interpretações calcadas no subjetivismo dos pesquisadores”.
O mesmo autor ainda afirma que a pesquisa descritiva tem por objetivo
principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou
então o estabelecimento de relações entre suas variáveis. Para tanto, utiliza-se de
técnicas padronizadas para a coleta de dados, como por exemplo, o questionário ou
a observação sistemática. São incluídas nesse tipo de pesquisa aquelas que têm por
finalidade levantar opiniões, atitudes e crenças de determinada população, podendo
até mesmo determinar a natureza de suas relações entre si. Nesse caso, a pesquisa
descritiva aproxima-se da exploratória, já que leva a se ter uma nova visão sobre o
problema. Esse tipo de pesquisa é utilizada por pesquisadores preocupados com a
atuação prática (GIL, 2010).
Quanto à característica da pesquisa a partir dos dados coletados, a mesma
foi classificada como do tipo quanti-qualitativa, uma vez que coletou e agrupou
dados, apresentando-os sob a forma numérica por meio de gráficos e, ao mesmo
tempo, interpretou e atribuiu significados aos fenômenos que ocorrem com a
ginástica como conteúdo da educação física escolar (SILVA, 2004).
Em turno contrário das aulas, foram ministradas atividades referentes às
diferentes modalidades ginásticas aos alunos. Foram contempladas a Ginástica de
condicionamento físico, a Ginástica de conscientização corporal, as competitivas
(artística, rítmica e acrobática) e as de demonstração.
Desenvolvimento
Esse conhecimento destaca-se por ser pouco visto nas aulas de Educação
Física e pelo seu grande valor educativo e lúdico. Tratar a Ginástica como parte do
universo de conhecimentos da Educação Física pode trazer inúmeros benefícios aos
educandos, pois ao mesmo tempo em que educa, possibilita o conhecimento do
próprio corpo, de suas possibilidades e limites, divertindo, alegrando,
proporcionando realização pessoal, por meio de atividades desafiadoras. SOARES
et al (1992, p. 77), conceituam a ginástica como “uma forma particular de
exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de
atividades que provocam valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura
corporal das crianças, em particular, e do homem, em geral”.
Institucionalmente, a Ginástica é um dos conhecimentos legítimos da
Educação Física e nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCEs)
(PARANÁ, 2008) ela está presente como conteúdo estruturante, do qual se
ramificam outros conteúdos, denominados básicos, sendo eles: a Ginástica Rítmica,
Ginástica de Condicionamento Físico, Ginástica Artística/Olímpica e a Ginástica
Geral.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais (PARANÁ, 2008, p. 62),
conteúdos estruturantes são entendidos como
[...] conhecimentos de grande amplitude, conceitos ou práticas que identificam e organizam os campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para compreender seu objeto de estudo/ensino. Constituem-se historicamente e são legitimados nas relações sociais.
O documento acrescenta o papel dos saberes na formação do ser humano e
como a determinação desses conhecimentos é fundamental para a formação do
sujeito sociocultural. Sendo assim, os conteúdos sugeridos devem funcionar como
veículos condutores dos saberes produzidos historicamente pela humanidade,
processo que deve acontecer de forma crítica e não passiva, visando contribuir para
a formação de um olhar crítico sobre as contradições sociais existentes nos dias
atuais (PARANÁ, 2008).
A partir desse conhecimento espera-se que o aluno tenha condições de
conhecer as possibilidades do próprio corpo, adquirindo “subsídios para questionar
os padrões estéticos, a busca exacerbada pelo culto ao corpo e aos exercícios
físicos, bem como os modismos que atualmente se fazem presentes nas diversas
práticas corporais, inclusive na ginástica” (PARANÁ, 2008, p.67). A proposta
apresentada pelas DCEs é de oferecer ao aluno um conhecimento amplo acerca da
Ginástica, englobando não só a vivência prática da manifestação, mas também
conhecimentos teóricos e críticos que permeiam o surgimento e consolidação da
ginástica na sociedade.
Nesse sentido, observa-se que um dos deveres da escola é o de
transmissão de conhecimentos, de forma sistematizada e orientada, considerando o
nível de desenvolvimento dos alunos e a pertinência social desse saber. Isso fica
explícito no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) artigo 58: “no processo
educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do
contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da
criação e o acesso às fontes de cultura” (BRASIL, 2004, p. 18). Nota-se, portanto,
que é imprescindível a transmissão dos saberes culturais, além de levar em
consideração os conhecimentos trazidos pelos próprios alunos, bem como a
adequação dos conteúdos à sua realidade social, de forma a tornar a educação mais
significativa, despertando maior interesse por parte dos mesmos.
Em conformidade com as afirmações até aqui observadas, Soares et al.
(1992, p. 77) salientam que “[...] a presença da ginástica no programa se faz legítima
na medida em que permite ao aluno a interpretação subjetiva das atividades
ginásticas, através de um espaço amplo de liberdade para vivenciar as próprias
ações corporais”.
Pensando no exposto, o valor atribuído à ginástica no processo de educação
faz dela um conhecimento indispensável dentro do espaço escolar. Seu valor
histórico-social pode ser observado quando, ao analisar a história do homem em sua
relação com o movimento, percebemos que as diversas formas de ginástica
surgiram com o passar dos anos, a partir das relações travadas entre outros homens
em diferentes contextos sociais. Portanto, as manifestações ginásticas não podem
ser negadas à formação de nossos alunos, pois constituem formas de expressão
humana ricas em vivências corporais, colaborando efetivamente para a formação de
sujeitos mais críticos e conscientes de seu papel social. Deve ser proporcionada a
experiência aos alunos, colocando-os em contato com a cultura corporal, partindo do
pressuposto de que a cultura é um patrimônio universal ao qual todo ser humano
deveria ter direito (GALLARDO, 2008).
Apesar disso, experiências práticas têm demonstrado que os jogos e os
esportes ainda são os conhecimentos que mais aparecem nas aulas de educação
física na escola, o que acaba determinando o gosto dos alunos por certos conteúdos
e a não aceitação de outros, em especial aqueles que se referem ao movimento em
sua relação com a expressão e o ritmo3, que podem ser observados em
conhecimentos relacionados à ginástica, à dança, à expressão corporal e às
brincadeiras populares. Sobre essa dimensão do conhecimento, Barbosa-Rinaldi,
Lara e Oliveira (2009, p. 227) afirmam que o mesmo tem por objetivo proporcionar
ao educando vivências de diferentes modalidades que despertem o conhecimento
estético-expressivo a partir da consciência do seu corpo,
acrescido da dimensão histórico-social que conduz à visualização de como estes saberes fazem parte da produção cultural humana. Numa sociedade marcada pela exacerbação da racionalidade cognitiva e técnico-instrumental, pela mecanização da vida, este núcleo tem um papel fundamental no contexto da educação física, sobretudo porque se coloca como forma de ruptura de padrões sociais vigentes, levando o indivíduo a se perceber como um todo integrado.
3 Sobre essa dimensão conferir os trabalhos desenvolvidos por Oliveira, Palma... OLIVEIRA,
Amauri. Planejando a educação física escolar. In: VIEIRA, José Luiz Lopes. Educação física e
esportes: estudos e proposições. Maringá: EDUEM, 2004.
Atualmente, de acordo com Souza (2008), o universo gímnico pode ser
contemplado a partir de cinco campos de atuação, são eles: ginástica de
condicionamento físico, de competição, de demonstração, de conscientização
corporal e fisioterápica (os quais foram compreendidos nesse projeto, com exceção
da ginástica fisioterápica, que não pertence à área da educação física). Na ginástica
de condicionamento físico, há uma preocupação com a manutenção da condição
física e preservação da saúde, tendo em vista o padrão de corpo estabelecido pela
sociedade atual, que prega o culto ao corpo. Está presente em academias, clubes,
entre outros.
As ginásticas de competição, por sua vez, correspondem às modalidades de
competição, onde há regras pré-estabelecidas internacionalmente, como é o caso da
ginástica olímpica e rítmica. Elas exigem árduos treinamentos e são discriminatórias,
por selecionarem apenas tipos físicos bem típicos. Já as ginásticas fisioterápicas,
são aquelas voltadas para a prevenção ou ao tratamento de doenças e possuem
forte vínculo com a medicina, como o estilo apregoado no século XIX. Um exemplo
desse tipo de ginástica é a chamada RPG (Reeducação Postural Global).
No que diz respeito às ginásticas de conscientização corporal, as mesmas
estão voltadas para problemas físicos, com vistas à solução de problemas de saúde,
inspiradas em práticas orientais milenares. A antiginástica também se encaixa nessa
categoria, rompendo com os padrões corporais estabelecidos socialmente e
priorizando a saúde e o bem estar geral.
E as ginásticas de demonstração têm como característica principal a não
competitividade, ou seja, assumem o caráter demonstrativo. Pode ser citada como
representante dessa categoria a Ginástica Geral, que engloba todas as modalidades
gímnicas, voltada apenas para a demonstração.
Diante do exposto até o momento, sugeriu-se essa temática no sentido de
investigar a ginástica na escola, discutir questões acerca da sua importância como
componente da educação física escolar, reconhecendo-a e tratando-a como saber
cultural produzido historicamente pelo homem e compreender os aspectos que
levam à preferência de educadores e alunos por outras formas da cultura corporal,
em detrimento das atividades ginásticas, almejando oferecer possibilidades de
intervenções.
Resultados e discussões
A implementação do projeto na escola teve carga horária total de 32 horas.
Portanto, as modalidades ginásticas nele contempladas foram trabalhadas
respeitando a essa carga horária. Na tabela abaixo, segue a divisão obedecida na
aplicação das atividades:
MODALIDADE GINÁSTICA QUANTIDADE DE HORAS
Ginástica Rítmica 8
Ginástica Artística 5
Ginástica Acrobática 4
Ginástica de Conscientização
Corporal
4
Ginástica de Condicionamento físico 3
Ginástica Demonstrativa 8
Para os procedimentos metodológicos, antes de iniciar o desenvolvimento
das atividades com o grupo foi aplicado um questionário, com a finalidade de se
obter uma ideia do conhecimento e opinião dos participantes acerca do tema
“ginástica”. Ressalta-se que a expectativa era de que após o término do projeto essa
visão se modificasse. Segue algumas das conclusões a que se chegou por meio da
tabulação dos resultados desse questionário, no qual cada item corresponde a uma
questão diferente.
1. Conteúdos que aparecem nas aulas de Educação Física
Ao perguntar aos alunos sobre os conteúdos que mais aparecem nas aulas
de educação física, chegou-se à conclusão que os esportes e os jogos e
brincadeiras são os mais contemplados, como já era suposto. A ginástica, a dança e
as lutas foram os menos citados, o que comprova que os professores realmente
privilegiam alguns conteúdos, em detrimento de outros. Isso está representado no
gráfico abaixo (GRÁFICO 1), onde aparecem as respostas dos alunos.
Apesar de seus importantes desdobramentos históricos e culturais, somados
ao seu valor estético, artístico e expressivo, a ginástica pouco aparece nas aulas de
educação física escolar, como se pode observar com essa pequena amostra. Isso
vem de encontro com Pereira et al (2010, p. 211), quando afirmam que “Atualmente
a GE limita-se ao “aquecimento”, às atividades preparatórias pré-desportivas ou
recreativas e aos alongamentos como finalização das aulas.”
Não desconsiderando os resultados de outros conteúdos também pouco
presentes (como a dança e as lutas), mas mantendo o foco no tema de discussão
desse trabalho, pode-se afirmar que, no que se refere à ginástica, a falta de apoio e
de materiais, somada à dificuldade dos professores no trato com esse conhecimento
e a resistência dos alunos, os quais preferem os conteúdos relacionados ao esporte,
0
5
10
15
20
25
30
Jogos eBrincadeiras
Esportes Dança Lutas Ginástica
Gráfico 1: Presença dos conteúdos das aulas de educação física
NÃO ESTÁPRESENTEPOUCOPRESENTEPRESENTE
MUITOPRESENTE
são alguns dos motivos que levam professores a não tratá-la na escola. Sobre essa
problemática, Palma (2010) reconhece que, para haver avanços na prática
pedagógica não basta apenas os educadores lerem, compreenderem e dominarem
os conhecimentos sobre teorias pedagógicas, pois “as variáveis das condições
locais, estrutura, possibilidades de ações, administração, demais docentes, alunos e
tantas outras impedem, por vezes, a aplicação de novas ações em sua plenitude”
(PALMA; OLIVEIRA; PALMA, p. 53).
De acordo com Pereira et al. (2010) essa negação não parte apenas de
profissionais da área, mas dos próprios educandos, enquanto sujeitos ativos desse
processo. Existe uma preferência desses últimos por conteúdos como jogos e
esportes, o que leva professores a também priorizá-los. Como consequência,
estrutura-se um sistema denominado de “simplificações pedagógicas” no ambiente
escolar. Os autores ainda ressaltam que “a preferência por certos conteúdos de
educação física escolar e a consequente não prática de outros, explicitadas nas
escolhas dos alunos, resultam em que os objetivos pedagógicos sejam, na prática,
superados por metas muito limitadas, reduzidos ao lúdico e ao imediato” (PEREIRA,
et al, 2010, p. 216). Isso se confirma nos resultados da questão em que são
solicitadas as preferências dos alunos pelos conteúdos de Educação Física,
comentada na sequência.
Por outro lado, Barbosa-Rinaldi (2010, p. 205), baseada nos estudos de
Barbosa-Rinaldi e Martineli (2004)4, destaca que este problema pode estar atrelado,
sim, à má formação de profissionais nos cursos superiores, pois
[...] no contexto da formação profissional (inicial e continuada), o trabalho com o universo de conhecimento da ginástica apresenta problemas de ordem pedagógica, metodológica e técnica, sendo necessário investirmos na preparação para a docência de forma a darmos conta de superar tais dificuldades.
4 BARBOSA-RINALDI, Ieda Parra, MARTINELI, Telma Adriana Pacífico. Formação profissional e sua relação com o processo de formação de desqualificação do professor: colocando em prática a pesquisa (ação). In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO, 1; 2004, Maringá. Anais... Maringá: [s.n], 2004.
Nesse sentido, é necessário que os docentes formadores de professores
busquem subsídios para instrumentalizar o futuro professor para o trato com esse
conhecimento na escola. Barbosa-Rinaldi (2010, p. 210) afirma que “[...] é desafiador
levar os futuros professores a reelaborar seus conceitos sobre os saberes ginásticos
e suas interfaces com outras áreas de conhecimento, a quebrar paradigmas e
perceber que é possível trabalhar com a ginástica”.
Fica evidente, pois, que não é apenas um único fator que contribui para a
não presença dos conteúdos ginásticos na escola, mas um conjunto de situações
que, somadas, nos remetem ao quadro existente.
2. Definição de Ginástica
Quando solicitado aos alunos que definissem ginástica, nota-se que os
mesmos desconhecem a amplitude do tema. As respostas que mais apareceram
foram que ginástica são exercícios de alongamento e flexibilidade, servindo para o
desenvolvimento do corpo e colaborando para uma boa saúde. Esse resultado
demonstra que a ginástica mais identificada nas aulas ainda é a de condicionamento
físico, uma vez que é a mais conhecida pelos alunos, noções certamente advindas
de um processo histórico. Observa-se, ainda, que essa modalidade é utilizada
apenas como forma de aquecimento ou relaxamento e poucas vezes como parte
principal da aula. Encontraram-se também outras respostas, porém em quantidade
pouco relevante, a saber: “forma de se exercitar e se divertir”, “atividades em
aparelhos e no solo”, “corridas e polichinelos”, “atividades nos colchonetes e em
cama elástica”, “cambalhotas em colchões”.
A análise desses resultados leva a acreditar que a ginástica escolar mais
abordada é aquela que serve de aquecimento e preparo para a prática dos esportes.
Além do que, é um tema que parece pouco ou nada discutido em sua plenitude entre
professores e alunos, o que confirma a hegemonia do esporte nessa sociedade,
refletida nas escolhas de escolares e também de educadores. Essa hegemonia
esportiva é confirmada em pesquisa realizada por Pereira e Silva (2004).
Assim sendo, os estudantes pouco sabem a respeito desse conteúdo,
adquirindo apenas conhecimentos restritos o que, com certeza, contribui para
limitações em sua formação.
3. Preferência do aluno pelos diferentes conteúdos das aulas de
Educação Física
No que se refere à questão da preferência dos alunos pelos diferentes
conteúdos, nota-se que o mais escolhido foi os esportes, o que pode ser uma das
justificativas para o seu destaque nas aulas. Observa-se, também, que essas
respostas, em sua maioria, ficaram entre “gosto muito” e “gosto”, não apresentando
nenhuma porcentagem de rejeição. Já no caso da ginástica, nota-se certa aceitação,
no entanto, os itens “detesto”, “não gosto” e “sou indiferente” foram
significativamente escolhidos. Isso fica evidente no gráfico 2.
Além da quase ausência desse conhecimento no contexto escolar, nota-se
que, de forma geral, ocorre uma espécie de negação dos estudantes pelos
conteúdos ginásticos, como observados nos trabalhos desenvolvidos por Nista-
Piccolo (1988); Barbosa, (1999); Paoliello, (2001); Ayoub, (2003) e Pereira et al.
(2010).
0
5
10
15
20
25
30
Jogos ebrincadeiras
Esportes Dança Lutas Ginástica
Gráfico 2: Preferência do aluno pelos conteúdos
DETESTO
NÃO GOSTO
SOUINDIFERENTEGOSTO
GOSTO MUITO
Em pesquisa realizada por Pereira et al, concluiu-se que “as argumentações
dos escolares sobre os motivos da aversão aos conteúdos de ginástica escolar
subdividem-se em quatro tipos: desconforto corporal, problemas didáticos, pretextos
subjetivos e questões de preconceito” (2010, p. 212). Entre essas argumentações
prevaleceram as de que esses exercícios “cansam muito”, “provocam dores”,
“machucam”, “são chatos”, “não tenho vontade de fazer”, “causam desânimo”, “não
gosto de ginástica”, “isso é coisa de menina” ou “isso é coisa de menino” e até
mesmo “isso é coisa de gay”. Nota-se, portanto, que há várias justificativas para os
discentes não gostarem de praticar conteúdos ginásticos na educação física, o que
demonstra, talvez, suas experiências anteriores com esse tema. Outro ponto que
fica claro é a questão do preconceito, ainda existente em torno da ginástica, bem
como noções muito superficiais a respeito do tema.
Entretanto, não se pode atribuir essa responsabilidade apenas ao corpo
docente, já que esses são, em grande parte, penalizados com problemas de ordem
estrutural, física e material das instituições de ensino, como já foi mencionado
anteriormente. Porém, quem senão eles fazem a mediação entre a educação e o
aluno? Há que se buscar alternativas para solucionar essa rejeição e oferecer a
ginástica escolar a todos os estudantes. Acredita-se, em concordância com Pereira,
et al (2010) que na escolha dos conteúdos, os professores não podem basear-se
pelo gosto e cultura dos alunos, já que
A escola existe para introduzir o novo na vida dos estudantes, o novo e o diferente que são pedagogicamente tratados no cotidiano da EFE, como exercícios com frações em Matemática ou com dois esses ou crase em Português, não se caracterizam por serem prazerosos. Como noutros componentes curriculares, na EF não se pode apenas repetir a cultura extraescolar, nem disponibilizar somente aqueles conteúdos de ensino de que os alunos gostam, como o esporte recreativo (p. 215).
Há que se lembrar aqui, pois, que uma das funções sociais da escola é a
produção de saberes sistematizados, favorecendo o espírito crítico dos sujeitos e
não apenas a reprodução dos saberes de senso comum.
4. Gosto pelos diferentes exercícios
Foram enumerados alguns elementos físicos, ginásticos e exercícios
tratados em educação física, para que os alunos assinalassem de acordo com o seu
gosto. Entre as opções de resposta, havia: “gosto muito”, “gosto”, “sou indiferente”,
“não gosto”, “detesto” e “não sei o que é”. Percebe-se que os exercícios mais
corriqueiros como corridas, saltos, alongamentos, abdominais, foram marcados
como preferência pelos alunos. Esse fato pode estar relacionado com as atividades
mais “conhecidas” durante as aulas, o que nos remete novamente à ideia de que a
ginástica de condicionamento físico é a que se sobressai (ou uma das poucas que
aparecem) no contexto escolar.
Outro ponto a se observar nessa questão é o gosto pelos exercícios,
vinculado ao sexo. Meninos, em sua maioria, demonstram preferência por atividades
de condicionamento físico, enquanto que as meninas mostram mais simpatia a
elementos rítmicos e menos para os exercícios de condicionamento físico.
Pôde-se concluir, também, que grande parte dos alunos desconhece alguns
exercícios ginásticos básicos, como é o caso dos “saltitos”, “ondas”, “poses” e
“balanceamentos”, uma vez que foi significativo o número de escolhas na opção
“não sei o que é” desses itens. Confira nos gráficos 3, 4 e 5 a seguir.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Passos Saltos Giros Ondas Balanceamentose circunduções
Gráfico 3: Dentre as atividades relacionadas, assinale de acordo com seu gosto
Elementos Corporais
Não sei oque éDetesto
Não gosto
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Não sei o
que é
Detesto Não gosto Sou
indiferente
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Muito
Gráfico 4: Dentre as atividades relacionadas, assinale de acordo com seu gosto.
Exercícios Acrobáticos
Apoios
Suspensões
Rotações
Acrobáticos epré-acrobáticos(roda, rolamento,rodante)
Pereira et al (2010, p. 216), pontuam uma ideia interessante a respeito do
gosto pelas atividades ginásticas
O gosto pela GE está necessariamente associado à sua prática, ao seu ensino. As atividades físicas nem sempre são práticas que produzem satisfação imediata. Aprender a andar de bicicleta implica em superação do desequilíbrio e para nadar é necessário adaptar-se ao meio líquido, muitas vezes tendo que superar o medo da água. As experienciações, os erros e suas superações e a prática são fatores essenciais para se aprender a gostar de algo.
Isso significa que o professor não deve deixar-se abater pela negação dos
educandos. Ao contrário, precisa provar que há um equívoco em suas opções e que
participar de atividades de ginástica pode ser muito interessante, a partir do
momento em que se contextualiza essa prática e que se conclui que se é capaz de
realizá-la.
5. Presença do conteúdo Ginástica nas aulas de Educação Física
Outro questionamento feito aos alunos dizia respeito à sua participação em
aulas de educação física, cujo conteúdo ‘ginástica’ tivesse sido trabalhado. O
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Não sei o
que é
Detesto Não gosto Sou
indiferente
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Muito
Gráfico 5: Dentre as tividades, assinale de acordo com seu gosto. Exercícios de Condicionamento Físico
Alongamento
Abdominal
Flexão de braços
Corridas deresistência
resultado dessa questão ficou equilibrado, já que 14 responderam que sim
(participaram de aulas de educação física com a presença do conteúdo ginástica),
contra 13 que disseram não. Acredita-se, porém, que aqueles que deram a resposta
negativa, não conseguiram identificar nenhum tipo de conteúdo ginástico em sua
trajetória nessas aulas, nem mesmo nos aquecimentos ou volta à calma. Observa-
se, também, que foram mencionadas as séries iniciais, como época em que mais
eles apareceram (2ª e 4ª série do ensino fundamental/ ou 3º e 4º ano). Isso nos
remete à compreensão de que, na medida em que avançam as séries, os escolares
vão adquirindo uma rejeição pelo conteúdo em questão, fase em que ele deixa de
acontecer.
Como atividades mais citadas nessa questão, aparecem os alongamentos,
polichinelos, utilização de arcos, ritmo e movimentos do corpo.
6. Existência de aparelhos e/ou espaços para a prática da Ginástica
Por fim, os alunos participantes foram questionados se em sua escola
existem aparelhos e espaços destinados à prática da ginástica. As respostas se
dividiram, já que 14 responderam que sim e 13, que não. Entre os aparelhos que
mais foram elencados estão o arco, a bola e a corda, aparecendo com pouca
frequência o bastão.
Como espaços adequados para a prática da modalidade ginástica, foram
citadas as quadras poliesportivas. Se analisarmos pela ótica do improviso, esses
espaços realmente oferecem condições para se realizar ricas atividades ginásticas,
de solo ou em/com aparelhos.
Atividades práticas de implementação do projeto na escola
Finalmente, iniciou-se a aplicação das atividades didático-pedagógicas, cujo
tema principal era a ginástica, em suas diversas modalidades. Ao contrário do que
se esperava, a aceitação do grupo foi muito boa, não havendo resistência dos
alunos. O seu empenho em participar e colaborar para o bom andamento do projeto,
tornou-se um ponto de destaque.
Evidentemente, alguns problemas de ordem material e estrutural surgiram
no decorrer da implementação, mas não tiveram peso suficiente para interferir nos
bons resultados do trabalho. Contra a falta de estrutura e materiais adequados,
estava a boa vontade e a criatividade, que foram os principais meios utilizados pelos
participantes para superar as dificuldades.
Todas as aulas eram precedidas por uma discussão a respeito do tema do
dia. Os alunos eram instigados a pensar a respeito, dando sua contribuição
verbalmente. Dessa forma, criava-se um momento de debate entre todos, com a
mediação da professora, para em seguida, partir para a prática. Ideias importantes
surgiam desses debates, trazendo à tona temas como: padrão de corpo perfeito,
anabolizantes, saúde, cirurgias plásticas, entre outros.
As atividades práticas superaram as expectativas, proporcionando ricos
momentos de aprendizagem, repletos de infinitas possibilidades de movimentos
corporais, em que os alunos descobriam novas formas de fazer o que já sabiam, ou
experimentavam coisas diferentes.
Nas aulas de ginástica de conscientização corporal, vivenciaram momentos
de concentração e reflexão sobre cada movimento realizado, adquirindo maior
domínio sobre seu corpo. Aprenderam como é produtiva uma atividade para a qual
se entrega com dedicação, buscando conhecer melhor sobre si mesmo. Saíam da
costumeira aceleração, para experimentar tranquilidade e reflexão sobre os
movimentos mais simples do dia-a-dia, percebendo o próprio corpo e as inúmeras
possibilidades por ele oferecidas. Nos relatos de feedback do final dessas aulas,
surpresos, diziam “ter tomado consciência de músculos que antes não sabiam que
existiam”.
Com a ginástica de condicionamento físico puderam se conscientizar das
dificuldades enfrentadas por atletas e pessoas, cujo objetivo é o rendimento. Refletir
acerca de assuntos que antes nunca tinham refletido, como os exageros nos
treinamentos, o sacrifício em busca do corpo perfeito, estética, beleza e saúde,
fizeram a diferença nessa fase da implementação. Questões mais críticas eram
levantadas pelos alunos, os quais começaram a refletir sobre situações que, antes,
lhes pareciam tão normais.
Quando chegou a vez das modalidades de competição, divididos em grupos,
os alunos pesquisaram e apresentaram sobre cada uma delas: ginástica rítmica,
artística, acrobática, aeróbica e de trampolim, numa grande mesa redonda de
informações. Muitas dúvidas foram surgindo nessa fase, o que gerou a necessidade
de mais pesquisa, com o intuito de solucioná-las.
O trabalho com a ginástica rítmica foi de grande destaque, pois além de
vivenciarem a prática, puderam criar aparelhos como fitas e maças. Experiência rica,
que veio acrescentar incentivo ao projeto. Os alunos providenciaram os materiais
alternativos para a confecção dos aparelhos. Fitas de todas as cores trouxeram
beleza e graça a movimentos por eles criados, imitando a ginástica rítmica
competitiva. Instigados também pelas dificuldades e riqueza de elementos
oferecidos pelas maças, enfrentaram os desafios desse aparelho, superando os
próprios limites. Diferentemente do que se esperava, sem preconceitos, os meninos
se envolveram tanto quanto as meninas nessas atividades. Se antes, imaginavam a
GR (Ginástica Rítmica) como modalidade exclusivamente feminina, tomaram
conhecimento de que, hoje, já existe a GR masculina.
Movimentos acrobáticos também foram temas de algumas aulas. Formação
de pirâmides humanas, proposta pela professora, desafiou os alunos a alcançarem
os resultados desejados. Um trabalho de confiança no colega foi desenvolvido, na
intenção de superar alguns “medos” que poderiam surgir. Participaram de diversas
brincadeiras que tratavam desse tema: o auxílio do outro. Aos poucos, foram se
soltando e conseguiram desenvolver ótimos exercícios em grupo. Inicialmente, os
grupos eram menores, mas foram aumentando no decorrer do processo. Por fim,
fizeram apresentações incríveis de pirâmides humanas, que mais pareciam um
espetáculo.
A finalização do trabalho de implementação culminou com uma
apresentação das atividades desenvolvidas para todos os alunos da escola, o que
fechou com “chave de ouro” o projeto. Os resultados obtidos foram bastante
satisfatórios e surpreenderam todos os envolvidos no processo.
Conclusões
Com a finalização dos trabalhos propostos pelo PDE (Plano de
Desenvolvimento Educacional), compostos pelo Projeto, Atividades Didático-
Pedagógicas e culminando com a Implementação do Projeto na Escola, conclui-se
que a Ginástica constitui uma parte indispensável dentro dos conteúdos da
Educação Física. Negá-la aos estudantes é completamente inconcebível, já que a
mesma carrega consigo uma rica gama de possibilidades da cultura corporal, as
quais oferecem uma exclusividade de movimentos aos praticantes, não permitidos
por nenhum outro conteúdo.
Considerando o comprometimento escolar com a formação humana,
acredita-se que não oferecer as diversas modalidades ginásticas dentro do contexto
escolar gera limitações nos alunos, no âmbito da cultura corporal de movimento.
Isso porque, se não a praticarem nesse ambiente, também não terão a oportunidade
de vivenciá-la em outro local, uma vez que as práticas hegemônicas dentro da
sociedade privilegiam o futebol e outros esportes coletivos, não oferecendo assim
espaço para as diferentes formas de atividade física.
Comprovadamente, ocorre uma rejeição desse conteúdo dentro das aulas
de Educação Física Escolar, tanto por parte de professores como pelos estudantes.
Os primeiros, pois se deparam com inúmeras dificuldades, tais como uma formação
insuficiente, falta de materiais, falta de apoio da instituição e a repulsa dos alunos
pela ginástica. Esses últimos, pois são frutos de seus meios culturais, onde as
formas futebolísticas são predominantes (Pereira et al, 2010).
Nesse sentido, reconhece-se o grande desafio presente no dilema da
Ginástica Escolar. Há que se persistir muito na busca de uma efetiva
implementação. Além de muita criatividade, o professor precisa estar disposto a
enfrentar a resistência dos alunos e os obstáculos de falta de materiais e de
condições adequadas, presentes nas instituições escolares. Não que tudo esteja
unicamente nas mãos do educador, mas com certeza é ele a ponte entre dois eixos
fundamentais no processo ensino/aprendizagem: conteúdos e alunos.
Acredita-se, com a concretização desse trabalho, que as possibilidades são
inúmeras, embora muitas vezes penosas. A efetivação da ginástica nas aulas é
possível e encontra-se bem firmada nos incontáveis benefícios por ela oferecidos.
Espera-se ter lançado o desafio e que os profissionais da área não se satisfaçam até
conseguir fazer dos conteúdos ginásticos uma prática habitual nas aulas de
educação física escolar.
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