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site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152 Por um giro à esquerda no PSOL página 6 Eleições do Sintaema em São Paulo: Por um sindicato democrático e de luta! página 2 Ocupação do INCRA em Goiás página 2 Greve nas Federais: um novo momento na luta pela educação página 4 Chile: As mobilizações colocaram o governo de Piñera de joelhos página 11 Por 10% do PIB para a educação já! página 12 N° 07 setembro/outubro 2011 Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) Dilma perdeu quatro ministros em menos de oito meses. Além do ex-todo-poderoso chefe da casa civil Antonio Palocci, Alfredo Nascimento dos trans- portes e Wagner Rossi da Agricultura, todos acusados de corrupção, também o “tucano” confesso Nelson Jobim (Defesa) teve que pedir as con- tas. Os governistas fingem que a queda dos corruptos e do tucano é resultado da faxina da presidenta. Difícil en- golir. Dilma os conhecia bem. Con- viveu com suas práticas e as práticas de seus ‘partidos-quadrilhas’ desde o governo anterior, do patrono Lula. Contra a vontade, acabou tendo que responder à insatisfação popular mesmo desagradando sua base de apoio no Congresso. Quem vem em seguida? Turismo, cidades, quem mais? A absolvição de Jaqueline Roriz na Câmara mostra que a canalha corrupta se defende. E Dilma depende deles. Principalmente num momento crítico da crise inter- nacional que cedo ou tarde deve afetar a bonança econômica brasileira. Se a economia começar a fazer água e o governo começar a balançar vai ser um deus nos acuda. As de- núncias vão chover e o “fogo amigo” vai correr solto. A queda do prefeito de Campinas (SP), por exemplo e a crise envolvendo vereadores e pre- feitos de inúmeros municípios é ape- nas um sinal do que pode acontecer. É verdade que as elites ainda têm o “Pelé” no banco de reservas. Lula está mais ativo que nunca. Articulando as alianças do PT com os mesmos ‘partidos-gangues’ nas eleições mu- nicipais, impondo candidatos, segu- rando a burocracia sindical, tentando controlar a base governista no Con- gresso. Se for preciso, sai da som- bra. Cenário mais complicado para o governo Mesmo assim, o cenário tende a ser mais difícil do que aquele da crise do mensalão. Lula então pôde contar com um cenário externo fa- vorável ao seu modelo retrógrado de exportação de produtos primários e fomento do consumo a crédito. Mesmo com a crise de 2008/09, as exportações para a China e o pacote de ajuda estatal aos bancos e em- presas permitiu a recuperação da atividade econômica e certa estabi- lidade. A economia por sua vez per- mitiu a recuperação política. A situação agora é outra. O ciclo de crescimento baseado no boom de commodities e crédito interno começa a chegar ao seu limite. Os trabalhadores querem sua parte O choque entre a expectativa dos trabalhadores em receber sua parte do crescimento econômico do último período com a intenção dos patrões de pisar no freio e se preparar para situações mais difíceis tende a pro- vocar intensas lutas sindicais. Da mesma forma, as políticas de contenção dos gastos públicos nas vésperas da tormenta, depois da farra dos pacotes de ajuda às em- presas e bancos dos anos anteriores, tende a provocar um choque com o conjunto do funcionalismo e do mo- vimento estudantil. As importantes lutas desse ano apontam para uma retomada dos en- frentamentos de classe mais intensos. Essa deve ser a marca do próximo período. É para esse cenário que a esquerda socialista deve preparar-se, mesmo reconhecendo as contradições e di- ficuldades que ainda existem. Nesse novo cenário, o PSOL e o conjunto a esquerda socialista, tam- bém o movimento sindical, popular e estudantil combativo, todos têm um enorme desafio diante de si. É preciso superar a fragmentação e a acomodação dos pequenos inte- resses particulares. É necessário afas- tar todo tipo de burocratismo e pro- mover a organização pela base, de- mocrática e militante. É vital a cons- trução coletiva de uma alternativa política e programática que não se limite ao melhorismo do que está aí e que não se adapte simplesmente à lógica restrita da disputa eleitoral. Teremos a chance de superar o isolamento e a fragilidade dos últimos anos, tanto política quanto organi- zativamente. Essa chance não pode ser desperdiçada. Essa edição do jornal Ofensiva Socialista busca levantar com exem- plos, situações e políticas concretas alguns caminhos para encarar esse desafio. Queremos conhecer sua opi- nião e queremos você junto conosco nessa luta. Junte-se a nós. Tendência do PSOL Unir as lutas por salários, direitos, serviços públicos e contra a corrupção

Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro 2011

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Jornal da Liberadade, Socialismo e Revolução, corrente do PSOL e seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores

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site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152

Por um giroà esquerdano PSOL

página 6

Eleições doSintaema emSão Paulo: Porum sindicatodemocrático ede luta!

página 2

Ocupação doINCRA emGoiás

página 2

Greve nasFederais: umnovo momentona luta pelaeducação

página 4

Chile: Asmobilizaçõescolocaram ogoverno dePiñera dejoelhos

página 11

Por 10% doPIB para aeducação já!

página 12

N° 07 setembro/outubro 2011

Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR

Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

Dilma perdeu quatro ministrosem menos de oito meses. Alémdo ex-todo-poderoso chefe dacasa civil Antonio Palocci,Alfredo Nascimento dos trans-portes e Wagner Rossi daAgricultura, todos acusados decorrupção, também o “tucano”confesso Nelson Jobim(Defesa) teve que pedir as con-tas.

Os governistas fingem que a quedados corruptos e do tucano é resultadoda faxina da presidenta. Difícil en-golir. Dilma os conhecia bem. Con-viveu com suas práticas e as práticasde seus ‘partidos-quadrilhas’ desdeo governo anterior, do patrono Lula.Contra a vontade, acabou tendo queresponder à insatisfação popularmesmo desagradando sua base deapoio no Congresso.

Quem vem em seguida? Turismo,cidades, quem mais? A absolviçãode Jaqueline Roriz na Câmara mostraque a canalha corrupta se defende. EDilma depende deles. Principalmentenum momento crítico da crise inter-nacional que cedo ou tarde deve afetara bonança econômica brasileira.

Se a economia começar a fazer

água e o governo começar a balançarvai ser um deus nos acuda. As de-núncias vão chover e o “fogo amigo”vai correr solto. A queda do prefeitode Campinas (SP), por exemplo e acrise envolvendo vereadores e pre-feitos de inúmeros municípios é ape-nas um sinal do que pode acontecer.

É verdade que as elites ainda têmo “Pelé” no banco de reservas. Lulaestá mais ativo que nunca. Articulandoas alianças do PT com os mesmos‘partidos-gangues’ nas eleições mu-nicipais, impondo candidatos, segu-rando a burocracia sindical, tentandocontrolar a base governista no Con-gresso. Se for preciso, sai da som-bra.

Cenário mais complicadopara o governo

Mesmo assim, o cenário tende aser mais difícil do que aquele dacrise do mensalão. Lula então pôdecontar com um cenário externo fa-vorável ao seu modelo retrógradode exportação de produtos primáriose fomento do consumo a crédito.Mesmo com a crise de 2008/09, asexportações para a China e o pacotede ajuda estatal aos bancos e em-

presas permitiu a recuperação daatividade econômica e certa estabi-lidade. A economia por sua vez per-mitiu a recuperação política.

A situação agora é outra. O ciclode crescimento baseado no boomde commodities e crédito internocomeça a chegar ao seu limite.

Os trabalhadores queremsua parte

O choque entre a expectativa dostrabalhadores em receber sua partedo crescimento econômico do últimoperíodo com a intenção dos patrõesde pisar no freio e se preparar parasituações mais difíceis tende a pro-vocar intensas lutas sindicais.

Da mesma forma, as políticas decontenção dos gastos públicos nasvésperas da tormenta, depois dafarra dos pacotes de ajuda às em-presas e bancos dos anos anteriores,tende a provocar um choque com oconjunto do funcionalismo e do mo-vimento estudantil.

As importantes lutas desse anoapontam para uma retomada dos en-frentamentos de classe mais intensos.Essa deve ser a marca do próximoperíodo.

É para esse cenário que a esquerdasocialista deve preparar-se, mesmoreconhecendo as contradições e di-ficuldades que ainda existem.

Nesse novo cenário, o PSOL e oconjunto a esquerda socialista, tam-bém o movimento sindical, populare estudantil combativo, todos têmum enorme desafio diante de si.

É preciso superar a fragmentaçãoe a acomodação dos pequenos inte-resses particulares. É necessário afas-tar todo tipo de burocratismo e pro-mover a organização pela base, de-mocrática e militante. É vital a cons-trução coletiva de uma alternativapolítica e programática que não selimite ao melhorismo do que está aíe que não se adapte simplesmente àlógica restrita da disputa eleitoral.

Teremos a chance de superar oisolamento e a fragilidade dos últimosanos, tanto política quanto organi-zativamente. Essa chance não podeser desperdiçada.

Essa edição do jornal OfensivaSocialista busca levantar com exem-plos, situações e políticas concretasalguns caminhos para encarar essedesafio. Queremos conhecer sua opi-nião e queremos você junto conosconessa luta. Junte-se a nós.

Tendênciado PSOL

Unir as lutas por salários, direitos, serviços públicos e contra a corrupção

Page 2: Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro 2011

2 • movimento Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro - 2011

Colaboraram nessa edição:Alexandre Dias, André Ferrari, Antonio Celso Lins, Celso Calfullán,Dimitri Silveira, Elizia Januário, Fábio Arruda, Isabel Keppler, JaneBarros, Jaqueline Albuquerque, Jonathan Mendonça, José Afonso Silva,Joubert Assunpção, Kátia Sales, Luciano da Silva Barboza, Luiz Milito,Marcus Kollbrunner, Mariana Cristina, Miguel Leme, Natália Oliveira,Paulo Montanher, Raylane R. Walker, Ricardo Paris, Wallace Berto,Wallace Terra, Will de Siqueira e Zelito F. Silva.

é uma publicação da Liberdade, Socialismo e Revolução

Telefone: (11) 3104-1152E-mail: [email protected]ítio: www.lsr-cit.orgCorreio: CP 02009 - CEP 01031970 - SP Assinatura: 10 edições: R$ 20 reais

(Envie cheque nominal p/Marcus William Ronny Kollbrunner à caixa postal)

Nos dias 25 a 27 de outubro haveráeleições para o Sintaema, o Sindicatodos Trabalhadores em Água, Esgotoe Meio Ambiente do Estado de SãoPaulo. É um sindicato importante queabrange empresas como Sabesp, CE-TESB, Fundação Florestal, SANED,etc. O Ofensiva Socialista falou comAbdon e Marzeni da Oposição, quefaz parte da CSP-Conlutas.

Qual é a importância dessaeleição?

Abdon: É a chance de ganhar umsindicato importante para uma linhademocrática e combativa. O PCdoB(CTB) dirige o sindicato há quase30 anos. Nos últimos 10 anos, per-demos muitos direitos como o Adi-cional por Tempo de Serviço, o adi-cional de turno, a instauração de sa-lários regionais, etc. As privatizaçõesavançaram e agora a maioria dostrabalhadores da Sabesp é terceiri-zada. Houve muitas demissões, jáque está inscrito no acordo salarialque temos 98% de estabilidade, quesignifica que a empresa pode demitir2% dos trabalhadores ao ano à von-tade. Na CETESB 5% podem serdemitidos por ano. E não é uma ca-tegoria fraca. Tem tradição de lutase 70% são sindicalizados.

Marzeni: Vimos isso na últimacampanha salarial. A direção estavapreparada para assinar um acordo

rebaixado para os trabalhadores daSabesp, mas após nossa intervençãoa esmagadora maioria da assembleiavotou a favor de greve. Com só umdia de greve conseguimos um acordomelhor. Mas na CETESB a direçãojá tinha assinado o mesmo acordorebaixado. Nem dentro da base dosindicato eles fazem campanha sa-larial unificada e nunca tentaramfazer greves com os terceirizados!

Abdon: Por isso há uma grandevontade de mudança na categoria.Desde 2002 a Oposição Alternativade Luta participa nas eleições. E emcada eleição aumentamos o nossovoto. Na última eleição conseguimos50% dos votos. Na verdade ganhamosa votação. Foi só por via de fraudeque a atual direção conseguiu se manter.Oficialmente perdemos por 14 votos!

Marzeni: A vitória da esquerdanos metroviários de São Paulo, ondeo PCdoB dirigia, também é umainspiração. Dessa vez nós vamoslevar! Será uma vitória importantepara fortalecer a esquerda sindical.

Com está o quadro para aseleições?

Abdon: O quadro está mais com-plicado do que antes. Ao invés deduas chapas haverá 5 chapas. Doisgrupos que sempre estiveram como PCdoB, a CUT e a ASS, sentindoque o barco estava afundando, rom-

peram com a diretoria. Agora todosquerem ser “oposição”!

Marzeni: Nessa situação, nós ten-tamos conversar com as outras forçaspara montar uma chapa de oposiçãounificada. Isso se daria ao redor deum programa para mudar o sindicato,torná-lo democrático e de luta, emprol da categoria. Queríamos que osgrupos que romperam com a direçãose tornassem oposição pra valer. Parafazer isso, eles teriam que tirar as li-ções de todo esse período que parti-ciparam e apoiaram a direção, quehoje está totalmente desgastada.

Abdon: Infelizmente as negocia-ções não avançaram. Os outros gru-pos estavam mais interessados emgarantir cargos e ter o controle dachapa. Justo eles que sempre acei-taram ser pequena minoria numadireção pelega, agora queriam maio-ria para conquistar cargos.

Nas eleições passadas vocêstiveram que enfrentar fraudes emanobras burocráticas. Comoserá dessa vez?

Marzeni: Não será diferente. Na

verdade as manobras começaram jána inscrição de chapas. Nós semprefomos “Chapa 2” e Oposição Alter-nativa de Luta. Mas na inscrição dechapa o presidente ignorou a filadeu o número 2, e o nosso nomepara aqueles que tinham chegadopor último para a inscrição!

Abdon: O PCdoB sabe a força danossa história. Por isso queriam umachapa laranja como chapa 2. Infe-lizmente o grupo que presta esseserviço ao PCdoB eram alguns queparticiparam na Oposição Alternativade Luta por um tempo, mas rompe-ram por que não queriam nem abrirconversa com os outros grupos. Nãoquerem a vitória da Oposição, que-rem marcar posição sectária.

Marzeni: Eles saíram nos acusandode ladrões e traidores. Agora eles fa-zem o trabalho sujo do PCdoB, mon-tando uma chapa laranja incompleta.Agora vamos ter que explicar paratodos que a verdadeira oposição essavez não será a chapa 2 e vai ter outronome. Eles podem ter roubado nossonúmero e nome. Mas não roubam anossa história. A categoria nos conhecepela nossa linha coerente e de luta.

Abdon: Vai ser complicado ganharas eleições no primeiro turno, masestamos confiantes que vamos levarno segundo turno, que vai ser nocomeço de novembro. Mas para issovamos precisar de ajuda de todos osativistas de luta!

Eleições do Sintaema em São Paulo: entrevista com Abdon e Marzeni da Oposição

Por um sindicato democrático e de luta!

Durante quase um mês, a sededo INCRA de Goiás permane-ceu ocupada por centenas detrabalhadores rurais. Foi a ocu-pação mais longa da históriado INCRA em Goiás e resultouna queda do superintendente eatendimento de outras reivindi-cações.

Zelito F. SilvaCoordenação Nacional

Terra Livre

O ‘Terra Livre’, movimento populardo campo e da cidade, cumpriu umpapel decisivo na elaboração da po-lítica e na sustentação da ocupação.

Foi a partir de uma análise críticado governo Dilma, em particular nocampo da reforma agrária, que a di-reção de nosso movimento conseguiuse localizar politicamente em umcampo fora das disputas partidáriasda base governista em torno da in-dicação de nomes para a superin-tendência regional do órgão.

Com isto fizemos com que outrosmovimentos – MLST, FETRAF/GO,MBTR, MVTC – também enxer-gassem que deveríamos organizaruma ação conjunta que tivesse comoeixo a troca do superintendente edos demais diretores ligados a setoresda direita (do PTB que é base deapoio do governo Dilma em Goiás).

A gestão do antigo superintendentefoi um desastre político para os mo-vimentos sociais.

Outros eixos defendidos pelos mo-vimentos na ocupação foram: rees-truturação do INCRA mudando suagestão e seu funcionamento; créditospara assistência técnica, habitação,infraestrutura; educação no campopara os assentamentos; e recursospara a obtenção de terras.

Até o momento existem 17 fa-zendas com decreto de desapropria-ção que aguardam apenas o paga-mento dos TDAs (Títulos da DívidaAgrária) pelo tesouro nacional. Mui-tos destes decretos estão para pres-crever. Se isto ocorrer, o INCRAterá que refazer todo o trabalho devistoria, avaliação, etc.

Ocupou um espaçopolítico impotante

A ação de ocupação do INCRAocupou um espaço político importante,já que os dois grandes movimentosde luta pela terra em Goiás – MST eFETAEG – assumiram posições dis-tintas apresentando nomes diferentes.

De outro lado, o antigo superin-tendente se movimentava para per-manecer no cargo e contava com oapoio de seu padrinho político (de-putado federal Jovair Arantes, doPTB) que lidera a bancada da base

do governo Dilma em Goiás com10 deputados federais, sendo quedois destes são do PT.

A corda esticou para quem estavana ocupação, pois eram muitas forçaspolíticas contra ela. Os servidoresdo INCRA estavam divididos e en-tram na lógica política dos partidosde apoio do governo.

A nosso força é que existia umagrande convergência política entretodos os movimentos sociais queeram contra a permanência do antigosuperintendente.

Apoio dos movimentos foiimportante

A resistência das famílias de todosos movimentos participantes da ocu-pação, assim como a unidade e a in-teligência do comando da ocupaçãoforam fundamentais. O comando sou-be negociar com o governo sem cairno conto de desocupar para, então,negociar. A resistência também foimantida graças às articulações que ocomando fez com sindicatos de tra-balhadores e o movimento estudantile às ações de solidariedade política ematerial de apoio à ocupação.

As chaves do INCRA foram to-madas no dia 27/06, dia da ocupação,e foram entregues somente no dia22/07 para o novo superintendente,um servidor de carreira do INCRA

de Sergipe, e para os novos diretores,também servidores locais de carreirado INCRA que não se envolveramna disputa.

O governo Dilma fez uma pequenaconcessão no dia 26/08, fruto devárias mobilizações e da jornada dodia 24 /07, quando os movimentosdo campo realizaram ocupações,montaram um acampamento em Bra-sília e ocuparam por um dia o Mi-nistério da Fazenda.

O governo apresentou as seguintesconcessões: liberou R$ 400 milhõespara obtenção de terras e R$ 15 milpara o PRONERA; apresentou umaproposta para renegociar as dívidas

dos agricultores familiares e doscamponeses; prometeu apresentarum complemento para o crédito dehabitação via Caixa Econômica Fe-deral; e vai colocar o BNDES parafinanciar as agroindústrias dos as-sentados.

Concessão insuficiente

Porém, estes R$ 400 milhões nãopagam nem a metade das áreas quejá estão com decreto de reformaagrária e que apenas aguardam olançamento dos TDAs. Este montanteassenta, no máximo, nove mil famí-lias, já que o custo médio de assen-tamento é de R$ 45 mil por família.

Atualmente, temos em torno de180 mil famílias acampadas em todoo país. Nessa velocidade levaremos20 anos para assentar todas as famí-lias que estão acampadas hoje.

É evidente que esta concessão éproduto de uma nova conjuntura ondeo governo se enfraquece com os su-cessivos escândalos de corrupção e,ao mesmo tempo, os movimentos docampo são empurrados à esquerda.

O anúncio destas medidas é apenasuma vitória parcial, uma respostado governo que tem a intenção desegurar os setores dos movimentossociais que começaram a se movi-mento para a esquerda, para a opo-sição ao governo.

Ocupação do INCRA em Goiás

Hora de fazer a colheita depois da vitória política

A ocupação do INCRA de Goiásfoi uma vitória política.

“Podemos ganhar um sindicato importante para uma linhademocrática e combativa”, diz Abdon da Oposição do Sintaema.

Page 3: Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro 2011

A Jornada Nacional de Lutasque teve o seu ápice no dia 24de agosto com a marcha àBrasília envolvendo 20 mil pes-soas foi o primeiro passo paraum processo de unificação delutas para darmos uma respos-ta contundente à política deataques do governo sobre ostrabalhadores.

Fabio ArrudaDiretor do Sinsprev-SP

A construção da CSP-Conlutas,como demonstrou a própria jornada,representa um passo importante para

que os movimentos sociais comba-tivos tenham uma ferramenta capazde impulsionar as lutas. Mas seráque simplesmente apostar na suaprópria construção é suficiente paradar conta das tarefas do próximo pe-ríodo?

A ruptura ocorrida no CONCLATrealizado em Santos no ano passadofoi um retrocesso importante na re-composição da unidade dos setorescombativos. Mais do que nunca, noatual momento da conjuntura, atarefa de construção de uma CentralSindical Popular Unitária é absolu-tamente necessária e precisa serconcluída.

No último período, esse processoestava estagnado. Porém, uma re-solução aprovada pela FENASPS(Federação Nacional dos Sindicatosde Trabalhadores em Saúde, Traba-lho, Previdência e Assistência So-cial), coloca novas oportunidadespara a retomada da discussão sobreuma possível reunificação. A reso-lução aponta a necessidade do debatede vários pontos, inclusive os queforam decisivos para a ruptura noCONCLAT, como a questão donome da Central. Pode ser o mo-mento para que o diálogo sobre oprocesso de reorganização avanceconcretamente.

Para isso é necessário que todosos setores envolvidos priorizem osinteresses da classe trabalhadora enão os interesses específicos de suascorrentes. Só assim será possívelconstruir de fato a Central Sindicale Popular Unitária! Não devemosfechar os olhos e devemos entenderque este debate estará colocado nopróximo período.

I Congresso da CSP-Conlutas

O I Congresso da CSP-Conlutasserá realizado em abril-maio de2012. Este congresso será uma opor-

tunidade para um processo de rea-grupamento das forças combativasdos trabalhadores no Brasil. É vitalque seja um amplo espaço de reor-ganização, aberto a todos os setoresque estiveram presentes ou não noCONCLAT e que não seja simples-mente um espaço para a consolidaçãoda CSP-Conlutas.

Na próxima reunião da Coorde-nação Nacional da CSP-Conlutas,que será nos dias 21,22 e 23 de ou-tubro, no Rio de Janeiro, devemoslutar para que isso se concretize.Está na ordem do dia a construçãode uma Central Unitária. É possívele necessário!

movimento • 3Ofensiva Socialista n° 07 setembro/outubro - 2011

O governo Dilma, diferentemen-te do de Lula, não tem dito queesta nova fase da crise econô-mica chegará como uma levemarolinha. Ao contrário, o go-verno federal tem implementa-do toda uma política que visapreparar o país para as conse-quências desta crise econômi-ca mundial.

Miguel Leme FerreiraDiretor da Apeoesp pela

Oposição Alternativae da Secretaria Executiva

Nacional da CSP-Conlutas

Em linhas gerais, estas medidas têmdois pilares: o primeiro é o do ajustefiscal e de ataques aos direitos dostrabalhadores; e o segundo é o quegarante o lucro das grandes indústriase bancos, através da transferência derecursos públicos para os bolsos dosgrandes empresários e banqueiros.

Em relação ao primeiro pilar, asprincipais medidas do governo Dilmaforam as seguintes: ajuste fiscal deR$ 50 bilhões, reajuste miserávelno salário mínimo e o congelamentodo salário dos servidores federaispara os próximos 10 anos. A maisrecente medida do governo federalfoi o anúncio do aumento de 10 bi-lhões de reais no superávit fiscaldeste ano, totalizando 91 bilhões dereais, para o pagamento dos jurosda dívida pública.

Dentro da lógica de ajuste fiscalno médio e longo prazos, o governoDilma parece estar decidido a apre-sentar um novo projeto de reformada previdência que passa pelo au-mento do tempo de contribuição (42anos para os homens e 37 para asmulheres) e a definição de umaidade mínima para a aposentadoria(65 anos para os homens e 63 anospara as mulheres).

Ao mesmo tempo em que o go-verno Dilma tenta restringir, cadavez mais, o direito à aposentadoriado trabalhador, ele anuncia medidasque reduzem a contribuição patronalà previdência social através do projeto“Brasil Maior”. Este projeto prevêuma renúncia fiscal de R$ 25 bilhõespor parte do governo, para garantiro lucro das empresas; e de formaparticular, do setor automobilístico.

As obras do PAC destinadas aosmegaeventos como a Copa do Mundoe as Olimpíadas, que serão realizadassem licitação, tem o objetivo de garantiro lucro das grandes empreiteiras, res-ponsáveis por boa parte da corrupçãoexistente no país e pelo financiamentodas campanhas eleitorais do PT e dosdemais partidos burgueses.

Financiamento públicopara lucro privado

Segundo um estudo do Tribunalde Contas da União (TCU), 98,5%do orçamento da Copa do Mundoserá financiado com dinheiro público,boa parte dele através do BNDES.O próprio TCU, auxiliado pela Con-troladoria Geral da União, do governofederal, encontrou sobrepreço de R$163 milhões no orçamento final dareforma do Maracanã.

Na prática, o governo Dilma temtransferido recursos dos setores so-ciais, como saúde e educação, parao caixa das grandes empresas.

Trabalhadores brasileiros têm lu-tado por salário e por melhores con-dições de trabalho

Os trabalhadores brasileiros, apesarde não terem protagonizado enfren-tamentos com a mesma dimensãodos trabalhadores europeus, reali-zaram diversas lutas importantes noúltimo período.

Alguns símbolos desse processosão as rebeliões dos trabalhadoresda construção civil ocorridas emJirau e Santo Antônio, a greve de37 dias dos metalúrgicos da Volksde São José dos Pinhais, no Paraná,as ações dos bombeiros no RJ, asgreves dos professores em 20 estadosdo país, a greve em curso dos técnicosdas universidades federais, reforçadapela deflagração da greve dos trêssetores da Unifesp de Santos, a ocu-pação do INCRA de Goiás por partedo Terra Livre e demais movimentossociais do campo, etc.

As mobilizações contra a corrup-ção em diversos municípios, comoo Fora Micarla em Natal, no RioGrande do Norte; e a cassação recentedo mandato do prefeito de Campinas,são marcas também da conjunturaque estamos vivendo.

Infelizmente, todas essas lutasocorreram de forma fragmentada.

Se tivessem sido unificadas, alémde um resultado melhor, elas pode-riam ter impulsionado outras cate-gorias e generalizado as lutas doconjunto da nossa classe.

As centrais sindicais como a CUTe Força Sindical por estarem atreladasao governo Dilma, não cumprirãoesse papel e continuarão sendo naprática, corresponsáveis pela imple-mentação dos ataques do GovernoDilma aos trabalhadores, como ocor-reu de forma vergonhosa no episódiodo reajuste do salário mínimo.

Jornada Nacional de Lutafoi o primeiro passo

Em vista disso, ganhou importânciaa Jornada Nacional de Luta realizadano período de 17 a 26 de agosto emtodo o país e que teve seu momentomaior com a Marcha à Brasília, rea-lizada no dia 24 de agosto.

Esta Marcha, convocada por enti-dades como CSP-Conlutas, MST,MTST, Andes, Intersindical, teve aparticipação de mais de 20 mil pes-soas. Esses movimentos foram àBrasília lutar contra a política eco-nômica do governo Dilma e exigirmais investimentos em saúde, edu-cação e na reforma agrária.

Campanha por 10% do PIBpara a educação

No caso específico da educaçãofoi realizada uma plenária exigindoque o governo federal invista deforma imediata, no mínimo 10% doPIB para o setor.

Para potencializar esta luta, foi de-cidida a realização de um plebiscitoem novembro, perguntando à popu-lação brasileira se ela concorda ounão que o governo federal invista deforma imediata 10% do PIB em edu-cação.

O Bloco de Resistência Socialista– Sindical e Popular, do qual os mi-litantes da LSR fazem parte, cons-truíram ativamente esta Jornada Na-cional de Lutas em seus estados emarcaram presença na Marcha àBrasília com as delegações de suasentidades.

Essa jornada foi o primeiro passocom o objetivo de contribuir paraum processo maior de unificação

das campanhas salariais deste se-gundo semestre como é o caso demetalúrgicos, petroleiros, químicose os trabalhadores dos correios.

A luta por salário tem uma im-portância fundamental em virtudedo processo de retomada da inflação,principalmente dos alimentos, quetêm corroído o poder aquisitivo dostrabalhadores.

O governo Dilma tem feito umacampanha para impedir a correçãodo salário do trabalhador com o ar-gumento que esta medida indexariaa economia.

Entretanto, nós sabemos que a únicaindexação que existe é realizada porempresas privadas de energia, água,gás e telefone; que autorizadas pelogoverno federal, reajustam os seusserviços bem acima da inflação.

Dá para ganhar mais nacampanha salarial

Infelizmente, os sindicato dos me-talúrgicos do ABC, Taubaté e SãoCarlos já fecharam acordo para 2011a 2012. Sem qualquer tipo de mobi-lização dos trabalhadores, esses sin-dicatos filiados à CUT, sintonizadoscom o discurso do governo Dilmasobre a crise econômica, assinaramum acordo rebaixado com os pa-trões.

O acordo prevê aumento real de2,5% mais abono de R$ 2.500 paraeste ano e o mesmo acordo no anoque vem.

Isto significa que, independentedo lucro que tenham as montadorasem 2012, o aumento nos saláriosserá o mesmo deste ano.

Na realidade, esse acordo rebai-xado é uma consequência do PactoSocial assinado em maio entre CUT,Força Sindical e os patrões da FIESP.Esse pacto propõe medidas para de-fender a competitividade das indús-trias, sacrificando e atacando os di-reitos dos trabalhadores.

Esse tipo de posicionamento dascentrais governistas, reforça cadavez mais, a necessidade histórica,ainda não concluída, para a classetrabalhadora brasileira, de construir-mos uma central sindical e popularefetivamente unitária para realizarde forma consequente a luta contraos ataques de patrões e governos.

Unificar as lutas por:☞ salário ☞ melhores condições de trabalho

☞ manutenção de direitos ☞ mais investimentos nos serviços públicos

Construção de uma Central Sindical ePopular Unitária! Ainda é possível?

A Marcha à Brasília foi um importante passo para a unificação daslutas. Agora é necessário dar continuidade.

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4 • movimento Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro - 2011

A UFF vive uma crise de expan-são acompanhada de precariza-ção. Mas, os estudantes estãose mobilizando em primeiro lu-gar contra a construção da ViaOrla e Via 100.

Natália OliveiraEstudante de Servício Social da

UFF Niterói

Essas vias vão passar por dentroda universidade e por onde atual-mente existe uma comunidade pobree também na região onde hoje é acreche da UFF que atende filhos deservidores, estudantes e professo-res.

Atendendo aos interesses da es-peculação imobiliária, este projetofoi aprovado de forma autoritária

no Conselho Universitário sem qual-quer discussão com a comunidadeacadêmica e local. Até agora não sesabe a proposta da prefeitura para oremanejamento das famílias e dacreche. Mais um indício de que boacoisa não vem daí...

Mas, também lutamos pela im-plantação do resultado do plebiscitorealizado há um ano quando 87%da comunidade acadêmica tomouposição pelo fim dos cursos pagoslato sensu na UFF. Mesmo com oresultado do plebiscito, a cada reuniãodo Conselho Universitário a reitoriaquer autorizar, de qualquer forma,outros cursos pagos.

Na madrugada do dia 26 de agostocerca de 400 estudantes, que ocu-param o pátio da reitoria logo apósuma Assembleia, foram “convidados

a se retirar" pela Polícia Federal e aPM portando fuzis.

Na segunda-feira, 29/08, foi rea-lizada mais uma Assembleia geraldos estudantes da UFF com cercade 200 pessoas.

Pauta de reivindicações

Nessa Assembleia foi aprovadauma pauta de reivindicações, houveuma discussão sobre método de or-ganização do movimento, avaliaçãoda mobilização e ainda decidimosalgumas ações.

Entre as ações votadas estava aretirada das estacas onde estavasendo erguido a construção da ViaOrla e Via 100 para entregar metadeao Jorge Roberto Silveira (prefeitoda cidade) em ato do SEPE no dia

seguinte e a outra metade para oRoberto Sales (reitor da UFF) nareunião do Conselho Universitário(CUV) no dia posterior.

Na Assembleia foi marcada umavigília onde os estudantes fariamfaixas e cartazes e organizariam aintervenção na reunião do CUV nodia 31/08.

Depois de apresentar as pautas dereivindicações, o movimento tentouo diálogo com a reitoria, que semanteve indiferente e encerrou areunião do CUV duas horas antescom a retirada dos conselheiros con-trários às reivindicações.

Diante disso, os estudantes, ser-vidores e professores saíram em ma-nifestação que resultou na ocupaçãoda reitoria

Somos mais de 400 pessoas ocu-

pando a reitoria e, mesmo sem luz eágua, só saímos daqui quando oreitor Roberto Sales nos atender.

Entre as principais reivindicaçõesda “Ocupação Maria Clemilda eManuel Gutierrez” estão:• Pela paralisação imediata das

obras da Via Orla e Via 100.• Pelo fim imediato dos cursos

pagos lato sensu na UFF.• Mais concursos públicos,

bandejão, construção imediatado alojamento em Niterói,muro no SPA e alojamento noPURO e para outros campi dointerior também.

• 10% do PIB para educação,• Contra o PNE do governo.

Expansão com qualidade.

O sistema federal de ensinosuperior dobrou de tamanhonos últimos anos, mas a quali-dade das universidades públi-cas foi comprometida pelo pro-cesso de expansão do governoLula (2003-2010).

Raylane R. Walkerestudante de serviço social daUFF-Rio das ostras, diretora do

DCE pelo Coletivo Construção

Assim também tem sido as polí-ticas do atual governo Dilma, queiniciou seu mandato com um cortede 1,3 bilhões de reais no orçamentodas universidades e escolas. Agorao governo tenta implementar umnovo projeto de expansão, mesmosem ter finalizado as obras do últimoprograma.

No mês de agosto, a presidentaDilma Rousseff e o ministro daEducação, Fernando Haddad, anun-ciaram um investimento de R$ 2,4bilhões entre 2013 e 2017 para aexpansão do ensino superior.

A previsão é inaugurar quatronovas universidades federais noNorte e no Nordeste, 47 novoscampi pelo país afora a partir daexpansão de universidades já exis-tentes, além de 208 novas escolastécnicas em 200 municípios.

A expectativa do governo é que1,2 milhões de alunos se matriculemnas universidades federais e outros600 mil nos Institutos Federais deEducação, Ciência e Tecnologia.Com isso, a rede federal passará acontar com 63 universidades.

Esse processo de expansão foiiniciado no governo Lula, entre2003 e 2010 com o REUNI (Pro-grama de Apoio a Planos de Rees-truturação e expansão das Univer-sidades Federais).

Esse processo es-conde uma realidadede precarização doensino público, poiso aumento do nume-ro de vagas não foiacompanhado peloaumento do quadrodocente e adminis-trativo e pelo aumen-to da infra-estruturadas unidades e am-

pliação da assistência estudantil.Isso prejudica a qualidade do ensino,a garantia do tripé “ensino, pesquisae extensão” e a permanência dosalunos através da assistência estu-dantil.

Não somos contra expandir o nu-mero de vagas e a ampliação dasinstituições, mas defendemos queesta seja garantida de forma conse-qüente, com qualidade.

Teme-se que se repita agora o queaconteceu com o REUNI no governoLula, onde os recursos oferecidospara as universidades foram clara-mente insuficientes para fazer frenteàs metas de expansão do governo.

Sem garantia dequalidade

O que se pretende é diplomar umnúmero maior de jovens em umespaço menor de tempo, sem ga-rantir a qualidade de sua formaçãoe seu acesso à pesquisa, transfor-mando a Universidade em um “es-colão”. Ali a prioridade passa a serformar mão de obra para o mercadoao invés da produção de conheci-mento para a sociedade.

Esse modelo de expansão preca-rizou absurdamente as universidadespúblicas, trazendo uma realidadede falta de professores, de salas deaulas, de assistência estudantil (bol-sa, bandejão, creche, etc.), acessoa pesquisa e extensão e inúmerosoutros problemas que estudantes,professores e técnico-administrativosvêm passando.

Estamos em um momento muitoimportante para as lutas dos traba-lhadores e estudantes, é hora denos mobilizarmos e lutarmos pelaqualidade do ensino, por uma ex-pansão com qualidade.

Greve nas Federais:um novo momento naluta pela educaçãoEm 2007, diversas ocupaçõesde reitorias pipocaram peloBrasil, alimentando esperançasde que uma nova fase seria de-flagrada para o movimento es-tudantil. De fato, avanços im-portantes ocorreram nesse pe-ríodo, incluindo a criação daFrente de Luta Contra aReforma Universitária, impor-tante instrumento de resistên-cia contra os ataques do gover-no à Educação, nesse período.

Isabel Kepplerestudante de Psicologia daUNIFESP Baixada Santista

No entanto, esse avanço das lutasnão se sustentou por muito tempo.Foi seguido por anos em que a lutase fez presente, mas de forma muitopontual com lutas locais nas Uni-versidades.

Hoje vivemos um cenário que en-saia um movimento semelhante aode 2007. UFF, UNIFESP, UFAL,UFRGS, UFMT, UFPR, UFSC,UFSM... a lista cresce a cada dia.De norte a sul do país vemos diversasfederais em luta, construindo grandesatos, greves e ocupações de REItoriasem defesa da educação.

Greve dos técnicos em 51 federais

Essa mudança na conjuntura delutas iniciou-se em junho com agreve dos servidores técnicos em51 federais ao todo, segundo osdados da FASUBRA (Federação deSindicatos de Trabalhadores em Edu-cação nas Universidades Brasileiras).Em seguida, somaram-se a essa lutaestudantes e docentes.

As pautas trazem aspectos gerais,como a luta histórica pelos 10% doPIB para a educação; contra o PLP549/2009 (que prevê congelamentosalarial por 10 anos dos servidoresfederais); contra o novo Plano Na-cional de Educação (a ser aprovadoainda esse ano); discussão do Planode Carreira Docente. Trazem tambémaspectos locais, muitos deles rela-cionados com as consequências daimplementação do REUNI, uma ex-

pansão sem verba e planejamentonas diversas Universidades Federais.

A conjuntura de 2007 estava mar-cada por grande apoio da populaçãoao governo Lula e era muito desfa-vorável para as lutas que se instala-vam pelo país. Hoje, mesmo man-tendo altos índices de aprovação, asituação é muito mais delicada parao governo Dilma. Isso favorece amobilização com maior aceitação eenvolvimento da sociedade.

Articulação ainda frágil

No entanto, é evidente a necessidadede amadurecimento do movimentoem vários aspectos. Embora estejamacontecendo lutas por todo o país,sua articulação ainda é frágil e aindaexiste uma fragmentação entre cate-gorias, entre Universidades e entresetores combativos da esquerda. Aorganização da classe trabalhadoraprecisa avançar nesse sentido. Quemsai lucrando com a falta de unidadeé única e exclusivamente o governoe setores burgueses da sociedade.

Um exemplo disso é a desarticu-lação entre docentes e servidorestécnicos. Os servidores técnicos, emgreve há três meses, sequer conse-guiram uma mesa de negociaçãocom o governo. Enquanto isso, osdocentes mal ameaçaram deflagrar

greve e o governo já abriu a mesade negociação e fechou acordo, des-mobilizando assim uma possívelgreve geral nacional, que o obrigariaa negociar com as três categorias.

É urgente darmos um salto quali-tativo na coordenação dessas lutas,compreendendo que isso passa porum processo de organização demo-crática pela base, em que estudantese servidores docentes e técnicos uni-fiquem suas pautas, tendo compreen-são de que são aliados fundamentaispara transformar a educação.

Esse ano de 2011 está marcadopor um acirramento da luta de classesa partir do aprofundamento da crisemundial. Isso também se reflete emnosso país tanto nas lutas quanto nascontradições e debilidades do governoDilma. É nesse contexto que enfren-tamos ataques significativos ao setorda educação no Brasil.

Importantes vitórias

Algumas greves e ocupações játrouxeram importantes vitórias, comoa da UFPR e da UFSC, mostrandoque esse caminho é de fato eficaz.Unidade e disposição para a luta éimprescindível nesse momento paratodas e todos que lutam cotidiana-mente por uma educação pública,gratuita e de qualidade.

Novo plano deexpansão do ensinosuperior aprofundaa precarização

400 estudantes ocupam reitoria da UFF

Ato da Unifesp na Avenida Paulista em São Paulo dia 24 de agosto.

Page 5: Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro 2011

O telemarketing é um dos se-tores que mais cresce noBrasil. São um milhão de tra-balhadores. A maioria é de jo-vens que não possuem expe-riência. Mas o sonho realizadode obter o primeiro empregovira pesadelo já nas primeirassemanas de trabalho.

Jonathan Mendonça, MarianaCristina e Jaqueline

Albuquerquesão negros, jovens, mulheres,

pobres e explorados!

São vagas que geram alto índicede estresse, doenças relacionadasao trabalho, salários baixos, assédiomoral, etc. As empresas de tele-marketing contratam jovens, mu-lheres e homossexuais, que aceitamtrabalhar em péssimas condiçõespara não ficarem desempregados.

Não é à toa que 70% dos empre-gados no telemarketing têm de 18a 26 anos e 76% são mulheres.Esta forma de exploração ganhounome e se tornou um conceito va-lioso para as empresas, é o “turnover”, que serve para “estimular emotivar o trabalhador a trabalharmais”, pois quem não bate a metaé demitido. Assim, a rotatividadeno telemarketing é muito grande.

Em 2009, por decorrência da criseeconômica, aumentou o número dejovens desempregados. Segundo oIBGE a taxa de desemprego em2009 era 21,1%, na faixa etária dos16 aos 24 anos, em março. No mes-mo ano cresceram os empregos tem-porários 8,5%, comparado com2008, apontou balanço da Asserttem(Associação Brasileira das Empresasde Serviços Terceirizáveis e de Tra-balho Temporário). O aumento deemprego temporário indica a faltade alternativas para os jovens. Entreessas vagas temporárias, 28% foramdestinadas para aqueles que procu-ravam o seu primeiro emprego, emsua maioria no telemarketing.

O telemarketing é um setor muitoestratégico para a economia, jáque permite a fidelização declientes, a disputa e concor-rência entre as empresas e aqueda de custos, com a lógicaatual das terceirizações e daretirada de direitos dos tra-balhadores. O telemarke-ting foi um dos setores emque a terceirização mais seexpandiu. Os empregos terceiriza-

dos cresceram 127% nos últimos10 anos.

A empresa ‘Brasil Center’ utilizaformas de fazer com que o traba-lhador fique mais tempo no trabalhoatravés das horas-extras. Aparen-temente o trabalhador tem opçãode escolher se faz ou não as horas-extras. Mas, como o trabalho é di-vidido por equipes se o operadornão cumpre as horas-extras cai aprodutividade do grupo. A empresautiliza estes recursos como formasde estimular que os funcionáriosse vigiem e auto-punam em prolde um suposto trabalho em equipe.

A empresa ilude o profissional comcampanhas e dias especiais criandouma falsa ilusão de ganho, em vezde receber melhores salários, con-tenta-se com estes prêmios e bônus.

Aqueles que não correspondem àsexpectativas da empresa, produzindoa todo momento, recebem o título de“Rap Sujo” são ridicularizados e hu-milhados perante os demais. Isso temnome e é assédio moral. O Rap Sujoé perseguido na empresa, não podeconcorrer aos brindes, se precisartrocar de turno ou negociar algo coma empresa é impedido, pois ele é umfuncionário de segunda classe.

A luta nos espera!

Várias são as formas de manifestarsua indignação. Esta superexplo-ração, modelação, padronização ealienação da vida, humilhação eassédio moral, uma hora explodem.Quando no limite, os operadoresde telemarketing desligam a ligação,boicotam a máquina, adoecem, etc.

Mas é preciso cuidado! Sabe-seque um trabalhador de telemarketingnão pode gritar sozinho sob o riscode perder o trabalho. Apenas a lutacoletiva, a união dos trabalhadores,a luta organizada é capaz de trazeraos subjugados de hoje vitóriasconcretas e melhores condições detrabalho para amanhã.

movimento • 5Ofensiva Socialista n° 07 setembro/outubro - 2011

Em 2010, a mais longa grevedo funcionalismo e do TJ emSP descarnou muitas das con-tradições da estrutura sindicale testou novas e velhas lide-ranças da categoria. Um dosmaiores obstáculos à luta foi,depois do patrão, o nosso pró-prio sindicato oficioso.

Will de Siqueira, militante doPSOL/LSR com colaboração de Luiz

Milito, integrante do Comando da Base

O Sindicato União do Judiciárionão unifica ninguém e é ainda ogrande organizador das derrotas his-tóricas da categoria: defasagem sa-

larial, péssimas condições de trabalhoe fragmentação das direções.

Em 2011 setores da baixada san-tista, capital e interior foram nova-mente à luta, enquanto grandiosasassociações e o “sindicato” só fica-ram à espera de um aceno do patrão.Mesmo assim, como reflexo dagreve de 2010, arrancamos esseano, mesmo com menor mobilização,um índice de 6,43% de reajuste. Émuito menos do que precisamos,mas é mais do que obtivemos em2010.

Muitos desses trabalhadores per-deram a paciência. Fundaram novosSindicatos, já que o “União” é blin-dado por um estatuto impenetrável

e burocratizado, sendo impossívela filiação e disputa de eleições. En-quanto isso, a pelega ConfederaçãoNacional dos Servidores Públicos(CN$P) ingressou com mandado desegurança para garantir que hajadesconto do imposto sindical da ca-tegoria e que ele vá direto aos seuscofres, e o “União” acaba de perderação no CNJ, onde pleiteava ser oúnico representante da categoria.

A maioria desses sindicatos jánasceu chamando a unidade na lutae a defesa dos seguintes princípios:a base em 1º lugar, democracia ope-rária, independência político-finan-ceira e a LUTA da CLASSE acimados obscuros interesses da pelegada.

Muito desse resultado é devido aoComando de Base, um coletivo detrabalhadores formado a partir dascomissões organizadas por local detrabalho, atuante em toda a luta dacategoria desde a greve de 2010.

Porém a perspectiva é de durezanas lutas. Um dos novos sindicatossofreu o primeiro revés na justiçado trabalho (mas há recurso) e oTJ/SP abriu processos contra os tra-balhadores grevistas. Desesperadacom a sua crise econômica, a bur-guesia do mundo inteiro deseja en-sinar os trabalhadores a não lutar eo TJ quer dar o exemplo em SP. Énecessário fortalecer os novos sin-dicatos sem esquecer-se da luta na

rua em defesa dos direitos dos tra-balhadores e a unidade na luta paraalém do judiciário.• Anistia dos dias parados da

Greve de 2010!• Pagamento imediato dos

retroativos das campanhas de2010/11!

• Nenhuma punição a quem luta!• NÃO ao Imposto Sindical!• Pelo Sindicalismo

independente, democrático debase e de luta!

• Unidade na Luta entre todos ossetores combativos, dojudiciário e do funcionalismo!

Depois de mais de 65 dias deuma greve histórica em todo oestado, os profissionais de edu-cação do Rio de Janeiro encer-raram a paralisação no dia 12de agosto. Em tempos de neoli-beralismo, crise econômica,capitulações organizadas pelapolítica lulista e pela base alia-da do governo, a avaliação quemuitos faziam é que não haviaespaço para lutas sociais signi-ficativas. Para quem fazia estaanálise equivocada da realida-de os profissionais de educa-ção do Rio de Janeiro, assimcomo os bombeiros, provaramo contrário!

Jane Barros AlmeidaProfessora de sociologia da Rede

estadual e Direção estadual doPSOL RJ

A educação parou! Assembleiaslotadas, atos de rua massificadosforam a tônica desta greve. Os tra-balhadores e trabalhadoras da edu-cação disseram um basta à políticade Sergio Cabral de continuidadeno plano de destruição da educaçãopública. Saíram às ruas para exigirmelhores condições de trabalho. Apauta imediata foi a incorporaçãoda gratificação do “nova escola”para todos os educadores, assimcomo 26% de reajuste e o plano decarreira dos funcionários.

Conquistas importantes

Conquistamos a incorporação deduas parcelas (incluindo a já previstaem 2011) para os professores, au-mento de 5% e a incorporação totalda gratificação do “nova escola”para funcionários assim como o des-congelamento do plano de carreira.Esta última representou uma grandevitória, dobrando a remuneração dealguns funcionários que antes rece-biam R$ 433. Outra conquista im-portante foi o aumento de 14% paraos animadores culturais, assim comoa garantia da equiparação da GLP(aulas extras) ao valor da matrículado professor e o enquadramento porqualificação.

Estas foram vitórias econômicasimportantes num cenário de corte deverbas. No orçamento votado na As-sembleia Legislativa do RJ ao finalde 2010 a proposta era de zero porcento de reajuste. De fato não atingi-mos os 26%, mas saímos desta grevesem nenhuma derrota. Os nossos dias

não foram cortados, evidenciado alegitimidade desta greve. 95% da po-pulação, segundo o jornal O Globo,considerou esta greve justa e legítima,declarando apoio ao movimento.

Para além deste ganho econômicohouve um grande ganho político. OGovernador Sérgio Cabral foi des-mascarado, evidenciando seu papelautoritário e descomprometido coma população carioca. As ruas foramlotadas de trabalhadores em defesada educação e por melhores condi-ções de trabalho.

Ações como atos de rua, ocupaçãoda secretaria da educação, o acam-pamento montado na Rua da Ajudaem frente à secretaria, assim comoas manifestações artísticas e as vi-gílias, foram capazes de evidenciaro quanto as ações mais radicalizadase contundentes foram decisivas paraatingirmos nossas conquistas.

Entretanto, sabemos que a lutaainda é longa e árdua. A tarefa doseducadores é derrotar uma políticade educação pautada na meritocraciae na lógica empresarial. A educaçãonão é mercadoria e acabar com esteplano exigirá muito de todos nós.

Nós, educadores e educadoras daLSR, atuamos nesta greve, conjun-tamente com os demais camaradasque compõe o campo Luta Educa-dora. Sem dúvida uma bela expe-riência, onde profissionais da edu-

cação mais experientes na luta sin-dical, juntamente com os novos quese aproximaram recentemente destaluta, foi capaz de possibilitar umaintervenção qualificada neste im-portante movimento grevista.

Foi possível constatar na práticaa possibilidade de construir ações,fazer discussões, de modo demo-crático, solidário e com o máximode respeito às posições e trajetórias.Neste sentido, para nós é central aconstrução do campo Luta Educadoracomo forma de combater vícios bu-rocráticos presentes no movimentosindical e ao mesmo tempo trazer àtona elementos concretos da lutacotidiana, tendo clareza de que aluta pela educação é uma luta detoda classe trabalhadora e extrapolaos muros da escola.

A luta continua!

Contudo, voltamos para a escolae para as salas de aula com um novoânimo. A luta nos educa! Voltamoscom clareza de que só a luta é capazde garantir nossas conquistas. Con-tinuamos em estado de greve e anossa meta imediata é boicotar aprova do Saerj, denunciar a conexãoeducação e, com isso, derrotar oPlano de Metas. Esta é uma impor-tante etapa na luta pela educaçãopublica e de qualidade pata todos!

Greve SEPE: A Luta éde fato Educadora!

Telemarketing: um trabalhobaseado na opressão esuper exploração!

Afinal! Sindicalismo de luta no judiciário paulista!

Atos e assembleias lotadas deram o tom na greve do SEPE.

Page 6: Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro 2011

6 • especial: PSOL Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro - 2011

O Partido Socialismo eLiberdade (PSOL) realizará nosdias 3 e 4 de dezembro seu IIICongresso Nacional. OCongresso acontece numa si-tuação de agravamento da cri-se capitalista internacional e osprimeiros sinais da repercussãodesse processo no Brasil.

André FerrariDireção Nacional do PSOL

O PSOL é a principal referênciade oposição de esquerda ao governoDilma e tem diante de si o desafiode construir uma alternativa políticaglobal dos trabalhadores em meio auma crescente resistência do movi-mento de massas.

Para o Congresso do partido a cor-rente Liberdade, Socialismo e Re-volução (LSR), junto com o coletivoReage Socialista e o Grupo de AçãoSocialista (GAS) apresentaram paradebate entre os militantes do PSOLa Tese “Por um giro à esquerda noPSOL”.

A Tese defende a necessidade demudanças na orientação política e

na concepção organizativa do PSOLcom base em três eixos fundamentais:construção pela base; orientação àluta de classes e defesa do socialismo.

Para a defesa dessas posições, aTese defende a necessidade da cons-trução de um pólo de esquerda unitáriono interior do PSOL para romper coma lógica de disputa interna entre doiscampos majoritários que levou o partidoa uma grave crise no período anterior.

Orientação à luta declasses

O primeiro ano do governo Dilmaestá sendo marcado por uma retomadadas lutas sindicais, populares e dajuventude. O papel do PSOL é o deimpulsionar, apoiar e fortalecer essaslutas.

Não haverá derrota do governoDilma e fortalecimento da esquerdasocialista apenas com a luta parla-mentar. Somente as greves, ocupaçõese manifestações de massas poderãoarrancar reajustes salariais, melhorescondições de trabalho, mais verbaspara os serviços públicos. Apenaspela luta direta se poderá impedir as

remoções forçadas e arbitrárias feitasem nome dos mega eventos, como aCopa e as Olimpíadas.

A ação parlamentar depende dapressão de massas dos trabalhadorespara ajudar a barrar a nova contra-reforma da previdência, a reformado código florestal e os cortes nosgastos públicos para se pagar a dívidaaos banqueiros e especuladores.

O PSOL precisa orientar-se deci-sivamente para esse processo de lutade classes, construir-se enraizando-se nessas lutas e levantando uma al-ternativa política global dos traba-lhadores que aponte a unificação daslutas e uma saída anti-capitalista.

Ao contrário do que defendem al-guns, isso não se fará construindo-se uma Central sindical do PSOL. Opapel do PSOL no processo de reor-ganização sindical e popular é de-fender com força a necessidade dereunificação dos setores classistas ecombativos do movimento sindicale popular numa única Central. UmaCentral que unifique a CSP-Conlutas,a Intersindical e outros setores.

Construção pela base

O PSOL não poderá jogar essepapel de impulsionar e politizar aslutas dos trabalhadores se não mudarradicalmente sua dinâmica organizativaatual. Os núcleos de base do partidoperderam força e a maioria desapare-ceu. Os filiados só são chamados aparticipar nas vésperas dos Congressosou para ajudar nas campanhas eleitoraissem jogar papel protagonista.

O pragmatismo eleitoral e a lógicada disputa interna despolitizada estãodestruindo o caráter militante, classistae socialista do PSOL. Esse processose reflete na preparação das eleiçõesde 2012 e na disputa interna visandoao III Congresso do partido.

O que vemos hoje são filiaçõesmassivas despolitizadas, ausência decritérios militantes mínimos para a

participação nas plenárias municipaisdo Congresso e redução proporcionaldo número de delegados ao Con-gresso. O partido manteve a dinâmicade escancarar a porteira na base erestringir na cúpula, o que significamenos participação militante real emais espaço para manipulações des-politizadas. Isso só agrava a tensãointerna e descaracteriza o partido.

O PSOL precisa voltar a se construirde baixo para cima, com núcleos debase ativos, atuantes e com poderdecisório. Sem isso não poderá avan-çar na direção de ser um autênticopartido de trabalhadores na luta pelosocialismo.

Campanha de 2012 semalianças com governistas

e burgueses

Alianças pragmáticas com o PT,PCdoB e até coisa pior (PV, PSB eoutras legendas burguesas fisiológi-cas) estão sendo arquitetadas em vá-rios municípios. Para que isso sejapossível não há consulta real aosmilitantes ativos do partido. No má-ximo o que se vê é a manipulaçãode uma camada de filiados recentesinteressados apenas em usar a legendapara suas candidaturas.

O PSOL deve apresentar-se em2012 como o partido das lutas sociais,pelos direitos dos trabalhadores, contraos governantes corruptos e por umaalternativa de poder real do povo tra-balhador em cada município. Issosignifica que nossa principal aliançadeve ser com os movimentos sociais.Do ponto de vista partidário, devemosreeditar onde for possível a Frentede Esquerda com PSTU e PCB.

Defesa do socialismo

A crise internacional deixa claroque não existem saídas para a crisecapitalista nos marcos do capitalismo.O neoliberalismo fracassou e as res-

postas com mais intervenção estatalna economia não representaram al-ternativa efetiva. Em ambos os ca-minhos quem sofre são os trabalha-dores que carregam o peso da crise.

O PSOL tem a tarefa histórica delevantar novamente a bandeira dosocialismo como alternativa combase num programa que ligue as rei-vindicações imediatas dos trabalha-dores, da juventude e do povo pobree oprimido com a necessidade dedestruirmos o sistema capitalista.

Vincular a defesa do socialismoàs lutas dos trabalhadores, generali-zando o movimento e elevando seunível de compreensão política. Esseé o desafio histórico do PSOL hoje.

Lutaremos para que o III Congressoavance nessa direção. Para isso, cha-mamos às correntes, coletivos e mi-litantes que se colocam no campomais à esquerda no partido para queunifiquemos as forças em defesa deuma plataforma comum. Com isso,poderemos resgatar o debate políticono partido para além da mera disputapor espaço entre os dois campos ma-joritários (a atual maioria e a maioriaanterior).

Por um giro àesquerda no PSOL

Tese ao III Congresso Nacional do PSOL

Por um giro à esquerda no PSOL: Construção pela base,orientação à luta de classese defesa do socialismoConstruir um pólo unitário de esquerda no partidoLeia a íntegra da tese no site: www.lsr-cit.org

De 14 a 16 de outubro aconte-cerá, no Rio de Janeiro, o IIEncontro Nacional de Mulheresdo PSOL

O Encontro vem em boa hora. Aocontrário da falsa ideia de que amulher chegou ao poder e que al-cançamos o fim da opressão de gê-nero, a dura realidade é que a mulhertrabalhadora continua acumulandoa dupla jornada de trabalho, ocupandoos postos mais precarizados no mer-cado de trabalho e sendo refém deum serviço público sucateado (trans-porte, escolas, hospitais). A pobrezaaumenta no mundo e as mulheres jácompõem 70% dos mais pobres.

O índice de violência contra amulher no Brasil continua um dosmaiores do mundo. Há um espanca-mento a cada 24 segundos e 80%dos casos de violência contra a mu-lher são cometidos dentro de casa,por parceiros e familiares.

Estes dados revelam que a mulher

continua subjugada ao homem eaprisionada ao espaço privado, ouseja, em casa. Isto por conta da suaresponsabilidade com a família edevido à cultura patriarcal de que ohomem tem o direito sobre a mulhere seu corpo, usando-o para a suaúnica satisfação sexual como bementender, incluindo agressões físicas,sexuais e psicológicas.

Este encontro precisa dar respostasa esta realidade de exploração e opressãoconstante da mulher. Precisa representaras demandas das mulheres dentro dopartido com o objetivo de construirum plano de lutas unificado para fora,que seja capaz de mobilizar o conjuntodos militantes para as bandeiras e lutasdas mulheres trabalhadoras.

O debate e a construção do En-contro nacional estão fortes nos es-tados. Estão ocorrendo Encontrosestaduais em quase todos os estados,sendo que em alguns também estãosendo realizados Encontros regionais,como no caso do Pará. Esta organi-

zação permite preparar as mulherespara qualificar e potencializar osdebates do Encontro nacional, mastambém pensar as especificidadesda opressão da mulher localmente.

Avançar na questão de construçãopartidária das mulheres para alémde preencher a cota eleitoral de 30%de candidatas é tarefa que temospara agora, neste Encontro, buscandoavançar rumo à paridade plena entrehomens e mulheres.

Precisamos discutir sobre açõesafirmativas que incentivem a partici-pação política das mulheres no PSOL,que viabilizem a formação efetiva dequadros e dirigentes mulheres. Umpartido não conseguirá representar aclasse trabalhadora se não for capazde incentivar a organização autônomae a formação das mulheres.

Atuar nas lutas cotidianas

Vamos nos preparar para atuar naseleições 2012 e nas lutas cotidianasque levantem as demandas da mulhertrabalhadora, desenvolvendo ban-deiras específicas que visem com-bater a opressão e suas consequênciaspara a mulher trabalhadora.

Temos que avançar organizativamentepara suprir estas demandas e dificul-dades, sem retroceder em conquistasjá alcançadas como a resolução con-gressual favorável a legalização doaborto, contextualizada num rol de me-didas preventivas, para que esta seja a

última opção das mulheres e não umaobrigação (ao contrário do que dizemos detratores da luta pela legalizaçãodo aborto). Devemos reafirmar estabandeira avançando na defesa de mi-lhares de mulheres, em sua maioria jo-vens, negras e pobres, que morrem emdecorrência de abortos clandestinos.

Para dar conta dessas tarefas pre-cisamos eleger uma CoordenaçãoNacional que seja referência paraas mulheres dentro do partido, queconstrua a luta feminista agregandomulheres que estão fora dos coletivosorganizados. Vamos fortalecer nossotrabalho contra as opressões, forta-lecer as mulheres como quadros dedireção e fortalecer o PSOL, comoum partido de luta, combativo e fe-minista. Avante companheiras!

As mulheres da LSR contribuempara o debate com a tese:

Avançar sempre, retroceder jamais!A luta das mulheres é a luta da

classe trabalhadora

Mulheres do PSOL se organizam para dizer um basta à opressão!

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Em maio deste ano, a cidade deTaboão da Serra, na Grande SãoPaulo, ficou conhecida em todoo país pelas imagens da prisãode vereadores em plena sessãoda Câmara Municipal da cidade.Os parlamentares da cidade es-tão sendo investigados pela po-lícia e pelo Ministério Públicopela participação em um esque-ma de corrupção e fraude nasquitações das dívidas do IPTU,envolvendo diversos servidoresmunicipais, que já teria desvia-do mais de R$ 10 milhões doscofres públicos de Taboão.

José Afonso SilvaDiretório estadual do PSOL e

membro do Comitê de LutaContra a Corrupção em Taboão

Até agora 4 vereadores, 3 secretá-rios de governo e vários funcionárioslivre nomeados foram presos e hápedido de prisão de mais 1 vereadore dois secretários.

O Comitê de Luta Contra a Cor-rupção em Taboão da Serra, formadopela APEOESP, MTST, Comissãode professoras ADIs, Ação Popular,PSOL, PSTU e CSP-Conlutas já rea-lizou cinco grandes atos defendendoa cassação do prefeito Evilásio Farias,a cassação dos vereadores e a devo-lução de todo dinheiro roubado dapopulação. No próximo dia 06/09um grande funeral enterrará de vezos políticos picaretas e bandidos quegovernam a cidade em detrimentosdos trabalhadores, da juventude edos serviços públicos.

Tudo começou quando, em de-zembro de 2009, a Prefeitura propôs,a toque de caixa, uma atualizaçãoda Planta Genérica de Valores domunicípio, que gerou um aumentoestratosférico do IPTU de 2010 co-brado dos munícipes. O pretexto paraa atualização da Planta era o da va-lorização dos imóveis, mas na verdadea mudança atendia mais aos interessesda especulação imobiliária e das em-

preiteiras da região. Os vereadores,sem qualquer debate, aprovaram porunanimidade a proposta. A medidagerou ampla mobilização popular,levando inclusive à apresentação deum projeto de lei de iniciativa popularque pedia a anulação da Planta deValores.

Aproveitando-se das imensas di-ficuldades de pagamento dos valoresabusivos do IPTU por mais da metadeda população de Taboão, criou-seum esquema fraudulento de quitaçãodessas dívidas, envolvendo o paga-mento de propinas a servidores evereadores da cidade.

Mas as investigações que come-çaram com as fraude do IPTU reve-laram que o problema era bem maior,envolvendo desvio do ISS, folha depagamento dos funcionários (quechegou a 220 mil reais), aluguel decarros de forma absolutamente sus-peitas, baixas escandalosas das multasde trânsito, entre outras tantas formasutilizadas para desviar o dinheiropúblico no município.

Foi impossível blindar oprefeito

Ao contrário da imagem que pre-tendeu construir na grande imprensa,como alguém que enfrentaria comvigor os escândalos de corrupção nacidade, os três meses de investigaçõesda Polícia Civil de Taboão da Serrademonstraram que era remota a chan-ce do atual prefeito Evilásio Caval-cante Farias (PSB) não ter ao menosconhecimento das fraudes que ocor-

riam. As investigações apontam deforma contundente o envolvimentodo Prefeito como chefe da quadrilhainstalada na prefeitura. Por ter foroprivilegiado, Evilásio está sendo in-vestigado pela CECRIMP (CâmaraEspecializada em Crimes Praticadospor Prefeitos) do Ministério PúblicoEstadual.

No dia 16 de agosto, o Comitê de

Luta Contra a Corrupção em Taboãoda Serra, do qual nosso partido, oPSOL, participa, entrou na CâmaraMunicipal com uma representaçãopedindo a cassação do Prefeito, porInfração Político Administrativa. Avotação desta representação, pedindoa instalação de uma Comissão Pro-cessante, que teria o poder de cassaro Prefeito ao final de suas investiga-

ções, ficou marcada para o dia 6 desetembro.

O Prefeito Evilásio tem declaradoque “forças obscuras” querem der-rubar seu governo e acusa seu ante-cessor – Fernando Fernandes (PSDB)– de estar por trás de tudo. Emreunião na Comissão de Direitos Hu-manos da Assembléia Legislativa deSão Paulo, realizada em agosto, de-clarou que estava sendo “vítima deuma das maiores injustiças da históriado Brasil” e que em Taboão “há umclaro ataque à democracia”.

É muita cara-de-pau que Evilásiose atreva em falar em democracia,pois sua gestão é marcada pela utili-zação da guarda metropolitana contraos movimentos sociais, pelos inter-ditos proibitórios, pela ingerênciadireta na formação do sindicato dofuncionalismo e pelas práticas deautoritarismo e assédio moral nasrepartições públicas.

Não é um caso isolado – éo sistema

O grau de putrefação existente naprefeitura de Taboão da Serra não éum caso isolado. Em todo país, aimprensa vem divulgando a prisãode prefeitos e vereadores corruptos,como em Campinas, Taubaté, Natal,Lençóis e etc.

Mas não é só nos municípios queocorre a sangria do dinheiro público.Em Brasília os escândalos de cor-rupção já derrubaram ministros deDilma Rouseff. A tal faxina imple-mentada por Dilma, nada mais é quevarrer a sujeira para baixo do tapete,já que a corrupção é parte da lógicado sistema política brasileiro.

A corrupção é inerente ao sistemacapitalista, onde o que rege é o di-nheiro e o lucro. Por isso a luta peladerrubada do sistema capitalista, pelaimplementação do socialismo comuma genuína democracia dos traba-lhadores deve estar vinculada à lutacontra a corrupção e os ataques dosgovernos e patrões.

especial: luta contra corrupção • 7Ofensiva Socialista n° 07 setembro/outubro - 2011

Movimentos e população se mobilizam contra a corrupção em Taboão

Fora Evilázio!

Campinas: nem PT, nem PSDB! Não à corrupção!O governo Hélio foi eleito em2004, após uma apertada dis-puta com a direita tradicional,simbolizada por Carlos Sampaio(PSDB). Campinas acabara depassar pela experiência de 4anos de governo do PT marcadapor alguma esperança no inícioe angústia no final. Com a eliteda cidade dividida, Hélio foieleito.

Antonio Celso Lins

Entre 2004 e 2008 a situação mu-dou radicalmente. Hélio foi capazde construir uma grande e amplafrente. Nas eleições de 2008 sua co-ligação teve 12 partidos (PMDB,DEM, PTB, PP, PPS, PR, PC do B,PT, PSC, PMN e PRP) e obteve 75%dos votos válidos.

Utilizando a concessão de bolsase outras medidas assistencialistas, ogoverno Hélio foi capaz de criar umaextensa rede de cabos eleitorais nosmais diversos e distantes bairros,mas sem que isso necessariamentesignificasse um apoio claro às suaspolíticas.

Num dado momento o acotovela-mento de partidos e verdadeiras má-fias dentro do governo assumiu pro-porções gigantescas e começaram apipocar denúncias de corrupção.

O PSOL já vinha há muito tempodenunciando situações como a doscontratos superfaturados do HospitalOuro Verde, onde houve mobilizaçõesde moradores da região.

Com a insistência do Conselho deSaúde, foram rejeitadas as contas daárea, mas isso foi apenas a ponta deum iceberg. A situação da saúde sereproduz nas secretarias de educaçãoe assistência social. A situação dessastrês pastas nos mostra como este go-verno beneficia a iniciativa privadaem detrimento dos serviços públi-cos.

O que mudou com a queda de Hélio?

Hélio acabou caindo , mas o quede fato mudou? O governo Hélio foiacompanhado de perto pelo PT. De-métrio Vilagra, o vice-prefeito doPT que assumiu o governo, sempreesteve ao lado de Hélio e não repre-senta qualquer mudança.

Os indícios de corrupção contraele são fortíssimos. Já há denúnciassólidas de que Demétrio recebeu R$60 mil de propina, além de outrasenvolvendo casos de favorecimentoquando Demétrio dirigia o CEASACampinas.

Todos querem ganhar votos para aspróximas eleições, por isso não pode-mos descartar que surjam denúnciascontundentes e, ao mesmo tempo, quese alongue uma disputa jurídica.

Muita gente do PT diz que as de-núncias são um ataque da burguesiaconservadora, um golpe contra ostrabalhadores. É claro que existe defato uma disputa, mas entre setoresda própria burguesia. Infelizmente oPT agora está adaptado ao sistema

capitalista, inclusive em relação àcorrupção. Por outro lado, os partidosda direita tradicional, como o PSDB,estão longe de significar uma saída.

Praticamente todos os ataques àclasse trabalhadora foram feitos emcomum acordo: PT em nível federale o PSDB no estado. Toda privatiza-ção em Campinas foi feita em comumacordo entre PT e PSDB.

Movimento apenas dentroda Câmara?

A Câmara Municipal de Campinasse viu obrigada a tomar uma posiçãode cassar Hélio devido à enorme in-

satisfação existente. Por isso, podemosdizer que há sim uma pressão popu-lar.

A luta pelo Fora Hélio/Vilagra nãoé apenas um movimento de disputade poder nos bastidores da Câmara.Ainda que existam elementos dessadisputa, a situação reflete sim umprocesso de luta de classes.

O PSOL precisa justamente serum fator de mobilização popular. Avitória real só é possível se conse-guirmos levar os trabalhadores e ajuventude para as ruas. Isso sim seráum fator para cassar Demétrio e cha-mar novas eleições. Com mobilização,o PSOL torna-se uma alternativa fac-

tível para os milhares de trabalhadoresde Campinas.

O PSOL pode se transformar emuma alternativa concreta. Mas nãodevemos subestimar a capacidadede a burguesia se rearranjar e garantiruma alternativa eleitoral forte. Naverdade, isso só pode ser combatidona medida em que se fortaleçam aslutas nas ruas.

É preciso mostrar que temos comoacabar definitivamente com a cor-rupção, garantindo uma auditoria detodas as contas da administração pú-blica, sob o controle dos sindicatos,movimentos e entidades estudantise populares, e garantir um controledireto de toda a população sobre osgastos públicos.

O papel do PSOL nas lutas

O PSOL é um elemento funda-mental nas lutas. Se não fosse o tra-balho dos militantes desse partido naComissão Municipal de Saúde, ouimpulsionando a greve do funciona-lismo, a tendência seria de que essasdenúncias passassem desapercebidase o Hélio continuaria no poder.

Portanto, reconhecemos o PSOLcomo um partido necessário. Masachamos que o PSOL deva assumiruma política classista cada vez maisclara. Isso implica em priorizar aluta nas ruas, ligar as greves às ques-tões políticas, e não apenas priorizaras eleições. Deste modo, iremos cons-truir o partido que a classe trabalha-dora precisa.

Um de muitos protestos contra Hélio, ex-prefeito de Campinas.

Já foram realizados 5 atos exigindo a cassação do prefeito Evilásio.

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8 • nacional Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro - 2011

Nossa sociedade está passan-do por um grande debate quetem como ponto central aquestão da manutenção de pa-péis tradicionais, da opressãoe segregação das minorias.Existe uma ofensiva da igrejacontra os homossexuais, regis-tradas nas enormes “Marchaspara Jesus”, na atuação dabancada cristã de parlamenta-res contra o “kit anti-homofo-bia”, etc. Mas, e o movimentoLGBT? Conseguiu dar respos-tas à população gay e incidirna luta contra o preconceito ea exploração de homosse-xuais?

Wallace Berto, e JoubertAssunpção integrantes do DA de

pedagogia da UFF e WallaceTerra, militantes do movimento

LGBT de Niterói

Temos visto, ano após ano, umenorme calendário nacional de pa-radas LGBTT por todo país. É muitopositivo a afirmação do orgulho

LGBTT nas ruas pelo Brasil afora.Mas, o que realmente acontece nessesencontros? A impressão que ficapara o público é de um bando de“bixas e sapatões”, bêbados, fazendo“pegação” a céu aberto ou um bandode travestis mostrando seus peitos efazendo gestos obscenos com suaslínguas. Essa tem sido a visibilidadeLGBTT que está sendo construída.

No último dia 21 de agosto, parti-cipamos aqui em Niterói, da 7ºparada do orgulho LGBTT da cidade.E para falar a verdade não deu muitoorgulho de participar.

Atuamos na denúncia da violênciahomofóbica. Mas, sabíamos que de-pois que os carros saíssem a barbáriese instalaria e ninguém ia querersaber de nada político. Entendendoa vida como ato político, temos quepolitizar a festa. Festejar não é umaação invisível.

Parada gay – despolitizaçãoe mercantilização

Uma pena é que toda a ação trans-gressora do movimento LGBTT está

sendo posta no bolso de empresáriose de alguns políticos. Vimos tambémna parada, a atuação de vereadoresque entendem o movimento comocampo de benefício próprio. Istotambém ocorre com as ONGs.

O GDN (Grupo Diversidade Ni-terói) é uma ONG que atua na orga-nização das paradas. Mobilizam vá-rios voluntários para organizá-la enão prestam contas de quanto foirepassado pelos governos para a or-ganização destas, priorizando a festaao debate político. Essas ONGs re-cebem cotas de financiamento esta-dual e federal, em sua maioria paramateriais gráficos, camisas e pan-fletos. Esperamos que seja isso oque acontece de verdade!

Os que comandam, tem institu-cionalizado o movimento e apre-sentam uma postura bem próxima aum caráter de privatização do mo-vimento. Na verdade tem sido muitomais lucrativo (financeiramente epoliticamente) viver da busca dosdireitos LGBTT do que de fato tor-ná-los concretos. É o que aparenta.Mas não podemos ser ingênuos. O

que esperar das ONGsa não ser isso?

Homofobia écrime!

O assunto é vasto ecomplexo, mas de fun-damental importância.Não fique esperando“kit anti-homofobia”do governo para asescolas, faça uma ati-vidade pedagógicacom este tema. De-bata fraternalmentecom seus “irmãos” deigreja o assunto. Puxe umaatividade pelo seu sindicato, façaatividades de conversas com seusfamiliares e amigos.

Que estejamos ao lado dos quemorrem em vão, que apanham porafirmarem quem são e querem viversua liberdade sexual, mesmo sabendoque podem apanhar ou morrer napróxima esquina. No entanto, aquelesque são vítimas dessas situações sãoprincipalmente os gays pobres, que

precisam namorar na rua, pois nãopossuem uma casa (dividem com afamília).

O Capitalismo absorve a homo-fobia e usa as opressões para explorarmais os trabalhadores e mantê-losdivididos e alienados.

Basta! Exigimos e construiremosuma sociedade justa! Sem desigual-dades! Sem violência! Sem padrõesimpostos! Vamos à luta!

O “Maré de Rock” é um atopúblico cultural que teve inícioem outubro de 2008 a partirdas ações do “Fórum Pela VidaContra o Extermínio” na cida-de do Rio de Janeiro, em fun-ção das lutas sociais nas co-munidades favelizadas cario-cas. Nestas comunidades o pa-pel da polícia expressa, em to-dos os sentidos, o desrespeitoaos direitos civis e humanosdos moradores.

Alexandre Diasmilitante do núcleo Auto

Resistência do PSOL da Maré

Essas ações da política de segu-rança do Rio contribuem para umasérie de chacinas na cidade cujo

público alvo é justamente aqueleformado pelos pobres e favelizadosdas comunidades de baixa renda. Oenvolvimento dos moradores daMaré no Fórum Pela Vida, resultouno “Maré de Rock”, com a partici-pação fundamental das bandas derock local.

O “Maré de Rock I” contou comcerca de 50 pessoas em sua organi-zação e uma sequência de debatespolíticos sobre a criminalização dosespaços favelizados em suas reuniõesde organização. Isso resultou em umaprodução coletiva das atividades que,no dia do evento, atraiu um públicosuperior a 150 pessoas da Maré e ou-tros espaços favelizados da cidade.

O “Maré de Rock: pela vida contrao extermínio”, disputou e despertoua consciência política de diversos

moradores e militantes da Marépara o tema da criminalização dosseus espaços de moradia, e da im-portância dos direitos humanos,civis e sociais para todos os mora-dores da cidade.

Através da música, poesia, teatroe falas independentes, os moradoresda cidade puderam expressar seusentimento de revolta versus a vio-lência estatal contra os pobres doRio: foi um momento onde nossavoz teve vez.

Dois anos após esse primeiroevento, a Maré e muitos espaçosfavelizados e suburbanos da cidade,continuam sofrendo ataques do poderpúblico no Rio constituído basica-mente pelo PMDB apoiado peloPT. Esses setores trabalham diaria-mente desrespeitando os direitos

das populações pobres da cidade,com vistas a deixá-las no pontoideal para a festa do grande capitalinternacional, disfarçada nos grandeseventos populares da Copa do Mun-do e Olimpíadas.

Os moradores da Marénão se rendem

Motivados pela continuação docombate contra os ataques sobre osdireitos dos pobres, os moradoresda Maré, as bandas de rock locais eas organizações e movimentos sociaise culturais que atuam na Maré e noRio, junto com o Núcleo do PSOLAuto Resistência, iniciaram o pro-cesso de construção do “Maré deRock II: pelo direito a cidade e contraa criminalização da pobreza”.

O “Maré de Rock II” já está nasua quarta reunião de organização,nos mesmos moldes participativosda primeira, onde tudo foi decididocoletivamente e o debate político éuma prioridade. Ele ocorrerá namesma data do anterior, dia 18 deoutubro, e contará com uma sériede atividades culturais além dasbandas que irão se apresentar.

O “Maré de Rock” é um eventoque conta com a participação detod@s que acreditam em uma so-ciedade justa e igualitária, ou mes-mo aqueles que apenas reivindicamseus direitos constitucionais e in-ternacionais. Mas, sem luta e par-ticipação política não se faz con-quista, então vamos à luta com osbolcheviques modernos com gui-tarras nas mãos.

“Maré de Rock II: pelo direito à cidade e contra a criminalização da pobreza”

Por um movimento LGBTcombativo e de luta!

Rio das Ostras teve o maiorcrescimento populacional doEstado do Rio de Janeiro. Ocrescimento da população rios-trense no período entre 2000 e2010 foi de 190,4%, segundo oCenso do IBGE. No mesmo pe-ríodo 95% da população rios-trense vive na área urbana.Mas, isso significa qualidadede vida real?

Luciano da Silva Barbozaprofessor de História em

Rio das Ostras

Quando um novo morador começaa viver em Rio das Ostras, a primeiracoisa que fica evidente, é que a cidadevive uma falsa polarização entre oatual prefeito Carlos Augusto (PMDB)e Sabino (PSC), pois os dois sãoiguais em projetos para a cidade. Narealidade, ambos disputam a cidadeatravés da troca de favores, ou seja,na cidade impera o clientelismo polí-tico. Assim, os empregos sem concurso

da prefeitura da cidade não são dis-tribuídos pela qualificação de seuspostulantes ao cargo, mas são decidi-dos através da compra de um futurocabo eleitoral, que ganhou um empregode um dos dois candidatos a prefeito.

Precisamos compreender que acidade esta em mutação, os novosmoradores não assumem um dessesdois lados para si. O coronelismo eo assédio moral praticado em todosos órgãos da prefeitura, não causarãomais medo na população como quan-do a população somava 20 mil pes-soas. Os prefeitos não poderão ga-rantir empregos e benefícios a todosos atuais 105 mil moradores, sendoassim a opção real para os trabalha-dores para conseguir seus direitosserá a constante mobilização políticaatravés de atos e greves, pois histo-ricamente as vitórias da classe tra-balhadora só vieram após duros con-flitos políticos.

Isto já está ocorrendo, seguindo oexemplo dos bombeiros do Estadodo Rio de Janeiro que fizeram uma

greve vitoriosa, várias lutas vemacontecendo em Rio das Ostras.Como a construção do maior ato derua nos últimos anos, construídopelos professores e alunos do PoloUniversitário de Rio das Ostras-UFF,no dia 25 de maio, com cerca de350 pessoas que fecharam por 1 horaa maior avenida da cidade. Os alunosreivindicavam não estudar em con-tainers, exigiam mais salas de aula ealojamento estudantil, e os professoresmelhores condições de trabalho.

Onda de lutas

Esse evento não foi isolado, poisdurante a greve dos profissionais daeducação da rede estadual cerca de60% da categoria na cidade parou.Participaram das assembleias no Rioe mobilizaram na própria cidade,por um reajuste salarial de 26%.Conseguiram 5%, o que foi uma vi-tória se pensarmos a mobilização ea experiência de luta que ela causouna classe trabalhadora local. Seguindo

esses exemplos os funcionários mu-nicipais fizeram um ato, no dia 12de agosto, reivindicando melhorescondições de trabalho e aumento sa-larial, que contou com 50 pessoas.

A luta não parou por aí. Os estu-dantes e professores fizeram um novoato no dia 25 de agosto, em memóriada morte da estudante Maria Clemilda,que foi atropelada ao tentar chegar àuniversidade, na Avenida Amaral Pei-xoto, por descaso do governo: o sinalestava desligado. As 200 pessoas in-dignadas presentes no ato, que foiorganizado de um dia para o outro,exigiam respostas ao caos do trânsitoe ao caos da universidade, que nãotem as condições necessárias paraum ensino de qualidade.

Grito dos excluídos

Nesse sentido a construção coletiva,entre os movimentos sociais e sindi-catos de um desfile de camisas pretas,após o desfile das escolas municipaisno dia 7 de setembro, será funda-

mental para unir as diferentes lutasna cidade. Esse desfile será o nossoGrito dos Excluídos.

Também, haverá um ato no dia 27de setembro feito pelos profissionaisda educação municipal, que exigirá ofim do coronelismo nas escolas. Que-remos discutir o plano de carreirasdos servidores, que atualmente nãotem nenhum representante sindical nacomissão de educação que esta fazendoo plano (às escondidas). Queremoseleger nossos diretores de escolas de-mocraticamente, pois hoje os diretoressão indicados pelo prefeito. Queremosreajuste salarial de 40% em cima dovencimento, e não um “cale a boca”casado com um plano de carreira sub-jetivo em suas avaliações profissionais,que colocará a vida dos servidoresnas mãos dos seus superiores. O queos servidores municipais querem éuma avaliação justa e imparcial, quegaranta um bom atendimento públicopara a população.

Todos aos atos do dia 7 e 27de setembro de 2011!

Rio das Ostras: um caldeirão de lutas em ebulição

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nacional • 9Ofensiva Socialista n° 07 setembro/outubro - 2011

Saúde do trabalhador: uma pedra no sapato da burguesia

Pelo direito à moradia! Pelodireito de organização e luta!Na cidade do Rio de Janeirocerca de 1/3 das habitaçõesestão em condições de infor-malidade e mais de 10% dasmoradias estão em bairros fa-velados, atualmente estimadosem mais de 300. Com a justifi-cativa da modernização da ci-dade para a Copa do Mundo eos Jogos Olímpicos, desenvol-ve-se na cidade uma política deremoções arbitrárias de famí-lias de suas casas, desarticula-ção das organizações de bair-ros e repressões a movimentossociais.

Ricardo Paris é arquiteto e urba-nista e Elizia Januário é assistentesocial. Integrantes do Comitê Popular

da Copa e da Olimpíada do RJ

O primeiro argumento para pro-mover as remoções é a agressão aomeio ambiente e a alegação de quevivem em “área de rico”. O que ve-mos na realidade são demarcaçõesde área de risco de forma arbitrária,sem os devidos pareceres técnicos esociais. Muitas vezes a viabilidadeeconômica de alguma solução técnica(como contenção de encostas) é maisviável economicamente que a re-moção. Mas, ainda assim, segue-seo caminho da truculência. Na maiorparte das vezes há interesses da es-peculação imobiliária por trás.

A segunda justificativa são projetosligados aos megaeventos que ocor-rerão na cidade e que implicam emabertura de vias de transporte e cons-truções voltadas aos jogos. Porém,não há nenhuma participação popular

na definição das prioridades das obrase seu planejamento e localização.

Em maio desse ano, o governodesmontou o Núcleo de Terras dadefensoria civil do Rio de Janeiro,que estava brigando junto com asfamílias desabrigadas pelos seus di-reitos. Nem mesmo os direitos legaispromovidos pelo estado capitalistae a legislação burguesa são garantidosà população pobre.

Há relatos no Rio em que os mo-radores receberam a notificação numdia e no dia seguinte ao voltar dotrabalho viram suas casas demolidasde forma truculenta com o apoiodas UPPs (Unidade de Polícia Paci-ficadora).

Três becos sem saída

Diante das remoções, a prefeituraempurra três tipos de saída para osmoradores. Em primeiro lugar, oaluguel social, que é uma política degoverno e que pode terminar de umahora pra outra; A segunda alternativasão as moradias do programa ‘MinhaCasa, Minha Vida’, que estão loca-lizadas quase fora da cidade e des-consideram a história construída doshabitantes daquela região. Por fim,restam as indenizações que, na maio-ria das vezes, são irrisórias.

A classe dominante desenvolve vá-rias formas de manter o povo calado.O ufanismo gerado pelos megaeventosé uma delas, passando a falsa ideiade que o povo irá se beneficiar dasobras e dos investimentos que estãoocorrendo no Brasil. Eles tentamfazer com que a euforia com os me-gaeventos impeça as mobilizações,

pois lutar por direitos virou ataque àprosperidade e avanço do país.

A festa realizada para o sorteiodas eliminatórias da copa 2014, noRio de Janeiro, teve um custo deR$ 30 milhões. Puro marketing paramanter o ufanismo. Com este valorpoderiam ser construídas 600 casaspopulares ou 10 unidades de prontoatendimento. O mesmo evento, quan-do realizado na África do Sul de-mandou um total equivalente a R$2 milhões.

A criminalização da pobreza estáem alta. Perseguição aos movimentossociais, ameaças a lideranças popu-lares e tentativa de cooptá-los, ofe-recer dinheiro para impedí-los de

lutar, são alguns dos exemplos. Alémdisso, as negociações com a popu-lação removida não são feitas deforma coletiva, com toda a comuni-dade, mas individualmente, paraquebrar a força do povo unido.

Como vemos, para garantir nossosdireitos não podemos ficar parados,temos que nos organizar junto aquelesque passam pela mesma situaçãopara dizer um basta. O maior exem-plo de que não podemos contar coma “boa vontade” dos governantes éa CPI das remoções defendida pelovereador Eliomar Coelho do PSOL.

Tal CPI só conseguiu o número deassinaturas necessário para ser ins-taurada quando ocorreu um grande

ato popular. No entanto, após o povovoltar para casa alguns vereadores re-tiraram suas assinaturas, como TâniaBastos (PRB), Carlinhos Mecânico(PPS), Elton Babú (PT), EduardoMoura (PSC) e Rubens Andrade (PSB),impedindo que a CPI fosse imple-mentada. Somente a continuidade daluta vai levar o povo a vitória!

Greve dos operários doMaracanã

A greve dos operários que estãotrabalhando nas obras do Maracanãfoi um sinal de que os trabalhadoresquerem seus direitos agora e não paradepois da Copa e das Olimpíadas.

O estopim da greve, que duroutrês dias, foi a explosão de um barrilque deixou um operário ferido. Osquase dois mil operários trabalhamsem condições adequadas de trabalho,com um salário irrisório e sem planode saúde. Ao mesmo tempo, o custoda obra será de R$ 931 milhõespara reconstruir um Estádio que es-tava em perfeitas condições de uso.Eles perceberam que existe algo er-rado nessa equação.

Os trabalhadores do Maracanã de-ram o exemplo. Com a luta, con-quistaram uma cesta básica no valorde R$ 160, mais um acréscimo deR$ 20, plano de saúde e receberãotambém os dias que não trabalharamdevido à paralisação.

A luta tem continuado, mesmocom todos os obstáculos posto pelopróprio Estado e pelo capital forta-lecido pela mídia vendida. Precisamosnos unir porque vem muitos ataquespela frente, mas também vitórias!

Saúde é algo incontestável...desde que não envolva o di-nheiro do patrão e governan-tes. Você já parou para pensarsobre isso?

Isabel Keppler Paulo Montanher

Baixada Santista

Dados do Anuário Estatístico daPrevidência Social mostram que em2009 ocorreram, em todo o Brasil,528.279 acidentes de trabalho, com2.496 mortes. Na Baixada Santistaforam 4.848 acidentes e 15 mortes.Em Santos, além dos 2.005 acidentes,a cada 2 meses um trabalhador perdea vida em decorrência de acidentesde trabalho.

Esses dados oficiais ainda subes-timam a dimensão do problema umavez que há um crônico problema dasubnotificação de acidentes e doençasrelacionadas ao trabalho. Na AméricaLatina, os estudos mostram que decada 20 acidentes ocorridos, apenasum é notificado pelas vias oficiais.

Os relatos estão em jornais, revistas,televisão, internet: no início de agostodeste ano, os corpos dos dois traba-lhadores vítimas de um desmorona-mento na Pedreira Santa Teresa, emSantos, foram encontrados, após 123dias de agonia para as famílias. Aindaem agosto, um trabalhador portuárioteve a mão esmagada ao ser atrope-lado por um trem. Diariamente, mo-toboys tem suas vidas ceifadas notrânsito caótico das grandes cidades

brasileiras. Bancários sofrem cadavez mais com a imposição de metas,servidores públicos são assediados,e as estatísticas de transtornos mentaisrelacionados ao trabalho alcançamníveis epidêmicos.

Uma luta histórica

A medicina do trabalho surge nametade do século XIX, quando oíndice de acidentes e mortes de tra-balhadores passa a ser tão alto quese torna prejudicial para o processoprodutivo. Assim, a Medicina doTrabalho surge para defender o pa-trão, e não para atender as necessi-dades da classe trabalhadora.

A Saúde do Trabalhador, por suavez, nasce no interior das lutas so-ciais, como pauta das lutas antica-pitalistas nas décadas de 60, 70 e80 do século XX.

Inicia-se, então, uma aliança entreo trabalhador do chão de fábrica e oprofissional (incluindo estudantestambém) de saúde e de segurançado trabalho, unificando na defesada Saúde do Trabalhador operários,sindicalistas, médicos, psicólogos,pesquisadores, políticos e ativistas.

Ao se pensar práticas em saúde,nesse momento, o saber operário ea participação dos trabalhadores sãoreconhecidos como condição essen-cial na denúncia dos riscos nos am-bientes de trabalho, no apontamentodos problemas enfrentados cotidia-namente, nas propostas de sanea-mento e resolução desses problemas

e no acompanhamento dos resultadosapós as mudanças.

As condições e todo o ambientede trabalho, da forma que se confi-gura no modo de produção capitalista,passam a ser reconhecidos comofator central entre os determinantessociais de saúde.

A saída para brecar a avalanchede acidentes e doenças do trabalhoenvolve a possibilidade de auto-re-gulação do trabalhador durante aatividade de trabalho, respeitandoseus limites físicos e psicológicos,e evitando o adoecimento do corpo.

É urgente a necessidade de se atri-buir outra função para o trabalho,transformando-o em prática liberta-dora da humanidade, considerando

a voz, os conhecimentos e as neces-sidades de todos os trabalhadores.

A busca da autonomia no que serefere à forma como seu trabalho éorganizado traz junto de si a discus-são sobre o rompimento da relaçãode exploração do homem pelo ho-mem, que começa a ser vislumbradona sua totalidade a partir da superaçãodo modo capitalista de produção.

Não nos enganemos. As modifi-cações organizacionais indispensáveispara chegarmos às alterações signi-ficativas, necessárias e urgentes, nosníveis de adoecimento e de acidentesdos trabalhadores, são incompatíveiscom a lógica do sistema capitalista.

A discussão sobre saúde do tra-balhador ainda é muito tímida diante

da real demanda. Algumas iniciativasrecentes apontam um caminho im-portante para consolidar políticasconcretas nesse campo.

Em Santos, nesse segundo semestrede 2011, foi criado o Comitê de Lutapela Saúde do Trabalhador, que, alémde várias reuniões envolvendo sin-dicatos e movimentos, organizouuma manifestação em frente ao INSScontra a ‘alta programada’.

A luta em defesa da saúdedo trabalhador hoje

A proposta do Comitê é se tornaralgo permanente e buscar ampliarsua iniciativa nacionalmente. Alémdisso, também assume a luta contraa privatização da saúde pública, naBaixada Santista.

No último dia 28 de abril, dia mun-dial de luta contra acidentes e doençasde trabalho, a ‘Central Sindical e Po-pular – Conlutas’ organizou açõesem diversos estados chamando a aten-ção para o tema. Recentemente, tam-bém, criou um setorial de Saúde doTrabalhador que vem se organizandoem algumas regiões do Brasil.

Fortalecer esses espaços é um de-safio fundamental para nós. Atual-mente, muito se lê sobre ginásticaslaborais e outras técnicas que a bur-guesia desenvolve para mostrar quealgo está fazendo. No entanto, a liçãoque a história nos dá é que mudançasefetivas só acontecerão quando asiniciativas vierem da classe traba-lhadora para a classe trabalhadora.

Operários nas obras do Maracanã votam greve por melhores condições.

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10 • internacional Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro - 2011

Em agosto o pânico voltou aosmercados financeiros mundiais.Está cada vez mais evidenteque as medidas tomadas paraevitar um colapso da economiaem 2008-2009 estão se esgo-tando e o remédio está se tor-nando um veneno que ameaçaprovocar um novo aprofunda-mento da crise econômicamundial.

Marcus Kollbrunner

Trilhões de dólares foram gastospara salvar o sistema financeiro e osbancos, junto com medidas para es-timular as economias. Em alguns ca-sos isso ajudou a criar um certo pe-ríodo de recuperação na economia.Para outras economias, como a bra-sileira, os enormes estímulos na Chinatambém ajudaram na recuperação.

Mas essa política gerou enormesdéficits nas finanças públicas e acrise das dívidas privadas tornou-sea crise das dívidas públicas. Oscasos mais graves foram as econo-mias “periféricas” da zona do euroda União Europeia, como Grécia,Irlanda e Portugal, que tiveram queserem resgatados. Mas até mesmo amaior economia do mundo, os EUA,passa por déficits gigantescos e nosúltimos quatro anos a dívida públicadeu um salto de 55%.

A tendência dos últimos dois anostem sido por isso de cortar os gastospúblicos para conter os déficits e ocrescimento das dívidas públicas.Mas isso está contribuindo para aforte desaceleração da economia,que atingiu os EUA e a zona doeuro, incluindo a poderosa Alemanha.Nos últimos dois meses vimos umaconvergência dos diferentes aspectosda crise, que desencadeou o nervo-sismo nos mercados.

EUAPelos terceiro ano consecutivo o

déficit do orçamento federal dosEUA está na casa dos 10%. A dívidapública federal bateu alguns mesesatrás no teto de US$ 14,3 trilhões(quase o tamanho do PIB), que éestabelecido por lei. A negociaçãodo aumento do teto, que normalmenteé uma formalidade, transformou-seem um embate político em que opresidente Obama se envolveu di-retamente, contra a ala direitista dopartido republicano. A ala mais fun-damentalista, o chamado “Tea Party”,exigia enormes cortes nos setoressociais. Obama estava disposto afazer cortes, mas queria também tercerto aumento dos impostos dossuper ricos.

As negociações chegaram pertode uma situação onde o Estado nãopoderia mais pagar suas contas eteria que fechar atividades públicas.No final Obama cedeu e aceitou umpacote com US$ 973 bilhões de cor-tes e mais US$ 1,5 trilhão a seremnegociados até novembro, sem nemum centavo dos ricos. Mas essescortes são para os próximos 10 anose não resolvem o déficit, se o cres-cimento não retornar para valer. Eos cortes não podem ser implemen-tados imediatamente, ou isso afun-dará de vez a economia.

O desemprego continua alto, acimade 9%. Com o fim do efeito dos es-

tímulos fiscais, o crescimento noprimeiro semestre caiu abaixo de1%. O mercado imobiliário, que foio estopim da crise em 2007, continuaem crise. Cerca de 3,5 milhões defamílias estão prestes a perder suascasas por causa da incapacidade depagar suas dívidas, além das 6 mi-lhões de famílias que já tiveram queabandonar suas casas.

Tudo isso levou à situação inéditaem que os EUA pela primeira vezna história teve sua nota de créditorebaixada por uma das mais impor-tantes agências de avaliação de riscode crédito, a Standard&Poor.

Por ainda possuir a principal moedamundial, os EUA não sofreram ne-nhuma fuga de capitais. Ao contrário,o nervosismo do mercado fez comque muitos especuladores deposi-tassem mais fundos em títulos esta-dunidenses, apesar do rebaixamentoda nota. Mas essa situação não vaidurar para sempre. China e Japãoestão tentando achar alternativaspara aplicar suas reservas.

É possível que o banco centraldos EUA, o Fed, anuncie um novo,terceiro, pacote de injeção de dinheirona economia (“afrouxamento quan-titativo”), mas o efeito deve ser li-mitado. O principal efeito acabarásendo reduzir o valor do dólar maisainda numa tentativa de exportar acrise para outros países, e gerar maisdinheiro barato para especulação, oque tende a gerar novas bolhas.

EuropaTodo o sistema financeiro da Eu-

ropa está em crise. Os resgates daGrécia, Irlanda e Portugal não re-solveram o problema – pelo contrário.Os enormes cortes nos gastos sociaisexigidos como contrapartida para o“resgate” estão afundando essas eco-nomias. Na Grécia o PIB está caindo,pelo terceiro ano consecutivo. Oprimeiro pacote de “resgate” de 2010claramente não deu certo, e por issoum novo pacote gigantesco foi lan-çado, com novas duras condições.Após o pacote de resgate a Portugalo governo declarou que o PIB devecair por dois anos como consequênciados cortes. A revolta contra o governolevou à sua queda e o novo governo

deve anunciar cortes recordes nopróximo orçamento.

Mas os problemas não param poraí. Nos últimos meses os mercadoscomeçaram a duvidar do estado daeconomia espanhola e italiana. Comono caso da Grécia, Portugal e Irlanda,os juros começaram a disparar, amea-çando a capacidade dos governos apagarem suas dívidas. Espanha eItália são economias muitos maioresque as outras três e ameaçam toda aeconomia europeia. No final o BancoCentral Europeu foi forçado a com-prar títulos espanhóis e italianospara conter o aumento dos juros.Novamente a contrapartida era pro-messas de novos cortes.

A zona do euro, composta por 17países europeus, só cresceu 0,2%no segundo trimestre, e a economiaalemã, a maior economia europeiae seu principal motor, teve cresci-mento zero.

Toda essa política de cortes nosgastos públicos, que está freando aseconomias, tem um gigantesco custosocial. Vemos os enormes conflitossociais na Grécia, os movimentosda juventude na Espanha, Grécia,Portugal, e também a explosão deraiva nas ruas da Grã Bretanha comoevidencia disso.

Até quando aChina vai crescer

O principal, e quase único, motorda economia mundial hoje é a China.O país também foi afetado pela crisemundial em 2008, quando 20 milhõesde trabalhadores no setor de expor-tações foram demitidos. O governorespondeu com um pacote de estí-mulo e a abertura das comportas decrédito. O crescimento se manteve,mas já estamos vendo o preço a sepagar por isso. Os enormes investi-mentos em produção estão levandoa um excesso de capacidade em vá-rios setores produtivos, como o au-tomobilístico. O crédito barato foipor isso muito usado para especula-ção imobiliária. Calcula-se que exis-tam 64 milhões de habitações vaziasna China, resultados de especulação.Além disso, a inflação está subindoe ameaçando a estabilidade.

Apesar da grande capacidade deintervenção do Estado, que aindatem um peso importante na economiacada vez mais privatizada, em algummomento o crescimento desenfreadovai levar a uma crise. A China tam-bém depende em muito de suas ex-portações, e uma nova queda nasexportações terá um impacto im-portante, ao mesmo tempo em queserá difícil repetir o estímulo de cré-dito, especialmente numa situaçãode inflação já alta. Uma crise naeconomia chinesa terá um efeitoenorme na economia mundial e afe-tará a economia brasileira.

E o Brasil?Apesar da propaganda do governo,

a economia brasileira não está numasituação tão confortável assim. OBrasil é fortemente dependente daeconomia mundial. A economia es-capou relativamente rápido da crise,com ajuda do aumento de exporta-ções para a China, além dos estímulosdo Estado. Em cima disso o Brasil,devido aos juros mais altos do mundoe certo crescimento do consumo in-terno, atraiu muito capital estrangeiro.Mas tudo isso tem um preço.

A inflação voltou a subir e a receitaneoliberal de cortes nos gastos eaumento nos juros foi aplicada. Issoameaça o crescimento e dados doBanco Central mostram que a eco-nomia brasileira em julho não cresceunada.

O influxo de capital especulativoestá levando ao aumento do valordo real, que afeta as exportaçõesbrasileiras, já que nossos produtosficam mais caros. A tendência é queo Brasil tenha mais dificuldadespara exportar produtos industriali-zados e fique mais dependente deexportação de produtos primários.

O grande aumento das reversasdo Banco Central está ligado ao in-fluxo de dólares. O Banco Centraltem que comprar boa parte dessesdólares para que o real não se valorizeainda mais. Este é um negócio bas-tante ruim, já que essas reservas sãofinanciadas com títulos da dívidapública a juros da ordem de 12%, esão aplicadas em títulos estaduni-denses que no melhor dos casosrendem 3%. Além disso, se o nívelde reservas no patamar de US$ 350bilhões é uma situação inédita, tam-bém é inédita a quantidade de capitalespeculativo que pode sair rapida-mente do país quando a situaçãopiorar. O chamado “passivo externo”no país, dinheiro que pertence a es-trangeiros e que está aqui no país,supera US$ 900 bilhões.

A situação do crédito também éalgo incerto. Uma boa parte do au-mento do consumo no Brasil se dápor causa do maior acesso a crédito.Mesmo se o total dos créditos aindanão chegou nada perto aos níveisdos EUA ou Europa (ainda não atin-giu o patamar equivalente a 50% doPIB), as dívidas das famílias jápesam bastante devido aos jurosmais altos do mundo. Em médiauma família brasileira usa 24% desua renda para pagar juros e amorti-zações de suas dívidas. Isso é maisdo que os 17% que é a média dosEUA, onde se assume existir umacrise por causa do alto endivida-mento. As dívidas brasileiras ainda

são administráveis por causa da que-da do desemprego e certo aumentodos salários, mas quando isso se re-verter, podemos rapidamente veruma crise de “dívidas podres” tam-bém no Brasil, algo que vai afetar oconsumo e a economia.

“Sem coelhospara tirar da

cartola”Como o economista Nouriel Rou-

bini explicou, os governos conse-guiram escapar de uma depressãoprofunda em 2008 com a intervençãodos Estados em diversas maneiras,mas agora eles estão ficando “semcoelhos para tirar da cartola”. Sim-plesmente repetir as medidas já to-madas pode acabar gerando maiscrise de dívidas, ao invés de estimulara economia.

Estamos entrando num cenárioonde o mais provável é um períodoprolongado de crise e estagnação,com momentos de crescimento quan-do os governos são forçados a in-tervir. É o que aconteceu com o Ja-pão, que sofre essa doença desde oestouro da bolha em 1989. Comtodos os pacotes de estímulo, a eco-nomia japonesa teve crescimentonegativo de novo esse ano, após oefeito do maremoto, tsunami e crisenuclear. A dívida pública japonesaequivale mais que o dobro do PIB.

Qual saída?Os governos capitalistas estão per-

didos e sem saída. Qualquer medidaque tomam traz novos riscos. Masseria errado tirar a conclusão que osistema possa cair como uma frutapobre da árvore. De alguma maneirao sistema acha uma saída, mas sem-pre fazendo os trabalhadores e pobrespagarem por sua crise.

Por outro lado vimos nesses doisúltimos anos um ascenso nas lutaspelo mundo, desde as greves geraisna Europa, os levantes no mundoárabe, até a greve geral de 48 horasno Chile. Especialmente entre o mo-vimento dos jovens, seja na Espanha,Grécia ou Chile, começamos a vero crescimento de uma consciênciaanti-capitalista, sem confiança nosrepresentantes do sistema. Come-çamos a vislumbrar uma radicaliza-ção que lembra 1968.

O desafio é construir instrumentosque possam canalizar essa revolta eenergia para uma força organizadaa favor de uma verdadeira alternativa,por um mundo socialista.

Uma nova fase da criseeconômica mundial

A política de jogar os custos da crise nas costas da classetrabalhadora tem gerado revoltas, como as greves gerais na Grécia.

Só resta a Ben Bernanke do Fedapelar para o poder divino para

salvar a econonia.

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Os estudantes chilenos já com-pletaram três meses de mobili-zações massivas. Qualquermarcha de menos de cem milpessoas já é considerada pe-quena no Chile. A luta dos es-tudantes está começando apôr um fim em quatro décadasde abuso patronal.

Celso CalfullánSocialismo Revolucionario

(CIT Chile)

Não podemos esquecer que os em-presários foram os principais promo-tores do golpe de Estado de 1973 noChile e desde esse dia fatídico come-çou um abuso brutal contra os traba-lhadores. Com a enorme repressão eo extermínio de dirigentes sociais porparte da ditadura, os empresários pas-saram à ofensiva, eliminando a maioriados direitos que os trabalhadores ti-nham conquistado.

A ditadura pró-empresarial priva-tizou a educação, a saúde, a previ-dência, a construção de moradiapara os setores mais pobres. Con-verteram todas as necessidades maisbásicas da população em um grandenegócio para os empresários priva-dos. O Chile, com base na repressãoe massacre, se converteu no paraísodo neoliberalismo e no exemplo deum país “bem sucedido”.

Todo esse triunfalismo era reali-dade para os empresários e, comsorte, para os 10% mais rico da po-pulação. Mas não era assim para amaioria dos trabalhadores e pobresdeste país, o que provocou nos anos1980 enormes protestos popularescontra o regime ditatorial até quefinalmente a ditadura chegou ao fim.

A “volta á democracia” nunca foireal já que 21 anos depois ainda temosa Constituição da ditadura e as leisrepressivas desse regime. Isso valeespecialmente em relação a um CódigoTrabalhista que persegue a organizaçãosindical, fazendo com que ainda sejanormal que, quando os empresários“descobrem” a intenção dos traba-lhadores de se organizarem em sin-dicatos, estes sejam despedidos semnenhum tipo de direitos.

A isto se deve acrescentar um sis-tema eleitoral binominal totalmentefraudulento, pensado para defenderos interesses dos ricos e que hojetambém está desacreditado. A maioriadas pessoas já não se sente repre-sentada pelos deputados e senadoresque são eleitos com base nesse sis-tema anti-democrático.

Vinte anos de governos daConcertación e zero de

mudanças

Em 1989 os trabalhadores votarammassivamente na Concertación(aliança do Partido Socialista, daDemocracia Cristã, do Partido Ra-dical e do Partido Pela Democracia),para pôr fim à ditadura, suas leis esuas políticas econômicas privati-zantes implementadas por Pinochet.

Mas a realidade foi muito diferente.Não só não se mudou as políticasprivatizantes da ditadura, como muitoao contrário, continuou-se privati-zando durante os governos da Con-certación. Privatizou-se inclusiveempresas que não haviam sido to-cadas pela ditadura, como foi o casodo cobre, principal riqueza destepaís, o saneamento básico e, claro,

aprofundou-se a privatização da edu-cação que é a principal razão porquehoje os estudantes se mobilizam jáhá quatro meses.

Quais são as razões paraas mobilizações dos

estudantes

Em maio deste ano os estudantescomeçaram a se mobilizar contra olucro e por uma educação pública egratuita para todos os estudantes.Mas essa demanda, que parece sim-ples e de fácil solução, na verdadeataca o centro nevrálgico do sistemacapitalista em sua versão neoliberal.Ataca não só os interesses dos em-presários donos dos colégios ou uni-versidades privadas, mas tambémdos bancos que ganham enormeslucros emprestando dinheiro aos es-tudantes e suas famílias. Os jovensficam endividados por mais de 20ou até 30 anos.

É claro que todos os defensoresdo neoliberalismo gritam ao céu edizem as reivindicações dos estudantesnão são possíveis, que não há dinheirono Chile para isto. Então os estudantestêm exigido a reestatização do cobrepara se possa obter os recursos ne-cessários para uma educação pública,gratuita e de qualidade.

Isso terminou por atingir todos osapologistas do capitalismo neoliberal,já que aponta diretamente para ocoração do sistema capitalista e atacaseus interesses e os do imperialismoe de um modelo que converte emmercadoria as necessidades maisbásicas dos trabalhadores, tirando omáximo de lucro para seus bolsos econtas bancárias.

O governo apostou narepressão e no desgaste

do movimento

No ano de 2006 (sob o governode Bachelet, da Concertación) houveuma enorme luta dos estudantes se-cundaristas, que exigiam pratica-mente as mesmas demandas quehoje os universitários levantam efoi o primeiro aviso da tormentaque se avizinhava na educação.

O governo da Concertación e adireita que hoje está no governo con-seguiram desencaminhar esse mo-vimento com todo tipo de promessasque seriam solucionadas com morosasleis no Parlamento, algo que nuncalevaram a cabo e, como palhaços,acabaram culpando-se uns aos outros,como estão fazendo agora.

Como em 2006, o governo de Pi-ñera e os empresários que o acom-panham nos ministérios apostaramno desgaste do movimento. Mas destavez os estudantes aprenderam a liçãode 2006 e não pensam em diminuir amobilização sem obter um acordoconcreto com o governo e não reco-nhecem nenhuma representatividadeaos deputados e senadores.

Como alternativa, os jovens le-vantaram a necessidade de realizarum plebiscito e que seja o povoquem decida o que fazer com a edu-cação. Além disso, estão exigindouma Assembleia Constituinte parasubstituir a atual constituição pino-chetista. A segunda proposta temmaior apoio entre os estudantes,porque um importante setor não vêno plebiscito uma solução para oconflito.

Junto com as supostas negociações,

o governo lançou mão de uma brutalrepressão. A polícia militar chilena(forças especiais) foi levada massi-vamente para as ruas para combateros estudantes. Arrancam os estu-dantes das faculdades e liceus ocu-pados, atacam-nos com carros lan-ça-águas e com gases lacrimogêneosem grandes quantidades para impedirsuas marchas. Chegaram até a as-sassinar (na noite de 25 de agosto)um jovem secundarista de 16 anos,Manuel Gutiérrez Reinoso, que em-purrava a cadeira de rodas de seuirmão inválido, na comuna de Maculem Santiago.

Mas, a brutal repressão obteve oefeito contrário do esperado pelo go-verno. Os estudantes elevaram o nívelde sua luta e não sentem temor algumde enfrentar as forças repressivas dogoverno de Sebastián Piñera.

O terror da ditadura nãosurte efeito entre os

jovens

É importante lembrar que os jovensestudantes que hoje se mobilizamnas ruas têm em média pouco maisde 20 anos. Para eles a ditadura éparte da história e não tem em menteo medo da repressão que as geraçõespassadas tinham e menos ainda surteefeito sobre eles as ameaças veladase abertas que usa o presidente Piñera,que declarou que devemos relembrar“no que terminou antes a divisãoem nosso país”, em clara alusão aogolpe de Estado de 1973.

Estas mesmas ameaças já foramusadas antes pela Concertación parafrear os trabalhadores quando estesse mobilizavam.

Hoje, com essas corajosas mobi-lizações estudantis, se põe fim à pazdos cemitérios e à chantagem dosempresários sobre a necessidade depaz social.

O chamado à greve geral de24 e 25 de agosto da CUT

Em 24 e 25 de agosto, havia umchamado da CUT por uma grevegeral de dois dias. Mas, nestes doisdias não tivemos uma paralisaçãogeral propriamente dita. O que tive-mos foi um enorme protesto emnível nacional, onde a maioria dos

manifestantes era formada por jovensestudantes.

Isto se explica primeiro porque aCUT agrupa fundamentalmente ostrabalhadores do Estado, os traba-lhadores dos ministérios. Os traba-lhadores da saúde e os professoresconstituem sua coluna vertebral, masa CUT não organiza a maioria dostrabalhadores do setor privado. Umarazão ainda mais importante é abaixa sindicalização dos trabalha-dores chilenos, dadas as leis traba-lhistas repressivas da ditadura queainda possuem validade.

Mas outro problema central é aautoridade quase nula que tem a di-reção da CUT, encabeçada por ArturoMartinez, que, como a maioria dasinstituições conta com baixo apoioentre os trabalhadores que a veemcomo algo alheio a eles.

Mas isso não significa que as de-mandas da CUT não tenham apoioentre os trabalhadores. Muitos deles,apesar de todos os inconvenientes,foram a seus locais de trabalho e,quando entrevistados pela TV e rá-dios, diziam que apoiavam o cha-mado para a mobilização, mas queeles não podiam faltar a seu trabalho,porque seriam despedidos e, dado oalto nível de endividamento com ocomércio e bancos, isso seria algograve para eles e suas famílias.

É preciso organizar umagreve geral seriamente

A direção da CUT faz todos osanos um chamado à greve geral,mas depois não faz nada de concretopara organizar e construir uma mo-bilização deste tipo. A raiva contrao sistema é algo real, mas para queos trabalhadores façam parte de umagreve com estas características, de-vem sentir que o chamado é sério ever os dirigentes se jogando de ver-dade na mobilização.

Para organizar uma greve geralsão exigidos vários passos anteriorese não basta um simples chamado emarcar uma data. É preciso que ostrabalhadores criem comitês pró-greve nos locais de trabalho cujaprincipal tarefa deve ser convencera maioria dos trabalhadores da ne-cessidade dessa ação, realizando as-sembleias de base e um trabalho

permanente que responda às ameaçasdos patrões e do governo de turno.

Junto com isso também é precisoorganizar os comitês pró-greve nasuniversidades e liceus e, dado obaixo nível de sindicalização queexiste entre os trabalhadores, deve-se organizá-los nos bairros onde vi-vem. Não devemos esquecer quecada trabalhador é um morador deum bairro.

Depois vem a coordenação em nívellocal, regional e nacional. É precisocriar Assembleias locais que coorde-nem os comitês pró-greve dos traba-lhadores, de estudantes e moradores.As organizações locais são as maisefetivas, isso foi demonstrado histo-ricamente quando os trabalhadoresconstruíram os Cordones Industrialespara defender da maneira mais efetivaos seus interesses. A coordenaçãotambém deve ser reproduzida emnível regional e nacional.

Precisamos construir uma alter-nativa política dos trabalhadores

Dado o papel nefasto que jogamtodos os partidos tradicionais, não de-vemos esquecer que eles são parte dosistema. Governo e Concertación hojenão passam de dois lados da mesmamoeda, ambos defendem o atual sis-tema e são os que implementaram ese beneficiaram do atual sistema edu-cacional que permite o lucro.

Lamentavelmente, o Partido Co-munista (PC), que poderia ter jogadoum papel diferente, só se interessaem ser parte do atual sistema. Elespossuem os principais dirigentes doColégio de Professores e da Fede-ração de Estudantes da Universidadde Chile (Fech) e da Confech. Masem vez de impulsionar o movimento,dedicaram-se a negociar com o go-verno de Piñera e tentar frear aslutas estudantis.

Eles acusam de ultra-esquerdistaso resto dos dirigentes que se opõema suas políticas e se esforçaram portirar as demandas mais anti-sistema,como é o caso da reivindicação dereestatização do cobre e a necessidadede uma Assembleia Constituinte.Eles querem mostrar-se frente aogoverno e à Concertación como umpartido “respeitável” e “confiável”ao sistema.

Nada se pode esperar dos partidosque integram a Concertación e tam-bém do PC. Só nos resta a urgentetarefa de construir uma nova alter-nativa política dos trabalhadores, queesteja disposta a romper com o sis-tema e defender os interesses dostrabalhadores e dos jovens estudantesque hoje estão lutando contra o lucro,a desigualdade e as injustiças.

O Comitê por Umainternacional dos

Trabalhadores é umaorganização socialista compresença em mais de 40

países, em todos oscontinentes. A LSR é aseção brasileira do CIT.Visites os sites do CIT:www.socialistworld.net

www.mundosocialista.net

internacional • 11Ofensiva Socialista n° 07 setembro/outubro - 2011

Chile: as mobilizações colocaramde joelhos o governo de Piñera

Um tema central nas mobilizações dos estudantes chilenos é aprivatização do ensino no país.

Page 12: Ofensiva Socialista n°07 setembro/outubro 2011

N° 07 setembro/outubro 2011

Preço: R$1,50 • Solidário: R$3,00 Acesso o nosso site:

www.lsr-cit.orge-mail: [email protected]

telefone: (11) 3104-1152

Num ano em que foi anunciadoo novo Plano Nacional deEducação (PNE 2011-2020) oBrasil ainda está às voltas comhistóricos problemas que afe-tam a nossa educação, como afalta de qualidade de ensino, aevasão escolar e o analfabetis-mo. Quando o assunto é quali-dade, o Brasil amarga uma ver-gonhosa posição entre 128 paí-ses, ficando em 88º lugar deacordo com o Índice deDesenvolvimento de Educaçãopara Todos – relatório da UNES-CO 2010.

Dimitri SilveiraProfessor de geografia na rede

municipal de São Paulo

Na América do Sul estamos empenúltimo lugar, melhores apenasque o Suriname! A evasão é outrograve problema. De acordo comMoacir Gadotti, do Instituto PauloFreire, de cada 100 crianças matri-culadas na 1ª série do ensino funda-mental, apenas 51 o completam; 33completam o ensino médio e apenas11 completam o ensino superior.Por fim, o analfabetismo ainda éum fantasma que assombra 9,8%da população brasileira acima de 15anos de idade, o que significa maisde 14 milhões de analfabetos emnosso país.

Como se não bastassem esses pro-blemas, a violência e o tráfico dedrogas dentro das escolas tambémcompõem a triste realidade do ensinobrasileiro, deixando professores ealunos largados à própria sorte.

Com problemas tão gritantes, osgovernos não podem mais ignorá-los e começaram então a buscar osculpados por essa situação. Os pro-fessores e diretores de escola passa-

ram a ser acusados pelo discursooficial como sendo os grandes vilõesda educação, pois não teriam com-petência para lecionar e seriam ine-ficazes na gestão escolar.

Os professores e diretores de escolasão antes de tudo vítimas e não cul-pados pelo buraco no qual se encontraa educação brasileira. As políticaseducacionais implementadas por go-vernos federais, estaduais e munici-pais ao longo de anos são as causasdas mazelas educacionais. É o casoda promoção automática dos alunos,da adoção de “novas” pedagogias,das avaliações externas e examescentralizados, do incentivo ao vo-luntariado (Amigos da Escola) juntocom as parecerias com o setor pri-vado, da não valorização dos pro-fessores com salários dignos e umasérie de outras aberrações.

É importante notar que em mo-mento algum as autoridades ligadasao ministério da educação e às se-cretarias de educação de estados emunicípios lutaram por mais inves-timento no sistema educacional pú-blico.

FHC e Lula vetaram 7%

Em 2001, o Congresso Nacionalaprovou o aumento para 7% do PIBaté 2010, mas FHC vetou essa me-dida. Durante a campanha eleitoralde 2002, Lula assumiu o compro-misso de derrubar este veto. Passa-ram-se dois mandatos e nada.

Novamente, em virtude da neces-sidade de aprovar um novo PlanoNacional de Educação (PNE), o go-verno Dilma apresenta a mesma pro-posta de elevar, num prazo de 10anos, os investimentos em educaçãopara 7% do PIB.

Essa proposta, além de ter umatraso histórico de 20 anos, passa

por cima da deliberação da Confe-rência Nacional de Educação (CO-NAE), convocada pelo próprio Go-verno Federal, realizada no ano pas-sado, em que foi aprovado o mínimode 10% do PIB para educação até ofinal da década. O que nós exigimos,é que esses 10% do PIB sejam in-vestidos de forma imediata.

O percentual de apenas 7% é in-suficiente para resolver os problemaseducacionais. Hoje o Brasil investesomente entre 4 e 5%.

Plebiscito popular

Ainda que a proposta do governofederal seja aumentar para 7% em10 anos, não podemos esquecer quea crise econômica mundial está sendoutilizada como desculpa por governosde vários países para congelar e atémesmo cortar gastos nas áreas so-ciais. Isso já aconteceu no iníciodeste ano aqui no Brasil, quando apresidenta Dilma Rousseff cortougastos com a educação.

Por isso diversas entidades estãoorganizando uma campanha nacionalcom a realização de um plebiscitoque exige o investimento imediatode 10% do PIB em educação. Mo-vimentos sociais como a CSP-Con-

lutas, o MST e MTST, o movimentoestudantil representado por DCEs eCentros Acadêmicos de diversas uni-versidades e sindicatos ligados àeducação (ANDES –Sindicato Na-cional) já estão se preparando paraessa campanha. É necessário orga-nizarmos o plebiscito nos bairros enas escolas com a participação detodos – alunos, pais, professores,quadro de apoio e a comunidade.

Quando professores fazem grevee alunos lutam por melhores condi-ções de aprendizagem ouve-se dosgovernantes a mesma ladainha desempre: “não temos recursos paraatender às suas reivindicações”. Po-rém, os fatos mostram que isso émentira e revelam uma contradição:tem dinheiro para a Copa do Mundo,Olimpíadas, construção da usina deBelo Monte, transposição do rio SãoFrancisco, aumento de salário dosparlamentares, mas não tem dinheiropara a Educação?

Governo priorizapagamento a banqueiros

Além dessa contradição, um dosmaiores problemas quando se falaem dinheiro no Brasil chama-se dí-vida pública, um ralo por onde so-

mem bilhões de reais todos os anos.Entre 2000 e 2007 o Estado brasileirogastou 1,267 trilhões de reais como pagamento de juros dessa dívida(dados do IPEA). No mesmo período,o governo federal destinou somente149 bilhões de reais para a educação,de acordo com o economista OdilonGuedes (Corecon/SP). Só no anopassado, a dívida consumiu 49% donosso orçamento, enquanto a edu-cação ficou com apenas 2,9%.

Quem são os credores dessa dívidapública? Grandes empresários e es-peculadores, banqueiros, governosde outros países, etc, isto é, são pes-soas que definitivamente não ne-cessitam da escola pública. Por issodefendemos o não pagamento dadívida para que esses recursos sejaminvestidos nas áreas sociais, comoo ensino público.

Numa histórica luta em defesa daeducação os estudantes chilenosestão mostrando o caminho a serpercorrido. Vamos segui-los?

Por 10% do PIB para a educação já!

O desenvolvimento econômicoe a expansão da economia nadécada de 70 resultou numamaior participação das mulhe-res no mercado de trabalho.Foi neste contexto que surgiuo movimento de luta por cre-ches no Brasil.

Kátia SalesColetivo Estadual de Mulheres

do PSOL SP e Executiva doMovimento Mulheres em Luta

A LDB de 1996 considerou a edu-cação infantil (0 a 5 anos) um deverdo Estado e um direito da criança.Com os escassos recursos destinadosà educação fundamental, os muni-cípios acabam não priorizando aeducação infantil.

Enquanto a demanda por crechescontinua alta, o acesso fica restrito apoucos, sujeitos a critérios definidospelas próprias unidades de ensino in-

fantil, onde a lista pode superar doisanos de espera e ainda se exige que amãe esteja trabalhando. Ora, se nãotem creche, não tem como a mãe tra-balhar e se a mãe não esta trabalhandofora, não tem creche. Mais uma vez,o Estado como reprodutor da culturamachista joga para as mulheres aresponsabilidade de cuidar e manterseus filhos na escola.

10 milhões de criançassem acesso à creche

Segundo o Ipea/Dieese o percen-tual de crianças de 0 a 3 anos ma-triculadas na educação infantil é de18,4% enquanto a meta do PNE-2001-2010 previa 50% no final desta

década. Estima-se que cerca de 10milhões de crianças nesta idadeestão sem acesso a creche.

As mães são obrigadas a deixarseus filhos sob os cuidados de terceiros,avós, irmãos mais velhos, ou mulheresdesempregadas das comunidades ondemoram que “olham” os filhos da vi-zinha por uma média de R$ 200 reaispor mês sem contar a alimentação,produtos de higiene, e infra estruturaadequada. Mas este valor só é possívelquando a mulher recebe mais de R$600, o que significa um grande apertoem seu orçamento.

Em 2010, o Proinfancia, programado governo federal para a construçãode creches e uma das principais ban-deiras de campanha de Dilma, não

conseguiu cumprir a meta de 800 uni-dades previstas pelo FNDE, pois apenas628 unidades foram autorizadas. Mas,pior ainda foi a constatação (site UOLem 09/09/2010) que das 2.003 crechese pré escolas com verbas liberadasnos anos de 2007, 2008 e 2009, apenas39 unidades foram construídas.

ADI são Educadoras, não “tias”

O descaso com a educação infantilé tamanho que as profissionais quetrabalham com as crianças não sãoreconhecidas com o cargo de pro-fessor, mas como ADIs (Assistentede Desenvolvimento Infantil). Porémeste tratamento não se justifica e o

reconhecimento profissional tem quefazer jus à isonomia do cargo/empregoe salário previstos no Art .39, pará-grafo 1 da Constituição Federal.

Desta forma se faz necessária acombinação da luta por creches,entre trabalhadoras e usuárias, coma luta pelos 10% do PIB para aeducação, para que estes recursospossam ser também revertidos paraa construção de mais creches e queas trabalhadoras possam recebercomo Educadoras e não mais como“tias”. Só conseguiremos fazer valeras leis se houver pressão e organi-zação popular cobrando o seu cum-primento. Lei é lei e vida é vida, epara nós mulheres a vida não temsido nada fácil.

A luta das mulheres é a luta daclasse trabalhadora!

Dados da Cartilha Nacional porCreches – Resoluções do SeminárioNacional de Creches – MML CSP-Conlutas Central Sindical e Popular

A luta por creches

É necessário uma inversão das prioridades. Hoje os recursos vãopara os bancos especuladores, não para a educação.