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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA
EDUCAÇÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
Título: Relações entre linguagem e desenvolvimento em situações de Encefalopatia
Crônica Não Evolutiva da Infância (Paralisia Cerebral).
Autora
Adriana Daruiz Fernandes.
Disciplina/Área (ingresso no
PDE)
Educação Especial.
Escola de Implementação do
Projeto e sua localização
Escola João Paulo II- Educação Infantil e Ensino
Fundamental, na modalidade de Educação
Especial.
Município da escola
Terra Boa - Paraná.
Núcleo Regional de Educação
Cianorte - Paraná.
Professora Orientadora
Tânia dos Santos Alvarez da Silva.
Instituição de Ensino
Superior
UEM - Universidade Estadual de Maringá.
Relação Interdisciplinar
Português, Matemática, Estudos da Sociedade e
da Natureza e Desenvolvimento Motor.
Resumo
O propósito desse estudo é buscar alternativas
para a comunicação de alunos com Encefalopatia
Crônica Não Evolutiva da Infância, que
apresentam boa compreensão da comunicação
face a face, mas não possuem fala funcional. Vale
ressaltar que, pessoas com essas características
têm um atraso no desenvolvimento da linguagem
e, em consequência disso, podem desenvolver um
atraso de natureza intelectual. No estudo,
trabalha-se com a premissa de que a linguagem é
um importante instrumento para a vida humana,
pois a partir dela acontecem as interações sociais.
Portanto, por meio de interações linguísticas os
homens tornam-se capazes de expressar,
organizar e compreender ideias, sensações,
desejos, e ainda, amparados por esse instrumento
psicológico (a língua), podem ter acesso ao
conhecimento e às informações sobre o mundo no
qual vivem. A pesquisa prevê um estudo teórico e
uma intervenção prática, a partir de um
experimento didático, realizado com alunos jovens
e adultos, matriculados na Escola João Paulo II-
Educação Infantil e Ensino Fundamental, na
modalidade de Educação Especial. No
experimento, serão oportunizados diferentes
recursos alternativos e materiais didáticos para o
desenvolvimento das habilidades linguísticas dos
alunos participantes do estudo.
Palavras-chave
Linguagem e desenvolvimento humano; Paralisia
Cerebral; Comunicação Alternativa; Tecnologia
Assistiva.
Formato do Material Didático
Unidade didática.
Público Alvo
Alunos com Paralisia Cerebral, matriculados em
uma turma da EJA, na Escola João Paulo II -
Educação Infantil e Ensino Fundamental, na
modalidade de Educação Especial.
APRESENTAÇÃO:
Esta Unidade Didática tem por finalidade atender às necessidades
educacionais de alunos que compõem uma turma da Escola João Paulo II,
Educação Infantil e Ensino Fundamental, na modalidade de Educação Especial, de
Terra Boa. Nessa turma há quatro alunos, adolescentes e jovens, com Paralisia
Cerebral (Encefalopatia Crônica Não Evolutiva da Infância), que não possuem fala
funcional, mas evidenciam compreensão da língua falada.
Sabemos que, a vida do ser humano está intimamente associada ao seu
processo de comunicação. É por meio da linguagem que o homem relaciona-se com
o seu semelhante, expressando seus sentimentos, ideias, desejos e transmitindo os
seus conhecimentos e valores. À medida que o homem amplia o seu relacionamento
com o outro, ele também aumenta o seu conhecimento de mundo, aperfeiçoando e
multiplicando a sua capacidade comunicativa, a qual envolve fala, sons, imagens,
textos verbais e não verbais, gestos, expressões faciais, língua de sinais etc..
Quando uma condição particular de existência impõe limites ao pleno uso da
linguagem é necessário que medidas sejam tomadas no sentido de remover
obstáculos para que a comunicação ocorra. Algumas pessoas apresentam
limitações em determinados aspectos comunicativos, como a capacidade de falar ou
escrever, provenientes de alguma deficiência neuromotora. Essa deficiência pode
surgir em decorrência de um acidente, uma doença ou um problema específico no
desenvolvimento. Nessas situações, o sujeito acometido pela deficiência necessita
de uma forma alternativa de comunicação, por meio da qual consiga expressar seus
sentimentos, desejos, dúvidas e possa ser compreendido.
Sendo assim, para que possam ter acesso ao conhecimento, bem como,
interagir com o ambiente escolar, faz-se necessário criar condições adequadas à
comunicação desses sujeitos, a fim de que sejam compreendidos por todos, pois a
comunicação não só é essencial ao ser humano, como é, também, a condição de
sua existência e evolução.
Portanto, o objetivo principal desse trabalho é buscar alternativas para a
comunicação de alunos com Encefalopatia Crônica Não Evolutiva da Infância
(ECNEI), deficiência conhecida como Paralisia Cerebral (PC), que não possuem fala
funcional, utilizando recursos de baixa tecnologia para que a comunicação seja
efetivada. De forma semelhante, é propósito desse estudo avaliar a contribuição
oferecida por pranchas portáteis de comunicação.
No atendimento aos alunos da escola que sedia o estudo, serão usados
recursos ergonômicos (adaptações do meio físico), capazes de auxiliar nas funções
que exigem coordenação motora e na comunicação. A adoção desses recursos
cumpre a função de permitir que, os alunos usufruam de um atendimento
especializado, capaz de melhorar a comunicação e a mobilidade. Vale destacar que
uma grande dificuldade no trabalho educativo com alunos com ECNEI, possuidores
de uma suposta integridade intelectual, reside no fato de que a limitação
comunicativa obstaculiza a possibilidade de compreensão pelo
professor/interlocutor, do conteúdo do pensamento do aluno. Desse modo, o
professor permanece alheio ao que seus alunos desejam, gostam, enfim, ao que
pensam. Também as metodologias para a alfabetização do aluno PC com
dificuldades de comunicação funcional, necessitam fugir ao padrão convencional e
enfrentar o desafio de encontrar caminhos alternativos para a aprendizagem.
1- Paralisia Cerebral ou Encefalopatia Crônica Não Evolutiva da Infância
A Paralisia Cerebral foi descrita por William John Little, ortopedista inglês,
quando resolveu estudar 47 crianças com rigidez muscular nos membros inferiores e
em menor grau nos membros superiores. Essas crianças não pegavam objetos, não
engatinhavam e nem andavam. Também não melhoravam nem pioravam conforme
o crescimento. Essa condição foi chamada de Síndrome de Little por muitos anos.
Mais tarde, Freud decidiu estudar a “Síndrome de Little”, surgindo então, a
expressão Paralisia Cerebral. Phelps generalizou o termo Paralisia cerebral para
diferenciá-lo de Paralisia Infantil (Poliomielite). (CANDIDO, 2004, p. 5).
Descreve Rotta (2002) apud Gomes, Lima e Cruz (2003 p. 303) que desde o
Simpósio de Oxford, em 1959, a expressão PC foi definida como:
[...] sequela de uma agressão encefálica, que se caracteriza, primordialmente, por um transtorno persistente, mas não invariável, do tono, da postura e do movimento, que aparece na primeira infância como uma lesão não evolutiva do encéfalo. A partir dessa data a PC passou a ser conceituada como encefalopatia crônica não evolutiva da infância.
A Paralisia Cerebral (PC), também denominada Encefalopatia Crônica Não
Evolutiva da Infância (ECNEI) é um termo que engloba diversos distúrbios que
significam uma alteração ou perda do controle motor, secundária a uma lesão
encefálica, ocorrente no período pré-natal ou durante a primeira infância,
independente do nível mental da criança lesionada. (BASIL, 1995). Ainda para Basil
(1995), a definição de Paralisia Cerebral mais comumente aceita procede dos países
de língua inglesa, nos quais entende por cerebral palsy, a qual diz que:
[...] a sequela de um comprometimento encefálico que se caracteriza, primordialmente, por um distúrbio persistente, mas não invariável, do tônus, da postura e do movimento que surge na primeira infância e não somente é diretamente secundário a esta lesão não-evolutiva do encéfalo, mas que se deve, também, à influência que esta lesão exerce na maturação
neurológica.” (cit. em Barraquer, Ponces, Corominas e Torras, 1964, p. 7 apud BASIL, 1995. p. 252).
De acordo com (BOBATH 1979, p. 11):
Paralisia Cerebral é o resultado de uma lesão ou mau desenvolvimento do cérebro, de caráter não progressivo, e existindo desde a infância. A deficiência motora se expressa em padrões anormais de postura e movimentos, associados com um tônus postural anormal. A lesão que atinge o cérebro quando ainda é imaturo interfere com o desenvolvimento motor normal da criança.
Na visão de (WERNER 1994) apud (GOMES, LIMA e CRUZ, 2003, p. 303) a paralisia cerebral:
É uma lesão que ocorreu no cérebro, devido a problemas gerados na gestação, durante o nascimento ou após nascer o bebê, tendo como consequência uma deficiência nos movimentos que controlam o domínio motor e postura do indivíduo. Definindo-a como qualquer déficit motor central não progressivo, com interferência no seu desenvolvimento intra ou extra-uterino, não hereditário, aparecendo nos primeiros anos de vida.
Sabemos que o cérebro comanda as funções do nosso corpo e que cada área
é responsável por uma determinada função. Segundo Bersh e Machado (2007,
p.15), “o papel do Sistema Nervoso (SN) é coordenar e controlar a maior parte das
funções do nosso corpo”. Sendo assim, os movimentos das pernas, dos braços, a
visão, a audição e a inteligência são comandados pelo cérebro. As lesões cerebrais
variam conforme a área afetada, interferindo no desenvolvimento dos movimentos,
postura e do tônus muscular do indivíduo, podendo ocorrer alterações mentais,
visuais e auditivas, comprometendo também a motricidade e impedindo a
locomoção, bem como a alimentação, a fala, ou seja, a independência e autonomia
do paralisado cerebral. Nessa linha de análise, (BASIL1995, p. 252), diz que:
[...] encontraremos crianças com sintomatologias muito diferentes e de prognósticos muito variáveis. Podemos encontrar desde crianças com
perturbações motoras discretas, até crianças cuja alteração motora impede-as de realizar, praticamente, qualquer movimento voluntário; desde crianças com uma inteligência normal ou superior até crianças com uma deficiência mental extremamente grave, com ou sem distúrbios sensoriais - de visão, audição, etc.- associados.
A Paralisia Cerebral não é uma doença e sim um estado patológico. Portanto,
quando de fato existe a lesão, essa é irreversível. Como uma condição de
deficiência a ECNEI não poder ser curada. A pessoa com PC não deve ser
considerada doente, e sim como uma pessoa que necessita de cuidados especiais
que pais, professores e diversos especialistas devem tentar atender da melhor forma
possível, utilizando recursos que facilitem o seu deslocamento, o controle postural,
a comunicação e a linguagem, o trabalho escolar, o lazer etc.. (BASIL, 1995).
Sendo assim, como nos disponibiliza o livro: Educação Infantil: saberes e
práticas da inclusão - Dificuldades de comunicação e sinalização: Deficiência Física
juntamente ao quadro ilustrativo (GODOI 2006, p. 17)
“ao contrário do que o termo sugere, “paralisia cerebral” não significa que o cérebro ficou paralisado. O que acontece é que ele não comanda corretamente os movimentos do corpo. Não manda ordens adequadas para os músculos, em consequência da lesão sofrida”.
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/saberesepraticas_inclusao.pdf
Bersh e Machado (2007), ainda ressaltam que as limitações do indivíduo com
PC tendem a diminuir conforme a introdução de recursos e estimulações
específicas.
Causas:
Conforme Basil (1995); Junqueira (2007); Diament (2005), as causas da
Paralisia Cerebral são as infecções ou traumatismos pré-natais, perinatais e pós-
natais, como apresentaremos na sequência:
Causas Pré-natais - Ocorrem antes do nascimento:
- Doenças infecciosas contraídas pela mãe como: a rubéola, o sarampo, a sífilis, o
herpes, a hepatite epidêmica, meningite, toxoplasmose etc..
- Intoxicações devido ao óxido de carbono.
- Uso indevido de álcool ou outros tipos de drogas.
- Exposição aos raios X.
- Pressão alta.
- Ameaça de aborto, choque direto (tombos e pancadas) no abdômen.
- Incompatibilidade entre fator sanguíneo dos pais.
- Má posição do cordão umbilical.
- Mãe portadora de Diabetes ou com toxemia.
- Uso de remédios, sem indicação médica.
- Doenças ou intoxicações intra-uterinas.
- Manobras abortivas mal controladas.
- Doenças metabólicas congênitas como a galactosemia (defeito no metabolismo
dos carboidratos) e a fenilcetonúria (defeito no metabolismo dos aminoácidos).
Atualmente, a ciência dispõe de recursos para prevenir essas doenças ou
para interromper a gravidez, quando houver risco de morte para a gestante ou para
o feto. Por isso, é imprescindível que a gestante seja acompanhada pelo médico,
antes e durante a gravidez.
Causas Perinatais - Advém de uma lesão no tecido neural durante o nascimento:
- Anoxia (falta de oxigênio no cérebro). Acontece quando o bebê demora para
respirar, lesionando algumas partes do cérebro.
- Asfixia por obstrução do cordão umbilical.
- Anestesia administrada em quantidade excessiva ou em momento inoportuno.
- Parto demasiadamente demorado.
- Traumatismos ocorridos pelo uso de fórceps.
- Mudanças bruscas de pressão devido a uma cesariana.
- Prematuridade e baixo peso.
- Hipermaturação.
- Icterícia grave (hemolítica ou por incompatibilidade).
Causas Pós-natais – Podem ocorrer aproximadamente durante os três primeiros
anos de vida, ou seja, enquanto o sistema nervoso encontra-se em
desenvolvimento.
- Infecções cerebrais causadas pela meningite ou encefalite.
- Traumatismos crânios-encefálicos.
- Acidentes anestésicos.
- Desidratação com perda significativa de líquidos.
- Distúrbios vasculares.
- Intoxicações com anidrido carbônico ou com venenos.
- Falta de oxigênio por afogamento ou outras causas.
- Sarampo.
- Febre muito alta e prolongada.
- Desnutrição.
Classificação de Paralisia Cerebral:
As pessoas com Paralisia Cerebral têm um comprometimento motor que
causa interferências no desempenho funcional.
Para Basil (1995), as numerosas formas de PC podem ser classificadas pelos
efeitos funcionais e pela topografia corporal. Os quadros clínicos mais frequentes,
de acordo com os efeitos funcionais são: a espasticidade, a atetose e a ataxia e
menos frequentes: a rigidez e tremores. Pela topografia corporal são classificadas
em paraplegia, tetraplegia, monoplegia, diplegia, triplegia e hemiplegia. Porém,
raramente uma criança apresenta uma tipologia pura, sendo na maioria das vezes,
vitimada por quadros mistos.
Quanto aos Efeitos Funcionais:
Espasticidade - ocorre como consequência de uma lesão situada no feixe
piramidal, consistindo em um aumento do tônus muscular. Essas contrações
musculares são de dois tipos:
a) Contrações musculares que ocorrem em repouso.
b) Contrações musculares que se manifestam de acordo com o esforço ou a
emoção.
Os músculos espásticos são hiperirritáveis, existindo a impossibilidade de colocar
em ação, a contração dos músculos envolvidos, em um movimento (agonistas) e no
relaxamento de outros (antagonistas), durante a realização de qualquer movimento,
resultando em uma reação, a qual todo o corpo interfere na execução da ação
desejada, ou seja, ao tentar mexer qualquer parte do corpo como: um braço, as
pernas ou a coluna vertebral, a criança involuntariamente flexiona todo o seu corpo.
(BASIL, 1995).
Atetose - ocorre em função de uma lesão localizada no feixe extrapiramidal,
dificultando o controle e a coordenação dos movimentos voluntários. Os movimentos
são incontroláveis, extremados e assimétricos. Trata-se de movimentos
espasmódicos, incontroláveis e contínuos nos membros, na cabeça, na face e nos
músculos da fonação, respiração e deglutição, perturbando a vida da criança.
Inconscientemente, ela tenta limitar essa agitação, porém contrai os músculos,
ocasionando em uma atitude semelhante aos movimentos espásticos. Por outro
lado, há atetoses brandas. (BASIL, 1995).
Ataxia - É uma síndrome cerebelar na qual o equilíbrio e a precisão dos movimentos
encontram-se alterados, ocorrendo falta de estabilidade do tronco ao mover os
braços, desorientação espacial e dificuldade na coordenação dos movimentos dos
braços para assegurar o equilíbrio ao caminhar, o que acontece de forma insegura,
rígida e com quedas frequentes. A ataxia está associada à atetose, pois geralmente,
como já referimos, as formas de PC são mistas. (BASIL, 1995).
Rigidez - consiste em uma hipertonia pronunciada, que pode impedir
completamente os movimentos. (BASIL, 1995).
Tremores - consistem em movimentos rápidos, breves, rítmicos e oscilantes, sendo
constantes ou isolados na execução dos movimentos voluntários. (BASIL, 1995).
Quanto à Topografia Corporal, segundo (Basil, 1995):
Paraplegia - é o comprometimento das duas pernas.
Tetraplegia - é o comprometimento dos membros superiores e inferiores.
Monoplegia - é o comprometimento de uma extremidade.
Diplegia - é um comprometimento maior dos membros inferiores que dos inferiores.
Triplegia - é o comprometimento de três extremidades.
Hemiplegia - é o comprometimento de um hemicorpo. (BASIL, 1995).
Para Bobath e Bobath, 1989, a classificação é:
Diplegia - Todas as crianças diplégicas são do grupo espástico. Apesar de todo o
corpo ser afetado, as pernas são mais do que os braços. Na maioria das vezes,
essas crianças possuem controle da cabeça e um comprometimento moderado ou
leve dos membros superiores. Normalmente, não há comprometimento de fala e
algumas crianças apresentam estrabismo. (BOBATH e BOBATH, 1989).
Quadriplegia - Embora todo o corpo seja comprometido, nas quadriplegias
atetóides, os braços e o tronco são mais afetados do que as pernas, porém nas
quadriplegias espásticas ou casos mistos, as pernas e os braços possuem o mesmo
grau de comprometimento. A criança não controla o movimento da cabeça e todas
possuem fala e coordenação ocular afetadas. (BOBATH e BOBATH, 1989).
Hemiplegia - Há comprometimento em apenas um dos lados do corpo. Geralmente
as crianças são do tipo espástico, mas posteriormente, algumas desenvolvem a
atetose distal. (BOBATH e BOBATH, 1989).
Monoplegia - Há comprometimento apenas de um braço ou de uma perna, com
menos frequência. A monoplegia é muito rara e na maioria das vezes torna-se
hemiplegias. (BOBATH e BOBATH, 1989).
Paraplegia - É muito rara. Poucas crianças não são afetadas “acima da cintura”.
Normalmente, tornam-se displégicas, tendo os braços e mãos comprometidos ou
apenas um braço. (BOBATH e BOBATH, 1989).
2 - A importância da linguagem
De acordo com Tamanaha e Perissinoto (2009), o principal componente da comunicação humana é a linguagem, a qual permite ao ser humano a sua exteriorização, proporcionando a oporunidade do diálogo. A linguagem é o sistema simbólico que mais favorece o desenvolvimento do pensamento, pois é por meio dela que acontece a interação social com outras pessoas, interação essa que permite que o sujeito expresse as suas ideias, sensações, desejos, necessidades e tenha acesso às informações sobre o mundo em que vive. Com base nessas exposições Tetzchner (2009), diz que:
O desenvolvimento da linguagem é um processo por meio do qual as crianças passam a partilhar do meio de comunicação de sua cultura. Os
seres humanos parecem possuir uma habilidade específica à espécie de aquisição de linguagem por meio da interação social com outras pessoas. (Herrmann et al., 2007; Lenneberg, 1967; Tomasello, 1999 apud
TETZCHNER, 2009, p.14).
Nesse sentido, é possível destacar que, a linguagem é um importante
instrumento para a vida humana, justamente porque é a partir dela, que o homem
estabelece relações sociais, interagindo com o mundo e fazendo-se reconhecer
como ser pensante. Como enfatiza o pensamento Vigotskyano, a linguagem é a
base do pensamento e, por meio dela, a interação social é fundamental para o
desenvolvimento do ser humano.
Assim, a linguagem tem um papel essencial na vida de cada indivíduo,
diferenciando o homem dos animais, pois por intermédio dela, o ser humano tem a
capacidade de realizar uma comunicação mais complexa, transmitindo com eficácia
os conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida. Nessa perspectiva:
A capacidade de se comunicar por meio da linguagem é uma característica exclusivamente humana que, portanto, nos diferencia dos outros primatas. [...] a linguagem surge da interação social e os “processos lingüísticos” tornam-se importantes para o controle e coordenação do comportamento individual e no desenvolvimento e transmissão de cultura. [...] para duas pessoas se comunicarem por meio da linguagem é necessário que elas usem as palavras da mesma forma, convencionadas pela língua vinculada à sua cultura. [...] “A língua real aprendida é aquela que se desenvolveu, durante um longo período de desenvolvimento cultural, na cultura da criança”. (ARGYLE, 1976, pg. 77 apud DELIBERATTO, 2003, p.507).
Em virtude dessas considerações, vale dizer que isso implica no fato de que,
para que duas pessoas estabeleçam comunicação mediante a linguagem, é
necessário que utilizem as palavras da mesma forma, estabelecidas pela sua cultura
e meio social. Desse modo, compreende-se que a linguagem é uma atividade
essencialmente humana, porque é a partir de seu uso que observamos,
compreendemos e interagimos socialmente com o mundo.
Relações entre pensamento e linguagem:
Nas últimas linhas do livro “Pensamento e Linguagem”, de Vygotsky,
encontra-se um conceito célebre sobre o assunto, o qual diz que o pensamento e a
linguagem refletem a realidade de uma maneira diferente daquela que é percebida,
sendo a chave para a compreensão da consciência humana. Disso depreende-se
que, as palavras desempenham um importante papel no desenvolvimento do
pensamento, como também na evolução histórica da consciência como um todo, o
que equivale ao fato de que uma palavra é um microcosmo da consciência humana.
(VYGOTSKY, 1991).
De acordo com Rego (1995), é possível observar que o estudo das relações
entre pensamento e linguagem é considerado um dos temas mais complexos da
psicologia. Entretanto, Vygotsky e seus colaboradores, trouxeram contribuições
importantes sobre esse tema, retratando que a relação entre o pensamento e a
linguagem passa por muitas transformações, ao longo da vida do indivíduo, porém
encontram-se e dão origem ao modo de funcionamento psicológico mais sofisticado
e tipicamente humano.
Segundo Vigotsky (1984), a conquista da linguagem representa um marco
no desenvolvimento do homem:
[...] a capacitação, especificamente humana, para a linguagem habilita as crianças a providenciarem instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superarem a ação impulssiva, a planejarem a solução para um problema antes de sua execução, e a controlarem seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem, para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se, então, a base de uma nova e superior atividade nas crianças, distinguindo-as dos animais (VYGOTSKY, 1984, p.31 apud REGO, 1995).
Nessa linha de análise, percebe-se que a linguagem tanto expressa, como
organiza o pensamento da criança. Esse tema é discutido por Rego (1995), quando
diz que, isso se processa porque a função primordial da fala é estimulada pela
necessidade de comunicação, ou seja, por meio do contato social. Nesse aspecto, é
muito importante observar que, desde os primeiros meses de vida, o choro, o
balbucio, o riso, enfim, as manifestações vocais e de expressão facial ganham no
convívio social, um significado. Vygotsky chamou essa fase de estágio pré-
intelectual do desenvolvimento da fala, pois os recursos vocais e de expressão,
primitivamente empregados, são meios de contato com o grupo para a resolução de
um problema. Assim, antes de aprender a falar, a criança demonstra sua aptidão de
atuar no ambiente e sanar problemas práticos, mas sem a interferência da
linguagem. A essa fase, Vygotsky, denominou de estágio pré-linguístico do
desenvolvimento do pensamento. (REGO, 1995).
À medida que a criança vai se relacionando e dialogando com os membros
adultos de sua cultura, ela aprende a usar a linguagem como instrumento do
pensamento e como meio de comunicação. Quando isso acontece, o pensamento e
a linguagem juntam-se, e assim, o pensamento torna-se verbal e a fala racional. Em
virtude dessas considerações, percebe-se que o domínio da linguagem gera
mudanças na criança, sobretudo no seu jeito de relacionar-se com o meio, haja vista
que possibilita novos meios de comunicação com os indivíduos e de organização de
seu modo de agir e pensar. ( REGO, 1995).
Desenvolvimento da motricidade e da linguagem em pessoas com
Encefalopatia Crônica não Evolutiva da Infância:
Como já referido, uma das principais características do ser humano é a
capacidade de se comunicar. Um exemplo disso está no fato de que em todas as
culturas, boa parte do conhecimento adquirido e transmitido ocorre por meio da
comunicação. Todavia, uma parte da população mundial é privada dessa
possibilidade devido a alguma deficiência de natureza motora, sensorial ou
cognitiva.( DUDUCHI e MACEDO, 2009). Entre essas deficiências, encontra-se a
paralisia cerebral.
As crianças atingidas pela P.C. possuem diversas alterações na evolução de
seu desenvolvimento psicológico, derivadas de seu distúrbio neuromotor. Nesse
sentido, a possibilidade de andar, manipular, falar, escrever etc., dependerá da
realização de determinados movimentos. As disfunções motoras comprometem
todos os aspectos da vida do indivíduo, limitando suas possibilidades de aprender e
suas experiências, interferindo na forma de relacionar-se com as pessoas, assim
como a forma de perceber a si mesmo e ao mundo que o cerca. (BASIL, 1995).
A lesão cerebral pode levar a pessoa a ter distúrbios no desenvolvimento
psicomotor (controle postural, cambaleio, manipulação etc.), de maior ou menor
gravidade. (BASIL,1995).
Conforme Bobath e Bobath (1976, 1987) apud Basil (1995, p. 257):
A lesão cerebral afeta o desenvolvimento psicomotor da criança em dois sentidos. Em primeiro lugar, a interferência na maturação normal do cérebro acarreta um atraso do desenvolvimento motor. Em segundo lugar, ocorrem alterações neste desenvolvimento, devido à presença de esquemas anormais de atitude e de movimento, já que persistem modalidades primitivas de reflexo, esteriotipadas ou generalizadas, que a criança é incapaz de inibir.
A pessoa que possui um atraso no desenvolvimento da linguagem,
consequentemente tem um atraso no desenvolvimento intelectual. No caso das
pessoas com Encefalopatia Crônica Não Evolutiva da Infância, que não desfrutaram
de oportunidade de desenvolver o uso sofisticado da linguagem por meio de trocas
linguísticas eficientes, esse atraso inevitavelmente será instalado.
A maioria desses indivíduos apresenta transtornos no desenvolvimento da
fala, em decorrência das alterações dos aspectos motores expressivos da
linguagem. O nível de comunicação nas pessoas com P.C., varia desde leves
distúrbios articulatórios, até graves retardos na aquisição da fala ou total
impossibilidade de compreensão, diante da emissão oral articulada de um som.
Para Basil (1995, p.257 e 258):
As lesões cerebrais produzem, quase sempre, alterações do aspecto motor-expressivo da linguagem, determinadas por uma perturbação, mais ou menos grave, do controle dos órgãos motores bucofonatórios, que pode afetar a execução (disartria) ou a própria organização do ato motor (apraxia). As consequências destes distúrbios são variáveis, podendo alterar, em maior ou menor grau, a inteligibilidade da linguagem falada, podendo, inclusive, impedi-la por completo. Em muitos casos, estes distúrbios motores dos órgãos bucofonatórios afetam outras funções além
da fala, como a mastigação, a deglutição, o controle da saliva ou a respiração. No entanto, se não ocorrem outros problemas associados, a compreensão da linguagem pode desenvolver-se corretamente. Em algumas ocasiões, menos frequentes, a lesão cerebral pode condicionar distúrbios específicos da linguagem e não somente do ato motor da fala, como as disfasias, distúrbios que, mesmo não estando relacionados a déficits sensoriais (surdez,etc.) ou cognitivos, podem afetar tanto a expressão como a compreensão da linguagem.
Sendo assim, em casos nos quais a pessoa com Encefalopatia Crônica Não
Evolutiva da Infância tem a capacidade de expressão oral ou escrita limitada, torna-
se imprescindível a utilização de uma sistema alternativo de comunicação.
3 - Tecnologia Assistiva
Em, 14 de dezembro de 2007, o Comitê de Ajudas Técnicas/Secretaria
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República – CAT/SEDH –
aprovou o seguinte conceito de Tecnologia Assistiva, proposto por seus integrantes.
Para o CAT:
Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (BRASIL, 2007 apud BERSCH, 2009, p. 182).
Desse modo, podemos dizer que a tecnologia assistiva é uma área do
conhecimento que engloba todas as formas de recursos e serviços que contribuam
na ampliação de habilidades funcionais de pessoas com necessidades educacionais
especiais, visando a sua qualidade de vida, a autonomia, a independência e a
inclusão social.
De acordo com Bersch (2007), ao referir-se à citação de Dias de Sá:
A tecnologia assistiva deve ser compreendida como resolução de problemas funcionais, em uma perspectiva de desenvolvimento das potencialidades humanas, valorização de desejos, habilidades, expectativas positivas e da qualidade de vida, as quais incluem recursos de comunicação alternativa, de acessibilidade ao computador, de atividades de vida diárias, de orientação e mobilidade, de adequação postural, de adaptação de
veículos, órteses e próteses, entre outros. (BRASIL, 2006, p.18 apud BERSCH, 2007. p.31).
A partir dessa definição, é possível perceber que a Tecnologia Assistiva (TA)
é composta de recursos e serviços. O recurso será o equipamento usado pelo aluno
durante a realização de uma tarefa e o serviço é a ação pela qual se tentará resolver
os problemas funcionais do aluno, buscando alternativas para que ele participe das
atividades escolares. (BERSCH, 2007).
No artigo 61 do decreto 5.296/04, ajudas técnicas é o termo usado que
engloba:
[...] produtos, instrumentos e equipamentos ou tecnologias adaptadas ou especialmente projetadas para melhorar a funcionalidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida. (art. 61 do decreto 5.296/04, BERSCH E PELOSI, 2006, p.8).
Na visão de Berch (2007), ajudas técnicas é sinônimo de tecnologia assistiva
quando se trata de recursos utilizados para promover a funcionalidade de pessoas
com deficiência ou incapacitadas pelo envelhecimento. Bersh (2007), também
ressalta que a legislação brasileira garante ajudas técnicas ao cidadão brasileiro
com deficiência e que o professor deve ajudá-lo a definir quais são os recursos que
precisa para que possa obter o benefício.
Conforme estabelecido no Decreto nº 3.298 de 20 de dezembro de 1999, os
recursos garantidos às pessoas com deficiência são:
Equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho especialmente desenhados ou adaptados para uso por pessoa portadora de deficiência; elementos de mobilidade, cuidado e higiene pessoal necessários para facilitar a autonomia e a segurança da pessoa portadora de deficiência; elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a sinalização para pessoa portadora de deficiência; equipamentos e material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa portadora de deficiência; adaptações ambientais e outras que garantam o acesso, a melhoria funcional e a autonomia pessoal (BERSCH, 2007, p. 33).
O uso da Tecnologia Assistiva, na escola, consiste em encontrar estratégias,
por meio das quais o aluno realize o que deseja e aumente a sua capacidade de
ação e interação a partir de suas habilidades. Empregar a TA corresponde a
possibilitar ao aluno, novas alternativas para: melhorar a sua comunicação, a escrita,
a leitura; ampliar sua mobilidade; acessar ao computador; utilizar materiais escolares
e pedagógicos; proporcionando-lhe maior qualidade de vida escolar e independência
na realização de suas tarefas. Bersh (2007), diz que o professor deve encontrar,
junto com o aluno, alternativas possíveis, que façam com que ele vença as barreiras
que o impedem de ser incluído na rotina escolar. Todavia, ao adotar tecnologias
assistivas aproveita-se tudo aquilo que o aluno consegue fazer e amplia-se essa
ação, mediante a introdução de recursos.(BERSH,2007).
Modalidades da TA:
Segundo Bersh (2007 p. 37) a TA pode organizar-se em modalidades que são classificadas em:
• Auxílios para a vida diária e vida prática. • Comunicação Aumentativa e Alternativa. • Recursos de acessibilidade ao computador. • Adequação Postural (posicionamento para função). • Auxílios de mobilidade. • Sistemas de controle de ambiente. • Projetos arquitetônicos para acessibilidade. • Recursos para cegos ou para pessoas com visão subnormal. • Recursos para surdos ou pessoas com déficits auditivos. • Adaptações em veículos.
4 - Histórico: Comunicação Alternativa
De acordo com Vanderheiden e Lloyd (1986), as técnicas aumentativas e
alternativas existem há mais de 30 anos. No início dos anos 70, os sistemas de
sinais manuais começaram a ser aplicados a pessoas com retardo mental, afasia,
deficiência neuromotora e autismo, pois eram utilizados somente para os não
ouvintes. Pesquisas a respeito do ensino de linguagem também obtiveram sucesso
entre as pessoas com deficiência. Os sistemas de sinais gráficos também foram
desenvolvidos a fim de que pessoas sem habilidades de escrita pudessem se
comunicar. Kates e McNaughton (1975) implantaram o sistema logográfico de
comunicação, sistema Bliss, desenvolvido a princípio em grupos de pessoas com
paralisia cerebral, como forma de comunicação universal. Hoje, há uma amplitude
de sistemas de sinais, tanto gestuais quanto gráficos, com intuito de desenvolver
uma forma de comunicação eficaz. (ROSELL e BASIL, 2003).
No Brasil, o uso da CAA, iniciou-se em 1978, na escola especial e centro de
reabilitação Quero-Quero, na cidade de São Paulo. Nessa instituição, eram
atendidas pessoas com paralisia cerebral, sem prejuízos intelectuais e com
deficiência neuromotora. Essas instituições especializadas foram muito importantes
para a formação dos profissionais, contribuindo na produção de conhecimentos
sobre metodologias de trabalho com pessoas com deficiência. (REILY, 2007 apud
SCHIRMER, 2009, p. 265).
Definição:
A Comunicação Aumentativa e Alternativa é uma área ou uma das
modalidades da Tecnologia Assistiva que inclui recursos, estratégias e técnicas, no
intuito de minimizar as dificuldades de comunicação que se fazem presentes em
sala de aula. É angustiante para o indivíduo tentar transmitir uma mensagem, em
uma condição física em que os músculos da boca se movem, mas não produzem o
som esperado. O leitor pode imaginar o desespero experimentado pela pessoa
com comprometimentos motores para a fala? O insucesso na comunicação é
frustrante, tanto para o falante, quanto para o interlocutor. Por isso, é fundamental o
uso da comunicação alternativa, com os alunos que possuem paralisia cerebral que
têm a capacidade de expressão oral e escrita limitada, visto que esse recurso pode
proporcionar-lhes sucesso em suas iniciativas comunicativas e consequentemente,
na interação com o outro, no meio escolar ou social.
Para Schirmer (2004, p.46) apud Schirmer e Bersch (2007, p.58):
A CAA é considerada uma área da prática clínica e educacional que se propõe a compensar temporária ou permanentemente) a incapacidade ou deficiência do sujeito com distúrbio severo de comunicação.Tem como objetivo valorizar todos os sinais expressivos do sujeito, ordenando-os para o estabelecimento de uma comunicação rápida e eficiente.
Na visão de Church & Glennen (1992,) apud Schirmer, (2009, p. 265):
A CAA é uma das modalidades da TA que atende pessoas sem fala ou escrita funcional ou com defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar e/ou escrever. Busca, então, através da valorização de todas as formas expressivas do sujeito e do desenvolvimento de recursos próprios, construir e ampliar sua via de expressão e compreensão.
De acordo com Tetzchner e Martinsen (1992, p. 23) apud Schirmer e Bersch (2007, p. 59):
A CAA destina-se a sujeitos de todas as idades, que não possuem fala e ou escrita funcional devido a disfunções variadas como, por exemplo: paralisia cerebral, deficiência mental, autismo, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico, traumatismo raquiomedular, doenças neumotoras (como por exemplo, a esclerose lateral amiotrófica), apraxia oral e outros
Nessa linha de análise, podemos assegurar que a CAA beneficia pessoas de
todas as idades, que enfrentam inadequação de suas habilidades linguísticas devido
a um acidente, uma doença ou uma deficiência. Quando a inadequação (fala
inexistente ou limitada) tem origem precoce, os sujeitos por ela acometidos,
frequentemente, apresentam atraso no desenvolvimento da linguagem. Sendo
assim, o sujeito acometido precisará de adaptações, ou seja, de recursos ou
estratégias que compensem a sua habilidade de comunicação.
Nesse sentido, Smith & Ryndak (1999) apud Pelosi (2009, p.165), afirmam
que:
Caracteristicamente, usamos a linguagem oral e escrita para nos comunicarmos uns com os outros. Entretanto, a presença de uma deficiência pode limitar a extensão em que uma pessoa pode se comunicar por essas vias tradicionais. Por esse motivo, são necessárias adaptações para que ele possa participar plenamente de suas atividades.
Conforme Schirmer e Bersch (2007), os recursos, as estratégias e as técnicas
que substituem a fala são os sistemas de CAA. Tais sistemas são organizados em:
recursos que não precisam de auxílio externo: sinais manuais, gestos, apontar e
piscar de olhos, sorrir e vocalizar; e recursos que precisam de auxílio externo:
objetos reais, miniatura, símbolo gráfico, retrato, letras e palavras, dispostos em
recursos de baixa e alta tecnologia.
Cook & Hussey apud Pelosi 2009, p.167, dizem que “os recursos de
Comunicação Alternativa são os objetos ou equipamentos utilizados para transmitir
as mensagens”.
Schirmer e Bersch (2007) relacionam alguns recursos de baixa tecnologia e
recursos de alta tecnologia. São eles:
Recursos de baixa tecnologia: objetos reais, miniaturas, objetos parciais,
fotografias, símbolos gráficos: Blissymbolics, Pictogram Ideogran Communication
Symbols (PIC) e Picture communication Symbols (PCS), pranchas de comunicação,
cartões de comunicação, mesa com símbolos, avental, pastas de comunicação,
porta documentos/cartões, álbum de fotografias, agendas e calendários, livros
construídos com simbologias da CAA, livros adaptados com a simbologia da CAA,
livros de atividades confeccionadas com a simbologia da CAA e jogos desenvolvidos
com a simbologia da CAA. (SCHIRMER e BERSCH, 2007).
Recursos de alta tecnologia: vocalizadores e computadores com o uso de software
especial com pranchas dinâmicas Speaking Dynamically Pro (www.clik.com.br) e
software gratuitos (www.comunicacaoalternativa.com.br) e um software Livre que é a
prancha livre de comunicação (www.ler.pucpr.br). (SCHIRMER e BERSCH, 2007).
Trabalho com Simbologia Gráfica PCS e recursos de CAA:
Segundo Johnson (1998) apud Schirmer e Bersch (2007), o PCS deve ser dividido em seis categorias primárias, fundamentadas na função de cada palavra. As categorias são:
• Social: palavras usadas em interações sociais como: palavras educadas, pedidos de desculpas, expressões de gíria que expressem prazer ou desprazer.
• Pessoas: pronomes pessoais. • Verbos • Substantivos • Descritivo: adjetivos e advérbios. • Miscelânea: artigos, conjunções, preposições, conceito de tempo, cores, o
alfabeto, números e outras palavras abstratas. (SCHIRMER e BERSCH, 2007).
Conforme Johnson (1998 p. 5) apud Schirmer e Bersch (2007 p. 73), essas seis categorias de palavras dos PCS devem ser utilizadas em um sistema de cores:
• Pessoas: contorno ou fundo amarelo. • Verbos: contorno ou fundo verde. • Substantivos: contorno ou fundo laranja. • Descritivos: contorno ou fundo azul. • Miscelânea: contorno ou fundo branco. • Social: contorno ou fundo rosa.
ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS:
Essa Unidade Didática será desenvolvida na Escola João Paulo II – Educação
Infantil e Ensino Fundamental, na modalidade de Educação Especial, na EJA, no
município de Terra Boa, Estado do Paraná, durante o primeiro semestre do ano
letivo de 2014. Os quatro alunos envolvidos possuem Encefalopatia Crônica Não
Evolutiva da Infância e não têm fala funcional. O aluno P.S.N tem 21 anos, V.V.L.,
27 anos, A.J.P., 30 anos e J.A.P.S.,18 anos.
Por se tratar de pessoas, com um atraso no desenvolvimento da linguagem e
com atraso intelectual, entendemos ser necessária, a implementação de algumas
modalidades da tecnologia assistiva . Destacamos como medidas de acessibilidade
necessárias a esse grupo de alunos: auxílios para a vida diária e vida prática,
Comunicação Aumentativa e Alternativa, recursos de acessibilidade ao computador:
mouse adaptado e teclado colmeia, adequação postural (posicionamento para
função), auxílios de mobilidade, recursos ergonômicos (adaptações do meio físico),
jogos de alfabetização, softwares educativos e outros.
Em relação à Comunicação Aumentativa e Alternativa serão introduzidos:
sinais manuais, gestos, apontar e piscar de olhos, sorrir e vocalizar, objetos reais,
miniaturas, símbolos gráficos, letras, sílabas e palavras, pranchas de comunicação
portáteis, cartões de comunicação, calendários, fotografias dos alunos, dos
professores, de funcionários da escola e de familiares, dispostos em recursos de
baixa tecnologia.
As pranchas de comunicação serão confeccionadas com a utilização do
software Boardmaker v.6, "© 2013 DynaVox Mayer-Johnson", o qual contém
símbolos. "PCS - Picture Communication Symbols © 1980-2013 DynaVox Mayer-
Johnson".
Vale ressaltar que as pranchas de figuras- PCS serão empregadas sempre
que não for possível o entendimento comunicativo por meio de gestos e expressões
faciais.
Em relação ao trabalho acadêmico, na área de Língua Portuguesa,
priorizaremos as seguintes atividades: pranchas de letras, fichas de palavras e
textos, pastas de linguagem: animais, alimentação e esquema corporal, jogos que
estimulem a escrita, vogais e consoantes, miniaturas para desenvolver a linguagem,
dominó de palavras e figuras, pareamento do nome e sobrenome, pareamento de
letras, sílabas e palavras, autoditado etc..
Em Matemática, serão desenvolvidas atividades como: fichas de adição e
subtração, fichas com situações-problema, pareamento de figuras geométricas,
fichas de relação de quantidade com número e de número com quantidade,
pareamento de cores etc..
Na disciplina de Estudos da Sociedade e da Natureza, os conteúdos serão
transmitidos por meio da CAA, ou seja, de forma oral, tendo auxílio de
representações visuais, cartazes, livros didáticos, vídeos no computador, de maneira
que a teoria, a prática e a realidade estejam interligadas.
Serão usadas atividades de encaixe com o intuito de melhorar as habilidades
motoras.
Será proposto o uso de um mouse adaptado com velcro:
Fonte:http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/tecnologia_assistiva.pdf
Teclado colmeia: para facilitar a digitação
ATIVIDADES:
Observação: As atividades são confeccionadas e adaptadas de acordo com as necessidades dos alunos.
LÍNGUA PORTUGUESA:
Formar palavras:
Jogos para estimular a escrita:
Baseados em Berch e Machado (2007) – Livro: Atendimento Educacional Especializado – Deficiência Física.
Dominó de figuras/palavras:
Atividades com vogais: O professor pronuncia a vogal e o aluno aponta a figura.
Relação de quantidade com número:
Pareamento de cores:
Baseado em Berch e Machado (2007) – Livro: Atendimento Educacional Especializado – Deficiência Física
Encaixe de tampas:
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