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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
Artigo PDE 2015: Física atômica e nuclear, subsídios para
discussão no Ensino Médio: virtudes e conquistas da física
moderna e contemporânea
Alexandre José Alves1
Ricardo Fernandes da Silva2
RESUMO
O papel da Física no Ensino Médio está voltado em proporcionar ao aluno uma interpretação de fenômenos naturais ou desenvolvidos pela ação humana. O presente trabalho tem como objetivo principal promover a discussão de conteúdos de Física Moderna e Contemporânea (FMC) em que o estudante possa ampliar sua leitura de mundo, frente a questões de caráter científico, tecnológico e social, levando-o a refletir racionalmente ao uso das tecnologias e se posicionar perante assuntos científicos de interesse social. Destina-se a apresentar possibilidades de estudos e discussão, acerca de temas voltados a conceitos básicos associados à Física Atômica e Nuclear, conceitos estes amplamente aplicados em nossas culturas contemporâneas e fracamente difundidos nos níveis de ensino básico e médio. Essa difusão é fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico, que estão estreitamente ligados à vida das sociedades modernas. Palavras – chave: Ensino Médio. Cotidiano. Física Moderna. Sociedade contemporânea.
1 Professor PDE, Colégio Estadual Campos Sales – Campina Grande do Sul - Paraná.
2 Departamento de Física – Grupo de Multimateriais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Campus Curitiba.
INTRODUÇÃO
A Física desenvolvida a partir do século XX está proporcionando entender
melhor os componentes e natureza da matéria, com profundas e revolucionárias
aplicações no desenvolvimento científico e tecnológico. Araujo (2013, p. 63) destaca
que é importante caracterizar um grandioso movimento da Física e da história da
ciência Moderna, que trouxe profundas modificações na maneira de ver o mundo.
No contexto educativo, de acordo com Pietrocola (in: GARCIA 2010, p. 115) os
currículos de ciências, mais do que os de outras áreas de conhecimento, ressentem-
se de pressões por mudanças. Percebe-se que os currículos não tem acompanhado
esta evolução da Física, para Sasseron (2010, p. 01), existe um grande
descompasso entre o que a escola apresenta aos alunos e o mundo destes, ensina-
se, sobretudo e ainda, a Física de séculos passados. Partindo desta perspectiva,
Melo (2008, p.109) referente ao ato de ensinar, cita que os conhecimentos a serem
sistematizados pelo professor e transmitidos aos alunos são provenientes da
atividade científica, que é caracterizada justamente por produzir novos
conhecimentos, com base em critérios rigorosos e objetivos, sem, claro,
descaracterizá-la como atividade socialmente determinada e, logo, pautada pelas
dinâmicas inerentes as contradições da sociedade em que se estabelece.
A função do professor é de estabelecer um ensino no sentido de aguçar o
interesse dos estudantes, frente aos contextos da sociedade atual, Menezes (2010,
p. 197) fornece evidências que a busca de um conhecimento mínimo científico frente
às questões de caráter ambientais, energéticos, desenvolvimento tecnológico e a
situação econômica auxiliam nesse sentido. De acordo com Araujo (2013, p. 64) é na
Física escolar que se define os contornos nos quais se dará o contato dos indivíduos
com o mundo da Física. Menezes (2010, p. 198) destaca que a educação atual
precisa representar uma ampla visão de mundo, com desenvolvimento da
capacidade criativa ou inventiva e pensamento crítico.
De acordo com Souza (2007, p.13), a educação formal em Física esbarra em
inúmeras dificuldades dentro da escola. Dentre essas razões está associada ao fato
de que a Física procura explicar a natureza por meio de modelos abstratos,
simplificações da realidade por um número reduzido de leis e princípios
fundamentais, e para tal precisa utilizar de ferramentas da matemática, nem sempre
dominadas pelos estudantes. E passam a não ver significados ou utilidades nos
conteúdos ensinados.
Essa dificuldade é intensificada devido à relativa falta de interesse dos alunos,
o currículo adotado, as dificuldades em articular conhecimentos para a abordagem
da FMC no Ensino Médio, ou mesmo pela forma superficial como algumas vezes são
abordados em sala de aula. Em alguns casos, durante a formação docente o
aprendizado da FMC fica em segundo plano, principalmente suas características
sócio-educacionais. Em conjunto com os problemas citados soma-se o excesso de
carga horária sobre o professor e a reduzida carga horária para disciplina de Física
em alguns níveis escolares.
Neste sentido, o ensino em ciências, tem como caráter social a construção do
conhecimento científico escolar, em que as metas e objetivos da educação científica
devem ultrapassar seus aspectos técnicos, abrir oportunidades e desenvolver nos
estudantes o interesse pela Física, mas com as dificuldades apontadas acima
aumenta-se a distância entre tentar e conseguir.
Rosenfeld (2013, p.338), defende que Entendida como cultura, a Física se
expande a compreensão do mundo. Para se transferir esse benefício à sociedade, é
preciso assegurar acesso da população a uma parcela dos saberes produzido. Os
conteúdos devem ser criteriosamente escolhidos e passar por um tratamento didático
apropriado. É preciso ensinar “como as coisas funcionam”, entendendo os processos
para garantir a investigação. Nessa perspectiva, vários autores como Ostermann e
Cavalcanti (1999), Terrazzan (1992), Rodrigues (2011), Santos e Fernandes (2012),
Silva e Rodrigues (2012), em relação ao campo da educação no ensino de Física,
defendem que tópicos de Física Moderna são essenciais no sentido de contextualizar
o aluno no mundo tecnológico atual e consequentemente permitir que o mesmo
desenvolva o pensamento crítico nas tomadas de decisões e se posicionar perante a
sociedade.
O presente artigo está dividido quatro partes. O capítulo 1 apresenta
considerações iniciais acerca do ensino da Física Atômica e Nuclear. O capítulo 2
apresenta alguns aspectos da metodologia utilizada. No capítulo 3 é feita uma
análise e discorre-se uma discussão dos resultados. Posteriormente são
apresentadas as considerações finais e listadas as obras que serviram de base para
elaboração do trabalho.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DO ENSINO DA FÍSICA ATÔMICA E
NUCLEAR
A humanidade na busca pelo bem-estar utiliza-se de domínio dos processos e
de fenômenos naturais, para a obtenção de recursos em suas atividades, desenvolve
e faz uso de aparatos científicos e tecnológicos, que na contemporaneidade, em sua
maioria, são frutos de conhecimentos e aplicações da Física Moderna. Neste sentido,
um ensino de física que esteja voltado a promover o conhecimento científico
pertinente nos diferentes tempos, espaços e sentidos, não deve ignorar esse
contexto, precisa se adaptar e buscar estratégias de ensino que sustentem as
exigências atuais. Neste sentido, os PCNs asseguram que,
A Física deve apresentar-se, portanto, como um conjunto de competências específicas que permitam perceber e lidar com os fenômenos naturais e tecnológicos, presentes tanto no cotidiano mais imediato quanto na compreensão do universo distante, a partir de princípios, leis e modelos por ela construídos. Isso implica, também, a introdução à linguagem própria da Física, que faz uso de conceitos e terminologia bem definidos, além de suas formas de expressão que envolve, muitas vezes, tabelas, gráficos ou relações matemáticas. Ao mesmo tempo, a Física deve vir a ser reconhecida como um processo cuja construção ocorreu ao longo da história da humanidade, impregnada de contribuições culturais, econômicas e sociais, que vem resultando no desenvolvimento de diferentes tecnologias e, por sua vez, por elas sendo impulsionado. (BRASIL, 2002 p.59).
O desenvolvimento da Física como cultura e como compreensão do mundo
favorece uma visão mais crítica dos processos que a ciência e a tecnologia
empregam em seu desenvolvimento, proporcionando aos estudantes a fazer
relações, que identifique estes conhecimentos nos diferentes campos da cultura
humana. Com o objetivo de proporcionar um aprendizado com êxito à abstração nos
conceitos científicos. Rosenfeld (2013, p.338), defende que entendida como cultura,
a Física se expande a compreensão do mundo, para se transferir esse benefício à
sociedade, é preciso assegurar acesso à população a esta parcela de saberes
produzido.
Assim, Figueira e Pierson (2013) destacam que a FMC possui múltiplas e
evidentes consequências tecnológicas e faz parte do cotidiano da sociedade
contemporânea. Sendo assim, Rodrigues e Sauerwein (2011), destacam que este
deve contemplar assuntos a fim de despertar o interesse dos alunos e que fazem
parte do seu dia-a-dia, com instrumentos para compreender, intervir e participar na
realidade.
Concepções em torno da matéria e sua natureza no decorrer dos tempos, está
na ideia que todas as coisas são dotadas de partículas minúsculas, os átomos
(substância primordial). No início do século XX, surgem resultados experimentais
com o objetivo de entender a matéria, principalmente por meio do desenvolvimento
da teoria eletromagnética, a descoberta do elétron, dos raios X e do fenômeno da
radioatividade, primordiais para revelar que o átomo tem uma estrutura interna. A
investigação acerca da Física Atômica foi impulsionada pela descoberta do elétron,
por Thomson e do núcleo atômico, por Rutherford, somado ao sucesso alcançado
pelo modelo atômico de Bohr, mais tarde, utilizados para compreensão da estrutura
do núcleo atômico, tendo como consequência o desenvolvimento da Física Nuclear.
Ambas as áreas de pesquisa desencadearam conhecimentos e aplicações que
geraram grande impacto para a sociedade humana. (CHESMAN, 2004, p. 165).
O papel original e central da Física Nuclear é buscar a compreensão das
propriedades dos núcleos e da matéria nuclear. Rosenfeld (2013, p. 38) destaca que
a pesquisa em física de partículas levou, por exemplo, à bomba atômica, mas
também promoveu grandes avanços tecnológicos, cobrindo aspectos que não
haviam sido cogitados ou imaginados. O desenvolvimento de aceleradores de
partículas é um ótimo exemplo desse processo. Conforme apontado por Rosenfeld
(2013, p. 76), os grandes aceleradores de partículas são construídos para que os
cientistas estudem o funcionamento da natureza no seu estado mais fundamental, ou
seja, os constituintes mais básicos do universo, denominados de “partículas
elementares”. Portanto, é essencial desenvolver instrumentos que possam explorar
cada vez mais minuciosamente o cerne da matéria.
Isso se relaciona com o que Gordon Kane (in: MOREIRA, 2009, p. 1), aponta
ao afirmar que Modelo Padrão é, na história, a mais sofisticada teoria matemática
sobre a natureza. Tudo o que acontece em nosso mundo (exceto os efeitos da
gravidade) resulta das partículas do Modelo Padrão interagindo de acordo com suas
regras e equações. Contudo, há evidências que levam a acreditar que esse modelo é
incompleto (ROSENFELD, 2013, p.172), dentre as evidencias ou problemas do
modelo padrão que levam a acreditar que ele não é completo, Moreira (2009, p. 10),
destaca a assimetria matéria – antimatéria, a matéria escura e a energia escura, o
campo de Higgs e a gravidade.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento do presente projeto de intervenção pedagógica na
escola, foram implementados estratégias de investigação, como a aplicação de
questionário com questões básicas de múltipla escolha (pré-teste) referente ao que
os alunos sabem sobre Física Atômica e Nuclear. O objetivo do questionário pré-
teste, é que [...] conhecimentos prévios, com certeza, poderão facilitar a busca de
bibliografia, interpretação de textos, ideias e jargões da área, além de orientar
possíveis consultas a especialistas (MARTINS, 2006, p.12). Ainda segundo Martins
(2006, p. 39), o que se deseja no pré-teste, que pode ser aplicado mais de uma vez,
é o aprimoramento e o aumento da confiabilidade e validade, ou seja, garantias de
que o instrumento se adeque totalmente à finalidade da pesquisa. Assim, o
questionário pré-teste foi reaplicado após a implementação da produção didática,
com o objetivo de verificar possíveis evoluções quanto aos conhecimentos prévios
apresentados inicialmente.
Esta ação teve como sujeitos principais, alunos do 3º ano do Ensino Médio.
Para a inserção do estudo da Física Atômica e Nuclear, de forma desafiadora, o
proposto aqui foi desenvolver uma metodologia de trabalho em que, partindo do
conhecimento prévio dos alunos, coloca-los em contato com textos científicos,
documentários, simulações, etc., referentes aos contextos destes conhecimentos, a
fim de desencadear argumentações, ponto de vista, domínio de conceitos e de
elementos da nomenclatura cientifica. As ações foram subsidiadas pelo caderno
pedagógico da produção didático-pedagógica, que foi desenvolvida como um recurso
para o professor e alunos, além de outras ferramentas ou ambientes pedagógicos
ofertados pela escola: TV-pendrive, data-show, laboratório de informática, laboratório
de Física, Química e Biologia, entre outros.
O questionário pré-teste aplicado aos alunos, para o desenvolvimento da
produção pedagógica, está reproduzido abaixo:
1) A partir do conceito da teoria atômica pela ideia científica do átomo,
surgiram teorias fundamentadas por experimentos para explicar a forma e
constituição de um átomo. Dentre elas, pode-se citar a (o):
a) Teoria do Caos.
b) Modelo Atômico Rutherford-Bohr.
c) Relógio atômico.
2) O termo radioatividade está relacionado com:
a) radiação.
b) tóxicos.
c) Amadurecimento de Ostwald.
3) Referente a estrutura atômica, fazem parte da constituição do núcleo do
átomo:
a) elétrons e nêutrons.
b) elétrons e neutrinos.
c) prótons e nêutrons.
4) O que existem dentro dos átomos?
a) Espaço vazio, vácuo.
b) Partículas fundamentais e partículas de energia.
c) Matéria escura e plasma.
5) A seguir, é apresentado um trecho da carta de Einstein enviada para o
presidente dos E.U.A. Franklin D. Roosevelt em 2 de agosto de 1939: “Nos
últimos quatro meses tornou-se provável – através do trabalho de Joliot, na França,
bem como de Fermi e Szilard, nos EUA – que seja possível desencadear, numa
grande massa de urânio, uma reação nuclear em cadeia, que geraria vastas
quantidades de energia e grandes porções de novos elementos com propriedades
semelhantes às do elemento rádio”. Este trecho da carta tratava de uma valiosa
descoberta para o desdobramento de um grande projeto, conhecido como?
a) Manhattan, cujo objetivo final era produzir a bomba atômica.
b) Esfera de Dyson, que iria abranger o sistema solar e tirar o máximo da energia.
c) Corrente alternada de Tesla, que permite a transmissão de energia a longas
distâncias.
6) Partícula subatômica, ainda não identificada, que poderia revelar a origem da
massa atômica, conhecida como partícula de Deus:
a) Léptons.
b) Méson-pi.
c) Bóson de Higgs.
7) O LHC, Grande Colisor de Hádrons, construído entre a França e Suíça, é um
acelerador de partículas que visa reproduzir situações como a do Big Bang.
Referente a acelerador de partículas, você diria que:
a) o único construído pelo homem é o LHC.
b) existem vários outros, como o Sirius, brasileiro.
c) o LHC é o maior, existindo apenas outro de pequenas proporções nos EUA.
8) O volume do núcleo atômico é muito pequeno, formado por um conjunto
compacto com forças muito grande. Quando se consegue romper esse
conjunto, libera uma grande quantidade de:
a) energia atômica.
b) fluídos gasosos.
c) cristais ionizantes.
9) Dentro núcleo atômico existem partículas que se mantém ligadas por ação
da mais poderosa força da natureza, denominada:
a) força gravitacional.
b) força elétrica.
c) força nuclear.
10) Principais reações nucleares responsáveis pela liberação de energia do
núcleo atômico:
a) fissão e fusão.
b) fusão e condensação.
c) oxidação e núcleo-fusão.
Após a aplicação do questionário pré-teste, deu-se início ao desenvolvimento
dos encaminhamentos propostos no caderno de produção didático-pedagógica. Este,
foi dividido em três unidades fundamentais, subdivida em aulas específicas, num
montante de treze (13), totalizando trinta e duas (32) horas/aula. A tabela 1 expressa
de forma sucinta os principais tópicos estudados na aplicação:
Tabela 1 – Registro das ações previstas na implementação pedagógica
Princípio Ideias fundamentais Atividades relacionadas
Conceitos gerais
da Mecânica
Quântica
Radiação eletromagnética e
espectro eletromagnético,
quantização de energia,
constituição da matéria e
atomismo, teoria atômica de
Dalton, Thomson, Rutherford,
Bohr, Princípio da Incerteza de
Heisenberg e o modelo
contemporâneo do átomo.
- Discussões acerca das
concepções do homem em
compreender racionalmente a
natureza nos primórdios de uma
matéria primordial e da importância
na história da ciência dos modelos
atômicos, nos processos do
desenvolvimento científico.
- Realização da atividade
experimental – Espalhamento de
Rutherford.
- Experimento “ouça seu controle
remoto”.
Física Atômica e
Nuclear
Átomos, a descoberta do
elétron, do próton e do
nêutron, o núcleo atômico e
algumas de suas
propriedades, a descoberta
dos Raios-X, radiação e a
descoberta da radioatividade,
decaimento radioativo,
reações nucleares, energia
nuclear e os processos da
fissão e fusão nuclear.
- Estudos referentes a aspectos
generalizados das partículas e
suas interações explorando o
interior da matéria, ou seja, é a
física das partículas e das altas
energias.
- Seminário: relações complexas –
exposição à radiação; níveis de
radiação, exposição e normas de
segurança; racionalidade no uso
das tecnologias.
- Pesquisa, entrevista e seminário,
referente a lixo tóxico: pilhas e
baterias.
- Noções sobre o Projeto
Manhattan e debate referente ao
papel e uso da ciência, as relações
entre ciência e tecnologia e os
limites do progresso.
O Modelo Padrão
Partículas elementares, o
modelo padrão das partículas
elementares e aceleradores de
partículas.
- Estudos referentes à constituição
do modelo padrão da física das
partículas elementares, análise do
vídeo “O discreto charme das
partículas elementares”.
- Discussões referentes ao uso de
aceleradores de partículas, na
busca de informações sobre as
propriedades das partículas
elementares. Informações a cerca
do CNPEM e o LNLS, e o projeto
Sirius.
Fonte: Dados adaptados do relatório de ações PDE – 2014 a 2015
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para a análise dos dados, em primeiro lugar, toma-se como base o projeto de
intervenção pedagógica na escola, em que foram identificados pela aplicação do
questionário pré-teste, que os alunos do terceiro ano da escola de implementação,
possui alguns conhecimentos básicos referente aos conceitos abordado nas
questões sobre noções de Física Atômica e Nuclear, o que pode ser observado no
gráfico 1.
Gráfico 1 – Percentual de acertos e erros por questões do questionário pré-teste
Fonte: O autor (2015)
Essas identificações de conceitos serviram de base para dinamizar as ações,
subsidiando o trabalho com mais ênfase nos tópicos em que se verificou uma maior
incidência de erros pelos alunos nas questões do questionário pré-teste.
Em relação às concepções prévias dos estudantes a temas da FMC, é
fundamental que se possa observar a capacidade dos mesmos em fazer relações
com o conteúdo a ser ensinado. Conforme indicado por Coll (2003), quando o aluno
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
90,48%
97,62%
71,43%
90,48%
54,76%
23,81%
52,38%
83,33%
38,10%
23,81%
9,52%
2,38%
28,57%
9,52%
45,24%
76,19%
47,62%
16,67%
61,90%
76,19%
Questões
acertos
erros
enfrenta um novo conteúdo a ser apreendido, sempre o faz armado com uma série
de conceitos, concepções, representações e conhecimentos adquiridos no decorrer
de suas experiências anteriores, que utiliza como instrumentos de leitura e
interpretação, que representam os parâmetros da construção dos novos significados.
Autores como Martins (2006) e Menezes (2010), também defendem estudos prévios
para articulações de uma metodologia que se aproxime da realidade dos educandos,
no sentido de inferir no tratamento das informações.
No período de desenvolvimento da produção didática, foram observados
algumas dificuldades ou obstáculos, quanto a sua aplicação, das quais se destacam:
Pelo conteúdo abordado e a quantidade de atividades propostas, a carga
horária para a aplicação da mesma, mostrou-se insuficiente, algumas ações
não foi dada a referida abordagem como o proposto no caderno pedagógico.
No entanto, pela análise do questionário pré-teste, possibilitou-se dar uma
menor ênfase nos tópicos em que os alunos demonstraram ter mais
conhecimentos, a fim de acelerar algumas ações e concluir os trabalhos de
acordo com o cronograma disponível;
Para reprodução do material, os alunos se comprometeram em contribuir para
a aquisição do caderno pedagógico na íntegra, a escola colaborou com parte,
cedendo à impressora e com uma parcela de tinta utilizada na impressão.
Certa rotatividade de alunos no período de realização do projeto (transferidos
de outras escolas ou remanejamento interno de turno em virtude de trabalho);
Alguns problemas técnicos e de infraestrutura (TV pendrive, projetor
multimídia, espaço de laboratório);
Fatores externos e alheios ao andamento regular das atividades também
comprometeram em parte o bom andamento das atividades desenvolvidas no
projeto, já que foi um ano atípico;
Falta de comprometimento com os estudos de uma pequena parcela dos
alunos, que acabam por não se envolver de forma mais ativa no
desenvolvimento das atividades.
Relativa sobrecarga sobre o professor, no planejamento e execução das
atividades.
Os desafios desta implementação didática na escola, está em favorecer uma
melhor conexão entre o ensino de Física e o cotidiano do aluno. Estes se mostraram
em sua maioria receptiva ao projeto, ajudaram na reprodução do material,
demonstraram interesse e curiosidades em determinados assuntos abordados, como
o efeito fotoelétrico, radioatividade e reações nucleares. Gostaram do material,
porém sentiram falta de mais ilustrações (figuras) e atividades experimentais.
Percebe-se a preferência dos alunos em atividades mais práticas e diretas, quando
envolve contextos que exigem mais leituras, interpretação, argumentação,
discussões e análise, estes tendem por não se envolverem tanto e a se dispersar
com maior facilidade, reflexos estes, que parecem estar associados, muitas vezes
pela forma mais tradicional em que os conhecimentos são apresentados a eles e
como são abordados nos livros didáticos. Estas evidências tem revelado o que
Souza (2007), afirma referente às dificuldades em que se esbarra a educação formal
em Física dentro da escola.
Ao final dos estudos acerca dos tópicos abordados na produção pedagógica, o
questionário pré-teste (pós-teste) foi reaplicado aos alunos. Conforme I-TECH
(2008), as notas do pré e pós-teste informam se os participantes aprenderam ou não
através da formação. Além disso, um bom pré e pós-teste pode ajudar os
facilitadores a entenderem quais conceitos ou competências foram bem ensinados
durante a formação e quais requerem tempo adicional, ou necessitam de métodos
alternativos para serem ensinados. O resultado do questionário pós-teste pode ser
observado no gráfico 2.
Gráfico 2 – Percentual de acertos e erros por questões do questionário pós-teste
Fonte: O autor (2015)
Com os resultados apresentados nos gráficos 1 e 2, fez-se o gráfico 3, para
uma melhor visualização e pode-se notar um significativo avanço dos alunos, quanto
aos conhecimentos que demonstraram ter antes e após a implementação da
produção didático pedagógica, principalmente após a questão número quatro.
Gráfico 3 – Comparativo entre os gráficos 1 e 2: análise dos resultados pré e pós-tese
Fonte: O autor (2015)
A maior parte deles se mostraram interessados com o desenvolvimento da
temática, desenvolviam as atividades propostas, com indagações, dúvidas, analogias
a situações vistas em noticiários da televisão e ou Internet. Sendo estas, mais
acentuada na visualização e análise de alguns vídeos sugeridos na produção
didática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse trabalho foi possível perceber que o estudo da FMC no Ensino
Médio, pode desencadear no estudante uma visão mais ampla do ensino da Física e
perceber os avanços desta nos recursos científicos e tecnológicos que estão cada
vez mais presentes na sociedade contemporânea. A proposta em desenvolver
conteúdos relacionados à Física Atômica e Nuclear, que geralmente são poucos
trabalhados neste nível de ensino, mostrou-se importante para a possibilidade de
uma atualização curricular mais efetiva quanto ao papel da Física desencadeada
principalmente a partir do século XX.
Sendo assim, pode-se constatar que esta inserção desencadeia a
aproximação dos estudantes a conhecimentos que são fundamentais para a
compreensão dos impactos da Física como ciência em construção, que com o seu
desenvolvimento, vem permitindo ao homem entender melhor o Universo e a
inovação nos recursos tecnológicos. O que contribui para o crescimento pessoal e
intelectual do indivíduo, refletindo no desenvolvimento de seu senso crítico, ao
estímulo e prazer em aprender, no interesse e consciência referente a questões
científicas, compreensão do desenvolvimento e importância da Física.
O trabalho revela ser importante para o professor, pois instiga na busca da
grandeza de cada aluno, procurando caminhos alternativos na ação docente que
prime no aprender pela problematização e contextualização. Estimula o mesmo a
produzir suas publicações e metodologias de ensino que contribua para a prática
profissional, podendo servir de referência para outros adotarem como apoio em suas
aulas, para seu aperfeiçoamento e se motivem a desenvolver suas próprias
produções que venham de encontro com os desafios educacionais da atualidade.
Fica como recomendação que o professor reflita sobre a sua prática didática,
aprofunde em seus estudos com um perfil de professor pesquisador, preocupado e
envolvido no trabalho educativo, que desenvolva diversificadas metodologias de
ensino, inove e faça uso da grande diversidade dos recursos tecnológicos como
ferramentas que auxiliem na transmissão e aquisição do conhecimento produzido.
Por fim, foi possível constatar diante os processos de construção dos
conhecimentos referente à Física Atômica e Nuclear, passíveis de serem efetivados
no Ensino Médio, é essencial o professor ao elaborar o seu plano de trabalho, estude
e se fundamente para a seleção dos conteúdos relevantes para as necessidades e
especificidades do seu aluno.
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