Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
PROCESSOS COLETIVOS NAS AMÉRICAS:
EXIGÊNCIAS PARA APROVAR UM ACORDO
COISA JULGADA
LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO DE SENTENÇA
SANTIAGO PEREIRA CAMPOS PROF. TITULAR DIREITO PROCESSUAL – UNIVERSIDADE DE MONTEVIDÉU (URUGUAI)
Paraná – Brasil
Setembro 2013
O PROCESSO NO ESTADO CONSTITUCIONAL
Congresso em Homenagem aos 100 anos
da Universidade Federal do Paraná
Relatórios Nacionais
Relatórios nacionais
Roberto M. PAGÉS
Jorge A. ROJAS
Primitivo GUTIÉRREZ
Sergio Cruz ARENHART
Janet WALKER
Juan Carlos GUAYACÁN
José Pedro SILVA
Maite AGUIRREZABAL
Juan FALCONI
Mauro Roderico CHACÓN
Pablo VILLALBA
Adrián SIMONS
Luis M. SIMÓN
Rodrigo RIVERA
Os processos coletivos na América
“a situação da
defesa dos
direitos
transindividuais na
Ibero-América é
insuficiente e
heterogênea,
para não dizer
caótica”.
(Exposição Motivos
Código Modelo
Processos Coletivos)
Avançou-se muito nos últimos anos.
Porém, em vários países da América: regulação nula ou escassa e pouca informação e jurisprudência sobre processos coletivos.
Ineficiência de institutos processuais tradicionais.
Temática de especialistas, difícil de transmitir a juristas de outras disciplinas, a legisladores, administradores e à sociedade civil.
Países com maior experiência sobre processos coletivos/class actions: sistemas são objeto de elogios e críticas, dependendo do caso.
Grandes interesses econômicos em conflito e risco de utilização com propósitos espúrios.
Processos coletivos/class actions na
América
Estado da legislação
Regulação legal dos
processos coletivos/class actions na América
País Ausência de
regulação Regulação
fragmentada
ou genérica
Regulação
específica
integral
Argentina X Brasil X Bolívia X Canadá X Chile X Colômbia X Equador X EUA X Guatemala X Paraguai X Peru X Uruguai X Venezuela X
EXIGÊNCIAS PARA APROVAR
ACORDOS COLETIVOS
A situação na América
Regulação legal dos acordos coletivos nos
países da América
País Ausência de
regulação Previsão
específica Argentina X Brasil X Bolívia X Canadá X Chile X Colômbia X Equador X EUA X Guatemala X Paraguai X Peru X Uruguai X Venezuela X
Sistemas sobre acordos coletivos na América
Amplo
• Ampla admissão de acordos coletivos com fortes controles judiciais
Limitativo
• São admitidos apenas acordos coletivos de cumprimento ou sem alcance geral
Conciliação
• Com diferentes alcances da sentença homologatória
Sem solução específica
Estados
Unidos
Canadá
Brasil
Colômbia (ações populares)
Código Modelo
Argentina
Chile
Colômbia (ações de
grupo)
Bolívia
Equador
Guatemala
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
Sistema amplo sobre
acordos coletivos
Canadá
EUA
Acordos coletivos são amplamente permitidos
• Altíssima porcentagem de acordos.
• Representantes de ações coletivas negociam agressivamente com a contraparte.
• Concessões substanciais (renunciando, inclusive, a direitos de membros do grupo).
• Sofisticado controle de adequação, representante, advogado, processo e acordo.
Papel preponderante do tribunal na aprovação de acordos
O acordo aprovado abarca todos os membros da classe, exceto os que solicitaram exclusão
Procedimento de homologação do acordo pelo Juiz
• Adequada difusão a possíveis afetados.
• Podem atacar termos do acordo ou solicitar serem excluídos (caso ainda não tenham manifestado sua vontade de não participar do processo).
Sistema amplo sobre
acordos coletivos Canadá
EUA
Solução justa, razoável e adequada
Número de impugnações apresentadas
Possibilidades da classe de ganhar o
pleito
Complexidade das questões de fato e
de direito
Montante do acordo comparado com o pretendido
na demanda
Custo para prosseguir o
processo
Plano de distribuição
apresentado com o acordo
Possibilidades de cumprimento pelos
demandados
Regularidade das notificações a
membros ausentes
ELEMENTOS A CONSIDERAR PARA APROVAR ACORDO
Sistema limitativo
sobre acordos coletivos
Brasil
Colômbia (ações populares)
Código Modelo
São admitidos apenas acordos coletivos de cumprimento ou implementação (política pública)
Impossibilidade de disposição sobre direitos
• Doutrina majoritária: estão indisponíveis de forma generalizada os direitos metaindividuais e, ao menos para os legitimados para ação coletiva, os interesses individuais de massa.
“Compromisso de ajustamento de conduta” (Brasil) “Pacto de cumprimento” (Colômbia)
• Prazos e condições são estipulados para que o eventual infrator adeque sua conduta às previsões legais em matéria de defesa destes interesses.
• Certa margem de “discricionariedade” na “forma” e “prazo” na satisfação de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.
• Não permite disposição do direito.
• Prevenção do conflito ou reparação do dano.
• Pode ser utilizado exclusivamente por entidades de “direito público” legitimadas para exercício da ação civil pública (exceto em caso de improbidade administrativa).
Sistema de conciliação homologada Diferentes alcances
Acordo conciliatório se homologa por ato judicial fundado
A eficácia da sentença homologatória é variada
Argentina (consumidores): consumidor que
pretenda amparo em sentença
homologatória de acordo em que não participou deve ter
condições similares às dos
participantes e não ter manifestado
anteriormente desejo de exclusão do
acordo.
Chile: (consumidores): demandado pode realizar ofertas
públicas de compromisso.
Acordos entregues ao controle do
Juiz (pode rejeitá-los por serem
contrários a direitos ou abertamente
discriminatórios).
Colômbia (ações de grupo):
força de sentença passada em
autoridade de coisa julgada
“ultra partes” a acordos celebrados
perante o Juiz.
Costuma-se prever
intervenção
obrigatória do
Ministério Público
Acordos coletivos
Países sem regulação específica
BOLÍVIA
EQUADOR
GUATEMALA
PARAGUAI
PERU
URUGUAI
VENEZUELA
Possível aplicação de
normas clássicas sobre
conciliação e transação,
sem prejuízo de limitações,
inadequações e riscos
A COISA JULGADA NOS PROCESSOS
COLETIVOS/CLASS ACTIONS
A situação na América
Coisa Julgada Coletiva
Regulação legal na América
País Ausência de
regulação
Regulação
Regulação
integral
Argentina X
Brasil X
Bolívia X
Canadá X
Chile X
Colômbia X
Equador X
EUA X
Guatemala X
Paraguai X
Peru X
Uruguai X
Venezuela X
Alcance da Coisa Julgada Coletiva
Sistemas na América
Efeito obrigatório geral de sentença coletiva
(pro et contra)
• Geralmente prevendo instrumentos de publicidade e opção de exclusão (opt out).
Efeito obrigatório geral de sentença se o grupo ganha
(secundum eventum litis)
Efeito obrigatório geral de sentença, exceto absolutória por ausência de provas
(secundum eventum probationem)
Sistema efeito obrigatório geral
da sentença (pro et contra)
EUA
Canadá
Argentina (consumidores)
Colômbia (ações de grupo e
ações populares -
questionado por
Corte
Constitucional)
Peru (dúvidas
interpretativas)
Coisa julgada erga omnes acolha ou indefira a pretensão.
Garantia do devido processo (vital importância).
Notificação judicial a todos os membros do grupo (pessoal ou não, dependendo do sistema).
Advertência do Juiz de excluir quem o solicite em forma e prazo fixado.
Direito de autoexclusão (opt out).
Dentro do prazo fixado por Juiz ou por lei.
Equilíbrio entre interesses de autonomia do indivíduo e necessidade de tratamento coletivo de controvérsia.
Membros do grupo exercem ou não seu direito de autoexclusão com assessoramento de seu advogado pessoal.
Regime impugnativo de sentença.
Problema:
Garantia de defesa a membros ausentes em grupos indeterminados ou de difícil determinação caso não tomem conhecimento da demanda ou da sentença.
Sistema de Coisa Julgada
secundum eventum litis
Brasil (direitos
individuais
homogêneos)
Código
Modelo Processos
Coletivos (direitos
individuais
homogêneos)
Efeito obrigatório da sentença é geral somente se o grupo ganha o processo.
Extensão in utilibus da sentença coletiva.
Coisa julgada negativa (por rejeição da demanda) atinge apenas alguns sistemas legitimados na ação coletiva.
Cada indivíduo prejudicado pode se opor à coisa julgada a sua maneira, entrando com ação individual.
Sistema pode ser adequado para jurisdições com pouca experiência em ações coletivas.
Permite litigar novamente questões que tenham sido expostas de forma equivocada por desconhecimento de mecanismos processuais coletivos ou por deficiência de provas.
Problema:
Carga excessiva ao demandado pela sentença de rejeição não ser aplicável a terceiros.
Sistema de Coisa Julgada
secundum eventum probationem
Brasil (direitos coletivos e difusos)
Argentina (meio ambiente)
Chile (consumidor)
Uruguai (norma geral)
Código Modelo Processos Coletivos (direitos coletivos)
Regra: efeito obrigatório geral da sentença.
Exceção: sentença absolutória por ausência
ou ineficiência de provas.
Qualquer legitimado ou outro legitimado
poderá tentar outra ação, com fundamento
idêntico, valendo-se de nova prova.
Equilíbrio: Não é permitido litigar novamente questões que
tenham sido expostas de forma equivocada por
desconhecimento de mecanismos processuais
coletivos. Por deficiência de provas, sim.
Coisa julgada coletiva
Países sem regulação
BOLÍVIA
EQUADOR
GUATEMALA
PARAGUAI
VENEZUELA
Ineficiência de aplicação de
normas clássicas sobre coisa
julgada
LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO DE
SENTENÇAS NOS
PROCESSOS COLETIVOS
A situação na América
Regulação da liquidação e execução de
sentença em processos coletivos na América
País Ausência de
regulação
Regulação
específica
Argentina X
Brasil X
Bolívia X
Canadá X
Chile X
Colômbia X
Equador X
EUA X
Guatemala X
Paraguai X
Peru X
Uruguai X
Venezuela X
Liquidação e execução de sentença coletiva
Diferentes soluções na América
Busca de
tutela judicial
efetiva
“Drama” da execução se “potencializa” nos processos coletivos.
Complexidades de implementação e controle.
Não existem modelos claros.
A regulação não é sistêmica.
São incorporadas diferentes soluções com impactos de baixa eficiência.
São combinadas soluções específicas com soluções clássicas do processo de liquidação e execução da sentença.
Países que não têm regulação especial aplicam soluções gerais sobre liquidação e execução com dificuldades.
Liquidação e execução de sentença em processos coletivos/class actions na América
Tendências, problemas e soluções
Problema do tempo na execução
• “Drama” nos países ibero-americanos
• Estados Unidos e Canadá: maior parte dos assuntos termina em acordo.
Conteúdos sentenças coletivas
• Fazer
• Não fazer
• Dar/Indenizar
Dificuldades para determinar destino das indenizações e sua
distribuição
Sentença indenizatória
• Sentenças líquidas (Colômbia em ações de grupo)
• Sentenças genéricas que se liquidam logo
• Via incidental? (Colômbia em ações populares, Argentina, Chile)
Prática: casos
são resolvidos
mediante
sentenças ou
acordos
economicos
Teoria:
mais
eficazes
Liquidação e execução de sentença em processos coletivos/class actions na América
Código
Modelo,
EUA, Brasil
Canadá,
Colômbia
“FUNDOS” Necessidade de criação
e administração.
Desafio: alcançar papel
eficiente no processo
de execução.
“Fundos” costumam
ser objeto de críticas e
especulações em
países que os têm.
Ordem dos
pagamentos?
•Gastos
•Honorários
•Indenizações
AUTORIDADES
Liquidação e execução de sentença em processos coletivos/class actions na América
Decisões orientadas a impor modificação da estrutura ou
organização de entidades e organismos.
Provimentos que impõem ao obrigado o cumprimento de prestações
complexas, diversificadas e prolongadas.
O PROBLEMA DOS CASOS COMPLEXOS QUE
REQUEREM LONGAS ETAPAS DE EXECUÇÃO
EUA:
“structural injuctions”
ou
“institutional decrees”
Ex.: Caso “Riachuelo” (Corte Suprema Argentina)
Caso “direito à saúde”
(Corte Constitucional Colômbia)
•Proibir discriminação
nas escolas
•Terminar com a
contaminação do ar
•Limpar um rio
Liquidação e execução de sentença em processos coletivos/class actions na América
A questão da incidência do Poder Judicial
nas políticas públicas
• Os limites entre função jurisdicional e administrativa se tornam difusos.
• Com o passar do tempo a decisão judicial se identifica com a gestão administrativa.
• Juízes não estão em condições de gerir (precisam de tempo, informação, recursos e meios).
DIVISÃO DE PODERES EM
RISCO?
Casos complexos
Novos
desafios
Liquidação e execução de sentença em processos coletivos/class actions na América
Novos instrumentos
Aumenta o controle social sobre o ritmo da execução e
sua direção
Diversos centros de interesse interatuam de modo rápido,
flexível, dinâmico.
Aumenta a informação disponível por ser aportada
por diversos grupos.
Melhora processos de tomada de decisões
Processo de debate prévio
MICRO
INSTITUCIONALIDADE
Instituição dedicada ao cumprimento da sentença Atua com maior ou menor autonomia sob supervisão do tribunal
Liquidação e execução de sentença em processos coletivos/class actions na América
Novos instrumentos
Sentença principal
Sentença
execução
Sentença
execução
Sentença
execução
Sentença execução
Sentença
execução
Sentença
execução
Quadro geral
• Coisa julgada
• Sentença declarativa que refere o conflito inicial
• Alto impacto midiático e social
Conteúdo
• Declaração de princípios e condenação geral
• Exortações, mandados de inovação e/ou de não inovação, mandados dirigidos à administração e/ou ao Congresso, etc.
Exemplos
• Proibir discriminação nas escolas
• Terminar com a contaminação do ar
• Limpar um rio
Sentenças
“em cascata” (Processo adaptativo
de aproximação à
solução definitiva)
Quadro geral
• Provisórias
• Medidas temporais e adaptativas
• Uma medida posterior pode deixar sem efeito a anterior.
Conteúdo
• Execução normalmente abarca numerosas etapas
• São produzidas discussões e precisões.
Exemplos
• Decisões sobre aspectos concretos do plano de limpeza de um rio e implementação até que se alcance uma definição razoável
CONCLUSÕES
Levantamento na América
Conclusões
Panorama legislativo heterogêneo na América.
Processos coletivos em países americanos civil law não chegaram ao estado de evolução de class actions norte-americanas ou canadenses.
Tendência: cada vez mais países vão criando ou projetando sistemas de processos coletivos.
Países da América que legislaram: inspirados em sistemas norte-americano, brasileiro e/ou na codificação modelo.
Código Modelo de Processos Coletivos para a Ibero-américa
• Ganhou maior difusão
• Tendência de adotar suas soluções em países americanos do civil law.
Conclusões
Complexo debate sobre se se deve legislá-lo e como fazê-lo.
Aprovação necessária de legislação em países que não a possuem.
Nem sempre a regulação exaustiva é a solução
Cuidado no desenho de regulação.
• Implementação de Justiça Coletiva: essencialmente vinculada a características do país.
• Soluções padronizadas são ponto essencial de partida mas não necessariamente cobrem necessidades próprias de cada nação.
• Transplante automático de soluções legislativas costuma fracassar
• Necessário passar pelo crivo da realidade.
Necessidade urgente de regulações mais simples.
• Sistemas com excessiva e complexa regulação, que provocam distorções jurisprudenciais, podem desestimular possíveis regulações em outros países ou visualizar processos coletivos como labirintos dos que dificilmente o grupo, a classe e/ou o Estado, saiam satisfeitos.
Conclusões
Regulação de processos coletivos: crescente complexidade e sofisticação
Interesses contrapostos de setores poderosos da sociedade (grandes empresas, organizações ambientalistas ou de consumidores, o Estado, etc.)
• Dificulta a compreensão e análise objetiva.
• Olhar desconfiado de políticos, criadores e implementadores de políticas públicas.
Consenso: institutos e critérios tradicionais sobre acordos, coisa julgada e liquidação e execução das sentenças, não são nem suficientes nem adequados
Países americanos do civil law e do common law: técnicas diferentes e institutos próprios
Alguns países: influência mista do sistema norte-americano e do brasileiro
• “Mistura” de bases lógicas e estruturais de sistemas common law e civil law.
• Inovador e positivo para o continente.
POESIA MÍNIMA
Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos. (Helena Kolody, in Poesia Mínima, 1986)
Nada encontrei mais doloroso,
Mais eloquente,
Mais glorioso
Do que a tragédia cotidiana
Escrita em cada vida humana. (in Paisagem Interior, 1941)
Muito obrigado!
CURITIBA - PARANÁ
Setembro 2013
@SantiagoPCampos
PROCESSOS COLETIVOS NAS AMÉRICAS:
PRECAUÇÕES PARA APROVAR UM ACORDO
COISA JULGADA
LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO DE SENTENÇA
SANTIAGO PEREIRA CAMPOS PROF. TITULAR DIREITO PROCESSUAL – UNIVERSIDADE DE MONTEVIDÉU (URUGUAI)
Paraná – Brasil
Setembro 2013
O PROCESSO NO ESTADO CONSTITUCIONAL
Congresso em Homenagem aos 100 anos
da Universidade Federal do Paraná