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O COLIBRI JORNAL HEBDOMADÁRIO DEDICADO AO EELLO SEXO Anno 5#000. Seis mezes 3JJ00O. Dous mezes 1S000. ANNO I. SEXTA-FEIRA 7 DE OUTUBRO DE 18,70. N. 8 Eio, 6 de Outubro de 1870. Mais um campeão na arena, mais um lidador que temo segredo de sua força na grandeza da idéia que o anima, e nos ele- mentos poderosos de prosperidade de que dispõe, mais um jornal que com titulo de lllustroção Anglo-Brasileira, vem appa- Tecer entre nós com o louvável intuito de estreitar mais os laços que unem o velho ao novo mundo. Impresso em Londres sob os cuidadosos auspicios de intelli- FOLHETIM A WV3WA gente redacçfto, contendo noticias aquém e de alem do Atlântico, e espa lhando-se regularmente com as chegadas dos paquetes, este novo filho de Guttem- berg rivalisa com as publicações mais acreditadas do velho continente, e é cre- dor de toda sympathia e protecção do povo brasileiro, Obsequiados com o seu primeiro nu- mero, e anciosos pela próxima publici- dade do segundo, fazemos votos ardentes pelo florescimento e longa duração de um jornal por todos os motivos importante, útil e interessante. Opportuna nos pareça a occasiao para consignarmos aqui um -fecto que bastan- te nos lisongêa. Contando apenas dous mezes de exis- O S.LH. O de s*—-s POR PONSON DU TERRAIL. (Continuação.) ²A viuva do notario ? ²Justamente. ²Porém muito poucas vezes vou á casa delia. ²Não importa. ²E depois... Oh ! mas nunca ousaria pe- dir-lhe... ²Uma vez que é sua amiga. ²E a que titulo seu amigo poderá apresen- tar-se a ella ? ²Não lhe de isso cuidado, disse Horacio rindo-se ; eu me encarrego de tudo. ²Porém... ²Quando pode ir ver Magdalena ? ²Quando o senhor quizer. ²Então amanhã depois do almoço. Horacio ouvio um enorme bocejo e urna juraatraz de si. ²Animal ! dizia o coronel que acabava de acordar bruscamente. Tenho visitas em casa e durmo como um bruto 1 Desculpe-me, visinho. ²Como ! disse Horacio, o Sr. dormio ? ²W verdade. ²Julgava-o lendo. Be^' sabe que o xadrez absorve os sentidos. ²E' exacto. Quem ganhou ? ²Ninguém por emquárito. Receio, porém, ser batido. ²Minha filha é valente ! E' minha discipula, disse, o coronel com or- gulho. Horacio e Melania trocaram um olhar, A entrevista estava maicadapara o d'a seguinte. Melania consentia ver o amgo de Horacio. III. A aldôa visinha do castello de La Renaudiére chamava -se Saint-Nicolas-sous-Bois. Abi morava Magdalena Arnaüd, viuvado no- tario. Tem pouco mais ou menos cem casas a aldôa. Uma igreja romana que encerra túmulos mero- vingianos é a única curiosidade que existe no lugar.

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O COLIBRIJORNAL HEBDOMADÁRIO DEDICADO AO EELLO SEXO

Anno 5#000. — Seis mezes 3JJ00O. — Dous mezes 1S000.

ANNO I. SEXTA-FEIRA 7 DE OUTUBRO DE 18,70. N. 8

Eio, 6 de Outubro de 1870.

Mais um campeão na arena, mais umlidador que temo segredo de sua força nagrandeza da idéia que o anima, e nos ele-mentos poderosos de prosperidade de quedispõe, mais um jornal que com titulo delllustroção Anglo-Brasileira, vem appa-Tecer entre nós com o louvável intuito deestreitar mais os laços que unem o velhoao novo mundo. Impresso em Londressob os cuidadosos auspicios de intelli-

FOLHETIM

A WV3WA

gente redacçfto, contendo noticiasaquém e de alem do Atlântico, e espalhando-se regularmente com as chegadasdos paquetes, este novo filho de Guttem-berg rivalisa com as publicações maisacreditadas do velho continente, e é cre-dor de toda sympathia e protecção dopovo brasileiro,

Obsequiados com o seu primeiro nu-mero, e anciosos pela próxima publici-dade do segundo, fazemos votos ardentespelo florescimento e longa duração de umjornal por todos os motivos importante,útil e interessante.

Opportuna nos pareça a occasiao paraconsignarmos aqui um -fecto que bastan-te nos lisongêa.

Contando apenas dous mezes de exis-

O S.LH. O

de s*—-s

POR

PONSON DU TERRAIL.

(Continuação.)A viuva do notario ?Justamente.Porém muito poucas vezes vou á casa delia.

Não importa.E depois... Oh ! mas nunca ousaria pe-

dir-lhe...Uma vez que é sua amiga.E a que titulo seu amigo poderá apresen-

tar-se a ella ?Não lhe de isso cuidado, disse Horacio

rindo-se ; eu me encarrego de tudo.Porém...

Quando pode ir ver Magdalena ?Quando o senhor quizer.Então amanhã depois do almoço. Horacio

ouvio um enorme bocejo e urna juraatraz de si.

Animal ! dizia o coronel que acabava deacordar bruscamente.

Tenho visitas em casa e durmo como umbruto 1 Desculpe-me, visinho.

Como ! disse Horacio, o Sr. dormio ?W verdade.Julgava-o lendo. Be^' sabe que o xadrez

absorve os sentidos.E' exacto. Quem ganhou ?Ninguém por emquárito. Receio, porém, ser

batido.Minha filha é valente !

E' minha discipula, disse, o coronel com or-gulho.

Horacio e Melania trocaram um olhar,A entrevista estava maicadapara o d'a seguinte.

Melania consentia ver o amgo de Horacio.III.

A aldôa visinha do castello de La Renaudiérechamava -se Saint-Nicolas-sous-Bois.

Abi morava Magdalena Arnaüd, viuvado no-tario.

Tem pouco mais ou menos cem casas a aldôa.Uma igreja romana que encerra túmulos mero-

vingianos é a única curiosidade que existe nolugar.

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ten-ia litteraria, tem sido para o Coíibrican^a deleo;itimo desvanecimento aaccei-tação que do publico tem merecido, e asprovas de sympathia que lhe dispensãocada lia os jornaes da corte e nao poucosdas províncias.

E' coti verdadeiro júbilo que mencio-namos os n imes d'aquelles que comnoscotrocam suas folhas.

S&o elles : a comedia social, o cor-BEIO PAULISTANO, O ASTRO RESENDENSE, aVIOLETA, a TRIBUNA DO POVO, a GAZETA DECAMPINAS, O IMPARCIAL, O PARAHYBANO, eO CORRErO NACIONAL.

A's illustradas redacções dessas folhasenviamos com os nossos sinceros agrade-dmentos, os fervorosos votos que fazemosp<'l i prosperidade de suas empresas.-— As novidades theatraes sao poucas.O theatro Lyrico levou á scena o Faus-to deGounod com grande applauso dopublico: e o Gymnasiomontou a DalilaeSansUbi, parodia da primorosa composiçãode Octave Feuillet; o theatro de S. Luiznospromette a Virgem do Mosteiro parao dia 8 ; e o de S. Pedro brevemente le-vara A Torre de Londres.

floje estreará no theatro lyricofranceza companhia ultimamente checada daEuropa, °

UTTERATURA

A igreja domina uma praça sobre que se elevamalgumas filias.Em frente á igreja está a mairie , á esguerda

desta uma casa branca, de modesta apparenciade dois andares, precedida por um pequeno pateolechado por um gradil de madeira, seguido deum vasto jardim com pomar e horta por ondeíiorre um riacho.

Esta casa era do defuncto Arnaud, notariode Snint-Nicolas, que morrera nos últimos diasdo mezde Outubro passado, de uma moléstia depeito.'

Era um moço de vinte esete ou vinte oito annostalvez, que a morte sorprehendera quando iilófeia como todos os tysicos, cálculos do futuroDeixara uma viuva e um filho de trez annos'Arnaud ainda nao tinha successor.üm escrevente geria o cartório, esperando cruefosse vendido o que não podia tardar, visto onotario, alem de não tel-o pago totalmente, nãoter deixado fortuna.Horacio fora cliente de Arnaud.Quando este morreu, o solteirão que tinha bomcoração desconfiou da triste posição na qual ellèdeixava a viuva, foi vel-a e soccorrmi-a com umadelicadeza tal que era impossível a Madalena nada

recusar-lhe.

Impreeação.

O' tu que me desvendaste aos olhosum horisonte de luz para depois me arre-messar em trevas í ó tu que me pro-metteste vida de doçura, para depoisfazer-me tragar taça repleta de fel! ó tuque me apontaste um futuro de risospara depois mostrar-me um porvir delagrimas ! ó tu que acreditei um anjo eque depois, te revelaste demônio ! Sêmaldita !

Segue a vereda a que te arrojaste em-bora ella conduza a um abysmo ; seouaeaté que as flores fictícias que'hoje aadornam te mostrem as urzes e te firamas plantas !Caminha ! Gotege-te embora da fronte

suor de sangue, brotem-te embora dosolhos lagrimas abrazadoras,dilacerem-se-te as carnes no percorrer da estradacaminha sempre ! E que o vento quesoprar nos arvoredos, as águas que cor-rerem a^ teus pés, as folhas impellidaspelas brisas em unisono concerto excla-mem a tua passagem : Sê maldita !

E nem um sorriso de piedade ás tuas.

Confiei, Sra.,apSr. Arnaud, disse-lhe ellealguns mil francos para m'os empregar Firirlhe-ia muito obrigado se os guardasse e se utiíiS odSrioMS°

neC6SSÍte' '«—do-osNo dia em que Horacio fizera isto salvara t?lveza pobre viuva e o orphão de u na próxima miséria'-Assim, quando o solteirão dissera a Melania deVemeros: « Eu me encarrego de tudo, e prometto-lhe que ella receberá o meu amigo, * contava como reconhecimento da viuva. ' Gont^acorílNo dia seguinte pela manhã quando nossoheroe Max de Verne acordou soube que seu SHoracio t nha já saindo, *;" °

Iria á caca ? perguntou elle

SahTt-Eòla8/- reSP°"deu-lhe ™ criado, foi a

Onde é Saiut-Nicolas ?E' a aldea visinha.-- Ah ! disse Max com mdiilerencaDepois bebeu um cálice de genebra, tomou umaespingarda e foi matar perdizes vermelhas esoe-rando a volta de seu amigo. lHoracio voltou á hora do almoçoMax estará impaciente por vel-o e conversarcom elle. 4rci.v.4A

{Continua.)

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dores nem uma lagrima de compaixão ástuas lagrimas te dará o caminheiro quecomtigo se encontrar, porque lera em tuatronte em caracteres indeléveis : Deixaepassar a maldita I

r E como Ashaverus da lenda caminha-ras sempre até que um dia, quando ocorpo fatigado pedir o repouso eterno,quando as frias azas da morte se agita-rem sobre ti, cahirás, exhaustasas forcas,sobre o marco do caminho !

E nem um adeus de despedida na tuahora derradeira, nem um só ente que tecerre os olhos, nem mão compassiva quete ampare a fronte, nem uma lagrima desaudade sobre tua sepultura !E eu te apparecerei então, e lembran-

do te o que me fizeste soffrer, direi a tique adorei e que despreso, a phrase ditadapor meu coração que sangra : Se maldita !

Nelzir.

levar-te, assim como a oração, de enleioem enleio.* *

Colheste uma saudade?...De que tens saudade ?Tens onze primaveras, e n'essa idadea vida de uma menina é um lindo e en-cantador botão de rosa.

; De tantas flores, tantas que lia nojardim, só achaste a saudade ?

Que melancólico coração é o teu, an-ginho de Deus que vagueias na terra.Mão corras tanto, menina.

Onde irá ella ?Vio a saudade, colheo-a e foi-se comoumasylphide...

* ¥•

A unia uieoiina.Resa menina, e resa com fé, que Deusno céu acolhe as preces da innocencia.Kesa, e que a tua crença seja tão puracomo o palpitar de teu terno coração.Resa, que o tempo mais suave é aquelle

que se emprega na adoração cio DivinoMestre.

* *

Sahiste da capella? Como vens cândidae bella como um anjo do Senhor !E que corado celeste que tens nas mi-mosas faces !Diz-me baixinho, que murmurou-te

ao ouvido o teu anjo da guarda ?Prometteu-te um porvir de flores ?Has de tel-o.Crê e espera.

Vê as flores, menina, vê, que ellas sãoo symbolo do amor e da belleza.E a hora é boa.Ha pouco surgiu o dia no horisonte.O passarinho ainda o saúda aleo-reVe, menina, as flores, e possam ellas

Assim menina, offerece á virgem santaa saudade.E que ella se compadeça de ti nestevalle de lagrimas.E te conforte sempre com a esperança.Kesa, e que nem o sussurro da brisa eo murmúrio da fonte venham quebrar-tea santa conversação com Deus.Tinhas saudade do teu anjo da guarda*elle te guie da vida os passos.

G. Braga.

VARIEDADE

A LuzNo principio do mundo disse Deus :—fiai lux— e fez-se a luz.

As_ trevas surprehendidas, olharam-sequizeram ver-se e fugiram espantadas d4si mesmas. l

Desde então a escuridão dá as costas áluz, assim como uma mulher feia as dá aoespelho.O universo abriu os olhos como ummenino que nasce, e vio-se brilhante comauma esperança e se enfeitou como umamulher formosa. .A terra palpitando de alegria, lançou-se no espaço e começou a dar voltas ároda do sol como a mariposa em derre-dor de uma vella.Ha seis mil annos que se deu este pro^

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•digio, e, cousa singular, até agora nãose sabe o que é—a luz ! E todavia deviasaber-se, porque nada existe no mundoque o homem possa ver com mais clari-dade do que a luz.

O que é verdade é que essa deve sermuito rica.

Pelo menos é inexgotavel.Si vem do sol, é uma torrente de ouro.Si vem da lua, ó um manancial de

prata.Para sahir de manhã veste-se de nácar.Para recolher-se de tarde, é toda de

purpura.Anda sempre depressa, não espera

por ninguém, e em dez minutos corretrinta e quatro milhões de léguas.

A sombra anda sempre em busca deum objecto a que se encoste para vêl-a.

A luz é uma criança.Dai-lhe um pedaço" de crystal e vêl-a-

heis ficar louca.»¦

Vereis com que rapidez passa de umacor a outra :—são estes os seus folguedos.

Ella toma o dia pela mão e o leva do—Oriente para o Occidente : ó esta a suaobrigação.

Nas nuvens faz prodigios de habiü-dade.

Ella as borda, matiza e recorta ; deuma faz um véo ; de outra um manto depurpura ; de outra um cortinado esplen-dido recamado de ouro :—são estes osseus lavôres.

0 arco-iris ó delia.Um dia appareceu o céu enfadado ;

sua fronte coroada de nuvens, revelava aprofundesa de sua dôr.

A luz, que é toda alegria se afanaraem vão para dissipar aquella negra tris-teza.

Em fim o céu desfez-se em pranto.Estava inconsolavel.Quarenta dias e quarenta noites seus

olhos foram uma torrente de lagrimas.A terra inundava-se nas ondas d\quel-

le pranto immenso.A luz faza altas diligencias para achar

uma sahida opportuna, porém o céu es-oava sombrio e a escuridão lhe embargava^etpasso por todas as partes.

Tomou então um dos seus raios mais

puros, atirou-o no meio da escuridão, e asnuvens se abriram, deixando ver sobre oar ainda humido um arco de triumpho.

(Continua.)

POESIA

Lyra.

Foi em manhã d'estio,De um prado entre os verdoresQue eu vi os meus amoresSozinha a cogitar.

Cheguei-me a ella,Tremeu de pejo,Furtei-lhe um beijo,Pôz-se a chorar.

Eram-lhe aquellas lagrimasNa face nacaradaPer'las da madrugadaNas rosas da manhã.

SanctiücadaN'aquelle instanteNão era—amante,Era uma irmã!

Curvados os joelhosOs braços lhe estendia,Nos olhos me luziaMeu innocente amor.

Domina a virgemDoce quebranto,Secca-se o pranto,Cresce o rubor.

Laurindo Rabello

\

¦41

Charada. ,

Por baixo significando 1\i' por cima o meu lugar 1

CONCEITO.

Tal será. quem a charadaPromptamente decifrar.

L. M.

A decifração da charada do n. 7 é—romancec ' 1

TYP. DE DOMINGOS LUIZ DOS SANTOS,rua Nova do Ouvidor n. 20.