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BACURI Estudo utiliza fruto para o combate ao câncer ENTREVISTA Fábio Rocha explica os desafios das energias renováveis FARINHADA Atividade é objeto de estudo no interior do Piauí ISSN 1809-0915 Publicação Científica da FAPEPI Teresina-PI | Edição nº 41 | Ano XIV | Fevereiro 2017

Publicação Científica da FAPEPI€¦ · na Universidade Federal do Piauí (UFPI), sobre a impor-tância das farinhadas para a identidade cultural do povo piauiense, uma conversa

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BACURIEstudo utiliza fruto para o

combate ao câncer

ENTREVISTAFábio Rocha explica os desafios

das energias renováveis

FARINHADAAtividade é objeto de estudo

no interior do Piauí

ISSN 1809-0915

Publicação Científica da FAPEPI

Teresina-PI | Edição nº 41 | Ano XIV | Fevereiro 2017

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SAPIÊNCIA 41 Publicação Científica da FAPEPI4

José Wellington Barroso de Araújo DiasGovernador do estado do Piauí

Margarete de Castro CoelhoVice-Governadora do estado do Piauí

Francisco Guedes Alcoforado FilhoPresidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí - Fapepi

Albemerc Moura de MoraesDiretor Técnico-Científico da Fapepi

Wellington Carvalho CamarçoDiretor Administrativo-Financeiro da Fapepi

Nº 41 Ano XIII / Fevereiro de 2016ISSN – 1809-0915

CONSELHO EDITORIALAcácio Salvador Véras e Silva

Adalberto Socorro da SilvaAlbemerc Moura de Moraes

Ana Regina Barros Rêgo LealEdvaldo SagriloEvaldo Hipólito

Francisco Guedes Alcoforado FilhoFrancisco Marcelino Almeida de Araújo

João Batista LopesJosé Milton Elias de MatosLívio César Cunha Nunes

Orlando Maurício de Carvalho BertiRaimundo Isídio de Sousa

Regis Bernado Brandim Gomes

COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO:Michelly Samia

EDITOR-CHEFE:Allan Campêlo Pinheiro

REDAÇÃO:Allan Campêlo Pinheiro

Daniele Lima (estagiária)Jhussyenna Reis

Luiz Carlos JúniorMário David Melo

Thicyanne Brito

FOTOS:Daniele Lima

Jhussyenna Reis Lilian Brandt

Luiz Carlos Júnior Marcelo Cardoso

Mário David Melo

REVISÃO DOS TEXTOS:Luciana Rodrigues Rocha

PUBLICIDADE:Patrícia Carvalho

CAPA:Luiz Carlos

DIAGRAMAÇÃO:Luiz Carlos

IMPRESSÃO E ACABAMENTO:Timonense

TIRAGEM:10 mil exemplares

Publicação Trimestral

EXPEDIENTE

Entrevista: Coordenador do Laboratório de Eficiência Energética da UFPI explica desafios e benefícios das energias renováveis no Brasil7

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Farinhadas são objeto de estudo de pesquisa piauiense10

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28 Estudo investiga potencial do babaçu para a produção de biodiesel

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26 34Bacuri pode ser alternativa no combate ao câncer

Palavra-chave: Dr. Ney Paranaguá fala sobre startups

Realização Fapepi, artigos, teses e dicas de livros.

E mais...

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Sum

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Piauí no centro da produção de energia eólica do país

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SAPIÊNCIA 41 Publicação Científica da FAPEPI6

Mesmo sendo um assunto bastante discutido, as Ener-gias Renováveis parecem constituir um amplo campo de estudo que se mostrou, por vezes, como uma promessa distante, futurista e por que não dizer, irrealizável. De tec-nologias de alto custo ao desenvolvimento de pequenos projetos individuais, a concretização do ideal de uso desse tipo de energia parece, agora, passar apenas pela necessi-dade de um maior envolvimento das entidades de pesqui-sa e dos governos como incentivadores da área.

De acordo com informações divulgadas este ano pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a distri-buidora piauiense, Eletrobrás Piauí, ocupa apenas o 23º lugar, entre 31 empresas, no ranking nacional de dis-tribuição contínua de energia elétrica, o que contribui para problemas na instauração de grandes empresas e a manutenção de pequenos empreendimentos. Diante de um contexto tão desfavorável no que se refere a forma convencional de energia, este pode ser um bom momen-to para observamos novas possibilidades.

Porém, seria ingenuidade acreditar que uma popu-lação que desconhece o potencial do seu estado e país pudesse comprar uma ideia que parece retirada de uma realidade estrangeira. Foi pensando exatamente neste conteúdo informacional que a equipe da Sapiência, ma-peou estudos que buscam comprovar as chances do Piauí de se desenvolver a ponto de realizar o sonho de não mais perder investimentos por conta de problemas com o abas-tecimento de energia.

Em nossa entrevista, trouxemos uma conversa com o professor doutor Fábio Rocha, que falou sobre as poten-cialidades brasileiras e piauienses em Energias Renová-veis. No dossiê, explanamos sobre as pesquisas piauien-ses que tratam das três principais fontes de energias limpas, Eólica, Solar e o Biodiesel, destacando ainda projetos de implantação de novas tecnologias nesta área em nosso estado.

Nas matérias gerais, trouxemos um estudo realizado na Universidade Federal do Piauí (UFPI), sobre a impor-tância das farinhadas para a identidade cultural do povo piauiense, uma conversa com a professora de canto, Paula Molinari, que coordenou a primeira chamada internacio-nal da Fapepi, a Researcher Connect, e ainda uma interes-sante pesquisa sobre as propriedades do bacuri auxilian-do no combate ao câncer. Na sessão “Palavra-Chave”, você confere um bate-papo com Ney Paranaguá, que explica o que é preciso saber sobre Startups.

Nós da Fapepi, em especial a equipe da revista Sapiên-cia, desejamos a todos uma ótima leitura.

Allan Campêlo PinheiroEditor-Chefe

UM SONHO POSSÍVELEdito

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Fapepi PI

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AO LEITOR

Para críticas, sugestões e contato:

[email protected]

Av. Odilon Araújo, 372, PiçarraTeresina-PI • CEP 64017-280

Fone: (86) 3216-6090Fax: (86) 3216-6092

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Por Thicyanne Brito

Eficiência energética:mais, com menos

Foto: Thicyanne Brito

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Atualmente, já somos mais de 7 bilhões de pessoas em todo o mundo. Com o aumento da população, em sua maioria concentrada nas grandes cidades, cresce

a demanda por energia, e novas possibilidades começam a aparecer.

Os recursos naturais estão cada vez mais caros e es-cassos. A grande missão da sociedade, diante desse

cenário, é descobrir alternativas que satisfaçam as necessidades atuais sem prejudicar o futuro do planeta. Uma das soluções possíveis é alcançar a efi-ciência energética. Utilizar os recursos naturais disponíveis da melhor forma

possível, a fim de assegurar maior de-sempenho com menor consumo de energia, é o que propõe o pesquisador Fábio Rocha Barbosa. Durante entre-vista concedida à revista Sapiência, o professor explicou a importância da divulgação e aproximação do tema Efi-ciência Energética com a sociedade.

Ouve-se muito falar em eficiên-cia energética, porém muitas pessoas

ainda não compreendem esse termo. O que de fato é ser energeticamente eficiente?

É procurar aumentar a produ-ção consumindo menos energia. No Piauí, tudo ainda é muito recente. Percebe-se que o mercado ainda não pensa muito nisso, ainda se encontra em processo de amadurecimento. En-quanto que, no Brasil todo, já existem

Fábio Rocha Barbosa

Fábio Rocha Barbosa é natural de Fortaleza – Ceará, graduado em Engenharia Elétrica pela Universida-de Federal do Ceará (UFC), mestre e doutor em Engenharia Elétrica com ênfase em Sistemas Elétricos de Potência, professor da Universi-dade Federal do Piauí (UFPI), pre-sidente da Comissão Interna de Conservação de Energia, Subcoor-denador da Pós-Graduação em En-genharia Elétrica e Coordenador do Laboratório de Eficiência Energética da UFPI. É pesquisador no desen-volvimento de diagnósticos energé-ticos e classificação de ambientes (eficientes/não-eficientes).

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empresas especializadas para prestar serviço de consultorias em eficiência energética.

Criamos, dentro da Universidade Federal do Piauí (UFPI), um Progra-ma de Gestão Energética que vislum-bra o retrofit, que pode ser entendido pela troca de lâmpadas e condiciona-dores de ar não eficientes por eficien-tes e, no futuro, uma automação, que é quando os equipamentos só ligam quando alguém estiver presente no ambiente, por exemplo. Acredito que até a metade deste ano, já vai existir pelo menos três centros da nossa ins-tituição com esse programa de auto-mação em execução.

Por que o interesse na área de Efi-

ciência Energética? O que despertou sua atração por esse campo da enge-nharia elétrica?

Ainda na graduação, eu tive a oportunidade de estudar essa disci-plina com um professor muito bom que fundou no campus uma Comis-são Interna de Conservação de Ener-gia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele realizou um trabalho mui-to lindo e montou um excelente labo-ratório na instituição. Esse mesmo professor me indicou para um estágio em uma empresa de eficiência ener-gética. Ao chegar na UFPI, percebi que essa área ainda não estava muito desenvolvida no estado, então come-cei a aplicar alguns conhecimentos, tanto da parte acadêmica, como da prática que eu adquiri no mercado de trabalho e começamos a atrair alguns jovens que queriam realizar pesqui-sas também nessa área. Começaram a surgir os primeiros artigos e resulta-dos. Foi quando ganhamos o prêmio de sustentabilidade do Ministério da Educação (MEC). Esses alunos do la-boratório de eficiência energética se inscreveram no desafio, participamos da premiação e os alunos da UFPI ga-nharam os oito prêmios individuais em disputa, além da própria univer-sidade ser a vencedora do prêmio institucional. Isso impulsionou ainda

mais a equipe, pois com a premiação conseguimos estruturar o labora-tório, desenvolver mais pesquisas e avançar com o surgimento da nossa pós-graduação. Quando nossa pós começou nós ganhamos um caráter de pesquisa propriamente dito. Uma coisa foi ligando à outra e agora acre-dito que estamos bem posicionados para um futuro promissor.

A eficiência energética e as ener-gias renováveis formam os “dois pila-res” da política energética sustentável. É viável que o abastecimento energéti-co de um país seja gerado unicamente através das energias renováveis?

Não tem como substituir comple-tamente as energias firmes, como é o caso das hidrelétricas, por energias renováveis.O que pode haver é a com-plementaridade das energias. Então, ela dá aquele fator de segurança em termos de complementaridade, mas não dá para substituir totalmente. É o fato de se usar as energias renová-veis, quando da sua disponibilidade, ao tempo que se resguarda do uso das águas nos reservatórios das hi-drelétricas, o que pode ser uma gran-de vantagem em tempos de escassez de chuvas. Entretanto, por ordem de uma diminuição na produção da energia renovável (pouca radiação solar, pouco vento), a hidrelétrica ou termelétrica supre a demanda com segurança. No caso específico de Teresina, o fator solar é muito bom, então o sistema fotovoltaico é a me-lhor aplicação hoje em termos de renováveis em nossa região; embora em outros pontos do Piauí tenhamos parques eólicos. Para constar, vários anúncios, desde os leilões de renová-veis de 2015, apontam o Piauí como um dos grandes receptores de pro-jetos de Solar Fotovoltaica e Eólica no Nordeste. Alguns projetos ambi-cionando se tornarem os maiores do Brasil e até da América Latina.

É possível economizar adotando medidas simples, como substituição de

lâmpadas, entre outras. Ações como essa podem gerar uma redução de até quantos por cento na conta de energia?

Isso é muito mais uma questão cultural. A exemplo, temos o caso das lâmpadas, onde uma política pública “forçou” a eficiência energética. Uma vez que a lâmpada incandescente era muito barata e a lâmpada PL (Purpo-se Lamps) tinha um preço maior em comparação. Então, quando a pessoa ia substituir suas lâmpadas comprava a mais barata, porque essa é a cul-tura que nós temos (comprar a mais barata), não se pensava em um in-vestimento em eficiência energética. Ficava muito difícil mudar essa cul-tura e para isso acontecer teve que ter a ação de uma política pública, que agora impede a comercialização des-se tipo de lâmpada (incandescente); obrigando o consumidor a comprar a lâmpada eficiente. Então, quanto mais massificarmos essa cultura de sermos eficientes dentro das nossas casas, mais economia teremos nas despesas. Quando você trabalha só com iluminação e ar condicionado, a sua eficiência pode chegar a até 35% de sua conta de energia.

O desperdício de energia ainda é muito grande. Quais são os erros mais cometidos no dia a dia e que poderiam resultar em economia?

Em termos de residência, va-mos ter a dona de casa que lava uma pequena quantidade de roupas na máquina de lavar, em vez de lavar tudo de uma única vez; ao invés de passar toda a roupa de uma só vez, fica usando o ferro toda vez que vai precisar de uma roupa. É importante lembrar que cada período de aque-cimento desse ferro de passar é um desperdício de energia. Outra situa-ção muito recorrente é a geladeira com a vedação em falha, o que leva a consumir mais energia; esquecer lâmpadas acesas e usar o ar condicio-nado com a porta do quarto aberta são alguns dos erros que se comete muito. Ressalto que não adianta ter

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o equipamento eficiente se não fizer-mos o uso correto.

Existe alguma política pública que se mostrou adequada para promover a eficiência energética?

Volto a falar da lâmpada incan-descente. A política pública aplicada foi perfeita porque, enquanto isso não acontecia, a lâmpada não-eficiente ainda estava no mercado e era a preferida dos consumidores. A lâmpada incandescen-te comum tem uma eficiência da ordem de 8%, enquanto em uma lâmpada flo-rescente compacta o equivalente a essa ordem é de mais de 30%; essa última com preços de 10 a 20 vezes superiores à primeira (o preço era um empecilho). Então, a diferença é muito grande e ter conseguido colocar isso como uma polí-tica pública foi um avanço para o Brasil.

Que caminhos garantem a sus-tentabilidade energética de um país

como o Brasil, que consome cada vez mais? Estamos nesse caminho?

Planejamento. Eu sei que o Minis-tério de Minas e Energia mantém a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que faz os planos decenais, planos para o futuro e possui um caderno que é ex-clusivamente para eficiência energéti-ca. Então, esse planejamento não pode parar em termos de execução. Acredito que ainda falta esse último link: levar do planejamento à execução com mais firmeza. Dessa forma, teremos produ-ção de energia abundante, crescimen-to, economia fortalecida; não podemos desvincular uma coisa da outra. Quan-do tudo isso se alinhar, teremos um país que cresce sem problemas energéticos.

Para que possamos visualizar este ambiente. O que seria, por exemplo, uma cidade sustentável?

A cidade sustentável é a cidade que consegue equilibrar os gastos de ener-

gia com relação a sua produção. Ela não derruba a produção, ela consegue manter seu meio de vida sem suplan-tar a questão energética. É uma cida-de que investe na cultura da eficiência energética, da energia renovável, que se preocupa com questões de políti-cas públicas que envolvam isso. E que mostre para a sua população que está se importando com ela, oferecendo também a sociedade a oportunidades de usufruir desses conceitos tanto de eficiência energética quanto de energia renovável.

Qual é o grande desafio da efi-ciência energética no Brasil?

Vencer a questão cultural, pois quanto mais falarmos dessa cultura, mas isso vai desenvolver. É muito gos-toso se ouvir “eficiência energética”, mas a cultura, os hábitos têm de pegar e isso é melhor para o Brasil, para as institui-ções, empresas e para nossas casas.

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Professor Fábio Rocha foi o vencedor do “Desafio da Sustentabilidade” organizado pelo Ministério da Educação

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Por Luiz Carlos Júnior

Pesquisa mostra a importância das farinhadas na formação da identidade de

moradores da região de Picos

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Projeto apoiado pela Fapepi foi realizado no município de Serra do Tanque.

No contexto atual, a globa-lização e a facilidade do acesso a outras culturas fazem com que a forma-

Moradora da Serra do Tanque em dia de farinhada.

ção da identidade do povo piauiense, especialmente das novas gerações, se distancie gradativamente das práticas enraizadas na cultura do Estado; so-

bretudo, aquelas ligadas às áreas rurais. Isso tem motivado estudos variados, que têm como objetivo preservar essas características identitárias do Piauí.

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Em um desses estudos, alunos do ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), sob a coordenação do professor Ms. Rodrigo Gerolineto Fonseca, investigam a importância da farinhada para a formação da identidade dos moradores da Serra do Tanque, localizada entre os municípios de Santana do Piauí e Picos, no sudeste piauiense.

Embora não seja uma ativida-de típica do Piauí, a farinhada faz parte, mesmo que em menor escala atualmente, da formação cultural do povo nordestino.

O projeto é apoiado pela Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Esta-do do Piauí (Fapepi), que concede bolsas de iniciação científica para os alunos que participam do grupo de pesquisa.

O coordenador do projeto des-taca que o interesse por investigar o tema surgiu com a descoberta de que um de seus alunos reside na Serra do Tanque e, ao visitar a região, o professor conheceu uma casa de farinha e achou interessan-te a alegria com que as pessoas rea-lizavam a atividade. Atualmente, o grupo de pesquisa é formado por quatro bolsistas e um pesquisador voluntário, que é justamente aquele que apresentou ao professor a ativi-dade realizada na Serra do Tanque.

O professor Rodrigo Geroline-to destaca que a atividade, tam-bém conhecida como “desmancha”, realizada entre os meses de junho e agosto, tem perdido adeptos na região, fato que coloca em risco a tradição da cultura regional. “A Serra do Tanque já abrigou cerca de trinta casas de farinha. No ano de 2016, apenas cinco delas realizaram a desmancha”, lamenta o professor.

Diferente da produção nas fá-bricas convencionais, mesmo as que utilizam técnicas artesanais, a farinhada constitui um bem da cul-tura imaterial. Trata-se de evento que congrega agricultores e seus fa-

miliares, vizinhos, amigos, poden-do complementar a mão de obra necessária com a contratação de trabalhadores diaristas. Elemento importante na composição da ren-da familiar, a farinhada estreita os laços sociais, permite a troca de ex-periências e preserva a cultura. A participação dos jovens é a garantia da transmissão deste saber às novas gerações.

“A farinhada permite o aprovei-tamento de produtos como o casca-lho e o leite (água usada na lavagem da massa) que são usados na ali-mentação de animais. Esta prática cultural tem sido um termômetro das condições de vida dos agricul-tores, além de contribuir para sua permanência no campo. Em geral, quando os produtores deixam de realizar a farinhada, significa que fatores econômicos ou climáticos têm afetado significativamente suas vidas”, afirma o professor Rodrigo Gerolineto.

O professor destaca que, por ter estas características, a atividade da farinhada deve ser observada com atenção. “Ao valorizarmos a cultura imaterial, estamos promovendo a afirmação dos portadores dos bens culturais como cidadãos e sujeitos históricos. A cidadania cultural é uma das dimensões da vida social capaz de promover empoderamen-to das pessoas a partir dos locais onde vivem”, conclui Gerolineto.

A pesquisa também se preocupa em apontar possíveis ações de valo-rização e proteção do bem cultural, em consonância com a Convenção da UNESCO de 2003, que prevê a salvaguarda dos bens imateriais e a sensibilização em nível local, na-cional e internacional, para que os bens culturais sejam valorizados. As tradições, saberes e expressões culturais constituem verdadeiros patrimônios das sociedades em todo o mundo. No caso da farinha-da da Serra do Tanque, existe uma gama de conhecimentos e compe-

tências pertencentes à dimensão da cultura intangível que servem à sustentabilidade da vida no campo. Por isso, também é um modo de se identificar e estabelecer o seu lugar no mundo através de ações criativas e inovadoras. Os instrumentos e as técnicas podem variar, o que é reve-lado pelas diferentes configurações dos aviamentos e nas adaptações dos instrumentos de produção.

Para conhecer a relevância deste bem cultural na formação da iden-tidade dos moradores da Serra do Tanque, a pesquisa tem abordado as histórias de vida dos farinheiros e ex-farinheiros e, de acordo com essa abordagem, é possível perceber a li-gação afetiva com este “saber fazer” que delimita episódios marcantes, como a aquisição de uma pequena propriedade ou o aprendizado, ain-da na infância, junto a mães, pais e avós, que desenvolveram essa cul-tura com outras gerações.

“As memórias acerca do passado de farinheiros e farinheiras trazem forte carga emotiva, e, por outro lado, preocupações com o futuro. As novas gerações já se dividem entre a vida na serra e o trabalho na cidade para sustentar suas fa-mílias”, afirma o professor Rodrigo Gerolineto Fonseca.

O coordenador destaca que com os depoimentos coletados duran-te a pesquisa será feito um docu-mentário, que pretende valorizar e promover este patrimônio imaterial brasileiro.

“O documentário não tem a pre-tensão de se destacar como obra ci-nematográfica, mas de popularizar a produção científica e estreitar os la-ços com a comunidade, retornando ao público o investimento feito em nosso trabalho. Trata-se de um es-forço em encontrar novas linguagens e suportes para comunicar a produ-ção acadêmica e coletivizar o acesso ao conhecimento. Para isso, temos ainda o apoio do Pibex e do Pibic Jr. do IFPI”, destaca o professor.

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Professor Ms. Rodrigo Gerolineto e os alunos que participam do grupo de pesquisa

R i s c o s à a t i v i d a d eDurante os estudos o grupo tem

identificado alguns aspectos que são determinantes na redução da ativi-dade na região da Serra do Tanque, como a redução da produção das ro-ças de mandioca, localizadas na cida-de de Marcolândia, devido à escassez de chuvas, e o aumento dos custos de produção.

Além disso, as mudanças caracte-rísticas dos processos de globalização agravam esse quadro. No plano eco-nômico, o encurtamento das distân-cias e a dinamização da economia regional, já que Picos é uma cidade polo, facilitam tanto as mudanças nos hábitos de consumo, como o ingresso de novos produtos concorrentes com a goma produzida na região.

“Observamos produtos expostos nas gôndolas de supermercados da

cidade de Picos e foi possível encon-trar goma fresca embalada a vácuo, vinda dos estados de Mato Grosso, Paraná, Paraíba e Pernambuco. A produção em escala feita por estas in-dústrias, as compras por impulso nos supermercados e a facilidade no pre-paro do alimento oferecem forte con-corrência à produção artesanal. Além disso, os produtores da serra devem arcar com o ônus do transporte à fei-ra livre, principal local de venda, ou entregá-la a atravessadores”, destaca o professor.

Já no plano cultural, a pesquisa constata que o crescimento urbano de Picos tem atraído os jovens com ofer-tas de trabalho, estudo e lazer. Assim, a formação destes jovens e seus pro-jetos pessoais se distanciam do ritmo da vida na comunidade rural, onde se

dá a transmissão geracional do bem imaterial. Ao mesmo tempo, a eletri-ficação permitiu a chegada da inter-net, vetor tecnológico impulsionador de novas práticas de consumo cultu-ral entre os jovens e novos padrões de sociabilidade.

Como possível solução para o pro-blema, o professor Rodrigo Geroline-to destaca a importância da farinha-da estar inclusa dentre as prioridades das políticas de desenvolvimento lo-cal e regional.

“Como medida de gestão, inclui-se, por exemplo, a possibilidade de estrei-tar os laços entre os produtores e os em-presários locais. O patrimônio imaterial assim protegido pode alcançar valor simbólico, ganhar visibilidade e gerar renda para a comunidade, estimulando a sua continuidade”, finaliza.

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Estratégias para o manejo de pragas e levantamento da entomofauna no sul do Piauí

O cerrado piauiense, inse-rido na última fronteira agrícola (MATOPIBA), destaca-se pelas altas pro-

dutividades o que só é possível com o uso de tecnologias apropriadas e uso correto dos insumos agrícolas, como os agrotóxicos. No entanto, o uso re-corrente e indiscriminado desses, tem acarretado sérios desequilíbrios ao agroecossistema, com destaque para a seleção de pragas resistentes a es-ses químicos, eliminação de inimigos naturais, contaminação do ambiente, intoxicação de animais, dentre outros.

O núcleo de pesquisa em ento-mologia, localizado na cidade de Bom Jesus (PI), possui parceria com empresas do setor produtivo e de insumos agrícolas. As pesquisas es-tão voltadas para o conhecimento da entomofauna e o manejo racional de pragas através da integração dos di-ferentes métodos de controle, dentro da filosofia do manejo integrado de pragas, com o principal objetivo de atender às demandas dos produtores e sociedade em geral.

Neste contexto, o grupo vem rea-lizando pesquisas no sul do Estado do Piauí, na busca de compreen-der a relação dos insetos com plan-tas cultivadas e a ocorrência natural dos insetos no ambiente. Dentre os estudos realizados, destaca-se a se-leção de linhagens de Trichogramma pretiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) sobre ovos de H. armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) em condições de labora-tório. Nesse estudo foi feita a seleção

de linhagens de T. pretiosum, deter-minando-se, os parâmetros biológi-cos, número estimado de gerações, porcentagem de parasitismo e efi-ciência de parasitismo em diferentes condições de temperatura, de modo a inferir a linhagem mais adaptada a ser utilizada no controle biológico de H. armigera nos cultivos do sul do Piauí. Além disso, o grupo vem rea-lizando o monitoramento para regis-trar a ocorrência de Trichogramma spp. durante o período de entressafra, com o intuito de identificar espécies de parasitoides endêmicos da região que possam ser mais efetivos no con-trole de insetos-praga considerando as condições de adaptabilidade.

Com a necessidade de trabalhos que apresentem repostas de cultiva-res de soja Bt e não-Bt sob estresse hídrico, bem como, o comportamento de herbivoria e oviposição de Chryso-deixis includens (Walker, 1848) (Lepi-doptera: Noctuidae), sob plantas sub-metidas ao estresse hídrico, um estudo vem sendo conduzido para investigar a interação inseto planta, na tentati-va de obter informações importantes, tanto para o manejo do solo, como na escolha do cultivar a ser utilizado em regiões semiáridas que tem quantida-de de chuva limitada e muitas vezes veranicos prolongados.

Dentre as medidas de controle de insetos-praga na cultura da soja, cabe ressaltar o uso do tratamento de se-mentes. Neste contexto o grupo tem desenvolvido trabalhos com o ob-jetivo avaliar o efeito do tratamento de sementes com inseticidas na di-

nâmica populacional das principais pragas da soja durante todo o seu ci-clo. Outro fator que pode auxiliar no manejo de pragas na cultura da soja é o conhecimento das interações inse-to-planta, principalmente mediadas por voláteis induzidos pela herbivo-ria. Dessa forma, estudos vêm sendo conduzidos para compreender essas interações e assim fornecer subsídios para o manejo sustentável de pragas nessa cultura.

Diante da necessidade do armaze-namento de grãos o grupo de pesquisa busca compreender o comportamen-to de importantes pragas associadas ao armazenamento de grãos, a exem-plo do gorgulho-do-milho, Sitophilus zeamais, uma das pragas mais co-muns do milho armazenado devido ao seu elevado potencial biótico.

Além desses estudos, também vem sendo realizado o levantamento da entomofauna em áreas nativas do sul do Piauí, com atenção dispensada à ocorrência de moscas-das-frutas e seus parasitoides.

O diferencial do grupo é a inte-gração das diversas áreas da entomo-logia, cujas pesquisas desenvolvidas hoje no sul do Piauí têm como obje-tivo difundir alternativas para o ma-nejo de pragas na agricultura, com-preender a dinâmica e eficiência dos métodos de controle, a interação en-tre os organismos e o comportamen-to das diferentes espécies de insetos que causam danos econômicos frente às novas tecnologias no contexto da agricultura de modo a pensar na prá-tica agrícola sustentável.

•Luciana Barboza Silva1 •Gleidyane Novais Lopes-Mielezrski2

1Professora Adjunta da Universidade Federal do Piauí; E-mail: [email protected] do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR - FAPEPI/CNPq); E-mail: [email protected]

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SAPIÊNCIA 41 Publicação Científica da FAPEPI14

Técnicas numéricas para a aplicação em projetos termofluidodinâmicos de reatores

VHTGR para a produção de hidrogênio

•Jussiê Soares da Rocha

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – [email protected]

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Os problemas ambientais do mundo atual fazem do de-senvolvimento sustentável uma questão de sobrevi-

vência. A redução no consumo de com-bustíveis fósseis é fundamental para que se alcance a sustentabilidade. Segundo Rocha (2011), a limitação de recursos hídricos, de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão mineral, próxi-mos aos principais centros consumido-res, dificuldades para o licenciamento ambiental para aproveitamento de re-cursos energéticos remanescentes e o constante crescimento da demanda de energia sugerem o desenvolvimento de fontes alternativas.

Nesse contexto a chamada “econo-mia do hidrogênio” aparece como uma alternativa promissora para o consumo de energia sem emissão de gases res-ponsáveis pelo efeito estufa para a at-mosfera (PENNER, 2006). Entretanto, o hidrogênio não é uma fonte primária de energia: ele deve ser produzido por fontes massivas de energia.

Por não emitir gases de estufa, a energia nuclear coloca-se como uma das fontes energéticas que podem ser utilizadas para produzir hidrogênio. Para isso, reatores que operem a tempe-raturas elevadas devem ser estudados e projetados. Nesse contexto, surge o Very High Temperature Gas-cooled Reactor (Reator Refrigerado a Gás de Muito Alta Temperatura), VHTGR, o qual apresen-ta-se como uma alternativa na produção de energia elétrica e hidrogênio. Sendo assim, considera-se importante a simu-lação computacional de possíveis even-

tos físicos em estado permanente no núcleo desse reator. Tendo em vista a ne-cessidade de se fazer diversos testes nos componentes de um reator nuclear, as ferramentas computacionais tornam-se indispensáveis, gerando principalmente, ganho de tempo e de qualidade na expe-rimentação. Um exemplo é o da análise termofluidodinâmica no núcleo de um reator: as equações governantes podem ser modeladas e resolvidas através de técnicas numéricas computacionais que, se bem ajustadas à situação, podem de-monstrar resultados satisfatórios.

A área nuclear, bem como outras áreas do conhecimento, tem consolida-do o uso de um ferramental matemático modelado em linguagem computacional para ganho de velocidade e desempenho em cálculos que vão desde os mais sim-ples até os de alta complexidade. Não se enxergam, na atualidade, testes de segu-rança e confiabilidade de centrais nuclea-res sem o uso de computadores, pois estes facilitam bastante na tomada de decisões pertinentes à área (ROCHA, 2011).

O trabalho com métodos numéricos exige sensibilidade por parte do progra-mador no tocante à adequação do méto-do escolhido à situação física proposta. É necessário conhecimento prévio (no caso de simulações que envolvem Flui-dodinâmica Computacional) de alguns itens-chave: tipo de escoamento e condi-ções de contornos são alguns desses. No entanto, um esquema numérico pode possuir instabilidades numéricas ine-rentes ao método, como as que surgem da utilização de operadores centrados para discretização espacial de termos

convectivos, por exemplo. Uma forma de se tratar tais instabilidades é a intro-dução de termos de dissipação artificial a fim de prover a estabilidade numérica necessária à convergência do esquema, viabilizando um melhor desempenho computacional do esquema numérico, acarretando soluções mais precisas.

O problema de análise termofluido-dinâmica com refrigeração a gás através de geometrias complexas (tais como a do núcleo de reatores nucleares), suge-re uma estreita analogia com a área de projetos aeronáuticos, nos quais as téc-nicas numéricas têm se revelado uma ferramenta indispensável para a resolu-ção destes problemas. Partindo do prin-cípio de que várias destas ferramentas já se encontram disponíveis, a ideia do presente projeto foi adaptar e aplicar al-gumas delas na análise do escoamento de gás hélio refrigerante, presente no núcleo do VHTGR. Com isso, objeti-vou-se obter códigos computacionais em linguagem de programação FOR-TRAN para estudos de escoamentos de gás em diversas geometrias, visando es-tudos preliminares do núcleo prismáti-co do VHTGR, através de contornos de densidade, velocidade, pressão, número de Mach e energia, fazendo-se o uso de uma técnica numérica amplamente utilizada em problemas aeronáuticos: o método de diferenças finitas aplicado ao algoritmo de Jameson e Mavriplis (1986) e aos modelos de dissipação arti-ficial isotrópicos escalares linear e não--linear de Pulliam (1986), bem como descrever características relacionadas à qualidade global da solução numérica.

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•Marcoeli Silva de Moura1, Lúcia de Fátima Almeida de Deus Moura1, Marina de Deus Moura de Lima1, Carolina Veloso Lima2, Priscila Ferreira Torres3, Camila Siqueira Silva Coelho4

1Professoras dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Piauí [email protected]; [email protected]; [email protected]

2Professora Substituta do Curso de Graduação em Odontologia da UFPI, Mestre em Odontologia UFPI; [email protected] em Odontologia UFPI; [email protected]

4Aluna de Graduação do Curso d e Odontologia da UFPI; [email protected]

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Fluoretação artificial de águas no Piauí

A fluoretação artificial de águas completou, em 2015, 70 anos de existên-cia. Trata-se da mais im-

portante medida de saúde pública para o controle da cárie dentária, e foi considerada pelo Centro de Con-trole de Doenças dos EUA como uma das dez grandes conquistas da saúde pública do século 20. É um método efetivo e comprovadamente seguro, conforme demonstram estudos eti-camente conduzidos em longo prazo (Rugg-Gunn & Do, 2012; Newton et al., 2015), e uma medida indispensá-vel no contexto brasileiro.

A concentração de fluoreto adi-cionado à água deve respeitar a con-centração ideal para cada região, se-gundo as médias das temperaturas máximas locais (Portaria 635/1975). Para o estado do Piauí, essa con-centração deve estar entre 0,6 e 0,8 mg F/L. Em Teresina, a fluoretação da água, executada pela empresa de águas e esgotos do Piauí (AGESPI-SA), teve início em 1978 e mante-ve-se constante até o ano de 1986, período em que foi interrompida, retornando em 1997 (Moura et al., 2005). Nesse mesmo ano, o gover-no estadual iniciou a fluoretação de água em Floriano e Parnaíba, os três únicos municípios com esse benefí-cio entre os 224 do Estado.

Em 2010, foi adquirido por meio do Edital 006/2009 – PPSUS/CNPq/FAPEPI um eletrodo íon específico acoplado a um analisador de íons que permite a análise da concentra-ção de fluoreto em soluções. O gru-po Cariologia e Flúor (CNPq/UFPI) desenvolveu pesquisas relativas ao heterocontrole da fluoretação no Piauí, ou seja, controle realizado por

instituição distinta da que fornece a água. O primeiro estudo realizado monitorou durante 10 meses (agosto de 2011 a maio de 2012) a fluoreta-ção dos municípios de Floriano, Par-naíba e Teresina. Foram analisadas 258 amostras de água, dessas 79% das provenientes de Teresina esta-vam dentro da faixa recomendada de concentração de flúor. Em Floriano, apenas 10% e Parnaíba não registrou nenhuma amostra dentro do limite aceitável.

Durante os anos de 2013 e 2014, foram realizadas pesquisas na cidade de Teresina avaliando a ingestão de fluoreto pela água e dieta. Foram co-letadas amostras de água da residên-cia de aproximadamente 140 crian-ças e todas as amostras apresentaram concentração de fluoreto dentro da faixa aceitável (Lima et al., 2015, Tor-res et al., 2016).

Na cidade de Parnaíba foram ana-lisadas amostras de água de vários pontos da cidade em três meses du-rante o ano de 2015 (julho, setembro e novembro). Na primeira coleta, todas as amostras analisadas (n=5) estavam com concentração inferior a recomendada pela Portaria. A AGES-PISA foi contatada para exposição das análises. Nas duas coletas seguin-tes percebeu-se uma variação na con-centração de fluoreto das amostras (n=10), sendo que a maioria (n=7) encontrou-se na faixa recomendada de 0,6-0,8 mg F/L ou próximo desse intervalo (n=2).

Apesar dos benefícios da fluo-retação da água para a saúde bucal, muitos teresinenses optam por con-sumir água mineral por vários moti-vos, como as constantes interrupções no fornecimento de água e a descon-

fiança por parte da população com relação à qualidade da mesma. A análise de nove marcas de água mi-neral comercializadas no município, demonstrou que apenas uma (mar-ca Prata) apresentou concentração de fluoreto suficiente para atuar no controle da cárie dentária - 0,6 a 0,8 mg F/L (Barros et al, 2009). Pesquisa domiciliar em amostra representati-va do município, com 300 chefes de família das classes A, B e C, mostrou que 14% consumiam água mineral, predominantemente das classes A e B (Portela et al., 2016).

A fluoretação da água de abas-tecimento é uma importante inter-venção de saúde pública. Como toda intervenção nesse campo, busca-se operar em torno da qualidade de ges-tão, de sustentabilidade econômica e de aceitabilidade social (Frazão et al., 2013), o que depende do conhe-cimento por parte da população dos benefícios e riscos da medida. Entre-tanto, Portela et al, 2016, mostraram que a maioria da população de Tere-sina-PI (93%) não tem conhecimento sobre a fluoretação da água de abas-tecimento público, especialmente os indivíduos pertencentes à classe C e que todos os indivíduos que pos-suíam conhecimento do benefício eram a favor dessa medida.

Portanto, faz-se necessário o fre-quente controle dos níveis de fluore-to nas águas de abastecimento públi-co, além da divulgação desse método, comprovadamente seguro e eficiente, para que a toda população seja real-mente beneficiada com essa medida. Além disso, é imprescindível que haja a implantação da fluoretação da águas de abastecimento em mais ci-dades do estado do Piauí.

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Por Allan Campêlo e Mário David Melo

O Piauí é conhecido pelo forte calor que incide em praticamente todo o seu território, porém o que

aparentemente é visto apenas como algo incômodo pode se tornar uma opção de eficiência energética. Ain-da em 2000, segundo dados do Atlas Solarímétrico do Brasil, publicado pela Universidade Federal de Per-nambuco (UFPE), parte do Piauí atingia oito horas, em uma escala de três a dez, referente à média anual de insolação diária. Em 2016, o Institu-to Nacional de Meteorologia (Inme-te), divulgou uma lista que coloca o

Piauí como um dos estados a regis-trar as maiores temperaturas do ano, em algumas cidades ficando acima de 40ºC, e ainda um dos menores ín-dices de umidade relativa do ar, che-gando a 19%, muito abaixo dos 60% tidos como ideal pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Apesar dos diversos cuidados que se tornam indispensáveis com essas condições, uma pergunta se torna inevitável: como tirar proveito de um clima tão hostil? Investimentos em Energia Solar despontam como a grande resposta. É o que explica o engenheiro Arlindo da Silva Pereira

Neto, presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Piauí. “O país possui um grande potencial para gerar eletricidade a partir do sol. Só para se ter uma ideia, a radiação so-lar na região mais ensolarada da Ale-manha, por exemplo, que é um dos líderes no uso da energia fotovoltaica (FV), é 40% menor do que na região menos ensolarada da Brasil. Segundo o Atlas Brasileiro de Energia Solar, diariamente incide entre 4.500 Wh/m2 a 6.300 Wh/m2 no país.”

Em novembro de 2016, o go-vernador Wellington Dias assinou decreto criando mais seis novas câ-

O sol que castiga também pode ajudar

Painel Fotovoltaico instalado em prédio de Teresina

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Média anual (em horas) de insolação diária.

maras setoriais no estado, entre elas, a de energias renováveis. O órgão tem caráter consultivo e proposi-tivo, sendo um elo entre o poder público e a iniciativa privada. Se-gundo Arlindo Pereira, dificuldades burocráticas causam a desistência de investimentos pelo setor empre-sarial. Com isso, a câmara também contribui para a sociedade na gera-ção de empregos. Mas, mesmo com as condições climáticas favoráveis, o uso da energia solar para geração de eletricidade ainda é pouco utilizado no Piauí, sendo registradas seis mil ligações. O custo inicial ainda é con-

siderado alto e há poucas linhas de crédito para esse fim. Portanto, Ar-lindo Pereira enfatiza que o desen-volvimento científico e tecnológico do setor aliado a desburocratização que a câmara pretende implemen-tar colocará o Piauí como destaque no uso de energia solar. “O estado do Piauí está com o maior projeto da América latina de Fazenda Solar. Além da autossuficiência energética, isto atrai outros investimentos estru-turais para o nosso estado que pode trazer o desenvolvimento de servi-ços associados e o desenvolvimento do trabalho, gerando emprego para

o nosso Estado. Como presidente da câmara pretendo trazer a energia so-lar para todos levando o painel so-lar para a nossa agricultura que hoje apenas sofre com o sol. Com proje-tos estruturados podemos transfor-mar o sertão em polos de produção por meio de poços de água com sis-tema solar e com isto reduzir o nosso déficit agrícola no setor de hortifrúti cultura que sofre com a falta d´água. Acredito que a energia solar precisa de mais incentivo e desburocratiza-ção do financiamento, pois com toda crise e dificuldade crescemos 300% no ano de 2016”, concluiu.

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Por Jhussyenna Reis

Energia solar pode revolucionar produção nas hortas comunitárias de Teresina

Uma energia é considerada re-novável quando os recursos naturais de sua origem são naturalmente reabastecidos.

Já a chamada energia limpa é aquela que não libera, durante seu processo de produção ou consumo, resíduos ou ga-ses poluentes geradores do aquecimen-to global. Agora imagine os benefícios de uma energia que é renovável e limpa ao mesmo tempo! Estamos falando da Energia Solar.

Foi pensando na possibilidade de utilizar uma fonte de energia com poten-cial em nosso Estado, que o professor Dr. Alexandre Miranda Pires dos Anjos, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), iniciou o desenvolvimento do que é, atu-almente, o primeiro Desidratador Con-vectivo Movido a Energia Solar do Piauí. O professor, que é doutor em Engenha-ria e Tecnologia Espaciais, foi convidado a integrar o estudo “Hortas Comunitá-rias: a possibilidade de desenvolvimento sustentável a partir da desidratação do coentro por meio da pesquisa e da ex-tensão”, coordenado pelo Prof. Me. Fábio Nóbrega (que atua no Centro de Ciên-cia Agrárias da UFPI). Conhecedor da tecnologia, o Dr. Alexandre, docente e pesquisador do Departamento de Física (CCN/UFPI) adaptou o sistema e teve a responsabilidade de desenvolver o equi-pamento desidratador dentro da realida-de piauiense.

“Aqui estamos trabalhando baseado na patente do pesquisador Dr. Gilberto Marrega Sandonato do Instituto Nacio-nal de Pesquisas Espaciais (INPE). Eu o conheci durante meu doutorado, onde

ele me apresentou esse equipamento. En-tão, ele é um parceiro nosso também, já que permanece nos auxiliando, pois tive-mos que fazer toda a adaptação para nos-sas condições climáticas e adaptação de latitude”, explicou Alexandre Miranda.

O desidratador foi planejado e teve seu primeiro protótipo construído em apenas seis meses, iniciados em janeiro de 2016. O grupo que atua no projeto envolve ainda a professora Maria Marlúcia Gomes do Nú-cleo de Estudos, Pesquisas e Processamen-to de Alimentos (NUEPPA/CCA/UFPI), onde são realizadas análises físico-quími-

cas dos produtos. O desenvolvimento de marca e identidade visual do produto final está nas mãos da professora Me. Adriana Galvão, artista multimídia e docente do curso de Artes Visuais (CCE/UFPI). Ela coordena o Projeto de Cerâmica Artística e Tridimensionalidade (PROCEART) que é parceiro no desenvolvimento do design das embalagens, e também é responsável pela criação de novos produtos, da parti-cipação do planejamento e execução do projeto ECODRYTec. Um aluno bolsista do curso de Engenharia Mecânica, através do Laboratório de Energias Renováveis

Com o desenvolvimento de sistema de desidratação, professor espera melhorias para horticultores piauienses

Primeiro Desidratador Convectivo Movido a Energia Solar do Piauí

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do Centro de Tecnologia (CT/UFPI), foi o responsável pela construção do painel so-lar e a câmara de desidratação com auxílio da marcenaria da universidade. Os recur-sos para a construção foram conseguidos pelo apoio da PRPPG/UFPI e da unidade de manutenção da UFPI.

No Piauí, foi criado no ano de 2015, o Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Energia Solar (GIPES). Trata-se de um grupo de pesquisa cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-lógico (CNPq) e composto por pes-quisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e do Instituto de Edu-cação Tecnológica do Piauí (IFPI).

O professor Albemerc Moura de Moraes, que é doutor em Ener-

gia pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e Diretor Técnico da Fapepi, é o atual líder do GIPES no Piauí, sendo o seu vice-líder o tam-bém professor Marcos Antônio Ta-vares Lira, que por sua vez é Doutor em Desenvolvimento e Meio Am-biente (UFPI).

O objetivo principal do Grupo é realizar pesquisas interdisciplinares na área de energia solar, colabo-rando diretamente para o desen-

volvimento do Estado e garantin-do o melhor aproveitamento desse potencial energético limpo. “Uma das primeiras ações que realizamos através do GIPES foi o II Workshop Piauí Solar e I Seminário de Pes-quisa em Energia Solar no estado. Também vamos instalar sistemas de energia solar na UFPI e estudar o sistema solar implantado no cam-pus do IFPI em Floriano”, comentou Albemerc Moraes.

O Desidratador de Alimentos é formado por um coletor solar que tem a função de capturar os raios solares através de uma superfície absorvedora e transfere essa energia para o ar. Assim, o ar é aquecido e por convecção ele na-turalmente é conduzido para a câmara onde ficam os alimentos acondiciona-dos em prateleiras. Válvulas estrategi-camente posicionadas na base do painel e na câmara de desidratação permitem regular a vazão de ar, a temperatura, as-sim como a taxa de desidratação. “Isso é muito interessante porque existem ou-tros processos onde o alimento recebe a radiação direta do sol e, nesse caso, eles acabam perdendo muitos nutrientes, outra forma que é feita usa a secagem em ambiente aberto, mas que também não permite o controle do processo além de muito mais demorado”.

Grande parte das frutas, hortaliças, carnes e peixes podem ser submetidos à desidratação. O foco do projeto nes-sa primeira etapa é o coentro e a ce-bolinha. Isso porque esses dois produ-tos se apresentam como os principais trabalhados nas hortas comunitárias de Teresina, que é o campo de ação do projeto. É importante entender que cada produto tem um tempo e uma temperatura adequada para a retirada de água dele, ou seja, para permanecer na câmara de desidratação. Por exem-plo, no caso do coentro e cebolinha, são necessárias cerca de 6 horas em uma temperatura entre 35°C a 40°C. Já no caso de trabalhar com as frutas é necessário temperaturas acima de 60°C. Os primeiros testes do equipa-mento registraram temperaturas de até 65,7° no interior da câmara, o que

indica a possibilidade de desidratação de uma ampla gama de produtos.

“No projeto, fizemos um levanta-mento e apuramos que as perdas de pro-dutos por conta das condições climáti-cas estão em torno de 20% e 25%. Um coentro no estado normal dura cerca de uma semana condicionado na gela-deira, e isso considerado um condicio-namento correto, porém quando você desidrata esse produto, a durabilidade dele é de anos. Então, além de você não perder esse produto, você evita os pre-juízos de tempo de trabalho, bem como perda de adubo e de água. Além de tudo é um processo que agrega valor ao pro-duto final também, já que nos processos convencionais eles utilizam gás GLP e na desidratação solar você não precisa de energia elétrica, nem combustível fóssil”, explicou o professor Alexandre.

Dr. Alexandre explica que uma das dificuldades para aplicar a tecnologia é que não existe mão de obra especializa-da para o trabalho com energia solar, por isso, basicamente tudo foi desenvolvido com recursos humanos da própria aca-demia, e também, por empresas de ra-

mos diversos para execução de peças es-pecíficas. “Por exemplo, um serralheiro não vai deixar de fabricar o seu portão, que já é um produto usual, para se de-dicar a construir um painel solar. Essa é uma das grandes dificuldades que temos aqui em termos de mão de obra”.

EQUIPAMENTO DESIDRATADOR MANTÉM NUTRIENTES E AGREGA VALOR AOS PRODUTOS

PESQUISADORES SE ORGANIZAM PARA INCREMETAR ESTUDOS NA ÁREA DE ENERGIA SOLAR

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Iniciada em 2012 a pesquisa “Mapeamentos dos recursos eó-licos no Piauí para estimativa de produção de energia” do Prof. Dr. Marcos Lira, traz um levan-

tamento das áreas propícias para im-plantação de estações eólicas no Estado.

Ventos que impulsionam o desenvolvimento

Pesquisador aponta que o Piauí deve se tornar o maior produtor de energia eólica do país

O Piauí foi dividido em 19 regiões interpoladas e traçou-se a curva de ve-locidade do vento ao longo do dia e ao longo do ano, para isso a pesquisa cole-tou dados de 2010 do Instituto Nacional de Metrologia (INMET). A proposta foi listar cidades ou regiões com potencial,

com potencial razoável e aquelas sem possibilidade de gerar energia eólica.

No mapa ao lado, as áreas em verde representam as regiões mais favoráveis, ou seja, com maior velocidade de vento, as áreas em amarelo estão num nível in-termediário, porém não estão descartadas

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Por Daniele Lima

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como geradoras de energia eólica e por fim, as áreas em vermelho apresentam o menor nível de velocidade do vento.

O litoral e o sul do estado revela-ram-se as áreas mais favoráveis para receber os gigantes aerogeradores. Se-gundo o Prof. Marcos Lira, existem algumas condições ideais para que os parques eólicos sejam implantados em determinadas regiões: os ventos devem ter boa velocidade, serem constantes e na mesma direção.

O professor ressalta que não apenas nas zonas litorâneas os aerogeradores tem bom aproveitamento de energia, como se pensava há um tempo, a prova disso é o Complexo Eólico da Chapada do Piauí, localizado na região sudeste, nas cidades de Simões, Marcolância, Padre Marcos e Caldeirão Grande. O complexo possui mais de 440 torres e tem capacidade de gerar 436 MW (Me-gawatts). Esse número supera, e muito, os quase 90 MW gerados em Parnaíba, se somarmos todos os complexos pre-sentes por lá. Toda a energia eólica hoje produzida no Estado tem capacidade de abastecer cerca de 700 mil pessoas.

“A cidade de Marcolândia está a aproximadamente 750m acima do nível do mar, ou seja, ela possui valores de vento excelentes”, explica.

A tendência de superação na produ-ção de energia a cada novo parque ins-talado se reflete na autorização de um novo complexo que irá funcionar no mu-nicípio de Pio IX. Segundo o professor esse parque vai gerar mais energia que os Complexos da Chapada do Piauí e de Parnaíba juntos, “podendo chegar a ser o maior completo do país”, acrescenta.

O objetivo da pesquisa agora é cons-truir uma espécie de Atlas Eólico para o Piauí, como acontece em outros estados como Ceará e São Paulo. Esse docu-mento funcionaria como um mapa para que empresas conheçam as característi-cas e minúcias dos ventos no Estado, servindo assim como uma importante fonte de informações.

“O Piauí hoje é um dos estados que mais investem em energia eólica e pos-sivelmente em 2019 ele será o maior

produtor desse tipo de energia com algo em torno de 10 a 12% de tudo que é produzido no país, principalmente graças a essa expansão que está acon-tecendo no sul do estado. Na pior das hipóteses ficaremos em segundo lugar”, completa o professor.

Já na pesquisa “Estimativa da capaci-dade de geração de energias solar e eóli-ca a partir do processo de mineração de dados”, a ideia é conseguir prevê a quan-tidade de energia que pode ser produzi-da com bases em cálculos de medição do vento, essa pesquisa está em andamento.

“Supondo que medíssemos a veloci-dade do vento durante dois meses, logo após esses dois meses, qual seria a ener-gia produzida nos três dias seguintes? Ou seja, usando dados já conhecidos de determinado período de tempo”, explica o Prof. Marcos. A mineração de dados é uma técnica recente e muito usada em cálculos com estimativas.

Os processos descritos formam ago-ra o futuro da “catalogação” dos ventos piauienses, recurso que se mostra im-portante para o desenvolvimento de um potencial concreto do Estado.

Mapa do estado do Piauí mostrando os valores de velocidade média do vento estimados a 80 metros.

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Um fato curioso observado pelo professor é o fato de que no período mais seco do ano no Esta-do, ou seja, quando as hidrelétricas não conseguem gerar todo o seu potencial energético coincide com

o período em que os ventos estão mais fortes.

“E na estação chuvosa, quando os reservatórios devem estar teori-camente cheios, os valores de velo-cidade de vento são menores.”

Principalmente no nordeste as energias tem essa configuração complementar. No gráfico abaixo pode-se observar como no período seco, o famoso b-r-o-bró, a intensi-dade dos ventos aumenta.

O Sistema Interligado Nacio-nal (SIN), que é responsável pela produção e transmissão de energia elétrica do Brasil, é formado por empresas das regiões Sul, Suldeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Apenas 1,7% da ener-gia requerida pelo país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados localizados principalmen-

te na região amazônica. O SIN pos-sui tamanho e características que permitem considerá-lo único em âmbito mundial.

O professor Marcos Lira explica que mais um fator essencial para a instalação desses parques é a proxi-midade com as linhas do SIN. Isso contribui para amenizar os des-perdícios de energia quando ela é

transportada por distâncias muito longas, além de reduzir gastos com fiação elétrica.

“O sistema é todo interligado, então quando falta energia em um estado ela será enviada de outro estado, até porque a energia não pode ser armazenada, ela precisa ser consumida no instante em que é produzida”, disse.

Existem hoje, segundo o profes-sor Marcos Lira, mais empecilhos para a energia solar do que para a eólica. O processo de instalação dos aerogeradores em determinadas re-giões tem se tornado cada vez mais rápido. Primeiro acontece uma es-pécie de leilão de energia feito pelo Estado, a empresa ganhadora do leilão tem de 1 a 3 anos para prepa-rar toda a estrutura. “A parte mais demorada de toda essa história é realmente fazer um estudo de im-pacto ambiental da área e obter um licenciamento”.

Outro ponto importante a se considerar, num olhar multilateral das implicações dos complexos, é a geração de empregos e renda para as comunidades locais. “Muitos moradores ficam super felizes por-que tinham terras improdutivas e agora recebem aluguel das empre-sas de acordo com a quantidade de aerogeradores instalados, além da mão de obra absolvida em várias funções demandadas desses inves-timentos.”

O professor ressalta que algu-mas questões precisam ser levadas

em conta quando se trata de ener-gia eólica: o movimento das hélices produz um ruído que pode ser in-cômodo aos moradores que estejam muito perto das torres, por isso as empresas devem se preocupar com o local onde vão ser fixados os ae-rogeradores; Nos Estados Unidos, têm ocorrido problemas com a mudança na rota de imigração dos pássaros, mas no Piauí isso ainda não foi detectado; outra preocupa-ção seria, por exemplo, a poluição visual em zonas litorâneas devido à aglomeração das torres de energia.

ENERGIAS COMPLEMENTARES

A ENERGIA EÓLICA E O SIN

PROCESSOS E CENÁRIOS

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Por Luiz Carlos Júnior

Doutor em Química Analítica, o professor Manoel Gabriel Rodrigues Filho coordena a pesquisa com o babaçu.

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Pesquisadores piauienses estudam potencial do babaçu para produção de biodiesel

As pesquisas que buscam fontes alternativas de com-bustíveis têm fundamental importância em um con-

texto com o aumento dos efeitos natu-rais provocados, principalmente, pela liberação de gases na atmosfera que

potencializam o efeito estufa. Outro fator que impulsiona a opção por ou-tras opções energéticas é possibilidade de esgotamento de fontes minerais de energia, como o petróleo.

O efeito estufa é de fundamental importância para a manutenção da

vida na Terra, uma vez que serve para manter o planeta aquecido e dentro das condições ideais para a sobrevi-vência das mais diferentes espécies. No entanto, algumas atividades humanas têm intensificado este fenômeno e pro-duzido o que conhecemos como aque-

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cimento global, que deixa a atmosfera mais intensa em seus fenômenos cli-máticos, como a escassez de chuvas em determinadas regiões e excesso em outras.

Além disso, em 2010, a Agência Internacional de Energia publicou em seu relatório anual que a produção de petróleo deve atingir seu pico por volta do ano de 2035. Depois disso, a pro-dução entrará em declínio, mas, ainda não há estimativa da velocidade em que este processo vai acontecer.

Neste contexto, a busca por alter-nativas para contornar estes efeitos tem permeado os estudos nas mais diversas áreas do conhecimento. No Piauí, o doutor em Química Analítica, professor Manoel Gabriel Rodrigues Filho, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), coordena um estudo que visa obter biodiesel a partir do fruto do babaçu, palmeira típica da região norte e do cerrado brasileiro.

“A pesquisa partiu da tentativa de agregar valores ao subproduto do ba-baçu, tendo em vista que nós temos uma das maiores produtividades e uma cadeia em desenvolvimento. Des-sa forma, a gente buscou transformar o óleo do babaçu no biodiesel, que é um combustível que vem sendo utilizado e que tem uma tendência de crescimento dentro da cadeia do transporte nacio-nal. Levando em consideração a menor quantidade de poluentes provenientes de combustíveis obtidos de fontes re-nováveis, em detrimento de combustí-veis obtidos através de fontes minerais ou fóssil, no caso o diesel, que é a ca-deia de maior produtividade no país”, explica o pesquisador.

De acordo com o professor, o bio-diesel obtido através do babaçu tem características que o tornam o biocom-bustível de melhor qualidade em rela-ção aos demais biodieseis produzidos no Brasil. O produto extraído do ba-baçu além de ser mais limpo, tem uma vida útil maior.

O pesquisador explica que grande parte do biodiesel brasileiro é obtido da soja, cujo subproduto tem uma vida

útil menor e, por isso, precisa ser aditi-vado com produtos sintéticos, fato que implica em uma perda da característica renovável do combustível. Manoel Ga-briel explica que o biodiesel extraído pode ser usado como aditivo daquele que é extraído da soja, tornando assim, o produto totalmente sustentável.

“Hoje o Brasil tem aproximada-mente 70% de biodiesel obtido da fon-te, que é o óleo de soja, mas, em contra-partida, esse biodiesel tem um tempo de vida útil muito pequeno, ou seja, ele oxida e envelhece com facilidade, prin-cipalmente na região nordeste onde a temperatura é elevada. Desta forma, quando utilizamos o biodiesel obtido da soja temos que aditivar para que a vida útil do biodiesel passe a ser maior e aí você já perde o foco de um produ-to renovável, que não teria poluentes, e passa a ter uma poluição proveniente dos aditivos ali colocados”, explica.

“Nós estamos corrigindo o biodie-sel de soja, que tem um período de oxi-dação muito curto, adicionando a ele o biodiesel de babaçu. O próprio bio-diesel de babaçu serve como aditivo para o biodiesel de soja, para que não ocorra o processo de oxidação, assim passaríamos a ter uma correção natu-ral, fazendo com que toda a cadeia do biodiesel fosse, além de renovável, sem poluentes sintéticos adicionados à ma-téria prima”, complementa o professor.

O pesquisador ainda destaca que a produção do biodiesel, através do óleo extraído do fruto do babaçu, cumpre um papel social importante, tendo em vista que dá visibilidade aos membros da base da cadeia produtiva do baba-çu, como a quebradeira de coco, por exemplo.

Na atual fase da pesquisa, desen-volvida na Uespi, os pesquisadores estão realizando testes com propor-ções para definir as concentrações necessárias para que o biodiesel do babaçu tenha o melhor desempenho, assim como o aditivo para o biodiesel extraído da soja.

“Nós estamos variando as propor-ções, buscando a melhor proporcio-

nalidade para que nós tenhamos a vida útil do biodiesel de soja de acor-do com as normas da Agência Nacio-nal de Petróleo (ANP). A instituição só aceita um biocombustível no mer-cado se ele tiver um tempo de vida útil de um período de indução de seis horas. Hoje, a soja, pura, chega a duas horas de período de indução, então a gente está em busca desta proporcio-nalidade para que, com a adição do biodiesel de babaçu seja possível che-gar ao exigido pela ANP”, explica o professor.

Manoel Gabriel ressalta que embo-ra o babaçu produza um biodiesel su-perior aos demais, o produto não teria a capacidade de suprir a cadeia do bio-diesel no Brasil, sobretudo, pela carên-cia da matéria prima. Segundo ele, o foco é a correção do biodiesel extraído da soja.

“Hoje, a ideia é que se nós tivésse-mos condições de corrigir as proprie-dades físico-químicas do biodiesel de soja utilizando o biodiesel de babaçu, muito provavelmente esse produto baratearia, porque não precisaríamos utilizar aditivos sintéticos”, afirma o pesquisador.

O professor destaca que a grande barreira para o inicio da produção em massa do biodiesel do babaçu é a ob-tenção da matéria prima e distribuição para o mercado industrial, especial-mente pelo caráter artesanal da obten-ção dos frutos da palmeira.

“O grande desafio é à saída da ma-téria prima ou a obtenção dessa maté-ria prima, onde nós temos gargalos. O maior gargalo da cadeia do babaçu é o mecânico, a coleta do fruto e a extra-ção desse óleo, que, infelizmente, ainda são processos artesanais. Então, para suprirmos um mercado industrial, te-ríamos que melhorar lá na ponta. A questão cientifica do biodiesel já está basicamente resolvida, agora existe a questão da matéria prima até o passo industrial, para que se tenha o subpro-duto do babaçu que possa suprir a in-dústria do biodiesel no Brasil”, finaliza o professor Manoel Gabriel.

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De acordo com a professora Drª Valdira Brito, o objetivo da pesquisa foi gerar uma ferramenta, disponível na internet, para prestar informa-ções atualizadas sobre o agronegó-cio do babaçu no Piauí para, assim, dar maior visibilidade à atividade. Como resultado da pesquisa, foi criado o SigGeoBabaçu, um site com um acompanhamento via satélite da produção de babaçu no estado.  

“A geração deste sistema é uma estratégia para a disseminação de informações sobre as potencialida-des do  babaçu, além de servir como ferramenta para o monitoramento do agronegócio do babaçu no Piauí, pe-

los setores competentes”, explicou a pesquisadora.

A pesquisa, que teve a colabo-ração do Tecnólogo em Geoproces-samento e servidor do IFPI, Felipe Ramos Dantas, e do aluno do cur-so de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Deyvyd Yuri da Silva Lopes, utilizou imagens de satélites e equipamentos de GPS para le-vantar os dados de localização dos babaçuais do Piauí. Os resultados do estudo serão apresentados no 18º Simpósio Brasileiro de Senso-riamento Remoto, maior evento da área no país, que acontece entre os dias 28 a 31 de maio, em Santos.

A atividade extrativista do  baba-çu é uma das mais antigas e impor-tantes do Piauí, contribuindo para a economia do estado. O aprovei-tamento das potencialidades desta cultura vai desde o aproveitamen-to do coco para a alimentação, na medicina popular, na produção de produtos de higiene, produção de utensílios artesanais com partes da palmeira e agora, para o desenvol-vimento de energia limpa.

O  babaçu  constitui fonte de emprego e renda para milhares de famílias nordestinas, espe-cialmente na região Meio-Norte do Brasil, onde calcula-se que as palmeiras ocupem mais de 17 mi-lhões de hectares.

Com o objetivo de desenvolver a cadeia produtiva do  babaçu  no Piauí, o Governo do Estado, através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí (Fapepi) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Tec-nológico (Sedet), firmou parcerias com pesquisadores da Universidade Estadual do Piauí, Universidade Fe-deral do Piauí e do Instituto Federal do Piauí para que fossem realizadas pesquisas cientificas voltadas para a exploração do babaçu na região.

Dentre estas pesquisas está o estudo coordenado pela professo-ra doutora Valdira Brito, do curso de Geoprocessamento do Institu-to Federal do Piauí, que consistiu na realização de um mapeamento georreferenciado da distribuição geográfica do  babaçu  no estado, além de gerar informações que possibilitam o monitoramento constante do setor.

PESQUISA MAPEIA POR SATÉLITE OS BABAÇUAIS EXISTENTES NO PIAUÍ

Babaçu pode ser forte aliado na busca por Biodiesel

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Fruta típica do Piauí pode ajudar no combate ao câncer

Por Jhussyenna Reis

Com alto nível de consumo no Nordeste, o uso medicinal do bacuri pode agora significar um novo potencial econômico para a região.

O bacuri é uma das frutas mais populares da região Norte, estados vizinhos à região Amazônica, além de

ser encontrado no cerrado e na Mata dos Cocais nos estados do Maranhão e Piauí. Em Teresina, essa fruta é tão conhecida que se tornou um dos sím-bolos da cidade.

No geral, mede cerca de 10 cm e possui uma casca dura e resinosa, se-duzindo o paladar através de sua polpa branca, com aroma agradável e um sabor intenso. Entretanto, para pesquisadores

como a professora Dra. Sâmya Danielle Lima de Freitas, o bacuri vai muito além de uma fonte de alimento. A professora coordena o projeto de pesquisa intitula-do “Investigação química e farmacológi-ca de folhas, galhos e cascas do fruto de Platonia Insignis (Clusiaceae)”. O projeto é executado na Universidade Federal do Piauí (UFPI), no Laboratório de Produ-tos Naturais (LPN), no Departamento de Química. A pesquisa, que ainda encon-tra-se em andamento, foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-tado do Piauí (Fapepi) por meio do Pro-

grama de Desenvolvimento Científico e Regional (DCR/Piauí).

A espécie Platonia insignis Mart., que pertencente à família Clusiaceae, popu-larmente chamada de “bacurizeiro”, é uma espécie frutífera e madeireira, ori-ginária da Amazônia Oriental Brasileira, mais precisamente no Estado do Pará. Além do nome popular “bacuri”, o fruto também é conhecido nas diversas regi-ões como bacuri-açu, pakoori e parcori.

As formas de uso mais comuns são o suco, creme, sorvete, geleia, doce, pudim, tortas, iogurte, picolé e fermentados. Já

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Profa. Dra. Sâmya Freitas no Laboratório de Produtos Naturais (LPN) da UFPI, onde a pesquisa é executada.

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o óleo das sementes de bacuri é usado para fazer sabão, tratamento de derma-tites e fazer remédios cicatrizantes para ferimentos de animais. O látex amarelo da árvore em algumas regiões é utilizado para o tratamento de eczemas, o vírus da herpes além de algumas dermatites.

O material vegetal do bacuri, utilizado na pesquisa, foi coletado no estado do Maranhão. Em seguida foi seco e moído para a obtenção dos extratos brutos. As frações provenientes da partição líquido-líquido dos extratos foram analisadas em escala analítica por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e por Ressonância Magnética Nuclear (RMN) para o estudo comparativo dos perfis químico. Essa etapa é extremamente importante na investigação química.

A presença de compostos fenólicos, dentre estes, os derivados de florogluci-nol, estão frequentemente relacionados com diversas atividades biológicas, tais como: antidepressiva; antimicrobiana; antiviral; antiproliferativa; antimalárica e antineoplásica. A etapa de fraciona-mento e investigação das ações farma-cológicas das frações mais promissoras continuam em andamento.

PROJETO ESTUDA AS FOLHAS, GALHOS E CASCAS DO BACURI

POTENCIAL PARA A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E BIOTECNOLÓGICA

“É POSSÍVEL DESENVOLVER UM

MEDICAMENTO COM AÇÃO TERAPÊUTICA QUE VAI AUXILIAR

NO TRATAMENTO DO CÂNCER, ALZHEIMER

E PARKINSON”

O gênero Platonia é muito rico em diversas substâncias naturais como xantonas, flavonoides, antocianinas, polifenois, diterpenos, ácidos graxos e triglicerídeos. Alguns extratos e alguns compostos apresentaram proprieda-des anti-inflamatória, antioxidante, anticonvulsiva e citotóxica, importan-tes para a elaboração de um possível medicamento que possua uma das propriedades farmacológicas já identi-ficadas, com ação na terapêutica de di-versas doenças, como Câncer, Mal de Alzheimer e Parkinson. Vale ressaltar que estas doenças estão em evidência como enfermidades praticamente fa-tais e que acometem milhares de pes-soas. Por isso são focos de pesquisa na tentativa de aumentar a qualidade de vida dos pacientes e até mesmo o de-senvolvimento de uma cura.

Uma vez que o bacuri é bastan-te consumido em todo o nordeste do país, concretizados os estudos de seu potencial farmacológico, deve agregar valor econômico e social a esta espécie que já pertence à área de transição cer-rado-amazônia piauiense.

O grupo de Química e Farmacolo-gia de Produtos Naturais da UFPI tem bastante experiência e já vem desenvol-vendo pesquisas desde 1997 na busca de substâncias bioativas. A importância do estudo de plantas medicinais deve-se por sua contribuição como fonte natural de fármacos e por proporcionar grandes chances de obter-se uma molécula pro-tótipo para o desenvolvimento destes.

A avaliação do potencial terapêutico de plantas medicinais e de alguns de seus constituintes químicos tem sido objeto de incessantes estudos, nos quais foram comprovadas várias ações farmacológi-cas por meio de testes pré-clínicos. Mui-tos destes constituintes têm grandes pos-sibilidades de futuramente virem a ser aproveitados como agentes medicinais.

Com o desenvolvimento de novas técnicas espectroscópicas, os quími-

cos orgânicos têm conseguido elucidar rapidamente estruturas moleculares complexas de constituintes naturais, até há pouco tempo difíceis de serem identificados. Assim, tem-se verificado um grande avanço na área científica que, cada vez mais, descreve em sua literatura novas moléculas, algumas de relevante ação farmacológica.

“Dessa forma, P. insignis Mart. mostra-se como uma espécie promis-sora tanto para a indústria farmacêu-tica quanto para a biotecnológica; es-timulando estudos mais aprofundados. Vale ressaltar que esta espécie se des-taca por sua importância econômica, considerada relevante para o manejo e para o desenvolvimento sustentá-vel, ampliando a necessidade de estu-dos científicos”, explicou a professora Sâmya Freitas.

A Dra. Sâmya Freitas destacou que o foco do estudo também é um diferencial, já que explora partes desse vegetal ainda pouco estudadas. “O presente projeto é bastante promissor, uma vez que a es-pécie P. insignis é pouco estudada, sendo que os resultados relatados são restritos somente à semente e polpa. Nossas metas foram direcionadas para o estudo de fo-lhas, galhos e cascas do fruto consideran-do a riqueza de constituintes e potencial farmacológico, bem como os resultados preliminares já obtidos pelo grupo, o que nos faz vislumbrar a obtenção de novos resultados promissores e potencialmente aplicáveis. A partir dos resultados obti-dos, espera-se contribuir para o uso sus-tentado de espécies da flora do cerrado do estado Piauí e, estes, serão divulgados em periódicos internacionais e nacionais para o acesso da população”, afirmou a pesquisadora.

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Por Allan Campêlo

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Professora do curso de música coordena primeira chamada internacional da Fapepi

A música pode ser vista por muitos como entretenimen-to. Um passar de tempo, a lembrança de alguém, o ani-

mo para dançar, entre diversos outros sentimentos. Mas o que de fato é a mú-sica? De acordo com nosso dicionário, música seria “a arte de combinar harmo-nicamente os sons”, um conceito simples para uma área infinitamente explorável.

Segundo o famoso musicólogo fran-cês, Roland De Cande, a música teria se tornado parte da vivência dos homens ainda na pré-história, mais especifica-mente no período conhecido como Pa-

leolítico Inferior, há mais de 2 milhões de anos, quando o homem começava a imitar, com a voz, os sons que ouvia na natureza. Nos períodos históricos pos-teriores, a música começava um longo caminho até ser entendida como mani-festação artística e cultural presente em todas as sociedades.

Porém, como definir a música, o to-car de um instrumento ou o cantar, como arte? Para a professora da Universida-de Federal do Piauí (UFPI), doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifí-cia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Paula Molinari, a “arte trabalha

com o possível mesmo que não necessa-riamente seja real”. De acordo com ela, a “música por mais que não seja palpável, tocável, se materializa através das sensa-ções que provoca”. A professora, que já co-ordenou estudos no campo da música em países como, a Argentina, Chile, Colôm-bia, Costa Rica, e possui o título de Roy Hart Voice Teacher pelo Centre Artistique International Roy Hart, na França, teve sua proposta aprovada na primeira Chamada Internacional da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), e nos contou um pouco sobre suas pesqui-sas e os desafios da nova empreitada.

25 professores piauienses foram contemplados com a chamada Researcher Connect

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soalCom ampla experiência internacio-

nal, a professora destacou as dificulda-des de se trabalhar no Brasil. “Sair do eixo Rio-São Paulo ainda é complicado, por que é lá que se concentram os maio-res eventos e os espetáculos com maior tempo de duração, mas isso não significa que não existam artistas e pessoas que buscam a arte em outros lugares, e foi pensando assim que tomei a decisão de vir para o Piauí”.

No fim do ano de 2016, Paula Molinari foi aprovada como coordenadora local do cursos de capacitação oferecidos pela Chamada Researcher Connect, realizada pelo Fundo Newton Professional Deve-lopment & Engagement Programme em parceria com a Fapepi, que objetiva ofe-recer cursos de curta duração ministra-dos por pesquisadores britânicos, para capacitação de professores brasileiros. “Fiquei muito feliz com a aprovação, quando vi a Chamada, logo pensei que o Piauí não poderia ficar de fora. É uma honra coordenar este projeto que não deixa de ser uma conquista para o Esta-do”, comentou Paula Molinari.

Os cursos que foram realizados na UFPI, contaram com módulos que vão

desde aulas para melhor escrita frente a públicos diversos, a estratégias sobre cola-boração em projetos de pesquisa. “Recebi propostas de cursos próximos ao que es-tudo, áreas como Comunicação Social e Artes que se mobilizaram para participar do programa”, afirmou a professora.

Sobre o ensino e pesquisa no âmbi-to artístico, Paula Molinari destaca as possibilidades de se trabalhar dentro do eixo acadêmico.

“Temos cursos de música em todos os estados da federação. São mais 150 cursos de licenciatura, 100 de bacharelado e 17 programas de pós-graduação, envolvendo especialização, mestrado e doutorado”.

Questionada sobre aspectos que poderiam influir para o melhor de-senvolvimento das artes em nosso Es-tado, mais especificamente a música, a professora destacou a necessidade de formulação de novas políticas públicas para a área. “Sinto falta de um contexto de continuidade. Por exemplo, a Or-questra Sinfônica de Teresina, necessita de um corpo instável, a permanência desses artistas garantida pelo poder es-tadual daria a possibilidade de ter mú-sicos em constante aperfeiçoamento”.

O Researcher Connect é composto por uma série de cursos de desenvol-vimento profissional de curta duração voltados para pesquisadores em todos os estágios da carreira acadêmica e de todas as áreas do conhecimento. As aulas são em inglês e têm o obje-tivo de aprimorar as habilidades em comunicação científica em contextos internacionais e multiculturais. 

Inicialmente, a Fundação de Am-paro à Pesquisa do Piauí selecionou a coordenadora dos cursos no estado, que é responsável pela administração do programa no Piauí, entre os repre-sentantes de pró-reitorias de Pesqui-sa, pró-reitorias de pós-graduação,

departamentos e programas de pós--graduação. Os candidatos precisa-ram apresentar propostas de cursos a serem realizados em suas respectivas instituições.

Durante os dias 15, 16 e 17 do último mês de março, os pesquisa-dores se reuniram em Teresina para a realização dos cursos de capacita-ção. Paula Molinari ainda ressaltou a qualidade do grupo de pesquisadores selecionado e destacou a importância do programa para o estado do Piauí.

“Nós temos um grupo bastante seleto porque de 90 inscritos, ficaram apenas 25. Então, nós temos estu-dantes de pós-graduação, doutores e

pós-doutores, estamos recheados de pesquisadores bons. O Piauí esperava por esse edital, que bom que, por ser o primeiro, aconteceu assim com esse número e com essa empolgação de todos”, finalizou.

O presidente da Fapepi, Francisco Guedes, explica o papel da fundação na execução do programa Researcher Connect no Piauí.

“A Fapepi é co-financiadora do curso juntamente com o Fundo Newton. A ideia é continuar a pro-mover a internacionalização das pesquisas do estado através de ações como essa que formam elos entre os pesquisadores”, afirmou. 

REALIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DO RESEARCHER CONNECT NO PIAUÍ

A professora, Paula Molinari, já coordenou ati-vidades acadêmicas em diversos países e espera contribuir para a capacitação de professores no Piauí

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DICAS DE LIVROS

PESQUISAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA: QUESTÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS

ÉTICA, TÉCNICA E RESPONSABILIDADE

A obra apresenta uma rica pesquisa social e crítica sobre educação e práticas de inclusão. Entre as abordagens o au-tor analisa questões referentes ao Atendimento Educacional Especializado, legislação e identidade docente. Em cinco ca-pítulos o autor descreve sua trajetórias de pesquisa na área que envolvem desde cursos de extensão e especialização até o mestrado e o doutorado.

A obra aborda uma das preocupações centrais da filoso-fia contemporânea: a relação entre técnica e ética ou, mais especificamente, a urgência de pensarmos eticamente o po-der magnificente e ambivalente da tecnologia moderna. Para tanto, os pesquisadores reunidos neste volume apresentam, com vivacidade hermenêutica e seriedade argumentativa, o quanto o pensamento de Hans Jonas é oportuno e urgente.

Autor: José Ribamar Lopes Batista JúniorPáginas: 282

Ano: 2016E-mail: [email protected]

Organizadores: Helder Buenos Aires e Jelson OliveiraPáginas: 356

Ano: 2015E-mail: [email protected]

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DICAS DE LIVROS

GEOGRAFIA: O REGIONAL E GEOAMBIENTAL EM DEBATE

JUVENTUDES RURAIS E URBANAS: TERRITÓRIOS, CULTURAS,

SOCIABILIDADES E IDENTIDADES

O livro oferece aos leitores o conhecimento de particu-laridades em diversos espaços geográficos dos estados do Piauí, Maranhão, Ceará e Pernambuco, focando em aspectos sociais, ambientais e econômicos, reunindo 12 artigos que discutem temas como Arranjo Territorial, Espaço Urbano e Climatologia e Planejamento Regional.

O obra reúne 22 autores que falam sobre diferentes temas sobre a juventude. O livro é fruto de 15 anos de pesquisa do Núcleo de Pesquisa sobre Crianças, Adolescentes e Jovens. Entre outros objetivos a obra evidencia as interferências mú-tuas entre as juventudes rurais e urbanas.

Organizadores: Antônio Cardoso Façanha, Cláudia Maria Sabóia de Aquino, Jsenete Assunção Cardoso e Silvana de

Sousa SilvaPáginas: 247

Ano: 2015E-mail: [email protected]

Organizadores: Lila Cristina Xavier Cruz, Shara Jane Ho-landa Costa Adad e Valéria Silva

Páginas:Ano: 2016

E-mail: [email protected]

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Rosângela Assunção Elissando Rocha da SilvaProfessora - UESPIDefesa: Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, [email protected]

Professor - FSA, IFSPDefesa: Universidade Federal ABC, São Paulo, [email protected]

SINDICALISMO E MEMÓRIA DA VIVÊNCIA DOCENTE SUPERIOR NO ESTADO DO PIAUÍ

ESTIMATIVA DO POTENCIAL ENERGÉTICO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS POR

DIFERENTES ROTAS DE TRATAMENTO

O presente estudo trata do sindicalismo docente superior no Piauí no período de 2003 a 2012 e tem como objetivo anali-

sar a relação entre a Associação dos Docentes do Centro de Ensino Superior do Piauí- ADCESP, o estado e a reitoria da Universidade Estadual do Piauí-UESPI durante as greves. A teoria grams-ciana é o elemento estruturador da análise que fazemos das fontes no sentido de explicar a re-lação que se estabeleceu entre os sujeitos duran-te as greves. Parte-se da hipótese de que foi a partir da luta dos docentes, organizados através da estratégia da greve, que o estado foi pressio-nado a fazer melhorias estruturais e qualitativas na UESPI, tais como: ampliação do orçamento da IES; reformas dos campi; construções de no-vas estruturas físicas; implantação da política estudantil; eleições diretas para reitor, diretor e coordenador de cursos e concursos públicos para docentes. A metodologia da História Oral foi utilizada na coleta e transcrição dos depoi-mentos dos sujeitos investigados. Além disso, houve a produção de fontes com os depoimen-tos colhidos junto aos reitores da UESPI e presi-dentes da ADCESP e aplicação de questionários com os docentes com o objetivo de analisar a visão deles a respeito da ADCESP na condu-ção das greves. A pesquisa apontou para uma relação de difícil negociação entre sindicato e Estado porque o segundo seguia o receituário neoliberal de privatização da educação públi-ca e o sindicato tentava reagir a essa política, mas tinha dificuldades de mobilizar a categoria por questões políticas mais amplas: os docentes da UESPI só se mobilizam por melhoria sala-rial e estrutural da universidade, mostrando a limitação da consciência política dos docentes, resultando em pouca adesão às greves quando as pautas de luta eram ampliadas com questões políticas.

Este trabalho teve como objetivo principal fornecer subsídios para os gestores analisarem rotas alterna-tivas para disposição final dos resíduos sólidos de

grandes centros urbanos levando em consideração o po-tencial de recuperação energética. Como objeto de estu-do, foram considerados os resíduos depositados no ater-ro sanitário de Caieiras/SP. Os tratamentos considerados foram: disposição em aterros sanitários com recuperação do biogás, biodigestão anaeróbia em biodigestores e in-cineração com recuperação energética. Avaliando-se principalmente os aspectos tecnológicos, energéticos e ambientais. Para a análise do potencial energético dos RSU dispostos em aterros sanitários, foram utilizados modelos matemáticos que permitem estimar a produção de biogás. Os resultados obtidos para o aterro sanitário de Caieiras apresentaram uma variação de até 55% entre um modelo e o outro. Para avaliação da biodigestão anaeró-bia em biodigestores, foram avaliados dois modelos ma-temáticos que permitem estimar a produção de metano em função dos diversos fatores que interferem no pro-cesso (concentração de acetato e de micro-organismos, da variação do pH, dentre outros). Os resultados obtidos para a biodigestão anaeróbia apresentaram uma variação de cerca de 30% em relação à faixa considerada para a concentração de sólidos totais (2,4 a 39%). No caso da in-cineração, foram considerados seis modelos matemáticos empíricos (baseados nas análises imediata, gravimétrica e elementar) para estimar o poder calorífico inferior (PCI) dos RSU. Foram consideradas três alternativas: incine-ração dos RSU sem segregação dos seus componentes, incineração considerando segregação dos materiais reci-cláveis e incineração considerando a separação da fração orgânica dos RSU para biodigestão. Os resultados obti-dos para a incineração apresentaram uma variação de até 40% entre um modelo e o outro, sendo que os valores mínimo e máximo obtidos para o PCI dos RSU foram de 4,87 e 8,26 MJ/kg, considerando a coleta indiferenciada. Baseados nos resultados obtidos, conclui-se que a incine-ração apresenta os melhores resultados do ponto de vista do potencial de conversão energética.

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Mary Gracy e Silva Lima Daniel Dias Rufino ArcanjoPesquisadora NEEPE -UESPI/FAPEMA-UEMADefesa: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), São Paulo, [email protected]

Professor Adjunto I - Universidade Federal do PiauíDefesa: Universidade Federal do Piauí, 2016 [email protected]

DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO DOCENTE INICIANTE EGRESSO DO

CURSO DE PEDAGOGIA: NECESSIDADES E PERSPECTIVAS DO TORNAR-SE PROFESSOR

CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÕES CARDIOVASCULARES DE UM NOVO PEPTÍDEO

RICO EM PROLINA OBTIDO DA SECREÇÃO CUTÂNEA DE BRACHYCEPHALUS EPHIPPIUM

E sta pesquisa foi desenvolvida em uma Institui-ção de Ensino Superior pública, com professoras iniciantes egressas do curso de Pedagogia desta

IES, por meio da entrevista narrativa reflexiva. Cen-trou-se na questão problematizadora: Como ocorre o desenvolvimento profissional dos egressos do Curso de Pedagogia a partir da formação inicial e da sua prática docente?. Traçou-se como objetivo geral inves-tigar como ocorre o desenvolvimento profissional de professores iniciantes egressos do curso de Pedagogia, a partir da sua formação inicial evidenciando-se neces-sidades e perspectivas demarcadas no percurso da prá-tica docente com vistas a possibilitar indicadores for-mativos no sentido de contribuir para o (re) pensar do currículo, mediante a consideração de características inovadoras para o Curso de Pedagogia. Os dados mos-tram a necessidade de uma formação que possibilite ao professor iniciar na profissão de forma mais eficiente e segura, sobretudo, no que se refere à vivência de si-tuações de aprendizagens da docência a serem conso-lidadas desde o estágio curricular supervisionado. Em relação ao processo de formação docente, considera-se fundamental que os cursos de Pedagogia sejam (re) pensados considerando como premente atender às expectativas de seus estudantes quando confrontadas com as exigências do cotidiano e com as questões li-gadas ao seu futuro desenvolvimento profissional. Ao apontar aspectos referentes às questões do currículo contribui com reflexões em direção a possíveis adequa-ções no Projeto Político Pedagógico do Curso de Pe-dagogia, tendo como parâmetro o reconhecimento das dificuldades e das necessidades formativas dos futuros professores e egressos Destaca-se a necessidade de que o professor iniciante seja preparado para estabelecer a relação teoria e a prática, como uma das formas de en-frentamento e de superação dos desafios impostos pelo contexto docente, ainda mais se considerar as adversi-dades em áreas ainda restritivas à promoção da condi-ção do ‘ser professor’ e ao desenvolvimento profissional de docentes no interior do Nordeste brasileiro.

O presente estudo descreve o isolamento e a caracterização químico-farmacológi-co-toxicológica de um novo oligopeptí-

deo rico em prolina (PRO) isolado da secreção cutânea do anfíbio Brachycephalus ephippium (Spix, 1824), denominado BPP-BrachyNH2, que apresenta efeito inibitório in vitro sobre a ativi-dade da ECA em soro de ratos, com evidências in silico da interação BPP-BrachyNH2/ECA. BPP--BrachyNH2 induziu vasodilatação dependente de endotélio em anéis de artéria aorta de rato, cujo efeito foi abolido na presença de L-NAME, um inibidor da NO-sintase. Em anéis de aorta carregados com a sonda DAF-FM DA, BPP-Bra-chyNH2 promoveu aumento de fluorescência observado por microscopia confocal, indicando aumento na liberação de NO. A ausência de cito-toxicidade para o BPP-BrachyNH2 foi observada em linhagens de células endoteliais de veia umbi-lical humana, de músculo liso vascular de aorta de rato e de macrófagos murinos pelo método do MTT. A ausência de toxicidade aguda in vivo foi observada em camundongos Swiss fêmeas tra-tadas com BPP-BrachyNH2 (5 e 50 mg/kg) por via intraperitoneal. BPP-BrachyNH2 apresentou efeito vasorelaxante em anéis de artérias de re-sistência isoladas do leito mesentérico de rato e da circulação coronária de porco, envolvendo o aumento da produção de NO pelo aumento da biodisponibilidade de L-arginina e a ativação de receptores de bradicinina B2, respectivamente. Assim, BPP-BrachyNH2 apresenta uma sequên-cia primária inédita nos bancos de dados inter-nacionais e é o primeiro BPP isolado a partir da secreção cutânea em toda a família Brachycepha-lidae. Estes achados abrem a possibilidade para se bioprospectar anfíbios como fontes de novas biomoléculas e com ação cardiovascular, assim como para suas potenciais aplicações no trata-mento de disfunções endoteliais.

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SAPIÊNCIA 41 Publicação Científica da FAPEPI34

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Por Allan Campêlo

Startup

Ney Paranaguá de Carvalho é Ba-charel em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pernam-buco, MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e doutor em Ciência da Computação pelo Insti-tuto de Computação da Universidade Federal Fluminense. Profissionalmen-te, é sócio das empresas Uniplam e Infoway, além de professor efetivo do Instituto Federal do Piauí (IFPI).

Em uma busca rápida na internet é possível encontrar diversos conceitos de startup. Porém, a maioria pouco diferencia a startup de uma Empre-sa Júnior, por exemplo. Desta forma, o que poderia ser entendido como o conceito definitivo de startup?

R: Existem duas características bem definidas. A empresa precisa ter base tecnológica e ser de alta escala-bilidade, ou seja, crescer sem que os recursos aplicados cresçam na mesma

proporção. Por exemplo, o Instagram quando foi vendido ao Facebook por 1 bilhão de dólares, tinha apenas seis funcionários. Você provavelmente não conhece nenhuma outra empresa que opere com tão pouco e tenha tanto va-lor, só uma startup é capaz disso.

Startups costumam estar ligadas ao conceito de tecnologia da informa-ção, por que isso acontece?

R: Existe um diferencial na indús-tria da tecnologia da informação: a infraestrutura necessária é pratica-mente zero. Não precisamos de estra-das e até mesmo com certa deficiên-cia em nossa rede elétrica, ainda é possível trabalhar. O que precisamos é de conexão com a internet, iniciati-va e conhecimento.

Quais as principais dificuldades para quem busca montar uma star-tup no Brasil?

R: O Brasil não tem cultura em-preendedora. Se fosse possível respon-

der com uma única frase, seria essa: falta cultura empreendedora. Quando eu falo de empreender, falo do em-preendedorismo por oportunidade, quando se decide empreender, mas seriam possíveis outras opções. Por exemplo, se eu fizesse uma proposta a alguém, como: você prefere ter um car-go público do alto escalão, como juiz, promotor, etc..., ou você prefere em-preender? Me arrisco a dizer que 99% iria preferir um cargo público.

Como podemos avaliar o cená-rio local para o desenvolvimento de startups?

R: Temos pessoas qualificadas e infraestrutura necessária, nunca no Estado se falou tanto em tecnologia da informação, temos um trabalho unificado entre o governo, à aca-demia e as iniciativas privadas. As instituições têm se articulado neste sentido, a própria Fapepi está à frente destas iniciativas. Sem dúvida esta-mos no caminho correto.

V ocê já ouviu falar na palavra Startup? Talvez em algum programa de TV sobre novas oportu-

nidades esta seja uma das palavras em evidência. Mas afinal, o que é uma Startup? O professor Ney Pa-ranaguá vai nos explicar um pouco sobre o assunto!

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