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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE Rua Marechal Deodoro, n. 1028, 10º andar. Centro. Curitiba-Paraná. CEP 80.060-010. Tel: 3250-476 Página 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA, FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – ESTADO DO PARANÁ. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, através do Promotor de Justiça que ao final assina, vem, a presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 225 da Constituição Federal, Lei n. 7.347/85, Lei n. 6.938/81, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL COM PEDIDO DE CONCESSÃO DE LIMINAR em face do MUNICÍPIO DE PINHAIS, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob n. 95.423.000/0001-00, com sede na Rua Wanda dos Santos Mallmann, n. 536, bairro Centro, CEP 83.323-400, Pinhais, Paraná, representada pelo Prefeito Municipal Luiz Goularte Alves; e

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Página 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

DA FAZENDA PÚBLICA, FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO

FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE

CURITIBA – ESTADO DO PARANÁ.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO

PARANÁ, através do Promotor de Justiça que ao final assina, vem, a presença

de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 225 da Constituição Federal, Lei n.

7.347/85, Lei n. 6.938/81, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL

COM PEDIDO DE CONCESSÃO DE LIMINAR

em face do MUNICÍPIO DE PINHAIS, pessoa

jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob n.

95.423.000/0001-00, com sede na Rua Wanda dos Santos Mallmann, n. 536,

bairro Centro, CEP 83.323-400, Pinhais, Paraná, representada pelo Prefeito

Municipal Luiz Goularte Alves; e

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COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ -

SANEPAR, inscrita no CNPJ/MF sob n. 76.484.013/0001-45, com sede na Rua

Engenheiro Rebouças, n. 1376, bairro Rebouças, CEP 80.2015-900, Curitiba,

Paraná, representada pelo seu Diretor Presidente Fernando Eugênio Ghignone,

pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

I- DOS FATOS

Na data de 12 de maio de 2010, a Promotoria de Justiça de

Proteção ao Meio Ambiente recebeu o ofício n. 186/10, encaminhado pela

Câmara Municipal de Curitiba, que denunciava crime ambiental cometido pela

Prefeitura de Pinhais - PR, a qual conduziu águas pluviais deste município para

dentro do Parque Histórico de Curitiba, causando graves problemas ambientais

na Área de Preservação Histórica Ambiental. Sendo assim, solicitaram que fosse

exigida a retirada imediata da tubulação colocada, desviando-a pelas vias

públicas daquele Município até alcançar o Rio Atuba.

O Parque Histórico de Curitiba foi criado através do Decreto

Municipal n. 216/1972, e situa-se ao final da Rua Marco Polo, no lote 11-D da

Planta Vila Bairro Alto, limitando-se com o antigo canal do Rio Atuba, local este

em que a Prefeitura Municipal de Curitiba construiu o Centro Cultural Vilinha.

De acordo com informações do ofício n. 186/10 da Câmara

Municipal de Curitiba, administrações anteriores do Município de Pinhais

desviaram tubulação grossa de cimento (1,50m), a qual leva águas sujas das

ruas, com grande teor de esgoto sanitário, para dentro do Parque. Ademais,

informaram que foram realizados dois encontros com o Prefeito do Município

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de Pinhais, em que solicitaram a relocação dos tubos, contudo, nada foi

realizado. Deste modo, solicitaram a intervenção do Ministério Público do

Paraná, a fim de que determinasse a retirada dos tubos, tendo em vista a

recuperação do rio.

Na data de 28 de janeiro de 2010 foi protocolado, na Promotoria

de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente, relatório acerca de navegação

realizada por toda a extensão do Rio Atuba, em que foi constatado a real

situação em que o mesmo se encontrava, através de observação, e fotografias do

leito do rio.

Conforme o relatório, observaram a necessidade de remoção de

grande quantidade de lixo das margens do Rio Atuba. Informaram que os

barrancos desse rio são constituídos de material arenoso, o qual se desprende

com muita facilidade, o que acarreta assoreamento do mesmo, sendo que, em

alguns pontos de seu leito, há a formação de ilhas ou assentamento de um dos

lados. Deste modo, foi possível a constatação de que nas curvas existentes no

rio a largura deste se estreita, o que resulta na diminuição da vazão, e prejudica

as demais margens, as quais recebem todo o impacto de suas águas dirigidas

para lá. Ao longo das margens do Rio foram construídas inúmeras moradias

irregulares, as quais não possuem estruturas suficientes para formarem paredes

de contenção, sendo que há situações de muitas casas caírem no leito do rio e ali

permanecerem, tendo em vista, que os moradores não têm como retirá-las, e

temem sofrer penalidades no caso de solicitarem ajuda aos órgãos municipais.

Uma das maiores preocupações foi a constatação de que na

margem esquerda do Rio Atuba, na altura do Parque Histórico de Curitiba, há a

ocorrência de despejo de águas pluviais misturadas com esgotos e detritos

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industriais, vindos do Município de Pinhais, o qual instalou manilhamento de

grande dimensão no local de preservação histórico/cultural.

Ademais, puderam observar que a Estação de Tratamento de

Esgoto da SANEPAR, diferentemente de coletar o esgoto da cidade para assim

receber o devido tratamento, e depois ser lançado no leito do Rio Atuba,

lançava no rio material de cor negra, com extremo odor de esgoto, o que dividia

a cor do rio por longo trecho.

Diante do exposto, na data de 22 de junho de 2010, a Promotoria

de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente encaminhou ofício à SANEPAR, à

Secretaria Municipal do Meio Ambiente, e à Secretaria Municipal de Obras

Públicas, a fim de que fossem tomadas as medidas cabíveis quanto à denúncia

de que fora desviada tubulação grossa de cimento, por onde passa água suja,

para dentro do Parque Histórico de Curitiba, causando sérios danos ambientais.

Sendo assim, o Município de Curitiba encaminhou resposta ao

ofício, na data de 19 de julho de 2010, informando que por se tratar de problema

ambiental na área limítrofe entre os Municípios de Curitiba e Pinhais, que este

assunto deveria ser resolvido de forma compartilhada com o IPPUC, a

SANEPAR e ambos os Municípios.

Continuou a relatar no ofício, que, em 29 de março de 1972,

portanto, há quarenta anos, por força do Decreto n. 116, expedido pelo Prefeito

de Curitiba, Jaime Lerner, foi determinado ao IPPUC ”elaborar projeto para

posterior execução das obras necessárias à instalação de ponto de recreação e de

interesse turístico da cidade”. Deste modo, em 18 de março de 1992, mediante

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Lei n. 9.906, foi criado o Município de Pinhais, com território desmembrado do

Município de Piraquara.

Ademais, informou que há alguns anos, em gestões anteriores, o

Município de Pinhais construiu um sistema de captação de águas pluviais

ligado ao Rio Atuba. Asseverou que cumpre à SANEPAR atuar preventiva e

corretivamente na disposição de esgotos no âmbito do Estado do Paraná. Sendo

assim, a Prefeitura Municipal de Curitiba determinou ao Município de Pinhais

para que no prazo de 30 dias efetuasse levantamento prévio sobre a necessidade

de obras e respectivos custos envolvidos, a fim de contribuir para a solução do

problema.

Na data de 12 de julho de 2010, a SANEPAR encaminhou ofício à

Promotoria, no qual informou que a tubulação em questão tratava-se da Galeria

de Água Pluvial – GAP, proveniente do Município de Pinhais, e, que este

município, não era atendido com rede coletora de esgoto, embora, contemplado

no Programa Expansão da SANEPAR. Deste modo, aduziram que, por se tratar

de lançamento de esgoto de forma irregular em tubulações de GAP, caberia à

Prefeitura de Municipal de Pinhais orientar os munícipes para uso de soluções

individuais de tratamento através de fossa e sumidouro.

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, na data de 29 de julho

de 2010, encaminhou ofício à Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio

Ambiente, informando que, na data de 04 de setembro de 2008, encaminhou ao

Município de Pinhais o ofício n. 051/08-MARHS, o qual fora respondido em 11

de setembro de 2008. Destarte, na data de 19 de janeiro de 2009, encaminhou

ofício à SANEPAR, a qual respondeu, por meio do ofício n. DMA – 058/2009,

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que não existia previsão de implantação de rede coletora de esgotos para a

região do Município de Pinhais.

Em busca de uma solução administrativa para a questão, a

Secretaria Municipal do Meio Ambiente reuniu-se no local de lançamento do

esgoto, pelo Município de Pinhais, no Parque da Vilinha, com a Diretora de

Infra-estrutura do referido Município. A Diretora se comprometeu de que até o

mês de agosto de 2009 o problema estaria solucionado, tendo em vista

existência de projeto elaborado, e aprovado, de desvio do lançamento da rede

coletora de esgoto, dependendo sua execução do procedimento licitatório para

aquisição de manilhas, já em curso.

Em 24 de março de 2010, o Departamento de Recursos Hídricos e

Saneamento da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, tendo em vista a

persistência do lançamento de águas pluviais contaminadas com esgoto

sanitário, enviou o Ofício n. 032/2010 ao Secretário Municipal de

Desenvolvimento Sustentável do Município de Pinhais. Requisitou no ofício

providências no sentido de paralisação imediata do lançamento de águas

pluviais contaminadas com efluentes sanitários domiciliares no Rio Atuba, mais

especificamente, no local conhecido como Vilinha do Atuba, localizado no

Município de Curitiba. A SANEPAR foi notificada com Auto de Infração por

lançar esgoto sem o devido tratamento no Rio Atuba, divisa dos Municípios de

Curitiba e Pinhais.

Na data de 17 de agosto de 2011, a Promotoria de Justiça de

Proteção ao Meio Ambiente encaminhou ofício à SANEPAR, em que solicitou

novas informações acerca da rede coletora de esgoto. Na mesma data fora

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encaminhado ofício à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, em que

solicitava novas informações acerca da questão.

Na data de 24 de outubro de 2011, a Secretaria Municipal do Meio

Ambiente informou que fora realizada vistoria na Vilinha do Atuba, ao final da

Rua Marco Pólo, e que técnicos do Departamento de Recursos Hídricos e

Saneamento não constataram pontos de lançamento de efluentes no local,

dentro do Município de Curitiba.

Em 21 de setembro de 2011, a SANEPAR encaminhou resposta ao

ofício anterior, no qual informou que a Rua Marco Polo é atendida por rede

coletora de esgoto da SANEPAR em quase sua totalidade, contudo, na

continuação da rua, divisa com o Município de Pinhais, não há rede coletora de

esgoto.

No mês de março de 2012, a Promotoria de Justiça de Proteção ao

Meio Ambiente encaminhou ofício à SANEPAR, ao reclamante, à Secretaria

Municipal do Meio Ambiente, e à SANEPAR, a fim de que estes participassem

da audiência referente ao Procedimento Preparatório n. 0046.10.001062-1, em

trâmite na Promotoria, para analisar os danos ambientais ocorridos no Parque

Histórico de Curitiba, na data de 09 de abril de 2012 às 09h00.

Na data de 09 de abril de 2012, realizou-se audiência na

Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente de Curitiba, em que

estavam presentes o Promotor de Justiça, o representante da SANEPAR e da

Secretaria Municipal do Meio Ambiente, e, apesar de convocado, ausente o

representante da Secretaria Municipal de Obras Públicas do Município de

Pinhais. Fora estabelecido na audiência de que no prazo de 15 dias a Secretaria

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Municipal do Meio Ambiente procedesse vistoria no local, a fim de auferir a

regularização do lançamento de águas pluviais com contaminação de efluentes,

e a remoção da tubulação de drenagem que tem acarretado os danos ambientais

no Município de Curitiba. Ao representante da SANEPAR foi requisitado que

no prazo de 15 dias apresentasse cronograma de obras para a ampliação, e

projetos de implantação de rede coletora de esgotos domésticos para

atendimento da região em questão, notadamente, ao entorno do Parque

Histórico de Curitiba.

Na data de 27 de abril de 2012, a Secretaria Municipal do Meio

Ambiente encaminhou ofício à Promotoria de Justiça e Proteção ao Meio

Ambiente informando que foi emitido ofício à Prefeitura de Pinhais, e que

ainda não obteve resposta. Em reunião com Engenheiro e técnicos da

SANEPAR fora informado de que existe projeto de ampliação de rede coletora

de esgoto que atenderá a bacia que contribui neste Rio. Ademais, relatou que,

de acordo com o informado, os projetos de ampliação da rede coletora nessa

região, já estão prontos e sua implantação está prevista para 2013, com recursos

a serem definidos.

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, na data de 11 de maio

de 2012, enviou novo ofício, em que relatou ter realizado vistoria na Praça Max

Sesselmeir, popularmente conhecida como Vilinha do Atuba. Deste modo, foi

possível a constatação de que persiste o lançamento de efluentes sanitários, e

que não houve a retirada da tubulação de drenagem responsável pelo

carreamento dos efluentes.

Na data de 18 de maio de 2012, a SANEPAR encaminhou ofício à

Promotoria, comunicando acerca de nova vistoria realizada no Parque Histórico

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de Curitiba, em que foi constatado que a poluição do lago realmente está sendo

ocasionado por conta do lançamento de esgoto de forma irregular em

tubulações destinadas às águas pluviais. Outrossim, relatou que a região ainda

não é completamente atendida com rede coletora de esgoto da SANEPAR, e,

nestes casos, cabe aos responsáveis pelas edificações ainda não atendidas

buscar soluções individuais de tratamento, utilizando-se de fossas sépticas e

poços sumidouros, conforme orientação da Prefeitura Municipal. Ademais,

comunicou que foram concluídos os projetos básicos para implantação de rede

coletora na região, e que os projetos executivos serão desenvolvidos no decorrer

do ano de 2013. Estima-se que haverá necessidade de viabilização de recursos,

sendo que o início das obras se dará a partir de 2014, com conclusão para 2016.

Diante do exposto, faz-se necessário que o Município de Pinhais se

abstenha de lançar efluentes sanitários no leito do Rio Atuba, assim como, retire

a tubulação de drenagem responsável pelo carreamento do mesmo, e que a

SANEPAR realize a ampliação da rede coletora de esgotos na região.

II- DO DIREITO

A cada dia a humanidade busca meios mais adequados para se

viver, com o intuito de preservar o meio ambiente, garantindo dessa forma que

futuras gerações possam usufruir de um meio ambiente sadio, ecologicamente

equilibrado, como assim consagra a Constituição Federal brasileira, no artigo

225:

“Artigo 225 - Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

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essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público

e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações.

(...)

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio

ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a

sanções penais e administrativas, independentemente da

obrigação de reparar os danos causados. “

O Estado do Paraná, na edição de sua Constituição, dedicou

capítulo especial à questão ambiental, garantindo a defesa do meio ambiente e

da qualidade de vida de seus cidadãos.

“Artigo 1º - O Estado do Paraná, integrado de forma

indissolúvel à República Federativa do Brasil, proclama e

assegura o Estado democrático, (...) e tem por princípios e

objetivos:

(...)

IX – a defesa do meio ambiente e da qualidade de vida.

(…)

Artigo 207 - Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e essencial à

sadia qualidade de vida, impondo-se ao Estado, aos Municípios

e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

gerações presentes e futuras, garantindo-se a proteção dos

ecossistemas e o uso racional dos recursos ambientais.

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§1º Cabe ao Poder Público, na forma da lei, para assegurar a

efetividade deste direito:

IV - instituir as áreas a serem abrangidas por zoneamento

ecológico, prevendo a formas de utilização dos recursos naturais

e a destinação de áreas de preservação ambiental e de proteção

de ecossistemas essenciais;

IX - informar à população sobre os níveis de poluição e

situações de risco e desequilíbrio ecológico;

XV - proteger o patrimônio de reconhecido valor cultural,

artístico, estético, faunístico, paisagístico, arqueológico,

turístico, paleontológico, ecológico, espeleológico e científico a

sua conservação;

XVIII - incentivar as atividades privadas de conservação

ambiental;

§2º As condutas e atividades poluidoras ou consideradas lesivas

ao meio ambiente, na forma da lei, sujeitarão os infratores,

pessoas físicas ou jurídicas:

I - a obrigação de, além de outras sanções cabíveis, reparar os

danos causados”.

Insta ressalvar na esfera municipal o preceituado na Lei Orgânica

do Município de Curitiba:

“Artigo 11 – Compete ao Município prover a tudo quanto

respeitas ao seu interesse e ao bem-estar da população, cabendo-

lhe, em especial:

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(...)

XII – dispor sobre o controle da poluição ambiental;

(...)

Artigo 188 – O meio ambiente ecologicamente equilibrado é bem

de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

devendo o Município e a coletividade defendê-lo e preservá-lo

para as gerações presentes e futuras.”

A atividade poluente caracteriza-se como sendo uma apropriação

pelo poluidor dos direitos de outrem, em que a emissão poluente representa um

confisco do direito dos demais seres vivos a um ambiente sadio, livre de

qualquer poluição. Faz-se imperioso a análise das modalidades de reparação do

dano ecológico, em que, não basta apenas indenizar, mas fazer cessar a causa

do mal.

Conforme ensinamentos de SCARLATO & PONTIN:

“O termo poluição é usado quando o ritmo vital e natural em

uma área ou mais da biosfera é quebrado, afetando a qualidade

ambiental, podendo oferecer riscos ao homem e ao meio,

dependendo da concentração e propriedades das substâncias,

como a toxidade, e da característica do ambiente quanto à

capacidade de dispersar os poluentes, levando-se em conta não

só as consequências imediatas, mas também as de longo prazo,

tanto no ambiente como no organismo humano”. (SCARLATO,

Francisco Capuano; PONTIN, Joel Arnaldo. Nicho ao Lixo:

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ambiente, sociedade e educação. São Paulo: Atual Editora,

2006, p. 10 – 11).

Insta ressaltar entendimento de Cyro Eyer VALLE:

“Poluição ambiental pode ser definida como toda ação ou

omissão do homem que, pela descarga de material ou energia

atuando sobre as águas, o solo, o ar, causa um desequilíbrio

nocivo, seja ele de curto, seja de longo prazo, sobre o meio

ambiente”. (VALLE, Cyro Eyer do. Qualidade Ambiental:

ISO 14000. 5 Ed. São Paulo: SENAC, 2004).

A Lei Federal n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, foi criada com o

objetivo de coibir ações degradadoras do meio ambiente, em que define os

parâmetros a serem seguidos pelo Poder Público, e estabelece a Política

Nacional do Meio Ambiente.

“Artigo 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por

objetivo a preservação, a melhoria e recuperação da qualidade

ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições

ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses de

segurança nacional e proteção da dignidade da vida humana,

atendidos os seguintes princípio:

I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,

considerando o meio ambiente como um patrimônio público a

ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o

uso coletivo;

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(...)

Artigo 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e

interações de ordem física, química e biológica, que permite,

abriga e rege a vida em todas as suas formas;

(...)

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante

de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da

população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

(...)

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões

ambientais estabelecidos;

IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou

privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade

causadora de degradação ambiental.

(...)

Artigo 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela

legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das

medidas necessárias à preservação ou correção dos

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inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade

ambiental sujeitará os transgressores:

(...)

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste

artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência

de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio

ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério

Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor

ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao

meio ambiente”.

Ressalte-se o contido no § 1º do artigo 1° da Lei Estadual n. 6.513,

de 18 de dezembro de 1973, o qual estabelece que:

"Considera-se poluição qualquer alteração das propriedades

físicas, químicas e biológicas das águas que possa constituir

prejuízo à saúde, à segurança e ao bem estar das populações e

ainda, possa comprometer a flora e a fauna aquática e a

utilização das águas para fins agrícolas, comerciais, industriais

e recreativas".

A poluição hídrica constitui um dos mais graves problemas de

degradação ambiental da atualidade. A inescusável importância da água para a

existência humana evidencia que o homem deve se valer de todos os

instrumentos hábeis a tutelar esse recurso natural esgotável, mas

demasiadamente aviltado nos dias atuais.

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A poluição das águas causa graves problemas de saúde para o

homem, em que para cada real investido em saneamento básico, economiza-se

cinco reais com medicina curativa, conforme dados da Organização Mundial da

Saúde. Ainda segundo a OMS, 80% das doenças, e 65% das internações

hospitalares, são provenientes de problemas relacionados às doenças de

veiculação hídrica, tais como, cólera, disenteria, intoxicação alimentar, febre

tifóide, meningite, hepatites A e B, entre outras.

Os prejuízos decorrentes da poluição hídrica são imensos, em que,

além de comprometer a qualidade da água para abastecimento, ocorre a morte

de espécies aquáticas, além da proliferação de doenças. Outros fatores

negativos da poluição hídrica são o odor, a grande concentração de insetos, e a

conseqüente eutrofização (quando o esgoto é lançado nos meios aquosos, o

excesso de nutrientes provoca o crescimento de algas, impedindo a passagem

da luz e a transferência do oxigênio atmosférico para o meio aquático).

O lançamento de efluentes sem tratamento, ou com tratamento

inadequado, em um rio, prejudica consideravelmente o abastecimento público

da cidade a jusante, sendo que em alguns casos, a água captada nada mais é do

que esgoto diluído no rio, aumentando consideravelmente o custo do

tratamento ou forçando a captação de água de outro recurso hídrico.

Diante dos fatos expostos na exordial resta claro que o Município

de Pinhais é responsável pela poluição hídrica do Rio Atuba, tendo em vista, o

despejo irregular de esgoto dentro do Parque Histórico de Curitiba. Deste

modo, caberá a este a obrigação de reparar os danos causados ao meio

ambiente, os quais deverão ser dimensionados através de perícia. As causas

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mais freqüentes de poluição dos corpos hídricos são o lançamento de efluentes

domésticos, industriais e comerciais sem tratamento adequado.

Inescusável a alegação da SANEPAR, de que a região em comento

não é completamente atendida com rede coletora de esgoto da Companhia, o

que não permite a continuidade de degradação do meio ambiente.

O Município de Pinhais nem mesmo compareceu à audiência

realizada na Promotoria. A inércia do mesmo deve ser compreendida como

conduta ativamente ilegal, pois tal Município reitera a sua ilegalidade dia após

dia, assumindo os riscos de sua conduta inadequada e criminosa. Ignora, assim,

completamente a coletividade, e não há preocupação alguma em regularizar a

situação.

Deste modo, necessário frisar que a conduta dos demandados

enquadram-se no tipo penal previsto no artigo 54 da Lei 9.605/98:

“Artigo 54 - Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

§ 2º Se o crime:

I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;

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II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;

III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade;

IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;

V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.”

Resta claro que a conduta de ambos demandados ofende as

legislações ambientais brasileiras, e fere, sobretudo, um dos princípios mais

importantes do Direito Ambiental, qual seja, o princípio ao Meio Ambiente

Ecologicamente Equilibrado e Essencial à Sadia Qualidade de Vida.

III – DA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR

O artigo 12, da Lei 7.347/1985, é claro ao elencar que “poderá o juiz

conceder mandado liminar com ou sem justificação prévia em decisão sujeita a agravo”.

A doutrina brasileira tem comumente entendido que para a

concessão de mandado liminar faz-se necessária a presença de dois requisitos

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básicos, quais sejam, o “fumus boni juris” e o “periculum in mora”. Conforme

demonstrado nos fatos, tanto a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, quanto

a própria SANEPAR, são uníssonos em afirmar a ocorrência de poluição hídrica

no Rio Atuba, decorrente do despejo de esgoto irregular junto ao Parque

Histórico de Curitiba, advindo do Município de Pinhais.

Todo esse quadro revelado delineia prova inequívoca da

verossimilhança de que ambos demandados são efetivos poluidores, os quais

mesmo depois das providências ministeriais realizadas insistem em perpetuar

com a poluição. Deve-se frisar que os demandados têm todo o conhecimento da

poluição e tem toda a condição de supri-Ia, não se podendo admitir tamanho

descaso com o meio ambiente.

O “fumus boni iuris”, que é a existência e ocorrência do direito

substancial invocado por quem pretende a segurança, está cabalmente

demonstrado pelos documentos que acompanham a presente exordial, e pela

legislação citada. Nesse diapasão, cabe concluir existir o “fumus boni iuris” de

que os demandados estão reiteradamente descumprindo à legislação ambiental

e, ao que se apresenta, não têm interesse em alterar essa conduta.

Vale ressaltar que a importância conferida ao meio ambiente pelo

ordenamento jurídico é tal que, a exceção da regra geral, sua tutela é promovida

de modo preventivo, pois objetiva evitar que danos ambientais ainda maiores

venham ocorrer no decurso do processo.

O “periculum in mora” consiste no fato de que se for possibilitado

aos demandados a continuação da conduta danosa enquanto perdurar o

processo estar-se-á permitindo a continuação da poluição do Rio.

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Deste modo, resta claro que o “periculum in mora”, por sua vez, é

patente, está afeto ao próprio meio ambiente e consubstancia-se no dano sofrido

rotineiramente pelos munícipes e gerações futuras.

Preleciona Celso Antônio Pacheco Fiorillo:

“É por via da liminar, assecutória ou satisfativa, que se

alcançará, ainda que provisoriamente, a certeza de que o

processo não será um mal maior do que já se constitui, na

medida em que a demora da entrega da tutela jurisdicional não

se constituirá um mal maior ou mais nefasta que a própria

caracterização do dano ao meio ambiente. Por isso, urge como

regra necessária e política a utilização cada vez maior da tutela

liminar em sede de proteção efetiva de direito difusos como um

todo.”

Disso resulta a necessidade da concessão da medida liminar,

inaudita altera pars, sem necessidade de justificação prévia, determinando ao

Município de Pinhais que efetue a regularização do lançamento de águas

pluviais com contaminação de efluentes e remoção da tubulação de

drenagem, conforme estabelecido no Termo de Audiência, na data de

09/04/2012.

Requer-se ainda a Vossa Excelência, em concedendo a liminar,

que determine a expedição de ofício ao Comando Geral da Polícia Militar do

Paraná para que fiscalize o cumprimento da ordem, apontando ao juízo

eventuais violações para a apuração de multa diária e a requisição de força

policial, se necessário.

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IV- DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A inversão do ônus da prova em sede de Ação Civil Pública

Ambiental, justifica-se pelo fato de o interesse público tutelado – reparação de

dado ambiental – exigir que as questões de prova sejam desde sempre definidas

sob pena da demora no trâmite implicar em agravamento da lesão.

O processamento na forma desse instrumento é perfeitamente

cabível no caso em questão. O artigo 21 da Lei 7.347/85 determina que se

aplicam à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no

que tenha cabimento, os dispositivos do Código de Defesa do Consumidor.

O artigo 6º, inciso VIII, da Lei 8.078/90, é expresso ao admitir a

inversão do ônus da prova em causa fulcrada no Código de Defesa do

Consumidor, na medida em que é hipossuficiente o demandante, segundo as

regras comuns da experiência como bem esclarece o texto legal, in verbis:

“Artigo 6º - São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a

inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando,

a critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele

hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência; ”

Tal dispositivo, certamente, tem aplicação também ao âmbito de

proteção ao meio ambiente, tendo em vista que, o Ministério Público ao

ajuizamento de ações civis públicas está em franca desvantagem perante os

demandados.

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Pertinente a alusão à jurisprudência a seguir:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA

AMBIENTAL - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA -

POSSIBILIDADE - ANTECIPAÇÃO DE HONORÁRIOS

PERICIAIS PELO RÉU DEVIDA - ART.18 DA LEI 7.347/85

- ISENÇÃO CONCEDIDA AO AUTOR - RECURSO

DESPROVIDO 1. É cabível a inversão do ônus da prova

em Ação Civil Pública Ambiental. 2. O benefício de isenção

de antecipação de custas em Ação Civil Pública, é dado para a

celeridade e efetividade da ação, que visa proteger direitos da

sociedade como um todo, contra danos que afetam a todos

cidadãos, não havendo qualquer lógica em estender este benefício

aos réus da ação, dando, de certa forma, incentivo ao dano

contra o meio ambiente”. (TJPR - 4ª C.Cível - AI 0464903-8 -

Londrina - Rel.: Desª Regina Afonso Portes - Unânime - J.

14.04.2008)

V – DOS DEMAIS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se:

I - a concessão da liminar nos moldes anteriormente delineados e sua

confirmação;

II - a citação dos demandados, com o permissivo do artigo 172, parágrafo 2º, do

CPC, para querendo, responder e acompanhar os termos da presente, sob pena

de serem considerados como verdadeiros os fatos nesta alegados;

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III – o deferimento da inversão do ônus da prova nos moldes anteriores;

IV - a condenação dos réus em obrigação de fazer, determinando ao Município

de Pinhais que efetue a regularização do lançamento de águas pluviais com

contaminação de efluentes e remoção da tubulação de drenagem; determinando

à SANEPAR que apresente cronograma de obras para a ampliação, e projetos

de implantação de rede coletora de esgotos domésticos para atendimento da

região em questão, notadamente, ao entorno do Parque Histórico de Curitiba.,

bem como, que apresentem Plano de Recuperação Ambiental, devidamente

aprovado pelo Instituto Ambiental do Paraná – IAP, pelo dano causado, tudo

sob pena de multa diária por descumprimento, em valor a ser arbitrado por

Vossa Excelência a ser recolhido ao Fundo Estadual do Meio Ambiente –

FEMA;

V - a condenação dos réus em obrigação de não-fazer, em se absterem da

prática do lançamento irregular de águas pluviais, nos moldes atuais, bem

como, de esgoto doméstico;

VI – a condenação dos réus por outros danos que venham a ser constatados por

ocasião da perícia judicial, porém em decorrência dos fatos noticiados na

presente petição, e que tenham atingido o Parque Histórico de Curitiba;

VII – que todas as intimações do Ministério Público sejam feitas

pessoalmente, na pessoa do Promotor de Justiça em atividade na Promotoria

de Proteção ao Meio Ambiente, na Avenida Marechal Deodoro, nº 1028, 10º

andar, nesta Capital, conforme dispõe o artigo 236, §2º, do CPC;

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VIII - protesta-se ainda por todos os meios de prova em direito admitidas,

inclusive depoimento pessoal dos representantes legais dos demandados, prova

pericial, documental e testemunhal;

IX - a procedência da ação em todos os seus termos, condenando-se o

demandado ao pagamento das despesas processuais e verbas honorárias de

sucumbência, cujo recolhimento deste último deve ser feito ao Fundo Especial

do Ministério Público do Estado do Paraná, criado pela Lei Estadual n. 12.241,

de 28 de julho de 1998 (DOE n. 5302, de 29 de julho de 1.998), nos termos do

artigo 118, inciso II, alínea “a”, parte final, da Constituição do Estado do Paraná.

X - a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, nos

termos do artigo 18 da Lei n. 7.347/85.

Atribui-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Nestes termos,

Pede Deferimento.

Curitiba, 05 de outubro de 2012.

SERGIO LUIZ CORDONI

PROMOTOR DE JUSTIÇA