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Princípios Físicos em Sensoriamento Remoto
ufsm.ccr.der2004
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
i
SUMÁRIO
Pág.
LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................................................... II
1 INTRODUÇÃO AO SENSORIAMENTO REMOTO...........................................................................................1
1.1 - A FERRAMENTA SR..............................................................................................................................................2
1.1.1 - A Origem do SR Moderno ..........................................................................................................................2 1.2 - PRODUTOS E APLICAÇÕES...................................................................................................................................3
1.3 - PRINCIPAIS PARÂMETROS DE DESEMPENHO DOS SISTEMAS SENSORES .....................................................5
1.3.1 - Resolução Espacial.....................................................................................................................................6
1.3.2 - Resolução Radiométrica............................................................................................................................7 1.3.3 - Resolução Espectral e Faixa Espectral ..................................................................................................8
1.3.4 - Resolução Temporal (Repetitividade) ................................................................................................. 10
2 RADIAÇÃO ÓPTICA ............................................................................................................................................ 12
2.1 - FONTES DE RADIAÇÃO ÓPTICA ........................................................................................................................12
2.2 - O ESPECTRO ÓPTICO .......................................................................................................................................... 12
2.3 - GRANDEZAS DA RADIAÇÃO ÓPTICA................................................................................................................15
2.3.1 - A Energia Radiante e sua Dependência do Tempo e do Espaço ..................................................... 16
2.3.2 - Grandezas da Radiação Relacionadas à Área e a Lei do Cosseno de Lambert ........................... 21 2.3.3 - Grandezas Radiométricas Relacionadas à Natureza do Material.................................................. 26
2.3.4 - Grandezas Radiométricas Espectrais................................................................................................... 28
2.3.5 - Grandezas Radiométricas, Fotométricas e Quânticas ...................................................................... 28
2.4 - CARACTERÍSTICAS DE FONTES DE RADIAÇÃO ÓPTICA ............................................................................... 29
2.4.1 - Leis da Radiação de Corpo Negro........................................................................................................ 30
2.4.2 - Emissores Espectralmente Seletivos ..................................................................................................... 37
2.4.3 - Fontes de Radiação Coerente ................................................................................................................ 38
3 INTERAÇÕES DA REM COM A SUPERFÍCIE ................................................................................................ 39
3.1 - REFLECTÂNCIA ESPECTRAL DA VEGETAÇÃO, SOLO E ÁGUA.....................................................................41
3.2 - PADRÕES DE RESPOSTA ESPECTRAL................................................................................................................46
3.3 - INFLUÊNCIA DA ATMOSFERA NOS PADRÕES DE RESPOSTA ESPECTRAL ..................................................48
4 INTERAÇÕES DA REM COM A ATMOSFERA.............................................................................................. 50
4.1 - ESPALHAMENTO..................................................................................................................................................50
4.2 - ABSORÇÃO ............................................................................................................................................................52
5 AQUISIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS .............................................................................................. 54
5.1 - DADOS DE REFERÊNCIA .....................................................................................................................................58
5.2 - O SISTEMA IDEAL DE SENSORIAMENTO REMOTO .......................................................................................60
5.3 - CARACTERÍSTICAS DE SISTEMAS REAIS DE SENSORIAMENTO REMOTO..................................................62
5.4 - A CORRETA UTILIZAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO.........................................................................64
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ....................................................................................................................... 68
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
ii
LISTA DE FIGURAS
Pág.
1.1 - Efeito da resolução espacial .................................................................................................................... 6
1.2 - Imagens reproduzidas em diferentes resoluções radiométricas ......................................................... 7
1.3 - Fotografias aéreas oblíquas de baixa altitude, obtidas simultaneamente, ilustrando a diferença
de comportamento espectral entre a grama natural, nos arredores do estádio, e a grama artificial, no
interior do mesmo, em função da resolução espectral do filme utilizado.................................................... 9
1.4 - Relação entre a natureza tático-estratégica dos alvos militares e as resoluções espacial e
temporal dos sistemas de SR............................................................................................................................. 11
2.1 - Gráfico de propagação da luz, segundo a Teoria Ondulatória ............................................................. 14
2.2 - O Espectro Eletromagnético...................................................................................................................... 14
2.3 - Grandezas radiométricas ........................................................................................................................... 21
2.4 - Lei do cosseno de Lambert para uma superfície difusa...................................................................... 23
2.5 - Fluxo radiante em um hemi sfério............................................................................................................. 24
2.6 - Interação entre energia radiante e matéria ............................................................................................. 26
2.7 - Tipos de fontes de radiação óptica ........................................................................................................ 29
2.8 - Distribuição espectral da energia irradiada de corpos negros de várias temperaturas .................. 33
3.1 - Interação entre a REM e feições na superfície terrestre ....................................................................... 38
3.2 - Reflectância especular versus reflectância difusa................................................................................. 40
3.3 - Curvas típicas de reflectância espectral para vegetação, solo e água ............................................... 42
3.4 - Efeito atmosférico sobre medições da REM solar refletida .................................................................. 48
4.1 - Características espectrais de (a) fontes de energia e (b) efeitos atmosféricos ................................. 52
5.1 - Características de uma imagem digital..................................................................................................... 55
5.2 - Processo de conversão analógico-digital (A/D).................................................................................... 57
5.3 - Componentes de um sistema ideal de SR................................................................................................ 61
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
1
1 INTRODUÇÃO AO SENSORIAMENTO REMOTO
“Sensoriamento Remoto é a ciência e a arte de obter informação acerca de um
objeto, área ou fenômeno, através da análise de dados adquiridos por um dispositivo que não
está em contato com o objeto, área ou fenômeno sob investigação”.
Essa definição, apresentada por Lillesand e Kiefer (1994), basta para que o leitor
tome consciência de que, no simples ato de ler este texto, ele está utilizando o Sensoriamento
Remoto (SR). Nesse caso, os olhos atuam como sistemas sensores capazes de responder à
luz refletida por esta página.
Os “dados” adquiridos pelos olhos são, na verdade, impulsos correspondentes à
quantidade de luz refletida das partes claras e escuras contidas no texto. Esses dados são
analisados pelo cérebro do leitor, tornando-o capaz de entender as áreas escuras como uma
coleção de letras que formam palavras que, por sua vez, formam frases. Ao final do processo,
a leitura dessas frases possibilitará a interpretação da informação nelas contida.
De certa forma, o SR pode ser entendido como um processo de leitura. Por meio de
vários sensores, dados são coletados remotamente, para que sejam analisados no intuito de
gerar informação acerca de objetos, áreas, ou fenômenos sob investigação.
Esses dados coletados remotamente podem apresentar-se de muitas formas. Podem
ser variações na distribuição de forças, distribuição de ondas acústicas, ou distribuição de
ondas eletromagnéticas - percebida, em parte, pelo olho humano - por exemplo.
Esta apostila discorre sobre sistemas sensores de energia eletromagnética empregados
em plataformas aerotransportadas e orbitais e a interação desses com a superfície terrestre.
Trata-se de sistemas que são adequados ao levantamento de dados que permitam a geração
de informações acerca de alvos dispostos na superfície terrestre.
Assim sendo, o SR eletromagnético também pode ser entendido como o conjunto de
atividades que têm por objetivo determinar propriedades de alvos pela detecção, registro e
análise da radiação eletromagnétca por eles refletida e/ou emitida.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
2
Ainda que o registro da radiação possa ser feito de várias maneiras, esta apostila irá
discorrer sobre sistemas, cujos dados registrados são apresentados sob forma de imagens.
Em termos militares, o SR constitui um conjunto de atividades de apoio às atividades
de Inteligência, particularmente a Inteligência de Imagens.
1.1 - A FERRAMENTA SR
Para que se possa fazer bom uso dos sistemas sensores, o planejador militar deve ser
capaz de responder às seguintes perguntas:
a) De que sistemas sensores disponho?
b) Em que circunstâncias posso utilizá-los?
c) Que informações eles são capazes de gerar?
Os conhecimentos essenciais para responder a essas três perguntas são apresentados
nos tópicos subseqüentes.
1.1.1 - A Origem do SR Moderno
O SR moderno é o “descendente” natural da fotografia convencional, tendo surgido
com a evolução das técnicas que permitem detectar e registrar outras formas de radiação
eletromagnética além da luz visível.
O SR teve seu crescimento lado a lado com a ciência da computação, a partir do final
dos anos 50. Isso se deveu a uma grande necessidade do programa espacial norte -americano
nesse sentido. O desenvolvimento conjunto dessas tecnologias fez com que o SR viesse a
englobar não apenas diferentes tipos de imagens e sensores, mas também, devido ao emprego
de técnicas de processamento de imagens digitais, propiciar a geração de uma gama de
produtos bem mais variada que a oferecida até então pelas técnicas e sensores fotográficos
tradicionais.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
3
1.2 - PRODUTOS E APLICAÇÕES
Existem várias formas de se caracterizar sistemas de SR. Podem ser discriminados
quanto ao nível de aquisição (terrestre, aéreo e orbital), ou quanto ao processo de detecção
(fotográfica ou eletrônica), por exemplo. A mais usual delas é dividindo-os em função do
domínio espectral (vide 1.3.3), ou seja, a porção do Espectro Eletromagnético por eles
explorada (visível, infravermelho próximo, infravermelho médio, infravermelho distante ou
termal, e microondas). Alguns sistemas, por operarem em mais de uma faixa espectral,
recebem a denominação multiespectral, ou hiperespectral, em função do número de canais
adotados.
Qualquer que seja a caracterização dada, é possível verificar que todos os sistemas
de SR podem apoiar, de alguma forma, as atividades de inteligência, sejam quais forem suas
aplicações primárias. A Tabela 1.1 apresenta, sinteticamente, os principais sistemas e
produtos de SR.
TABELA 1.1 - PRINCIPAIS SISTEMAS E PRODUTOS DE SR
SISTEMAS PRODUTOS/APLICAÇÕES
Sistemas fotográficos Inteligência, Cartografia, restituição altimétrica,
modelos para simulação de vôo
Sistemas multiespectrais e hiperespectrais Inteligência, Cartografia (carta-imagem), restituição
altimétrica (SPOT), modelos para simulação de vôo,
estudos de comportamento espectral de alvos
Imageadores infravermelho de visada frontal (FLIR) Imageamento noturno para fins diversos
(navegação, Busca e Salvamento, Esclarecimento
Marítimo, designação de alvos)
Imageadores termais de varredura de linha (IRLS) Inteligência, reconhecimento tático noturno
Radares imageadores de visada lateral Inteligência, reconhecimento a qualquer hora e sob
quaisquer condições meteorológicas, Cartografia,
restituição altimétrica (Interferometria)
A Tabela 1.2 ilustra as circunstâncias de utilização dos sistemas de SR, em função da
faixa espectral na qual estiverem operando. Quando um sistema de SR utiliza radiação
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
4
refletida (visível e infravermelho próximo/médio), ele depende da iluminação solar e da
transparência atmosférica, pois os comprimentos de onda envolvidos são relativamente
pequenos (vide 4.1 - Espalhamento Atmosférico).
Caso a radiação empregada pelo sistema se situe no infravermelho termal, tal sistema
independe de iluminação solar (vide “espectro emitido” em 2.1 - Fontes de Energia e
Princípios da Radiação). Entretanto, esse sistema ainda depende de transparência
atmosférica, pelas mesmas razões mencionadas para sistemas que operam no espectro
refletido.
Finalmente, quando se trata de radares imageadores, há independência tanto da
iluminação solar (são sistemas ativos, que emitem sua própria radiação), quanto da
transparência atmosférica (as microondas possuem comprimento de onda relativamente
longos, se comparados às partículas em suspensão na atmosfera terrestre).
As considerações anteriores estabelecem algumas características que podem
determinar a possibilidade, ou não, de utilização dos vários sistemas de SR. No entanto,
existem outras características pertinentes a cada sistema, aqui não mencionadas, que os
tornam mais ou menos adequados para determinado tipo de utilização, tornando a natureza
dos dados de SR essencialmente complementar. Em outras palavras, sempre que praticável, é
desejável a disponibilidade de dados dos vários sistemas existentes e, logicamente,
disponíveis.
Essa complementaridade entre os diversos sistemas de SR permite a extração de uma
quantidade superio r de informações para uma mesma cena, na medida em que cada faixa do
Espectro Eletromagnético possui peculiaridades na forma de interagir com a matéria.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
5
TABELA 1.2 - PERFIL DE OPERAÇÃO DOS SISTEMAS SENSORES EM FUNÇÃO
DA FAIXA ESPECTRAL
QUALQUER LUGAR
(alcance físico)
QUALQUER HORA
(diurno-noturno)
QUALQUER TEMPO
(Meteorologia)
VISÍVEL & IV
REFLETIDO
SIM NÃO NÃO
INFRAVERMELHO
TERMAL
SIM SIM NÃO
RADAR
IMAGEADOR
SIM SIM SIM
1.3 - PRINCIPAIS PARÂMETROS DE DESEMPENHO DOS SISTEMAS SENSORES
Para fazer uso de um sistema de SR, o planejador deve estar apto a considerar os
fatores que contribuem para a definição do sistema ideal para cada tipo de aplicação. Da
mesma forma que, em função de uma série de parâmetros, um “Jeep” é um veículo mais
adequado à prática do chamado “off-road” do que uma limusine, e uma aeronave do tipo C-5
(“Galaxy”) é ideal para o transporte de grandes cargas, ao contrário de um F-5E (“Tiger II”),
por exemplo, os sistemas de SR têm sua maior ou menor aplicabilidade em determinadas
situações em função de alguns parâmetros do sensor, que serão abordados a seguir.
Quando se fala em resolução, qualquer que seja, é preciso ter em mente que, nesse
caso, os termos melhor resolução e pior resolução são conceitos relativos e, portanto, não
estão ligados a valores absolutos. Em outras palavras, se um sistema apresenta uma resolução
espacial de 30 m., enquanto um outro possui 20 m., significa dizer que este último possui uma
melhor resolução espacial do que aquele de 30 m.
Caso haja interesse em adotar os termos maior ou menor, deve-se ter o cuidado de
acrescentar o conceito de poder de resolução, a fim de se evitar uma inversão nos
parâmetros considerados. Assim sendo, o sistema que possui 20 m. de resolução espacial, no
exemplo acima citado, detém um maior poder de resolução espacial do que o de 30 m., e não
uma resolução espacial maior.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
6
1.3.1 - Resolução Espacial
É definida como o menor elemento de área que um sistema sensor é capaz de
distinguir. Ela determina se o alvo pode ser identificado na imagem, em função de seu
tamanho.
A Figura 1.1 ilustra uma mesma cena imageada com três resoluções espaciais
diferentes. No caso, um “pixel” (“picture element” - menor elemento da imagem) é disposto
de maneira exagerada para exemplificar os diferentes graus de abragência, em função da
resolução espacial considerada.
Na representação da direita, de resolução espacial mais pobre (pior), um pixel integra
a informação disponível em dois tipos de cultura dispostas perpendicularmente uma à outra,
além da influência do fundo (solo). Na representação central, de resolução espacial
intermediária, um pixel integra a informação disponível em um tipo de cultura e no fundo à sua
volta (solo). Finalmente, na representação da esquerda, de melhor resolução espacial, um
pixel integra somente a informação disponível num tipo de cultura.
Fig. 1.1 - Efeito da resolução espacial.
Em outras palavras, no caso do imageamento de uma aeronave de transporte C-130
Hércules (aproximadamente 40 m. de envergadura por 30 m. de comprimento) estacionada
num pátio, por exemplo, seria necessária, para uma identificação precisa, uma resolução
espacial da ordem de centímetros. À medida que tal resolução for sendo degradada, o
intérprete terá seu leque de informações reduzido progressivamente. Assim, com uma
resolução de 2 m., é possível determinar que se trata de uma aeronave quadrimotor de
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
7
transporte. Entretanto, no caso de uma resolução de 30 m., o C-130 estará praticamente
contido num ponto, ou seja, num único pixel.
1.3.2 - Resolução Radiométrica
É definida como a menor diferença de brilho que um sistema sensor é capaz de
perceber. Ela determina se o alvo pode ser visto na imagem, em função de seu contraste com
os alvos vizinhos.
A resolução radiométrica é dada pelo número de níveis digitais, representando níveis
de cinza, usados para expressar os dados coletados pelo sensor. Quanto maior o número de
níveis, maior é a resolução radiométrica.
Na Figura 1.2, por exemplo, uma mesma cena é apresentada em 256 níveis de cinza
(a) e em quatro níveis de cinza (b), variando do preto ao branco. A quantidade de detalhes
perceptíveis na primeira é claramente maior que na segunda. Portanto a cena “a” possui
melhor resolução radiométrica que a cena “b”.
Fig. 1.2 - Imagens reproduzidas em diferentes resoluções radiométricas: (a) - 8 bits (28 = 256 níveis); e (b) - 2 bits (22 = 4 níveis).
(a) (b)
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
8
O número de níveis é comumente expresso em função do número de dígitos binários
(“bits”) necessários para armazenar em formato digital o valor do nível máximo. O valor em
bits é sempre uma potência do número 2, o que faz com que “6 bits”, por exemplo,
corresponda a 26 = 64 níveis.
Os sistemas sensores mais comuns, como as séries Landsat e SPOT, possuem
resolução radiométrica de 8 bits, o que significa 256 níveis de cinza. Já o olho humano, que é
bastante sensível a variações espectrais (vide 1.3.3), não apresenta grande sensibilidade a
variações de níveis de cinza (cerca de 30 níveis apenas). Por outro lado, o computador
consegue diferenciar qualquer quantidade de níveis, o que torna mais desejável o emprego de
imagens de melhor resolução radiométrica, nas aplicações de SR assistidas por computador.
1.3.3 - Resolução Espectral e Faixa Espectral
A resolução espectral é definida como a menor porção do Espectro Eletromagnético
que um sistema sensor é capaz de segmentar. Ela determina se o alvo pode ser visto na
imagem, em função de seu comportamento espectral.
Trata-se de um conceito inerente às imagens multiespectrais de SR. Quanto mais
estreitas, espectralmente falando, as bandas (canais) de um dado sistema, maior é a
capacidade desse sistema de discriminar variações no comportamento espectral do alvo a ser
estudado.
Na Figura 1.3a, por exemplo, uma cena foi fotografada com filme pancromático (de
0,4 µm. a 0,9 µm.), no qual, tanto a grama natural (fora do estádio), quanto a artificial (no
interior do estádio), apresentam tonalidades fotográficas similares. A Figura 1.3b, no entanto,
mostra a mesma cena fotografada com filme infravermelho preto e branco, atuando entre
0,7 µm. e 0,9 µm. Nesse caso, a grama natural possui uma tonalidade fotográfica bastante
clara (alta reflectância no infravermelho próximo), ao contrário da grama artificial, que possui
tonalidade bastante escura (baixa reflectância no infravermelho próximo).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
9
Fig. 1.3 - Fotografias aéreas oblíquas de baixa altitude, obtidas simultaneamente, ilustrando a diferença de comportamento espectral entre a grama natural, nos arredores do estádio, e a grama artificial, no interior do mesmo, em função da resolução espectral do filme utilizado. Em (a), uma foto pancromática (0,4 a 0,9 µm.); e em (b), uma foto infravermelho (0,7 a 0,9 µm.), de melhor resolução espectral.
FONTE: Lillesand e Kiefer, p. 91 (1994).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
10
A faixa espectral, por sua vez, é definida como a região do Espectro Eletromagnético
na qual um sistema sensor opera. Ela determina o domínio do sistema sensor utilizado, em
função da característica da radiação por ele empregada.
Via de regra, o Espectro Eletromagnético é dividido, para efeito de Sensoria mento
Remoto, em 5 faixas espectrais, assim distribuídas do menor para o maior comprimento de
onda: visível, infravermelho próximo, infravermelho médio, infravermelho distante (termal), e
microondas.
1.3.4 - Resolução Temporal (Repetitividade)
A resolução temporal é definida como a freqüência com a qual um sistema sensor é
capaz de imagear um mesmo alvo. Ela determina o período mínimo a ser aguardado para um
novo imageamento de determinado alvo.
Trata-se de um parâmetro somente aplicável aos satélites de SR, uma vez que estes
possuem órbitas de períodos regulares como característica imposta pela Mecânica Orbital, ao
contrário das aeronaves, por exemplo.
Dois parâmetros relacionados à plataforma - o nível de emprego (orbital, aéreo e de
superfície) e a capacidade de uso (posse e grau de imunidade à interceptação) - afetam a
resolução temporal.
O nível de emprego determina, de maneira geral, o alcance do sistema e sua
manobrabilidade. A capacidade de uso determina a disponibilidade do mesmo para emprego
durante um conflito armado.
As informações apresentadas até aqui são de grande importância para o planejador
militar não-especializado em SR, sendo adequado, portanto, tecer alguns comentários
adicionais a respeito.
Apesar de não constituir regra, em geral os alvos de valor estratégicos (usinas de
energia, instalações portuárias, siderúrgicas, indústrias, entre outros) possuem dimensões
maiores que os alvos de valor tático (uma aeronave pousada, ou uma coluna de blindados,
por exemplo). Um sistema com elevado poder de resolução espacial pode “enxergar” ambos
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
11
os tipos de alvos, enquanto um sistema com resolução espacial relativamente limitada permite
a identificação apenas dos alvos de grandes dimensões.
Assim sendo, pode-se dizer que todos os sistemas imageadores podem ser usados
para o reconhecimento estratégico, mas apenas os que possuem poder de resolução espacial
elevado se prestam ao reconhecimento tático.
Usando uma abordagem semelhante, em geral se pode dizer que os alvos de valor
estratégico são imóveis e sujeitos a poucas alterações no decorrer do tempo (refinarias de
petróleo, fábricas de armamentos, aeródromos), enquanto os alvos de valor táticos podem ser
movidos (tropas, embarcações, aeronaves), ou modificados (defesas de um aeródromo,
pontes móveis) com relativa rapidez.
Dessa forma, qualquer que seja a resolução temporal do sistema, ele se prestará para
o reconhecimento estratégico, mas somente os sistemas de alta resolução temporal poderão
ser considerados para o reconhecimento tático. Os princípios abordados acima são
sintetizados e esquematizados na Figura 1.4.
E M P R E G O T Á T I C O
E M P R E G O E S T R A T É G I C O
b a i x a r e p e t i t i v i d a d e r e s o l u ç ã o e s p a c i a lp o b r e
a l t ar e p e t i t i v i d a d e
b o a r e s o l u ç ã oe s p a c i a l
Fig. 1.4 - Relação entre a natureza tático-estratégica dos alvos militares e as resoluções espacial e temporal dos sistemas de SR.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
12
2 RADIAÇÃO ÓPTICA
2.1 - FONTES DE RADIAÇÃO ÓPTICA
A radiação óptica proveniente de um objeto tem duas origens possíveis. Uma, a
emissão, é a atividade interna dos átomos que constituem o objeto. Energias correspondentes
aos comprimentos de onda do espectro óptico envolvem tipicamente transições de elétrons no
átomo.
À medida que esses elétrons mudam seus níveis de energia, eles absorvem e/ou
emitem energia na forma de radiação eletromagnética. Os elétrons podem ser estimulados a
fazer transições por meio de energia interna, reações químicas, ou fontes externas de energia,
como campos eletromagnéticos, por exemplo. A intensidade e os comprimentos de onda da
radiação emitida dependem da natureza da estimulação.
A segunda fonte de radiação a partir de um objeto é a reflexão ou a transmissão de
fontes radiantes no ambiente em que se encontra o objeto. A reflexão pode ocorrer em
função de um simples espalhamento, ou pode envolver a absorção seguida de reemissão de
comprimentos de ondas selecionados. Um comprimento de onda transmitido é aquele que
passa através do objeto.
2.2 - O ESPECTRO ÓPTICO
A luz visível é apenas umas das muitas formas de radiação eletromagnética (REM).
Outras formas familiares são as ondas de rádio, raios-ultravioleta, raios-X e o calor. Todos
esses tipos de REM são similares e são irradiadas segundo a Teoria Ondulatória.
Conforme mostra a Figura 2.1, essa Teoria nos ensina que a REM se propaga
segundo uma senoidal harmônica e à velocidade da luz (c). A distância entre dois picos de
onda determina o comprimento de onda (λ) da REM, enquanto o número de picos a passar
num determinado ponto fixo no espaço, por unidade de tempo, determina a freqüência (ν)
dessa mesma REM.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
13
Fig. 2.1 - Gráfico de propagação da luz, segundo a Teoria Ondulatória.
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 4.
Das leis da Física, tem-se a seguinte equação geral para a REM:
c = νλ. (2.1)
10 102 103 104 105 106 107 108 10910 -110-210 -310-410 -510-6 1λλ µµ( )m λλ µµ( )m
Visível
0,4 0,5 0,6 0,7 µµ( )m
IVPUV RGB
(1 mm) (1 m)
Fig. 2.2 - O Espectro Eletromagnético.
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 5.
Uma vez que a velocidade da luz é constante no meio em que se desloca (3 x 108 m/s
, no vácuo), note-se, pela Equação 2.1 que, para qualquer que seja a REM considerada, a
freqüência e o comprimento de onda serão sempre inversamente proporcionais. Em SR, a
forma mais comum para se categorizar a REM, ao longo do Espectro Eletromagnético
(EEM - Figura 2.2), é através do comprimento de onda. Entretanto, a partir das microondas
(λ ≥ mm), o emprego da freqüência torna-se mais usual.
distância
campo magnético
E
M
λ = comprimento de onda (distância entre dois picos de onda sucessivos)
velocidade da luz c
ν = freqüência (número de ciclos por segundo em relação a um ponto fixo)
campo elétrico
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
14
Embora as características da REM sejam mais facilmente entendidas através da
Teoria Ondulatória, uma outra teoria, a Teoria Quântica, oferece outras abordagens para
explicar como a energia eletromagnética interage com a matéria. Segundo essa Teoria, a REM
é composta de partículas denominadas fótons, cuja energia é discretizada em quanta. A
energia de um quantum é dada por:
Q h= ν. (2.2)
onde:
Q = energia de um quantum, em Joules (J)
h = constante de Planck, 6,626 × 10-34 J⋅s
ν = freqüência, em Hertz (Hz)
Ao relacionarmos as Equações 2.1 e 2.2, obtemos:
Qh
=c
λ. (2.3)
Note-se, portanto, que a energia de um quantum é inversamente proporcional ao seu
comprimento de onda. Ou seja, quanto maior for o comprimento de onda, menor será a
energia nele contida. Essa asserção tem implicações importantes para o SR, uma vez que
radiações emitidas que possuam comprimentos de onda maiores, como emissões na faixa das
microondas por objetos, ou feições, da superfície terrestre, são mais difíceis de detectar do
aquelas emitidas em comprimentos de onda menores, como no infravermelho termal. Significa
dizer que, de maneira geral, sistemas operando em comprimentos de onda maiores necessitam
“enxergar” áreas maiores para obter um sinal detectável.
A Seção 2.3 define grandezas e unidades radiométricas úteis para descrever a
radiação óptica em termos quantitativos.
Embora determinadas faixas do EEM tenham sido “batizadas”, por conveniência,
com termos tais como ultravioleta, infravermelho, microondas etc, não há, no EEM, uma
separação clara entre essas faixas. Na verdade, termos foram sendo atribuídos muito mais em
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
15
função da maneira utilizada para perceber a REM, do que por quaisquer diferenças inerentes
às características dos diversos comprimentos de onda.
Pode-se notar, ainda na Figura 2.2, que o EEM estende-se num contínuo
caracterizado por mudanças de magnitudes1 da ordem de várias potências de 10. Assim
sendo, o uso de representações logarítmicas em gráficos é bastante comum.
Dessa forma, tendo uma amplitude de apenas 0,3 µm, a porção relativa ao Espectro
Visível2, nele representada, é extremamente pequena e é dividida, uma vez mais por
conveniência, em três faixas, que são as cores primárias. A cor azul ocorre entre 0,4 e
0,5 µm, a verde entre 0,5 e 0,6 µm e a vermelha entre 0,6 e 0,7 µm.
Já fora do Espectro Visível, a radiação ultravioleta avizinha-se imediatamente antes da
azul, enquanto a radiação infravermelho, situada imediatamente após a vermelha, também
pode, a exemplo das cores primárias, ser dividida em três faixas. O infravermelho próximo, de
0,7 a 1,3 µm, o infravermelho médio, de 1,3 a 3 µm e o infravermelho termal, além de 3 µm.
Com comprimentos de onda bem maiores, a faixa das microondas estende-se de 1 mm a 1 m.
Os sistemas mais comuns de SR operam em uma ou mais porções das faixas que se estendem
do visível até as microondas.
2.3 - GRANDEZAS DA RADIAÇÃO ÓPTICA
Da definição de sensoriamento remoto, depreende-se que a essência dessa tecnologia
é a detecção das alterações sofridas pela REM na interação desta com a superfície terrestre.
Para se discutir a radiação óptica em termos quantitativos, torna-se necessário definir
um sistema de grandezas da radiação (grandezas radiométricas). As definições e unidades
utilizadas, nesta apostila, estão de acordo com o Sistema Internacional de Medidas (SI).
1 - A unidade mais freqüentemente utilizada em SR para exprimir comprimentos de onda é o mícron - µm - que equivale a 10 -6 m.
2 - Parte do EEM que contém a radiação que o olho humano é capaz de detectar (aproximadamente de 0,4 a 0,7 µm).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
16
Outro conjunto de grandezas, conhecidas como fotométricas, é definido por causa de
seu uso na caracterização de alguns dispositivos eletro-ópticos3 disponíveis comercialmente.
Entretanto, grandezas fotométricas são baseadas na resposta espectral de um observador
jovem padrão. Em outras palavras, as grandezas fotométricas são ponderadas para a curva
de resposta espectral do olho humano considerado padrão.
Essa restrição provoca dois grandes problemas quando grandezas fotométricas são
utilizadas para descrever dispositivos eletro-ópticos. Primeiro, o conceito de “observador
padrão” traz consigo incertezas na quantificação das medidas. Segundo, vários dispositivos
eletro-ópticos atuam numa faixa mais abrangente que aquela utilizada pelo olho humano. Não
faz sentido, por exemplo, caracterizar um sensor infravermelho, utilizando-se grandezas
fotométricas.
Grandezas radiométricas, por outro lado, provêm uma caracterização precisa de
todas as aplicações eletro-ópticas, incluindo as respostas visuais do olho humano. Para
caracterizá-las em termos de grandezas radiométricas, basta a inclusão da curva de resposta
espectral adequada. Embora as grandezas fotométricas sejam apresentadas, a título de
comparação, esta apostila enfatizará as grandezas radiométricas.
Definições e relações entre as várias grandezas radiométricas serão apresentadas a
seguir. A Tabela 2.1 apresenta, de forma resumida, essas grandezas, enquanto a Tabela 2.2
fornece os seus correspondentes fotométricos, além de descrições e símbolos formalmente
adotados4.
2.3.1 - A Energia Radiante e sua Dependência do Tempo e do Espaço
Energia Radiante
3 - Uma definição bastante simplificada para o termo eletro -óptica é “o estudo dos efeitos de campos elétricos em fenômenos ópticos”.
4 - Esses símbolos e unidades já eram utilizados anteriormente à adoção do SI e aparecem na maioria dos trabalhos científicos da área de SR.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
17
A grandeza fundamental da radiação óptica é a energia radiante. É caracterizada pelo
símbolo Q e é dada em joules (J). É a partir dessa grandeza fundamental que derivam todas
as outras grandezas radiométricas usadas para descrever a radiação óptica.
A energia radiante geralmente apresenta uma complexa dependência de inúmeras
variáveis, incluindo tempo, comprimento de onda e coordenadas espaciais. Além disso, se a
fonte da energia radiante é considerada, então Q possui também dependência das
propriedades do material, sua temperatura, área superficial e orientação relativa. A
dependência dessas variáveis forma a base para as grandezas radiométricas aqui definidas.
Fluxo Radiante
O fluxo radiante é definido como a derivada parcial da energia radiante em função do
tempo. É caracterizada pelo símbolo Φ e é dada em watts (W).
Φ =δδ
Qt
W( ) (2.4)
Densidade Radiante
A densidade radia nte nada mais é do que a concentração de energia por unidade de
volume (derivada parcial da energia radiante - Q - em função do volume - V). É caracterizada
pelo símbolo w e é dada em joules por metro cúbico (J/m3).
wQ
VJ m=
δδ
( )3 (2.5)
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
18
TABELA 2.1 - DEFINIÇÕES DE GRANDEZAS RADIOMÉTRICAS
GRANDEZA RADIOMÉTRICA
SÍMBOLO EQUAÇÃO UNIDADE DE MEDIDA CONCEITO
Energia Radiante Q joule (J); erg (erg); e
kilowatt-hora (kWh) Energia transmitida em forma de ondas eletromagnéticas.
Fluxo Radiante Φ δδ
Qt
W erg/s
Taxa de variação de energia radiante no tempo
Densidade Radiante ω δδ
QV
J/m3 erg/cm3
Taxa de variação de energia radiante por unidade volumétrica.
Intensidade Radiante I δδ
ΦΩ
watt por esferorradiano (W/sr) Fluxo deixando uma fonte por unidade de ângulo sólido numa dada direção.
Exitância M δδ
ΦA
W/m2 W/cm2
Fluxo deixando uma superfície por unidade de área.
Irradiância E δδ
ΦA
W/m2 W/cm2
Fluxo incidente sobre uma superfície por unidade de área.
Radiância L δδ δ θ
δδ θ
2 ΦΩ( cos ) ( cos )A
IA
= W/srm2 W/srcm2
Intensidade radiante por unidade de área normal à fonte numa dada direção.
Emissividade ε MM
CR
CN
adimensional Razão entre a exitância de um material e a exitância de um corpo negro à mesma temperatura.
Absortância α ΦΦ
a
i
adimensional Razão entre o fluxo absorvido e o Fluxo incidente numa superfície.
Reflectância ρ ΦΦ
r
i
adimensional Razão entre o fluxo refletido e o fluxo incidente numa superfície.
Transmitância τ ΦΦ
t
i
adimensional Razão entre o fluxo transmitido e o fluxo incidente numa superfície.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
19
TABELA 2.2 - DEFINIÇÕES DE GRANDEZAS FOTOMÉTRICAS
GRANDEZA RADIOMÉTRICA
SÍMBOLO EQUAÇÃO UNIDADE DE MEDIDA CONCEITO
Energia Luminosa (quantidade de luz)
Qv K Q de( )λ λ λ380
760
∫ lumen (lm) Energia na faixa do visível em função da eficácia luminosa da radiação
Fluxo Luminoso Φ v δδQ
tv
lumen-segundo ou talbot (lms)
lumen-hora (lmh)
Taxa com a qual a energia luminosa é transferida de um ponto a outro da superfície.
Densidade Luminosa ωv δδQV
v lm/m3
Taxa de variação de energia luminosa por unidade volumétrica.
Intensidade Luminosa
Iv δδΦΩ
v candela (cd) ou lm/sr
Fluxo luminoso deixando uma fonte por unidade de ângulo sólido, numa dada direção.
Exitância Luminosa Mv δδQA
v lux (lm/m2 ou lx) Fluxo luminoso deixando uma superfície
por unidade de área.
Iluminância Ev δδQ
Av
lux (lm/m2 ou lx) Fluxo luminoso incidente sobre uma superfície por unidade de área.
Luminância Lv δδ δ θ
δδ θ
2 ΦΩ
v
( cos ) ( cos )AI
Av=
cd/m2 Intensidade luminosa por unidade de área normal à fonte, numa dada direção.
Eficácia Luminosa K ΦΦ
v lm/W
Razão entre o fluxo visível e o fluxo radiante.
Eficiência Luminosa V KKmax
adimensional Razão entre a eficácia luminosa na região visível pela eficácia luminosa máxima.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
20
Ângulo Sólido
Uma superfície com área “∆A”, situada a uma distância “r” de uma fonte pontual,
define com esta uma direção e um ângulo sólido, caracterizado pela letra Ω. Sua unidade é o
esferorradiano 5 ou esterradiano (sr).
14
42 2
2
2sr unidadeA
resfera
Ar
rr
sr= = ⇒ = = =δδ π
πΩ Ω( ) ( ) ( ) (2.6)
δδΩΩ
rδδA
FONTE
ESFERA
Fig. 2.3 - Conceito de ângulo sólido (Ω).
Intensidade Radiante
É o fluxo por unidade de ângulo sólido irradiado numa certa direção a partir de uma
fonte pontual. É caracterizada pelo símbolo I e é dada em watts por esferorradiano (W/sr). A
Figura 2.4a ilustra uma fonte pontual irradiando energia num ângulo sólido.
5 - Grandeza correspondente ao ângulo sólido que, projetado em uma superfície esférica, cujo centro
encontra-se no vértice desse ângulo, forma uma área igual ao quadrado do raio, ou seja, 1
4π da área total
da esfera. Em outras palavras, como a área da esfera é dada por A = 4πr2, conclui-se que esta possui 4πr2/r2
esferorradianos, ou seja, 4π esferorradianos (vide Equação 2.6).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
21
IQ
tW sr= =
δδ
δδ δ
ΦΩ Ω
2
( ) (2.7)
2.3.2 - Grandezas da Radiação Relacionadas à Área e a Lei do Cosseno de Lambert
Densidade de Fluxo Radiante
Exitância Radiante (Emitância Radiante - M). É o termo usado para definir a
densidade de fluxo radiante emitida por uma superfície. É dada pelo fluxo radiante
por unidade de área da superfície considerada (W/m2).
Irradiância (E). Quando o fluxo radiante incide na superfície, ele é chamado
irradiância. Da mesma forma que a exitância, é dado em watts por metro
quadrado.
A Equação 2.8 define, ao mesmo tempo, exitância e irradiância. A diferença entre
essas grandezas é ilustrada nas Figuras 2.4b e 2.4c como o fluxo radiante emitido por uma
superfície ou incidente sobre ela.
M EA
Qt A
W m, ( )= =δδ
δδ δ
Φ 22 (2.8)
Radiância
É o fluxo radiante numa certa direção, a partir de uma superfície normalizada com
respeito à área da superfície e unidade de ângulo sólido. Para um ângulo de visada normal à
superfície emissora, conforme mostrado na Figura 2.4d, a radiância, caracterizada pelo
símbolo L, é dada por:
LIA
QA
Qt A
W m sr= = = ⋅δ
δδ
δ δδ
δ δ δ
2 32
Ω Ω( ) (2.9)
Para direções outras que não a normal à superfície, vale ressaltar o fato de que a
superfície aparente é proporcional ao cosθ e inversamente proporcional a θ , onde θ é o
ângulo formado entre a normal à superfície e a linha de visada, que estabelece a superfície
aparente (Figura 2.4e).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
22
( )I W sr=δδ
ΦΩ
/
Fonte pontualΦ (W) Ângulo sólido
δΩ (sr)
(a)
MA
W m=δδ
Φ( )2
Φ (W): Fluxo total da superfície
Área da superfície δA (m2)
(b)
EA
W m=δδ
Φ( )2
Φ (W): Fluxo total para a superfície
Área da superfície δA (m2)
(c)
LA
=δ
δ δΦΩ
Φ (W): Fluxo total da superfície
Área da superfície δA (m2)
(d)
(W/m2 - sr)Ângulo sólidoδΩ (sr)
θ
Área da superfície δ A (m2)
δ S
Linha de visada
(e)
δ S = δ A cos θ
Fig. 2.4 - Grandezas radiométricas. (a) Intensidade radiante. (b) Exitância
radiante. (c) Irradiância. (d) Radiância. (e) Relação entre a
superfície δ A e a superfície aparente δ S.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
23
Lei do Cosseno
Para a energia radiante emitida por uma superfície plana, a intensidade radiante I
(W/sr) varia com o cosseno do ângulo entre a linha de visada e a superfície normal.
Superfícies para as quais essa relação é válida são chamadas de superfícies lambertianas (ou
difusas). Considerando-se a geometria apresentada na Figura 2.5a, a intensidade radiante é
plotada no gráfico em 2.5b. Definindo-se Iθ como a intensidade radiante para o ângulo θ, e
In como a intensidade radiante normal à superfície, a Lei do Cosseno de Lambert é dada por:
I I W srnθ θ= cos ( ) (2.10)
O efeito da Lei do Cosseno na radiância de uma superfície como função do ângulo de
visada merece destaque. Uma vez que a radiância é definida como L I A= δ δ , a radiância,
para o ângulo de visada θ, conforme mostra a Figura 2.5c, é dada por:
LIA
IS
IA
L W m srnθ
θδδ δ
θδ θ
= = = = ⋅cos
cos( )2 (2.11)
Assim sendo, a radiância de uma superfície lambertiana é independente do ângulo de
visada. Essa relação pode ser verificada experimentalmente. Além disso, verifica-se essa
propriedade na grandeza fotométrica luminância (também conhecida como brilho). Isso
explica, por exemplo, porque o brilho emitido por uma superfície lambertiana não se modifica
com o ângulo de visada (a tela de cinema se aproxima dessa condição).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
24
Normal
θDireção de visada
Iθ , Lθ
(a)
− π2
π2
In
Iθ = In cos θ (W/sr)
0 θ
(b)
LIA
IS
IA
L Lnnθ
θδδ δ δ
= = = = =
θ
Área da superfície δA (m2)
δS = δA cos θ
(independente de θ)
(c)
Fig. 2.5 - Lei do Cosseno de Lambert para uma superfície difusa. (a)
Superfície lambertiana. (b) Intensidade radiante a partir de uma
superfície lambertiana. (c) Radiância a partir de uma superfície
lambertiana.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
25
Caso Particular - Radiância de uma Fonte Lambertiana
Na Figura 2.6, a intensidade radiante Iθ (na direção θ em relação à normal da
superfície de área δA) é dada pela Lei do Cosseno como:
I I W srnθ θ= cos ( )
A partir da definição de intensidade radiante, temos I = δ δΦ Ω e considerando
ainda a Figura 2.6, temos que:
δ δ θ θδθδθΦ Ω Ω= =I In cos sen
Ao se integrar o fluxo radiante total num hemisfério, tem-se:
Φ Φ= ∫ ∫d d I nθ θ θπ π0
202 cos sen
ou Φ = π In . Uma vez que a radiância é independente de orientação, para uma superfície
lambertiana, temos que:
LIdA dA
MW m srn= = = ⋅
Φπ π
( )2
Esse resultado provê relações simplificadas entre radiância (L), fluxo radiante (Φ),
exitância radiante (M) e intensidade radiante (I), para uma dada fonte lambertiana.
area r d d= 2sen θ θ φ
r senθ
θ
r dsen θ φ
φ
d φd θ
I θ
rd θ
Superfície radiantedA
Fig. 2.6 - Fluxo radiante em um hemisfério.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
26
2.3.3 - Grandezas Radiométricas Relacionadas à Natureza do Material
As propriedades básicas na interação dos materiais com a radiação óptica são a
emissividade (ε), reflectância (ρ), absortância (α ) e a transmitância (τ). Variações dessas
grandezas básicas são encontradas em certas áreas específicas de eletro-óptica, como
coeficiente de retroespalhamento e coeficiente de absorção, utilizados na caracterização das
propriedades de propagação óptica da atmosfera.
A energia radiante incidente sobre a superfície de dado material pode ser absorvida,
refletida, ou transmitida através do material. O Princípio de Conservação de Energia requer
que a soma das energias absorvida, refletida e transmitida seja igual à energia incidente.
Entretanto, como resultado da energia absorvida pelo material, há um incremento no estado
energético interno desse material. Uma vez que, em equilíbrio, qualquer material possui uma
energia interna constante, conclui-se que deve haver outro mecanismo pelo qual parte da
energia é perdida pelo material na mesma razão em que é absorvida.
Em 1860, Kirchhoff demonstrou que radiadores térmicos devem emitir e absorver
radiação na mesma proporção, independentemente do comprimento de onda e da natureza da
superfície do radiador (Lei de Kirchhoff). Assim, bons radiadores são também bons
absorvedores. Materiais que tenham alta reflectância ou transmitância, por outro lado, são
maus emissores ou absorvedores.
A Seção 2.4 mostra que todos os materiais emitem energia, por causa de seus
estados internos de energia. Da Figura 2.7, podem ser extraídas as seguintes relações:
Qincidente = Qabsorvida + Qtransmitida + Qrefletida (2.12)
Qemitida = Qabsorvida (em equilíbrio) (2.13)
As definições apresentadas a seguir são dadas em termos relativos de grandezas
radiométricas. Mais especificamente, são dadas em termos de energia radiante (Q).
Entretanto, são aplicáveis a relações de fluxo radiante (Φ), exitância radiante (M), irradiância
(E), intensidade radiante (I), bem como radiância (L).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
27
Absorvida
Refletida
Incidente
EmitidaTransmitida
Fig. 2.7 - Interação entre energia radiante e matéria.
Absortância
A absortância é definida como a razão entre a energia radiante absorvida e a energia
radiante incidente.
α =QQ
absorvida
incidente(adimencional) (2.14)
Reflectância
A reflectância é definida como a razão entre a energia radiante refletida e a energia
radiante incidente.
ρ =Q
Qrefletida
incidente(adimencional) (2.15)
Transmitância
A transmitância é definida como a razão entre a energia radiante transmitida e a
energia radiante incidente.
τ =QQtransmitida
incidente(adimencional) (2.16)
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
28
Emissividade
A emissividade é definida como a razão entre a energia radiante emitida pelo material
considerado e a energia radiante emitida por um corpo negro6 à mesma temperatura.
ε =QQ
CR
CN(adimencional) (2.17)
Assim sendo, para qualquer material que seja considerado um radiador térmico,
temos:
α ρ τ α ε+ + = =1 (2.18)
2.3.4 - Grandezas Radiométricas Espectrais
Todas as grandezas radiométricas já definidas dependem, em geral, do comprimento
de onda da radiação óptica. Dessa forma, cada grandeza apresenta uma dependência
funcional do comprimento de onda. Essa dependência do comprimento de onda é
especificada por meio do acréscimo do termo “espectral” à frente de cada grandeza
empregada (por exemplo, densidade de fluxo radiante espectral). Grandezas radiométricas
espectrais são identificadas pela adição do símbolo “λ” subscrito aos símbolos definidos para
cada grandeza e do termo “por mícron” às unidades. O mícron (µm) é usado para medir o
comprimento de onda porque é uma unidade conveniente para a maioria das aplicações
eletro-ópticas. O nanometro é outra unidade conveniente para comprimentos de onda ópticos
e poderá ser visto em muitas aplicações.
2.3.5 - Grandezas Radiométricas, Fotométricas e Quânticas
As grandezas radiométricas foram definidas, até aqui, no sistema de unidades MKS.
Na Seção 2.2, foi mostrado que fótons têm sua energia dada por hc λ , donde se conclui
que grandezas radiométricas espectrais podem ser expressas em termos de fluxo de fótons
(fótons/s). Essa alternativa para grandezas radiométricas é útil na avaliação de sistemas eletro-
6 - Corpo negro é a expressão utilizada para definir um radiador hipotético ideal que absorve e reemite completamente toda a energia nele incidente. Objetos reais apenas se aproximam deste ideal teórico.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
29
ópticos, nos quais efeitos quânticos são importantes. Por exemplo, vários tipos de ruído em
detectores quânticos são descritos em termos de fluxo de fótons. Uma prática comum para se
distinguir representações de fluxo de fótons de grandezas radiométricas é a utilização de um
“e” subscrito em cada um dos símbolos previamente definidos.
2.4 - CARACTERÍSTICAS DE FONTES DE RADIAÇÃO ÓPTICA
Um fator fundamental para qualquer sistema eletro-óptico é a radiação com a qual
esse sistema interage. Para melhor entender e quantificar o desempenho de um sistema desses
é necessário entender, primeiramente, a natureza da radiação óptica. Utilizando as grandezas
radiométricas definidas há pouco, é possível observar os vários tipos de fontes de radiação
óptica e caracterizar suas medições.
Fontes de radiação óptica podem ser classificadas genericamente em três tipos, de
acordo com o comprimento de onda presente na radiação. Os tipos são os seguintes:
1. Discreto;
2. Banda estreita;
3. Banda larga.
Esses três tipos são ilustrados graficamente na Figura 2.8, que mostra o fluxo radiante
em função do comprimento de onda.
A fonte discreta é caracterizada por energia radiante concentrada em um ou poucos
comprimentos de onda individuais (vide Figura 2.8a). O laser é o melhor exemplo de uma
fonte discreta.
Fontes de banda estreita, como os LED (“Light-Emitting Diodes”), têm a maior parte
de sua energia radiante confinada a uma faixa relativamente curta de comprimentos de onda
(vide Figura 2.8b). A distribuição é considerada como sendo tipicamente contínua ao longo
da faixa, em contraste aos comprimentos de onda individuais de uma fonte discreta.
Fontes de banda larga (vide Figura 2.8c) incluem essencialmente todas as outras
fontes de radiação óptica. Uma subclasse de fonte de banda larga, o radiador de corpo
negro, será examinado em detalhes a seguir. Ele irradia em todos os comprimentos de onda,
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
30
de zero a infinito, com uma distribuição particular que é função do comprimento de onda e
tem um formato fixo para uma dada temperatura de fonte.
Φ (λ)
(c)
Φ (λ)
λ
(a)
λ1 λ2
λ(b)
Φ (λ)
λ
Fig. 2.8 - Tipos de fontes de radiação óptica. (a) Monocromática -
discreta. (b) Espectralmente seletiva - banda estreita. (c) Banda
larga.
2.4.1 - Leis da Radiação de Corpo Negro
O Sol é a mais óbvia fonte de energia para SR. Entretanto, toda matéria, cuja
temperatura exceda o Zero Absoluto (0 K, ou -273° C), emite radiação continuamente.
Assim sendo, todos os objetos dispostos na superfície terrestre são também fonte de
radiação, embora de magnitude e composição espectral consideravelmente distintas da
radiação solar.
A intensidade espectral da radiação depende primariamente da temperatura do objeto
e das propriedades radiantes do material de que esse objeto é feito (em particular, a
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
31
emissividade espectral do material). Já foi mencionado, no corpo desse trabalho, que
absortância e emissividade são iguais para um mesmo objeto. Assim sendo, um objeto com
alta emissividade deve possuir, igualmente, uma alta absortância. Portanto, nunca é demais
relembrar a Lei de Kirchhoff, segundo a qual um bom emissor é também um bom absorvedor.
Pode-se definir um absorvedor perfeito como sendo aquele que absorve toda a
radiação incidente sobre ele. Esse objeto será, obrigatoriamente, um emissor perfeito. Um
corpo com essas características é chamado de corpo negro e possui emissividade e
absortância igual a 1 em todos os comprimentos de onda, de zero a infinito. Um absorvedor-
emissor não tão perfeito, mas que possua uma absortância-emissividade constante e menor
que a unidade em todos os comprimentos de onda é chamado de corpo cinza.
Uma definição mais formal do radiador de corpo negro é “um radiador hipotético
(emissividade = absortância = 1; reflectância = transmitância = 0) que emite isotropica e
aleatoriamente energia radiante numa distribuição contínua de comprimentos de onda que
varia de zero a infinito. A exitância radiante, função da temperatura e do comprimento de
onda, é dada pela Lei de Distribuição de Planck”.
Lei de Planck
Os primeiros esforços para descrever experimentalmente a radiação emitida por um
objeto, numa dada temperatura, eram baseados na Eletrodinâmica Clássica. Um resultado
desses esforços foi a Lei de Stefan-Boltzmann (a ser apresentada nesta Seção), que mostra
que o fluxo total radiante proveniente de um corpo negro é proporcional à quarta potência de
sua temperatura absoluta. Entretanto, outros esforços na caracterização de uma dependência
espectral da exitância radiante de um corpo negro resultou em equações de aplicações
limitadas. Max Planck realizou um desenvolvimento teórico que gerou resultados consistentes
com dados experimentais, assumindo que o corpo negro emite e absorve energia em valores
discretos (quanta), chamados fótons, cada qual com a energia definida por “hν”, conforme
foi visto na Seção 2.1.
Baseado nessa abordagem da Teoria Quântica, Planck desenvolveu sua lei de
radiação, que fornece a exitância radiante espectral para um radiador de corpo negro.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
32
Detalhes dessa teoria podem ser encontrados em diversos textos de Física Moderna. A
precisão dessa lei de radiação foi verificada experimentalmente e é dada por:
M Tc
eW m mc Tλ λλ
µ( ) ( )=−
−1
521
12 (2.19)
onde:
c1 = 2πc2h = 3,7413 × 108 (W-µm4/m2)
c2 = hc/k = 1,4388 × 104 (µm-K)
As constantes c1 e c2 são chamadas constantes da radiação de Planck, e Mλ
(Equação 2.19) fornece a exitância radiante num ângulo sólido de 2π radianos (um
hemisfério). Uma vez que um radiador de corpo negro é lambertiano (difuso), sua radiância é
constante em todas as direções e pode ser obtida pela substituição de c1 = 2πc2h na Equação
2.19, tendo em mente que L = M/π .
L T c he
W m m src Tλ λλµ( ) ( )=
−
⋅ ⋅2 11
2
52
2 (2.20)
As fórmulas clássicas anteriores para a exitância radiante espectral são deriváveis
como casos limites da Lei de Distribuição de Planck, ou simplesmente Lei de Planck, e são
mostradas, nesse contexto, nos próximos parágrafos.
Lei da Radiação de Wien
Se e c T2 λ for maior do que 100, então o termo 1 2( )ec Tλ é aproximado, numa
margem de erro de 1%, para e c T− 2 λ , de forma que:
M Tc
e W m mc Tλ
λ
λµ( ) ( )≈ ⋅−1
522 (2.21)
A Equação 2.21 é chamada de Lei da Radiação de Wien. É interessante notar que
Wien desenvolveu esse resultado antes de Planck, utilizando uma abordagem de “tentativa-e-
erro” com formas de curvas de corpos negros experimentais, aliado ao conhecimento da Lei
de Stefan-Boltzmann.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
33
Para se resolver a inequabilidade condicional apresentada acima, a Lei de Wien
requer, para ser precisa numa margem de erro inferior a 1%, que λ T seja menor que
0,31 cm⋅K. Em outras palavras, para uma dada temperatura T, a Lei de Wien pode ser usada
para representar, com precisão, a exitância radiante espectral para comprimentos de onda
variando de 0 a 3100 µm.
Lei de Deslocamento de Wien
A Figura 2.9 mostra uma série de curvas de distribuição de corpos negros em várias
temperaturas. Essas curvas mostram que, à medida que a temperatura aumenta, há um desvio
na direção daquelas curvas com menor comprimento de onda situado no pico de distribuição
da radiação do corpo negro, que determina o comprimento de onda dominante. Esse
comprimento de onda, no qual uma curva de radiação de corpo negro atinge o seu máximo de
emissão, está relacionado à sua temperatura através da Lei de Deslocamento de Wien, que
estabelece o seguinte:
λ m3c
T= . (2.22)
onde:
λm = comprimento de onda de máxima exitância espectral, em µm
c3 = 2898 µm⋅K
T = temperatura absoluta (K) do corpo negro
Assim sendo, para um corpo negro, o comprimento de onda, no qual ocorre a
máxima exitância espectral, varia de forma inversamente proporcional à temperatura absoluta
do corpo negro. Tal relação pode ser constatada, quando se aquece um pedaço de metal,
como o ferro, por exemplo. À medida que esse metal se torna progressivamente mais quente,
ele começa a incandescer e sua cor vai adquirindo tonalidades de cores que caminham no
sentido dos comprimentos de onda menores - de um vermelho opaco para o laranja, depois
para o amarelo, e assim prossegue sucessivamente.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
34
Comprimento de Onda (µm)
Exi
tânc
ia E
spec
tral
(W
m-2
µm
-1)
Fig. 2.9 - Distribuição espectral da energia irradiada de corpos negros de
várias temperaturas. (Note-se que a exitância espectral Mλ é a
energia emitida por unidade de intervalo de comprimento de
onda. A exitância total M é dada pela área sob as curvas de
exitância espectral).
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 8.
O Sol emite radiação da mesma forma que um corpo negro cuja temperatura é de
cerca de 6.000 K (Figura 2.9). Muitas lâmpadas incandescentes emitem radiação similar à de
um corpo negro à temperatura de 3.000 K. Conseqüentemente, elas apresentam baixa
emissão de radiação azul e não possuem a mesma constituição espectral da luz solar.
Em função disso, filmes fotográficos são manufaturados de formas diferentes, de
modo a permitir um balanço apropriado de cores sob diferentes condições de iluminação.
Filmes para tomadas externas são balanceados para a luz solar. Se esse tipo de filme é
empregado em ambientes iluminados artificialmente - com lâmpadas incandescentes - as
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
35
fotografias resultantes do processo terão uma coloração amarelada. A solução para tal é a
utilização de um “flash” com alta emissão de radiação azul, a fim de compensar o efeito
indesejado. Uma outra solução aplicável é a adoção de filmes balanceados especialmente
para ambientes fechados, com iluminação artificial.
A temperatura de superfície da Terra (solo, água, vegetação etc.) é de
aproximadamente 300 K (27 °C). Isso significa, do ponto de vista da Lei de Deslocamento
de Wien, que a máxima exitância espectral (Mλ) de feições da superfície terrestre ocorre na
radiação cujo comprimento de onda é de aproximadamente 9,7 µm.
Pelo fato de corresponder ao calor da superfície terrestre, essa radiação é conhecida
como infravermelho termal. Trata-se de uma radiação que não pode ser vista ou fotografada,
mas que pode ser detectada através de dispositivos, tais como radiômetros e “scanners7”.
O Sol possui um pico de energia bem superior ao da Terra. Esse pico ocorre a
aproximadamente 0,5 µm e o olho humano, da mesma forma que os filmes fotográficos, são
sensíveis a essa radiação. Portanto, somente podemos observar objetos na superfície
terrestre em virtude da radiação solar nelas refletida, obviamente quando há iluminação solar.
Por essa razão, nunca é demais repetir, comprimentos de onda maiores emitidos por
objetos na superfície terrestre só podem ser observados por sistemas de SR não-fotográficos.
A “linha divisória” entre o infravermelho refletido e o emitido localiza-se em torno de 3 µm.
Abaixo desse comprimento de onda, predomina a radiação refletida, enquanto acima dele,
prevalece a radiação emitida.
Determinados sistemas sensores, como os radares, trazem consigo sua própria fonte
de energia para “iluminar” os alvos de interesse. São denominados sistemas ativos, em
contraste com os sistemas passivos, descritos anteriormente, que detectam a energia
naturalmente disponível.
Lei de Rayleigh-Jeans
7 - Os scanners, ou dispositivos imageadores por varredura, geram imagens através da aquisição de segmentos do campo de visada do sistema sensor, ou seja, “varrendo” a cena, uma vez que não são capazes de imageá-la de uma só vez.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
36
A Lei de Rayleigh-Jeans foi desenvolvida a partir da Teoria Clássica de
Eletrodinâmica para predizer a exitância radiante espectral de um radiador de corpo negro.
Ela é dada por:
M T c Tc
ckT W m mλ λπλ
µ( ) ( )= = ⋅1
24 4
22 (2.23)
A maior dificuldade com a Equação 2.23 é que ela se torna insolúvel à medida que λ
tende a zero. Uma análise mais detalhada mostra que essa Equação é derivável como um caso
limite da Lei de Planck. A partir da Equação 2.19, ao se expandir o termo exponencial do
denominador, obtém-se o seguinte:
M Tc c
Tc
Tλ λ λ λ( )
!=
+
+ ⋅⋅ ⋅ + ⋅⋅ ⋅
−
15
2 2
2 1
12
(2.24)
Se c T2 λ for muito menor que 1, então os termos de ordem igual ou superior a 2
podem ser ignorados, gerando a seguinte aproximação:
M T c cT
c Tcλ λ λ λ
( ) ≈
=
−15
2
1
1
24
(2.25)
Assim, a Lei de Rayleigh-Jeans também é mostrada como uma aproximação da Lei
de Planck, onde a condição é que λ T seja muito maior que c2. Para uma margem de erro
máxima de 1%, a inequabilidade começa com λ T maior que 7,2 × 105 (µm⋅K).
Lei de Stefan-Boltzmann
Conforme já foi mencionado, a quantidade de energia que um objeto irradia é função,
entre outras coisas, da temperatura de superfície desse objeto. Baseado em argumentos
termodinâmicos e num tratamento, onde a radiação era o “carro-chefe” de um motor de ciclo
Carnot, Ludwig Boltzmann desenvolveu uma expressão que fornece a exitância radiante total
de um corpo negro. Seu trabalho verificou, teoricamente, uma relação da ordem de quarta
potência para a temperatura que havia sido afirmada anteriormente por Josef Stefan.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
37
Essa propriedade, expressa pela Lei de Stefan-Boltzmann, estabelece:
M T 4= σ . (2.26)
onde:
M = exitância total da superfície de um corpo, em Watts por metro quadrado (W ⋅m-2)
σ = constante de Stefan-Boltzmann, 5,6697 × 10-8 W⋅m-2⋅K-4
T = temperatura absoluta (K) do corpo emitente
Antes do trabalho de Planck, o valor de σ teve de ser determinado
experimentalmente. Obviamente, não é absolutamente necessário ao leitor memorizar valores
particulares desta ou aquela constante. No entanto, é extremamente importante notar que a
energia total emitida por um objeto é diretamente proporcional a T 4 . Em outras palavras, à
medida em que a temperatura desse objeto aumenta, a energia total emitida aumentará muito
rapidamente. Também deve-se ter mente que a Lei de Stefan-Boltzmann é válida somente
para fontes de energia que se comportam como um corpo negro.
Sempre que a energia total emitida por um objeto varia em função de mudanças na
sua temperatura, a distribuição espectral da energia emitida por esse objeto também irá variar.
Na Figura 2.9, que mostra curvas de distribuição de corpos negros com temperaturas
variando entre 200 e 6.000 K, as unidades no eixo das ordenadas (W⋅m-2⋅µm-1) expressam a
potência radiante emitida por um corpo negro, em intervalos espectrais de 1 µm.
A área sob cada uma das curvas de distribuição, portanto, é equivalente à exitância
total (M). Dessa forma, as curvas ilustram graficamente aquilo que a Lei de Stefan-Boltzmann
expressa matematicamente: quanto maior a temperatura do radiador, maior quantidade de
radiação ele emite.
Da mesma forma que as anteriores, a Lei de Stefan-Boltzmann também é derivável a
partir da Lei de Planck, como uma integração de todos os comprimentos de onda na
Equação 2.19.
2.4.2 - Emissores Espectralmente Seletivos
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
38
Fontes de radiação óptica seletivas espectralmente são aquelas cuja exitância
espectral radiante não coincidem com uma curva de corpo negro. Mais precisamente, fontes
de radiação óptica seletivas espectralmente possuem, genericamente, uma exitância radiante
confinada a uma faixa relativamente estreita de comprimentos de onda e de freqüências. Um
exemplo típico é o diodo emissor de luz (LED).
Os LED são semi-condutores que emitem radiação óptica, quando são induzidos por
corrente elétrica. A radiação óptica é de faixa estreita (normalmente alguns décimos de
mícrons) e a largura de faixa se modifica em função da magnitude da corrente. O domínio de
comprimentos de onda depende primariamente do material semi-condutor.
2.4.3 - Fontes de Radiação Coerente
Antes do desenvolvimento do laser, fontes ópticas coerentes eram obtidas por meio
de filtragens de fontes seletivas espectralmente. Filtros ópticos passivos com largura de faixa
relativamente estreita já estavam disponíveis então.
Certamente, as aplicações mais significantes de óptica coerente se utilizam de lasers.
Para o nível de detalhamento desta apostila, é suficiente afirmar que a pureza espectral
alcançável por meio de lasers não pode ser obtida por nenhuma outra fonte óptica. Uma série
de aplicações eletro-ópticas atuais seriam impossíveis antes do desenvolvimento do laser .
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
39
3 INTERAÇÕES DA REM COM A SUPERFÍCIE
Quando a REM incide sobre qualquer superfície, pode interagir com esta de três
modos: refletindo-se na superfície, sendo absorvida pela superfície e transmitindo-se através
da superfície. Tais interações podem ocorrer simultaneamente como ilustra a Figura 3.1.
Aplicando-se o princípio da conservação de energia, pode-se estabelecer a relação entre
essas três interações como sendo:
Qi = Qr (λ) + Qa (λ) + Qt (λ) . (3.1)
onde Qi representa a energia total incidente, Qr a energia refletida, Qa a energia absorvida e Qt
a energia transmitida, todos os componentes sendo função do comprimento de onda.
Qi (λλ) = Energia incidente
Qr(λλ) = Energia refletida
Qa (λλ ) = Energia absorvida Qt (λλ) = Energia transmitida
Qi (λλ) = Qr (λλ) + Qa (λλ) + Q t (λλ)
Fig. 3.1 - Interação entre a REM e feições na superfície terrestre.
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 12.
No que concerne a essa relação, dois pontos devem ser notados. Em primeiro lugar,
as proporções de energia refletida, absorvida e transmitida irão variar para diferentes objetos,
dependendo do tipo e das condições do material de que são compostos. São essas variações
que permitem distinguir diferentes feições numa imagem.
Em segundo lugar, a dependência com relação ao comprimento de onda significa que,
para um mesmo tipo de material, as proporções de energia refletida, absorvida e transmitida
irão variar para diferentes comprimentos de onda. Assim sendo, dois materiais diferentes
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
40
podem ser indistiguíveis numa determinada faixa espectral e serem completamente diferentes
noutra faixa.
No Espectro Visível, tais variações espectrais resultam no efeito visual chamado cor.
Por exemplo, chamamos de azuis objetos que possuem alta reflexão na porção azul do
espectro. O mesmo ocorre com o verde e assim sucessivamente. Portanto, o olho humano
utiliza variações espectrais, na magnitude da energia refletida, para discriminar os vários
objetos.
Como muitos sistemas de SR operam em faixas do espectro nas quais predomina a
energia refletida, as propriedades de reflectância de feições na superfície terrestre são muito
importantes. Assim sendo, é comum pensar no balanço energético expresso pela Equação 3.1
na seguinte forma:
Qr (λ) = Qi - [Qa (λ) + Qt (λ)] . (3.2)
ou seja, para um dado objeto, a energia refletida é igual à energia incidente, reduzida das
energias absorvida e transmitida por aquele objeto.
A maneira como um objeto reflete energia é um fator importante que deve ser levado
em consideração. Esse fator é função primária da rugosidade8 superficial do objeto.
Refletores especulares são superfícies lisas que manifestam comportamento
semelhante ao do espelho em relação à luz visível. Neles, o ângulo de reflexão da REM é igual
ao de incidência. Já os refletores difusos, ou lambertianos, são superfícies rugosas que
refletem uniformemente em todas as direções.
8 - Eletromagneticamente, uma superfície é considerada lisa quando obedece o critério de Rayleigh, ou
seja, quando a irregularidade média de sua superfície, de magnitude h , é dada por h 8cos≤ λθ , onde
λ é o comprimento de onda e θ o ângulo de incidência da REM. Uma superfície assim, é chamada especular. Quando ocorre o oposto, a superfície é considerada rugosa (Ulaby et al., 1981). Em outras palavras, uma superfície é especular quando ∆h é muito menor que o comprimento de onda (∆h << λ) e é rugosa, quando ocorre o contrário (∆h >> λ).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
41
A maioria das superfícies presentes na Terra, entretanto, não são nem perfeitamente
especulares, nem perfeitamente difusas. Suas características se encontram, via de regra, numa
posição intermediária àqueles dois extremos.
A Figura 3.2 ilustra as características geométricas de refletores especulares, quase-
especulares, quase-difusos e difusos. A categoria que caracteriza qualquer superfície é
determinada pela rugosidade dessa superfície em comparação ao comprimento de onda da
energia nela incidente.
Fig. 3.2 - Reflectância especular versus reflectância difusa.
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 14.
Por exemplo, para as ondas de rádio, de comprimentos de onda relativamente longos,
terrenos rochosos podem parecer suaves (especulares ou quase-especulares) à energia
incidente. Por outro lado, para a faixa do visível, mesmo a areia mais fina se apresenta rugosa
(difusa ou quase-difusa). Em outras palavras, quando o comprimento de onda da energia
incidente é muito menor que as variações de altura da superfície, essa superfície é difusa.
Quando ocorre o contrário, a superfície é especular.
As reflexões difusas, ao contrário das reflexões especulares, contêm informação
espectral acerca da “cor” da superfície refletora. Portanto, em SR, as atenções estão quase
sempre concentradas na medição das propriedades de reflectância difusa dos objetos.
3.1 - REFLECTÂNCIA ESPECTRAL DA VEGETAÇÃO, SOLO E ÁGUA
As características de reflectância de objetos na superfície terrestre podem ser
quantificadas, medindo-se a porção de energia incidente que é refletida. Tal medição é feita
como função do comprimento de onda e é chamada de reflectância espectral - ρλ.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
42
Um gráfico da reflectância espectral de um objeto, em função do comprimento de
onda, é conhecido como curva de reflectância espectral. A configuração dessa curva
denota as características espectrais do objeto e exerce forte influência na escolha da região
espectral na qual os dados de SR deverão ser coletados, visando alguma aplicação em
particular.
A experiência tem mostrado que muitas feições de interesse na superfície terrestre
podem ser identificadas, mapeadas e estudadas, tomando-se por base suas características
espectrais. A experiência também tem mostrado que algumas feições de interesse não podem
ser separadas espectralmente. Assim sendo, para uma efetiva utilização dos dados de SR,
torna-se necessário conhecer e entender as características espectrais das feições sob
investigação, bem como os fatores que influenciam tais características.
A Figura 3.3 ilustra curvas de reflectância espectral típicas para as três feições básicas
encontradas na superfície terrestre: vegetação verde sadia, solo exposto seco e água lacustre
limpa. As linhas apresentadas no gráfico da Figura 3.3 constituem a média da medição de
várias amostras e são representativas das três classes consideradas. Embora a reflectância das
feições, individualmente, varie bastante em torno da média, essas curvas denotam alguns
pontos fundamentais no que diz respeito à reflectância espectral.
Por exemplo, curvas de reflectância espectral de vegetação verde sadia quase sempre
manifestam a configuração de “vales” e “picos” ilustrada na Figura 3.3. Os vales no visível
decorrem dos pigmentos das folhas. A clorofila, por exemplo, aborve fortemente nos
comprimentos de onda de 0,45 e 0,67 µm. Dessa forma, o olho humano percebe a vegetação
sadia como sendo de cor verde, por causa da alta absorção de radiação azul e vermelho,
aliada à forte reflexão da radiação verde pelas folhas.
Se uma planta é submetida a alguma forma de estresse que interrompa seu
crescimento e produtividade normais, isso poderá reduzir ou mesmo cessar a produção de
clorofila. O resultado imediato será a redução da absorção nas bandas azul e vermelho.
Freqüentemente, a reflectância do vermelho cresce ao ponto de tornar a coloração da planta
amarela (combinação de verde e vermelho).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
43
Ref
lect
ânci
a (%
)
Fig. 3.3 - Curvas típicas de reflectância espectral para vegetação, solo e
água.
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 18.
À medida que se prossegue em direção ao infravermelho próximo, a partir de
aproximadamente 0,7 µm, a reflectância da vegetação sadia aumenta bastante. Na faixa entre
0,7 e 1,3 µm, uma folha reflete 40 a 50% da energia incidente sobre ela. A maior parte da
energia remanescente é transmitida, uma vez que a absorção nessa faixa espectral é mínima
(menos de 5 %).
A reflectância das plantas na faixa entre 0,7 e 1,3 µm resulta basicamente da estrutura
interna das folhas. Pelo fato dessa estrutura sofrer grandes variações de espécie para espécie,
medições de reflectância nessa faixa possibilitam a discriminação entre diferentes espécies
vegetais, mesmo que pareçam iguais no visível. Do mesmo modo, várias formas de estresse
afetam as plantas nessa faixa espectral e sistemas sensores podem ser utilizados para a
detecção desses fenômenos.
Após 1,3 µm, a energia incidente na vegetação é essencialmente aborvida ou refletida,
com pouca ou nenhuma transmissão. Depressões na curva de reflectância espectral ocorrem a
1,4; 1,9 e 2,7 µm, devido à forte absorção por parte da água nesses comprimentos de onda
que, por essa razão, são chamados de bandas de absorção d’água. Os picos de reflectância
ocorrem aproximadamente em 1,6 e 2,2 µm, entre as bandas de absorção. Por toda essa
faixa, que se estende após 1,3 µm, a reflectância das folhas está aproximadamente
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
44
relacionada de forma inversa ao total de água nela contido. Esse total de água, por sua vez, é
função tanto do conteúdo de umidade quanto da espessura da folha.
Na mesma Figura 3.3, a curva do solo exposto e seco mostra um número
consideravelmente menor de picos e vales de reflectância. Significa dizer que os fatores que
influenciam a reflectância do solo atuam sobre um número menor de bandas espectrais
específicas. Alguns desses fatores são o conteúdo de umidade, a textura do solo (proporção
de areia, sedimentos e argila), rugosidade, presença de óxido de ferro e conteúdo de matéria
orgânica.
Esses fatores são complexos, variáveis e interrelacionados. A presença de umidade,
por exemplo, diminui a reflectância do solo. Da mesma forma que ocorre com a vegetação,
esse efeito tem seu máximo nas bandas de absorção d’água de 1,4; 1,9 e 2,7 µm (solos
argilosos também apresentam bandas de absorção de hidroxilas em 1,4 e 2,2 µm).
O conteúdo de umidade está fortemente relacionado à textura do solo: solos pobres e
arenosos normalmente possuem boa drenagem, resultando em baixo conteúdo de umidade e
reflectância relativamente alta; solos de textura fina e de drenagem precária geralmente
apresentam baixa reflectância.
Na ausência de água, entretanto, o solo apresenta uma tendência reversa: solos
arenosos aparecem mais escuros que os argilosos. Assim sendo, as propriedades de
reflectância dos solos somente são consistentes sob certas condições particulares.
Outros fatores que reduzem a reflectância do solo são a sua rugosidade, seu conteúdo
de matéria orgânica e a presença de óxido de ferro (especialmente no visível). Em qualquer
um dos casos, é fundamental que o analista tenha um bom conhecimento das condições
vigentes.
No caso da reflectância espectral da água, provavelmente sua característica mais
distinta é a absorção de energia no infravermelho próximo. A localização e o delineamento de
corpos d’água por dados de SR são feitos mais facilmente no infravermelho próximo, por
causa de sua propriedade de absorção.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
45
Várias condições dos corpos d’água, entretanto, se manifestam, acima de tudo, no
visível. As interações energia/matéria nessa faixa espectral são muito complexas e dependem
de inúmeros fatores interrelacionados. A reflectância de um corpo d’água, por exemplo, pode
se originar da interação com a superfície do corpo d’água (reflexão especular), com material
suspenso na água, ou com o fundo do corpo d’água. Mesmo em águas profundas, onde os
efeitos do fundo são negligenciáveis, as propriedades de reflectância de um corpo d’água não
são somente função da água, mas também do material nela contido.
A água limpa absorve relativamente pouca energia abaixo de 0,6 µm. A característica
marcante desses comprimentos de onda está na alta transmitância, cujo máximo ocorre nos
comprimentos concernentes ao azul e ao verde. A presença de matéria em suspensão na água
determina a sua turbidez, e a variação desta altera drasticamente a transmitância e,
conseqüentemente, a reflectância.
Águas contendo grande quantidade de sedimentos em suspensão provenientes da
erosão do solo, por exemplo, normalmente possuem reflectância no visível muito mais alta que
“águas claras” situadas na mesma localização geográfica. Da mesma forma, a reflectância se
modifica em função da quantidade de clorofila presente na água. O aumento da concentração
de clorofila tende a reduzir a reflectância da água no azul e a aumentá-la no verde. Essa
peculiariade tem sido usada para detectar a presença e estimar a concentração de algas
através de dados de SR.
Embora outras importantes características da água - como concentração de oxigênio
dissolvido, pH e salinidade - não possam ser precisadas diretamente por mudanças na sua
reflectância, essas características podem ser, por vezes, correlacionadas com a reflectância
observada. Em outras palavras, há muitas relações complexas entre a reflectância espectral da
água e características particulares desta. Para que se interprete corretamente medidas de
reflectância tomadas sobre corpos d’água, portanto, é mandatório o uso apropriado de dados
de referência.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
46
3.2 - PADRÕES DE RESPOSTA ESPECTRAL
Tendo sido apresentadas as características de reflectância espectral da vegetação, do
solo e da água, deve-se reconhecer que essas feições bastante gerais podem ser normalmente
separadas espectralmente. O grau de separação entre os tipos, no entanto, depende
basicamente de “onde se olha” espectralmente. A água e a vegetação, por exemplo, podem
refletir de maneira bem parecida no visível, ainda que tais feições sejam quase sempre
distintas no infravermelho próximo.
Medições de respostas espectrais, feitas por sistemas sensores, de várias feições
permitem, freqüentemente, a avaliação do tipo e/ou condição das feições consideradas. Por
conta dessa possibilidade, essas respostas são freqüentemente denominadas assinatura
espectral. As curvas de reflectância espectral e as curvas de emitância espectral (para
comprimentos de onda superiores a 3 µm) normalmente são referidas dessa forma.
Embora seja verdade que muitas feições terrestres manifestem características de
reflectância espectral e/ou emitância de formas muito distintas, tais características resultam
muito mais em padrões de resposta, do que em assinaturas espectrais. A razão para tal está
no fato de que o termo assinatura tende a embutir um padrão que é absoluto e único.
Certamente não é esse o caso para os padrões espectrais observados no mundo natural. A
experiência tem mostrado que padrões de resposta espectral medidos por sistemas de SR
podem ser quantificados, mas não são absolutos. Podem ainda ser distinguíveis, mas não são
necessariamente únicos.
Embora o termo assinatura espectral seja freqüentemente utilizado na literatura de
SR, o leitor deve ter em mente a variabilidade das assinaturas espectrais. Essa variabilidade
pode causar sérios problemas na análise de dados de SR, especialmente se o objetivo é
identificar, espectralmente, várias feições terrestres.
Caso o objetivo de uma análise seja identificar a condição de vários objetos do
mesmo tipo, a fonte de informações poderá ser exatamente a variação no padrão de resposta
espectral. Um exemplo de aplicação dessa variação está na distinção entre vegetação
estressada e vegetação sadia dentro de uma dada espécie. Assim sendo, é extremamente
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
47
importante o entendimento acerca da natureza da área sob observação, não somente para
reduzir os efeitos indesejáveis da variabilidade espectral, mas também para realçar essa
variabilidade, quando aplicações particulares a requerem.
Até aqui, foram tratadas algumas características de objetos que, por si só, influenciam
seus padrões de resposta espectral. Efeitos temporais e efeitos espaciais também devem
ser considerados em qualquer análise a ser conduzida. Os efeitos temporais são quaisquer
fatores que mudem as características espectrais de um objeto ou feição ao longo do tempo.
As características espectrais de muitas espécies vegetais, por exemplo, estão num estado
quase contínuo de mudanças durante a estação de crescimento. Essas mudanças
freqüentemente influenciam a coleta de dados de um sistema sensor para uma aplicação
particular.
Os efeitos espaciais, por sua vez, referem-se a fatores que causam, em tipos iguais de
objetos ou feições (culturas agrícolas, por exemplo) e ao mesmo tempo, o aparecimento de
diferentes características em diferentes localizações geográficas. Análises conduzidas em
imageamentos de pequenas áreas podem reduzir os efeitos espaciais. No entanto, quando são
analisadas imagens de satélite, as localizações geográficas podem distar dezenas de
quilômetros umas das outras, onde condições bastante distintas de solo, clima e práticas de
cultivo podem existir. Tal distanciamento pode provocar enormes diferenças nos resultados
daquelas análises.
Os efeitos temporais e espaciais influenciam virtualmente todas as operações de SR.
Esses efeitos normalmente complicam a tarefa de analisar as propriedades de reflectância de
recursos terrestres. Entretanto eles podem, algumas vezes, constituir a chave na obtenção de
informações. O processo de detecção de mudanças, por exemplo, baseia -se na premissa de
se ter a capacidade de medição de efeitos temporais. Um típico exemplo desse processo está
em estudos de acompanhamento do desenvolvimento de áreas suburbanas próximas a um
centro metropolitano (mancha urbana), que consiste na utilização de dados de diferentes
datas.
Um exemplo de efeito espacial bastante útil está na mudança morfológica das plantas
quando essas estão submetidas a alguma forma de estresse. Quando parte de uma cultura de
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
48
razoável extensão está infectada por alguma doença que provoque modificação na estrutura
original de suas folhas, haverá uma sensível mudança no padrão de resposta espectral da
porção infectada em relação à cultura como um todo. Nesse caso, o efeito espacial pode ser
justamente o ponto mais importante para uma dada aplicação em particular.
3.3 - INFLUÊNCIA DA ATMOSFERA NOS PADRÕES DE RESPOSTA ESPECTRAL
Além das influências causadas pelas características espectrais e pelos efeitos temporal
e espacial, os padrões de resposta espectral também são afetados pela atmosfera. A energia
gravada por qualquer sistema sensor é sempre modificada de alguma forma pela atmosfera
presente entre o alvo e o sistema sensor. Naturalmente, a significância desse efeito varia de
sensor para sensor. Neste trabalho, será dado um tratamento genérico que proporcione ao
leitor um entendimento da natureza dos efeitos atmosféricos.
A Figura 3.4 ilustra a situação típica encontrada quando um sistema sensor grava a
energia solar refletida por um alvo na superfície. A atmosfera afeta o brilho (radiância) de
qualquer alvo disposto na superfície de duas maneiras paradoxais. Primeiro, ela atenua a
energia que “ilumina” a superfície, e que será refletida, em seguida, pelos objetos. Em
seguida, a atmosfera atua como um refletor, adicionando uma radiância extra na trajetória que
leva ao sensor, provocada por efeito de espalhamento (vide 4.1).
Ao expressar esses dois efeitos atmosféricos matematicamente, a radiância total
gravada pelo sistema sensor pode estar relacionada à reflectância do objeto na superfície e à
radiação recebida, ou irradiância, através a seguinte equação:
LE
L .tot t= +ρ τ
π (3.3)
onde:
Ltot = radiância espectral total medida pelo sensor
ρ = reflectância do objeto
τ = transmitância atmosférica
Lt = radiância do trajeto a partir da atmosfera (e não do objeto)
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
49
Fig. 3.4 - Efeito atmosférico sobre medições da REM solar refletida.
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 22.
Note-se que todos os fatores acima dependem do comprimento de onda. Além disso,
conforme mostra a Figura 3.4, a irradiância (E) é proveniente de duas fontes: (1) luz solar
diretamente refletida e (2) luminosidade do céu, que nada mais é que a luz solar previamente
espalhada pela atmosfera. O relativo domínio da luz solar sobre a luminosidade em qualquer
imagem é fortemente dependente das condições meteorológicas. Da mesma forma, a
irradiância varia com as mudanças sazonais no ângulo de elevação e com a variação de
distância entre a Terra e o Sol.
sensor
(5) Radiância Total
LE
Ltot t= +ρ τπ
(3) Energia refletida
ρ τπE
Radiância da trajetória Lt
(1) Radiação incidente E (com fator de atenuação)
Radiação solar difusa Radiação
solar
(2) Elemento de reflectância ρ na
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
50
4 INTERAÇÕES DA REM COM A ATMOSFERA
Independentemente da fonte, toda REM detectada por sistemas sensores passa
através de algum trecho da atmosfera terrestre. O comprimento dessa trajetória pode variar
bastante. Fotografias tomadas a partir do espaço, por exemplo, representam a energia
proveniente do Sol e refletida pelo objeto, tendo cruzado a atmosfera duas vezes, desde a
fonte até o sensor. Por outro lado, um imageador termal aerotransportado detecta diretamente
a energia proveniente de um alvo na superfície, envolvendo, portanto, um percurso
atmosférico relativamente curto.
A influência direta da atmosfera varia com as diferenças nos percursos considerados,
bem como em função da magnitude do sinal sendo observado, condições amosféricas e
comprimentos de onda envolvidos.
Deve-se ter em mente que, devido à natureza variada dos efeitos atmosféricos, esse
assunto deve ser tratado segundo uma abordagem caso a caso, conforme o sistema sensor
considerado. Neste trabalho, será introduzida a noção de que a atmosfera pode ter um efeito
profundo sobre a intensidade e a composição espectral da REM, entre outras coisas. Esses
efeitos são causados principalmente pelos mecanismos atmosféricos conhecidos como
espalhamento e absorção.
4.1 - ESPALHAMENTO
O fenômeno do espalhamento atmosférico nada mais é que a difusão, de forma
aleatória, da radiação por partículas na atmosfera.
O espalhamento Rayleigh ocorre quando a radiação interage com moléculas e outras
minúsculas partículas na atmosfera que são bem menores, em diâmetro, que o comprimento
de onda da radiação incidente. O efeito do espalhamento Rayleigh é inversamente
proporcional à quarta potência do comprimento de onda. Assim sendo, há uma forte
tendência para que os comprimentos de onda menores sofram mais o efeito do espalhamento
do que os maiores.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
51
Um dia ensolarado com “céu azul” (ciano, na verdade) é uma manifestação do
espalhamento Rayleigh. Na ausência de espalhamento, o céu seria negro. Entretanto, como a
luz solar interage com a atmosfera terrestre, esta espalha os menores comprimentos de onda
(azul) de forma mais preponderante que outros comprimentos de onda do Espectro Visível.
Conseqüentemente, vemos o “céu azul”.
No entanto, tanto no nascer-do-sol como no pôr-do-sol, a radiação solar atravessa
um percurso maior que aquele do meio-dia. Por causa desse percurso maior, o espalhamento
(e a absorção) dos comprimentos de onda menores é tão completo, que só conseguimos ver
aqueles menos espalhados, de maiores comprimentos de onda, dando à atmosfera uma
coloração laranja-avermelhada.
O espalhamento Rayleigh é uma das causas primárias da “névoa” observada em
imagens. Visualmente, essa névoa reduz drasticamente o contraste de uma imagem. Em
fotografias coloridas, o resultado é uma coloração cinza-azulada, particularmente quando
tomada a partir de grandes altitudes. A névoa provocada pelo espalhamento Rayleigh pode
ser minimizada, ou até mesmo eliminada através do uso de filtros que restringem a passagem
dos comprimentos de onda menores.
Outro tipo de espalhamento, o de Mie, ocorre quando as partículas existentes na
atmosfera possuem diâmetros essencialmente de mesmo tamanho dos comprimentos de onda
da radiação incidente. As maiores causas do espalhamento Mie são vapor d’água e poeira em
suspensão na atmosfera. Esse tipo de espalhamento tende a influenciar comprimentos de onda
maiores, se comparado ao espalhamento Rayleigh. Ao contrário deste, que é associado a um
céu “limpo”, o espalhamento Mie ocorre quando há tênues coberturas de nuvens.
Um fenômeno mais problemático é o espalhamento não-seletivo, que tem lugar
sempre que o diâmetro das partículas em suspensão é bem maior que a radiação considerada.
Gotas d’água, por exemplo, provocam esse tipo de espalhamento. Como elas normalmente
possuem diâmetros que variam entre 5 e 100 µm, espalham radiação de todos os
comprimentos de onda desde o visível até o infravermelho médio quase que indistintamente.
Conseqüentemente, o espalhamento é não-seletivo no que diz respeito ao comprimento de
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
52
onda. Na faixa do visível, o espalhamento não-seletivo afeta igualmente o azul, o verde e o
vermelho, razão pela qual nuvens e nevoeiros apresentam a cor branca.
4.2 - ABSORÇÃO
Em contraste com o fenômeno do espalhamento, a absorção resulta na efetiva perda
de energia da radiação para os constituintes atmosféricos. A absorção normalmente ocorre
em comprimentos de onda específicos. Os absorvedores de radiação solar mais eficientes são
o vapor d’água, o dióxido de carbono e o ozônio. Pelo fato desses gases tenderem a
absorver REM em comprimentos de onda específicos, eles influenciam fortemente a faixa de
espectral a ser “observada” por qualquer sistema de SR. As faixas espectrais nas quais a
atmosfera é particularmente transparente para a REM são denominadas janelas
atmosféricas.
A Figura 4.1 mostra a relação entre fontes de energia e características de absorção
da atmosfera. A Figura 4.1a mostra a distribuição espectral da energia emitida pelo Sol e pela
superfície terrestre. Essas duas curvas representam as fontes mais comuns de REM (sistemas
passivos) para fins de SR. Na Figura 4.1b, aparecem sombreadas as faixas espectrais nas
quais a atmosfera bloqueia a REM. A aquisição de dados de SR está limitada, portanto,
àquelas faixas espectrais não bloqueadas, as janelas atmosféricas.
Note-se que a sensibilidade espectral para o olho humano (Espectro Visível)
coincide, ao mesmo tempo, com uma janela atmosférica e com o pico da energia proveniente
do Sol. O calor (radiação termal) emitido pela Terra, ilustrado pela pequena curva em 4.1a,
pode ser detectado através das janelas situadas de 3 a 5 µm e de 8 a 14 µm.
Os “scanners” multiespectrais detectam, simultaneamente, várias faixas estreitas do
espectro, podendo abranger vários segmentos desde o visível até o infravermelho termal. A
partir de 1 mm até 1 m, região onde operam os sistemas sensores de microondas, há uma
janela atmosférica praticamente ininterrupta.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
53
Ene
rgia
Tra
nsm
issã
o
Energia do Sol (6000 K)
Energia da Terra (300 K)
Comprimento de Onda(a) Fontes de Energia
(b) Transmitância Atmosférica
Comprimento de Onda
Energia Bloqueada
UV
Vis
ível
I V
UV Vis
ível
I V
Fig. 4.1 - Características espectrais de (a) fontes de energia e (b) efei-tos
atmosféricos. (Note-se que a escala é logarítmica.)
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 11.
O ponto mais importante a ser notado na Figura 4.1 é a interação e a
interdependência entre as fontes primárias de REM, as janelas atmosféricas e a sensibilidade
espectral dos sistemas sensores disponíveis para detectar e gravar essa radiação.
Não se pode simplesmente definir arbitrariamente um sistema sensor para qualquer
tipo de tarefa de SR. Antes, se faz necessário considerar (1) a sensibilidade espectral do
sistema sensor envolvido, (2) a presença ou ausência de janelas espectrais na faixa onde a
atividade de SR é desejada, e (3) a fonte, a magnitude e a composição espectral da REM
disponível na faixa em questão. Por fim, a escolha da faixa espectral do sensor deve se basear
na maneira pela qual a REM interage com os objetos sob investigação, como foi mostrado
anteriormente, na Seção 3.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
54
5 AQUISIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Até aqui, foram discutidas as principais fontes de energia eletromagnética, a
propagação dessa energia pela atmosfera e sua interação com alvos na superfície terrestre.
Combinados, esses fatores resultam em sinais de energia, dos quais se pretende extrair
informações. A partir de agora, serão considerados os procedimentos pelos quais os sinais
são detectados, gravados e interpretados.
A detecção de energia eletromagnética pode ser realizada tanto fotograficamente
como eletronicamente. O processo fotográfico utiliza reações químicas na superfície de um
filme foto-sensível para detectar variações de energia numa cena. Os sistemas fotográficos
oferecem muitas vantagens: são relativamente simples, de baixo custo e propiciam um grau de
detalhamento espacial e integridade geométrica da imagem.
Os sensores eletrônicos geram um sinal elétrico que corresponde às variações de
energia na cena original. Um exemplo familiar de sensor eletrônico é a câmera de vídeo.
Embora muito mais complexa e cara que sistemas fotográficos, sistemas eletrônicos oferecem
como vantagem: (1) faixas espectrais mais amplas, (2) maior potencial de calibração e
(3) capacidade de transmissão eletrônica dos dados gerados.
Ao se processar uma fotografia, uma gravação dos sinais por ela detectados é obtida.
Assim sendo, o filme age, a um só tempo, como meio de detecção e de gravação. Os sinais
de sensores eletrônicos, por outro lado, são geralmente gravados em fitas magnéticas.
Conseqüentemente, os sinais podem ser convertidos no formato de uma imagem
fotografando-se a tela de um monitor, ou utilizando-se um gravador de filmes específico para
esse tipo de tarefa. Nesses casos, o filme fotográfico é utilizado apenas como meio de
gravação, e não mais de detecção.
Em Sensoriamento Remoto, o termo fotografia é reservado exclusivamente para
imagens que foram detectadas e gravadas em filme. O termo imagem, mais genérico, é
utilizado para qualquer representação pictorial de dados de imagem. Dessa forma, uma
gravação pictorial de um scanner termal (sensor eletrônico) poderia ser chamada de uma
imagem termal e não uma fotografia termal, por que o filme poderia não ser o mecanismo
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
55
de detecção original da imagem considerada. Como o termo imagem diz respeito a qualquer
produto pictorial, todas as fotografias são imagens. Nem todas as imagens, entretanto, são
fotografias.
Note-se que os aspectos relacionados à interpretação de dados de SR podem
envolver tanto a análise de dados pictoriais (imagens) como digitais. A interpretação visual
dos dados de uma imagem pictorial tem sido, há muito tempo, o carro-chefe do SR. Técnicas
de interpretação visual fazem uso da excelente habilidade da mente humana em avaliar
qualitativamente os padrões espaciais numa imagem. A habilidade de emitir julgamentos
subjetivos baseados em elementos seletivos da imagem é essencial em várias práticas de
interpretação.
Contudo, técnicas de interpretação visual têm certas desvantagens, na medida em que
elas podem requerer treinamento e trabalho intensivos. Além disso, características espectrais
não podem ser sempre totalmente avaliadas nos trabalhos de interpretação visual. Em parte,
isso ocorre por causa da limitação natural do olho humano em discrimar tonalidades numa
imagem e da dificuldade para um intérprete em analisar, simultaneamente, imagens
multiespectrais. Em aplicações onde padrões espectrais são altamente informativos, uma
análise digital é preferível em relação à análise pictorial dos dados.
A característica básica de dados de imagens digitais é ilustrada na Figura 5.1. Nela,
pode-se observar que, em (a), uma fotografia que parece ter uma tonalidade contínua é, na
verdade, composta de uma matriz bidimencional discreta de elementos de imagem, ou pixels.
A intensidade de cada pixel equivale ao brilho médio, ou radiância, medido eletronicamente
sobre a área na superfície terrestre correspondente a cada pixel.
Na Figura 5.1 (a), é mostrado um total de 320 linhas e 480 colunas de pixels.
Enquanto é impossível a distinção individual dos pixels nessa Figura, as ampliações mostradas
na Figura 5.1 (b) e (c) apresentam pixels prontamente notáveis. Essas ampliações
correspondem a áreas menores, vizinhas ao ponto “X” destacado na imagem (a). Em (b), a
ampliação possui 19 linhas por 27 colunas, enquanto a ampliação apresentada em (c) é de 10
linhas por 15 colunas. Em (d), são apresentados os números digitais individuais
correspondentes à radiância média registrada em cada pixel mostrado em (c).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
56
Fig. 5.1 - Características de uma imagem digital. (a) Imagem digital
original. (b) Ampliação mostrando um trecho de 20 linhas por
30 colunas de área nas proximidades do “X” na imagem
original (a). (c) Ampliação de 10 linhas por 15 colunas.
(d) Níveis de cinza correspondentes à radiância de cada pixel
apresentado em (c).
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 24.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
57
54 40 31 27 27 28 39 51 52 50 45 25 24 24 23
55 37 37 35 31 27 26 35 58 66 38 13 17 21 19
56 40 39 45 39 32 27 26 36 52 50 28 14 13 14
52 39 33 42 49 48 36 31 26 33 51 51 31 16 16
42 34 24 30 60 67 49 33 27 28 31 47 51 35 24
26 29 26 44 76 76 49 37 33 30 29 29 44 52 44
14 31 36 50 85 70 36 37 38 30 25 29 28 40 52
20 31 39 51 72 56 35 35 37 35 31 27 29 31 36
21 26 36 46 58 49 37 35 36 37 34 33 26 29 30
21 20 29 43 54 53 40 31 30 32 30 29 24 22 27
Fig. 5.1 - (Continuação).
Tais valores resultam da quantização do sinal elétrico original proveniente do sensor
em valores inteiros positivos utilizando um processo denominado conversão de sinal
analógico-digital (conversão A/D).
A Figura 5.2 é uma representação gráfica do processo de conversão A/D. O sinal
elétrico oriundo do sensor é um sinal analógico contínuo (como se pode observar pela linha
contínua plotada na figura). Esse sinal contínuo é amostrado num dado intervalo de tempo
(∆T) e gravado numericamente a cada ponto de amostragem (a, b, ... , j, k). A taxa de
amostragem para um sinal em particular é determinada pela maior freqüência de mudança no
sinal. Essa taxa de amostragem deve ser no mínimo duas vezes a mais alta freqüência presente
no sinal original, para que se possa representar adequadamente a variação do mesmo.
A Figura 5.2 ilustra o sinal de entrada em termos de variação de voltagem entre
0 e 2 V. O valor de saída do sinal é amostrado em valores inteiros que variam entre 0 e 255,
representando gradações de níveis de cinza entre o preto (0) e o branco (255). Um sinal
detectado, cuja voltagem resultante é de 0,46 V, por exemplo, teria sido gravado como nível
de cinza 59.
(d)
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
58
Fig. 5.2 - Processo de conversão analógico-digital (A/D).
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 26.
Os níveis de cinza que formam uma imagem digital são gravados em intervalos
numéricos que podem variar de 0 a 63, 0 a 127, 0 a 255, 0 a 511, ou de 0 a 1023. Esses
intervalos representam os conjuntos de inteiros que podem ser gravados, utilizando-se
códigos binários de 6, 7, 8, 9, ou 10 bits, respectivamente. Em tais formatos, os dados
contidos nas imagens podem ser rapidamente analisados com a ajuda de um computador.
O uso de técnicas assistidas por computador permite análises mais aprofundadas de
padrões espectrais de dados de SR. Também permite a automação no processo de análise,
possibilitando vantagens de custo sobre as técnicas de interpretação visual. Entretanto, da
mesma forma que os seres humanos possuem limitações na habilidade de interpretar padrões
de resposta espectral, computadores ainda são limitados para avaliar padrões espaciais.
Assim sendo, as técnicas visuais e digitais são complementares por natureza, e considerações
criteriosas devem ser feitas antes de definida a abordagem (ou combinação de abordagens) a
ser adotada para uma determinada aplicação.
5.1 - DADOS DE REFERÊNCIA
Raramente, se muito, o SR é utilizado sem o auxílio de algum dado de referência. A
aquisição desses dados envolve medições ou observações acerca de objetos, áreas ou
fenômenos que estejam sendo sensoriados remotamente.
ENTRADA (sinal contínuo)
valor discreto de amostragem
curva analógica contínua intervalo de
tempo
SAÍDA (série de valores)
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
59
Esses dados podem ter variadas formas e podem derivar de diferentes fontes. Por
exemplo, os dados necessários para uma análise em particular podem ser oriundos de um
mapa de solos, um relatório laboratorial sobre a qualidade de determinada água, ou de uma
fotografia aérea. Também podem ser provenientes de um trabalho de campo sobre a
identidade, extensão, e condição de culturas vegetais, uso da terra, inventário florestal ou
poluição aquática.
Dados de referência também podem envolver medições de campo sobre a
temperatura ou quaisquer outras propriedades físico-químicas de várias feições. As posições
geográficas nas quais essas medições são conduzidas são freqüentemente anotadas numa
base cartográfica, a fim de facilitar sua localização numa imagem correspondente a posteriori.
Atualmente, visando uma maior precisão aliada a uma maior simplicidade, receptores GPS
(“Global Positioning System” - Sistema de Posicionamento Global) são utilizados de forma
cada vez mais crescente.
Dados de referência são usualmente denominados verdade terrestre. Esse termo não
tem significado literal, uma vez que várias formas de dados de referência não são coletados na
superfície e podem, no máximo, se aproximar das condições reais da superfície. Por exemplo,
a verdade terrestre pode ser coletada no ar, sob a forma de fotografias aéreas detalhadas e
utilizadas como dados de referência em relação a imagens de resolução espacial mais pobre,
como fotografias aéreas de grande altitude ou imagens de satélite.
De maneira similar, a verdade terrestre vem a ser “verdade aquática” ao se estudar
feições em corpos d’água. Entretanto, a despeito dessas imprecisões o termo verdade
terrestre é amplamente utilizado para os dados de referência.
Dados de referência podem ser utilizados para um ou até mesmo todos os seguintes
propósitos:
1. Auxiliar na análise e interpretação de dados de SR;
2. Calibrar um sensor; e
3. Verificar informações extraídas de dados de SR.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
60
Para que assim seja, dados de referência devem ser coletados em concordância com
os princípios estatísticos de amostragem.
5.2 - O SISTEMA IDEAL DE SENSORIAMENTO REMOTO
Após terem sido introduzidos alguns conceitos básicos, o leitor tem, à sua disposição,
os elementos necessários para formular um sistema ideal de SR. Fazendo isso, o estudioso de
SR estará apto a apreciar alguns dos problemas encontrados no projeto e na aplicação de
vários sistemas reais de SR com que virá a se deparar no futuro. Entender a utopia de um
sistema ideal é, portanto, um exercício da maior importância.
Os componentes básicos de um sistema ideal são ilustrados na Figura 5.3 e são os
seguintes:
1. Uma fonte de energia uniforme. Essa fonte poderia prover energia em todos os
comprimentos de onda, em grande quantidade, de forma constante e conhecida,
independentemente de tempo e lugar.
2. Uma atmosfera transparente. Seria uma atmosfera que não provocaria mudanças de
qualquer ordem na energia proveniente da fonte, estivesse essa energia a caminho da
superfície terrestre, ou partindo dela. Novamente, seria independente de comprimento
de onda, tempo, lugar e da altitude de aquisição envolvida.
3. Uma série única de interações energia X matéria na superfície terrestre. Essas
interações gerariam sinais refletidos e/ou emitidos que não só seriam seletivos com
respeito ao comprimento de onda, mas também seriam conhecidos, invariáveis e únicos
para cada um dos tipos e subtipos de feições existentes na superfície terrestre.
4. Um super-sensor. Seria um sensor altamente sensível a todos os comprimentos de
onda, capazes de produzir dados com altas resoluções espacial, espectral e
radiométrica, ao longo de todo o espectro. Um super-sensor como esse seria simples
tanto na construção como na operação e confiável, requerendo virtualmente nenhuma
fonte de energia para fins de operação, e também sem ocupar qualquer espaço físico.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
61
5. Um sistema de processamento de dados em tempo real. Num sistema como esse,
assim que uma resposta radiância X comprimento de onda fosse gerada sobre um
elemento de superfície, essa seria processada num formato facilmente interpretável e
seria reconhecida como única para o elemento de superfície em particular do qual foi
gerada. Tal processo ocorreria quase que instantaneamente (em tempo real), permitindo
informação em tempo útil. Em função da natureza consistente das interações
energia X matéria, não haveria necessidade de dados de referência nos
procedimentos de análise. Os dados derivados permitiriam inferir no estado físico-
químico-biológico de cada feição de interesse.
6. Múltiplos usuários dos dados. Essas pessoas teriam uma bagagem de conhecimentos
de grande profundidade, tanto em suas respectivas disciplinas, quanto nas técnicas de
aquisição e análise de dados de SR. O mesmo conjunto de dados se converteria em
informação para diferentes usuários, dada a grande capacidade de conhecimento destes
acerca dos recursos sob investigação. Tal informação estaria disponível a esses
usuários de maneira mais rápida, mais barata, e sobre áreas maiores do que as
informações disponíveis em qualquer outro formato. De posse da informação, os vários
usuários estariam aptos a estabelecer e implementar decisões corretas e de longo
alcance sobre como gerenciar os alvos sob investigação.
Infelizmente, um sistema ideal de SR, da forma como foi descrito acima, não existe.
Os sistemas reais de SR estão bem distantes do ideal em todos os pontos apresentados.
(1) Fonte de energia uniforme
λ λ
(2) Atmosfera
transparente
resposta única para cada
feição
(5) Sistema de processamento de dados em
(6) Múltiplos usuários dos
(3) Interações únicas da energia incidente com feições
na superfície terrestre
energia refletida e emitida
(4) Super-sensor
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
62
Fig. 5.3 - Componentes de um sistema ideal de SR.
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 31.
5.3 - CARACTERÍSTICAS DE SISTEMAS REAIS DE SENSORIAMENTO REMOTO
Para melhor entendimento acerca da operação e da utilidade comum a todos os
sistemas reais de SR, serão assumidas algumas simplificações que, com respeito ao sistema
ideal formulado, são apresentadas a seguir:
1. A fonte de energia. Todos os sistemas passivos de SR baseiam-se na energia refletida
e/ou emitida pelas diversas feições na superfície. Conforme já foi discutido, a
distribuição espectral da radiação solar refletida e daquela emitida pelos objetos estão
longe de ser uniformes. Os níveis de radiação solar obviamente variam em função do
tempo e do lugar, e os diferentes materiais na superfície terrestre emitem radiação em
diferentes níveis de eficiência (emissividade). Ao mesmo tempo em que se tem algum
controle sobre a natureza das fontes de energia para sistemas ativos, as fontes de
energia utilizadas em todos os sistemas reais de SR não são, via de regra, uniformes no
que diz respeito ao comprimento de onda. Além disso, suas propriedades variam em
função do tempo e do lugar considerados. Conseqüentemente, é necessário conduzir
uma calibração de sensores quanto às características da fonte, numa base missão-a-
missão, ou simplesmente lidar com unidades relativas de energia.
2. A atmosfera. A atmosfera normalmente compõe os problemas introduzidos por
variações na fonte de energia. De certa forma, a atmosfera sempre altera a intensidade
e a distribuição espectral da REM recebida por um sensor. Ela restringe onde se quer
observar espectralmente, e seus efeitos com o comprimento de onda, tempo e lugar. A
importância desses efeitos, similarmente aos efeitos provocados pela variação na fonte
de energia, é função do comprimento de onda, do sensor utilizado, e da aplicação que
se tem em mente. A eliminação ou a compensação de efeitos atmosféricos via algum
tipo de calibração é particularmente importante na aplicações onde a repetitividade nas
observações de uma mesma área está envolvida.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
63
3. As interações energia X matéria na superfície terrestre. O Sensoriamento
Remoto seria bastante simples se cada material refletisse e/ou emitisse REM de uma
forma única e conhecida. Embora os padrões de resposta espectral (assinaturas)
desempenhem um papel relevante na detecção, identificação e na análise de materiais
na superfície, o universo espectral está repleto de ambigüidades. Tipos de materiais
radicalmente distintos uns dos outros podem apresentar uma grande similaridade
espectral, tornando difícil o trabalho de diferenciação. Além do mais, o entendimento
das interações entre energia e matéria para as feições terrestres está num nível
elementar para alguns materiais e virtualmente não existe para outros.
4. O sensor. A esta altura, não constitui qualquer surpresa a afirmação de que um super-
sensor simplesmente não existe. Nenhum sensor isolado é sensível a todos os
comprimentos de onda. Todos os sensores reais possuem limites fixos de sensibilidade
espectral. Eles também possuem um limite de quão pequeno um objeto na superfície
pode ser percebido individualmente. Esse limite, denominado resolução espacial de
um sensor, é uma indicação de seu nível de capacidade em registrar detalhes de
natureza espacial.
A escolha de um sensor, para qualquer tarefa, sempre envolve compromissos. Por
exemplo, sistemas fotográficos possuem, em geral, ótimas características de resolução
espacial, mas carecem de maior sensibilidade (abrangência) espectral, possível com
sistemas não-fotográficos que, por sua vez, apresentam fracas características de
resolução espacial. De maneira similar, muitos sistemas não-fotográficos (e alguns
sistemas fotográficos) são bastante complexos óptica, mecânica e/ou eletronicamente
falando.
Eles podem ter, ainda, restrições quanto a potência, espaço físico e requisitos de
estabilidade. Tais requisitos freqüentemente ditam o tipo de plataforma, ou de veículo, a
partir do qual um sensor pode ser operado. As plataformas podem variar desde uma
simples escada até uma estação espacial. Dependendo da combinação
sensor/plataforma necessária a uma dada aplicação, a aquisição de dados de SR
podem ser um esforço extremamente caro.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
64
5. O sistema de processamento de dados. A capacidade atual de gerar dados excede
com folga a capacidade corrente de processar esses mesmos dados. Isso é verdade
tanto se forem considerados os procedimentos de interpretação visual ou análises
assistidas por computador. O processamento de dados de SR num formato
interpretável pode ser - e normalmente é - um esforço que requer raciocínio,
instrumentação, tempo, experiência e dados de referência consideráveis.
Embora muitos processamentos possam ser realizados por máquinas, a intervenção
humana no processamento dos dados de SR é, e continuará a ser, essencial à aplicação
produtiva destes.
6. Os múltiplos usuários dos dados. As pessoas que utilizam os dados gerados por
qualquer sistema de SR são essenciais à aplicação bem-sucedida desse sistema. Os
dados gerados por procedimentos de SR somente se tornam informação se e quando
alguém possui um bom entendimento acerca de sua geração, interpretação e melhor
forma de utilização. Um entendimento detalhado do problema a ser solucionado é
mister para a aplicação produtiva de qualquer método de SR. Além disso, não há
combinação simples de procedimentos de aquisição e análise de dados que satisfaça as
necessidades de todos os usuários desses dados.
Considerando que a interpretação de fotografias aéreas têm sido utilizadas como
uma prática fonte de informações há cerca de um século, as outras formas de SR são
meios para adquirir informação relativamente novos, técnicos e fora do convencional.
Essas fontes mais novas de SR têm satisfeito muito poucos usuários até recentemente, o
que afasta-os do modelo ideal mencionado na Seção anterior.
Entretanto, à medida que novas aplicações continuam a ser desenvolvidas e
implementadas, um número cada vez mais crescente de usuários está atento ao
potencial, da mesma forma que às limitações, das técnicas de SR.
5.4 - A CORRETA UTILIZAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO
Pode-se dizer que a aplicação bem-sucedida do SR tem como premissa básica a
integração de fontes de dados e procedimentos de análises múltiplos e interrelacionados.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
65
Dentre as aplicações apropriadas, há uma grande variedade de abordagens para aquisição de
dados e procedimentos de análise.
Conceitualmente, todos os esforços bem-sucedidos de SR envolvem, no mínimo:
1. Clara definição do problema a resolver;
2. Avaliação da possibilidade de solução do problema com técnicas de SR;
3. Identificação dos procedimentos adequados de aquisição de dados de SR para a
tarefa;
4. Determinação dos procedimentos de interpretação dos dados a serem empregados e
os dados de referência necessários; e
5. Identificação do critério pelo qual a qualidade da informação pode ser julgada.
Na prática, entretanto, um ou mais dos ítens acima são freqüentemente super-
expostos, sendo mais valorizado (s) em detrimento dos restantes. O resultado disso pode ser
desastroso. É muito comum, por exemplo, a ausência de meios para avaliar a performance de
sistemas de SR em termos da qualidade da informação gerada. Também é muito comum se
adquirir uma quantidade de dados bem superior à capacidade real de interpretá-los.
O sucesso de muitas aplicações em SR é aumentado consideravelmente quando
adotada uma abordagem múltiplo-enfoque para a aquisição de dados. Isso pode requerer a
utilização de múltiplos níveis de aquisição (diferentes altitudes). Pode envolver também
sensoriamento multiespectral ou, ainda, sensoriamento multitemporal.
Na abordagem multinível, dados de satélite podem ser analisados em conjunto com
dados obtidos a grande altitude, baixa altitude, e observações de superfície. Cada fonte
sucessiva de dados permite o acesso a informações mais detalhadas sobre áreas cada vez
menores no terreno. A informação extraída dos níveis mais baixos de observação podem ser
extrapoladas para os níveis mais altos.
Em suma, mais informação pode ser obtida por meio da análise de múltiplos enfoques
do terreno, ao invés da observação singular do mesmo. Num ponto de vista similar, o
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
66
imageamento multiespectral disponibiliza muito mais informação do que somente aquela
proveniente de uma banda simples. O “scanner” multiespectral é um sensor que adquire
dados de múltiplas bandas espectrais simultaneamente. Quando os sinais gravados nas
múltiplas bandas são analisados conjuntamente, mais informações se tornam disponíveis do
que se somente uma banda estivesse sendo empregada, ou se as várias bandas estivessem
sendo analisadas independentemente. A abordagem multiespectral constitui o coração de
inúmeras aplicações de SR envolvendo a discriminação de tipos e condições de objetos
dispostos na superfície.
Da mesma forma, a abordagen multitemporal prevê a visitação de um mesmo local
duas ou mais vezes, utilizando as mudanças que ocorrem ao longo do tempo como fator
discriminante das condições observadas na superfície. Essa abordagem é tomada
freqüentemente para monitorizar mudanças no uso do solo, como desenvolvimento periférico
urbano, por exemplo.
Em qualquer abordagem aplicada ao SR, não se deve apenas estabelecer a
combinação correta de técnicas de aquisição e interpretação de dados, mas também a
combinação correta de técnicas modernas de SR e aquelas ditas “convencionais”. O
especialista deve ter em mente que o SR é uma ferramenta que produz melhores resultados
quando utilizada em conjunto com outras, e não como tendo um fim em si mesma.
Essa realidade motivou enormemente a evolução dos Sistemas de Informações
Geográficas (SIG’s) que, reunindo vários planos de informação sobre um mesmo objetivo
com suporte computacional, permite a síntese, análise e a comunicação de uma quantidade
virtualmente ilimitada de dados. Basta que lhes seja aplicável uma georreferenciação, ou seja,
sua disposição numa base cartográfica comum a todos os outros planos de informação.
O Sensoriamento Remoto nos dá, literalmente, a capacidade de ver o invisível. Além
disso, o SR transcende as fronteiras disciplinares, tornando-se tão vasto em suas
possibilidades de aplicação que se torna inútil tentar denotá-lo como uma ferramenta
puramente civil (monitoramento ambiental, de safras agrícolas, de catástrofes, de poluição
marinha, estudos geológicos, entre outros) ou eminentemente militar (inteligência de imagens).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
67
É uma questão óbvia e menor o fato de que o SR continuará a desempenhar um papel
crescente nos processos de decisão, sejam esses de caráter estratégico ou não. A evolução
tecnológica de sistemas sensores, plataformas espaciais, sistemas de comunicações, sistemas
de posicionamento global, sistemas de processamento de imagens digitais e sistemas de
informações geográficas ocorre numa base quase que diária. Resta aos reais e potenciais
usuários desse tipo de tecnologia manter a capacidade de utilização da mesma, a fim de
acompanhar todo o processo de maneira efetiva.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
68
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
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