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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
Lisiane Nunes de Jesus
O DESCONHECIMENTO SOBRE O DEFICIENTE
AUDITIVO NA INCLUSÃO DENTRO DO ENSINO
FUNDAMENTAL EM UMA CLASSE REGULAR
Rio de Janeiro
2003
Lisiane Nunes de Jesus
O DESCONHECIMENTO SOBRE O DEFICIENTE
AUDITIVO NA INCLUSÃO DENTRO DO ENSINO
FUNDAMENTAL EM UMA CLASSE REGULAR
Trabalho apresentado ao curso de
Pós-graduação Lato Sensu Educação
Inclusiva do Projeto “Vez do Mestre” na
Universidade Candido Mendes, como
requisito parcial para a conclusão do
curso.
Orientadora: Vera Lúcia Vaz Agarez
Rio de Janeiro
2003
AGRADECIMENTOS
Ao corpo docente e discente do curso de pós-
graduação Lato Sensu da Universidade Candido
Mendes e do Curso Normal Superior e Ensino
Fundamental do Instituto Superior de Educação do
Estado do Rio de Janeiro, aos meus professores,
colegas e a todas as pessoas que de alguma maneira
contribuíram para a elaboração desse trabalho
acadêmico.
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia a Deus, pois foi quem me
colocou neste caminho, ao meu marido e amigo
Edson, que esteve durante todos os momentos ao
meu lado e por sua paciência e amor. A Cassiane,
minha grande amiga, pelo apoio. E também a
minha família que é o alicerce da minha vida.
Lisiane Nunes de Jesus
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo apresentar que a falta de conhecimento e até os
preconceitos e crenças sustentadas pela sociedade em relação à criança surda no
Ensino Fundamental numa classe regular como podem dificultar a inclusão desta
criança, a sua socialização e principalmente a sua aprendizagem.
Para tanto, será trazida a pesquisa realizada no Ensino Fundamental do
Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de Janeiro, a qual é baseada nas
respostas de questionários e numa observação que incluí os colegas de turma, a
educadora, a escola e uma criança surda incluída na 1ª série deste segmento.
A pesquisa tem um embasamento teórico em autores de grande acolhida pela
intelectualidade como Carlos Skilar, Márcia Goldfeld, Paula Botelho, Fátima Alves,
Magda Soares, entre outros.
O estudo será iniciado por uma explicação do que é a inclusão e como ela se
dá e o que é deficiência auditiva. Em seguida faremos uma breve passagem histórica
de como o deficiente auditivo era visto no passado e é visto até os dias de hoje.
Também versaremos sobre a importância de cada membro - a escola, o educador, a
família, os colegas, enfim, a sociedade - para que a verdadeira inclusão ocorra. E
ainda terá o relato de uma observação e o resultado dos questionários.
E para finalizar, acrescento uma consideração sobre a relevância da
colaboração de todos para a inclusão.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 4
CAPÍTULO I 6
A INCLUSÃO E O DEFICIENTE AUDITIVO 6
CAPÍTULO II 12
O DESENVOLVIMENTO DA VISÃO DA SOCIEDADE 12
EM RELAÇÃO AO DEFICIENTE AUDITIVO
CAPÍTULO III 16
O DESCONHECIMENTO NA INCLUSÃO 16
CAPÍTULO IV 31
CONSIDERAÇÕES FINAIS 32
CONCLUSÃO 32
BIBLIOGRAFIA 36
APÊNDICE 41
ANEXO 57
ÍNDICE 64
INTRODUÇÃO
Quantas vezes ficamos diante de algo que não temos conhecimento, seja de
algum assunto ou até mesmo diante de uma pessoa. E neste momento ficamos sem
saber o que fazer e o que dizer. Nesta situação, como ignorantes, tomamos uma
atitude ou temos um pré-conceito errado daquilo que nós é desconhecido.
E é por isso que neste trabalho encontraremos não apenas o que é inclusão, as
barreiras para que ela ocorra e observações de um fato real, mas também
encontraremos esclarecimentos do que é uma criança com deficiência auditiva e
como podemos lidar com este aluno.
Aqui descobriremos as respostas que buscamos ou pelo menos após a leitura
compreenderemos melhor tudo isso.
Veremos que não é fácil para a família, especialmente para a mãe, saber que o
seu filho sonhado não é tão “perfeito” quanto esperava que fosse, mas que é
fundamental que acredite na capacidade desse indivíduo deficiente, porque ele
realmente a tem, para que ele se desenvolva plenamente. E também entenderemos
que o papel dos colegas, da escola e do educador é de grande relevância para o
sucesso dessa inclusão.
E chegaremos a um ponto que entenderemos que a falta de conhecimento de
todos referente à deficiência do aluno incluído, no caso desta pesquisa a surdez, e até
os preconceitos e crenças em relação a ele podem atrapalhar a sua aprendizagem e
seu relacionamento com o outro. Não permitindo que ele se torne um aluno
independente e consciente das suas limitações e, no entanto de que a sua capacidade
é igual à de uma criança sem deficiência.
A metodologia utilizada foi à leitura da vários livros, trechos destes, artigos e
textos retirados da Internet. E também foi realizada a observação da “inclusão” de
uma criança com deficiência auditiva na 1ª série do Ensino Fundamental de uma
classe regular numa escola do Estado do Rio de Janeiro, além disso foi entregue um
questionário para a educadora, um representante da escola e para a mãe.
E para enriquecer mais a nossa pesquisa, nós acrescentamos no apêndice
umas perguntas feitas a uma pessoa surda, a qual faz um trabalho com a criança
deficiente auditiva que nós observamos. E nas suas respostas ela nos mostra como
conseguiu vencer os obstáculos e alcançar os seus objetivos.
No anexo veremos trabalhos dados a criança surda e a sua turma, nos quais
não ocorreram adaptações.
Este trabalho tem como objetivo demonstrar o quanto a falta de
conhecimento, os preconceitos e as crenças que a sociedade possui em relação a uma
criança deficiente auditiva podem dificultar a inclusão desta na classe regular e
atrapalhá-la tanto no alcance do aprendizado como no relacionamento com o
próximo.
CAPÍTULO I
A INCLUSÃO E O DEFICIENTE AUDITIVO
“A principal
característica do ser humano é
a pluralidade e não a igualdade
ou a uniformidade. Cada um
conhece e interpreta o mundo
com olhares muito
particulares”.
Marcos Mazzotta
1.1 - A Inclusão
“A inclusão postula uma reestruturação do
sistema de ensino, com o objetivo de fazer com
que a escola se torne aberta às diferenças e
competente para trabalhar com todos os
educandos, sem distinção de raça, classe, gênero
ou características pessoais.” (Claúdia Dutra 1)
Por volta de 1985 iniciou-se o movimento de inclusão escolar nos países mais
desenvolvidos e apenas na década de 90 tomou impulso alcançando os outros países. No ano de 1994 aconteceu em Salamanca (Espanha) a reunião de vários
governos e organizações internacionais com o intuito de promover a EDUCAÇÃO
PARA TODOS, na qual a educação pudesse atender a todas as necessidades
particulares de cada deficiência. E ainda ressaltou-se a necessidade de ensino sem
segregação.
Quando a sociedade se adapta para receber uma pessoa com deficiência a
inclusão ocorre, mas para isso também é necessária a participação efetiva da família,
da comunidade, da escola para incluí-la. Nela a escola é que deve passar por
transformações para receber este aluno. A inclusão é uma proposta educacional e
social que celebra as diferenças e as diversidades. Trata-se de um grande
movimento, pois envolve a todos. Aqui o princípio é a igualdade, sem, é claro, negar
a história de vida, a cultura e as condições físicas e mentais de cada educando sejam
deficientes ou não.
Na inclusão todos os indivíduos são colocados em salas comuns. Porém, os
ambientes físicos, estruturais e os procedimentos educativos são adaptados para
receber este aluno com suas particularidades.
O objetivo principal da inclusão é de não permitir que alguém fique fora das
escolas regulares desde a educação infantil, ou seja, almeja matricular todas as
crianças nestas, o que acaba desafiando-as a possuir um ensino de qualidade e a criar
uma pedagogia centrada nos alunos com o ideal de educar a todos, principalmente os
deficientes.
Porém, não podemos esquecer que para a verdadeira inclusão educacional e
social ocorrer é indispensável, é imprescindível a vivência de sentimentos e posturas
de respeito ao próximo como cidadão. Pois, os princípios da inclusão escolar são a
valorização das diferenças individuais (como atributo e não como obstáculo), da
diversidade humana, do aprendizado cooperativo, da solidariedade, do direito de
pertencer e não de ser excluído, ou seja, cidadania com qualidade e dignidade. 1 Secretária de Educação Especial do MEC. Citação retirada da Revista Nova Escola do artigo A Inclusão que funciona escrito por Arthur Guimarães. p.46
E agora, que já sabemos o que é inclusão, iremos aprender um pouco sobre o
que é o deficiente auditivo, o qual é incluído na escola regular.
1.2 - O Deficiente Auditivo
Para entendermos melhor o nosso trabalho é necessário explicarmos alguns
termos como: audição, deficiência auditiva, as suas causas e suas classificações.2
Vejamos:
A audição é um dos nossos sentidos, pois temos a visão, o tato, entre outros. Através
da audição somos capazes de ouvir um grito de socorro, o choro de uma criança, o
canto dos pássaros, o alarme de incêndio e a buzina de um carro. Mas também é o
principal meio pelo qual a fala e a linguagem são desenvolvidas.
Quanto à deficiência temos no decreto federal nº 3.298, de 20 de dezembro de
1999, regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre a
Política Nacional para a Integração de Pessoa Portadora de Deficiência, no art. 3º diz
que Deficiência é toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de
atividade dentro do padrão considerado normal para o ser humano.
Para a deficiência auditiva consideramos um distúrbio da audição normal e
esta alteração chama-se de deficiência. Ela pode ser congênita – nasceu com o
indivíduo – ou ocorreu no momento do parto ou adquirida. As causas são em virtude
de doenças que acometeram a mãe, como toxoplasmose e rubéola ou por uso de
remédios que atinja o ouvido do nenê. No nascimento, podem ser complicações e
baixo peso. No adquirido, acontece quando se pega Meningite, Caxumba, Sarampo
ou por uso de medicamentos.
Já para Campello, o conceito do que é surdez possui três diferentes aspectos.
O primeiro é o social, no qual a comunidade surda, como minoria lingüística,
possuidora de língua e cultura própria; o segundo é o clínico, que o portador de
deficiência auditiva, na qual o comprometimento da audição é o suficiente para
2 Este capítulo foi baseado nas informações dada pelos sites http://www.audicao. com.br/duvidas.htm e http://www.fmusicoterapia.hpg.ig.com.br/DEFAUDITIVO.doc retiradas no dia 10 de novembro de 2003.
prejudicar o desenvolvimento natural da linguagem oral, acaba precisando de
aparelhos e de tratamento especializado com fonoaudiólogo para que conseguia
oralizar e o terceiro que é o Educacional refere-se a deficientes auditivos com
necessidades educacionais específicas à comunicação, e como resultante, a produção
de conhecimento.
Com isso é importante ressaltar o que Botelho versa sobre a capacidade de
que um aluno surdo com perda auditiva leve pode aprender ou não, ter facilidade ou
não em um determinado momento como um surdo profundo e que nós, educadores,
não devemos nos preocupar tanto com isso, mas sim que a maioria dos surdos
continuam iletrados, pois ainda tentamos transformá-los em ouvintes, em vez de
buscarmos uma forma mais fácil para que eles aprendam a ler, a escrever e a
interpretar.
Voltando as deficiências, elas são classificadas de acordo com o tipo de
perda auditiva (Localização da lateração). Observemos:
* Perda Condutiva: Localização da alteração: Ouvido externo ou ouvido médio.
Muitas vezes podem ser reversíveis, através de medicamentos ou cirurgia.
Ocasionada: Por infecções no ouvido como Otites.
* Perda Neurossensorial: Localização da alteração: ouvido interno ou em fibras do
nervo auditivo. Freqüentemente é irreversível. Ocasionada: Pela Meningite.
* Perda Mista: Localização da alteração: Ouvido externo ou médio e ouvido interno.
Ocasionada: Em virtude de fatores genéticos, no qual existe uma malformação na
cóclea e nos ossículos do ouvido médio.
* Perda Central: Localização da alteração: A partir do tronco cerebral até às regiões
subcorticais e córtex cerebral.
Mas também existe o grau de comprometimento, ou seja, quanto foi à perda
auditiva deste indivíduo. E para saber isto, é necessário à realização de testes com o
uso de um instrumento, o audiômetro. Vale explicar que limiar tonal é a menor
intensidade de som que o indivíduo pode escutar. Assim, fica classificado:
* Audição normal -> Limiar tonal vai até 15 dB.
* Deficiência Auditiva leve-> Limiar tonal entre 15 e 30 dB.
* Deficiência Auditiva Moderada-> Limiar tonal entre 31 e 60 dB.
* Deficiência Auditiva Severa-> Limiar tonal entre 61 e 90 dB.
* Deficiência Auditiva Profunda -> Limiar tonal acima de 90 dB.
Esta classificação pode variar, outros estudiosos classificam assim: * Perda leve : Entre 20 e 30 dB. Aprendem a falar de ouvido.
* Perda marginal: Entre 30 e 40 dB. Pode aprender a falar de ouvido, porém com
dificuldade em ouvir a fala do outro em uma distância de alguns metros e em
acompanhar uma conversa.
* Perda moderada: Entre 40 e 60 dB. Às vezes pode aprender a falar de ouvido caso
haja uma amplificação do som e com a ajuda da visão.
* Perda grave: Entre 60 e 75 dB. A fala será adquirida somente com o auxílio de
técnicas especiais.
* Perda profunda: Maior que 75dB. Mesmo com amplificação do som não
aprenderão de ouvido. São considerados surdos3.
E ainda existem outras classificações para o comprometimento da audição. O
importante é que quando percebermos que a criança permanentemente não tem
atenção, não responde quando alguém fala com ela, tenha-se que aumentar o som da
voz para que ela entenda, tenha um atraso considerável no início da fala ou
articulação defeituosa e acentuado atraso escolar (apesar de apresentar inteligência
normal) a gente vá a busca de um especialista para identificar se existe alguma perda
de audição nesta criança. Porque quando mais cedo for diagnosticado maior será a
chance dela se desenvolver normalmente e muitas vezes, fazer com que ela possa
escutar. Ás vezes até passa despercebido porque o nenê surdo parcialmente ou
totalmente também sente emoções: chora, grita e vocaliza sons, assim como uma
criança sem a deficiência. Então, Devemos estar sempre atentos, pois a deficiência
auditiva é o problema sensorial de maior incidência na população brasileira. Das mil
crianças nascidas, de duas a sete apresenta este tipo de problema.
E finalizando este capítulo destaco a fala de Hans J. Frank4, na qual ele diz:
3 Indivíduos que nascem com uma perda auditiva significativa que não permite a adquirir a fala. Ou que deixam de ouvir antes da aquisição dela e da linguagem. Ou que mesmo já tendo linguagem e fala, essas sejam mínimas, fazendo com que eles as percam. 4 É instrutor de Libras no método Bimodal. Este trecho foi retirado do site http://www.gatanu.org/ paginas_adicionais/calendario/encontrogatanu/falarcommaosM.A.campello.doc no dia 10 de novembro de 2003 e comentado pela fonaudióloga Mônica Campello.
“Eu particularmente ponho fim a essa
discussão... chame-me do que quiser, seja surdo
ou deficiente auditivo... é a minha realidade e
não preciso levantar escândalo com vaidades
desnecessárias. E mais: Dou liberdade para a
pessoa escrever da forma que ela pensar, e da
forma que a pessoa foi educada para denominar
o sujeito, pois sei que por qualquer
denominação, a pessoa não tem má intenção de
ferir quando estiver se envolvendo em trabalhos
em prol da surdez e da pessoa surda...”.
Cremos que não importa se vamos usar a palavra deficiente auditivo, surdo ou
portador de necessidades educacionais especiais o relevante é o conteúdo, do que
estamos nos referindo. E neste trabalho o nosso desejo é justamente falar “em prol
da surdez e da pessoa surda...” e mostrar que não basta colocarmos uma criança em
sala de aula e dizer: incluímos. Temos que dar condições dela aprender, se
desenvolver e se socializar com o próximo. E isso é que mostraremos nos capítulos
que seguem. Para entendermos melhor iniciaremos pela parte histórica de como era o
tratamento dado ao surdo em tempos remotos e até o presente momento.
CAPÍTULO II
O DESENVOLVIMENTO DA VISÃO DA SOCIEDADE
EM RELAÇÃO AO DEFICIENTE AUDITIVO
2.1 - Antigamente e Atualmente
Antes de falarmos sobre como a falta de conhecimento dos indivíduos, os
preconceitos e crenças podem prejudicar na inclusão de uma criança deficiente
auditiva numa classe regular é importante que se realize um breve comentário sobre a
história, ou seja, de como a surdez era vista e de que modo é percebida nos dias de
hoje.
Sabemos que a sociedade tinha uma visão não só em relação à criança surda,
mas referente a todas as outras deficiências, ou melhor, a tudo aquilo que fugia do
que era considerado normal, de desprezo e preconceitos.
Embora o tempo tenha passado e a sociedade evoluído, a surdez ainda é vista
como algo marginalizado e rodeado de crenças.
Há muito tempo atrás não existia uma compreensão da psicologia do surdo e
este era colocado em asilo. E ainda se tinha à crença de que a surdez afetava a
inteligência do indivíduo surdo, fazendo com que ele fosse inferior a de um
indivíduo considerado normal. Mas o surdo pode ser altamente inteligente, porém, o
que existe é um retardamento em virtude da ausência de um meio de comunicação
verbal e até mesmo um desconhecimento dos educadores e da escola de como
ensinar a essas crianças.
Para Skilar (1998:7) foi mais de um século de práticas enceguecidas pela
tentativa de correção, normalização e pela violência institucional; instituições
especiais que foram reguladas tanto pela caridade e pela beneficência, quanto pela
cultura social vigente que requeria uma capacidade para negar, controlar e separar a
existência da comunidade surda, das identidades surdas, das experiências visuais e da
língua de sinais que determinam o conjunto de diversidade dos surdos em relação a
qualquer outro grupo de sujeitos.
E na afirmação de Goldfeld percebemos mais uma vez os preconceitos que
existiam antigamente em relação ao surdo, nos quais a sociedade enxergava apenas
aspectos negativos. Os surdos eram vistos de formas variadas: com piedade e
compaixão, como indivíduos castigados pelos deuses ou enfeitiçados, e por estes
motivos eram sacrificados ou abandonados.
Desde a Antiguidade até quase o final da Idade Média acreditava-se que os
deficientes auditivos eram ineducáveis. E até o século XV eles viviam à margem da
sociedade e não possuíam nenhum direito assegurado. Embora muitas descobertas
tenham sido feitas ainda persistem certos tipos de crenças e preconceitos. Como por
exemplo, o fato do indivíduo ser surdo afeta a sua inteligência e até esta é menor em
relação ao ouvinte.
No século XVIII é considerado o período mais produtivo da educação dos
surdos, no qual esta teve um enorme impulso no sentido quantitativo referente ao
aumento de escolas para surdos, e qualitativo, pois através do uso da língua de sinais
os surdos podiam aprender, dominar diversos assuntos e fazer parte do mercado de
trabalho.
Em 1828, o Ministério da Educação da Alemanha decretou que num período
de dez anos prepararia todas as facilidades para educar os surdos no ensino regular
nas suas províncias. Porém, após 30 anos Hill – um dos maiores defensores do
Oralismo - teve que admitir o fracasso dessa proposta, mas a justificava dizendo que
não atingiu os objetivos esperados em virtude da má aceitação dos professores da
escola regular em relação ao surdo. Em vez de ser explicado pelo fato do escasso
aproveitamento escolar.
Enquanto para Scoz, nos séculos XVIII e XIX existia uma preocupação
referente ao normal-anormal e as crianças que não seguia o “ritmo” estipulado eram
rotuladas e estigmatizadas de incapazes. Não muito diferente do que ainda acontece
nos dias de hoje dentro das escolas, até mesmo com crianças sem deficiência.
Nos anos 60, Dotti relata que passou a existir a Escola Nova a qual levantou
questões relativas á doença e ao fracasso escolar e deste modo, passou-se a olhar para
as diferenças individuais dos educandos, só que agora com o desejo de uma
sociedade igualitária e não, discriminatória. Entretanto, isso não foi viável porque
vivemos numa sociedade dividida em classes o que reforça as distinções entre capaz
e incapaz, pobre e rico, negro e branco.
Entre 1960 e 1970, a psicologia iniciou o seu estudo referente às condutas
consideradas patológicas, dando uma classificação, narrou o comportamento de
pessoas que sofriam as conseqüências da exclusão social, entre estas os surdos e
dizia que eles eram mais introvertidos e neuróticos que os ouvintes (...) desconfiados,
egocêntricos e que dava entender que se tratava de reações psicóticas. E assim,
esqueciam que este comportamento não era por serem deficientes auditivos, mas por
não conseguirem se comunicar.
A partir da década de 1970 ocorria um crescimento dos movimentos de
direitos humanos, foi quando a minoria marginalizada iniciou a sua luta para
apropriar-se do seu espaço na sociedade, desta maneira a visão segregacionista foi
contestada e a integração social e educacional dos surdos passou a ser a proposta dos
programas de Educação Especial em todo o mundo. Assim, ocorreram muitas
modificações na concepção da deficiência e da Educação Especial, conduzindo desta
forma, a uma nova maneira de compreender a problemática dos deficientes na
perspectiva psicoeducativa.
Nos anos 80, a Psicopedagogia, constituída por grupos multidisciplinares,
apresenta um novo corpo de conhecimento e postura relacionados aos problemas de
aprendizagem e fracasso escolar, em que a conseqüência deste deixa de ser em
virtude das diferenças. Os psicopedagogos passam a compreender melhor esse
fracasso de aprendizagem. E eles baseiam-se em Piaget, Vygotsky e Wallon.
E depois de tantas descobertas e “caminhadas”, é que nos últimos anos
estamos percebendo uma movimentação para a inclusão escolar das crianças com
deficiências. O que constitui, aos poucos, a aceitação delas com suas dificuldades e
limitações e o reconhecimento do seu direito a uma vida normal em todos os sentidos
pela sociedade. Aqui, não existe o objetivo de transformar o ser deficiente em
normal, mas permitir que este tenha uma existência natural como: estudar, trabalhar,
enfim que possa ser um cidadão e exercer sua cidadania com dignidade.
Adiante veremos como a falta de preparo, de sensibilização, de vontade de
buscar informações e os próprios preconceitos e crenças são itens dificultadores da
aprendizagem e da verdadeira inclusão da criança com deficiência auditiva.
CAPÍTULO III
O DESCONHECIMENTO NA INCLUSÃO
“É regra velha, creio eu, ou fica sendo
nova, que só se faz bem o que se faz
com amor.” Machado de Assis
3.1 - As Primeiras Barreiras da Inclusão
Vimos que já existe um grande conhecimento em relação à criança surda que
muitas dúvidas sobre o assunto foram esclarecidas. Mas mesmo assim, os
preconceitos, as crenças e o desprezo ainda são freqüentes. E muitos educadores
ainda não têm acesso a essas descobertas e outros não se sensibilizam para buscar o
conhecimento sobre como trabalhar com aquela criança incluída.
Assim a sociedade ainda não se encontra preparada para receber uma criança
surda e então, a discrimina ou a rejeita e até amplia a sua deficiência. Ou seja, as
pessoas crêem que o deficiente auditivo é incapaz de praticar esportes, de brincar
com brinquedos nas pracinhas e até de ir às festas infantis. Portanto, há uma
generalização, pois acreditam que o deficiente auditivo não tem apenas a surdez, mas
também, a inaptidão de exercer algumas atividades e de participar do convívio social.
Sendo que, a surdez é apenas a incapacidade de ouvir e assim sendo, o
deficiente auditivo não aprende a falar pelo modo comum. Mas não é de jeito algum
a inabilidade de jogar bola, de brincar com outras crianças, de nadar e nem tão pouco
de aprender.
Existem muitas discussões também sobre como fazer com que o surdo
compreenda o que está sendo ensinado em sala de aula, algumas instituições aceitam
a Língua de Sinais e outras não. Pois estas acreditam que a utilização da Língua de
Sinais prejudica a inserção social. Mas nesse debate acabam esquecendo que o mais
relevante não é a maneira que ocorrerá esta troca, mas sim que ela seja realmente
efetiva, entre surdo e ouvinte. E, que a criança surda consiga aprender, se comunicar
e se desenvolver.
Para Botelho, mesmo que exista um preparo do educador e que estes tenham
o conhecimento da cultura surda e da língua de sinais, ela crê que nem assim será
possível o letramento do surdo, pois não existirá uma língua comum na sala de aula e
na escola.
Mas o que na verdade há é a existência de muitas barreiras para a inclusão do
aluno deficiente auditivo, como a falta de uma língua comum na sala, a imobilidade
da escola, o despreparo dos professores, a não cooperação dos colegas de turma, a
falta de valorização do deficiente por parte da família, até a não adaptação do
deficiente aquele contexto e entre muitos outros.
Nos sub capítulos a seguir versaremos sobre cada um desses membros com a
tentativa de mostrar que para que a inclusão realmente ocorra é necessário que todos
caminhem juntos num objetivo único: UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS.
2.1.1 – Escola
“Uma educação para a cidadania só pode ter como
objetivo promover a igualdade e não estabelecer
distinções”.
(CARVALHO:2003)
A primeira barreira que trataremos é a escola, nós veremos o porquê.
As escolas precisam procurar maneiras de educar os deficientes no intuito de
alterar atividades discriminatórias, de propiciar que sejam criadas comunidades
acolhedoras e também, desenvolver uma sociedade inclusiva. Por isso é importante
que a escola se adapte para receber essa criança com deficiência auditiva e que
oriente da melhor maneira possível o educando desta criança.
Faz-se necessário também a reunião dos pais, dos educandos ouvintes e todos
os professores, funcionários e principalmente dos deficientes auditivos para que
juntos possam discutir sobre os projetos político-pedagógicos desta instituição. Desta
maneira ficará mais fácil à inclusão, pois haverá a participação, a colaboração e o
comprometimento de todos. Muitas vezes a escola apenas recebe o aluno deficiente e não toma nenhum
tipo de ação para incluí-lo, com o passar do tempo ele vai ficando mais excluído,
pois não consegue manter um diálogo com aqueles que ali estão, colegas e professora
e assim, não aprende e não se desenvolve e então, vem o tão conhecido fracasso
escolar.
E quando isso ocorre segundo Magda Soares a responsabilidade é da escola a
qual trata os seus alunos e a diversidade cultural com discriminação, “transformando
diferenças em deficiências”. Para ela a escola é que deveria passar por uma
transformação e aceitar as peculiaridades de cada educando sejam elas culturais,
físicas, lingüísticas e sociais, e não achar que eles devem anular suas identidades e
heranças culturais. Num país como o Brasil, altamente excludente, onde os idosos, os
negros, as mulheres e os pobres são excluídos, como incluir numa escola uma criança
com deficiência seja física ou mental? A escola tem que promover a igualdade social
e superar as discriminações e preconceitos para assim podermos incluir os deficientes
numa classe regular.
Para Dotti (1994:27), ao repensarmos o fracasso escolar nos leva a reavaliar o
estigma e o preconceito em relação aos educandos. Então, ele afirma:
“(...) sabe-se que a questão do fracasso escolar está mais
ligada aos preconceitos que temos a respeito da criança (...)
procurando ver as crianças e as classes populares sob a ótica
de uma matriz dialética, ver o que a criança tem de feio e
bonito, viver a diversidade, com crianças diversas,
desmistificando os nossos estereótipos positivistas de que
existe o “bom” aluno e o professor “padrão”.”
Atualmente é isso que vivenciamos, nós passamos por um momento na
sociedade em que o valorizado é a individualidade, a competitividade, o
consumismo, o egoísmo, a falta de respeito ao próximo, a marginalização, a
discriminação, a corrupção e a exclusão. E raramente, vemos atitudes de
solidariedade, amizade, companheirismo, tolerância, cooperação, respeito, ética e
aceitação no relacionamento do ser humano.
As famílias estão se dissolvendo e com as dificuldades financeiras, as mães
também têm que trabalhar fora e as crianças passam o dia todo longe delas ou
ficando na rua ou na creche ou com uma babá ou no colégio. E é neste momento que
o papel da Escola torna-se fundamental, pois esta deve valorizar as relações sociais,
deve estar aberta e preparada para receber deficientes, pobres, meninos de ruas,
negros, índios entre outros. E com isso, aproveitar a diversidade no seu ambiente
para trabalhar as questões primordiais da boa convivência social – muitas vezes aqui
assumindo um pouco o papel da família – como: compaixão, justiça, amor, pureza,
humildade, solidariedade, generosidade, doçura e polidez. Desta maneira,
poderemos construir um mundo menos preconceituoso onde todos poderão alcançar
os seus sonhos, exercer sua cidadania e se desenvolver plenamente, pois não serão
mais limitados por seus educadores, escola e pela própria sociedade. E como
conseqüência disso certamente o fracasso escolar será mínimo e provavelmente
deixará um dia de existir.
Diante deste novo paradigma, a inclusão, a escola deve ser um
estabelecimento social que tem como dever acolher a todas as crianças, deficientes
ou não, de poder aquisitivo alto ou não. Ela tem que estar sempre aberta para os
alunos. Ela tem que ser democrática, pluralista e o primordial, de qualidade. A escola
tem como obrigação o desenvolvimento físico, afetivo, moral, social e cognitivo dos
seus alunos deficientes e também colaborar para a integração destes na sociedade
como indivíduos ativos.
Ela junto com o educador tem suma importância na vida do educando para
que assim, unidos possam evitar a evasão e o fracasso escolar. E deste papel do
professor que discorreremos adiante.
2.1.2 – Educador “Assim como nós, jornalistas, não podemos esperar a próxima
notícia, o professor não deve esperar a próxima classe para fazer
inclusão. Ele tem de fazer inclusão agora. Temos que acabar com o
tempo da conscientização e partir para o tempo da ação. Mas o
professor, que, lógico, há tantos anos é maltratado no Brasil e
ganha pouco — eu poderia citar uma relação de problemas que ele
enfrenta —, se vê pequeno, lamentavelmente, e acha que a
inclusão é muito grande para ele. Na verdade, o problema é que ele
tem baixa auto-estima. É um grande engano. Ninguém é mais
importante que o professor. Existe alguém mais importante na vida
de uma pessoa do que o professor? Ele é maior que tudo, ele é do
tamanho da inclusão. As escolas inclusivas é que vão detonar o
processo de inclusão no Brasil e nós precisamos fazer com que o
professor se perceba grande, da forma que ele realmente é”.
(CLÁUDIA WERNECK)5
Uma das maiores barreiras para a inclusão é o desconhecimento e o
despreparo dos professores. Este ainda preso aos métodos antigos, sem um preparo
técnico adequado resulta numa postura diante do aluno deficiente de partenalista, de
assistencialismo, super protetor o que acarreta numa exclusão deste, ele fica isolado,
distante do convívio com os colegas e isto apenas o prejudica e impede que ele
desenvolva todas as suas capacidades plenamente. Na Inclusão, o educador deve
conhecer integralmente a criança que está na sala de aula e como lidar com ela.
Mas também é obvio que se as condições das escolas fossem outras, nas quais
houvesse menos educandos nas salas de aula e o professor recebesse um treinamento
para incluir este aluno, a inclusão aconteceria com mais facilidade.
No livro Educação Especial: Tendências Atuais é ressaltado que o professor é
uma das condições de funcionamento da Escola, ou seja, o papel deste é de grande
relevância para a inclusão completa da criança com deficiência.
No momento da inclusão, o educador tem que obter outros conhecimentos
além dos adquiridos nos seus cursos de formação de magistério. Ele deve aprender a
identificar e a atender às necessidades especiais de aprendizagem de todos os
educandos, sejam eles crianças, jovens, adultos, idosos, portadores de alguma
deficiência ou não.
Na Educação Infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental o
principal objetivo é satisfazer as necessidades individuais de aprendizagem de cada
educando, através de incentivos para que ele aprenda e desenvolva o seu potencial a 5 Esta foi uma resposta dada por Claúdia Werneck a uma entrevista. O texto foi retirado do site http://www.aprendebrasil.com.br/entrevistas/entrevista0073.asp no dia 10 de novembro de 2003.
partir da realidade de cada aluno. Deste modo, o professor deve ter maior
sensibilidade e pensamento crítico em relação à sua prática pedagógica, a qual deverá
ter como meta principal à autonomia intelectual, moral e social de seus alunos e
também deve estar preparado para conviver com os diferentes, superando os
preconceitos referentes à minoria e para adaptar-se às novas situações que surgirão
na sala de aula.
Na inclusão cabe ao professor rever os seus métodos tradicionais,
reducionistas e inviabilizadores do prazer de aprender. Pois este muitas vezes ainda
tem a crença na deficiência do aluno surdo e assim, não busca novas formas de
ensinar e avaliar e assim contribuir para o desenvolvimento deste. Porém o educador
fica preso à deficiência dela e não percebe que o erro está no seu método
ultrapassado e rígido.
Vejamos o que afirma Vygotsky sobre esse assunto:
“A educação para estas crianças deveria se basear na
organização especial de suas funções e em suas características
mais positivas, ao invés de se basear em seus aspectos mais
deficitários”.(VYGOTSKY, 1987: 28)
Ou seja, devemos partir do que a criança deficiente tem de positivo e não da
sua deficiência, pois desta forma já estamos determinando onde esta criança poderá
chegar e assim, não permitindo que ela se desenvolva até realmente pode ir.
Os educadores também não têm a consciência da necessidade dos indivíduos
surdos estarem presentes e participarem das decisões sobre suas vidas escolar, o que
leva ao que Skilar (1998:15) denomina “ouvintismo”, no qual os ouvintes
determinam as regras e decidem sobre a vida dos deficientes auditivos que se tornam
submissos aos ouvintes em virtude do bloqueio na comunicação. E isso,
transformam aqueles em incapacitados, marginalizados e excluídos.
Após uma entrevista com educadores Pires pode constatar que embora eles
sejam a favor da inclusão não deixaram de destacar as suas dificuldades para se
comunicar com os educandos deficientes, então questionam como existir uma
inclusão social e educacional sem uma relação dialógica.
Ou seja, para que exista um entendimento do que o educando surdo diz e do
que o professor ensina é importante que este saiba a língua de sinais ou que haja um
intérprete na sala de aula. Sem isso fica inviável a aprendizagem e a socialização do
grupo. (REVISTA INTERAÇÃO, 1997:23).
Porém, de nada adiantará os recursos físicos e materiais no processo de
ensino de qualidade, caso o educador não modifique sua postura e atuação
pedagógica. As modificações devem ser feitas assim que ele receber uma criança
deficiente. Como6: a avaliação; as posições das carteiras, o aluno com deficiência
auditiva deve sentar nas primeiras carteiras da fila central ou colocar a turma sentada
em círculo ou semicírculo, para que assim ele possa enxergar todos os colegas e estes
possam servir-lhe de apoio ; os textos, usar todos os recursos que facilitem sua
compreensão, como: mímicas, materiais visuais, figuras, dramatizações e etc; os
jogos; a forma de falar, ou seja, não ficar de costas para o aluno surdo quando estiver
falando; aceitar o aluno surdo sem rejeição; tratar ele normalmente, como qualquer
aluno, sem discriminação ou distinção; preparar os colegas para recebê-lo
espontaneamente, estimulando que eles falem sempre com ele; verificar se o
aparelho de ampliação sonora individual está ligado, ela não faz o surdo ouvir, mas
reforça as pistas e dá referências; usar a língua escrita e quando for possível utilizar a
língua de sinais; buscar interrogá-lo, questioná-lo para que o deficiente auditivo
possa sentir-se um membro participativo e ativo daquele ambiente; incluir a família,
para que esta possa participar de todo o processo educativo; e o mais importante,
acreditar realmente que o seu aluno surdo tem potencialidade e é capaz de aprender
como qualquer outra criança não deficiente – e é verdadeiramente - e observar seu
crescimento e aprimoramento e entre outras coisas.
A partir do momento que o educador muda a sua atitude dentro de sala de
aula e aceita este aluno deficiente sem preconceitos, sem restrições ele com certeza
contagiará aqueles que estão sob os seus cuidados, os seus educandos, ou seja, os
colegas desta criança incluída. Assim, a inclusão ocorrerá de forma natural. E é o
que veremos a frente.
2.1.3 – Educandos
6 Dicas retiradas do site do INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos): http://www.ines.org.br/ ines_livros/32/32_006.htm
Para Heidrich o primeiro passo para que os colegas não-deficientes passem a
considerar o aluno com deficiência auditiva, tão capaz quanto qualquer outra pessoa,
é do educador. Se ele exigir dele tanto quanto dos outros, os colegas também agirão
assim. É de relevância que o professor creia que os colegas ouvintes aprenderão a
lidar com determinadas particularidades dos colegas deficientes, pois isso levará ao
crescimento com a diversidade e não a exclusão.
A postura do educador dentro de sala de aula é de suma importância para a boa
receptividade dos colegas de turma da criança incluída.
Até aqui aprendemos a importância da escola, do educador e até dos colegas
no processo de inclusão, mas existe uma base primordial para que está ocorra, ou
pelo menos que se inicie, que é a família do deficiente auditivo. E é dela que
trataremos agora.
2.1.4 – Família
“A auto-estima é uma condição
básica da vida digna.”
(SOUZA: 2003)
A família possui grande responsabilidade na formação e aprendizagem do
indivíduo surdo. E caso não aceite o deficiente ela se tornará numa grande barreira
para a inclusão, vejamos:
A família precisa acreditar que o deficiente
auditivo se for trabalhado desde cedo e se houver uma
estimulação correta e intensa, será capaz de integrar-se
perfeitamente no mundo dos ouvintes, já que,
intelectualmente, não tem nenhum comprometimento que
o impeça de aprender, desenvolver-se e
conseqüentemente apresentar um desempenho semelhante
ao do indivíduo de audição normal. (COMISSÃO DE
ASSISTÊNCIA AO EXCEPCIONAL, 1985: p. 71)
A família tem como tarefa fazer com que a criança surda venha a tomar
consciência da sua limitação e do seu potencial. A criança se sentirá bem, se a sua
família demonstrar que realmente a aceita e a respeita, estimulando-a de todas as
maneiras a fazer parte dos diversos grupos sociais – cinema, teatro, festas, etc.
A família não deve superproteger a criança surda, criando-a num círculo
fechado para não correr o perigo de se expor e sofrer. Isto de uma certa maneira é
uma forma de preconceito por aqueles que cercam o deficiente. A família tendo esta
atitude só estará proporcionando ao indivíduo surdo a sensação de insegurança ao
enfrentar o contato com os ouvintes.
E a partir da conscientização dos pais de que no lugar do filho “perfeito” veio
uma criança surda, ocorre neles uma grande desordem emocional – a decepção, o
desespero, o sentimento de culpa – a qual impossibilita durante algum tempo de
conviver e aceitar a deficiência. E ainda é mais doloroso quando adquire a
deficiência após o nascimento ou ao longo dos anos.
Mas, seja qual for o caso a aceitação por parte dos pais é de grande relevância
para que a criança surda possa se aceitar e na vida adulta seja consciente de suas
limitações, mas certo de suas possibilidade.
Os pais que ainda não aceitaram a realidade de ter um filho surdo quase não o
levam para passear no parque, na praia, no clube entre outras formas de lazer apenas
com o receio de estarem expostos a situações que possibilitem das outras pessoas a
descobrirem que o seu filho é deficiente auditivo, pois este é fisicamente igual ao
ouvinte, caso não tenha uma outra deficiência como: cegueira, deficiência física e
mental. Não sendo assim, a sua surdez só será percebida no contato interpessoal.
Portanto, com essa atitude a família só estará impedindo e dificultando o
relacionamento do filho surdo como o próximo e com o mundo.
A falta de conhecimento da família referente à surdez dificulta o
desenvolvimento do seu filho, por isso é importante que a família procure, assim que
for diagnosticada a deficiência auditiva, um especialista, para que este possa orientar
da melhor maneira possível.
Sabemos que muitos pais têm a vontade de que o seu filho surdo estude em
escola para ouvinte, com a esperança de que a sua surdez deixe de existir através da
oralização. Porém, o que realmente ocorre é que a criança não se desenvolve e não
aprende, pois a língua que circula na sala não é a dela. Assim, ela permanece na
escola regular, passa para a série seguinte, mas não desenvolve todas as suas
capacidades. Afinal, o educador e a escola na sua maioria ainda não possuem o
conhecimento de que necessitam para recebê-la e fazer com que ela aprenda, cresça e
se socialize com os outros.
Percebemos com tudo isso o quanto é importante que a família, a escola, os
professores e os colegas andem juntos para incluir o aluno surdo. Mas também não
podemos esquecer que ele é provido como qualquer outro aluno não deficiente de
sentimentos, vontades e ideais. E precisamos apenas, entendê-lo melhor para lidar de
forma positiva para o desenvolvimento de todas as suas capacidades. E para isso
versaremos um pouco sobre esta criança incluída.
2.1.5 – A criança incluída
Segundo Dória é relevante sabermos que a criança surda é criança antes de
ser surda; possui, em geral, inteligência em potencial – pois isto só será afetada caso
haja junto com a deficiência auditiva, uma mental - , necessitada de estimulação e
nada mais. Se esta tiver acesso aos recursos da técnica, da “arte” de ensinar-lhe a
falar e a compreender o que os outros falam, com certeza a sua inteligência se
desenvolverá e o progresso alcançado será em virtude direta do esforço e dedicação
do seu professor e do apoio da família.
O fator que desempenha o maior papel na vida afetiva da criança é a
impressão que ela tem da sua segurança - a família e o educador são responsáveis por
isto. É necessário evitar a sensação de insegurança para não despertar os problemas
de caráter.
Os deficientes auditivos deveriam participar dos projetos políticos, mas a
superioridade dos ouvintes sobre os surdos revelasse no poder daqueles sobre estes, o
que remete ao “ouvintismo”. Deste modo, todas as práticas políticas e pedagógicas
tornam-se para os surdos um momento não pertencente a eles, e isso faz com que se
sintam isolados em sala de aula, pela falta de retorno, ou melhor, da troca, da
comunicação necessária dentro da classe. Não ocorre uma interação e assim têm a
sensação de estarem sendo segregados, excluídos.
As crianças surdas tentam comunicar-se através da expressão facial, gestos,
escrita e de outros meios. Mas dentro de uma escola regular as crianças surdas não
conseguem aprender em virtude da limitação lingüística do deficiente auditivo e isso
se transforma em um dos obstáculos para os educadores. E desta maneira resulta na
rotulação, reforçando os estereótipos na relação professor-aluno originando
julgamentos como: “ela tem baixa auto-estima”, “esta criança é agressiva”, “deve
estar com problemas no convívio familiar”, “esta criança tem dificuldade de
aprender”, etc. Esses tipos de preconceitos surgem por parte dos ouvintes que julgam
que os indivíduos surdos possuem problemas psicológicos, o que acarreta na visita
freqüentes destes aos terapeutas e médicos.
Todas as crianças sejam deficientes ou não só precisam de amor, respeito,
carinho, paciência e dedicação para que se desenvolvam e cresçam tornando-se
adultos felizes e capazes de exercer sua cidadania.
E para mostrar como a teoria se aplica à prática e como o que lemos nos
livros não se trata de ficção, mas de uma verdadeira e muitas vezes cruel realidade é
que relataremos uma observação feita no ano de 2003 numa escola regular do Estado
do Rio de Janeiro em que uma menina deficiente auditiva foi incluída. Mas com
certeza ao conversarmos com outras pessoas descobriremos muitas histórias de
inclusão que deram certo ou não e, os motivos deste já sabemos quais são.
2.2 – Relato de uma observação
“Devemos olhar nossos aprendizes como
potenciais cidadãos de um mundo que queremos
melhorar...” (CAMPELLO:2000)
A observação foi realizada na 1ª série do Ensino Fundamental de uma classe
regular no turno da tarde num colégio do Estado do Rio de Janeiro, onde uma menina
de 7 anos chamada C. com deficiência auditiva severa foi incluída. A deficiência de
C. foi adquirida, pois ela nasceu perfeita, mas quando tinha 1 ano e 6 meses pegou
meningite viral. É bom ressaltar que ela já fazia parte desta instituição desde a pré-
escola e que na atual sala tem 18 alunos e uma professora.
No primeiro dia podemos constatar que a C. ficava quieta no seu lugar, um
pouco isolada e que apenas dois colegas, um era o primo, tentavam se comunicar
com ela, através de gestos. A C. está aprendendo libras, mas em todo momento que
ficamos lá só a vimos usar gestos e emitir sons – indecifráveis.
Percebemos que a educadora não sabia como lidar com aquela criança
“diferente”, mas também não notei nenhum esforço dela para aprender como ensiná-
la, pelo menos em sala não houve uma tentativa aparente.
Durante todo o tempo a C. ficava sem saber o que estava ocorrendo na sala de
aula, muitas vezes a vimos agoniada na sua cadeira por não ter conhecimento do que
acontecia. Na primeira aula, de início foi dado um teste de matemática pela
educadora, sem ao menos explicar o que deveria ser feito, até porque ela desconhecia
a forma de explicar para a C., então a C. escreveu o seu nome no teste e começou a
escrever números aleatórios no local do resultado, quem sabe assim pareceria aos
seus colegas que ela estava conseguindo fazer. Foi então, que nós interferimos,
sentamos ao seu lado e começamos de uma maneira improvisada a ajudá-la para
compreender o que deveria ser feito, assim ela colocava a resposta correta. Logo
depois, percebemos que havia alguns colegas que também queriam ajudá-la, então os
deixamos com ela. Neste momento notamos o quanto o papel do educador é
importante, como a nossa postura em sala interfere na atitude das outras crianças.
Chegamos a questionar a educadora se ela não sabia como avaliar a C. E ela
disse que não tinha conhecimento.
Depois, as crianças tiveram que fazer uma interpretação de texto e também
foi feito um ditado com palavras compostas. Nesta atividade, a educadora leu as
palavras e C. mexia-se de todas as formas para chamar a atenção dela, mas em vão.
Ela ficou sem fazer o ditado, afinal não escutava. Após, os trabalhos veio o lúdico, a
educadora escreveu no quadro a regra do jogo, o qual era com palitos de sorvete.
Porém, as regras não estavam muito claras, pois não dizia que se o dado caísse no
chão a jogada não seria válida, mas mesmo assim C. parecia gostar daquela
brincadeira.
Antes do recreio, a educadora fez um círculo com a turma e leu um livro e C.
ficava sentada e pensativa. Cremos que ela nem tinha conhecimento da história.
Os dias foram passando e muitas outras coisas conseguimos observar. Por
exemplo: todas as vezes que C. precisou ir ao banheiro, falava com o primo e este
comunicava a professora. Ela sempre ia acompanhada de outra colega.
Não achamos que C. estivesse realmente incluída, talvez integrada, pois ela se
adaptava aquela sala, ela tentava se comunicar, ela tentava mostrar que ela estava ali.
As atividades não foram adaptadas, a turma não sabia se comunicar com ela, nem a
educadora. Freqüentemente vims os colegas conversando entre si, e embora ela
estivesse ao lado deles, ela apenas observava ou ficava mexendo no estojo, no
caderno, apenas...
De todos os dias que estivemos na sala encontramos apenas uma vez a T.,
estagiária da UNIRIO, pois eu ia as quintas feiras e este era um dia que ela não ia.
Nesta aula, a professora colocou a música de folclore, contou a história do Curupira e
depois pediu que as crianças produzissem um texto sobre o que ouviram. C. passou a
maior parte da aula tentando realizar esta atividade, a T. tentou ajudar.
Todos os dias as crianças sentavam em círculo e ouviam a professora contar a
historinha, menos C. ouvia, apenas ficava sentada com o pensamento longe.
Quando C. ia à mesa da educadora, esta falava com ela em tom de voz bem
baixo e de cabeça baixa, como o desconhecimento pode prejudicar o entendimento,
se a professora soubesse que de cabeça erguida e de frente para a aluna ficaria mais
fácil de C. compreender a explicação, com certeza o aprendizado seria melhor.
Geralmente, a educadora pedia que cada aluno lesse um parágrafo de um
texto e a C. permanecia no seu lugar sem ao menos saber o que ocorria naquele
momento, pois ninguém explicava para ela.
Constatamos também que o tratamento dado às crianças sem deficiência não
era igual o da C. esta tinha algumas regalias, por exemplo, a educadora estava vendo
o trabalho de casa e quando via que o aluno não tinha realizado todos os trabalhos,
inclusive um desenho ela pedia que voltasse para a carteira e fizesse o trabalho, mas
na vez da C. a educadora notou que ela não tinha feito o desenho (em anexo), só que
não pediu que o concluísse. Devemos saber que o tratamento em sala deve ser igual
para crianças deficientes e não deficientes, a educadora deveria ter pedido que a C.
voltasse a sua mesa e terminasse o desenho.
Abaixo tentamos retratar como era a organização da sala de aula e onde tem
uma bolinha preenchida com a cor preta era o local que C. sentava desde do meu 1º
dia de observação até o último. As outras crianças mudaram de local.
Vejamos:
Seria melhor que ela estivesse sentada ao centro e próxima da educadora.
Quando a professora chamava os ajudantes da semana, a C. percebia que
algumas crianças levantavam – como ela não sabia o que a educadora havia dito – a
C. também se levantava e nestes momentos os colegas a chamavam por nomes
inadequados, como por exemplo: doida.
Todas as atividades feitas em sala de aula, na maioria das vezes a C. não
conseguia concluí-las, não porque ela não fosse capaz, ao contrário C. sempre se
mostrou muito inteligente e com vontade de aprender, o problema é que não tinha
quem explicasse para ela o que era para ser feito ou então, tratava-se de um texto
longo com muitas palavras que talvez ela nem soubesse o significado de muitas
delas.
Apesar de tudo, a C. parecia muitas vezes feliz por estar ali, freqüentemente a
pegamos sorrindo. Entretanto, durante o tempo que a acompanhamos não tivemos a
oportunidade de observar um desenvolvimento significativo, pois ela não conseguia
acompanhar as atividades e nem realizá-las por completo e muito menos uma boa
socialização com a turma e com a educadora, embora esta tenha demonstrado de
muitas maneiras ser uma boa profissional, mas infelizmente estava sem saber o que
fazer com aquela criança “incluída”, ou melhor, colocada na sua sala. E nem
constatamos que naquela escola ocorria uma verdadeira e plena inclusão. O que
concluimos é que por falta de conhecimento da educadora, da instituição e dos
colegas, a C. ficava muito excluída do que ocorria naquele ambiente.
Em outubro/2003 obtivemos a notícia de que C. estava muito agressiva,
inclusive batendo nas professoras que a ajudavam.
Quadro
Professora
porta
Janela
E em novembro/2003 tomamos conhecimento pela estagiária do normal
superior T.T. que C. conseguiu oralizar duas palavras e que tem se comunicado com
T.T. através da Língua de Sinais. E que a sua agressividade diminuiu.
CAPÍTULO IV
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Quando a gente sonha sozinho,
não passa de um sonho, quando
a gente sonho junto é a
realidade que começa”.
Dom Helder Câmara
3.1 – O Sucesso para a Inclusão Total e Incondicional Depende de
Todos Nós
A inclusão integral do surdo não depende apenas do educador ou da família
ou dos amigos, ou dos colegas, ou do fonoaudiólogo, ou do deficiente auditivo, mas
de todos juntos.
Para enfrentar as diversidades sociais as crianças espelham-se na atitude da
família e dos educadores, ou seja, se estes agirem com naturalidade tudo se tornará
mais fácil para elas, mas se houver constrangimento por parte deles, elas se sentirão
diferentes.
Portanto, o professor e a família devem ter a atenção para que dêem ao
deficiente auditivo um tratamento igual ao dado para qualquer outra criança. Deste
modo, educadores e pais estarão colaborando para o desenvolvimento intelectual e
emocional da criança surda de forma saudável. Quando esta é criada com respeito,
igualdade e amor, sem discriminação e preconceitos, ela crescerá consciente da sua
realidade e também com uma boa auto-estima facilitando assim, a sua aprendizagem
e seu relacionamento social.
Mas é relevante ressaltar que para ocorrer à inclusão é indispensável uma
vontade dos dois lados, da sociedade e do deficiente, e também que não só a
sociedade, mas principalmente a família e o deficiente tenham consciência das suas
limitações.
Contudo deve-se encarar a deficiência auditiva e qualquer outra, sem o
sentimento de pena e sem a idéia de que este deverá viver para sempre de esmolas e
de favores. Afinal, somos todos iguais e ao mesmo tempo diferentes, pois todos nós
temos as nossas limitações, elas só se diferem.
É o que diz FOREST & PEARPOINT (1997) “Inclusão não quer dizer
absolutamente que somos todos iguais. Inclusão significa aceitar nossa diversidade e
nossas diferenças com respeito. Quanto maior nossa diversidade, mais rica a nossa
capacidade de criar novas formas de ver o mundo”.
Portanto, todos nós, surdos e ouvintes, estamos aptos a levar uma vida
independente e normal. Mas, isso só ocorrerá caso a família se alie à escola, aos
educadores e à sociedade na tentativa de uma perfeita educação para a criança
deficiente auditiva. E, além disso, devemos aproveitar essa heterogeneidade para nos
enriquecermos como pessoas e não como motivos para nos acharmos melhor que o
outro e excluí-lo.
Devemos pensar porque não aprendemos a Língua de sinais, mas queremos
obrigar os deficientes auditivos a serem oralizados. E ainda estamos dispostos a
aprender Inglês, Francês e Espanhol, línguas que estão um pouco distantes do nosso
contexto, em vez de buscarmos o aprendizado da língua do surdo, o qual está muito
mais próximo de nós. Com o qual precisamos nos comunicar o mais depressa
possível para que tenhamos realmente uma EDUCAÇÃO PARA TODOS.
Para Fleuri, um dos maiores problemas do processo de inclusão de surdo na
escola regular é a falta de domínio de uma língua comum entre os ouvintes e os
surdos, pois isto dificulta ou não permite que ocorra a comunicação, a interação e a
própria construção de conhecimentos no processo educativo destes educandos.
Mas na Inclusão, precisamos mais do que uma língua igual, nós carecemos
de uma nova postura dos educadores com vontade de aprender e desejo de buscar
inovações na maneira de ensinar, que saiba respeitar o ritmo de aprendizagem de
cada educando e que analise as necessidades e a individualidade de cada um. Nela
não apenas o educador deve ser capacitado, mas todo o corpo da escola, desde o
porteiro, a faxineira a diretora.
Para que possamos enxergar um futuro diferente e melhor para os deficientes
e não deficientes é necessário que seja aprimorada a formação dos professores com o
objetivo de propostas de um ensino inclusivo e que as escolas se modernizem, se
modifiquem, se transformem para quem sabe assim, vivermos numa sociedade que
não aceitará mais preconceitos, discriminações entre classe social, raça, faixa etária,
religião, ou seja, não admitirá qualquer forma de exclusão.
Como disse Dom Helder para uma realidade começar temos que sonhar
juntos, ou seja, para que a inclusão aconteça temos que caminhar unidos rumo a este
objetivo. Assim, será possível torná-lo real.
CONCLUSÃO
“Diminuir o preconceito é fundamental
para que possamos contribuir na inclusão de
portadores de deficiência na sociedade”.
(HEIDRICH: 2003)
Atualmente, encontramos um grande despreparo e uma enorme falta de
conhecimento dos educadores em relação a um deficiente auditivo resultando no não
desenvolvimento deste educando e no seu fracasso escolar.
Nós, professores, temos que aproveitar a riqueza das diferenças sejam elas
culturais, lingüísticas, raciais, sociais e fisiológicas para fortalecer o sentimento de
solidariedade, cooperação e respeito. Às nossas crianças devemos dar um ambiente
seguro e saudável e cultivar nelas as virtudes.
Carece de extinguirmos todas as desigualdades sociais e as discriminações
para que se tenha a igualdade em qualquer setor da vida. Mas será necessário não
apenas a modificação da escola, do educador, da família, dos colegas e sim, uma
transformação em todos os setores da sociedade.
E ao mesmo tempo devemos ter consciência que é necessário um mínimo de
condições adequadas para a inclusão de um aluno com deficiência auditiva. Apenas
a legislação não efetuará realmente a inclusão, pois existem grandes atitudes
preconceituosas e até mesmo a falta de interesse de muitos políticos e dos indivíduos
da nossa sociedade. Encontramos até educadores que se negam a buscar informações
sobre aluno incluído e de como lidar com ele. Este tipo de postura deve ser mudado.
E somente colocar o deficiente na escola só dará a garantia da convivência com os
outros educandos e muitas vezes nem isso, pois o aluno deficiente acaba se isolando.
Temos que assegurar a criança surda um sistema educacional de qualidade. E
para isso é indispensável que exista um investimento nas escolas e nos professores e
que haja modificações estruturais e pedagógicas. Ou seja, conseguiremos incluir
quando houver uma mobilização de todos.
Então, precisamos compreender que o desconhecimento sobre o aluno com
deficiência incluído, como devemos agir e quais as modificações que devem ser
feitas só acarretará no seu fracasso escolar, mesmo que passe para a série seguinte,
não terá adquirido o conhecimento específico e mais à frente ele começará a sentir o
peso de uma inclusão mal feita e ao mesmo tempo não conseguirá se relacionar com
as outras pessoas.
Portanto, devemos realmente incluir no sentido amplo da palavra, caso
contrário só estaremos segregando e excluindo o deficiente auditivo numa classe
regular.
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VYGOTSKY, L. A formação social da mente. SP, Martins Fontes, 1987.
QUESTIONÁRIO PARA M.A – Deficiente auditivo
(RESPONSÁVEL PELO APOIO PEDAGÓGICO A CRIANÇA INCLUÍDA)
1- Nome: M.A.
2- Formação educacional e onde trabalha?
Formada em Pedagogia pela UERJ em 1999; Pós-Graduada Lato-sensu pela UFRJ
em 2001. Trabalho como Professor I Numa escola do Estado, na área de Educação
Especial e também trabalho como professora da Sala de Recursos de Conversação
em LIBRAS na rede municipal, nas duas escolas municipais no Méier, atuando em
duas classes especiais de crianças e jovens surdos.
3- Idade?
Atualmente estou com 29 anos de idade.
4- Como ficou surda? Congênita ou adquirida?
Eu nasci prematura aos seis meses e meio no Hospital I.A.S.E.R.J em 1974, mas
sobrevivi e fui salva após os tratamentos com antibióticos, transfusões de sangue e
superalimentação, porque o tipo de sangue (Fator Rh) de minha mãe era O –
(negativo) e não combinava com meu sangue A + (positivo). Além disso, quando era
bebê tive infecção intestinal e o médico receitou muitos antibióticos injetáveis que
minha mãe acha que foi isso a principal causa, pois naquela época os médicos não
sabiam que os antibióticos eram ototóxicos. Na minha família não existe nenhum
surdo, sou a única surda da família, sou filha única e meus pais são casados há mais
de 40 anos.
5- Nível de comprometimento?
A minha surdez foi descoberta quando eu tinha mais ou menos um ano e meio, o
laudo de audiometria cortical e exames Bera deram o diagnóstico de “disacusia
neurossensorial bilateral profunda”, isto é, surdez profunda. Daí, me levaram para a
Estimulação Precoce de bebês e crianças surdas, que estava sendo fundada na época,
em 1976 no I.N.E.S. (Instituto Nacional de Educação de Surdos) em Laranjeiras e na
Clínica-Escola Santa Cecília, em Ipanema. Comecei a usar e me adaptar a prótese
auditiva para amplificação tipo “caixinha” já aos dois anos de idade. 6- Já estudou em Escola Regular? Quando? Durante quanto tempo?
Sim, aos 6 anos de idade fui para escola regular pública, em 1980 no Instituto
de Educação do R.J, na Tijuca, onde fui integrada na classe comum de ouvintes, mas
no início tinha acompanhamento pedagógico e fonoaudiológico do INES. Eu era a
única criança surda, entrei depois de muitos obstáculos, minha mãe também era
professora e coordenadora do Instituto de Educação. Fiquei também estudando
pequeno período (3 anos) ao mesmo tempo em duas escolas (regular x especial), para
a melhor adaptação.
Já tive muitas fonoaudiólogas, como no Setor de Terapia da Palavra (Logopedia) do
INES, no IASERJ – Maracanã e no Setor de Foniatria do próprio Instituto de
Educação (agora extintos). Só parei de ter fono quando cheguei ao 2º ano do 2º Grau
(atual Ensino Médio), aos 17 anos, pois já me comunicava bem oralmente, já falo
bem e também tenho ótima compreensão, costumo muito adivinhar através da
expressão fisionômica, leitura orofacial e pelo contexto.
Sempre fazia muitas atividades 24 horas por dia. Já repeti três vezes a 2ª
série, foi difícil, quase tive depressão profunda, porque ficava muito sozinha, mas
minha mãe sempre me estimulava, me motivava, e não poupava esforços e sacrifícios
para me fazer independente socialmente, ela me ensinou que posso passar acima da
minha limitação e aos 13 anos voltei a ter contato com surdos adultos que trabalham,
tem vida própria, e aprendi muito com eles. Identifiquei-me logo, senti mais força de
vontade a vencer, na escola de ouvintes. Também participava de teatro e mímica, já
fiz apresentação de duas peças, aos 13 anos, adorava ver filmes legendados na TV,
no vídeo, ver cinemas, de jogar e brincar. Sonhava ser professora ou trabalhar na
atividade criativa, solta, da área humana. Sei que na época, falavam que eu não
podia ser professora, porque sou surda. Mas quis experimentar, quis estudar
magistério assim mesmo.
Conclusão: a maior parte da minha escolaridade foi na escola de ouvintes –
escola regular pública até a faculdade. Não tive interpretes de língua de sinais ou
alguma adaptação dos professores e sim muito esforço, inteligência, leituras e estudo
para acompanhar as aulas.
7- Já estudou em Escola Especial? Quando? Durante quanto tempo?
Sim, estudei desde a Estimulação Precoce, que estava sendo fundada na
época, em 1976 no I.N.E.S. (Instituto Nacional de Educação de Surdos) em
Laranjeiras e na Clínica-Escola Santa Cecília, em Ipanema. Lá, minha mãe conheceu
a inesquecível Professora Ivete Vasconcelos (já falecida) e sua equipe, lá eu entrei na
primeira turma de Estimulação Precoce do INES aos dois anos de idade, onde fiquei
estudando durante quatro anos, até a alfabetização (1976 a 1980), antes de freqüentar
a escola regular. Saí definitivamente do INES após a alfabetização e a morte da
professora inesquecível Ivete Vasconcellos. Lembro-me quando eu tinha 8 anos de
idade e fiz a minha última homenagem à Ivete no INES, eu li oralmente uma poesia,
e fui aplaudida pelo público (profs, médicos, pais, amigos, fonos, psicólogos,
comunidade surda, etc), depois disso vários médicos, fonoaudiólogos, psicólogos
me cercaram e fizeram testes comigo, com jogos, exames, entrevistas, etc. Fiquei
assustada e com medo, mas minha mãe estava ao meu lado e eu só fazia os testes
quando estou junto com ela. Eu adorava jogos de encaixe, dominó, e foi que eles
aconselharam a minha mãe após ver o meu potencial e a minha inteligência acima da
média que eu continuasse estudando na escola regular, mesmo com todas
dificuldades.
8- Conte como foi sua experiência nessas escolas? (boa, agradável, aprendeu)?
Na escola especial (INES), o meu desenvolvimento foi excelente e eu aprendia muito
rápido, já no jardim de infância, aos seis anos de idade já sabia ler e escrever
algumas palavras, porque minha mãe sempre me mostrava a escrita e me comunicava
muitas vezes pela escrita, visual. Eu conseguia aprender conceitos da vida,
significados pelo visual e por contexto. Por exemplo: as palavras mala, bala, sala,
rala, tala, palas sempre confundem os surdos. Só sabemos a diferença através do
contexto e frase, por exemplo: Ela viajou e levou uma mala / As crianças compraram
balas / A sala é grande / Você rala a cenoura; mas não sou capaz de saber a diferença
entre: Ele comprou uma mala / Ele comprou uma bala / Ele comprou uma tala. Não
é fácil.
Além disso, eu me relacionava com todas crianças surdas e também os
maiores surdos, por isso sabia alguns sinais. Era uma criança independente e
inteligente, quase não falava nada, só minha mãe me entendia a minha linguagem
enrolada. As professoras do INES e a Ivete sugeriram que eu fosse para uma escola
regular pública, que continuaria tendo o apoio pedagógico e fonoaudiólogico, sempre
fiz fono por mais de 15 anos, já fiquei com uma fono durante seis anos, outra por
quatro anos etc...
Já na escola regular, na infância não há preconceitos, e tive experiências boas,
alegres, brincava, os colegas me estimulavam, só tinha muitas dificuldades na
interpretação de textos e na leitura oral, por causa de palavras abstratas que eu não
conhecia os significados. Na adolescência, no ginásio, eu já tinha melhorado o
vocabulário, tive ajuda de minha mãe, estudava com um pequeno grupo de colegas
que me aceitavam, eu era ótima em Matemática, em Ciências, em Geografia, e havia
troca, as minhas colegas me ensinavam o português e eu ensinava a elas a
Matemática e outras matérias que elas estavam em recuperação. Só tinha um
problema, os avisos, muitas vezes já fiz provas de surpresa sem saber o dia porque o
professor não escreve no quadro o aviso e sim fala para os alunos anotarem. Eu não
consigo ouvir e como vou saber o dia. Fala tão rápido. Por isso precisei ficar com
colegas ao lado, para não ficar perdida nas informações e também “me emprestar as
suas orelhas”.
Já no 2º Grau, é diferente, existem muitos preconceitos em adultos e nos
adolescentes. Eu ficava sozinha, sentada na primeira fileira frente ao professor para
ler lábios e entender. Muitos me chamavam de “gaguinha” ou “surdinha”, só não me
chamavam de mudinha, porque eu sei falar.
Esforçava-me muito e estudava mesmo não conseguindo acompanhar algumas aulas
e palestras de professores difíceis, eu ficava lendo muito, pegava livros e apostilas na
biblioteca, copiava o que os colegas anotavam e procurava entender melhor nos
livros e textos indicados pelos professores, às vezes preferia livros e textos com
linguagem mais suave, mais simples para poder entender a disciplina e os conteúdos.
9- Como se sentia nelas? (integrada, isolada, incluída, excluída, etc).
Na verdade, eu fui apenas “integrada” na escola, no trabalho, na sociedade.
Eu passei por um processo de integração de várias formas, fisica, institucional,
comunitária, funcional, compartilhada, etc... Mas eu tive que me adaptar a elas. Me
“normalizei” para poder me integrar. Não tive nenhuma escola adaptada ou
adaptações necessárias para mim. Para mim, inclusão é quando tem adaptações,
diferenças respeitadas, há interação verdadeira. Integrar não significa que haverá
interação. Realmente incluída só na minha família, na minha casa e em alguns
ouvintes, pois é onde eu tenho TV com closed caption (legendas), campainhas pisca-
pisca, relógio vibrador, sinalizadores, telefone fax, bip teletrim, intérpretes de língua
de sinais, recursos visuais, filmes legendados, etc...
Minha maior dificuldade é o acesso às informações e a dependência aos
ouvintes para telefonar. Mas acredito que futuramente melhorarão as coisas e a
sociedade mais inclusiva vai beneficiar a todos. Excluída eu não se senti, porque eu
tive todas as oportunidades para participar de todas as esferas: escola, trabalho, lazer,
amigos ouvintes, amigos surdos, professores, comunidades surdas, comunidades
ouvintes, etc...
10- Quais foram as suas maiores dificuldades nestas escolas?
Já respondi na questão anterior nº 8. E digo que a minha maior dificuldade e
também dos surdos é que não conseguia adquirir ou aprender as línguas de forma
natural num ambiente que me dava muitos estímulos. Precisa de reforço pedagógico,
estudar o dicionário, perguntar sempre os significados. Eu queria tanto aprender o
inglês, e não consigo por um processo de conversação oral, preciso aprender como se
fosse língua instrumental e escrita, assim é mais fácil eu aprender através do visual
do que pela leitura labial ou som (a articulação dos lábios do inglês é diferente do
português). A mesma coisa acontece com o português, só se aprende por treinamento
e estimulação por vários anos para entender a articulação da palavra através da
leitura labial e expressão oral. É mais fácil ler lábios em pessoas que falam “palavras
conhecidas ou comuns” ou palavras que os surdos conhecem o significado. Mas se
for ler lábios de “palavras desconhecidas” não entenderá. Precisa escrever e associar
à fala, para que o surdo guarde na memória o significado, a articulação e leitura
labial da palavra desconhecida e depois a sua expressão oral. Os surdos devem
aprender as 3 línguas: escrita, fala e língua de sinais (significados).
11- Você em algum momento da sua vida sofreu algum tipo de preconceito? Qual?
Como foi?
Sim na infância, achavam que eu era “retardada”, “débil” ou que tinha algum
“problema neurológico ou de aprendizagem”. Mas vários exames provavam nada de
anormal, também nunca tive doenças na infância, fui muito bem vacinada.
Já adulta, em 1994 quando eu fiz o concurso para professores na rede municipal do
Rio de Janeiro e passei, mas tive que enfrentar muitos obstáculos na Perícia Médica,
onde fui obrigada a ir três vezes, pois a avaliação iria passar por toda a equipe
médica e pelo chefe da Perícia Médica do Município, onde diz coisas absurdas e me
pediram o laudo do médico que diagnosticou a minha surdez há mais de 25 anos
atrás. Eu pergunto: que diferença faz entre o laudo médico e audiometria atual de
surdez profunda e o laudo médico de bebê? O que isto impede? Fiquei revoltada e
meus pais ficaram horrorizados. Pior de tudo isso é que o meu médico que descobriu
a surdez até já morreu de tantos anos. Tive então que voltar ao INES, que por sorte,
tinha no Setor de Arquivos e Matrículas, a minha ficha e o laudo daquela época em
que estudei no INES. Pedi então uma declaração do INES, que confirmava a minha
surdez desde bebê para levar a Perícia Médica. Foi assim, após muita luta e muitas
pressões, e com “as leis debaixo do braço”, e comunicar ao autor da lei, que consegui
passar pelo crivo médico e ser considerada apta para lecionar.
Observação: Foi exatamente naquele ano que surgiu pela primeira vez a Lei de vagas
para portadores de deficiência – Lei nº 2.111/94 de autoria do vereador Otavio
Leites, uma lei que os médicos desconheciam, ignoravam e nem respeitavam.
12- Como foi e a sua postura, o tratamento de sua família com você?
Meus pais sempre me estimularam, me apoiaram, me incentivavam, me
ensinaram valores e me deram educação. A minha mãe sempre conversava comigo
sobre todos os assuntos, ela só me protegia quando for preciso, mas empurrava
muito, várias vezes tive que aprender a fazer as coisas sozinhas, estudar sozinha,
resolver as coisas sozinhas, isto é, ser independente. Agradeço muito a minha mãe,
pelo que eu sou hoje.
QUESTIONÁRIO PARA M.A. SOBRE A CRIANÇA INCLUÍDA (C.)
1- Qual o trabalho que você realiza com ela? Eu estou dando o apoio pedagógico duas vezes por semana pela manhã à C.
na sua alfabetização, no vocabulário, na escrita e também na língua de sinais. Mas
ainda falta o social, a C. só está aprendendo um pouco da língua de sinais agora e não
usa, pois convive com crianças ouvintes. Estou ajudando a melhorar a sua
linguagem, mas encontra-se resistente para a produção de novos diálogos e novas
linguagens, através das trocas; pois ainda não encontrou a sua identidade surda.
Como diz uma reflexão da surda Gladis Perlin e linguista Ronice Quadros: “a falta
de identidade da pessoa surda enquanto parte de um grupo social provoca uma série
de problemas emocionais difíceis de serem contornados ao longo da vida da pessoa
surda, além dos problemas acarretados pela falta de afetividade nas relações com os
colegas. (...) o aluno surdo que não tem uma língua que assegura a aquisição da
linguagem, que não tem uma identidade pessoal, cultural e social e que não tem uma
educação acessível em todos os níveis de formação torna-se um deficiente.”
2 - Você acha que ela se desenvolveu bem, em questão de aprendizado, como
matemática, português, etc.. ? A C. aos poucos, foi desenvolvendo os conceitos e a ter regras sociais de
educação, já demonstra interesse pela escrita, já domina a seqüência dos números e a
adição, já escreve o seu nome completo, reconhece o nome da mãe, das professoras,
do cachorro, etc. Mas C. ainda precisa de pista visual para escrever, não consegue
ainda escrever sem pista visual. Assimilou e memorizou poucas palavras. O maior
problema é a sua expressão seja escrita, oral ou gestual é que deve ser mais
produzida de forma independente. Percebe-se que C. realiza as atividades com a
ajuda ou resposta da professora. Ela irrita-se quando é provocada a pensar. Mas
comparando ao ensino na escola especial ou classe especial, C. está tendo acesso às
várias experiências, conteúdos e informações na escola regular em que ela não foi
preparada para isso, vai ter que conviver e aprender nas suas dificuldades. Já em
algumas escolas especiais, eu mesma sei que há o “enfraquecimento dos conteúdos”,
há o costume de “filtrar a linguagem”, tornando-se o ensino de baixa qualidade ou
fraco, além de não oferecer experiências ricas que uma escola regular com
diversidade possa oferecer. Só tem um problema, a C. precisa de adaptações, de
conhecer crianças iguais a ela, ser preparada na metodologia diferenciada, que na
escola onde ela está não possui. Estamos encaminhando.
3- Você notou alguma alteração do comportamento de C. (agitação, tranqüilidade,
nervosismo, agressividade)? Qual?
Sim, quando C. está em grupo de crianças, ela se comporta de forma
diferente, fica quieta, não solta nem um pio. Quando está em atendimento individual
e não quer fazer as atividades, estudar, ela se irrita, fica agitada e agressiva. Quando
não entende ela fica agressiva e não aceita troca ou interferência. É um pouco
egocêntrica, isto é motivado pela sua linguagem.
4- Você tem algo de importante que gostaria de ressaltar?
Na proposta do Bilingüismo, isto é, uma proposta de ensino que defende o
aprendizado da língua oral e língua de sinais no contexto escolar, respeitando a
diferença do surdo, devemos lembrar que os surdos precisam ter o contato com duas
línguas e participar de duas comunidades surda e ouvinte.
Para isso devemos:
- Oferecer o serviço público ou atendimento de fonoaudiologia ao aluno surdo;
- Estimular as crianças e jovens surdos a participarem da comunidade surda;
- Oferecer o apoio pedagógico e acompanhamento ao aluno surdo;
- Ter cursos de LIBRAS para os professores, fonoaudiólogos e familiares ouvintes;
- Utilizar todos os recursos visuais, materiais adaptados e de informática aos
surdos;
QUESTIONÁRIO PARA A MÃE
Data: 13/11/2003
1 - Questionário respondido por .
M.C.P. (Mãe da C.)
2- Função/cargo
Área da saúde / Agente comunitária da Saúde
3- Quanto tempo de profissão?
1 ano e 3 meses
4 - Qual foi à causa da surdez de C.? Quanto à audição dela foi prejudicada?
Ela teve meningite viral com 1 ano e 6 meses de idade; perda auditiva severa.
5 - Qual é o comportamento da C. em casa? (Tranqüila, sapeca, agitada, curiosa,
carinhosa, nervosa, etc.)
Sapeca, curiosa, agitada, carinhosa e amorosa.
6 - Quando soube que a sua filha tinha uma perda significativa da audição como se
sentiu? O que pensou?
Senti-me muito triste, pois minha filha tinha nascido perfeita. Pensei que era
maldade da vida.
7 – Como os amigos, vizinhos e o restante da família reagiu a esta notícia?
Ficaram tristes e surpresos como eu.
8 – Assim que passou o momento de ter consciência do que a C. tinha, qual foi a
sua primeira ação?
Paralisei, fiquei sem ação por um tempo.
9- Buscou alguma informação em livros, jornais, especialistas, revistas, etc?
Após algum tempo procurei informações e o que poderia fazer em matéria de
ensino.
10- A família (pais) ou alguém já explicou ou conversou com a C. que ela possui
uma perda significativa na audição? Caso sim, como a pessoa que conversou com
ela se sentiu e como a C.? Caso não, por que ainda não foi dito a ela?
De certa forma sim.
11- C. tem irmãos? Caso sim, quantos e algum deles possuí algum problema na
audição?
Tem irmãos, mas sem problemas. (por parte do pai)
12- Na família existe alguém com surdez? Qual o grau de parentesco?
Não.
13- A família (os pais) acredita que C. possui alguma dificuldade para aprender?
Explique.
Acredito que nenhuma, bem inteligente, só é um pouco preguiçosa.
14 – A família (os pais) em algum momento sentiram ou passaram por alguma
situação preconceituosa por parte das outras pessoas em relação à C.? Caso sim,
qual e como se sentiram?
Não tenho lembranças.
15 – A família (os pais) deixa de levar a C. para a praia, parque ou qualquer outro
tipo de lazer em virtude de evitar qualquer tipo de preconceito que as pessoas
demonstram ter em relação a uma criança com perda significativa de audição?
Muito pelo contrário, C. freqüenta todos os lugares normalmente.
16- Qual é a rotina diária da sua filha?
De manhã profissionais de apoio, à tarde aula, à noite brinca um pouco em casa
e cama; nos fins de semana, brinca, estuda um pouco, algumas vezes passeio.
“Criança normal”.
17- Partindo do pressuposto que Inclusão é a sociedade movimentar-se para incluir
o aluno com necessidade educacional especial e que Integração é este aluno que
se integra na sociedade, ele usa dos seus próprios meios para chegar e
permanecer na Escola, no Clube, etc. Então, o que ocorreu com a sua filha na
Escola foi Integração ou Inclusão?
Creio que um pouco dos dois.
QUESTIONÁRIO PARA A EDUCADORA
Data: 21/08/2003
1- Questionário respondido por
D.C.M.
2- Função/cargo
Professora regente.
3- Quanto tempo de profissão?
No estado estou a 18 anos e tenho 20 de formada.
4 -A senhora já tinha trabalhado com alguma criança como Necessidade
Educacional Especial? Caso seja sim, o que essa criança tinha e como agiu?
Não.
5- Quanto soube que aluna era surda e que pertenceria a sua turma como se
sentiu? O que pensou a respeito?
Um pouco surpresa. Como alfabetizar uma criança com deficiência auditiva e
com problemas de fala.
6 – A senhora teve ou tem algum tipo de preconceito ou crença em relação à
criança surda, como: não ter a capacidade de aprender, não ser inteligente, entre
outros?
Não. A minha preocupação era com a alfabetizá-la, mas logo no primeiro
encontro com a aluna deficiente auditiva, qualquer pessoa percebe que ela é uma
criança muito inteligente.
7 – A senhora sentiu que os colegas tinham algum tipo de preconceito ou crença
em relação à criança incluída?
As crianças aceitam a colega muito bem e eles estão juntos desde a pré-escola.
8 – A senhora ou outra pessoa explicou a turma o que tinha a aluna e como
deveriam lidar com isso? Pediu à turma que ajudasse a senhora com ela?
Como os alunos já conheciam a colega, não foi preciso explicar como agir
com ela, mas eu pedi aos alunos que me ajudassem na relação com ela.
9 – A senhora tem algum plano de ensino para a criança incluída? Caso seja sim,
qual? Caso não, explique o por quê?
Não. Porque nunca alfabetizei uma criança surda. Pedi ajuda à direção e as
orientadoras da escola e assim consegui duas professoras que têm grande experiência
na alfabetização de crianças surdas e uma estagiária de pedagogia. Elas é que têm os
planos de ensino para a criança.
A primeira professora, M.A., a orientar a aluna, começou as atividades dela
em 2002 e a professora A. a estagiária T. começaram em junho de 2003.
10 – A senhora fez alguma adaptação Curricular? Caso seja sim, qual? Caso não,
explique o porquê?
Não, porque não sei como agir numa situação como essa, resolvi dar a aluna
incluída todas as atividades que dou aos outros alunos e sempre peço que eles me
ajudem a orientá-la.
11 – A senhora fez alguma adaptação na avaliação? Caso seja sim, qual? Caso
não, explique o porquê?
Também não. A média nesta instituição é 6,0 resolvi dar 5,0 para a aluna
incluída na 1ª etapa, para avaliá-la agora na 2ª etapa vou precisar da ajuda da M.A.,
A. e T.
12 – A senhora já possuía algum tipo de conhecimento referente à Educação
Especial numa classe regular, como: a didática, a leitura de um livro, um curso, um
seminário, etc?
Não.
13 – A senhora buscou algum tipo de conhecimento após receber a C. na sua
turma, como: um livro, um artigo, um relato de experiência de alguma educadora,
uma revista, um filme, um curso, um seminário, etc? Caso não, por que?
Muito pouco. Li um livro que a tia da criança incluída, A.C. me emprestou e
alguns artigos de revista sobre crianças surdas, mas confesso que não entendi nada.
O universo da criança surda é muito diferente do nosso, por exemplo, ela não
sabe que mesa tem o nome de mesa. É preciso trabalhar o vocabulário com ela e usar
muito a linguagem visual.
14 - Existe na sala lugar marcado para todas as crianças da turma?
Sim. Mas ao longo da semana ou conforme a necessidade eu troco os alunos de
lugar.
15- Partindo do pressuposto que Inclusão é a sociedade movimentar-se para incluir
o aluno com necessidade educacional especial e que Integração é este aluno que
se integra na sociedade, ele usa dos seus próprios meios para chegar e
permanecer na Escola, no Clube, etc. Então, o que ocorreu com a C. foi Integração
ou Inclusão?
Foi inclusão, mas estamos tentando fazer com que ela possa se integrar o
mais rápido possível.
Já na pré-escola ela poderia ter tido a ajuda de profissionais como a M.A., a
A., porém acho que isso não aconteceu.
16 – A instituição deu algum apoio para você quando foi colocada uma criança com
deficiência auditiva na sua sala?
No início a instituição não deu apoio. Então nas reuniões pedi que houvesse
apoio. Mas a ajuda só apareceu em maio de 2002, na gestão da professora A. J.. A
aluna recebia aulas de apoio e fazia tratamento com fonoaudióloga estagiária (fora da
escola). Em 2003, especialmente após o meio do ano, a aluna está tendo apoio de
uma estagiária da UNIRIO e da professora M.A – que também é surda. Essas aulas
de apoio acontecem pela manhã (horário inverso ao da aula na turma), na segunda,
terça e quarta com a professora M.A e a estagiária T. E atualmente a aluna está com
uma fonoaudióloga profissional (fora da escola), na escola tem uma fonoaudióloga,
que só encaminha para tratamento externo. Eu acredito que se aluna tivesse um
acompanhamento desde a Ed. Infantil, hoje estaria com uma linguagem mais
desenvolvida. E agora tem mais uma estagiária do Normal Superior a T.T. que a
acompanha a aluna duas vezes por semana no horário da turma.
17 – A faculdade que você faz de pedagogia numa Universidade do Estado lhe dá
alguma base referente à inclusão?
Não, pois até agora não há matéria de grade sobre inclusão e nem o assunto é
citado. Somente uma vez que uma professora estava fazendo uma pesquisa o
mestrado nos passou um questionário no qual respondemos e nem ficamos sabendo
que fim levou.
18 – Você tem ajuda da família para lidar com a aluna C.?
Por parte da mãe, não tem muita ajuda, pois ela poucas vezes em a reunião ou
falar comigo. A pessoa que tenho mais contato é com a tia dela que é professora da
casa e é quem dá a maior assistência, até porque no início a mãe da C. não aceitava
bem que sua filha fosse surda. Essa tia que procura atendimento de fonoaudióloga,
profissionais que possam dar apoio e ela uma vez emprestou-me um livro sobre
inclusão, mas não entendi direito, pois tinha uma linguagem muito técnica.
19 – Do início do ano até o momento presente você observou algum
desenvolvimento na aprendizagem da aluna C. ? Qual? Exemplifique.
Bom desde que entrou na escola em 2002 quando ainda estava no C.A. até hoje
na 1ª série, percebi sim algum desenvolvimento. No primeiro ano ela sabia apenas o
alfabeto (na ordem), atualmente consegue juntar letras e vogais formando algumas
sílabas, escreve seu nome corretamente. O que pude perceber de interessante é que
quando copia do quadro a grafia é perfeita, mas ao escrever um pequeno texto erra
muitas palavras e as escreve juntas, porém isso acontece em crianças normais
também. Mas tenho consciência que o tempo da C. é diferente das outras crianças.
20 - O que acha que seria necessário para que você pudesse atender melhor o
deficiente auditivo?
Ter uma estagiária em sala junto comigo para que eu possa ver como é feito o
trabalho e poder ajudar. No caso a escola já citou essa possibilidade e a estagiária
ficaria sobre a supervisão da professora A. A escola também ofereceu curso de
LIBRAS com a professora M.A. para todos os professores (pela manhã), mas o
horário ficou inviável para mim.
QUESTIONÁRIO PARA UM REPRESENTANTE DA ESCOLA
Data: 13/08/2003
1- Questionário respondido por
H.H.M.S.
2- Função/cargo
Supervisor Pedagógico
3- Quanto tempo de profissão?
Quase 40 anos de profissão
4- Ocorreu alguma organização do espaço e dos aspectos físicos da sala de
aula na escola para receber a aluna deficiente auditiva e outras crianças com
necessidades educacionais especiais? Caso seja sim, qual? Caso não, explique.
Não. Ela e outras crianças foram incluídas em turmas ditas “normais” sem alteração
de espaço físico. Observasse que o acesso às salas de aula é feito por rampa.
5- Ocorreu uma seleção, a adaptação e a utilização de equipamentos e
mobiliário de forma a favorecer a aprendizagem de todos esses alunos? Caso seja
sim, qual? Caso não, explique.
Não. No caso da aluna deficiente auditiva nem a professora esta preparada (em
termos pedagógicos) nem o quantitativo da turma (na sala possuem 18 alunos)
possibilitava um trabalho diversificado com a aluna. Quando a professora em COE,
disse que a aluna estava passando por ela e ela não sabia o quê e como fazer algum
trabalho com a criança. A escola se mobilizou para que houvesse de fato uma
inclusão.
6- A instituição ofereceu aos Educadores algum curso ou atualização para que
esses soubessem lidar com os alunos “incluídos”? Caso seja sim, qual? Caso não,
explique.
Foi oferecido aos professores – e a própria criança e a sua mãe – um curso de Libras
(língua de sinais), uma vez por semana, com um professor da casa (do ensino
superior).
7- A Escola tinha algum tipo de preconceito ou crença em relação à criança
surda, como: não ter a capacidade de aprender, não ser inteligente, entre outros?
Não. A escola não tem este tipo de preconceito. O que a escola tinha – e ainda tem –
é desinformação de como atender a crianças com necessidades especiais. Por esta
razão, através de uma professora desta instituição fez-se contato com a UNIRIO,
com a professora A. E esta se interessou e, dentro de um projeto de extensão que
tem, disponibilizou uma bolsista (T.) para alfabetizar a criança incluída. Assim, ela
tem atendimento diário (exceto 5ª feira) com T. que a alfabetiza (em horário inverso
de sua turma), além de acompanhar, em turma (à tarde) as atividades da aluna em
sala. A criança tem também atendimento individual com a professora M.A. para
oralização; faz aula de Libras junto com os professores e sua mãe; é atendida por um
fonoaudiólogo (por encaminhamento feito pela escola) nas 5ª feiras pela manhã.
8- E quanto aos educadores foi percebido algum preconceito ou crença em
relação a esta criança? Qual?
Não. Não havia – nem há – este preconceito. Havia – e há – insegurança por
desconhecimento do como fazer para chegar lá.
9- E quanto aos colegas foi percebido algum tipo de preconceito ou
crença?Caso sim, Qual e como a Escola interviu?
A criança incluída é feliz, integrada em sua turma e na escola.
10- Qual é a rotina diária da criança com deficiência auditiva incluída nesta
Escola?
Manhã – Alfabetização, Liras, Oralização e Fonoaudiólogo.
Tarde – Turma (aula), Alfabetização e acompanhamento na turma.
A criança vem a escola todos os dias, em horário integral, exceto às 5ª feiras quando
chega às 10h porque foi antes ao fonoaudiólogo.
11- Partindo do pressuposto que Inclusão é a sociedade movimentar-se para
incluir o aluno com necessidade educacional especial e que Integração é este aluno
que se integra na sociedade, ele usa dos seus próprios meios para chegar e
permanecer na Escola, no Clube, etc. Então, a Escola Integrou este aluno ou
Incluiu?
Incluímos. Porque integrada ela sempre esteve. Acreditamos nisso porque a fala da
professora deu a exata dimensão do que todos sentiam e não tinha exteriorizado.
Mobilizou-se os recursos necessários (No caso da UNIRIO, visto que a professora
M.A. já vinha atendendo a aluna desde o ano passado quando ela chegou neste
segmento) e, felizmente já se nota progresso. É pouco, talvez. Não é tudo que a
escola enquanto instituição pode e deve fazer, talvez. Mas é o que efetivamente se
pôde fazer quando não se tem um professor preparado para lidar com crianças com
necessidades especiais.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
A INCLUSÃO E O DEFICIENTE AUDITIVO
1.1 - A Inclusão
1.2 - O Deficiente Auditivo
CAPÍTULO II
O DESENVOLVIMENTO DA VISÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO
AO DEFICIENTE AUDITIVO
2.1 – Antigamente e atualmente
CAPÍTULO III
O DESCONHECIMENTO NA INCLUSÃO
3.1 – As Primeiras barreiras da Inclusão
3.1.1 – Escola
3.1.2 - Educador
3.1.3 - Educandos
3.1.4 - Família
3.1.5 - A criança incluída
3.2 – Relato de uma observação
CAPÍTULO IV
CONSIDERAÇÕES FINAIS
4.1 – O Sucesso para a inclusão total e incondicional depende de
todos nós
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
APÊNDICE
ANEXO
ÍNDICE
4
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