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ALBERTO CEZAR DE CARVALHO OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES PARA O ENSINO DE INFORMÁTICA DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO 2011 Programa de Pós-Graduação em Educação Av. Pres. Vargas, 642 / 22º andar – Centro 20071-001 – Rio de Janeiro, RJ Tel.: (0xx21) 2206-9751

OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES PARA O ENSINO DE ... · Hypolitto that address the "continuing education" and "professional development", ... Para nós adultos, cada novidade

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PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 1

ALBERTO CEZAR DE CARVALHO

OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES PARA O ENSINO DE INFORMÁTICA DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO

2011

Programa de Pós-Graduação em Educação

Av. Pres. Vargas, 642 / 22º andar – Centro

20071-001 – Rio de Janeiro, RJ

Tel.: (0xx21) 2206-9751

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 2

OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES PARA O ENSINO DE INFORMÁTICA DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO

LINHA DE PESQUISA:

Tecnologias de Informação e Comunicação nos Processos Educacionais

Alberto Cezar de Carvalho

ORIENTADORA:

Profª Drª Estrella Bohadana

Dissertação apresentada à Universidade Estácio de Sá, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação

Rio de Janeiro

2011

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 3

OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES PARA O ENSINO DE

INFORMÁTICA DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação

Mestrado em Educação da Universidade Estácio de Sá

e aprovada por todos os membros da Banca Examinadora

como requisito parcial para obtenção do título de

mestre em Educação.

Rio de Janeiro, 20 de junho de 2011.

_____________________________________

Profª. Drª. Estrella Bohadana Presidente

Universidade Estácio de Sá

_____________________________________

Profª. Drª. Mônica Rabello de Castro Universidade Estácio de Sá

_____________________________________

Prof. Dr. Márcio Silveira Lemgruber UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora

Rio de Janeiro

2011

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 4

AGRADECIMENTOS

À Profª Drª Estrella Bohadana, pelo apoio, incentivo e orientações sempre pertinentes, respeitando, sempre que possível, as minhas opiniões pessoais, mesmo que as mesmas não coincidissem com as suas.

À Profª Drª Lúcia Regina Villarinho, pelo apoio e organização de todo o projeto MINTER, sempre muito minuciosa e responsável em tudo que faz.

Á Profª Alda Judith Alves-Mazzotti, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estácio de Sá, sempre carinhosa com todos nós.

Ao Prof. Célio Alves Espíndola, Coordenador local do projeto MINTER, que sempre se colocou à nossa disposição, e, principalmente nos orientou nos primeiros passos quando da elaboração do projeto inicial a ser submetido à Banca para aprovação de nossa inserção no Mestrado.

Ao Prof. Paulo Rogério de Araújo Guimarães, Diretor Geral do Campus Juiz de Fora do IF Sudeste MG, que com sua postura diante do desafio do convênio CTU/UNESA no projeto MINTER, trabalhou de forma incansável no sentido de nos dar esta magnífica oportunidade de nos qualificarmos.

A todos os professores do Curso Técnico de Informática do Campus de Juiz de Fora do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, que, com seus depoimentos e observações, tanto valorizaram este meu trabalho.

A todos os meus colegas do mestrado, que com sua amizade e espírito de colaboração irrestrito, me ajudaram a vencer esta etapa tão importante de minha vida.

À minha esposa e filhos, que souberam nos apoiar e compreender o fato de em alguns momentos não ter podido dar-lhes a devida atenção e dedicação, e, em outros não mediram esforços em nos incentivar a continuar a caminhada.

À minha mãe, Ivone Cezar de Carvalho, por tudo que me ensinou na vida, mostrando, através do exemplo, a grande arte do convívio, e ao meu finado pai, Waldyr Marques de Carvalho, que nunca mediu esforços em contribuir para com a minha educação em grande parte da minha vida.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 5

RESUMO

O presente estudo analisa como os professores que lecionam no curso técnico de Informática do Campus de Juiz de Fora do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF SUDESTE MG-JF) procuram se atualizar, uma vez que as mudanças nas tecnologias de informação e comunicação vêm se dando a uma velocidade incompatível com a absorção das mesmas pelos docentes; bem como a interferência causada pela cibercultura na forma de repassar os conhecimentos de suas disciplinas no curso. O ensino de Informática, nosso foco de pesquisa, depara-se com o constante desenvolvimento do software e do hardware. As “linguagens de programação” têm mudado de formato, concepção e aplicabilidade. Em paralelo, podemos observar as mudanças tecnológicas que têm ocorrido nos equipamentos de informática e em seus periféricos. Baseamos nosso estudo nos ensinamentos de Pierre Lèvy, Paul Virilio, René Armand Dreifuss e Nestor Garcia Canclini, que descrevem a cibercultura, a globalização e as transformações tecnológicas; Gilberto Dupás que aborda a ética nestes novos tempos; João Pedro da Ponte e Dinéia Hypolitto que abordam a “formação continuada” e o “desenvolvimento profissional”, este último relacionado ao “aprender sozinho”; Marco Silva nos fala da importância do envolvimento dos alunos e o professor no processo de ensino-aprendizagem, valorizando a busca do conhecimento coparticipativo. Além dos citados, outros autores também contribuiram no sentido de abordarmos o problema analisando-o pelos apectos técnico e social. A metodologia de pesquisa utilizada foi a do Grupo Focal (GF), uma técnica de análise qualitativa, em que envolvemos os professores do Curso Técnico de Informática do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais. Com o intuito de complementarmos nossa pesquisa, utilizamos mais duas técnicas: (a) entrevista semi-estruturada, buscando obter respostas a algumas dúvidas que mereceram esclarecimento a partir do depoimento dos professores no GF; (b) a observação dos professores em sala de aula, analisando o comportamento dos mesmos diante de seus depoimentos proferidos durante a reunião do GF. Concluimos que a cibercultura tem provocado mudanças na relação professor-aluno, uma vez que os docentes, diante da velocidade das mudanças nas tecnologias da informação e comunicação, se sentem incapazes de absorver toda a informação disponível na mesma velocidade em que ela se apresenta. De uma forma intuitiva, os professores passaram a abordar os novos conhecimentos a partir de uma construção coletiva, inserindo os discentes na sua busca, incentivando a sua coparticipação no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Desenvolvimento profissional. Ensino de informática. Atualização do professor. Cibercultura. Globalização. Coautoria.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 6

ABSTRACT

This study examines how teachers who teach in technical course of Informatics Campus of Juiz de Fora Federal Institute of Southeast of Minas Gerais (MG-IF SOUTHEAST JF) look for updates, since changes in technology information and communication come to giving a speed incompatible with the absorption of them by teachers, as well as the interference caused by cyberspace in the form of passing on the knowledge of their disciplines in the course. The teaching of Computer Science, our research focus, is faced with the constant development of software and hardware. The "programming languages" have changed in format, design and applicability. In parallel, we can see the technological changes that have occurred in computer equipment and peripherals. We base our study on the teachings of Pierre Lèvy, Paul Virilio, René Armand Dreifuss and Nestor Garcia Canclini, who describes cyberculture, globalization and technological changes; Gilberto Dupás that deals with ethics in these new times, João Pedro da Ponte and Dinéia Hypolitto that address the "continuing education" and "professional development", the latter related to "learn yourself"; Marco Silva speaks of the importance of involving students and teachers in the teaching-learning process, emphasizing the pursuit of knowledge co-participated. Besides those mentioned, others have also contributed towards addressing the problem by analyzing the technical and social aspect. The research methodology used was focus group (FG), a qualitative analysis technique, which involved teachers from the Technical Course of Informatics of the Institute of Southeast Federal of Minas Gerais. In order to complement our research, we used two other techniques: (a) semi-structured interviews, seeking answers to some questions that deserved clarification from the testimonies of teachers in FG (b) observation of teachers in the classroom by analyzing their behavior before their statements made during the meeting of the FG. We conclude that cyberculture has caused changes in teacher- student relationship, as teachers, given the speed of change in information technology and communication, feel unable to absorb all the information available at the same speed in which it presents itself. From an intuitive way, the teachers started to address the new knowledge from a collective construction, placing the students in their quest, encouraging their co-participation in the teaching-learning process.

Keywords: Professional development. Teaching computer. Updating the teacher. Cyberculture. Globalization. Co-author.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO  I  ........................................................................................................................................  8  1.1  –  APRESENTAÇÃO  DO  PROBLEMA  .................................................................................................  8  1.2  -­‐  OBJETIVO  ..........................................................................................................................................  19  1.3  –  PROCEDIMENTOS  METODOLÓGICOS  ......................................................................................  19  1.3.1  –  Grupo  Focal  .................................................................................................................................................  20  1.3.2  -­‐  Entrevista  .....................................................................................................................................................  24  1.3.3  -­‐  Observação  ..................................................................................................................................................  25  

1.4  -­‐  ORGANIZAÇÃO  DA  DISSERTAÇÃO  .............................................................................................  26  

CAPÍTULO  II  ....................................................................................................................................  27  2.1  -­‐  QUADRO  TEÓRICO  .........................................................................................................................  27  2.1.1  –  A  Cibercultura,  Internet  e  as  Tecnologias  da  Informação  e  Comunicação  ......................  27  2.1.2  –  A  velocidade  das  transformações  .....................................................................................................  32  2.1.3  –  As  linguagens  de  programação  ..........................................................................................................  33  2.1.4  –  O  Hardware  .................................................................................................................................................  39  2.1.5  –  A  linguagem  de  máquina  (Assembler)  ............................................................................................  43  2.1.6  –  Programas  de  alto-­‐nível  e  os  compiladores  .................................................................................  44  

CAPÍTULO  III  ..................................................................................................................................  46  3.1  -­‐  APRESENTAÇÃO  E  ANÁLISE  DOS  DADOS  ................................................................................  46  3.1.1  –  Introdução  ...................................................................................................................................................  46  3.1.2  –  Descrição  do  Grupo  Focal  .....................................................................................................................  47  3.1.3  –  Descrição  das  entrevistas  .....................................................................................................................  62  3.1.4  –  Descrição  das  observações  ..................................................................................................................  63  

CAPÍTULO  IV  ...................................................................................................................................  64  4.1  -­‐  CONSIDERAÇÕES  FINAIS  ..............................................................................................................  64  

REFERÊNCIAS  .................................................................................................................................  69  

APÊNDICE  I  .....................................................................................................................................  72  

APÊNDICE  II  ....................................................................................................................................  74  

APÊNDICE  III  ..................................................................................................................................  94  

APÊNDICE  IV  ...................................................................................................................................  99  

RELAÇÃO  DE  FIGURAS  ...............................................................................................................  105  

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 8

CAPÍTULO I

1.1 – APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

As novas gerações estão nascendo em um mundo repleto de novidades

tecnológicas. Os jovens absorvem tais mudanças de uma forma tão natural, que nos

surpreende. Para nós adultos, cada novidade representa um novo desafio de

aprendizagem, enquanto que para eles nada mais é do que a consequência natural das

novas bases tecnológicas existentes.

Verificamos também que algumas profissões começam a desaparecer dando lugar

a outras, levando a exigir que todos nós passemos a nos moldar às novas tecnologias e

consequentemente realizarmos cursos de capacitação e/ou atualização para garantir nossa

participação no mercado de trabalho. Em decorrência dessas mudanças tecnológicas,

surgiram novas demandas, fazendo crescer o número de cursos de capacitação oferecidos.

Mas, não só em nível de graduação sentem-se tais mudanças, novos cursos de

treinamento profissional estão possibilitando aos trabalhadores adaptarem-se a este novo

mundo do trabalho, uma vez que são forçados a atualizarem-se para continuarem a

contribuir como força produtiva no mercado.

É uma preocupação o fato de não estarmos preparados para apreender tais

mudanças na mesma velocidade com que elas surgem. Durante os anos 90, Pierre Lévy1

(1993, p.7) nos alertava que [...] somos forçados a constatar o distanciamento alucinante entre a natureza dos problemas colocados à coletividade humana pela situação mundial da evolução técnica e o estado do debate ‘coletivo’ sobre o assunto, ou antes do debate mediático. Uma razão histórica permite compreender esse distanciamento. A filosofia política e a reflexão sobre o conhecimento cristalizaram-se em épocas nas quais as tecnologias de informação e de comunicação estavam relativamente estáveis ou pareciam evoluir em uma direção previsível.

Conforme discute o autor, existe a necessidade de um período de adaptação e

absorção, que às vezes não nos é permitido ter, pois tudo acontece de tal forma que nos leva a

1 Filósofo, professor da Universidade de Paris VIII (departamento de hipermídia). Publicou vários trabalhos dentre eles podemos destacar: “As tecnologias da inteligência”, ”A inteligência coletiva”, “O que é virtual?”, “Cibercultura”.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 9

estarmos constantemente preocupados com nossa atualização a fim de possibilitar a nossa

adequação profissional.

Inicialmente, em torno dos anos 50, as tecnologias de informática eram pouco

difundidas, e o seu domínio limitava-se principalmente a órgãos governamentais e a grandes

empresas, não havendo ainda a preocupação de estabelecer uma relação entre o ser humano e

a máquina, por meio de técnicas de interfaceamento, coisa que atualmente se tornou

imprescindível. A fim de explicar essa relação, Lévy (1993, p. 11) desenvolve o conceito de

ecologia cognitiva, afirmando que por meio dela torna-se possível “[...] a ideia de um coletivo

pensante homens-coisas, coletivo dinâmico povoado por singularidades atuantes e

subjetividades mutantes [...]”.

O mundo do conhecimento segue objetivamente no sentido de dar ao homem uma

melhor qualidade de vida, embora caminhe na contramão, em relação às camadas da

população que não têm como acompanhar tais mudanças tecnológicas, levando ao aumento da

miséria, da insatisfação pessoal, do desemprego, etc. Em nome do “progresso”, se

pudéssemos chamá-lo assim, estamos aumentando a poluição do ar, dos mares e do solo; que

a cada momento desencadeia uma série de novas tentativas de soluções para minimizar tais

violências ambientais. É o capitalismo acima da qualidade de vida.

Os professores, como educadores que são, convivem com esse problema ético, além

de depararem com a necessidade de sua atualização profissional, ou a sua própria formação,

para poderem transmitir aos seus alunos as informações/tecnologias da forma mais atualizada

possível.

Portanto, cabe aqui analisar, dois conceitos largamente empregados hoje em dia em

relação à atualização profissional: a formação continuada e o desenvolvimento profissional.

Ponte (1998) utiliza a comparação entre um e outro termo para conceituá-los. Comenta

inicialmente que a ideia de formação continuada se aplica mais quando o profissional procura

se atualizar através de cursos de capacitação, enquanto que ao desenvolvimento profissional

atribui-se a busca pelo conhecimento através de leituras, trocas de experiências, etc. Compara

também dizendo que na formação adquire-se conhecimento através da absorção daquilo que

lhe é transmitido, enquanto que no desenvolvimento profissional cabe a ele decidir o que

deseja considerar, o que deseja realizar e o que pretende executar. O autor conclui suas

comparações afirmando que o primeiro geralmente é essencialmente teórico e o segundo

procura aliar teoria e prática. Ainda afirma que “o desenvolvimento profissional ao longo de

toda a carreira é, hoje em dia, um aspecto marcante da profissão docente” (p. 2).

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 10

Acreditamos que tal observação se aplica de forma especial aos professores de

Informática, mergulhados dentro de uma época em que as mudanças tecnológicas ocorrem de

tal forma que os obrigam a atualizar-se de forma constante.

Para citar outro trabalho, podemos verificar em Menezes (2005, p. 1), onde ele

também faz referência a J. Ponte, quando diz:

A necessidade de dar formação aos professores, muitas vezes designada de contínua, por oposição à inicial, é repetida pelos responsáveis pela educação, pelas instituições de formação e pelos próprios professores. A concepção de formação tem sofrido algumas alterações ao longo do tempo. Alguns autores preferem falar de desenvolvimento profissional do professor em vez de formação. Neste sentido J. Pedro Ponte (1996) sustenta que a noção de desenvolvimento profissional é uma noção próxima da noção de formação, embora não equivalente.

Daí podemos concluir que na verdade, ao professor ainda resta mais uma

responsabilidade: não basta se graduar e especializar-se; ele necessita manter-se atualizado,

uma vez que é o responsável pela transmissão de conhecimentos que devem estar coerentes

com a época em que são transmitidos aos seus alunos.

Essas transformações tornaram-se mais marcantes com o nascimento das novas

Tecnologias da Informação e Comunicação quando se abre um novo cenário em que o mundo

torna-se cada vez menor, propiciando a “internacionalização das sociedades-nações em

direção a uma economia-mundo” (BRAUDEL apud DREIFUSS, 1996, p. 133). O professor,

além do seu desenvolvimento profissional, deve lembrar que é um educador e, como tal, tem a

obrigação de compreender melhor o mundo em que vive, que está cada vez maior e mais

diversificado com a aproximação de culturas antes pouco difundidas.

A internacionalização, uma das molas-mestra da sociedade atual, é sustentada pela

Internet, hoje responsável pela difusão de diferentes linguagens de comunicação, e pela

apresentação de novas formas de conhecimento e valores, que devem ser analisados

criticamente por aquele que ensina.

As informações na Internet encontram-se desorganizadas, distribuídas em inúmeros

sites, blogs, etc. e a existência dos sites de busca, tornou-se imprescindível, pois eles nos

orientam a todo momento no encontro daquilo que estamos a procurar. Com os chamados

“motores de busca2”, popularizados pelo Google, hoje se consegue “vasculhar” toda a rede de

uma forma rápida e eficiente, pois criam automaticamente uma série de links que contêm as

2 Foi atribuído popularmente o nome de “motores de busca” aos programas que ficam circulando pela Internet em busca de informações que contenham o texto digitado pelo usuário. Tais programas armazenam os caminhos onde tais informações se encontram e as classificam de acordo com o número de acessos à mesma, deixando aquelas de maior interesse armazenadas com maior prioridade e, consequentemente, apresentadas nas primeiras telas de busca.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 11

palavras-chave que digitamos, e passam a oferecer, com maior facilidade, referências aos

assuntos de nosso interesse, e, por meio de uma viagem de um nó a outro dentro da rede,

atingimos pontos cada vez mais interessantes que nos levam a outras pesquisas e mais outras,

a partir de uma recursividade de buscas sucessivas. Tais buscas nos fazem mergulhar cada vez

mais fundo no assunto inicialmente pesquisado, ou em outras ocasiões, ficamos totalmente

perdidos do objetivo inicial, seduzidos pelas técnicas que apresentam “[...] um grande número

de formas de expressão: imagem fixa, imagem animada, som, simulações interativas, mapas

interativos, sistemas especialistas, ideografias dinâmicas, realidades virtuais, vidas artificiais

etc. [...]” (LÈVY, 1998, p.182), bem como pelas técnicas “hipertextuais”, assim definidas por

Moraes (2001, p.69): O hipertexto afigura-se, pois, como um texto modular, lido de maneira não-sequencial, composto por fragmentos de informação, que compreendem links vinculados a nós. O percurso não-linear faculta novos gabaritos de intervenção por parte dos leitores. Conforme seus interesses e preocupações, a pessoa segue caminhos próprios e extrai sentidos dos dados localizados.

Tais informações obtidas por esses “motores de busca”, auxiliam-nos a compor nossos

conceitos e observações do cotidiano, colaborando para o aumento do nosso conhecimento

geral e da nossa noção crítica de mundo.

Podemos observar que em meio a essas demandas surgem novas profissões enquanto

que outras deixam de existir em virtude da automatização de muitos procedimentos, levando

ao surgimento de sérios problemas sociais. Nem todos têm oportunidade de acompanhar tais

mudanças, uma vez que delas decorre a necessidade premente de se atualizar. Aqueles que de

forma oportuna sabem utilizar-se das Tecnologias da Informação e Comunicação, encontram

na Internet um vasto campo de estudos e de pesquisa.

A Internet, no ciberespaço3, tem gerado comunidades virtuais que agregam pessoas de

mesmos interesses e gostos, que através de seus computadores em rede, reforçam a criação de

mercados societários, que funcionam com certa liberdade e autorregulamentação (MORAES,

2001). Essas comunidades funcionam também como disseminadoras de gostos e costumes

alimentando a ideia de mundialização4.

A partir do momento em que os grandes conglomerados comerciais passaram a se

reunir para traçar estratégias de mercado para o mundo e passaram a ditar as regras de

3 Termo inventando pelo romancista Willian Gibson na década de 80, o ciberespaço é definido como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores” (LÉVY, 1999, p. 92). 4 “A mundialização lida com mentalidades, hábitos e padrões; com estilos de comportamento, usos e costumes e com modos de vida, criando denominadores comuns nas preferências de consumo das mais diversas índoles”. (DREIFUSS, 1996, p. 136)

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 12

comportamento mundial, surge o fenômeno da globalização5, que contribuiu para o aumento

da interdependência econômica entre alguns países, através do comércio de produtos,

matérias-primas e até consumidores.

Tudo isso proporciona o aparecimento de novas áreas profissionais, que necessitam

consequentemente de treinamento profissional; e o professor, disseminador destes

conhecimentos, estará sempre incompleto, necessitando de constante aperfeiçoamento.

Este fenômeno mundial (globalização) causou efeitos na produção, nos movimentos

financeiros, no comércio e na educação. Levou os países a aperfeiçoarem-se tecnologicamente

para aumentarem sua competitividade; e essa tecnologia, cada vez mais marcante, tem

fomentado a globalização, dando-lhe o suporte necessário à sua expansão.

“Assim, mundialização e globalização significam, também, rejeição da padronização e

afirmação da diversificação e diversidade mercadológica planetária” (DREIFUSS, 1996,

p.169). Os produtos comercializados têm que atender a um número maior de interessados,

conquistando a população mundial, através dos padrões de qualidade, preço e tecnologia

sofisticada. Chega-se a tentar alterar os produtos mundialmente conhecidos, adaptando-os aos

gostos daquele país/região, definida pelo autor como “glocalização6” (Ibdem).

Lévy (1998) em sua obra “A inteligência coletiva” leva-nos a imaginar um mundo em

que o trabalho assalariado, recompensa do saber-fazer, tende a dar lugar à inteligência

coletiva, em que, de forma solidária e com cumplicidade, os seres humanos dividem e

compartilham saberes a fim de atingirem seus objetivos. A inteligência e o savoir-faire7 humanos sempre estiveram no centro do funcionamento social. Nossa espécie foi, com muita razão, chamada de sapiens. Indicamos, aliás, que a cada espaço antropológico correspondia um modo de conhecimento específico. Mas por que então chamar de ‘Espaço do saber’ o novo horizonte de nossa civilização? A novidade, neste domínio, é pelo menos tripla: deve-se à velocidade de evolução dos saberes, à massa de pessoas convocadas a aprender e produzir novos conhecimentos e, enfim, ao surgimento de novas ferramentas (as do ciberespaço) que podem fazer surgir, por trás do nevoeiro informacional, paisagens inéditas e distintas, identidades singulares, específicas desse espaço, novas figuras sócio-históricas (LÉVY, 1998, p.24).

Recorremos à citação acima, talvez utópica, como o próprio autor afirma, para tentar

teorizar as “mudanças de áreas” que hoje ocorrem no campo profissional. Algumas

profissões, principalmente aquelas decorrentes de trabalhos manuais, estão deixando de existir

5 “São fenômenos do mundo da tecnologia, da produção, das finanças e do comércio que atingem de forma desigual e combinada todos os países da terra, e não somente aqueles que operam em escala mundial”. (DREIFUSS, 1996, p.156) 6 Termo utilizado por Dreifuss (1996) para expressar “[...] a dualidade do fenômeno: o customizing (ajuste ao sabor local) e a harmonização (global) do produto e do produtor”. 7 Savoir-faire: podemos traduzir como “o saber fazer”, ou como dizemos popularmente: “knowhow”.

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face à automatização, e outras estão surgindo e exigindo maior conhecimento técnico-

científico, levando ao aumento da demanda para os cursos profissionalizantes que propiciam a

atualização profissional. Por outro lado, os professores, “detentores do saber”, são obrigados a

manterem-se atualizados e recorrem a formas autônomas de aprendizado que se apresentam

para tentarem conseguir o seu desenvolvimento profissional.

Talvez uma forma mais econômica de obter conhecimento esteja na Internet, que

embora possa apresentar informações equivocadas, se soubermos filtrá-las, pode ser uma

fonte interessante de informações, cada vez mais acessível, ainda que não disponível para

todos. Segundo Lévy (2002, p. 2), em uma entrevista realizada pelo site “La Insignia8”, “[...]

não podemos ser impacientes e nos escandalizarmos com o fato de que a maioria da

população não está conectada. O que é preciso observar é a velocidade com que a curva de

conexões aumenta, e isso, já é notável”. Com essa citação, Lévy nos leva a compreender que,

embora reconheçamos que nem todos tenham acesso à Web, se analisarmos de forma

comparativa, a cada dia temos uma maior parcela da população “conectada”, o que nos leva a

inferir que a exemplo da televisão, venhamos a possibilitar a inserção de um grande número

de pessoas ao mundo da informação.

A globalização tecnológica veio a revelar diferenças e desigualdades, uma vez que

passou a conectar vários povos/culturas simultaneamente. O conhecimento dos modos de vida

de outras nações, perante as suas, fez com que se repensasse a vida e costumes; e a inevitável

comparação explicitou as diferenças. Enquanto as outras formas de viver eram desconhecidas,

nem se cogitava sobre suas diferenças, mas estas afloraram a partir do momento em que se

tornaram evidentes.

Com o passar do tempo, “em poucos anos, as economias dos países grandes, médios e

pequenos passaram a depender de um sistema transnacional no qual as fronteiras culturais e

ideológicas se desvanecem” (CANCLINI, 2007, p.19). A mistura de culturas e tecnologias

transformou nossas vidas, e estamos aprendendo a conviver com a multicultura, respeitando

as diferenças. Canclini (2007, p.24) assim descreve: Em vez de comparar culturas que operariam como sistemas pré-existentes e compactos, com inércias que o populismo celebra e a boa vontade etnográfica admira por causa da resistência, trata-se de prestar atenção às misturas e aos mal-entendidos que vinculam os grupos. Para entender cada grupo, deve-se descrever como se apropria dos produtos materiais e simbólicos alheios e os reinterpreta [...]

8 http://www.lainsignia.org/2002/noviembre/cyt_008.htm, acessado em: 06 de dezembro de 2009 às 11h15min.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 14

Infelizmente nem todos conseguem se colocar neste mundo neoliberal de forma digna

e justa, o capitalismo desenfreado mutila aqueles desprotegidos pela educação, não

oferecendo sequer a oportunidade de procurar pela mesma, uma vez que este mundo cultural

não faz parte de suas vidas sofridas. Os desassistidos estão cada vez mais abandonados, pois a

luta pela sobrevivência, a competitividade, a rapidez dos acontecimentos, as mudanças

tecnológicas, exigem uma base cultural que nem todos têm a oportunidade de obter, e veem

cada vez mais longe a possibilidade de sua ascensão ao mundo dos “culturalmente felizes”.

Para aqueles que já têm essa facilidade de acesso, talvez não disponha do tempo para

absorver tudo que se apresenta. Aqueles que enxergam a necessidade de se manterem

atualizados “devoram” a informação e vêm que cada vez mais precisam obter mais, pois nos

encontramos em um mundo competitivo, em que informação é poder. Lévy (1999),

acrescenta que a educação está intimamente ligada às mudanças geradas pela cibercultura9, e

com o surgimento e a renovação dos novos saberes, o conhecimento adquirido no início da

carreira profissional estará obsoleto ao aproximar de seu final.

Contrapondo à visão otimista da Cibercultura, constatamos nos trabalhos de Paul

Virilio10, a afirmação de que tudo aquilo que se prega a respeito das benesses das Tecnologias

da Informação e Comunicação são meras formas disfarçadas de assumir o controle de tudo.

Olhando o desenvolvimento científico de uma maneira geral, Virilio (1999) nos recorda de

determinadas passagens históricas mostrando que a ciência deixou de ter o caráter científico e

passou a se desenvolver exclusivamente para alimentar a corrida armamentista, para se atingir

a soberania do poder através da força. Disfarçam-se as verdadeiras razões bélicas em novas

tecnologias aparentemente inocentes, e o autor refere-se a essas situações exemplificando:

O advento do live, [ao vivo], decorrente do uso da velocidade-limite das ondas, transforma a antiga ‘tele-visão’ em uma GRANDE ÓTICA PLANETÁRIA. [...] Com a CNN e seus diversos avatares, a televisão doméstica cede lugar à TELEVIGILÂNCIA. [...] Assim, compreende-se melhor a súbita multiplicação das ‘luminárias gigantescas’, dos satélites de observação meteorológica ou militar. O contínuo lançamento de satélites de transmissão, a generalização da videovigilância nas metrópoles, ou ainda o desenvolvimento recente das live cams na Internet ... [...] (VIRILIO, 1999, p.19).

As observações acima citadas por Virilio têm algum fundamento, e nos levam a ter um

certo cuidado em nossas avaliações das reais intenções ao nos depararmos com novas

tecnologias. 9 Conceito descrito por Pierre Lévy (1999) em sua obra homônima. 10 Arquiteto, urbanista, filósofo, ex-diretor da Escola de Arquitetura de Paris, especialista em questões estratégicas. O primeiro crítico do cibermundo. Dentre seus trabalhos publicados, podemos citar: “A bomba Informática”, “A máquina de visão”, “Guerra e cinema: a logística da percepção”.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 15

Cabe aos educadores a tarefa de discutir eticamente as novas tecnologias, e para tal,

devem estar “antenados” em tudo que acontece ao seu redor. Não podemos a todo instante

delegar a outrem a responsabilidade pela aplicabilidade da ética, pois sob a desculpa de

espionagem industrial, mente-se ou falseiam-se informações (DUPÁS, 2000, p.79).

Como diz Dupás (2000, p.71), “a técnica nos possibilita o ‘saber como’ e não o ‘saber

porquê’ ”. Podemos aplicar as tecnologias a todo o momento, mas sua utilização poderá estar

sendo feita de forma insensata (DESMOND apud DUPÁS, 2000, p.71).

A sociedade midiatizada está influenciada pelas “tecnomediações” e tem levado o

indivíduo a exercer a interatividade a todo instante esquecendo um pouco a autorreflexão. O

ser humano tem deixado de lado a sua própria vida, a bios definida por Aristóteles. Sem

perceber, estamos sendo influenciados pelo “crivo de uma invisível comunidade do gosto”

(SODRÉ, 2002, p. 23).

É necessário que para a construção de um mundo melhor, aliado aos “avanços da

ciência”, tenhamos de per si o respeito aos cidadãos e à natureza.

A Internet, uma das responsáveis pela difusão da Cibercultura, e que foi concebida

inicialmente para atender a estratégias bélicas, pode e deve ser utilizada para difundir a paz

mundial, o respeito ao cidadão, repassar cultura, exemplificar comportamentos éticos,

provocar ajuda social, promover esclarecimentos políticos, enfim, levar o homem a exercer

sua cidadania.

Os professores têm diante de si desafios não só na busca de valores éticos e de

conhecimentos, mas também o de conseguir adaptar-se às mudanças, uma vez que algumas

delas vêm acompanhadas de novos paradigmas, que poderão alterar conceitos até então

praticados, fazendo com que o profissional venha a ter que revê-los. Para que essas

modificações, acontecendo em curtos espaços de tempo, não afetem o desempenho do

profissional de ensino, ele se vê obrigado a atualizar-se continuamente, muitas vezes de forma

autônoma (desenvolvimento profissional), mesmo tendo que cumprir cargas horárias de

trabalho incompatíveis com o tempo de preparação de suas aulas.

Falando um pouco mais especificamente do ensino de Informática, nosso foco de

pesquisa, nota-se o grande desenvolvimento do software11 e do hardware12.

Observando a evolução das “linguagens de programação13” em relação à forma de

utilização das mesmas, elas mudaram no formato, concepção e aplicabilidade, levando os 11 Software é o nome técnico atribuído aos programas utilizados nos computadores. Esses programas são desenvolvidos a partir da utilização de técnicas de linguagens de programação. 12 Hardware é o nome técnico atribuído aos componentes eletrônicos dos computadores. Também podemos incluir, neste caso, os equipamentos periféricos, aqueles ligados externamente aos computadores (impressora, teclado, etc.). 13 Formas codificadas de instruir os circuitos digitais (processadores) a executarem tarefas no computador.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 16

profissionais que as lecionam a alterar toda a sua didática de ensino, uma vez que passaram

por técnicas diferenciadas de utilização/concepção. As linguagens de programação

inicialmente continham comandos sequenciais; depois, passaram a adotar subrotinas

(linguagens estruturadas) e, em seguida, passaram a ser orientadas a eventos e objetos.

Quanto ao hardware podemos observar o aparecimento de novas tecnologias a todo

momento: aumento de velocidade de processamento, aumento da capacidade de memória,

novas formas de armazenamento de dados (HD, Pen-drive, CD, DVD, etc.), processadores

duplos, quádruplos, monitores de LCD, etc. Podemos imaginar a dificuldade dos professores

das disciplinas afins (periféricos, eletrônica digital, microprocessadores, etc.) em manterem-se

atualizados.

Com relação ao software, as primeiras linguagens de programação começando pelo

FORTRAN (1955), passando pelo COBOL (1959), pelo primeiro BASIC (1964), sofreu

inúmeras modificações e teve sua primeira versão para microcomputadores em 1975, que

vinha incorporada ao microcomputador conhecido como Altair 880014; tinham, em relação à

sua sintaxe, uma formatação sequencial, isto é, os comandos eram colocados um seguido do

outro e eram executados um a um, até encontrar comandos de desvio ou estruturas de

repetição. Nesses tipos de linguagem, os programas produzidos não permitiam aos usuários

uma grande flexibilidade de ação, e para tornar os programas menos “escravizadores” os

programadores tinham que utilizar de inúmeros truques, aumentando a complexidade das

linhas de comando. Na maioria dos programas, o usuário respondia perguntas numa sequência

predeterminada, impedindo-o de tomar decisões quanto ao momento mais propício de

respondê-las.

Uma segunda geração, se é que podemos chamar assim, surgiu com as linguagens

procedurais, ou estruturadas. Exemplos desta geração seriam o PASCAL (1970), C (1972),

etc., que possuem a estrutura formada por subrotinas que são chamadas por um programa

principal. Os programas ficam mais inteligíveis e mais fáceis de serem alterados, uma vez que

cada rotina poderá tratar de uma parte diferente do mesmo.

Com a chegada da “terceira geração”, novos desafios se apresentaram. Surgiram as

“linguagens visuais”, que passaram a utilizar os conceitos de Orientação a Objetos associados

aos Eventos15. Essa nova forma de programar passou a ser utilizada após o lançamento de

14 “Esse BASIC, acrescido de comandos típicos de sistemas operacionais (mesmo que simplíssimos) e de edição, residente em ROM, funcionava como uma espécie de linguagem própria do computador, o mais próximo existente do que hoje chamamos de sistema operacional, e a maioria das aplicações da época seria escrita no dialeto de BASIC específico da máquina” (Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/BASIC>. Acesso em: 28 Março 2010). 15 Programação orientada a eventos é um paradigma de programação. Diferente de programas tradicionais que seguem um fluxo de controle padronizado, o controle de fluxo de programas orientados a evento é guiado por indicações externas,

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 17

Sistemas Operacionais que concebem a ideia de se comunicar visualmente com o usuário

através do uso de ícones, figuras, imagens, filmes, sons, etc. Historicamente, tal concepção

surgiu com o lançamento do Apple Macintosh, em 1984, que integrava a informática ao

mundo da comunicação, da edição de textos e dos sistemas audiovisuais fazendo uso da

interatividade com a generalização do conceito de hipertexto (LÉVY, 1993).

Mas, aliada a toda essa facilidade de operação, veio a complexidade da programação,

pois o usuário pode tomar decisões aleatórias diante de inúmeras possibilidades que se

apresentam diante da tela. Ele poderá abrir um programa, escrever um texto, responder a uma

pergunta, mover uma peça de um jogo; tudo acontecendo ao mesmo tempo no mesmo espaço.

A questão que se coloca é como gerenciar isso.

Como vimos, a cada mudança de paradigma, um novo desafio didático surge para

ensinar informática e talvez um desafio maior seja o da atualização do próprio professor, que

acostumado a outras formas de programação, concepções técnicas e vícios adquiridos, tem

que enfrentar novas ideias e visões que são modificadas em ritmo acelerado com o surgimento

de outras tecnologias.

Atualmente, com a popularização da Internet, novas mudanças nas Linguagens de

Programação foram necessárias, pois tiveram que ser voltadas para utilização em uma grande

rede, e assim se adaptarem a computadores de diversos tipos, marcas e tecnologias, passando

a ser multiplataforma16. Devido a tais mudanças, novamente é necessário adequar as grades

curriculares inserindo essas novas tendências. Observamos, então, que não só a tecnologia de

hardware tem interferido, mas também o aparecimento de novos conceitos de comunicação

tem influenciado sobremaneira na escolha das linguagens de programação que melhor se

adaptem aos novos conceitos que surgem.

Preocupado em verificar o que já se estudou a respeito do que essas mudanças

tecnológicas têm interferido diretamente na maneira de ensinar informática, fizemos uma

pesquisa bibliográfica, através da Internet, fazendo uso do recurso de busca no banco de

teses/dissertações da CAPES, onde encontramos algumas referências a esse assunto.

Iniciamos nossa busca utilizando o cruzamento das palavras: professor informática e

encontramos 809 dissertações ou teses, o que nos levou a depurar um pouco mais nossa

busca, agora utilizando as palavras: professor tecnologia programação informática ensino

técnico na qual obtivemos 33 teses/dissertações; após sua análise do conteúdo de cada uma

chamadas eventos. Sua aplicação é grande no desenvolvimento de sistemas de interface com o usuário. (Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Programa%C3%A7%C3%A3o_orientada_a_eventos>. Acesso em: 28 Março 2010). 16 Programas Multiplataforma: podem ser executados em diversos sistemas operacionais.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 18

delas, destacamos apenas duas cujos assuntos aproximaram-se do objeto de nossa pesquisa:

(1) “A Formação Continuada de Professores sob o prisma das Tecnologias de Informação e

Comunicação: Uma experiência da Rede Municipal de Ensino de Taboão da Serra”

(CÉZAR, 2003), em que se conclui que “[...] ainda há muita dificuldade para se desenvolver

uma prática pedagógica com o auxílio do computador, seja pela falta de compreensão dos

gestores das escolas, seja pelo preconceito de professores contra o uso dessas ferramentas,

falta de apoio técnico, etc.” (2) “Professores-instrutores das salas de informática das escolas

da rede pública municipal de Campo Grande-MS: as relações entre a capacitação recebida e

a sua prática pedagógica na sala de informática” (SILVA, 2006), que também concluiu a

utilização limitada dessa tecnologia digital na prática pedagógica do processo analisado.

Insistindo um pouco mais, alteramos o direcionamento da busca, colocando as

palavras-chave: ensino informática atualização; para verificarmos trabalhos com temas mais

próximos à nossa proposta de pesquisa, durante os últimos 7 anos, dos quais destacamos: (1)

A educação continuada de professores municipais (MENEZES, 2003), quando vivenciada na

escola, através da utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação e aliada a uma

perspectiva de desenvolvimento pessoal, propicia aos educadores condições de se

desenvolverem de forma criativa, desafiadora, interativa e mais autônoma. (2) A informática

na educação: o novo papel do professor no ensino técnico (FILHO, 2005), que retrata a

preocupação em demonstrar que mesmo nos cursos técnicos, a informática ainda não tem

demonstrado eficiência, uma vez que nem todos os professores e alunos estão preparados para

o uso do computador como ferramenta de ensino. Ele constata que a sociedade é influenciada

pelas mudanças tecnológicas, e, muitas vezes, é obrigada a mudar seu comportamento diante

da influência das novas realidades. Mas, em relação à Escola, nota-se uma resistência a essas

alterações o que provoca uma “crise de resultados negativos na sociedade”. (3) Educação e

Cibercultura (SOUZA, 2006), que utilizou como sujeitos os alunos e os professores,

encontrando como resultado a existência de uma expectativa entre os alunos de adquirir

conhecimentos que lhes propiciam entrar e se manter no mercado de trabalho; já entre os

docentes espera-se que os “alunos construam, além das competências técnicas, as

comunicativas e comportamentais”. (4) Formação continuada na era digital: as contribuições

de EAD para o ofício docente em informática (TEIXEIRA, 2006), conclui que: “(a) a rapidez

dos avanços tecnológicos implica a urgência da atualização docente de forma contínua, na

área da docência em Informática; (b) as competências profissionais necessárias ao ofício de

professor estão ligadas tanto à dimensão técnica quanto à dimensão pedagógica; (c) a

infraestrutura tecnológica para o exercício docente em Informática apresenta entraves que têm

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 19

repercussões na qualidade do ensino; e (d) a educação online constitui uma alternativa que

pode viabilizar a formação contínua dos professores de Informática” (p. 8).

Convém observar aqui o problema da conceituação de formação continuada e

desenvolvimento profissional, assunto que já discutimos anteriormente.

Considerando a carência de produção científica nesse assunto específico, vemo-nos

diante de um problema: por um lado, constatamos a estreita relação entre mudança de base

tecnológica e formas de ensinar informática e, por outro, a carência de pesquisas que

problematizem as questões específicas ao ensino dessa profissão.

Tais fatos nos motivaram a pesquisar esse assunto, no intuito de obter respostas até

então não cogitadas que venham a propiciar a elaboração de futuras metodologias que venham

a aprimorar cada vez mais as formas de ensino desta tecnologia.

1.2 - OBJETIVO

O objetivo desta pesquisa é o de analisar como os professores que lecionam no curso

técnico de Informática do IF SUDESTE MG-JF17 se atualizam diante da velocidade com que

se apresentam as mudanças nas tecnologias de informação e comunicação e como a

cibercultura interfere no ensino das disciplinas do curso.

1.3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Diante de nossa proposta de pesquisa, procuramos ponderar a respeito dos

procedimentos metodológicos mais eficientes para se investigar as questões propostas.

Optamos por adotar fundamentalmente a pesquisa qualitativa, cujo objetivo é o de

interpretar o fenômeno que se observa, pois é a que melhor se aplica a esse tipo de

investigação. Devido à sua natureza, a pesquisa qualitativa não admite regras precisas que

sejam aplicáveis a um grande número de casos (Alves-Mazzoti, 1999) e é a que melhor se

aplica a essas questões de estudo, uma vez que estamos lidando com o comportamento

humano, cuja subjetividade não nos permite mensurar matematicamente.

Como nosso objetivo de estudo é muito específico, optamos por utilizar a técnica do

Grupo Focal, posteriormente reforçada por entrevistas semiestruturadas e observações em sala 17 IF SUDESTE MG-JF: Campus de Juiz de Fora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais, sucessor do Colégio Técnico Universitário (CTU) da Universidade Federal de Juiz de Fora.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 20

de aula, para validarmos os dados obtidos.

Como sujeitos da pesquisa convidamos os professores do Departamento de

Informática do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus de Juiz de Fora (IF

SUDESTE MG-JF), uma Instituição de Ensino com tradição de 52 anos, onde

tradicionalmente existe um Curso Técnico de Informática com 23 anos completos.

Os atuais professores e aqueles que já tiveram a oportunidade de lecionar no curso,

testemunham ou já testemunharam, inúmeras mudanças nas Tecnologias da Informação e

Comunicação desde a criação do curso. Devido a tais mudanças, o curso teve sua grade

curricular alterada inúmeras vezes, conforme podemos constatar nos documentos da

secretaria; o que leva a uma constante preocupação (didático-pedagógica) no sentido de

transmitir aos seus alunos o conhecimento tecnológico necessário à sua formação.

Neste universo de 10 professores, conseguimos obter uma grande fonte de

informações, uma vez que lecionam disciplinas que representam diversas áreas das

Tecnologias da Informação e Comunicação (redes de computadores, internet, sistemas

operacionais, linguagens de programação, manutenção e montagem de equipamentos,

eletrônica básica e eletrônica digital aplicada aos microcomputadores).

1.3.1 – Grupo Focal

A técnica do Grupo Focal visa à coleta de dados por meio de interações grupais, a

partir de um tópico sugerido. Krueger (1996, p. 22) define essa técnica como sendo “[...]

pessoas reunidas em uma série de grupos que possuem determinadas características e que

produzem dados qualitativos sobre uma discussão focalizada”. Já Rodrigues (1988, p.13), nos

diz que é “[...] uma forma rápida, fácil e prática de pôr-se em contato com a população que se

deseja investigar [...]”. Tais definições conseguem nos mostrar a real aplicabilidade do Grupo

Focal, que se resume em um grupo de discussão de tamanho reduzido, do qual se procura

obter informações de qualidade, uma vez que trabalha com a expressão da fala dos

participantes, oportunizando a apresentação de suas opiniões e concepções sobre o tema

proposto, de forma descontraída, a fim de se extraírem impressões sinceras a respeito de

determinado assunto.

Para sua realização, é necessário um planejamento prévio, em que se estudam todos

os passos a serem adotados, tais como a elaboração de uma sequência de questões a serem

levantadas, a escolha das pessoas que o comporão (sujeitos), levantamento da existência de

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 21

equipamentos para registro da reunião (gravador de áudio, filmadora, notebook etc.),

solicitação de permissões (diretores, chefias de departamento, etc.), convite aos participantes

(sondagens preliminares e posterior formalização), planejamento da abordagem a ser dada ao

assunto (estudo comportamental e/ou cultural do grupo escolhido), a escolha dos

colaboradores (facilitador/moderador, relator, observador, operador de gravação, transcritor e

digitador das transcrições, etc.). Como estamos percebendo, a logística e o consequente

planejamento são muito importantes para se conseguir o sucesso na sua aplicação.

Conforme nos lembra Antony et al (2001), “[…] a estruturação ou planejamento das sessões inclui o estudo do tópico da pesquisa e o desenvolvimento de questões de orientação. É necessário elaborar de três a cinco questões de orientação que guiarão as sessões. Estas questões serão utilizadas, posteriormente, para desenvolver temas ou categorias de análise dos dados. A qualidade do GF dependerá da qualidade das questões elaboradas. Na elaboração das questões de orientação, é necessário explorar os tópicos da pesquisa e conhecer a cultura dos participantes, o que facilitará ao pesquisador a compreensão das contribuições dos membros do grupo e a investigação apropriada do tema durante a realização do Grupo Focal.” (p. 5)

A técnica do Grupo Focal foi mencionada na literatura a partir dos anos 20 e era na

ocasião utilizada em pesquisas de marketing (GOMES, 2011). Devido às suas características

de reunir um grupo de pessoas, previamente escolhidas, que compartilham determinadas

características, podem esboçar o pensamento de uma camada populacional a respeito de

determinado produto a ser lançado ou projetado, permitindo, assim, que as empresas ao

lançarem determinado item venham a ter relativo sucesso em seu empreendimento, uma vez

que tendem a agradar o seu público alvo, uma vez que reuniu pessoas de mesma faixa etária,

ou escolaridade, ou profissão, ou outro perfil de interesse comercial.

Gomes (2011, p. 41) nos revela que durante “a década de 1940, no campo da

sociologia, essa técnica foi adotada por Roberto K. Merton, inicialmente em programas de

rádio, para verificar os motivos das respostas nas tabelas de audiência e, mais tarde, nos

trabalhos sobre persuasão da propaganda dos esforços de guerra”, que pretendia determinar a

eficácia do material utilizado no treinamento das tropas e seu efeito nas propagandas.

Durante os anos 70, os Grupos Focais passam a ser utilizados, além da tradicional

pesquisa de mercado, em campanhas eleitorais e treinamento de pessoal, uma vez que suas

características também atendem a esses tipos de aplicação.

A partir dos anos 80, essa técnica vem conquistando destaque em diversas áreas de

estudo, principalmente nas pesquisas de ciências humanas e sociais (BARROS, 2004).

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 22

O Grupo Focal continua a ser largamente utilizado nas mais recentes tecnologias de

mídia e de marketing, por exemplo, para a verificação das tendências do gosto do consumidor

para serem utilizados em futuros lançamentos pelas empresas. E, mais do que nunca, tal

técnica continua sendo adotada nas pesquisas eleitorais, nas quais procura-se detectar o perfil

dos eleitores para dirigir os discursos a este determinado público. Alguns grupos são

montados para fornecerem impressões a respeito do desempenho dos candidatos em debates

ao vivo, conforme pudemos constatar nas últimas eleições presidenciais. Particularmente,

creio que a aplicação dos Grupos Focais nas pesquisas das Ciências Humanas e Sociais tem

um caráter diferenciado, pois não possui a característica de apelo comercial ou eleitoral, tão

criticados pela sociedade, por evidenciarem, essencialmente, os interesses pessoais daqueles

que o praticam.

Uma vez cientes das origens dessa técnica, bem como das críticas a respeito da

mesma, verificamos que, mesmo assim, ela se adapta muito bem aos objetivos dos estudos

nas Ciências Humanas e Sociais, uma vez que no Grupo Focal podemos obter opiniões,

observar atitudes e determinar valores relacionados ao tema proposto, que certamente nos

levará a reflexões geradas a partir da experiência dos participantes do grupo no referido tema.

A aplicabilidade das técnicas do Grupo Focal, conforme Westphal (1992), para os

pesquisadores sociais, é cientificamente aplicável toda vez que ao selecionarmos os

participantes, venhamos a observar se os mesmos podem responder às questões da pesquisa, e

que possam gerar dados teoricamente interpretáveis. Portanto, a escolha dos sujeitos é

extremamente importante para a obtenção das respostas às questões de estudo; tal escolha

deve ser criteriosa e estudada com cuidado, para que se possa atingir o objetivo a que se

propõe.

A composição do Grupo Focal deve ser tal que permita uma representatividade

estatisticamente válida, ou seja, estejam ali colocadas pessoas que, no seu conjunto,

representem as diversas linhas de pensamento, a fim de que tenhamos, no decorrer dos

debates, óticas divergentes que só valorizariam as discussões. O número de participantes não

pode ser muito grande, pois uma quantidade exagerada de elementos poderá desvirtuar os

assuntos, e tornar o encontro tumultuado, levando a dificuldades de observação dos

comportamentos, intervenções e até problemas de atenção em relação àquele que detém a

palavra. As quantidades, portanto, variam de acordo com a necessidade e, via de regra, ficam

em torno de 8 a 12 pessoas por grupo (KRUEGER, 1996).

Existem inúmeras vantagens ao utilizarmos o Grupo Focal: a experiência de vida

privada e profissional de cada um dos participantes são postas à mesa e ali tomamos

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 23

conhecimento dos comportamentos adotados em determinadas situações, as crenças de cada

um e, assim, promove-se até autorreflexões. É eficiente quando se levantam dados, pois um

pequeno grupo pode gerar um grande número de novas ideias sobre os objetos de estudo. O

pesquisador passa a conhecer a forma de expressar de cada um, no momento que descrevem

suas experiências, levando-nos a poder investigar comportamentos e motivações diante de

determinado tópico que está sendo investigado (ANTONY et al, 2001).

Cabe ao facilitador, a tarefa de procurar estimular o inter-relacionamento entre os

sujeitos envolvidos e deve dirigi-los de tal forma que mantenham as discussões dentro dos

assuntos objetos da pesquisa. Dar liberdade a todos de emitir suas opiniões, pode gerar a

possibilidade de se obter novos dados até então não previstos, que poderão suscitar em novas

conclusões sobre o assunto-chave daquele grupo. (RIZZINI; CASTRO; SARTOR, 1999).

Dentre as características importantes do facilitador ou moderador, podemos citar o

bom humor, a boa memória e ser flexível a ponto de saber conduzir a reunião em seus

momentos polêmicos (KRUEGER, 1993). O moderador/facilitador deverá ficar atento ao

comportamento dos participantes e deverá anotar tais observações para futura utilização na

análise dos dados (BERG, 1995; CAREY, 1994; MORGAN, 1997), pois as atitudes, as

expressões faciais, etc. podem influenciar na análise do discurso.

Conforme Cruz Neto et al (2002) relatam, o pesquisador que está de certa forma

envolvido com as questões pesquisadas é a pessoa mais indicada para representar o papel do

facilitador/moderador, pois só ele conhece a fundo o objeto de pesquisa e as razões que o

levaram a escolher o tema. Mas não podemos nos privar de reconhecer que existe o perigo de

seu envolvimento com a questão transformar-se em uma forma de conduzir todas as

discussões, que poderão apontar no sentido de conduzir as opiniões dos participantes para

confirmar aquilo que ele inconscientemente já concebe. Cabe ao mesmo, realizar uma

autoanálise a fim de verificar se tal situação poderá estar presente e, assim, ter a humildade de

reconhecer a necessidade da escolha de uma outra pessoa que represente o papel do

moderador/facilitador, evitando assim, prejudicar o caráter científico da investigação.

Antes de se iniciar a reunião, o pesquisador deverá solicitar aos participantes a

autorização para o uso de equipamentos utilizados para registrar as falas (gravadores,

filmadoras, etc.) e deve deixar claro que suas identidades serão preservadas para que se

sintam seguros e possam expressar suas opiniões com a sinceridade que esta técnica de

investigação exige. (ZIMMERMAN; MARTINS, 2011).

Outra função, não menos importante, é a do relator. Ele deverá responsabilizar-se

pelas anotações das falas, tentando associá-las às situações que ocorrem naquele momento,

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 24

relatando também os tons de voz, os gestos e as expressões faciais dos participantes diante do

depoimento em questão (CRUZ NETO; MOREIRA; SUCENA, 2002). Caso o próprio

pesquisador queira assumir tal função, uma vez que utilize das tecnologias de gravação,

poderá se limitar a anotar alguns aspectos que considera importantes observar, para posterior

uso na fase de análise dos dados.

Já o observador, tem como função analisar e avaliar o processo de condução do

Grupo Focal (Ibdem). O observador trabalha no sentido de sempre tentar melhorar o trabalho

durante sua realização e deverá tentar a todo custo, superar as dificuldades que porventura

venham a surgir. Em seu relatório deverão constar dados a respeito do comportamento dos

participantes, da interação entre todos, como se procedeu em relação a gravação do encontro e

as atitudes do facilitador/moderador.

1.3.2 - Entrevista

Com o intuito de complementar a técnica do Grupo Focal, sentimos a necessidade de

realizarmos entrevistas semiestruturadas, com as quais procuramos detalhar pontos que

ficaram um tanto obscuros em relação a alguns dos participantes. Aproveitamos essa mesma

técnica para obtermos dos professores que não puderam participar do Grupo Focal, suas

opiniões a respeito dos temas que surgiram durante aquela reunião, já que eles se mostraram

interessados em participar colaborando com o nosso trabalho.

Cabe lembrar que, tecnicamente, existem três tipos de entrevistas: a estruturada, a

semiestruturada e não-estruturada. A entrevista estruturada é aplicada quando se têm

perguntas fechadas, no formato de formulários, nas quais o entrevistado limita-se a completar

lacunas ou marcar opções. A entrevista semiestruturada é a mais aplicada e prende-se a um

roteiro previamente elaborado, em que apresentam-se questões abertas em forma de

perguntas. A entrevista não-estruturada é a mais livre das três, pois permite uma maior

liberdade na formulação das perguntas e até admite a interferência do entrevistador nas

respostas do entrevistado (MANZINI, 2004).

Uma grande vantagem no uso de entrevistas se prende ao fato de que “[...] permite a

captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de

informante e sobre os mais variados tópicos” (LÜDKE, 1986, p. 34). Tal técnica pode ser

utilizada para obtenção de aprofundamentos de pontos levantados em outras técnicas de coleta

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 25

(Ibdem), o que nos permite detalhar pontos obscuros surgidos na aplicação de outras técnicas,

como a do Grupo Focal, por exemplo. Devido a essas características, escolhemos utilizar essa

técnica (entrevista semiestruturada), a fim de colhermos informações mais detalhadas de

pontos que ficaram obscuros no momento da realização do grupo focal, não por

esquecimento, mas para não deixar os debatedores constrangidos diante de contestações que

naquele momento seriam impróprias se proferidas por este pesquisador. Aproveitamos

também para complementar as argumentações surgidas espontaneamente com as opiniões dos

professores que não puderam estar presentes naquela ocasião.

1.3.3 - Observação

Outra técnica que utilizamos no sentido de complementar as anteriormente

empregadas, foi a observação em sala de aula, quando tivemos a oportunidade de verificar na

prática, como os professores se comportavam diante de seus alunos, procurando confrontar

tais comportamentos com os depoimentos que prestaram durante suas participações no Grupo

Focal.

A respeito dessa técnica, a literatura nos ensina que a mente humana é seletiva e, no

momento em que várias pessoas olham para um mesmo local, é bastante provável que cada

uma delas enxergue aquela paisagem de forma diferente, pois dirigem sua atenção de acordo

com a sua vida pessoal e sua cultura. Lüdke (1986) observa que ao praticarmos a observação,

tendemos a nos concentrar em determinados aspectos e desprezamos outros, deixando até de

percebê-los. Para que a observação possa ser usada como uma técnica científica de obtenção

de dados para uma pesquisa, ela deverá ser controlada e sistematizada, o que nos leva a um

planejamento prévio cuidadoso e uma preparação daquele que observa (LÜDKE, 1986).

Tentamos nos lembrar desse ensinamento ao observarmos os colegas professores atuando em

sala de aula. Embora estivéssemos conscientes daquilo que realmente procurávamos, ou seja,

se na prática de suas profissões se mantinham coerentes com aquilo que professaram no

Grupo Focal, não deixamos de procurar observar outras atitudes, das quais procuramos filtrar

aquelas que nos poderiam embasar no sentido de argumentarmos nossas questões de estudo e

também no de agregarmos experiência profissional.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 26

1.4 - ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Esta dissertação está organizada em 4 capítulos.

O primeiro capítulo apresenta o problema que nos motivou a realização desta

pesquisa; descrevemos os objetivos a serem atingidos e nossas questões de estudo, bem como

todos os procedimentos metodológicos que utilizamos para a realização da mesma.

No segundo capítulo, fizemos a apresentação do quadro teórico. Para tanto, mostramos

a contextualização do nosso problema, buscando autores que tenham pesquisado a respeito

das mudanças de comportamento que estão ocorrendo no mundo, diante das mudanças

ocorridas nas Tecnologias de Informação e Comunicação. Dessas mudanças comportamentais

surgem problemas sociais e éticos, os quais também procuramos teorizar no decorrer de

nossas argumentações. Mostramos também um resumo teórico da tecnologia que envolve os

computadores, procurando explicar o funcionamento dos mesmos, passando pelos circuitos

digitais que o compõem até as linguagens de programação que permitem a sua interação com

o usuário final. Tal teorização se fez necessária para que pudéssemos demonstrar o grau da

dificuldade que os professores de tecnologia enfrentam diante das mudanças que têm ocorrido

nas Tecnologias de Informação e Comunicação em todos os níveis da mesma.

Iniciamos o Terceiro capítulo, apresentando a metodologia para a obtenção dos dados,

descrevendo de forma detalhada as tecnologias que empregamos (grupo focal, entrevista

semiestruturada, observação). Relatamos e analisamos os dados obtidos inicialmente ao obter

o perfil dos sujeitos da pesquisa, a partir de algumas perguntas dirigidas aos mesmos através

de um contato inicial, via e-mail. Em seguida, descrevemos toda a aplicação do Grupo Focal

e a análise das falas com destaque para algumas delas.

No quarto capítulo apresentamos as conclusões do estudo.

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CAPÍTULO II

Uma vez que todo o nosso estudo requer uma abordagem teórica na área tecnológica e da educação, apresentamos neste capítulo o contexto em que o problema se insere abordando o conceito de cibercultura, a utilização da internet e algumas considerações a respeito da velocidade das transformações das tecnologias da informação e comunicação. Finalmente abordamos o apoio teórico da área de tecnologia, tratando a respeito das linguagens de programação e da eletrônica digital, com o objetivo de familiarizar o leitor com os conceitos desta área a fim de evidenciar a complexidade que envolve o aprimoramento profissional dos professores de tecnologia.

2.1 - QUADRO TEÓRICO

2.1.1 – A Cibercultura, Internet e as Tecnologias da Informação e Comunicação

Na concepção de Lévy (1999) a Cibercultura representa a forma com que a cultura

mundial se apresenta permeada pelas tecnologias de informação e comunicação e a influência

destas tecnologias na vida do cidadão. Na Cibercultura, expressão mais sofisticada da

comunicação, existe uma interligação entre as pessoas, uma vez que tudo está em rede e a

rede abrange grande parte do nosso planeta. Com a sofisticação dos sistemas de comunicação

e as novas tecnologias digitais, percebe-se o aumento da mobilidade e a abrangência. Não se

trata apenas de novas tecnologias, mas também de alterações nas dinâmicas sócio-

comunicacionais.

A Internet, uma das principais difusoras das mudanças da cultura mundial, vem

influenciando as formas de comunicação entre os povos e culturas, trazendo novas

concepções e obrigando-nos a discutir o mundo de uma forma globalizada. Ela traz, além da

informação, mudanças sociais marcantes, pois “pode tudo na Internet”, “tem de tudo na

Internet”. Observa-se que os “computadores pessoais” tiveram sua abrangência ampliada,

uma vez que conectados à rede mundial, transformaram-se em um dos nós que fazem parte da

grande teia.

O homem, envolvido por essas mudanças tecnológicas desenfreadas se vê impelido a

tentar apropriar-se de novos saberes, pois necessita adaptar-se a este mundo globalizado que o

pressiona.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 28

Para compormos nossa pesquisa, recorremos a autores como Dreifuss (1996), que

discute, além do fenômeno da globalização, o grande ritmo do desenvolvimento tecnológico,

constatado pela velocidade com que as novas tecnologias se apresentam. O autor também

discute a ascensão e o domínio das Tecnologias da Informação e Comunicação as quais ele

denomina de "teleinfocomputrônicos", discutindo também a simultaneidade que tudo

acontece e que estes novos recursos tecnológicos estão adquirindo maior mobilidade com a

melhoria das técnicas de transmissão sem fio.

Já observando a leitura do fenômeno das Tecnologias da Informação e Comunicação

por meio de Virilio (1999), verificamos que ele se contrapõe à leitura realizada por Lévy e

que, de forma proposital e coerente, não adota o conceito de Cibercultura, pois aborda as

Tecnologias da Informação e Comunicação por um ponto de vista totalmente antagônico. Para

o autor, a tecnologia possui uma dimensão destrutiva e tem levado o homem à sua

dependência; permite que percamos a noção da realidade, já que as distâncias estão sendo

reduzidas e a noção de territórios está sendo prejudicada. Para ele, o fenômeno Internet se

confunde com a história e a cultura norte-americana que pretende controlar o mundo, como o

“big brother” de George Orwell em sua obra “1984”. No campo social, lembra-nos de que o

trabalho do homem está sendo substituído pela automação, gerando a pobreza em decorrência

do desemprego crescente.

Já Canclini (2007), nos fala a respeito das diferenças entre as diversas culturas e

classes sociais e a influência da Cibercultura neste contexto. O autor afirma que nada mais é

da forma que era há 30 anos, pois a globalização tecnológica criou novas diferenças e

desigualdades a partir do uso da Internet que veio a interconectar todo o planeta. Nos mostra

ainda que o mundo multicultural tem se transformado em um mundo intercultural

globalizado, deixando de haver aquelas justaposições de etnias ou grupos de uma cidade ou

nação.

Ao procurarmos analisar os aspectos éticos decorrentes desta sociedade globalizada,

procuramos analisar as palavras de Dupás (2000) quando declara que o saber da humanidade

atual “encontra-se a serviço do capital". O autor observa que nossa sociedade apresenta-se

como "uma imensa acumulação de espetáculos" e quanto à ética na vida social mostra que

estamos dando mais importância ao “ter” do que ao "ser", bem como "parecer-ter" e em

seguida "identificar-se-com-quem-parece-ser-ou-ter". O autor fala-nos de suas observações

sobre a ciência, as novas profissões e o processo de globalização. Ele tem uma visão

pessimista a respeito do desemprego estrutural, chegando a afirmar que não acredita que

preconizar o crescimento para a retomada do emprego seja uma atitude suficiente para

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 29

resolver o problema, pelo contrário, as multinacionais passam a produzir itens de seus

produtos em países onde os custos são menores. “As novas competências que essas

tecnologias permitem ao homem exercer, contêm, simultaneamente, possibilidades de

redenção e destruição” (DUPAS, 2000, p.107); os novos saberes adquiridos devem ser

comedidos a fim de permitir o desenvolvimento da humanidade, observando que “não se

investe em cientistas, técnicos e equipamentos para saber a verdade, mas [para] aumentar o

poder” (Ibdem, p. 117).

Com essas mudanças tecnológicas, nota-se o desaparecimento de algumas profissões,

prejudicadas pelo desenvolvimento da automação, e o surgimento de outras, decorrentes das

novas tecnologias, propiciando a criação de novos cursos profissionalizantes e a consequente

necessidade da formação de novos professores e a atualização daqueles que já se encontram

no mercado.

Alguns trabalhos nos falam sobre a “formação continuada”, aspecto bastante discutido

no meio acadêmico, pois, à medida que novas profissões surgem, levam os profissionais

formados em profissões de baixa demanda a procurarem uma renovação de seus

conhecimentos, a fim de manterem-se atuantes no mercado de trabalho.

As novas tecnologias, aliadas às novas profissões emergentes, têm levado as pessoas a

utilizarem-se de pequenos cursos oferecidos no sentido de atualizar ou até potencialmente

formar novos profissionais para as novas demandas. O professor-pessoa sofre as consequências de uma sociedade em profunda mudança. Ele tem de dar conta de conteúdos novos e de novas motivações geradas aos alunos pelas leis de mercados, que produzem novas profissões em velocidade nunca vista. A competência para ser professor passa assim por uma capacidade de acompanhamento das mudanças e de adaptação a novas condições de trabalho (MOURA, 2006, p.152).

Conforme Moura (2006) nos mostra, os professores têm sentido as mudanças

tecnológicas de uma forma bem mais intensa que a de outras profissões, uma vez que, como

ensina, tem a obrigação de conhecer tudo que nos cerca, a fim de conseguir levar a seus

alunos conceituações e realidades perfeitamente contextualizadas. Moura (2006), nos adverte

que o aparecimento de novas profissões em velocidade nunca vista é uma preocupação de

nossa atual sociedade, uma vez que a competitividade no mercado tem exigido uma maior

especialização do profissional em todos os ramos de atividade.

Também Hypolitto (2011), ressalta que [...] dentro do contexto educacional contemporâneo, a formação continuada é saída possível para a melhoria da qualidade do ensino, por isso o profissional consciente deve saber que sua formação não termina na Universidade.

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Formar (ou reformar) o formador para a modernidade através de uma formação continuada proporcionará ao mesmo independência profissional com autonomia para decidir sobre o seu trabalho e suas necessidades (HYPOLITTO, 2011, p.1).

Conforme Hypolitto resume, a constante atualização dos professores se faz necessária,

mas tal conceito hoje seria melhor interpretado se utilizássemos qualquer profissional, exceto

o professor.

Acreditamos que o conceito de “formação continuada” não mais se aplica aos

professores, pois são profissionais cujas bases de formação pedagógica se mantêm, sendo

necessárias apenas adaptações no sentido de atualizarem-se com as novas tecnologias de

transmissão dos conhecimentos.

Para o desenvolvimento desse aspecto, baseamo-nos em Ponte (1998) que retrata em

sua obra a diferença entre a tão discutida “formação continuada”, associada ao uso de cursos

formais ou informais para capacitação, e o chamado “desenvolvimento profissional” calcado

no fato de se utilizar a metodologia do “aprender sozinho”. Os professores, em sua maioria,

utilizam-se desta última forma de atualização, recorrendo à assinatura de revistas técnicas,

livros, troca de experiências com seus colegas, pesquisas na Internet, etc.

Os estudos sobre a “formação continuada” detêm-se no fato de adquirir-se

conhecimento do novo, daquilo que não teria uma relação intrínseca com o conhecimento

adquirido até então; caso que não se aplica diretamente ao problema da atualização dos

professores, uma vez que o conhecimento profissional já está adquirido. Busca-se, na verdade,

a atualização destes conhecimentos, diante das novas demandas tecnológicas, durante o seu

exercício profissional, visando a adaptar-se às novas tecnologias que não estavam disponíveis

quando da sua formação inicial. Ponte (1998) mostra que não é mais possível denominar essa

atualização como “formação continuada”, pois não se aplica ao problema atual e prefere

denominá-la de “desenvolvimento profissional”.

Os professores de informática, diante da velocidade com que as tecnologias se alteram,

colocam-se em uma situação ainda mais delicada, uma vez que tais mudanças os afetam

diretamente, pois são eles os responsáveis por transmitir tais conhecimentos aos novos

profissionais em formação. Neste contexto de permanentes mutações, alguns autores

investigam essa questão. Marco Silva (2010), por exemplo, nos diz que “a escola não se

encontra em sintonia com a emergência da interatividade”, a presença da cibercultura tem

transformado a forma com que os alunos se apresentam, e “a escola continua na defensiva”

com seus professores ainda transmitindo conhecimentos de forma linear, separando emissão e

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recepção. A necessidade de uma mudança nesta didática é premente, os novos tempos clamam

por novas formas de comunicação e a necessidade do envolvimento do aluno no processo é

evidente: O professor propõe o conhecimento, não o transmite, não o oferece a distância para a recepção audiovisual. Ele propõe o conhecimento aos estudantes, como o artista propõe sua obra potencial ao público (SILVA, 2010, p.227).

A coparticipação do estudante no processo de busca do conhecimento é necessária,

pois as novas técnicas hipertextuais levam muitos alunos a raciocinarem de forma não linear;

muitos deles obtêm o conhecimento a partir de fragmentos obtidos na busca hipertextual; a lei

de formação de suas ideias não segue mais aquela linearidade que estávamos acostumados.

Ao propormos a coparticipação, este potencial não-linear se aflora levando-nos a obter

resultados de forma mais rápida. “O aluno não está mais reduzido a olhar, ouvir, copiar e

prestar contas. Ele cria, modifica, constrói, aumenta e, assim, torna-se coautor, já que o

professor configura o conhecimento em estados potenciais.” (SILVA, 2010, p. 228).

Corroborando com o autor, Andréa Ramal (2003) prevê uma mudança de

comportamento dos professores quando diz: Só podemos imaginar que, no próximo milênio, vai ser muito mais difícil ser um mestre. Mas, em contrapartida, estaremos contribuindo para formar, em vez de receptores passivos de conteúdos, seres mais capazes de atribuir novos sentidos para a realidade; pessoas que saibam criar novos saberes, a serviço da humanidade. Está em nossas mãos, agora, a possibilidade de deletar a escola de portas fechadas e cercadas por muros, para deixar nascer a escola da multiplicidade, do hipertexto, do link, das janelas abertas e das salas de aulas conectadas com o mundo (RAMAL, 2003, p.1).

A visão de Ramal (2003), vem agora a ser confirmada, quando percebemos que tal

tipo de comportamento passa a ser necessário, uma vez que a maioria dos discentes de hoje,

garotos acostumados ao comportamento hipertextual, não se sentem mais à vontade para

assistir aulas meramente expositivas, em que o professor fala e ele simplesmente anota e

escuta. A mesma autora, em outro trecho de seu artigo, nos diz que este tipo de professor

tende a acabar, pois poderá ser substituído pelo computador com certas vantagens, na medida

em que utilizarão os recursos de imagem e som, que, se bem usados, poderão atingir

resultados mais eficientes.

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2.1.2 – A velocidade das transformações

Inicialmente as transformações eram lentas, uma vez que as bases tecnológicas eram

relativamente pequenas e nos levavam a obter resultados pouco significativos.

Se observarmos a história das novas tecnologias, depararemos com uma variação

cronológica inicialmente grande, mas que vai se estreitando à medida que aproximamos de

nosso tempo.

Apresentamos, a seguir, alguns fatos que poderiam representar a história das

mudanças tecnológicas18.

Em 1672, Leibnitz lança a sua calculadora que realizava as quatro principais operações

e extraía raiz quadrada. Essa calculadora era totalmente mecânica.

Em 1801, cria-se a primeira máquina de tear que utilizava-se de cartões perfurados,

que comandavam os teares a confeccionar desenhos nos tecidos. Essa máquina inspirou a

elaboração do controle do censo dos Estados Unidos por meio de máquinas controladas por

cartões perfurados em 1890.

A partir de 1954, os computadores IBM possibilitavam que os comandos fossem

introduzidos na memória do mesmo, por meio de comandos perfurados em cartões. Cada

cartão guardava uma linha de comando.

Em 1956, foi lançado um HD (Hard Disk: disco rígido) com capacidade de

armazenamento de 5 Megabytes de dados, que necessitava ser transportado por avião dado o

seu tamanho exagerado.

De 1967 a 1980, após o aparecimento dos primeiros computadores pessoais (Personal

Computers), as formas de armazenamento das informações passaram a ser inicialmente em

fitas magnéticas do tipo “cassete”, que eram originalmente utilizadas para gravar músicas em

pequenos gravadores portáteis; depois, passaram a ser armazenadas em discos magnéticos de

8 polegas de diâmetro, os primeiros disquetes.

De 1981 a 2003, as mudanças tecnológicas ocorreram de uma forma vertiginosa. Os

disquetes foram reduzidos para 5,25 polegadas e posteriormente para 3,5 polegadas; apesar da

redução do tamanho físico eles aumentaram sua capacidade de armazenamento. Em seguida,

surgiram os CD-ROM e finalmente os Pendrives (Flash Memories).

18 História organizada pelo site “Só Riso Mail” <http://sorisomail.com/powerpoint/9204.html> acessado em 30/09/2010, que apresenta uma série de fotos que representam a “Evolução dos computadores”.

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2.1.3 – As linguagens de programação

As linguagens de programação, conforme as conhecemos hoje, foram criadas na

década de 50, e dentre as primeiras lançadas podemos citar o FORTRAN (Formula

Translator) e o COBOL (Commom Business Oriented Language). A primeira, devido a sua

estrutura e comandos existentes, era utilizada para resolver problemas de cunho científico,

principalmente em Engenharia, pois sua principal característica era a de permitir reconhecer

fórmulas matemáticas. Por exemplo, diante de uma fórmula de física: F= m.a; essa linguagem

permite o seguinte comando: F = m * a, formato bastante próximo da notação científica

adotada em Física (PACITTI, 1974).

Já a linguagem COBOL, voltava-se a aplicações comerciais, em que se utilizavam

apenas as quatro operações básicas e textos. Essa linguagem possui uma estrutura organizada

em seções e seus comandos são bastante explícitos e longos. Por exemplo, para somar dois

números tínhamos que fazer: add n1 to n2 result to soma (SANTOS, 1979); forma bem

diferenciada do FORTRAN, em que escreveríamos: soma = n1 + n2.

Essas linguagens eram utilizadas em computadores de grande porte, que deveriam

estar obrigatoriamente em salas-ambiente (≈20°C de temperatura), com piso elevado para

esconder os inúmeros cabos que interligavam os equipamentos periféricos (leitora de cartões,

impressora, console, traçadores gráficos, memória, unidades de fitas magnéticas etc.). O

acesso a essa tecnologia era bastante restrito, limitando-se ao uso pelos professores e

estudantes universitários. Naquela época, devido à existência de uma pequena clientela,

universitária em sua maioria, a questão didática de ensino de informática não era tão

discutida.

Quando surgiram os microcomputadores, nos anos 80, veio a grande reviravolta, uma

nova “febre” começava a surgir, pois agora os jovens podiam comprar seus próprios

computadores, que no Brasil ainda estavam muito caros, devido à reserva de mercado, e ainda

estavam atrasados tecnologicamente. A reserva de mercado tinha o objetivo de permitir às

indústrias brasileiras um maior desenvolvimento no setor. Para aqueles que podiam comprar,

tinha-se uma maior autonomia para desenvolver programas. Na verdade, os primeiros

microcomputadores foram concebidos ainda sem um sistema operacional, eles vinham

equipados com a linguagem de programação BASIC instaladas em chips, que fazia o papel de

linguagem e ao mesmo tempo de “Sistema operacional”; e ao comprarmos o equipamento

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 34

éramos obrigados a utilizar a linguagem que nele estava embutida, e tínhamos que aprendê-la

em seu manual de operação, caso pretendêssemos utilizar o

equipamento. Ao ligar o “micro” (assim apelidado) uma

tela escura (preta) surgia com um pequeno símbolo seguido

de um cursor piscante. Confrontando com os computadores

atuais, verificamos que faltava aquela interatividade tão

necessária, que hoje está cada vez mais presente. Essas

máquinas ainda não provocavam a atenção de muitas pessoas, pois necessitavam de uma

dedicação maior do usuário ao exigir o estudo do manual para conseguir escrever algumas

linhas de código (comandos)19.

Mais tarde, já no final da década de 80, começaram a surgir microcomputadores

equipados com drive de disquete e com um Sistema Operacional gravado no mesmo. Outra

revolução! O famoso DOS (Disk Operating System), veio a possibilitar a programação em

linguagens como o FORTRAN e o COBOL em microcomputadores, uma vez que o Sistema

Operacional fazia o papel de um intermediário (camada) entre as linguagens de alto nível e a

Linguagem de Máquina (Assembler).

A linguagem de máquina (Assembler) é composta de números ou conjunto de números

que, de acordo com a sequência em que aparecem, determinam aos circuitos digitais alguma

instrução a nível eletrônico (digital). Podemos entender como

instrução alguns procedimentos de armazenamento de valores em

memória, ou obter um valor previamente armazenado na

memória, ou enviar o valor que está no registrador para algum

periférico de saída (monitor, disquete, impressora), etc.

Se as linguagens ditas de alto nível (FORTRAN, COBOL,

BASIC) eram difíceis de aprender naquela época, imaginem o

que seria a programação Assembler (linguagem de máquina onde se utilizavam sequências

numéricas como comandos).

As primeiras linguagens de alto nível, aquelas nas quais utilizávamos comandos

escritos em inglês, nos permitiam programar sequencialmente, ou seja, as instruções seguiam

uma sequência lógica uma atrás da outra. Conseguíamos mudar o fluxo sequencial natural

19 Lembramos aqui algumas marcas que ficaram famosas naquela época: Sinclair (TK-85), Prologica (CP-200, CP-500), Unitron, Apple II.

Linguagem de alto nível

Sistema operacional

Linguagem de máquina

Hardware

Cam

adas

Linguagem de alto nível

BASIC

Linguagem de máquina

Hardware

Camadas

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utilizando comandos de repetição de trechos de código ou de desvios para outra linha de

código. Nesses tipos de linguagem, os programas sob o ponto de vista do usuário, eram

“escravizadores”, isto é, o usuário era obrigado a responder perguntas e digitar respostas

numa sequência fixa, não tendo a prerrogativa de alterar a sequência dessas respostas, uma

vez que elas apareciam uma em decorrência da outra.

Os algoritmos20 podiam ser representados graficamente a partir de fluxogramas, que os

tornavam mais inteligíveis para aqueles que pretendessem analisar os passos da programação.

Os símbolos utilizados (elipses, retângulos, losangos, trapézios, etc.) têm significado

mnemônicos e podem ser compreendidos facilmente por aqueles que os conhece.

Por exemplo: as elipses são utilizadas como os terminais de início e fim lógico de uma

rotina de programação. Os retângulos abrigam as operações matemáticas. Os losangos são

utilizados para representar desvios de fluxo do programa de acordo com a operação lógica

nele inserida. E os trapézios representam os equipamentos de entrada/saída de dados. Hoje em

dia esses fluxogramas são utilizados apenas para explicar rotinas ou trechos de programa que

realizam operações sequenciais. Um exemplo de fluxograma seria o que representa a

impressão de uma sequência de números de 1 a 10:

Inicialmente atribui-se o valor Zero a uma variável cujo nome é “N”. Em seguida, no

losango encontramos uma comparação lógica: N = 10 ? Se a resposta for sim (S) o fluxo do

programa vai para o terminal finalizador (elipse FIM), e se a resposta for não (N) o fluxo do

programa nos leva a calcular um novo valor de N, pois N = N + 1 representa se pegar o valor

atual de N (zero) e somar o valor 1 e o resultado deverá ser colocado na mesma variável N.

Resumidamente: é substituído o valor inicial de N = 0 para N = 1. A seguir, esse valor de N é

impresso, e o fluxo do programa retorna à operação lógica que controla o desvio, onde o valor

de N é comparado novamente com 10. Como ele ainda não é 10, pois é 1, o fluxo é levado ao

20 Dá-se o nome de Algoritmos a sequências lógicas estabelecidas pelo programador a fim de que os computadores executem determinada tarefa.

INÍCIO N = 0

N = 10 N=N+1

FIM

IMPRIME N N

S

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cálculo de novo valor de N, que será acrescido de 1 passando a guardar o valor 2, que é

impresso e retorna para executar nova comparação e acréscimo, seguindo tal fluxo várias

vezes. O programa só termina quando o valor de N atinge o valor 10, uma vez que será

desviado para a instrução de finalização.

Tal formato de programação é sequencial como podemos notar no algoritmo que

descrevemos.

Uma nova proposta de programação surgiu com as linguagens procedurais, ou

estruturadas: os programas seriam subdivididos em pequenas rotinas que executavam

operações específicas e caberia ao trecho referente ao programa principal chamar essas rotinas

sequencialmente para a execução das tarefas. Podemos citar como exemplos desta geração de

linguagens o PASCAL e a linguagem C. Essa nova forma de programar, tornavam os

programas mais fáceis de serem programados e/ou alterados, uma vez que, ao elaborar os

algoritmos, preocupa-se apenas com a execução de determinada tarefa específica. Como

tarefa específica, podemos citar: entrada de dados, processamento dos dados e a mostra do

resultado. Um programa típico em Pascal está exemplificado abaixo:

Como podemos notar, esse tipo de programação nos permite organizar melhor o

programa separando-o por rotinas, o que facilita sobremaneira sua manutenção. Senão,

vejamos: temos uma rotina de “Entrada de dados”, outra que faz o processamento dos dados

“Calcula” e a que apresenta o resultado obtido “mostraresultado”. O programa principal,

colocado no final do código, é o responsável por chamar cada uma das rotinas na sequência

lógica correta.

Explicando mais detalhadamente o programa:

a) nome do programa (Idade). b) declaração das variáveis (idade e dias são do tipo numéricas inteiras).

Program Idade; Var idade, dias: integer; Procedure Entrada_de_dados; Begin Write(‘Informe sua idade: ’); Readln(idade); End; Procedure calcula; Begin Dias:= Idade * 365; End;

Procedure mostraresultado; Begin ClrScr; Writeln(‘Você já viveu ‘+ IntToStr(dias) + ‘ dias.’; End; // PROGRAMA PRINCIPAL Begin Entrada_de_dados; Calcula; MostraResultado; End.

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c) Rotina de entrada dos dados: i. Pergunta a idade (escreve na tela: Informe sua idade).

ii. O usuário responde (o comando Readln guarda na variável idade o valor digitado pelo usuário).

d) Rotina de cálculo: i. Calcula a quantidade de dias que o usuário já viveu, guardando em

dias. e) Rotina que mostra o resultado:

i. A tela é apagada (ClrScr: limpa a tela) ii. Escreve, por exemplo, a frase: “Você já viveu 6570 dias”.

f) O programa principal, o executável, tem a finalidade de chamar as rotinas acima colocadas.

Acreditamos que nesta “segunda geração” ensinar programação ficou mais fácil, uma

vez que sua estrutura representa a nossa forma de pensar e organizar nossas ideias. Ao

propormos esses tipos de programas, os algoritmos ficam mais intuitivos e são mais

facilmente elaborados, uma vez que pensamos em um problema de cada vez, o que difere

enormemente dos programas escritos em linguagens sequenciais como o BASIC, por

exemplo.

Um programa BASIC parece ser bem mais fácil, por ser mais compacto, mas é um

engano pensar assim, uma vez que em algoritmos mais complexos, em que inúmeras linhas de

programação são necessárias, seria bastante difícil fazer a manutenção do mesmo, levando o

programador a perder um bom tempo tentando lembrar em que parte do programa poderá

fazer alterações a fim de obter o resultado esperado durante a modificação do mesmo.

Mas, em seguida, nos deparamos com uma nova forma de programar: as Linguagens

Orientadas a Eventos e/ou Linguagens Orientadas a Objetos. Essa nova forma de programar

surgiu após o lançamento das interfaces gráficas, com os sistemas operacionais que se

baseavam no uso de ícones21, que receberiam “cliques” de um “mouse22”. Inicialmente, para

trabalhar com essas formas interativas de comunicação, utilizam-se hoje em dia as chamadas

“linguagens visuais”. Dentre elas podemos citar o “Visual Basic” e o “Delphi”, dentre outras.

Essas linguagens incorporam o conceito de “objeto”. Em linhas gerais, de forma simplificada,

podemos dizer que objetos são as pequenas partes que existem no todo de uma tela (botões,

caixas de texto editáveis, textos fixos, caixas de diálogo, etc.), embora saibamos que existem

objetos não-visuais utilizados para a execução de processamentos. Esses objetos possuem

propriedades (características de cor, formato, tamanho, etc.) e eventos (ações programáveis), e 21 Os ícones são pequenos desenhos que procuram representar graficamente o programa ou arquivo que permitem acessar.

22 Mouse, nome dado ao equipamento que permite mover uma seta na tela do computador e que possui botões que ao serem acionados podem executar tarefas previamente programadas.

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com essas duas principais características causaram toda a revolução visual e operativa dos

computadores de hoje em dia.

Atualmente, não ficamos mais diante daquela tela escura com um cursor piscante, mas

sim, diante de uma tela colorida que simula uma mesa de escritório, onde cada janela

(window) representa uma folha de papel que está sobre uma mesa, distribuídas de tal forma

que podemos alternar nossa atenção para lermos o conteúdo de um documento que está por

baixo do outro e vice-versa. Novamente, essa “analogia” da tela do computador com uma

mesa de um escritório, trouxe o computador à realidade de nosso dia-a-dia tornando-o

bastante intuitivo. Mesmo pessoas que nunca tenham utilizado um computador são capazes de

executar uma série de tarefas até sem nenhuma instrução técnica, utilizando-se apenas da

intuição ao comparar as operações na máquina com aquelas que executa diuturnamente.

Essa interatividade maior tem um preço em relação à programação: ela é mais

complexa e exige uma maior atenção do programador, pois ele precisa lembrar a todo instante

que o usuário estará no comando do programa e suas atitudes deverão ser previstas a todo

instante para evitar erros ao acessar tarefas que ainda não possuam todas as informações

necessárias para sua execução.

O usuário tomará decisões totalmente aleatórias diante da tela do computador. Ele

poderá abrir outro programa, ou querer escrever/alterar um texto, responder a uma pergunta

de outro programa etc.; a partir do fato de que vários programas estarão sendo executados ao

mesmo tempo e até mesmo no programa em questão, inúmeras atitudes poderão estar sendo

monitoradas. Se imaginarmos que cada atitude tomada pelo usuário é, na verdade, um evento,

e que cada evento é programável, surge uma nova forma de pensar algoritmos; agora a

programação não é mais sequencial ou estruturada; o programa é dividido em várias partes

que são executadas a cada evento provocado pelo usuário ou pelo Sistema Operacional. Essa

nova concepção de programação trouxe novos desafios no ensino de informática.

Mais recentemente, surgem novas tecnologias no sentido de se poderem detectar os

movimentos do nosso corpo para comandar os computadores. Tais tecnologias já são

utilizadas em videogames e utilizam-se de câmeras que obtêm imagens do usuário, das quais

podem reconhecer o perfil de seus corpos, e assim, ao detectarem a variação de suas posições

interpretarem tais movimentos como comandos. Nos computadores, tal tecnologia poderá vir

a substituir o “mouse” em breve.

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2.1.4 – O Hardware

Entende-se por hardware a parte da informática que trata da parte física dos

computadores e seus periféricos.

O nosso propósito, ao descrever este assunto, será meramente ilustrativo, sem intenção

de aprofundamentos técnicos, uma vez que foge ao escopo deste trabalho. Descreveremos os

fundamentos da eletrônica digital para que possamos argumentar, posteriormente, a respeito

das mudanças tecnológicas nas estruturas dos computadores.

Toda a tecnologia digital deve-se ao estudo do matemático George Boole, que no ano

de 1847 publicou o livro “The Mathematical Analysis of Logic”, no qual demonstra como é

possível representar os conceitos de lógica a partir de equações algébricas. Somente no século

seguinte passou-se a utilizar seus conceitos em programação dos computadores.

Utilizamos cotidianamente a base 10, que abrange os algarismos de 0 a 9, e com eles

conseguimos realizar uma série de operações matemáticas, tais como, as adições e subtrações,

dentre outras. A base 2, faz uso apenas dos algarismos 0 e 1, e o matemático Boole

estabeleceu uma série de operações utilizando tais algarismos.

Para entendermos melhor essa matemática, vamos mostrar inicialmente como são

tratados os números na base 10. No início do ensino fundamental, aprendemos o que

chamamos de QVL (Quadro Valor do Lugar), onde se mostra que a posição dos algarismos

indica valores múltiplos de 10: da direita para a esquerda temos as unidades, dezenas,

centenas, etc., que na verdade representam as posições de 100, 101, 102 etc. Ou seja, a base

elevada a 0, a 1 e a 2.

Analogamente, na base 2, a posição de cada algarismo representa esse algarismo

multiplicado por 20, 21, 22, etc. da mesma forma que na base 10. Aliás, tal regra se aplica a

todas as bases numéricas.

Exemplificando: O número 1100 na base 2, representa o número 12 na base 10. Veja

como:

1 1 0 0

0 x 20 = 0 x 1 = 0

0 x 21 = 0 x 2 = 0

1 x 22 = 1 x 4 = 4

1 x 23 = 1 x 8 = 8

S = 0 + 0 + 4 + 8 = 12

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 40

Isso acontece de forma análoga na base 10, somente não percebemos, pois já

automatizamos nossas formas de calcular.

O número 1352 na base 10 é representado por:

1 3 5 2

2 x 100 = 2 x 1 = 2

5 x 101 = 5 x 10 = 50

3 x 102 = 3 x 100 = 300

1 x 103 = 1 x 1000 = 1000

Maiores detalhes sobre a Álgebra de Boole poderão ser obtidos, por exemplo, no site:

<http://www.mspc.eng.br/eledig/eldg0210.shtml>, acessado em 04 abril 2011.

Agora que conhecemos a correspondência entre os números decimais (base 10) e os

binários (base 2), podemos falar um pouco de eletrônica. A representação dos números

binários em eletrônica correspondem aos valores 5 Volts e 0 Volts, onde o primeiro representa

o algarismo Zero e o segundo o algarismo Um.

Fazendo analogia à lógica, o valor 1 irá representar “verdadeiro” e o 0 representará o

“falso”.

O que os circuitos digitais fazem é testar a tensão que aparece em um determinado

pino de um circuito integrado: se o valor for 5 Volts é porque naquele pino se apresenta o

valor 1 em binário.

A figura ao lado ilustra o

microprocessador Phenom X4 da AMD. Na

foto, podemos ver o seu aspecto da parte

superior (lado esquerdo) e a parte inferior

(lado direito). No lado inferior, percebemos

a presença de inúmeros pinos que se

encaixam em um soquete (receptáculo)

soldado à placa-mãe (nome dado à placa de circuito impresso, situada dentro do gabinete do

computador), e a esta, por sua vez, encontram-se soldados também outros circuitos digitais e

componentes eletrônicos.

S = 1352

Figura 01

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 41

Em cada um destes inúmeros pinos, certamente, estará presente um dos dois valores

binários, através das tensões de 0 ou 5 Volts, correspondendo aos valores binários 0 ou 1.

A figura ao lado mostra uma

placa-mãe ASUS modelo M2N-E na qual

podemos notar a presença do soquete

onde será encaixado o microprocessador,

bem como os demais circuitos digitais e

componentes eletrônicos.

Os circuitos integrados encapsulam uma série de componentes eletrônicos

miniaturizados, que ligados de forma conveniente, representam as chamadas portas lógicas.

Essas portas lógicas, para melhor compreensão e permitirem montar esquemas de

circuitos eletrônicos menos complicados, são representadas simbolicamente por pequenos

desenhos, mas, na realidade, elas correspondem à união de vários componentes eletrônicos

ligados de forma conveniente, cuja função será a de emitir na saída da mesma os valores

coerentes com a função da respectiva porta.

Para explicar melhor, vamos utilizar uma porta AND. Esse tipo de porta é

representada pelo símbolo:

Ela apresenta 3 pinos, e 2 deles, situados do lado esquerdo da figura, representam

entradas, e o outro, situado do lado direito da figura, representa a saída.

De acordo com a Álgebra Booleana, a porta AND apresenta a seguinte Tabela-

verdade:

Verifica-se que a saída será 1, ou verdadeira,

somente se as 2 entradas forem verdadeiras. Basta

que uma das entradas seja falsa para gerar uma saída

falsa.

Figura 02

Soquete

X1 X2 Y

0 0 0

0 1 0

1 0 0

1 1 1

0 0 0

0 1 0

1 0 0

1 1 1

Entradas Saída (Y) X1 X2

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 42

A seguir, mostramos a representação da porta OR e sua tabela-verdade:

Neste caso, verifica-se que a saída será

falsa somente quando as duas entradas forem falsas.

Nos demais casos, nesse tipo de porta, as saídas serão

verdadeiras.

A terceira porta lógica mais importante é a porta NOT (inversora); mostramos a

seguir sua representação e a tabela-verdade correspondente, que é bem mais simples:

Quando o valor de entrada for 0, a saída será 1;

quando a entrada for 1, a saída será 0. Transforma o que

é verdadeiro em falso e vice-versa.

Finalmente, apresentamos a porta XOR (ou-exclusivo), cuja representação e tabela-

verdade mostramos a seguir:

Essa porta é idêntica à porta OR, exceto pelo

fato de que só apresentará 1 na saída quando as

entradas forem diferentes entre si.

Na prática, percebe-se a alteração apenas na

última linha da tabela-verdade em relação à da porta

OR.

Um circuito digital típico seria, por exemplo, o que representa a soma de dois

algarismos binários (Soma = X1 + X2):

X1 Y

0 1

1 0

0 1

1 0

X1 X2 Y

0 0 0

0 1 1

1 0 1

1 1 1

0 0

0

0 1

1

1 0

1

1 1

1

X1 X2 Y

0 0 0

0 1 1

1 0 1

1 1 0

0 1

1

0 0

0

1 0

1

1 1

0

X1 X2 Soma

Vai um

X1 X2 Soma Vai um

0 0 0 0

0 1 1 0

1 0 1 0

1 1 0 1

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 43

A princípio parece estranho 1 + 1 = 0 e vai-um. Mas a regra do vai-um é idêntica à do

sistema decimal que usamos cotidianamente. No sistema decimal, quando a soma de dois

algarismos é igual ou maior que a base (10), subtrai-se do resultado o valor da base e vai-um.

Por exemplo:

No exemplo, ao somarmos 3 + 9 obtivemos 12 que é maior que a base

(10), então, subtraímos 12 de 10, obtemos 2 e vai-um.

O mesmo critério se aplica em qualquer base, inclusive na base dois. Senão vejamos:

ao somarmos 1 + 1 o resultado é 2, então subtraímos o resultado da base (2), e obtemos o

valor 0 e vai-um. Portanto: 1 + 1 = 0 e vai-um.

O circuito acima realmente representa essa soma. É desta forma que o computador

executa operações matemáticas.

Existem no mercado circuitos integrados dos mais variados tipos, que realizam

diversas operações lógicas e matemáticas. Em especial, o circuito integrado mais elaborado é

o microprocessador ou simplesmente chamado de processador.

No interior de um microprocessador existem milhares de portas lógicas interligadas

entre si, cuja disposição permite executar as mais diversas tarefas que um computador pode

realizar.

Agora que temos a noção de como a eletrônica digital funciona, podemos imaginar a

complexidade de um microprocessador, uma vez que é a “peça” mais importante de um

computador, pois é o responsável pela realização de todas as tarefas solicitadas através dos

programas que executamos.

Hoje, a tecnologia utilizada para a construção desses processadores envolve grandes

investimentos, e a cada dia as empresas tentam se superar.

2.1.5 – A linguagem de máquina (Assembler)

Para que possamos fazer a interface entre os programas de computador e o hardware,

existe uma camada de programação, inserida no Sistema Operacional (Windows, Linux, OSX,

etc.), que se denomina “linguagem de máquina”. Essa linguagem, também chamada de

“baixo-nível” envia ao microprocessador as instruções das tarefas que ele deve realizar. Essas

5329+82 =

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 44

tarefas são valores numéricos, na base 2, que são transmitidos ao seu barramento23 de entrada,

obedecendo a uma tabela de instruções previamente determinada pelo fabricante do

processador.

Existe um Assembler (linguagem de máquina) para cada tipo de processador, uma vez

que as instruções em linguagem de baixo-nível mudam de um para outro.

Felizmente, devido à arquitetura de camadas, ilustrada ao lado,

ao comprarmos um novo computador, contendo um processador

diferente, não precisamos alterar o Sistema Operacional, nem os

programas e arquivos que possuímos, pois a alteração se limitará à

camada correspondente à linguagem de máquina. Este novo Assembler

seria elaborado de tal forma que não haveria a necessidade de se

alterar o Sistema Operacional e, consequentemente, nenhuma das

camadas superiores.

É claro que ao se lançar novos processadores, também são implementados novos

recursos que seriam plenamente utilizados, caso alterássemos o Sistema Operacional e os

Programas. Mas tais modificações seriam onerosas para os usuários e causariam muito

incômodo, devido à necessidade de instalar novas versões de todos os programas que

utilizam. Provavelmente, se existisse essa necessidade, o consumidor não ficaria interessado

em adquirir novos equipamentos e, ao mercado, essa não seria uma boa medida.

2.1.6 – Programas de alto-nível e os compiladores

Programar em Assembler é complexo, exigindo muito estudo, trabalho, e atualização

dos conhecimentos a cada novo processador lançado.

A partir de 1954, ao surgir a primeira linguagem de programação de alto-nível, o

FORTRAN, iniciou-se um novo paradigma. Agora, não necessitávamos programar os

computadores com zeros e uns.

23 Dá-se o nome de barramento ao conjunto de bits (algarismos 0 e/ou 1) de entrada ou saída de processadores ou qualquer circuito integrado. Esses barramentos podem ser de 8 bits, 16 bits, 32 bits ou 64 bits, etc. Quanto mais bits, maior o número que pode ser representado na base 10 e, portanto, maior a velocidade de operação, uma vez que uma maior quantidade de dados pode ser enviada de cada vez.

Linguagem de alto nível

Sistema operacional

Linguagem de máquina

Hardware

camadas

Compiladores

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 45

A linguagem de programação consiste em uma série de instruções representadas por

palavras, normalmente em inglês, que desta forma nos permite melhor compreender seus

fundamentos, aumentando a produtividade na criação de programas.

Isto foi possível ao criar-se uma camada intermediária entre as linguagens de

programação e o Sistema Operacional. Essa camada corresponde aos compiladores, que são

programas escritos em Assembler e traduzem para linguagem de máquina as instruções dos

programas de alto-nível.

Existe um compilador para cada linguagem de programação. Exemplos: compilador

Basic, compilador Pascal, compilador Java, Delphi, C, etc.

Os compiladores funcionam como se fossem intérpretes das línguas de cada país. Ele

deve conhecer a fundo ambas as línguas entre as quais irá fazer a tradução. No caso dos

compiladores, eles são escritos em Assembler e traduzem para essa mesma linguagem as

linguagens de alto-nível.

Finalmente, podemos verificar que existem uma série de teorias e estudos necessários

para conhecer todos os recursos computacionais, e o profissional de Tecnologia de

Informação e Comunicação, precisa se manter atualizado. Mas, como vimos, para o domínio

de toda essa tecnologia demanda um estudo constante em várias áreas do conhecimento, o que

torna para uma só pessoa uma tarefa difícil de cumprir.

Essas observações motivaram todo este trabalho de pesquisa, cuja descrição

mostraremos nos capítulos seguintes.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 46

CAPÍTULO III

3.1 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3.1.1 – Introdução

As informações foram analisadas a partir da elaboração de um plano descritivo das

falas, no qual se apresentaram as ideias expressadas pelos participantes, bem como as

manifestações de apoio e/ou diferenças de opinião.

As falas, que foram gravadas, foram ouvidas repetidas vezes, transcritas, e tomamos o

cuidado de agrupar os fragmentos dos discursos de acordo com as categorias que foram

identificadas. Junto às mesmas, também agregamos as opiniões expressadas pelos 2

professores que não puderam comparecer à reunião e que deram seu testemunho,

posteriormente, ao responder a algumas perguntas que formulamos a partir das discussões que

surgiram no Grupo Focal.

Em nossa análise, procuramos extrair tudo aquilo que era relevante e coerente com o

tema da discussão.

A análise capturou as principais ideias que apoiavam as conclusões da pesquisa por

meio do grupo focal, confrontando com as anotações que realizamos no momento em que

estivemos observando as aulas dos professores, bem como as opiniões colhidas nas

entrevistas complementares.

Neste ponto, convém relembrar que em nossas questões de estudo, pretendíamos

basicamente analisar a influência da cibercultura e as consequências da velocidade com que as

mudanças nas Tecnologias da Informação e Comunicação têm ocorrido, em relação ao

desempenho profissional dos professores do Curso Técnico de Informática do IF SUDESTE

MG-JF. Para realizar tal pesquisa, optamos pela técnica do Grupo Focal (GF).

Ao escolhermos os sujeitos da nossa pesquisa, verificamos que se tratavam de pessoas

com grande experiência em magistério, possuidores de cursos de mestrado e/ou doutorado

concluídos, e com certa experiência no mercado de trabalho. Tais atributos demonstravam ser

de grande potencial para a obtenção de informações que poderiam contribuir enormemente na

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 47

busca dos resultados das nossas questões de estudo. Além disso, são profissionais com

espírito crítico desenvolvido, observadores da política educacional; e em sua maioria possuem

filhos estudantes. Desta forma, a escolha destes professores foi primordial para o nosso

trabalho, dadas as características de nossos questionamentos.

Ao procurarmos observar todos os critérios científicos na formação e condução do

nosso grupo focal, procuramos nos colocar na posição de mero espectador, apenas

conduzindo a reunião no sentido de seguir os objetivos de nossos questionamentos. Devido a

essa postura, sentimos a necessidade de optarmos também pela utilização de entrevistas

semiestruturadas, para as quais elaboramos um roteiro de perguntas abertas, para que

pudéssemos sanar as dúvidas que surgiram nos depoimentos dos participantes do grupo focal.

Aproveitando essa mesma técnica, decidimos também realizar entrevistas com os professores

que não puderam estar presentes na reunião do GF, uma vez que estes, por iniciativa própria,

colocaram-se à nossa disposição para colaborarem.

Para verificarmos a aplicabilidade real, de tudo aquilo que foi dito durante a realização

do Grupo Focal, realizamos algumas observações em sala de aula, nas quais procuramos

analisar a atuação de alguns professores, observando a sua didática de ensino, confrontando

com os seus depoimentos na reunião do GF.

3.1.2 – Descrição do Grupo Focal

Conforme acordado com os professores participantes, todos os nomes próprios aqui

mencionados são fictícios, a fim de suprimir a identificação dos mesmos e os consequentes

constrangimentos que poderiam vir a ocorrer.

O Grupo Focal foi constituído por todos os professores de disciplinas técnicas no

Curso Técnico de Informática do Campus de Juiz de Fora do Instituto Federal do Sudeste de

Minas Gerais, totalizando 10 profissionais, dos quais 2 são da área de hardware e os demais

da área de software.

Na pesquisa inicial que fizemos a respeito dos integrantes do Grupo Focal, obtivemos

os seguintes dados a respeito do perfil dos professores:

Idade: 60% de 31 a 40 anos, 40% de 41 a 50 anos

Formação: 70% com mestrado e 30% com doutorado.

Família: 10% solteiros/divorciados, 20% casados sem filhos, 60% casados com até 2

filhos e 10% casados com mais de 2 filhos.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 48

Renda familiar: 50% com renda entre R$ 3 mil e R$ 6 mil reais e os outros 50% com

renda superior a R$ 8 mil reais.

Experiência em magistério: 100% deles lecionam de 11 a 20 anos.

A tabela que apresenta os dados levantados, referente a cada um dos participantes,

encontra-se no APÊNDICE I.

Tal levantamento foi realizado para que pudéssemos analisar o perfil do grupo. Essas

informações foram importantes para nos orientar na elaboração das estratégias da condução

da reunião do Grupo Focal e dar-nos certa tranquilidade em relação ao comportamento dos

participantes e à obtenção dos dados que gostaríamos de colher, pois, são professores

experientes, com formação acadêmica de mestrado e doutorado.

Em sua maioria possuem famílias de até 2 filhos, com renda familiar muito boa, o que

colabora no sentido de poderem se dedicar ao seu desenvolvimento profissional, possuindo

condições financeiras suficientes para adquirirem livros, realizarem assinaturas de revistas

técnicas, assinarem contratos de acesso à Internet de Banda Larga, etc., elementos essenciais

para o seu aprimoramento profissional.

Quanto à faixa etária dos professores, verificamos que 60% deles é relativamente

jovem e que durante suas vidas de estudante vivenciaram a fase inicial da Internet nos anos

90. Os outros 40% já vivenciaram a época em que os primeiros microcomputadores chegaram

ao Brasil, nos anos 80.

Esse grupo representa gerações que vivenciaram de certa forma as mudanças

tecnológicas e puderam perceber a velocidade com que tais mudanças ocorreram ao longo

desses últimos 30 anos.

Em virtude de estarmos reunidos com professores experientes, ousamos assumir os

papéis de facilitador e observador do Grupo Focal, uma vez que nosso envolvimento com o

assunto permitiria, a nosso ver, um controle mais eficiente sobre o mesmo.

O encontro realizou-se na sala do Núcleo de Informática, que é bem arejada, clara, um

ambiente bem agradável, onde existe uma mesa retangular, de tamanho suficiente para

acomodar todos nós.

Para a gravação do encontro, utilizamos um notebook (Macbook Apple), que possui

recursos de multimídia de boa qualidade e suficientes para obtermos uma gravação nítida de

som e imagem.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 49

Para garantir nosso trabalho, colocamos sobre a mesa, em lugares distintos, mais dois

gravadores do tipo MP3, para que pudessem servir de “reforço” ao realizarmos a análise da

gravação, prevenindo-nos de evitar ao máximo a existência de algum depoimento inaudível.

Procuramos fazer, durante todo o encontro, algumas anotações com o objetivo de

registrarmos o comportamento dos participantes, bem como suas expressões faciais, quando

nos pareceram importantes para a futura análise.

Ao convidarmos todos os professores que lecionam no Curso Técnico de Informática

e/ou no Curso de bacharelado em Sistemas de Informação do Campus de Juiz de Fora do

Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais para participarem do GF, todos se mostraram

solícitos ao nosso convite e dos 10 professores do Núcleo de Informática, compareceram 8

deles. Sendo que os 2 professores que se ausentaram, depois de justificarem suas ausências,

colocaram-se à nossa disposição para nos oferecer uma entrevista a respeito do assunto que

havia sido tratado no encontro do Grupo Focal; o que foi realizado posteriormente.

Dentre os presentes, 6 professores lecionam disciplinas na área de software e 2

lecionam disciplinas na área de hardware.

Partindo de um plano previamente estudado, nos munindo de um roteiro norteador,

durante todo o tempo procuramos observar todos os cuidados recomendados pela revisão da

literatura disponível sobre essa técnica de pesquisa, para obter deste encontro respostas

cientificamente incontestáveis para as nossas questões de estudo.

Iniciamos os trabalhos, procurando informar o nosso objeto de pesquisa, sem atermo-

nos a maiores detalhes, sempre preocupados em evitar aprofundar muito, uma vez que nossa

preocupação era a de não influenciar os futuros depoimentos sobre o assunto em questão.

Tais explicações iniciais, assim como todo o conteúdo das conversas, constam do

APÊNDICE II, nas páginas finais deste trabalho.

Para ilustrar toda a descrição, inserimos as partes mais relevantes das falas sempre

destacando-as do texto em si.

Inicialmente, começamos a relatar alguns acontecimentos de nossa experiência como

professor, e em seguida, tomamos o cuidado de introduzir o problema que nos aflige: o fato

de agora termos acesso a um grande número de informações através da Internet, e que

também nossos alunos têm esta possibilidade, levando-nos a ficar preocupados com o que

lecionamos.

Em seguida, enfatizamos a importância de nos mantermos atualizados. Procuramos

lembrar também que os alunos desta geração por estarem integrados às novas Tecnologias da

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 50

Informação e Comunicação, tudo parece normal para eles, enquanto que para os professores

essa adaptação é um pouco diferente.

Ao notar que, entre os professores presentes, tínhamos a representação de gerações

diferentes, ressaltamos a importância que gostaríamos que fosse dada em relação a este

convívio com as novas tecnologias, na ótica destes professores de diferentes idades.

Ao final da nossa fala introdutória, procuramos enfatizar novamente a importância dos

depoimentos dos colegas professores novatos, quando talvez estes não se sintam tão

incomodados com essas mudanças tecnológicas que hoje ocorrem com uma certa velocidade.

O primeiro depoimento vem de uma professora da área de hardware, que nos fala que

as bases tecnológicas (eletricidade) não mudam tanto assim: NILZA - Posso dar um testemunho do que eu acho interessante do que você falou? Eu acho que a gente que mexe com hardware e não entendo bem a outra parte para poder dizer, tem uma característica diferente: as ideias básicas que vêm da eletricidade ... elas não variam! [...] Se a gente falar de como a corrente elétrica, que é o que faz tudo acontecer em uma máquina, e que sem ela a gente não conseguiria fazer o sinal se “movimentar” ... essa parte, ela é muito antiga e é uma base constante, não tem muita variação.

Em seguida, a professora estende esse raciocínio também para a Eletrônica e solicita

ao professor Fabiano, seu colega de área de conhecimento, sua concordância a respeito, e este,

através de movimentos de cabeça acena concordando com o depoimento da professora:

NILZA - A eletrônica, mesmo ela tendo muita coisa nova, também tem muita base sólida que não muda muito, não é Fabiano? Você concorda comigo?

A mesma professora enfatiza o fato de que para o aluno entender o funcionamento dos

novos equipamentos, precisa desta base tecnológica, que não muda. Talvez aí possamos

compreender, nas entrelinhas, que a professora é da opinião de que na formação do técnico

deve-se preocupar com o seu embasamento, para que este aluno, no futuro, possa assimilar as

mudanças tecnológicas com mais facilidade e segurança: NILZA - Você pode ler, mas você precisa adquirir esses conhecimentos porque é uma quantidade de conhecimento muito grande, para você entender como um circuito funciona, a sua cabeça tem que entender o novo processo, e eu acho que é uma parte muito difícil para os alunos, porque é um movimento diferente ... na história um texto... não é pegar um texto e não adianta, porque tem todo um processo, assim como eu acho que na parte da programação também não é só saber a linguagem, é um caminho muito longo para você entender a linguagem. Agora, tem a parte final da história que é quando você chega mesmo na parte da máquina que aí as coisas mudam muito rápido. [...] O que eu vejo em um microprocessador, por exemplo, que é a área que eu estou lecionando, cada dia está aparecendo um

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 51

outro, um novo, mas, que ainda está dando para acompanhar ... E eu não sei até quando a gente vai ter velocidade para acompanhar.

Embora defendendo a ideia de que há conhecimentos técnicos que permanecem os

mesmos, a professora concorda com o fato de que atualmente as tecnologias estão sendo

modificadas com uma velocidade tal que não conseguimos acompanhar, coincidindo com as

opiniões de Levy (1999), e de Dreifuss (1996), que proferem a respeito das mudanças

tecnológicas e o grande ritmo em que tais mudanças ocorrem.

O desenvolvimento profissional é calcado na metodologia do “aprender sozinho”

(PONTE, 1998), e a professora afirma em suas palavras transcritas acima que as coisas estão

mudando muito rápido, e que não sabe até quando terá fôlego para acompanhar. Seu

depoimento, portanto, leva-nos a concluir que ela admite que a atualização se faz necessária,

embora ainda não o faça porque até o momento “está dando para acompanhar”.

A seguir, a professora faz um resumo de seu depoimento novamente enfatizando a

importância do embasamento teórico: NILZA - Então é assim ... eu acho que para nós tem uma diferença, que é essa base muito sólida que se repete mesmo na tecnologia ... por mais que você tenha uma coisa muito nova no mercado e você entender que os elétrons da última camada podem se deslocar daquele átomo ...

Neste momento, espontaneamente, o outro professor da área de hardware se manifesta,

ilustrando o que a colega disse, com uma frase metafórica: FABIANO – No nosso bolo a receita muda os ingredientes, mas eles são os mesmos. A gente muda um pouquinho a posição de um componente ou de outro e aí você tem uma situação diferente, mas os componentes são sempre os mesmos. Se você olhar a eletrônica de um rádio a válvula e a de um computador moderno hoje, é o mesmo princípio, não mudou nada.

O professor, associa os componentes eletrônicos que hoje são utilizados, aos

ingredientes de um bolo, tentando nos explicar que é possível construir aparelhos diferentes

(diferentes bolos) a partir de uma série de componentes eletrônicos largamente conhecidos

(diversos ingredientes). Os princípios que norteiam os aparelhos eletrônicos, segundo o

professor, permanecem os mesmos e portanto não considera que alguma coisa tenha mudado

significativamente.

É público e notório as mudanças tecnológicas que têm ocorrido com a utilização de

processadores mais rápidos, armazenamento de dados em mídias com capacidade de

armazenamento cada vez maiores, técnicas de transmissão de dados sem fio, etc. que nos

levam intuitivamente a aceitar que as tecnologias têm mudado, mas, conforme o professor

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 52

depôs, trata-se apenas de mudanças de posicionamento dos componentes nos circuitos e que

no fundo as tecnologias permanecem as mesmas.

Acreditamos que a opinião do professor poderia ser outra caso o curso tivesse em sua

grade curricular disciplinas que abordassem o hardware de um forma mais profunda, mas,

devido o perfil do curso ser voltado mais para a área de software, as disciplinas de eletrônica

tendem a exercer o papel de embasamento teórico, conforme constatamos nos depoimentos

dos dois professores analisados até aqui.

Ao opinar a respeito das linguagens de programação, o professor afirma: FABIANO - [...] é fácil de entender porque, no nosso caso, o hardware, se a gente entender o primeiro, os outros são todos fáceis. Agora, linguagem de programação, você aprende uma linguagem de programação, na outra semana alguém inventa outro código diferente e muda mais ainda ...

Tentando contestar um pouco essa visão do professor a respeito da diferença software

x hardware, a professora Jaqueline, que leciona Linguagem de Programação C, afirma que os

fundamentos das linguagens também não se alteram: JAQUELINE – Na linguagem de programação, acho também que os fundamentos se mantêm, por exemplo, o algoritmo, tudo nasce daquilo ali, partindo dali, você consegue criar aquela lógica na cabeça do aluno e a partir dali é só codificação, é só tradução, vamos dizer assim: ele vai pegar aquele algoritmo e traduzir para C, ou pega aquele algoritmo e traduz para Java, ou vai traduzir para ... qualquer outra linguagem.

O professor Fabiano retruca, exemplificando o motivo que o levou a pensar desta

forma, uma vez que durante o curso testemunhou as mudanças das linguagens que são

ensinadas, enquanto que na eletrônica que ele ensina, nada mudou: FABIANO – No meu caso, há vinte anos eu trabalho com ..., na essência eu dou a mesma disciplina, há vinte anos. Agora, o que eu tenho ouvido falar aqui é Delphi, Java, Cobol, Pascal, Assembler, Jacarol, tenho ouvido vários nomes, tanto que chegou um ponto que a disciplina sumiu da grade e virou Linguagem de Programação, que a cada ano mudava e aí então ... era diferente.

Queremos enfatizar aqui a frase dita pelo professor Fabiano: “eu dou a mesma

disciplina, há vinte anos”; será que não está na hora, ou passou da hora de renovar?

A esta altura, percebia-se uma certa indignação dos professores da área de software em

relação aos depoimentos iniciais dos de hardware. O professor Renan interviu com uma frase

que resumia tal indignação, uma vez que perguntou a respeito das novas tecnologias que estão

surgindo:

RENAN - ... eu acho que a área de vocês é a mesma coisa que a nossa, evolui sempre e é diferente ... por exemplo: vamos supor que a pessoa está

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 53

acostumada em dar manutenção em vídeo com tubo, agora é LCD, depois é plasma, isto muda a tecnologia ...

O professor Fabiano responde afirmando categoricamente que nada mudou em

eletrônica, inclusive até acenando negativamente com a cabeça: FABIANO - ... não mudou nada!

O professor Renan se mostra surpreso com a resposta do colega indagando: RENAN – Não muda não?

Uma série de interferências ocorreram a partir deste momento, mostrando claramente a

discordância dos professores em relação ao depoimento do professor Fabiano (Eletrônica).

Novamente, Fabiano nos surpreende com a afirmativa de que ele desconhece o

funcionamento de um dispositivo LCD e afirma que quem conhece vai afirmar com certeza

que nada mudou. Depois, ele argumenta que essas mudanças tecnológicas têm a intenção de

somente diminuir os custos:

FABIANO – Eu não saberia trabalhar com dispositivo LCD nem hoje e nem há dez anos atrás! Mas quem já trabalha com LCD há dez anos ... não mudou muita coisa não. A essência mesmo, basicamente não mudou. [...] O que está facilitando é o custo ... a gente sabe que um monitor comum de CRT de 15 polegadas custava dois mil reais, hoje se cobrarem dois reais você está pagando muito. E tem uma parte que escrevi num documento, e eu já falei, que não vale a pena mais reparar o antigo, é muito mais em conta você fabricar um novo, sai mais barato. Então, não é a questão da tecnologia estar sendo obsoleta, ao contrário, ela está ficando é barata demais.

A nosso ver, o professor Fabiano estava um tanto nervoso, e não conseguia sustentar

seus argumentos, quando então, sua colega de área, professora Nilza, interferiu, tentando

ajudar ao colega, falando a respeito das mudanças tecnológicas atuais:

NILZA – Agora tem uma coisa que muda rápido, e talvez seja a dúvida da questão. O que eu acho que muda muito rápido, é realmente, pelo preço e pelo tamanho, as configurações da máquina. Por exemplo, hoje eu não sei falar o que é um computador rápido? Porque os meninos me contam que tem um outro, e depois na semana que vem, os meninos me contam que tem um outro, aí isso sim![...] Porque hoje eles tem uma facilidade de comunicação via uma série de redes de relacionamento que pra gente isso não existia.

Chamo a atenção para a frase final da fala acima transcrita, em que a professora Nilza

diz que os alunos têm hoje uma grande facilidade de descobrir as coisas novas a partir das

redes de relacionamento, e afirma ainda que em seu tempo de estudante tal facilidade não

existia. Tais afirmações vêm coincidir com as palavras de Lévy (1998) que retrata a formação

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 54

de uma “inteligência coletiva”, decorrente da interatividade existente, não só nessas redes de

relacionamento, levando-nos a compartilhar saberes.

Tentando desarticular esse discurso de se ficar só na base, o professor Renan

interferiu mostrando a necessidade de não se acomodar, pois, se o fizer, não vai mais

conseguir dar aula:

RENAN – Mas o problema da gente aqui como professor é ... eu acho que isso, por exemplo: se eu ficar aqui ... daqui a 4 anos ... hoje estou dando aula de Java ... daqui a 4 anos não é mais Java, é uma linguagem com orientação a sei lá o que? Aí, se eu não aprender essa ... me atualizar, eu não vou conseguir dar aula. Eu não posso só ficar na minha base, eu tenho que me atualizar.

Neste momento da reunião, percebemos que o assunto começa espontaneamente a

seguir o sentido de uma das nossas questões de estudo: como o professor que ensina

tecnologia consegue se atualizar? Neste ponto, recorrendo à literatura existente, lembrando as

palavras de Ponte (1998), que nos mostra a mudança ocorrida em relação a esta atualização:

hoje, não podemos falar de uma “formação continuada”, e sim do “desenvolvimento

profissional”, uma vez que tem-se recorrido à autoinstrução, e raramente se tem frequentado

cursos formais de atualização.

Neste momento, o professor Renan, talvez percebendo alguma aparente reação

involuntária de nossa parte, nos pergunta se este assunto (atualização docente) faz parte dessa

pesquisa e nos solicita essa confirmação: RENAN - [...] eu vi uma apostila de Química que estava alaranjada, amarela de velha, o professor que dava aquela disciplina [...]. Mas, vamos dizer assim que é uma ciência de base, como Matemática e Física, não muda. Se a gente não se atualizar ... acho que este é o problema que você está ... é isso que você está ... ?

Como o professor se dirigiu a nós, respondemos afirmativamente, ilustrando o assunto

com um pequeno depoimento pessoal, a partir do qual veio toda a nossa inquietação, a partir

da qual gerou este nosso estudo. Comentamos a respeito das mudanças ocorridas em relação

às Linguagens de programação que lecionamos.

O professor Marcos entra na conversa e novamente levanta o problema que gerou toda

a polêmica. Afirma que realmente as disciplinas básicas vêm mantendo seu conteúdo há

algum tempo. Realmente quando se pensa em bases tecnológicas, elas mudam muito pouco:

MARCOS - No curso de informática existem as disciplinas básicas, que não mudam muita coisa, um algoritmo, banco de dados, lógicas de programação. Essa fundamentação inicial ela se mantém com poucas alterações. Se for colocar até as referências bibliográficas, não são referências bibliográficas tão recentes, não é?

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 55

O mesmo professor vem a declarar que as disciplinas que não são básicas mudam

muito e cita algumas delas em sua explanação: MARCOS - [...] Eu lecionei pouco destas disciplinas, eu sempre tive disciplinas onde a evolução era muito rápida, área de desenvolvimento WEB, área de multimídia, e outras. Tanto que são disciplinas que têm sempre muita novidade. Eu acho que a disciplina que está associada a uma ferramenta, a uma IDE, uma linguagem de programação, algum produto, elas sempre sofrem muitas alterações no decorrer de um ano mesmo.

Convém comentar que a área de hardware, no curso técnico de informática do

Campus de Juiz de Fora, tem se mantido apenas no básico. Se houvesse uma preocupação de

incluir disciplinas mais técnicas, estas certamente exigiriam maiores atualizações.

Examinando a grade curricular do curso, verificamos a existência da disciplina “Manutenção

e montagem”, que, com certeza, seria a representante destas disciplinas de hardware não-

básicas. Esta foi uma das dúvidas que ficou para ser sanada posteriormente, uma vez que

procuramos não interferir nos assuntos em questão.

O professor Marcos continua nos falando a respeito da velocidade em que estas

atualizações ocorrem e da facilidade de encontrar tais informações na Internet; coisa que

anteriormente éramos dependentes do lançamento de livros ou de publicações em revistas

técnicas: MARCOS - Hoje, diferentemente da época que fui seu aluno [o professor foi nosso aluno em uma outra escola técnica, em 1984], a gente sabia de um programa numa revista, e não eram tantas ... eu lembro que a “Nova Eletrônica” anunciava algumas coisas e aquilo levava um ano, dois, para um amigo seu que tinha um colega no Rio, trazer aquela ferramenta para você usar [...] Hoje não. É lançada uma versão nova de um produto na Internet, você “baixa” o produto, você pode rodar normalmente 30 dias, com todas as características, você “baixa” um “pdf” de manual de mil e tantas páginas, muitas vezes já em português, e isso o nosso aluno tem acesso também.

O professor Marcos, finalmente, de forma espontânea, sugere a discussão do tema

central de nossa pesquisa, quando afirma que é grande a dificuldade de se manter atualizado

diante da velocidade com que as alterações acontecem:

MARCOS - Então quando você fala de uma versão de um programa, o aluno já tem a versão mais atualizada que você. Agora, a nossa capacidade de nos atualizar não é tão rápida quanto as empresas que estão lançando os produtos. Essa é a grande dificuldade. E existem diferenças consideráveis; eu trabalho com ... por exemplo eu dava aula com Studio 8, Macromedia e Flash. O Flash CS3 mudou muita coisa, existem coisas totalmente diferentes nele. Então é o que ele falou; a nossa capacidade de estar atualizando ... ou seja, é uma briga constante. Você tem que “correr atrás”; algumas disciplinas não, algumas disciplinas são mais ... são mais clássicas.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 56

O professor, além de lecionar e preparar suas aulas, como nos retrata Moura (2006), é

obrigado, pelas motivações geradas pelos alunos, a procurar se atualizar diante dos novos

conteúdos que surgem a todo momento.

Uma vez que tomamos o cuidado de não detalharmos demais nosso objetivo de estudo,

surgia, durante as falas, a tentativa de “descobrir” o que pretendíamos estudar, e, dentre essas

tentativas de adivinhação o professor Marcos lembra que a utilização das novas tecnologias

como ferramentas pedagógicas poderia ser um dos temas que procurávamos explorar: MARCOS - [...] imagino que tenha a ver com o que você queira, é o que nós professores de informática usamos da tecnologia para o ensino? [...] Aí é uma questão também ... eu particularmente, não tenho o hábito de escrever no quadro, eu já tenho bastante tempo que o meu material é todo feito e vinculado via Internet, ele é projetado ou jogado na tela do computador. [...] a base dela está ou em apostila ou em slide ou em material audiovisual.

Já que o professor tentou descobrir, tomamos a liberdade de informar que aquele tipo

de questionamento não havia sido elencado em nossas questões de pesquisa, mas que poderia

vir a ser, e neste momento então, uma vez que o tema já havia suscitado de forma natural em

nosso debate, decidimos provocar a discussão de um dos nossos questionamentos, ou seja,

como os professores de tecnologia conseguem se atualizar? E assim, elaboramos uma

pergunta: ALBERTO - Vou só jogar aqui também uma outra pergunta: e se um aluno chega para vocês e pergunta uma coisa ... pergunta assim: você está ensinando aqui o Delphi 2007? Né? O Delphi 2007. Já está no Delphi 2010 professor; porque razão o senhor está ensinando o Delphi 2007 agora? O quê que vocês falam?

O professor Ronaldo, que até então ainda não havia se manifestado, resolveu nos dar

seu testemunho a respeito das mudanças de paradigma que ocorrem na informática. Ele nos

fala das mudanças ocorridas na informática durante a sua vida de estudante e usuário de

computadores: RONALDO - Posso dar um testemunho, Alberto? Eu vou conversar um pouco como o aluno ali. Eu não sei se vai estar dentro do que você está esperando aqui. Mas eu, em informática, eu não sou um menino dos mais modernos não, mas eu já nasci também com bit no sangue; vamos dizer assim. Comecei a trabalhar com computador por conta própria em casa, fiz o curso técnico, trabalhei com desenvolvimento, como programador, tá? [...] e uma das maiores frustrações que eu tive nesse desenvolvimento foi assim, eu acho que foi a mudança de paradigma; eu acho é que as ideias é que mudam... na informática. Quando houve aquele rompimento para a interface gráfica eu tive um delay ali [...] Lógico que surgiram as questões das redes, da Internet, como você contou... e as evoluções foram acontecendo. Uma

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 57

que marcou muito para mim foi essa da interface gráfica. [...] A gente tem que estar comprando livro, porque o aluno chega e te pergunta né?

O professor Ronaldo, usa pela primeira vez neste nosso encontro o termo “mudança de

paradigma”. Particularmente, também vivenciamos tal época, e realmente o aparecimento da

interface gráfica, que, conforme relata Lévy (1993, p.11), veio para modificar a relação

homem-máquina, e o autor introduz o conceito de ecologia cognitiva, ou a “ideia de um

coletivo pensante homens-coisas”. O professor Ronaldo enfatiza que “as ideias é que

mudam”, talvez fazendo alusão ao fato de que a criatividade leva ao rompimento de

determinadas tradições, fazendo surgir as grandes transformações.

A professora Jaqueline, interrompe o colega e nos mostra um novo olhar: aprendemos

sob pressão! Se não formos pressionados a estudar, é normal que venhamos a nos acomodar: JAQUELINE - O que estimula mesmo a gente a aprender é a pressão. Você vai pegar uma disciplina nova, aí você vai se virar para aprender o que tem de melhor ali dentro, já que você está pegando como novo, você vai pegar o último Delphi que tem, o último Java que tem, aí você tem que fazer, você tem que dar um jeito. Porque se não a tendência é acomodar mesmo.

Talvez a acomodação, ou a falta de motivação, leve o profissional de ensino a relaxar

em seu objetivo de se atualizar.

O professor Renan, que durante certo período de sua carreira, além de dar aulas,

trabalhava na iniciativa privada, lembra que tal fato ajuda muito, pois certamente irá aplicar

suas experiências profissionais no mercado de trabalho para orientar suas aulas: RENAN - Nisso que você está falando, eu que... uma coisa boa, e que a gente não pode fazer, é trabalhar. Quando eu comecei a dar aula aqui eu trabalhava, programando, então aquilo que estava acontecendo, você estava ensinando. Aí, depois que eu entrei aqui ...

Os professores que trabalham em “regime de dedicação exclusiva”, não podem, por

força de lei, exercerem atividades na iniciativa privada. Tal fato prejudica bastante a

atualização do professor, uma vez que deixa de trazer ao aluno as novidades do mercado. Para

ilustrar essa afirmação tomamos o diálogo entre os professores Jaqueline e Renan: JAQUELINE – A dedicação exclusiva ela tem essa tendência de te confinar né? RENAN – Para a área de informática ou qualquer área técnica, tecnológica, eu acho que tinha que ser o contrário. O governo tinha que arranjar um emprego para você ficar trabalhando, se atualizar, e dar aula. JAQUELINE – Isso faz muita diferença. Porque aquilo que você põe na prática, aquilo que você trabalha, você ensina com muito mais facilidade. Não é um ensinamento só teórico. [...][...]

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 58

RENAN – Aí você diz que vou estudar aquilo para dar aula, não adianta você ficar lendo, você tem que viver aquela coisa na prática, né?

Acreditamos que o diálogo acima denota a existência de mais uma forma de tentar se

manter atualizado, ou seja, estando em contato direto com o mercado de trabalho.

Infelizmente, devido a possibilitar um mau uso desta concessão, ela não é adotada, mas,

certamente, a experiência profissional que se adquire na iniciativa privada poderia contribuir

positivamente para o desenvolvimento profissional docente. Tal forma de atualização, deveria

ser considerada pelas autoridades, e, sem dúvida, merece estudos a respeito dessa

possibilidade.

Aproveitando a oportunidade, uma vez que os professores estavam falando sobre

atualização, realizamos um preâmbulo a respeito do assunto a fim de provocar sua discussão.

A primeira participante a opinar foi a professora Jaqueline, que inicialmente confessa

que dificilmente compra livros. Tudo que precisa ela procura na Internet, a partir dos sites de

busca, tomando sempre o cuidado de analisar cientificamente o que está sendo informado.

Parece ser a forma mais fácil e econômica de se obter conhecimento, já que existem inúmeras

informações disponíveis: JAQUELINE – [...] Hoje eu não compro livro, tudo o que eu preciso eu “baixo” da Internet. Me dá muito trabalho, as pesquisas são trabalhosas, não é digitar no Google: apostila de Java, que você já consegue uma apostila de Java. Eu entro em vários sites, uma busca cuidadosa, olhando cada uma delas, olhando a didática da apostila, vendo o que mais se adequa ao seu jeito de pensar ou mesmo de estudar e aí eu “baixo” as apostilas, estudo por elas e começo efetivamente a tentar construir os temas, construir os programas.

Convém comentarmos aqui o fato da Internet estar repleta de informações, mas,

conforme a professora afirma, não podemos confiar em tudo o que se vê publicado. A

professora destaca a necessidade de se analisar com cuidado todo o material disponibilizado,

para evitar cometer erros acreditando em publicações elaboradas sem cuidado científico.

Na fala seguinte, a mesma professora dá o seu testemunho a respeito da sua

dificuldade ao elaborar a sua dissertação de mestrado, pois, para a mesma, ela necessitava

obter conhecimentos de Linguagem de Programação Java, que desconhecia totalmente até

então. Pudemos constatar também, a partir de suas palavras, que ao existir a pressão, as

pessoas se desdobram para aprender sozinhas, que conforme Ponte (1998) trata-se de uma

forma de se conseguir seu desenvolvimento profissional. Acreditamos que a maioria dos

profissionais de informática recorrem à Internet para resolver os seus problemas imediatos,

como podemos constatar em vários depoimentos aqui destacamos 2 deles:

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 59

JAQUELINE - [...] igual na minha tese de ... na minha dissertação de mestrado; eu não sabia nada de Java, então chegando ali, eu nunca tinha visto orientação a objeto, estava saindo ... quando saí da graduação a orientação a objeto estava nascendo, aí o meu orientador virou para mim e falou assim: usa o operador “se vira” e constrói o leilão eletrônico em Java. CRISTINA – A gente consegue fazer isso, consegue pegar uma apostila na Web, consegue se virar sozinho, porque a gente já teve uma base. Passou por uma graduação, a gente teve esta estrutura básica que não vai mudar, que é saber fazer o algoritmo, entender como que a programação funciona, e a partir dessa base que a gente tem, a gente consegue enfiar a cara e aprender essas coisas novas.

Desde que o profissional tenha uma base sólida, consegue sozinho obter o

conhecimento que necessita, procurando colocar nos fóruns de discussão suas dúvidas que na

maioria das vezes são sanadas rapidamente, conforme podemos verificar no depoimento da

professora Cristina ao se manifestar pela primeira vez.

A professora Nilza, da área de hardware, diz que prefere muito mais utilizar livros,

gosta muito de ler e detesta fazer pesquisas na Internet. Mas testemunha também que não

consegue acompanhar a velocidade de raciocínio dos alunos atuais uma vez que, na sua

época, as coisas eram mais lentas: NILZA - [...] quando está pesquisando na Internet, eu particularmente tenho horror de pesquisar na Internet; eu compro livro, eu gosto de ler, eu gosto de ter livro, eu troco qualquer coisa por comprar livro, eu gosto, é uma coisa que eu tenho prazer em fazer. [...] Nós estamos no “olho do furacão” que qualquer aluno de Informática ou de Eletricidade ou do Mobral, Mobral não, agora é Proeja... qualquer um ... aquele moço da obra ... qualquer um tem uma velocidade de pensamento extremamente diferente da nossa velocidade de pensamento quando a gente era criança. [...] Aí eu acho que a gente cai na grande questão: por mais que a gente atualize, compre livro, veja na Internet e faça um curso, a gente esbarra com uma novidade: que a velocidade do pensamento do aluno. [...] porque ele pensa rápido. Muito mais rápido que eu! Aí eu acho que a gente esbarra na questão.

Constatamos no depoimento da professora a sua preocupação com a cobrança natural

dos discentes, mas, acreditamos que com toda a sua experiência e segurança ela tem superado

estas dificuldades iniciais inerentes a atual cibercultura. Ela nos fala a respeito do “olho do

furacão”, todos estamos no meio de uma grande confusão, tudo acontece rapidamente e

desordenado.

A professora confessa a sua inadaptabilidade aos recursos disponíveis pelas novas

Tecnologias da Informação e Comunicação, uma vez que se sente bem mais à vontade ao

utilizar os meios didáticos tradicionais, justificando que o aluno pode fixar melhor o que

escreve, e não o que ele simplesmente escuta. Este recurso didático ainda é muito utilizado:

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 60

NILZA - [...] para mim não funciona o que o Marcos falou: se eu tiver que fazer um negócio na transparência, eu vou achar a aula tão ruim para mim que eles vão detestar. É, mas é coisa minha. Eu tenho que dar aula no quadro, e ele tem que escrever, que é onde o cérebro deles vai poder fixar em cada pedacinho da memória. É muito da pessoa, cada pessoa lida de uma forma diferente, então eu acho que eles vão copiar isto aqui, porque aí eles vão aprender, tem que ser calmo, o cérebro vai desacelerando um pouquinho para a gente conseguir aprender, e não passar rapidamente.

A professora Nilza apresenta sua visão pedagógica, notadamente a favor da calma,

reflexão, sintonizada exclusivamente no assunto em questão. Nesse nosso mundo conturbado,

onde tudo acontece na mais alta velocidade, desenha-se um ambiente tranquilo que se faz

necessário para desacelerar o cérebro dando-se um tempo para reflexões. A nosso ver, é

bastante interessante este contraponto.

O professor Ronaldo volta a reafirmar a importância da base científica, mostrando-nos

o que ele chama de diferença entre a base científica e a tecnologia em si. Ele exemplifica com

o fato de que uma pessoa que se afasta do mercado de trabalho durante um determinado

espaço de tempo, terá dificuldades em retornar ao mesmo se todo o seu conhecimento baseou-

-se somente em tecnologia, sem o devido lastro teórico (base científica):

RONALDO - Eu falo para os meus alunos o seguinte: oh ... aqui no curso técnico, se você formar e começar a trabalhar logo em seguida “beleza”; agora imagine que você forma e fica 2 anos fora do mercado de trabalho, o que vai te segurar? Como é que você vai se atualizar? É só a base de ciência. Se você tem a ciência, se tem aprofundamento, conforme a Cristina falou, você consegue comprar livro, não é, faz uma pesquisa na Internet, lê uma revista; você consegue... Agora se você não tem ciência, se você tem só na tecnologia, a tecnologia mudou... acabou!

Realmente, absorver o conhecimento é bem diferente de entender o funcionamento de

determinado assunto. O conhecimento absorvido, ou aprendido, ou sedimentado, servirá

certamente de base para estudar qualquer nova tecnologia.

O professor Lucas, que até o momento não havia se manifestado, mas prestou imensa

atenção no que os colegas diziam, fez uma intervenção que resumiu de forma bastante

didática, a meu ver, o que foi dito até aqui. A frase que utilizou para resumir tudo foi “[...] a

informação tem prazo de validade!”. Ressaltou a preocupação dele em concentrar mais tempo

naquilo que vai durar por longo período, e fazendo assim, poderá ganhar algum tempo para se

atualizar. Ressaltou também a importância da humildade, quando você reconhece que não

sabe e aceita aprender com o aluno: LUCAS - Agora, eu acho que é assim... uma coisa que a gente aprende sendo professor de informática é humildade... se você não tiver não dá certo. Você tem que falar que não sei na... na consciência mais tranquila do mundo.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 61

Se você quiser entrar para dar aula sabendo tudo, você vai estourar a sua cabeça em dois anos! Vai morrer porque não ... não dá certo.

O professor Renan interfere dizendo que o problema é quando a quantidade de “não

sei” aumenta muito. E o professor Lucas, jocosamente diz que a “cara-de-pau” também

aumenta proporcionalmente. Afirma que com a base de conhecimento sólida você consegue

deduzir a solução: LUCAS - Tendo uma base sólida você consegue compensar isso de certas ... de certas formas com isso... você não sabe, mas, você consegue dar “bons chutes”. Essa é que eu achei a grande... a grande diferença. Então, mesmo nunca tendo visto o “negócio” você consegue dar uns palpites assim pertinentes... e é isso o que alivia um pouco o nosso lado. Agora, que é uma... uma ansiedade muito grande, eu acho que é.

Ao se mencionar o termo “cara-de-pau”, o professor se referiu à capacidade de

melhorar a cada dia a sua segurança sobre a disciplina que leciona, eliminando aos poucos o

constrangimento de dizer que não sabe responder determinado assunto. Quanto mais

conhecimento adquire, consegue dar mais sentido a determinadas respostas (“bons chutes”)

que formula ao ser questionado sobre determinado assunto.

Ao final de nosso encontro, o professor Marcos lembrou-nos que as pessoas têm

diferentes formas de aprender, nós não somos todos iguais: MARCOS - [...] gosto muito da “Teoria das Inteligências Múltiplas”... as pessoas aprendem de diversas formas... não só escrita, não só oral, não só visual, existem vários outros...

O mesmo professor confessa a sua preocupação em estar sempre se atualizando,

porque seus alunos o estarão cobrando todo o tempo: MARCOS - Agora, eu penso o seguinte... eu... eu... quando você tem que preparar a matéria, foi o que a Jaqueline falou, não tem jeito, você tem que correr atrás, você tem que buscar, normalmente você não vai em uma fonte só, você tem que ir em dois, três... se é um software... você dá aula de um software, tem aquela opção que o aluno vai te perguntar... isso aí... e esse item aqui? Você pode fuçar... você pode num [...] agora, os alunos eles têm a sensação que eles sabem... eles têm muito... coisa... mas eles não têm muitas vezes aquela profundidade e tranquilidade que precisa ter.

O professor Marcos nos lembra que para aumentar nossa segurança ao transmitir

determinado assunto, temos que nos aprofundar uma vez que perguntas inesperadas poderão

surgir.

No APÊNDICE II deste trabalho publicamos todos os depoimentos na íntegra.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 62

3.1.3 – Descrição das entrevistas

Após a realização do grupo focal, um assunto polêmico nos chamou a atenção. Os

professores da área de hardware afirmaram que não existem mudanças tecnológicas tão

rápidas assim. Por essa razão, resolvemos entrevistar os professores utilizando da técnica

semiestruturada, uma vez que já tínhamos noção das perguntas que seriam feitas.

Infelizmente, conseguimos entrevistar apenas a professora Nilza; a entrevista na íntegra

encontra-se no APÊNDICE III.

A partir desta entrevista, verificamos que a professora tem procurado abordar, na

medida do possível, os assuntos mais atuais, e na disciplina de Microprocessadores faz uso de

processadores didáticos e de controle, uma vez que os processadores citados (8051 e PIC) não

são utilizados diretamente em computadores pessoais. Deduz-se que a disciplina tenta mostrar

aos discentes a forma de se programar processadores (linguagem de máquina), de forma

básica, sem ater às novas tecnologias que surgem principalmente com o lançamento de novos

processadores direcionados aos microcomputadores.

Realizamos mais 2 entrevistas, com a mesma técnica (semiestruturada), para os

professores que não puderam comparecer na reunião do Grupo Focal em virtude de

compromissos de trabalho. Procurados, eles gentilmente colaboraram conosco e deram seus

depoimentos a respeito das perguntas que havíamos formulado antecipadamente, baseadas nos

assuntos que surgiram no Grupo Focal.

Tais entrevistas foram individuais, realizadas em data e hora diferenciados, mas

contendo as mesmas perguntas.

Os professores também reafirmam as preocupações com a velocidade das

transformações tecnológicas, observam também as mudanças de paradigma com o advento

dos telefones celulares inteligentes, televisão digital, cinema 3D, cartões de ônibus. Em

relação às formas que utilizam para manterem-se atualizados, observamos que um dos

professores diz que para evitar constrangimentos, procura se basear na leitura de trabalhos

científicos e comerciais, mas, tal observação vem ainda caracterizando a utilização de

autoinstrução confirmando o conceito de desenvolvimento profissional (Ponte, 1998).

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 63

3.1.4 – Descrição das observações

Com o intuito de verificarmos in loco a aplicabilidade dos depoimentos obtidos pelos

professores, confrontando-os com a prática em sala de aula, estivemos observando as aulas de

4 professores, escolhidos de forma a procurarmos abranger as diversas características de cada

uma das disciplinas do curso.

As observações foram realizadas por este pesquisador, tomando o cuidado de anotar as

principais características de cada professor, conhecendo previamente as opiniões emitidas

pelo professor em questão, a partir da releitura de seus depoimentos.

Na maioria das aulas eu solicitei licença do professor e sentei-me no fundo da sala,

procurando, assim, deixar os alunos e o professor o mais à vontade possível.

Ao analisar nossas anotações, observamos que de modo geral, todas as observações

vieram a confirmar os depoimentos prestados pelos professores vindo ratificar que todos eles

praticam em sala de aula aquilo que disseram no encontro do Grupo Focal.

As observações na íntegra encontram-se no APÊNDICE IV.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 64

CAPÍTULO IV

4.1 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, nosso objetivo foi analisar como os professores que lecionam no

Curso Técnico de Informática do IF SUDESTE MG-JF se atualizam diante da velocidade com

que se apresentam as mudanças nas Tecnologias da Informação e Comunicação e como a

cibercultura interfere no ensino das disciplinas do curso.

Inicialmente, para contextualizarmos o problema, recorremos a Denis de Moraes

(2001), que nos fala a respeito dos mercados societários, quando nos mostra a criação de

grupos virtualmente localizados na rede mundial de computadores, que são formados a partir

da reunião de adeptos de mesmos interesses e gostos, solidarizando-se através de suas

afinidades. Em consequência dessas trocas de experiências, os grupos propiciam o

aprendizado de novas culturas e novos saberes, criando virtualmente uma das células do saber

globalizado. Como nos mostra Lèvy (1998), essa forma de acesso às informações a partir da

troca de experiências, torna o autoaprendizado cada vez mais fácil e dissemina-se o

conhecimento de novas culturas, experiências são trocadas, influenciando e proporcionando

mudanças na rotina de vida dos cidadãos, fruto da interconexão entre os cidadãos por meio da

rede mundial de computadores. Lèvy batizou essa nova forma de relacionamento social de

cibercultura.

Mas não podemos nos deixar levar somente pela visão otimista, é preciso confrontar

tais visões com as de Virilio (1999), que nos chama a atenção para a invasão de nossa

privacidade cada vez maior, disfarçada pelo uso das câmeras de segurança; GPS; cartões de

crédito que registram os nossos hábitos de compra e os locais onde as realizamos; sites de

relacionamento onde revelamos nossos interesses, fotos de amigos e familiares, etc. Virilio

(1999) chega até nos lembrar da possibilidade do controle absoluto dos governos sobre os

cidadãos, exemplificando tal fato ao citar a obra de ficção “1984” de George Orwell.

Com o olhar no convívio social, procuramos analisar as influências da cibercultura não

só nas novas tecnologias, mas também como os professores, socialmente incluídos neste

mundo globalizado, compartilham com seus alunos tais mudanças de paradigma. Os

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 65

professores não são e não devem ser simples transmissores de conhecimento, mesmo que

assim queiram ser, pois têm também a missão de educar, através da exteriorização de seus

pontos de vista e do seu comportamento pessoal, já que, possivelmente, alguns de seus alunos

poderiam espelhar-se na pessoa do professor. Desta forma, procuramos analisar os valores

éticos que tais mudanças têm produzido e, para tal, recorremos aos ensinamentos de Gilberto

Dupás (2000) que nos mostra o aparecimento de novos aspectos éticos que surgiram após a

proliferação da cibercultura.

Não podemos negar que os estudantes, convivendo nesta cibercultura, tendem a

inquirir seus professores da área de tecnologia, desafiando-os a responder perguntas de cunho

técnico e provocam até discussões éticas, quando tais assuntos envolvem direitos autorais,

propriedade intelectual, censura a informações, segurança dos dados, etc.

Ao propormos nossas questões de estudo, procuramos resumir em suas propostas a

prática de ensino nos dias de hoje, levando-se em conta as influências sociais da cibercultura e

a necessidade do desenvolvimento profissional dos docentes para que possam adaptar-se a tais

mudanças paradigmáticas que ocorrem em velocidades incompatíveis com a necessária

absorção das mesmas.

Conforme alguns depoimentos colhidos em nossa pesquisa, tal velocidade pode ser

constatada pelo fato de que no início de suas carreiras, os professores conseguiam

acompanhar as mudanças tecnológicas com certa tranquilidade, mas que, atualmente, tal

acompanhamento tem ficado defasado, pois estando diante de um grande volume de

informações disponíveis, não lhes é possível acompanhar em “tempo real”.

Todos os sujeitos da pesquisa concordam que é necessária uma atualização constante,

uma vez que os alunos cobram deles tais posicionamentos a todo instante. Comungamos com

os depoimentos da maioria dos professores. As novas tecnologias propiciaram o aumento da

velocidade de processamento, o aumento da capacidade de armazenamento de dados nas

memórias digitais, as novas técnicas de transmissão de dados sem fio, etc. e para se ensinar

tecnologia, os professores precisam estar em dia com as novas tendências.

A partir dos depoimentos colhidos, constatamos também que a grande maioria dos

professores participantes do GF não conseguem acompanhar as mudanças tecnológicas e que

para amenizar tal deficiência, utilizam-se de uma série de artimanhas para conseguirem obter

resultados os mais satisfatórios possíveis em relação à transmissão dos conhecimentos.

Afirmam, por exemplo, que em virtude de terem uma maior experiência, conseguem dirigir o

raciocínio de uma forma lógica e coerente acenando para a solução correta do problema que

está sendo analisado, procurando então, durante as aulas, assumirem a postura de mostrarem

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 66

“o caminho das pedras”, colocando-se, humildemente, como pessoas que também estão em

busca dos novos conhecimentos, conseguindo assim obter as respostas ao submeterem seus

alunos a desafios ou tarefas que os levem a buscar, juntamente com seus mestres, a solução

para os seus questionamentos. Concluimos, portanto, que os professores pesquisados

procuram se colocar mais na posição de orientadores do que na de simples divulgadores das

novas tecnologias.

Para realizar a busca de soluções recorrem, na maioria das vezes, ao uso coerente e

cuidadoso das informações disponibilizadas na Internet. Em tais pesquisas, buscam por

tutoriais e/ou experiências que outros profissionais já as tenham vivenciado e a partir dos

testes de funcionamento atestam ou não a sua aplicabilidade.

Com o conhecimento que os professores adquiriram em seus cursos formais,

respaldados por uma base sólida adquirida em seus estudos, conseguem de alguma forma

orientar seus alunos no sentido de encontrarem as respostas para o que procuram.

Pudemos concluir que os professores, na medida do possível, tentam se manter

atualizados através de pesquisas pessoais na Internet, adquirindo revistas técnicas, se

inteirando de reportagens etc. buscando seu aprimoramento profissional constante, tentando a

todo custo não perder o “bonde da história”.

Para nossa surpresa, verificamos que, de forma natural e intuitiva, os professores

improvisaram novas formas de ensinar, semelhantes às que preconizam autores como Silva

(2010, p.227), que na tentativa de mostrar as novas formas de transmitir conhecimento, o

professor deve valorizar não só a construção do conhecimento pelo aluno, mas deve também

propor o conhecimento como uma construção coletiva, como coautoria. O autor afirma que

nestes novos tempos, os estudantes não conseguem mais assistir aulas expositivas, unilaterais,

como aquelas que frequentamos em nossa formação. Desvincularmos deste vício é bastante

difícil, mas por uma “questão de sobrevivência”, como declararam espontaneamente os

professores pesquisados, eles passaram a adotar tal didática a fim de superar as dificuldades

advindas das alterações tecnológicas constantes e, de uma forma quase que imposta pelas

circunstâncias, passaram a aplicar de forma espontânea e intuitiva essas novas técnicas

pedagógicas.

Os pesquisados, em seus depoimentos, testemunharam uma série de mudanças

importantes, que propiciaram o surgimento de novos paradigmas, transformando os

computadores utilizados inicialmente por um número restrito de pessoas, em verdadeiros

eletrodomésticos de uso popular; a partir do momento em que os programas passaram a ser

interativos e intuitivos, ao passarem a adotar linguagens de programação com comunicação

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 67

visual sob sistemas operacionais escritos de forma a utilizar recursos gráficos, facilitando

assim o acesso do público leigo.

Atualmente, os discentes, em comparação com seus professores, têm muito mais

facilidade de “aceitar” tais tecnologias, uma vez que estes últimos, em sua fase estudantil não

tiveram a oportunidade de experimentar as Tecnologias da Informação e Comunicação, hoje

tão naturalmente manipuladas pelos jovens.

Durante nossa pesquisa, alguns professores confessaram-se temerosos, em relação a

seus alunos, uma vez que eles lhes davam a impressão de estarem pensando e compreendendo

os fenômenos de uma forma bem mais rápida que eles, e por isso, naturalmente, passaram a

adotar “o aprender junto”. A maioria dos professores pesquisados concordam que não é mais

possível transmitir conhecimento de forma unidirecional, pois nosso mundo agora é

interativo.

Todos estamos em busca de conhecimento e informação a todo instante e os

professores que lecionam disciplinas da área tecnológica têm uma preocupação muito maior

em manterem-se atualizados, pois, se “piscarem os olhos”, as coisas mudam de uma forma tão

rápida que se torna muito difícil recuperar o tempo perdido.

Os professores têm feito o possível para obterem o seu aprimoramento, mas mesmo a

partir de seus esforços pessoais não conseguem acompanhar tais mudanças na velocidade com

que elas ocorrem. A solução apresentada por eles, por diversas formas, sempre levam a tentar

obter estes novos conhecimentos a partir de seus próprios alunos, aguçando sua curiosidade e

aproveitando a natural facilidade que estes têm em aceitar as novas Tecnologias da

Informação e Comunicação.

O que concluimos mesmo em nossa pesquisa foi o fato de que os docentes perceberam

a necessidade das mudanças de comportamento de forma intuitiva, motivados não por estudos

pedagógicos, mas pela natural contaminação da cibercultura em suas vidas, levando-os a

aplicar as regras da interatividade virtual na vida real, ao envolverem seus alunos na

descoberta dos novos conhecimentos compartilhando com eles. E tais atitudes coincidiram

com os relatos de Silva (2010) e Ramal (2011), que chamam a nossa atenção no sentido de

que os professores têm que mudar suas atitudes em relação à sua forma de ensinar. É

desejável que passem a adotar o “ensino colaborativo”, procurando envolver seus alunos no

processo de ensino-aprendizagem, de tal forma que a busca do conhecimento seja recíproco,

alunos aprendendo com o professor e este aprimorando seus conhecimentos através de seus

alunos.

Os professores aprendem com os alunos, e estes, a partir dos conhecimentos

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 68

embasados de seus professores, recebem deles a segurança para explicar os fenômenos que

experimentam no dia-a-dia, conseguindo assim absorvê-los de forma coesa e duradoura.

Essa troca de conhecimentos é extremamente necessária e nos parece ser a melhor

forma de nos adaptarmos a esta nova forma de cultura deste mundo globalizado, em busca do

conhecimento coletivo.

A forma de ensinar tecnologia, na medida do possível, deve evitar a unilateralidade,

uma vez que observamos a necessidade de haver reciprocidade, já que o volume de

informações é muito grande e o tempo para absorvê-las é as vezes insuficiente.

Os resultados encontrados nos levam a acreditar que poderão ser de grande ajuda a

outros profissionais de ensino que estejam na busca de soluções didáticas para conseguirem se

manter atualizados diante do novo ritmo implementado pela cibercultura. Verificamos que

mais do que nunca os professores estão procurando o seu “desenvolvimento profissional“ a

partir da metodologia do “aprender sozinho” (PONTE, 1998), e que seguramente podem e

devem aplicar a pedagogia do “ensino colaborativo“ (SILVA, 2010; RAMAL, 2011) ao

envolverem seus alunos no processo de ensino-aprendizagem.

Testemunhamos aqui o sucesso obtido a partir das mudanças na relação professor-

aluno, ao inserir os discentes na busca do conhecimento, incentivando a sua coparticipação no

processo de aprendizagem, motivados pelo fato de se sentirem incapazes de absorver toda a

informação disponível, na mesma velocidade em que ela se apresenta. Talvez, este sucesso

tenha sido obtido a partir da preocupação com a formação do corpo docente da Escola, fato

este que infelizmente não se repete em todas as instituições de ensino.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 69

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PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 72

APÊNDICE I Levantamento das características pessoais dos sujeitos da pesquisa

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PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 73

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TOTA

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**Observação: Cumpre-nos novamente lembrar que a identidade dos professores

participantes foi preservada, uma vez que, substituímos seus nomes originais por nomes fictícios.

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APÊNDICE II

Transcrição da reunião do Grupo Focal realizada em 27/09/2010.

Local: Sala do Núcleo de Informática – Campus Juiz de Fora – Instituto Federal do Sudeste

de Minas Gerais.

Sujeitos: Professores do Curso Técnico de Informática e/ou Curso de bacharelado em

Sistemas de Informação.

Observação: Os nomes dos professores participantes foram alterados para preservar suas

identidades. Apenas o nome deste pesquisador foi mantido.

Composição da mesa: ALBERTO (pesquisador), RONALDO (professor de Linguagem de

programação Delphi I), FABIANO (professor de Eletrônica e Manutenção e montagem de

computadores), NILZA (professora de Eletrônica Digital), JAQUELINE (professora de

Algoritmos e Linguagem de programação C), MARCOS (professor de Computação Gráfica e

WEBDesign), CRISTINA (professora de Linguagem de programação Delphi II), LUCAS

(professor de Redes de computadores e Linguagem de programação PHP) e RENAN

(professor de Linguagem de Programação Java).

Sentimos a ausência de 2 professores: Que devido a compromissos inadiáveis justificaram

sua ausência. MILTON (professor de Banco de Dados) e PAULO (professor de Programas

Aplicativos).

A transcrição:

- ALBERTO – [inicialmente, muito nervoso] Meus amigos, isto aqui é o seguinte; deixe-

me explicar a vocês! Na verdade, eu comecei a dissertação colocando os seguintes

problemas, e durante alguns anos, lá em mil novecentos e “pratrazmente”, a gente

conseguia pegar um determinado computador, e você o conhecia por dentro e por fora,

com uma certa facilidade, porque estes computadores ou essas máquinas antigas ainda

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 75

eram muito ainda ... dava ainda para um ser humano conseguir entender como elas

funcionavam. Na minha vida particular eu consegui chegar a fazer este tipo de coisa até o

PC 486, e a partir daí, eu desisti porque eu já estava “pirando” ... já não dava mais ... já

não dava conta de conhecer hardware, linguagem de máquina e linguagem de

programação em cima das máquinas que estavam lá. Onde começou a era da

especialização, e cada um começou a partir para onde queria. E tudo isso, durante as

aulas ... que a gente dava aulas no curso, o Paulo podia estar aqui para testemunhar, pois

ele foi da primeira turma que eu dei aula aqui. A gente tinha uma dificuldade louca em

repassar para os meninos essa ... a forma com que a gente passava estas informações para

nossos alunos ... e isto a gente foi aprendendo durante os mais de vinte anos de curso aqui

... a gente foi aprendendo como é que repassava para os meninos essa forma de ensinar. E

hoje, nós estamos com um grande problema, que é o excesso de informação que começou

a surgir a partir do advento da Internet e principalmente porque os nossos alunos também

acessam a Internet. Não somos só nós não é? Apesar de nós conseguirmos informações

na Internet e a gente sabe filtrar, pois a gente tem conhecimento para saber filtrar o que é

bom e o que não é, os nossos alunos não sabem, alguns sabem, e de repente eles nos

deparam com algumas perguntas que se a gente não souber responder ... a gente fala que

não sei, vou procurar saber ... mas se sempre ficar assim começa a “pegar mal” para a

gente. Então a gente se sente na obrigação de também se reciclar (não reciclar), mas sim

procurar sempre se manter atualizado. Certo? Bom ... eu dei o meu testemunho e aqui nós

temos professores de várias cargas de trabalho ou de tempo de trabalho. Eu não conheço

e não sei se vocês trabalharam antes em alguma coisa ... do pessoal daqui do CTU a gente

sabe, e que justamente por isso, de vocês serem de áreas e de tempos diferentes e

gerações até diferentes ... qual que é a dificuldade ou não. O que hoje acontece é ... eu

acho que hoje os alunos chegam aqui ... os meninos hoje nascem já com ... um dos

componentes do sangue deles é bit. Isso é normal! Agora, na minha época a gente nem

imaginava como era um computador. Na minha época e na época das próximas gerações,

talvez eu tenha mais dificuldades em compreender essas mudanças do que as pessoas

mais jovens. Então é por isso que eu não gostaria ficar assim instigando muito para que

não seja dirigido, porque eu quero ouvir também os mais jovens ... e de repente para mim

isto é uma tempestade e para vocês seja uma chuvinha de nada. Ok?

- NILZA – Primeiro eu quero te agradecer por considerar que somos de uma geração de

jovens [risos] e já me deixou animada. Posso dar um testemunho do que eu acho

interessante do que você falou? Eu acho que a gente que mexe com hardware e não

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 76

entendo bem a outra parte para poder dizer, tem uma característica diferente: as ideias

básicas que vêm da eletricidade ... elas não variam! Então a gente tem uma parte do

estudo que é constante. Se a gente falar de como a corrente elétrica, que é o que faz tudo

acontecer em uma máquina, e que sem ela a gente não conseguiria fazer o sinal se

“movimentar” ... essa parte, ela é muito antiga e é uma base constante, não tem muita

variação. A eletrônica, mesmo ela tendo muita coisa nova, também tem muita base sólida

que não muita muito, não é Fabiano? Você concorda comigo? [Fabiano move a cabeça

concordando com o depoimento da colega]. As ideias da eletricidade, as bases da

eletrônica, as bases da eletrônica digital, então, eu acho que uma diferença nossa da área

do hardware é que tem muita coisa que é constante e tem muita coisa que não adianta

você querer ir sozinho lá na Internet e que você vai decifrar. Você pode ler, mas você

precisa adquirir esses conhecimentos porque é uma quantidade de conhecimento muito

grande, para você entender como um circuito funciona, a sua cabeça tem que entender o

novo processo, e eu acho que é uma parte muito difícil para os alunos, porque é um

movimento diferente ... na história um texto... não é pegar um texto e não adianta, porque

tem todo um processo, assim como eu acho que na parte da programação também não é

só saber a linguagem, é um caminho muito longo para você entender a linguagem. Agora,

tem a parte final da história que é quando você chega mesmo na parte da máquina que aí

as coisas mudam muito rápido. O que eu vejo em um microprocessador, por exemplo,

que é a área que eu estou lecionando, cada dia está aparecendo um outro, um novo, mas,

que ainda está dando para acompanhar ... E eu não sei até quando a gente vai ter

velocidade para acompanhar. E o que é mais interessante: ele usa uma linguagem que é

antiga e bem definida que é o Assembler. É interessante porque tem o antigo e o novo

juntos. Então é assim ... eu acho que para nós tem uma diferença, que é essa base muito

sólida que se repete mesmo na tecnologia ... por mais que você tenha uma coisa muito

nova no mercado e você entender que os elétrons da última camada podem se deslocar

daquele átomo ...

- FABIANO – No nosso bolo a receita muda os ingredientes, mas eles são os mesmos. A

gente muda um pouquinho a posição de um componente ou de outro e aí você tem uma

situação diferente, mas os componentes são sempre os mesmos. Se você olhar a

eletrônica de um rádio a válvula e a de um computador moderno hoje, é o mesmo

princípio, não mudou nada. Mudou a forma do componente, não mais aquela válvula

deste tamanho [gesticula mostrando o tamanho da válvula] mas o princípio de

funcionamento é o mesmo. Então ... é complicado entender a evolução quando a pessoa

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 77

“cai de paraquedas” de um lado para o outro, mas, ela é fácil de entender porque, no

nosso caso, o hardware, se a gente entender o primeiro, os outros são todos fáceis. Agora,

linguagem de programação, você aprende uma linguagem de programação, na outra

semana alguém inventa outro código diferente e muda mais ainda ...

- NILZA – Eu não consigo captar esta velocidade ...

- JAQUELINE – Na linguagem de programação, acho também que os fundamentos se

mantêm, por exemplo, o algoritmo, tudo nasce daquilo ali, partindo dali, você consegue

criar aquela lógica na cabeça do aluno e a partir dali é só codificação, é só tradução,

vamos dizer assim: ele vai pegar aquele algoritmo e traduzir para C, ou pega aquele

algoritmo e traduz para Java, ou vai traduzir para ... qualquer outra linguagem. Então eu

acho que mudam alguns paradigmas, mudam a maneira como você vê o sistema, mas no

fundo, no fundo, tudo acaba saindo dali.

- FABIANO – No meu caso, há vinte anos eu trabalho com ..., na essência eu dou a mesma

disciplina, há vinte anos. Agora, o que eu tenho ouvido falar aqui é Delphi, Java, Cobol,

Pascal, Assembler, Jacarol, tenho ouvido vários nomes, tanto que chegou um ponto que a

disciplina sumiu da grade e virou Linguagem de Programação, que a cada ano mudava e

aí então ... era diferente.

- NILZA – As atuais linguagens eu não me lembro, da minha época de faculdade, falar o

nome delas ..., na época, sei lá, estava começando a falar do C ...

- FABIANO – ... Basic ...

- JAQUELINE - ... e as linguagens muito ...

- RENAN - ... mas oh gente! ...

- NILZA - ... você falou [Jaqueline] que a base é extremamente importante ... depois que

você entender os algoritmos, todas as linguagens ficam mais ...

- RENAN - ... eu acho que a área de vocês é a mesma coisa que a nossa, evolui sempre e é

diferente ... por exemplo: vamos supor que a pessoa está acostumada em dar manutenção

em vídeo com tubo, agora é LCD, depois é plasma, isto muda a tecnologia ...

- FABIANO - ... não mudou nada! [acenou a cabeça negativando]

- RENAN – Não muda não? [surpreso com a resposta]

- NILZA – Mas eu ... é isso o que eu falei! ... se você está no final ... aí esse final é que, por

exemplo, eu não entendo dele, eu não sei o que fica mais difícil ... agora, a base, ela é

toda a mesma.

- FABIANO - ... mas até o final mesmo ... é porque talvez nós ...

- NILZA - ... LCD ...

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 78

- FABIANO - ... LCD existe há quanto tempo? Calculadora de LCD ... só mudou a

aplicação dele. Eu talvez não soubesse porque não conhecia LCD ...

- RENAN - ... mas mudou na realidade ... [interferiu falando junto com o Fabiano]

- FABIANO – Eu não saberia trabalhar com dispositivo LCD nem hoje e nem há dez anos

atrás! Mas quem já trabalha com LCD há dez anos ... não mudou muita coisa não. A

essência mesmo, basicamente não mudou.

- NILZA – Eu não sei na outra ... prática...

- FABIANO – O que está facilitando é o custo ... a gente sabe que um monitor comum de

CRT de 15 polegadas custava dois mil reais, hoje se cobrarem dois reais você está

pagando muito. E tem uma parte que escrevi num documento, e eu já falei, que não vale a

pena mais reparar o antigo, é muito mais em conta você fabricar um novo, sai mais

barato. Então, não é a questão da tecnologia estar sendo obsoleta, ao contrário, ela está

ficando é barata demais. Hoje a gente vê esse aparelhinho MP e alguma coisa aí, com

CD, o que que um negócio desse aí faz ... em relação ao custo dele, custa 15 reais, 20

reais um negócio desse ... e há pouco tempo a gente tinha: fita cassete, aqueles Walkman,

que custavam uma fortuna. Tinha que importar aquilo do Paraguai, custava 300, 400

dólares. Hoje, com 400 dólares você compra um computador de última geração, um top

de linha de computador! Então só mudou mesmo o custo, a matéria-prima hoje tornou-se

barata. Eu consigo no fundo do quintal pegar um pouquinho de Silício, manusear ele e até

em Juiz de Fora ia ter uma fábrica de transistor, que é a base de tudo, não foi criada por

uma questão política. Com exceção da tecnologia que envolve isso, ela ficar mais

moderna ou menos moderna, não muda a essência não.

- NILZA – Agora tem uma coisa que muda rápido, e talvez seja a dúvida da questão. O que

eu acho que muda muito rápido, é realmente, pelo preço e pelo tamanho, as configurações

da máquina. Por exemplo, hoje eu não sei falar o que é um computador rápido? Porque os

meninos me contam que tem um outro, e depois na semana que vem, os meninos me

contam que tem um outro, aí isso sim! Mas isso é o final da história, e de você conseguir

ter um computador mais barato ... aí eu acho que a máquina em si ... e a comunicação.

Porque hoje eles tem uma facilidade de comunicação via uma série de redes de

relacionamento que pra gente isso não existia.

- RENAN – Mas eu acho ... [tentando interromper a Nilza]

- NILZA – Quando eu ouvi falar em Internet eu fiquei horrorizada.

- RENAN – Mas, o problema da gente aqui como professor é ... eu acho que isso, por

exemplo: se eu ficar aqui ... daqui a 4 anos ... hoje estou dando aula de Java ... daqui a 4

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 79

anos não é mais Java, é uma linguagem com orientação a sei lá o que? Aí, se eu não

aprender essa ... me atualizar, eu não vou conseguir dar aula. Eu não posso só ficar na

minha base, eu tenho que me atualizar. Um dia eu estava no CTU-centro, eu vi uma

apostila de Química que estava alaranjada, amarela de velha, o professor que dava aquela

disciplina ... era mesma apostila que ele dava, não mudou. Mas, vamos dizer assim que é

uma ciência de base, como Matemática e Física, não muda. Se a gente não se atualizar ...

acho que este é o problema que você [Alberto] está ... é isso que você está ... ?

- ALBERTO – É. Estamos chegando lá! É porque na verdade, é, como eu fui, e espero

ainda continuar sendo professor de Linguagem de Programação, a gente ... eu fiquei ...

passei por mudanças das linguagens de programação, mais de paradigmas, como a

Jaqueline disse aí. Você inicialmente tinha máquinas em que a linguagem de

programação vinha embutida na máquina e não tinha Sistema Operacional. Era o Basic

que vinha gravado na máquina lá, e você era obrigado a usar aquele Basic, e tinha um

Basic para cada marca, tinha que aprender um Basic de cada máquina. Depois, criou-se o

Sistema Operacional e em cima dele veio a camada de Linguagens de Programação. Aí a

coisa mudou! Mas eram linguagens sequenciais, e então você pensa sequencialmente ...

- LUCAS - ... procedural não é?

- ALBERTO – Depois, vêm as procedurais, seriam os ... veio o Pascal, C, etc. que são as

linguagens procedurais. Era outra forma de você pensar! Hoje já é Orientada a Eventos e

Orientadas a Objetos, e agora está surgindo aí a programação ... não é estilo de

programação, mas ... mudança na concepção que é a programação nas nuvens, que eles

falam que é você colocar os programas na Internet e as pessoas os acessarem pela

Internet. Então é uma ... isso daí gera para o aluno, para as pessoas, uma mudança. Era

isso que eu queria discutir. Estão entendendo? Poderiam me ajudar ... os mais jovens aí,

por favor?

- MARCOS – No curso de informática existem as disciplinas básicas, que não mudam

muita coisa, um algoritmo, banco de dados, lógicas de programação. Essa fundamentação

inicial ela se mantém com poucas alterações. Se for colocar até as referências

bibliográficas, não são referências bibliográficas tão recentes, não é? Eu lecionei pouco

destas disciplinas, eu sempre tive disciplinas onde a evolução era muito rápida, área de

desenvolvimento WEB, área de multimídia, e outras. Tanto que são disciplinas que têm

sempre muita novidade. Eu acho que a disciplina que está associada a uma ferramenta, a

uma IDE, uma linguagem de programação, algum produto, elas sempre sofrem muitas

alterações no decorrer de um ano mesmo. As versões de linguagem. Eu lembro de ter

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 80

comprado um livro de J. Builder na época ... acabei de comprar o livro e um mês depois

saiu uma versão nova. Eu lembro que saiu duas, três versões daquela linguagem J.

Builder em um ano. Ao passo que ... qual a capacidade que nós temos de atualizar 3

versões? A Adobe comprou a Macromedia e lançou o CS2, o 3, o 4 e o 5 em um tempo

muito rápido e tem mudanças! Se você pegar um Photoshop de versões anteriores, você

até “se vira”, mas, tem particularidades e diferenças em relação a isso aí. Então o que eu

sinto é isso! Hoje, diferentemente da época que fui seu aluno [o professor foi meu aluno

em uma outra escola técnica, em 1984], a gente sabia de um programa numa revista, e

não eram tantas ... eu lembro que a “Nova Eletrônica” anunciava algumas coisas e aquilo

levava um ano, dois, para um amigo seu que tinha um colega no Rio, trazer aquela

ferramenta para você usar...

- JAQUELINE - ... de ação muito lenta ...

- MARCOS - ... é muito lenta. Hoje não. É lançada uma versão nova de um produto na

Internet, você “baixa” o produto, você pode rodar normalmente 30 dias, com todas as

características, você “baixa” um “pdf” de manual de mil e tantas páginas, muitas vezes já

em português, e isso o nosso aluno tem acesso também. Então quando você fala de uma

versão de um programa, o aluno já tem a versão mais atualizada que você. Agora, a nossa

capacidade de nos atualizar não é tão rápida quanto as empresas que estão lançando os

produtos. Essa é a grande dificuldade. E existem diferenças consideráveis; eu trabalho

com ... por exemplo eu dava aula com Studio 8, Macromedia e Flash. O Flash CS3

mudou muita coisa, existem coisas totalmente diferentes nele. Então é o que ele falou; a

nossa capacidade de estar atualizando ... ou seja, é uma briga constante. Você tem que

“correr atrás”; algumas disciplinas não, algumas disciplinas são mais ... são mais

clássicas. Se você pega Algoritmos, os problemas clássicos de algoritmos são mais ou

menos os mesmos. Então o que se dá em termos de fundamentação teórica na informática

... lembro que eu ministrei fluxo de dados há muito atrás num curso de Sistemas e voltei

depois num curso de Telecom e não mudava quase nada, era a mesma base e

extremamente importante para a formação do aluno, não quer dizer que ela estava

desatualizada. Outra questão que eu acho que tem a ver com o que você talvez ... imagino

que tenha a ver com o que você queira, é o que nós professores de informática usamos da

tecnologia para o ensino? Aí é uma questão também ... eu particularmente, não tenho o

hábito de escrever no quadro, eu já tenho bastante tempo que o meu material é todo feito

e vinculado via Internet, ele é projetado ou jogado na tela do computador. Eu não ... essa

coisa de escrever, passar a matéria no quadro ... para mim, eu acho que o aluno perde

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 81

tempo em copiar, você perde tempo em lançar matéria. Não que eu não escreva no quadro

mas a essência da minha matéria normalmente ela está ... a base dela está ou em apostila

ou em slide ou em material audiovisual. Somado que as minhas disciplinas, uma delas é

hipermídia, necessariamente eu usava ferramentas de áudio, ferramentas de mídia,

ferramentas de animação, porque a essência da disciplina era ensinar isso. Mas eu acho

que de certa forma, nós professores de informática ainda usamos pouco, usamos poucas

ferramentas de informática inclusive para apoiar os nossos ...

- ALBERTO - ... você vê que a gente usa pouco, imagine quem não é da área de

informática não usa? Mas, é ... [a professora Nilza tenta intervir] ... só um instante;

guarda aí, não esquece não! Você estava dizendo que é onde eu quero chegar. Vou te dar

uma pista: não é! Porque na verdade, é... , a gente vê muito aí, na área de educação, a

busca exatamente por isso: professores que usam ou não a tecnologia para ensinar. Na

verdade a centralização do que eu estou querendo aqui exatamente é: nós somos as

pessoas que ... nós estamos distribuindo tecnologia, nós estamos repassando tecnologia.

Como nós que repassamos tecnologia, conseguimos nos atualizar, para que nós

consigamos passar para os nossos alunos essa informação, e, para alunos “tipo”

professores reciclagem de outros professores de outra área; entendeu? É mais ou menos

isso, porque ... daquela ideia que eu falei da ... que a gente fica desesperado de não

conseguir seguir em frente dessa forma. Porque quando você está querendo, como você

disse há pouco né? Você está querendo aprender alguma coisa naquela versão, lançam

outra e você ... não deu tempo de atualizar. Vou só jogar aqui também uma outra

pergunta: e se um aluno chega para vocês e pergunta uma coisa ... pergunta assim: você

está ensinando aqui o Delphi 2007? Né? O Delphi 2007. Já está no Delphi 2010

professor; porque razão o senhor está ensinando o Delphi 2007 agora? O que que vocês

falam? Né? Vocês falam, não é?

- RONALDO - Posso dar um testemunho, Alberto? Eu vou conversar um pouco como o

aluno ali. Eu não sei se vai estar dentro do que você está esperando aqui. Mas eu, em

informática, eu não sou um menino dos mais modernos não, mas, eu já nasci também

com bit no sangue; vamos dizer assim. Comecei a trabalhar com computador por conta

própria em casa, fiz o curso técnico, trabalhei com desenvolvimento, como programador,

tá? Então... trabalhei com Cobol, desenvolvimento em Cobol na época, e uma das

maiores frustrações que eu tive nesse desenvolvimento foi assim, eu acho que foi a

mudança de paradigma; eu acho é que as ideias é que mudam... na informática. Quando

houve aquele rompimento para a interface gráfica eu tive um delay ali, um tempo de

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 82

acompanhamento ali, que sair do Cobol... quem trabalhou com Cobol sabe do que eu

estou falando, uma coisa que te prendia, te dava muita força de sustentação e estabilidade.

Ferramenta que a gente não tem outra até ... você sabe disso né? O Delphi, a gente cria, o

Java ... mas nada que crie nada tão estável e que funcionasse tão bem igual ao Cobol. Não

sei se alguém aqui trabalhou com Cobol. Então a gente teve uma frustração muito grande

no lançamento da interface gráfica, com um tempo muito grande de ... para romper

aquela barreira. Lógico que surgiram a questão das redes, da Internet, como você

contou... e as evoluções foram acontecendo. Uma que marcou muito para mim foi essa da

interface gráfica. Depois, fui fazer um curso superior, a gente começa a ter uma visão

diferente do técnico, e apesar da gente entender bem como funciona essas estruturas... e

eu entendo assim esta frustração que a gente tem de estar sempre comprando livro né? A

gente tem que estar comprando livro, porque o aluno chega e te pergunta né? E essa

pergunta aí, é exatamente essa! Porque que eu vou ... [interrompido pelo Alberto].

- ALBERTO – Estou te perguntando porque eu já ouvi esta pergunta ...

- RONALDO - ... usar o Delphi 2009 em casa e aqui você usa o 2007 né? A gente começa

né... que é uma questão comercial né? As empresas ... tem todos os paradigmas aí que

vão surgindo para contemplar o que? Ideias novas. Eu acho que sempre surge um

paradigma de programação, de desenvolvimento para sempre contemplar uma ideia nova.

Eu acho que o que muda realmente são as ideias. Tipo a ideia da interface gráfica, a ideia

do hipertexto que é o desenvolvimento da WEB, que não é a Internet, porque a Internet

já existiu. As ideias é que eu acho que mudam, quando tem um ideia nova, um paradigma

novo, aí o negócio... enquanto está só na atualização comercial tipo: Delphi5, Delphi6...

poucas mudanças... e você ainda vai enrolando, agora, quando tem um upgrade que você

tem uma ideia nova, aí ... aí o negócio complica né? A gente tem que parar, romper o

paradigma, parar, estudar, realmente... de repente um paradigma não tão grande igual o

da interface gráfica que eu contei, que foi para quem mexia com programação e

desenvolvimento, foi um paradigma ... difícil mesmo.

- ALBERTO – Uma mudança grande!

- RONALDO – A gente fala com eles né? ... [interrompido pela Jaqueline]

- JAQUELINE – O que eu acho. O que estimula mesmo a gente a aprender é a pressão.

Você vai pegar uma disciplina nova, aí você vai se virar para aprender o que tem de

melhor ali dentro, já que você está pegando como novo, você vai pegar o último Delphi

que tem, o último Java que tem, aí você tem que fazer, você tem que dar um jeito. Porque

se não a tendência é acomodar mesmo. A eu estou dando o meu Delphi 2007 aqui, e ele

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 83

está funcionando, não tem muita diferença, o aluno não vai sentir muito ... Aí você vai se

acomodando com aquilo ali. Agora, mudou de disciplina ... aí não! Você tem que montar

um curso novo, aí você está pressionado, você tem que se virar para botar o negócio

funcionando.

- RENAN – Nisso que você está falando, eu que uma coisa boa, e que a gente não pode

fazer, é trabalhar. Quando eu comecei a dar aula aqui eu trabalhava, programando, então

aquilo que estava acontecendo, você estava ensinando. Aí, depois que eu entrei aqui ...

- JAQUELINE – A dedicação exclusiva ela tem essa tendência de te confinar né? [Renan

falando junto]

- RENAN – Para a área de informática ou qualquer área técnica, tecnológica, eu acho que

tinha que ser o contrário. O governo tinha que arranjar um emprego para você ficar

trabalhando, se atualizar, e dar aula.

- JAQUELINE – Isso faz muita diferença. Porque aquilo que você põe na prática, aquilo

que você trabalha, você ensina com muito mais facilidade. Não é um ensinamento só

teórico. Eu trabalhei muito tempo com redes, e então hoje eu vou para uma sala de aula

de redes, tudo que os meninos me perguntam eu já fiz uma vez, então, fica muito fácil

responder. Agora, quando você fica ali estudando, só aquela teoria, eu acho difícil

demais.

- RENAN – Eu acho que se você encontrar uma escola que contrate profissionais que

trabalham, com jeito de dar aula, eu acho muito mais importante ele saber a área dele do

que ter que ... que ele entende mais fácil. A gente aqui, por exemplo, você aprende uma

coisa nova, mesmo que você estude, uma ... uma coisa nova, você não trabalha com ela

você não tem a vivência ...

- JAQUELINE – Falta aquele né?

- RENAN – Aí você diz que vou estudar aquilo para dar aula, não adianta você ficar lendo,

você tem que viver aquela coisa na prática, né?

- JAQUELINE – Em linguagem de programação eu acho que a primeira coisa ... ah eu vou

pegar o Java ... a primeira coisa é concluir o sistema né? Pensar em concluir o sistema e

depois você fala ... hoje eu já consigo dar os primeiros passos e me virar sozinha, porque

antes disso ...

- ALBERTO – Verdade. Agora em relação a isso, o que eu gostaria de provocar é o

seguinte, vocês ainda não responderam ainda o seguinte: como, individualmente, cada um

de vocês ... olha, vocês não vão ser identificados, podem ficar tranquilos [risos], pelo

seguinte: porque às vezes fala assim não eu... a pessoa completa ... eu achava que eu

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 84

deveria ... neste papo ... eu achava que eu deveria me dedicar mais, eu estou me

acomodando, como o Renan confessou aqui, não é? E eu também confesso: quando eu saí

daqui era Delphi 2007, dois mil e... , era 2007. Nossa com tanto número na cabeça que ...

era 2007. Então, na época ... e hoje a gente programa em 2010, 2009 ou 2010; acho que

2009 que eu estava programando. Só que ultimamente tenho me dedicado mais ao PHP

porque ... por causa da Internet, não é? A Internet que é o bum aí do Lucas [risos]. Porque

na verdade era assim: como é que a gente faz para se atualizar? Compra livro? Você

frequenta curso? Você ... não? Aprendo é assim ... lendo... é isso que eu queria que cada

um ...

- RENAN – É o que ela falou ...

- JAQUELINE – É na Internet. Hoje eu não compro livro, tudo o que eu preciso eu “baixo”

da Internet. Me dá muito trabalho, as pesquisas são trabalhosas, não é digitar no Google:

apostila de Java, que você já consegue uma apostila de Java. Eu entro em vários sites,

uma busca cuidadosa, olhando cada uma delas, olhando a didática da apostila, vendo o

que mais se adequa ao seu jeito de pensar ou mesmo de estudar e aí eu “baixo” as

apostilas, estudo por elas e começo efetivamente a tentar construir os temas, construir os

programas. É ... muitas versões, a gente tem que aprender uma coisa ... igual na minha

tese de ... na minha dissertação de mestrado; eu não sabia nada de Java, então chegando

ali, eu nunca tinha visto orientação a objeto, estava saindo ... quando saí da graduação a

orientação a objeto estava nascendo, aí o meu orientador virou para mim e falou assim:

usa o operador “se vira” e constrói o leilão eletrônico em Java. Quer dizer, além de ser o

Java, que eu não conhecia, tinha que ser para o ambiente Web, que eu também tinha

pouca intimidade, então foi ... eu baixei os códigos da plataforma do “agente móvel” e

ficava lendo o código do protocolo, traduzindo o código do protocolo da plataforma, até

conseguir entender como acontecia. Agora, só aconteceu porque tinha a pressão, tinha

que fazer, então não tinha jeito, mas eu acho que não dispensa o papel do professor.

- CRISTINA – A gente consegue fazer isso, consegue pegar uma apostila na Web,

consegue se virar sozinho, porque a gente já teve uma base. Passou por uma graduação, a

gente teve esta estrutura básica que não vai mudar, que é saber fazer o algoritmo,

entender como que a programação funciona, e a partir dessa base que a gente tem, a gente

consegue enfiar a cara e aprender essas coisas novas.

- ALBERTO – Então ...

- CRISTINA – Mas gente que não teve essa base, tem muito mais dificuldade para fazer...

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 85

- NILZA – É aí que eu acho que é a grande diferença da situação. Que é ... quando a gente

[barulho na gravação] quando está pesquisando na Internet, eu particularmente tenho

horror de pesquisar na Internet; eu compro livro, eu gosto de ler, eu gosto de ter livro, eu

troco qualquer coisa por comprar livro, eu gosto, é uma coisa que eu tenho prazer em

fazer. Aí eu acho que a gente vai além na questão de dar aula. Que quando você está

criando ... todo mundo aqui já comprou livro... quando você está criando alguma coisa

para dar aula, você vai se lembrando das suas experiências, que é o que faz dizer: esse

caminho não vai funcionar! Que é aí que eu quero chegar lá no começo, que na verdade

eu falei. Nós estamos no “olho do furacão” que qualquer aluno de Informática ou de

Eletricidade ou do Mobral, Mobral não, agora é Proeja... qualquer um ... aquele moço da

obra ... qualquer um tem uma velocidade de pensamento extremamente diferente da nossa

velocidade de pensamento quando a gente era criança. Porque hoje, eles têm uma

velocidade de Internet absurda! Tanto que chegou computadores mais antigos para eu dar

aula lá, os meninos não queriam usar. - Mas esse computador é mole! – Mas que mole?

Para o que você está fazendo está bom demais! Você vai carregar o microprocessador. Aí

eu acho que a gente cai na grande questão: por mais que a gente atualize, compre livro,

veja na Internet e faça um curso, a gente esbarra com uma novidade: que a velocidade do

pensamento do aluno. Hoje faz um campeonato e colocar todo ... eu faço isso! Ponho

todo mundo sentado, olhando um para a nuca do outro. O que a gente deveria fazer, era

um outro formato, uma outra maneira... porque ele pensa rápido. Muito mais rápido que

eu! Aí eu acho que a gente esbarra na questão.

- ALBERTO – Tem uma frase que eu ouvi lá no mestrado que eu achei genial, e gosto de

usar: é... hoje os nossos filhos, alunos, etc. Eles têm pouco ... Eles têm muito reflexo, mas

têm pouca reflexão. Né? Eles não pensam muito, eles tomam atitudes assim de

pedacinhos de coisas que eles pegam ...

- NILZA - ... o que a Cristina falou: é o grande diferencial...

- ALBERTO - ... é o grande diferencial, exatamente, o que a Cristina disse aqui agorinha

mesmo: a respeito de que o professor com a sua base, né? Que ele possui, consegue obter

...

- NILZA - ... que ser a base dos erros ... eu fico lembrando das maneiras que eu nem

gostava, não é desta maneira que eu fiz, não funciona ... para mim não funciona o que o

Marcos falou: se eu tiver que fazer um negócio na transparência, eu vou achar a aula tão

ruim para mim que eles vão detestar. É, mas é coisa minha. Eu tenho que dar aula no

quadro, e ele tem que escrever, que é onde o cérebro deles vai poder fixar em cada

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 86

pedacinho da memória. É muito da pessoa, cada pessoa lida de uma forma diferente,

então eu acho que eles vão copiar isto aqui, porque aí eles vão aprender, tem que ser

calmo, o cérebro vai desacelerando um pouquinho para a gente conseguir aprender, e não

passar rapidamente.

- JAQUELINE - ... vocês não acham que estão defendendo o papel do professor não? Eu

acho que existem alunos, eh ... que têm a capacidade de pensar na frente de um livro, na

frente da Internet e aprender; é instrução, e, mas a existência do professor não pode se

basear só nos que não aprendem, entendeu?

- NILZA – Eu não sei se tudo a gente aprende com o livro e com ... com a Internet ...

- JAQUELINE - ... de tecnologia foi uma fase, praticamente sim, o que a gente não

aprende com a Internet são os relacionamentos interpessoais né, o contato com as pessoas

...

- NILZA - ... algoritmo para mim é uma grande questão!

- RONALDO - A base que a Cristina falou. Diferenciar o que é ciência e o que é

tecnologia. Se você não tem a base científica, uma base sedimentada, você não consegue

acompanhar a tecnologia. Isto é uma grande frustração quando você muda de técnico para

um profissional de nível superior. Eu falo para os meus alunos o seguinte: oh ... aqui no

curso técnico, se você formar e começar a trabalhar logo em seguida “beleza”; agora

imagine que você forma e fica 2 anos fora do mercado de trabalho, o que vai te segurar?

Como é que você vai se atualizar? É só a base de ciência. Se você tem a ciência, se tem

aprofundamento, conforme a Cristina falou, você consegue comprar livro, não é, faz uma

pesquisa na Internet, ler uma revista; você consegue... Agora se você não tem ciência, se

você tem só na tecnologia, a tecnologia mudou... acabou!

- JAQUELINE – Mas tem meninos de 13, 14 anos, que ficam na frente do computador e

programam como ninguém...

- RONALDO – É só tecnologia, Jaqueline, eles não têm base ...

- JAQUELINE - ... tecnologia, mas o nosso [o Ronaldo fica falando junto com ela] grande

problema não é tecnologia?

- RONALDO – Se eles ficarem 1 ano longe do computador, por exemplo, quando eles

voltarem para pegar o que mudou, eles não acompanham mais.

- JAQUELINE – não, eles estão no mesmo caso que a gente. Se a gente ficar 1 ano parado

e eles ficarem 1 ano parado ao começarmos de novo a gente chega no mesmo lugar.

- NILZA – Não! Eles são mais rápidos do que a gente! [risos].

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 87

- LUCAS – Deixa eu dar a minha contribuição: concordo com a maioria das coisas que eu

ouvi aqui, eu acho que tem uma base... todos eles têm uma base... assim ... eu estou

falando com meus alunos assim ... é ... a informação tem prazo de validade! É ... algumas

coisas que a prioridade é maior e tem outras que é de 1 ano ou seis meses só. Então a

gente tem que se concentrar no que vale mais tempo, primeiro: porque é o que ajuda a

gente para dar aula ... dá uma certa folga para a gente respirar um pouquinho ... e depois

para eles também essa informação tem muito mais valor, porque a gente dá aula ... o

menino entra no primeiro módulo e ele vai sair daqui a dois anos, e daqui a dois anos já

vai ser diferente. Se você ficar ensinando para ele como clica nos botõezinhos lá não vai

adiantar muito para ele também. Agora, sem dúvida nenhuma, tem ... dá uma ansiedade

na gente incrível ... não é? Outro dia eu estava falando com o Marcos sobre framework de

PHP; eu não sei nenhum! E eu estou sentindo que eles precisam disso. Vou ter que

aprender, vou ter que ... vou ter que ... vou ter que me virar para incluir isso de alguma

forma lá no meu curso de desenvolvimento WEB e eu sei muito pouco hoje. Então é uma

... é uma ... ansiedade muito grande. Agora, eu acho que é assim... uma coisa que a gente

aprende sendo professor de informática é humildade... se você não tiver não dá certo.

Você tem que falar que não sei na... na consciência mais tranquila do mundo. Se você

quiser entrar para dar aula sabendo tudo, você vai estourar a sua cabeça em dois anos!

Vai morrer porque não ... não dá certo.

- RENAN – Completando o que você falou: quando eu dava de Clipper, eu falava isso aí,

eu sei. Passou o tempo, e aí eu comecei a falar: eu não sei. Hoje a quantidade de “não sei”

que você fala vai aumentado. [risos]

- ALBERTO – [risos] O não sei aumentou ... [risos]

- RENAN - ... é ... vai aumentando ...

- LUCAS - ... é mas a “cara-de-pau” vai aumentado também. Você sabe que não ... não tem

muito problema isso. Tendo uma base sólida você consegue compensar isso de certas ...

de certas formas com isso... você não sabe, mas, você consegue dar “bons chutes”. Essa é

que eu achei a grande... a grande diferença. Então, mesmo nunca tendo visto o “negócio”

você consegue dar uns palpites assim pertinentes... e é isso o que alivia um pouco o nosso

lado. Agora, que é uma... uma ansiedade muito grande, eu acho que é.

- ALBERTO – A informática, no caso, está em todo lugar que a gente vai né? Está no

banco, está em cartão de crédito, está em ... [interrompido pelo Lucas que falou baixinho

comigo]

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 88

- LUCAS - ... eu tenho uma aula agora... você me desculpe... [eu gesticulei aprovando a

sua dispensa]

- ALBERTO - ... está em todo o lugar. E é exatamente essa... essa ... Internet... que nós

aqui estamos querendo dizer... existe em vários lugares... que também se discute, não em

relação aos alunos em si, mas, em relação aos pais desses alunos, as pessoas que a

utilizam... que a utilizam. Então é um outro campo também... não é o campo que eu estou

procurando... e eu gostaria até de pedir a vocês a possibilidade da gente poder até fazer

um segundo encontro posteriormente, [os professores acenaram com a cabeça,

concordando] ou até, pedir a vocês se eu pudesse até entrevistá-los individualmente... um

de vocês... usar até a própria Internet para... a partir do MSN ou o que for... para a gente

poder retirar.. tirar algumas dúvidas que pairaram aqui, certo? Eu não gostaria de estender

muito mais o nosso papo aqui, porque a gente sabe que estamos em horário de aula... e

alguns professores têm que dar aula. E eu gostaria muito, mas muito mesmo, de agradecer

o empenho de todos vocês aqui e deixaria a palavra livre... de repente alguém gostaria de

falar alguma coisa que não disse e eu gostaria até de ouvir aqui se for o caso.

- RENAN– Posso te dar uma sugestão, Alberto?

- ALBERTO – “Suja.... suja!”[risos]

- RENAN– Eu sugiro você fazer o seguinte; manda um ... se você quer algum tópico que

você achar que está precisando discutir, você manda para todo mundo, todo mundo

responde você, um responde o outro... faz um fórum!

- ALBERTO – Eu agradeço... a gente monta uma espécie de um fórum né?

- RONALDO – Na sua pesquisa tem alguma coisa envolvida assim sobre a forma de

aprender... do aluno... alguma coisa assim ... não! Não é?

- ALBERTO – A forma do aluno aprender?

- RONALDO – Alguma coisa de neurociência, tem alguma coisa?

- ALBERTO – Não ... é... estou mais dedicado a como é que o professor consegue... na

verdade indiretamente está, não é? Como é que o professor repassa para os alunos isso... e

de repente a gente pode até incluir isso, né?

- RONALDO – Eu fiz até um comentário com a Lourdinha... eu estou pesquisando um

pouco sobre neurociência... assim... como que as pessoas aprendem? E a pessoa não

aprende mexendo na Internet não... tá? São pesquisas muito modernas... no livro que eu

estou lendo de um professor de São Paulo, sobre neurociência, ele explica como que a

pessoa aprende... como o ser humano aprende... que passa mais ou menos pelo o que a

Nilza falou aí; o aluno tem que escrever, viu Marcos? Não é só audiovisual, não é só

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 89

material digitalizado... o que eu estou te falando é baseado na pesquisa já comprovada tá?

A pessoa tem que escrever de vez em quando. A gente tem que diversificar os meios... se

você quiser eu até te...

- ALBERTO – ... não, eu gostaria sim ...

- RONALDO – o autor deste livro chama Pierluigi Piazzi, um professor de...

- ALBERTO – Como? Berlugi? Berlugi?

- RONALDO – Não, Pierluigi Piazzi ...

- ALBERTO – Escreve para mim, por favor... [risos]

- RONALDO – “Ensinando Inteligência” ... Ele explica como que a pessoa aprende ...

- ALBERTO – [os participantes começaram a sair] Gente brigadaço! Agradece ao

Marcelo, ele saiu aí na hora que eu estava falando...

- RONALDO – Uma das coisas que ele fala é que... a pessoa só aprende se tiver alguma

carga emocional. Você está entendendo? Por exemplo: eu estou assistindo a uma aula... aí

o professor contou uma piada... daqui a três meses, do que ele vai lembrar? Da piada! Da

aula ele não lembra... por que? Qual é o prazo que tem da informação entre você assistir a

uma aula e você aprender aquilo realmente, para que você não tenha que estudar na

véspera da prova? Ele fala lá que o ser humano, assim que ele dorme... porque a gente

assiste a uma aula... uma parte do cérebro... eu não estou lembrado do nome... você

dormiu... se você não fixar aquilo antes de dormir, o cérebro esvazia aquela parte...

- ALBERTO – Memória RAM... a minha em algumas coisas é!

- RONALDO - ... você está entendendo? Então o que ele diz é o seguinte: você tem que

reforçar aquela aula escrevendo ou estudando ou fazendo exercício antes de você dormir.

- ALBERTO – Mas no caso o ... Ronaldo, desculpe eu te interromper, mas o caso que o

MARCOS falou aí é a forma de como ele passa, porque o aluno não vai aprender com o

que ele está ensinando, ele está dando o caminho para ele aprender... o aprendizado ...

- MARCOS - ... as minhas disciplinas... quase todas as minhas disciplinas são disciplinas

práticas laboratoriais, e por consequência elas envolvem uma prática, no laboratório,

muito grande. Então, todo ... a Cristina sabe, ela acompanhou ela foi colega de

Instituição... as minhas disciplinas são, por exemplo... eu tenho um referencial teórico de

pesquisa, mas, é o dia-a-dia prático, eu acredito na construção do fazer, tem que fazer

mesmo. Então, não estou entrando em base do Piaget nem nada não, mas eu acho que o

aluno tem que fazer. Como eu acho que a gente enquanto professor... que a gente tem que

montar o material, a gente aprende muito mais porque a você tem que elaborar o material.

No momento que você elabora o material, você busca 3 ou 4 fontes diferentes ou mais.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 90

Quando você entra num software para ensinar, não basta aquela opção “a” ou “b” que

você sabe, aquela opção “c”, “d”, que está lá, o aluno vai te perguntar. Você, pode ser,

que profissionalmente você num vá naquilo, por que você não precisou, mas para dar

aula, você tem que dar uma olhadinha naquilo ali você tem que dar porque alguém vai te

perguntar. Assim, eu particularmente, é..., as disciplinas teóricas... eu... eu... nunca foi

nunca o meu for... sempre trabalhei muito com a parte prática, onde envolve

desenvolvimento ...

- ALBERTO – Por isso você está num colégio técnico, não? [risos]

- MARCOS – É. Sempre foi assim, eu sempre eu tive que... também uma coisa que você

falou... eu sempre fui Analista de Sistemas e Professor. Esse ano aconteceu uma situação

interessante... a partir de março deste ano... eu passei a ter uma carga horária de professor

maior do que a de Analista de Sistemas. Veja o que aconteceu com a minha vida: eu

sempre fui Analista de Sistemas... quando... qual a sua profissão? – Analista de

Sistemas... e Professor. Agora, aqui no IFET eu sou Professor! E, de alguma forma... eu...

é aquele coisa... eu sempre consegui dentro do que eu trabalhava é... usar o conteúdo

prático, que eu exercia na minha profissão, nas aulas e vice-versa. Se eu tinha que

desenvolver... eu tenho uma determinada disciplina... eu tentava aproveitar nos meus

projetos da escola aquela tecnologia para aprender a tecnologia para usar como exemplo

em sala de aula; tentava juntar as duas coisas; o que nem sempre é possível. Nessa de

você estar só dando aula, muitas vezes você está com um contexto mais docente mesmo,

né? Então assim, é... é... eu acho que tem que ter noção... eu... eu... gosto muito da

“Teoria das Inteligências Múltiplas”... as pessoas aprendem de diversas formas... não só

escrita, não só oral, não só visual, existem vários outros...

- ALBERTO – Tem umas palhaçadas que tem que fazer de vez em quando ... [risos]

- MARCOS - ... é, eu acho que tem... tem... que as pessoas... não é a questão... eu acho que

as pessoas aprendem de forma diferente: tem alunos que precisam escrever, tem alunos

que têm que ouvir, tem alunos que têm que produzir alguma coisa, não é só copiar não,

tem que escrever. Tem gente que aprende fazendo um esboço, né? É ... existem coisas

que trabalham com esquema mental, você usa um programa de mapa mental: criar uma

sequência de raciocínio. Então, essas várias técnicas eu acho que... eu acho que o

professor devia, teoricamente, deveria intensificar bem a sua aula para tentar contemplar

os alunos que são alunos, pessoas individuais, com características diferentes. Mas,

assim... aquele negócio de escrever... assim... o que eu falo de introduzir no quadro é

aquilo que você só escreve para o aluno copiar, aquilo particularmente... só nesse... só

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 91

nesse quesito de copiar... eu prefiro que ele escreva dentro de uma produção, de algo que

ele tenha que fazer, ou de uma construção lá do... de uma página... de uma programação,

do que de repente só ler... igual à programação: não existe outra maneira de aprender

programar se não for programando. Não adianta você passar o algoritmo no quadro, ele

escrever o algoritmo... não adianta muita coisa! Eu brinco com os alunos: só adianta se

você não sabe nem por onde começar! Se você não sabe nem por onde começar, você

olha o algoritmo e tem pelo menos a ideia do tamanho do problema. Então, fora isso eu

acho que... é... é... cada um tem um jeito, acho que cada disciplina tem uma dinâmica, eu

também dei aula durante muito tempo para disciplinas... para alunos que não são de

Informática. Eu dei aula para Comunicação, e assim também.... eu dei aula para

Fonoaudiologia, eu dei aula para Biologia... é... e hoje é possível estas disciplinas porque

a interface gráfica existe. Hoje... é um paradigma de mudança muito grande... eu

programei.. é... em prompt né? Né... e... né... monitor... caractere... e... passei para... para

a interface gráfica e senti muita diferença.... programei em Cobol, programei em Clipper,

então tem essa questão... agora, o ponto principal que eu vejo é que graças à interface

gráfica que você consegue dar aula de informática... dar aula de informática em... tentar

formar profissionais de outras áreas que precisam da informática. Se você imaginar hoje

com um comunicador que não use a Internet para produzir ... não tem condição! Então

são... são... são coisas que são possíveis de você ter Informática em outros cursos por

causa de uma interface gráfica que facilitou a vida do usuário.

- ALBERTO – A Cristina... você está lecionando o que, Cristina?

- CRISTINA – Delphi III, Banco de dados, Aplicativos ...

- ALBERTO – Linguagem de Programação III, é Java? Delphi? Meu querido e amado

Delphi, banco de dados né? [risos] ... Gente, obrigadão tá? Obrigado pelo que vocês

fizeram ... RENAN?

- RENAN – Acho que foi uma boa ideia... ali quando você for começar... quando faltar

alguma coisa que você quer... aí você... manda um e-mail para todo mundo para dar

opinião sobre alguma coisa...

- ALBERTO – Beleza! Brigadaço, vocês me ajudaram bastante.

- RENAN – Será que grava bem?

- ALBERTO – Fala bem do Diretor ... [risos] Não sei cara, eu espero que tenha gravado!

Se não gravou eu estou perdido!

- MARCOS – Você vai ficar perdido mesmo, porque você não vai lembrar tudo de novo

não!

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 92

- ALBERTO – Pois é, eu vou ter que transcrever... tomara que tenha! Valeu Fabiano,

brigadão!

- MARCOS – ... se precisar, eu estou à disposição. Foi um prazer revê-lo, depois de um

longo tempo, né?

- ALBERTO – RONALDO, eu te agradeço tá? Desculpe alguma coisa se eu te cortei aí...

- RONALDO - ... não, foi o MARCOS...

- MARCOS – Não, eu entendi naturalmente...

- RONALDO – Você fez isso pra...

- MARCOS - ... mas eu por exemplo, hoje em dia, como eu disse... o que que a gente fez,

foi o que eu te falei, eu tenho esse material... eu tenho esse material de apoio, então eu...

então...

- RONALDO - ... tem gente que fala assim: ah, o aluno aprende sozinho pela Internet... eu

acho que não... eu acho que não... sozinho pela Internet ele entorta! Eu acho que sem uma

condução...

- MARCOS - ... é... é igual a questão: você olha para o aluno... pelo olhar do aluno você

sabe o que ele não entendeu. Você entendeu? Então, não adianta... eu trabalhei com

Informática na Educação muito tempo, né... só com a educação... ele... você tem que

fazer ele... por um só profissional... ele é muito limitado... porque ele te dá um mesmo

retorno... da mesma resposta ele te dá a mesma explicação... o professor quando você vê

falando... entendeu? Não adianta você explicar do mesmo jeito, tem que mudar! Então

espera aí, vamos pegar outro caso... esse é o cara! Esse é o cara sô! ... deixa eu comentar

o seguinte: eu tinha um professor que primeiro escrevia no quadro uma vez, parava, aí os

alunos copiavam, aí ele explicava o quadro, aí ele apagava, enchia o quadro de novo...

segunda vez, aí os alunos .... era uma fichinha ele usava uma fichinha... engraçado. Então

esse tipo de professor que escreveu no quadro, se o aluno meramente copiar a matéria... é

isso que eu estou falando... esse lance de .... pra mim ...

- RONALDO – Esse cara... esse cara ele fala assim... ele é professor, sim, de cursinho, ele

é famoso... ele é até feito para aluno. Aí ele explica o seguinte: que... faz parte do

reforço... não quer dizer que...

- MARCOS – não... eu concordo! Eu sou um, por exemplo... porque eu gosto de escrever,

eu preciso de certa forma fazer um esquema...

- ALBERTO – Tem que rabiscar, tem que desenhar, tem fazer quadradinhos...

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 93

- MARCOS – ... tem um site chamado Cmap tools que é para você fazer mapa mental,

esquema mental, onde você faz correlação de conceitos. Não é uma escrita direto né? ....

até mais CRISTINA ...

- CRISTINA – Tchau ALBERTO, prazer viu?

- ALBERTO – Falou!

- MARCOS – é... você pega os conceitos... inclusive é usado até para professor... ele

pega... usando datashow... você começa um conceito e com isso, você vai associando

com setas, você vai escrevendo e relacionando, fazendo o relacionamento entre os

conceitos... no final você tem um mapa, já um mapa conceitual... não é novidade! ... já

existe há mais tempo. Esse esquema é importante, o aluno conseguir abstrair, associar, aí

ele grava.

- ALBERTO – É, e é sempre assim, ... só guarda as coisas associando.

- MARCOS – Agora, eu penso o seguinte... eu... eu... quando você tem que preparar a

matéria, foi o que a Jaqueline falou, não tem jeito, você tem que correr atrás, você tem

que buscar, normalmente você não vai em uma fonte só, você tem que ir em dois, três...

se é um software... você dá aula de um software, tem aquela opção que o aluno vai te

perguntar... isso aí... e esse item aqui? Você pode fuçar... você pode num...

profissionalmente...

- RONALDO - ... que nem lá no Delphi... questão comercial... isso aí... [os alunos não têm

interesse na resposta] ... eles querem é beber... [risos]

- MARCOS - ... mas então assim, eu acho que...

- RONALDO - ... como o Lucas falou, você nunca sabe o que eles vão perguntar... você

tem que... tem que ir ficando esperto né? ...

- MARCOS - ... agora, os alunos eles têm a sensação que eles sabem... eles têm muito...

coisa... mas eles não têm muitas vezes aquela profundidade e tranquilidade que precisa

ter.

- RONALDO – ... um aluno aprende sozinho, mas, não tem uma base, uma base para você

caminhar...

- MARCOS– Sem dúvida! Alberto, o que você precisar, você...

Despedidas...

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 94

APÊNDICE III TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS

ENTREVISTA COM A PROFESSORA NILZA

1) Durante toda a fala de vocês, professores de Hardware que são, ressaltaram que as

mudanças que ocorrem nas tecnologias hoje em dia, não os afetam tão diretamente, uma vez

que a essência da eletrônica ainda não sofreu mudanças que necessitassem de maior

dedicação, ou mudança dos conteúdos de suas disciplinas. Estou certo nesta avaliação?

NILZA - Não. Uma parte da teoria já é consolidada e outra parte muda constantemente. Realçamos que, em certas áreas, as mudanças são mais lentas.

2) Para que eu possa compreender melhor o sentido de suas palavras, pergunto: como esta

essência é transmitida aos seus alunos? Não existem abordagens mais atuais sobre os assuntos

que porventura estejam lecionando?

NILZA - A teoria básica são fundamentos da matemática aplicada e as abordagens são atualizadas quando falamos em tecnologia de ponta.

3) Como vocês fazem para que os alunos adaptem às novas tecnologias, tais essências tão

importantes da eletrônica básica e da eletrônica digital?

NILZA - Minhas aulas são muito práticas. Acho que esta é uma saída para mostrar as novas tecnologias. Preciso correr muito atrás para conseguir material atualizado.

4) Quanto aos microprocessadores, disciplina lecionada pela professora, não existem

abordagens sobre os novos lançamentos? Os alunos estudam qual tipo de processador?

NILZA - Atualmente, temos modelos modernos (plataforma atualizada de 8051 e PIC). Mesmo assim, vou relacionando o estudado com tecnologias paralelas e mais atuais.

5) Quanto à disciplina de Manutenção e Montagens de microcomputadores, disciplina

lecionada pelo outro professor: como você consegue mostrar os novos equipamentos,

tecnologias, mudanças de lay-out, e das técnicas de montagem dos mesmos? Sempre utiliza o

mesmo tipo de equipamento? Quais suas dificuldades? [Esta pergunta ficou prejudicada, uma vez que não conseguimos falar com o professor que a leciona.]

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 95

6) Como vocês lidam com os alunos que fazem perguntas a respeito do funcionamento deste

ou daquele novo equipamento ou processador? NILZA - Quando sei, explico. Quando não sei, procuro aprender.

7) Certamente vocês se mantêm atualizados em relação aos novos lançamentos de hardware.

De que forma vocês se atualizam?

NILZA - A partir da leitura de revistas e livros.

8) Em um dos trechos de nossa reunião, o Prof. Fabiano afirmou que os equipamentos estão

mais baratos porque aumentou a tecnologia. Porque então tais tecnologias mais recentes não

conseguem afetar o curso? NILZA - Temos muito material moderno que chegou ultimamente.

ENTREVISTA COM OS PROFESSORES PAULO E MILTON

- As entrevistas foram realizadas separadamente em dias e locais diferentes.

1) O que você tem a dizer sobre a velocidade com que estão ocorrendo as mudanças

tecnológicas? PAULO - As mudanças ocorrem de forma muito rápida, para se ter ideia o tempo para criação de um novo produto de informática, que era antes de 18 meses agora se encontra em torno de 12 meses ou menos. Trata-se de um ciclo extremamente curto.

MILTON - As mudanças tecnológicas em geral sempre, não somente agora, têm avançado em passos largos. Um grande diferencial é que em nossa sociedade atual elas possuem um impacto maior que antigamente. Nos anos 80 um software desenvolvido, independente de suas finalidades, alcançava um grupo reduzido de pessoas. Hoje com a popularização dos computadores um software pode atingir mais pessoas e ter um impacto maior sobre a sociedade. Este fenômeno pode ser visto nas redes sociais que existem na internet. Seu conceito, grupos de pessoas se reunindo por afinidade a um certo assunto, não é novidade, mas o alcance que isso possui hoje é inegavelmente maior.

2) Como você acha que tais mudanças têm influenciado em sua vida?

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 96

PAULO - Novas tecnologias surgem a todo momento, principalmente em relação aos dispositivos móveis. O iphone é um bom exemplo disto, podemos estar conectados à internet onde houver um sinal de celular, isto é fantástico ! A TV digital é um outro marco importante, na área de entretenimento. Isto sem contar o cinema 3D, uma experiência incrível. Um outro exemplo, mais abrangente para a população de Juiz de Fora é o cartão para roletas dos ônibus. Isto comprova como a tecnologia vem mudando gradativamente nosso cotidiano.

MILTON - Totalmente. Não somente a minha mas a sociedade em geral pode sentir estes reflexos.

3) Em relação ao fato de ter que ensinar tecnologia, neste mundo de mudanças tecnológicas;

como está conseguindo lidar com isto? PAULO - Não se trata de uma tarefa simples, nossos alunos são muito interessados em novas tecnologias, sempre perguntando e pedindo explicações mais detalhadas sobre determinado assunto. Particularmente gosto muito de desafios, e para não cair na “saia justa” procuro sempre estar atualizado através de leituras em periódicos científicos e comerciais.

MILTON - Isso não é um problema, afinal não só quem lida com tecnologia, mas vários profissionais precisam sempre estar se atualizando. No meu caso esta atualização deve ser feita de forma mais rápida e constante, mas não chega a ser uma dificuldade.

4) As disciplinas que leciona recebem influência destas mudanças tecnológicas?

PAULO - Com certeza, posso citar o exemplo das disciplinas de programação, que precisam ser atualizadas para construção de aplicativos visando dispositivos móveis, a disciplina de banco de dados que precisa retratar o tratamento de imagens e sons, e até mesmo a informática básica, onde precisamos estar atualizados com o Pacote Office, em constante atualização.

MILTON - Sim. Trabalho com a disciplina de Sistemas Operacionais e sempre há a necessidade de trabalharmos com um sistema novo ou com suas atualizações e/ou modificações.

5) Se for o caso, você consegue se manter atualizado o suficiente para repassar a seus alunos

as novas tecnologias? PAULO - Nem sempre. A profissão de professor exige uma dedicação muito grande, além do trabalho no dia a dia de preparação de material, reuniões, diários, planejamentos, cursos de formação docente, etc. Para me manter atualizado com as novas tecnologias, teria que ter mais tempo para estudos específicos.

MILTON - Sim.

6) De que forma procura se atualizar?

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 97

PAULO - Através de revistas especializadas, periódicos científicos, sites na internet e contato com colegas que estão no mercado trabalhando em empresas que possuem uma cultura de inovação em tecnologia da informação

MILTON - Acompanhando sites com notícias e com informações técnicas, artigos científicos, reviews e livros.

7) Gostaria que descrevesse, de forma sucinta, as técnicas pedagógicas que utiliza para

lecionar sua(s) disciplina(s). PAULO - Minhas disciplinas quase sempre são lecionadas em laboratório. Com isso, procuro explorar o máximo a prática com os alunos, para que os alunos possam aprender com a “mão na massa”, vivenciando em sala de aula situações o mais próximo possível da realidade de mercado.

MILTON - Exposição da matéria, trabalhos práticos e teóricos e avaliações.

8) Você acha que é necessária alguma alteração na sua forma de transmitir conhecimentos?

PAULO - Acredito que sempre podemos melhorar. Participei nestas duas últimas semanas de um curso de formação docente com vários colegas do IFSudesteMG, onde esta questão foi discutida com frequência. A conclusão é de que sempre podemos criar novas situações pedagógicas para um aprendizado melhor. Tenho pensado nisso.

MILTON - Não atualmente, mas sempre irá existir um momento para alterar as técnicas usadas em sala.

9) No sentido global do Curso de Informática, o que acha que precisa ser alterado? PAULO - O Curso de Informática possui tradição muito forte, com corpo docente altamente capacitado. Entretanto, em função do avanço e das novas tecnologias para desenvolvimento web, acho que cabe uma discussão mais profunda desta plataforma de desenvolvimento no curso.

MILTON - A informática é dinâmica, os currículos devem ser preparados de forma que o curso não seja "engessado" e possam ser atualizados de forma rápida. Os alunos que ingressam no curso devem ter uma visão de que a informática pode não ser o que estão pensando e serem apresentados rapidamente aos tópicos que serão trabalhados no curso.

10) Hoje, em virtude da "cibercultura" os jovens estudantes aspiram por novas formas de

aprendizado acadêmico. Você acredita que os professores em geral estão preocupados com

essas mudanças e estão adotando novas técnicas de ensino? E você? PAULO - De uma maneira geral esta discussão vem sempre à tona nas reuniões do núcleo de informática, principalmente na maneira de ensinar e novos instrumentos. Também percebi esta preocupação em contato com os novos colegas no curso de formação docente. Também tenho esta preocupação, no sentido de oferecer um melhor aproveitamento para nossos alunos.

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MILTON - Não só o ensino, mas em diversas áreas o ingresso da "cibercultura" é lento e demorado, por exemplo pessoas que trabalham em casa utilizando o computador ao invés de se deslocar para o local de trabalho. Existem iniciativas para mudanças na área da educação: ensino a distância, salas de aula virtual, duvidas tiradas em salas de chats. Mas são mudanças lentas. E vários professores, inclusive eu, estamos adotando estas mudanças em sala de aula.

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APÊNDICE IV

TRANSCRIÇÃO DAS OBSERVAÇÕES

Apresentamos, a seguir, os fatos observados em cada uma das aulas, aqui descritas em

ordem cronológica.

3.1.4.1 - AULA DE ELETRÔNICA BÁSICA - PROF. FABIANO

A aula é ministrada em uma sala de aula comum acrescida de armários que contêm em

seu interior componentes eletrônicos, ferramentas, instrumentos de medição, etc.

Durante as aulas o professor pode recorrer a esse material guardado para exemplificar

o assunto lecionado.

Procuramos nos acomodar na última fileira de carteiras a fim de que nossa presença

perturbasse o menos possível.

Durante a aula, fizemos algumas anotações, as quais transcrevemos agora:

A aula foi expositiva, na qual o professor mostrou o princípio de funcionamento dos

transístores; conforme suas explicações, este componente representava o último componente a

ser estudado em sua disciplina.

O professor relembrou durante a aula os conceitos de outros componentes eletrônicos

já estudados a fim de que pudesse de alguma forma utilizá-los como alicerce para o

entendimento do funcionamento do transístor.

A aula foi expositiva e o professor utilizou como meio didático o quadro negro, e

mostrou alguns modelos de transístores comerciais que havia cuidadosamente deixado sobre

sua mesa. Durante a aula o professor fez demonstrações matemáticas e desenhou esquemas de

pequenos circuitos eletrônicos para que pudesse ilustrar a aplicabilidade de tal elemento

dentro de um circuito eletrônico.

Durante a aula, um dos alunos perguntou sobre o funcionamento dos circuitos

integrados e o professor mostrou a ele e a todos os demais presentes que, na verdade, os

circuitos integrados utilizam uma tecnologia que é capaz de colocar em pequeno espaço uma

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 100

grande quantidade de transístores, resistores e capacitores que devidamente interligados são

capazes de criar portas lógicas utilizadas amplamente nos circuitos digitais nos computadores.

Mas enfatizou que tais componentes serão amplamente estudados em outra disciplina do

curso: Eletrônica Digital.

Observarmos a aula do professor, tendo em mente as palavras que ele utilizou durante

a sua participação no Grupo Focal. Naquela ocasião, ao contrário da maioria dos professores

participantes, ele discordava do fato de que a velocidade das mudanças tecnológicas está

muito grande e que, na verdade, o que tem mudado visa tão somente o lado comercial, para

tornar os equipamentos cada vez mais baratos. Afirmou também que a base tecnológica de sua

disciplina pouco muda, o que não exige por parte dele uma dedicação maior ao estudo das

novas tecnologias.

Durante sua aula, percebemos que ele foi bastante coerente com aquilo que pratica em

sala de aula. A disciplina que leciona, realmente é básica, e a teoria que a sustenta existe há

décadas, permanecendo sem alterações significativas. Quando se refere aos circuitos

integrados (digitais), ele remete a outra disciplina a responsabilidade de seu estudo, o que está

plenamente correto, uma vez que o conteúdo de sua disciplina tem a finalidade de mostrar ao

aluno os conceitos básicos da eletrônica.

Verificamos que o referido professor, embora inserido nas Tecnologias da Informação

e Comunicação, não utiliza em suas aulas dos recursos didáticos disponíveis por estas

tecnologias, ele faz uso somente do quadro-negro, peças que são mostradas aos alunos,

demonstrações realizadas por ele próprio; e toda a teoria é ditada para que os alunos a anotem.

Não resta dúvida que o professor possui uma "didática" muito boa, e alega que dita a matéria

para que seja mais uma forma do aluno assimilar aquilo que foi exposto.

3.1.4.2 - AULA DE ELETRÔNICA DIGITAL – PROFª. NILZA

A aula é ministrada em uma sala de aula comum dividida em duas partes. Em uma

delas estão as carteiras comuns e o quadro-negro. Na outra metade ficam mesas contendo

sobre elas um kit que permite a montagem de circuitos digitais experimentais.

Durante sua aula, a professora utilizou inicialmente a aula tradicional; através do uso

do quadro e do datashow apresentou a teoria sobre o assunto daquele dia e ao final desta

primeira parte mostrou o esquema de um circuito digital para ser montado na parte prática da

aula que ocorreu na segunda parte. Nesta aula prática, os alunos, guiados pelo esquema

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 101

apresentado, sob a orientação da professora, fizeram a montagem do circuito utilizando

componentes eletrônicos tradicionais e também alguns circuitos integrados contendo em sua

estrutura algumas portas lógicas.

Procuramos nos acomodar na sala em uma posição intermediária entre as duas

metades da mesma para poder observar ambas as partes sem ter que executar muitos

movimentos.

Durante a aula teórica, a professora demonstrou matematicamente, através da Álgebra

de Boole e do uso de "tabelas-verdade", o resultado matemático que propiciava a montagem

do circuito digital proposto.

Os alunos, após a montagem física do circuito puderam constatar o funcionamento real

do circuito proposto que se comportava de forma adequada à proposta daquela aula.

Observamos que a professora tem um domínio da turma muito grande e soube, através

dos meios didáticos que possuía, conduzir a aula de uma forma bastante produtiva.

Os alunos demonstravam muito interesse no assunto, uma vez que os circuitos digitais

explicam o funcionamento interno dos computadores.

Assim como o outro professor de Eletrônica Básica, na sua participação no Grupo

Focal, ela também discordou do fato de que a velocidade das mudanças tecnológicas tem

afetado suas aulas, mas percebi que tudo que fez durante sua aula foi bastante coerente com

seu depoimento, uma vez que a exemplo da outra Eletrônica, sua disciplina também aborda os

aspectos básicos da Eletrônica Digital e os exercícios práticos abordam circuitos básicos, cuja

teoria é a base das tecnologias em geral.

Quanto à bibliografia, a professora adota livros que se referem ao kit utilizado em suas

aulas e alguns outros livros que dão o embasamento teórico.

Observamos que o perfil do aluno a ser formado no curso é o de um Técnico de

Informática mais voltado à programação e as aulas de Hardware servem de apoio, para dar

maior segurança ao profissional no sentido de entender os possíveis problemas que enfrentará

no dia-a-dia.

3.1.4.3 - AULA DE LINGUAGEM DE PROGRAMAÇÃO JAVA - PROF. RENAN

A aula é ministrada no laboratório de informática (sala 205), que possui cerca de 20

computadores contendo os programas instalados para a programação Java.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 102

Todos os computadores estavam ocupados pelos alunos do Terceiro Módulo do Curso

Técnico de Informática Noturno.

Sentamos discretamente na última fileira de carteiras onde fizemos as anotações.

Os alunos inicialmente estavam bastante atenciosos à aula quando o professor

explicava um novo assunto da disciplina.

Após 20 minutos de aula, alguns alunos ficaram dispersos e ao invés de prestar

atenção ao que o professor falava resolveram acessar a Internet em busca de alguma coisa

interessante.

Talvez a dispersão tenha acontecido em virtude de que alguns alunos tivessem

dificuldade na compreensão do assunto, e o professor, pacientemente, repetia as explicações

para que esses alunos pudessem ter pleno entendimento do assunto, fazendo com que os

alunos que já haviam entendido o conteúdo ficassem dispersos.

O professor chamou a atenção da turma no sentido de que aquele assunto inicial do

curso deveria estar bem sedimentado uma vez que a compreensão do mesmo facilitaria os

assuntos subsequentes.

Os alunos atenderam ao pedido do professor, mas aqueles que aparentemente já

haviam entendido o assunto, discretamente, acessavam alguns sites na Internet em busca de

distração.

Pareceu-nos que o fato de o professor ignorar a falta de atenção dos alunos, a partir

daquele momento, era proposital, pois devido à diferença de conhecimentos da turma, é fato

natural e para que o professor tivesse a tranquilidade e o silêncio necessário para desenvolver

o assunto, preferiu permitir aos alunos que já haviam entendido a matéria o acesso a Internet,

"fingindo" não perceber tais aventuras.

Em seguida, após perceber que a grande maioria dos alunos havia entendido o assunto,

passou à parte prática da aula, solicitando que a turma elaborasse uma rotina de programa que

executasse determinada tarefa.

A turma em quase sua totalidade concluiu com êxito a tarefa, o que permitiu que

pudéssemos concluir que nossas observações a respeito do comportamento dos alunos estava

correta.

Após a conclusão da aula, em conversa reservada com o professor, nossas observações

foram confirmadas, principalmente a que se referia ao fato de ele ter ignorado,

propositalmente, alguns alunos que pareciam estar dispersos.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 103

Ele ainda afirmou que preferia que tal fato continuasse ocorrendo, uma vez que a

turma se mantinha em silêncio, o que permitia um maior rendimento em suas explicações aos

alunos com mais dificuldade de entendimento.

O método utilizado pelo professor pareceu-nos ser eficiente, uma vez que inicialmente

apresentou os fundamentos e em seguida aplicou-os em forma de desafio para a turma.

Quanto ao domínio do assunto, o professor pareceu-nos bastante seguro,

transparecendo a sua preocupação na preparação de sua aula. Toda a explicação dada foi

fornecida aos alunos por meio de arquivos de texto disponibilizados em uma pasta no

computador do professor, compartilhada por todos os computadores do laboratório,

permitindo aos alunos a cópia do mesmo para suas máquinas e pendrives.

3.1.4.4 - AULA DE REDES DE COMPUTADORES - PROF. LUCAS

A aula é ministrada em sala de aula tradicional e, em algumas ocasiões, os alunos são

levados ao laboratório para praticarem algum assunto pertinente.

Trata-se de uma disciplina eminentemente teórica, embora seja possível a prática de

alguns assuntos lecionados, de acordo com depoimento do professor ao final da aula, quando

solicitamos esclarecimentos.

Novamente procuramos sentar em uma carteira no fundo da sala para que nossa

presença influenciasse o menos possível no andamento normal da aula.

O professor, nesta segunda semana de aula, resolveu esclarecer aos seus alunos que ele

costuma aplicar ao final de todas as suas aulas uma pergunta pertinente ao assunto lecionado

na mesma, que deverá ser respondida por escrito e entregue a ele. Tais perguntas têm dupla

finalidade: a primeira é a de exigir a atenção do aluno durante a exposição do assunto e, em

segundo lugar, proporcionar a oportunidade de ser mais uma forma de avaliação do aluno.

O professor realiza sua chamada diretamente no seu notebook onde lança a presença

dos mesmos e pode assim controlar a entrega das respostas às suas perguntas em cada aula.

Utiliza em sua aula o datashow, e, através de apresentação previamente elaborada no

powerpoint, controla o assunto do dia.

De acordo com o andamento da aula, procura acessar a Internet para demonstrar na

prática como os computadores se comportam em rede. A rede interna (intranet) ou a rede

externa (internet).

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 104

Especialmente nesta aula o professor explicou o surgimento da Internet e como ela

funciona, falando a respeito do envio de pacotes de dados e o controle dos mesmos através

dos números de IP (Internet Protocol).

A aula versava sobre a lei de formação destes números de IP e a razão da existência

das máscaras dos mesmos.

O assunto é por si só bastante interessante e aliado à didática do professor, empolgou

bastante os alunos, que participaram ativamente da aula elaborando perguntas, sempre

respondidas pelo professor com toda a paciência e atenção.

Verifica-se que o professor preocupa-se em se manter atualizado sobre as novas

tecnologias e quando foi interrogado sobre um assunto que não tinha certeza a respeito, fez a

pesquisa sobre o mesmo, imediatamente, on-line a fim de responder ao aluno exatamente

naquele momento, bem como, conseguiu desta forma demonstrar ao discente a forma como se

deve agir na Internet quando se deseja descobrir algo que não domina.

Pareceu-nos uma aula bastante dinâmica, embora seja eminentemente teórica, mas que

o professor soube utilizar dos recursos didáticos disponíveis para despertar em seus alunos o

interesse no aprendizado da mesma.

Agindo desta forma, o professor nos mostra que é possível se manter de certa forma

atualizado, dando liberdade ao aluno de se manifestar e procurando responder de forma

embasada às dúvidas do mesmo, ou até de ambos. O professor demonstrou que não tem

nenhum constrangimento de dizer que desconhece aquele assunto e, de forma transparente e

sincera, mostrou a seus alunos que não é possível conhecer de tudo, mas tendo embasamento

e uma dose de curiosidade, consegue-se atingir níveis de conhecimento adequados.

PROJETO MINTER – UNESA/CTU – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – 2011 – Página: 105

RELAÇÃO DE FIGURAS

As figuras foram obtidas a partir da Internet e acessadas em 04/04/2011, a partir dos seguintes

links:

Figura 01: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://dedosnoteclado.files.wordpress.com/2008/11/amd_phenom_x4.jpg&imgrefurl=http://dedos

noteclado.wordpress.com/2008/11/page/2/&usg=__QDuk1cf5x8tZnox44rV-bKs9Jso=&h=294&w=500&sz=57&hl=pt-

br&start=0&zoom=1&tbnid=BXsz7kyWX1gkWM:&tbnh=115&tbnw=195&ei=HluaTanaEM-

BtgeXvNj7Cw&prev=/images%3Fq%3Dmicroprocessador%2Bamd%2Bimagem%26um%3D1%26hl%3Dpt-br%26client%3Dfirefox-

a%26hs%3DlWu%26sa%3DN%26rls%3Dorg.mozilla:pt-

BR:official%26channel%3Dnp%26biw%3D1280%26bih%3D626%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=119&vpy=94&dur=238

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Figura 02: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.productwiki.com/upload/images/asus_m2n_e.jpg&imgrefurl=http://www.teamfortress

.com.br/forum/viewtopic.php%3Ff%3D24%26t%3D5208&usg=__hAy8nB6yCCPXJkKHjKGRmPR36MI=&h=1258&w=1544&sz=954&hl

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Observação:

As demais figuras utilizadas nesta dissertação foram compostas a partir dos recursos

existentes no editor de textos utilizado.