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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA RICARDO SANTOS DE OLIVEIRA ACIDENTES NUCLEARES: estratégia de defesa Rio de Janeiro 2011

OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

RICARDO SANTOS DE OLIVEIRA

ACIDENTES NUCLEARES:

estratégia de defesa

Rio de Janeiro 2011

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RICARDO SANTOS DE OLIVEIRA

ACIDENTES NUCLEARES:

estratégia de defesa Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel Eng Aer R/1 Carlos Alberto

Gonçalves de Araujo.

Rio de Janeiro 2011

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C2011 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________

Ricardo Santos de Oliveira Cel Med Aer

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Oliveira, Ricardo Santos de

Acidentes Nucleares: estratégia de defesa / Coronel Médico da Aeronáutica Ricardo Santos de Oliveira - Rio de Janeiro: ESG, 2011.

68 f.: il.

Orientador: Cel Eng Aer R/1 Carlos Alberto Gonçalves de Araujo Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.

1. Acidentes Nucleares. 2. Estratégia de defesa. 3. Prevenção de Acidentes. 4. Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto. I.Título.

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A todos

que durante o meu período de curso contribuíram com

ensinamentos e incentivos.

À minha mulher Carla e aos meus filhos

Thadeu, Matheus e Carolina pela compreensão, como resposta

aos momentos de minhas ausências, em dedicação às

atividades da ESG.

Ao meu pai e à minha mãe

pelo constante apoio em todas as horas.

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AGRADECIMENTO

Aos estagiários da melhor Turma

Segurança e Desenvolvimento pelo convívio

harmonioso de todas as horas.

Ao Corpo Permanente da ESG pelos

ensinamentos e orientações que me fizeram refletir,

cada vez mais, sobre a importância de se estudar o

Brasil com a responsabilidade implícita de ter que

melhorar.

A Marcos Antonio de Oliveira, o querido

“GEÓLOGO MARCOS“, a constante orientação e

força nos assuntos sobre Energia Nuclear.

Page 6: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

“O medo é a forma mais eficaz de

controle social: sociedades amedrontadas reagem como manadas, se deixando levar pelo primeiro grito de alerta. Em nome da

redução de uma ameaça superestimada lideranças podem agir livremente em busca

de outros objetivos, alheios à redução da própria ameaça”

Leonam dos Santos Guimarães

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RESUMO

Esta monografia aborda um assunto de extrema importância para o nosso país em

decorrência da presença da Energia Nuclear como componente da nossa matriz

energética. Analisará a política atual de prevenção de acidentes nucleares da

Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto em Angra dos Reis, seus Sistemas

Redundantes de Segurança que protejam não só o meio ambiente como também a

saúde e a integridade física dos seus funcionários e da população do seu entorno. O

recente acidente afetando as 6 usinas em Fukushima Dai-ichi, no Japão, mostra que

nem sempre os que se imaginavam mais preparados para esse tipo de catástrofe

conseguem dimensionar os possíveis estragos. No Brasil, a estrutura responsável

pelas questões de segurança das atividades nucleares foi denominada “Sistema de

Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro” – SIPRON, abrangendo, entre outros, a

Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEM, a Eletronuclear, a Defesa Civil, o

Ministério da Defesa (MD) e a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Após breve

revisão da utilização da energia nuclear em escala mundial, nossa preocupação

recairá sobre a estratégia de defesa da CNAAA. Quanto à temporalidade, todas as

fontes de pesquisa disponíveis foram utilizadas e quanto ao espaço, falou-se sobre

os principais acidentes nucleares ocorridos no mundo desde Three Miles Island, em

1979, nos EUA, até o terremoto seguido de tsunami no Japão, em março de 2011. A

metodologia adotada comportou uma pesquisa bibliográfica e documental, a partir de

levantamento dos dados clínicos, biológicos e dosimétricos de populações

envolvidas nesse tipo de evento. O referencial teórico da pesquisa foi o Decreto nº

2.210, de 22 de abril de 1997 que instituiu o Sistema de Proteção ao Programa

Nuclear Brasileiro.

Palavras chave: Acidentes Nucleares. Estratégia de Defesa. Prevenção de

Acidentes. Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto.

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ABSTRACT

This monograph borders on an issue of utmost importance to our country due to the

contribution of nuclear energy as a component of our energy matrix. It analyzed the

current policy of prevention of nuclear accidents by Almirante Álvaro Alberto Nuclear

Centre in Angra dos Reis, its redundant safety systems that protect not only the

environment but also the health and physical integrity of its workers and the

neighboring population to the Plants. The recent accident affecting the six plants in

Fukushima Dai-ichi in Japan shows that not always do those who appear more

prepared for this type of disaster, assess correctly what will happen and how to react

effectively in the resolution of the problem. In the event of a nuclear accident, the

country must be prepared to carry out certain actions and practices in order to

minimize possible negative consequences. In Brazil, the structure responsible for the

safety and security of nuclear activities is called "System for the Protection of

Brazilian Nuclear Program" – SIPRON, which include, among others, the National

Commission for Nuclear Energy – CNEMA – Electronuclear, Civil Defense, Ministry of

Defence – MD – and the Brazilian Intelligence Agency – ABIN. As accidents can

occur in all countries that use nuclear energy, after a brief review of their distribution

worldwide, our concern will be on defense strategy of the CNAAA. Timeframe will be

a valid research source with any publication or information age. As for space, it shall

be a valid review of studies of past accidents such as the Three Mile Island in the

USA in 1979, Chernobyl in the former USSR in 1986 and Cesium-137 in Goiania-

GO, in 1987 – the latter being a radiological accident – as well as the earthquake and

tsunami in Japan in March 2011. The methodology involved review of literature and

documents aimed at obtaining theoretical basis, collecting clinical, biological and

dosimetric data from populations involved in this type of event and analyzing the data

obtained.

Keywords: Nuclear Accidents. Defense Strategy. Accident Prevention. Central

Nuclear Almirante Álvaro Alberto.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Reator PWR .....................................................................................21 FIGURA 2 Reator BWR .....................................................................................22 FIGURA 3 Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES) .......................23 FIGURA 4 Three Mile Island ..............................................................................24 FIGURA 5 Chernobyl atualmente ......................................................................27 FIGURA 6 Imagem de Satélite de Chernobyl da área atingida pelo acidente ...27 FIGURA 7 Avanço da radiação após o acidente ...............................................33 FIGURA 8 Vila abandonada nos arredores do acidente ....................................33 FIGURA 9 Sarcófago de Chernobyl ..................................................................34 FIGURA 10 Momento que o Tsunami atinge Fukushima .....................................37 FIGURA 11 A Usina totalmente alagada .............................................................38 FIGURA 12 Um mês após o acidente, estragos na Unidade 4 ............................39 FIGURA 13 Angra 1 ............................................................................................44 FIGURA 14 Angra 2 ............................................................................................45 FIGURA 15 Local de construção de Angra 3 .......................................................46

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Tipos de Usinas Nucleares ....................................................................... 17

Page 11: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIN Agência Brasileira de Inteligência

AFEN Associação dos Físicos de Radioproteção e Segurança Nuclear

AIEA Associação Internacional de Energia Atômica

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CMRI Centro Médico de Radiações Ionizantes

CNAAA Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto

CNEM Comissão Nacional de Energia Nuclear

ENV Evento Não Usual

FUSAR Fundação de Saúde de Angra

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

INB Indústrias Nucleares do Brasil

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica

MD Ministério da Defesa

NOS Operador Nacional do Sistema Elétrico

PEL Plano de Emergência Local

SAPÊ Sociedade Angrense de Proteção Ecológica

SBF Sociedade Brasileira de Física

SIPRON Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro

TCU Tribunal de Contas da União

TEPCO Tokio Eletric Power Company

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12 2 HISTÓRICO DA ATIVIDADE NUCLEAR ..................................................... 15 2.1 ENERGIA ATÔMICA ..................................................................................... 15 2.2 A GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR ........................................................ 16 2.3 DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DAS USINAS ..................................................... 17 2.4 APLICAÇÃO NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ............................... 18 2.5 TIPOS DE REATORES................................................................................. 19 2.6 REVISÃO DOS PRINCIPAIS ACIDENTES NUCLEARES ............................ 22 2.6.1 Three Miles Island ....................................................................................... 24 2.6.2 Chernobyl .................................................................................................... 25 2.6.3 Goiânia – Césio 137 .................................................................................... 35 2.6.4 Fukushima ................................................................................................... 36 3 REPERCUSSÕES AMBIENTAIS E DE SAÚDE NOS ACIDENTES NUCLEARES ............................................................................................... 41 3.1 REPERCUSSÕES AMBIENTAIS .................................................................. 41 3.2 REPERCUSSÕES DE SAÚDE..................................................................... 42 4 O COMPLEXO NUCLEAR BRASLEIRO ..................................................... 44 4.1 AS USINAS .................................................................................................. 44 4.2 PLANO DE DEFESA DE ACIDENTES ......................................................... 48 4.2.1 Exercício geral do plano de emergência .................................................. 52 5 CONCLUSÃO............................................................................................... 54 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 56 ANEXO A – MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR MUNDIAL ....................... 58 ANEXO B – EFEITOS DA RADIAÇÃO NO ORGANISMO HUMANO ........ 59 ANEXO C – SISTEMA DE PROTEÇÃO AO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO – SIPRON ......................................................... 64

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1 INTRODUÇÃO

A descoberta da energia atômica em nosso século deveria ter sido uma

bênção para a humanidade. E teria sido realmente, se ela tivesse se desenvolvido

até aqui de maneira certa.

Como não foi esse o caso, é claro que a descoberta dessa energia foi

dirigida para caminhos errados. Daí nasceu a bomba atômica e os

"aperfeiçoamentos" que se seguiram, como a bomba de hidrogênio, as armas

nucleares táticas, os mísseis balísticos intercontinentais de ogivas múltiplas, a

bomba de nêutrons, os mísseis lançados de submarinos, o projeto guerra nas

estrelas, a bomba termonuclear de cobalto (aparentemente ainda não desenvolvida),

que alguns cientistas temem poder deslocar o eixo da Terra se detonada, entre

outros.

Voltada para "fins pacíficos", como fazem questão de alardear todos os

governos que detêm tecnologia nuclear, a energia atômica obtida das usinas

nucleares é muito importante no mundo moderno. Os problemas com os rejeitos

radioativos registrados até agora, demonstram que muitos cuidados devem ser

considerados para que se evitem incidentes ou acidentes de vulto.

Os tipos de acidentes que ocorrem nas instalações nucleares podem ser

radiológicos ou radioativos, e possuem como principais características:

Gerar campos com intensa radiação não direcional;

Liberação não controlada de material radioativo em grandes quantidades;

Contaminação do meio ambiente e/ou de seres humanos, causando

sérios danos à saúde, inclusive a morte.

CLASSIFICAÇÃO DE ACIDENTES ENVOLVENDO SERES HUMANOS

IRRADIAÇÃO EXTERNA (RADIOEXPOSIÇÃO)

corpo inteiro;

parcial do corpo; e

localizada.

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CONTAMINAÇÃO (RADIOCONTAMINAÇÃO)

externa (superfície); e

interna (inalação/ingestão/injeção/absorção de pele ou ferimentos).

COMBINADOS (MISTOS)

Após um período de intenso desenvolvimento em escala internacional, a

geração de energia elétrica a partir de fonte nuclear atravessou uma fase de baixo

crescimento, em decorrência, principalmente, de (três) acidentes com usinas

nucleares: Three Mile Island (EUA, 1979), Chernobyl (Ucrânia, 1986) e mais

recentremente o de Fukushima Daí-ichi (Japão, 2011).

Entretanto, as alterações climáticas do planeta, devido à emissão de gases

causadores do efeito estufa produzidos, entre outros, pela operação de usinas

termelétricas; a previsão de escassez de petróleo e a contínua elevação do seus

preços; a necessidade de garantia de abastecimento de combustíveis; as instabilidades

geopolíticas internacionais, e a necessidade de diversificação da matriz energética e de

redução de fontes externas de abastecimento vêm motivando a reconsideração, em

vários países, da viabilidade de incremento da utilização da energia nuclear.

No caso das usinas nucleares, seus defensores argumentam que a usina

nuclear produz energia elétrica “limpa”. Ou seja, não lança na atmosfera substâncias

como o gás carbônico, que produzem o efeito estufa e provoca o aquecimento

global, além de não ocupar grandes áreas para gerar energia com as hidrelétricas.

Os críticos às usinas nucleares dizem que este processo de geração de

energia elétrica é caro, perigoso e ultrapassado.

Salientam que os rejeitos se constituem num problema caro, perigoso e sem

solução, pois o custo de segurança não justifica o seu investimento, e ainda será

deixado como herança para as gerações futuras.

Em comparação com as usinas hidrelétricas, as nucleares são mais onerosa

devido aos investimentos em segurança, sistemas de emergência, armazenamento

de resíduos radioativos, bem como o seu descomissionamento, isto é, a

desmontagem definitiva e descontaminação das instalações quando atingirem o

limite de suas vidas úteis. Mesmo considerando que as hidrelétricas demandam uma

série de impactos sociais e ambientais com a inundação de grandes áreas e o

deslocamento de populações.

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Entretanto, o problema em questão é verificar se em caso de um acidente

nuclear na CNAAA, as medidas previstas nos Sistemas Redundantes de Segurança

serão eficientes para reduzir possíveis danos.

Portanto, o objetivo geral desta monografia é analisar a estratégia de defesa

e a eficiência dos Sistemas Redundantes de Segurança da CNAAA que impeçam a

liberação de radiação para o meio ambiente e protejam a saúde e integridade física

de seus funcionários ou residem no seu entorno.

Para o desenvolvimento do trabalho serão utilizadas duas questões

norteadoras, que são:

Será que no nosso país pode ocorrer um acidente nuclear nas proporções

do ocorrido em Fukushima Daí-ichi, no Japão?

No caso de um acidente nuclear na CNAAA, os Sistemas Redundantes de

Segurança serão suficientes para evitar grandes danos como em Fukushima Daí-

ichi, no Japão?

Inicialmente, será feito um histórico da atividade nuclear, como funcionam e

qual a distribuição mundial das Usinas Nucleares, descrevendo os tipos de reatores

mais utilizados. Na seqüência, abordaremos também os principais acidentes

nucleares acontecidos ao longo da História.

Posteriormente, trataremos das repercussões para a Saúde e para o Meio

Ambiente, nos casos de exposição nuclear.

A seguir, será tratada a estratégia de defesa de uma forma geral, com

destaque para o acidente em Fukushima Daí-ichi e como está a ação da Secretaria

Nacional de Defesa Civil em articulação com as defesas civis estadual e municipal

em relação à CNAAA.

Falaremos também sobre o SIPRON e finalmente serão analisadas as

questões norteadoras bem como as conclusões fruto do trabalho de pesquisa.

A análise do plano de emergência permite avaliar a sua eficácia e identificar

os pontos onde podemos contribuir para sua melhora. Predominou a pesquisa

qualitativa quanto à natureza e exploratória quanto ao objetivo geral.

Face ao tempo limitado foram utilizados dados estatísticos, de literatura

sobre o tema e dados da internet.

A identificação de um plano efetivo de segurança para a CNAAA e a procura

de aspectos relevantes que possam melhorar o que já está implantado, foi

perseguido todo o tempo na execução deste TCC.

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2 HISTÓRICO DA ATIVIDADE NUCLEAR

2.1 ENERGIA ATÔMICA

A história do uso da energia do átomo tem início em 1895 quando o alemão

Wilheim Konrad Roentgen (1845-1923) revela a existência dos raios X. O “x” no

caso foi a expressão adotada por ele para expressar sua ignorância (uma incógnita,

portanto) quanto ao que era essa energia invisível capaz de atravessar o corpo

humano e revelar os ossos.

Três anos depois o inglês Joseph-John Thomson (1856-1940) percebeu que

a energia elétrica se propaga graças a transmissão de partículas que ele batizou de

elétrons.

Em 1907 a teoria da relatividade, esboçada por Albert Einstein dois anos

antes, ganha uma formulação matemática mais eficiente, feita pelo alemão Hermann

Minkowski. Desta forma fica mais fácil analisar teoricamente o que acontece nas

dimensões atômicas e cósmicas.

Ernest Rutherford, neozeolandes nascido em 1871, e o dinamarquês Niels

Bohr (1885-1962), estabelecem um modelo para o átomo: com um núcleo e elétrons

girando à sua volta. Este modelo sofreria alterações, com a descoberta, no futuro, de

novas partículas.

Em 1927 as convicções sobre o átomo são abaladas e geram uma

suspeição sobre todas as experiências feitas com ele. O alemão Werner Carl

Heinsenberg (1901-1976) define o Princípio da incerteza. Ele diz que não é possível

medir com exatidão, ao mesmo tempo, a velocidade e a posição dos átomos – os

valores se alteram quando submetidos à medição.

Somente em 1934 o italiano Enrico Fermi (1901-1954) descobre a existência

de uma força nuclear. O japonês Hideki Yukawa (1907-1981) descobre que existe

uma força nuclear que gruda as partículas subatômicas.

Quatro anos depois os físico-químicos alemães Otto Hahn (1879-1968) e

Lise Meitner (1876-1968) realizam a fissão do núcleo do urânio, abrindo a

possibilidade de geração de energia atômica.

O mundo conheceu o poder destruidor da energia atômica em 1945, quando

os Estados Unidos lançaram duas bombas sobre as cidades japonesas de

Hiroshima e Nagasaki. A segunda guerra já estava ganha pelos aliados, mas era

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preciso testar o novo artefato. E isso foi feito pelos norte-americanos, matando mais

de 150 mil civis. O grupo que levou os Estados Unidos à bomba e daí ao massacre

da população japonesa foi liderado pelo físico Robert Oppenheimer, e tinha Enrico

Fermi e outros cientistas, entre os seus colaboradores.

2.2 A GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR

A energia elétrica é obtida de fonte nuclear a partir do calor da reação do

combustível (urânio) utilizando o princípio básico de funcionamento de uma usina

térmica convencional: a queima do combustível produz calor, esse ferve a água de

uma caldeira transformando-a em vapor.

O vapor movimenta uma turbina que, por sua vez, dá partida a um gerador

que produz a eletricidade.

O combustível “queimado” no caso é a energia de coesão dos prótons no

núcleo. Para entender como isso ocorre, é preciso conhecer um pouco os átomos.

No urânio presente na natureza são encontrados átomos que têm em seu

núcleo 92 prótons e 143 nêutrons (cuja soma dá 235); átomos com 92 prótons e 142

nêutrons (234); e outros ainda, com 92 prótons e 146 nêutrons (238). Como os

prótons e elétrons são em número igual (92), podemos dizer que esses átomos são

quimicamente iguais e os chamaremos de isótopos (“iso”= iguais) do mesmo

elemento, isto é, do urânio.

Para diferenciá-los, usa-se o símbolo químico do elemento e um número, de

acordo com seu peso atômico: Isótopo U-234, Isótopo U-235 e Isótopo U-238.

O choque de um nêutron livre com o isótopo U-235 causa a divisão do

núcleo desse isótopo em duas partes - dois outros átomos - e ocasiona uma

liberação relativamente alta de energia. Dá-se a esse fenômeno o nome de fissão

nuclear.

A fissão nuclear ocasiona a transformação da matéria em energia, através

da divisão do isótopo U-235.

Por que o U-235 e não o U-234 ou o U-238?

Quando a fissão do isótopo U-235 ocorre o núcleo divide-se em duas partes

formando dois elementos novos, e dele se desprendem 2 ou 3 nêutrons que, por seu

turno, podem chocar-se com outro núcleo de U-235 acarretando nova fissão, novos

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elementos são formados, provocando uma seqüência de fissões denominada reação

nuclear em cadeia.

Somente o U-235 na natureza tem a propriedade de se fissionar e portanto,

sustentar uma reação em cadeia.

O aproveitamento e o controle dessa energia liberada são feitos dentro de

reatores nucleares que, nas usinas nucleares, fazem o mesmo papel que a caldeira

desempenha nas usinas térmicas comuns.

A fim de otimizar as reações nucleares, costuma-se enriquecer o urânio

antes do seu uso nos reatores. Esta operação consiste simplesmente em aumentar

o teor do Isótopo U-235 (o único que se fissiona) na mistura de isótopos do urânio

natural (U-234, U-235 e U-238).

2.3 DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DAS USINAS

As usinas nucleares participam em torno de 16% do total da energia elétrica

produzida no mundo, embora correspondam apenas de 12% da capacidade elétrica

instalada. Isso indica que a maior parte das usinas nucleares opera com fatores de

utilização superiores aos das usinas elétricas convencionais. O quadro a seguir

mostra a matriz energética mundial.

Tabela 1: Participação mundial dos diversos tipos de Usinas (Nucleares)

TIPO DE USINA PARTICIPAÇÃO (%)

Carvão 40,1

Gás 19,4

Hidrelétricas 15,9

Nuclear 15,8

Óleo 6,9

Outros 1,9

TOTAL 100,0

Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA

Temos ainda no Anexo A o quadro contendo a participação da energia

nuclear na matriz energética dos países que a utilizam.

Page 19: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

18

2.4 APLICAÇÃO NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

A energia elétrica é essencial ao desenvolvimento sócio-econômico dos

países. É sinônimo de melhor qualidade de vida. A sua importância decorre

principalmente das seguintes razões:

É facilmente transportável. Pode ser produzida no local mais conveniente

e transmitida para consumidores distantes por uma simples rede de

condutores (fios);

É facilmente transformável em outras formas de energia. Exemplo: calor,

luz, movimento; e

É elemento fundamental para a ocorrência de muitos fenômenos físicos e

químicos que formam a base de operação de máquinas, equipamentos,

etc., dos tempos atuais. Exemplo: eletromagnetismo, efeito termiônico,

efeito semicondutor, fotovoltaico, oxidação e redução, etc.

Existem várias formas de se gerar energia elétrica. Mas, em se tratando de

geração comercial de energia elétrica, as opções ficam reduzidas à geração

termelétrica, hidroelétrica, solar e eólica.

A geração termelétrica é a mais largamente empregada no mundo.

Existem, basicamente, três formas de produção de energia elétrica por este

meio:

1ª) a queima de um combustível fóssil (carvão e derivados de petróleo)

diretamente em um motor produz movimento em uma turbina, daí

transmitido a um gerador que produz energia elétrica;

2ª) a queima do combustível (fóssil ou biomassa) aquece uma caldeira, o

vapor da caldeira aciona turbinas (a vapor) que, por sua vez, movem o

gerador de energia elétrica; e

3ª) a geração termonuclear, que deve ser entendida como uma termelétrica

a vapor, que usa um reator nuclear como fonte de calor para aquecer as

caldeiras.

Como em qualquer usina termoelétrica a vapor, nas usinas termonucleares,

o calor é usado para vaporizar água. O vapor é forçado a passar pelas pás de uma

Page 20: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

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turbina e a girá-la. Assim, a energia térmica é transformada em energia mecânica de

rotação. O eixo da turbina aciona um gerador, que transforma a energia mecânica

em energia elétrica.

O processo de geração de energia elétrica a partir da energia nuclear, então,

pode ser esquematizado em três passos:

No reator: transformação da energia nuclear em energia térmica, através

da reação nuclear em cadeia;

Na turbina: transformação da energia térmica em energia mecânica,

através da ação do vapor d’água aquecido; e

No gerador: transformação da energia mecânica em energia elétrica.

Na geração hidrelétrica a energia potencial de uma queda d’água é usada

para acionar turbinas que, por sua vez, acionam os geradores elétricos.

Na geração solar, em geral, a energia da radiação solar é convertida

diretamente em eletricidade com o uso de células fotovoltaicas. A potência obtida –

conforme a tecnologia atual - é baixa, e há necessidade de acumuladores (baterias)

para suprir picos de demanda e fornecer energia durante a noite. É empregada

principalmente para suprir pequenas unidades residenciais em zonas rurais distantes

das redes elétricas.

No método eólico, a força dos ventos aciona pás que giram geradores.

A viabilidade de sua implantação depende das características de vento na

região. Em alguns países sua participação vem aumentando, devido à possibilidade

de se obter quantidades razoáveis de energia sem impactos ambientais

significativos.

2.5 TIPOS DE REATORES

Existem muitas combinações de materiais e disposições possíveis para se

construir um reator nuclear operacional. Devido a isso, temos várias classificações

para os tipos de reatores:

a) quanto à finalidade:

reatores de pesquisa e desenvolvimento, destinados a pesquisa e não

objetivam a produção de energia elétrica. São úteis na produção de

radio-isótopos, utilizados em aplicações medicas, por exemplo;

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reatores de produção e reatores de potencia são usados para o

aproveitamento dos materiais férteis (U-238 e Th-232), a partir dos

quais são fabricados os elementos físseis. Existem poucos reatores

desse tipo. Podem ser facilmente adaptados para produção de

combustível nuclear para armas; e

reatores de potência são os utilizados para produção de energia

elétrica. Existem reatores fixos (os das centrais nucleares) e os móveis,

utilizados em navios e submarinos.

b) quanto à combinação moderador e refrigerante:

Existem diversas combinações possíveis de moderador e refrigerante,

destacando-se:

Moderador .................................................... Refrigerante

Água leve ...................................................... Água leve

Água pesada ................................................ Dióxido de carbono

Grafite ........................................................... Hélio

Berílio ........................................................... Sódio líquido

c) quanto ao combustível:

O urânio com teor de U-235 variando do urânio natural (0,7%) a levemente

enriquecido (3%) a altamente enriquecido (90%) é empregado em vários reatores,

com o enriquecimento dependendo do conjunto. Os nuclídeos físseis Pu-239 e U-

233 são produzidos e consumidos em reatores contendo quantidades significativas

de U-238 ou Th-232. O Pu-239 serve como combustível para reatores rápidos

regeneradores e podem ser reciclados como combustível para reatores térmicos. O

combustível pode ter várias apresentações físicas: metal ou liga, composto UO2.

d) quanto à disposição:

Pode-se isolar o combustível do refrigerante, formando a chamada

disposição heterogênea, que é a mais utilizada. Outras disposições são as

chamadas homogêneas, onde se tem a mistura de combustível e moderador ou

combustível e moderador-refrigerador.

Page 22: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

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e) quanto aos materiais estruturais:

As várias funções num reator são usadas para dar nome a certo tipo de

reator.

Alguns dos reatores de potencia mais utilizados são o PWR ou BWR.

O PWR – iniciais da expressão inglesa Pressurized Water Reactor (reator a

água pressurizada) foi desenvolvido inicialmente pela Westinghouse e utiliza água

leve pressurizada como moderador e arrefecedor, como pode ser visto na figura a

seguir. Os reatores instalados na CNAAA são desse modelo.

Figura 1: Reator PWR Fonte: GLASSTONE, Samuel (Bibliografia)

O BWR – iniciais da expressão inglesa Boiling Water Reactor (reator a água

fervente) desenvolvido pela General Eletric, utiliza água leve como moderador e

arrefecedor, e pode ser visto na figura a seguir.

Page 23: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

22

Figura 2: Reator BWR Fonte: GLASSTONE, Samuel (Bibliografia)

2.6 REVISÃO DOS PRINCIPAIS ACIDENTES NUCLEARES

Em alguns casos uma contaminação radioativa acontece, mas em muitos

casos o acidente envolve uma fonte selada ou a libertação de radioatividade é

pequena, enquanto a radiação direta é grande. Devido à confidencialidade do

governo e da indústria, nem sempre é possível determinar com certeza a freqüência

ou a extensão de alguns eventos no início da história da indústria nuclear. Nos dias

atuais, acidentes e incidentes que resultem em ferimentos, mortes ou séria

contaminação ambiental tendem a ser melhores documentados pela Agência

Internacional de Energia Atómica.

Devido à diferente natureza dos eventos, é melhor dividi-los em acidentes

“nucleares” e "de radiação”. Um exemplo de acidente nuclear pode ser aquele no

qual o núcleo do reator é danificado, tal como em Three Mile Island, enquanto um

acidente de radiação pode ser um evento de acidente de Medicina Nuclear, onde um

trabalhador derruba a fonte de radiação (a substância radioativa: o radionucleotídeo)

num rio. Estes acidentes de radiação, tais como aqueles envolvendo fontes de

radiação, como os radionucleotídeos usados para a elaboração de radiofármacos,

frequentemente têm tanta ou mais probabilidade de causar sérios danos aos

Page 24: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

23

trabalhadores e ao público quanto os bem conhecidos acidentes nucleares,

possivelmente porque dispositivos de Tomografia por emissão de positrões (PET), a

cintilografia e a radioterapia (braquiterapia), designadamente, estão presentes em

muitos dos hospitais e o público em geral desconhece seus riscos. Foi o caso, por

exemplo, do acidente radiológico em Goiânia, com o césio-137.

Acidentes de radiação são mais comuns que acidentes nucleares, e são

freqüentemente de escala limitada. Por exemplo, no Centro de Pesquisa Nuclear de

Soreq, um trabalhador sofreu uma dose que era similar à mais alta dose sofrida por

um trabalhador no local do acidente nuclear de Chernobil no primeiro dia. Porém,

devido ao fato de que a fonte gama não era capaz de passar o invólucro de concreto

de dois metros de espessura, ela não foi capaz de ferir muitos outros.

A Escala Internacional de Acidentes Nucleares (mais conhecida pelas suas

siglas, INES) foi introduzida pela OIEA para permitir a comunicação sem falta de

informação importante de segurança em caso de acidentes nucleares e facilitar o

conhecimento dos meios de comunicação e a população de sua importância em

matéria de segurança. Definiu-se um número de critérios e indicadores para

assegurar a informação coerente de acontecimentos nucleares por diferentes

autoridades oficiais. Há 7 níveis na escala, como mostra a figura 3:

7 Acidente grave

6 Acidente importante

5 Acidente com risco fora da localização

4 Acidente sem risco fora da localização

3 Incidente importante

2 Incidente

1 Anomalia

0 Desvio (Sem significação para a segurança)

Figura 3: Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES) Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA

Page 25: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

24

Os acontecimentos de nível 1 - 3, sem consequência significativa sobre a

população e o meio ambiente, qualificam-se de incidentes, os níveis superiores (4 a

7), de acidentes. O último nível corresponde a um acidente cuja gravidade é

comparável ao ocorrido em 26 de abril de 1986 na central nuclear de Chernobil e ao

de 11 de Março de 2011 na central nuclear de Fukushima.

2.6.1 Three Mile Island

Three Mile Island é a localização de uma central nuclear que em 28 de Março

de 1979 sofreu uma fusão parcial, havendo vazamento de radioatividade para a

atmosfera. A central nuclear de Three Mile Island fica na ilha no Rio Susquehanna no

condado de Dauphin, próximo de Harrisburg, com uma área de 3,29 km², e pode ser

vista na figura 4.

Figura 4: Three Mile Island Fonte: http://www.threemileisland.org

O acidente ocorrido em 28 de março de 1979, na usina nuclear de Three

Mile Island, Pensilvânia nos Estados Unidos, foi causado devido a falhas no sistema

e erro operacional. Houve corte de custos que afetaram economicamente a

Page 26: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

25

manutenção e uso de materiais inferiores. Mas, principalmente apontaram-se erros

humanos, com decisões e ações erradas tomadas por pessoas despreparadas.

O acidente desencadeou-se pelos problemas mecânico e elétrico que

ocasionaram a parada de uma bomba de água que alimentava o gerador de vapor,

que acionou certas bombas de emergência que tinham sido deixadas fechadas. O

núcleo do reator começou a se aquecer e parou e a pressão aumentou. Uma válvula

abriu-se para reduzir a pressão que voltou ao normal. Mas a válvula permaneceu

aberta, ao contrário do que o indicador do painel de controle assinalava. Então, a

pressão continuou a cair e seguiu-se uma perda de líquido refrigerante ou água

radioativa: 1,5 milhão de litros de água foram lançados no rio Susquehanna. Gases

radioativos escaparam e atingiram a atmosfera. Outros elementos radioativos

atravessaram as paredes.

Um dia depois foi medido a radioatividade em volta da usina que alcançava

até 16 quilômetros com intensidade de até 8 vezes maior que a letal. Apesar disso,o

governador do estado da Pensilvânia iniciou a retirada só dois dias depois do

acidente. O governador Dick Thornburgh aconselhou o chefe da NRC, Joseph

Hendrie, a iniciar a evacuação "pelas mulheres grávidas e crianças em idade pré-

escolar em um raio de 5 milhas ao redor das intalações". Em poucos dias, 140.000

pessoas haviam deixado a área voluntariamente.

2.6.2 Chernobyl

O acidente nuclear de Chernobil ocorreu dia 26 de abril de 1986, na Usina

Nuclear de Chernobil (originalmente chamada Vladimir Lenin) na Ucrânia (então

parte da União Soviética). É considerado o pior acidente nuclear da história da

energia nuclear, produzindo uma nuvem de radioatividade que atingiu a União

Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido, com a liberação de 400

vezes mais contaminação que a bomba que foi lançada sobre Hiroshima.[1] Grandes

áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas,[2] resultando na

evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil pessoas. Cerca de 60%

de radioatividade caiu em território bielorrusso.

O acidente fez crescer preocupações sobre a segurança da indústria nuclear

soviética, diminuindo sua expansão por muitos anos, e forçando o governo soviético

a ser menos secreto. Nos dias atuais, a Rússia, a Ucrânia e a Bielorrússia têm

Page 27: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

26

suportado um contínuo e substancial custo de descontaminação e cuidados de

saúde devidos ao acidente de Chernobil. É difícil dizer com precisão o número de

mortos causados pelos eventos de Chernobil, devido às mortes esperadas por

câncer, que ainda não ocorreram e são difíceis de atribuir especificamente ao

acidente. Um relatório da Organização das Nações Unidas de 2005 atribuiu 56

mortes até aquela data – 47 trabalhadores acidentados e nove crianças com câncer

da tireóide – e estimou que cerca de 4000 pessoas morrerão de doenças

relacionadas com o acidente.[2] O Greenpeace, entre outros, contesta as conclusões

do estudo.

O governo soviético procurou esconder o ocorrido da comunidade mundial,

até que a radiação em altos níveis foi detectada em outros países. Segue um trecho

do pronunciamento do líder da União Soviética, na época do acidente, Mikhail

Gorbachev, quando o governo admitiu a ocorrência:

“Boa tarde, meus camaradas. Todos vocês sabem que houve um inacreditável erro – o acidente na usina nuclear de Chernobyl. Ele afetou duramente o povo soviético, e chocou a comunidade internacional. Pela primeira vez, nós confrontamos a força real da energia nuclear, fora de controle.”

A usina de Chernobil está situada no assentamento de Pripyat, Ucrânia, 18

quilômetros a noroeste da cidade de Chernobil, 16 quilômetros da fronteira com a

Bielorrússia, e cerca de 110 quilômetros ao norte de Kiev. A usina era composta por

quatro reatores, cada um capaz de produzir um gigawatt de energia elétrica (3,2

gigawatts de energia térmica). Em conjunto, os quatro reatores produziam cerca de

10% da energia elétrica utilizada pela Ucrânia na época do acidente. A construção

da instalação começou na década de 1970, com o reator nº 1 comissionado em

1977, seguido pelo nº 2 (1978), nº 3 (1981), e nº 4 (1983). Dois reatores adicionais

(nº 5 e nº 6, também capazes de produzir um gigawatt cada) estavam em construção

na época do acidente. As quatro unidades geradoras usavam um tipo de reator

chamado RBMK-1000.[3] As figuras 5 e 6 mostram o estado atual das estalações da

usina de Chernobil já desativada e a imagem de satélite da área atingida.

Page 28: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

27

Figura 5: Chernobyl atualmente Fonte: Stone, Richard – Inside Chernobyl. National Geographic

Figura 6: Imagem de Satélite de Chernobyl da área atingida pelo acidente Fonte: Stone, Richard – Inside Chernobyl. National Geographic

Sábado, 26 de abril de 1986, à 1:23:58 a.m. hora local, o quarto reator da

usina de Chernobil - conhecido como Chernobil-4 - sofreu uma catastrófica explosão

de vapor que resultou em incêndio, uma série de explosões adicionais, e um

derretimento nuclear.

Há duas teorias oficiais, mas contraditórias, sobre a causa do acidente. A

primeira foi publicada em agosto de 1986, e atribuiu a culpa, exclusivamente, aos

Page 29: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

28

operadores da usina. A segunda teoria foi publicada em 1991 e atribuiu o acidente a

defeitos no projeto do reator RBMK, especificamente nas hastes de controle. Ambas

teorias foram fortemente apoiadas por diferentes grupos, inclusive os projetistas dos

reatores, pessoal da usina de Chernobil, e o governo. Alguns especialistas

independentes agora acreditam que nenhuma teoria estava completamente certa.

Na realidade o que aconteceu foi uma conjunção das duas, sendo que a

possibilidade de defeito no reator foi exponencialmente agravado pelo erro humano.

Porém o fator mais importante foi que Anatoly Dyatlov, engenheiro chefe

responsável pela realização de testes nos reatores, mesmo sabendo que o reator

era perigoso em algumas condições e contra os parâmetros de segurança dispostos

no manual de operação, levou a efeito intencionalmente a realização de um teste de

redução de potência que resultou no desastre. A gerência da instalação era

composta em grande parte de pessoal não qualificado em RBMK: o diretor, V.P.

Bryukhanov, tinha experiência e treinamento em usina termo-elétrica a carvão. Seu

engenheiro chefe, Nikolai Fomin, também veio de uma usina convencional. O próprio

Anatoli Dyatlov, ex-engenheiro chefe dos Reatores 3 e 4, somente tinha "alguma

experiência com pequenos reatores nucleares".

Em particular:

O reator tinha um fração de vazio positivo perigosamente alto. Dito de

forma simples, isto significa que se bolhas de vapor se formam na água

de resfriamento, a reação nuclear se acelera, levando à sobrevelocidade

se não houver intervenção. Pior, com carga baixa, este coeficiente a vazio

não era compensado por outros fatores, os quais tornavam o reator

instável e perigoso. Os operadores não tinham conhecimento deste perigo

e isto não era intuitivo para um operador não treinado;

Um defeito mais significativo do reator era o projeto das hastes de

controle. Num reator nuclear, hastes de controle são inseridas no reator

para diminuir a reação. Entretanto, no projeto do reator RBMK, as pontas

das hastes de controle eram feitas de grafite e os extensores (as áreas

finais das hastes de controle acima das pontas, medindo um metro de

comprimento) eram ocas e cheias de água, enquanto o resto da haste - a

parte realmente funcional que absorve os nêutrons e portanto pára a

reação - era feita de carbono-boro. Com este projeto, quando as hastes

eram inseridas no reator, as pontas de grafite deslocavam uma

Page 30: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

29

quantidade do resfriador (água). Isto aumenta a taxa de fissão nuclear,

uma vez que o grafite é um moderador de nêutrons mais potente. Então

nos primeiros segundos após a ativação das hastes de controle, a

potência do reator aumenta, em vez de diminuir, como desejado. Este

comportamento do equipamento não é intuitivo (ao contrário, o esperado

seria que a potência começasse a baixar imediatamente), e,

principalmente, não era de conhecimento dos operadores; e

Os operadores violaram procedimentos, possivelmente porque eles

ignoravam os defeitos de projeto do reator. Também muitos

procedimentos irregulares contribuíram para causar o acidente. Um deles

foi a comunicação ineficiente entre os escritórios de segurança (na capital,

Kiev) e os operadores encarregados do experimento conduzido naquela

noite.

É importante notar que os operadores desligaram muitos dos sistemas de

proteção do reator, o que era proibido pelos guias técnicos publicados, a menos que

houvesse mau funcionamento.

De acordo com o relatório da Comissão do Governo, publicado em agosto

de 1986, os operadores removeram pelo menos 204 hastes de controle do núcleo do

reator (de um total de 211 deste modelo de reator). O guia já mencionado proibia a

operação do RBMK-1000 com menos de 15 hastes dentro da zona do núcleo.

Dia 25 de abril de 1986, o reator da Unidade 4 estava programado para ser

desligado para manutenção de rotina. Foi decidido usar esta oportunidade para

testar a capacidade do gerador do reator para gerar suficiente energia para manter

seus sistemas de segurança (em particular, as bombas de água) no caso de perda

do suprimento externo de energia. Reatores como o de Chernobil têm um par de

geradores diesel disponível como reserva, mas eles não são ativados

instantaneamente – o reator é portanto usado para partir a turbina, a um certo ponto

a turbina seria desconectada do reator e deixada a rodar sob a força de sua inércia

rotacional, e o objetivo do teste era determinar se as turbinas, na sua fase de queda

de rotação, poderiam alimentar as bombas enquanto o gerador estivesse partindo. O

teste foi realizado com sucesso previamente em outra unidade (com as medidas de

proteção ativas) e o resultado foi negativo, isto é, as turbinas não geravam suficiente

energia, na fase de queda de rotação, para alimentar as bombas, mas melhorias

adicionais foram feitas nas turbinas, o que levou à necessidade de repetir os testes.

Page 31: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

30

A potência de saída do reator 4 devia ser reduzida de sua capacidade

nominal de 3,2 GW para 700 MW a fim de realizar o teste com baixa potência, mais

segura. Porém, devido à demora em começar a experiência, os operadores do

reator reduziram a geração muito rapidamente, e a saída real foi de somente 30

MW. Como resultado, a concentração de nêutrons absorvendo o produto da fissão,

xenon-135, aumentou (este produto é tipicamente consumido num reator em baixa

carga). Embora a escala de queda de potência estivesse próxima ao máximo

permitido pelos regulamentos de segurança, a gerência dos operadores decidiu não

desligar o reator e continuar o teste. Ademais, foi decidido abreviar o experimento e

aumentar a potência para apenas 200 MW. A fim de superar a absorção de neutrons

do excesso de xenon-135, as hastes de controle foram puxadas para fora do reator

mais rapidamente que o permitido pelos regulamentos de segurança. Como parte do

experimento, à 1:05 de 26 de abril, as bombas que foram alimentadas pelo gerador

da turbina foram ligadas; o fluxo de água gerado por essa ação excedeu o

especificado pelos regulamentos de segurança. O fluxo de água aumentou à 1:19 –

uma vez que a água também absorve nêutrons. Este adicional incremento no fluxo

de água requeria a remoção manual das hastes de controle, produzindo uma

condição de operação altamente instável e perigosa.

À 1:23, o teste começou. A situação instável do reator não se refletia, de

nenhuma maneira, no painel de controle, e não parece que algum dos operadores

estivesse totalmente consciente do perigo. A energia para as bombas de água foi

cortada, e como elas foram conduzidas pela inércia do gerador da turbina, o fluxo de

água decresceu. A turbina foi desconectada do reator, aumentando o nível de vapor

no núcleo do reator. À medida que o líquido resfriador aquecia, bolsas de vapor se

formavam nas linhas de resfriamento. O projeto peculiar do reator moderado a

grafite RBMK em Chernobil tem um grande coeficiente de vazio positivo, o que

significa que a potência do reator aumenta rapidamente na ausência da absorção de

nêutrons da água, e nesse caso a operação do reator torna-se progressivamente

menos estável e mais perigosa.

À 1:23 os operadores pressionaram o botão AZ-5 (Defesa Rápida de

Emergência 5) que ordenou uma inserção total de todas as hastes de controle,

incluindo as hastes de controle manual que previamente haviam sido retiradas sem

cautela. Não está claro se isso foi feito como medida de emergência, ou como uma

simples método de rotina para desligar totalmente o reator após a conclusão do

Page 32: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

31

experimento (o reator estava programado para ser desligado para manutenção de

rotina). É usualmente sugerido que a parada total foi ordenada como resposta à

inesperada subida rápida de potência. Por outro lado Anatoly Syatlov, engenheiro

chefe da usina Nuclear de Chernobil na época do acidente, escreveu em seu livro:

“Antes de 01:23, os sistemas do controle central... não registravam nenhuma mudança de parâmetros que pudessem justificar a parada total. A Comissão... juntou e analisou grande quantidade de material, e declarou em seu relatório que falhou em determinar a razão pela qual a parada total foi ordenada. Não havia necessidade de procurar pela razão. O reator simplesmente foi desligado após a conclusão do experimento.”

Devido à baixa velocidade do mecanismo de inserção das hastes de controle

(20 segundos para completar), as partes ocas das hastes e o deslocamento

temporário do resfriador, a parada total provocou o aumento da velocidade da

reação. O aumento da energia de saída causou a deformação dos canais das hastes

de controle. As hastes travaram após serem inseridas somente um terço do

caminho, e foram portanto incapazes de conter a reação. Por volta de 1:23:47, o a

potência do reator aumentou para cerca de 30GW, dez vezes a potência normal de

saída. As hastes de combustível começaram a derreter e a pressão de vapor

rapidamente aumentou causando uma grande explosão de vapor, deslocando e

destruindo a cobertura do reator, rompendo os tubos de resfriamento e então

abrindo um buraco no teto.

Para reduzir custos, e devido a seu grande tamanho, o reator foi construído

com somente contenção parcial. Isto permitiu que os contaminantes radioativos

escapassem para a atmosfera depois que a explosão de vapor queimou os vasos de

pressão primários. Depois que parte do teto explodiu, a entrada de oxigênio –

combinada com a temperatura extremamente alta do combustível do reator e do

grafite moderador – produziu um incêndio da grafite. Este incêndio contribuiu para

espalhar o material radioativo e contaminar as áreas vizinhas.

Há alguma controvérsia sobre a exata sequência de eventos após 1:22:30

(hora local) devido a inconsistências entre declaração das testemunhas e os

registros da central. A versão mais comumente aceita é descrita a seguir. De acordo

a esta teoria, a primeira explosão aconteceu aproximadamente à 1:23:47, sete

segundos após o operador ordenar a parada total. É algumas vezes afirmado que a

explosão aconteceu antes ou imediatamente em seguida à parada total (esta é a

Page 33: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

32

versão do Comitê Soviético que estudou o acidente). Esta distinção é importante

porque, se o reator tornou-se crítico vários segundos após a ordem de parada total,

esta falha seria atribuída ao projeto das hastes de controle, enquanto a explosão

simultânea à ordem de parada total seria atribuída à ação dos operadores. De fato,

um fraco evento sísmico foi registrado na área de Chernobil à 1:23:39. Este evento

poderia ter sido causado pela explosão ou poderia ser coincidente. A situação é

complicada pelo fato de que o botão de parada total foi pressionado mais de uma

vez, e a pessoa que o pressionou morreu duas semanas após o acidente,

envenenada pela radiação.

26 de abril de 1986 - Acidente no reator 4, da Central Elétrica Nuclear de

Chernobil. Aconteceu à noite, entre 25 e 26 de abril de 1986, durante um

teste. A equipe operacional planejou testar se as turbinas poderiam

produzir energia suficiente para manter as bombas do líquido de

refrigeração funcionando, no caso de uma perda de potência, até que o

gerador de emergência, a óleo diesel, fosse ativado. Para prevenir o bom

andamento do teste do reator, foram desligados os sistemas de

segurança. Para o teste, o reator teve que ter sua capacidade operacional

reduzida para 25%. Este procedimento não saiu de acordo com

planejado. Por razões desconhecidas, o nível de potência de reator caiu

para menos de 1% e por isso a potência teve que ser aumentada. Mas 30

segundos depois do começo do teste, houve um aumento de potência

repentina e inesperada. O sistema de segurança do reator, que deveria

ter parado a reação de cadeia, falhou. Em frações de segundo, o nível de

potência e temperatura subiram em demasia. O reator ficou

descontrolado. Houve uma explosão violenta. A cobertura de proteção, de

1000 toneladas, não resistiu. A temperatura de mais de 2000°C, derreteu

as hastes de controle. A grafite que cobria o reator pegou fogo. Material

radiativo começou a ser lançado na atmosfera.

de 26 de abril até 4 de maio de 1986 - a maior parte da radiação foi

emitida nos primeiros dez dias. Inicialmente houve predominância de

ventos norte e noroeste. No final de abril o vento mudou para sul e

sudeste. As chuvas locais frequentes fizeram com que a radiação fosse

distribuída local e regionalmente. Na figura 6, pode-se verificar o avanço

da radiação após o acidente.

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33

Figura 7: Avanço da radiação após o acidente Fonte: Revista Átomo, Número 86, Janeiro/2006

de 27 de abril a 5 de maio de 1986 - aproximadamente 1800 helicópteros

jogaram cerca de 5000 toneladas de material extintor, como areia e

chumbo, sobre o reator que ainda queimava.

27 de abril de 1986 - os habitantes da cidade de Pripyat foram evacuados.

A figura 7 mostra a situação de uma residência no entorno do local do

acidente.

Figura 8: Vila abandonada nos arredores do acidente Fonte: Stone, Richard – Inside Chernobyl. National Geographic

Page 35: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

34

28 de abril 1986, 23 horas - um laboratório de pesquisas nucleares da

Dinamarca anunciou a ocorrência do acidente nuclear em Chernobil.

29 de abril de 1986 - o acidente nuclear de Chernobil foi divulgado como

notícia pela primeira vez, na Alemanha;

até 5 de maio 1986 - durante os 10 dias após o acidente, 130 mil pessoas

foram evacuadas;

6 de maio de 1986 - cessou a emissão radioativa;

de 15 a 16 de maio de 1986 - novos focos de incêndio e emissão radioativa;

23 de maio de 1986 - o governo soviético ordenou a distribuição de

solução de iodo à população;

Novembro de 1986 - o "sarcófago" que abriga o reator foi concluído, como

mostra a figura 8. Ele destina-se a absorver a radiação e conter o

combustível remanescente.

Figura 9: “Sarcófago de Chernobyl” Fonte: Stone, Richard – Inside Chernobyl . National Geographic

Considerado uma medida provisória e construído para durar de 20 a 30

anos, seu maior problema é a falta de estabilidade, pois, como foi

construído às pressas, há risco de ferrugem nas vigas;

1989 - o governo russo embargou a construção dos reatores 5 e 6 da

usina; e

12 de dezembro de 2000 - depois de várias negociações internacionais, a

usina de Chernobil foi desativada.

Page 36: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

35

2.6.3 Goiânia – Césio 137

O acidente radiológico de Goiânia, amplamente conhecido como acidente

com o Césio-137, foi um grave episódio de contaminação por radioatividade ocorrido

no Brasil. A contaminação teve início em 13 de setembro de 1987, quando um

aparelho utilizado em radioterapias das instalações de um hospital abandonado foi

encontrado, na zona central de Goiânia, no estado de Goiás. Foi classificado como

nível 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares.

O instrumento, irresponsavelmente deixado no hospital, foi encontrado por

catadores de um ferro velho do local, que entenderam tratar-se de sucata. Foi

desmontado e repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação, o qual

afetou seriamente a saúde de centenas de pessoas. O acidente com Césio-137 foi o

maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas

nucleares.

A contaminação em Goiânia originou-se de uma cápsula que continha

cloreto de césio - um sal obtido do radioisótopo 137 do elemento químico césio. A

cápsula radioativa era parte de um equipamento radioterapêutico, e, dentro deste,

encontrava-se revestida por uma caixa protetora de aço e chumbo. Essa caixa de

proteção continha também uma janela feita de irídio, que permitia a passagem da

radiação para o exterior.

A caixa contendo a cápsula radioativa estava, por sua vez, contida num

contentor giratório que dispunha de um colimador. Este servia para direcionar o feixe

radioativo, bem como para controlar a sua intensidade.

Não se pôde conhecer ao certo o número de série da fonte radioativa, mas

pensa-se que a mesma tenha sido produzida por volta de 1970, pelo Laboratório

Nacional de Oak Ridge, nos Estados Unidos da América. O material radioativo

contido na cápsula totalizava 0,093 kg e a sua radioatividade era, à época do

acidente, de 50,9 Terabecquerels (TBq) ou 1375 Ci.

O equipamento radioterápico em questão era do modelo Cesapam F-3000.

Foi projetado, nos anos 1950, pela empresa italiana Barazetti e Cia., e

comercializado pela empresa italiana Generay SpA.

O objeto onde contia a capsula de césio foi recolhida pelos militares do

exército, e encontra-se exposto como um trófeu no interior da Escola de Instrução

Page 37: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

36

Especializada, na cidade do Rio de Janeiro. É um modo de agradecimento aos que

participaram da limpeza da área contaminada.

O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) era um instituto privado, localizado

na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia. O equipamento que gerou a

contaminação na cidade entrou em funcionamento em 1971, tendo sido desativado

em 1985, quando o IGR deixou de operar no endereço mencionado. Com a mudança

de localização, o equipamento de teleterapia foi abandonado no interior das antigas

instalações. A maior parte das edificações pertencentes à clínica foi demolida, mas

algumas salas - inclusive aquela em que se localizava o aparelho - foram mantidas em

ruínas. Houve onze mortes e 600 pessoas foram contaminadas, mas muitos alegam

ser impossível medir em números o tamanho de uma catástrofe nuclear.

Foi no ferro-velho de Devair que a cápsula de césio foi aberta para o

reaproveitamento do chumbo. O dono do ferro-velho expôs ao ambiente 19,26 g de

cloreto de césio-137 (CsCl), um sal muito parecido com o sal de cozinha (NaCl), mas

que emite um brilho azulado quando em local desprovido de luz. Devair ficou

encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta

para a mulher Maria Gabriela, bem como o distribuiu para familiares e amigos. Pelo

fato de esse sal ser higroscópico, ou seja, absorver a umidade do ar, ele facilmente

adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e o organismo

internamente. Devair passou pelo tratamento de descontaminação no Hospital

Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, e morreu sete anos depois.

A Comissâo Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a

população da região, No total 112.800 pessoas foram expostas aos efeitos do césio,

muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas

apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a

desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas,

sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e

acabaram morrendo.

2.6.4 Fukushima

O acidente nuclear de Fukushima diz respeito a uma série de falhas em

andamento de equipamentos e lançamentos de materiais radioativos na Central

Nuclear de Fukushima I, no Japão, em consequência dos danos causados pelo

Page 38: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

37

sismo e tsunami de Tōhoku que aconteceu às 14:46 JST em 11 de março de 2011.[1]

A central nuclear é composta por seis reatores de água fervente em separado

mantidos pela Tokyo Electric Power Company (TEPCO). Os reatores 4, 5 e 6 haviam

sido fechados para manutenção antes do terremoto. Os reatores restantes foram

fechados automaticamente após o terremoto e geradores de emergência foram

iniciados para manter as bombas de água necessárias para resfriá-los. A central foi

protegida por um dique projetado para resistir a um maremoto de 5,7 metros de

altura, mas cerca de 15 minutos após o terremoto foi atingido por uma onda de 14

metros, que chegou facilmente ao topo do paredão. A planta inteira, incluindo o

gerador de baixa altitude, foi inundada, como mostram as figura 9 e 10. Como

consequência, os geradores de emergência foram desativados e os reatores

começaram a superaquecer devido à deterioração natural do combustível nuclear

contido neles. Os danos causados pela inundação e pelo terremoto impediram a

chegada da assistência que deveria ser trazida de outros lugares.

Figura 10: Momento que o Tsunami atinge Fukushima Fonte: Tepco – Tokio Eletric Power

Evidências apontaram uma fusão parcial do núcleo nos reatores 1, 2 e 3;

explosões destruíram o revestimento superior de hidrogênio dos edifícios de

alojamento dos reatores 1, 3 e 4; uma explosão danificou o confinamento dentro do

reator 2; e múltiplos incêndios eclodiram no reator 4. Além disso, as barras de

combustível armazenado em piscinas de combustível irradiado das unidades 1-4

Page 39: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

38

começaram a superaquecer os níveis de água nas piscinas abandonadas. Receios

de vazamentos de radiação levaram a uma evacuação de 20 km de raio ao redor da

planta. Os trabalhadores da fábrica sofreram exposição à radiação e foram

temporariamente evacuados em vários momentos. Em 11 de abril, as autoridades

japonesas designadas a magnitude do perigo em reatores 1, 2 e 3 no nível 7 no

ponto 7 da Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES). A energia foi

restaurada para partes da central nuclear em 20 de março, mas máquinas

danificadas por inundações, incêndios e explosões permaneceram inoperantes.

Figura 11: A usina totalmente alagada Fonte: Tepco – Tokio Eletric Power

Medições realizadas pelo Ministério da Ciência e Educação do Japão nas

áreas do norte do país entre 30 e 50 km da planta apresentaram níveis altos de

césio radioativo, suficientes para causar preocupação. Alimentos produzidos na área

foram proibidos de serem vendidos. Foi sugerido que as medições mundiais de iodo-

131 e de césio-137 indicaram que os lançamentos radioativos de Fukushima são da

mesma ordem de grandeza que os lançamentos de isótopos do desastre de

Chernobil em 1986; O governo de Tóquio recomendou que a água da torneira não

deve ser usada temporariamente para preparar alimentos para crianças.

Contaminação por plutônio foi detectada no solo em dois locais da central nuclear.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou em 27 de

março que os trabalhadores da central foram internados por precaução, em 25 de

março, por terem sido expostos a níveis de radiação entre 2 e 6 Sv em seus

tornozelos quando em pé na água na unidade 3. A reação internacional ao acidente

também estava preocupada. O governo japonês e a TEPCO têm sido criticados por

Page 40: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

39

má comunicação com o público e esforços de limpeza improvisados. Especialistas

dizem que uma força de trabalho de centenas ou mesmo milhares levariam anos ou

décadas para limpar a área. Em 20 de março, o chefe de gabinete do secretário

Yukio Edano anunciou que a estação seria desativada logo que a crise acabar. A

figura 11 mostra os danos causados na Unidade 4.

Figura 12: Um mês após o acidente, estragos na Unidade 4 Fonte: Tepco – Tokio Eletric Power

Que lições podem ser aprendidas pela indústria nuclear até o momento? A

primeira delas é que as usinas nucleares são as construções humanas melhor

adaptadas a resistir a eventos naturais de severidade milenar, como mostram as

centrais de Onagawa, Fukushima Daini e Tokai. Outra é que a resistência das

usinas nucleares localizadas em áreas de alto risco sísmico, especialmente aquelas

em zonas costeiras sujeitas a tsunamis, que são muito poucas dentre as 440 em

operação no mundo, deve ser reavaliada e, eventualmente, reforçada.

Certamente, passada a fase acidental que ainda vivemos, a análise técnica

profunda do evento levará a muitas outras lições aplicáveis não só as usinas do tipo

BWR, mas também às demais em operação, bem com àquelas que estão em projeto

e construção, aperfeiçoando a segurança num processo de melhoria contínua. Isso

ocorre sistematicamente na indústria nuclear mesmo para eventos pouco

significativos, quanto em mais em eventos severos como o que se vivencia hoje. Foi

assim para os acidentes de Three Miles Island em 1979 nos EUA e de Chernobyl, na

ex-URSS.

Page 41: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

40

Note-se que quaisquer comparações do que pode ainda vir a ocorrer em

Fukushima Dai-ichi com o que ocorreu em Tchernobyl não são tecnicamente

corretas, na medida em que, naquele trágico acidente, os materiais radioativos

foram dispersos em grande quantidade e a grandes distâncias devido à energia

liberada pelo incêndio de centenas de toneladas de grafite que havia no interior do

reator, que levou vários dias para ser apagado, ao custo da vida de dezenas de

heróicos “terminators”. Num reator a água, que não usa grafite nem outra forma de

acumulação de grande quantidade de energia liberável em curto período, como são

os BWR afetados e os PWR que juntos compõe cerca de 90% da frota mundial, não

existe energia disponível para tal dispersão. No pior caso, essa dispersão se limitaria

ao raio de evacuação e, em menor quantidade, ao raio de abrigagem já

estabelecidos na região.

Demandas por ações imediatas no sentido de desligar usinas em operação

ou interromper obras de usinas em construção são precipitadas pelo clima

catastrofista que tem sido predominante na divulgação do evento pela mídia, que

influencia fortemente a opinião pública, ou deflagradas por razões de natureza

política e ideológica, as quais, ainda que legítimas nas sociedades democráticas,

não encontram fundamento técnico que as suportem.

Isto porque, mesmo no contexto da tragédia que se abateu sob o Japão, a

maioria das usinas nucleares afetadas permanecem em condição segura, não

implicando em nenhuma conseqüência adicional às populações já atingidas e

aquelas, em minoria, que não resistiram plenamente, tiveram suas conseqüências

mitigadas pelo acionamento de um Plano de Emergência Externo ampliado, que

está protegendo as populações evacuadas mesmo para as condições em que venha

a ocorrer o pior caso de liberação de material radioativo, o que até o presente não

ocorreu e as informações atuais indicam que não ocorrerá.

Obviamente, esses poucos argumentos técnicos não encerram o debate.

Nas sociedades democráticas, como a brasileira, ele está apenas se iniciando e

deverá resultar numa indústria nuclear ainda mais segura. Devemos, entretanto, nos

precaver de decisões precipitadas, tomadas pelo calor da emoção ou por

oportunismo, que venham a prejudicar as próprias sociedades às quais se pretende

defender, como seria o caso de uma “proscrição” da geração elétrica nuclear, com

paralisação de usinas em operação e de projetos em construção em planejamento.

Page 42: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

41

3 REPERCUSSÕES AMBIENTAIS E DE SAÚDE NOS ACIDENTES NUCLEARES

Os danos causados por um acidente nuclear podem afetar tanto o meio

ambiente quanto à saúde da população residente no seu entorno, como podemos

verificar.

3.1 REPERCUSSÕES AMBIENTAIS

A poluição nuclear é causada pela destinação incorreta ou vazamento de

resíduos radioativos proveniente de diversas fontes que utilizam a energia nuclear,

como, por exemplo, as usinas nucleares ou aparelhos de raios-x, e se caracteriza

pelo alto grau de periculosidade devido a capacidade de causar alterações nas

estruturas das células provocando, assim, alterações no organismo como um todo.

Na prática, o lixo nuclear tem grande poder de poluição, que não costuma

ocorrer, devido aos cuidados de segurança que impedem sua liberação para o meio

ambiente. A grande e importante diferença é que o lixo nuclear possui a capacidade

de permanecer ativo por milhares de anos exigindo o monitoramento constante e, no

caso de acidentes as conseqüências são muito piores podendo, inclusive, causar

danos por várias gerações, como no caso do acidente com o Césio-137 em Goiânia

para o qual foi criada uma Superintendência permanente para tratar das vítimas do

acidente (Superintendência Leide das Neves).

O principal argumento da corrente contra a energia nuclear é justamente o

perigo de que acidentes como esse, voltem a acontecer.

Com a criação de novas usinas termonucleares para geração de energia a

quantidade de resíduos que deverá ser estocada, também aumentará. Esses

resíduos são provenientes não apenas das usinas termonucleares, mas durante

todo o processo, desde a fase de mineração até a fase final de reprocessamento do

combustível nuclear, quando o urânio não queimado do reator e o plutônio gerado

são separados dos produtos formados na fissão. Esses resíduos serão classificados

de acordo com o nível de radioatividade sendo classificados como baixa, média ou

alta atividade e armazenados segundo normas da CNEN (Comissão Nacional de

Energia Nuclear). Mas, mesmo assim permanecerão por um bom tempo como uma

potencial fonte de poluição e perigo.

Page 43: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

42

De fato, a grande resistência atual quanto à utilização da energia nuclear

concentra-se na produção e gerenciamento dos resíduos radioativos gerados pelas

usinas. A França, que atualmente tem cerca de 80% de suas necessidades elétricas

supridas por usinas nucleares, conta com a desaprovação de 55% da população

quanto à forma como os resíduos são gerenciados. E quase 80% da população

européia concordam que não há uma forma segura de descartar os resíduos

nucleares.

Entretanto, antecipando-se às iniciativas da Comunidade Européia de tentar

acelerar as discussões a respeito, a França lança mão de incentivos fiscais para as

cidades que se dispuserem a receber os resíduos gerados por suas usinas

nucleares e aprova uma lei onde estipula que os resíduos serão armazenados em

abrigos subterrâneos, traçando um cronograma para cumprir seu objetivo até 2015.

Inclusive, um dos argumentos daqueles que são a favor da implementação

de um programa energético baseado na energia nuclear argumentam que a

tecnologia evoluiu muito nos últimos anos tornando as usinas termonucleares muito

mais seguras.

Com certeza, se compararmos as termoelétricas movidas à energia nuclear

com aquelas movidas a carvão, que respondem por 53% da energia gerada nos

EUA, por exemplo, chegaremos à conclusão óbvia de que a primeira polui muito

menos, visto que a segunda emite níveis de CO2 (dióxido de carbono) altíssimos,

sendo um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.

Ou seja, a energia nuclear polui sim, ou é possível poluir se não houver os

devidos cuidados. O que acontece é que isso pode ser evitado armazenando-se e

monitorando os resíduos. Situação que, porém, eleva e muito, os custos da energia

nuclear.

3.2 REPERCUSSÕES DE SAÚDE

A radiação pode ser benéfica quando bem empregada como vemos na

medicina para o tratamento de alguns cânceres, mas este não é o foco de nosso

texto. Falaremos aqui dos efeitos adversos da radiação, principalmente com aqueles

que acontecem com acidentes nucleares.

Page 44: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

43

A radiação mede-se em unidades diferentes. O roentgen (R) mede a

quantidade desta no ar. O gray (Gy) é a quantidade de energia realmente absorvida

por qualquer tecido ou substância após uma exposição à radiação.

Os efeitos prejudiciais da radiação dependem da quantidade (dose), da

duração e do grau de exposição. Uma única dose rápida de radiação pode ser

mortal, mas a mesma dose total aplicada num lapso de semanas ou meses pode

provocar efeitos mínimos. A dose total e o grau de exposição determinam os efeitos

imediatos sobre o material genético das células.

Os efeitos da radiação são cumulativos, ou seja, cada exposição é somada

às anteriores até determinar a dose total e o seu provável efeito sobre o organismo.

Da mesma forma, à medida que aumenta a proporção da dose ou a dose total,

aumenta também a probabilidade de se produzirem efeitos detectáveis.

Os efeitos da radiação também dependem da percentagem do organismo

que é exposto. Por exemplo, se uma área grande do corpo for exposta pode

provocar a morte quando a radiação se distribui sobre toda a superfície corporal. No

entanto, quando se limita a uma área pequena, como acontece na terapia contra o

cancro, é possível aplicar 3 ou 4 vezes esta quantidade sem que se produzam danos

graves no organismo.

As células do nosso organismo que se multiplicam rapidamente, como o

intestino e a medula óssea, são mais acometidas pela radiação do que os tecidos

cujas células se multiplicam mais lentamente, como os músculos e os tendões.

O Anexo B mostra os malefícios causados nos seres humanos expostos

além dos níveis permitidos à radiação nuclear.

Page 45: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

44

4 O COMPLEXO NUCLEAR BRASILEIRO

4.1 AS USINAS

A Central, situada no município de Angra dos Reis, foi assim denominada em

justa homenagem ao pesquisador pioneiro da tecnologia nuclear no Brasil e principal

articulador de uma política nacional para o setor. Embora a construção da primeira

usina tenha sido sua inspiração, o Almirante, nascido em 1889, não chegou a ver

Angra 1 gerando energia, pois faleceu em 1976. Mas sua obra persiste na

competência e capacitação dos técnicos que fazem o Brasil ter hoje usinas

nucleares classificadas entre as mais eficientes do planeta.

Atualmente estão em operação as usinas Angra 1- com capacidade para

geração de 657 megawatts elétricos, e Angra 2 - de 1350 megawatts elétricos. Angra

3, que será praticamente uma réplica de Angra 2 (incorporando os avanços

tecnológicos ocorridos desde a construção desta usina), está prevista para gerar

1405 megawatts.

ANGRA 1

A primeira usina nuclear brasileira opera com um reator do tipo PWR (água

pressurizada), que é o mais utilizado no mundo. Desde 1985, quando entrou em

operação comercial, Angra 1 (figura 12) gera energia suficiente para suprir uma

capital como Vitória ou Florianópolis, com 1 milhão de habitantes.

Figura 13: Angra 1 Fonte: Eletronuclear / Eletrobrás

Page 46: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

45

Esta primeira usina nuclear foi adquirida sob a forma de “turn key”, como um

pacote fechado, que não previa transferência de tecnologia por parte dos

fornecedores.

No entanto, a experiência acumulada pela Eletrobras Eletronuclear em todos

esses anos de operação comercial, com indicadores de eficiência que superam o de

muitas usinas similares, permite que a empresa tenha, hoje, a capacidade de

realizar um programa contínuo de melhoria tecnológica e incorporar os mais

recentes avanços da indústria nuclear. Como, por exemplo, realizar a troca de dois

dos principais equipamentos de Angra 1, os geradores de vapor. Com esses novos

equipamentos, a vida útil de Angra 1 se prolongará e a usina estará apta a gerar

mais energia para o Brasil.

ANGRA 2

Fruto de um acordo nuclear Brasil-Alemanha, a construção e a operação de

Angra 2 (figura 13) ocorreram conjuntamente à transferência de tecnologia para o

país, o que levou também o Brasil a um desenvolvimento tecnológico próprio, do

qual resultou o domínio sobre praticamente todas as etapas de fabricação do

combustível nuclear. Desse modo, a Eletrobras Eletronuclear (Indústrias Nucleares

do Brasil) reúnem, hoje, profissionais qualificados e sintonizados com o estado da

arte do setor.

Figura 14: Angra 2 Fonte: Eletronuclear / Eletrobrás

Page 47: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

46

Angra 2 também opera com um reator tipo PWR, isto é, água pressurizada,

e sua potência nominal é de 1350 MW.

Angra 2, sozinha, poderia atender ao consumo de uma região metropolitana

do tamanho de Curitiba, com dois milhões de habitantes. Como tem o maior gerador

elétrico do hemisfério Sul, Angra 2 contribui decisivamente com sua energia para

que os reservatórios de água que abastecem as hidrelétricas sejam mantidos em

níveis que não comprometam o fornecimento de eletricidade da região

economicamente mais importante do país, o Sudeste.

ANGRA 3

Angra 3 (figura 14) será a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro

Alberto, localizado na praia de Itaorna, município de Angra dos Reis (RJ).

Figura 15: Local de construção de Angra 3 Fonte: Eletronuclear / Eletrobras

A nova usina terá uma potência bruta elétrica de 1.405 MWe, podendo gerar

cerca de 10,9 milhões de MWh por ano - energia equivalente a um terço do

consumo do Estado do Rio de Janeiro – e será similar a Angra 2, em operação há

cerca de 8 anos.

Por conta dessa semelhança, grande parte do projeto de engenharia a ser

utilizado na nova usina está pronta. Além disso, a experiência com a construção e

montagem de Angra 2 demonstrou a significativa capacidade técnica das empresas

nacionais em atuar nesse segmento. Uma parcela considerável dos equipamentos

importados já foi adquirida, notadamente os componentes mecânicos de grande porte.

Page 48: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

47

Uma vez retomada a obra, o prazo estimado para a conclusão de Angra 3 é

de 5,5 anos, com início na concretagem das fundações do edifício do reator, além

das obras civis. Sua implantação inclui a montagem eletromecânica, o

comissionamento de equipamentos e sistemas e os testes operacionais.

Hoje, o empreendimento Angra 3 apresenta um progresso físico de cerca de

30%. Serão necessários investimentos adicionais de R$ 8,56 bilhões (base

dezembro de 2008), sendo que 70% dos gastos serão realizados no mercado

nacional e apenas 30% no exterior.

O local definido para a implantação de Angra tem sido monitorado desde a

década de 70 por meio de diversos estudos e programas ambientais, seguindo as

principais normas e diretrizes estabelecidas pelos órgãos reguladores e

fiscalizadores competentes.

NOVAS CENTRAIS

Em julho de 2008, o Governo Federal criou o Comitê de Desenvolvimento do

Programa Nuclear Brasileiro. A função do Comitê é fixar diretrizes e metas para o

desenvolvimento do Programa e supervisionar sua execução.

Em agosto do mesmo ano, Othon Luiz Pinheiro da Silva, secretário-

executivo do Comitê e presidente da Eletrobras Eletronuclear, apresentou ao

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, os objetivos e metas definidos

pelo grupo.

Na área de geração elétrica, para atender ao Plano Decenal de Energia

(PDE 2007/2016), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) vinculada

ao Ministério de Minas e Energia, a Usina Angra 3, com capacidade de produzir

1.405 MWe, deverá entrar em operação em maio de 2015, concluindo assim a

implantação da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, no Rio

de Janeiro.

Já o Plano Nacional de Energia (PNE 2030) que subsidia o Governo na

formulação de sua estratégia para a expansão da oferta de energia até 2030 aponta

a necessidade de o sistema elétrico brasileiro ter mais 4.000 MWe de origem nuclear

até 2025.

O Comitê, então, apresentou ao Presidente Lula a proposta de construção

de mais quatro usinas nucleares com capacidade de 1.000 MW cada, sendo duas no

Nordeste e outras duas no Sudeste. Conforme a evolução futura da necessidade de

Page 49: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

48

expansão da oferta de eletricidade existe a possibilidade do acréscimo de mais duas

usinas (2.000 MW) adicionais.

4.2 PLANO DE DEFESA DE ACIDENTES

Os eventos acontecidos nas usinas nucleares do Japão após a ocorrência

de um terremoto seguido de tsunami tornaram necessária a execução do plano de

emergência das centrais atingidas, incluindo medidas como a evacuação dos

habitantes vizinhos a estas unidades, de forma preventiva. Este fato pode causar

dúvidas ou questionamentos em relação ao plano de emergência da central nuclear

de Angra. Para sanar as dúvidas, realizamos uma série de questionamentos ao

Engenheiro Mário Almeida Filho da Assessoria de Responsabilidade Socioambiental

da Eletrobrás, como veremos a seguir.

Existe um plano de emergência? É feito algum tipo de treinamento com

a população local?

Usinas como Angra 1 e Angra 2 foram projetadas e construídas com barreiras

de proteção sucessivas e preparadas para resistir a um acidente mais sério. No

entanto, como é comum e recomendável nos locais onde existem instalações

industriais, um plano de emergência foi elaborado para orientar a população que mora

nas proximidades da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA).

No PEE/RJ constam ações específicas a serem implementadas nas Zonas

de Planejamento de Emergência, que são áreas vizinhas à CNAAA, delimitadas por

círculos, com raios, respectivamente, de 3 km, 5 km, 10 km e 15 km, centrados no

edifício do reator de Angra 1.

No âmbito do Plano de Emergência, como são classificados os eventos

e a partir de que nível devem preocupar a população?

Existe um modelo internacional de classificação e comunicação de

emergências ao órgão regulador e às demais autoridades, que prevê ações sempre

preventivas e antecipatórias. O modelo pressupõe quatro etapas possíveis de

evolução dos eventos em função do possível grau de impacto. Vão desde as mais

simples, sem nenhum reflexo sobre a saúde e a segurança da população, até as

Page 50: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

49

mais sérias, que podem ter como consequência a liberação de material radioativo

para o meio ambiente.

O PEE/RJ da CNAAA é acionado gradativamente, conforme as etapas

descritas a seguir:

1) Evento Não Usual (ENU) – é uma condição anormal na usina sem nenhuma

possibilidade de liberação de material radioativo para o meio ambiente;

2) Alerta – indicação de real ou provável degradação nos níveis de

segurança. São ativados os centros de emergência internos das usinas e

os externos em Angra dos Reis, Rio de Janeiro e Brasília, sem a

necessidade de ações de evacuação dos trabalhadores nem da

população. Em casos de Alerta e ENU não está prevista qualquer ação

junto à população;

3) Emergência de Área – indicação de real ou possível falha nas funções de

segurança; não há indicação de falha iminente do núcleo do reator. Os

trabalhadores não envolvidos com a emergência são retirados das usinas,

conforme estabelece o Plano de Emergência Local (PEL); e

4) Emergência Geral – indicação de real ou possível liberação de material

radioativo; indicação de degradação iminente ou real do núcleo do reator.

A população da ZPE-3 será evacuada para a ZPE-5 e, no caso de um

agravamento, a população da ZPE-5 será removida para a ZPE-10. A

população será orientada pela Defesa Civil, que tem destacamentos a

leste e oeste da CNAAA, através das 8 sirenes instaladas nas ZPEs 3 e 5.

O Plano de Emergência Externo do Estado do Rio de Janeiro (PEE/RJ)

estabelece a remoção da população terrestre que não possui meios próprios, por

meio de ônibus da Eletronuclear e das empresas concessionárias de transporte da

região. Os abrigos serão escolas municipais e estaduais predefinidas no plano. Os

ilhéus serão removidos pelo 1o Distrito Naval e serão abrigados no Colégio Naval de

Angra dos Reis.

A cada dois anos são realizados exercícios simulados com a participação

voluntária de parte da população e de todos os órgãos envolvidos na resposta a uma

situação de emergência na CNAAA.

Page 51: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

50

Como funciona o Plano de Emergência Externo?

O planejamento prevê ações em uma área de até 5 km em torno da central

nuclear de Angra, que conta com um sistema de som capaz de transmitir alertas e

informações. As estações locais de rádio e TV também fazem parte do plano e estão

preparadas para divulgar instruções em caso de necessidade.

Campanhas de esclarecimento também são realizadas, incluindo a

distribuição anual de 40 mil calendários, de casa em casa, com instruções sobre

como os moradores devem agir em situações de emergência. O calendário chama a

atenção, também, para o teste mensal do sistema de som nas localidades próximas

às usinas. O teste acontece todo dia 10, às 10 horas da manhã, para não confundir

os moradores.

As ações especificadas nesse plano, coordenadas pela Defesa Civil do

Estado do Rio de Janeiro, sob a supervisão geral do Gabinete de Segurança

Institucional da Presidência da República (GSI/PR), que é o órgão central do

Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (Sipron), e a supervisão

técnica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), envolvem, também, a

participação das seguintes organizações: Exército, Marinha, Aeronáutica, Agência

Brasileira de Inteligência (Abin), Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit),

Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Defesa

Civil de Angra dos Reis, Defesa Civil de Paraty, empresas de eletricidade, de

telefonia, de abastecimento de água e empresas de transporte urbano da região,

além de outras secretarias estaduais e municipais.

Visando a manter esse plano sempre em condições de acionamento, são

realizados, anualmente, nos anos pares, os Exercícios de Emergência – Parcial,

quando são testadas, entre outras ações previstas no PEE/RJ, a eficácia da cadeia

de comunicações e a eficiência da ativação dos centros de emergência, e, nos

anos ímpares, os Exercícios de Emergência – Geral, quando são postas em prática

e testadas todas as ações revistas no plano, inclusive a capacidade de mobilização

de meios em pessoal e material; a disseminação de informações ao público e à

imprensa; a ativação de alguns abrigos e até mesmo a simulação de evacuação de

voluntários residentes na ZPE-3 e na ZPE-5, embora a possibilidade de remoção

da população circunvizinha à Central Nuclear seja uma hipótese muito pouco

provável.

Page 52: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

51

Como funciona o Plano de Emergência Local?

O Plano de Emergência Local (PEL) tem como objetivo proteger a saúde e

garantir a segurança dos trabalhadores das usinas e do público em geral presente

na Área de Propriedade da Eletronuclear em qualquer situação de emergência

radiológica em Angra 1 e/ou Angra 2. O PEL abrange toda a área da CNAAA, a Vila

Residencial de Praia Brava e a região de Piraquara de Fora. Esse Plano contempla,

ainda, o apoio a ser prestado à Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro e à Cnen

na ZPE-3 e na ZPE-5.

Para testar e aprimorar a eficiência das equipes que, vinte e quatro horas

por dia, sete dias por semana, respondem pela atuação inicial nas usinas dos

Grupos e das Equipes de Emergência, previstas no PEL, a Eletronuclear realiza dez

exercícios anuais, sendo cinco por usina. Além desses exercícios simulados, os

Grupos e as Equipes de Emergência participam, ainda, dos Exercícios de

Emergência – Parcial e dos Exercícios de Emergência – Geral em conjunto com os

diversos órgãos dos diferentes níveis de governo diretamente envolvidos no PEE/RJ.

Em caso de um acidente grave, que área poderia ser atingida?

Com base nos critérios estabelecidos pela Cnen, as ações para a proteção

da população, em situações de emergência na central nuclear de Angra, são

esquematizadas segundo as Zonas de Planejamento de Emergência – ZPEs, com

graus de planejamento de resposta que variam de acordo com a distância da central

nuclear. A ZPE-3 está compreendida num raio de 3 km ao redor de Angra 1, a ZPE-5

num raio de 5 km e as ZPEs 10 e 15 em raios de 10 km e 15 km, respectivamente.

O Plano de Emergência Externo prevê as ações preventivas e urgentes de

remoção da população num raio de 3 km e, em caso de agravamento do acidente,

também num raio de 5 km. Nessas zonas é que estão instaladas as sirenes para

notificação da população.

As ZPEs 10 e 15 são consideradas zonas de controle ambiental, onde não

são previstas medidas de proteção urgentes e preventivas e sim medidas baseadas

numa monitoração do meio ambiente.

Há quantas pessoas aproximadamente nas ZPEs 3 e 5?

A Defesa Civil Municipal de Angra trabalha, na ZPE-3, com uma estimativa

de 360 pessoas e, na ZPE-5, com 16.836 pessoas.

Page 53: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

52

É possível ocorrer um acidente semelhante ao de Fukushima – Daí –

Ichi no Brasil?

Devido a estabilidade sísmica e geológica da plataforma continental

brasileira, a ocorrência de acidente semelhante, torna-se extremamente improvável.

4.2.1 Exercício geral do plano de emergência

No último Exercício Geral do Plano de Emergência da CNAAA, realizado em

01/09/2011 representantes de órgãos nacionais e internacionais estiveram presentes

como observadores, entre eles do MD, Comando da Marinha, Defesa Civil Nacional,

Ibama, Cemig, TCU e demais representantes convidados pela AIEA – Agência

Internacional de Energia Atômica. Depois de constatada a existência de uma

Emergência Geral teve início a evacuação da população localizada em um raio de 3

km ao redor de Angra. Por volta das 11h30, houve a simulação da transferência de

uma paciente contaminada por radiação, a funcionária foi transferida do CMRI,

localizado na vila histórica de Mambucaba para o Hospital Marcílio Dias, no Rio de

Janeiro em helicóptero da Força Aérea. Na parte da tarde os moradores do “Frade”

se reuniram na entrada do “Sertãozinho” em um Ponto de Reunião simulando a

evacuação da comunidade. Logo após, funcionários da FUSAR realizaram a

distribuição de pastilhas de iodeto de potássio na Praia Vermelha e foi testada

também a retirada da população por via marítima e terrestre. Concluído o Exercício

Geral, todos os órgãos envolvidos no Plano de Emergência elaboram um Relatório a

ser entregue as equipes analisadoras da Eletronuclear/Eletrobrás para que haja uma

conclusão de como foram as ações e o que deverá ser feito para melhorá-las.

Importante ressaltar as ações que compõe o Planejamento Global de

Defesa, com o fundamental esclarecimento prévio da população, seu cadastramento

e os exercícios simulados periódicos. Órgãos como a SIPRON e Secretária Nacional

de Defesa Civil farão a gestão efetiva de todo o processo.

Sendo assim, em função dos dados levantados e analisados concluiu-se

que:

Em caso de um acidente nuclear na CNAAA, as medidas previstas nos

Sistemas Redundantes de Segurança serão eficientes para reduzir os danos que por

ventura venham acontecer; e

Page 54: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

53

Não é possível ocorrer um acidente nas mesmas proporções do ocorrido em

Fukushima Daí-ichi, no Japão, devido às características sísmicas e geológicas do

nosso país. Soma-se o fato que os reatores de Angra são do tipo PWR (Pressurized

Water Reactor) mundialmente reconhecidos como mais modernos e seguros que os

do tipo BWR (Boiling Water Reactor) de Fukushima.

Page 55: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

54

5 CONCLUSÃO

A cruzada nacional que os especialistas fazem para convencer os leigos que

a energia nuclear tem inúmeras vantagens e é segura, é legítima, pois é inegável a

importância do acesso a informação quando se deseja tomar decisões, mas este

procedimento não é de forma alguma neutro.

A defesa incondicional de um ponto de vista, mesmo que oriunda da Ciência,

que tem por princípio a neutralidade, a isenção e a imparcialidade a respeito dos

debates, comporta um determinado interesse e um juízo de valor.

Diante de uma situação de “perigo”, diferentes pessoas terão reações

distintas. Mesmo que existam normas e padrões, culturas distintas frustram a

tentativa de tornar os estudos do risco uma ciência objetiva com instrumentos de

mensuração quantitativos.

Numa sociedade democrática, não se pode inibir o debate sob o pretexto de

que os opositores são desqualificados, e é isso que ocorre em debates de natureza

tecnológica.

O debate acerca da energia nuclear não deve se limitar aos aspectos

técnicos, pois o processo como um todo não será gerido apenas por técnicos, mas

também por pessoas que estão sujeitas a emocionais que não podem ser previstos

pela análise puramente técnica, mas que no final, serão decisivos.

Os últimos 100 anos apresentaram um aumento substancial da emissão de

gases à atmosfera, levando a sociedade e governos a iniciativas como o protocolo

de Kyoto. Entretanto, as demandas econômicas têm dificultado a implementação do

acordo.

Os especialistas afirmam que a energia nuclear pode contribuir muito para a

redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.

A percepção da energia nuclear pela população é muito superficial. As

informações provêm da imprensa, raramente de estudos, fazendo com que ela seja

desconhecida, temida e rejeitada. Em geral, as pessoas não sabem defini-la, sequer

parcialmente, nem conhecem a maioria das suas aplicações.

Desde o início, a energia nuclear tem suscitado as mais diversas reações

junto à população em geral. Reações de incredubilidade, admiração, desconfiança,

rejeição e ódio.

Page 56: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

55

Com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagazaki e os acidentes e

incidentes nucleares, a energia nuclear e tudo que a ela esteja relacionado, passou

a ser questionado e, logo após, houve intensas campanhas de combate ao seu uso.

A imprensa certamente foi a maior responsável pelo preconceito em relação

à energia nuclear. As notícias de caráter sensacionalista geraram por anos uma

imagem negativa de tudo que tenha o termo “nuclear” associado.

Em geral, a fonte de informações invariavelmente citada, o ponto de

referencia do saber, é a imprensa: jornais, televisão, revistas. Nunca uma aula, um

livro ou uma revista de divulgação científica! Considerando que os jornalistas,

incluindo os de colunas científicas, não costumam ter uma boa formação em

ciências, o valor científico e a credibilidade das informações veiculadas na imprensa

são no mínimo questionáveis, principalmente pela falta de comprovação nas

matérias publicadas.

Por mais remota que seja a possibilidade de ocorrência de um acidente,

devemos estar preparados para saber o que fazer, como fazer e quando fazer e

ainda treinar estes procedimentos em exercícios simulados. Esse comportamento é

a diferença em ser mais ou menos afetado.

Em relação à CNAAA, observamos que a estratégia de defesa, o Plano de

Segurança e os Sistemas Redundantes alcançam o objetivo maior de torná-la o

mais segura possível.

Os Sistemas Redundantes como pôde ser verificado nas pesquisas e no

último exercício simulado conseguem tornar a CNAAA com uma estratégia de

defesa contra acidentes nucleares plena e bem estabelecida.

“É bom lembrar que as decisões que tomarmos em relação a escolha da

matriz energética, deve levar em conta que os efeitos dessas

decisões nas gerações futuras.”

Page 57: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

56

REFERÊNCIAS

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Page 59: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

58

ANEXO A - MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR MUNDIAL

1 Lituânia 78 %

2. França 77 %

3. Bélgica 58 %

4. Eslováquia 53 %

5. Ucrânia 46 %

6. Suécia 44 %

7. Bulgária 42 %

8. Coréia do Sul 39 %

9. Hungria 39 %

10. Eslovênia 39%

11. Suíça 36 %

12. Armênia 35 %

13. Japão 34 %

14. Finlândia 31 %

15. Alemanha 31 %

... ...

25. Brasil 2%

Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA

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ANEXO B – EFEITOS DA RADIAÇÃO NO ORGANISMO HUMANO

A exposição à radiação provoca dois tipos de lesões:

Agudas (imediatas) podendo afetar diversos órgãos

Verifica-se numa pequena proporção de doentes depois de um tratamento

com radiação (radioterapia), especialmente se tiver sido aplicada sobre o abdômen.

Os sintomas compreendem náuseas, vômitos, diarréia, perda de apetite, dor de

cabeça, sensação de mal-estar geral e um ritmo cardíaco acelerado (taquicardia).

Costumam regredir de horas a poucos dias.

Crônicas (tardias)

Cérebro e sistema nervoso: Os primeiros sintomas são náuseas e vômitos,

seguidos de apatia, sonolência e, em alguns casos, coma. Estes sintomas são

provocados, muito provavelmente, pela inflamação do tecido cerebral (inchaço

cerebral). Em poucas horas ocorrem os tremores, convulsões, incapacidade para

andar e, finalmente, a morte. É provocada quando a dose total de radiação é

extremamente alta (mais de 30 grays). Revela-se sempre mortal.

Grandes doses acumuladas sobre a coluna dorsal podem provocar uma

lesão gravíssima, que pode acabar em paralisia.

Trato gastro intestinal: Os sintomas consistem em náuseas, vômitos e

diarréias graves, que provocam grande desidratação, que pode ser a causa da

morte. Inicialmente é provocada pela morte das células que revestem a mucosa do

estomago e intestino. Os sintomas persistem devido ao desprendimento progressivo

do revestimento mucoso e ao desenvolvimento de infecções bacterianas, mais

tardiamente. Finalmente, as células que absorvem nutrientes ficam completamente

destruídas e produz-se perda de sangue na zona lesionada, para o interior do

intestino, normalmente em grandes quantidades. Entre 4 e 6 dias depois da

exposição à radiação podem crescer novas células. Mas, mesmo que assim seja, as

vítimas provavelmente morrerão em virtude de uma insuficiência da medula óssea,

entre 2 e 3 semanas mais tarde. É produzida a partir de doses menores de radiação,

mas também igualmente altas (4 grays ou mais).

Sistema sanguíneo: ocorre quando a medula óssea é afetada bem como o

baço e os gânglios linfáticos, que são os principais centros de produção de células

sanguíneas (hematopoiese). Manifesta-se depois de uma exposição de 2 a 10 grays

de radiação e começa com perda de apetite (anorexia), apatia, náuseas e vômitos.

Page 61: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

60

Estes sintomas são mais graves ao fim de 6 a 12 horas depois da exposição (muito

agudo e um dos primeiros a se manifestarem) e podem regredir completamente

entre 24 e 36 horas mais tarde. Durante este período em que não há sintomas, as

células produtoras de sangue localizadas nos gânglios linfáticos, no baço e na

medula óssea começam a desgastar-se, a diminuir e não se formam de novo, o que

implica uma grave carência de glóbulos brancos (LEUCEMIA) e vermelhos

(ANEMIA). A falta de glóbulos brancos (que combatem as infecções) costuma

provocar infecções graves e lesões características na pele.

Lesões da pele: As lesões de pele após a exposição à radiação, são

decorrentes, na maioria das vezes pela leucemia.

Foto 14: Lesões Papulo Nodulares Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia

As manifestações cutâneas da leucemia causadas por exposições

radioativas ou não, podem ser as mais variadas possíveis e encontram- se de

diversas formas, incluem lesões cutâneas específicas, primárias, resultantes de

infiltração direta da pele e tecido subcutâneo pelas células leucêmicas. As lesões

papulo-nodulares da leucemia cutânea apresentam-se como pápulas (elevações da

pele), crostas, placas ou nódulos dérmicos marrom-avermelhados a violáceos,

endurecidos. Nódulos cutâneos pigmentados são comuns.

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61

Foto 15: Eritrodermia Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia

As lesões iniciais podem ser maculares. Outras apresentações clínicas da

leucemia cutânea incluem bolhas, ulcerações e eritrodermia (dermatite esfoliativa)

resultante da infiltração leucêmica difusa da pele.

Foto 16: Eritrodermia Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia

Se a dose total de radiação for de mais de 6 grays, as insuficiências

hematopoiéticas e gastrointestinais costumam ser mortais.

Músculos: Pode provocar uma doença dolorosa que inclui atrofia muscular e

a formação de depósitos de cálcio. Poucas vezes estas alterações provocam

tumores musculares malignos.

Page 63: OLIVEIRA, Ricardo Santos de. Acidentes nucleares: estratégia de

62

Pulmão: A radiação pode provocar inflamação dos mesmos (pneumonite

radioativa) e uma grande dose provocará graves cicatrizações (fibrose) no tecido

pulmonar, o que pode ser mortal.

Coração: O coração e o seu revestimento (pericárdio) podem inflamar-se

depois de uma exposição à radiação.

Material genético: A radiação altera o material genético das células que se

multiplicam. Nas células que não pertencem ao sistema reprodutor, estas alterações

podem provocar anomalias no crescimento celular, como cancro ou cataratas.

Quando os ovários e os testículos são expostos à radiação, a possibilidade de

a descendência ter anomalias genéticas (mutações) aumenta nos animais de

laboratório, mas este efeito ainda não foi devidamente comprovado nos seres

humanos.

Uma exposição prolongada ou repetida a baixas doses de radiação

proveniente de implantes radioativo ou de fontes externas pode provocar:

A interrupção dos períodos menstruais (amenorréia);

Uma menor fertilidade tanto nos homens como nas mulheres;

Também pode aparecer um menor impulso sexual (libido); e

Cataratas.

As doses muito elevadas aplicadas sobre zonas limitadas do corpo provocam:

A queda do cabelo;

Enfraquecimento da pele e formação de feridas abertas (úlceras), calos e

veias aracniformes (pequenas áreas avermelhadas que contêm vasos

sanguíneos dilatados que se encontram sob a pele, ou aranhas

vasculares);

Anos depois da ingestão de certos compostos radioativo, como os sais de

rádio, podem formar-se tumores ósseos.

O prognóstico depende da dose, da quantidade de radiação e da sua

distribuição no corpo. As análises ao sangue e à medula óssea podem fornecer

informação adicional acerca da gravidade da lesão.

Quando se manifesta os sintomas de acometimento cerebral ou

gastrointestinal, o diagnóstico é claro e o prognóstico pouco animador. O

acometimento cerebral é mortal num período de tempo que varia entre horas e

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63

poucos dias e o comprometimento gastrointestinal, geralmente, é mortal num

período de tempo que varia de 3 a 10 dias, apesar de algumas pessoas

sobreviverem algumas semanas. Quando se há o acometimento do sistema

sanguíneo (hematopoiético) a morte poderá ocorrer em períodos de 8 a 50 dias. A

morte pode ser provocada por uma infecção grave ou por uma abundante perda de

sangue (hemorragia).

Algumas medidas tomadas após exposição à radiação poderão diminuir o

efeito maléfico ao material exposto e são preconizados:

A pele contaminada por materiais radioativos deverá ser lavada de

imediato com água abundante e, se for possível, com uma solução

especificamente fabricada para tal fim;

Qualquer ferida, por pequena que seja, deverá ser energicamente limpa

para eliminar todas as partículas radioativas;

Se a pessoa tiver ingerido material radioativo, deverá provocar o vômitos;

As pessoas expostas a uma radiação excessiva podem ser controladas

com análises ao ar expirado e à urina, em busca de sinais de

radiatividade;

Nos casos de acometimento do sistema sanguíneo hematopoiético, as

células sanguíneas são repostas por meio de transfusões, mas esta

medida é só temporária, porque é muito pouco provável que a medula

óssea danificada pela radiação se regenere;

Os esforços para evitar as infecções incluem o tratamento com

antibióticos e o isolamento, para que o doente se mantenha afastado de

outros possíveis portadores de microrganismos que provoquem doenças.

Em certos casos faz-se um transplante da medula óssea, mas o índice de

êxito é baixo;

Para tratar os efeitos mais tardios da exposição crônica, o primeiro passo

é eliminar a fonte de radiação. Certas substâncias radioativas, como o

rádio, o tório e o estrôncio, podem ser eliminadas do corpo com

medicamentos que aderem a estas substâncias e depois são excretadas

pela urina. No entanto, estes medicamentos conseguem melhores

resultados se forem administrados pouco depois da exposição o que não

ocorre normalmente.

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64

ANEXO C - SISTEMA DE PROTEÇÃO AO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO - SIPRON

INTRODUÇÃO O Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro – SIPRON foi

instituído pelo Decreto-Lei nº 1.809, de 7 de outubro de 1980, e regulamentado pelo

Decreto nº 2.210, de 22 de abril de 1997, com o objetivo de assegurar o

planejamento integrado e de coordenar a ação conjunta e execução continuada de

providências, que visem atender às necessidades de segurança das atividades e

dos projetos nucleares brasileiros, da população e do meio ambiente.

Para se alcançar esse objetivo, os órgãos de defesa civil têm atribuições de

planejar e de implementar ações preventivas e de preparação, com a finalidade de

proteger a população na eventualidade de situação de emergência.

A legislação brasileira de proteção da população, em caso de acidente

nuclear, foi uma conseqüência direta da construção da Usina Angra 1, a partir de

1974. Em 1981, foram realizados os primeiros testes operacionais e, em 1982, a

usina recebeu autorização para operar com 30% da sua capacidade. Em 26 de

dezembro de 1984, a Usina recebeu autorização para operar comercialmente.

A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto - CNAAA, conhecida também por

Usina Angra I, está localizada na região de Mambucaba, no Município de Angra dos

Reis, no Estado do Rio de Janeiro. É a única no território nacional, tendo sido

concebida para abrigar três usinas com capacidade para produzir 3.000 Megawatts.

Atualmente, encontra-se em funcionamento apenas a Usina de Angra 1 sendo que a

Usina Angra 2 está em fase de testes para a operação, enquanto que a Usina Angra

3 já foi prevista.

O Programa Nuclear Brasileiro teve início no ano de 1967, no Ministério das

Minas e Energia, com a participação da Comissão Nacional de Energia Nuclear –

CNEN e de Furnas(ELETROBRAS). Atualmente, o Programa está no âmbito do

Ministério da Ciência e Tecnologia.

A ATUAÇÃO DA DEFESA CIVIL

A Secretaria Nacional de Defesa Civil, em articulação com os órgãos de

defesa civil estadual e municipal, respondem por todas as ações de proteção da

população, nas proximidades da Usina de Angra. Para isso, a cada 2 anos, todos os

órgãos governamentais do SIPRON realizam um exercício simulado com a

participação da população para aperfeiçoar as ações planejadas.

Como em todos os países, a população e os órgãos locais são os primeiros

a responderem às necessidades. Daí a importância de um órgão de defesa civil local

estar comprometido com a segurança da população, participando efetivamente do

planejamento, dos exercícios simulados e das campanhas de esclarecimento junto à

população. Portanto, cabe à Comissão Municipal de Defesa Civil de Angra dos Reis

conscientizar e preparar a população para o caso de acidente nuclear.

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65

a) Ações

A Secretaria Nacional de Defesa Civil – Órgão de Coordenação Setorial do

SIPRON – tem a atribuição de assessorar o Órgão Central e atuar nas ações

relacionadas com a proteção da população.

Na Normalidade – quando se elaboram os planos e testando-os com

exercícios simulados para aperfeiçoá-los.

estabelecer Diretrizes para Defesa Civil e supervisionar sua execução;

harmonizar e integrar, no âmbito da Defesa Civil, os Planos de Ação dos

Órgãos de Apoio;

planejar, promover e coordenar o cadastro da população;

planejar, promover e coordenar as Campanhas de Esclarecimento

Público;

solicitar a colaboração dos órgãos de apoio para a execução das medidas

de Defesa Civil;

formular Normas Gerais e Diretrizes, elaborar pareceres e sugestões e

projetos para atualização da legislação.

Manter entendimentos com a Comissão Nacional de Energia Nuclear

(CNEN) sobre:

a amplitude das áreas circunvizinhas às instalações nucleares, passíveis

de serem afetadas no caso de acidente nuclear; e

as normas de radioproteção vigentes, de interesse para o treinamento de

recursos humanos em defesa civil.

Em Situação de Emergência

Nesse caso, desenvolvem-se ações e atividades para reduzir os danos.

Em Situação de Emergência, a Secretaria Nacional de Defesa Civil

coordenará as ações de defesa civil e adotará, obrigatoriamente, os seguintes

procedimentos:

notificar e manter permanentemente informados os Órgãos de Apoio

necessários à condução das ações de defesa civil; e

assistir permanentemente a população e supervisionar a execução das

medidas de Defesa Civil.

b) Planejamento

À Secretaria Nacional de Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional,

que integra a Comissão de Coordenação da Proteção ao Programa Nuclear

Brasileiro - COPRON, compete estabelecer Diretrizes de Planejamento e Planos

para as ações de defesa civil, visando a proteção da população, em Situação de

Emergência.

Há vários planos setoriais de procedimentos, diretrizes para todos os órgãos

do SIPRON. Para as ações dos órgãos de defesa civil que visam à proteção da

população relacionada com os programas, projetos e atividades de energia nuclear,

os documentos de referência para a atuação de Defesa Civil são:

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66

Diretriz de Planejamento das Ações de Defesa Civil

Documento que estabelece as competências e as ações a serem realizadas

pelos órgãos envolvidos no planejamento e na execução das medidas de proteção à

população, aos trabalhadores da CNAAA e ao meio ambiente;

Diretriz para o Planejamento e Execução das Campanhas de

Esclarecimento Prévio e de Informação para a População:

Documento que estabelece a orientação para o planejamento, a

coordenação e a realização das Campanhas;

Há um conjunto de planos que compõem o planejamento global, cabendo à

Defesa Civil os seguintes:

Plano de Notificação Pública

Este Plano consolida as ações planejadas pelos órgãos de Defesa Civil

federal, estadual e municipal, CNEN e ELETRONUCLEAR e estabelece a

sistemática para notificar a população residente na área de influência da CNAAA e

os órgãos do SIPRON;

Plano para Execução das Campanhas de Esclarecimento Prévio da

População e de Informação para a População Plano que estabelece os

critérios para a execução das atividades relacionadas com as campanhas

a serem desenvolvidas.

c) Cadastramento da População

Brasil é país signatário de Acordos e Convenções Internacionais de Energia

Nuclear, por conseguinte deve atender a vários requisitos para a segurança da

população residente na área próxima às Usinas Nucleares.

O cadastramento dos habitantes da área de influência da CNAAA, é de

fundamental importância para os planejamentos, para a preparação para

emergências e para a segurança da população. Cabe aos órgãos de defesa civil

promover esse cadastramento.

Essa atividade ocorre quando da realização do Censo nacional, pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, constando de levantamentos de dados

relativos à situação socioeconômica, faixa etária e deficientes físicos, e, quando

necessário, promovido pela Secretaria Nacional de Defesa Civil/MI, com o apoio da

Secretaria de Estado de Defesa Civil/RJ e da Prefeitura Municipal de Angra dos

Reis/RJ.

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67

Foto 12: Alarme por Sirenes Fonte: SISPRON

SISTEMA DE ALARME POR SIRENES

O Ministério da Integração Nacional, através da Secretaria Nacional de

Defesa Civil, no cumprimento de suas atribuições de proteger a população residente

na área próxima à CNAAA, região do Frade e de Mambucaba, no Município de

Angra dos Reis/RJ, instalou um Sistema de Alarme por Sirenes, composto de 08

(oito) torres dotadas de sirenes eletrônicas de alta potência, do tipo omnidirecionais,

com capacidade para emitir som a 115 dB, com alcance de 1.600 metros, chegando

com 60 dB no ponto mais distante.

O sistema é de tecnologia americana e permite, através de uma Central de

Comando bidirecional, o acionamento das sirenes por controle remoto, podendo

também serem acionadas de modo manual, com recursos para emitir sinal sonoro e

mensagens pré-gravadas ou em viva voz.

Este sistema possibilita o monitoramento automático da torre e dos

equipamentos eletrônicos, como alarme contra intrusos, carga das baterias,

alimentação de energia elétrica e funcionamento através de teste silencioso das

sirenes.

As sirenes estão localizadas em pontos estratégicos, com o objetivo de

possibilitar uma abrangência sonora em toda a área habitada dentro da Zona de

Planejamento de Emergência, no raio de 05 km (ZPE 5), centrado no edifício do

reator da Usina Angra 1, para notificação da população, no caso de Situação de

Emergência na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto - CNAAA, em Angra dos

Reis/RJ.

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Mapa do Município de Angra dos Reis, demonstrando a divisão em ZONAS DE

PLANEJAMENTO DE EMERGÊNCIA, em ZPE-03, ZPE-05, ZPE-10 e ZPE-15,

centradas no edifício do reator.

Foto 13: Zonas de Planejamento de Emergência Fonte: SISPRON

A área de influência da CNAAA é dividida em Área de Propriedade da

ELETRONUCLEAR (APE) e 04 Zonas de Planejamento de Emergência (ZPE),

compreendida dentro dos limites de um círculo de 03 Km, 05 Km, 10 Km e 15 Km de

raio, centrado no edifício do reator das Unidades Operacionais.

Este zoneamento é utilizado para a implementação das Campanhas de

Esclarecimento Público, o cadastramento da população, a avaliação de

necessidades e ativação de abrigos, evacuação da população e a adoção de

medidas de radioproteção da população e do meio ambiente.

Mais importante que todas as ações governamentais é a participação da

comunidade!

Não só nos acidentes nucleares, mas em qualquer ocorrência de desastre

(seca, inundação, granizo, incêndio, acidente de trabalho, acidente de trânsito) sofre

mais quem não está preparado.

Por mais remota que seja a possibilidade de ocorrência de um acidente,

devemos estar preparados para saber o que fazer, como fazer e quando fazer e

ainda treinar estes procedimentos em exercícios simulados. Esse comportamento é

a diferença em ser mais ou menos afetado.