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O surgimento do Judô no Estado do Rio Grande do Sul: uma análise
da década de 1950-1960
Gustavo Tanger Jardim
Resumo
O presente ensaio tem como escopo construir com a maior riqueza de detalhes possível
o surgimento do Judô no Estado do Rio Grande do Sul durante a década de 1950 -1960.
Para tanto, será analisado o relato elaborado por Irineu Pantaleão Bazacas pouco antes
de seu falecimento, cotejando-o com as informações e esclarecimentos prestados pelo
Sensei Breno Herbert Jones. Ressalta-se que o documento contendo informações sobre
os primórdios do Judô no Rio Grande do Sul foi analisado e referendado pelo Conselho
de Kodanshas do Rio Grande do Sul, o que emprega inegável credibilidade às
informações nele contidas. Com o intuito de solidificar as informações inseridas no
relato realizar-se-á uma análise crítica sobre os escritos existentes acerca do surgimento
do Judô gaúcho, ratificado as informações colidentes e apontando eventuais
inconformidades.
Palavras-chave: Judô, surgimento, história, Rio Grande do Sul.
Agradecimentos: Iara Mary da Cunha, Breno Herbert Jones, Cid Correa Rodrigues Jr.,
2
Introdução
Não são poucos os desafios dos que se empenham em reconstruir a cadeia de
acontecimentos que culminou com a introdução do Judô no Estado do Rio Grande do
Sul (RS). Isso porque, os trabalhos científicos elaborados pelos estudiosos do Judô não
conseguiram, até o presente momento, fornecer uma resposta satisfatória às indagações
acerca das datas e dos responsáveis pelo surgimento do Judô no nosso estado.
No estudo realizado por Alexandre Nunes sobre o Judô no Rio Grande do Sul, o
professor deixa transbordar diversas dúvidas sobre a introdução do esporte em nosso
solo. Assevera que “nos anos cinqüenta o judô e o jiu-jitsu eram ensinados por pessoas
com formação duvidosa e muitas vezes vinculados a outras formas de luta”, e conclui
que não encontrou “registros sobre a formação dos responsáveis pela divulgação do
judô no RS neste período. Sabe-se apenas que alguns deles teriam aprendido judô no
Japão (Takeo Yano, Teruo Obata, Conde Koma etc,)” (NUNES, 2005).
Dentro do contexto é que emerge a proposta de analisar o documento elaborado
pelo Sensei Irineu Pantaleão Bazacas, considerando que seu relato confirma de forma
cabal quem foi o primeiro professor de Judô a pisar em solo gaúcho, onde e quando ele
começou a dar aulas, bem como descreve com uma riqueza de detalhes impressionante
quem eram seus alunos e como era o cotidiano dos treinos. Para consulta dos
interessados ao inteiro teor do documento, tomou-se o cuidado de anexá-lo ao presente
trabalho (ANEXO A)
Assim, confrontando as informações prestadas pelo Sensei Bazacas com os
principais escritos sobre a história do judô no Rio Grande do Sul, bem como
enriquecendo a história relatada com fatos que se repetem em diversas entrevistas
colhidas pelos estudiosos, acredita-se que será possível levar à cabo a pretensiosa
missão de afirmar como nasceu o judô gaúcho.
1. O CONTEXTO DA CHEGADA DO JUDÔ AO RIO GRANDE DO SUL
De acordo com o relato de Irineu Pantaleão Bazacas, no fim do ano de 1950,
dentre os diversos lutadores que participavam das lutas de ringue, desembarcou em
Porto Alegre para uma apresentação Takeo Yano, de origem japonesa, contando com 42
anos de idade à época (ANEXO A).
3
Na época, os lutadores do centro do país chegavam para as noitadas de luta na
Capital através de patrocínio do proprietário do “Café e Confeitaria Matheus”,
localizado na Rua dos Andradas, defronte à Praça da Alfândega. As fotos abaixo
permitem verificar o contexto da sociedade gaúcha à época, bem como mostra como era
a fachada do antigo estabelecimento comercial.
Figura 1: vista panorâmica da Rua dos Andradas e Praça da Alfândega.
Figura 2: fachada do Café e Confeitaria Matheus.
4
Figura 3: atual fachada do Café e Confeitaria Matheus.
Para atrair bons lutadores, o proprietário do “Café Matheus” fornecia as
passagens e a hospedagem, que se dava no antigo “Hotel Magestic”, atual Casa de
Cultura Mário Quintana, localizada na Rua dos Andradas. O lucro do espetáculo era
dividido entre os atletas sem a preocupação com os demais gastos da estadia.
Assim, dentro desse contexto é que chega ao Rio Grande do Sul, no final do ano
de 1950, o lutador Takeo Yano, o primeiro professor que permanece em solo gaúcho o
tempo suficiente para transmitir seus conhecimentos sobre o “caminho suave” aos
alunos interessados.
2. O PRIMEIRO PROFESSOR DE JUDÔ DO RIO GRANDE DO SUL
Considerando as informações do relato de Irineu Bazacas, Takeo Yano, de
nacionalidade japonesa, imigrara para o Brasil na década de 1940, qualificando-se como
agricultor. Contudo, afirmava que não gostava das lides do campo, tampouco
interessava-se pela agricultura. Ostentando a graduação de faixa preta em judô (3º Dan)
e considerando-se campeão de uma província do sul do Japão1, Takeo Yano chega a São
1 De acordo com a pesquisa realizada sobre a formação de Takeo Yano, descobriu-se que ele fora aluno
de Hajime Isogai , professor de judô que ministrava aulas na ilha de Honshu, localizada no sul do Japão.
Assim, quando Yano se refere ao título de campeão de uma província no sul do Japão, provavelmente seja
na localidade de Honshu.
5
Paulo e vai ministrar aulas de judô em uma academia localizada na Avenida Ipiranga.
Ao mesmo tempo que ensinava judô, sua inegável habilidade com lutas permitia que
participasse de lutas de ringue com sucesso.
Figura 4: Sensei Takeo Yano
Como referido linhas atrás, exatamente para participar das noitadas de lutas de
ringue é que Takeo Yano desembarcou na Capital gaúcha, no ano de 1950. Após a
apresentação, impressionado com a aptidão de Yano, Carlos Matheus – filho do dono do
patrocinador “Café Matheus”-, resolveu propor a um grupo de amigos que custeassem a
permanência do lutador na Capital Gaúcha para que ele os ensinasse sua técnica.
Através da elaboração de um “sistema de cotas” para o pagamento das despesas
com passagens, estadia e alimentação é que o entusiasta Carlos Matheus convenceu
alguns amigos a participar do plano. Restou combinado entre eles que a mensalidade de
outros alunos e a renda das lutas ficariam com Yano. Nesse contexto formou-se o
primeiro grupo de 15 alunos de Takeo Yano no Rio Grande do Sul, abaixo listados:
6
Carlos Matheus
Abraão Chaines – Arquiteto
Francisco Chaines – Proprietário da Papelaria Chaines
Cláudio Bergamaschi –Engenheiro
Carlos Alberto Dariam – Empresário
Theodoro Mascarenhas –Engenheiro
Jorge Mascarenhas – Economista
Dali Woleman – Médico
Carlos Fraga – Arrozeiro
Alunos que participavam mediante pagamento de mensalidades fixa:
- Irineu Pantaleão Bazacas
- Januário Resende
- João Graf
- Jorge Aveline
- Yvao Sugo
-Yto Nagachi
Organizada a primeira turma de alunos do professor Takeo Yano, ainda faltava o
local para a prática do judô.
3. O PRIMEIRO DOJÔ DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
O aluno Carlos Matheus, valendo-se de grande amizade que possuía com o
proprietário do “Hotel Magestic”, conseguiu a licença de utilização de um pequeno
terraço do hotel para os treinamentos. Atualmente o hotel foi transformado na “Casa de
Cultura Mário Quintana”, e o terraço citado, localizado no sétimo andar do prédio,
abriga mesas e cadeiras de uma cafeteria.
7
Figura 5: Casa de Cultura Mário Quintana, local onde foi montado o primeiro
Dojô do Rio Grande do Sul (em um terraço no sétimo andar do prédio).
No relato de Irineu Bazacas consta que não existiam tatames na época,
obrigando o grupo a forrar o chão com serragem e cobri-lo com uma lona. Como o local
não dispunha de banheiro ou vestiário, após os treinos os alunos se banhavam jogando
baldes com água uns nos outros.
Após meses de treinamento, os alunos que financiavam a estadia de Takeo Yano
verificaram que os gastos estavam muito elevados e começaram a construir uma
alternativa para que as aulas de judô não fossem interrompidas. Em meados de 1951 o
grupo convenceu o presidente do Sport Clube Ruy Barbosa (conhecido como Delegado
Cavali) a abrigar o Dojô.
4. A TRANSFERÊNCIA DO DOJÔ PARA O SPORT CLUBE RUY BARBOSA
O Sport Clube Ruy Barbosa estava situado no primeiro andar de um prédio na
esquina da Rua Riachuelo com a Rua Caldas Júnior, no centro da cidade. Tratava-se de
um clube de futebol inativo, cuja a sede abrigava apenas mesas de carteado e ping-pong.
Os frequentadores eram policiais que sustentavam o local através do pagamento de
mensalidades.
8
O acordo entabulado entre o grupo de alunos e o clube baseava-se na obrigação
de Yano ministrar aulas gratuitas aos sócios em troca da possibilidade de usar a sede
sem ônus. Com o novo acerto, Yano passou a residir na sede do clube e fazer as
refeições no restaurante do aluno Januário, situado na Rua João Alfredo. Assim, os
antigos responsáveis pelas despesas de Yano passaram a pagar apenas uma mensalidade
igual ao dos demais.
Nesse ponto especial do relato, podemos considerar equivocadas as afirmações
contidas em outros estudos sobre a história do Rio Grande do Sul. Isso porque,
MADURO (2011) refere que “o professor Loanzi e seu Dojô no Esporte Clube Ruy
Barbosa são considerados pela comunidade gaúcha a provável origem do judô no Rio
Grande do Sul. Deste Local de treino surgiram os primeiros praticantes e os líderes que
institucionalizaram a prática do judô no estado do Rio Grande do Sul, desvinculando-o
de outras modalidades de lutas”.
Considerando as precisas informações fornecidas pelo Sensei Irineu Bazacas,
resta consolidado que o primeiro professor de judô do estado fora Takeo Yano. Da
mesma forma, o relato confirma que houve uma transferência do Dojô do Hotel
Majestic para o Sport Clube Ruy Barbosa na busca de redução dos custos da
permanência de Takeo Yano no Estado. Logo, com o devido respeito, não é possível
afirmar que o professor Loanzi foi o primeiro a ministrar aulas de judô no Rio Grande
do Sul, tampouco que tudo começou no Sport Clube Ruy Barbosa.
5. AS AULAS MINISTRADAS POR TAKEO YANO
Um ponto que merece atenção reside nas dúvidas que as pesquisas elaboradas
sobre a história do judô no Rio Grande do Sul lançam sobre os conhecimentos e o teor
das aulas ministradas por Takeo Yano. Considerando essa situação, ganha importância
descobrir quem foram os mestres de Takeo Yano e se ele ministrava aulas de judô ou de
outras formas de luta.
Alexandre Nunes em sua pesquisa assevera que “nos anos cinqüenta o judô e o
jiu-jitsu eram ensinados por pessoas com formação duvidosa e muitas vezes vinculados
a outras formas de luta” (2005). Maduro (2011, p.19) afirma em seu estudo que o judô
era praticado no Rio Grande do Sul por “pessoas sem formação acadêmica, que
trabalhavam dando ênfase ao aspecto de defesa pessoal, participando de apresentações
de circos e desafios públicos”.
9
Diante desse quadro, importante verificar não só do relato de pessoas que
vivenciaram as aulas ministradas por Takeo Yano, mas também a pesquisa sobre os
mestres de Yano para saber de sua vinculação ao judô ou à outras modalidades de lutas.
No caso, a pesquisa aponta que o professor de Takeo Yano fora Hajime Isogai (1871–
1947), aluno de Jigoro Kano2. Para se ter uma idéia da vinculação de Hajime Isogai com
o judô, sabe-se que ele ingressou na Kodokan em 1891 e em 1899 foi escolhido para ir a
Butokukai, em Kyoto, onde trabalhou durante muitos anos treinando novos professores
de judô. Em 22 de dezembro de 1937, foi agraciado com o 10º DAN diretamente por
Jigoro Kano3. Hajime Isogai está no “hall of fame”
4 da Kodokan.
Figura 6: Hajime Isogai, 10 Dan (1871-1947)
No que tange ao teor das aulas ministradas por Takeo Yano em Porto Alegre, o
relato de Ricardo Gaston confirma que ele “ mostrou para todo mundo que o jiu-jistu é
uma coisa e o judô é outra”. E complementa que “sempre fugia da prefeitura às seis
horas da tarde e ai lá para a Rui Barbosa. E ali era só judô, só judô.” (GASTON, 2002,
p.11).
2 Extraído do site: <http://www.gladiatorium.com.br/tag/judo> acessado em 16.09.2015.
3 Extraído do site < http://judonokenkyu.woese.com/page/1358> acessado em 16.09.2015.
4 Extraído do site http://kodokanjudoinstitute.org/en/doctrine/palace> acessado em 16.09.2015.
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O Sensei Breno Jones também confirma que “Takeo era judoca, agora dizer que
ele tinha diploma de judoca (...) naquela época ninguém tinha diploma de judoca em
lugar nenhum”. O Sensei Breno relata que muito depois surgiu a “Kodokan do Brasil”,
representada no Rio Grande do Sul pelo Sensei Obata, mas isso não era no tempo de
Takeo Yano.
Aliás, frisa-se que eventuais dúvidas sobre as características das aulas
ministradas por Takeo Yano e uma possível confusão com o jiu-jitsu pode estar
vinculadas às técnicas que foram ensinadas pelo mestre Hajime Isogai, reconhecido
como grande “especialista em newaza”5.
Logo, forçoso concluir que Takeo Yano possuía uma sólida formação em
newaza e ministrava aulas de judô para seus alunos durante sua permanência na capital
gaúcha.
6. A PERMANÊNCIA DE TAKEO YANO NO RIO GRANDE DO SIL (1950-
1954)
Outro ponto que merece atenção na formação histórica do judô no Rio Grande
do Sul é o lapso temporal de permanência de Takeo Yano no estado, e se esse tempo foi
suficiente para formar uma turma de alunos e enraizar a prática esportiva do judô. As
pesquisas realizadas até o momento diziam que a passagem do Sensei Yano pelo Rio
Grande do Sul teria sido muito breve e com pouca relevância.
Alexandre Nunes em seu depoimento asseverou que “Takeo Yano ficou pouco
tempo por aqui, ficou um ano e pouco, os caras que aprenderam com ele aprenderam
um pouco. E daqui Takeo Yano vai para o Rio Grand do Norte, o que parece é que esses
japoneses eles tomavam muita cachaça, fumavam muito, arrumavam um monte de
confusão e eles tinham que sair da cidade.” (NUNES , 2014, p.).
Em outro estudo de sua autoria, Alexandre Nunes afirma que “Yano, depois de
um período no Rio de Janeiro, esteve em são Paulo, onde ministrou aulas e participou
de desafios. Entre 1951 e 1953 esteve no Rio de Janeiro e no final deste ano, ou no
início de 1954, foi para o Rio Grande do Sul. Esteve em Porto Alegre na década de
1950 por cerca de dois anos (NUNES, 2011).
5 Extraído do site <https://bubishi2010.wordpress.com/2010/01/12/comentarios-sobre-jigoro-kano-e-o-
judo/> acessado em 16.09.2015.
11
Considerando o posicionamento exposto acima, os trabalhos sobre o surgimento
do judô no RS indicavam que Takeo Yano não teria participado de forma definitiva na
formação dos primeiros judocas do Rio Grande do Sul e que sua curta estada em Porto
Alegre teria se resumido ao período compreendido entre 1954 e 1956.
Contudo, a história não foi assim. O documento elaborado pelo Sensei Irineu
Bazacas (ANEXO A) comprova que fora Takeo Yano quem formou a primeira turma de
faixas pretas do estado durante o período que se estendeu de 1950 a 1953. Da mesma
forma, o depoimento relata que o Sensei Yano voltou para São Paulo somente em 1954,
após de transferir a propriedade da academia para seu aluno Januário Resende em troca
do pagamento de suas dívidas6.
7. OS PRIMEIROS FAIXAS-PRETAS FORMADOS NO RIO GRANDE DO SUL
Após a transferência do Dojô para a o Sport Clube Ruy Barbosa com a
colocação da serragem no chão e a montagem da lona, Takeo Yano passou a ministrar
regularmente as aulas de judô para o seu grupo de alunos. Conforme o relato de Irineu
Bazacas, na época não havia a graduação de faixas como se conhece hoje. Havia apenas
a faixa marrom subdividida em 1º, 2º e 3º kyu e a faixa preta com a graduação do 1º ao
10º dan.
Após um ano de treinamento, ou seja, no final de 1951, os alunos Irineu
Bazacas, Januário Rezende, Dali Wolemann, Theodoro Mascarenhas, Yvao Sugo, Jorge
Aveline e Matheus foram promovidos à faixa marrom 3º kyu. No início do ano de 1952
o grupo foi promovido ao 2º kyu e, no final do mesmo ano - excetuando Matheus que
não fazia mais parte do corpo de alunos-, receberam o 1º kyu.
Em 1953 o primeiro grupo de alunos de Takeo Yano (Irineu Bazacas, Januário
Rezende, Dali Wolemann, Theodoro Mascarenhas, Yvao Sugo e Jorge Aveline)
graduou-se faixa preta 1º dan. No momento em que o Sensei Yano formou a primeira
turma de faixas-pretas, passou a organizar campeonatos para divulgar o judô. Como não
havia outras academias de judô na cidade, a organização aceitava as inscrições de
qualquer interessado em lutas de ringue, desde que ele se apresentasse de quimono para
lutar. Sem tatames, os campeonatos ocorriam em ringues, com três shiais intercaladas
6 Irineu Bazacas refere que após as aulas, Takeo Yano divertia-se jogando cartas e frequentando boates.
Por causa disso acabou contraindo muitas dívidas, inclusive no restaurante do seu aluno Januário Resende
(ANEXO A).
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entre as lutas de “catch”. Em cada noitada havia dois shiais classificatórios (duas duplas
lutavam) e os vencedores faziam a final valendo medalha.
Em 1954, com a saída de Takeo Yano do Rio Grande do Sul, o judô
permaneceu vivo graças a essa turma de alunos graduados, que continuou a praticar
judô na academia Ruy Barbosa, agora administrada pelo antigo aluno Januário Resende.
Outro acontecimento que auxiliou muito na fixação das raízes do judô no estado após a
saída de Yano foi a posse de Jorge Aveline7, como presidente da Federação Rio-
grandenses de Pugilismo, ocorrida no mesmo ano. Tão logo assumiu a presidência da
Federação de pugilismo em 1954, Aveline criou o departamento de judô. Estava lançada
a semente que culminaria com a criação da Federação Gaúcha de Judô, em 1969.
Com o auxílio da Federação de Pugilismo, o Departamento de judô conseguiu
enviar para o Campeonato Brasileiro de 1955, realizado em Salvador (BA), a primeira
delegação de judocas do Rio Grande do Sul, formada pelo técnico Januário Resende e
os atletas Vitor Pulcost (faixa marrom), Abraão Chaines (faixa preta 1º dan), Francisco
Chaines (faixa preta 2º dan), Carlos Fraga (faixa preta 2º dan) e Theodoro Mascarenhas
(faixa preta 3º dan).
O professor Irineu Bazacas relata que naquela época, os campeonatos não
possuíam divisão por peso ou idade. Nesse contexto, os atletas eram automaticamente
promovidos para lutar dentro das categorias de graduação. A curiosidade é que o
técnico, Januário Resende, pelo fato de não participar do campeonato como lutador,
permaneceu no 1º dan. Outro fato que o professor Bazacas ressalta sobre esse
campeonato é que, apesar dele e Yvao Sugo terem sido convocados para participar, não
puderam viajar por falta de recursos financeiros para custear a estadia e a alimentação.
Abaixo segue fotografia obtida com o Sensei Breno Herbert Jones mostrando
Irineu Pantaleão Bazacas em formação com seus alunos. A fotografia 8 mostra imagem
recente de Irineu Bazacas ao completar 85 anos.
7 Jorge Aveline, além de contador e professor na área de Economia da UFRGS, mantinha uma coluna no
Diário de Notícias chamada “Luvas de Ouro”, entre as décadas de 1950 e 1960 (CARATTI, 2012, p.519).
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Figura 7: Sensei Irineu Pantaleão Bazacas (no centro da foto) com seus alunos
Figura 8: Irineu Pantaleão Bazacas comemorando 85 anos.
Assim, com o auxílio dos faixas-pretas formados pelo Sensei Yano, as aulas de
judô na academia Ruy Barbosa continuaram sendo ministradas regularmente até o ano
14
de 1956, quando Januário Resende transfere a propriedade da academia para Aloísio
Nogueira Bandeira de Melo, conhecido por todos como professor Loanzi8.
8. FINAL DA DÉCADA DE 1950: A ÉPOCA DOS “GRENAIS DE JUDÔ”
Com a venda da academia para o professor Loanzi em 1956, o departamento de
judô do Sport Clube Ruy Barbosa passou a ser conhecido a conhecido como o “Dojô
do professor Loanzi”. Revela o sensei Bazacas que, por causa da transferência de
propriedade, ele, Yvao Sugo e João Graf pararam de frenquentar a academia Ruy
Barbosa e seguiram novos caminhos.
Yvao Sugo foi convidado a ministrar aulas de judô no departamento de judô do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Irineu Bazacas foi treinar com ele. De acordo com
as informações contidas no site oficial do Grêmio, o judô no clube foi implantado no
ano de 1955, com a criação do departamento de Judô e os frutos desta iniciativa
surgiram em 1956 com a conquista do Campeonato Citadino e o Estadual. No ano
seguinte, comandado pelo professor Yvao Sugo, ressaltam que o Tricolor repetiu o feito
culminando com a participação no Campeonato Brasileiro da categoria "Faixa
Marrom"9.
Figura 9: imagem da equipe de judô comandada pelo Sensei Yvao Sugo.
8 Conforme relatos, o apelido deve-se ao nome de uma pomada para dores musculares que terminava com
o termo “loanzi”, e era muito utilizada pelo professor após os treinos. (MADURO, 2011, p.21) 9 Extraído do site: http://www.gremio.net/page/view.aspx?i=judo&language=0 . Acesso em 21.09.2015.
15
Januário Resende, por sua vez, iniciou o departamento de judô no Sport Clube
Internacional. Considerando a rivalidade que já existia à época entre os clubes, foram
realizados diversos “Grenais de judô” organizados por Sugo e Januário, com a
participação de Irineu Bazacas e João Graf, entre outros. Em 1960, com o encerramento
das atividades dos departamentos de judô do Grêmio e do Inter, os “Grenais de judô”
foram extintos.
9. Considerações Finais
Analisando o relato elaborado pelo Professor Irineu Bazacas, verificou-se a
existência de um manancial riquíssimo de informações ligadas ao início do judô no
estado do Rio Grande do Sul, que se deu na década de 1950-1960. Com base nesses
relatos é que se procurou, ao longo do presente estudo, possível reconstruir os primeiros
passos dados pelo professor Takeo Yano na sua hercúlea tarefa de introduzir o judô não
apenas em nosso solo, mas em nossa cultura.
Essa tarefa não seria possível sem o auxílio do Sensei Breno Jhones, que além de
obter o documento contento o relato do seu antigo professor, não poupou esforços em
detalhar os acontecimentos da época, preservando e divulgando elementos importantes
da história do judô no Rio Grande do Sul.
Assim, acredita-se que o estudo atingiu de forma satisfatória o escopo de
redesenhar o surgimento do judô no estado na década de 1950-1960, justamente porque
está embasado em uma fonte primária, ou seja, o artigo encontra pilares no relato de
quem verdadeiramente viveu a história. Aliás, provavelmente nesse ponto é que o
presente artigo entra em colisão com os ensaios elaborados pelos outros estudiosos da
história do judô no Rio Grande do Sul.
Por fim, contribuindo com o processo dialético de estruturação do
conhecimento, concluímos que - diversamente do que constam em muitos escritos sobre
o tema-, o judô no Rio Grande do Sul começou de 1950 através dos ensinamentos de
Takeo Yano, em aulas ministradas no terraço do “Hotel Magestic”. O professor Yano
permaneceu no Estado o tempo suficiente para formar a primeira turma de faixas-pretas,
que ocorreu muito antes da popularização do judô por meio da divulgação da sua prática
no “Dojô do Loanzi”, situado na Academia Ruy Barbosa.
16
Referências
CARATTI, Jonatas Marques. “Calçando as luvas”: primeiros comentários sobre a
formação do boxe gaúcho. Revista Latino-Americana de História Vol. 1, nº. 3 – Março
de 2012 Edição Especial – Lugares da História do Trabalho, p.519.
GASTON, Ricardo. Rodrigues Ricardo Gaston [depoimento, 2002]. Porto Alegre:
Centro de memória do Esporte – ESEF/UFRGS, 2005.
JONES, Breno Herbert. Breno Herbert Jones [depoimento 15 de setembro, 2015].
Porto Alegre. Entrevista concedida a Gustavo Tanger Jardim.
MADURO, Luis Alcides Ramires. A formação e a sua influência no papel do
treinador de judô no planejamento dos treinos e nas competições. Faculdade de
Desporto da Faculdade do Porto. 2011. 267p.Tese doutorado. Universidade do Porto.
NUNES, Alexandre Velly. A influência da imigração japonesa no desenvolvimento
do judô brasileiro: uma genealogia dos atletas brasileiros medalhistas em Jogos
Olímpicos e campeonatos mundiais. 2011. 197p. Tese doutorado. Universidade de
São Paulo.
______. Alexandre Velly Nunes [depoimento, 2014]. Porto Alegre: Centro de
memória do Esporte – ESEF/UFRGS.
______. Judô no Rio Grande do Sul [2005]. Disponível em:
http://www.crefrs.org.br/atlas/cd/texto/judo.pdf. Acessado em 15.09.2015.
http://www.gladiatorium.com.br/tag/judo. Acessado em 16.09.2015.
https://judomododeusar.wordpress.com/2011/12/27/hajime-isogai. Acessado em
16.09.2015.
17
https://bubishi2010.wordpress.com/2010/01/12/comentarios-sobre-jigoro-kano-e-o-
judo/. Acessado em 16.09.2015
http://www.gremio.net/page/view.aspx?i=judo&language=0 . Acessado em 21.09.2015.