Platao Apologia Socrates

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  • 7/17/2019 Platao Apologia Socrates

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    Apologia de Scrates

    Do site "Mundo dos Filsofos"

    http://www.mundodosfilosofos.com.br/

    Introdu!o Apologia de Scrates

    De acordo com Digenes #a$rcio% a acusa!o apresentada contra Scrates% em &aneiro de'(( a.).% foi a *ue segue:

    "A seguinte acusa!o escre+e e &ura Meleto% filho de Meleto% do po+oado de ,iteo% contraScrates% filho de Sofronisco% do po+oado de Alpece. Scrates $ culpado de n!o aceitar osdeuses *ue s!o reconhecidos pelo -stado% de introduir no+os cultos% e% tamb$m% $ culpadode corromper a &u+entude. ,ena: a morte"

    A cidade de Atenas n!o podia mo+er aes% mas um cidad!o podia% assumindo% por$m% totalresponsabilidade% se a acusa!o n!o fosse considerada procedente pelo &0ri. 1 acusador eraMeleto% mas n!o s ele2 tamb$m 3nito e #4con% com os mesmos direitos pala+ra nodecorrer do processo. Meleto era o acusador oficial% por$m nada e5igia *ue o acusadoroficial fosse o mais respeit6+el% h6bil ou tem4+el% mas somente a*uele *ue assina+a aacusa!o.

    -% neste caso% a influ7ncia e5ercida por 3nito constituiu o elemento mais respeit6+el nodesfecho do processo% *ue foi por ele elosamente preparado nas reunies dos di+ersoscidad!os% sustentando8o com a autoridade de seu nome.

    9o -ut4fron% +emos *ue Scrates% ao se apro5imar do ,rtico do ei% onde fora afi5ada aacusa!o por Meleto% ao ser in*uirido pelo adi+inho -ut4fron a respeito de *uem era a*uele*ue o acusa+a% respondeu: "Sei bem pouco a respeito dele% tal+e por*ue se&a um homem&o+em e desconhecido. Acredito chamar8se Meleto% do po+oado de ,iteo% de cabelos lisos%barba rala e nari em forma de bico de p6ssaro".

    A respeito de saber com e5atid!o *uem era esse Meleto% e5istem muitas d0+idas% sendouma delas se se trata+a do personagem citado por Aristfanes. Mas n!o h6 elementos em*ue basear essa suposi!o% pois um &o+em poeta de '(( a.). pouco pro+a+elmente chamariaa aten!o de Aristfanes em ;ulgar tratar8se do Meleto *ue% em '(( a.).% chegou a tomar parte da acusa!o contraAndcides% no c$lebre processo por causa da mutila!o da est6tua de ?ermes e daprofana!o dos Mist$rios% seria muito con+eniente% por ha+er sido essa tamb$m umaacusa!o de impiedade. )ontudo% e5iste outro obst6culo% de acordo com a prpriainforma!o de Andcides: esse Meleto foi um dos *ue% em ;

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    conforme ele mesmo afirma na Apologia% &untamente com outros *uatro homens recebera aordem de deter a #eon de Salamina% tendo sido o 0nico a recusar8se a obedecer% n!o disse*ue Meleto era um desses homens.

    -5ceto se reputarmos *ue essa defesa n!o se&a de fato de Scrates% e sim escrita por ,lat!o%

    *ue se +ale do nome de Meleto% &6 ent!o tido como um fan6tico religioso% a fim deengrandecer o mestre desaparecido.

    Desse modo% podemos considerar Meleto de Scrates o mesmo Meleto de Andcides% assimsolucionando o problema *ue tanta discuss!o tem pro+ocado% embora% logicamente% fi*ueapenas no campo da suposi!o% &6 *ue nada corrobora realmente esta pretens!o.

    1 pouco *ue conhecemos ou podemos presumir a respeito de #4con $ *ue poucaimportCncia e autoridade te+e no decorrer do processo% com seu nome sendo citado semprecom e+idente desapreo.

    3nito% o mais importante dos acusadores% $ a*uele *ue% n!o resta d0+ida% da+a a impress!ode conhecer Scrates% *ue a ele alude como se Meleto fosse seu subordinado% como se desteti+esse se originado a id$ia da pena de morte para persuadir Scrates a abandonar a cidadeantes *ue o processo ti+esse seguimento. 3nito era filho de Antemione% comerciante decouro% nascera por +olta de B =< a.). e &6 ha+ia e5ercido importantes cargos emagistraturas% sendo estratego em ;< a.). Aps ter sido en+iado ao e54lio pelos @rinta@iranos% &untamente com @ras4bulo e outros% regressou de File com estes e tomou parte dae5pedi!o armada contra o go+erno dos tiranos. Depois da restaura!o do regimedemocr6tico% tornou8se um dos mais eminentes cidad!os de Atenas.

    3nito mante+e rela!o com Scrates% segundo compro+a sua atua!o no M7non% ondemanifesta uma ameaa +elada a este: "Afigura8se8me% Scrates% *ue com muita facilidadete dedicas maledic7ncia% e eu te aconselho% se *uiseres me ou+ir% *ue tenhas cuidado".

    A opini!o de ,lat!o a esse respeito $ bem clara: n!o foi por raes religiosas *ue Scratesrecebeu a condena!o% mas sim por *uestes e+identemente pol4ticas.

    A bem da +erdade% Scrates dera% mediante pala+ras e atos% patente mostra de sua obstinadarepulsa aos go+ernos democr6ticos.

    ,ortanto% nessa $poca de instala!o do regime democr6tico% con+inha afastar de Atenas omestre de )r4sias% o homem *ue sempre se recorda+a de ha+er sido disc4pulo de Ar*uesilau%o *ual% por sua +e% fora disc4pulo de Ana56goras% e5pulso de Atenas em decorr7ncia de umprocesso parecido com o seu.

    Mas $ preciso frisar *ue o propsito% como o prprio Scrates repete% n!o era mat68lo% e simafast68lo de Atenas% e se isso n!o ocorreu de+eu8se demasiada teimosia do prprioScrates% *ue em +e de escolher o e54lio preferiu a proposta de uma multa irrisria% +indoa ser% por conseguinte% condenado.

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    9o *ue concerne condena!o por moti+os religiosos% da mesma maneira *ue se d6 comcondenaes por moti+os pol4ticos% o te5to da sentena preocupa8se muito mais emesconder do *ue apresentar as +erdadeiras causas. @anto isso $ +erdade *ue% em sua defesa%+emos o r$u in+erter a ordem das acusaes e colocar em primeiro lugar a 0ltimaimputa!o: corromper os &o+ens.

    Desde a $poca de Scrates% afirmara8se o culto patriarcal% em *ue Eeus era o deus8pai% ol4der m65imo. Se a acusa!o ti+esse se dado em $pocas mais antigas% poder4amos presumir*ue Scrates teria adotado a defesa do culto da deusa% isto $% um mo+imento reacion6rio emtermos de culto.

    )olo*uemos a *uest!o com mais clarea: as lendas referem a re+olta patriarcal contra omatriarcado.

    A @ripla Deusa% +enerada como $ia% esposa de )ronos% em seus tr7s aspectos: luacrescente% lua cheia a lua minguante% era a suprema deusa e gera+a uma +e por ano aDionisos B Eagreus% seu filho% *ue era sempre de+orado pelo tempo.

    Dessa maneira% as m0ltiplas facetas da deusa pre+aleciam% constituindo as sacerdotisas os+erdadeiros l4deres das po+oaes e os homens% seus instrumentos de fertilia!o e praer%e5ecutando os trabalhos mais necess6rios sobre+i+7ncia e defesa.

    9umerosas re+oltas comearam a eclodir com a chegada de cont4nuas le+as de drios%minianos e &nios% em cu&as culturas o patriarcalismo era arraigado% *ue acabaram porfomentar a rebeli!o de Eagreus contra seu pai e m!e. Eagreus torna8se Eeus% o Deus8Agnes%ou o Agnos8Deus% *ue pode significar tanto o deus desconhecido *uanto o deus8carneiro2$ia +em a ser adorada como ?era% e seus aspectos: marinho% lunar e noturno% comoAnfitrite% Grtemis e )$rbero. Anfitrite $ esposa de ,os7idon% um dos aspectos de Eeus2Grtemis $ filha de Eeus% e permanece +irgem2 *uanto a )$rbero% representa ?$cate% sendofiel guardi!o dos dom4nios de ?ades% outro aspecto de Eeus% seu culto tendo sido de no+oe5tinto durante o per4odo de estabelecimento do culto ol4mpico.

    9essa fase seria de fato correto crer *ue algu$m sofresse um processo por *uestesreligiosas% mas $poca de Scrates tudo isso &6 se encontra+a de+idamente solidificado% e aargumenta!o de Hurnet% em seu coment6rio Apologia% re+ela8se% portanto% bem poucoconfi6+el% *uando afirma "*ue esses no+os deuses da cosmologia &nica eram uma antigahistria e *ue poderia ser uma +iola!o da anistia coloc68los de no+o lu do dia".

    ,ortanto% considerando8se a anistia garantida at$ mesmo pelo prprio 3nito% *ue &untamentecom @ras4bulo fora seu principal defensor% n!o era poss4+el le+ar em conta as culpaspassadas de Scrates para conden68lo% isso presumindo *ue e5istisse alguma% e eranecess6rio arran&ar o prete5to para e5ecut68lo.

    -ra todo o ensinamento socr6tico *ue se torna+a perigoso% e n!o os no+os fatos. 1 *uesignifica+a a*uela sabedoria% proclamada superior at$ mesmo pelo or6culo% *ue consistiaem saber *ue n!o se sabe

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    Jual a postura dos pol4ticos diante disso Jue direitos seriam mais opostos aos dademocracia do *ue a*ueles originados da e5peri7ncia e da compet7ncia% e a superioridadeda intelig7ncia sobre os direitos da assembl$ia popular e soberana

    K isso *ue causou a condena!o de Scrates% a e5ig7ncia de *ue o piloto do barco conhea

    seu of4cio% isto $% a superioridade do saber sobre a aclama!o do po+o.Ademais% $ necess6rio recordar *ue Scrates mante+e relaes com os @rinta @iranos: estesn!o Ihe teriam ordenado a pris!o de #eon de Salamina se n!o o considerassem um deles2)r4sias% o mais fero dos @iranos% ha+ia sido seu disc4pulo% e tamb$m Alceb4ades% *ue+oltara a ser assunto pela recente inclus!o de seu nome entre os en+ol+idos na profana!odos Mist$rios. - mais: Scrates menciona a seu fa+or sua participa!o no caso do e54lio deJuerofonte% por$m% assim% insiste no fato de *ue% durante o mandato dos @rinta% Juerofontefoi obrigado a se e5ilar% en*uanto Scrates pde permanecer.

    Some8se a isto *ue Scrates &amais dese&ou e5ercer nenhuma magistratura% nem participarde alguma forma do go+erno de sua cidade% embora n!o se&a +erdade *ue permanecessefora do Cmbito do go+erno% pois com fre*L7ncia era +isto discutindo em p0blico2 e n!o sepode afirmar% pelos testemunhos *ue possu4mos% *ue fosse singularmente prudente oudiplom6tico em sua maneira de discutir.

    As mais importantes orientaes da +ida eram sub+ertidas por seu orgulho de terconsci7ncia da sua ignorCncia% e os &o+ens% de fato% iriam acabar desrespeitando *ual*uerautoridade *ue n!o se identificasse com a intelig7ncia e a sabedoria% pro+ocando ainda odesapreo por tudo *ue n!o buscasse a sabedoria% despreando a economia dom$stica e ari*uea.

    Apologia de Scrates

    ,reCmbulo

    Desconheo atenienses% *ue influ7ncia ti+eram meus acusadores em +osso esp4rito2 a mimprprio% *uase me fieram es*uecer *uem sou% tal o poder de persuas!o de sua elo*L7ncia.De +erdades% por$m% n!o disseram nenhuma. ma% sobretudo% me espantou das muitasperf4dias *ue proferiram: a recomenda!o de precau!o para n!o +os dei5ardes seduir peloorador formid6+el *ue sou. )om efeito% n!o corarem de me ha+er eu de desmentirprontamente com os fatos% ao mostrar8me um orador nada formid6+el% eis o *ue me pareceua maior de suas insol7ncias% sal+o se essa gente chama formid6+el a *uem di a +erdade2 se$ o *ue entendem% eu admitiria *ue% em contraste com eles% sou um orador. Se&a como for%repito8o% de +erdades eles n!o disseram alguma2 de mim% por$m% +s ou+ireis a +erdadeinteira. Mas n!o por Eeus% atenienses% n!o ou+ireis discursos como os deles% aprimoradosem substanti+os e +erbos% em estilo florido2 ser!o e5presses espontCneas% nos termos *ueme ocorrerem% por*ue deposito confiana na &ustia do *ue digo2 nem espere outra coisa*ual*uer um de +s. Nerdadeiramente% senhores% n!o ficaria bem a um +elho como eu +irdiante de +s modelar seus discursos como um rapainho. Fao8+os% contudo% um pedido%atenienses% uma s0plica premente2 se ou+irdes% na minha defesa% a mesma linguagem *uehabitualmente emprego na praa% &unto das bancas% onde tantos dentre +s me ha+eis

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    escutado% e em outros lugares% n!o a estranheis nem +os re+olteis por isso. Acontece *ue+enho ao tribunal pela primeira +e aos setenta anos de idade2 sinto8me% assim%completamente estrangeiro linguagem do local. Se eu fosse de fato um estrangeiro% semd0+ida me desculpar4eis o sota*ue e o lingua&ar de minha cria!o2 peo8+os nestaoportunidade a mesma tolerCncia% *ue $ de &ustia a meu +er% para a minha linguagem% *ue

    poderia ser tal+e pior% tal+e melhor% e *ue e5amineis com aten!o se o *ue digo $ &usto oun!o. 9isso reside o m$rito de um &ui2 o de um orador% em dier a +erdade.

    A Defesa de Scrates

    ,rimeira ,arte

    O -nunciado O Di+ersidade -ntre Duas )ategorias de Acusadores: os Antigos e osecentes

    -m princ4pio% atenienses% $ leg4timo *ue eu me defenda das cal0nias das primeirasacusaes *ue me foram dirigidas e dos primeiros acusadores% e depois das mais recentesacusaes e dos no+os acusadores. ,ois muitos *ue se encontram entre +s &6 me acusaramno passado% sempre faltando com a +erdade% e esses me causam bem mais temor do *ue3nito e seus amigos% embora estes se&am acusadores perigosos. Mas os primeiros s!o muitomais perigosos% cidad!os% a*ueles *ue con+i+endo com a maior parte de +s% comocrianas *ue de+iam ser educadas% procuraram con+encer8+os de acusaes n!o menoscaluniosas contra mim: *ue e5iste um certo Scrates% homem de muita sabedoria% *ueespecula a respeito das coisas do c$u% *ue es*uadrinha todos os segredos obscuros% *uetransforma as raes mais fracas nas mais consistentes. -stes% atenienses% *ue propalaramessas coisas acerca de mim% s!o os acusadores *ue mais receio% por*ue% ao ou+i8los% aspessoas acreditam *ue *uem se dedica a tais in+estigaes n!o admite a e5ist7ncia dosdeuses. - esses acusadores s!o muito numerosos e me acusaram h6 bastante tempo% e% o *ue$ mais gra+e% caluniaram8me *uando +s t4nheis a*uela idade em *ue $ bastante f6cil Balguns de +s $reis crianas ou adolescentes B dar cr$dito s cal0nias% e assim% em resumo%acusaram8me obstinadamente% sem *ue eu contasse com algu$m para me defender. - o *ue$ mais assombroso $ *ue seus nomes n!o podem se*uer ser citados% e5ceto o de umcomedigrafo2 por$m os outros B os *ue% por in+e&a ou por +4cio em faer falsas acusaes%procuraram colocar8+os contra mim% ou os *ue pretenderam con+encer os outros porestarem +erdadeiramente con+encidos e de boa f$ B% esses todos n!o podem serencontrados% nem se pode e5igir *ue ao menos alguns deles +enham at$ a*ui% nem acusarningu$m por difama!o% e% em +erdade% a fim de me defender s posso lutar contrasombras% e acusar de mentiroso a *uem n!o responde. ,ortanto% +s de+eis +os certificar de*ue e5istem duas categorias de acusadores: de um lado% os *ue me acusam h6 pouco tempo%e de outro% os *ue &6 me acusam h6 bastante tempo e dos *uais tenho falado a respeito% eent!o reconhecereis *ue de+o defender8me destes em primeiro lugar. Ainda mais por*ueesses acusadores fieram8se ou+ir por +s antes e mais demoradamente do *ue a*ueles *ue+ieram depois.

    Defender8me8ei% portanto% atenienses% e assim descobrirei se a*uela cal0nia% *ue martiriameu cora!o h6 tanto tempo% possa ser e5tirpada% embora de+a fa78lo em t!o curto prao.- se eu for bem8sucedido% se conseguir acarretar8+os algum benef4cio com a minha defesa%

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    ser6 e5celente para +s e para mim. Hem sei *uanto isto $ dif4cil e tenho plena consci7nciada enorme dificuldade *ue me espera. Jue tudo se passe de acordo com a +ontade do Deus%pois lei $ necess6rio obedecer e defender8se.

    O Defesa )ontra os Antigos Acusadores

    O )al0nia a espeito do Saber de Scrates

    Namos comear desde o in4cio e e5aminar *ue tipo de acusa!o moti+ou essa cal0nia% na*ual Meleto se baseou para redigir sua acusa!o neste processo. Jue afirma+am meusdetratores Faamos de conta *ue se trate de uma acusa!o &uramentada de acusadores reaise dos *uais se&a preciso ler o te5to: "Scrates $ r$u de ha+er8se ocupado de assuntos *uen!o eram de sua alada% e in+estigando o *ue e5iste embai5o da terra e no c$u% procurandotransformar a mentira em +erdade e ensinando8a s pessoas". A acusa!o possui mais oumenos este teor. Assististes a alguma coisa semelhante na com$dia de Aristfanes% na *ualum certo Scrates aparece andando de l6 para c6% afirmando *ue caminha em cima dasnu+ens% e outro amontoado de tolices% *ue n!o consigo compreender nem um pouco. - n!odigo isso por &ulgar a*uelas ci7ncias coisas +is% se $ mesmo +erdade *ue ha&a cientistas detais ci7ncias. 9!o faltaria *uem% acompanhando Meleto% fiesse contra mim uma acusa!ot!o gra+eP -u s +os asseguro% atenienses% *ue n!o me ocupo desses assuntos% e recorro maioria de +s para *ue sir+am de testemunhas. ,eo *ue re+elem publicamente *uantos de+s &6 me ou+iram falar a respeito dessas coisas% e ent!o compreendereis *ue tudo o mais*ue diem sobre mim possui o mesmo +alor.

    esumindo: nada e5iste em tudo isso *ue corresponda +erdade2 e% mais ainda% se ou+istesalgu$m declarar *ue instruo os homens em troca de dinheiro% isto tamb$m n!o passa dementira. Mesmo *ue% se algu$m se prope a instruir homens como faem Qrgias de#eontini% ,rdico de )eo e ?4pias de Klida% se me afigure coisa em absoluto nadaconden6+el. -sses +alorosos homens percorrem as cidades com o propsito de instruir os&o+ens% aos *uais seria mais f6cil% e sem ter de gastar dinheiro% faer8se instruir por um deseus concidad!os2 e con+encem esses &o+ens a preferir a sua companhia dos seus%recebendo em troca dinheiro e ainda por cima gratid!o. 1u+i tamb$m refer7ncias a outrohomem% de ,aros% *ue possui muita sabedoria e +eio morar em Atenas% e o soube porinterm$dio de )6lias% filho de ?ipnico% homem *ue gastou mais dinheiro com sofistas do*ue *ual*uer outro ateniense. ,erguntei a ele:

    B )6lias% se teus dois filhos fossem dois potros ou duas +itelas% terias de contratar e pagaruma pessoa *ue tomasse conta deles% *ue ti+esse a capacidade de Ihes ensinar as +irtudespara serem acrescentadas sua naturea% e eles se tomariam ca+alarios ou agricultores2mas teus filhos s!o homens2 *ue educa!o% ent!o: tencionas proporcionar8lhes Juementende das +irtudes *ue Ihes s!o necess6rias% ou se&a% das +irtudes do homem e cidad!oAcredito *ue pensaste a respeito disso *uando puseste os filhos no mundo. -5iste algu$mcapa de fa78lo

    B )laro *ue sim B respondeu8me.

    B - *uem $ ele B indaguei8lhe. B de onde $ e *uanto cobra para ensinar

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    B -+eno de ,aros. - seu preo $ cinco minas B respondeu8me.

    9o 4ntimo% parabeniei esse tal de -+eno% se $ de fato possuidor dessa doutrina e a ensina at!o bai5o preo. -u mesmo me orgulharia se fosse capa de tal coisa% contudo eu n!o sei%

    atenienses.1 Jue $ o Saber de Scrates

    O 1 1r6culo de Delfos

    Algum de +s poderia *uestionar8me: "R Scrates% o *ue faes ent!o Jue moti+o originouessas cal0nias )om certea% se muitos te acusaram% n!o se de+eu ao fato de *ue nadafieste fora do comum2 tantas +oes n!o teriam se erguido se ti+esses te comportado comotodos se comportam )onte o *ue fiestes% pois n!o dese&amos &ulgar8te irrefletidamente".

    ,rocurarei esclarecer8+os a respeito da causa dessas cal0nias contra mim. -scutai8me%portanto. K poss4+el *ue alguns entre +s creiam *ue eu este&a brincando2 n!o% estoufalando s$rio. R atenienses% $ +erdade *ue ad*uiri renome por possuir certa sabedoria. -*ue tipo de sabedoria $ essa ,ossi+elmente% uma sabedoria estritamente humana. - arespeito de ser s6bio% receio possuir esta 0nica sabedoria. Ao passo *ue esses% de *uem +osfala+a h6 pouco% tal+e se&am possuidores de uma sabedoria sobre8humana% mas afirmo *uen!o a conheo% e *uem di o contr6rio mente% apenas com o intuito de caluniar8me. ,eo8+os para n!o faer algaarra% atenienses% embora possais ter a impress!o de *ue eu este&aproferindo pala+ras por demais fortes2 *ue n!o $ meu depoimento% mas o de umatestemunha *ue merece toda a +ossa confiana. De minha sabedoria% se de fato se trata desabedoria% e de sua naturea% in+ocarei como testemunha% diante de +s% o prprio deus deDelfos. @odos +s conheceis Juerefonte. -ra meu amigo desde o tempo da &u+entude epertencente ao +osso partido popular2 partiu no 0ltimo e54lio em +ossa companhia eregressou tamb$m em +ossa companhia. Sabeis *ue tipo de homem era Juerofonte e decomo era determinado em suas resolues Dirigiu8se em certa ocasi!o a Delfos e atre+eu8sea perguntar ao or6culo se e5istia algu$m mais s6bio *ue eu. A pitonisa respondeu *ue n!oe5istia ningu$m. )omo testemunho deste fato se prestar6 o irm!o de Juerefonte% em+irtude de este ha+er falecido.

    O ,es*uisa >unto aos ,ol4ticos

    Saber!o agora o moti+o pelo *ual +os relato isso: meu intento $ pr8+os a par de onde seoriginou a cal0nia contra mim. Aps ter ou+ido a resposta do or6culo% refleti da seguintemaneira: "Jue pretende o deus dier Jual $ o significado oculto do enigma @endo em+ista *ue eu n!o me considero s6bio% *ue *uer dier o deus ao afirmar *ue sou o mais s6biodos homens )om certea n!o mente% pois ele n!o pode mentir". - longamente me manti+enesta d0+ida. ,or fim% ao arrepio de minha +ontade% comecei a in+estigar acerca disso. Fuiter com um da*ueles *ue possuem reputa!o de s6bios% &ulgando *ue somente assimpoderia desmentir o or6culo e responder ao +atic4nio: "-ste $ mais s6bio *ue eu e afirmastes*ue era eu". Mas en*uanto esta+a analisando este B o nome n!o $ necess6rio *ue eu +osre+ele% cidad!os2 basta dier *ue era um de nossos pol4ticos B% enfim% este com *ue%

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    analisando e raciocinando em con&unto% fi a e5peri7ncia *ue irei descre+er8+os% e estehomem aparenta+a ser s6bio% no entender de muitas pessoas e especialmente de si mesmo%mas tal+e n!o o fosse de +erdade. ,rocurei fa78lo compreender *ue embora se &ulgasses6bio% n!o o era. -m +ista disso% a partir da*uele momento% n!o s ele passou a me odiar%como tamb$m muitos dos *ue se encontra+am presentes. Afastei8me dali e cheguei

    conclus!o de *ue era mais s6bio *ue a*uele homem% neste sentido% *ue ns% eu e ele%pod4amos n!o saber nada de bom% nem de belo% mas a*uele acredita+a saber e n!o sabia%en*uanto eu% ao contr6rio% como n!o sabia% tamb$m n!o &ulga+a saber% e ti+e a impress!o de*ue% ao menos numa pe*uena coisa% fosse mais s6bio *ue ele% ou se&a% por*ue n!o sei% nemacredito sab78lo. A4 procurei um outro% entre os *ue possuem reputa!o de serem maiss6bios *ue a*ueles% e me ocorreu e5atamente a mesma coisa% e tamb$m este me dedicoudio% &untamente com muitos outros.

    Apologia de Scrates

    8 ,es*uisa >unto aos ,oetas

    9!o obstante isso% continuei diligentemente com minha pes*uisa% embora notando% comdesagrado e assombro% *ue todos passaram a me odiar e *ue% contudo% afigura+a8se8meimposs4+el dei5ar de atentar para as pala+ras do deus. "Se alme&as saber o *ue o or6culo*uer dier"% diia a mim mesmo% "de+es +isitar todos a*ueles *ue possuem reputa!o desabedoria." ,or isso% atenienses% de+o dier8+os de no+o a +erdade2 &uro8+os *ue este foi oresultado da minha pes*uisa: os *ue eram famosos por possu4rem maior sabedoria%conforme minha pes*uisa% conforme a pala+ra do deus% pareceram8me *uase todos emmaior erro. - outros% sem fama alguma% se me afiguraram melhores e mais s6bios. Masdese&o terminar de relatar8+os minhas peregrinaes e as fadigas *ue sofri para con+encer8me de *ue a pala+ra do or6culo era incontest6+el.

    -m seguida aos pol4ticos% fui procurar os poetas% tanto os *ue escre+iam ditirambos etrag$dias como os demais% con+encido de *ue diante da*ueles confirmaria minhaignorCncia e sua superioridade. ,eguei suas melhores poesias% as *ue considera+a mais bemconstru4das% e indaguei aos prprios poetas o *ue eles pretendiam dier2 por*ue dessamaneira aprenderia alguma coisa com eles. -stou com +ergonha% atenienses% de contar8+os a +erdadeP Mas $ obrigatrio *ue eu a diga. esumindo% todas as outras pessoaspresentes discorriam melhor a respeito do *ue os poetas ha+iam escrito *ue os prpriosautores2 diante disto% descobri *ue n!o era por nenhum tipo de sabedoria *ue eles faiam+ersos% mas por uma propens!o e inspira!o natural *ue eu desconheo% como os adi+inhose +aticinadores% *ue diem de fato muitas coisas belas% mas n!o conhecem nada do *uediem% e apro5imadamente o mesmo% e isto eu percebi com clarea% $ o *ue ocorre entre ospoetas. - compreendi tamb$m *ue os poetas% pelo fato de faerem poesias% &ulga+am8se osmais s6bios dos homens at$ mesmo em outras coisas em *ue realmente n!o o eram. -nt!oafastei8me deles% com a certea de ser mais s6bio *ue eles% pelo mesmo moti+o *ue era mais*ue os pol4ticos.

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    8 ,es*uisa >unto aos Artes!os9o final% dirigi8me aos artes!os% *ue de sua arte tinha a consci7ncia de n!o conhecer nada% eeles sabiam *ue eu os considera+a conhecedores de numerosas e belas coisas. - n!o mee*ui+o*uei% eles conheciam coisas *ue eu n!o conhecia% e nisso eram mais s6bios do *ueeu. ,or$m% atenienses% tamb$m os artes!os famosos apresenta+am o mesmo defeito dospoetas: por conhecerem muito bem sua arte% cada um deles &ulga+a8se e5tremamente s6bio%at$ mesmo em outros assuntos de maior realce e dificuldade% e este importante defeitodeslustra+a toda sua sabedoria. De forma *ue eu% em nome do or6culo% indaguei a mimmesmo se de+eria permanecer tal como era% nem sabedor de minha sabedoria nemignorante de minha ignorCncia% ambas as coisas% como eles% e respondi a mim e ao or6culo*ue con+inha continuar tal *ual eu era.

    8 1 Nerdadeiro Saber )onsiste em Saber Jue 9!o se Sabe

    -m +irtude desta pes*uisa% fi numerosas e perigos4ssimas inimiades% e a partir destasinimiades surgiram muitas cal0nias% e entre as cal0nias% a fama de s6bio% por*ue% toda +e*ue participa+a de uma discuss!o% as pessoas &ulga+am *ue eu fosse s6bio na*uelesassuntos em *ue somente punha a descoberto a ignorCncia dos demais. A +erdade% por$m% $outra% atenienses: *uem sabe $ apenas o deus% e ele *uer dier% por interm$dio de seuor6culo% *ue muito pouco ou nada +ale a sabedoria do homem% e% ao afirmar *ue Scrates $s6bio% n6o se refere propriamente a mim% Scrates% mas s usa meu nome como e5emplo%como se ti+esse dito: "R homens% $ muito s6bio entre +s a*uele *ue% igualmente aScrates% tenha admitido *ue sua sabedoria nao possui +alor algum". K por esta raao *ueainda ho&e procuro e in+estigo% de acordo com a pala+ra do deus% se e5iste algu$m entre osatenienses ou estrangeiros *ue possa ser considerado s6bio e% como acho *ue ningu$m ose&a% +enho em a&uda ao deus pro+ando *ue nao h6 s6bio algum. - tomado como estou poresta Cnsia de pes*uisa% n!o me restou mais tempo para realiar alguma coisa de importantenem pela cidade nem pela minha casa% $ le+o uma e5ist7ncia miser6+el por conta deste meuser+io ao deus.

    8 As Muitas Inimiades e a Acusa!o

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    Ns tendes conhecimento de *ue os &o+ens *ue dispem de mais tempo *ue os outros% osfilhos das fam4lias mais ricas% seguem8me de li+re e espontCnea +ontade% e se regoi&am emassistir a esta minha an6lise dos homens2 in0meras +ees procuram imitar8me e tentam% porsua prpria conta% analisar alguma pessoa. #ogicamente% deparam8se com numerosos

    homens *ue &ulgam saber alguma coisa e sabem pouco ou nada% e ent!o% a*ueles *ue s!oanalisados por eles +oltam8se contra mim e n!o contra *uem os analisou% declarando *ueScrates $ homem por demais infame e corruptor dos &o+ens. - se algu$m indaga: "Afinal%o *ue fa e o *ue ensina este Scrates para corromper os &o+ens"% nada respondem% por*ueo desconhecem% e% s para n!o e+idenciar *ue est!o confusos% diem as coisas *uecomumente s!o ditas contra todos os filsofos% al$m de afirmar *ue ele especula sobre ascoisas *ue se encontram no c$u e as *ue ficam embai5o da terra% e *ue tamb$m ensina an!o acreditar nos deuses e apresenta como melhores as piores raes. A +erdade% por$m% $*ue esses homens demonstraram ser pessoas *ue d!o a impress!o de saber tudo% por$m%naturalmente% n!o *uerem dier a +erdade. Desta maneira% ambiciosos% dominados pelapai5!o e numerosos como s!o% e todos da mesma opini!o nesta difama!o a meu respeito ecom argumentos *ue podem parecer tamb$m con+incentes% sem escr0pulo algum encheram+ossos ou+idos com suas cal0nias. -ste $ o moti+o pelo *ual% finalmente% lanaram8secontra mim Meleto% 3nito e #4con: Meleto profundamente irado por causa dos poetas%3nito por causa dos artes!os e dos pol4ticos% #4con por causa dos oradores. )ontudo% como+os disse desde o in4cio% seria de fato um +erdadeiro milagre se eu ti+esse a capacidade dearrancar8+os do cora!o esta cal0nia *ue possui ra4es t!o firmes e profundas. -sta $% cidad!os% a +erdade% e eu a re+elo por completo% sem ocultar8+os nada% nem mesmoes*ui+ando8me dela% embora saiba *ue sou odiado por muitos e5atamente por isso. ,orsinal% $ outra pro+a de *ue digo a +erdade% e *ue esta $ a cal0nia contra mim e esta a causa.Indagai *uanto *uiserdes% agora ou depois% e recebereis sempre a mesma resposta.

    8 Defesa )ontra Meleto

    9o *ue di respeito aos meus primeiros acusadores% isso $ o bastante para a defesa dasculpas a mim atribu4das2 procurarei em seguida defender8me de Meleto% homem digno epatriota% como ele mesmo se define% e dos acusadores *ue +ir!o depois. Nou comear desdeo in4cio e como se na +erdade dissesse respeito a outra esp$cie de acusadores% analisemostamb$m o ato de acusa!o deste. Declarou mais ou menos isto: "Scrates $ r$u decorromper os &o+ens% de n!o crer nos deuses nos *uais a cidade cr7 e tamb$m de praticarcultos religiosos e5tra+agantes".

    Analisemos esta acusa!o minuciosamente. Meleto afirma *ue corrompo a &u+entude% e eudigo% atenienses% *ue o r$u $ o prprio Meleto% por*ue aborda com le+iandade assuntos

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    s$rios e t!o inescrupulosamente le+a homens diante do tribunal% com o intuito de faer crer*ue se preocupa com coisas com as *uais% na +erdade% nunca se preocupou. - procurareipro+ar8+os *ue isso $ a pura +erdade.

    8 Meleto 9!o Sabe o Jue $ -ducar 9em )orromper

    Meleto% mostra8te e responde. 9!o &ulgas de suprema importCncia *ue os &o+ens consigamse tornar os melhores poss4+eis

    M-#-@1: O >ulgo.

    SR)A@-S: O Die% ent!o% aos &uies o *ue os torna melhores. )om certea o sabes% poisesta $ uma preocupa!o tua e descobriste *uem os corrompe% conforme afirmas% e por estemoti+o citaste8me diante do tribunal e me acusaste. Namos% die aos &uies o *ue os famelhores. N7s% Meleto% como ficas calado% sem saber o *ue dier - isto n!o te se afigura+ergonhoso% e pro+a suficiente do *ue afirmo: *ue nunca te preocupaste com estesassuntos Namos% e5celente homem% responde: *ue os fa melhores

    M-#-@1: O As leis.

    SR)A@-S: O 9!o se trata disto% meu amigo. Indago8te *ual $ o homem *ue% em primeirolugar% de+e ter conhecimento% conforme dies% das leis.

    M-#-@1: O -stes% Scrates% os &uies.

    SR)A@-S: O Afirmas% ent!o% Meleto% *ue estes possuem a capacidade de educar os&o+ens e torn68los melhores

    M-#-@1: O Afirmo.

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    SR)A@-S: O )r7s *ue todos% ou alguns sim e outros n!o

    M-#-@1: O @odos.

    SR)A@-S: O Dies bem% por ?eraP - grande a *uantidade de bons educadoresP @amb$mestes *ue est!o nos ou+indo tornam os &o+ens melhores ou n!o

    M-#-@1: O Sim% tamb$m estes.

    SR)A@-S: O - os senadores

    M-#-@1: O @amb$m os senadores.

    SR)A@-S: O Juer dier% ent!o% Meleto% *ue tal+e a*ueles das Assembl$ias ,opularescorrompam os &o+ens 1u tamb$m a*ueles os tornam melhores

    M-#-@1: O @amb$m a*ueles.

    SR)A@-S: O @odos os atenienses *ue te ou+em tornam os &o+ens bons e belos% todos%e5ceto eu. ,ortanto% sou eu *uem os corrompe. K isto *ue *ueres dier

    M-#-@1: O -5atamente isto.

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    SR)A@-S: O )omo sou infeliP Mas responde8me a isto: tamb$m com os ca+alos cr7s*ue se&a assim Jue todos os homens os tornem melhores e somente um os mutile 1u% aocontr6rio% *ue somente um os torne melhores% ou poucos% a*ueles *ue s!o peritos emca+alos% e *ue os demais se sir+am dos ca+alos e os mutilem - n!o acontece assim% Meleto% com os ca+alos e com todos os seres +i+os )om certea $ assim% digam 3nito e tu

    mesmo *ue sim ou n!o. Seria uma grande felicidade para os &o+ens se correspondesse +erdade *ue somente um Ihes causa danos e todos os outros os educam e melhoram. Mas%prossegue% Meleto% &6 *ue demonstrei a contento *ue tu nunca te preocupaste com os&o+ens. Mais ainda% demonstrei *ue nunca ti+este preocupa!o com as coisas pelas *uaisme trou5este diante deste tribunal.

    Agora die8me% Meleto% o *ue mais con+$m% +i+er entre bons cidad!os ou entre mauscidad!os Amigo% responde% n!o $ dif4cil o *ue te pergunto. 1s maus n!o pre&udicama*ueles *ue Ihes s!o pr5imos - os bons n!o Ihes faem o bem

    M-#-@1: O )om toda a certea.

    SR)A@-S: O ,ode e5istir algu$m *ue este&a com eles e *ue prefira receber o mal emlugar do bem esponde% e5celente homem. @amb$m a lei dese&a *ue respondas. ,odee5istir algu$m *ue prefira receber o mal

    M-#-@1: O 9!o% realmente.

    SR)A@-S: O -nt!o% trou5este8me a este tribunal por*ue corrompo os &o+ens por *uererT os torno maus% ou fao isto sem *uerer

    M-#-@1: O Afirmo *ue $ por *uerer.

    SR)A@-S: O Juer dier% ent!o% Meleto% tua sabedoria sendo maior *ue a minha% na tuaidade% tendo eu os anos *ue tenho% *ue pensas conhecer melhor do *ue eu *ue os maussempre causam algum mal% principalmente *ueles mais pr5imos deles% e *ue os bonsfaam o bem% e *ue eu ignore essas coisas a ponto de n!o saber *ue se se torna mau a umdeles corre8se o risco de receber algo mau dele e *ue% no caso de saber disso% eu me

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    empenhe em torn68los maus 9!o me persuadir6s disto% Meleto. 9em acredito *ue possaspersuadir a ningu$m. 1u se&a% n!o corrompo os &o+ens% ou% se os corrompo% fao8o sem*uerer% de maneira *ue em ambos os casos mentes. Se eu os corrompo sem *uerer% porfaltas in+olunt6rias% n!o e5iste lei alguma *ue poisa me obrigar a +ir at$ a*ui% mas sim *uefaa com *ue se&a afastado% a fim de ad+ertir8me ou censurar8me% e $ claro *ue% uma +e

    ad+ertido% n!o mais farei o *ue faia sem *uerer. @ens e+itado encontrar8te comigo ead+ertir8me2 n!o o *uiseste faer de forma alguma e me traes a*ui% embora as leisestabeleam *ue a*ui se&am traidos somente os *ue de+em ser castigados% e n!ocensurados.

    8 Meleto Acusa Scrates de Ate4smo e se )ontradi

    9este momento% cidad!os de Atenas% $ bastante e+idente a*uilo *ue eu afirma+a: *ueMeleto nunca se preocupou com essas coisas. Apesar disso% die8nos% Meleto% de *uemaneira% de acordo com tua opini!o% eu corrompo a &u+entude 9!o o fao% como afirmacom clarea a acusa!o *ue apresentaste contra mim% ensinando8os a n!o acreditar nosdeuses nos *uais a cidade acredita% mas em outras di+indades no+as 9!o $% conformedies% ensinando estas coisas *ue os corrompo

    M-#-@1: O Sim% eu digo e5atamente isto.

    SR)A@-S: O -m nome desses mesmos deuses a respeito dos *uais agora falamos%e5plica8te com maior clarea% tanto para mim como para estes &uies% por*ue n!o consigocompreender a *uais deuses eu ensino *ue os &o+ens de+em acreditar% pois se na*ueles *ueacredito s!o deuses% n!o sou ateu e% por conseguinte% n!o posso ser culpado disso% mesmo*ue n!o se&am os da cidade% e sim outros2 $ por causa disso *ue me traes a este tribunal%por *ue s!o outros ou por *ue afirmas *ue n!o acredito de maneira alguma nos deuses eensino isto aos &o+ens

    M-#-@1: O -u afirmo *ue n!o acreditas de maneira alguma nos deuses.

    SR)A@-S: O R e5celente MeletoP ,or *ue dies *ue n!o acredito% da mesma maneira*ue os outros homens% *ue o sol e a lua se&am deuses

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    M-#-@1: O )om certea% &uies% pois afirma *ue o sol $ uma pedra e a lua $ feita deterra.

    SR)A@-S: O ,ensas% meu bom Meleto% em acusar tamb$m Ana56goras - tens em t!opouca estima e reputas t!o ignorantes nas letras a estes &uies% a ponto de n!o saberem *ueos li+ros de Ana56goras de )laomena est!o repletos destes ensinamentos - por *uemoti+o os &o+ens iriam aprender de mim estas coisas *ue por uma simples dracma podemcomprar na 6gora e ombarem de Scrates% se este as apresentasse como suas% ainda maissendo t!o e5tra+agantes ,or Eeus% pensas de fato *ue eu n!o acredite em deus algum

    M-#-@1: O -m nenhum% com certea.

    SR)A@-S: O 9ingu$m acredita em ti% Meleto% e na*uilo *ue afirmas2 creio *ue n!oconsegues persuadir nem a ti mesmo. 9a +erdade% atenienses% tudo isto se me afiguradesaforado e atre+ido% e *uem escre+eu esta acusa!o foi desaforado e a escre+eu poratre+imento e desrespeito &u+enil. K como se algu$m dese&asse por8me pro+a compondouma esp$cie de enigma: "Dar8se86 conta Scrates% a*uele grande s6bio% *ue o estouridiculariando e me contradigo 1u conseguirei engan68lo e a todos a*ueles *ue meou+em" )om efeito% parece8me *ue Meleto se contradi na acusa!o% como se declarasse:"Scrates $ r$u de n!o acreditar nos deuses% mas tamb$m de acreditar nos deuses". - istosignifica dese&o de se di+ertir.

    R atenienses% analisai comigo de *ue maneira creio *ue ele se contradi. esponde% Meleto. - +s% como &6 +os e5ortei no comeo% recordai8+os de n!o me interromper secontinuo a raciocinar minha maneira.

    -5iste algu$m% Meleto% *ue acredite na e5ist7ncia de fatos humanos e n!o em homensFaei com *ue responda% atenienses% e n!o criai tanta agita!o por causa de uma pala+ra.?6 *uem n!o acredite na e5ist7ncia de ca+alos% mas sim nas coisas relati+as a ca+alos -*ue n!o acredite na e5ist7ncia de flautistas% mas sim *ue e5istam sons de flauta 9!o haningu$m% eu mesmo respondo% a ti e aos outros *ue a*ui se encontram% se n!o *ueresresponder. Mas responde ao menos pergunta seguinte: e5iste *uem possa acreditar emcoisas demon4acas% mas n!o em demnios

    M-#-@1: O K completamente imposs4+el.

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    SR)A@-S: O Juanta satisfa!o me proporcionou tua resposta% embora tenhas sidoobrigado pelos &uies. ,ortanto% acusas8me de acreditar em coisas demon4acas e de ensin68

    las2 $ isto *ue afirmas e *ue &uraste no teu ato de acusa!o. Mas se acredito em coisasdemon4acas% de+o obrigatoriamente crer em demnios% n!o $ assim )om certea $ assim.,arece8me *ue aceitas% &6 *ue n!o contestas. - n!o consideramos estes demnios filhos dosdeuses

    M-#-@1: O #ogicamente.

    SR)A@-S: O 1ra% se afirmas *ue e5istem demnios% se estes demnios s!o deuses% $neste ponto *ue eu digo *ue faes enigmas e brincadeiras% *uando declaras *ue eu% emboran!o acreditando na e5ist7ncia dos deuses% afirmo a sua e5ist7ncia% uma +e *ue digoe5istirem demnios. De outra forma% se estes demnios s!o filhos dos deuses% s!o tamb$mfilhos bastardos gerados por ninfas ou outras m!es2 ent!o% *uem poder6 pensar *ue e5istamfilhos de deuses e de deuses n!o Seria disparate igual se pensasse *ue os mulos fossemfilhos de &umentos e ca+alos e *ue estes 0ltimos n!o e5istissem. ,or isso% Meleto% $imposs4+el% e5ceto *ue ha&a sido para pr8me pro+a% *ue tenhas escrito contra mim umaacusa!o como esta% ou $ necess6rio dier *ue n!o sabias do *ue me acusar Mas *ueconsiga con+encer *uem *uer *ue se&a% mesmo se fraco de intelecto% *ue a mesma pessoa*ue acredita em coisas demon4acas possa n!o acreditar em coisas di+inas e% de outra forma%*ue a mesma pessoa *ue acredita em coisas demon4acas possa n!o acreditar nem emdemnios% nem em deuses% nem em heris% isto $ imposs4+el.

    8 A Miss!o Di+ina

    8 Faer o Jue $ >usto% ,ermanecer no #ugar Ade*uado% 1bedecer ao Deus

    )hega% atenienses% isto $ o bastante para demonstrar *ue n!o sou culpado das acusaesde Meleto% pois n!o se fa necess6ria uma defesa muito longa. 1 *ue eu +os disse% desde oin4cio% *ue um profundo dio ergueu8se contra mim% e +indo de muitas pessoas% $ +erdade%+s sabeis2 e se algo me causar6 dano% n!o ser6 nem Meleto nem 3nito% mas sim este dio%esta cal0nia e esta rai+a das pessoas. ,essoas estas *ue &6 causaram a perda de tantos outrose +alorosos homens% e% acredito% outros ainda ir!o perder% n!o ha+endo perigo *ue causemsomente a minha perda.

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    Algum de +s poderia tal+e altercar8me: "Scrates% n!o te en+ergonhas de ha+erese5ercido tal ati+idade% *ue agora coloca em risco tua +ida" -u responderia a este: "9!ofalas bem se pensas *ue algu$m% tendo a capacidade de faer algum bem% mesmo sendope*ueno% de+a calcular os riscos de +ida ou de morte e n!o de+a olhar o in&usto e se pratica

    as aes de homem honesto e cora&oso ou de infame e mau. ,or outro lado% acompanhandoeste teu racioc4nio% teriam sido n$scios todos os heris *ue morreram em @ria% e o maisn$scio de todos seria o filho de @$tis *ue% sem se en+ergonhar% tamanho desd$m mostroupelo perigo% *uando sua m!e% uma deusa% estando ele 6+ido do sangue de ?eitor% disse8lhe%se bem me lembro: R filho% se +ingares a morte do teu companheiro ,6troclo e matares?eitor% tamb$m morrer6s. Ao ou+ir tais pala+ras% A*uiles negligenciou o perigo e a morte%receando muito mais +i+er misera+elmente sem +ingar o amigo% e declarou: apidamenteeu morra% logo aps ter castigado a *uem matou% nem *ue para isso me torne ob&eto dedespreo. Acreditas *ue A*uiles tenha pensado na morte e no perigo"

    K assim *ue de+e ser% atenienses% *ue onde algu$m se ha&a instalado% considerando sera*uele seu lugar mais honroso% ou onde tenha sido instalado por *uem ordena% a4% creio%de+e ficar e enfrentar os riscos e n!o pensar na morte% nem em outra desgraa *ual*uer% e5ce!o de na desonra e na +ergonha.

    Declaro8+os% cidad!os% *ue meu comportamento seria anormal e e5c7ntrico se% ao passo*ue em ,otid$ia% Anf4polis e D$lio% *uando os comandantes *ue +s elegestes medesignaram uma posi!o% l6 fi*uei% como *ual*uer outro% arriscando minha +ida% a*ui% aocontr6rio% ao receber ordens do deus% ao menos conforme pude ou+ir e interpretar essamesma ordem% pela *ual de+eria +i+er filosofando e dedicando8me a conhecer a mimmesmo e aos outros% *ue% digo% por temor morte ou a outra desgraa semelhante% ti+essedesertado do posto a mim designado pelo deus. Seria algo% repito% anormal e% de fato%e5istiriam ent!o moti+os para traer8me a*ui no tribunal como sendo um desumano *ue n!ocresse nos deuses% &6 *ue desobedece ao or6culo% receia a morte e &ulga ser s6bio sem s78lo.)om efeito% atenienses% recear a morte n!o passa de &ulgar ser s6bio e n!o s78lo% dado *uesignifica pensar saber a*uilo *ue n!o se sabe. -% em +erdade% ningu$m sabe se% por acaso%ela n!o se&a o maior de todos os bens *ue podem ser dados ao homem e% contudo% receiam8na como se soubessem *ue ela $ a maior das desgraas. - n!o $ ignorCncia% a mais+ergonhosa das ignorCncias% acreditar saber o *ue n!o se sabe 1ra% atenienses% acreditodistinguir8me por este moti+o e precisamente neste ponto da maior parte dos homens% e seme atre+esse a dier *ue em alguma coisa sou mais s6bio *ue os outros% somente por isto odiria% *ue como n!o sei nada de preciso a respeito das coisas do ?ades% tamb$m nada pensosaber a esse respeito. Mas ser in&usto e desobedecer a *uem $ melhor *ue ns% se&a deus%se&a homem% isto bem sei *ue $ coisa +ergonhosa e indecente. ,or isso% como ocorre diantedos males *ue sei *ue s!o nefastos% nunca acontecer6 *ue eu fu&a diante da*ueles de *uen!o sei se por acaso n!o s!o bens.

  • 7/17/2019 Platao Apologia Socrates

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    ,ortanto% mesmo *ue me concedesses a liberdade% contra a +ontade de 3nito *ue% desde ocomeo% declara+a n!o ser necess6rio *ue eu +iesse at$ este tribunal% ou% uma +e a*uitraido% *ue era imposs4+el n!o condenar8me morte% por*ue% diia% se consigo safar8me dacondena!o% da*uele momento em diante% seus filhos prosseguindo a praticar os

    ensinamentos de Scrates% estariam inapela+elmente perdidos e corrompidos2 se% ao ou+ireste racioc4nio de 3nito% me diss$sseis: "R Scrates% n!o pretendemos dar% agora% aten!o a3nito e dei5amos8te li+re% desde *ue n!o empregues mais teu tempo nessas pes*uisas% nemte ocupes mais de filosofia% e se fores surpreendido a praticar ainda estas coisas% morrer6s"2se% como diia% com esta condi!o me dei56sseis em liberdade% eu +os responderia: "Ratenienses% eu +os amo% mas obedecerei primeiro ao deus do *ue a +s% e en*uanto ti+erCnimo% e en*uanto for capa% n!o pararei de filosofar% n!o pararei de estimular8+os ecensurar8+os2 e a *uem *uer *ue eu encontrasse de +s% em *ual*uer ocasi!o% con+ersandoda minha maneira habitual% assim diria: "- tu% *ue $s o melhor dos homens2 tu% ateniense%cidad!o da maior cidade e mais c$lebre por sabedoria e poder% n!o te en+ergonhes de pensarem acumular o m65imo de ri*ueas% fama e honras% sem te preocupar em cuidar daintelig7ncia% da +erdade e da tua alma% para *ue se tornem t!o boas *uanto poss4+el" - sealgum de +s retrucasse *ue cuida de fato delas% n!o o dei5aria afastar8se nem iria embora%mas o interrogaria% o analisaria% o impugnaria% e se me afigurasse *ue n!o possui +irtudemas apenas afirma possu48la% eu o en+ergonharia demonstrando8lhe *ue considera infamesas coisas mais estim6+eis e de +alor% as infames. - agiria assim com *ual*uer um *ue eu*uisesse: &o+ens ou +elhos% atenienses ou estrangeiros% e tamb$m com +s% *ue me soismais estritamente pr5imos. Isto% +s n!o desconheceis% $ ordem do deus e estoucon+encido de *ue ha&a para +s maior bem na cidade do *ue esta minha obedi7ncia aodeus.

    -m +erdade% com este meu caminhar n!o fao outra coisa a n!o ser con+encer8+os% &o+ens e+elhos% de *ue n!o de+eis +os preocupar nem com o corpo% nem com as ri*ueas% nem com*ual*uer outra coisa antes e mais *ue com a alma% a fim de *ue ela se torne e5celente emuito +irtuosa% e de *ue das ri*ueas n!o se origina a +irtude% mas da +irtude se originamas ri*ueas e todas as outras coisas *ue s!o +enturas para os homens% tanto para os cidad!osindi+idualmente como para o -stado. Se ao falar desta maneira corrompo os &o+ens% est6certo% isto significar6 *ue minhas pala+ras s!o noci+as% mas se algu$m afirma *ue falodiferentemente e n!o deste modo% ent!o di coisas insensatas. ,or tudo isso% permiti *ue +osdiga% cidad!os atenienses: ou dareis ou+idos a 3nito% ou n!o dareis% absol+er8me8eis oun!o% mas% de *ual*uer forma% tende a certea de *ue nunca agirei de outra maneira *ue esta%mesmo *ue n!o s uma% mas muito mais +ees de+esse morrer.

    9!o promo+eis algaarra% cidad!os% lembrai8+os de meu pedido de *ue n!o caus6sseisbalb0rdia diante do *ue eu dissesse% mas *ue +os limit6sseis a ou+ir. Ademais% creio *ue +osser6 0til escutar. estam8me algumas outras coisas a dier8+os% s *uais% tal+e% erguereis a+o. 9!o% n!o faei assim. )on+encei8+os: se me condenardes morte% a mim *ue soucomo +os disse% n!o me causareis maior dano *ue podeis causar a +s mesmos. A mim n!o

  • 7/17/2019 Platao Apologia Socrates

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    causar!o dano nem Meleto nem 3nito. - nem o poderiam. 9!o penso *ue se&a poss4+el *ueum homem de bem receba o mal de um mal+ado. ,oder6 sim% 3nito% condenar8me morte%ou ao desterro% espoliar8me dos direitos ci+is2 tudo em *ue este homem crer e outros creremser!o grandes males% n!o o creio eu2 penso *ue se&a um mal bem mais gra+e a*uele *ue $cometido por esses *ue tentam condenar morte um homem inocente. #ogo% atenienses%

    de maneira alguma estou falando em minha defesa% como algu$m poderia achar% mas falopor +s% *ue n!o necessitais pecar% condenando8me morte% contra o dom do deus. ,ois seme matardes% n!o encontrar!o facilmente um outro igual a mim% *ue% n!o riam dacompara!o% tenha sido colocado de fato pelo deus aos flancos da cidade como aos flancosde um ca+alo grande e de boa raa% mas pelo seu prprio tamanho% um pouco lerdo enecessitado de est4mulo% um ferr!o. Assim parece8me *ue o deus me colocou aos flancos dacidade2 nunca paro de e5ortar8+os% de con+encer8+os% de falar8+os% um por um% estando a+osso lado% em todo lugar. Afirmo% pois% *ue outro como eu n!o nascer6 facilmente% atenienses% e se dese&ais me ou+ir% me poreis a sal+o. Mas se estais irritados comigo como o*ue est6 em +ias de adormecer com *uem o desperta% e golpeais como a matar um insetoinoportuno% condenar8me8eis morte% por obedi7ncia a 3nito% e depois% no decorrer de todoo resto de +ossa e5ist7ncia% dormireis tran*Lilamente% se o deus n!o +os mandar algumoutro para substituir8me. - se for eu mesmo a pessoa indicada pelo deus para presentear acidade% podereis me reconhecer por isso: *ue n!o parece humano *ue ha&a descuidado todosos meus negcios e ainda agLentar por tantos anos *ue tenham sido descuidadas as coisasda minha casa% e sempre% ao contr6rio% cuidando das +ossas% estando por perto como estariaum pai ou irm!o mais +elho% para con+encer8+os a buscar a +irtude. Jue se desta +idatirasse algum pro+eito e se pelos conselhos *ue dou recebesse alguma compensa!o% a4 simha+eria uma ra!o% mas +istes *ue meus detratores% *ue me acusaram t!odespudoradamente de tantas outras culpas% desta n!o ti+eram o despudor de me acusar%pondo8me frente a frente com uma testemunha% somente uma% *ue pro+asse ter eu recebidouma 0nica +e compensa!o ou de ha+78la solicitado. - a pro+a cabal de *ue $ +erdade o*ue +os declaro% eu dou: a minha pobrea.

    8 epugnCncia e Absten!o Socr6tica da ,ol4tica )omum

    K poss4+el *ue parea estranho eu me encontrar sempre pr5imo e me dar tanto ao trabalhode fornecer conselhos a este ou *uele em particular% se% ao se tratar de aconselhar a cidadee de ir tribuna para falar ao po+o% ent!o me falte coragem. - o moti+o disso me ha+eisou+ido dier +6rias +ees e em +6rios lugares% *ue e5iste em mim n!o sei *ue esp4ritodi+ino e demon4aco% a respeito do *ual% tamb$m Meleto% com &eito de estar se di+ertindo%aponta no ato da acusa!o. K como uma +o *ue possuo dentro de mim desde criana% e*ue% toda +e *ue eu a ouo% sempre fa com *ue eu desista do *ue estou para faer% enunca me con+ence a realiar *ual*uer outra coisa. K essa +o *ue me impede de meocupar das coisas do -stado% e parece8me *ue fa muito bem em agir dessa forma. Sabeisperfeitamente% cidad!os% *ue se eu ti+esse% por algum tempo% me ocupado dos negcios de-stado% teria sido morto tamb$m num curto espao de tempo e n!o teria realiado nada de0til% nem por +s nem por mim. - n!o me despreei se falo assim% pois $ a +erdade. 9!o

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    e5iste homem *ue possa se sal+ar ao opor8se com sinceridade% n!o digo a +s% mas a*ual*uer outra multid!o% e tente impedir *ue muitas +ees se cometam in&ustias as leis nacidade2 e $ tamb$m preciso *ue a*uele *ue luta em defesa do *ue $ &usto% se de fatopretende escapar da morte% mesmo *ue por bre+e tempo% de +i+er de forma pri+ada e n!oe5ercer funes p0blicas.

    Da*uilo *ue afirmo eu mesmo posso oferecer8+os pro+as cabais% e n!o pala+ras% mas do*ue mais necessitais: fatos. -scutai o *ue me sucedeu e +ereis ent!o *ue diante do *ue $&usto n!o sou homem de ceder a ningu$m por temor morte2 e *ue% al$m de n!o ceder%estou pronto a morrer. Falarei um pouco grosseiramente% como faem alguns dosfre*Lentadores dos tribunais% mas com sinceridade. @endes conhecimento% cidad!os% de*ue nunca e5erci em nossa cidade magistratura alguma% e5ceto uma +e em *ue fi parte do)onselho% &ustamente no dia em *ue era o +osso dese&o &ulgar em con&unto% ao arrepio dalei% e em seguida acolhestes todos ao meu parecer% a*ueles de capit!es *ue n!o ha+iamrecolhidos os n6ufragos e os mortos depois da batalha na+al das Arginusas.-nt!o eu meopus% lutando para *ue nada fosse feito contra a lei% e +otei contra. 1s oradores habituais &6esta+am prontos para suspender8me da fun!o e aprisionar8me% e +s a intig68los e a gritar2&ulguei *ue era meu d+er correr a*uele risco mantendo8me ao lado do direito e do &usto em+e de apoiar8+os e deliberar o in&usto por temer a pris!o e a morte. - isto ocorreu *uando acidade ainda era regida por uma democracia. Mais tarde% depois *ue surgiu a oligar*uia% os@rinta mandaram8me chamar% e a mais outros *uatros% le+aram8nos sala do @olo eordenaram *ue retir6ssemos de Salamina o #eon de Salamina% para *ue este +iesse amorrer. - da+am ordens semelhantes a +6rios outros homens% na tentati+a de en+ol+er emseus atos cru$is o maior n0mero de pessoas poss4+el. - na*uela ocasi!o% n!o com pala+ras%e sim com fatos% demonstrei *ue a morte% se a pala+ra n!o soar por demais +ulgar% n!opossui importCncia alguma para mim% mas de n!o cometer in&ustias ou crueldades% isto simme importa acima de *ual*uer coisa.- a*uele go+erno% apesar de prepotente% n!o meatemoriou% n!o me obrigou a cometer um ato in&usto% e% *uando sa4mos do @olo e os outros*uatro se dirigiram para Salamina a fim de retirar #eon% dei5ei8os ir e +oltei para casa.Acredito *ue s por causa disso% eu &6 teria morrido% se a*uele go+erno n!o ti+esse sidodeposto logo em seguida. - disto *ue relatei possuo muitas testemunhas.

    O 1 @estemunho dos Disc4pulos% de seus ,ais e Irm!os

    )redes *ue eu teria +i+ido por tantos anos se hou+esse me ocupado de assuntos p0blicos e%faendo8o como homem de bem% ti+esse lutado em defesa da &ustia e ti+esse consideradoesta defesa% como $ necess6rio% meu de+er mais alto )om certea% atenienses% n!o e5istehomem *ue o ti+esse conseguidoP -m +erdade% em toda minha e5ist7ncia% tanto em p0blico%nas poucas +ees *ue me ocupei de coisas p0blicas% como pri+adamente% sempre fui omesmo% um homem *ue diante do &usto nunca cedeu a *uem *uer *ue fosse% a ningu$m% enem mesmo *ueles *ue os caluniadores chamam de meus disc4pulos. 9unca fui mestre de

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    *uem% *uer *ue se&a% principalmente se $ uma pessoa *ue % *uando falo ou atendo *uilo*ue acredito ser meu of4cio% dese&a escutar8me2 se&a &o+em% se&a +elho% nunca me refutaram%e n!o $ +erdade *ue% se recebo dinheiro% eu falo e se n!o recebo% fico calado% por*ue estouda mesma maneira disposi!o de todos% pobres e ricos% *uem *uer *ue me indague edese&e ou+ir as minhas respostas. ,or conseguinte% se entre os homens *ue me fre*Lentam%

    um se torne de boa forma!o moral ou n!o% n!o ser6 &usto *ue eu receba elogios ouimprop$rios% &6 *ue n!o prometi ensinamento algum a ningu$m% nem nunca ensinei coisaalguma. - se h6 *uem diga *ue aprendeu ou ou+iu alguma coisa de mm% em particular%alguma coisa *ue todos os outros n!o tenham aprendido ou ou+ido% tenhais a certea de *ueeste n!o di a +erdade.

    Diante disso% como $ poss4+el *ue a alguns agrade estar comigo tanto tempo Ns ou+istes% cidad!os% *ue eu disse toda a +erdade: t7m praer de ou+ir8me *uando submeto pro+aa*ueles *ue pensam serem s6bios e n!o o s!o. )om efeito% n!o $ desagrad6+el. Ao faerisso% repito8+os% cumpro as ordens do deus% dadas por interm$dios de +atic4nios e sonhos% epor outros meios de *ue se ser+e a pro+id7ncia di+ina para ordenar ao homem *ue faaalguma coisa. - estas coisas% atenienses% s!o +erdadeiras e demonstr6+eis. Se de fato eucorrompo os &o+ens% se &6 corrompi algum% seria ainda necess6rio *ue estes% aoen+elhecerem% tomassem consci7ncia de *ue *uando eram &o+ens eu os aconselhei apraticar o mal% e *ue +iessem tribuna para acusar8me e para e5igir minha puni!o% e% sen!o *uisessem fa78lo diretamente% *ue en+iassem ho&e para c6 as pessoas de sua fam4lia%pais% irm!os% e outros% se os *ue lhe s!o caro sofreram algum mal por mim causado% e *ueme fiessem pagar por isso. Muitos destes est!o presentes% eu os +e&o. Ali est6 )r4ton% meucontemporCneo e conterrCneo com sei filho )ritbulo% e tamb$m #isCnias de -sfeto% comseu filho Ks*uino%e ainda Ant4fon de )ef4sia% pai de -p4geno% e ali est!o outros% cu&osirm!os +i+eram comigo familiarmente% 9icstrato% % filho de @eotides% irm!o de @edoto%e como @edoto faleceu% n!o poder6 falar com o irm!o a meu fa+or% e a4 est6 ,ar6lio% filhode Demdoco%de *uem era irm!o @eages% e ali Adimanto% filho de Ar4ston% de *uem ali seencontra o irm!o ,lat!o% e Aantodoro% de *uem temos a*ui o irm!o Apolodoro. - poderianomear muitos outros. - conseguiria indicar +6rios outros *ue Meleto poderia apresentarcomo testemunhas na sua acusa!o2 se ele se es*ueceu disso% *ue os apresente agora% cedo8lhe o lugar2 se e5iste alguma testemunha deste tipo% *ue se manifeste.

    ,or$m% atenienses% +ereis *ue todos far!o o contr6rio% todos falar!o a fa+or do corruptor% emdefesa da*uele *ue causa o mal de seus familiares% como afirmam Meleto e 3nito. @al+eesses% os corrompidos% tenham alguma ra!o para me defender% mas a*ueles *ue n!o foramcorrompidos% *ue s!o agora anci!os% *ue outra ra!o podem ter para me defender e5cetoesta% *ue $ +erdadeira e &usta: a certea de *ue Meleto mente e eu digo a +erdade

    -p4logo

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    Scrates n!o *uer Misericrdia

    )idad!os% s!o estas% enfim% as raes *ue posso apresentar em minha defesa% e algumas

    mais% *ue% por$m% s!o bem poucos diferentes destas. K poss4+el *ue algu$m entre +s% aopensar em si mesmo% possa irritar8se comigo se% algum dia% ao ter de enfrentar um processomenos arriscado do *ue este% suplicou clem7ncia aos &uies% e% al$m disso% trou5e aotribunal os filhos e +6rios de seus parentes e amigos% ao passo *ue eu n!o me porto destamaneira% embora% ao *ue parece% este&a arriscando a +ida .K poss4+el *ue algu$m% ao faerintimamente esta compara!o% se dei5e influenciar pelo amor8prprio ferido e% desta forma%enrai+ecido com minha atitude% emita seu +oto com rai+a. A uma pessoa assim% *ue tal+eeste&a entre +s% n!o afirmo categoricamente *ue h6% poderei responder da seguintemaneira: "Meu estimado amigo% eu tamb$m trou5e algu$m da minha fam4lia% e a*ui caberiaa*uele dito de ?omero: Jue n!o de car+alho% nem de pedra nasci% mas de criaturashumanas.

    -u tamb$m possuo fam4lia% atenienses2 tenho tr7s filhos% um &6 crescido e dois aindacrianas% mas n!o os trou5e a*ui para despertar +ossa misericrdia e absol+er8me". - n!o $por orgulho *ue me comporto assim% nem por despreo% nem para pro+ar *ue sou cora&osodiante da mote% mas pela minha reputa!o% pela +ossa e de toda a cidade% n!o me pareceuhonroso agir dessa maneira% ainda mais na minha idade e com o meu nome% +erdadeiro oufalso *ue se&a% por*ue corre pela cidade *ue% em *uais*uer aspectos% Scrates se distingueda maioria dos homens. 1ra% se a*uele *ue entre +s possuem fama de se distinguirem pelasabedoria e coragem% ou por outra +irtude *ual*uer% se procedessem dessa maneira% seria+ergonhoso% e pessoas desse tipo% eu mesmo presenciei muitas +ees% *uando eram r$us emum processo% embora possu4ssem alguma boa reputa!o% t7m atitudes e5cepcionais% comose achassem *ue iriam sofrer sabe8se l6 *ue tortura se de+essem morrer e como setornassem imortais se n!o fossem condenados morte por +s. -stes% sim% en+ergonham atoda a cidade% tanto *ue *ual*uer forasteiro poderia imaginar *ue a*ueles atenienses *ue sedistinguem por sua +irtude e *ue seus concidad!os elegem magistratura e outras honrasn!o s!o em nada melhores *ue as mulheres. ,or isso% n!o nos portamos dessa maneira $ o*ue compete a ns% *ue temos fama de sermos ainda alguma coisa. 9em +os con+iria% senos comport6ssemos assim% dei5ar8nos fa78lo% mas sim mostrar a todos *ue &ulgais commaior rigor *uem encena esses dramas lastimosos e cobre a cidade de rid4culo do *ue *uemsuporta com serenidade o prprio destino.

    9!o considero &usto% cidad!os% tentar influir nos &u4es e% mediante s0plicas% li+rar8me dacondena!o% mas sim infom68los e con+enc78los.

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    1s &u4es n!o se encontram a*ui para fa+orecer o &usto% mas para &ulgar o &usto% nem&uraram *ue fa+orecer!o a *uem lhes paga% mas *ue far!o &ustia de acordo com as leis.,ortanto% n!o $ necess6rio *ue +os habitueis a isso2 n!o faremos coisas boas e piedosas%nem +os nem eu. 9!o ir4eis *uerer ent!o% atenienses% *ue eu cometesse diante de +s atos*ue reputo desonestos% in&ustos e +is% e eu menos ainda% eu *ue sou acusado por Meleto%

    a*ui presente% de impiedade. ,or*ue $ e+idente *ue se eu% por meio de s0plicas procurassecon+encer8+os e obrigar8+os a +iolar o &uramento% eu +os ensinaria *ue% desta acusa!o%seria culpado de n!o crer nos deuses. - $ &ustamente o contr6rio *ue sucede. Acredito nosdeuses mais do *ue *ual*uer um dos meus acusadores% e dei5o a +osso crit$rio% e ao dodeus% &ulgar o *ue ser6 para +s e para mim o melhor.

    Segunda ,arte

    A ,ena

    O Do -sperado da ,ena

    Se eu n!o estou abalado% atenienses% com o *ue acaba de ocorrer% o de terem +otado pelaminha condena!o% isso de+e8se% entre outras raes% ao fato de n!o ha+er sido apanhado desurpresa. 1 *ue% no entanto% me causa mais estranhea $ o grande n0mero de +otosfa+or6+eis a mm % pois acredita+a *ue seria condenado por muito mais +otos% e n!o por t!opoucos. Ao *ue me parece% com apenas mais trinta +otos a meu fa+or teria sido absol+ido.,ortanto% penso ha+er escapado das m!os de Meleto% e n!o s ha+er escapado delas% mas% o*ue $ bastante e+idente% se 3nito e #4con n!o ti+essem +indo para me acusar% eu teria sidomultado em mil dracmas por n!o ha+er conseguido um *uinto dos +otos.

    -ste homem% ent!o% pensa *ue mereo a pena capital. - eu% *ue pena apresentarei emoposi!o +ossa% atenienses 9!o $ e+idente *ue se&a a mesma *ue me foi imposta Jualser6 ent!o Jue pena merecerei ou *ue multa% por n!o ha+er usufru4do em pa% ao longo daminha e5ist7ncia% o *ue aprendi% e por ter despreado a*uilo *ue atrai a maioria2 ri*ueas%interesses particulares% cargos militares e pol4ticos e todas as outras magistraturas% e asagitaes e conspiraes *ue acontecem nas cidades% pois sempre me considerei por demaishonesto para conseguir sal+ar8me se me dedicasse a tais coisas e con+encido de *ue n!oteria sido 0til nem para mm nem para +s% e por*ue sempre acudi rapidamente aonde *uer*ue eu reputasse poder proporcionar o maior bem a cada um de +s em particular% tentandocon+encer8+os de *ue% antes de *ual*uer coisa e de +s mesmos% procur6sseis ser osmelhores e mais sensatos poss4+el% e *ue +os esfor6sseis ao m65imo para trabalhar em prolda cidade. Jue mereo por sempre ha+er agido desta forma Algum grande bem% atenienses% se $ *ue de+o ser recompensado como mereo. Jue ser6 apropriado para umpobre benfeitor *ue precisa de tempo para aconselhar8+os nos +ossos assuntos 1 *ue maisseria con+eniente a esse homem% atenienses n!o seria mant78lo no ,ritaneu com muito

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    maior ra!o do *ue a*ueles *ue% com ca+alo% biga ou *uadriga% tenham conseguido triunfosnos >ogos 1l4mpicos. ,or*ue estes +os proporcionam felicidade% e tamb$m a mim% e n!oprecisam ser sustentados como eu precioso. Se% ent!o% de+o pedir% de acordo com o direito%a*uilo a *ue fao &us% peo se alimentado no ,ritaneu.

    )ontudo% mesmo nestas minhas pala+ras de agora% tal+e &ulgais notar *uase o mesmosentimento de ofensi+o orgulho *ue acredit6+eis ter percebido *uando fala+a a respeito desuplicar e despertar comisera!o. 9!o% n!o $ isso% cidad!os% mas algo bastante diferente.,enso nunca ha+er pre&udicado ningu$m por *uerer% e mesmo assim n!o logrei con+encer8+os2 ti+emos muito pouco tempo para nos entendermos. - acredito *ue se hou+esse leisentre ns% como as *ue h6 entre outros po+os% *ue pro4bem *ue uma pena de morte se&aaplicada em apenas um dia% e sim em mais% estar4eis con+encidos% e% mesmo assim% n!o $f6cil li+rar8se em t!o bre+e espao de tempo de acusaes t!o gra+es. - tamb$m pensa empre&udicar a mm mesmo ao declarar *ue sou merecedor da pena e pedir *ue esta pena se&aaplicada a mim. - por temer o *ue eu de+eria agir dessa forma @al+e por temer sofrera*uilo *ue Meleto e5ige para mim e *ue eu declaro n!o saber se $ bom ou mau - em trocadesta pena de+o escolher outra entre a*uelas *ue eu sei serem m6s De+erei solicitar apris!o - por *ue moti+o de+erei +i+er preso% a ser+io da eterna magistratura dos 1nema pena em dinheiro e permanecer en&aulado en*uanto n!o for paga Mas $ e5atamente amesma coisa *ue a anterior% por*ue n!o possuo dinheiro para pag68la. ,edirei o e54lio Sim%tal+e se&a precisamente esta pena *ue dese&astes para mim. ,or$m% em +erdade% atenienses% eu teria de estar imbu4do de uma bem ing7nua +ontade de +i+er se fosse assimt!o irracional a ponto de n!o poder nem mesmo faer este racioc4nio% *ue en*uanto +s%embora sendo meus concidad!os% n!o fostes capaes de agLentar minha companhia e osmeus discursos% e mais% *ue minha companhia foi t!o desagrad6+el *ue procuras agorali+rar8+os dela% *ue outros a agLentariam de bom grado - ainda% atenienses% *ue e5celente+ida seria a minha% nesta idade% e5ilado% mudando sempre de pa4s para pa4s% perseguido emtodos os lugares. ,or*ue sei muito bem *ue aonde *uer *ue eu +6% os &o+ens acorrer!o a fimde me ou+ir% como a*ui% e% se eu os repelir% ser!o estes mesmos *ue me far!o perseguir%con+encendo os mais +elhos2 e se n!o os repelir% serei perseguido por seus pais e demaisparentes.

    Algum de +s tal+e pudesse contestar8me: "-m sil7ncio e *uieto% Scrates% n!o poderias+i+er aps ter sa4do de Atenas" Isso seria simplesmente imposs4+el. ,or*ue% se +osdissesse *ue significaria desobedecer ao deus e *ue% por conseguinte% n!o seria poss4+el *ueeu +i+esse em sil7ncio% n!o acreditar4eis e pensar4eis *ue esti+esse sendo sarc6stico. Se +osdissesse *ue esse $ o maior bem para o homem% meditar todos os dias sobre a +irtude eacerca dos outros assuntos *ue me ou+istes discutindo e analisando a meu respeito e dosdemais% e *ue uma +ida despro+ida de tais an6lises n!o $ digna de ser +i+ida% se +osdissesse isto% acreditar8me8iam menos ainda. )ontudo% $ isto *ue +os digo% atenienses%por$m $ dif4cil con+encer8+os. ,or outro lado% n!o estou habituado a considerar8memerecedor de mal algum. Se eu possu4sse dinheiro% poderia ter8me aplicado uma multa *ueconseguisse pagar% por*ue% assim% n!o teria me infligido mal algum. Mas n!o possuo

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    dinheiro e n!o posso faer isso% e5ceto se dese&eis multar8me de uma *uantia *ue eu tenha apossibilidade de pagar. ,oderei pagar8+os apenas uma mina de prata. ,ortanto% multo8meem uma mina de prata.

    Mas +edes% atenienses% *ue ,lat!o% )r4ton% )ritbulo e Apolodoro *uerem *ue eu memulte em trinta minas% *ue eles mesmos garantir!o. Multo8me ent!o em trinta minas. -esses homens% dignos de cr$dito e confiana% ser!o garantes dessa *uantia.

    @erceira ,arte

    Aps a )ondena!o

    O Aos *ue Notaram )ontra

    ,or n!o ha+erdes aguardado mais um pouco% atenienses% a*ueles *ue dese&arem in&uriar acidade +os impingir!o a fama e a acusa!o de terdes matado Scrates% um s6bio. Sim%chamar8me8!o de s6bio% apesar de *ue eu n!o o se&a% os *ue +os *uiserem censurar. Seesper6sseis mais algum tempo% a prpria naturea satisfaria o +osso dese&o. Hem sabeis aminha idade% &6 distante da +ida e pr5ima da morte. 9!o diri&o essas pala+ras a todos +s%mas aos *ue +otaram pela minha morte.

    ,ara esses mesmos% adito o seguinte: tal+e imagineis% senhores% *ue me perdi por falta dediscursos com *ue +os poderia persuadir% se na minha opini!o se de+esse tudo faer e dierpara escapar &ustia. -nganoP ,erdi8me por falta% n!o de discursos% mas de atre+imento edescaramento% por me recusar a proferir o *ue mais gostais de ou+ir% lamentos e gemidos%faendo e diendo uma por!o de coisas *ue declaro indignas de mm% tais como costumaisou+ir dos outros. 1ra% se antes achei *ue o perigo n!o &ustifica+a indignidade alguma%tampouco me pesa agora da maneira por *ue me defendi2 ao contr6rio% muito mais folgo emmorrer aps a defesa *ue fi% do *ue folgaria em +i+er aps fa78la da*uele outro modo.Juer no tribunal% *uer na guerra% n!o de+o eu% n!o de+e ningu$m lanar m!o de todo e*ual*uer recurso para escapar morte. )om efeito% $ e+idente *ue% nas batalhas% muitas+ees se pode escapar morte arro&ando as armas e suplicando piedade aos perseguidores2em cada perigo% tem muitos outros meios de escapar morte *uem ousa tudo faer e dier.9!o se tenha por dif4cil escapar morte% por*ue muito mais dif4cil $ escapar maldade2 elacorre mais ligeira *ue a morte. 9este momento% fomos apanhados% eu% *ue sou um +elho+agaroso% pela mais lenta das duas% eu e os meus acusadores% 6geis e +eloes% pela maisligeira% a mal+ade. Agora% +amos partir2 eu% condenado por +s morte2 eles% condenadospela +erdade a seu pecado e a seu crime. -u aceito a pena imposta2 eles igualmente. ,orcerto% tinha de ser assim e penso *ue n!o hou+e e5cessos.

  • 7/17/2019 Platao Apologia Socrates

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    Acerca do futuro% no entanto% *uero faer8+os um +atic4nio% meus condenadores2 de fato%eis8me chegado *uele momento em *ue os homens +aticinam melhor% *uando est!o para

    morrer. -u +os afiano% homens *ue me mandais matar% *ue o castigo os +os alcanar6 logoaps a minha morte e ser6% por Eeus% muito mais duro *ue a pena capital *ue meimpusestes. Ns o fiestes supondo *ue +os li+rar4eis de dar boas contas de +ossa +ida2 maso resultado ser6 inteiramente oposto% eu +o8lo asseguro. Ser!o mais numerosos os *ue +ospedir!o contas2 at$ agora eu os continha e +s n!o os perceb4eis2 eles ser!o tanto maisimportunos *uanto s!o mais &o+ens% e +ossa irrita!o ser6 maior. Se imaginais *ue% matandohomens% e+itareis *ue algu$m +os repreenda a m6 +ida% estais enganados2 essa n!o $ umaforma de liberta!o% nem $ inteiramente efica nem honrosa2 esta outra% sim% $ a maishonrosa e mais f6cil2 em +e de tapar a boca dos outros% preparar8se para ser o melhorposs4+el. )om este +atic4nio% despeo8me de +s *ue me condenastes.

    Aos *ue o Absol+eram

    )om os *ue +otaram pela absol+i!o% gostaria de con+ersar com respeito ao *ue se acaba desuceder% en*uanto os magistrados est!o ocupados e antes de ir para onde de+o morrer. ,orconseguinte% senhores% ficai comigo mais um pouco2 nada obsta *ue nos entretenhamosen*uanto dispomos de tempo. Juero e5plicar8+os% como a amigos% o sentido e5ato de *ueme aconteceu agora.

    1 *ue me ocorreu senhores &u4es% a +s $ *ue chamo com tino de &u4es% foi algoprodigioso. A usual inspira!o% a da di+indade% sempre foi rigorosamente ass4dua em opor8se a aes m4nimas% *uando eu ia cometer um erro2 agora% por$m% acaba de me ocorrer o*ue +s estais +endo% o *ue se poderia considerar% e h6 *uem o faa% como o maior dosmales2 mas a ad+ert7ncia di+ina n!o se me ops de manh!% ao sair de casa% nem en*uantosubia a*ui para o tribunal% nem *uando ia dier alguma coisa2 no entanto% *uantas +ees elame conte+e em meio de outros discursosP Mas ho&e n!o se me ops +e alguma no decorrerdo &ulgamento% em nenhuma a!o ou pala+ra. A *ue de+o atribuir isso Nou dier8+os: $bem poss4+el *ue se&a um bem para mim o *ue aconteceu e n!o $ foroso acreditar *ue amorte se&a um mal. Disso tenho agora uma boa pro+a% por*ue a usual ad+ert7ncia n!opoderia dei5ar de opor8se% se n!o fosse uma a!o boa o *ue eu esta+a para praticar.

    Faamos mais esta refle5!o: h6 grande esperana de *ue isto se&a um bem. Morrer $ umadestas duas coisas: ou o morte $ igual a nada% e n!o sente nenhuma sensa!o d coisanenhuma2 ou% ent!o% como se costuma dier% trata8se duma mudana% uma emigra!o da

  • 7/17/2019 Platao Apologia Socrates

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    alma% do lugar deste mundo para outro lugar. Se n!o h6 nenhuma sensa!o% se $ como umsono em *ue o adormecido nada +7 nem sonha% *ue mara+ilhosa +antagem seria a morteP

    Hem posso imaginar *ue% se de+7ssemos identificar uma noite em *ue esti+$ssemosdormindo t!o profundamente *ue nem mesmo sonh6ssemos e% contrapondo a essa asdemais noites e dias de nossa +ida% pensar e dier *uantos dias e noites de nossa e5ist7ncia+i+emos melhor e mais agrada+elmente do *ue na*uela noite% bem posso imaginar *ue% &6n!o digo um homem comum% mas o prprio rei da ,$rsia acharia f6cil enumerar tal noiteentre as outras noites e dias. #ogo% se a morte $ isso% digo *ue $ uma +antagem% por*ue%assim sendo% toda a dura!o do tempo se apresenta como nada mais *ue uma noite. Se% dooutro lado% a morte $ como a mudana da*ui para outro lugar e est6 certa a tradi!o de *uel6 est!o todos os mortos% *ue maior bem ha+eria *ue esse% senhores &u4es

    Se% ao chegar ao ?ades% li+re dessas pessoas *ue se intitulam &u4es% a gente +ai encontraros +erdadeiros &u4es *ue% segundo consta% l6 distribuem a &ustia% Minos%U adamanto%Kaco% @riptlemo e outros semideuses *ue foram &usticeiros em +ida% n!o +aleria a pena a+iagem Juanto n!o daria *ual*uer de +s para estar na companhia de 1rfeu%V Museu%?es4odo e ?omero ,or mm% estou pronto a morrer muitas +ees% se isso $ +erdade2 eu demodo especial acharia l6 um entretenimento mara+ilhoso% *uando encontrasse ,alamedes%A&a5 de @elamon e outros dos antigos% *ue tenham morrido por um sentena in4*ua2 n!o meseria desagrad6+el comparar com os deles os meus sofrimentos e% o *ue $ mais% passar otempo e5aminando e interrogando os de l6 como aos de c6% a +er *uem deles $ s6bio e*uem% n!o o sendo% cuida *ue $. Juanto n!o se daria% senhores &u4es% para su&eitar a e5amea*uele *ue comandou a imensa e5pedi!o contra @ria% ou lisses% ou S4sifo Milhares deoutros se poderiam nomear% homens e mulheres% com *uem seria uma felicidade indi4+elestar &unto% con+ersando com eles% su&eitando8os a e5ameP 1s de l6 absolutamente n!omatam por uma ra!o dessasP 1s de l6 s!o mais felies *ue os de c6% entre outros moti+os%por serem imortais pelo resto do tempo% se a tradi!o est6 certa.

    Ns tamb$m% senhores &u4es% de+eis bem esperar da morte e considerar particularmenteesta +erdade: n!o h6% para o homem bom% mal algum% *uer na +ida% *uer na morte% e osdeuses n!o descuidam de seu destino. 1 meu n!o $ conse*L7ncia do acaso2 +e&o claramente*ue era melhor para mim morrer agora e ficar li+re de fadigas. ,or isso $ *ue a ad+ert7ncianada me impediu. 9!o me insur&o absolutamente contra os *ue +otaram contra mm ou meacusaram. Nerdade $ *ue n!o me acusaram e condenaram com esse modo de pensar% mas nasuposi!o de *ue me causa+am dano: nisso merecem censura. 9o entanto% s tenho umpedido a lhes faer: *uando meus filhos crescerem% castigai8os% atormentai8os com osmesm4ssimos tormentos *ue eu +os infligi% se achardes *ue eles este&am cuidando mais dari*uea ou de outra coisa *ue da +irtude2 se esti+erem supondo ter um +alor *ue n!otenham% repreendei8os% como +os fi eu% por n!o cuidarem do *ue de+em e por suporem

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    m$ritos% sem ter nenhum. Se +s assim agirdes% eu terei recebido de +s &ustia2 eu% e meusfilhos tamb$m.

    Hem% $ chegada a hora de partirmos% eu para a morte% +s para a +ida. Juem segue melhordestino% se eu% se +s% $ segredo para todos% e5ceto para a di+indade.

    U ei lend6rio de )reta% filho de -uropa e de Eeus% marido de ,as4fae% s6bio legislador% &uidos Infernos com Kaco e @riptlemo.

    V )$lebre aedo da era pr$8hom$rica% canta+a e toca+a a lira com tal perfei!o *ue at$ asferas se a*uieta+am e +inham deitar8se a seus p$s. Atribu4a8se8lhe a in+en!o da lira e dosrituais m6gicos e di+inatrios% origem de seitas m4sticas% a *ue se deu o nome de orfismo.

    Nisite o site ")ultura Hrasileira"

    http://www.culturabrasil.pro.br/

    -8mail: laarocha+esWhotmail.com