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Oxe! - Fevereiro de 2012

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Pra você aquecer as turbinas e cair na folia, este mês caímos no samba e falamos um pouco da mais brasileira das tradições. Tem também saudades da Rua Progresso e da cidade que não voltam mais no “Nossa Prosa... Nossa História”, o carnaval da molecada da quebrada na crônica de Danilo Góes e um ótimo bate-papo com a G.R.C.S.E.S. Unidos de Vila Belém de Francisco Morato. Além disso, confira também Sr. Brandão na contracapa, a carnaviragem da charge de Betto Souza, o mistério na poesia de Messias Silva, os acontecimentos fantásticos que só a corrida eleitoral pode trazer, o Drama Crônico de um suburbano com Maria da Silva, campanha de castração, os protestos no E.C. Progresso por mais seriedade, cinco dicas Na Faixa para sua folia, Registro com quatro atividades (ensaio da Unidos da Vila Belém, a Oficina de Samba de Bumbo na Quilombaque, “Domingo na pista” em Franco e ensaio aberto de “Canibais vegetarianos devoram planta carnívora” do Pandora) e fantasie seu amiguinho nesse

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Page 1: Oxe! - Fevereiro de 2012

Realização:

ANO III − Numero 335.000 ExemplaresFrancisco Morato - São Paulo

Brasil

NUNCA MAIS... DE NOVO

“… aquilo sim éque era viver!”

Sr. Brandão no Axé da contracapa, carnavir-se na charge de BettoSouza, ectoplasmática poesia deMessias Silva, os absurdos que sóa corrida eleitoral pode trazer, o Drama Crônico com Maria da Sil-va, oportunidade para castrar seu bichinho de estimação, os protes-tos no E.C. Progresso por mais seriedade, cinco dicas Na Faixa

para sua folia e não se esqueça de fantasiar seu amiguinho também!

RREEGGIISSTTRROO

Pra você aquecer as turbinas e cairna folia, este mês tem o ensaio daUnidos da Vila Belém, a Oficina de

Samba de Bumbo (imagem) naQuilombaque, música e skate no“Domingo na pista”e o ensaio abertode “Canibais vegetarianos devoramplanta carnívora”, do Pandora.

MAIS ZIRIGUIDUNS!

Confira o ótimo bate-papo quetivemos com a Unidos de VilaBelém que contou um pouco darealidade de uma escola de sam-ba de Francisco Morato e comovai ser o desfile deste ano.

CCoommppoorrttaammeennttooSSoocciieeddaaddeeCCuull ttuurraaee bbaattuuccaaddaass eemm ggeerraall

Olha a Unidosaí, gente!

O carnaval atravessado da molecada da quebrada, nacrônica de Danilo Góes, misturando álcool,remorsos, tédio, porres, falta de perspectiva e outrasdrogas. Leia e pense duas vezes antes de cair(literalmente) na folia.

Fevereiro / 201 2 Distribuição Gratuita - Venda proibida

Saudades de uma Rua Progresso e deuma cidade que já não voltam mais no“Nossa Prosa. . . Nossa História” dessemês. Conheça um pouco mais da bu-cólica Morato de tempos atrás na pág.4

imagem:MarcelloCasalJr/ABr

imagem:RogerNeves

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NNAA BBAATTIIDDAADDOO TTAAMMBBOORR

imagem:AcervopessoalD.AnaMaria

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11 Fevereiro / 201 2

Ôxe!: Como surgiu a Escola de SambaUnidos da Vila Belém?Unidos de Vila Belém: Foi em trinta

de Abril de 2005, há sete anos. A Escolasurgiu da vontade duma comunidade queacreditava no poder do samba, que puse-ram na rua um bloco pequenininho, masque não deixou de ser uma grande vitó-ria. . . Foi a primeira escola de FranciscoMorato! Infelizmente, nos últimos doisanos, a antiga diretoria acabou cometen-do alguns erros na administração, quequase nos fizeram chegar a “zero”. Masestamos esperançosos quanto a atual ad-ministração e a este novo ano, que prome-te!

Ôxe!: Como a Escola se mantém?UVB: Se mantém por uma simbólica

mensalidade dos diretores e associados,no valor de dez reais, que supre as míni-mas despesas. Temos, também, três cola-boradores, que não nos doam nada emdinheiro, porém nos fornecem material,que é o Ademar Rocha; que nos doou ocarro alegórico, a Bonanza; que nos do-ou seis mil reais em tecido, e a Moraten-se; com o transporte.

Ôxe!: Recebe algum tipo de apoio finan-ceiro da prefeitura?UVB: A prefeitura disponibiliza a cada

escola de samba uma quantia de quatromil reais. Bem.. . Com esse dinheiro nãoconseguimos montar nem uma porta-ban-deira, mas. . . É só para dizer que eles aju-dam com alguma coisa.

Ôxe!: A Escola realiza alguma ativida-de ao longo do ano? Quais?UVB: Sim. Foi um projeto que parou

há três anos e que estamos retomandoaos poucos e contando com a ajuda demais apoiadores, que é um trabalho deprofissionalização dos jovens e tambémaos desempregados, nas áreas de: tapeça-ria, confecção de instrumentos e roupas. . .E música, principalmente, percussão.

Ôxe!: Desfilam em outros lugares?UVB: Sim. Já desfilamos em Caieiras,

Cajamar. . . E quando tinha, também emFranco da Rocha e Mairiporã. É uma pe-na que o carnaval tenha acabado nessasduas cidades, é o que não queremos queaconteça aqui. . . Por favor, não deixem ocarnaval morrer! Participem e nos aju-dem.

Ôxe!: Sobre o samba-enredo desteano...UVB: O tema será o grande poeta Si-

las de Oliveira. Normalmente se homena-geia algum mestre num centenário, mas. . .Para falar de Silas de Oliveira, é precisoter muita moral. . . Queremos iniciar esteano da nova administração, em destaque.Acreditamos na magnitude da históriadeste poeta e na dedicação da Unidos daVila Belém.

Ôxe!: Quem são os compositores?

UVB: Os meninos são de Diadema:Marcelinho que é também mestre de ba-teria, Eder Moreira, Fábio e Filipe.

Ôxe!: Como se envolveram no projeto epor quê?UVB: O convite foi feito verbalmente,

eles aceitaram pois confiam nos nossosprojetos e por que gostam. O carnaval énossa vida!

Ôxe!: Quando e onde será o desfile esteano?UVB: Será no dia dezenove de feverei-

ro, domingo, à partir das dezoito horas,em frente a antiga prefeitura.

Ôxe!: O quê devo fazer para participardo desfile?UVB: Para participar dos desfiles, bas-

ta procurar a Viviane ou a Glair, que sãonossas secretárias, através do telefone4881 -3680 ou direto na sede, que fica naRua Curitiba, no final da rua de paralele-pípedo, sem número, na Vila Espanholae fazer sua inscrição. Importante: nãotem custo.

Ôxe!: A Escola aceita doações? Comofaço para doar?UVB: Aceita! Até mesmo porque a es-

cola não possui recursos suficiente parafazer tudo aquilo que gostaria de fazer,mas o que mais precisamos é uma doaçãoem material porque nossos próprios com-ponentes confeccionam suas fantasias ebadulaques. Quem nos puder doar, procu-re-nos no mesmo telefone e endereço. .: :

ProgramasUbuntu 10.10 (ubuntu.com)BrOffice.org 3.2.1 (broffice.org)Gimp 2.6.10 (gimp.org)Scribus 1.3.3.13 (scribus.net)InkScape 0.48 (inkscape.org)Mozilla Firefox 3.6.13 (br.mozdev.org)Banshee 1.8.0 (banshee-project.org)

::. O que a gente usou nessa edição

::. Colaboraram nesta edição:

Betto Souza(subjetividadeematividade.blogspot.com)Danilo Góes([email protected])Isidro Lopes([email protected])Marco Nogueira([email protected])Messias Silva([email protected])

::. Diga, Ôxe! G.R.C.S.E.S. Unidos de Vila Belém

O informativo Ôxe! é uma iniciativa daÔxe! Produtora Comunitária que visa pro-piciar à população de Francisco Morato e re-gião, um veículo de jornalismo cidadão eprodução, difusão e divulgação de ideias e in-formações na área cultural. Todas as infor-mações, ilustrações e imagens são deresponsabilidade de seus respectivos autorese obedecem a licença Creative Commons2.5 Brasil Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença(acesse o blog para maiores detalhes), salvoindicações do(a) autor(a) em contrário. Paraver uma cópia desta licença, visite http://crea-tivecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br/ ouenvie uma carta para Creative Commons, 171Second Street, Suite 300, San Francisco, Ca-lifornia 94105, USA.

AEquipe Ôxe! é: Fabia Pierangeli, Georgede Paula, Gilberto Araújo, Mari Moura eRoger Neves ([email protected])

G.R.C.S.E.S. Unidos de Vila Belém - os ensaios para o Carnaval deste ano acontecemtodos os finais de semana na praça do coreto em frente a escola Dr. Morato.

Be Linux, Be Free!Na confecção destematerial

gráfico foramutilizados

apenas softwares que atendem

a licençaGNU/GPL.

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imagem:GeorgedePaula

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2Fevereiro / 201 2

E entrando no clima defesta, este mês tem o

ensaio da Unidos da VilaBelém aqui de Morato, a

Oficina de Samba de Bumbona Quilombaque, muita

música e skate no “Domingona pista” (fotos de Andre

Antonio) e o ensaio abertode “Canibais vegetarianosdevoram planta carnívora”,

do Grupo Pandora.

::. Oficina deMusicalização para crianças em CaieirasEstão abertas, até o dia 24 de fevereiro, as inscrições para

o núcleo de musicalização infantil daOrquestra Filarmôni-caMelhoramentos Caieiras. As aulas serão gratuitas e di-recionadas à crianças com idade entre 6 e 9 anos.

As inscrições devem ser feitas pelos pais ou responsáveis,das 9 às 16 horas, na própria sede da orquestra (Rua da Esta-ção, nº 81, com acesso pela portaria da Melhoramentos). Pa-ra a inscrição é necessário levar comprovante de residência ecópia do RG ou certidão de nascimento.

As aulas serão oferecidas às terças-feiras no período damanhã e aos sábados no período da tarde. A musicalizaçãoinfantil é o primeiro passo para que as crianças entrem emcontato com amúsica e os instrumentos. O objetivo é incen-tivar essa cultura nos pequenos e descobrir novos talentosque, no futuro, farão parte da orquestra.

Informações: 4445-7645 (Orquestra) e 4445-2729(PEC)

::. Girandolá Recebe... OPOVOEMPÉ, em Francoda Rocha

Durante o primeiro semestre de 2012 o projeto “Teatro Gi-randolá Recebe. . .” acontecerá em Franco da Rocha, no CentroCultural Newton Gomes de Sá, trazendo espetáculos teatrais eoficinas, sempre no último final de semana de cada mês.

Em fevereiro, o grupo convidado é OPOVOEMPÉ,com o espetáculo “AquiDentro”, que já foi apresentado na

Croácia e na Alemanha, tendo diversos prêmios de reconhe-cimento no meio teatral. As apresentações serão nos dias25 e 26, às 20h e os ingressos (60 lugares) devem ser retira-dos no dia da apresentação, com 1 hora de antecedência.

Além das apresentações do espetáculo, o grupo ofereceráa oficina: “Fisicalidade do Ator”, no dia 26, das 14 às 16h.As inscrições podem ser feitas por telefone (4488-8524) oupessoalmente no Cine Teatro Marajá (Rua José Augusto Mo-reira, 27, Centro, Franco da Rocha), com André Arruda.

As duas atividades são gratuitas.

O Centro Cultural Newton Gomes de Sá fica na Av. Setede setembro, s/nº, Centro – Franco da Rocha-SP. Outras in-formações: 4488-8524 ouwww.teatrogirandola.com.br

::. Programação de Carnaval

Em Francisco Morato:No dia 19 de fevereiro, a partir

das 18h, a população moratensepoderá conferir o desfile das Es-colas de Samba que aconteceráem frente a antiga prefeitura, coma participação das Escolas “Uni-dos de Vila Belém” e “EstaçãoPrimeira de Francisco Mora-to”. O desfile, que acontece todoano, é uma realização da Prefeitu-ra Municipal de Francisco Moratoem parceria com as Escolas de Samba da cidade. EntradaFranca! Informações: 4488-2145

Em Franco da Rocha:Para comemorar a data, a Prefeitura Municipal de Fran-

co da Rocha está preparando 5 dias de festa, o “CarnaLoucura”, no Parque da Cidadania, que fica próximo aoGinásio de Esportes Paulo Rogério. A festa conta com opatrocínio da SABESP. Entrada Franca!

Dia 17 – Apresentação da Escola de Samba Leandro deItaqueraDia 18 - Apresentação da Escola de Samba Nenê de Vi-

la MatildeDia 19 – Baile de CarnavalDia 20 - Apresentação da Escola de Samba Vai vaiDia 21 - Apresentação da Escola de Samba Rosas de

OuroInformações: 4443-7050

::. Programação QuilombaqueAnote a programação de fevereiro daComunidade Cul-

tural Quilombaque. Tem muita coisa boa e de graça.Aproveite!

Dia 17 às 20h – Sarau D'QuiloDia 24 às 20h – Cinequilombo (Carnaval), na Praça Iná-

cio DiasDia 27 às 19h – Projeto Baobá, com a escritora Sa-

mantha BiottiA Quilombaque fica na Travessa Carambatiba, 5, Beco

da Cultura, Perus – SP.

Informações: www.comunidadequilombaque.blogspot.com

::. Na Faixa Por: Fabia Pierangeli

imagem:FabiaPierangeli

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33 Fevereiro / 201 2

“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruimda cabeça ou é doente do pé". (Dorival Caymmi)

Quando os colonizadores europeus aportaram nessasterras brasileiras com o primeiro navio negreiro, nãofaziam ideia do rico legado cultural que nos deixariam. Adespeito de terem nos roubado quase tudo e teremcausado um sofrimento incalculável, isso temos queadmitir: se não fossem eles, a cultura brasileira não seriatão rica e diversa como é. Não que isso amenize todo omal que nos fizeram. Uma coisa não compensa outra,mas é inegável o quanto essa miscigenação, tãocaracterística no povo brasileiro, nos possibilita umaherança cultural de valor inestimável.

Eles tratavam os negros como “coisas” e nemconsideravam a hipótese de que as tais “coisas” traziamconsigo muito mais do que braços fortes pro trabalho.Eles traziam dentro de si sonhos, crenças, lembranças,esperanças e a batida dos tambores.

Ah, a batida dos tambores! Impossível não se renderaos tiquindum, dum, duns,tiquindum, dum, duns. Impossívelpermanecer indiferente quando ocoro de um tambor vibra e ressoa.O coro vibra, o toque ressoa e asbatidas parecem que sesincronizam com as batidas docoração. Um tambor sendo tocadoparece que tem o poder de ressoardentro da gente, de acessar nossaancestralidade.

E o Brasil é conhecido como terrado Carnaval. Carnaval, samba,batuque, tambor, afrodescendentes,

negros, escravidão. O Carnaval,como tantas outras

manifestações da cultura popular brasileira, é uma dasheranças que nos deixaram os negros africanos, que comsuor e lágrimas, ao lado de outros povos tambémescravizados, construíram essa nação que hojechamamos de nosso Brasil.

Fevereiro é o mês do Carnaval, festa, que como tantasoutras, vem ano após ano se espetacularizando,principalmente nos grandes centros econômicos. Osgrandes desfiles que atraem turistas e movimentammilhões de reais. Os camarotes, blocos, abadás, cordões.A privatização da festa do povo.

O batuque do tambor chegou noBrasil junto com os africanos ecom eles, nasceram nessas terras,diversas formas de expressão ecelebração. Samba de Lenço,Samba de Bumbo, Jongo, Batuquede Umbigada, Maracatu e tantosoutros ritmos que nasceram nosterreiros desse Brasil afora e queaos poucos vão sendo esquecidos edeixados de lado para dar lugar aos grandes espetáculos.Quando pensamos em samba, por exemplo, o que é quenos vem a cabeça?

Bahia e Rio de Janeiro ao longo da história, disputam otítulo de berço do samba, disso todo mundo sabe.. . Masvocê sabia que em São Paulo também tem sambatradicional? E mais ainda, você sabia que há poucos

quilômetros da nossa cidade, nascidades de Vinhedo, Santana deParnaíba e Pirapora do Bom Jesus,existem grupos que ainda brincam epreservam a tradição do Samba deBumbo?

O Samba de Bumbo, ao lado doJongo e do Batuque de Umbigada,compõe a trilogia das manifestaçõesculturais negras originadas naépoca da escravidãono estado de São

Paulo e que ainda hoje, mais de 100 anos depois, aindasão preservadas por alguns grupos que continuambrincando essa tradição. Em Santana de Parnaíba temosos grupos Cururuquara e Grito da Noite, em Vinhedo oSamba de Dona Aurora, em Mauá o Samba Lenço, oSamba Caipira e em Pirapora do Bom Jesus o Samba deRoda. Há algumas décadas, Pirapora era um ponto deencontro de batuqueiros e até Mario de Andrade estevepor lá e relatou em seus estudos o Samba que se fazianaquelas terras.

O berço do samba foi a culturanegra, ele nasceu entre os escravos ese proliferou entre o povo, nosterreiros, em todos os locais poronde os escravos passaram. Aescravidão acabou, pelo menos nopapel, e o seu fim trouxe um outrodiscurso, que vem se aperfeiçoando(e me enojando cada vez mais! ) como passar do tempo, o discurso de quesomos todos iguais, de que temos

todos os mesmos direitos, de que o Brasil é um país detodos. E, em cima desse discurso “pra inglês ver”, aelite vai sugando tudo o que nasce com o povo, diluindosua história, se apropriando e deturpando o discurso quevem da base. Portanto, não tem jeito: preservar a nossacultura é a única forma que temos de resistir, é o únicomeio eficiente pra não sermos engolidos.

E se você nunca pensou em saber das suas origens ouainda, em entender porque é que você gosta dedeterminada coisa e não gosta de outra, sugiro que vocêpare alguns minutinhos e comece a considerar essahipótese. Saber da nossa história, da história do nossobairro, da nossa cidade; questionar e investigar a causados acontecimentos que nos envolvem é fundamentalpara que possamos ser protagonistas das nossas própriasexistências. .::

Resistência cultural: Apresentação de Jongo do Grupode Caxambu Michel Tannus de Porciúncula-RJ

Saiba: blogduoxe.blogspot.comSiga: @informativo_oxeCurta: Produtora Ôxe!

Por: Fabia Pierangeli

Samba acontecia espontaneamente nos terreiros dascasas, agora tem hora e local para acontecer

NNAA BBAATTIIDDAA DDOOTTAAMMBBOORR

Resgate e memória: Tambor de Crioula doMaranhão é exemplo de tradição que corre risco.

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imagem: Vanessa Freitas@ http://pt.wikipedia.org

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Batuque ancestral: O batuquepraticado durante o Brasil doséculo XIX, em pintura deJohann Moritz Rugendas.

imagem:reprodução@http://pt.wikipedia.org

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4Fevereiro / 201 2

É carnaval, mó chuva, Maicon liga Zé do Mato pra colar no centro deMorato, hoje tem carnaval no Progresso. Não curte, mas melhor que ficarem casa assistindo desfile pela TV. Espera a chuva dá uma trégua, pois temque ir na caminhada, só tem o da entrada.

Não iriam entrar de bico seco, foram no mercado, jogaram para as cal-ças uma Vodca, esse foi o motivo para vários tapas na cara dado pelo se-gurança do mercado. Ficou bravo, mas tava aliviado: “não parava de falarque iria chamar a policia, melhor uns tapas do que ser preso”. Mais do quenunca agora necessitava de álcool, foram em outro mercado e, com medo,pagaram com o dinheiro da entrada.

Colava sempre nos lugares com Zé do Mato, que foi apelidado devido aoconsumo exacerbado de maconha. A amizade já era de longa data quandoMaicon deu um primeiro peguinha com Zé. Tinha 14 anos nessa época,hoje tem 17, já consumia álcool na direta. Seu primeiro porre foi quandotinha 5 anos, abriu a geladeira e bebeu a batida de morango do pai. O con-sumo do álcool sempre foi algo normal. Quando experimentou a maconhaficou com a mente pesada, pois sua mãe sempre disse que isso é coisa devagabundo. Mas seu primeiro trago foi no cigarro da mãe, que mandavaele acender no fogão pra ela.

Sinceramente não sabia o motivo porquê bebia, mas posso enumeraruma centena de motivos: Como uma árvore genealógica de cachaceiros;tédios diários de uma vida de moratense; uma forma de fuga da realidade;simplesmente beber por beber; talvez, as propagandas televisivas que asso-ciam bebidas com mulheres.

Ele não tinha muita sorte com meninas, timidão. Foi fumando maconhae bebendo um goró, que o deixava desinibido, que descolou uma moça, elacurtia também um fininho e outras fitas. Zé povim comenta “essa mina élouca em ficar com esse projeto de marginal”. Mas mal sabem as más lín-guas que ele foi de suma importância nos rumos dessa moça. A novinha játava descabelada na cocaína quando o conheceu. Apesar da pouca idadeviu vários se afundarem e perderem a dignidade devido à química. Con-venceu a moça a largar, ficou com ela um ano, ela teve que se mudar comos pais para outra cidade.

Quando bebe e fuma dá nele uma letargia profunda. Nem se lembra co-mo chegou em casa. Não se lembra que tava dormindo no banheiro daPracinha do Coreto mesmo com cheiro insuportável de urina. Nem da bri-ga que arrumou na Ponte Seca, mexeu com mulher acompanhada. O malestar e os hematomas no rosto o fizeram fazer um juramento de não bebermais, é sempre assim após uma ressaca. .::

RReessssaaccaa ddee CCiinnzzaa

Meu pai era feitor de linha, sabe. . . Cê sabe oque é isso? Ele cuidava dos trilho, trocava osdormente. . . Hoje já não existe mais. Daí nós vie-mos de Campo Limpo Paulista pra cá, foi bemno ano da emancipação, em mil novecentos esessenta e cinco, eu tinha dezessete anos. . . Sabea casa de força aqui de Morato? Eu morei lácom o meu pai.

Dona Ana MariaCornetto Speratti, filhado Senhor GiocondoCornetto, o feitor, éuma dos primeiros mo-radores da Rua Progres-so. Sua casa cheirava aalegria dum almoço emfamília.

Mas. . . Eu vim pra Rua Progresso depois queeu me casei, depois que minha filha do meio fezcinco meses, há quarenta e três anos. Esses terre-no aí, era tudo vazio. Os meninos brincava scur-regando pelos barranco por aí a fora. . . Nóspagamos esse terreno com um carro, um fuscabranco que nós tínhamos. Meu marido ficô bra-vo porque ele não queria ficá sem carro. . . Vixe!Carro, naquela época? Era luxo!

Eu conheci meu marido, num casamento. . . Elejá morava aqui em Mo-rato.

Num álbum rubro, su-as memórias impressasem tons de cinza. Conta-va do passado como se opresente fosse. Com osolhos fitos num dos re-tratos de seu casamentofalou pra si, não em tom

de pergunta, mas de exclamação: “o quê o tem-po me fez”.

Meus filhos nasceram aqui, nasceram em casamesmo, que ainda existia parteira. Cê veja, né. . .Meus filhos foram criados tudo na rua. . . Corre,corre, pega-pega. . . Já meus netos. . . Criados den-

tro de casa, a sete chaves.

Em mil novecentos e setentae seis, um ano depois da esco-la Celestina sê fundada, eucomecei a trabalhar de ser-vente lá, e fique lá por unsonze anos.

Ah! A delegacia era aqui dolado, numa casica piquininhi-nha. . . Lá tinha um sordado,um escrivão e. . . E só, não ti-

nha mais nada. Nem viatura tinha. Não tinhanem delegado! A estação era feia. . . Era de ma-dera. . . E não tinha tanto trem como tem hoje,não! Era treis trem, por dia! O transporte daépoca era charrete. . . O shopping, onde é oshopping hoje era o ponto de charrete. . . Tinha oSeo Miguel, o Seo João. . . Morrero tudo!

Do poema de Carlos Drummond, “Cidadezi-nha qualquer”: Casas entre bananeiras/ mulhe-res entre laranjeiras/ pomar amor cantar. / Um

homem vai devagar. / Um ca-chorro vai devagar. /Um bur-ro vai devagar. / Devagar. . .as janelas olham. / Eta vidabesta, meu Deus.

Não tinha luz, não tinhaasfalto. . . Mas aquilo sim éque era viver!

:: :: .. NNoossssaa PPrroossaa.. .. .. NNoossssaa HHiissttóórriiaa MMiinnhhaa qquueerriiddaa

RRuuaaPPrrooggrreessssoo

PPoorr:: GGeeoorrggee ddee PPaauullaa

"Não honrar avelhice édemolir, de

manhã, a casaonde vamosdormir à noite"Alphonse Karr

PPoorr:: DDaanniilloo GGóóeess

Da esquerda para a direita: Marcelo, Sr. SantucaSperatti e o filho de um amigo na rua Pedro Lessa.

Da esquerda para direita: Reginaldo, Sérgio e MarceloSperatti de fronte a atual estação.

imagem:AcervopessoalD.AnaMaria

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O jovem Marcelo Speratti na Rua Progresso.

imagem:stock.xchng-www.sxc.hu

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55 Fevereiro / 201 2

Por:Messias Silva- Olá amiga, tudo bem?- Tudo, amigo, tudo sim!- Labuta pela vida, também?- Certamente! a jornada é sem fim;

- Gosto muito de prosear contigo!- Mesmo, minhas mensagens não descarta!?- Tenho todas comigo!- As suas me fazem falta;

- Não creio, que este ano, casarás!...- Estou incerta, mas formularei uma lista...- A santo Antônio enviarás?...- Só ao consultar um vidente na Bela Vista...

- Sou eu!... tenho dom para médium...- Mesmo, o que o leva a tal sublimação!?- Vejo o altar para você como tédio!...- És do bom! namoro, mas casar é prisão...;

- Para mudares de ideia lhe indicarei um Terreiro...- Já escolhi a minha amada Umbanda!- Cultuas os orixás, com danças, cantos o ano inteiro?- Sim, são eles que a natureza comanda;

-Direi a você minha intuição, bela feiticeira!- Sobre sua mediunidade?- De fatos, fatores, acontecimentos à minha maneira!- Sou toda ouvidos, à vontade:

¨Nasci querido de vovóela e meu irmão viviam em desavença,vovó faleceu não me deixou sóa todo lugar sinto sua presença;

Quando papai morreu o vi em sonhome apareceu muito jovem,mamãe foi ao seu encontroeu, desamparado, como, pode!?...

Na infância cavalgava à cavalo com papaiele vendia produtos do CEASA,usava chapéu de palha, dobrava as lateraisvendíamos frutas também em casa;

Certa vez tiveram que sairum estoque de laranjas em caixarias,no portão de casa vimos surgirdezenas de crianças que laranjas queriam;

Inocentemente, laranjas distribuímosaquela turba de crianças,diziam depois pagar, iam saindomeus pais lucraram em felicidades e novas espe-ranças;

Anos se passaram e na adolescênciamudamos para outro bairro,com a vizinha uma má vivênciameu pai continuava com carroça como carro;

Dona Vivaldina almejava a nossa propriedadeo seu José Justo o antigo dono,usava chapéu desses da cidadede couro como esses de filmes de gangster;

José Justo vendia legumes com carrinho de mãobrincava comigo quando me via,ia para a igreja de terno, a caminho da salvaçãolembro-me não mais tê-lo visto outros dias;

Se tenho, à mediunidade, tendênciainspiração por grandes vultos do espiritismo,a minha reminiscência:ciências ocultas, filosofia, moralismo;

Penso na mediunidade pelo acontecidotalvez seja o que Freud explica,o fenômeno anímico por mim vividoposso afirmar, sim, vi um espírito.

Ano eleitoral é sempre um prato cheiopara acontecimentos que mais parecemhistórias de novela. Eleições municipaisentão, nem se fala... as coisas vãoacontecendo, as histórias vem surgindo e agente acaba nem mais sabendo em queacreditar ou deixar de acreditar. Esses diasouvimos uma e até agora estamos a nosperguntar se de fato aconteceu ou se é maisuma dessas histórias que alguém conta, agente ouve e reconta com mais algunsdetalhes, um terceiro repassa maisincrementada e por aí vai. Sabe aqueleditado: "Quem conta um conto, aumenta umponto?" Pois é!

Aproveitamos então para pedir licença àvocê leitor, pra contar, do nosso jeito a talhistória que ouvimos e que garantimos que jáfoi recontada algumas dezenas de vezes.

Dizem que num desses jardins, aqui emmorato, um homem muito prepotente, donode um comércio, desses onde, entre outrascoisas, vende-se muita cachaça, resolveu secandidatar a vereador nas eleições passadas.Como não tinha muito dinheiro para investirna sua campanha, fez tudo da forma maiscaseira possível. O jingle foi criado por elemesmo e deve ter sido gravado num estúdioimprovisado no banheiro da sua casa. Pradivulgar ele saía nos fins de semana com suabrasília 78, no qual adaptou uma caixa de

som de sua antiga vitrola. As camisetas quedistribuiu pros cabos eleitorais todas pintadasa mão; os santinhos xerocados; aspromessas, as mais ingênuas possíveis,resultado: teve sim alguns votos.Provavelmente, o dele, da família e de algunsdos cachaceiros que aproveitaram o períododa campanha para bebericar de graça, aliásbeber junto com ele, porque o nossoaspirante a político dificilmente é encontradosóbrio, a maior parte do tempo ele quase nãoconsegue parar em pé.

O fato é que o tal candidato ficou furioso,revoltado com sua condição de "candidatopobre" e bradou aos quatro ventos que naseleições de 2012, tudo seria diferente. Que aqualquer custo ele arranjaria dinheiro prafazer uma campanha como deve ser feita,com tudo de primeira, inclusive distribuiçãode cestas básicas, caixas d'água, remédios etudo mais que seu possível "eleitorado"precisasse.

E não é que a sorte bateu em sua porta?Ou melhor, pousou em seu balcão, maisprecisamente no balcão da cachaça, e pousoumesmo, literalmente, levemente, na forma deum bilhete sorteado de loteria. De quemseria esse bilhete?

Acompanhe, na próxima edição, maisdetalhes dessa história... .::

QQuueemm ccoonnttaauumm ccoonnttoo.. .. ..

PPoorr:: MMaarrccoo ee FFaabbiiaa

O Homem de Terno Xadrez...(Parte 1 )

(Confira, na próxima edição a parte 2 dessa poesia e descubra o que o protagonista viu.. .)Oferecimentos especiais: Teatro Girandolá (Fco.Morato), Família Santana (Fco.Morato), D.Eliete

Cigana, rádio Terra AM(SP), Wilson Brigada, cientista social (Pirituba), José Soró (Perus), LeonardoBoff(Teológo-Brasil) e família Bertolline (Venâncio Diniz Junqueira-Jaraguá).

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Page 7: Oxe! - Fevereiro de 2012

6Fevereiro / 201 2

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Todos os domicílios mora-tenses receberam em janeiroum DVD de ficção. Nele ocidadão vai se deliciar assis-tindo um incrível jogo deefeitos especiais “Spilbergia-nos”, onde edifícios, escolas,praças e teatros apareceminstantaneamente. O DVD épura ficção, mas o carnê deIPTU que o acompanha não.Se o cidadão achar que é debrincadeira como os belosimóveis do DVD, vai pararno fórum mesmo. Além dis-so acompanha o pacote umacartinha muito mal elaboradaque falta pedir: "pelo amorde Deus, pague o IPTU!". .::

Por: Betto Souza

::. Rapidinha

asseando pelas magras calça-das da minha cidade, esbar-rando vez em ombros, vez

em muambas, perdia-me em de-vaneios apreciando a muvuca.De repente ouvi chamarem meunome:

- Olavo Passos.

Não acredito! Será que é a...

- Maria da Silva. – Dissemeio incerto de ser.

- Puxa! Pensei que não fossese lembrar de mim...

Maria da Silva fez o colegialcomigo, porém não chegou aconcluir, pois engravidou nametade do segundo ano.

- Como poderia? Conte-me,como você está? E sua filha es-tá com quantos anos?

- Estou bem! A Marilúcia es-tá com dois aninhos, ela é terrí-vel, Olavo! Acredita que...

Não conseguia prestar aten-ção no que minha amiga di-zia... Como estava diferente!Quando estudávamos juntos,Maria tinha corpo esguio, seiose nádegas perfeitos, era corteja-da por todos os rapazes... Oque o tempo lhe fez? Sua ancaestava da largura de um fogão(de seis bocas), saltava-lhe docós uma protuberância flácida

e cheia de estrias...

- Está me ouvindo?

- Sim, é claro! E o Leonar-do? Ele está bem?

Leonardo foi o colega que afertilizou. Ele era, na escola,daquela estirpe de sujeito queouve músicas burlescas e seorgulha em exibir os preserva-tivos que carrega na carteira.Eles se amasiaram após a gra-videz de Maria.

- Não sei e não quero saber!Nos separamos fazem seis me-ses e já me casei novamente,com Luiz, você não deve co-nhecer...

- Você se casou novamen-te?!

- Sozinha é que eu não vouficar! Bem... Deixe-me ir ago-ra! Tenho que buscar a peque-na na casa da minha mãe. Foium prazer te encontrar!Tchau!

- O prazer foi meu!

Saí daquela conversa comum desagradável aperto nopeito... Temos a mesma idade,entretanto Maria está no se-gundo casamento e já tem umafilha... E eu ainda nem tireiminha carteira de motorista. .::

P

Ficção ourealidade?

Por: Isidro Lopes

No dia 17 de janeiro, no início danoite, a portaria do E.C. Progresso,tradicional clube esportivo da cidadede Francisco Morato, foi tomada poruma manifestação pacífica de sóciosdescontentes com a atual administra-ção do clube. Faixas, tambor e gritosde guerra deram um tom animado ebem humorado às reivindicações dosmanifestantes. A manifestação acon-teceu um pouco antes do início deuma reunião na qual a diretoria dis-cutiria questões relativas ao Carna-val, promovido na Sky. Osmanifestantes aproveitaram a chega-da dos membros da diretoria pra da-rem seus recados e sensibilizarem oConselho a tomar atitudes.

A equipe Ôxe! esteve lá, registrouum pouquinho da manifestação econversou com alguns sócios. Ficoucurioso? Dá uma passadinha noblogduoxe.blogspot.com e confereas fotos e o vídeo da manifestação. .: :

Sócios do E.C. Progressoreivindicam mudanças

Por: Fabia Pierangeli

Carnavirando

MMaarriiaa ddaa SSiillvvaa

Bollywood moratense: carnês e DVDsentregues à população tem ficção,obrigação e muita coincidência.

imagem:IsidroLopes

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Protesto bem humorado levou sócios eabordou dirigentes na frente do clube

Revindicações vão de mais seriedadeaté a saída de membros da diretoria

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Page 8: Oxe! - Fevereiro de 2012

Em 2001 , Sr. Brandão era da diretoria dos esportes e foi para o Centro Cultural, então o AndréArruda explicou pra ele que na cultura não tinha competição, era coletivo. Inspirado no que o amigofalou pra ele e influenciado pelo Pedro Quintanilha ele pegou um pedaço de papelão, uma faca, umgarfo e fez sua primeira obra, foi aí que deu entrada no mundo da arte.