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O QUE É SER FAKE? UMA ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOCIAL, ENTRE FAKES, NUMA COMUNIDADE VIRTUAL 1 Siméia Rêgo de Oliveira 2 Resumo: O presente artigo é um recorte da minha dissertação de mestrado que estuda o fake e o cotidiano pelo arcabouço da comunicação. Esse artigo, no entanto, aborda o fake como efeito das novas formas de interação social. Esse perfil, interage escrevendo histórias e compartilhando-as em tempo real. O embasamento teórico dá-se pelas vertentes interdisciplinares da teoria do cotidiano e a socialidade para compreender essa interação baseada no aqui e agora. Como metodologia apreende-se o interacionismo simbólico e o procedimento metodológico consiste numa entrevista feita com um perfil fake autor de uma das Webnovelas, chamada A Dívida, a qual é o corpus para análise desse artigo. Palavras-chave: webnovela, interação em rede, fake. Abstract: This article is an excerpt from my dissertation that studies the fake and the framework of everyday communication. It nonetheless, discusses fake like effect of new forms of social interaction. The profile's owner interacts writing stories and sharing them in real time.The theoretical basis is given by the interdisciplinary dimensions of everyday life's theory and sociality, to understand this interaction based on the here and now. The methodology is apprehended symbolic interactionism and methodological procedure consists of an interview with a fake profile of an author of Webnovelas called The Debt, which is the corpus for analysis of this article. Keywords: webnovela, networking interactions, fake. INTRODUÇÃO Em 2008, quando acessava a comunidade virtual Eu acredito em confio em Deus, do Orkut, com mais de 5 milhões de membros, um perfil me chamou mais atenção do que os demais porque nas ocasiões em que esse comentava, sempre em tom de ironia e sarcasmo, o debate seguia acalorado. E esse perfil era um fake. Sim, os demais membros sabiam ou deveriam saber que o tal perfil, que continha a imagem de um monge sorridente, se tratava de um fake tão quanto o próprio ―dono‖ do perfil, uma vez que esse ou essa se identificava como sendo um perfil falso. Inclusive no espaço do about me ou fale sobre você da página do Orkut havia uma sinopse explicando e justificando seu pseudônimo: tratava-se de um monge bêbado, que vivia enclausurado, em plena idade média e criticava sarcástica e ironicamente o cristianismo em suas vertentes mais populares 1 Artigo submetido ao NT práticas interacionais do SIMSOCIAL 2013. 2 Mestranda em comunicação e culturas cidiáticas vinculada ao PPGC/UFPB. E-mail: [email protected]

O QUE É SER FAKE UMA ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOCIAL, …gitsufba.net/anais/wp-content/uploads/2013/09/13n1_fake_49524.pdf · 3 Assim, essa pesquisa contempla o perfil fake como efeito

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O QUE É SER FAKE?

UMA ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOCIAL, ENTRE FAKES, NUMA

COMUNIDADE VIRTUAL1

Siméia Rêgo de Oliveira 2

Resumo: O presente artigo é um recorte da minha dissertação de mestrado que estuda o fake e

o cotidiano pelo arcabouço da comunicação. Esse artigo, no entanto, aborda o fake como

efeito das novas formas de interação social. Esse perfil, interage escrevendo histórias e

compartilhando-as em tempo real. O embasamento teórico dá-se pelas vertentes

interdisciplinares da teoria do cotidiano e a socialidade para compreender essa interação

baseada no aqui e agora. Como metodologia apreende-se o interacionismo simbólico e o

procedimento metodológico consiste numa entrevista feita com um perfil fake autor de uma

das Webnovelas, chamada A Dívida, a qual é o corpus para análise desse artigo.

Palavras-chave: webnovela, interação em rede, fake.

Abstract: This article is an excerpt from my dissertation that studies the fake and the

framework of everyday communication. It nonetheless, discusses fake like effect of new

forms of social interaction. The profile's owner interacts writing stories and sharing them in

real time.The theoretical basis is given by the interdisciplinary dimensions of everyday life's

theory and sociality, to understand this interaction based on the here and now. The

methodology is apprehended symbolic interactionism and methodological procedure consists

of an interview with a fake profile of an author of Webnovelas called The Debt, which is the

corpus for analysis of this article.

Keywords: webnovela, networking interactions, fake.

INTRODUÇÃO

Em 2008, quando acessava a comunidade virtual Eu acredito em confio em Deus, do

Orkut, com mais de 5 milhões de membros, um perfil me chamou mais atenção do que os

demais porque nas ocasiões em que esse comentava, sempre em tom de ironia e sarcasmo, o

debate seguia acalorado. E esse perfil era um fake.

Sim, os demais membros sabiam ou deveriam saber que o tal perfil, que continha a

imagem de um monge sorridente, se tratava de um fake tão quanto o próprio ―dono‖ do perfil,

uma vez que esse ou essa se identificava como sendo um perfil falso. Inclusive no espaço do

about me ou fale sobre você da página do Orkut havia uma sinopse explicando e justificando

seu pseudônimo: tratava-se de um monge bêbado, que vivia enclausurado, em plena idade

média e criticava sarcástica e ironicamente o cristianismo em suas vertentes mais populares 1 Artigo submetido ao NT – práticas interacionais do SIMSOCIAL 2013. 2 Mestranda em comunicação e culturas cidiáticas vinculada ao PPGC/UFPB. E-mail: [email protected]

2

no Brasil: a do catolicismo e a dos evangélicos. Pois é, qualquer inspiração e semelhança com

a obra Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam3 não deve ter sido mera coincidência.

Entretanto, a vontade de estudar o fenômeno fake aflorava juntamente com algumas

questões: por que esse perfil interage como fake? Será que a sua popularidade se devia ao fato

de ser um fake? Se ele não fosse fake, teria essa popularidade entre os demais membros?

A partir dessa efervescência de questionamentos iniciou-se, então, uma maratona pela

busca de um fenômeno social associado a esse fake, uma vez que estudar esse perfil,

isoladamente, seria insuficiente, metodologicamente, ao que viria a ser proposto. Foi então

que se decidiu abordar a comunidade virtual Web novelas fake, do Orkut, composta apenas de

perfis fake, cuja interação se dava por meio de novelas criadas e compartilhadas entre eles.

Estava aí o fenômeno que se procurava.

Contudo o desafio apresentado ainda persiste uma vez que é preciso estudar esses

―fenômenos comunicacionais mediados pela mídia, nos quais elas mesmas são também

actantes‖ (PRIMO, 2013, p.10), pelo veio da comunicação. Nessa pesquisa aprouve, então,

observar o fake em interação, no contexto do cotidiano. Por isso, faz-se uma

interdisciplinaridade com essa teoria contributo importante nos estudos da comunicação.

Assim, numa relação da comunicação e o cotidiano o discurso seria entendido como

práxis, ou como um conjunto de rotinas. Essas rotinas seriam percebidas nas conversações

entre esses fakes pelas novas formas de interação homem-máquina e a relação desse perfil

com o seu self, pelo ecrã (TURKLE, 1997 apud JÚLIO, 2005). Portanto, estudar a mídia e o

cotidiano se traduz na possibilidade de observação das relações sociais digitalizadas como

efeito das novas formas de interação social. Dessa feita, a proposta desse artigo é a

comunicação e o cotidiano, aproximando-se do fake. Sobretudo porque esse trabalho pretende

estudá-lo como fenômeno comunicacional mediados pela mídia (PRIMO, 2013).

O presente estudo se realiza em quatro tópicos: o primeiro consiste no exame das

matrizes teóricas utilizadas na pesquisa; o segundo analisa o fake como efeito das novas

formas de interação social. O terceiro contempla o procedimento da análise de uma conversa

com um perfil fake Escritora! Lisa da autora da Webnovela A Dívida, encontrando palavras-

chaves que auxiliaram a construir um quadro teórico sobre esse perfil fake. E como quarto

tópico e último tópico, tecer as considerações finais sobre a pesquisa.

3 ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da Loucura. Atena Editora, s.d. 2002.

3

Assim, essa pesquisa contempla o perfil fake como efeito das novas formas de

interação social. Bem como, compreende esse perfil no sentido de fenômeno comunicacional

e visa demonstrá-lo pela interação social a partir do produto webnovela.

1. MATRIZES TEÓRICAS

Pierre Lévy (1999) conceitua a cibercultura em três termos: a internet, o ciberespaço e

a cibercultura, significando que a internet seria o espaço em si, o ciberespaço o meio de

comunicação composto pela junção da infraestrura, do universo de informações e do homem

que acessa essa rede, e a cibercultura o conjunto de técnicas materiais e intelectuais que se

desenvolvem junto ao ciberespaço; estes são alinhados em três princípios: a interconexão, as

comunidades virtuais e a inteligência coletiva.

Rudiger (2013), na perspectiva dos remanescentes de McLuhan a partir do conceito de

aldeia global4, propõe que a cibercultura surgiria ―em meio ao desenvolvimento científico e

tecnológico do final do século XX‖ (RUDIGUER, 2013, p.27). Assim, segundo o autor, a

cibercultura é definida ―como a formação histórica, ao mesmo tempo prática e simbólica, de

cunho cotidiano, que se expande com base no desenvolvimento das novas tecnologias

eletrônicas e de comunicação‖ (p.11).

Outro conceito importante que embasa esse artigo é o de André Lemos (2008), que

aponta que a cibercultura é a socialidade como prática da tecnologia uma vez que herdando a

contracultura5 e sua ideologia de oposição a cultura da modernidade, não recusa a tecnologia.

Portanto o desenvolvimento da cibercultura esteve aliado ao desenvolvimento das novas

tecnologias, a partir dos microcomputadores e a ―reunião de pessoas através comunicação

mediada‖, em interação e ampliada.

A socialidade perpassa o desenvolvimento tecnológico e segundo Maffesoli (1998, p.

110) ―pode caminhar lado a lado com [esse desenvolvimento] [...], ou mesmo ser apoiada por

ele‖. Assim, faz importante observar um dos seus micro-conceitos que podem explicar essa

interação, que é o da tribalização que Lemos (2008, p. 86) ao citar Maffesoli, se refere como

―a cultura do sentimento que se apóia sobre as multipersonalidades (as máscaras do teatro

4 A aldeia global surgiria ―interligada através da comunicação eletrônica, via computadores‖ (MCLUHAN, ano apud RUDIGER, 2013, p.27) 5 Nos anos 70, a contracultura foi ―um movimento de oposição à cultura ―desligante‖ (déliante) da modernidade [...], [uma vez que essa] encarnava o símbolo maior do totalitarismo da razão científica, causa principal da racionalização dos modos de vida e da dominação da natureza através da urbanização e industrialização das cidades ocidentais‖ (BOLLE DE BAL, apud LEMOS, 2008, p. 89)

4

cotidiano) [...] a partir de uma ética da estética, ―onde aquilo que é compartilhado com outros

será primordial [...]‖ (MAFFESOLI apud LEMOS, 2008)

As comunidades não são efeito da internet, por outro lado, segundo Howard

Rheinghold (1996) a tecnologia de Comunicação Mediada por Computador (CMC) se torna

acessível em qualquer lugar. Assim, reitera-se que o fake é percebido em vários ambientes da

sociedade e que faz-se necessário tornar a trazer à lume a pesquisa para o seu sentido inicial: a

observação do fake no contexto das comunidades virtuais.

Faz-se necessário voltar ainda um pouco na história a fim de apreender o conceito de

comunidade virtual em suas origens. Segundo Marcos Palácios (informação verbal)6 ―as

comunidades são fenômenos da idade média e se rearticulam no século XIX, com a

modernidade‖. Tonnies (1947 apud RECUERO, 2009) estuda esse conceito, no sec. XIX,

pelas relações comunitárias (Gemeinscht) que englobam toda vida social de conjunto, íntima,

interior e exclusiva, características da comunidade, em oposição a sociedade (Gesellschaft)

invenção da modernidade, uma espécie de parte normativa do grupo. A comunidade, portanto,

seria o estado ideal dos grupos humanos.

Segundo Recuro (2009, p. 146) o conceito referente às comunidades virtuais ―é uma

tentativa de explicar os agrupamentos sociais surgidos no ciberespaço. Trata-se de uma forma

de entender a mudança da sociabilidade, caracterizada pela existência de um grupo social que

interage, através da comunicação mediada pelo computador‖. Esses grupos são percebidos nas

redes sociais online, na ―mudança de sentido de lugar que é, assim, amplificada pela internet‖

(p. 135). Portanto, nesse contexto de mudança de sociabilidade há uma concordância uma vez

que, essa pesquisa observa a socialidade (MAFFESOLI, 1998; 2009) como nova forma de

interação social, efeito da pós-modernidade. A discussão sobre a Socialidade se dará um

pouco mais adiante.

Lemos (2008) ainda traz a discussão de que essas comunidades surgidas em meados

do século XX eram o sonho de Licklider e Taylor, precursores da microinformática que surgia

com a cibercultura. Portanto, o desenvolvimento da informática e o desafio de reunir pessoas

através da comunicação mediada se tornaria uma grande realização tecnológico-social.

Em pesquisas mais recentes, entretanto, o conceito das comunidades virtuais em co-

presença física em Giddens (2009, p. 433), vem superando os conceitos anteriores de

comunidade offline e online, quer dizer, compreender-se-ia a comunidade virtual pelo veio da

relação em co-presença física e co-presença digital, respectivamente. Sobretudo porque essa

6 Mesa redonda com Marcos Palácios, Tânia Zagury e Adrana Amaral, ocorrida no Simsocial.2012, UFBA, em 10 e 11 de outubro de 2012, (Arquivo pessoal).

5

discussão ocorrida em congressos da área de cibercultura aponta que um interagante que está

offline não teria seu perfil desconectado em um site de redes sociais (SRS) (RECUERO,

2009), por exemplo. O conceito de comunidade offline e online, portanto, nessa pesquisa será

entendido pelo veio da comunidade em co-presença física e co-presença digital,

respectivamente.

Dessa feita, esses são efeitos das relações sociais na pós-modernidade, entendendo os

grandes agrupamentos via sites de redes sociais no contexto do ambiente digital. E o estar-

junto (MAFFESOLI, 2009, p.47), é a proposta para analisar essa forma de interação social,

uma vez que o ―sentimento do efêmero [...] [dá-se] como uma maneira da sociedade se

expressar‖.

2 FAKE E AS NOVAS FORMAS DE INTERAÇÃO SOCIAL

O fake no contexto das comunidades virtuais pode ser entendido como identidade

contemporânea (COUTO; ROCHA, 2010, p.16), sobretudo porque os ―eus‖, quer dizer, os

perfis digitais, emergem em tempos de pós-modernidade. Poder-se-ia assim, explicar esse

trecho pela fala do perfil fake Escritora! Lisa numa entrevista (Arquivo pessoal):

No meu último ano como Bonnie [um dos seus perfis fake], namorei um rapaz,

também fake que morava no estado de São Paulo. Até então eu morava no Rio de

Janeiro e ficamos ‗juntos‘ por cerca de 7 meses. Nunca vi quem ele realmente era,

nem ao menos sei como aparentava, porém o tempo gastado (sic) em frente à um

computador, na ilusão de que vivia um relacionamento saudável me fizera

amadurecer absurdamente como mulher, dar valor à minha realidade e finalmente compreender que podemos transformar nossa realidade em um sonho, basta

querermos.

Para Couto e Rocha (2010) o fake são representações que ―experimentam outras

identidades para demonstrar sentimentos, percepções, desejos, gostos que poderiam ser

ridicularizados e promotores de constrangimentos na vida offline, mas que são celebrados e

festejados na dinâmica efêmera e plural da internet‖ (p. 29). Essas identidades nessa pesquisa

são estudadas no sentido do fingido (COTRIM, 2009) e seriam experimentações de ―eus‖ no

Orkut e seus efeitos de ―invenção e exibição de subjetividades‖ (COUTO; ROCHA, 2010).

Portanto a interação do perfil fake remete a uma outra sensação, subjetiva, cuja mediação

seria uma substituição do que entende-se por tato, mas, que não se chega a suprir nem a si,

nem a ao outro, completamente.

6

A percepção desse fake como persona, está embasado na análise da pesquisadora

Judy Tavares (2010) que faz uma definição a partir da etimologia da palavra. Assim, persona

era a máscara que os atores utilizavam ao encenar nos teatros gregos. Servia ainda para

identificar o personagem interpretado, e constituía-se uma peça essencial para o desempenho

do artista em cena. Doravante, a ―máscara‖ virtual nessa pesquisa será compreendida a partir

dos estudos de Goffman (1985) sobre a representação que analisam a sociedade a partir da

teatralidade, ambiente no qual todos interagem simbolicamente seja na relação de co-presença

física ou digital. Quer dizer, quem está em frente ao computador que media uma conversa

entre interagentes (PRIMO, 2003) separados a milhares de quilômetros de distância, mas, com

as relações em condições de co-presença digital “projeta nos ecrãs as ficções pessoais‖ (p. 37,

online)7, uma vez que o computador seria um espelho do nosso self (TURKLE, 1997 apud

JULIO, 2005).

Portanto, nessa pesquisa a interação entre os fakes se dá pela webnovela. Essa

narrativa literária do folhetim apropriada pelo ambiente digital é a junção dos termos web e

novela designando a apropriação no digital, dessa narrativa ficcional escrita e compartilhada

em tempo real. Assim, a Web novelas fake é uma comunidade para escritores iniciantes

mostrarem seu trabalho. Nessa, os perfis interagem postando histórias e os demais membros

as lêem. A webnovela é produto dessa interação.

Essa webnovela se constitui em um hipertexto8 organizado por nós e também por

links9 (LEVY, 1999). É um texto móvel, veloz onde o usuário pode navegar, acrescentar ou

modificar os nós que proporcionem a escrita coletiva, numa retroação entre o narrador e o

leitor10

, (REIS; LOPES, 1988). Portanto, vê-se como pertinente referir-se pelo gênero literário

folhetim11

ao invés de novela, que para o senso comum seria a telenovela.

No Orkut12

, a webnovela acontece devido a sua estrutura favorável para as

comunidades virtuais. Recuero (2011) aponta que essa ferramenta é um “fenômeno, em

termos de sites de rede social (SRS)‖, pois chegou num momento onde os brasileiros tinham

quase nenhuma experiência com sites de rede social, criando, assim, um contexto único, de

7 Disponível em: <http://sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/sisifo03PTr.pdf >. Acesso 09 jul 2013. 8 Termo foi cunhado pelo cientista Ted Nelson, em 1965. O conceito de hipertexto surgiu antes disso, mais precisamente, 20 anos antes, imaginado pelo físico e matemático Vannevar Bush. Disponível em: <http://migre.me/dhs4P>. Acesso em: 18 jan. 2013. 9 Os nós (o texto verbal e não verbal) e os links (os botões) que indicam passagem de um site para o outro. (LEVY, 1999). 10 Narrador ou ―autor textual, [é] a entidade fictícia a quem, no cenário da ficção, cabe a tarefa de narrar o discurso‖. O leitor é a ―entidade projetada‖, para quem o texto é escrito (REIS; LOPES, 1988). Levy (1999, p.30) sugere que a internet seja um ―processo de retroação positiva‖ 11 Literatura publicada no rodapé dos jornais impressos da França no século XIX, que apresentava elementos de curiosidade e entretenimento, prazer e diversão (CAVALCANTE, 2005). 12 Orkut é um site de rede social funciona através de perfis e comunidades (RECUERO, 2009).

7

participação relevante para o país. Assim, o Orkut parece ser único SRS capaz de comportar a

estrutura de uma comunidade virtual com as características de rede aberta13

: seria uma grande

comunidade virtual (GOMES, 2007).

3 A ANÁLISE

A corrente metodológica do interacionismo simbólico é contemplada nessa pesquisa,

pois, se torna apropriada para entender os processos das interações digitais e do cotidiano

―como uma nova cultura reivindicando tudo o que se passa agora, tudo o que se passa aqui,

tudo o que se passa em ti‖ (PAIS, 2003, p. 94).

Como procedimento metodológico aplicou-se entrevista com um perfil fake, autor da

webnovela ―A Dívida‖, corpus para análise, nessa pesquisa. Essa, contém 10 perguntas

abertas envolvendo a compreensão do que seja um fake. O perfil nomeado como Escritora!

Lisa respondeu todas as perguntas além de ter sido bastante solícito. Essa entrevista foi

aplicada via comunicação mediada, pela troca de e-mail`s.

A partir das suas respostas, consideram-se as palavras ou ideias mais salientes e

expressivos as quais estão classificadas em ideias-chaves, nesse artigo. Após, parte-se para os

procedimentos de printar14

a página do corpus visando apresentar a interface dessa

comunidade virtual pelo método da Arquitetura da informação (AI)15

objetivando uma

observação do ambiente.

3.1 METODOLOGIA

3.1.1 Tratamento dos dados

Numa breve recapitulação essa pesquisa se embasa pelo veio das teorias do cotidiano

para observar o fake nas relações sociais digitalizadas como efeito das novas formas de

interação social. O método adotado é do interacionismo simbólico, por ser apropriado para

observar essa ―nova cultura feita de vibrações, contatos face-to-face” no agora (PAIS, 2003,

13 Ximenes, diretor de comunicações e assuntos públicos do Google, em entrevista, falou sobre o crescimento do Facebook:

há ―uma percepção clara sobre os direcionamentos dessas duas redes sociais: Orkut, aberta; Facebook, fechada‖. Disponível em: <http://migre.me/a6ujq>. Acesso em: 30 abr. 2012. 14 Gravar a imagem da página no computador. 15 A AI é abordade em quatro categorias: 1) sistemas de etiquetagem, 2) organização de sistemas, 3) sistemas de navegação e 4) sistemas de busca. O campo de trabalho desse arquiteto da informação são os web sites (MORVILLE;ROSENFELD , 2006).

8

p.94). Assim, o conceito de socialidade também é adotado no artigo pois é apropriado para

entender o processo de interação social, na comunidade virtual.

Após, enfoca-se a abordagem qualitativa para observação dos dados. Para tanto, foram

elencadas palavras-chaves ou, no contexto desse artigo, ideias-chaves que organizarão um

panorama sobre o perfil fake numa comunidade específica do Orkut, a Web novelas fake.

Convenciona-se ainda, tomar emprestado da Arquitetura da informaçao (AI), o método top-

down (MORVILLE; ROSENFELD, 2006), visando apresentar a interface dessa comunidade e

lançar um olhar sobre a estrutura, organização e disponibilidade das informações na interface

da comunidade analisada.

3.1.2 A análise do fake e da comunidade virtual Web novelas fake

Para a coleta, cria-se uma pasta para arquivar os dados relativos à entrevista feita com

esse perfil. Na figura 1 - Panorama sobre o perfil Escritora!Lisa (FIG. 1), as informações

colhidas foram arquivadas, separadamente, nas seguintes categorias: Universo fake; Pontos

extremos, Usos na comunidade e conclusão deu-se a partir do questionamento: Por que ser

um perfil fake.

Essas variáveis classificam as idéias-chaves colhidas pela leitura da entrevista.

Partindo da análise chegou-se a essas idéias as quais são observadas como subdivisões de um

tema geral, que seria: Por que ser um fake? Mais adiante, segue um panorama com essa

análise. Essas informações respondem à existência de novas práticas interacionais pela

socialidade.

A comunidade virtual Web novelas fake, do Orkut16

., funciona pelo compartilhamento

de histórias de escritores amadores entre os membros do grupo, via fóruns e perfis. Cada

fórum equivale a uma história e a continuidade das postagens dá-se pela audiência. Essa

audiência, geralmente, é mediada pelo número de respostas dadas aos posts. Essas acontecem

por meio de comentários.

No entanto, aprouve para esse artigo, selecionar uma webnovela como corpus dessa

pesquisa. Assim, escolheu-se a webnovela A Dívida, por considerar dois aspectos: 1) pela sua

popularidade no último ano de 201217

, 2) por abordar via entrevista, o perfil do autor dessa

história e 3) por te coletado, a partir da entrevista, informações para elaboração desse artigo.

16 www.orkut.com 17 Essa webnovela obteve duas temporadas a pedido da audiência. Disponível em: <www.orkut.com>. Acesso em: 22 jul. 2013.

9

A Escritora! Lisa na entrevista indicou que teve coragem de escrever e postar sua

história, nessa comunidade, justamente, por ser um perfil fake. Assim, compreende-se que

esse perfil se apropria do anonimato para interagir na comunidade virtual. Portanto, lança-se

um olhar sobre essa possibilidade de outra prática de interação social, efeito das mídias

digitais.

A interface da comunidade Web novelas fake é analisada pelo método ―top-down”,

emprestado da Arquitetura da informação (MORVILLE; ROSENFELD, 2006). A arquitetura

da informação tem a grade função de facilitar para qualquer usuário da internet, a navegação

no site, chegando ao que se busca com facilidade; é ―transformar o caos em ordem‖, afirmam

Morville e Rosenfeld (2006, p.4). Contudo, o enfoque dessa análise é considerar como as

informações estão disponibilizadas na interface do Orkut, com enfoque no da comunidade

virtual Web novelas fake.

Abaixo se encontram as perguntas–chaves:

1.Onde eu estou?

1.1. O que estou procurando?

2. Eu sei o que estou procurando, como posso procurá-lo?

3. Como faço para navegar nesse site?

4. O que é importante como informação sobre esta comunidade?

5. O que está acessível nessa comunidade?

6. Como posso interagir na comunidade?

7. Como posso interagir com outros sites fora do Orkut?

10

UNIVERSO

FAKE

PONTOS EXTREMOS USOS NA

COMUNIDADE

Negativos Positivos O perfil no Orkut

Vida a parte Envolvimento com o

mundo abstrato

Comunicação com

pessoas de várias

regiões do país

Perfil como cartão de

visitas

Realidade

inventada

Libertação do

mundo real

Ter coragem para

expor o que sente

Precisa corresponder ao

perfil verdadeiro ou

falso

Realidade

ilusória Válvula de escape Ser criativo

Busca de diversão sem

retorno financeiro

Forma de

diversão

Várias identidades

virtuais

Pelo grau de

envolvimento,

amadureceu e

passou a falar de

coisas da realidade,

não mais ilusórias

Amizades refratadas em

relações em co-

presença física

Vida a parte Doa vida, voz e

sentimentos ao perfil

Exposição dos reais

sentimentos

CONCLUSÕES:

Por que ser um perfil fake?

Primeiro é um membro do Orkut Possui perfil real no Orkut

Poder ser quem você quer Forma de viver sem contratempos

Transcrever os pensamentos para o papel Expor imaginação

Dar vida a vários personagens

Figura 1 - Panorama sobre o perfil Escritora!Lisa

Fonte: Arquivo pessoal

11

Figura 2 - A Dívida – a interface

Fonte: Web novelas fake (2013)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cibercultura, com um olhar específico para os sites de redes sociais modificaram o

cotidiano e a interação humano-máquina, humano-humano, mas que acata outros vetores,

inclusive os estéticos e afetivos, que perpassam o enfoque desta pesquisa.

Os procedimentos de observação e descrição, bem como levantamento de dados,

auxiliaram no mapeamento da análise do ponto em que se quereria chegar: a interação virtual.

Assim, chegou-se às comunidades como sendo, possivelmente, resultado de criatividade entre

os membros e o afeto como amálgama.

O fake entendido como persona é efeito das mídias digitais e essa possibilidade do

interagente expressar da maneira que quer ser, na atualidade é possível, pelas vias das novas

práticas de interação social. No séc XIX, era pela via da escrita que autores como as irmãs

Bronte18

se libertavam por meio de pseudônimos escritores.

A socialidade explica esse momento em que estamos inseridos: é pelo presenteísmo do

aqui e agora, que caminha a humanidade. Tomara Deus que aportemos em bom lugar.

18

EYRE, Jane. Charlotte Brontte [S.l.]: Macmillan Readers, [19--?].

12

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