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- “Poemas do Século Passado-1982-2000” – livro de poesia– Edição de autor – Mauá – SP – 2002;
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Edson Bueno de Camargo.
Poemas Do
SéculoPassado.
(1982-2000)
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
2002 Edson Bueno de Camargoemail: [email protected]
Endereço: Rua José Cezário Mendes, 104Vila Noemia – Mauá – SP
CEP – 09370-600
1ª Edição.
Tiragem: 1.000
“Das Utopias”
“Se as coisas são inatingíveis... ora!Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não foraA mágica presença das estrelas!”
Mário Quintana
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Edson Bueno de Camargo;Um Homem do Século Passado.
Aristides Theodoro(*).
O Edson Bueno de Camargo, velho companheiro, remanescente do finado Colégio Brasileiro de Poetas, da cidade de Mauá - SP, que como eu, vem fazendo mal as artes desde o século passado, pediu-me para deitar umas palavrinhas em forma de prefácio ao seu livro " Poemas do Século Passado. (1982-2000) ". O título deste livro por si só, já é um poema e diante disto dispensa muito bem o meu pobre comentário, que a exemplo da maioria dos prefácios, nada acrescenta a sua estreante obra (**), que possui fôlego e pernas para andar sozinha.
" Poemas do Século Passado. (1982-2000). " constitui-se de pequenas pedras mosaicas indispensáveis na montagem do painel como um todo, que o autor se propôs a erguer a exemplo de um arquiteto, só que com palavras e diante disto, cada peça aqui se faz necessária, preenchendo o seu devido lugar no afresco.
Alguns poemas de Edson Bueno de Camargo, mormente os pequenos trabalhos são carregados de bonitas imagens que dão vida ao livro: "é tarde/e a noite afaga meus sonhos". Mais adiante o poeta com frases curtas, incisivas e carregadas de poesia, diz (sempre começando com letra minúscula): - "retorno das eras profundas do pensamento".
Em alguns momentos, notamos uma espécie de obsessão do poeta pelo tempo, este incorrigível bandido, que sempre passa "como um rio em nossa vida" – "lá estava a porta/desbotada pelo passar das eras".
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
No poema lirismo, é questionado a fazer poesia, de maneira contida, carregada de inspiração. Porém com forte carga de emoção. Leiamos: "o roer da rima/inconstante trama/melódico acalanto/para o fim do pranto/que enfim se derrama/e o poeta declama/a poesia guardada". Todo o trabalho de Edson Bueno de Camargo está saturado de um lirismo contido, quase envergonhado, onde o autor, preocupado grandemente com a condição humana, a exemplo de Richard Wagner, dá a sua contribuição em forma poética, a fim de a seu modo elevar o semelhante através da arte. Portanto, convêm que o leitor se debruce sobre estas páginas de " Poemas do Século Passado. (1982-2000) " e tire suas próprias conclusões.
Toca - Filosófica. 03/11/2001.
(*) - Aristides Theodoro é jornalista, ensaísta e escritor.
(**) - Apesar de serem feitos apenas 50 exemplares, o poeta publicou um pequeno livro reprografado - "Cortinas" em 1981, junto com a poetisa Cecília Auxiliadora Bedeschi de Camargo.
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Dedico...
dedico a todos sem exceção,amigos e inimigos,
mas em destaque,àqueles a quem amo
especialmente a Cecília.
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Poema sem Liberdade.
é tardee a noite afaga meus sonhos
e o medodesprezo de quem vivejá não me toma conta
retornodas eras profundasde pensamento
e giroàs bordas de minha decadência
perpetuo o momentodesfaço o meioe flutuo no plasma líquido
este por sua vez é infinitamente livre
maseu não sou
temos um corpopara prestar contasnuma dívidatrágica e sem solução.
18/08/1982
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Poema Com Liberdade.
quero escrever algo diferenteque fale de amor latente
de viver tão diferentedo que vivemos agora
tocarviolas de vento e flautas mágicasem clima amigoe de pés descalços
encontrar todos os amigosna ruasespantar todos os medos das esquinas
dar luzaos olhos dos cegos da verdade
alimentar as crianças e as mulheresque apodrecem no cantos vazios e friosdos trens e estações desta ferrovia
pintarde verde estes prédios
e um sorrisonestes rostos enrugados, suados e queimados
falar aos trabalhadores das construções,das máquinase de todos e tantos outros fardos pesados
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
“largai esta rede pescadore siga-me”
para um hoje melhor e interior.
20/08/1982
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Naturais.
o ventoenvolve as telhas e os telhados
varre as ruas das folhasde outono
assalta de súbitoos guarda-chuvasnos molhando no dia frio
o cálido relâmpago e o trovão conseqüente iluminam os olhos incendiadoscom esta visão
passos largosdados ao léunas poças d’água e de lama
descortinao céunuma luz visível limpando o tempo e secando as roupas
22/06/1983
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
A Lua Escondida.
o que das nuvens dizerque o céu engole
onde a lua burlanosso intentos de encontrá-la
na noitesim, nas trevas a falta do luminar
no entantoe portantoaprendemos a enxergar no escurodo negro horizonte
e com isto,não mais,podemos finalmente descobrir a paz
na estranha e branca bolapor detrásda cortina de água
mimetizadacom a paisagemque nós não vemos.
20/09/1983
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Paraédsons.
não era como sounem serei como eranesta transmutação de mundos
que em parte soa e ressoanos meus tímpanos
o mesmo acordeo resto musicalda sinfoniadeixada no ar pelos rastros das palavras
trago ainda na barrigaa cicatrizda ferida
prova da desuniãode dois seres conjugados
rompida a ligação umbilicalcegou-se a visãocom a luz violentamente
e num último esforçoaspirei o oxigênioque me faltava no sangue
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
ainda respiroresistindo a negaçãomas me sinto alienígenaa esta lógica
restrito ao endeusamento do mítico, me completo e me leiodo passado corrente que ainda me aturdede segundos atráse te miroorquídeas nos cabelose os pés como raízesde uma milenar oliveira
e eu sou como a gramaque morre e renasce em todo lugar.
30/01/84
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Retrato Rasgado.
diante da portanão havia nadapor detrás da mesmajá se via tudonão tinham mais segredos
os instantes de revelaçãopassaram-se tempestuosose se foramcomo os passosinclinados em meus anos
o tempo se encarregoude levaros pedaços do retratopicados ejogados ao chão
descoloriu a pinturacomo os cabelosdos que ganham muitos anos,tingidos de branco
as lágrimas não foram crônicasos gemidos anacrônicosa insegurançase fundiucom as outras neuroses adquiridase fez parte do contexto
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
sentei-me a beirada calçadavendo a procissão que passavaas velas acessasos ramoso frio frio e fina garoa tudo se foicomo um raiono meio da tempestade
estava ali meio perdidonestes bares de esquinacom estas mulheres da ruaquando dei as mãos com o passadoe comecei a lembrar
voltei a mesma casana vilae lá estava a portadesbotada pelo passar das eras
mas você já não mais me esperava
02/02/84
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Lirismo.
o roer da rimainconstante tramamelódico acalantopara o fim do pranto
que enfim se derramae o poeta declamaa poesia guardada
na gaveta empoeiradaesquecida a um cantodo lirismo sofrido
inconstante rimano decorrer da tramado amor incontidona mente introspecto.
14/03/1984
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Incógnita Comum.
parece aindaque sinto o cheiro das rosasentrando pelas janelas da casa
é como se fosse hojeo sol das tardesqueimando a peleo ar mornonos dando sonolência
quando isto aconteciavocê já caminhava por estas trilhase eu não era maisdo que a imaginaçãode um futuro distante
agora quem é jovem sou eue meu corpo inexperienteespera as lutas da vidae minha menteanseia por conhecer a verdade
no entanto você agoraestá sentado nesta cadeira de rodasperdido no tempo e no espaçome faz olhar para o passado
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
tento imaginar o que você vêe não consigo ver nadapor também estar perdidovislumbrando o presente
e me entristeço por que se não fosse sua mudezprovocada pela doençae o esvaziamento de sua razãodevido a senilidade precocepodíamos partilhardeste nosso lugar comum
mas não,permanecemos assimum olhando para o outrotentando adivinharo que pensaum e outro
nesta solidãode um homemprestes a chegar ao fime o de um jovemcom medo do futuro desconhecido.
28/03/1984
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Tarde Em Devaneios.
morre o tempona tarde vazia de idéias e ideais
e a via sacradesponta no raiar de outro dia
ademais das coisaso dono das poltronas já tiraram seus números
vai começar o sorteiodas cabeças humanas
o deus ignóbilespera o sinal
vibra a tardevazia de idéias e ideaisda longa dívida de corposdas moças novas e fogosas que passam de frente a janela
poréma prisão de vidro impede o tato
os deuses escuros espreitam,os aviões voam no céu cinzento
teu beijo me espera e eu te quero
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
injusto e enlutado meu rostoimpura e infecta a minha línguao gelo frio derrete
cai a tarde em devaneios
05/03/1985
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
O Som da Rua.
abra a janelapara a luz do sol entrar
para o som da rua chegaraté o velhoque esta sentado no sofá
que só vê televisãoe espera o chá
se tem gente no portão,estão querendo entrarvai lá fora convidarpara a festa que vai começar
ouça este tomquero acompanhar com o violãoa melodia de todas estas vozes
águas passadasventos ligeirossussurros de amorlágrimas secaspalavras ditas e esquecidas
deixa o estranho entrarque ele é um velho amigoque passou, para ficar retido na lembrança
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
o som da ruaas crianças brincando no corredorno vento frio
mesmo que tema que elas adoeçampermita a elas brincarem é tão bom brincaré bom pensar que se é feliz
mas,não tem ninguém lá foraé apenas uma alucinação
era apenas o ventoque despertou a imaginação do tempoe muitas lembranças...
25/06/1985
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Hídrico Anúncio.
corpos de vidrofibras rompidas por inteiro
a fonte devassado dom desejodeságua no tempo
estanca o fluxoquebra o silêncioderrama seus egos na aurora
o brilho escuro, semicerradodas vozes ouvidas através das paredes friasdo santuário esquecido
diga, se não diga e jamais falepois, alguém te ouvee não te escuta
onde e quandoo tenro vapor da manhãte molhou os cabelose umedeceu a pele
o som distantedas locomotivas eletro-dieselpuxando pesadas cargas rangentesrecortou-te o velho e sombrio passado
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
acordou de um sono profundoem que a memória se embebeu (amnésia?)e sopra as poucas última palavras
rudes e sincerasúnicasem espontaneidade!
29/08/1985
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Roseira Desnuda.
quero levar-te a vermeu rosto limpo de máculascomo uma roseira desnuda de espinhos
e crerque o passado já é mortoenterraram-se as misérias da vida
te quero oscular os lábiosperceber tuas mãos nas minhasver e sentir teu suorcorrer no meu corpo
ver que ainda cremos no que um significa para o outro
seguirmos o tempo de pertodescobrir onde ele se esconde
viajar os teu olhos despertossem nada se olvidar
e crerque ainda é o presenteque o futuro é distanteneste momento terno
desde que seja ao teu ladomesmo que por só um breve momento.
18/09/1985
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Rancores.
há faces mirantes e olhos fitoshá olhos hirtos e despedaçados
há um horror vivobrotando das entranhas das gentes
há um solo rico em húmusesperando cultivo
há um rancor ardentelatente nos homens
há um sol causticantecrucificando os viajantes das estradase estes misteriosamente felizes
mas a fúria cresce a passos largos
enquanto a ave desajeitada decola do ninhoem seu primeiro vôo
e me preocupo com serpentesvomitando o sopro incandescentedas palavras que vibram cortantes.
20/09/1985
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Paz Repentina.
comprimidospílulasextratoselixires
síndromes/ efeitos causais
odores repelentesinerentesde coisas prestes a morrer
na semi - escuridão de um quartoque recende a velho e a mofo
tosses secas e repentinasgemidos e grunhidos noturnos provocando sussurros irados e sonolentos
o rumor no silêncio do breu noturnoo coração que resistenuma breve e inútil tentativa
mas, o fim chegae se escapapelas frestas da veneziana
enfim, o fim, a noite corre tranqüila para que todos durmam em paz.
28/10/1985
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Poema Sem Esperança.
a mão que cortao talho exato ( e frio)
metódico homemem sua maneira de se morrer em vida
se curva o signoo homem se perde em siperdendo o respeito, a responsabilidade e a liberdade
os sinos dobramdobram a esquinaa última esperançao derradeiro bonde (que já partiu)se perdeu no ermo
os ladrilhos do labirintodescolam com a umidade e caemse espatifando no solo duro
o cimento envelhece assim como as instituiçõesambos mostrando a vista abertaos fortes sinais da deterioração
e todos nós sentadosna guia da sarjetavendo ir ao longesobre os trilho o bonde (o mesmo?)
se dissipando entre a multidão e de escombros...
04/12/1985
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Cavalgada Noturna.
adeus!
a tarde se alarga no céu
um viajante se despedee segue para a sua longa jornada
a noite brota como uma tulipa negrae descobre a luaque se escondia por detrás da terra
onde estará o caminhante?
que cavalga num tropel noturnopela estrada escura e vazia
22/01/1986
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Dor.
aplaca-me a dorda inconsciência perdida
a dor dos medosque não renuncia
a dor da carneque não terminaque não tem fim
interrompe-me a dorcom um breve milagre
por que esta me torce por dentroesta dor de angústiaque me entorpece o ser
e me fazarquitetar sonhos medonhospara por fim terminá-la
finda-me o sofrimentoque vai muito além do entendimento
por que o que mais queroé descansarsem esta profunda angústia que me abate
19/12/87
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Visões.
a cidadenão tem horizontes
se dissolve o contexto
a cidadese fecha sobre nós
é como um mundo desabandocongela-se sobre nossas cabeças
e a qualquer instante
não sei?
algo me dizquando andejo as ruas
por que a prostituta não tem rosto?a cerveja não tem mais gosto?
um bar um hotel baratouma igreja no meio da noite
não te vejose existesonde estás
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
como saber se não te tropeçonão te atropelono meio da escura e fria noite
05/11/88
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Ferro Frio.
frio ferroferrugempedras, águas que rolam sobre
mato, medosegredofonte viva cristal
bate o martelo sem dó
pregoprega a madeiratábua, forro, vidro,caixão
bate o martelosem dó, nem dor
cobra de fogoserpente de penacabelo de genteSatanás
talha o ferro friomalha o dedoarranca a unhae só
26/03/1991
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
É Noite.
é noitee respiro o brilho
cruzam a cidade em raios velozes
encontram as cruzesno alto das torres
procuram as luzesno meio das trevas
é entãoque quando uma lágrimabrilha em teu olho
destilo a dordeste mar salgado
desvisto as nuvense clamo a atenção dos homenscomo um pregador desvairado
retiro a vendapara abrir os olhos no meio do escuro
estou perdidoe creio que é tarde demais....
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Poema Para Uma Amiga Morta.
Bendita sejaamiga mortadorme no seu sono de máquinas
dorme a salvodeste mundo atroz
sei que hipócritasdançam vitória
mas no seu sono vazionão há mais dor nem razão
Bendita sejaamiga quase vivaGraças dou a sua morte - vida
dorme a salvo dos abutresdos que arrotam verdadesmas defecam mentiras
Bendita sejaamiga mortaque a noite chega sobre nós
que há mais verdadesnos teus lábios mortosdo que entre nós
??/02/1992
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Reprodução.
o sal amargo da terraos dentes de pedra polidabrilhando no sol do dia
a dor no ventre de fogogestando o vidro da vida
o serpentear acrobáticodas águas em louca corridadançando a beira de abismospara se transbordar em cascatas
o rito mágico dos deusesa mágica do universoa gerar estrelas e luasna intimidade de um quarto fechado
o olho imenso que espreitavigia e testemunhao dionisíaco desejo e impulso que atropela e encontra machos e fêmeas
a dor da luxúria no partoabençoando com a semente sem revéso ato
o rebento sorrindo felizno calor morno do leite materno
15/07/1994
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Sem Nome, a Dor.
não saberápronunciar o nome da dor porque a corrente do vento imperae carrega os nomes para longe
terá sua língua tornada em pedrae seus dedos em grossas raízesse entranhando pelo ventre da terra
na planície de quartzo e granitoo fumo negro brota da terraasfixiando a quem tudo impassível assiste
as lágrimas formam sulcos no rostocoberto de pó e fuligem
não há mais medosó o torpor e a angustia imperam
uma dor a dorsem nome e sem tempo
15/09/94
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
É Preciso.
tirar a armadura após a longa batalhadeitar ao chão a lança, a espada,escudo, elmo e estafa
lavar as feridas do corpo e da almacom a água mais limpa,sem sangue nem mácula
procurar no mais profundo a palavraserrada nos lábios das noites silentes
saber as medidas da dor e da calmasem ter réguas, medidas, nem tréguas
não é preciso ter pressa para não viver
é preciso fazer o caféé preciso arrumar a cozinha para o jantar
por a mesaservir os pratos vaziosna mesa sem convivas
chorar a noiteperdido no frio
06/07/1998
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Contrato.
quando me deram de comercompraram com isso minh’almacolocaram no fundo do pratoum contrato sem que me apercebesse
e quanto mais me fartassequanto maior a abundante mesamais partes de mim se levavam
não me sinto mais eu mesmohá um vazio que me preenche por dentronão há tormento,nem angustia
só um vazio que me permeia a pelecomo se esta fosse invisível como se não fosse mais possível.
06/08/1998
39
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Aqui Estou.
aqui estouexilado de outras erascomo um sonâmbulo andando no mundo dos vivos
não há tempo que não seja o passadosemente se apossando de minhas entranhasfígado, baço, estômago, tripas,pulmões, coração,um bom tanto de sangue, gordura e fezese um monte de estranhas dúvidas
uma sensação de acordar/dormir permanente
o sangue que suja minhas mãos é real ou imaginário?este cheiro acre em minhas narinas, não sei!
aqui estouandando por ruas que não conheçoprocurando um lugar que não vicom um endereço que não tenhocomo um pesadelo recorrente,como se pudesse ver com os olhos dos mortos.
??/11/1998
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
FATEA.
arcos romanossobre colunas jônicastelhas vermelhasdescanso do sol
nuvens dispersas pelo horizontejanelas curiosas espreitam
vidros sujos, antenasjornais com notícias usadas, amanhecidascarcomidas e gastas pelo tempo.
12/06/1999
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Porta Azul.
paradoesperando alguma coisa acontecera porta azul entreabertaos carros aguardando lá forao silêncio tomando conta de tudo
paradocomo se não esperassem mais nadae nada mais fosse acontecernem a porta azul se fechar
e se os carros nunca mais andaremcomo se tudo criasse raízesos postes desenvolvessem copastudo tomasse forma vegetalplantados no mesmo lugar.
12/06/1999
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Esquife.
enterrei o seu esquifeno chão de minha salatoda a madeira perfumeicom incensos e jasmins
esculpi em ouro e prataseu retrato só para mimpintei nas minhas palmasuma grande cruz carmim
sentei durante diasdiante da janela abertae quando na rua choviano fundo eu bem sabiaeram lágrimas por mim derramadas
29/10/1999
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Sinceridade Do Vento.
não acredite na sinceridade do ventoporque o vento mente o tempo todotrás conversas de boca miúda de sereias, ninfas e fadas
trás pequenas conchas e areia da praiapara o deleite do menino que ride nossa surpresa
não acredite que o ventopossa ser sinceroporque o vento é poeta de horas incertasde rimas quebradase versos sorrateirosque corre os vales, sem eira nem beirae nunca fica
não se façam crer que o vento diga a verdadenem o poeta que vos falaque fala com a voz do ventomas, não sabe nem ir e nem vir,ancorado que está em salgadas saudades...
23/03/1999
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Me Vejo Fechado.
me vejo fechadoentre quatro paredes escurasfeitas de pedras lisas e durasmeus olhos cegos tateando no escuroem uma busca vãa procura de luz
me vejo caladono meio exato do breunem um passo e nem um dedonem a menos nem a mais
19/03/1999
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Novotempo.
há um movimento de queda permanenterondando o abismo do mundo(que do fundo te espreita)
há um medo escondidoatrás de cada poste sem luz
há uma rua escura e úmidadentro do meu pensamentoonde chove permanentemente embaçando meus óculos
há um gato assustadoarranhando dentro da caixa,fora o espera o punhal do sacrifício
flores mortas em cima da mesatraços tortos escritos sobre o papel
ameaçam ruir as ruínasroídas pelo futuroseladas pelo segredosussurradas após o longo degredo
a ignorância escondida atrás da portapara pular nas costascomo um louco ginete
mas, agora de nada adiantaa fonte do esquecimentoficou a muito para trás.
27/01/2000
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Eu Morri.
eu morri,e você nem sabe
meus pedaços estão espalhadospela calçada,bem em frente ao portão de sua casa
mas, você não saberá meu nome(nunca lhe falei, nem um bom dia,quanto mais o meu nome...)nem meus motivos
eu morrie você nem sabedas horas sem respirarnem nunca saberápois eu morrie você nem sabe
07/11/2000
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
Contra Mão.
verti meu sangue pelas escadassobre a pedra bruta e nuatingindo de vermelho o fio do destino
caminhando como um sonâmbulo nas ruasnão sei se dou meus passossobre cacos de vidroou sobre nuvensnão mais distingo entre a dor e a não dor
esta noite dormi sobre suas roupascom seu perfume embalando meu sonocomo uma criança no útero da mãeestava escuro e quentenão sei por quanto tempo permaneci ali
as vezes confundo o dia com a noitenão sei se estou indo ou vindo,parece que estou sempreandando pela contra mão
31/08/2000
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Poemas Do Século Passado – 1982 -2000By Edson Bueno de Camargo
O Autor.
Edson Bueno de Camargo, nasceu em Santo André - SP, em 24 de julho de 1962, mas suas raízes estão na cidade de Mauá - SP, onde mora desde seu nascimento. Aos doze anos descobriu sua vocação para a poesia. Embora sua produção seja muito grande é um poeta praticamente inédito. Publicou em 1981, um pequeno livro em forma de fanzine intitulado “Cortinas”, com poesias suas e de Cecília A. Bedeschi. “Poemas do Século Passado” é sua primeira publicação individual. Foi membro do Colégio Brasileiro de Poetas, entre o final dos anos setenta e início dos anos oitenta. Ganhou o segundo lugar no 9º EPOM, Encontro de Poesias de Mauá, com o poema “Pequeno Poema de Amor para Cora Coralina” e menção honrosa no Concurso de Varginha – MG, com o poema “Tiro na Noite”.
Sua alma inquieta, busca sempre expressar-se de maneira a levar as pessoas ao questionamento de seus desejos e sentimentos em relação a vida. Antes de mais nada é um escritor do cotidiano, percebendo detalhes do dia-a-dia das pessoas que muitas vezes lhes passam desapercebidos. A obsessão do autor em sua obra é a permanente preocupação com a passagem do tempo, sua fluidez e suas conseqüências, daí o título do livro “Poemas do Século Passado”.
Atualmente participa do Núcleo de Literatura de Mauá, que tem a intenção de disseminar o gosto pela palavra escrita entre as pessoas, para que estas tenham o estímulo de mostrar suas produções, ou que apenas queiram apreciar a poesia.
Outro projeto seu já está em andamento, é a publicação de um livro de hai-kais, com o título provisório “O Zen e a arte de plantar papoulas em noites de lua cheia...”, pequenas gotas de verdadeiro lirismo sobre a leveza e suavidade que podem ser encontradas na natureza.
Contatos com o Autor: Rua José Cezário Mendes, 104 – Vila Noemia - Mauá – SP - CEP – 09370-600e-mail : [email protected]
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