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1 O PRECONCEITO CONTRA OS NORDESTINOS EM SÃO PAULO: sua trajetória de sobrevivência no universo do “outro” e a temática do estigma, da envolvendo migrantes. 1 David de Sousa rito ! "ilvanete #omes de $ima % RESUMO & estudo do artigo ' compreender o preconceito en(rentado pelos mi estado de São )aulo. * sa+da de seus locais de origem e a c egada emergir novas con(iguraç es sociais, marcando as relaç es interpe novas roupagens nas /uais a(loram a temática do estigma, da rejeiç envolvendo migrantes. *l'm disso, pretende identi(icar a pratica d nordestinos como uma conduta /ue contraria a norma, incidindo no t um comportamento contrario ao /ue prescreve o Direito. 0m suma, o distorcer uma construção de imagens preconceituosas contra os nord deturpadoras, /ue supervalori-am a sua própria cultura. necessá todos sem a distinção da procedência nacional. Palavras-chave: "ordestinos. 2igração. 3dentidade. )reconceito. Segreg 1 INTRODUÇÃO *l'm da (ome, da mis'ria, das doenças, da desigua problemas /ue o mundo contempor4neo en(renta ' a intoler4ncia entre os povos. * di(iculdade em encarar a diversidade umana condu- 5 negação dos v supervalori-ação do “grupo do eu”, visão e atitude /ue c amamos de 1 )aper apresentado 5 disciplina 2etodologia da )es/uisa 6ient+(ica da Dom osco 8 7"D. 2 *luno do 19 )er+odo :espertino *, do 6urso de Direito da 7"D. 3 )ro(essora 2estre, &rientadora.

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Preconceito contra os nordestinos.

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O PRECONCEITO CONTRA OS NORDESTINOS EM SO PAULO: sua trajetria de sobrevivncia no universo do outro e a temtica do estigma, da rejeio e do preconceito envolvendo migrantes.[footnoteRef:1] [1: Paper apresentado disciplina Metodologia da Pesquisa Cientfica da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco UNDB.]

David de Sousa Brito[footnoteRef:2] [2: Aluno do 1 Perodo Vespertino A, do Curso de Direito da UNDB.]

Nilvanete Gomes de Lima[footnoteRef:3] [3: Professora Mestre, Orientadora. ]

RESUMO

O estudo do artigo compreender o preconceito enfrentado pelos migrantes nordestinos no estado de So Paulo. A sada de seus locais de origem e a chegada ao universo do outro faz emergir novas configuraes sociais, marcando as relaes interpessoais dos migrantes com novas roupagens nas quais afloram a temtica do estigma, da rejeio e do preconceito envolvendo migrantes. Alm disso, pretende identificar a pratica de preconceito contra os nordestinos como uma conduta que contraria a norma, incidindo no tipo penal definido em lei, um comportamento contrario ao que prescreve o Direito. Em suma, o referido trabalho busca distorcer uma construo de imagens preconceituosas contra os nordestinos, completamente deturpadoras, que supervalorizam a sua prpria cultura. necessrio que haja igualdade entre todos sem a distino da procedncia nacional.

Palavras-chave: Nordestinos. Migrao. Identidade. Preconceito. Segregao. Isonomia.

1 INTRODUO

Alm da fome, da misria, das doenas, da desigualdade, um dos graves problemas que o mundo contemporneo enfrenta a intolerncia entre os povos. A dificuldade em encarar a diversidade humana conduz negao dos valores culturais alheios e supervalorizao do grupo do eu, viso e atitude que chamamos de etnocentrismo.Essa viso do outro produz distores, preconceitos, agressividades, equvocos, hostilidades, intolerncia e, inclusive, xenofobia que o medo do outro levado ao extremo. O que veio de fora, o estranho ou o estrangeiro algum capaz de contaminar, destruir o lugar que se vive.A histria contempornea nos revela inmeros acontecimentos cruis que foram motivados por esta impossibilidade de respeito diferena. No de hoje que isso acontece e nem certo especificarmos uma data. A verdade que o preconceito contra os nordestinos tem origem no racismo, especificamente porque a grande quantidade de pessoas mulatas, negras e descendentes de ndios.O nordestino taxado como ignorante, preguioso e analfabeto as mdias. O sotaque motivo de piada. O nordeste por sua vez , imaginado como eterna seca, sem verde, com casas de barro e sol quente, batendo nas costas do pobre sertanejo magro que tenta cultivar algo no cho de terra vermelha. Quantas vezes nos deparamos com a comparao irracional que o Nordeste deve ser excludo? Quantas vezes vemos na televiso a imitao erronia do sotaque nordestino? Quantas vezes nos deparamos com o comentrio de que nordestino no gente?Objetiva-se neste artigo, compreender o conceito de etnocentrismo e os termos que lhe so afins relacionando-os a exemplos concretos sobre os preconceitos vividos dos nordestinos no estado de So Paulo, atentando as regras tanto relacionados lei, quanto moral e tica humana; destacar as (re)construes identidrias scio-culturais dos migrantes nordestino em So Paulo que emergem em sua histria de vida; descrever sobre o processo scio-histrico-cultural da migrao no Brasil e suas relaes com as situaes vivenciadas na cidade para qual migra; identificar a prtica de preconceito contra os Nordestinos como um ato passvel de punio de acordo com a lei.Contudo, podemos dizer que a viso etnocntrica do outro pode formular distores, ao ponto de se construir imagens preconceituosas, completamente deturpadoras. Essas vises distorcidas tendem a geram a supervalorizao da prpria cultura. necessrio que haja uma igualdade entre todos os seres humanos o que pode perceber que a presena macia de nordestinos pobres e mestios em So Paulo faz com que esse grupo seja percebido pela pobreza, violncia, pelo desemprego e pela degradao das condies de vida na cidade na cidade.

2 UM OLHAR SOBRE A PRESENA DOS NORDESTINOS EM SO PAULO

2.1 Breve histrico da migrao nordestina em So Paulo

De acordo com Selma Borges, a migrao dos nordestinos para So Paulo, como demostram vrios estudos, no uma histria recente. O xodo rural destes migrantes inicia-se desde a primeira metade do sculo XIX, quando dos primrdios do processo de crescimento capitalista no Brasil, em que So Paulo se destaca enquanto plo industrial de repercusso nacional. Esta migrao se intensifica a partir da dcada de 1940 com o crescimento da indstria que requer uma crescente quantidade de trabalhadores, O grande contingente populacional que se concentra na regio Nordeste marcado pela impossibilidade de sobrevivncia no campo. Segundo Rosania de Almeida, um intenso movimento procura de melhores condies de trabalho e sobrevivncia recorte o territrio e marca a diversidade cultural na mais variadas regies do pas.O processo das migraes nordestinas se encontram ligadas politica racista e imigrantista desenvolvidas desde a colonizao. No incio do sculo XX, a substituio do trabalho do negro escravo vai ser feita pelo trabalhador branco e livre da Europa. Os imigrantes europeus eram direcionados para So Paulo e Rio de Janeiro, como promessas de encontrar abundancia de terra e um clima promissor. (VAINER apud LIMA, 2008, p. 14)Entre os anos 1970 e 1980, grande nmero de nordestinos desloca-se para o Sudeste, impulsionados pela mecanizao da lavoura, pela pecuarizao e pela continuao da dissoluo das colnias nas fazendas, para trabalharem em obras de metr, estradas, pontes, represas, hidroeltricas.(Rua apud Lima, 2008, p. 16)O Estado, que at os meados do sc. XX estava determinado a preencher os espaos vazios do territrio e do mercado de trabalho, passa a confrotar-se com excedente de populao, parte de um projeto nacional de desenvolvimento, que claramente no a preocupao das classes dominantes. Precisamos entender o brasileiro migrante como fato scio-histrico-politico-cultural e no como simples experincia individual transitria. Segundo Penna citado por Lima (2008), o conhecimento histrico social do processo de migrao no Brasil um relevante instrumento de compreenso dos aspetos socioculturais presentes na construo de identidade do migrante nordestino em sua trajetria de vida. Migrar uma forma de resistncia, para no se conformar. O migrante nordestino em So Paulo, por sair do mundo rural para o urbano, passa tambm pelo processo de desterritorializao. Assim sendo, alm de estar desenraizado do seu habitat, necessita passar pelo processo de re-incluso e/ou territorializao que se processa de forma perversa no urbano e na economia, sofrendo dupla agresso. desarraigado das suas origens e no se integra facilmente ao urbano, devido ao mercado de trabalho que no est aberto a recebe-lo (BAPTISTA apud BORGES, 2007, p.36) O individuo migrante nordestino um eterno estranho na cidade de So Paulo. Ao mesmo tempo em que trabalha mora e interage com a cidade se v como fazendo parte de outro lugar que no o seu, pois ao negar a sua identidade original e compor elementos de outra identidade, nunca vai deixar de ser o outro, o baiano, visto em territrio diferente.

3 CONSTRUO DE IDENTIDADE SCIO-CULTURAL E INTERACIONAL

3.1 As (re)construes identidrias socioculturais dos migrantes nordestinos em So Paulo que emergem em sua histria de vida

Entendemos que a identidade no um produto final e nico, mas pode ser continuamente formada e transformada nas diferentes situaes e culturais. A teoria social de identidade v a identidade como um fator varivel, que explica como as pessoas agem ao produzir o tipo de comportamento definido como social ou anti-social. Ao nascer, as pessoas j se encontram inseridas em determinada categoria social. Com o tempo, elas desenvolvem a conscientizao de seu grupo como o meu grupo acima dos outros grupos e um envolvimento emocional por ele. (WIDDICOMBE, apud LIMA, 2008, p.23).Quando abordamos a questo do migrante na cidade de So Paulo, no podemos analisa-la de forma isolada, pois esta se insere num contexto mais amplo de desdobramento das relaes sociais.O migrante necessita do trabalho para firmar-se no urbano e garantir sua reproduo, Sem o vnculo formal com o trabalho e o recebimento de salrio, no consegue viver com dignidade e nem adquire um espao de cidadania na sociedade, pois descredenciado para ser reconhecido, sendo visto discriminatoriamente. (BAPTISTA apud BORGES, 2007, p. 38)Francisco de Oliveira citado por Selma Santos Borges (2007), faz uma analise histrica em relao imigrao/migrao na Regio Sudeste, apontando a preferencia em se recuperar historicamente a importncia da imigrao, principalmente italiana na cidade de So Paulo, em detrimento da migrao nordestina. Consideramos pertinente longa citao:Caminhando no tempo, as migraes dos nordestinos, inclusive dos baianos, reenviar de volta para o Nordeste um preconceito quase racial, no fundo de lasse os nordestinos que chagam a So Paulo e Rio, depois de 1920, comearo a ser identificados como baianos. No apenas a situao de classe, mas esta travestida numa diferena etnias: Em So Paulo e no Sul do Brasil, a herana da imigrao estrangeira trabalha para criar o preconceito. Pelos idos de 1920, quando cessa a imigrao estrangeira, estes j esto na segunda e terceira geraes: de trabalhadores, muitos j transitaram para uma situao de pequena-burguesia e alguns pertencem mesmo aos grandes grupos burgueses nacionais. Os que chegam depois, os nordestinos, sero condenados a permanecerem como operrios, trabalhadores do campo, trabalhadores de servides. (...) O conjunto de negatividade posta pela situao de trabalho passa a ser atributo dos baianos: o permanecer operrio, a condio de imigrantes a precariedade de insero no mercado de trabalho, as constantes mudanas de um emprego para outro, determinadas pelo profundo movimento de transformao das estruturas produtivas no Centro-Sul, passam a ser tudo como componente intrnseco do carter dos baianos. (OLIVEIRA apud BORGES, 2007, p. 39)Muito bem pontuado por Oliveira citado por Borges, o preconceito contra o nordestino, generalizadamente chamado de baiano, est no cerne dos primrdios da migrao nordestina e se perpetua at os dias de hoje.Retomando a abordagem acima citada, Ely Sousa Estrela citado por Borges (2007) reafirma que desde as primeiras dcadas do sculo XX, os indivduos que chegava ao Centro-Sul em levas sucessivas de diferentes partes do Brasil eram chamados de paus-de-araras, nortistas, cabeas chatas e baianos. Todas as denominaes tinham e tem carter depreciativo, revelando o nvel de preconceito e discriminao que enfrentaram os primeiros nortistas/nordestinos que se estabeleceram no Centro-Sul. Conquanto as elites econmicas cobiassem sua fora de trabalho, esses indivduos eram (e ainda so) desprezados e humilhados.A imagem que os paulistas tm do Nordeste passa pelo seguinte imaginrio coletivo: analfabetismo, a misria, a seca, o flagelo, o homem rude e a mulher caipira, o nordestino sinnimo de pobreza, baixa estatura, feio, moreno, sempre inferior e sempre aquela pessoa que tentar ir para So Paulo em busca de uma oportunidade de trabalho.Para compreendermos porque a populao do Nordeste objeto destes preconceitos necessrio que se faa uma abordagem que leve em conta dois aspectos fundamentais: em primeiro lugar, a historia da construo da prpria ideia de Nordeste e, em consequncia, da ideia de ser nordestino.

3.2 O processo scio-histrico-cultural da migrao no Brasil e suas relaes com a situaes vivenciadas na cidade para qual migra

Analisando a cultura dos nordestinos em So Paulo, Weffort citado por Borges (2007) interroga sobre a sua contribuio cultural, considerando-os como representantes da cultura regional de maior alcance nacional do pas para a formao de cultura popular de uma cidade como So Paulo.O nordestino que chega a So Paulo, se portador de uma cultura regional de alcance nacional, chega a um mundo dotado de uma cultura regional extremamente pobre, praticamente um mundo culturalmente vazio onde o capitalismo predatrio e selvagem destruiu a cultura regional tradicional e no foi capaz de crias nada no seu lugar. [...] Por que o refugiar-se na sua cultura deveria significar um empobrecimento? (WFFORT apud BORGES, 2007, p. 40)O reconhecimento das identidades e diferenas culturais o nico meio de evitar a ao violenta daqueles que se sentem despojados de sua identidade cultural ao ingressarem na sociedade de massas uma sociedade que os atrai pelo consumo, mas lhe nega o trabalho imprescindvel para uma verdadeira insero comunitria. ( TOURAINE apud BORGES, 2007, p.40)Ressalta-se que o discurso sobre o Nordeste sempre em relao a um discurso sobre o seu outro e feito pelo seu outro, o Sul. O Nordeste seria sim uma produo imagtico-discursiva formada a partir de uma sensibilidade cada vez mais especifica, gestada historicamente, em relao a uma dada rea do pas. (DURVAL apud BORGES, 2007, p.42)At meados da dcada de 1910, o Nordeste no existia. Ningum pensava em Nordeste, os nordestinos no eram pecebidos, nem criticados como uma gente de baixa estatura, diferente e mal adaptada. Alis, no existiam. As elites locais no solicitavam, em nome dele, verbas ao Governo Federal para resolver o problema de falta de chuvas, da gente e do gado que morriam de fome e de sede, como regitra Graciliano Ramos, em Vidas Secas, livro que se tornou filme famoso. Ademais, o problema mal era enunciado; era apenas vivido. Sem grande visi/dizibilidade. (DURVAL apud BORGES, 2007, p.42) relevante mencionar que os migrantes nordestinos em So Paulo esforam-se por reproduzirem a sua cultura de origem. Este dado constatado na cidade atravs da presena de costumes e valores nordestinos na vida cotidiana dos migrantes. As relaes de compadrio, reciprocidade, vnculos com a origem so preservadas, assim como o consumo de determinados tipos de alimentos, da literatura. O migrante busca o vinculo com as suas razes atravs da musica, da culinria outros elementos de sua cultura.So Paulo o ponto de atrao da saga nordestina. Saem e no encontram nessa sonhada cidade a integrao ao mundo do trabalho. Assim, So Paulo corresponde a um mito, uma iluso do migrante. Alguns migrantes constatam que a migrao uma iluso. A iluso que havia emprego para todos, riqueza fcil, que poderiam ganhar muito dinheiro para ajudar os parentes e at comprar uma terra. A iluso, o imaginrio, o subjetivo, o desejo so fundamentais para entender e explicar a trajetria do migrantes, O homem necessita subjetivamente ter uma iluso, uma utopia, A apropriao do migrante do seu desejo acha-se suspensa na transio entre a ao prtica e o imaginrio. (BAPTISTA apud BORGES, 2007, p.51)Em um pas como o Brasil onde, at os dias atuais, o padro branco europeu o mais valorizado, a presena macia de nordestinos pobres e mestios em So Paulo faz com que esse grupo seja percebido como o responsvel pelos pobres e mestios em So Paulo faz com que esse grupo seja percebido como responsvel pela pobreza, violncia, pelo desemprego e pela degradao das condies de vida na cidade.A atitude preconceituosa enxergou nos fluxos de nordestinos o espectro da invaso da pobreza, em vez de enxergar o papel desempenhando pela mo-de-obra migrante no crescimento econmico do Sudeste.

4 O NORDESTINO EM SO PAULO E O PRECONCEITO PAULISTA

4.1 O nordestino em So Paulo na viso dos paulistas

Os preconceitos emitidos para caracterizar o nordestino so popularmente associados a aspecto negativos e pejorativos. Esta construo que podemos considerar contra o nordestino em So Paulo, longe de ser algo recente. Uma informao publicada pela Folha de So Paulo, na gesto do prefeito Celso Pitta, pelo ento secretrio das Administraes Regionais de So Paulo, Alfredo Mrio Savelli: Eles esto prejudicando a cidade destinada a ser a capital do Mercosul. (...) Da mesma forma que vieram para quando a cidade oferecia oportunidades, eles precisam perceber que elas no existem mais. So menos instrudos deverias ir para Fortaleza, ou para o interior do estado e para o sul de Minas. duro falar nisso. Mas, como secretario, sou um observador privilegiado e posso recomendar que mudem daqui porque o perfil econmico mudou. ( FOLHA DE SO PAULO apud BORGES, 2007, p.67)Provavelmente o caminho possvel para alguns intelectuais e polticos da poca resolver este conflito tenha sido de criar, ou como bem diz o historiador Durval Muniz Albuquerque Jr inventar uma diviso regional que pudesse viabilizar uma clara distino entre um Brasil ideal moderno, rico, industrial..., e um Brasil real atrasado, pobre, rural, escurecido por uma populao de ndios e negros. (VASCONCELOS, 2006, p.3)A grande diferena entre o Norte e o Sul do pas sempre foi a pauta de discusso da poca para explicar o descompasso no ritmo do desenvolvimento interno do Brasil. Oliveira Viana confirmaria a tese no qual havia um risco de esfacelamento da nacionalidade, pois no Sul estava presente uma civilizao branca, moderna enquanto no Norte havia uma predominncia mestia e negra ao considerar o Sul, principalmente So Paulo, como o local de uma aristocracia moral e psicologicamente superior, desta forma, restava ao norte subordinar-se s influncias modernizadoras do Sul.(ALBUQUERQUE JR apud VASCONCELOS, 2006, p.4)Argumenta-se que as elites destes espaos descobrem a fora da arma que tm nas mos, como este fenmeno e o cortejo de misrias que acarretava. O nordestino sofrer muitos dos preconceitos de que vitima por estar associado a estas imagens e a estes tipos: o nordestino ser visto, quase sempre, como sendo um retirante, um flagelado. Esses imigrantes sero, em So Paulo e no Sul, principalmente, chamados de baianos. Se serem mulatos, eram mestios e acaboclados, igualmente baixos, cabeas chatas, pobres e analfabetos ou semi-analfabetos. Era o tipo de gente que o brasileiro do sul no gostaria que fosse brasileiro o seu Outro rejeitado, um outro modo de ser brasileiro: mestio, imigrante, pobre, desterrdo. Mas, menos que o tipo fsico, era todo um Brasil antigo, que era rejeitado, tal como a Bahia o fora: o Brasil da casa-grande, dos coronis, da oligarquia, da agricultura de subsistncia, da fome, do flagelo das secas. Seria tambm o Brasil que o sul odiaria a ser, no futuro: mestio, pobre e migrante? (GUIMARES apud DAFLON; NOBREGA, 20[?] ,p.24)De acordo com Guimares citado por Daflon e Nobrega as relaes entre nordestinos, nativos e outros grupos migrantes foram marcadas por preconceitos. Os migrantes nordestinos em So Paulo indistintamente denominados baianos independente do estado de origem, o estereotipo carregado de uma forte conotao racial uma vez que a Bahia o estado brasileiro de mais forte presena negra.Alguns pontos negativos dessa migrao a) a maioria dos migrantes possui baixa instruo e qualificao profissional quase nula, conseguindo apenas subempregos ou ocupaes grosseiras em So Paulo; b) um grande nmero de migrantes so doentes ou subnutridos, ocasionando constante sobrecarga aos organismos de assistncia mdico-sociais do Estado; c) agravamento do problema de habitao com a consequente proliferao de favelas nas zonas urbanas; d) crescimento dos ndices de criminalidade; e) declnio das condies eugnicas e f) queda no padro de via do proletariado rural e urbano nas classes sem qualificao profissional (BOSCO; JORDO apud DAFLON; NOBREGA, 20[?], p.25)Guimares citado por Daflon e Nobrega afirma que recentemente o preconceito contra os baianos ou nordestinos adquiriu contornos equivalentes aos da xenofobia europeia moderna. De uma percepo segundo a qual eram provincianos pobres e atrasados, esse grupo passa a ser percebido com um grupo anmico e perigoso, responsvel pela pobreza, pela violncia, o desemprego e pela degradao das condies de vida na metrpole. Os grupos nativos responsabilizavam os migrantes por uma legada degradao da qualidade de vida na metrpole e degenerao e cultural do povo local, nutrindo no s e apenas ressentimento, mas sentimento de perda. (PIERUCCI apud DAFLON; NOBREGA, 20[?], p. 26)No mesmo sentido, Caldeira citado por Daflon e Nobrega, em estudo sobre a fala do crime em So Paulo, identificou entre os entrevistados um sentimento de perda e decadncia social, atribudos em diversas ocasies chegada de migrantes nordestinos. Para vrios informantes, os criminosos eram identificados especialmente como nordestinos, no-brancos, favelados ou moradores de cortios, em relao aos quais se desenvolviam estratgias simblicas e materiais de segregao e evitao, como a construo de muros, instalao de grades e mudanas para outras reas da cidade como forma de evitar a sensao de impureza contida nas interaes heterogneas. Ou como afirma Guimares, o preconceito contra nordestinos reflete um medo de perda que caracteriza a xenofobia moderna.

4.2 O desafio de punir a prtica de preconceito contra os Nordestinos

De acordo com a Carta Magna do Brasil, a CF/88 em seu art.5 que diz que, Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: XLII- a pratica do racismo constitui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito pena de recluso, nos termos da lei; Constata-se, contudo, que mesmo aps mais de cem anos da abolio da escravatura encontramos preconceitos constrangedores de um individuo em relao a seu semelhante, resultado de um triste legado da colonizao e do imperialismo opressor, dominador e explorador. O legislador constituinte ofereceu proteo igualdade entre todos os seres humanos ao definir que a lei punir qualquer discriminao atentatria dos direitos e liberdades fundamentais (art. 5, inciso XLI, CF). Esse trato igualitrio entre todos, base das democracias modernas, probe a pratica de discriminaes e preconceitos decorrentes de raa, cor, origem tnica, preferencia religiosa e procedncia nacional, o que constitui odiosa e histrica afronta ao principio isonmico.Alm de punir, com penas de at cinco anos de recluso, e multas, os crimes resultantes de discriminao ou preconceito de raa, cor, etnia, religio ou procedncia nacional, introduziu no Art.140 do Cdigo Penal pargrafo terceiro, tipificando a injria com utilizao de elementos relacionados raa, cor, etnia, religio ou origem, com penas de recluso de um a trs anos, mais multa.

5 CONCLUSO

No processo de urbanizao e industrializao que se intensificou na segunda metade do sculo XX, a migrao em massa de nordestinos teve a finalidade de fornecer mo-de-obra abundante e barata, mas foi tambm percebida como um retrocesso no projeto nacional de base eurocntrica. Em um cenrio de escassez e competio acirrados pelas riquezas da sociedade, os migrantes nordestinos foram vistos no como participes do processo de gerao dessa riqueza mas como elementos incivilizados que tornavam o povo feio, degradavam a qualidade de vida nas cidades e as tornavam violentas.Na medida em que o nordestino reconhecido como migrante cuja marca acentuada est principalmente no seu sotaque e na compleio fsica, e vendo-se como vitima de discriminao, preconceito e humilhao.Entretanto, acredita-se que, ainda que os paulistanos, em grande parte, tenham uma viso negativa desta massa de migrantes nordestinos que ali se instalaram e apresentem esta resistncia a incorporar a cultura nordestina, acabam tambm por alterar seus hbitos de vida.Entender que estamos em continuo processo de construo de identidade e observar com mais cuidado, com quem e onde as estamos construindo ser agentivo no mundo, abrir alternativas em nossos relacionamentos e colaborar numa sociedade mais humana, mais preocupada com as pessoas (MOITA LOPES apud LIMA 2008, p.108); aplicar responsabilidade e solidariedade para com o outro a partir de uma nova forma de conhecimento na vida social (MOITA LOPES apud LIMA 2008, p.108).Quando conhecemos e respeitamos as particularidades individuais entendemos que os outros vivem como ns nos percebemos vivendo: de acordo com regras culturais ou atuando com papis sociais determinados, mas como pessoas que vivem se indagando o que devem fazer, cometendo erros, fazendo escolhas, vacilando, tentando parecer bons e procurando momentos de alegria. (ABU-UGHOD apud LIMA, 2008, p.108) O racismo antinordestino um terreno frtil para a rediscusso de um novo projeto de nao e que garanta uma verdadeira incluso social dos grupos subalternizados.

REFERNCIAS

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