27
Os Pré-Rafaelitas

Pré Rafaelitas

  • Upload
    ana

  • View
    232

  • Download
    0

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Resumo sobre a Irmandade Pré-Rafaelita, História da Arte.

Citation preview

Page 1: Pré Rafaelitas

Os Pré-Rafaelitas

Page 2: Pré Rafaelitas

1. Introdução: A Irmandade Pré-Rafaelita

1.1. Formação da Irmandade

A Irmandade Pré-Rafaelita é um grupo de jovens artistas formado em

Londres em 1848. Apesar de jamais terem publicado um manifesto, suas

convicções a respeito de arte transparecem em suas obras: a rejeição de

convenções academicistas que dominavam o mundo da arte, a associação da

arte visual com a literatura e a poesia, a representação detalhada dos objetos

que compunham o quadro (o que, por si só, rejeitava a convenção

academicista de detalhar apenas os atores principais de uma composição de

acordo com uma hierarquia de importância), o tratamento realista das figuras e

o uso de elementos visuais românticos e simbólicos.

Seus membros fundadores foram Dante Gabriel Rossetti, William

Holman Hunt e John Everett Milais; no entanto, a Irmandade chegou a ter 7

membros no total, além de um círculo estendido de amigos e colaboradores -

entre os quais nós destacamos o crítico de arte John Ruskin e a modelo e

pintora Elizabeth Siddall -, e seu estilo continuou a influenciar artistas mesmo

muito depois da dissolução do grupo.

Page 3: Pré Rafaelitas

1.2. Rafael Sanzio, Pintura Academicista

Quando a irmandade foi fundada, prevalecia no meio artístico inglês o

Academicismo, escola fundada em uma série de princípios norteadores rígidos

quanto a composição, forma, cor e temática na pintura. O estilo Academicista

havia sucedido o igualmente rigoroso Maneirismo, o qual, por sua vez, se

norteava pelas imagens clássicas do Renascimento - entre as quais se

encontrava a obra de Rafael Sanzio. Era a partir dos “grandes mestres” do

Renascimento que havia se consolidado uma linguagem visual de paletas de

cores sóbrias, composições rígidas (em pirâmide, com o tema principal

centralizado) iluminação dramática (focada no tema principal, gerando sombras

que acabavam privilegiando a noção de tridimensionalidade dos objetos em

detrimento da cor) e temáticas históricas, cristãs ou referentes à mitologia

clássica.

William Adolphe Bougereau - The

Birth of Venus (1879)

Rafael Sanzio - The Virgin and

Child with Saint John the Baptist (La Belle

Jardinière)

Ao escolher o nome “Pré-Rafaelitas”, os artistas da Irmandade

rejeitavam implicitamente não a Rafael Sanzio ou aos outros pintores

renascentistas, mas sim aos 300 anos de pinturas derivativas que tais pintores

Page 4: Pré Rafaelitas

tiveram como legado - o “Rafaelismo”. Propunham, ao invés do Rafaelismo

uma arte nova, jovem, que partia de uma nova sensibilidade estética para

retratar a realidade com um detalhismo chocante para a época, e que se

utilizava ao máximo dos novos recursos técnicos provenientes da invenção dos

tubos de tinta, que permitiam pintura ao ar livre com uma ampla gama de cores

vivas: “Quando a Irmandade Pré-Rafaelita [...] exibiu junta pela primeira vez em

1849, a vivacidade de suas cores era um vívido testemunho público do quão

fundamentlmente a química e a produção comercial de tinta haviam mudado a

forma como o mundo podia ser refletido no espelho da arte.” (Em:

<http://www.victorianweb.org/painting/misc/color.html>. Acesso em 18 de Junho

de 2016).

Ao mesmo tempo, ao dedicar um olhar a um passado idealizado, tanto

em seu nome quanto nas temáticas de muitos de seus quadros, “O Pré-

Rafaelismo se encontrou paradoxalmente posicionado entre a nostalgia pelo

passado e o entusiasmo pelo futuro” (Em: <http://www.bl.uk/romantics-and-

victorians/articles/the-pre-raphaelites #sthash.Supn2UJR.dpuf >. Acesso em: 18

de Junho de 2016; tradução nossa). É essa situação ambígua que o faz,

inclusive, parecer um tanto quanto conservador, para as sensibilidades

contemporâneas, se comparado a movimentos de vanguarda que lhe

sucederam, como o Impressionismo. É extremamente importante, portanto,

contextualizar o trabalho dos pré-rafaelitas em relação a seus antecessores, ao

mesmo tempo destacando sua influência que permanece atual, conforme

tencionamos fazer neste trabalho.

Page 5: Pré Rafaelitas

2. Artistas e Colaboradores

2.1. Dante Gabriel Rossetti

    Dante Gabriel Rossetti começou a estudar na

escola secundária do King's College de Londres,

de 1836 a 1841, passando por uma escola de

desenho antiquada, e acabando na escola da

Royal Academy britânica em 1845.

Tendo como pano de fundo os grandes

movimentos revolucionários de 1848, foi devido

aos esforços de Rossetti que se criou nesse ano,

na Inglaterra, a Irmandade dos Pré-Rafaelitas. O

grupo tinha como inspiração a obra do crítico de

arte John Ruskin, Modern Painters, publicada a

partir de 1843.

Em 1854, numa época em que o grupo se começava a dissolver,

Rossetti ganhou um poderoso e exigente patrono em Ruskin, o seu mentor

original o que atraiu Edward Burne-Jones e William Morris, estudantes de

Oxford, com os quais Rossetti iniciou a segunda fase do movimento Pré-

Rafaelita – a fase medievalista. Ligado a este entusiasmo romântico pelo

passado lendário, que divergia substancialmente do ideal inicial de um realismo

de acordo com a natureza, estava a vontade de reformar as artes decorativas.

Em 1860, Dante Gabriel Rossetti casou com Elizabeth Siddal, que, tendo

começado a posar para toda a Irmandade, acabou por se tornar sua modelo

exclusiva. Após a morte da esposa, Rossetti mudou não só de zona

residencial, mudando-se das áreas ribeirinhas de Londres para a mais

aristocrática zona de Chelsea, como de estilo artístico, que se tornou mais

sensual e estilizado. Após a sua morte, devido à dependência de álcool, no

Domingo de Páscoa de 1882, foi publicada uma edição dos poemas de

Rossetti.

Retrato de Dante Gabriel Rossetti, c. 1871, por Goeorge Frederic Watts

Page 6: Pré Rafaelitas

2.2. Sir John Everett Millais

Seu talento artístico prodígio garantiu

a ele uma vaga na Academia Real Inglesa

em 1840, aos 11 anos, idade inédita entre

os alunos da academia. Lá, ele conheceu

William Holman Hunt e Dante Gabriel

Rossetti, com quem formaria a Irmandade

Pré-Rafaelita em setembro de 1848 na casa

de sua. Millais tornou-se já em sua época o

expoente mais famoso dessa corrente,

tendo seu quadro Cristo na casa de seus

pais sido recebido de forma controversa

devido ao realismo em que retratou Jesus e

sua casa. Em fins da década de 1850, Millais começou a abandonar o estilo

pré-rafaelita. Suas obras tardias ganharam grande sucesso, transformando

Millais em um dos artistas mais bem-pagos em vida na época. Apesar disso,

elas foram vistas pela maior parte dos críticos do século XX como erros.

A vida particular de Millais também teve grande importância na

construção de sua reputação. Sua esposa, Effie, divorciou-se do crítico John

Ruskin, que incentivou a obra mais jovem de Millais. O divórcio de Effie e seu

casamento de com Millais já foram algumas vezes ligados às mudanças no

estilo de Millais.

Depois de seu casamento, Millais começou a pintar em um estilo que foi

condenado por Ruskin como “uma catástrofe”. Tem sido defendido no meio

acadêmico que essa mudança de estilo foi resultado da necessidade de Millais

de aumentar a renda de sua família, cada vez maior. Críticos inflexíveis como o

pintor William Morris acusaram-no de “vender-se” para ganhar popularidade e

riqueza.

2.3. William Holman Hunt

Retrato de Sir John Everett Millais, por George Frederic Watts. Coleção da National Portrait Gallery

Page 7: Pré Rafaelitas

  Suas pinturas eram notáveis por sua grande atenção aos detalhes, cores

vivas, e simbolismo elaborado. Esses recursos foram influenciados pelos

escritos de John Ruskin e Thomas Carlyle, segundo o qual o próprio mundo

deve ser lido como um sistema de signos visuais.

As obras de Hunt não foram inicialmente bem-sucedidas, e foram

amplamente atacadas na imprensa arte por sua suposta falta de jeito e feiúra.

Ele era notável por suas cenas naturalistas da vida urbana, como em “O

Depertar da Consciência”. No entanto, foi com suas pinturas religiosas que se

tornou famoso, inicialmente com “A Luz do Mundo” (1851-1853), agora na

capela de Keble College, Oxford; uma versão mais recente (1900) percorreu o

mundo e agora tem a sua casa na Catedral de São Paulo.

2.4. Edward Coley Burne-Jones

Foi um artista britânico e designer intimamente associado com a fase

posterior do movimento pré-rafaelita, que trabalhou com William Morris em uma

ampla gama de atividades artísticas decorativas, de pintura e vitrais à

concepção de telhas cerâmicas, joias, tapeçarias, mosaicos e ilustração de

livros.

Em 1861, William Morris fundou o  Decorative arts, firma de Morris,

Marshall, Faulkner & Co. com Rossetti, Burne-Jones, Ford Madox Brown e

Philip Webb como parceiros, juntamente com Charles Faulkner e Peter Paul

Marshall, o primeiro dos quais era um membro da Irmandade Oxford, e este

último um amigo de Brown e Rossetti.

2.5. John William Waterhouse

Nascido na Itália, em 1849, de pais ingleses pintores, ele mais tarde

mudou-se para Londres, onde ingressou na Academia Real Inglesa. Trabalhou

diversas décadas após o fim da Irmandade Pré-Rafaelita, que viu seu apogeu

no meio do século XIX, o que fez com que ele fosse apelidado de “o pré-

rafaelita moderno”. Recebendo influência não só do início do pré-rafaelismo

como também de seus contemporâneos, os impressionistas, suas obras eram

conhecidas por suas representações de mulheres tanto da mitologia grega

como da lenda do Rei Artur.

Page 8: Pré Rafaelitas

Um dos quadros mais famosos de Waterhouse é A Dama de Shalott, um

estudo sobre Elaine de Astolat, que morre de pesar por Lancelot não amá-la.

Ele pintou três versões desta personagem, em 1888, 1894 e 1916. Outro tema

que era um dos favoritos de Waterhouse era Ofélia; sua pintura mais famosa

sobre ela retrata-a pouco antes de sua morte, colocando flores no cabelo

enquanto senta-se em um galho de árvore inclinado sobre um lago. Como em

A Dama de Shalott e outras pinturas de Waterhouse, trata de uma mulher

morrendo dentro ou perto da água. Também foi provavelmente inspirado pelas

pinturas de Ofélia por Dante Gabriel Rossetti e John Everett Millais

Em 1915, Waterhouse estava gravemente doente com um câncer e não

pôde concluir sua última pintura sobre Ofélia. Morreu dois anos mais tarde, em

1917.

2.6. John Ruskin

Foi um escritor mais lembrado por seu trabalho como crítico e crítico

social britânico. O pensamento de Ruskin vincula-se ao Romantismo.

Esteticamente, Ruskin apresenta-se como reação ao Classicismo e com

admiração ao medievalismo. A partir de 1851, foi um defensor inicial e patrono

da Irmandade Pré-Rafaelita, inspirando posteriormente a criação do movimento

Arts & Crafts.

Page 9: Pré Rafaelitas

2.7. Elizabeth Siddall

Elizabeth Siddal, Autorretrato, 1853-1854, óleo sobre tela, 23 cm de diâmetro

Coleção privada (Fonte: The Rossetti Archive)

Elizabeth Eleanor Siddal (1829-1862) foi a musa inspiradora do grupo.

Ela foi largamente retratada em desenhos e pinturas por artistas da Irmandade

Pré-Rafaelita, incluindo Walter Deverell, William Holman Hunt, John Everett

Millais e seu marido, Dante Gabriel Rossetti. Além de modelo, Elizabeth Siddal

também era poeta e pintora.

A primeira pintura para a qual Siddal foi modelo foi uma imagem da 12th

Night (Noite de Reis, de William Shakespeare) na qual ela foi representada

como Viola, personagem que se veste de homem na peça. Este fato revela que

havia um interesse nas feições andrógenas da modelo. Apesar de mais tarde

ter sido elogiada por sua beleza, ela foi escolhida como modelo supostamente

porque tinha uma aparência comum.

John Ruskin, crítico de arte, admirava Elizabeth e pagava anualmente

150 libras para que ela lhe mandasse toda a sua produção. Ela realizou muitas

aquarelas e esboços, mas apenas uma pintura a óleo, na época a marca de um

Grande Artista. Seu autorretrato é marcante pois é bem mais simples e cru do

que as imagens de uma beleza divina e idealizada que os Pré-Rafaelitas

produziram dela. Ruskin também repreendeu Dante Gabriel Rossetti por não

casar com Elizabeth Siddal, dando a ela segurança e estabilidade econômica.

Page 10: Pré Rafaelitas

Os dois afinal casaram-se em 1860. Nos dez anos anteriores, Rossetti

havia por várias vezes prometido a ela que se casariam, mas sempre quebrava

a promessa e era sabido que mantinha casos com outras mulheres. Estes

incidentes afetaram Elizabeth e ela usava suas doenças frequentes e sérias

para chantagear o pintor. Siddal entrou em uma depressão profunda e sua

longa doença deu-lhe acesso ao láudano, que acabou por viciá-la. Apesar de a

relação entre Rossetti e Siddal ter enfraquecido até a morte da modelo,

Rossetti continuou pintando retratos dela até mesmo postumamente,

mostrando a enorme influência que Elizabeth teve sobre ele.

Siddal morreu de uma overdose de láudano nos primeiros meses de

1862. Rossetti descobriu-a inconsciente e morrendo em sua cama, depois de

terem jantado com um amigo. Embora sua morte tenha sido considerada

acidental pelo legista, há sugestões de que Rossetti teria encontrado uma carta

de suicídio escrita por ela.  O caso foi abafado pois, segundo a legislação da

época, suicídios eram ilegais e imorais e, se confirmado, o suicídio de Elizabeth

teria trazido escândalo à sua família e impedido que ela tivesse um enterro

cristão.

Page 11: Pré Rafaelitas

3. Temas e Estilo3.1. Estilo

Os pré-rafaelitas não utilizavam as técnicas de sombreamento e

profundidade, também - como faziam os clássicos - pois achavam que isso

relegava os elementos periféricos da pintura para segundo plano. Também

ignoravam as leis da perspectiva - tudo princípios consagrados e

inquestionáveis para as escolas académicas.

Dedicado principalmente à pintura, o grupo era organizado como uma

confraria medieval, Sofrendo influência dos Nazarenos, uma confraria de

pintores alemães que, no início do século XIX, se estabelece em Roma e tem

como objetivo repor a arte paleocristã.

Pregavam “a arte pela arte”, uma arte em seu estado bruto com a volta

ao tempo em que os artistas eram artífices "sinceros e fiéis à obra de Deus", à

natureza e se empenhavam em copiá-la de modo simples e direto, sem o filtro

das formas pré estabelecidas da pintura acadêmica.

Independentemente do tema retratado, torna-se essencial que a obra de

arte transmita uma ideia autêntica, fruto da individualidade do artista. Este não

tem de se submeter a regras rígidas e castradoras de representação, deve

antes ser livre na sua criação artística. A sua arte vai-se opor ao método

tradicional de representação da natureza prescindindo do trabalho de atelier e

recusando a normalidade das composições acadêmicas (ex: eliminando-se a

linha do horizonte).

O artista aspira à beleza poética, à representação além da realidade

visível: trabalha-se com a matéria da alma e a espiritualidade. Esta

representação do “sonho” vai-se traduzir formalmente na busca da harmonia e

equilíbrio entre os elementos. A pintura com base no desenho vai resultar em

imagens quase ornamentais repletas de pormenores e detalhes fotográficos,

onde o traçado fluido e gráfico busca realçar aspectos estéticos,

independentemente da sua semelhança ou não com a realidade. Também na

aplicação da cor se vão quebrar laços com as técnicas tradicionais surgindo

agora cores luminosas, esmaltadas, que ajudam à sensibilidade estética de

pinturas poéticas onde o romance e o erotismo, unidos a uma certa inocência,

têm lugar de destaque.

Page 12: Pré Rafaelitas

Em Ecce Ancilla Domini (1849-1850), Rossetti revela bem a atitude dos

pré-rafaelitas. Nessa pintura o artista busca apresentar o momento da

Anunciação, usualmente representado segundo o modelo medieval. Contudo, o

artista descarta esse modelo, negando a cópia pura e simples dos mestres

medievais. Para ele, trata-se de recuperar o espírito desses mestres, que

significa antes de tudo ler a narrativa bíblica com um coração devoto e

visualizar a cena com sinceridade e singeleza, interpretando-a através de sua

própria sensibilidade, mas com a máxima fidelidade e detalhismo.

A Anunciação. Lucenti de Coreggio,

Jeronimo. Óleo sobre cobre, 67 x 51 cm,

São Petersburgo, Museu L’Hermitage.

Ecce Ancilla Domini. Dante Gabriel

Rossetti. Óleo sobre tela, 73 cm × 41,9 cm.

Tate Britain, Londres

Millais e Holman Hunt dedicaram-se aos temas e problemas da

sociedade da época cada vez mais materialista, utilizando uma representação

mais realista; Rossetti e Edward Burne-Jones pintam temas medievais

inspirados em Dante na sua Divina Comédia, em lendas como a do Rei Arthur,

cenas religiosas, carregando as suas composições de misticismo numa versão

mais visionária. Pode-se afirmar que esta segunda variante dominou o

movimento.

Dante Rossetti, um dos mais talentosos pré-rafaelitas, assim resume

seus objetivos: "ter idéias genuínas para se expressar; estudar atentamente a

natureza, de modo a saber como expressá-la; simpatizar com toda arte anterior

Page 13: Pré Rafaelitas

produzida de modo direto, sério e sincero, e nunca com obras convencionais e

ostentatórias ou com técnicas aprendidas de modo mecânico; e, o mais

importante, produzir pinturas e estátuas consumadamente boas". Tais objetivos

levam os artistas ao uso de uma técnica clara, brilhante e nítida. Com relação

aos temas, posto que eram totalmente avessos à pintura de gênero, eles

retomam os assuntos religiosos e elevados da arte medieval e do primeiro

renascimento.

As iniciais PRB (Pré-Raphaelite Broterhood - Irmandade Pré-Rafaelita)

são usadas pela primeira vez na pintura A Infância de Maria Virgem de

Rosssetti em 1849, e logo são adotadas pelos outros pintores. Ao se decifrar o

significado da sigla em 1850, diversas críticas públicas são feitas aos pré-

rafaelitas. Charles Dickens condena a rejeição explícita do grupo a Rafael, e

enxerga a volta aos artistas italianos primitivos como um retorno à feiúra. Mas

John Ruskin (1819-1900), o mais influente crítico de arte inglês do período,

defende com êxito os pré-rafaelitas dos ataques grosseiros de Dickens.

 A Infância da Virgem Maria. Dante Gabriel Rossetti. Óleo sobre tela, 65 x 83cm. Tate

Britain, Londres

Page 14: Pré Rafaelitas

3.2. Temas

Os Pré-Rafaelitas se dedicaram desde à retratação de momentos

“realistas” da vida cotidiana – ou mesmo de momentos “cotidianizados” da vida

de figuras mitológicas e religiosas, tais como a Santa Família ou a Virgem

Maria de “Ecce Ancilla Domini” – até uma temática mais simbólica, literária e

medievalista, inspirada principalmente por Dante Gabriel Rossetti.

“Derivando inspiração da arte visual e da literatura, seu trabalho [dos

Pré-Rafaelitas] privilegiava atmosfera e tom em detrimento da narrativa,

focando-se em temas medievais, introspecção artística, beleza feminina,

desejo sexual e estados alterado de consciência (Em:

<http://www.bl.uk/romantics-and-victorians/articles/the- pre-raphaelites#sthash.

Supn2UJR.dpuf>. Acesso em: 19 de Junho de 2016. Tradução nossa). É essa

“inspiração da arte visual e da literatura” que realmente destaca o pré-

rafaelismo tematicamente. Dante Gabriel Rossetti pregava que todos os

artistas da Irmandade deveriam se dedicar tanto à arte visua quanto à

literatura, apesar de ter sido o único membro do grupo a fazê-lo com algum

sucesso, e os Pré-Rafaelitas dedicavam pinturas, inclusive, à literatura que se

estava produzindo durante o próprio período vitoriano.

O grupo retratou diversos personagens mitológicos e clássicos, tais

como Helena de Tróia, Medeia ou Perséfone, mas também se inspirou em

autores ingleses como Shakespeare, que não costumava ser tema de pinturas

à época, e mesmo vitorianos como Alfred, Lord Tennyson, autor do poema The

Lady of Shallott, que inspirou a pintura de mesmo nome da autoria de John

William Waterhouse.

De fato, entre os primeiros trabalhos a serem exibidos com as iniciais

PRB encontra-se Isabella, de John Everett Milais, inspirado em um poema

narrativo de John Keats (“Isabella, or the Pot of Basil”, de 1818). Em 1868,

William Holman Hunt também pintou duas versões de uma ilustração para o

mesmo poema.

Page 15: Pré Rafaelitas

The Lady of Shalott. John William Waterhouse, 1888. Óleo sobre tela. (Tate Britain, London)

4. Curiosidades sobre a obra Ophelia, de John Everett Millais:

Page 16: Pré Rafaelitas

John Everett Millais, Ophelia, 1851–1852, óleo sobre tela, 76 cm x 1,12 m, Tate Modern,

Londres

Ophelia é uma pintura de John Everett Millais, concluída entre 1851 e

1852, e considerada a obra-prima do movimento. Representa uma cena de

Hamlet, de William Shakespeare, na qual Ophelia está cantando antes de se

afogar, num rio da Dinamarca.

O episódio retratado não é visto no palco, existe apenas na descrição de

Gertrude, a rainha, mãe de Hamlet. Segundo a descrição de Gertrude, Ophelia

caiu dentro do rio enquanto colhia flores. Ela canta, como se estivesse

inconsciente do perigo. Suas roupas, prendendo o ar, permitem que ela fique

temporariamente flutuando. Mas, após alguns minutos,, seu vestido se torna

pesado pela água e Ophelia é tragada para a morte lamacenta. A morte de

Ophelia tem sido elogiada como uma das cenas de morte mais poéticas da

literatura.

"Ophelia" foi pintada ao longo das margens do rio Hogsmill, em Surrey,

na Inglaterra. Enquanto Millais executava este trabalho, seu colega próximo,

William Holman Hunt, trabalhava em seu quadro "O pastor Hireling" nas

Page 17: Pré Rafaelitas

proximidades. As flores mostradas flutuando sobre o rio foram escolhidos para

corresponder à descrição de Shakespeare da guirlanda de Ophelia. Elas

também refletem o interesse vitoriano na "linguagem das flores", segundo a

qual cada flor tem um significado. A papoula vermelha (não mencionada pela

descrição de Shakespeare da cena) representa o sono e a morte.

Tem sido frequentemente afirmado que um guaxinim é retratado na

folhagem na margem do lado direito, mas não há nenhuma evidência existente

de que isso foi realmente pretendido por Millais. Além disto, Millais tencionava

pintar um ratão do banhado nadando ao lado de Ophelia, mas após convocar a

família de William Holman Hunt para ver o quadro em andamento e constatar

que nenhum dos presentes conseguia entender qual era o animal retratado

(após alguns palpites como: uma lebre, um coelho ou talvez um cachorro ou

gato) Millais desistiu da ideia.

O pintor produziu Ophelia em duas fases distintas: primeiramente pintou

a paisagem e, em segundo lugar, a figura de Ophelia. Tendo encontrado um

ambiente adequado para a imagem, Millais permaneceu nas margens do rio

Hogsmill por até onze horas por dia, seis dias por semana, durante um período

de cinco meses, no ano de 1851. Isto permitiu-lhe descrever com precisão a

cena natural diante dele. Millais encontrou várias dificuldades durante o

processo de pintura. Ele escreveu em uma carta a um amigo reclamando sobre

as moscas e sobre o perigo de ser soprado pelo vento para dentro da água.

Em novembro de 1851, o tempo tornou-se muito ventoso e com neve.

Millais supervisionou a construção de uma cabana. De acordo com Millais,

sentado dentro da pequena construção, sentia-se como Robinson Crusoé.

William Holman Hunt ficou tão impressionado com a cabana do colega que

construiu uma idêntica para si mesmo.

Para a segunda etapa da pintura, Millais usou como modelo Elizabeth

Siddal, então com 19 anos de idade. O pintor fez uso de uma banheira para

reproduzir as águas e Elizabeth pousou completamente vestida dentro dela, em

um estúdio em Londres. Como era inverno, o pintor colocou lâmpadas a óleo

sob a banheira para aquecer a água, mas estava tão concentrado em seu

trabalho que deixou que elas se apagassem. Como resultado, Siddal pegou

uma pneumonia, e seu pai enviou a Millais uma carta exigindo uma quantia em

dinheiro para despesas médicas.

Page 18: Pré Rafaelitas

A obra foi exibida ao público pela primeira vez na Academia Real

Inglesa, em 1852, e não foi bem recebido. As críticas concentravam-se nos

fatos de que, na pintura, Ophelia assemelhava-se a uma camponesa ou leiteira

afogando-se em um arroio insignificante. Em resumo, a obra não era

dramática, solene e grandiosa, conforme demandava o tema retratado.

No século XX, porém, a pintura foi defendida pelo pintor surrealista

Salvador Dalí, entre outros nomes importantes. Em um artigo publicado em

uma revista de 1936, Dalí escreveu:

"How could Salvador Dalí fail to be dazzled by the flagrant surrealism of English

Pre-Raphaelitism. The Pre-Raphaelite painters bring us radiant women who

are, at the same time, the most desirable and most frightening that exist."

"Como poderia Salvador Dalí deixar de se deslumbrar com o surrealismo

flagrante do Pré-Rafaelismo inglês. Os pintores Pré-Rafaelitas nos trazem

mulheres radiantes que são, ao mesmo tempo, as mais desejáveis e mais

assustadoras que existem". (Tradução nossa)

Page 19: Pré Rafaelitas

Salvador Dalí, Ophelia’s Death, 1973, litografia

Page 20: Pré Rafaelitas

5. Referências:

Bermúdez, Ceán et Augustin, Juan. Diccionario histórico de los más

ilustres profesores de la Bellas Artes en España. Madrid: Ediciones Cátedra,

1996.

Hamilton, James. “New chemistry, new colors — scientific discovery and

nineteenth-century painting”. Disponível em: <http://www.victorianweb.

org/painting/misc/color.html.> Acesso em 17 de Junho de 2016.

Hawksley, Ludinda Essential Pre-Raphaelites, London: Parragon, 2000.

“Introduction to the Pre-Raphaelite Movement”. Disponível em:

<http://www.tate.org.uk/learn/online-resources/glossary/p/pre-raphaelite>.

Acesso em 18 de Junho de 2016.

Pérez Sánchez, Alfonso E. Pintura barroca en España 1600-1750.

Madrid: Ediciones Cátedra, 1992.

Prose, Francine. "Elizabeth Siddal", in The Lives of the Muses, London:

Aurum, 2003

Roe, Dinah. “The Pre-Raphaelites”. Disponível em: <http://www.bl.uk/

romantics-and-victorians/articles/the-pre-raphaelites>. Acesso em 16 de Junho

de 2016.

Secher, Benjamin. "Ten things you never knew about Ophelia".

Disponível em: <http://www.telegraph.co.uk/culture/art/11018800/Ten-things-

you-never-knew-about-Ophelia.html> . Acesso em 14 de Junho de 2016.