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    LITERATURA PORTUGUESA I Jos Carreiro, http://lusofonia.com.sapo.pt/

    POESIA TROVADORESCA GALEGOPOESIA TROVADORESCA GALEGOPOESIA TROVADORESCA GALEGOPOESIA TROVADORESCA GALEGO----PORTUGUESAPORTUGUESAPORTUGUESAPORTUGUESA

    ORIGENS DA POESIA TROVADORESCA

    A origem provenal da cantiga damor foi declarada pelos prprios trovadores (ver cantiga: Quereu emmaneira de proenal) e, nas suas formas e temas mais elaborados, bem pode reconhecer-se a influncia dosmodelos. Causas da influncia provenal nas cantigas de amor: as cruzadas (os jograis, acompanhando ossenhores feudais a caminho de Jerusalm, passavam pelo porto de Lisboa); o casamento entre nobres (como os deD. Afonso Henriques, D. Sancho I e D. Afonso III com princesas ligadas Provena); a influncia do clero e suasreformas; a vinda de prelados franceses para bispados na Pennsula Ibrica; a peregrinao de portugueses a SantaMaria de Rocamador, no sul da Frana, e de trovadores dessa regio a Santiago de Compostela.

    Tambm a cantiga satrica, em certas formas e temas, convida ao confronto com a poesia satrica provenal,sobretudo com o sirvents moral ou poltico.

    H, porm, um gnero, a cantiga de amigo, que no se explica a partir dos modelos do sul de Frana. Para assuas caractersticas necessrio encontrar outra fonte. As cantigas de amigo constituem uma poesia autctone, deorigem popular e carcter tradicional. Esse ponto de partida foi identificado com uma tradio autctone, umaforma ibrica de cano de mulher, anterior influncia provenal. A descoberta das carjas, em 1948, veioconfirmar essa hiptese. A carja uma pequena composio potica, escrita em morabe1, que surge no final deuma composio mais extensa e culta, escrita em rabe ou hebreu, a muwaxaha. Temtica e metricamenteprximas das cantigas de amigo galego-portuguesas, evidenciando, desse modo, a existncia de um fundo comumde lrica romnica de que derivariam ambas as formas, a carja, cultivada pelos poetas andaluzes entre os sculosXI e XIII, constitui a primeira manifestao literria documentada em lngua vulgar.

    Para alm desta tese arbica para explicar a origem das cantigas de amigo, h tambm outras teorias, a saber:a tese folclrica (fruto da poesia criada pelo povo com um carcter espontneo, annimo, primitivo, popular,afastado da cultura dominante); tese etnogrfica (adequada ao ritmo do trabalho); tese latino-medieval (influnciada literatura latina produzida na Idade Mdia) e a tese litrgica (originada da poesia religiosa, em estreita ligaocom a cultura dominante).

    INTRPRETES DA POESIA TROVADORESCA GALEGO-PORTUGUESA

    Jogral A actividade do jogral desdobrava-se em mltiplas funes que, com o objectivo derecrear um pblico, combinavam os jogos histrinicos, o acompanhamento musical, ainterpretao de composies alheias ou prprias, a declamao de narrativas picas, etc.A importncia do jogral enquanto meio de transmisso cultural, entre comunidades eentre geraes, deve ser enfatizada tendo em conta o peso da oralidade sobre a escrita noocidente medieval.

    Menestrel Era, no sculo XIII, um msico-poeta (por vezes confundia-se com o jogral, s que viviasob a proteco de um nobre e andava de corte em corte).

    Segrel Cavaleiro-trovador que andava de corte em corte (era da baixa estirpe e fazia-seacompanhar de um jogral ou substitua-o). Na poesia trovadoresca galego-portuguesa, afuno do segrel aproxima-se da do jogral, visto que, alm de executante e de cantor,sabia compor cantigas.

    Soldadeira oujogralesca

    Cantadeira ou danarina, a soldo, que acompanhava o jogral (era, muitas vezes, de moralduvidosa).

    Trovador Compositor (quase sempre fidalgo) da poesia e da msica.

    1 Morabes: designao dada s populaes crists que viveram em territrio dominado por Muulmanos, emboraconservando a maior parte das suas tradies e crenas.

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    POESIA TROVADORESCA GALEGO-PORTUGUESAPROCESSOS FORMAIS DE VERSIFICAO

    Atafinda ou at-finda Processo potico que consiste em levar o pensamento, ininterruptamente, at ao fimda cantiga, usando para isso o processo de encavalgamento na articulao das

    estrofes.

    Cobla, copla, cobra Estrofe

    Coblas alternas O esquema rimtico alterna, segundo o modelo I-III, II-IV.

    Coblas capcaudadas O primeiro verso de uma estrofe retoma a rima do ltimo verso da estrofe anterior.

    Coblas capdenals Repetio da mesma palavra ou grupo de palavras no incio do mesmo verso emestrofes sucessivas (pode incluir afinda).

    Coblas capfinidas O primeiro verso de uma estrofe retoma uma palavra do ltimo verso da estrofeantecendente (se a cantiga for de refro, estar no refro).

    Coblas doblas oupareadas

    O mesmo esquema rimtico se repete de duas em duas, segundo o modelo I-II, III-IV.

    Coblas singulares As rimas mudam de estrofe para estrofe.

    Coblas unssonas A mesma srie de rimas em todas as estrofes.

    Dobre Prova de virtuosismo formal que consistia na repetio vocabular simtrica em que apalavra repetida poderia estar no incio, no interior ou no final do verso, mas que adisposio escolhida para a primeira estrofe tinha de ser a mesma em todas asestrofes; e a palavra repetida podia ser diferente de estrofe para estrofe.

    Encavalgamento outransporte

    Processo potico que consiste em completar a ideia de um verso no verso seguinte,no coincidindo, portanto, a pausa mtrica com a pausa sintctica.

    Finda Estrofe curta (geralmente constituda por trs versos) que serve de remate e em queo poeta sintetiza o assunto da composio.

    Leixa-prm Traduzido letra: deixa-toma. o procedimento formal necessrio para a cantigaparalelstica perfeita. Consiste no seguinte: o 2 verso da 1 estrofe repete-se no 1verso da estrofe alternada ao longo de toda a cantiga.

    Mozdobre ou mordobre A definio feita a partir do dobre: a nica distino que, no mozdobre, a palavrarepetida aparece em formas diversas (coincide s vezes com a rima derivada).

    Palavra perduda ou versoperdudo

    Verso inserido no corpo da estrofe que no rimava com nenhum dos outros damesma estrofe (prova de mestria).

    Palavra-rima Utilizao da mesma palavra em posio de rima (confunde-se s vezes com odobre).

    Paralelismo O paralelismo constitui uma das caractersticas estruturais da lrica galego-portuguesa, consistindo na repetio simtrica de palavras, estruturas rtmico-mtricas ou contedos semnticos.

    Paralelismo imperfeito Acontece quando o esquema do leixa-prm no se repete rigorosamente.

    Paralelismo perfeito oupuro

    Uso do leixa-prm.

    Paralelismo semntico ouconceptual

    Repetio de figuras de retrica; repetio, por outras palavras, daquilo que se dissena primeira estrofe. O paralelismo conceptual recusa a repetio do leixa-prm ou asimples variao sinonmica.

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    Paralelismo sintctico ouestrutural

    Repetio de uma determinada construo sintctica e rtmica. O poeta podia obter avariao mediante trs processos:- substituio da palavra rimante por um sinnimo;- transposio das palavras (alterao da ordem);- repetio do conceito mediante a negao do conceito oposto.

    Paralelismo verbal, literalou de palavra

    Repetio (no mesmo lugar) de palavras, expresses ou versos inteiros, na cantiga,quer siga ou no o leixa-prm.Pode ocorrer tambm oparalelismo verbal com substituio sinonmica (emboraformalmente diferente, semanticamente igual).

    O paralelismo verbal arrasta consigo uma certa monotonia evitada se recorrerem variao (que pressupe uma certa progresso no pensamento).

    Rima derivada Emprego de formas diversas da mesma palavra em posio de rima (confunde-se, svezes, com o mozdobre).

    Rima equvoca Repetir a mesma palavra dando-lhe significaes diferentes (confunde-se s vezescom o dobre).

    SUBGNEROS DA CANTIGA DE AMIGO QUANTO AO TEMA

    Alba, alva oualvorada

    A alva ou alba, terminologia tirada lrica provenal, a designao que os estudiosos, falta de outra melhor, do s cantigas de amigo em que aparece o tema da alvorada.Focaliza o amanhecer depois de uma noite de amor. Devemos salientar, no entanto, queh aprecivel diferena entre a alba galego-portuguesa e a occitnica, o que tem levadoalguns a negar a existncia do gnero no Ocidente peninsular. Parece-nos apressado essemodo de ver radical, pois, no caso, poderia ter havido a confluncia de um motivoautctone relacionado com a alvorada com o da alba provenal. Se esta, durante certotempo, se restringiu ao motivo da separao, ao romper do dia, de dois amantes,acordados pelo grito do vigia dos castelos, no faltam exemplos posteriores em que ainoportuna interveno do gaita substituda pelo canto dos pssaros.

    Bailada ou bailia Subgnero das cantigas de amigo, composta para ser cantada e danada, caracterizadapelo grande investimento formal no seu carcter musical, para o qual concorrem

    sobretudo o paralelismo e o refro.

    Barcarola oumarinha

    uma variedade de cantiga de amigo Em que o mar, e por extenso um rio (frequentesinnimo combinatrio de mar), constituem o elemento essencial, pois so a causa daseparao e o meio para o reencontro dos apaixonados: a presena de ondas, ou de barcosque chegam, s mais uma achega ao conjunto. A fria do mar ou a mar inesperadafuncionam em certas ocasies como smbolos de isolamento da mulher.Todas as cantigas de amigo que se podem adscrever a este gnero apresentam estribilho etm carcter paralelstico: em geral so de temtica simples: a mulher lamenta-se, diantedas suas irms ou da me, da ausncia do amado. O carcter arcaizante ou popular destetipo de cantigas no deixa lugar a dvidas.Para compreender plenamente o contedo das barcarolas, necessrio recordar queGonzalo Correas inclui no seu Vocabulrio um refro La que del bao viene, bien sabelo que quiere, que explicado com toda a brevidade: juntarse com el varn. Osimbolismo oculto sob o motivo da gua (seja ela fonte, rio, mar ou lago) no seno oda fecundidade, ligado portanto de forma inseparvel figura da mulher. A frequentepresena de ermidas, ou as aluses a romarias, neste tipo de cantigas, serve para reforaresta mesma ideia, em que o mar se transforma em paixo amorosa e as margens no somais do que o lugar do encontro. Do mesmo modo, frequente que o motivo deslize paraoutras variedades, em que se recorre a smbolos no menos claros, como o cervo e alavagem das roupas.

    De romaria Subgnero das cantigas de amigo que se distingue pela referncia a romarias ousanturios. No se trata, contudo, de composies de temtica religiosa, j que,frequentemente, a peregrinao ou a capela so pretexto ou cenrio do desenvolvimentoda temtica amorosa e profana.

    Pastorela Cantiga de origem provenal, geralmente iniciada pela fala do cavaleiro que declara oseu amor a uma pastora. Este gnero, entre ns, adquiriu algumas caractersticas dascantigas de amigo ambiente rstico, simplicidade da donzela , pelo que se integram,habitualmente, neste gnero de composies trovadorescas.

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    TIPOLOGIA DA CANTIGA DE AMIGO QUANTO ESTRUTURA

    Cantiga de mestria Cantiga de influncia provenal, sem refro, que evita repeties e com frequnciatem trs coblas ou estrofes regulares.

    Cantiga de refro Cantiga que tem refro, independentemente do gnero praticado.Cantiga dialogada ou

    teno

    Com dilogo da donzela com a me, amigas, irm, natureza personificada.

    Cantiga paralelsticaimperfeita

    Acontece quando o esquema do leixa-prm no se repete rigorosamente.

    Cantiga paralelsticaperfeita ou pura

    Estruturada em dsticos monrrimos seguidos de refro de um verso com rimadiferente. O paralelismo associa-se ao processo de encadeamento das estrofeschamado leixa-prem. Esta tcnica potica concretizava-se do seguinte modo: o 1dstico (estrofe-base) emparelhava com o 2 (estrofe responsria), que reproduzia oprimeiro com variao apenas da palavra rimante; o 3 dstico retomava o segundoverso do 1 dstico (leixa-prem), acrescentando-lhe um verso novo que desenvolviaa ideia contida no verso repetido; o 4 dstico retomava o segundo verso do 3dstico com variao; a progresso do pensamento verificava-se, deste modo,sempre no segundo verso das estrofes mpares, culminando na penltima estrofe. (inA Lrica Galego-Portuguesa, Elsa Gonalves,Col. Textos Literrios, Ed. Comunicao, 1983)

    CARACTERSTICAS DAS CANTIGAS DE AMIGO

    A cantiga posta na boca de uma donzela; a donzela exprime a sua situao amorosa ou os seus dramas na relao com o amigo; a donzela uma moa solteira, simples, enamorada e, por vezes, ingnua; apresentam um carcter feminino traduzido na seduo do corpo velido, nas saudades, na confiana amorosa,

    no sofrimento e nos queixumes; o amor natural e espontneo, mas pode provocar os cimes, a angstia ou o arrebatamento apaixonado; o ambiente rural, marinho e familiar, mostra que h sempre um contacto com a Natureza que reflecte o estado

    de esprito da donzela e, muitas vezes, confidente; possui carcter autctone, pois da regio galaico-portuguesa; a sua arquitectura simples, com um fundo de frases feitas, tendo o refro e o paralelismo como marcas

    distintivas.

    A TRADIO LRICA NO NOROESTE DA PENNSULA(ainda anterior nacionalidade portuguesa)

    O povo da regio galaico-portuguesa sempre demonstrou um profundo sentimentalismo; os temas mostram que as donzelas cantavam no campo, na fonte, junto ao mar, nos bailes, no caminho para as

    romarias... ; as tradies das festas primaveris, as danas, as peregrinaes ou as romarias estavam enraizadas na almapopular;

    a demora na faina martima, a ausncia dos namorados ao servio do Rei ou na guerra contra Muulmanos,provocavam saudades nas donzelas;

    o amor puro ou a paixo arrebatadora, as traies ou os cimes, deram origem a uma poesia marcadamenteafectiva.

    INFLUNCIAS E VALOR DOCUMENTAL DAS CANTIGAS DE AMIGO

    Poesia autctone, de carcter popular e de tradio oral; marcas da romanizao; elementos rabes do al-Andalus: a dana, as bailias, as motivaes buclicas; o paralelismo com origem no ritmo natural do trabalho e da dana ou nos cnticos dialogados litrgicos; interesse lingustico, artstico e estilstico; interesse social e histrico: expresso de sentimentos, usos e costumes (as prendas de noivado, peas de

    vesturio... ).

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    As cantigas de amigo revelam belos quadros sentimentais da donzela, frequentementeemoldurados pela Natureza.

    Cantigas de amigo: amor natural e espontneo, obsesso amorosa, ternura, saudade, sofrimento, angstia;... Natureza: personificada, confidente ou tradutora do estado de esprito: alegre, alterosa; a Natureza anmica que

    possibilita uma intimidade espontnea com a donzela: as "ondas do mar de Vigo", as "avelaneiras", as "floresdo verde pino";

    manifestao do sentimentalismo e da psicologia feminina; expresso do amor natural e espontneo, da obsesso amorosa ou da ternura., da saudade, do sofrimento da

    angstia; seduo e indcio do erotismo feminino; personificao da Natureza, confidente ou tradutora do estado de esprito da donzela.Nas cantigas de amigo as representaes emocionais adquirem encanto e magia graass modulaes fnicas, carga simblica e arte paralelstica.

    So diversos os sentimentos e reaces psicolgicas da donzela: o amor tranquilo e capaz de provocar a alegriade um sorriso; a agitao perante uma verdadeira paixo; a ansiedade e a angstia porque o amigo no dnotcias; as saudades e a tristeza pela ausncia do amado; os cimes ou as promessas de vingana pela

    infidelidade do amigo... Os fonemas e os signos lingusticos, em geral, oferecem-nos interpretaes da realidade. A modulao dos

    timbres voclicos e dos restantes fonemas podem sugerir estados de alma: o sofrimento, a tristeza e amelancolia podem ser expressos pelos fonemas fechados e nasais; as ondas do mar ou as ondas (emoes einstabilidade) do corao da donzela podem ser traduzidos pelas labiais...

    Os recursos paralelsticos oferecem no s ritmo e musicalidade mas tambm uma progresso de sentido e doestado emotivo. Ao jogo paralelstico submete-se toda a versificao e a retrica.

    Os smbolos so constantes na poesia trovadoresca:OS SMBOLOS NA CANTIGA DE AMIGO

    gua Harmonia amorosa entre os dois namorados.

    Alva Smbolo da inocncia, da pureza e da virgindade.

    Aves Com a beleza do seu canto, representam a seduo e o enamoramento que podem ressurgir emqualquer momento.

    Cabelos Lavar cabelos prefigura o banho nupcial e simboliza a expectativa ntima da moa. Lavar cabelo (oucamisas) em gua uma manifestao da sensualidade feminina, assim como desatar os cabelos temuma conotao afrodisaca.

    Cervo Simboliza a fecundidade, do ritmo do crescimento ou da virilidade (do amigo) e do ardor amoroso; noentanto, quando o cervo turva a gua, pretende-se simbolizar a confuso e o aturdimento de espritoque o encontro amoroso provoca.

    Flores Podem remeter-nos para a delicadeza e feminilidade.

    Fonte origem da vida, da maternidade e da graa, mas as suas guas lmpidas podem indicar a pureza dadonzela.

    Luz Traduz o deslumbramento do amor e, tal como a luz nos pode cegar, tambm o amor nos pode impedirde ver as situaes com clarividncia e com sensatez.

    Noite A noite (longa, escura, silenciosa e misteriosa) representa as incertezas do amor...

    Ondas Traduzem o tumulto interior.

    Vento Elemento masculino; o sopro flico (sexual) que desperta a sensualidade feminina. Pode relacionar-se com as inquietaes ou representar a fecundidade...

    Camisa Primeira pea da roupa interior do homem e da mulher; substituto simblico do corpo.Lavar camisas prefigura o banho nupcial e simboliza a expectativa ntima da moa. Lavar camisas(ou cabelo) em gua uma manifestao da sensualidade feminina.

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    CARACTERSTICAS DAS CANTIGAS DE AMOR

    A cantiga posta na boca de um enamorado (trovador), que exprime os sentimentos amorosos pela dama(destacando a sua coita de amor que o faz "ensandecer" ou morrer);

    o amador implora ou queixa-se dama, mas tambm ao prprio Amor; a senhor surge como suserana a quem o amador serve, prestando-lhe vassalagem amorosa; a dama urna mulher formosa e ideal, frequentemente comprometida ou at casada, inacessvel, quase

    sobrenatural; o ambiente , raramente, sugerido, mas percebe-se que a cantiga de amor uma poesia da corte ou de inspirao

    palaciana; a sua arquitectura de mestria, o ideal do amor corts, certo vocabulrio, o convencionalismo na descrio

    paisagstica revelam a origem provenal; as canes de mestria so as que melhor caracterizam a esttica dos cantares de amor.O AMOR CORTS E AS SUAS REGRAS

    Festa e jogo, o amor corts realiza a evaso para fora da ordem estabelecida e a inverso das relaes naturais.[] No real da vida, o senhor domina inteiramente a esposa. No jogo amoroso, serve a dama, inclina-se peranteos seus caprichos, submete-se s provas que ela decide impor-lhe. (Georges Duby)

    amor vassalagem: o trovador serve a dama; submete-se sua vontade e seus caprichos; ela a suserana quedomina o corao do homem que a ama;

    a dama, muitas vezes mulher casada, cortejada, e definida como o ser mais perfeito; para conseguir os favores da dama, o amador tem de passar provaes ( semelhana dos ritos de iniciao nos

    graus de cavalaria), havendo, por isso, graus de aproximao amorosa: fenhedor (que apenas suspira), precador(que suplica), entendedor (que tem correspondncia) e drudo ou amante (quando a relao completa);

    ao exprimir o seu amor, o trovador deve usar de mesura (autodomnio) para no ferir a reputao da dama.A RELAO AMOROSA

    Nas cantigas de amor a beleza e a sensualidade da mulher so sublimadas, mas a relao amorosa no seapresenta como experincia, mas um estado de tenso e contemplao;

    a senhor cheia de formosura, tipo ideal de mulher, com bondade, lealdade e perfeio; possuidora de honra(prez), tem sabedoria, grande valor e boas maneiras; capaz de falar mui bem e rir melhor...

    o amor corts apresenta-se como ideal, como aspirao que no tende relao sexual, mas surge como estadode esprito que deve ser alimentado...; pode-se definir, de acordo com a teoria platnica, como ideia pura; aspirao e estado de tenso por um ideal de mulher ou ideal de amor;

    amor fingimento; enquanto o amor provenal se apresenta mais fingido, de conveno e produto da imaginaoe inteligncia, nos trovadores portugueses, aparece, supostamente, mais sincero, como splica apaixonada etriste.

    TIPOLOGIA DA CANTIGA DE AMOR QUANTO ESTRUTURA

    Cantiga demestria

    Segue a canso provenal e pode terminar com umafinda ou tornada. Admite dobre,mozdobre, ata-finda e verso perdudo.

    Cantiga de

    refro

    Com refro ou estribilho.

    Descordo Cantiga de amor, de imitao provenal, em que o trovador, atravs de uma composioestrfica e metricamente irregular, evoca os sentimentos contraditrios que o assolam. um gnero caracterizado pelo desacordo na isometria que era regra geral na lrica medieval., pois, uma forma de fazer.

    Lais Cano narrativa de carcter lrico, no pertence exactamente s cantigas de amor.

    Pranto Com lamentaes, imita oplanh provenal.

    Teno Com discusso de uma questo de amor.Cantiga em que se confrontam dois trovadores, sendo por isso ambos os autores dacomposio.

    A teno no propriamente um gnero, mas uma forma, podendo, assim, identificar-se comoutros gneros.Regras definidas para a teno:- cada trovador tem uma estrofe alternadamente em que h uma disputa entre os dois;- cada qual tem o mesmo nmero de estrofes;- as extenses so sempre de mestria;- se houverfinda na cano, ento sero duas, uma para cada trovador.

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    VOCABULRIO DA CANTIGA DE AMOR

    Coita Sofrimento amoroso (pesar, doo, afan, penar, penado, dano,sofrer,lazerar,tromentar, padecer, mal aver, mal pesar).Consequncia da coita a condio em que acaba por se encontrar o amante: desconortado(desanimado, desconsolado), desaconselhado ou mal conselhado, desaventurado ou maldesaventurado, desasperado, despagado, cativo, mal dia nado, en forte ponto nado,pecador, mal meu pecado, etc.

    Galardom Galardo, recompensa.

    Genta Gentil, fermosa.

    Mesura Medida, cortesia, moderao, generosidade.Qualidade suprema do amador maneira provenal que tinha de conter-se em certos limites derazovel moderao; equilbrio entre a razo e o amor.

    Perfia O que define a perseverana do amante.Porfia, discusso, teimosia.

    Preo Honra, reputao, mrito, valor.

    Prez Tem os mesmos valores quepreo.

    Prol Proveito, interesse.

    Razon Alusivo ao direito e justia que regulam a prpria relao.Razo, discusso, causa, motivo, assunto.

    Ren Coisa. A palavra era utilizada para fazer aluso senhor, sem a conotao negativa que hojeteria.

    Reserva Realiza-se, por vezes, na proibio imposta pela senhora ao poeta, mas sobretudo no obrigar oamante a afastar-se do lugar onde reside (alongar,alongado,mandar ir,fazer partir, a

    ver pesar [da presena dele]. A senhor no s no concede recompensas ao amante pela suafidelidade, como actua em relao a ele com uma espcie de despotismo repressivo, negando-lhe qualquer direito de a amar e de exteriorizar o seu sentimento, ou mesmo de lhe dirigir apalavra, de a olhar nem que seja de longe, e at de coexistir com ela na mesma dimensoespacial.Nesta situao, o poeta s poder amar (ou querer bem, ou querer amor) e servir, se seocultar no s, nem principalmente, dos cousidores como essencialmente daquela que elequer amar e servir; e viver no contnuo temor (recear, temer, pavor, medo) de queuma imprudncia verbal sua ou um excesso de curiosidade alheia possa desvendar senhoraque ela a destinatria do canto, ateando com isso a sua ira e a sua vingana. (TAVANI: 1990, 124-125)

    Sabedoriae sabedor

    Indicador da prudncia e do discernimento que devem presidir relao do amor.

    Sn, sm Entendimento, juzo, razo, senso.Integra semanticamente a mesura, a sabedoria, a razon e aperfia.

    Senhor A senhor surge como suserana a quem o amador serve, prestando-lhe vassalagem amorosa.A senhor cheia de formosura, tipo ideal de mulher, com bondade, lealdade e perfeio;possuidora de honra (prez), tem sabedoria, grande valor e boas maneiras; capaz de falarmui bem e rir melhor...

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    MODALIDADES DA POESIA SATRICA E BURLESCA GALEGO PORTUGUESA

    Cantiga deescrnio

    Stira com palavras dissimuladas e ironia.

    Cantiga demaldizer

    Stira directa, mordaz e, por vezes, obscena.

    Cantiga deseguir

    Tipo de composio potica cultivada pelos trovadores galego-portugueses e definida, nocaptulo IX da "Arte de Trovar"includa no Cancioneiro da Biblioteca Nacional. De acordocom o autor annimo, a cantiga de seguir consistia numa espcie de imitao ou pardia deuma cantiga alheia, efectuada de trs modos distintos: por apropriao da msica; porreproduo de versos, rimas e estrutura mtrica do texto preexistente; ou por utilizao dasmesmas palavras da composio imitada, mas com outro significado. So trs os exemplos decantigas de seguir especificamente classificadas como tal nos cancioneiros: as duas cantigasde Johan de Gaia, Vosso pay na rua eEu convidey hun prelado a jantar, se ben me venha e acantiga de Lopo Lins Quen oj'ouvesse. (In Infopdia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2008)A Cantiga de seguir no propriamente um gnero, pois nada a distingue dos outros gneros,pelo que se trata de uma forma de fazer. O pblico destas cantigas de seguir teria de serconhecedor das originais que foram parodiadas, caso contrrio no entenderia aintertextualidade entre ambas.

    Serventsousirvents

    Composio que reflecte a influncia provenal (sirvents ou serventois provenal) e queserve para exprimir ideias morais ou a stira pessoal, literria, poltica ou social.

    Teno debriga

    Disputa entre dois trovadores que, em verso, confrontam as suas opinies sobre determinadoassunto.

    POESIA SATRICA E BURLESCA GALEGO PORTUGUESATEMAS E MOTIVOS

    Entrega dos castelos ao conde de Bolonha (D. Afonso III). Traio dos cavaleiros de Afonso X, na batalha de Granada. A cruzada da Balteira (stiras a Maria Peres). Crtica dos trovadores e jograis:

    - da vida que levam;- da falta de arte.

    Stira soldadeira. Polmica social. Censura de vcios e costumes da poca: a avareza, a vaidade, a crena em agoiros; o casamento por rapto; ahomossexualidade, etc. Pardias a temas e formas da poesia lrica amorosa.

    Composies, em suma, jocosas e/ou satricas que vo da polmica social, em sentido mais vasto, ao ultrajepersonalizado; da stira literria poltica e de costumes, com incurses no campo obsceno.

    BIBLIOGRAFIA E WEBGRAFIA DIDACTIZADA

    COELHO, Jacinto do Prado, Dicionrio de literatura, Porto, Figueirinhas, 1989 (4 ed.)GONALVES, Elsa,A lrica galego-portuguesa, Lisboa, Editorial Comunicao, 1983.LANCIANI, Giulia e Giuseppe Tavani, Dicionrio da literatura medieval galega e portuguesa, Lisboa, Ed. Caminho, 1993.LAPA. Rodrigues, Lies de literatura portuguesa, poca medieval, Coimbra Ed., 1981 (10 ed. revista pelo autor).MOREIRA, Vasco e Hilrio Pimenta, Dimenso literria 10 ano. Portugus A, Porto, Porto Editora, 1997.VERSSIMO, Artur, Ser em Portugus 10A/B, Porto, Areal Editores, 1997.Infopdia [Em linha]. Porto, Porto Editora, 2003-2008