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Resumo sobre a Irmandade Pré-Rafaelita, História da Arte.
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Os Pré-Rafaelitas
1. Introdução: A Irmandade Pré-Rafaelita
1.1. Formação da Irmandade
A Irmandade Pré-Rafaelita é um grupo de jovens artistas formado em
Londres em 1848. Apesar de jamais terem publicado um manifesto, suas
convicções a respeito de arte transparecem em suas obras: a rejeição de
convenções academicistas que dominavam o mundo da arte, a associação da
arte visual com a literatura e a poesia, a representação detalhada dos objetos
que compunham o quadro (o que, por si só, rejeitava a convenção
academicista de detalhar apenas os atores principais de uma composição de
acordo com uma hierarquia de importância), o tratamento realista das figuras e
o uso de elementos visuais românticos e simbólicos.
Seus membros fundadores foram Dante Gabriel Rossetti, William
Holman Hunt e John Everett Milais; no entanto, a Irmandade chegou a ter 7
membros no total, além de um círculo estendido de amigos e colaboradores -
entre os quais nós destacamos o crítico de arte John Ruskin e a modelo e
pintora Elizabeth Siddall -, e seu estilo continuou a influenciar artistas mesmo
muito depois da dissolução do grupo.
1.2. Rafael Sanzio, Pintura Academicista
Quando a irmandade foi fundada, prevalecia no meio artístico inglês o
Academicismo, escola fundada em uma série de princípios norteadores rígidos
quanto a composição, forma, cor e temática na pintura. O estilo Academicista
havia sucedido o igualmente rigoroso Maneirismo, o qual, por sua vez, se
norteava pelas imagens clássicas do Renascimento - entre as quais se
encontrava a obra de Rafael Sanzio. Era a partir dos “grandes mestres” do
Renascimento que havia se consolidado uma linguagem visual de paletas de
cores sóbrias, composições rígidas (em pirâmide, com o tema principal
centralizado) iluminação dramática (focada no tema principal, gerando sombras
que acabavam privilegiando a noção de tridimensionalidade dos objetos em
detrimento da cor) e temáticas históricas, cristãs ou referentes à mitologia
clássica.
William Adolphe Bougereau - The
Birth of Venus (1879)
Rafael Sanzio - The Virgin and
Child with Saint John the Baptist (La Belle
Jardinière)
Ao escolher o nome “Pré-Rafaelitas”, os artistas da Irmandade
rejeitavam implicitamente não a Rafael Sanzio ou aos outros pintores
renascentistas, mas sim aos 300 anos de pinturas derivativas que tais pintores
tiveram como legado - o “Rafaelismo”. Propunham, ao invés do Rafaelismo
uma arte nova, jovem, que partia de uma nova sensibilidade estética para
retratar a realidade com um detalhismo chocante para a época, e que se
utilizava ao máximo dos novos recursos técnicos provenientes da invenção dos
tubos de tinta, que permitiam pintura ao ar livre com uma ampla gama de cores
vivas: “Quando a Irmandade Pré-Rafaelita [...] exibiu junta pela primeira vez em
1849, a vivacidade de suas cores era um vívido testemunho público do quão
fundamentlmente a química e a produção comercial de tinta haviam mudado a
forma como o mundo podia ser refletido no espelho da arte.” (Em:
<http://www.victorianweb.org/painting/misc/color.html>. Acesso em 18 de Junho
de 2016).
Ao mesmo tempo, ao dedicar um olhar a um passado idealizado, tanto
em seu nome quanto nas temáticas de muitos de seus quadros, “O Pré-
Rafaelismo se encontrou paradoxalmente posicionado entre a nostalgia pelo
passado e o entusiasmo pelo futuro” (Em: <http://www.bl.uk/romantics-and-
victorians/articles/the-pre-raphaelites #sthash.Supn2UJR.dpuf >. Acesso em: 18
de Junho de 2016; tradução nossa). É essa situação ambígua que o faz,
inclusive, parecer um tanto quanto conservador, para as sensibilidades
contemporâneas, se comparado a movimentos de vanguarda que lhe
sucederam, como o Impressionismo. É extremamente importante, portanto,
contextualizar o trabalho dos pré-rafaelitas em relação a seus antecessores, ao
mesmo tempo destacando sua influência que permanece atual, conforme
tencionamos fazer neste trabalho.
2. Artistas e Colaboradores
2.1. Dante Gabriel Rossetti
Dante Gabriel Rossetti começou a estudar na
escola secundária do King's College de Londres,
de 1836 a 1841, passando por uma escola de
desenho antiquada, e acabando na escola da
Royal Academy britânica em 1845.
Tendo como pano de fundo os grandes
movimentos revolucionários de 1848, foi devido
aos esforços de Rossetti que se criou nesse ano,
na Inglaterra, a Irmandade dos Pré-Rafaelitas. O
grupo tinha como inspiração a obra do crítico de
arte John Ruskin, Modern Painters, publicada a
partir de 1843.
Em 1854, numa época em que o grupo se começava a dissolver,
Rossetti ganhou um poderoso e exigente patrono em Ruskin, o seu mentor
original o que atraiu Edward Burne-Jones e William Morris, estudantes de
Oxford, com os quais Rossetti iniciou a segunda fase do movimento Pré-
Rafaelita – a fase medievalista. Ligado a este entusiasmo romântico pelo
passado lendário, que divergia substancialmente do ideal inicial de um realismo
de acordo com a natureza, estava a vontade de reformar as artes decorativas.
Em 1860, Dante Gabriel Rossetti casou com Elizabeth Siddal, que, tendo
começado a posar para toda a Irmandade, acabou por se tornar sua modelo
exclusiva. Após a morte da esposa, Rossetti mudou não só de zona
residencial, mudando-se das áreas ribeirinhas de Londres para a mais
aristocrática zona de Chelsea, como de estilo artístico, que se tornou mais
sensual e estilizado. Após a sua morte, devido à dependência de álcool, no
Domingo de Páscoa de 1882, foi publicada uma edição dos poemas de
Rossetti.
Retrato de Dante Gabriel Rossetti, c. 1871, por Goeorge Frederic Watts
2.2. Sir John Everett Millais
Seu talento artístico prodígio garantiu
a ele uma vaga na Academia Real Inglesa
em 1840, aos 11 anos, idade inédita entre
os alunos da academia. Lá, ele conheceu
William Holman Hunt e Dante Gabriel
Rossetti, com quem formaria a Irmandade
Pré-Rafaelita em setembro de 1848 na casa
de sua. Millais tornou-se já em sua época o
expoente mais famoso dessa corrente,
tendo seu quadro Cristo na casa de seus
pais sido recebido de forma controversa
devido ao realismo em que retratou Jesus e
sua casa. Em fins da década de 1850, Millais começou a abandonar o estilo
pré-rafaelita. Suas obras tardias ganharam grande sucesso, transformando
Millais em um dos artistas mais bem-pagos em vida na época. Apesar disso,
elas foram vistas pela maior parte dos críticos do século XX como erros.
A vida particular de Millais também teve grande importância na
construção de sua reputação. Sua esposa, Effie, divorciou-se do crítico John
Ruskin, que incentivou a obra mais jovem de Millais. O divórcio de Effie e seu
casamento de com Millais já foram algumas vezes ligados às mudanças no
estilo de Millais.
Depois de seu casamento, Millais começou a pintar em um estilo que foi
condenado por Ruskin como “uma catástrofe”. Tem sido defendido no meio
acadêmico que essa mudança de estilo foi resultado da necessidade de Millais
de aumentar a renda de sua família, cada vez maior. Críticos inflexíveis como o
pintor William Morris acusaram-no de “vender-se” para ganhar popularidade e
riqueza.
2.3. William Holman Hunt
Retrato de Sir John Everett Millais, por George Frederic Watts. Coleção da National Portrait Gallery
Suas pinturas eram notáveis por sua grande atenção aos detalhes, cores
vivas, e simbolismo elaborado. Esses recursos foram influenciados pelos
escritos de John Ruskin e Thomas Carlyle, segundo o qual o próprio mundo
deve ser lido como um sistema de signos visuais.
As obras de Hunt não foram inicialmente bem-sucedidas, e foram
amplamente atacadas na imprensa arte por sua suposta falta de jeito e feiúra.
Ele era notável por suas cenas naturalistas da vida urbana, como em “O
Depertar da Consciência”. No entanto, foi com suas pinturas religiosas que se
tornou famoso, inicialmente com “A Luz do Mundo” (1851-1853), agora na
capela de Keble College, Oxford; uma versão mais recente (1900) percorreu o
mundo e agora tem a sua casa na Catedral de São Paulo.
2.4. Edward Coley Burne-Jones
Foi um artista britânico e designer intimamente associado com a fase
posterior do movimento pré-rafaelita, que trabalhou com William Morris em uma
ampla gama de atividades artísticas decorativas, de pintura e vitrais à
concepção de telhas cerâmicas, joias, tapeçarias, mosaicos e ilustração de
livros.
Em 1861, William Morris fundou o Decorative arts, firma de Morris,
Marshall, Faulkner & Co. com Rossetti, Burne-Jones, Ford Madox Brown e
Philip Webb como parceiros, juntamente com Charles Faulkner e Peter Paul
Marshall, o primeiro dos quais era um membro da Irmandade Oxford, e este
último um amigo de Brown e Rossetti.
2.5. John William Waterhouse
Nascido na Itália, em 1849, de pais ingleses pintores, ele mais tarde
mudou-se para Londres, onde ingressou na Academia Real Inglesa. Trabalhou
diversas décadas após o fim da Irmandade Pré-Rafaelita, que viu seu apogeu
no meio do século XIX, o que fez com que ele fosse apelidado de “o pré-
rafaelita moderno”. Recebendo influência não só do início do pré-rafaelismo
como também de seus contemporâneos, os impressionistas, suas obras eram
conhecidas por suas representações de mulheres tanto da mitologia grega
como da lenda do Rei Artur.
Um dos quadros mais famosos de Waterhouse é A Dama de Shalott, um
estudo sobre Elaine de Astolat, que morre de pesar por Lancelot não amá-la.
Ele pintou três versões desta personagem, em 1888, 1894 e 1916. Outro tema
que era um dos favoritos de Waterhouse era Ofélia; sua pintura mais famosa
sobre ela retrata-a pouco antes de sua morte, colocando flores no cabelo
enquanto senta-se em um galho de árvore inclinado sobre um lago. Como em
A Dama de Shalott e outras pinturas de Waterhouse, trata de uma mulher
morrendo dentro ou perto da água. Também foi provavelmente inspirado pelas
pinturas de Ofélia por Dante Gabriel Rossetti e John Everett Millais
Em 1915, Waterhouse estava gravemente doente com um câncer e não
pôde concluir sua última pintura sobre Ofélia. Morreu dois anos mais tarde, em
1917.
2.6. John Ruskin
Foi um escritor mais lembrado por seu trabalho como crítico e crítico
social britânico. O pensamento de Ruskin vincula-se ao Romantismo.
Esteticamente, Ruskin apresenta-se como reação ao Classicismo e com
admiração ao medievalismo. A partir de 1851, foi um defensor inicial e patrono
da Irmandade Pré-Rafaelita, inspirando posteriormente a criação do movimento
Arts & Crafts.
2.7. Elizabeth Siddall
Elizabeth Siddal, Autorretrato, 1853-1854, óleo sobre tela, 23 cm de diâmetro
Coleção privada (Fonte: The Rossetti Archive)
Elizabeth Eleanor Siddal (1829-1862) foi a musa inspiradora do grupo.
Ela foi largamente retratada em desenhos e pinturas por artistas da Irmandade
Pré-Rafaelita, incluindo Walter Deverell, William Holman Hunt, John Everett
Millais e seu marido, Dante Gabriel Rossetti. Além de modelo, Elizabeth Siddal
também era poeta e pintora.
A primeira pintura para a qual Siddal foi modelo foi uma imagem da 12th
Night (Noite de Reis, de William Shakespeare) na qual ela foi representada
como Viola, personagem que se veste de homem na peça. Este fato revela que
havia um interesse nas feições andrógenas da modelo. Apesar de mais tarde
ter sido elogiada por sua beleza, ela foi escolhida como modelo supostamente
porque tinha uma aparência comum.
John Ruskin, crítico de arte, admirava Elizabeth e pagava anualmente
150 libras para que ela lhe mandasse toda a sua produção. Ela realizou muitas
aquarelas e esboços, mas apenas uma pintura a óleo, na época a marca de um
Grande Artista. Seu autorretrato é marcante pois é bem mais simples e cru do
que as imagens de uma beleza divina e idealizada que os Pré-Rafaelitas
produziram dela. Ruskin também repreendeu Dante Gabriel Rossetti por não
casar com Elizabeth Siddal, dando a ela segurança e estabilidade econômica.
Os dois afinal casaram-se em 1860. Nos dez anos anteriores, Rossetti
havia por várias vezes prometido a ela que se casariam, mas sempre quebrava
a promessa e era sabido que mantinha casos com outras mulheres. Estes
incidentes afetaram Elizabeth e ela usava suas doenças frequentes e sérias
para chantagear o pintor. Siddal entrou em uma depressão profunda e sua
longa doença deu-lhe acesso ao láudano, que acabou por viciá-la. Apesar de a
relação entre Rossetti e Siddal ter enfraquecido até a morte da modelo,
Rossetti continuou pintando retratos dela até mesmo postumamente,
mostrando a enorme influência que Elizabeth teve sobre ele.
Siddal morreu de uma overdose de láudano nos primeiros meses de
1862. Rossetti descobriu-a inconsciente e morrendo em sua cama, depois de
terem jantado com um amigo. Embora sua morte tenha sido considerada
acidental pelo legista, há sugestões de que Rossetti teria encontrado uma carta
de suicídio escrita por ela. O caso foi abafado pois, segundo a legislação da
época, suicídios eram ilegais e imorais e, se confirmado, o suicídio de Elizabeth
teria trazido escândalo à sua família e impedido que ela tivesse um enterro
cristão.
3. Temas e Estilo3.1. Estilo
Os pré-rafaelitas não utilizavam as técnicas de sombreamento e
profundidade, também - como faziam os clássicos - pois achavam que isso
relegava os elementos periféricos da pintura para segundo plano. Também
ignoravam as leis da perspectiva - tudo princípios consagrados e
inquestionáveis para as escolas académicas.
Dedicado principalmente à pintura, o grupo era organizado como uma
confraria medieval, Sofrendo influência dos Nazarenos, uma confraria de
pintores alemães que, no início do século XIX, se estabelece em Roma e tem
como objetivo repor a arte paleocristã.
Pregavam “a arte pela arte”, uma arte em seu estado bruto com a volta
ao tempo em que os artistas eram artífices "sinceros e fiéis à obra de Deus", à
natureza e se empenhavam em copiá-la de modo simples e direto, sem o filtro
das formas pré estabelecidas da pintura acadêmica.
Independentemente do tema retratado, torna-se essencial que a obra de
arte transmita uma ideia autêntica, fruto da individualidade do artista. Este não
tem de se submeter a regras rígidas e castradoras de representação, deve
antes ser livre na sua criação artística. A sua arte vai-se opor ao método
tradicional de representação da natureza prescindindo do trabalho de atelier e
recusando a normalidade das composições acadêmicas (ex: eliminando-se a
linha do horizonte).
O artista aspira à beleza poética, à representação além da realidade
visível: trabalha-se com a matéria da alma e a espiritualidade. Esta
representação do “sonho” vai-se traduzir formalmente na busca da harmonia e
equilíbrio entre os elementos. A pintura com base no desenho vai resultar em
imagens quase ornamentais repletas de pormenores e detalhes fotográficos,
onde o traçado fluido e gráfico busca realçar aspectos estéticos,
independentemente da sua semelhança ou não com a realidade. Também na
aplicação da cor se vão quebrar laços com as técnicas tradicionais surgindo
agora cores luminosas, esmaltadas, que ajudam à sensibilidade estética de
pinturas poéticas onde o romance e o erotismo, unidos a uma certa inocência,
têm lugar de destaque.
Em Ecce Ancilla Domini (1849-1850), Rossetti revela bem a atitude dos
pré-rafaelitas. Nessa pintura o artista busca apresentar o momento da
Anunciação, usualmente representado segundo o modelo medieval. Contudo, o
artista descarta esse modelo, negando a cópia pura e simples dos mestres
medievais. Para ele, trata-se de recuperar o espírito desses mestres, que
significa antes de tudo ler a narrativa bíblica com um coração devoto e
visualizar a cena com sinceridade e singeleza, interpretando-a através de sua
própria sensibilidade, mas com a máxima fidelidade e detalhismo.
A Anunciação. Lucenti de Coreggio,
Jeronimo. Óleo sobre cobre, 67 x 51 cm,
São Petersburgo, Museu L’Hermitage.
Ecce Ancilla Domini. Dante Gabriel
Rossetti. Óleo sobre tela, 73 cm × 41,9 cm.
Tate Britain, Londres
Millais e Holman Hunt dedicaram-se aos temas e problemas da
sociedade da época cada vez mais materialista, utilizando uma representação
mais realista; Rossetti e Edward Burne-Jones pintam temas medievais
inspirados em Dante na sua Divina Comédia, em lendas como a do Rei Arthur,
cenas religiosas, carregando as suas composições de misticismo numa versão
mais visionária. Pode-se afirmar que esta segunda variante dominou o
movimento.
Dante Rossetti, um dos mais talentosos pré-rafaelitas, assim resume
seus objetivos: "ter idéias genuínas para se expressar; estudar atentamente a
natureza, de modo a saber como expressá-la; simpatizar com toda arte anterior
produzida de modo direto, sério e sincero, e nunca com obras convencionais e
ostentatórias ou com técnicas aprendidas de modo mecânico; e, o mais
importante, produzir pinturas e estátuas consumadamente boas". Tais objetivos
levam os artistas ao uso de uma técnica clara, brilhante e nítida. Com relação
aos temas, posto que eram totalmente avessos à pintura de gênero, eles
retomam os assuntos religiosos e elevados da arte medieval e do primeiro
renascimento.
As iniciais PRB (Pré-Raphaelite Broterhood - Irmandade Pré-Rafaelita)
são usadas pela primeira vez na pintura A Infância de Maria Virgem de
Rosssetti em 1849, e logo são adotadas pelos outros pintores. Ao se decifrar o
significado da sigla em 1850, diversas críticas públicas são feitas aos pré-
rafaelitas. Charles Dickens condena a rejeição explícita do grupo a Rafael, e
enxerga a volta aos artistas italianos primitivos como um retorno à feiúra. Mas
John Ruskin (1819-1900), o mais influente crítico de arte inglês do período,
defende com êxito os pré-rafaelitas dos ataques grosseiros de Dickens.
A Infância da Virgem Maria. Dante Gabriel Rossetti. Óleo sobre tela, 65 x 83cm. Tate
Britain, Londres
3.2. Temas
Os Pré-Rafaelitas se dedicaram desde à retratação de momentos
“realistas” da vida cotidiana – ou mesmo de momentos “cotidianizados” da vida
de figuras mitológicas e religiosas, tais como a Santa Família ou a Virgem
Maria de “Ecce Ancilla Domini” – até uma temática mais simbólica, literária e
medievalista, inspirada principalmente por Dante Gabriel Rossetti.
“Derivando inspiração da arte visual e da literatura, seu trabalho [dos
Pré-Rafaelitas] privilegiava atmosfera e tom em detrimento da narrativa,
focando-se em temas medievais, introspecção artística, beleza feminina,
desejo sexual e estados alterado de consciência (Em:
<http://www.bl.uk/romantics-and-victorians/articles/the- pre-raphaelites#sthash.
Supn2UJR.dpuf>. Acesso em: 19 de Junho de 2016. Tradução nossa). É essa
“inspiração da arte visual e da literatura” que realmente destaca o pré-
rafaelismo tematicamente. Dante Gabriel Rossetti pregava que todos os
artistas da Irmandade deveriam se dedicar tanto à arte visua quanto à
literatura, apesar de ter sido o único membro do grupo a fazê-lo com algum
sucesso, e os Pré-Rafaelitas dedicavam pinturas, inclusive, à literatura que se
estava produzindo durante o próprio período vitoriano.
O grupo retratou diversos personagens mitológicos e clássicos, tais
como Helena de Tróia, Medeia ou Perséfone, mas também se inspirou em
autores ingleses como Shakespeare, que não costumava ser tema de pinturas
à época, e mesmo vitorianos como Alfred, Lord Tennyson, autor do poema The
Lady of Shallott, que inspirou a pintura de mesmo nome da autoria de John
William Waterhouse.
De fato, entre os primeiros trabalhos a serem exibidos com as iniciais
PRB encontra-se Isabella, de John Everett Milais, inspirado em um poema
narrativo de John Keats (“Isabella, or the Pot of Basil”, de 1818). Em 1868,
William Holman Hunt também pintou duas versões de uma ilustração para o
mesmo poema.
The Lady of Shalott. John William Waterhouse, 1888. Óleo sobre tela. (Tate Britain, London)
4. Curiosidades sobre a obra Ophelia, de John Everett Millais:
John Everett Millais, Ophelia, 1851–1852, óleo sobre tela, 76 cm x 1,12 m, Tate Modern,
Londres
Ophelia é uma pintura de John Everett Millais, concluída entre 1851 e
1852, e considerada a obra-prima do movimento. Representa uma cena de
Hamlet, de William Shakespeare, na qual Ophelia está cantando antes de se
afogar, num rio da Dinamarca.
O episódio retratado não é visto no palco, existe apenas na descrição de
Gertrude, a rainha, mãe de Hamlet. Segundo a descrição de Gertrude, Ophelia
caiu dentro do rio enquanto colhia flores. Ela canta, como se estivesse
inconsciente do perigo. Suas roupas, prendendo o ar, permitem que ela fique
temporariamente flutuando. Mas, após alguns minutos,, seu vestido se torna
pesado pela água e Ophelia é tragada para a morte lamacenta. A morte de
Ophelia tem sido elogiada como uma das cenas de morte mais poéticas da
literatura.
"Ophelia" foi pintada ao longo das margens do rio Hogsmill, em Surrey,
na Inglaterra. Enquanto Millais executava este trabalho, seu colega próximo,
William Holman Hunt, trabalhava em seu quadro "O pastor Hireling" nas
proximidades. As flores mostradas flutuando sobre o rio foram escolhidos para
corresponder à descrição de Shakespeare da guirlanda de Ophelia. Elas
também refletem o interesse vitoriano na "linguagem das flores", segundo a
qual cada flor tem um significado. A papoula vermelha (não mencionada pela
descrição de Shakespeare da cena) representa o sono e a morte.
Tem sido frequentemente afirmado que um guaxinim é retratado na
folhagem na margem do lado direito, mas não há nenhuma evidência existente
de que isso foi realmente pretendido por Millais. Além disto, Millais tencionava
pintar um ratão do banhado nadando ao lado de Ophelia, mas após convocar a
família de William Holman Hunt para ver o quadro em andamento e constatar
que nenhum dos presentes conseguia entender qual era o animal retratado
(após alguns palpites como: uma lebre, um coelho ou talvez um cachorro ou
gato) Millais desistiu da ideia.
O pintor produziu Ophelia em duas fases distintas: primeiramente pintou
a paisagem e, em segundo lugar, a figura de Ophelia. Tendo encontrado um
ambiente adequado para a imagem, Millais permaneceu nas margens do rio
Hogsmill por até onze horas por dia, seis dias por semana, durante um período
de cinco meses, no ano de 1851. Isto permitiu-lhe descrever com precisão a
cena natural diante dele. Millais encontrou várias dificuldades durante o
processo de pintura. Ele escreveu em uma carta a um amigo reclamando sobre
as moscas e sobre o perigo de ser soprado pelo vento para dentro da água.
Em novembro de 1851, o tempo tornou-se muito ventoso e com neve.
Millais supervisionou a construção de uma cabana. De acordo com Millais,
sentado dentro da pequena construção, sentia-se como Robinson Crusoé.
William Holman Hunt ficou tão impressionado com a cabana do colega que
construiu uma idêntica para si mesmo.
Para a segunda etapa da pintura, Millais usou como modelo Elizabeth
Siddal, então com 19 anos de idade. O pintor fez uso de uma banheira para
reproduzir as águas e Elizabeth pousou completamente vestida dentro dela, em
um estúdio em Londres. Como era inverno, o pintor colocou lâmpadas a óleo
sob a banheira para aquecer a água, mas estava tão concentrado em seu
trabalho que deixou que elas se apagassem. Como resultado, Siddal pegou
uma pneumonia, e seu pai enviou a Millais uma carta exigindo uma quantia em
dinheiro para despesas médicas.
A obra foi exibida ao público pela primeira vez na Academia Real
Inglesa, em 1852, e não foi bem recebido. As críticas concentravam-se nos
fatos de que, na pintura, Ophelia assemelhava-se a uma camponesa ou leiteira
afogando-se em um arroio insignificante. Em resumo, a obra não era
dramática, solene e grandiosa, conforme demandava o tema retratado.
No século XX, porém, a pintura foi defendida pelo pintor surrealista
Salvador Dalí, entre outros nomes importantes. Em um artigo publicado em
uma revista de 1936, Dalí escreveu:
"How could Salvador Dalí fail to be dazzled by the flagrant surrealism of English
Pre-Raphaelitism. The Pre-Raphaelite painters bring us radiant women who
are, at the same time, the most desirable and most frightening that exist."
"Como poderia Salvador Dalí deixar de se deslumbrar com o surrealismo
flagrante do Pré-Rafaelismo inglês. Os pintores Pré-Rafaelitas nos trazem
mulheres radiantes que são, ao mesmo tempo, as mais desejáveis e mais
assustadoras que existem". (Tradução nossa)
Salvador Dalí, Ophelia’s Death, 1973, litografia
5. Referências:
Bermúdez, Ceán et Augustin, Juan. Diccionario histórico de los más
ilustres profesores de la Bellas Artes en España. Madrid: Ediciones Cátedra,
1996.
Hamilton, James. “New chemistry, new colors — scientific discovery and
nineteenth-century painting”. Disponível em: <http://www.victorianweb.
org/painting/misc/color.html.> Acesso em 17 de Junho de 2016.
Hawksley, Ludinda Essential Pre-Raphaelites, London: Parragon, 2000.
“Introduction to the Pre-Raphaelite Movement”. Disponível em:
<http://www.tate.org.uk/learn/online-resources/glossary/p/pre-raphaelite>.
Acesso em 18 de Junho de 2016.
Pérez Sánchez, Alfonso E. Pintura barroca en España 1600-1750.
Madrid: Ediciones Cátedra, 1992.
Prose, Francine. "Elizabeth Siddal", in The Lives of the Muses, London:
Aurum, 2003
Roe, Dinah. “The Pre-Raphaelites”. Disponível em: <http://www.bl.uk/
romantics-and-victorians/articles/the-pre-raphaelites>. Acesso em 16 de Junho
de 2016.
Secher, Benjamin. "Ten things you never knew about Ophelia".
Disponível em: <http://www.telegraph.co.uk/culture/art/11018800/Ten-things-
you-never-knew-about-Ophelia.html> . Acesso em 14 de Junho de 2016.