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VOL. I -MEMORIAL DESCRITIVO PROJETO JANELA DA VIDA EDUCAÇÃO, CULTURA, ARTE, ESPORTES E OFÍCIOS- ATUAÇÃO DA ONG SAERG EM GUANACÉS José Otávio Santos de Almeida Braga Janela da vida é o título de uma música composta pelo Sr. José de Arimatéia Santos. A composição, sua favorita, virou uma marca de sua pessoa, que tinha sempre mui- to prazer em cantá-la. Além de compositor, José de Arimatéia Santos foi também um grande benfeitor de causas sociais e, principalmente de Guanacés, sua terra natal. Como presidente da Sociedade de Assistência e Educação Rural em Guanacés, criou uma banda de mú- sica para o povoado e propiciou a formação dos jovens em músicas e diversas ou- tras áreas que não seria possível a elas. O Projeto Janela da Vida é, por sua vez, uma continuação do trabalho deixado por José de Arimatéia Santos. Ao reconhecer as carências da localidade e analisar suas potencialidades, o projeto vem como uma atitude, sem fins lucrativos, para suprir a demanda existente na comunidade por um desenvolvimento humano completo UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO José Otávio Santos de Almeida Braga PROJETO JANELA DA VIDA

Projeto Janela da Vida

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VOL. I -MEMORIAL DESCRITIVO

PROJETO JANELA DA VIDAEDUCAÇÃO, CULTURA, ARTE, ESPORTES E OFÍCIOS-

ATUAÇÃO DA ONG SAERG EM GUANACÉS

José Otávio Santos de Almeida Braga

Janela da vida é o título de uma música composta pelo Sr. José de Arimatéia Santos. A composição, sua favorita, virou uma marca de sua pessoa, que tinha sempre mui-to prazer em cantá-la.Além de compositor, José de Arimatéia Santos foi também um grande benfeitor decausas sociais e, principalmente de Guanacés, sua terra natal. Como presidente da Sociedade de Assistência e Educação Rural em Guanacés, criou uma banda de mú-sica para o povoado e propiciou a formação dos jovens em músicas e diversas ou-tras áreas que não seria possível a elas.O Projeto Janela da Vida é, por sua vez, uma continuação do trabalho deixado porJosé de Arimatéia Santos. Ao reconhecer as carências da localidade e analisar suaspotencialidades, o projeto vem como uma atitude, sem fins lucrativos, para suprir a demanda existente na comunidade por um desenvolvimento humano completo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁCENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMOCURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

José Otávio Santos de A

lmeida Braga

PROJETO

JAN

ELA D

A V

IDA

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JOSÉ OTÁVIO SANTOS DE ALMEIDA BRAGA

PROJETO JANELA DA VIDA:EDUCAÇÃO, CULTURA, ARTE, ESPORTES E OFÍCIOS -

ATUAÇÃO DA ONG SAERG EM GUANACÉS

VOL. I - MEMORIAL DESCRITIVO

MARCONDES ARAÚJO LIMA

FORTALEZA, CE - BRASIL2012

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JOSÉ OTÁVIO SANTOS DE ALMEIDA BRAGA

PROJETO JANELA DA VIDA:EDUCAÇÃO, CULTURA, ARTE, ESPORTES E OFÍCIOS -

ATUAÇÃO DA ONG SAERG EM GUANACÉS

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Marcondes Araújo Lima - Orientador

____________________________________________

Profa. Ms. Solange Maria Oliveira Schramm - Professora do DAU/UFC

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Arq. Amando Costa - Arquiteto convidado

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FORTALEZA, CE - BRASIL26/02/2013

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Dedico este trabalho ao meu avô, José de Arimatéia Santos, que, por puro amor à sua terra natal e ao bem comum, investiu muitos esforços para recriar uma banda de músicos de Guanacés, visando o bem maior destas pessoas. Que este trabalho auxilie no legado deixado por ele. Dedico também ao meu tio, Adalberto Vamozi dos Santos, que muito me ajudou na pesquisa e no conhecimento aprofundado da família e, infelizmente, não pôde ver a conclusão deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que não desistiu do sonho de seu patriarca e, hoje, admi-nistra a Sociedade de Assistência e Educação Rural de Guanacés, com presidente Ricardo Cardoso, buscando o crescimento desta para o bem-estar da população local. Ao professor Marcondes, meu orientador, que me incentivou a fazer o que eu queria quando as condições mais me desanimaram e por todo o conhecimento, as conversas e os ensinamentos por este passados. Um agradecimento especial à minha amiga muito mais do que querida, Ca-rolina Fonteles Gomes Pinheiro, que me deu informações e se ofereceu para ajudar no momento mais crítico do trabalho e, para não ser injusto, por todos os sorrisos que ela já me propiciou desde muito antes do trabalho final de graduação. Aos meus tios-avôs Adalberto Vamozi dos Santos e família, Francisco Valdo dos Santos e família e Tereza Sampaio que foram indispensáveis à etapa de pesquisa, me ajudando com os contatos, a história, revisando meu trabalho e me incentivando. Aos que auxliam na SAERG, Isaías, Vânia e Ivan Duarte, Helena Lima, Ro-berto Pedreira e José Maria Bomfim que investem seu tempo para educar, qualificar e cuidar daquela comunidade, apesar das condições oferecidas não serem as melhores. Aos meus amigos, Leandro Monteiro, Renata Reis, Yuri Catunda Mourão, Tibério Moura Gadelha, Ingrid Peixoto, Camila Catunda, Natasha Catunda e André Rodrigues que alegravam os momentos de estudos na biblioteca e trocaram suas ex-periências comigo, me ajudando de alguma forma. Aos que permanecem no trabalho final de graduação, desejo muita sorte e ofereço meu apoio sempre que possível. Aos representantes da ONG ASODESG, Francisco Araripe Costa e Rai-mundo de Assis Holanda, que foram muito receptivos a conhecer meu trabalho e que depois passaram a me incentivar, ajudar e oferecer material útil à pesquisa. Ao sr. Manuel de Souza Barros, o Manuel de Napoli, que me acompanhou e ajudou, quando necessário, nas medições das edificações e por ter me contado sobre a Guanacés que se mantém em suas memórias. Aos funcionários da prefeitura de Cascavel por terem me recebido muito bem e terem passado todas as informações possíveis pertinentes ao trabalho. Aos meus familiares que eu não tinha muita proximidade antes e que me receberam muito bem, ofereccendo valiosas informações e apoio ao desenvolvimento do trabalho, Pedro Roberto Sampaio, Elbeni Sampaio, Eliane Santos. Aos irmãos Raimundo e Marcelo Sampaio por terem permitido o ingresso e registro das edificações de sua família. Aos que me auxliaram com conhecimento técnico, Artur Dória, Carol Ve-ras, Victor Oliveira, Deborah Meira, Raquel Medeiros, Geisa Macedo, Marília Cou-tinho, Lara Barreira, e a todos os amigos que, mesmo quando não compreendiam a dimensão do trabalho e questionavam a demora, foram fundamentais ao proporcio-narem sorrisos que me deram forças para aguentar esse período com a mente sã.

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RESUMO:

Este trabalho final de graduação consiste numa intervenção do profissional arquiteto como fomentador de ações sociais e propositor de espaços que possam recuperar a estima de uma população há muito perdida. Focado na atuação da orga-nização não governamental SAERG (Sociedade de Assistência e Educação Rural de Guanacés), instituição que ajuda e promove cursos voltados ao desenvolvimento da mente humana, como música, pintura e informática em Guanacés, um distrito do município de Cascavel que apresenta grandes problemas sociais e urbanos, apesar de suas dimensões. O trabalho visa expandir os seus serviços para abranger várias áreas necessárias ao desenvolvimento físico e mental, ausentes na comunidade e no sistema de ensino local. Apropriando-se de vários edifícios e terrenos abandonados e subu-tilizados no entorno do edifício-sede da sociedade, a formatação de um programa diversificado sobre as diversas áreas do ensino não curricular foram locadas nestes, devido aos seus grandes potenciais inexplorados. Objetiva-se assim a obtenção de uma sociedade com um leque maior de possibilidades para um futuro melhor e a formação de cidadãos mais desenvolvidos.

PALAVRAS-CHAVE: Guanacés, Revitalização, ONG. Desenvolvimento social

ABSTRACT:

This work consists in the intervention of the professional architect as a de-veloper of social actions and propositor of spaces that can rescue the long lost esteem of a population. Focused in the actuation of the non governmental organization SAERG (Society for assistance and rural education of Guanacés, in Portuguese), institution that aims to help and promote courses to the development of the human mind, such as music, painting and informatics in Guanacés, a district of the Cascavel municipality that presents great urban and social problems, despite its dimensions. This work is meant to expand its services and embraces the diversity of areas necessa-ries to a best physical and mental development, since they are absent in the commu-nity and in the local educational system. Using various buildings and terrains that are abandoned or subutilized in the contouring area of the society, the forming of a diversified program over the many teaching areas of the non-curricular education was realocated in these, due to their great unexplored potentials. This aims to obtain a society with wider possibilities bettering their futures in order to develop themsel-ves as citizens.

KEYWORDS: Guanacés, Revitalization, NGO, Social Development

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“O arquiteto é um cidadão como outro qualquer; mantendo-se sempre livre para atender os mais diversos programas a ele apresentados, deve permanecer atento à necessidade de mudarmos a sociedade, fazer emergir um mundo mais justo e solidário”

Oscar Niemeyer

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SUMÁRIO

Unidade 1. Introdução e organização

1.1 Introdução 11 1.2 Estrutura do trabalho 12 1.3 Metodologia do trabalho 13 -1.3.1 Referencial teórico de Guanacés 13 -1.3.2 Referencial teórico de Arquitetura 13 1.4Justificativadaescolhadotema 18 1.5 Objetivos do trabalho 20 1.6 Localização 21

Unidade 2. Análise de Guanacés e a questão do ensino

2.1 Histórico de Guanacés 23 -2.1.1 Nomenclatura e questão indígena 28 -2.1.2 Patrimônio histórico-arquitetônico de Guanacés 29 2.2 Situação atual e levantamento de dados 33 -2.2.1 Educação 35 -2.2.2 Saúde 38 -2.2.3 Segurança 40 -2.2.4 Mobilidade urbana 41 -2.2.5 Emprego e renda 42 -2.2.6 Meio ambiente 44 -2.2.7 Cultura e lazer 46 -2.2.8 Organização civil 48 2.3 Família, José de Arimatéia e a SAERG 51 -2.3.1 Guanacés, os Benício Sampaio e os Santos 53 -2.3.2 José de Arimatéia Santos e família 59 -2.3.3 SAERG 66 2.4 Educação brasileira, Anísio Teixeira e a metodologia educa- cionaldaescola-parque 81 -2.4.1 Um breve panorama da educação atualmente 82 -2.4.2 Anísio Teixeira e a metodologia da escola-parque 83

Unidade 3. Projeto: diagnóstico e propostas

3.1Estudosdecasos 89 -3,1,1 Estudo de obras a distância 90 -3.1.2 Visitas técnicas 95 3.2 Programa de necessidades 100 3.3 Pré-dimensionamento 104 3.4 Fluxograma 105 3.5Projeto 108 -3.5.1 Entorno 109

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-3.5.2 Edifício-sede da SAERG 110 -3.5.3 Centro de terapias 112 -3.5.4 Centro de saberes 115 -3.5.5 Centro de exercícios 117 -3.5.6 Centro gastronômico 119 -3,5,7 Escritório-sede, centro de artes visuais e jardins 121 -3.5.8 Cineteatro e centro de artes cênicas 123

Unidade 4. Considerações finais

4.1 Conclusão 127 4.2Bibliografiaconsultada1 28

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1. INTRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO

1.1 Introdução

O projeto Janela da Vida é um Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo que trata da expansão dos serviços de uma ONG chamada SAERG (Sociedade de Assistência e Educação Rural de Guanacés) que é uma instituição apartidária, sem fins lucrativos e de utilidade pública de acordo com legislação muni-cipal de Cascavel (município em que se insere o distrito de Guanacés). Essa sociedade organiza aulas e cursos de música, pintura e informática e conta com um acervo de 10.500 volumes em sua biblioteca. O distrito de Guanacés é bastante carente e conta com limitado apoio da prefeitura de Cascavel para resolver a maioria de seus problemas, que investe a maior parte dos seus recursos na sede municipal e nos distritos litorâneos que atraem o tu-rismo. Focando na área do ensino, essa falta de recursos reflete em algumas carências apresentadas pelas escolas da localidade, como, por exemplo, o fato de não haver na escola de ensino fundamental nem uma quadra esportiva, nem uma biblioteca, nem mesmo cursos de dança, pintura e outras formas artísticas. A escola de ensino mé-dio, por outro lado, conta com uma estrutura mais equipada, inclusive com quadra coberta, mas também não oferece essas outras atividades não-curriculares que são igualmente importantes ao desenvolvimento artístico e cultural da comunidade. O papel da SAERG como difusor cultural e pólo de ensino artístico é im-portantíssimo à comunidade e muito apreciado pelos moradores. Fazendo parte de seu dia-a-dia e do calendário festivo. Para a formação completa dos jovens da comunidade e para abrir novas possibilidades em seus futuros, o projeto propõe uma ampla diversidade de serviços relacionados ao ensino e ao tratamento da saúde da comunidade. Programas como centro de exercícios, centro de artes visuais, centro de artes cênicas, centro de gastro-nomia e um cinema/teatro são opções ausentes no dia-a-dia local e que são contem-pladas no projeto.

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1.2 Estrutura do trabalho

Este trabalho foi dividido em três capítulos O primeiro trata da introdução ao tema, justificativa da escolha, como foi a realização da metodologia e os objetivos do trabalho. O segundo trata da contextualização teórica a respeito do tema. Nele, são abordados as questões históricas do distrito de Guanacés e do papel da minha família como parte fundamental relacionada à localidade. Logo após, um aprofundamento sobre a SAERG (Sociedade de Assistência e Educação Rural de Guanacés) repassan-do seus principais acontecimentos desde a reinauguração e os diversos serviços pres-tados. Ao fim do capítulo, surge a aproximação com a metodologia da escola-parque e a análise da vida e obra do educador e pensador Anísio Teixeira. O terceiro capítulo trata do projeto em si. De início, trata sobre as visitas técnicas realizadas e os estudos de caso presenciais e à distância de diversas obras. Em seguida, vem a abordagem do programa de necessidades arquitetônico a ser tratado e, em seguida os desenhos técnicos com a presença de fotografias da situação existente em comparação com perspectivas da situação proposta. No final, já fora do memorial referente ao projeto, vem as considerações finais que incluem uma conclusão e a bibliografia.

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1.3 Metodologia do trabalho

1.3.1 Referencial teórico de Guanacés

A pesquisa realizada em torno de Guanacés se focou em três áreas: o distrito e sua história; As origens da família; A vida e atuação de José de Arimatéia Santos por meio da SAERG Sobre o distrito e sua história comecei a buscar informações em fontes his-tóricas. Verifiquei todo o arquivo dos jornais Diário do Nordeste e O Povo em busca de acontecimentos importantes acerca do local e, após isso, consegui reunir outras informações importantes no livro Cascavel, Ceará, 300 anos (307 anos), 2º edição (BESSA et al, 2001). Com isso, reuni informações importantes a respeito dos prin-cipais acontecimentos à comunidade, durante os séculos XX e começo do XXI. A respeito das origens da família, minha primeira abordagem foi procurar falar com os meus tios avôs, irmãos de meu avô José de Arimatéia Santos (in memo-riam), Adalberto Vamozi dos Santos e Francisco Valdo dos Santos. Os três haviam nascido e passado a infância em Guanacés e sempre voltaram para visitar os parentes e passar férias. Com isso, descobri o meu grau de parentesco com a família Benício Sampaio, importante família na história de Guanacés e Cascavel, e minhas origens até meus trisavós (popularmente chamado de tataravós). Soube das histórias de vida de cada um dos meus tios-bisavôs e pude me aproximar novamente mais da família ao contactá-los para conversar e contar a respeito de meu trabalho. Nisso, pude aferir a proximidade da história da família com a história da localidade. Quando tive que falar sobre José de Arimatéia Santos e a SAERG, muito de minhas memórias serviram ao trabalho, mas também pude contar com o apoio e as memórias vivas de meus tios-avôs, minha avó (Izolete Rezende Santos), minha mãe e minha tia (suas filhas). Consegui também falar com o arcebispo emérito de Teresina, Dom Miguel Fenelon Câmara Filho que foi o criador e administrador da SAERG na década de 1950. O site da sociedade (www.saerg.org.br), embora esteja desatualizado, possuía diversas informações interessantes sobre o trabalho e os servi-ços prestados, inclusive com grande acervo fotográfico, mas muito mais importante que o site foram as informações dadas pelos funcionários de lá (o maestro Isaías, a maestrina Vânia, o dentista Roberto, o professor de informática Ivan e a professora de pintura Helena) que, por mais de uma vez, estiveram dispostos a me contar sobre a história, os bons momentos, os problemas e a situação atual da sociedade. 1.3.2 Referencial teórico de Arquitetura

Antes de iniciar os estudos acerca de Guanacés, foi iniciada primeiramente a pesquisa em arquitetura, para definir exatamente o que eu buscaria para o projeto. Aproveitei um período em que não pude me locomover adequadamente (torci o tor-

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nozelo direito duas vezes durante o ano de 2012) e li em torno de 20 livros de ar-quitetura e urbanismo, de temas que me agradavam e poderiam ser interessantes ao projeto. O primeiro livro que li foi o “Mensagem aos estudantes de Arquitetura”, (LE CORBUSIER, 1943), em que é tratado algumas reflexões que o mestre modernista quis passar aos alunos da nova geração que iniciava seus estudos.

“O céu domina, o clima de uma região predomina sobre todas as cois-as. O ângulo de incidência do sol sobre o meridiano impõe condições funda-mentais ao comportamento dos homens.” p.36

Depois, li “Yes is more” (BIG, 2011) em que se explica vários projetos, seus pensamentos, suas intenções e as formas que elas eram apresentadas e concebidas.

“Se a cidade não se adequa à forma em que queremos viver, se não se ajusta ao que queremos que seja então temos de mudá-la.” p.392

A partir desse momento, comecei a ler sobre grandes mestres da arquitetura contemporânea, iniciando os estudos sobre Renzo Piano, arquiteto que eu admiro muitíssimo, tanto no pensamento como nas obras. Dentre os livros lidos, estavam “A responsabilidade do arquiteto” (PIANO, 2009), o livro referente às suas obras e pensamento da coleção Grandes Arquitetos da Folha de São Paulo (AGNOLETTO, 2011) e uma entrevista concedida à revista Florense Outono nº33, pgs. 24-31.

“- O arquiteto sempre busca a Atlântida. De algum modo, a idéia ab-surda – eu diria até estapafúrdia – de mudar o mundo não pode abandonar o arquiteto.” A responsabilidade do Arquiteto, p.87. “- A arquitetura é uma arte. Usa uma técnica para gerar uma emoção e o faz com uma linguagem específica feita de espaços, de proporções, de luz e de matéria.” Renzo Piano, coleção Folha Grandes Arquitetos. “-Tenho orgulho de ter feito prédios que fazem parte do imaginário coletivo (...) pela emoção que geram, por fazerem parte da vida das pessoas.” – Revista Florense

Seguindo a mesma coleção, li livros de outros arquitetos que possuem mui-tas obras e pensamentos que me agradam, como Steven Holl (MOSCO, 2011), Nor-man Foster (LEONI, 2011) e Santiago Calatrava (TZONIS e LEFAIVRE, 2011)

“- Se os espaços que criamos não envolvem o coração e a mente, desem-penham apenas em parte sua função.” Norman Foster, coleção Folha Grandes Arquitetos P.76

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“- A relação entre proporção e dimensão em um contexto é muito importante.” Santiago Calatrava, coleção Folha Grandes Arquitetos P.76 “- O objetivo está junto com o subjetivo. A percepção externa (do intelecto) e a interna (dos sentidos) são sintetizadas em uma sequência de espaço, luz e matéria.” Steven Holl, coleção Folha Grandes Arquitetos P.75

Ao entrar na área de atuação do Steven Holl, voltei aos estudos sobre feno-menologia, teoria que já havia tomado conhecimento em 2011 e me agrada bastante. O sentir na arquitetura, as emoções que passam, a noção de que arquitetura não é apenas visual me parece muito importante e, no entanto, vive esquecido. Assim, li “Os olhos da pele” (PALLASMAA, 2005) pela segunda vez (já havia lido em 2011) e li uma entrevista com ele no site chileno Plataforma Arquitectura.

“- Toda experiência comovente com a arquitetura é multissensorial.” p.38 “- Uma edificação não é um fim por si só; ela emoldura, articula, estrutura, dá importância, relaciona, separa e une, facilita e proíbe.” p.60 “- Entender a noção de escala na arquitetura implica a medição inconsciente do objeto ou da edificação por meio do próprio corpo do obser-vador, e na projeção de seu esquema corporal no espaço em questão.” p.63 “- Para mim, a arquitetura implica uma mediação entre nós mesmos e o mundo. Cria marcos e horizontes para a compreensão de nossa situação humana.” tradução livre da entrevista no plataforma arquitectura.

Com essa primeira aproximação à teoria fenomenológica, decidi ler um dos livros que é conhecido como precursor dessas idéias, o “Arquitetura vivenciada” (RASMUSSEN, 1986)

“- De um modo geral, a arte não deve ser explicada: deve ser sentida.” p.8 “- sem vida, a casa converte-se numa monstruosidade. Será negligen-ciada, os consertos necessários não serão feitos e acabará por transformar-se em algo muito diferente do que se pretendia.” p.10 “-...a quantidade de luz está longe de ser tão importante quanto a sua qualidade.” p.197

Ao perceber as intenções e o caráter social do projeto, meu orientador indi-cou-me a leitura do livro “Architecture for the poor” (FATHY, 1973) que engloba a ação social e soluções vernaculares com o apoio da comunidade:

“- Quando o arquiteto é presenteado com uma tradição clara para se trabalhar, como numa vila de camponeses, então ele não tem o direito de

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quebrar a tradição por seus motivos pessoais.” Tradução livre p.28

Retornando ao estudo fenomenológico e a questão do sentir a arquitetura, decidi ler um clássico que sempre tive ao meu alcance, mas nunca havia tido tempo de ler, o livro “Saber ver a arquitetura” (ZEVI, 1977).

“-... quando a história da arquitetura for ensinada mais com o cinema do que com os livros, a tarefa da educação espacial das massas será largamente facilitada.” p.43 “- Nada poderá pois ajudar o arquiteto a não ser a mais ampla ca-pacidade de imaginar quais são os valores espaciais resultantes.” p.132

Decidi retornar aos estudos de obras e pensamentos de grandes arquitetos para buscar algo mais ao conjunto de idéias projetuais lendo o livro “Entrevistas com arquitetos” (HAUTERBERG, 2008). Dentre as principais passagens posso escrever:

“- E temos com frequência percebido como alguns prédios têm mudado a vida das pessoas.” Norman Foster p.50 “- O que é importante são as impressões inconscientes – tudo que é comunicado para você via os materiais, os cheiros e a acústica de um prédio.” Jacques Herzog & Pierre de Meuron p.87 “- A arquitetura deve desencadear a sensação de espanto. Ela deve dar prazer às pessoas, estimulá-las ou até mesmo emocioná-las até as lágrimas.” Philip Johnson p.96 “- Tudo é uma questão de tensão, atmosfera, ritmo e sequência certa das impressões espaciais.” Rem Koolhaas p.107 “- mais do que nunca, minha experiência é que os prédios se desen-volvem principalmente na mente, e que, como arquiteto, você precisa imag-iná-los, e perambular por eles, dentro da mente, antes de eles serem construí-dos. De outra forma serão prédios que apenas foram calculados, mas não sentidos. Muitos colegas prestam atenção demais às aparências, aos atrativos visuais, esquecendo quão importante são os valores internos de um prédio.” Frei Otto p.137 “- Quando eu recebo a encomenda de um novo prédio, uma nova localização, eu vou até lá e olho em torno, minha mente começa a estabelecer os possíveis materiais para possíveis anatomias.” Peter Zumthor p.157

Após o contato com diferentes percepções da metodologia projetual e a ab-sorção dos melhores valores que encontrei, decidi passar para uma abordagem com livros técnicos e de técnicas sustentáveis e paisagísticas. Nesse período conclui a lei-tura de “Técnicas de Vedação Fotovoltaica na Arquitetura” (CHIVELET e SOLLA,

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2010), “Manual do arquiteto descalço” por (LENGEN 2004), “Criando paisagens” do (ABBUD, 2007), “Roteiro para construir no nordeste” (HOLANDA, 2010) e o “O custo das decisões arquitetônicas” (MASCARÓ, 2006). Essa leitura me fez refle-tir não apenas sobre o que eu queria para a arquitetura que iria propor, mas também como eu queria essa arquitetura. Qual seria o papel dos aspectos naturais e como poderia aplicar conceitos de energia e materiais renováveis?

“- A chave para se alcançar os objetivos de projeto e integrar os módu- los fotovoltaicos de maneira efetiva está na multiplicidade de funções e novo controle dos parâmetros do rendimento fotovoltaico.” Técnicas de vedação fotovoltaica p.153 “- A combinação de várias técnicas é o que permitirá a criação de um ambiente mais harmonioso para se viver.” Manual do arquiteto descalço. “- Lugar é todo aquele espaço agradável que convida ao encontro de pessoas ou ao nosso próprio encontro. Ele estimula a permanecer e praticar alguma atividade...” Criando paisagens p.24 “-... trabalhemos no sentido de uma arquitetura sombreada, aberta, contínua, vigorosa, acolhedora e envolvente, que, ao nos colocar em harmonia com o ambiente tropical, incite-nos a nele viver integralmente.” Roteiro para construir no Nordeste p.45 “-... as características de seus climas (tropicais), adequada para optar por uma solução ambiental e natural para a edificação.” O custo das decisões arquitetônicas p.155

Após a leitura desses volumes, passei a dedicar-me mais ao estudo de Gua-nacés e da minha família, só retornando à teoria da arquitetura após o contato com as idéias de Anísio Teixeira. Passei a ler então o livro “Arquitetura escolar e o projeto do ambiente de ensino” (KOWALTOWSKI, 2011), sobre arquitetura escolar.

“... o arquiteto, ao definir os espaços e usos da instituição escolar, pode influenciar a definição do conceito de ensino na escola. Por essa razão, cabe ao arquiteto o conhecimento dos aspectos pedagógicos, uma vez que eles refle-tem o tipo de atividade que as escolas vão desenvolver e, consequentemente, são elementos essenciais à definição do programa de necessidades de cada edifi-cação escolar;” p.12

A continuação de pesquisa em referencial teórico da arquitetura só con-tinuou durante a etapa de projeto com alguns livros de caráter técnico-construti-vo como “Sistemas estruturais ilustrados” e o “Técnicas de Construção ilustradas” (CHING, 2010) e de arquitetura cênica como “Projeto resgate e desenvolvimento de técnicas cênicas : oficina arquitetura cênica” (SERRONI, 2004).

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1.4 Justificativa da escolha do tema

Desde 1993 (eu tinha 4 anos), quando a SAERG (Sociedade de Assistência e Educação Rural de Guanacés) foi reinaugurada pela ação conjunta de meu avô e seus amigos, eu acompanho a trajetória dessa sociedade e sua ação social de grande valor. Por muito tempo, o assunto não me foi atrativo pela falta de consciência maior na infância e adolescência. Após meu ingresso na faculdade e a tomada de consciência do belo trabalho social que meu avô prestava, eu passei a admirar essas ações, inclusive fui muito auxiliado para isso na graduação com as questões do papel social da arquitetura e do arquiteto modernista que acreditava ser capaz de resolver os problemas do mundo mediante sua atuação profissional. Em fins de 2008, meu avô havia completado 80 anos com saúde em uma grande festa e meu primo estava se graduando em Publicidade e Propaganda na UNIFOR. Falando a respeito da graduação, ele havia me perguntado se eu já tinha alguma idéia sobre qual seria o tema do meu trabalho final e como eu ainda estava no 4º semestre da faculdade, não fazia a menor idéia do que seria. Ele sugeriu então que eu podia fazer uma reforma na SAERG ou qualquer coisa relacionada com o trabalho feito pela nossa família e guiado por meu avô em Guanacés, e que este se animaria e, a depender do projetado, poderia até transformá-lo em realidade. Me pareceu uma ótima idéia (interessante ressaltar que a cadeira da área de história estudada no 4º semestre era justamente a relacionada ao movimento moderno). Em 2009, meu avô iniciou um tratamento médico, que o enfraqueceu bas-tante, vindo a falecer em 24 de julho do mesmo ano aos 81 anos. Seu falecimento foi muito sentido por todos da família, que tinha nele uma referência de respeito e admiração. Os amigos e colegas de trabalho também sofre-ram com essa perda. A sua sociedade benfeitora possuía, à época de sua morte, uma reserva monetória suficiente para o funcionamento por mais 2 a 3 anos. Esse tempo acabou e, atualmente, a manutenção tem estado muito complicada. A tomada de consciência do legado deixado por meu avô, não apenas com a instituição física e seu patrimônio adquirido, mas muito mais pelos valores ensina-dos e transmitidos por ele (nunca de forma direta, mas pela própria convivência) me fizeram perceber a necessidade de perpetuação e manutenção da atividade social da SAERG, antes que fosse tarde demais. O papel do meu trabalho final de graduação em arquitetura e urbanismo se inicia nesse ponto. Ao tentar agregar em um projeto o melhor dos meus conheci-mentos adquiridos durante esses anos e experiências da graduação e do aprendizado profissional, pensei em trabalhar algo que tivesse o caráter social e a utilização de preceitos da arquitetura adaptada ao clima e outros conceitos de sustentabilidade. Ao me aprofundar no estudo de Guanacés e na área do entorno do edi-fício-sede da SAERG (localizado no centro histórico) pude perceber o quadro de degradação urbana marcante, principalmente pelo abandono das edificações. Muitas

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construções fechadas estão presente por lá. Praticamente todas as edificações abandonadas no entorno da SAERG per-tenciam à mesma pessoa, o sr. Isaac Benício Sampaio (tio do meu avô) e, um de seus filhos, o Sr. Raimundo Benício Sampaio, médico que já havia consultado e recebido vários pacientes pela SAERG (que trata do atendimento à saúde tanto quanto do desenvolvimento artístico e cultural). Essa proximidade familiar permitiu que, ao entrar em contato com ele e seus irmãos, eu pudesse visitar, medir e fotografar aque-les edifícios que, há décadas, estavam abandonados. Conhecendo seus ambientes, suas histórias e tendo em mente suas proximidades à SAERG e ao centro histórico, percebi um potencial imenso para a requalificação urbana da área. Paralelamente ao estudo de Guanacés, fazia uma pesquisa teórica geral so-bre arquitetura, ensino e tudo que me parecesse pertinente à expansão dos serviços da SAERG. Ao me aproximar da pedagogia da Escola-Parque de Anísio Teixeira, após indicação de meu orientador, confirmei que a intenção daquele método era a verdadeira intenção por trás da atuação da sociedade, exceto pelo fato de que não seria por intermédio da escola pública. Se, após 50 anos dessa metodologia, o Brasil ainda briga para obter uma universalização das matrículas nos ensinos fundamentais e médio, a idéia de uma escola integral com todos esses serviços parece ainda muito distante à nossa realidade. Mas, hoje em dia, a possibilidade de captação de recursos para projetos culturais e que auxiliem o desenvolvimento humano é muito maior do que antigamente, permitindo a possibilidade da atuação não governamental e sem fins lucrativos nessas esferas de ensino não-curricular. Assim, este projeto visa alcançar um resultado que, após minha graduação, seja ele utilizado como uma maneira de buscar parcerias e investimentos (por meio de parcerias privadas com a lei Rouanet e secretarias públicas), apresentar Guanacés, os serviços da SAERG e o enorme potencial de seu entorno que pode ser transfor-mado em maneiras de alcançar e possibilitar um futuro mais adequado e cheio de possibilidades aos jovens da área. Demonstrar as possibilidades e garantir que a manutenção e expansão da atuação social da SAERG, que visa a formação completa dos moradores de Guana-cés. não seja apenas um sonho, é o principal objetivo deste trabalho.

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1.5 Objetivos do trabalho

Este trabalho final de graduação foi desenvolvido com vistas à uma possível realização dele progressivamente em etapas (mesmo que apenas em parte). Atualmente, a SAERG não obtém suficiente patrocínio e possui dificuldade em pagar sua manutenção básica. Para reverter essa situação, começa-se a avaliar as possibilidades de captação de recursos através de secretarias, convênios internacionais e parecerias com a iniciativa privada por meio da lei Rouanet. O trabalho, em toda sua dimensão de requalificação e aproveitamento do potencial urbano, será de grande importância para a apresentação da situação atual e a almejada pela sociedade. Focando no âmbito arquitetônico, o projeto tendeu a criação de ambientes bem iluminados, que quando possível tivessem o contato com áreas verdes ajardina-das e que a ventilação cruzada pudesse ser garantida sem detrimento de outros aspec-tos. Para os espaços novos, busquei um sentimento de acolhimento e proteção en-quanto a permeabilidade e a transparência fossem alcançados. Quando o fechamento fosse ncessário, que ele pudesse também ter momentos de abertura ao exterior. O objetivo geral é, portanto, manter vivo a ação de formação artístico-cul-tural para a comunidade de Guanacés, instrumentando a SAERG para tal. Os outros objetivos são: -Qualificação urbana. -Melhoria da qualidade de vida. -Enquadramento melhor do desenvolvimento sustentável de Guanacés. -Revitalização do centro histórico. -Manter viva a memória urbana. -Desenvolvimento social.

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1.6 Localização

O distrito de Guanacés está localizado a oeste do município de Cascavel. Seu “territó-rio” faz divisa com Pacajus (o açude de mesmo nome faz parte do limite), Horizonte e Pindo-retama. Sua localização geográfica é 04º08’40’’ S e 38º19’54’’ O. O terreno de sua zona urbana é majoritariamente plano, apresentando varia-ções leves, de 58 a 61m acima do nível do mar (referente à área abordada no mapa à direita). Sua proximidade com o litoral torna o clima ameno, sem graves influências dos pe-ríodos de seca, sendo o clima tropical quente (zona equatorial) semi-úmido (4 a 5 meses se-cos). Sua vegetação típica está entre a “área de formação pioneira com influência marítima e fluviomarinha” e a “região da savana estépica (Caatinga do sertão árido). O centro de Guanacés dista 10,1km do centro de Cascavel, e 65km do centro de Fortaleza.

Figs 1.1 e 1.2 Macrolocalização de Guanacés. Figura 1.3 Mapa aéreo de Guanacés

FORTALEZA

CASCAVEL

CASCAVEL

GUANACÉS

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2. ANÁLISE DE GUANACÉS E A QUESTÃO DO ENSINO

2.1 Histórico de Guanacés

A comunidade de Guanacés é atualmente um dos distritos mais antigos do Ceará (ainda nesta condição). Sua fundação data de 20 de outubro de 1890 através de uma portaria do governador do Estado, Luiz Antônio Ferraz, criando o distrito policial de Bananeiras, sendo Raimundo Emídio Soares Dantas seu primeiro subde-legado. Sua definição oficial como distrito submetido à Cascavel veio a ocorrer no Decreto nº 1156, de 4 de dezembro de 1933, sendo ainda nessa época chamado de Bananeiras. A denominação Guanacés veio somente com o Decreto-lei nº 1114 de Dezembro de 1943. No começo da história do distrito houve um ato em 03 de dezembro de 1902 para transferir de Várzea Formosa, Ipueiras, uma cadeira primária de ensino misto para Bananeiras, e foi nomeada para regê-la a Profa Antônia Sidou Castelo Branco. Sendo, talvez, esta a primeira instituição oficial de ensino da comunidade, visto que, à época, o ensino não era universal e os mais abastados pagavam mestres-escolas para um ensino mais personalizado em suas fazendas. Em 1923, a professora do meio rural em Bananeiras era a Sra. Donatilla Fernandes Vieira, e em 1931 foi nomeado o Sr. Zacharias Falcão para reger a escola. De 1919 a 1922 o padre Agostinho Helano de Moura foi coadjutor em Ba-naneiras. Tendo sido, durante esse período e sob sua responsabilidade , construúda a Igreja Matriz do povoado.

Figura 2.1: Foto de Guanacés da década de 1950.

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De 1922 a 1924, José da Gama Filho teve uma escola na Praça da Matriz de Bananeiras, contando com alunos fardados e uma biblioteca. Da época do Estado-Novo e até a emancipação frustrada, Guanacés era uma pequena comunidade muito bem organizada e com muito potencial. De acordo com as palavras do Sr. Valdo Santos “Guanacés era muito mais adiantada que os distritos vizinhos. Com automóveis. O padeiro de Guanacés vendia pão em Pindoretama”. Em 1945, o distrito recebeu uma caravana da UDC pró-candidatura do major-brigadei-ro Eduardo Gomes à presidência, sendo recebidos pela figura de Esaú Benício. Lá, apresentaram-se para em torno de 1000 pessoas. Em 25 de janeiro de 1948 foi criada a paróquia de Guanacés, tendo como sede a Igreja Matriz previamente construída e ainda hoje presente na comunidade. A invocação da paróquia é de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. O padre Miguel Fenelon Câmara Filho foi o pároco de 1951 a 1954. Foi este mesmo padre que fundou em 1951 a SAERG (Sociedade de Assistência e Edu-cação Rural de Guanacés). Mais tarde se tornaria o Arcebispo de Teresina.

Figura 2.2: Paróquia da Imaculada Conceição em Guanacés. (2005)

Guanacés foi elevado à categoria de município independente de Cascavel pela lei nº 6309 de 21 de maio de1963. À época, Cascavel contava com os distritos de Guanacés, Caponga, Pindoretama, Pitombeiras e Jacareocoara. Em 15 de julho de 1963, os distritos de Pitombeiras e Pindoretama se emancipam através da lei estadual 6427. Entretanto, as elevações não foram efetivadas por força da lei 8339 de 14 de dezembro de 1965 (à época, já instaurada a ditadura militar). Com essa lei, foram extintos os municípios de Guanacés, Pindoretama e Pitombeiras e seus territórios fo-

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ram remembrados à Cascavel, voltando assim à mesma organização territorial pré-1963. O distrito de Pindoretama conseguiria sua eman-cipação definitiva apenas em 28 de dezembro de 1987 pela lei estadual nº 11413. Em 1967 a entidade Cáritas Arquidio-cesana de Fortaleza ultimou reunião entre os lí-deres das comunidades de Cascavel e Guanacés para a construção de uma ponte e o alargamen-to da estrada entre os dois, com trabalho volun-tário e doações de ferramentas pela Prefeitura e de alimentos às famílias dos trabalhadores pelos mais abastados da região. Isso mostra o quanto e comunidade era à época organizada e interes-sada em seu crescimento.

A inauguração da primeira rodovia que ligaria Guanacés a Cascavel ocorreu em 28 de junho de 1969, passando por Coluna no ca-minho. Em 07 de outubro de 1977 foi veiculado pela primeira vez no jornal O POVO o IV Festival do Caju, uma festa tradicional da região. Esse festival ocorreu várias vezes no Clube Recreativo de Guanacés, voltando a ser noticiado em 1978 e já no século XXI em edições mais recentes. Nesse festival, todas as colônias guana-cesenses eram convidadas a participar e desenvolviam-se diversas atividades como a escolha da Rainha do Caju, concursos para o maior caju, a melhor cajuína, o melhor doce e prêmios para as melhores novidades em matéria de caju e seus derivados. No mesmo ano de 1978 a população já esperava pela construção da estrada Cascavel-Pacajus que passaria por ali. Antes do sistema rodoviário atual ser estabelecido, Guanacés era um pólo agregador das comunidades próximas, atraindo os moradores dos arredores que vi-nham fazer a feira, comprar e vender gêneros diversos. Era muito comum andar de cavalo até a Preaoca. No entanto, com o advento da rodovia Cascavel-Pacajus e, con-sequentemente, do sistema automotivo, Guanacés começou a perder o seu brilho, pois as pessoas começaram a sair para as outras cidades com maiores oportunidades, além do fato de Guanacés estar situada entre as duas grandes rodovias (CE-040 e BR-116) que ligam Cascavel e Pacajus à capital Fortaleza, sem estar diretamente ligada a nenhuma delas. Em 1979 o cardeal arcebispo Dom Aloísio Lorscheider presidiu a inaugura-ção da matriz de Nossa Senhora da Conceição em Guanacés. Essa inauguração veio de uma reforma ou expansão da igreja, visto que antigos moradores da comunidade relatam que a construção é a mesma desde 1920. Após a missa inaugural houve um

Fig. 2.3: Padre Miguel Fenelon Câmara

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leilão com a presença de personalidades da região. Em 1980, foi inaugurada a Unidade Sanitária de Guanacés (um antecessor de posto de saúde) com presença de um médico e outros servidores fazendo campa-nhas de esclarecimento e palestras sobre higiene. No ano de 1987, o prefeito de Cascavel, Jurandir Dantas (uma família tra-dicional de Guanacés) de Sousa, cujo mandato durou de 31/01/1983 a 01/01/1989, realizou várias obras no distrito de Guanacés e estas obras foram amplamente vei-culadas pela imprensa. Dentre elas, podemos citar a ampliação da rede de energia elétrica; 43.000m de calçamento; construção da quadra polivalente de esportes com iluminação; reconstrução da escola de 1º grau Custódio da Silva Lemos (mais tarde anexada a quadra à sua estrutura); sistema de abastecimento de água; estrada em Lagoa de Sousa; inauguração da praça da Matriz em 27 de agosto de 1988. Em meados de 1989 começaram novamente tentativas de emancipação do distrito, juntamente com outros, através da emenda constitucional 1003 protocola-da pelos deputados Alexandre Figueiredo e Nilo Sérgio para a criação de 37 novos municípios após plebiscito. A discussão sobre as emancipações se prolongaram pelos anos e no começo de março de 1991 a situação parecia favorável à Guanacés, já que o processo havia sido aprovado por unanimidade por cinco juízes e com parecer fa-vorável do Procurador Regional Eleitoral. O plebiscito seria realizado em 07 de abril de 1991. No entanto, um projeto do deputado Cid Gomes modificou os critérios para emancipação de distritos no Ceará e sepultou, temporariamente, as ambições de Guanacés. Em setembro, a Assembléia organizou uma comissão para discutir o projeto de lei que definiria os critérios novos de emancipação em 7.000hab e 250 prédios. Guanacés estaria dentro. Desse processo, poucos distritos conseguiram se emancipar, sendo dessa época a emancipação de Jijoca de Jericoacoara e Catunda. Em 1990, a partir do começo do ano, a comunidade de Guanacés passou a acusar o prefeito Paulo César Sarquis de promover perseguição política contra fun-cionários públicos e à própria população do distrito por não terem votado nele e nos seus protegidos. O prefeito assumiu em 01 de janeiro de 1989. Durante seu primeiro ano de mandato foi retirada a ambulância do distrito, dispensada parte do setor de limpeza de Guanacés e os estudantes estavam tendo que pagar passagem para ir à escola em Cascavel. A prefeitura tentou justificar que o motorista estava pedindo por pagamentos diários e, por isso, o serviço estava dessa forma, só que, nos distritos vizinhos o atendimento do mesmo coletivo ainda era gratuito. No começo de 1993 a SAERG volta a funcionar com os primeiros ensaios para a formação da nova banda de Guanacés. Em mais uma tentativa de emancipação de distritos, a Assembléia se reu-niu no final de abril de 1994 para votar nos seguintes critérios: ter um milésimo da população do Ceará (na época equivalendo a 6.433hab. Guanacés tinha, à época, 6.656hab. Outra mudança de critérios para emancipação foi proposta pelo deputado Thomaz Brandão no final de fevereiro de 1995 que, à época, era ter 9.600hab, 300

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Figura 2.4: Imagem de jornal mostra a demanda de respeito pela comunidade residências, posto de saúde, posto policial e escola de 1º grau. Brandão queria dimi-nuir para 6.300hab e retirar o posto de saúde das exigências. A escola Custódio da Silva Lemos passou a ser de ensino fundamental e mé-dio a partir de um decreto do governador Tasso Jereissaiti de 28 de março de 1996. Sua biblioteca foi inaugurada posteriormente em 10 de dezembro de 1999. Em 31 de março de 1999 a multinacional italiana de cortume, BERMAS, se instala em Guanacés. Hoje a fábrica se chama JBS e é a maior empregadora da comunidade. A partir dos anos 2000, é gigante o salto de notícias veiculadas em jor-nais sobre o aumento da violência no distrito. Inúmeros casos de assassinato, roubo, violência doméstica e atropelamento passam a permear as notícias. Essa década foi marcada principalmente pelo aumento de violência e pela atuação das sociedades de assistência (SAERG e ASODESG), com grande atenção à figura de José de Arimatéia Santos. Na gestão do prefeito Florentino Ribeiro (2001-2004) foram inaugurados a praça dos arcos de Guanacés (atualmente, praça Isaac Benício) e o posto de saúde da comunidade. Na matéria elucidativa sobre a Vildan Agroindústria e Comercial de 15 de agosto de 2004 no O POVO explica-se que a indústria produz 5.000kg de castanha por ha/ano e possui 10.000ha de cajueiros Taga I e II em Guanacés.

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Pesquisa do Ministério da Saúde veiculada em 31 de janeiro de 2005 no O POVO relata que 33.000 pessoas moram sob solo contaminado em 10 municípios do ceará (Guanacés aparece erroneamente incluído nesta categoria). Considera-se o processamento da castanha de caju o maior vilão, afetando 10.000 pessoas. Guana-cés, por suas características, estaria como um dos maiores prejudicados. Matéria do Diário do Nordeste de 17 de março de 2005 discorre sobre os pontos fortes da economia de Guanacés, destacando as áreas de curtume (exporta-ção), fruticultura, agropecuária (leiteiro, suínos, frangos e avestruzes), castanha de caju, olaria e confecções. O ano de 2005 em Guanacés foi marcado pela atuação forte das socieda-des assistencialistas do distrito (SAERG e ASODESG) com diversos cursos sendo ministrados, podendo citar: o Programa Educacional de Assistência às Drogas e a Violência, PROERD e a tradicional comemoração natalina (pela SAERG); O lança-mento da Agenda de Desenvolvimento Sustentável de Guanacés e o primeiro Festival de Quadrilhas (pela ASODESG). No final do ano aconteceu a II Feira do Caju, encontro para falar da cajucultura com palestras, solenidades e a escolha da Rainha do Caju. Outras atividades ministradas pelas sociedades vieram nos anos seguintes e anteriores e serão mais aprofundadas em outro momento. Em 2006, houve o 3º Caju Nordeste em Guanacés, organizado pela ASO-DESG. O tema do encontro foi “Caju, gerador de alimentos e riqueza para o Nor-deste brasileiro.” Em 2007, saiu no jornal O POVO matéria com título em tom cômico “O distrito que já foi cidade” falando sobre Guanacés, sua fundação, emancipação e re-baixamento. Dizendo que, se emancipado, Guanacés recebria R$ 600.000 de trans-ferência dos recursos federais. Francisco Araripe Costa, da ASODESG estava à frente pró-emancipação. Em 2009, foi veiculada outra matéria sobre a emancipação dos distritos e cita Guanacés como um com proposta de emancipação, mas que não atinge o nú-mero mínimo de moradores. Em 2009, para se emancipar era necessário ter 1% da população cearense (8.548hab), eleitorado superior a 40% de sua população, centro urbano constituído, posto de saúde e policial e sistema telefônico e elétrico.

2.1.1 Nomenclatura e questão indígena

O nome inicial do distrito, criado em 1890, era Bananeiras. Esse nome se deu em referência a um riacho homônimo que corre em seus arredores. A mudança para o nome atual se deu em 1943. Segundo Carlos Studart Filho1, Guanacés é o nome de uma numerosa tribo indígena habitante da região, que se estendia até a serra de Uruburetama, onde se limitavam com os Tremembés. Também conhecidos como Anacés. Esse nome, em tupi, compõe-se de gua (gente), nã (parente), ce (que deseja, propensão), ou seja,

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gente que deseja ser parente. Os Guanacés (ou Anacés) ocupavam até recentemente uma área entre Caucaia e São Gonçaço do Amarante, mas, em setembro de 2012, o Governo do Estado entrou em nego-ciação para retirá-los de suas áreas e relocá-los em outra área para utilizar o terreno na cons-trução da refinaria de petróleo Premium II. O novo terreno tem o equivalente a 725ha e per-manece no município de Caucaia.

1- FILHO, Carlos Studart; Os aborígenes do Ceará. Editora Instituto do Ceará, 1965. Páginas 102-104

2.1.2 Patrimônio histórico-arquitetônico de Guanacés

Após a criação do distrito policial de Bananeiras em 1890, algumas famílias come-çaram a mudar-se para lá (e outras, que talvez já morando por lá, permaneceram). Não obtive informações precisas sobre a época da primeira leva de migrantes à localidade, mas pude perce-ber, em uma visita ao cemitério da localidade, a presença de vários túmulos antigos com cons-truções realizadas a partir do início do século XX. Na figura 2.7 o túmulo é de 1922, mas

Fig.s. 2.5 e 2.6 (acima) Índios AnacésFigs. 2.7 e 2.8 (abaixo) Exemplo de túmulo antigo bem trabalhado no ce-mitério de Guanacés.

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pude averiguar túmulos mais antigos (de 1902), sendo que, no entanto, esse era da pessoa nasci-da há mais tempo (1848). Além da arquitetura mortuária, po-demos encontrar uma grande quantidade de casarões e sobrados de arquitetura eclética re-quintada no entorno da praça da matriz. Suas construções datam do final do século XIX ao começo do século XX, sendo, portanto, muitos deles já centenários. Os edifícios mais rebusca-dos pertenciam às famílias mais tradicionais da área, como os Benício Sampaio e os Vitorino Dantas. A arquitetura do centro histórico (en-torno da praça matriz) apresenta algumas carac-terísticas que se repetem, como a presença de detalhes decorativos na fachada que tinha uma função estética e social para definir o poder de seus moradores. Quanto mais rebuscado, mais poderosos. Nenhum edifício apresenta recuos frontais ou laterais e o gabarito também segue um nível definido, sendo a maioria deles térreo. Há apenas 2 sobrados. A igreja mantém seu porte altivo e central em relação aos prédios.

Figs 2.9 a 2.13 (abaixo e à direita) Fotografias dos di-versos edifícios construídos no final do século XIX e começo do XX no entorno da praça da Matriz. Alguns deles continuam a ser utilizados, enquanto outros estão abandonados em vias de se tornarem ruínas.

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Muitos dos edifícios estão abandonados e, al-guns, já apresentam sinais de estarem se tor-nando ruínas. Outros tantos que continuam servindo como morada e/ou comércio foram de alguma forma descaracterizados. Ainda há, claro, os que se mantém fiéis à sua origem. Os edifícios antigamente eram cons-truídos com tijolos artesanais de areia e cimen-to. Por alguns deles estarem em ruínas é fácil perceber o sistema construtivo. É interessante perceber a mudança no material construtivo ao decorrer do tempo. Na figura 2.19 podemos perceber a utilização do tijolo antigo e uma expansão feita com tijolo de 1/2 vez de 6 furos, sendo este o mais popular. Figs. 2.14 (acima) Sobrado antigo e bem conservado. Figs 2.15 a 2.17 Exemplo de edifícios abandonados há décadas no entorno da praça da Matriz. Fig. 2.18 (abaixo) tijolo artesanal feito com diatomita e 2.19 (abaixo e à direita) exemplo de casa popular com 2 sistemas de alvenaria distintos.

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2.2 Situação atual e levantamento de dados

“Tinha muita abundância quando eu era jovem. Era difícil, mas havia muitas oportuidades. Hoje é muito sacrificioso, as pessoas não querem mais trabalhar na agricultura e têm poucas opções.”

Manoel de Souza Barros

“Guanacés apresenta, mesmo sendo um distrito de Cascavel, problemas dignos das grandes cidades, como a degradação e abandono do centro histórico e a presença de altos níveis de criminalidade devido ao tráfico de drogas.”

Francisco Araripe da Costa

Hoje, Guanacés vive uma sombra do que já foi. O número de habitantes cresceu em relação àquela época, mas as oportunidades e as possibilidades de cresci-mento minguaram cada vez mais. Os moradores e ex-moradores se recordam com nostalgia de antigamente enquanto analisam com alguma tristeza a situação atual. O abandono da comunida-de, a presença do tráfico de drogas, a violência e a prostituição têm sido cada vez mais presentes na área. Após a saída e falecimento das antigas lideranças comunitárias e políticas, a comunidade, aparentemente, se desmobilizou e parou no tempo. Comércios foram fechados, residências abandonadas. Conta-se que em torno da praça da Matriz não houve nenhuma mudança nos últimos 50 anos. A mudança evidente no entorno do antigo centro de Guanacés é o maltrato dos prédios devido ao seu abandono. Diz-se que um prédio abandonado definha aos poucos sem cuidados e essa afirmação torna-se fácil de comprovar diante da visão do entorno da igreja. As principais mudanças físicas que ocorreram na sede distrital nessas últimas

Figura 2.20 Foto da rua Dom Manuel em Guanacés em 19/10/2012

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décadas foram: a criação da Praça Isaac Benício, do colégio de ensino fundamental Abdon Dantas e do de ensino médio Custódio da Silva Lemos e a passagem da CE-253 que liga Cascavel a Pacajus, além da expansão urbana em direção ao leste e sudeste, um crescimento voltado às costas da igreja. O abandono da comunidade pelo poder público (não só por ele) é extre-mamente visível. A prefeitura de Cascavel dedica a maior parte dos seus recursos em investimento à Caponga. Em Guanacés há um projeto em construção de uma quadra poliesportiva que as obras foram interrompidas antes da colocação da cober-ta. A obra se encontra “finalizada” com arquibancadas e área de jogo construídas ao descampado, apesar da entrada da armação dos pilares ter sido iniciada ao redor dela. Mesmo assim, a comunidade já a usufrui. A partir de 16:00h garotos já chegam para utilizá-la, mas a falta de iluminação pública na localização exibe uma outra face à noite como ponto de boca de fumo e arranjo de prostituição graças à má visibilidade. No centro histórico de Guanacés existem vários edifícios particulares antigos (alguns centenários) abandonados e instituições fechadas, caso do Clube Recreativo de Guanacés que não sedia mais eventos há quase uma década. Serviços básicos e infra-estrutura também faltam à comunidade. Iluminação pública se faz presente em várias ruas e praças, mas não engloba toda a sede ainda; Água encanada é obtida através de poços artesianos. Uma rede encanada ainda é inexistente. O mesmo pode se dizer da rede de esgoto, sendo a solução de fossa e sumidouro o mais encontrado na comunidade; Ainda não são presentes alguns equi-pamentos básicos como posto de combustível e agência de banco (nem mesmo um caixa-rápido). Todos esses fatores causam a perda do sentimento de pertencimento da co-munidade. A comunidade não se sente valorizada e, consequentemente, não valoriza seu ambiente de vivência. Falta de esperança e desejo de saída são sentimentos co-muns aos moradores.

Figura 2.21 O abandono dos edifícios no centro histórico contribui ao sentimento de abandono

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2.2.1 Educação

Em dados obtidos na Secretaria de Educação de Cascavel em 03 de maio de 2012, a rede municipal de ensino de Cascavel conta com as seguintes escolas no distrito de Gua-nacés: CEI¹ Nosso Sonho/G. Fund Vila Real em Guanacés; EEF² Abdon Dantas de Almei-da; CEI Hilda Dantas Guanacés; CEI Projeto Educar em Guanacés; EEF² de Boa Água; EEF de Curralinho e anexo Vila Mariana; EEF Do-mingos Ângelo Silva em Choró Serrote; EEF Jardim Marajoara no Jardim Marajoara; EEF José Coelho Carvalho no Coqueiro; EEF Ma-nuel Bernardino em Lagoa de Sousa. O total de alunos matriculados na rede municipal é de 1752, com 324 na educação infantil e 1346 no ensino fundamental.1

Uma creche anexa da EEF de Currali-nho foi rebatizada como Creche José de Arima-téia Santos, em homenagem ao grande benfei-tor de Guanacés e reformulador da SAERG. A escola Abdon Dantas de Almeida conta com mais da metade dos alunos de en-sino fundamental matriculados no distrito de Guanacés (692 alunos). Nele, não há educação infantil. Lá, há também o PEJA (Programa de Ensino Jovem e Adulto) com 2 turmas, uma de 36 e outra de 46 alunos (totalizando 82 matrí-culas) no horário noturno, no entanto, a evasão desse sistema é muito grande pela dificuldade de conciliar trabalho e estudos. Ao total, há 774 matrículas no Abdon. Em visita à escola Abdon em 30 de agosto de 2012 foi dito por uma das coorde-nadoras que haviam 855 alunos matriculados, contando com o ensino da 1ª a 8ª série e o EJA (Ensino de Jovens e Adultos) com 2 salas noturnas de nível 3 e 4. Ensino de dança e artes cênicas fica restrito a apresentações esporádicas para festivais. Ensino de Ed. Física e Ed. Artís-

Fig. 2.22 Creche José de Arimatéia SantosFigs. 2.23-2.26 EEF Abdon Dantas de Almeida. De cima para baixo: Fachada; Quadra coberta/entrada; Corredor axial; Vista de uma sala de aula.

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tica somente da 6ª a 8ª série. Sobre os espaços físicos da escola é importante notar que lá exis-tem 11 salas sendo usadas nos turnos de manhã e tarde; Os equipamentos de um laboratório de informática foram comprados e estavam a espe-ra de serem montados; Há uma pequena sala de leitura, mas não há espaço para uma biblioteca; O pátio coberto não serve para atividades físi-cas pois fica na entrada da escola. Para essa fina-lidade se levam os alunos para o campo ou para a quadra do colégio Custódio da Silva Lemos. O Colégio Custódio da Silva Lemos é o único estadual e de ensino médio no Distrito de Guanacés. Fica localizado ao lado da praça Isaac Benício e foi criado por decreto do go-vernador Tasso Jereissaiti em 28 de março de 1996. Em conversa com a coordenadora Mô-nica no dia 23 de agosto de 2012 foi dito que no colégio Custódio da Silva Lemos há 510 alu-nos matriculados, abrangendo aulas do 9º ao 3º ano do ensino médio. Fisicamente, o colégio disponibiliza 7 salas de aula para manhã, 6 para tarde e 3 a noite. A evasão noturna é muito alta e isso preocupa a coordenação. Além das salas, conta-se com uma quadra poliesportiva cober-ta, uma biblioteca bem equipada, laboratório de ciências e de informática e cantina com área coberta. A quadra do colégio possui disponibi-lidade para utilização nos fins de semana me-diante solicitação. A biblioteca conta com um acervo de quase 6.000 livros e apresenta uma oficina de leitura com projeto de incentivo a ler com movimento médio de 10 a 20 livros alugados por dia. Apesar do bom desempenho da biblioteca, o colégio não conta com uma ofi-cina de redação. O colégio conta com uma comissão de apoio ao menor com professores, alunos e funcionários ajudando em casos de violência e drogas. Os alunos procuram ajuda, apesar de

Figs 2.27 a 2.30 Fotos do colégio Custódio da Silva Lemos. Respectiva-mente, de cima pra baixo: Fachada; Sala de aula; Laboratório de informática; Quadra poliesportiva coberta.

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vários ainda sentirem vergonha. A maioria dos alunos não mora na sede distrital de Guanacés, isso atrapalha a realização de atividades extra-curriculares. O transporte escolar é realizado em convênio do Estado com a Prefeitura. Apesar das dificuldades, o índice de aprovação dos alunos no ensino superior chega aos 25%, com preferência dos alunos nas inscrições pela UFC (Universidade Federal do Ceará), pela UECE (Universidade Estadual do Ceará) virtual de Beberibe e no pólo da UVA (Universidade Vale do Acaraú) de Cascavel. Os professores das escolas são conside-rados bons, apesar da carência física de algumas escolas. Alguns deles vêm de Cascavel, outros vêm de Fortaleza. Em novembro de 2012, a escola muni-cipal e muitos outros serviços estavam de greve devido à falta de pagamento dos servidores pela prefeitura de Cascavel Além do ensino público, podemos des-tacar a participação da ASODESG (Associação para o Desenvolvimento Sustentável de Gua-nacés) que oferece um cursinho pré-vestibular que leva diversos professores e oferece um en-sino mais direcionado e de alta qualidade. Tem obtido bons resultados de desempenho.

1-CEI = Centro de Educação Infantil; 2-EEF = Escola de ensino fundamental

Figs 2.31 (acima) Fachada da CEI Hilda Dantas Sampaio na CE-253 na sede de Guanaces. Fig. 2.32 e 2.33 Fotografias do Colégio Custódio da Silva Lemos. Respecti-vamente: Laboratório de Ciências e corredor externo às salas.

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2.2.2 Saúde

De acordo com dados obtidos na Secretaria de Saúde de Cascavel em 03 de maio de 2012, Guanacés conta com um posto de saúde da família, que conta com 2 equipes de saúde da família (cada equipe contabiliza ao menos 1 médico, 1 dentista, 1 enfermeiro, 1 auxiliar de enfermagem, 1 ajudante de dentista e agentes comunitá-rios de saúde) e à época, uma das equipes estava sem médico. O funcionamento é, formalmente, de 08-12:00h e de 13-17:00h, de segunda a sexta. Informalmente, o posto não fecha para almoço e os profissionais saem entre 15:30 e 16:00 para retor-nar a Fortaleza em um sistema de rodízio de carros saindo de Cascavel. A maioria dos profissionais mora em Fortaleza. Além desse posto principal, existem 3 minipostos nas comunidades de Biágua, Coqueiro e Jatobá que geralmente atendem em escolas. Em casos que necessitem maior direcionamento, os pacientes podem ser encaminha-dos a policlínica municipal, ao hospital filantrópico de Cascavel ou aos hospitais de Fortaleza. Em minha primeira tentativa de visita ao Posto de Saúde da Família de Gua-nacés no dia 06 de novembro de 2012, terça-feira, ele já estava fechado às 16:15h. No dia 20 de novembro de 2012 retornei ao Posto às 11:00h e consegui conversar com a enfermeira coordenadora do posto. Em conversa com a enfermeira coordenadora do PSF, Erlenia Cartaxo de Souza, foi relatado que o Posto de Saúde continua com apenas 1 médico desde que o Sr. Waltemar se licenciou para promover sua campanha política, sendo o atual vice-prefeito eleito pelo PHS junto com a prefeita Ivonete. A atual médica presente é a sra. Romana. Uma das dentistas saiu e agora só resta outra. A equipe efetiva no dia da entrevista contava com 14 agentes de saúde, 4 auxiliares de enfermagem, 1 auxiliar de farmácia, 2 recepcionistas, 4 auxiliares de serviço, 1 fisioterapeuta (relo-cada recentemente e ainda a inciar as atividades, pois o posto não contava com este serviço), 1 médica, 3 enfermeiras, 1 dentista e 1 auxiliar de dentista. O efetivo conta com 1 enfermeira a mais, pois esta está em período de prática na graduação. Alguns desses profissionais estão licenciados ou de férias. No posto o antedimento é básico, voltado à atenção e prevenção de proble-mas. Além de primeiros socorros, o posto conta com serviços voltados para diabéti-cos e hipertensos, acompanhamento de gestantes e saúde da mulher (prevenção, dis-tribuição de preservativos e anticoncepcionais). O dr. Waltemar era responsável por pequenas cirurgias como retirada de sinais e cistos. Em casos de atendimento mais especializado, os pacientes podem ser encaminhados à policlínica municipal (parada no fim de 2012 devido ao momento de fim de gestão e greve geral por atraso no pa-gamento dos salários), à policlínica de Pacajus, ao hospital filantrópico de Cascavel ou a hospitais em Fortaleza. Nas policlínicas constam profissionais de dermatologia, ortopedia, nutricionismo, otorrino, ginecologia, fonoaudiologia, fisioterapia, cardio-logia, terapeuta e serviços de ultrassom, endoscopia e laboratório para análises.

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A demanda por serviços ligados à saú-de é muito grande em um município tão vas-to como Cascavel e se torna um problema aos habitantes da zona rural por ser muito dispen-dioso o transporte das localidades até a cida-de por causa da distância. Por uma demanda muito alta e um efetivo muito baixo, uma parte da equipe deixa o posto à tarde e se dirige aos minipostos e sítios da zona rural para atender às pessoas das diversas comunidades menores e dispersas no território. Há um grande problema na contrata-ção de novos profissionais de saúde, principal-mente médicos, visto que o horário requerido pelo município de Cascavel era o horário co-mercial e o salário equivalente a R$ 6.000, en-quanto que em Fortaleza o médico tem grande flexibilidade de escolha de horários e um salário de R$ 10.000, sendo que ambos ainda são in-feriores às condições oferecidas pela iniciativa privada. Para tornar mais atrativo à classe, foi permitido uma flexibilização maior dos horá-rios, ótimo para os profissionais e não tão bom para os pacientes necessitados. Há uma grande preocupação dos fun-cionários em relação às altas taxas de prostitui-ção infantil, que agrava bastante a consequen-te gravidez adolescente. Mesmo assim, não há apoio a um tratamento preventivo contra prostituição e gravidez precoce, sem contar que é necessário ir diretamente aos jovens que só participam quando recebem brindes e atrativos (camisetas, bonés) e sem um apoio maior do município a equipe não tem como organizar isso. Dr. Waltemar, o novo vice-prefeito eleito disse que retornaria às atividades no pos-to a partir do final de novembro, mas em horá-rios reduzidos e prometeu uma grande melhora nos quadros municipais de saúde, pois ele esta-rá encarregado disso no começo do mandato.

Figs 2.34 a 2.37 Fotos do PSF de Gua-nacés. Respectivamente, de cima pra baixo: Fachada; Vista do corredor e pátio interno; Sala de procedimentos cirúrgi-cos; Consultório odontológico.

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2.2.3 Segurança

Guanacés passou, de acordo com relatos, 40 anos sem presenciar um crime sequer e agora vem enfrentando uma onda de violência, criminalidade e prostituição assombrosa para uma localidade tão pequena. Para auxiliar na derrocada da seguran-ça, a delegacia do distrito funciona de forma esporádica e indefinida. 2 policiais são os responsáveis por fazer a ronda numa viatura que percorre todo o município de Cascavel. Às vezes, eles passam a noite no edifício, apenas para dormir. É uma triste ironia, já que o distrito fora criado em 1890 como distrito policial de Bananeiras. Em um levantamento feito nos arquivos do jornal O POVO pude contabi-lizar mais de uma dezena de casos de crimes violentos (assassinato, atropelamento, estupro, desaparecimento, assalto e vingança), tendo sua intensidade elevada a partir do início do novo milênio. Muitos outros crimes não chegam nas matérias jornalís-ticas e soube de tantos outros recentes ocorridos desde o início de minha pesquisa, como o atropelamento de um ex-estudante de música da SAERG e o assassinato de um jovem após a festa de comemoração da nova prefeita eleita. Os casos de atropelamento são mais frequentes devido a falta de alguns ser-viços e formas de lazer no distrito. Muitos motoristas vão de moto à Pacajus ou Cas-cavel e, por vezes, retornam embriagados nas estradas BR-116, CE-040 e CE-253. Em um distrito com população aproximada de 12.000 habitantes, em que a sede conta com apenas 2.000 é de praxe que todos se conheçam. Sendo assim, a maioria das pessoas sabem quem são os responsáveis por esses crimes, mas não con-tam com suporte policial ou das autoridades competentes para que possam agir em segurança. Nem os próprios policiais que por lá agem possuem recursos e o apoio necessário. A substância ilegal mais negociada na área é o crack, que vende-se em pedras e tem uma capacidade enorme de vício. Muitas crianças, adolescentes e jovens estão insertos nesse mundo em Guanacés. Crianças de 10 anos vendem pedras de crack nas esquinas. Ouvi um relato sobre um garoto de 13 anos que, viciado desde os 10, foi pra Fortaleza se tratar após pagar R$ 1200 devido a ameaças de um traficante. Por se considerarem muito esquecidos pelas autoridades, a sociedade se organizou e montou um CCDS (Conselho Comunitário de Defesa Social), uma organização comunitá-ria e apartidária que corre atrás de recursos e investimentos para a área de segurança, apesar de organizarem outras atividades como doação de pães na semana santa e de brinquedos no dia das crianças. Um dos objetivos atuais é conse-guir uma viatura e, ao menos, 6 policiais para cuidar da segurança pública de Guanacés.

Figs 2.38 Posto de polícia de Guanacés

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2.2.4 Mobilidade Urbana

O sistema viário de Guanacés é formado por vias com calçamento de pedra tosca na sede, sendo asfaltadas apenas a estrada CE-253. As localidades rurais do distrito são acessadas pela CE ou por estradas de terra. Há ausência de passeios na estrada quando ela adentra a zona urbana. Não há numeração nas casas e poucas ruas são nomeadas e, por isso, a população recebe suas correspondências numa caixa postal dentro do posto de correios presente na sede distrital. A nomenclatura das ruas foi posta recentemente, por iniciativa da ASODESG em conjunto com o DERT-CE. Antigamente, o sr. Isaac Benício era dono de uma companhia de ônibus cha-mada Expresso Guanacés que fazia linhas para Cascavel, Fortaleza e outras cidades próximas, mas a empresa acabou na década de 1980 e as linhas foram vendidas para a companhia São Benedito. Essas linhas continuaram rodando até aproximadamente 2007 (informação obtida no ponto de vendas da empresa) quando foram desativa-das. Desde então, Guanacés se vê desprovido de transporte público. Para chegar em Guanacés de Fortaleza é necessário pegar um ônibus para Cascavel (São Benedito) e lá procurar uma lotação que vá para Guanacés. O caminho inverso é um pouco mais tortuoso. Sem contar com transporte público, a alternativa oferecida aos moradores são as lotações informais (“táxis”)em veículos automotivos particulares. Esses motoristas cobram R$ 2,50 para Cascavel e R$ 100 a viagem para Fortaleza (ida e volta) e só saem se o carro estiver cheio (a não ser que se complete o restante para completar a viagem). Essa situação se mantém por falta de interesse dos empresários de levar as linhas de ônibus até lá e por um certo cartel formado pe-los taxistas informais que boicotam as iniciati-vas. A população também tem sua parcela de culpa, visto a falta de mobilização para exigí-las e pela comodidade de não ter que esperar 1, 2 horas por um ônibus. A maior parte da população se loco-move a pé ou utiliza os “táxis” para viagem mais longas. Poucos têm veículos automotivos parti-culares e alguns possuem motocicleta. Por meio de direção perigosa e ingestão de álcool, essas motocicletas se tornam uma das maiores ferra-mentas para a alta quantidade de atropelamen-tos.

Figs 2.40 Calçada em torno do Centro Histórico

Figs, 2.39 Via padrão em Guanacés

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2.2.5 Emprego e Renda

Guanacés já possuiu um poder de atração e uma veia comercial muito forte. Na época que o padeiro de Guanacés levava pão pra vender em Pacajus e Pindore-tama e os pescadores do Iguape vinham vender o peixe na feira do distrito. Nesse momento, a feira e a agricultura tinham papéis muito fortes para a economia. Os tempos mudaram. A agricultura familiar não é incentivada e é mais in-certo do que ser contratado para trabalhar numa indústria. Os trabalhos utilizam uma mão de obra simples, não especializada, devido à falta de oportunidades locais. A indústria JBS, gigante do ramo coureiro atraída por uma política estadual de interiorização do desenvolvimento ao fornecer redução de impostos, se instalou em 2001 e gera mais de 2.000 empregos diretos para a população. Em 2008, suas exportações chegaram a US$ 148.000.000, 15% do total de exportações cearenses, sendo assim a maior exportadora do Estado. Outra empresa do ramo coureiro cha-mada Eagle Ottawa se instalou em 2007 e gera mais de 300 empregos diretos. Dessas duas empresas saem artefatos de couro prontos para a cobertura de sofás e bancos de carro em todo o mundo. Dizem que, um em cada cinco carros em circulação na Eu-ropa possui bancos com estofamento de couro vindo da JBS, ex- Bermas, que exporta para 40 países. Outras grandes empresas fora de Guanacés como a Cascaju e várias outras em Horizonte empregam uma boa parte da população do distrito. Guanacés possui representatividade comercial, além das grandes indústrias, nas áreas agrícolas, principalmente fruticultura, e agropecuária. A agricultura conta com 7.455 Ha em seus principais produtos, sendo eles o caju (principal, com 4.250 Ha), milho (800 Ha), feijão (800 Ha), carnaúba (550 Ha), cana-de-açúcar (410 Ha processados em rapadura ou vendida para indústrias de aguardente, sendo notável a quantidade de engenhos presentes no caminho da CE-040 até Guanacés), mandioca (320 Ha), coco (200 Ha) e manga (70 Ha). A maior produção é a de cana-de-açúcar (28.700 Ton), seguida por mandioca (3.200 Ton) e castanha de caju (2.075 Ton), mas o que mais agrega valor é a castanha de caju (R$ 2.075.000), seguido pela cana-de-açúcar (R$ 1.291.500) e feijão (R$ 1.020.000 com produção de 600 Ton). Na agropecuária despontam vários criadores de gado leiteiro (produção de 1.115 Ton),

Figura 2.41 Indústria JBS em 2005, quando ainda se chamava Bracol

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suínos (2.616 unidades), ovinos (2.164 uni-dades), caprinos (1.310 unidades) e rebanhos menores de equinos, muares, avestruzes, tilá-pias (piscicultura nos açudes) e avestruzes, mas o grande destaque é para a criação de frangos de corte (20.000 unidades),com a presença de 6 granjas, colocando no mercado cerca de 5.000.000 de aves e arrecadando um valor de R$21.600.000 por ano. A piscicultura é prati-cada nos açudes do território com uma produ-ção de tilápia aproximada a 300 Ton/ano por 30 famílias. A micro-indústria é representada pelo beneficiamento da castanha de caju, a fa-bricação de tijolos e telhas e pequenas produ-ções e confecções. O comércio é mais acanhado do que a situação industrial do distrito. Ao todo, exis-tiam 42 edifícios comercias na zona urbana e 67 dispersos na zona rural. No entanto, a situ-ação não é favorável ao comércio e poucos con-seguem uma vida longa e próspera. Não é raro encontrar um muro escrito que vende algum produto e, ao perguntar, ser informado de que não trabalham mais com isso. A insegurança e a ausência de bancos e caixas-rápidos no distrito contribuem com a dificuldade de acesso a cré-dito e empréstimos. A feira de Guanacés hoje em dia acon-tece apenas aos domingos no Abrigo dos Fei-rantes (uma coberta metálica para a feira) e o mercado público conta com muitos pontos va-gos.

Obs: Todos os dados e números são referentes à 2010

À direita, de cima pra baixo Figs. 2,42 a 2.46, sendo respectivamente: Foto de uma granja; Beneficiamento da castanha de caju; Exemplo de comércio de pequeno porte que não conseguiu se manter; Abrigo aos feirantes para realização da feira semanal; Vista interna do Mercado Público de Guanacés

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2.2.6 Meio Ambiente

Guanacés está localizada na zona equatorial quente com 4 a 5 meses de seca e um clima tropical quente, semi-árido brando, de acordo com o mapa de unidades climáticas de 1990 do IBGE. A vegetação típica está entre a área de formação pioneira com influência marítima e fluviomarinha (vegetação de restinga, manguezal e campo salino) e a região da savana estépica (Caatinga do Sertão Árido). As principais unidades de re-cursos vegetais estão divididas assim dentre o território: mata nativa sendo vegetação semi-árida com 10.690 Ha e vegetação da zona litorânea com 5.650 Ha; Agricultura com áreas de cultivo permanente (caju, coco, manga e carnaúba) com 5.125 Ha e as de cultivo temporário com 2.330 Ha. De acordo com o mapa das unidades de relevo de 1992 do IBGE o relevo é de planícies litorâneas e/ou tabuleiros e colinas. Os acidentes geográficos mais no-táveis são principalmente os recursos hídricos, sendo: a passagem do rio Choró ao centro do território, o açude Mal Cozinhado ao norte, o açude Pacajus ao Oeste e a Serra do Brito ao Sul. Os recursos hídricos no território são diversos e muito importantes para o bem-estar e economia dos moradores. 2 rios cruzam o território: o rio Choró que ocupa 1,3% do território (de Guanacés, não Cascavel) e o rio Malcozinhado que ocupa 1,7%. Apenas uma lagoa natural existe no território, a Lagoa de Souza com aproximadamente 1.000m³. enquanto pode-se encontrar 4 grandes açudes e alguns menores por lá. Os principais são o açude Malcozinhado, volume de 11.000m³, o açude do Serrote, 3.000m³, o açude do Neves, 2.000m³ e a parte do açude Pacajus

Fig. 2.47 Fotografia do açude Malcozinhado (2005)

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que está no território de Guanacés conta com 3.000m². Os outros açudes contabi-lizam somados uma capacidade de 5.000m³. É importante salientar a presença do córrego Bananeiras que serviu como inspiração para nomear o distrito à época de sua formação. De acordo com o mapa de 2005 do semi-árido brasileiro do IBGE o muni-cípio de Cascavel não está inserido no semi-árido devido à proximidade litorânea da maior parte do seu território, apesar de que na segunda quinzena de novembro de 2012, Cascavel foi incluído na lista de municípios que declararam estado de emer-gência por causa da seca (uma das piores das últimas décadas). A arborização pública de Guanacés é um tanto escassa. Os microclimas ver-des ocorrem no miolo das quadras, visto a pouca largura dos lotes e a ausência de recuo das construções. Poucos passeios contam com árvores e as vias com maior presença árborea são as do entorno da praça da igreja Matriz, devido à sua largura e presença de canteiros centrais. Antigamente, a arborização da sede era mais presente e fornecida por Ficus Benjamins, mas uma praga de “lacerdinhas” (Thysanoptera) eli-minou boa parte das árvores e nunca houve uma preocupação do replantio delas. Na presença de edifícios e lotes aban-donados, o desrespeito à propriedade privada vem acompanhado. Muitos terrenos baldios viram depósitos de lixo e é padrão avistar sa-cos plásticos ao léu. Durante a visita de 20 de novembro de 2012, o sistema de coleta de lixo, que só passa às segundas-feiras, estava em greve e, consequentemente, havia grandes depósitos de lixo a céu aberto. É necessário o ensino de práticas sus-tentáveis e ecológicas à população, nas escolas e em qualquer outro meio, independete do tama-nho e número de habitantes da localidade.

Fig. 2.48 (acima) Cajueiro, principal árvore para a economia de Guanacés Fig. 2,49 Depósito de lixo a céu aberto, em terreno da prefeitura, a espera do caminhão de coleta de lixo.

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2.2.7 Cultura e Lazer

Guanacés sempre foi um centro cultural para os arredores, mas hoje em dia há uma certa defasagem e abandono do que fazia a comunidade famosa. O principal expoente cultural atualmente é a banda de música da SAERG. Antigamente, as quadrilhas juninas eram muito famosas e atraíam muitas pessoas para participar e conferir. Hoje, as atividades continuam, mas em um ritmo reduzido. Tirando a atuação da SAERG com seus cursos de música, não há muito mais opções de ensino cultural/artístico. Em alguns momentos, há a organização de pesso-as por associações e/ou por conta própria para desenvolvimento de artesanato, como produtos feitos com couro não aproveitado da JBS que é vendido para o CEART em Fortaleza ou a pintura em tecido realizada pela profa. Helena da SAERG. A sede do distrito conta com 4 bibliotecas, sendo uma do colégio Custódio, uma da SAERG, uma da ASODESG com um foco no ensino escolar e atenção pré-universitária, e outra que não cheguei a conhecer. O movimento tem caído na biblioteca da SAERG. A sede do distrito conta com poucas opções de lazer, ainda mais pela insegu-rança que ronda o ambiente. Por lá existem 2 praças (praça da Matriz e praça Isaac Benício) que, por vezes, os pais evitam de deixar os filhos irem só para brincar por medo de serem abordados por traficantes. A praça Isaac Benício é mais frequentada, já que apresenta muitos bancos sombreados e, devido a sua proximidade com o Colé-gio Custódio da Silva Lemos, muitos estudantes descansam por lá. A praça da matriz, além de contar com atividades de lazer e festas religiosas( festa da padroeira ocorre no

Fig. 2.50 Pintura em rede mostrando a Banda de Música de Guanacés

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dia 08 de dezembro), conta, por vezes, com um parque de diversões intinerante que mon-ta os brinquedos em uma das mãos das largas vias. Além das praças, existia um teatro que foi transformado em salão paroquial e, às vezes, ainda há apresentações e exibições de filmes. A ASODESG oferece uma escolinha de futebol e um curso de tae-kwon-do para as crianças e jovens. O campo do Guanacés Sport Club é aberto para atividades, principalmente a pedido das escolas. A quadra inacabada pela prefeitura também é utilizada para jogos pelos jovens. No entanto, a população não tem ofer-ta de aulas de dança, teatro, pintura e esportes aquáticos. Vale ressaltar o caráter de lazer que os recursos hídricos também oferecem.

Figs. 2.51 a 2.53 (à direita e de cima para baixo): Biblioteca do colégio Custódio da Silva Lemos; Praça da Matriz que recebe atividades e festas esporádicas; Carrocel de um parque itinerante estacionado com outros brinquedos na praça da Matriz. Fig. 2,54 Arcos e vegetação da praça Isaac Benício

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2.2.8OrganizaçãoCivil

Além da SAERG, a população se orga-nizou em outras instâncias para cobrar e lutar por melhores condições e oportunidades à seu distrito, esquecido por Cascavel. Podemos ci-tar o CCDS e a ASODESG (Associação para o Desenvolvimento Sustentável de Guanacés). A ASODESG foi criada por morado-res de Guanacés e amigos para cobrar, aplicar e instaurar os objetivos estabelecidos na “Agenda de Desenvolvimento de Guanacés”, livro or-ganizado pelos moradores sobre as carências, suficiências e pontos fortes da comunidade de Guanacés, que após uma análise cuidadosa, su-gere propostas para que Guanacés possa vir a ser um lugar melhor para se viver. As propostas da Agenda foram dividi-das em 5 objetivos, sendo: 1- Geração de Ocu-pação e Renda; 2- Organização e Mobilização da comunidade; 3- Melhorias em Infra-estrutu-ra e Serviços; 4- Apoio à Educação e à Cultura; 5- Construção da Identidade Local. A Asodesg tem hoje, dentre seus diver-sos serviços, um cursinho pré-vestibular com vários professores vindos de Fortaleza e Cas-cavel, uma escolinha de futebol, um curso de informática, e uma escola de tae-kwon-do, sen-do alguns cursos pagos e outros gratuitos. Seu atual presidente é o Prof. Raimundo Holanda.

Fig. 2.55 Capa da Agenda impressa Fig. 2,56 Representantes do IDESCO, organizador da Agenda. Fig 2.57 Participantes do desenvolvi-mento da Agenda Fig 2.58 Propostas do objetivo 1

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Fig. 2.59 a 62 Propostas dos objetivos 2 a 5 da Agenda de Desenvolvimento de Guanacés

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2.3 Família, José de Arimatéia e a SAERG

Esse capítulo vem para explanar a origem e importância das famílias Benício Sampaio e (dos) Santos do início do século XX ao século XXI em Guanacés. Os Benício Sampaio foram muito importantes nas questões políticas e co-munitárias de Guanacés ( e de Cascavel como um todo), além de alguns irem à Fortaleza testar novos horizontes (e implantarem seus nomes na história da capital). Os que ficaram, http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1233825 continuaram sendo donos e prestadores de vários serviços comerciais ou políticos à população, até seus falecimentos no último quarto do século XX. Os Santos vi-nham de uma família de agricultores com grandes sítios e várias culturas diferentes na lavroura. O galho da árvore genealógica que seguiu dessa junção de famílias deu origem à família Santos (ainda ligada aos Benício Sampaio, apesar da retirada do so-brenome). Essa geração viveu poucos anos em Guanacés e logo se transferiram para Fortaleza, atrás de melhores estudos e condições de trabalho. Todos eles obtiveram bons estudos e cargos e conseguiram subir na vida. Apesar do sucesso, só voltavam à Guanacés em férias e para visitar os familiares que continuavam por lá. Dessa geração, o foco do trabalho recairá sobre José de Arimatéia Santos, que aos 65 anos reuniu amigos, familiares e profissionais e reinaugurou a SAERG (Sociedade de Assistência e Educação Rural de Guanacés), uma instituição não go-vernamental, apartidária e sem fins lucrativos que tem como maior objetivo o ensino da música para que os jovens da comunidade obtenham novos horizontes e possibi-lidades. Com o tempo, outras atividades surgiram, como curso de coral, informática e pintura. Além do atendimento médico gratuito organizado por amigos e familiares de Arimatéia Santos para levar remédios, consultas e serviços não facilmente dispo-nibilizados à população. Nas próximas páginas esses assuntos serão mais amplamente abordados para a compreensão e justificativa da escolha do tema. A seguir, na página 52 está a Árvore genealógica das duas famílias, com iní-cio em Guanacés e término em Fortaleza na quinta geração (do autor do trabalho). Na página seguinte, há a tabela 2.1 com informação relativa à cada pessoa presente na árvore genealógica. Importante observar que à época de nascimento das pessoas de Guanacés, esta ainda chamava-se Bananeiras, contudo optei pela nomenclatura atual. Estas informações estão apresentadas para auxílio e compreensão das diversas personalidades a serem abordadas nas próximas páginas.

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Nome completo de nascimento Origem Idade* Nascimento Falecimento

Manoel Benício Sampaio 1946

Maria Soares do Nascimento Sampaio 1954

Benjamin Benício Sampaio

Raimunda Nonato Benício Sampaio Guanacés, CE 75 02/08/1902 30/08/1977

Salomão Benício Sampaio Guanacés, CE 79 29/11/1910 28/11/1990

Maria das Graças Benício Sampaio Guanacés, CE 88 27/06/1908 31/03/1997

Quitéria Benício Sampaio Guanacés, CE 92 05/02/1906 07/03/1998

Maria Benício Sampaio

Raimundo Benício Sampaio

Esaú Benício Sampaio Guanacés, CE 64 31/08/1897 12/07/1962

Josias Benício Sampaio Guanacés, CE 77 07/11/1904 03/05/1982

Isaac Benício Sampaio Guanacés, CE 89 29/12/1900 24/11/1990

Francisco de Assis Benício Sampaio Guanacés, CE 89 12/11/1894 22/08/1984

Pedro Benício Sampaio Guanacés 97 30/06/1912 29/05/2009

Francisco Luís dos Santos 87 05/06/1848 25/05/1936

1ª mulher de Luís dos Santos 24/10/1905

Libânia dos Santos Amazonas - 15/01/1885

Gorgônio dos Santos Amazonas - 22/12/1885

Florência dos Santos Amazonas - 25/06/1888

Melchíades dos Santos - 07/03/1890

Anália dos Santos - 21/11/1891

Gonzaga dos Santos - 03/12/1893

Aristóteles dos Santos - 26/02/1895

Salomão Valdo dos Santos 71 02/06/1896 27/05/1968

Eliezer dos Santos - 24/09/1897

Lia dos Santos - 17/08/1900

Aseneth dos Santos - 03/12/1901

Tobias dos Santos - 03/07/1903

Suzana dos Santos - 08/08/1918

Francisco Valdo dos Santos Guanacés, CE 86 06/06/1926 -

José de Arimatéia Santos Guanacés, CE 81 05/05/1928 24/07/2009

Adalberto Vamozi dos Santos Guanacés, CE 83 25/05/1929 05/02/2013

Fernando dos Santos Guanacés, CE 58 31/05/1930 10/04/1989

Maria José Santos Guanacés, CE 2 1931 1934

Eliézer Santos Sobrinho Fortaleza, CE 69 01/03/1943 -

Mônica Maria Rezende Santos de A. Braga Fortaleza, CE 56 11/10//1956 -

Fernada Maria Rezende Santos F. Cardoso Fortaleza, CE 52 02/03/1960 -

Ricardo José Santos Fernandes Cardoso Fortaleza, CE 25 29/08/1987 -

José Otávio Santos de Almeida Braga Fortaleza, CE 24 23/11/1988 -

Mariana Rezende Santos de Almeida Braga Fortaleza, CE 18 29/12/1994 -

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2.3.1 Guanacés, os Benício Sampaio e os Santos

Manoel Benício Sampaio era um ho-mem muito influente e respeitado em Guana-cés e Cascavel. Seu pai fez parte de um grupo de 3 irmãos portugueses que migraram ao Brasil e se instalaram em diversos cantos do nordeste, instalando-se em Quixadá. De lá veio fincar-se em Guanacés, mantendo várias cabeças de gado e fazendas em Quixadá. Trabalhava com comércio e agricultura e teve uma participação política ao entrar na câmara municipal como suplente em 1913. Seu irmão, Luís Benício Sampaio, foi político e fez parte da câmara municipal de Cascavel em 1916, 1920, 1924 e 1928. Durante a ditadura de Vargas, Luís Be-nício Sampaio foi indicado pelo interventor es-tadual para tornar-se preeito de Cascavel e teve um mandato de 9 anos, 10 meses e 22 dias. Manoel Benício Sampaio se casou com Maria Soares e teve 12 filhos, sendo eles: Raimunda, Pedro, Isaac, Esaú, Josias, Maria das Graças, Raimundo, Benjamin, Quitéria, Francisco de Assis, Maria e Salomão. Em 1920, Manoel Benício Sampaio (chamado de “papai Benício” pelos fi-lhos e netos) organizou a II banda de Cascavel, a primeira de Guanacés, com os instrumentos doados pelo Pe. Francisco Valdivino Nogueira e gerenciada pelo mestre Raimundo Pereira de Oliveira que já havia formado e administrado os músicos da I banda de Cascavel desde 1891. Sendo uma pessoa progressita, fez com que todos seus filhos e alguns parentes aprendessem a tocar algum instrumento para poder participar da banda. Seus integrantes eram: Manoel Benedito Gomes da Costa (cla-rinete), Júlio Soares (pistão), José Benedito Gomes da Costa (trompa), Francisco Pereira (contrabaixo), Benjamin Benício Sampaio (trombone), Isaac Benício Sam-paio (bombardino), Esaú Benício Sampaio (saxofone) e Josias Benício Sampaio (ba-rítono, que depois virou talentoso flautista na Sociedade Musical Henrique Jorge). Essa banda obteve um sucesso considerável, sendo convidados a tocar em Pacajus, Pindoretama e Cascavel. Quando o primeiro cinema mudo de Guanacés surgiu em 1928, alguns músicos animavam as sessões, sendo Raimundo Benício Sampaio um dos que realizavam esse trabalho. Após essa banda se desfazer, foi formada outra que contava com Pedro Benício Sampaio no saxofone. Os seus filhos também se tornaram pessoas importantes em Guanacés e afo-ra, sendo que após algumas décadas muitos deles se mudaram para Fortaleza para aprimorar os estudos e iniciar comércios em outras áreas. Poucos foram os que

Fig. 2.55 Manoel Benício Sampaio

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Fig 2.56 Velório de Manoel Benício Sampaio com sua esposa e filhos ao redor

permaneceram, e ao fim da vida se mudaram também para Fortaleza. Por ter muitos filhos e ser uma pessoa progressista, Manoel incentivou seus filhos a continuarem os estudos e se mudarem para alcançar novos horizontes. De seus 8 filhos homens, 6 saíram de Guanacés para Fortaleza ou Cascavel. Foram eles: Salomão, Pedro, Raimundo, Benjamin, Josias e Esaú. Apenas Francisco de Assis e Isaac permaneceram em Guanacés. Suas 4 filhas moravam no sítio ajudando os pais e depois de casadas tornaram-se donas de casa ou passaram a ajudar seus maridos. Benjamin Benício Sampaio foi um dos que vieram mais cedo para Fortaleza. Lá montou uma grande mercearia na General Bezerril chamada “Porta Larga” Salomão Benício Sampaio era comerciante em Guanacés, depois montou um bar em Fortaleza chamado “Bar Americano” na esquina da Rua Guilherme Ro-cha com General Sampaio em frente à pça. José de Alencar. Também era proprietário do Parque Americano, propriedade da Rua Padre Valdevino com Rua Ildefonso Al-bano. Pedro Benício Sampaio também se tornou comerciante em Fortaleza. Teve um butiquim na Praça dos Voluntários e depois montou o armazém “Casa São Pe-dro” na General Bezerril. Raimundo Benício Sampaio continuou seus estudos, se formou no ensino superior e se tornou funcionário do Tribunal de Justiça do Ceará. Se aposentou de-

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pois de muitos anos de serviço prestado Josias Benício Sampaio se especializou na arte da flauta e compôs o Hino Oficial de Gua-nacés. Tinha interesses nas áreas de carpintaria, fotografia, astronomia e música. Se mudou, já como fotógrafo, para Fortaleza em 1933. Tor-nou-se um membro da Orquestra Filarmônica de Fortaleza. Adquiriu na rua Major Facundo nº673 a Foto Novo e inaugurou em 2 de julho de 1946 o Expositor Brasil Cosmos, engenho que produzia fotografias de pessoas em cenários distantes (fotomontagens automáticas), algo nunca antes visto. Escreveu os livros “A tragé-dia do suor” e “Núpcias das idéias”. Fundou em 1950 com outros músicos a Sociedade Musical Henrique Jorge. Em 1952 mudou-se para Re-cife a convite de compor a Orquestra Sinfônica do Recife, e ali permaneceu até seu falecimento em 1982. A biblioteca do Museu da Imagem e

do som de Fortaleza foi reinaugurada em 18 de dezembro de 2012, passando a se chamar biblioteca Josias Benício Sampaio, em homenagem a tão prestigiada figura. Esaú Benício Sampaio foi um homem muito importante na história de Cas-cavel. Além de comércios em Cascavel, ele tomou posse como delegado da polícia em 01 de novembro de 1945, já tendo ocupado o cargo na década de 30 e novamente em 1956. Candidatou-se a prefeito de Cascavel pela UDN após a redemocratiza-ção em 1947, mas foi derrotado por Juarez de Queiroz Ferreira (PSD). Entrou na câmara municipal em 1951, mas por ser da oposição minoritária, não compareceu a nenhuma sessão durante o mandato e, por uma incomum tolerância, a Câmara não o cassou. Em 1958, UDN, PSD e PSP uniram-se em favor da candidatura de Esaú Benício Sampaio à prefeitura de Cascavel, sendo, no entanto, derrotado pelo Dr. Francisco Mansueto de Souza do PTB. Durante a campanha da eleição de 58, José de Queiroz Ferreira propôs que Esaú retirasse sua candidatura e que seu primo, Oswaldo Benício Sampaio, entrasse como vice de Wilson Campelo Bessa. A oferta foi recusada e repudiada por ambos. Atualmente, uma praça na sede municipal de Cascavel leva o nome de Esaú Benício Sampaio em reconhecimento à sua figura e ações. Francisco de Assis Benício Sampaio foi um dos filhos que permaneceu por muito tempo ainda em Guanacés após a debandada geral de seus irmãos. Lá, man-tinha um açougue e chegou a se tornar sub-prefeito de Cascavel. Só deixou sua terra natal para ir a Fortaleza já idoso na década de 60 para viver com suas duas filhas: Francy e Tereza Benício Sampaio.

Fig. 2.57 Josias Benício Sampaio e sua máquina “Expositor Brasil Cosmos”

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Isaac Benício Sampaio foi o outro fi-lho que permaneceu em Guanacés. Apesar de também ter casa em Fortaleza e ter negócios em ambas as cidades, se dedicou mais a Gua-nacés. Após o falecimento de Manoel Benício Sampaio, Isaac herdou sua parte, que incluía o sítio Moura, e comprou dos irmãos os outros terrenos e edifícios de Guanacés. Assim, além de ter terras destinadas à agricultura, se tornou um grande comerciante, dominando o comér-cio em Guanacés. Entre seus negócios, pode-mos citar: padarias, mercearias, lojas de tecido, companhia de ônibus e caminhões de carga e uma fábrica de cajuína, sendo todas essas ativi-dades locadas em Guanacés no entorno da pra-ça da Matriz. Casou-se mais tarde com Hilda, que gerenciava um ateliê de costura. Faleceu no início da década de 90 e uma década depois, na gestão do prefeito Florentino Ribeiro, foi inau-gurada a praça Isaac Benício Sampaio (popu-larmente conhecida como praça dos arcos) com um busto seu ao centro, em homenagem à sua dedicação e desenvolvimento levado à comuni-dade de Guanacés. Quitéria Benício Sampaio tocava mui-to bem o bandolinho. Casou-se com João Teo-dolo de Almeida e teve só um filho. Maria Benício Sampaio (Neném, como era conhecida) casou-se com Felipe Nery Rabelo e continuou como dona de casa. Maria das Graças Sampaio se casou com Salomão Valdo dos Santos e teve 6 filhos com ele. Se mudaram para Fortaleza para que os meninos estudassem em melhores escolas em meados da década de 30 e, por lá, trabalhou no ramo de preparo de merendas com o marido. Foi dona de cantinas no Liceu do Ceará, no Colégio Lourenço Filho e na Escola Normal. Raimunda Benício Sampaio nunca casou-se e foi companhia de “Mamãe Soares” (Maria Soares Sampaio). Era ela quem cantava na banda de Guanacés. Pelo lado da família Santos, os progenitores eram Francisco Luís dos Santos e sua mulher (dados insuficientes a respeito dela). O casal tem origens no Ceará, mas passaram alguns anos no Amazonas, sendo que seus primeiros filhos (Libânia e Gorgônio) nasceram por lá. Após retornarem ao estado de origem e se dirigirem a

Fig. 2.58 e 59 Cajuína produzida nas fábricas de Isaac Benício Sampaio. Fig. 2.60 Busto de Isaac Benício

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Guanacés, lá se estabeleceram como agricultores no Sítio Boa Esperança, aonde cria-vam carneiros, porcos, bodes e vacas e plantavam mandioca e cana-de-açúcar, proces-sada posteriormente em um engenho presente no sítio. Além das plantações comer-ciais, o sítio contava também com culturas dispersas de cacau, açaí, pupunha, manga rosa, jaca e banana chifre-de-boi. Alguns bichos silvestres como raposas e guaxinins eram comuns àquela época. Sua mulher faleceu em 1905, levando com que F. Luís formasse um segundo casamento com Joana dos Santos, tendo como resultado desse casamento apenas a caçula Suzana dos Santos. Seus filhos ajudavam na agricultura e na criação de animais quando jovens e, após o ingresso na vida adulta, saíram para várias cidades do Brasil em busca de emprego e oportunidades, já que o futuro não reservava surpresas e era escasso em Guanacés. As filhas, por sua vez, ajudavam com os afazeres domésticos e moraram com os pais até casar. Francisco Luís faleceu em 1936, tendo vivido até seus últimos dias na sua casa de taipa com telhado de palha no sítio. Nunca quisera se mudar. Ao todo, teve 13 filhos em vida: Libânia, Gorgô-nio, Florência, Melchíades, Anália, Gonzaga, Aristóteles, Salomão Valdo, Eliézer, Lia, Aseneth, Tobias e Suzana. Gorgônio dos Santos passou a vida trabalhando como agricultor, mesmo após sair de casa. Melchíades dos Santos tornou-se um agricultor na Preaoca, uma região fa-mosa por sua lagoa em Cascavel. Gonzaga dos Santos também tornou-se um agricultor na Preaoca. Aristóteles dos Santos tornou-se também um agricultor e passou a tomar conta do sítio Boa Esperança após o falecimento de seu pai. Salomão Valdo dos Santos começou a trabalhar como agricultor, principal-mente ajudando no sítio do seu pai e depois passou a trabalhar como barbeiro de bordo em navios da companhia de navegação costeira no Rio de Janeiro a convite de seu irmão Tobias. Após voltar e se estabelecer em Fortaleza, passou a trabalhar em casa com sua esposa Maria das Graças Benício Sampaio Santos no preparo e comér-cio de merendas e refeições, atividade dirigida por ela. Eliézer dos Santos se formou em Farmácia e pertenceu ao Exército Brasilei-ro. Durante um serviço, faleceu em Buenos Aires. Tobias dos Santos trabalhou como barbeiro de bordo no Rio de Janeiro junto de seu irmão Salomão, após a saída do sítio de seus pais, e depois tornou-se um comerciante em Fortaleza. Lá abriu o Bazar das Novidades, que vendia um pouco de tudo e inaugurou posteriormente uma loja de artesanato cearense no Rio Grande do Sul que fez grande sucesso comercial. Após alguns anos, todos os filhos de seu irmão Salomão passariam a trabalhar no Bazar das Novidades.

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2.3.2 José de Arimatéia Santos e família

José de Arimatéia Santos é o segundo filho de Salomão Valdo dos Santos com Maria das Graças Benício Sampaio. O casal teve, além dele, mais 5 filhos. Fo-ram eles: Francisco Valdo dos Santos, Adalberto Vamozi dos Santos, Fernando dos Santos, Maria José dos Santos e Eliéser dos Santos. Com exceção do último, todos nasceram e passaram a infância em Guanacés (à época, Bananeiras). Em Guanacés, eles brincavam nas ruas, ao redor da igreja (que é a mesma de atualmente) e nos sítios de suas famílias com seus primos e amigos da comuni-dade. Nessa época, iam assistir e se maravilhavam com os ensaios e apresentações da Banda de Música de Guanacés formada por seu avô “Papai Benício”, tios, parentes e convidados. Essas apresentações marcaram muito suas infâncias e criaria um sonho posterior em José de Arimatéia Santos. Maria José dos Santos faleceu com apenas 2 anos e 9 meses de idade por causa de uma verminose, que nessa época era uma doença comum que, por vezes, se tornava fatal. A família saiu de Guanacés para Fortaleza em 1935, pois a mãe era dona-de-casa e os filhos precisavam estudar e arranjar um emprego pra sustentar a família. Na capital, o primogênito Valdo passou a estudar no seminário da prainha com o intuito de tornar-se padre, enquanto os outros três foram estudar no Liceu do Ceará.

Fig. 2.61 Os irmãos Beto, Valdo, Fernando e José de Arimatéia durante a infância em Guanacés

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Sua primeira morada ao chegar em Fortaleza foi na rua General Bezerril, próximo à Praça dos Voluntários, aonde ficaram por só um ano. Em 1936, se muda-ram para uma casa na rua Costa Barros, perto do colégio militar e entre as ruas Dona Leopoldina e Nogueira Acioly e lá permaneceram menos de 1 ano. Ainda em 1936 foram à Rua do Rosário 151 em frente à Praça da Polícia, de onde assistiram a cons-trução do prédio da polícia. À essa época, Valdo era coroinha na Igreja do Rosário e ele e todos seus irmãos trabalhavam e brincavam no Bazar das Novidades, loja do seu tio Tobias dos Santos na rua Floriano Peixoto, e entregavam todos os pagamentos à sua mãe Maria das Graças. Em 1941, se mudaram novamente para uma casa na rua Visconde do Rio Branco, no bairro Joaquim Távora, em um terreno ao lado do Colé-gio Cearense (atualmente se encontra o teatro da faculdade católica). Por ocasião do nascimento do irmão caçula Eliézer em 1943, se mudaram para uma casa na Bárbara de Alencar a apenas um quarteirão e meio de distância. Depois do Bazar das Novi-dades, Adalberto dos Santos foi trabalhar na Casa São Pedro, armazém de bebidas na Coronel Bezerril, propriedade de seu tio Pedro Benício Sampaio. Na casa da Bárbara de Alencar, houve uma enchente que a inundou completamente e, nesse período, passaram alguns dias em uma casa na Jaime Benévolo. Em 1948 se mudaram da casa inundada para uma casa na Rodrigues Júnior com Duque de Caxias (em frente ao Banco Central), aonde Maria das Graças, conhecida como “Dona Gracinha” morou até seu falecimento em 1997 (hoje funciona um restaurante de lanches e comida chinesa na antiga casa). Os filhos começaram, após essa última mudança, a se casar e constituir família própria em outros endereços. Durante toda a juventude, os irmãos continuaram visitando Guanacés durante as férias para brincar, caçar e rever a família e amigos e, às vezes, iam assistir a missa e participar das feiras em Maranguape que, de acordo com Adalberto Santos, tinha muita mulher bonita. Fernando dos Santos nasceu em Guanacés e era o mais novo dos irmãos que de lá vieram. Estudou com seus irmãos no Liceu do Ceará e passou muito tempo trabalhando para o seu tio Tobias no Bazar das Novidades. Após esse período, foi tra-balhar por conta própria no setor comercial, até que montou uma banca de venda de jornais e revistas no Abrigo Central, estrutura da Prefeitura Municipal de Fortaleza que ficava na Praça do Ferreira e servia como parada de ônibus e ponto comercial. Depois adoeceu e passou muito tempo sem trabalhar, vivendo junto à sua mãe na residência da Rodrigues Júnior. Nunca se casou e faleceu em 10 de abril de 1989. Adalberto Vamozi dos Santos trabalhou na loja do seu tio Pedro Benício Sampaio, a “Casa São Pedro”, após o “Bazar das Novidades”, mas passou pouco tempo lá. Em 1948, passou a trabalhar na empresa distribuidora de produtos far-macêuticos “Agências Álvaro de Castro Correia” até 1950 e, após isso, iniciou sua própria empresa no ramo de distribuição farmacêutica, a “Adalberto V Santos e Cia Limitada”, aonde trabalhou até recentemente dividindo a diretoria com sua filha Louise. Casou-se em 1954 com Maria Odaléia de Araújo Santos e desse bem-sucedi-do e duradouro relacionamento tiveram 3 filhos: Louise, Sérgio e Cristine.

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Francisco Valdo dos Santos realizou, diferentemente de seus irmãos, seus estudos no Seminário da Prainha no intuito de algum dia tornar-se padre. Por lá, estudou dos 12 aos 16 anos, sendo que nessa época, como era de praxe na família, já “trabalhava” no Bazar das Novida-des de seu tio Tobias (que levava os garotos para sua loja quando eles completavam 10 anos). Primeiro, arrumava as mercadorias e depois se tornou balconista da loja quando seus irmãos por lá iniciaram os trabalhos. Seu primeiro em-prego após a loja de seu tio foi na empresa E.C. Oliveira como propagandista vendedor por um período de 1 semestre quando tinha 18 anos. Em seguida conseguiu um emprego nas “Agên-cias Álvaro de Castro Correia” como vendedor. Enquanto estava lá, arranjou um emprego ao seu irmão Adalberto e iniciou um curso de comércio na escola Padre Champagnat, mas abandonou antes de sua conclusão para traba-lhar integralmente na empresa SQUIBB como propagandista vendedor no interior do Ceará e uma parte do Rio Grande do Norte. Casou-se com Margarida Teles Santos quando tinha em torno de 25 anos, tendo junto com ela 3 filhos: Waldilene, Rosângela, Eveline e Waldo Filho. Moraram juntos em uma casa na rua Dona Leopoldina por quase 10 anos, mas sua esposa faleceu após uma embulia pulmonar após inter-rupção médica de uma gravidez por problemas de placenta prévia. Logo em seguida mudou-se para uma casa na rua Elisabete, que depois chamou-se Ipueiras e hoje é chamada de Ed-gar Damasceno, aonde reside até hoje. 2 anos após o incidente, casou-se com a irmã de sua ex-esposa, Maria do Socorro Teles Santos, no dia 06 de novembro de 1965 com quem teve dois filhos homens chamados Douglas e Eberth e ainda é casado após 48 anos. Após 4 anos de trabalho na SQUIBB, passou a trabalhar para a “Indústrias Farmacêuticas Fontoura Wyeth”,

Fig. 2.62 Família de Adalberto SantosFig. 2.63 Arimatéia e Valdo SantosFig. 2.64 Abrigo central de FortalezaFig. 2.65 Eliézer Santos e esposa, Célia

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empresa brasileiro-americana, aonde tra-balhou até se aposentar. Já aposentado, ajudou por 10 anos na WALSAN Comér-cio e Representações, empresa dirigida por seu filho Waldo Santos Filho. Os filhos di-rigiam a empresa, mas fecharam-na devido a concorrência de grandes comerciantes vindos do Maranhão, Goiânia, entre outros. Eliézer Santos Sobrinho (homenagem ao irmão do pai) é o irmão caçula da família. Este nasceu em 1943, já em Fortaleza e, ape-sar da descendência, não teve o mesmo víncu-lo com a terra natal de seus irmãos e parentes. Às férias, preferia passar nas praias e na capital. Dirige uma empresa de prestação de serviços chamada Via Lógica. José de Arimatéia Santos estudou e se formou, como outros de seus irmãos, no Liceu do Ceará. Quando pequeno começou a traba-lhar e se divertir no Bazar das Novidades do seu tio Tobias. Após terminar o ensino médio, passou a trabalhar seriamente no Bazar e sem-pre lembrou desse período com muito carinho, como uma época de aprendizado. Ingressou na Faculdade de Economia da Universidade Fede-ral do Ceará, que à época se chamava Faculdade de Ciências Econômicas do Ceará, ainda como escola particular no fim da década de 40. Nessa época, arranjou seu primeiro emprego fora dos negócios da família na agência Carleal Repre-sentantes Comerciais e Exportação. Em uma viagem de trem à um con-gresso religioso na cidade de Baturité, conhe-ceu Izolete Rezende, vinda de Piripiri no Piauí e ex-aluna do Colégio da Imaculada Conceição em 1949. Após a chegada, a ofereceu tangerinas e alguns meses depois começaram a namorar. Eles casaram no dia 05 de maio de 1955 e duas filhas nasceram desse relacionamento: Mônica, nascida em 11 de outubro de 1956, que tor-nou-se arquiteta e Fernanda, nascida em 02 de

Fig. 2.66 Formatura em economia de AriFig. 2.67 Casamento de Ari e IzoleteFig. 2.68 Filhas Fernanda e Mônica

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março de 1960, que tornou-se psicóloga . Co-memoraram as bodas de ouro em 05 de maio de 2005. Após o trabalho na agência Carleal, co-meçou a trabalhar para os irmãos Bonaparte (Salomão e Napoleão) com importação de má-quinas, variedades e representação comercial. À época do nascimento de sua primeira filha, brincou com seu chefe de que precisaria impor-tar uma vaca inteira para alimentá-la. Lá, era muito querido e estimado por seus chefes. Em 1958, Arimatéia recebeu um convite do sr. Edson Queiroz, que já era conhecido dos irmãos pelas bandas de Cascavel e ex-colega de seminário do seu irmão Valdo, para trabalhar junto a ele no seu incipiente escritório (que à época já contava com a Gás Butano, hoje Na-cional Gás). Após muita resistência dos irmãos Bonaparte, José de Arimatéia passou a traba-lhar como assistente do sr. Edson em agosto de 1958. No grupo Edson Queiroz, Arimatéia foi ganhando espaço e, após alguns anos, foi pro-movido ao cargo de diretor financeiro da ins-tituição, um degrau abaixo do próprio Edson Queiroz. Esteve presente e foi peça-chave na criação das outras companhias como a água In-daiá, o jornal Diário do Nordeste, a rede Verdes Mares de televisão e a Universidade de Forta-leza. Sempre teve muito orgulho de seu traba-lho e não perdia a oportunidade de divulgá-lo. Em várias oportunidades e viagens a trabalho, conheceu muitas pessoas e montou uma ex-tensa rede de contatos. Após o falecimento de seu chefe em 1982, sua viúva Yolanda Queiroz subiu ao comando e, após alguns anos, o filho Airton Queiroz também ingressou na direção do grupo. Arimatéia nunca deixou seu traba-lho no grupo Edson Queiroz e lá completou 50 anos de dedicação em agosto de 2008, tendo verdadeiro prazer em ir trabalhar.

Fig. 2.69 Foto do casalFig. 2.70 Ari e Izolete junto com sra. Yolanda Queiroz e famíliaFig. 2.71 Irmãos e cunhadas de ArimatéiaFig. 2.72 Família de José de Arimatéia

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No começo da década de 60, Arimatéia foi sócio-fundador do Lions Clube Jangada, um clube em que os sócios se reuníam para debates, jantares e ação social. O clube construiu e inaugurou uma escola homônima no bairro do Cristo Redentor em outubro de 1975 e cedeu à administração do governo estadual sob regime de comodato. Além da intervenção no ensino, haviam várias ações de distribuição de alimentos e festas de natal. Já aos 50 anos, iniciou seus estudos musicais e aprendeu a tocar piano devi-do a uma aposta. Unindo essa habilidade ao seu talento poético nato, compôs várias músicas em homenagem à sua amada, à suas filhas, seus netos, à natureza e à terra amada. Em 1993, José de Arimatéia juntou amigos, interessados e profissionais para reinaugurar a SAERG. Utilizando de sua extensa lista de contatos e amizades con-seguiu apoio e financiamento para prestar algum serviço e incentivar o desenvolvi-mento social em Guanacés, sua querida terra natal aonde passava as férias visitando a família e amigos e de onde seus pensamentos nunca sairam. Foi em vida um grande amigo, irmão, marido, pai, avô e empresário que deixou um legado artístico, músicas e poesias, e social, seus trabalhos por meio de clubes e principalmente pela SAERG. Faleceu em 24 de julho de 2009.

“Quem trabalha não cansa”lema de José de Arimatéia Santos

Fig. 2.73 José de Arimatéia Santos em sua festa de bodas de ouro.

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O Luar

Já ficaste sozinho na praia ao sabor de um luar? Um luar de lua nova Um luar de quarto crescente Um luar de lua cheia Um luar de lua de quarto minguante?

A lua nova é como a criança A lua de quarto crescente é como a juventude, jovem e bela A lua cheia é a maturidade, o apogeu de tudo A lua de quarto minguante é a experiência, o caminho

A lua é como a vida A lua que chega A lua que termina

Pensando em Você

Pensando em você eu me perdi Eu me perdi nas ondas do mar Porque olhei, olhei e não te vi Como era forte a vontade de te amar Pensando em você eu naveguei Eu naveguei para um mundo distante Pensando em você eu esperei Para abraçar-te com a força de um navegante

Pensando em você eu escapei Eu escapei das ondas do mar Por isso, te digo, te digo e sei Que sempre, sempre, vou te amar

Poesias de José de Arimatéia Santos, compostas após reflexões sobre a vida, a natureza e a sua paixão por sua amada Izolete.

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2.3.3 SAERG

A SAERG (Sociedade de Assistência e Educação Rural de Guanacés) é uma entidade apartidária, não governamental, de utilidade pública e sem fins lucrativos fundada em 12 de agosto de 1951 pelo padre Miguel Fenelon Câmara Filho, sendo este seu primeiro presidente, na sede do distrito de Guanacés. Seu estatuto foi publi-cado no Diário Oficial do Estado do Ceará em 20 de maio de 1952. A associação foi muito simples e passageira, pois seu fundador foi transferido em 1954 para levar a palavra de Deus a outras localidades. Após muitas passagens, foi elevado à categoria de Arcebispo de Teresina no dia 06 de janeiro de 1985. Hoje, ele é arcebispo emérito de Teresina e mantém estima à população do distrito e considera a sociedade um auxílio importante à comunidade. Após muitas décadas, José de Arimatéia Santos decidiu tomar as rédeas e reativar a sociedade, com Meton Sampaio sendo o tesoureiro e Francy Sampaio como secretária, para um bem maior à terra de suas raízes. Em 1993, iniciou o processo de reorganização da sociedade reunindo grande número de amigos, sendo que seu carro-chefe seria a nova Banda de Música de Guanacés, criando oportunidade de que todos os jovens pudessem iniciar seus ensinos musicais de forma gratuita. Graças a sua extensa rede de contatos e amizades, obteve a colaboração de diversas empresas comerciais, instituições financeiras e adquiriu todos os instrumentos, principalmente através de doações. Após a contratação do maestro de banda, formado na Universidade Federal da Bahia, Isaías Linhares Alves Duarte e sua esposa Vânia Maria Ferreira Serpa (sa-xofonista e auxiliar de enfermagem), foram convocados 45 crianças e jovens, de 11 a 20 anos, da comunidade para participarem das aulas de música e dos ensaios. O ensino contava com aulas de solfejo, harmonia musical, história da música erudita e popular. As primeiras aulas e ensaios da banda tiveram início em fevereiro de 1993 em um edifício formado pela antiga casa de Francy Sampaio (filha de Francisco de Assis Sampaio) e outro edifício fornecido pelos filhos do já falecido Isaac Benício Sampaio. A rotina da comunidade de Guanacés mudou por completo nesta época, principalmente para as dezenas de crianças e jovens que estavam tendo seu primeiro contato com os instrumentos e o ensino musical. A participação saudável de familia-res dos músicos era muito bem-vinda como os pais que se esforçaram para comprar um instrumento para seus filhos. Nesta época, a banda já participava de festejos e eventos sociais ocorridos no município e na capital.

“Além da dedicação e o interesse de todos os membros no aprendizado e na execução das teorias é gratificante perceber que a banda está influindo na vida social das pessoas”

Maestro Isaías Linhares Alves Duarte

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Fig. 2.74 Formação inicial da Nova Banda de Música de Guanacés com as crianças e jovens ao redor do maestro Isaías Duarte

Fig. 2.75 Nova Banda de Guanacés faz sua apresentação inaugural no dia 07 de setembro de 1993 no entorno da Igreja Matriz da localidade.

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Devido a grande procura pelas crianças e jovens da comunidade de ingressar na banda, foi estabelecido um exame de seleção baseado em critérios técnicos a partir da percepção au-ditiva e capacidade de aprendizado musical do candidato. Seguindo um organograma de ati-vidades de estudo e prática musical de segun-da a sábado, eles ensaiavam o repertório com auxílio de monitores. O repertório trabalhado pelo maestro Isaías foi peculiar, passando pe-los famosos dobrados, música popular, sambas, marchas, valsas e o hino pátrio. A determinação da diretoria da Socieda-de de Assistência de Educação Rural de Gua-nacés, além do empenho dos jovens músicos, foi fundamental na criação da banda ao ofertar instrumentos novos e de boa qualidade. “Nasce um projeto musical novo no interior do Ceará e, com certeza, dentro de alguns anos teremos músicos preparados para a vida profissional” concluiu o maestro à época. A nova banda de música de Guanacés fez sua estréia oficial na solenidade cívica do dia 7 de setembro de 1993 realizada na praça princi-pal daquele distrito, abrilhantando os desfiles estudantis de Guanacés e Cascavel em concor-ridas solenidades, principalmente naquela vila, de onde vieram os Benício Sampaio (inclusive o próprio José de Arimatéia Santos) e sua banda nas primeiras décadas do século XX. Além das aulas semanais sobre ensino musical, o grupo participou de eventos e encontros musicais di-versos. Além da banda, era desenvolvido pelo maestro Isaías com auxílio da professora Neide Lopes um coral com aproximadamente 70 jo-vens. Os anos posteriores ao surgimento da banda foram muito proveitosos e marcados pela presença da banda em vários festivais e apresentações diversas em Guanacés, Cascavel, Fortaleza e outras cidades do Brasil.

Fig. 2.76 e 77 Ensaios na antiga sala de prática da SAERGFig 2.78 1ª apresentação da Banda em 07 de setembro de 1993 na Praça da Matriz em Guanacés, Cascavel.Fig. 2.79 Três integrantes da Segunda Banda de Guanacés assistem a apre-sentação da Nova Banda de Guanacés. Eram Gerson Dantas de Almeida, Gené-sio Gomes e Cícero Curinga

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Em 02 de julho de 1994, 17 jovens da Banda de Música de Guanacés realizaram um sonho para diversos músicos ao participar do XXV Festival Campos do Jordão. Lá, recebe-ram diversos ensinamentos teóricos e práticos de renomados professores, maestros, músicos nacionais e estrangeiros. O maestro da banda, Isaías Duarte, acompanhou os jovens e consi-derou de vital importância essa participação ao afirmar “Foi uma chance com que muitos instru-mentistas, inclusive profissionais, sonhavam poder alcançar na vida e os nossos jovens foram premia-dos com essa excelente oportunidade. Fomos a São Paulo com o desejo de absorver ao máximo possível os ensinamentos dos mestres da música”. O grupo ficou sediado na cidade de Tatuí, aonde ocorreu no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos Campos atividades ligadas à Banda Sinfônica; Regência de Bandas; Méto-do Suzuki; Preservação de Instrumentos; MPB, Jazz e Regência de Coro Infantil. O curso de Banda Sinfônica era dedicado à instrumentistas de bandas de sopro e percussão e tinha por fi-nalidade a prática de ensaios, aulas individuais para instrumentistas, aulas técnicas e prática para regentes de banda. abordagem de reper-tório clássico e popular e a formação de grupos de câmara No natal de 1994, diversas bandas, civis e militares, da capital e do interior, se apresentaram dos dias 20 a 24 de dezembro na Praça do Ferreira em Fortaleza, para o festival “A Banda vai Passar II”, tocando seus dobrados, marchas, valsas e outras riquezas do cancionei-ros popular. A Banda de Música de Guanacés marcou presença nesse festival, como já o havia feito na versão de 1993 Em 1995, durante o Festival de Músi-ca de Londrina, a Banda de Música de Guana-cés se apresentou no dia 11, 8º do festival, no shopping Com Tour, tendo no repertório musi-

Fig. 2.80 José de Arimatéia Santos fala à comunidade em 07/09/1993 Fig. 2.81 Coral da Saerg apresenta-seFig. 2.82 Festival A Banda vai PassarFig. 2.83 Maestro da Banda de Música de Guanacés, Isaías Linhares Alves Duarte

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cais semiclássicos para banda sinfônica, músicas tradicionais para banda, marchas, dobrados e valsas. O grupo viajou 3.600km por 72 horas para reciclar-se e obter contato com professores e materiais difíceis de obter no Nordeste através de palestras e oficinas. Fugindo um pouco da teoria, a banda iniciou no calçadão de Londri-na, em frente ao Banco do Brasil, uma série de apresentações que pretendiam fazer pela cida-de. Do aprendizado adquirido, alguns jovens integrantes da banda passaram a integrar o corpo docente e transferir seus conhecimentos aos mais jovens que entravam, em auxílio ao maestro Isaías e à maestrina Vânia. A Nova Banda de Música de Guanacés teve seu primeiro CD, Guanacés In Concert, gravado em 1995 no auditório principal do Centro de Convenções Edson Queiroz em For- taleza, CE. A trilha deste CD, composta prin-cipalmente por músicas nacionais, marchas e dobrados, continha:

1- Emblema Nacional - (John Phillips Souza)2- Lutécia - (recolhida pelo Maestro João Iná-cio da Fonseca)3- A Banda - (Chico Buarque de Holanda)4- Aquarela do Brasil - (Ary Barroso)5- Tema de Lara - (Maurice Jarré)6- Episode for Band - (John Kinyor)7- O Guarany - (Carlos Gomes)8- Sobre as Ondas - (Juventino Rosas)9- Caravan - (Duke Elligton e Juan Tizol)10- Regresso dos Atiradores Baianos 220 - (An-tônio Manuel do Espírito Santo)11- Ewok Celebration- (John Willians)

O segundo CD da Banda de Música de Gua-nacés se chamou Guanacés in Concert II e foi lançado em 1996. Suas canções eram:

Fig. 2.84 Banda de Guanacés se apresen-ta na Av. Beira-mar em Fortaleza, 1993.Fig. 2.85 Integrantes da banda reunidos após apresentação no festival A Banda Vai Passar de 1993Fig. 2.86 Apresentação no centro de Fortaleza no natal de 1995Fig. 2.87 CD Guanacés in Concert II

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1- Boas Festas (Assis Valente) 2- Dois Corações (Pedro Salgado)3- Branca (Zequinha de Abreu)4- Concerto para um Verão (Alain Morisod)5- Hino do Estado do Ceara (Alberto Nepo-muceno)6- Caravan (Duke Ellington / Juan Tizol)7- Ewok Celebration (John Willians)8- Interplay (Ted Huggens)9- Batista de Melo (Manoel Alves)10- Noite Feliz (Franz Gruber)

Em 1996, a sede da SAERG passou por uma reforma física para melhor comportar a banda e seus ensaios. Uma das paredes que segurava a cumeeira foi demolida e adicionado grandes tesouras ao longo de seu comprimento para segurar o telhado. Foram adicionados um palco na extremidade e uma série de cadeiras de couro enfileiradas para comportar a platéia das apresentações. A partir de 1997, a mesa diretora da-SAERG passou a convidar médicos amigos e competentes para formar um grupo de atendi-mento social à saúde pela SAERG. Nessa época, o atendimento à saúde pública do distrito não contava com uma grande variedade de atendi-mento e era muito carente. Essa equipe passsou a atender periodicamente (alguns profissionais com maior frequência de comparecimento) em um dos prédios da sociedade, deslocando-se de Fortaleza até a comunidade para realizar atendimentos comunitários, sociais e gratuitos. A equipe iniciada em 1997 contava com José Maria Bonfim de Morais, cardiologista (4.593 atendimentos)¹; Aldemir Carneiro, oftamolo-gista (1.602 atendimentos); José Antônio Ota-viano Davi Morano, médico responsável por pequenas cirurgias (278 atendimentos); Paulo

1 - Dados de todos do início da atividade até dez/2012

Fig. 2.88 Guanacés in Concert IIFig. 2.89 A Banda se apresenta na Praça do Ferreira em FortalezaFig. 2.90 e 91 Fotos da época da festa de inauguração do salão da SAERG, utiliza-do para práticas musicais e festas

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Sampaio, urologista (217 atendimentos); Ma-ria Tereza Aguiar P. Morano, fisioterapeuta (131 atendimentos); Losane Acioly, odontólo-ga. Contavam ainda com o apoio da auxiliar de enfermagem, musicista e maestrina Vânia Maria Ferreira Serpa. No ano de 2000, outros médicos pas-saram a integrar a equipe da sociedade. Eram Isac Sampaio, clínico geral (329 atendimentos); Raimundo Sampaio, gastrologista (280 atendi-mentos); Carlilce Sampaio, pediatra (269 aten-dimentos). Nesse ano, com uma equipe grande e bastante diversificada, foram realizadas várias campanhas educativas e caminhadas pela co-munidade para chamar atenção do povo. Além dos médicos que prestavam aten-dimento na sede da SAERG em Guanacés, há outros que atuavam em Fortaleza, recebendo os pacientes por repasse da administração da so-ciedade para procedimentos cirúrgicos e casos em que não há possibilidade de atendimento na sede da sociedade. 9 Cirurgias cardíacas, com Régis Jucá, (4 cirurgias), Josué de Castro, atende no NAMI (12 atendimentos, 1 cirur-gia), Acácio Feitosa, (3 cirurgias); Cirurgias oftamológicas sob a supervisão de Aldemir Carneiro (46 cirurgias); Cirurgias urológicas supervisionadas por Paulo Sampaio (3 cirur-gias). José Morano também atende casos de plástica para a SAERG em Fortaleza no HGF e realizava pequenos procedimentos no trabalho social (parte das 364 pequenas cirurgias). Todas essas intervenções direcionadas são efetuadas sem cobrança de pagamento e, às vezes, com oferta da passagem a Fortaleza pelos médicos ou equipe da SAERG. Outros médicos foram em dias pontu-ais para realizar atendimento na SAERG, sem manter uma regularidade. Eram Eliane Bon-fim, oftamologista (62 atendimentos); Valzenir Rodrigues e equipe, oftamologista (47 atendi-

Fig. 2.92 Equipe médica com Arimatéia Fig. 2.93 a 96 Consultas e tratamentos da clínica médica da SAERG

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mentos); João Forte, cirurgia pediatra (3 aten-dimentos). O serviço médico contava com alguns equipamentos específicos obtidos pelos mé-dicos ou através de doações, como o aparelho de eletrocardiograma que foi presente da Sra. Yolanda Queiroz. Muitos remédios são leva-dos pela equipe e oferecidos gratuitamente aos pacientes da SAERG. A clínica odontológica da SAERG fun-ciona à parte da clínica médica. A responsável pela clínica odontológica até 2003 foi a odon-tóloga Losane Acioly, mas após esse período ela se ausentou e seu marido, Roberto Acioly Pereira, passou a ser o dentista da sociedade. Seu horário de atendimento é aos sábados de 10:00-16:30h com intervalo para almoço. Atende até 20 pacientes previamente marcados na sexta-feira. O atendimento é universal, com repasse ao hospital Albert Sabin caso não tenha possibilidade de resolução, como em casos de tumor e procedimento cirúrgico. A consulta é paga, custando R$ 3,00 (até R$ 45,00 em clí-nicas especializadas) que serve para a reposição de material. Lá, realizam-se os procedimentos de dentística, periodontia, isodontia, flúor, ras-pagem de tártaro e profilaxia. A partir de 2006, alguns médicos in-tegrantes do serviço de saúde da SAERG pas-saram a deixar a equipe pelos mais variados motivos. José Morano deixou para tornar-se professor no recém-inaugurado curso de medi-cina da Unifor, por exemplo. Até 2010 vieram os médicos Aldemir (1 vez a cada 2 meses), Raimundo e Carlilce (2 vezes por ano). Atu-almente, a equipe conta apenas com José Ma-ria Bonfim e Roberto Acioly (semanalmente). Quando a equipe estava completa, todos iam, no mínimo, 1 ou 2 vezes por mês. José Maria Bonfim de Morais é o úni-co médico atuante regularmente na SAERG

Fig. 2.97 Ari no consultório dentário Fig. 2.98 a 100 Atendimentos e trata-mentos odontológicos da SAERG

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hoje em dia. Cardiologista, com uma fre- quência semanal de atendimentos, este está prestes a completar os 5.000 atendimentos pela sociedade. Após seus primeiros 5 anos com o trabalho social, conseguiu organizar material para concluir o seu mestrado em Saúde Pública pela Unifor no começo dos anos 2000. Gosta muito do traballho lá e o faz com muita boa vontade, além de acreditar que as consultas pela sociedade ajudaram a conscientizar mais a população sobre hábitos saudáveis, junto com campanhas educativas. Muito amigo de José de Arimatéia Santos, foi introduzido ao seu traba-lho social em um sábado que foi convidado a conhecer a banda de música e os cursos que por lá haviam. Lamentou muito o falecimento de seu amigo e prometeu prosseguir com aquele trabalho tão bonito em que já contribuía. Tem sido de importante auxílio, não apenas por seus atendimentos prestados, mas também por es-crever vários livros de poesias e contos e desti-nar toda a renda arrecadada com suas vendas para o desenvolvimento da SAERG. Suas obras são: Felipe, ano Cem; Tardíacas; Crepusculei... A quantidade de atendimentos realizados até dezembro de 2012 são bastante impressio-nantes. Quase 22.000 atendimentos e procedi-mentos realizados pela clínica médica (21.996), levando em conta os 2.405 eletrocardiogramas, 1.952 exames de colesterol, 1.732 exames de glicemia, 1.344 exames de triglicérides, 5.701 atendimentos de aerosol. 334 ecocardiogramas, 81 mapa-holter, 153 exames de prevenção à tu-berculose, 35 cateterismos, 6 exames de angio-plastia, 2 ultrasonografia, 1 tomografia e 422

Fig. 2.100 e 101 Aldemir Carneiro realiza um atendi-mento e acompanha teste de José de ArimatéiaFig. 2.102 Campanha de prevenção à tuberculoseFig. 2.103 Roberto Acioly e seu consultório na SAERGFig. 2.104 Medicamentos trazidos pelos médicos para distribuição à comunidade na SAERG.

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cirurgias (364 pequenas cirurgias, 46 oftamo-lógicas, 9 cardíacas e 3 urológicas). Lembrando que os procedimentos mais complexos eram encaminhados para serem concluídos em For-taleza pelos médicos parceiros, sem cobrança nenhuma dos pacientes. A clínica odontológica também apre-senta números impressionantes. Até dezembro de 2012 foram realizados 15.199 atendimentos, 23.769 procedimentos, 1.506 orientações de higiene bucal, 1.735 aplicações de flúor e 450 distribuições de creme dental. Os procedimen-tos consistem em: restauração do amálgama, de resina, de provisória, exodontias, raspagem de tártaro, profilaxias, aplicação de flúor, exames bucais, técnicas e orientação de higiene bucal, gengivectomia, remoção de pontos e condicio-namento ao atendimento odontológico. Além da Banda de Música e do atendi-mento à saúde, a SAERG oferece ou já ofereceu diversos cursos para o desenvolvimento, profis-sionalização e diversificação da sociedade. Em 1998, teve início o curso básico de formação profissional em computação (win-dows) em computadores recebidos através de doação. Ao ensinar ferramentas básicas de win-dows, aproximação com programas necessários à maior parte dos empregos, o curso ajudou a preparar os moradores ao ingresso no merca-do de trabalho. Sua primeira turma graduou-se em 12 de junho de 1999. Os alunos, no início das atividades, faziam um curso preparatório de datilografia em máquinas de escrever para ganhar agilidade na digitação. Desde então, o curso passou a fornecer também curso de Mi-crosoft Word e Excel e chegou a preparar em torno de 30 turmas, sendo quase 500 alunos já atendidos e preparados principalmente para trabalhos nas fábricas próximas. Atualmente, o curso é dado pelo professor Ivan Serpa Duarte, aluno de engenharia elétrica e filho do maestro.

Fig. 2.105 Ensino de digitaçãoFig. 2.106 a 109 Várias fotos da sala de informática, alunos e suas formaturas

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Já no novo milênio, muitas outras ações e campanhas de alerta à população foram re-alizadas por meio da SAERG. No dia 03 de agosto de 2002, para festejar o Dia de Com-bate ao Colesterol (celebrado oficialmente em 08 de agosto), foram realizados vários exames gratuitos, houve uma apresentação da banda e caminhada com massiva participação das crian-ças. À época, foi consultado e percebido que quase 20% dos moradores urbanos de Guana-cés apresentavam altas taxas de colesterol, por isso a ação para conscientizar as pessoas e ensi-nar hábitos mais saudáveis. Em meados de março de 2005, foi reali-zado, em ação conjunta da SAERG com a Polí-cia Militar do Ceará, o programa internacional de combarte às drogas, o PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Vio-lência). A primeira turma realizada se formou em 20 de agosto de 2005, mas o programa não teve continuidade e (não apenas por isso) hoje o tráfico de drogas está mais forte do que nunca e é responsável por altas taxas de criminalidade na área. Na segunda semana de abril de 2006, teve início o Concurso de Leitura da SAERG em parceria com o Diário do Nordeste. A idéia do concurso era estimular o hábito de leitura entre os jovens de Guanacés. A iniciativa passou a ser realizada 2 vezes por ano, entre alunos de 12 a 18 anos devidamente matriculados nos ensinos fundamental e médio. Havia a categoria de 12 a 15 anos e outra de 15 a 18 anos. Os jovens recebiam livros sorteados da biblioteca da so-ciedade (respeitando o amadurecimento inte-lectual de cada categoria) e tinham um prazo de 2 meses para lê-los, escrever uma resenha de 25 a 50 linhas e versar sobre o conhecimento adquirido por 10 minutos diante dos jurados. Os vencedores de cada categoria receberiam um prêmio de 1.000 reais.

Fig. 2.110 a 114 Fotos do curso e da entrega de certificados do PROERD realizado aos jovens na sede da SAERG.

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O Concurso de Leitura da SAERG se estendeu até o segundo semestre de 2008, quando bateu recorde de incrições (41 inscritos e 34 apresentações). Nesse ano, a alta qualidade dos textos dos alunos foi notável, gerando com que não houvesse apenas 1, mas 3 vencedores. Os vencedores foram: Claudênia Paula Lemos, com o comentário do livro “Não há estrelas no céu” de João Clímaco Bezerra; Liliana Barbo-sa Santos, com o livro “Uma rua como aque-la”, escrito por Lucélia Junqueira de Almeida Prado; e Lucas Maia Santos, versando sobre “Recordações do escritor Isaías Caminha” do escritor Lima Barreto. Todos os livros foram emprestados pela biblioteca da sociedade que já contava com mais de 10.500 volumes. Após a tomada de conhecimento de todas as ações realizadas pela SAERG desde sua fundação, não resta nenhum motivo a se admi-rar por terem recebido o status de “sociedade de utilidade pública”, poucos anos após a volta às atividades, pela lei nº812/1996 de Cascavel. Uma história vitoriosa de assistência social também tem seus pontos baixos. Em 24 de julho de 2009, o presidente da SAERG, José de Arimatéia Santos, faleceu após mais de 1 mês hospitalizado e alguns meses afastado para tratar-se. Arimatéia sempre levou seu trabalho muito a sério, com muito carinho e bastante cuidado, sendo que isso também tornou-se um dos problemas a vir. Com o cargo de presi-dente, sempre centralizou muito as atividades, contatos e ações dirigentes. Somente quando já estava doente percebeu que havia a necessidade de perenizar seu trabalho e, então, não havia mais tempo de preparar as pessoas, sua família e amigos, e a sociedade para seguir sem ele no comando. Havia deixado dinheiro suficiente para a sociedade se aguentar por 2 anos. 3 anos e meio já se passaram. Apesar da queda, a sociedade manteve

Fig. 2.115 Biblioteca da SAERG prepara-da para o 4º Concurso de LeituraFig 2.116 Comissão julgadora e os 3 premiados da 4º edição do Concurso de Leitura da SAERGFig 2.117 Banner a José de Arimatéia entregue pelo prêmio “Gente do Bem” 5ªed. devido ao seu trabalho social e humanitário com a SAERG. Exposto no hall da SAERG.

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seus trabalhos e tenta, sempre que possível, acrescentar algo. Em 2010, teve início o cur-so de pintura em tecido (redes principalmente) dado pela professora Helena Lima de Almeida. O curso tem duração de 1 ano, com frequência semanal, ocorrendo em 2 horários: 8:00-11:00 e 14:00-17:00. 22 pessoas se inscreveram em 2012, mas por desistência o número pode cair à metade. O público é majoritariamente femi-nino, com alunas de 16 a 50 anos e serve como estimulante ao cérebro das senhoras idosas que participam. A propaganda do curso se faz de forma oral e através de panfletos. Cada aluno compra seu material e ao fim, os trabalhos são expostos em Guanacés, com intenção de levar a feirinhas em outras cidades. A banda de música de Guanacés continua seus trabalhos, que pela falta de seu idealizador, com menos visibilidade e menor oportunidade de se apresentar em grandes eventos. Em 2011 gravaram o CD Guanacés in Concert III, com-posto pela seguinte trilha:

1- My Way - (Claude François / Jacques Re-vaux / Paul Anka)2- Interplay For Banda - (Ted Huggens)3- Branca - (Zequinha de Abreu)4- Sobre as Ondas - (Juventino Rosas)5- Beauty and the Beast - (Alain Menken)6- Have You Ever Seen the Rain? - (John Ca-meron Fogerty)7- When the Saints go Marching In - (James Milton Black)8- Eu só Quero um Xodó - (Dominguinhos)9- Feitiço da Vila - (Noel Rosa)10- Na Baixa do Sapateiro - (Ary Barroso)11- Flor do Abacate - (Álvaro Sandim)12- Fim de Carnaval - (Ten. Adauto)13- Capitão Caçula - (T. de Magalhães)14- Sargento Quixaba - (Paulo Barata)15- Boas Festas - (Assis Valente)

Fig. 2.118 José de Arimatéia e Banda na capa do CD Guanacés in Concert IIIFig. 2.119 Amostra de pintura em tecido Fig. 2.120 Felipe, Ano Cem. Primeiro livro do médico José Maria Bonfim para a SAERG. Houve ainda: Crepuscularei; Tardíacas; e A Lírica dos Poemas Frágeis

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16- Noite Feliz - (Frans Gruber) Atualmente, em fins de 2012 e início de 2013, a SAERG segue firmemente levando a música aos jovens da comunidade, mas a ausência de grandes investimen-tos (muitos vinham apenas através da ação e contatos de José de Arimatéia Santos) tem dificultado a expansão dos serviços e complicado a manutenção da sociedade. O único patrocínio fixo é de 1.000 reais de um banco. Calcula-se que a manutenção básica da sociedade (pagamento de funcionários, alimentação, limpeza, manutenção de instrumentos) seja de 6.000 reais. Para continuar o trabalho de Arimatéia, sua família tomou as rédeas e passou a administrá-la sobre essa época de vacas magras. A complementação da renda (nem sempre suficiente) é obtida através de do-ações monetárias ou de objetos para organização de bazares de arrecadação de fundos pela sociedade ou de outras formas menos usuais, como o grande trabalho realizado pelo cardiologista José Maria Bonfim de Morais, que além de continuar com seu tra-balho, escreve diversos livros com renda inteiramente revertida para a SAERG. Hoje, sem a figura central do patrono José de Arimatéia Santos, há a necessidade de uma maior profissionalização afim de obter investimentos advindos de bancos, ministério da cultura e educação, secretarias estaduais e de empresas através da lei Rouanet. O trabalho continua. Os jovens, em plena era digital não utilizam a bibliote-ca como antes, mais da metade dos instrumentos necessitam de manutenção e apenas 8 computadores, de um total de 70 funcionam. A banda, os cursos, e o atendimento à saúde continuam com boa procura. A luta por uma sociedade melhor continua.

Fig; 2.121 Banda de Música de Guanacés ensaia na SAERG. Foto de 2011.

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2.4 Educação brasileira, Anísio Teixeira e a metodologia educacional da Escola-Parque

“Choca-me ver o desbarato dos recursos públicos para educação, dispensados em subvenções de toda natureza a atividades educacionais, sem nexo nem ordem, puramente paternalistas ou francamente eleitoreiras.”

Anísio Teixeira

O Brasil, nossa amada nação, sofre, já desde muito tempo atrás, com indíces desanimadores em saúde, habitação e, principalmente, na educação. Em quase todas as vezes que o Brasil participou de uma avaliação educacional internacional, recebeu notas baixas e resultados desapontadores. O mais recente foi o resultado de um índice comparativo de desempenho educacional realizado em 40 países e divulgado pela Pearson International, que faz parte do projeto The Learning Curve e mede os resultados de três testes aplicados a alunos do 5º e do 9º ano do ensino fundamental. Desses 40 países, a Finlândia e a Coréia do Sul ficaram com os primeiros lugares, já o Brasil ficou à frente apenas da Indonésia. No PISA (sigla em inglês para Programa Internaiconal de Avaliação de Alu-nos) de 2009 realizado com 65 países, o Brasil ficou 53ª posição, com pontuação de 412 pontos em leitura, 386 em matemática e 405 em ciências. A China ficou com a primeira posição em todas as modalidades, sendo suas notas 556, 600, 575, respecti-vamente. Num contexto ainda pior que o atual, o jurista e educador Anísio Teixeira trabalhou para desenvolver a educação brasileira. Baiano de Caetité, formou-se em dierito na UFRJ e tornou-se o secretário de educação da Bahia em 1924. Lá, conse-guiu ampliar a rede de ensino e privilegiar a formação dos professores, mas sua maior contribuição veio alguns anos depois, quando passou a divulgar os pressupostos da Escola Nova e foi um dos mais destacados signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Em 1946, voltou a ser o secretário de educação da Bahia sob o go-verno de Otávio Mangabeira e, nesse período, iniciou a criação do Centro Educacio-nal Carneiro Ribeiro, instalado em 1950 e mais conhecido como Escola Parque. Esta escola, com uma pedagogia dirigida ao ensino curricular e não-curricular, às artes, aos esportes e aos próprios interesses dos alunos no que quiserem aprender durante um período integral, foi reconhecida pela UNESCO como modelo educacional de referência.

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2.4.1 Um breve panorama da educação atualmente

O Brasil. 5º maior país do mundo e dono da 7ª maior economia do mundo (PIB de 2,3 trilhões de dólares). Economicamente forte, socialmente desigual, rece-beu uma nota de 0,715 no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o que o co-loca na 84ª posição de 187 países avaliados. A educação no Brasil reflete o IDH, isso quando não obtém desempenho piores, como foi apresentado no início do capítulo com os desempenhos no PISA e na pesquisa do Pearson International. Além desses resultados, podemos citar que 10% da população ainda é analfabeta, que apenas 27,5% das escolas brasileiras possuem biblioteca e a taxa bruta de matrículas para todos os níveis de ensino é de 87,2% (Fonte: IBGE) Embora a população inteira clame por melhoras, principalmente na edu-cação e na saúde, os investimentos por parte do governo nunca são suficientes e, não raras vezes, prioriza-se outros pontos que não a educação. Podemos citar o caso recente da divisão dos royalties do petróleo vindo do pré-sal brasileiro. Por falta de consenso de quem ficaria com os royalties, se seriam os estados produtores ou uma divisão entre toda a federação, foi definido pela União a MP-592, que destinaria 100% do rendimento dos royalties à educação, por parte da União, dos estados e dos municípios. No entanto, a medida foi tratada como um ataque à autonomia federa-tiva e muitos, senão a totalidade dos governadores brigaram para derrubá-la e poder investir em qualquer área o dinheiro partilhado. Até o dia 13 de dezembro de 2012, somente a União se comprometera a investir metade da sua renda do pré-sal (11% do total) diretamente em educação. As outras esferas federativas (municípios e estados, contabilizando 78% do total dos lucros) decidiriam em que áreas investir. O Ceará, apresenta notas razoáveis nos indíces brasileiros da educação. Às vezes, estando acima da média nacional, às vezes abaixo. Enquanto que a média na-cional da Prova Brasil de 2011 foi para língua portuguesa e matemática: 190,6/209,6 para os primeiros anos do ensino fundamental; 243,0/250,6 para os anos finais do ensino fundamental; 267,6/273,9 para o ensino médio. As notas do Ceará nessa prova foram para os respectivos níves: 188,2/204,5; 237,0/243,0; 261,8/265,0. Fica claro nessa comparação que o estado não consegue acompanhar a média nacional, ficando levemente abaixo. De acordo com o IBGE, em pesquisa de 2009, o Ceará conta com 1.550.930 alunos matriculdos no ensino fundamental, uma frequência de 93% das crainças com idade escolar, sendo 85,2% da rede pública e 14,8% da privada; 416.922 matrí-culas no ensino médio, 52,2% de frequência líquida, sendo 88,5% público e 11,5% privado. Há ainda 256.578 alunos matriculados na pré-escola. Importante perceber que 29,1% dos jovens entre 18 e 24 anos são estudantes no Ceará, mas apenas 12,6% são alunos do ensino superior (45,7% do total de estudantes, sendo que 40,8% ainda estão no ensino médio e 8% permanecem como aluno do fundamental). O município alvo do projeto é Cascavel, que faz parte da Região Metropo-

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litana de Fortaleza. Lá residem 66.162 pessoas de acordo com o Censo 2010. Em avaliação feita pelo SPAECE (Sistema Permanente de Avaliação da Educação Bási-ca) com 124.902 crianças matriculadas no 2º ano do ensino fundamental de 4,881 escolas públicas, divulgada pela Secretaria de Educação/CE no dia 25 de maio de 2011, Cascavel está na 130ª colocação de 186 com nota de 153,3 (o curioso é que a capital Fortaleza ficou em 183 com 131,7, à frente apenas de Icó, Acarape e Umari). Outro índice relativamente preocupante é a alta taxa de analfabetismo. Lá, 22,9% da população de 15 anos de idade ou mais é considerada analfabeta. É um índice muito alto, apesar do grande avanço dado desde os anos 2.000 quando a mesma taxa chegava a 32,5% dos habitantes. 4,8% dos jovens em idade escolar (15 a 24 anos) ainda permanecem anlfabetos. A maioria dos dados apresentados neste capítulo foram retirados do Censo 2010 no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Censo não diferencia no nível distrital, sendo o município a menor unidade da federação para pesquisas. Portanto, não há como divulgar os dados oficiais a respeito de Gua-nacés, sendo, no entanto, bastante presumível que sejam estes inferiores à sua sede distrital devido à falta de atenção do poder público e por aproximadamente 83% da população (~10.000 pessoas) ser residente na zona rural, o que dificulta, às vezes, o transporte, a matrícula e os estudos dos jovens.

2.4.2 Anísio Teixeira e a metodologia da Escola-Parque

“Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máqui-na que prepara as democracias. Essa máquina é a escola pública.”

Anísio Teixeira Anísio Spínola Teixeira, nascido em Caetité, BA, em 12 de julho de 1900, foi um jurista, intelectual, educador e escritor brasilei-ro. É um dos mais importantes pensadores pe-dagogos da história do país, batalhando em sua vida por avanços na educação em uma eterna luta pela escola pública e a democratização do ensino de qualidade. Suas idéias foram reconhe-cidas internacionalmente por instituições como a UNESCO e ressoam até hoje nos educadores brasileiros. Por outro lado, foi perseguido por seu pensamento “subversivo” pelos governos ditatoriais do Brasil.

Fig. 2.122 Busto de Anísio Teixeira em Caetité

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Anísio graduou-se em Direito pela Universidade do Rio de Janeiro (Atual UFRJ) em 1922, voltou à Bahia. Lá, foi nomeado ao cargo de Inspetor Geral de Ensino da Bahia (equivalente ao secretário de educação de hoje)pelo governador Góes Calmón em 1924. Nes-se cargo, Anísio partiu para a Europa em 1925 afim de observar os diversos sistemas educacio-nais do continente. Após seu retorno, imple-mentou várias reformas no estado, como a am-pliação do sistema educacional, o incremento da formação dos professores e a reabertura da Escola Normal de Caetité, fechada desde 1901. Em 1927, foi aos Estados Unidos re-alizar o seu mestrado na Columbia University, aonde conheceu o pensador John Dewey, filo-sófo e pedagogo norte-americano que desen-volveu a pedagogia do pragmatismo e principal representante da Escola Progressiva. Ao retornar ao Brasil, traduziu 2 obras de John Dewey e conseguiu conhe-cimento suficiente para escrever livros como Educação não é privilégio, Educação no Brasil e Educação para a democracia. Em 1931, mudou-se para o Rio de Janeiro para tornar-se o diretor da instrução pública do distrito federal a convite do prefeito Pedro Ernesto. Neste cargo, Anísio promoveu melhorias e aumentou o número de matrí-culas nas escolas primárias e secundárias, mas o principal ponto foi a reformulação do ensino superior através da criação da Universidade do Distrito Federal em 1935 (Hoje, Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil). Integrou todos os sitemas de ensino na “Rede Municipal de Educação”. Ainda nessa época, foi um dos mais destacados signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, con-tribuindo com duas obras em defesa do ensino público, gratuito, laico e obrigatório, divulgado em 1932. Monteiro Lobato escreveu assim, sobre o Manifesto “Eureca! Eureca! Você é o líder, Anísio! Você há de moldar o plano educacional brasileiro. Só você tem a inteligência bastante aguda para ver dentro do cipoal de coisas engolidas e não digeridas por nossos pedagogos reformadores”. Interessante ressaltar que as novas responsabilidades da Escola Nova (de William James e John Dewey) eram: Educar, em vez de instruir; Formar homens livres; Preparar para um futuro incerto; Ensinar a viver com mais inteligência, tole-rância e felicidade. Lá, as crianças e jovens deveriam praticar na comunidade escolar o que fariam na comunidade adulta amanhã. Educar para a vida e para a democracia. Apesar das vitórias conseguidas nesse período, a animosidade que aconte-cia no cenário internacional com o embate comunismo x capitalismo passou a se

Fig. 2.123 Anísio Spínola Teixeira

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refletir no Movimento Integralista Brasileiro sob a égide de Getúlio Vargas. Em 1935, Anísio chegou a ser acusado de comunista pelo governo e, embora sempre tenha se considerado apenas um liberal e democrata, abandonou o seu trabalho com a educação para trabalhar com extração de minério no interior da Bahia, ocupação já preenchida por vários membros de sua família. Sò retornou à vida educacional quando a democracia retornou ao Brasil em 1947. Em 1946, pouco antes do seu retorno à educação, Anísio assumiu o cargo de conselheiro geral da UNESCO (Em inglês, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Em 1947, o novo governador da Bahia passou a ser Otávio Mangabeira, um dos mais respeitáveis políticos brasileiros e grande humanista. Sabendo do potencial e da injustiça trazida à Anísio na década anterior, nomeou-o para exercer novamente o cargo de Secretário da Educação (e da Saúde também). Nesse mandato, conseguiu ótimos resultados, mas sua maior contribuição foi a criação da Escola-Parque Car-neiro Ribeiro (hoje Centro Educacional Carneiro Ribeiro) em 1950, aonde pôde pôr em prática todos os preceitos do Manifesto escrito há quase 2 décadas, como a obrigatoriedade, a gratuidade e a universalidade do ensino público.

“Somente a educação e a cultura poderão salvar o homem moderno, e a batalha educacional será a grande batalha do dia de amanhã”

Anísio Teixeira

A metodologia da Escola-Parque foi algo completamente novo para a época, um modelo para a universalização da educação integral do homem comum. Nela, foi instaurado o ensino integral, tanto para os alunos como para os professores. O funcionamento se baseava em 5 construções, uma escola parque para 4.000 alunos, rodeada por 4 escolas classe para 1.000 alunos. Os alunos alternavam os turnos entre os 2 tipos, sendo que, por exemplo, poderiam desenvolver o intelecto ao estudar a matriz curricular comum nas escolas classe e, em um turno oposto, desenvolver ati-vidades da parte diversificada do currículo, efetivadas através dos seguintes núcleos: informação, comunicação e conhecimento, pluralidade artística, pluralidade espor-tiva, artes visuais, jardinagem, alimentação, projetos especiais. Os serviços de apoio logístico e de suporte para as ações pedagogas se faziam enriquecidos por refeitórios, padaria, loja, rádio, correio e organizaçãos infanto-juvenis. O desenvolvimento inte-lectual, cultural e físico se unia ao ensino profissionalizante. Esse modelo educacional foi reconhecido pela UNESCO como um modelo de referência. A escola-parque propõe, além do currículo básico, o acesso a apren-dizagem sobre trabalho e a cultura ampla da humanidade, desenvolvendo o senso de responsabilidade, ação prática e criatividade. Educar para a vida e a democracia é um de seus maiores objetivos. Para isso, a nova psicologia obriga a escola a se transfor-mar num local onde se vive, aonde o interesse do aluno deve orientar o que ele vai

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aprender ao escolher suas próprias atividades com a ajuda dos professores, que dei-xam de ser condutores de estudos para tornarem-se estimuladores e assessores dos estudantes. Formariam-se então alunos com inteligência, vontade, caráter, os hábi-tos de pessoas de agir e de conviver socialmente, podendo assim (de acordo com a perspectiva liberal), desenvolver devidamente os “dotes inatos” que determinariam a posição social numa sociedade moderna e realmente democrata. O modelo inspirou Jacques Delors quando este definiu os quatro pilares da educação: “aprender a conhe-cer”, “aprender a fazer”, “aprender a viver juntos” e “aprender a ser”. Em 1951, ao fim do governo de Otávio Mangabeira, Anísio Teixeira foi nomeado pelo ministro da educação, Ernesto Simões Filho, para a Secretaria Geral da CAPES (Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior). Neste posto, seu interesse pelo ensino superior e a reforma que era necessária à este voltou a tona. Permaneceu até 1964 nesse cargo. Em 1952, foi nomeado para a direção do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Lá preocupou-se em criar centros de pesquisa espalhados pelo país, que trabalhariam articuladamente com as universidades. Continuou na dire-toria até 1964. No governo de Fernando Henrique Cardoso, o INEP passou a se chamar Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. No final dos anos 1950, participou dos debates para a implantação da Lei Nacional de Diretrizes e Bases, sempre como defensor árduo do ensino público. Já no começo da década de 1960, ao lado de seu amigo Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira foi um dos responsáveis pela fundação da Universidade de Brasília em 1962, da qual tornou-se reitor em 1963, tendo que deixar o cargo após o golpe militar de 1964. Após o golpe militar, transferiu-se para os Estados Unidos, aonde passou a ensinar nas universidades de Columbia e da Califórnia. Voltou, no entanto, ao Brasil em 1966 para tornar-se consultor da Fundação Getúlio Vargas. Anísio Teixeira faleceu em 11 de março de 1971 sob condições obscuras, vítima da ditadura militar. No início da redemocratização, voltou-se a falar em suas idéias e à verdade sobre a perseguição e aos fatos que antecederam sua morte pelos agentes da ditadura foi enfim revelada.

“Democracia, essencialmente, é o modo de vida social em que cada indivíduo conta como uma pessoa”

“Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra.”

“A educação e a sociedade são dois processos fundamentais da vida, que mu-tuamente se influenciam”

Anísio Teixeira

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Fig.s 2.124 e 125 Fotos do Centro Escolar Carneiro Ribeiro, a primeira escola-parque

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3. PROJETO: DIAGNÓSTICO E PROPOSTAS

3.1 Programa de necessidades geral e estudos de casos

Após análise da quantidade correta dos terrenos e edifícios abandonados que poderiam ser utilizados, foi estipulado os serviços que deveriam ser adicionados à oferta da SAERG, definidos principalmente pela ausência destes na comunidade, passando a oferecer então novas possibilidades. Além da ampliação no que for necessário aos serviços existentes, como a escola de música, a biblioteca e os consultórios médicos e odontológicos, o projeto contará com programas como: centro de artes visuais, centro de exercícios físicos, centro de artes cênicas, centro gastronômico com sala de aula, padaria e restaurante, um escritório-sede para a instituição, sala de exposições de trabalhos, sala de aula multi-uso, uma praça para lazer e descanso e um cineteatro. Para um projeto adequado a cada tipo de espaço, foram realizadas várias visitas técnicas e discussões com profissionais de cada área. Nisso que se basearam os estudos de casos. As visitas técnicas para estudos físicos em que eu tive a opor-tunidade de sentir o espaço e perceber quais eram as melhores dimensões e como funcionava os fluxos em cada programa, e os estudos de obras que não tive opor-tunidade de conhecer pessoalmente, mas pude me aprofundar neles por livros e matérias encontradas na internet. Tudo como uma orientação do que buscar para obtenção de uma boa arquitetura.

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3.1.1 Estudos de obras a distância

A primeira obra estudada como um bom guia do que buscar na arquitetura pro-posta foi o museu Nelson Atkins, projetado pelo Steven Holl Architects. Esse museu, que é um bloco novo adicionado ao edifício exis-tente neoclássico de 1933 consegue chamar a atenção para si sem, no entanto, disputar aten-ção com o que já existia. Ao utilizar painéis translúcidos de vidro branco como fechamen-to do edifício obteve-se um resultado que a iluminação natural passa a contribuir bastante internamente e, durante a noite, consegue mostrar-se como uma escultura luminosa. A transparência, a utilização da luz natural e o respeito e convivência harmoniosa com o edifício antigo existente são os princi-pais pontos desse projeto.

Fig. 3.1 Vista externa do conjunto antigo e novo. Fig 3.2 (acima) Interior do bloco novo do museu.

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

Em seguida, passei a estudar as Termas de Vals, projeto de 1996 do arquiteto suíço Pe-ter Zumthor na cidade suíça de Vals. Lá, uma localidade em que a maior parte do ano é fria, o banho quente é quase que uma necessidade muito apreciada. E os banhos térmicos comu-nitários se mantém desde o período da Roma Antiga. O arquiteto busca sempre em seus pro-jetos o aspecto da intimidade e, acredito, que este seja uma das melhores representações desse aspecto na arquitetura. O ambiente intimista, interno, mas com a presença bem trabalhada da iluminação zenital feita por cortes na laje junto com a água e as pedras locais utilizadas em todo o edifício conferem um aspecto muito relaxan-te e quase que etéreo. Os principais pontos alcançados nes-te edifício que foram tomados ao projeto foi a questão da iluminação zenital e a criação de uma ambiência aos usuários, mesmo que no projeto a ambiência buscada seja outra.

Figs 3.3 a 3.6 Vistas externa e internas do edifício.

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Por último, busquei informações e conteúdo diverso sobre o projeto Me-tropol Parasol, projetado pelo escritório alemão Jünger Mayer H. Architects, em Sevilha, na Espanha. O projeto, que é basicamente uma grande coberta feita com placas de ma-deira (a maior construção em madeira do mundo, com 150x75x28m) sobre a Plaza de la Encarnación objetiva tornar-se um novo centro urbano contemporâneo. Com suas formas fluidas e com o grande espaço coberto formado por ele, essa área torna-se um diferencial (além de ser obviamente um marco) no tecido da cidade medieval de Sevilha. Sob ele, há um museu, mercado, bares e restaurantes (a maioria subterrâneo) e um terraço panorâmico no topo da estrutura. O mais interessante foi assistir a um vídeo com os moradores muito felizes com o resultado, apesar de admitirem certa desconfiança quando se foi iniciado.

Figs 3.7 Metropol Parasol, em Sevilha, Espanha.

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

Durante o período de estudos sobre o Anísio Teixeira e sua escola-parque, passei a pesquisar um pouco mais sobre essa pedagogia (botada em prática no Centro Educacional Carneiro Ribeiro em Salvador) e nas escolas de tempo integral que passaram a utilizá-la. Algumas, há alguns anos, e outras mais recen-temente. Na década de 50 surgiu a primeira escola-parque do Brasil. O Centro Educacio-nal Carneiro Ribeiro, projetada pelo arquiteto baiano Diógenes Rebouças. Sua metodolo-gia foi considerada como de referência pela UNESCO e lá se desenvolviam as atividades complementares não apreciadas pelo currículo formal. Entre os dois governos de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, foram construídos os CIEPS (Centro Integrado de Educação Pú-blica) com projeto educacional realizado por Darcy Ribeiro e um programa muito parecido com a escola-parque. Seu período é de 08 às 17 horas, compreendendo também diversas atividades culturais e esportivas. Foram proje-tados por Oscar Niemeyer. No estado de São Paulo, diversas ações foram sendo realizadas durante as déca-das visando alcançar o ensino de qualidade em tempo integral. Muitas, seguindo a base for-necida pela escola-parque de Salvador. Nisso, algumas escolas de referência foram projetadas por grandes arquitetos como Hélio Duarte e João Batista Vilanova Artigas. Atualmente, os CEUs (Centro de Educação Unificado) realizados pela Prefeitura de São Paulo têm alcançado ótimos resultados com essa proposta de reunir a educação curricular com diversas atividades culturais e esportivas. Outras iniciativas de ensino como os CAICs (Centro de Aprendizagem e Integração de Cursos) e os CIACs foram analisadas.

Figs 3.8 Centro Educacional Carneiro RibeiroFig 3.9 Vista de um CIEPFig. 3,10 Ginásio Estadual de GuarulhosFig 3.11 CEU Butantã

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| Projeto Janela da Vida |

Algumas outras construções ou elementos construtivos a parte de projetos me serviram de inspiração e pareceram super apropriados às intenções do projeto, principalmente quando analisados com vistas para um adequado conforto ambien-tal. Os elementos vazados construtivos, mais conhecidos como cobogós, são muito bem adaptados ao clima tropical, pois suas for-mas garantem a ventilação cruzada e o ingresso de iluminação. Sua estética também pode ser muito trabalhada, criando elementos alterna-dos como os da foto à direita. Esta foto abaixo, é de uma pousada que eu não descobri o nome ou localização, mas essa esquadria basculante de madeira é exatamente o que eu buscava no projeto. Enquanto que a armação da esquadria serve como elemento de segurança contra agressões, seus módulos podem ser trabalhados com ma-deira e vidro para garantir uma boa ilumina-ção e proteção contra as intempéries, além da ventilação cruzada quando estiverem abertos.

Figs 3.12 Parede de cobogósFig 3.13 Esquadria basculante de madeira

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

3.1.2 Visitas técnicas

Para conhecer melhor a diversidade dos programas a serem abordados no projeto, realizei uma série de visitas técnicas e conversei com diversos profissionais das áreas relacionadas. A primeira visita que eu fiz foi ao CUCA (Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte) Che Guevara, localizado na Barra do Ceará em Fortaleza, inaugu-rado em 10 de setembro de 2009 pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. O CUCA é um pólo de difusão das atividades necessárias ao desenvolvi-mento humano que, geralmente, não são abordadas na escola da região. Lá, podemos encontrar sala de teatro e dança, várias salas de aula, estúdio musical, um teatro que funciona também como cineclube, quadra de esportes, quadra de areia, horta comu-nitária e piscina semi-olímpica. O CUCA funciona como uma OS (Organização Social), uma entidade sem fins lucrativos que é desvinculada dos órgãos públicos da esfera municipal, mas por ser de interesse público recebe patrocínio e apoio em isenções fiscais. Com isso, ela também pode receber apoios (financeiro, material, logístico) de outras esferas, como as secretarias estaduais, o ministérios da educação e cultura ou instituições interna-cionais de fomentação cultural.

Fig 3.14 Vista a partir da entrada do CUCA

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| Projeto Janela da Vida |

Após sugestão de meu orientador, ten-do já em conhecimento a minha intenção de reutilizar antigos edifícios abandonados, fui visitar o centro de Maranguape, que em uma iniciativa recente, adaptou vários edifícios anti-gos que estavam abandonados para receber di-versos equipamentos públicos como biblioteca, teatro, cafeteria e centro cultural. O edifício do Solar Bonifácio Câmara foi restaurado e nele foi implantado uma biblio-teca pública para o município. Com pavimento térreo e superior, seus ambientes incluem uma seção de livros e revistas infantis para as crianças e uma área externa que serviria à implantação de uma cafeteria, ambos no térreo. O trabalho de restauro manteve a maior parte da estrutura original e preservou a fachada do edifício. A Sociedade Artística Maranguaense também era um antigo edifício que foi reapro-veitado pela prefeitura municipal de Maran-guape e, após restauro, foi implantado nele um teatro. O terceiro edifício que foi restaurado nesse movimento foi a Casa de Cultura Capis-trano de Abreu (e que não é a residência aonde ele vivia na cidade), cujo título homenageia o célebre historiador cearense nascido nesse mu-nicípio. Neste edifício, antigamente havia um polo difusor de artesanato, sendo que essa fun-ção deixou de acontecer, embora a venda de artesanato permaneceça em seu ambiente de esquina durante dias certos na semana. Hoje em dia funciona lá a secretaria de cultura de Maranguape. Além destes, tive a oportunidade de conhecer também o museu Chico Anysio com histórias, objetos e fantasias do mestre do hu-mor nacional, falecido em 2012. Este museu foi implantado aonde antes funcionva uma prisão e esta antiga função pode ser facilmente percebida durante a visita.

Figs 3.15 e 3.16 Vista externa e do café do Solar Bonifácio CâmaraFig 3.17 e 18 Vista externa e interna do teatro da Sociedade Artística Marangua-pense

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

Após algumas semanas de estudo entre Guanacés e instituições que prestavam diversos serviços culturais à comunidade, decidi ir visi-tar o Vila das Artes, equipamento da Prefeitura Municipal de Fortaleza, subordinado à secreta-ria municipal de cultura, localizado no bairro Benfica que oferece diversos cursos totalmen-te gratuitos a qualquer interessado. O ingresso nos cursos é dado por editais. O Vila das Artes funciona desde 2008 nessa localização, uma casa antiga que foi total-mente reformada (ao lado da casa do Barão de Camocim) e oferece diversos cursos gratuitos de artes visuais, audiovisual, cultura digital, dança e teatro. Os ambientes são todos muito agra-dáveis e praticamente todo o ambiente interno conta com ar-condicionado. Seus laboratórios possuem equipamentos avançados e um labora-tório totalmente equipado com computadores recentes. Além dos espaços dedicados aos cur-sos (que podem acontecer em salas específicas ou multiusos) há a presença de uma biblioteca e um auditório para 60 pessoas. De lá, saem muitas iniciativas artísticas que têm repercussão em toda a cidade, além de organizar festivais e dar apoio à qualquer manifestação cultural. Em busca de bons exemplos de escola de dança e teatro para o centro de artes cênicas, visitei o curso de teatro do IFCE e com isso percebi que as aulas de teatro podem ser reali-zadas em qualquer ambiente, mas é importante não ter espelhos e pelo menos 80m². Para as au-las de dança, visitei a escola de dança Michelle Fontenelle. Lá, contei com o apoio da bailarina Carolina Fonteles e da dona da escola que me contaram como tem que ser o espaço, o piso e os equipamentos necessários para o ensino ade-quado de dança.

Figs 3.19 a 3.21 Fundos, sala de dança e laboratório do Vila das Artes.Fig 3.22 Sala de dança da escola Michelle Fontenelle

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| Projeto Janela da Vida |

Para o programa do centro gastronô-mico fui conhecer a escola de doces da Mattu Macedo e lá vi alguns dos móveis e equipamen-tos necessários às aulas, mas para a realização dessa parte do projeto me foram indispensáveis as conversas com amigos meus chefs e arquite-tos que já haviam se aproximado desse tipo de programa, me fornecendo dicas valiosíssimas. A respeito do centro de artes visuais, além do primeiro contato propiciado na visita do Vila das Artes, visitei a escola de artes visuais do IFCE, no anexo da Aldeota. Lá, visitei as sa-las e pude depois ter o contato com um profes-sor substituto da casa. Apresentei minhas idéias e o ambiente que desejava implantar a sala de aula e pensamos em boas soluções e no que era importante ao ambiente. Não registrei a visita pois meus equipamentos todos descarregaram. Por o cineteatro fazer parte do único conjunto totalmente novo e não adaptado do projeto (além de ser um programa altamente complexo e que eu nunca havia tido a experi-ência de projetar) visitei vários teatros da cida-de. Alguns maiores e outros menores. Conheci e falei com responsáveis técnicos no teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, da Caixa Cultural e o Theatro Universitário Pas-choal Carlos Magno da UFC. Além deles, visi-tei o cinema da Casa Amarela Eusélio de Oli-veira Nestas visitas pude constatar como funciona o fluxo de serviço técnico e o fluxo de serviço dos atores, bem como o fluxo da pla-téia. Todos esses teatros, embora não tenham o mesmo número de assentos contam com ape-nas um camarim para cada sexo, sem camarins privativos. O tamanho das coxias varia, mas é

Fig 3..23 Teatro da Caixa CulturalFig 3.24 Teatro do Centro Cultural Dragão do MarFig 3.25 Teatro universitário Paschoal Carlos MagnoFig 3.26 Cinema Waldemar Falcão da Casa Amarela.

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

bom no Dragão do Mar e no teatro da Caixa e insuficiente no teatro universitário. É importante sempre deixar ao menos uma sala para os aparelhos de ar-condicionado e, se necessário no ambiente, geradores elétricos. Com a leitura de diversas literaturas técnicas em artigos e em um livro da Fundação Nacional de Arte junto a estas visitas, pude estabelecer os melhores parâ-metros ao meu projeto como dimensões das coxias em relação ao palco, ângulo de incidência da projeção na tela a partir da sala de controle de luz e som e, é claro, que essas visitas serviram para ver os bons e mals exemplos e aprender com eles.

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| Projeto Janela da Vida |

3.2 Programa de necessidades

Edifício Ambiente Área (m²) Área total consntruída

Edifício-sede da SAERG 599,94m²

Entrada 17,46

Corredor 8,20

Hall de lazer 24,05

Depósito de instrumentos 26,09

Memorial de Guanacés 63,59

WC 1 3,27

Cozinha 17,18

Refeitório 15,84

WC 2 1,95

Despensa 1,50

Sala de ensaios e apresen-tações + palco

244,02

Palco 33,74

Sala de informática 51,64

WC 3 2,42

Área externa 23,59

Depósito 1,46

Jardim 18,97

Consultório odontológico 17,24

Centro de terapias 222,40m²

Corredor 1 9,43

Espera 1 11,02

Corredor 2 8,97

Espera 2 11,23

Sala de fisioterapia 17,28

Consultório 1 11,08

Consultório 2 10,86

Consultório 3 10,59

Consultório 4 10,74

Sala de pequenos proced-imentos

10,95

Sala de espera 42,38

Expurgo 2,75

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

Edifício Ambiente Área (m²) Área total consntruída

Depósito 7,61

Espera externa 17,23

Consultório Psicológico 12,35

WC 1 2,73

Acesso WC 4,11

WC 2 2,73

Descanso 7,59

Circulação externa 7,45

Centro de saberes 382,52

Recepção 27,00

Sala de exposições 70,20

Sala de aula multiuso 32,38

Administração 15,02

Biblioteca 90,27

Sala de estudos em grupo 17,93

Centro de exercícios 1251,60

Recepção 25,77

Circulação externa 25,57

Sala de exercícios 1 26,47

Sala de exercícios 2 26,47

Sala de exercícios 3 26,47

Sala de exercícios 4 25,77

WC 1 8,21

WC 2 8,20

Área externa 189,95

Piscina 158,69

Praça/ área pavimentada 137,60

Praça/ caixa de areia 92,00

Praça/ Half-pipe 51,75

Centro gastronômico 443,11

Sala de gastronomia 47,16

WC 3 1,36

Padaria 38,32

Sala de refeições 33,06

Salão do restaurante 72,60

WC 1 8,66

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| Projeto Janela da Vida |

Edifício Ambiente Área (m²) Área total consntruída

WC 2 8,66

Circulação externa 5,94

Cozinha 114,46

Forno a lenha 17,13

Câmara fria 1 5,75

Câmara fria 2 5,75

Câmara fria 3 5,75

Circulação de serviços 5,88

Câmara fria 4 5,35

Resíduos úmidos 4,28

Resíduos secos 4,28

Escritório-sede/ Cen-tro de artes visuais/ Jardins

558,32

Escritório-sede Varanda 10,27

Chegada 21,07

Escritório 25,14

Circulação 8,20

Sala de reuniões 10,35

Quarto 1 10,35

Sala de estar/jantar 34,37

Quarto 2 12,16

Quarto 3 9,43

Cozinha 15,84

WC 1 4,68

Área de serviço 12,30

WC 2 2,84

WC 3 2,92

Despensa 9,16

Centro de artes visuais Sala de artes 1 54,37

Sala de artes 2 30,42

Depósito de material 10,56

Depósito 2 14,29

Jardins Horta/sala de aula prática 44,59

Área externa descoberta 40,92

Área externa coberta 38,74

Hortas comunitárias 55,29

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

Edifício Ambiente Área (m²) Área total consntruída

Cinetratro/ Centro de artes cênicas/ Quadra

3132,85

Quadra 669,15

Pátio Coberto 1437,88

Lanchonete 22,76

Despensa 8,20

WC acessível 3,70

WC masculino 16,95

WC feminino 16,95

Pátio de artes cênicas 62,65

Sala de teatro 75,05

Depósito 15,11

Sala de dança 91,20

Entrada de serviço 7,63

Bilheteria 5,00

Antecâmara 19,28

Platéia 175,17

Proscênio 28,79

Palco 79,50

Coxia lateral 1 50,00

Coxia lateral 2 43,18

Coxia de fundo 20,00

Bastidores 34,62

Sala de imprensa 9,40

Depósito 24,52

Subestação elétrica 1 3,40

Subestação elétrica 2 3,40

Central de ar 1 7,70

Central de ar 2 7,70

Antecâmara serviço 5,16

Sala de projeção e con-trole de luz e som

38,00

Circulação camarins 22.27

Camarim feminino 24.52

Camarim masculino 20.63Tabela 3.1 Tabela contendo o programa de necessidades e suas áreas

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| Projeto Janela da Vida |

3.3 Pré-dimensionamento

A questão do pré-dimensionamento só foi abordada no conjunto proposto do cineteatro e da escola de artes cênicas, nos outros programas houve uma adapta-ção dos espaços existentes às melhores dimensões possíveis aos programas propostos. As visitas técnicas às escolas de teatro e de dança me foram bastante im-portantes para a etapa de pré-dimensionamento destes programas. Nestas, consegui informação diretamente com os profissionais que utilizam estes espaços Em conversa com o coordenador do curso de teatro do IFCE, este me mos-trou a sala utilizada para os ensaios e aulas práticas do cursos, sendo que o ambiente por inteiro vinha de uma adaptação em uma residência e, por isso, não apresentava dimensões suficientes à atividade (apenas 40m² nesta sala). Ele também me informou que é importante que o ambiente seja ventilado, iluminado, tenha piso de madeira, não tenha espelhos e que tivesse pelo menos o dobro da sala demonstrada (cerca de 80m² seria o ideal). Na visita à escola de dança Michelle Fontenelle, em conversa com a dona e professora homônima, conheci a importância do piso de madeira elevado para que haja uma caixa de ressonância ideal às aulas de sapateado e para que absorva melhor os impactos dos movimentos das bailarinas. Além disso, é fundamental a presença de uma parede com espelhos e o máximo de barras (fixas ou móveis) para auxílio da prática dos movimentos. Importante que haja duas alturas de barras, para crianças e adultos, e que estas estejam a uma distância de pelo menos 50cm da vedação para garantir maior liberdade de movimentos. Para o projeto do cineteatro, os critérios do pré-dimensionamento foram baseados em bibliografia consultada sobre acústica e arquitetura cênica. O mais im-portante à organização do espaço foi Projeto resgate e desenvolvimento de técnicas cêni-cas : oficina arquitetura cênica (SERRONI, 2004). Nele, foram obtidas importantes informações sobre tamanho de boca de cena e, consequentemente, das coxias, a pos-sibilidade da ausência do urdimento para teatros menores. Em bibliografias dispersas obtidas com amigos e na internet, consegui muitas informações referentes à acústica que determinaram a escolha dos materiais e o formato da platéia. Além da acústica, alguns informativos sobre cinemas encontrados on-line auxiliaram na locação ade-quada da cabine de controle de luz e som para que a projeção da imagem na tela de cinema não fosse prejudicado. As dimensões dos assentos e seus afastamentos tam-bém foram encontrados dessa forma.

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

3.4 Fluxogramas

Os fluxogramas referentes aos diversos programas foram estabelecidos vi-sando um fluxo contínuo e sem obstáculos. Importante relembrar que, excetuando o conjunto quadra/cineteatro/centro de artes cênicas, todos os outros programas foram adaptados em edificações existentes.. A representação é composta de linhas pretas que indicam fluxo livre, verme-lhas como fluxo de serviço e tracejadas que indicam correspondência apenas visual.

PÁTIO COBERTO

SANITÁRIOS

ACESSO BILHETERIA

PÁTIO ARTES CÊNICAS

ANTECÂMARA

QUADRA

LANCHONETE

SALA DE TEATRO

DEPÓSITO

PLATÉIA BILHETERIA

SALA DE DANÇA

BASTIDORES

COXIAS SALA DE CONTROLESALA DE IMPRENSA

DEPÓSITO

PALCO

CAMARINS

RUA

DEPÓSITO DOSINSTRUMENTOS

HALL DE ENTRADA

COZINHA

REFEITÓRIO

MEMORIAL DEGUANACÉS

HALL DE LAZER

SALA DE INFORMÁTICA

WC 2

SALÃO DE ENSAIOSWC 1

WC 3

CONSULTÓRIOODONTOLÓGICO

RUA

RUA

RUA

ÁREA EXTERNA

Fluxograma 1. Referente ao conjunto proposto por quadra, cineteatro e centro de artes cênicas

Fluxograma 2. Atividades propostas ao edifício-sede da SAERG

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| Projeto Janela da Vida |

RUA

RECEPÇÃOBIBLIOTECA

ADMINISTRAÇÃO

SALÃO DEEXPOSIÇÕES

SALA DE AULAMULTIUSO

SALA DEESTUDOS

RUA

ÁREA DE REFEIÇÕES

SALÃO DORESTAURANTE

SANITÁRIOS

PADARIA

COZINHA CÂMARAS FRIASDEPÓSITO DE LIXO

SALA DEGASTRONOMIA

RUA

SALA DE ESPERA

CONSULTÓRIOS

SANITÁRIOS

CHEGADA

SALA DE PRIMEIROS SOCORROS

EXPURGO DEPÓSITO

SALA DEINTERVENÇÕES

RUA RECEPÇÃO

CIRCULAÇÃOEXTERNA

SALAS DEEXERCÍCIOS SANITÁRIOS

ÁREA DAPISCINA

Fluxograma 3. Referente ao centro de saberes

Fluxograma 4. Referente ao centro gastronômico

Fluxograma 5. Referente ao centro de terapias

Fluxograma 6. Referente ao centro de exercícios

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

RUA

RUA

ESCRITÓRIO

RECEPÇÃO

SALA DE ESTAR/JANTAR

SALAS DE AULAARTÍSTICA

SALA DE REUNIÕES

QUARTOS

COZINHASANITÁRIOS

A. DE SERVIÇO

DESPENSA

CIR

CU

LAÇ

ÃO

DEPÓSITOS

AULAS PRÁTICASEXTERNAS

HORTASCOMUNITÁRIAS

ÁREA EXTERNAPARA PRÁTICAS

JARDINSEDUCATIVOSSANITÁRIOS

Fluxograma 3. Referente ao conjunto do escritório-sede, centro de artes visuais e jardins

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| Projeto Janela da Vida |

3.5 Projeto

Após a conclusão do estudo histórico da área e dos temas relacionados à instituição que se propõe intervenção e a análise da situação existente e possibilidades dos edifícios abandonados no entorno, pude iniciar a etapa projetual. Com a metodologia pedagógica definida e a análise das carências da comu-nidade, foi decidido que o projeto contemplaria as diversas áreas do saber e do de-senvolvimento físico e mental. O conjunto de propostas contemplaria uma escola de música, de artes visuais, de gastronomia, centro de exercícios, biblioteca, memorial da comunidade (Guanacés), centro de terapias, um novo escritório para a instituição, sala de aula multiuso, salão de exposições, jardins educativos com hortas comunitá-rias, padaria e restaurante que possam trazer rendimentos à manutenção da socieda-de e incentivar a apresentação de talentos, uma pequena praça nova, um centro de terapias e atendimento à saúde, centro de artes cênicas e um cineteatro de pequeno porte, sendo estes os únicos equipamentos construídos por inteiro, enquanto que os outros foram adaptados de edificações existentes. O conjunto de intervenções se situa nas imediações do centro histórico de Guanacés (tendo a Igreja Matriz como seu ponto central) e propõe uma requalifica-ção da área, que apresenta sinais de abandono e marginalização.

Fig. 3.27 Vista aérea do conjunto proposto.

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

3.5.1 Entorno

Dentre algumas características perti-nentes à área do projeto, podemos afirmar que Guanacés possui um terreno bastante plano, com diferença de nível de, no máximo, 3 me-tros por toda sua área urbana. Sobre o sistema viário é importante estabelecer que suas vias são muito estreitas e poucas são as que possuem nomenclatura. Os edifícios do projeto se situam nas ruas Issac Be-nício, Dom Manuel (que se cruzam aos fundos da igreja matriz), rua sem nome 1 e rua sem nome 2. A via Dom Manuel em seu trecho ca-bível ao projeto conta com apenas 8,25m, sen-do 4,95 de leito carroçável, 1,50 em um passeio e 1,80 no outro. Essas dimensões dificultaram a implantação de acessibilidade às edificações e, portanto, as soluções obtidas neste ponto não foram ideais. Além dos serviços propostos para se-rem ofertados à população, o projeto espera obter uma revitalização do centro histórico e a atração de diversas pessoas (da comunidade ou de fora) à área, aonde, atualmente, dificilmente se encontram pessoas caminhando e usufruin-do do espaço urbano.

Fig 3.28 Rua Isaac Benício, sentido igreja

Fig 3.29 Vista dos fundos da igreja

Fig 3.30 Rua Dom Manuel

Fig 3.31 Vista do centro de artes cênicas e da praça nova projetada

Fig 3.32 Vista do conjunto ao entardecer. Fig 3.33 Vista do centro de exercícios

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| Projeto Janela da Vida |

3.5.2 Edifício-sede da SAERG

O edifício com entrada localizada na esquina das ruas Isaac Benício Sampaio e Dom Manuel, em esquina oposta à igreja matriz de Guanacés, é onde hoje se localiza a sede da SAERG (Sociedade de Assistência e Educação Rural de Guanacés), mas antigamente lá exis-tiam 4 casas, sendo 2 pares geminados, com cada par virado para uma das ruas que cortam a rua Dom Manuel. No par voltado à rua Isa-ac Benício viveu o sr. Francisco de Assis Bení-cio Sampaio, irmão de Isaac Benício Sampaio, Josias Benício Sampaio, dentre outros. O sr. Francisco deixou a casa para as suas filhas e elas mantiveram a posse após sua vinda a Fortaleza. Alguns anos depois, em 1993, o sr. José de Ari-matéia Santos decidiu reativar a SAERG, anti-ga sociedade assistencialista fundada pelo padre Miguel Fenelon Câmara. Com a presença da sra. Francy Sampaio, filha do sr. Francisco de Assis, na mesa diretora da SAERG, a residência foi cedida e complementada com as do terreno oposto. Após a volta a ativa da SAERG e o início da formação da nova banda de música de Guanacés, o prédio passou por algumas re-formas para garantir um espaço mais adequado aos ensaios, apresentações e aulas. Uma parede que dividia a casa mais longa foi demolida para aumentar o vão através de tesouras de madeira que sustentariam o telhado. Foi criado assim, em 1997, o salão de ensaios e apresentações da SAERG. Aonde são realizadas as aulas de ensi-no prático musical, recebe-se visitantes e acon-tecem as grandes festas da comunidade organi-zadas pela instituição (dia das crianças, páscoa e natal, com público em torno de 300 crianças cadastradas mais seus pais).Fig 3.34 e 3.35 Fachada e biblioteca da SAERGFig 3.36 e 3.37 Fotografias da cozinha existente.

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

Este edifício, atualmente, é utilizado por completo pelos funcionários e alunos da SAERG. Seus ambientes compreendem a chegada, um salão de TV, o depósito de instrumentos, a biblioteca, a gerência da sociedade, uma cozinha com poucos bancos, o salão de ensiaos e apresentações, a sala de informática, 3 banheiros distribuídos ao longo do edifício, o consultório odontológico e um pequeno jardim interno. A intenção maior do projeto é revitalizar e garantir um melhor uso à diver-sidade de funções compreendidas no programa. Sendo assim, procurou-se transferir atividades que necessitavam expansão ou condições adequadas ao seu uso. Com isso, a atual sala de administração da SAERG se transferirá a outro edifício, onde funcio-nará exclusivamente as funções administrativas e de alojamento dos funcionários, e a biblioteca deixa a sua posição na esquina do edifício para o edifício à frente, que oferece um ambiente maior e mais reservado, visto a interferência acústica de todo o entorno do centro histórico e a ausência de espaços para pesquisa e leitura. Com os ambientes livres, novos programas vão ser encaixados e velhos pro-blemas solucionados. Há uma problemática referente a circulação, fluxo e exaustão aonde se localiza a cozinha atualmente. Lá, a área de preparação de alimentos (que inclui o circuito fogão, geladeira e pia) fica de um lado, e do outro há uma circulação pequena e alguns bancos ao longo da bancada. Nos dias de maior lotação (principal-mente festas), há um conflito entre quem come, quem cozinha e quem quer passar, além de a exaustão se dar indiretamente por uma janela que liga a cozinha à gerência e pelo telhado de barro. Assim, sem a gerência no edifício, a expansão da cozinha nessa direção se torna fundamental, liberando o antigo ambiente para um refeitório (8 lugares) com circulação adjacente. No espaço liberado pela biblioteca, propõe-se implantar o “Memorial de Guanacés”, que funcionará como um pequeno museu da comunidade, dos moradores e da memória urbana. Essa função já existe e é parte da SAERG, localizada dentro da gerência, com quadros, partituras, fotos e documentos históricos guardados por lá, sem ter, no entanto, o acesso livre e conhecimento da população. Movendo esse material ao ambiente adjacente, consegue-se muito maior visibilidade, pois sua entrada passa a ser os fundos da igreja. Foi considerado melhor manter a parede que divide os dois ambientes para obter maior área expositiva.

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| Projeto Janela da Vida |

3.5.3 Centro de terapias

Este edifício, situado na rua Isaac Be-nício, em terreno ao centro de quadra é um edi-fício histórico e centenário que, onde antes ha-viam residências, hoje funciona como o edifício anexo de consultórios da SAERG, com realiza-ção de pequenas feiras de artesanato, depósito de remédios e atendimentos dos médicos que prestam serviço à sociedade. O edifício, ou talvez seja melhor dizer o “complexo”, visto que são 3 residências ane-xadas (um par geminado sob a maior fachada e uma terceira residência à esquerda), possui diversos cômodos e quase nenhuma conexão entre si. O quintal do complexo ainda mantém 2 muros que o divide em 3 partes, cada um à sua respectiva residência. A circulação interna é dada por 2 grandes corredores que só se encon-tram na entrada, e a única forma de ingresso à terceira unidade é pelo quintal ou pelo passeio. Muitos de seus ambientes estão aban-donados e inutilizados, servindo por vezes de depósito de tralhas e equipamentos antigos. Essa função se repete no estacionamento do complexo, um longo espaço que se prolonga por todo o comprimento do prédio sem divi-sões internas e está completamente transborda-do de materiais inúteis, senão à reciclagem. Para este edifício, muitas alterações são propostas. A idéia de expandí-lo como um centro dedicado ao atendimento à saúde neces-sita da formatação de um fluxo melhor entre os diversos ambientes e um espaço de convívio (ou espera) ampliado para os pacientes. Outro grande problema diagnosticado no edifício foi a ausência de fontes de luz, já que praticamente inexiste recuo lateral e o dos fundos não atende à maioria dos ambientes.

Fig. 3.42 (à direita) Estante de remédios da SAERG

Fig 3.39 Fachada atual do edifício

Fig 3.40 Consultório da SAERG

Fig 3.41 Corredor interno do prédio

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

Das alterações propostas, talvez a mais importante seja, apesar de não tanto para o fun-cionamento do programa, a demolição do esta-cionamento lateral. Após a demolição das pa-redes e retirada do madeiramento e das telhas, passamos a contar com um afastamento lateral razoável de 2,32m que garantirá melhores con-dições de iluminação, ventilação e exaustão dos ambientes adjacentes. A demolição das paredes que divide o jardim no fundo também auxilia na passagem de mais luz e na criação de um ambiente agradável e melhor ventilado. O problema da iluminação é constan-te quase que em todo o edifício e a criação do recuo lateral não é suficiente para iluminá-lo por completo. Dessa forma, uma solução en-contrada para garantir uma boa iluminação, de forma difusa e sem incidência direta dos raios ultravioletas, foi a colocação de uma linha de telhas de vidro sobre a projeção dos corredores e, no corredor, implantar um forro de placas translúcidas alternadas com opacas para uma melhor iluminância em suas extensões (explica-ção adequada na planta de forro, prancha 06). Quando todos os consultórios propos-tos estiverem sendo utilizados, será necessário um espaço maior para espera e chamada dos pacientes. Assim sendo, propus a demolição das paredes que ligam as 2 salas das casas gemi-nadas, deixando apenas um pilar aonde seria o encontro delas para dar sustentação ao telhado.Além disso, demole-se a parede que dá ao jar-dim lateral e coloca-se uma grande esquadria de madeira e vidro para iluminar melhor o am-biente. Uma pequena zona de serviço se faz necessária do lado oposto ao de chegada dos pacientes, por isso proponho uma sala existente para o depósito de remédios e materiais (que atualmente ficam expostos ao fim do corredor) e a criação de uma pequena sala para higieniza-ção e expurgo dos materiais.

Fig 3.43 Vista do centro destelhado para compreensão dos ambientes propostos

Fig 3.44 Coberta do centro de terapias

Fig 3.45 Vista do corredor iluminado por iluminação zenital

Fig 3.46 Vista interna da sala de espera

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| Projeto Janela da Vida |

A “terceira casa” terá seu espaço me-lhor aproveitado após a demolição de uma pa-rede interna e a construção de outras duas para criação de mais dois consultórios e uma sala de fisioterapia/enfermaria e primeiros socorros que dará diretamente para a rua para atender emergências e machucados vindos de ativida-des do centro de exercícios ou da quadra. O consultório dos fundos será, prioritariamente, psicológico e terá seu acesso pelo jardim, que contará com uma pequena área de espera sobpergolado de madeira, para assim poder garantir uma privacidade maior e um am-biente mais calmo aos pacientes. Além dessas demolições e construções, vale a pena salientar a transformação dos 2 banheiros existentes em banheiros acessíveis (um feminino e um masculino), contando com barras de apoio e equipamentos necessários.

Fig 3.48 Fachada proposta ao centro de terapias

Fig 3.47 Entrada para o consultório psicológico com área de espera

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

3.5.4 Centro de saberes

Este edifício, que se situa na rua Dom Manoel, esquina com a primeira rua paralela à Isaac Benício para leste, é aonde funcionava um centro comercial. O prédio, sem afastamentos e áreas permeáveis, tem sua expressão marcada pela horizontalidade e o ritmo criado pelas por-tas e pelos elementos decorativos em sua facha-da. Antigamente, funcionava neste ponto uma padaria, uma mercearia e uma loja de teci-dos. Todas elas pertenciam ao sr. Isaac Benício Sampaio e tinham suas áreas divididas por pa-redes transversais ao comprimento do edifício. O comércio foi desativado em fins da década de 80, pouco antes de seu falecimento em 1990. Desde então, nada mais funcionou por lá. É importante salientar que um dos ambientes permanece alugado até hoje e, por não ser conectado aos outros, foi retirado da proposta de intervenção.

Fig 3.49 Loja de tecidos, situação atual

Fig 3.50 Mercearia, situação atual

Fig. 3.51 Fachada existente do edifício

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| Projeto Janela da Vida |

A implantação do Centro de Saberes da SAERG contará com poucas modificações no interior do edifício. Além da premissa de man-ter a memória e a tradição urbana ao manter e recuperar a fachada, algumas poucas demoli-ções caracterizarão a intervenção. O programa de necessidades proposto in-cluiu uma nova biblioteca, que agregará todos os volumes da antiga e expandirá o seu espaço para garantir áreas de estudo individual e em grupo; uma sala de aula multiuso, que servirá para que sejam ministradas pequenas palestras, mini-cursos ou aulas teóricas de outros cursos (como o de música); um salão de exposições para expor os trabalhos dos alunos e da comu-nidade, como em exposições finais de semestre ou mostras de artesanato, e trazer outros tra-balhos externos para serem conhecidos pela população, como obras de artistas e seleções de fotografias; e uma recepção para agregar a en-trada em um ambiente único que direciona as pessoas para seus interesses. Garantindo assim, um maior controle das pessoas, independente das atividades que lá forem desempenhar. As portas de madeira maciça da fachada foram substituídas por esquadrias de madeira e vidro, sendo portas de 2 folhas de abrir na re-cepção e, nos outros ambientes, uma esquadria basculante de madeira e vidro sobre um painel de madeira até os 95 cm. Como Guanacés não possui diversas bibliotecas e, portanto, a popu-lação não possui o hábito de leitura, a intenção de colocar os painéis opacos sob as janelas na fachada é de que neles possam ser colocados cartazes com as capas dos livros mais interes-santes e que estes sejam substituídos após al-guns meses, para criar interesse nos transeuntes.

Fig. 3.56 Aproximação da fachada com novo sistema de esquadrias proposto para incentivo à leitura

Fig 3.52 Visualização dos ambientes

Fig 3.53 Eixo de circulação do edifício

Fig 3.54 Biblioteca e suas estantes

Fig 3.55 Fachada proposta

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

3.5.5 Centro de exercícios

O antigo estacionamento da compa-nhia de ônibus Expresso Guanacés, cujo dono era o sr. Isaac Benício Sampaio, está fechado desde meados da década de 80, quando as li-nhas e os veículos foram vendidos para a com-panhia de ônibus Grupo São Benedito. Seu terreno é o maior do quar-teirão, compreendendo toda sua extensão (63,16x20,77m), mas está totalmente abando-nado, sem manutenção, com sua imagem va-riando de acordo com a vegetação sazonal. O edifício, diferentemente das resi-dências do entorno, não apresenta decorações em suas fachadas, sendo um prisma retangular o mais sucinto possível, com telhado de 1 água e apenas três portas, uma de entrada dos veícu-los, uma interna e a terceira, no lado oposto, de saída de uma pequena sala. Não há janelas. O que mais chama atenção na construção são as tesouras de carnaúba que sustentam o telhado e criam um ritmo interessante. Esse grande terreno abandonado com um edifício simples e desobstruído abre um le-que de possibilidades que poderiam lá ser im-plantadas, mas o primeiro fator limitante foi a largura do edifício que, por ser muito estreito, não permitiria alguns programas. Pelo seu vão livre, o pé-direito alto e a possibilidade de aber-turs externas que tragam muita ventilação foi estabelecido que lá seria um centro de exercí-cios para a SAERG, um programa ausente da comunidade, que se exercita apenas com as ati-vidades cotidianas ou alumas práticas esporti-vas (majoritariamente pelos jovens). Para a caracterização do espaço, foi decidido criar uma circulação externa adjunta ao edifício para livrar o estreito espaço interno e garantir dimensões maiores para a colocação dos aparelhos de musculação, esteiras e bicicle-

Fig 3.57 Terreno desocupado com o edifício-garagem à direita.

Fig 3.58 Edifício-garagam da companhia Expresso Guanacés

Fig 3.59 Fachada do edifício-garagem

Fig 3.60 Vista do vão interno do edifício

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| Projeto Janela da Vida |

tas ergométricas. Uma separação de visão livre de uma parede de cobogós garantirá a idéia de um grande espaço seccionado em detrimento de vários pequenos espaços. A separação dos espaços criará 7 ambientes: recepção, sala de exercícios 1 (esteira e bicicleta), 2 (músculos superiores), 3 (músculos inferiores), 4 (exercí-cios aeróbicos, guarda de pesos e colchões) e os 2 banheiros (masculino e feminino). Na área externa do centro de exercícios haverá uma piscina, voltada para o ensino aos jovens, com dimensões de 10x16,66m (4 raias de 2,50m e um comprimento que soma 50m em três percursos). A separação entre área ex-terna e interna se torna muito tênue com a presença de esquadrias basculantes de madeira, que ao estarem abertas permitem a ventilação, iluminação e visibilidade externa aos cômodos. Na outra metade do terreno, é proposto uma praça que sirva como integração dos equi-pamentos ao redor e para contemplação e lazer. Dentre seus equipamentos, haverá um half-pi-pe e um espaço com areia, aonde poderão ser postos equipamentos de musculação e/ou brin-quedos infantis.

Fig 3.61 Praça de integração proposta

Fig 3.62 Área da piscina

Fig 3.63 Circulação externa adjuntaFig 3.64 Vista do centro de exercícios

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

3.5.6 Centro gastronômico

O edifício utilizado, também uma pro-priedade do finado sr. Isaac Benício, que, déca-das atrás, já situou uma padaria que exportava pães e outros produtos ao município vizinho de Pacajus, hoje é o que se encontra no pior estado de degradação física e estrutural. Seu telhado já cedeu em vários pontos e, nos poucos que ainda resta, se sustenta muito pouco, inclusive há um ambiente que a cumeeira já caiu, mas o telhado permanece. A padaria, que também já serviu como creche, está fechada há pelo menos 30 anos e, aparentemente, não teve outro uso desde então. A vegetação já tomou conta dos ambientes em que o telhado ruiu e um bando de morcegos se apossou dos outros. Sua cozinha e área de preparo de pães devia ser a maior da vizinhança, pois conta com 3 grandes fornos à lenha. A intervenção deste edifício visa criar um espaço de ensino gastronômico e difusão artística através de apresentações durante o al-moço, o jantar ou ocasiões especiais. A padaria e o restaurante também poderiam servir como uma fonte de renda para a SAERG. O edifício, atualmente, é muito ilu-minado internamente devido a ausência de telhado em vários ambientes, e quando total-mente coberto, provavelmente a iluminação se torne insuficiente, constituindo um problema. Para cobrir sua área útil (que de acordo com os restos do piso existente indicam que era quase 100% do lote) e manter um ambiente salubre, o projeto conta com 2 pequenos jardins inter-nos para iluminação, ventilação e exaustão. A ventilação cruzada foi um objetivo da proposta e, enquanto as esquadrias basculantes e as por-tas da entrada estejam abertas, o vento cruzaria o prédio, da fachada aos dois jardins (um na

Fig 3.65 e 66 Fachada, situação existente

Fig 3.67 (abaixo) Ausência de telhado

Fig 3.68 Situação interna atual

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| Projeto Janela da Vida |

área do restaurante e outro na cozinha). Para evitar a insolação direta em alguns horários, uma esquadria de madeira basculante (como a do centro de exercícios) deve ser implantada para proteção dos clientes do restaurante (con-tra sol e chuva). A partir da fachada, haverão 3 entradas que levarão a diferentes ambientes, começan-do à esquerda pelo curso de gastronomia, uma sala com uma mesa com fogão expositor para o professor e mesas para duplas poderem assis-tir e acompanhar as aulas. Ao centro, a padaria que administrará também a área à direita para refeições dos clientes e, durante o almoço, po-derá funcionar com uma bancada de self-servi-ce. Durante o almoço e o jantar, o salão maior (com capacidade para até 60 pessoas) do restau-rante poderá ser aberto, permanecendo fechado em outros momentos por uma porta de correr de 3 folhas, suspensa por trilho. A cozinha do complexo se interliga diretamente ao salão do restaurante, não havendo interferência no fluxo de abastecimento de pães nos horários que são servidos (não coincidentes com os de almoço e jantar). Um dos fornos à lenha se manteve para

criação de comidas mais artesanais e preparo de pizzas. O restaurante conta com 4 câmaras frigoríficas para os mais diversos gêneros alimentícios e 2 compartimentos para lixo orgânico e inorgânico.

Fig 3.69 Fachada proposta

Fig 3.70 Salão do restaurante

Fig 3.71 Pés-direitos logo após fachadaFig 3.72 Visualização dos ambientes

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| Projeto: Diagnóstico e propostas |

3.5.7 Escritório-sede, centro de artes visuais e jardins.

Esses vários programas propostos se si-tuam no conjunto formado pela residência do sr. Isaac Benício (prédio rosa), o ateliê de cos-tura (prédio amarelo) e a fábrica de cajuína aos fundos com um grande jardim aonde haviam outros estacionamentos para os ônibus da com-panhia Expresso Guanacés. O conjunto está abandonado desde a saída da família de Guanacés e a morte do sr. Isaac. Devido às invasões ao edifício para utili-zação de drogas ilícitas em seu interior, as jane-las foram retiradas e substituídas por alvenaria. Apesar disso, estruturalmente o prédio ainda oferece boas condições e poucas modificações seriam necessárias para um funcionamento ple-no.

Fig. 3.74 Caixa d’água do conjunto, nos jardins

Fig 3.73 Vista a partir da rua Isaac B. S.

Fig 3.75 Edifício do atelier de costura

Fig 3.76 Área da antiga fábrica de cajuína

Fig 3.77 Fachadas restauradas do con-junto, vista da rua Dom Manuel

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| Projeto Janela da Vida |

A implantação do novo escritório da SAERG na antiga residência do Sr. Isaac parece extremamente propício, devido aos objetivos do programa de necessidades que demandam a presença de alojamentos para os funcionários que passam mais de um dia na entidade e não possuem lugar adequado ao descanso. Além de cômodos que podem servir como salas de reu-niões e escritórios. O edifício aonde funcionava o ateliê de costura passará a receber o centro de artes visu-ais, com foco no ensino de pintura e modela-gem. O edifício é muito longitudinal, mas isso pode auxiliar na focalização do professor e de objetos a serem atentados. Um pequeno cômo-do deve ser demolido para ampliar o espaço da sala de aula. No jardim aonde funcionava a antiga fá-brica de cajuína, o foco será o ensino de prá-ticas sustentáveis, jardinagem, permacultura e atividades ligadas à natureza. Os canteiros aon-de se colocava as garrafas de cajuína passarão a ser postos mudas de plantas que não neces-sitem tanta iluminação e cresçam melhor em ambientes mais escuros. No resto da área verde do jardim, a criação de um bosque para con-templação e aproximação com a natureza será a premissa principal, além de que a atividade educativa com identificação das espécies deva se fazer presente.

Fig 3.78 Esquina das ruas Dom Manuel com Isaac Benício

Fig 3.79 Vista superior sobre os jardins

Fig 3.80 Fundos do jardim. Ru Isaac B. S.

Fig 3.82 Sala de estar do escritório

Fig 3.83 Sala de práticas externas/horta

Fig 3.81 Hortas comunitárias

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3.5.8Cineteatroecentrodeartescênicas

Como foi explicado anteriormente, foi seguido a premissa de aproveitar to-dos os espaços possíveis com os programas que melhor se adequassem a cada um deles, sendo que, no entanto, houveram alguns programas que não haviam como se encaixar nos edifícios previamente construídos. A criação de um teatro/cinema (de segunda categoria e de arte) para auxiliar na proposta de difusão cultural da SAERG, junto a uma escola de artes cênicas (que poderia, mas não deve ser implantada em espaços improvisados, um erro costumeiramente realizado pelas pessoas, pois neces-sita de grandes espaços que se assemelhem ao tamanho aproximado de um palco) que oferecerá aulas de teatro e dança. Além do novo conjunto, houve a preocupação de realizar uma integração da quadra construída pela prefeitura à situação proposta. Guanacés sofre de um mal crônico (como boa parte do estado do Ceará e do Nordeste) de altíssima radiação solar, que geralmente é combatido por as brisas ma-rítimas e as sombras de nossa vegetação, mas o ser humano cearense (principalmente o urbano) esquece as lições aprendidas com nossas construções vernáculas que foram pensadas sem os confortos da “modernidade”. Relembrando HOLANDA (2010) em seu “Roteiro para Construir no Nordeste”, “deixemos o espaço fluir, fazendo-o livre, contínuo e desafogado. Separemos apenas os locais onde a privacidade ou a atividade neles realizada estritamente o recomendem” (p.27) e “trabalhemos no sentido de uma arquite-tura sombreada, aberta, contínua, vigorosa, acolhedora e envolvente, que, ao nos colocar em harmonia com o ambiente tropical, incite-nos a nele viver integralmente” (p. 45). Assim sendo, a premissa de criar algo que envolvesse e garantisse uma iden-tidade maior ao conjunto dos diversos edifícios encobertos foi obtido através da cria-Fig 3.84 Conjunto formado por quadra, cineteatro e centro cênico sob uma única coberta

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ção de um sistema de pórticos que, espaça-dos a 6m (largura definida pelo comprimento de uma viga de carnaúba que funciona como a estrutura secundária da cobertura) garan-tem sombreamento e proteção às intempéries, além de criar um espaço fluido, desobstruído para a passagem das pessoas e do vento. Aci-ma das carnaúbas, vem uma série de vigotas de 6x16cm armadas sobre as carnaúbas e, acima destas, caibros de 5x6cm que vencem vãos de até 1,50m. Nestes vãos serão colocados os prin-cipais elementos de vedação da cobertura, pai-néis fotovoltaicos. O modelo KD210GX-LP da Kyocera tem dimensões de 1,50x0,99m, pesan-do apenas 18,5kg cada placa, encaixando per-feitamente no espaço proposto entre as vigotas e caibros da coberta. Os painéis fotovoltaicos podem ter suas células espalhadas ao longo da superfície em que se inserem, podendo criar interessantes jo-gos de luz que passam entre as células fotovol-taicas. Dessa forma, além de garantir a proteção contra os elementos da natureza e a fluidez dos ventos, garante-se que, mesmo nas áreas mais internas da coberta, a quantidade lumínica não seja insuficiente. Com a inclinação média da área dos painéis solares em torno de 8% N e a colocação com afastamento entre as células, o rendimento máximo dos painéis cairá para algo em torno de 85-90% de sua potência máxima, mas as vantagens não se perdem. Com toda a extensão dos pórticos no terreno, mais de 1500 placas fotovoltaicas serão posicionadas e pode-rão gerar energia de volta à cidade, criando uma pequena usina solar em Guanacés. De volta ao piso térreo, 2 volumes serão construídos de forma integrada. A escola de ar-tes cênicas ficará ao lado da via (sem nome), de

fronte à praça adjacente ao centro de exercícios. Seus ambientes serão divididos em salas de teatro, dança e depósito de material. A privacidade necessária aos ensaios e práticas é obtida com uma entrada através de um portão de grade junto a um muro

Fig 3.85 Vista superior dos ambientes

Fig 3.86 Percepção urbana Leste-Oeste

Fig 3.87 Percepção urbana Oeste-Leste

Fig 3.88 Átrio centro de artes cênicas

Fig 3.89 Cineteatro em destaque

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de cobogós, além do formato das salas que não dificulta a visão externa direta. Um volume ad-jacente à sala de teatro, mas com acesso público congrega os sanitários masculino, feminino e acessível, com uma caixa d’água própria. O outro volume, mais marcante, é o do teatro, que recebe um tratamento em lam-bris de madeira na fachada para uma diferen-ciação do contexto, criando um marco visual que chama a atenção desde a área externa ao conjunto e que se compreende por inteiro logo que se entra na área coberta pelos pórticos. In-ternamente, o teatro possuirá 140 lugares, sen-do 4 para cadeirantes, 1 para pessoa obesa e 1 para pessoa de mobilidade reduzida. 2 saídas de emergência farão o escoamento necessário. No palco, a caixa cênica conta com altura suficiente para esconder um telão de 9x3,83m de compri-mento retrátil que será guardado durante apre-sentações de teatro e retornará nas sessões de ci-nema. A sala de controle fica logo atrás e acima da platéia, com um ângulo de inclinação de 4º em relação ao centro da tela de projeção, consi-derado ainda um valor bom para que não haja problemas na projeção adequada. Os bastidores do teatro contam com camarins com sanitários acessíveis e acesso por plataforma elevatória. Entre o espaço do teatro e o do centro de artes cênicas criou-se um pequeno átrio com 5m de largura, que contará com um jardim se-mi-interno de plantas de até médio porte. Para uma fonte de iluminação mais constante para o crescimento saudável da vegetação, um tra-tamento diferenciado se dá na cobertura nesse ponto, com a ausência de painéis solares e a co-locação de mais vigotas para proteção nas horas mais críticas do Sol e para obter um efeito de pergolado. Já entre o teatro e a quadra conse-gue-se um amplo espaço de convívio de apoxi-madamente 700m² para apresentações públicas e concentrações antes de espetáculos.

Fig 3.90 Módulo formado por 2 pórticos

Fig 3.91 Madeiramento da cobertura

Fig 3.92 Sala de dança

Fig 3.93 Palco e boca de cena do teatro

Fig 3.94 Vista total da coberta

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1 Conclusão

Em tempos de descrença quanto ao futuro da educação brasileira, vítima de jogos políticos, corrupção e interesses particulares sobre os da maioria, o contato com aquelas pessoas, anônimas no dia-a-dia, que batalham não somente pelo enri-quecimento monetário, mas pelo enriquecimento da alma, traz uma grande alegria, realização e um motivo nobre para continuar esta caminhada que iniciará uma nova etapa após a entrega (não a conclusão) do trabalho desenvolvido nestas páginas. A percepção de como a arquitetura funciona e a que se presta muda duran-te o passar dos anos. Enquanto que a idéia modernista de que o arquiteto urbanista detinha todo o conhecimento e soluções necessárias ao resgate urbano não perma-neceu, devido à percepção da necessidade da interdisciplinaridade e das avaliações de problemas pós-ocupacionais (que causaram uma análise da atuação profiissional e o incremento da necessidade do diálogo), a época contemporânea (talvez poste-rior ao pós-modernismo), que coincide com a era da informação rápida e digital, nos bombardeia diariamente com toneladas de informações, passa uma imagem de que a arquitetura atual (e mais difundida) é a arquitetura das grandes obras, do es-petáculo. A relação com o turismo parece ter se tornado, no mínimo, fundamental. Como bem ilustra o sonho moderno e a arquitetura do espetáculo atual, a arquitetura não é um fim em si mesma. Esta sempre foi um meio para obtenção de diversos resultados, seja uma fonte de atração turística ou requalificações urbanas. Como a essência da arquitetura, este projeto não é um fim em si mesmo. Ele busca mais do que a conclusão da etapa relacionada à graduação em arquitetura e urbanismo, transcendendo as etapas de implantação e construção, bem como os processos sociais de captação e treinamento, visando alcançar o desenvolvimento e a realização profissional dos jovens que passam pela SAERG. Seu objetivo maior, portanto, é poder contribuir na evolução do trabalho social e de utilidade pública desenvolvido pela Sociedade de Assistência e Educação Rural de Guanacés. Apresentar este trabalho às diversas esferas do poder público que possam contribuir ao fomento de atividades culturais e educativas e às da iniciativa privada que desejem se tornar parceiras e terem seus nomes vinculado às boas ações sociais. Este será um passo necessário para viabilizar o presente trabalho. O sonho modernista não pôde continuar da forma centralizadora e autô-noma que almejava ser. Em um mundo globalizado inter e multidisciplinar, a ar-quitetura é uma das partes importantes à obtenção dos resultados - o planejamento indispensável. Resultados que podem ser compartilhados e auxiliados por diversas pessoas que dividam o mesmo sonho.

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4.2 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

LIVROS

AGNOLETTO, Matteo. Renzo Piano. 1 ed. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2011. ABBUD, Benedito. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura pai-sagística. 3 ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006. BESSA, Evânio Reis et al. Cascavel: Ceará, 300 anos (307 anos). 2 ed. For-taleza: Universidade de Fortaleza, 2001. BIG. Yes is more. Köln: Taschen, 2011. CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. 2 ed. Sâo Paulo: Editora Schwarcz, 2008. CHING, Francis D. K; ONOUYE, Barry S; ZUBERBUHLER, Douglas. Sistemas estruturais ilustrados: padrões, sistemas e projeto. Porto Alegre: Bookman, 2010. CHING, Francis D.K. Técnicas de construção ilustradas. 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. CHIVELET, Nuria Martín; SOLLA, Ignacio Fernández. Técnicas de veda-ção fotovoltaica na arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2010 CORBUSIER, Le. Mensagem aos estudantes de arquitetura. São Paulo: Mar-tins, 2006. FATHY, Hassan. Architecture for the poor: an experiment in rural Egypt. Lon-don : University of Chicago Press, 1973. HOLANDA, Armando de. Roteiro para construir no Nordeste: arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados. 2 ed. Recife Instituto dos Arquitetos do Brasil-PE; Universidade Federal de Pernambuco; Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano, 2010 KOWALTOWSKI, Doris C. C. K. Arquitetura escolar: o projeto do ambien-te de ensino. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. LENGEN, Johan van. Manual do arquiteto descalço. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto; Rio de Janeiro: Tibá, 2004. LEONI, Giovanni. Norman Foster. 1 ed. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2011. MASCARÓ, Juan Luis. O custo das decisões arquitetônicas. 4 ed. Porto Ale-gre: Masquatro Editora, 2006. MOSCO, Valeio Paolo. Steven Holl. 1 ed. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2011.‘ NEUFERT, Ernst. Arte de projetar em Arquitetura: princípios, normas e prescrições sobre construção, instalações, distribuição e programa de necessidades, dimensões de edifícioo, locais e utensílios. 4 ed. São Paulo: Editorial Gustavo Gili do Brasil, S.A, 1974

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| Considerações finais |

PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre: Bookman, 2011. PIANO, Renzo. A responsabilidade do arquiteto: conversas com Renzo Cas-signoli. São Paulo: BEI Comunicação, 2011. RASMUSSEN, Steen Eiler. Arquitetura Vivenciada. 2 ed. São Paulo> Mar-tins Fontes, 1998. RAUTERBERG, Hanno. Entrevistas com arquitetos. Rio de Janeiro: Viana & Mosley, 2009. ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta. 1 ed. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SL, 2001. SERRONI, José Carlos. Projeto resgate e desenvolvimento de técnicas cêni-cas: oficina arquitetura cênica = taller arquitectura escénica. Rio de Janeiro: CTAC, 2004. TZONIS, Alexander. LEFAIVRE, Liane. Santiago Calatrava. 1 ed. São Pau-lo: Folha de S. Paulo, 2011. ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. 2 ed. Lisboa: Arcádia, 1977.

MONOGRAFIA, DISSERTAÇÕES, TESES OU TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE DISCIPLINA

MACHADO, Débora. Público e comunitário: projeto arquitetônico como promotor de espaço e convivência. Dissertação. Universidade São Judas Tadedu. São Paulo, 2009. NASCIMENTO, Jeffeson da Silva. Uma nova estação: reabilitação arquite-tônica e desenho urbano na estação ferroviária de Antônio Diogo - Redenção /CE. Monografia. Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2012. ALBUQUERQUE, Rafaella Vasconcelos. Escola de artes cinematográficas. Monografia. Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, maio de 2010. ARARUNA, Paula. Teatro do curso de artes dramáticas da UFC. Monografia. Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, (2004?).

ARTIGO OU MATÉRIA DE JORNAL OU REVISTA

BRIEGLEB, Till. O que é boa arquitetura? Quanto futuro suporta a arquite-tura? Quanto presente? Quanto passado?. DE Magazin Deutschland. Berlin: janeiro, 2012. Portfólio. p.67. MURDOCK, James. Beauty and the Book: libraries in the digital age raise questions about the place of books. Architetural Record. New York: março, 2011. Building types study 910. p.55-67 Pesquisa no acervo do jornal O POVO (1928-2012) Pesquisa no acervo do jornal Diário do Nordeste (1982-2012)

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ARTIGO DE PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS EM MEIO ELETRÔNICO

CORDEIRO, Cecília Maria Ferreira. Anísio Teixeira, uma visão do futuro. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. vol.15. n 42. São paulo. Maio-Agosto, 2001. <Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?scrip-t=sci_arttext&pid=s0103-40142001000200012>. Acessado em 20/09/2012. BASTOS, Maria Alice Junqueira. A Escola-parque: ou o sonho de uma edu-cação completa (em edifícios modernos). Revista AU. Disponível em < http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/178/artigo122877-1.asp>. Acessado em 12/11/2012. ANELLI, Renato Luiz Sobral. Centros Educacionais Unificados: arqui-tetura e educação em São Paulo (1). Vitruvius. São Carlos: dezembro, 2004. Ar-quitextos. Disponível em < http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitex-tos/05.055/517>. Acessado em 26/09/12. SOUZA, Alírio Fernanão Barbosa de. Anísio Teixeira e as dificuldades de renovação da educação superior no Brasil. Revista da Bahia. Salvador, v.32, n.31, jul. 2000. p.54-69. Disponível em < http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/alirio.htm>. Acessado em 30/09/2012. LINS, Marina Navarro et al. Chega ao Brasil escola com enfoque na prática de esportes. Revista Época. 02 de dezembro de 2012. Disponível em < http://revis-taepoca.globo.com/Sociedade/olimpiada2012/noticia/2012/10/chega-ao-brasil-es-cola-com-enfoque-na-pratica-de-esportes.html>. Visualizado em 10/12/2012. TEVES, Nilda. A atualidade do pensamento de Anísio Teixeira. Pedagogia em foco. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em < http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per11.htm>. Visualizado em 23/10/2012.

ARTIGO OU MATÉRIA DE JORNAL EM MEIO ELETRÔNICO

ALBUQUERQUE, Isabel. Projeto em Guanacés ensina música a crianças. Diário do Nordeste. Fortaleza, 22 de agosto de 2011. Especial para o Regional. Dis-ponível em < http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1030087>. Acessado em 15/08/2012 FONTES, Eduardo. Inesquecível amigo. Diário do Nordeste. Fortaleza, 05 de dezembro de 2011. Idéias. Disponível em <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1079413>. Visualizado em 20/08/2012. MORAIS, José Maria Bomfim. Ode ao chão. Diário do Nordeste. Fortaleza, 27 de outubro de 2009. Idéias. Disponível em < http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=684146>. Visualizado em 19/08/2012. MARIA, Lêda. Um arimatéia que ninguém esquecerá. Diário do Nordeste. Fortaleza, 25 de julho de 2009. Lêda Maria. Disponível em < http://diariodonordes-te.globo.com/m/materia.asp?codigo=656936>. Visualizado em 19/08/2012.

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| Considerações finais |

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS CONSULTADOS

http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=98 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103855/emenda-constitucio-nal-15-96 http://saerg.org.br/ http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=230350# http://diariodonordeste.globo.com/2002/08/05/010045.htm http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=565963 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=963715 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=657924 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=680672 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=326511 http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=563922 http://www.ferias.tur.br/fotos/1367/guanaces-ce.html http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=547298 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=215711 http://diariodonordeste.globo.com/2001/08/30/030001.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%ADsio_Teixeira http://www.escolaparque.g12.br/proj_peda.htm http://www.escolaparque.g12.br/escolaparque.htm http://www.escolaparquesalvador.com.br/ http://cucacheguevara.blogspot.com.br/p/cursos.html http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=82 http://pt.wikipedia.org/wiki/Centros_Integrados_de_Educa%C3%A7%-C3%A3o_P%C3%BAblica http://www.plataformaarquitectura.cl/2012/06/04/conversacion-con-juha-ni-pallasmaa/ http://www.archdaily.com.br/15179/archdaily-brasil-entrevista-oscar-nie-meyer/ http://www.achetudoeregiao.com.br/ce/cascavel/historia.html. http://esportes.opovo.com.br/app/esportes/minuto/2012/10/23/noticiami-nutol,2452376/bolt-finaliza-tour-pelo-rio-de-janeiro-com-visita-ao-cristo-redentor.shtml http://portalcascavel.wordpress.com/personagens/ http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1183702 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1180844 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=728083 http://www.sganoticias.com.br/2010/05/reportagem-da-veja-sobre-os-in-dios.html http://coroinhasigrejacatedralthe.blogspot.com.br/search/label/Arquidioce-

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se%20de%20Teresina http://fortalezaemfotos.blogspot.com.br/2011/08/abrigo-central-o-mais-democratico.html http://lizzabathory.blogspot.com.br/2010/04/seminario-da-prainha.html http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=326511 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=565963 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:An%C3%ADsio_busto.jpg http://www.nbm.org/about-us/publications/blueprints/historic-theater-ar-chitecture.html http://www.lazuliarquitetura.com.br/conceitos.htm http://www1.folha.uol.com.br/comida/914519-veja-como-funciona-a-co-zinha-de-um-restaurante.shtml http://www.youtube.com/watch?v=25sz1EYE6uc http://blogdicalegal.blogspot.com.br/2010/07/montando-uma-pequena-padaria.html http://gestaoderestaurantes.wordpress.com/2008/02/16/como-planejar-a-cozinha-do-seu-restaurante-2/ http://www.smartcozinhas.com.br/forno-lastro.php http://www.planesporte.com.br/inst_aquaticas.html#3 http://www.brasildecor.com.br/den/esporte.htm h t tp : / /www. fg . com.p t /ma in .php?mos t r a=1&id=25&prod=-GEN00121945883.929000420&tbl=registos&area=41&familia=45&subfami-lia=91 http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2013/01/23/em-725-das-escolas-brasileiras-nao-ha-biblioteca.htm

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