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    Ministrio da EducaoInstituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    A QUALIDADE DA EDUCAO: CONCEITOS E DEFINIES

    Luiz Fernandes Dourado CoordenadorJoo Ferreira de Oliveira

    Catarina de Almeida Santos

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    2Sumrio

    A QUALIDADE DA EDUCAO: CONCEITOS E DEFINIES

    Introduo

    1. Marcos tericos-conceituais1.1 A Qualidade da Educao nos estudos e pesquisas1.2 A Qualidade da Educao em documentos de organismos multilaterais

    2. Situao atual da Qualidade da Educao na tica dos Ministrios da Educao dos pases da Cpula dasAmricas

    3. Dimenses da Qualidade da Educao

    3.1 Dimenses extra-escolares3.1.1 Nvel do espao social: a dimenso scio-econmica e cultural dos entes envolvidos

    3.1.2 Nvel do Estado: a dimenso dos direitos, das obrigaes e das garantias

    3.2 Dimenses intra-escolares3.2.1 Nvel de sistema: condies de oferta do ensino3.2.2 Nvel de escola: gesto e organizao do trabalho escolar3.2.3 Nvel do professor: formao, profissionalizao e ao pedaggica3.2.4 Nvel do aluno: acesso, permanncia e desempenho escolar

    Sntese do EstudoSubsdios para definio do conceito e das dimenses mnimas comuns de Qualidade da Educao

    Referncias Bibliogrficas

    Anexo:1. Quadro sntese do questionrio sobre a Qualidade da Educao nos pases membros da Cpula das

    Amricas

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    3MINISTRIO DA EDUCAO

    INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAISANSIO TEIXEIRA

    A QUALIDADE DA EDUCAO:CONCEITOS E DEFINIES

    Introduo

    A anlise da Qualidade da Educao deve se dar em uma perspectiva polissmica, uma vez que esta

    categoria traz implcita mltiplas significaes. O exame da realidade educacional, sobretudo em vrios

    pases da Cpula das Amricas, com seus diferentes atores individuais e institucionais, evidencia que so

    diversos os elementos para qualificar, avaliar e precisar a natureza, as propriedades e os atributos desejveis

    ao processo educativo, tendo em vista a produo, organizao, gesto e disseminao de saberes e

    conhecimentos fundamentais ao exerccio da cidadania.

    A educao essencialmente uma prtica social presente em diferentes espaos e momentos da produo

    da vida social. Nesse contexto, a educao escolar, objeto de polticas pblicas, cumpre destacado papel nos

    processos formativos por meio dos diferentes nveis, ciclos e modalidades educativas. Mesmo na educao

    formal, que ocorre por intermdio de instituies educativas, a exemplo das escolas de educao bsica, so

    diversas as finalidades educacionais estabelecidas, assim como so distintos os princpios que orientam o

    processo ensino-aprendizagem, pois cada pas, com sua trajetria histrico-cultural e com o seu projeto de

    nao, estabelece diretrizes e bases para o seu sistema educacional.

    Tendo em vista a complexidade da temtica fundamental problematizar e apreender quais so os

    principais conceitos e definies que embasam os estudos, as prticas e as polticas educativas, sobretudo nas

    ltimas dcadas, bem como as dimenses e os fatores que apontam para a construo de uma educao de

    qualidade para todos. Os conceitos, as concepes e as representaes sobre o que vem a ser uma Educao

    de Qualidade alteram-se no tempo e espao, especialmente se considerarmos as transformaes mais

    prementes da sociedade contempornea, dado as novas demandas e exigncias sociais, decorrentes das

    alteraes que embasam a reestruturao produtiva em curso, principalmente nos pases membros da Cpula

    das Amricas.Este estudo apresenta, pois, dupla finalidade. Em primeiro lugar, visa contribuir com a identificao

    de condies, dimenses e fatores fundamentais do entendimento do que seja Educao de Qualidade,

    considerando a tica dos pases membros da Cpula das Amricas, bem como de organismos multilaterais, a

    exemplo da Unesco e do Banco Mundial, que exercem influncia considervel na formulao das polticas

    educacionais da regio. Em segundo lugar, prope-se a contribuir com a produo de uma matriz terico-

    conceitual que venha a subsidiar a discusso de polticas voltadas garantia da qualidade da educao na

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    4regio considerando, sobretudo, os compromissos, marcos polticos e as experincias implementadas pelos

    diferentes pases membros.

    Nessa direo, tem por centralidade contribuir com a indicao de elementos analticos comuns aos

    pases membros da Cpula das Amricas no tocante a garantia da Qualidade da Educao, visando assegurar

    os cumprimentos dos marcos do Plano de Ao em Educao, adotados por chefes de Estado e Governo, com

    as seguintes metas gerais: assegurar que at o ano de 2010, 100 por cento das crianas concluam a educao

    primria de qualidade e que, pelo menos, 75 por cento dos jovens tenham acesso a educao secundria de

    qualidade, com percentagens cada vez maiores de jovens que terminem seus estudos secundrios, e oferecer

    oportunidades de educao ao longo da vida populao em geral. As metas avanam frente a compromissos

    anteriores ao qualificarem o tipo de educao a ser oferecida, qual seja, uma Educao de Qualidade.

    Portanto, o desafio que se coloca para todos os pases da regio o de assegurar educao inicial a todas as

    crianas, garantir a educao obrigatria e ampliar a oferta de educao secundria a 75% dos jovens, bem

    como oferecer oportunidades de educao continuada de qualidade a toda a populao. Isso implica emqualificar a educao a ser oferecida, bem como ressalt-la como direito humano fundamental de todo

    cidado.

    Tais metas consubstanciam o compromisso poltico dos chefes de cada nao, bem como uma

    responsabilidade a ser compartida com toda a sociedade, pois uma melhoria e um maior nvel educativo da

    populao beneficia a todos. Desse modo, de acordo com Informe Regional da Unesco (2003, p.43), cumpre

    considerar

    las metas a luz del impacto que stas tienen en los distintos mbitos sociales o, dicho de outro modo,

    por su capacidad de brindar efectivamente um mayor bienestar socialAs, se puede concluir que alcanzar la educacin primaria universal, asegurar que el 75 por ciento delos jovens accedan a la educacin secundaria y ofrecer oportunidades educativas a lo largo de toda lavida, no solo son objetivos em si mismos, sino tambin mdios para alcanzar otros fines socialesdeseables, como mayores ingresos salariales, mayor desarrollo econmico, mejor distribucin delingreso, mayor participacin ciudadana em ls decisiones polticas, consolidacin de valores y normasdemocrticas, entre otros. Por lo tanto, es fundamental revisar la evidencia disponible para la regin aefectos de poder dimensionar el impacto social de la educacin.

    Frente a estes desafios e buscando contribuir com reflexes sobre a qualidade da educao,

    considerando a riqueza e as especificidades dos pases membros, bem como os compromissos assumidos por

    estes, o referido documento busca apresentar indicaes que subsidiem a discusso sobre as concepes e os

    conceitos da Qualidade da Educao, especialmente da educao obrigatria tendo por norte as trs metas

    anteriormente descritas e a necessidade do estabelecimento de algumas dimenses que possam balizar a

    discusso da questo na regio.

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    5Estas reflexes resultam de esforo analtico com base em reviso de literatura sobre a temtica

    envolvendo o levantamento de estudos, avaliaes e pesquisas1 e, ainda, a contribuio dos pases membros

    das Cpulas das Amricas com base em instrumento de coleta de dados. Desse modo, esse documento

    apresenta consideraes comuns identificadas nas diferentes fontes pesquisadas, buscando articular questes,

    dimenses e concepes sobre Qualidade da Educao. Visa, portanto, apresentar reflexes sobre a temtica

    com a finalidade de mapear esforos despendidos pelos pases nos ltimos anos no tocante s polticas

    educativas voltadas para a qualidade da educao. Nesse sentido, este documento objetiva servir de base para

    novas reflexes, contribuies e questionamentos que contribuam para a verticalizao de marcos analticos

    aos pases membros da Cpula das Amricas. Espera-se, desse modo, avanar no delineamento de premissas

    bsicas norteadoras para uma perspectiva comparada acerca da concepo de qualidade da educao para a

    regio, resguardando as especificidades de cada pas e de seus respectivos sistemas educativos.

    Nessa direo, este documento visa subsidiar a construo de definies, conceitos e indicao de

    dimenses a serem consideradas acerca da temtica Qualidade da Educao e que dever ser objeto dedebates, controvrsias e aprofundamento por ocasio do Frum da Cpula das Amrica. Para cumprir com

    essas finalidades, o documento encontra-se estruturado a partir de: a) levantamento e reviso da literatura

    sobre a temtica; b) identificao das principais dimenses e categorias analticas referentes Qualidade da

    Educao; c) elaborao e aplicao de instrumento sinttico de coleta de dados sobre o tema nos 34 pases

    membros da Cpula das Amricas; d) sntese do estudo; e) referncias bibliogrficas e f) anexo. As anlises e

    as consideraes aqui apresentadas expressam a complexidade da temtica e o esforo tcnico e intelectual

    visando contribuir com uma questo cada vez mais central no futuro das crianas, jovens e adultos da regio,

    ou seja, a implementao da uma Educao de Qualidade para todos, em seus diferentes nveis, ciclos e

    modalidades.

    1. Marcos terico-conceituais

    1.1 A qualidade da educao nos estudos e pesquisas

    A necessidade de construo e explicitao de dimenses, fatores e indicadores de qualidade que

    expressem a complexidade do fenmeno educativo tm ocupado a agenda de polticas pblicas para

    1 Ao longo do documento analtico dialogamos com vrios estudos, avaliaes e pesquisas sobre a temtica Qualidade daEducao. Merecem destaque, entre outras, as seguintes referncias: Unesco, 1998, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004; Brasil, INEP,2004; Lima, 1998, Nvoa, 1999; Dourado & Paro, 2001; Banco Mundial (1996, 1999, 2002); Bourdieu (1998; 1975); AoEducativa (2004), Morduchowicz, 2003; Izquierdo (2003); Brock & Schwartzman, 2005; Darling-Hammond & Ascher, 1991;Paro, 1998; Rios, 2002; Unesco/Oecd, 2003; Verhine, 1998; Gajardo, 1999. fundamental destacar que o referido documentoapresenta indicaes, dimenses e concepes cuja base de dados foi efetivada pelo dilogo fecundo com as refernciasanteriormente mencionadas a partir de metodologia de anlise documental que assenta-se na busca de significaes, recorrncias efreqncias temticas visando o estabelecimento de quadro analtico que transcende os documentos analisados, em particular, edescortina outras possibilidades reflexivas de total responsabilidade dos autores.

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    6educao e a agenda de pesquisadores do campo da educao. O avano em termos de acesso e cobertura,

    principalmente no caso do ensino obrigatrio, implica novas demandas de atendimento que se relacionam

    mais diretamente com as condies de permanncia dos alunos na escola e as possibilidades de uma

    aprendizagem mais significativa. H muitas formas de se enfrentar tal debate, desde a anlise do processo de

    organizao do trabalho escolar, que passa pelo estudo das condies de trabalho, da gesto da escola, do

    currculo, da formao docente, at a anlise de sistemas e unidades escolares que pode se expressar, por

    exemplo, nos resultados escolares obtidos a partir das avaliaes externas. Alm desses aspectos,

    fundamental ressaltar que a educao articula-se as diferentes dimenses e espaos da vida social sendo, ela

    prpria, elemento constitutivo e constituinte das relaes sociais mais amplas. Isto quer dizer que a educao

    perpassada pelos limites e possibilidades da dinmica econmica, social, cultural e poltica de uma dada

    sociedade.

    Estudos, avaliaes e pesquisas2 mostram que a Qualidade da Educao um fenmeno complexo,

    abrangente e que envolve mltiplas dimenses, no podendo ser apreendido apenas por um reconhecimentoda variedade e das quantidades mnimas de insumos considerados indispensveis ao desenvolvimento do

    processo de ensino-aprendizagem, e muito menos, pode ser apreendido sem tais insumos. Estes documentos

    ressaltam, ainda, a complexidade da Qualidade da Educao bem como a sua mediao por fatores e

    dimenses extra-escolares, bem como intra-escolares.

    A Qualidade da Educao, entendida como fenmeno complexo, deve ser abordada a partir de vrias

    perspectivas que assegurem dimenses comuns. Segundo Boletim da Unesco (2003, p.12), a OCDE e a

    Unesco utilizam como paradigma, para aproximao da Qualidade da Educao, a relao insumos-processos-resultados. Desse modo, a Qualidade da Educao definida envolvendo a relao entre os

    recursos materiais e humanos, bem como, a partir da relao que ocorre na escola e na sala de aula, ou seja,

    os processos ensino aprendizagem, os currculos, as expectativas de aprendizagem com relao a

    aprendizagem das crianas etc. Destaca, ainda, que a qualidade pode ser definida a partir dos resultados

    educativos, representados pelo desempenho do aluno.

    As pesquisas sobre Qualidade da Educao (BRASIL. INEP, 2004), escolas eficazes (NVOA,

    1999)ou escolas com resultados destacveis (UNESCO, 2002) e, ainda, demais estudos desenvolvidos pelo

    Laboratrio Latinoamericano de Avaliao da qualidade de educao3 (UNESCO, 1998, 2000 e 2001)

    ressaltam, por um lado, a discusso de elementos objetivos no entendimento do que vem a ser uma escola

    eficaz ou uma escola de qualidade, procurando compreender os custos bsicos de manuteno e

    2 A esse respeito Cf.: Unesco, 2002 e 2003; Brasil.Inep, 2004; Lima, 1998; Nvoa, 1999, dentre outros.3 O laboratrio Latinoamericando de avaliao da qualidade da educao uma rede de sistemas nacionais de avaliao daqualidade de educao nos pases latinoamericanos que foi constituda em 1994 e coordenada pela Oficina Regional de Educaopara a Amrica Latina e Caribe da Unesco.

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    7desenvolvimento, assim como, por outro lado, as condies objetivas e subjetivas da organizao escolar e

    da avaliao de Qualidade da Educao por meio do aproveitamento ou rendimento escolar dos alunos da

    regio. Tais elementos podem, em parte, ser tratados como aspectos objetivos para a construo de condies

    de qualidade numa escola considerada eficaz ou que produz resultados positivos.

    To importante quanto os aspectos objetivos so as caractersticas da gesto financeira, administrativa

    e pedaggica, os juzos de valor, as propriedades que explicitam a natureza do trabalho escolar, bem como a

    viso dos agentes escolares e da comunidade sobre o papel e as finalidades da escola e do trabalho nela

    desenvolvido. Nessa direo, observa-se as mltiplas dimenses que envolvem o conceito de qualidade, o

    que nos remete busca de compreenso dos elementos objetivos e subjetivos que se colocam no interior da

    vida escolar e na percepo dos diferentes sujeitos sobre a organizao da escola. Estes elementos dizem

    respeito, em geral, aos aspectos envolvidos na compreenso e construo de uma escola de qualidade ou

    escola eficaz.

    Portanto, as condies e os insumos para oferta de um ensino de qualidade so fundamentais para a

    construo de uma boa escola ou uma escola eficaz, sobretudo se estiverem articuladas s dimenses

    organizativas e de gesto que valorizem os sujeitos envolvidos no processo, os aspectos pedaggicos

    presentes no ato educativo e, ainda, contemplem as expectativas dos envolvidos com relao aquisio dos

    saberes escolares significativos e s diferentes possibilidades de trajetrias profissionais futuras.

    Nenhum destes aspectos deve ser tratado separadamente, posto que se articulam a expectativas e a

    concepes acerca do que deve ser a escola. Tais concepes articulam-se, em ltima instncia, ao ideal de

    sociedade que cada grupo ou sujeito espera construir para as novas geraes. Uma concepo de educao ou

    escola de qualidade que tome uma perspectiva inclusiva de sociedade, onde a explorao, a guerra, a

    violncia sejam banidas, tem como um ponto de partida interessante a definio de incluso proposta por

    Santos (1997, p.122), ou seja, a de que as pessoas e os grupos sociais tm o direito de ser iguais quando a

    diferena os inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza.

    Assim, construir dimenses e definir fatores de qualidade para a educao e, sobretudo, para a escola

    no requer apenas a identificao de condies mnimas, mas de condies que articulem a natureza da

    instituio aos objetivos educativos e fase de desenvolvimento da vida das crianas, adolescentes e jovens.

    De qualquer modo, a qualidade da escola implica a existncia de insumos (input) indispensveis, de

    condies de trabalho e de pessoal valorizado, motivado e engajado no processo educativo a ser definido em

    consonncia com as polticas e gesto da educao de cada pas e por meio do estabelecimento de uma

    agenda comum de dimenses que possam ser acordadas pelos pases membros no tocante a busca de

    parmetros analticos e de oferta de uma educao inicial, obrigatria e secundria de qualidade na regio.

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    8 extensa a lista de elementos que podem ser considerados indispensveis para uma educao

    escolar eficaz, assim como so profundos e diversificados os aspectos que podem levar a uma compreenso

    consistente da problemtica, em razo da multiplicidade de significados do que seja uma boa educao ou

    uma escola de qualidade. Assim, s tm sentido falar em escola de qualidade ou escola eficaz se

    consideramos um conjunto de qualidades ou de aspectos envolvidos. Isso significa dizer, no entanto, que

    fundamental identificar e apontar elementos constituintes comuns de uma boa escola ou escola eficaz,

    identificando as similitudes a serem consideradas para essa qualificao, mesmo tendo em conta que as

    escolas de boa qualidade so produzidas em realidades e em condies objetivas bastante diferenciadas.

    importante situar, ainda, que uma gama de estudos e pesquisas sinalizam para a educao a partir da

    nfase na teoria do capital humano, defendo a centralidade desta prtica social no processo de

    desenvolvimento econmico sustentvel e eqitativo. Este documento, sem negligenciar o importante papel

    assumido pela educao no processo de mudana e insero social, vislumbra as possibilidades e os limites

    interpostos a essa prtica e sua relao de subordinao aos macros processos sociais e polticos delineados

    pela formas de sociabilidade vigentes. Isto quer dizer, que a educao entendida como elemento

    constitutivo e constituinte das relaes sociais mais amplas contribuindo contraditoriamente, desse modo,

    para a transformao e manuteno destas relaes.

    As pesquisas e os estudos sobre a Qualidade da Educao revelam, tambm, que uma educao de

    qualidade, ou melhor, uma escola eficaz resultado de uma construo de sujeitos engajados pedaggica,

    tcnica e politicamente no processo educativo, em que pese, muitas vezes, as condies objetivas de ensino,

    as desigualdades de origem scio-econmica e culturais dos alunos, a desvalorizao profissional e apossibilidade limitada de atualizao permanente dos profissionais da educao. Isso significa dizer que no

    s os fatores e os insumos indispensveis sejam determinantes, mas que os trabalhadores em educao

    (juntamente com os alunos e pais), quando participantes ativos, so de fundamental importncia para a

    produo de uma escola de qualidade ou escola que apresenta resultados positivos em termos de

    aprendizagem.

    A definio de quais devem ser os padres de qualidadede ensino4, em termos de variedade e de

    quantidades mnimas, por aluno-ano, de insumos imprescindveis ao processo de ensino e de aprendizagem,apontam para a necessria concretizao das condies de realizao do trabalho pedaggico, que vem sendo

    pesquisado e informado criticamente por professores, gestores dos sistemas educativos e educadores, em

    geral, para melhorar ou garantir um padro de qualidade de ensino, embora no se possam desconhecer as

    dificuldades para o estabelecimento de um nicopadro bsico em termos do custo-aluno-qualidade.

    4 A legislao de vrios pases estabelece, como dever do Estado, a definio de padres (mnimos) de qualidade.

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    9A definio de dimenses, fatores e condies de qualidade podem tambm fazer avanar o controle

    social sobre a produo, implantao e monitoramento de polticas educacionais e seus resultados com

    relao garantia do padro da qualidade de ensino-aprendizagem. Para isso, preciso que tanto a

    comunidade escolar quanto a populao disponham de referncias de qualidade a serem descritos e

    discutidos de forma a se avanar na melhoria dos processos de formao e, portanto, no aproveitamento ou

    desempenho escolar dos alunos.

    Portanto, de fundamental importncia avanar no debate sobre os conceitos e definies de

    qualidade e vislumbrar a possibilidade de construo de dimenses e fatores que expressem relaes de: a)

    validade entre os objetivos educacionais e os resultados escolares, no se reduzindo a mdias ou similares;

    b) credibilidade tendo em vista elementos que possam ser confiveis em termos do universo escolar; c)

    incorruptibilidade ou melhor, fatores que tenham menor margem de distoro; d) comparabilidade ou

    seja, aspectos que permitam avaliar as condies da escola ao longo do tempo. (DARLING-HAMMOND,

    1991).

    Alm disso, importante ressaltar que a Qualidade da Educao um conceito normativo e

    multifatorial porque em su definicin intervienen, al menos, dimensiones correspondientes a la filosofia, la

    pedagogia, la cultura, la sociedad y la economia (UNESCO, 2003, p.44). Nessa tica, a Unesco ressalta,

    ainda, como critrios peculiares avaliao da qualidade: a relevncia, a pertinncia, a equidade, a eficincia

    e a eficcia.

    1.2 A qualidade da educao em documentos de organismos multilaterais

    O papel dos organismos multilaterais nas discusses de projetos educacionais e delineamento de

    polticas referentes a educao tm se tornado cada vez mais relevantes dado ao financiamento de projetos e

    programas, produo de estudos e documentos orientadores de polticas na regio.. Nos ltimos cinqenta

    anos, organismos como a UNESCO e o Banco Mundial tm participado ativamente do apoio tcnico e da

    elaborao de projetos educativos para os pases em desenvolvimento. A partir das ltimas dcadas,

    sobretudo s dcadas de 1980 e 1990, a OCDE, Cepal, Pnud, Unicef passam a participar com maior

    freqncia desse processo.

    A concepo de qualidade que aparece nos documentos dos organismos, em que pese as variaes,

    apresentam alguns pontos em comum, como por exemplo a vinculao do conceito de qualidade a medio,

    rendimento e a indicao da necessidade da instituio de programas de avaliao da aprendizagem, alm de

    apontar algumas condies bsicas para o alcance da qualidade pretendida.

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    10Os documentos da Comisso Econmica para Amrica Latina e Caribe Cepal, ao abordarem a

    questo da qualidade da educao enfatizam a necessidade do desenvolvimento de ferramentas e diagnsticos

    por meio de provas ou outros instrumentos de aferio da qualidade. Segundo a Cepal, a avaliao

    fundamental para o monitoramento das polticas e para orientar as intervenes no campo educativo.

    Nessa perspectiva, aponta que os sistemas de medio podem contribuir para melhorar a qualidade

    da educao a partir do estabelecimento de parmetros de referncia de aprendizagem, bem como a indicao

    de padres, insumos e processos eficazes que permitam avanar no rendimento escolar, mobilizando a

    opinio pblica a favor da educao.

    Para que a qualidade da educao seja alcanada, a Cepal aponta, ainda, que necessrio dotar as

    escolas com suporte tecnolgico que permita transmitir aos educandos novas habilidades na aquisio de

    informaes e conhecimento; imprimir maior fora e dinamismo aos programas curriculares e capacitao

    docente; aumentar as jornadas escolares e dotar as escolas de maior infra-estrutura.

    Ao discutir a questo da qualidade a Unesco/Orealc entende tratar-se de fenmeno complexo emultifacetrio a ser compreendido por meio de diversas perspectivas. Nesse sentido, aponta quatro dimenses

    que compem a qualidade da educao, quais sejam, pedaggica, cultural, social e financeira. Para a Unesco,

    a dimenso ou perspectiva pedaggica fundamental e se efetiva quando o currculo cumprido de forma

    eficaz. No que concerne perspectiva cultural, os documentos apontam que os contedos precisam partir das

    condies, possibilidades e aspiraes das distintas populaes a quem se dirige. Do ponto de vista social, a

    Unesco sinaliza que a educao de qualidade quando contribui para a equidade. Do ponto de vista

    econmico, a qualidade refere-se eficincia no uso dos recursos destinados a educao

    (UNESCO/OREALC, 2002, 2003).

    Para definir a qualidade da educao, tanto a UNESCO como a OCDE utilizam o paradigma de

    insumo-processo-resultados. Nesse sentido a qualidade da educao definida com relao aos recursos,

    materiais e humanos, que nela se investe, assim como em relao ao que ocorre no mbito da instituio

    escolar e da sala de aula, seja nos processos de ensino e aprendizagem, nos currculos, e nas expectativas com

    relao a aprendizagem dos alunos.

    Destaca, ainda, que a qualidade da educao articula-se a avaliao, na medida em que afirma que,

    em que pese a complexidade do termo, ela pode ser definida a partir dos resultados educativos expressos nodesempenho dos estudantes. No entanto, ressalta que determinar os nveis de desempenho alcanados pelos

    estudantes, no suficiente se no for acompanhado de anlises mais exaustivas que ajudem a explicar estes

    resultados a luz das distintas variveis que gravitam em torno do fenmeno educativo.

    Os documentos da Unesco destacam, tambm, o avano alcanado pelos pases da Amrica Latina e

    Caribe no desenvolvimento crescente de sistemas de avaliao da qualidade da educao que tem

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    11evidenciado os nveis de aproveitamento dos estudantes. Mas, ressalta que esse desempenho s um

    aspecto da complexa trama que define a qualidade.

    A existncia de um ambiente escolar adequado diretamente relacionado a questo do desempenho

    dos estudantes. No que se refere aos docentes destacado a necessria formao inicial terciria, a garantia

    de remunerao adequada e a dedicao a uma s escola. Finalmente, afirmam a importncia do

    envolvimento e participao dos s pais nos afazeres da comunidade escolar. As escolas devem, tambm,

    contar com biblioteca com materiais em quantidade e qualidade suficiente.

    A qualidade da educao , portanto, entendida nos documentos da Unesco (2002, 2003) como fator

    de promoo da equidade destacando-se o impacto das experincias educativas na vida das pessoas e na

    contribuio para a promoo da igualdade de oportunidades.

    Outro organismo fundamental nesse processo o Banco Mundial. A concepo de qualidade

    presente nos documentos do Banco volta-se, em geral, para a mensurao da eficincia e eficcia dos

    sistemas educativos, por meio, sobretudo, da medio dos processos de ensino e aprendizagem. Assim, osprojetos propostos e financiados pelo Banco esto centrados na expanso do acesso, na busca da equidade e

    da eficincia interna e de uma dada concepo de qualidade (BANCO MUNDIAL, 1996). O Banco indica

    que a melhoria da qualidade da educao efetivar-se- por meio da criao de sistemas nacionais de

    avaliao da aprendizagem e pela garantia de insumos crescentes nas escolas, tais como: livros textos,

    equipamentos, laboratrios e formao pedaggica. Nesse sentido, os emprstimos do Banco esto cada vez

    mais vinculados ao financiamento de projetos que tenham por objetivos melhorar a qualidade e a

    administrao da educao, aquisio de livros textos, capacitao de professores, equipamento de

    laboratrio, avaliao de aprendizagem, sistemas de exame, administrao educacional, assistncia tcnica e

    investigao, visto como fundamentais no desenvolvimento de uma educao de qualidade (BANCO

    MUNDIAL, 1996).

    Os processos de gesto tambm aparecem nos documentos do banco como estratgia fundamental

    para pensar a melhoria da qualidade da educao. Assim, aponta que deve ser fomentado, nos projetos

    educacionais, uma administrao flexvel e autnoma dos recursos educacionais em nvel institucional. Para

    tanto, sinaliza que essa melhoria exigir mtodos novos de ensino para uma aprendizagem ativa, maior

    ateno a formao dos professores e o uso eficaz dos sistemas de controle e avaliao para a tomada dedecises no campo educativo.

    Segundo o Banco, a eficcia das escolas se d quando os professores conhecem o contedo e as

    metas do currculo, quando organizam a classe de forma a favorecer a aprendizagem e quando avaliam o

    progresso dos alunos e sua prpria eficcia, de modo a ajustar-se continuamente.

    De acordo com o Banco, o fator decisivo para que a qualidade se efetive nas escolas, sobretudo as

    que atendem as populaes mais pobres, tornar o aluno no foco central do sistema educativo, de modo que

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    12sejam ativos no processo de aprendizagem. Nesse contexto, os professores tornar-se-o facilitadores do

    ensino e no ditadores (BANCO MUNDIAL, 1999).

    2. Situao atual da Qualidade da Educao na tica dos Ministrios da Educao dos pases da

    Cpula das Amricas

    Com vistas a identificar conceitos, dimenses, fatores e mecanismos de avaliao da Qualidade da

    Educao na regio, foi elaborado instrumento sinttico de coleta de dados, que permitisse explicitar a

    compreenso e a experincia dos 34 pases membros da Cpula das Amricas. As questes do referido

    instrumento foram as seguintes:

    a) Qual o conceito, concepo ou representao de Qualidade da Educao que orienta a definio de

    polticas educacionais no Ministrio da Educao de seu pas?

    b) Quais so as dimenses ou fatores internos que permeiam o conceito utilizado?

    c) Em seu pas, quais so os principais fatores considerados para a oferta de uma Educao de Qualidade?

    d) De que forma medida a Qualidade da Educao oferecida?

    Nem todos os 34 pases responderam ao referido questionrio, sobretudo em tempo hbil para a sua

    anlise, da porque se tornaram limitadas as possibilidades de processamento e apreciao das questes

    propostas, tendo em vista a obteno de panorama sobre o tema na regio. No referido estudo, considerou-se

    a contribuio de alguns pases5 visando, sobretudo, balizar as especificidades, semelhanas e diferenas

    destacadas no tratamento da Qualidade da Educao. Ao final do documento, optou-se pela apresentao dequadro sntese (Anexo II), conforme os pases que encaminharam suas respostas. Acreditamos que esse

    material tambm ser de fundamental importncia para subsidiar as reflexes sobre a Qualidade da Educao

    no II Frum Hemisfrico.

    2.1 Dimenses extra-escolares

    A definio e compreenso terico-conceitual e a anlise da situao escolar em termos de Qualidade

    da Educao no pode deixar de considerar as dimenses extrnsecas ou extra-escolares que permeiam taltemtica. Essas dimenses dizem respeito s mltiplas determinaes e s possibilidades de superao das

    condies de vida das camadas sociais menos favorecidas e assistidas. Estudos e pesquisas mostram que as

    dimenses extra-escolares afetam sobremaneira os processos educativos e os resultados escolares em termos

    5 Foram recebidos questionrios dos seguintes pases: Canad, Paraguai, Uruguai, Guiana, Guatemala, Nicargua,Brasil?

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    13de uma aprendizagem mais significativa, da porque tais dimenses no podem ser desprezadas se

    queremos efetivamente produzir uma educao de qualidade para todos.

    2.1.1 Nvel do espao social: a dimenso scio-econmica e cultural dos entes envolvidos

    Uma compreenso mais aprofundada da idia de uma escola de qualidade no pode perder de vista o

    nvel do espao social, ou melhor, a dimenso scio-econmica e cultural, uma vez que o ato educativo

    escolar se d em um contexto de posies e disposies no espao social (em conformidade com o acmulo

    de capital econmico, social e cultural dos sujeitos-usurios da escola), de heterogeneidade e pluralidade

    scio-cultural, de problemas sociais refletidos na escola, tais como: fracasso escolar, desvalorizao social

    dos segmentos menos favorecidos, incluindo a auto-estima dos alunos etc.

    Pesquisas e estudos do campo educacional6 evidenciam o peso de variveis como: capital econmico,

    social e cultural (das famlias e dos alunos) na aprendizagem escolar e na trajetria escolar e profissional dos

    estudantes. De modo geral, pode-se afirmar que o nvel de renda, o acesso a bens culturais e tecnolgicos,como a Internet, a escolarizao dos pais, os hbitos de leitura dos pais, o ambiente familiar, a participao

    dos pais na vida escolar do aluno, a imagem de sucesso ou fracasso projetada no estudante, as atividades

    extracurriculares, dentre outras, interferem significativamente no desempenho escolar e no sucesso dos

    alunos.

    Em muitas situaes, os determinantes scio-econmico-culturais so naturalizados em nome da

    ideologia das capacidades e dons naturais, o que refora uma viso de que a trajetria do aluno, em termos de

    sucesso ou fracasso, decorre das suas potencialidades naturais. Essa viso social , muitas vezes, reforada na

    escola e, sobretudo, na sala de aula, ampliando o processo de excluso dos j excludos socialmente, seja pela

    etnia, raa, classe social, capital econmico, social e cultural, religio, dentre outros.

    Estudos mostram que at mesmo a viso que se tem da escola na comunidade e no sistema educativo,

    e que leva os usurios escolha da escola e mantm motivaes para sua permanncia, influencia na

    aprendizagem e na produo de uma escola de qualidade social para todos. Isso tambm acaba contribuindo

    na expectativa de aprendizagem na escola pelos professores, pais e alunos, que aceitam como normal e

    natural um determinado padro de aprendizagem para parte dos estudantes.

    De modo geral, a criao de condies, dimenses e fatores para a oferta de um ensino de qualidade

    social tambm esbarram em uma realidade marcada pela desigualdade scio-econmica-cultural das regies,

    localidades, segmentos sociais e dos sujeitos envolvidos, sobretudo dos atuais sujeitos-usurios da escola

    pblica, o que exige o reconhecimento de que a qualidade da escola seja uma qualidade social, uma

    6 A esse respeito Cf. UNESCO (2002); Banco Mundial (2002); Inep/MEC (2004); Bourdieu (1998; 1975); Pacheco (2004).

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    14qualidade capaz de promover uma atualizao histrico-cultural em termos de uma formao slida,

    crtica, tica e solidria, articulada com polticas pblicas de incluso e de resgate social.

    Portanto, a produo de qualidade da educao, sob o ponto de vista extra-escolar, implica, por um

    lado, em polticas pblicas, programas compensatrios e projetos escolares e extra-escolares para

    enfrentamento de questes como: fome, violncia, drogas, sexualidade, desestruturao familiar, trabalho

    infantil, racismo, transporte escolar, acesso cultura, sade e lazer, dentre outros, considerando-se as

    especificidades de cada pas e sistema educacional. Por outro lado, implica em efetivar uma viso

    democrtica da educao como direito e bem social, que deve expressar-se por meio de um trato escolar-

    pedaggico que ao considerar a heterogeneidade scio-cultural dos sujeitos-alunos seja capaz de implementar

    processos formativos emancipatrios.

    To perspectiva, na direo do enfretamento dos problemas advindos do espao social, deve

    materializar-se, por um lado, no projeto da escola por intermdio da clara definio dos fins da educao

    escolar, da identificao de contedos e conceitos relevantes no processo ensino-aprendizagem, da avaliao

    processual voltada para a correo de problemas que obstacularizam uma aprendizagem significativa, da

    utilizao intensa e adequada dos recursos pedaggicos, do envolvimento da comunidade escolar e,

    sobretudo, do investimento na qualificao e valorizao da fora de trabalho docente, seja por meio da

    formao inicial seja por meio da formao continuada.

    Por outro lado, faz-se necessrio implementar polticas pblicas e, dentre essas, polticas sociais ou

    programas compensatrios que possam colaborar efetivamente no enfrentamento dos problemas scio-

    econmico-culturais que adentram a escola pblica. Nessa perspectiva, a melhoria da qualidade do processoensino-aprendizagem deve envolver os diferentes setores a partir de uma concepo ampla de educao

    envolvendo cultura, esporte e lazer, cincia e tecnologia. Ou seja, necessrio avanar para uma dimenso de

    uma sociedade educadora, onde a escola cumpre a sua tarefa em estreita conexo com outros espaos de

    socializao e de formao do indivduo garantindo condies econmicas, sociais e culturais, bem como

    financiamento adequado socializao dos processos de acesso e de permanncia de todos os segmentos a

    educao bsica (de zero a 17 anos), entendida como direito social.

    2.1.2 Nvel do Estado: a dimenso dos direitos, das obrigaes e das garantias

    A educao bsica obrigatria e gratuita, envolvendo a ampliao dos anos de escolarizao, vem

    sendo encarada como um direito e dever do Estado na quase totalidade dos pases da regio, o que pode ser

    observado por meio da legislao, das polticas e programas educacionais de cada pas. Alm disso, a

    educao bsica envolve a educao inicial ou educao infantil, geralmente de cinco anos de durao (de 0

    a 5 anos), a educao obrigatria (de 6 a 14 anos) e a educao secundria ou polimodal, com durao mdia

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    15de trs anos(de 15 a 17 anos). No caso do ensino secundrio, em mdio prazo, verifica-se a tendncia de

    torn-lo progressivamente acessvel a todos nos pases membros da Cpula das Amricas.

    fundamental ressaltar que a dcada de 1990 foi marcada por profundas mudanas nas formas de

    organizao e gesto do Estado e, consequentemente, no mbito das polticas educacionais. A maioria dos

    pases realizou reformas do Estado em funo dos novos cenrios econmicos, polticas e culturais que sedesenhavam com os processos de reestruturao produtiva e mundializao do capital. Tais reformas

    repercutiram efetivamente no campo das polticas educacionais e, desse modo, os anos de 1990 foram

    marcados por grandes mudanas nas polticas nacionais para a educao e, em consonncia a essas

    mudanas, por forte agenda internacional balizada por conferncias mundiais, acordos, compromissos

    multilaterais, dentre outros.

    Nesse cenrio, a educao bsica ganhou centralidade, sobretudo, no que concerne garantia de

    universalizao do acesso a educao fundamental (educao obrigatria). Os indicadores educacionais sobastante heterogneos entre os pases membros da Cpula das Amricas e os esforos, em razo dessa

    heterogeneidade, tambm assumiram caractersticas peculiares, mas que, via de regra, resultaram em uma

    ampliao significativa do atendimento no ensino obrigatrio.

    Aliado a expanso do acesso ao ensino obrigatrio, novos desafios foram deslindados ressaltando,

    entre outros, a nfase na garantia da qualidade de ensino, na educao permanente e na progressiva expanso

    do ensino secundrio com qualidade.

    Todas essas exigncias, articuladas aos processos avaliativos nacionais e comparados, vinculou-se a

    mudanas, em alguns casos efetivos, na organizao da educao e no estabelecimento de prioridades e

    metas a serem atingidas nos planos nacionais de educao, em consonncia com o cenrio macro-estrutural

    decorrente das transformaes nas formas de organizao social, poltica e econmica implementadas nas

    ltimas dcadas. Tal cenrio tem possibilitado anlises, as mais distintas, que apontam para a existncia de

    um panorama de polticas educacionais pautadas por uma agenda comum, sobretudo no tocante a educao

    bsica (de zero a 17 anos).

    Na esteira desse processo vale destacar, entre outros, a Conferncia Mundial de Educao para

    Todos, realizada em Jomtien, por intermdio de vrias agncias e organismos internacionais, cujas

    orientaes tem se efetivado como balizamento para as reformas da educao na regio. A agenda decorrente

    desta conferncia, ao enfatizar a necessidade de transformao dos sistemas escolares e dos processos

    educativos decorrentes destes, indica o paradigma das necessidades bsicas de aprendizagem como eixo

    articulador desse processo de mudana.

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    16Em toda a regio, o Estado nacional ou governo central desempenha papel fundamental na

    regulao, no controle/superviso, no financiamento e na implementao de polticas educativas

    concernentes aos diferentes nveis, ciclos e modalidades de educao, o que no significa obstaculizar a

    tendncia de ampliar os servios educacionais por meio dos estados (provncias) e municipalidades. O

    regime de colaborao e de integrao entre o Estado nacional, as provncias e municipalidades tambm se

    apresenta como uma marca da oferta educacional da regio.

    Alm disso, verifica-se maior preocupao com a definio e a garantia de padres mnimos de

    qualidade, o que inclui a igualdade de condies para o acesso, permanncia e desempenho escolar. Nessa

    direo, so observadas trs nfases ou polticas complementares: a definio e efetivao de diretrizes ou

    parmetros curriculares nacionais para os nveis, ciclos ou modalidades de educao, com o objetivo de

    promover o desenvolvimento de capacidades e competncias gerais e especficas em todo o territrio

    nacional, tendo em vista o mundo do trabalho e o exerccio da cidadania; a implementao de sistema de

    avaliao que possa aferir o desempenho escolar e subsidiar o processo de gesto e tomada de deciso; aexistncia e efetivao de programas suplementares ou de apoio pedaggico, tais como: livro didtico,

    merenda escolar, transporte escolar, modernizao escolar, sade do escolar, segurana na escola, dentre

    outros, que se articulem s especificidades dos sistemas educativos dos pases que compem a Cpula das

    Amricas.

    A exigncia contempornea de melhoria da qualidade da educao tem levado os pases e os sistemas

    educativos a reconhecerem a complexidade do fenmeno educacional e a pensarem a questo da qualidade

    em toda a sua complexidade, o que inclui reconhecer os fatores externos e internos que afetam aaprendizagem das crianas, jovens e adultos. A educao de qualidade tem se tornado uma exigncia da

    sociedade atual, assim como a ampliao do tempo de escolarizao, o que de certa forma tem contribudo

    para o entendimento da educao como um bem pblico e direito social, colocando-a, sobretudo, na esfera

    das obrigaes e dever do Estado. Tal situao tem se configurado no panorama internacional a partir de

    acordos, planos e metas comuns voltados garantia de acesso e permanncia com qualidade social.

    3.2 Dimenses intra-escolares

    A definio e compreenso terico-conceitual e a anlise da situao escolar em termos de Qualidade

    da Educao, como vimos anteriormente, deve considerar as dimenses extrnsecas ou extra-escolares que

    permeiam tal temtica. Por outro lado, fundamental no perder de vista a importncia, nesse processo, das

    dimenses que ocorrem no mbito intra-escolar. Ou seja, estudos, avaliaes e pesquisas mostram que as

    dimenses intra-escolares afetam, sobremaneira, os processos educativos e os resultados escolares em termos

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    17de uma aprendizagem mais significativa na medida em que incidem diretamente nos processos de

    organizao e gesto, nas prticas curriculares, nos processos formativos, no papel e nas expectativas sociais

    dos alunos, no planejamento pedaggico, nos processos de participao, na dinmica da avaliao e,

    portanto, no sucesso escolar dos estudantes.

    3.2.1 Nvel de sistema: condies de oferta do ensino

    No processo de pesquisa sobre os elementos que compem a dimenso das condies para uma

    educao escolar de qualidade vem se destacando a questo o custo-aluno-ano. Nesse quesito, em geral,

    analisa-se as condies e custos da instalao da escola, seus custos com materiais permanentes e de

    consumo,, alm da manuteno do seu funcionamento; custos de pessoal, assim como a avaliao sobre seu

    espao fsico, servios oferecidos, equipamentos, bibliotecas, laboratrios especficos, reas de convivncia,

    de recreao e de prticas desportivas, dentre outros.Os custos das escolas eficazes ou de qualidade apresentam aspectos gerais a serem considerados

    (pessoal docente e tcnico-administrativo7 e de apoio, material de consumo, material permanente etc.), em

    consonncia com as condies objetivas de cada pas ou sistema educativo que, certamente, expressam as

    realidades e possibilidades do ponto de vista do desenvolvimento nacional, regional e local. Tais

    peculiaridades, evidenciam elementos para o estabelecimento de padro de custos em escolas consideradas

    eficazes ou de qualidade a partir dos parmetros de cada pas ou sistema educativo. Nessa direo, possvel

    apresentar algumas qualidades fundamentais ou condies de qualidade que, pela sua presena ou pela suaausncia, representam importantes condies ou fatores para a construo de uma definio de padro de

    qualidade.

    No mbito das categorias de anlise quantificveis, as pesquisas (UNESCO, 2002; BRASIL.INEP,

    2004) evidenciam que as mdias existentes nas relaes entre alunos por turma, alunos por docente e aluno

    por funcionrio so aspectos importantes das condies da oferta de ensino de qualidade, uma vez que

    menores mdias podem ser consideradas como componentes relevantes para uma melhor qualidade do ensino

    oferecido.

    Deve-se, neste sentido, considerar ainda a importncia de diferenciao do nmero de alunos por

    turma e por profissionais na escola nos diferentes nveis e modalidades de educao como uma forma de se

    garantir a oferta do ensino com qualidade. Este o caso, por exemplo, do atendimento exigido pelas crianas

    7 No caso brasileiro, estudo do INEP (2004) mostra que o principal elemento na distribuio percentual do custo-aluno ano ,exatamente, o gasto com pessoal (docentes, especialistas e funcionrios). Esse gasto representa, em mdia, 85% do custo-aluno-ano, chegando, em alguns estados, a mais de 90%.

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    19Desse modo, possvel indicar com base nas pesquisas e estudos e nas constataes anteriormente

    mencionadas que:

    1) A definio do custo-aluno ano deve considerar as especificidades de cada etapa, nvel ou ciclo da

    educao escolar. Por exemplo, no caso brasileiro a educao infantil, que inclui as creches e pr-escolas,

    apresenta, maior custo do que os demais nveis da educao bsica9, dado a sua especificidade de

    atendimento (BRASIL. INEP, 2004). J no ensino fundamental (ensino obrigatrio) que atende a populao

    na faixa etria de 7 a 14 anos, verifica-se, em geral, um custo menor do que nas creches e pr-escolas e um

    pouco maior do que no ensino secundrio ou no ensino tcnico.

    2) No tocante s instalaes gerais das escolas vale a pena retomar o emprego dialtico do conceito de

    igualdade de condies de recursos, posto que um padro de qualidade em instalaes escolares deveria

    envolver projetos de construo adequados a clientela, isto , padres que considerem a idade e a altura dos

    alunos, o clima da regio, o tempo que os alunos passam na escola [parcial ou integral] e, sobretudo, as

    necessidades do processo de ensino e de aprendizagem. De modo geral, a adequao das instalaes gerais,

    em termos de padres mnimos de qualidade, requer, por parte dos usurios da escola e da comunidade, uma

    avaliao positiva.

    3) A definio de uma estrutura mnima disponvel para a configurao de uma escola em condies para a

    oferta de um ensino de qualidade sofre variaes que envolvem, dentre outros, o projeto pedaggico, o clima

    organizacional, a gesto dos sistemas e das escolas. No entanto, para uma perspectiva que propicie elementos

    de comparao entre as instituies educativas, nacionais e internacionais, algumas condies mnimas que

    impactam a oferta de ensino de qualidade se apresentam, destacando-se:

    a) Existncia de salas de aulas compatveis s atividades e clientela;b) ambiente escolar adequado realizao de atividades de ensino, lazer e recreao, prticas

    desportivas e culturais, reunies com a comunidade etc;

    c) equipamentos em quantidade, qualidade e condies de uso adequadas s atividades escolares;d) biblioteca com espao fsico apropriado para leitura, consulta ao acervo, estudo individual e/ou em

    grupo, pesquisa on line, dentre outros, incluindo, acervo com quantidade e qualidade para atender aotrabalho pedaggico e ao nmero de alunos existentes na escola;

    e) laboratrios de ensino, informtica, brinquedoteca, entre outros;f) servios de apoio e orientao aos estudantes;

    9 No Brasil, a Educao Bsica (de zero a 17 anos), contempla trs etapas: educao infantil (zero a 6 anos), ensino fundamental (7a 14 anos) e ensino mdio (15 a 17 anos).

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    20g) garantia de condies de acessibilidade e atendimento para portadores de necessidades especiais;h) ambiente escolar dotado de condies de segurana para alunos, professores, funcionrios, pais e

    comunidade em geral;

    i) programas que contribuam para uma cultura de paz na escola.

    3.3 Nvel de escola: gesto e organizao do trabalho escolar

    A definio da Qualidade da Educao uma tarefa complexa porque envolve contextos, atores e

    situaes diversificadas. As pesquisas e estudos10, sobretudo qualitativos, indicam como aspectos

    importantes dessa definio: a estrutura e as caractersticas da escola, em especial quanto aos projetos

    desenvolvidos; o ambiente educativo e/ou clima organizacional; o tipo e as condies de gesto; a gesto da

    prtica pedaggica; os espaos coletivos de deciso; o projeto poltico-pedaggico da escola; a participao e

    integrao da comunidade escolar; a viso de qualidade dos agentes escolares; a avaliao da aprendizagem e

    do trabalho escolar realizado; a formao e condies de trabalho dos profissionais da escola, a dimenso do

    acesso, permanncia e sucesso na escola, dentre outros. Todos esses aspectos impactam positiva ou

    negativamente a qualidade da aprendizagem na escola. Nessa direo, de acordo com Matsuura11 (2004, p.1),

    uma escola de qualidade ou uma boa escola aquela em que existe um clima favorvel aprendizagem, em

    que os professores e gestores so lderes animadores e em que a violncia substituda pela cultura da paz e

    pelo gosto de os alunos irem a uma instituio que atende s suas necessidades. Uma boa escola tem umcurrculo significativo: mantm um p no seu ambiente e outro na sociedade em rede.

    Algumas das condies ou caractersticas de escolas eficazes advm de estudos sobre o processo de

    implementao das reformas educativas a partir dos anos de 1990. Nesse sentido, Coralles (1999) apresenta

    alguns exemplos de implementao exitosa dessas reformas orientadas para qualidade destacando-se, entre

    outros aspectos: gesto autnoma das escolas pblicas (Canad), autonomia das escolas e mudanas no

    financiamento (Chile), descentralizao e maior controle sobre a direo das escolas aos pais (EL Salvador),

    aumento dos anos de escolaridade e incorporao de novos mtodos de avaliao do rendimento dos alunos(Jordnia), descentralizao dos nveis de educao e racionalizao do ministrio da educao (Nova

    Zelndia), descentralizao do sistema de educao bsica e reestruturao dos gastos em educao

    (Argentina), introduo de novos estandares acadmicos e diversificao da educao secundria (Romnia),

    estabelecimento de conselhos locais com a participao de diretores, mestres, funcionrios e pais (Espanha),

    10 A esse respeito Cf., sobretudo, Unesco (2002); Nvoa (1999); Ao educativa (2004); Inep (2004).

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    21melhoria da educao primria e secundaria (Coria do Sul), descentralizao radical e mudana no

    financiamento da educao priorizando a educao bsica (Mxico), ampliao das matrculas e reviso

    curriculares (Tailndia), estabelecimento de capacitao aos mestres de nvel secundrio (Uruguai). Esses

    indicadores apontam para a diversidade dos aspectos a serem considerados no estabelecimento de polticas

    voltadas a melhoria da qualidade da educao bsica na regio, destacadamente aqueles que dizem respeito

    ao financiamento e a gesto e organizao dos sistemas educativos e s escolas.

    Dentre os fatores analisados sobre discusso do que seja uma boa escola est a questo da demanda,

    pois quase sempre uma maior procura da escola indica uma apreciao positiva da qualidade da educao.

    No entanto, a preferncia por boas escolas por parte da comunidade acaba gerando movimentos e dinmicas

    distintas nas formas de ingresso. Em alguns pases, algumas escolas so mais procuradas que outras, em uma

    mesma localidade. Esse processo possibilita, em alguns casos, a instituio de processos seletivos para

    ingresso de alunos, a definio de critrios de acesso unificados ou no pelos sistemas educativos, a

    caracterizao ou estigmatizao de determinadas escolas e usurios, dentre outros. H, nesses processos, orisco de instituir procedimentos que favoream e/ou discriminem o ingresso de alunos por meio da seleo de

    perfis scio-econmico-culturais que favoream determinados segmentos da populao em detrimento a

    outros.

    O destino dos egressos outro indicador de qualidade que vem se destacando na percepo dos

    alunos e dos pais do que seja uma escola de qualidade. Estudos evidenciam que, para os pais e alunos, a boa

    educao est associada s maiores possibilidades de continuidade dos estudos por meio da aprovao nas

    diversas etapas do processo formativo, na ampliao das possibilidades de insero no mercado de trabalho e,

    conseqentemente, na melhoria das condies de vida, o que implica garantia de mobilidade social.

    Registre-se tambm o valor que pais e autoridades das escolas comeam a atribuir ao desempenho dos

    alunos nos diferentes processos de avaliao de aprendizagem realizados pelos sistemas e/ou pelas escolas, o

    que parece demonstrar a importncia que os exames ganham, nesse cenrio de reformas, junto aos agentes

    escolares e comunidade.

    Alm disso, os aspectos gerais de organizao da escola, tambm se apresentam como diferenciais na

    escolha da unidade escolar. Nesse quesito destacaram-se quatro elementos: a existncia e usos da hora-

    atividade; a relao dos profissionais com a escola; a valorizao e motivao para o trabalho e a qualidadedo ambiente escolar e de suas instalaes.

    A qualidade do ambiente escolar e das instalaes tambm concorre para a definio de condies

    de oferta de ensino de qualidade. Ambientes planejados, acolhedores, humanizadores e integrados s

    necessidades da comunidade escolar tem sido destacados pelos agentes escolares e pela comunidade como

    valores agregados importantes. Esses segmentos entendem que a qualidade do ambiente escolar e suas

    11 Diretor Geral da UNESCO.

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    22instalaes, considerando a lgica de organizao e gesto dos sistemas e as especificidades culturais e

    formativas das diversas etapas da escolarizao, so necessrias e fundamentais para a realizao do trabalho

    pedaggico e de gesto do trabalho escolar, de modo a realizar a apreenso significativa dos saberes

    cientficos produzidos historicamente e propiciar uma educao de qualidade.

    A organizao do trabalho escolar est tambm determinada pelas condies em que se estabelecem

    as relaes com a comunidade, com os alunos e entre os profissionais, tendo em vista a resoluo de

    problemas, o planejamento e os processos de tomada de deciso. Neste sentido, a gesto democrtica-

    participativa na escola apresenta-se como um dos aspectos fundamentais das condies de oferta de ensino

    com qualidade.

    Em relao ao perfil do diretor e da escola, sobretudo, forma de provimento deste ao cargo,

    possvel verificar que as modalidades de escolha deste profissional so bastante heterogneas e complexas,

    ao mesmo tempo, em que se enfatizam processos marcados por uma maior participao de professores,alunos, pais, funcionrios em sintonia com o fortalecimento da autonomia da escola. Essa dinmica ao

    enfatizar processos de participao mais ampla e se articular com outros fatores como formao inicial e

    continuada, alm de experincia profissional, formao especfica e capacidade de comunicao e de

    motivao dos diferentes segmentos da comunidade escolar, podem contribuir com a melhoria da qualidade

    de ensino.

    No mbito da discusso sobre a importncia da participao da comunidade escolar, em geral, a

    maioria das pesquisas e estudos reforam tal importncia, embora haja divergncias quanto ao nvel e

    forma dessa participao. As estratgias adotadas para motivar a participao revelam a concepo de

    participao em cada pas e a centralidade ou no conferida a esse processo pelos sistemas educativos e pelas

    escolas. Dentre as estratgias mais utilizadas12 esto desde a instituio de conselhos escolares, conselhos ou

    associao de pais e mestres, espaos de organizao dos estudantes at a promoo de reunies peridicas,

    festas, competies esportivas, eventos culturais etc.

    Em alguns pases ou sistemas educativos se evidencia uma concepo mais restrita de participao

    (pequeno envolvimento em atividades especficas). Em outros, a presena da comunidade no cotidiano da

    escola tem um impacto importante nos processos intra-escolares na medida em que mobiliza e envolve a

    comunidade educacional e, desse modo, contribui com a construo da qualidade da escola. Entretanto,

    tambm verifica-se que quanto mais efetivos, ou menos formais, so os mecanismos de participao, maior o

    impacto deste condicionante na melhoria dos processos ensino-aprendizagem das escolas.

    12 A esse respeito destacam-se estudos e pesquisas sobre os processos de democratizao e gesto participativa na escola, taiscomo: Dourado (2003); Ferreira, 2001; Paro (1996); Apple & Beane (1997), UNESCO (2000), entre outros.

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    23Em relao presena dos pais no interior das escolas, seja por meio da participao em instncias

    regulares (consultivas ou deliberativas), seja em outras atividades promovidas com finalidades diversas, as

    pesquisas tem ressaltado a importncia dessa participao.

    fundamental ressaltar que em funo das alteraes vivenciadas no padro de financiamento da

    educao em alguns pases da regio, no processo de reforma educacional, a ocorrncia da participao tem

    se efetivado, em muitos casos, como decorrncia do problema da falta de recursos para custear a escola,

    obrigando-a a desenvolver aes com o objetivo de compartilhar com a comunidade a responsabilidade com

    a sua manuteno, especialmente frente, muitas vezes, omisso do poder pblico com o financiamento das

    necessidades escolares na busca garantia de qualidade do ensino.

    Entretanto, no que se refere questo da autonomia da escola, as pesquisas ressaltam algumas

    evidncias de sua implementao no tocante aos aspectos administrativos e financeiros, para alm da

    autonomia pedaggica. O aspecto administrativo variado mantendo relao de articulao a tipologia dos

    sistemas (descentralizados ou centralizados). O aspecto financeiro normalmente possui vinculao mais

    explicita existncia de polticas de financiamento que condicionam ou no os repasses de recursos para o

    desenvolvimento do ensino e manuteno adequada das unidades educacionais. No bojo das reformas

    educacionais, em curso em muitos pases, estratgias diversas tm sido adotadas no sentido de propiciar

    outras fontes alternativas de recursos financeiros envolvendo experincias as mais diversas tais como:

    cobrana de taxas em instituies pblicas, convnios, parcerias entre escolas e empresas etc.

    As pesquisas destacam, ainda, que o processo de garantia de autonomia pedaggica tem possibilitado

    a algumas escolas vivenciarem uma maior liberdade na elaborao e execuo do seu projeto pedaggico,

    embora nem sempre possam contar com a participao de todos os segmentos da comunidade escolar,

    situao motivada por dificuldades de mobilizao, inexperincia, centralismo ou burocratizao do sistema

    educacional ou mesmo por uma concepo mais tecnicista ou autoritria dos gestores.

    Todas essas questes envolvem diretamente a lgica e concepo norteadora da maneira como se

    organizam as polticas e gesto da educao bsica (de zero a 17 anos) nos diferentes pases e a compreenso

    que se tem da educao como um direito social a ser institudo com a participao ativa da sociedade, como

    um pr-requisito bsico para o cumprimento da funo poltica e social da educao objetivando a orientaodesta para a qualidade.

    Em termos da criao de condies para oferta de ensino de qualidade, cabe destacar, ainda, a forte

    preocupao que vem evidenciando em termos de cuidados com a segurana da comunidade escolar, o que

    percebido por meio do uso de uniformes escolares, uso de crachs, carteiras estudantis, controles de entrada e

    sada da escola, ronda de policiais, controle acentuado da freqncia, aumento da altura dos muros, cercas

    eltricas etc. como forma de proteo dos alunos, dos professores e da equipe escolar. Uma outra estratgia

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    24para enfrentar os problemas de segurana tem sido a de ampliar as relaes com a comunidade local, no

    sentido de lev-la a perceber a escola como um espao/equipamento pblico, que deve servir aos interesses e

    melhoria da qualidade de vida de toda a coletividade sendo, portanto, fundamental a preservao de sua

    estrutura fsica, bem como a integridade dos segmentos que a compe.

    No nvel de escola, ou melhor, no que tange gesto e organizao do trabalho escolar, pode-se

    sintetizar como aspectos impactantes da qualidade as seguintes dimenses ou fatores:

    a) A estrutura organizacional compatvel com a finalidade do trabalho pedaggico;b) o planejamento, monitoramento e avaliao dos programas e projetos;c) a organizao do trabalho escolar compatvel com os objetivos educativos estabelecidos pela

    instituio tendo em vista a garantia da aprendizagem dos alunos;

    d) a existncia de mecanismos de informao e de comunicao entre os todos os segmentos da escola.e) a gesto democrtico-participativa que inclui: condies administrativas, financeiras e pedaggicas,

    mecanismos de integrao e de participao dos diferentes grupos e pessoas nas atividades e espaos

    escolares;

    f) o perfil do dirigente da escola: formao em nvel superior, forma de provimento ao cargo eexperincia;

    g) a existncia de projeto pedaggico coletivo da escola que contemple os fins sociais e pedaggicos daescola, a atuao e autonomia escolar, as atividades pedaggicas e curriculares, os tempos e espaos

    de formao;

    h) a disponibilidade de docentes na escola para todas as atividades curriculares;i) a definio de contedos relevantes nos diferentes nveis e etapas do processo de aprendizagem;j) o uso de mtodos pedaggicos apropriados ao desenvolvimento dos contedos;k) a implementao de processos avaliativos voltados para a identificao, monitoramento e soluo dos

    problemas de aprendizagem;

    l) a existncia e utilizao adequada de tecnologias educacionais e recursos pedaggicos apropriados aoprocesso de aprendizagem;

    m)o planejamento e a gesto coletiva do trabalho pedaggico;n) a implementao de jornada escolar ampliada ou integral visando a garantia de espaos e tempos

    apropriados s atividades educativas.

    o) a implementao de mecanismos de participao do aluno na escola;p) a valorao adequada dos servios prestados pela escola aos diferentes usurios.

    2.2.3 Nvel do professor: formao, profissionalizao e ao pedaggica

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    A defesa de um projeto amplo de formao, profissionalizao e valorizao do docente tem sido

    muito freqente em estudos e pesquisas do campo educacional e, ainda, nos processos de reforma e

    implementao de polticas educacionais nos diferentes pases da regio, tendo em vista a relevncia do fator

    docente, ou melhor, da qualidade da fora de trabalho docente para a melhoria do desempenho dos alunos.

    Todavia, ainda persistem vises e proposies as mais diversas no sentido do atingimento desse processo

    indo desde uma priorizao do segmento docente, entendido como importante protagonista do processo

    ensino-aprendizagem, at a concepes que secundarizam a ao desse profissional e suas organizaes

    classistas ao secundarizem o seu papel na implementao de uma educao de qualidade. A despeito das

    diferentes abordagens, um fato notrio na maioria dos pases, ou seja, a insatisfao com as atuais

    estruturas salariais, carreiras profissionais e condies de trabalho, bem como os efeitos desse processo na

    qualidade da educao.

    Tal cenrio tem gerado controvrsias as mais diversas. Ao analisar as carreiras, incentivos e estruturassalariais docentes, Morduchowicz (2003) destaca a insatisfao com as atuais estruturas salariais realando

    os limites desse processo, bem como, a estruturao de carreiras e a efetivao de polticas de incentivo

    voltadas a produtividade da ao docente. Ressalta, ainda, a relao complexa entre salrios e desempenho

    profissional cuja equao no se efetiva linearmente, o que implica apreender a distino entre incentivo e

    motivao. No entanto, ressalta a necessidade de implementar polticas de formao inicial e continuada,

    alm da necessria valorizao do pessoal docente por meio de planos de carreira, incentivos, benefcios.

    De modo geral, no entanto, estudos e pesquisas (UNESCO, 2002; INEP, 2004; NVOA, 1999)

    chamam a ateno para a constatao de que as escolas eficazes ou escolas de boa qualidade possuem um

    quadro de profissionais qualificados e compromissados com a aprendizagem dos alunos. Nesses estudos, h

    uma relao direta entre a adequada e boa formao dos profissionais e o melhor desempenho dos alunos. Ou

    seja, a qualificao docente vista como uma importante varivel no processo de efetivao do desempenho

    dos estudantes e, conseqentemente, na garantia de uma educao de qualidade. De modo geral, algumas das

    caractersticas dos docentes das escolas eficazes so as seguintes: titulao/qualificao adequada ao

    exerccio profissional; vnculo efetivo de trabalho; dedicao a uma s escola; formas de ingresso e

    condies de trabalho adequadas; valorizao da experincia docente; progresso na carreira por meio daqualificao permanente e outros requisitos;

    No nvel do professor, de modo articulado ao nvel do sistema, considerando as condies de oferta

    de ensino, destaca-se, tambm, nas escolas consideradas eficazes, a garantia de horrio especfico, na jornada

    de trabalho, para outras atividades, alm daquelas dedicadas s atividades de ensino em sala de aula. Esse

    tempo favorece o estudo individualizado, a integrao entre os docentes, o trabalho coletivo, o planejamento

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    26de estudos, a organizao de eventos, o atendimento de alunos e pais, enfim a consecuo dos objetivos da

    escola. Essa carga horria do professor garante, portanto, maior tempo para preparao das aulas e

    atendimento aos alunos e comunidade, proporcionando maior qualidade ao trabalho realizado pelo

    professor. Em muitas escolas esse percentual chega a 1/4 ou mesmo a um 1/3 da jornada docente (apesar das

    variaes regionais) para o desenvolvimento de atividades escolares que no sejam as aulas. Esse tempo

    acaba contribuindo para a melhoria do ambiente de aprendizagem e condies de trabalho, alm de instituir

    um clima organizacional mais adequado ao desenvolvimento profissional.

    Outro elemento importante nas escolas com resultados escolares considerados positivos em termos de

    aprendizagem dos alunos a dedicao dos professores a somente uma escola, uma vez que esse fator

    permite que os docentes dediquem-se mais plenamente s necessidades da escola, dos alunos e da

    comunidade escolar.

    No que se refere experincia docente, possvel verificar que a maior experincia profissional

    positiva para a qualidade do ensino, entretanto, esse maior tempo de magistrio, deve estar correlacionado

    com polticas de formao continuada e valorizao dos profissionais da educao e com o reconhecimento

    profissional, para que, assim, essa experincia maior se revele em elemento positivo para a qualidade do

    ensino, ou seja, para oferta de condies de qualidade, tendo em vista que essa experincia mais relevante

    quando o docente sente-se motivado e engajado no projeto pedaggico da escola e no seu prprio processo de

    desenvolvimento profissional. Nesse sentido, experincia docente deve se articular a garantia de processos

    efetivos de formao continuada e de valorizao da profisso.

    De modo geral, verifica-se que grande a variao dos salrios no interior de cada pas e entre os

    pases da regio, evidenciando, principalmente, a necessidade de aportes suplementares para as redes de

    ensino, como condio indispensvel para o alcance efetivo de condies de oferta de qualidade. Essa

    realidade da desigualdade dos salrios na regio tem um impacto negativo nas possibilidades de garantia de

    condies para a oferta de uma escola de qualidade para o conjunto das crianas e jovens dos pases

    membros, o que deve implicar em polticas de maior equalizao e valorizao do professorado.

    No que se refere ao tipo de vnculo profissional do docente, verifica-se que as escolas com maior

    nmero de professores efetivos apresentam resultados mais satisfatrios do que as escolas onde ocorrerotatividade docente. O vnculo efetivo reduz a rotatividade docente, a multiplicidade de vnculos

    empregatcios, a excessiva extenso da jornada de trabalho e algumas das doenas tpicas da profisso.

    Portanto, faz-se necessrio maior empenho na garantia de acesso ao cargo efetivo de professor, uma vez que

    as condies precarizadas ofertadas aos professores temporrios, impacta negativamente na qualidade do

    ensino.

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    27Associado s questes anteriores, verifica-se tambm que fatores como motivao, satisfao com o

    trabalho e maior identificao com a escola como local de trabalho so elementos fundamentais para a

    produo de uma educao de qualidade. O profissional ao sentir-se valorizado e incentivado pelo grupo

    pode realizar com maior satisfao e qualidade suas atividades na escola. Verifica-se que os resultados

    escolares so mais positivos quando o ambiente profcuo ao estabelecimento de relaes interpessoais, que

    valorizem atitudes e prticas educativas, o que tambm contribui para a motivao e solidariedade no

    trabalho. Tais condies parecem favorecer um desenvolvimento profissional que valoriza a autonomia do

    professor e o trabalho coletivo, alm de apontar para um processo constante de construo da identidade

    profissional a partir da valorizao do estatuto tcnico-cientfico e econmico da profisso.

    2.2.4 Nvel do aluno: acesso, permanncia e desempenho escolar

    A satisfao e o engajamento ativo do aluno no processo de aprendizagem fator de fundamentalimportncia na permanncia e no desempenho escolar. Isso, no entanto, comea no processo de escolha da

    escola. Essa escolha tem a ver com a viso que os pais, alunos e a comunidade, em geral, tm da escola. H

    que se desejar estudar naquela escola em particular, tendo em vista, na maioria das vezes, as boas condies

    na oferta de ensino, a garantia de aprendizagem e a crena numa vida escolar-acadmica e profissional de

    sucesso.

    A escola de boa qualidade valorada, muitas vezes, pelo fato dos alunos gostarem da escola, dos

    colegas e dos professores e de se empenharem no processo de aprendizagem. Nessas escolas, parece interferir

    na escolha dos alunos o modo como aprendem, o que significa que as aulas e as atividades educativas dentro

    e fora da escola so atraentes e envolventes, muitas vezes porque os professores utilizam-se de estratgias e

    recursos pedaggicos adequados aos contedos e s caractersticas dos alunos. So escolas onde os alunos

    reconhecem e valorizam o trabalho dos professores e dos demais trabalhadores da educao e, tambm, por

    essa razo, se envolvem mais no processo de aprendizagem.

    Os alunos quando percebem que esto aprendendo, acabam projetando uma trajetria escolar,

    acadmica e profissional de sucesso, viso que acaba sendo valorizada pelos pais, familiares e professores. A

    expectativa de sucesso seja dos alunos, dos pais, dos professores e da comunidade, em geral, pode, portanto,ser considerada fator importante para o desempenho escolar.

    Assim, os pais escolhem as escolas porque tem, em geral, indcios e informaes que indicam tratar-

    se de boas escolas; os alunos permanecem na escola porque, em geral, gostam dela, j que so boas as

    relaes entre os alunos, professores, direo, pais e demais servidores da escola; o ambiente escolar

    agradvel, educativo, eficiente e eficaz, o que leva os alunos a estudarem com mais afinco. Trata-se tambm

    de boas escolas porque os alunos tm aulas cotidianamente, j que os professores praticamente no faltam, e

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    28porque os alunos so aprovados nos processos seletivos para o ingresso no ensino superior e/ou conseguem

    ingressar no mercado de trabalho.

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    29Sntese do Estudo

    Subsdios para definio do conceito

    e das dimenses mnimas comuns da Qualidade da Educao

    Ao longo do texto, a partir da reviso de literatura e da anlise documental, foi enfatizado que a

    anlise da Qualidade da Educao deve se dar em uma perspectiva polissmica, envolvendo as condiesintra e extra-escolares, bem como, os diferentes atores individuais e institucionais. Nesse sentido, a discusso

    sobre Qualidade da Educao implica o mapeamento dos diversos elementos para qualificar, avaliar e

    precisar a natureza, as propriedades e os atributos desejveis ao processo educativo, tendo em vista a

    produo, organizao, gesto e disseminao de saberes e conhecimentos fundamentais ao exerccio da

    cidadania e, sobretudo, a melhoria do processo ensino-aprendizagem dos estudantes. Em alguns estudos,

    avaliaes e pesquisas e, sobretudo, nos questionrios respondidos pelos pases, foi possvel identificar uma

    relao efetiva entre a educao e o desenvolvimento integral do ser humano, na medida em que a educao

    proporciona conhecimentos e habilidades para uma vida produtiva no contexto de construo de uma

    sociedade democrtica, intercultural e cidad.

    Entendendo a educao como uma prtica social que ocorre em diferentes espaos e momentos da

    produo da vida social, foi ressaltado o papel da educao escolar nos processos formativos por meio dos

    diferentes nveis, ciclos e modalidades educativas. Tal assertiva reala a importncia das polticas pblicas e,

    dentre estas, as polticas sociais e educativas no que se refere ao enfrentamento das questes extra-escolares

    que interferem no processo educativo e, sobretudo, definio das finalidades educacionais e dos princpios

    que orientam o processo ensino-aprendizagem e sua articulao com a trajetria histrico-cultural dos alunos

    e com o projeto de nao no estabelecimento de diretrizes e bases para o sistema educacional.

    O documento ressalta, ainda, o carter histrico da qualidade da educao na medida em que os

    conceitos, as concepes e as representaes sobre a temtica alteram-se no tempo e espao, especialmente

    se considerarmos as transformaes mais prementes da sociedade contempornea, dado as novas demandas e

    exigncias sociais, decorrentes das alteraes que embasam a reestruturao produtiva em curso,

    principalmente nos pases membros da Cpula das Amricas.

    Destacou-se, ao longo do documento, as dimenses extrnsecas (extra-escolares) e intrnsecas (intra-escolares) como fundamentais para a definio e compreenso terico-conceitual e para anlise da situao

    escolar em termos de Qualidade da Educao. Essas dimenses, entendidas de maneira articulada, dizem

    respeito s mltiplas determinaes e s possibilidades de superao das condies de vida das camadas

    sociais menos favorecidas e assistidas e, ainda, as condies relativas aos processos de organizao e gesto,

    bem como, aos processos ensino-aprendizagem, tendo em vista a garantia do sucesso dos estudantes. Estudos

    e pesquisas mostram que as dimenses extra-escolares e intra-escolares afetam, sobremaneira, os processos

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    30educativos e, portanto, a aprendizagem dos estudantes, da porque tais dimenses devem ser efetivamente

    consideradas no estabelecimento de polticas educativas, programas de formao e aes de gesto

    pedaggica voltadas para a produo de uma educao de qualidade para todos.

    Nas dimenses extra-escolares destacaram-se dois nveis: o do espao social e o dos direitos, das

    obrigaes e das garantias, cada um com aspectos relevantes na conceituao e definio da Qualidade da

    Educao.

    1. Nvel do espao social: a dimenso scio-econmica e cultural dos entes envolvidos

    A influncia do acmulo de capital econmico, social e cultural das famlias e dos estudantes no processoensino-aprendizagem;

    A necessidade do estabelecimento de polticas pblicas e projetos escolares para o enfrentamento dequestes como: fome, drogas, violncia, sexualidade, famlias, raa e etnia, acesso cultura, sade etc;

    A gesto e organizao adequada visando lidar com a situao de heterogeneidade scio-cultural dossujeitos-estudantes das escolas;

    A considerao efetiva da trajetria e identidade individual e social dos estudantes, tendo em vista o seudesenvolvimento integral e, portanto, uma aprendizagem significativa;

    O estabelecimento de aes e programas voltados dimenso econmica e cultural, bem como aosaspectos motivacionais que contribuem para a escolha e permanncia dos estudantes no espao escolar,

    assim como para o engajamento num processo ensino-aprendizagem exitoso.

    2. Nvel do Estado: a dimenso dos direitos, das obrigaes e das garantias

    A necessria ampliao da educao obrigatria como um direito do indivduo e dever do Estado; A definio e a garantia de padres mnimos de qualidade, incluindo a igualdade de condies para o

    acesso e permanncia na escola;

    As definio e efetivao de diretrizes nacionais para os nveis, ciclos e modalidades de educao ouensino;

    A implementao de sistema de avaliao voltado para subsidiar o processo de gesto educativa e paragarantir a melhoria da aprendizagem; A existncia efetiva de programas suplementares e de apoio pedaggico, de acordo com asespecificidades de cada pas, tais como: livro didtico, merenda escolar, transporte escolar, recursos

    tecnolgicos, segurana nas escolas, etc.

    Nas dimenses intra-escolares destacaram-se quatro nveis: condies de oferta do ensino; gesto e

    organizao do trabalho escolar; formao, profissionalizao e ao pedaggica; e, ainda, acesso,

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    31permanncia e desempenho escolar, cada um com aspectos relevantes na conceituao e definio da

    qualidade de educao.

    1. Nvel de sistema: condies de oferta do ensino

    Garantia de instalaes gerais adequadas aos padres mnimos de qualidade, definidos pelo sistemanacional de educao em consonncia com a avaliao positiva dos usurios;

    Ambiente escolar adequado realizao de atividades de ensino, lazer e recreao, prticas desportivas eculturais, reunies com a comunidade etc;

    Equipamentos em quantidade, qualidade e condies de uso adequadas s atividades escolares; Biblioteca com espao fsico apropriado para leitura, consulta ao acervo, estudo individual e/ou em

    grupo, pesquisa on line, dentre outros; acervo com quantidade e qualidade para atender ao trabalho

    pedaggico e ao nmero de alunos existentes na escola;

    Laboratrios de ensino, informtica, brinquedoteca, entre outros, em condies adequadas de uso; Servios de apoio e orientao aos estudantes; Condies de acessibilidade e atendimento para portadores de necessidades especiais; Ambiente escolar dotado de condies de segurana para alunos, professores, funcionrios, pais e

    comunidade em geral;

    Programas que contribuam para uma cultura de paz na escola; Definio de custo-aluno anual adequado que assegure condies de oferta de ensino de qualidade.

    2. Nvel de escola: gesto e organizao do trabalho escolar

    Estrutura organizacional compatvel com a finalidade do trabalho pedaggico; Planejamento, monitoramento e avaliao dos programas e projetos; Organizao do trabalho escolar compatvel com os objetivos educativos estabelecidos pela instituio

    tendo em vista a garantia da aprendizagem dos alunos;

    Mecanismos adequados de informao e de comunicao entre os todos os segmentos da escola; Gesto democrtico-participativa incluindo condies administrativas, financeiras e pedaggicas;

    mecanismos de integrao e de participao dos diferentes grupos e pessoas nas atividades e espaosescolares;

    Perfil adequado do dirigente da escola incluindo formao em nvel superior, forma de provimento aocargo e experincia;

    Projeto pedaggico coletivo da escola que contemple os fins sociais e pedaggicos da escola, a atuao eautonomia escolar, as atividades pedaggicas e curriculares, os tempos e espaos de formao;

    Disponibilidade de docentes na escola para todas as atividades curriculares;

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    32 Definio de programas curriculares relevantes aos diferentes nveis, ciclos e etapas do processo deaprendizagem;

    Mtodos pedaggicos apropriados ao desenvolvimento dos contedos; Processos avaliativos voltados para a identificao, monitoramento e soluo dos problemas de

    aprendizagem e para o desenvolvimento da instituio escolar;

    Tecnologias educacionais e recursos pedaggicos apropriados ao processo de aprendizagem; Planejamento e gesto coletiva do trabalho pedaggico; Jornada escolar ampliada ou integrada visando a garantia de espaos e tempos apropriados as atividades

    educativas;

    Mecanismos de participao do aluno na escola; Valorao adequada, por parte dos usurios, dos servios prestados pela escola.

    3. Nvel do professor: formao, profissionalizao e ao pedaggica Perfil docente: titulao/qualificao adequada ao exerccio profissional; vnculo efetivo de trabalho;dedicao a uma s escola; formas de ingresso e condies de trabalho adequadas; valorizao da

    experincia docente; progresso na carreira por meio da qualificao permanente e outros requisitos;

    Polticas de formao e valorizao do pessoal docente: plano de carreira, incentivos, benefcios; Definio da relao alunos/docente adequada ao nvel, ciclo ou etapa de escolarizao; Garantia de carga horria para a realizao de atividades de planejamento, estudo, reunies pedaggicas,

    atendimento a pais etc.;

    Ambiente profcuo ao estabelecimento de relaes inter-pessoais, que valorizem atitudes e prticaseducativas, contribuindo para a motivao e solidariedade no trabalho;

    Ateno/atendimento aos alunos no ambiente escolar.

    4. Nvel do aluno: acesso, permanncia e desempenho escolar

    Acesso e condies de permanncia adequadas diversidade scio-econmica e cultural e garantia dedesempenho satisfatrio dos estudantes;

    Considerao efetiva da viso de qualidade que os pais e estudantes tm da escola e que levam osestudantes a valorarem positivamente a escola, os colegas e os professores, bem como a aprendizagem e

    o modo como aprendem, engajando-se no processo educativo;

    Processos avaliativos centrados na melhoria das condies de aprendizagem que permitam a definio depadres adequados de qualidade educativa e, portanto, focados no desenvolvimento dos estudantes;

    Percepo positiva dos alunos quanto ao processo ensino-aprendizagem, as condies educativas e aprojeo de sucesso no tocante a trajetria acadmico-profissional.

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    Finalizando, cumpre destacar que a preocupao com a avaliao da qualidade da educao se faz

    presente nos diferentes pases da regio envolvendo a anlise de fatores intra e extra-escolares, o que tem

    permitido evidenciar, de certo modo, a complexidade do processo educativo em suas mltiplas

    determinaes.

    Tais avaliaes, efetivadas com ampla cobertura visando medir, sobretudo, o rendimento acadmico

    dos alunos em termos de leitura e conhecimentos matemticos e cientficos vm sendo objeto de polticas e

    aes voltadas para a organizao e complexificao de seus sistemas nacionais de avaliao ao consideram

    outras variveis, tais como: auto-avaliao, desenvolvimento institucional. Tal perspectiva, tem ensejado a

    busca de parmetros analticos mais complexos que contribuam para a avaliao desta realidade, para alm

    da medio efetivada por meio de provas estandardizadas.

    De modo geral, possvel depreender que essas avaliaes contribuem para evidenciar a presena

    significativa de fatores intrnsecos e fatores associados produo do trabalho escolar e aprendizagem. Aavaliao na regio, contudo, tem se tornado significativa no processo de disseminao de informaes,

    integrao educativa e planificao dos sistemas e das aes e intervenes educativas nos pases membros

    da Cpula das Amricas.

    Referncias Bibliogrficas

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    34BRASIL. Lei n 9.424, de 24 de dezembro de 1996. Dispe sobre o Fundo de Manuteno eDesenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorizao do Magistrio, na forma prevista no art. 60, 7 doAto das Disposies Constitucionais Transitrias. Dirio Oficial, Braslia, de 26 dez.1996.

    BRASIL. MEC/INEP. Ce