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CONCURSO DE CLASSIFICAÇÃO PARA O CURSO PREPARATÓRIO 1º SEMESTRE DE 1998 Nome do candidato: ______________________________________ inscrição: Prova de Língua Portuguesa TEXTO 1 A CLONAGEM DE SERES HUMANOS DEVE SER PROIBIDA? Como costuma acontecer com os dilemas éticos, é muito difícil emitir uma resposta taxativa. A História mostra que o homem usa tudo o que inventa ou descobre, por pior que seja. O grande e terrível exemplo é o da descoberta da maravilhosa energia do átomo, que levou á construção da bomba atômica. 5 Nenhum cientista de renome defendeu, até agora, a clonagem de seres humanos, mas quem estuda a história da ciência sabe que cedo ou tarde um xerox de carne e osso brotará num laboratório. “E ridículo pensar que não é possível clonar seres humanos”, afirma o americano Don Wolf, dedicado a pesquisas de clonagem no Centro de Primatas do Oregon. “Se é que não foi feito”, disse Wolf ao jornal O Globo. A rigor, já foi feito, não com a cenografia espetacular da ovelha DolIy, mas com o recato de uma experiência até hoje confinada ao laboratório. Em 1992 dois biólogos da Universidade George Washington, Jerry Haíl e Robert Stiliman, clonaram 48 embriões humanos, mas lhes deram apenas seis dias de vida. Ou 15 seja, os criadores exterminaram a criatura antes que ela se tornasse um feto. Até agora falamos de cientistas que, bem ou mal, podem ser controlados. Mas um dos efeitos negativos de DoIIy foi despertar o Dr. Maluco. Ele responde pelo nome de Marc Riyard, é biólogo e vive em Montreal, no Canadá, onde integra o Movimento Religioso Raelian. O pessoal do Raelian fundou uma 20 empresa com sede nas Bahamas, paraíso fiscal em vias de tornar-se também paraíso genético. A empresa oferece um serviço chamado Clonaid, capaz de satisfazer as fantasias derivadas de Dolly — dos pais que pensariam em clonar um filho em coma ao milionário que gostaria de ter um clone no congelador para abastecer-se quando precisasse de um rim. 25 Segundo a Clonaid, milhares de pessoas já se inscreveram para obter um clone. O preço: 200 000 dólares. GUSMÃO, Sérgio Buarque de. A clonagem dos seres humanos deve ser proibida? IN: A HÉLICE DO BEM E DO MAL, 1997. Super Interessante , 1997,58 p.53.

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CONCURSO DE CLASSIFICAÇÃO PARA O CURSO

PREPARATÓRIO – 1º SEMESTRE DE 1998

Nome do candidato: ______________________________________ inscrição:

Prova de Língua Portuguesa

TEXTO 1

A CLONAGEM DE SERES HUMANOS DEVE SER PROIBIDA?

Como costuma acontecer com os dilemas éticos, é muito difícil emitir uma resposta taxativa. A História mostra que o homem usa tudo o que inventa ou descobre, por pior que seja. O grande e terrível exemplo é o da descoberta da maravilhosa energia do átomo, que levou á construção da bomba atômica.

5 Nenhum cientista de renome defendeu, até agora, a clonagem de seres humanos, mas quem estuda a história da ciência sabe que cedo ou tarde um xerox de carne e osso brotará num laboratório.

“E ridículo pensar que não é possível clonar seres humanos”, afirma o americano Don Wolf, dedicado a pesquisas de clonagem no Centro de Primatas do Oregon. “Se é que já não foi feito”, disse Wolf ao jornal O Globo. A rigor, já foi feito, não com a cenografia espetacular da ovelha DolIy, mas com o recato de uma experiência até hoje confinada ao laboratório. Em 1992 dois biólogos da Universidade George Washington, Jerry Haíl e Robert Stiliman, clonaram 48 embriões humanos, mas lhes deram apenas seis dias de vida. Ou

15 seja, os criadores exterminaram a criatura antes que ela se tornasse um feto.

Até agora falamos de cientistas que, bem ou mal, podem ser controlados. Mas um dos efeitos negativos de DoIIy foi despertar o Dr. Maluco. Ele responde pelo nome de Marc Riyard, é biólogo e vive em Montreal, no Canadá, onde integra o Movimento Religioso Raelian. O pessoal do Raelian fundou uma

20 empresa com sede nas Bahamas, paraíso fiscal em vias de tornar-se também paraíso genético. A empresa oferece um serviço chamado Clonaid, capaz de satisfazer as fantasias derivadas de Dolly — dos pais que pensariam em clonar um filho em coma ao milionário que gostaria de ter um clone no congelador para abastecer-se quando precisasse de um rim.

25 Segundo a Clonaid, milhares de pessoas já se inscreveram para obter um clone. O preço: 200 000 dólares.

GUSMÃO, Sérgio Buarque de. A clonagem dos seres humanos deve ser proibida? IN: A HÉLICE DO BEM E DO MAL, 1997. Super Interessante, 1997,58 p.53.

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Os fragmentos que você vai ler foram extraídos do livro A Reforma da Natureza, de Monte iro

Lobato. No momento em que a situação abaixo se passa, Dona Benta e os outros personagens do sítio

viajaram para a Conferência da Paz na Europa. Emilia resolveu ficar porque tinha a intenção de experimentar a reforma da natureza no sítio e, se bem sucedida, promover a mesma reforma no mundo. Para ajudá-la, convida sua amiga Rã, uma menina de onze anos, muito magrinha (daí o apelido).

TEXTO 2

REFORMA DA MOCHA

Por muito tempo ficaram as duas conversando sobre reformas e mais reformas e, como

estivessem debaixo da jabuticabeira, iam falando e comendo as deliciosas frutas. Em certo momento Emília disse:

— Esta jabuticabeira, por exemplo. Não acha que é uma vergonha uma árvore deste tamanho

dar frutinhas tão pequenas? E no entanto temos lá na horta um pé de abóbora que dá abóboras enormes e é um pé que nem é pé de coisa nenhuma — não passa dum talinho mole que se esborracha quando a gente pisa em cima. Vou mudar. Vou botar as jabuticabeiras no pé de abóbora e as abóboras nas

jabuticabeiras.

10 A Rã assistia às mudanças e ia dando opiniões. — As laranjas - disse ela — eu as faria crescer com uma faquinha dentro. Quantas vezes temos

uma laranja na mão e não há faca perto? — Muito melhor fazer as laranjas nascerem já descascadas — lembrou Emília. - Para que casca? Só serve para sujar de sumo a mão da gente.

15 E assim foi feito. Todas as laranjas do pomar tiveram de “ficar em pêlo”, muito envergonhadas, com os gomos á mostra, e só nos galhos mais baixos.

— E a vaca mocha? - perguntou a Rã. - Vai reformá-la também? — Claro que sim — e já. Acompanhe-me.

Lá se foram as duas para o pastinho da Mocha, que estava pachorrentamente mascando umas palhas de milho. Ficaram diante dela, de mãos à cintura, discutindo a reforma.

— Eu mudava o depósito de leite — disse a Rãzinha.

- Punha torneirinha nas tetas para evitar o que hoje acontece: para tirar o leite os vaqueiros apertam as tetas com as suas mãos sujíssimas — uma porcaria. Com o sistema

25 de torneira, essas mãos não tocam nas tetas. Emília deu uma risada gostosa.

— Que bobagem! Bem se vê que você é menina do Rio de Janeiro. Pois não sabe que a função das tetas é dar leite aos bezerros? Como pode um bezerrinho mamar em torneira?

— Ensinávamos os bezerros a abrir as torneiras. — Não — declarou Emilia. — Muito complicado. Na Mocha quero umas reformas úteis para ela

mesma e não para as criaturas que a exploram. Vou pôr a cauda da Mocha bem no meio das costas, porque assim como está só alcança metade do corpo.

Como pode a coitada espantar as moscas que lhe 35 sentam no pescoço, se o espanador só chega às costelas? Tudo errado ...

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E plantou a cauda da Mocha no meio das costas, de modo que pudesse espantar as moscas do

corpo inteiro: norte, sul, leste, oeste. E passou as tetas para os lados, metade à esquerda, metade à direita.

— Assim podemos tirar leite de um lado enquanto o bezerrinho mama do 40 outro. Reforma não é brincadeira. Precisa ciência.

— Ótimo! — concordou a Rã. — E podemos botar torneirinhas nas tetas do lado direito — para serviço dos leiteiros. As do lado esquerdo ficam como são — para uso dos bezerrinhos.

LOBATO, Monteiro. A reforma da Natureza, 16 ed., São Paulo, Brasiliense, 1985, p. 19-21.

Questão 1

O autor do texto 1 utiliza a imagem de um “xerox de carne e osso” (L. 07) para se referir à possibilidade de se clonar seres humanos.

Dentre as palavras oferecidas abaixo, escolha aquela

que apresenta um prefixo com significado equivalente à imagem de um “xerox de carne e osso” proposta pelo autor. Transcreva-a.

descascar - repensar - extraordinário - imoral - premeditar

Resposta:

Questão 2

Leia o trecho abaixo, retirado do texto 1:

“(...) é muito difícil emitir uma resposta taxativa.” (L. O 1/02)

Substitua o adjetivo sublinhado por outro de sentido equivalente.

Resposta:

Questão 3

Observe, com atenção, o termo destacado no seguinte período: “Como costuma acontecer com os dilemas éticos, é muito difícil emitir uma resposta

taxativa.” (texto 1, L. 01/02) Utilize o tema desenvolvido nos textos, e construa um período composto por

subordinação em que a conjunção “como” apresente um valor diferente do expresso no período acima.

Resposta:

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Questão 4

Destaque do texto 1 a expressão conotativa que sintetize a mensagem da tirinha

abaixo:

(Jornal do Brasil, Caderno B, 9/11/97)

Resposta:

Questão 5

No texto 2, usa-se um argumento de ordem inversamente proporcional para justificar a reforma, tanto do pé de abóbora, como do pé da jabuticaba.

Explique, com suas palavras, o argumento, de tal forma que fique evidenciada esta ordem.

Questão 6

Substitua o termo destacado por outro equivalente, de forma que o período abaixo não tenha o seu sentido alterado.

“Quantas vezes temos uma laranja na mão e não há faca perto? (texto 2, L. 12)

Resposta:

Questão 7

A Língua oferece recursos de que se pode dispor para expressar um sentimento, enfatizar ou sugerir uma idéia.

Correlacione as colunas, levando em conta os sinais de pontuação destacados e os sentimentos ou idéias que eles podem sugerir ou enfatizar no texto.

Atenção: toda a coluna da esquerda deverá ser relacionada à coluna da direita. 1ª

coluna 2ª coluna

( ) “Emília deu uma risada gostosa. 1 - Satisfação, felicidade

— Que bobagem! (...)” 2 - Ênfase da expressão (texto 2, L. 26/27)

3 - Desaprovação, descaso

( ) “Ótimo ! - concordou a Rã(...).”

(texto 2, L. 41) 4 - Choque, impacto

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( ) “(...) Como pode a coitada

espantar as moscas que lhe sentam no pescoço, se o espanador só chegas às costelas? Tudo errado...”

(texto 2, L. 34/35) “(...) Todas as laranjas do pomar tiveram de ‘‘ficar em pêlo (...)”

(texto2,L 15) “(...) O preço: 200 000 dólares.” (texto 1, L. 26)

Questão 8

Antes de se divulgar uma descoberta científica, há todo um processo de experimentação que ocorre de forma reservada, muitas vezes até secreta.

Nos dois textos lidos, podemos identificar espaços destinados a esse processo de experimentação. Aponte-os em cada texto.

Respostas:

Texto 1:

Texto 2:

Questão 9

Os dois textos contêm elementos que estabelecem um contraste entre o mundo natural (ainda não transformado pelo homem) e o mundo reformado (produto da interferência do homem).

No texto 1, alerta-se para as conseqüências negativas do mundo reformado, na medida em que a questão ética pode não ser levada em conta.

No texto 2, quando as reformas são feitas, a personagem principal considera a ética. Transcreva da fala de Emília (texto 2) uma frase que, explicitamente expressa uma

preocupação ética*.

* Etica: “parte da filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da j conduta humana.” (SlLVA, Adalberto Prado (org.). Novo Dicionário Brasileiro. 5 ed.,re v., São Paulo, 1969.)

Resposta:

Questão 10

Valores como a integridade da vida, respeito, solidariedade e o livre arbítrio estão sendo introduzidos como questões morais nos microscópios dos cientistas, conforme você leu no V texto e deduziu do 20.

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Leia atenciosamente a passagem, extraída da matéria intitulada “Clonagem será um

tema de debate” do Jornal do Brasil, Caderno B, em 23/11/97.

Aí vai uma charadinha bioética: Se seu filho estivesse moribundo, vitima de uma doença fatal, você autorizaria sua clonagem simplesmente para repor o órgão doente? É lícito a um casal produzir um filho para salvar outro?

Exponha, em aproximadamente 10 linhas, sua opinião a respeito das questões apresentadas no treco acima.