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IMPRESSO Notícias do Povo da Rua Rede Rua de Comunicação - Rua Sampaio Moreira, 110 – Casa 9 – Brás – 03008–010 São Paulo SP – Fone - 3227-8683 - 3311-6642 - [email protected] Ano XXI Outubro de 2012 - Nº 211 Alderon Costa e Cleisa Rosa Fotos: Alderon Costa/Rede Rua “Companheiro a vida inteira No dia 26 de outubro, em cli- ma alegre e animado, dois dias antes das eleições municipais, pessoas em situação de rua e parceiros receberam o então candidato, hoje prefeito da ci- dade de São Paulo, Fernando Haddad (PT) que chegou na companhia de Gabriel Chalita (PMDB) no último evento de campanha na Casa de Oração do Povo da Rua. Estiveram presentes, nesse encontro de apoio, represen- tantes do Movimento Na- cional da População de Rua (MNPR); do Movimento Na- cional dos Catadores de Mate- riais Recicláveis (MNCR); do Garnic, grupo de articulação para a conquista de moradia de idosos da capital; do Fórum Permanente de Acompanha- mento das Políticas Públicas na cidade; dos índios Guarani, dos ambulantes do Brás; além destes havia representantes de organizações sociais e socio- assistenciais conveniadas com a Prefeitura e de políticos, como Eduardo Suplicy (sena- dor); Paulo Teixeira (deputado federal); Simão Pedro (depu- tado estadual); Juliana Cardo- so (vereadora reeleita) e Nabil Bonduki, vereador eleito para os próximos quatro anos. Anderson Lopes Miranda, após agradecer a presença de todos, convidou Renato Sena (MNPR) para leitura das su- gestões do Fórum Permanente ao plano de governo munici- pal (p. 3). Em seguida, Ander- son entregou carta do MNPR ao Fernando Haddad apoiando a implantação da renda básica cidadã, defendida pelo Sena- dor Suplicy. A esperança da vitória foi apontada em falas breves de muitas pessoas que reafirma- ram a necessidade de mudan- ça de rumos em São Paulo, principalmente, que a cidade tenha uma administração que respeite os direitos fundamen- tais dos cidadãos, moradores da cidade. “Nós, catadores tivemos muito pouco diálogo até ago- ra. Queremos participar da política pública e queremos garantir nossos direitos”, dis- se Eduardo Ferreira de Paulo (MNCR). Alguns representantes des- tacaram a necessidade de um olhar cuidadoso para a reali- dade deles. “Não só o povo Guarani, mas o povo do Bra- sil necessita de uma pessoa que olha realmente para o povo”, disse Pedro Macena, que ao lado de Maria repre- Haddad, dirigindo-se à Maria, índia Guarani, que teve dificuldade de pronunciar seu nome, respondeu: “Pode me chamar de companheiro a vida inteira” “Fui eleito pelo sen- timento de mudança que domina a alma do povo de São Paulo. Sei da enorme responsabilidade de todos que são eleitos pelo signo da mudança. Ser eleito pela força da mudança significa não ter tempo a perder. Não ter medo de enfrentar, nem ter justificativas a dar para tornar esse sonho realidade. Significa não ter paciência e não pedir paciência. Antes de tudo, traçar prioridades e unir a cidade em torno de um Tempos de mudança “Meu objetivo cen- tral está plenamente delineado, discutido e aprovado pela maioria do povo de São Paulo. É dimi- nuir a grande desi- gualdade existente em nossa cidade, é derrubar o muro da vergonha que sepa- ra a cidade rica e a cidade pobre” “Nós, catadores tivemos muito pouco diálogo até agora. Queremos participar da política pública e queremos garantir nossos direitos sentaram os índios Guarani. “Igual ao povo da rua, nós idosos de baixa renda somos muito excluídos. O que mais precisamos no momento é de moradia para os idosos. Que- remos que o senhor nos olhe como nós somos”, disse dona Olga Quiroga, representante do Garnic. “Quero fazer um pedido como mulher, que o senhor olhe para os filhos das mu- lheres dependentes químicas que estão sendo arrancados de suas mães”, disse Mara Lucia Sobral Santos, catado- ra, presidente da Cooperativa Granja Julieta. Em sua manifestação, o pre- feito Fernando Haddad disse que é inaceitável a desigual- dade existente em São Paulo e que ela chegou a um grau tal, também, pela inexistência de políticas públicas que só faz aumentar essa desigualda- de. Enfatizou que o prefeito tem obrigação de propor po- líticas públicas com a parti- cipação política dos cidadãos e de respeitar a cultura dos diferentes grupos e comuni- dades. “Faremos uma grande transformação em São Paulo. Vamos fazer com que a Prefei- tura pare de atrapalhar, vamos dar as mãos e fazer com que esta cidade consiga recuperar o protagonismo e a lideran- ça que ela sempre teve. Todo morador é um guerreiro e um batalhador. Isso vale para o rico, para o pobre, vale para a mulher, para o homem, para o negro, para o branco, para a periferia e para o centro”, en- fatizou Fernando Haddad. Finalizando, Haddad lem- brou uma fala do presidente Lula por ocasião de uma de suas visitas à população de rua às vésperas do Natal: “Não po- demos perder o vínculo com quem mais precisa da gente. De certa forma minha presença aqui tem esse mesmo sentido”, completou o prefeito Haddad. projeto coletivo, de todos os pau- listanos, de todos os moradores de São Paulo. Meu objetivo central está ple- namente delineado, discutido e aprovado pela maioria do povo de São Paulo. É diminuir a grande desigualdade existente em nossa cidade, é derrubar o muro da vergonha que separa a cidade rica e a cidade pobre. Somos uma das mais ricas e ao mesmo tempo uma das mais desiguais do plane- ta. Não podemos deixar que isso siga assim por tempo indetermi- nado, exatamente no momento em que o Brasil vem passando por uma das mudanças sociais vigorosas do mundo. A prefei - tura tem um papel importante nisso, pois é ela que cuida da oferta e da qualidade de alguns dos serviços públicos mais es - senciais como a saúde, o trans - porte, a educação, a habitação, entre outros. As cidades foram inventadas para unir, não para desunir. Pro- teger e não fragilizar. Acarinhar e não violentar. Para dar confor - to e não sofrimento. São Paulo tem seus grandes problemas, mas tem e terá as próprias soluções. O Brasil moderno nasceu aqui e o surpreendente Brasil do novo milênio também estará aqui. Se corrigirmos nos - sos erros, se superarmos a inér - cia, se quebrarmos o imobilismo, e se recuperamos a alma criativa e o espírito de empreendedoris- mo que sempre foram a marca de São Paulo”. (Extraído do discurso feito por Fernando Had- dad após anúncio dos resultados da eleição no dia 26 de outubro de 2012)

O Trecheiro - Outubro de 2012 #211

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jornal da associação Rede Rua

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Page 1: O Trecheiro - Outubro de 2012 #211

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Notícias do Povo da Rua

Rede Rua de Comunicação - Rua Sampaio Moreira, 110 – Casa 9 – Brás – 03008–010 São Paulo SP – Fone - 3227-8683 - 3311-6642 - [email protected]

Ano XXI Outubro de 2012 - Nº 211

Alderon Costa e Cleisa Rosa

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“Companheiroa vida inteira

No dia 26 de outubro, em cli-ma alegre e animado, dois dias antes das eleições municipais, pessoas em situação de rua e parceiros receberam o então candidato, hoje prefeito da ci-dade de São Paulo, Fernando Haddad (PT) que chegou na companhia de Gabriel Chalita (PMDB) no último evento de campanha na Casa de Oração do Povo da Rua.

Estiveram presentes, nesse encontro de apoio, represen-tantes do Movimento Na-cional da População de Rua (MNPR); do Movimento Na-

cional dos Catadores de Mate-riais Recicláveis (MNCR); do Garnic, grupo de articulação para a conquista de moradia de idosos da capital; do Fórum Permanente de Acompanha-mento das Políticas Públicas na cidade; dos índios Guarani, dos ambulantes do Brás; além destes havia representantes de organizações sociais e socio-assistenciais conveniadas com a Prefeitura e de políticos, como Eduardo Suplicy (sena-dor); Paulo Teixeira (deputado federal); Simão Pedro (depu-tado estadual); Juliana Cardo-so (vereadora reeleita) e Nabil Bonduki, vereador eleito para os próximos quatro anos.

Anderson Lopes Miranda, após agradecer a presença de todos, convidou Renato Sena (MNPR) para leitura das su-gestões do Fórum Permanente ao plano de governo munici-pal (p. 3). Em seguida, Ander-son entregou carta do MNPR ao Fernando Haddad apoiando

a implantação da renda básica cidadã, defendida pelo Sena-dor Suplicy.

A esperança da vitória foi apontada em falas breves de muitas pessoas que reafirma-ram a necessidade de mudan-ça de rumos em São Paulo, principalmente, que a cidade tenha uma administração que respeite os direitos fundamen-tais dos cidadãos, moradores da cidade.

“Nós, catadores tivemos muito pouco diálogo até ago-ra. Queremos participar da política pública e queremos garantir nossos direitos”, dis-se Eduardo Ferreira de Paulo (MNCR).

Alguns representantes des-tacaram a necessidade de um olhar cuidadoso para a reali-dade deles. “Não só o povo Guarani, mas o povo do Bra-sil necessita de uma pessoa que olha realmente para o povo”, disse Pedro Macena, que ao lado de Maria repre-

Haddad, dirigindo-se à Maria, índia Guarani, que teve dificuldade de pronunciar seu nome, respondeu: “Pode me chamar de companheiro a vida inteira”

“Fui eleito pelo sen-timento de mudança que domina a alma do povo de São Paulo. Sei da enorme responsabilidade de todos que são eleitos pelo signo da mudança. Ser eleito pela força da mudança significa não ter tempo a perder. Não ter medo de enfrentar, nem ter justificativas a dar para tornar esse sonho realidade. Significa não ter paciência e não pedir paciência. Antes de tudo, traçar prioridades e unir a cidade em torno de um

Tempos de mudança “Meu objetivo cen-tral está plenamente delineado, discutido e aprovado pela maioria do povo de São Paulo. É dimi-nuir a grande desi-gualdade existente em nossa cidade, é derrubar o muro da vergonha que sepa-ra a cidade rica e a cidade pobre”

“Nós, catadores tivemos muito pouco diálogo até agora. Queremos participar da política pública e queremos garantir nossos direitos

(Extraído do discurso feito por Fernando Haddad após anúncio dos resultados da eleição no dia 26 de outubro de 2012)

sentaram os índios Guarani. “Igual ao povo da rua, nós

idosos de baixa renda somos muito excluídos. O que mais precisamos no momento é de moradia para os idosos. Que-remos que o senhor nos olhe como nós somos”, disse dona Olga Quiroga, representante do Garnic.

“Quero fazer um pedido como mulher, que o senhor olhe para os filhos das mu-lheres dependentes químicas que estão sendo arrancados de suas mães”, disse Mara Lucia Sobral Santos, catado-ra, presidente da Cooperativa Granja Julieta.

Em sua manifestação, o pre-feito Fernando Haddad disse que é inaceitável a desigual-dade existente em São Paulo e que ela chegou a um grau tal, também, pela inexistência de políticas públicas que só faz aumentar essa desigualda-de. Enfatizou que o prefeito tem obrigação de propor po-

líticas públicas com a parti-cipação política dos cidadãos e de respeitar a cultura dos diferentes grupos e comuni-dades. “Faremos uma grande transformação em São Paulo. Vamos fazer com que a Prefei-tura pare de atrapalhar, vamos dar as mãos e fazer com que esta cidade consiga recuperar o protagonismo e a lideran-ça que ela sempre teve. Todo morador é um guerreiro e um batalhador. Isso vale para o rico, para o pobre, vale para a mulher, para o homem, para o negro, para o branco, para a periferia e para o centro”, en-fatizou Fernando Haddad.

Finalizando, Haddad lem-brou uma fala do presidente Lula por ocasião de uma de suas visitas à população de rua às vésperas do Natal: “Não po-demos perder o vínculo com quem mais precisa da gente. De certa forma minha presença aqui tem esse mesmo sentido”, completou o prefeito Haddad.

projeto coletivo, de todos os pau-listanos, de todos os moradores de São Paulo. Meu objetivo central está ple-namente delineado, discutido e aprovado pela maioria do povo de São Paulo. É diminuir a grande desigualdade existente em nossa cidade, é derrubar o muro da vergonha que separa a cidade rica e a cidade pobre. Somos uma das mais ricas e ao mesmo tempo uma das mais desiguais do plane-ta. Não podemos deixar que isso siga assim por tempo indetermi-nado, exatamente no momento

em que o Brasil vem passando por uma das mudanças sociais vigorosas do mundo. A prefei-tura tem um papel importante nisso, pois é ela que cuida da oferta e da qualidade de alguns dos serviços públicos mais es-senciais como a saúde, o trans-porte, a educação, a habitação, entre outros. As cidades foram inventadas para unir, não para desunir. Pro-teger e não fragilizar. Acarinhar e não violentar. Para dar confor-to e não sofrimento. São Paulo tem seus grandes problemas,

mas tem e terá as próprias soluções. O Brasil moderno nasceu aqui e o surpreendente Brasil do novo milênio também estará aqui. Se corrigirmos nos-sos erros, se superarmos a inér-cia, se quebrarmos o imobilismo, e se recuperamos a alma criativa e o espírito de empreendedoris-mo que sempre foram a marca de São Paulo”.

(Extraído do discurso feito por Fernando Had-dad após anúncio dos resultados da eleição no dia 26 de outubro de 2012)

Page 2: O Trecheiro - Outubro de 2012 #211

o Trecheiro Notícias do Povo da Rua

Rua Sampaio Moreira,110 - Casa 9 - Brás - 03008-010 - São Paulo - SP - Fone: (11) 3227-8683 3311-6642 - Fax: 3313-5735 - www.rederua.org.br - E-mail: [email protected]

REDE RUA DE COMUNICAÇÃO

Conselho editorial:Arlindo Dias editorAlderon CostaMTB: 049861/0157Cleisa Rosa

equipe de redação: Alderon CostaCleisa RosaDavi AmorimLéa TosoldRose Barboza

revisão Cleisa Rosa

FotograFia: Alderon Costa diagramação: Fabiano Viana

ApoioFelipe MoraesJoão M. de Oliveira

impressão: Forma Certa5 mil exemplares

O Trecheiro pag 02 Outubro de 2012

Apoio

Edi

tori

alDo Trecho para o prefeito Haddad

É importante dizer que, hoje, já existe amplo co-nhecimento da realidade das pessoas que estão em situação de rua. Isso não significa que exista um do-mínio sobre toda realidade, mas é importante dizer que o que se sabe não é levado em conta pelos ges-tores públicos, que continuam fazendo da repressão e do confinamento a base das políticas públicas. É urgente pensarmos em mudança de visão porque es-tamos falando de pessoas e não de coisas.

Nos últimos anos, portanto, vivemos um verdadeiro descaso público com relação à população de rua na cidade de São Paulo na medida em que os principais problemas apresentados por ela não encontram res-postas. Ao contrário, o que se vê, prioritariamente, são ações públicas que enfatizam higienização, vio-

lência policial e prioridades em equipamentos fechados (alber-gues) sem condições de funcionamento em espaços inadequa-dos ou abertos (tendas) que não oferecem condições mínimas de atendimento digno.

Há ausência de espaços de participação para a elaboração e avaliação das políticas, de ações de cuidados com a saúde na perspectiva da equidade e da inclusão no Sistema Único de Saúde e de moradias subsidiadas que considerem as condições socioeconômicas das pessoas em situação de rua.

Levando em conta esse rápido quadro, a equipe do jornal O Trecheiro levantou propostas de trabalho que vêm sendo cons-truídas, historicamente, por grupos que atuam criticamente nessa realidade e que participaram do processo de criação da Política Nacional – Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009 – assinada em dezembro de 2009 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Propostas1. Construir um mecanismo de articulação multidiscipli-

nar e intersetorial (Secretaria de Habitação e Desenvolvimen-to Urbano, Cultura, Saúde e Trabalho) com participação de re-presentantes das organizações sociais, do MNPR e de pessoas em situação de rua.

2. Congelamento das vagas de albergues, promovendo avaliação dos serviços existentes, tendo em vista fechamento de alguns (sem condições de funcionamento) e criação de al-ternativas de atendimento diferenciadas.

3. Nessa direção, ampliar vagas em Hotel Social, no Pro-grama de Locação Social e inclusão (quando for o caso) no Programa Minha Casa, Minha Vida, prevendo acompanha-mento e articulação com o trabalho.

4. Na perspectiva da Segurança Alimentar, criar restau-rantes populares, com atendimento diferenciado e qualificado; articular a ação municipal às organizações que distribuem ali-mentação nas ruas da cidade, no sentido de parceria em fun-ção da política pública.

5. Garantir direito à alimentação, higiene, segurança, saúde às pessoas que têm nas ruas o seu modo de vida.

6. Rever a metodologia e formas de atendimento nos ser-viços, garantindo dignidade, respeito e participação.

7. Criar serviços de caráter público de tratamento especí-fico à dependência química de álcool e drogas.

8. Fortalecer e ampliar o programa “A Gente na Rua” como foi criado, originalmente, onde a “rua cuida da rua”.

9. Criar mecanismos para acabar com a violência contra as pessoas em situação de rua, em particular, a praticada pela Guarda Civil Metropolitana (GCM). Nesse sentido, revogar a Portaria 105/2010/SMSU – Gabinete de 31 de março de 2010.

10. Desenvolver espaços de formação profissional dos agentes públicos e privados que articulem, avaliem e qua-lifiquem os trabalhos existentes na cidade com a popula-ção de rua.

VIDA NO tREChO

Léa tosold e Rose Barboza

“A rua provoca traumas, mas também permite ver a vida de outra maneira”

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Entretanto, por trás de tanta inte-ligência, havia um sofrimento psíqui-co intenso

“Dormir nas ruas é muito duro, você está permanente-mente sujeito a toda sorte de estímulos vindos de fora: lu-zes, ruídos. A maior parte das pessoas nunca vai entender o mágico que é, por exem-plo, poder acender e apagar um interruptor de luz, poder andar sem roupas dentro de casa. São coisas simples, que a maioria não vê. Eu aprendi o valor das coisas simples. A rua te provoca traumas, mas também te permite ver a vida de outra maneira. Ela te tira, mas também te dá”. Foi com essa fala que Horacio Ávi-la terminou uma conversa de mais de duas horas com a equipe de O Trecheiro no Centro de Integração Monte-agudo, em Buenos Aires.

Horacio é de La Matanza, município próximo a Buenos Aires. Trabalhava como autô-nomo no ofício de tapeceria e vivia de aluguel com a mu-lher e a filha. Quando a crise econômica de 2001 assolou o país, tornou-se inviável para Horacio comprar o material com que trabalhava e pagar o aluguel. Foi então que tomou a decisão de vender todas as ferramentas que tinha e dar o dinheiro para que a mulher e a filha voltassem a viver com os pais, no interior. “Eu se-gui para Buenos Aires com apenas um trocado no bolso”, relembra. Passou a dormir na praça do Congresso, no cen-tro da cidade. “No começo, acordava todos os dias achan-do que despertaria de um pe-sadelo, na esperança de que tudo passasse como um passe

de mágica. Mas isso nunca acontecia e a situação só ia piorando: a roupa ia ficando suja e eu tinha muita fome”.

“Agir coletiva-mente tem uma força diferente”

“É extremamente difícil viver em situação de rua. Ve-mos restaurantes por todas as partes e, no entanto, sabemos que não vamos poder comer. Há milhares de prédios ao re-dor, mas não vamos dormir em nenhum deles, senão nas ruas, que é o lugar onde as pessoas caminham. Há uma infinidade de banheiros e não vamos poder entrar em ne-nhum deles. É muito duro ver essas coisas e não enlouque-cer”. Horacio nos conta que a revolta que sentia por sua situação e a de tantxs outrxs foi se transformando dentro dele em resistência e rebel-dia. Vendo que havia outras pessoas vivendo na mesma situação, começaram a orga-nizar-se: “Éramos cerca de 20 pessoas e, em vez de ficar-mos esperando por horas em filas para receber um pouco de comida, passamos a pre-parar nosso próprio café da manhã conseguimos comprar leite em pó e uma garrafa tér-mica para o café. Alguns ba-res nos davam água quente e conseguimos doações de pão velho, um pouco de geleia e manteiga”.

“A única possibilidade de superar os problemas é agin-do coletivamente”, afirma Horacio. “Individualmen-te, o sistema é estruturado para que você não chegue a

lugar nenhum e, na primeira oportunidade, volte à situa-ção precária da qual procurou sair”. Cada vez mais pessoas passaram a se reunir nas pra-ças, em assembleias, a fim de se organizar autonomamente para lutar por seus direitos. Em dezembro de 2004, havia mais de 200 pessoas reunidas quando Horacio e mais sete companheiros decidiriam entrar em greve de fome como protes-to, visando exigir do governo um subsídio habitacional que também contemplasse pessoas em situação de rua. O caso teve grande repercussão e, depois de oito dias, conseguiram subsí-dio para a moradia de 40 pes-soas em situação de rua.

Com essa vitória, as mobili-zações continuaram crescendo mais e mais. Mesmo tendo sofrido um infarto por estar muito debilitado pela situação de rua e pela greve de fome, Horacio dedica-se em tempo integral à causa. É uma luta ár-dua. Mas, como diz Horacio: “Sei que precisaria descansar. Por outro lado, sei também que não conseguiria deixar a luta para fazer outra coisa”.

No começo, acor-dava todos os dias achando que despertaria de um pesadelo, na esperança de que tudo passasse como um passe de mágica.

Éramos cerca de 20 pessoas e, em vez de ficarmos esperando por horas em filas para receber um pouco de comida, pas-samos a preparar nosso próprio café da manhã

Page 3: O Trecheiro - Outubro de 2012 #211

O Trecheiro pag 03 Outubro de 2012

Foto: Alexandre Hodapp (Cohab-SP)

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Cleisa Rosa com a colaboração de Léa tosold e Rose Barboza

Radio Sur em Buenos Aires Projeto de comunicação comunitária com progra-ma coordenado pelo Centro de Integração Mon-teagudo, que entrevistou ao vivo a equipe de O Trecheiro no dia 2 de agosto. A relação dos movi-mentos sociais com o governo federal, cooptação e liberação de recursos estatais para a população de rua, violência por parte dos agentes do Estado, cooperação e conhecimento sobre a realidade bra-sileira estiveram na pauta.

1ª Jornada em Buenos Aires É um espaço de organizações que trabalham com pessoas em situação de rua. A 1ª Jornada de Trabalho do Centro Carlos Mugica foi marcada por uma ho-menagem ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua no Brasil. A equipe de O Trecheiro foi convidada a abrir o evento contando a história do massacre da Praça da Sé e a posterior organização da população de rua em um movimento social no Brasil. Homenagear o Dia Nacional de Luta foi uma estratégia encontrada pelos participantes do evento para iniciar uma troca de experiências entre os dois países na busca de um movimento coletivo latino--americano de pessoas em situação de rua.

Uma outra Buenos AiresGuiadas por Fabio Manupella e Marcelo Castillo, participantes do Centro de Integração Monteagudo, a equipe de O Trecheiro foi apresentada aos contrastes de uma Buenos Aires que, cada vez mais, exclui e marginaliza seus pobres. O percurso político--turístico passou por espaços que sofreram processos de “revita-lização”, em que a expulsão da população pobre deu lugar à es-peculação imobiliária, dividindo a cidade dos pobres da Buenos Aires dos ricos, conforme observou Fabio Manupella.

Carta de repúdioEntidades e movimentos sociais que integram a Frente Esta-dual de Drogas e Direitos Humanos do Rio de Janeiro (FE-DDH), articulada com a Frente Nacional de Drogas e Direi-tos Humanos (FNDDH) repudiam as últimas declarações do prefeito da cidade do Rio de Janeiro sobre a continuidade e expansão da política de internação compulsória, que agora, além das crianças e adolescentes em situação de rua, deverá incluir adultos.

Pauta de reivindicações do Fórum Permanente de SP entregue a Fernando Haddad

a

Medidas a serem implementadas nos 100 primeiros dias de governo

Afastamento imediato da Guarda Civil Metropolitana da abordagem com a população em situação de rua, lembrando que “a população não é objeto de trabalho da GCM”.

Que o Conselho de Monitoramento da Política para a População em Situação de Rua de São Paulo passe a ser um Conselho Municipal, deliberativo e com dotação orçamentária para a efe-tiva construção e implementação de políticas intersetoriais.

Criação de uma política de Segurança Alimentar específica para a população em situação de rua, lembrando que o Bom Prato não atende a essa população.

Revisão da política de convênios, que eles passem a ser intersetoriais no seu desenho e im-plementação, corresponsabilizando diferentes secretarias (Assistência Social, Saúde, moradia, trabalho, etc.) na construção de serviços e no cofinanciamento dessas ações.

Medidas de médio prazol Construção de uma política pública intersetorial para a população em situação de rua e de

mecanismos efetivos para implementá-la.l Que o município de São Paulo lidere a articulação metropolitana de uma política para a

população de rua.

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Chuveiro da vergonhaBancos ondulados para as

pessoas não deitarem, grades nas praças e viadutos, parale-lepípedos, pedras e chuveiri-nhos são algumas das formas da chamada arquitetura da exclusão adotada, em diver-sos momentos da conjuntura política, pelo poder público e por particulares para expulsar as pessoas em situação de rua.

Gildevar Ferreira Santana morava na favela do Moinho e desde que perdeu o barraco no primeiro incêndio (22 de dezembro de 2011) passou a morar na rua. Todo dia vai al-moçar no Centro de Vivência São Vicente de Paula (Alame-da Dino Bueno, 643). No en-tanto, antes de almoçar, acaba ficando sentado na parede de

“Eu já vi várias pes-soas esperando o horário do almoço quando alguém abre a água desse cano que está ai acima”,

um prédio vizinho, que insta-lou um cano de água com fu-ros por toda a parede. “Eu já vi várias pessoas esperando o horário do almoço quando al-guém abre a água desse cano que está ai acima”, apontou Gildevar para o beiral do te-lhado do prédio.

Segundo Adriano Marques, educador social que trabalha na região da Luz, os morado-res do prédio juntaram-se para excluir as pessoas em situação de rua que ficam esperando a comida oferecida pelo Centro. Para Adriano, “o problema é que as pessoas não têm opção de alimentação, são poucos lu-gares como este daqui”.

Para Ismael Tiago dos San-tos, convivente do Centro, a colocação desse chuveirinho começa pela ausência do po-der público. “Ninguém pode obrigar as pessoas a saírem da rua, não sei como, mas sem-pre tem um jeito”. Para Tia-

go, se as pessoas que moram nas ruas tivessem uma opção melhor do que levar água nas costas, eles escolheriam, pois ninguém gosta desse tipo de constrangimento.

O chuveirinho é uma agres-são, é como se fosse um tiro: você jogar água nas pessoas para não ficarem nas calçadas. É uma espécie de egoísmo sem tamanho e de uma falta de hu-manidade, afirma o educador social, Rodrigo Monteiro, que trabalha na abordagem de rua. “Eu tenho sérios problemas com essas saídas individuali-zadas quando você não cobra do poder público e não tenta entender o porquê dessa situa-ção de tantas pessoas nas ruas. Este tipo de ação individuali-zada aponta para o fascismo”, conclui Rodrigo.

Para a assistente social do Centro de Convivência São Vicente de Paula, Edeli Pons

Imamura, a maioria das pes-soas que ficam próximas ao prédio não são atendidas pelo Centro. “Nós orientamos to-dos a não ficarem lá fora, mas não tem jeito”. O Centro chega a atender mais de 750 pessoas entre café da manhã, almoço e jantar, sem apoio do poder pú-blico. Segundo Maria Apare-cida Azevedo, conhecida pelo nome religioso de irmã Rosi-na, coordenadora, o número tem aumentado e o Centro não consegue atender a todos. “So-fremos também muita pressão de alguns moradores do bairro que nos culpam pela concen-tração de pessoas que moram nas ruas porque desvalorizam suas propriedades”, afirmou irmã Rosina.

“Desafios e perspectivas no trabalho com a

população em situação de rua”

Datas: 5 e 26 de novembro de 2012

Horário: 14 às 18 horas

Local: FAPCOM - Rua Major Maragliano,

191 - próximo ao Metrô Ana Rosa

Iniciativa da Associação Rede Rua, Centro

Gaspar Garcia de Direitos Humanos, Nú-

cleo Paulus de Formação, Pesquisa e Dis-

seminação Social com o objetivo de discutir

experiências, compartilhamento e aprimo-

ramento da atuação multidisciplinar com a

população em situação de rua.

Seminário sobre Drogas e Direitos Humanos No dia 8 de novembro, das 9 às 17 horas (Rua Arruda Alvim, 89 – perto ao Metrô Clínicas, a Frente Nacio-nal Drogas e Direitos Humanos, que reúne mais de 50 entidades desde sua criação, em 2012, convida para o debate em torno de ações concretas contra a internação e segregação de usuários. Faça sua inscrição pelo e-mail: [email protected]

Dia Municipal da Assistência Social.Data: 13 de novembro de 2012Horário: 9 às 13 horasLocal: Câmara Municipal de SP –

Viaduto Jacareí, 100Os protagonistas deste dia serão os usuários da Assistência Social, por meio das apresentações culturais.

1º Encontro de Defesa dos DH e da

Pessoa em Situação de Rua

Dia: 5 de dezembro de 2012

Local: Rua Riachuelo, 268 - Centro

Salão do Chá do Padre/Sefras

Horário: 14 às 16 horas

Para quem? População em Situação

de Rua, Entidades afins e Rede de

Assistência Social, Centro de Defesa

de Direitos humanos e Cidadãos em

geral. Entrada gratuita. Não é necessária a

inscrição antecipada

Informações: (11) 3522-7455

Alderon Costa

A reportagem do O Trecheiro pro-curou e deixou os contatos para con-versa com a síndica do prédio, mas não obteve retorno.

Page 4: O Trecheiro - Outubro de 2012 #211

Rose Barboza e Léa tosold

O Trecheiro pag 04

Os caminhos da autogestãoOutubro de 2012

Davi Amorim

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Pessoas em situação de rua dirigem centro de serviços em Buenos Aires

Frio, chuva e um céu cinza. Buenos Aires não costuma ser muito amisto-sa nas tardes de inverno. O clima e a geografia da cidade encarnam a segre-gação espacial e ajudam a criar um cenário urbano que afasta dos olhos menos atentos a pobreza e os fossos sociais, herdeiros diretos da abertura neoliberal que, na década de 2000, le-vou o país à lona e os argentinos às ruas em uma demonstração potente do que pode a mobilização coletiva.

Quase 12 anos depois do levante po-pular argentino, a fuga do primeiro-mi-nistro da sede do governo e da eleição de uma presidente progressista como Cristina Kirchner em 2007, a situação de rua tem se agravado. Isso nos con-ta Horacio Ávila, diretor do Centro de Integração Monteagudo, experiência pioneira que a equipe de O Trecheiro conheceu na passagem pelos pampas hermanos em agosto deste ano.

Uma escola de convivên-cia para outras convi-vências”, em que a pos-sibilidade de olhar para si mesmo como alguém capaz de cuidar de si e de seus companheiros

Horacio Ávila coordena a assembleia dos participantes do Centro de Integração Monteagudo

MG é o primeiro Estado a pagar catadores por serviços ambientaisConquista dos catadores

Os catadores de materiais recicláveis do Estado de Minas Gerais foram os primeiros a conquistar pagamento por serviços ambientais, reivindicação his-tórica do Movimento Nacional dos Ca-tadores (MNCR) que passa a ser colo-cada em prática com o programa Bolsa Reciclagem do governo estadual, ins-tituído por lei. Durante o 11º Festival Lixo e Cidadania, que aconteceu entre 22 a 25 de outubro, foram divulgados os resultados da implementação do programa que prevê investimento de três milhões de reais.

O pagamento é realizado com base no volume de material coletado pelos catadores organizados em cooperati-vas e associações. O valor pago varia de acordo com o material recolhido e beneficia os materiais com menor valor de mercado, estimulando a re-

ciclagem de todos os resíduos.O número de organizações de cata-

dores cadastradas já somam 119 em to-das as regiões do Estado e o beneficio atinge 1.561 catadores. Na primeira fase do programa, será remunerada a coleta de papel, plástico, vidro e metal.

Três catadores representantes do MNCR integram o conselho gestor do programa que avalia e fiscaliza as coo-perativas aptas a receber o pagamen-to por serviços ambientais. “Estamos acompanhando de perto para que não entrem os `cooper-gatos’ (cooperativas de fachada) e ferros-velhos no progra-ma”, declarou Luiz Henrique da Silva, representante do MNCR em Minas Gerais. “Estamos trabalhando para que esse pagamento chegue a ser uma polí-tica federal e o Estado de Minas Gerais serve como modelo”, finalizou.

A autogestão é possível?

A autogestão se define pelo po-der de decisão de um grupo sobre algo que lhe diz respeito, promo-vendo escolhas, compartilhando poder e decisões entre todos. Ape-sar das dificuldades institucionais e políticas atuais, iniciativas que caminhem ao encontro do fortale-cimento coletivo tendem a romper com estruturas fechadas e rígidas e abrir espaços importantes na busca de uma autonomia plena.

Como primeiro passo, alguns participantes de Monteagudo foram, no dia 19 de agosto de 2012, à Embaixada do Brasil em Buenos Aires e ergueram, ali, a bandeira do MNPR

Autogestão e mobilização coletivaHoracio nos apresentou ao projeto

que, desde abril de 2011, vem trans-formando as relações entre usuários de serviços e poder público por meio da autogestão e da certeza de que prota-gonismo só existe mesmo na prática, incluídos aqui acertos e erros. O clima

de entusiasmo com discussões polí-ticas acaloradas foi acompanhado de mate bem quente, para espantar o frio e selar a amizade e confiança entre nós.

O Centro de Integração Monteagudo é o primeiro Centro de Acolhimento (albergamento e convivência) da Amé-rica Latina dirigido e coordenado por pessoas em situação de rua ou com tra-jetória de rua, por meio de assembleias semanais.

Essa experiência de autogestão, hoje referência nacional, começou com um desafio: “Era um centro [albergue] que estava subutilizado, tinha vagas para 100 pessoas, mas apenas 40 leitos esta-vam ocupados”, informa Horacio. “Já vínhamos de mais de dez anos de lutas

e resistência e a Prefeitura de Buenos Aires nos desafiou a coordenar esse espaço. A Prefeitura perguntou se te-ríamos condições, se daríamos conta. Pensou, desde o começo, que fracassa-ríamos e, por isso, resolvemos aceitar”, complementa, com entusiasmo.

O desafio era grande, mas Horacio e seus companheiros resolveram encará-lo.

Como conheciam a tradição autoritária desses espaços, apostaram na criação de uma assembleia geral semanal, respon-sável por todas as decisões que afetam a rotina, as atividades e as iniciativas do es-paço. Foi a partir da primeira assembleia geral que surgiram as diretrizes do traba-lho realizado em Monteagudo: respeito nas relações, escutar livremente música, (até três) oportunidades de revisão sobre comportamentos pessoais não esperados na convivência e flexibilidade de horários para poder trabalhar e estudar.

Horacio acredita que essas diretrizes, baseadas no respeito, no apoio mútuo e na liberdade, também constituem a força que alimenta cada nova conquis-ta: “Ser parte da decisão, ter autonomia para decidir e ser tratado como igual: é o que a experiência de Monteagu-do tem nos ensinado”. Isso também é decisivo na forma como passamos a compreender a situação de rua: “Es-tar em situação de rua é político e, por isso, acreditamos que há alternativas à rua, mas elas passam necessariamente pelo trabalho de conscientização e de mobilização coletiva”.

Para Horacio, a experiência de Mon-teagudo tem funcionado como “uma escola de convivência para outras con-vivências”, em que a possibilidade de olhar para si mesmo como alguém capaz de cuidar de si e de seus com-panheiros, além de fortalecer a autoes-tima, é importante para alterar a per-cepção que a sociedade tem de quem vive nas ruas.

Monteagudo hoje conta com uma equipe de trabalho que desenvolve di-versas atividades: a revista Nunca es Tarde, realizada pelos participantes do Centro; Oficina de Fotografia, Escrita, Pintura, Desenho, Jornalismo, Serigra-fia e programas para a rádio comunitá-ria Radio Sur, entre outros.

A experiência de Monteagudo tem

demonstrado que uma política pública efetiva é resultado de uma construção coletiva “com” a população em situa-ção de rua e não “para” ela.

Memória e desafioA nossa passagem por Buenos Ai-

res foi marcada por várias experi-ências de intercâmbios com a popu-lação em situação de rua. Dentre os debates, destacou-se a importância da construção de uma memória coletiva como estratégia para a luta política. Dos perseguidos e mortos políticos nas ditaduras civis-militares do Brasil e da Argentina às mortes de rua, concluiu--se que recuperar a memória desses fa-

tos é a única forma de conhecer nossa história para transformar nosso futuro. Como primeiro passo, alguns partici-pantes de Monteagudo foram, no dia 19 de agosto de 2012, à Embaixada do Brasil em Buenos Aires e ergueram, ali, a bandeira do MNPR em referência ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua. Ao mesmo tempo que, em São Paulo, coloríamos as ruas do centro com bandeiras vermelhas, em Buenos Aires eles exigiam justiça e pediam fim ao massacre cotidiano da população de rua. Recordavam assim que, se a violência e a opressão são continentais, a luta e a resistência tam-bém têm de ser.

Participantes do 11º Festival Lixo e Cidadania realizado de 22 a 25 de outubro em Belo Hori-

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Foto: Davi Amorim/MNCR