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O programa do CDS foi feito ao longo de seis meses, desde a publicação das
Propostas de Orientação Política Económica e Social.
Vinte grupos de trabalho, em que participaram mais de cem colaboradores,
aprofundaram o diagnóstico do país e arregaçaram as mangas para trabalhar
nas soluções. Por todo o país, reuniões abertas dedicadas às principais
políticas públicas envolveram meio milhar de quadros, militantes ou
independentes, para testar as nossas ideias com a sabedoria dos que têm a
experiência do terreno. Através da Internet e directamente, recebemos
inúmeras contribuições de cidadania: sugestões, críticas e ideias de
portugueses que querem mudança. O nosso programa está, por isso, maduro.
O programa do CDS não é curto nem longo: procura ser completo. Não é
simplista nem tecnocrático: procura ser focado. Não é criticável por ser mais
do mesmo – como o do PS – nem tão pouco por ser insuficiente – como o do
PSD. Procura ser claro e directo. Não nos limitamos a enunciar princípios,
indicamos um novo modo de governar, sector a sector.
Quem consultar o nosso programa encontrará uma atitude positiva. Os
portugueses sabem, no essencial, o que fez José Sócrates com a sua maioria
absoluta e o estado em que deixa o país. Para muitos portugueses, o mais
importante agora é saber o que fazer e por onde começar, depois de José
Sócrates e de quatro anos e meio de arrogância.
Os portugueses não querem mais decepções nem ilusões. É por isso que o CDS,
neste programa, apresenta mais soluções do que críticas e faz mais
compromissos do que promessas. As nossas energias estão voltadas para o
futuro. José Sócrates, de tanto falar no passado, tornou-se parte dele.
Se há algo que uma eleição crucial para o futuro do país não deve ser é um
jogo de simulação e dissimulação. Nesta campanha eleitoral, o PS simula
muito, prometendo fazer agora o que se esqueceu de fazer em 4 anos e meio.
Um dia são os jovens que vão receber apoio no desemprego, noutro é a classe
média que vai ter reduções fiscais, no dia a seguir é o agricultor que terá o
PRODER simplificado, ou até a polícia que vai poder contar com reforços.
Tudo isto só tem um problema: já podia ter sido feito mas o que foi feito é o
contrário disto. O juízo dos eleitores será exactamente o oposto do que o PS
pretende: não darão uma segunda oportunidade a quem falhou tão
nitidamente.
No programa do CDS, as ideias têm consequências. Apresentamos as ideias e
medimos as consequências. É possível que o PSD, agora, em campanha
eleitoral, fale das PME’s, da segurança ou da educação. Todas as evoluções
são de saudar e não deixa de haver uma certa ironia na evolução de campanha
daqueles que não lutaram muito pelas PME’s nestes quatro anos e meio, até
votaram ao lado do PS as leis penais e ainda se distraíram na votação decisiva
que permitiria ter acabado com um modelo absurdo de avaliação dos
professores.
Há, portanto, uma diferença entre programas que falam de temas que “estão
a dar” e programas que representam uma coerência política. É por isso que o
programa do CDS não se esgota no dia 27 de Setembro. Apenas começa em 27
de Setembro. Mais: o CDS manterá o seu programa aberto depois de 27 de
Setembro.
É nossa intenção lembrá-lo diariamente, pelas palavras, pelas palavras e pelos
actos. Mas também actualizá-lo, à medida que o conseguirmos cumprir e da
evolução do país.
O conceito-chave de todo o programa do CDS é o conceito de caderno de
encargos. Trata-se de um conjunto de valores, causas, políticas e medidas que
levaremos a cabo. Política por política, escolhemos os valores em que
acreditamos, as causas que fazem sentido, as políticas que mudamos e as
medidas com que nos comprometemos. O nosso “caderno de encargos” é a
nossa linha de rumo.
Seremos fiéis a essa linha e a mais nenhum interesse que não seja o de
Portugal.
*
Nem tudo é igualmente prioritário num programa de Governo. Nesta
apresentação, escolhemos o que de mais importante o CDS quer fazer nos
próximos 4 anos. Mas antes, dois pontos prévios.
O país deixado pelos socialistas tem mais impostos e menos crescimento, mais
desemprego e menos empresas, mais endividamento e menos produtividade,
mais dependência do exterior e menos exportações, mais rendimento mínimo
e menos pensões, mais pobreza e menos mobilidade social, mais criminalidade
e menos justiça, mais violência e menos autoridade, mais desmotivação nos
professores e menos exigência nos alunos, portugueses a mais sem médico de
família e urgências a menos para os doentes. É este, no essencial, o balanço
económico e social dos socialistas.
No país que os socialistas governaram, o Estado falhou em responsabilidades
que são fundamentais. Não há Estado de Direito quando a sociedade não
acredita na justiça. Não há liberdade individual quando não há segurança
colectiva. Não há economia de mercado quando não há concorrência efectiva.
Não há confiança no sistema financeiro quando o regulador do sistema
financeiro não inspira confiança. Não há moral para exigir deveres aos
cidadãos quando o Estado deixa sempre as suas responsabilidades por assumir.
Não há democracia verdadeira, dizemo-lo com frontalidade, quando um
Primeiro-ministro se distingue por nunca responder ao que lhe perguntam.
Mas é este o Portugal que José Sócrates deixa. Um Portugal em que falham os
pilares do Estado, falham as instituições do Estado, falham os deveres do
Estado e falham os princípios do Estado. Falham os decisores, falham os
reguladores, falham os supervisores, falham as leis e falham as instituições.
Não há confiança possível num Estado assim. E nenhuma sociedade se torna
próspera se condescender com um Estado assim. Na visão que temos dos
problemas, o que falha, em Portugal, é o Estado, não é a sociedade. O mesmo
é dizer, Portugal é capaz como foi capaz ao longo da sua história. Se tem
dirigentes incapazes, o que deve fazer, democraticamente, é substitui-los.
É agora tempo de responder às perguntas dos portugueses. Numa síntese,
temos de ir ao essencial. A cada interrogação, damos uma resposta. Por cada
resposta, indicamos algumas medidas emblemáticas do que pensamos e
queremos, que nos diferenciam e distinguem.
*
A primeira pergunta que qualquer português faz hoje, é, inevitavelmente,
esta:
Aumentar impostos é agravar a crise; não os baixar na hora certa será atrasar
a retoma. E dizemos mais: pensar primeiro no défice e só depois na economia
como vamos pôr a economia a funcionar?
A resposta do CDS é directa: é possível crescer, para crescer é preciso
confiança, para ter confiança é preciso apostar nas empresas, apostar nas
empresas é apostar nas PMEs, apostar nas PMEs é apostar no emprego, salvar
empregos é salvar empresas.
Quem cria receita não é o Estado, são os indivíduos. Donde, a maior parcela
de recursos tem de ficar com os indivíduos, não pode ser capturada pelo
Estado.
Se este é o princípio, devemos retirar daí todas as consequências. Pôr a
economia portuguesa a crescer significa virar toda a política económica para
as PMEs e utilizar, em momentos sucessivos, a política fiscal para estimular a
confiança e fomentar o crescimento.
é não resolver o problema do défice e, de caminho, castigar ainda mais a
economia. Pelo contrário, pensar primeiro na economia é pôr a economia, o
crescimento e a receita a ajudar a resolver o problema do défice.
De todas as medidas económicas sublinhamos aqui quatro que, pelo seu
carácter quase “revolucionário” sobre as más práticas, reiteradas, do Estado,
fazem toda a diferença.
• As dívidas do Estado têm de ser pagas a tempo e horas. Quando
dizemos Estado, queremos dizer administração central,
regional e local e, também, empresas do Estado. Quando
dizemos a tempo e horas, queremos dizer que a partir de 30
dias sobre a factura, o Estado pagará obrigatoriamente juros. É
a única maneira de emendar o “Estado mau pagador”. O
Estado pagará juros quando se atrasa, tal como o contribuinte
juros paga se se atrasa.
• O reembolso do IVA será feito a 30 dias. Não nos digam que é
impossível, porque em Espanha é possível. Definitivamente, a
Administração fiscal não pode ser apenas eficiente para fazer
penhoras automáticas. Também tem de ser eficiente no serviço
à economia e no cumprimento dos seus deveres com as
empresas.
• Permitiremos a anulação de dívidas entre o Estado que deve às
empresas e essas mesmas empresas que entrem em
incumprimento com o Estado. É a compensação de créditos
que deve incluir fisco e segurança social.
• Será suspenso o Pagamento Especial por Conta e terá de se
proceder a uma redução importante do Pagamento por Conta
das PMEs.
Note-se que, no essencial, pagar dividas a horas, devolver IVA a horas e
respeitar as empresas, nesta conjuntura difícil, desobrigando-as de antecipar
lucros que, provavelmente, não terão, são medidas que implicam, sobretudo,
melhor gestão da tesouraria do Estado.
São, no entanto, medidas que – juntamente com outras – podem significar
toda a diferença na tesouraria das empresas. Receber a tempo, ser
reembolsado a tempo e não ter de antecipar uma factura fiscal desajustada
são medidas de muito impacto nas PMEs. Podem significar que PMEs não
fechem, que PMEs aguentem, que PMEs contratem. Não são medidas que se
medem, nas PMEs, em “milhões de euros ganhos”, como diria a esquerda. São
medidas que se medem, nas PMEs, por milhares de empregos salvos,
“detalhe” que a esquerda não gosta de reconhecer.
Do ponto de vista das famílias, o CDS destaca duas medidas de alcance
extremamente importante.
• Introdução, em Portugal, do desconto fiscal para famílias com
filhos. Isto significa que o sistema actual – os membros do casal
somam rendimentos e dividem por dois, para apurar a taxa de
imposto a pagar, mesmo que tenham um, dois, três, ou mais
filhos, o que obviamente sobrecarrega o orçamento familiar –
será progressivamente substituído por outro, em que o número
de filhos também conta, com um factor próprio, para a divisão
do rendimento e, portanto, a redução do imposto a pagar.
O nosso objectivo é atingir, no, no final da legislatura, um
factor de 0,5 por filho. Isso significará uma considerável
melhoria para as famílias que possam e queiram ter filhos. Se
conseguirmos aprovar este quociente familiar, será a mais
importante medida pró-família em Portugal.
• Até como medida anti-crise, é preciso rever as tabelas de
retenção na fonte do IRS. Quando dizemos rever, dizemos
rever as taxas, e não apenas os escalões – como fez o
Governo, depois de muita insistência nossa. Esta medida não
tem despesa adicional; o que implica é moderação na
antecipação da receita. Mas significa que as famílias,
sobretudo de classe média, e média-baixa, passarão a ter,
mensalmente, mais rendimento disponível, o que incentiva a
confiança e melhora o poder de compra.
Duas das medidas fiscais propostas pelo CDS têm um valor orçamental mais
significativo.
Trata-se, no caso das PMEs, de evitar o Pagamento Especial por Conta e, no
caso das famílias, da introdução do desconto fiscal por filho. Num caso, a
receita estimada do PEPC para 2009 é de 340M€. No outro, a estimativa do
desconto familiar por filho, já no factor 0,5 que pensamos atingir no final da
legislatura, é de 500M€. Assumimos esta despesa, porque sabemos o valor
desta prioridade.
Como não queremos agravar o desequilíbrio financeiro de Portugal, indicamos
com clareza onde cortamos. Apenas três exemplos. Se o Estado português não
gastar, todos os anos, 677M€ a financiar as SCUT, e se o Governo fizer um
esforço para reduzir o custo das consultadorias externas, neste momento
perto dos 200 M€, só isto daria margem de manobra, com sobra, para virar a
política fiscal para as PMEs e para as famílias.
Poderíamos ainda acrescentar que há medidas anti-desperdício – por exemplo,
a dispensa de medicamentos em unidose, que permite prestar o mesmo
serviço ao doente com uma economia superior a 100 M€ por ano para o
contribuinte - que são indicativas do caminho a seguir. Não se trata de gastar
mais, excepto nos casos em que se justifique. Trata-se de gastar melhor em
todos os casos em que é possível.
Como se imagina, o desconto familiar por filho no IRS tem efeito não apenas
no défice demográfico como também no superávite da economia – pela
simples razão que faz aumentar o rendimento da maioria das famílias.
Aceitamos debater o factor, os limites, os anos de faseamento da medida. Mas
não abdicaremos da medida como princípio.
*
A segunda pergunta que os portugueses obviamente fazem é esta: as actuais
políticas são eficazes para contrariar o desemprego?
A resposta do CDS é um clamor na sociedade portuguesa: não são. Meio milhão
de desempregados não são números. São pessoas, famílias, casas, orçamentos.
Ora, boa parte dessas pessoas, dessas famílias, dessas casas, desses
orçamentos, são hoje jovens que perderam o contrato e não têm apoio, casais
onde a morada é o desemprego e não têm ajuda, trabalhadores mais velhos
que, numa sociedade que sacrifica a experiência, se vêem, de um dia para o
outro sem trabalho, sem subsídio e sem reforma.
Uma maioria absoluta que é absolutamente insensível a esta crise, é uma
maioria absoluta de má memória, imerecida e mal usada.
Aqui, é necessário separar o transitório do estrutural. Proteger quem não tem
trabalho e não tem apoio é uma obrigação para amanhã. A prazo, o que é
determinante é criar condições para que surjam novas empresas, novas
qualificações e novas ofertas de trabalho.
Neste momento, a primeira obrigação de um Partido com sensibilidade social –
e a democracia-cristã é isso mesmo: sensibilidade social –, está nas medidas
transitórias que podem proteger melhor os desempregados. Há várias.
Apontamos algumas:
• É urgente um “subsídio inicial de desemprego” para os jovens
que procuram activamente trabalho.
É urgente que os casais no desemprego tenham majoração no
apoio que recebem.
É urgente que os desempregados com mais de 55 anos, findas
as prestações de desemprego, possam antecipar a passagem à
reforma.
• O Estado deve propor às empresas um acordo simples: por
cada desempregado que contratem sem termo, receberão,
como estímulo, o remanescente do subsídio de desemprego e
subsídio social de desemprego que seria pago ao
desempregado, caso não recebesse a oferta de trabalho.
É mais virtuoso estimular um emprego que é uma oportunidade do que
financiar a continuidade no desemprego.
As prestações sociais devem ser, para não se transformarem numa injustiça
para o contribuinte, impermeáveis à fraude e ao uso indevido. Por isso
mesmo, nestas medidas, teremos o cuidado de evitar abusos, seja o “falso
desempregado”, seja o “falso contrato”.
*
A terceira pergunta que os portugueses, sobretudo os activos, nos podem
fazer é esta: como é que podemos melhorar os níveis salariais em Portugal?
A resposta do CDS é precisa: melhorando a nossa produtividade e valorizando
socialmente o trabalho. Dito assim, parece uma resposta tecnocrática.
Queremos torná-la uma solução compreensível e partilhada.
Entendamo-nos sobre as palavras. O único processo conhecido de um país
deixar a pobreza e caminhar para a prosperidade é a aposta no trabalho.
Apostar no trabalho é apostar em quem cria trabalho e em quem quer
trabalhar.
É por isso que, com toda a clareza, criticamos o espírito de “luta de classes”
com que uma certa esquerda pretende resolver os problemas.
A “luta de classes” não gera um único posto de trabalho. Do que Portugal
precisa é de um compromisso entre empregadores sérios e trabalhadores
responsáveis. Nesta circunstância em que o país está, é preciso aliar
interesses e progredir em conjunto. Dispensamos mais fracturas sociais.
Dois indicadores aconselham vivamente esta aliança que propomos. Portugal
tem uma riqueza por habitante que ronda os ¾ da média europeia. Somos
mais pobres do que os outros europeus. E Portugal também tem um nível de
produtividade que não chega a ¾ da média europeia. Somos menos produtivos
do que outros europeus.
Ora, é possível, é necessário e é desejável interessar as empresas na melhoria
salarial dos seus trabalhadores, tal como é possível, é necessário e é
desejável interessar os trabalhadores na melhoria da produtividade das suas
empresas.
É por isso que afirmamos compromissos que são inovadores e representam
passos decisivos para termos mais produtividade, melhores salários e, ponto
não negligenciável, dar aos portugueses que querem subir na vida pelo seu
esforço, o direito de poderem fazê-lo. A isso chama-se mobilidade social.
• Quando a economia estiver a crescer, é preciso consagrar o
princípio “quem trabalha mais, deve receber mais”. Em
termos práticos, o trabalho extraordinário deve ser isento de
imposto ou sujeito a uma tributação reduzidíssima. Ou seja, o
esforço suplementar do trabalhador deve ficar para ele. Dito
de maneira simples, o salário a quem o merece.
• Também defendemos que, nas empresas de maior dimensão,
uma parcela dos benefícios líquidos obtidos anualmente com
ganhos de produtividade devidos ao trabalho, seja justamente
distribuída pelos empregados, mediante a constituição de um
fundo especial para o efeito. Acontece em França e foi o
General De Gaulle – não a esquerda – que teve esta
inspiração.
A nossa lógica é conciliar eficiência e justiça. Com estas
medidas, ganha a empresa, ganha o trabalhador e ganha o
país. A condição que colocamos é que só podem ser lançadas
com a economia em crescimento. Em período recessivo, estas
medidas poderiam virar-se contra a contratação de novos
trabalhadores. Em cenário de crescimento, já não é assim.
• Na reforma fiscal que preconizamos – e esse será o objectivo
definido para a respectiva Comissão -, defendemos um IRS
muito mais simples nos escalões, taxas e abatimentos. No
máximo, poderá ter 4 escalões e 4 taxas. A enorme vantagem
de um IRS simplificado é que passa a valer a pena fazer um
esforço suplementar e trabalhar para ganhar algo mais, passa
realmente a valer a pena. Na verdade, num IRS com 7
escalões – o que temos agora -, qualquer esforço suplementar
ou ganho a mais significam, frequentemente, subir de
escalão, subir de taxa, pagar mais e entregar ao Estado a
remuneração no nosso esforço. Num sistema assim, como se
pode subir legitimamente na vida?
Para os cépticos do costume, antecipamos uma informação.
Países do espaço europeu, como a República Checa ou a
Eslováquia, têm 1 escalão de IRS. A Irlanda e a Hungria têm
2. A Eslovénia, Polónia e Reino Unido, 3. Áustria, Espanha ou
até a Grécia, 4. O que o CDS propõe é uma reforma
moderada, que alinha pelas práticas mais competitivas da
UE.
*
Uma quarta pergunta perfeitamente actual é esta: o que se pode fazer para
reduzir a dimensão da pobreza em Portugal?
A resposta do CDS é objectiva: melhorar serviços aos idosos e melhorar as
pensões dos idosos. Se excluirmos as questões da “nova pobreza”, já
abordadas no capítulo do desemprego, o núcleo duro da pobreza em Portugal
está na velhice. Dai a opção preferencial que fazemos por tratar melhor e
primeiro dos mais velhos.
Tratar melhor e tratar primeiro é o que fazem, todos os dias, as Instituições
Particulares de Solidariedade Social. Nelas trabalham quase 200 mil pessoas,
com uma proximidade que o Estado nunca alcançará. As instituições dão
tecto, refeição, apoio, tratamento e solidariedade a uma geração que
contribuiu muito para o progresso e recebeu quase nada da sociedade. Há
uma visão de esquerda sobre o trabalho social que é totalizante, absorvente e
arrogante. E há uma outra visão sobre o trabalho social, a da direita que nós
somos, que é contratualizante e acredita na subsidiariedade. Faz-se mais
justiça social da segunda maneira.
Assim como ajudar a economia é apostar nas PME’s, ajudar a solidariedade é
apostar nas IPSS.
Num sector fundamental – a saúde – é possível fazer uma demonstração
bastante prática e esclarecedora sobre o que se consegue contratualizando, e
sobre o que não se consegue, estatizando.
As Misericórdias são uma das melhores tradições portuguesas. Dispõem de 18
hospitais. 13 deles estão capacitados, em equipamento e recursos humanos,
para fazer cirurgias de nível médio. Agora vejamos o que sucede em
especialidades que têm listas de espera elevadíssimas.
No programa do Estado, estão 27 mil doentes à espera de uma operação Às
cataratas. Os Hospitais das Misericórdias poderiam fazer mais 25 mil
operações às cataratas por ano. Poderiam, se o Estado quisesse. Poderiam, se
o Estado contratualizasse. E não custariam ao erário público mais do que o
valor referenciado pelo Governo. Perguntamos: porque há-de esperar uma
idosa 5 meses, às vezes 1 ano, senão mais, para tratar as suas cataratas, se
uma política de contratualização com as IPSS resolveria o assunto?
Na ortopedia, a lista de espera para cirurgia é de 33 mil doentes. O tempo de
espera é até mais extenso. Nas Misericórdias poderiam fazer-se mais 10 mil
cirurgias ortopédicas por ano. Não resolve todo o problema mas fazia imenso
bem a muitos doentes.
Idem, no otorrino. E os exemplos poderiam multiplicar-se.
De que é que o Ministério da Saúde está à espera?
É por isso que relevamos, entre todas as propostas, uma.
• Contratualizar, mediante adequada fiscalização, com o sector
social e o sector particular, a redução das listas de espera nas
cirurgias. Alargar, com as devidas adaptações, a experiência
às listas de espera para consultas. É o princípio da máxima
utilização das capacidades instaladas. Mais consultas e mais
cirurgias, para mais doentes, mais depressa. Nós não
sacrificamos um único doente à ideologia.
Na questão da pobreza, queremos ainda deixar claro que é possível recuperar
poder de compra dos pensionistas com reformas mais baixas sem agravar a
situação financeira do país.
Trata-se de fazer escolhas e saber assumi-las:
• O CDS transferirá 25% da verba atribuída ao chamado
Rendimento Mínimo, deslocando-a para um aumento efectivo
das pensões mínimas, rurais e sociais.
Ajudar quem toda a vida trabalhou parece-nos certamente
mais justo do que subsidiar aqueles – porque os há, e não são
poucos – que abusam desta prestação como se fosse um modo
de vida que permite não trabalhar e não pagar impostos, e
viver à custa de quem os paga e trabalha muito.
No caderno de encargos definimos com rigor os termos em
que o RSI pode tornar-se mais objectivo e menos polémico.
Salientamos a proposta de atribuir uma parte da prestação
em géneros.
*
Uma quinta e última pergunta que os portugueses fazem:
Se há cada vez mais pessoas que como nós, a segurança, a autoridade da
polícia, a justiça efectiva dos tribunais, a dissuasão da violência e a luta por
um ambiente mais tranquilo, seguro e, por isso, livre – é uma das razões. Há
cada vez mais portugueses, a pensar como o CDS, na segurança. A explicação
é possível Portugal
ser um país bastante mais seguro sem passarmos a ser uma sociedade policial?
A resposta do CDS, com toda a naturalidade, é sim. Abertamente, sim.
Convictamente, sim.
é simples: quanto mais os nossos adversários atacavam a política de segurança
do CDS, mais os factos da insegurança davam linearmente razão ao CDS.
Porque o patamar de criminalidade subiu, porque há em Portugal territórios
que escapam ao império da lei, porque não é aceitável que gente pacata e
honrada seja sistematicamente assaltada e agredida por gangs que são detidos
e libertados, para serem outra vez detidos e libertados, e logo depois,
tornarem a assaltar e a agredir, porque não queremos ver os polícias
desmotivados e os delinquentes satisfeitos, dizemos, com toda a força que a
nossa voz puder ter, já chega!
Já chega de uma cultura que, sistematicamente, desculpa o criminoso, culpa
a sociedade e ignora a vítima.
O plano de segurança do CDS é conhecido. O nosso caderno de encargos na
área da segurança, como noutras, é detalhado. O que nos importa aqui
relevar, neste momento, é mesmo o essencial.
• O CDS defende aquilo a que já chamaram um super-MAI, ou
seja, um Ministério da Administração Interna com poderes
reforçados. Na verdade, o responsável pelas Forças de
Segurança tem de poder superintender a revisão do Código
Penal, do Código de Processo Penal, do Código de Execução
de Penas e a política de prisões. Com este reforço, evitamos
que se prolongue o paradoxo actual: a polícia arrisca a vida
para garantir a segurança das pessoas e os tribunais,
aplicando as leis que temos, desfazem o trabalho da polícia.
Com este reforço, evitaremos a continua perplexidade dos
portugueses com o facto de termos cada vez mais crimes e
cada vez menos presos.
• A medida mais forte contra a impunidade é tornar regra o
julgamento rápido, em 48 horas, dos detidos em flagrante
delito. Enquanto a Lei não cair depressa e bem em cima dos
que são apanhados a cometer crimes, não haverá confiança
no sistema judicial.
• Faremos, imediatamente, uma revisão cirúrgica, mas
determinada, das leis penais. Apertaremos o cerco a quem
comete crimes e endureceremos a resposta do Estado – por
exemplo, na reincidência ou na liberdade condicional – a
quem comete crimes graves.
À esquerda, gostaríamos de dizer só isto: onde mais criminalidade há, é onde
vivem as famílias e os trabalhadores com mais baixos salários. Condescender
com o crime é condescender com uma nova forma de injustiça social.
Ao “centrão”, ao PS e ao PSD que vivem noutro mundo em matéria de leis
penais, só dizemos isto: não é com leis brandas que se evitam crimes graves.
*
Não terminaremos este sumário sem dizer algo mais. É um convite à leitura de
um programa que tem ideias interessantes e inovadoras.
Os Portugueses têm direito a mais liberdade de escolha. E isto é sobretudo
verdade na área da educação e da segurança social.
Quando o Primeiro-ministro afirma que é estranho o CDS estar ao lado dos
professores, engana-se. O CDS é o partido da autoridade dos professores,
valor que a esquerda percebe mal. O CDS é o partido, talvez o único, que
explicou porque é que aquele modelo de avaliação era errado, e propôs um
modelo alternativo, consensual e já testado no ensino particular e
cooperativo. O CDS é ainda o partido que, com clareza, explica o que nos
opõe ao estatuto da carreira docente, e o que mudaremos nesse aspecto. O
CDS será também o único Partido a defender o aumento da liberdade de
escolha, entre escolas públicas, mas também entre as escolas públicas e as
escolas particulares.
É uma reforma que levaremos em frente sem pressas e com cuidados,
recorrendo ao método da experiência-piloto para progredir e ver resultados.
O que queremos garantir é que todas as escolas tenham autonomia, que a
autonomia signifique um projecto, e que mais pais – não apenas os que têm
mais posses – possam escolher a escola dos seus filhos.
Na questão das pensões e da sustentabilidade da Segurança Social, a proposta
do CDS também significa que não pensamos como o PS e pensamos diferente
do que propõe o PSD. Para os socialistas, o desconto só pode ir para a
segurança social do Estado. Já o PSD parece pretender que, sobre uma parte
do salário, haja um desconto obrigatório para os sistemas privados. Parece-
nos que a visão do PS leva a que o Estado seja o único responsável, no futuro,
tanto pelas pensões baixas, como pelas pensões altas. É absurdo. E parece-nos
que a proposta do PSD pode gerar impactos excessivos na sustentabilidade do
sistema. Mais uma vez, acreditamos que no CDS está a melhor razão.
Defendemos descontos para a Segurança Social pública sobre um valor do
salário equivalente a 6 SMN. Acima disso, o que defendemos é a opção livre,
não qualquer obrigação, do trabalhador, sobre onde quer aplicar o
remanescente da sua poupança. Esta visão aplica-se aos mais jovens, que
agora entram no mercado. Está pensada e tem condições seguras, que
explicamos em pormenor no Programa.
A outra matéria que ainda é importante referir tem a ver com os recursos
naturais e os sectores estratégicos.
Quando dizemos que Portugal precisa de um ministro da agricultura com peso
político, quando fazemos o compromisso de pôr o PRODER a funcionar, e
clarificamos que isso implica investir a comparticipação nacional via
Orçamento do Estado, não estamos a falar de politicas antiquadas ou
ultrapassadas. Estamos a falar de um Portugal melhor no século XXI, que
precisa de agricultores para ordenar o território, evitar a desertificação e
proteger o ambiente. Também estamos a falar de um Portugal que, no século
XXI, tem fundos para aplicar e não pode dar-se ao luxo de os desperdiçar: são
necessários ao crescimento, ao emprego, à receita e à diminuição do
endividamento
O mesmo quando abordamos a estratégia do mar. A independência de
Portugal só se explica pela determinação do seu povo e pela liberdade que o
mar nos deu. No século XXI o mar é mais do que uma condição de
independência. Falamos de maior potencial para a economia, o emprego, a
industria, a energia, a investigação, a ciência, a que este Portugal, agora
empobrecido e com pouca esperança, pode agarrar-se para reinventar um
destino e definir uma missão.
Enfim, o turismo, terceiro sector estratégico que queremos mencionar. É
possível fazer claramente melhor, como explicamos minuciosamente no
Programa. Para uma economia em crise e endividada, o turismo é factor
crítico de crescimento. Não nos interessa tanto a procura de mais turistas
como o aumento de receita por turista. Portugal deve ter ambição, qualidade
e diferenciação neste sector. A ambição que temos é voltar a colocar Portugal
no top dos 15 países no que diz respeito ao turismo a nível internacional.
Temos vindo a decair, e já só estamos em 23º lugar.
*
No tempo que estamos a viver, há cada vez mais portugueses que procuram
em África, no Brasil, na América ou na Europa, a oportunidade que aqui não
encontram. É mesmo uma extraordinária circunstância histórica, a de um
povo que volta aos lugares onde fez história para os ajudar a construir futuro.
A nossa língua, a nossa relação prioritária com África e com o Brasil, as
possibilidades abertas às empresas e aos recursos humanos, estão
absolutamente presentes na nossa visão, e essa visão não pode sofrer nem de
tacanhez, nem de egocentrismo.
Portugal é a nossa Pátria e os portugueses são o nosso dever. Este programa é
o serviço que lhes queremos prestar.
AGRICULTURA
CRÍTICAS
1. Desprezo completo pelo sector e hostilização permanente dos
agricultores.
2. Fracasso total na gestão, funcionamento, execução e estratégia do
PRODER.
3. Desorganização do Ministério e das suas capacidades.
4. Erros nas negociações comunitárias (por ex: desmantelamento das
quotas leiteiras).
5. Redução das medidas agro-ambientais e política de modulação
voluntária.
6. Aumento da dependência alimentar de Portugal.
A política agrícola, se entendida como política de apoio ao desenvolvimento,
não existiu nesta legislatura. O que existiu foi uma desastrosa perda de
oportunidades, um inconcebível desperdício de fundos comunitários. A
hostilização permanente das organizações agrícolas foi a par com a
destruição das capacidades técnicas instaladas no Ministério. O cumprimento
dos compromissos do Estado com os agricultores tornou-se num conceito não
fiável. Não sobrará, deste Governo, qualquer pensamento estratégico para o
mundo rural.
O permanente engano às mulheres e aos homens da terra, a perda inútil de
agricultores, uma deficiente assumpção de responsabilidades nas negociações
europeias e, já perante a evidência de que o sector estava em revolta, o
recurso à manipulação grosseira de dados, tornam o ocaso deste mandato
particularmente penoso para a agricultura.
Em poucos sectores se poderá dizer, tão cabal e demonstradamente, que é
preciso reconstruir quase tudo. A agricultura é, certamente, um desses
sectores.
Se pensarmos na importância da agricultura para o território, o povoamento,
o ordenamento, a economia e a ecologia, saberemos que o desafio vale a
pena. Recorde-se que, de acordo com a classificação da OCDE, as zonas rurais
ocupam 85% do território, e aí a agricultura ainda significa 10% do Produto e
15% do emprego.
RESPOSTAS
I A agricultura e a floresta portuguesas demonstram, maioritariamente, fraca
capacidade competitiva em resultado de baixas eficiências e produtividades,
insuficiente especialização e integração vertical e reduzida participação nos
processos comerciais. Impedimentos de ordem natural – clima e solos - e
constrangimentos estruturais ao nível da propriedade têm, entre outros,
dificultado a modernização do sector. Todos estes aspectos resultam no baixo
rendimento da maioria das famílias de agricultores, o que acarreta consigo
graves problemas de exclusão social, êxodo, desertificação humana e
envelhecimento da população do meio rural.
Os desequilíbrios regionais entre urbano e rural estão cada vez mais marcados
no seio do território português e o modo como se aplicou a PAC, nestes quatro
anos, não evitou o aumento destas assimetrias. De facto, a deficiente
regulamentação e adaptação à especificidade portuguesa, e uma pior
operacionalização, levam a que o balanço seja muito negativo.
O governo socialista tinha a obrigação de gerir e tomar medidas de
acompanhamento, de forma a garantir o sucesso da execução da reforma, da
Política Agrícola Comum.
Previam-se, à partida, impactos sobre os resultados económicos das
explorações agrícolas, e por isso era necessário fomentar as adaptações e
estruturações necessárias. Tornava-se urgente agir de forma determinada
para potenciar as oportunidades e reduzir ameaças. Era fundamental colocar
à disposição dos agricultores portugueses um Programa de Desenvolvimento
Rural que possibilitasse apoios ao investimento na modernização e
reestruturação das empresas, assim como proporcionasse o aproveitamento
dos apoios, que a PAC contempla, para o pagamento das externalidades
positivas que a actividade agrícola propicia e que por toda a Europa vão sendo
reconhecidas.
Nada, ou quase nada, foi feito. Foram quatro anos sem programas e sem
medidas. Perdeu-se a oportunidade de reconverter sistemas no sentido de
assegurar ganhos sustentáveis na competitividade económica e no rendimento
empresarial agrícola em Portugal.
Ao mesmo tempo, desapareceram um número muito elevado de pequenas e
médias explorações, sem qualquer previsão de enquadramento que o pudesse
impedir, suavizar ou, por exemplo, levar ao aumento da dimensão física das
que persistiram. A produção nacional piorou em termos da cobertura das
necessidades dos portugueses.
A agricultura passou por momentos complexos. Recordamos a seca de 2005, a
extinção da electricidade verde, o fim, unilateralmente decretado pelo
Ministério, das medidas agro ambientais, nas diversas negociações da PAC e
respectiva operacionalização em Portugal, a instauração da modulação
voluntária das ajudas do 1º Pilar da PAC. No ano de 2008, com os factores de
produção a atingirem preços muito altos, a crise económica, que prossegue
em 2009, acentuou uma queda dos preços dos produtos agrícolas, a um nível
que pode inviabilizar a esmagadora maioria dos sectores agro florestais.
O Ministério foi indiferente à crise. Mas hostilizou continuamente agricultores
e organizações procurando denegrir a sua imagem pública em vez de tentar,
com eles, construir estratégias para a ultrapassagem de situações tão difíceis.
Sinais e orientações tiveram quase sempre medidas de sinal contrário
passados poucos meses. Sectores como o do leite estão reiteradamente a
passar enormes dificuldades, alheando-se o Ministério de procurar um
compromisso – alcançado, por exemplo, na Galiza -, cumprir as medidas que
anuncia ou defender os nossos interesses em Bruxelas.
II. Ao mesmo tempo, o Ministro da Agricultura foi aceitando reduções
drásticas no PIDDAC e comprometeu o funcionamento do Ministério pela
instauração cega do PRACE, cujo resultado foi uma política de despedir, sem
qualquer lógica de reestruturação. Paralelamente, as diversas organizações de
produtores agrícolas e florestais, foram subestimadas nas suas potencialidades
em termos de transferência de funções e delegação de competências.
A reforma do Ministério deveria ter sido coordenada com as organizações, de
modo a evitar quebras e dificuldades no relacionamento entre a
administração central e os agricultores. Mas não há memória de tão reduzida
consulta ou trabalho conjunto.
A desmotivação é muito grande no mundo rural. Mas Portugal continua a ser
um país com uma dimensão rural relevante, quer pela ocupação territorial
que apresenta, quer pelo peso na economia, nomeadamente no emprego do
sector agro florestal.
III. Para o CDS, a agricultura não é nem deve ser considerada como um mero
sector económico. A dimensão territorial, o valor estratégico e a hoje muito
reconhecida multifuncionalidade constituem argumentos suficientemente
fortes para que assim seja.
Por outro lado, a disponibilização de verbas avultadas oriundas
fundamentalmente da PAC, necessita de contrapartida portuguesa. Essa
contrapartida exige que se aceite ser de interesse nacional maximizar a
aplicação dessas verbas.
No presente cenário económico, a agricultura e a floresta podem dar um
contributo enorme para o crescimento e a redução do endividamento. Para
dar efectiva execução aos fundos comunitários, é condição prévia estar
disponível para que a comparticipação nacional, via OE, se cumpra, ano após
ano. Por aqui se vê como o CDS está certo quando diz que a primeira
prioridade é o crescimento, pois gera investimento comunitário, privado e
público. Aqueles que considerarem que o défice está primeiro do que a
economia, obviamente vão “cortar” ou atrasar ainda mais a parcela do OE
para a execução dos fundos.
É indispensável, pois, que se considere e dignifique a agricultura, desde logo
na constituição do Governo. A agricultura é uma área estratégica para o
crescimento económico, e a situação do sector implica peso político dos novos
responsáveis.
IV.O CDS defende uma política agrícola e rural responsável que restabeleça a
confiança entre a Administração e os agricultores. O seu objectivo principal é
produzir mais e melhor viabilizar a actividade agrícola e florestal de modo
sustentável em todo o território e considerar os vários tipos de agricultura e a
nossa diversidade regional. Uma nova política agrícola pode evitar o abandono
dos campos, promover, em complementaridade com outras políticas, a
conservação e utilização sustentada de recursos naturais, o bom ordenamento
do território e a coesão económica e social. É condição de sucesso colocar os
agricultores portugueses em condições competitivas face aos demais
congéneres europeus.
Para assegurar o cumprimento destes objectivos na agricultura portuguesa é
indispensável o empenhamento do Ministério da Agricultura i) na dinamização
de estruturas empresariais bem dimensionadas, individuais ou colectivas, com
capacidade para inovar e empreender estratégias de longo prazo ii) acesso de
jovens ao empresariado agrícola, condição absolutamente fundamental para o
desenvolvimento deste programa, o que implica estabelecer um quadro
aliciante de medidas para o ingresso de jovens na população activa do sector
aproveitando integralmente o disposto na PAC, mas também integrando, ao
nível nacional, a política de ensino e formação, a política de emprego e a
política fiscal iii) na melhoria da promoção e notoriedade dos produtos
agrícolas portugueses e no fomento de um modelo em que a sua
comercialização seja tendencialmente bem sucedida, o que exige ganhar
dimensão na concentração da oferta e profissionalismo na negociação de
modo a melhorar o valor dos produtos junto da produção iv) na procura de
qualidade dos produtos e na estratégia de aumento do seu valor pela
penetração em segmentos de mercado mais remuneradores, sempre
acompanhada por modelos de certificação acreditados e apoiados em
laboratórios de qualidade reconhecidamente independentes v) no fomento do
mercado de terras para arrendamento vi) na utilização de incentivos fiscais às
empresas do sector agro-florestal, agro-indústrias e indústrias florestais, bem
como no domínio da comercialização de produtos agrícolas e de factores de
produção ou das energias renováveis para que se instalem em zonas rurais vii)
na contribuição do sector agro-florestal para reduzir a nossa dependência
energética e no antecipar de soluções técnicas para a mitigação e adaptação
às alterações climáticas viii) na dinamização do processo de licenciamento das
explorações pecuárias ix) na política de modernização de regadio privado e
público, tomando como prioridades o uso eficiente da água, a eficiência
energética e a reabilitação ao nível das infraestruturas e equipamentos x) na
criação de um único organismo eficaz de fiscalização e controlo das normas
vigentes no seio do mercado português, comunitário e mundial,
nomeadamente no que se refere às actividades de importação, armazenagem
e distribuição de produtos agrícolas xi) na agilização dos processos e
procedimentos em determinadas áreas de sobreposição de política agrícola e
ambiental, nomeadamente nos casos da água, da gestão de secas e de
escassez, da conservação da biodiversidade, do uso do solo, do ordenamento
do território, da qualidade do ar e alterações climáticas, dos resíduos, da
eficiência energética e, também, das fontes de energias renováveis.
O CDS estará alerta, no que foca à defesa dos produtos tradicionais
portugueses. Fazem parte da nossa cultura, tradição e gosto. É preciso
contrariar a tendência para regulamentar demais – em Bruxelas e Lisboa -, e é
urgente capacitar o Ministério para defender, a tempo e adequadamente,
esses produtos. Contrariamos os abusos da ASAE que, não raro, prejudicaram
muitas pessoas e se aproximaram duma inaceitável “política do gosto”.
Portugal tem ainda claras vantagens comparativas na produção de alguns
produtos agrícolas. O apoio a estes produtores deve ser privilegiado, no
sentido de ganharem escala e dimensão e de conseguirem aceder a mercados
externos.
V. É urgente proceder a uma revisão do PRODER, no sentido de concentrar o
esforço financeiro no imediato, aumentando as taxas de incentivo nas
situações prioritárias ou de maior fragilidade e alargando-o a outros
beneficiários, designadamente aos prestadores de serviços. Importa ainda
apoiar a gestão agrupada, desde que corresponda a um aumento de dimensão
e à concentração da produção.
Agrupar, concentrar e fundir, são conceitos importantes na estratégia a
privilegiar no tecido empresarial, pois são a única forma de reagir e constituir
interlocutores capazes face a uma agro-indústria ou indústria florestal muito
concentrada, a uma multinacional do comércio de matérias-primas agrícolas
ou a um sector da distribuição moderna cada vez mais concertado.
Ainda no âmbito da PAC, é determinante que o Estado transfira
atempadamente os pagamentos aos agricultores portugueses. É imperativo
ainda aligeirar a carga burocrática, e ultrapassar a incrível inoperância no
percurso de análise-decisão-contrato-validação-pagamento dos projectos e
medidas PRODER, de modo a que nunca mais as candidaturas venham a
exceder, em anos, o tempo previsto para a sua contratação, execução e
finalização. Um sistema de candidaturas permanentes, prazos tempestivos de
decisão e menos dirigismo estratégico é a opção que permite a recuperação
do tempo perdido no PRODER. E tem de se verificar, logo de início, o ponto de
situação na certificação, comunitária e nacional, do IFAP.
Em geral, é necessário que os postos-chave da decisão agrícola tenham
responsáveis que conheçam o sector e acreditem nele. Não se faz política
agrícola com uma tecnocracia ministerial pouco ou nada ligada ao mundo
rural.
VI. Reconhecido o valor económico e ambiental e a sua importância
territorial, queremos melhorar a gestão do património florestal português.
Também aqui, decorreram quatro anos de inoperância em que pouco se fez e
tudo se confundiu, tendo inevitavelmente como resultante um balanço muito
negativo.
A aposta na Politica Florestal que advogamos centra-se na dinamização das
ZIF, na operacionalização e melhoria do funcionamento das estruturas
associativas e na execução de medidas de política florestal e fiscal tendentes
a avançar na resolução do problema da reduzida dimensão e constante
fragmentação da propriedade florestal.
A floresta mediterrânica de uso múltiplo, nomeadamente, os montados de
sobro e azinho e as consociações em que ocorrem, representam mais de 30%
da área florestal em Portugal. São reconhecidamente um dos expoentes do
elevado valor natural que os espaços agro-florestais desempenham e que
hoje, por consenso da sociedade, importa sustentar. Esta prioridade deve ser
assumida ao nível europeu e consubstanciada em medidas de política agrícola
e florestal compreendidas naquilo que vier a ser a PAC de 2013. Portugal deve
lutar por esse desiderato.
No domínio florestal devem sobressair, na actuação do Ministério da
Agricultura, as preocupações com a erradicação do nemátodo do pinheiro e a
promoção e valorização dos produtos da cortiça, tão negativamente afectados
na conjuntura actual, bem com, a manutenção deste importante sector da
indústria florestal.
VII. No domínio da investigação e do desenvolvimento experimental, as
prioridades são as necessidades concretas dos agricultores portugueses.
Reconhece-se o papel determinante das instituições na inovação, ganhos de
eficiência e melhoria da produtividade dos sistemas. Mas articular a
investigação agrária do Ministério com a actividade de Universidades e
Politécnicos que mais se dedicam ao sector é tarefa obrigatória, num quadro
de recursos que é escasso. Também neste contexto deve estar presente a
estrutura associativa da agricultura como membro de pleno direito de um
Conselho Superior que aprove regras e hierarquize por ordem de necessidades
os programas de actividades destas instituições.
VIII. O Ministério da Agricultura deve ser reformado. Deve reservar para si o
papel de cúpula do sector, concebendo políticas, planeando estratégias,
disciplinando, controlando e supervisionando procedimentos. Mas precisa de
delegar funções e transferir para associações de agricultores,
comprovadamente representativas e com capacidade técnica, que no terreno
têm um contacto mais fácil e directo com os agricultores, parte da gestão e
execução dos programas de política agrícola.
O funcionamento do modelo passa, também, pela consulta obrigatória e pela
possibilidade de acompanhamento da execução das medidas pelas
organizações da lavoura. Significativamente regionalizado, mas sempre com
competências claramente atribuídas e com funcionamento integrado e
coordenado, assim deve ser o novo Ministério da Agricultura.
O seu primeiro desafio – pagar as dívidas aos agricultores – implica que o clima
de conflitualidade e desmotivação cessem, encontrando-se um novo espírito
de serviço e procurando, passo a passo, recuperar capacidades técnicas que
foram destruídas.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Pagamento das dívidas do Estado aos agricultores.
2. Pôr o PRODER a funcionar: simplificar as candidaturas, obrigar a
decisões dentro dos prazos, alargar o leque de beneficiários, evitar o
dirigismo.
3. Compromisso de investir a parcela nacional (via OE) que viabiliza a
aplicação dos fundos comunitários.
4. Fim da modulação voluntária, para repor a competitividade agrícola
com os outros países da EU.
5. Prioridade à modernização das empresas agrícolas; ao acesso de novos
agricultores ao sistema; às empresas agro-florestais, agro-industriais e
às industrias florestais.
6. Carácter estratégico de agricultura na recuperação económica.
7. Nova equipa ministerial com peso político. Decisores técnicos que
acreditem na agricultura e conheçam o sector.
8. Organismo único de fiscalização e controlo das normas de mercado
comunitárias e nacionais, em especial nas actividades de importação,
armazenagem e distribuição.
9. Defesa acérrima dos produtos tradicionais portugueses. Evitar os abusos
da ASAE e qualificar o Ministério para agir atempadamente na defesa
desses produtos.
10. Gestão concertada do sector, optando pelo princípio da subsidariedade,
delegando competências e responsabilidades nas organizações
agrícolas.
11. Articular a investigação agrária do Ministério com a das Universidades e
Politécnicos.
12. Plano de emergência para o sector do leite.
13. Posição muito mais exigente quanto ao respeito – e à fiscalização – das
normas de concorrência.
AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
CRÍTICAS
1.Falta de peso político e de articulação com os outros ministérios.
2.Estruturas, do sector, atomizadas e espartilhadas por múltiplas entidades.
O actual Primeiro-Ministro José Sócrates vangloria-se de ter feito o
casamento entre a área do Ambiente e do Ordenamento do Território quando
ocupava a pasta do Ambiente (no governo Guterres), mas a verdade é que
como Primeiro-Ministro esqueceu o ambiente e esqueceu o ordenamento do
território.
RESPOSTAS
I Talvez seja na área ambiental que é mais evidente a existência de uma
parceria entre os que vieram antes de nós, os que estão vivos neste momento
e os que ainda estão por nascer. Sendo assim, qualquer política ambiental
defendida pelo CDS só pode ter três objectivos primordiais: melhorar o que
nos foi legado, garantir o bem-estar das gerações actuais e assegurar que as
gerações futuras também o possam fazer. São objectivos que têm as pessoas
como prioridade absoluta e não uma qualquer preocupação abstracta com a
modernidade.
O CDS tem a perfeita consciência de que para restabelecer o equilíbrio entre
a actividade humana e o meio ambiente são necessários sacrifícios. Logo, é
seu dever defender políticas que, por um lado, minimizem esses sacrifícios
para a generalidade dos portugueses e que, por outro, poupem quem já vive
em situações de carência a um esforço desproporcional e injusto. Sendo certo
que o meio ambiente é, na sua plenitude, um bem essencial à realização e
dignidade do indivíduo, este deve ser protegido no âmbito de uma política de
racionalidade, respeitadora das liberdades de cada um. É esta a única via
para uma efectiva conservação dos recursos naturais e para preservação dos
ecossistemas.
Reconhecendo o sector do ambiente como estratégico para o país e com
grandes potencialidades de desenvolvimento, o governo deve ter como
prioridade a implementação de políticas de ambiente descentralizadas, que
dêem enfoque à participação pública, e que sejam transversais a todas as
políticas, ditas sectoriais. O que o CDS propõe são políticas pensadas com
base em dados objectivos e não seguindo apenas tendências internacionais ou
exemplos importados. Políticas ambientais assentes na análise dos seus
efectivos impactes e não no cumprimento dos critérios discricionários. Só
assim é possível travar a visão exclusivamente tecnocrática das questões
ambientais e garantir a conjugação da prosperidade do país com a
sustentabilidade.
II As políticas ambientais devem ser abordadas transversalmente, pelo que o
Ministério do Ambiente deve funcionar em estreita colaboração com os outros
Ministérios e deve assumir na estrutura governativa o peso político essencial
para o desenvolvimento das suas atribuições. Ou o Ministério do Ambiente, na
orgânica e na prática, com o apoio do Primeiro-ministro, se assume como um
Ministério com peso político robusto, ou a sua acção é claramente limitada
pelos interesses sectoriais que tendem a encontrar na defesa do ambiente e
do desenvolvimento sustentável uma condicionante para a sua satisfação.
É hoje mais do que aceite a relação de dependência das políticas energéticas,
de planeamento e ordenamento do território, agrícolas, das pescas,
industriais, do turismo, da defesa, do mar, com o ambiente.
No caso concreto do Desenvolvimento Sustentável e de todas as políticas e
acções decorrentes dessa matéria, é imprescindível a abordagem conjunta
dos componentes Ambiente, Economia, e Social, que deve ser um reflexo da
articulação entre os Ministérios respectivos.
Devem ser estabelecidas sinergias entre o Ambiente e a Investigação, fonte
de conhecimento científico que deve servir de suporte à definição das
políticas ambientais.
E, não pode esquecer-se, a articulação entre o Ministério do Ambiente e o
Ministério da Educação, num claro esforço que tem de ser feito para, de uma
vez por todas e de forma sustentada, promover uma educação ambiental que,
no respeito das liberdades de educação, forneça a necessária sensibilização
para as questões do ambiente. Importa aprofundar a educação ambiental e os
mecanismos de participação pública, integrando e reforçando o ambiente na
educação formal e não formal no quadro de uma cidadania para o
desenvolvimento sustentável. Tal como é muito relevante criar novos
mecanismos de participação e mobilização da sociedade civil em questões de
desenvolvimento sustentável e sustentabilidade urbana e promover o
voluntariado ambiental.
Uma ecologia humanista deve assentar em formas de organização
institucional ágeis, eficientes e participadas.
A área governativa do Ambiente encontra-se numa encruzilhada: tem um
modelo de organização sem vitalidade que não permite responder aos
desafios do nosso tempo e aos problemas dos cidadãos; não há sinergias entre
áreas relevantes pelo que os esforços são muitos e pouco produtivos. É uma
estrutura atomizada e espartilhada por múltiplas entidades, sem visão
integradora, com metodologias de gestão e de planeamento rudimentares.
Exemplos disto são todas as questões ligadas à nossa orla costeira. A gestão
integrada das zonas costeiras foi recomendada em Maio de 2002 pelo
Parlamento Europeu e pelo Conselho da Europa, mas só mais de sete anos
depois o Governo português aprovou uma estratégia nacional com uma
reforma para o sector.
O litoral português, de acordo com um relatório da Agência Europeia do
Ambiente (Nov. 2006), registou o maior aumento de áreas artificiais da
Europa entre 1990 e 2000, com um aumento de 34% de áreas artificializadas.
Neste período, por exemplo, Albufeira cresceu 65%. O documento adverte
que a aceleração da utilização do espaço costeiro, impulsionada pelas
indústrias do entretenimento e do turismo, ameaça destruir o delicado
equilíbrio dos ecossistemas costeiros.
As pretensões imobiliárias que estão previstas para todo o litoral, de sul a
norte do País aumentam o risco da nossa costa. Existem 31 grandes
empreendimentos turísticos classificados como Projectos de Interesse
Nacional (PIN), que vão ou já estão a ocupar zonas sensíveis do ponto de vista
ambiental, sendo que 80% dos investimentos são na Península de Setúbal e
Alentejo, seguindo-se o Algarve. Um estudo recente aponta que o Algarve e o
Oeste comportam cerca de 50% dos empreendimentos de grande dimensão já
planeados (com mais de 70 hectares), sendo que a Região Algarvia é a que
mais resorts verá crescer (29%).
Portugal que viu prometido por este Governo uma agência para o litoral, o
que continua a ter são cerca de 11 ministérios, 20 entidades a geri-lo entre
20 direcções gerais e regionais 23 institutos, 5 comissões de coordenação
regional, 5 Administração da Região Hidrográfica, além de sessenta e duas
autarquias. Ou seja, desde o Ambiente (Instituto da Água e Comissões de
Coordenação e Desenvolvimento Regional), à Ciência (Fundação para a
Ciência e Tecnologia), passando pela Administração Interna (polícias e
municípios), pelas Obras Públicas e Transportes e terminando no da Cultura
(Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática e Instituto Português
do Património Arquitectónico) e no da Defesa (Autoridade Marítima, Instituto
Hidrográfico), entre outros.
III Por isso propomos: i) a redefinição da orgânica da Agência Portuguesa de
Ambiente (APA), que deve agregar competências actualmente cometidas ao
INAG (Instituto da Água) e ao ICNB (Instituto de Conservação da Natureza e da
Biodiversidade), num contexto também de melhor gestão e de economias de
escala e deve servir para promover a integração do ambiente em todas as
políticas sectoriais do Governo; ii) o efectivo lançamento da Agência do
Litoral que resolvendo o problema gerado pelo facto de mais de 100
entidades terem competências no litoral, deve actuar como dinamizadora da
gestão integrada da orla costeira, numa lógica de gestão colaborativa com
todas as partes interessadas, valorizando o Mar como elemento que nos
distingue e especializa; a institucionalização da Agência do Território, à
semelhança de outros países europeus, visando a afirmação dos projectos
através da especialização do território num quadro de competências próprias
e diferenciadoras, com dimensão crítica e dimensão espacial ligada a um
sistema de rede e conexões regionais.
IV A falta de informação na área ambiental, bem como a forma como esta é
transmitida, afecta vários grupos da nossa sociedade com destaque para os
cidadãos (enquanto tal) e os profissionais de diferentes sectores, criando
portanto, um obstáculo ao desenvolvimento da consciência ambiental, ao
empenho na implementação de políticas e por vezes ao cumprimento de
regras ambientais.
É fundamental o compromisso das instituições reguladoras e agentes de
decisão na difusão de legislação, normas, políticas e conhecimento técnico,
rumo a uma sociedade informada.
O Estado não pode simplesmente regular, “virar costas” e regressar quando é
para penalizar.
Propomos, por isso: i) a criação de um centro de divulgação e informação,
eficaz e funcional, na dependência da APA, que sirva de local de
esclarecimento a todos os cidadãos e profissionais; ii) a promoção da
publicação de estudos e documentos informativos desenvolvidos tendo em
conta as necessidades de informação identificadas; iii) a disseminação de
estudos e documentos informativos de diferentes fontes nacionais e
internacionais; iv) a difusão de documentos legais de forma acessível ao
público a que se destinam; v) a interacção com escolas e universidades na
promoção da informação, com ênfase na componente legal, na área do
ambiente; vi) a interacção com os empresários e suas sociedades no apoio à
eficaz implementação de políticas ambientais.
V As actuais políticas internacionais de gestão de resíduos salientam a
necessidade de protecção do ambiente e da saúde pública nas operações
relacionadas com essa gestão. Em Portugal, a operacionalização dessas
políticas deixa estes aspectos para planos de interesse diminuto ou
inexistente.
É necessário repensar a gestão de resíduos, tendo em conta a legislação em
vigor e a necessidade de protecção do ambiente e da saúde pública.
Nesta abordagem, devem estar incluídas todas as tipologias de resíduos -
urbanos, industriais, hospitalares - e fluxos específicos identificados como
prioritários, devendo ainda ser consideradas as operações de gestão à escala
nacional, regional e local.
Propomo-nos: i) promover a avaliação de operações de gestão de resíduos
sólidos urbanos (RSU) que decorrem a nível local, tais como a recolha e o
transporte, de modo a serem quantificados os potenciais impactos ambientais
em cada município; ii) implementar tarifários de gestão de RSU que não
prejudiquem os cidadãos que adoptem práticas ambientalmente adequadas
de gestão destes resíduos (redução da produção de resíduos, compostagem
caseira, participação em deposição selectiva, etc); iii) reorganizar os sistemas
plurimunicipais de gestão de RSU tendo em conta a localização geográfica dos
municípios, as infra-estruturas de tratamento existentes e previstas, a
caracterização dos resíduos produzidos e os aspectos ambientais associados;
iv) promover a utilização de ferramentas de gestão ambiental (tais como a
avaliação do ciclo de vida) na avaliação do desempenho ambiental dos
sistemas plurimunicipais de gestão de resíduos com vista à sua melhoria; v)
promover a utilização de ferramentas de gestão ambiental na definição de
políticas de gestão de fluxos prioritários de resíduos, definindo, por exemplo,
nos contratos de concessão das sociedades gestoras de fileira quais as
percentagens de resíduos que deverão ser encaminhados para cada destino
final, tendo em estudos de avaliação do ciclo de vida; vi) estudar a
necessidade de criação de novas fileiras de resíduos e as respectivas
entidades gestoras, sendo potenciais fileiras a criar, por exemplo, os óleos
alimentares ou as fraldas descartáveis usadas; vii) analisar a actividade que
tem sido desenvolvida pelos CIRVER - Centros Integrados de Recuperação,
Valorização e Eliminação de Resíduos -, no que se refere ao tratamento de
resíduos industriais perigosos, avaliando a necessidade de criação de um
CIRVER na zona norte do país, como forma de minimizar o transporte
rodoviário de resíduos industriais perigosos; ix) repensar o sistema de recolha
e destino final dos resíduos hospitalares, procurando minimizar o transporte
de longo curso deste tipo de resíduos; x) dinamizar a gestão de resíduos
baseada num regulador forte mas com maior liberdade de actuação dos
intervenientes, em particular dos operadores de gestão de resíduos,
nomeadamente na promoção do mercado de resíduos; xi) criar guias de
acompanhamento de resíduos únicas para todo e qualquer resíduo e de
qualquer fileira, uma vez que existe um código uniforme para a classificação
dos resíduos no espaço europeu (LER) que é inequívoco; xii) alterar a actual
visão oficial da forma de contabilização de desvio de aterro (ENRUBDA),
passando a ser levados em conta os esforços dos produtores domésticos,
nomeadamente os resultantes da compostagem doméstica; xiii) estudar a
futura aplicação de sistemas PAYT (pay as you throw) para os RSU, de
definição dos tarifários com base na quantidade produzida.
VI É evidente a necessidade de evitar, prevenir ou reduzir prioritariamente os
efeitos prejudiciais da exposição ao ruído ambiente. Mas, em Portugal, falta
completar um instrumento importantíssimo: as cartas municipais de ruído. A
Carta de Ruído é a representação visual da distribuição espacial dos índices
de ruído ambiente. Constitui o diagnóstico do estado acústico de cada
concelho, o que, juntamente com o Zonamento Acústico, permitirá elaborar
com fiabilidade Planos de Redução de Ruído, que serão exigidos no âmbito do
quadro legal nacional e europeu em vigor.
Por isso propomos que sejam completadas, a nível nacional, as cartas
municipais de ruído, de forma a tornar possível a aplicação efectiva da Lei do
Ruído e a elaboração de Planos de Redução de Ruído.
VII Do domínio das águas, defendemos: i) uma gestão mais eficaz e eficiente
dos recursos hídricos, em articulação com os municípios e com as
administrações das bacias hídricas; ii) a conclusão da rede de abastecimento
de água e de saneamento básico em Portugal e a garantia da existência e do
correcto funcionamento das soluções de fim de linha (ainda existem muitas
águas residuais que são descarregadas no meio hídrico sem qualquer
tratamento); iii) a redução do consumo de água potável, através de
campanhas de sensibilização; iv) a utilização de águas residuais tratadas para
fins não potáveis, nomeadamente a lavagem de ruas, rega de jardins; v) a
utilização de águas pluviais para fins não potáveis; vi) o desenvolvimento de
um sistema que oriente o cidadão relativamente à eficiência hídrica de
equipamentos, nomeadamente dos electrodomésticos, que possa funcionar
numa lógica semelhante ao rótulo ecológico, e estar ligado à optimização do
consumo de água; vii) a criação de um quadro legal para a Certificação
Hídrica dos Edifícios, à semelhança do que existe actualmente para a
Certificação Energética de Edifícios.
VIII No que respeita a gestão ambiental nas empresas e no próprio Estado,
importa: i) dinamizar a implementação, em Portugal, do programa da
Comissão Europeia para pequenas e médias empresas ecológicas e
competitivas, a fim de ajudar as pequenas e médias empresas a aplicar da
melhor forma possível a legislação em matéria de ambiente, através da APA e
do IAPMEI, em cooperação com as associações empresariais nacionais e
sectoriais; ii) incentivar nas empresas, e nos organismos do Estado, a
utilização de instrumentos que promovam uma actuação eficaz a nível da
responsabilidade ambiental e ecológica, tal como o recurso à avaliação do
ciclo de vida; iii) fiscalizar a actuação das empresas no que se refere à
Responsabilidade Ambiental e ao Princípio do poluidor Pagador; iv) lançar, no
âmbito da Administração Pública, a orientação de “Administração Eco-
Responsável”, seguindo-se os princípios do “green procurement” da Comissão
Europeia; v) estimular a entrada nos mercado das PME de jovens com
competências na área do Ambiente, que irão apoiar a melhoria do
desempenho ambiental das empresas, através de um plano de apoios próprios
e exigir que as empresas que tenham apoios do QREN apresentem anualmente
Relatórios de Sustentabilidade e que disponibilizem online informações sobre
o seu desempenho ambiental (Declarações Ambientais semelhantes às
exigidas pelo registo EMAS); vi) implementar sistemas de gestão ambiental
(ISO 14001 ou EMAS) nos organismos estatais, tanto a nível da administração
central como local.
XIX No domínio do sector empresarial do Estado, importa: i) rever o âmbito
de actuação da Águas de Portugal, S.A (AdP); ii) tomar medidas que permitam
assegurar a sustentabilidade económica e financeira do sector das águas e
resíduos; iii) recuperar o atraso na execução do programa para o sector
associado ao QREN; iv) clarificar o papel e o contributo da iniciativa privada
no sector da água, reduzindo o peso relativo do sector empresarial do Estado;
v) avaliar os serviços prestados ao cidadão pelos operadores nas áreas do
saneamento, distribuição e tratamento de águas, pela sua eficiência e
cumprimento dos requisitos de performance exigidos pelo regulador, não
influenciando que estes sejam empresas públicas ou privadas; vi) clarificar o
papel do regulador no sector da água, devendo o IRAR ser um instrumento
estratégico do Governo para assegurar que o bem água é protegido e que as
empresas de águas, públicas ou privadas, cumprem os requisitos de
performance exigidos pelo regulador; v) rever os resultados obtidos com a
internacionalização do grupo AdP.
X De forma a promover boas práticas ambientais, entendemos ser de: i)
fomentar a aplicação de sistemas de certificação hídrica de equipamentos,
desenvolvida pela ANQIP (Associação Nacional de Qualidade nas Instalações
Prediais); ii) rever valores de IVA para equipamentos que fomentam as boas
práticas ambientais (e que sejam amigos do ambiente); iii) majorar, em sede
de IRC, os investimentos ambientais que as empresas realizem para aumentar
a sua eco-eficiência ou para minimizar os seus impactes ambientais negativos.
XI No que toca especificamente às alterações climáticas é preciso que o
discurso das alterações climáticas saia dos gabinetes e das negociações do
mercado de carbono e interfira também nas políticas concretas do Ministério
do Ambiente. Importa: i) iniciar a revisão do PNAC – Plano Nacional para as
Alterações Climáticas – logo após a Conferência de Copenhaga em Dezembro
deste ano; ii) adoptar uma estratégia integrada (misto de top-down e buttom-
up) na definição das metas sectoriais; iii) participar activa e
empenhadamente nos esforços e negociações internacionais, que são
coordenadas pela Comissão Europeia; iv) atender particularmente – e trazer
para o debate público – as previsões para Portugal que apontam para uma
subida do nível médio do mar entre 25 a 110 cm até 2100, o que colocará em
risco de erosão 67% do nosso litoral.
XII A qualidade do ar exterior e do ar interior são motivos de enorme
preocupação para a generalidade dos portugueses. Por isso propomos: i) a
monitorização periódica ou em continuo da qualidade do ar interior de
edifícios públicos ou de edifícios e espaços em que há grandes aglomerados
humanos; ii) a redefinição e posterior implementação do Plano Nacional de
Acção Ambiente e Saúde.
XIII No plano do desenvolvimento sustentável e agendas 21 locais é
necessário: i) avaliar o plano de implementação da ENDS - Estratégia Nacional
do Desenvolvimento Sustentável, aceitando este conceito como referência
estruturante de qualquer modelo de governação; ii) definir, com urgência,
uma política das cidades, visando a sustentabilidade enquanto acção chave;
iii) reforçar a importância das Agendas 21 Locais como instrumentos
privilegiados para a adopção de estratégias integradas e sustentáveis de
desenvolvimento, no quadro de uma dimensão informativa, formativa, de
adaptação às especificidades e enraizamentos locais e num contexto de
empenhamento e de mobilização cívica, sendo acompanhadas de indicadores
de sustentabilidade e de avaliação de desempenho; iv) harmonizar as
metodologias de elaboração das Agendas 21 Locais; v) intensificar o
envolvimento da APA na cooperação com os municípios que pretendem
implementar A21L; implementar um sistema de acompanhamento e de
difusão das actividades realizadas nesta área.
XIV A conservação na natureza é uma prioridade primeira de um Ministério do
Ambiente, não pode ser rapidamente trocada por políticas alegadamente
mais visíveis e magnificentes. Neste domínio, é necessário: i) rever o regime
jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade e redefinição do
papel das autarquias no sentido da descentralização de competências; ii)
criar um novo quadro legal e um novo modelo de gestão das áreas protegidas
que vise a compatibilização da preservação da biodiversidade com visitas de
educação ambiental, actividades de eco-turismo, etc.; iii) integrar as áreas
protegidas numa nova entidade de natureza empresarial que garanta, em 10
anos, que os parques naturais portugueses sejam uma marca amplamente
reconhecida, com valor percebido e estimulado pela população; iv) reavaliar
todos os projectos do plano nacional de barragens que têm impactes reais ou
potenciais em áreas sensíveis.
XV. Por fim, importa: i) avaliar o cumprimento do novo Regime Jurídico da
Responsabilidade Ambiental, nomeadamente no que concerne à sua vocação
preventiva e reparadora e preparar a concretização, sem atrasos, da matéria
relativa às garantias financeiras; ii) criar um quadro legal, institucional e
financeiro que vise a prevenção e o controlo da contaminação dos solos e das
áreas mineiras degradadas, bem como a recuperação de locais contaminados
numa óptica de aproveitamento e de requalificação daquelas áreas; iii)
aperfeiçoar a justiça de ambiente iv) participar activamente nas políticas
europeias e no desenvolvimento de Directivas e Regulamentos promovidos
pela União Europeia, na área do ambiente.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Institucionalizar uma Agência do Território.
2. Completar as cartas municipais de ruído.
3. Garantir o correcto funcionamento das soluções de fim de linha no
saneamento.
4. Promover a utilização de águas residuais e pluviais para fins não potáveis.
5. Criar um quadro legal para a certificação hídrica dos edifícios.
6. Adoptar um programa de Administração Eco-responsável.
7. Aprofundar a educação ambiental.
COMUNICAÇÃO SOCIAL
CRÍTICAS
1. Situação financeira do serviço público de Televisão e Rádio voltou às
derrapagens.
2. Tentativa de condicionar o exercício profissional dos jornalistas.
3. Tentativa de agredir a Rádio Renascença na Lei do Pluralismo e Não
Concentração.
4. Falha no 5º Canal.
Desde 2005, o Governo socialista tem um programa que, objectivamente, tem
restringido a liberdade editorial e o potencial económico dos agentes
privados do sector. O falhanço do Partido Socialista foi evidente em quatro
áreas. Na gestão do financiamento do serviço público; na aprovação de novos
regimes jurídicos relativamente ao exercício profissional dos jornalistas e na
tentativa de impôr uma lei do “pluralismo e não-concentração”; no processo
de atribuição de um quinto canal de televisão de acesso livre e na transição
para o digital.
RESPOSTAS
I. Após um esforço considerável de recuperação, quer da definição do que
deve ser o modelo de serviço público televisivo, quer da própria gestão,
realizado pelo anterior Governo, com uma intervenção responsável do CDS,
parecemos estar, na RTP, a voltar às compras “milionárias” de direitos de
transmissão e à subida dos custos de funcionamento. As indemnizações
compensatórias somadas à taxa do audiovisual ultrapassaram os 230 milhões
de euros. Há riscos para o pluralismo e a tentação socialista de condicionar a
liberdade de informação é conhecida.
O Governo socialista parece satisfeito com o status quo, usando as parcas
receitas de publicidade para servir a dívida – superior a 800 milhões de euros –
e cobrindo os custos operacionais com o dinheiro dos contribuintes. Contudo,
esta situação alimenta as múltiplas actividades deficitárias da RTP.
II. O CDS defende uma RTP forte, mas somos contra o esbanjamento dos
dinheiros dos contribuintes. Ter uma boa gestão e evitar novas derrapagens
financeiras na RTP é um objectivo do CDS nos próximos 4 anos i) cumprindo o
programa de reestruturação da empresa ii) racionalizando dos custos
operacionais. Este objectivo legitima o escrutínio sobre o interesse público de
cada programa, de cada actividade. O resultando será de ter uma RTP mais
bem gerida e criteriosa no serviço público.
III. A passada legislatura ficou marcada pela tentativa do Partido Socialista de
aprovar uma lei sobre o (pluralismo e não-concentração) que levantava várias
perplexidades junto dos agentes do sector, nomeadamente por representar
um ataque à liberdade de imprensa e pluralismo de informação, com a
tentativa de intervenção na Rádio Renascença por artificial “excesso” de
concentração no sector das rádios; por criar sobreposições entre vários
reguladores como a ERC, a Autoridade da Concorrência, a ANACOM, a CNVM, o
Banco de Portugal e outras entidades a fazendo a regulação simultânea da
actividade, complicando em especial o processo de aprovação de operações
de concentração e impedindo o ganho de escala pelos grupos nacionais.
Felizmente, o Presidente da República vetou esta iniciativa legislativa, não só
pelos limites que introduzia à actividade jornalística, mas também por
representar um contra-senso face à aprovação, no seio da União Europeia, de
directivas comuns, relativas ao que deve ser entendido como excesso de
concentração.
Na próxima legislatura o CDS acompanhará o desenvolvimento desta questão
na União Europeia, mantendo uma especial vigilância sobre a actuação dos
reguladores, de modo a que não sejam utilizados para condicionar os grupos
de comunicação social.
IV. Foi ainda um objectivo do Governo lançar um quinto canal de televisão em
regime de acesso livre. Estando inicialmente prevista a atribuição da licença
para Maio de 2009, e o arranque do novo canal para 2010, este processo não
se encontra ainda encerrado.
A atribuição da licença provocará “ondas de choque”, às quais o CDS estará
atento. O novo canal irá “retirar” publicidade tanto às televisões como às
rádios e aos jornais, podendo legitimar operações de concentração dentro da
comunicação social – ou entre as telecomunicações e os “media”.
Neste processo o CDS vai prestar especial atenção ao desenvolvimento do
processo de atribuição da licença, no respeito integral do quadro legal
existente. Teremos em conta as eventuais repercussões no mercado da
comunicação social. Não abdicamos de garantias sobre o pluralismo e
independência face ao poder político, seja qual for o poder político.
V. A transição para o digital é um compromisso europeu ao qual Portugal não
deve ser indiferente. Representa um avanço técnico que é essencial para o
desenvolvimento da actual sociedade de informação. No entanto, o CDS vai
prestar especial atenção aos fenómenos de exclusão que poderá acarretar,
nomeadamente nas camadas mais desfavorecidas da população, que se podem
ver privadas do acesso ao bem essencial que é hoje a comunicação.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Retomar práticas de boa gestão na RTP.
2. Acompanhar o desenvolvimento da definição de não concentração ao
nível da União Europeia.
3. Manter especial vigilância sobre a actuação dos reguladores, de modo a
não serem utilizados para condicionar os grupos de media.
4. Especial atenção ao desenvolvimento do processo de atribuição da nova
licença de televisão, no respeito integral pelo quadro legal existente,
pelas eventuais repercussões no mercado, mas também da garantia de
pluralismo e independência da comunicação social face ao poder
político.
5. Tentar limitar, no processo de transição para a Televisão Digital
Terrestre, os fenómenos de exclusão que podem surgir, nomeadamente
nas camadas mais desfavorecidas da população.
CONCORRÊNCIA E REGULAÇÃO
CRÍTICAS
1. Problemas de regulação e supervisão evidentes e graves (ex: BPN,
BPP e BCP; caso dos combustíveis; electricidade; leite).
2. Tendência para proteger operadores já instalados.
A política de concorrência e regulação, essencial a uma economia de mercado
com responsabilidade ética, sofreu nestes 4 anos e meio, falhas evidentes,
que revelam a distância a que Portugal se encontra de regras e práticas de
concorrência saudáveis.
O que sucedeu, no sistema financeiro, com o BPN, o BPP e o BCP coloca sérias
interrogações sobre a política de supervisão. O que aconteceu com os
combustíveis, e o que não aconteceu em sectores tão díspares como a
electricidade ou o leite, revelam as insuficiências muito sérias nos
reguladores. Continuam a permitir-se práticas inaceitáveis numa economia de
mercado.
RESPOSTAS
I. A derrocada dos sistemas comunistas e a crise das economias planificadas
demonstraram amplamente que o mercado é a forma mais eficiente de
organizar o funcionamento da economia. Só mercados abertos e competitivos,
baseados na assunção do risco e na sua correcta retribuição, são capazes de
promover a iniciativa, o investimento e a inovação sem os quais não há
crescimento possível da economia.
Mas o mercado só conduzirá às melhores soluções, em termos de eficiência
produtiva e distributiva e de promoção do crescimento, se o seu
funcionamento for apoiado por uma política de concorrência que se oponha a
práticas de coligação entre empresas contrárias ao interesse público e a
comportamentos abusivos em prejuízo dos consumidores.
A economia portuguesa está ainda profundamente impregnada de uma
mentalidade avessa ao risco e à concorrência, está ainda muito assente em
estruturas arcaicas herdadas de décadas de corporativismo, de socialismo, de
paternalismo e de proteccionismo económicos que pesam sobre ela quase
como uma maldição.
A publicação, em 2003, de uma nova lei da concorrência e a criação da
Autoridade da Concorrência (AdC) contribuíram para melhorar a situação e
começar a implantar nos tecidos empresariais uma certa “cultura de
concorrência”. Mas continuam a ser cometidos vários erros que convém
corrigir e evitar que se repitam.
II. Antes de mais, há que velar pela adopção de boas práticas legislativas,
evitando, por um lado, o péssimo hábito de legislar ao sabor de impulsos
conjunturais e sujeitando, por outro lado, a discussão pública os mais
importantes projectos de alteração das leis nesta matéria, para que possam
beneficiar dos contributos dos meios interessados antes da sua conversão em
diplomas legislativos.
A lei da concorrência foi já objecto de várias alterações pontuais, nela
introduzidas sem critério nem perspectiva sistemática, a propósito de
inovações legislativas que nada tinham a ver com a matéria. O resultado foi a
criação de normas confusas e inaplicáveis e de situações que só contribuem
para descredibilizar a própria política de concorrência.
O CDS entende que a lei da concorrência deve ser revista em aspectos
substantivos e processuais, tendo em conta os mais de cinco anos de
experiência de aplicação. Está a AdC particularmente bem situada para
preparar esse projecto de revisão, mas, uma vez elaborado, não deve ser
convertido em lei sem um processo adequado de divulgação e de discussão
pública.
Urge também pôr termo ao típico procedimento corporativo, resultante de
tantos mecanismos de licenciamento ou aprovação prévia para o exercício de
certas actividades económicas que, faz participar na decisão os operadores já
instalados, cujo objectivo é, naturalmente, dificultar a entrada de novos
concorrentes. Uma intervenção pública em sede de autorização prévia só é
justificável por razões ambientais, de ordenamento do território, de
protecção da saúde e de segurança públicas, para além de conjunturas
económicas especiais; se assim não for, temos a reinstituição clandestina dos
velhos sistemas de condicionamento industrial.
Não se trata, contudo, apenas da legislação. Também as práticas correntes da
Administração Pública se opõem a uma saudável concorrência nos mercados,
designadamente onde ela seria mais necessária, do ponto de vista quer do
consumidor, quer do contribuinte, isto é nos mercados públicos. Quando o
favoritismo, a falta de transparência e a discriminação são promovidos pelas
próprias entidades adjudicantes, não faz sentido pregar moral às empresas.
Para cumprir cabalmente a sua missão, é essencial que a AdC seja dotada do
máximo de independência compatível com a Constituição e as leis.
III. O CDS é favorável à intervenção do Presidente da República e da
Assembleia da República na nomeação do Presidente e dos membros da AdC,
como expressão da desgovernamentalização que deve presidir à designação e
à actuação desta Autoridade.
Num Estado de direito democrático, a independência de qualquer autoridade
não pode, porém, dissociar-se da sua obrigação de prestar contas -
“accountability” - perante aqueles que são os titulares do interesse público
que lhe compete prosseguir.
Por isso, o CDS preconiza que o Conselho da AdC apresente anualmente o
Relatório das suas actividades à AR e que o seu Presidente compareça na
competente Comissão Parlamentar para prestar todas as explicações sobre a
execução da política de concorrência, sem prejuízo do respeito devido à
confidencialidade requerida pelos segredos de negócios das empresas e pela
presunção de inocência.
O CDS considera igualmente indispensável criar, em Portugal, as condições
para uma eficaz e competente tutela jurisdicional em domínio tão complexo,
como contraponto à existência de um sistema de sanções pesadas como são as
que, justificadamente, correspondem à violação das regras de concorrência.
Neste plano, o CDS é favorável à criação de um tribunal especializado para as
questões de regulação e de concorrência que não só assegure o controlo
jurisdicional da legalidade da actividade da AdC e das entidades reguladoras
sectoriais, mas que igualmente apoie os tribunais comuns na sua tarefa de
aplicar o direito nacional e o direito comunitário da concorrência,
designadamente através do reconhecimento de direitos indemnizatórios a
todos (consumidores ou empresas) os que sejam efectivamente lesados por
comportamentos contrários às normas, de concorrência e outras, aplicáveis
nos vários mercados.
IV. A profunda crise da economia mundial, originada no centro do sistema
financeiro internacional demonstra, contudo, que os mercados têm
necessidade de uma regulação que dê resposta às suas falhas e insuficiências.
A regulação dos mercados só deve, porém, intervir enquanto for claro que a
concorrência não é suficiente para assegurar que o mercado funcione de modo
a proporcionar eficácia e utilidade social, isto é, perante “falhas de
mercado”. Com efeito, a regulação pode ter, nos mercados em que se aplica,
um efeito perverso equivalente ao de um monopólio.
E assim é, quer a respeito de sectores estruturalmente sujeitos à concorrência
(indústrias transformadoras, transportes rodoviários, serviços financeiros e
outros), quer relativamente a sectores estruturalmente não concorrenciais
(como os sectores dos serviços de interesse económico geral,
tradicionalmente sujeitos a monopólios de serviço público e, desde há alguns
anos, por todo o lado, em vias de liberalização/privatização –
telecomunicações, electricidade, gás, abastecimento de água).
As normas de carácter regulatório, baseadas sobretudo numa lógica de
administração dos mercados, tendem a assumir um carácter excessivamente
impositivo e a derrapar para a micro-regulação do mercado e do
comportamento das empresas. Acresce que os critérios políticos a que
normalmente se sujeita o legislador tendem a privilegiar as vantagens de
curto prazo e a esquecer os sacrifícios correspondentes: a imposição de
preços máximos agrada naturalmente aos consumidores, mas pode estrangular
a concorrência potencial e impedir assim uma estrutura de mercado mais
competitiva no futuro.
Destinada a dar solução às falhas de mercado, a regulação deve ter por
objectivo a criação de estruturas competitivas e limitar-se ao necessário a
alcançar esse objectivo.
O CDS não pode aceitar que, com prejuízo dos interesses dos consumidores e
dos contribuintes, se perpetue a tendência natural das estruturas regulatórias
para a sua auto-justificação, com frequência apoiadas em poderosos
interesses político-económicos aos quais a regulação interessa, desde logo
pelos seus efeitos anti-concorrenciais.
Ainda por cima, as regras de carácter regulatório tendem a ser aplicadas de
modo formalista, mais em conformidade com a conveniência da administração
do que em função do resultado a alcançar.
A regulação sectorial não pode substituir o papel fundamental das empresas
nem pode ser sinónimo de manipulação dos mercados, de burocracia ou de
“imperialismo” da Administração, pretensamente iluminado, impondo-se
impedir a captura da regulação por uma qualquer “ideologia”
circunstancialmente abraçada pela burocracia.
Por outro lado, como as falhas da regulação dos mercados financeiro e
bancário abundantemente demonstraram nos últimos anos, o regulador deixa-
se muitas vezes capturar pelas próprias entidades reguladas, tornando-se um
instrumento laxista, ainda que inconsciente, dos seus interesses.
Ora, o CDS entende que, como decorre dos catastróficos episódios que têm
caracterizado a crise do sistema financeiro internacional, uma regulação
vigorosa, atenta, independente e competente é essencial para manter a
confiança na economia de mercado e evitar as derrapagens que podem
contribuir para miná-la e dar argumentos aos seus inimigos.
Não pode esquecer-se que a distribuição dos custos e dos benefícios da
regulação é, normalmente, assimétrica: os benefícios aproveitam a alguns,
enquanto os custos se repartem por todos.
Com a agravante de que os que saem prejudicados com o processo regulatório
(em particular os consumidores) são, em geral, anestesiados, apenas sentindo
os efeitos negativos indirectamente e de forma já muito atenuada, pelo que o
estímulo à organização para defesa dos interesses é muito ténue.
Na prática, pois, com frequência excessiva, a regulação, em vez de promover
a concorrência acaba por se lhe opor ou com ela entrar em conflito. Ora,
salvo em presença de uma justificação objectiva, a regulação não deve opor-
se à concorrência e, em caso de conflito, deve ceder-lhe o passo Quer isto
dizer que, ao analisar as modalidades alternativas de intervenção regulatória,
o legislador deve sempre pender para aquela que se revele menos restritiva
do funcionamento do mercado, em função do objectivo (supostamente
legítimo) da intervenção.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Revisão da Lei de Concorrência, mediante a adequada discussão
pública.
2. Intervenção do PR na nomeação do Presidente e dos membros da
Adc.
3. Escrutínio parlamentar da actividade dos reguladores.
CULTURA
CRÍTICAS
1. Falhanço no cumprimento do programa eleitoral.
2. Política cultural em dois actos, Pires de Lima e Pinto Ribeiro, com anúncios
não concretizados, projectos abandonados e mesmo insultos entre os dois
Ministros do Governo PS. Como exemplo, a saga do museu do mar da língua
portuguesa e o trágico desperdício do pólo do Hermitage nunca concretizado.
3. Atenção tardia perante os perigos que impendem sobre o nosso património
arqueológico e arquitectónico.
4. Uma anacrónica solução administrativa para o Teatro Nacional de S. Carlos
e Companhia Nacional de Bailado e uma perigosa desatenção perante as artes
performativas e visuais.
Os últimos quatro anos e meio de uma maioria absoluta socialista, foram uma
oportunidade perdida para a Cultura. Importa realçar que o Partido Socialista
falhou clamorosamente nos três objectivos principais a que se havia
comprometido em 2005.
Falhou no objectivo de “retirar o sector da cultura da asfixia financeira” ao
destinar–lhe os Orçamentos mais baixos da última década. A decadência e a
depauperação de todo o sector foram por demais evidentes.
Falhou no objectivo de “retomar o impulso político para o desenvolvimento
do tecido cultural português”, pois não há memória de tamanha atrofia do
tecido cultural, em resultado de ausência de estratégia e decisões erráticas.
O desprezo pela Cultura foi tal, que o Primeiro-Ministro se viu obrigado a
reconhecer o desinvestimento no sector como a maior falha da sua
governação.
Falhou no objectivo de “conseguir um equilíbrio dinâmico entre a defesa e
valorização do património cultural, o apoio à criação artística, a estruturação
do território com equipamentos e redes culturais, a aposta na educação
artística e na formação dos públicos e a promoção internacional da cultura
portuguesa”. Assistimos, durante quatro anos e meio, a uma contestação sem
precedentes em todas as áreas do tecido cultural português: da preservação
do património ao apoio à criação; da música ao bailado; das artes plásticas à
literatura; do teatro à museologia, só houve registo de instabilidade,
insatisfação e indignação. Agentes culturais de todas as áreas, bem como
destacados militantes e ex-Ministros socialistas demarcaram-se frontalmente
da política cultural do Governo e teceram-lhe severas críticas.
Como acreditar, então, no novo programa eleitoral do PS e nos seus
compromissos?
RESPOSTAS
I. O CDS tem afirmado repetidamente que considera a Cultura uma prioridade
para Portugal. Definimos a Cultura como um importantíssimo factor de
desenvolvimento do nosso País, um eixo de afirmação da nossa identidade,
além de elemento de qualificação e coesão social e territorial da comunidade.
Lembramos, ainda, que a cultura é um motor de crescimento económico e um
sector gerador de emprego.
Sem Cultura, um país é um mero somatório de pessoas e terras. Uma
sociedade empenhada na salvaguarda e promoção da sua Cultura, deverá
sempre procurar a síntese entre herança e evolução, entre passado e futuro.
Preservar a herança cultural e desenvolvê-la, reproduzi-la, recriá-la,
reinventá-la. A afirmação cultural de Portugal e da língua portuguesa no
Mundo depende dessa articulação permanente e de uma definição, tão clara
quanto possível, sobre o papel do Estado, nas suas diferentes dimensões. Sem
essa definição e sem estratégia, qualquer Orçamento do Estado para a Cultura
corre o risco de ser um orçamento desperdiçado.
Mas para tal, Portugal precisa de uma visão estratégica para a Cultura em que
o Estado se assume como o garante da preservação herança cultural; da
transversalidade entre cultura e outros sectores, como a Educação, a
Economia, os Negócios Estrangeiros ou o Turismo; da partilha
responsabilidades com autarquias e de parcerias com privados; da liberdade
criativa, da igualdade de oportunidades no acesso à cultura; da difusão
artística e da internacionalização da língua e da cultura portuguesas.
II. A preservação da Herança Cultural é primordial. A valorização e o respeito
pela herança cultural passam por uma alocação ajustada e inquestionável das
verbas necessárias à preservação do património que deve ser salvaguardado.
Defendemos programas específicos para cada área do património material
nomeadamente para preservação, programação e dinamização do acervo
arqueológico, arquivístico, arquitectónico ou paisagístico. O Estado tem de
dar o exemplo, ao não deixar degradar o seu património e os monumentos
nacionais.
Temos de dar garantias de dignidade da nossa rede de museus públicos,
estimulando o mérito de cada instituição no funcionamento, desenvolvimento
e aperfeiçoamento constantes, considerando uma maior autonomia na sua
gestão. É necessário criar programas de incentivo às indústrias criativas que
dêem continuidade, formação e divulgação de competências técnicas e
artísticas tradicionais portuguesas, como a joalharia tradicional e o
artesanato.
O CDS defende programas específicos de salvaguarda, preservação, promoção
e divulgação do património imaterial, assim como um programa específico
para a salvaguarda da língua portuguesa que passará pelo acompanhamento
adequado da introdução do acordo ortográfico, incentivo ao aparecimento de
novos talentos, divulgação dos autores e da literatura portuguesa no
estrangeiro, com especial incidência nos países de língua oficial portuguesa. É
imprescindível voltar a dinamizar o quase extinto ensino da língua portuguesa
no estrangeiro, criando protocolos com universidades e institutos para envio
de leitores.
Tem de ser reexaminada a fusão operada pelo OPART, na qual a Companhia
Nacional de Bailado ficou subalternizada em relação ao Teatro Nacional de S.
Carlos. Os Teatros, e a Orquestra, Nacionais, bem como o Teatro Nacional de
S. Carlos, único teatro lírico português, e a Companhia Nacional de Bailado
deverão, como tais, ser tratados e dignificados, quer do ponto de vista das
condições de funcionamento, quer do ponto de vista da programação.
III. É necessário garantir a transversalidade entre cultura e outros sectores.
Sectores chave, como a Educação, a Economia, o Turismo e os Negócios
Estrangeiros, devem articular-se em permanência através de objectivos
definidos, uma estratégia conjunta e colaboração constante com o sector
cultural. O CDS defende a criação de currículos escolares e actividades extra-
curriculares que valorizem efectivamente a formação artística dos jovens.
Tem de ser dada prioridade ao Turismo Cultural, como factor de
desenvolvimento interno e de internacionalização de Portugal.
Assumimos que para garantir a expansão das indústrias criativas é necessário
dar voz a novas áreas de criação artística e da cultura de projecto; para tal, é
necessário dignificar o ensino de referência e fomentar câmaras
representativas das actividades profissionais, como, por exemplo, o Design.
Reconhecemos a necessidade de tratamento e a abordagem específicas de
determinadas áreas tradicionais que conjugam tradição, formação e
homologações específicas como a joalharia contemporânea portuguesa.
Assumimos a importância de áreas como a Arquitectura e o Paisagismo, como
parte integrante do acervo e da dinâmica cultural e artística, e como tal
devem ser tratadas;
Para o CDS é premente completar um verdadeiro e completo Estatuto dos
profissionais das Artes e dos Espectáculos) um estatuto dos artistas, que
reconheça as especificidades laborais, de protecção social e fiscalidade destas
profissões.
IV. Repartir as responsabilidades, com autarquias e privados, é envolver a
comunidade no sector cultural. Trata-se de promover todas as formas de
articulação, colaboração, coordenação e partilha de deveres e direitos entre
Estado, autarquias e privados. Nomeadamente, promovendo o papel das
autarquias na formação artística, formação de públicos e difusão cultural.
Temos de reformular a lei do mecenato (cuja função actual é resolver
problemas de financiamento dos organismos estatais, levando os grandes
mecenas a substituírem-se ao financiamento do Estado) de modo a torna-la
mais apelativa aos privados e de modo a alargar o número de beneficiários
(para que também projectos independentes e locais sejam apoiados).
O Estado tem de assumir o papel de plataforma de articulação, para que
espaços culturais e cine-teatros municipais tenham programação,
preferencialmente em rede, constante e de qualidade.
V. A liberdade criativa e a difusão artística têm de ser protegidas. O Estado
deve ter um papel de agente mobilizador, abstendo-nos de qualquer
dirigismo, mobilizando os agentes para a criação e oferta diversificada, do
património, às artes contemporâneas (literatura, artes visuais ou dos
espectáculos), das artes performativas ao cinema, estimulando todas as
expressões artísticas porque são a representação e produção actual da nossa
criatividade.
Assim, acreditamos, fortaleceremos os agentes culturais, o desenvolvimento e
o dinamismo cultural fora da alçada do Estado, através de uma intensificação
e responsabilização nas relações com a comunidade, com as empresas e com o
público. O CDS pretende criar, sem demagogias, mecanismos de equilíbrio
entre o apoio à criação/divulgação para o grande público e a
criação/divulgação para públicos mais restritos, evitando uma cultura fechada
sobre si mesma, elitista e hermética. O denominador comum deverá ser
sempre, e intransigentemente, a qualidade.
Reconhecemos a necessidade de maior acompanhamento e estabelecimento
de estratégia para a dignificação da dança contemporânea portuguesa e
zelaremos, intransigentemente, pela oferta de qualidade; só assim é possível
criar públicos mais esclarecidos, dando um passo para um ciclo de exigência
entre a procura e a oferta;
VI. Igualdade de oportunidades no acesso à cultura é o passo seguinte.
Insistimos nas disciplinas culturais nos programas escolares, e maior
dinamização dos serviços educativos, pois insistimos numa maior ligação dos
espaços culturais à comunidade educativa em que se inserem. Defendemos
uma maior aposta no voluntariado cultural, a melhor participação da
comunidade nas instituições e nos projectos culturais. Pretendemos a
continuação e aumento de programas, em rede, de apoio à difusão cultural
através das novas tecnologias, nomeadamente visitas virtuais a museus e
eventos culturais.
O CDS dará continuidade empenhada ao Plano Nacional de Leitura e ao
alargamento da rede de bibliotecas.
V. Apostamos no esforço estratégico e consistente de internacionalização da
língua e da cultura portuguesas, através da nossa diplomacia, mas também
através da diáspora e comunidades portuguesas. Damos prioridade estratégica
ao Brasil e aos países lusófonos, onde a língua é uma mais-valia de afirmação
e onde o sector do livro e do audiovisual podem ter um papel determinante,
fortalecendo uma herança cultural comum.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Alocação ajustada e inquestionável das verbas necessárias à preservação
do património que deve ser salvaguardado. O Estado tem de dar o
exemplo: não deixar degradar o seu património - e os monumentos
nacionais – e dar garantias de dignidade da nossa rede de museus
públicos, estimulando o mérito de cada instituição no funcionamento.
2. Criar programas de incentivo às indústrias criativas que dêem
continuidade, formação e divulgação de competências técnicas e
artísticas.
3. Reexaminar a fusão operada pelo OPART, na qual a Companhia Nacional
de Bailado ficou subalternizada em relação ao Teatro Nacional de S.
Carlos;
4. Garantir uma transversalidade efectiva da Cultura com outros sectores
chave, como a Educação, a Economia, o Turismo e os Negócios
Estrangeiros;
5. Completar um verdadeiro e completo Estatuto dos profissionais das Artes
e dos Espectáculos) um estatuto dos artistas, que reconheça as
especificidades laborais, de protecção social e fiscalidade destas
profissões.
6. Reformular a lei do mecenato;
7. Criar mecanismos de equilíbrio entre o apoio à criação/divulgação para o
grande público e a criação/divulgação para públicos mais restritos,
reconhecendo a necessidade de maior acompanhamento e
estabelecimento de estratégia para a dignificação da dança
contemporânea portuguesa;
8. Estratégia consistente de internacionalização da língua e da cultura
portuguesas, e criar um programa específico para a salvaguarda da língua
portuguesa que passará pelo acompanhamento adequado da introdução
do acordo ortográfico.
DEFESA NACIONAL E ANTIGOS COMBATENTES
CRÍTICAS
1. Carácter híbrido da reforma da estrutura superior das FA.
2. Retrocessos nos Antigos Combatentes e nos Deficientes das FA.
3. Instabilidade na Lei de Programação Militar.
A Defesa Nacional faz parte do elenco clássico das políticas públicas que
implicam um consenso de Estado nas suas opções estruturantes. A
responsabilidade essencial deste consenso passa pelos Partidos que assumem
a opção estratégica pelo Atlântico e a participação de Portugal na NATO.
Ao longo da legislatura, o CDS ofereceu sempre disponibilidade para esse
consenso. No entanto, assinalamos como notas de maior preocupação quatro
áreas: o nítido retrocesso nos direitos e reconhecimento dos Antigos
Combatentes e Deficientes das Forças Armadas; o regresso de algumas
empresas, directa ou indirectamente ligadas a indústrias militares, a uma
situação financeira deplorável; e o carácter híbrido, potencialmente
conflitual, da reforma da estrutura superior das FA. Chamamos ainda a
atenção para o custo prazo – nomeadamente em cenário de crescimento
económico – dos recuos nos incentivos que constituem âncoras de uma
profissionalização bem sucedida das FA.
RESPOSTAS
I. A Defesa Nacional constitui uma das prioridades fundamentais do Estado e
deverá ser vista e assumida na sua forma multi-dimensional e tendo em conta
as ameaças resultantes das mudanças geopolíticas do mundo actual.
Neste contexto, a política de Defesa Nacional passa por um modelo adequado
de serviço militar, pela reestruturação e reequipamento das Forças Armadas,
pelo reforço das componentes extra-militares da Defesa (por ex: defesa da
costa contra infiltração de droga e imigração clandestina, protecção das águas
nacionais), pela eficácia dos serviços de inteligência e por uma recuperação
do prestígio, e consideração a que tem direito, em qualquer Estado
democrático moderno, a instituição militar.
O modelo de serviço militar continuará a passar por uma componente
profissionalizada que integrará o efectivo permanente dos três ramos das
Forças Armadas. Assim, merece especial relevo o capital humano sem o qual
nenhuma instituição terá possibilidade de se desenvolver e levar à prática a
sua missão.
A profissionalização é, por isso, o mais forte desafio de modernização das FA.
O facto de vivermos uma conjuntura difícil, em termos económicos, tem
permitido que a instituição seja criadora líquida de emprego, mas não deve
iludir-nos quanto às dificuldades de recrutamento que podem existir em fase
de crescimento.
Torna-se, pois, fundamental criar as condições para responder às necessidade
de todos quantos desejam abraçar a profissão militar, para os que nela
desempenham funções e para aqueles que, tendo servido a instituição
deverão, como tal, ter o justo e devido reconhecimento. Como tal, a aposta
na renovação da imagem da Defesa perante a sociedade civil e a consciência
de que hoje ela compete no mercado de trabalho são factores fundamentais
de sucesso. Tal como são a necessidade de saber atrair os jovens, ter
capacidade para os manter nas FA e prepará-los para um futuro que lhes
permita uma reintegração na sociedade civil.
O primeiro desafio que hoje se coloca à Defesa passa assim pela aposta nos
recursos humanos, inseridos em quadros permanentes ou vinculados a regimes
contratuais, cujas qualificações e formação permitem uma resposta eficaz e
adequada aos crescentes desafios que se avizinham, os quais envolvem uma
modernização do próprio conceito de Segurança e Defesa no séc. XXI.
Acresce que a participação activa em alianças de defesa colectiva, em forças
multinacionais de manutenção da paz e segurança, a prevenção e resolução
de crises que afectem quer os interesses nacionais, quer a estabilidade
internacional, e a cooperação com os Países de Língua Oficial Portuguesa, são
outros tantos desafios a que só é possível responder com recursos humanos
motivados e competentes.
O conceito de “menos forças, melhores forças” exige como condição que o
elemento humano possa fazer mais e melhor, com menor número de
efectivos, o que, por seu turno, exige também o acesso a multiplicadores de
potencial de combate e novas capacidades. A principal preocupação do CDS
vai assim para o capital humano das FA, capaz de oferecer, manter e
sustentar novos equipamentos, a par de uma organização modular e flexível,
adequada aos novos requisitos de empenhamento operacional conjunto e
combinado.
Deste modo, o CDS considera essencial dar sustentabilidade à
profissionalização das FA. Isso implica, prioritariamente: corrigir perdas
importantes no sistema de incentivos para quem queira fazer um contrato
com as FA; prever um regime contratual de duração prolongada; potenciar o
serviço militar voluntário como factor de empregabilidade e valorização de
competências. Por outro lado, o sistema de carreiras militares deve seguir
princípios de gestão planeada, privilegiando o mérito no desempenho
funcional. A revisão dos curricula de formação militar, consoante as
necessidades das missões e em coerência com as carreiras, é outro objectivo
importante. Acrescentamos, ainda, o incremento da empregabilidade dos
militares não permanentes.
II Questão não menos importante é aquela que se refere aos Antigos
Combatentes e aos Deficientes das Forças Armadas. É um compromisso
completar o processo de reconhecimento dos Antigos Combatentes, universo
de Portugueses a quem o país deve prestar uma gratidão que o actual
Governo, infelizmente, diminuiu.
Tão importante como isso é saber dar um passo em frente nas questões que se
prendem com a saúde dos Antigos Combatentes, nomeadamente no âmbito do
“stress de guerra” e da reabilitação dos que ficaram incapacitados. Enfim, é
compromisso do CDS restabelecer direitos sociais dos Deficientes das Forças
Armadas que, inexplicavelmente, foram cortados, encarando com outra
dignidade este sector da nossa população. E dar mais ênfase a programas de
recuperação e dignificação dos cemitérios de militares Portugueses nos países
onde houve teatro de guerra.
III Para a valorização das Forças Armadas é também relevante a estabilidade e
o bom progresso dos programas de reequipamento. Nesta matéria é um sinal
preocupante o adiamento da revisão ordinária da Lei de Programação Militar.
Estando feitas as opções principais, face ao carácter obsoleto de muitos dos
materiais das FA, a questão está em executar positivamente os programas.
Até pela sua absoluta prioridade para as missões, a nossa preocupação é
recuperar o atraso nos NPO e NCP – Navios de Patrulha Oceânica e Navios de
Combate à Poluição - e ultrapassar as indefinições quanto ao Navio
Polivalente Logístico. Também nos preocupam os atrasos na modernização dos
actuais C-130, na substituição dos antigos Allouette, programa conjugado com
os helis ligeiros do Exército: estes atrasos ameaçam ter consequências
operacionais. A querela judicial permanente em torno da arma ligeira tem de
ser ultrapassada. Todos estes programas, note-se, estão previstos e
cabimentados na actual LPM.
IV Uma visão moderna da segurança, à luz de um conceito mais vasto de
segurança humana, implica que as Forças Armadas podem e devem participar
mais missões, nomeadamente de interesse público, tal como apontam os
actuais Conceitos Estratégicos. Estaremos disponíveis para uma clarificação
dos dispositivos constitucionais nesta matéria, tendo em conta que a próxima
legislatura é de revisão constitucional.
No plano internacional, é relevante uma actuação com base no conceito de
segurança cooperativa. Coerentemente, deve reforçar-se o pragmatismo, a
eficiência e a responsabilidade pública na aquisição, uso e manutenção de
equipamentos, conjugando as componentes de defesa (defense), segurança
(security) e protecção (safety). Esta visão contemporânea da Defesa deve ter
reflexo na doutrina e no ensino militar, potenciando o que é conjunto.
V O CDS partilha o entendimento segundo o qual Portugal pode ter ambições
selectivas nas indústrias de defesa, geradoras de emprego, tecnologia e
riqueza nacional. Mas isso implica visão estratégica e uma aposta integrada
nas indústrias em que podemos crescer, procurando, quando for o caso,
parcerias internacionais credíveis.
Contra a visão “departamental” desta matéria, a experiência de casos como
as OGMA e os Estaleiros de Viana do Castelo prova que há sinergias entre
indústrias e investimentos civis e militares. Coerente com o contributo que
deu neste sector, o CDS tudo fará para ampliar as possibilidades de Portugal
em mercados como a manutenção e fabrico aeronáutico, construção naval e
tecnologias de comunicação.
Tal como sucedeu nos países que conseguiram modernizar com êxito as
respectivas FA, o CDS considera relevante o desenvolvimento do Sistema
Integrado de Gestão da Defesa Nacional, a autonomização de uma Agência de
Património da Defesa para, mediante directrizes claras, rentabilizar o caso
especial dos activos patrimoniais das FA – condição de sustentabilidade de
outras políticas no sector. A política de contrapartidas carece de uma
direcção clara, profissionalização dos seus agentes e divulgação, pública e
periódica, dos seus resultados.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Prioridade aos recursos humanos da Defesa Nacional.
2. Tomar medidas para sustentar a profissionalização das FA e evitar
rupturas no recrutamento em cenário de crescimento.
3. Retomar uma política de reconhecimento dos Antigos Combatentes.
4. Compromisso com os direitos sociais dos Deficientes das FA.
5. Melhorar sensivelmente a resposta do sistema em caso de “stress de
guerra” e reabilitação.
6. Clarificação constitucional dos conceitos de segurança e defesa.
7. Maior empenhamento das FA em missões de interesse público.
8. Ambição industrial em sectores como manutenção e fabrico
aeronáutico, construção naval e tecnologias de comunicação.
9. Gestão autónoma do património da Defesa.
10. Profissionalização das contrapartidas e divulgação pública e periódica
dos seus resultados.
EDUCAÇÃO
CRÍTICAS
1. Facilitismo na consideração nos deveres dos alunos.
2. Desautorização do professor.
3. Estatuto da carreira docente injusto.
4. Redução do problema da educação à avaliação dos professores e arrogância
em todo o processo.
O actual primeiro-ministro não é avaliável sem a sua Ministra de Educação,
que sempre se recusou a substituir (embora anuncie informalmente a sua não
recondução, caso vencesse as eleições). Precisamente porque ambos
significam um estilo – a arrogância - deram testemunho de uma incapacidade
marcante de perceber os erros a tempo.
A Educação foi transformada no laboratório de ensaio das demonstrações de
força de um poder absoluto. O maior erro cometido foi a perseguição da
imagem e a diminuição de autoridade dos professores como um todo e
enquanto classe, uma classe, tentando “virar” o país contra os docentes.
A outra linha de força da política educativa foi a tentação de obter sucesso
estatístico a todo o custo, diminuindo os critérios objectivos, legais e
regulamentares de exigência na avaliação dos alunos. Um país onde o
desemprego jovem atinge os 20% não pode satisfazer-se com as ilusões do
facilitismo.
RESPOSTAS
I. A educação, em Portugal, passou por momentos de enorme conflitualidade.
Os resultados práticos de uma política de confronto estão infelizmente à
vista. A paz que seria necessária nas escolas tem faltado. A autoridade dos
professores acabou por ser, de uma forma gratuita, posta em causa. Os pais
demonstram, de forma constante, preocupação pelo futuro da formação dos
seus filhos. São sistemáticos os problemas, desde a carreira docente, às
condições das escolas, ou ao grau de facilidade dos exames. Tudo se vai
repetindo sem grande inovação todos os anos lectivos.
Infelizmente os estudos internacionais independentes não registam grandes
evoluções nos graus de literacia em matérias tão relevantes como a Língua
Portuguesa, Matemática e Ciências. A preocupação com os alunos é cada vez
menos sentida em políticas que não assumem o lugar central da educação. Os
documentos legislativos relativos ao Estatuto do Aluno, Estatuto da Carreira
Docente, e Sistema de Avaliação dos Professores, tiveram polémica a mais e
resultados a menos.
II. Para o CDS é evidente o excesso de peso do Ministério da Educação, a
acção asfixiante do Estado, a falta de uma cultura de responsabilidade e de
exigência, a ausência de liberdade de escolha para as famílias e a exiguidade
da autonomia. Tudo isto tem de ser alterado. Para o efeito, é necessária a
vontade reformista de terminar com o excessivo peso da “5 de Outubro”. A
vontade de controlo ideológico sobre a área da educação chegou, nos últimos
quatro anos, a níveis inéditos.
Infelizmente, ainda hoje, a liberdade de aprender e de ensinar que
defendemos está esquecida devido a um conjunto de preconceitos que a
esquerda não consegue ultrapassar. Felizmente, à direita, existe um partido
que assume dentro do seu caderno de encargos, uma politica de educação em
que a liberdade de escolha, entre as escolas do Estado e entre estas e as
particulares e cooperativas não é escamoteada.
Assim, pretendemos que sejam aplicadas, nos próximos quatro anos, em
Portugal, um conjunto coerente de propostas, enquadradas em sete linhas
essenciais i) reforçar a autonomia das escolas ii) avançar, progressivamente,
para uma maior liberdade de escolha em famílias em relação à escola que
querem para os seus filhos iii) instituir um sistema de avaliação geral e justo
na educação iv) concretizar um estatuto da carreira docente motivador v)
apostar na vertente pedagógica dos vários ciclos de ensino vi) reforçar a
exigência, o rigor e a qualidade do ensino vii) modernizar os currículos e os
ciclos de escolaridade.
III. O CDS propõe o reforço da autonomia das escolas após ter apresentado e
discutido, no Parlamento, o primeiro projecto completo para a liberdade de
escolha e autonomia das escolas. O CDS não se resigna perante escolas que
não têm a autonomia necessária para determinar o seu caminho no plano
pedagógico e administrativo. Assim, entre as medidas prioritárias para a nossa
Educação defendemos a necessidade de assinar mais contratos de autonomia
e acompanhar - com o necessário reforço orçamental - a actividade das
escolas que se encontram sob contrato de associação.
Consideramos que as escolas devem possuir autonomia para determinar -
dentro de um quadro comum - a sua oferta pedagógica, a sua política de
contratação de professores, a gestão do seu espaço e a ligação ao ambiente
empresarial e social em que se inserem. Tudo com a liderança de um Director
de Escola e de um conjunto de órgãos com estrutura simplificada, aberto à
sociedade, valorizando o papel dos pais e co-responsabilizando a comunidade,
e com competências bem definidas.
O Director da Escola deve ser professor. Garante, após formação própria e
especializada, a gestão profissional dos vários recursos existentes na escola.
Por essa via as escolas serão dotadas não só de maior autonomia, como
também de crescente responsabilização.
A oferta pedagógica das escolas deve, dentro de certos limites, ser flexível.
Só assim, se poderá adaptar o sistema de ensino aos dias de hoje e conseguir
a necessária ligação entre a escola e o mundo profissional de cada
comunidade em concreto. Mais do que impor a escolaridade, importa que esta
esteja adaptada ao emprego. Só desta forma será verdadeiramente atractiva
e eficaz. É este o grande desafio dos dias de hoje para o qual o CDS propõe
soluções.
Reafirmamos que a autonomia é condição da identidade de cada escola. E é
entre essas identidades que a família deve poder escolher.
IV. Defendemos que, de forma gradual, deve ser dada às famílias liberdade de
escolha das escolas frequentadas pelos seus filhos. Para esse efeito, deve
surgir a ideia de serviço público de educação baseado na qualidade. O CDS
não se resigna a uma falsa distinção entre educação pública e privada baseada
no proprietário da escola. Se a escola é propriedade do Estado, de privados ou
de cooperativas, o interessa às famílias é o serviço educativo que prestam.
Estas devem poder escolher a escola dos seus filhos - estabelecido que esteja
o necessário enquadramento financeiro - de acordo com o projecto
pedagógico que é apresentado. A escolha deve ser livre e depender do juízo
que se faça sobre o modelo de escola apresentado e desenvolvido. Esta
liberdade não pode estar limitada, como hoje sucede, àqueles que mais
posses têm ou, no caso do ensino do Estado, à alternativa entre a casa de
morada da família ou do emprego dos pais. A escolha pode ter como aspecto
essencial, entre outros factores, o ensino mais especializado de uma
determinada disciplina, a sua adequação ao destino profissional do aluno, as
práticas pedagógicas e disciplinares do estabelecimento, os métodos de
ensino, a importância dada à preparação física e ao desporto ou às artes, os
resultados que se conseguem naquela escola. Ou seja, a escolha é uma
preferência efectivados pais, tal como a autoridade, na escola, é dos
professores.
A liberdade de escolha corresponde à maior alteração que se pode instituir na
Educação em Portugal, terminando com a ideia de um Ministério da Educação
que tudo domina e determina. O seu papel deve definitivamente passar a ser
menos relevante. Defendemos um método gradualista, com um primeiro passo
de experimentação a nível regional.
Primária será a ideia de qualidade e de informação transparente com base em
critérios claros e objectivos. Deste modo, deve existir um sistema de
avaliação das escolas que tenha como ponto central a vertente pedagógica.
V. Defendemos um sistema geral de avaliação na Educação que abarque as
políticas educativas, as escolas, os alunos, os manuais, os programas e os
professores.
A avaliação das escolas deve ser universalizada e tornar-se uma prática
regular. Só assim será possível avançar com as mudanças necessárias. A
avaliação deve ter critérios objectivos e conhecidos, atender às realidades
sociais subjacentes e premiar o esforço que se faz no dia-a-dia das escolas.
A política de exames deve - como objectivo a prazo – visar o princípio da sua
realização no final de cada ciclo. Para esse efeito, a sua introdução deve ser
feita, de modo gradual, no 4.º, 6.º e 9.º ano de escolaridade.
Os alunos devem ser avaliados de uma forma sistemática, regular, e exigente.
Será esse um dos melhores serviços que podermos prestar. Parecem, então
evidente, que se devem retirar os exames da polémica, defendendo para esse
efeito o CDS que a produção destes deve ser realizada por uma instituição
autónoma ao Ministério da Educação, utilizando o sistema dos “bancos de
perguntas” que vão sendo testados ano após ano, com a colaboração das
sociedades científicas e profissionais.
Os programas também devem ser alvo de avaliação. É inaceitável a
manutenção de uma situação em que não se avalia o que é ensinado nas
nossas salas de aula. O sistema tem muita discussão orgânica mas pouca de
conteúdos. Para este efeito devem ser constituídas comissões em que tenham
assento obrigatório as sociedades científicas e profissionais, bem como
personalidades de reconhecida competência na área científico-pedagógica
que esteja em causa.
Em relação aos manuais escolares, é urgente acompanhar a execução da lei
que regulamenta esta matéria. Se necessário, deve caminhar-se para
alterações que lhe venham a dar maior praticabilidade, transparência e
eficiência.
Por fim, o CDS defende o princípio da avaliação dos professores e entende que
é necessário defender o seu prestígio social. Criticámos de forma frontal uma
política persecutória, que quis pôr em causa a autoridade e o brio profissional
dos professores. Sempre defendemos que as escolas precisam de paz e os
professores de ver a sua autoridade defendida. Quem convive todos os dias
com os alunos não são os políticos do Ministério da Educação, são os
professores. Confundir deliberadamente tudo – por exemplo, a progressão dos
professores na carreira e as notas que dão aos alunos; ou o mau desempenho
de alguns, com a imagem de toda uma classe que é essencial ao futuro do país
-, foi um erro político voluntário e forçado.
A avaliação dos docentes deve ter por base o mérito e a qualidade, e ser
centrada nas vertentes científica e pedagógica. Não pode ser burocrática nem
interferir com a avaliação dos alunos. Terá de ser feita sem prejudicar o ano
escolar, reclama uma base hierárquica, não se confunde com “avaliações”
sem competências específicas e precisa de um sistema de arbitragem.
Lançámos como ponto de partida o modelo que actualmente é aplicado no
ensino particular e cooperativo, subscrito por consenso e que se tem revelado
eficaz. Se modelos alternativos tivessem sido estudados a tempo, esta
questão estaria já resolvida e não faria parte dos programas eleitorais.
Isso não sucede por teimosia do Governo e do PS. O CDS não aceita a
manutenção de erros evidentes. O que pretendemos é o prémio para quem
manifeste bons desempenhos, e a ligação entre a avaliação e a necessária
formação contínua para o bom desempenho das funções docentes.
VI. É urgente concretizar um Estatuto da Carreira Docente que seja
motivador, atenda à possibilidade de percursos diferenciados voluntários e
seja adequado à realidade das nossas escolas.
Um dos muitos erros que foi cometido pelo Ministério da Educação foi o da
divisão da carreira docente entre professores e professores titulares, sem que
haja critérios compreensíveis para o efeito. Os efeitos práticos ainda hoje são
sentidos de forma muito negativa nas nossas escolas.
O CDS entende que se deve caminhar para uma carreira docente em que se
considere o trabalho desenvolvido ao longo de toda a carreira, que se
desenvolva em estrutura única, mas que permita, por opção do professor, um
percurso diferenciado em função de responsabilidades de direcção e de
natureza administrativa, tendo em conta a necessária formação especializada
para o exercício das mesmas. Também aqui, a nossa proposta está publicada.
VII. É prioritário apostar na vertente pedagógica dos vários ciclos de ensino: a
preocupação com as salas de aula tem de ser a primeira de qualquer política
de educação.
No ensino pré-escolar defendemos a clarificação dos conteúdos
programáticos, de modo a tornar este nível numa verdadeira preparação para
o ensino primário. Defendemos ainda que se avance rapidamente no sentido
de tornar a oferta educativa universal a partir dos três anos de idade.
No primeiro ciclo do ensino básico, para além da necessária aposta na
formação dos professores com especialização em Língua Portuguesa e
Matemática, devem ser criadas as efectivas condições para o necessário
ensino da Música e das Ciências no plano experimental. A possibilidade de
criação de equipas pluridisciplinares e de horários neste ciclo também devem
constituir prioridades.
No segundo e terceiro ciclo do ensino básico, é necessário reorganizar o
currículo e programas – que têm uma carga horária excessiva e manuais
escolares em abundância – e centrar a carga horária no ensino da Língua
Portuguesa, Matemática, Inglês, Ciências, História, Educação Física e Música.
Dentro desta possibilidade, deve ser considerado o desdobramento das aulas
de Português e Matemática em teórico-práticas e práticas. O ensino destas
duas disciplinas no ensino básico deve utilizar a memorização e a mecanização
como elementos fundamentais na aprendizagem, tendo em conta a
importância da compreensão da mecânica das relações e o contexto dos
problemas.
Já em relação ao ensino secundário, é necessário prosseguir o
acompanhamento da reforma e reforçar os cursos profissionais, estabelecendo
uma rede articulada do ensino profissional, com um conjunto de protocolos,
nomeadamente com o sector empresarial, que potenciem o seu
desenvolvimento. A aposta deve ser nos cursos com saída profissional e
inserção no mercado de trabalho, devendo ser as próprias entidades
empregadoras a colaborar na definição dessas necessidades.
VIII. Importa ainda adoptar um conjunto de medidas que visem melhorar o
dia-a-dia nas nossas escolas. Entre estas cumpre destacar i) a reforma do
Estatuto do Aluno, determinando soluções que correspondam a uma cultura
de dever, rigor, da disciplina e esforço ii) não é aceitável a tentativa de
“passar” à força os alunos, independentemente da assiduidade iii)
responsabilização dos encarregados de educação pelo cumprimento da
escolaridade obrigatória e pelos actos dos seus filhos em relação à escola iv)
adequar a formação profissional dos professores às suas necessidades de
natureza docente v) intensificar o relacionamento com o Ministério da
Cultura, de forma a perspectivar a possibilidade de intervenções escolares,
em matérias de natureza cultural vi) criar aulas de língua portuguesa para
estrangeiros e defesa da relevância do ensino do português no estrangeiro vii)
promover a adesão dos jovens o desporto escolar, utilizando-o como
instrumento de criação de hábitos de vida saudáveis viii) desenvolvimento do
ensino especial, recuperando as equipas de coordenação dos apoios
educativos/educação especial, multidisciplinares, formadas com técnicos com
formação específica para actuar nesta área ix) alargamento a todo o território
da cobertura de oferta pré-escolar a partir dos 3 anos.
IX. Por fim, entendemos que o que é ensinado nas nossas escolas deve estar
intimamente relacionado com os novos tempos e pensado de forma a
desenvolver a imaginação e a criatividade que, no futuro, permitirão
enfrentar desafios e um mundo seguramente diferente.
Defendemos, assim, a modernização dos currículos e dos ciclos de
escolaridade. Por essa via, os programas devem ser reanalisados de acordo
com as novas necessidades. Por outra via, a divisão dos ciclos de escolaridade
em Portugal é excessivamente compartimentada. A normalidade nos Estados
da União Europeia passa pela divisão entre ensino primário e secundário. Com
esta divisão, o estabelecimento dos percursos escolares ficaria mais claro e
mais homogéneo. O debate na educação também passa por esta proposta.
CADERNO DE ENCARGOS EDUCAÇÃO
1. Reforço da autonomia das escolas e dos contratos de autonomia.
2. Alargamento do conceito de autonomia das áreas pedagógicas, de
contratação de professores, gestão de espaços e património e ligação à
comunidade, nomeadamente às empresas, dentro de balizas gerais
comuns.
3. Avaliação objectiva das escolas, dos programas e dos manuais.
4. Avaliação dos professores inspirada no modelo em vigor no Ensino
Particular e Cooperativo.
5. Revisão do Estatuto da Carreira Docente, com base na proposta por nós
já apresentada, terminando com a distinção injusta entre professores e
professores titulares.
6. Introdução gradual de exames no final de cada ciclo escolar.
7. Revisão do Estatuto do Aluno baseada numa cultura de assiduidade,
disciplina e esforço e mérito.
8. Objectivação, transparência e rigor no sistema de produção dos exames
nacionais, que deve basear-se no sistema de “banco de perguntas”,
testado com a colaboração das sociedades científicas e profissionais.
9. Aposta nos percursos diferenciados no ensino secundário e na ligação às
necessidades do mercado.
10. Alargamento de cobertura de oferta pré-escolar a partir dos 3 anos.
EMPRESAS, MERCADOS E ECONOMIA
CRÍTICAS
1. Falências de empresas e escassez de nascimento de novas empresas.
2. Perda de quota de mercado nas exportações.
3. Linhas de crédito com condições inacessíveis.
4. Desvio de missão estratégica de CGD.
5. Problemas de supervisão graves no sistema financeiro.
O governo socialista demitiu-se de orientar esforços, recursos e apoios para
empresas e sectores com boas perspectivas de crescimento, geradores de
emprego e riqueza e potencialmente competitivos a nível internacional. Ao
invés, na última legislatura o governo socialista tornou-se num "bombeiro de
empresas", mas um bombeiro cego que apagava fogos consoante o impacto
mediático de cada empresa ou da sua aproximação ao poder. Não existiu
nunca a avaliação sobre a viabilidade ou a sustentabilidade futura da
empresa.
O primeiro-ministro reagiu tarde à crise internacional, negando-a quando era
já uma evidência. Quando reagiu, fê-lo de forma desordenada e pouco
consistente. As primeiras medidas de apoio às empresas foram totalmente
ineficazes. Eram vagas, demasiado macro, não atendiam aos problemas que
eram diferentes de sector para sector.
Em Portugal, há cerca de 300 mil micro, pequenas e médias empresas,
responsáveis por mais de 2 milhões de empregos, bastante afectadas pela
crise. O Governo pouco se interessou por elas, comparativamente com a
importância dada às grandes empresas, nomeadamente do sector financeiro.
Optou, sim, por um intervencionismo directo estatal, em decisões
empresariais, ou indirectos, utilizando para o efeito a CGD, que com
frequência interveio em relações entre accionistas que são exclusivamente da
esfera privada destes. Com isto criou-se a ideia de que a proximidade ao
Estado se tornou um factor crítico de sucesso.
RESPOSTAS
I. Nos últimos anos, Portugal continuou a divergir face à União Europeia, quer
em produtividade média por trabalhador, quer considerando qualquer outra
medida global de riqueza.
Nestes últimos 15 anos, o crescimento económico foi demasiado alavancado
em investimento público em infra-estruturas, que não é igualmente
importante e que, seguramente nos últimos quatro anos, pouco contribui para
o aumento da competitividade das nossas empresas ou para a atractividade do
País na captação do investimento externo. Ora, o valor acrescentado marginal
do novo investimento público nestes domínios é cada vez menor.
Portugal ainda não se afastou do modelo de desenvolvimento baseado num
modelo económico de baixos salários e de baixa qualificação profissional. Este
modelo não resiste aos impactos da globalização do século XXI.
A economia portuguesa tem revelado incapacidade de canalizar investimento
para a inovação, investigação e desenvolvimento. O pouco investimento que
existiu, correspondente a uma das mais baixas taxas da Europa, pouco
contribuiu para o aumento da riqueza ou criação de emprego.
Nesta legislatura, Portugal não se tornou mais competitivo face a outras
economias europeias, nomeadamente da Europa de Leste. Ficámos aquém das
necessidades na captação de mais investimento externo, o que também é
revelador da fraca competitividade do nosso país. Parte significativa desse
investimento foi feita em empresas já instaladas, não correspondendo a
empresas criadas de novo em Portugal.
Em termos de exportações, um dos motores do crescimento dos últimos anos,
o investimento não resultou tanto de uma estratégia interna e concertada,
mas mais uma vez do efeito exógeno do crescimento do comércio global. A
nossa posição relativa no mercado mundial tem-se vindo a degradar.
Perdemos mais de 10% de quota de mercado nos últimos 5 anos.
A este facto, juntam-se outros aspectos que nos fragilizam. Somos um dos 5
países da OCDE com mais sobreposição de “perfil exportador” com as
economias emergentes da Ásia, e assim mais ameaçado num futuro próximo.
Somos um dos países europeus com menor número de marcas internacionais e
com menor controlo dos seus canais de distribuição, factores essenciais para o
aumento do valor acrescentado das exportações, e logo, para o aumento da
capacidade e competitividade internacional. Cada vez mais, somos um país de
serviços com reduzida industrialização, com alguns sectores a viver em
situações monopolistas ou demasiado proteccionistas, excessivamente
próximas da politica governamental, quer por via da detenção do capital,
quer por via regulamentar.
Não obstante este cenário pouco animador, o Estado continuou a “cavalgada
fiscal” com consequências na deterioração da competitividade das nossas
empresas e inibição da atracção de investimento externo. A carga fiscal
aumentou de 34% para 38%, o que se traduziu não apenas num aumento da
carga fiscal relativa, mas também num aumento em valor absoluto.
Acresce que sofremos ainda uma enorme dependência energética dos
combustíveis sólidos, nomeadamente do petróleo. De uma forma geral, os
preços da electricidade e do gás são superiores aos dos nossos parceiros
comunitários, principalmente da Espanha. Foram feitos esforços na
diversificação para fontes de energia alternativas e renováveis. Mas não houve
uma redução significativa dos custos energéticos para as empresas.
A nossa economia assenta principalmente em pequenas e médias empresas, na
maior parte dos casos focadas no mercado nacional e regional onde se
inserem, com uma desproporção do sector terciário face ao secundário. Cerca
de 250 mil empresas de dimensão média não elevada – até 50 trabalhadores -
são responsáveis por mais de 1,5 milhões de empregos.
Por fim, existem fortes assimetrias regionais, já que 6 distritos são
responsáveis por cerca de 70% do tecido empresarial Português.
II. Numa economia aberta, global e competitiva, de forma a ser
comparativamente forte, é fundamental que qualquer país defina claramente
quais os sectores de actividade económica onde quer estar, para os quais
pretende canalizar a maior parte dos seus recursos financeiros e os seus
melhores recursos humanos.
Para tal é necessário analisar os sectores a apoiar numa perspectiva
integrada, procurando estimular o aparecimento e o fortalecimento de
empresas em cada uma das fases da cadeia de valor do respectivo sector.
Adicionalmente, atendendo ao desequilíbrio da Balança Comercial Portuguesa
e ao valor elevado da dívida pública face ao PIB português (insustentável a
médio prazo), importa não só procurar estimular empresas com vocação
exportadora, mas também empresas que produzam bens e serviços em que
Portugal seja deficitário, de que são exemplos as empresas dos sectores agro-
alimentares, automóvel ou energético. As linhas de crédito e as linhas de
seguros de crédito à exportação deverão ter em atenção estes objectivos
estratégicos.
Assim, a atenção do Governo deverá estar centrada em seis pilares
fundamentais: i) fomento das exportações e internacionalização das empresas
portuguesas ii) captação de investimento estrangeiro para Portugal iii) gestão
focada dos fundos nacionais, comunitários e linhas de crédito iv) geração de
emprego qualificado a longo prazo v) promoção de actividades e empresas
que valorizem os recursos naturais de Portugal vi) redução dos custos
energéticos para os cidadãos e as empresas.
III. No que respeita ao fomento à exportação e à internacionalização das
empresas, importa criar condições para fortalecimento e o ganho de escala da
nossa indústria, de forma a produzir bens com mais qualidade, mais
inovadores e mais baratos.
Atendendo à reduzida dimensão da indústria portuguesa, é necessário
promover activamente a concentração empresarial, no sentido de ser possível
obter ganhos de escala e capacidade de investimento em Investigação &
Desenvolvimento. O recente Fundo para Consolidação e Concentração de
empresas portuguesas deve ser impulsionado, assim como precisam de
impulso os reforços dos capitais próprios das empresas, nomeadamente
através do recurso ao mercado bolsista.
O Estado deve promover e divulgar proactivamente os acordos entre Portugal
e outros países que facilitem a venda de produtos portugueses no exterior. As
indústrias com vocação exportadora devem ser claramente apoiadas, sendo
colocado ao seu serviço toda a capacidade de influência do Estado Português,
nomeadamente através da AICEP e da rede diplomática, que podem prestar
mais apoio quer à internacionalização das empresas quer às acções de
captação do investimento directo estrangeiro. Os diplomatas, observadores
acreditados, com acesso a contactos ao mais alto nível e com a possibilidade
de obterem informação privilegiada, são trunfos muito importantes para a
entrada e permanência das nossas empresas nos mercados internacionais. A
informação que as embaixadas dispõem inclui a análise da situação política e
da existência de eventuais riscos para o investimento, o que muitas vezes
escapa às empresas, particularmente às PMEs.
Ainda a respeito do papel da nossa representação externa, importa valorizar
os consulados e o seu contacto com as comunidades portuguesas, onde
podemos incluir também os portugueses que ocupam lugares de destaque em
empresas estrangeiras. A dimensão empresarial das comunidades portuguesas,
a sua experiência e domínio dos mercados podem ajudar muito aos novos
investimentos, assim os consulados possam servir de correia transmissora
desse capital de conhecimento.
O CDS defende, pois, o apoio da rede diplomática, que deve ser dotada dos
meios necessários à prioridade absoluta que devemos dar à
internacionalização das empresas portuguesas. Tal passa por i) promover as
exportações portuguesas junto dos Estados de acreditação ii) ajudar à
captação do investimento directo estrangeiro iii) apoiar em concreto a
implantação das empresas portuguesas (incluindo a protecção consular aos
cidadãos nacionais que as integrem) iv) por prestar, a pedido e sempre que
possível (sem quebrar regras de confidencialidade), informações que possam
ser relevantes para os agentes económicos nacionais v) por apoiar e promover
acções de divulgação do país como destino turístico de excelência.
IV. A captação de investimento estrangeiro para Portugal assume uma
importância fundamental para o desenvolvimento económico do País, pois
temos um défice de capacidade de investimento endógeno.
Para promover esse investimento, importa elaborar uma estratégia integrada
de captação de investidores para Portugal, dando a conhecer os sectores em
que o País tem vantagens competitivas, definindo um enquadramento fiscal e
regulamentar atractivo, formando mão-de-obra em quantidade e qualidade
suficiente e reduzindo ao máximo os custos de contexto.
Há ainda factores estruturais na nossa economia, como a demora na justiça ou
falhas na qualificação da mão-de-obra, que são decisivos num ambiente
favorável ao investimento.
A captação de investimento estrangeiro deverá ser efectuada de uma forma
selectiva, ou seja, analisando bem o custo/benefício desse investimento e sua
sustentabilidade futura. Investimentos que não incorporem muita mão-de-
obra, produtos ou know-how português são menos prioritários, no elenco dos
apoios, face aos investimentos cuja incorporação nacional seja mais elevada.
Nas eventuais contrapartidas que o Estado Português der ao investimento
estrangeiro deve sublinhar-se a salvaguardada contratual da permanência
mínima do investimento em Portugal e da incorporação de determinados
volumes de bens ou know-how nacional.
V. A aposta na qualificação deve de ser prioritária na economia Portuguesa. É
imprescindível podermos formar pessoas capazes de competir no mercado
global. Hoje, os trabalhadores portugueses concorrem não apenas com os 400
milhões de europeus, mas também, e cada vez mais, com gerações de quadros
bem qualificados que todos os anos saem dos países BRIC, com particular
incidência para o Brasil, Índia e China.
Hoje existem novas formas de trabalho, novas valências técnicas que Portugal
pode e deve aproveitar. Devemos por isso incentivar a inovação por via da
formação. Para isso, é importante apoiar as despesas que as empresas
efectuam com os seus empregados na conclusão de licenciaturas, cursos de
pós-graduação, mestrados ou doutoramentos.
Paralelamente, devem ser criados mecanismos de incentivo para melhoria na
qualificação dos trabalhadores. O Estado pode prolongar o subsídio de
desemprego a trabalhadores que utilizem o tempo em que estão
desempregados para melhorar a sua formação (frequência de um curso
superior com aproveitamento, mestrados e cursos de pós-graduação). Os
incentivos poderão advir também de períodos de carência de empréstimos ou
de comparticipação em empréstimos bancários, cujo fim seja exclusivamente
utilizado no pagamento dos custos de formação.
VI. De entre as actividades que o Estado deve promover, têm um lugar
particularmente relevante as que valorizam o aproveitamento dos recursos
naturais do país. Aqui incluem-se as pescas e seus derivados, a agricultura e a
agro-indústria, a silvicultura, a pasta de papel e a biomassa.
Se é verdade que as pescas e os seus derivados têm sido, teoricamente, uma
prioridade da economia portuguesa, em termos práticos a importância deste
sector tem vindo a descer de ano para ano. Portugal apresenta indiscutíveis
vantagens comparativas neste sector, destacando-se a sua vasta zona
económica exclusiva. Os apoios devem ser no sentido do aumento da
capacidade de pesca, da valorização do pescado nos mercados nacionais e
internacionais e da melhoria da capacidade de transformação a jusante, por
exemplo, na produção de conservas, congelados, farinhas e outro tipo de
produtos à base de peixe.
Portugal tem claras vantagens comparativas na produção de alguns produtos
agrícolas. O apoio a estes produtores deve ser privilegiado, no sentido de
ganharem escala e dimensão e de conseguirem aceder a mercados externos.
Toda a fileira florestal portuguesa, para a qual o país está vocacionado,
deverá ser estimulada e apoiada. A valorização da floresta, o apoio ao
emparcelamento e à gestão única de várias propriedades de pequena ou
média dimensão, os incentivos a toda a indústria transformadora da madeira e
de cortiça, o aproveitamento de resíduos florestais para a produção de
energia (biomassa) são áreas a ter em atenção.
Por fim, apesar de o turismo ser um sector já de há muito eleito como um dos
sectores estratégicos para Portugal, há ainda muito a fazer no sentido de
alargar a sua importância. Para além do turismo tradicional onde somos
bastante fortes, é necessário procurar outro tipo de turistas, nomeadamente
através do turismo residencial e do turismo cultural, de saúde e bem-estar.
Estes tópicos serão, naturalmente, desenvolvidos nas respectivas áreas
programáticas.
VII. A elevada dependência energética do país faz perigar a nossa
competitividade e agrava os custos dos serviços básicos para os cidadãos.
As empresas portuguesas são duplamente penalizadas: em primeiro lugar pela
subida dos custos com a energia e em segundo lugar porque pagam, em geral,
mais que os seus concorrentes em Espanha e noutros países, pela
electricidade, pelo gás e por outros combustíveis, o que as prejudica
adicionalmente na sua competitividade relativa.
A criação e o tratamento do défice tarifário energético pelo Governo
socialista é, em tudo, semelhante ao tratamento do endividamento do Estado.
O Governo atira para as gerações futuras custos originados pelas suas más
políticas.
Para inverter esta tendência haverá que i) melhorar a eficiência no consumo
ii) melhorar, diversificando, a oferta energética iii) aumentar claramente a
transparência e concorrência no sector.
VIII. O actual sistema de gestão de fundos de apoio empresarial não é
coerente e contém injustiças relativas. Os mecanismos de acesso a fundos
comunitários, linhas de crédito ou comparticipações de investimentos,
aparecem como medidas avulsas sem qualquer tipo de integração entre elas.
As medidas apareceram ao sabor do eleitoralismo do momento, fruto muitas
vezes da pressão de associações sectoriais. Daí que, em várias áreas, haja
uma baixíssima taxa de execução das medidas anti-crise.
Se o principal objectivo para as nossas empresas é fomentar a exportação,
deveremos focar nestas os mecanismos de apoio, bem como nos sectores
internos considerados estratégicos. Importa também estabelecer medidas de
apoio e comparticipações nas garantias dos seguros de crédito das empresas
de seguros que operam no mercado, sem recorrer a medidas mais radicais
(como a “nacionalização” da COSEC) que possam resultar numa distorção
indesejada do mercado, não resolvendo, aliás, a questão de fundo.
No que respeita ao QREN, um dos mecanismos de financiamento mais
importante à disposição dos empresários, importa simplificar e facilitar todo o
processo de candidaturas, porquanto actualmente as regras de acesso são
confusas, as janelas de oportunidade para as candidaturas muito curtas e a
complexidade do processo é, muitas vezes, incompatível com uma pequena
empresa que pretenda candidatar-se. Desburocratizar o QREN, é urgente.
As linhas de crédito são uma boa política, desde que não contenham
condições impossíveis. Como o CDS atempadamente denunciou, não é
aceitável exigir i) a existência de lucros nos últimos 2 de 3 anos ii) a
inexistência de dívidas ao fisco ou à segurança social iii) esta mesma
condição, mesmo quando o Estado é devedor à empresa. Este tipo de critérios
afasta muitas empresas viáveis das linhas de crédito.
IX. O CDS defende uma alteração radical das prioridades da política
económica do governo. Um dos grandes erros do governo socialista foi a
prioridade dada às grandes empresas, em detrimento das micro, pequenas e
médias empresas.
Foram estas empresas que mais sofreram com a crise, primeiro com a
dificuldade no acesso ao crédito de curto prazo, principalmente através de
contas caucionadas e depois com quebras muito acentuadas do mercado
interno e de exportação. Hoje vivem dificuldades na quebra dos mercados
agravadas com o problema dos seguros de crédito.
Por outro lado, continuamos a assistir a um Estado predador cuja prioridade é
arrecadar receita fiscal sem qualquer critério ou sentido de justiça e que
muitas vezes não cumpre as suas obrigações de devedor.
Para alterar esta situação asfixiante para as empresas, o CDS propõe i) o
reembolso mensal do IVA ii) a compensação fiscal dos créditos do Estado,
podendo as empresas fazer a compensação entre créditos junto da
administração fiscal e débitos à Segurança Social iii) a obrigação do Estado
pagar juros de mora, uma vez decorridos mais de 30 dias sobre a data do
pagamento da factura iv) a simplificação e facilitação dos instrumentos de
acesso aos fundos comunitários ou de apoio empresarial, facilitando os
procedimentos e avaliações quando se trate de empresas de menor dimensão
v) o fim da grotesca exigência de garantias, por parte do Estado, para o
Estado pagar as suas dívidas vi) o incentivo ao capital de risco ou aos fundos
de investimento que invistam nas PME´s e que com essa participação possam
trazer não apenas capital mas também know how de gestão vii) o incentivo à
fusão ou aquisição de empresas com vocação exportadora viii) a discriminação
positiva das PME na desburocratização da Administração Pública e,
principalmente, nos mecanismos de acesso a fundos de apoio empresarial viii)
uma condição de preferência, para as PME’s, em igualdade de circunstâncias,
nos fornecimentos do Estado até certo montante.
X. A existência de um sector financeiro forte, moderno competitivo e de boas
práticas é fundamental para a competitividade do país. Um sector financeiro
sólido é um pilar da sustentabilidade do tecido empresarial português.
Neste contexto, urge definir a missão da Caixa Geral de Depósitos na
economia e principalmente no seu papel no apoio às empresas. Até hoje a
CGD alternou entre o papel de banco do Estado, substituto do extinto IPE,
capital de risco estatal ou financiador de investidores privados na luta pelo
controlo de grandes empresas nacionais. Paralelamente, a CGD, pelas
participações directas ou indirectas através dos fundos que controla, tem sido
utilizada de uma forma mais ou menos clara, para manipular, intervir e
participar nas grandes empresas nacionais. Importa redefinir e clarificar
definitivamente o papel do banco estatal.
O CDS defende a manutenção da Caixa Geral de Depósitos sob controlo do
Estado Português. Tendo em conta a situação periférica de Portugal, a sua
pequena dimensão, e a concentração bancária relativamente elevada, é
relevante a existência de um Banco importante controlado pelo Estado. No
entanto, este Banco deverá ter uma missão definida, e as políticas de
incentivo a determinados sectores ou empresas devem ser acessíveis através a
todo o sistema bancário e não apenas utilizando o canal privilegiado do banco
estatal. O CDS defende uma mudança radical: a CGD deve ter um mandato
político claro no sentido de apoiar as famílias e as PME´s e ainda mais
especialmente em processos de consolidação e exportação. A CGD deverá ter
um Conselho de Supervisão próprio, em nome da transparência da sua missão.
Ao nível de participações do Estado no sector financeiro, defendemos a
dispersão em bolsa de parte do capital do sector segurador da Caixa Geral de
Depósitos, tendo em vista a redução do peso do Estado neste sector.
Defendemos que a participação no Banco Português de Negócios deve ser
alienada com a brevidade possível, e que a situação do Banco Privado
Português deve ser resolvida definitiva e rapidamente, mediante as propostas
que já apresentámos.
XI. É urgente reforçar a credibilidade da supervisão em Portugal. É necessário
não só melhorar a imagem do Banco de Portugal, mas também a sua filosofia
de actuação.
Assim sendo, o CDS defende que o banco central, bem como outros
reguladores, seja sujeito a escrutínio democrático, tendo a obrigação de,
regularmente, prestar contas à Comissão Parlamentar de Economia e
Finanças, respondendo assim ao País sobre as actividades desenvolvidas na
supervisão e controle do sistema financeiro.
É decisiva uma nova leitura da supervisão, dando muito mais ênfase à
componente de inspecção e auditoria preventivas.
Importa reforçar a solidez financeira e de gestão das instituições, não só
através da aplicação de rácios mais exigentes, mas também promovendo e
apoiando a fusão e integração de instituições. Uma outra componente
prioritária é um aumento da exigência quanto à composição dos órgãos
sociais, reforçando a capacidade de gestão, os poderes dos accionistas e uma
idoneidade acrescida.
Reiteramos que a actual leitura da supervisão, assumida pelo actual
Governador do BdP, não oferece garantias de que casos como o BPN, o BPP e
o BCP, diferentes entre si mas que abalaram a confiança no sistema, não vão
repetir-se.
O CDS considera importante a intervenção do PR na nomeação do Governador
e Administração do BdP. Para conciliar a necessidade de fiscalização com a
independência dos supervisores, o CDS trabalhará para que uma de duas
soluções sejam adoptadas: a possibilidade de um procedimento de
“impeachement” dos reguladores, de tipo parlamentar, em condições
especialmente graves e mediante uma maioria qualificada; ou a
impossibilidade de renovação de mandatos.
XII. É entendimento do CDS que o peso do Estado na economia portuguesa é
excessivo, seja como empregador, como consumidor de bens e serviços, como
adjudicador de obras públicas, seja ainda como accionista de empresas que
competem directamente com operadores privados (exemplo da banca,
telecomunicações, energia, media, entre outros sectores e actividade
económica).
No sentido de adequar a dimensão do Estado aos serviços que este deverá
prestar, tendo em conta as condições do mercado i) no inicio da legislatura
deve ser definido um plano de alienações das participações do Estado,
directas ou através da Parpública ii) deste Plano ficam de fora, naturalmente,
a Caixa Geral de Depósitos e as participações na área da defesa, bem como
todas aquelas onde haja compromissos assumidos pelo Estado e em que a
manutenção da posição accionista seja condição para a execução dos
referidos compromissos iii) devem ser alienadas participações que o Estado
detém em empresas como, por exemplo, a ANA, Autódromo, Margueira,
Lisnave, Inapa ou ZON iv) as golden share em empresas como a PT, EDP ou
REN, ou as empresas do sector de transportes mais críticas e de elevada
função social não se enquadram neste plano .
A nível do sector segurador, em que a CGD controla cerca de 40% através da
Caixa Seguros (Império-Bonança e Fidelidade Mundial), não se vê razão para
não alienar uma das empresas ou, em alternativa, dispersar o capital da Caixa
Seguros com preferência para os pequenos investidores.
As participações municipais devem ser revistas. Faz pouco sentido as
autarquias serem cada vez mais operadores económicos.
Existem ainda mercados demasiados fechados que actuam em regime muito
protegido com consequências negativas para o utilizador e o consumidor final.
Os mercados energéticos, alguns sectores dos transportes sejam eles
marítimos, ferroviários ou marítimos, e sectores como o das telecomunicações
ou o da água, devem ter o seu nível de concorrência visivelmente aumentado.
XIII. O CDS não esquece as lições que devem retirar-se da crise financeira
internacional. Como Partido defensor de uma economia de mercado com
responsabilidade ética, consideramos que é preciso porfiar e insistir na
transparência e em regras claras, que não permitam o retorno a tipos de
comportamentos lesivos de confiança da sociedade, dos accionistas e dos
depositantes.
Promoveremos, por isso, a adopção de boas regras de conduta, inspiradas no
quadro de decisões do G-20 e em documentos de “governance” já publicados
em Portugal.
A dissuasão de bónus de gestão precipitados, a verificação dos resultados por
revistas plurianuais, a transparência – e, portanto, independência – das
empresas auditoras face às instituições que as contratam, o maior poder de
controlo dos accionistas sobre o sistema de remunerações, estão entre as
medidas que ajudam à separação do “trigo do joio” no sistema. O nosso
objectivo é garantir boas e sóbrias práticas neste sector determinante para a
economia.
CADERNO DE ENCARGOS: ECONOMIA
1. Reembolso mensal do IVA.
2. Compensação de créditos entre dívidas do Estado às empresas e dívidas
das empresas à segurança social ou ao fisco.
3. Pagamento obrigatório de juros de mora, decorridos 30 dias sobre o
prazo de pagamento da factura.
4. Desburocratização do QREN.
5. Linhas de Crédito focadas nas PMEs, sem condições “impossíveis” de
acesso. Sublinhado especial para as empresas exportadoras e de
sectores produtivos.
6. Condição de preferência para as PMEs, nos fornecimentos do Estado até
certo montante.
7. Incentivos ao capital de risco e aos fundos de investimento em PMEs.
8. Definição precisa e incontornável de missão de CGD: apoiar o crédito às
PMEs. Conselho de Supervisão na CGD.
9. Desenvolvimento do Fundo para a consolidação e concentração de
empresas portuguesas.
10. Prioridade absoluta à diplomacia económica, com trabalho mais
integrado dos vários agentes.
11. Aposta na qualificação dos trabalhadores e dos desempregados. Apoio
às despesas das empresas com empregados que concluem cursos de
nível académico superior; e ao desempregado que, nessa
eventualidade, frequenta, com aproveitamento, cursos superiores.
12. Aposta clara no aumento da concorrência no sector energético, visando
a necessária redução de custos para as empresas.
13. Modificação profunda da política de supervisão do Banco de Portugal.
14. Consagração da figura do “impeachement” dos reguladores, em
circunstâncias de falha grave. Em alternativa, consagrar mandatos
únicos.
15. Plano de alienações das participações do Estado e privatizações nos
próximos 4 anos.
16. Redução significativa do número e espécie de empresas municipais.
17. Promoção de boas práticas de “governance”, efectivamente dissuasoras
do tipo de comportamentos que estiveram na origem da crise
financeira internacional.
ENERGIA
CRÍTICAS
1. Incapacidade de promover a eficiência energética.
2. Bloqueio à concorrência nos mercados de energia.
3. Mobilidade insustentável.
Apesar da propaganda do Governo Socialista, Portugal tem aumentado o seu consumo de
energia primária e tem aumentado muito o consumo de electricidade nos últimos anos,
continuando a crescer acima da média europeia. Não obstante o aumento da capacidade
instalada de renováveis, a verdade é que na última década tem-se verificado um
significativo crescimento do consumo de electricidade e um boom na importação de
electricidade, o que fragiliza a política energética do Governo sustentada nas
renováveis.
RESPOSTAS
I. Por conseguinte, Portugal vê-se necessitado de reduzir drasticamente a sua ineficiência
energética, do lado da procura, e ao mesmo tempo actuar no sistema electroprodutor,
dando especial ênfase às tecnologias limpas e com menor custos de capital, de
combustível, de operação e manutenção. Por outro lado, é necessário abordar o sector
dos transportes de forma integrada no restante sistema de energia. Em Portugal,
aproximadamente 30% das emissões de CO2 são originadas pelos transportes, sendo que
grande parte dessas emissões advém dos transportes rodoviários.
Relativamente ao desafio climático, importará recordar que na submissão do inventário
de 2009, as emissões de Gases com Efeito de Estufa de Portugal, sem contabilização das
emissões de alteração do uso do solo e florestas, encontram-se 10,3% acima da meta do
Protocolo de Quioto. Os dados agora divulgados continuam a mostrar a dificuldade de
Portugal em cumprir Quioto, cuja meta de 27% de aumento de emissões em relação a
1990 está já em vigor, desde Janeiro de 2008, e tem de ser respeitada para o período
2008-2012. Apesar das emissões de CO2/capita da UE-27 terem descido desde 1990,
Portugal viu as suas emissões aumentarem em mais do que uma tonelada/capita entre
1990 e 2006.
Para além da mitigação das alterações climáticas, Portugal tem de ser capaz de reduzir a
sua dependência energética, que em 2006 era de 83,1%. Note-se que somos o sexto país
da UE-27 com maior dependência energética.
Quanto ao mercado de electricidade, tem-se verificado que os sistemas eléctricos de
Portugal e Espanha não dispõem de uma capacidade de interligação suficiente para
permitir o livre-trânsito de electricidade e, por conseguinte, sustentar um preço ibérico
único. Ao contrário de Espanha (que permitiu a entrada de novos players no mercado,
EDP inclusive), Portugal encontra-se numa situação sensível, por o mercado ser dominado
por uma única empresa. Esta ausência de verdadeira concorrência em Portugal teve sinais
prejudiciais, não só para o consumidor final e para os comercializadores de energia, mas
também para a EDP, já que esta não recebeu o incentivo para melhorar a sua eficiência
no aprovisionamento de energia primária (carvão, GN e petróleo).
Os consumidores/cidadãos ainda não sentiram os efeitos adversos da política do Governo
para o mercado de electricidade, já que nos últimos anos tem sido tomada a decisão de
não reflectir, na tarifa do mercado regulado, o aumento dos preços da energia primária
(petróleo, gás natural e carvão), que originaram um aumento dos preços grossistas. Esta
decisão política anulou as margens dos comercializadores em mercado liberalizado e
criou um défice tarifário de 2 mil milhões de euros, que será pago pelos consumidores a
partir de 2010 durante 15 anos. Neste momento o défice tarifário já está a custar 400€ a
cada consumidor.
No que diz respeito ao mercado do gás, importa salientar que o preço do Gás Natural para
consumidores domésticos praticado em Portugal era, em 2006, o 4.º mais alto da UE-27.
O mundo enfrenta duas crises: a crise económico-financeira, originada pela incapacidade
de gerir o risco no sector financeiro; e a crise climática, cujas consequências parecem
distantes mas dependentes das atitudes do presente. Apesar de aparentemente
desfasadas, estas duas crises podem gerar uma estratégica e bem sucedida simbiose.
É necessária uma política sintonizada com os desafios económicos e com as carências
socais, e que ao mesmo tempo promova o crescimento Clean Tech. Vários líderes
mundiais - dos EUA à China - já perceberam que “verde” não é apenas uma opção mas
uma necessidade para recarregar as economias locais e criar empregos. Este tipo de
investimento não só dará um estímulo à economia, no curto prazo, como aumentará a
competitividade de Portugal, uma vez que os países pioneiros em tecnologias limpas
estarão em vantagem face aos demais. Portugal tem a oportunidade para gerar
crescimento baseado em tecnologias limpas, combatendo os negócios incumbentes
ligados à cultura do petróleo e promovendo empregos de “colarinho verde”.
Assim, é necessário que o novo Governo de Portugal construa as “estradas” rumo à
sustentabilidade energética e apresente aos cidadãos os incentivos certos para que estes
“viagem” eficientemente.
II. No que respeita à eficiência energética, O CDS-PP defende que um plano de acção
para a eficiência energética deve ter como objectivo primordial reduzir as emissões de
CO2 equivalente/capita, uma vez que este indicador possui sensibilidade ambiental. O
segundo objectivo deve ser a redução do consumo de energia primária/capita e só em
terceiro lugar é que se deve avaliar a redução da intensidade energética (que
corresponde à primeira meta proposta pelo Governo no PNAEE - Plano Nacional de Acção
para a Eficiência Energética).
Para alcançar bons resultados neste domínio é necessário: i) facilitar a participação do
sector privado nos investimentos em eficiência; ii) monitorizar e avaliar consumos,
assegurando que as políticas para a eficiência energética (tanto as voluntárias como as
obrigatórias) sejam monitorizadas e avaliadas com exactidão, o que implica, no caso
português, para além das boas práticas sugeridas pela Agência Internacional de Energia,
avançar com a contagem inteligente de energia, pois sem um sistema de medição preciso
e detalhado da energia consumida (e produzida via microgeração), sem recorrer a
estimativas, é impossível avaliar planos de acção para a eficiência energética; iii) basear
as políticas para a eficiência energética em indicadores transparentes e claros.
Ao contrário do que se passa com o PNAEE, concebido unicamente sob a tutela do
Ministério da Economia e da Inovação, importa assegurar que um plano de acção para a
eficiência energética deve resultar de uma estreita colaboração entre os diversos
Ministérios, já que o mesmo terá de ser dotado de uma visão holística dos consumos e
envolver o Estado totalmente na implantação do programa. Lembre-se que o consumo
energético por parte do sector público representa quase 10% do consumo total nacional.
Por isso mesmo, entendemos que dever ser criado o Ministério do Clima e da Energia,
resultante de um spin-off de ministérios pouco vocacionados para essas áreas (como o
Ministério da Economia). Tal opção permite conceber eficazmente políticas transversais a
todo o Governo.
Ainda no domínio da eficiência energética é urgente sensibilizar a comunidade. Tal
poderá ser feito através de diversas medidas como: i) “escola guardiã da energia”,
através da distribuição de informação em formato electrónico com conteúdos que
espelhem a importância de alterar comportamentos na escola, visando a redução de
consumos de energia e do estímulo a alunos e professores para a elaboração de
diagnósticos que permitam evidenciar situações anómalas que carecem de correcção ao
nível da eficiência energética; ii) “casa energética”, que vise a redução dos preços da
energia (electricidade e gás) para famílias numerosas e para famílias atingidas pelo
flagelo do desemprego, reflexo da actual crise económica e promova medidas de
eficiência energética em que a DGEG e/ou a ADENE, em parceria com as Agências
Regionais e Municipais de Energia e com as Associações Ambientalistas, sejam
responsáveis pela sua disseminação, implementação e monitorização; iii) “certificação
energética PMEs”, possibilitando Auditorias Energéticas com 50% de redução nos seus
custos (através de um prévio acordo a estabelecer com Entidades Certificadoras que
adiram a esta medida) exclusivamente para PMEs, e permitindo às PMEs usufruir da
“Medida Solar Térmico 2009” nos casos em que sejam consumidoras de água quente
solar.
III. No que respeita à electricidade limpa há diversas áreas de intervenção. Considerando
a futura capacidade instalada de renováveis, é necessário que existam grupos geradores
capazes de fazer backup das renováveis (i.e. eólica), dada a sua variabilidade intra-
diária, e load following (acompanhar variações do consumo). Só há dois tipos de unidades
geradoras capazes de fazer backup e load following: as hídricas com albufeira e os grupos
a gás natural. Sabendo que já está previsto o reforço da hídrica com albufeira, o CDS-PP
entende que os grupos a gás natural são uma tecnologia fundamental para o mix
energético de Portugal, já que são as unidades mais flexíveis. Por outro lado, a aposta em
centrais de gás natural, ao contemplar a entrada de novos actores, aumentará o nível de
concorrência no mercado de electricidade.
No que diz respeito à energia das ondas e à eólica offshore, o CDS-PP apoia a
investigação e desenvolvimento dessas soluções energéticas (dado o potencial da costa
oceânica portuguesa), na medida em que se consiga aumentar a eficiência dos sistemas,
aumentar a fiabilidade e a sobrevivência dos equipamentos e reduzir os custos das
estruturas.
Relativamente à energia solar fotovoltaica, o CDS-PP defende que esta será mais útil
quando instalada nas residências, já que os respectivos custos são significativamente
inferiores aos associados às instalações centralizadas de grande escala (como os projectos
de Serpa e Moura apoiados pelo Governo). Em instalações residenciais, a electricidade
gerada pelos painéis fotovoltaicos é injectada directamente na rede de distribuição,
próxima dos consumos, sem haver necessidade de investimento em novas linhas
eléctricas.
Quanto à energia solar térmica, o CDS-PP apoia vivamente programas que visem
incentivar a instalação de colectores solares nas residências, para fins de aquecimento de
água. No entanto, estes programas devem respeitar as regras de livre concorrência e
transparência, matéria em que o Governo socialista não tem sido exemplo.
No que diz respeito à microgeração de electricidade, o CDS-PP considera que o sistema
promovido pelo Governo “Renováveis na hora” tem deficiências operacionais, pelo que
vem apresentar as soluções seguintes. Tendo em conta que uma grande percentagem das
candidaturas é feita por entidades colectivas – quando o objectivo principal era o de
fomentar o envolvimento de consumidores domésticos como produtores de electricidade –
, o CDS-PP defende a criação de uma quota para pessoas individuais da ordem de pelo
menos de 75%. Como o sistema está estrangulado – pelos call centres das empresas –, e os
concursos só abrem durante uma ou duas horas, é necessário desenvolver uma logística
que permita às pessoas registarem-se em períodos mais alargados. Sabendo que há uma
grande vontade por parte das pessoas em implementar sistemas de microgeração, seria
útil aumentar a potência instalada de cada microgerador para além dos 3,68 kW.
Relativamente à tecnologia Carbon Capture and Storage instalada nas centrais térmicas,
o CDS-PP defende actividades de I&D visando o aumento da eficiência do sistema e a
redução dos custos de captura do CO2.
Por fim, o CDS-PP defende o desenvolvimento de estratégias para o armazenamento de
energia renovável excedente. Existem várias tecnologias capazes de armazenar energia,
sendo que a mais madura consiste na utilização das hidroeléctricas com albufeira, com
bombagem accionada por energia eólica. Para além desta tecnologia, os veículos
eléctricos também são uma opção para aproveitar energia renovável excedente, através
de estratégias de carregamento inteligente (smart charging).
IV. No que toca à mobilidade sustentada, apostamos em tecnologias limpas e
energeticamente eficientes. Importa promover a integração de veículos híbridos e
eléctricos, ao abrigo do conceito Vehicle-to-Grid. Note-se que os veículos eléctricos
quando carregados de forma inteligente (aproveitando as renováveis em excesso durante
a noite), permitem reduzir as emissões de CO2 do sistema transportes + geração de
electricidade.
Relativamente aos biocombustíveis, o CDS-PP advoga o fim dos subsídios aos
biocombustíveis com impacto nos alimentos e a redução das restrições à importação de
biocombustíveis mais eficientes e sem impacto nos alimentos. O CDS-PP defende,
igualmente, os biocombustíveis de segunda geração (tecnologia HVO), já que estes
apresentam diversas vantagens a nível de incorporação de poder calorífico (melhor
combustão), rendimento e emissões.
Como a aposta na inovação tecnológica não é suficiente para lidar com as alterações
climáticas e com a pobreza energética, o CDS-PP vai mais além, defendendo o aumento
da taxa de ocupação dos veículos (do mesmo modo) e a transferência modal. Para tal, é
necessário implementar serviços inovadores com o auxílio das TIC, tais como: táxis
colectivos; minibus expresso; clube de carpools; e integração de viagens de longo curso
em transporte colectivo com a distribuição local/regional.
Não obstante a eficácia das medidas propostas, na realidade alguns dos conceitos
mencionados não seriam hoje legais. Como tal, o CDS-PP defende que as agências
reguladoras devem retirar barreiras ao funcionamento dos conceitos em cima descritos,
para que se encontre um compromisso entre estabilidade e inovação.
Defendemos a definição de preços racionais, reflectindo para o cliente a escassez e os
impactos externos, mas sempre salvaguardando situações vulneráveis do ponto de vista
social.
Sustentamos ainda a necessidade de limitar a procura através do método dos preços,
criando medidas como o estacionamento sujeito a tarifas variáveis ao longo do dia e
avaliando a possibilidade de outras como a tarifa por faixa de rodagem nas auto-estradas.
VI. Desde 1 de Julho de 2007, os mercados de electricidade e gás dos Estados da UE estão
totalmente abertos. No entanto, alguns países, como Portugal, continuam a utilizar
tarifas reguladas, defendendo que estas são uma ferramenta para proteger os mais
vulneráveis. A protecção de situações vulneráveis não pode, no entanto, confundir-se
com o uso de tarifas reguladas para todos os consumidores. Segundo o grupo de
reguladores europeus para a electricidade e gás (ERGEG), os mercados concorrenciais não
podem coexistir com os mercados regulados. A regulação do preço do gás e da
electricidade definido para o utilizador final distorce o funcionamento do mercado e
fragiliza a segurança do abastecimento e o esforço para combater as alterações
climáticas.
Assim, no que respeita a electricidade, defendemos: i) a entrada de novos produtores em
Portugal, de forma a apresentar alternativas de concorrência no mercado da produção; ii)
o reforço significativo da capacidade de interligação, para diminuir a diferença entre os
preços em Espanha e em Portugal; iii) o reforço da interligação entre a Península Ibérica
e a França, o que teria um grande impacto ao nível de concorrência no mercado ibérico;
iv) a criação do conceito de operador dominante no espaço português do MIBEL (EDP) e no
espaço espanhol do MIBEL (ENDESA e IBERDROLA), e exercê-lo de forma a restringir o
acesso dos mesmos à interligação, nos dois sentidos, de forma a impedir que os agentes
dominantes em cada mercado obstaculizassem a entrada de novos players dependentes
do uso da interligação; v) a disponibilização de capacidade da produção da EDP aos
operadores de mercado, através de leilões de capacidade; vi) a consideração do o preço
da energia do mercado português na fixação da tarifa de electricidade, em vez do preço
do mercado espanhol.
Suportados nas sugestões do ERGEG (grupo de reguladores europeus para a electricidade
e gás) e da Autoridade da Concorrência, defendemos a extinção progressiva da figura
“Comercializador de Último Recurso” e consequente fim das tarifas reguladas, de forma a
promover a livre concorrência da comercialização de electricidade e retirar barreiras aos
entrantes. A protecção que decorre das tarifas reguladas deverá ser apenas assegurada
para os clientes mais vulneráveis.
Logo que estejam instalados os contadores inteligentes, imprescindíveis no domínio da
eficiência energética, entendemos que os comercializadores de electricidade devem ser
obrigados a informar os consumidores se estes estão no tarifário mais correcto e, caso
não estejam, o quanto poderiam poupar com uma mudança tarifária.
No que respeitam ao gás, defendemos o aumento da flexibilidade tarifária, visando a
redução de custos unitários de utilização da rede de alta e média pressão para todos os
utilizadores. Nesse âmbito, deverão ser aprovadas novas opções tarifárias de curtas
utilizações e curta duração nas tarifas de acesso às redes e ao terminal de GNL (Gás
Natural Liquefeito).
Para que os operadores entrantes (mais pequenos do que o incumbente) possam utilizar o
Terminal de GNL, é necessário desenvolver um mecanismo de swaps. O CDS-PP entende
que este mecanismo de trocas de GNL beneficia tanto os entrantes (que passam a
conseguir gerir desequilíbrios entre a entrada de gás no sistema e o consumo da sua
carteira de clientes) como o incumbente (que adquire maior flexibilidade com o gás
adicional armazenado). Note-se que a abertura de um mercado à concorrência não pode
ser feita através de uma remuneração do incumbente – monopolista – que apenas é
penalizado por perder a natural quota de mercado, subjacente a um processo de
liberalização. Como tal, o incumbente não deve cobrar uma tarifa regulada por um
serviço de swaps.
Tal como defendido para o sector da electricidade, e mais uma vez em sintonia com as
sugestões do grupo de reguladores europeus (ERGEG), defendemos que a regulação do
preço do gás definido para o utilizador final distorce o funcionamento do mercado e
fragiliza a segurança do abastecimento. Como tal, a figura do “Comercializador de Último
Recurso” deverá ser eliminada progressivamente, a fim de se desenvolver um mercado
concorrencial para o GN.
CADERNO DE ENCARGOS ENERGIA
1. Reduzir os preços da energia (gás e electricidade) para as famílias numerosas e para as
famílias atingidas pelo desemprego.
3. Garantir efectiva concorrência no sector.
4. Apostar na eficiência energética e no mix energético.
5. Desenvolver estratégias para o armazenamento da energia renovável excedente.
6. Sintonizar, politicamente, os desafios económicos com as carências socais.
7. Basear as políticas para a eficiência energética em indicadores transparentes e claros.
ENSINO SUPERIOR, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
CRÍTICAS
1. Fraco investimento em ciência
2. Falta de incentivos à captação de investigadores/professores portugueses
no estrangeiro
3. Inadaptação do estatuto da carreira docente à reforma dos métodos de
ensino, com a manutenção de regras rígidas, cerceadoras da liberdade das
instituições
A percentagem de pessoas com formação superior em Portugal é bastante
abaixo da média europeia. Portugal não tem licenciados a mais. Por outro
lado, o investimento feito em investigação está muito longe de atingir as
metas de 3% do PIB.
A Universidade portuguesa enfrenta os desafios da qualidade, da
internacionalização e da competitividade. É essencial canalizar esforços
financeiros para a ciência e a investigação, bem como elevar o nível geral
de formação superior.
O Governo impôs centralmente um modelo de adaptação às exigências de
Bolonha sem contudo atender a que Bolonha é bastante mais do que
semestralizar currículos e encurtar os ciclos de estudo. Não cuidou,
nomeadamente, de adaptar o estatuto da carreira docente aos novos
métodos de ensino. O salto da qualidade de ensino, da excelência da
investigação, da integração no espaço de competição internacional ainda
está por fazer.
O Governo não cuidou também de compreender as especificidades do ensino
politécnico, à luz dos objectivos próprios para que foi criado, não lhe dando
a relevância e o enquadramento merecidos.
RESPOSTAS
I. Nas sociedades mais desenvolvidas a ciência, a investigação e a inovação
desempenham um papel primordial no desenvolvimento das sociedades e no
relançamento da economia. Por isso, tem sido avultada a aposta na
economia do conhecimento por parte dos países desenvolvidos, bem como
dos países emergentes. Estreitamente ligada à ciência encontra-se o sector
do ensino superior, no seio do qual se desenvolve principalmente o ensino e
a investigação nos mais variados domínios. Neste contexto, o ensino superior
e a ciência constituem dois aspectos nucleares da construção e dinamização
de uma economia do conhecimento. Portugal é, de entre os países da OCDE,
um dos que tem menos diplomados pelo Ensino Superior, Universidades e
Politécnicos em percentagem da população activa.
A acrescer, Portugal tem uma taxa de desemprego muito elevada de
licenciados, sobretudo jovens. São situações a corrigir com toda a
prioridade.
O CDS-PP considera primordial defender o prestígio e o futuro sustentado do
ensino superior português e reforçar a aposta na ciência.
Portugal pode orgulhar-se de ter um ensino superior com um vasto e valioso
acervo cultural, científico e pedagógico. Sucessivas gerações de estudantes
têm frequentado com êxito e adquirido as suas formações nos mais diversos
domínios em prestigiadas instituições portuguesas do ensino superior
público, concordatário, privado e cooperativo. Muitos dos estabelecimentos
de ensino universitário e politécnico gozam de prestígio internacional, sendo
o destino pretendido por estudantes de outras nacionalidades.
Como um dos pilares fundamentais da construção do futuro, o ensino
superior português anseia por se adaptar aos novos tempos. A globalização,
a competitividade - não só ao nível empresarial, mas também ao nível
universitário - e o despontar de novos desafios, obrigam o sistema de ensino
superior português a mudar rápida mas sustentadamente para continuar a
cumprir com êxito as suas funções, nomeadamente ao nível pedagógico,
cultural e científico.
A Universidade Portuguesa conheceu um período muito atribulado com a
adaptação dos seus currículos às exigências da Declaração de Bolonha. Os
ciclos de ensino foram reorganizados, com um encurtamento considerável,
nomeadamente ao nível das licenciaturas, com vista ao favorecimento de
uma entrada mais rápida no mercado de trabalho e, sobretudo, à construção
de percursos académicos diversificados, através de uma mobilidade entre
áreas científicas. Bolonha também visou motivar uma transformação nos
métodos de ensino e aprendizagem, focando em particular a aquisição de
competências transversais e o trabalho com autonomia, munindo assim os
estudantes de ferramentas de aprendizagem ao longo da vida.
Depois de Bolonha, veio um período de grandes mudanças institucionais,
com a adopção de um novo formato jurídico e formas de organização da
Universidade.
Mais alterações, nomeadamente ao nível do estatuto da carreira docente
estão em discussão.
O processo de Bolonha não foi conduzido nem completado de forma
satisfatória. Em muitos casos os currículos dos cursos foram simplesmente
divididos entre licenciatura e mestrado, levando à necessidade de se
completar o mestrado para se poder ingressar na vida profissional.
Uma Universidade com mais qualidade é, desde logo, a que serve a
comunidade onde se insere e prepara profissionais capazes para
desempenharem cabalmente as suas tarefas e intervirem activamente na
sociedade. Da Universidade espera-se a preparação de elites académicas
capazes de modernizar o país, melhorando-o, pelo seu desempenho
profissional e rigoroso, e pela sua intervenção.
É por isso que o levantamento da empregabilidade dos cursos tem de ter
consequências, e a ligação das empresas ao ensino superior deve ser
estimulada pelo próprio Estado através de instrumentos de adesão à
realidade. É também por isso que, se um dos grandes objectivos do país é a
internacionalização, por maioria de razão a nossa Universidade carece de
internacionalização.
A ligação da Universidade à sociedade civil, de que existem bons mas não
generalizados exemplos, é particularmente relevante nos domínios da
ciência e das tecnologias, mas não se esgota aí. A própria definição de áreas
de investigação privilegiadas não deve ser feita isoladamente, mas integrar-
se nas necessidades nacionais reconhecidas. A relação entre a Universidade
e as empresas deve ser verdadeiramente prioritária e ter como base a
adequação entre aquilo que é ensinado e as necessidades sentidas de forma
corrente pelas empresas. Não basta um relacionamento formal e artificial e
essa é mais uma das políticas que deve ser revertida.
Cada vez mais a Universidade não é um local de passagem, na juventude,
mas um local de progressivo e cíclico retorno, onde ao longo da vida se volta
para reforçar a qualificação, para actualizar conhecimentos, para reorientar
a carreira profissional. Por isso também, e num contexto de necessidade de
elevação da qualificação da nossa população activa, as empresas que
suportarem estes custos devem poder majorar essa despesa para efeitos
fiscais.
Um ensino superior de qualidade exige uma reforma de qualidade. Neste
sentido, o CDS-PP preconiza a materialização de medidas que visem:
reafirmar a elevada qualidade do ensino superior em Portugal; valorizar o
contributo do ensino superior para o fortalecimento da coesão social
através, nomeadamente, do fomento da igualdade de oportunidades;
dignificar as actividades de ensino, aprendizagem, estudo e investigação;
promover a competitividade dos estabelecimentos de ensino e investigação
a nível nacional e internacional; reforçar a sua autonomia e
responsabilidade.
Reafirmar a elevada qualidade do ensino superior em Portugal implica a
prossecução dos mecanismos de auto-avaliação, bem como a implementação
da avaliação externa, cujo atraso não pode deixar de ser imputado à inércia
ou, pelo menos, fraca actuação do Governo que agora termina o seu
mandato, principalmente no período que decorreu de 2007 a 2009.
II A Universidade tem uma vocação essencial: o ensino. No entanto, a
investigação deve coexistir com o ensino e deve ser factor do aumento de
qualidade deste, da excelência da instituição, da realização profissional dos
professores e da integração da Universidade na Sociedade e na Economia.
Tradicionalmente os professores ocupam-se simultaneamente do ensino e da
progressão científica. Contudo, a multiplicação do conhecimento, a
complexidade da investigação, assente cada vez mais em trabalho de equipa
organizado em redes nacionais e internacionais, e também a elevação muito
considerável do número de doutores nas diferentes áreas científicas, torna
legítimo questionar a autonomização de carreiras. O compromisso com a
qualidade implica apostar na investigação em áreas estratégicas para o país,
assumidas particularmente com cada Universidade e respectivas Faculdades,
Escolas e Institutos. A investigação científica de qualidade deve ser apoiada
de forma inequívoca e generosa. Ela implica também, frequentemente, uma
dedicação que não se compadece com as obrigações exigentes de leccionar.
Isso é particularmente visível nos domínios das chamadas ciências “duras”.
Faz sentido que a par da carreira docente se promovam carreiras dedicadas
exclusivamente à investigação.
Compete ao Estado promover, através de um sistema rigoroso, um
financiamento mais generoso às Universidades que dêem provas de bom
desempenho. Mas o tema do financiamento tem sido utilizado para limitar a
autonomia, que é o fundamento da liberdade da Universidade, condicioná-la
através de modelos jurídicos e asfixiar financeiramente o seu
funcionamento.
O acesso ao Ensino Superior deixa muito a desejar. O sistema de “numerus
clausus” existente deixa de fora muitos alunos com classificação de Bom e
Muito Bom e tão importante como isso não permite que alunos com
classificação de Bom tenham a oportunidade de seguir a sua vocação
profissional, tendo muitas vezes que optar por ir estudar para o estrangeiro.
O caso mais conhecido é o do ingresso nos cursos de Medicina (ou
Arquitectura), em que não é de todo admissível que um aluno com uma nota
de 14 ou 15 valores não possa vir a ser Médico como acontece em qualquer
outro país da Europa.
Adoptaremos uma política de adequação da oferta à procura, aumentando o
número de vagas quando necessário ou fomentando a abertura, nestes
casos, de novos cursos em Universidades do país que deles não disponham.
III. Assegurar a competitividade significa também criar condições parar
aproximar os estudantes do mercado de trabalho, favorecendo a respectiva
inserção, assim como promover e estreitar o grau de relacionamento entre o
ensino superior e o mundo empresarial e profissional. Por outro lado, o
estímulo ao empreendedorismo e à cultura de risco não pode ficar confinado
a cursos na área da gestão, antes devendo ser dinamizado a nível
transversal. Deve ser facultado a estudantes nas mais diversas áreas e
formações, contribuindo, desse modo, para a formação de profissionais que
procurem a inovação, a liberdade e a responsabilidade profissional e
empresarial.
Inovar é introduzir no mercado, a nível global, com sucesso, novos produtos
ou serviços. Inovar não é seguir tendências, é sim, criar tendências novas
que outros seguirão.
A Inovação faz-se sobretudo nas empresas em interacção com o mercado.
A introdução de novos produtos de alto valor acrescentado no mercado é o
meio mais eficaz de aumento do nosso produto e da produtividade.
Ao contrário do que muitas vezes se intui, a inovação não tem de ser
baseada em alta tecnologia, mas na busca de soluções e produtos com valor
perceptível pelo mercado.
Portugal tem infelizmente um dos menores índices de inovação na União
Europeia.
Temos uma das menores taxas de registos de patentes e decerto um dos
menores índices de receitas em royalties e proveitos de propriedade
industrial na Europa.
Fica claro que a inovação é na sua essência empresarial, o que não quer
dizer que não se baseie na investigação científica e tecnológica
desenvolvida nas empresas, nos institutos de investigação e nos
estabelecimentos de ensino universitário e politécnicos.
Também aqui, temos um peso das actividades de Investigação e
Desenvolvimento no PIB, dos menores da Europa (cerca de metade da média
europeia) com uma evolução positiva, sem dúvida, já que se alcançou o
patamar de 1% do produto. No entanto, o aumento com a despesa de
investigação e desenvolvimento não é acompanhado pela concepção,
desenho e produção de bens e serviços com impacto nas nossas exportações
ou na balança de transacções correntes.
A política científica tem de constituir uma das apostas com relevância
duradoura, por parte dos executivos, tal pode ser o seu efeito acelerador
sobre o desenvolvimento e crescimento económico. O potencial de
desenvolvimento da ligação à iniciativa privada está longe de se esgotar.
É possível estimular os agentes económicos a apostar mais na investigação e
desenvolvimento e estabelecer diferentes e mais expeditos meios de
comunicação entre o Estado, as Universidades, as empresas e as instituições
sem fins lucrativos. Para esse efeito a existência de uma política clara é
essencial.
Um dos aspectos a prever é um quadro fiscal atractivo para a Inovação
empresarial e Universitária, que permita competir com os países mais
avançados em tributação de royalties e serviços ligados à propriedade
industrial desenvolvida em Portugal.
Assim, o CDS empenhar-se-á i) num quadro fiscal claro de incentivo às
actividades de I&D ii) na internacionalização do sector científico e de
investigação iii) em privilegiar uma política de ciência e tecnologia ligada às
diferentes regiões de Portugal como forma de as tornar mais atractivas iv)
em facilitar a criação e exploração da propriedade industrial v)em aumentar
as formas de cooperação bilateral entre Estados vi) numa política de
investimento acentuado do Estado em ciência e tecnologia vii) em adoptar
medidas realmente encorajadoras conducentes ao reforço do investimento
privado em CIT que deverão integrar um programa específico que permita a
criação, aquisição ou funcionamento de unidades de I&D lideradas por
entidades privadas viii) incentivos fiscais para as empresas que invistam em
I&D xix) na qualificação dos recursos humanos empregues em Ciência e
Tecnologia, através de programas de formação avançada, e da promoção da
mobilidade e do emprego científico no âmbito empresarial.
Para além da investigação dita aplicada, deve ser apoiada a investigação
dita fundamental, ou “ainda não aplicada” como por vezes se diz, como
meio precursor da inovação, da formação de talentos em investigação e do
avanço do conhecimento em geral, quer nas Ciências e Tecnologias, quer
nas Artes ou Humanidades.
Dentro de uma cultura de promoção do mérito, importa a atribuição de
prémios para teses de doutoramento e trabalhos de pós-doutoramento nos
vários domínios da produção científica.
IV. Assim, no que respeita ao acesso ao ensino superior, o CDS propõe que o
acesso ao ensino superior seja aberto aos alunos de acordo com a sua
vocação profissional, adoptando sistematicamente o princípio da adequação
da oferta à procura pela abertura de novas vagas em cursos existentes, bem
como, autorizando e promovendo a abertura de novas faculdades em
universidades existentes. Pretende-se que durante a legislatura se atinja o
objectivo de todos os alunos com classificação de entrada superior a 15
valores possam aceder, em Portugal, ao curso da sua escolha.
Propomos que as propinas dos Mestrados para os alunos que terminem as
licenciaturas pós-bolonha sejam iguais às das licenciaturas, quando aqueles
sejam realizados na sequência destas, consecutivamente,
independentemente da indispensabilidade para o acesso a uma actividade
profissional, hoje prevista na Lei.
Além das necessárias receitas do orçamento de Estado e das provenientes do
pagamento de propinas pelos estudantes, devem ser admitidos e procurados
como incentivo para a sua actuação outro tipo de financiamentos, tais como
os decorrentes de serviços prestados a entidades diversas, pagamento pela
utilização de instalações (v.g., congressos, seminários e colóquios) e
doações específicas (v.g., provenientes de um tipo de mecenato). Deve ser,
além disso, incentivada uma gestão profissional ao nível destes
estabelecimentos de ensino.
Defendemos a aprovação de um Estatuto da Carreira Docente único para o
Ensino Superior Universitário e Politécnico que também inclua o dos
docentes das Escolas Superiores Militares e Policiais, tendo em atenção as
suas especificidades próprias, de modo a permitir a candidatura por norma
pela via do concurso aberto a todos os candidatos a docentes
independentemente da sua Universidade de origem e nacionalidade, e a
facilitar o seu intercâmbio e mobilidade entre diferentes escolas. A regra
deverá ser a do concurso público documental com obrigatoriedade de
audição pública dos candidatos pelos júris.
Propomos também a revisão do estatuto da Investigação e a facilitação da
transição e mobilidade entre actividades docentes e de investigação
públicas e privadas.
Defendemos que o desempenho dos Estabelecimentos do Ensino Superior
seja relevante para efeitos de financiamento. Assim, como norma, deve ser
considerada a avaliação dos critérios de excelência científicos, pedagógicos,
em comparação com Universidades de referência internacionais, e ainda a
empregabilidade dos estudantes quer da licenciatura quer do mestrado.
Para este e outros objectivos é necessário melhorar o sistema de informação
sobre a própria Universidade: a oferta educacional e respectiva avaliação, o
modo de funcionamento das Faculdades, a avaliação das Faculdades e da
Universidade, a caracterização socioeconómica da população estudantil, a
inserção profissional dos estudantes, o sistema de garantia da qualidade
devem ser conhecidos e actualizados.
V. Na era da globalização mostra-se imprescindível dinamizar a
competitividade internacional dos estabelecimentos de ensino e
investigação portugueses, incentivando a mobilidade e os intercâmbios quer
de professores quer de alunos. Importa, além disso, motivar as
universidades e os politécnicos para aumentar a sua força atractiva de
professores, investigadores e estudantes provenientes de outros países.
Trata-se não só de aumentar a oferta internacional de produtos e serviços
educativos, mas também de potenciar estudos e investigações de qualidade.
As parcerias com outras instituições congéneres internacionais devem ser
promovidas, inclusive na concepção e funcionamento de cursos leccionados
em conjunto por instituições portuguesas e estrangeiras (v.g., pós-
graduações anuais em que os estudantes frequentam num semestre uma
instituição portuguesa e noutro deslocam-se a uma instituição congénere
estrangeira, sucedendo o inverso com os estudantes dessa instituição).
Entendemos que o Estado deve promover generosamente a frequência de
programas do tipo Erasmus, reforçando as bolsas de modo a permitir que só
os alunos com melhores possibilidades financeiras os frequentem. Deve
também generalizar bolsas para os professores e investigadores poderem,
temporariamente, realizar períodos de estudo e de ensino no estrangeiro,
seja ou não em regime de intercâmbio. O contacto com professores e
investigadores estrangeiros, diversos modos de trabalhar e com culturas
institucionais diferentes é crucial para a qualificação e renovação da
Universidade.
Deve ainda ser uma preocupação central dar importância particular à
captação de estudantes estrangeiros, especialmente provenientes dos
PALOP, e bem assim apoiar activamente a realização de programas
universitários conjuntos com universidades em países de expressão
portuguesa. A dimensão do ensino superior deve estar presente de forma
reforçada na nossa cooperação para o desenvolvimento.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Adequação da oferta à procura no ensino superior, assegurando que os
alunos com classificação no mínimo de Bom possam inscrever-se no curso
para o qual se sentem vocacionados.
2. Incentivo a intercâmbio de alunos e professores através de reforço de
verbas para bolsas.
3. Fomento das parcerias entre Unidades Orgânicas nacionais e estrangeiras,
de forma a diversificar e internacionalizar a oferta.
4. Facilitação do intercâmbio e mobilidade de professores de diversas
instituições, nacionais e internacionais, nomeadamente através da
adopção da audição do candidato nos concursos públicos da carreira
docente.
5. Previsão de quadro fiscal atractivo no domínio da tributação de royalties
e serviços ligados à propriedade industrial.
6. Incentivos fiscais para as empresas que invistam em I&D.
7. Reforço da cooperação com os PALOP no domínio universitário.
FAMÍLIA
CRÍTICAS
1. Ausência de uma política transversal e minimamente completa para a família
2. Lei do divórcio
3. Intromissão do Estado no papel e nos direitos da família.
O governo socialista, durante este último mandato, insistiu em ver a família
como uma estatística, um mero conceito ideológico ou um indicador social,
disponível para ser intervencionado ou alterado.
Em vez de uma política estratégica transversal aos vários sectores, a família
foi sempre o elo mais fraco: na fiscalidade, na liberdade de educação, no
apoio especial às famílias mais numerosas, na falta de auxílio especial para
os casais no desemprego, no apoio a quem tem familiares a seu cargo, entre
muitos outros exemplos, da falta de ajuda a quem escolhe não realizar um
aborto até à tentativa de acabar com a isenção de custos do processo de
adopção.
RESPOSTAS
I. Cada família é um todo, uno e único, irrepetível com uma identidade
familiar própria que vai construindo ao longo do tempo.
Para que a sociedade possa evoluir de uma forma saudável, tendo por
objectivo o desenvolvimento integral da pessoa, revela-se fundamental a
existência de uma política de verdadeiro apoio à família em todas as suas
vertentes; quer financeira, quer cultural, quer educacional. O Estado não se
deverá apropriar da função da família, mas é sua responsabilidade garantir
que a família tem possibilidade e a liberdade de exercer eficazmente a sua
missão.
Porque temos uma visão da sociedade em que a família é central, com
naturalidade consideramos que, na próxima legislatura, as políticas familiares
têm de “contaminar”, no melhor sentido da palavra, as várias políticas
públicas.
É por isso que, ao longo deste programa eleitoral, a família surge e surgirá,
praticamente em todos os sectores.
II. Na educação, propomos a revolução que constitui institucionalizar a
liberdade de escolha dos pais em relação à escola que pretendem para os seus
filhos. Na saúde, apostamos na rede dos médicos de família e na humanização
do atendimento e fazemos uma aposta nos cuidados paliativos. Na
solidariedade, avançamos para a parceria com o sector social e com a IPSS, de
modo a aumentar significativamente a oferta de consultas e cirurgias, de
estruturas de acolhimento ou apoio domiciliário a idosos e de equipamentos
para a infância. É também por isso que nos comprometemos na área da
pobreza, com o programa de recuperação das pensões sociais, rurais e
mínimas. Damos maior importância do que outros Partidos às questões da
demografia e do voluntariado. Incentivamos, a nível municipal, preços
públicos pró-família. E não esquecemos a necessidade de reforçar todas as
políticas que criam condições às mulheres para não recorrerem ao aborto.
Também por isso, olhamos para as relações laborais com oportunidades inter-
geracionais – por exemplo, a participação dos avós na questão das licenças de
parentalidade – princípios de efectiva igualdade – combatendo a discriminação
salarial das mulheres – e de conciliação entre vida profissional e vida familiar.
Assumimos, neste documento, a importância decisiva do conceito de família
na definição da política fiscal. O quociente familiar, o valor de existência
familiar, o fim da discriminação final do casamento ou o impulso fiscal a um
mercado de arrendamento que é essencial para os jovens, estão no centro do
novo contrato fiscal. A admissão do quociente familiar introduz justiça social
no plano familiar, especialmente nos casos das famílias mais numerosas. No
caso destes agregados familiares dedicaremos ainda uma especial atenção a
todo o plano fiscal e aos preços de serviços e bens públicos pró-familia.
Entendemos que quem teve dois ou mais filhos contribuiu decisivamente para
a sustentabilidade da Segurança Social, pelo que ser-lhe-à desaplicado o
factor de sustentabilidade, aquando da reforma.
A consideração da família nas políticas públicas não se confunde, necessária
ou provavelmente com a criação de um departamento de família. O interesse
das famílias atravessa quase todos os Ministérios. É preferível, por isso, prever
um procedimento legislativo – a que chamamos visto familiar – que deve estar
associado à produção de leis e decisões relevantes. Trata-se de conhecer, nas
principais opções dos Ministérios, o seu impacto na vida das famílias; e tornar
sistemática a necessidade de, antes de as opções serem tomadas, avaliar o
seu conteúdo positivo ou negativo para as famílias.
Nos tempos mais difíceis, até os cépticos reconhecem que a família é a
reserva de solidariedade que, tantas vezes, permite resistir a circunstâncias
económicas e sociais duramente adversas. Não há tempo mais necessário para
reforçar o quadro das políticas de família. Esse reforço é um contributo nada
menor para a coesão nacional.
III. A família é também absolutamente decisiva para ultrapassar o problema
da baixa natalidade em Portugal, que se regista desde meados da década de
sessenta e teve os seus pontos mais baixos em 2006 e 2007. O índice de
fecundidade situa-se, neste momento, em 1,3 filhos por mulher em idade
fértil (dos 15 aos 49 anos), situando-se bastante abaixo dos 2,1 necessários
para a reposição das gerações. O tema da baixa natalidade e o aumento da
esperança média de vida trazem problemas transversais muito relevantes e
que a todos tocam, pois concorrem decisivamente para o envelhecimento da
população.
O fenómeno de queda da natalidade não é só nosso, é conhecido e partilhado
na Europa e, em geral, nos países mais desenvolvidos. Neste momento é um
tema incontornável na agenda política europeia e inúmeros países adoptaram
políticas integradas de promoção da natalidade e da família. As experiências
de outros países demonstram não só que é urgente mas, também, que é
possível inverter a queda da natalidade.
Em Novembro de 2007 o CDS apresentou publicamente o relatório Natalidade
– O Desafio Português, onde analisou o problema e apontou caminhos seguros
para a sua resolução. Na nossa perspectiva, a função do Estado, nesta
matéria, é a de criar condições para que as empresas e as famílias
reconheçam a importância da questão. Ou seja, focar as suas políticas na
promoção de um ambiente que permita às pessoas escolherem com liberdade
ter mais filhos, se for esse o seu desejo, o que efectivamente corresponde aos
dados conhecidos.
Concluímos que é possível inverter a tendência de queda da natalidade e,
num horizonte temporal de 10 anos, alcançar níveis mais próximos do
indicador de substituição das gerações (2,1 filhos por mulher). Para tal é
necessário criar um ambiente político e social amigo da família, através da
concertação de políticas em diversos domínios (nomeadamente políticas
fiscal, educativa, de segurança social e de habitação) e, sobretudo,
garantindo uma actuação não contraditória por parte do Estado.
O relatório assumiu quatro grandes linhas de intervenção política: eliminação
das discriminações negativas que afectam a família; flexibilização laboral no
sentido de promover uma melhor articulação entre família e trabalho;
envolvimento dos avós numa lógica de solidariedade inter-geracional;
promoção da responsabilidade social das empresas. É a esta luz que se
compreendem medidas como a introdução do quociente familiar para
aplicação da taxa no IRS, a possibilidade de parte das licenças de maternidade
e de paternidade ser gozada pelos avós ou o incentivo às empresas para
adoptarem esquemas laborais flexíveis e terem participação nos
equipamentos sociais. O nosso ponto de partida residiu na necessidade de
desagravamento fiscal das famílias, de conciliar trabalho e família e numa
perspectiva de igualdade de partilha de responsabilidades parentais entre pai
e mãe.
A história económica mostra que demografia e economia andam de mãos
dadas. É convicção do CDS que uma aposta inequívoca no apoio à natalidade,
de que um compromisso sério e consequente com as famílias, em particular as
famílias com dois ou mais filhos, é também uma forma importante de dar
esperança, motivação e ânimo aos portugueses. É a emergência de novas
gerações, de gerações completas, que faz pensar nelas e olhar para o futuro
com imaginação, ânimo e combatividade.
Assumiremos ainda um especial enfoque aos assuntos da criança, promovendo
alterações à Lei tutelar de Menores, agilizando e acelerando processos.
CADERNO DE ENCARGOS FAMÍLIA
1. Introdução do quociente familiar no sistema fiscal.
2. Consagração do Visto familiar na aprovação de toda a legislação.
3. Extensão dos direitos decorrentes da parentalidade aos avós.
4. Aumento para 6 meses da licença parental mesmo nos casos em que não
há partilha entre pai e mãe.
5. Consagração de deduções fiscais para as famílias que optem por manter
os idosos a cargo no seio da família, no valor semelhante à dos apoios
públicos.
6. Possibilidade de empresas constituírem IPSS para equipamentos sociais e
beneficiarem em termos de IRC.
7. Criação de uma comissão de avaliação do Novo regime Jurídico do
Divórcio.
8. Agilizar e acelerar os processos relativos à Lei tutelar de menores.
9. Desaplicação factor de sustentabilidade a quem tem 2 filhos ou mais.
FINANÇAS, INVESTIMENTOS, CONTRATAÇÃO
E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICAS
CRÍTICAS
1. Acréscimo da carga fiscal.
2. Política quase exclusivamente baseada nas “grandes “obras”.
3. Crescimento, nos últimos anos, de um Estado paralelo (EPE’s, empresas
municipais, PPP’s, etc.) criando enormes dificuldades de controlo e de
comparabilidade.
4. Aumento exponencial da dívida pública.
5. Valor pouco credível do défice.
O Governo proclamava, todos os dias, ter feito a consolidação orçamental.
Não é verdade nem está tudo dito. O défice orçamental atingirá, este
momento, cerca de 8%, e os avanços no processo de consolidação foram
feitos, em grande medida, do lado da receita, e não do lado da despesa.
Nos últimos quatro anos e meio, não só a pressão fiscal em Portugal, subiu
para 38%, como o esforço fiscal dos portugueses, comparando rendimentos e
impostos, subiu mais seis pontos e já está em 126% da média da EU.
O outro factor crítico é o volume do endividamento. Neste momento, entre a
dívida pública, os seus juros e a dívida das empresas públicas, já não chega
toda a riqueza criada para garantir os compromissos. Pela hipoteca que este
endividamento significa, e pelas dificuldades que pode colocar ao
financiamento de uma economia, era preciso ter tido outro cuidado.
RESPOSTAS
I. A grave situação de crise estrutural da economia portuguesa exige que o
primeiro e fundamental objectivo seja o apoio e fomento ao desenvolvimento.
Tal objectivo implicará que a política de finanças públicas não seja um fim em
si mesmo, mas um instrumento decisivo ao serviço de uma melhor e mais
sustentada economia nacional.
A inversão do processo que vivemos, de redução da procura, de quebra do
investimento, interno e estrangeiro, de forte aumento do endividamento
externo, de falência sucessiva de empresas, principalmente pequenas e
médias, e de grave aumento do desemprego, tem que ser a primeira
prioridade de todas as políticas governamentais.
Apesar da nossa dependência da recuperação económica dos principais
parceiros comerciais, a política de Finanças Publicas pode ter um papel
fundamental na dinamização da recuperação económica, desde que se
assuma, corajosamente, uma alteração do paradigma seguido até aqui.
II. As políticas focalizadas, unicamente, no equilíbrio da situação orçamental
Portuguesa têm vindo a registar, repetidamente, os mesmos resultados:
acréscimo da carga fiscal, rigidez ou aumento da despesa pública, aumento da
dívida pública, descontrole do défice público, agravamento dos efeitos dos
ciclos económicos e crescimento económico abaixo dos nossos parceiros.
Uma política orçamental que tem como primeiro objectivo o crescimento
económico não implica que o CDS abandone a sua preocupação, de sempre,
com a disciplina das Finanças Publicas. A saúde orçamental é uma base
fundamental para assegurar um desenvolvimento equilibrado e
geracionalmente justo. Dar prioridade ao crescimento sobre o défice não é um
dilema. É uma ordenação de prioridades. Aliás, só o crescimento gerará
receita, e a receita é essencial para a redução progressiva do nosso
desequilíbrio orçamental.
Consideramos que a actual versão do Pacto de Estabilidade e Crescimento da
União Europeia, que prevê flexibilidade para situações excepcionais como a
actual, bem como as opções orçamentais já adoptadas por alguns dos nossos
principais parceiros, - por exemplo, a Alemanha e a França - permitem, e
exigem, que adoptemos uma política orçamental anti-cíclica que ajude a
economia a sair da forte recessão que atravessa.
III. O CDS propõe a introdução de um Orçamento Intergeracional, como
componente do Orçamento do Estado, tendo em vista permitir uma maior
transparência sobre os custos imputados às próximas gerações pelas decisões
dos Governos actuais, permitindo ainda enquadrar as soluções orçamentais de
emergência, que induzirão um crescimento económico fundamental ao futuro
processo de consolidação orçamental.
Ao colocarmos o crescimento económico como objectivo central do programa
do Governo temos assim que rever as prioridades de política, incluindo na
política orçamental.
As medidas de Finanças Publicas que podem ajudar o país a combater a
presente crise passam pela apresentação de um plano a médio prazo de
redução da carga fiscal. Este plano é um instrumento fundamental para
restabelecer a confiança das famílias e das empresas e para libertar recursos
essenciais ao progresso económico.
Também a política de reforma da Administração Pública terá que ser alterada
com o objectivo de melhorar a qualidade dos serviços públicos prestados aos
cidadãos e às empresas, para o que é fundamental que os funcionários passem
a ser parte da solução e não do problema.
IV. No que diz respeito à despesa pública deve começar-se por um trabalho de
redefinição do papel do Estado, identificando as actividades e
regulamentações que, por serem supérfluas ou obsoletas, podem ser
eliminadas, definindo as actividades que devem ser “externalizadas”, visto
que podem ser melhor asseguradas pela sociedade, e desburocratizando os
processos de actuação e decisão da Administração Publica.
No que respeita ao investimento público, o CDS já esclareceu a sua posição.
Não somos partidários do “tudo ou nada”. Defendemos a selectividade dos
projectos e enunciámos critérios objectivos de avaliação. Destacamos i) a
necessidade de proteger o crédito disponível para as PMEs, objectivamente
em risco face às necessidades de financiamento cumulativo das “grandes
obras” ii) a importância de avaliar, em termos de custo e beneficio, os
projectos relevantes iii) o grau de incorporação nacional da riqueza criada iv)
o impacto, em termos de mão-de-obra, na política de imigração v) o carácter
imediato (ou não) e generalizado (ou não) do efeitos dessas “grandes obras”
nas empresas e nos empregos.
Mediante estes critérios objectivos, que impedem qualquer decisão aleatória,
o CDS foi percursor na crítica a uma política económica quase exclusivamente
baseada nas “grandes “obras”. Nem o Aeroporto estava bem estudado, nem a
crise o torna urgente; quanto ao TGV e à 3ª ponte, o grau de endividamento
do país e os critérios já enunciados, não aconselham que se tomem
compromissos irreversíveis.
Os investimentos públicos no sector dos transportes precisam de uma
perspectiva integrada entre o tráfego automóvel, ferroviário, aéreo, de
passageiros e de carga. A construção da linha de alta velocidade tem efeitos
na decisão do novo Aeroporto, já que muito do tráfego aéreo seria transferido
para o ferroviário. É por isso que este tipo de projectos, devem procurar
reunir um amplo consenso quanto às soluções técnicas a adoptar, pois são
quase sempre irreversíveis e tem implicações para as próximas gerações. Por
isso entendemos que todos os projectos que evidenciem divergências de
relevo na sociedade civil devem aguardar as conclusões de um plano nacional
integrado de transportes.
V. Acreditamos que é possível transformar esta recessão numa oportunidade
para o nosso país recuperar os seus atrasos de competitividade. A melhor
política de relançamento possível será aquela que consegue preservar a
actividade económica de hoje e preparar a competitividade de amanhã. Para
manter a actividade económica e compensar a diminuição do investimento
privado devemos acelerar os investimentos públicos de dimensão média e de
proximidade, que já estejam programados ou que sejam consensuais.
Destacamos i) manutenção e valorização do património ii) promoção da
eficiência energética e ambiental dos edifícios públicos iii) acessibilidades
para deficientes iv) renovação dos tribunais e construção de novos centros
penitenciários v) investimento no sistema de transportes públicos e
mobilidade sustentável vi) melhoria das condições de trabalho e dos meios da
polícia. Em suma, todos aqueles investimentos que contribuam para aumentar
a competitividade ou valorizar o nosso País.
Outras áreas de especial interesse para o lançamento ou o co-financiamento
de investimentos públicos são i) o alargamento dos programas de
recuperação, qualificação ou construção de infra-estruturas sociais,
nomeadamente as escolas e as áreas de apoio ao idoso e à criança, em
parceria com as IPSS ii) reparação e segurança de pontes no âmbito de um
programa nacional iii) realização de obras de requalificação dos centros
urbanos e de investimento na habitação social, em parceria com os
municípios, prioritariamente através da aquisição e recuperação de imóveis
devolutos iv) e o plano de barragens.
Com esta evidência detalhada se demonstra que o CDS não é contra o
investimento público. O que somos é contra uma política económica que só
“vê” o investimento público – e não “vê” a redução da carga fiscal – e contra
investimentos não selectivos.
VI. As SCUTs foram criadas com o argumento que eram necessárias para o
desenvolvimento do interior do país, mas não são mais que um imposto
encapotado – “shadow price” - pois anualmente os seus custos são financiados
pelo contribuinte, estejam ou não no perímetro orçamental. Todos os
portugueses são iguais perante a Constituição. No entanto, neste caso,
retirando ou não utilidade da sua utilização, paga-se sempre.
Quem as utiliza não suporta nenhum custo visível mas retira utilidade na sua
utilização. Quem não as utiliza não retira utilidade, mas suporta o custo.
O princípio do utilizador-pagador deveria aqui ser aplicado. Por forma a
tentar cativar as autarquias para o efeito, uma parcela da portagem deve
reverter para as autarquias, sendo que o montante total deve ter um impacto
directo na redução do IMI.
VII. Do lado da despesa pública, importa ainda travar um combate sem
tréguas ao desperdício e ao despesismo, fomentando uma maior transparência
dos gastos públicos e invertendo o processo de desorçamentação que se tem
vindo a verificar. A criação, nos últimos anos, de um Estado ao lado do
Estado, constituído pelas EPEs, empresas municipais ou PPPs, cria enormes
dificuldades de controlo e de comparabilidade, fomentando o desnorte na
evolução da despesa publica que já absorve quase metade da riqueza
nacional. Também ao nível do financiamento regional e local, importa
assegurar transparência e escrutínio na evolução da despesa, o que não é
incompatível – pelo contrário – com o objectivo de uma maior
descentralização dos serviços.
Deve ser retomado o processo de centralização e modernização das compras
do Estado, racionalizando processos e fomentando as compras electrónicas.
Na gestão do património imobiliário do Estado importa ultrapassar as fases de
planos e levantamentos e avançar com a imputação de rendas aos serviços e
com a gestão e rentabilização do património desocupado.
É ainda necessário travar o crescimento exagerado dos gastos com
consultorias externas do Estado – que se aproximam dos 200ME – e ter especial
atenção ao disparar dos custos, a prazo, das Parcerias Público-Privadas.
VIII. Relativamente ao sector empresarial do Estado, as contas pioraram
sensivelmente. Deve ser revelada com transparência a sua verdadeira situação
em termos de rentabilidade e de endividamento. Deve ser apresentado um
plano de resolução da enorme dívida acumulada por algumas empresas
públicas, nomeadamente do sector dos transportes. Deve ser retomado, com
ambição, o programa de privatizações, como forma de racionalização da
presença do Estado na economia e com o objectivo de redução da dívida
pública. O programa económico é claro nesta matéria.
IX. No que diz respeito à divida pública – cujo aumento foi exponencial nos
últimos 4 anos e meio - deve aproveitar-se a apresentação do primeiro
Orçamento Intergeracional, para explicar, com verdade, o valor da dívida
pública directa do Estado, o valor das responsabilidades indirectas assumidas
com as Garantias do Estado, o valor das dividas da Administração Regional e
Local e o valor das dívidas das empresas publicas.
O retrato completo e verdadeiro da situação do endividamento público é
fundamental para que os Portugueses e os seus representantes políticos,
possam tomar as decisões necessárias ao desenvolvimento sustentável do País.
Como se referiu anteriormente, o estado da dívida, em Portugal,
desaconselha, manifestamente, projectos que agravam uma situação já muito
difícil. A selectividade do investimento público e o cuidado a ter com as PPPs
estão nesse elenco de medida cautelares. Na certeza de que a redução do
endividamento só se consegue promovendo as exportações e apostando nos
sectores produtivos que substituem importações.
X. A matéria da contratação pública é cada vez mais um tema incontornável
na política do Estado contemporâneo. Por isso, os sucessivos Governos, não
apenas nacionais, mas também comunitários, têm dedicado atenção,
designadamente, por via da aprovação de legislação vária destinada a
disciplinar – com mais ou menos sucesso - os procedimentos de contratação
pública. Foi o que aconteceu recentemente, entre nós, com a aprovação, e
entrada em vigor em 2008, de um novo regime de contratação pública.
Acontece, no entanto, que nem sempre as decisões têm sido tomadas nos
termos mais apropriados e em obediência aos princípios da racionalidade
económica, da imparcialidade, da eficiência e da transparência das decisões
de contratação, princípios estes cujo cumprimento, no entanto, se impõe para
garantir a justiça e o mérito da decisão administrativa e a credibilidade da
Administração Pública e do Estado.
Com efeito, a descrença dos cidadãos relativamente à bondade das decisões
de contratação pública é grande – a mais das vezes justificadamente -, sendo
as suas principais causas i) a incompreensão do fundamento da decisão de
contratar, por não ser evidente o interesse público que deveria encontrar
associado ii) a razão e o critério da escolha do contratante privado cuja
escolha muitas vezes deixa suspeições iii) a demora das decisões judiciais
relativas ao contencioso da contratação pública que inviabiliza a reposição da
justiça e a realização do Estado de Direito.
Impõe-se, por isso, credibilizar a contratação pública, recuperar a confiança
dos cidadãos e garantir a eficiência das decisões, de modo a maximizar os
efeitos indutores do investimento na economia, maxime, quando realizado
com recurso à colaboração dos privados. Também aqui se assegura uma sã e
eficaz concorrência entre os operadores e agentes económicos privados.
XI. Em primeiro lugar, impõe-se a exigência rigorosa de demonstração do
fundamento da decisão de contratação pública pelo órgão decisor,
principalmente nos casos das denominadas parcerias público-privadas
referentes aos projectos que implicam grandes investimentos, de modo a que
as decisões sejam alicerçadas exclusivamente em razões demonstradas de
mérito administrativo.
Deve haver uma subordinação rigorosa da adjudicação de prestações de
serviços às regras dos procedimentos de contratação pública – de preferência
o concurso público -, principalmente no caso de consultores, uma vez que a
escolha destes, sistematicamente por ajuste directo, pode ser fonte de
perniciosos clientelismos, com prejuízo do interesse público.
Dado que uma parte importante das decisões de contratação pública é hoje
tomada por entidades que não se subsumem ao conceito tradicional da
Administração Pública, considera-se essencial a revisão do Código dos
Contratos Públicos no sentido de se proceder a uma correcta identificação das
entidades sujeitas às regras da contratação pública, com aplicação destas
regras a um maior número possível dessas entidades, pondo termo às
situações de excepção e às incertezas, tão utilizadas para ”furar o sistema”.
Em contrapartida, considera-se essencial a revisão do Código dos Contratos
Públicos no sentido da sua simplificação e clarificação, dada a enorme
complexidade que manifesta e a má técnica legislativa que amiúde revela -
responsáveis por uma incompreensão do texto e das soluções que consagra,
mesmo pelo mais experientes juristas -, de modo a permitir uma aplicação
fácil, eficiente, célere e justa das suas regras.
A revisão do Código dos Contratos Públicos é também pertinente para reduzir
os casos em que é possível o recurso ao ajuste directo, de forma a garantir a
igualdade, a imparcialidade e a transparência das decisões de contratação
pública, bem como a redução dos valores previstos para o ajuste directo nos
casos de contratação pública ditada por razões de excepção, visto que este
regime pode “alavancar” o benefício de certas empresas em detrimento de
outras com base em critérios que não são objectivos.
Deve ainda ficar previsto no Código dos Contratos Públicos o direito dos
concorrentes a uma indemnização no caso de não adjudicação de concursos
por razões não justificadas. Esta solução impõe-se dado o importante número
de concursos que são abertos e, pura e simplesmente, não são adjudicados
sem fundamento aparente sem que os concorrentes sejam ressarcidos dos
elevados custos associados à preparação e apresentação de propostas. Tal
solução leva uma maior responsabilização do decisor administrativo no
lançamento e conclusão dos procedimentos de contratação.
Importa proceder à revisão do regime jurídico do contencioso administrativo
mediante a aprovação de regras que simplifiquem o funcionamento das
providências cautelares, tendo em vista uma maior eficácia na atribuição da
tutela cautelar, nomeadamente, uma maior celeridade na decisão,
principalmente nos tribunais de primeira instância.
Dada a necessidade de transposição da Directiva Comunitária até 2010, e
observando as regras delas constantes, relativas aos efeitos suspensivos
associados aos processos em matéria de contratação pública, impõe-se a
consagração de medidas que permitam uma muito célere decisão dos
processos judiciais, sob pena de inviabilização de todos os procedimentos de
contratação pública. Se necessário, defende-se a criação de Tribunais
especializados para a matéria da contratação pública, visando assegurar essa
celeridade.
Uma posição, como a que o CDS assume, exigente em relação às contratações
públicas é meio caminho andado para prevenir a corrupção.
XII. Em matéria de Administração Pública, O Governo termina o seu mandato
com o funcionamento do Estado em boa parte desmotivado e menos
qualificado. À excepção de casos isolados – mais associados ao Simplex do que
ao PRACE – não se verificaram ganhos de qualidade.
Entre os erros que foram cometidos e que carecem de meditação para não
prejudicar a eficácia de intenções reformadoras, destacamos a ideia,
altamente autoritária, de que há uma só reforma, como se fosse “mágica”, e
não um processo de contínuo ajustamento da Administração às necessidades
da sociedade. Este “endeusamento” da reforma provoca níveis de hostilidade
perturbadores e, numa estrutura com a dimensão de Estado em Portugal,
conduz até a perdas de eficiência, pelo menos no curto prazo. Na prática,
torna as reformas muito dependentes do poder político, ou seja,
centralizadas, distanciando-se dos serviços em concreto e da sua proximidade
com o cidadão.
Por outro lado, a reforma foi caracterizada de forma ideológica e não política.
Apresentaram-se as mudanças com um simplista “combate aos privilégios” e
não – como poderia ter sucedido – como via para prestar melhores serviços,
ter uma despesa mais eficiente e motivar os bons funcionários. Esse cariz fez
nascer conflitos dispensáveis e acentuou o preconceito em relação a uma
disposição reformadora no Estado e do Estado. Da avaliação dos serviços não
surgiu uma dinâmica para a sua modernização. Dos esquemas de promoções
não resultou uma efectiva oportunidade para os funcionários que se
destacam. É sempre mais “fácil” – e ineficiente – nivelar por baixo os
diferentes regimes.
XIII. Promessas relevantes ficaram por cumprir. Para além das várias
velocidades, sentidas no próprio Governo, em relação ao PRACE, e do
diferencial de entradas e saídas da Administração face aos objectivos
proclamados, ficaram pelo caminho várias matérias como i) o acesso
electrónico aos resultados da avaliação, análises comparadas e demais
informação sobre o desempenho institucional dos serviços ii) a relevância da
opinião dos utentes na avaliação dos serviços iii) o papel dos “finantial
controller” dos Ministérios iv) o acompanhamento das actividades públicas dos
operadores privados, através de métodos de regulação, controlo, inspecção e
fiscalização.
Mais grave, do ponto de vista da credibilidade e da qualidade da reforma, há
duas falhas que abalam seriamente os seus alicerces. Uma é que, apesar da
promessa de estipular a lista de cargos dirigentes da Administração que,
legitimamente, em função de confiança política, é susceptível da
substituição, a partir dos actos eleitorais, e mesmo da lei publicada, agravou-
se a tendência “partidocrática” na escolha de cargos dirigentes de nomeação.
O resultado é mais uma camada de dirigentes de fidelidade partidária, cuja
relação com o mérito ou a qualificação é absolutamente remota. Ora, não há
reformas de Administração aceites, compreendidas e legitimadas quando, na
escolha dos chefes, não há qualquer critério de desempenho.
A outra falha relevante é que, no processo de transição para o regime de
aposentações, cuidou-se pouco de evitar a fuga de capacidades e a deserção
do pessoal qualificado. Em consequência, a Administração perdeu, ainda mais,
densidade técnica. Face ao problema – que podia e devia ter sido previsto – a
“solução” socialista foi um recurso acrescido a consultores externos. É
impossível fazer reformas organizacionais a partir da desmotivação dos seus
destinatários.
XIV. Acresce que o Governo não soube avaliar os resultados da própria
avaliação que lançou. Basta observar com atenção o Orçamento de Estado
para 2009, e verificar a evolução exponencial dos custos com consultorias
externas e com algumas parcerias público-privadas, para perceber que
algumas das linhas da reforma estão sem controlo.
O mesmo se diga com a falta de um seguimento atento da “reforma”. Não por
acaso, o Presidente do Tribunal de Contas referiu que o Plano Oficial de
Contabilidade Pública, e a centralização da tesouraria do Estado, aprovados
há cerca de dez anos, não são ainda aplicados em muitos dos serviços. Não
por acaso, a transformação dos hospitais SA em EPE reforçou mais as
competências do Ministro do que as capacidades de avaliação, auditoria e
controlo dos organismos centrais de administração da saúde. Não por acaso, a
forma como foi feita a “reestruturação” do Ministério da Agricultura criou um
verdadeiro caos na sua capacidade de resposta. Não por acaso, os erros
cometidos no processo de avaliação dos professores eram tão óbvios, mas só
foram óbvios para o Ministério da Educação debaixo da pressão de todos
conhecida. São exemplos críticos que podem, infelizmente, multiplicar-se.
XV. O CDS propõe que o processo contínuo de adaptação da Administração
Pública seja objecto de um compromisso entre Partidos democráticos e
reformadores, partindo de uma ideia do que devem ser as funções do Estado
actuais em Portugal. Sabemos que o Estado deve ser forte nas áreas de
soberania como a justiça, a defesa, a diplomacia, a segurança e a fiscalidade.
Sabemos que o Estado é concorrencial nos sectores da segurança social e da
saúde, mas não confundimos necessariamente ser financiador com ser
prestador. Sabemos que o Estado está longe de ser concorrencial – como devia
- na área da educação. Sabemos que há áreas de crescimento económico e
desenvolvimento, como o ambiente e o mar, onde muito está por fazer.
Sabemos que o Estado deve ser, sobretudo, regulador – um bom regulador -
nos aspectos essenciais da vida económica. Sabemos que raramente se aplica,
em Portugal, o princípio da subsidiariedade e que essa é uma das razões do
nosso atraso.
O mundo moderno e complexo em que vivemos implica superar dogmatismos
clássicos entre Estado e mercado. Também não devem prolongar-se confusões
entre serviços públicos e sector estatal. No caso português, é urgente reforçar
o peso e a responsabilidade das instituições intermédias, voluntárias,
autónomas e livres. O Estado deve ser mais competente a regular e a
fiscalizar, menos obsessivo a prestar serviços que possam, com vantagem, ser
obtidos no sector privado e no sector social, e mais flexível e aberto na
devolução de competências às administrações locais.
XVI. Existe até um consenso relativamente alargado sobre os objectivos a
atingir por boas reformas, bem executadas, na Administração Pública. O CDS
tem presente que i) Portugal precisa de uma Administração Pública de serviço
aos cidadãos e às empresas, em que os funcionários sejam parte da solução e
não do problema ii) no contexto da integração, Portugal deve aproximar os
custos relativos com o funcionamento da Administração Pública para o
patamar dos nossos parceiros europeus iii) é positiva a maior mobilidade entre
trabalhadores do sector estatal e do sector privado iv) a avaliação do
desempenho faz sentido, sobretudo se for usada como instrumento de
melhoria dos serviços v) o centralismo da Administração prejudica
irremediavelmente a operacionalidade a consequência dos processos de
avaliação vi) a avaliação dos serviços não pode deixar de ter a participação de
entidades externas vii) a transparência e o acesso às avaliações é
indispensável à dinâmica de mudança, à melhoria dos serviços e à garantias
de isenção e objectividade viii) a diversidade organizativa – e o método das
experiências-piloto – é muitas vezes preferível às decisões uniformes e de
aplicação generalizada ix) há áreas que só em Portugal são tradicional e
exclusivamente estatais, em que a gestão privada é mais competente x) a
empresarialização de organismos do Estado permite, em certas condições,
ganhos de produtividade, eficiência e qualidade xi) é essencial a definição,
por consenso, dos cargos dirigentes de confiança política, para libertar a
Administração da “maldição” que é a sua colonização partidária xii) as
reformas da Administração tornam-se ineficientes se não forem
acompanhadas por reformas da organização administrativa do Estado xiii) é
inadiável a certificação das contas de auditores externos, e a sua divulgação
xiv) é condição de sucesso das reformas a promoção de verdadeiras
oportunidades para os funcionários competentes, e não sua retenção
centralizada e cega nas respectivas carreiras.
XVII. O CDS é um declarado adversário do centralismo do Estado e tem de
deixar isso muito claro. Somamos uma convicção doutrinária – a limitação do
poder implica a sua descentralização – a uma inspiração de bom governo que a
experiência já consolidou – a gestão de proximidade dos problemas e a escala
razoável para o planeamento das soluções são condições da eficiência do
Estado. Também estamos bem conscientes de que, na relação entre o poder
central e as autarquias, se joga boa parte de uma correcta – ou caótica -,
política de ordenamento do território.
Convém afastar deste debate alguns preconceitos. A descentralização não é
uma questão do norte contra o sul, nem uma questão do interior com o
litoral. É uma necessidade de todos. Por outro lado, descentralizar não pode
em nenhuma circunstância significar aumentar o peso do Estado, complicar o
processo de decisão ou replicar as suas funções. Descentralizar só pode
significar, e por isso faz sentido, resolver mais depressa, planear
adequadamente e ganhar eficiência na despesa e qualidade no serviço
prestado.
Não deixa de ser um mau sinal dos tempos que a mais proclamada das
reformas – a da organização do Estado – seja a menos coerente e a mais
relutantemente executada. Mas é este Estado centralista que, passo a passo,
na prática, vem pedir auxílio no desempenho de competências e atribuições
que, por si só, é incompetente para levar a cabo. Contratualizam-se com os
municípios “contratos de segurança”, equipamentos para a infância, avanços
no parque judiciário. Sucede que esse é precisamente o Estado cujos
responsáveis não são capazes de encarar, metódica e globalmente, uma nova
geração de poderes descentralizados.
A ordem das reformas é, por isso, muito relevante. O CDS considera
importante que, nos próximos quatro anos, seja possível: i) definir as escalas
de planeamento e decisão que a organização do Estado deve servir, em ordem
a ser mais eficiente junto do cidadão ii) apostar claramente nas comunidades
urbanas e nas áreas metropolitanas iii) encarar corajosamente o problema da
dimensão das freguesias e dos municípios no todo nacional, da sua extinção,
fusão e criação com o objectivo a proceder à sua reorganização de acordo
com os critérios modernos de administração, não deixando populações
abandonadas à escassez de meios das suas estruturas políticas iv) ter em
atenção que o modo de Governo das maiores cidades não é compatível com as
actuais freguesias cuja desproporção relativa é chocante v) planear, durante
os quatro anos, uma nova geração de competências e atribuições a
descentralizar, de modo genérico e não casual, assumindo, em contrapartida,
a prudência de não querer tudo ao mesmo tempo ou tudo em todo o lado vi)
aceitar, quando necessário, o método da “experiência-piloto” como bom
crivo para as das reformas vii) não enganar nem iludir as populações com
transferências de poderes a que não corresponda o adequado financiamento
viii) exigir um claríssimo reforço dos meios de fiscalização democrática dos
municípios, o que passa, desde logo, pelo modo de funcionamento e o acesso
à informação das Assembleias Municipais, de modo a garantir que mais
descentralização é mais democracia e não mais caciquismo ix) prever
adequados meios de fiscalização da eficiência e da transparência da despesa
nos vários níveis de decisão.
Para nós, não é difícil conceber que as autarquias venham a dispor de poderes
efectivos, na totalidade ou parcialmente, em domínios como a autonomia
escolar e os centros de saúde, o apoio às micro-empresas e a resolução de
situações de pobreza extrema, valências da política de segurança que não
colidam com a soberania do Estado, sectores de política agrícola, florestal e
de eficiência energética, gestão do património imobiliário público. A questão
está em estudar a viabilidade dessas transferências e adequá-las ao método
ordenado e transparente da reforma acima anunciada.
A estatização das políticas deve ceder perante o princípio da subsidariedade
assumindo, em domínios concretos, uma efectiva transferência de
competências e envolvimento dos vários poderes locais.
A nível social, é prioritário o desenvolvimento de todas as capacidades através
de parcerias com as IPSS em geral e as Misericórdias em especial. O papel
destas redes sociais deve ser dirigido não só para o combate à pobreza e ao
apoio social a idosos e crianças, mas também de apoio a jovens considerados
como potencialmente de risco, investindo em programas específicos de
ocupação dos tempos livres e de inserção social de camadas mais
desprotegidas e fragilizadas. Ainda neste plano, defendemos a reformulação e
descentralização do funcionamento dos Centros de Emprego, para melhorar a
sua eficiência e capacidade de resposta, nomeadamente na colocação no
mercado de trabalho e fiscalização da aceitação das ofertas de emprego dos
inscritos nestes centros.
No plano educativo é preciso assumir a gestão profissional das escolas, com
relevância para o papel do director, que não deve ser dependente de poderes
locais ou centrais, mas reconhecido pela competência pela comunidade
escolar.
Também na área de saúde, defendemos o reforço da prevenção primária e
comunitária que deve passar pelo envolvimento das Autarquias, criando-se
perfis Municipais de Saúde e planos de desenvolvimento em saúde com
progressiva delegação de competências aos Municípios e Associações
intermunicipais.
XVIII. A Autonomia dos Açores e da Madeira é uma das mais profícuas
realizações do Portugal Democrático. A sua consagração constitucional,
apoiada desde o início pelo CDS, permitiu desenvolver os territórios insulares
portugueses e melhorar a vida dos açorianos e madeirenses.
A Autonomia é um projecto evolutivo que, a cada momento, deve
corresponder às aspirações dos povos dos Açores e da Madeira, sendo a melhor
forma de construir Portugal no Atlântico.
No quadro da próxima Revisão Constitucional, o CDS promoverá o
aprofundamento das autonomias, fiéis ao principio que a mais autonomia deve
corresponder, também, uma melhor democracia nos Açores e na Madeira
aumentando os poderes de fiscalização dos Parlamentos Insulares sobre os
Governos Regionais, o respeito dos Direitos das oposições e o reforço dos
mecanismos de garantia dos Direitos e Liberdades dos Cidadãos.
Dedicaremos também uma especial atenção ao desenvolvimento de projectos
de interesse comum entre o Estado e as Regiões nos dois arquipélagos.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Introdução de um Orçamento Intergeracional, como documento
complementar ao Orçamento de Estado
2. Prioridade ao crescimento económico
3. Acelerar os investimentos públicos de dimensão média e de
proximidade, que já estejam programados ou que sejam consensuais.
Destacamos i) manutenção e valorização do património ii) promoção da
eficiência energética e ambiental dos edifícios públicos iii)
acessibilidades para deficientes iv) renovação dos tribunais e
construção de novos centros penitenciários v) investimento no sistema
de transportes públicos e mobilidade sustentável vi) melhoria das
condições de trabalho e dos meios da polícia.
4. Lançamento ou o co-financiamento de investimentos públicos relativos a
i) alargamento dos programas de recuperação, qualificação ou
construção de infra-estruturas sociais, nomeadamente as escolas e as
áreas de apoio ao idoso e à criança, em parceria com as IPSS ii)
reparação e segurança de pontes no âmbito de um programa nacional
iii) realização de obras de requalificação dos centros urbanos e de
investimento na habitação social, em parceria com os municípios,
prioritariamente através da aquisição e recuperação de imóveis
devolutos iv) e o plano de barragens.
5. Nem TGV nem novo aeroporto devem avançar agora.
6. Princípio do utilizador pagador nas SCUT´s.
7. Controlar a criação de empresas municipais, EPE´s e Parcerias Público-
Privadas.
8. Retomar o processo de centralização e modernização das compras do
Estado.
9. Plano de privatizações e alienação de participações do Estado.
10. Estabelecer o princípio do concurso público na adjudicação de
prestações de serviços e consultorias.
11. Incluir no Código da Contratação Pública todas as entidades de
natureza administrativa, mesmo as que não se subsumem no conceito
tradicional de Administração Pública.
12. Simplificação de regras nos procedimentos cautelares relativos a
decisões de contratação pública.
13. Promover a maior mobilidade entre trabalhadores do sector estatal
(local, regional ou central) e do sector privado
14. Certificar e divulgar das contas dos auditores externos.
15. Princípio da subsidariedade, assumindo, em domínios concretos, uma
efectiva transferência de competências e envolvimento das várias
comunidades locais.
16. Apostar progressiva delegação de competências nas Autarquias, nas
comunidades urbanas e nas áreas metropolitanas, em áreas como a
gestão escolar e a saúde.
17. Aprofundamento das autonomias, de acordo com o princípio que a mais
autonomia deve corresponder, também, uma melhor democracia nos
Açores e na Madeira.
18. No contexto da integração, Portugal deve aproximar os custos relativos
com o funcionamento da Administração Pública para o patamar dos
nossos parceiros europeus.
19. A diversidade organizativa – e o método das experiências-piloto – é
muitas vezes preferível às decisões uniformes e de aplicação
generalizada.
HABITAÇÃO, CIDADES, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E
TRANSPORTES
CRÍTICAS
1. Redução da política de ordenamento ao programa POLIS
2. Ineficácia da lei do arrendamento urbano
3. Excesso de presença do Estado no sector dos transportes
O domínio de um “paradigma de esquerda” no ordenamento do território tem
tido como efeito que as políticas tenham sido até agora sistematicamente
concebidas numa base de desconfiança em relação aos privados, e muitas
vezes até com tiques de dirigismo estatal. A norma tem sido privilegiar uma
ideia de “bem geral” abstracta e “socializante”, que o CDS repudia e a que
contrapõe uma ideia democrata-cristã de “bem comum”. No ordenamento do
território tal é visível no programa Polis, que uniformiza todas as cidades,
desconsiderando a riqueza da diversidade de cada uma.
No domínio do arrendamento, três anos volvidos sobre a entrada em vigor da
nova lei, os resultados são exíguos, para não dizer nulos. O mercado não
arrancou, os centros urbanos das grandes cidades continuam despovoados e
em crescente deterioração.
RESPOSTAS
I. O CDS ambiciona um Portugal melhor, mais próspero e mais desenvolvido,
com maior qualidade de vida. O CDS compromete-se nessa ambição, elegendo
o ordenamento do território como uma preocupação e área de actuação
privilegiada do seu programa político. Não é possível falar de um
desenvolvimento pleno do país se as pessoas, individual e colectivamente, não
se sentem felizes e seguras nos vários quadros de vida em que se movem,
sejam os locais onde residem e trabalham, onde descansam e consomem, ou
simplesmente onde passeiam e convivem. O ordenamento do território, nas
suas relações com a paisagem e o ambiente, a habitação e os equipamentos,
tem essa função de proporcionar bem-estar. Pode ajudar depois a fortificar os
sentimentos identitários e de pertença a lugares e comunidades,
fundamentais para a valorização da vida cívica, para fomentar a co-
responsabilização das populações no bem comum, e para a coesão social. E,
finalmente, pode ajudar também à competitividade, uma vez que um
território ordenado é definitivamente um território mais atractivo para
investidores e para turistas.
O ordenamento do território é uma componente fundamental do
desenvolvimento sustentável do país, que o CDS entende como prioridade e vê
como um imperativo de solidariedade entre gerações. Solidariedade primeiro
que tudo com as gerações futuras, a quem nos deve ligar o compromisso de
deixar de herança um território bem gerido, dotado dos recursos necessários
para o seu próprio desenvolvimento. E solidariedade com as gerações
antecedentes, de quem herdámos um património precioso de valores naturais
e construídos que estamos eticamente obrigados não apenas a defender e
conservar, mas também a valorizar, o que pressupõe uma atitude corajosa e
pró-activa na construção de um ambiente de qualidade.
O CDS quer um Estado forte nas áreas de soberania, e o ordenamento do
território está nesse campo de responsabilidades. O CDS quer um Estado mais
competente a regular e a fiscalizar, e mais flexível e aberto na devolução de
competências às administrações locais, por respeito com o princípio da
subsidiariedade inscrito na sua matriz democrata-cristã. São estas orientações
que servirão de linha de rumo à política que o CDS se propõe seguir em
matéria de habitação, cidades e ordenamento do território. Para as
concretizar, o CDS não terá receio de propor e levar a cabo uma reforma
profunda de unificação e simplificação legislativa e administrativa,
imprescindível em face do quadro actual de excessiva pulverização das regras
e das decisões por entre diplomas e organismos, mas até hoje sempre adiada.
O CDS sabe que só com essa reforma será possível agilizar soluções, encurtar
tempos de espera nos licenciamentos, e garantir uma coordenação mais
efectiva das actuações públicas e privadas em matéria de ambiente e
território.
Consideramos que o Estado não antecede nem prevalece sobre as pessoas,
antes existe para lhes proporcionar, a todas e a cada uma (e não ao todo com
sacrifício das partes), condições de existência em plenitude e de
desenvolvimento frutuoso. Por isso o CDS tem afirmado que sem as pessoas
nada se faz e que é errado continuar a insistir num sistema através do qual
todas as restrições são admitidas sem qualquer compensação ou benefício. O
CDS sabe que o ordenamento do território só é possível mobilizando os
interesses e as energias de todos, público e privado, pessoas individuais e
empresas. Concretizar isso implica introduzir uma ruptura de paradigma nas
políticas que venha tornar claro que os sacrifícios são compensados e que
todos, individual e colectivamente, podemos tirar, e tiramos efectivamente,
vantagens de uma paisagem ordenada e de um ambiente saudável.
A visão que o CDS tem para o país passa por uma valorização inteligente e
criativa, e com sentido de modernidade, da geografia. O potencial de
inovação da sociedade portuguesa e das empresas dever ser canalizado, não
para uma imitação de modelos externos sem adequação àquilo de que somos
capazes ou que podemos fazer, mas numa lógica de valorização dos recursos
reais de que dispomos. O CDS acredita que Portugal tem à frente um futuro de
qualidade e competitivo, mas que para isso é preciso compreender que o
caminho consiste em dar valor acrescentado às qualidades e aptidões de que a
nação e o país — as pessoas e o território — dispõem. Daí a aposta que o CDS
faz no desenvolvimento do turismo, a atenção que dedica à valorização do
mundo rural, o destaque que se propõe conferir às florestas e à natureza, a
centralidade que coloca na redescoberta do mar como base de uma estratégia
nova de desenvolvimento nacional.
O CDS percebe que o ordenamento do território constitui um dado essencial
na construção desse futuro desejável e possível. Por isso, para o CDS, o
ordenamento do território não é algo que possa ser pensado autonomamente;
é um facto essencial de política, para ser entendido como complementar e
equacionado em relação com as várias políticas sectoriais, da política de
desenvolvimento rural à política de turismo, da política para a inovação e a
sociedade de informação à política de infra-estruturas e de obras públicas, da
política de família à política de saúde, da política de segurança e defesa à
política social, e vice-versa.
O CDS quer um país seguro. A segurança tem também que ver, e muito, com o
ordenamento do território. Portugal é um país de elevada susceptibilidade a
um grande número de riscos naturais, ambientais e tecnológicos, dos sismos
às cheias e inundações, dos movimentos de massa à erosão do litoral, dos
incêndios florestais à desertificação, à contaminação dos solos e à poluição
dos aquíferos. Contudo, paradoxalmente, este tem sido um dos domínios em
que a política de ordenamento do território tem sido mais omissa. É urgente
superar este estado de coisas. O CDS quer garantir às populações o direito à
segurança e a um ambiente de qualidade, e isso implica chamar também para
o centro da preocupação política a mitigação dos riscos, a protecção civil e o
planeamento de emergência.
II. Diante do exposto, o CDS elege cinco objectivos estratégicos como vectores
estruturantes da sua acção governativa no capítulo da habitação, das cidades
e do ordenamento do território: i) promover uma política de habitação que
dinamize o mercado de arrendamento como forma de fomentar a mobilidade
residencial, que diminua o endividamento das famílias e a dependência da
banca, que potencie a reabilitação urbana; que seja sensível à família; ii)
regenerar os bairros sociais e reinventar a solidariedade no acesso à
habitação; iii) regressar à cidade compacta e revitalizar os centros das
cidades, para bem da coesão social, das identidades locais e do ambiente; iv)
assumir e valorizar o policentrismo urbano como complemento da valorização
do mundo rural e dos espaços naturais, para bem do desenvolvimento
equilibrado do território nacional e da coesão das regiões; v) dar prioridade a
uma política de prevenção e mitigação de riscos naturais, ambientais e
tecnológicos, como garantia do direito das populações à segurança e a um
ambiente de qualidade.
No que se prende com o mercado de arrendamento urbano, manifestada a
incapacidade da lei actual para o dinamizar, importa fazer os ajustamentos
necessários a tornar o arrendamento atractivo quer para o senhorio quer para
o inquilino. O que significa que para os senhorios, ou potenciais senhorios,
tem de ser minimamente atractivo fazer obras e requalificar os imóveis e para
os inquilinos a renda tem de se situar substancialmente abaixo da prestação
financeira correspondente à compra de casa. Neste momento urge
desbloquear uma série de obstáculos que na lei actual têm impedido a
concretização destes objectivos. Importa também criar condições para que o
crescimento nos centros urbanos da oferta de habitações com tipologias mais
adequadas às necessidades das famílias.
Assim, propomos: i) dar prioridade à revisão do regime do despejo, tornando-
o mais célere, porquanto não é admissível uma delonga de mínima nove meses
e a habitual um a um ano e meio; ii) estabelecer um prazo razoável de
caducidade dos arrendamentos sujeitos ao novo regime do arrendamento
urbanos, fundamental para tornar atractiva a recuperação dos imóveis,
garantindo o apoio dos inquilinos em situações mais vulneráveis através de um
fundo; iii) relacionar o estado de conservação do imóvel com a renda exigível,
não sendo possível aumentar a renda em caso de má conservação do imóvel e
não sendo exigíveis obras desproporcionadas ao valor da renda; iv) aplicar as
regras gerais relativamente ao valor da acção para efeito de recurso; v)
estudar mecanismos que estimulem o aparecimento de uma oferta de
habitação mais diversificada e mais condizente com as necessidades das
famílias, nomeadamente através de incentivos nos custos de licenciamento de
projecto.
Os últimos decénios assistiram à formação de novas modalidades de espaço
urbano, mais distendidas, mais difusas, mais descontínuas, onde a
verticalidade cedeu lugar à horizontalidade. É difícil precisar onde começam e
acabam hoje as cidades. As periferias estendem-se cada vez mais longe e sob
formas cada vez mais arrevesadas. Ao mesmo tempo, como contraponto dessa
tendência, e por efeito justamente das mesmas forças centrífugas, os centros
das cidades esvaziaram-se de população e de actividades. As cidades
perderam centralidade e vitalidade.
Múltiplos factores concorreram neste sentido: razões económicas, que se
prendem com a deslocalização das actividades produtivas; razões
tecnológicas, como a motorização da população e a melhoria das
acessibilidades; razões sociais, como a fragmentação da família. Não é fácil
atacar a origem destas mudanças. Mas as consequências são nefastas e
devem, por isso, ser combatidas: significam gastos excessivos de tempo e
dinheiro em movimentos pendulares cada vez mais longos, consumos
desnecessários de combustíveis fósseis que agravam o défice energético
nacional e produzem emissões elevadas de dióxido de carbono, ocupação
desregulada do solo; e enquanto isso, para a cidade, representam novos
problemas relacionados com o despovoamento, o envelhecimento
demográfico, o desinvestimento no património edificado, nas infra-estruturas
e no espaço público — em suma, a desqualificação da vida urbana.
O diagnóstico está feito desde há muito. Académicos e técnicos conhecem
bem o problema e as populações sentem-no na pele. As soluções, porém,
tardam. Os governos PS inventaram o Polis, convencidos que com injecções de
capital e grandes intervenções festivas em frentes ribeirinhas ou em parques
urbanos conseguiam inverter a situação. Não conseguiram. O CDS reconhece
que intervenções qualificadoras do espaço público são importantes, mas sabe
também que não se pode resumir a isso uma política de cidade. É urgente
regressar à cidade compacta e revitalizar os centros das cidades, para bem da
coesão social, das identidades locais e do ambiente.
Regressar à cidade compacta, combater as tendências centrífugas e
dispersivas da urbanização contemporânea, valorizar o edificado e o espaço
público dos centros das cidades, tornando-os mais atractivos e apetecíveis
para gente e actividades, pressupõe coragem para proceder a inovações no
plano legislativo que o CDS não receia e que se compromete a fazer,
nomeadamente. Para além dos ajustamentos necessários ao nível do
arrendamento, importa, nomeadamente, repensar o financiamento das
autarquias, de molde a reduzir a dependência dos municípios das receitas
fiscais da construção e, com isso, reduzir a apetência para o licenciamento de
novas construções em detrimento da reconstrução e reforçar
significativamente os benefícios fiscais de quem investe na valorização do
património edificado dos centros das cidades e nelas se estabelece, de molde
a que as vantagens deixem de ser meramente simbólicas e possam funcionar
como um factor crítico na tomada de decisão dos privados.
III. Portugal é um país assimetricamente povoado. Os portugueses estão
concentrados em cidades e nas coroas urbanizadas que se lhes desenham em
redor. Mais de ¾ da população do país habita em áreas que o INE considera
urbanas. Depois, temos fortes contrastes também, reconhecidos desde há
muito, entre litoral e interior.
Portugal não está sozinho nesta tendência de ocupação assimétrica do
território. Muitos outros países desenvolvidos, como a Suiça e a Áustria, ou os
países escandinavos, possuem modelos de ocupação e organização do espaço
algo similares. A concentração da população é uma decorrência de tendências
históricas pesadas, que os últimos decénios, com a transferência do emprego
para os sectores secundário e terciário e o consequente êxodo rural,
acentuaram muitíssimo. Proceder à redistribuição da população, promovendo
campanhas de colonização interna como se chegou a fazer no passado, não
parece possível, e talvez também não fosse por si só solução que garantisse
um desenvolvimento equilibrado e harmonioso do território nacional. Por isso,
o que o CDS propõe é uma política que saiba tirar partido do modelo
territorial que está configurado, explorando as virtualidades que ele encerra
para bem do desenvolvimento do país e da coesão das regiões.
O interior do país, ainda que sofrendo os efeitos do despovoamento e do
envelhecimento demográfico, não é um deserto e não pode ser por isso
votado ao abandono a que normalmente se consagram as “terras de
ninguém”. Os centros urbanos têm sido focos de um certo dinamismo
demográfico e até económico. Essas energias têm de ser capturadas e
multiplicadas por intermédio de políticas eficazes de desenvolvimento
integrado do mundo rural. Valorizar a centralidade desses lugares, integrá-los
em redes, e ao mesmo tempo pô-los a funcionar mais articuladamente com os
espaços rurais em redor, que também devem ser objecto de um ordenamento
agrícola e florestal e de uma política activa de valorização dos seus recursos,
é crucial e pode ser a solução para o desenvolvimento rural.
Para o CDS é pois determinante assumir e valorizar o policentrismo urbano
como complemento da valorização do mundo rural e dos espaços naturais,
para bem do desenvolvimento equilibrado do território nacional e da coesão
das regiões.
IV. A ordenação do território passa necessariamente por uma política
estruturada e consistente de mobilidade. Rigorosamente, a definição da
política de transportes deverá considerar a Política de Ordenamento do
Território, a Política para a eficiência Energética, as políticas relativas às
Alterações Climáticas e ainda a Política Económica, Orçamental e Financeira
de Portugal, num quadro sustentável o ponto de vista ambiental, financeiro e
social.
O crescimento da mobilidade coloca problemas com custos económicos
elevados, ao nível da segurança, da energia e ambiente, e devem ser
enfrentados com realismo. Estes problemas resultam do aumento da taxa de
urbanização, do crescimento da indústria automóvel e da forma como as
cidades evoluíram a partir da segunda metade do Séc. XX, face à pressão
demográfica resultante do abandono dos campos, que conduziram ao
crescimento explosivo da taxa motorização e ao uso intensivo do automóvel,
com um aumento do número e extensão das viagens motorizadas realizadas
pelos cidadãos.
Nas últimas décadas, os transportes, foram planeados numa óptica individual
dos diferentes modos. Há que modificar urgentemente esta perspectiva,
criando condições de integração, racionalização e eficiência de todo o sistema
de mobilidade e logística, com a simultânea alteração profunda do quadro
legal de regulação e regulamentação dos transportes em geral.
Também neste domínio os privados deverão ser chamados a participar mais
intensamente na gestão e desenvolvimento dos transportes, substituindo-se, a
ideia generalizada, de reserva de sectores de actividade pela da transferência
de risco para aqueles que clara e livremente procuram oportunidades de
investimento rentável neste sector. Ao Estado deve competir o exercício dos
poderes reguladores e fiscalizadores de forma independente e autónoma. Esta
regulação deve ser, também. Exercida com o recurso a Contratos de
Concessão de Serviço Público e com respeito pelas obrigações deles
decorrentes. Na verdade, o Estado accionista, gestor, regulador e fiscalizador
é omnipresente no sector, o que não tem permitido um desenvolvimento
sustentável do sector, nem tem sido possível assegurar os Princípios de Bom
Governo e as Boas Práticas na quase totalidade das empresas e instituições
estatais que providenciam infra-estruturas e gerem oferta de transporte.
Defendemos assim: i) o descongestionamento do meio urbano e das regiões
suburbanas através de uma nova cultura de mobilidade nas regiões
metropolitanas, com transportes acessíveis e soluções colectivas menos
onerosas e da criação das Autoridades Metropolitanas de Transporte; ii) a
integração das estradas regionais e das antigas estradas nacionais
desclassificadas, na rede municipal, sob jurisdição das autarquias; iii) a
reavaliação de novos itinerários rodoviários principais e complementares; iv) a
melhoria das ligações urbanas aos itinerários principais e complementares
existentes; v) a justificação através da análise custo-benefício de todos os
investimentos superiores a 10 milhões de Euros, com introdução obrigatória
de todos os efeitos externos (externalidades) avaliados segundo os parâmetros
oficiais, aprovados pelo Governo e pelo Parlamento; vi) a resolução dos
problemas financeiros das empresas estatais, de modo a permitir a sua
municipalização e privatização em áreas com sustentabilidade económica; vii)
a inversão das actuais propostas políticas relativas ao sistema ferroviário com
prioridade para o transporte de mercadorias e ligações aos portos e
plataformas logísticas nacionais, incrementando a intermodalidade e
complementaridade na rede de transportes, com a necessária conclusão da
modernização das Linhas do Norte e da Beira Baixa; viii) a manutenção da
rede aeroportuária nacional, privatizando a gestora ANA, SA, incluindo os
aeroportos das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, embora nestes
casos com concessões e regulações específicas, de acordo com os interesses
socioeconómicos das respectivas Regiões; ix) a decisão sobre o novo Aeroporto
Internacional de Portugal fundamentada em critérios económicos posteriores
à privatização da ANA e que se subordinem ao interesse nacional; x) a
produção e regulamentação de uma nova Lei de Bases dos Sistemas de
Mobilidade e Transportes Terrestres; xi) a garantia do equilíbrio económico-
financeiro dos portos nacionais, de modo a aumentar a movimentação de
mercadorias e incentivando o acesso às rotas marítimas internacionais,
assumindo o desenvolvimento dos portos como um aspecto estratégico para o
país; xii) a aprovação de um novo quadro económico e financeiro para o Plano
Estratégico de Transportes, face à actual situação financeira e orçamental do
país; xiii) adoptar como princípio geral o do “utilizador-pagador” como regra
de tarifação das infra-estruturas de transportes, o que implica a abolição das
“SCUT” sempre que não estejam em causa superiores interesses sociais; xiv)
estudar a possibilidade de introduzir nas auto-estrada tarifas diferenciadas
consoante a faixa de rodagem; xv) no caso de nova travessia do Tejo,
defender prioritariamente a opção ferroviária, também destinada a reforçar a
capacidade de integração modal nas duas margens do Tejo.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Reforma profunda no sentido da unificação e simplificação legislativa e
administrativa.
2. Dinamização do mercado de arrendamento.
3. Facilitação do despejo.
4. Incentivo a tipologias habitacionais mais favoráveis à família.
5. Regresso à cidade compacta.
6. Criação das Autoridades Metropolitanas de Transporte.
7. Integração das estradas regionais e das antigas estradas nacionais
desclassificadas, na rede municipal, sob jurisdição das autarquias.
7. Abolição de algumas “SCUT”.
IMIGRAÇÃO
CRÍTICAS
1. A política de imigração do PS foi laxista em vez de rigorosa e
burocrática em vez de integradora.
2. Gerou um regime instável, na imigração.
3. Abriu uma “janela” para o efeito de chamada a imigrantes ilegais.
Os regimes de imigração devem ser estáveis. O PS, ao invés de reforçar a rede
consular existente, fechou consulados. Em vez de aumentar o número de
oficiais de ligação do SEF nos países de origem de imigração – e que muito
poderiam ajudar a controlar o fenómeno migratório e as rotas de tráfico de
pessoas – cancelou as admissões.
Em vez de criar uma rede integrada de informação entre o SEF, DGAC e o
IEFP, preferiu mudar a lei. Nesta alteração, o PS cometeu dois erros graves.
Primeiro consagrou uma terceira forma para a obtenção de um visto - para
além do habitual “contrato de trabalho” ou “promessa de contrato de
trabalho” – mediante uma mera “manifestação de interesse da entidade
patronal”. Foi excessivamente flexível no conjunto de entidades que podem
provar a existência de uma relação de trabalho (para efeitos de concessão de
visto), atribuindo essas competências a entidades, pela sua natureza, não
têm vocação para tal, como ONGs e sindicatos.
Em conclusão, abriu uma “janela para o efeito de chamada” de imigrantes
ilegais que se encontravam noutros países da União Europeia.
RESPOSTAS
I- A dimensão global dos fluxos migratórios requer uma visão abrangente
deste fenómeno e justifica uma análise integrada das abordagens
preconizadas por diferentes ordens jurídicas, nomeadamente dos países que
registam índices de imigração mais elevados. Além disso, a condição de
Portugal enquanto Estado Membro da União Europeia implica necessariamente
uma especial consideração pelas soluções propostas pela União Europeia,
designadamente através das suas instituições – Comissão, Conselho e
Parlamento Europeu.
Neste contexto, qualquer que seja a solução preconizada é inevitável que a
mesma atenda aos princípios e às orientações definidas pela União Europeia,
bem como às tendências dos países que são frequentemente objecto de fluxos
migratórios. Tal circunstancialismo decorre, não só por razões de natureza
jurídica, mas sobretudo por uma questão de eficácia das políticas definidas no
domínio da regulação dos fluxos migratórios e da integração plena e condigna
das imigrantes no respectivo país de acolhimento.
Assim sendo, impõe-se uma breve sinopse das orientações mais recentemente
definidas pela União Europeia.
II- A política de imigração da UE tem vindo a ser desenvolvida com particular
cuidado desde o Conselho Europeu de Tampere (Finlândia) realizado em
Outubro de 1999 e no qual os Estados Membros concordaram que a gestão dos
fluxos migratórios deve assentar numa abordagem abrangente que privilegie o
equilibro entre o humanismo e as necessidades económicas, bem como
promover um tratamento justo e adequado aos cidadãos de países terceiros e
ainda reconhecer a importância de se desenvolverem parceiras com os países
de origem, incluindo políticas de co-desenvolvimento. Desde então que a UE
defende que a política de imigração deve atender ao seu desenvolvimento
económico e demográfico, bem como às capacidades de recepção de cada
Estado Membro e às suas ligações com cada um dos países de origem das
comunidades imigrantes, sem ignorar o impacto de tais fluxos migratórios
para os próprios países de origem e ainda a necessidade de se desenvolverem
políticas de integração apropriadas.
Do vasto acervo de instrumentos legais comunitários existentes, é importante
reter os princípios que enformam a política de imigração europeia, os quais
têm subjacente a prossecução de uma política para toda a Europa e uma
acção coordenada entre os Estados que compõe a União Europeia, bem como
os objectivos da União Europeia relativos à prosperidade, solidariedade e
segurança.
1) PROSPERIDADE: o contributo da imigração legal para o desenvolvimento
socioeconómico da UE. Neste contexto, é importante promover a adopção de
regras claras e a igualdade de condições, pelo que os nacionais de países
terceiros devem receber as informações necessárias relacionadas com a
entrada e residência legal na UE. Para além disso, deve ser assegurado o
tratamento equitativo dos nacionais de países terceiros que residem
legalmente na EU, bem como uma especial atenção aos seguintes vectores i)
Adequação entre qualificações e necessidades e ii) A integração como solução
para uma imigração bem sucedida;
2) SOLIDARIEDADE: coordenação entre Estados-Membros e cooperação com
países terceiros, assegurando que i) A política comum de imigração deve ter
como fundamento os princípios de solidariedade, confiança mútua,
transparência, responsabilidade e esforços conjuntos entre a UE e os Estados-
Membros, os quais requerem uma melhor partilha de informação que
contribua para reforçar as abordagens coordenadas sempre que tal se
justifique, nomeadamente mediante formas de comunicação claras,
objectivas e adequadas. Por outro lado, torna-se essencial desenvolver
mecanismos para controlar o impacto de eventuais medidas nacionais que
preserve a consistência no seio da EU. ii) uma utilização eficaz, coerente e
rigorosa dos meios disponíveis para a gestão dos fluxos migratórios iii)
Estabelecimento de parcerias com os países terceiros, iv)Transparência,
confiança e cooperação.
A imigração deve ser uma parte integrante das políticas externas da UE. A
colaboração sobre todos os aspectos das questões ligadas à imigração deve ser
desenvolvida em parcerias com os países terceiros, apoiando o
desenvolvimento de sistemas de imigração e asilo de países terceiros, assim
como de enquadramentos legislativos e ainda reforçando a colaboração e a
ajuda com esses países. É essencial desenvolver meios legais e operacionais
que proporcionem oportunidades de migração circulares, bem como colaborar
com países de origem de imigrantes ilegais e ainda incorporar disposições
relativas à segurança social nos acordos de associação com países terceiros.
3) SEGURANÇA: lutar eficazmente contra a imigração ilegal através
nomeadamente de i) Uma política de vistos ao serviço dos interesses da
Europa e dos seus parceiros:, ii) Gestão integrada das fronteiras, assegurando
a protecção e integridade do espaço Schengen;iii) Intensificação da luta
contra a imigração ilegal e tolerância zero para o tráfico de seres humanos e
iv) assegurar políticas de regresso duradoura e eficazes:
As políticas de regresso fazem parte das políticas de imigração. Conferir
estatuto legal a imigrantes ilegais em massa não deve ser incentivado; no
entanto, a possibilidade de conferir estatuto legal a indivíduos não deve ficar
comprometida.
III- Uma referência ao Pacto Europeu sobre Imigração e Asilo:
Na sequência do Conselho Europeu realizado nos dias 15 e 16 de Setembro de
2008 sob a égide da Presidência Francesa, foi anunciado o Pacto Europeu
sobre Imigração e Asilo. Este promove uma abordagem coerente e equilibrada
da migração no seu duplo objectivo, designadamente proporcionar canais
legais de migração e combater, ao mesmo tempo, a imigração clandestina,
assumindo o necessário humanismo, pois assenta no pressuposto de que os
imigrantes são membros individuais da sociedade e potenciais cidadãos,
devendo os Estados-Membros empreender esforços para instituir políticas de
inclusão social e de integração claras e eficazes.
O Pacto sobre Imigração deverá constituir o quadro de acção das futuras
Presidências da União Europeia.
IV) Perante o contexto europeu actualmente existente tanto no plano social,
como no plano económico e, assim, também reflectido no plano jurídico e
politico, o CDS tem defendido de modo firme e coerente que só um controlo
rigoroso da entrada, saída e permanência de cidadãos estrangeiros em
território nacional possibilitará uma regulação eficiente dos fluxos migratórios
no território nacional.
Por isso mesmo, a gestão das migrações deve ser global e recentes iniciativas
do Conselho Europeu durante a Presidência Francesa, como a constituição da
União para o Mediterrâneo ou a celebração do Pacto Europeu sobre Imigração
e Asilo, representam contributos significativos para introduzir uma política
rigorosa na gestão dos fluxos migratórios, sem descurar o humanismo
imprescindível na integração e jamais abrandando o combate às redes de
tráfico de seres humanos.
O CDS tem sido o único Partido em Portugal que sempre defendeu estas
políticas, as quais constam hoje de um compromisso assinado por todos os
Estados da União Europeia. Neste contexto, possui especial responsabilidade e
uma legitimidade acrescida em prosseguir as suas propostas políticas nesta
área, e procurar novas soluções para um fenómeno cada vez tão complexo e
global, como mutável. A premissa fundamental em que assenta a política do
CDS considera os imigrantes como pessoas iguais a todas as outras na sua
dignidade, pelo que o relacionamento do Estado com os imigrantes jamais
pode deixar de atender a essa dimensão pessoal e deve reger-se
inexoravelmente por princípios de respeito, transparência, lealdade e tutela
da confiança.
Nesse sentido, o respeito pelos imigrantes obtém-se, antes de mais, através
de uma política clara e responsável de imigração legal, o que significa que
devemos acolher de forma digna aqueles que procuram o nosso país para
trabalhar e melhorar as suas vidas e que assim contribuem também para o
crescimento nacional. Uma política menos rigorosa de imigração conduzirá,
inevitavelmente, a deficiências no acolhimento e a outros problemas de
diferente natureza.
Portugal foi no seu passado e, face à crise económica, volta a ser hoje um
País de emigrantes. Sabemos bem o sofrimento e as dificuldades de uma
diáspora que procura longe das suas origens, a possibilidade de ter uma vida
melhor para si e para a sua família.
O princípio da confiança pelo qual se deve reger a actividade do Estado e que
deve pautar igualmente a política de imigração implica que a confiança do
imigrante deve ser cultivada e preservada, nomeadamente o imigrante deve
ser tratado de forma leal e verdadeira por parte do Estado, o qual jamais lhe
deve dar sinais contraditórios. Assim, não faz sentido que o Estado receba
contribuições para a Segurança Social e obtenha impostos de imigrantes em
situações de irregularidade, as quais são tardia ou dificilmente solucionadas
por esse mesmo Estado, quando não mesmo ignoradas.
Neste contexto, o CDS preconiza i) a criação de um Sistema em rede no
Ministério da Administração Interna, devidamente articulado e em parceria
com o Ministério do Trabalho e da Segurança Social e o Ministério das
Finanças, que evite a existência de situações pouco claras em que cidadãos
que se indocumentados ou em situação de ilegalidade no País, procedam,
ainda assim, a contribuições para a Segurança Social ou ao pagamento de
impostos às Finanças.
A lealdade na actuação do Estado pressupõe também o fornecimento e a
clareza da informação, nomeadamente de forma acessível e clara. Por isso, o
CDS defende i) a criação de Gabinetes de Informação e Apoio ao Imigrante
(GIAI) em todas as Lojas do Cidadão, destinados a promover os conhecimentos
essenciais da legislação portuguesa. No mesmo sentido, o CDS considera
fundamental o incentivo ao voluntariado e a promoção de protocolos com as
Universidades e a Ordem dos Advogados que permitam uma informação útil e
capaz aos imigrantes nos referidos GIAI.
O acolhimento adequado do imigrante implica também que o Estado dedique
especial atenção á especial vulnerabilidade em que os imigrantes, não raras
vezes, se encontram, as quais potenciam os abusos por parte de alguns
empregadores. Perante tal circunstancialismo, o CDS entende como
contributo fundamental a realização de protocolos com as Misericórdias e as
IPSS que visem a criação de uma rede de apoio a imigrantes em situação de
especial precariedade, bem como a adequada fiscalização por parte da
Autoridade para as Condições de Trabalho em relação a estes fenómenos de
abuso e exploração.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Promover a imigração legal tendo em conta as prioridades,
necessidades e as capacidades de integração de Portugal em cada
momento, designadamente as oportunidades existentes no mercado de
trabalho e as previsões económicas para o ano seguinte;
2. Incentivar a realização de acordos de pareceria com os países de
origem e de trânsito das correntes migratórias para o nosso País;
3. Remodelar as redes consulares e nomear oficiais de ligação do SEF
junto das Embaixadas portuguesas nos países de origem e de trânsito,
com vista à desburocratização dos processos de atribuição de vistos e
autorizações de residência e ao reforço da cooperação operacional e
judiciária no combate ao tráfico ilegal de pessoas;
4. Acordar as condições de retorno de imigrantes que, encontrando-se no
nosso País, demonstrem vontade de regressarem ao seu país de origem;
5. Reforçar o controlo nas fronteiras na dotação do SEF de meios de
combate à falsificação de documentos e à promoção da participação
portuguesa na FRONTEX;
6. Centralizar no SEF os processos de concessão de vistos e autorizações
de residência, actualmente da competência do Ministério dos Negócios
Estrangeiros e que tem demonstrado não ter capacidade operacional e
as competências necessárias para uma concessão célere e rigorosa
desta documentação;
7. Criar um Sistema em rede no Ministério da Administração Interna, e em
parceria com o Ministério do Trabalho e da Segurança Social e o
Ministério das finanças, que evite a existência de situações dúbias em
que cidadãos que se encontram indocumentados ou em situação de
ilegalidade no nosso País, ainda assim procedem às contribuições para a
Segurança Social ou às Finanças;
8. Rever a Lei de Imigração, com o objectivo de associar à concessão de
vistos e de autorizações de residência um contrato de imigração em
que o Estado garanta o acesso a direitos básicos, como a saúde ou a
educação, e o candidato se comprometa a respeitar integralmente as
leis portuguesas, os valores fundamentais do Estado de Direito
Democrático e a aprendizagem da língua portuguesa;
9. Prever expressamente a regra do julgamento sumário para crimes
graves cometidos por titulares de vistos de residência, detidos em
flagrante delito, com consequente decisão de expulsão em caso de
condenação;
10. Impedir que os pedidos de asilo feitos com fundamento manifestamente
improcedente constituam pretexto para adiar o procedimento de
expulsão, quando este tenha sido determinado;
11. Evitar processos unilaterais de regularizações extraordinárias de
imigrantes, hoje em dia afastados pela União Europeia;
12. Estender as vagas nos exames de aprendizagem do português,
realizados pelo Ministério da Educação para os requerentes da
nacionalidade portuguesa, para imigrantes, reforçando papel do
conhecimento da língua como um factor de integração;
13. Realizar protocolos com as Misericórdias e as IPSS com vista á criação
de uma rede de apoio a imigrantes que se encontrem em situações
especialmente precárias;
14. Criar Gabinetes de Informação e Apoio ao Imigrante (GIAI), destinados
a fornecer conhecimentos básicos da legislação portuguesa, em todas
as Lojas do Cidadão através do incentivo ao voluntariado e da
celebração de protocolos com as Universidades e a Ordem dos
Advogados;
15. Reformular o Conselho Consultivo para a Imigração e Minorias Étnicas,
garantindo uma maior participação e representatividade de associações
de imigrantes presididas por cidadãos imigrantes e envolver as
autarquias locais nesta matéria, através da Associação Nacional de
Municípios.
JUSTIÇA
CRÍTICAS
1. Aumento exponencial dos atrasos na justiça laboral
2. Incapacidade dramática de resposta dos tribunais de comércio
3. Alterações erradas ao Código Penal e Código de Processo Penal
4. Tentativa de destruição da reforma do notariado
5. Processo atribulado do novo mapa judiciário
O Governo Socialista tem vindo a argumentar que as pendências judiciais
diminuíram, que a implementação do processo electrónico tem sido um
sucesso e que o mapa judiciário é uma inevitabilidade. Acontece, porém, que
decorridos 4 anos de governação socialista, não se vislumbram melhorias
significativas com impacto na vida das empresas e das pessoas.
As medidas socialistas – e, em particular, os Planos de Acção para o
Descongestionamento dos Tribunais, contribuíram apenas para mitigar alguns
dos constrangimentos no funcionamento da nossa Justiça, não atacando
aqueles que são os problemas estruturais do sistema judicial.
O CDS sabe que a Justiça, antes de ser um serviço, é um direito fundamental
dos cidadãos e que este direito está hoje claramente posto em causa dada a
desconfiança que o sistema de justiça tem vindo a gerar nos cidadãos. Vive-se
uma crise de confiança que é também, simultaneamente, uma crise de
gestão, organização e autoridade.
A crise da Justiça é, em si mesma, uma crise do Estado.
RESPOSTAS
I. Assumir a prioridade da Justiça significa assumir a necessidade de reformar
e t ransformar a ló gica act ual de fu ncionamento, g estão e organização dos
Tribunais Judiciais.
O CDS reconhece que, ao contrário dos outros órgãos de soberania (Presidente
da República, Assembleia da República e Governo), cuja legitimidade decorre
do voto da sociedade, os tribunais baseiam a sua legitimidade no resultado da
sua acção . É, p or i sso, essen cial d evolver a cap acidade d e resposta dos
tribunais judiciais. A credibilização do nosso sistema depende da sua eficácia.
Há q ue a postar n a simp lificação, q ualidade e c ontenção legislativa, n a
recuperação do diálogo com os diferentes parceiros, na eficácia da gestão e
melhor organização dos Tribunais, numa articulação funcional dos operadores
judiciais, e ainda numa visão in tegrada e complementar da o ferta de meios
judiciais e extrajudiciais de resolução de conflitos.
Importa t ambém r etomar a lin ha d a liberalização d o n otariado, t ão
maltratada por este Governo e que, no entanto, corresponde a uma reforma
profunda e na Administração Pública e que deve ser devidamente valorizada.
II. O balanço da acção do Governo Socialista no domínio judicial é claramente
negativo. A u ma enorme co ncentração p rocessual n o âmb ito d a j urisdição
cível, em que cerca de 20 empresas representam cerca de 60% das pendências
judiciais, so mam-se atrasos e situações crónicas n o âmb ito da j urisdição
administrativa e fis cal, lab oral e fali mentar co m en ormes e evid entes
dificuldades de resposta dos Tribunais Administrativos e Fiscais, dos Tribunais
do T rabalho e de C omércio. É esclarecedor co nstatar q ue no Tr ibunal de
Comércio de Lisboa uma providência cautelar demora pelo menos 9 meses a
ser decidida e u ma acção mais co mplexa leva, na melhor das hipóteses, 5, 6
ou 7 anos a ser resolvida.
Ao nível da aplicação do direito, grassa a confusão judiciária com a vig ência
simultânea d e m últiplos r egimes. C onfusão e s obreposição qualificam as
competências no que diz respeito ao funcionamento dos Tribunais Judiciais e
no que diz respeito à própria orgânica do Ministério da Justiça.
No que respeita ao d ireito processual, temos um processo civil co m mais d e
1500 artigos, um processo penal revisto de forma desastrosa que, para além
de t er in troduzido b urocracia, é ir responsável d o p onto d e vist a d a p olítica
criminal e, bem assim, um processo tributário que se encontra em d iscussão
pública há praticamente três anos.
O processo elect rónico q ue, seg undo o G overno, ab range cer ca d e 7 5% d os
Tribunais de 1 .ª I nstância, segundo a A ssociação Sindical dos M agistrados
Judiciais contribuiu para d iminuir a p rodutividade dos Juízes em 1 19% e, de
acordo co m o S indicato d os M agistrados d o M inistério P úblico, coloca sér ios
problemas de segurança.
As fo rmações d os diferentes o peradores j udiciais falham p or falt a d e
compatibilização e in tegração e as inspecções são compartimentadas e sem
qualquer avaliação global integrada.
No que respeita aos mecanismos de resolução extrajudicial de litígios, a lei de
arbitragem, datada de 1 986, urge ser r evista e ponderada à lu z d os n ossos
dias e não h á u ma integração entre est es e o s restantes me canismos de
resolução d e lit ígios. Aliás, é bem esclar ecedor a ad opção de u m map a
judiciário que está longe de ser um verdadeiro mapa da justiça.
Por fim, os recursos são insuficientes em d iferentes áreas, em p articular, na
Magistratura d o M inistério P úblico e n o q uadro d e in spectores d a P olícia
Judiciária.
III. O CDS reconhece que a gestão e o rganização dos t ribunais é o problema
estrutural da J ustiça P ortuguesa. N o M inistério d a Justiça há d emasiadas
entidades com co mpetências si milares ( e que, em a lguns caso s, são mes mo
sobrepostas) n o â mbito da g estão e o rganização d os T ribunais. As
intervenções n os T ribunais, as r edes i nformáticas e o a poio aos p rogramas
Citius e Habilus são ex emplos p aradigmáticos d essa r ealidade. A D irecção-
Geral d a Ad ministração d a J ustiça ( DGAJ) ad ministra o p rograma Habilus e
gere os o ficiais d e j ustiça. O I nstituto das T ecnologias d a I nformação d a
Justiça (ITIJ) administra as diferentes redes informáticas, a Direcção-Geral de
Política d e J ustiça ( DGPJ) imp õe r egras e statísticas e o I nstituto d e G estão
Financeira e I nfraestruturas d a J ustiça (IGFIJ), p ara além d e ar recadar
receitas, gere as diferentes intervenções nos Tribunais.
Esta o rganização é d emasiadamente co mplexa e cria zo nas “ cinzentas” d e
intervenção en tre m agistrados judiciais, magistrados d o M inistério P úblico,
secretários judiciais e direcções-gerais do Ministério da Justiça.
Importa adoptar definitivamente a figura do Gestor Judicial, responsável pela
logística, material e recursos humanos dos Tribunais. A par do Gestor Judicial,
o CDS defende igualmente a cr iação da figura do Gabinete do Juiz, composto
pelo juiz, por um escrivão-adjunto ou auxiliar e, por um colaborador técnico
em t odas as sit uações em que s e j ustifique. E ste colaborador, r ecrutado a
título temporário, d e fo rmação d iversificada, ad equada às necessidades d a
secção ou de um processo particularmente complexo, tem a função de ajudar
na preparação dos despachos e decisões da competência do juiz.
O C DS d efende q ue a q uestão da au toridade n o T ribunal d eve ser d iscutida
com as entidades representativas do sector.
Será n ecessário p roceder co m u rgência a u ma a nálise in dependente d o
funcionamento do Citius, de forma a id entificar e c orrigir as fr agilidades do
seu fu ncionamento, ad equação fu ncional e seg urança. N este âmb ito, o C DS
defende a criação de uma comissão de acompanhamento do Citius, composta
por Ad vogados, ma gistrados j udiciais, m agistrados d o M inistério P úblico e
representante do Ministério da Justiça.
A harmonização informática em todos os Tribunais deve ser uma preocupação
permanente, a p ar d a r ealização d e fo rmações in iciais e co mplementares a
todos o s a gentes q ue t rabalham na J ustiça. O ITIJ d everá disponibilizar um
corpo de técnicos informáticos que (à distância, em sistema de help-desk, ou
presencialmente) possam prestar assessoria técnica informática e que ajudem
a resolver os problemas que surgem no dia-a-dia aos diferentes operadores.
IV. O Mapa Judiciário apresentado pelos socialistas não é um verdadeiro mapa
da justiça. Alguns estudos indicam que metade dos tribunais em Portugal não
têm car ga d e t rabalho q ue j ustifique a s ua ex istência e alg uns d os p oucos
dados estatísticos demonstram igualmente que temos demasiados tribunais e,
em determinadas situações, muito concentrados do ponto de vista territorial.
Esta r ealidade p õe à evid ência a n ecessidade d e s e ar ticular o s d iferentes
meios de resolução de lit ígios existentes, judiciais e extrajudiciais, como os
julgados de paz, os sistemas de mediação e centros de arbitragem, e mesmo
com outras jurisdições como a administrativa e fiscal.
Simultaneamente, há que enfrentar a discussão sobre o nosso processo civil e
estudar a possibilidade d e se i mplementar u m n ovo r egime processual m ais
simplificado, mais fle xível e co m maio r a utodeterminação das partes. Deve
ser equacionada igualmente a p ossibilidade da figura da Injunção passar, em
definitivo, a ser u ma fase p révia e o brigatória d e q ualquer p rocesso d e
cobrança de d ívida. H á ain da q ue efectuar u m est udo sér io so bre a acção
executiva e o p rocesso d e in solvência, avalian do o cu mprimento d os
objectivos d efinidos n a lei, nomeadamente o af astamento d e falên cias
fraudulentas.
V. O CDS admite consagrar a separação entre a progressão na carreira judicial
e a h ierarquia n os Tribunais, o q ue p ermitirá r eduzir a p razo o n úmero de
magistrados n os t ribunais su periores ( para u m t erço d o act ual), se m
prejudicar as ex pectativas leg ítimas d e p rogressão n a car reira e p ermitir
canalizar u m n úmero sig nificativo d e mag istrados p ara o j ulgamento d e
processos no âmbito da 1ª Instância, onde há maiores pendências.
VI. A simp lificação, q ualidade e co ntenção leg islativa t em sid o u m b em
escasso na Justiça Portuguesa. A proliferação legislativa dos últimos tempos é,
em regra, de má qualidade. As l eis aprovadas pelos socialistas são complexas
no método, fracas na técnica e desastrosas no resultado. O CDS entende que é
preciso in verter esse ciclo, co rrigindo-se alguns dos p roblemas cau sados por
leis irresponsáveis e desajustadas da realidade.
As leis p enais e p rocessuais penais aprovadas pelo Governo socialista são um
exemplo da su a i ncoerência leg islativa. C onstituíram u m r etrocesso,
introduziram b urocracia e vier am d ificultar a ap licação d os me canismos d e
detenção e de prisão preventiva. O CDS propõe-se alterar o actual regime de
aplicação da p risão preventiva e d e d etenção fo ra d e fla grante delito, em
larga med ida r esponsável p elo aumento d a cr iminalidade r egistada a pós a
revisão d o C ódigo d e P rocesso P enal, d esignadamente co m a r evisão dos
pressupostos para a su a ap licação. Defendemos: i) a revogação da ex igência
de que o c rime seja punido com mais d e cinco anos de prisão, ap licando-se
novamente os três anos anteriormente exigidos; ii) a a bolição da norma que
prescreve que o juiz não possa aplicar a p risão preventiva se es sa medida de
coacção n ão fo r r equerida p elo M inistério P úblico; iii) a r evogação o u
reformulação dos artigos 13º e 15º da Lei da Política Criminal, que impõem ao
Ministério P úblico q ue, semp re que leg almente o p ossa fazer , n ão r equeira
condenações em p ena de p risão efect iva o u o d ecretamento d a p risão
preventiva.
No q ue r espeita à detenção fo ra d e fla grante delito, deverá ser ab olida a
disposição que t orna exigível q ue a d etenção só possa efect uar-se q uando
haja fu ndadas r azões p ara c onsiderar que o vis ado n ão s e ap resentaria
espontaneamente perante autoridade judiciária no prazo que lhe fosse fixado.
Todas est as disposições, alé m d e t erem p rovocado um d ecréscimo
significativo do número de prisões preventivas e das detenções realizadas fora
de flag rante d elito, t êm aumentado o s n úmeros d a criminalidade
(designadamente de crimes violentos cometidos nas regiões de Lisboa, Porto e
Setúbal) e o sentimento de insegurança, além de fazerem pairar uma nuvem
de descrédito sobre o sistema de justiça, com a co nsequente transmissão de
um sentimento de impunidade aos delinquentes, muitos deles sucessivamente
detidos e logo de seguida libertados.
VII. Entendemos q ue d eve ser feit a u ma r eflexão mu ito séria s obre o
recrutamento d os m agistrados, n o s entido d e t ornar a car reira at ractiva e
capaz de captar alunos de elevadas classificações.
O CDS defende uma aposta radical na formação dos actores judiciários e na
avaliação do sist ema. A falt a de ar ticulação ao nível d as f ormações dos
operadores judiciários tem colocado problemas gravíssimos de funcionamento
dos t ribunais. S abe-se que as fo rmações de mag istrados e as fo rmações dos
funcionários j udiciais ex istentes n ão são co mplementares n em in tegradas.
Esta ausência de in tegração repete-se ao nível das i nspecções/avaliações. A
avaliação efect uada n o âmb ito d as in specções (magistrados j udiciais,
magistrados d o M inistério P úblico e o ficiais d e j ustiça) n ão é h armonizada,
esquecendo-se, em muitas o casiões, q ue est es operadores t rabalham em
equipa. E sta d ualidade d e in specções tem cr iado ig ualmente p roblemas
gravíssimos nos Tribunais.
Para além d a avalia ção in dividual r igorosa e co m r eflexos na r emuneração,
importa t ambém cad a vez mai s camin har p ara u ma avaliação g lobal d a
secção, do juízo e do tribunal.
Faz ainda sentido ponderar a formação conjunta de magistrados e advogados,
pelo menos numa fase in icial da formação, de forma a cr iar uma cultura de
trabalho c ooperante, n o se ntido d e alcançar u ma j ustiça céle re e c redível,
com a qual todos têm a ganhar.
VIII. O C DS en tende que o cam inho d e ap osta n os meios alt ernativos é um
caminho incontornável mas ao qual importa dar sentido. Os meios alternativos
de resolução de litígios fazem sentido como oferta de serviços diferenciados,
mas t ambém co mo co ntributo para aj udar a d escongestionar o s meios
judiciais. N esta ló gica, n ão faz sen tido q ue o G overno S ocialista co ntinue a
inaugurar Julgados de Paz e a alargar os novos sistemas de mediação, sem que
a rede de meios alternativos esteja definitivamente articulada com a rede das
infraestruturas judiciais. O CDS defende, assim: i) a articulação imediata da
Rede d e Julgados de P az co m o M apa J udiciário; ii) a r evisão d a Lei d e
Arbitragem Voluntária; iii) a c riação de novos Sistemas de Mediação (Sistema
de Mediação em matéria Civil e Comercial) e alargamento das experiências de
mediação aos Tribunais Judiciais (desde que sob a s upervisão e homologação
dos mag istrados j udiciais); iv ) a o brigatoriedade d e, à semelh ança d o que
sucede em p rocesso do t rabalho, fix ar em q ualquer esp écie de p rocesso a
obrigatoriedade de se r ealizar u ma t entativa d e c onciliação; v) o
acompanhamento d os r esultados d a med iação p enal, d e fo rma a avaliar a
possibilidade de alargar os mecanismos de justiça restaurativa; vi) a particular
atenção à resolução de litígios de consumo.
Entendemos ain da q ue se d eve ap ostar fo rtemente n a in formação e n a
consulta jurídicas, como meios eficazes de combate à litigiosidade.
IX. O CDS defende que o sistema de justiça seja mais acessível ao cidadão.
Ora, o n ovo R egulamento das C ustas P rocessuais veio , a contra cic lo,
aumentar as custas judiciais e dificultar o acesso à Justiça. Este movimento
de au mento d as cu stas j udiciais fo i acompanhado d e u m co mpleto
esquecimento d os m ecanismos d e acesso ao d ireito, n omeadamente, dos
Gabinetes de Informação e Consulta Jurídica.
A u nidade d e co nta passou d e € 9 6 p ara € 1 02 e p assou a ser act ualizada
anualmente, em vez de, como sucedia no passado, ser actualizada de 3 em 3
anos. Com este novo regime socialista, as custas judiciais passam a ser pagas
na t otalidade lo go no in ício d o processo, quando, antigamente, er am pagas
em dois momentos distintos. Mesmo que, em determinadas acções, a taxa de
justiça venha a ser inferior, o esforço que se imp õe agora às e mpresas e ao s
particulares, n um m omento inicial d e a cesso ao s t ribunais, é b astante
superior, porque se obriga a pagar tudo ab initio.
O CDS considera que esta medida é u ma medida em claro contra-ciclo e de
grande au tismo: n um mo mento d e falt a d e liq uidez as emp resas e o s
particulares são obrigados a fazer um maior esforço económico.
Por t udo i sso, o C DS de fende: i) a r evogação do Regulamento d as C ustas
Processuais; ii) a criação de benefícios fiscais para os processos que terminem
com aco rdo ain da a ntes da m arcação d o j ulgamento ( por e xemplo até à
audiência preliminar).
X. Por fim o CDS entende prioritário o combate à corrupção e à criminalidade
económica e fin anceira, fen ómenos q ue se d ebatem c om d ificuldades
conhecidas: a complexidade destes crimes, a sofisticação dos meios usados, o
seu carácter transnacional, a f alta de meios de investigação, nomeadamente
ao n ível d o imp rescindível ap oio d e p eritos q ualificados, e com d iversas
insuficiências legislativas verificadas neste domínio.
Neste âmbito, o CDS defende a criação de um novo t ipo de cr ime – o Crime
Urbanístico. Act ualmente, violações d e Planos D irectores M unicipais, de
Urbanização e d e P ormenor, com co nsequências graves e mu itas ve zes
irreversíveis p ara o ambiente e o rdenamento d o t erritório, são p unidos
através d o cr ime d e co rrupção, cu ja p rova é mu ito d ifícil d e r ealizar, o u
qualificadas so mente co mo ir regularidades ad ministrativas, t ransmitindo a
sensação de que o cr ime compensa. A cr iação deste novo t ipo l egal reveste
grande importância preventiva e de moralização.
Propomos o aumento da moldura penal dos crimes de poder, designadamente
dos cr imes Ab uso d e P oder e d e P articipação E conómica e m N egócio, d e
extrema danosidade para o interesse público, os quais são puníveis com uma
pena máxima de 3 anos de prisão.
Defendemos ain da o r eforço dos meio s d e in vestigação neste d omínio,
através: i) da criação de novas bolsas de peritos e ampliação das actualmente
existentes; ii) d a criação d e equipas m ultidisciplinares d e investigação,
integradas p or elemen tos d e d iferentes ár eas (Investigação C riminal,
Finanças, Tribunal de Contas, Inspecção Geral da Administração Local, etc.);
do reforço do quadro de inspectores da Polícia Judiciária.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Introdução decisiva do gestor judicial. 2. Criação do gabinete do juiz. 3. Estudar a generalização de carreiras planas. 4. Tronco comum de formação para os diferentes actores judiciários. 5. Reforma do processo civil. 6. Criação de efectivo sistema de complementaridade com os meios extrajudiciais de resolução de conflitos. 7. Revisão cirúrgica e determinada do Código Penal e do Código do Processo Penal. 8. Alteração do regulamento das custas judiciais no sentido de facilitar o acesso à justiça. 9. Criação de um novo tipo de crime: crime urbanístico. 10. Aumento da moldura penal dos crimes de poder.
POLÍTICAS DO MAR
CRÍTICAS
1. Ausência de uma visão estratégica para as políticas do mar.
2. Desaproveitamento do sector portuário como factor de riqueza
nacional.
3. Perda de poder e direitos do nosso país no sector das pescas.
4. Regresso dos ENVC a uma situação financeira deplorável.
O governo socialista, durante os últimos anos, desperdiçou grande parte das
oportunidades relacionadas com o mar. Começando por não olhar para o mar
como um tema agregador, motivador e dinamizador do nosso
desenvolvimento e riqueza, a ausência de uma visão global estratégica deu
lugar a uma pulverização de recursos e a uma falta de investimento eficaz e
produtivo.
A perda de importância do sector das pescas é apenas o sinal mais evidente
da falta de entendimento da relevância que o mar, em termos de riquezas
naturais ou mesmo comerciais, pode ter para Portugal. Corremos o perigo de
perder continuar – até à fuga total de oportunidades para outros países -
capacidades no sector da construção naval, portuário além da, já referida,
pesca.
Não esquecemos, também, a importância para a segurança nacional, de
manter as capacidades de vigilância marítima.
RESPOSTAS
I. Há quatro pontos essenciais para o desenvolvimento de uma estratégia para
a economia do mar: o modelo de “governance” do mar, os portos e os
transportes marítimos, o controlo e segurança no mar, a educação e a
formação.
Por outro lado, existem ainda quatro temas fundamentais para pôr em prática
esta estratégia: a pesca, a aquicultura e a indústria de pescado, a
investigação científica e o turismo marítimo.
Só uma visão integrada – e não “departamentalista” – destes sectores permite
conceber uma estratégia de recuperação do potencial marítimo de Portugal,
O CDS tem bem claro no seu horizonte que a vocação marítima de Portugal é a
condição histórica da nossa independência e liberdade enquanto Nação, e
representa uma das áreas de maior inovação, potencial de crescimento,
modernização e excelência para a economia portuguesa.
II. No que respeita ao modelo de “governance”, considerando que o mar é da
responsabilidade de vários ministérios e palco de múltiplas actividades, só
uma estrutura de tutela concertada, responsável pelos vários sectores do
sector marítimo, permite desenvolver uma política credível.
O modelo de conferir uma tutela de Estado e com concentração de
competências foi um sinal, dado em 2004, com resultados. No mínimo, deve
ser acompanhado por um Conselho de Ministros Especial para o Mar, com o
objectivo de decidir as grandes questões relativas ao uso do Mar e actividades
correlacionadas. Essa tutela e esse Conselho deverão ter uma estrutura
permanente de assessoria – uma secretaria-geral para os assuntos do mar -
que será responsável por coordenar e preparar todos os assuntos a serem
apresentados ao Conselho.
No desenvolvimento da estratégia para mar o Governo deverá procurar a
colaboração estreita dos vários sectores da sociedade civil, nomeadamente
das associações ligadas ao sector, de modelo e a garantir uma fonte de
informação permanente de realidade empresarial e de controlo da execução
da estratégia definida.
III. Portugal pode e deve ter nos seus portos, e também na sua marinha
mercante, sectores de desenvolvimento económico e verdadeiros
multiplicadores de riqueza para o país. Para tal deve interiorizar, organizar e
posicionar-se no sentido de se constituir numa plataforma de serviços
internacionais, que assentem num sector marítimo-portuário moderno, forte e
agressivo, servindo os mercados europeu e mundial, acrescentando real valor
à economia nacional. Nesse sentido, é fundamental ter visão estratégica,
articular e medidas e, portanto, levar a cabo uma política integrada para todo
o sector portuário, de maneira a garantir que os portos interagem, e
concorrem com as suas valências para maximizar a competitividade de todo o
sistema portuário nacional.
É fundamental que os investimentos portuários sejam criteriosos, dirigidos
para os objectivos globais (nacionais), e que sejam garantidas e
salvaguardadas acessibilidades e espaços para a intermodalidade,
possibilitando a continuidade nas cadeias de transporte.
É crucial dotar das condições necessárias e integrar estrategicamente os
portos portugueses nas “auto-estradas do mar”, facilitando, incentivando e
apoiando serviços (novos e existentes) que respondam aos critérios já
definidos.
É indispensável conhecer profundamente e segmentar os mercados (TMCD,
PALOP’s, Deep Sea, etc.), perceber a sua dinâmica e os factores críticos de
sucesso para criar uma estratégia de actuação com maior probabilidade de
sucesso.
Por fim, é central apostar criteriosa e estrategicamente na marinha de
comércio portuguesa, nos navios de pavilhão nacional, criando um leque de
condições favoráveis ao seu desenvolvimento, e assim aumentar a sua
capacidade de oferta e competitividade no mercado global.
Estas orientações devem ser, no entender do CDS, o compromisso e a resposta
das gerações presentes à cultura e herança marítima da nossa História.
IV. Se não formos nós a controlar o uso dos nossos espaços marítimos e a
garantir que são espaços seguros, não serão certamente outros a fazê-lo.
Importa centralizar a recolha e o tratamento de toda a informação relativa ao
que se passa nas nossas águas territoriais, zona contígua, zona económica
exclusiva e suas aproximações, para conhecer com rigor o que se lá se passa
(“maritime domain awareness”) e assim poder intervir com mais eficácia.
As informações recolhidas no âmbito da “busca e salvamento” (“safety”),
assim como todos os elementos recolhidos pelos mais diversos meios,
incluindo o “intelligence” recolhido pelas unidades da Marinha, da Força
Aérea e da GNR nas actividades de fiscalização (“security”) devem ser
tratados de forma centralizada e posteriormente fornecidos aos organismos do
Estado que deles precisem para uma actuação mais eficaz.
As responsabilidades dos vários organismos envolvidos na fiscalização devem
ser clarificadas, fomentando a colaboração e a cooperação, e evitando a
dispersão ou duplicação de meios e os inerentes custos acrescidos.
As actividades de fiscalização devem ser asseguradas por meios modernos e
bem equipados, optimizados para o desempenho das tarefas que lhes estão
atribuídas. A efectiva concretização dos programas de reequipamento da
Força Aérea e da Marinha é, neste âmbito, prioritária. Preocupa-nos de
sobremaneira que os ENVC – Estaleiros Navais de Viana do Castelo – tenham
regressado a uma situação financeira deplorável, e que o esforço de
reconstituição das nossas capacidades na construção naval militar tenha
herdade força. O CDS não desistirá do caminho industrial que ajudou a abrir.
As áreas do fundo do Mar, da plataforma continental, a que Portugal
recentemente se candidatou, mais do que duplicam a nossa área da zona
económica exclusiva, trazendo assim responsabilidades acrescidas que é
necessário antecipar. Se Portugal quer voltar a ser um país relevante nos
temas marítimos, tem de salvaguardar o investimento na segurança da nossa
costa e das zonas económicas e de exploração que poderemos vir a deter.
V. A educação e formação são indispensáveis para que exista uma cultura e
uma base segura e conhecedora das actividades relacionadas com o mar. Os
programas escolares têm que reflectir a opção de “utilizar o mar”, e a
formação para as actividades marítimas terá que ser pensada de forma global,
adequada e intermutável.
Devem ser tomadas as medidas necessárias para que o desporto náutico seja
ligado à escola, como forma de sensibilizar os jovens para os assuntos do mar
assim como dinamizar o papel de grupos – desportivos recreativos,
associativos - e órgãos culturais (museus e outros) que, nas suas actividades,
tenham em conta o mar, como forma de reforçar a sensibilidade marítima dos
portugueses.
Ao nível da formação devem ser inventariadas as necessidades de formação
para as profissões, quer a bordo quer em terra, nas diversas áreas da
actividade marítimo-portuária, especialmente nos nichos de mercado em que
a procura de técnicos é uma realidade, aproveitando a oportunidade de
colaboração nesta área de formação com os PALOPs.
Também neste sector, uma visão estratégica da relação de Portugal com
África pode significar um grande desempenho, criador de riqueza, para as
empresas e os recursos humanos.
VI. O turismo marítimo integra a nossa tradição marítima milenar, e tem o
mar como identidade e centralidade da nossa posição na Europa. Esta inegável
identidade é inerente à nossa localização. Portugal tem uma oferta natural
para o turismo marítimo, pelas suas características geográficas, pela riqueza
da nossa costa, também pela diversidade de actividades que proporciona e
naturalmente pelas condições climáticas de que dispomos.
Contudo, é essencial que estas características naturais que Portugal oferece,
sejam enquadradas numa política sólida, consistente e catalisadora do
crescimento económico.
É fundamental ter um projecto sustentado em infra-estruturas sólidas, num
sector regulado, permitindo que o turismo marítimo se enquadre não só no
saber bem receber, mas também criar condições para os sectores de serviços
se desenvolverem, melhorarem e diversificarem a oferta, impulsionando esta
actividade.
É prioritário que o turismo marítimo tenha um crescimento sustentado e
alicerçado nas gerações vindouras.
VII. Para Portugal é fundamental o posicionamento estratégico no papel de
sustentação e desenvolvimento deste sector como área económica.
A pesca é uma actividade que desde sempre esteve no dia-a-dia dos
portugueses. Com a evolução e a modernização deste sector, a aquicultura
representa uma inovação económica com diversas valências, assim como a
indústria de pescado, que deve desenvolver-se de forma sustentada e sólida
como um investimento no futuro, criando também emprego e
sustentabilidade.
A aquicultura tem crescido rapidamente, criando postos de trabalho
diversificados neste sector, construindo infra-estruturas e repensando um
sector económico em franco desenvolvimento. Há progressos consideráveis na
gestão ambiental com maior eficiência na utilização de energia, de água e de
outros recursos naturais.
Se o consumo directo de peixe é muito relevante, também é igualmente
importante a indústria de pescado, que potencia e envolve o crescimento
sustentado e sólido deste sector.
É também fundamental haver uma crescente consciência de que o seu
desenvolvimento sustentável requer um ambiente devidamente regulado, com
enquadramento europeu para que economicamente se possa desenvolver de
forma equilibrada.
A exploração no domínio da pesca e da aquicultura e, subsequentemente, nas
actividades de processamento do pescado, constitui uma componente da
exploração deste espaço e insere-se, naturalmente, no respectivo vasto leque
das actividades da economia do mar.
A excelência do pescado português, como iguaria e especialidade, deve ser
projectada internacionalmente.
VIII. Em muitas das decisões sobre as pescas, Portugal confronta-se com uma
Política Comum de Pescas que, frequentemente, é impeditiva do crescimento
do sector. Porém, não faltam exemplos de países de dimensão comparável à
nossa que conseguem defender a sua pesca, no seio da política comum, por
vezes apesar dela e não raro batendo-se – e coligando-se com outros países –
para alterar os seus efeitos nocivos.
Uma boa negociação de quotas, uma aposta séria na construção e não apenas
no abate de embarcações, a desburocratização de muitos dos aspectos
quotidianos do sector, o repensar de estratégia fiscal e uma maior consciência
social sobre as condições de vida dos pescadores – e das suas famílias – têm de
estar presentes numa visão diferente da política de pescas.
IX. A necessidade de investigação científica e de desenvolvimento de
tecnologias capazes de viabilizarem o aproveitamento prático das
potencialidades do nosso espaço marítimo é de vital interesse para uma
relação de Portugal com o mar, sustentada e orientada para o futuro.
Para que esta área se desenvolva é fundamental que as mentalidades se
reformulem, e que o conhecimento e a investigação comuniquem com a vida
prática das empresas.
Exercer actividades de investigação científica, nos domínios da hidrografia e
da oceanografia, e assegurar as responsabilidades nacionais nessas matérias, é
uma oportunidade para jovens cientistas, académicos e técnicos, devendo
rentabilizar-se ao máximo as capacidades que a Marinha Portuguesa tem nesta
matéria.
A investigação dos mares e do Oceano é estratégica para o desenvolvimento
económico e social de Portugal e da Europa, apresentando novas e
entusiasmantes oportunidades de crescimento económico e inovação no sector
das actividades marítimas.
A coordenação da investigação científica é crucial para que a estratégia seja
seguida de forma coerente e sistémica, orientada para os objectivos que
projectam Portugal como país inovador neste sector.
Também a extensão da plataforma continental tem a responsabilidade de, no
plano internacional, ser um catalisador do conhecimento e capacidade
científico-tecnológica no domínio da investigação científica dos mares.
O conhecimento científico e a “tecnologia” emergentes estão a permitir um
acesso sem precedentes a novos recursos marinhos, com forte potencial
comercial a longo prazo. É um domínio em que Portugal dispõe, à partida, de
vantagens únicas em termos de acesso a recursos. Não podemos desperdiçá-
las.
A responsabilidade da coordenação da informação resultante da investigação
científica, é fundamental para que seja posta em prática e disponibilizada à
sociedade civil, para que integre a cultura portuguesa e permita ser uma
oportunidade de futuro nas novas gerações.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Uma política para o mar implica uma tutela de Estado, reunindo
competências muito dispersas e um Conselho de Ministros Especial para
o Mar, regular e assessorado.
2. Defesa de uma plataforma de serviços portuários internacionais.
3. Aposta forte nos meios de investigação e segurança marítima que
permitam a Portugal aproveitar a oportunidade da extensão da
Plataforma Continental.
4. Reforma do sistema e instituições de aprendizagem de profissões
marítimas.
5. Programa específico para abrir as escolas portuguesas à cultura do mar.
6. A diplomacia do mar com os PALOP constitui uma grande oportunidade
para empresas e recursos humanos.
7. Posição mais forte e intransigente nas negociações da Política Comum
de Pescas, nomeadamente quanto a quotas, apoios à produção e
construção de embarcações.
8. Desburocratizar a actividade quotidiana das micro, pequenas e médias
empresas do sector das pescas.
9. Gestão competente e produtiva dos estaleiros nacionais (ENVC).
10. Impulso, na estratégia de crescimento económico, à criação e
desenvolvimento de empresas da indústria do pescado e de aquicultura.
11. Grande aposta na investigação científica ligada ao mar.
POLÍTICA EUROPEIA, NEGÓCIOS ESTRANGEIROS E EMIGRAÇÃO
CRÍTICAS
1. Não realização de referendo sobre Tratado de Lisboa
2. Excesso de proselitismo ideológico na relação com a Venezuela
3. Insuficiência das políticas de emigração e consulados
A política externa é, por excelência, um domínio em que deve procurar-se um
consenso de Estado que obriga, nos seus traços essenciais, os Partidos do
chamado “arco democrático” – fiéis às alianças estratégicas de Portugal – ou
“arco da governabilidade”. O CDS foi, mais uma vez, coerente com este
desígnio, evitando, sempre que possível, que o conflito político passasse pela
política exterior.
No entanto, a procura desse consenso não apaga diferenças relevantes. A
título de exemplo, considerámos um erro a não realização de um referendo
sobre o Tratado de Lisboa; condenámos o imprudente proselitismo ideológico
em certas relações externas que, até pela estabilidade da sua importância,
devem respeitar o enquadramento Estado a Estado (ex: Venezuela); e temos
uma posição crítica sobre a insuficiência das políticas de emigração e
consulados.
RESPOSTAS
I. Portugal é uma Nação europeia com raízes mediterrânicas e laços
transatlânticos. Essa herança, natureza e rumo requerem um olhar
actualizado. O mundo de 2009 não se satisfaz com as interpretações do
passado. Face a esta realidade, a construção de alianças, parcerias e modelos
de cooperação entre Estados que partilham valores e propósitos é
fundamental. A opção europeia de Portugal é a resposta adequada a este
mundo, sem prejuízo de todos os outros laços internacionais que queremos
manter e aprofundar.
Com os recentes alargamentos ao centro e a Leste, a União Europeia tornou-
se geograficamente mais continental, aproximando-se mais da Ásia e menos
do Atlântico. A emergência de uma política marítima europeia, inspirada
numa ideia em que Portugal foi precursor e o CDS, em Portugal,
impulsionador, é uma oportunidade crucial para trazer novas centralidades à
Europa. O mar é um recurso não deslocalizável que temos de aproveitar, e a
nossa condição de Estado costeiro e porto de chegada e partida do continente
mais rico deve ser desenvolvida estrategicamente no contexto europeu. O mar
dá centralidade à nossa posição na Europa.
O CDS não se limita a ver a União Europeia como uma teia institucional.
Recusamos, aliás, adensar a sua propensão para a burocracia. Defendemos
uma visão activa, responsável e realista na relação com os EUA, o Magreb, a
China, a Rússia, a Índia, Médio Oriente e América Latina, perante as questões
energéticas que tanta insegurança originam, no combate ao terrorismo, crime
organizado, tráfico de seres humanos, face às alterações climáticas e com
respeito pelos direitos humanos. A aliança de segurança com os Estados
Unidos é a garantia da segurança mútua. O relacionamento próximo com o
Magreb – alicerçado numa estratégia para o Mediterrâneo – reforça o papel de
Portugal e é determinante para a contenção de conflitos e a regulação dos
fluxos migratórios.
Defendemos a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. A sua
institucionalização responderá à sedimentação dos últimos alargamentos e às
prioridades de futuras adesões, particularmente os Balcãs Ocidentais. Além
disso, o Tratado confere aos Parlamentos nacionais responsabilidades de
escrutínio político acrescidas. A legitimidade democrática do projecto
europeu começa em cada um dos seus Estados membros e os Parlamentos são
a sua máxima expressão institucional. O CDS será mais exigente no controlo
democrático, via Assembleia da República, das posições do Estado Português
na União.
Consideramos, ainda, como áreas políticas prioritárias da União Europeia a sua
segurança, uma prudente política de vizinhança e uma relação séria e
pragmática com a Turquia que reflicta os interesses mútuos. Mantemos as
nossas reservas quanto à adesão deste país, insistindo na necessidade de
encontrar um estatuto especial. que podem não passar pela sua adesão à
União. Por fim, o Tratado cria um serviço externo para a União que lhe dará
expressão no relacionamento externo. Portugal deve saber estar presente
neste domínio com a reconhecida qualidade dos seus diplomatas.
II. Entendemos que Portugal deve dar mais atenção à sua participação nas
instituições europeias. Há uma fraca presença de quadros intermédios nestas
instituições e não existe uma verdadeira e eficaz rede de comunicação entre
todos os portugueses que aí trabalham, sendo muitos deles importantes
contributos para os processos de decisão nacional. A dimensão de Portugal e a
sua influência na Europa exigem mais capacidade de trabalho, organização e
implementação. A diplomacia portuguesa deve apostar na formação dos seus
quadros em assuntos europeus, de forma a integrá-los nas estruturas
europeias. São necessários mais e melhores quadros intermédios.
A dimensão da nossa rede diplomática espalhada pelo mundo está aquém das
necessidades. Uma reavaliação global e aprofundada da rede diplomática
bilateral, como é patente nos Estados da União Europeia, justifica-se nesta
era marcada pela emergência de novas potências, pela globalização dos
processos industriais e por uma crise financeira com consequências para o
futuro. É importante definir que tipo de consulados se adequam à nossa
diplomacia, evoluindo da visão tradicional da prestação de serviços – que têm
de ser eficientes – para plataformas que cruzem as dimensões cultural,
económica e social das nossas comunidades no estrangeiro. Sublinharemos o
trabalho conjunto e próximo entre a rede diplomática e a rede AICEP,
reforçando a dimensão económica da nossa diplomacia. É, ainda, desejável
que se desenvolvam especialidades temáticas no quadro diplomático,
sobretudo perante a complexidade dos desafios presentes e futuros. No
mesmo sentido, o CDS defende a institucionalização de conselhos consultivos
dos Cônsules, que os apoiem na promoção de iniciativas nas áreas referidas.
III. Quanto às grandes questões estratégicas, damos maior importância ao
relacionamento de Portugal com África. É o objectivo de maior crescimento
potencial da nossa diplomacia. As relações com os países africanos de língua
oficial portuguesa são um dos pilares da política externa portuguesa, nos
quadros bilateral e multilateral. Esta é uma das nossas grandes valências no
cenário euro-africano e uma das potencialidades estratégicas quando nos
comparamos com os demais Estados europeus. A existência de uma instituição
multilateral integrando o Brasil e Timor-Leste, a CPLP, que o CDS sempre
defendeu, merece, porém, maior coordenação, melhor liderança e um
diferente nível de ambição e projecção.
Pela sua especial importância, o triângulo estratégico desempenhado por
Portugal, Brasil e Angola pode ter enorme valor. Certamente que a existência
de laços culturais a isso ajudou, mas muito caminho pode ainda ser trilhado
por todas as partes. O quadro de relacionamento económico e de recursos
humanos deve ser fortemente incentivado O factor estratégico que o CDS
defende dever ser prioridade nacional nas próximas décadas é a Língua
Portuguesa.
IV. Portugal ainda não tem nem promove uma verdadeira política da Língua
Portuguesa, enquanto dimensão activa da sua política externa cultural e
económica. Afirmamos que nem iniciou um percurso proporcional à dimensão
humana e política que transporta (200 milhões de falantes). Desde logo,
aferindo economicamente do seu valor estratégico, como aliás já fizeram os
espanhóis com o castelhano. Num quadro internacional em reformulação, faz
todo o sentido que a Língua Portuguesa possa ser um veículo do seu
acompanhamento, tendo Portugal todo o interesse em associar-se a este
quadro, promovendo uma iniciativa ambiciosa, estruturada e coordenada para
a Língua Portuguesa como desígnio nacional.
No contexto da globalização, este posicionamento conferiria a Portugal um
lugar na linha da frente da diplomacia europeia em relação ao mundo
lusófono; seria imprescindível no vital relacionamento com a potência
regional sul-americana, o Brasil e com outra, na África subsariana, Angola.
Traria uma dimensão acrescida à vertente económica da nossa diplomacia. É
neste triângulo que a nossa política externa se pode afirmar num mundo cada
vez mais concorrido estrategicamente e dominado pela Língua inglesa como
meio de comunicação preferencial no relacionamento interestadual.
Trabalhar com propriedade e eficiência para que a Língua Portuguesa seja um
idioma oficial nas organizações internacionais que o justifiquem, deve ser um
dos nossos objectivos.
V. Portugal deve ser participativo no debate estratégico internacional. Uma
das obrigações de um partido com responsabilidade é a de saber que Portugal
queremos no mundo e de que forma devemos actuar no quadro internacional
face a crises e ameaças. A resolução do dilema de segurança histórico na
Europa, das tensões nas suas transições democráticas ou a garantia de
estabilidade nas relações entre civis e militares, foram alguns dos benefícios
que resultaram do estreito e singular envolvimento dos EUA em Portugal e na
Europa, durante as últimas décadas. Quebrar este elo seria não só
catastrófico, como abriria um novo espaço às tensões dentro da União
Europeia. Não é do interesse português, europeu e norte-americano que isto
suceda. Por isso, devemos fazer tudo para fortalecer a relação transatlântica.
Se há época em que isto se justifica é precisamente a de crise internacional
em que vivemos.
A NATO tem sido um dos pilares mais sólidos da segurança europeia. Joga uma
boa parte da sua eficácia, credibilidade e justificação estratégica na missão
no Afeganistão, cuja avaliação de progresso tem de ser considerada
preocupante, necessitando de uma abordagem que integre coerentemente
dimensões militar, civil económica e institucional. Os aliados não podem
demitir-se das suas responsabilidades mas devem, conscientemente, promover
a alterações na estratégia de uma missão, em que, como sempre sucede, os
militares portugueses prestigiam Portugal.
Fazemos uma opção pelo aprofundamento sólido das relações entre duas das
suas principais alianças: a NATO e a União Europeia. Promover as Forças
Armadas, um dos maiores activos nacionais, nestas duas organizações de
sucesso, deve continuar a ser uma política de Estado, consensualizada entre
os Partidos do “arco da governabilidade”. Portugal assegura deste modo dois
princípios: integrar os esforços pela segurança internacional e prestigiar a
imagem do país perante os seus pares. O CDS tem uma especial
responsabilidade com as Forças Armadas que não abandona.
Dentro destas ligações, a Base das Lajes deve continuar a ser um trunfo
estratégico a potenciar. Mas a evolução tecnológica e a natureza das novas
ameaças, como o terrorismo, a desagregação de Estados ou a proliferação
nuclear, exigem um novo papel para a Lajes. Desde logo, um desempenho não
apenas logístico, mas sobretudo de treino aeronáutico moderno. Além disto,
pode revalorizar-se como uma base importante para a nova orientação de
segurança americana: África. Os interesses açoreanos devem estar
devidamente contemplados – o que não sucede com suficiência na actualidade
quando falamos na revalorização das Lajes.
O CDS não contribuirá para o afastamento de Portugal das grandes questões
internacionais. Será promotor de um debate aprofundado sobre o novo
conceito estratégico da Aliança Atlântica, a divulgar na Cimeira de 2010 a ter
lugar no nosso país.
O CDS defende uma relação entre Portugal, Europa e Rússia marcada pelo
reconhecimento da sua condição de parceiro relevante nas relações
internacionais, na estabilidade dos mercados energéticos e na paz,
argumentos suficientemente fortes nesta equação para que a sua relação seja
conduzida com sensatez, realismo e prudência nas acções e declarações. Isto
não significa que não seja desejável a concretização de um mercado
energético europeu que reduza a dependência energética face à Rússia.
VI. A outra prioridade que destacamos é uma nova atitude face à diáspora
Portuguesa. A emigração presente e de futuro é substancialmente diferente
da tradicional. É altamente qualificada e facilmente integrada nas
concorrentes e exigentes sociedades que a acolhem. Temos mais de um
milhão de emigrantes em países com a importância dos EUA, Canadá, Brasil,
Espanha, Alemanha, Venezuela, África do Sul ou Grã-Bretanha. É, por isso,
importante desenhar um plano estratégico para a diáspora que começa por
quantificá-la com rigor, aferir dos seus problemas locais e identificar a sua
tipologia socioeconómica.
Portugal deve saber aproveitar económica e politicamente a sua emigração
qualificada como vector da sua política externa, hoje potenciada por um sem
número de redes sociais com base na internet, promovendo os seus interesses
no exterior, criando uma dinâmica de lobbying local, mas criando também
condições para que essa diáspora possa vir a investir em Portugal no futuro,
quer pela afinidade com o país de origem quer pelo potencial que a Língua
Portuguesa permite na aceleração de projectos em comum. Devem promover-
se programas de “captação de valores” junto dos quadros da emigração, que
podem representar enormes mais valias nas capacidades de Portugal em áreas
cientificas, académicas, empresariais e culturais.
Importa ainda promover a celebração de acordos ou tratados de
reconhecimento bilaterais de decisões judiciais ou assentos de casamento com
os Estados onde existe maior emigração portuguesa, como a África do Sul,
Venezuela, Canadá, Estados Unidos da América ou Austrália.
VII. A segurança e estabilidade são dois pilares de qualquer sociedade política
próspera, de economias em desenvolvimento. Também permitem a
sedimentação das populações nos seus países de origem. Sem segurança não
há desenvolvimento. Ora, o Mediterrâneo tem sofrido com a ausência destes
dois vectores. Daqui à instabilidade política, ao aumento da pobreza, às
brechas do sistema que permitem o florescimento dos radicalismos, ao tráfico
de droga ou à imigração ilegal em massa é um passo curto. O destino é
conhecido. O balanço é invariavelmente trágico. Aliás, nesta era marcada
pelo radicalismo islâmico subversivo das democracias ocidentais, mas,
também, das sociedades muçulmanas moderadas, o CDS é defensor de uma
via de cooperação reforçada, europeia e transatlântica, precisamente com as
alas moderadas. São estas que devem negar o radicalismo em segmentos do
chamado mundo árabe, abrir-se ao contacto com as democracias ocidentais,
privilegiando a cooperação educativa, cultural, económica, política e militar.
É por aqui que devemos reforçar os nossos esforços.
Mas num plano bilateral, uma dimensão que não está de todo arredada da
política internacional, embora muitos a queiram anular, Portugal tem no
quadro mediterrânico e árabe que dar resposta ao crivo do pragmatismo: do
ponto de vista energético, Portugal depende em medida importante do gás e
petróleo vindos da Argélia e da Nigéria, dois países com um certo grau de
instabilidade, onde o compromisso com os moderados se revela crucial para
uma saudável relação bilateral assente na estabilidade e previsibilidade.
Um último compromisso: Portugal candidata-se, com o apoio do CDS, a um
lugar de membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU para o
biénio 2011-2012. Caso o concretize, como desejamos, deve ajudar a
promover a reforma das Naçoes Unidas, nomeadamente do seu Conselho para
os Direitos Humanos, cujo comportamento nem sempre tem prestigiado as
Nações Unidas.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Reforçar o controlo democrático interno das políticas europeias.
2. Reservas quanto à adesão da Turquia.
3. Maior objectivo estratégico é o triângulo Portugal, Brasil, Angola.
4. Promoção de uma iniciativa ambiciosa para a Língua Portuguesa como
desígnio nacional.
5. Reforço da relação transatlântica.
6. Necessidade de coerência na missão no Afeganistão.
7. Nova abordagem dos meios e das políticas para a diáspora portuguesa.
8. Programa de captação de valores junto da nova emigração qualificada.
9. Apoio à candidatura de Portugal a membro não permanente do CS da
ONU, em 2011/2012.
POLÍTICA FISCAL
CRÍTICAS
1. Aumento da carga fiscal para cerca 38% do PIB.
2. Perda de competitividade fiscal: comparando rendimentos e impostos,
Portugal está entre os países da EU com carga fiscal mais elevada.
3. Aumento da carga fiscal em sede de IRS.
4. Aumento da pressão fiscal sobre as empresas.
5. Tentativa de tributar as doações familiares.
6. Reintrodução de tributação das transmissões gratuitas de imóveis entre
familiares.
7. Solução injusta para a questão da discriminação fiscal do casamento.
8. Perda sistemática de garantias dos contribuintes.
9. Irregularidades graves no sistema de penhoras automáticas da DGCI.
A legislatura de maioria absoluta socialista foi a legislatura que todos os
impostos aumentaram. A pressão fiscal subiu para cerca de 38% do produto,
cerca de quatro pontos acima a que existia em 2005. Todos os impostos
aumentaram, e cada contribuinte pagou, em média, mais 400 euros de
impostos, mercê desta política.
A promessa de não aumentar impostos foi completamente incumprida. Tal
como incumprida foi a garantia de que o aumento da eficiência fiscal, através
do combate à fraude e à evasão, permitiria gerar receitas suficientes para
reduzir a carga fiscal dos que trabalham e cumprem pontualmente os seus
deveres perante o fisco.
A proclamada consolidação orçamental foi feita, pelo menos em ¾, à custa
do contribuinte. Este empobrecimento da economia e esta apropriação de
recursos pelo Estado, revelou todos os seus limites com a crise e a recessão.
O que temos hoje é mais impostos, mais défice e menos receita. O caminho
da retoma passa necessariamente por devolver recursos à economia, às
famílias e às empresas.
Esta legislatura, foi também aquela que assistiu ao nascimento do chamado
“fanatismo fiscal”, uma sucessão de abusos, irregularidades e restrições de
garantias dos contribuintes, que o CDS adequadamente combateu. A
tentativa de gerar receita à força, precludindo os direitos mais elementares
do contribuinte não é aceitável. A outra face da moeda é a situação dos
Tribunais Administrativos e Fiscais, onde se acumulam processos de valor
global elevadíssimo, que o Estado, na sua maior parte, perde.
RESPOSTAS
I. Para além da grave conjuntura que internacionalmente se faz sentir, a crise
económica e fin anceira q ue afecta P ortugal ass enta ain da em cau sas
estruturais q ue u rge r everter. O n ovo contrato fi scal q ue o C DS p ropõe
destina-se fu ndamentalmente a min orar as origens d a fal ta d e
competitividade da economia nacional, da dificuldade na captação de capitais
estrangeiros e d a falta de confiança nas in stituições e n o funcionamento da
administração t ributária e assen ta n um sér io co mpromisso d e r edução
continuada da pressão fiscal so bre as famílias e as e mpresas, cujas medidas
iniciais p ermitam, n o imed iato, d evolver p oder d e co mpra às p rimeiras e
liquidez às segundas.
São três as prioridades definidas pelo CDS para a próxima legislatura: redução
progressiva da carga fiscal, reforço da competitividade das empresas e defesa
das g arantias d os co ntribuintes. N uma p rimeira fase, d efendemos med idas
especificamente o rientadas para co mbater eficazmen te o s efe itos d a cr ise,
criando desafogo na tesouraria das empresas.
A r edução da c arga fiscal n ão é u m objectivo im possível. A diminuição de
impostos, não p ode deixar d e ser aco mpanhada d e r edução n a despesa,
combate a o d esperdício e ao d espesismo. E xistem, no en tanto, med idas –
amplamente testadas noutros países – que, por estimularem o funcionamento
da economia, permitem, a prazo, o aumento da receita fiscal na razão directa
do au mento d a r iqueza q ue g eram. P or o utro lad o, o act ual sistema fiscal
promove g ravíssimas in iquidades que im porta co rrigir e q ue de modo al gum
satisfazem os princípios de justiça e igualdade que o devem nortear.
II. O mo delo d e t ributação d os r endimentos pessoais car ece d e u rgente
simplificação. Volvidos cer ca d e vin te an os so bre a cr iação d o I RS, o CDS
compromete-se, logo no início da legislatura, a nomear a necessária Comissão
de Reforma Fiscal, que, com os devidos estudos e suporte técnico, proponha:
i) uma reforma do IRS com a redução dos escalões de tributação a um máximo
de 4 ii) uma gradual diminuição da taxa efectiva que incide sobre as classes
médias iii) um aumento do rendimento disponível das famílias e a mobilidade
social iv) uma simplificação da mu ltiplicidade i ncoerente de ex cepções,
excepções às excepções, deduções e abatimentos v) uma consideração de um
mínimo de existência familiar.
Consideramos essencial que o sistema fiscal r eflicta a r ealidade familiar em
Portugal, s eja amig o d as famílias e n ão sej a u m fact or d esencorajador da
natalidade. Defendemos que a taxa de imposto deve ter em conta o número
de elemen tos d o a gregado familiar , at ravés da i ntrodução do qu ociente
familiar. N um País em q ue t odos são ig uais p erante a lei e que at ravessa
graves problemas demográficos, é inconcebível que sejam as próprias normas
fiscais a d esincentivar a n atalidade e a d esconsiderar a imp ortância do
número de filhos de cada família. É, pois, fundamental, que o sistema fiscal
aproxime – ainda que progressivamente – a capitação dos rendimentos entre
as famílias mais e m enos n umerosas, g arantindo eq uidade no montante da
receita disponível de todos. Propomos a i ntrodução do quociente familiar de
0,5 por cada dependente, a ser introduzido anual e progressivamente ao longo
da legislatura, com início em 0,1.
A prática tem revelado que o actual esquema de retenções na fonte, com as
suas mú ltiplas t axas b eneficia fundamentalmente a t esouraria d o E stado,
retirando às famílias um poder de compra mensal que só muitos meses depois
lhes é r estituído. O mecan ismo d o p agamento an tecipado d o i mposto deve,
tanto quanto possível, aproximar o imposto retido do imposto devido a final,
minorando quer os casos de reembolsos quer os casos de postergação total do
imposto a pagar, es pecialmente p ara o s r endimentos mais b aixos. O u se ja,
com este objectivo, o CDS propõe a revisão das tabelas de retenção na fonte
do IRS, baixando as taxas e não apenas os escalões.
A protecção da família, através da redução da carga fiscal que onera os seus
rendimentos e património, tem ainda de passar pela eliminação dos impostos
injustos, ilegais e injustificados, como o Imposto de Selo sobre as transmissões
gratuitas entre ascendentes, descendentes e cônjuges e equiparados.
III. Simultaneamente, a n ecessidade d e dotar d e maior co mpetitividade o
tecido empresarial, em esp ecial em co njuntura de crise, obriga a r ever, em
alguns pontos, que afectam a t ributação das empresas. O actual mecanismo
do P agamento E special p or C onta ( que se t raduz n uma ver dadeira co lecta
mínima a que todas as sociedades activas estão sujeitas, independentemente
da efectiva obtenção de lucros), pela sua forma de apuramento, tem gerado
intoleráveis desigualdades, para além d e agravar a vi abilidade das empresas
em sit uação esp ecialmente difícil. O C DS p roporá a suspensão d a
obrigatoriedade d o PEC, p elo men os n esta co njuntura eco nómica. Para
facilitar a co ncessão d e cr édito às emp resas é ain da n ecessário rever a
tributação em sede imposto do selo dos juros dos financiamentos.
O Estado deve ainda empenhar-se em d evolver liquidez aos agentes, através
de me didas q ue, muito e mbora ex ijam, n o p resente, u m esfo rço d e
tesouraria, n ão co mprometem, n a ver dade, o s n íveis d a r eceita n em
aumentam a d espesa fiscal: a r edução d os p agamentos p or co nta, a
aceleração das amo rtizações d os act ivos adquiridos em ép oca d e cr ise por
empresas viáveis, a fl exibilização das regras de provisionamento dos créditos
em mo ra ( incluindo os so bre o E stado) e a p ossibilidade d e reporte dos
prejuízos f iscais apurados, não só ao s lu cros obtidos nos seis an os seguintes
(regime actual), como aos obtidos nos últimos dois exercícios.
Aproveitando a o portunidade cr iada p ela União E uropeia e j á seg uida p ela
França, alterar a t axa do IVA aplicável ao sector da restauração, baixando-a
para 5 %, promovendo assim a co mpetitividade co m a vizin ha E spanha. E m
contrapartida, acer tar com as organizações do sector med idas para evit ar a
evasão fiscal.
Idêntica p reocupação d etermina a ad opção d e m ecanismos ex peditos d e
reembolso do IVA às emp resas numa base, no máx imo, mensal. Em especial
em época de crise é in tolerável que o financiamento da tesouraria do Estado
se faça g ratuitamente à cu sta d os o peradores eco nómicos, t antas vezes
credores do próprio IVA entregue que ainda não conseguiram cobrar aos seus
clientes.
IV. Há ainda um conjunto alargado de medidas que devem ser adoptadas de
forma a p romover a nossa competitividade: i) adopção do método de isenção
na elimin ação d e d upla t ributação d e r endimentos derivados dos lu cros d as
empresas p ortuguesas o btidos fora d e P ortugal, d e fo rma a au mentar a
competitividade d as empresas p ortuguesas q ue in vestem d irectamente no
estrangeiro at ravés d a constituição d e sucursais, ii) in trodução d e u ma
exclusão da b ase tributável d e u ma p ercentagem d e r endimentos d e
propriedade industrial/intelectual recebidos por uma entidade residente para
efeitos fis cais em P ortugal, d e fo rma a au mentar a co mpetitividade d as
empresas portuguesas que investem em I&D bem como atrair para entidades
dedicadas à d etenção d e p ropriedade in dustrial/intelectual; iii) r evisão d o
regime fiscal d as h oldings co m a flex ibilização d a d edução dos en cargos
financeiros suportados para a aquisição de participações sociais, como forma
de p osicionar P ortugal co m u ma j urisdição ad equada p ara a d etenção d e
participações so ciais d e g rupos in ternacionais; iv) r evisão d as r egras d e
subcapitalização n o s entido d e adoptar as melh ores práticas in ternacionais,
como fo rma d e fa cilitar o fin anciamento d as e mpresas p ortuguesas; v)
extensão d as r egras de n eutralidade fisca l às o perações d e r eestruturação
(fusões, ci sões, en tradas de act ivos e p ermutas de acções) a celeb rar en tre
empresas portuguesas e as empresas com sede nos países africanos de língua
oficial p ortuguesa e em T imor – Leste, c omo fo rma d e p osicionar P ortugal
como plataforma de investimento internacional nesses países; vi) celebração
de C onvenção d e D upla T ributação ( CDT) M ultilateral en tre Portugal e os
países afr icanos de lín gua oficial p ortuguesa e T imor – Leste o u
desenvolvimento de rede de CDT com estes países, como forma de posicionar
Portugal co mo p lataforma d e in vestimento in ternacional n esses p aíses; vii)
revisão e flexibilização d o regime d e b enefícios f iscais ao investimento
produtivo de natureza contratual, de forma a possibilitar uma maior atracção
de in vestimentos e m sect ores co nsiderados d e in teresse est ratégico p ara a
economia n acional; viii) flexibilização e in trodução de u m r egime fiscal
especial para “impatriados” e para “expatriados”, respectivamente, de forma
a cr iar melhores condições para atrair quadros superiores para t rabalhar em
Portugal e facilit ar o en vio d e q uadros p ortugueses p ara trabalhar em
empresas portuguesas no estrangeiro por períodos reduzidos.
Quando existirem condições financeiras deverá ainda eliminar-se a tributação
de IVA s obre o I mposto S obre o s V eículos, q ue s e t raduz numa in sólita
tributação sobre outro imposto, na aquisição de automóveis, e do Imposto do
Selo sobre as garantias prestadas ao Estado, que torna especialmente oneroso
o exercício dos direitos de impugnação ou de reembolso de impostos.
V. O n ovo co ntrato fiscal p roposto p elo C DS assen ta ig ualmente n uma
exigente reformulação das garantias dos contribuintes. Os actuais esforços de
combate à fr aude e à evasão só p odem l egitimar-se n um q uadro d e r igor,
proporcionalidade e l egalidade. A crescente desigualdade de armas com que
este co mbate t em si do t ravado, a p razo, p rejudica a eco nomia, d iminui a
confiança e co mpromete a c oncorrência. D esde lo go, h á que n otar q ue o
Estado não é, face à l ei actual, salvo raras excepções, um credor privilegiado
dos particulares, pelo que não deve dispor de meios que lhe permitam cobrar
as su as d ívidas d e u ma fo rma mais r ápida o u e ficaz d o q ue o s d emais
credores, so b p ena d e se in troduzir u ma distorção in aceitável n o
funcionamento do mercado.
O act ual sist ema in formático de p enhoras au tomáticas e d e limit ações à
alienação de p atrimónio imo biliário, p or r ecusa d a e missão d as d eclarações
fiscais n ecessárias, car ece de au ditorias in dependentes regulares, q ue
previnam e imp eçam ex cessos, ileg alidades e ar bitrariedades e g arantam o
escrupuloso cumprimento da ef ectividade dos prazos de defesa p revistos n a
lei. A c obrança coerciva d as dívidas fisc ais só é a dmissível depois d e se
esgotarem o s p razos d e imp ugnação ao dispor d o contribuinte e ap enas n a
circunstância d e es te n ão t er ap resentado qualquer g arantia d o seu
pagamento.
Por outro lado, o prazo de decisão dos serviços, mesmo que alargado e uma
vez fin do, d eve permitir a formação de u m deferimento t ácito d as
reclamações ap resentadas, ú nica fo rma de n ão m anter n a disposição d a
Administração as d ecisões eco nómicas dos p articulares p or prazo
indeterminado. Em caso de lit ígio judicial, as g arantias apresentadas devem
poder ser levantadas decorridos dois anos, independentemente do trânsito em
julgado da decisão que lhe venha a pôr fim, dando, nessa altura, em caso de
deferimento das p retensões do co ntribuinte, lu gar ao p agamento d e u ma
indemnização ad equada ao r essarcimento efect ivo d e t odos os en cargos
suportados co m o p rocesso, n as sit uações em q ue o T ribunal r econheça a
existência de um erro grosseiro. Por outro lado, o contribuinte deve ter ao seu
dispor mec anismos ef ectivos d e co brança e co mpensação dos s eus cr éditos
sobre o E stado, em esp ecial o s t ributários j udicialmente r econhecidos,
podendo exigir n ão só u ma p enalização p ela mo ra co mo u ma san ção
pecuniária compulsória verdadeiramente dissuasora do incumprimento.
Caderno de Encargos Política Fiscal
1. Introdução no IRS do desconto fiscal por filho (quociente familiar). Será
faseado, tendo como objectivo atingir um quociente de 0,5 no final da
legislatura.
2. Nomeação d a Comissão d e R eforma Fiscal, t endo como o bjectivo a
aprovação, n a p róxima leg islatura, d e uma r eforma simp lificadora d o
IRS, que deverá ter, no máximo, 4 escalões, permitir a d iminuição da
carga fiscal das classes médias e aumentar a mobilidade social.
3. No âmbito da mesma reforma, simplificar o sistema de abatimentos e
deduções, hoje complexo e incoerente, apontando para um mínimo de
existência familiar.
4. Redução d as t axas d e r etenção n a fo nte do I RS – e n ão a penas dos
escalões –, para antecipar a devolução de poder de compra às famílias.
5. Suspender o Pagamento Especial por Conta.
6. Reduzir claramente os Pagamentos por Conta das PMEs.
7. Reembolso mensal do IVA (ver programa económico).
8. Rever a t ributação em s ede de I mposto do S elo s obre os juros dos
financiamentos.
9. Possibilidade de reporte de prejuízos fiscais das empresas ao s lucros
obtidos nos últimos dois exercícios.
10. Revisão do regime fiscal das SGPS.
11. Nesta leg islatura, med iante a ver ificação d e co ndições fin anceiras,
resolver a questão da dupla tributação no automóvel e do I mposto do
Selo pago na prestação de garantias ao Estado.
12. Instituição da arbitragem fiscal.
13. Auditoria ao sistema informático de penhoras automáticas da DGCI.
14. Defesa d o co ntribuinte n a questão do p razo d e cad ucidade das
garantias p restadas e d eferimento t ácito n as r eclamações, mesmo
alargando o prazo de decisão.
REVISÃO CONSTITUCIONAL
Até ao ano de 2005 a Constituição da República Portuguesa aprovada a 2 de
Abril de 1976 foi objecto de sete revisões constitucionais. Todavia, ainda
hoje o actual texto constitucional continua a encerrar algumas expressões de
acentuado cunho ideológico que nada têm a ver com a realidade da sociedade
portuguesa e que preconizam metas e objectivos contrários à vontade do
povo português. Assim e muito estranhamente, ainda hoje consta do
preâmbulo do actual texto constitucional a decisão do povo português «abrir
caminho para uma sociedade socialista», o que, no mínimo, constitui um caso
bastante insólito quando cotejado com textos constitucionais de outros
Estados membros da União Europeia.
RESPOSTA
I. Para o CDS-PP não é aceitável impor ao Povo português uma injunção
programática no sentido – único, compulsivo e perpétuo – de caminhar «para
uma sociedade socialista», pelo que advoga uma rectificação histórica com
vista a clarificar e acentuar os valores da liberdade, da democracia e do
respeito pela vontade do Povo português na escolha, livre e aberta, do seu
futuro, sem espartilhos ou quaisquer condicionalismos de natureza ideológica
colectivista. É chegado o momento de libertar Portugal e os portugueses da
carga dos preconceitos de cariz colectivista que se impuseram no conturbado
período de elaboração do texto originário da Constituição de 1976, mas que, a
breve trecho, se revelaram anacrónicos face à evolução registada pela
democracia portuguesa, bem como, aliás, na Europa e no mundo.
Não se pode perder de vista, por outro lado, que o actual texto constitucional
é extenso e complexo e contém numerosas disposições de carácter
programático, as quais merecem ser equacionadas e actualizadas face à
realidade socioeconómica portuguesa e europeia. Alguns aspectos da
organização do poder político merecem também ser melhorados,
nomeadamente no que concerne às regiões autónomas dos Açores e da
Madeira. E remanesce ainda a necessidade de tomar devida conta dos
resultados do referendo à regionalização em 1998, elaborando possivelmente
um novo Livro Branco sobre a matéria, e procedendo a um debate público que
permita avançar para a clarificação e definição do patamar intermédio da
Administração Pública portuguesa, num quadro harmónico de descentralização
e desconcentração, o que poderá ter também algumas incidências na revisão
de disposições constitucionais. Por conseguinte, numa altura em que já
passaram mais de três décadas desde a aprovação do texto originário da
Constituição da República Portuguesa e mais de duas desde a adesão de
Portugal às então Comunidades Europeias, o CDS quer contribuir para a
criação de um novo espírito constituinte e apela à emergência por parte dos
actores políticos desse mesmo novo espírito, aberto e com visão rasgada, que
permita – através da próxima revisão constitucional – alcançar uma
Constituição democrática renovada e efectivamente ajustada aos desafios de
Portugal no século XXI.
II. É neste sentido que o CDS-PP se declara favorável à realização de uma nova
revisão constitucional. Sendo certo que, nos termos das disposições
constitucionais, a iniciativa de revisão é da competência exclusiva dos
Deputados, o CDS-PP advoga que o processo de revisão constitucional seja
acompanhado por um debate a nível nacional tão amplo e aberto quanto
possível, envolvendo os meios académicos, socioprofissionais e a sociedade
civil, em geral.
CADERNO DE ENCARGOS
1. A supressão definitiva no texto constitucional de fórmulas e enunciados
linguísticos indiciadores de um modelo de sociedade colectivista (v.g.,
“abrir caminho para uma sociedade socialista”, “eliminação dos
latifúndios”), os quais se mostram estranhos e anacrónicos à realidade
da sociedade portuguesa;
2. A supressão no texto constitucional de expressões desajustadas e
desactualizadas (v.g., “abolição do imperialismo”, “desarmamento
geral”, “dissolução dos blocos político-militares”);
3. A actualização de diversas disposições constitucionais de carácter
programático, abrindo-se, inclusive, o debate acerca da permanência,
ou não, no texto constitucional de disposições que reflectem
determinadas preferências construídas por uma geração e num
determinado contexto histórico, as quais se mostram susceptíveis de
dificultar ou obstaculizar a liberdade de decisão por parte das gerações
actuais e futuras;
4. O reforço da protecção e da promoção da família e da vida como
valores essenciais da cultura e identidade da sociedade portuguesa;
5. A valorização e o reforço de protecção dos institutos do direito de
propriedade privada e da liberdade de iniciativa económica privada, de
molde a sublinhar determinados valores de uma economia social de
mercado e até como forma de melhorar o respeito pelo fruto do
trabalho dos portugueses;
6. A reformulação de diversas disposições respeitantes à organização
económica no sentido de acentuar o modelo de uma economia social de
mercado e diminuir o paternalismo do Estado na esfera económica;
Formatadas: Marcas e numeração
Formatadas: Marcas e numeração
Formatadas: Marcas e numeração
Formatadas: Marcas e numeração
Formatadas: Marcas e numeração
Formatadas: Marcas e numeração
7. A melhoria dalguns aspectos da organização do poder político,
nomeadamente no que concerne às regiões autónomas dos Açores e da
Madeira;
Formatadas: Marcas e numeração
SAÚDE
CRÍTICAS
1.Má aplicação da reforma das urgências, sem oferta de alternativas.
2.Insuficiençia grave em médicos de família.
3.Caracter demasiado “hospitalocentrico” do sistema
4. Gestão das listas de espera com eliminações administrativas.
5. Incumprimento das promessas sobre prescrição por DCI e Unidose.
6. Incumprimento dos objectivos em áreas sensíveis como nas USF´s e os
cuidados paliativos.
7. Deficiência no funcionamento das emergências médicas.
O Programa de Governo do Partido Socialista propunha “como devem ser os
próprios interessados a julgar a política de saúde, o Governo procurará
assegurar a diversidade da oferta e a liberdade de escolha dos utentes. Só
assim é possível chegar aos portugueses, pois são eles que devem avaliar,
mais tarde, o sucesso desta política”. E anunciou como objectivos: propiciar
melhores cuidados de saúde e com maior proximidade ao utente assumindo o
desafio da qualidade; garantir a acessibilidade dos portugueses aos cuidados
de saúde, em especial no que se refere às listas de espera cirúrgicas e á
melhoria do acesso aos cuidados primários; assegurar a sustentabilidade
financeira do sistema incrementando a eficiência e o rigor na aplicação dos
recursos disponibilizados; optimizar e promover os Recurso Humanos no
sector; continuar os programas de prevenção e tratamento da
toxicodependência, alcoolismo e de combate ao VIH/SIDA.
Hoje é evidente óbvio que pouco disto se passou. A tímida reforma das
unidades de saúde familiar (USF) não atinge sequer 20% dos cidadãos e
continuam sem médico de família centenas de milhares de utentes. As redes
de referenciação, via Alert P1, em vez de serem um veículo do direito de
escolha para os utentes, tornaram-se um instrumento socialista de
planeamento centralizado com natural penalização para quem não conhece
ninguém no sistema. O desmantelamento do Instituto de Qualidade em Saúde
nada trouxe em sua substituição. As estruturas criadas no papel, na Direcção-
Geral de Saúde, deixaram a Qualidade nas instituições à deriva. Na maior
parte dos casos estão a ser renovados contratos directos com os fornecedores
estrangeiros.
As medianas do tempos de espera diminuíram pela eliminação sistemática dos
casos mais antigos, não significando que estejam agora menos utentes em
espera do que há 4 anos. A prova resulta da comparação do volume das listas
com o que se faz anualmente em programas adicionais. Não houve a
assinatura de qualquer acordo colectivo com os sindicatos. Não houve
qualquer acção concertada de promoção de recursos humanos.
Os programas de prevenção e tratamento não correspondem às necessidades e
o combate ao VIH/SIDA premeia aleatoriamente instituições, criando
barreiras financeiras artificiais no apoio a quem trata dos doentes.
RESPOSTAS
I. A Saúde é um sector nuclear para a sociedade. É um bem de mérito número
um. As políticas de saúde representam uma das principais políticas sociais que
o CDS defende para uma sociedade mais justa e solidária. O importante nas
políticas de saúde é quem ela se destina, por isso devem estar centradas no
cidadão/doente.
A melhoria das condições de vida, os progressos da Medicina e os avanços
tecnológicos dos meios de diagnóstico e terapêutica têm levado a uma
alteração dos modelos de morbi-mortalidade, com acentuada baixa na taxa de
mortalidade infantil, progressivo envelhecimento demográfico e aumento
exponencial dos custos em saúde. Portugal sofre de elevados índices de
pobreza associados a um envelhecimento acentuado da população. Todas as
políticas têm de ter em conta estes dados. Por outro lado, as alterações nos
estilos de vida e os novos riscos, elevados índices de sinistralidade como
rodoviária ou laboral, fizeram surgir novas preocupações com grande impacto
social e de custos de saúde, reforçando a necessidade do papel preventivo dos
cuidados de saúde.
Ainda assim, Portugal tem indicadores de saúde significativos. Uma
mortalidade infantil inferior aos 4/1.000, uma esperança média de vida que
ultrapassa os oitenta anos, índices de saúde que nos aproximam e não
envergonham na comparação com outros países da U.E. Este panorama leva-
nos a questionar ainda mais a razão de ser da imensa insatisfação
generalizada com os nossos cuidados de saúde.
Na verdade, subsistem os seguintes problemas centrais: i) dificuldade de
acesso a todos os sectores da saúde; ii) dificuldade na integração horizontal e
vertical entre os sectores; iii) dificuldade na integração com a segurança
social; iv) problemas de financiamento; v) menor investimento na prevenção,
nos estilos de vida e nos hábitos; vi) desorganização e indefinição quanto à
participação do sector social e do sector lucrativo; vii) ausência de
planeamento adequado a prazo; viii) humanização dos cuidados de saúde
aproximando-os do cidadão; xix) apoio à investigação clínica.
II. As centenas de milhar de utentes sem médico de família, a demora média
na marcação de uma primeira consulta nos hospitais, a listas de espera
cirúrgica superiores a duzentos e cinquenta mil utentes, a dificuldade de
colocação de doentes nos cuidados continuados são exemplos bastantes da
dificuldade de acesso a todos os sectores da saúde.
As soluções passam pelo reforço da medicina geral e familiar e pela
contratualização de pacotes plurianuais de trabalho a executar com os
hospitais e demais entidades prestadoras de cuidados de saúde. Existe hoje,
por ARS, a informação das necessidades anuais de quantidades a contratar. É
necessário inverter o paradigma. Em vez de “meter” a actividade no
orçamento é necessário ajustar o orçamento às necessidades.
Urge uma verdadeira integração horizontal e vertical entre os sectores: a
integração entre os cuidados primários, os secundários e os cuidados
continuados está por fazer. A própria organização dirigente está partida nas
responsabilidades. Uma vez mais o paradigma tem de mudar. As Unidades de
Saúde Familiar têm de fazer a gestão da doença. É necessário criar unidades
de gestão de doença, multi-profissionais, com médicos, enfermeiros e
assistentes sociais, que façam a gestão de todos os problemas e que centrem
toda a actividade relativa à prevenção e tratamento da doença. A Medicina
Geral e Familiar deve comportar-se como a porta do sistema, sendo
necessário balancear cuidadosamente o investimento em estruturas
hospitalares e o investimento em estruturas da Medicina da Comunidade. O
reforço da prevenção primária e comunitária deve passar pelo reforço do
papel das Autarquias, criando-se perfis Municipais de Saúde e planos de
desenvolvimento em saúde com progressiva delegação de competências aos
Municípios e Associações intermunicipais.
Defendemos o princípio de, sempre que possível e racional, as pessoas devem
ser orientadas e assistidas em unidades de saúde próximas das suas zonas de
residência. Importa, nomeadamente, resolver com rapidez o problema de
muitos portugueses que, necessitando de cuidados continuados, são colocados
a centenas de quilómetros da zona onde residiam tornando impossível o apoio
das famílias e amigos. A contratualização com as capacidades instaladas no
sector social, e no particular, é a política certa, mediante adequada
fiscalização.
Os maiores progressos que a humanidade obteve em termos de melhoria das
condições sanitárias e de sobrevida foram devidas à vacinação, aos hábitos de
higiene, à melhoria do rendimento disponível e aos antibióticos. Há mesmo
uma relação clara entre consumo de cuidados de saúde e rendimento
disponível, implicando por isso uma relação próxima entre saúde e apoio às
situações mais desfavorecidas.
Portugal é um país com a população envelhecida e com elevados níveis de
pobreza. Existe um elevado número de portugueses que, não estando doentes,
não conseguem sobreviver sem ajuda diária. Muitos outros necessitam de
ajuda para a obtenção de próteses dentárias, auditivas, de marcha, que lhes
melhorem a vida diária e de relação. Tudo isto é do âmbito da segurança
social, mas tem sido feito em grande parte pela Saúde. Uma vez mais, a
gestão das famílias poderia melhorar estas relações e ajudar a encontrar
soluções socialmente mais justas.
A medicina com base na prevenção e no médico de família é mais eficiente:
gera menos custos para os mesmos resultados. Também por esta razão deve
ser a aposta prioritária neste domínio, devendo ser revista a política de
construção de novos hospitais em favor de maior investimento na Medicina
Geral e Familiar. Os maiores flagelos do século XXI são o sedentarismo, a
obesidade, as drogas e o VIH/SIDA. Importa por isso de tomar medidas activas,
contínuas e controladas para combater estes flagelos, com grande ênfase no
domínio da prevenção.
Também no que toca à despesa, é necessário manter uma política realista de
novos medicamentos e de novas tecnologias. O modelo de financiamento das
actividades do SNS deve assentar em contratos programas plurianuais.
No que respeita aos sistemas de saúde, é necessário resolver a questão da
dupla e tripla assistência.
III. O sector social e lucrativo são alternativas concorrenciais e de liberdade
de escolha. Devem fazer contratos como o Ministério da Saúde na mesma
perspectiva que as empresas públicas, concorrendo com preços e sendo
alternativa real à prestação. Devem-lhes ser exigidas as mesmas
contrapartidas e ser-lhes fornecidas as mesmas facilidades.
No que respeita ao planeamento, importa fazer programas adequados e com
prazos razoáveis. Como noutros sectores do serviço público há que investir em
planeamento adequado e a prazo, ultrapassando a vida média da legislatura.
Isto é válido para os recursos humanos, para os planos e programas de saúde,
para a formação, para a articulação com as necessidades de pré-graduação,
para a previsão epidemiológica e validação de orientação e protocolos
clínicos. Tal deve implicar, se necessário for, um verdadeiro pacto entre
partidos.
IV. A ausência de organização e investimento nas áreas da investigação e
inovação em saúde inviabiliza a possibilidade de iniciativas empresariais e
obriga a uma quase total dependência do exterior. A contratualização com as
Empresas Públicas e Privadas deve incentivar a investigação e a inovação em
saúde.
De forma a desenvolver um sistema de saúde humanizado, que efectivamente
coloque a pessoa no centro das duas preocupações, defendemos: i) a
reestruturação do SNS articulando as três redes básicas - cuidados primários,
cuidados hospitalares, cuidados continuados; ii) a generalização a todo o país,
numa Legislatura, das Unidades de Saúde Familiar, criando condições para
que os ACES funcionem menos burocrática, rompendo com a tradição das SRS;
iii) a fixação das necessidades anuais de consultas, cirurgias e cuidados
continuados, de forma a ser possível contratualizar com os sectores, público,
social e privado o cumprimento das necessidades anuais, prevendo
simultaneamente as necessidades orçamentais; iv) criar Equipas de Saúde com
base nos Centros de Saúde, tornados desde esse momento a porta de entrada
e o sinaleiro de todo o sistema; v) privilegiar a Medicina Geral e Familiar, com
reflexo claro no orçamento da saúde; vi) desenvolver, com base na Medicina
Geral e Familiar, programas de medicina preventiva que incluam a diabetes, a
hipercolestrolemia, a obesidade, a hipertensão, a asma, a tuberculose, a
SIDA, as doenças de transmissão sexual, a dor crónica, o alcoolismo, a
hipocoagulação e a medicina dentária, bem como programas nacionais de
promoção de estilos de vida saudáveis, que incluam programas de prevenção
do alcoolismo, do tabagismo e da toxicodependência; vii) concluir a reforma
das redes de urgência numa perspectiva realista de serviço público, mas tendo
em atenção as especificidades e a oferta local de serviços; viii) eliminar as
listas de espera referidas através da contratualização plurianual de prestação
de serviços também com os sectores privado e social, que devem a par do
sector público, ser considerados parceiros do sistema com o mesmo tipo de
direitos e deveres; ix) estabelecer parcerias para a criação de uma rede de
Cuidados Continuados que garanta a assistência a todos os cidadãos que dela
necessitem, merendo particular atenção a situação daqueles que,
apresentando doenças graves e avançadas, devem ter direito e pleno acesso a
cuidados paliativos de qualidade, promotores de dignidade em fim de vida,
prestados por equipas devidamente treinadas para essa tarefa; x) reforçar e
desenvolver a rede de informação para a saúde, de forma integrada, de
maneira a ser possível a qualquer momento obter informação e fazer
planeamento; xi) criar o cartão de saúde do cidadão, em moldes que
garantam a confidencialidade dos dados, de forma a que qualquer pessoa
possa ser tratada com segurança em qualquer ponto do país. Também é
importante adoptar uma política de prescrição de medicamentos por
designação comum internacional, mantendo o estímulo ao uso da genéricos de
forma a minorar a despesa ao cidadão doente, garantindo a fiscalização do
cumprimento legal, nas farmácias, da dispensa de medicamentos; xii)
desenvolver esquemas diferenciados de apoio medicamentoso à população
mais carenciada de forma a garantir que cumpram os tratamentos na
totalidade; xiii) criar uma Direcção-Geral da Qualidade em Saúde com o fim
de desenvolver um sistema nacional de Qualidade Organizacional e de
Qualidade Clínica; xiv) criar um Grupo de Trabalho do Ministério da Saúde e
da Segurança Social que em seis meses proponha todas as soluções legislativas
que resolvam os problemas de articulação enunciados; xv) apoiar o
desenvolvimento da Entidade Reguladora da Saúde, de forma a que seja um
garante do funcionamento independente da capacidade de regulação num
mercado competitivo; xvi) criar a Agência para a Investigação e Inovação em
Saúde para promover e incentivar a investigação clínica nas instituições do
S.N.S; xvii) regular com realismo os direitos e deveres dos subsistemas já que
não deve ser possível o duplo ou triplo benefício; xviii) criar uma carta
Nacional de Equipamentos que regule a respectiva introdução e substituição
no mercado; xix) planear a formação dos profissionais de saúde, em particular
dos médicos, de forma a responsabilizar o Ministério pelo seu custo e
compensar as instituições, públicas sociais ou privadas, pela despesa adicional
que representam; xx) dignificar as carreiras profissionais na área da saúde,
público ou privado, garantindo uma progressão baseada na diferenciação
técnica e científica.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Privilegiar a medicina geral e familiar.
2. Reforçar a medicina preventiva.
2. Articular a rede de cuidados básicos com os secundários e continuados.
3. Introduzir o direito aos cuidados paliativos, garantindo a sua
disponibilização geral através da rede de cuidados continuados.
4. Considerar os sectores social e privado como parceiros do sistema, a eles
recorrendo, em termos concorrenciais, para prestação atempada de cuidados.
5. Desenvolver esquemas diferenciados de apoio medicamentoso à população
mais carenciada, nomeadamente aos idosos.
6. Iniciar os procedimentos necessários à introdução de um cartão de saúde do
cidadão.
7. Criar uma Direcção-Geral da Qualidade em saúde.
8. Prever a necessidade de médicos a médio prazo e alargar a possibilidade da
sua formação seja através do aumento do numerus clausus seja através da
criação de novos cursos de medicina.
8. Apoiar a prescrição por DCI e o estímulo aos genéricos.
9. Apoiar a dispensa em Unidose.
10. Planeamento de recursos humanos, sobretudo para as especialidades mais
críticas.
SEGURANÇA SOCIAL E TRABALHO
CRÍTICAS
1. Aumento exponencial do desemprego.
2. Apoios no desemprego são insuficientes.
3. Maioria dos pensionistas perdeu poder de compra nestes 4 anos.
4. Abusos no Rendimento Social de Inserção.
5. Contratualização com as IPSS abaixo do que a situação social exige.
6. Reforma da Segurança Social não prevê qualquer liberdade de escolha
dos jovens.
7. Código de Trabalho com erros e lapsos; Código Contributivo inaceitável
neste cenário económico.
O défice social agravou-se nos anos de governação socialista. Face a um
discurso artificialmente optimista, todos os indicadores disponíveis apontam
para o agravamento das condições sociais. O desemprego subiu
consideravelmente e já atingiu 507,7 mil indivíduos. Num só ano perderam-
se mais de 150 mil postos de trabalho.
Por sua vez, o indicador de pobreza revela que estagnou a redução do
número de Portugueses que vivem abaixo do limiar mínimo de rendimentos.
Entre 2003 e 2005, mesmo em condições de crescimento económico
adversas, conseguiu reduzir-se a taxa de pobreza de 20% para 18%, através,
sobretudo, do processo de convergência das pensões que, com um
planeamento faseado, renumerava melhor as reformas mais baixas. A
suspensão desse processo contribuíu para a estagnação do indicador oficial
de pobreza. Os idosos, tal como os deficientes, foram a geração mais
sacrificada por um conjunto de políticas de nítida insensibilidade social:
cortes nas comparticipações dos medicamentos durante 3 anos, fórmula de
cálculo dos aumentos que colocou os pensionistas 3 anos seguidos atrás da
inflação, tributação de reformas baixas.
O recurso às instituições sociais, por parte das famílias com necessidades
básicas não satisfeitas – incluindo situações de fome -, bem como de
famílias que já tiveram rendimentos de classe média, não cessou de
aumentar. O Governo foi lento a perceber a dimensão da questão social.
Para quem acredite, como nós acreditamos, que o progresso de uma
sociedade também se mede pelo dinamismo da sua “mobilidade social”, ou
seja, pelo nível de oportunidades dadas para que, através da educação, do
trabalho e da iniciativa, cada indivíduo possa subir legitimamente na vida, a
situação social portuguesa é alarmante. Na verdade, a “mobilidade social”
parece ter, simplesmente, parado. Haverá, certamente, sectores que até
acrescentaram a sua riqueza, mas a classe média empobreceu e a exclusão
social alastrou. Restabelecer a mobilidade social no nosso país é um
objectivo central do CDS nos próximos quatro anos.
RESPOSTAS
I. Primeiro, devemos tratar da urgência social que é o desemprego. Em
tempos de expansão do desemprego, é inaceitável que um Governo com
sentido de justiça não consolide os sistemas de protecção social nessa
eventualidade. Para o CDS é urgente que esse alargamento da protecção
social, pelo menos a título transitório, incida sobre i) o tempo de percepção
do subsídio de desemprego e não apenas do subsídio social de desemprego
ii) altere os prazos de garantia de modo a que os jovens não sejam excluídos
do subsídio de desemprego, o que é possível de conceptualizar sem
desincentivar a procura do trabalho iii) reforce a majoração da prestação
nos casos em que os dois membros do casal estão no desemprego quando os
desempregados têm mais filhos iv) permita a passagem à reforma dos
desempregados com mais de 55 anos, findo o período máximo de percepção
das prestações relativas ao desemprego v) promova uma autêntica formação
profissional dos desempregados, sobretudo nos conhecimentos em novas
tecnologias e línguas.
II. Tão importante como melhorar os apoios em caso de desemprego, é
fomentar oportunidades de emprego. Pode e deve fazer-se mais,
nomeadamente i) estimular duradouramente a contratação de
desempregados de longa duração, com especial atenção às mulheres ii)
legislar no sentido de tornar possível que se possa atribuir globalmente, por
uma só vez, à entidade empregadora que celebrar com um desempregado
um contrato de trabalho sem termo, o remanescente do subsídio de
desemprego ou subsídio social de desemprego a que os beneficiários tenham
direito iii) estimular o surgimento de empresas novas, com aposta nas
tecnologias de informação, nos jovens universitários iv) lançar, em Portugal,
os programas de “trabalho activo e solidário” já em vigor, por exemplo, na
Alemanha, que partem do funcionamento, em rede, dos Centros de Emprego
e das IPPS, oferecendo aos desempregados uma ocupação activa, na área
social – por exemplo, lares, centros de dia, apoio domiciliário – acumulando
a prestação social com um suplemento de rendimento do trabalho v)
reformular e descentralizar o funcionamento dos Centros de Emprego, para
melhorar a sua eficiência vi) obrigar a Administração Pública, quando
promove concursos para à admissão de quadros, a contactar todos os
desempregados licenciados, com as habilitações requeridas, inscritos em
centros de emprego da zona abrangida.
III. A última legislatura ficou marcada, no plano laboral, por uma produção
legislativa feita de forma apressada e menos cuidada. A legalidade da
declaração de rectificação do novo Código de Trabalho está a ser posta em
causa por vários tribunais. Ainda hoje não está publicada, legislada ou em
vigor parte da legislação complementar. Na última legislatura perdeu-se a
oportunidade de se fazer uma adaptação das leis laborais à realidade do
nosso tecido produtivo, composto na sua maioria por micro, pequenas e
médias empresas.
Faz por isso sentido pensar numa versão simplificada do Código de Trabalho
para as PMEs, sobretudo tendo em vista a desburocratização dos
procedimentos. A nomeação de uma comissão legislativa que proceda ao
levantamento dos erros e omissões actualmente existentes no Código de
Trabalho e legislação conexa, deverá ultrapassar as situações de
incongruência ou vazio legislativo.
Ainda no plano das relações de trabalho, o CDS deve dar especial atenção
aos mecanismos de fiscalização das “contratações fraudulentas” e de
situações discriminatórias e injustas, bem como aos recursos humanos da
Inspecção-Geral de Trabalho.
Parece-nos especialmente preocupante o recurso desmedido aos “falsos
recibos verdes” tanto no sector público como no sector privado e, ainda, a
persistência de discriminações efectivas, seja no salário., seja na carreira,
das mulheres trabalhadoras. A situação dos chamados “trabalhadores
independentes”, sector em que foram cometidas inúmeras injustiças,
merece uma atenção especial. É prioritária a reparação dessas injustiças,
por exemplo no que toca à carreira contributiva.
As leis devem ser, nesta matéria, claras. Tão importante é dissuadir formas
de contornar a rigidez das leis laborais, como adoptar a flexibilidade como
condição do crescimento, sem a qual os empregadores temem contratar ou
deixam mesmo de o fazer.
IV. Um dos indicadores mais relevantes para perceber a dimensão estrutural
dos nossos problemas económicos e sociais é o da produtividade. Ora,
também nesta matéria, Portugal está em regressão.
O diferencial de produtividade dos trabalhadores portugueses face aos seus
homólogos europeus já era grave. No último ano, não só se acentuou como o
crescimento da produtividade derrapou para valores compulsivamente
negativos. Esta divergência assenta, como é geralmente reconhecido, na
falta de exigência no sistema de ensino, no défice de formação profissional
e na tímida modernização e investimento em novas tecnologias de uma
parte do nosso tecido empresarial. Culturalmente, o bloqueio português, em
termos de produtividade, reside também numa certa aversão ao mérito
individual, “socializando” ou nivelando por baixo, os níveis de esforço e
remuneração. Esta cultura, é de tal forma destruidora das expectativas de
vida e dos projectos individuais, sobretudo dos mais jovens, que também
incentiva a nova “emigração de qualidade”. Inúmeros jovens portugueses –
com licenciatura, mestrado ou doutoramento – procuram países com
oportunidades, que reconhecem o talento e a iniciativa, e não têm aquela
cultura inibidora.
O CDS considera que, a partir do momento em que a economia portuguesa
volte a crescer com significado, será necessário que o aumento da
produtividade, desde logo a nível do trabalhador, seja justamente
compensado. O que significa introduzir o princípio de que “quem trabalha
mais, deve ganhar mais”. A redução ou mesmo a isenção de tributação do
trabalho extraordinário é um passo gigante nesta opção. O trabalhador que,
por sua própria vontade, quer trabalhar mais, deve poder fazê-lo, devendo o
Estado reduzir ou, no limite, abster-se de tributar esse suplemento de
esforço.
A visão do CDS procura aliar, para mais na situação económica em que
vivemos, o interesse do empregador, do trabalhador e do país. Por isso, o
impulso que proporemos aos ganhos de produtividade irá a par com
iniciativas inovadoras visando uma mais justa repartição dos benefícios
gerados na empresa.
Devemos, por isso, incentivar a participação do trabalhador nos resultados e
crescimento das empresas. Nesse sentido, estudaremos um modelo,
aplicável às empresas maiores, pelo menos numa primeira fase, que crie
uma reserva especial para a participação dos trabalhadores, para o qual
deve reverter uma parcela do lucro líquido da empresa relativo ao aumento
da produtividade anual, a ser distribuído justamente pelos trabalhadores e
sujeito a uma taxa especialmente reduzida de imposto e isento de
prestações sociais.
Reafirmamos, ainda, o nosso apoio ao acordo social alcançado em matéria
de evolução do salário mínimo nacional.
V. A próxima legislatura deve também ser marcada pelo objectivo de voltar
a criar condições para reduzir a taxa de pobreza em Portugal
Se algo caracterizou este mandato socialista foi uma deficiência na
percepção de que o epicentro da pobreza em Portugal está nos idosos. Uma
atávica suspeita das parcerias com o sector social, nomeadamente com as
instituições de inspiração ou matriz religiosa, e um desaproveitamento das
forças vivas e livres de generosidade social, de que o voluntariado é a
melhor expressão, não contribuíram para o aumento da eficácia nas
respostas sociais. Ora, todos estes instrumentos são necessários à concepção
de uma nova política social. Só muito tardia e parcialmente o Governo o
percebeu.
As nossas políticas públicas terão, portanto, de dar prioridade à situação da
pobreza no universo dos pensionistas, assumindo determinadamente o
princípio da subsidiariedade no alargamento e melhoria dos serviços
prestados aos mais frágeis e colocando no centro da agenda todas as
condições para que o sector do voluntariado cresça, como pode crescer, e
faça mais, como quer fazer.
Cerca de 18% da população portuguesa vive com menos de 406 € por mês. Os
idosos continuam a ser o grupo social mais exposto à pobreza. A prioridade
do CDS estará, certamente, no apoio a esta geração desfavorecida. Quando
falamos em apoio, não referimos apenas as prestações sociais. Dirigimos a
nossa acção, também, para os serviços que permitem melhor
acompanhamento na doença e na invalidez; para as instituições de
acolhimento durante o dia ou em permanência; para a rede de homens e
mulheres que tornam possível o apoio domiciliário; para as instituições que
trabalham com deficientes. E também para as cozinhas comunitárias que
dão hoje refeições gratuitas a milhares de portugueses.
Do ponto de vista da conjuntura, como o CDS já destacou, é inexorável que
se faça um esforço maior nas pensões mais degradadas e no investimento
público, em parceria com as IPSS, na área social. Pensamos, por um lado, na
melhoria das reformas mais baixas. Mas pensamos, também e
decididamente, nos serviços de proximidade que são prestados dos mais
carenciados, sobretudo na velhice.
Na área dos idosos, a nossa prioridade i) é um programa sustentado de
convergência das pensões sociais, rurais e mínimas, ao longo da próxima
legislatura ii) garantir que a fórmula de cálculo dos aumentos previne
expressamente o risco de actualizações abaixo da inflação, o que é
estritamente injusto, tratando-se de populações desfavorecidas, e acentua a
sua depreciação em ciclos económicos negativos iii) a publicação dos
indicadores de aumento e o seu primeiro pagamento devem ser feitos em
Dezembro de cada ano, abrangendo o subsídio de Natal iv) proceder a um
ponto de situação das várias prestações sociais, “cruzando” a informação do
Complemento Social do Idoso, cuja evolução deve ser compatível com o
programa de recuperação das pensões sociais, rurais e mínimas, de modo a
dar coerência ao universo dos apoios.
A sustentabilidade deste esforço é uma opção de política social e pode
recorrer a uma parcela do excedente da Segurança Social que, nem
quantitativa nem qualitativamente, põe em causa a sua boa gestão.
Reafirmamos que tencionamos deslocar um quarto da verba do RSI – cerca
de 125 ME num total perto dos 500 ME -, uma verba fundamentalmente
“perdida” dos abusos e nas fraudes da prestação, deslocando-a
directamente para o programa de convergência das pensões mais reduzidas.
O princípio da máxima utilização de todas as capacidades sociais instaladas
deve ser o mais importante quando se tomam opções para programas sociais
de apoio aos idosos, à criança ou à pobreza, ou quando se concebem
programas de recuperação das listas de espera nas consultas e cirurgias. A
estatização das políticas deve ceder perante o princípio da subsidariedade,
sendo prioritário o desenvolvimento de todas as capacidades através de
parcerias com as IPSS em geral e as Misericórdias em especial.
De forma a manter um acompanhamento próximo da evolução da pobreza,
defendemos a obrigação do Governo apresentar para discussão na
Assembleia da Republica de dois em dois anos um relatório sobre o estado
da pobreza em Portugal.
VI. Ao contrário do que alguns afirmam, a reforma da Segurança Social não
está feita, no sentido global e inovador de que carece. É essencial garantir a
liberdade de escolha das novas gerações de trabalhadores no planeamento
da sua reforma e do seu futuro, ao mesmo tempo que se defende a
sustentabilidade do sistema de pensões. Essa liberdade de escolha implica a
capacidade de, voluntariamente e a partir de certo limite, se poder optar
por descontar para um regime publico, privado ou mutualista de segurança
social, e não obrigatoriamente apenas para o Estado.
Os princípios da reforma do CDS são claros. A reforma i) implica adesão
individual ii) exige manifestação expressa da vontade dos contribuintes (isto
é, se nada disserem, continuarão no sistema público da segurança social
pela totalidade do salário) iii) abrange apenas os trabalhadores por conta de
outrem sujeitos à taxa contributiva global que iniciem a carreira
contributiva após a entrada em vigor do regime e aufiram uma remuneração
ilíquida mensal superior a seis salários mínimos nacionais, bem como aqueles
que, à data da entrada em vigor do diploma, tenham idade igual ou inferior
a 30 anos, carreira contributiva não superior a 10 anos e aufiram uma
remuneração ilíquida mensal superior ao limite já referido iv) integra a
protecção nas eventualidades de invalidez, velhice e morte, através da
atribuição de prestações em articulação com o sistema público (pensões de
invalidez, velhice e sobrevivência) v) determina nessa medida, a parte da
taxa social única (TSU) que incide sobre a parte do salário considerado no
regime opcional será apenas a correspondente ao custo das eventualidades
cobertas (velhice, invalidez e morte) vi) considera a parte restante da TSU
em incidir sempre sobre a totalidade do salário independentemente do seu
valor, garantindo plenamente o princípio da solidariedade relativamente às
outras prestações sociais (doença, desemprego, abono de família,
maternidade e paternidade, doenças profissionais e outras) vii) considera
que a contribuição definida é gerida em regime de capitalização viii)
beneficiará a igualdade de tratamento fiscal ix) garante portabilidade ou
transferibilidade dos créditos adquiridos e direitos em formação.
Acrescentamos que a gestão deve ser feita por entidades que poderão ser
pessoas colectivas de direito público ou privado, ou entidades mutualistas. O
sistema implica uma forte componente de regulação, supervisão prudencial
e fiscalização, sendo os mecanismos de garantia das pensões exercidos pelas
entidades legalmente competentes em razão da natureza prudencial.
A visão reformista do CDS distingue-se da inércia estatista do PS, que obriga
a que a totalidade dos descontos seja feita para o sector Estado. Também é
diferente do “desconto obrigatório” de uma parcela do salário para o sector
privado que, pelo menos nesta legislatura, pareceu orientar o PSD. No nosso
sistema, a opção voluntária do trabalhador é o mais relevante. Há uma
obrigação de desconto para o sector público, até certo limite; há liberdade
de opção a partir desse limite. Assim garantimos a liberdade de escolha e a
sustentabilidade do sistema. O Estado deve concentrar o seu esforço nas
pensões mais baixas. Não deve ser o único responsável pelas pensões mais
altas.
VII. Impõe-se uma revisão transparente do Rendimento Social de Inserção.
Esta prestação – vulgarmente conhecida por “Rendimento Mínimo” – tem
tido uma evolução que preocupa o CDS em vários planos.
Desde logo, o crescimento exponencial – para o dobro, em três anos – dos
valores atribuídos ao RSI, consome, obviamente, uma parte importante dos
recursos disponíveis para outras políticas sociais. É politicamente inaceitável
que se faça um esforço muito mais intenso na atribuição deste Rendimento,
em contraste com o nível de ambição, bem mais reduzido, revelado nas
pensões. O segundo âmbito de preocupação é que o crescimento do RSI não
apresenta garantias de transparência, no sentido de que o número de
beneficiários sem qualquer fiscalização é muito elevado, sendo claros os
indicadores de que há abusos nesta prestação, que acabam por constituir
uma circunstância moralmente intolerável para quem trabalha e contribui –
isto é, para quem financia o pagamento do RSI. A falta de transparência
numa prestação que deveria ser, por natureza, transitória, merece uma
censura social que as instituições não podem ignorar. Por fim, preocupa-nos
a ausência, em muitos casos, de um “espírito de dever”, na relação de uma
parte dos beneficiários com a lógica e o sentido da ajuda que recebem. Este
Rendimento não foi criado nem pode institucionalizar-se como modo de
financiar opções ou estilos de vida. Foi pensado e deve ser fiscalizado como
ajuda transitória em situações de especial dificuldade.
Em suma, o CDS promoverá i) uma auditoria global ao funcionamento do RSI
e, consequentemente, tornará a sua legislação mais fiscalizada, objectiva e
transitória ii) admitimos a atribuição de parte da prestação em espécie iii)
propomos a contratualização, com as instituições sociais que manifestem
vontade nesse sentido, da celebração, acompanhamento e fiscalização da
atribuição do RSI iv) não concordamos com a renovação automática da
prestação v) e defendemos a cessação do RSI após o trânsito em julgado de
decisão judicial condenatória do titular, pela prática de crime doloso contra
a vida, a integridade física ou a reserva da vida privada, contra o
património, de falsificação, de tráfico de estupefacientes, contra a ordem e
tranquilidade públicas, de resistência ou desobediência à autoridade
pública, de detenção ilegal de armas ou por qualquer outro crime doloso
punível com pena de prisão superior a 3 anos, sem prejuízo da reabilitação
judicial.
CADERNO DE ENCARGOS
1. É possível melhorar o subsídio de desemprego para jovens sem
desincentivar a procura de trabalho.
2. Reforçar subsídio de desemprego para casais e desempregados com
mais filhos.
3. Permitir a passagem à reforma de desempregados com mais de 55
anos, findas as prestações de desemprego.
4. Permitir que as empresas que contratem sem termo um
desempregado recebam, como estímulo, um valor equivalente ao
remanescente do subsídio de desemprego que seria pago sem a
contratação.
5. Lançamento do programa Trabalho Activo e Solidário, colocando
em rede os Centros de Emprego e as IPSS.
6. Obrigação de contacto dos desempregados licenciados quando a
Administração Pública abre concurso para quadros.
7. Retomar a convergência das pensões mais baixas na próxima
legislatura.
8. Reforço da contratualização com as IPSS de serviços sociais de
proximidade para os idosos: lares, centros de dia, apoio
domiciliário, cozinhas comunitárias, apoio na saúde.
9. Deslocação de 25% da verba do RSI para um aumento extraordinário
de pensões.
10. Reforma do Rendimento Social de Inserção, combatendo os abusos
estimulando deveres e admitindo a sua concessão em géneros.
11. Versão simplificada do Código de Trabalho para as PMEs.
12. Em cenário de crescimento económico, redução de tributação ou
mesmo desfiscalização das horas extraordinárias de trabalho
13. Incentivar a participação do trabalhador nos benefícios da empresa
devidos aos ganhos de produtividade.
14. Reforma da Segurança Social que permita aos novos trabalhadores
ter liberdade de escolha, voluntária, a partir de um valor do salário
equivalente a 6 SMN. O esforço do Estado deve concentrar-se nas
pensões mais baixas. O Estado não deve ser o único responsável, a
prazo, pelas pensões mais altas.
SEGURANÇA
CRÍTICAS
1. Cancelamento das entradas na PSP e GNR.
2. Erros nas leis orgânicas da PJ, PSP e GNR.
3. Alterações negativas nos Códigos Penal e de Processo Penal.
4. Projecto perigoso do Código de Execuções de Penas.
5. Cancelamento das entradas na PSP e GNR.
6. Erros nas leis orgânicas da PJ, PSP e GNR.
7. Alterações negativas nos Códigos Penal e de Processo Penal.
Os últimos quatro anos e meio foram erráticos e tiveram consequências
desastrosas na área da segurança. O cancelamento das admissões na PSP e na
GNR, o défice de investigadores e outros agentes na PJ e a promessa de uma
“reconversão” de 4800 agentes administrativos em operacionais que nunca
apareceram, foram erros graves na política de efectivos que deixaram o país
com menos polícias no exacto momento em que a criminalidade aumentava.
Como se não bastasse, a lei orgânica da PJ foi declarada inconstitucional, a
da GNR recebeu veto presidencial e a da PSP, aumentando a jurisdição
territorial da força, retirou-lhe efectivos. É difícil imaginar que se pudesse
fazer pior.
No plano legislativo, o chamado “Pacto de Justiça” que PS e PSD aprovaram,
conduziu a alterações despropositadas e, em termos de segurança, muito
negativas, nas leis penais. Seguiu-se uma tentativa de “emendar a mão”
através da Lei das Armas e um projecto de código Execução de Penas
irresponsável. Do ponto de vista das leis, agravaram-se as condições de
insegurança.
Em termos globais, a criminalidade em Portugal subiu de patamar, tornou-se
mais violenta e organizada. A “resposta” do Estado, com o Governo
socialista, foi fraca nos efectivos, incompetente nas leis e ineficaz quanto às
políticas sociais que permitem garantir um ambiente de maior paz social nos
chamados bairros problemáticos.
RESPOSTAS
I. A segurança dos cidadãos é o primeiro dos deveres do Estado e é condição
básica para o exercício da liberdade dos cidadãos.
Importa, nesta matéria, falar claro, agir com firmeza e assumir compromissos
concretos que sejam tributários da coesão e da necessária pacificação das
forças e serviços de segurança. Pode-se concordar ou discordar das propostas
do CDS, mas é inegável que foi o CDS que denunciou os erros que este governo
cometeu e apresentou propostas verdadeiramente alternativas.
Do carjacking aos sequestros, dos roubos aos gangs, o CDS foi dizendo a
verdade, por mais incómoda que fosse. Os Portugueses, hoje, podem avaliar
quem tinha razão e quem falhou; em quem podem confiar e em quem já não
poderão acreditar.
Os Portugueses sabem que é necessária outra política de segurança. Indignam-
se quando vêem que detidos em flagrante delito não são julgados
rapidamente; revoltam-se quando sabem que polícias arriscam a vida e no dia
seguinte vêem os detidos sair em liberdade para, muitas vezes, reincidir;
perguntam-se porque razão o Governo deixou as polícias com menos
efectivos, menos patrulhamento e até tribunais e esquadras com menos
segurança.
Em Portugal, o pensamento oficial sobre a criminalidade – e o discurso
“politicamente correcto” que o ampara – pode descrever-se assim: desculpa-
se o criminoso, culpa-se a sociedade e ignora-se a vítima. O paradigma do CDS
é muito diferente: baseia-se numa política de segurança firme, que
responsabiliza o criminoso, apoia a vítima e ajuda a proteger a sociedade de
uma criminalidade mais grave e ameaçadora.
Neste contexto, importa desenvolver uma política que restaure a confiança
das polícias em quem as tutela, proporcione os meios adequados e, tão ou
mais importante, devolva a cada agente e militar das Forças de Segurança a
necessária confiança para desempenhar as tarefas que lhe são cometidas. O
que se pretende é uma política de segurança “segura”, que desenvolva,
reforce e potencie as competências dos homens e mulheres que as integram.
II. A coordenação, cooperação e partilha de informação entre as diversas
forças e serviços de segurança que se encontram repartidas por diversos
ministérios é um tema de habitual reflexão. Na análise deste problema,
poderemos ter uma abordagem mais conceptual ou mais pragmática.
No primeiro ângulo de análise, conceptualmente, o CDS recusa passar os
próximos 4 anos enredado numa discussão teórica sobre a criação de uma
polícia única, ou sobre fusões, cisões e incorporações de qualquer das forças e
serviços de segurança actualmente existentes. Na verdade, essas propostas,
mais do que objectivos de carácter operacional, podem visar a redução
tecnocrática do investimento nas polícias. Não garantem qualquer ganho de
segurança para os Portugueses.
Pelo contrário: essas aventuras conceptuais, caso fossem levadas a cabo,
trazem em si a promessa de conflitos permanentes, e nesse clima não se faz
uma política de segurança. Assim, por exemplo, qualquer tentativa de
reconverter os militares da GNR em civis esbarra na realidade dos factos,
prejudica a urgência de uma política de segurança eficaz e cria dificuldades
espúrias no relacionamento com o Presidente da República e as Forças
Armadas.
Do mesmo modo, a extinção - e consequente incorporação noutras forças - de
serviços de segurança com provas dadas nacional e internacionalmente, como
o SEF, em nada contribuiriam para um mais eficaz combate ao crime. A
diversidade de natureza, atribuições e competências das diversas forças e
serviços de segurança justifica-se na realidade dos factos e dos problemas; a
questão está em garantir coordenação, troca de informação e acção conjunta,
quando se justifica.
Depois da fracassada reestruturação das forças de segurança na divisão de
parcelas de território antes partilhadas, os Portugueses dispensam novos
factores de instabilidade nas instituições e na sua relação de proximidade com
os cidadãos. Do que Portugal precisa, nos próximos 4 anos, é de mais
segurança junto dos cidadãos; não é de políticos entretidos a “experimentar”
modelos académicos de polícia.
Questão diferente é saber se serviços espalhados por diversos Ministérios com
a natureza de órgãos de polícia criminal, como a ASAE, devem manter tal
estatuto. E no entender do CDS a atribuição de tal natureza deve ser
repensada de forma restritiva.
Por isso mesmo, numa visão pragmática, o País deveria encarar sem
complexos a existência de uma tutela única sobre os órgãos de polícia
criminal, de modo a garantir a necessária unidade de comando, maior
coordenação nas operações de polícia e uma partilha de informações mais
eficaz entre todos aqueles que, directa ou indirectamente, participam no
patrulhamento, policiamento e na investigação criminal. Demasiadas vezes
estes conceitos parecem distantes na realidade prática das ocorrências.
O CDS considera, por isso, preferível e desejável que um só Ministério tutele
as forças e serviços de segurança que são diferentes entre si mas carecem de
direcção forte, coordenação operacional e uma coerente política de meios
humanos, financeiros, operacionais e legais. O que certamente não pode
voltar a acontecer é o Ministério da Administração Interna agir
descoordenadamente com o Ministério da Justiça. Não pode o trabalho da
polícia ser desfeito e até traído pelo sistema judicial, na aplicação de leis
propostas pelo Ministério da Justiça. Se a solução da tutela única, comum em
países europeus, não for imediatamente exequível, o CDS considera que o
patamar mínimo para realizar uma política de segurança digna desse nome é
que o próximo MAI superintenda, pelo menos, a revisão das leis penais,
processuais penais e de execução de penas, bem como política de prisões. De
outro modo, não é possível dar garantias de uma política segura.
Na verdade, todo o sistema de coordenação, cooperação e partilha de
informação, bem como de elaboração de leis penais, leis processuais penais e
de execução de penas deve ser baseado numa política coerente e não, como
tantas vezes se viu nesta legislatura, ser objecto de diferendos entre
Ministros, Directores-gerais e responsáveis das polícias.
III. Naturalmente, em obediência ao exposto, o Secretário-Geral do Sistema
de Segurança Interna deve trabalhar na tutela do MAI.
O Secretário-Geral do SSI deve ter apoio permanente, o que actualmente não
sucede. Através do Sistema já em vigor, ou através de um Conselho
Permanente de Segurança Interna presidido pelo Secretário-Geral, é
necessário clarificar competências de coordenação, como a faculdade de dar
parecer obrigatório em todas as alterações legais relevantes para a política de
segurança, garantir uma direcção táctica entre as polícias e assegurar a
coordenação e fiscalização das actividades das policias municipais e da
segurança privada.
Os compromissos em relação a efectivos também devem ser precisos. O CDS
defende o reforço do patrulhamento de proximidade com a resolução do
défice de agentes, militares e investigadores da PSP, GNR e PJ, através da
abertura imediata de concurso para o recrutamento e incorporação de novos
2500 novos agentes para a PSP, 1200 militares para a GNR e 300
investigadores criminais, forenses e periciais para a PJ, especialmente para as
áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e Setúbal.
IV. Para garantir uma política de segurança eficaz, é também necessário
alterar a Lei de Programação das Forças e Serviços de Segurança e elaborar
um Plano a quatro anos, de recuperação, reconstrução e construção de
esquadras e quartéis das forças e serviços de segurança. Não deve continuar a
ficção de uma política de infra-estruturas que não se cumpre.
Consagramos a obrigatoriedade da realização anual de concursos para a
admissão de novos elementos para estas forças de segurança, progredindo
face às aposentações previsíveis em cada ano.
Consideramos, ainda, prioritário preencher o quadro de efectivos dos Corpos
Especiais da PSP e da GNR e garantir a sua participação no patrulhamento dos
mais de cem bairros identificados pelas Forças de Segurança como sendo
problemáticos.
Também entendemos necessário criar Grupos Operacionais de Prevenção
(GOP), para actuar nos bairros considerados de risco, compostos por
elementos do SIS, GNR, PSP e SEF com objectivo de identificar, prevenir e
combater incidentes de violência urbana grave.
Abordaremos com determinação a questão do regime remuneratório das
Forças de Segurança, evitando critérios avulsos na fixação do seu montante e
visando o aumento da remuneração base mensal.
Queremos ainda retirar das Forças de Segurança tarefas de carácter
burocrático, como pedidos de situação patrimonial de réus, certo tipo de
notificações, apreensões e penhoras quando a avaliação de risco seja diminuta
ou inexistente.
O CDS dará forte apoio ao recrutamento e especialização na Polícia Judiciária,
na investigação da criminalidade violente e particularmente complexa.
Naturalmente, daremos aos serviços de informação os meios humanos e
materiais para o cumprimento da sua missão.
V. O outro vector urgente numa política de segurança é a revisão cirúrgica,
mas imediata, de aspectos dos Códigos Penal e Processual Penal.
Queremos tornar o processo sumário numa verdadeira regra do sistema
quando se trate de detidos em flagrante delito e nos casos legalmente
admissíveis. Por isso, o Ministério Público deve poder apresentar provas
complementares logo na audiência de julgamento nestes casos. Tornaremos
obrigatória a separação de processos, possibilitando julgar de imediato os
crimes com pena aplicável até 5 anos, independentemente de, no mesmo
facto criminal, existirem crimes com moldura penal superior. Ainda neste
plano, queremos evitar que os julgamentos rápidos não se façam com base em
meros argumentos de contagem de dias. O julgamento rápido do flagrante
delito, é a medida mais eficaz contra o sentimento de impunidade.
Ainda no plano penal, defendemos o reforço do estatuto das vítimas no
processo, consagrando novos direitos de informação, apoio e intervenção no
processo aos assistentes. Prevemos a constituição, como assistente, do
Ministério da Administração Interna, nos casos de ofensas à vida ou à
integridade física dos elementos das forças e serviços de segurança.
Voltaremos à regra de aplicação da prisão preventiva aos crimes com pena
superior a 3 anos. Não confundimos o princípio – importante no Estado de
Direito – de que não pode prolongar-se a prisão preventiva, sem culpa
formada, indefinidamente, com o tipo de crimes a que essa prisão preventiva
é aplicável.
VI. Queremos também alterar, cirúrgica mas determinadamente, o Código
Penal. O primeiro objectivo é tornar mais rigoroso o regime de liberdade
condicional, tornando regra a sua concessão apenas após o cumprimento de
dois terços da pena, de três quartos para a criminalidade grave e violenta e
impedindo a sua concessão em crimes dolosos com pena aplicável superior a
15 anos.
Reforçaremos a fiscalização das denominadas saídas precárias dos reclusos,
impedindo a sua concessão a reclusos condenados por crimes violentos ou
reincidentes. Para o CDS, não deve haver “saídas precárias” sem
obrigatoriedade da utilização de meios de vigilância electrónica.
Somos partidários da consagração da regra segundo a qual, em casos de
criminalidade grave, a reincidência impossibilita o acesso ao regime da
liberdade condicional.
No que diz respeito à delinquência juvenil, entendemos que é necessário
adaptar a Lei Tutelar Educativa à realidade. Conferimos natureza menos
frequente aos regimes aberto e semi-aberto e, ao mesmo tempo, alargamos os
casos de aplicação do regime fechado. O CDS considera que a idade de
imputabilidade penal não é um tabu e deve ser debatida.
VII. Fazer uma política de segurança não é uma questão exclusivamente
policial, judicial ou penal. É compreender que as maiores dificuldades
requerem soluções de política social mais inovadoras e ambiciosas.
Em boa parte, as fracturas e as ocorrências violentas nos bairros
problemáticos resultam de políticas públicas ineficazes, em que se destaca
um planeamento urbano que convida à formação de “guetos” e o fracasso –
pelo menos, parcial – dos programas de integração social. Trabalhar em
profundidade para que os bairros problemáticos sejam menos problemáticos é
um objectivo muito valorizado pelo CDS.
Admitimos a mediação policial, começando nesses bairros mais difíceis, com
vista a uma maior confiança e proximidade entre a polícia e os cidadãos na
prevenção da criminalidade.
Faremos, a nível nacional, a avaliação dos locais considerados como
potencialmente perigosos com vista à instalação de câmaras de
videoprotecção. Deve clarificar-se a legislação vigente para que as imagens
captadas com base neste sistema façam prova em tribunal, desde que
autorizadas nos termos legais.
Os que respondem, sempre, em relação à videoprotecção, que essa
ferramenta é intrusiva ou apenas serve para “deslocalizar” o crime, esquecem
algumas informações relevantes. Primeira: negam a videoprotecção à maioria
dos habitantes dos bairros difíceis, mas não se queixam dela nas grandes
superfícies ou centros comerciais que frequentam. Segunda: os estudos
internacionais demonstram – por exemplo, nos casos de França, Espanha e até
Inglaterra - que a videoprotecção é bastante eficaz na dissuasão da prática de
crimes e na punição de quem os comete.
Embora pareça questão menor, a elaboração, em conjunto com as autarquias
locais, de um levantamento das áreas mais carenciadas de iluminação pública,
pode ter igualmente efeitos positivos na criação de um ambiente mais seguro.
VIII. Prevemos a avaliação anual, pela Assembleia da República, dos
resultados dos programas públicos de acção e integração social nos bairros
problemáticos das áreas metropolitanas.
O Estado não deve ser cego nas políticas sociais. Há programas de integração
que funcionam bem, e outros que são um fracasso completo, esbanjando
fundos sem retorno social. Voltamos a avisar que políticas sociais apenas
baseadas na gratuitidade – rendas simbólicas, rendimento de inserção – não
funcionam. É preciso que os programas sociais impliquem uma cultura de
deveres e responsabilidades.
Propomos que, nessa avaliação anual, sejam considerados critérios de
sucesso: a redução do abandono escolar; a diminuição da toxicodependência;
a estima pela propriedade pública e particular; o aumento da
empregabilidade dos jovens; a diminuição das ocorrências violentas.
Acresce uma outra proposta em que acreditamos profundamente. Queremos
contratualizar com IPSS de referência, escolhidas mediante critérios
transparentes, a gestão das políticas sociais nos bairros difíceis. Temos a
fundada convicção que esta contratualização, e o respectivo suporte
orçamental, significam mais e melhor trabalho social onde ele é mais
necessário. As IPSS estão no terreno, conhecem os problemas e as famílias
directamente, podem atingir resultados concretos muito acima do que é
alcançável pela burocracia do Estado.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Admissão de 4.000 novos agentes, distribuídos entre PSP, GNR e PJ.
Prioridade ao policiamento das Áreas Metropolitanas.
2. Preferência pela tutela única das Forças de Segurança, recusa da
“polícia única”. Patamar mínimo de uma boa política de segurança é
que MAI deve superintender políticas penais e de execução de penas
3. Participação dos Corpos Especiais da PSP e GNR no patrulhamento das
zonas mais inseguras e Grupos Operacionais de Prevenção nos bairros
de risco.
4. Revisão do regime remuneratório das Forças de Segurança.
5. Revisão imediata, cirúrgica e determinada do Código de Processo Penal
e do Código Penal.
6. Tornar regra o julgamento rápido dos detidos em flagrante delito.
7. Reforço do estatuto da vítima no processo.
8. Aplicação de prisão preventiva nos crimes com pena superior a 3 anos.
9. Alteração das regras de concessão de liberdade condicional: sobe para
2/3 de pena a regra geral e para 3/4 de pena em crimes graves e
violentos. Não haverá liberdade condicional em certos crimes dolosos
gravíssimos, nem em determinados casos de reincidência.
10. Não há saídas precárias da cadeia para reincidentes. Em geral, saídas
precárias só com pulseira electrónica.
11. Alteração da Lei Tutelar Educativa.
12. Maior utilização de vídeo protecção, que deve fazer prova em tribunal.
13. Avaliação anual dos programas de integração social nos bairros
problemáticos.
14. Contratualização, com IPSS de referência, da gestão de programas
sociais nos bairros problemáticos.
15. Defesa da mediação policial.
TURISMO
CRÍTICAS
1. Inflexibilidade perante a crise.
2. Falta de estratégia para apostar em mercados alternativos.
3. Partidarização e hesitações legislativas nas Regiões de Turismo.
Depois de ter acabado com o Ministério do Turismo, o Governo manteve
cenários optimistas para o turismo, não revelando qualquer flexibilidade
perante a crise, não aproveitando, a oportunidade de, em contra-ciclo,
promover o turismo de Portugal. Falhou, também, a oportunidade aberta
pela União Europeia em relação ao IVA da restauração.
Pelo contrário, persistiu-se numa estratégia assente em projectos
imobiliários – muitos, parados – em plena crise do sector.
RESPOSTAS
I. O turismo é certamente a área de desenvolvimento económico em que em
Portugal revela maior potencial. Portugal tem mais de 11 milhões de
visitantes por ano. O turismo representa acima de 10% do PIB, podendo atingir
cerca de 15% na próxima década. Significa, aproximadamente, meio milhão de
postos de trabalho, directos ou indirectos.
Deve ser por isso fundamental, para qualquer modelo de desenvolvimento do
país, ter como prioridade estratégica a qualificação da nossa oferta turística,
visando a consolidação de Portugal, enquanto destino turístico de excelência.
O CDS já fez já prova da importância institucional que esta actividade lhe
merece ao ter assumido, pela primeira vez na nossa história, as
responsabilidades de um Ministério do Turismo.
Sector indissociavelmente ligado à afirmação e à imagem externa de Portugal,
o turismo deve ser governado – foi o que fizemos – procurando um grau
elevado de consensualidade, à semelhança da própria política externa. E deve
procurar, dentro do possível, uma estabilidade correspondente a uma visão
estrutural e de longo prazo que poupem o sector, os seus agentes e os
investidores às inflexões e às tentativas de imprimir a “marca” de cada
maioria ou solução governativa.
II. A situação de profunda crise e recessão que atravessamos não permite
muitos dos erros que têm sido cometidos por responsáveis do actual governo.
Logo à partida, o erro que foi cometido ao insistir numa atitude de negação
da crise. Logicamente, se os principais mercados emissores de turistas para
Portugal enfrentavam uma recessão séria, casos do Reino Unido, Espanha e
Alemanha, era óbvio que teríamos uma diminuição da actividade que não foi
nem preparada, nem acautelada…
Assistimos assim à substituição do optimismo exacerbado e eufórico, dos
discursos da melhor “época de sempre”, do crescimento e de investimentos
infindáveis, por um pessimismo moderado que, nalguns casos, foi evoluindo
para verdadeiras situações de pânico, sem que da parte dos responsáveis
políticos tivesse havido a correspondente mudança de atitude ou a capacidade
de análise, acção e resposta às contingências do momento. Saber prever e
saber planear é também saber governar.
Esta incapacidade de percepção, face à situação económica, levou a que não
se emendasse a mão continuando a insistir num modelo de crescimento
baseado em grandes investimentos – classificados como projectos PIN, em que
a componente fundamental é imobiliária, ignorando que o “boom” findou e
que a crise do imobiliário é bastante séria, prevendo-se para esse sector uma
recuperação lenta e moderada.
A situação de crise em que vivemos exigia dos responsáveis políticos uma
atitude bem diferente. Desde logo, revelando uma agilidade estratégica, uma
flexibilidade e uma determinação que permitam retomar o rumo certo.
II. As apostas têm de ser na requalificação e revitalização das infra-estruturas
existentes; na formação do capital humano; na capacidade de, sem
desinvestir nos mercados emissores dominantes, apostar em chegar a novos
mercados, designadamente aos BRIC, lançando uma nova campanha de
afirmação da imagem de Portugal, actualizada e competitiva.
A relevância do sector justifica, também, dentro das propostas do CDS para a
área das empresas e economia, soluções específicas tendo em vista a sua
competitividade. Impõe-se uma revisão da legislação aplicável ao sector,
tendo em vista a sua simplificação e sistematização e procurando imprimir
uma lógica de desburocratização, favorável às empresas e ao investimento.
Tal legislação deve ser feita de forma aberta e participada, ao contrário do
que aconteceu com a actual “Lei de Bases” aprovada pelo Governo do PS no
final do actual mandato, sem discussão pelos agentes do sector, e nenhuma
intervenção do Parlamento.
III. O objectivo estratégico tem de ser o crescimento, não do número de
turistas, mas da receita por turista. Esse é o objectivo correspondente a um
turismo de qualidade que valorize os nossos factores de diferenciação e
diversificação. Destacamos o património histórico e cultural, a partir de
segmentos chave como são o MICE, o mar, o turismo Natureza e o golfe, o
turismo religioso e cultural.
Portugal não se deve conformar com a 23ª posição no ranking mundial. Até
pelas posições que já ocupou no passado, defendemos que Portugal deve de
ter como objectivo estratégico, ao nível da receita turística, estar no Top 15
mundial. Para isso, precisamos duma nova política de Turismo.
IV. Esta política deve i) actualizar a Estratégica Nacional de Turismo,
substituindo o Plano existente, por um novo, que tenha em conta a situação
económica actual, a crise do sector imobiliário e responda ao desafio da
qualificação ii) elaborar Planos Regionais de Desenvolvimento Turístico em
complemento do Plano nacional iii) apostar numa oferta turística de
excelência e na requalificação da oferta existente, valorizando o seu
património edificado e cultural iv) promover uma estreita articulação entre os
sectores do turismo, da cultura, do ambiente e ordenamento do território,
valorizando o nosso património, por um lado, e, por outro, construindo um
modelo de turismo sustentável v) desenvolver uma política fiscal favorável ao
sector e à competitividade das empresas, nomeadamente com soluções que
privilegiem os investimentos que envolvam recuperação de património
edificado vi) definir e implementar um processo de planeamento e instalação
de um sistema eficaz de sinalização turística vii) garantir uma melhor
articulação com o sector de transporte aéreo, garantindo que o
desenvolvimento de ligações aéreas low cost seja feito no interesse da
captação de fluxos turísticos, mas em condições de equidade face às
transportadoras aéreas tradicionais.
V. No que respeita especificamente à restauração, importa ter presente que
este sector, constituído por milhares de micro e PME’s, familiares, estáveis e
com várias gerações de actividade, é responsável por 50% da receita turística
do nosso país. Justificam-se, por isso, medidas excepcionais que permitam a
estas empresas superar as circunstâncias da crise, particularmente gravosa no
seu caso, bem como permitir que elas constituam um factor essencial de
reaquecimento da economia.
Assim, importa i) alterar a taxa do IVA aplicável a este sector, baixando-a
para 5%, aproveitando a oportunidade criada pela União Europeia e já seguida
pela França, promovendo assim a competitividade com a vizinha Espanha ii)
em contrapartida, acertar com as organizações do sector medidas – que estão
em cima da mesa – para evitar a evasão fiscal iii) desenvolver, proteger e
promover a gastronomia portuguesa e os seus produtos como factor de
diferenciação e qualificação do turismo, favorecendo a existência de bons
roteiros iv) criar, em colaboração com as associações do sector, mecanismos
de classificação e certificação dos estabelecimentos existentes.
VI. Um aspecto central no domínio do turismo é a promoção. Neste domínio
há que i) investir na promoção externa em contra-ciclo, para podermos colher
os frutos quando a recuperação económica se verificar ii) lançar uma nova
campanha de promoção turística e da imagem do país, actualizada e
competitiva para substituir a actual campanha, existente há mais de 3 anos
iii) nessa campanha, promover Portugal enquanto destino diferenciado que
proporciona uma experiência única de turismo integrado na sociedade,
correspondente a uma percepção expectável e real do país iv) instalar as
Delegações do Turismo de Portugal IP, em especial nos mercados de Leste e
emergentes, bem como garantir um acompanhamento constante dos agentes
que promovem Portugal no estrangeiro, não o limitando a momentos de crise
v) desenvolver o recurso às novas tecnologias, tornando o Portal visitportugal
mais interactivo e actualizado e marcando presença nas redes sociais, vi)
assim que a conjuntura em Portugal permitir, e aprendendo lições quanto à
disciplina dos gastos, promover a realização em Portugal de eventos de nível
internacional, com impacto mediático, que retomem o caminho da EXPO vii)
estabelecer uma estratégia de complementaridades que permita fidelizar os
clientes dos mercados tradicionais, mas que seja competitiva e agressiva nos
mercados emergentes viii) lançar uma nova campanha para o turismo interno,
diversificada e tendo em consideração as diversas realidades de âmbito
regional.
VII. Relativamente à legislação do sector importa i) reforçar e imprimir maior
simplificação à legislação turística, tendo como objectivo principal a
desburocratização e eliminação dos custos de contexto ii) desenvolver uma
politica de desburocratização dos processos de investimento, licenciamento e
funcionamento dos empreendimentos turísticos, estabelecimentos de
restauração e agências de viagens iii) regulamentar sectores específicos com
capacidade de desenvolvimento como sejam o turismo náutico, religioso,
cultural e de cruzeiros iv) promover a sistematização da legislação do turismo,
agrupando-a num único Código do Turismo e das Actividades Turísticas,
aproveitando a sua elaboração como forma de reflexão sobre o sector e as
suas necessidades, envolvendo todos os agentes privados e públicos v)
combater a economia paralela e o alojamento ilegal, realizando um livro
branco sobre o alojamento local e a sua repercussão nesse combate.
VIII. Por fim, no domínio da formação, defendemos i) a definição e execução
de uma estratégia de recursos humanos no turismo, no âmbito do alargamento
da rede escolar iniciado em 2003, a formação e a qualificação dos
profissionais, bem como a certificação das profissões ii) complementar o
ensino público, relevante mas insuficiente, com formação técnica simplificada
que, em colaboração com os privados, permita alargar o ensino existente à
totalidade dos profissionais do sector iii) um processo de acesso e certificação
de profissões turísticas, - como por exemplo, os Guias Turísticos - , que tenha
em conta realidades como sejam a necessidade de abertura a novos mercados
e a ligação do turismo à cultura e à nossa história.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Focar o objectivo da política de turismo no crescimento da receita por
turista, mais do que no número de turista.
2. Aposta nos factores de diferenciação do destino turístico português;
mar, património e cultural, conferências e eventos, natureza, golfe,
itinerários religiosos.
3. Aproveitar a oportunidade dada pela União Europeia, baixando o IVA da
restauração. Em contrapartida, concertar medidas de combate à
evasão.
4. Ter uma política de candidaturas a eventos de nível mundial.
5. Simplificar a legislação do turismo e agrupá-la num Código de Turismo
e das Actividades Turísticas.
6. Complementar o ensino público com oferta de formação mais
simplificada, em colaboração com os privados.
VOLUNTARIADO
CRÍTICAS
1. Voluntariado não foi prioridade do Governo.
2. Desactualização do estatuto do voluntário.
3. Desaproveitamento das parcerias com as IPSS.
O governo socialista, durante quatro anos e meio, não sublinhou a importância
do terceiro sector – especialmente do sector social, como as IPSS e as
Misericórdias – e do trabalho com que, de forma generosa e altruísta, milhares
de voluntários contribuem para a coesão social e o desenvolvimento do nosso
País.
Com uma suspeição ideológica, ou mesmo com preconceito, foram
questionadas as parcerias e tentada a “estatização” de um sector que nasceu e
cresceu da iniciativa e da vontade livre de participar, ajudar e apoiar – nas
respostas sociais como na cultura ou no desporto – os outros. Esta
desconsideração culminou na proposta de um Código Contributivo que
pretendeu arrecadar mais receita através de instituições sem fins lucrativos e
encarecer o seu custo de funcionamento.
Numa altura de crise, em que toda a ajuda seria – pensamos nós – bem-vinda,
em que os conhecimentos acumulados de tantos voluntários e a larga
experiência de tantas instituições fazem falta, o governo decidiu esquecer, em
vez de promover, preferiu manter, em vez de aproveitar. Num tempo em que as
respostas sociais têm de ser céleres e justas, foi ignorada a primeira rede
social, depois da família: a boa vontade da comunidade.
RESPOSTAS
I. O CDS valoriza o voluntariado como factor de humanização, realização
pessoal e coesão social. Na sua definição mais simples, é a boa vontade em
acção. O empenhamento do Partido nesta área ficou claro quando, em Agosto
de 2008, o Grupo de Missão sobre o voluntariado apresentou o relatório
“Ajudar quem Ajuda”, dando, assim, atenção, institucional e politica, para este
tema essencial da participação cívica da nossa vida em comunidade.
Ao estudar e aprovar este relatório, o CDS levantou a discussão em torno de
um sector com um peso crescente na sociedade e cultura contemporâneas e
com um reflexo exponencial na economia. Este relatório, elaborado com o
conhecimento e a consulta de dezenas de instituições, federações e uniões do
sector é a base das propostas políticas que o CDS tem apresentado e
continuará a defender nesta área, concretizando medidas que privilegiem o
exercício do voluntariado – uma forma de participação cada vez mais relevante
não só no sector social como, ainda, na cultura, no desporto, na protecção civil
e na saúde.
II. Numa altura de grave crise económica e social, entendemos que é premente
fortalecer este sector. Dar mais condições e melhorar a sua eficácia – tanto aos
voluntários em si como às organizações e instituições - reconhecendo a sua
livre iniciativa e, principalmente, a forma como este sector muitas vezes se
adianta e realiza funções de apoio e rede comunitária. Na verdade, esta rede,
especialmente na área social, é muitas vezes a mais importante ajuda a quem
precisa. Propomos, assim, que algumas das respostas sociais possam ser
contratualizadas entre as organizações e a Administração Pública.
O apoio e a segurança que devem ser dados aos voluntários não podem, no
entanto, servir para o Estado asfixiar ou pretender dirigir estas pessoas ou
instituições. Pelo contrário, deve ser reconhecida a sua independência e o seu
trabalho deve ser visto como um exercício de responsabilidade cívica e social,
um instrumento para o desenvolvimento da sociedade civil e para a coesão
social.
III. Quanto aos voluntários devemos apostar especialmente em duas áreas: o
voluntariado sénior, que depois da aposentação dispõe de tempo e de
conhecimentos que não podem ser desperdiçados; e, por outro lado, aproveitar
o potencial de generosidade do voluntariado jovem.
A esta aposta, juntamos a necessária modernização e actualização perante a
realidade actual do voluntariado. Por exemplo, existem, cada vez mais pessoas
dispostas a ajudar, com o seu tempo e trabalho, voluntariamente, a um nível de
proximidade dos problemas, mas que por várias razões, não se enquadram no
trabalho mais institucional. Consideramos que este novo tipo de voluntariado
deve ser reconhecido.
Por outro lado, como os donativos de empresas são dedutíveis em sede fiscal,
também a prestação voluntária de serviços de profissionais liberais (como o
apoio médico, jurídico, de gestão e organização, entre muitos outros) deve ter
um tratamento fiscal favorável.
IV. Em termos de organização e reconhecimento, urge fortalecer e adequar o
Conselho Nacional do Voluntariado, para dar resposta às exigências actuais,
assim como, repetimos, actualizar o estatuto e as bases do enquadramento
jurídico do voluntariado.
Se a generosidade é a base do voluntariado, a acção necessita, muitas vezes
de ser bem enquadrada para garantir que seja continuada e eficaz. Por isso
propomos a criação, de forma contratualizada com instituições com experiência
na formação de voluntários, de uma Escola Nacional de Voluntariado, para
garantir uma maior eficácia, e mesmo realização, do trabalho voluntário.
Propomos a integração do voluntariado no programa de formação cívica, para
sensibilizar as crianças e jovens, dando a conhecer, a nível das suas
comunidades locais os projectos e as instituições do sector. Cada escola
portuguesa pode ser um pequeno “banco de voluntariado”. Para tanto, os
jovens precisam de informação.
Para permitir às pessoas colectivas e singulares maior escolha e informação
sobre as entidades, instituições e organizações a que pretendem atribuir os
donativos, propomos a criação de uma lista nacional de todas as organizações
que pratiquem e promovam acções de voluntariado. Pretendemos, também,
promover o incentivo de trabalho em rede entre os Centros de Emprego, as
instituições sociais e as organizações de voluntariado, permitindo a abertura de
novos programas de trabalho voluntário, nomeadamente junto dos beneficiários
do Rendimento Social de Inserção.
CADERNO DE ENCARGOS VOLUNTARIADO
1. Reconhecimento do voluntariado de proximidade.
2. Dedução das prestações de serviços gratuitas em sede de IRS ou IRC.
Os donativos para determinado tipo de instituições já merecem
tratamento fiscal favorável. O mesmo deve suceder com prestações de
serviços efectuadas, por exemplo, por profissionais liberais (por ex, o
apoio médico).
3. Criação, de modo contratualizado, de uma Escola Nacional de
Voluntariado, destinada à formação de voluntários.
4. Integração do voluntariado no programa de formação cívica, para
sensibilizar as crianças e os jovens. Em cada escola, deve existir
informação disponível sobre projectos de voluntariado.
5. Aposta forte no voluntariado sénior.
6. Criação de uma lista nacional de todas as organizações que pratiquem e
promovam acções de voluntariado, a fim de permitir às pessoas
colectivas e singulares maior escolha e informação sobre os projectos a
que pretendem atribuir donativos.
7. Fortalecimento do Conselho Nacional de Voluntariado e revisão do
estatuto.
8. Trabalho em rede entre os Centros de Emprego, as instituições sociais e
as organizações de voluntariado, permitindo a abertura de novos
programas de trabalho voluntário, nomeadamente junto dos beneficiários
do Rendimento Social de Inserção.
COMUNICAÇÃO SOCIAL
CRÍTICAS
1. Situação financeira do serviço público de Televisão e Rádio voltou às
derrapagens.
2. Tentativa de condicionar o exercício profissional dos jornalistas.
3. Tentativa de agredir a Rádio Renascença na Lei do Pluralismo e Não
Concentração.
4. Falha no 5º Canal.
Desde 2005, o Governo socialista tem um programa que, objectivamente, tem
restringido a liberdade editorial e o potencial económico dos agentes
privados do sector. O falhanço do Partido Socialista foi evidente em quatro
áreas. Na gestão do financiamento do serviço público; na aprovação de novos
regimes jurídicos relativamente ao exercício profissional dos jornalistas e na
tentativa de impôr uma lei do “pluralismo e não-concentração”; no processo
de atribuição de um quinto canal de televisão de acesso livre e na transição
para o digital.
RESPOSTAS
I. Após um esforço considerável de recuperação, quer da definição do que
deve ser o modelo de serviço público televisivo, quer da própria gestão,
realizado pelo anterior Governo, com uma intervenção responsável do CDS,
parecemos estar, na RTP, a voltar às compras “milionárias” de direitos de
transmissão e à subida dos custos de funcionamento. As indemnizações
compensatórias somadas à taxa do audiovisual ultrapassaram os 230 milhões
de euros. Há riscos para o pluralismo e a tentação socialista de condicionar a
liberdade de informação é conhecida.
O Governo socialista parece satisfeito com o status quo, usando as parcas
receitas de publicidade para servir a dívida – superior a 800 milhões de euros –
e cobrindo os custos operacionais com o dinheiro dos contribuintes. Contudo,
esta situação alimenta as múltiplas actividades deficitárias da RTP.
II. O CDS defende uma RTP forte, mas somos contra o esbanjamento dos
dinheiros dos contribuintes. Ter uma boa gestão e evitar novas derrapagens
financeiras na RTP é um objectivo do CDS nos próximos 4 anos i) cumprindo o
programa de reestruturação da empresa ii) racionalizando dos custos
operacionais. Este objectivo legitima o escrutínio sobre o interesse público de
cada programa, de cada actividade. O resultando será de ter uma RTP mais
bem gerida e criteriosa no serviço público.
III. A passada legislatura ficou marcada pela tentativa do Partido Socialista de
aprovar uma lei sobre o (pluralismo e não-concentração) que levantava várias
perplexidades junto dos agentes do sector, nomeadamente por representar
um ataque à liberdade de imprensa e pluralismo de informação, com a
tentativa de intervenção na Rádio Renascença por artificial “excesso” de
concentração no sector das rádios; por criar sobreposições entre vários
reguladores como a ERC, a Autoridade da Concorrência, a ANACOM, a CNVM, o
Banco de Portugal e outras entidades a fazendo a regulação simultânea da
actividade, complicando em especial o processo de aprovação de operações
de concentração e impedindo o ganho de escala pelos grupos nacionais.
Felizmente, o Presidente da República vetou esta iniciativa legislativa, não só
pelos limites que introduzia à actividade jornalística, mas também por
representar um contra-senso face à aprovação, no seio da União Europeia, de
directivas comuns, relativas ao que deve ser entendido como excesso de
concentração.
Na próxima legislatura o CDS acompanhará o desenvolvimento desta questão
na União Europeia, mantendo uma especial vigilância sobre a actuação dos
reguladores, de modo a que não sejam utilizados para condicionar os grupos
de comunicação social.
IV. Foi ainda um objectivo do Governo lançar um quinto canal de televisão em
regime de acesso livre. Estando inicialmente prevista a atribuição da licença
para Maio de 2009, e o arranque do novo canal para 2010, este processo não
se encontra ainda encerrado.
A atribuição da licença provocará “ondas de choque”, às quais o CDS estará
atento. O novo canal irá “retirar” publicidade tanto às televisões como às
rádios e aos jornais, podendo legitimar operações de concentração dentro da
comunicação social – ou entre as telecomunicações e os “media”.
Neste processo o CDS vai prestar especial atenção ao desenvolvimento do
processo de atribuição da licença, no respeito integral do quadro legal
existente. Teremos em conta as eventuais repercussões no mercado da
comunicação social. Não abdicamos de garantias sobre o pluralismo e
independência face ao poder político, seja qual for o poder político.
V. A transição para o digital é um compromisso europeu ao qual Portugal não
deve ser indiferente. Representa um avanço técnico que é essencial para o
desenvolvimento da actual sociedade de informação. No entanto, o CDS vai
prestar especial atenção aos fenómenos de exclusão que poderá acarretar,
nomeadamente nas camadas mais desfavorecidas da população, que se podem
ver privadas do acesso ao bem essencial que é hoje a comunicação.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Retomar práticas de boa gestão na RTP.
2. Acompanhar o desenvolvimento da definição de não concentração ao
nível da União Europeia.
3. Manter especial vigilância sobre a actuação dos reguladores, de modo a
não serem utilizados para condicionar os grupos de media.
4. Especial atenção ao desenvolvimento do processo de atribuição da nova
licença de televisão, no respeito integral pelo quadro legal existente,
pelas eventuais repercussões no mercado, mas também da garantia de
pluralismo e independência da comunicação social face ao poder
político.
5. Tentar limitar, no processo de transição para a Televisão Digital
Terrestre, os fenómenos de exclusão que podem surgir, nomeadamente
nas camadas mais desfavorecidas da população.
ENERGIA
CRÍTICAS
1. Incapacidade de promover a eficiência energética.
2. Bloqueio à concorrência nos mercados de energia.
3. Mobilidade insustentável.
Apesar da propaganda do Governo Socialista, Portugal tem aumentado o seu consumo de
energia primária e tem aumentado muito o consumo de electricidade nos últimos anos,
continuando a crescer acima da média europeia. Não obstante o aumento da capacidade
instalada de renováveis, a verdade é que na última década tem-se verificado um
significativo crescimento do consumo de electricidade e um boom na importação de
electricidade, o que fragiliza a política energética do Governo sustentada nas
renováveis.
RESPOSTAS
I. Por conseguinte, Portugal vê-se necessitado de reduzir drasticamente a sua ineficiência
energética, do lado da procura, e ao mesmo tempo actuar no sistema electroprodutor,
dando especial ênfase às tecnologias limpas e com menor custos de capital, de
combustível, de operação e manutenção. Por outro lado, é necessário abordar o sector
dos transportes de forma integrada no restante sistema de energia. Em Portugal,
aproximadamente 30% das emissões de CO2 são originadas pelos transportes, sendo que
grande parte dessas emissões advém dos transportes rodoviários.
Relativamente ao desafio climático, importará recordar que na submissão do inventário
de 2009, as emissões de Gases com Efeito de Estufa de Portugal, sem contabilização das
emissões de alteração do uso do solo e florestas, encontram-se 10,3% acima da meta do
Protocolo de Quioto. Os dados agora divulgados continuam a mostrar a dificuldade de
Portugal em cumprir Quioto, cuja meta de 27% de aumento de emissões em relação a
1990 está já em vigor, desde Janeiro de 2008, e tem de ser respeitada para o período
2008-2012. Apesar das emissões de CO2/capita da UE-27 terem descido desde 1990,
Portugal viu as suas emissões aumentarem em mais do que uma tonelada/capita entre
1990 e 2006.
Para além da mitigação das alterações climáticas, Portugal tem de ser capaz de reduzir a
sua dependência energética, que em 2006 era de 83,1%. Note-se que somos o sexto país
da UE-27 com maior dependência energética.
Quanto ao mercado de electricidade, tem-se verificado que os sistemas eléctricos de
Portugal e Espanha não dispõem de uma capacidade de interligação suficiente para
permitir o livre-trânsito de electricidade e, por conseguinte, sustentar um preço ibérico
único. Ao contrário de Espanha (que permitiu a entrada de novos players no mercado,
EDP inclusive), Portugal encontra-se numa situação sensível, por o mercado ser dominado
por uma única empresa. Esta ausência de verdadeira concorrência em Portugal teve sinais
prejudiciais, não só para o consumidor final e para os comercializadores de energia, mas
também para a EDP, já que esta não recebeu o incentivo para melhorar a sua eficiência
no aprovisionamento de energia primária (carvão, GN e petróleo).
Os consumidores/cidadãos ainda não sentiram os efeitos adversos da política do Governo
para o mercado de electricidade, já que nos últimos anos tem sido tomada a decisão de
não reflectir, na tarifa do mercado regulado, o aumento dos preços da energia primária
(petróleo, gás natural e carvão), que originaram um aumento dos preços grossistas. Esta
decisão política anulou as margens dos comercializadores em mercado liberalizado e
criou um défice tarifário de 2 mil milhões de euros, que será pago pelos consumidores a
partir de 2010 durante 15 anos. Neste momento o défice tarifário já está a custar 400€ a
cada consumidor.
No que diz respeito ao mercado do gás, importa salientar que o preço do Gás Natural para
consumidores domésticos praticado em Portugal era, em 2006, o 4.º mais alto da UE-27.
O mundo enfrenta duas crises: a crise económico-financeira, originada pela incapacidade
de gerir o risco no sector financeiro; e a crise climática, cujas consequências parecem
distantes mas dependentes das atitudes do presente. Apesar de aparentemente
desfasadas, estas duas crises podem gerar uma estratégica e bem sucedida simbiose.
É necessária uma política sintonizada com os desafios económicos e com as carências
socais, e que ao mesmo tempo promova o crescimento Clean Tech. Vários líderes
mundiais - dos EUA à China - já perceberam que “verde” não é apenas uma opção mas
uma necessidade para recarregar as economias locais e criar empregos. Este tipo de
investimento não só dará um estímulo à economia, no curto prazo, como aumentará a
competitividade de Portugal, uma vez que os países pioneiros em tecnologias limpas
estarão em vantagem face aos demais. Portugal tem a oportunidade para gerar
crescimento baseado em tecnologias limpas, combatendo os negócios incumbentes
ligados à cultura do petróleo e promovendo empregos de “colarinho verde”.
Assim, é necessário que o novo Governo de Portugal construa as “estradas” rumo à
sustentabilidade energética e apresente aos cidadãos os incentivos certos para que estes
“viagem” eficientemente.
II. No que respeita à eficiência energética, O CDS-PP defende que um plano de acção
para a eficiência energética deve ter como objectivo primordial reduzir as emissões de
CO2 equivalente/capita, uma vez que este indicador possui sensibilidade ambiental. O
segundo objectivo deve ser a redução do consumo de energia primária/capita e só em
terceiro lugar é que se deve avaliar a redução da intensidade energética (que
corresponde à primeira meta proposta pelo Governo no PNAEE - Plano Nacional de Acção
para a Eficiência Energética).
Para alcançar bons resultados neste domínio é necessário: i) facilitar a participação do
sector privado nos investimentos em eficiência; ii) monitorizar e avaliar consumos,
assegurando que as políticas para a eficiência energética (tanto as voluntárias como as
obrigatórias) sejam monitorizadas e avaliadas com exactidão, o que implica, no caso
português, para além das boas práticas sugeridas pela Agência Internacional de Energia,
avançar com a contagem inteligente de energia, pois sem um sistema de medição preciso
e detalhado da energia consumida (e produzida via microgeração), sem recorrer a
estimativas, é impossível avaliar planos de acção para a eficiência energética; iii) basear
as políticas para a eficiência energética em indicadores transparentes e claros.
Ao contrário do que se passa com o PNAEE, concebido unicamente sob a tutela do
Ministério da Economia e da Inovação, importa assegurar que um plano de acção para a
eficiência energética deve resultar de uma estreita colaboração entre os diversos
Ministérios, já que o mesmo terá de ser dotado de uma visão holística dos consumos e
envolver o Estado totalmente na implantação do programa. Lembre-se que o consumo
energético por parte do sector público representa quase 10% do consumo total nacional.
Por isso mesmo, entendemos que dever ser criado o Ministério do Clima e da Energia,
resultante de um spin-off de ministérios pouco vocacionados para essas áreas (como o
Ministério da Economia). Tal opção permite conceber eficazmente políticas transversais a
todo o Governo.
Ainda no domínio da eficiência energética é urgente sensibilizar a comunidade. Tal
poderá ser feito através de diversas medidas como: i) “escola guardiã da energia”,
através da distribuição de informação em formato electrónico com conteúdos que
espelhem a importância de alterar comportamentos na escola, visando a redução de
consumos de energia e do estímulo a alunos e professores para a elaboração de
diagnósticos que permitam evidenciar situações anómalas que carecem de correcção ao
nível da eficiência energética; ii) “casa energética”, que vise a redução dos preços da
energia (electricidade e gás) para famílias numerosas e para famílias atingidas pelo
flagelo do desemprego, reflexo da actual crise económica e promova medidas de
eficiência energética em que a DGEG e/ou a ADENE, em parceria com as Agências
Regionais e Municipais de Energia e com as Associações Ambientalistas, sejam
responsáveis pela sua disseminação, implementação e monitorização; iii) “certificação
energética PMEs”, possibilitando Auditorias Energéticas com 50% de redução nos seus
custos (através de um prévio acordo a estabelecer com Entidades Certificadoras que
adiram a esta medida) exclusivamente para PMEs, e permitindo às PMEs usufruir da
“Medida Solar Térmico 2009” nos casos em que sejam consumidoras de água quente
solar.
III. No que respeita à electricidade limpa há diversas áreas de intervenção. Considerando
a futura capacidade instalada de renováveis, é necessário que existam grupos geradores
capazes de fazer backup das renováveis (i.e. eólica), dada a sua variabilidade intra-
diária, e load following (acompanhar variações do consumo). Só há dois tipos de unidades
geradoras capazes de fazer backup e load following: as hídricas com albufeira e os grupos
a gás natural. Sabendo que já está previsto o reforço da hídrica com albufeira, o CDS-PP
entende que os grupos a gás natural são uma tecnologia fundamental para o mix
energético de Portugal, já que são as unidades mais flexíveis. Por outro lado, a aposta em
centrais de gás natural, ao contemplar a entrada de novos actores, aumentará o nível de
concorrência no mercado de electricidade.
No que diz respeito à energia das ondas e à eólica offshore, o CDS-PP apoia a
investigação e desenvolvimento dessas soluções energéticas (dado o potencial da costa
oceânica portuguesa), na medida em que se consiga aumentar a eficiência dos sistemas,
aumentar a fiabilidade e a sobrevivência dos equipamentos e reduzir os custos das
estruturas.
Relativamente à energia solar fotovoltaica, o CDS-PP defende que esta será mais útil
quando instalada nas residências, já que os respectivos custos são significativamente
inferiores aos associados às instalações centralizadas de grande escala (como os projectos
de Serpa e Moura apoiados pelo Governo). Em instalações residenciais, a electricidade
gerada pelos painéis fotovoltaicos é injectada directamente na rede de distribuição,
próxima dos consumos, sem haver necessidade de investimento em novas linhas
eléctricas.
Quanto à energia solar térmica, o CDS-PP apoia vivamente programas que visem
incentivar a instalação de colectores solares nas residências, para fins de aquecimento de
água. No entanto, estes programas devem respeitar as regras de livre concorrência e
transparência, matéria em que o Governo socialista não tem sido exemplo.
No que diz respeito à microgeração de electricidade, o CDS-PP considera que o sistema
promovido pelo Governo “Renováveis na hora” tem deficiências operacionais, pelo que
vem apresentar as soluções seguintes. Tendo em conta que uma grande percentagem das
candidaturas é feita por entidades colectivas – quando o objectivo principal era o de
fomentar o envolvimento de consumidores domésticos como produtores de electricidade –
, o CDS-PP defende a criação de uma quota para pessoas individuais da ordem de pelo
menos de 75%. Como o sistema está estrangulado – pelos call centres das empresas –, e os
concursos só abrem durante uma ou duas horas, é necessário desenvolver uma logística
que permita às pessoas registarem-se em períodos mais alargados. Sabendo que há uma
grande vontade por parte das pessoas em implementar sistemas de microgeração, seria
útil aumentar a potência instalada de cada microgerador para além dos 3,68 kW.
Relativamente à tecnologia Carbon Capture and Storage instalada nas centrais térmicas,
o CDS-PP defende actividades de I&D visando o aumento da eficiência do sistema e a
redução dos custos de captura do CO2.
Por fim, o CDS-PP defende o desenvolvimento de estratégias para o armazenamento de
energia renovável excedente. Existem várias tecnologias capazes de armazenar energia,
sendo que a mais madura consiste na utilização das hidroeléctricas com albufeira, com
bombagem accionada por energia eólica. Para além desta tecnologia, os veículos
eléctricos também são uma opção para aproveitar energia renovável excedente, através
de estratégias de carregamento inteligente (smart charging).
IV. No que toca à mobilidade sustentada, apostamos em tecnologias limpas e
energeticamente eficientes. Importa promover a integração de veículos híbridos e
eléctricos, ao abrigo do conceito Vehicle-to-Grid. Note-se que os veículos eléctricos
quando carregados de forma inteligente (aproveitando as renováveis em excesso durante
a noite), permitem reduzir as emissões de CO2 do sistema transportes + geração de
electricidade.
Relativamente aos biocombustíveis, o CDS-PP advoga o fim dos subsídios aos
biocombustíveis com impacto nos alimentos e a redução das restrições à importação de
biocombustíveis mais eficientes e sem impacto nos alimentos. O CDS-PP defende,
igualmente, os biocombustíveis de segunda geração (tecnologia HVO), já que estes
apresentam diversas vantagens a nível de incorporação de poder calorífico (melhor
combustão), rendimento e emissões.
Como a aposta na inovação tecnológica não é suficiente para lidar com as alterações
climáticas e com a pobreza energética, o CDS-PP vai mais além, defendendo o aumento
da taxa de ocupação dos veículos (do mesmo modo) e a transferência modal. Para tal, é
necessário implementar serviços inovadores com o auxílio das TIC, tais como: táxis
colectivos; minibus expresso; clube de carpools; e integração de viagens de longo curso
em transporte colectivo com a distribuição local/regional.
Não obstante a eficácia das medidas propostas, na realidade alguns dos conceitos
mencionados não seriam hoje legais. Como tal, o CDS-PP defende que as agências
reguladoras devem retirar barreiras ao funcionamento dos conceitos em cima descritos,
para que se encontre um compromisso entre estabilidade e inovação.
Defendemos a definição de preços racionais, reflectindo para o cliente a escassez e os
impactos externos, mas sempre salvaguardando situações vulneráveis do ponto de vista
social.
Sustentamos ainda a necessidade de limitar a procura através do método dos preços,
criando medidas como o estacionamento sujeito a tarifas variáveis ao longo do dia e
avaliando a possibilidade de outras como a tarifa por faixa de rodagem nas auto-estradas.
VI. Desde 1 de Julho de 2007, os mercados de electricidade e gás dos Estados da UE estão
totalmente abertos. No entanto, alguns países, como Portugal, continuam a utilizar
tarifas reguladas, defendendo que estas são uma ferramenta para proteger os mais
vulneráveis. A protecção de situações vulneráveis não pode, no entanto, confundir-se
com o uso de tarifas reguladas para todos os consumidores. Segundo o grupo de
reguladores europeus para a electricidade e gás (ERGEG), os mercados concorrenciais não
podem coexistir com os mercados regulados. A regulação do preço do gás e da
electricidade definido para o utilizador final distorce o funcionamento do mercado e
fragiliza a segurança do abastecimento e o esforço para combater as alterações
climáticas.
Assim, no que respeita a electricidade, defendemos: i) a entrada de novos produtores em
Portugal, de forma a apresentar alternativas de concorrência no mercado da produção; ii)
o reforço significativo da capacidade de interligação, para diminuir a diferença entre os
preços em Espanha e em Portugal; iii) o reforço da interligação entre a Península Ibérica
e a França, o que teria um grande impacto ao nível de concorrência no mercado ibérico;
iv) a criação do conceito de operador dominante no espaço português do MIBEL (EDP) e no
espaço espanhol do MIBEL (ENDESA e IBERDROLA), e exercê-lo de forma a restringir o
acesso dos mesmos à interligação, nos dois sentidos, de forma a impedir que os agentes
dominantes em cada mercado obstaculizassem a entrada de novos players dependentes
do uso da interligação; v) a disponibilização de capacidade da produção da EDP aos
operadores de mercado, através de leilões de capacidade; vi) a consideração do o preço
da energia do mercado português na fixação da tarifa de electricidade, em vez do preço
do mercado espanhol.
Suportados nas sugestões do ERGEG (grupo de reguladores europeus para a electricidade
e gás) e da Autoridade da Concorrência, defendemos a extinção progressiva da figura
“Comercializador de Último Recurso” e consequente fim das tarifas reguladas, de forma a
promover a livre concorrência da comercialização de electricidade e retirar barreiras aos
entrantes. A protecção que decorre das tarifas reguladas deverá ser apenas assegurada
para os clientes mais vulneráveis.
Logo que estejam instalados os contadores inteligentes, imprescindíveis no domínio da
eficiência energética, entendemos que os comercializadores de electricidade devem ser
obrigados a informar os consumidores se estes estão no tarifário mais correcto e, caso
não estejam, o quanto poderiam poupar com uma mudança tarifária.
No que respeitam ao gás, defendemos o aumento da flexibilidade tarifária, visando a
redução de custos unitários de utilização da rede de alta e média pressão para todos os
utilizadores. Nesse âmbito, deverão ser aprovadas novas opções tarifárias de curtas
utilizações e curta duração nas tarifas de acesso às redes e ao terminal de GNL (Gás
Natural Liquefeito).
Para que os operadores entrantes (mais pequenos do que o incumbente) possam utilizar o
Terminal de GNL, é necessário desenvolver um mecanismo de swaps. O CDS-PP entende
que este mecanismo de trocas de GNL beneficia tanto os entrantes (que passam a
conseguir gerir desequilíbrios entre a entrada de gás no sistema e o consumo da sua
carteira de clientes) como o incumbente (que adquire maior flexibilidade com o gás
adicional armazenado). Note-se que a abertura de um mercado à concorrência não pode
ser feita através de uma remuneração do incumbente – monopolista – que apenas é
penalizado por perder a natural quota de mercado, subjacente a um processo de
liberalização. Como tal, o incumbente não deve cobrar uma tarifa regulada por um
serviço de swaps.
Tal como defendido para o sector da electricidade, e mais uma vez em sintonia com as
sugestões do grupo de reguladores europeus (ERGEG), defendemos que a regulação do
preço do gás definido para o utilizador final distorce o funcionamento do mercado e
fragiliza a segurança do abastecimento. Como tal, a figura do “Comercializador de Último
Recurso” deverá ser eliminada progressivamente, a fim de se desenvolver um mercado
concorrencial para o GN.
CADERNO DE ENCARGOS ENERGIA
1. Reduzir os preços da energia (gás e electricidade) para as famílias numerosas e para as
famílias atingidas pelo desemprego.
3. Garantir efectiva concorrência no sector.
4. Apostar na eficiência energética e no mix energético.
5. Desenvolver estratégias para o armazenamento da energia renovável excedente.
6. Sintonizar, politicamente, os desafios económicos com as carências socais.
7. Basear as políticas para a eficiência energética em indicadores transparentes e claros.
SEGURANÇA SOCIAL E TRABALHO
CRÍTICAS
1. Aumento exponencial do desemprego.
2. Apoios no desemprego são insuficientes.
3. Maioria dos pensionistas perdeu poder de compra nestes 4 anos.
4. Abusos no Rendimento Social de Inserção.
5. Contratualização com as IPSS abaixo do que a situação social exige.
6. Reforma da Segurança Social não prevê qualquer liberdade de escolha
dos jovens.
7. Código de Trabalho com erros e lapsos; Código Contributivo inaceitável
neste cenário económico.
O défice social agravou-se nos anos de governação socialista. Face a um
discurso artificialmente optimista, todos os indicadores disponíveis apontam
para o agravamento das condições sociais. O desemprego subiu
consideravelmente e já atingiu 507,7 mil indivíduos. Num só ano perderam-
se mais de 150 mil postos de trabalho.
Por sua vez, o indicador de pobreza revela que estagnou a redução do
número de Portugueses que vivem abaixo do limiar mínimo de rendimentos.
Entre 2003 e 2005, mesmo em condições de crescimento económico
adversas, conseguiu reduzir-se a taxa de pobreza de 20% para 18%, através,
sobretudo, do processo de convergência das pensões que, com um
planeamento faseado, renumerava melhor as reformas mais baixas. A
suspensão desse processo contribuíu para a estagnação do indicador oficial
de pobreza. Os idosos, tal como os deficientes, foram a geração mais
sacrificada por um conjunto de políticas de nítida insensibilidade social:
cortes nas comparticipações dos medicamentos durante 3 anos, fórmula de
cálculo dos aumentos que colocou os pensionistas 3 anos seguidos atrás da
inflação, tributação de reformas baixas.
O recurso às instituições sociais, por parte das famílias com necessidades
básicas não satisfeitas – incluindo situações de fome -, bem como de
famílias que já tiveram rendimentos de classe média, não cessou de
aumentar. O Governo foi lento a perceber a dimensão da questão social.
Para quem acredite, como nós acreditamos, que o progresso de uma
sociedade também se mede pelo dinamismo da sua “mobilidade social”, ou
seja, pelo nível de oportunidades dadas para que, através da educação, do
trabalho e da iniciativa, cada indivíduo possa subir legitimamente na vida, a
situação social portuguesa é alarmante. Na verdade, a “mobilidade social”
parece ter, simplesmente, parado. Haverá, certamente, sectores que até
acrescentaram a sua riqueza, mas a classe média empobreceu e a exclusão
social alastrou. Restabelecer a mobilidade social no nosso país é um
objectivo central do CDS nos próximos quatro anos.
RESPOSTAS
I. Primeiro, devemos tratar da urgência social que é o desemprego. Em
tempos de expansão do desemprego, é inaceitável que um Governo com
sentido de justiça não consolide os sistemas de protecção social nessa
eventualidade. Para o CDS é urgente que esse alargamento da protecção
social, pelo menos a título transitório, incida sobre i) o tempo de percepção
do subsídio de desemprego e não apenas do subsídio social de desemprego
ii) altere os prazos de garantia de modo a que os jovens não sejam excluídos
do subsídio de desemprego, o que é possível de conceptualizar sem
desincentivar a procura do trabalho iii) reforce a majoração da prestação
nos casos em que os dois membros do casal estão no desemprego quando os
desempregados têm mais filhos iv) permita a passagem à reforma dos
desempregados com mais de 55 anos, findo o período máximo de percepção
das prestações relativas ao desemprego v) promova uma autêntica formação
profissional dos desempregados, sobretudo nos conhecimentos em novas
tecnologias e línguas.
II. Tão importante como melhorar os apoios em caso de desemprego, é
fomentar oportunidades de emprego. Pode e deve fazer-se mais,
nomeadamente i) estimular duradouramente a contratação de
desempregados de longa duração, com especial atenção às mulheres ii)
legislar no sentido de tornar possível que se possa atribuir globalmente, por
uma só vez, à entidade empregadora que celebrar com um desempregado
um contrato de trabalho sem termo, o remanescente do subsídio de
desemprego ou subsídio social de desemprego a que os beneficiários tenham
direito iii) estimular o surgimento de empresas novas, com aposta nas
tecnologias de informação, nos jovens universitários iv) lançar, em Portugal,
os programas de “trabalho activo e solidário” já em vigor, por exemplo, na
Alemanha, que partem do funcionamento, em rede, dos Centros de Emprego
e das IPPS, oferecendo aos desempregados uma ocupação activa, na área
social – por exemplo, lares, centros de dia, apoio domiciliário – acumulando
a prestação social com um suplemento de rendimento do trabalho v)
reformular e descentralizar o funcionamento dos Centros de Emprego, para
melhorar a sua eficiência vi) obrigar a Administração Pública, quando
promove concursos para à admissão de quadros, a contactar todos os
desempregados licenciados, com as habilitações requeridas, inscritos em
centros de emprego da zona abrangida.
III. A última legislatura ficou marcada, no plano laboral, por uma produção
legislativa feita de forma apressada e menos cuidada. A legalidade da
declaração de rectificação do novo Código de Trabalho está a ser posta em
causa por vários tribunais. Ainda hoje não está publicada, legislada ou em
vigor parte da legislação complementar. Na última legislatura perdeu-se a
oportunidade de se fazer uma adaptação das leis laborais à realidade do
nosso tecido produtivo, composto na sua maioria por micro, pequenas e
médias empresas.
Faz por isso sentido pensar numa versão simplificada do Código de Trabalho
para as PMEs, sobretudo tendo em vista a desburocratização dos
procedimentos. A nomeação de uma comissão legislativa que proceda ao
levantamento dos erros e omissões actualmente existentes no Código de
Trabalho e legislação conexa, deverá ultrapassar as situações de
incongruência ou vazio legislativo.
Ainda no plano das relações de trabalho, o CDS deve dar especial atenção
aos mecanismos de fiscalização das “contratações fraudulentas” e de
situações discriminatórias e injustas, bem como aos recursos humanos da
Inspecção-Geral de Trabalho.
Parece-nos especialmente preocupante o recurso desmedido aos “falsos
recibos verdes” tanto no sector público como no sector privado e, ainda, a
persistência de discriminações efectivas, seja no salário., seja na carreira,
das mulheres trabalhadoras. A situação dos chamados “trabalhadores
independentes”, sector em que foram cometidas inúmeras injustiças,
merece uma atenção especial. É prioritária a reparação dessas injustiças,
por exemplo no que toca à carreira contributiva.
As leis devem ser, nesta matéria, claras. Tão importante é dissuadir formas
de contornar a rigidez das leis laborais, como adoptar a flexibilidade como
condição do crescimento, sem a qual os empregadores temem contratar ou
deixam mesmo de o fazer.
IV. Um dos indicadores mais relevantes para perceber a dimensão estrutural
dos nossos problemas económicos e sociais é o da produtividade. Ora,
também nesta matéria, Portugal está em regressão.
O diferencial de produtividade dos trabalhadores portugueses face aos seus
homólogos europeus já era grave. No último ano, não só se acentuou como o
crescimento da produtividade derrapou para valores compulsivamente
negativos. Esta divergência assenta, como é geralmente reconhecido, na
falta de exigência no sistema de ensino, no défice de formação profissional
e na tímida modernização e investimento em novas tecnologias de uma
parte do nosso tecido empresarial. Culturalmente, o bloqueio português, em
termos de produtividade, reside também numa certa aversão ao mérito
individual, “socializando” ou nivelando por baixo, os níveis de esforço e
remuneração. Esta cultura, é de tal forma destruidora das expectativas de
vida e dos projectos individuais, sobretudo dos mais jovens, que também
incentiva a nova “emigração de qualidade”. Inúmeros jovens portugueses –
com licenciatura, mestrado ou doutoramento – procuram países com
oportunidades, que reconhecem o talento e a iniciativa, e não têm aquela
cultura inibidora.
O CDS considera que, a partir do momento em que a economia portuguesa
volte a crescer com significado, será necessário que o aumento da
produtividade, desde logo a nível do trabalhador, seja justamente
compensado. O que significa introduzir o princípio de que “quem trabalha
mais, deve ganhar mais”. A redução ou mesmo a isenção de tributação do
trabalho extraordinário é um passo gigante nesta opção. O trabalhador que,
por sua própria vontade, quer trabalhar mais, deve poder fazê-lo, devendo o
Estado reduzir ou, no limite, abster-se de tributar esse suplemento de
esforço.
A visão do CDS procura aliar, para mais na situação económica em que
vivemos, o interesse do empregador, do trabalhador e do país. Por isso, o
impulso que proporemos aos ganhos de produtividade irá a par com
iniciativas inovadoras visando uma mais justa repartição dos benefícios
gerados na empresa.
Devemos, por isso, incentivar a participação do trabalhador nos resultados e
crescimento das empresas. Nesse sentido, estudaremos um modelo,
aplicável às empresas maiores, pelo menos numa primeira fase, que crie
uma reserva especial para a participação dos trabalhadores, para o qual
deve reverter uma parcela do lucro líquido da empresa relativo ao aumento
da produtividade anual, a ser distribuído justamente pelos trabalhadores e
sujeito a uma taxa especialmente reduzida de imposto e isento de
prestações sociais.
Reafirmamos, ainda, o nosso apoio ao acordo social alcançado em matéria
de evolução do salário mínimo nacional.
V. A próxima legislatura deve também ser marcada pelo objectivo de voltar
a criar condições para reduzir a taxa de pobreza em Portugal
Se algo caracterizou este mandato socialista foi uma deficiência na
percepção de que o epicentro da pobreza em Portugal está nos idosos. Uma
atávica suspeita das parcerias com o sector social, nomeadamente com as
instituições de inspiração ou matriz religiosa, e um desaproveitamento das
forças vivas e livres de generosidade social, de que o voluntariado é a
melhor expressão, não contribuíram para o aumento da eficácia nas
respostas sociais. Ora, todos estes instrumentos são necessários à concepção
de uma nova política social. Só muito tardia e parcialmente o Governo o
percebeu.
As nossas políticas públicas terão, portanto, de dar prioridade à situação da
pobreza no universo dos pensionistas, assumindo determinadamente o
princípio da subsidiariedade no alargamento e melhoria dos serviços
prestados aos mais frágeis e colocando no centro da agenda todas as
condições para que o sector do voluntariado cresça, como pode crescer, e
faça mais, como quer fazer.
Cerca de 18% da população portuguesa vive com menos de 406 € por mês. Os
idosos continuam a ser o grupo social mais exposto à pobreza. A prioridade
do CDS estará, certamente, no apoio a esta geração desfavorecida. Quando
falamos em apoio, não referimos apenas as prestações sociais. Dirigimos a
nossa acção, também, para os serviços que permitem melhor
acompanhamento na doença e na invalidez; para as instituições de
acolhimento durante o dia ou em permanência; para a rede de homens e
mulheres que tornam possível o apoio domiciliário; para as instituições que
trabalham com deficientes. E também para as cozinhas comunitárias que
dão hoje refeições gratuitas a milhares de portugueses.
Do ponto de vista da conjuntura, como o CDS já destacou, é inexorável que
se faça um esforço maior nas pensões mais degradadas e no investimento
público, em parceria com as IPSS, na área social. Pensamos, por um lado, na
melhoria das reformas mais baixas. Mas pensamos, também e
decididamente, nos serviços de proximidade que são prestados dos mais
carenciados, sobretudo na velhice.
Na área dos idosos, a nossa prioridade i) é um programa sustentado de
convergência das pensões sociais, rurais e mínimas, ao longo da próxima
legislatura ii) garantir que a fórmula de cálculo dos aumentos previne
expressamente o risco de actualizações abaixo da inflação, o que é
estritamente injusto, tratando-se de populações desfavorecidas, e acentua a
sua depreciação em ciclos económicos negativos iii) a publicação dos
indicadores de aumento e o seu primeiro pagamento devem ser feitos em
Dezembro de cada ano, abrangendo o subsídio de Natal iv) proceder a um
ponto de situação das várias prestações sociais, “cruzando” a informação do
Complemento Social do Idoso, cuja evolução deve ser compatível com o
programa de recuperação das pensões sociais, rurais e mínimas, de modo a
dar coerência ao universo dos apoios.
A sustentabilidade deste esforço é uma opção de política social e pode
recorrer a uma parcela do excedente da Segurança Social que, nem
quantitativa nem qualitativamente, põe em causa a sua boa gestão.
Reafirmamos que tencionamos deslocar um quarto da verba do RSI – cerca
de 125 ME num total perto dos 500 ME -, uma verba fundamentalmente
“perdida” dos abusos e nas fraudes da prestação, deslocando-a
directamente para o programa de convergência das pensões mais reduzidas.
O princípio da máxima utilização de todas as capacidades sociais instaladas
deve ser o mais importante quando se tomam opções para programas sociais
de apoio aos idosos, à criança ou à pobreza, ou quando se concebem
programas de recuperação das listas de espera nas consultas e cirurgias. A
estatização das políticas deve ceder perante o princípio da subsidariedade,
sendo prioritário o desenvolvimento de todas as capacidades através de
parcerias com as IPSS em geral e as Misericórdias em especial.
De forma a manter um acompanhamento próximo da evolução da pobreza,
defendemos a obrigação do Governo apresentar para discussão na
Assembleia da Republica de dois em dois anos um relatório sobre o estado
da pobreza em Portugal.
VI. Ao contrário do que alguns afirmam, a reforma da Segurança Social não
está feita, no sentido global e inovador de que carece. É essencial garantir a
liberdade de escolha das novas gerações de trabalhadores no planeamento
da sua reforma e do seu futuro, ao mesmo tempo que se defende a
sustentabilidade do sistema de pensões. Essa liberdade de escolha implica a
capacidade de, voluntariamente e a partir de certo limite, se poder optar
por descontar para um regime publico, privado ou mutualista de segurança
social, e não obrigatoriamente apenas para o Estado.
Os princípios da reforma do CDS são claros. A reforma i) implica adesão
individual ii) exige manifestação expressa da vontade dos contribuintes (isto
é, se nada disserem, continuarão no sistema público da segurança social
pela totalidade do salário) iii) abrange apenas os trabalhadores por conta de
outrem sujeitos à taxa contributiva global que iniciem a carreira
contributiva após a entrada em vigor do regime e aufiram uma remuneração
ilíquida mensal superior a seis salários mínimos nacionais, bem como aqueles
que, à data da entrada em vigor do diploma, tenham idade igual ou inferior
a 30 anos, carreira contributiva não superior a 10 anos e aufiram uma
remuneração ilíquida mensal superior ao limite já referido iv) integra a
protecção nas eventualidades de invalidez, velhice e morte, através da
atribuição de prestações em articulação com o sistema público (pensões de
invalidez, velhice e sobrevivência) v) determina nessa medida, a parte da
taxa social única (TSU) que incide sobre a parte do salário considerado no
regime opcional será apenas a correspondente ao custo das eventualidades
cobertas (velhice, invalidez e morte) vi) considera a parte restante da TSU
em incidir sempre sobre a totalidade do salário independentemente do seu
valor, garantindo plenamente o princípio da solidariedade relativamente às
outras prestações sociais (doença, desemprego, abono de família,
maternidade e paternidade, doenças profissionais e outras) vii) considera
que a contribuição definida é gerida em regime de capitalização viii)
beneficiará a igualdade de tratamento fiscal ix) garante portabilidade ou
transferibilidade dos créditos adquiridos e direitos em formação.
Acrescentamos que a gestão deve ser feita por entidades que poderão ser
pessoas colectivas de direito público ou privado, ou entidades mutualistas. O
sistema implica uma forte componente de regulação, supervisão prudencial
e fiscalização, sendo os mecanismos de garantia das pensões exercidos pelas
entidades legalmente competentes em razão da natureza prudencial.
A visão reformista do CDS distingue-se da inércia estatista do PS, que obriga
a que a totalidade dos descontos seja feita para o sector Estado. Também é
diferente do “desconto obrigatório” de uma parcela do salário para o sector
privado que, pelo menos nesta legislatura, pareceu orientar o PSD. No nosso
sistema, a opção voluntária do trabalhador é o mais relevante. Há uma
obrigação de desconto para o sector público, até certo limite; há liberdade
de opção a partir desse limite. Assim garantimos a liberdade de escolha e a
sustentabilidade do sistema. O Estado deve concentrar o seu esforço nas
pensões mais baixas. Não deve ser o único responsável pelas pensões mais
altas.
VII. Impõe-se uma revisão transparente do Rendimento Social de Inserção.
Esta prestação – vulgarmente conhecida por “Rendimento Mínimo” – tem
tido uma evolução que preocupa o CDS em vários planos.
Desde logo, o crescimento exponencial – para o dobro, em três anos – dos
valores atribuídos ao RSI, consome, obviamente, uma parte importante dos
recursos disponíveis para outras políticas sociais. É politicamente inaceitável
que se faça um esforço muito mais intenso na atribuição deste Rendimento,
em contraste com o nível de ambição, bem mais reduzido, revelado nas
pensões. O segundo âmbito de preocupação é que o crescimento do RSI não
apresenta garantias de transparência, no sentido de que o número de
beneficiários sem qualquer fiscalização é muito elevado, sendo claros os
indicadores de que há abusos nesta prestação, que acabam por constituir
uma circunstância moralmente intolerável para quem trabalha e contribui –
isto é, para quem financia o pagamento do RSI. A falta de transparência
numa prestação que deveria ser, por natureza, transitória, merece uma
censura social que as instituições não podem ignorar. Por fim, preocupa-nos
a ausência, em muitos casos, de um “espírito de dever”, na relação de uma
parte dos beneficiários com a lógica e o sentido da ajuda que recebem. Este
Rendimento não foi criado nem pode institucionalizar-se como modo de
financiar opções ou estilos de vida. Foi pensado e deve ser fiscalizado como
ajuda transitória em situações de especial dificuldade.
Em suma, o CDS promoverá i) uma auditoria global ao funcionamento do RSI
e, consequentemente, tornará a sua legislação mais fiscalizada, objectiva e
transitória ii) admitimos a atribuição de parte da prestação em espécie iii)
propomos a contratualização, com as instituições sociais que manifestem
vontade nesse sentido, da celebração, acompanhamento e fiscalização da
atribuição do RSI iv) não concordamos com a renovação automática da
prestação v) e defendemos a cessação do RSI após o trânsito em julgado de
decisão judicial condenatória do titular, pela prática de crime doloso contra
a vida, a integridade física ou a reserva da vida privada, contra o
património, de falsificação, de tráfico de estupefacientes, contra a ordem e
tranquilidade públicas, de resistência ou desobediência à autoridade
pública, de detenção ilegal de armas ou por qualquer outro crime doloso
punível com pena de prisão superior a 3 anos, sem prejuízo da reabilitação
judicial.
CADERNO DE ENCARGOS
1. É possível melhorar o subsídio de desemprego para jovens sem
desincentivar a procura de trabalho.
2. Reforçar subsídio de desemprego para casais e desempregados com
mais filhos.
3. Permitir a passagem à reforma de desempregados com mais de 55
anos, findas as prestações de desemprego.
4. Permitir que as empresas que contratem sem termo um
desempregado recebam, como estímulo, um valor equivalente ao
remanescente do subsídio de desemprego que seria pago sem a
contratação.
5. Lançamento do programa Trabalho Activo e Solidário, colocando
em rede os Centros de Emprego e as IPSS.
6. Obrigação de contacto dos desempregados licenciados quando a
Administração Pública abre concurso para quadros.
7. Retomar a convergência das pensões mais baixas na próxima
legislatura.
8. Reforço da contratualização com as IPSS de serviços sociais de
proximidade para os idosos: lares, centros de dia, apoio
domiciliário, cozinhas comunitárias, apoio na saúde.
9. Deslocação de 25% da verba do RSI para um aumento extraordinário
de pensões.
10. Reforma do Rendimento Social de Inserção, combatendo os abusos
estimulando deveres e admitindo a sua concessão em géneros.
11. Versão simplificada do Código de Trabalho para as PMEs.
12. Em cenário de crescimento económico, redução de tributação ou
mesmo desfiscalização das horas extraordinárias de trabalho
13. Incentivar a participação do trabalhador nos benefícios da empresa
devidos aos ganhos de produtividade.
14. Reforma da Segurança Social que permita aos novos trabalhadores
ter liberdade de escolha, voluntária, a partir de um valor do salário
equivalente a 6 SMN. O esforço do Estado deve concentrar-se nas
pensões mais baixas. O Estado não deve ser o único responsável, a
prazo, pelas pensões mais altas.
ENSINO SUPERIOR, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
CRÍTICAS
1. Fraco investimento em ciência
2. Falta de incentivos à captação de investigadores/professores portugueses
no estrangeiro
3. Inadaptação do estatuto da carreira docente à reforma dos métodos de
ensino, com a manutenção de regras rígidas, cerceadoras da liberdade das
instituições
A percentagem de pessoas com formação superior em Portugal é bastante
abaixo da média europeia. Portugal não tem licenciados a mais. Por outro
lado, o investimento feito em investigação está muito longe de atingir as
metas de 3% do PIB.
A Universidade portuguesa enfrenta os desafios da qualidade, da
internacionalização e da competitividade. É essencial canalizar esforços
financeiros para a ciência e a investigação, bem como elevar o nível geral
de formação superior.
O Governo impôs centralmente um modelo de adaptação às exigências de
Bolonha sem contudo atender a que Bolonha é bastante mais do que
semestralizar currículos e encurtar os ciclos de estudo. Não cuidou,
nomeadamente, de adaptar o estatuto da carreira docente aos novos
métodos de ensino. O salto da qualidade de ensino, da excelência da
investigação, da integração no espaço de competição internacional ainda
está por fazer.
O Governo não cuidou também de compreender as especificidades do ensino
politécnico, à luz dos objectivos próprios para que foi criado, não lhe dando
a relevância e o enquadramento merecidos.
RESPOSTAS
I. Nas sociedades mais desenvolvidas a ciência, a investigação e a inovação
desempenham um papel primordial no desenvolvimento das sociedades e no
relançamento da economia. Por isso, tem sido avultada a aposta na
economia do conhecimento por parte dos países desenvolvidos, bem como
dos países emergentes. Estreitamente ligada à ciência encontra-se o sector
do ensino superior, no seio do qual se desenvolve principalmente o ensino e
a investigação nos mais variados domínios. Neste contexto, o ensino superior
e a ciência constituem dois aspectos nucleares da construção e dinamização
de uma economia do conhecimento. Portugal é, de entre os países da OCDE,
um dos que tem menos diplomados pelo Ensino Superior, Universidades e
Politécnicos em percentagem da população activa.
A acrescer, Portugal tem uma taxa de desemprego muito elevada de
licenciados, sobretudo jovens. São situações a corrigir com toda a
prioridade.
O CDS-PP considera primordial defender o prestígio e o futuro sustentado do
ensino superior português e reforçar a aposta na ciência.
Portugal pode orgulhar-se de ter um ensino superior com um vasto e valioso
acervo cultural, científico e pedagógico. Sucessivas gerações de estudantes
têm frequentado com êxito e adquirido as suas formações nos mais diversos
domínios em prestigiadas instituições portuguesas do ensino superior
público, concordatário, privado e cooperativo. Muitos dos estabelecimentos
de ensino universitário e politécnico gozam de prestígio internacional, sendo
o destino pretendido por estudantes de outras nacionalidades.
Como um dos pilares fundamentais da construção do futuro, o ensino
superior português anseia por se adaptar aos novos tempos. A globalização,
a competitividade - não só ao nível empresarial, mas também ao nível
universitário - e o despontar de novos desafios, obrigam o sistema de ensino
superior português a mudar rápida mas sustentadamente para continuar a
cumprir com êxito as suas funções, nomeadamente ao nível pedagógico,
cultural e científico.
A Universidade Portuguesa conheceu um período muito atribulado com a
adaptação dos seus currículos às exigências da Declaração de Bolonha. Os
ciclos de ensino foram reorganizados, com um encurtamento considerável,
nomeadamente ao nível das licenciaturas, com vista ao favorecimento de
uma entrada mais rápida no mercado de trabalho e, sobretudo, à construção
de percursos académicos diversificados, através de uma mobilidade entre
áreas científicas. Bolonha também visou motivar uma transformação nos
métodos de ensino e aprendizagem, focando em particular a aquisição de
competências transversais e o trabalho com autonomia, munindo assim os
estudantes de ferramentas de aprendizagem ao longo da vida.
Depois de Bolonha, veio um período de grandes mudanças institucionais,
com a adopção de um novo formato jurídico e formas de organização da
Universidade.
Mais alterações, nomeadamente ao nível do estatuto da carreira docente
estão em discussão.
O processo de Bolonha não foi conduzido nem completado de forma
satisfatória. Em muitos casos os currículos dos cursos foram simplesmente
divididos entre licenciatura e mestrado, levando à necessidade de se
completar o mestrado para se poder ingressar na vida profissional.
Uma Universidade com mais qualidade é, desde logo, a que serve a
comunidade onde se insere e prepara profissionais capazes para
desempenharem cabalmente as suas tarefas e intervirem activamente na
sociedade. Da Universidade espera-se a preparação de elites académicas
capazes de modernizar o país, melhorando-o, pelo seu desempenho
profissional e rigoroso, e pela sua intervenção.
É por isso que o levantamento da empregabilidade dos cursos tem de ter
consequências, e a ligação das empresas ao ensino superior deve ser
estimulada pelo próprio Estado através de instrumentos de adesão à
realidade. É também por isso que, se um dos grandes objectivos do país é a
internacionalização, por maioria de razão a nossa Universidade carece de
internacionalização.
A ligação da Universidade à sociedade civil, de que existem bons mas não
generalizados exemplos, é particularmente relevante nos domínios da
ciência e das tecnologias, mas não se esgota aí. A própria definição de áreas
de investigação privilegiadas não deve ser feita isoladamente, mas integrar-
se nas necessidades nacionais reconhecidas. A relação entre a Universidade
e as empresas deve ser verdadeiramente prioritária e ter como base a
adequação entre aquilo que é ensinado e as necessidades sentidas de forma
corrente pelas empresas. Não basta um relacionamento formal e artificial e
essa é mais uma das políticas que deve ser revertida.
Cada vez mais a Universidade não é um local de passagem, na juventude,
mas um local de progressivo e cíclico retorno, onde ao longo da vida se volta
para reforçar a qualificação, para actualizar conhecimentos, para reorientar
a carreira profissional. Por isso também, e num contexto de necessidade de
elevação da qualificação da nossa população activa, as empresas que
suportarem estes custos devem poder majorar essa despesa para efeitos
fiscais.
Um ensino superior de qualidade exige uma reforma de qualidade. Neste
sentido, o CDS-PP preconiza a materialização de medidas que visem:
reafirmar a elevada qualidade do ensino superior em Portugal; valorizar o
contributo do ensino superior para o fortalecimento da coesão social
através, nomeadamente, do fomento da igualdade de oportunidades;
dignificar as actividades de ensino, aprendizagem, estudo e investigação;
promover a competitividade dos estabelecimentos de ensino e investigação
a nível nacional e internacional; reforçar a sua autonomia e
responsabilidade.
Reafirmar a elevada qualidade do ensino superior em Portugal implica a
prossecução dos mecanismos de auto-avaliação, bem como a implementação
da avaliação externa, cujo atraso não pode deixar de ser imputado à inércia
ou, pelo menos, fraca actuação do Governo que agora termina o seu
mandato, principalmente no período que decorreu de 2007 a 2009.
II A Universidade tem uma vocação essencial: o ensino. No entanto, a
investigação deve coexistir com o ensino e deve ser factor do aumento de
qualidade deste, da excelência da instituição, da realização profissional dos
professores e da integração da Universidade na Sociedade e na Economia.
Tradicionalmente os professores ocupam-se simultaneamente do ensino e da
progressão científica. Contudo, a multiplicação do conhecimento, a
complexidade da investigação, assente cada vez mais em trabalho de equipa
organizado em redes nacionais e internacionais, e também a elevação muito
considerável do número de doutores nas diferentes áreas científicas, torna
legítimo questionar a autonomização de carreiras. O compromisso com a
qualidade implica apostar na investigação em áreas estratégicas para o país,
assumidas particularmente com cada Universidade e respectivas Faculdades,
Escolas e Institutos. A investigação científica de qualidade deve ser apoiada
de forma inequívoca e generosa. Ela implica também, frequentemente, uma
dedicação que não se compadece com as obrigações exigentes de leccionar.
Isso é particularmente visível nos domínios das chamadas ciências “duras”.
Faz sentido que a par da carreira docente se promovam carreiras dedicadas
exclusivamente à investigação.
Compete ao Estado promover, através de um sistema rigoroso, um
financiamento mais generoso às Universidades que dêem provas de bom
desempenho. Mas o tema do financiamento tem sido utilizado para limitar a
autonomia, que é o fundamento da liberdade da Universidade, condicioná-la
através de modelos jurídicos e asfixiar financeiramente o seu
funcionamento.
O acesso ao Ensino Superior deixa muito a desejar. O sistema de “numerus
clausus” existente deixa de fora muitos alunos com classificação de Bom e
Muito Bom e tão importante como isso não permite que alunos com
classificação de Bom tenham a oportunidade de seguir a sua vocação
profissional, tendo muitas vezes que optar por ir estudar para o estrangeiro.
O caso mais conhecido é o do ingresso nos cursos de Medicina (ou
Arquitectura), em que não é de todo admissível que um aluno com uma nota
de 14 ou 15 valores não possa vir a ser Médico como acontece em qualquer
outro país da Europa.
Adoptaremos uma política de adequação da oferta à procura, aumentando o
número de vagas quando necessário ou fomentando a abertura, nestes
casos, de novos cursos em Universidades do país que deles não disponham.
III. Assegurar a competitividade significa também criar condições parar
aproximar os estudantes do mercado de trabalho, favorecendo a respectiva
inserção, assim como promover e estreitar o grau de relacionamento entre o
ensino superior e o mundo empresarial e profissional. Por outro lado, o
estímulo ao empreendedorismo e à cultura de risco não pode ficar confinado
a cursos na área da gestão, antes devendo ser dinamizado a nível
transversal. Deve ser facultado a estudantes nas mais diversas áreas e
formações, contribuindo, desse modo, para a formação de profissionais que
procurem a inovação, a liberdade e a responsabilidade profissional e
empresarial.
Inovar é introduzir no mercado, a nível global, com sucesso, novos produtos
ou serviços. Inovar não é seguir tendências, é sim, criar tendências novas
que outros seguirão.
A Inovação faz-se sobretudo nas empresas em interacção com o mercado.
A introdução de novos produtos de alto valor acrescentado no mercado é o
meio mais eficaz de aumento do nosso produto e da produtividade.
Ao contrário do que muitas vezes se intui, a inovação não tem de ser
baseada em alta tecnologia, mas na busca de soluções e produtos com valor
perceptível pelo mercado.
Portugal tem infelizmente um dos menores índices de inovação na União
Europeia.
Temos uma das menores taxas de registos de patentes e decerto um dos
menores índices de receitas em royalties e proveitos de propriedade
industrial na Europa.
Fica claro que a inovação é na sua essência empresarial, o que não quer
dizer que não se baseie na investigação científica e tecnológica
desenvolvida nas empresas, nos institutos de investigação e nos
estabelecimentos de ensino universitário e politécnicos.
Também aqui, temos um peso das actividades de Investigação e
Desenvolvimento no PIB, dos menores da Europa (cerca de metade da média
europeia) com uma evolução positiva, sem dúvida, já que se alcançou o
patamar de 1% do produto. No entanto, o aumento com a despesa de
investigação e desenvolvimento não é acompanhado pela concepção,
desenho e produção de bens e serviços com impacto nas nossas exportações
ou na balança de transacções correntes.
A política científica tem de constituir uma das apostas com relevância
duradoura, por parte dos executivos, tal pode ser o seu efeito acelerador
sobre o desenvolvimento e crescimento económico. O potencial de
desenvolvimento da ligação à iniciativa privada está longe de se esgotar.
É possível estimular os agentes económicos a apostar mais na investigação e
desenvolvimento e estabelecer diferentes e mais expeditos meios de
comunicação entre o Estado, as Universidades, as empresas e as instituições
sem fins lucrativos. Para esse efeito a existência de uma política clara é
essencial.
Um dos aspectos a prever é um quadro fiscal atractivo para a Inovação
empresarial e Universitária, que permita competir com os países mais
avançados em tributação de royalties e serviços ligados à propriedade
industrial desenvolvida em Portugal.
Assim, o CDS empenhar-se-á i) num quadro fiscal claro de incentivo às
actividades de I&D ii) na internacionalização do sector científico e de
investigação iii) em privilegiar uma política de ciência e tecnologia ligada às
diferentes regiões de Portugal como forma de as tornar mais atractivas iv)
em facilitar a criação e exploração da propriedade industrial v)em aumentar
as formas de cooperação bilateral entre Estados vi) numa política de
investimento acentuado do Estado em ciência e tecnologia vii) em adoptar
medidas realmente encorajadoras conducentes ao reforço do investimento
privado em CIT que deverão integrar um programa específico que permita a
criação, aquisição ou funcionamento de unidades de I&D lideradas por
entidades privadas viii) incentivos fiscais para as empresas que invistam em
I&D xix) na qualificação dos recursos humanos empregues em Ciência e
Tecnologia, através de programas de formação avançada, e da promoção da
mobilidade e do emprego científico no âmbito empresarial.
Para além da investigação dita aplicada, deve ser apoiada a investigação
dita fundamental, ou “ainda não aplicada” como por vezes se diz, como
meio precursor da inovação, da formação de talentos em investigação e do
avanço do conhecimento em geral, quer nas Ciências e Tecnologias, quer
nas Artes ou Humanidades.
Dentro de uma cultura de promoção do mérito, importa a atribuição de
prémios para teses de doutoramento e trabalhos de pós-doutoramento nos
vários domínios da produção científica.
IV. Assim, no que respeita ao acesso ao ensino superior, o CDS propõe que o
acesso ao ensino superior seja aberto aos alunos de acordo com a sua
vocação profissional, adoptando sistematicamente o princípio da adequação
da oferta à procura pela abertura de novas vagas em cursos existentes, bem
como, autorizando e promovendo a abertura de novas faculdades em
universidades existentes. Pretende-se que durante a legislatura se atinja o
objectivo de todos os alunos com classificação de entrada superior a 15
valores possam aceder, em Portugal, ao curso da sua escolha.
Propomos que as propinas dos Mestrados para os alunos que terminem as
licenciaturas pós-bolonha sejam iguais às das licenciaturas, quando aqueles
sejam realizados na sequência destas, consecutivamente,
independentemente da indispensabilidade para o acesso a uma actividade
profissional, hoje prevista na Lei.
Além das necessárias receitas do orçamento de Estado e das provenientes do
pagamento de propinas pelos estudantes, devem ser admitidos e procurados
como incentivo para a sua actuação outro tipo de financiamentos, tais como
os decorrentes de serviços prestados a entidades diversas, pagamento pela
utilização de instalações (v.g., congressos, seminários e colóquios) e
doações específicas (v.g., provenientes de um tipo de mecenato). Deve ser,
além disso, incentivada uma gestão profissional ao nível destes
estabelecimentos de ensino.
Defendemos a aprovação de um Estatuto da Carreira Docente único para o
Ensino Superior Universitário e Politécnico que também inclua o dos
docentes das Escolas Superiores Militares e Policiais, tendo em atenção as
suas especificidades próprias, de modo a permitir a candidatura por norma
pela via do concurso aberto a todos os candidatos a docentes
independentemente da sua Universidade de origem e nacionalidade, e a
facilitar o seu intercâmbio e mobilidade entre diferentes escolas. A regra
deverá ser a do concurso público documental com obrigatoriedade de
audição pública dos candidatos pelos júris.
Propomos também a revisão do estatuto da Investigação e a facilitação da
transição e mobilidade entre actividades docentes e de investigação
públicas e privadas.
Defendemos que o desempenho dos Estabelecimentos do Ensino Superior
seja relevante para efeitos de financiamento. Assim, como norma, deve ser
considerada a avaliação dos critérios de excelência científicos, pedagógicos,
em comparação com Universidades de referência internacionais, e ainda a
empregabilidade dos estudantes quer da licenciatura quer do mestrado.
Para este e outros objectivos é necessário melhorar o sistema de informação
sobre a própria Universidade: a oferta educacional e respectiva avaliação, o
modo de funcionamento das Faculdades, a avaliação das Faculdades e da
Universidade, a caracterização socioeconómica da população estudantil, a
inserção profissional dos estudantes, o sistema de garantia da qualidade
devem ser conhecidos e actualizados.
V. Na era da globalização mostra-se imprescindível dinamizar a
competitividade internacional dos estabelecimentos de ensino e
investigação portugueses, incentivando a mobilidade e os intercâmbios quer
de professores quer de alunos. Importa, além disso, motivar as
universidades e os politécnicos para aumentar a sua força atractiva de
professores, investigadores e estudantes provenientes de outros países.
Trata-se não só de aumentar a oferta internacional de produtos e serviços
educativos, mas também de potenciar estudos e investigações de qualidade.
As parcerias com outras instituições congéneres internacionais devem ser
promovidas, inclusive na concepção e funcionamento de cursos leccionados
em conjunto por instituições portuguesas e estrangeiras (v.g., pós-
graduações anuais em que os estudantes frequentam num semestre uma
instituição portuguesa e noutro deslocam-se a uma instituição congénere
estrangeira, sucedendo o inverso com os estudantes dessa instituição).
Entendemos que o Estado deve promover generosamente a frequência de
programas do tipo Erasmus, reforçando as bolsas de modo a permitir que só
os alunos com melhores possibilidades financeiras os frequentem. Deve
também generalizar bolsas para os professores e investigadores poderem,
temporariamente, realizar períodos de estudo e de ensino no estrangeiro,
seja ou não em regime de intercâmbio. O contacto com professores e
investigadores estrangeiros, diversos modos de trabalhar e com culturas
institucionais diferentes é crucial para a qualificação e renovação da
Universidade.
Deve ainda ser uma preocupação central dar importância particular à
captação de estudantes estrangeiros, especialmente provenientes dos
PALOP, e bem assim apoiar activamente a realização de programas
universitários conjuntos com universidades em países de expressão
portuguesa. A dimensão do ensino superior deve estar presente de forma
reforçada na nossa cooperação para o desenvolvimento.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Adequação da oferta à procura no ensino superior, assegurando que os
alunos com classificação no mínimo de Bom possam inscrever-se no curso
para o qual se sentem vocacionados.
2. Incentivo a intercâmbio de alunos e professores através de reforço de
verbas para bolsas.
3. Fomento das parcerias entre Unidades Orgânicas nacionais e estrangeiras,
de forma a diversificar e internacionalizar a oferta.
4. Facilitação do intercâmbio e mobilidade de professores de diversas
instituições, nacionais e internacionais, nomeadamente através da
adopção da audição do candidato nos concursos públicos da carreira
docente.
5. Previsão de quadro fiscal atractivo no domínio da tributação de royalties
e serviços ligados à propriedade industrial.
6. Incentivos fiscais para as empresas que invistam em I&D.
7. Reforço da cooperação com os PALOP no domínio universitário.
HABITAÇÃO, CIDADES, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E
TRANSPORTES
CRÍTICAS
1. Redução da política de ordenamento ao programa POLIS
2. Ineficácia da lei do arrendamento urbano
3. Excesso de presença do Estado no sector dos transportes
O domínio de um “paradigma de esquerda” no ordenamento do território tem
tido como efeito que as políticas tenham sido até agora sistematicamente
concebidas numa base de desconfiança em relação aos privados, e muitas
vezes até com tiques de dirigismo estatal. A norma tem sido privilegiar uma
ideia de “bem geral” abstracta e “socializante”, que o CDS repudia e a que
contrapõe uma ideia democrata-cristã de “bem comum”. No ordenamento do
território tal é visível no programa Polis, que uniformiza todas as cidades,
desconsiderando a riqueza da diversidade de cada uma.
No domínio do arrendamento, três anos volvidos sobre a entrada em vigor da
nova lei, os resultados são exíguos, para não dizer nulos. O mercado não
arrancou, os centros urbanos das grandes cidades continuam despovoados e
em crescente deterioração.
RESPOSTAS
I. O CDS ambiciona um Portugal melhor, mais próspero e mais desenvolvido,
com maior qualidade de vida. O CDS compromete-se nessa ambição, elegendo
o ordenamento do território como uma preocupação e área de actuação
privilegiada do seu programa político. Não é possível falar de um
desenvolvimento pleno do país se as pessoas, individual e colectivamente, não
se sentem felizes e seguras nos vários quadros de vida em que se movem,
sejam os locais onde residem e trabalham, onde descansam e consomem, ou
simplesmente onde passeiam e convivem. O ordenamento do território, nas
suas relações com a paisagem e o ambiente, a habitação e os equipamentos,
tem essa função de proporcionar bem-estar. Pode ajudar depois a fortificar os
sentimentos identitários e de pertença a lugares e comunidades,
fundamentais para a valorização da vida cívica, para fomentar a co-
responsabilização das populações no bem comum, e para a coesão social. E,
finalmente, pode ajudar também à competitividade, uma vez que um
território ordenado é definitivamente um território mais atractivo para
investidores e para turistas.
O ordenamento do território é uma componente fundamental do
desenvolvimento sustentável do país, que o CDS entende como prioridade e vê
como um imperativo de solidariedade entre gerações. Solidariedade primeiro
que tudo com as gerações futuras, a quem nos deve ligar o compromisso de
deixar de herança um território bem gerido, dotado dos recursos necessários
para o seu próprio desenvolvimento. E solidariedade com as gerações
antecedentes, de quem herdámos um património precioso de valores naturais
e construídos que estamos eticamente obrigados não apenas a defender e
conservar, mas também a valorizar, o que pressupõe uma atitude corajosa e
pró-activa na construção de um ambiente de qualidade.
O CDS quer um Estado forte nas áreas de soberania, e o ordenamento do
território está nesse campo de responsabilidades. O CDS quer um Estado mais
competente a regular e a fiscalizar, e mais flexível e aberto na devolução de
competências às administrações locais, por respeito com o princípio da
subsidiariedade inscrito na sua matriz democrata-cristã. São estas orientações
que servirão de linha de rumo à política que o CDS se propõe seguir em
matéria de habitação, cidades e ordenamento do território. Para as
concretizar, o CDS não terá receio de propor e levar a cabo uma reforma
profunda de unificação e simplificação legislativa e administrativa,
imprescindível em face do quadro actual de excessiva pulverização das regras
e das decisões por entre diplomas e organismos, mas até hoje sempre adiada.
O CDS sabe que só com essa reforma será possível agilizar soluções, encurtar
tempos de espera nos licenciamentos, e garantir uma coordenação mais
efectiva das actuações públicas e privadas em matéria de ambiente e
território.
Consideramos que o Estado não antecede nem prevalece sobre as pessoas,
antes existe para lhes proporcionar, a todas e a cada uma (e não ao todo com
sacrifício das partes), condições de existência em plenitude e de
desenvolvimento frutuoso. Por isso o CDS tem afirmado que sem as pessoas
nada se faz e que é errado continuar a insistir num sistema através do qual
todas as restrições são admitidas sem qualquer compensação ou benefício. O
CDS sabe que o ordenamento do território só é possível mobilizando os
interesses e as energias de todos, público e privado, pessoas individuais e
empresas. Concretizar isso implica introduzir uma ruptura de paradigma nas
políticas que venha tornar claro que os sacrifícios são compensados e que
todos, individual e colectivamente, podemos tirar, e tiramos efectivamente,
vantagens de uma paisagem ordenada e de um ambiente saudável.
A visão que o CDS tem para o país passa por uma valorização inteligente e
criativa, e com sentido de modernidade, da geografia. O potencial de
inovação da sociedade portuguesa e das empresas dever ser canalizado, não
para uma imitação de modelos externos sem adequação àquilo de que somos
capazes ou que podemos fazer, mas numa lógica de valorização dos recursos
reais de que dispomos. O CDS acredita que Portugal tem à frente um futuro de
qualidade e competitivo, mas que para isso é preciso compreender que o
caminho consiste em dar valor acrescentado às qualidades e aptidões de que a
nação e o país — as pessoas e o território — dispõem. Daí a aposta que o CDS
faz no desenvolvimento do turismo, a atenção que dedica à valorização do
mundo rural, o destaque que se propõe conferir às florestas e à natureza, a
centralidade que coloca na redescoberta do mar como base de uma estratégia
nova de desenvolvimento nacional.
O CDS percebe que o ordenamento do território constitui um dado essencial
na construção desse futuro desejável e possível. Por isso, para o CDS, o
ordenamento do território não é algo que possa ser pensado autonomamente;
é um facto essencial de política, para ser entendido como complementar e
equacionado em relação com as várias políticas sectoriais, da política de
desenvolvimento rural à política de turismo, da política para a inovação e a
sociedade de informação à política de infra-estruturas e de obras públicas, da
política de família à política de saúde, da política de segurança e defesa à
política social, e vice-versa.
O CDS quer um país seguro. A segurança tem também que ver, e muito, com o
ordenamento do território. Portugal é um país de elevada susceptibilidade a
um grande número de riscos naturais, ambientais e tecnológicos, dos sismos
às cheias e inundações, dos movimentos de massa à erosão do litoral, dos
incêndios florestais à desertificação, à contaminação dos solos e à poluição
dos aquíferos. Contudo, paradoxalmente, este tem sido um dos domínios em
que a política de ordenamento do território tem sido mais omissa. É urgente
superar este estado de coisas. O CDS quer garantir às populações o direito à
segurança e a um ambiente de qualidade, e isso implica chamar também para
o centro da preocupação política a mitigação dos riscos, a protecção civil e o
planeamento de emergência.
II. Diante do exposto, o CDS elege cinco objectivos estratégicos como vectores
estruturantes da sua acção governativa no capítulo da habitação, das cidades
e do ordenamento do território: i) promover uma política de habitação que
dinamize o mercado de arrendamento como forma de fomentar a mobilidade
residencial, que diminua o endividamento das famílias e a dependência da
banca, que potencie a reabilitação urbana; que seja sensível à família; ii)
regenerar os bairros sociais e reinventar a solidariedade no acesso à
habitação; iii) regressar à cidade compacta e revitalizar os centros das
cidades, para bem da coesão social, das identidades locais e do ambiente; iv)
assumir e valorizar o policentrismo urbano como complemento da valorização
do mundo rural e dos espaços naturais, para bem do desenvolvimento
equilibrado do território nacional e da coesão das regiões; v) dar prioridade a
uma política de prevenção e mitigação de riscos naturais, ambientais e
tecnológicos, como garantia do direito das populações à segurança e a um
ambiente de qualidade.
No que se prende com o mercado de arrendamento urbano, manifestada a
incapacidade da lei actual para o dinamizar, importa fazer os ajustamentos
necessários a tornar o arrendamento atractivo quer para o senhorio quer para
o inquilino. O que significa que para os senhorios, ou potenciais senhorios,
tem de ser minimamente atractivo fazer obras e requalificar os imóveis e para
os inquilinos a renda tem de se situar substancialmente abaixo da prestação
financeira correspondente à compra de casa. Neste momento urge
desbloquear uma série de obstáculos que na lei actual têm impedido a
concretização destes objectivos. Importa também criar condições para que o
crescimento nos centros urbanos da oferta de habitações com tipologias mais
adequadas às necessidades das famílias.
Assim, propomos: i) dar prioridade à revisão do regime do despejo, tornando-
o mais célere, porquanto não é admissível uma delonga de mínima nove meses
e a habitual um a um ano e meio; ii) estabelecer um prazo razoável de
caducidade dos arrendamentos sujeitos ao novo regime do arrendamento
urbanos, fundamental para tornar atractiva a recuperação dos imóveis,
garantindo o apoio dos inquilinos em situações mais vulneráveis através de um
fundo; iii) relacionar o estado de conservação do imóvel com a renda exigível,
não sendo possível aumentar a renda em caso de má conservação do imóvel e
não sendo exigíveis obras desproporcionadas ao valor da renda; iv) aplicar as
regras gerais relativamente ao valor da acção para efeito de recurso; v)
estudar mecanismos que estimulem o aparecimento de uma oferta de
habitação mais diversificada e mais condizente com as necessidades das
famílias, nomeadamente através de incentivos nos custos de licenciamento de
projecto.
Os últimos decénios assistiram à formação de novas modalidades de espaço
urbano, mais distendidas, mais difusas, mais descontínuas, onde a
verticalidade cedeu lugar à horizontalidade. É difícil precisar onde começam e
acabam hoje as cidades. As periferias estendem-se cada vez mais longe e sob
formas cada vez mais arrevesadas. Ao mesmo tempo, como contraponto dessa
tendência, e por efeito justamente das mesmas forças centrífugas, os centros
das cidades esvaziaram-se de população e de actividades. As cidades
perderam centralidade e vitalidade.
Múltiplos factores concorreram neste sentido: razões económicas, que se
prendem com a deslocalização das actividades produtivas; razões
tecnológicas, como a motorização da população e a melhoria das
acessibilidades; razões sociais, como a fragmentação da família. Não é fácil
atacar a origem destas mudanças. Mas as consequências são nefastas e
devem, por isso, ser combatidas: significam gastos excessivos de tempo e
dinheiro em movimentos pendulares cada vez mais longos, consumos
desnecessários de combustíveis fósseis que agravam o défice energético
nacional e produzem emissões elevadas de dióxido de carbono, ocupação
desregulada do solo; e enquanto isso, para a cidade, representam novos
problemas relacionados com o despovoamento, o envelhecimento
demográfico, o desinvestimento no património edificado, nas infra-estruturas
e no espaço público — em suma, a desqualificação da vida urbana.
O diagnóstico está feito desde há muito. Académicos e técnicos conhecem
bem o problema e as populações sentem-no na pele. As soluções, porém,
tardam. Os governos PS inventaram o Polis, convencidos que com injecções de
capital e grandes intervenções festivas em frentes ribeirinhas ou em parques
urbanos conseguiam inverter a situação. Não conseguiram. O CDS reconhece
que intervenções qualificadoras do espaço público são importantes, mas sabe
também que não se pode resumir a isso uma política de cidade. É urgente
regressar à cidade compacta e revitalizar os centros das cidades, para bem da
coesão social, das identidades locais e do ambiente.
Regressar à cidade compacta, combater as tendências centrífugas e
dispersivas da urbanização contemporânea, valorizar o edificado e o espaço
público dos centros das cidades, tornando-os mais atractivos e apetecíveis
para gente e actividades, pressupõe coragem para proceder a inovações no
plano legislativo que o CDS não receia e que se compromete a fazer,
nomeadamente. Para além dos ajustamentos necessários ao nível do
arrendamento, importa, nomeadamente, repensar o financiamento das
autarquias, de molde a reduzir a dependência dos municípios das receitas
fiscais da construção e, com isso, reduzir a apetência para o licenciamento de
novas construções em detrimento da reconstrução e reforçar
significativamente os benefícios fiscais de quem investe na valorização do
património edificado dos centros das cidades e nelas se estabelece, de molde
a que as vantagens deixem de ser meramente simbólicas e possam funcionar
como um factor crítico na tomada de decisão dos privados.
III. Portugal é um país assimetricamente povoado. Os portugueses estão
concentrados em cidades e nas coroas urbanizadas que se lhes desenham em
redor. Mais de ¾ da população do país habita em áreas que o INE considera
urbanas. Depois, temos fortes contrastes também, reconhecidos desde há
muito, entre litoral e interior.
Portugal não está sozinho nesta tendência de ocupação assimétrica do
território. Muitos outros países desenvolvidos, como a Suiça e a Áustria, ou os
países escandinavos, possuem modelos de ocupação e organização do espaço
algo similares. A concentração da população é uma decorrência de tendências
históricas pesadas, que os últimos decénios, com a transferência do emprego
para os sectores secundário e terciário e o consequente êxodo rural,
acentuaram muitíssimo. Proceder à redistribuição da população, promovendo
campanhas de colonização interna como se chegou a fazer no passado, não
parece possível, e talvez também não fosse por si só solução que garantisse
um desenvolvimento equilibrado e harmonioso do território nacional. Por isso,
o que o CDS propõe é uma política que saiba tirar partido do modelo
territorial que está configurado, explorando as virtualidades que ele encerra
para bem do desenvolvimento do país e da coesão das regiões.
O interior do país, ainda que sofrendo os efeitos do despovoamento e do
envelhecimento demográfico, não é um deserto e não pode ser por isso
votado ao abandono a que normalmente se consagram as “terras de
ninguém”. Os centros urbanos têm sido focos de um certo dinamismo
demográfico e até económico. Essas energias têm de ser capturadas e
multiplicadas por intermédio de políticas eficazes de desenvolvimento
integrado do mundo rural. Valorizar a centralidade desses lugares, integrá-los
em redes, e ao mesmo tempo pô-los a funcionar mais articuladamente com os
espaços rurais em redor, que também devem ser objecto de um ordenamento
agrícola e florestal e de uma política activa de valorização dos seus recursos,
é crucial e pode ser a solução para o desenvolvimento rural.
Para o CDS é pois determinante assumir e valorizar o policentrismo urbano
como complemento da valorização do mundo rural e dos espaços naturais,
para bem do desenvolvimento equilibrado do território nacional e da coesão
das regiões.
IV. A ordenação do território passa necessariamente por uma política
estruturada e consistente de mobilidade. Rigorosamente, a definição da
política de transportes deverá considerar a Política de Ordenamento do
Território, a Política para a eficiência Energética, as políticas relativas às
Alterações Climáticas e ainda a Política Económica, Orçamental e Financeira
de Portugal, num quadro sustentável o ponto de vista ambiental, financeiro e
social.
O crescimento da mobilidade coloca problemas com custos económicos
elevados, ao nível da segurança, da energia e ambiente, e devem ser
enfrentados com realismo. Estes problemas resultam do aumento da taxa de
urbanização, do crescimento da indústria automóvel e da forma como as
cidades evoluíram a partir da segunda metade do Séc. XX, face à pressão
demográfica resultante do abandono dos campos, que conduziram ao
crescimento explosivo da taxa motorização e ao uso intensivo do automóvel,
com um aumento do número e extensão das viagens motorizadas realizadas
pelos cidadãos.
Nas últimas décadas, os transportes, foram planeados numa óptica individual
dos diferentes modos. Há que modificar urgentemente esta perspectiva,
criando condições de integração, racionalização e eficiência de todo o sistema
de mobilidade e logística, com a simultânea alteração profunda do quadro
legal de regulação e regulamentação dos transportes em geral.
Também neste domínio os privados deverão ser chamados a participar mais
intensamente na gestão e desenvolvimento dos transportes, substituindo-se, a
ideia generalizada, de reserva de sectores de actividade pela da transferência
de risco para aqueles que clara e livremente procuram oportunidades de
investimento rentável neste sector. Ao Estado deve competir o exercício dos
poderes reguladores e fiscalizadores de forma independente e autónoma. Esta
regulação deve ser, também. Exercida com o recurso a Contratos de
Concessão de Serviço Público e com respeito pelas obrigações deles
decorrentes. Na verdade, o Estado accionista, gestor, regulador e fiscalizador
é omnipresente no sector, o que não tem permitido um desenvolvimento
sustentável do sector, nem tem sido possível assegurar os Princípios de Bom
Governo e as Boas Práticas na quase totalidade das empresas e instituições
estatais que providenciam infra-estruturas e gerem oferta de transporte.
Defendemos assim: i) o descongestionamento do meio urbano e das regiões
suburbanas através de uma nova cultura de mobilidade nas regiões
metropolitanas, com transportes acessíveis e soluções colectivas menos
onerosas e da criação das Autoridades Metropolitanas de Transporte; ii) a
integração das estradas regionais e das antigas estradas nacionais
desclassificadas, na rede municipal, sob jurisdição das autarquias; iii) a
reavaliação de novos itinerários rodoviários principais e complementares; iv) a
melhoria das ligações urbanas aos itinerários principais e complementares
existentes; v) a justificação através da análise custo-benefício de todos os
investimentos superiores a 10 milhões de Euros, com introdução obrigatória
de todos os efeitos externos (externalidades) avaliados segundo os parâmetros
oficiais, aprovados pelo Governo e pelo Parlamento; vi) a resolução dos
problemas financeiros das empresas estatais, de modo a permitir a sua
municipalização e privatização em áreas com sustentabilidade económica; vii)
a inversão das actuais propostas políticas relativas ao sistema ferroviário com
prioridade para o transporte de mercadorias e ligações aos portos e
plataformas logísticas nacionais, incrementando a intermodalidade e
complementaridade na rede de transportes, com a necessária conclusão da
modernização das Linhas do Norte e da Beira Baixa; viii) a manutenção da
rede aeroportuária nacional, privatizando a gestora ANA, SA, incluindo os
aeroportos das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, embora nestes
casos com concessões e regulações específicas, de acordo com os interesses
socioeconómicos das respectivas Regiões; ix) a decisão sobre o novo Aeroporto
Internacional de Portugal fundamentada em critérios económicos posteriores
à privatização da ANA e que se subordinem ao interesse nacional; x) a
produção e regulamentação de uma nova Lei de Bases dos Sistemas de
Mobilidade e Transportes Terrestres; xi) a garantia do equilíbrio económico-
financeiro dos portos nacionais, de modo a aumentar a movimentação de
mercadorias e incentivando o acesso às rotas marítimas internacionais,
assumindo o desenvolvimento dos portos como um aspecto estratégico para o
país; xii) a aprovação de um novo quadro económico e financeiro para o Plano
Estratégico de Transportes, face à actual situação financeira e orçamental do
país; xiii) adoptar como princípio geral o do “utilizador-pagador” como regra
de tarifação das infra-estruturas de transportes, o que implica a abolição das
“SCUT” sempre que não estejam em causa superiores interesses sociais; xiv)
estudar a possibilidade de introduzir nas auto-estrada tarifas diferenciadas
consoante a faixa de rodagem; xv) no caso de nova travessia do Tejo,
defender prioritariamente a opção ferroviária, também destinada a reforçar a
capacidade de integração modal nas duas margens do Tejo.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Reforma profunda no sentido da unificação e simplificação legislativa e
administrativa.
2. Dinamização do mercado de arrendamento.
3. Facilitação do despejo.
4. Incentivo a tipologias habitacionais mais favoráveis à família.
5. Regresso à cidade compacta.
6. Criação das Autoridades Metropolitanas de Transporte.
7. Integração das estradas regionais e das antigas estradas nacionais
desclassificadas, na rede municipal, sob jurisdição das autarquias.
7. Abolição de algumas “SCUT”.
AGRICULTURA
CRÍTICAS
1. Desprezo completo pelo sector e hostilização permanente dos
agricultores.
2. Fracasso total na gestão, funcionamento, execução e estratégia do
PRODER.
3. Desorganização do Ministério e das suas capacidades.
4. Erros nas negociações comunitárias (por ex: desmantelamento das
quotas leiteiras).
5. Redução das medidas agro-ambientais e política de modulação
voluntária.
6. Aumento da dependência alimentar de Portugal.
A política agrícola, se entendida como política de apoio ao desenvolvimento,
não existiu nesta legislatura. O que existiu foi uma desastrosa perda de
oportunidades, um inconcebível desperdício de fundos comunitários. A
hostilização permanente das organizações agrícolas foi a par com a
destruição das capacidades técnicas instaladas no Ministério. O cumprimento
dos compromissos do Estado com os agricultores tornou-se num conceito não
fiável. Não sobrará, deste Governo, qualquer pensamento estratégico para o
mundo rural.
O permanente engano às mulheres e aos homens da terra, a perda inútil de
agricultores, uma deficiente assumpção de responsabilidades nas negociações
europeias e, já perante a evidência de que o sector estava em revolta, o
recurso à manipulação grosseira de dados, tornam o ocaso deste mandato
particularmente penoso para a agricultura.
Em poucos sectores se poderá dizer, tão cabal e demonstradamente, que é
preciso reconstruir quase tudo. A agricultura é, certamente, um desses
sectores.
Se pensarmos na importância da agricultura para o território, o povoamento,
o ordenamento, a economia e a ecologia, saberemos que o desafio vale a
pena. Recorde-se que, de acordo com a classificação da OCDE, as zonas rurais
ocupam 85% do território, e aí a agricultura ainda significa 10% do Produto e
15% do emprego.
RESPOSTAS
I A agricultura e a floresta portuguesas demonstram, maioritariamente, fraca
capacidade competitiva em resultado de baixas eficiências e produtividades,
insuficiente especialização e integração vertical e reduzida participação nos
processos comerciais. Impedimentos de ordem natural – clima e solos - e
constrangimentos estruturais ao nível da propriedade têm, entre outros,
dificultado a modernização do sector. Todos estes aspectos resultam no baixo
rendimento da maioria das famílias de agricultores, o que acarreta consigo
graves problemas de exclusão social, êxodo, desertificação humana e
envelhecimento da população do meio rural.
Os desequilíbrios regionais entre urbano e rural estão cada vez mais marcados
no seio do território português e o modo como se aplicou a PAC, nestes quatro
anos, não evitou o aumento destas assimetrias. De facto, a deficiente
regulamentação e adaptação à especificidade portuguesa, e uma pior
operacionalização, levam a que o balanço seja muito negativo.
O governo socialista tinha a obrigação de gerir e tomar medidas de
acompanhamento, de forma a garantir o sucesso da execução da reforma, da
Política Agrícola Comum.
Previam-se, à partida, impactos sobre os resultados económicos das
explorações agrícolas, e por isso era necessário fomentar as adaptações e
estruturações necessárias. Tornava-se urgente agir de forma determinada
para potenciar as oportunidades e reduzir ameaças. Era fundamental colocar
à disposição dos agricultores portugueses um Programa de Desenvolvimento
Rural que possibilitasse apoios ao investimento na modernização e
reestruturação das empresas, assim como proporcionasse o aproveitamento
dos apoios, que a PAC contempla, para o pagamento das externalidades
positivas que a actividade agrícola propicia e que por toda a Europa vão sendo
reconhecidas.
Nada, ou quase nada, foi feito. Foram quatro anos sem programas e sem
medidas. Perdeu-se a oportunidade de reconverter sistemas no sentido de
assegurar ganhos sustentáveis na competitividade económica e no rendimento
empresarial agrícola em Portugal.
Ao mesmo tempo, desapareceram um número muito elevado de pequenas e
médias explorações, sem qualquer previsão de enquadramento que o pudesse
impedir, suavizar ou, por exemplo, levar ao aumento da dimensão física das
que persistiram. A produção nacional piorou em termos da cobertura das
necessidades dos portugueses.
A agricultura passou por momentos complexos. Recordamos a seca de 2005, a
extinção da electricidade verde, o fim, unilateralmente decretado pelo
Ministério, das medidas agro ambientais, nas diversas negociações da PAC e
respectiva operacionalização em Portugal, a instauração da modulação
voluntária das ajudas do 1º Pilar da PAC. No ano de 2008, com os factores de
produção a atingirem preços muito altos, a crise económica, que prossegue
em 2009, acentuou uma queda dos preços dos produtos agrícolas, a um nível
que pode inviabilizar a esmagadora maioria dos sectores agro florestais.
O Ministério foi indiferente à crise. Mas hostilizou continuamente agricultores
e organizações procurando denegrir a sua imagem pública em vez de tentar,
com eles, construir estratégias para a ultrapassagem de situações tão difíceis.
Sinais e orientações tiveram quase sempre medidas de sinal contrário
passados poucos meses. Sectores como o do leite estão reiteradamente a
passar enormes dificuldades, alheando-se o Ministério de procurar um
compromisso – alcançado, por exemplo, na Galiza -, cumprir as medidas que
anuncia ou defender os nossos interesses em Bruxelas.
II. Ao mesmo tempo, o Ministro da Agricultura foi aceitando reduções
drásticas no PIDDAC e comprometeu o funcionamento do Ministério pela
instauração cega do PRACE, cujo resultado foi uma política de despedir, sem
qualquer lógica de reestruturação. Paralelamente, as diversas organizações de
produtores agrícolas e florestais, foram subestimadas nas suas potencialidades
em termos de transferência de funções e delegação de competências.
A reforma do Ministério deveria ter sido coordenada com as organizações, de
modo a evitar quebras e dificuldades no relacionamento entre a
administração central e os agricultores. Mas não há memória de tão reduzida
consulta ou trabalho conjunto.
A desmotivação é muito grande no mundo rural. Mas Portugal continua a ser
um país com uma dimensão rural relevante, quer pela ocupação territorial
que apresenta, quer pelo peso na economia, nomeadamente no emprego do
sector agro florestal.
III. Para o CDS, a agricultura não é nem deve ser considerada como um mero
sector económico. A dimensão territorial, o valor estratégico e a hoje muito
reconhecida multifuncionalidade constituem argumentos suficientemente
fortes para que assim seja.
Por outro lado, a disponibilização de verbas avultadas oriundas
fundamentalmente da PAC, necessita de contrapartida portuguesa. Essa
contrapartida exige que se aceite ser de interesse nacional maximizar a
aplicação dessas verbas.
No presente cenário económico, a agricultura e a floresta podem dar um
contributo enorme para o crescimento e a redução do endividamento. Para
dar efectiva execução aos fundos comunitários, é condição prévia estar
disponível para que a comparticipação nacional, via OE, se cumpra, ano após
ano. Por aqui se vê como o CDS está certo quando diz que a primeira
prioridade é o crescimento, pois gera investimento comunitário, privado e
público. Aqueles que considerarem que o défice está primeiro do que a
economia, obviamente vão “cortar” ou atrasar ainda mais a parcela do OE
para a execução dos fundos.
É indispensável, pois, que se considere e dignifique a agricultura, desde logo
na constituição do Governo. A agricultura é uma área estratégica para o
crescimento económico, e a situação do sector implica peso político dos novos
responsáveis.
IV.O CDS defende uma política agrícola e rural responsável que restabeleça a
confiança entre a Administração e os agricultores. O seu objectivo principal é
produzir mais e melhor viabilizar a actividade agrícola e florestal de modo
sustentável em todo o território e considerar os vários tipos de agricultura e a
nossa diversidade regional. Uma nova política agrícola pode evitar o abandono
dos campos, promover, em complementaridade com outras políticas, a
conservação e utilização sustentada de recursos naturais, o bom ordenamento
do território e a coesão económica e social. É condição de sucesso colocar os
agricultores portugueses em condições competitivas face aos demais
congéneres europeus.
Para assegurar o cumprimento destes objectivos na agricultura portuguesa é
indispensável o empenhamento do Ministério da Agricultura i) na dinamização
de estruturas empresariais bem dimensionadas, individuais ou colectivas, com
capacidade para inovar e empreender estratégias de longo prazo ii) acesso de
jovens ao empresariado agrícola, condição absolutamente fundamental para o
desenvolvimento deste programa, o que implica estabelecer um quadro
aliciante de medidas para o ingresso de jovens na população activa do sector
aproveitando integralmente o disposto na PAC, mas também integrando, ao
nível nacional, a política de ensino e formação, a política de emprego e a
política fiscal iii) na melhoria da promoção e notoriedade dos produtos
agrícolas portugueses e no fomento de um modelo em que a sua
comercialização seja tendencialmente bem sucedida, o que exige ganhar
dimensão na concentração da oferta e profissionalismo na negociação de
modo a melhorar o valor dos produtos junto da produção iv) na procura de
qualidade dos produtos e na estratégia de aumento do seu valor pela
penetração em segmentos de mercado mais remuneradores, sempre
acompanhada por modelos de certificação acreditados e apoiados em
laboratórios de qualidade reconhecidamente independentes v) no fomento do
mercado de terras para arrendamento vi) na utilização de incentivos fiscais às
empresas do sector agro-florestal, agro-indústrias e indústrias florestais, bem
como no domínio da comercialização de produtos agrícolas e de factores de
produção ou das energias renováveis para que se instalem em zonas rurais vii)
na contribuição do sector agro-florestal para reduzir a nossa dependência
energética e no antecipar de soluções técnicas para a mitigação e adaptação
às alterações climáticas viii) na dinamização do processo de licenciamento das
explorações pecuárias ix) na política de modernização de regadio privado e
público, tomando como prioridades o uso eficiente da água, a eficiência
energética e a reabilitação ao nível das infraestruturas e equipamentos x) na
criação de um único organismo eficaz de fiscalização e controlo das normas
vigentes no seio do mercado português, comunitário e mundial,
nomeadamente no que se refere às actividades de importação, armazenagem
e distribuição de produtos agrícolas xi) na agilização dos processos e
procedimentos em determinadas áreas de sobreposição de política agrícola e
ambiental, nomeadamente nos casos da água, da gestão de secas e de
escassez, da conservação da biodiversidade, do uso do solo, do ordenamento
do território, da qualidade do ar e alterações climáticas, dos resíduos, da
eficiência energética e, também, das fontes de energias renováveis.
O CDS estará alerta, no que foca à defesa dos produtos tradicionais
portugueses. Fazem parte da nossa cultura, tradição e gosto. É preciso
contrariar a tendência para regulamentar demais – em Bruxelas e Lisboa -, e é
urgente capacitar o Ministério para defender, a tempo e adequadamente,
esses produtos. Contrariamos os abusos da ASAE que, não raro, prejudicaram
muitas pessoas e se aproximaram duma inaceitável “política do gosto”.
Portugal tem ainda claras vantagens comparativas na produção de alguns
produtos agrícolas. O apoio a estes produtores deve ser privilegiado, no
sentido de ganharem escala e dimensão e de conseguirem aceder a mercados
externos.
V. É urgente proceder a uma revisão do PRODER, no sentido de concentrar o
esforço financeiro no imediato, aumentando as taxas de incentivo nas
situações prioritárias ou de maior fragilidade e alargando-o a outros
beneficiários, designadamente aos prestadores de serviços. Importa ainda
apoiar a gestão agrupada, desde que corresponda a um aumento de dimensão
e à concentração da produção.
Agrupar, concentrar e fundir, são conceitos importantes na estratégia a
privilegiar no tecido empresarial, pois são a única forma de reagir e constituir
interlocutores capazes face a uma agro-indústria ou indústria florestal muito
concentrada, a uma multinacional do comércio de matérias-primas agrícolas
ou a um sector da distribuição moderna cada vez mais concertado.
Ainda no âmbito da PAC, é determinante que o Estado transfira
atempadamente os pagamentos aos agricultores portugueses. É imperativo
ainda aligeirar a carga burocrática, e ultrapassar a incrível inoperância no
percurso de análise-decisão-contrato-validação-pagamento dos projectos e
medidas PRODER, de modo a que nunca mais as candidaturas venham a
exceder, em anos, o tempo previsto para a sua contratação, execução e
finalização. Um sistema de candidaturas permanentes, prazos tempestivos de
decisão e menos dirigismo estratégico é a opção que permite a recuperação
do tempo perdido no PRODER. E tem de se verificar, logo de início, o ponto de
situação na certificação, comunitária e nacional, do IFAP.
Em geral, é necessário que os postos-chave da decisão agrícola tenham
responsáveis que conheçam o sector e acreditem nele. Não se faz política
agrícola com uma tecnocracia ministerial pouco ou nada ligada ao mundo
rural.
VI. Reconhecido o valor económico e ambiental e a sua importância
territorial, queremos melhorar a gestão do património florestal português.
Também aqui, decorreram quatro anos de inoperância em que pouco se fez e
tudo se confundiu, tendo inevitavelmente como resultante um balanço muito
negativo.
A aposta na Politica Florestal que advogamos centra-se na dinamização das
ZIF, na operacionalização e melhoria do funcionamento das estruturas
associativas e na execução de medidas de política florestal e fiscal tendentes
a avançar na resolução do problema da reduzida dimensão e constante
fragmentação da propriedade florestal.
A floresta mediterrânica de uso múltiplo, nomeadamente, os montados de
sobro e azinho e as consociações em que ocorrem, representam mais de 30%
da área florestal em Portugal. São reconhecidamente um dos expoentes do
elevado valor natural que os espaços agro-florestais desempenham e que
hoje, por consenso da sociedade, importa sustentar. Esta prioridade deve ser
assumida ao nível europeu e consubstanciada em medidas de política agrícola
e florestal compreendidas naquilo que vier a ser a PAC de 2013. Portugal deve
lutar por esse desiderato.
No domínio florestal devem sobressair, na actuação do Ministério da
Agricultura, as preocupações com a erradicação do nemátodo do pinheiro e a
promoção e valorização dos produtos da cortiça, tão negativamente afectados
na conjuntura actual, bem com, a manutenção deste importante sector da
indústria florestal.
VII. No domínio da investigação e do desenvolvimento experimental, as
prioridades são as necessidades concretas dos agricultores portugueses.
Reconhece-se o papel determinante das instituições na inovação, ganhos de
eficiência e melhoria da produtividade dos sistemas. Mas articular a
investigação agrária do Ministério com a actividade de Universidades e
Politécnicos que mais se dedicam ao sector é tarefa obrigatória, num quadro
de recursos que é escasso. Também neste contexto deve estar presente a
estrutura associativa da agricultura como membro de pleno direito de um
Conselho Superior que aprove regras e hierarquize por ordem de necessidades
os programas de actividades destas instituições.
VIII. O Ministério da Agricultura deve ser reformado. Deve reservar para si o
papel de cúpula do sector, concebendo políticas, planeando estratégias,
disciplinando, controlando e supervisionando procedimentos. Mas precisa de
delegar funções e transferir para associações de agricultores,
comprovadamente representativas e com capacidade técnica, que no terreno
têm um contacto mais fácil e directo com os agricultores, parte da gestão e
execução dos programas de política agrícola.
O funcionamento do modelo passa, também, pela consulta obrigatória e pela
possibilidade de acompanhamento da execução das medidas pelas
organizações da lavoura. Significativamente regionalizado, mas sempre com
competências claramente atribuídas e com funcionamento integrado e
coordenado, assim deve ser o novo Ministério da Agricultura.
O seu primeiro desafio – pagar as dívidas aos agricultores – implica que o clima
de conflitualidade e desmotivação cessem, encontrando-se um novo espírito
de serviço e procurando, passo a passo, recuperar capacidades técnicas que
foram destruídas.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Pagamento das dívidas do Estado aos agricultores.
2. Pôr o PRODER a funcionar: simplificar as candidaturas, obrigar a
decisões dentro dos prazos, alargar o leque de beneficiários, evitar o
dirigismo.
3. Compromisso de investir a parcela nacional (via OE) que viabiliza a
aplicação dos fundos comunitários.
4. Fim da modulação voluntária, para repor a competitividade agrícola
com os outros países da EU.
5. Prioridade à modernização das empresas agrícolas; ao acesso de novos
agricultores ao sistema; às empresas agro-florestais, agro-industriais e
às industrias florestais.
6. Carácter estratégico de agricultura na recuperação económica.
7. Nova equipa ministerial com peso político. Decisores técnicos que
acreditem na agricultura e conheçam o sector.
8. Organismo único de fiscalização e controlo das normas de mercado
comunitárias e nacionais, em especial nas actividades de importação,
armazenagem e distribuição.
9. Defesa acérrima dos produtos tradicionais portugueses. Evitar os abusos
da ASAE e qualificar o Ministério para agir atempadamente na defesa
desses produtos.
10. Gestão concertada do sector, optando pelo princípio da subsidariedade,
delegando competências e responsabilidades nas organizações
agrícolas.
11. Articular a investigação agrária do Ministério com a das Universidades e
Politécnicos.
12. Plano de emergência para o sector do leite.
13. Posição muito mais exigente quanto ao respeito – e à fiscalização – das
normas de concorrência.
EDUCAÇÃO
CRÍTICAS
1. Facilitismo na consideração nos deveres dos alunos.
2. Desautorização do professor.
3. Estatuto da carreira docente injusto.
4. Redução do problema da educação à avaliação dos professores e arrogância
em todo o processo.
O actual primeiro-ministro não é avaliável sem a sua Ministra de Educação,
que sempre se recusou a substituir (embora anuncie informalmente a sua não
recondução, caso vencesse as eleições). Precisamente porque ambos
significam um estilo – a arrogância - deram testemunho de uma incapacidade
marcante de perceber os erros a tempo.
A Educação foi transformada no laboratório de ensaio das demonstrações de
força de um poder absoluto. O maior erro cometido foi a perseguição da
imagem e a diminuição de autoridade dos professores como um todo e
enquanto classe, uma classe, tentando “virar” o país contra os docentes.
A outra linha de força da política educativa foi a tentação de obter sucesso
estatístico a todo o custo, diminuindo os critérios objectivos, legais e
regulamentares de exigência na avaliação dos alunos. Um país onde o
desemprego jovem atinge os 20% não pode satisfazer-se com as ilusões do
facilitismo.
RESPOSTAS
I. A educação, em Portugal, passou por momentos de enorme conflitualidade.
Os resultados práticos de uma política de confronto estão infelizmente à
vista. A paz que seria necessária nas escolas tem faltado. A autoridade dos
professores acabou por ser, de uma forma gratuita, posta em causa. Os pais
demonstram, de forma constante, preocupação pelo futuro da formação dos
seus filhos. São sistemáticos os problemas, desde a carreira docente, às
condições das escolas, ou ao grau de facilidade dos exames. Tudo se vai
repetindo sem grande inovação todos os anos lectivos.
Infelizmente os estudos internacionais independentes não registam grandes
evoluções nos graus de literacia em matérias tão relevantes como a Língua
Portuguesa, Matemática e Ciências. A preocupação com os alunos é cada vez
menos sentida em políticas que não assumem o lugar central da educação. Os
documentos legislativos relativos ao Estatuto do Aluno, Estatuto da Carreira
Docente, e Sistema de Avaliação dos Professores, tiveram polémica a mais e
resultados a menos.
II. Para o CDS é evidente o excesso de peso do Ministério da Educação, a
acção asfixiante do Estado, a falta de uma cultura de responsabilidade e de
exigência, a ausência de liberdade de escolha para as famílias e a exiguidade
da autonomia. Tudo isto tem de ser alterado. Para o efeito, é necessária a
vontade reformista de terminar com o excessivo peso da “5 de Outubro”. A
vontade de controlo ideológico sobre a área da educação chegou, nos últimos
quatro anos, a níveis inéditos.
Infelizmente, ainda hoje, a liberdade de aprender e de ensinar que
defendemos está esquecida devido a um conjunto de preconceitos que a
esquerda não consegue ultrapassar. Felizmente, à direita, existe um partido
que assume dentro do seu caderno de encargos, uma politica de educação em
que a liberdade de escolha, entre as escolas do Estado e entre estas e as
particulares e cooperativas não é escamoteada.
Assim, pretendemos que sejam aplicadas, nos próximos quatro anos, em
Portugal, um conjunto coerente de propostas, enquadradas em sete linhas
essenciais i) reforçar a autonomia das escolas ii) avançar, progressivamente,
para uma maior liberdade de escolha em famílias em relação à escola que
querem para os seus filhos iii) instituir um sistema de avaliação geral e justo
na educação iv) concretizar um estatuto da carreira docente motivador v)
apostar na vertente pedagógica dos vários ciclos de ensino vi) reforçar a
exigência, o rigor e a qualidade do ensino vii) modernizar os currículos e os
ciclos de escolaridade.
III. O CDS propõe o reforço da autonomia das escolas após ter apresentado e
discutido, no Parlamento, o primeiro projecto completo para a liberdade de
escolha e autonomia das escolas. O CDS não se resigna perante escolas que
não têm a autonomia necessária para determinar o seu caminho no plano
pedagógico e administrativo. Assim, entre as medidas prioritárias para a nossa
Educação defendemos a necessidade de assinar mais contratos de autonomia
e acompanhar - com o necessário reforço orçamental - a actividade das
escolas que se encontram sob contrato de associação.
Consideramos que as escolas devem possuir autonomia para determinar -
dentro de um quadro comum - a sua oferta pedagógica, a sua política de
contratação de professores, a gestão do seu espaço e a ligação ao ambiente
empresarial e social em que se inserem. Tudo com a liderança de um Director
de Escola e de um conjunto de órgãos com estrutura simplificada, aberto à
sociedade, valorizando o papel dos pais e co-responsabilizando a comunidade,
e com competências bem definidas.
O Director da Escola deve ser professor. Garante, após formação própria e
especializada, a gestão profissional dos vários recursos existentes na escola.
Por essa via as escolas serão dotadas não só de maior autonomia, como
também de crescente responsabilização.
A oferta pedagógica das escolas deve, dentro de certos limites, ser flexível.
Só assim, se poderá adaptar o sistema de ensino aos dias de hoje e conseguir
a necessária ligação entre a escola e o mundo profissional de cada
comunidade em concreto. Mais do que impor a escolaridade, importa que esta
esteja adaptada ao emprego. Só desta forma será verdadeiramente atractiva
e eficaz. É este o grande desafio dos dias de hoje para o qual o CDS propõe
soluções.
Reafirmamos que a autonomia é condição da identidade de cada escola. E é
entre essas identidades que a família deve poder escolher.
IV. Defendemos que, de forma gradual, deve ser dada às famílias liberdade de
escolha das escolas frequentadas pelos seus filhos. Para esse efeito, deve
surgir a ideia de serviço público de educação baseado na qualidade. O CDS
não se resigna a uma falsa distinção entre educação pública e privada baseada
no proprietário da escola. Se a escola é propriedade do Estado, de privados ou
de cooperativas, o interessa às famílias é o serviço educativo que prestam.
Estas devem poder escolher a escola dos seus filhos - estabelecido que esteja
o necessário enquadramento financeiro - de acordo com o projecto
pedagógico que é apresentado. A escolha deve ser livre e depender do juízo
que se faça sobre o modelo de escola apresentado e desenvolvido. Esta
liberdade não pode estar limitada, como hoje sucede, àqueles que mais
posses têm ou, no caso do ensino do Estado, à alternativa entre a casa de
morada da família ou do emprego dos pais. A escolha pode ter como aspecto
essencial, entre outros factores, o ensino mais especializado de uma
determinada disciplina, a sua adequação ao destino profissional do aluno, as
práticas pedagógicas e disciplinares do estabelecimento, os métodos de
ensino, a importância dada à preparação física e ao desporto ou às artes, os
resultados que se conseguem naquela escola. Ou seja, a escolha é uma
preferência efectivados pais, tal como a autoridade, na escola, é dos
professores.
A liberdade de escolha corresponde à maior alteração que se pode instituir na
Educação em Portugal, terminando com a ideia de um Ministério da Educação
que tudo domina e determina. O seu papel deve definitivamente passar a ser
menos relevante. Defendemos um método gradualista, com um primeiro passo
de experimentação a nível regional.
Primária será a ideia de qualidade e de informação transparente com base em
critérios claros e objectivos. Deste modo, deve existir um sistema de
avaliação das escolas que tenha como ponto central a vertente pedagógica.
V. Defendemos um sistema geral de avaliação na Educação que abarque as
políticas educativas, as escolas, os alunos, os manuais, os programas e os
professores.
A avaliação das escolas deve ser universalizada e tornar-se uma prática
regular. Só assim será possível avançar com as mudanças necessárias. A
avaliação deve ter critérios objectivos e conhecidos, atender às realidades
sociais subjacentes e premiar o esforço que se faz no dia-a-dia das escolas.
A política de exames deve - como objectivo a prazo – visar o princípio da sua
realização no final de cada ciclo. Para esse efeito, a sua introdução deve ser
feita, de modo gradual, no 4.º, 6.º e 9.º ano de escolaridade.
Os alunos devem ser avaliados de uma forma sistemática, regular, e exigente.
Será esse um dos melhores serviços que podermos prestar. Parecem, então
evidente, que se devem retirar os exames da polémica, defendendo para esse
efeito o CDS que a produção destes deve ser realizada por uma instituição
autónoma ao Ministério da Educação, utilizando o sistema dos “bancos de
perguntas” que vão sendo testados ano após ano, com a colaboração das
sociedades científicas e profissionais.
Os programas também devem ser alvo de avaliação. É inaceitável a
manutenção de uma situação em que não se avalia o que é ensinado nas
nossas salas de aula. O sistema tem muita discussão orgânica mas pouca de
conteúdos. Para este efeito devem ser constituídas comissões em que tenham
assento obrigatório as sociedades científicas e profissionais, bem como
personalidades de reconhecida competência na área científico-pedagógica
que esteja em causa.
Em relação aos manuais escolares, é urgente acompanhar a execução da lei
que regulamenta esta matéria. Se necessário, deve caminhar-se para
alterações que lhe venham a dar maior praticabilidade, transparência e
eficiência.
Por fim, o CDS defende o princípio da avaliação dos professores e entende que
é necessário defender o seu prestígio social. Criticámos de forma frontal uma
política persecutória, que quis pôr em causa a autoridade e o brio profissional
dos professores. Sempre defendemos que as escolas precisam de paz e os
professores de ver a sua autoridade defendida. Quem convive todos os dias
com os alunos não são os políticos do Ministério da Educação, são os
professores. Confundir deliberadamente tudo – por exemplo, a progressão dos
professores na carreira e as notas que dão aos alunos; ou o mau desempenho
de alguns, com a imagem de toda uma classe que é essencial ao futuro do país
-, foi um erro político voluntário e forçado.
A avaliação dos docentes deve ter por base o mérito e a qualidade, e ser
centrada nas vertentes científica e pedagógica. Não pode ser burocrática nem
interferir com a avaliação dos alunos. Terá de ser feita sem prejudicar o ano
escolar, reclama uma base hierárquica, não se confunde com “avaliações”
sem competências específicas e precisa de um sistema de arbitragem.
Lançámos como ponto de partida o modelo que actualmente é aplicado no
ensino particular e cooperativo, subscrito por consenso e que se tem revelado
eficaz. Se modelos alternativos tivessem sido estudados a tempo, esta
questão estaria já resolvida e não faria parte dos programas eleitorais.
Isso não sucede por teimosia do Governo e do PS. O CDS não aceita a
manutenção de erros evidentes. O que pretendemos é o prémio para quem
manifeste bons desempenhos, e a ligação entre a avaliação e a necessária
formação contínua para o bom desempenho das funções docentes.
VI. É urgente concretizar um Estatuto da Carreira Docente que seja
motivador, atenda à possibilidade de percursos diferenciados voluntários e
seja adequado à realidade das nossas escolas.
Um dos muitos erros que foi cometido pelo Ministério da Educação foi o da
divisão da carreira docente entre professores e professores titulares, sem que
haja critérios compreensíveis para o efeito. Os efeitos práticos ainda hoje são
sentidos de forma muito negativa nas nossas escolas.
O CDS entende que se deve caminhar para uma carreira docente em que se
considere o trabalho desenvolvido ao longo de toda a carreira, que se
desenvolva em estrutura única, mas que permita, por opção do professor, um
percurso diferenciado em função de responsabilidades de direcção e de
natureza administrativa, tendo em conta a necessária formação especializada
para o exercício das mesmas. Também aqui, a nossa proposta está publicada.
VII. É prioritário apostar na vertente pedagógica dos vários ciclos de ensino: a
preocupação com as salas de aula tem de ser a primeira de qualquer política
de educação.
No ensino pré-escolar defendemos a clarificação dos conteúdos
programáticos, de modo a tornar este nível numa verdadeira preparação para
o ensino primário. Defendemos ainda que se avance rapidamente no sentido
de tornar a oferta educativa universal a partir dos três anos de idade.
No primeiro ciclo do ensino básico, para além da necessária aposta na
formação dos professores com especialização em Língua Portuguesa e
Matemática, devem ser criadas as efectivas condições para o necessário
ensino da Música e das Ciências no plano experimental. A possibilidade de
criação de equipas pluridisciplinares e de horários neste ciclo também devem
constituir prioridades.
No segundo e terceiro ciclo do ensino básico, é necessário reorganizar o
currículo e programas – que têm uma carga horária excessiva e manuais
escolares em abundância – e centrar a carga horária no ensino da Língua
Portuguesa, Matemática, Inglês, Ciências, História, Educação Física e Música.
Dentro desta possibilidade, deve ser considerado o desdobramento das aulas
de Português e Matemática em teórico-práticas e práticas. O ensino destas
duas disciplinas no ensino básico deve utilizar a memorização e a mecanização
como elementos fundamentais na aprendizagem, tendo em conta a
importância da compreensão da mecânica das relações e o contexto dos
problemas.
Já em relação ao ensino secundário, é necessário prosseguir o
acompanhamento da reforma e reforçar os cursos profissionais, estabelecendo
uma rede articulada do ensino profissional, com um conjunto de protocolos,
nomeadamente com o sector empresarial, que potenciem o seu
desenvolvimento. A aposta deve ser nos cursos com saída profissional e
inserção no mercado de trabalho, devendo ser as próprias entidades
empregadoras a colaborar na definição dessas necessidades.
VIII. Importa ainda adoptar um conjunto de medidas que visem melhorar o
dia-a-dia nas nossas escolas. Entre estas cumpre destacar i) a reforma do
Estatuto do Aluno, determinando soluções que correspondam a uma cultura
de dever, rigor, da disciplina e esforço ii) não é aceitável a tentativa de
“passar” à força os alunos, independentemente da assiduidade iii)
responsabilização dos encarregados de educação pelo cumprimento da
escolaridade obrigatória e pelos actos dos seus filhos em relação à escola iv)
adequar a formação profissional dos professores às suas necessidades de
natureza docente v) intensificar o relacionamento com o Ministério da
Cultura, de forma a perspectivar a possibilidade de intervenções escolares,
em matérias de natureza cultural vi) criar aulas de língua portuguesa para
estrangeiros e defesa da relevância do ensino do português no estrangeiro vii)
promover a adesão dos jovens o desporto escolar, utilizando-o como
instrumento de criação de hábitos de vida saudáveis viii) desenvolvimento do
ensino especial, recuperando as equipas de coordenação dos apoios
educativos/educação especial, multidisciplinares, formadas com técnicos com
formação específica para actuar nesta área ix) alargamento a todo o território
da cobertura de oferta pré-escolar a partir dos 3 anos.
IX. Por fim, entendemos que o que é ensinado nas nossas escolas deve estar
intimamente relacionado com os novos tempos e pensado de forma a
desenvolver a imaginação e a criatividade que, no futuro, permitirão
enfrentar desafios e um mundo seguramente diferente.
Defendemos, assim, a modernização dos currículos e dos ciclos de
escolaridade. Por essa via, os programas devem ser reanalisados de acordo
com as novas necessidades. Por outra via, a divisão dos ciclos de escolaridade
em Portugal é excessivamente compartimentada. A normalidade nos Estados
da União Europeia passa pela divisão entre ensino primário e secundário. Com
esta divisão, o estabelecimento dos percursos escolares ficaria mais claro e
mais homogéneo. O debate na educação também passa por esta proposta.
CADERNO DE ENCARGOS EDUCAÇÃO
1. Reforço da autonomia das escolas e dos contratos de autonomia.
2. Alargamento do conceito de autonomia das áreas pedagógicas, de
contratação de professores, gestão de espaços e património e ligação à
comunidade, nomeadamente às empresas, dentro de balizas gerais
comuns.
3. Avaliação objectiva das escolas, dos programas e dos manuais.
4. Avaliação dos professores inspirada no modelo em vigor no Ensino
Particular e Cooperativo.
5. Revisão do Estatuto da Carreira Docente, com base na proposta por nós
já apresentada, terminando com a distinção injusta entre professores e
professores titulares.
6. Introdução gradual de exames no final de cada ciclo escolar.
7. Revisão do Estatuto do Aluno baseada numa cultura de assiduidade,
disciplina e esforço e mérito.
8. Objectivação, transparência e rigor no sistema de produção dos exames
nacionais, que deve basear-se no sistema de “banco de perguntas”,
testado com a colaboração das sociedades científicas e profissionais.
9. Aposta nos percursos diferenciados no ensino secundário e na ligação às
necessidades do mercado.
10. Alargamento de cobertura de oferta pré-escolar a partir dos 3 anos.
DEFESA NACIONAL E ANTIGOS COMBATENTES
CRÍTICAS
1. Carácter híbrido da reforma da estrutura superior das FA.
2. Retrocessos nos Antigos Combatentes e nos Deficientes das FA.
3. Instabilidade na Lei de Programação Militar.
A Defesa Nacional faz parte do elenco clássico das políticas públicas que
implicam um consenso de Estado nas suas opções estruturantes. A
responsabilidade essencial deste consenso passa pelos Partidos que assumem
a opção estratégica pelo Atlântico e a participação de Portugal na NATO.
Ao longo da legislatura, o CDS ofereceu sempre disponibilidade para esse
consenso. No entanto, assinalamos como notas de maior preocupação quatro
áreas: o nítido retrocesso nos direitos e reconhecimento dos Antigos
Combatentes e Deficientes das Forças Armadas; o regresso de algumas
empresas, directa ou indirectamente ligadas a indústrias militares, a uma
situação financeira deplorável; e o carácter híbrido, potencialmente
conflitual, da reforma da estrutura superior das FA. Chamamos ainda a
atenção para o custo prazo – nomeadamente em cenário de crescimento
económico – dos recuos nos incentivos que constituem âncoras de uma
profissionalização bem sucedida das FA.
RESPOSTAS
I. A Defesa Nacional constitui uma das prioridades fundamentais do Estado e
deverá ser vista e assumida na sua forma multi-dimensional e tendo em conta
as ameaças resultantes das mudanças geopolíticas do mundo actual.
Neste contexto, a política de Defesa Nacional passa por um modelo adequado
de serviço militar, pela reestruturação e reequipamento das Forças Armadas,
pelo reforço das componentes extra-militares da Defesa (por ex: defesa da
costa contra infiltração de droga e imigração clandestina, protecção das águas
nacionais), pela eficácia dos serviços de inteligência e por uma recuperação
do prestígio, e consideração a que tem direito, em qualquer Estado
democrático moderno, a instituição militar.
O modelo de serviço militar continuará a passar por uma componente
profissionalizada que integrará o efectivo permanente dos três ramos das
Forças Armadas. Assim, merece especial relevo o capital humano sem o qual
nenhuma instituição terá possibilidade de se desenvolver e levar à prática a
sua missão.
A profissionalização é, por isso, o mais forte desafio de modernização das FA.
O facto de vivermos uma conjuntura difícil, em termos económicos, tem
permitido que a instituição seja criadora líquida de emprego, mas não deve
iludir-nos quanto às dificuldades de recrutamento que podem existir em fase
de crescimento.
Torna-se, pois, fundamental criar as condições para responder às necessidade
de todos quantos desejam abraçar a profissão militar, para os que nela
desempenham funções e para aqueles que, tendo servido a instituição
deverão, como tal, ter o justo e devido reconhecimento. Como tal, a aposta
na renovação da imagem da Defesa perante a sociedade civil e a consciência
de que hoje ela compete no mercado de trabalho são factores fundamentais
de sucesso. Tal como são a necessidade de saber atrair os jovens, ter
capacidade para os manter nas FA e prepará-los para um futuro que lhes
permita uma reintegração na sociedade civil.
O primeiro desafio que hoje se coloca à Defesa passa assim pela aposta nos
recursos humanos, inseridos em quadros permanentes ou vinculados a regimes
contratuais, cujas qualificações e formação permitem uma resposta eficaz e
adequada aos crescentes desafios que se avizinham, os quais envolvem uma
modernização do próprio conceito de Segurança e Defesa no séc. XXI.
Acresce que a participação activa em alianças de defesa colectiva, em forças
multinacionais de manutenção da paz e segurança, a prevenção e resolução
de crises que afectem quer os interesses nacionais, quer a estabilidade
internacional, e a cooperação com os Países de Língua Oficial Portuguesa, são
outros tantos desafios a que só é possível responder com recursos humanos
motivados e competentes.
O conceito de “menos forças, melhores forças” exige como condição que o
elemento humano possa fazer mais e melhor, com menor número de
efectivos, o que, por seu turno, exige também o acesso a multiplicadores de
potencial de combate e novas capacidades. A principal preocupação do CDS
vai assim para o capital humano das FA, capaz de oferecer, manter e
sustentar novos equipamentos, a par de uma organização modular e flexível,
adequada aos novos requisitos de empenhamento operacional conjunto e
combinado.
Deste modo, o CDS considera essencial dar sustentabilidade à
profissionalização das FA. Isso implica, prioritariamente: corrigir perdas
importantes no sistema de incentivos para quem queira fazer um contrato
com as FA; prever um regime contratual de duração prolongada; potenciar o
serviço militar voluntário como factor de empregabilidade e valorização de
competências. Por outro lado, o sistema de carreiras militares deve seguir
princípios de gestão planeada, privilegiando o mérito no desempenho
funcional. A revisão dos curricula de formação militar, consoante as
necessidades das missões e em coerência com as carreiras, é outro objectivo
importante. Acrescentamos, ainda, o incremento da empregabilidade dos
militares não permanentes.
II Questão não menos importante é aquela que se refere aos Antigos
Combatentes e aos Deficientes das Forças Armadas. É um compromisso
completar o processo de reconhecimento dos Antigos Combatentes, universo
de Portugueses a quem o país deve prestar uma gratidão que o actual
Governo, infelizmente, diminuiu.
Tão importante como isso é saber dar um passo em frente nas questões que se
prendem com a saúde dos Antigos Combatentes, nomeadamente no âmbito do
“stress de guerra” e da reabilitação dos que ficaram incapacitados. Enfim, é
compromisso do CDS restabelecer direitos sociais dos Deficientes das Forças
Armadas que, inexplicavelmente, foram cortados, encarando com outra
dignidade este sector da nossa população. E dar mais ênfase a programas de
recuperação e dignificação dos cemitérios de militares Portugueses nos países
onde houve teatro de guerra.
III Para a valorização das Forças Armadas é também relevante a estabilidade e
o bom progresso dos programas de reequipamento. Nesta matéria é um sinal
preocupante o adiamento da revisão ordinária da Lei de Programação Militar.
Estando feitas as opções principais, face ao carácter obsoleto de muitos dos
materiais das FA, a questão está em executar positivamente os programas.
Até pela sua absoluta prioridade para as missões, a nossa preocupação é
recuperar o atraso nos NPO e NCP – Navios de Patrulha Oceânica e Navios de
Combate à Poluição - e ultrapassar as indefinições quanto ao Navio
Polivalente Logístico. Também nos preocupam os atrasos na modernização dos
actuais C-130, na substituição dos antigos Allouette, programa conjugado com
os helis ligeiros do Exército: estes atrasos ameaçam ter consequências
operacionais. A querela judicial permanente em torno da arma ligeira tem de
ser ultrapassada. Todos estes programas, note-se, estão previstos e
cabimentados na actual LPM.
IV Uma visão moderna da segurança, à luz de um conceito mais vasto de
segurança humana, implica que as Forças Armadas podem e devem participar
mais missões, nomeadamente de interesse público, tal como apontam os
actuais Conceitos Estratégicos. Estaremos disponíveis para uma clarificação
dos dispositivos constitucionais nesta matéria, tendo em conta que a próxima
legislatura é de revisão constitucional.
No plano internacional, é relevante uma actuação com base no conceito de
segurança cooperativa. Coerentemente, deve reforçar-se o pragmatismo, a
eficiência e a responsabilidade pública na aquisição, uso e manutenção de
equipamentos, conjugando as componentes de defesa (defense), segurança
(security) e protecção (safety). Esta visão contemporânea da Defesa deve ter
reflexo na doutrina e no ensino militar, potenciando o que é conjunto.
V O CDS partilha o entendimento segundo o qual Portugal pode ter ambições
selectivas nas indústrias de defesa, geradoras de emprego, tecnologia e
riqueza nacional. Mas isso implica visão estratégica e uma aposta integrada
nas indústrias em que podemos crescer, procurando, quando for o caso,
parcerias internacionais credíveis.
Contra a visão “departamental” desta matéria, a experiência de casos como
as OGMA e os Estaleiros de Viana do Castelo prova que há sinergias entre
indústrias e investimentos civis e militares. Coerente com o contributo que
deu neste sector, o CDS tudo fará para ampliar as possibilidades de Portugal
em mercados como a manutenção e fabrico aeronáutico, construção naval e
tecnologias de comunicação.
Tal como sucedeu nos países que conseguiram modernizar com êxito as
respectivas FA, o CDS considera relevante o desenvolvimento do Sistema
Integrado de Gestão da Defesa Nacional, a autonomização de uma Agência de
Património da Defesa para, mediante directrizes claras, rentabilizar o caso
especial dos activos patrimoniais das FA – condição de sustentabilidade de
outras políticas no sector. A política de contrapartidas carece de uma
direcção clara, profissionalização dos seus agentes e divulgação, pública e
periódica, dos seus resultados.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Prioridade aos recursos humanos da Defesa Nacional.
2. Tomar medidas para sustentar a profissionalização das FA e evitar
rupturas no recrutamento em cenário de crescimento.
3. Retomar uma política de reconhecimento dos Antigos Combatentes.
4. Compromisso com os direitos sociais dos Deficientes das FA.
5. Melhorar sensivelmente a resposta do sistema em caso de “stress de
guerra” e reabilitação.
6. Clarificação constitucional dos conceitos de segurança e defesa.
7. Maior empenhamento das FA em missões de interesse público.
8. Ambição industrial em sectores como manutenção e fabrico
aeronáutico, construção naval e tecnologias de comunicação.
9. Gestão autónoma do património da Defesa.
10. Profissionalização das contrapartidas e divulgação pública e periódica
dos seus resultados.
POLÍTICAS DO MAR
CRÍTICAS
1. Ausência de uma visão estratégica para as políticas do mar.
2. Desaproveitamento do sector portuário como factor de riqueza
nacional.
3. Perda de poder e direitos do nosso país no sector das pescas.
4. Regresso dos ENVC a uma situação financeira deplorável.
O governo socialista, durante os últimos anos, desperdiçou grande parte das
oportunidades relacionadas com o mar. Começando por não olhar para o mar
como um tema agregador, motivador e dinamizador do nosso
desenvolvimento e riqueza, a ausência de uma visão global estratégica deu
lugar a uma pulverização de recursos e a uma falta de investimento eficaz e
produtivo.
A perda de importância do sector das pescas é apenas o sinal mais evidente
da falta de entendimento da relevância que o mar, em termos de riquezas
naturais ou mesmo comerciais, pode ter para Portugal. Corremos o perigo de
perder continuar – até à fuga total de oportunidades para outros países -
capacidades no sector da construção naval, portuário além da, já referida,
pesca.
Não esquecemos, também, a importância para a segurança nacional, de
manter as capacidades de vigilância marítima.
RESPOSTAS
I. Há quatro pontos essenciais para o desenvolvimento de uma estratégia para
a economia do mar: o modelo de “governance” do mar, os portos e os
transportes marítimos, o controlo e segurança no mar, a educação e a
formação.
Por outro lado, existem ainda quatro temas fundamentais para pôr em prática
esta estratégia: a pesca, a aquicultura e a indústria de pescado, a
investigação científica e o turismo marítimo.
Só uma visão integrada – e não “departamentalista” – destes sectores permite
conceber uma estratégia de recuperação do potencial marítimo de Portugal,
O CDS tem bem claro no seu horizonte que a vocação marítima de Portugal é a
condição histórica da nossa independência e liberdade enquanto Nação, e
representa uma das áreas de maior inovação, potencial de crescimento,
modernização e excelência para a economia portuguesa.
II. No que respeita ao modelo de “governance”, considerando que o mar é da
responsabilidade de vários ministérios e palco de múltiplas actividades, só
uma estrutura de tutela concertada, responsável pelos vários sectores do
sector marítimo, permite desenvolver uma política credível.
O modelo de conferir uma tutela de Estado e com concentração de
competências foi um sinal, dado em 2004, com resultados. No mínimo, deve
ser acompanhado por um Conselho de Ministros Especial para o Mar, com o
objectivo de decidir as grandes questões relativas ao uso do Mar e actividades
correlacionadas. Essa tutela e esse Conselho deverão ter uma estrutura
permanente de assessoria – uma secretaria-geral para os assuntos do mar -
que será responsável por coordenar e preparar todos os assuntos a serem
apresentados ao Conselho.
No desenvolvimento da estratégia para mar o Governo deverá procurar a
colaboração estreita dos vários sectores da sociedade civil, nomeadamente
das associações ligadas ao sector, de modelo e a garantir uma fonte de
informação permanente de realidade empresarial e de controlo da execução
da estratégia definida.
III. Portugal pode e deve ter nos seus portos, e também na sua marinha
mercante, sectores de desenvolvimento económico e verdadeiros
multiplicadores de riqueza para o país. Para tal deve interiorizar, organizar e
posicionar-se no sentido de se constituir numa plataforma de serviços
internacionais, que assentem num sector marítimo-portuário moderno, forte e
agressivo, servindo os mercados europeu e mundial, acrescentando real valor
à economia nacional. Nesse sentido, é fundamental ter visão estratégica,
articular e medidas e, portanto, levar a cabo uma política integrada para todo
o sector portuário, de maneira a garantir que os portos interagem, e
concorrem com as suas valências para maximizar a competitividade de todo o
sistema portuário nacional.
É fundamental que os investimentos portuários sejam criteriosos, dirigidos
para os objectivos globais (nacionais), e que sejam garantidas e
salvaguardadas acessibilidades e espaços para a intermodalidade,
possibilitando a continuidade nas cadeias de transporte.
É crucial dotar das condições necessárias e integrar estrategicamente os
portos portugueses nas “auto-estradas do mar”, facilitando, incentivando e
apoiando serviços (novos e existentes) que respondam aos critérios já
definidos.
É indispensável conhecer profundamente e segmentar os mercados (TMCD,
PALOP’s, Deep Sea, etc.), perceber a sua dinâmica e os factores críticos de
sucesso para criar uma estratégia de actuação com maior probabilidade de
sucesso.
Por fim, é central apostar criteriosa e estrategicamente na marinha de
comércio portuguesa, nos navios de pavilhão nacional, criando um leque de
condições favoráveis ao seu desenvolvimento, e assim aumentar a sua
capacidade de oferta e competitividade no mercado global.
Estas orientações devem ser, no entender do CDS, o compromisso e a resposta
das gerações presentes à cultura e herança marítima da nossa História.
IV. Se não formos nós a controlar o uso dos nossos espaços marítimos e a
garantir que são espaços seguros, não serão certamente outros a fazê-lo.
Importa centralizar a recolha e o tratamento de toda a informação relativa ao
que se passa nas nossas águas territoriais, zona contígua, zona económica
exclusiva e suas aproximações, para conhecer com rigor o que se lá se passa
(“maritime domain awareness”) e assim poder intervir com mais eficácia.
As informações recolhidas no âmbito da “busca e salvamento” (“safety”),
assim como todos os elementos recolhidos pelos mais diversos meios,
incluindo o “intelligence” recolhido pelas unidades da Marinha, da Força
Aérea e da GNR nas actividades de fiscalização (“security”) devem ser
tratados de forma centralizada e posteriormente fornecidos aos organismos do
Estado que deles precisem para uma actuação mais eficaz.
As responsabilidades dos vários organismos envolvidos na fiscalização devem
ser clarificadas, fomentando a colaboração e a cooperação, e evitando a
dispersão ou duplicação de meios e os inerentes custos acrescidos.
As actividades de fiscalização devem ser asseguradas por meios modernos e
bem equipados, optimizados para o desempenho das tarefas que lhes estão
atribuídas. A efectiva concretização dos programas de reequipamento da
Força Aérea e da Marinha é, neste âmbito, prioritária. Preocupa-nos de
sobremaneira que os ENVC – Estaleiros Navais de Viana do Castelo – tenham
regressado a uma situação financeira deplorável, e que o esforço de
reconstituição das nossas capacidades na construção naval militar tenha
herdade força. O CDS não desistirá do caminho industrial que ajudou a abrir.
As áreas do fundo do Mar, da plataforma continental, a que Portugal
recentemente se candidatou, mais do que duplicam a nossa área da zona
económica exclusiva, trazendo assim responsabilidades acrescidas que é
necessário antecipar. Se Portugal quer voltar a ser um país relevante nos
temas marítimos, tem de salvaguardar o investimento na segurança da nossa
costa e das zonas económicas e de exploração que poderemos vir a deter.
V. A educação e formação são indispensáveis para que exista uma cultura e
uma base segura e conhecedora das actividades relacionadas com o mar. Os
programas escolares têm que reflectir a opção de “utilizar o mar”, e a
formação para as actividades marítimas terá que ser pensada de forma global,
adequada e intermutável.
Devem ser tomadas as medidas necessárias para que o desporto náutico seja
ligado à escola, como forma de sensibilizar os jovens para os assuntos do mar
assim como dinamizar o papel de grupos – desportivos recreativos,
associativos - e órgãos culturais (museus e outros) que, nas suas actividades,
tenham em conta o mar, como forma de reforçar a sensibilidade marítima dos
portugueses.
Ao nível da formação devem ser inventariadas as necessidades de formação
para as profissões, quer a bordo quer em terra, nas diversas áreas da
actividade marítimo-portuária, especialmente nos nichos de mercado em que
a procura de técnicos é uma realidade, aproveitando a oportunidade de
colaboração nesta área de formação com os PALOPs.
Também neste sector, uma visão estratégica da relação de Portugal com
África pode significar um grande desempenho, criador de riqueza, para as
empresas e os recursos humanos.
VI. O turismo marítimo integra a nossa tradição marítima milenar, e tem o
mar como identidade e centralidade da nossa posição na Europa. Esta inegável
identidade é inerente à nossa localização. Portugal tem uma oferta natural
para o turismo marítimo, pelas suas características geográficas, pela riqueza
da nossa costa, também pela diversidade de actividades que proporciona e
naturalmente pelas condições climáticas de que dispomos.
Contudo, é essencial que estas características naturais que Portugal oferece,
sejam enquadradas numa política sólida, consistente e catalisadora do
crescimento económico.
É fundamental ter um projecto sustentado em infra-estruturas sólidas, num
sector regulado, permitindo que o turismo marítimo se enquadre não só no
saber bem receber, mas também criar condições para os sectores de serviços
se desenvolverem, melhorarem e diversificarem a oferta, impulsionando esta
actividade.
É prioritário que o turismo marítimo tenha um crescimento sustentado e
alicerçado nas gerações vindouras.
VII. Para Portugal é fundamental o posicionamento estratégico no papel de
sustentação e desenvolvimento deste sector como área económica.
A pesca é uma actividade que desde sempre esteve no dia-a-dia dos
portugueses. Com a evolução e a modernização deste sector, a aquicultura
representa uma inovação económica com diversas valências, assim como a
indústria de pescado, que deve desenvolver-se de forma sustentada e sólida
como um investimento no futuro, criando também emprego e
sustentabilidade.
A aquicultura tem crescido rapidamente, criando postos de trabalho
diversificados neste sector, construindo infra-estruturas e repensando um
sector económico em franco desenvolvimento. Há progressos consideráveis na
gestão ambiental com maior eficiência na utilização de energia, de água e de
outros recursos naturais.
Se o consumo directo de peixe é muito relevante, também é igualmente
importante a indústria de pescado, que potencia e envolve o crescimento
sustentado e sólido deste sector.
É também fundamental haver uma crescente consciência de que o seu
desenvolvimento sustentável requer um ambiente devidamente regulado, com
enquadramento europeu para que economicamente se possa desenvolver de
forma equilibrada.
A exploração no domínio da pesca e da aquicultura e, subsequentemente, nas
actividades de processamento do pescado, constitui uma componente da
exploração deste espaço e insere-se, naturalmente, no respectivo vasto leque
das actividades da economia do mar.
A excelência do pescado português, como iguaria e especialidade, deve ser
projectada internacionalmente.
VIII. Em muitas das decisões sobre as pescas, Portugal confronta-se com uma
Política Comum de Pescas que, frequentemente, é impeditiva do crescimento
do sector. Porém, não faltam exemplos de países de dimensão comparável à
nossa que conseguem defender a sua pesca, no seio da política comum, por
vezes apesar dela e não raro batendo-se – e coligando-se com outros países –
para alterar os seus efeitos nocivos.
Uma boa negociação de quotas, uma aposta séria na construção e não apenas
no abate de embarcações, a desburocratização de muitos dos aspectos
quotidianos do sector, o repensar de estratégia fiscal e uma maior consciência
social sobre as condições de vida dos pescadores – e das suas famílias – têm de
estar presentes numa visão diferente da política de pescas.
IX. A necessidade de investigação científica e de desenvolvimento de
tecnologias capazes de viabilizarem o aproveitamento prático das
potencialidades do nosso espaço marítimo é de vital interesse para uma
relação de Portugal com o mar, sustentada e orientada para o futuro.
Para que esta área se desenvolva é fundamental que as mentalidades se
reformulem, e que o conhecimento e a investigação comuniquem com a vida
prática das empresas.
Exercer actividades de investigação científica, nos domínios da hidrografia e
da oceanografia, e assegurar as responsabilidades nacionais nessas matérias, é
uma oportunidade para jovens cientistas, académicos e técnicos, devendo
rentabilizar-se ao máximo as capacidades que a Marinha Portuguesa tem nesta
matéria.
A investigação dos mares e do Oceano é estratégica para o desenvolvimento
económico e social de Portugal e da Europa, apresentando novas e
entusiasmantes oportunidades de crescimento económico e inovação no sector
das actividades marítimas.
A coordenação da investigação científica é crucial para que a estratégia seja
seguida de forma coerente e sistémica, orientada para os objectivos que
projectam Portugal como país inovador neste sector.
Também a extensão da plataforma continental tem a responsabilidade de, no
plano internacional, ser um catalisador do conhecimento e capacidade
científico-tecnológica no domínio da investigação científica dos mares.
O conhecimento científico e a “tecnologia” emergentes estão a permitir um
acesso sem precedentes a novos recursos marinhos, com forte potencial
comercial a longo prazo. É um domínio em que Portugal dispõe, à partida, de
vantagens únicas em termos de acesso a recursos. Não podemos desperdiçá-
las.
A responsabilidade da coordenação da informação resultante da investigação
científica, é fundamental para que seja posta em prática e disponibilizada à
sociedade civil, para que integre a cultura portuguesa e permita ser uma
oportunidade de futuro nas novas gerações.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Uma política para o mar implica uma tutela de Estado, reunindo
competências muito dispersas e um Conselho de Ministros Especial para
o Mar, regular e assessorado.
2. Defesa de uma plataforma de serviços portuários internacionais.
3. Aposta forte nos meios de investigação e segurança marítima que
permitam a Portugal aproveitar a oportunidade da extensão da
Plataforma Continental.
4. Reforma do sistema e instituições de aprendizagem de profissões
marítimas.
5. Programa específico para abrir as escolas portuguesas à cultura do mar.
6. A diplomacia do mar com os PALOP constitui uma grande oportunidade
para empresas e recursos humanos.
7. Posição mais forte e intransigente nas negociações da Política Comum
de Pescas, nomeadamente quanto a quotas, apoios à produção e
construção de embarcações.
8. Desburocratizar a actividade quotidiana das micro, pequenas e médias
empresas do sector das pescas.
9. Gestão competente e produtiva dos estaleiros nacionais (ENVC).
10. Impulso, na estratégia de crescimento económico, à criação e
desenvolvimento de empresas da indústria do pescado e de aquicultura.
11. Grande aposta na investigação científica ligada ao mar.
POLÍTICA EUROPEIA, NEGÓCIOS ESTRANGEIROS E EMIGRAÇÃO
CRÍTICAS
1. Não realização de referendo sobre Tratado de Lisboa
2. Excesso de proselitismo ideológico na relação com a Venezuela
3. Insuficiência das políticas de emigração e consulados
A política externa é, por excelência, um domínio em que deve procurar-se um
consenso de Estado que obriga, nos seus traços essenciais, os Partidos do
chamado “arco democrático” – fiéis às alianças estratégicas de Portugal – ou
“arco da governabilidade”. O CDS foi, mais uma vez, coerente com este
desígnio, evitando, sempre que possível, que o conflito político passasse pela
política exterior.
No entanto, a procura desse consenso não apaga diferenças relevantes. A
título de exemplo, considerámos um erro a não realização de um referendo
sobre o Tratado de Lisboa; condenámos o imprudente proselitismo ideológico
em certas relações externas que, até pela estabilidade da sua importância,
devem respeitar o enquadramento Estado a Estado (ex: Venezuela); e temos
uma posição crítica sobre a insuficiência das políticas de emigração e
consulados.
RESPOSTAS
I. Portugal é uma Nação europeia com raízes mediterrânicas e laços
transatlânticos. Essa herança, natureza e rumo requerem um olhar
actualizado. O mundo de 2009 não se satisfaz com as interpretações do
passado. Face a esta realidade, a construção de alianças, parcerias e modelos
de cooperação entre Estados que partilham valores e propósitos é
fundamental. A opção europeia de Portugal é a resposta adequada a este
mundo, sem prejuízo de todos os outros laços internacionais que queremos
manter e aprofundar.
Com os recentes alargamentos ao centro e a Leste, a União Europeia tornou-
se geograficamente mais continental, aproximando-se mais da Ásia e menos
do Atlântico. A emergência de uma política marítima europeia, inspirada
numa ideia em que Portugal foi precursor e o CDS, em Portugal,
impulsionador, é uma oportunidade crucial para trazer novas centralidades à
Europa. O mar é um recurso não deslocalizável que temos de aproveitar, e a
nossa condição de Estado costeiro e porto de chegada e partida do continente
mais rico deve ser desenvolvida estrategicamente no contexto europeu. O mar
dá centralidade à nossa posição na Europa.
O CDS não se limita a ver a União Europeia como uma teia institucional.
Recusamos, aliás, adensar a sua propensão para a burocracia. Defendemos
uma visão activa, responsável e realista na relação com os EUA, o Magreb, a
China, a Rússia, a Índia, Médio Oriente e América Latina, perante as questões
energéticas que tanta insegurança originam, no combate ao terrorismo, crime
organizado, tráfico de seres humanos, face às alterações climáticas e com
respeito pelos direitos humanos. A aliança de segurança com os Estados
Unidos é a garantia da segurança mútua. O relacionamento próximo com o
Magreb – alicerçado numa estratégia para o Mediterrâneo – reforça o papel de
Portugal e é determinante para a contenção de conflitos e a regulação dos
fluxos migratórios.
Defendemos a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. A sua
institucionalização responderá à sedimentação dos últimos alargamentos e às
prioridades de futuras adesões, particularmente os Balcãs Ocidentais. Além
disso, o Tratado confere aos Parlamentos nacionais responsabilidades de
escrutínio político acrescidas. A legitimidade democrática do projecto
europeu começa em cada um dos seus Estados membros e os Parlamentos são
a sua máxima expressão institucional. O CDS será mais exigente no controlo
democrático, via Assembleia da República, das posições do Estado Português
na União.
Consideramos, ainda, como áreas políticas prioritárias da União Europeia a sua
segurança, uma prudente política de vizinhança e uma relação séria e
pragmática com a Turquia que reflicta os interesses mútuos. Mantemos as
nossas reservas quanto à adesão deste país, insistindo na necessidade de
encontrar um estatuto especial. que podem não passar pela sua adesão à
União. Por fim, o Tratado cria um serviço externo para a União que lhe dará
expressão no relacionamento externo. Portugal deve saber estar presente
neste domínio com a reconhecida qualidade dos seus diplomatas.
II. Entendemos que Portugal deve dar mais atenção à sua participação nas
instituições europeias. Há uma fraca presença de quadros intermédios nestas
instituições e não existe uma verdadeira e eficaz rede de comunicação entre
todos os portugueses que aí trabalham, sendo muitos deles importantes
contributos para os processos de decisão nacional. A dimensão de Portugal e a
sua influência na Europa exigem mais capacidade de trabalho, organização e
implementação. A diplomacia portuguesa deve apostar na formação dos seus
quadros em assuntos europeus, de forma a integrá-los nas estruturas
europeias. São necessários mais e melhores quadros intermédios.
A dimensão da nossa rede diplomática espalhada pelo mundo está aquém das
necessidades. Uma reavaliação global e aprofundada da rede diplomática
bilateral, como é patente nos Estados da União Europeia, justifica-se nesta
era marcada pela emergência de novas potências, pela globalização dos
processos industriais e por uma crise financeira com consequências para o
futuro. É importante definir que tipo de consulados se adequam à nossa
diplomacia, evoluindo da visão tradicional da prestação de serviços – que têm
de ser eficientes – para plataformas que cruzem as dimensões cultural,
económica e social das nossas comunidades no estrangeiro. Sublinharemos o
trabalho conjunto e próximo entre a rede diplomática e a rede AICEP,
reforçando a dimensão económica da nossa diplomacia. É, ainda, desejável
que se desenvolvam especialidades temáticas no quadro diplomático,
sobretudo perante a complexidade dos desafios presentes e futuros. No
mesmo sentido, o CDS defende a institucionalização de conselhos consultivos
dos Cônsules, que os apoiem na promoção de iniciativas nas áreas referidas.
III. Quanto às grandes questões estratégicas, damos maior importância ao
relacionamento de Portugal com África. É o objectivo de maior crescimento
potencial da nossa diplomacia. As relações com os países africanos de língua
oficial portuguesa são um dos pilares da política externa portuguesa, nos
quadros bilateral e multilateral. Esta é uma das nossas grandes valências no
cenário euro-africano e uma das potencialidades estratégicas quando nos
comparamos com os demais Estados europeus. A existência de uma instituição
multilateral integrando o Brasil e Timor-Leste, a CPLP, que o CDS sempre
defendeu, merece, porém, maior coordenação, melhor liderança e um
diferente nível de ambição e projecção.
Pela sua especial importância, o triângulo estratégico desempenhado por
Portugal, Brasil e Angola pode ter enorme valor. Certamente que a existência
de laços culturais a isso ajudou, mas muito caminho pode ainda ser trilhado
por todas as partes. O quadro de relacionamento económico e de recursos
humanos deve ser fortemente incentivado O factor estratégico que o CDS
defende dever ser prioridade nacional nas próximas décadas é a Língua
Portuguesa.
IV. Portugal ainda não tem nem promove uma verdadeira política da Língua
Portuguesa, enquanto dimensão activa da sua política externa cultural e
económica. Afirmamos que nem iniciou um percurso proporcional à dimensão
humana e política que transporta (200 milhões de falantes). Desde logo,
aferindo economicamente do seu valor estratégico, como aliás já fizeram os
espanhóis com o castelhano. Num quadro internacional em reformulação, faz
todo o sentido que a Língua Portuguesa possa ser um veículo do seu
acompanhamento, tendo Portugal todo o interesse em associar-se a este
quadro, promovendo uma iniciativa ambiciosa, estruturada e coordenada para
a Língua Portuguesa como desígnio nacional.
No contexto da globalização, este posicionamento conferiria a Portugal um
lugar na linha da frente da diplomacia europeia em relação ao mundo
lusófono; seria imprescindível no vital relacionamento com a potência
regional sul-americana, o Brasil e com outra, na África subsariana, Angola.
Traria uma dimensão acrescida à vertente económica da nossa diplomacia. É
neste triângulo que a nossa política externa se pode afirmar num mundo cada
vez mais concorrido estrategicamente e dominado pela Língua inglesa como
meio de comunicação preferencial no relacionamento interestadual.
Trabalhar com propriedade e eficiência para que a Língua Portuguesa seja um
idioma oficial nas organizações internacionais que o justifiquem, deve ser um
dos nossos objectivos.
V. Portugal deve ser participativo no debate estratégico internacional. Uma
das obrigações de um partido com responsabilidade é a de saber que Portugal
queremos no mundo e de que forma devemos actuar no quadro internacional
face a crises e ameaças. A resolução do dilema de segurança histórico na
Europa, das tensões nas suas transições democráticas ou a garantia de
estabilidade nas relações entre civis e militares, foram alguns dos benefícios
que resultaram do estreito e singular envolvimento dos EUA em Portugal e na
Europa, durante as últimas décadas. Quebrar este elo seria não só
catastrófico, como abriria um novo espaço às tensões dentro da União
Europeia. Não é do interesse português, europeu e norte-americano que isto
suceda. Por isso, devemos fazer tudo para fortalecer a relação transatlântica.
Se há época em que isto se justifica é precisamente a de crise internacional
em que vivemos.
A NATO tem sido um dos pilares mais sólidos da segurança europeia. Joga uma
boa parte da sua eficácia, credibilidade e justificação estratégica na missão
no Afeganistão, cuja avaliação de progresso tem de ser considerada
preocupante, necessitando de uma abordagem que integre coerentemente
dimensões militar, civil económica e institucional. Os aliados não podem
demitir-se das suas responsabilidades mas devem, conscientemente, promover
a alterações na estratégia de uma missão, em que, como sempre sucede, os
militares portugueses prestigiam Portugal.
Fazemos uma opção pelo aprofundamento sólido das relações entre duas das
suas principais alianças: a NATO e a União Europeia. Promover as Forças
Armadas, um dos maiores activos nacionais, nestas duas organizações de
sucesso, deve continuar a ser uma política de Estado, consensualizada entre
os Partidos do “arco da governabilidade”. Portugal assegura deste modo dois
princípios: integrar os esforços pela segurança internacional e prestigiar a
imagem do país perante os seus pares. O CDS tem uma especial
responsabilidade com as Forças Armadas que não abandona.
Dentro destas ligações, a Base das Lajes deve continuar a ser um trunfo
estratégico a potenciar. Mas a evolução tecnológica e a natureza das novas
ameaças, como o terrorismo, a desagregação de Estados ou a proliferação
nuclear, exigem um novo papel para a Lajes. Desde logo, um desempenho não
apenas logístico, mas sobretudo de treino aeronáutico moderno. Além disto,
pode revalorizar-se como uma base importante para a nova orientação de
segurança americana: África. Os interesses açoreanos devem estar
devidamente contemplados – o que não sucede com suficiência na actualidade
quando falamos na revalorização das Lajes.
O CDS não contribuirá para o afastamento de Portugal das grandes questões
internacionais. Será promotor de um debate aprofundado sobre o novo
conceito estratégico da Aliança Atlântica, a divulgar na Cimeira de 2010 a ter
lugar no nosso país.
O CDS defende uma relação entre Portugal, Europa e Rússia marcada pelo
reconhecimento da sua condição de parceiro relevante nas relações
internacionais, na estabilidade dos mercados energéticos e na paz,
argumentos suficientemente fortes nesta equação para que a sua relação seja
conduzida com sensatez, realismo e prudência nas acções e declarações. Isto
não significa que não seja desejável a concretização de um mercado
energético europeu que reduza a dependência energética face à Rússia.
VI. A outra prioridade que destacamos é uma nova atitude face à diáspora
Portuguesa. A emigração presente e de futuro é substancialmente diferente
da tradicional. É altamente qualificada e facilmente integrada nas
concorrentes e exigentes sociedades que a acolhem. Temos mais de um
milhão de emigrantes em países com a importância dos EUA, Canadá, Brasil,
Espanha, Alemanha, Venezuela, África do Sul ou Grã-Bretanha. É, por isso,
importante desenhar um plano estratégico para a diáspora que começa por
quantificá-la com rigor, aferir dos seus problemas locais e identificar a sua
tipologia socioeconómica.
Portugal deve saber aproveitar económica e politicamente a sua emigração
qualificada como vector da sua política externa, hoje potenciada por um sem
número de redes sociais com base na internet, promovendo os seus interesses
no exterior, criando uma dinâmica de lobbying local, mas criando também
condições para que essa diáspora possa vir a investir em Portugal no futuro,
quer pela afinidade com o país de origem quer pelo potencial que a Língua
Portuguesa permite na aceleração de projectos em comum. Devem promover-
se programas de “captação de valores” junto dos quadros da emigração, que
podem representar enormes mais valias nas capacidades de Portugal em áreas
cientificas, académicas, empresariais e culturais.
Importa ainda promover a celebração de acordos ou tratados de
reconhecimento bilaterais de decisões judiciais ou assentos de casamento com
os Estados onde existe maior emigração portuguesa, como a África do Sul,
Venezuela, Canadá, Estados Unidos da América ou Austrália.
VII. A segurança e estabilidade são dois pilares de qualquer sociedade política
próspera, de economias em desenvolvimento. Também permitem a
sedimentação das populações nos seus países de origem. Sem segurança não
há desenvolvimento. Ora, o Mediterrâneo tem sofrido com a ausência destes
dois vectores. Daqui à instabilidade política, ao aumento da pobreza, às
brechas do sistema que permitem o florescimento dos radicalismos, ao tráfico
de droga ou à imigração ilegal em massa é um passo curto. O destino é
conhecido. O balanço é invariavelmente trágico. Aliás, nesta era marcada
pelo radicalismo islâmico subversivo das democracias ocidentais, mas,
também, das sociedades muçulmanas moderadas, o CDS é defensor de uma
via de cooperação reforçada, europeia e transatlântica, precisamente com as
alas moderadas. São estas que devem negar o radicalismo em segmentos do
chamado mundo árabe, abrir-se ao contacto com as democracias ocidentais,
privilegiando a cooperação educativa, cultural, económica, política e militar.
É por aqui que devemos reforçar os nossos esforços.
Mas num plano bilateral, uma dimensão que não está de todo arredada da
política internacional, embora muitos a queiram anular, Portugal tem no
quadro mediterrânico e árabe que dar resposta ao crivo do pragmatismo: do
ponto de vista energético, Portugal depende em medida importante do gás e
petróleo vindos da Argélia e da Nigéria, dois países com um certo grau de
instabilidade, onde o compromisso com os moderados se revela crucial para
uma saudável relação bilateral assente na estabilidade e previsibilidade.
Um último compromisso: Portugal candidata-se, com o apoio do CDS, a um
lugar de membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU para o
biénio 2011-2012. Caso o concretize, como desejamos, deve ajudar a
promover a reforma das Naçoes Unidas, nomeadamente do seu Conselho para
os Direitos Humanos, cujo comportamento nem sempre tem prestigiado as
Nações Unidas.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Reforçar o controlo democrático interno das políticas europeias.
2. Reservas quanto à adesão da Turquia.
3. Maior objectivo estratégico é o triângulo Portugal, Brasil, Angola.
4. Promoção de uma iniciativa ambiciosa para a Língua Portuguesa como
desígnio nacional.
5. Reforço da relação transatlântica.
6. Necessidade de coerência na missão no Afeganistão.
7. Nova abordagem dos meios e das políticas para a diáspora portuguesa.
8. Programa de captação de valores junto da nova emigração qualificada.
9. Apoio à candidatura de Portugal a membro não permanente do CS da
ONU, em 2011/2012.
POLÍTICA FISCAL
CRÍTICAS
1. Aumento da carga fiscal para cerca 38% do PIB.
2. Perda de competitividade fiscal: comparando rendimentos e impostos,
Portugal está entre os países da EU com carga fiscal mais elevada.
3. Aumento da carga fiscal em sede de IRS.
4. Aumento da pressão fiscal sobre as empresas.
5. Tentativa de tributar as doações familiares.
6. Reintrodução de tributação das transmissões gratuitas de imóveis entre
familiares.
7. Solução injusta para a questão da discriminação fiscal do casamento.
8. Perda sistemática de garantias dos contribuintes.
9. Irregularidades graves no sistema de penhoras automáticas da DGCI.
A legislatura de maioria absoluta socialista foi a legislatura que todos os
impostos aumentaram. A pressão fiscal subiu para cerca de 38% do produto,
cerca de quatro pontos acima a que existia em 2005. Todos os impostos
aumentaram, e cada contribuinte pagou, em média, mais 400 euros de
impostos, mercê desta política.
A promessa de não aumentar impostos foi completamente incumprida. Tal
como incumprida foi a garantia de que o aumento da eficiência fiscal, através
do combate à fraude e à evasão, permitiria gerar receitas suficientes para
reduzir a carga fiscal dos que trabalham e cumprem pontualmente os seus
deveres perante o fisco.
A proclamada consolidação orçamental foi feita, pelo menos em ¾, à custa
do contribuinte. Este empobrecimento da economia e esta apropriação de
recursos pelo Estado, revelou todos os seus limites com a crise e a recessão.
O que temos hoje é mais impostos, mais défice e menos receita. O caminho
da retoma passa necessariamente por devolver recursos à economia, às
famílias e às empresas.
Esta legislatura, foi também aquela que assistiu ao nascimento do chamado
“fanatismo fiscal”, uma sucessão de abusos, irregularidades e restrições de
garantias dos contribuintes, que o CDS adequadamente combateu. A
tentativa de gerar receita à força, precludindo os direitos mais elementares
do contribuinte não é aceitável. A outra face da moeda é a situação dos
Tribunais Administrativos e Fiscais, onde se acumulam processos de valor
global elevadíssimo, que o Estado, na sua maior parte, perde.
RESPOSTAS
I. Para além da grave conjuntura que internacionalmente se faz sentir, a crise
económica e financeira que afecta Portugal assenta ainda em causas
estruturais que urge reverter. O novo contrato fiscal que o CDS propõe
destina-se fundamentalmente a minorar as origens da falta de
competitividade da economia nacional, da dificuldade na captação de capitais
estrangeiros e da falta de confiança nas instituições e no funcionamento da
administração tributária e assenta num sério compromisso de redução
continuada da pressão fiscal sobre as famílias e as empresas, cujas medidas
iniciais permitam, no imediato, devolver poder de compra às primeiras e
liquidez às segundas.
São três as prioridades definidas pelo CDS para a próxima legislatura: redução
progressiva da carga fiscal, reforço da competitividade das empresas e defesa
das garantias dos contribuintes. Numa primeira fase, defendemos medidas
especificamente orientadas para combater eficazmente os efeitos da crise,
criando desafogo na tesouraria das empresas.
A redução da carga fiscal não é um objectivo impossível. A diminuição de
impostos, não pode deixar de ser acompanhada de redução na despesa,
combate ao desperdício e ao despesismo. Existem, no entanto, medidas –
amplamente testadas noutros países – que, por estimularem o funcionamento
da economia, permitem, a prazo, o aumento da receita fiscal na razão directa
do aumento da riqueza que geram. Por outro lado, o actual sistema fiscal
promove gravíssimas iniquidades que importa corrigir e que de modo algum
satisfazem os princípios de justiça e igualdade que o devem nortear.
II. O modelo de tributação dos rendimentos pessoais carece de urgente
simplificação. Volvidos cerca de vinte anos sobre a criação do IRS, o CDS
compromete-se, logo no início da legislatura, a nomear a necessária Comissão
de Reforma Fiscal, que, com os devidos estudos e suporte técnico, proponha:
i) uma reforma do IRS com a redução dos escalões de tributação a um máximo
de 4 ii) uma gradual diminuição da taxa efectiva que incide sobre as classes
médias iii) um aumento do rendimento disponível das famílias e a mobilidade
social iv) uma simplificação da multiplicidade incoerente de excepções,
excepções às excepções, deduções e abatimentos v) uma consideração de um
mínimo de existência familiar.
Consideramos essencial que o sistema fiscal reflicta a realidade familiar em
Portugal, seja amigo das famílias e não seja um factor desencorajador da
natalidade. Defendemos que a taxa de imposto deve ter em conta o número
de elementos do agregado familiar, através da introdução do quociente
familiar. Num País em que todos são iguais perante a lei e que atravessa
graves problemas demográficos, é inconcebível que sejam as próprias normas
fiscais a desincentivar a natalidade e a desconsiderar a importância do
número de filhos de cada família. É, pois, fundamental, que o sistema fiscal
aproxime – ainda que progressivamente – a capitação dos rendimentos entre
as famílias mais e menos numerosas, garantindo equidade no montante da
receita disponível de todos. Propomos a introdução do quociente familiar de
0,5 por cada dependente, a ser introduzido anual e progressivamente ao longo
da legislatura, com início em 0,1.
A prática tem revelado que o actual esquema de retenções na fonte, com as
suas múltiplas taxas beneficia fundamentalmente a tesouraria do Estado,
retirando às famílias um poder de compra mensal que só muitos meses depois
lhes é restituído. O mecanismo do pagamento antecipado do imposto deve,
tanto quanto possível, aproximar o imposto retido do imposto devido a final,
minorando quer os casos de reembolsos quer os casos de postergação total do
imposto a pagar, especialmente para os rendimentos mais baixos. Ou seja,
com este objectivo, o CDS propõe a revisão das tabelas de retenção na fonte
do IRS, baixando as taxas e não apenas os escalões.
A protecção da família, através da redução da carga fiscal que onera os seus
rendimentos e património, tem ainda de passar pela eliminação dos impostos
injustos, ilegais e injustificados, como o Imposto de Selo sobre as transmissões
gratuitas entre ascendentes, descendentes e cônjuges e equiparados.
III. Simultaneamente, a necessidade de dotar de maior competitividade o
tecido empresarial, em especial em conjuntura de crise, obriga a rever, em
alguns pontos, que afectam a tributação das empresas. O actual mecanismo
do Pagamento Especial por Conta (que se traduz numa verdadeira colecta
mínima a que todas as sociedades activas estão sujeitas, independentemente
da efectiva obtenção de lucros), pela sua forma de apuramento, tem gerado
intoleráveis desigualdades, para além de agravar a viabilidade das empresas
em situação especialmente difícil. O CDS proporá a suspensão da
obrigatoriedade do PEC, pelo menos nesta conjuntura económica. Para
facilitar a concessão de crédito às empresas é ainda necessário rever a
tributação em sede imposto do selo dos juros dos financiamentos.
O Estado deve ainda empenhar-se em devolver liquidez aos agentes, através
de medidas que, muito embora exijam, no presente, um esforço de
tesouraria, não comprometem, na verdade, os níveis da receita nem
aumentam a despesa fiscal: a redução dos pagamentos por conta, a
aceleração das amortizações dos activos adquiridos em época de crise por
empresas viáveis, a flexibilização das regras de provisionamento dos créditos
em mora (incluindo os sobre o Estado) e a possibilidade de reporte dos
prejuízos fiscais apurados, não só aos lucros obtidos nos seis anos seguintes
(regime actual), como aos obtidos nos últimos dois exercícios.
Aproveitando a oportunidade criada pela União Europeia e já seguida pela
França, alterar a taxa do IVA aplicável ao sector da restauração, baixando-a
para 5%, promovendo assim a competitividade com a vizinha Espanha. Em
contrapartida, acertar com as organizações do sector medidas para evitar a
evasão fiscal.
Idêntica preocupação determina a adopção de mecanismos expeditos de
reembolso do IVA às empresas numa base, no máximo, mensal. Em especial
em época de crise é intolerável que o financiamento da tesouraria do Estado
se faça gratuitamente à custa dos operadores económicos, tantas vezes
credores do próprio IVA entregue que ainda não conseguiram cobrar aos seus
clientes.
IV. Há ainda um conjunto alargado de medidas que devem ser adoptadas de
forma a promover a nossa competitividade: i) adopção do método de isenção
na eliminação de dupla tributação de rendimentos derivados dos lucros das
empresas portuguesas obtidos fora de Portugal, de forma a aumentar a
competitividade das empresas portuguesas que investem directamente no
estrangeiro através da constituição de sucursais, ii) introdução de uma
exclusão da base tributável de uma percentagem de rendimentos de
propriedade industrial/intelectual recebidos por uma entidade residente para
efeitos fiscais em Portugal, de forma a aumentar a competitividade das
empresas portuguesas que investem em I&D bem como atrair para entidades
dedicadas à detenção de propriedade industrial/intelectual; iii) revisão do
regime fiscal das holdings com a flexibilização da dedução dos encargos
financeiros suportados para a aquisição de participações sociais, como forma
de posicionar Portugal com uma jurisdição adequada para a detenção de
participações sociais de grupos internacionais; iv) revisão das regras de
subcapitalização no sentido de adoptar as melhores práticas internacionais,
como forma de facilitar o financiamento das empresas portuguesas; v)
extensão das regras de neutralidade fiscal às operações de reestruturação
(fusões, cisões, entradas de activos e permutas de acções) a celebrar entre
empresas portuguesas e as empresas com sede nos países africanos de língua
oficial portuguesa e em Timor – Leste, como forma de posicionar Portugal
como plataforma de investimento internacional nesses países; vi) celebração
de Convenção de Dupla Tributação (CDT) Multilateral entre Portugal e os
países africanos de língua oficial portuguesa e Timor – Leste ou
desenvolvimento de rede de CDT com estes países, como forma de posicionar
Portugal como plataforma de investimento internacional nesses países; vii)
revisão e flexibilização do regime de benefícios fiscais ao investimento
produtivo de natureza contratual, de forma a possibilitar uma maior atracção
de investimentos em sectores considerados de interesse estratégico para a
economia nacional; viii) flexibilização e introdução de um regime fiscal
especial para “impatriados” e para “expatriados”, respectivamente, de forma
a criar melhores condições para atrair quadros superiores para trabalhar em
Portugal e facilitar o envio de quadros portugueses para trabalhar em
empresas portuguesas no estrangeiro por períodos reduzidos.
Quando existirem condições financeiras deverá ainda eliminar-se a tributação
de IVA sobre o Imposto Sobre os Veículos, que se traduz numa insólita
tributação sobre outro imposto, na aquisição de automóveis, e do Imposto do
Selo sobre as garantias prestadas ao Estado, que torna especialmente oneroso
o exercício dos direitos de impugnação ou de reembolso de impostos.
V. O novo contrato fiscal proposto pelo CDS assenta igualmente numa
exigente reformulação das garantias dos contribuintes. Os actuais esforços de
combate à fraude e à evasão só podem legitimar-se num quadro de rigor,
proporcionalidade e legalidade. A crescente desigualdade de armas com que
este combate tem sido travado, a prazo, prejudica a economia, diminui a
confiança e compromete a concorrência. Desde logo, há que notar que o
Estado não é, face à lei actual, salvo raras excepções, um credor privilegiado
dos particulares, pelo que não deve dispor de meios que lhe permitam cobrar
as suas dívidas de uma forma mais rápida ou eficaz do que os demais
credores, sob pena de se introduzir uma distorção inaceitável no
funcionamento do mercado.
O actual sistema informático de penhoras automáticas e de limitações à
alienação de património imobiliário, por recusa da emissão das declarações
fiscais necessárias, carece de auditorias independentes regulares, que
previnam e impeçam excessos, ilegalidades e arbitrariedades e garantam o
escrupuloso cumprimento da efectividade dos prazos de defesa previstos na
lei. A cobrança coerciva das dívidas fiscais só é admissível depois de se
esgotarem os prazos de impugnação ao dispor do contribuinte e apenas na
circunstância de este não ter apresentado qualquer garantia do seu
pagamento.
Por outro lado, o prazo de decisão dos serviços, mesmo que alargado e uma
vez findo, deve permitir a formação de um deferimento tácito das
reclamações apresentadas, única forma de não manter na disposição da
Administração as decisões económicas dos particulares por prazo
indeterminado. Em caso de litígio judicial, as garantias apresentadas devem
poder ser levantadas decorridos dois anos, independentemente do trânsito em
julgado da decisão que lhe venha a pôr fim, dando, nessa altura, em caso de
deferimento das pretensões do contribuinte, lugar ao pagamento de uma
indemnização adequada ao ressarcimento efectivo de todos os encargos
suportados com o processo, nas situações em que o Tribunal reconheça a
existência de um erro grosseiro. Por outro lado, o contribuinte deve ter ao seu
dispor mecanismos efectivos de cobrança e compensação dos seus créditos
sobre o Estado, em especial os tributários judicialmente reconhecidos,
podendo exigir não só uma penalização pela mora como uma sanção
pecuniária compulsória verdadeiramente dissuasora do incumprimento.
Caderno de Encargos Política Fiscal
1. Introdução no IRS do desconto fiscal por filho (quociente familiar). Será
faseado, tendo como objectivo atingir um quociente de 0,5 no final da
legislatura.
2. Nomeação da Comissão de Reforma Fiscal, tendo como objectivo a
aprovação, na próxima legislatura, de uma reforma simplificadora do
IRS, que deverá ter, no máximo, 4 escalões, permitir a diminuição da
carga fiscal das classes médias e aumentar a mobilidade social.
3. No âmbito da mesma reforma, simplificar o sistema de abatimentos e
deduções, hoje complexo e incoerente, apontando para um mínimo de
existência familiar.
4. Redução das taxas de retenção na fonte do IRS – e não apenas dos
escalões –, para antecipar a devolução de poder de compra às famílias.
5. Suspender o Pagamento Especial por Conta.
6. Reduzir claramente os Pagamentos por Conta das PMEs.
7. Reembolso mensal do IVA (ver programa económico).
8. Rever a tributação em sede de Imposto do Selo sobre os juros dos
financiamentos.
9. Possibilidade de reporte de prejuízos fiscais das empresas aos lucros
obtidos nos últimos dois exercícios.
10. Revisão do regime fiscal das SGPS.
11. Nesta legislatura, mediante a verificação de condições financeiras,
resolver a questão da dupla tributação no automóvel e do Imposto do
Selo pago na prestação de garantias ao Estado.
12. Instituição da arbitragem fiscal.
13. Auditoria ao sistema informático de penhoras automáticas da DGCI.
14. Defesa do contribuinte na questão do prazo de caducidade das
garantias prestadas e deferimento tácito nas reclamações, mesmo
alargando o prazo de decisão.
15. .
JUSTIÇA
CRÍTICAS
1. Aumento exponencial dos atrasos na justiça laboral
2. Incapacidade dramática de resposta dos tribunais de comércio
3. Regime da prisão preventiva e de detenção fora do flagrante delito
O Governo Socialista tem vindo a argumentar que as pendências judiciais
diminuíram, que a implementação do processo electrónico tem sido um
sucesso e que o mapa judiciário é uma inevitabilidade. Acontece, porém, que
decorridos 4 anos de governação socialista, não se vislumbram melhorias
significativas com impacto na vida das empresas e das pessoas.
As medidas socialistas – e, em particular, os Planos de Acção para o
Descongestionamento dos Tribunais, contribuíram apenas para mitigar alguns
dos constrangimentos no funcionamento da nossa Justiça, não atacando
aqueles que são os problemas estruturais do sistema judicial.
O CDS sabe que a Justiça, antes de ser um serviço, é um direito fundamental
dos cidadãos e que este direito está hoje claramente posto em causa dada a
desconfiança que o sistema de justiça tem vindo a gerar nos cidadãos. Vive-se
uma crise de confiança que é também, simultaneamente, uma crise de
gestão, organização e autoridade.
A crise da Justiça é, em si mesma, uma crise do Estado.
RESPOSTAS
I. Assumir a prioridade da Justiça significa assumir a necessidade de reformar
e transformar a lógica actual de funcionamento, gestão e organização dos
Tribunais Judiciais.
O CDS reconhece que, ao contrário dos outros órgãos de soberania (Presidente
da República, Assembleia da República e Governo), cuja legitimidade decorre
do voto da sociedade, os tribunais baseiam a sua legitimidade no resultado da
sua acção. É, por isso, essencial devolver a capacidade de resposta dos
tribunais judiciais. A credibilização do nosso sistema depende da sua eficácia.
Há que apostar na simplificação, qualidade e contenção legislativa, na
recuperação do diálogo com os diferentes parceiros, na eficácia da gestão e
melhor organização dos Tribunais, numa articulação funcional dos operadores
judiciais, e ainda numa visão integrada e complementar da oferta de meios
judiciais e extrajudiciais de resolução de conflitos.
Importa também retomar a linha da liberalização do notariado, tão
maltratada por este Governo e que, no entanto, corresponde a uma reforma
profunda e na Administração Pública e que deve ser devidamente valorizada.
II. O balanço da acção do Governo Socialista no domínio judicial é claramente
negativo. A uma enorme concentração processual no âmbito da jurisdição
cível, em que cerca de 20 empresas representam cerca de 60% das pendências
judiciais, somam-se atrasos e situações crónicas no âmbito da jurisdição
administrativa e fiscal, laboral e falimentar com enormes e evidentes
dificuldades de resposta dos Tribunais Administrativos e Fiscais, dos Tribunais
do Trabalho e de Comércio. É esclarecedor constatar que no Tribunal de
Comércio de Lisboa uma providência cautelar demora pelo menos 9 meses a
ser decidida e uma acção mais complexa leva, na melhor das hipóteses, 5, 6
ou 7 anos a ser resolvida.
Ao nível da aplicação do direito, grassa a confusão judiciária com a vigência
simultânea de múltiplos regimes. Confusão e sobreposição qualificam as
competências no que diz respeito ao funcionamento dos Tribunais Judiciais e
no que diz respeito à própria orgânica do Ministério da Justiça.
No que respeita ao direito processual, temos um processo civil com mais de
1500 artigos, um processo penal revisto de forma desastrosa que, para além
de ter introduzido burocracia, é irresponsável do ponto de vista da política
criminal e, bem assim, um processo tributário que se encontra em discussão
pública há praticamente três anos.
O processo electrónico que, segundo o Governo, abrange cerca de 75% dos
Tribunais de 1.ª Instância, segundo a Associação Sindical dos Magistrados
Judiciais contribuiu para diminuir a produtividade dos Juízes em 119% e, de
acordo com o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, coloca sérios
problemas de segurança.
As formações dos diferentes operadores judiciais falham por falta de
compatibilização e integração e as inspecções são compartimentadas e sem
qualquer avaliação global integrada.
No que respeita aos mecanismos de resolução extrajudicial de litígios, a lei de
arbitragem, datada de 1986, urge ser revista e ponderada à luz dos nossos
dias e não há uma integração entre estes e os restantes mecanismos de
resolução de litígios. Aliás, é bem esclarecedor a adopção de um mapa
judiciário que está longe de ser um verdadeiro mapa da justiça.
Por fim, os recursos são insuficientes em diferentes áreas, em particular, na
Magistratura do Ministério Público e no quadro de inspectores da Polícia
Judiciária.
III. O CDS reconhece que a gestão e organização dos tribunais é o problema
estrutural da Justiça Portuguesa. No Ministério da Justiça há demasiadas
entidades com competências similares (e que, em alguns casos, são mesmo
sobrepostas) no âmbito da gestão e organização dos Tribunais. As
intervenções nos Tribunais, as redes informáticas e o apoio aos programas
Citius e Habilus são exemplos paradigmáticos dessa realidade. A Direcção-
Geral da Administração da Justiça (DGAJ) administra o programa Habilus e
gere os oficiais de justiça. O Instituto das Tecnologias da Informação da
Justiça (ITIJ) administra as diferentes redes informáticas, a Direcção-Geral de
Política de Justiça (DGPJ) impõe regras estatísticas e o Instituto de Gestão
Financeira e Infraestruturas da Justiça (IGFIJ), para além de arrecadar
receitas, gere as diferentes intervenções nos Tribunais.
Esta organização é demasiadamente complexa e cria zonas “cinzentas” de
intervenção entre magistrados judiciais, magistrados do Ministério Público,
secretários judiciais e direcções-gerais do Ministério da Justiça.
Importa adoptar definitivamente a figura do Gestor Judicial, responsável pela
logística, material e recursos humanos dos Tribunais. A par do Gestor Judicial,
o CDS defende igualmente a criação da figura do Gabinete do Juiz, composto
pelo juiz, por um escrivão-adjunto ou auxiliar e, por um colaborador técnico
em todas as situações em que se justifique. Este colaborador, recrutado a
título temporário, de formação diversificada, adequada às necessidades da
secção ou de um processo particularmente complexo, tem a função de ajudar
na preparação dos despachos e decisões da competência do juiz.
O CDS defende que a questão da autoridade no Tribunal deve ser discutida
com as entidades representativas do sector.
Será necessário proceder com urgência a uma análise independente do
funcionamento do Citius, de forma a identificar e corrigir as fragilidades do
seu funcionamento, adequação funcional e segurança. Neste âmbito, o CDS
defende a criação de uma comissão de acompanhamento do Citius, composta
por Advogados, magistrados judiciais, magistrados do Ministério Público e
representante do Ministério da Justiça.
A harmonização informática em todos os Tribunais deve ser uma preocupação
permanente, a par da realização de formações iniciais e complementares a
todos os agentes que trabalham na Justiça. O ITIJ deverá disponibilizar um
corpo de técnicos informáticos que (à distância, em sistema de help-desk, ou
presencialmente) possam prestar assessoria técnica informática e que ajudem
a resolver os problemas que surgem no dia-a-dia aos diferentes operadores.
IV. O Mapa Judiciário apresentado pelos socialistas não é um verdadeiro mapa
da justiça. Alguns estudos indicam que metade dos tribunais em Portugal não
têm carga de trabalho que justifique a sua existência e alguns dos poucos
dados estatísticos demonstram igualmente que temos demasiados tribunais e,
em determinadas situações, muito concentrados do ponto de vista territorial.
Esta realidade põe à evidência a necessidade de se articular os diferentes
meios de resolução de litígios existentes, judiciais e extrajudiciais, como os
julgados de paz, os sistemas de mediação e centros de arbitragem, e mesmo
com outras jurisdições como a administrativa e fiscal.
Simultaneamente, há que enfrentar a discussão sobre o nosso processo civil e
estudar a possibilidade de se implementar um novo regime processual mais
simplificado, mais flexível e com maior autodeterminação das partes. Deve
ser equacionada igualmente a possibilidade da figura da Injunção passar, em
definitivo, a ser uma fase prévia e obrigatória de qualquer processo de
cobrança de dívida. Há ainda que efectuar um estudo sério sobre a acção
executiva e o processo de insolvência, avaliando o cumprimento dos
objectivos definidos na lei, nomeadamente o afastamento de falências
fraudulentas.
V. O CDS admite consagrar a separação entre a progressão na carreira judicial
e a hierarquia nos Tribunais, o que permitirá reduzir a prazo o número de
magistrados nos tribunais superiores (para um terço do actual), sem
prejudicar as expectativas legítimas de progressão na carreira e permitir
canalizar um número significativo de magistrados para o julgamento de
processos no âmbito da 1ª Instância, onde há maiores pendências.
VI. A simplificação, qualidade e contenção legislativa tem sido um bem
escasso na Justiça Portuguesa. A proliferação legislativa dos últimos tempos é,
em regra, de má qualidade. As leis aprovadas pelos socialistas são complexas
no método, fracas na técnica e desastrosas no resultado. O CDS entende que é
preciso inverter esse ciclo, corrigindo-se alguns dos problemas causados por
leis irresponsáveis e desajustadas da realidade.
As leis penais e processuais penais aprovadas pelo Governo socialista são um
exemplo da sua incoerência legislativa. Constituíram um retrocesso,
introduziram burocracia e vieram dificultar a aplicação dos mecanismos de
detenção e de prisão preventiva. O CDS propõe-se alterar o actual regime de
aplicação da prisão preventiva e de detenção fora de flagrante delito, em
larga medida responsável pelo aumento da criminalidade registada após a
revisão do Código de Processo Penal, designadamente com a revisão dos
pressupostos para a sua aplicação. Defendemos: i) a revogação da exigência
de que o crime seja punido com mais de cinco anos de prisão, aplicando-se
novamente os três anos anteriormente exigidos; ii) a abolição da norma que
prescreve que o juiz não possa aplicar a prisão preventiva se essa medida de
coacção não for requerida pelo Ministério Público; iii) a revogação ou
reformulação dos artigos 13º e 15º da Lei da Política Criminal, que impõem ao
Ministério Público que, sempre que legalmente o possa fazer, não requeira
condenações em pena de prisão efectiva ou o decretamento da prisão
preventiva.
No que respeita à detenção fora de flagrante delito, deverá ser abolida a
disposição que torna exigível que a detenção só possa efectuar-se quando
haja fundadas razões para considerar que o visado não se apresentaria
espontaneamente perante autoridade judiciária no prazo que lhe fosse fixado.
Todas estas disposições, além de terem provocado um decréscimo
significativo do número de prisões preventivas e das detenções realizadas fora
de flagrante delito, têm aumentado os números da criminalidade
(designadamente de crimes violentos cometidos nas regiões de Lisboa, Porto e
Setúbal) e o sentimento de insegurança, além de fazerem pairar uma nuvem
de descrédito sobre o sistema de justiça, com a consequente transmissão de
um sentimento de impunidade aos delinquentes, muitos deles sucessivamente
detidos e logo de seguida libertados.
VII. Entendemos que deve ser feita uma reflexão muito séria sobre o
recrutamento dos magistrados, no sentido de tornar a carreira atractiva e
capaz de captar alunos de elevadas classificações.
O CDS defende uma aposta radical na formação dos actores judiciários e na
avaliação do sistema. A falta de articulação ao nível das formações dos
operadores judiciários tem colocado problemas gravíssimos de funcionamento
dos tribunais. Sabe-se que as formações de magistrados e as formações dos
funcionários judiciais existentes não são complementares nem integradas.
Esta ausência de integração repete-se ao nível das inspecções/avaliações. A
avaliação efectuada no âmbito das inspecções (magistrados judiciais,
magistrados do Ministério Público e oficiais de justiça) não é harmonizada,
esquecendo-se, em muitas ocasiões, que estes operadores trabalham em
equipa. Esta dualidade de inspecções tem criado igualmente problemas
gravíssimos nos Tribunais.
Para além da avaliação individual rigorosa e com reflexos na remuneração,
importa também cada vez mais caminhar para uma avaliação global da
secção, do juízo e do tribunal.
Faz ainda sentido ponderar a formação conjunta de magistrados e advogados,
pelo menos numa fase inicial da formação, de forma a criar uma cultura de
trabalho cooperante, no sentido de alcançar uma justiça célere e credível,
com a qual todos têm a ganhar.
VIII. O CDS entende que o caminho de aposta nos meios alternativos é um
caminho incontornável mas ao qual importa dar sentido. Os meios alternativos
de resolução de litígios fazem sentido como oferta de serviços diferenciados,
mas também como contributo para ajudar a descongestionar os meios
judiciais. Nesta lógica, não faz sentido que o Governo Socialista continue a
inaugurar Julgados de Paz e a alargar os novos sistemas de mediação, sem que
a rede de meios alternativos esteja definitivamente articulada com a rede das
infraestruturas judiciais. O CDS defende, assim: i) a articulação imediata da
Rede de Julgados de Paz com o Mapa Judiciário; ii) a revisão da Lei de
Arbitragem Voluntária; iii) a criação de novos Sistemas de Mediação (Sistema
de Mediação em matéria Civil e Comercial) e alargamento das experiências de
mediação aos Tribunais Judiciais (desde que sob a supervisão e homologação
dos magistrados judiciais); iv) a obrigatoriedade de, à semelhança do que
sucede em processo do trabalho, fixar em qualquer espécie de processo a
obrigatoriedade de se realizar uma tentativa de conciliação; v) o
acompanhamento dos resultados da mediação penal, de forma a avaliar a
possibilidade de alargar os mecanismos de justiça restaurativa; vi) a particular
atenção à resolução de litígios de consumo.
Entendemos ainda que se deve apostar fortemente na informação e na
consulta jurídicas, como meios eficazes de combate à litigiosidade.
IX. O CDS defende que o sistema de justiça seja mais acessível ao cidadão.
Ora, o novo Regulamento das Custas Processuais veio, a contra ciclo,
aumentar as custas judiciais e dificultar o acesso à Justiça. Este movimento
de aumento das custas judiciais foi acompanhado de um completo
esquecimento dos mecanismos de acesso ao direito, nomeadamente, dos
Gabinetes de Informação e Consulta Jurídica.
A unidade de conta passou de € 96 para € 102 e passou a ser actualizada
anualmente, em vez de, como sucedia no passado, ser actualizada de 3 em 3
anos. Com este novo regime socialista, as custas judiciais passam a ser pagas
na totalidade logo no início do processo, quando, antigamente, eram pagas
em dois momentos distintos. Mesmo que, em determinadas acções, a taxa de
justiça venha a ser inferior, o esforço que se impõe agora às empresas e aos
particulares, num momento inicial de acesso aos tribunais, é bastante
superior, porque se obriga a pagar tudo ab initio.
O CDS considera que esta medida é uma medida em claro contra-ciclo e de
grande autismo: num momento de falta de liquidez as empresas e os
particulares são obrigados a fazer um maior esforço económico.
Por tudo isso, o CDS defende: i) a revogação do Regulamento das Custas
Processuais; ii) a criação de benefícios fiscais para os processos que terminem
com acordo ainda antes da marcação do julgamento (por exemplo até à
audiência preliminar).
X. Por fim o CDS entende prioritário o combate à corrupção e à criminalidade
económica e financeira, fenómenos que se debatem com dificuldades
conhecidas: a complexidade destes crimes, a sofisticação dos meios usados, o
seu carácter transnacional, a falta de meios de investigação, nomeadamente
ao nível do imprescindível apoio de peritos qualificados, e com diversas
insuficiências legislativas verificadas neste domínio.
Neste âmbito, o CDS defende a criação de um novo tipo de crime – o Crime
Urbanístico. Actualmente, violações de Planos Directores Municipais, de
Urbanização e de Pormenor, com consequências graves e muitas vezes
irreversíveis para o ambiente e ordenamento do território, são punidos
através do crime de corrupção, cuja prova é muito difícil de realizar, ou
qualificadas somente como irregularidades administrativas, transmitindo a
sensação de que o crime compensa. A criação deste novo tipo legal reveste
grande importância preventiva e de moralização.
Propomos o aumento da moldura penal dos crimes de poder, designadamente
dos crimes Abuso de Poder e de Participação Económica em Negócio, de
extrema danosidade para o interesse público, os quais são puníveis com uma
pena máxima de 3 anos de prisão.
Defendemos ainda o reforço dos meios de investigação neste domínio,
através: i) da criação de novas bolsas de peritos e ampliação das actualmente
existentes; ii) da criação de equipas multidisciplinares de investigação,
integradas por elementos de diferentes áreas (Investigação Criminal,
Finanças, Tribunal de Contas, Inspecção Geral da Administração Local, etc.);
do reforço do quadro de inspectores da Polícia Judiciária.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Introdução decisiva do gestor judicial. 2. Criação do gabinete do juiz. 3. Estudar a generalização de carreiras planas. 4. Tronco comum de formação para os diferentes actores judiciários. 5. Reforma do processo civil. 6. Criação de efectivo sistema de complementaridade com os meios extrajudiciais de resolução de conflitos. 7. Alteração do regime da prisão preventiva e de detenção fora do flagrante delito. 8. Alteração do regulamento das custas judiciais no sentido de facilitar o acesso à justiça. 9. Criação de um novo tipo de crime: crime urbanístico. 10. Aumento da moldura penal dos crimes de poder.
EMPRESAS, MERCADOS E ECONOMIA
CRÍTICAS
1. Falências de empresas e escassez de nascimento de novas empresas.
2. Perda de quota de mercado nas exportações.
3. Linhas de crédito com condições inacessíveis.
4. Desvio de missão estratégica de CGD.
5. Problemas de supervisão graves no sistema financeiro.
O governo socialista demitiu-se de orientar esforços, recursos e apoios para
empresas e sectores com boas perspectivas de crescimento, geradores de
emprego e riqueza e potencialmente competitivos a nível internacional. Ao
invés, na última legislatura o governo socialista tornou-se num "bombeiro de
empresas", mas um bombeiro cego que apagava fogos consoante o impacto
mediático de cada empresa ou da sua aproximação ao poder. Não existiu
nunca a avaliação sobre a viabilidade ou a sustentabilidade futura da
empresa.
O primeiro-ministro reagiu tarde à crise internacional, negando-a quando era
já uma evidência. Quando reagiu, fê-lo de forma desordenada e pouco
consistente. As primeiras medidas de apoio às empresas foram totalmente
ineficazes. Eram vagas, demasiado macro, não atendiam aos problemas que
eram diferentes de sector para sector.
Em Portugal, há cerca de 300 mil micro, pequenas e médias empresas,
responsáveis por mais de 2 milhões de empregos, bastante afectadas pela
crise. O Governo pouco se interessou por elas, comparativamente com a
importância dada às grandes empresas, nomeadamente do sector financeiro.
Optou, sim, por um intervencionismo directo estatal, em decisões
empresariais, ou indirectos, utilizando para o efeito a CGD, que com
frequência interveio em relações entre accionistas que são exclusivamente da
esfera privada destes. Com isto criou-se a ideia de que a proximidade ao
Estado se tornou um factor crítico de sucesso.
RESPOSTAS
I. Nos últimos anos, Portugal continuou a divergir face à União Europeia, quer
em produtividade média por trabalhador, quer considerando qualquer outra
medida global de riqueza.
Nestes últimos 15 anos, o crescimento económico foi demasiado alavancado
em investimento público em infra-estruturas, que não é igualmente
importante e que, seguramente nos últimos quatro anos, pouco contribui para
o aumento da competitividade das nossas empresas ou para a atractividade do
País na captação do investimento externo. Ora, o valor acrescentado marginal
do novo investimento público nestes domínios é cada vez menor.
Portugal ainda não se afastou do modelo de desenvolvimento baseado num
modelo económico de baixos salários e de baixa qualificação profissional. Este
modelo não resiste aos impactos da globalização do século XXI.
A economia portuguesa tem revelado incapacidade de canalizar investimento
para a inovação, investigação e desenvolvimento. O pouco investimento que
existiu, correspondente a uma das mais baixas taxas da Europa, pouco
contribuiu para o aumento da riqueza ou criação de emprego.
Nesta legislatura, Portugal não se tornou mais competitivo face a outras
economias europeias, nomeadamente da Europa de Leste. Ficámos aquém das
necessidades na captação de mais investimento externo, o que também é
revelador da fraca competitividade do nosso país. Parte significativa desse
investimento foi feita em empresas já instaladas, não correspondendo a
empresas criadas de novo em Portugal.
Em termos de exportações, um dos motores do crescimento dos últimos anos,
o investimento não resultou tanto de uma estratégia interna e concertada,
mas mais uma vez do efeito exógeno do crescimento do comércio global. A
nossa posição relativa no mercado mundial tem-se vindo a degradar.
Perdemos mais de 10% de quota de mercado nos últimos 5 anos.
A este facto, juntam-se outros aspectos que nos fragilizam. Somos um dos 5
países da OCDE com mais sobreposição de “perfil exportador” com as
economias emergentes da Ásia, e assim mais ameaçado num futuro próximo.
Somos um dos países europeus com menor número de marcas internacionais e
com menor controlo dos seus canais de distribuição, factores essenciais para o
aumento do valor acrescentado das exportações, e logo, para o aumento da
capacidade e competitividade internacional. Cada vez mais, somos um país de
serviços com reduzida industrialização, com alguns sectores a viver em
situações monopolistas ou demasiado proteccionistas, excessivamente
próximas da politica governamental, quer por via da detenção do capital,
quer por via regulamentar.
Não obstante este cenário pouco animador, o Estado continuou a “cavalgada
fiscal” com consequências na deterioração da competitividade das nossas
empresas e inibição da atracção de investimento externo. A carga fiscal
aumentou de 34% para 38%, o que se traduziu não apenas num aumento da
carga fiscal relativa, mas também num aumento em valor absoluto.
Acresce que sofremos ainda uma enorme dependência energética dos
combustíveis sólidos, nomeadamente do petróleo. De uma forma geral, os
preços da electricidade e do gás são superiores aos dos nossos parceiros
comunitários, principalmente da Espanha. Foram feitos esforços na
diversificação para fontes de energia alternativas e renováveis. Mas não houve
uma redução significativa dos custos energéticos para as empresas.
A nossa economia assenta principalmente em pequenas e médias empresas, na
maior parte dos casos focadas no mercado nacional e regional onde se
inserem, com uma desproporção do sector terciário face ao secundário. Cerca
de 250 mil empresas de dimensão média não elevada – até 50 trabalhadores -
são responsáveis por mais de 1,5 milhões de empregos.
Por fim, existem fortes assimetrias regionais, já que 6 distritos são
responsáveis por cerca de 70% do tecido empresarial Português.
II. Numa economia aberta, global e competitiva, de forma a ser
comparativamente forte, é fundamental que qualquer país defina claramente
quais os sectores de actividade económica onde quer estar, para os quais
pretende canalizar a maior parte dos seus recursos financeiros e os seus
melhores recursos humanos.
Para tal é necessário analisar os sectores a apoiar numa perspectiva
integrada, procurando estimular o aparecimento e o fortalecimento de
empresas em cada uma das fases da cadeia de valor do respectivo sector.
Adicionalmente, atendendo ao desequilíbrio da Balança Comercial Portuguesa
e ao valor elevado da dívida pública face ao PIB português (insustentável a
médio prazo), importa não só procurar estimular empresas com vocação
exportadora, mas também empresas que produzam bens e serviços em que
Portugal seja deficitário, de que são exemplos as empresas dos sectores agro-
alimentares, automóvel ou energético. As linhas de crédito e as linhas de
seguros de crédito à exportação deverão ter em atenção estes objectivos
estratégicos.
Assim, a atenção do Governo deverá estar centrada em seis pilares
fundamentais: i) fomento das exportações e internacionalização das empresas
portuguesas ii) captação de investimento estrangeiro para Portugal iii) gestão
focada dos fundos nacionais, comunitários e linhas de crédito iv) geração de
emprego qualificado a longo prazo v) promoção de actividades e empresas
que valorizem os recursos naturais de Portugal vi) redução dos custos
energéticos para os cidadãos e as empresas.
III. No que respeita ao fomento à exportação e à internacionalização das
empresas, importa criar condições para fortalecimento e o ganho de escala da
nossa indústria, de forma a produzir bens com mais qualidade, mais
inovadores e mais baratos.
Atendendo à reduzida dimensão da indústria portuguesa, é necessário
promover activamente a concentração empresarial, no sentido de ser possível
obter ganhos de escala e capacidade de investimento em Investigação &
Desenvolvimento. O recente Fundo para Consolidação e Concentração de
empresas portuguesas deve ser impulsionado, assim como precisam de
impulso os reforços dos capitais próprios das empresas, nomeadamente
através do recurso ao mercado bolsista.
O Estado deve promover e divulgar proactivamente os acordos entre Portugal
e outros países que facilitem a venda de produtos portugueses no exterior. As
indústrias com vocação exportadora devem ser claramente apoiadas, sendo
colocado ao seu serviço toda a capacidade de influência do Estado Português,
nomeadamente através da AICEP e da rede diplomática, que podem prestar
mais apoio quer à internacionalização das empresas quer às acções de
captação do investimento directo estrangeiro. Os diplomatas, observadores
acreditados, com acesso a contactos ao mais alto nível e com a possibilidade
de obterem informação privilegiada, são trunfos muito importantes para a
entrada e permanência das nossas empresas nos mercados internacionais. A
informação que as embaixadas dispõem inclui a análise da situação política e
da existência de eventuais riscos para o investimento, o que muitas vezes
escapa às empresas, particularmente às PMEs.
Ainda a respeito do papel da nossa representação externa, importa valorizar
os consulados e o seu contacto com as comunidades portuguesas, onde
podemos incluir também os portugueses que ocupam lugares de destaque em
empresas estrangeiras. A dimensão empresarial das comunidades portuguesas,
a sua experiência e domínio dos mercados podem ajudar muito aos novos
investimentos, assim os consulados possam servir de correia transmissora
desse capital de conhecimento.
O CDS defende, pois, o apoio da rede diplomática, que deve ser dotada dos
meios necessários à prioridade absoluta que devemos dar à
internacionalização das empresas portuguesas. Tal passa por i) promover as
exportações portuguesas junto dos Estados de acreditação ii) ajudar à
captação do investimento directo estrangeiro iii) apoiar em concreto a
implantação das empresas portuguesas (incluindo a protecção consular aos
cidadãos nacionais que as integrem) iv) por prestar, a pedido e sempre que
possível (sem quebrar regras de confidencialidade), informações que possam
ser relevantes para os agentes económicos nacionais v) por apoiar e promover
acções de divulgação do país como destino turístico de excelência.
IV. A captação de investimento estrangeiro para Portugal assume uma
importância fundamental para o desenvolvimento económico do País, pois
temos um défice de capacidade de investimento endógeno.
Para promover esse investimento, importa elaborar uma estratégia integrada
de captação de investidores para Portugal, dando a conhecer os sectores em
que o País tem vantagens competitivas, definindo um enquadramento fiscal e
regulamentar atractivo, formando mão-de-obra em quantidade e qualidade
suficiente e reduzindo ao máximo os custos de contexto.
Há ainda factores estruturais na nossa economia, como a demora na justiça ou
falhas na qualificação da mão-de-obra, que são decisivos num ambiente
favorável ao investimento.
A captação de investimento estrangeiro deverá ser efectuada de uma forma
selectiva, ou seja, analisando bem o custo/benefício desse investimento e sua
sustentabilidade futura. Investimentos que não incorporem muita mão-de-
obra, produtos ou know-how português são menos prioritários, no elenco dos
apoios, face aos investimentos cuja incorporação nacional seja mais elevada.
Nas eventuais contrapartidas que o Estado Português der ao investimento
estrangeiro deve sublinhar-se a salvaguardada contratual da permanência
mínima do investimento em Portugal e da incorporação de determinados
volumes de bens ou know-how nacional.
V. A aposta na qualificação deve de ser prioritária na economia Portuguesa. É
imprescindível podermos formar pessoas capazes de competir no mercado
global. Hoje, os trabalhadores portugueses concorrem não apenas com os 400
milhões de europeus, mas também, e cada vez mais, com gerações de quadros
bem qualificados que todos os anos saem dos países BRIC, com particular
incidência para o Brasil, Índia e China.
Hoje existem novas formas de trabalho, novas valências técnicas que Portugal
pode e deve aproveitar. Devemos por isso incentivar a inovação por via da
formação. Para isso, é importante apoiar as despesas que as empresas
efectuam com os seus empregados na conclusão de licenciaturas, cursos de
pós-graduação, mestrados ou doutoramentos.
Paralelamente, devem ser criados mecanismos de incentivo para melhoria na
qualificação dos trabalhadores. O Estado pode prolongar o subsídio de
desemprego a trabalhadores que utilizem o tempo em que estão
desempregados para melhorar a sua formação (frequência de um curso
superior com aproveitamento, mestrados e cursos de pós-graduação). Os
incentivos poderão advir também de períodos de carência de empréstimos ou
de comparticipação em empréstimos bancários, cujo fim seja exclusivamente
utilizado no pagamento dos custos de formação.
VI. De entre as actividades que o Estado deve promover, têm um lugar
particularmente relevante as que valorizam o aproveitamento dos recursos
naturais do país. Aqui incluem-se as pescas e seus derivados, a agricultura e a
agro-indústria, a silvicultura, a pasta de papel e a biomassa.
Se é verdade que as pescas e os seus derivados têm sido, teoricamente, uma
prioridade da economia portuguesa, em termos práticos a importância deste
sector tem vindo a descer de ano para ano. Portugal apresenta indiscutíveis
vantagens comparativas neste sector, destacando-se a sua vasta zona
económica exclusiva. Os apoios devem ser no sentido do aumento da
capacidade de pesca, da valorização do pescado nos mercados nacionais e
internacionais e da melhoria da capacidade de transformação a jusante, por
exemplo, na produção de conservas, congelados, farinhas e outro tipo de
produtos à base de peixe.
Portugal tem claras vantagens comparativas na produção de alguns produtos
agrícolas. O apoio a estes produtores deve ser privilegiado, no sentido de
ganharem escala e dimensão e de conseguirem aceder a mercados externos.
Toda a fileira florestal portuguesa, para a qual o país está vocacionado,
deverá ser estimulada e apoiada. A valorização da floresta, o apoio ao
emparcelamento e à gestão única de várias propriedades de pequena ou
média dimensão, os incentivos a toda a indústria transformadora da madeira e
de cortiça, o aproveitamento de resíduos florestais para a produção de
energia (biomassa) são áreas a ter em atenção.
Por fim, apesar de o turismo ser um sector já de há muito eleito como um dos
sectores estratégicos para Portugal, há ainda muito a fazer no sentido de
alargar a sua importância. Para além do turismo tradicional onde somos
bastante fortes, é necessário procurar outro tipo de turistas, nomeadamente
através do turismo residencial e do turismo cultural, de saúde e bem-estar.
Estes tópicos serão, naturalmente, desenvolvidos nas respectivas áreas
programáticas.
VII. A elevada dependência energética do país faz perigar a nossa
competitividade e agrava os custos dos serviços básicos para os cidadãos.
As empresas portuguesas são duplamente penalizadas: em primeiro lugar pela
subida dos custos com a energia e em segundo lugar porque pagam, em geral,
mais que os seus concorrentes em Espanha e noutros países, pela
electricidade, pelo gás e por outros combustíveis, o que as prejudica
adicionalmente na sua competitividade relativa.
A criação e o tratamento do défice tarifário energético pelo Governo
socialista é, em tudo, semelhante ao tratamento do endividamento do Estado.
O Governo atira para as gerações futuras custos originados pelas suas más
políticas.
Para inverter esta tendência haverá que i) melhorar a eficiência no consumo
ii) melhorar, diversificando, a oferta energética iii) aumentar claramente a
transparência e concorrência no sector.
VIII. O actual sistema de gestão de fundos de apoio empresarial não é
coerente e contém injustiças relativas. Os mecanismos de acesso a fundos
comunitários, linhas de crédito ou comparticipações de investimentos,
aparecem como medidas avulsas sem qualquer tipo de integração entre elas.
As medidas apareceram ao sabor do eleitoralismo do momento, fruto muitas
vezes da pressão de associações sectoriais. Daí que, em várias áreas, haja
uma baixíssima taxa de execução das medidas anti-crise.
Se o principal objectivo para as nossas empresas é fomentar a exportação,
deveremos focar nestas os mecanismos de apoio, bem como nos sectores
internos considerados estratégicos. Importa também estabelecer medidas de
apoio e comparticipações nas garantias dos seguros de crédito das empresas
de seguros que operam no mercado, sem recorrer a medidas mais radicais
(como a “nacionalização” da COSEC) que possam resultar numa distorção
indesejada do mercado, não resolvendo, aliás, a questão de fundo.
No que respeita ao QREN, um dos mecanismos de financiamento mais
importante à disposição dos empresários, importa simplificar e facilitar todo o
processo de candidaturas, porquanto actualmente as regras de acesso são
confusas, as janelas de oportunidade para as candidaturas muito curtas e a
complexidade do processo é, muitas vezes, incompatível com uma pequena
empresa que pretenda candidatar-se. Desburocratizar o QREN, é urgente.
As linhas de crédito são uma boa política, desde que não contenham
condições impossíveis. Como o CDS atempadamente denunciou, não é
aceitável exigir i) a existência de lucros nos últimos 2 de 3 anos ii) a
inexistência de dívidas ao fisco ou à segurança social iii) esta mesma
condição, mesmo quando o Estado é devedor à empresa. Este tipo de critérios
afasta muitas empresas viáveis das linhas de crédito.
IX. O CDS defende uma alteração radical das prioridades da política
económica do governo. Um dos grandes erros do governo socialista foi a
prioridade dada às grandes empresas, em detrimento das micro, pequenas e
médias empresas.
Foram estas empresas que mais sofreram com a crise, primeiro com a
dificuldade no acesso ao crédito de curto prazo, principalmente através de
contas caucionadas e depois com quebras muito acentuadas do mercado
interno e de exportação. Hoje vivem dificuldades na quebra dos mercados
agravadas com o problema dos seguros de crédito.
Por outro lado, continuamos a assistir a um Estado predador cuja prioridade é
arrecadar receita fiscal sem qualquer critério ou sentido de justiça e que
muitas vezes não cumpre as suas obrigações de devedor.
Para alterar esta situação asfixiante para as empresas, o CDS propõe i) o
reembolso mensal do IVA ii) a compensação fiscal dos créditos do Estado,
podendo as empresas fazer a compensação entre créditos junto da
administração fiscal e débitos à Segurança Social iii) a obrigação do Estado
pagar juros de mora, uma vez decorridos mais de 30 dias sobre a data do
pagamento da factura iv) a simplificação e facilitação dos instrumentos de
acesso aos fundos comunitários ou de apoio empresarial, facilitando os
procedimentos e avaliações quando se trate de empresas de menor dimensão
v) o fim da grotesca exigência de garantias, por parte do Estado, para o
Estado pagar as suas dívidas vi) o incentivo ao capital de risco ou aos fundos
de investimento que invistam nas PME´s e que com essa participação possam
trazer não apenas capital mas também know how de gestão vii) o incentivo à
fusão ou aquisição de empresas com vocação exportadora viii) a discriminação
positiva das PME na desburocratização da Administração Pública e,
principalmente, nos mecanismos de acesso a fundos de apoio empresarial viii)
uma condição de preferência, para as PME’s, em igualdade de circunstâncias,
nos fornecimentos do Estado até certo montante.
X. A existência de um sector financeiro forte, moderno competitivo e de boas
práticas é fundamental para a competitividade do país. Um sector financeiro
sólido é um pilar da sustentabilidade do tecido empresarial português.
Neste contexto, urge definir a missão da Caixa Geral de Depósitos na
economia e principalmente no seu papel no apoio às empresas. Até hoje a
CGD alternou entre o papel de banco do Estado, substituto do extinto IPE,
capital de risco estatal ou financiador de investidores privados na luta pelo
controlo de grandes empresas nacionais. Paralelamente, a CGD, pelas
participações directas ou indirectas através dos fundos que controla, tem sido
utilizada de uma forma mais ou menos clara, para manipular, intervir e
participar nas grandes empresas nacionais. Importa redefinir e clarificar
definitivamente o papel do banco estatal.
O CDS defende a manutenção da Caixa Geral de Depósitos sob controlo do
Estado Português. Tendo em conta a situação periférica de Portugal, a sua
pequena dimensão, e a concentração bancária relativamente elevada, é
relevante a existência de um Banco importante controlado pelo Estado. No
entanto, este Banco deverá ter uma missão definida, e as políticas de
incentivo a determinados sectores ou empresas devem ser acessíveis através a
todo o sistema bancário e não apenas utilizando o canal privilegiado do banco
estatal. O CDS defende uma mudança radical: a CGD deve ter um mandato
político claro no sentido de apoiar as famílias e as PME´s e ainda mais
especialmente em processos de consolidação e exportação. A CGD deverá ter
um Conselho de Supervisão próprio, em nome da transparência da sua missão.
Ao nível de participações do Estado no sector financeiro, defendemos a
dispersão em bolsa de parte do capital do sector segurador da Caixa Geral de
Depósitos, tendo em vista a redução do peso do Estado neste sector.
Defendemos que a participação no Banco Português de Negócios deve ser
alienada com a brevidade possível, e que a situação do Banco Privado
Português deve ser resolvida definitiva e rapidamente, mediante as propostas
que já apresentámos.
XI. É urgente reforçar a credibilidade da supervisão em Portugal. É necessário
não só melhorar a imagem do Banco de Portugal, mas também a sua filosofia
de actuação.
Assim sendo, o CDS defende que o banco central, bem como outros
reguladores, seja sujeito a escrutínio democrático, tendo a obrigação de,
regularmente, prestar contas à Comissão Parlamentar de Economia e
Finanças, respondendo assim ao País sobre as actividades desenvolvidas na
supervisão e controle do sistema financeiro.
É decisiva uma nova leitura da supervisão, dando muito mais ênfase à
componente de inspecção e auditoria preventivas.
Importa reforçar a solidez financeira e de gestão das instituições, não só
através da aplicação de rácios mais exigentes, mas também promovendo e
apoiando a fusão e integração de instituições. Uma outra componente
prioritária é um aumento da exigência quanto à composição dos órgãos
sociais, reforçando a capacidade de gestão, os poderes dos accionistas e uma
idoneidade acrescida.
Reiteramos que a actual leitura da supervisão, assumida pelo actual
Governador do BdP, não oferece garantias de que casos como o BPN, o BPP e
o BCP, diferentes entre si mas que abalaram a confiança no sistema, não vão
repetir-se.
O CDS considera importante a intervenção do PR na nomeação do Governador
e Administração do BdP. Para conciliar a necessidade de fiscalização com a
independência dos supervisores, o CDS trabalhará para que uma de duas
soluções sejam adoptadas: a possibilidade de um procedimento de
“impeachement” dos reguladores, de tipo parlamentar, em condições
especialmente graves e mediante uma maioria qualificada; ou a
impossibilidade de renovação de mandatos.
XII. É entendimento do CDS que o peso do Estado na economia portuguesa é
excessivo, seja como empregador, como consumidor de bens e serviços, como
adjudicador de obras públicas, seja ainda como accionista de empresas que
competem directamente com operadores privados (exemplo da banca,
telecomunicações, energia, media, entre outros sectores e actividade
económica).
No sentido de adequar a dimensão do Estado aos serviços que este deverá
prestar, tendo em conta as condições do mercado i) no inicio da legislatura
deve ser definido um plano de alienações das participações do Estado,
directas ou através da Parpública ii) deste Plano ficam de fora, naturalmente,
a Caixa Geral de Depósitos e as participações na área da defesa, bem como
todas aquelas onde haja compromissos assumidos pelo Estado e em que a
manutenção da posição accionista seja condição para a execução dos
referidos compromissos iii) devem ser alienadas participações que o Estado
detém em empresas como, por exemplo, a ANA, Autódromo, Margueira,
Lisnave, Inapa ou ZON iv) as golden share em empresas como a PT, EDP ou
REN, ou as empresas do sector de transportes mais críticas e de elevada
função social não se enquadram neste plano .
A nível do sector segurador, em que a CGD controla cerca de 40% através da
Caixa Seguros (Império-Bonança e Fidelidade Mundial), não se vê razão para
não alienar uma das empresas ou, em alternativa, dispersar o capital da Caixa
Seguros com preferência para os pequenos investidores.
As participações municipais devem ser revistas. Faz pouco sentido as
autarquias serem cada vez mais operadores económicos.
Existem ainda mercados demasiados fechados que actuam em regime muito
protegido com consequências negativas para o utilizador e o consumidor final.
Os mercados energéticos, alguns sectores dos transportes sejam eles
marítimos, ferroviários ou marítimos, e sectores como o das telecomunicações
ou o da água, devem ter o seu nível de concorrência visivelmente aumentado.
XIII. O CDS não esquece as lições que devem retirar-se da crise financeira
internacional. Como Partido defensor de uma economia de mercado com
responsabilidade ética, consideramos que é preciso porfiar e insistir na
transparência e em regras claras, que não permitam o retorno a tipos de
comportamentos lesivos de confiança da sociedade, dos accionistas e dos
depositantes.
Promoveremos, por isso, a adopção de boas regras de conduta, inspiradas no
quadro de decisões do G-20 e em documentos de “governance” já publicados
em Portugal.
A dissuasão de bónus de gestão precipitados, a verificação dos resultados por
revistas plurianuais, a transparência – e, portanto, independência – das
empresas auditoras face às instituições que as contratam, o maior poder de
controlo dos accionistas sobre o sistema de remunerações, estão entre as
medidas que ajudam à separação do “trigo do joio” no sistema. O nosso
objectivo é garantir boas e sóbrias práticas neste sector determinante para a
economia.
CADERNO DE ENCARGOS: ECONOMIA
1. Reembolso mensal do IVA.
2. Compensação de créditos entre dívidas do Estado às empresas e dívidas
das empresas à segurança social ou ao fisco.
3. Pagamento obrigatório de juros de mora, decorridos 30 dias sobre o
prazo de pagamento da factura.
4. Desburocratização do QREN.
5. Linhas de Crédito focadas nas PMEs, sem condições “impossíveis” de
acesso. Sublinhado especial para as empresas exportadoras e de
sectores produtivos.
6. Condição de preferência para as PMEs, nos fornecimentos do Estado até
certo montante.
7. Incentivos ao capital de risco e aos fundos de investimento em PMEs.
8. Definição precisa e incontornável de missão de CGD: apoiar o crédito às
PMEs. Conselho de Supervisão na CGD.
9. Desenvolvimento do Fundo para a consolidação e concentração de
empresas portuguesas.
10. Prioridade absoluta à diplomacia económica, com trabalho mais
integrado dos vários agentes.
11. Aposta na qualificação dos trabalhadores e dos desempregados. Apoio
às despesas das empresas com empregados que concluem cursos de
nível académico superior; e ao desempregado que, nessa
eventualidade, frequenta, com aproveitamento, cursos superiores.
12. Aposta clara no aumento da concorrência no sector energético, visando
a necessária redução de custos para as empresas.
13. Modificação profunda da política de supervisão do Banco de Portugal.
14. Consagração da figura do “impeachement” dos reguladores, em
circunstâncias de falha grave. Em alternativa, consagrar mandatos
únicos.
15. Plano de alienações das participações do Estado e privatizações nos
próximos 4 anos.
16. Redução significativa do número e espécie de empresas municipais.
17. Promoção de boas práticas de “governance”, efectivamente dissuasoras
do tipo de comportamentos que estiveram na origem da crise
financeira internacional.
VOLUNTARIADO
CRÍTICAS
1. Voluntariado não foi prioridade do Governo.
2. Desactualização do estatuto do voluntário.
3. Desaproveitamento das parcerias com as IPSS.
O governo socialista, durante quatro anos e meio, não sublinhou a importância
do terceiro sector – especialmente do sector social, como as IPSS e as
Misericórdias – e do trabalho com que, de forma generosa e altruísta, milhares
de voluntários contribuem para a coesão social e o desenvolvimento do nosso
País.
Com uma suspeição ideológica, ou mesmo com preconceito, foram
questionadas as parcerias e tentada a “estatização” de um sector que nasceu e
cresceu da iniciativa e da vontade livre de participar, ajudar e apoiar – nas
respostas sociais como na cultura ou no desporto – os outros. Esta
desconsideração culminou na proposta de um Código Contributivo que
pretendeu arrecadar mais receita através de instituições sem fins lucrativos e
encarecer o seu custo de funcionamento.
Numa altura de crise, em que toda a ajuda seria – pensamos nós – bem-vinda,
em que os conhecimentos acumulados de tantos voluntários e a larga
experiência de tantas instituições fazem falta, o governo decidiu esquecer, em
vez de promover, preferiu manter, em vez de aproveitar. Num tempo em que as
respostas sociais têm de ser céleres e justas, foi ignorada a primeira rede
social, depois da família: a boa vontade da comunidade.
RESPOSTAS
I. O CDS valoriza o voluntariado como factor de humanização, realização
pessoal e coesão social. Na sua definição mais simples, é a boa vontade em
acção. O empenhamento do Partido nesta área ficou claro quando, em Agosto
de 2008, o Grupo de Missão sobre o voluntariado apresentou o relatório
“Ajudar quem Ajuda”, dando, assim, atenção, institucional e politica, para este
tema essencial da participação cívica da nossa vida em comunidade.
Ao estudar e aprovar este relatório, o CDS levantou a discussão em torno de
um sector com um peso crescente na sociedade e cultura contemporâneas e
com um reflexo exponencial na economia. Este relatório, elaborado com o
conhecimento e a consulta de dezenas de instituições, federações e uniões do
sector é a base das propostas políticas que o CDS tem apresentado e
continuará a defender nesta área, concretizando medidas que privilegiem o
exercício do voluntariado – uma forma de participação cada vez mais relevante
não só no sector social como, ainda, na cultura, no desporto, na protecção civil
e na saúde.
II. Numa altura de grave crise económica e social, entendemos que é premente
fortalecer este sector. Dar mais condições e melhorar a sua eficácia – tanto aos
voluntários em si como às organizações e instituições - reconhecendo a sua
livre iniciativa e, principalmente, a forma como este sector muitas vezes se
adianta e realiza funções de apoio e rede comunitária. Na verdade, esta rede,
especialmente na área social, é muitas vezes a mais importante ajuda a quem
precisa. Propomos, assim, que algumas das respostas sociais possam ser
contratualizadas entre as organizações e a Administração Pública.
O apoio e a segurança que devem ser dados aos voluntários não podem, no
entanto, servir para o Estado asfixiar ou pretender dirigir estas pessoas ou
instituições. Pelo contrário, deve ser reconhecida a sua independência e o seu
trabalho deve ser visto como um exercício de responsabilidade cívica e social,
um instrumento para o desenvolvimento da sociedade civil e para a coesão
social.
III. Quanto aos voluntários devemos apostar especialmente em duas áreas: o
voluntariado sénior, que depois da aposentação dispõe de tempo e de
conhecimentos que não podem ser desperdiçados; e, por outro lado, aproveitar
o potencial de generosidade do voluntariado jovem.
A esta aposta, juntamos a necessária modernização e actualização perante a
realidade actual do voluntariado. Por exemplo, existem, cada vez mais pessoas
dispostas a ajudar, com o seu tempo e trabalho, voluntariamente, a um nível de
proximidade dos problemas, mas que por várias razões, não se enquadram no
trabalho mais institucional. Consideramos que este novo tipo de voluntariado
deve ser reconhecido.
Por outro lado, como os donativos de empresas são dedutíveis em sede fiscal,
também a prestação voluntária de serviços de profissionais liberais (como o
apoio médico, jurídico, de gestão e organização, entre muitos outros) deve ter
um tratamento fiscal favorável.
IV. Em termos de organização e reconhecimento, urge fortalecer e adequar o
Conselho Nacional do Voluntariado, para dar resposta às exigências actuais,
assim como, repetimos, actualizar o estatuto e as bases do enquadramento
jurídico do voluntariado.
Se a generosidade é a base do voluntariado, a acção necessita, muitas vezes
de ser bem enquadrada para garantir que seja continuada e eficaz. Por isso
propomos a criação, de forma contratualizada com instituições com experiência
na formação de voluntários, de uma Escola Nacional de Voluntariado, para
garantir uma maior eficácia, e mesmo realização, do trabalho voluntário.
Propomos a integração do voluntariado no programa de formação cívica, para
sensibilizar as crianças e jovens, dando a conhecer, a nível das suas
comunidades locais os projectos e as instituições do sector. Cada escola
portuguesa pode ser um pequeno “banco de voluntariado”. Para tanto, os
jovens precisam de informação.
Para permitir às pessoas colectivas e singulares maior escolha e informação
sobre as entidades, instituições e organizações a que pretendem atribuir os
donativos, propomos a criação de uma lista nacional de todas as organizações
que pratiquem e promovam acções de voluntariado. Pretendemos, também,
promover o incentivo de trabalho em rede entre os Centros de Emprego, as
instituições sociais e as organizações de voluntariado, permitindo a abertura de
novos programas de trabalho voluntário, nomeadamente junto dos beneficiários
do Rendimento Social de Inserção.
CADERNO DE ENCARGOS VOLUNTARIADO
1. Reconhecimento do voluntariado de proximidade.
2. Dedução das prestações de serviços gratuitas em sede de IRS ou IRC.
Os donativos para determinado tipo de instituições já merecem
tratamento fiscal favorável. O mesmo deve suceder com prestações de
serviços efectuadas, por exemplo, por profissionais liberais (por ex, o
apoio médico).
3. Criação, de modo contratualizado, de uma Escola Nacional de
Voluntariado, destinada à formação de voluntários.
4. Integração do voluntariado no programa de formação cívica, para
sensibilizar as crianças e os jovens. Em cada escola, deve existir
informação disponível sobre projectos de voluntariado.
5. Aposta forte no voluntariado sénior.
6. Criação de uma lista nacional de todas as organizações que pratiquem e
promovam acções de voluntariado, a fim de permitir às pessoas
colectivas e singulares maior escolha e informação sobre os projectos a
que pretendem atribuir donativos.
7. Fortalecimento do Conselho Nacional de Voluntariado e revisão do
estatuto.
8. Trabalho em rede entre os Centros de Emprego, as instituições sociais e
as organizações de voluntariado, permitindo a abertura de novos
programas de trabalho voluntário, nomeadamente junto dos beneficiários
do Rendimento Social de Inserção.
CULTURA
CRÍTICAS
1. Falhanço no cumprimento do programa eleitoral.
2. Política cultural em dois actos, Pires de Lima e Pinto Ribeiro, com anúncios
não concretizados, projectos abandonados e mesmo insultos entre os dois
Ministros do Governo PS. Como exemplo, a saga do museu do mar da língua
portuguesa e o trágico desperdício do pólo do Hermitage nunca concretizado.
3. Atenção tardia perante os perigos que impendem sobre o nosso património
arqueológico e arquitectónico.
4. Uma anacrónica solução administrativa para o Teatro Nacional de S. Carlos
e Companhia Nacional de Bailado e uma perigosa desatenção perante as artes
performativas e visuais.
Os últimos quatro anos e meio de uma maioria absoluta socialista, foram uma
oportunidade perdida para a Cultura. Importa realçar que o Partido Socialista
falhou clamorosamente nos três objectivos principais a que se havia
comprometido em 2005.
Falhou no objectivo de “retirar o sector da cultura da asfixia financeira” ao
destinar–lhe os Orçamentos mais baixos da última década. A decadência e a
depauperação de todo o sector foram por demais evidentes.
Falhou no objectivo de “retomar o impulso político para o desenvolvimento
do tecido cultural português”, pois não há memória de tamanha atrofia do
tecido cultural, em resultado de ausência de estratégia e decisões erráticas.
O desprezo pela Cultura foi tal, que o Primeiro-Ministro se viu obrigado a
reconhecer o desinvestimento no sector como a maior falha da sua
governação.
Falhou no objectivo de “conseguir um equilíbrio dinâmico entre a defesa e
valorização do património cultural, o apoio à criação artística, a estruturação
do território com equipamentos e redes culturais, a aposta na educação
artística e na formação dos públicos e a promoção internacional da cultura
portuguesa”. Assistimos, durante quatro anos e meio, a uma contestação sem
precedentes em todas as áreas do tecido cultural português: da preservação
do património ao apoio à criação; da música ao bailado; das artes plásticas à
literatura; do teatro à museologia, só houve registo de instabilidade,
insatisfação e indignação. Agentes culturais de todas as áreas, bem como
destacados militantes e ex-Ministros socialistas demarcaram-se frontalmente
da política cultural do Governo e teceram-lhe severas críticas.
Como acreditar, então, no novo programa eleitoral do PS e nos seus
compromissos?
RESPOSTAS
I. O CDS tem afirmado repetidamente que considera a Cultura uma prioridade
para Portugal. Definimos a Cultura como um importantíssimo factor de
desenvolvimento do nosso País, um eixo de afirmação da nossa identidade,
além de elemento de qualificação e coesão social e territorial da comunidade.
Lembramos, ainda, que a cultura é um motor de crescimento económico e um
sector gerador de emprego.
Sem Cultura, um país é um mero somatório de pessoas e terras. Uma
sociedade empenhada na salvaguarda e promoção da sua Cultura, deverá
sempre procurar a síntese entre herança e evolução, entre passado e futuro.
Preservar a herança cultural e desenvolvê-la, reproduzi-la, recriá-la,
reinventá-la. A afirmação cultural de Portugal e da língua portuguesa no
Mundo depende dessa articulação permanente e de uma definição, tão clara
quanto possível, sobre o papel do Estado, nas suas diferentes dimensões. Sem
essa definição e sem estratégia, qualquer Orçamento do Estado para a Cultura
corre o risco de ser um orçamento desperdiçado.
Mas para tal, Portugal precisa de uma visão estratégica para a Cultura em que
o Estado se assume como o garante da preservação herança cultural; da
transversalidade entre cultura e outros sectores, como a Educação, a
Economia, os Negócios Estrangeiros ou o Turismo; da partilha
responsabilidades com autarquias e de parcerias com privados; da liberdade
criativa, da igualdade de oportunidades no acesso à cultura; da difusão
artística e da internacionalização da língua e da cultura portuguesas.
II. A preservação da Herança Cultural é primordial. A valorização e o respeito
pela herança cultural passam por uma alocação ajustada e inquestionável das
verbas necessárias à preservação do património que deve ser salvaguardado.
Defendemos programas específicos para cada área do património material
nomeadamente para preservação, programação e dinamização do acervo
arqueológico, arquivístico, arquitectónico ou paisagístico. O Estado tem de
dar o exemplo, ao não deixar degradar o seu património e os monumentos
nacionais.
Temos de dar garantias de dignidade da nossa rede de museus públicos,
estimulando o mérito de cada instituição no funcionamento, desenvolvimento
e aperfeiçoamento constantes, considerando uma maior autonomia na sua
gestão. É necessário criar programas de incentivo às indústrias criativas que
dêem continuidade, formação e divulgação de competências técnicas e
artísticas tradicionais portuguesas, como a joalharia tradicional e o
artesanato.
O CDS defende programas específicos de salvaguarda, preservação, promoção
e divulgação do património imaterial, assim como um programa específico
para a salvaguarda da língua portuguesa que passará pelo acompanhamento
adequado da introdução do acordo ortográfico, incentivo ao aparecimento de
novos talentos, divulgação dos autores e da literatura portuguesa no
estrangeiro, com especial incidência nos países de língua oficial portuguesa. É
imprescindível voltar a dinamizar o quase extinto ensino da língua portuguesa
no estrangeiro, criando protocolos com universidades e institutos para envio
de leitores.
Tem de ser reexaminada a fusão operada pelo OPART, na qual a Companhia
Nacional de Bailado ficou subalternizada em relação ao Teatro Nacional de S.
Carlos. Os Teatros, e a Orquestra, Nacionais, bem como o Teatro Nacional de
S. Carlos, único teatro lírico português, e a Companhia Nacional de Bailado
deverão, como tais, ser tratados e dignificados, quer do ponto de vista das
condições de funcionamento, quer do ponto de vista da programação.
III. É necessário garantir a transversalidade entre cultura e outros sectores.
Sectores chave, como a Educação, a Economia, o Turismo e os Negócios
Estrangeiros, devem articular-se em permanência através de objectivos
definidos, uma estratégia conjunta e colaboração constante com o sector
cultural. O CDS defende a criação de currículos escolares e actividades extra-
curriculares que valorizem efectivamente a formação artística dos jovens.
Tem de ser dada prioridade ao Turismo Cultural, como factor de
desenvolvimento interno e de internacionalização de Portugal.
Assumimos que para garantir a expansão das indústrias criativas é necessário
dar voz a novas áreas de criação artística e da cultura de projecto; para tal, é
necessário dignificar o ensino de referência e fomentar câmaras
representativas das actividades profissionais, como, por exemplo, o Design.
Reconhecemos a necessidade de tratamento e a abordagem específicas de
determinadas áreas tradicionais que conjugam tradição, formação e
homologações específicas como a joalharia contemporânea portuguesa.
Assumimos a importância de áreas como a Arquitectura e o Paisagismo, como
parte integrante do acervo e da dinâmica cultural e artística, e como tal
devem ser tratadas;
Para o CDS é premente completar um verdadeiro e completo Estatuto dos
profissionais das Artes e dos Espectáculos) um estatuto dos artistas, que
reconheça as especificidades laborais, de protecção social e fiscalidade destas
profissões.
IV. Repartir as responsabilidades, com autarquias e privados, é envolver a
comunidade no sector cultural. Trata-se de promover todas as formas de
articulação, colaboração, coordenação e partilha de deveres e direitos entre
Estado, autarquias e privados. Nomeadamente, promovendo o papel das
autarquias na formação artística, formação de públicos e difusão cultural.
Temos de reformular a lei do mecenato (cuja função actual é resolver
problemas de financiamento dos organismos estatais, levando os grandes
mecenas a substituírem-se ao financiamento do Estado) de modo a torna-la
mais apelativa aos privados e de modo a alargar o número de beneficiários
(para que também projectos independentes e locais sejam apoiados).
O Estado tem de assumir o papel de plataforma de articulação, para que
espaços culturais e cine-teatros municipais tenham programação,
preferencialmente em rede, constante e de qualidade.
V. A liberdade criativa e a difusão artística têm de ser protegidas. O Estado
deve ter um papel de agente mobilizador, abstendo-nos de qualquer
dirigismo, mobilizando os agentes para a criação e oferta diversificada, do
património, às artes contemporâneas (literatura, artes visuais ou dos
espectáculos), das artes performativas ao cinema, estimulando todas as
expressões artísticas porque são a representação e produção actual da nossa
criatividade.
Assim, acreditamos, fortaleceremos os agentes culturais, o desenvolvimento e
o dinamismo cultural fora da alçada do Estado, através de uma intensificação
e responsabilização nas relações com a comunidade, com as empresas e com o
público. O CDS pretende criar, sem demagogias, mecanismos de equilíbrio
entre o apoio à criação/divulgação para o grande público e a
criação/divulgação para públicos mais restritos, evitando uma cultura fechada
sobre si mesma, elitista e hermética. O denominador comum deverá ser
sempre, e intransigentemente, a qualidade.
Reconhecemos a necessidade de maior acompanhamento e estabelecimento
de estratégia para a dignificação da dança contemporânea portuguesa e
zelaremos, intransigentemente, pela oferta de qualidade; só assim é possível
criar públicos mais esclarecidos, dando um passo para um ciclo de exigência
entre a procura e a oferta;
VI. Igualdade de oportunidades no acesso à cultura é o passo seguinte.
Insistimos nas disciplinas culturais nos programas escolares, e maior
dinamização dos serviços educativos, pois insistimos numa maior ligação dos
espaços culturais à comunidade educativa em que se inserem. Defendemos
uma maior aposta no voluntariado cultural, a melhor participação da
comunidade nas instituições e nos projectos culturais. Pretendemos a
continuação e aumento de programas, em rede, de apoio à difusão cultural
através das novas tecnologias, nomeadamente visitas virtuais a museus e
eventos culturais.
O CDS dará continuidade empenhada ao Plano Nacional de Leitura e ao
alargamento da rede de bibliotecas.
V. Apostamos no esforço estratégico e consistente de internacionalização da
língua e da cultura portuguesas, através da nossa diplomacia, mas também
através da diáspora e comunidades portuguesas. Damos prioridade estratégica
ao Brasil e aos países lusófonos, onde a língua é uma mais-valia de afirmação
e onde o sector do livro e do audiovisual podem ter um papel determinante,
fortalecendo uma herança cultural comum.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Alocação ajustada e inquestionável das verbas necessárias à preservação
do património que deve ser salvaguardado. O Estado tem de dar o
exemplo: não deixar degradar o seu património - e os monumentos
nacionais – e dar garantias de dignidade da nossa rede de museus
públicos, estimulando o mérito de cada instituição no funcionamento.
2. Criar programas de incentivo às indústrias criativas que dêem
continuidade, formação e divulgação de competências técnicas e
artísticas.
3. Reexaminar a fusão operada pelo OPART, na qual a Companhia Nacional
de Bailado ficou subalternizada em relação ao Teatro Nacional de S.
Carlos;
4. Garantir uma transversalidade efectiva da Cultura com outros sectores
chave, como a Educação, a Economia, o Turismo e os Negócios
Estrangeiros;
5. Completar um verdadeiro e completo Estatuto dos profissionais das Artes
e dos Espectáculos) um estatuto dos artistas, que reconheça as
especificidades laborais, de protecção social e fiscalidade destas
profissões.
6. Reformular a lei do mecenato;
7. Criar mecanismos de equilíbrio entre o apoio à criação/divulgação para o
grande público e a criação/divulgação para públicos mais restritos,
reconhecendo a necessidade de maior acompanhamento e
estabelecimento de estratégia para a dignificação da dança
contemporânea portuguesa;
8. Estratégia consistente de internacionalização da língua e da cultura
portuguesas, e criar um programa específico para a salvaguarda da língua
portuguesa que passará pelo acompanhamento adequado da introdução
do acordo ortográfico.
SEGURANÇA
CRÍTICAS
1. Cancelamento das entradas na PSP e GNR.
2. Erros nas leis orgânicas da PJ, PSP e GNR.
3. Alterações negativas nos Códigos Penal e de Processo Penal.
4. Projecto perigoso do Código de Execuções de Penas.
5. Cancelamento das entradas na PSP e GNR.
6. Erros nas leis orgânicas da PJ, PSP e GNR.
7. Alterações negativas nos Códigos Penal e de Processo Penal.
Os últimos quatro anos e meio foram erráticos e tiveram consequências
desastrosas na área da segurança. O cancelamento das admissões na PSP e na
GNR, o défice de investigadores e outros agentes na PJ e a promessa de uma
“reconversão” de 4800 agentes administrativos em operacionais que nunca
apareceram, foram erros graves na política de efectivos que deixaram o país
com menos polícias no exacto momento em que a criminalidade aumentava.
Como se não bastasse, a lei orgânica da PJ foi declarada inconstitucional, a
da GNR recebeu veto presidencial e a da PSP, aumentando a jurisdição
territorial da força, retirou-lhe efectivos. É difícil imaginar que se pudesse
fazer pior.
No plano legislativo, o chamado “Pacto de Justiça” que PS e PSD aprovaram,
conduziu a alterações despropositadas e, em termos de segurança, muito
negativas, nas leis penais. Seguiu-se uma tentativa de “emendar a mão”
através da Lei das Armas e um projecto de código Execução de Penas
irresponsável. Do ponto de vista das leis, agravaram-se as condições de
insegurança.
Em termos globais, a criminalidade em Portugal subiu de patamar, tornou-se
mais violenta e organizada. A “resposta” do Estado, com o Governo
socialista, foi fraca nos efectivos, incompetente nas leis e ineficaz quanto às
políticas sociais que permitem garantir um ambiente de maior paz social nos
chamados bairros problemáticos.
RESPOSTAS
I. A segurança dos cidadãos é o primeiro dos deveres do Estado e é condição
básica para o exercício da liberdade dos cidadãos.
Importa, nesta matéria, falar claro, agir com firmeza e assumir compromissos
concretos que sejam tributários da coesão e da necessária pacificação das
forças e serviços de segurança. Pode-se concordar ou discordar das propostas
do CDS, mas é inegável que foi o CDS que denunciou os erros que este governo
cometeu e apresentou propostas verdadeiramente alternativas.
Do carjacking aos sequestros, dos roubos aos gangs, o CDS foi dizendo a
verdade, por mais incómoda que fosse. Os Portugueses, hoje, podem avaliar
quem tinha razão e quem falhou; em quem podem confiar e em quem já não
poderão acreditar.
Os Portugueses sabem que é necessária outra política de segurança. Indignam-
se quando vêem que detidos em flagrante delito não são julgados
rapidamente; revoltam-se quando sabem que polícias arriscam a vida e no dia
seguinte vêem os detidos sair em liberdade para, muitas vezes, reincidir;
perguntam-se porque razão o Governo deixou as polícias com menos
efectivos, menos patrulhamento e até tribunais e esquadras com menos
segurança.
Em Portugal, o pensamento oficial sobre a criminalidade – e o discurso
“politicamente correcto” que o ampara – pode descrever-se assim: desculpa-
se o criminoso, culpa-se a sociedade e ignora-se a vítima. O paradigma do CDS
é muito diferente: baseia-se numa política de segurança firme, que
responsabiliza o criminoso, apoia a vítima e ajuda a proteger a sociedade de
uma criminalidade mais grave e ameaçadora.
Neste contexto, importa desenvolver uma política que restaure a confiança
das polícias em quem as tutela, proporcione os meios adequados e, tão ou
mais importante, devolva a cada agente e militar das Forças de Segurança a
necessária confiança para desempenhar as tarefas que lhe são cometidas. O
que se pretende é uma política de segurança “segura”, que desenvolva,
reforce e potencie as competências dos homens e mulheres que as integram.
II. A coordenação, cooperação e partilha de informação entre as diversas
forças e serviços de segurança que se encontram repartidas por diversos
ministérios é um tema de habitual reflexão. Na análise deste problema,
poderemos ter uma abordagem mais conceptual ou mais pragmática.
No primeiro ângulo de análise, conceptualmente, o CDS recusa passar os
próximos 4 anos enredado numa discussão teórica sobre a criação de uma
polícia única, ou sobre fusões, cisões e incorporações de qualquer das forças e
serviços de segurança actualmente existentes. Na verdade, essas propostas,
mais do que objectivos de carácter operacional, podem visar a redução
tecnocrática do investimento nas polícias. Não garantem qualquer ganho de
segurança para os Portugueses.
Pelo contrário: essas aventuras conceptuais, caso fossem levadas a cabo,
trazem em si a promessa de conflitos permanentes, e nesse clima não se faz
uma política de segurança. Assim, por exemplo, qualquer tentativa de
reconverter os militares da GNR em civis esbarra na realidade dos factos,
prejudica a urgência de uma política de segurança eficaz e cria dificuldades
espúrias no relacionamento com o Presidente da República e as Forças
Armadas.
Do mesmo modo, a extinção - e consequente incorporação noutras forças - de
serviços de segurança com provas dadas nacional e internacionalmente, como
o SEF, em nada contribuiriam para um mais eficaz combate ao crime. A
diversidade de natureza, atribuições e competências das diversas forças e
serviços de segurança justifica-se na realidade dos factos e dos problemas; a
questão está em garantir coordenação, troca de informação e acção conjunta,
quando se justifica.
Depois da fracassada reestruturação das forças de segurança na divisão de
parcelas de território antes partilhadas, os Portugueses dispensam novos
factores de instabilidade nas instituições e na sua relação de proximidade com
os cidadãos. Do que Portugal precisa, nos próximos 4 anos, é de mais
segurança junto dos cidadãos; não é de políticos entretidos a “experimentar”
modelos académicos de polícia.
Questão diferente é saber se serviços espalhados por diversos Ministérios com
a natureza de órgãos de polícia criminal, como a ASAE, devem manter tal
estatuto. E no entender do CDS a atribuição de tal natureza deve ser
repensada de forma restritiva.
Por isso mesmo, numa visão pragmática, o País deveria encarar sem
complexos a existência de uma tutela única sobre os órgãos de polícia
criminal, de modo a garantir a necessária unidade de comando, maior
coordenação nas operações de polícia e uma partilha de informações mais
eficaz entre todos aqueles que, directa ou indirectamente, participam no
patrulhamento, policiamento e na investigação criminal. Demasiadas vezes
estes conceitos parecem distantes na realidade prática das ocorrências.
O CDS considera, por isso, preferível e desejável que um só Ministério tutele
as forças e serviços de segurança que são diferentes entre si mas carecem de
direcção forte, coordenação operacional e uma coerente política de meios
humanos, financeiros, operacionais e legais. O que certamente não pode
voltar a acontecer é o Ministério da Administração Interna agir
descoordenadamente com o Ministério da Justiça. Não pode o trabalho da
polícia ser desfeito e até traído pelo sistema judicial, na aplicação de leis
propostas pelo Ministério da Justiça. Se a solução da tutela única, comum em
países europeus, não for imediatamente exequível, o CDS considera que o
patamar mínimo para realizar uma política de segurança digna desse nome é
que o próximo MAI superintenda, pelo menos, a revisão das leis penais,
processuais penais e de execução de penas, bem como política de prisões. De
outro modo, não é possível dar garantias de uma política segura.
Na verdade, todo o sistema de coordenação, cooperação e partilha de
informação, bem como de elaboração de leis penais, leis processuais penais e
de execução de penas deve ser baseado numa política coerente e não, como
tantas vezes se viu nesta legislatura, ser objecto de diferendos entre
Ministros, Directores-gerais e responsáveis das polícias.
III. Naturalmente, em obediência ao exposto, o Secretário-Geral do Sistema
de Segurança Interna deve trabalhar na tutela do MAI.
O Secretário-Geral do SSI deve ter apoio permanente, o que actualmente não
sucede. Através do Sistema já em vigor, ou através de um Conselho
Permanente de Segurança Interna presidido pelo Secretário-Geral, é
necessário clarificar competências de coordenação, como a faculdade de dar
parecer obrigatório em todas as alterações legais relevantes para a política de
segurança, garantir uma direcção táctica entre as polícias e assegurar a
coordenação e fiscalização das actividades das policias municipais e da
segurança privada.
Os compromissos em relação a efectivos também devem ser precisos. O CDS
defende o reforço do patrulhamento de proximidade com a resolução do
défice de agentes, militares e investigadores da PSP, GNR e PJ, através da
abertura imediata de concurso para o recrutamento e incorporação de novos
2500 novos agentes para a PSP, 1200 militares para a GNR e 300
investigadores criminais, forenses e periciais para a PJ, especialmente para as
áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e Setúbal.
IV. Para garantir uma política de segurança eficaz, é também necessário
alterar a Lei de Programação das Forças e Serviços de Segurança e elaborar
um Plano a quatro anos, de recuperação, reconstrução e construção de
esquadras e quartéis das forças e serviços de segurança. Não deve continuar a
ficção de uma política de infra-estruturas que não se cumpre.
Consagramos a obrigatoriedade da realização anual de concursos para a
admissão de novos elementos para estas forças de segurança, progredindo
face às aposentações previsíveis em cada ano.
Consideramos, ainda, prioritário preencher o quadro de efectivos dos Corpos
Especiais da PSP e da GNR e garantir a sua participação no patrulhamento dos
mais de cem bairros identificados pelas Forças de Segurança como sendo
problemáticos.
Também entendemos necessário criar Grupos Operacionais de Prevenção
(GOP), para actuar nos bairros considerados de risco, compostos por
elementos do SIS, GNR, PSP e SEF com objectivo de identificar, prevenir e
combater incidentes de violência urbana grave.
Abordaremos com determinação a questão do regime remuneratório das
Forças de Segurança, evitando critérios avulsos na fixação do seu montante e
visando o aumento da remuneração base mensal.
Queremos ainda retirar das Forças de Segurança tarefas de carácter
burocrático, como pedidos de situação patrimonial de réus, certo tipo de
notificações, apreensões e penhoras quando a avaliação de risco seja diminuta
ou inexistente.
O CDS dará forte apoio ao recrutamento e especialização na Polícia Judiciária,
na investigação da criminalidade violente e particularmente complexa.
Naturalmente, daremos aos serviços de informação os meios humanos e
materiais para o cumprimento da sua missão.
V. O outro vector urgente numa política de segurança é a revisão cirúrgica,
mas imediata, de aspectos dos Códigos Penal e Processual Penal.
Queremos tornar o processo sumário numa verdadeira regra do sistema
quando se trate de detidos em flagrante delito e nos casos legalmente
admissíveis. Por isso, o Ministério Público deve poder apresentar provas
complementares logo na audiência de julgamento nestes casos. Tornaremos
obrigatória a separação de processos, possibilitando julgar de imediato os
crimes com pena aplicável até 5 anos, independentemente de, no mesmo
facto criminal, existirem crimes com moldura penal superior. Ainda neste
plano, queremos evitar que os julgamentos rápidos não se façam com base em
meros argumentos de contagem de dias. O julgamento rápido do flagrante
delito, é a medida mais eficaz contra o sentimento de impunidade.
Ainda no plano penal, defendemos o reforço do estatuto das vítimas no
processo, consagrando novos direitos de informação, apoio e intervenção no
processo aos assistentes. Prevemos a constituição, como assistente, do
Ministério da Administração Interna, nos casos de ofensas à vida ou à
integridade física dos elementos das forças e serviços de segurança.
Voltaremos à regra de aplicação da prisão preventiva aos crimes com pena
superior a 3 anos. Não confundimos o princípio – importante no Estado de
Direito – de que não pode prolongar-se a prisão preventiva, sem culpa
formada, indefinidamente, com o tipo de crimes a que essa prisão preventiva
é aplicável.
VI. Queremos também alterar, cirúrgica mas determinadamente, o Código
Penal. O primeiro objectivo é tornar mais rigoroso o regime de liberdade
condicional, tornando regra a sua concessão apenas após o cumprimento de
dois terços da pena, de três quartos para a criminalidade grave e violenta e
impedindo a sua concessão em crimes dolosos com pena aplicável superior a
15 anos.
Reforçaremos a fiscalização das denominadas saídas precárias dos reclusos,
impedindo a sua concessão a reclusos condenados por crimes violentos ou
reincidentes. Para o CDS, não deve haver “saídas precárias” sem
obrigatoriedade da utilização de meios de vigilância electrónica.
Somos partidários da consagração da regra segundo a qual, em casos de
criminalidade grave, a reincidência impossibilita o acesso ao regime da
liberdade condicional.
No que diz respeito à delinquência juvenil, entendemos que é necessário
adaptar a Lei Tutelar Educativa à realidade. Conferimos natureza menos
frequente aos regimes aberto e semi-aberto e, ao mesmo tempo, alargamos os
casos de aplicação do regime fechado. O CDS considera que a idade de
imputabilidade penal não é um tabu e deve ser debatida.
VII. Fazer uma política de segurança não é uma questão exclusivamente
policial, judicial ou penal. É compreender que as maiores dificuldades
requerem soluções de política social mais inovadoras e ambiciosas.
Em boa parte, as fracturas e as ocorrências violentas nos bairros
problemáticos resultam de políticas públicas ineficazes, em que se destaca
um planeamento urbano que convida à formação de “guetos” e o fracasso –
pelo menos, parcial – dos programas de integração social. Trabalhar em
profundidade para que os bairros problemáticos sejam menos problemáticos é
um objectivo muito valorizado pelo CDS.
Admitimos a mediação policial, começando nesses bairros mais difíceis, com
vista a uma maior confiança e proximidade entre a polícia e os cidadãos na
prevenção da criminalidade.
Faremos, a nível nacional, a avaliação dos locais considerados como
potencialmente perigosos com vista à instalação de câmaras de
videoprotecção. Deve clarificar-se a legislação vigente para que as imagens
captadas com base neste sistema façam prova em tribunal, desde que
autorizadas nos termos legais.
Os que respondem, sempre, em relação à videoprotecção, que essa
ferramenta é intrusiva ou apenas serve para “deslocalizar” o crime, esquecem
algumas informações relevantes. Primeira: negam a videoprotecção à maioria
dos habitantes dos bairros difíceis, mas não se queixam dela nas grandes
superfícies ou centros comerciais que frequentam. Segunda: os estudos
internacionais demonstram – por exemplo, nos casos de França, Espanha e até
Inglaterra - que a videoprotecção é bastante eficaz na dissuasão da prática de
crimes e na punição de quem os comete.
Embora pareça questão menor, a elaboração, em conjunto com as autarquias
locais, de um levantamento das áreas mais carenciadas de iluminação pública,
pode ter igualmente efeitos positivos na criação de um ambiente mais seguro.
VIII. Prevemos a avaliação anual, pela Assembleia da República, dos
resultados dos programas públicos de acção e integração social nos bairros
problemáticos das áreas metropolitanas.
O Estado não deve ser cego nas políticas sociais. Há programas de integração
que funcionam bem, e outros que são um fracasso completo, esbanjando
fundos sem retorno social. Voltamos a avisar que políticas sociais apenas
baseadas na gratuitidade – rendas simbólicas, rendimento de inserção – não
funcionam. É preciso que os programas sociais impliquem uma cultura de
deveres e responsabilidades.
Propomos que, nessa avaliação anual, sejam considerados critérios de
sucesso: a redução do abandono escolar; a diminuição da toxicodependência;
a estima pela propriedade pública e particular; o aumento da
empregabilidade dos jovens; a diminuição das ocorrências violentas.
Acresce uma outra proposta em que acreditamos profundamente. Queremos
contratualizar com IPSS de referência, escolhidas mediante critérios
transparentes, a gestão das políticas sociais nos bairros difíceis. Temos a
fundada convicção que esta contratualização, e o respectivo suporte
orçamental, significam mais e melhor trabalho social onde ele é mais
necessário. As IPSS estão no terreno, conhecem os problemas e as famílias
directamente, podem atingir resultados concretos muito acima do que é
alcançável pela burocracia do Estado.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Admissão de 4.000 novos agentes, distribuídos entre PSP, GNR e PJ.
Prioridade ao policiamento das Áreas Metropolitanas.
2. Preferência pela tutela única das Forças de Segurança, recusa da
“polícia única”. Patamar mínimo de uma boa política de segurança é
que MAI deve superintender políticas penais e de execução de penas
3. Participação dos Corpos Especiais da PSP e GNR no patrulhamento das
zonas mais inseguras e Grupos Operacionais de Prevenção nos bairros
de risco.
4. Revisão do regime remuneratório das Forças de Segurança.
5. Revisão imediata, cirúrgica e determinada do Código de Processo Penal
e do Código Penal.
6. Tornar regra o julgamento rápido dos detidos em flagrante delito.
7. Reforço do estatuto da vítima no processo.
8. Aplicação de prisão preventiva nos crimes com pena superior a 3 anos.
9. Alteração das regras de concessão de liberdade condicional: sobe para
2/3 de pena a regra geral e para 3/4 de pena em crimes graves e
violentos. Não haverá liberdade condicional em certos crimes dolosos
gravíssimos, nem em determinados casos de reincidência.
10. Não há saídas precárias da cadeia para reincidentes. Em geral, saídas
precárias só com pulseira electrónica.
11. Alteração da Lei Tutelar Educativa.
12. Maior utilização de vídeo protecção, que deve fazer prova em tribunal.
13. Avaliação anual dos programas de integração social nos bairros
problemáticos.
14. Contratualização, com IPSS de referência, da gestão de programas
sociais nos bairros problemáticos.
15. Defesa da mediação policial.
AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
CRÍTICAS
1.Falta de peso político e de articulação com os outros ministérios.
2.Estruturas, do sector, atomizadas e espartilhadas por múltiplas entidades.
O actual Primeiro-Ministro José Sócrates vangloria-se de ter feito o
casamento entre a área do Ambiente e do Ordenamento do Território quando
ocupava a pasta do Ambiente (no governo Guterres), mas a verdade é que
como Primeiro-Ministro esqueceu o ambiente e esqueceu o ordenamento do
território.
RESPOSTAS
I Talvez seja na área ambiental que é mais evidente a existência de uma
parceria entre os que vieram antes de nós, os que estão vivos neste momento
e os que ainda estão por nascer. Sendo assim, qualquer política ambiental
defendida pelo CDS só pode ter três objectivos primordiais: melhorar o que
nos foi legado, garantir o bem-estar das gerações actuais e assegurar que as
gerações futuras também o possam fazer. São objectivos que têm as pessoas
como prioridade absoluta e não uma qualquer preocupação abstracta com a
modernidade.
O CDS tem a perfeita consciência de que para restabelecer o equilíbrio entre
a actividade humana e o meio ambiente são necessários sacrifícios. Logo, é
seu dever defender políticas que, por um lado, minimizem esses sacrifícios
para a generalidade dos portugueses e que, por outro, poupem quem já vive
em situações de carência a um esforço desproporcional e injusto. Sendo certo
que o meio ambiente é, na sua plenitude, um bem essencial à realização e
dignidade do indivíduo, este deve ser protegido no âmbito de uma política de
racionalidade, respeitadora das liberdades de cada um. É esta a única via
para uma efectiva conservação dos recursos naturais e para preservação dos
ecossistemas.
Reconhecendo o sector do ambiente como estratégico para o país e com
grandes potencialidades de desenvolvimento, o governo deve ter como
prioridade a implementação de políticas de ambiente descentralizadas, que
dêem enfoque à participação pública, e que sejam transversais a todas as
políticas, ditas sectoriais. O que o CDS propõe são políticas pensadas com
base em dados objectivos e não seguindo apenas tendências internacionais ou
exemplos importados. Políticas ambientais assentes na análise dos seus
efectivos impactes e não no cumprimento dos critérios discricionários. Só
assim é possível travar a visão exclusivamente tecnocrática das questões
ambientais e garantir a conjugação da prosperidade do país com a
sustentabilidade.
II As políticas ambientais devem ser abordadas transversalmente, pelo que o
Ministério do Ambiente deve funcionar em estreita colaboração com os outros
Ministérios e deve assumir na estrutura governativa o peso político essencial
para o desenvolvimento das suas atribuições. Ou o Ministério do Ambiente, na
orgânica e na prática, com o apoio do Primeiro-ministro, se assume como um
Ministério com peso político robusto, ou a sua acção é claramente limitada
pelos interesses sectoriais que tendem a encontrar na defesa do ambiente e
do desenvolvimento sustentável uma condicionante para a sua satisfação.
É hoje mais do que aceite a relação de dependência das políticas energéticas,
de planeamento e ordenamento do território, agrícolas, das pescas,
industriais, do turismo, da defesa, do mar, com o ambiente.
No caso concreto do Desenvolvimento Sustentável e de todas as políticas e
acções decorrentes dessa matéria, é imprescindível a abordagem conjunta
dos componentes Ambiente, Economia, e Social, que deve ser um reflexo da
articulação entre os Ministérios respectivos.
Devem ser estabelecidas sinergias entre o Ambiente e a Investigação, fonte
de conhecimento científico que deve servir de suporte à definição das
políticas ambientais.
E, não pode esquecer-se, a articulação entre o Ministério do Ambiente e o
Ministério da Educação, num claro esforço que tem de ser feito para, de uma
vez por todas e de forma sustentada, promover uma educação ambiental que,
no respeito das liberdades de educação, forneça a necessária sensibilização
para as questões do ambiente. Importa aprofundar a educação ambiental e os
mecanismos de participação pública, integrando e reforçando o ambiente na
educação formal e não formal no quadro de uma cidadania para o
desenvolvimento sustentável. Tal como é muito relevante criar novos
mecanismos de participação e mobilização da sociedade civil em questões de
desenvolvimento sustentável e sustentabilidade urbana e promover o
voluntariado ambiental.
Uma ecologia humanista deve assentar em formas de organização
institucional ágeis, eficientes e participadas.
A área governativa do Ambiente encontra-se numa encruzilhada: tem um
modelo de organização sem vitalidade que não permite responder aos
desafios do nosso tempo e aos problemas dos cidadãos; não há sinergias entre
áreas relevantes pelo que os esforços são muitos e pouco produtivos. É uma
estrutura atomizada e espartilhada por múltiplas entidades, sem visão
integradora, com metodologias de gestão e de planeamento rudimentares.
Exemplos disto são todas as questões ligadas à nossa orla costeira. A gestão
integrada das zonas costeiras foi recomendada em Maio de 2002 pelo
Parlamento Europeu e pelo Conselho da Europa, mas só mais de sete anos
depois o Governo português aprovou uma estratégia nacional com uma
reforma para o sector.
O litoral português, de acordo com um relatório da Agência Europeia do
Ambiente (Nov. 2006), registou o maior aumento de áreas artificiais da
Europa entre 1990 e 2000, com um aumento de 34% de áreas artificializadas.
Neste período, por exemplo, Albufeira cresceu 65%. O documento adverte
que a aceleração da utilização do espaço costeiro, impulsionada pelas
indústrias do entretenimento e do turismo, ameaça destruir o delicado
equilíbrio dos ecossistemas costeiros.
As pretensões imobiliárias que estão previstas para todo o litoral, de sul a
norte do País aumentam o risco da nossa costa. Existem 31 grandes
empreendimentos turísticos classificados como Projectos de Interesse
Nacional (PIN), que vão ou já estão a ocupar zonas sensíveis do ponto de vista
ambiental, sendo que 80% dos investimentos são na Península de Setúbal e
Alentejo, seguindo-se o Algarve. Um estudo recente aponta que o Algarve e o
Oeste comportam cerca de 50% dos empreendimentos de grande dimensão já
planeados (com mais de 70 hectares), sendo que a Região Algarvia é a que
mais resorts verá crescer (29%).
Portugal que viu prometido por este Governo uma agência para o litoral, o
que continua a ter são cerca de 11 ministérios, 20 entidades a geri-lo entre
20 direcções gerais e regionais 23 institutos, 5 comissões de coordenação
regional, 5 Administração da Região Hidrográfica, além de sessenta e duas
autarquias. Ou seja, desde o Ambiente (Instituto da Água e Comissões de
Coordenação e Desenvolvimento Regional), à Ciência (Fundação para a
Ciência e Tecnologia), passando pela Administração Interna (polícias e
municípios), pelas Obras Públicas e Transportes e terminando no da Cultura
(Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática e Instituto Português
do Património Arquitectónico) e no da Defesa (Autoridade Marítima, Instituto
Hidrográfico), entre outros.
III Por isso propomos: i) a redefinição da orgânica da Agência Portuguesa de
Ambiente (APA), que deve agregar competências actualmente cometidas ao
INAG (Instituto da Água) e ao ICNB (Instituto de Conservação da Natureza e da
Biodiversidade), num contexto também de melhor gestão e de economias de
escala e deve servir para promover a integração do ambiente em todas as
políticas sectoriais do Governo; ii) o efectivo lançamento da Agência do
Litoral que resolvendo o problema gerado pelo facto de mais de 100
entidades terem competências no litoral, deve actuar como dinamizadora da
gestão integrada da orla costeira, numa lógica de gestão colaborativa com
todas as partes interessadas, valorizando o Mar como elemento que nos
distingue e especializa; a institucionalização da Agência do Território, à
semelhança de outros países europeus, visando a afirmação dos projectos
através da especialização do território num quadro de competências próprias
e diferenciadoras, com dimensão crítica e dimensão espacial ligada a um
sistema de rede e conexões regionais.
IV A falta de informação na área ambiental, bem como a forma como esta é
transmitida, afecta vários grupos da nossa sociedade com destaque para os
cidadãos (enquanto tal) e os profissionais de diferentes sectores, criando
portanto, um obstáculo ao desenvolvimento da consciência ambiental, ao
empenho na implementação de políticas e por vezes ao cumprimento de
regras ambientais.
É fundamental o compromisso das instituições reguladoras e agentes de
decisão na difusão de legislação, normas, políticas e conhecimento técnico,
rumo a uma sociedade informada.
O Estado não pode simplesmente regular, “virar costas” e regressar quando é
para penalizar.
Propomos, por isso: i) a criação de um centro de divulgação e informação,
eficaz e funcional, na dependência da APA, que sirva de local de
esclarecimento a todos os cidadãos e profissionais; ii) a promoção da
publicação de estudos e documentos informativos desenvolvidos tendo em
conta as necessidades de informação identificadas; iii) a disseminação de
estudos e documentos informativos de diferentes fontes nacionais e
internacionais; iv) a difusão de documentos legais de forma acessível ao
público a que se destinam; v) a interacção com escolas e universidades na
promoção da informação, com ênfase na componente legal, na área do
ambiente; vi) a interacção com os empresários e suas sociedades no apoio à
eficaz implementação de políticas ambientais.
V As actuais políticas internacionais de gestão de resíduos salientam a
necessidade de protecção do ambiente e da saúde pública nas operações
relacionadas com essa gestão. Em Portugal, a operacionalização dessas
políticas deixa estes aspectos para planos de interesse diminuto ou
inexistente.
É necessário repensar a gestão de resíduos, tendo em conta a legislação em
vigor e a necessidade de protecção do ambiente e da saúde pública.
Nesta abordagem, devem estar incluídas todas as tipologias de resíduos -
urbanos, industriais, hospitalares - e fluxos específicos identificados como
prioritários, devendo ainda ser consideradas as operações de gestão à escala
nacional, regional e local.
Propomo-nos: i) promover a avaliação de operações de gestão de resíduos
sólidos urbanos (RSU) que decorrem a nível local, tais como a recolha e o
transporte, de modo a serem quantificados os potenciais impactos ambientais
em cada município; ii) implementar tarifários de gestão de RSU que não
prejudiquem os cidadãos que adoptem práticas ambientalmente adequadas
de gestão destes resíduos (redução da produção de resíduos, compostagem
caseira, participação em deposição selectiva, etc); iii) reorganizar os sistemas
plurimunicipais de gestão de RSU tendo em conta a localização geográfica dos
municípios, as infra-estruturas de tratamento existentes e previstas, a
caracterização dos resíduos produzidos e os aspectos ambientais associados;
iv) promover a utilização de ferramentas de gestão ambiental (tais como a
avaliação do ciclo de vida) na avaliação do desempenho ambiental dos
sistemas plurimunicipais de gestão de resíduos com vista à sua melhoria; v)
promover a utilização de ferramentas de gestão ambiental na definição de
políticas de gestão de fluxos prioritários de resíduos, definindo, por exemplo,
nos contratos de concessão das sociedades gestoras de fileira quais as
percentagens de resíduos que deverão ser encaminhados para cada destino
final, tendo em estudos de avaliação do ciclo de vida; vi) estudar a
necessidade de criação de novas fileiras de resíduos e as respectivas
entidades gestoras, sendo potenciais fileiras a criar, por exemplo, os óleos
alimentares ou as fraldas descartáveis usadas; vii) analisar a actividade que
tem sido desenvolvida pelos CIRVER - Centros Integrados de Recuperação,
Valorização e Eliminação de Resíduos -, no que se refere ao tratamento de
resíduos industriais perigosos, avaliando a necessidade de criação de um
CIRVER na zona norte do país, como forma de minimizar o transporte
rodoviário de resíduos industriais perigosos; ix) repensar o sistema de recolha
e destino final dos resíduos hospitalares, procurando minimizar o transporte
de longo curso deste tipo de resíduos; x) dinamizar a gestão de resíduos
baseada num regulador forte mas com maior liberdade de actuação dos
intervenientes, em particular dos operadores de gestão de resíduos,
nomeadamente na promoção do mercado de resíduos; xi) criar guias de
acompanhamento de resíduos únicas para todo e qualquer resíduo e de
qualquer fileira, uma vez que existe um código uniforme para a classificação
dos resíduos no espaço europeu (LER) que é inequívoco; xii) alterar a actual
visão oficial da forma de contabilização de desvio de aterro (ENRUBDA),
passando a ser levados em conta os esforços dos produtores domésticos,
nomeadamente os resultantes da compostagem doméstica; xiii) estudar a
futura aplicação de sistemas PAYT (pay as you throw) para os RSU, de
definição dos tarifários com base na quantidade produzida.
VI É evidente a necessidade de evitar, prevenir ou reduzir prioritariamente os
efeitos prejudiciais da exposição ao ruído ambiente. Mas, em Portugal, falta
completar um instrumento importantíssimo: as cartas municipais de ruído. A
Carta de Ruído é a representação visual da distribuição espacial dos índices
de ruído ambiente. Constitui o diagnóstico do estado acústico de cada
concelho, o que, juntamente com o Zonamento Acústico, permitirá elaborar
com fiabilidade Planos de Redução de Ruído, que serão exigidos no âmbito do
quadro legal nacional e europeu em vigor.
Por isso propomos que sejam completadas, a nível nacional, as cartas
municipais de ruído, de forma a tornar possível a aplicação efectiva da Lei do
Ruído e a elaboração de Planos de Redução de Ruído.
VII Do domínio das águas, defendemos: i) uma gestão mais eficaz e eficiente
dos recursos hídricos, em articulação com os municípios e com as
administrações das bacias hídricas; ii) a conclusão da rede de abastecimento
de água e de saneamento básico em Portugal e a garantia da existência e do
correcto funcionamento das soluções de fim de linha (ainda existem muitas
águas residuais que são descarregadas no meio hídrico sem qualquer
tratamento); iii) a redução do consumo de água potável, através de
campanhas de sensibilização; iv) a utilização de águas residuais tratadas para
fins não potáveis, nomeadamente a lavagem de ruas, rega de jardins; v) a
utilização de águas pluviais para fins não potáveis; vi) o desenvolvimento de
um sistema que oriente o cidadão relativamente à eficiência hídrica de
equipamentos, nomeadamente dos electrodomésticos, que possa funcionar
numa lógica semelhante ao rótulo ecológico, e estar ligado à optimização do
consumo de água; vii) a criação de um quadro legal para a Certificação
Hídrica dos Edifícios, à semelhança do que existe actualmente para a
Certificação Energética de Edifícios.
VIII No que respeita a gestão ambiental nas empresas e no próprio Estado,
importa: i) dinamizar a implementação, em Portugal, do programa da
Comissão Europeia para pequenas e médias empresas ecológicas e
competitivas, a fim de ajudar as pequenas e médias empresas a aplicar da
melhor forma possível a legislação em matéria de ambiente, através da APA e
do IAPMEI, em cooperação com as associações empresariais nacionais e
sectoriais; ii) incentivar nas empresas, e nos organismos do Estado, a
utilização de instrumentos que promovam uma actuação eficaz a nível da
responsabilidade ambiental e ecológica, tal como o recurso à avaliação do
ciclo de vida; iii) fiscalizar a actuação das empresas no que se refere à
Responsabilidade Ambiental e ao Princípio do poluidor Pagador; iv) lançar, no
âmbito da Administração Pública, a orientação de “Administração Eco-
Responsável”, seguindo-se os princípios do “green procurement” da Comissão
Europeia; v) estimular a entrada nos mercado das PME de jovens com
competências na área do Ambiente, que irão apoiar a melhoria do
desempenho ambiental das empresas, através de um plano de apoios próprios
e exigir que as empresas que tenham apoios do QREN apresentem anualmente
Relatórios de Sustentabilidade e que disponibilizem online informações sobre
o seu desempenho ambiental (Declarações Ambientais semelhantes às
exigidas pelo registo EMAS); vi) implementar sistemas de gestão ambiental
(ISO 14001 ou EMAS) nos organismos estatais, tanto a nível da administração
central como local.
XIX No domínio do sector empresarial do Estado, importa: i) rever o âmbito
de actuação da Águas de Portugal, S.A (AdP); ii) tomar medidas que permitam
assegurar a sustentabilidade económica e financeira do sector das águas e
resíduos; iii) recuperar o atraso na execução do programa para o sector
associado ao QREN; iv) clarificar o papel e o contributo da iniciativa privada
no sector da água, reduzindo o peso relativo do sector empresarial do Estado;
v) avaliar os serviços prestados ao cidadão pelos operadores nas áreas do
saneamento, distribuição e tratamento de águas, pela sua eficiência e
cumprimento dos requisitos de performance exigidos pelo regulador, não
influenciando que estes sejam empresas públicas ou privadas; vi) clarificar o
papel do regulador no sector da água, devendo o IRAR ser um instrumento
estratégico do Governo para assegurar que o bem água é protegido e que as
empresas de águas, públicas ou privadas, cumprem os requisitos de
performance exigidos pelo regulador; v) rever os resultados obtidos com a
internacionalização do grupo AdP.
X De forma a promover boas práticas ambientais, entendemos ser de: i)
fomentar a aplicação de sistemas de certificação hídrica de equipamentos,
desenvolvida pela ANQIP (Associação Nacional de Qualidade nas Instalações
Prediais); ii) rever valores de IVA para equipamentos que fomentam as boas
práticas ambientais (e que sejam amigos do ambiente); iii) majorar, em sede
de IRC, os investimentos ambientais que as empresas realizem para aumentar
a sua eco-eficiência ou para minimizar os seus impactes ambientais negativos.
XI No que toca especificamente às alterações climáticas é preciso que o
discurso das alterações climáticas saia dos gabinetes e das negociações do
mercado de carbono e interfira também nas políticas concretas do Ministério
do Ambiente. Importa: i) iniciar a revisão do PNAC – Plano Nacional para as
Alterações Climáticas – logo após a Conferência de Copenhaga em Dezembro
deste ano; ii) adoptar uma estratégia integrada (misto de top-down e buttom-
up) na definição das metas sectoriais; iii) participar activa e
empenhadamente nos esforços e negociações internacionais, que são
coordenadas pela Comissão Europeia; iv) atender particularmente – e trazer
para o debate público – as previsões para Portugal que apontam para uma
subida do nível médio do mar entre 25 a 110 cm até 2100, o que colocará em
risco de erosão 67% do nosso litoral.
XII A qualidade do ar exterior e do ar interior são motivos de enorme
preocupação para a generalidade dos portugueses. Por isso propomos: i) a
monitorização periódica ou em continuo da qualidade do ar interior de
edifícios públicos ou de edifícios e espaços em que há grandes aglomerados
humanos; ii) a redefinição e posterior implementação do Plano Nacional de
Acção Ambiente e Saúde.
XIII No plano do desenvolvimento sustentável e agendas 21 locais é
necessário: i) avaliar o plano de implementação da ENDS - Estratégia Nacional
do Desenvolvimento Sustentável, aceitando este conceito como referência
estruturante de qualquer modelo de governação; ii) definir, com urgência,
uma política das cidades, visando a sustentabilidade enquanto acção chave;
iii) reforçar a importância das Agendas 21 Locais como instrumentos
privilegiados para a adopção de estratégias integradas e sustentáveis de
desenvolvimento, no quadro de uma dimensão informativa, formativa, de
adaptação às especificidades e enraizamentos locais e num contexto de
empenhamento e de mobilização cívica, sendo acompanhadas de indicadores
de sustentabilidade e de avaliação de desempenho; iv) harmonizar as
metodologias de elaboração das Agendas 21 Locais; v) intensificar o
envolvimento da APA na cooperação com os municípios que pretendem
implementar A21L; implementar um sistema de acompanhamento e de
difusão das actividades realizadas nesta área.
XIV A conservação na natureza é uma prioridade primeira de um Ministério do
Ambiente, não pode ser rapidamente trocada por políticas alegadamente
mais visíveis e magnificentes. Neste domínio, é necessário: i) rever o regime
jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade e redefinição do
papel das autarquias no sentido da descentralização de competências; ii)
criar um novo quadro legal e um novo modelo de gestão das áreas protegidas
que vise a compatibilização da preservação da biodiversidade com visitas de
educação ambiental, actividades de eco-turismo, etc.; iii) integrar as áreas
protegidas numa nova entidade de natureza empresarial que garanta, em 10
anos, que os parques naturais portugueses sejam uma marca amplamente
reconhecida, com valor percebido e estimulado pela população; iv) reavaliar
todos os projectos do plano nacional de barragens que têm impactes reais ou
potenciais em áreas sensíveis.
XV. Por fim, importa: i) avaliar o cumprimento do novo Regime Jurídico da
Responsabilidade Ambiental, nomeadamente no que concerne à sua vocação
preventiva e reparadora e preparar a concretização, sem atrasos, da matéria
relativa às garantias financeiras; ii) criar um quadro legal, institucional e
financeiro que vise a prevenção e o controlo da contaminação dos solos e das
áreas mineiras degradadas, bem como a recuperação de locais contaminados
numa óptica de aproveitamento e de requalificação daquelas áreas; iii)
aperfeiçoar a justiça de ambiente iv) participar activamente nas políticas
europeias e no desenvolvimento de Directivas e Regulamentos promovidos
pela União Europeia, na área do ambiente.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Institucionalizar uma Agência do Território.
2. Completar as cartas municipais de ruído.
3. Garantir o correcto funcionamento das soluções de fim de linha no
saneamento.
4. Promover a utilização de águas residuais e pluviais para fins não potáveis.
5. Criar um quadro legal para a certificação hídrica dos edifícios.
6. Adoptar um programa de Administração Eco-responsável.
7. Aprofundar a educação ambiental.
CONCORRÊNCIA E REGULAÇÃO
CRÍTICAS
1. Problemas de regulação e supervisão evidentes e graves (ex: BPN,
BPP e BCP; caso dos combustíveis; electricidade; leite).
2. Tendência para proteger operadores já instalados.
A política de concorrência e regulação, essencial a uma economia de mercado
com responsabilidade ética, sofreu nestes 4 anos e meio, falhas evidentes,
que revelam a distância a que Portugal se encontra de regras e práticas de
concorrência saudáveis.
O que sucedeu, no sistema financeiro, com o BPN, o BPP e o BCP coloca sérias
interrogações sobre a política de supervisão. O que aconteceu com os
combustíveis, e o que não aconteceu em sectores tão díspares como a
electricidade ou o leite, revelam as insuficiências muito sérias nos
reguladores. Continuam a permitir-se práticas inaceitáveis numa economia de
mercado.
RESPOSTAS
I. A derrocada dos sistemas comunistas e a crise das economias planificadas
demonstraram amplamente que o mercado é a forma mais eficiente de
organizar o funcionamento da economia. Só mercados abertos e competitivos,
baseados na assunção do risco e na sua correcta retribuição, são capazes de
promover a iniciativa, o investimento e a inovação sem os quais não há
crescimento possível da economia.
Mas o mercado só conduzirá às melhores soluções, em termos de eficiência
produtiva e distributiva e de promoção do crescimento, se o seu
funcionamento for apoiado por uma política de concorrência que se oponha a
práticas de coligação entre empresas contrárias ao interesse público e a
comportamentos abusivos em prejuízo dos consumidores.
A economia portuguesa está ainda profundamente impregnada de uma
mentalidade avessa ao risco e à concorrência, está ainda muito assente em
estruturas arcaicas herdadas de décadas de corporativismo, de socialismo, de
paternalismo e de proteccionismo económicos que pesam sobre ela quase
como uma maldição.
A publicação, em 2003, de uma nova lei da concorrência e a criação da
Autoridade da Concorrência (AdC) contribuíram para melhorar a situação e
começar a implantar nos tecidos empresariais uma certa “cultura de
concorrência”. Mas continuam a ser cometidos vários erros que convém
corrigir e evitar que se repitam.
II. Antes de mais, há que velar pela adopção de boas práticas legislativas,
evitando, por um lado, o péssimo hábito de legislar ao sabor de impulsos
conjunturais e sujeitando, por outro lado, a discussão pública os mais
importantes projectos de alteração das leis nesta matéria, para que possam
beneficiar dos contributos dos meios interessados antes da sua conversão em
diplomas legislativos.
A lei da concorrência foi já objecto de várias alterações pontuais, nela
introduzidas sem critério nem perspectiva sistemática, a propósito de
inovações legislativas que nada tinham a ver com a matéria. O resultado foi a
criação de normas confusas e inaplicáveis e de situações que só contribuem
para descredibilizar a própria política de concorrência.
O CDS entende que a lei da concorrência deve ser revista em aspectos
substantivos e processuais, tendo em conta os mais de cinco anos de
experiência de aplicação. Está a AdC particularmente bem situada para
preparar esse projecto de revisão, mas, uma vez elaborado, não deve ser
convertido em lei sem um processo adequado de divulgação e de discussão
pública.
Urge também pôr termo ao típico procedimento corporativo, resultante de
tantos mecanismos de licenciamento ou aprovação prévia para o exercício de
certas actividades económicas que, faz participar na decisão os operadores já
instalados, cujo objectivo é, naturalmente, dificultar a entrada de novos
concorrentes. Uma intervenção pública em sede de autorização prévia só é
justificável por razões ambientais, de ordenamento do território, de
protecção da saúde e de segurança públicas, para além de conjunturas
económicas especiais; se assim não for, temos a reinstituição clandestina dos
velhos sistemas de condicionamento industrial.
Não se trata, contudo, apenas da legislação. Também as práticas correntes da
Administração Pública se opõem a uma saudável concorrência nos mercados,
designadamente onde ela seria mais necessária, do ponto de vista quer do
consumidor, quer do contribuinte, isto é nos mercados públicos. Quando o
favoritismo, a falta de transparência e a discriminação são promovidos pelas
próprias entidades adjudicantes, não faz sentido pregar moral às empresas.
Para cumprir cabalmente a sua missão, é essencial que a AdC seja dotada do
máximo de independência compatível com a Constituição e as leis.
III. O CDS é favorável à intervenção do Presidente da República e da
Assembleia da República na nomeação do Presidente e dos membros da AdC,
como expressão da desgovernamentalização que deve presidir à designação e
à actuação desta Autoridade.
Num Estado de direito democrático, a independência de qualquer autoridade
não pode, porém, dissociar-se da sua obrigação de prestar contas -
“accountability” - perante aqueles que são os titulares do interesse público
que lhe compete prosseguir.
Por isso, o CDS preconiza que o Conselho da AdC apresente anualmente o
Relatório das suas actividades à AR e que o seu Presidente compareça na
competente Comissão Parlamentar para prestar todas as explicações sobre a
execução da política de concorrência, sem prejuízo do respeito devido à
confidencialidade requerida pelos segredos de negócios das empresas e pela
presunção de inocência.
O CDS considera igualmente indispensável criar, em Portugal, as condições
para uma eficaz e competente tutela jurisdicional em domínio tão complexo,
como contraponto à existência de um sistema de sanções pesadas como são as
que, justificadamente, correspondem à violação das regras de concorrência.
Neste plano, o CDS é favorável à criação de um tribunal especializado para as
questões de regulação e de concorrência que não só assegure o controlo
jurisdicional da legalidade da actividade da AdC e das entidades reguladoras
sectoriais, mas que igualmente apoie os tribunais comuns na sua tarefa de
aplicar o direito nacional e o direito comunitário da concorrência,
designadamente através do reconhecimento de direitos indemnizatórios a
todos (consumidores ou empresas) os que sejam efectivamente lesados por
comportamentos contrários às normas, de concorrência e outras, aplicáveis
nos vários mercados.
IV. A profunda crise da economia mundial, originada no centro do sistema
financeiro internacional demonstra, contudo, que os mercados têm
necessidade de uma regulação que dê resposta às suas falhas e insuficiências.
A regulação dos mercados só deve, porém, intervir enquanto for claro que a
concorrência não é suficiente para assegurar que o mercado funcione de modo
a proporcionar eficácia e utilidade social, isto é, perante “falhas de
mercado”. Com efeito, a regulação pode ter, nos mercados em que se aplica,
um efeito perverso equivalente ao de um monopólio.
E assim é, quer a respeito de sectores estruturalmente sujeitos à concorrência
(indústrias transformadoras, transportes rodoviários, serviços financeiros e
outros), quer relativamente a sectores estruturalmente não concorrenciais
(como os sectores dos serviços de interesse económico geral,
tradicionalmente sujeitos a monopólios de serviço público e, desde há alguns
anos, por todo o lado, em vias de liberalização/privatização –
telecomunicações, electricidade, gás, abastecimento de água).
As normas de carácter regulatório, baseadas sobretudo numa lógica de
administração dos mercados, tendem a assumir um carácter excessivamente
impositivo e a derrapar para a micro-regulação do mercado e do
comportamento das empresas. Acresce que os critérios políticos a que
normalmente se sujeita o legislador tendem a privilegiar as vantagens de
curto prazo e a esquecer os sacrifícios correspondentes: a imposição de
preços máximos agrada naturalmente aos consumidores, mas pode estrangular
a concorrência potencial e impedir assim uma estrutura de mercado mais
competitiva no futuro.
Destinada a dar solução às falhas de mercado, a regulação deve ter por
objectivo a criação de estruturas competitivas e limitar-se ao necessário a
alcançar esse objectivo.
O CDS não pode aceitar que, com prejuízo dos interesses dos consumidores e
dos contribuintes, se perpetue a tendência natural das estruturas regulatórias
para a sua auto-justificação, com frequência apoiadas em poderosos
interesses político-económicos aos quais a regulação interessa, desde logo
pelos seus efeitos anti-concorrenciais.
Ainda por cima, as regras de carácter regulatório tendem a ser aplicadas de
modo formalista, mais em conformidade com a conveniência da administração
do que em função do resultado a alcançar.
A regulação sectorial não pode substituir o papel fundamental das empresas
nem pode ser sinónimo de manipulação dos mercados, de burocracia ou de
“imperialismo” da Administração, pretensamente iluminado, impondo-se
impedir a captura da regulação por uma qualquer “ideologia”
circunstancialmente abraçada pela burocracia.
Por outro lado, como as falhas da regulação dos mercados financeiro e
bancário abundantemente demonstraram nos últimos anos, o regulador deixa-
se muitas vezes capturar pelas próprias entidades reguladas, tornando-se um
instrumento laxista, ainda que inconsciente, dos seus interesses.
Ora, o CDS entende que, como decorre dos catastróficos episódios que têm
caracterizado a crise do sistema financeiro internacional, uma regulação
vigorosa, atenta, independente e competente é essencial para manter a
confiança na economia de mercado e evitar as derrapagens que podem
contribuir para miná-la e dar argumentos aos seus inimigos.
Não pode esquecer-se que a distribuição dos custos e dos benefícios da
regulação é, normalmente, assimétrica: os benefícios aproveitam a alguns,
enquanto os custos se repartem por todos.
Com a agravante de que os que saem prejudicados com o processo regulatório
(em particular os consumidores) são, em geral, anestesiados, apenas sentindo
os efeitos negativos indirectamente e de forma já muito atenuada, pelo que o
estímulo à organização para defesa dos interesses é muito ténue.
Na prática, pois, com frequência excessiva, a regulação, em vez de promover
a concorrência acaba por se lhe opor ou com ela entrar em conflito. Ora,
salvo em presença de uma justificação objectiva, a regulação não deve opor-
se à concorrência e, em caso de conflito, deve ceder-lhe o passo Quer isto
dizer que, ao analisar as modalidades alternativas de intervenção regulatória,
o legislador deve sempre pender para aquela que se revele menos restritiva
do funcionamento do mercado, em função do objectivo (supostamente
legítimo) da intervenção.
CADERNO DE ENCARGOS
1. Revisão da Lei de Concorrência, mediante a adequada discussão
pública.
2. Intervenção do PR na nomeação do Presidente e dos membros da
Adc.
3. Escrutínio parlamentar da actividade dos reguladores.